Download PDF
ads:
i
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E RECURSOS
NATURAIS
TESE DE DOUTORADO
“Ecologia Reprodutiva de Sterna hirundinacea Lesson, 1831 e Thalasseus
sandvicensis (Lathan, 1787) (Aves, Sternidae) na ilha dos Cardos, Santa
Catarina, Brasil.”
HÉLIO AUGUSTO ALVES FRACASSO
- SÃO CARLOS, SP -
2009
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E
RECURSOS NATURAIS
“Ecologia Reprodutiva de Sterna hirundinacea Lesson 1831 e Thalasseus
sandvicensis (Lathan, 1787) (Aves, Sternidae) na ilha dos Cardos, Santa
Catarina, Brasil.”
Doutorando: Hélio Augusto Alves Fracasso
Orientador: Prof. Dr. José Roberto Verani
Co-Orientador: Prof. Dr.
2
Joaquim Olinto Branco
Tese apresentada ao Programa de
Pós- Graduação em Ecologia e
Recursos Naturais da Universidade
Federal de São Carlos, como parte
dos requisitos para a obtenção do
título de Doutor em Ecologia e
Recursos Naturais, área de
concentração: Ecologia e Recursos
Naturais.
- SÃO CARLOS, SP -
2009
ads:
Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da
Biblioteca Comunitária/UFSCar
F797er
Fracasso, Hélio Augusto Alves.
Ecologia reprodutiva de Sterna hirundinacea Lesson,
1831 e Thalasseus sandvicensis (Lathan, 1787) (Aves,
Sternidae) na ilha dos Cardos, Santa Catarina, Brasil / Hélio
Augusto Alves Fracasso. -- São Carlos : UFSCar, 2009.
110 f.
Tese (Doutorado) -- Universidade Federal de São Carlos,
2009.
1. Ave. 2. Biologia reprodutiva. 3. Conservação. 4.
Ecologia trófica. 5. Ecologia populacional. I. Título.
CDD: 598 (20
a
)
to'
Hélio Augusto Alves Fracasso
Ecologia Reprodutiva dt:Sterna hirundinacea Lesson, 1831e Thalasseus sandvicensis
. (Latham, 1787) (Aves, Sternidae) na ilha dos Cardos, Santa Catarina, Brasil
Tese apresentadaà UniversidadeFederal de São Carlos,comoparte dos
requisitospara obtenção do título deDoutor em Ciências.
Aprovada em 24 de abril de 2009
BANCA EXAMINADORA
Presidente
I':)
20 Examinador
'ro;;:;;;'if!!.oeJMartiosDias Pilho
Qi;llNNP
.
scar
,~
Profa. Dra. Odete Rocha
~RNIUFSCar
10Examinador
30 Examinador
oaquim Olinto Branco
.I/Florianópolis-SC
I
L
40 Examinador
...
~
iv
Dedico este trabalho a meus pais,
Hélio e Eunice, meu mano Miguel,
minha querida Patrícia e a todos
parentes e amigos que participaram
e torceram por esta realização.
v
Que sempre busquemos muita paz,
humildade, resignação e dedicação
para vencer o egoísmo e o orgulho,
que emanam de nossos piores
inimigos, nós mesmos.
vi
Agradecimentos
Ao Prof. Dr. Joaquim Olinto Branco, pela orientação, amizade, incentivo e
conselhos de pai, que teve que desprender muito tempo, paciência e energia
para chegarmos juntos a mais este trabalho, que é apenas uma pequena
fração da lição de vida recebida nesses anos de convivência.
Ao Prof. Dr. José Roberto Verani, pela orientação, amizade, conselhos e
longas conversas francas, bem humoradas e descontraídas ao longo desses
quatro anos de convívio.
Ao PROJETO AVES MARINHASCONHECER PARA PRESERVAR,
juntamente com a “FUNDAÇÃO BRANCO”, mantidas pelo Prof. Dr. Joaquim
Olinto Branco, somados aos “PAITROCÍNIOS” de Hélio Severino Fracasso e
Eunice Aparecida Alves Fracasso, por tornarem possível a realização do início
deste projeto.
Ao CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico, como órgão de fomento que me proporcionou a bolsa de estudo
durante esses quatro anos, bem como aos Prof. Verani e Joaquim por terem
possibilitado recebê-la.
Em mais esta etapa da minha longa jornada, pude continuar com a
felicidade e o orgulho de ter todo o respaldo psicológico e monetário de meus
pais, Hélio Severino Fracasso e Eunice Aparecida Alves Fracasso, os quais
não mediram esforços para continuar a me ajudar a desvendar mais um metro
de meu profundo oceano de conhecimento.
A meu mano Miguel Augusto Alves Fracasso e toda minha família, ao
Júlio Ricardo Buratto, Carolina Marquizette Buratto, Juliano Cesar Hillesheim e
Fabrício Schappo Hillesheim, que de longe ou na convivência diária, souberam
me ouvir, dar conselhos e muitas vezes brigar e me fazer enxergar coisas que
meu temperamento forte, frio, calculista e teimoso se negavam a considerar,
bem como minha ausência em datas importantes pela dedicação a este
projeto.
À minha querida e amada Patrícia, que nesses anos inundou minha vida
com alegria, descontração, amor e paz e com seu jeito sereno, calmo,
carismático e rígido, me fez mais gentil, carinhoso e enfrentar e melhorar meus
vii
piores defeitos: ciúmes, orgulho e meu forte temperamento, principalmente na
lida com as pessoas. Como nos dissemos várias vezes: “...Entre tantos outros,
entre tantos séculos... que sorte a nossa hein? entre tantas paixões... esse
encontro, nós dois, esse Amor...”
Ao grande companheiro e irmão Nadinho, e toda sua família, pelo carinho,
apoio e descontração ao longo desses seis anos de amizade, que souberam
me aceitar como eu sou.
Ao Cristiano Lombardo Evangelista, e toda sua família, que na etapa
inicial do trabalho, além de contribuir na coleta de dados, ofereceram um
espaço em seu lar. Aos colegas, Juliano César Hillesheim, Irecê Farina
Machado, Marcos Siqueira Bovendorp, Felipe Freitas Junior e Prof. Dr
2
.
Joaquim Olinto Branco que em 2003 estavam mensalmente estavam comigo
em campo somando esforços para começar este trabalho. Ao Juliano Cesar
Hillesheim, Fernando Koerich Decker e Felipe Freitas Junior, e outros, que
além do frio que passaram, tiveram que agüentar minhas rabujices e mal
temperamento enquanto me ajudavam nas coletas em 2005 e 2006.
Aos companheiros de Laboratório, Senhor Anilton Bispo dos Santos,
Bruno Ribeiro de Campos, juntamente aos outros colegas, que tiveram
paciência e resignação, para aturar meu mau humor e estresse, no período de
tabulação de dados e elaboração da tese.
As Tias Ivone e Maria José, e família, que me acolheram como um
parente e agüentaram pacientemente todas nossas churrascadas, peixadas e
aniversários com muito bom humor e carinho.
A galera de Sanca, principalmente, ao Thiago (Ervilha), Marcelo (Zerbini),
Juliano (Ratinho), Allysson (Alce), Artur (Artruta) e Fernando (Fefe), que me
acolheram com os braços abertos em suas casas e me ensinaram que alem
das aulas regulares, muitas coisas são ensinadas pelos bares, churrascos,
carneiradas e viagens.
A Dona Ione que em 2005 me possibilitou entrar por um período em sua
casa e família, e sempre estava disposta a conversar, debater, aprender e
ensinar tudo sobre ostras, mariscos, aves e a vida. Ao Áthila Bertoncini
Andrade por ter me emprestado o bote inflável com motor para realizar as
amostragens neste ano. Ao Vinícius que sempre estava disposto a encobrir
viii
minhas “cabacices” e dar aquela mão quando eu precisava, e fazer churrascos
e pescarias para descontrair.
Ao Sr. Carlos e Sra. Jane que possibilitaram a habitação em 2006, bem
como os almoços, lanches e papos ao final do dia. Ao Mano véio Baião por ter
alugado sua embarcação “Pinguim” para realizar as amostragens, bem como,
aos peixes, ostras, mariscos, papos e companhia no dia-a-dia. Ao incansável
Albertino que me ensinou muita coisa sobre mar e pescaria, me levando e
buscando todos os dias para o trabalho, com chuva ou altos dia!!!!
Aos professores e funcionários do Centro Tecnológico da Terra e do Mar,
e do Centro de Ciências Biológicas da Saúde, que muito facilitaram a
realização deste projeto, sempre com muito bom humor e atenção.
À Universidade do Vale do Itajaí, através do CTTMar e à Universidade
Federal de São Carlos pelo Departamento de Hidrobiologia e ao Programa de
Pós-Graduação de Ecologia e Recursos Naturais (PPG-ERN), pelas estruturas
e apoio dos funcionários que possibilitaram a realização deste projeto.
Aos Quitutes Caseiros da Vovó Carola, que por cinco anos me acolheu
em seu ambiente familiar, como se fosse um ente querido, propiciando-me uma
bagagem profissional e pessoal.
i
Resumo
Os trinta-réis apesar de serem amplamente distribuídos na América do
Sul, (o trinta-réis-de-bico-vermelho ocorrendo da Terra do Fogo à Bahia e pelo
Pacífico ao longo da costa sul até o Peru), e o trinta-réis-do-bico-amarelo,
(desde as Ilhas do Caribe até o sul da Argentina, Porto Deseado, Santa Cruz,
50ºS), e terem populações relativamente numerosas, tem muitos aspectos de
sua ecologia ainda pouco conhecidos na região Neotropical. Foram realizadas
amostragens diárias na Ilha dos Cardos, Florianópolis, SC, ao longo de 2003,
2005, 2006 a 2008, com o objetivo de caracterizar a ecologia reprodutiva
dessas espécies. A temporada de 2003 iniciou com a chegada dos primeiros
adultos em meados de maio, e em 2005 e 2006 ocorreu no final de abril, com a
saída dos adultos no início de outubro. Foram registrados 2486 ninhos de S.
hirundinacea em 2005 a 1852 em 2006, com número médio de ovos por
postura variando entre 1,45 em 2006 a 1,19 em 2003 e o sucesso de eclosão
em 2006 foi estimado em 82,16%. Enquanto que para Thalasseus sandvicensis
em 2003, foram necessários em média 23,5±0,2 dias para a eclosão dos
filhotes, totalizando um sucesso de incubação de 83,33%. Foram registradas
6248, 5140 e 4006 presas transportadas por S. hirundinacea e 1157, 628 e 98
por Thalasseus sandvicensis à colônia em 2003, 2005 e 2006,
respectivamente. A entrega de alimento aos filhotes ocorreu desde as primeiras
horas da manhã até o final da tarde. Os primeiros filhotes eclodiram em julho
de 2003 e junho de 2005 e 2006, com sucesso reprodutivo para S.
hirundinacea de 50,94%, 35,96 e 53,47%, e para Thalasseus sandvicensis de
48,00, 29,94 e 5,00%, respectivamente. A maior taxa de crescimento para S.
hirundinacea ocorreu nos 20 primeiros dias de vida com pequenos acréscimos
até o vôo e conseqüente abandono da ilha dos Cardos em torno do 46° dia em
2003, 45º em 2005 e 42º em 2006. O tamanho pequeno da ilha, a reduzida
pressão antrópica e a pouca atuação da gaivota (Larus dominicanus),
considerada o principal predador no litoral brasileiro, durante o período de
postura, permitiu a ocupação regular deste sítio, tornando-o um local
importante para a conservação dessas espécies.
ii
Abstract
Despite being widely distributed in South America, the South American
Terns (Tierra del Fuego to Bahia and all around the Pacific coast to Peru), and
Cayenne Terns, (from the Caribbean Islands to the region of Deseado Port),
and having relatively large populations, little is known about the ecology of
these species in the Neotropical region. The present study is a contribution to
the knowledge of the reproduction and trophic ecology aspects. Samples were
taken daily on the Cardos island, SC, Brazil, along 2003, 2005, from 2006 to
2008, aiming to characterize the reproductive ecology of these species. The
season of 2003 began with the arrival of the first adults in mid-May, and in 2005
and 2006 occurred in late April, with the departure of adults in early October.
2486 nests of S. hirundinacea were recorded in 2005 to 1,852 in 2006, with
average clutch size ranged from 1.45 in 2006 to 1.19 in 2003 and the hatching
success in 2006 was estimated at 82.16%. While for Thalasseus sandvicensis
in 2003, it took on average 23.5±0.2 days for the hatching of chicks, and
success of 83.33%. Was recorded 6,248, 5,140 and 4,006 preys transported by
S. hirundinacea and 1157, 628 and 98 by Thalasseus sandvicensis for the
colony during seasons of 2003, 2005 and 2006, respectively. The delivery of
food to the chicks occurred since the early hours of the morning until late
afternoon. The first chicks hatched in July 2003 and June 2005 and 2006, with
reproductive success for S. hirundinacea of 50.94%, 35.96 and 53.47%, and
Thalasseus sandvicensis of 48.00, 29.94 and 5.00%, respectively. The highest
growth rate for S. hirundinacea occurred in the first 20 days of life with small
increments until the flight and subsequent abandonment of the island around 46
days in 2003, 45 in 2005 and 42 in 2006. The small size of the island, the
human low pressure and little activity of the gull (Larus dominicanus),
considered the main predator on the Brazilian coast, during the egg laying
period, allowed the regular occupation, making it an important site for the
conservation of these species.
iii
Lista de Figuras
Figura 1. Sterna hirundinacea adulto em plumagem de reprodução.................. 1
Figura 2. Thalasseus sandvicensis adulta em plumagem de reprodução.......... 2
Figura 3. Mapa indicando a área de estudos. .................................................... 9
Figura 4. Ilha dos Cardos, vista do ponto fixo no meio da colônia e do farol,
considerado o outro ponto de observação. ...................................................... 10
Figura 5. Vista a olho nu de Sterna hirundinacea adulta trazendo um peixe para
a colônia........................................................................................................... 11
Figura 6. Tamanho da presa em relação ao bico da ave, pequeno (menor),
médio (mesmo tamanho) e grande (maior)...................................................... 12
Figura 7. Ovos de Sterna hirundinacea marcados com as letras "A" e "B" de
acordo com a ordem de postura....................................................................... 13
Figura 8. Densidade dos ninhos de Sterna hirundinacea e Thalasseus
sandvicensis entre os substratos de grama e grama seca na Ilha dos Cardos.14
Figura 9. Comprimento, largura e peso dos ovos de Sterna hirundinacea na Ilha
dos Cardos....................................................................................................... 15
Figura 10. Cercado individual (a) e coletivo (b) com vários ninhos de Sterna
hirundinacea e Thalasseus sandvicensis......................................................... 16
Figura 11. Método de obtenção do registro de comprimento do cúlmen do bico
(a), tarso (b) e peso dos exemplares (c). .........................................................16
Figura 12. Rede de neblina armada, com a atuação de pesquisadores. ......... 17
Figura 13. Início da fase de Jovem I de Sterna hirundinacea (a), detalhe do
dente do ovo (b), cor da plumagem e final do estágio (c). ...............................20
Figura 14. Jovem II de Sterna hirundinacea (a), detalhe do bico sem o dente do
ovo (b) e detalhes das remiges (c) e retrizes (d).............................................. 21
Figura 15. Jovem III de Sterna hirundinacea no início da fase (a), detalhes das
penas canhão nas remiges (b) e retrizes (c) e no final do estágio (d).............. 22
Figura 16. Jovem IV de Sterna hiraundinacea no início da fase (a), com
detalhes das penas canhão das retrizes (b) e remiges (c) e no final do estágio
(d)..................................................................................................................... 23
Figura 17. Juvenil de Sterna hirundinacea pousados (a e b) e em vôo (c). .....24
iv
Figura 18. Jovem I de Thalasseus sandvicensis no ninho (a e b) e na formação
da creche (c e d) na ilha dos Cardos................................................................ 26
Figura 19. Bico sem dente do ovo (a) de Jovem II de Thalasseus sandvicensis
(b), detalhe das remiges (c) e retrizes (d) na ilha dos Cardos.......................... 27
Figura 20. Detalhe da cabeça (a), remiges (b) e retrizes (c) de um Jovem III (d)
de Thalasseus sandvicensis na ilha dos Cardos.............................................. 28
Figura 21. Detalhe da cabeça (a), remiges (b), retrizes (c) de um Jovem IV (d)
de Thalasseus sandvicensis na ilha dos Cardos.............................................. 29
Figura 22. Freqüência média de adultos de Sterna hirundinacea ao longo das
temporadas reprodutivas de 2003 (a), 2005 (b) e 2006 (c).............................. 31
Figura 23. Macho de Sterna hirundinacea em posição de cópula (a, Foto cedida
gentilmente pelo Pro. Dr
2
. Joaquim Olinto Branco) e com peixe no bico (b).... 32
Figura 24. Macho de Sterna hirundinacea oferecendo alimento chamando
atenção de duas fêmeas.................................................................................. 32
Figura 25. Posição de corte de macho e fêmea de Sterna hirundinacea no
momento da entrega do peixe.......................................................................... 32
Figura 26. Dança do casal de Sterna hirundinacea para consolidar a formação
do par reprodutivo. ........................................................................................... 33
Figura 27. Macho de Sterna hirundinacea pousado na parte posterior, batendo
as asas e posicionando a cloaca para realizar a inseminação......................... 33
Figura 28. Macho de Sterna hirundinacea batendo as asas para sincronizar a
posição das cloacas e realizar a inseminação (Foto cedida gentilmente pelo
Pro. Dr
2
. Joaquim Olinto Branco)..................................................................... 34
Figura 29. Macho de Sterna hirundinacea retornando para a porção anterior do
corpo da fêmea, após ter realizado a inseminação.......................................... 34
Figura 30. Tempo em segundos e número de inseminações durante a cópula
de Sterna hirundinacea, ao longo do dia nas temporadas de 2003 (a) e 2006
(b). (barra vertical indica o erro da média). ...................................................... 35
Figura 31. Ninhos de Sterna hirundinacea construídos com gramíneas secas
(a), gravetos e gramíneas (b) e fragmentos de rochas e gravetos (c).............. 36
Figura 32. S. hirundinacea realizando a aproximação d ninho (a) arrumando os
ovos e posicionando as penas do peito (b) e incubando os ovos (c)............... 36
v
Figura 33. Distância entre os ninhos de Sterna hirundinacea construídos nos
diferentes substratos nas temporadas de 2003 (a), 2005 (b) e 2006 (c).......... 37
Figura 34. Abundância diária de ninhos de Sterna hirundinacea durante o
período de 2003 (a), 2005 (b) e 2006 (c) na Ilha dos Cardos, SC, Brasil......... 38
Figura 35. Freqüência de ninhos com um e dois ovos de Sterna hirundinacea
longo do período reprodutivo de 2003 (a), 2005 (b) e 2006 (c)........................40
Figura 36. Volume médio dos ovos de Sterna hirundinacea no início, meio e fim
do período reprodutivo em 2003 (a) e 2005 (b) na Ilha dos Cardos, SC, Brasil.
(barra vertical indica o erro padrão da média).................................................. 42
Figura 37. Volume médio dos ovos A e B de Sterna hirundinacea nos períodos
de reprodução em 2003 (a) e 2005 (b) na Ilha dos Cardos, SC, Brasil. (barra
vertical indica o erro padrão da média). ........................................................... 43
Figura 38. Volume médio dos ovos A e B de Sterna hirundinacea do centro e
borda durante o período reprodutivo de 2006 na Ilha dos Cardos, SC, Brasil.
(barra vertical indica o erro padrão da média).................................................. 44
Figura 39. Redução média diária no peso dos ovos “A” e “B” de Sterna
hirundinacea, durante o período de incubação em 2003 (a), 2005 (b) e 2006 (c).
......................................................................................................................... 45
Figura 40. Freqüência de perda de ovos de Sterna hirundinacea, por causas
naturais e predações durante as temporadas reprodutivas de 2003 (a), 2005 (b)
e 2006 (c)......................................................................................................... 47
Figura 41. Urubu-comum (Coragyps atratus) que atua como predador sobre os
ovos de Sterna hirundinacea na Ilha dos Cardos............................................. 48
Figura 42. Lagarto teiú (Tupinambis merianae) que atua como predador sobre
os ovos de Sterna hirundinacea na Ilha dos Cardos........................................ 48
Figura 43. Gavião Caracará (Caracara plancus) que atua sobre ovos e filhotes
de Sterna hirundinacea na Ilha dos Cardos. .................................................... 48
Figura 44. Horários de entrega dos peixes às fêmeas de Sterna hirundinacea,
com as fases antes e depois da cópula em conjunto....................................... 51
Figura 45. Filhotes de Sterna hirundinacea esperando ser alimentados por
Engraulidae Grande (a) e Peixe espada (b)..................................................... 52
Figura 46. Entrega de alimento aos jovens ao longo das temporadas de 2003,
2005 e 2006. .................................................................................................... 52
vi
Figura 47. Juvenil de Sterna hirundinacea pedindo alimento (a) e pousados
próximos aos locais dos ninhos natais (b e c)..................................................53
Figura 48. Número de vezes que os filhotes de Sterna hirundinacea foram
alimentados em um dia de acordo com sua respectiva idade.......................... 53
Figura 49. Tempo médio em minutos que eram ofertados alimento aos filhotes
de Sterna hirundinacea de acordo com sua respectiva idade.......................... 54
Figura 50. Abundância de filhotes neonatos (JI) nas temporadas de 2003 (a),
2005 (b) e 2006 (c)........................................................................................... 57
Figura 51. Abundância diária de jovens de Sterna hirundinacea na Ilha dos
Cardos nas temporadas reprodutivas de 2003 (a), 2005 (b) e 2006 (c)........... 58
Figura 52. Incremento diário em comprimento (cm) do bico dos filhotes de
Sterna hirundinacea. ........................................................................................ 59
Figura 53. Média do comprimento do bico (cm) dos filhotes de Sterna
hirundinacea..................................................................................................... 59
Figura 54. Incremento diário de tarso (cm) dos filhotes de Sterna hirundinacea.
......................................................................................................................... 60
Figura 55. Média do tarso (cm) dos filhotes de Sterna hirundinacea. .............. 60
Figura 56. Incremento diário em peso (g) dos filhotes de Sterna hirundinacea.
......................................................................................................................... 61
Figura 57. Média do peso (g) dos filhotes de Sterna hirundinacea. ................. 62
Figura 58. Tempo em dias necessários para a mudança de fase dos jovens I, II,
III e IV de Sterna hirundinacea......................................................................... 64
Figura 59. Transformação diária de um jovem de Sterna hirundinacea........... 66
Figura 60. Modelo de ajuste da curva de crescimento de Von-Bertalanffy para
os filhotes de Sterna hirundinacea................................................................... 67
Figura 61. Mortalidade diária por causas naturais e predações sobre os filhotes
de Sterna hirundinacea ao longo das temporadas de 2003 (a), 2005 (b) e 2006
(c) na Ilha dos Cardos...................................................................................... 69
Figura 62. Abundância de adultos ao longo das temporadas reprodutivas de
2003 (a), 2005 (b) e 2006 (c)............................................................................ 72
Figura 63. Distâncias entre os ninhos de Thalasseus sandvicensis ao longo das
temporadas de 2003 (a) e 2005 (b) e 2006 (c) na Ilha dos Cardos, SC, Brasil.
