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todo texto é absorção e transformação de outro texto. Em lugar da noção de
intersubjetividade, se instala a de intertextualidade, e a linguagem poética
se lê, pelo menos, como dupla. (KRISTEVA, 1974, p. 64)
Ao comparatista não basta apontar relações, o que vale, nas relações de
intertextualidade, é buscar o que foi reaproveitado de um texto no outro ou, ainda,
conforme Jenny, indica buscar um alargamento para que se faça uma análise crítica
mostrando se houve dessimbolização e ressimbolização daquele tema, o que foi
modificado ou não, devido a causas que devem ser investigadas e interpretadas.
Conforme Tania Carvalhal, podemos optar por um roteiro de leitura intertextual para
os textos, sugerido por Michel Rifaterre,
contextualizando-os (isto é, situando-os no tempo e espaço de sua
produção) des-contextualizando-os (ou atribuindo-lhes um significado
simbólico ou metafórico que os faça ter sentido em qualquer tempo e
espaço) e re-contextualizando-os (isto é, reconstruindo um significado no
presente, relacionado com o mundo do leitor observador) para ler nele
outras obras. (CARVALHAL, 2003, p. 173)
Temos de pensar a intertextualidade, segundo Tania Carvalhal, como a
presença confessa ou inconfessa de um texto em outro, resultante de um processo
de leitura de um texto noutro. Embora o conceito de intertextualidade se desvincule
do estudo de fontes, ele acaba por reanimá-lo, pois acaba com a noção de dívida
existente nas relações entre os textos Como adverte Jenny, a intertextualidade
designa não uma forma confusa e misteriosa de influências, mas o trabalho
de transformação e assimilação de vários textos, separados, operados por
um centralizador, que detém o comando do sentido. (JENNY, 1979, p. 14).
O texto perde o caráter fechado e auto-suficiente, havendo assim uma quebra
na hierarquia dos discursos que resulta na descentralização do lugar privilegiado
reservado ao original, resgatando o valor da cópia em relação ao modelo. A
tradução também se insere nesse conceito, pois passa a ser uma conversa entre
textos, um texto sempre é outro texto. Já que nenhum texto surge do nada, ele é
uma mistura de outros textos.