(barra vertical indica o erro padrão da média).................................................. 73
vii
Figura 64. Abundância diária de ninhos de Thalasseus sandvicensis registrados
nas temporadas de 2003 (a), 2005 (b) e 2006 (c) na Ilha dos Cardos............. 74
Figura 65. Volume médio dos ovos de Thalasseus sandvicensis em 2003, 2005
e 2006 na Ilha dos Cardos, SC, Brasil. (barra vertical indica o erro padrão da
média). ............................................................................................................. 75
Figura 66. Redução média diária no peso dos ovos de Thalasseus
sandvicensis, durante o período de incubação em 2003 e 2005. (barra vertical
indica o erro padrão da média)......................................................................... 76
Figura 67. Entrega de alimento aos jovens de Thalasseus sandvicensis ao
longo das temporadas de 2003, 2005 e 2006.................................................. 79
Figura 68. Abundância de filhotes neonatos (JI) nas temporadas de 2003 (a),
2005 (b) e 2006 (c)........................................................................................... 81
Figura 69. Média do comprimento do bico (cm) dos filhotes de Thalasseus
sandvicensis..................................................................................................... 82
Figura 70. Média do tarso (cm) dos filhotes de Thalasseus sandvicensis........ 83
Figura 71. Média do peso (g) dos filhotes de Thalasseus sandvicensis........... 83
Figura 72. Atuação do gavião caracará, degolando a presa (a), destrinchando-a
(b) e consumindo apenas pequenas porções (c). ............................................ 85
viii
Lista de Tabelas
Tabela I. Filhotes de Sterna hirundinacea capturados e monitorados ao longo
das temporadas reprodutivas de 2003, 2005 e 2006 na Ilha dos Cardos. (J=
Jovem; I, II, III, IV=idade). ................................................................................ 25
Tabela II. Número de ovos por postura e filhotes, predações, mortes naturais,
atividades de pesquisa, sucesso de eclosão e reprodutivo das temporadas de
2003, 2005 e 2006. .......................................................................................... 39
Tabela III. Número de ovos medidos (N), biometria e peso dos ovos de Sterna
hirundinacea durante o período de desova na Ilha dos Cardos (< = menor, > =
maior valor registrado e média±erro padrão) SC, Brasil. ................................. 41
Tabela IV. Relação das presas por horário de avistagem na colônia (P =
pequeno, M = Médio, G = grande e N iden= Não identificado). ....................... 50
Tabela V. Peixes entregues às fêmeas, antes e após a cópula (P = pequeno, M
= Médio e G = grande). .................................................................................... 51
Tabela VI. Itens identificados nos regurgitos de Sterna hirundinacea, sendo
registrados o número de porções, o hábito, o comprimento e massa das presas
(Reg = Regurgitos, < = menor, > = <maior, Me = média e erro = erro padrão).55
Tabela VII. Tamanho médio e erro padrão das medidas de bico(Lt b), tarso (Lt
t) e peso (Wt) dos filhotes que estavam presos e soltos (livres) na colônia da
ilha dos Cardos durante as temporadas reprodutivas...................................... 63
Tabela VIII. Distâncias e respostas relativas de Sterna hirundinacea, a
aproximação dos pesquisadores na colônia (N= número de dias em que foi
realizado as observações)................................................................................ 70
Tabela IX. Número de ovos medidos (N), biometria e peso dos ovos de
Thalasseus sandvicensis durante o período de desova na Ilha dos Cardos (< =
menor, > = maior valor registrado e média±erro padrão) SC, Brasil. ............... 75
Tabela X. Total de ovos perdidos de Thalasseus sandvicensis por causas
naturais e predações ao longo dos anos de amostragens............................... 77
Tabela XI. Total de ovos perdidos de Thalasseus sandvicensis por causas
naturais e predações nos cercados que foram acompanhados diariamente. .. 77
Tabela XII. Relação das presas por horário de avistagem na colônia (P =
pequeno, M = Médio e G = grande). ................................................................ 78
ix
Tabela XIII. Número de filhotes de Thalasseus sandvicensis mortos por causas
naturais e predações ao longo das temporadas de 2003, 2005 e 2006 na Ilha
dos Cardos....................................................................................................... 84
x
Sumário
Resumo............................................................................................................... i
Abstract...............................................................................................................ii
Lista de Figuras..................................................................................................iii
Lista de Tabelas...............................................................................................viii
1. INTRODUÇÃO............................................................................................. 1
2. OBJETIVOS................................................................................................. 7
2.1. Objetivo Geral........................................................................................... 7
2.2. Objetivos específicos................................................................................ 7
3. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................ 8
3.1. Área de estudos ....................................................................................... 8
3.2. Trabalho de campo................................................................................... 9
3.2.a. Observações de um ponto fixo................................................................. 9
3.2.b. Amostragem diretas ............................................................................... 12
3.2.c. Caracterização das fases dos filhotes de Sterna hirundinacea .............. 20
3.2.d. Caracterização das fases dos filhotes de Thalasseus sandvicensis ...... 26
3.2.e. Crescimento dos filhotes........................................................................ 17
3.3. Análise dos dados..................................................................................... 18
4. RESULTADOS .......................................................................................... 20
Sterna hirundinacea ......................................................................................... 30
4.1. Estabelecimento da colônia e Comportamento reprodutivo...................... 30
4.2. Construção dos ninhos e período de incubação ....................................... 35
4.3. Biometria dos ovos.................................................................................... 41
4.4. Perdas diárias de ovos.............................................................................. 46
4.5. Sucesso de incubação .............................................................................. 49
4.6. Alimentação............................................................................................... 49
4.6.a. Chegada de alimento na colônia............................................................ 49
4.6.b. Entrega de presas no período de corte.................................................. 51
4.6.c. Entrega de presas aos filhotes............................................................... 52
4.6.d. Regurgitos dos filhotes........................................................................... 54
4.7. Presença de Jovens na colônia................................................................. 55
4.7.a. Abundância de Jovens na colônia.......................................................... 55
4.7.b. Crescimento dos Jovens........................................................................ 58
xi
4.8. Perdas diárias de filhotes.......................................................................... 68
4.9. Sucesso Reprodutivo ................................................................................ 68
4.10. Distúrbio ocasionado pela atividade humana.......................................... 70
Thalasseus sandvicensis ................................................................................. 71
4.11. Estabelecimento da colônia e Comportamento reprodutivo.................... 71
4.12. Construção dos ninhos e período de incubação dos ovos...................... 73
4.13. Biometria dos ovos..................................................................................75
4.14. Perdas diárias de ovos............................................................................ 76
4.15. Sucesso de incubação ............................................................................ 77
4.16. Alimentação............................................................................................. 77
4.16.a. Chegada de alimento na colônia.......................................................... 77
4.16.b. Entrega de presas aos filhotes............................................................. 79
4.17. Presença de Jovens na colônia............................................................... 79
4.17.a. Abundância de Jovens na colônia........................................................ 79
4.18.b. Crescimento dos Jovens...................................................................... 82
4.19. Perdas diárias de Filhotes e Sucesso reprodutivo .................................. 84
4.20. Atuação dos predadores ......................................................................... 84
5. DISCUSSÃO.............................................................................................. 86
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................... 102
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 103
1
1. INTRODUÇÃO
As aves Sternidae distribuem-se globalmente, nidificam sincronicamente
em colônias que abrigam até milhares de pares reprodutivos e consomem
milhões de toneladas de recursos, principalmente marinhos, para sustentar
suas populações (Schreiber & Burger 2002).
O trinta-réis-de-bico-vermelho ou sul-americano (Sterna hirundinacea
Lesson 1831) é uma ave de pequeno porte (38-41cm) com bico e patas
vermelhas (Fig. 1), que ocorre no oceano Atlântico, da Terra do Fogo
(Argentina) à Bahia (Brasil) (Sick 1997) e pelo Pacífico ao longo da costa sul
até o Peru (Higgins & Davies 1996).
Figura 1. Sterna hirundinacea adulto em plumagem de reprodução.
O trinta-réis-do-bico-amarelo Thalasseus sandvicensis (Lathan, 1977) é
um pouco maior (até 50cm) possuindo variada coloração do cúlmem, nos
imaturos e adultos, em amarelo e negro (bico de menor tamanho), amplamente
distribuído na costa Atlântica da América do Sul, desde as Ilhas do Caribe
(12°S) até a região de Porto Deseado, Santa Cruz (50°S) (Sick 1997).
2
Figura 2. Thalasseus sandvicensis adulta em plumagem de reprodução.
A pequena postura das aves marinhas (54% depositam apenas um ovo)
pode estar relacionada à falta de alimento em ecossistemas marinhos
comparados a terrestres (Schreiber & Burger 2002). Aves marinhas que
realizam grandes deslocamentos para encontrar alimento (albatrozes e
petréis), geralmente apresentam menor número de ovos por postura do que as
que forrageiam nas proximidades da colônia em áreas costeiras e estuarinas
de maior produtividade (pelicanos, biguás, gaivotas, talhas-mar e trintas-réis)
(Nelson 1980).
O macho e a fêmea que constituem o par reprodutivo de trinta-réis-do-
bico-vermelho (S. hirundinacea) alterna-se na incubação de um a três ovos, de
cor marrom-amarelada com manchas pretas claras, que confundem os
predadores, por aproximadamente 21,5 dias (Scolaro et al. 1996, Branco
2003b) e no cuidado com a prole até alguns meses após o abandono da
colônia (Nelson 1980). Os ninhos são construídos a uma distância pequena
entre uns e outros (80cm), sendo utilizadas depressões no solo, geralmente
forrados com gramíneas em colônias que podem chegar a 10.000 pares nas
ilhas Falklands (Falklands 2004).
Thalasseus sandvicensis forma colônias ainda mais densas, onde
colocam apenas um ovo por ninho, com três padrões de cores em relação à
quantidade de manchas existentes, em ninhos que distam apenas 50cm entre
3
si (Efe et al. 2004). No Brasil essa espécie reproduz preferencialmente em ilhas
rochosas próximas à costa, entre os meses de abril e outubro, com as maiores
colônias encontradas nas Ilhas do litoral do Espírito Santo (Efe et al. 2000).
Essas espécies utilizam peixes, moluscos e crustáceos marinhos como
presas, que são capturados em mergulhos rasos na superfície da água do mar
ou de rios (Nisbet 1983, Burger & Gochfeld 1996). Geralmente, durante a
temporada reprodutiva, forrageiam tanto em mar aberto, como em berçários de
águas rasas, recifes ou bancos de areia, lagoas de marés ou se aproveitam de
peixes que são forçados a irem à superfície pela ação dos predadores (Nisbet
1983). No período de migração e deslocamento pelas áreas de invernada, são
comumente vistos em grupos e consumindo o descarte da pesca artesanal
(Bugoni & Vooren 2005, RAO 2008), crustáceos, moluscos e insetos em áreas
inundáveis.
O estudo sobre a composição e a entrega de presas das diferentes
espécies de trinta-réis foi registrado na Europa e Estados Unidos (Buckley &
Buckley 1974, Blokpoel et al. 1982, Burger 1983, Safina & Burger 1988, Pereira
1997), entretanto, pouco é conhecido sobre sua ecologia trófica na América do
Sul em relação a áreas de nidificação (Branco 2001, Branco et al. 2004) e
algumas áreas de invernada (Krull 2004, Bugoni & Vooren 2005, Bugoni et al.
2005). Recentemente, com relativa e casual simultaneidade, foram iniciados
estudos de alimentação em três espécies de trinta-réis (Sterna maxima, S.
hirundinacea e Thalasseus sandvicensis) ao longo da costa do Brasil, Uruguai
e Argentina nas colônias reprodutivas e em locais de invernada (Bugoni &
Vooren 2005, RAO 2008).
Em áreas onde não ocorre reprodução, o decréscimo na disponibilidade
de alimento pode afetar a condição pré-reprodutiva e o sucesso da temporada
seguinte (Mauco et al. 2001). O sucesso reprodutivo em colônias de aves
marinhas é freqüentemente baixo (Buckley & Buckley, 1980, Quintana & Yorio,
1997), mas varia entre sítios e temporadas por influência do clima,
disponibilidade de alimento, predação, ocorrência de eventos catastróficos
(Mcnicholl 1982), sucessão vegetacional, competição com outras espécies,
elementos químicos e pressão antrópica (Hébert 1985).
4
Alguns elementos podem aumentar a performance reprodutiva, como a
seleção de pares mais velhos e experientes, a ocupação de sítios mais
favoráveis, postura antecipada, incremento no tamanho das posturas e dos
ovos e sucesso reprodutivo (Pugesek 1983, Pugesek & Diem 1983, Thomas
1983, Nisbet et al. 1984) além da nidificação em colônias mistas com altas
densidades de aves (Burger, 1979, Buckley & Buckley, 1980, Quintana & Yorio,
1997). A nidificação em simpatria destas espécies parece um modo eficiente de
reduzir a taxa de predação, no entanto podem gerar competição por espaço e
alimento (Yorio et al.1994, Yorio & Quintana 1996, Quintana & Yorio 1997).
Na costa brasileira e sul-americana, S. hirundinacea nidifica em simpatria
com Thalasseus sandvicensis (Latham, 1737), como foi registrado pela
primeira vez na Ilha dos Papagaios, em Macaé (RJ), (Sick & Leão 1965) e
sucessivamente nos litorais do Espírito Santo (Efe et al. 2000), Rio de Janeiro
(Alves et al. 2004), São Paulo (Campos et al. 2004), Paraná (Krul 2004), Santa
Catarina (Soares & Schiefler 1995; Branco 2003a, Branco 2003b) e da
Argentina (Yorio et al. 1994, Scolaro et al. 1996; Quintana & Yorio 1997).
Ainda resta muitas dúvidas em relação à população de Sterna
hirundinacea que nidifica na costa Atlântica, já que na Argentina a reprodução
ocorre de dezembro a abril seguido da migração para áreas de invernada no
Uruguai e sul do Brasil (Olrog 1979, Scolaro et al. 1996), enquanto que na
costa brasileira, ocorre de abril a outubro, com o deslocamento em novembro
para as mesmas áreas de alimentação e descanso (Sick 1997, Efe et al. 2000,
Branco 2003a, Branco 2003b).
Sick (1997) trata Sterna eurygnatha e S. sandvicensis de forma
independente. Segundo Harrison (1983) Thalasseus sandvicensis é
considerada por muitos autores como uma raça geográfica de S. sandvicensis,
com a qual parece estar envolvida como parte de uma clina e/ou hibridização
ao longo da costa da Venezuela. Sibley & Monroe (1990) com base em estudos
filogenéticos caracterizam a espécie como S. sandvicensis eurygnatha e
afirmam que S. sandvicensis e S. eurygnatha freqüentemente são tratadas
como subespécies distintas, mas ocorre intercruzamento em colônias mistas
onde as raças geográficas estão em contato. Buckley & Buckley (1980)
ressaltam que informações da população sul americana de S. eurygnatha,
5
especialmente em relação à coloração do cúlmem do bico, e estudos genéticos
(Efe et al. 2005) serão essenciais para a caracterização do grupo.
A pressão de predadores, a falta de alimento e o estresse antrópico são
alguns dos fatores que induzem a mudança de sítios reprodutivos (Yorio et al.
1994, Scolaro et al. 1996, Efe et al. 2000), embora, no litoral catarinense ocorra
fidelidade em relação às Ilhas Itacolomis e Ilhas dos Cardos (Branco 2003b).
A perturbação ocasionada pela presença humana pode ter efeitos
distintos sobre as colônias de aves marinhas em processo de reprodução,
como: estresse e mudanças comportamentais, que podem ocasionar a
diminuição ou fracasso da reprodução (Yorio & Quintana 1996). Entre os
fatores que influenciam a resposta das aves podem ser citadas, a intensidade
da perturbação, o momento em que o distúrbio é realizado em relação ao ciclo
reprodutivo e à exposição prévia dos indivíduos a atividade humana (Burger &
Gochfeld 1983).
Apesar de serem amplamente distribuídos na América do Sul e terem
populações relativamente numerosas, pouco é conhecido sobre a distribuição e
abundância de Sterna hirundinacea e Thalasseus sandvicensis na Argentina
(Duffy et al. 1988, Scolaro et al. 1996) e no Brasil (Sick 1997, Soares &
Schiefler 1995, Efe et al. 2000, Branco 2003a, Branco 2003b, Branco 2004),
sobre as suas áreas de forrageio e os itens que compõem suas dietas (Branco
et al. 2004, Krul 2004, Bugoni & Vooren 2005, Bugoni et al. 2005), bem como a
descrição dos principais fatores que influenciam o sucesso reprodutivo na
Argentina (Scolaro et al. 1996, Yorio et al. 1994) e Brasil (Branco 2003b, Efe
2004, Efe et al. 2005).
Ao longo dos 561 Km da costa catarinense ocorre uma grande
diversidade de aves marinhas e costeiras que utilizam mais de 200 ilhas,
ilhotas e parcéis como áreas de alimentação, abrigo e reprodução (Santur-Sc
1999, Soares 2002, Branco 2003a). Estas aves são observadas voando sobre
o mar ou nas praias e rios à procura de alimento, sendo que a região costeira é
mais utilizada na alimentação de aves, ocupada principalmente por
Phalacrocorax brasilianus (Gmelin, 1789), Fregata magnificens Mathews, 1914,
Larus dominicanus Lichtenstein, 1823, Sterna hirundinacea Lesson,1831 e
Thalasseus sandvicensis entre outras (Branco 2003a).
6
Foram realizadas amostragens diárias na Ilha dos Cardos ao longo das
temporadas reprodutivas de 2003, 2005, 2006 a 2008 com o objetivo de
caracterizar a ecologia reprodutiva de Sterna hirundinacea e Thalasseus
sandvicensis, através da coleta de dados que possibilitaram aferir respostas a
distribuição e abundância das espécies no litoral catarinense, datas de postura
dos ovos e da eclosão dos filhotes, biometria, sucesso de incubação e
reprodutivo, ecologia trófica e crescimento dos jovens. Esse trabalho, também
contribuirá com informação sobre o conhecimento da distância aproximada a
qual se deveria observar as aves minimizando o distúrbio, a forma em que
varia a resposta destas em relação com o ciclo reprodutivo, e as possíveis
conseqüências que a atividade humana possa causar.
Esses dados, fundamentais no manejo e gerenciamento destas trinta-réis
com importância ecológica ainda desconhecida no litoral brasileiro, são raros,
já que em função da infraestrutura com que conta a maioria dos ornitólogos
marinhos para enfrentar as adversidades do mar, além da ausência de
atracadouros para o reabastecimento da equipe, abrigos, a morosidade na
liberação das permissões de permanência e o alto custo financeiro,
comprometem o acesso e monitoramento diário nas colônias de aves nas ilhas
de nidificação (Branco 2003a).
7
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo Geral
Caracterizar a ecologia reprodutiva e ecologia trófica do trinta-réis-de-
bico-vermelho (Sterna hirundinacea) e trinta-réis-do-bico-amarelo (Thalasseus
sandvicensis), ao longo das temporadas de 2003, 2005, 2006, 2007 e 2008 na
Ilha dos Cardos, Florianópolis, SC.
2.2. Objetivos específicos
- Descrever as fases de assentamento na colônia e o comportamento na
formação dos pares reprodutores;
- Caracterizar a alimentação natural das fêmeas antes e após a cópula,
bem como determinar o número de vezes e a duração das cópulas;
- Determinar a fecundidade, biometria dos ovos e filhotes, distância
entre os ninhos no início, meio e final do período reprodutivo;
- Estimar o tempo e o sucesso de incubação dos ovos;
- Determinar a taxa de sobrevivência e crescimento dos filhotes na
colônia;
- Determinar a freqüência e tipo de alimento entregues pelos adultos
aos filhotes;
- Caracterizar a resposta de Sterna hirundinacea e Thalasseus
sandvicensis aos distúrbios humanos (ação do pesquisador);
- Estimar o sucesso reprodutivo na colônia.
8
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. Área de estudos
Na Baía Sul, entre o Pontal de Massiambú e o Saco da Caieira, encontra-
se a Ilha dos Cardos (27°48’55’’S 48°34’52’’W), Florianópolis, Santa Catarina
(Fig. 3). Os navegadores do século XVIII e XIX deixaram registros sobre as
suas entradas nas águas da Baía Sul. Tratava-se de porto adequado para
embarcações menores, pois as maiores entravam pela Baía Norte, onde o
canal é mais favorável.
A ilha é coberta por espessa vegetação, com abundância de plantas
cactáceas que crescem sobre altos pedregosos, onde se destaca um grande
pé de cardos que deu o nome à ilha. Foram introduzidos alguns casais de
porquinhos da índia (Cavia Porcellus) que atualmente contam com uma
população de no máximo 20 indivíduos. Foi registrada a presença de dois
lagartos teiús (Tupinambis merianae) que não se sabe se foram introduzidos ou
foram nadando até a ilha. Frequentemente a ilha é visitada por garças
(Casmerodius albus e Egretta thula) atobás (Sula leucogaster) e biguás
(Phalacrocorax brasilianus). Rodeada de rochas na base, a ilha tem forma
arredondada, com dois cachopos ao extremo meridional e pelos flancos
algumas pedras à flor da água.
A área da ilha é de aproximadamente 1,0 hectare (130m de comprimento
e 70m de largura) e da sua porção mais periférica ao centro, existe uma
predominância de rochas soltas, intercaladas com gramíneas, onde se
encontra o Farolete Cardos, uma torre quadrangular de concreto armado sobre
bases de alvenaria, com luz na altura de 6m, com alcance de 5m e setor de
visibilidade de 308º (Viva Garopaba 2004).
Esta ilha é visitada por pescadores que costumam alugar barcos nas
praias do Sonho e da Caieira da Barra do Sul que distam da Ilha dos Cardos
apenas duas (3704m) e uma milha (1852m), respectivamente (Fig. 3).
9
Figura 3. Mapa indicando a área de estudos e vista geral da ilha.
3.2. Trabalho de campo
Foram realizadas amostragens diárias na Ilha dos Cardos, ao longo das
temporadas reprodutivas de abril a outubro de 2003, 2005 e 2006, totalizando
63, 121 e 144 dias e 315, 847 e 1440 horas de observação, respectivamente.
Em 2007 e 2008 ocorreram expedições esporádicas ao sítio reprodutivo para
realizar capturas e anilhamentos de filhotes de ambas as espécies de trinta-
réis.
De acordo com a abundância de casais e ninhos, as temporadas foram
separadas em três períodos: início (12/05 a 04/07), meio (05/07 a 11/08) e fim
das posturas (a partir de 12/08).
3.2.a. Observações de um ponto fixo
As contagens do número de adultos e o comportamento reprodutivo:
estabilização dos casais (escolha do par), corte (entrega de presas), tempo e
freqüência das cópulas e confecção do ninho foram obtidas por meio de
27º47´51 S
27º50´15 S
48º37´30 W 48º33´18 W
N
10
observações realizadas com binóculos (10x50 Bushnell) e material fotográfico
obtidas a partir de dois pontos fixos na colônia (Fig 4).
Figura 4. Ilha dos Cardos, vista do ponto fixo no meio da colônia e do farol,
considerado o outro ponto de observação.
O tempo de cópula e o número de inseminações foram registrados
apenas quando o casal não era atrapalhado por algum distúrbio (som de
helicópteros, aviões ou barcos, predadores, ou mesmo ataque de outros
indivíduos). Em 2005 não foi observado o período de cópula devido à
antecipação da ocupação do sítio reprodutivo. Em 2006, foi contratado um
marinheiro e uma embarcação para possibilitar um maior período de
permanência na ilha, estendendo as observações para o período entre as 6:00
e 18:00h. As horas compreendem os 59 minutos correntes, por exemplo, o
horário das seis inicia as 6:00 e termina as 6:59h.
Os dados de alimentação foram coletados em quatro etapas distintas do
período reprodutivo: registro das presas transportadas pelas aves a colônia;
entrega dos itens às fêmeas no processo de corte; registro das espécies
11
entregues aos filhotes; coleta e recolhimento dos regurgitos dos filhotes, e
presas que não foram consumidas (Pereira 1997).
O registro da chegada de presas que foram transportadas à colônia pôde
ser feito a olho desarmado (Fig. 5) ou com auxílio de binóculos e foram
separadas quanto ao tamanho relativo ao bico, em pequeno (P) menor que o
mesmo, médio (M) do mesmo tamanho e grande (G) maior que ele (Fig. 6). Ao
longo das temporadas foi observado o número médio de vezes e o intervalo em
tempo que um filhote era alimentado durante o dia.
Figura 5. Vista a olho nu de Sterna hirundinacea adulta trazendo um peixe para a
colônia.
12
012
pequeno médio grande
Figura 6. Tamanho da presa em relação ao bico da ave, pequeno (menor), médio
(mesmo tamanho) e grande (maior).
As observações foram realizadas por varredura cobrindo o campo de
visão a partir de um ponto fixo da colônia; identificando-se qualquer uma das
etapas anteriormente citadas, o processo era quantificado e quando finalizado,
dava-se continuidade às amostragens.
3.2.b. Amostragens diretas
Na temporada de 2005, os adultos anteciparam a chegada na ilha em
relação a 2003, dificultando o acompanhamento do período de assentamento
(formação do casal, corte, cópula e postura) e incubação dos ovos, sendo que,
o início das pesquisas cuincidiu com a atividade plena da colônia e eclosão dos
primeiros filhotes.
Após as observações do ponto fixo, era iniciada a incursão no sítio de
nidificação, com a aproximação dos ninhos. Foram realizadas medições em
diversos momentos na temporada reprodutiva (pré-assentamento,
assentamento, incubação e filhotes) a fim de caracterizar os possíveis impactos
e respostas de S. hirundinacea com a aproximação e distúrbios de humanos no
sítio (Yorio & Quintana 1996).
Ao ocorrer uma mudança no comportamento das aves, interrompeu-se a
aproximação por um intervalo de trinta segundos para permitir o desfecho da
mesma e foi anotada a distância do ninho; os comportamentos quantificados
foram: alerta, que consistia no direcionamento da cabeça da ave para o
pesquisador no transcurso da aproximação; vocalização de defesa e posição
13
em pé, com a proximidade dos investigadores a ave vocalizava e ficava em pé;
abandono do ninho, onde as aves em bando abandonavam o sítio
sobrevoando-o para tentar confundir o intruso (Yorio & Quintana 1996).
Os regurgitos espontâneos foram coletados à medida que os
pesquisadores se deslocavam pela colônia, armazenados individualmente em
sacos plásticos, refrigerados em caixas térmicas e transportados para a análise
em laboratório. Foram identificados ao menor nível taxonômico possível, sujeito
ao grau de digestibilidade, de acordo com Figueiredo & Menezes (1978),
Figueiredo & Menezes (2000) e Menezes & Figueiredo (1980) e registrados o
número de porções, o hábito, o comprimento e massa das presas.
Foram registrados o número de ninhos construídos, identificados os ovos
por ordem de postura em “A”, “B”, (Fig. 7) “C” e marcados com caneta hidrocor,
registrado o número de ovos por postura, intervalo de tempo entre um e outro,
perda de umidade através do peso diário e o tempo de incubação. A distância
entre os ninhos nas diversas feições faciológicas da ilha foi obtida com trena de
precisão de 0,1cm (Fig. 8).
Figura 7. Ovos de Sterna hirundinacea marcados com as letras "A" e "B" de
acordo com a ordem de postura.
14
Figura 8. Densidade dos ninhos de Sterna hirundinacea e Thalasseus
sandvicensis entre os substratos de grama e grama seca na Ilha dos Cardos.
O comprimento do eixo maior dos ovos (Lt) e largura (Wid) em
centímetros foram determinados com paquímetro (0,1cm) e o peso (Wt) em
gramas com dinamômetro tipo PESOLA (60g e precisão de 0,5g) (Fig. 9). O
volume dos ovos foi determinado pela equação de Hoyt (1979): Vol(cm
3
)=
Kv.Lt.Wid
2
, logo: Kv= V/Lt.Wid
2
, onde Kv= coeficiente volumétrico estimado de
0,5205; Lt= comprimento total; Wid= maior largura do eixo (Branco 2003a).
Os ninhos com três ovos (nove, 10 e quatro) e perdas causadas pela
atividade de pesquisa (18, três e 12 em 2003, 2005 e 2006, respectivamente)
não foram representados graficamente por apresentarem baixa incidência em
todas as temporadas e pelo grande volume de dados amostrados.
15
Figura 9. Comprimento, largura e peso dos ovos de Sterna hirundinacea na Ilha
dos Cardos.
Foram removidos os ovos abandonados, gorados, natimortos e predados
de ambas as espécies, possibilitando quantificar diariamente as perdas por
causas naturais e pela ação dos predadores. Foram marcados com estaca
numerada 91 ninhos em 2003, 114 em 2005 e 48 em 2006, representando 110,
146 e 72 ovos de Sterna hirundinacea, e seis, cinco e cinco ninhos de
Thalasseus sandvicensis, respectivamente para estimar o sucesso de
incubação.
Os filhotes foram contados por amostragem direta de acordo com sua
respectiva idade e quando mortos por causas naturais (falta de alimento,
afogados por inundações e brigas territoriais) ou predações (gaviões e urubus)
eram retirados da colônia para que não fossem recontados, e permitindo assim
o estabelecimento da perda diária dos mesmos.
Os jovens de Sterna hirundinacea são nidífugas, com dois ou três dias de
vida, deixam o ninho e escondem-se nas gramíneas e fissuras das rochas,
próximos ao local de nascimento. Para realizar o acompanhamento diário dos
filhotes, assim que registrada uma nova postura de ovo em um ninho, eram
confeccionados cercados individuais (1m
2
) (Fig. 10a) e coletivo (30m
2
) (Fig.
10b) com linha de pesca, ganchos de ferro e rede de emalhar (malha 1,0cm),
para evitar a fuga e perda dos mesmos na região de entorno.
16
Figura 10. Cercado individual (a) e coletivo (b) com vários ninhos de Sterna
hirundinacea e Thalasseus sandvicensis.
O comprimento do cúlmen do bico (Lt
bico
) (Fig. 11a) e do tarso (Lt
tarso
) (Fig.
11b) foram mensurados em centímetros e o peso (Wt) em gramas (Fig. 11c).
Para as medidas de comprimento e largura foram utilizados paquímetro com
0,05mm e na massa corporal, PESOLA de 60, 100, 300 e 500g, com precisão
de 1, 2, 3 e 5g, respectivamente (Branco 2003a).
Figura 11. Método de obtenção do registro de comprimento do cúlmen do bico
(a), tarso (b) e peso dos exemplares (c).
(a) (b)
(a) (b) (c)
17
As técnicas de anilhamento e utilização da rede de neblina (para captura
de juvenis e adultos em vôo) (Fig. 12) foram realizadas de acordo com as de
instruções do CEMAVE/IBAMA (1994).
Figura 12. Rede de neblina armada, com a atuação de pesquisadores.
Os predadores foram identificados nos censos por avistagem direta ou
com binóculos (Sick 1997). Foram acompanhados 106 filhotes em 2003, 114
em 2005 e 101 em 2006 de Sterna hirundinacea para estabelecer o sucesso
reprodutivo. Foram cercados oito ninhos de Thalasseus sandvicensis, durante
a temporada de 2005, entretanto, os filhotes apresentam um comportamento
diferenciado (descrito a seguir) que impossibilitou de mantê-los presos e de
acompanhá-los diariamente. Sendo assim, será realizada uma estimativa do
número de jovens de Thalasseus sandvicensis que tiveram condições de
acompanhar seus pais através da perda diária.
3.2.c. Crescimento dos filhotes
Em 2007 (21 e 22/06 e 19/07) e 2008 (20 a 22/06 e 12/07) foram
realizados esforços amostrais para capturar, anilhar e medir filhotes e adultos
de Sterna hirundinacea e Thalasseus sandvicensis que continuaram nidificando
18
na Ilha dos Cardos. Entretanto, foram utilizados para a caracterização do
crescimento, apenas os dados de Thalasseus sandvicensis, já que os dados
referentes à biometria dos filhotes estavam bastante deficientes (pelo baixo
número existente na ilha e pelo comportamento do bando de juvenis na
colônia).
O modelo de Von-Bertalanffy foi ajustado e adaptado para o crescimento
dos juvenis de trinta-réis, sendo utilizados as medidas de bico, já que o peso e
o tarso apresentaram decremento ou pouco ganho nos últimos estágios.
Lt = L (1-e
-k(t-t0)
), onde:
Lt: comprimento do bico em cm;
L: comprimento máximo do bico dos juvenis;
k: constante de crescimento;
t: tempo em dias;
t0: idade ao nascer.
3.3. Análise dos dados
Com o auxílio do programa “INSTAT”, os dados foram examinados
através da análise de variância ANOVA, sendo testados quanto à
homogeneidade da variância (teste de Bartlett) e de normalidade da
distribuição (prova de Kolmorov-Smirnov) (Zar
1999) os seguintes aspectos:
- Distância entre os ninhos;
- Biometria e volume médio dos ovos por período de incubação e ordem
de postura nas temporadas de 2003 e 2005;
- Tamanho da postura;
- O número de vezes e o tempo decorrido entre as entregas de alimento
aos filhotes diariamente;
- A biometria das estruturas corpóreas dos filhotes.
Na existência de diferenças significativas entre esses parâmetros, o
contraste das médias (teste Tukey-Kramer) foi aplicado para indicar quais
médias foram significativamente distintas.
19
O teste “t” de Student (p< 0,05) foi calculado para verificar a existência de
diferenças significativas quanto ao volume em ninhos com dois ovos entre
início, meio e fim dos períodos reprodutivos de 2003 e 2005, e o centro e borda
da colônia em 2006.
20
4. RESULTADOS
4.1.a. Caracterização das fases dos filhotes de Sterna hirundinacea
As diferentes fases de desenvolvimento dos filhotes foram estabelecidas
em função da idade dos jovens, comprimento do cúlmen do bico e
características de suas plumagens. Assim, o Jovem I (JI) corresponde aos
ninhegos geralmente encontrados nos ninhos (Fig. 13a), com o “dente do ovo”
(Fig. 13b) (estrutura na ponta do bico utilizada para quebrar o ovo por dentro) e
comprimento do bico médio de 1,23±0,01 cm, entre 1 a 6 dias, com a
plumagem creme-amarelada por todo o corpo (Fig. 13c).
Figura 13. Início da fase de Jovem I de Sterna hirundinacea (a), detalhe do dente
do ovo (b), cor da plumagem e final do estágio (c).
(a)
(b)
(c)
21
Jovem II (JII), sem o “dente do ovo” (Fig. 14a), com o tarso espesso o
suficiente para a anilha de metal definitiva (Fig. 14b), com 7 a 14 dias, Lt
bico
de
1,70±0,02, com o peito branco e plumagem creme-amarelada no resto do
corpo, com indícios das rêmiges em desenvolvimento (penas canhão) (Fig.
14c) e retrizes (Fig. 14d).
Figura 14. Jovem II de Sterna hirundinacea (a), detalhe do bico sem o dente do
ovo (b) e detalhes das remiges (c) e retrizes (d).
(a) (b)
(c) (d)
22
Jovem III com 15 a 28 dias de vida e média de Lt
bico
= 2,21±0,01, penas
de canhão nas remiges (Fig. 15b) e retrizes (Fig. 15c) começando a se
desenvolver, e pouca plumagem creme-amarelada na cabeça (Fig. 15d).
Figura 15. Jovem III de Sterna hirundinacea no início da fase (a), detalhes das
penas canhão nas remiges (b) e retrizes (c) e no final do estágio (d).
(b) (a)
(c) (d)
23
Jovem IV, com as penas das remiges (Fig. 16b) e retrizes (Fig. 16c) bem
desenvolvidas, com o Lt
bico
de 2,65±0,03, sem plumagem creme-amarelada
(Fig. 16d), apresentando comportamento territorialista, com 29 a 37 dias.
Figura 16. Jovem IV de Sterna hiraundinacea no início da fase (a), com detalhes
das penas canhão das retrizes (b) e remiges (c) e no final do estágio (d).
(b)
(c) (d)
(a)
24
Os juvenis apresentam média de comprimento bico de 2,83±0,02cm, com
38 dias ou mais de vida e sem nenhum resquício da plumagem inicial (Fig. 17a
e b), além de realizarem o vôo (Fig. 17c).
Figura 17. Juvenil de Sterna hirundinacea pousados (a e b) e em vôo (c).
(a) (b)
(c)
25
Através do anilhamento foram acompanhados jovens nos cercados e soltos na
colônia (Tab. I), que serviam de controle da população, sendo utilizados para analisar
alguma disfunção no crescimento, causada pelo estresse da recaptura diária.
Tabela I. Filhotes de Sterna hirundinacea capturados e monitorados ao longo das
temporadas reprodutivas de 2003, 2005 e 2006 na Ilha dos Cardos. (J= Jovem; I, II, III,
IV=idade).
2003 2005 2006 Idade
Presos Soltos Presos Soltos Presos Soltos
JI 440 170 474 25 206 19
JII 206 258 373 28 206 18
JIII 241 119 502 109 366 26
JIV 118 90 288 205 161 33
J 10 25 2 4 18 21
Total 1015 662 1639 371 860 117
26
4.1.b. Caracterização das fases dos filhotes de Thalasseus sandvicensis
Para Thalasseus sandvicensis o Jovem I corresponde aos ninhegos
geralmente encontrados nos ninhos, com o “dente do ovo” (Fig. 18a) e
comprimento do bico médio de 1,42±0,04 cm, entre 1 a 5 dias, com a
plumagem carijó claro (Fig. 18a) ou escuro por todo o corpo (Fig. 18b). A partir
do quinto dia de vida os filhotes abandonam o ninho e agregam-se em uma
creche (Fig. 18 c) que perambula pela colônia (Fig. 18d).
Figura 18. Jovem I de Thalasseus sandvicensis no ninho (a e b) e na formação
da creche (c e d) na ilha dos Cardos.
(
a
)
(
b
)
(
c
)
(
d
)
27
Jovem II, sem o “dente do ovo” (Fig. 19a), com o tarso espesso o
suficiente para a anilha de metal definitiva, com 6 a 15 dias, Lt
bico
de 1,77±0,09,
com o peito branco e plumagem clareando no resto do corpo (Fig. 19b), com
indícios das penas canhão nas remiges (Fig. 19c) e retrizes (Fig. 19d).
Figura 19. Bico sem dente do ovo (a) de Jovem II de Thalasseus sandvicensis
(b), detalhe das remiges (c) e retrizes (d) na ilha dos Cardos.
(
a
)
(
b
)
(
c
)
(
d
)
28
Jovem III com 16 a 30 dias de vida e média de Lt
bico
= 2,32±0,03, penas
de canhão nas remiges (Fig. 20b) retrizes (Fig. 20c) e os “óculos” em torno dos
olhos começando a se desenvolver, e plumagem começando a escurecer na
cabeça (Fig. 20d).
Figura 20. Detalhe da cabeça (a), remiges (b) e retrizes (c) de um Jovem III (d)
de Thalasseus sandvicensis na ilha dos Cardos.
(
a
)
(
b
)
(
c
)
(
d
)
29
Jovem IV, com penas bem escuras na cabeça (Fig. 21a), remiges (Fig.
21b) e retrizes (Fig. 21c) bem desenvolvidas, com o Lt
bico
de 2,68±0,12,
plumagem branca no ventre e carijó claro no dorso (Fig. 21d), com 31 a 46
dias.
Figura 21. Detalhe da cabeça (a), remiges (b), retrizes (c) de um Jovem IV (d) de
Thalasseus sandvicensis na ilha dos Cardos.
Os juvenis possuem a cabeça com penas todas pretas e sem plumagem
inicial em todo o corpo, entretanto ao longo de todas as temporadas foi
capturado apenas um exemplar com comprimento do bico de 3,1cm, tarso de
2,6cm e massa de 160g.
(
a
)
(
b
)
(
c
)
(
d
)
30
Sterna hirundinacea
4.2. Estabelecimento da colônia e Comportamento reprodutivo
A temporada reprodutiva de 2003 iniciou com a chegada dos primeiros
adultos em meados de maio, incremento gradual do número de reprodutores
até junho, seguido de oscilações até alcançar as maiores abundâncias em
julho, e posterior queda e flutuações no número de indivíduos culminando com
o abandono do sítio em setembro (Fig. 22a).
A formação da colônia em 2005 e 2006 ocorreu no final de abril, com os
períodos bem caracterizados de início (final de junho), meio (julho) e final em
agosto com a saída dos adultos no início de outubro (Fig. 22b e c).
Após o estabelecimento dos territórios os machos deram início à captura
de presas na região de entorno e ao processo de corte. Quando em solo,
vocalizavam exibindo o peixe, assumindo uma postura de corte, com as asas
ao longo do corpo e a cauda esticada a 45 graus do solo (Fig. 23).
No começo do período, a oferta de “presentes” foi muito pequena para o
grande número de fêmeas disponíveis, fazendo com que o macho, ao exibir o
peixe, fosse assediado por várias delas (Fig. 24) e mudasse de local em vôo
circular e emitindo vocalizações.
As fêmeas interessadas assumiam essa mesma postura com o pescoço
esticado e o bico horizontal ou erguido e vocalizando, aproximavam-se do
macho que então decidia a quem entregar a presa (Fig. 25).
Após o consumo da presa, o par executava uma “dança” (Fig. 26) que
culminava com o pouso do macho no dorso da fêmea, permanecendo em pé e
vocalizando, seguido de leves bicadas na cabeça e no bico (Fig. 27). Na
seqüência posicionava a cloaca junto à da fêmea, esticava levemente as asas
(Fig. 28), para manter o equilíbrio, e quando estavam ajustadas, o bater das
asas se acelerava e assim era executada uma inseminação (Fig. 27).
O macho então parava o bater das asas e retornava para a porção
anterior do corpo da fêmea (Fig. 29) e permanecia imóvel até a próxima
inseminação ou encerramento do processo de cópula.
31
0
500
1000
1500
2000
2500
12/5 18/5 24/530/5 5/6 11/6 17/623/6 29/6 5/7 11/7 17/7 23/7 29/7 4/8 10/8 16/822/8 28/8 3/9 9/9 15/9 21/9 27/9
N
Dias
2003
0
500
1000
1500
2000
2500
12/5 18/5 24/5 30/5 5/6 11/6 17/6 23/6 29/6 5/7 11/7 17/7 23/729/7 4/8 10/8 16/8 22/8 28/8 3/9 9/9 15/9 21/9 27/9
N
Dias
2005
0
500
1000
1500
2000
2500
12/5 18/5 24/530/5 5/6 11/6 17/623/6 29/6 5/7 11/7 17/723/7 29/7 4/8 10/8 16/822/8 28/8 3/9 9/9 15/9 21/9 27/9
N
Dias
2006
Início Meio
Fim
(a)
(b)
(c)
Figura 22. Número total de adultos de Sterna hirundinacea ao longo das
temporadas reprodutivas de 2003 (a), 2005 (b) e 2006 (c).
32
Figura 23. Macho de Sterna hirundinacea em posição de cópula (a, Foto cedida
gentilmente pelo Pro. Dr
2
. Joaquim Olinto Branco) e com peixe no bico (b).
Figura 24. Macho de Sterna hirundinacea oferecendo alimento chamando
atenção de duas fêmeas.
Figura 25. Posição de corte de macho e fêmea de Sterna hirundinacea no
momento da entrega do peixe.
33
Figura 26. Dança do casal de Sterna hirundinacea para consolidar a formação do
par reprodutivo.
Figura 27. Macho de Sterna hirundinacea pousado na parte posterior, batendo as
asas e posicionando a cloaca para realizar a inseminação.
34
Figura 28. Macho de Sterna hirundinacea batendo as asas para sincronizar a
posição das cloacas e realizar a inseminação (Foto cedida gentilmente pelo Pro. Dr
2
.
Joaquim Olinto Branco).
Figura 29. Macho de Sterna hirundinacea retornando para a porção anterior do
corpo da fêmea, após ter realizado a inseminação.
35
Em 2003 foram observadas 138 cópulas com duração média entre
85,8±11,8 segundos às 13:00h (n=7) e 161,0±24,3s às 8:00h (n=15), sendo o
procedimento de inseminações repetido por até sete vezes, variando de
1,6±0,4 às 13:00h até 3,5±0,5 às 11:00h (Fig. 30a).
Em 2006, o tempo médio das cópulas ficou em torno de 200s, com os
maiores registros as 9:00 e 11:00h e os menores as 15:00 e 16:00h e o número
de inseminações permaneceu constante ao longo do dia, exceto nas 15:00h
que ocorreu o maior número (Fig. 30b).
Figura 30. Tempo em segundos e número de inseminações durante a cópula de
Sterna hirundinacea, ao longo do dia nas temporadas de 2003 (a) e 2006 (b). (barra
vertical indica o erro da média).
4.3. Construção dos ninhos e período de incubação
Após a cópula, o macho e a fêmea começaram a confeccionar o ninho,
geralmente encontrado no solo (raramente em arbustos) utilizando materiais
0
1
2
3
4
5
6
7
8
0
50
100
150
200
250
300
350
8 9 10 11 12 13 14 15 16 17
Horas
2006
Duração
Inseminações
0
1
2
3
4
5
6
7
8
0
50
100
150
200
250
300
350
8 9 10 11 12 13 14 15 16 17
Inseminações
T (s)
2003
Duração
Inseminações
(a)
(b)
N = 58
N = 138
36
disponíveis na ilha como fragmentos de rochas e conchas, gramíneas,
gramíneas secas, capins e pequenos gravetos (Fig. 31).
Figura 31. Ninhos de Sterna hirundinacea construídos com gramíneas secas (a),
gravetos e gramíneas (b) e fragmentos de rochas e gravetos (c).
O macho e fêmea alternavam-se na incubação dos ovos, e sempre que
ocorria a troca dos turnos, o recém-chegado pousava perto do ninho,
aproximava-se posicionando as patas com cautela ao lado dos ovos (Fig. 32a),
encaixava as penas do peito sobre os mesmos (Fig. 32b) e abaixava fazendo
com que eles fossem totalmente cobertos (Fig. 32c). Seu parceiro permanecia
coletando material solto nas proximidades facilitando a manutenção do ninho.
Figura 32. S. hirundinacea realizando a aproximação d ninho (a) arrumando os
ovos e posicionando as penas do peito (b) e incubando os ovos (c).
S. hirundinacea ocupou a maior parte da Ilha dos Cardos, exceto na
feição leste com arbustos e rochas expostas, com uma média de seis ninhos
por m
2
com diferenças significativas entre as distâncias em todos os anos de
amostragem (F
3-16
= 3,99, p<0,01 em 2003; F
3-236
= 23,42, p<0,001 em 2005 e
F
3-266
= 14,51, p<0,01 em 2006) (Fig. 33). As maiores distâncias encontradas
nos locais do alto da colônia e as menores nos de grama e rocha e gramíneas
(a) (b) (c)
(a)
(b) (c)
37
(2003) (Fig. 33a), e demais localidades em 2005 e 2006 (Fig. 33b e 33c) foram
as fontes de variações (Tukey).
Figura 33. Distância entre os ninhos de Sterna hirundinacea construídos nos
diferentes substratos nas temporadas de 2003 (a), 2005 (b) e 2006 (c).
Foram registrados três pulsos reprodutivos ao longo das temporadas, com
a maior postura em 2005, 2003 e 2006 (Fig. 34). Em todos os anos foi
encontrado o maior número de ninhos no início do período (junho de 2003 e
2005 e maio de 2006), seguido do meio com picos em julho e menor
investimento no final (09/09, 25/08 e 01/09, respectivamente) (Fig. 34).
23
28
35
34
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
Alto da Colônia Fragmentos Grama e roch a Gramíneas
Distancia (m)
Local
2003
51
11
123
55
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
Alto da colônia Fragmentos Grama e rocha Gramíneas
Distância (m)
Local
2005
33
113
55
69
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
A
lto da colônia Fra
g
mentos Grama e rocha Gramíneas
Distância (m)
Local
2006
(a)
(b)
(c)
38
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
650
700
750
800
850
12/5 18/5 24/5 30/5 5/6 11/6 17/6 23/6 29/6 5/7 11/7 17/7 23/7 29/7 4/8 10/8 16/8 22/8 28/8 3/9 9/9 15/9 21/9 27/9
N
Dias
2003
N = 2124
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
650
700
750
800
850
12/5 18/5 24/5 30/5 5/6 11
/
617/623/629/6 5
/
711
/
717
/
723/729
/
74
/
810/816
/
822
/
828
/
83/9 9/915/921/927
/
9
N
Dias
2005
N = 2417
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
650
700
750
800
850
12/5 18/5 24/5 30/5 5/6 11
/
617/623/629/6 5
/
711
/
717
/
723
/
729
/
74/810
/
816
/
822/828
/
8 3/9 9/9 15/9 21/9 27
/
9
N
Dias
2006
N = 1852
Início Meio
Fim
Figura 34. Abundância diária de ninhos novos de Sterna hirundinacea durante o
período de 2003 (a), 2005 (b) e 2006 (c) na Ilha dos Cardos, SC, Brasil.
39
O tamanho médio das posturas foram maiores em 2006 (F
2-6461
= 170,14,
p<0,0001) que as de 2005 e 2003 (Tab. II), com predomínio de ninhos com um
ovo (81,69%, 63,31% e 59,77), com dois (17,89, 36,28 e 40,01%) e em menor
freqüência com três (0,42, 0,41 e 0,22) em 2003, 2005 e 2006, respectivamente
(Fig. 27).
Tabela II. Número de ovos por postura e filhotes, predações, mortes naturais,
atividades de pesquisa, sucesso de eclosão e reprodutivo das temporadas de 2003,
2005 e 2006.
2003 2005 2006
ovos filhotes ovos filhotes ovos filhotes
N 110 106 146 114 72 101
postura 1,19 - 1,33 - 1,45 -
predados 20 2 49 15 6 3
naturais 20 50 33 58 11 44
pesquisa 1 - 5 - - -
Sucesso 62,73 50,94 41,10 35,96 76,39 53,47
Em 2003, o maior esforço reprodutivo ocorreu no início da postura com
pico de ninhos em 19/06, o meio com maiores registros em 12/07, e em 14/07
no fim do período (Fig. 35a). O mesmo padrão pode ser observado em 2005,
com o pico de ninhos em 04/06 (165) referente à primeira postura, 27/07 (39)
segunda e 25/05 (35) à terceira (Fig. 35b), bem como em 2006, 19/05 (119),
10/07 (49) e 01/09 (6), respectivamente (Fig. 35c).
Em 2003 não ocorreram ninhos com mais de um ovo após o dia 09/08
(Fig 35a), entretanto, em 2005 e 2006 foram registrados ninhos com dois ovos
no meio e final das temporadas (Fig. 35b e 35c).
40
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
12/5 16/5 20/5 24/5 28/5 1/6 5/6 9/6 13/6 17/6 21/6 25/6 29/6 3/7 7/7 11/7 15/7 19/7 23/7 27/7 31/7 4/8 8/8 12/8 16/8 20/8 24/8 28/8 1/9 5/9 9/9 13/9 17/9 21/9 25/9 29/9
N ovos
Dias
2003
c 1 = 1735
c 2 = 380
(a)
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
12/5 16/5 20/5 24/5 28/5 1/6 5/6 9/6 13/6 17
/
6 21/6 25/6 29/6 3/7 7/7 11
/
715
/
719
/
723
/
727
/
731
/
74
/
88
/
812
/
816
/
820
/
824
/
8 28/8 1/9 5/9 9/9 13/9 17/9 21
/
925
/
929
/
9
N ovos
Dias
2005
c 1 = 1574
c 2 = 902
(b)
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
12/5 16/5 20/5 24/5 28/5 1/6 5/6 9/6 13/6 17
/
6 21/6 25/6 29/6 3/7 7/7 11
/
715
/
719
/
723
/
727
/
731
/
74
/
88
/
812
/
816
/
820
/
824
/
8 28/8 1/9 5/9 9/9 13/9 17/9 21
/
925
/
929
/
9
N ovos
Dias
2006
c 1 = 1107
c 2 = 741
(c)
Início Meio
Fim
Figura 35. Freqüência de ninhos com um e dois ovos de Sterna hirundinacea ao longo
do período reprodutivo de 2003 (a), 2005 (b) e 2006 (c).
41
4.4. Biometria dos ovos
Os menores e maiores valores médios de comprimento, largura e massa
dos ovos foram registrados no fim e início da temporada de 2003,
respectivamente, exceto o peso que foi superior no final de 2005 (Tab. III).
O comprimento dos ovos em 2003, independente da ordem de postura,
não apresentou diferença significativa (F
2-830
= 1,506; p>0,05), já a largura (F
2-
830
= 5,413; p<0,05) e o peso dos ovos (F
2-830
= 5,421; p<0,05) diferiram entre os
períodos. O contraste das médias demonstrou que essas diferenças ocorreram,
principalmente, no final da temporada, onde em média foram registrados os
menores valores (Tab. III).
Em 2005, não ocorreram diferenças no comprimento (F
2-715
= 0,179;
p>0,05) e largura (F
2-715
= 1,186; p>0,05), entretanto, o peso dos ovos (F
2-715
=
11,573; p<0,001) foram significativamente diferentes, devido aos menores
valores encontrados no início da temporada (Tab. III).
Tabela III. Número de ovos medidos (N), biometria e peso dos ovos de Sterna
hirundinacea durante o período de desova na Ilha dos Cardos (< = menor, > = maior
valor registrado e média±erro padrão) SC, Brasil.
Comprimento Largura Peso
Ano Período
< >
med±erro
< >
med±erro
< >
med±erro
N
Início 4,10 5,60
4,59±0,01
3,00 3,50
3,29±0,01
18,00 40,00
26,00±0,12
500
2003 Meio 3,90 5,20
4,57±0,01
3,00 3,20
3,26±0,01
20,50 31,00
25,83±0,13
251
Fim 3,90 5,40
4,55±0,02
3,00 3,40
3,23±0,01
20,00 29,50
25,07±0,23
82
Início 3,90 5,30
4,57±0,02
3,00 3,5
3,27±0,01
18,00 32,00
25,46±0,23
322
2005 Meio 4,00 5,10
4,57±0,02
3,00 3,5
3,26±0,01
20,00 30,50
26,06±0,23
281
Fim 4,10 5,10
4,56±0,02
3,00 3,5
3,26±0,01
22,00 31,00
26,41±0,22
115
Foi registrada diferença significativa entre o volume dos ovos durante os
períodos de incubação de 2003 (F
2-830
= 10,907; p<0,001), atribuídos aos
menores incrementos energéticos no final (Fig. 36a). Em 2005 não ocorreram
diferenças significativas entre o início, meio e final (F
2-715
= 1,214; p>0,05) (Fig.
36b).
42
Figura 36. Volume médio dos ovos de Sterna hirundinacea no início, meio e fim
do período reprodutivo em 2003 (a) e 2005 (b) na Ilha dos Cardos, SC, Brasil. (barra
vertical indica o erro padrão da média).
Os ovos “A” colocados em ninhos com um ovo foram similares no início,
meio e fim de 2003 (F
2-87
= 2,424; p>0,05) e 2005 (F
2-48
= 1,622; p>0,05), bem
como em ninhos com dois ovos (t=0,188; p>0,05) e (F
2-160
= 0,213; p>0,05),
respectivamente (Fig. 37). Entretanto, ocorreram diferenças significativas entre
o volume dos ovos “A” e “B” em ninhos com dois ovos no início (t=4,564;
p<0,001), (t=7,681; p<0,001) e meio (t=2,370; p<0,05), (t=3,207; p<0,05) de
2003 e 2005, respectivamente, mas não diferiram no fim do período de 2005
(t=1,800; p>0,05) (Fig. 37b).
500
251
82
24,5
25
25,5
26
26,5
27
Início Meio Fim
Vol (cm
3
)
Período
2003
322
281
115
25
25,2
25,4
25,6
25,8
26
26,2
26,4
26,6
26,8
27
Início Meio Fim
Vol (cm
3
)
Período
2005
(a)
(b)
43
Figura 37. Volume médio dos ovos A e B de Sterna hirundinacea nos períodos
de reprodução em 2003 (a) e 2005 (b) na Ilha dos Cardos, SC, Brasil. (barra vertical
indica o erro padrão da média).
Em 2006 foi realizada a biometria de 286 ovos que apresentaram o
comprimento médio de 4,61±0,01cm, largura de 3,30±0,01cm e massa de
27,19±0,12g e apesar de terem sido registrados valores menores na borda em
relação ao centro da colônia, não ocorreram diferenças significativas no volume
dos ovos “A” (t=1,566; p>0,05) e “B” (t=1,016; p>0,05) (Fig. 38).
50
8
50
8
23,5
24
24,5
25
25,5
26
26,5
27
27,5
Início Meio Fim
Vol (cm
3)
Período
2003
Ovos A
Ovos B
129
28
6
129
28
6
22
23
24
25
26
27
28
29
Início Meio Fim
Vol (cm
3
)
Período
2005
Ovos A
Ovos B
(a)
(b)
44
114
73
51
48
24,50
25,00
25,50
26,00
26,50
27,00
27,50
28,00
28,50
A Centro A Borda B Centro B Borda
Vol (cm
3
)
Ovos
2006
Figura 38. Volume médio dos ovos A e B de Sterna hirundinacea do centro e
borda durante o período reprodutivo de 2006 na Ilha dos Cardos, SC, Brasil. (barra
vertical indica o erro padrão da média).
Em 2003 foi possível acompanhar a incubação de 27 ovos “A” e 13 “B”,
que levaram em média 22,89 e 21,86 dias para a eclosão dos filhotes com
redução diária no peso entre 22,81 a 20,15%, respectivamente, com um
decréscimo médio diário de 0,25g (Fig. 39a).
Na temporada de 2005, a redução média diária no peso dos ovos “A” (N=
55) e “B” (N= 5) foi de 0,23 e 0,17g, representando um decréscimo entre 21,53
e 15,67%, com o tempo médio de incubação de 23,05 e 22,40 dias,
respectivamente (Fig. 39b).
Em 2006 foram necessários 23,83 e 23,68 dias para a incubação dos
ovos “A” (N= 35) e “B” (N= 19), com perda de massa de 18,10 e 15,86% até a
eclosão do filhote, representando uma média diária de 0,20 e 0,17g,
respectivamente (Fig. 39c).
45
Figura 39. Redução média diária no peso dos ovos “A” e “B” de Sterna
hirundinacea, durante o período de incubação em 2003 (a), 2005 (b) e 2006 (c).
2003
17
19
21
23
25
27
29
31
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21
Dias
Wt (g)
Ovos A = 27
Ovos B = 13
22,80 %
20,15 %
2005
17
19
21
23
25
27
29
135791113151719212325
Dias
Wt (g)
Ovos A = 55
Ovos B = 5
21,53%
15,67%
2006
20
22
24
26
28
30
32
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 Dias
Wt (g)
Ovos A = 35
Ovos B = 19
15,86%
18,10 %
(a)
(b)
(c)
46
4.5. Perdas diárias de ovos
De acordo com a figura 34, foram registrados 2124 ninhos em 2003, 2417
em 2005 e 1852 em 2006, totalizando 2522, 3408 e 2601 ovos,
respectivamente, que teriam condições de serem incubados, no entanto, 164,
532 e 268 foram perdidos por predações e 348, 302 e 240 por causas naturais
(Fig. 40).
As perdas diárias dos ovos por outras causas naturais ocorreram mais
freqüentemente no meio do período com picos em 25/07 em todas as
temporadas reprodutivas, e 21/06 no início de 2005 (Fig. 40).
Os predadores que atuaram sobre os ovos de S. hirundinacea na Ilha dos
Cardos foram o urubu-comum Coragyps atratus (Fig. 41), o lagarto teiú
Tupinambis merianae (Fig. 42) e o gavião caracará Caracara plancus (Fig. 43).
As predações ocorreram ao longo de todo o período nos anos de estudo, com
a maior atuação dos gaviões no início de 2003 e 2006 e no meio da temporada
de 2005 pelo lagarto (Fig. 40).
A coloração dos ovos somada à proximidade dos ninhos resultou na
quebra de ovos pelo pesquisador no decorrer de todo o período reprodutivo,
com maior incidência no início da temporada de 2003, onde eram encontradas
as maiores densidades e também pela invasão da ilha por curiosos que
pisavam e mudavam ovos de ninhos que representaram menos que 1,0% de
perdas em todas as temporadas.
47
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
12/5 16/5 20/5 24/5 28/5 1/6 5/6 9/6 13/6 17/6 21/6 25/6 29/6 3/7 7/7 11/7 15/7 19/7 23/7 27/7 31/7 4/8 8/8 12/8 16/8 20/8 24/8 28/8 1/9 5/9 9/9 13/9 17/9 21/9 25/9 29/9
N
Dias
2003
predados = 164
naturais = 348
(a)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
12/5 16/5 20/5 24/5 28/5 1/6 5/6 9/6 13/6 17/6 21/6 25/6 29/6 3/7 7/7 11/7 15/7 19/7 23/7 27/7 31/7 4/8 8/8 12/8 16/8 20/8 24/8 28/8 1/9 5/9 9/9 13/9 17/9 21/9 25/9 29/9
N
Dias
2006
predados = 268
naturais = 240
(c)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
12/5 16/5 20/5 24/5 28/5 1/6 5/6 9/6 13/6 17/6 21/6 25/6 29/6 3/7 7/7 11/7 15/7 19/7 23/7 27/7 31/7 4/8 8/8 12/8 16/8 20/8 24/8 28/8 1/9 5/9 9/9 13/9 17/9 21/9 25/9 29/9
N
Dias
2005
predados = 532
naturais = 302
(b)
Início
Meio Fim
Figura 40. Freqüência de perda de ovos de Sterna hirundinacea, por causas
naturais e predações durante as temporadas reprodutivas de 2003 (a), 2005 (b) e 2006
(c).
48
Figura 41. Urubu-comum (Coragyps atratus) que atua como predador sobre os
ovos de Sterna hirundinacea na Ilha dos Cardos.
Figura 42. Lagarto teiú (Tupinambis merianae) que atua como predador sobre os
ovos de Sterna hirundinacea na Ilha dos Cardos.
Figura 43. Gavião Caracará (Caracara plancus) que atua sobre ovos e filhotes de
Sterna hirundinacea na Ilha dos Cardos.
49
4.6. Sucesso de incubação
Dos 110 ovos monitorados em 2003, 18,18% foram predados e perdidos
por causas naturais e 0,91% pela atividade de pesquisa, totalizando um
sucesso de incubação de 62,73% (Tab. II). Em 2005 foi encontrado o menor
valor (41,10%), já que 33,56% foram perdidos por maior ação dos predadores,
seguido de causas naturais e atividade de pesquisa (Tab. II). Em 2006 foi
estimado o maior sucesso (76,39%) com a menor perda por causas naturais e
predações registradas em todas as temporadas (Tab. II).
4.7. Alimentação
4.7.a. Chegada de alimento na colônia
Foram registrados 6248, 5140 e 4006 presas transportadas pelas aves à
colônia nas temporadas de 2003, 2005 e 2006, respectivamente (Tab. IV). De
acordo com a mesma tabela, estiveram distribuídas em oito, sete e nove
famílias, sendo que as mais capturadas foram as representantes dos
Engraulidae de pequeno porte em 2003, grande em 2005 e médio em 2006. A
segunda presa em número de avistagens foram os Clupeidae, seguido dos
Trichiuridae, Loliginidae e Sciaenidae e as que foram menos trazidas ao sítio
foram os Ariidae e Sparidae (Tab. IV).
Os pares reprodutivos utilizaram a luz do dia para capturar alimento e
carregá-lo para a colônia, com as maiores freqüências de aves com presas
entre as 9:00h e 11:00h e as menores após o meio dia em 2003 (Tab. IV). Em
2005 a chegada de itens manteve-se constante entre as 9:00 e 15:00 com os
maiores registros as 11:00h e os menores as 8:00 e 17:00h, enquanto que, em
2006 foram observados picos as 9:00 e 14:00h; em ambas temporadas
ocorreram os picos seguido de decréscimo gradual até as 13:00 e 17:00h,
respectivamente (Tab. IV).
50
Tabela IV. Relação das presas por horário de avistagem na colônia (P = pequeno, M = Médio, G = grande e N iden= Não identificado).
Itens
Engraulidae Clupeidae
Hora Ano
P M G P M G
Trichiu
ridae
Loligini
dae
Mugili
dae
Carangi
dae
Sciaen
idae
Ariid
ae
Pomaca
nthidae
Monocanthi
dae
Spar
idae
Inseto
N
iden
Total
6 2006 1 4 5 - - - - 2 - - - - - - - - - 12
7 2006 6 54 142 2 12 5 - 8 - - - - - - - 1 - 230
2003 53 52 18 - 10 1 - - - - 4 - - - - - - 138
2005 4 9 3 - 1 - - - - - - - - - - - - 17 8
2006 40 97 80 10 30 27 2 10 - - - - - - - - - 296
2003 686 439 156 59 147 54 - 2 15 1 9 1 - - - - - 1632
2005 73 105 95 4 18 17 58 - - - 4 - - - - - - 374 9
2006 87 234 235 69 82 68 34 11 - - 1 - - 1 - 1 - 823
2003 1056 640 325 89 232 58 - - 1 1 14 - - - - - - 2476
2005 157 144 170 9 22 27 65 2 - - 4 - - - - - 1 601
10
2006 89 194 235 61 100 65 26 8 - - - - - 1 1 - - 780
2003 772 346 178 48 126 47 - - - - 1 - - - - - - 1565
2005 385 186 360 11 39 48 128 - - - 6 - - - - - - 1163 11
2006 58 84 81 23 75 62 9 4 - - - - - - - - - 396
2003 144 109 37 20 56 23 - - - - - - - - - - - 389
2005 319 173 268 10 29 62 131 - - - 3 - 2 - - - - 997 12
2006 81 107 76 20 54 56 36 2 - - 1 - - - - - - 433
2003 6 6 4 - 3 2 - - - - - - - - - - - 21
2005 159 101 137 3 32 43 66 2 - - - - - - - - - 543
13
2006 33 17 21 23 15 3 3 - - - - - - - - - - 115
2003 6 1 3 3 4 2 - - - - - - - - - - - 19
2005 145 164 185 6 33 41 60 - - - 4 - - - - - - 638 14
2006 61 94 54 25 61 21 44 7 - - 1 - - - - 4 - 372
2003 3 2 - - 2 1 - - - - - - - - - - - 8
2005 74 115 203 9 40 15 47 - - - - - - - - - 1 504 15
2006 66 75 35 27 59 31 22 1 - - 1 - - - - - - 317
2005 29 65 120 1 1 4 9 - - - - - - - - - - 229
16
2006 36 49 32 8 38 18 22 2 - - 1 - - 1 - - - 207
2005 17 19 35 - 2 1 - - - - - - - - - - - 74
17
2006 4 8 3 3 7 - - - - - - - - - - - - 25
2003 2726 1595 721 219 580 188 170 2 16 2 28 1 - - - - - 6248
2005 1362 1081 1576 53 217 258 564 4 - - 21 - 2 - - - 2 5140
Total
2006 562 1017 999 271 533 356 198 55 - - 5 - - 3 1 6 - 4006
51
4.7.b. Entrega de presas no período de corte
Dos 160 peixes transportados pelos machos para serem oferecidos às
fêmeas durante o período de corte na temporada de 2003, 90 foram entregues
antes da cópula e 70 após, sendo que os Engraulidae de tamanho pequeno e
médio foram os mais abundantes, respectivamente (Tab. V). Essas entregas
foram observadas com maior freqüência as 9:00h e diminuíram à partir do meio
dia (Fig. 44).
Tabela V. Peixes entregues às fêmeas, antes e após a cópula (P = pequeno, M =
Médio e G = grande).
Engraulidae Clupeidae
Cópula
P M G Total P M G Total
Antes 39 20 9 68 6 9 7 22
Depois 20 21 14 55 1 4 10 15
Total 59 41 23
123
71317
37
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
8 9 10 11 12 13 14 15
Horas
N
Figura 44. Horários de entrega dos peixes às fêmeas de Sterna hirundinacea,
com as fases antes e depois da cópula em conjunto.
52
4.7.c. Entrega de presas aos filhotes
A entrega de alimento aos filhotes (Fig 45a e 45b) ocorreu desde as
primeiras horas da manhã até o final da tarde, com os maiores registros em
2006, seguido de 2003 e 2005, as 9:00, 11:00 e 10:00h, respectivamente, e os
menores nas horas de pouca luminosidade tanto na manhã quanto a tarde (Fig.
46).
Ao longo do dia era comum observar filhotes, que seguiam os pais aos
arredores da colônia em aulas de vôo e localização e captura de peixes,
freqüentemente vistos no costão ou em bóias de maricultura, que retornavam
para o sítio próximo ao local de seu ninho (Fig. 47).
Figura 45. Filhotes de Sterna hirundinacea esperando ser alimentados por
Engraulidae Grande (a) e Peixe espada (b).
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
650
700
750
800
850
6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17
N
Horas
2003 = 2106
2005 = 1970
2006 = 2293
Figura 46. Entrega de alimento aos jovens ao longo das temporadas de 2003,
2005 e 2006.
(a) (b)
53
Figura 47. Juvenil de Sterna hirundinacea pedindo alimento (a) e pousados
próximos aos locais dos ninhos natais (b e c).
O número de presas entregue aos filhotes não apresentou diferença
significativa (F
4-108
=1,17, p>0,05), entretanto, aumentou gradualmente com a
idade, desde os primeiros dias de vida até começar a realizar aulas de vôo
(JIV), e redução nos juvenis (Fig. 48).
9
16
66
13
5
0
1
2
3
4
5
6
7
J I J II J III J IV J
Idade
Item/dia
Figura 48. Número de vezes que os filhotes de Sterna hirundinacea foram
alimentados em um dia de acordo com sua respectiva idade.
Ao longo das temporadas foi observado que o tempo médio em que eram
ofertados alimentos aos jovens foi inversamente proporcional ao número de
vezes que o filhote recebia comida, com a diminuição do tempo e ausência de
diferença significativa com o avanço da idade (F
3-232
=0,40, p>0,05) (Fig. 49).
(a) (b) (c)
54
18
17
167
34
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
J I J II J III J IV
T (min)
Idades
Figura 49. Tempo médio em minutos que eram ofertados alimento aos filhotes de
Sterna hirundinacea de acordo com sua respectiva idade.
4.7.d. Regurgitos dos filhotes
As observações das entregas de alimento aos filhotes que foram
efetuadas a partir de um ponto fixo da colônia foram corroboradas com a
análise dos regurgitos dos filhotes. Em 2003 foram coletados 62 regurgitos,
sendo identificada a participação de oito famílias, nove gêneros e nove
espécies (Tabela VI). Das presas identificadas, seis espécies possuem hábitos
pelágico e três demersais, sendo que Licengraulis grossidens representou
58,1% do número de indivíduos e 62,6% da biomassa total, seguido do bolo,
material que não pode ser identificado devido ao alto grau de digestão. O maior
peixe ingerido foi um Trichiurus lepturus (22,8cm) e o de maior massa foi um
Harengula clupeola (17,54g) (Tab. VI).
55
Tabela VI. Itens identificados nos regurgitos de Sterna hirundinacea, sendo
registrados o número de porções, o hábito, o comprimento e massa das
presas (Reg = Regurgitos, < = menor, > = <maior, Me = média e erro =
erro padrão).
Presa Reg % < > Me ± erro < > Me ± erro Total %
MOLLUSCA
Loligonidae
Loligo sanpaulensis
(Brackoniecki, 1984) Pelágico 1,0 1,0 1,6 13,5 13,5 - 9,1 9,1 - 9,1 2,1
OSTHEICHTYES
Engraulidae
Licengraulis grossidens
Agassiz, 1829
Pelágico 49,0 36,0
58,1
1,1 15,5 9,3 ± 0,4 0,3 15,2 5,6 ± 0,5 276,7
62,6
Cetengraulis edentulus
(Cuvier, 1829) Pelágico 3,0 3,0 4,8 5,5 8,8 7,2 ± 1,0 0,78 3,35 1,82 ± 0,8 5,5 1,2
Clupeidae
Harengula clupeola
(Cuvier, 1829) Pelágico 5,0 3,0 4,8 7,5 7,5 7,5 ± 0,0 3,36 17,54 4,1 48,5 11
Mugilidae
Mugil platanus
Gunther, 1880 Pelágico 1,0 1,0 1,6 11,5 11,5 - 15,5 15,5 - 15,5 3,5
Sciaenidae
2,0 2,0 3,2 5,0 8,7 6,9 ± 1,9 2,82 7,27 5,0 ± 2,2 10,0
Isopistus parvipinis
(Cuvier, 1830) Demersal 1,0 1,0 1,6 6,0 6,0 - 1,6 1,6 - 1,6 0,4
Trichiuridae
Trechiurus lepturus
Linnaeus, 1758 Pelágico 1,0 1,0 1,6 22,8 22,8 - 8,3 8,3 - 8,3 1,9
Stromateidae
Peplirus paru
(Linnaeus, 1758) Demersal 3,0 3,0 4,8 5,0 7,5 6,3 ± 0,7 1,5 5,3 3,9 ± 1,2 11,8 2,7
Monacanthidae
Stephanolepis hispidus
(Linnaeus, 1776) Demersal 1,0 1,0 1,6 5,5 5,5 - 1,8 1,8 - 1,8 0,4
Bolo 10,0 10,0
16,1
- - - 1,63 13,34 6,3 ± 1,3 63,5
14,4
Total
62,0
100,0 440,5 100,0
Biomassa (g)
HábitoEspécie
Número Comp (cm)
4.8. Presença de Jovens na colônia
4.8.a. Abundância de Jovens na colônia
Na temporada de 2003, os primeiros filhotes eclodiram no final de junho,
com aumento gradual até as maiores ocorrências em 15/07 (N = 525), seguido
de queda até 04/08 (N = 31) e oscilações do meio para o final da temporada
15/09 (N = 14) (Fig. 50a).
Em 2005 os primeiros filhotes surgiram no final de maio, e seguiram a
mesma tendência de 2003, com três picos de abundância, junho (N = 590),
agosto (N = 54) e setembro (N=26) (Fig. 50b). A eclosão do primeiro neonato
em 2006 foi registrada em 31/05, com os maiores valores no início (N=485) e
queda no meio e ausência de nascimentos no final do período reprodutivo (Fig.
50c).
Foi registrada a mesma tendência de oscilação da abundância diária em
todas as idades subseqüentes, com os maiores valores para JII em 26/07
(N=413), JIII em 03/08 (N=325) e JIV em 12/08 (N=274); os juvenis começaram
a surgir no final da temporada, em torno de 30 dias (29/07) após as primeiras
56
eclosões, com as maiores abundâncias em 24/08 (N=265) e redução gradativa
até o abandono da colônia (Fig. 51a).
Em 2005 os picos de abundância de JII, JIII, JIV e juvenis foram
observados no meio do período em 05/07 (N=475), 10/07 (N=362), 22/07
(N=320) e 31/07 (N=225), respectivamente (Fig. 51b).
No início da temporada de 2006 foi observado o maior número de JII
(29/06, N=412), enquanto que o pico de JIII (09/07, N=358) e JIV (17/07,
N=358) foi encontrado no meio do período (Fig. 51c). De acordo com a mesma
figura, os juvenis apresentaram oscilações no meio (24/07, N=287) e fim do
período (19/08, N=152), com abandono gradual até o final de setembro.
57
0
100
200
300
400
500
600
12/5 18/5 24/5 30/5 5/6 11/6 17/6 23/6 29/6 5
/
711
/
717
/
723
/
729
/
74
/
810
/
816
/
822
/
828
/
83
/
9 9/9 15/9 21/9 27/9
N
Dias
2003
(a)
0
100
200
300
400
500
600
12/5 18/5 24/5 30/5 5/6 11/6 17/6 23/6 29/6 5
/
711
/
717
/
723
/
729
/
74
/
810
/
816
/
822
/
828
/
83
/
9 9/9 15/9 21/9 27/9
N
Dias
2005
(b)
0
100
200
300
400
500
600
12/5 18/5 24/5 30/5 5/6 11/6 17/6 23/6 29/6 5
/
711
/
717
/
723
/
729
/
74
/
810
/
816
/
822
/
828
/
83
/
9 9/9 15/9 21/9 27/9
N
Dias
2006
(c)
Início
Meio
Fim
Figura 50. Abundância de filhotes neonatos (JI) nas temporadas reprodutivas de
2003 (a), 2005 (b) e 2006 (c).
58
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
12/5 20/5 28/5 5/6 13/6 21/629/6 7/7 15/7 23/7 31/7 8/8 16/8 24/8 1/9 9/9 17/9 25/9
N
Dias
J
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
12/520/5 28/5 5/6 13/6 21/629/6 7/7 15/7 23/731/7 8/8 16/824/8 1/9 9/9 17/9 25/9
N
Dias
JII
(a)
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
12/520/5 28/5 5/6 13/6 21/629/6 7/7 15/723/731/7 8/8 16/824/8 1/9 9/9 17/9 25/9
N
Dias
JIII
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
12/520/5 28/5 5/6 13/6 21/629/6 7/7 15/723/731/7 8/8 16/824/8 1/9 9/9 17/9 25/9
N
Dias
JIV
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
12/520/5 28/5 5/6 13/6 21/629/6 7/7 15/723/731/7 8/8 16/824/8 1/9 9/9 17/9 25/9
N
Dias
J
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
12/520/5 28/5 5/6 13/621/6 29/6 7/7 15/723/731/7 8/8 16/8 24/8 1/9 9/9 17/9 25/9
N
Dias
JII
(b)
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
12/520/528/5 5/6 13/6 21/629/6 7/7 15/723/731/7 8/8 16/824/8 1/9 9/9 17/9 25/9
N
Dias
JIII
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
12/520/5 28/5 5/6 13/621/6 29/6 7/7 15/723/731/7 8/8 16/8 24/8 1/9 9/9 17/9 25/9
N
Dias
JIV
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
12/520/528/5 5/6 13/6 21/629/6 7/7 15/723/731/7 8/8 16/824/8 1/9 9/9 17/9 25/9
N
Dias
J
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
12/520/5 28/5 5/6 13/6 21/629/6 7/7 15/7 23/731/7 8/8 16/824/8 1/9 9/9 17/925/9
N
Dias
JII
(c)
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
12/520/528/5 5/6 13/6 21/629/6 7/7 15/723/731/7 8/8 16/824/8 1/9 9/9 17/9 25/9
N
Dias
JIII
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
12/520/5 28/5 5/6 13/6 21/629/6 7/7 15/7 23/731/7 8/8 16/824/8 1/9 9/9 17/925/9
N
Dias
JIV
Início
Meio
Fim
Início
Meio
Fim
Início
Meio
Fim
Figura 51. Abundância diária de jovens de Sterna hirundinacea na Ilha dos
Cardos nas temporadas reprodutivas de 2003 (a), 2005 (b) e 2006 (c).
4.8.b. Crescimento dos Jovens
Ao longo das temporadas reprodutivas foi observado o incremento
constante do bico em toda a fase jovem, não ocorrendo a estabilização da
curva de crescimento durante a permanência dos filhotes na colônia (Fig. 52).
Os filhotes até o 23º dia não apresentaram diferenças quanto ao tamanho do
bico em todos os anos de estudo, entretanto, em 2006, apresentaram taxas de
incremento superiores e permaneceram menos dias no sítio (Fig. 52).
59
Os jovens I apresentam em média o comprmimento de bico de 1,23±0,01
cm, os II de 1,70±0,02, III de 2,21±0,01, IV de 2,65±0,03, juvenis de 2,83±0,02
e os adultos de 3,99±0,04 cm (Fig. 53). De acordo com a ANOVA não foram
registradas diferenças significativas nas medidas de bico entre os anos de
coleta para as idades II (F
2-826
=0,72; p>0,05) e III (F
2-1354
=2,53; p>0,05)
enquanto que, foram registradas nas I (F
2-1190
=7,69; p<0,001), IV (F
2-869
=6,56;
p<0,05), J (F
2-95
=57,11; p<0,001) e adultos (F
2-14
=6,77; p<0,05) com os maiores
valores encontrados em 2006 sendo a fonte dessas variações.
1
1,2
1,4
1,6
1,8
2
2,2
2,4
2,6
2,8
3
3,2
1 3 5 7 9 11131517192123252729313335373941434547
Dias
Lt bico
2003
2005
2006
Figura 52. Incremento diário em comprimento (cm) do bico dos filhotes de Sterna
hirundinacea.
1
1,3
1,6
1,9
2,2
2,5
2,8
3,1
3,4
3,7
4
4,3
Jovens I Jovens II Jovens III Jovem IV Juvenil Adulto
Idades
Lt bico
2003
2005
2006
Figura 53. Média do comprimento do bico (cm) dos filhotes de Sterna
hirundinacea.
O tarso foi a estrutura que apresentou o maior incremento diário até o 17°
dia, seguido de uma tendência de estabilização, e de um pequeno incremento
60
no 38° (Fig. 54). Da fase I (1,64±0,01cm) para a II (1,97±0,02cm) foi registrado
a maior taxa de incremento desta estrutura, com pequenos acréscimos nas
idades seguintes III (2,11±0,01cm) e IV (2,15±0,01cm), sendo que, o tarso dos
juvenis assemelhou-se (2,20±0,01cm) com as médias observadas nos adultos
(2,26±0,02cm) (Fig. 55).
Foram observadas diferenças significativas nas medidas de tarso em
todas as idades, com os maiores valores encontrados em 2006 a fonte
causadora dessas variações para a idade I (
F2-1190
=30,82; p<0,001), III (
F2-
1354
=92,69; p<0,001), IV (
F2-869
=156,10; p<0,001), J (
F2-95
=4,98; p<0,005) e
adultos (
F2-14
=7,36; p<0,05) e os menores em 2005 para a II (
F2-825
=7,91;
p<0,001) (Fig. 55).
1,5
1,6
1,7
1,8
1,9
2
2,1
2,2
2,3
2,4
2,5
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47
Dias
Lt tarso
2003
2005
2006
Figura 54. Incremento diário de tarso (cm) dos filhotes de Sterna hirundinacea.
1,4
1,5
1,6
1,7
1,8
1,9
2
2,1
2,2
2,3
Jovens I Jovens II Jovens III Jovem IV Juvenil Adulto
Idades
Lt tarso
2003
2005
2006
Figura 55. Média do tarso (cm) dos filhotes de Sterna hirundinacea.
O ganho diário de massa do primeiro ao 20° dia de vida dos filhotes de S.
hirundinacea na colônia da Ilha dos Cardos foi alto (de 19,00 a 115,00g), com
61
pequeno incremento da curva até o 37° dia (143,42g), onde ocorre o estímulo
dos pais a realizar pequenos vôos na borda da colônia acarretando redução de
massa, devido, provavelmente às primeiras tentativas de deixar a colônia (Fig.
56). Nas três etapas iniciais, o ganho de massa aumenta de 28,26±0,30g para
JII (67,34±0,71) e JIII (116,23±0,64g), com pequeno incremento para JIV
(143,95±0,69) e decréscimos na idade juvenil (137,97±2,69g) com uma
tendência a estabilizar a curva de crescimento na fase adulta (142,82±6,82g)
(Fig. 57).
A ANOVA indicou diferenças significativas no peso das idades I (F
2-
1190
=7,35; p<0,001) e III (F
2-1354
=18,23; p<0,001) com os menores valores em
2005 sendo a fonte de variações, II (F
2-826
=68,55; p<0,001), IV (F
2-869
=13,54;
p<0,001) e adultos (F
2-14
=9,89; p<0,001) com os maiores em 2003 e 2006
sendo os responsáveis pelas variações, respectivamente, e não significativo
para J (F
2-95
=0,35; p>0,05).
15
35
55
75
95
115
135
155
175
195
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47
Dias
Wt
2003
2005
2006
Figura 56. Incremento diário em massa (g) dos filhotes de Sterna hirundinacea.
62
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
Jovens I Jovens II Jovens III Jovem IV Juvenil Adulto
Idades
Wt (g)
2003
2005
2006
Figura 57. Média da massa corporal (g) dos filhotes e adultos de Sterna
hirundinacea.
Os filhotes na idade II que foram capturados ao acaso na colônia durante
a temporada de 2003 apresentaram valores significativamente maiores de bico
e massa do que os que ficaram enclausurados nos cercados, entretanto, a
massa dos JIII, IV e J dos cercados foram maiores que os que permaneceram
livres no sítio (Tab. VII).
Em 2005 foram registradas diferenças significativas nas medidas de bico
nas idades I, III e IV ocasionados pelos maiores valores encontrados nos
filhotes soltos, enquanto que, o tarso foi maior na idade I e menor nas III e IV e
o peso maior nas I e III (Tab. VII). De acordo com a mesma tabela, os filhotes I
encontrados soltos em 2006 apresentaram estruturas corporais maiores que os
manuseados diariamente, com exceção da massa corporal registrada nas
idades III, IV e J que foram significativamente maiores nos filhotes que foram
cercados.
63
Tabela VII. Tamanho médio e erro padrão das medidas de bico(Lt b), tarso (Lt t) e massa corporal (Wt) dos filhotes que estavam presos e
soltos (livres) na colônia da ilha dos Cardos durante as temporadas reprodutivas.
2003 2005 2006
Idade Estrutura
presos soltos ANOVA presos soltos ANOVA presos soltos ANOVA
Lt b 1,23±0,01 1,23±0,02 F
(1,608)
=0,005 (p>0,05) 1,22±0,01 1,29±0,04 F
(1,497)
=6,47 (p<0,05) 1,25±0,01 1,42±0,05 F
(1,221)
=32,70 (p<0,001)
J I Lt t 1,65±0,01 1,66±0,01 F
(1,608)
=0,487 (p>0,05) 1,60±0,01 1,70±0,04 F
(1,497)
=13,31 (p<0,001) 1,68±0,01 1,92±0,06 F
(1,221)
=59,52 (p<0,001)
Wt 30,19±0,67 29,30±0,67 F
(1,608)
=0,504 (p>0,05) 26,74±0,44 29,88±2,67 F
(1,497)
=2,43 (p<0,05) 28,10±0,58 43,34±4,01 F
(1,221)
=49,96 (p<0,001)
Lt b 1,66±0,02 1,72±0,01 F
(1,462)
=6,059 (p<0,05) 1,71±0,04 1,75±0,05 F
(1,399)
=0,068 (p>0,05) 1,63±0,01 1,77±0,03 F
(1,125)
=16,48 (p<0,001)
J II Lt t 1,99±0,01 2,02±0,01 F
(1,462)
=3,254 (p>0,05) 1,89±0,01 1,92±0,05 F
(1,399)
=1,111 (p>0,05) 2,12±0,05 2,15±0,05 F
(1,125)
=0,005 (p>0,05)
Wt 74,78±1,64 80,51±1,52 F
(1,462)
=6,508 (p<0,05) 62,68±0,92 59,95±3,53 F
(1,399)
=0,619 (p>0,05) 58,68±1,15 59,75±4,41 F
(1,125)
=0,102 (p>0,05)
Lt b 2,21±0,02 2,26±0,02 F
(1,358)
=3,551 (p>0,05) 2,20±0,01 2,27±0,02 F
(1,609)
=20,37 (p<0,001) 2,19±0,01 2,22±0,03 F
(1,390)
=0,284 (p>0,05)
J III Lt t 2,13±0,01 2,15±0,02 F
(1,358)
=1,734 (p>0,05) 2,09±0,01 2,06±0,01 F
(1,609)
=11,77 (p<0,001) 2,15±0,01 2,19±0,01 F
(1,390)
=4,395 (p<0,05)
Wt 124,42±1,57 114,91±2,10 F
(1,358)
=12,62 (p<0,001) 109,69±0,99 123,79±2,28 F
(1,609)
=36,07 (p<0,001) 119,94±1,20 90,62±3,28 F
(1,390)
=40,92 (p<0,001)
Lt b 2,57±0,01 2,61±0,01 F
(1,206)
=3,167 (p>0,05) 2,59±0,01 2,63±0,01 F
(1,491)
=10,05 (p<0,01) 2,85±0,15 2,73±0,02 F
(1,192)
=0,124 (p>0,05)
J IV Lt t 2,23±0,02 2,20±0,02 F
(1,206)
=1,864 (p>0,05) 2,13±0,01 2,12±0,01 F
(1,491)
=3,942 (p<0,05) 2,24±0,01 2,23±0,03 F
(1,192)
=0,687 (p>0,05)
Wt 147,19±2,04 130,31±2,36 F
(1,206)
=29,35 (p<0,001) 143,92±1,06 145,13±1,32 F
(1,491)
=0,728 (p>0,05) 154,57±1,12 120,21±4,56 F
(1,192)
=114,5 (p<0,001)
Lt b 2,67±0,02 2,64±0,03 F
(1,33)
=0,401 (p>0,05) 2,80±0,01 2,90±0,04 F
(1,4)
=1,333 (p>0,05) 3,00±0,02 2,99±0,02 F
(1,37)
=0,102 (p>0,05)
J Lt t 2,14±0,03 2,15±0,03 F
(1,33)
=0,073 (p>0,05) 2,10±0,01 2,15±0,03 F
(1,4)
=1,333 (p>0,05) 2,26±0,01 2,23±0,01 F
(1,37)
=3,595 (p>0,05)
Wt 139,10±5,46 123,80±3,76 F
(1,33)
=4,939 (p<0,05) 137,00±12,00 127,25±18,76 F
(1,4)
=0,112 (p>0,05) 148,89±6,45 126,76±5,58 F
(1,37)
=6,808 (p<0,05)
64
De acordo com a figura 58, foram necessários em média 6,48±0,11 dias
para que os filhotes perdessem o “dente do ovo” e fossem considerados jovens
II (N=151); para o aparecimento das penas canhão nas asas e cauda e os
filhotes passassem a ser considerados III (N=128) foram necessários em média
6,55±0,20 dias. A passagem de jovem III para IV foi a que levou mais tempo
(13,33±0,38, N=103) para o desenvolvimento das remiges e retrizes e a
substituição completa da penugem primária na cabeça; a aprendizagem do vôo
e a passagem dos jovens IV para juvenis foram necessários 8,67±0,43 dias
(N=21) (Fig. 58).
Foram registradas diferenças significativas quanto ao tempo necessário
para a passagem da fase I (F
2-184
=16,65; p<0,001), II (F
2-125
=28,36; p<0,001) e
III (F
2-100
=4,13; p<0,05), entretanto, não foram registradas para a idade IV (F
2-
18
=0,30; p>0,05) ao longo das temporadas reprodutivas.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
J I J II J III J IV
Idade
Dias
2003
2005
2006
Figura 58. Tempo em dias necessários para a mudança de fase dos jovens I, II,
III e IV de Sterna hirundinacea.
Diariamente foi acompanhado um ninho com dois ovos no centro da
colônia ao longo da temporada de 2006, fotografados os filhotes e registradas
as principais modificações em suas plumagens (Fig. 59). O segundo filhote
eclodiu três dias depois do primeiro, entretanto, não sobreviveu após o nono
dia de acompanhamento do ninho, permanecendo vivo por apenas seis dias,
sendo que a causa da morte foi a desnutrição e brigas com o irmão mais velho
(Fig. 59).
Com dedicação exclusiva, o primeiro filhote desenvolveu-se, mudando
para a idade II após seis dias, para a III depois de sete e para a IV no 27º dia
65
(Fig. 59). No 33º com as penas bem desenvolvidas o filhote foi capaz de
realizar pequenos saltos e iniciar as aulas de vôo, abandonando
temporiaramente o cercado, sendo observado em dias seqüentes no ninho na
presença dos progenitores (Fig. 59).
1
3
6
9
12
66
Figura 59. Transformação diária de um jovem de Sterna hirundinacea.
15
18
21
24
27
30
67
Em 2006 foram acompanhados 146 e 16 ninhos, sendo necessários em
média 58,9±0,98h para a postura do primeiro para o segundo ovo e
71,50±10,57h para a eclosão do primeiro para o segundo filhote.
Apenas um filhote considerado o segundo ninhego conseguiu chegar a
idade de juvenil, após o primeiro filhote ter sido predado por um gavião. Nos 17
ninhos acompanhados durante a temporada reprodutiva de 2006 na ilha dos
Cardos, os filhotes I demoraram em média 4,59±0,50 dias para morrer por falta
de alimento.
O modelo de crescimento de Von-Bertalanffy para o bico dos jovens de S.
hirundinacea, que eram capturados nos cercados e ao acaso, na Ilha dos
Cardos, teve como ajuste a equação: Lt = 3,29 (1- e
-0,0037 (t - (-9,206)
) para 2003,
Lt = 2,85 (1- e
-0,05980 (t - (-6,395)
) em 2005 e Lt = 3,79 (1- e
-0,03191 (t - (-9,819)
) em
2006 (Fig. 60). A maior taxa de crescimento ocorreu nos 20 primeiros dias de
vida com pequenos acréscimos até o vôo e conseqüente abandono da ilha dos
Cardos em torno do 46° dia em 2003, 45º em 2005 e 42º em 2006 (Fig. 60).
1
1,5
2
2,5
3
3,5
13579111315171921232527293133353739414345
Lt bico
Dias
2003
2005
2006
Figura 60. Modelo de ajuste da curva de crescimento de Von-Bertalanffy para os
filhotes de Sterna hirundinacea.
68
4.9. Perdas diárias de filhotes
Dos 2522, 3408 e 2601 ovos colocados durante as temporadas
reprodutivas de 2003, 2005 e 2006, respectivamente, 1992, 2571 e 2081 deles
eclodiram, com as principais perdas nas idades I e II atribuídas a mortalidade
natural e a partir da III pelas atuações dos predadores (Fig. 61).
A principal causa de mortalidade de filhotes foi a natural com maior
incidência no início do período reprodutivo em 2005, seguido de 2006 e 2003,
seguido de queda e oscilações no meio e final das temporadas (Fig. 61).
Os filhotes foram predados principalmente pelo gavião caracará Caracara
plancus que atuaram com maior intensidade do meio do período reprodutivo
em todas as temporadas, e menor no final de 2003 e 2005, exceto em 2006
(Fig. 61).
4.10. Sucesso Reprodutivo
Dos filhotes que foram acompanhados diariamente ao longo das
temporadas, a principal causa de mortalidade foi a natural, 47,17; 50,88 e
43,56%, e com a maior taxa de predação em 2005, tornando-se possível
admitir que o sucesso reprodutivo de S. hirundinacea na Ilha dos Cardos foi de
50,94, 35,96 e 53,47% em 2003, 2005 e 2006, respectivamente (Tab. II).
69
0
5
10
15
20
25
30
35
40
12/517/522/527/5 1/6 6/6 11/6 16/621/626/6 1/7 6/7 11/716/721/726/731/7 5/8 10/8 15/820/825/830/8 4/9 9/9 14/919/924/929/9
N
2003
Mo rtos = 131
Predad os = 38
0
5
10
15
20
25
30
35
40
12/517/522/527/5 1/6 6/6 11/616/621/626/6 1/7 6/7 11/716/721/726/731/7 5/8 10/815/820/825/830/8 4/9 9/9 14/919/924/929/9
Mo rto s = 23
Pred ados = 3
0
5
10
15
20
25
30
35
40
12/517/522/527/5 1/6 6/6 11/6 16/621/626/6 1/7 6/7 11/716/721/726/7 31/7 5/8 10/815/820/825/8 30/8 4/9 9/9 14/9 19/924/929/9
Mortos = 25
Pred ados = 26
0
5
10
15
20
25
30
35
40
12/517/522/527/5 1/6 6/6 11/616/621/626/6 1/7 6/7 11/716/721/726/731/7 5/8 10/815/820/825/830/8 4/9 9/9 14/919/924/929/9
Mo rto s = 5
Pred ados = 18
0
5
10
15
20
25
30
35
40
12/517/522/527/5 1/6 6/6 11/6 16/621/626/6 1/7 6/7 11/7 16/721/7 26/731/7 5/8 10/815/820/825/830/8 4/9 9/9 14/919/9 24/929/9
Dias
Mo rto s = 27
Pred ados = 38
Início
Meio Fim
0
5
10
15
20
25
30
35
40
12/517/522/527/5 1/6 6/6 11/616/621/626/6 1/7 6/7 11/716/721/726/731/7 5/8 10/815/820/825/830/8 4/9 9/9 14/919/924/929/9
N
Dias
2005
Morto s = 380
Pred ados = 46
0
5
10
15
20
25
30
35
40
12/517/522/527/5 1/6 6/6 11/616/621/626/6 1/7 6/7 11/716/721/726/731/7 5/8 10/815/820/825/830/8 4/9 9/9 14/919/924/929/9
Mo rtos = 146
Pred ados = 7
0
5
10
15
20
25
30
35
40
12/517/522/527/5 1/6 6/6 11/616/621/626/6 1/7 6/7 11/716/721/726/731/7 5/8 10/815/820/825/830/8 4/9 9/9 14/919/924/929/9
Morto s = 41
Predad os = 20
0
5
10
15
20
25
30
35
40
12/517/522/527/5 1/6 6/6 11/616/621/626/6 1/7 6/7 11/716/721/726/731/7 5/8 10/815/820/825/830/8 4/9 9/9 14/919/924/929/9
Morto s = 8
Predad os = 40
0
5
10
15
20
25
30
35
40
12/517/522/527/5 1/6 6/6 11/616/621/626/6 1/7 6/7 11/716/721/726/731/7 5/8 10/815/820/825/830/8 4/9 9/9 14/919/924/929/9
Dias
Morto s = 3
Predad os = 34
Início
Meio Fim
0
5
10
15
20
25
30
35
40
12/517/522/527/5 1/6 6/6 11/616/621/626/6 1/7 6/7 11/716/721/726/731/7 5/8 10/815/8 20/825/8 30/8 4/9 9/9 14/919/924/929/9
N
2006
Mo rto s = 226
Pred ados = 6
0
5
10
15
20
25
30
35
40
12/517/5 22/527/5 1/6 6/6 11/616/621/626/6 1/7 6/7 11/716/721/726/731/7 5/8 10/815/820/8 25/830/8 4/9 9/9 14/919/924/929/9
Mo rto s = 40
Predad os = 2
0
5
10
15
20
25
30
35
40
12/517/522/527/5 1/6 6/6 11/616/621/626/6 1/7 6/7 11/7 16/721/7 26/731/7 5/8 10/8 15/820/825/830/8 4/9 9/9 14/919/924/9 29/9
Mo rto s = 34
Pred ados = 12
0
5
10
15
20
25
30
35
40
12/517/522/527/5 1/6 6/6 11/616/621/626/6 1/7 6/7 11/7 16/721/7 26/731/7 5/8 10/8 15/820/8 25/830/8 4/9 9/9 14/919/924/929/9
Mortos = 27
Pred ados = 24
0
5
10
15
20
25
30
35
40
12/517/522/527/5 1/6 6/6 11/616/621/626/6 1/7 6/7 11/716/721/7 26/731/7 5/8 10/8 15/820/8 25/830/8 4/9 9/9 14/919/924/9 29/9
Dias
Mortos = 92
Pred ados = 61
Fim
Meio
Início
Figura 61. Mortalidade diária por causas naturais e predações sobre os filhotes de Sterna hirundinacea ao longo das temporadas de 2003 (a), 2005 (b)
e 2006 (c) na Ilha dos Cardos.
JI
JII
JIII
JIV
J
70
4.11. Distúrbio ocasionado pela atividade humana
A resposta de Sterna hirundinacea ao distúrbio humano foi identificada e
medida nas várias etapas do período reprodutivo e em diversas horas ao longo
do dia. No pré-assentamento as aves estavam muito ariscas e abandonavam a
colônia ou mudavam de local com a chegada do pesquisador a uma distância
de 40 m; no assentamento o alerta era dado pelas aves mais próximas ao
distúrbio (36,0±2,2m) e após a vocalização (35,7±2,8m) o abandono era quase
imediato (33,4±3,6m), entretanto, a maioria das aves já estava começando a
estabelecer o processo de corte e construção de ninhos, retornando após
alguns minutos (cinco em média) para a colônia (Tabela VIII).
Na incubação dos ovos, as aves já estavam mais territorialistas e após o
abandono (20,1±1,6m) realizavam vôos circulares com pequenos ataques (com
o bico e o lançamento de fezes); no último período, o de cuidado parental sobre
os filhotes, as aves estavam muito vigilantes, permanecendo no ninho até a
distância de 5,1±1,1m, podendo retornar e permanecer a menos de dois metros
do pesquisador (Tab. VIII).
Tabela VIII. Distâncias e respostas relativas de Sterna hirundinacea, a
aproximação dos pesquisadores na colônia (N= número de dias em que foram
realizadas as observações).
Etapas Data Alerta Vocalização Abandono N
Pré-assentamento 31/05-09/06 * 25
Assentamento 10/06-20/06
36,0 ± 2,2 35,7 ± 2,8 33,4 ± 3,6
35
Incubação 21/06-01/07
25,0 ± 2,0 23,8 ± 2,0 20,1 ± 1,6
15
Filhotes 02-07-15/09
15,7 ± 1,6 11,3 ± 1,9 5,1 ± 1,1
15
* Todas as aves abandonam o sítio com o desembarque dos pesquisadores na Ilha.
Muitas delas mudavam de locais mais distantes da colônia, ou não retornavam.
71
Thalasseus sandvicensis
4.12. Estabelecimento da colônia e Comportamento reprodutivo
A temporada reprodutiva de 2003 iniciou com a chegada dos primeiros
adultos em meados de maio, incremento gradual do número de reprodutores
até alcançar as maiores abundâncias em junho, seguido de queda e oscilações
até o abandono do sítio em setembro (Fig. 62a).
A formação da colônia em 2005 e 2006 ocorreu no final de abril, com pico
de abundância no final de maio e início de junho, seguido de queda e
pequenas flutuações até a saída dos adultos no início de outubro (Fig. 62b e
62c).
O comportamento reprodutivo do trinta-réis-do-bico-amarelo inicia com a
caminhada, quando o macho empurra a fêmea com o bico obrigando-a a
desfilar por entre o bando e a dança, onde o macho exibe-se para a fêmea,
fazendo movimento de abrir e fechar as asas e levantar e abaixar o bico
enquanto a rodeia.
72
0
50
100
150
200
250
300
350
12/5 20/5 28/5 5/6 13/6 21/6 29/6 7/7 15/7 23/7 31/7 8/8 16/8 24/8 1/9 9/9 17/9 25/9
N
Dias
2003
(a)
Início
Meio
Fim
0
50
100
150
200
250
300
350
12/5 20/5 28/5 5/6 13/6 21/6 29/6 7/7 15/7 23/7 31/7 8/8 16/8 24/8 1/9 9/9 17/9 25/9
N
Dias
2005
(b)
0
50
100
150
200
250
300
350
12/5 20/5 28/5 5/6 13/6 21/6 29/6 7/7 15/7 23/7 31/7 8/8 16/8 24/8 1/9 9/9 17/9 25/9
N
Dias
2006
(c)
Figura 62. Abundância de adultos ao longo das temporadas reprodutivas de
2003 (a), 2005 (b) e 2006 (c).
73
4.13. Construção dos ninhos e período de incubação dos ovos
Os casais de Thalasseus sandvicensis constroem seus ninhos no chão,
em grandes densidades e concentrados em meio aos ninhos de S.
hirundinacea. A distância entre eles é quase o limite de seus corpos (em média
de 0,58±0,19cm, Fig. 63), com os menores valores registrados em 2003,
seguido de 2006 e 2005, mas sem diferenças significativas entre eles (F
2-50
=
1,69, p>0,05) com a postura de apenas um ovo.
29
6
18
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
2003 2005 2006
Distância (m)
Anos
Figura 63. Distâncias entre os ninhos de Thalasseus sandvicensis ao longo das
temporadas de 2003 (a) e 2005 (b) e 2006 (c) na Ilha dos Cardos, SC, Brasil. (barra
vertical indica o erro padrão da média).
Foi registrado apenas um pulso reprodutivo ao longo das temporadas,
com a maior postura em 2005, seguido de 2003 e 2006 (Fig. 64). Em todos os
anos foi encontrado o maior número de ninhos no início do período (junho de
2003 e maio de 2006 e 2005), sendo encontradas novas posturas no meio e
fim, apenas em 2003 (Fig. 64).
74
0
5
10
15
20
25
30
35
40
12/5 20/528/5 5/6 13/6 21/629/6 7/7 15/7 23/7 31/7 8/8 16/824/8 1/9 9/9 17/9 25/9
N
Dias
2003
N = 144
(a)
Início
Me io
Fim
0
5
10
15
20
25
30
35
40
12/5 20/5 28/5 5/6 13/621/6 29/6 7/7 15/7 23/731/7 8/8 16/8 24/8 1/9 9/9 17/9 25/9
N
Dias
2005
N = 174
(b)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
12/5 20/5 28/5 5/6 13/621/6 29/6 7/7 15/7 23/731/7 8/8 16/8 24/8 1/9 9/9 17/9 25/9
N
Dias
2006
N = 50
(c)
Figura 64. Abundância diária de ninhos de Thalasseus sandvicensis registrados
nas temporadas de 2003 (a), 2005 (b) e 2006 (c) na Ilha dos Cardos.
75
4.14. Biometria dos ovos
Os menores e maiores valores médios de comprimento dos ovos foram
registrados em 2005 e 2006, enquanto os de largura em 2006 e 2005 e o peso
ocorreram em 2003 e 2006, respectivamente (Tab. IX). Não foram observadas
diferenças significativas quanto ao comprimento (F
2-109
= 1,71; p>0,05), largura
(F
2-109
= 0,57; p>0,05) e peso dos ovos (F
2-109
= 0,03; p>0,05).
Tabela IX. Número de ovos medidos (N), biometria e massa dos ovos de
Thalasseus sandvicensis durante o período de desova na Ilha dos Cardos (< = menor,
> = maior valor registrado e média±erro padrão) SC, Brasil.
Lt (cm) Wid (cm) Wt (g)
Anos
< > Me±erro < > Me±erro < > Me±erro
N
2003 4,7 5,5 5,18±0,03 3,2 3,8 3,62±0,02 31 42 35,95±0,35 43
2005 4,8 5,6 5,12±0,02 3,5 3,8 3,63±0,02 31 42 35,98±0,41 48
2006 4,9 5,6 5,19±0,04 3,4 3,8 3,60±0,02 31 41 36,12±0,58 21
Não foram registradas diferenças significativas entre o volume dos ovos
(média de 34,30±0,25cm
3
) durante os anos de estudo (F
2-109
= 0,35; p>0,05),
apesar de terem sido encontrados os maiores valores em 2003 (34,57±0,42) e
os menores em 2006 (34,07±0,61)(Fig. 65).
43
48
21
33
33,5
34
34,5
35
35,5
36
2003 2005 2006
Vol (cm
3
)
Anos
Figura 65. Volume médio dos ovos de Thalasseus sandvicensis em 2003, 2005 e
2006 na Ilha dos Cardos, SC, Brasil. (barra vertical indica o erro padrão da média).
76
Em 2003 foi possível acompanhar a incubação de seis ovos de
Thalasseus sandvicensis que levaram em média 23,5±0,2 dias para a eclosão
dos filhotes com redução na massa de 17,29%, com um decréscimo médio
diário de 0,29g (Fig. 66).
Na temporada de 2005, a redução média diária na massa dos ovos foi de
0,27g (N=4), representando um decréscimo de 18,03%, com o tempo médio de
incubação de 25,0±0,5 dias (Fig. 63).
28
30
32
34
36
38
40
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1011121314151617181920212223242526
Wt (g)
Dias
2003
2005
18,03%
17,29%
Figura 66. Redução média diária na massa dos ovos de Thalasseus
sandvicensis, durante o período de incubação em 2003 e 2005. (barra vertical indica o
erro padrão da média).
4.15. Perdas diárias de ovos
De acordo com a figura 64, foram registrados 144 ovos em 2003, 174 em
2005 e 50 em 2006, que teriam condições de serem incubados (Fig. 64), no
entanto, 30, três e três ovos, respectivamente, foram predados e seis, 14 e seis
foram perdidos por causas naturais (Tab. X).
As perdas diárias dos ovos de Thalasseus sandvicensis por causas
naturais foram pouco expressivas em 2003 ao longo do período reprodutivo, ao
contrário do registrado nas outras temporadas (Tab. X). As predações
ocorreram mais freqüentemente em 2003 e no início das amostragens.
77
Tabela X. Total de ovos perdidos de Thalasseus sandvicensis por causas
naturais e predações ao longo dos anos de amostragens.
Anos Naturais Predações Total
2003 6 30 36
2005 14 3 17
2006 6 3 9
4.16. Sucesso de incubação
Dos seis ovos monitorados em 2003, apenas um foi predado, totalizando
um sucesso de incubação de 83,33% e em 2005 foi encontrado o menor valor
(60,00%), já que 40,00% foram perdidos por troca de ovos de ninhos por
curiosos em uma das invasões à ilha (Tab. XI). Em 2006 foi estimado o maior
(100,00%) já que todos os filhotes eclodiram nos ninhos que foram monitorados
(Tab. XI).
Tabela XI. Total de ovos perdidos de Thalasseus sandvicensis por causas
naturais e predações nos cercados que foram acompanhados diariamente.
Anos 2003 2005 2006
Ninhos 6 5 5
Naturais - - -
Predações 1 - -
Invasão - 2 -
4.17. Alimentação
4.17.a. Chegada de alimento na colônia
Foram registradas 1157, 628 e 98 presas transportadas por Thalasseus
sandvicensis à colônia nas temporadas de 2003, 2005 e 2006, respectivamente
78
(Tab. XII). De acordo com a mesma tabela, as presas estiveram distribuídas
em cinco, três e duas famílias, sendo que as mais capturadas foram as
representantes dos Clupeidae de médio porte em 2003, grande em 2005 e
2006.
Os pares reprodutivos utilizaram a luz do dia para capturar alimento e
carregá-lo para a colônia, com as maiores freqüências de aves com presas as
10:00h, 11:00h e 12:00h, respectivamente (Tab. XII).
Tabela XII. Relação das presas por horário de avistagem na colônia (P =
pequeno, M = Médio e G = grande).
Engraulidae Clupeidae
Hora Ano
P M G P M G
Trichiuridae Loliginidae N iden Total
7 2006 - - 1 - - - - - - 1
2003 1 2 - - 6 - - - - 9
2005 - 1 - - 3 - - - - 4
8
2006 - - - - 1 3 - - - 4
2003 37 41 17 19 72 16 4 - 1 207
2005 2 5 1 3 7 21 - - - 39
9
2006 - - - 1 2 14 - - - 17
2003 129 78 46 58 120 25 8 - 2 466
2005 6 6 2 6 4 28 - - - 52
10
2006 - - - - 5 15 - - - 20
2003 121 85 33 48 93 16 1 1 2 400
2005 16 25 15 6 16 62 - - - 140
11
2006 - - - 3 5 9 - - - 17
2003 9 16 3 9 27 10 - - - 74
2005 18 16 9 5 11 83 - - - 142
12
2006 - 2 1 1 5 10 - - - 19
2003 - - - - 1 - - - - 1
2005 10 9 7 2 10 30 1 - - 69
13
2006 - - - - - 2 - - - 2
2005 19 7 11 4 21 66 - - - 128
14
2006 1 - - 2 - 4 - - - 7
2005 2 6 8 1 7 15 - - - 39
15 2006 - 1 - - 2 4 - - - 7
2005 - 3 2 1 - 3 - - - 9
16
2006 - 1 - - 1 - - - - 2
2005 - 1 4 - - 1 - - - 6
17
2006 - - - - - 2 1 - - 2
2003 297 222 99 134 319 67 13 1 5 1157
2005 73 79 59 28 79 309 1 - - 628
Total
2006 1 4 2 7 21 63 - - - 98
79
4.17.b. Entrega de presas aos filhotes
A entrega de alimento aos filhotes de Thalasseus sandvicensis ocorreu
desde as primeiras horas da manhã até o final da tarde, sendo que os maiores
registros foram obtidos em 2006, seguido de 2003 e 2005, as 10:00, 12:00 e no
período da manhã, respectivamente, e os menores nas horas de pouca
luminosidade tanto na manhã quanto tarde (Fig. 67).
0
50
100
150
200
250
7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17
N
Horas
2003
2005
2006
Figura 67. Entrega de alimento aos jovens de Thalasseus sandvicensis ao longo
das temporadas de 2003, 2005 e 2006.
4.18. Presença de Jovens na colônia
4.18.a. Abundância de Jovens na colônia
Na temporada de 2003, os primeiros filhotes eclodiram no final de junho,
com aumento gradual até as maiores ocorrências em 21/07 (N = 47), seguido
de queda contínua até 16/08 (Fig. 68a). Foi registrada a mesma tendência de
oscilação da abundância diária em todas as idades subseqüentes, com os
maiores valores para JII em 25/07 (N=40), JIII em 30/07 (N=32) e JIV em 15/08
(N=35); os juvenis começaram a surgir no meio da temporada, em torno de 30
dias (29/07) após as primeiras eclosões, com as maiores abundâncias em
80
27/08 (N=30) e redução gradativa até o abandono da colônia no final de
setembro (Fig. 68a).
Em 2005 os primeiros filhotes surgiram no início de junho, com os maiores
valores no início da temporada (22/06, N=66) e queda gradual até os últimos
registros em 17/07 (Fig. 68b). Os picos de abundância de JII, JIII, foram
observados no meio do período em 27/06 (N=60), 05/07 (N=55),e os JIV e J no
final, 12/07 (N=41) e 28/07 (N=25), respectivamente (Fig. 68b).
No início da temporada de 2006 foi observado o primeiro filhote em 07/06,
com o pico em 12/06 e ausência de JI em 28/06 (Fig. 69c). De acordo com a
mesma figura, o maior número de JII ocorreu em 20/06 (N=22), JIII em 26/06
(N=22), JIV em 02/07 (N=16) e os juvenis apresentaram oscilações no meio
(N=5) e fim do período (N=6), com abandono gradual até o início de outubro.
81
0
10
20
30
40
50
60
70
80
12/520/5 28/5 5/6 13/621/629/6 7/7 15/7 23/731/7 8/8 16/8 24/8 1/9 9/9 17/925/9
N
Dias
JII
0
10
20
30
40
50
60
70
80
12/520/528/5 5/6 13/6 21/629/6 7/7 15/723/731/7 8/8 16/8 24/8 1/9 9/9 17/9 25/9
N
Dias
2003
(a)
JI
Início
Meio
Fim
0
10
20
30
40
50
60
70
80
12/520/5 28/5 5/6 13/621/629/6 7/7 15/7 23/731/7 8/8 16/8 24/8 1/9 9/9 17/925/9
N
Dias
JIII
0
10
20
30
40
50
60
70
80
12/520/5 28/5 5/6 13/621/629/6 7/7 15/7 23/731/7 8/8 16/8 24/8 1/9 9/9 17/925/9
N
Dias
JIV
0
10
20
30
40
50
60
70
80
12/520/5 28/5 5/6 13/621/629/6 7/7 15/7 23/731/7 8/8 16/8 24/8 1/9 9/9 17/925/9
N
Dias
J
0
10
20
30
40
50
60
70
80
12/520/5 28/5 5/6 13/621/6 29/6 7/7 15/7 23/7 31/7 8/8 16/8 24/8 1/9 9/9 17/925/9
N
Dias
2005
(b)
Início
Meio
Fim
0
10
20
30
40
50
60
70
80
12/520/5 28/5 5/6 13/621/6 29/6 7/7 15/7 23/7 31/7 8/8 16/8 24/8 1/9 9/9 17/925/9
N
Dias
0
10
20
30
40
50
60
70
80
12/520/5 28/5 5/6 13/621/6 29/6 7/7 15/7 23/7 31/7 8/8 16/8 24/8 1/9 9/9 17/925/9
N
Dias
0
10
20
30
40
50
60
70
80
12/520/5 28/5 5/6 13/621/6 29/6 7/7 15/7 23/7 31/7 8/8 16/8 24/8 1/9 9/9 17/925/9
N
Dias
0
10
20
30
40
50
60
70
80
12/520/5 28/5 5/6 13/621/6 29/6 7/7 15/723/731/7 8/8 16/8 24/8 1/9 9/9 17/925/9
N
Dias
0
10
20
30
40
50
60
70
80
12/520/5 28/5 5/6 13/621/6 29/6 7/7 15/723/7 31/7 8/8 16/8 24/8 1/9 9/9 17/9 25/9
N
Dias
2006
(c)
Início
Meio Fim
0
10
20
30
40
50
60
70
80
12/520/5 28/5 5/6 13/621/629/6 7/7 15/7 23/731/7 8/8 16/8 24/8 1/9 9/9 17/925/9
N
Dias
0
10
20
30
40
50
60
70
80
12/520/5 28/5 5/6 13/621/6 29/6 7/7 15/723/7 31/7 8/8 16/8 24/8 1/9 9/9 17/9 25/9
N
Dias
0
10
20
30
40
50
60
70
80
12/520/5 28/5 5/6 13/621/629/6 7/7 15/7 23/731/7 8/8 16/8 24/8 1/9 9/9 17/925/9
N
Dias
0
10
20
30
40
50
60
70
80
12/520/5 28/5 5/6 13/621/6 29/6 7/7 15/723/731/7 8/8 16/824/8 1/9 9/9 17/9 25/9
N
Dias
Figura 68. Abundância de filhotes neonatos (JI) nas temporadas de 2003 (a),
2005 (b) e 2006 (c).
82
4.19.b. Crescimento dos Jovens
Os jovens I apresentam em média o comprimento de bico de 1,42±0,04
cm, os II de 1,77±0,09, III de 2,32±0,03 e os IV de 2,68±0,05cm, sendo que,
não foram registradas diferenças significativas nas medidas de bico entre os
anos de coleta para as idades I (F
2-79
=3,12; p>0,05), II (F
2-39
=1,11; p>0,05), III
(F
3-71
=1,67; p>0,05) e IV (F
4-62
=2,37; p>0,05) (Fig. 69).
Da fase I (1,92±0,04cm) para a II (2,16±0,14cm) foi registrado a maior
taxa de incremento do tarso, com pequenos acréscimos nas idades seguintes
III (2,58±0,03cm) e IV (2,62±0,06cm) (Fig. 70). Foram observadas diferenças
significativas dessas medidas nas idades III (
F3-71
=3,02; p<0,05) e IV (
F4-
62
=4,92; p<0,001) sendo os menores valores em 2003 e os maiores em 2008,
respectivamente, a fonte dessas variações, enquanto que não foram
registrados para as I (
F2-79
=1,20; p>0,05) e II (
F2-39
=2,34; p>0,05).
1
1,5
2
2,5
3
3,5
I II III IV J
Lt (bico)
Idade
2003, N=160
2005, N=28
2006, N=2
2007, N=37
2008, N=38
Figura 69. Média do comprimento do bico (cm) dos filhotes de Thalasseus
sandvicensis.
83
1,5
2
2,5
3
I II III IV J
Lt (tarso)
Idade
2003
2005
2006
2007
2008
Figura 70. Média do tarso (cm) dos filhotes de Thalasseus sandvicensis.
Nas três etapas iniciais, o desenvolvimento dos filhotes de Thalasseus
sandvicensis foi alto, de 41,63±4,28g para JII (79,69±15,89) e JIII
(131,99±2,11g), com incremento para JIV (166,94±5,13) (Fig. 53). Não foram
registradas diferenças significativas na massa das idades I (F
2-79
=1,95; p>0,05),
II (F
2-39
=1,22; p>0,05), III (F
3-71
=0,80; p>0,05) e IV (F
4-62
=2,07; p>0,05) entre os
anos de estudo.
0
50
100
150
200
250
I II III IV J
Wt (g)
Idade
2003
2005
2006
2007
2008
Figura 71. Média da massa corporal (g) dos filhotes de Thalasseus sandvicensis.
84
4.20. Perdas diárias de Filhotes e Sucesso reprodutivo
Dos 144, 174 e 50 ovos colocados durante as temporadas reprodutivas de
2003, 2005 e 2006 (Fig. 64), respectivamente, 108, 157 e 41 deles eclodiram,
com as principais perdas nas idades I e II atribuídas a mortalidade natural e a
partir da III pelas atuações dos predadores (Tab. XIII).
A principal causa de mortalidade de filhote foi a natural com maior
incidência no início do período reprodutivo com maior incidência em 2005
(67,27), seguido de 2003 (64,29) e 2006 (87,18%) (Tab. XIII).
Os filhotes foram predados com maior intensidade no meio do período
reprodutivo em todas as temporadas, seguindo a mesma tendência das mortes
naturais, com maiores registros em 2005 e os menores em 2006, tornando-se
possível admitir que o sucesso reprodutivo de Thalasseus sandvicensis na Ilha
dos Cardos foi de 48,00, 29,94 e 5,00% em 2003, 2005 e 2006,
respectivamente (Tab. XIII).
Tabela XIII. Número de filhotes de Thalasseus sandvicensis mortos por causas
naturais e predações ao longo das temporadas de 2003, 2005 e 2006 na Ilha dos
Cardos.
Anos Naturais Predados Total
2003 36 20 56
2005 74 36 110
2006 34 5 39
4.21. Atuação dos predadores
No início da temporada, a organização defensiva de ambas as espécies
era eficiente, mantendo os ataques de predadores (urubus Coragips atratus e
gaviões Caracara plancus) esporádicos, sendo as brigas por território intra e
interespecíficas as principais causas de perdas.
Os urubus sempre atuaram aos pares e geralmente sobre as carcaças
deixadas pelos gaviões. Pousavam na área mais elevada da colônia, talvez
85
pelo melhor acesso, somada a ação dos gaviões não possibilitaram a
sobrevivência de nenhum ovo por mais de uma semana nessa área
desprotegida de vegetação.
Os gaviões foram os principais predadores, visitando a ilha
frequentemente no período da tarde e utilizaram a maior árvore da ilha como
local de pouso. Saíam em vôos circulares para reconhecimento das possíveis
presas e investiam para capturar ovos, filhotes e adultos (em menor
freqüência), com três minutos de duração.
O tempo que permaneceu pousado variou entre dois a sete minutos, mas
quando retornava com uma presa, esse tempo aumentava para até 18 minutos.
Geralmente decapitavam a presa (Fig. 72a) destrinchavam o corpo (Fig. 72b),
consumindo os tecidos e a massa encefálica (Fig. 72c). O tempo máximo de
ação desse predador foi de uma hora.
Figura 72. Atuação do gavião caracará, degolando a presa (a), destrinchando-a
(b) e consumindo apenas pequenas porções (c).
No final do período reprodutivo, a atuação dos predadores foi mais rápida
e eficiente, já que muitos filhotes ainda estavam aprimorando técnicas de vôo e
a capacidade defensiva da colônia estava reduzida, já que muitos ninhos
estavam vazios.
(a) (b) (c)
86
5. DISCUSSÃO
A maioria das aves marinhas é filopátrica à colônia natal, mas algumas
podem utilizar sítios diferentes, e os larídeos que nidificam em ambientes
instáveis, são os mais propícios a mudar de locais de um ano para o outro
(Baird 1990). S. hirundinacea e Thalasseus sandvicensis não fogem a esta
regra, sendo freqüentemente observado o abandono em massa das áreas de
reprodução diante de qualquer tipo de distúrbio (Yorio et al. 1994; Soares &
Schiefler, 1995; Scolaro et al. 1996; Quintana & Yorio, 1997; Efe et al. 2000;
Alves et al. 2004; Campos et al. 2004; Krul, 2004; Branco, 2003a; Branco,
2003b).
A formação da colônia pode diminuir os efeitos de predação, protegendo
ninhos centrais contra a aproximação de predadores vindos da periferia da
colônia e beneficiando a prole pelo comportamento defensivo dos vizinhos
(Burger 1981, Houde 1983). Muitas espécies de trinta - réis reproduzem em
grandes colônias como Sterna antillarum Lesson 1847, Sterna hirundo
Linnaeus 1758 e Sterna dougalli Montagu 1813, que geralmente nidificam na
costa dos Estados Unidos no início de abril ou maio (Jackson & Jackson 1985,
Spendelow 1982, Nisbet et al. 1984, Hébert 1985).
O período reprodutivo de S. hirundinacea na costa catarinense, de maio a
outubro (Soares & Schiefler 1995; Branco 2003a) é similar ao descrito por Efe
et al. (2000) a partir de maio nas ilhas do Espírito Santo, por Sick & Leão
(1965) e Sick (1997) de março a outubro para a costa do Rio de Janeiro, no
Paraná de junho a setembro (Krul 2004), em São Paulo de maio a agosto
(Campos et al. 2004), mas difere do registrado na Argentina de novembro a
dezembro (Scolaro et al. 1996). Branco (2003b) em 2002 na Ilha dos Cardos,
mostrou que os primeiros adultos de S. hirundinacea foram observados em
meados de abril, corroborando o registrado nas temporadas de 2005 e 2006,
com incremento gradual da população até julho. Em 2003 a ocupação desse
sítio foi tardia (final de maio), o que pode ser atribuído a variação da
temperatura média e disponibilidade de alimento nas proximidades da colônia.
De acordo com Bugoni & Vooren (2005) os maiores registros de Sterna
hirundinacea na costa do Rio Grande do Sul foram entre Julho a Setembro e
87
também um grande número de juvenis em maio (Vooren & Chiaradia 1990)
suportam a hipótese que essas aves vêm da Patagônia Argentina. Entretanto,
pela proximidade dos reprodutores ao Norte (SC) durante o período de inverno
e a plumagem de reprodução no outono austral (Belton 1944) sugere que
ocorre uma mistura nos estoques nas praias do Rio Grande do Sul (Bugoni &
Vooren 2005).
O comportamento reprodutivo de Thalasseus sandvicensis na colônia da
ilha Itatiaia (ES) começou em meados de maio e foram mais intensos nas
primeiras horas do dia (Efe 2004), corroborando o observado para S.
hirundinacea na Ilha dos Cardos e para os Sternidae de um modo em geral
(Nelson 1980).
O padrão e dispersão de ninhos em aves coloniais tem sido vistos como
uma função adaptativa para reduzir perdas pela predação (Houde 1983). A
população de S. hirundinacea que nidificou em Punta Loma, (Argentina) seguiu
o padrão de estabelecimento de ninhos similar ao de outras espécies de Sterna
em zonas temperadas (Langham 1983), onde os pares inicialmente se dispõem
ao acaso, formando depois uma densa colônia (Buckley & Buckley 1980;
Burger 1981, Scolaro et al. 1996).
Na ilha dos Cardos foi observada essa tendência de ocupação nos vários
tipos de substratos, ocorrendo com freqüência, disputas entre as espécies
pelas áreas mais altas, fora do alcance da maré. De outra maneira, indivíduos
de Sterna hirundo em Long Island, em locais de grama evitaram colocar seus
ninhos em locais de altas densidades, enquanto que na areia foram distribuídos
aleatoriamente (Houde 1983).
Severinghaus (1982) em Nova Iorque registrou que os ninhos de Sterna
hirundo apareceram em ordem subseqüente e ao redor dos primeiros, sendo o
terço da parte sul da ilha favorecido primeiro (mais arbustos produzindo mais
proteção, além da maior elevação) que o terço da parte norte. Em
Massachusetts não foi encontrado diferença significativa na localização do
ninho ou elevação acima do nível máximo de maré entre aves de classes
etárias de 5 a 18 anos, entretanto, as de 2-3 anos nidificaram em menor
elevação e as de 2-4 nidificaram mais distante do centro (Nisbet et al. 1984).
Na ilha dos Cardos não foi registrado diferença significativa entre o volume dos
88
ovos encontrados na borda ou centro da colônia na temporada de 2006,
indicando possivelmente uma estratégia diferenciada em relação à
disponibilidade de habitat, prevenção contra predadores e acesso ao local do
ninho.
Durante os censos realizados nos EUA, Houde (1983) registrou que a
densidade dos ninhos de S. hirundo foi maior em habitats abertos e vegetados
espaçadamente, enquanto, Spendelow (1982) nas ilhas Falkner, observou essa
mesma tendência de ocupação quando competiam com S. dougalli, que
preferiam nidificar em locais sombreados.
S. hirundinacea e Thalasseus sandvicensis ocupam pequenas áreas com
altas concentrações de ninho, visto que, na Ilha dos Cardos a distância média
entre os ninhos foi de 0,7m e 0,5m, respectivamente, em uma área de
aproximadamente 0,5ha, enquanto que na ilha Itaçuce, litoral de São Paulo,
com sua área de 0,6ha e cerca de 400 ninhos, correspondendo a quatro
ninhos/m
2
(Campos et al. 2004). O espaçamento entre os ninhos de S. hirundo
na Costa de Nova Jersey (USA) em regiões de pântano foi menor (entre 150 a
212cm) que nas áreas de praia (269 a 271cm) (Erwin & Smith 1985).
Indivíduos que antecipam a ocupação do sítio e a postura devem ter
maior idade, melhor opção na seleção do local do ninho, investir em número e
ovos maiores e aumentar as chances de sucesso de incubação (Hays 1978,
Nisbet 1981a, Severinghaus 1982, Spendelow 1982, (Buckley & Buckley 1982,
Nisbet et al. 1984).
As datas de postura de Sterna hirundo tornaram-se progressivamente
antecipadas com o aumento da idade, evidente a partir de oito anos (Nisbet et.
al. 1984), com maior número médio de ovos por postura que nas aves mais
novas (Spendelow 1982). A postura de ovos de S. hirundinacea na costa da
Argentina, começou em dezembro e mostrou dois picos, meados de dezembro
e início de janeiro, com os ninhos tardios no final de janeiro (Scolaro et al.
1996), enquanto que no Espírito Santo e em Santa Catarina iniciou em maio
com o maior número em junho (Efe et al. 2000, Branco 2003b), corroborando o
registrado nesse estudo na Ilha dos Cardos.
Os machos e as fêmeas (Sternidae) alternam-se na incubação dos ovos
(Scolaro et al. 1996) corroborando o observado no presente estudo, e nas
89
populações que nidificam na América do Norte (Severinghaus 1982, Nisbet et.
al. 1984, Erwin & Smith 1985, Hébert 1985, Erwin & Smith 1985, Jackson &
Jackson 1985).
De acordo com esses mesmos autores e o presente estudo, foi verificado
que S. hirundinacea investiu em posturas de um à três ovos e Thalasseus
sandvicensis apenas um, enquanto que, Sterna dougalli deposita em média
2,27±0,18 (Hébert 1985) e Sterna hirundo chega a colocar até seis, com média
de 2,6±0,3 ovos por ninho (Buckley & Buckley 1982).
Na Argentina, as porcentagens de ninho com um ovo de S. hirundinacea
foi de 43,8 com dois de 47,4 e três de 8,8% (Scolaro et al. 1996), em Santa
Catarina, de 53,1 com um, 43,5 com dois, 2,9 com três e 0,5% com quatro
(Soares & Schiefler 1995) corroborando o encontrado no presente estudo.
O número médio de ovos (1,65) nas posturas de S. hirundinacea em
Punta León (Argentina) (Scolaro et al. 1996) foram maiores que os registrados
por Branco (2003b) no litoral de Santa Catarina, nas ilhas de Moleques do Sul
(1,44±0,54), Ilha dos Cardos (1,31±0,13), Itacolomis (1,36±0,51) e Ilha Deserta
(1,22±0,51). No presente estudo, o número médio de ovos por ninho variou
entre 1,19 a 1,45, indicando que a oscilação do número de casais, competição
por espaço e alimento, juntamente com condições climáticas desfavoráveis e a
atuação de predadores, podem alterar o comportamento e investimento entre
anos e locais.
O intervalo médio de incubação dos ovos de S. hirundinacea na Argentina
foi de 21,5 dias (Scolaro et al. 1996), em Santa Catarina, de 21 a 24 (Branco,
2003b), corroborando o registrado na Ilha dos Cardos, enquanto que
Thalasseus sandvicensis nas colônias do Espírito Santo, levou em média 23
dias (19 - 26) (Efe, 2004). Muitos efeitos podem alterar o tempo de incubação,
como a variação da temperatura e a atuação direta e indireta de predadores,
como o encontrado por Nisbet & Cohen (1975) para Sterna dougalli (21-22
dias) em uma colônia sem predação e 30,7±0,6 e 27,6±0,5 dias em colônias
sobre atuação de corujas (Nisbet & Welton 1984, Hébert 1985).
O sucesso de eclosão de S. hirundinacea na Ilha dos Cardos (Branco
2003b) foi inferior ao registrado por Efe (2004) no litoral do Espírito Santo (65,4
a 66,1%), enquanto que as maiores taxas observadas na Argentina, foram de
90
73,4% em Punta Loma (Scolaro et al. 1996) e 45,3% para Thalasseus
sandvicensis, na colônia de Punta Leon (Yorio et al. 1994).
Por efeito dessas corujas, o sucesso de eclosão em Manitoba foi de 26,19
a 33,30%, e de 71,6% em Long Island (EUA) com as perdas atribuídas a
infertilização ou interrupção no desenvolvimento natural, deserção do ninho,
atividade dos coelhos, tempestades (Spendelow 1982) e predação por ratos
(Buckley & Buckley 1981). Para Sterna forsteri de 16,5% e 5,0, e as maiores
perdas foram atribuídas pela ação das ondas (70,6 e 65,0%, respectivamente)
(Mcnicholl 1982).
A falha na eclosão dos ovos em Punta Loma foi atribuída a predação
(12,6%) e deserção (14%) (Scolaro et al. 1996), enquanto que no litoral
catarinense, a retirada dos ovos por pescadores e turistas (Bege & Pauli, 1988,
Sick, 1977, Soares & Schiefler, 1995), as constantes predações das gaivotas
(Branco, 2003b), gaviões, lagartos e urubus, as perdas por causas naturais e
distúrbios humanos nas colônias, foram os principais agentes na perda de ovos
nas temporadas reprodutivas.
Comparados com a temporada anterior, os ovos de S. hirundinacea na
ilha dos Cardos, apresentaram menor comprimento, maior largura, peso e
volume, ainda assim, o volume médio dos ovos da Ilha Deserta
(27,35±5,23cm
3
) (Branco 2003b) foi relativamente maior que os do presente
estudo. Essas diferenças podem estar relacionadas a variações climáticas,
além da disponibilidade de alimento nas proximidades das colônias de
reprodução (Branco 2003b).
Para as aves marinhas, padrões de distribuição de alimento são
importantes para determinar características em sua história de vida, quer seja
na formação da colônia ou no fenótipo da reprodução, que determinará o
sucesso reprodutivo e ultimamente o número limite de aves marinhas no sítio
(Hulsman 1988, Safina & Burger 1988). A informação obtida através de estudos
de ecologia alimentar e monitoramento sistemático nessas populações devem
ser consideradas na elaboração de programas de ecologia, permitindo obter
indicações sobre flutuações de estoques e classes de idade de peixes,
perturbações oceanográficas, distribuição e acesso a espécies não estudadas
91
ou inexploradas, bem como indícios de poluição marinha (Montevecchi 1993,
Pereira 1997).
A carência de dados sobre a dinâmica das populações de presas tem
dificultado o entendimento sobre como o alimento afeta a distribuição de aves
marinhas, migração, comportamento social e reprodutivo (Burger 1983). Safina
& Burger (1988) em Massasuchetts (USA), utilizaram um sonar para investigar
a dinâmica da comunidade de peixes e constataram que as mudanças na
disponibilidade de alimento alteram o comportamento de forrageio.
A alimentação das fêmeas pelos seus pares é geralmente conhecida
como alimentação no processo de corte, por desempenhar um papel no
estabelecimento e manutenção do par, sendo nutricionalmente importante para
a fêmea na hora que estiver formando o ovo (Nisbet 1973).
Nos trinta-réis comum (S. hirundo) bem como na espécie próxima (S.
paradisaea), na Ilha dos Pássaros em Massachusetts (USA), o processo de
corte ocorre em três fases, na primeira, o macho carrega o peixe no entorno da
colônia e chama a atenção de diversas fêmeas, mas não a alimenta até
quando o par estiver solidamente firmado; na segunda, os pares dispendem
muito tempo do dia na área de alimentação, onde o macho freqüentemente
alimenta a fêmea e retornam para a colônia na parte da noite; Na terceira, a
fêmea fica no território do par e é alimentada pelo macho até o ninho estar
completo; uma vez estabelecido o território, a fêmea gasta a maioria do seu
tempo lá, saindo apenas para beber água e se banhar, capturando pouco ou
nenhum alimento para si mesma (Nisbet 1973). Tal comportamento parece ser
uma generalidade entre os representantes deste gênero, uma vez que S.
hirundinacea na Ilha dos Cardos, apresentaram os mesmos padrões.
De acordo com Nisbet (1973), não ocorreram diferenças significativas no
horário de entrega do alimento do processo de corte de S. hirundo, sendo que
as taxas de alimentação foram maiores entre dois dias antes da postura do
primeiro ovo e um dia após esta data, caindo drasticamente após o macho
começar a desempenhar seu papel na troca de turnos para a incubação dos
ovos. Na Ilha dos Cardos, o período de maior entrega de peixes foi das 9:00 às
11:00h, não sendo possível determinar qual a freqüência e data de entregas de
um casal isoladamente.
92
A nidificação em altas densidades tem sido freqüentemente citadas como
uma das principais vantagens adaptativas da colônia na redução dos riscos da
predação, entretanto acarreta alguns problemas relacionados a competição por
espaço e alimento intra e inter-específicos (Quintana & Yorio, 1997). As
espécies do gênero Sterna são generalistas e usam outros métodos de captura
de presa, que inclui invertebrados nadando na superfície, insetos no ar e
realizando cleptoparasitismo intra-específico (Nisbet 1983).
Com o intuito de minimizar a competição, casais de Sterna hirundo em
Massasuchetts constituem territórios alimentares, que são utilizados mais
consistentemente no início da temporada, quando as aves estão em período de
corte, incubando e alimentando pequenos filhotes (Nisbet 1983). Na Itália, S.
albifrons e S. hirundo utilizaram a parte rasa do rio como área de forrageio,
com o domínio da porção mais próxima a costa (2,3±1,5m) e a captura de
peixes menores (3,1±1,4cm) e (20,7±20,4m e 0,7±3,1cm), respectivamente
(Fasola & Bogliani 1984).
Thalasseus sandvicensis e S. hirundinacea utilizam a mesma área de
forrageio, aproximadamente 15 km da Ilha dos Cardos, sendo observados
agrupamentos de adultos pescando sobre o mesmo cardume, entretanto a
composição da dieta foi composta principalmente por presas maiores e
pertencentes aos Clupeidae e menores da família Engraulidae,
respectivamente. Nas áreas de nidificação, os trinta-réis parecem se comportar
da mesma forma que o encontrado em Santa Catarina, já que nas colônias da
costa da Argentina, foi registrado com auxílio de telemetria e isótopos estáveis
a mesma distância de atuação de ambas espécies com diferenças nas
principais presas transportadas e consumidas (RAO 2008).
Os registros realizados em colônias reprodutivas e locais de invernada
sugerem diferenças no comportamento e diversidade de presas capturadas,
sendo que, as áreas de repouso geralmente apresentam condições pobres
relacionadas a sítios de nidificação (Buckley & Buckley 1974). Isto pode estar
relacionado a fatores como o alto custo de energia para realizar a migração e a
muda, dificuldade em obter alimento adequado, doenças e parasitas (Blokpoel
et al. 1982).
93
Em locais de invernada, como em Trinidade, os pescadores
frequentemente observaram agrupamentos de Sternidae seguindo suas
embarcações capturando pequenos peixes descartados no mar e na costa; na
Guiana foram registrados agregações ao redor de pequenos barcos pesqueiros
em três bocas de rios, alimentando-se juntamente com gaivotas (Larus atricilla)
sobre peixes e crustáceos menores que 15-20cm de comprimento; no
Suriname quando o ferry-boat local atravessa o rio, os propulsores
ressuspenderam o fundo, trazendo lodo com pequenos peixes e crustáceos,
que foram utilizados como itens (Blokpoel et al 1982).
Esse mesmo comportamento foi observado na costa do Rio Grande do
Sul, onde as Sternas (S. hirundo, S. hirundinacea, Thalasseus sandvicensis, T.
maximus) foram observadas em períodos não reprodutivos alimentando-se
próximo da Lagoa dos Patos e consumindo o descarte das pescarias (Bugoni &
Vooren 2005, Bugoni et al. 2005). Entretanto, Branco (2001), Branco et al.
(2004) e Krull (2004) descreveram que Sterna hirundinacea e Thalasseus
sandvicensis que nidificaram no litoral de Santa Catarina e Paraná utilizaram,
principalmente, a fauna acompanhante do camarão sete-barbas como principal
fonte alimentar no período reprodutivo.
Incertezas na taxa com que as presas são providas em relação a sua
disponibilidade no meio, e o fato de que os pais têm que ajustar o tamanho das
mesmas baseado na idade dos filhotes ou nutrientes requeridos, sugerem que
o estudo da alimentação para os jovens, não seja totalmente eficiente
(Hulsman 1988). As observações realizadas no Ilhéu da Vila, Açores, Portugal,
com S. hirundo e S. dougalli, evidenciaram diferenças, na quantidade de
presas ingeridas pelas crias e o comprimento médio das mesmas, aumentou
significativamente (Pereira 1997), corroborando o encontrado nas dietas de
Thalasseus sandvicensis e S. maxima no litoral da Argentina (RAO 2008). No
presente estudo, foi constatado um aumento na quantidade de presas
entregues pelos progenitores, entretanto, não foi registrado o tamanho das
presas em relação à idade dos filhotes.
Das observações efetuadas na colônia dos Açores, um total de 2245
peixes foram carreados às crias, dos quais 1314 para os filhotes de S. hirundo
e 931 para os de S. dougallii (Pereira 1997). Na Ilha dos Cardos, foi registrado
94
um número superior de presas disponibilizadas aos filhotes, pertencentes a três
famílias (Engraulidae, Clupeidae e Trichiuridae), com o predomínio dos
Engraulidae, enquanto que, foram identificadas 13 tipos de presas para S.
hirundo, e de 10 espécies para S. dougallii (Pereira 1997) com o predomínio de
duas e uma, respectivamente.
As amostras de peixes capturadas perto de uma colônia na Itália foram
compostas basicamente por peixe (Fasola & Bogliani 1984). Quase todos os
peixes usados na corte de Sterna hirundo em Massasuchetts foram capturados
sobre cardumes em mar aberto, entretanto, aumentaram o leque de opções
nas outras etapas da reprodução, com a formação dos territórios alimentares,
capturas em praias arenosas, costões e em pântanos (Nisbet 1983).
Como nos trinta-réis descritos acima, S. hirundinacea e Thalasseus
sandvicensis da Ilha dos Cardos, utilizaram como alimento peixes e em maior
intensidade no período da manhã, mas não foi constatada uma alteração das
espécies de presa ao longo das fases da reprodução, do período do dia e fase
do desenvolvimento dos jovens.
Durante o simpósio realizado na Argentina (RAO 2008), os pesquisadores
do Cone-Sul, descreveram que as espécies consomem essencialmente peixes
(de valor comercial), sendo as mesmas presas ou ecologicamente similares, ao
longo das temporadas reprodutivas. Nas colônias as presas com maior valor
energético tem probabilidade elevada de serem disputadas e roubadas por
espécies que nidificam em conjunto, como trinta-réis e gaivotas, diminuído as
chances de sucesso reprodutivo (RAO 2008).
Em locais de invernada a dieta é mais variada com a complementação de
invertebrados, visto que em uma colônia de Punta Rasa, Buenos Aires, quando
analisados pellets de Sterna hirundo, Thalasseus maximus e T. sandvicensis
foi encontrado a participação de peixes, insetos e crustáceos, em ordem de
importância relativa, respectivamente (Favero et al. 2000, Mauco et al. 2001). O
descarte de pescarias é uma importante fonte de alimento tanto em áreas
próximas a colônias reprodutivas como o encontrado em Santa Catarina
(Branco et al. 2006) e em áreas de invernada na Costa da Argentina.
As estratégias reprodutivas das duas espécies que nidificam em simpatria
no litoral sul-americano, também apresentam diferenças na ecologia
95
reprodutiva quanto ao cuidado com a prole e o crescimento dos filhotes (Efe et
al. 2000, Branco 2003b). Os jovens de S. hirundinacea na ilha dos Cardos, no
presente estudo, e nas demais ilhas de Santa Catarina, após os dois primeiros
dias de vida abandonam o ninho e buscam abrigo em baixo da vegetação
circunvizinha (Branco 2003b), semelhante ao descrito por Nisbet (1973) para S.
hirundo. Entretanto, os de Thalasseus sandvicensis, após a primeira semana
de vida se agrupam em creches na região periférica dos ninhais, onde são
protegidos por adultos (Efe et al. 2000, Branco 2003b).
No litoral do Espírito Santo os primeiros filhotes de Thalasseus
sandvicensis começaram a eclodir no início de julho (Efe 2004) e os de S.
hirundinacea na Ilha dos Cardos entre 20 a 25 de maio de 2002, com
incremento gradual a partir de junho chegando ao pico de abundância em
setembro (Branco 2003b). Na temporada seguinte (2003), os filhotes foram
registrados a partir de julho, com as maiores abundâncias em agosto. Nos anos
de 2005 e 2006 a presença de filhotes foi antecipada para junho, que podem
ter sido favorecidos por uma melhor adequação ao clima e crescimento
favorável devido a disponibilidade de alimento e pouco assédio de predadores.
O intervalo entre a eclosão do primeiro para o segundo filhote foi de 53,8
horas na Argentina (Scolaro et al. 1996), enquanto que na Ilha dos Cardos o
tempo que decorreu esteve entre 48 e 60h. Essas diferenças provavelmente
podem estar relacionadas à postura dos ovos durante os meses de inverno
(SC) e de primavera (Argentina), além da disponibilidade de alimento, tamanho
das colônias e pressão de predadores (Branco 2003b).
De acordo com Branco (2003b), os Jovens I de S. hirundinacea das Ilhas
Itacolomis e Cardos não apresentaram diferença significativa entre a massa
média, ficando em torno de 30g, enquanto os jovens II dos Cardos foram
significativamente mais pesados, mas a partir dos III a juvenis, as diferenças
foram atribuídas aos maiores massa dos exemplares de Itacolomis. De acordo
com o presente estudo, o peso dos juvenis da Ilha dos Cardos, seguiu a
mesma tendência até os jovens III dos outros anos, entretanto foram maiores
na idade IV e juvenis.
A relação entre a massa corporal e o comprimento do cúlmen de S.
hirundinacea de Itacolomis e Cardos, indica que a espécie apresenta
96
crescimento do tipo alométrico negativo (Wt= 27,5450 Lt
1,8490
); r
2
= 0,8583, com
os maiores incrementos em massa ocorrendo nas classes iniciais de
comprimento (Branco 2003b). Para a população da Argentina a curva de
crescimento do filhote se ajustou próximo a equação logística (r
2
=0,98) onde o
incremento na massa corporal foi definido por: W = 181,02 / (1–8,39 e
–0,24t
),
onde t representa os dias de vida (Scolaro et al. 1996).
As curvas de crescimento para S. hirundo e S. dougallii são compostas
por uma fase exponencial (inicial e curta), seguida de uma de crescimento
linear e logarítmico, que tende ao valor assintótico aos 19 dias para a primeira
espécie e de 24 dias para a segunda (Pereira 1997). A mesma tendência de
crescimento foi evidenciada com a curva de ganho diário em massa dos
filhotes de S. hirundinacea na Ilha dos Cardos, com a estabilização mais tardia,
em torno do 25° dia de vida.
A baixa taxa de crescimento do tarso comparado a outras estruturas
corpóreas pode estar relacionado com a mobilidade restrita dos filhotes em
relação a áreas de nidificação. Os filhotes de S. hirundinacea, S. bergii e
Thalasseus sandvicensis são sedentários nas fases iniciais de
desenvolvimento, e a nidificação perto de penhascos abruptos, parecem
favorecer esta pequena mobilidade (Scolaro et al. 1996, Langham 1983).
Entretanto, nas colônias do Espírito Santo (Efe et al. 2000) e na ilha dos
Cardos, os parâmetros biométricos obtidos nos filhotes não chegam a atingir a
dimensão adulta antes do período pré-vôo, porém o tarso cresce em ritmo
acelerado até a terceira semana, apresentando valor próximo a média da
medida nas aves adultas. Além de terem sido registradas diferenças
significativas nas estruturas corpóreas de filhotes de S. hirundinacea que foram
capturados ao acaso e mantidos nos cercados, entretanto, não foram
encontradas explicações plausíveis para tal ocorrido, já que oscilaram ao longo
dos anos e idades. Klaassen (1994) afirma que o desenvolvimento do tarso,
nas espécies de trinta-réis, é rápido e atinge cerca de 90% de seu comprimento
final por volta da metade do período que separa o nascimento e o
recrutamento, indicando avançada capacidade locomotora em todas as
espécies investigadas.
97
Como espécie semiprecoce e migratória, os filhotes de Thalasseus
sandvicensis apresentam um rápido desenvolvimento; esse crescimento inicial
acelerado pode ser vantajoso para que o filhote possa adquirir plumagem
suficiente para realizar o primeiro vôo, que ocorrem a partir da quinta semana,
tornando mais eficiente a proteção contra predadores e a aprendizagem na
obtenção de alimento, aumentando sua capacidade de sobrevivência (Efe et al.
2004).
A probabilidade de sobrevivência (Gross & Clarck 1975) e a curva de
crescimento (Ricklefs 1967) dos filhotes indicam que há um período crítico,
durante os nove primeiros dias após a eclosão. Acompanhando tal ocorrido, as
principais causas de morte na Argentina, foram, a predação (4,8%) e deserção
parental ou atrasos para retornar ao ninho (11,1%); o risco de morte do filhote
decresce até o período que adquirem nova plumagem, em torno dos 13 a 17
dias (Scolaro et al. 1996). De acordo com o mesmo autor, o risco de morte
aumenta novamente quando os filhotes estão entre 26 a 28 dias de vida, sendo
que as principais causas de morte foram a deserção parental e mudanças na
freqüência de visita aos filhotes (8,3%).
A maioria da mortalidade de filhotes do gênero ocorre na primeira semana
após a eclosão (Nisbet & Cohen 1975) e a idade média da morte dos filhotes
de Sterna dougalli é de 3,3 a 4,0 dias (Nisbet 1978, Spendelow 1982). Sterna
hirundo que nidificaram na área principal de Massachussets estavam
alimentando três filhotes, e foi estimado a produtividade de 2,5 filhotes por par,
maiores valores encontrados para a espécie (Nisbet et al. 1984). Na ilha dos
Cardos, foi registrado que apenas um filhote era mantido pelo par reprodutivo
em ambas as espécies.
A maior causa na falha da reprodução observada na colônia de St.
Ambroise para Sterna dougalli foram os efeitos diretos e indiretos da predação
da coruja (Bubo virginianus) (Hébert 1985). Enquanto que para S. forsteri o
sucesso de reprodução foi de 6,9 e 0%, com as maiores perdas de filhotes pela
ação das ondas, 63,4 e 70,0%, respectivamente (Mcnicholl 1982). As
inundações causadas por marés e tempestades e a predação das gaivotas
(Larus argentatus e L. atricilla) foram os responsáveis pelo desaparecimento de
ovos e filhotes de Sterna hirundo (Erwin & Smith 1985).
98
Na costa da Argentina ficou em torno de 35,1% e a mortalidade de filhotes
durante o período foi de 52,2% (Scolaro et al. 1996). S. hirundinacea,
Thalasseus sandvicensis e S. maxima no litoral do Espírito Santo, Rio de
Janeiro, São Paulo e Paraná, apresentaram baixo sucesso reprodutivo, pela
nidificação da gaivota L. dominicanus na mesma área e período, a atividade de
pescadores pernoitando na Ilha e a morte de filhotes que quando incomodados
se lançam ao mar (Sick & Leão 1965; Efe et al. 2000, Krul 2004; Campos et al.
2004; Alves et al. 2004). Nas Ilhas de Santa Catarina, apesar da pressão das
gaivotas e dos gaviões caracará (Caracara plancus) e carrapateiro (Mivalgo
chimachima), foi registrado um considerável sucesso reprodutivo, entre 34,1%
e 24,5% (Branco 2003b).
No presente estudo, o sucesso reprodutivo foi maior, provavelmente pela
pequena interferência da gaivota (Larus dominicanus) no período de postura e
incubação dos ovos, aliado a poucos eventos de marés altas e variações
amenas na temperatura com a disponibilidade de alimento.
Os parâmetros de tarso, asa e cúlmem mensurados em adultos de
Thalasseus sandvicensis no Espírito Santo foram significativamente diferentes
entre as aves de três áreas, podendo portanto, aceitar-se a hipótese de que
elas pertençam à populações diferentes (Efe et al. 2004). Apesar de terem sido
registradas diferenças significativas na biometria dos adultos de Sterna
hirundinacea na ilha dos Cardos, é precoce afirmar diferenças na população
sem outras análises, como a genética, por exemplo.
Os diversos efeitos da intrusão humana em colônias de aves marinhas a
muito tempo tem sido reconhecida. Austin (1929) aferiu ao distúrbio humano
como o principal fator na produtividade de Sterna hirundo. Em muitas colônias
a predação raramente ocorre na ausência de distúrbio (Kury & Gochfeld 1975).
A predação de L. ridibundus sobre os filhotes de S. sandvicensis no momento
da dispersão da colônia é aumentado significativamente quando o distúrbio
humano acelera esse processo (Gochfeld 1981). Em adição a predação de
ninhos sem defesa, o distúrbio pode forçar os filhotes a abandonarem seu
ninho e serem agredidos por seus vizinhos (Burger 1979) e em alguns casos
são incapazes de retornar ao seu ninho e seus pais (Gochfeld 1981).
99
Durante a aproximação do pesquisador, tantos os indivíduos que foram
encontrados na etapa de assentamento como os de ninhos periféricos em uma
colônia mista no litoral argentino, começam a reagir com grande intensidade
entre 25 e 20m dos ninhos (Yorio & Quintana 1996). Segundo os mesmos, o
abandono era imediato e regressavam a seus ninhos depois de um minuto
aproximadamente, onde em uma ocasião 20 ninhos foram totalmente
abandonados, resultando na predação dos ovos pelas gaivotas. Os dados
registrados, na colônia da Ilha dos Cardos, apresentaram diferenças no
comportamento das aves conforme a aproximação dos humanos nas distintas
fases do período reprodutivo, tendo uma resposta negativa a uma maior
distância (cerca de 40m), não sofrendo ataques de predadores, e sim atuando
no tempo de retorno dos adultos ao ninho e na deslocação dos filhotes para
áreas territoriais de outros adultos.
Em geral as aves marinhas estudadas começaram a responder a uma
maior distância ou com uma maior intensidade durante a etapa de
assentamento, sugerindo que este é o período mais sensível do ciclo aos
distúrbios humanos (Yorio & Quintana 1996), fato corroborado na ilha dos
Cardos. Por outro lado, deveria ter-se em conta que os impactos causados por
um ou dois pesquisadores que se aproximam com cuidado e em silêncio se
intensificariam com um número maior de visitantes na colônia (Yorio &
Quintana 1996).
De acordo com Nisbet (1981) após o manuseio, a deserção do ninho foi o
efeito mais adverso, principalmente em S. dougalli manuseadas nos primeiros
15 dias de incubação. Apesar desse mesmo autor sugerir que nenhuma ave
deva ser manuseada do 17 ao 22 dia (Nisbet 1978), na colônia da Ilha dos
Cardos, durante o período de postura, incubação e cuidado parental dos
filhotes de S. hirundinacea e Thalasseus sandvicensis não foram observadas
deserções.
Gochfeld (1981) define que diferenças taxonômicas, idade, clima, tempo e
a intensidade de manuseio causam diferentes respostas nos filhotes. Filhotes
de Sterna hirundinacea quando perturbados se movem para os locais
sombreados ou cobertos, mesmo durante os primeiros dois dias de vida; mais
tarde, durante a segunda semana de vida, são vistos em pé perto dos pais ou
100
sentados perto dos locais sombreados; os mais velhos permanecem dentro ou
perto da vegetação, correndo para se cobrir ao primeiro sinal de um intruso,
mas permanece na borda da vegetação quando não for ameaçado. Thalasseus
sandvicensis uma vez que o distúrbio era iniciado, corriam grandes distâncias,
muitas vezes influenciados pelas vocalizações e chamados dos pais, se
afastando definitivamente do local do ninho. Esses comportamentos foram
semelhantes ao registrado por Gochfeld (1981) em uma colônia de Long Island
(USA) para Sterna hiruno e Rynchops niger, respectivamente.
Duas espécies de trinta-réis (S. máxima e S. hirundinacea) são
consideradas como ameaçadas de extinção no estado de São Paulo, conforme
o Decreto Estadual de número 42.838/98 (Campos et al. 2004). De acordo com
os mesmos autores, a coleta de ovos, fogo intencional, presença de
pescadores e turistas danificando os sítios reprodutivos nas ilhas, além do
intenso uso das praias de varias formas, são fatores que aumentam a
suscetibilidade destas colônias insulares, o que poderá levá-las a um declínio
populacional, outro fator agravante é a poluição do mar que afeta as áreas de
alimentação destas aves.
A ilha Deserta (SC), não sofre grandes influências antrópicas diretas por
fazer parte da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo, Unidade de
Conservação Federal criada em 1990, entretanto, nas temporadas de 2000 e
2002 as populações de Sterna hirundinacea e Thalasseus sandvicensis
abandonaram a ilha pela forte ação predatória da gaivota L. dominicanus
(Branco 2003a). De acordo com o mesmo autor, a reduzida pressão antrópica
nas Ilhas Itacolomis e Ilhas dos Cardos e a baixa ação dos predadores
naturais, como L. dominicanus sobre a colônia, durante o período de postura
dos ovos e desenvolvimento dos filhotes, aliada a oferta constante de alimento
oriundo da pesca artesanal de camarões (Branco 2001), permitiu a ocupação
regular destes sítios e bons desempenhos reprodutivos, tornando-os locais
importantes para a conservação da espécie.
Com o acompanhamento diário da colônia de S. hirundinacea na Ilha dos
Cardos, foi possível estimar o número de vezes e a duração das cópulas; a
perda diária de peso dos ovos, e o tempo necessário desde a postura até a
eclosão dos filhotes; o incremento diário do bico, tarso e peso dos mesmos; a
101
taxa de crescimento e mortalidade dos jovens; os dados de alimentação dos
pares reprodutivos no período de corte, na postura dos ovos e das presas
entregues aos filhotes; bem como um dos primeiros registros de distúrbios
humanos em uma colônia.
Os estudos realizados na Ilha dos Cardos, podem servir de modelo para
uma eventual criação de área de visitação do público em colônias de
nidificação ativas, com a implementação do turismo ecológico e programas de
educação ambiental, nas Ilhas do litoral catarinense, entretanto é necessário
manter uma distância mínima de 40m das aves em qualquer fase do período
reprodutivo.
As condições físicas, pouca ação de predadores, alta visibilidade,
proteção de vegetação ou rochas, baixa probabilidade de inundação, curta
distância da área de forrageio, baixa exposição aos ventos dominantes, bem
como a colonização em conjunto com Thalasseus sandvicensis, apesar das
relações sociais como competição por espaço e alimento (Buckley & Buckley
1980; Burger 1981, Thompson & Slack 1982) possibilitaram a reprodução
ininterrupta de Sterna hirundinacea na Ilha dos Cardos desde 2001, juntamente
com os estudos prévios realizados por Branco (2003a) e Branco (2003b),
tornaram o litoral catarinense uma importante referência para a Conservação
da espécie no litoral brasileiro.
102
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitos trabalhos ainda têm que ser realizados na área de distribuição e
concentração de trinta réis ao longo da costa brasileira e argentina, com o
acompanhamento diário para aferir dados ecológicos, principalmente nos sítios
de nidificação onde se tem pouca ou nenhuma informação.
O monitoramento das colônias e coleta de dados biométricos deve ser
mantido e intensificado os esforços de anilhamento e análises genéticas para
determinar se existem diferenças nas populações existentes ao longo de sua
distribuição.
Os estudos de alimentação devem ser ampliados para a costa dos
estados de Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo e iniciados o
uso de telemetria e análises de isótopos estáveis para melhor compreender
todas as variáveis que interferem a distribuição e ecologia dessas espécies.
A formação de Unidades de Conservação, previamente analisadas e
implementadas de acordo com sua necessidade e graus de rigidez, deve ser
parte de um plano diretor dos órgãos ambientais e federais para salvaguardar
essas espécies, a fim de melhor compreender seus desígnios ecológicos e
função no ecossistema.
103
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Alves, V. S.; Soares, A. B. A.; Couto, G. S. 2004. Aves marinhas e aquáticas
das ilhas do litoral do Estado do Rio de Janeiro. p. 83-100 in: Aves marinhas
insulares brasileiras: bioecologia e conservação (Organizado por Joaquim
Olinto Branco). Editora da UNIVALI, Itajaí, SC.
Austin, O. L. Jr. 1929. Contributions to the knowledge of the Cape Cod
Sternidae. Bulletin of Northeastern Bird-Banding Association. 5: 123-140.
Baird, P.H. 1990. Influence of abiotic factors and prey distribution on diet and
reproductive success of three seabird species in Alaska. Ornis Scandinavia,
Scandinavia, 21: 224-235.
Bege, L. A. R. & Pauli, B. T. 1988. As aves nas Ilhas Moleques do Sul –
Santa Catarina: Aspectos da ecologia, etologia e anilhamento de aves
marinhas. Florianópolis, FATMA, 64p.
Belton, W. 1994. Aves do Rio Grande do Sul, distribuição e biologia.
Unisinos, São Leopoldo.
Blokpoel, H., Morris, R. D. & Trull, P. 1982. Winter observations of common
terns in Trinidad, Guyana and Suriname. Colonial Waterbirds, 5: 144-147.
Branco, J. O.; Fracasso, H. A. A.; Verani, J. R. 2006. Interações entre aves
marinhas e a pesca de camarões na Armação do Itapocoroy, Penha, SC p.
171-182 in Bases ecológicas para um desenvolvimento sustentável: estudos de
caso em Penha, SC. Organizado por Branco, J. O. & Marenzi, A. W. C. Editora
da UNIVALI, Itajaí, SC. 291 p.
Branco, J. O. 2001. Descartes da pesca do camarão sete-barbas como fonte de
alimento para aves marinhas. Revista brasileira de Zoologia, Curitiba, 18 (1):
293-300.
Branco, J. O. 2003a. Reprodução das aves marinhas nas ilhas costeiras de
Santa Catarina, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, Curitiba, 20 (4): 619-
623.
104
Branco, J. O. 2003b. Reprodução de Sterna hirundinacea Lesson e Thalasseus
sandvicensis Lathan (Aves, Laridae), no litoral de Santa Catarina, Brasil.
Revista Brasileira de Zoologia, Curitiba, 20 (4): 655-659.
Branco, J. O., Fracasso, H. A. A. F. & Verani, J. R. 2004. Interações entre
aves marinhas e a pesca de camarões na Armação do Itapocoroy, Penha,
SC. p. 171-182 in: Aves marinhas insulares brasileiras: bioecologia e
conservação (Organizado por Joaquim Olinto Branco). Editora da UNIVALI,
Itajaí, SC.
Branco, J. O. 2004. Aves marinhas das Ilhas de Santa Catarina, p.15-36. In:
J.O. Branco (Ed.). Aves marinhas e insulares brasileiras: bioecologia e
conservação. Editora da UNIVALI, Itajaí, SC.
Buckley, F. G. & P. A. Buckley. 1974. Comparative feeding ecology of wintering
adult and juvenile Royal Terns (Aves, Laridae, Sternidae). Ecology, 55: 1053-
1063.
Buckley, F. G. & Buckley, A. P. 1980. Habitat selection and marine birds, 4:
69-112. In: J. Burger, B. Olla and Winn, H. E. (Ed.). Behaviour of marine
animals, New York.
Buckley, P. A. & Buckley, F. G. 1981. The endangered status of North American
Roseate terns. Colonial Waterbirds, 4: 166-173.
Buckley, F. G. & Buckley, P. A. 1982. Microenvironmental determinants of
survival in salt marsh-nesting common terns. Colonial Waterbirds, 5: 39-48.
Bugoni, L. & Vooren, C. M. 2005. Distribution and Abundance of Six Tern
Species in Southern Brazil. Waterbirds, 28 (1): 110-119.
Bugoni, L., Cormons, T. D., Boyne, A. W. & Hays, H. 2005. Feeding Grounds,
Daily Foraging Activities, and Movements of Common Terns in Southern Brazil,
Determined by Radio-telemetry. Waterbirds, 28 (4): 468-477.
Burger, J. & Gochfeld, M. 1983. Behavioral responses to human intruders of
herring gulls (Larus argentatus) and great black-backed gulls (Larus marinus)
with varying exposure to human disturbance. Behavioral Processes, 8: 327-
344.
105
Burger, J. & Gochfeld, M. 1996. Family Sternidae (Terns). Pages 652-653 in
Handbook of the birds of the world, Vol. 3. Hoatzin to Auks (J. del Hoyo, A.
Elliott and J. Sargatal, Eds.). Lynx Ediciones, Barcelona.
Burger, J. 1979. Competition and predation: herring gull versus Laughing gulls.
Condor, 81: 269-277.
Burger, J. 1981. A model for the evolution of mixed-species colonies of
Ciconiiformes. Quaternary Review of Biology, Chicago, 56: 143-167.
Burger, J. 1983. Jamaica Bay studies: I. Environmental determinants of
abundance and distribution of common terns (Sterna hirundo) and black
skimmers (Rynchops niger) at an East Coast estuary. Colonial Waterbirds, 5:
148-160.
Campos, F. P.; Paludo, D.; Faria, P. J.; Martuscelli, P. 2004. Aves insulares
marinhas, residentes e migratórias, do litoral do Estado de São Paulo. p.
57-82 in Aves marinhas insulares brasileiras: bioecologia e conservação
(Organizado por Joaquim Olinto Branco). Editora da UNIVALI, Itajaí, SC.
CEMAVE-IBAMA, 1994. Manual de anilhamento de aves silvestres. Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, 2ª Ed,
148p.
Duffy, D. C., Ryan, P. G., Wilson, R. P. & Wilson, M. P. 1988. Spring seabird
distribution in the Srait of Magellan. Cormorant, 16: 98-102.
Efe, M. A., Nascimento, J. L. X., Nascimento, I. L. S. & Musso, C. 2000.
Distribuição e ecologia reprodutiva de Sterna sandivicensis eurygnatha no
Brasil. Melopsittacus, Belo Horizonte, 3 (3): 110-121.
Efe, M. A, Nascimento, J. L. X., Nascimento, I. L. S., Musso, C. & Glock, L.
2004. Variações Morfológicas e Padrões de Crescimento de Filhotes de Sterna
sandvicensis eurygnatha no Brasil. Biociências, Porto Alegre, 12 (1): 11-19.
Efe, M. A. 2004. Aves marinhas das ilhas do Espírito Santo. p. 101-118 in
Aves marinhas insulares brasileiras: bioecologia e conservação (Organizado
por Joaquim Olinto Branco). Editora da UNIVALI, Itajaí, SC.
106
Efe, M. A., Musso, C. & Glock, L. 2005 Sucesso Reprodutivo de Thalasseus
sandvicensis eurygnathus no Brasil. Biociências, Porto Alegre, 13 (1): 63-68.
Erwin, R. M. & Smith, D. C. 1985. Habitat comparisons and productivity in
nesting common terns on the mid-atlantic coast. Colonial Waterbirds, 8(2):
155-165.
Falklands, 2004. Disponível em
<http://www.falklands.net/BirdGuideSouthAmericanTern.shtml>. Acessado em
20/05/2004.
Fasola, M. & Bogliani, G. 1984. Habitat selection and distribution of nesting
common and little terns on the Po River (Italy). Colonial Waterbirds, 7: 127-
133.
Favero, M., Silva, M. P. & Mauco, L. 2000. Diet of Royal (Thalasseus maximus)
and Sandwich (T. sandvicensis) terns during the austral winter in the Buenos
Aires Province, Argentine. Ornitologia Neotropical, 11: 259-262.
Figueiredo, J. L. & Menezes N. A. 2000. Manual de peixes marinhos do
Sudeste do Brasil. II. Teleostei (5). São Paulo: Mus. Zool. Univ. SP, II6p.
Figueiredo, J. L. & Menezes, N. A. 1978. Manual de peixes marinhos do
Sudeste do Brasil. II. Teleostei (1). São Paulo: Mus. Zool. Univ. SP, II0p.
Gochfeld, M. 1981. Differences in behavioral responses of Young common terns
and Black skimmers to intrusion and handling. Colonial Waterbirds, 4: 47:53.
Gross, A. F. & Clarck, V. A. 1975. Survival distribuitions: reliability
applications in the biomedical sciences. New York.
Harrison, P. 1983. Seabirds an identification guide. London: Christopher
Helm, 448 p.
Hays, H. 1978. Timing and breeding success in 3-to 7-year-old Common tern.
Ibis, 120: 127-128.
Hébert, P. N. 1985. Breeding failure and decline of a common tern colony in
Southern Manitoba. Colonial Waterbirds, Charleston, 8 (2): 183-185.
107
Higgins, P.J. & S.J.J.F. Davies. 1996. Handbook of Australian, New Zealand
and Antarctic Birds. Vol. 3. Snipe to Pigeons. Oxford University Press,
Melbourne.
Houde, A. E. 1983. Nest density, habitat choice and predation in a common tern
colony. Colonial Waterbirds, Charleston, 6: 178-184.
Hoyt, D.F. 1979. Practical methods of estimating volume and fresh weight of
bird eggs. Auk, Fayetteville, 82: 507-508.
Hulsman, K. 1988. The structure of seabird communities: An example from
Australian waters. P 59-91. In: Seabirds & other marine vertebrates,
competition, predation, and other interactions, edited by Joana Burger.
Columbia University Press, New York.
Jackson, J.A. & B.J.S. Jackson. 1985. Status, dispersion and population
changes of the least tern in coastal Mississippi. Colonial Waterbirds,
Charleston, 8 (1): 54-62.
Klaassen, M. 1994. Growth and energetics of tern chicks from temperate and
polar environments. Auk, Lawrence, 111: 525-544.
Krul, R. 2004. Aves marinhas costeiras do Paraná. p.37-56 in Aves marinhas
insulares brasileiras: bioecologia e conservação (Organizado por Joaquim
Olinto Branco). Editora da UNIVALI, Itajaí, SC.
Kury, C. R. & Gochfeld, M. 1975. Human interference and gull predation in
cormorant colonies. Biological Conservation. 8: 23-34.
Lagham, N.P. 1983. Growth strategies in marine terns. Studies in Avian
Biology, California, 8: 73-83.
Mauco, L., Favero, M. & Bó, M. S. 2001. Food and Feeding Biology of the
Common Tern during the Nonbreeding Season in Samborombon Bay, Buenos
Aires, Argentina. Waterbirds, 24 (1): 89-96.
Mcnicholl, M. K. 1982. Factors affecting reproductive success of forster´s terns
at Delta Marsh, Manitoba. Colonial Waterbirds, 5: 32-38.
Menezes, N. A. & Figueiredo, J. L. 1980. Manual de peixes marinhos do
Sudeste do Brasil. IV. Teleostei (3). São Paulo: Mus. Zool. Univ. SP, 96p.
108
Montevecchi, W. A. 1993. Birds as indicators of change in marine prey
stocks. London: 217-266.
Nelson, B. 1980. Seabirds: their biology and ecology. The Hamlyn Publishing
Group Limited, Italy, 224 p.
Nisbet I. C. T. & Cohen, M. E. 1975. Asynchronous hatching in Common and
Roseate terns, Sterna hirundo and Sterna dougalli. Ibis, 117: 374-379.
Nisbet, I. C. T. 1973. Courtship-feeding, egg-size and breeding success in
common terns. Nature, 241: 141-142.
Nisbet, I. C. T. 1978. Dependence of fledging success on egg-size, parental
perfonmance and egg-composition among Common and Roseate Terns, Sterna
hirundo and S. dougalli. Ibis, 120: 207-216.
Nisbet, I. C. T. 1981. Behavior of common and roseate terns after trapping.
Colonial Waterbirds, 4: 44-46.
Nisbet, I. C. T. 1983. Territorial feeding by Common terns. Colonial
Waterbirds, 6: 64-70.
Nisbet, I. C. T. & Welton, M. J. 1984. Seasonal variations in breeding success of
Common Terns: consequences of predation. Condor, 86: 53-60.
Nisbet, I.C.T., Winchell, J.M. & A.E. Heise. 1984. Influence of age on the
breeding biology of common terns. Colonial Waterbirds, Charleston, 7: 117-
126.
Olrog, C.C. 1979. Nueva lista de la avifauna argentina. Opera Lilloana, 27: 1-
324.
Pereira, J. M. C., 1997. Comparação da alimentação e crescimento de crias em
duas espécies simpátricas de garajau (Sterna hirundo; Sterna dougallii) nos
Açores. Relatório de Estágio do Curso de Licenciatura em Biologia
Marinha e Pescas, Faro, 39 p.
Pugesek, B. H. & Diem, K. L. 1983. A multivariate study of the relationship of
parental age to reproductive success in California Gulls. Ecology: 64: 829-839.
109
Pugesek, B. H. 1983. The relationship between prental age and reproductive
effort in the California Gull (Larus californicus). Behav. Ecol. Sociobiology, 13:
161-171.
Quintana, F. & Yorio, P. 1997. Breeding biology of royal and cayenne terns at a
mixed-species colony in Patagonia. Wilson bulletin, Fort Collins, 109 (4): 650-
662.
RAO, Reunion Argentina de Ornitologia, San Martin de los Andes, Argentina.
2008.
Ricklefs, R. E. 1967. A graphical method of fitting equations to growth curves.
Ecology, 48: 978-983.
Safina, C. & Burger, J. 1988. Ecological dynamics among prey fish, bluefish,
and foraging common terns in an Atlantic coastal system . p. 95-173 in:
Seabirds & other marine vertebrates, competition, predation, and other
interactions, edited by Joana Burger. Columbia University Press, New York.
SANTUR-SC, 1999. Órgão oficial de turismo do Estado de Santa Catarina.
Disponível: http://www.santur.sc.gov.br. Acesso em 25 de Outubro de 2003.
Schreiber, E. A. & Burger, J. 2002. Seabirds in the marine environment, p. 1-
15 in: Biology of Marine Birds. Edited by Schreiber & Burger. CRC Press.
Scolaro, J. A., Laurenti. S. & Gallelli, H. 1996. The nesting and breeding biology
of the south american tern in northern Patagônia. Journal of field ornithology,
67 (1): 17-24.
Severinghaus, L. L. 1982. Nest site selection by the common tern Sterna
hirundo on Oneida Lake, New York. Colonial Waterbirds, 5: 11-18.
Sibley, G. C.; Monroe, B. L., Jr. 1990. Distribuition and Taxonomy of Birds of
the World. New Haven & London: Yale University, 1111 p.
Sick, H. & A.P. Leão. 1965. Breeding sites of Thalasseus sandvicensis and
other sea birds of the Brazilian coast. Auk, Fayetteville, 82: 507-508.
Sick, H., 1997. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 862 p.
Soares, M. & Schiefler, F. 1995. Aves da Ilhota da Galheta, Laguna, SC, Brasil.
Arquivo de biologia e tecnologia, 38 (4): 1101-1107.
110
Soares, M., 2002. Interferência humana no sucesso reprodutivo de Sterna
hirundinacea na Ilhota da Galheta, SC, Brasil. In: XXIV Congresso Brasileiro
de Zoologia. Resumos. Itajaí, CBZ e UNIVALI. CD-ROM, Área 15, trabalho n.
15007.
Sokal, R. R. & Rohlf, F. J. 1969. Biometry, the principles and practices of
statistics in biological research. W. H. Freeman and Co., San Francisco,
776p.
Spendelow, J. A. 1982. An analysis of temporal variation in, and the effects of
habitat modification on, the reproductive success of roseate terns. Colonial
Waterbirds, 5: 19-31.
Thomas, C. 1983. The relationships between breeding experience, egg volume
and reproductive success of the Kittiwake Rissa tridactyla. Ibis, 125: 567-574.
Thompson, B.C. & R.D. Slack. 1982. Physical aspects of colony selection by
terns on the Texas Coast. Colonial Waterbirds, Charleston, 5: 161-168.
VIVA GAROPABA, 2004. Disponível em
<http://www.vivagaropaba.com.br/conteudo01/guia_difgital/municipio/cardos.ht
m>. Acessado em 20/05/2004.
Vooren, C. M. and A. Chiaradia. 1990. Seasonal abundance and behaviour of
coastal birds on Cassino Beach, Brazil. Ornitologia Neotropical, 1: 9-24.
Yorio, P. & Quintana, F. 1996. Efectos del disturbio humano sobre una colonia
mixta de aves marinas en Patagonia. Hornero, 14: 60-66.
Yorio, P., Quintana F, Campagna, C. & Harris, G. 1994. Diversidad, abundancia
y danimica espacio-temporal de la colonia mixta de aves marinas en Punta
Leon, Patagonia. Ornitologia Neotropical, Athens, 6 (2): 69-77.
Zar, J. H. 1999. Biostatistical Analysis, 4a ed. Prentice-Hall Inc., New Jersey,
663p.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo