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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
CENTRO DE HUMANIDADES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGÜÍSTICA APLICADA
MESTRADO ACADÊMICO EM LINGÜÍSTICA APLICADA
CLERTON LUIZ FELIX BARBOZA
DESCRIÇÃO ACÚSTICA DOS SONS VOCÁLICOS ANTERIORES DO INGLÊS E
DO PORTUGUÊS REALIZADOS POR PROFESSORES DE INGLÊS LÍNGUA
ESTRANGEIRA NO OESTE POTIGUAR
FORTALEZA
2008
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CLERTON LUIZ FELIX BARBOZA
DESCRIÇÃO ACÚSTICA DOS SONS VOCÁLICOS ANTERIORES DO INGLÊS E
DO PORTUGUÊS REALIZADOS POR PROFESSORES DE INGLÊS LÍNGUA
ESTRANGEIRA NO OESTE POTIGUAR
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Lingüística Aplicada da
Universidade Estadual do Ceará – UECE, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Mestre em Lingüística Aplicada (Área de
concentração: Estudos da Linguagem).
Orientação: Prof. Dr. Wilson Júnior de Araújo
Carvalho.
FORTALEZA
2008
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CLERTON LUIZ FELIX BARBOZA
DESCRIÇÃO ACÚSTICA DOS SONS VOCÁLICOS ANTERIORES DO INGLÊS E
DO PORTUGUÊS REALIZADOS POR PROFESSORES DE INGLÊS LÍNGUA
ESTRANGEIRA NO OESTE POTIGUAR
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Lingüística Aplicada da
Universidade Estadual do Ceará – UECE, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Mestre em Lingüística Aplicada (Área de
concentração: Estudos da Linguagem).
Aprovada em ___ / ___ / ____
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________
Prof. Dr. Wilson Júnior de Araújo Carvalho (Orientador)
___________________________________________
Prof. Dra. Thaïs Cristófaro Alves da Silva (1º Examinador)
____________________________________________
Prof. Dra. Paula Lenz Costa Lima (2º Examinador)
Dedico a presente Dissertação a todos os
familiares, professores, amigos e alunos que me
incentivaram na busca de meus objetivos
profissionais.
AGRADECIMENTOS
À CAPES pela concessão de bolsa de estudo, incentivo financeiro (quase sempre)
constante que me propiciou crescimento profissional e pessoal ao participar de diversos
congressos e similares;
À Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN, instituição onde
leciono, pela possibilidade que me foi concedida de crescer profissionalmente através da
licença para estudo a mim concedida;
Ao meu Professor Orientador, Wilson Júnior de Araújo Carvalho, pelos inúmeros
e valiosos comentários realizados no processo de planejamento, consecução dos experimentos
e redação deste trabalho;
Aos membros da Banca Examinadora por seus comentários, sugestões e
correções: Professora Doutora Thaïs Cristófaro Alves da Silva e Professora Doutora Paula
Lenz Costa Lima;
À Professora Doutora Socorro Aragão, pelos importantes comentários feitos
durante a qualificação do projeto do presente estudo;
Aos informantes da presente pesquisa, cuja grande maioria constituiu-se de
amigos de longa data;
Ao Judson, pela paciência em me explicar, pelo MSN, diversos conceitos teóricos
e práticos de análise estatística.
À minha família que tanto me incentiva em minha busca de novos horizontes.
RESUMO
O estudo comparou acusticamente as vogais anteriores do Português Brasileiro (PB) com as
vogais correlatas do Inglês língua estrangeira (ILE) produzidas por professores de Inglês no
oeste do Rio Grande do Norte. Analisamos as vogais [i, e, E] do PB e [i, I, E, Q] do ILE, e o
primeiro elemento do ditongo [eI] das duas línguas. No referencial teórico, fizemos uso da
Teoria das Vogais Cardeais, da Teoria Acústica de Produção da Fala, descrições de cunho
acústico e articulatório das vogais tônicas do PB e do Inglês general American. Em nossa
metodologia utilizamos quatro experimentos. Os primeiros foram denominados POR1 e
ING1. Constituíram-se da produção de vogais anteriores tônicas, entre consoantes plosivas,
em palavras dissílabas com acento na primeira sílaba no PB, e palavras monossílabas no
Inglês, inseridas nas frases-veículos “X. Diga X alto” e “X. Say X again”. Os experimentos
POR2 e ING2 fizeram uso de algumas palavras utilizadas nos experimentos anteriores
inseridas como nomes de ruas em um pequeno mapa. Solicitamos nossos informantes que
verbalizassem o caminho de um ponto a outro, fazendo uso, portanto, das vogais a serem
analisadas. A análise dos sons vocálicos obtidos através dos experimentos acima caracterizou-
se pela obtenção dos valores de F1, F2 e da duração das vogais supracitadas. Posteriormente,
estes valores foram estatisticamente comparados, especialmente através do uso de testes t para
amostras pareadas e de análises de variância para medidas repetidas. Tais comparações
ocorreram intra- e inter-experimentos. Resultados apontam para uma realização do par
anterior [i, I] do ILE com praticamente nenhuma sobreposição espectral, resultando em
diferenças significativas entre os sons em questão. A comparação das características
espectrais dos sons [i] do ILE e [i] do PB, por outro lado, revelou diferenças não-
significativas entre os sons das duas línguas. Resultados das comparações envolvendo os sons
[I] do ILE e [i] do PB indicaram diferenças significativas entre estes sons, uma vez que o som
[I] do ILE aproxima-se bastante do som [e] do PB, em termos espectrais. Comparações
envolvendo a duração do par anterior [i, I] do ILE indicaram diferenças significativas, com o
primeiro elemento do par possuindo uma duração significativamente maior que o segundo.
Comparações estatísticas envolvendo a duração do par em questão com o som [i] do PB
revelaram que o som de nossa língua materna possui uma duração significativamente menor
que o par do ILE. Em se tratando das características espectrais do primeiro elemento do som
[eI] do ILE e do PB, nossos resultados apontam um alto nível de sobreposição espectral.
Entretanto, algumas diferenças estatísticas significativas foram encontradas. De maneira
análoga, os resultados pertinentes ao par [E, Q] do ILE indicaram alto grau de sobreposição
espectral, todavia alguns testes estatísticos indicaram diferenças significativas. Os sons [E, Q]
do ILE, entretanto, constituem-se numa nova categoria vocálica, significativamente abaixo do
som [E] do PB. No tocante à duração, por fim, os sons [E, Q] do ILE o possuem variação
significativa de duração. Os componentes do par em questão, no entanto, possuem uma
duração significativamente maior que o som [E] do PB.
PALAVRAS-CHAVE: Descrição acústica; sons vocálicos anteriores; Inglês língua
estrangeira; Português brasileiro; professores de Inglês.
ABSTRACT
The study acoustically compared Brazilian Portuguese (BP) front vowels to similar sounds
found in the English as a Foreign Language (EFL) as realized by teachers of English in
western Rio Grande do Norte. We analized PB [i, e, E] and EFL [i, I, E, Q], as well as the
diphthong [eI] in both languages. In order to ground our research theoretically, we made use
of the Cardinal Vowels Theory, of the Acoustic Theory of Speech Production, as well as
acoustic and articulatory descriptions of the stressed vowels in BP and general American
English. We made use of four experiments as our data-collecting methodology. The first ones
were termed POR1 and ING1. They were characterized by the production of stressed front
vowels, between plosive consonants, in BP two-syllable words with first syllable stress, and
English one-syllable words, inserted in the carrier-sentences X. Diga X alto” and “X. Say X
again”. Experiments POR2 and ING2 employed some words which were already used in the
previous experiments as street names in a small map. We asked our informers to verbalize the
way from one place of the map to the other, making use, therefore, of the vowel to be
analyzed. The study of the vowel sounds through the use of the experiments above was used
to determine the F1, F2 and duration of the aforementioned vowels. Theses values were
statistically compared, especially through the use of paired-samples t-tests and repeated-
measures ANOVAs. Such comparisons happened intra- and inter-experiments. Results
indicated a realization of the EFL pair [i, I] with practically no spectral overlay, resulting in
significant differences between the sounds in question. The comparison between the spectral
characteristics of the EFL sound [i] and BP [i], on the other hand, revealed non-significant
differences between the analyzed sounds. The comparisons involving EFL [I] and BP [i]
indicated significant differences between them, once the EFL sound [I] was closely related to
BP [e], in spectral terms. As regards duration, the front EFL pair [i, I] was realized with
significant differences, with the first element of the pair being significantly longer than the
second. Statistical comparisons involving the duration of the aforementioned pair with BP
sound [i] revealed this sound is significantly shorter than the components of the pair above.
Taking into consideration the spectral characteristics of the first element of the EFL and BP
sound [eI], our results indicated a high degree of spectral overlay. However, a few significant
differences were found. In the same way, results regarding the EFL pair [E, Q] showed a high
level of spectral overlay, with a few statistical tests indicating significant differences. EFL
sounds [E, Q], however, constituted a new vowel category, significantly lower than the BP
sound [E]. Finally, as regards duration, EFL sounds [E, Q] had no significant variation. The
components of the pair in question were significantly longer than BP [E].
KEY-WORDS: Acoustic description; vowel front sounds; English as a foreign language;
Brazilian Portuguese; teachers of English.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: As quatro VC delimitando a área vocálica. ................................................... 22
FIGURA 2: Quadrilátero vocálico, contendo as oito VC (adaptada de
INTERNATIONAL PHONETIC ASSOCIATON, 1999). ............................................... 23
FIGURA 3: Extremos da região vocálica (adaptada de ABERCROMBIE, 1967). .......... 23
FIGURA 4: Quadrilátero vocálico contendo as oito VCS (adaptada de
INTERNATIONAL PHONETIC ASSOCIATION, 1999). .............................................. 25
FIGURA 5: Quadrilátero vocálico contendo as seis VCC (adaptada de
INTERNATIONAL PHONETIC ASSOCIATION, 1999). .............................................. 26
FIGURA 6: Todas as Vogais Cardeais (adaptada de INTERNATIONAL
PHONETIC ASSOCIATION, 1999). ................................................................................ 26
FIGURA 7: VC acrescidas de algumas vogais adicionais (INTERNATIONAL
PHONETIC ASSOCIATION, 1999). ................................................................................ 27
FIGURA 8: Sons vocálicos do Inglês (em azul) e do Português (em vermelho)
inseridos no quadrilátero vocálico. ..................................................................................... 29
FIGURA 9: Posição do trato vocal para a produção da vogal oral [´]
(adaptada de ORION, 1995). .............................................................................................. 34
FIGURA 10: Posição do trato vocal para a produção da fricativa alveolar
desvozeada [s] (adaptada de ORION, 1995). ..................................................................... 34
FIGURA 11: Posição do trato vocal para a produção da fricativa alveolar
vozeada [z] (adaptada de ORION, 1995). .......................................................................... 35
FIGURA 12: Pregas vocais em posição aberta (ENTUSA, 2007). .................................... 35
FIGURA 13: Um ciclo de freqüência de uma onda sonora periódica
(adaptada de KOO, 2007). .................................................................................................. 36
FIGURA 14: Espectro linear do som produzido pelas cordas vocais
(adaptada de SUNDBERG, 1977). ..................................................................................... 36
FIGURA 15: Tubo simulando o trato vocal para a produção de vogal. ............................ 37
FIGURA 16: Ressonâncias impares sendo enfatizadas (3R, 5R) e pares sendo
suprimidas (2R, 4R, 6R) devido às características de 1R (adaptada de BORDEN;
HARRIS, 1980). ................................................................................................................. 40
FIGURA 17: Posição do trato vocal, dos pontos de constrição correspondentes
num tubo, e do espectro acústico das vogais [i, a, u] (adaptada de THIES, 2005a). ......... 41
FIGURA 18: Comprimento de onda das quatro primeiras freqüências de ressonância
de um tubo uniforme (adaptada de JACKSON, [200-]). .................................................. 42
FIGURA 19: Pontos de nodo (N) e anti-nodo (AN) no tubo e trato vocal. ....................... 43
FIGURA 20: Três ondas sinusoidais de freqüências e amplitudes diferentes unidas
numa onda complexa (adaptada de LADEFOGED, 1962). ............................................... 45
FIGURA 21: Espectrograma de oito sons vocálicos do Inglês em posição [h]V[d]
(adaptada de LADEFOGED, 2005). .................................................................................. 46
FIGURA 22: Conceito de produção de vogais baseado na teoria da fonte-filtro. .............. 47
FIGURA 23: Relação entre altura da língua e gráfico contendo valores de F1
(eixo vertical) e F2 (eixo horizontal) (THIES, 2005b). ...................................................... 50
FIGURA 24: Quadrilátero vocálico com a localização das vogais do PB no
dialeto de Belo Horizonte. .................................................................................................. 54
FIGURA 25: Análise das vogais orais tônicas do dialeto paulista. ................................... 55
FIGURA 26: Análise das vogais orais tônicas do PB. ....................................................... 55
FIGURA 27: Ponto inicial e final de produção do ditongo [eI]. ....................................... 56
FIGURA 28: Quadrilátero vocálico contendo as vogais tônicas do GA
(adaptada de WELLS, 1982). ............................................................................................. 60
FIGURA 29: Pontos de realização dos sons anteriores das VC (vermelho),
do Português europeu (azul), e do PB (verde). ................................................................... 62
FIGURA 30: Pontos de realização das vogais anteriores nos estudos de
Moreas, Callou, e Leite (2002) (verde), e Rauber (2006) (azul). ....................................... 64
FIGURA 31: Pontos de realização das vogais anteriores do GA por
Peterson e Barney (1952) (vermelho) e Hillenbrand et al (1995) (azul). ........................... 68
FIGURA 32: Mapa das seis regiões norte-americanas estudadas (CLOPPER;
PISONI; JONG, 2005). ...................................................................................................... 69
FIGURA 33: Movimento dos pontos de realização das vogais influenciadas
pelo Northern Cities Chain Shift (CLOPPER; PISONI; JONG, 2005). …………………. 70
FIGURA 34: Pontos de realização das vogais de cinco regiões dos Estados Unidos:
Nova Inglaterra (preto), Meio-Atlântico (azul), Norte (verde), Central (amarelo),
Sul (cinza), e Oeste (vermelho) (RAUBER, 2006). .......................................................... 71
FIGURA 35: Vogais do Português (cinza) e do ILE (preto). ............................................ 76
FIGURA 36: Mapa das regiões de Açu, Mossoró e Pau dos Ferros no estado
do Rio Grande do Norte (adaptada de WIKIPEDIA, 2008). ............................................. 80
FIGURA 37: Descrição do ponto de análise das freqüências dos formantes
da palavra tit realizada pelo informante M7. ...................................................................... 89
FIGURA 38: Descrição do ponto de análise da freqüência dos formantes no
ditongo [eI] da palavra tape do informante M7. ................................................................ 90
FIGURA 39: Descrição dos pontos de início e fim da vogal da palavra tit
realizada pelo informante M7. ........................................................................................... 91
FIGURA 40: Distribuição normal de dados estatísticos
(KERMITTHEBLOG, 2007). ............................................................................................ 92
FIGURA 41: Histograma dos valores de F2 do som [e] do experimento POR1. .............. 93
FIGURA 42: Distância euclidiana entre as vogais [i] e [Q] do experimento ING1. ......... 93
FIGURA 43: Vogais [i] e [I] dentro do espaço vocálico anterior do experimento ING1. 99
FIGURA 44: Vogais [i] e [I] dentro do espaço vocálico anterior do experimento ING2. 99
FIGURA 45: Gráfico do par [i] e [I] do ILE pré-(cinza) e pós- intervenção (preto)
(adaptada de NOBRE-OLIVEIRA, 2007). ........................................................................ 104
FIGURA 46: Gráfico do par [i] e [I] do ILE (adaptada de RAUBER, 2006). ................... 105
FIGURA 47: Gráfico contendo os sons [i] e [I] (em vermelho) do experimento
ING1 e o som [i] (em azul) do experimento POR1. .......................................................... 108
FIGURA 48: Gráfico contendo os sons [i] e [I] (em vermelho) do experimento
ING2 e o som [i] (em azul) do experimento POR2. .......................................................... 109
FIGURA 49: Gráfico dos sons [I] ING1 (vermelho) e [e] POR1 (azul). .......................... 110
FIGURA 50: Gráfico dos sons [I] ING2 (vermelho) e [e] POR2 (azul). .......................... 111
FIGURA 51: Gráfico dos sons [i] – [I] do ILE (cinza) e dos sons [i] – [e]
do PB (vermelho) (adaptada de RAUBER et al, 2005). .................................................... 114
FIGURA 52: Espaço vocálico anterior alto do PB (cinza) e do ILE (preto)
(adaptada de RAUBER, 2006). .......................................................................................... 115
FIGURA 53: Boxplot de duração dos sons [i]-[I] nos experimentos ING1 e ING2. ......... 117
FIGURA 54: Boxplot de duração dos sons [i]-[e] nos experimentos POR1 e POR2. ....... 118
FIGURA 55: Descrição do primeiro elemento do som [eI] nos experimentos
ING1 (vermelho) e POR1 (azul). ....................................................................................... 122
FIGURA 56: Descrição do primeiro elemento do som [eI] nos experimentos
ING2 (vermelho) e POR2 (azul). ....................................................................................... 123
FIGURA 57: Realização dos sons [i], [I], e [eI] no experimento ING1. ...........................126
FIGURA 58: Realização dos sons [i], [I], e [eI] no experimento ING2. ........................... 126
FIGURA 59: Realização dos sons [E] e [Q] no experimento ING1. .................................. 128
FIGURA 60: Realização dos sons [E] e [Q] no experimento ING2. ................................. 129
FIGURA 61: Boxplot dos valores de F2 encontrados no experimento ING1. .................. 130
FIGURA 62: Vogais [E] e [Q] do ILE (ING1), em vermelho, e [E] do PB
(POR1), em azul. ................................................................................................................ 132
FIGURA 63: Vogais [E] e [Q] do ILE (ING2), em vermelho, e [E] do PB
(POR2), em azul. ............................................................................................................... 133
FIGURA 64: Vogal [E] nos experimentos POR1 e POR2. ................................................ 133
FIGURA 65: Vogais do ILE (negro) e do PB (cinza) (adaptada de RAUBER, 2006). ..... 136
FIGURA 66: Boxplot dos sons anteriores baixos dos experimentos
ING1(vermelho) e POR1 (azul). ........................................................................................ 137
FIGURA 67: Boxplot dos sons anteriores baixos nos experimentos
ING2 (vermelho) e POR2 (azul). ....................................................................................... 138
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Médias de realização de F1/F2 das vogais tônicas [i, e, E]
nas cidades pesquisadas (MORAES; CALLOU; LEITE, 2002). ....................................... 61
TABELA 2: Valores de F1/F2 de algumas vogais anteriores do Português
europeu, do Português brasileiro e das Vogais Cardeais (MORAES;
CALLOU; LEITE, 2002). .................................................................................................. 62
TABELA 3: Médias de F1, F2, F3 (em Hz), duração (em ms.) e respectivos
valores de desvio-padrão (RAUBER, 2006). ..................................................................... 64
TABELA 4: Duração (em ms) dos segmentos vocálicos anteriores de homens
e mulheres (HILLENBRAND et al, 1995). ....................................................................... 67
TABELA 5: Média (em Hz) de F1/F2 dos segmentos vocálicos anteriores de
homens nos dois estudos. ................................................................................................... 68
TABELA 6: ANOVA do som [e], experimento POR1. ..................................................... 95
TABELA 7: valores médios (Hertz) dos sons [i] e [I] nos experimentos ING1
e ING2. ............................................................................................................................... 98
TABELA 8: Valores médios (Hertz) da distância euclidiana entre os sons [i]
e [I] nos experimentos ING1 e ING2. ................................................................................ 100
TABELA 9: Valores espectrais médios do som [i] e [I] do ILE, bem como de
cada som vocálico presente nas cinco palavras analisadas no experimento ING1. ...........101
TABELA 10: Médias das distâncias euclidianas encontradas em Barboza (2008),
experimento ING1, e Bion et al (2006) para o par [i] e [I]. ............................................... 103
TABELA 11: valores médios (Hertz) dos sons [i] e [e] nos experimentos POR1
e POR2. .............................................................................................................................. 107
TABELA 12: Valores médios (Hertz) do som [I] nos experimentos ING1 e ING2,
e [e] nos experimentos POR1 e POR2. .............................................................................. 109
TABELA 13: Médias das distâncias euclidianas entre os sons [i] e [I] do experimento
ING1 e [e] do experimento POR1. .................................................................................... 111
TABELA 14: Médias das distâncias euclidianas entre os sons [i] e [I] do experimento
ING1 e [e] do experimento POR1. .................................................................................... 112
TABELA 15: Valores espectrais médios do som [i] e [e] do PB no experimento
POR1, bem como de cada som vocálico presente nas três palavras analisadas. ................ 113
TABELA 16: Valores médios de duração (milisegundos) dos sons [i] e [I] do
ING1/ING2 e [i] e [e] dos experimentos POR1/POR2. .....................................................117
TABELA 17: Valores de duração médios do som [i] e [I] do ILE, bem como de
cada som vocálico presente nas cinco palavras analisadas no experimento ING1. ...........119
TABELA 18: Valores de duração médios do som [i] e [e] do PB, bem como de
cada som vocálico presente nas cinco palavras analisadas no experimento POR1. ........... 119
TABELA 19: Valores médios de duração (milisegundos) nos estudos de
Rauber (2006) e Barboza (2008) (ING1). ..........................................................................120
TABELA 20: Valores médios (Hertz) do som [I] nos experimentos ING1 e ING2,
e [e] nos experimentos POR1 e POR2. .............................................................................. 122
TABELA 21: Valores espectrais médios do som [eI] do PB no experimento POR1,
bem como de cada som vocálico presente nas três palavras analisadas. ........................... 123
TABELA 22: Valores espectrais médios do primeiro elemento do som [eI]
do ILE, bem como de cada som vocálico presente nas cinco palavras analisadas
no experimento ING1. ....................................................................................................... 124
TABELA 23: Valores médios (Hertz) dos sons [E] e [Q] nos experimentos ING1
e ING2. .............................................................................................................................. 128
TABELA 24: Médias das distâncias euclidianas entre os sons [E] e [Q] no
experimento ING1 e ING2. ................................................................................................ 129
TABELA 25: valores médios (Hertz) dos sons [E] nos experimentos POR1 e POR2. ...... 132
TABELA 26: Valores espectrais médios do primeiro elemento do som [E] do PB,
bem como de cada som vocálico presente nas três palavras analisadas no
experimento POR1. ............................................................................................................ 134
TABELA 27: Médias das distâncias euclidianas entre os sons [E] e [Q] dos
experimentos ING1/ING2 e o som [E] dos experimentos POR1/POR2. ........................... 134
TABELA 28: Valores médios de duração (milisegundos) dos sons [E] e [Q]
do ING1/ING2 e [E] dos experimentos POR1/POR2. ....................................................... 137
TABELA 29: Valores de duração médios do par [E] e [Q] do ILE, bem como
de cada som vocálico presente nas cinco palavras analisadas no experimento ING1. ....... 138
TABELA 30: Valores de duração médios do som [E] do PB, bem como de cada
som vocálico presente nas três palavras analisadas no experimento POR1. ...................... 139
TABELA 31: Valores de duração médios dos sons [E] do PB, [E] e [Q] do ILE
nos dados de Rauber (2006). .............................................................................................. 139
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1: Vogais orais do PB em posição tônica. ........................................................ 52
QUADRO 2: Vogais orais tônicas do GA. ......................................................................... 58
QUADRO 3: Sumário dos informantes. ............................................................................ 81
QUADRO 4: Palavras do PB a serem analisadas. ............................................................. 83
QUADRO 5: Palavras do Inglês a serem analisadas. ......................................................... 86
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 15
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................ 19
2.1 Introdução ................................................................................................................... 19
2.2 Teoria das Vogais Cardeais ...................................................................................... 20
2.2.1 Vogais Cardeais primárias ....................................................................................... 21
2.2.2 Vogais Cardeais secundárias ................................................................................... 25
2.2.3 Diacríticos ................................................................................................................. 28
2.3 Teoria Acústica de Produção da Fala ....................................................................... 31
2.3.1 Análise das características acústico-articulatórias da fonte sonora ....................... 33
2.3.2 Análise das características acústico-articulatórias do filtro sonoro ....................... 37
2.3.3 Análise acústica da radiação característica ............................................................. 47
2.4 Pontos de contato entre a Teoria das Vogais Cardeais e a Teoria Acústica
de Produção da Fala ........................................................................................................ 48
2.5 Descrição dos sistemas vocálicos do Inglês, do Português Brasileiro e do
Inglês língua estrangeira ................................................................................................. 51
2.5.1 O sistema vocálico do PB e do GA em posição tônica ............................................. 51
2.5.1.1 Vogais tônicas do Português Brasileiro ................................................................. 51
2.5.1.2 Vogais tônicas do Inglês norte-americano General American ............................... 56
2.5.2 Descrição acústica dos sons vocálicos anteriores do Português Brasileiro ............ 60
2.5.3 Descrição acústica dos segmentos vocálicos anteriores do Inglês
norte-americano ............................................................................................................ 65
2.5.4 Descrição dos segmentos vocálicos anteriores do Inglês língua estrangeira
comparados aos do Português Brasileiro .................................................................... 72
2.6 Resumo ....................................................................................................................... 77
3 METOLOGIA ............................................................................................................... 79
3.1 Introdução ................................................................................................................... 79
3.2 Informantes ................................................................................................................ 79
3.3 Contextos de produção e experimentos .................................................................... 82
3.3.1 Contexto de produção e experimentos relativos aos sons vocálicos do
Português Brasileiro ...................................................................................................... 82
3.3.2 Contexto de produção e experimentos relativos aos sons vocálicos do
Inglês língua estrangeira .............................................................................................. 85
3.4 Hardware & software ................................................................................................ 87
3.5 Análise dos formantes ................................................................................................ 88
3.6 Análise de duração .................................................................................................... 90
3.7 Análise estatística ...................................................................................................... 91
3.8 Resumo ....................................................................................................................... 95
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................... 97
4.1 Introdução .................................................................................................................. 97
4.2 Análise e discussão dos sons vocálicos anteriores [i
ii
i], [I]
I]I]
I], e [eI
eIeI
eI] do ILE
e [i
ii
i], [e
ee
e], e [eI
eIeI
eI] do PB ........................................................................................................ 98
4.2.1 Características espectrais dos sons [
i]
e [
I
] do ILE ................................................ 98
4.2.2 Características espectrais dos sons [
i
] e [
I
] do ILE em relação ao som
[
i
] do PB ............................................................................................................................ 106
4.2.3 Características de duração dos sons [
i
] e [
I
] do ILE em relação ao som
[
i
] do PB ............................................................................................................................ 116
4.2.4 Características espectrais do primeiro elemento do som [
eI
] do ILE e do PB ........ 121
4.3 Análise e discussão dos sons vocálicos anteriores [E
EE
E] e [Q]
Q]Q]
Q] do ILE e [E
EE
E] do PB .... 127
4.3.1 Características espectrais dos sons [
E]
e [
Q
] do ILE ............................................... 127
4.3.2 Características espectrais dos sons [
E]
e [
Q
] do ILE e do som [
E]
do PB ..............131
4.3.3 Características de duração dos sons [
E]
e [
Q
] do ILE e do som [
E]
do PB ............ 136
4.4 Sumário ....................................................................................................................... 140
5 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 142
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 148
APÊNDICES ..................................................................................................................... 154
15
1 INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem por finalidade comparar acusticamente as vogais anteriores do
Português Brasileiro (PB) com suas vogais correlatas do Inglês Língua Estrangeira (ILE)
1
produzidas por professores de Inglês na região oeste do estado do Rio Grande do Norte.
Analisaremos as vogais [i, e, E] do PB e [i, I, E, Q] do ILE, e o primeiro elemento do
ditongo [eI] de ambas as línguas.
Os sons vocálicos anteriores estão entre as áreas que uma análise contrastiva do
Inglês e do Português Brasileiro não poderia deixar de investigar com mais critério (AVERY;
EHRLICH, 1992). Quase todas as vogais anteriores da língua estrangeira em questão, à
exceção do ditongo [eI], são difíceis de serem produzidos por falantes nativos do PB
(BAPTISTA, 2000; RAUBER; ESCUDERO; BION; BAPTISTA, 2005; BAPTISTA; BION,
2005; BION; ESCUDERO; RAUBER; BAPTISTA, 2006; RAUBER, 2006; NOBRE-
OLIVEIRA, 2007).
A inclusão do som [eI] em nosso estudo, entretanto, se justifica devido ao fato de
este som ser “responsável por inibir a aquisição de /I/” em grande parte dos informantes
pesquisados por Baptista (2000, p. 152)
2
. O referido som possui ainda uma posição medial
dentro do continuum vocálico anterior presente nas duas línguas. Sua inserção em nosso
estudo, portanto, adiciona a possibilidade de interpretar o sistema vocálico anterior do PB e
do ILE de forma holística, sem a lacuna deixada pela não inserção deste em nosso estudo.
Após breve análise dos quadros vocálicos tônicos de nossa língua materna
(CRISTÓFARO SILVA, 2001) e da língua inglesa (JONES, 1976), a causa dos problemas de
produção das vogais mencionadas, por parte de falantes brasileiros de inglês, pode ser
encontrada: a falta de correspondência, em nosso sistema vocálico, da distinção entre duas
vogais anteriores altas não-arredondadas, [i] e [I], e de duas vogais não-arredondadas
produzidas na região anterior média-baixa e baixa do aparelho vocal, respectivamente [E] e
[Q].
Além disso, o sistema vocálico do Português também não faz distinção entre
vogais longas/tensas e breves/frouxas em posição tônica (CRISTÓFARO SILVA, 2005).
1
O termo ILE (Inglês Língua Estrangeira) será tratado como sinônimo do termo Interlíngua, que segundo
Selinker (1972, apud LAVER, 1994) caracteriza-se como o conjunto de estratégias desenvolvidas por aprendizes
de uma língua estrangeira em qualquer estágio de aprendizagem dessa língua.
2
Todas as traduções apresentadas neste trabalho são de minha autoria.
16
Esse fato dificulta ainda mais a aquisição dos sons vocálicos anteriores altos [i, I] por parte
de falantes brasileiros do ILE, uma vez que a distinção de duração vocálica é bastante
importante para falantes nativos e não-nativos do inglês (JENKINS, 2000). Jones (1976;
1962) chegou a propor o termo cronema ao aperceber do valor da duração vocálica dentro da
fonologia da língua inglesa. Por outro lado, o problema da duração vocálica no PB possui
meramente apelo idiossincrático e/ou estilístico (GAMA-ROSSI, 2001), diferentemente do
que encontramos no Inglês.
A questão do alongamento vocálico é também importante para a caracterização
das vogais [E] e [Q] uma vez que falantes nativos de língua inglesa se utilizam de parâmetros
duracionais para distinguir os componentes desse par (PETERSON; LEHISTE, 1960).
No estado do Ceará, estudos realizados envolvendo a área da fonética e da
fonologia da língua inglesa começaram quando Souza (1969) comparou qualitativamente os
sistemas fonológicos do Português Brasileiro e do Inglês norte-americano. Germano (1994),
após um grande hiato, contribuiu com um estudo acerca das diferenças fonético-fonológicas
entre os dois principais dialetos da língua inglesa: o Inglês norte-americano e o Inglês
britânico. Mais uma vez após um grande período de tempo, Martins (2005) disserta acerca de
temas referentes à análise de aspectos culturais do ensino de pronúncia em cursos livres da
cidade de Fortaleza-CE. A única pesquisa envolvendo aspectos acústicos foi realizada por
Silva (2005). O referido estudo, também realizado em Fortaleza, aborda a questão da
produção/percepção dos aspectos prosódicos do ILE em alunos de cursos de idiomas.
O oeste potiguar, entretanto, não se encontra servido de estudos acústicos da fala,
quer em nível segmental ou prosódico, nem de línguas estrangeiras nem de língua materna.
Tencionamos, portanto, iniciar estudos num campo de investigação inédito e bastante
promissor em nossa região.
Esta pesquisa pretende contribuir para a institucionalização dos estudos em
fonética e fonologia em nossa Universidade de origem, bem como constitui, quiçá, o embrião
de uma pesquisa mais ampla a ser desenvolvida em vel de doutorado, envolvendo algumas
das variáveis aqui discutidas.
No tocante aos objetivos a serem alcançados, este estudo tem por objetivo geral
comparar aspectos acústicos dos sons vocálicos anteriores do PB e do ILE, realizados por
professores do sexo masculino
3
na região oeste potiguar.
Temos como objetivos específicos:
3
Está escolha teve por objetivo facilitar o estudo acústico das vogais tendo em vista as diferenças encontradas na
voz de homens e mulheres, como exposto a seguir (2.3).
17
a) determinar as médias de F1, F2 e de duração dos sons vocálicos [i, I, E, Q] do
ILE na fala de nossos sujeitos de pesquisa;
b) determinar as médias de F1, F2 e de duração dos sons vocálicos [i, e, E] do PB
na fala de nossos sujeitos de pesquisa;
c) determinar as médias de F1 e F2 do primeiro elemento do ditongo [eI],
presente no ILE e no PB dos nossos sujeitos de pesquisa;
d) determinar se as médias de F1, F2 e duração dos sons vocálicos semelhantes
nas duas línguas, quando comparados, diferem de maneira significativa.
Nossa experiência pessoal e pesquisas anteriores indicam que as realizações das
vogais anteriores do ILE serão influenciadas diretamente pelas categorias vocálicas dos sons
semelhantes do PB. Temos como hipótese geral, portanto, a crença de que diferenças
significativas entre as vogais do ILE e do PB só serão encontradas no aspecto da duração,
sem diferenças significativas dos valores espectrais. Indicamos abaixo, de maneira mais
específica, nossas hipóteses no tocante aos resultados esperados na consecução do presente
estudo:
1) o par anterior-alto do ILE [i, I] será realizado sem diferenças espectrais
significativas entre seus componentes;
2) o som [i] do ILE será realizado sem diferenças espectrais significativas em
relação ao som [i] do PB;
3) o som [I] do ILE será realizado sem diferenças espectrais significativas em
relação ao som [i] do PB;
4) o som [i] será realizado com uma duração significativamente maior em
relação ao som [I] no ILE;
5) o som [I] do ILE será realizado sem diferença significativa de duração em
relação ao som [i] do PB;
6) o primeiro elemento do som [eI] do ILE e do PB serão realizados sem
diferenças espectrais significativas;
7) o par anterior do ILE [E, Q] será realizado sem diferenças espectrais
significativas;
8) o som [E] do ILE será realizado sem diferenças espectrais significativas em
relação ao som [E] do PB;
18
9) o som [Q] do ILE será realizado sem diferenças espectrais significativas em
relação ao som [E] do PB;
10) o som [Q] do ILE será realizado com uma duração significativamente maior
em relação ao som [E] do ILE;
11) o som [E] no ILE será realizado sem diferença significativa de duração em
relação ao som [E] do PB.
Retomaremos essas hipóteses em nossa análise e discussão de dados.
Apresentamos, em seguida, a organização textual do presente estudo, composto de mais 04
capítulos.
O segundo capítulo apresenta a fundamentação teórica. Iniciamos com uma
discussão acerca da Teoria das Vogais Cardeais, tomando por base os textos de Jones (1976),
Abercrombie (1967) e da INTERNATIONAL PHONETIC ASSOCIATION (1999). Em
seguida, abordamos a Teoria Acústica de Produção da Fala, partindo dos textos de Fant
(1960), Borden e Harris (1980), Pickett (1980), Kent e Read (1991) e Marusso (2005). Por
fim, descrevemos os sistemas vocálicos do Português e do Inglês à luz das duas teorias, bem
como fazemos um breve relato de estudos acústicos que comparam sons vocálicos do PB e
de outras línguas ao Inglês. Fizemos uso nessa última seção da fundamentação teórica dos
estudos desenvolvidos por Cristófaro Silva (1999, 2001), Giegerich (1992), Wells (1982),
Moraes, Callou e Leite (2002), Peterson e Barney (1952), Clopper, Pisoni e Jong (2005),
Baptista (2000) e Rauber (2006), entre outros.
O terceiro capítulo apresenta a metodologia de pesquisa. Definimos primeiramente
nossos informantes e os contextos de produção e os experimentos utilizados para a obtenção
dos nossos dados. Na seqüência descrevemos o hardware e software utilizados, bem como a
metodologia de análise dos formantes e da duração das vogais. Por fim, apresentamos os
procedimentos pertinentes à análise estatística.
O quarto capítulo traz os resultados e discussões do estudo. Primeiramente, são
apresentados e analisados os dados relativos aos sons vocálicos anteriores [i, I, eI] do ILE e
[i, e, eI] do PB. Na seqüência, aqueles relativos aos sons vocálicos anteriores [E, Q] do ILE
e [E] do PB.
O quinto e último capítulo apresenta as considerações finais deste estudo, em que
retomamos os resultados obtidos e sugerimos possíveis desdobramentos da pesquisa ora
proposta.
19
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Introdução
Estudos envolvendo a descrição da produção vocálica de línguas naturais
dividem-se, basicamente, em dois grandes ramos com objetivos semelhantes, mas
possuidores de métodos diferentes, que envolvem descrições vocálicas de cunho articulatório
ou acústico. Devemos, portanto, nos utilizar de ambos para a obtenção de uma descrição mais
pertinente de sistemas vocálicos.
O primeiro ramo, mais antigo e baseado em observações articulatórias, resultou
numa descrição qualitativa da produção vocálica das línguas naturais, envolvendo a
realização das vogais com relação a um determinado parâmetro articulatório-auditivo
estabelecido. Esse parâmetro consistia de um sistema de oito vogais, que passaram a ser
chamadas de Vogais Cardeais.
Através da produção e comparação com as Vogais Cardeais, um lingüista
poderia, com alto grau de eficiência, descrever o sistema vocálico de uma dada ngua. O
desenvolvedor de tal teoria, Professor Daniel Jones (1881-1967), primeiramente a utilizou
para descrever as vogais do Inglês Britânico em seu dicionário de pronúncia do dialeto do sul
da Inglaterra, o English Pronouncing Dictionary. Editado pela primeira vez em 1917, o
trabalho de Jones hoje se encontra em sua décima sétima edição.
Discussões envolvendo aspectos da Teoria das Vogais Cardeais são apresentadas
na seção 2.2 do presente capítulo. Informações relativas às Vogais Cardeais primárias (2.2.1),
secundárias (2.2.2) e aos diacríticos (2.2.3) são também apresentadas.
O segundo ramo, mais quantitativo tendo em vista que seu nascimento foi
possível após o surgimento de instrumentos capazes de medir a onda sonora com um nível de
precisão bem mais alto do que os equipamentos utilizados por foneticistas do início do século
passado, desenvolveu-se a partir da década de cinqüenta. Esse ramo, mais envolvido com
técnicas de descrição acústica, teve como marco a publicação, em 1960, do livro Acoustic
Theory of Speech Production. Seu autor, o Professor Gunnar Fant (1919- ), apresentou pela
primeira vez, a teoria da fonte-filtro, essencial para a descrição acústica das línguas naturais.
Discussões envolvendo aspectos da Teoria Acústica de Produção da Fala são
apresentadas na seção 2.3 do presente capítulo. Informações relativas à fonte (2.3.1), ao filtro
20
(2.3.2), e à radiação característica (2.3.3) são também apresentadas.
As relações entre a Teoria das Vogais Cardeais e a Teoria Acústica de Produção
da Fala, a primeira associada a descrições fonológicas e a segunda a descrições fonéticas, são
apresentadas na seção 2.4.
Dissertamos também sobre os sistemas vocálicos do Português Brasileiro, do
Inglês e do Inglês de falantes não-nativos na seção 2.5. Descrições articulatórias dos sistemas
vocálicos do Português Brasileiro e do Inglês Genneral American são apresentadas na seção
2.5.1. Análises acústicas das vogais anteriores são apresentadas nas seções 2.5.2 (Português),
2.5.3 (Inglês), e 2.5.4 (Inglês língua estrangeira).
Por fim, na última seção temos um breve resumo dos principais pontos discutidos
neste capítulo
2.2 Teoria das Vogais Cardeais
Uma Vogal Cardeal (VC) pode ser definida, na visão de Abercrombie (1967, p.
151), como “um ponto de referência fixo e invariável, estabelecido dentro dos limites da área
vocálica, a qual qualquer outro som vocálico pode ser diretamente relacionado.”
A idéia de desenvolver um sistema de referência como esse foi primeiramente
proposto por A. J. Ellis, em 1844. A utilização do termo “cardeal”, em analogia aos pontos
cardeais, foi proposto por A. M. Bell em 1867 (ABERCROMBIE, 1967).
Quando uma vogal é produzida, o dorso da língua, região mais importante para a
produção vocálica, sempre apresenta a forma de uma pequena elevação. Existem certos
limites dentro da cavidade bucal para que o posicionamento dessa elevação produza sons
vocálicos e não consonantais.
Diferentemente das consoantes que podem ser muito bem definidas de acordo
com seu modo de produção e ponto de articulação, as vogais - por definição sons que
envolvem um menor estreitamento da cavidade supra-glótica - são mais bem definidas com
estudos acústicos que articulatórios (LADEFOGED, 2003). Entretanto, como vimos
anteriormente, os estudos na área de fonética e fonologia, em seu princípio, devido às
limitações tecnológicas do período, baseavam-se em descrições mais articulatórias do que
acústicas. Essas descrições obviamente não permitiam a precisão de estudos quantitativos,
21
todavia, ainda hoje se mostram bastante relevantes para o estudo de sons vocálicos.
2.2.1 Vogais Cardeais primárias
O princípio fundamental subjacente à Teoria das Vogais Cardeais consiste na
caracterização vocálica por meio de um sistema abstrato de vogais periféricas, não
pertencentes a nenhuma língua natural. A comparação de sons vocálicos de línguas naturais
com esses sons invariáveis permite, com razoável grau de exatidão, a localização do ponto de
elevação e de posicionamento do dorso da língua com relação a duas variáveis: a altura e a
direção da elevação do corpo da língua (anterior/posterior) dentro do trato vocálico.
O primeiro a se utilizar desse sistema, como vimos, foi o Professor Daniel Jones.
O método de descrição vocálica baseado nas Vogais Cardeais passou a ser continuamente
desenvolvido, inclusive com a adição de vogais arredondadas e não-arredondadas. Os
preceitos básicos da teoria são apresentados abaixo (ABERCROMBIE, 1967):
a) as Vogais Cardeais (VC) são arbitrárias, não pertencendo a nenhuma
língua;
b) as VC possuem qualidade invariável;
c) as VC são vogais periféricas, seus limites delineiam a área vocálica;
d) as VC possuem uma mesma distância auditiva uma da outra;
e) as VC são em número de oito.
A determinação da posição das VC passa por três momentos distintos (JONES,
1976). Num primeiro momento, busca-se encontrar os dois extremos da área vocálica, sendo
a primeira a vogal produzida com a língua numa posição tão alta e anterior quanto possível: o
som [i]. A segunda vogal a ser encontrada é produzida com a língua em uma posição tão
baixa e posterior quanto possível: o som [A]. O posicionamento da língua além desses dois
pontos produzirá uma fricativa palatal, [], no primeiro caso e uma fricativa faríngea, [÷], no
segundo.
Após a determinação destes dois pontos extremos, sons não-arredondados
determinados de maneira articulatória, segue-se o posicionamento, a partir dessas duas
vogais, das outras seis VC. A determinação das VC restantes não se baseia em parâmetros
22
articulatórios, mas sim em parâmetros auditivos.
As VC anteriores são determinadas a partir da VC número 1, o som [i]. Tomando
por base o posicionamento da língua para essa vogal são determinados mais três pontos no
continuum alto-baixo da região vocálica anterior. Essas posições formam uma série de pontos
auditivos eqüidistantes, onde cada uma das VC se encontra a uma distância auditiva igual à
VC acima e abaixo dela. As três VC determinadas a partir da posição de [i] são as vogais
[e, E, a].
O mesmo procedimento é feito a partir da VC número 5, o som [A]. Três pontos
auditivamente eqüidistantes são determinados na região posterior da área vocálica, dentro do
continuum alto-baixo dessa região. As três VC assim determinadas a partir da posição da VC
[A] são as vogais [ç, o, u]. A FIGURA 1 abaixo (INTERNATIONAL PHONETIC
ASSOCIATION, 1999) mostra a cavidade bucal com a língua posicionada nos extremos da
área vocálica.
FIGURA 1: As quatro VC delimitando a área vocálica.
A FIGURA 1 mostra as VC número 1, 4, 5, e 8 (respectivamente [i, a, A, u]). Se
traçarmos linhas imaginárias ligando as quatro vogais, formamos uma figura quadrilateral
onde poderemos localizar o posicionamento de outras VC. Devemos, portanto, delimitar mais
quatro VC em posições intermediárias de altura da língua, tanto na região posterior quanto na
anterior da área vocálica para completar nosso quadrilátero.
Os procedimentos de identificação das VC permitem-nos delimitar a área
vocálica, em termos de altura, como alta [i, u], média-alta [e, o], média-baixa [E, ç], e baixa
[a, A
]. As VC são numeradas
Formamos, assim,
uma figura trapezóide abstrata normalmente chamada de quadrilátero
vocálico.
articulatóri
a e não auditiva como é o caso.
FIGURA 3
. O ponto assinalado na
correspondente na
porção
localização da VC [A].
A dificuldade em posicionar vogais
bem
como a dificuldade em reproduzí
determinou
a evolução desta figura até a forma
atual a
presentada. O quadrilátero apresenta
[e] e [E]. E
ntretanto, o número de pontos
FIGURA
2: Quadrilátero vocálico contendo
oito VC (adaptada de I
NTERNATIONAL
PHONETIC ASSOCIATON, 1999).
]. As VC são numeradas
de 1 a 8 em sentido anti-horário,
uma figura trapezóide abstrata normalmente chamada de quadrilátero
As cinco primeiras
[i, e, E, a, A
] são produzidas sem um
arredondamento labial significativo. As três
últimas VC [ç, o, u
], por outro lado
possuem ess
a característica de
arredondamento labial
encontrado nas
VC
observar um quadrilátero vocálico completo
na FIGURA 2.
A apresentação das VC dentro de
uma figura quadrilateral como a apresentada
acima possui algumas desvantagens, discutidas por Abercrombie (1967). Uma visualização
desse tipo pode levar a interpretação errônea de que as VC possuem eqüidistância
a e não auditiva como é o caso.
Outra
desvantagem diz respeito ao caráter retilíneo
dos traços do quadrilátero, uma vez que a região
vocálica
periférica se assemelha mais à
. O ponto assinalado na
porção
mais alta da figura indica o ponto da VC [i]
porção
inferior assinala a
A dificuldade em posicionar vogais
dentro de uma figura como a apresentada
ao lado,
como a dificuldade em reproduzí
-la,
a evolução desta figura até a forma
presentada. O quadrilátero apresenta
ainda a vantagem de igualar distância auditiva e
distância espacial. A distância espacial entre as
VC [i] e [e] é maior que a distância entre as VC
ntretanto, o número de pontos
auditivamente discrimináveis
entre estes dois pares de VC é o mesmo, indicando que esses
parâmetros devem ter sua representação igualada.
2: Quadrilátero vocálico contendo
as
NTERNATIONAL
PHONETIC ASSOCIATON, 1999).
F
IGURA 3: Extremo
(adaptada de A
BERCROMBIE, 1967)
23
começando por [i].
uma figura trapezóide abstrata normalmente chamada de quadrilátero
As cinco primeiras
VC
] são produzidas sem um
arredondamento labial significativo. As três
], por outro lado
,
a característica de
arredondamento labial
progressivo não
VC
anteriores. Podemos
observar um quadrilátero vocálico completo
A apresentação das VC dentro de
uma figura quadrilateral como a apresentada
acima possui algumas desvantagens, discutidas por Abercrombie (1967). Uma visualização
desse tipo pode levar a interpretação errônea de que as VC possuem eqüidistância
desvantagem diz respeito ao caráter retilíneo
periférica se assemelha mais à
mais alta da figura indica o ponto da VC [i]
e seu
entre estes dois pares de VC é o mesmo, indicando que esses
IGURA 3: Extremo
s da região vocálica
BERCROMBIE, 1967)
.
24
Todos os sons consonantais ou vocálicos podem ser decompostos em traços
acústico-articulatórios que em seu conjunto comporiam as características pertinentes a um
dado som. Os traços relevantes neste momento seriam os relacionados à caracterização de
vogais. A partir da leitura de Chomsky e Halle (1968), apresentamos em seqüência alguns
traços que achamos pertinentes para nossa discussão:
a) vocálico não-vocálico: sons vocálicos são produzidos na cavidade oral de
forma que a constrição mais radical não exceda a altura das vogais [i] e [u] e
cujas pregas vocais
4
produzam o vozeamento;
b) alta não-alta: sons altos são produzidos pela elevação da língua acima do
nível ocupado pela mesma em posição neutra;
c) baixa – não-baixa: sons baixos são produzidos pelo posicionamento da língua
abaixo do nível ocupado por ela na posição neutra;
d) posterior não-posterior: sons posteriores são produzidos pela retração do
corpo da língua em relação à posição neutra;
e) arredondado não-arredondado: sons arredondados são produzidos com um
estreitamento dos lábios.
Uma matriz de traços das oito VC pode ser obtida se nos utilizarmos dos
parâmetros acima explicitados. A utilização desse paradigma de análise fonético, todavia, se
ressente da ausência de um continuum partindo do valor negativo de um traço - o traço [ - ]
arredondado do som [i] - a um valor positivo - o traço [ + ] arredondado do som [u]. Esse tipo
de classificação binária impossibilita a representação de valores intermediários das
características representadas pelos traços. Em outras palavras, a crescente presença do
arredondamento nas VC [ç, o, u] não pode ser devidamente retratada. Apesar dessa pequena
desvantagem, a teoria apresentada ainda é muito utilizada e será evocada em nossa discussão
sempre que se fizer necessária, como na questão da inversão do arredondamento vocálico das
VC secundárias, na seção 2.2.2 em seqüência.
O traço de arredondamento pode ser alterado em todas as vogais. Já visível na
presente forma de nossa explicação básica acerca da Teoria das Vogais Cardeais, esse fato
postulou o aumento do número de VC de oito para dezesseis. Num quadrilátero vocálico
contendo apenas oito vogais, como o discutido acima, o traço [ - arredondado] estaria
presente nas vogais cardeais de 1 a 5. A partir da Vogal Cardeal número 6, as vogais
4
Usamos o termo “pregas vocais” como sinônimo de “cordas vocais”.
começam a
ser produzidas com o traço [ +
causada pela diferenç
a no traço de arredondamento
Cardeais primárias
em línguas que
e vogais posteriores não-
arredondadas, como o T
ASSOCIATION, 1999).
2.2.2 Vogais C
ardeais secundárias
Com o objetivo de
tendo como
paradigma as VC
extremas da área vocá
lica das oito V
arredondamento labial.
As VCS
foram numeradas de
a FIGURA 4,
devemos levar em conta que as cinco primeiras vogais [
o traço [ + arredondado]
e que as três últimas [
Além das
oito
articulação de Vogais C
ardeais
(VCC), localizadas
entre os dois extremos
vogal esta presente
em diversas línguas,
como o Chinês, o A
ramaico
outras seis VCC
foram definidas
região não-periférica.
As VCC receberam
de 17 a 22
, com os símbolos apresentados a
seguir: [ˆ, ¨], [ɘ, P], e [Œ, ɞ
]. Os três pares,
ser produzidas com o traço [ +
arredondado]
. A possibilidade de distinção
a no traço de arredondamento
pode dificultar a utilização das Vogais
em línguas que
possuam vogais a
nteriores arredondadas, como o F
arredondadas, como o T
ailandês (INTERNATIONAL PHONETIC
ardeais secundárias
Com o objetivo de
complementar a Teoria das
Vogais Cardeais, surgiu
necessidade de um quadrilátero espelho, com relação ao traço de arredondamento vocálico,
paradigma as VC
discutidas até agora. Instituiu-
se, nas mesmas posições
lica das oito V
ogais Cardeais Primárias (VCP)
[
um número igual de Vogais Cardeais S
ecundárias (VCS),
com variação apenas do traço
foram numeradas de
9 a 16
, mais uma vez em sentido anti
símbolos são apresentados
a seguir em ordem crescente [y, O, ø, Ø, Å,
devemos levar em conta que as cinco primeiras vogais [
y
,
e que as três últimas [
, F, µ]
possuem o traço [
oito
VCS, sentiu-se
ainda a necessidade de delimitar o ponto de
ardeais
Centrais
entre os dois extremos
da área vocálica. Uma vez que es
se tipo de
em diversas línguas,
ramaico
, e o Sueco,
foram definidas
numa
As VCC receberam
os números
, com os símbolos apresentados a
]. Os três pares,
FIGURA
4: Quadrilátero vocálico contendo as oito
VCS (adaptada de INTE
RNATIONAL PHONETIC
ASSOCIATION,
25
. A possibilidade de distinção
pode dificultar a utilização das Vogais
nteriores arredondadas, como o F
rancês,
ailandês (INTERNATIONAL PHONETIC
Vogais Cardeais, surgiu
a
necessidade de um quadrilátero espelho, com relação ao traço de arredondamento vocálico,
se, nas mesmas posições
[
i, e, E, a, A, ç, o, u],
com variação apenas do traço
de
, mais uma vez em sentido anti
-horário, cujos
, F, µ]. Ao observar
,
O, ø, Ø, Å] possuem
possuem o traço [
- arredondado].
4: Quadrilátero vocálico contendo as oito
RNATIONAL PHONETIC
ASSOCIATION,
1999).
reconhecida
s por Jones (1976) nem pela
A visualização de um quadro vocálico contend
apresentadas (FIGURA 6)
momento.
FIGURA 6
: Todas as Vogais C
As vogais acima
FIGURA
5: Quadrilátero vocálico contendo
as seis VCC (
adaptada de
INTERNATION
AL PHONETIC
ASSOCIATION, 1999).
apesar de possuírem o mesmo ponto
de produção dentro do espaço vocálico
divergem no traço de arredondamento, sendo
sempre a
vogal arredondada apresentada do
lado direito do par.
As VCC
em pos
ição eqüidistante, com relação à altura
da língua, de seus correlatos anteriores e
posteriores, como podemos observar no
quadrilátero vocálico
apresentado
5.
As VCC
em posição média
média-
baixa apresentadas
s por Jones (1976) nem pela
INTERNATIONAL PHONETIC ASSOCIATION
(1999), que as considera
m nada mais que pontos
auxiliares de descrição vocálica.
Abercrombie (1967), por outro lado, as considera
m Vogais Cardeais.
A visualização de um quadro vocálico contend
o todas as vogais até agora
faz-se necessária
devido ao alto número de VC apresentadas até
: Todas as Vogais C
ardeais (adaptada de
INTERNATIONAL PHONETIC
ASSOCIATION, 1999).
As vogais acima
são
apresentadas em pares constituídos por uma vogal não
arredondada no lado esquerdo e uma vogal arredondada no lado dire
5: Quadrilátero vocálico contendo
adaptada de
AL PHONETIC
ASSOCIATION, 1999).
26
apesar de possuírem o mesmo ponto
de produção dentro do espaço vocálico
,
divergem no traço de arredondamento, sendo
vogal arredondada apresentada do
As VCC
ficam localizadas
ição eqüidistante, com relação à altura
da língua, de seus correlatos anteriores e
posteriores, como podemos observar no
apresentado
na FIGURA
em posição média
-alta e
baixa apresentadas
em seqüência não são
INTERNATIONAL PHONETIC ASSOCIATION
auxiliares de descrição vocálica.
o todas as vogais até agora
devido ao alto número de VC apresentadas até
o
INTERNATIONAL PHONETIC
apresentadas em pares constituídos por uma vogal não
-
arredondada no lado esquerdo e uma vogal arredondada no lado dire
ito. Além dos sons
acima, que,
na maioria dos casos
vocálica.
Mais duas vogais devem ser acrescentadas na região central do quadrilátero: o
som [´
], normalmente chamado
e anterior-posterior)
e o som [
posterior possui o som [U
], uma vogal mais centralizada e baixa que a vogal [
a região anterior d
o quadrilátero possui o maior nú
respectivamente. A vogal [
Q
intermediária entre as
VC
1999). A FIGURA 7
mostra as posições das vogais aqui discutidas.
FIGURA 7: VC
acrescidas de
O simples conhecimento da
ser identificada p
or sua relação peculiar com as Vogais C
apresentadas
. De acordo com o que mencionamos anteriormente, a técnica de descrição
vocálica baseada nas VC
possui
na maioria dos casos
,
se encontram em posições delimitadoras do quadrilátero,
existem ainda outros símbolos
para vogais em
posições intermediárias dentro da área
Mais duas vogais devem ser acrescentadas na região central do quadrilátero: o
], normalmente chamado
schwa, em uma posição central
em todos os eixos (alto
e o som [
å], vogal central entre os pontos médio-
baixo e baixo. A região
], uma vogal mais centralizada e baixa que a vogal [
o quadrilátero possui o maior nú
mero de vogais adicionais: as vogais [
são sons mais centralizados e baixos se tomarmos como parâmetros as vogais cardeais [
Q
] não possui centralização significativa
e encontra
VC
[E
] e [a] (INTERNATIONAL PHONETIC ASSOC
mostra as posições das vogais aqui discutidas.
acrescidas de
algumas vogais adicionais (
INTERNATIONAL PHONETIC
ASSOCIATION, 1999).
O simples conhecimento da
Teoria das Vogais C
ardeais não é suficiente
descrição precisa dos elementos vocálicos de uma dada língua. Cada vogal a ser descrita deve
or sua relação peculiar com as Vogais C
ardeais mais próximas, o que obriga
o lingüista a dominar, também, os aspectos prá
ticos de produção
de cada uma
. De acordo com o que mencionamos anteriormente, a técnica de descrição
possui
cunho articulatório, o que parece ser um paradoxo dada a
natureza auditiva de localização de quase todas as
VC à exceção
de [i] e [
27
se encontram em posições delimitadoras do quadrilátero,
posições intermediárias dentro da área
Mais duas vogais devem ser acrescentadas na região central do quadrilátero: o
em todos os eixos (alto
-baixo
baixo e baixo. A região
], uma vogal mais centralizada e baixa que a vogal [
u]. Finalmente,
mero de vogais adicionais: as vogais [
I, Y]
são sons mais centralizados e baixos se tomarmos como parâmetros as vogais cardeais [
i, y],
e encontra
-se em posição
] e [a] (INTERNATIONAL PHONETIC ASSOC
IATION,
INTERNATIONAL PHONETIC
ardeais não é suficiente
para a
descrição precisa dos elementos vocálicos de uma dada língua. Cada vogal a ser descrita deve
ardeais mais próximas, o que obriga
de cada uma
das VC
. De acordo com o que mencionamos anteriormente, a técnica de descrição
cunho articulatório, o que parece ser um paradoxo dada a
de [i] e [
A]. Essa dificuldade
28
é suplantada pela atenção do lingüista ao posicionamento da língua no quadrilátero vocálico,
uma vez que cada uma das seis VC remanescentes são auditivamente determinadas.
A partir da percepção articulatória, o lingüista treinado na produção/percepção
das VC pode passar a buscar informantes com o intuíto de descrever um dado sistema
vocálico. Após a realização de um som vocálico classificado como satisfatório por seu
informante, o lingüista poderá, após sucessivas repetições e mudanças das qualidades
articulatórias entre a vogal a ser definida e a(s) Vogal(is) Cardeal(is) adjacente(s), definir o
ponto onde essa vogal se realiza dentro do quadrilátero vocálico (ABERCROMBIE, 1967). A
determinação se baseia, portanto, em informações articulatórias e não auditivas como
enfatizamos anteriormente.
2.2.3 Diacríticos
Como vimos, um profissional da linguagem deve ser capaz de descrever as
características articulatórias dos sons vocálicos de uma dada língua a partir de comparações
dos seus pontos de realização com as Vogais Cardeais mais próximas. Juntamente com os
símbolos do Alfabeto Fonético Internacional, podemos nos utilizar de diversos símbolos
lingüísticos adicionais chamados de diacríticos, para que possamos descrever o
posicionamento relativo de uma dada vogal com relação à VC mais próxima. Isso implica
que vogais de línguas diferentes, apesar de serem descritas utilizando o mesmo símbolo do
Alfabeto Fonético Internacional, provavelmente vão diferir em termos de suas qualidades
acústico-articulatórias.
Como exemplo disso, podemos mencionar a vogal [E], normalmente encontrada
em transcrições fonéticas e fonêmicas do Português e do Inglês. A vogal em questão é mais
baixa e recuada no Inglês Americano (INTERNATIONAL PHONETIC ASSOCIATION,
1999) se comparada à vogal [E], no dialeto de Belo Horizonte, apresentada por Cristófaro
Silva (1994, apud CRISTÓFARO SILVA, 1999). A FIGURA 8 a seguir (obtida pela
sobreposição dos quadriláteros) mostra-nos, a partir do ponto da VC 3 [E], um primeiro som
[E] característico do PB e um segundo som [E] característico do Inglês.
29
FIGURA 8: Sons vocálicos do Inglês (azul) e do Português (vermelho) inseridos no quadrilátero
vocálico.
Essas pequenas diferenças na altura e recuo podem ser demonstradas com a
utilização de diacríticos adicionados ao símbolo fonético, uma vez que estes são “uma marca
acrescentada a um símbolo para alterar seu valor” (CRYSTAL, 2000, p. 80). O Alfabeto
Fonético Internacional disponibiliza um grande número de diacríticos que podem ser
utilizados na descrição de pontos de realização de vogais.
O procedimento acima, entretanto, normalmente não é feito devido a possíveis
problemas na interpretação dos símbolos especiais ou devido ao fato de a grande maioria das
descrições de vogais não precisarem ser tão detalhadas quanto uma transcrição fonética
estrita. Uma transcrição fonêmica de palavras do Português e do Inglês envolvendo os
fonemas acima seria, portanto, algo como set /sEt/ e fera /»fERa/, não mostrando a variação na
produção da vogal. Uma transcrição fonética mais minuciosa teria que envolver as
características particulares de realização de cada vogal em comparação com as VC, fazendo
que a leitura das transcrições se torne mais complexa e, ao mesmo tempo, mais fidedigna às
particularidades de cada idioma: [sE_=4t], com os diacríticos indicando uma centralização e
abaixamento, e [»fE=R´], com o diacrítico indicando apenas uma retração.
Uma pequena lista de diacríticos é apresentada abaixo com o objetivo de ilustrar
esse ponto de alteração das características das VC (INTERNATIONAL PHONETIC
ASSOCIATION, 1999):
a) [ ] mais arredondada: [ ɔ̹ ] - diacrítico usado para identificar um grau de
arredondamento maior que o apresentado na VC;
b) [ ̜ ] menos arredondado: [ ɔ̜ ] - diacrítico usado para identificar um grau de
arredondamento menor que o apresentado na VC;
30
c) [ ̠ ] retraída: [ i̠ ] diacrítico usado para identificar um grau de retração
maior que o apresentado na VC;
d) [ ̟̟̟̟̟̟̟ ] avançada: [ u
̟
] - diacrítico usado para identificar um grau de
anterioridade maior que o apresentado na VC;
e) [ ̝ ] elevada: [ e̝ ] diacrítico usado para identificar um grau de elevação
maior que o apresentado na VC;
f) [ ̞ ] abaixada: [ e̞ ] diacrítico usado para identificar um grau de elevação
menor que o apresentado na VC;
g) [ ̈ ] centralizada: [ ü ] diacrítico usado para identificar um grau de
centralização maior que o apresentado na VC.
Outras propriedades secundárias ainda podem ser somadas às descrições de
sistemas vocálicos. Essas propriedades podem ser bastante relevantes na descrição de um
dado sistema vocálico, como o problema da duração no Inglês ou da nasalidade no
Português. As propriedades secundárias das vogais mais pertinentes ao nosso estudo, e seus
respectivos diacríticos, são discutidas na seqüência de nossa argumentação.
Começamos nossa discussão pela caracterização da duração em segmentos
vocálicos, tendo em vista sua importância para nossos objetos de pesquisa. No PB, a duração
não é considerada distintiva entre fonemas vocálicos. Noutras línguas, como o Inglês, esse
traço possui um valor contrastivo no sistema fonológico. Por conta disso, o ensino desse
traço é normalmente enfatizado para falantes não-nativos (UNDERHILL, 1994). É
importante lembrar que um som é considerado longo se comparado a outro som semelhante.
Os diacríticos relacionados à duração são apresentados abaixo:
a) [ ˘ ] longa: [i˘] – diacrítico usado para identificar o alongamento segmental;
b) [ > ] meia-longa: [i>] diacrítico usado para identificar um alongamento
segmental de ordem mais breve que o símbolo anterior;
c) [ ̆ ] extra-breve: [ ĭ ] diacrítico usado para identificar uma redução na
duração do segmento.
A língua inglesa tem outra diferença quanto à realização vocálica. Seus sons
vocálicos podem ser articulados com uma maior ou menor tensão muscular, o que os
caracteriza como tensos ou frouxos de acordo com o grau de tensão utilizado. A tensão
muscular das vogais no Inglês encontra-se freqüentemente relacionada com a questão do
alongamento vocálico discutido acima.
31
Enquanto características duracionais são de fundamental importância para o
entendimento do sistema vocálico do Inglês, processos de nasalização, a serem discutidos
neste momento, são bastante importantes no sistema do PB.
A nasalização vocálica ocorre com o abaixamento do velum
5
no momento da
produção de uma vogal. Esse abaixamento abre a cavidade nasal à passagem do ar e adiciona
à vogal articulada características nasais. O diacrítico [ ~ ] é o símbolo utilizado para marcar a
nasalidade: [ã].
Além das características supracitadas, normalmente associadas a apenas uma das
línguas estudadas em nossa pesquisa, vogais complexas ocorrem em ambos os idiomas.
Vogais complexas, como os ditongos [eI, aI, çI], se diferenciam de monotongos como
[e, a, ç] devido as suas características de qualidade mudarem durante sua realização.
Algumas das diferenças realizacionais apresentadas acima, devido às sutilezas
envolvidas na produção de vogais em um espaço vocálico semelhante, não serão percebidas,
via de regra, por falantes do PB na produção do Inglês por falantes nativos. Mesmo que a
diferença seja ainda maior, como por exemplo na realização das vogais [i] e [I] do Inglês, um
falante nativo do PB tenderia a não perceber esta distinção devido à existência de apenas um
som semelhante em seu espaço vocálico: a vogal [i].
A descrição do sistema vocálico de uma língua viva segundo os preceitos
expostos acima será baseada em julgamentos qualitativos e não quantitativos. Tal descrição
envolverá a capacidade de percepção/produção de um indivíduo. Tais procedimentos
dificultam bastante a obtenção de dados significativos da população de um dado dialeto ou
língua com o objetivo de fazer generalizações de um sistema vocálico.
Tendo em vista tais empecilhos, acreditamos que a melhor forma de trabalho
lingüístico envolvendo a caracterização vocálica seja a junção das facilidades de
representação gráfica presente na Teoria das Vogais Cardeais, baseada na Fonética
Articulatória, com a visão quantitativa presente na Fonética Acústica, conforme trataremos
em nossa próxima seção.
2.3 Teoria Acústica de Produção da Fala
5
O termo “velum” é tratado como sinônimo de “palato mole”.
32
A Teoria Acústica de Produção da Fala, comumente conhecida como teoria linear
de fonte e filtro de produção da fala, teve o seu desenvolvimento marcado pelos estudos
desenvolvidos por dois japoneses, Chiba e Kajiyama, e um sueco, Fant. Estudos envolvendo a
acústica na produção da fala, entretanto, são bem mais antigos como veremos a seguir.
Os primeiros passos envolvendo a produção de um modelo de fonte e filtro para a
produção vocálica foram propostos por Muller, ainda na década de 1840 (HONDA, 2002).
Seus sucessores foram capazes, após desdobramentos da pesquisa original, de produzir vogais
sintéticas com a ajuda de diapasões e ressonadores. Tais estudos provocaram um grande
aumento de interesse em pesquisas envolvendo os sons vocálicos e, na segunda metade do
século XIX, duas grandes correntes teóricas envolvendo a produção de vogais
desenvolveram-se: a Teoria Inarmônica e a Teoria Harmônica de Produção Vocálica. A
primeira teoria afirmava que a excitação produzida pelas pregas vogais servia apenas para
inserir o ar nas cavidades superiores. O amortecimento dessa oscilação é que caracterizaria o
som vocálico. A segunda, mais elaborada, afirmava que
As pregas vocais geram uma onda sonora complexa possuidora de uma freqüência
fundamental e um grande número de harmônicos. Essas freqüências dos harmônicos
são todas múltiplos exatos da freqüência fundamental [...] quando as ondas sonoras
passam através da garganta, da boca, e das cavidades nasais as freqüências próximas
às freqüências de ressonância dessas cavidades são irradiadas muito ampliadas, [...]
Essas regiões de freqüência reforçada determinam a qualidade vocálica.
(FLETCHER, 1929 apud HONDA, 2002, p. 190)
Estudos subseqüentes de Chiba e Kajiyama puseram fim a essa discussão ao
afirmar que a natureza acústica das vogais é determinada pela forma do trato vocal no
momento de produção. Os estudiosos também demonstraram que o espectro vocálico pode ser
calculado através do conhecimento da área de transferência da cavidade oral. Para chegar a
tais conclusões, Chiba e Kajiyama se utilizaram de medições do aparelho fonador humano
obtidas através de imagens de raio-x e de cálculos das freqüências de ressonâncias de
ressonadores simples e duplos de tamanhos compatíveis (BORDEN; HARRIS, 1980)
Tendo por base esses estudos preliminares, Gunnar Fant desenvolve e publica sua
Teoria Acústica de Produção da Fala. Seu principal objetivo era contribuir para “o
entendimento das relações entre dados articulatórios envolvendo a produção da fala e dados
físicos de descrição da onda sonora” (FANT, 1960, p. 5). Tomando por base o estudo de Fant,
e recorrendo sempre que necessário a trabalhos que visam a explicitar os fundamentos da
33
teoria em questão, tais como Borden e Harris (1980), Pickett (1980), Kent e Read (1992), e
Marusso (2005), buscamos apresentar abaixo seus conceitos fundamentais.
2.3.1 Análise das características acústico-articulatórias da fonte sonora
A teoria da fonte e filtro assume, em qualquer som produzido pelo aparelho
fonador humano, a existência de uma fonte de ruído, que provê a entrada acústica no sistema,
e de um filtro, que modula esta fonte com o objetivo de realizar os mais diversos sons
vocálicos e consonantais recorrentes nas línguas naturais. A fonte de ruído pode ter sua
origem associada a três fatores:
a) vibração das cordas vocais (vozeamento);
b) ruído turbulento (fricção) do ar originado por constrição;
c) a combinação das duas fontes supracitadas.
O fluxo de ar proveniente dos pulmões passa pelas pregas vocais e chega à região
oral, no caso de vogais orais, e também à região nasal, no caso das vogais nasais. Com o
fechamento intermitente das pregas vocais temos a fonte sonora do sistema através do
aumento da pressão subglotal produzida mais abaixo pelos pulmões. Essa pressão precisa ser
maior que a encontrada na cavidade oral para que seja produzido o vozeamento (STEVENS,
1998). Com a vibração das pregas vocais, uma série de ondas sonoras periódicas complexas é
produzida. A determinação do número de ciclos por segundo dessas ondas nos possibilita
determinar, em Hertz (Hz), o valor da freqüência fundamental (F0) da fonte. Esse valor é
comumente percebido pelo ouvinte como a altura tonal ou pitch de um determinado som.
Os valores de freqüência fundamental (F0) não são dependentes apenas da pressão
subglotal. Fatores como tamanho, massa, densidade e tensão das pregas vocais também são
importantes para a determinação de seu valor médio de vibração.
Os três primeiros fatores mencionados anteriormente podem ter sua influência no
F0 facilmente determinada se levarmos em conta as diferenças de tamanho, massa e
densidade das pregas vocais entre homens, mulheres e crianças. Por possuírem maiores
dimensões, a fonte sonora de um homem produz a menor freqüência fundamental do grupo
por necessitar de maior energia para a produção de ondas sonoras periódicas. Mulheres, de
maneira geral possuidoras de pregas vocais de menor dimensão, possuem um valor médio
34
mais alto do que o encontrado em homens. As
crianças de ambos os sexos possuem os valores mais
altos.
As características de tensão das pregas
vocais são também importantes para determinar o F0
da fonte sonora por variarem de acordo com a tensão
aplicada pelo falante sobre estas pregas no momento
da fonação. Quanto maior a tensão, maior será o F0,
ocorrendo o oposto com o relaxamento das pregas.
As considerações apresentadas acima, envolvendo
as pregas vocais como fonte sonora única, são
pertinentes a todas as soantes, como as vogais. Na
FIGURA 9 podemos observar o posicionamento das
cavidades supra-glóticas para a realização de um
som vocálico oral.
Características do F0, apesar de
importantes para a análise de características
vocálicas, não são relevantes na produção de
sons onde as pregas vocais não são utilizadas
como fonte sonora.
Esses sons não-vocálicos, caracteristicamente
possuidores de ruído fricativo, como podemos
ver na FIGURA 10, possuem sua fonte de
ruído localizada na região de estreitamento do
trato vocal. A constrição gera um alto nível de
pressão na região entre a glote e o ponto de
estreitamento, produzindo ruído turbulento no
momento em que o ar passa nessa região. Esse
ruído é então filtrado pela cavidade supra-
glótica, sendo suas ondas sonoras aperiódicas
irradiadas para fora do trato vocal.
Por fim, dissertamos sobre a combinação das duas fontes supracitadas: o
vozeamento das pregas vocais e o ruído turbulento gerado por constrição do trato vocal.
FIGURA 9: Posição do trato vocal para a
produção da vogal oral [´] (adaptada de
ORION, 1995).
FIGURA 10: Posição do trato vocal para a
produção da fricativa alveolar desvozeada [s]
(adaptada de ORION, 1995).
35
Utilizamos como exemplo na discussão desse tipo
de fonte sonora composta os sons vozeados
fricativos.
Associado ao ruído turbulento
descrito anteriormente, encontrado em muitas
consoantes, podemos ter de maneira concomitante
o vozeamento das pregas vocais, gerando duas
fontes de energia acústica para o sistema
(FIGURA 11).
Podemos depreender, a partir da
leitura de nossa breve discussão acerca das fontes
de energia acústica para a produção de sons
vocálicos, que a vibração das pregas vocais ocupa
um lugar central nesta discussão. Buscamos, a
seguir, aprofundar nosso conhecimento acerca de
algumas características de nosso objeto de estudo.
A FIGURA 12 apresenta o aspecto das cordas vocais em posição
aberta
6
. Essas pequenas pregas, para servirem de fonte de ruído, devem se encontrar fechadas,
permitindo breves aberturas, devido à alta pressão abaixo da glote (o espaço em forma de V
entre as pregas vocais), para a produção do som vozeado.
A vibração é uma onda
sonora e inicia-se com um aumento do
pico da pressão até a obtenção de um
valor de amplitude ximo, medido
em decibéis (dB). Esse pico é seguido
de uma redução até um valor mínimo
de pressão e sua volta a um valor zero
(LADEFOGED, 1962). Podemos
observar este ciclo na FIGURA 13,
cujo eixo vertical representa pressão
positiva ou negativa em decibel e, seu
eixo horizontal, a duração dos ciclos.
6
Um vídeo das cordas vocais produzindo vozeamento pode ser acessado em
http://www.entusa.com/normal_larynx.htm .
FIGURA 11: Posição do trato vocal para a
produção da fricativa alveolar vozeada [z]
(adaptada de ORION, 1995).
FIGURA 12: Pregas vocais em posição aberta
(ENTUSA, 2007).
36
Esse tipo de onda
sonora produzida pelas pregas
vocais é chamada de ciclo e seu
número de repetições por segundo
são, como vimos, medidos em Hz.
Uma vez que as produções dos
ciclos se originam da abertura e
fechamento das pregas vocais,
temos valores idênticos para as
medições acústicas de ciclos e para
as medições articulatórias de
abertura e fechamento das pregas
vocais.
Os ciclos produzidos pelas pregas vocais são periódicos por possuírem
aproximadamente a mesma taxa de repetição. Um som aperiódico, por outro lado, não possui
tais características de repetição sistemática por um dado período de tempo, sendo
caracterizado como um som sem regularidade aparente quando comparado com sons com
onda sonora caracteristicamente periódica. Sons periódicos, portanto, são possuidores de
vozeamento como sua fonte de energia acústica, podendo ainda vir a possuir fricção como
segunda fonte. Sons aperiódicos envolvem apenas o ruído turbulento fricativo como fonte de
energia sonora.
O som periódico produzido pelas
pregas vocais, como vimos, determina o valor do
F0 da fonte acústica no caso das vogais. Esse som
é constituído, além da primeira freqüência, de
diferentes harmônicos: simples múltiplos da
freqüência fundamental. Se a freqüência
fundamental de um homem se encontra na faixa
dos 120 Hz (120 aberturas e fechamentos das
cordas vocais por segundo) podemos calcular seus
três primeiros harmônicos em 240, 360, e 480 Hz,
respectivamente. Qualquer falante, como mencionamos, pode alterar a taxa de freqüência
fundamental e conseqüentemente mudar os valores dos harmônicos constituintes da fonte
sonora. É importante também lembrar que essas alterações se aplicam apenas à fonte e não ao
FIGURA 13: Um ciclo de freqüência de uma onda sonora
periódica (adaptada de KOO, 2007).
FIGURA 14: Espectro linear do som
produzido pelas cordas vocais (adaptada de
SUNDBERG, 1977).
37
filtro, fato que se retomado na próxima seção (2.3.2) de nossa discussão. O F0 e seus
respectivos harmônicos são muito importantes para a caracterização do espectro da fonte de
energia apresentada na FIGURA 14.
Esse tipo de espectro é denominado linear por apresentar a distribuição de energia
em forma de linhas. Como podemos observar, a amplitude (eixo vertical) decresce a uma taxa
constante à medida em que a freqüência aumenta (eixo horizontal). Isso nos mostra que a
maior parte da energia em sons vozeados se encontra nas freqüências mais baixas do espectro
sonoro. A taxa de declínio é de 12 dB cada vez que a freqüência dobra em cada harmônico.
2.3.2 Análise das características acústico-articulatórias do filtro sonoro
Após termos caracterizado a fonte sonora de sons vozeados, passamos, a partir
deste momento, a nos concentrar nas características do filtro que determinará diferentes
ressonâncias na cavidade oral pela alteração do posicionamento dos diferentes órgãos da fala.
O modelo de filtro mais utilizado atualmente envolve a comparação do filtro com
um tubo contendo um dos lados aberto e o outro fechado por uma membrana vibratória que é
utilizada como a fonte acústica. O lado aberto do tubo representa a boca e o lado fechado pela
membrana elástica tenta simular as pregas vocais. O tubo em si é o ressonador, representando
o trato vocal. A FIGURA 15 (adaptada de KENT; READ, 1992) apresenta um tubo uniforme
com um dos lados fechado.
FIGURA 15: Tubo simulando o trato vocal para a produção de vogal.
38
Tubos desse tipo, por possuírem apenas uma saída para as ondas sonoras, podem
ser utilizados na simulação de vogais orais. As primeiras freqüências de ressonância de nosso
tubo que, devido ao processo de diminuição da energia dos harmônicos, são as mais
relevantes para a comunicação, podem ser facilmente calculadas. A fórmula para esse cálculo
envolve o conhecimento de algumas variáveis, como a velocidade do som (c = 35.000
cm/seg.), o número da freqüência de ressonância desejada (n), e o comprimento do tubo (l =
17,5 cm):
Fn = (2n - 1) c/4l
A fórmula acima basicamente reza que o tubo ressoará com amplitude máxima, a
característica da onda sonora que mais diretamente se relaciona com a intensidade, ou
volume, do som (TRASK, 1996), quando o comprimento da onda do som for quatro vezes o
comprimento do tubo. Ao aplicar a fórmula acima ao tubo em questão, encontraremos as
diferentes freqüências em que o espectro sonoro da fonte será enfatizado. A primeira
freqüência será calculada abaixo, à guisa de exemplo:
F1 = (2 x 1 – 1) x 35.000 (cm/seg) / 4 x 17,5 (cm)
F1 = (2 – 1) x 35.000 / 70
F1 = 1 x 500
F1 = 500 (Hz)
A primeira freqüência de ressonância de nosso tubo se encontra, portanto, na faixa
dos 500 Hz. Subseqüentes freqüências se encontram, ao aplicarmos a rmula acima para
encontrar os valores de F2, F3 e F4, respectivamente, em torno dos 1500 Hz, 2500 Hz, e 3500
Hz.
As freqüências de ressonância acima não seriam relevantes se não tivéssemos
levado em consideração um tamanho de tubo semelhante ao encontrado na média do
comprimento do trato vocal de um homem adulto. Além disso, devemos enfatizar que não são
encontradas diferenças significativas nas freqüências de ressonância se o tubo for reto ou
curvo (SONDHI, 1986). A configuração do trato vocal para a produção de uma vogal
semelhante à produzida por nosso modelo é, dessa forma, bastante semelhante à configuração
apresentada na FIGURA 9: o som [´], o schwa.
39
Mudanças no comprimento do tubo, como podemos ver, alterarão também os
valores das freqüências de ressonância encontradas no filtro. Caso o tubo fosse mais
comprido, as freqüências seriam mais baixas. No caso de uma redução do comprimento, as
freqüências de ressonância possuiriam valores mais altos. Isso também nos ajuda a entender o
porquê das diferenças encontradas na fala de uma criança, de uma mulher e de um homem
adultos. De maneira semelhante à descrita em nossa discussão acerca das alterações do
tamanho de nossa fonte sonora, as pregas vocais, o aumento no comprimento de nosso filtro, a
cavidade oral, alterará as freqüências de ressonância.
Antes de começar a discorrer acerca de diferentes posições do trato vocal, que
causarão diferentes formas no tubo e, portanto, diferentes freqüências de ressonância, é
pertinente comentar a função da expressão (2n - 1) na fórmula. Seu objetivo único é gerar um
conjunto de números ímpares, uma vez que as ressonâncias ocorrem a múltiplos ímpares da
primeira freqüência de ressonância (F1 = 1c/4l) explicitada acima. As freqüências de F2, F3 e
F4, serão expressas respectivamente, pelas fórmulas 3c/4l, 5c/4l, 7c/4l.
As ondas sonoras de múltiplos ímpares se encontram no mesmo ponto e no
mesmo sentido ao passarem do estágio de pressão positiva para o estágio de pressão negativa
de seus ciclos, enfatizando umas as outras. As ondas sonoras de múltiplos pares, por outro
lado, se encontram nesse ponto em trajetórias opostas, sendo, na maioria das vezes,
suprimidas, como visto na FIGURA 16 (BORDEN; HARRIS, 1980).
40
FIGURA 16: Ressonâncias impares sendo enfatizadas (3R, 5R) e pares sendo suprimidas (2R,
4R, 6R) devido às características de 1R (adaptada de BORDEN; HARRIS, 1980).
A primeira ressonância (R1), por possuir a freqüência mais baixa (explicitada pela
maior duração do ciclo no eixo horizontal tempo ‘t’ comparada às outras ressonâncias) dentro
do espectro, normalmente contará com uma amplitude maior (explicitada pelo maior
deslocamento no eixo vertical de amplitude ‘A’ comparada as outras ressonâncias). Essa
maior ênfase de R1 nos ajuda a entender sua capacidade, devido a sua maior pressão em dB,
de suprimir outras freqüências ressonantes mais elevadas, mas de pressão inferior. Também
devemos lembrar que o ouvido humano é mais suscetível às freqüências baixas que às altas.
A FIGURA 17 a seguir ilustra como diferentes configurações do trato vocal
determinam diferentes posicionamentos das freqüências a serem enfatizadas e suprimidas no
espectro sonoro de saída.
41
FIGURA 17: Posição do trato vocal, dos pontos de constrição correspondentes num tubo, e do
espectro acústico das vogais [i, a, u] (adaptada de THIES, 2005a).
Os diferentes pontos de constrição do trato vocal, na primeira coluna da figura
acima, são convertidos em modelos de tubo, como vimos anteriormente. Essas diferentes
características do trato vocal implicam diferentes freqüências a serem enfatizadas (formantes)
e suprimidas, produzindo um espectro acústico que difere em cada uma das posições
articulatórias apresentadas. A vogal [i], por exemplo, possui características formânticas,
apresentadas na terceira coluna, bastante diferentes das vogais [a] e [u]. O primeiro som,
devido ao seu ponto de estreitamento ser diferente dos demais sons vocálicos apresentados,
possui seus dois primeiros picos formânticos muito mais separados. Maiores considerações
42
acerca da conexão entre configuração articulatória e características dos formantes podem ser
encontradas quando tratamos diretamente desta relação, a seguir.
Devemos lembrar que as freqüências de ressonância descritas acima são
determinadas de acordo com a forma e comprimento do tubo apenas. Essas freqüências de
ressonância, denominadas de formantes, não possuem energia em si. A configuração do trato
vocal determinará as freqüências de ressonância do filtro que poderão, ou não, vir a ser
utilizadas por uma fonte sonora produzida pelas pregas vocais.
Os formantes são identificados por números, sendo apenas os primeiros, mais
especificamente F1, F2, F3 e F4, de maior interesse para a caracterização vocálica devido ao
baixo nível de energia existente em freqüências mais altas. Os formantes são normalmente
descritos tendo em vista sua freqüência, medida em Hertz, e se analisados de maneira
conjunta constituem a função de transferência do trato vocal: devido às suas propriedades de
enfatizar e suprimir certas regiões do
espectro sonoro produzido pelas
pregas vocais, os formantes
determinam a nossa percepção dos
sons vocálicos.
Devido ao fato de suas
características variarem de maneira
síncrona com o posicionamento do
trato vocal, as características de
freqüência dos formantes podem ser
previstas de maneira bastante segura
se levarmos em conta o ponto de
maior constrição da cavidade oral e
as características das ondas de
ressonância de uma vogal neutra.
Ao levarmos em conta o
comprimento das primeiras ondas de ressonância do tubo, aplicando a fórmula de cálculo dos
formantes apresentada anteriormente, observamos que a onda sonora da primeira freqüência
de ressonância (F1) terá um comprimento quatro vezes maior que o tubo. Em outras palavras,
apenas ¼ (25%) de um ciclo da onda pode energizar o ar dentro do tubo em um dado
momento. A segunda ressonância (F2) possui um ciclo três vezes menor do que a primeira, o
que implica que ¾ (75%) de um ciclo da onda podem ser comportados dentro do tubo. As
FIGURA 18: Comprimento de onda das quatro primeiras
freqüências de ressonância de um tubo uniforme (adaptada
de JACKSON, [200-]).
43
terceira (F3) e quarta (F4) ressonâncias possuirão, ambas, um ciclo de comprimento menor.
Cada uma dessas ressonâncias possuirá respectivamente 1 ¼ de ciclo (um ciclo completo mais
25% do próximo ciclo) e 1 ¾ de ciclo (um ciclo completo e mais 75% do próximo ciclo)
dentro do tubo, conforme podemos visualizar na FIGURA 18.
Com o estabelecimento dos pontos de máxima amplitude (eixo vertical) de
vibração das quatro freqüências de ressonância do tubo, encontramos a localização dos pontos
de nodo das freqüências em questão. Pontos anti-nodo, por outro lado, são associados aos
pontos de mínima amplitude da onda (localizados na linha central do tubo). O conhecimento
dos locais onde esses pontos ocorrem dentro do trato vocal, associado ao conhecimento de
como uma constrição próxima a um ponto de nodo ou de anti-nodo influencia na elevação ou
no abaixamento das freqüências envolvidas, permite-nos prever o comportamento das
diferentes freqüências de ressonância frente a outras configurações dos órgãos da fala. A
FIGURA 19 abaixo, adaptada de Chiba e Kajiyama (1941, apud FANT 1960), mostra-nos o
posicionamento dos pontos já discutidos.
FIGURA 19: Pontos de nodo (N) e anti-nodo (AN) no tubo e trato vocal.
44
Se analisarmos de maneira conjunta a figura contendo os órgãos da fala na
produção de uma vogal e o tubo apresentado logo acima, poderemos associar seus pontos de
nodo e anti-nodo. Os pontos de nodo são apresentados no tubo no momento em que a onda
sonora apresenta amplitude máxima, quer positiva ou negativa, se aproximando dos seus
limites. Pontos de anti-nodo, por outro lado, se encontram onde as ondas sonoras cruzam-se
em seu ponto de amplitude mínimo no centro do tubo. O conhecimento desses pontos nos
possibilita fazer as seguintes previsões acerca do comportamento das freqüências de
ressonância supracitadas ao inserirmos um ponto de constrição, a partir de uma posição neutra
do trato vocálico (KENT; READ, 1992):
a) uma constrição próxima de um ponto de nodo baixa a freqüência dos
formantes;
b) uma constrição próxima a um ponto de anti-nodo aumenta a freqüência dos
formantes.
Regras gerais, tendo em vista conhecimentos acerca do posicionamento
articulatório do trato vocal para a produção de vogais, juntamente com essas novas
informações, permitem-nos fazer as seguintes previsões acerca do comportamento das
freqüências de ressonância dos dois primeiros formantes (MARUSSO, 2003; KENT; READ,
1992):
a) a freqüência de F1 é mais baixa com uma constrição na parte mais anterior do
trato. Exemplo disso ocorre com as vogais [i] e [u]. A primeira envolve o
posicionamento alto e anterior da língua e a segunda, o arredondamento dos
lábios. A freqüência de F1 é elevada caso ocorra uma constrição na região da
faringe ou laringe, como no som [a];
b) a freqüência de F2 é mais baixa caso exista uma constrição nos lábios ou na
parte mais posterior acima da laringe, e.g. [u]. O aumento da freqüência de F2
é obtido com constrição na parte anterior do trato vocal, na região da vogal [i].
As características da onda sonora descritas acima podem ser observadas em um
espectro como os já mostrados na FIGURA 17. Podemos, ainda, observar mudanças na
composição das freqüências de ressonância de uma onda sonora através de uma imagem
muita ampliada.
Vogais, portanto, são ondas sonoras complexas constituídas por concentrações e
reduções da energia presente no espectro sonoro de saída. Uma onda sonora complexa nada
mais é do que a sobreposição de duas ou mais ondas sinusoidais. Uma onda sinusoidal pode
45
ser descrita como uma onda sonora com os mesmos valores de amplitude se repetindo em
períodos de tempo semelhantes (FRY, 1979). Ondas sonoras como as apresentadas na
FIGURA 18, em nossa discussão acerca dos ciclos da onda sonora, podem ser descritas como
sinusoidais. A adição de sons de diferentes freqüências resulta numa onda sonora complexa
como mostrado na FIGURA 20 abaixo.
FIGURA 20: Três ondas sinusoidais de freqüências e amplitudes
diferentes unidas numa onda complexa (adaptada de
LADEFOGED, 1962).
Descrições acústicas de vogais que permitem o estudo dos formantes se baseiam
na utilização de algoritmos matemáticos que decompõem a onda sonora complexa das vogais
em seus diferentes constituintes. Atualmente dois métodos são utilizados para a decomposição
de ondas sonoras complexas: o FFT (Fast Fourrier Transform) e o LPC (Linear Predictive
Coding).
Além dos gráficos apresentados até este momento, outra forma de representar
graficamente o sinal acústico será de grande valia em nosso estudo: o espectrograma. O
46
espectro acústico de uma vogal pode ser descrito como a representação gráfica dos picos de
amplitude de um som (eixo vertical), se estendendo por diversas freqüências (eixo horizontal),
em um momento particular de análise, como vimos na FIGURA 17. Entretanto, em alguns
momentos é importante visualizar as características de amplitude sonora em uma figura
contendo também a variante tempo. Esse tipo de análise é normalmente obtido por meio da
ajuda de espectrogramas, que se constitui da representação de freqüências (eixo vertical),
tempo (eixo horizontal), e amplitude (escurecimento de qualquer ponto do gráfico). A
FIGURA 21 mostra espectrogramas de alguns monotongos do Inglês com seus formantes
indicados por setas.
FIGURA 21: Espectrograma de oito sons vocálicos do Inglês em posição [h]V[d]
(adaptada de LADEFOGED, 2005).
As características descritas acima, pertinentes à fonte (pregas vocais) e ao filtro (a
cavidade oral), são fundamentais para a descrição acústica das vogais orais, objeto de nosso
estudo. É importante, neste momento, lembrar algumas características de seu funcionamento.
Fonte e filtro, apesar de constituírem um conjunto em nossa análise, são em larga
escala independentes. Isso explica a facilidade com que conseguimos produzir uma mesma
vogal com alturas melódicas ou tessituras (pitch) completamente diferentes umas das outras.
Essas diferenças de pitch podem ser atribuídas unicamente às diferenças da onda sonora de
entrada acústica no filtro no caso das vogais. Por outro lado, uma mesma freqüência
47
fundamental produzida pela fonte, ao ser alterada pelo filtro, possui qualidades totalmente
diferentes a depender unicamente dos pontos de constrição encontrados, como observamos
anteriormente.
2.3.3 Análise acústica da radiação característica
O último fator importante para o entendimento da Teoria Acústica de Produção da
Fala envolve conhecimentos acerca da radiação característica. Esse fator envolve o efeito de
filtragem que ocorre quando um som sai da boca e é irradiado se espalhando em todas as
direções. Funcionando como um filtro que reduz a energia nas freqüências mais baixas e
possui menor efeito nas altas, a radiação característica possui comportamento inverso à
freqüência fundamental. Enquanto a radiação característica aumenta a uma taxa de 6 dB por
harmônico, a freqüência fundamental cai a uma taxa de 12 dB, totalizando uma queda de 6 dB
por harmônico na onda sonora irradiada. A FIGURA 22 abaixo (KENT; READ, 1992)
mostra-nos o processo como um todo.
FIGURA 22: Conceito de produção de vogais baseado na teoria da fonte-filtro.
48
A equação diz que a pressão espectral (P) irradiada no espaço é o resultado do
espectro produzido pelas pregas vocais (U), modificada pela função de transferência da
configuração do trato vocal (T) e pela radiação característica (R), com (s) indicando
freqüências diferentes enfatizadas ou reduzidas durante o processo.
O uso de dados provenientes da Teoria Acústica de Produção da Fala possibilita a
utilização de parâmetros quantitativos onde antes se podia usar as informações qualitativas
de descrições vocálicas em termos articulatórios, como vimos em nossa discussão envolvendo
a Teoria das Vogais Cardeais. As duas teorias supracitadas podem ser usadas em conjunto
para que, dessa maneira, os pontos fortes de cada uma possam ser unidos em uma
representação mais esclarecedora no estudo de produções vocálicas de línguas naturais.
Como ponto forte de uma análise vocálica baseada em preceitos da Fonética
Acústica, temos que ressaltar o seu caráter quantitativo que, aliado ao rigor metodológico nas
aferições e da aplicação de cálculos estatísticos, pode aumentar a validade de um trabalho de
caracterização vocálica de uma dada variante. No entanto, a visualização desses dados dentro
apenas de tabelas sem nenhuma dimensão qualitativa não são simples de serem assimilados.
Ao buscarmos uma maneira de escapar desta limitação, aplicamos a precisão
quantitativa dos estudos acústicos às descrições vocálicas características da Fonética
Articulatória, especialmente no tocante ao uso do Quadrilátero Vocálico, com o intuito de
facilitar a visualização do espaço de produção das vogais. Passamos, dessa forma, a possuir
um sistema que une o melhor das duas teorias em questão, o que facilitará a investigação e
descrição de nosso objeto de estudo.
2.4 Pontos de contato entre a Teoria das Vogais Cardeais e a Teoria Acústica de
Produção da Fala
Apresentamos nesta seção uma breve discussão acerca de como as duas teorias
apresentadas são utilizadas na descrição de línguas vivas nos níveis fonológico e fonético.
Uma descrição do sistema vocálico de uma dada língua envolvendo os preceitos
da Teoria das Vogais Cardeais normalmente envolve a classificação dos fonemas, os sons
distintivos, da língua em questão. Uma classificação mais apurada do sistema vocálico teria
que levar em consideração a utilização de muitos diacríticos visando a uma melhor
49
representação articulatória das vogais.
Com o objetivo de facilitar o entendimento das explicações, normalmente utiliza-
se um quadrilátero vocálico idêntico ao já apresentado e simplesmente se adiciona o ponto de
articulação da vogal, levando em conta suas características peculiares de elevação,
abaixamento, anterioridade, posterioridade, etc. comparadas à Vogal Cardeal mais próxima.
Muitas vezes quando a língua descrita é a língua materna, nem mesmo o
quadrilátero vocálico é utilizado, dando-se ênfase apenas ao posicionamento da vogal nos
eixos alto-baixo e anterior-posterior e características de arredondamento labial de maneira
textual. Classificações desse tipo obviamente possuem cunho apenas qualitativo, prestando-
se de maneira muito relevante à descrição dos fonemas vocálicos, constituídos de um grande
número de fones vocálicos.
Descrições de sistemas vocálicos baseados nos preceitos da Teoria Acústica de
Produção da Fala, devido às suas características quantitativas, normalmente são utilizadas
para a determinação dos fones de um dado fonema. Uma posterior análise das características
acústicas da realização de diversos fones de uma mesma vogal pode propiciar ao estudioso
uma delimitação razoável das fronteiras acústicas de um dado fonema.
Estudos envolvendo um grande número de sujeitos, seguindo estes preceitos,
normalmente objetivam a obtenção de valores médios das realizações dos diversos fones
vocálicos estudados, obtendo uma representação baseada em dados quantitativos do sistema
fonológico da língua analisada. Para facilitar a visualização dos dados obtidos dessa forma,
normalmente se utiliza um quadrilátero vocálico contendo os valores acústicos das Vogais
Cardeais comparados com os dados obtidos no estudo.
Outra maneira de expor de forma mais significativa dados nesse paradigma de
pesquisa envolve a utilização de um gráfico contendo os valores médios encontrados de F1
(eixo vertical) e F2 (eixo horizontal)
7
. A disposição gráfica apresentada leva em consideração
o alto grau de correlação das freqüências de F1 e F2 com os eixos alto-baixo e anterior-
posterior, visíveis na FIGURA 23 abaixo.
7
É pertinente observar que a FIGURA 23 apresenta os valores de F1 e F2 nos dois eixos de forma invertida, com
a interseção das linhas ocorrendo na parte inferior esquerda da figura. Esta disposição dos eixos reflete-se na
redução do valor de F1 e F2 a partir da interseção entre as duas linhas. Na maior parte de nosso trabalho,
entretanto, os eixos de F1 e F2 são apresentados com seus menores valores apresentados numa interseção do
lado superior direito das figuras, com os respectivos valores de F1 e F2 aumentando ao se afastar deste ponto.
50
Podemos observar, na figura acima, a relação acústico-articulatória na produção
das vogais [i] e [u]: ao produzirmos uma vogal, o ouvinte pode essencialmente “ouvir” a
posição da língua dentro do trato vocal. A utilização de um modelo de representação vocálica
dentro dos parâmetros apresentados acima é, acreditamos, mais significativo do que um
modelo fazendo uso apenas o quadrilátero vocálico. Com a utilização de experimentos
baseados nos princípios da Fonética Acústica, podemos observar mudanças sutis na produção
vocálica oral de grandes populações, como nos estudos realizados por Clopper, Pisoni e Jong
(2005) e Moraes, Callou e Leite (2002), discutidos, respectivamente, nas seções 2.5.3 e 2.5.2.
Estudos como esses sempre revelam fatos importantes sobre as mudanças em curso nas
línguas vivas, que se encontram em constante evolução.
As teorias apresentadas são bastante pertinentes, como pudemos observar,
quando se objetiva a consecução de um estudo para a caracterização vocálica de uma dada
língua natural. Os dois sistemas, quando unidos, permitem fazer uma descrição bastante
detalhada da realização de um som vocálico, o que será bastante útil tendo em vista os
objetivos por nós almejados.
FIGURA 23: Relação entre altura da língua e gráfico contendo valores de F1 (eixo vertical)
e F2 (eixo horizontal) (THIES, 2005b).
51
2.5 Descrição dos sistemas vocálicos do Inglês, do Português Brasileiro e do Inglês
língua estrangeira
Analisamos nesta seção os sistemas vocálicos orais, em posição tônica, do Inglês
norte-americano general American (GA), do Português Brasileiro (PB) e do Inglês língua
estrangeira (ILE) de falantes nativos do Português.
Começamos esta discussão desenvolvendo considerações acerca dos quadros
fonêmicos das duas línguas estudadas. Tendo em vista esse objetivo, fazemos uso,
principalmente, de descrições e terminologia pertinentes à Teoria das Vogais Cardeais,
apresentada na seção 2.2 de nossa fundamentação teórica.
Num segundo momento, apresentamos diversos estudos cujo principal objetivo é
caracterizar acusticamente as vogais do PB, do GA e do ILE. Nessas seções, buscamos focar
as características de descrição espectral e de duração das vogais anteriores das línguas
estudadas. Fazemos uso, portanto, de descrições e terminologia normalmente associados à
Teoria Acústica de Produção da Fala, descrita na seção 2.3 de nosso estudo.
2.5.1 O sistema vocálico do PB e do GA em posição tônica
Os dois sistemas são bastante diferentes se tomarmos como parâmetro de
comparação apenas as vogais orais tônicas das duas nguas. Ao aplicarmos esta restrição na
análise dos sons vocálicos presentes no PB, encontraremos apenas sete vogais orais tônicas e
diversos ditongos. O sistema vocálico do GA, por outro lado, chega a um total de doze
elementos vocálicos em posição tônica, adicionados de três ditongos.
2.5.1.1 Vogais tônicas do Português Brasileiro
52
Dissertamos acerca das vogais do PB, baseando-nos nas discussões apresentadas
por Cristófaro Silva (1999, 2001), Marusso (2003) e Câmara Jr. (1995).
O sistema vocálico do PB, em posição tônica, é constituído por sete fonemas
normalmente representados pelo símbolo da Vogal Cardeal mais próxima de seu ponto de
produção no quadrilátero vocálico, a saber [i, e, E, a, ç, o, u]. Entretanto, as vogais do PB
não possuem as mesmas características de articulação das VC, ao apresentarem
características próprias.
As vogais do Português não possuem distinção envolvendo aspectos de
alongamento vocálico em nível fonêmico, como no Inglês. Diferenças de duração vocálica
são normalmente encontradas em nossa língua materna apenas quando comparamos sílabas
tônicas (mais longas) e átonas (mais curtas). Podemos, pois, dizer que o traço de duração
vocálica no PB associa-se à realização de acento tônico, não servindo como um diferenciador
entre diferentes fonemas em uma mesma posição prosódica.
Em termos de qualidade articulatória, podemos classificar as vogais orais tônicas
do Português, em seus diferentes dialetos, da seguinte maneira:
a) /i/ - vogal alta, anterior, não-arredondada;
b) /e/ - vogal média-alta, anterior, não-arredondada;
c) /E/ - vogal média-baixa, anterior, não-arredondada;
d) /a/ - vogal baixa, central, não-arredondada;
e) /ç/ - vogal média-baixa, posterior, arredondada;
f) /o/ - vogal média-alta, posterior, arredondada;
g) /u/ - vogal alta, posterior, arredondada.
Podemos visualizar a classificação acima representada no QUADRO 1 a seguir:
QUADRO 1: Vogais orais do PB em posição tônica.
Vogais
Anteriores Central Posteriores
Altas /i/ /
u
/
Médias
altas /
e
/
/
o
/
baixas /
E
/ /
ç
/
Baixa /
a
/
Não-arredondadas Arredondadas
53
Observamos, no quadro acima, que o sistema vocálico do PB possui uma forma
triangular invertida. Essa característica do espaço vocálico da língua materna de nossos
informantes, como discutiremos a seguir, dificulta especialmente a produção de alguns sons
vocálicos do Inglês encontrados na região anterior-baixa e posterior da região vocálica.
É pertinente lembrar que o contraste fonêmico das vogais supra ocorre em
sílaba tônica. Em outras posições acentuais, como por exemplo na posição pré-tônica,
algumas dessas vogais possuem seu valor fonêmico neutralizado. Outro ponto de interesse
refere-se às vogais grafadas normalmente como e e o em posição pretônica, que podem servir
como ponto de apoio para a determinação de isoglossas, definidas por Crystal (2000) como
“uma linha desenhada em um mapa para marcar a fronteira de uma área na qual um
determinado traço lingüístico é usado”. Esta “fronteira” pode ser observada, por exemplo, no
falar do nordeste brasileiro. Como apontado por Leite e Callou (2002), nativos dessa região
preferem realizações abertas dos sons vocálicos médios: [E] e [ç]. No sul/sudeste do país,
entretanto, encontramos preferencialmente realizações fechadas: [e] e [o].
Por sua vez, os ditongos do PB são muito importantes em nosso sistema vocálico
oral. Um ditongo é entendido como uma seqüência de segmentos vocálicos em uma mesma
sílaba, em que um dos segmentos é interpretado como vogal e o outro como semivogal.
Nosso estudo tem por objetivo analisar o primeiro componente, a vogal, do ditongo /eI/
presente em ambas as línguas analisadas.
O ditongo pode ser descrito como um ditongo decrescente, constituído da
seqüência sonora vogal + semivogal, com término em [I]. O som [eI] no PB pode ocorrer em
posição tônica ou pretônica, e ser reduzido em algumas palavras como feira [»ferå].
Além da descrição articulatória apresentada acima, podemos caracterizar as
vogais do Português apontando sua relação para com a VC mais próxima de seu ponto de
produção na área vocálica, como vimos anteriormente. Apresentamos, primeiramente, uma
descrição de cada uma das vogais em questão (dialeto de Belo Horizonte):
a) a realização da vogal /i/ do PB é mais baixa e posterior que a VC [i];
b) a realização da vogal /e/ do PB é bastante próxima à VC [e];
c) a realização da vogal /E/ do PB é bastante próxima à VC [E];
d) a realização da vogal /a/ do PB é mais recuada e ligeiramente mais elevada
que a VC [a];
54
e) a realização da vogal /ç/ do PB é bastante próxima à VC [ç];
f) a realização da vogal /o/ do PB é bastante próxima à VC [o];
g) a realização da vogal /u/ do PB é mais baixa que a VC [u].
As descrições apresentadas acima podem ser muito melhor compreendidas com a
ajuda de um simples quadrilátero vocálico do dialeto de Belo Horizonte, apresentado na
FIGURA 24, proposto por Cristófaro Silva (1994, apud CRISTÓFARO SILVA, 1999).
FIGURA 24: Quadrilátero vocálico com a localização das vogais do PB no dialeto
de Belo Horizonte.
Outras propostas de ponto de produção das vogais do PB no quadrilátero vocálico
também podem ser encontradas. Mencionamos, brevemente, as propostas de Cagliari (1981),
descrevendo as vogais do dialeto paulista, e Callou, Moraes e Leite (1996), que utilizam as
médias de F1 e F2 de cinco dialetos de grandes regiões metropolitanas do Brasil comparadas
com as médias de ressonância das VC.
Uma visualização da análise de Cagliari (1981, apud CRISTÓFARO SILVA,
1999) pode ser observada na FIGURA 25.
55
Ao compararmos as
FIGURAS 24 e 25
constatamos poucas
diferenças nos pontos de
produção das vogais tônicas
orais dos dois dialetos do
PB. Notamos uma
realização mais recuada e
alta da vogal [E], além de
um som [a] mais anterior
que as vogais produzidas no
dialeto de Belo Horizonte.
A proposta apresentada na FIGURA 26, de Callou, Moraes e Leite (1996, apud
CRISTÓFARO SILVA, 1999), por outro lado, apresenta diferenças marcantes se comparada
aos quadros acima. Como podemos observar, essa proposta apresenta um espaço vocálico
muito menor que os dois diagramas anteriores. O que nos chama a atenção é o caráter
centralizado de todas as vogais, concorrendo para a obtenção de um sistema vocálico mais
compacto que os apresentados anteriormente.
A descrição dos monotongos do Português pode ser aqui finalizada. Devemos,
entretanto, mencionar o modo de produção do ditongo /eI/ dentro dos diagramas semelhantes
antes de encerrarmos nossa
discussão acerca do sistema
vocálico de nossa língua
materna.
O ditongo possui
seu primeiro ponto de
produção no espaço vocálico
idêntico à vogal /e/
apresentada anteriormente. O
segundo elemento do ditongo,
a vogal [I] pode ser descrita
como um som vocálico alto,
FIGURA 25: Análise das vogais orais tônicas do dialeto paulista.
FIGURA 26: Análise das vogais orais tônicas do PB.
56
anterior, não-arredondado, cujo ponto de produção é bem mais centralizado e baixo que o
ponto utilizado na realização da vogal /i/ do PB
8
. A semivogal discutida acima é um alofone
do fonema /i/ normalmente associado a realizações átonas desse som. A FIGURA 27 abaixo
mostra as duas vogais em questão, tentando enfatizar a relação de mudança articulatória
necessária à realização do ditongo. Tomamos por base o posicionamento das duas vogais
apresentadas por Cristófaro Silva (1999).
FIGURA 27: Ponto inicial e final de produção do ditongo [eI].
Na seqüência tratamos de forma similar as vogais do General American (GA).
2.5.1.2 Vogais tônicas do Inglês norte-americano General American
Dissertamos nesta seção acerca do sistema vocálico do Inglês norte-americano
General American (GA), tomando por base as discussões apresentadas em Orion (1997),
Kenyon e Knott (1953), Giegerich (1992), Prator e Robinett (1972) e Wells (1982).
O sistema vocálico do GA possui, em posição tônica, um modelo mais complexo
que o encontrado no PB. Esse sistema é normalmente representado por doze fonemas cujos
8
O diacrítico [ 9 ] pode ser usado para indicar que a vogal que o recebe é assilábica, não constituindo pico
silábico.
57
símbolos /i, I, eI, E, Q, A, √, Œ’, ç, oU, U, u/ se assemelham aos utilizados na descrição das
vogais do PB. Esses símbolos, entretanto, freqüentemente possuem qualidades diferentes dos
símbolos apresentados em nossa discussão acerca das vogais de nossa língua materna.
O GA é a variedade do Inglês utilizada pela maioria dos americanos,
especialmente os que não fazem uso de um sotaque sulista ou da região do leste dos Estados
Unidos (WELLS, 1982).
Diferentemente do PB, o GA possui diferenças na duração de seus fonemas
vocálicos em posição tônica. Essas diferenças são normalmente acompanhadas de diferenças
na qualidade das vogais realizadas, como por exemplo, nos pares [i] - [I], [E] - [Q], ou [u] -
[U]. O alongamento temporal de um dos elementos do par é normalmente utilizado por
falantes do GA.
O alongamento vocálico é normalmente associado à definição da vogal como
uma vogal tensa ou frouxa. Uma vogal tensa é definida articulatoriamente como um som
produzido com um maior esforço muscular, entendido como um maior deslocamento dos
órgãos da fala fora da posição de descanso, do que uma vogal frouxa (CRYSTAL, 1987).
Temos, dessa forma, vogais tensas mais longas que vogais frouxas em contextos prosódicos
semelhantes.
Levando em conta o conceito de classificação articulatória utilizado
anteriormente na descrição das vogais do PB, podemos classificar os sons vocálicos do GA
da seguinte maneira:
a) /i/ - vogal alta, anterior, tensa, não-arredondada;
b) /I/ - vogal alta, anterior, frouxa, não-arredondada;
c) /eI/ - ditongo cuja vogal inicial pode ser descrita como média-alta, anterior,
tensa, não-arredondada. A segunda vogal do ditongo possui características
mais centralizadas e baixas que a vogal /I/ apresentada anteriormente;
d) /E/ - vogal média-baixa, anterior, frouxa, não-arredondada;
e) /Q/ - vogal baixa, anterior, frouxa, não-arredondada;
f) /A/ - vogal baixa, posterior, tensa, não-arredondada;
g) // - vogal baixa, central, frouxa, não-arredondada;
h) /Œ’/ - vogal média com características de retroflexão, central, tensa, não-
arredondada;
i) /ç/ - vogal média-baixa, posterior, tensa, arredondada;
58
j) /oU/ - ditongo cuja vogal inicial pode ser descrita como média-alta, posterior,
tensa, arredondada. A segunda vogal do ditongo possui características mais
centralizadas e baixas que a vogal /U/ apresentada em seguida;
k) /U/ - vogal alta, posterior, frouxa, arredondada;
l) /u/ - vogal alta, posterior, tensa, arredondada.
Optamos por utilizar os símbolos /eI/ e /oU/ para designar os dois sons com
características de ditongos presentes na região média-alta anterior e posterior do espaço
vocálico do GA. Os sons apresentados são normalmente associados a apenas um símbolo em
muitas descrições desse sistema vocálico, respectivamente /e/ e /o/ (KENYON; KNOTT,
1953). Apresentamos, no QUADRO 2 abaixo, uma breve representação desse sistema.
QUADRO 2: Vogais orais tônicas do GA.
Vogais
Anteriores Centrais Posteriores
Altas /i/
/
I
/
/u/
/
U
/
Médias
/eI/
/
E
/
/Œ’/
/oU/
/
ç
/
Baixa /Q/
//
/
A
/
Não-arredondadas (ver.)/Arredondadas (azul)
O sistema vocálico do GA possui, portanto, uma forma quadrilateral. A
disposição do espaço vocálico em questão dificulta nossa percepção de certos sons,
especialmente nas regiões mais baixas do espaço vocálico, não utilizadas em nossa língua
materna.
As vogais apresentadas acima ocorrem preferencialmente em sílabas acentuadas.
Sílabas não-acentuadas normalmente apresentam reduções drásticas na qualidade das vogais
supracitadas, resultando nos sons [´] ou [I]. Esse tipo de neutralização
9
se deve,
principalmente, ao fato do Inglês ser idioma possuidor de um ritmo mais baseado na
9
De acordo com Trask (1996) “O desaparecimento, em uma posição particular, de contraste entre dois ou mais
segmentos que é mantido em outras posições.”
59
realização de acentos tônicos que o PB, forçando um grau mais elevado de redução vocálica.
Outra característica importante do GA diz respeito às restrições fonotáticas envolvendo as
vogais frouxas. Esse tipo de som vocálico, diferentemente dos sons tensos, não podem
ocorrer em sílabas abertas.
Da mesma maneira que descrevemos as vogais do PB, tomando como ponto de
referência a VC mais próxima, passamos nesse momento a descrever o sistema vocálico do
GA:
a) a realização da vogal /i/ do GA é similar à VC [i], não sendo, entretanto, tão
anterior e alta;
b) a realização da vogal /I/ do GA é similar à vogal /i/ discutida anteriormente,
sendo mais baixa e posterior;
c) a realização do ditongo /eI/ do GA possui sua primeira vogal articulada num
ponto próximo à VC [e] sem ser, contudo, tão anterior e alta. A segunda
vogal possui uma qualidade mais centralizada e baixa que a descrita na vogal
/I/ apresentada anteriormente;
d) a realização da vogal /E/ do GA é similar à VC [E], com uma posição mais
alta;
e) a realização da vogal /Q/ do GA é mais alta que a VC [a];
f) a realização da vogal /A/ do GA é similar à VC [A], com menor grau de
posteriorização;
g) a realização da vogal // do GA é produzida numa região mais central e alta
se comparada à vogal /A/ descrita anteriormente;
h) a realização da vogal /Œ’/ do GA possui uma qualidade central, com altura
média e retroflexão;
i) a realização da vogal /ç/ do GA possui uma qualidade semelhante à
encontrada na VC [ç];
j) a realização do ditongo /oU/ do GA possui sua primeira vogal articulada num
ponto mais baixo e anterior comparado à VC [o]. A segunda vogal possui
uma qualidade mais centralizada e baixa que a vogal /U/ apresentada em
seqüência;
k) a realização da vogal /U/ do GA possui uma qualidade mais baixa e anterior
se comparada à vogal /u/ descrita anteriormente;
60
l) a realização da vogal /u/ do GA possui qualidade semelhante à encontrada na
VC [u], mas não tão alta ou posterior.
As posições de articulação dentro do quadrilátero vocálico apresentadas acima
possuem uma ampla gama de realizações se levarmos em conta diferentes variedades do
Inglês, como a Received Pronunciation (RP) britânica e o Inglês australiano, por exemplo.
Até mesmo as características de duração das vogais podem ser neutralizadas, como ocorre no
Inglês escocês.
A discussão acima
pode ser melhor visualizada
com a ajuda de um
quadrilátero vocálico
contendo todos os pontos de
produção das vogais
apresentadas em nosso estudo,
conforme a FIGURA 28.
O quadro vocálico
apresentado pode ser bastante
diferente se levarmos em
consideração diferentes
variedades do Inglês. A
dificuldade em descrever
esses sistemas criticamente nos fez optar pela apresentação do sistema vocálico que serve
como modelo para a grande maioria dos professores de ILE de nossa região, o GA.
Na seqüência apresentamos descrições acústicas dos segmentos vocálicos
anteriores do PB, de variedades do Inglês norte-americano, e do ILE comparados à língua
materna de diversos informantes.
2.5.2 Descrição acústica dos sons vocálicos anteriores do Português Brasileiro
O PB, infelizmente, não possui uma vasta literatura de descrição acústica de seus
FIGURA 28: Quadrilátero vocálico contendo as vogais tônicas
do GA (adaptada de WELLS, 1982).
61
segmentos vocálicos. Os principais dados a que tivemos acesso na composição desta revisão
teórica foram obtidos de algumas fontes que não se utilizaram da variedade sócio-dialetal da
língua materna que esperamos encontrar em nosso campo de estudo. Apesar dessa limitação,
acreditamos que os dados obtidos por Moraes, Callou e Leite (2002) e por Rauber (2006),
são importantes de serem reportados apesar de dificultarem posteriores comparações com
nossos dados provenientes de outra variedade lingüística.
Tendo em vista os objetivos de caracterização acústica das vogais anteriores em
posição tônica do PB, destacaremos esse tipo de dado na discussão a seguir.
O estudo desenvolvido por Moraes, Callou e Leite (2002), até onde sabemos, é o
mais abrangente estudo acústico já realizado envolvendo o PB. Os autores tinham por
objetivo descrever o sistema vocálico, na posição tônica, pretônica e postônica, de cinco
grandes regiões metropolitanas do Brasil: Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador
e Recife. Tendo em vista nosso objetivo de estudo na presente pesquisa, mencionamos
apenas os dados referentes às vogais tônicas anteriores.
O corpus de pesquisa constituiu-se de gravações de fala espontânea informal de
quinze locutores com formação universitária, três de cada área urbana, estratificados em três
faixas etárias (25-30 anos, 36-56 anos, 56 anos em diante). Quinze ocorrências de cada vogal
tônica estudada [i, e, E, a, ç, o, u] foram analisadas por falante. Os valores médios dos dois
primeiros formantes das vogais anteriores [i, e, E] podem ser visualizados na TABELA 1
abaixo.
TABELA 1: Médias de realização de F1/F2 das vogais tônicas [i, e, E] nas cidades pesquisadas
(MORAES; CALLOU; LEITE, 2002).
Recife Salvador Rio de Janeiro São Paulo Porto Alegre Média geral
i
ii
i
399/2235 320/2106 336/2196 336/2053 373/2213 353/2162
e
ee
e
449/2004 390/1833 400/2016 403/1953 440/1996 416/1970
E
EE
E
561/1850 480/1716 533/1833 550/1750 526/1816 530/1793
Os supracitados autores enfatizam a diferenciação dialetal encontrada nas vogais
anteriores, destacando o processo de anteriorização das vogais [i, e, E], mais presente nas
cidades de Recife, Porto Alegre e Rio de Janeiro, como podemos observar nos altos valores
de F2 encontrados no quadro acima.
Moraes, Callou e Leite (2002), após determinarem os valores dos primeiros
62
formantes nas vogais pretônicas e postônicas, passam a comparar o sistema vocálico tônico
do PB com o Português europeu e com as Vogais Cardeais. Apresentamos os dados
pertinentes às vogais anteriores na TABELA 2 abaixo.
TABELA 2: Valores de F1/F2 de algumas vogais anteriores do
Português europeu, do Português brasileiro e das Vogais Cardeais
(MORAES; CALLOU; LEITE, 2002).
Vogal Cardeal Português europeu Português brasileiro
i
ii
i
240/2400 294/2343 353/2161
e
ee
e
350/2300 403/2084 416/1950
E
EE
E
610/1900 501/1893 530/1790
Uma análise mais aprofundada dos valores acima permite-nos afirmar que, de
maneira geral, as vogais [i, e] possuem uma realização mais baixa e recuada no PB, se
comparadas ao Português Europeu e as VC. Por outro lado, a vogal [E] do PB é mais alta que
a VC e mais baixa que a vogal do Português europeu, como observado na FIGURA 29.
FIGURA 29: Pontos de realização dos sons anteriores das VC
(vermelho), do Português europeu (azul), e do PB (verde).
No segundo estudo analisado, Rauber (2006) apresenta uma pesquisa bastante
semelhante a nossa. Seus objetivos envolviam o estudo da distinção de pares mínimos
63
vocálicos semelhantes [i] [I], [E] [Q], e [U] [u] na percepção e produção de falantes
brasileiros de ILE com alto grau de fluência. A pesquisadora buscou definir qual pista
acústica (duração ou qualidade espectral) era mais utilizada na produção e percepção desses
sons.
Tendo em vista os objetivos citados, a autora se utilizou da gravação de alguns
sons vocálicos tônicos das duas línguas em diferentes contextos fonéticos em língua materna
(pV.pV, tV.kV, kV.kV, fV.fV, sV.sV) e em língua estrangeira (bVt, pVt, sVt, tVt, tVk, kVp).
As palavras resultantes foram inseridas em uma frase-veículo: “W. X and Y sound like Z”,
no Inglês, e “W. Em X e Y temos ê”, no Português. Cada letra representa uma palavra
diferente com sua vogal tônica repetida na última parte da frase numa vogal isolada
(Português) ou palavra (Inglês). Apenas as vogais contidas nas palavras que ocorrem na
posição do X e do Y das frases acima foram analisadas acusticamente.
Três grupos serviram como informantes. O primeiro grupo, constituído de
falantes nativos e monolíngües do PB, o segundo, de falante nativos e monolíngües do Inglês
Norte-Americano de Sacramento, Califórnia, sem definição acerca da variedade lingüística
utilizada, e, finalmente, o terceiro grupo, constituído por falantes nativos do PB com alto
grau de fluência no ILE. Ambos os grupos de falantes monolíngües tiveram apenas suas
vogais nativas analisadas. O terceiro grupo, entretanto, teve as vogais da língua materna e da
língua estrangeira analisadas pelos mesmos parâmetros utilizados nos outros dois grupos.
A discussão dos dados apresentados por Rauber (2006) foi dividida em duas
partes. Nesta seção descrevemos seus resultados relativos às vogais de nosso idioma materno
(falantes monolíngües do PB oriundos de diversas cidades do sul do Brasil) e posteriormente
(2.5.4) dissertamos acerca dos resultados relativos ao terceiro grupo da pesquisa
supramencionada.
O primeiro grupo de pesquisa é constituído por um total de doze integrantes, seis
homens e seis mulheres. Para efeito de homogeneidade, uma vez que em nosso estudo
fazemos uso apenas de informantes do sexo masculino, ignoramos os dados oriundos de
informantes do sexo feminino. Os participantes eram provenientes de estados da região sul
do Brasil. Os dados apresentados na TABELA 3 abaixo resumem os resultados de Rauber
(2006) para o PB.
64
TABELA 3: Médias de F1, F2, F3 (em Hz), duração (em ms.) e respectivos
valores de desvio-padrão (RAUBER, 2006).
F1/Dp F2/Dp F3/Dp Duração/Dp
i
ii
i
292/23 2212/130 2950/214 95/17
e
ee
e
344/35 2080/170 2755/200 114/19
E
EE
E
494/64 1908/133 2614/156 130/21
Ao relacionarmos esses dados de F1 e F2 aos encontrados na média geral de
Moraes, Callou e Leite (2002), percebemos que os valores de F1 são sempre mais baixos nos
dados apresentados por Rauber, indicando que essas vogais são mais altas, como observado
na FIGURA 30. A variação de duração vocálica encontrada acima pode ser explicada, de
acordo com a autora, devido à relação existente entre alongamento vocálico e posição mais
baixa da vogal no quadrilátero vocálico.
FIGURA 30: Pontos de realização das vogais anteriores nos estudos de
Moraes, Callou, e Leite (2002) (verde), e Rauber (2006) (azul).
Outros estudos envolvendo o espectro e a duração das vogais do PB, como o de
Baptista (2000), não dispõem de dados expostos na forma de tabelas com os valores dos
65
primeiros formantes como os apresentados nesta seção de nosso trabalho.
A seguir apresentamos discussão relativa à análise acústica de variantes do Inglês
norte-americano.
2.5.3 Descrição acústica dos segmentos vocálicos anteriores do Inglês norte-americano
Estudos envolvendo a descrição acústica de segmentos vocálicos do Inglês norte-
americano são mais antigos e freqüentes se comparados ao PB. Esta tradição começou com a
publicação de Peterson e Barney (1952), um estudo seminal e freqüentemente citado ainda
hoje em diversos estudos semelhantes. Analisamos, em seqüência, os estudos de House
(1961), sobre duração vocálica, Hillenbrand, Getty, Clark e Wheeler (1995), envolvendo a
caracterização acústica de vogais de uma variante do Inglês Norte-Americano. Finalmente,
descrevemos o estudo de Clopper, Pisoni e Jong (2005), caracterizando vogais de diversas
variedades regionais encontradas nos Estados Unidos.
O primeiro estudo, desenvolvido por Peterson e Barney (1952), tem por principal
objetivo investigar a relação entre a vogal identificada pelo ouvinte e a vogal objetivada pelo
falante, fazendo uma posterior relação desses fatores com o espectro vocálico.
Os autores realizaram duas gravações das vogais [i, I, E, Q, A, ç, U, u, √, Œ’]
apresentadas nas palavras heed, hid, head, had, hod, hawed, who’d, hud, e heard. Trinta e
três homens, vinte e oito mulheres e quinze crianças de diferentes regiões dos Estados
Unidos, entre eles alguns falantes de Inglês como segunda língua, serviram como
informantes. A grande maioria dos homens, segundo os autores, falavam o GA.
Dados envolvendo F0 e os três primeiros formantes foram analisados e as
gravações foram também utilizadas em um estudo perceptual envolvendo diversos ouvintes.
A taxa de erro dos testes de identificação vocálica foi baixa, considerando o nível de
variabilidade encontrada nas freqüências dos formantes de um mesmo grupo de informantes.
Dados relativos aos valores dos primeiros formantes das vogais anteriores encontrados por
Peterson e Barney serão posteriormente apresentados na TABELA 5, juntamente com os
dados de outros estudos semelhantes apresentados nesta seção.
Um dos primeiros estudos envolvendo a duração dos segmentos vocálicos do
Inglês norte-americano a que tivemos acesso foi produzido por House (1961). Nesse estudo,
66
buscou-se a obtenção de dados duracionais das vogais [i, I, eI, E, Q, A, √, Œ’, ç, oU, U, u]
em posição []CVC (onde C era sempre a mesma consoante, [] uma sílaba inicial não-
acentuada e V a vogal a ser analisada). Três informantes adultos do sexo masculino foram
utilizados para a gravação do corpus de pesquisa.
Os passos metodológicos para a determinação dos pontos de início e fim dos
segmentos vocálicos envolvem o surgimento e o desaparecimento do vozeamento, de ruído
fricativo e de estruturas formânticas no espectrograma. A aspiração não foi, portanto,
incluída nas medidas.
Todos os sujeitos apresentaram durações vocálicas semelhantes em suas médias
gerais de cada vogal, bem como em análises em que o contexto fonético de realização era
levado em consideração. Infelizmente, House (1961) não apresenta em sua discussão dados
numéricos de duração de cada um dos segmentos analisados, preferindo fazer uso de gráficos
que impedem a precisa determinação da duração vocálica.
As vogais anteriores possuem valores de duração significativamente diferentes se
levarmos em consideração as diferenças encontradas entre vogais anteriores tensas [i, eI, Q]
e frouxas [I, E]. A vogal [Q] é classificada por House (1961) como vogal tensa, a nosso ver,
devido as suas características de alongamento vocálico em todas as posições fonéticas
testadas. Todavia o autor reconhece que essa classificação é sujeita a discussão. As
diferenças duracionais entre vogais tensas e frouxas envolvem períodos de cerca de cem
milissegundos entre as duas categorias.
O fator determinante de duração vocálica, entretanto, envolve o vozeamento da
consoante seguinte à vogal. Em caso de consoante vozeada, a vogal é alongada, em caso de
consoante desvozeada, a vogal é reduzida. Outro fator secundário que colabora com o
fenômeno do alongamento vocálico envolve a classificação da vogal como alta, média ou
baixa, em que o grau de abertura da vogal se relaciona a sua duração.
O autor chega à conclusão de que as diferenças de duração entre as vogais do
Inglês não são dependentes de processos fisiológicos, mas sim fonológicos. Como argumento
sustentador da afirmação, House (1961) cita o fato de que as vogais frouxas possuem duração
menor que seus correspondentes tensos, apesar de se localizarem em posições mais baixas do
trato vocal, o que deveria determinar o inverso, considerando apenas fatores fisiológicos.
Após esta primeira leva de estudos acústicos envolvendo vogais do Inglês Norte-
Americano, destacamos estudos mais recentes.
67
Hillenbrand, Getty, Clark e Wheeler (1995), reconhecendo a ausência de medidas
de duração e da origem diversa dos informantes no estudo de Peterson e Barney (1952),
objetivaram a realização de uma pesquisa por meio da qual possam suprir essas deficiências.
Hillenbrand et al (1995) buscam, através da análise das vogais produzidas por
quarenta e cinco homens, quarenta e oito mulheres e quarenta e seis crianças (vinte e sete
meninos e dezenove meninas) entre dez e doze anos de idade, determinar duração vocálica,
contornos de F0 e os primeiros formantes. Os informantes, todos falantes nativos da região
de Michigan ou imediações, foram selecionados após a realização de duas gravações, uma
envolvendo conversa espontânea e a outra envolvendo a leitura de um pequeno texto. As
gravações foram posteriormente analisadas e caso o informante possuísse algum tipo de
desvio que o caracterizasse como não usuário do GA sua participação nos experimentos era
vetada.
Doze sons vocálicos [i, I, eI, E, Q, A, ç, oU, U, u, √, Œ’], e mais alguns
distratores, foram gravados em palavras do tipo [h]V[d] por pelo menos três vezes, no caso
dos adultos, e duas vezes, no caso das crianças. As palavras foram apresentadas em forma de
lista aleatória, com cada participante tendo que escolher uma opção entre doze
possibilidades.
Os resultados, com relação à duração de vogais anteriores realizadas por
informantes adultos de ambos os sexos, podem ser observados na TABELA 4 abaixo.
Hillenbrand et al (1995) chegaram à conclusão de que mulheres produzem sons vocálicos
significativamente mais longos que homens. Os autores, entretanto, não justificam o porquê
desse fato.
TABELA 4: Duração (em ms) dos segmentos
vocálicos anteriores de homens e mulheres
(HILLENBRAND et al, 1995).
i
I
eI
E
Q
Homens
243 192 267 189 278
Mulheres 306 237 320 254 332
Percebemos claramente a distinção de duração presente nos componentes dos
pares [i] [I] e [Q] [E], sendo o primeiro componente do par consistentemente realizado
com maior duração que o segundo por informantes de ambos os sexos.
68
No tocante aos dados envolvendo valores dos formantes obtidos por Hillenbrand
et al (1995), os valores médios apresentados na TABELA 5 em seqüência são os que
possuíram o maior grau de identificação pelos ouvintes na fase de percepção do estudo. A
tabela em questão também apresenta os valores obtidos por Peterson e Barney (1952).
Fizemos uso apenas das médias provenientes de informantes do sexo masculino devido as
comprovadas diferenças entre os valores formânticos de homens e mulheres.
TABELA 5: Média (em Hz) de F1/F2 dos segmentos vocálicos anteriores de homens nos dois estudos.
i
I
eI
E
Q
Peterson e Barney (1952)
270/2290 390/1990 - 530/1840 660/1720
Hillenbrand et al (1995) 342/2322 427/2034 476/2089 580/1799 588/1952
Como podemos observar, grandes diferenças ocorrem nos valores especialmente
de F1, denotando, de maneira geral, que as vogais anteriores [i, I, E] do estudo de
Hillenbrand et al (1995) são mais baixas que as analisadas por Peterson e Barney (1952). A
vogal [Q] no estudo realizado por Hillenbrand et al (1995), entretanto, possui uma qualidade
de altura bastante semelhante à vogal [E], mas com um grau diferente de anteriorização. Essa
constatação advém dos valores semelhantes de F1 presentes nas duas vogais (580 Hz para [E]
e 588 Hz para [Q]). A FIGURA 31 ilustra o conteúdo dessa discussão.
Dando seqüência aos
estudos de Peterson e Barney (1952)
e Hillenbrand et al (1995), Clopper,
Pisoni e Jong (2005) buscam
determinar as características
acústicas das vogais de seis dialetos
regionais do Inglês norte-americano.
O objetivo principal do estudo
envolveu a obtenção de
conhecimento acerca da estruturação
desses dialetos no tocante à
qualidade e à duração vocálica. A
FIGURA 32 abaixo mostra-nos as
seis regiões estudadas, bem como as cidades natais dos diversos informantes.
FIGURA 31: Pontos de realização das vogais anteriores
do GA por Peterson e Barney (1952) (
vermelho) e
Hillenbrand et al (1995) (azul).
69
FIGURA 32: Mapa das seis regiões norte-americanas estudadas (CLOPPER;
PISONI; JONG, 2005).
Quarenta e oito sujeitos entre dezoito e vinte e cinco anos, de ambos os sexos,
todos falantes monolíngües de Inglês Americano foram analisados. Quatro homens e quatro
mulheres de cada uma das regiões Oeste, Sul, Norte, Nova Inglaterra, Central e Meio-
Atlântico foram selecionados. Onze vogais foram analisadas:
[i, I, eI, E, Q, √, A, ç, oU, U, u]. Os ditongos tiveram apenas sua primeira vogal analisada.
Apenas a vogal [ç], analisada nas palavras frogs e log, foi gravada em um contexto fonotático
que não o [h]V[d], utilizado na produção das outras vogais. Cada vogal teve cinco
realizações estudadas com exceção, mais uma vez, da vogal [ç], com três gravações de cada
palavra apresentada anteriormente.
Os autores usam gráficos contendo as informações de freqüência dos dois
primeiros formantes para ilustrar as seguintes conclusões com relação às vogais anteriores de
informantes do sexo masculino:
a) o som [i] não apresenta variação significativa entre os dialetos;
b) o som [I] também não apresenta variação significativa entre os dialetos;
c) diferença significativa na realização do som [eI] sulista, mais baixo que nos
dialetos da Nova Inglaterra e do Meio-Atlântico, e mais centralizado que o
apresentado no dialeto do Meio-Atlântico;
d) diferença significativa na realização do som [E] sulista, mais alto que os
70
encontrados nos dialetos da Nova Inglaterra, do Norte, do Oeste, e da região
Central, e mais centralizado que os dialetos da Nova Inglaterra e do Norte;
e) diferença significativa na realização do som [Q] no Norte, mais alto e anterior
que todos os outros dialetos, e no Sul, onde [Q] é mais avançado que os
encontrados na região do Meio-Atlântico e Oeste.
As diferenças apontadas acima se relacionam, no caso do dialeto sulista, com o
processo de mudança vocálica que atualmente ocorre nessa região, chamado Shouthern
Vowel Shift (Alteração vocálica sulista). O dialeto nortista, por outro lado, apresenta seu
processo correspondente, o Northern Cities Chain Shift (Alteração vocálica das cidades do
norte), descrito anteriormente por Labov (1998, apud CLOPPER; PISONI; JONG, 2005). É
pertinente lembrar que as características espectrais encontradas na análise do estudo anterior
(HILLENBRAND et al, 1995) indicavam as alterações vocálicas detectadas na FIGURA
33 no tocante às vogais [E, Q], muito mais próximas uma da outra se comparadas a outros
dialetos.
Uma figura contendo todos os valores médios das variedades estudadas por
Clopper, Pisoni e Jong (2005) não nos é apresentada. Entretanto, Rauber (2006) apresenta em
sua tese de doutorado uma figura contendo tais dados referentes ao estudo anterior. Optamos
por ilustrar nossa discussão apenas com o gráfico dos pontos de realização vocálica
apresentado na FIGURA 34 devido à maior facilidade de visualização dos dados se
comparado a uma tabela.
FIGURA 33: Movimento dos pontos de realização das vogais
influenciadas pelo Northern Cities Chain Shift (CLOPPER;
PISONI; JONG, 2005).
71
FIGURA 34: Pontos de realização das vogais de cinco regiões dos Estados Unidos: Nova
Inglaterra (preto), Meio-Atlântico (azul), Norte (verde), Central (amarelo), Sul (cinza), e Oeste
(vermelho) (RAUBER, 2006).
As discussões apresentadas envolvendo variantes do PB e do Inglês norte-
americano são de grande importância em nosso estudo devido a duas características
principais.
A primeira relaciona-se ao grau de variação encontrada na realização de todas as
vogais analisadas. Diferentes variedades regionais do Inglês ou do Português, caracterizadas
por dinâmicas articulatórias próprias, estão refletidas na representação acústica dessas
variantes. Evidenciamos esse fato em nossa discussão envolvendo o PB e, especialmente, em
nossa discussão acústica das vogais do Inglês norte-americano. A variação pode ser definida
como a regra, e não a exceção, nas realizações vocálicas tanto em nossa língua materna
quanto na língua estrangeira ora analisada.
Acreditamos, portanto, que a obtenção de dados referentes aos sons vocálicos
anteriores no nosso estudo contribuirá para uma descrição acústica mais acurada das
72
variedades regionais do PB. Por outro lado, o estudo acústico de sons vocálicos anteriores do
ILE enriquecerá a crescente literatura nessa área de pesquisa.
Um segundo ponto importante da leitura e discussão dos estudos acima
apresentados diz respeito à metodologia de pesquisa utilizada na obtenção dos corpora
analisados acusticamente. Diversos procedimentos metodológicos, desde a análise de
palavras isoladas até a análise de fala espontânea, foram utilizados. Isso nos propiciou uma
visão geral de diversas metodologias para a obtenção de dados e nos ajudou a desenvolver
um conjunto de experimentos para a gravação de vogais em diferentes contextos prosódicos.
Nossa próxima seção, a penúltima deste capítulo de fundamentação teórica,
apresenta considerações acerca do caráter acústico das vogais do ILE.
2.5.4 Descrição dos sons vocálicos anteriores do Inglês ngua estrangeira comparados aos
do Português Brasileiro
O número de estudos contendo a produção de segmentos vocálicos por usuários
de Inglês como segunda língua ou língua estrangeira é bastante grande (BAKER;
TROFIMOVICH, 2005; FLEGE; MacKAY, 2004; FLEGE; SCHIRRU; MacKAY, 2003;
HØJEN; FLEGE, 2006; JIA; STRANGE; WU; COLLADO; GUAN, 2006; CEBRIAN,
2006; para citar exemplos mais recentes). Os principais fatores de influência na produção de
segmentos de uma língua estrangeira/segunda língua são a idade no início da aprendizagem
da língua estrangeira/segunda língua e período de estada no país onde a língua-alvo é usada
como idioma nativo.
Nesta seção, teremos como foco o Inglês como segunda língua/língua estrangeira
de falantes nativos de PB desenvolvidos por Baptista (2000), e Rauber (2006). Todavia,
vamos iniciar nossa discussão explorando um estudo envolvendo falantes de Inglês Norte-
Americano como segunda língua com informantes coreanos.
Baker e Trofimovich (2005) nos apresentam um estudo importante envolvendo as
duas variáveis: idade de exposição ao idioma estrangeira e período de estada. A pesquisa
envolvendo quatro grupos, dois de jovens e dois de adultos. Os autores buscaram determinar
até que ponto os sistemas da ngua materna e da segunda língua interagem em aprendizes
73
jovens e tardios do Inglês. Aprendizes jovens eram definidos como aqueles que travaram
contato com a segunda língua antes da puberdade, e do período de lateralização cerebral, que
dificulta o aprendizado de línguas estrangeiras. Aprendizes tardios, por outro lado, iniciaram
seus contatos com o Inglês após esse processo estar completo e possuem maior probabilidade
de terem sotaque estrangeiro.
Baker e Trofimovich (2005) começaram por determinar as freqüências dos
primeiros formantes vocálicos de vinte falantes monolíngües do Inglês e do Coreano. Para
isso fizeram uso de um experimento em que os sons [i, I], [E, Q], [U, u] do Inglês norte-
americano, e [i, e, E, u, ˆ], do Coreano, foram analisados em contextos fonotáticos
semelhantes. As gravações foram realizadas com um número igual de falantes adultos e de
crianças.
Uma vez determinados os valores relativos às vogais de informantes
monolíngües, os autores, em um segundo experimento idêntico ao primeiro, determinam as
freqüências médias de quatro grupos de informantes. Dois grupos são constituídos por
adultos e dois por crianças. Os grupos constituídos por aprendizes tardios são diferenciados
pela experiência, entendida como tempo de estada nos Estados Unidos, em Late + 1 e Late +
7, em que os números indicam o período médio de estada de seus integrantes no país
estrangeiro. O mesmo tipo de classificação ocorre com os aprendizes jovens e recebem a
denominação Early + 1 e Early + 7. Os grupos constituídos por aprendizes jovens não
possuem diferença significativa na média de idade do primeiro contato com a língua inglesa.
Os resultados dos grupos de aprendizes tardios indicaram que eles não possuem
diferenças significativas nas realizações das vogais do Inglês analisadas. Esses aprendizes,
entretanto, obtiveram sucesso na formação de uma nova categoria vocálica na região
anterior-baixa do espaço vocálico correspondente às vogais do Inglês [E] e [Q]. O
estabelecimento dessa nova categoria foi facilitada pela falta de correspondência entre a
região vocálica do inglês e as vogais do coreano.
Os aprendizes jovens, entretanto, apresentaram resultados um pouco diferentes.
Ambos os grupos produzem diferenças significativas entre o par [i] - [I] de vogais altas da
segunda língua. O grupo Early + 7 diferencia-se do Early + 1 por produzir diferenças
significativas entre as realizações dos fonemas [E] [Q] e [U] [u] do Inglês. Entretanto,
esses resultados quando comparados às médias de falantes nativos, ainda denotavam
diferenças significativas entre as vogais [I, Q, U]. Mesmo em condições que a literatura
74
considera como ideais para o aprendizado de um idioma estrangeiro, o estabelecimento de
novas categorias vocálicas por falantes não-nativos é difícil de ser atingido se tomarmos
como parâmetro as categorias vocálicas de falantes nativos.
Passamos a discutir, a partir deste ponto, estudos envolvendo informantes
falantes do PB como língua materna.
No que nos parece ser a primeira pesquisa relevante envolvendo produções
vocálicas do Inglês por falantes nativos do PB envolvendo os preceitos da fonética acústica,
Baptista (2000) realizou um estudo longitudinal das vogais não-posteriores em onze
brasileiros residindo nos Estados Unidos.
Os informantes constituíam um grupo de cinco homens e seis mulheres de
diversos estados brasileiros. Todos possuíam uma estada máxima de seis meses na região de
Los Angeles quando do início da coleta de dados. O nível de competência comunicativa dos
informantes variava, segundo a percepção da autora, entre o iniciante completo e o
intermediário.
Os sons do Inglês analisados por Baptista (2000) foram [i, I, eI, E, Q, A, √]. Com
o objetivo de comparar os segmentos vocálicos do Inglês como segunda língua com sons
similares da ngua materna, a autora também investiga as realizações de [i, e, eI, E, a] do
idioma nativo de seus informantes. O contexto fonotático de produção, no Inglês, envolvia
palavras monossilábicas CVC começando por um som que não fosse uma líquida ou
semivogal e terminando com a articulação do som [t]. A combinação fonotática do PB teve
de ser ligeiramente alterada tendo em vista as diferenças entre as línguas. Foram selecionadas
palavras dissílabas e trissílabas terminadas em [ta]. As palavras foram inseridas nas frases-
veículo “Say X now” e “Fala X de novo”. No quinto encontro com seus informantes,
Baptista (2000) alterou seu quadro de vogais analisadas do PB, retirando [eI], cujo primeiro
elemento era bastante similar ao som [e], e inserindo o som [ç], que a autora acreditava estar
influenciando a produção do som [A] do Inglês.
O procedimento de coleta de dados começou, no primeiro encontro, com a
gravação da leitura das frases-veículo do Português. Subseqüentemente os informantes
faziam um aquecimento prolongado de uso do Inglês. Eles eram então solicitados a lerem
uma pequena história e a recontá-la sem a ajuda do texto. Finalmente, as listas de frases
veículo do Inglês eram lidas. Subseqüentes encontros não contaram mais com a parte
destinada à gravação do Português, com exceção do quinto, mencionado anteriormente.
75
Os pontos centrais de cada vogal foram analisados quando estes coincidiam com
uma estabilização do formante. No caso do som [eI], o ponto de análise ficou estabelecido
como sendo vinte e cinco milisegundos anterior ao movimento característico de mudança de
qualidade vocálica.
As conclusões de Baptista (2000) apontam para uma adaptação holística,
envolvendo reposicionamento de todas as vogais, do sistema vocálico anterior do Inglês na
fala dos aprendizes brasileiros. Na aquisição do som [I], por exemplo, alguns informantes
baixaram a posição do som [eI] no espaço vocálico. Outros exemplos envolvem a produção
da vogal [Q] que foi atingida parcialmente pelo alçamento de [eI] em um informante e pelo
reajuste dos sons [A, √] noutro sujeito. De maneira geral, a autora afirma que os aprendizes
brasileiros de Inglês possuíam um sistema de vogais do Inglês que se baseava no sistema do
PB.
No último estudo apresentado nesta seção, lembramos que as vogais do Inglês
pesquisadas por Rauber (2006) foram [i, I, eI, E, Q, √, A, ç, oU, U, u] dentro dos contextos
bVt, pVt, sVt, tVt, tVk, e kVt. A inexistência de todas as vogais nos contextos fonéticos
supracitados levou a autora a se utilizar de cinco palavras, contendo combinações
consonantais diferentes, uma palavra sem onset (ought) e de uma palavra sem sentido (tuke).
Um total de dezoito participantes (11 mulheres e 7 homens) tomaram parte dos experimentos
de percepção e produção das vogais em questão. A frase-veículo foi “W. X and Y sound like
Z”, em que cada letra maiúscula corresponde a uma das palavras do corpus da pesquisa. A
palavra descrita pela letra W possuía o contexto bVt e não foi analisada acusticamente, o
mesmo ocorrendo com a palavra representada na posição Z. Figuras contendo os sons
vocálicos estudados em posição tônica foram utilizadas antes das frases-veículo para facilitar
a produção da vogal desejada.
O experimento envolvendo a percepção dos falantes de ILE constituiu-se de
vogais apresentadas isoladamente. Estas constituíam um continuum de trezentas e trinta e
nove vogais com quatorze valores de F1, dez de F2 e três diferentes durações (100, 141 e 200
ms.). O teste consistia na escuta de um som vocálico e da subseqüente escolha, entre uma das
onze vogais estudadas, da vogal mais semelhante.
Discutimos abaixo os resultados dos dois experimentos no grupo de informantes
do sexo masculino com relação às vogais anteriores.
Os testes de percepção determinaram que os informantes fazem uso da duração
76
vocálica para a distinguir os pares [i] - [I] e [E] - [Q]. Os componentes do primeiro par são
percebidos de maneira semelhante aos nativos, o que não ocorre com os componentes do
segundo par.
Com relação à produção dos segmentos vocálicos, o par [E] - [Q] foi o menos
distinto, levando em conta as médias das distâncias euclidianas. O par [i] - [I], por outro lado,
apresentou valores bem mais altos de separação, semelhante a falantes nativos. Podemos
observar, na FIGURA 35 abaixo (RAUBER, 2006), a inexistência de sobreposição dos dois
primeiros formantes do par [i] - [I]. O par [E] - [Q], por outro lado, apresenta um alto grau de
sobreposição no espaço vocálico. Os círculos indicam o valor de um desvio padrão.
FIGURA 35: Vogais do Português (cinza) e do ILE (preto) (RAUBER, 2006).
O som [i] do ILE não apresenta diferença significativa se comparado aos dados
relativos à vogal correspondente em nossa língua materna. O som [I] do ILE é
significativamente mais baixo e posterior que a vogal [i] do PB, se assemelhando ao som [e].
Ambas as vogais do par [E] - [Q] são produzidas de forma significativamente mais baixa e
77
posterior que o som [E] do Português.
Com relação à duração dos segmentos anteriores analisados, não foram
encontradas diferenças significativas na produção dos informantes brasileiros e de falantes
nativos do Inglês Norte-Americano. As vogais [E] e [I] foram produzidas com redução
significativa de duração pelos informantes brasileiros, respectivamente dos sons [Q] e [i].
Resultados semelhantes são encontrados nas análises pertinentes ao grupo composto por
informantes brasileira do sexo feminino.
Com o fim de nossa discussão acerca do referencial teórico que tomamos como
base para a consecução de nosso estudo, apresentamos, em nossa última seção, um breve
resumo dos mais importantes pontos até agora explicitados.
2.6 Resumo
Este capítulo apresentou a fundamentação teórica da presente pesquisa: a Teoria
das Vogais Cardeais (JONES, 1976), a Teoria Acústica de Produção da Fala (FANT, 1960),
considerações acerca dos pontos de contato entre as duas teorias supracitadas e, finalmente,
caracterizações acústico-articulatórias do Inglês e do Português, conforme propostas de
diversos autores.
A respeito da Teoria das Vogais Cardeais (2.2), mencionamos seu status de
precursora na caracterização de sistemas vocálicos, além de explicitar os preceitos teóricos
por trás dos gestos articulatórios característicos das Vogais Cardeais primárias e secundárias.
Terminamos a seção ao apresentarmos discussão acerca dos diacríticos normalmente
utilizados na descrição dos segmentos vocálicos do Português e do Inglês.
Nossa discussão envolvendo os fundamentos da Teoria Acústica de Produção da
Fala (2.3), por outro lado, foi norteada pela apresentação das características acústico-
articulatórias da fonte e do filtro sonoro, bem como os aspectos acústicos da radiação
característica.
Na seção envolvendo os pontos de contato entre as duas teorias (2.4),
enfatizamos a relação entre a Teoria das Vogais Cardeais e seus preceitos na descrição
fonológica de sistemas vocálicos. Expomos também o fato de que estudos envolvendo
análises baseadas na Teoria Acústica de Produção da Fala são normalmente usados quando se
78
busca uma pesquisa fonética. Tentamos deixar claro, entretanto, que a duas teorias em
apresentadas o são excludentes e que a utilização dos pontos fortes de cada teoria
enriquece sobremaneira o conteúdo de estudos envolvendo sons vocálicos.
Nossa última seção apresentou uma descrição pormenorizada dos sistemas
vocálicos do Português brasileiro e do Inglês norte-americano GA (2.5). Descrições acústicas
dos dois sistemas foram discutidas apenas no tocante às vogais anteriores das duas nguas.
Por fim, apresentamos dados acústicos relativos a pesquisas envolvendo o Inglês como
segunda língua/língua estrangeira.
O próximo capítulo deste estudo apresenta considerações acerca dos passos
metodológicos seguidos na coleta/análise de dados.
79
3 METOLOGIA
3.1 Introdução
Esta pesquisa desenvolve uma metodologia descritivo-experimental visando ao
estudo dos sons vocálicos anteriores do PB e do ILE realizados por professores na região
oeste do estado do Rio Grande do Norte.
Neste capítulo, descreveremos nossos informantes (3.2), os contextos de produção
e experimentos (3.3) que faremos uso em nossa análise dos sons vocálicos estudados na
língua materna [i, e, eI, E] e no Inglês língua estrangeira [i, I, eI, E, Q]. Faremos ainda a
descrição do hardware e software (3.4) utilizados para a realização/análise das gravações.
Descreveremos também as técnicas envolvidas visando a uma homogeneização dos nossos
procedimentos no tocante à análise dos formantes (3.5) e da duração (3.6) vocálica. Por fim,
descrevemos os passos metodológicos referentes à análise estatística (3.7) dos dados obtidos
em nossa pesquisa, e apresentaremos um sumário do capítulo (3.8).
3.2 Informantes
Vinte (20) informantes residentes ou que lecionam em três cidades-pólo da região
oeste potiguar foram selecionados. As cidades de Açu (população: 51.262 habitantes),
Mossoró (234.390 habitantes) e Pau dos Ferros (26.728 habitantes) (IBGE, 2007) constituem-
se também em centros de ensino de Inglês língua estrangeira devido ao fato de possuírem o
curso de Letras com Habilitação em Língua Inglesa pela Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte – UERN. A localização de tais cidades se encontra na FIGURA 36.
80
FIGURA 36: Mapa das regiões de Açu, Mossoró e Pau dos Ferros no estado do Rio Grande do
Norte (adaptada de WIKIPEDIA, 2008).
Doze (12) informantes foram selecionados na cidade de Mossoró, quatro (04) em
Açu, e quatro (04) em Pau dos Ferros. O maior número de informantes em Mossoró se
justifica devido à maior população da chamada “capital do Oeste” em relação às outras
cidades visitadas. Os informantes foram designados M1 a M12 (provenientes de Mossoró),
A1 a A4 (Açu), e P1 a P4 (Pau dos Ferros).
A coleta de dados ocorreu entre os dias 10 de julho e 07 de agosto de 2007.
Realizamos no total 24 gravações. Selecionamos desse total as 20 gravações (16 horas e 25
minutos de gravações) possuidoras das melhores qualidades técnicas para a nossa análise de
dados.
Todos os informantes eram professores de Inglês no período em que a coleta de
dados foi realizada. O tempo médio de magistério dos sujeitos era de 8,4 anos. A idade média
dos participantes foi de 31,1 anos. Nenhum dos informantes reportou problemas de audição,
períodos de residência fora do Brasil ou o hábito do fumo. O Inglês ou outros idiomas não são
falados na residência de nossos informantes. Além disso, apenas três deles estudam outro
idioma estrangeiro atualmente além do Inglês.
Com relação ao nível de proficiência das habilidades orais do ILE, em uma auto-
avaliação, os informantes do estudo revelaram uma média 3,6 para a compreensão e 3,75 para
a produção oral numa escala de 1 a 5. Nossos informantes estudam Inglês a cerca de 12,3
anos. O estudo dessa língua estrangeira foi iniciado por volta dos 18 anos e atualmente 5,4
81
horas semanais são dedicadas ao seu estudo. Apenas três informantes reportaram ter o Inglês
Britânico como variedade alvo.
A prática do Inglês fora de sala de aula ocupa uma média de 3,4 horas semanais.
75% dos sujeitos conversam com amigos para aprimorarem a fluência oral do idioma. 95%
dos informantes se utilizam dos meios de comunicação (rádio e TV) para praticar a
compreensão oral. O questionário utilizado para a obtenção desses dados pode ser encontrado
em nosso APÊNDICE A. O QUADRO 3 apresenta um sumário das informações relativas aos
sujeitos de pesquisa.
QUADRO 3: Sumário dos informantes.
Inf. Idade
Tempo de
docência
(anos)
Escolaridade
Cidade de
nascimento
Cidade onde
passou maior
parte da vida
M1
27 5
Estudante
graduação
Mossoró-RN Mossoró-RN
M2
24 4
Estudante
graduação
Fortaleza-CE Mossoró-RN
M3
24 6 Graduado Mossoró-RN Mossoró-RN
M4
38 6 Graduado Mossoró-RN Mossoró-RN
M5
31 3 Graduado Mossoró-RN Mossoró-RN
M6
28 2 Graduado Mossoró-RN Mossoró-RN
M7
56 34 Especialista Mossoró-RN Mossoró-RN
M8
26 7 Graduado Recife-PE Mossoró-RN
M9
28 5
Superior
incompleto
Mossoró-RN Mossoró-RN
M10
22 2
Estudante
graduação
Mossoró-RN
Areia Branca-
RN
M11
20 3
Estudante
graduação
Mossoró-RN Mossoró-RN
M12
31 3
Estudante
graduação
Mossoró-RN Mossoró-RN
A1
32 8 Especialista
João Pessoa-
PB
Açu-RN
A2
38 18 Especialista Açu-RN Açu-RN
A3
19 2
Estudante
graduação
Mossoró-RN Açu-RN
A4
55 30 Mestre
Ipanguaçu-
RN
Açu-RN
P1
28 6
Estudante
mestrado
Upanema-RN Upanema-RN
P2
33 6
Estudante
mestrado
Tenente
Ananias-RN
Tenente
Ananias-RN
P3
32 9 Especialista Limoeiro-CE
Areia Branca-
RN
P4
31 9 Especialista
Areia Branca-
RN
Carnaubais-
RN
82
Daremos seqüência a nosso estudo dissertando acerca das escolhas pertinentes aos
contextos de produção dos sons vocálicos e dos experimentos desenvolvidos visando a
elicitação dos dados.
3.3 Contextos de produção e experimentos
O contexto prosódico e lexical de produção das vogais estudadas foi o de sílaba
acentuada em posição não-final tanto no PB quanto no ILE dos nossos informantes. O
contexto fonotático dos itens lexicais utilizados para a realização dos sons analisados,
entretanto, foi ligeiramente diferente tendo em vista as diferentes combinações permitidas
nos dois idiomas.
3.3.1 Contexto de produção e experimentos relativos aos sons vocálicos do Português
Brasileiro
Todas as vogais do PB foram realizadas dentro de uma combinação fonética
envolvendo o modelo P(v/d)V.P(d)V em posição de acento frasal não-final. Fizemos uso de
itens lexicais dissilábicos possuidores de acento primário na primeira laba, sendo esta
possuidora de som plosivo (P), vozeado (v) ou desvozeado (d) em posição de onset, seguida
da vogal a ser analisada (V). A segunda sílaba de tais itens lexicais era iniciada
obrigatoriamente por consoante plosiva (P) desvozeada (d) e uma vogal pós-tônica final (V).
Estas restrições resultaram nas seguintes combinações fonotáticas:
(a) com consoante vozeada em posição de onset na primeira sílaba
8
: bVtV, dVtV,
bVpV, bVkV, dVkV;
(b) com consoante desvozeada em posição de onset na primeira sílaba: pVtV,
tVtV, kVtV, pVpV, tVpV, kVtV, pVkV, tVkV, kVkV.
Após cuidadosa análise optamos pelas estruturas bVkV, pVtV, e tVtV devido ao
fato de essas combinações possibilitarem um maior número de exemplares com as diferentes
8
As combinações gVtV, dVpV, gVpV, e gVkV não resultaram na obtenção de itens lexicais do PB
contendo os sons vocálicos analisados.
83
vogais analisadas. As palavras resultantes desse processo de seleção, contendo os sons
vocálicos [i, e, eI, E], são apresentadas no QUADRO 4 abaixo.
QUADRO 4: Palavras do PB a
serem analisadas.
bVkV pVtV tVtV
bica
deita
beco
beca
Pito
peita
peta (ê)
peta (é)
Tita
deito
teta
teto
Como podemos observar no quadro acima, as combinações descritas
anteriormente não são capazes de compor um quadro contendo todas as vogais anteriores do
PB numa mesma combinação fonética. Tendo em vista esse fato, inserimos as palavras deita
e deito para compensar a impossibilidade de inserção do ditongo [eI] em dois dos contextos
supracitados.
As palavras mencionadas foram inseridas em frases-veículo do tipo “X. Diga X
alto”. O primeiro X da frase-veículo era uma palavra semelhante em combinação fonotática
às apresentadas acima e possuía a mesma vogal acentuada da palavra analisada, e.g., Fica.
Diga bica alto”. As características da vogal acentuada em fica serviram de apoio à produção
da vogal de bica. Analisamos acusticamente apenas a segunda palavra apresentada, sendo a
primeira descartada. Tais palavras, quando adicionadas antes da frase veículo nos ajudaram
ainda a ocultar o real objetivo de nosso trabalho.
Esse artifício foi especialmente importante devido ao fato de termos selecionado
uma palavra não muito conhecida em nossa região: a palavra p[e]ta, sinônimo de mentira.
Essa palavra poderia ter sua pronúncia confundida com a palavra p[
E
]ta, utilizada no
jargão da informática, mas também não muito conhecida, para designar uma unidade de
1.048.576 gigabytes de memória. Podemos visualizar as palavras utilizadas inseridas em
frases-veículo no APÊNDICE B.
Foram adicionados mais 12 distratores, palavras com o intuito de desviar a
atenção dos informantes do real objetivo do experimento, inseridos em suas respectivas
frases-veículo às palavras a terem seus sons vocálicos tônicos analisados acusticamente,
descritas anteriormente (APÊNDICE C). Portanto, um total de 24 cartões, cada um contendo
uma frase-veículo, foram impressos com o objetivo de servirem de material de apoio à
84
realização dos experimentos. Esse procedimento objetivou evitar alterações na prosódia, o
que poderia ter ocorrido caso os informantes visualizassem todas as frases em seqüência.
No início do procedimento, os cartões foram embaralhados e colocados frente ao
sujeito, que os lia silenciosamente. Após essa familiarização com os cartões, era solicitado ao
informante a leitura de cada um dos cartões num tom/velocidade de voz normal. O
procedimento se repetia mais duas vezes, totalizando três leituras, com o objetivo de
averiguar melhor a média dos valores analisados.
Obtivemos, dessa forma, um total de 36 vogais do PB de cada informante, sendo
nove exemplares de cada uma das quatro vogais analisadas nessa fase. Os números totais
chegam a 720 vogais, sendo essas divididas em quatro grupos [i, e, eI, E] de 180 integrantes
cada. O experimento em questão doravante será denominado POR1.
Gravações envolvendo o PB no experimento POR1 se resumiram aos números
apresentados acima. Acreditamos que esse total de gravações foi significativo devido ao fato
de retratarmos a primeira língua dos nossos sujeitos de pesquisa, em que encontramos uma
maior estabilidade do que na língua estrangeira analisada.
Um segundo procedimento foi utilizado para a obtenção de sons vocálicos dentro
de um contexto prosódico menos controlado que o encontrado no experimento POR1. Esse
segundo procedimento baseia-se em uma atividade de role-play, um tipo de exercício
bastante utilizado atualmente em salas de aula e que possui suas bases na abordagem
comunicativa do ensino de línguas estrangeiras (CELCE-MURCIA; BRINTON;
GOODWIN, 1996).
Fizemos uso de um mapa de uma pequena cidade. As ruas eram nomeadas
contendo algumas das palavras utilizadas no experimento POR1, a saber: Tita, beco, deito, e
beca. Nesse novo experimento, apenas um distrator foi utilizado, a palavra Deco. As palavras
a serem analisadas eram sempre seguidas de outras palavras a fim de simular um contexto
prosódico não-final semelhante ao do experimento POR1, em que todas as palavras eram
realizadas em posição não-final.
O procedimento de coleta de dados consistia na apresentação do referido mapa.
Permitíamos aos informantes alguns momentos para sua visualização e, em seqüência,
solicitávamos a verbalização do caminho a ser percorrido de um ponto a outro da cidade.
Outras verbalizações eram solicitadas a fim de averiguar se o sujeito tinha apreendido o
objetivo do procedimento. Os materiais usados neste experimento são apresentados no
APÊNDICE D.
85
Após esse período de adaptação, solicitávamos a verbalização dos caminhos a
serem percorridos para diversos pontos da cidade. Cinco realizações de cada palavra foram
analisadas acusticamente nesse procedimento. Obtivemos, portanto, 20 vogais por
informante, totalizando 400 sons vocálicos divididos em quatro grupos vocálicos [i, e, eI, E]
de 100 componentes cada. Esse procedimento doravante será chamado experimento POR2.
Passaremos a descrever, a partir deste momento, nossas escolhas relativas aos
contextos de produção e procedimentos experimentais das vogais do ILE.
3.3.2 Contexto de produção e experimentos relativos aos sons vocálicos do Inglês língua
estrangeira
Todas as vogais do ILE foram realizadas dentro de palavras monossilábicas
possuidoras de acento frasal não-final, dentro do modelo P(v/d)VP(d). As combinações
fonéticas permitidas na composição de nosso corpus de pesquisa se limitaram, dessa forma, a
sons plosivos (P), vozeados (v) ou desvozeados (d), em posição de onset e sons plosivos (P)
desvozeados (d) em posição de coda
9
silábico. Essas restrições resultaram nas seguintes
estruturas:
(a) com consoante vozeada em posição de onset: bVt, dVt, gVt, bVp, dVp, gVt,
bVk, dVk, gVk;
(b) com consoante desvozeada em posição de onset: pVt, tVt, kVt, pVp, tVp,
kVt, pVk, tVk, kVk.
Após análise, optamos pelas estruturas bVt, bVk, kVt, tVt, tVp devido ao fato de
essas possibilitarem um maior número de exemplares com as diferentes vogais analisadas. As
palavras resultantes desse processo de seleção, contendo os sons vocálicos [i, I, eI, E, Q], são
apresentadas no QUADRO 5.
9
De acordo com Trask (1996) o onset é definido como a primeira parte da sílaba, precedendo a rima.
Tipicamente consiste de todas as consoantes que precedem a vogal. Por outro lado, a coda é definida como a
parte da sílaba que se segue ao núcleo e que contém qualquer consoante final. O núcleo e a coda constituem a
rima silábica.
86
QUADRO 5: Palavras do Inglês a serem
analisadas.
bVt bVk kVt tVt tVp
beat
bit
bate
bet
bat
beak
Bic
bake
Beck
back
keep
kit
Kate
get
cat
Teat
tit
date
debt
tat
deep
tip
tape
deck
tap
Mais uma vez, nem todas as combinações fonéticas selecionadas permitem a
inserção das cinco vogais do Inglês. Devido a esse fato, optamos por adicionar as palavras
keep, get, date, debt, deep e deck para que pudéssemos completar o quadro.
As palavras acima foram apresentadas dentro da frase-veículo “X. Say X again.”,
em que o primeiro X foi uma palavra monossilábica do Inglês contendo a mesma vogal da
palavra analisada acusticamente na posição do segundo X em seqüência. Esse artifício foi
também útil na língua estrangeira por servir como reforço à representação dos sons em forma
de grafemas já visíveis na palavra. Solicitamos a nossos informantes que evitassem realizar a
plosiva [t] como um flap, alofone normalmente associado a variedades norte-americanas do
Inglês, uma vez que tal alofonia consonantal invalidaria o nosso instrumento de coleta de
dados ao gerar variação fonética.
Seguimos o mesmo procedimento descrito no experimento POR1 para propiciar
a familiarização e evitar o efeito de alteração da prosódia característico de frases lidas em
seqüência. Usamos um total de 25 frases-veículo (APÊNDICE E) e um número igual de
distratores (APÊNDICE F).
Totalizamos, assim, 75 vogais gravadas por informante, sendo quinze de cada
vogal estudada. Analisamos um total de 1500 realizações vocálicas dos vinte sujeitos, com
cada uma das cinco vogais [i, I, eI, E, Q], constituindo um grupo de 300 gravações. Esse
experimento doravante será chamado ING1.
Nosso segundo procedimento de coleta de dados do ILE, doravante ING2, foi
desenvolvido dentro dos preceitos de uma atividade de role-play, sendo idêntico ao descrito
anteriormente no experimento POR2, à exceção do mapa utilizado (APÊNDICE G). As
palavras analisadas acusticamente foram beat, tip, date, bat, e cat. O único distrator utilizado
foi a palavra pit.
87
Cinco realizações de cada palavra mencionada acima foram analisadas
acusticamente, com 25 vogais por informante e 500 sons vocálicos no total. Cada uma das
vogais [i, I, eI, E, Q] foi analisada 100 vezes.
As diferenças quanto ao número de análises desenvolvidas no PB e no ILE, como
mencionamos anteriormente, se justificam devido à maior estabilidade na produção de vogais
que esperamos encontrar na língua materna que na língua estrangeira de nossos informantes.
Voltamos nossa atenção, a partir deste momento, para as discussões relativas à
utilização do hardware e software utilizados na consecução de nossas análises acústicas e
estatísticas.
3.4 Hardware & software
A base de nosso estudo foi desenvolvida com a ajuda de três programas
computacionais, de análise/edição das gravações (Praat; Signal Explorer; Audacity) e um
programa de tratamento estatístico dos dados (SPSS). Os meios físicos para a obtenção das
gravações constituíam-se de um gravador digital profissional (M-Audio Microtrack 24/96) e
um microfone (Shure SM58).
O microfone Shure SM58 é um modelo unidirecional dinâmico bastante utilizado
em gravações de fala e canto. Esse microfone responde a freqüências entre 50 e 15000 Hz e
foi utilizado com um pedestal de mesa, de frente ao informante, a uma distância de cerca de
30 centímetros. A essa distância o equipamento oferece (SHURE, 2006) uma gravação
sonora natural, sem reforço de graves nem efeitos de proximidade. No entanto, é importante
ressaltar que, em diversos momentos, os informantes se aproximaram ou se afastaram do
microfone, gerando pequenas alterações na gravação.
O gravador digital utilizado foi o modelo Microtrack 24/96 da M-Audio. A
gravação dos nossos experimentos diretamente em formato Wave permitiu grande economia
de tempo em transferência/edição de arquivos. O aparelho possui ainda configurações de
gravação que podem ser alteradas dependendo das condições do ambiente em que o processo
de gravação é realizado.
O melhor ajuste encontrado para a gravação em ambientes silenciosos mas sem
tratamento acústico do gravador foi a configuração envolvendo nível de ruído ambiente
88
médio com alto nível de entrada sonora. Realizamos nossas gravações em ambientes
fechados onde pudemos controlar ruídos internos de maneira razoavelmente eficiente.
Utilizamos nas gravações uma freqüência mono de 44.100 Hz e 16 bits em nossa coleta de
dados.
Sendo as gravações realizadas dentro dos procedimentos metodológicos
apresentados anteriormente e usando os aparelhos descritos acima, os arquivos digitais foram
analisados com a ajuda dos seguintes programas computacionais.
O primeiro programa a ser utilizado foi um software de edição sonora: o
Audacity (2004), versão 1.2.3. Este software nos possibilitou extrair, de diversos arquivos de
áudio com mais de uma hora de duração, as diversas palavras que tiveram suas vogais
analisadas nas duas línguas estudadas. Esses pequenos arquivos foram agrupados em vinte
pastas contendo todas as realizações de cada um de nossos vinte informantes.
A obtenção dos valores espectrais e de duração das vogais foram obtidas com o
software Praat, versão 4.6.21 (BOERSMA; WEENINK, 2007). Caso tivéssemos alguma
dúvida quanto à validade dos valores relativos aos formantes encontrados no LPC automático
do Praat realizamos uma segunda leitura com a ajuda do software Signal Explorer, versão
2.5.2 (SOQUET, 2001).
Os dados obtidos com a ajuda dos programas descritos acima foram analisados
estatisticamente com a ajuda do programa SPSS, versão 11.5.0 (SPSS, 2002). Os passos que
seguimos na fase de análise estatística dos dados serão apresentados na seção 3.7 do presente
capítulo.
Nossa discussão ora se volta para os procedimentos de análise acústica dos
formantes (3.5) e de duração (3.6) das vogais anteriores em ambas as línguas estudadas.
3.5 Análise dos formantes
De acordo com as idéias sugeridas por Ladefoged (2003), fizemos uso de algumas
características dos software acústicos para a obtenção das médias de freqüência em Hertz das
vogais analisadas. Tendo em vista o caráter CVC (ILE) ou CVCV (PB) das palavras
estudadas, sendo que toda consoante era necessariamente uma consoante plosiva, não tivemos
grandes dificuldades em localizar os dois primeiros formantes que foram analisados. A
obtenção dos valores de F1 e F2 seguiu os passos descritos a seguir.
89
Com a visualização dos formantes em um espectrograma escolhemos um ponto da
vogal em que o segundo formante se encontrava o mais estável possível em relação ao eixo
vertical de freqüência. Optamos por observar o comportamento do segundo formante devido
ao fato de o primeiro se confundir, muitas vezes, com a freqüência fundamental (F0). O ponto
de análise dos formantes nunca se encontrou muito próximo do início ou fim do som vocálico
para evitar o efeito de coarticulação das consoantes sobre a vogal, sendo geralmente
localizado em sua região central. A FIGURA 37 abaixo, obtida com o programa PRAAT,
mostra o ponto em questão.
Podemos observar a oclusão do som [t], sua soltura seguida de um período de
VOT
10
, os formantes da vogal mencionada e, finalmente, a oclusão do som [t] final. O ponto
de nossa análise dos formantes pode ser identificado pela linha vermelha e pelo indicador do
mouse no espectrograma. A análise do ditongo no PB e no ILE seguiu parâmetros distintos
como veremos a seguir.
Selecionamos, com a ajuda do espectrograma, um ponto onde F2 estivesse
10
O termo VOT (Voice Onset Time) diz respeito ao lapso de tempo entre algum evento articulatório,
normalmente a soltura de uma plosiva, e o ponto em que as pregas vocais começam a vibrar (TRASK, 1996). No
exemplo acima, observamos este fato pela ausência de energia nas regiões mais baixas do espectrograma, e pelo
ruído aperiódico no gráfico da onda sonora.
FIGURA 37: Descrição do ponto de análise das freqüências dos formantes da palavra tit
realizada pelo informante M7.
90
particularmente estável após a influência exercida pela consoante anterior e antes da mudança
característica das freqüências de ressonância do ditongo [eI] para a produção de seu segundo
elemento.
Podemos visualizar a mudança de freqüências dos formantes e o ponto em que foi
realizada a aferição dos valores dos dois primeiros formantes na FIGURA 38.
FIGURA 38: Descrição do ponto de análise da freqüência dos formantes no ditongo [eI] da
palavra tape do informante M7.
3.6 Análise de duração
Consideramos como ponto inicial e final da vogal o primeiro e último pulso
periódico presente no gráfico da onda sonora que tivesse uma amplitude considerável,
corroborada pela presença marcante de formantes no espectrograma. A utilização de
consoantes plosivas vozeadas ou desvozeadas facilitou a obtenção do ponto inicial devido à
presença do VOT.
91
As consoantes plosivas desvozeadas em posição de coda silábico, no caso do
Inglês, ou de onset de uma laba subseqüente, no caso do Português, facilitaram também a
localização desse último pulso periódico. A FIGURA 39 abaixo, obtida no programa Praat,
mostra-nos o ponto inicial e final da vogal analisada.
FIGURA 39: Descrição dos pontos de início e fim da vogal da palavra tit realizada pelo
informante M7.
É apropriado lembrar que o ditongo [eI] não teve sua duração analisada, quer no
PB quer no ILE, devido ao fato de nossa análise focar-se apenas na descrição espectral da
primeira vogal do ditongo a ser analisado.
A descrição dos procedimentos relativos à análise estatística é o foco da próxima
seção deste capítulo.
3.7 Análise estatística
Diversos testes estatísticos foram realizados com o objetivo de comparar de
maneira satisfatória os dados obtidos nos procedimentos descritos acima. No presente estudo,
dados relativos a um total de 3120 sons vocálicos, totalizando 8.680 valores de F1, F2 e
92
duração, foram tratados estatisticamente.
Nosso primeiro procedimento visando ao tratamento estatístico de dados foi o
cálculo da média, da mediana, e do desvio-padrão. A média é obtida pela soma de todos os
componentes de um conjunto de valores e posterior divisão desse valor pelo número de
elementos do grupo. A mediana é o valor localizado no meio de um conjunto de valores. 50%
dos valores analisados se encontram acima e 50% se encontram abaixo dessa medida de
tendência central. Conjuntos de valores numéricos possuidores de médias e medianas
aproximadas refletem uma distribuição simétrica desses conjuntos (BABBIE; HALLEY;
ZAINO, 2003).
Os valores médios dos formantes F1 e F2 são apresentados em gráficos contendo
também os valores do desvio-padrão, apresentados na forma de elipses envolvendo o símbolo
vocálico apresentado (cf. FIGURA 42 a seguir).
O desvio-padrão, diferentemente da média e mediana, utilizadas para refletirem
tendências centrais, é utilizado para indicar o quanto valores numéricos diferem da média dos
valores do grupo.
Os valores de análise da tendência central e da variação são importantes para
determinar se o conjunto de valores analisados possui ou não uma distribuição normal. Uma
distribuição normal de valores é simétrica e caracteriza-se por uma distribuição em forma de
sino, onde 68,2% dos valores estão dentro de um desvio-padrão (σ) da dia (µ), e cerca de
95,4% dos valores estão dentro de dois desvios-padrões. A FIGURA 40 abaixo apresenta
uma hipoteticamente perfeita distribuição normal de dados.
FIGURA 40: Distribuição normal de dados estatísticos (KERMITTHEBLOG, 2007).
A caracterização de um conjunto de valores numéricos como pertencente ou não
a uma distribuição normal possibilita-nos a realização de diversos testes estatísticos. Com o
93
objetivo de averiguar se nossos dados seguiam esse princípio, produzimos diversos
histogramas, como o apresentado na FIGURA 41.
Visualizamos que os valores
encontrados nas análises de F2 do som [e] do
PB se aproximam da linha de distribuição
normal sobreposta no gráfico. Observamos
ainda que a tendência central é caracterizada
por 5 informantes com valores na área dos
2050 Hz e 6 com resultados na faixa dos
2100 Hz. Todos os nossos dados foram
analisados dessa forma e apresentaram
gráficos semelhantes.
Além das análises dos valores
relativos aos primeiros formantes e à duração
dos sons vocálicos estudados, fizemos
comparações também envolvendo as
distâncias euclidianas entre os sons estudados. A distância euclidiana é a distância entre dois
pontos passíveis de observação, como podemos ver na FIGURA 42.
FIGURA 42: Distância euclidiana entre as vogais [i] e [Q] do experimento
ING1.
FIGURA 41: Histograma dos valores de F2 do
som [e] do experimento POR1.
94
Para que pudéssemos fazer essas aferições envolvendo os valores de F1 e F2,
fizemos uso da fórmula abaixo, referente às medições envolvendo a distância euclidiana de
pontos bi-dimensionais:
A interpretação da fórmula acima é a seguinte: p
x
e p
y
correspondem aos valores
de F1 e F2 da primeira vogal analisada e q
x
e q
y
correspondem aos mesmos valores relativos
a segunda vogal. Esses valores são então subtraídos, elevados ao quadrado e somados para
então se obter a raiz quadrada desse resultado. O valor encontrado constitui a distância
euclidiana entre as vogais, sendo que este resultado pode ser utilizado, como faremos em
diversos momentos no capítulo seguinte, na análise estatística da distância entre pares
vocálicos em experimentos diferentes.
Nos casos em que fizemos uso de figuras como a FIGURA 42 acima, os valores
espectrais dos sons vocálicos analisados são representados pela inserção do respectivo
símbolo do IPA dentro ou próximo a uma elipse. Esta forma geométrica nos apresenta o
limite de dois desvios-padrões da média aritmética encontrada em cada vogal. As elipses,
portanto, indicam os limites onde ocorreram aproximadamente 95,4% das realizações da
vogal apresentada.
No tocante aos testes estatísticos utilizados, fizemos uso de testes t para amostras
pareadas e independentes, testes não-paramétricos Kolmorogov-Smirnov, e análise de
variância (ANOVA) para medidas repetidas com correção de graus de liberdade e teste de
Tukey. O valor de significância foi definido como < ,05.
Fizemos uso do teste t para amostras pareadas ao compararmos duas médias
provenientes de nosso universo de pesquisa devido ao fato de os mesmos informantes
participarem da coleta de dados do PB e do ILE. Com o objetivo de compararmos nossos
dados com os resultados apresentados por outros pesquisadores, fizemos uso de testes t para
amostras independentes ao compararmos duas médias inter-estudos com número de
observações semelhantes.
Quando a comparação de duas médias inter-estudo com uma grande diferença
entre os números de observações se fez importante para o enriquecimento de nossa discussão,
fizemos uso do teste não-paramétrico Kolmorogov-Smirnov.
Finalmente, a análise de variância (ANOVA) de medidas repetidas, com correção
dos graus de liberdade e testes Tukey, foi realizada sempre que se fez necessária a
95
comparação de três ou mais médias de nossos dados.
Nos resultados dos testes Tukey
apresentados no APÊNDICE I do presente
estudo, médias com letras iguais não
diferem significativamente para o nível de
significância proposto (p. < ,05), como
podemos observar na TABELA 6.
A média geral de duração do
som [e] no experimento POR1 foi de 122,6
ms. Observamos que nenhuma das médias
de duração das palavras teta, peta e beco diferem significativamente desta média geral. No
entanto, as durações apresentadas na palavra teta (117,3 ms.) e beco (130,1 ms.) são
significativamente diferentes.
As ANOVAS foram os únicos testes estatísticos realizados por profissionais da
área. Todos os outros testes foram realizados pelo autor da presente dissertação.
Fizemos uso desses testes para determinar se havia diferenças significativas
entre:
a) Duração das vogais estudadas inter- e intra-experimentos;
b) Valores de F1 e F2 das vogais estudadas inter- e intra-experimentos;
c) Comparações de nossos dados com dados semelhantes obtidos em outros
estudos.
3.8 Resumo
Neste capítulo, fizemos a apresentação da metodologia descritivo-experimental
empregada neste estudo. Fizemos a descrição dos nossos informantes, do contexto fonotático
de produção e dos experimentos utilizados para a coleta de dados nas duas línguas. Em
seguida, descrevemos o hardware e o software utilizados, os procedimentos de análise dos
formantes e da duração das vogais analisadas, bem como os procedimentos estatísticos
utilizados em nossa análise de dados.
Nosso próximo capítulo dissertará acerca dos resultados obtidos em decorrência
da aplicação da metodologia supracitada. Fazemos isso por meio de uma análise em separado
TABELA 6: ANOVA do som [e], experimento
POR1.
Som Duração 5%
teta 117,3 b
peta 120,6 a b
[e] 122,6 a b
beco 130,1 a
96
das características espectrais e de duração dos sons anteriores altos e baixos do PB e do ILE.
97
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Introdução
Neste capítulo discutiremos os resultados obtidos na pesquisa. Estes resultados
serão apresentados de acordo com as hipóteses apresentadas na introdução da presente
dissertação. Apresentaremos, portanto, os sons vocálicos anteriores [i], [I], e [eI] do ILE e [i],
[e], e [eI] do PB (4.2) e [E] e [Q] do ILE e [E] do PB (4.3) em duas subseções diferentes com
o objetivo de facilitar a apresentação/discussão de nossa análise de dados.
Discussões pertinentes aos sons vocálicos anteriores começam pela caracterização
espectral dos sons [i] e [I] do ILE (4.2.1). Em seguida, comparamos os sons mencionados aos
sons vocálicos correlatos do PB, [i] e [e], no tocante às características espectrais (4.2.2) e de
duração (4.2.3). Por fim, comparamos as características espectrais do primeiro elemento do
som [eI] do ILE e do PB (4.2.4).
Em seqüência apresentaremos discussões envolvendo os sons vocálicos anteriores
[E] e [Q] do ILE (4.3.1). Em seguida, comparamos os dois sons vocálicos ao som [E] do PB,
considerando as características espectrais (4.3.2) e de duração (4.3.3) desses sons nas duas
línguas.
Ao finalizarmos o presente capítulo, apresentamos breve sumário (4.4),
destacando os achados mais relevantes aqui apresentados.
98
4.2 Análise e discussão dos sons vocálicos anteriores [i
ii
i], [I]
I]I]
I], e [eI
eIeI
eI] do ILE e [i
ii
i], [e
ee
e], e [eI
eIeI
eI]
do PB
Esta seção terá como foco os sons [i], [I], e [eI] do ILE, e os sons [i], [e], e [eI] do
PB. Estas discussões levarão em consideração tanto características espectrais (4.2.1, 4.2.2,
4.2.4) quando de duração (4.2.3) dos sons supracitados.
4.2.1 Características espectrais dos sons [
i]
e [
I
] do ILE
Nossa primeira hipótese reza que o par anterior-alto do ILE [i, I] será realizado
sem diferenças espectrais significativas entre seus componentes. Com o objetivo de averiguar
a validade de tal hipótese, apresentamos a seguir comparações dos dois sons vocálicos em
questão nos experimentos ING1 e ING2.
A TABELA 7 abaixo mostra os valores de F1 e F2 (Hertz) dos experimentos
ING1 e ING2. Os valores são apresentados em forma de média (méd), mediana (med), e
desvio-padrão (d.p.).
TABELA 7: valores médios (Hertz) dos sons [i] e [I] nos experimentos ING1 e ING2.
ING1 [i
ii
i] ING2 [i
ii
i] ING1 [I
II
I] ING2 [I
II
I]
F1 F2 F1 F2 F1 F2 F1 F2
méd 292 2384 310 2274 393 2096 411 1976
med 292 2420 305 2282 398 2081 415 1954
d.p. 21 134 26 132 38 82 37 120
Observamos, na tabela acima, a proximidade dos valores médios dos dois
primeiros formantes em ambos os experimentos. Valores médios de F1 e F2 no experimento
99
ING1 são bastante próximos aos
valores médios encontrados no
experimento ING2 em ambas as
vogais apresentadas.
Os dados referentes ao
experimento ING1 são apresentados
de forma gráfica na FIGURA 43. A
figura apresenta-nos um espectro
sonoro anterior alto muito bem
delineado, sem sobreposição das
vogais analisadas. Observamos que o
som [I], se comparado ao som [i],
apresenta uma variação maior em seu eixo de altura (F1), retratado em um maior valor de
desvio-padrão, com pouca variação no seu avanço (F2). As elipses apresentadas na figura
correspondem a um valor de dois desvios-padrão das médias apresentados nos eixos de altura
da vogal (F1) e de avanço da articulação (F2). Resultados que envolvem a produção do par
anterior alto do ILE no experimento ING1, como podemos ver pela inexistência de
sobreposição entre as vogais analisadas, nos eixos de altura (F1) e avanço (F2), indicam um
alto grau de controle das características espectrais do referido par por parte de nossos
informantes.
Análises estatísticas
com nível de significância em cinco
por cento, obtidas após a realização
de testes t para amostras pareadas
(3.7), indicam variação significativa
das médias em hertz de F1 (altura) e
F2 (avanço) (p.= ,0 em ambos os
testes) dos sons vocálicos [i] e [I] no
experimento ING1.
Dados referentes ao
experimento ING2 apresentam
resultados semelhantes. Apesar da
FIGURA 43: Vogais [i] e [I] dentro do espaço vocálico
anterior do experimento ING1.
FIGURA 44:
Vogais [i] e [I] dentro do espaço vocálico
anterior do experimento ING2.
100
FIGURA 44 apresentar uma pequena sobreposição entre os dois sons do ILE analisados,
comparações estatísticas idênticas às realizadas no experimento ING1 demonstram que as
médias de altura (F1) e avanço (F2) ainda assim são significativamente diferentes (p.= ,0).
O resultado de comparações inter-experimentos envolvendo os dados encontrados
nos experimentos ING1 e ING2 nos ajudam a entender o estabelecimento de duas categorias
distintas para os sons [i] e [I] do ILE ora analisados.
A realização de testes t comparando os valores espectrais pertinentes ao som [i]
nos experimentos ING1 e ING2 permite-nos afirmar que o som [i] do segundo experimento é
significativamente mais baixo (p.= ,006) e menos avançado que o mesmo som no primeiro
experimento (p.= ,0). O mesmo fenômeno ocorre ao compararmos o som [I]. Sua realização é
significativamente mais baixa (p.= ,043) e menos avançada (p.= ,0) no experimento ING2 em
comparação ao experimento ING1.
Estas variações de posicionamento das vogais supracitadas dentro do espaço
vocálico de nossos informantes não se revelam ao empregarmos a distância euclidiana como
parâmetro de comparação. Apresentamos, na TABELA 8 em seqüência, os valores médios
encontrados em nossos experimentos.
TABELA 8: Valores médios (Hertz) da
distância euclidiana entre os sons [i] e [I]
nos experimentos ING1 e ING2.
ING1 ING2
méd
307,4 317,5
med
285,3 305,9
d.p.
139,8 122,1
Como podemos observar na tabela acima, as distâncias euclidianas entre os sons
analisados são bastante aproximadas. Ao compararmos estatisticamente as médias de
distância euclidiana entre os sons [i] e [I] nos experimentos ING1 e ING2, num teste t para
amostras pareadas, encontramos um valor altamente não significativo (p.= ,693). Esta análise
nos permite concluir que a existência de variação significativa dos sons inter-experimentos
não afetou significativamente a distância relativa entre eles dentro do espaço vocálico.
101
Outros dados corroboram a visão de que os sons anteriores altos do ILE são
realizados de maneira significativamente diferente um do outro.
Ao compararmos as médias gerais do som [i] e [I] do ILE do experimento ING1
com as médias dos sons vocálicos de cada uma das palavras utilizadas neste experimento,
apresentados na TABELA 9, encontramos valores bastante semelhantes.
TABELA 9: Valores espectrais médios do som [i] e [I] do ILE, bem como de cada som vocálico
presente nas cinco palavras analisadas no experimento ING1.
[i]
beat beak keep teat deep
F1 F2 F1 F2 F1 F2 F1 F2 F1 F2 F1 F2
méd.
292 2384 288 2389 297 2346 301 2404 288 2398 285 2382
med.
292 2420 293 2399 299 2358 300 2432 282 2445 280 2398
d.p.
21 134 23 142 26 145 25 132 24 155 27 126
[I]
bit Bic kit tit tip
F1 F2 F1 F2 F1 F2 F1 F2 F1 F2 F1 F2
méd.
393 2096 388 2094 401 2065 380 2179 398 2107 401 2036
med.
398 2081 381 2093 404 2079 381 2170 402 2110 409 2037
d.p.
38 82 40 96 40 103 45 116 44 80 35 124
Os valores de F1 e F2 dos sons [i] e [I] aparentam ser bastante semelhantes às
médias apresentadas pelos mesmos sons dentro de combinações fonéticas diversas.
Análises de variância (ANOVA) com medidas repetidas comparando os valores
médios de F1 e F2 dos sons [i] e [I] do experimento ING1 com as médias das vogais de cada
uma das cinco palavras lidas no experimento (apresentadas na tabela acima) revelam
consistência mesmo dentro de organizações fonéticas distintas, uma vez todas as diferenças
encontradas foram não-significativas (p. > ,05). Os resultados das ANOVAs são apresentados
no APÊNDICE I, seção 1.
Diferentes combinações fonéticas, sabidamente, possuem a capacidade de
influenciar a realização de vogais próximas. A coarticulação progressiva ou regressiva é um
fenômeno bastante conhecido em línguas naturais e é facilmente observado, no caso dos sons
vocálicos, pela alteração de seus valores formânticos quando influenciados por diferentes
consoantes em posição de onset ou coda silábico. Acreditamos que estes dados indicam,
102
portanto, um alto grau de controle da realização dos sons acima por parte de nossos
informantes.
Os dados apresentados mostram que nossa primeira hipótese, ao afirmar que o par
anterior-alto do ILE [i, I] seria realizado sem diferenças espectrais significativas entre seus
componentes, foi refutada. Em nenhum momento nossos informantes perderam o contraste
articulatório entre os dois componentes do par anterior alto do ILE. Mesmo os resultados
referentes ao experimento ING2, em que esperávamos encontrar uma grande sobreposição do
espaço vocálico dos sons anteriores altos, devido às características descritas do
experimento, se revelaram significativamente diferentes em todas as comparações estatísticas.
Os primeiros resultados envolvendo a comparação dos sons [i] e [I] no ILE de
falantes brasileiros (BAPTISTA, 2000), como indicamos anteriormente, não apresentaram
variação significativa na articulação do par anterior alto durante o período de
acompanhamento pela pesquisadora. Onze usuários brasileiros de inglês como segunda
língua, nos Estados Unidos, realizaram estes dois sons com diferenças não-significativas,
fazendo uso de considerável grau de sobreposição espectral.
Uma das possíveis razões para este fracasso, segundo a autora, pode envolver o
não abaixamento do primeiro elemento do ditongo [eI] por parte de seus informantes. Isto
impossibilitaria a criação de espaço vocálico suficiente para uma articulação distinta dos dois
sons apresentados. Outro fator que pode ter contribuído para este resultado, a nosso ver, pode
ser encontrado no nível de habilidade dos informantes na segunda língua: o nível mais alto de
proficiência dos sujeitos no início da pesquisa era o lower-intermediate.
No presente estudo utilizamos apenas professores de ILE como informantes,
como mencionamos. Nossos sujeitos de pesquisa são, portanto, possuidores de um nível de
competência comunicativa mais elevado que se refletiu nos resultados apresentados nos
experimentos ING1 e ING2.
O estudo de Bion, Escudero, Rauber e Baptista (2006), que envolveu dezessete
estudantes universitários de ILE, chega à conclusão, através da análise da distância euclidiana
entre os sons do par [i] e [I], que apenas 30% dos seus informantes realizam as vogais de
maneira aproximada ao alvo. Os valores médios da distância euclidiana entre estas vogais no
estudo de Bion et al (2006), e a do presente estudo são apresentadas na TABELA 10 abaixo.
103
TABELA 10: Médias das distâncias euclidianas
encontradas em Barboza (2008), experimento
ING1, e Bion et al (2006) para o par [i] e [I].
Barboza (2008) Bion et al (2006)
méd 307 112
med 285 81
d.p. 139 105
Como podemos observar na tabela acima, os valores encontrados no presente
estudo são bem distintos, indicando uma maior distância separando as duas vogais. Um teste t
para amostras independentes confirma esta impressão inicial ao apresentar diferença
significativa entre as duas amostras (p.= ,0).
Creditamos esta diferença entre os resultados encontrados em estudos anteriores e
os resultados encontrados em nosso estudo se encontra no nível de habilidade lingüística dos
participantes, uma vez que Bion et al (2006) deixa claro que seus informantes são ainda
estudantes universitários.
Por outro lado, dados obtidos junto a dezesseis professoras de inglês, estudantes
dos cursos de pós-graduação da UFSC, indicam que 50% do total das informantes produziram
uma diferença significativa na realização dos sons anteriores altos do ILE (RAUBER,
ESCUDERO, BION, BAPTISTA, 2005). Os resultados encontrados por Rauber et al (2005)
apontam, de acordo com nossa hipótese apresentada anteriormente, que um nível mais
elevado de habilidade lingüística reflete diretamente na separação espectral do par [i] e [I] do
ILE por falantes brasileiros.
Esta idéia é corroborada pelos dados apresentados posteriormente por Nobre-
Oliveira (2007). O estudo consistiu em uma intervenção, um curso de curta duração visando
ao desenvolvimento da percepção das vogais do Inglês, e de avaliações pré- e pós-
intervenção, envolvendo estudantes universitários de graduação.
Resultados dos pré-testes não mostram diferenças significativas na realização dos
sons [i] e [I]. Os resultados dos pós-teste, por outro lado, indicam que os informantes estavam
em pleno processo de reestruturação de seu espaço vocálico anterior alto. O estudo
apresentava dois grupos experimentais, os melhores resultados foram obtidos pelo grupo
104
instruído com estímulos vocálicos artificiais, cujo gráfico pré- e pós-intervenção é
apresentado na FIGURA 45.
FIGURA 45: Gráfico do par [i] e [I] do ILE pré-(cinza) e pós-
intervenção (preto) (adaptada de NOBRE-OLIVEIRA, 2007).
É facilmente observável o abaixamento e recuo do som [I] dos informantes no
pós-teste, apesar deste ainda possuir um alto grau de sobreposição se comparado ao som [i],
como observamos na figura acima. Apesar disto, o som [I] do pós-teste é significativamente
diferente do mesmo som no pré-teste. Este processo é posteriormente confirmado através de
um teste suplementar, realizado um mês após o pós-teste, cujos resultados não demonstraram
nenhuma variação significativa dos dados analisados.
Os dados de Nobre-Oliveira (2007) apontam, a nosso ver, que falantes nativos
do PB podem adquirir diferença significativa nos eixos de altura e avanço dos sons [i] e [I] do
ILE mesmo sem possuírem um elevado grau de proficiência lingüística. É importante lembrar,
neste momento, que quase a totalidade de nossos informantes cursaram/cursam Letras com
habilitação em Língua Inglesa, curso em que receberam/recebem instrução semelhante à
proposta apresentada por Nobre-Oliveira (2007).
105
O último estudo
apresentado nesta seção foi desenvolvido
por Rauber (2006) e se aproxima bastante
de nossa pesquisa em termos de
resultados. A FIGURA 46 mostra a
realização do par [i] e [I] sem nenhum
grau de sobreposição.
Os informantes utilizados
no estudo de Rauber são também
professores de Inglês língua estrangeira.
Dessa forma, de maneira semelhante a
que encontramos em nossos dados, o par de vogais anteriores altas do ILE é realizado com um
grau de controle bastante significativo.
Tomados em conjunto, os estudos anteriores indicam que as dificuldades na
aquisição do par [i] e [I] do ILE não são intransponíveis. Os resultados acima apontam que a
separação, no espaço vocálico, dos sons supracitados se encontra relacionada ao nível de
proficiência lingüística, em língua estrangeira, do informante. Em outras palavras, quanto
menos experiência com o Inglês o falante brasileiro possui, mais ele vai se basear no sistema
vocálico de sua língua materna, como vimos anteriormente (2.5.1.1), apenas um som nesta
região vocálica. Com o aumento da experiência lingüística, a produção evolui até patamares
encontrados em nosso estudo e no estudo de Rauber (2006).
Com o intuito de corroborar esta argumentação, entretanto, se faz necessária a
consecução de outros estudos longitudinais, semelhantes ao realizado por Baptista (2000),
envolvendo a análise das vogais em questão do nível iniciante ao avançado em um estudo
posterior.
As diferenças significativas encontradas ao compararmos a altura (F1) e o avanço
(F2) das vogais [i] e [I], ao não serem corroboradas pela análise da distância euclidiana,
indicam que o espaço vocálico do experimento ING2 é mais baixo e posterior que o
encontrado no experimento ING1. Este fato é provavelmente decorrente da natural
configuração mais relaxada do trato vocal, em decorrência das características metodológicas
do experimento ING2. Uma análise destes sons em um contexto de conversação livre
FIGURA 46: Gráfico do par [i] e [I] do ILE
(adaptada de RAUBER, 2006).
106
provavelmente reduziria ainda mais o espaço vocálico, afetando, também, a distância entre os
pontos médios de cada vogal. Uma análise deste tipo, entretanto, requer outro estudo, tendo
este objetivo em mente.
Outros estudos com o objetivo de averiguar o efeito das diferentes combinações
fonéticas também nos parecem pertinentes, uma vez que nesta fase de nossa pesquisa não
averiguamos a influência de diferentes consoantes nas médias espectrais de nossas vogais
analisadas. Estudos mais amplos, com um maior número de contextos fonéticos do que os
apresentados nesta análise, provavelmente não falhariam em encontrar este tipo de diferença
espectral.
4.2.2 Características espectrais dos sons [
i
] e [
I
] do ILE em relação ao som [
i
] do PB
Nesta seção, apresentaremos dados pertinentes à elucidação da segunda e terceira
hipóteses de trabalho. Nossa segunda hipótese afirma que o som [i] do ILE será realizado sem
diferenças espectrais significativas em relação ao som [i] do PB. A terceira hipótese, por sua
vez, afirma que o som [I] do ILE será realizado sem diferenças espectrais significativas em
relação ao som [i] do PB.
Uma vez que comprovamos, na seção anterior, que nossos informantes são
capazes de produzir o par anterior alto do ILE com valores significativamente diferentes,
resta-nos averiguar o nível de semelhança entre os sons do ILE e os sons produzidos numa
região vocálica semelhante do PB, a saber [i] e [e].
Dados espectrais médios relativos aos sons anteriores altos do PB, encontrados
nos experimentos POR1 e POR2, são apresentados na TABELA 11. Lembramos que estes
sons são comparados aos dados pertinentes aos sons [i] e [I] dos experimentos ING1 e ING2
apresentados na seção anterior.
107
TABELA 11: valores médios (Hertz) dos sons [i] e [e] nos experimentos POR1 e POR2.
POR1 [i
ii
i] POR2 [i
ii
i] POR1 [e
ee
e] POR2 [e
ee
e]
F1 F2 F1 F2 F1 F2 F1 F2
méd
296 2270 311 2126 369 2087 384 1956
med
295 2298 308 2102 369 2090 383 1980
d.p.
23 118 26 123 18 92 27 82
Como já esperado, os resultados dos experimentos do PB são bastante
consistentes. Os valores médios de F1 e F2 dos sons [i] e [e] são muito próximos se
compararmos os resultados dos experimentos POR1 e POR2.
Uma ANOVA para medidas repetidas, foi computada envolvendo as médias
espectrais dos sons [i] e [I] do experimento ING1 e [i] do experimento POR1. Os resultados
desta análise estatística revelaram diferenças o-significativas entre o som [i] do ILE e o
som [i] do PB tanto no eixo da altura (F1), quanto no avanço (F2) (p. > ,05). O mesmo teste
estatístico, no entanto, encontrou diferenças significativas entre o som [I] do ILE e o som [i]
do PB (p < ,05) em ambos os eixos analisados. Os resultados da ANOVA são apresentados no
APÊNDICE I, seção 2.
Estes resultados indicam que nossos informantes simplesmente se utilizam da
mesma região vocálica na do som [i] da ngua materna na realização do som [i] do ILE. Esta
relação entre os dois sons pode ser melhor visualizada com a ajuda do gráfico apresentado na
FIGURA 47.
108
FIGURA 47: Gráfico contendo os sons [i] e [I] (em vermelho) do experimento
ING1 e o som [i] (em azul) do experimento POR1.
Constatamos, na FIGURA 47 acima, uma clara relação entre os espaços vocálicos
do PB e do ILE ao visualizarmos o som [i] presente em ambos os idiomas. A sobreposição
significativa, em ambos os eixos, corrobora a idéia apresentada anteriormente de simples
transferência de gesto da língua materna para a língua estrangeira. Podemos ainda observar a
existência de uma pequena sobreposição do espaço vocálico dos sons [I] do ILE e [i] do PB.
Apenas a extremidade superior da área de dois desvios-padrões do som do ILE adentra a área
de realização do som do PB.
A FIGURA 48 abaixo mostra-nos os dados relativos aos sons [i] e [I] do
experimento ING2 e [i] do experimento POR2. Mais uma vez, notamos um alto grau de
sobreposição dos sons [i] do ILE e [i] do PB, com o som [I] sendo realizado numa região
vocálica muito mais baixa.
Uma ANOVA para amostras pareadas envolvendo tais dados apresenta resultados
semelhantes aos apresentados anteriormente. No que diz respeito à questão da altura (F1)
destes sons vocálicos, os resultados da ANOVA apontam uma diferença não significativa
entre os sons [i] do ILE e [i] do PB (p. > ,05). No entanto, o som [i] do PB é
109
significativamente mais alto
que o som [I] do ILE (p. < ,05).
Ao compararmos os valores
médios do avanço (F2), por
outro lado, o som [i] do PB
mostrou-se significativamente
mais posterior que o som [i] do
ILE (p. < ,05), e manteve sua
diferença significativa com
relação ao som [I] do ILE já
encontrada nos resultados
anteriores. Os resultados das ANOVAs são apresentados no APÊNDICE I, seção 3.
Os resultados mostrados acima, que denotam um alto grau de sobreposição dos
espaços vocálicos dos sons [i] do ILE e [i] do PB em ambos os experimentos, motivaram-nos
a realizar comparações entre os sons [I] do ILE e [e] do PB, uma vez que estes sons,
sabidamente, se encontram numa região mais baixa do espaço vocálico das duas línguas.
Retomamos os dados de F1 e F2, apresentados em tabelas anteriores, na TABELA 12
abaixo.
TABELA 12: Valores médios (Hertz) do som [I] nos experimentos ING1 e ING2, e [e] nos
experimentos POR1 e POR2.
ING1 [I
II
I] ING2 [I
II
I] POR1 [e
ee
e] POR2 [e
ee
e]
F1 F2 F1 F2 F1 F2 F1 F2
méd 393 2096 411 1976
369 2087 384 1956
med 398 2081 415 1954
369 2090 383 1980
d.p. 38 82 37 120
18 92 27 82
Podemos observar, na tabela acima, que as médias de altura e avanço dos sons [I]
do ILE e [e] do PB, nos dois experimentos, são aproximadas. Isto indica a possibilidade de
considerável sobreposição espectral entre estes sons, o que nos levou à realização de testes
estatísticos visando à comparação, em termos de altura, avanço (nesta seção), e de duração
(4.2.3), dos sons [I] do ILE e [e] do PB, nos diversos experimentos.
FIGURA 48: Gráfico contendo os sons [i] e [I] (em vermelho)
do experimento ING2 e o som [i] (em azul) do experimento
POR2.
110
Com o intuito de averiguar esta possibilidade, realizamos um teste t para amostras
pareadas envolvendo os sons [I] e [e], presentes, respectivamente, nos experimentos ING1 e
POR1. Resultados indicam diferença significativa no valor de F1 (altura) (p.= ,006) mas não
no valor do avanço (F2) (p.= ,651). A FIGURA 49 explicita estes resultados.
Na figura acima, observamos claramente que as realizações médias do som [e] do
PB estão contidas dentro do espaço vocálico do som [I] do ILE. Além disso, percebemos que
o som [I] do ILE possui uma maior variação no eixo da altura (F1) se comparado ao som [e]
do PB, fato retratado pelo valor relativamente mais alto de desvio padrão apresentado na
TABELA 12. Este índice de variabilidade pode estar por trás da diferença significativa de
altura encontrada no teste t realizado anteriormente.
Estes dados nos mostram a tentativa de relacionar um som novo da língua
estrangeira a um som com características espectrais semelhantes na língua materna. A
produção do som [I] do ILE não se relaciona tão diretamente com o som [e] do PB quanto o
par [i] ILE - [i] PB. Mesmo assim, os sons [I] ILE - [e] PB ainda devem ser vistos como
realizados dentro da mesma região espectral.
FIGURA 49: Gráfico dos sons [I] ING1 (vermelho) e [e] POR1 (azul).
111
Estas constatações ganham ainda mais força ao acrescentarmos em nossa
discussão os resultados referentes às comparações dos sons em questão dentro dos
experimentos ING2 e POR2.
Resultados dos testes t
envolvendo os sons [I] do ILE e [e]
do PB, nos experimentos ING2 e
POR2, não apresentam diferenças
significativas entre as duas vogais
mencionadas no eixo de altura (F1)
(p.= ,06), ou de avanço (F2) (p.=
,469). A FIGURA 50 ajuda a
visualizar o contexto dessa
discussão.
O aumento do desvio-
padrão do F1 no som do PB,
acarretado pelo contexto de produção mais livre do experimento POR2, anulou a diferença
significativa encontrada no eixo da altura (F1) na análise estatística anterior. Estes dados
corroboram a nossa idéia apresentada anteriormente, de diferença não significativa entre os
sons. Uma vez que nossos informantes não tiveram a oportunidade de focar a forma
lingüística de maneira consciente neste experimento, nenhuma diferença estatística foi
encontrada.
Dados adicionais envolvendo as médias da distância euclidiana, na TABELA 13 a
seguir, ajudam a corroborar esta
idéia. A distância entre o par
[I]ING1/[e] POR1 é bem maior
que a distância entre o par
[i]ING1/[e] POR1 como podemos
observar.
Um teste t revelou que
a média das distâncias euclidianas (307 Hz) encontradas separando o par [i] ING1/[e] POR1 é
significativamente maior que a distância média entre o par [I] ING1/[e] POR1 (p.= ,0).
FIGURA 50: Gráfico dos sons [I] ING2 (vermelho) e [e]
POR2 (azul).
TABELA 13: Médias das distâncias euclidianas entre os sons
[i] e [I] do experimento ING1 e [e] do experimento POR1.
Distância euclidiana
entre os sons
[i]ING1/[e] POR1
Distância euclidiana
entre os sons
[I]ING1/[e] POR1
méd.
307 88
med.
311 87
d.p.
80 42
112
Dados relativos aos pares analisados nos experimentos ING2 e POR2 são
semelhantes aos apresentados acima. A TABELA 14 em seqüência apresenta a mesma
tendência constatada anteriormente: a distância euclidiana entre os sons [i]ING1/[e] POR1 é
muito maior que a distância entre os sons [I]ING1/[e] POR1.
Resultados de um teste
t mostra novamente que as
distâncias euclidianas entre os
pares mencionados são
significativas (p.= ,0)
Além disso, ao
compararmos as médias das
distâncias euclidianas entre os sons [I] do ILE e [e] do PB nos experimentos ING1/POR1 (88
Hz) e ING2/POR2 (105 Hz) não encontramos variação significativa (p.= ,393). Isto
fundamenta ainda mais nossa percepção de que o alto valor de variação encontrada no eixo da
altura (F1) do som [I] ING1 é fator determinante no resultado de diferença significativa
quando comparado ao som [e] POR1 descrito anteriormente.
Ao buscarmos dados relativos à variação espectral inter-experimentos, as análises
estatísticas dos dados médios das vogais [i] e [e] dos experimentos POR1 e POR2 indicam
que o som [i] POR1 é realizado significativamente mais alto (p.= ,006) e avançado (p.= ,0)
que o mesmo som no experimento POR2. O mesmo ocorre com o som [e] POR1,
significativamente mais alto (p.= ,001) e avançado (p.= ,0) do que o mesmo som no
experimento POR2.
Ao compararmos as médias gerais do som [i] e [e] do PB no experimento POR1
com as médias dos sons vocálicos de cada uma das palavras utilizadas neste experimento,
apresentados na TABELA 15, encontramos valores bastante semelhantes.
TABELA 14: Médias das distâncias euclidianas entre os sons
[i] e [I] do experimento ING1 e [e] do experimento POR1.
Distância euclidiana
entre os sons
[i]ING1/[e] POR1
Distância euclidiana
entre os sons
[I]ING1/[e] POR1
méd.
328 105
med.
330 80
d.p.
114 66
113
TABELA 15: Valores espectrais médios do som [i] e [e] do PB no
experimento POR1, bem como de cada som vocálico presente nas
três palavras analisadas.
[i]
bica pito Tita
F1 F2 F1 F2 F1 F2 F1 F2
méd.
296 2270 303 2265
294 2261
292 2284
med.
295 2298 304 2274
288 2286
289 2312
d.p.
23 118 22 123 27 121 26 123
[e]
beco peta teta
F1 F2 F1 F2 F1 F2 F1 F2
méd.
369 2087 366 2076
368 2110
372 2075
med.
369 2090 368 2085
368 2121
371 2084
d.p.
18 92 19 94 19 97 20 99
Finalmente, em nossas últimas comparações estatísticas desta seção, realizamos
duas ANOVAs para medidas repetidas envolvendo a média geral dos sons [i] e [e] do
experimento POR1 e as médias dos sons vocálicos das três palavras analisadas na consecução
deste experimento.
O resultado das ANOVAs indicaram diferença não significativa entre as médias
analisadas do som [i] do PB, em se tratando da altura (F1) (p.= ,507) e avanço (p.= ,940). O
mesmo ocorrendo com as medias de altura (F1) (p.= ,796) e avanço (p.= ,629). Estes
resultados eram esperados devido ao caráter de falantes nativos de PB de nossos
informantes.
De acordo com o explicitado anteriormente, nossa segunda hipótese, ao afirmar
que o som [i] do ILE seria realizado sem diferenças espectrais significativas em relação ao
som [i] do PB, foi confirmada. A terceira hipótese, por sua vez, ao afirmar que o som [I] do
ILE seria realizado sem diferenças espectrais significativas em relação ao som [i] do PB, foi
refutada, uma vez que se tornou patente a relação do som [I] do ILE com o som [e] do PB em
todas as análises realizadas.
114
Em estudos anteriores, dados comparativos relacionando os pontos de realização
dos sons [I] do ILE e [e] do PB são mais raros que os encontrados para a produção do par [i] e
[I] do ILE apresentados anteriormente.
Dados encontrados na pesquisa de Baptista (2000), por exemplo, não apresentam
tal comparação uma vez que esta pesquisa longitudinal não permitiu, devido a restrições de
tempo, que a maioria de seus informantes chegasse a veis satisfatórios de diferenciação
entre os dois sons anteriores altos do ILE. Esta separação destes sons levaria, a nosso ver, a
uma utilização do espaço vocálico semelhante ao retratado nesta pesquisa.
Da mesma forma, Nobre-Oliveira (2007) não apresenta dados comparativos
relativos à produção do par [I] do ILE e [e] do PB uma vez que seus objetivos de estudo não
davam ênfase à comparação entre as línguas estrangeira e materna. Bion et al (2006) também
não apresentam discussão sobre este problema.
Por outro lado, dados apresentados por Rauber et al (2005), baseados no fato de
que a metade de seus informantes fizeram distinção espectral entre os constituintes do par [i]
[I] do ILE, indicam a relação entre os sons [I] do ILE e [e] do PB por meio de gráficos do
espaço vocálico apresentados na FIGURA 51.
Podemos observar uma relação,
nos dois eixos, entre os pares [i] do ILE/[i]
do PB e [I] do ILE/[e] do PB de maneira
semelhante à encontrada em nosso estudo.
Os dados apresentados por Rauber et al
(2005), todavia, são incompletos no sentido
que não apresentam os valores médios de F1
e F2 em cada um dos seus dezesseis
informantes. A apresentação destes dados
nos possibilitaria a comparação entre as
amostras.
Dando seqüência a seus estudos, Rauber (2006) apresenta resultados mais
apurados acerca da relação entre os sons anteriores altos da língua materna e do Inglês língua
estrangeira. A FIGURA 52 abaixo mostra o alto nível de correlação entre os pares [i] do ILE
FIGURA 51: Gráfico dos sons [i] – [I] do ILE
(cinza) e dos sons [i] – [e] do PB (vermelho)
(adaptada de RAUBER et al, 2005).
115
e [i] do PB, bem como do par [I] do ILE e [e] do PB em ambos os eixos de altura e avanço.
Os dados apresentados em seqüência são relativos aos informantes do sexo masculino.
FIGURA 52: Espaço vocálico anterior alto do PB (cinza) e do ILE (preto)
(adaptada de RAUBER, 2006).
Comparações estatísticas envolvendo os sons [i] do ILE e [i] do PB apresentam
diferenças não significativas de altura e avanço em nossos dados, como vimos anteriormente.
O estudo de Rauber (2006) não apresenta comparações estatísticas envolvendo o par [I] do
ILE e [e] do PB. Todavia, ao fazermos uso dos dados apresentados no apêndice do referido
estudo para a realização de testes t para amostras pareadas, o par analisado também não
possui diferenças significativas nos seus dois eixos (F1: p.= ,324; F2: p.= ,494). Tais
resultados, portanto, foram corroborados na análise de dados do presente estudo, que também
encontrou uma relação estreita entre os sons [I] do ILE e o som [e] do PB.
Tendo em vista esta sobreposição do espaço vocálico envolvendo a produção dos
pares [i]ILE/[i]PB e [I]ILE/[e]PB, é pertinente a consecução de estudos perceptivos com
estímulos artificiais envolvendo os componentes dos dois pares em questão. A utilização de
estímulos artificiais possui o diferencial de possibilitar o controle espectral e de duração do
som produzido. Poderíamos testar, dessa forma, se falantes brasileiros de Inglês língua
116
estrangeira percebem o par anterior alto do Inglês como semelhantes a sons do Português
brasileiro. O foco da grande maioria dos estudos perceptuais normalmente recai sobre a
distinção entre os dois sons do ILE, falhando em relacioná-los com sons de nossa língua
materna.
Outro ponto pertinente para posterior estudo envolveria o desenvolvimento de
pesquisa longitudinal com o acompanhamento de informantes de um vel elementar até o
avançado. Estudo semelhante foi realizado em parte por Baptista (2000), como descrito
anteriormente, mas a necessidade de um acompanhamento por um período maior do que
apenas alguns meses é relevante devido à possibilidade de acompanhar melhor o
desenvolvimento do espaço vocálico anterior da língua estrangeira.
4.2.3 Características de duração dos sons [
i
] e [
I
] do ILE em relação ao som [
i
] do PB
Partindo do princípio de que falantes nativos do Inglês general American
realizam estes sons com diferenças significativas de duração, afirmamos, em nossa quarta
hipótese, que o som [i] será realizado com uma duração significativamente maior em relação
ao som [I] do ILE. Nossa quinta hipótese, por sua vez, reza que o som [I] do ILE se
realizado sem diferença significativa de duração em relação ao som [i] do PB.
Objetivando averiguar a veracidade das hipóteses apresentadas acima,
primeiramente buscamos realizar comparações entre os sons [i] e [I] dentro do experimento
ING1 e ING2. Em seqüência, faremos uso dos valores médios de duração destes sons para
compará-los ao som [i] e [e] do PB.
Resultados médios pertinentes à duração dos sons [i] e [I] do ILE e [i] e [e] do PB
são apresentados na TABELA 16 em seqüência.
117
TABELA 16: Valores médios de duração (milisegundos) dos sons [i] e [I] do ING1/ING2 e [i] e [e]
dos experimentos POR1/POR2.
[i
ii
i] [I
II
I] [i
ii
i] [e
ee
e]
ING1 ING2 ING1 ING2 POR1 POR2 POR1 POR2
méd
147 103 131 85 107 66 122 84
med
143 96 132 90 105 61 121 81
d.p.
34 29 27 24 21 21 25 22
Observamos, na tabela acima, que todos os sons vocálicos têm uma menor
duração nos experimentos ING2/POR2, como esperado, devido à mudança da metodologia de
coleta de dados neste experimento.
Resultados dos testes t para amostras pareadas envolvendo o par [i] e [I] no
experimento ING1 revela diferença significativa na duração dos dois sons (p.= ,003), tendo o
som [i] maior duração que o som [I]. O mesmo ocorre quando comparamos estes sons dentro
do experimento ING2 (p.= ,0). A FIGURA 53 abaixo relaciona estas informações em forma
de gráfico.
Podemos observar na figura ao
lado a indicação de apenas um outlier dentro
de nosso universo de pesquisa, indicando
que nossos informantes tratam a questão
duracional destes sons de maneira
relativamente consistente em ambos os
experimentos. Observamos também que, ao
compararmos os dados pertinentes aos
experimentos ING1 e ING2, as realizações
dos sons [i] e [I] têm maior duração no
primeiro experimento (p.= ,0 para ambos os
sons).
Dados relativos à duração dos sons anteriores altos do PB também indicam
resultados semelhantes, uma vez que o som [e] tem maior duração que o som [i] em ambos os
experimentos (p.= ,0 para ambas análises). Além disso, os sons vocálicos anteriores altos do
FIGURA 53: Boxplot de duração dos sons [i]-[I]
nos experimentos ING1 e ING2.
118
experimento POR1, como podemos constatar na FIGURA 54, possuem uma duração maior
que seus correspondentes do experimento POR2 (p.= ,0 para ambas análises).
Ao compararmos a duração
dos sons do PB com os sons do ILE,
análises de variância envolvendo a
duração dos sons [i] e [I] no
experimento ING1 e [i] no experimento
POR1 indicam diferenças significativas
entre os sons analisados (p < ,05). Os
resultados desta ANOVA estão
apresentados no APÊNDICE I, seção 4.
Além disso, ao averiguar se a relação
entre os sons [I] ING1 e [e] POR1
também acontece no que diz respeito à
duração destes sons, constatamos que
os resultados de um teste t envolvendo as médias encontradas indicam diferença significativa
entre os dois sons (p.= ,026).
Análises estatísticas semelhantes (ANOVA) envolvendo os sons [i] e [I] no
experimento ING2 e [i] no experimento POR2 indicaram os mesmos resultados (ver
APÊNDICE I, seção 5). Entretanto, uma diferença não-significativa foi encontrada no teste t
entre os sons [I] ING2 e [e] POR2 (p.= ,824). Este resultado reforça nossas afirmações
anteriores ao relacionar o som [I] do ILE e [e] do PB em nosso segundo experimento.
Ao compararmos as médias gerais de duração do som [i] e [I] do PB no
experimento POR1 com as médias dos sons vocálicos de cada uma das palavras utilizadas
neste experimento, apresentados na TABELA 17 em seqüência, encontramos mais uma vez
valores bastante semelhantes.
FIGURA 54: Boxplot de duração dos sons [i]-[e] nos
experimentos POR1 e POR2.
119
TABELA 17: Valores de duração médios do som [i] e [I] do ILE, bem como de cada som vocálico
presente nas cinco palavras analisadas no experimento ING1.
[i]
beat beak keep teat deep
méd.
147 158 143 132 153 147
med.
143 151 138 118 145 142
d.p.
34 34 30 41 43 38
[I]
bit Bic kit tit tip
méd.
131 139 132 128 139 117
med.
132 135 135 130 138 114
d.p.
27 30 28 27 35 29
Realizamos duas ANOVAs envolvendo as médias gerais dos sons [i] e [I] do
experimento ING1 com as médias dos sons vocálicos utilizados nas palavras acima usadas na
realização dos experimentos. Os resultados indicam uma notável consistência na realização da
duração durante todo o experimento (p. > ,05). A média geral dos sons [i] e [I], apresentados
acima, não diferem significativamente em relação às médias encontradas dentro de diferentes
combinações fonéticas. Os resultados destas ANOVAS são apresentados no APÊNDICE I,
seção 6.
A seguir, apresentamos e
analisamos estatisticamente os valores
médios de duração dos sons do PB. A
TABELA 18 apresenta dados referentes à
duração dos sons [i] e [e] no experimento
POR1.
Resultados idênticos aos dos
sons [i] e [I] do ILE foram encontrados após
a análise estatística envolvendo as médias
gerais dos sons [i] e [e] do experimento
POR1 (p. > ,05). Os sons vocálicos utilizados nas palavras presentes no experimento POR1
não diferem significativamente em relação aos valores médios gerais de duração dos sons [i] e
TABELA 18: Valores de duração médios do som
[i] e [e] do PB, bem como de cada som vocálico
presente nas cinco palavras analisadas no
experimento POR1.
[i]
bica pito Tita
méd.
107 111 108 101
med.
105 110 107 94
d.p.
21 20 23 24
[e]
beco peta teta
méd.
122 130 120 117
med.
121 127 117 111
d.p.
25 27 26 27
120
[e] no experimento POR1. Os resultados destas ANOVAS são apresentados no APÊNDICE I,
seção 7.
Ao retomarmos as hipóteses apresentadas no início desta seção, constatamos que a
quarta hipótese, ao afirmar que o som [i] seria realizado com uma duração significativamente
maior em relação ao som [I] no ILE, foi confirmada. Por outro lado, a quinta hipótese, ao
rezar que o som [I] no ILE seria realizado sem diferença significativa de duração em relação
ao som [i] do PB, foi refutada. Nossa análise, todavia, indica uma relação parcial entre os
sons [e] do PB com o som [I] do ILE no segundo experimento.
A inserção do som [e] do PB nos experimentos POR1 e POR2 como parâmetro de
comparação do som [I] do ILE foi mais uma vez utilizada na presente seção deste estudo.
Apesar desta comparação não fazer parte de nossas hipóteses de pesquisa apresentadas
anteriormente, as irrefutáveis semelhanças encontradas na análise espectral e de duração dos
sons analisados justificam, a nosso ver, uma discussão mais detalhada acerca destes sons.
Estudos prévios envolvendo a duração dos sons anteriores altos do ILE e do PB
são bastante raros. Os únicos dados que tivemos a oportunidade de analisar foram os
apresentados por Rauber (2006).
Dados envolvendo a duração do par [i]-[I] do ILE (RAUBER, 2008) indicam que
informantes do sexo feminino não produzem diferenças significativas entre os componentes
deste par. Informantes do sexo masculino, entretanto, atingiram níveis significativos de
diferença na duração dos sons analisados. Dados relativos aos dois estudos são apresentados
na TABELA 19 em seqüência.
TABELA 19: Valores médios de duração
(milisegundos) nos estudos de Rauber (2006) e
Barboza (2008) (ING1).
Rauber
(2006)
Barboza
(2008)
[i] [I] [i] [I]
méd
125 101 147 131
med
137 95 143 132
d.p.
30 22 34 27
121
Ao compararmos os dados apresentados por Rauber (2006) com os dados do
presente estudo, no tocante a informantes do sexo masculino, testes não-paramétricos
Kolmorogov-Smirnov para amostras independentes indicam que o som [i] do ILE não possui
diferença significativa de duração (p.= ,630). O som [I] do ILE, por outro lado, apresenta
variação significativa (p.= ,021), sendo que os sons apresentados por Rauber (2006) têm
menor duração que os encontrados em nosso estudo, como podemos observar na tabela acima.
Isso nos permite concluir que nossos informantes, apesar de fazerem distinção significativa de
duração dos sons ora analisado, possuem valores médios mais próximos que os encontrados
no estudo de Rauber (2006).
Estudos posteriores envolvendo questões de duração vocálica entre o PB e o ILE
podem ser realizados envolvendo diferentes variáveis de controle prosódico e fonotático nas
duas línguas.
A utilização de frases-veículo diferentes, usando a mesma palavra em posição no
início, meio e fim de frase, pode revelar diferenças significativas no comportamento
duracional dos sons analisados. Do mesmo modo, variações no posicionamento do acento
frasal podem resultar diferentes comportamentos de duração das vogais tanto no PB quanto no
ILE.
A inserção de sons consonantais diferentes em posição de coda silábico em
palavras cuja vogal é analisada também apresenta grande potencial para futuros estudos do
ILE. O alongamento ou redução vocálica produzida pela influência direta de consoantes
vozeadas, no primeiro caso, e desvozeada, no segundo, ainda não foi estudado no ILE de
estudantes brasileiros até onde sabemos.
4.2.4 Características espectrais do primeiro elemento do som [
eI
] do ILE e do PB
Nossa sexta hipótese de pesquisa afirma que o primeiro elemento do som [eI] do
ILE e do PB serão realizados sem diferenças espectrais significativas. A TABELA 20
122
apresenta os valores espectrais médios do primeiro elemento do som [eI] nos experimentos
ING1/ING2 e POR1/POR2.
TABELA 20: Valores médios (Hertz) do som [I] nos experimentos ING1 e ING2, e [e] nos
experimentos POR1 e POR2.
ING1 [eI
II
I] POR1 [eI
II
I] ING2 [eI
eIeI
eI] POR2 [eI
eIeI
eI]
F1 F2 F1 F2 F1 F2 F1 F2
méd
418 1989 409,8 1897 426,6 1879 394,7 1860
med
416,5 1981 417,5 1878 433,5 1883 393 1846
d.p.
27,9 91,6 28,6 75 21,9 93,9 25,9 95,2
Ao fazermos uso de testes estatísticos referentes aos dados da tabela acima,
constatamos que testes t para amostras pareadas envolvendo os sons apresentados, nos
experimentos ING1 e POR1, não apresentaram variação significativa entre as médias de seus
dois primeiros elementos no eixo da altura (F1) (p.= ,232). No entanto, uma diferença
significativa é encontrada no eixo do avanço (F2) (p.= ,0), apesar do alto nível de
sobreposição espectral encontrado. A FIGURA 55 apresenta gráfico contendo a relação entre
os primeiros elementos dos dois sons.
Podemos observar um alto nível de sobreposição entre os dois sons apresentados,
especialmente no eixo F1 (altura). No
entanto, o som do ILE é produzido com
maior avanço (F2) que o som do PB.
Por outro lado, testes t
envolvendo os resultados apresentados nos
experimentos ING2 e POR2 encontraram
diferença significativa no eixo de altura
(F1) (p.= ,0), mas não no eixo de avanço
(F2) (p.= ,258). A FIGURA 56 apresenta
estes dados.
FIGURA 55: Descrição do primeiro elemento do
som [eI] nos experimentos ING1 (vermelho) e
POR1 (azul).
123
Observamos que os valores do
primeiro elemento do som [eI], nos
experimentos ING2 e POR2, diferem da
tendência apresentada na FIGURA 55 por
possuírem altura diferente, apesar de altos
índices de sobreposição espectral nos
valores de F1.
Análises estatísticas (teste t)
inter-experimento envolvendo as médias de
altura (F1) e avanço (F2) do primeiro
elemento do som [eI] nos experimentos
ING1/ING2 indicam diferença significativa no avanço (p.= ,0), mas não na altura (p.= ,166).
Testes idênticos, por outro lado, revelam resultados opostos quando analisamos os dados
relativos aos experimentos POR1/POR2, com valores de avanço atingindo níveis não
significativos (p.= ,051) e a altura apresentando valores significativamente diferentes (p.=
,015)
Ao compararmos as médias gerais do som [eI] do PB no experimento POR1 com
as médias dos sons vocálicos de cada uma das palavras utilizadas neste experimento,
apresentados na TABELA 21, encontramos valores bastante semelhantes.
TABELA 21: Valores espectrais médios do som [eI] do PB no
experimento POR1, bem como de cada som vocálico presente nas três
palavras analisadas.
[eI]
deita Peita deito
F1 F2 F1 F2 F1 F2 F1 F2
méd.
409 1897 409 1890 419 1905 399 1898
med.
417 1878 413 1883 429 1884 402 1899
d.p.
28 75 26 80 36 89 27 78
Uma ANOVA para amostras repetidas comparou a média geral do som [eI] no
experimento POR1 com as médias dos sons vocálicos utilizados nas palavras usadas em sua
elicitação não encontrou diferença significativa no eixo da altura (p. > ,05) (Apêndice I, seção
8), ou no eixo do avanço (p.= ,403).
FIGURA 56: Descrição do primeiro elemento do
som [eI] nos experimentos ING2 (vermelho) e
POR2 (azul).
124
Em seguida, dados espectrais relativos ao primeiro elemento do som [eI] do
experimento ING1 são apresentados na TABELA 22.
TABELA 22: Valores espectrais médios do primeiro elemento do som [eI] do ILE, bem como
de cada som vocálico presente nas cinco palavras analisadas no experimento ING1.
[eI]
bate bake Kate date tape
F1 F2 F1 F2 F1 F2 F1 F2 F1 F2 F1 F2
méd.
418 1989 426 1907 419 1923 394 2211 413 1992 437 1966
med.
416 1981 425 1880 420 1913 387 2226 408 1976 448 1976
d.p.
27 91 30 107 29 97 46 126 23 236 44 93
Mais uma vez, resultados de ANOVAs envolvendo as médias gerais de um som no
experimento ING1 não diferem significativamente das médias individuais dos sons vocálicos
utilizados para sua elicitação. Os resultados indicam diferenças não significativas (p. > ,05)
em ambos os eixos dos sons apresentados na tabela acima. Estes dados são apresentados no
APÊNDICE I, seção 9.
Ao comparar as médias da distância euclidiana entre os primeiros elementos dos
sons [eI] analisados nos experimentos ING1/POR1 (média: 97; mediana: 97; d.p.: 40) e
ING2/POR2 (média:76; mediana: 69; d.p.: 34), o teste t indica diferença significativa (p .=
,022), com a distância sendo significativamente maior no primeiro que no segundo par
analisado. Isto, no entanto, dificulta o entendimento de diferença significativa no teste t
envolvendo o eixo de altura (F1) dos dois sons nos experimentos ING2/POR2, como
apresentado na FIGURA 55, uma vez que os sons se encontram significativamente mais
próximos um do outro.
É pertinente observar que os resultados encontrados em se tratando do primeiro
elemento do som [eI], nos dois experimentos, são incomuns em nosso estudo. O que
normalmente ocorre, dada as características de maior foco na habilidade comunicativa do que
na forma lingüística, nos experimentos ING2 e POR2, é um aumento no nível de sobreposição
espectral das categorias vocálicas nas duas línguas analisadas. Resultados pertinentes ao
primeiro elemento do som [eI], entretanto, seguem tendência oposta provavelmente pela
redução do espaço vocálico anterior no experimento ING2, como evidenciado anteriormente
125
pelo abaixamento do som [i] do ILE (4.2.1), e em seqüência pela elevação do som [Q] (4.3.1)
no experimento ING2.
Tendo em vista os resultados apresentados acima, tomamos nossa sexta hipótese
de pesquisa, que afirma que o primeiro elemento do som [eI] do ILE e do PB seriam
realizados sem diferenças espectrais significativas, como parcialmente confirmada, uma vez
que as comparações estatísticas pertinentes aos experimentos ING2 e POR2 mostraram
diferenças significativas no eixo da altura (F1), enquanto os dados relativos ao experimento
ING1 e POR1 revelaram diferença significativa no avanço.
Análises anteriores do comportamento do primeiro elemento do som [eI] do ILE e
do PB são apresentadas abaixo. Além disso, algumas generalizações envolvendo o
posicionamento relativo do primeiro elemento do som [eI] com o par anterior alto [i]-[I] do
ILE são também discutidas.
Em seu estudo longitudinal envolvendo falantes brasileiros de Inglês como
segunda língua, Baptista (2000) descreve a articulação do primeiro elemento do som [eI] da
língua-alvo como baseado nos sons [e] e [eI] do PB. O som [eI] do inglês como L2 é
realizado na mesma região do som [I], impedindo, na visão da autora, a correta aquisição
deste último som.
A autora vê o abaixamento do som [eI] como fundamental para a separação do par
anterior-alto [i]-[I] da língua-alvo, uma vez que as únicas informantes que conseguiram
atingir uma separação parcial destes sons obtiveram este resultado após fazer o
abaixamento do som [eI].
Por outro lado, estudos posteriores (BAPTISTA; BION, 2005) demonstraram,
através de pesquisa de correlações entre a aquisição dos sons [i]-[I] e do posicionamento do
som [eI], a existência de uma relação apenas moderada entre a separação do par anterior alto e
o abaixamento do ditongo. O estudo em questão ainda afirma que a distinção dos sons [i]-[I]
pode começar antes do abaixamento do som [eI]. Isto gera uma sobreposição espectral entre o
primeiro elemento do som [eI] e o som [I] do ILE.
126
Nossos dados corroboram este
último estudo, uma vez que observamos
sobreposição espectral entre o som [I] e o
primeiro elemento de [eI] no experimento
ING1. A FIGURA 57 apresenta as vogais
mencionadas. Testes t, entretanto,
encontraram diferenças significativas entre
o primeiro elemento do som [eI] e o som
[I] do ILE nos dois eixos (p.= ,0 em ambos
os resultados).
A FIGURA 58 abaixo expande a presente discussão ao envolver os dados
encontrados no experimento ING2.
Como podemos observar, o grau de sobreposição espectral entre o som [I] e o
primeiro elemento do som [eI] aumenta sensivelmente. Esta sobreposição espectral,
entretanto, não é capaz de eliminar as diferenças significativas entre os sons analisados (F1:
p.= ,038; F2: p.= ,002).
Desdobramentos desta pesquisa, no que se refere à análise espectral do primeiro
elemento do som [eI], podem investigar as características espectrais do segundo elemento do
som nas duas línguas. Médias dos valores dos primeiros dois formantes, quando averiguados
em diversos pontos de sua duração,
como, por exemplo, aos 20, 40, 60, e
80%, dariam uma avaliação muito
mais precisa das transições
envolvendo os dois elementos do som
em questão.
Características de
duração também podem ser
futuramente exploradas no estudo do
som [eI] do ILE e do PB. Medidas de
duração podem ser realizadas e
FIGURA 57: Realização dos sons [i], [I], e [eI] no
experimento ING1.
FIGURA 58: Realização dos sons [i], [I], e [eI] no
experimento ING2.
127
comparadas tanto nos dois elementos do ditongo quanto em cada um de seus elementos. Uma
vez que o som do Inglês possui um segundo elemento de menor duração que o primeiro, seria
importante observar se os usuários de ILE investigados em nosso estudo realizam tais
diferenças sutis de duração.
Chegamos aqui ao fim da primeira seção de nosso capítulo de resultados e
discussões, em que tratamos dos aspectos espectrais e de duração dos sons anteriores [i], [I], e
[eI] do ILE e [i], [e], e [eI] do PB. Em nossa próxima seção, faremos a discussão das
características espectrais e de duração encontradas nos sons [E] e [Q] do ILE e [E] do PB nas
duas línguas estudadas.
4.3 Análise e discussão dos sons vocálicos anteriores [E
EE
E] e [Q]
Q]Q]
Q] do ILE e [E
EE
E] do PB
Esta seção terá como foco os sons [E], e [Q] do ILE, e o som [E] do PB. Estas
discussões envolverão tanto características espectrais quando de duração dos sons
supracitados.
4.3.1 Características espectrais dos sons [
E]
e [
Q
] do ILE
Nossa sétima hipótese de trabalho afirma que o par anterior [E, Q] do ILE será
realizado sem diferenças espectrais significativas, portanto, com alto grau de sobreposição de
seus valores espectrais.
128
A TABELA 23 abaixo mostra os valores de F1 e F2 (Hertz) dos sons [E] e [Q] dos
experimentos ING 1 e ING2. Os valores são apresentados em forma de média (méd), mediana
(med), e desvio-padrão (d.p.).
TABELA 23: Valores médios (Hertz) dos sons [E] e [Q] nos experimentos ING1 e ING2.
ING1 [E
EE
E] ING1 [Q
QQ
Q] ING1 [E
EE
E] ING2 [Q
QQ
Q]
F1 F2 F1 F2 F1 F2 F1 F2
méd
618 1841 682 1811 617 1730 625 1786
med
611 1842 661 1812 607 1731 608 1786
d.p.
61 88 82 104 51 78 61 85
Observamos, na tabela acima, semelhanças entre os valores encontrados na
realização do som [E] nos dois experimentos. O som [Q], por outro lado, apresenta uma
variação em seu valor médio de F1 não correlacionado a alterações no valor de F2 nos dois
experimentos.
Resultados de testes t envolvendo os sons [E] e [Q] no experimento ING1 revelam
diferença significativa entre as duas vogais no eixo da altura (F1) (p.= ,0), mas não no de
avanço (F2) (p.= ,238). No entanto, como podemos observar na FIGURA 59, a existência de
um alto grau de sobreposição entre as
duas vogais provavelmente indica que
grande parte de nossos informantes
realizaram os dois sons de maneira
indistinta. O alto valor apresentado
no desvio-padrão no eixo da altura da
vogal [Q] (82 Hz) também indica a
grande variação com que esta vogal
foi realizada dentro de nossos dados
relativos ao experimento ING1.
Dados relativos ao
experimento ING2, como
FIGURA 59: Realização dos sons [E] e [Q] no
experimento ING1.
129
esperávamos, apresentam uma sobreposição espectral ainda maior. Comparações estatísticas
idênticas às descritas anteriormente, curiosamente, indicam resultados opostos, uma vez que
as duas vogais apresentadas diferem significativamente no avanço (p.= ,014), mas não na
altura (p.= ,425). A FIGURA 60 apresenta o gráfico vocálico referente a esta discussão.
Comparações estatísticas
(testes t) entre os sons inter-
experimentos mostram que o som [E] é
realizado significativamente mais
avançado no experimento ING1 do
que no experimento ING2 (p.= ,0).
Não foram encontradas variações
significativas de altura da vogal (p.=
,899) ao fazermos uso do mesmo
procedimento de análise estatística
entre os dois experimentos.
O som [Q], por outro lado, não apresenta variação significativa no avanço (p.=
,095). Tal vogal, todavia, é significativamente mais alta no experimento ING2 do que no
experimento ING1 (p.= ,001), como observamos ao compararmos as duas figuras
apresentadas nesta seção até o momento.
Apesar destas diferenças de realização dos sons anteriores baixos do ILE nos dois
experimentos, as distâncias euclidianas encontradas entre os sons dos experimentos
ING1/ING2, apresentadas na TABELA 24, não apresentam diferenças significativas de
acordo com os resultados de um teste t (p.= ,443).
ANOVAs para medidas
repetidas envolvendo as médias de F1
e F2 dos sons [E] e [Q] do
experimento ING1 com as médias de
cada uma das cinco palavras
utilizadas para sua elicitação indicam
diferenças não-significativas em sua
quase totalidade (p. > ,05). Apenas a vogal da palavra get se apresentou mais anterior que
FIGURA 60: Realização dos sons [E] e [Q] no
experimento ING2.
TABELA 24: Médias das distâncias euclidianas entre os
sons [E] e [Q] no experimento ING1 e ING2.
Distância euclidiana
entre os sons no
experimento ING1
Distância euclidiana
entre os sons no
experimento ING2
méd.
103 88
med.
75 63
d.p.
98 75
130
seus sons semelhantes dentro de contextos fonéticos diferentes (p. < ,05). Tais resultados são
apresentados no APÊNDICE I, seção 10. A FIGURA 61 apresenta o boxplot dos valores de
F2 encontrados no experimento ING1.
Observamos neste gráfico a
relativa elevação dos valores médios do
eixo F2 (avanço), indicando que a vogal
de get é comparativamente mais avançada,
por apresentar um valor médio mais
elevado em relação às outras médias
encontradas.
Tendo em vista especialmente
o alto grau de sobreposição de seus
valores espectrais médios e das diferenças
não-significativas em pelo menos um de
seus dois eixos encontradas nas duas
vogais em ambos os experimentos, tomamos nossa sétima hipótese de trabalho, que afirma
que o par anterior do ILE [E, Q] seria realizado sem diferenças espectrais significativas, como
parcialmente confirmada. Os dados referentes à realização dos sons [E] e [Q] dos nossos
informantes, em termos espectrais, são muito sobrepostos. Todavia os testes estatísticos
mostram que mesmo esse alto grau de sobreposição ainda apresenta diferenças significativas.
Estudos anteriores envolvendo a produção dos sons [E] e [Q] do ILE apresentam
resultados semelhantes, indicando, ainda, ser esta uma das mais difíceis distinções a serem
realizadas por falantes brasileiros de Inglês.
Estudos como os desenvolvidos por Baptista (2000), Rauber et al (2005), e
Rauber (2006) não encontram diferenças significativas entre as vogais [E] e [Q] produzidas
por seus informantes.
Por outro lado, dados referentes à pesquisa de Baptista e Bion (2005) mostram-
nos que apenas cinco dentre vinte e um informantes produziram o par em questão com
diferenças significativas de características espectrais. Esse estudo ainda afirma que, no tocante
a estas vogais, habilidades de produção precedem habilidades perceptivas. Provavelmente
FIGURA 61: Boxplot dos valores de F2 encontrados
no experimento ING1.
131
estes resultados apontam para um treinamento dos informantes nas características
articulatórias das vogais do Inglês.
Resultados semelhantes são também apresentados por Bion et al (2005),
indicando maior dificuldade na produção do par [E, Q] do que do par [i, I], com o presente
trabalho servindo para corroborar tais afirmações. Além disso, Nobre-Oliveira (2007) chega a
mencionar a melhora do desempenho de um de seus grupos experimentais na produção do par
anterior [E, Q], apesar de esta melhora ser mínima ao observarmos os valores médios
individuais da distância euclidiana entre os componentes do par, que passaram de 7,8 para
13,2 Hz.
Estudos futuros envolvendo o par anterior baixo [E]-[Q] do ILE, devido a sua
complexa aquisição por parte de falantes do PB descrita acima, podem ser desenvolvidos na
forma de análise do efeito do treinamento fonético-fonológico nas realizações destes sons
após um considerável período de tempo pós-intervenção.
O estudo de Nobre-Oliveira (2007) segue este modelo metodológico.
Entretanto, o acompanhamento dos resultados pós-intervenção podem, a nosso ver, ser
analisados durante um período de tempo maior que um mês. Uma pesquisa focada na retenção
desta nova categoria vocálica, que é o maior problema na aquisição do sistema vocálico do
Inglês por parte de falante de PB, se faz necessária. Tal estudo possibilitará a observação da
relação de um feedback especializado e possíveis melhorias na articulação destes sons após
um lapso maior de tempo.
4.3.2 Características espectrais dos sons [
E]
e [
Q
] do ILE e do som [
E]
do PB
Quanto à comparação dos sons vocálicos anteriores [E] e [Q] do ILE e [E] do PB,
nossa oitava hipótese de trabalho reza que o som [E] do ILE será realizado sem diferenças
espectrais significativas em relação ao som [E] do PB. Além disso, a nona hipótese afirma
132
que o som [Q] do ILE será realizado sem diferenças espectrais significativas em relação ao
som [E] do PB.
Dados espectrais médios relativos ao som [E] do PB, encontrados nos
experimentos POR1 e POR2, são apresentados na TABELA 25 em seqüência.
TABELA 25: valores médios (Hertz) dos sons [E] nos experimentos
POR1 e POR2.
POR1 [E
EE
E] POR2 [E
EE
E]
F1 F2 F1 F2
méd.
546 1840 530 1754
med.
549 1839 531 1746
d.p.
41 102 34 74
Os dados apresentados na tabela acima foram comparados estatisticamente aos
resultados pertinentes aos sons [E] e [Q] do ILE apresentados na seção anterior. Resultados de
uma ANOVA para medidas repetidas comparando os valores de F1 (altura) e F2 (avanço) das
vogais [E] e [Q] do ILE, no experimento ING1, e da vogal [E] do PB, no experimento POR1,
indicam diferença significativa (p < ,05) apenas do eixo da altura, mas não no do avanço (p.=
,475). As vogais do ILE são realizadas de maneira significativamente mais baixa que a vogal
do PB como podemos observar na
FIGURA 62. Dados referentes a estas
comparações podem ser observados no
APÊNDICE I, seção 11.
Os sons vocálicos [E] e [Q]
do ILE são produzidos
significativamente mais baixos que o
som vocálico do PB também na
comparação dos experimentos
ING2/POR2 (p. < ,05), de acordo com os
dados revelados por outra ANOVA para
medidas repetidas. Mais uma vez dados
referentes ao avanço (F2) de tais sons não apresentam diferenças significativas (p.= ,092).
FIGURA 62: Vogais [E] e [Q] do ILE (ING1), em
vermelho, e [E] do PB (POR1), em azul.
133
Tais resultados são apresentados no APÊNDICE I, seção 12. Observamos estes dados de
maneira gráfica na FIGURA 63.
Ambas as comparações
estatísticas indicam a criação de uma
nova categoria vocálica na região
anterior baixa do espaço vocálico de
nossos informantes. Esta nova
categoria, no entanto, engloba as duas
vogais do ILE. Isto não acontece, como
vimos, com os sons [i, I] discutidos
anteriormente (4.2.1), uma vez que
nossos dados apontaram o
estabelecimento de duas categorias
vocálicas distintas para o par anterior alto.
Comparações inter-experimento POR1 e POR2, envolvendo o som [E] indicam
uma diferença não-significativa de altura (F1) entre os dois experimentos (p.= ,088). Por outro
lado, a diferença no eixo do avanço (F2) é significativa, com o som [E] POR1 sendo realizado
significativamente com maior avanço (p.= ,0). Observamos estes dados na FIGURA 64 a
seguir.
Dados envolvendo a
comparação da média geral do som
[E] dentro do experimento POR1
com outras médias vocálicas das
palavras utilizadas no mesmo
experimento são apresentadas na
TABELA 26.
FIGURA 63: Vogais [E] e [Q] do ILE (ING2), em
vermelho, e [E] do PB (POR2), em azul.
FIGURA 64: Vogal [E] nos experimentos POR1 e POR2.
134
TABELA 26: Valores espectrais médios do primeiro elemento do som
[E] do PB, bem como de cada som vocálico presente nas três palavras
analisadas no experimento POR1.
[E]
beca peta teto
F1 F2 F1 F2 F1 F2 F1 F2
méd.
546 1840
548 1857
545 1862
542 1797
med.
549 1839
539 1827
539 1845
532 1807
d.p.
41 102 46 110 43 114 44 96
ANOVAs para medidas repetidas envolvendo as médias de F1 e F2 do som [E] do
experimento POR1 com as médias vocálicas de cada uma das três palavras utilizadas para sua
elicitação indicam diferenças não-significativas tanto no eixo de altura (F1) (p.= ,815) quanto
no do avanço (F2) (p. > ,05). Estes resultados são apresentados no APÊNDICE I, seção 13.
No tocante às distâncias euclidianas entre os sons [E] do PB e o par [E] e [Q] do
ILE, apresentadas na TABELA 27, observamos um distanciamento maior entre os pares
comparados no experimento POR1 e ING1, no tocante ao par [E] POR1 e [Q] ING1. Os
valores de distância euclidiana média dos sons [E] POR2 e [Q] ING2 é sensivelmente menor
na comparação entre os sons nos experimentos POR2 e ING2. Esta tendência de redução das
distâncias euclidianas entre os sons vocálicos analisados foi constatada anteriormente e
reflete as características metodológicas distintas utilizadas em cada experimento.
Testes t para amostras pareadas confirmam esta impressão inicial. A distância
euclidiana entre os componentes do par [E]POR1/[E]ING1 é significativamente menor que a
TABELA 27: Médias das distâncias euclidianas entre os sons [E] e [Q] dos experimentos ING1/ING2
e o som [E] dos experimentos POR1/POR2.
Distância
euclidiana entre os
sons [E]POR1/[E]
ING1
Distância
euclidiana entre os
sons [E]POR1/[Q]
ING1
Distância
euclidiana entre os
sons [E]POR2/[E]
ING2
Distância
euclidiana entre os
sons [E]POR2/[Q]
ING2
méd.
114 182 117 133
med.
107 151 114 123
d.p.
51 126 41 98
135
distância entre os componentes do par [E]POR1/[Q]ING1 (p.= ,004). Entretanto, ao
compararmos estatisticamente a distância entre os componentes do par [E]POR2/[E]ING2 e
[E]POR2/[Q]ING2, encontramos uma diferença não-significativa (p.= ,472).
Ao retomarmos as hipóteses apresentadas no início desta seção, percebemos que
tanto a oitava hipótese, ao rezar que o som [E] do ILE seria realizado sem diferenças
espectrais significativas em relação ao som [E] do PB, quanto a nona, ao afirmar que o som
[Q] do ILE seria realizado sem diferenças espectrais significativas em relação ao som [E] do
PB, foram refutadas. Os dados apresentados anteriormente permitem-nos constatar a
existência de uma nova categoria vocálica para as duas vogais [E]-[Q] do ILE de nossos
informantes.
É pertinente notar que todos os estudos anteriores que reportam dados relativos à
comparação espectral dos sons [E]-[Q] do ILE com o som [E] do PB identificaram o
estabelecimento de apenas uma categoria vocálica nova mais baixa que o som [E] do
português (RAUBER, 2006; NOBRE-OLIVEIRA, 2007). Baptista (2000) enfatiza ainda que
novos sons vocálicos tendem a ser minimamente diferentes do som da língua materna mais
próximo, sendo produzidos de uma maneira mais periférica. É pertinente observar que nossos
dados indicam a realização de [E] do ILE em uma nova categoria vocálica, constituindo,
juntamente com o som [Q], um novo par vocálico com diferenças apenas no experimento
ING1, e não apenas um som como indicado por Baptista (2000). A FIGURA 65 (RAUBER,
2006) é bastante semelhante à encontrada em nosso estudo.
FIGURA 65: V
ogais do ILE (negro) e do PB (
Tendo em vista tais resultados, a realização de estudos posteriores envolvendo
É
também pertinente a realização de estudo longitudinal com a consecução
estudo deste tipo
ofereceria
estrangeira.
4.3.3
Características de duração dos sons [
Nossa décima hipótese de trabalho reza que
ogais do ILE (negro) e do PB (
cinza)
(adaptada de RAUBER,
2006).
Tendo em vista tais resultados, a realização de estudos posteriores envolvendo
testes de percepção específicos das vogais anteriores
[E, Q] do ILE
é
dificuldade de realização destes sons constatada neste
e em estudos anteriores.
também pertinente a realização de estudo longitudinal com a consecução
experimentos de produção vocálica envolvendo a região anterior baixa das duas línguas. Um
ofereceria
informações bastante importantes acerca
do
par vocálico mais difícil de ser adquirido por parte de falantes brasileiros de inglês língua
Características de duração dos sons [
E]
e [
Q
] do ILE e do som [
Nossa décima hipótese de trabalho reza que
o som [Q]
do ILE
uma duração significativamente maior em relação ao som
[E]
do ILE. Além disso,
136
(adaptada de RAUBER,
Tendo em vista tais resultados, a realização de estudos posteriores envolvendo
é
pertinente, devido à
e em estudos anteriores.
também pertinente a realização de estudo longitudinal com a consecução
de
experimentos de produção vocálica envolvendo a região anterior baixa das duas línguas. Um
do
desenvolvimento do
par vocálico mais difícil de ser adquirido por parte de falantes brasileiros de inglês língua
] do ILE e do som [
E]
do PB
do ILE
será realizado com
do ILE. Além disso,
a décima
137
primeira e última hipótese afirma que o som [E] no ILE será realizado sem diferença
significativa de duração em relação ao som [E] do PB. Resultados médios pertinentes à
duração dos sons [E] e [Q] do ILE e [E] do PB são apresentados na TABELA 28.
TABELA 28: Valores médios de duração (milisegundos) dos sons [E] e [Q] do ING1/ING2 e [E] dos
experimentos POR1/POR2.
[E] [Q] [E]
ING1 ING2 ING1 ING2 POR1 POR2
méd
172 133 186 125 139 90
med
168 123 188 122 137 88
d.p.
34 29 39 31 35 25
Observamos, na tabela acima, uma grande redução na duração de cada uma das
vogais analisadas quando comparamos os valores médios do primeiro experimento com o
segundo, em ambas as línguas analisadas.
Uma ANOVA para medidas repetidas envolvendo as médias de duração dos sons
[E] e [Q] do ILE e do som [E] do PB nos experimentos ING1/POR1 indicaram que o som do
PB possui duração significativamente menor que os sons do Inglês (p < ,05). A ANOVA não
encontrou diferenças significativas de duração entre os dois sons do ILE (p. > ,05). Os
resultados desta ANOVA são apresentados no
APÊNDICE I, seção 14. A FIGURA 66 indica
a relação entre as vogais do ILE, bem como a
menor duração do som do PB.
Comparações estatísticas
semelhantes às apresentadas acima
envolvendo os dados dos experimentos
ING2/POR2 indicam resultados semelhantes.
O som do PB tem mais uma vez duração
menor que os sons do ILE (p < ,05), sendo que
os sons do ILE não possuem variação
significativa em sua duração (p. > ,05). Os
FIGURA 66: Boxplot dos sons anteriores baixos
dos experimentos ING1(vermelho) e POR1
(azul).
138
resultados desta ANOVA são apresentados no APÊNDICE I, seção 15. A FIGURA 67
apresenta estes resultados num boxplot.
Médias de duração envolvendo os
experimentos ING2/POR2 são
significativamente menores que os apresentados
nos experimentos ING1/POR1, como esperado,
devido à metodologia de foco comunicativo
empregada nestes experimentos. Testes t para
amostras pareadas indicaram que os sons [E]
POR1, [E] ING1, e [Q] ING1 têm duração
significativamente maior que seus sons
semelhantes nos experimentos POR2 e ING2
(p.= ,0 em todos os testes).
Dados intra-experimento envolvendo a média geral dos sons [E] e [Q] do ILE no
experimento ING1, bem como as médias de duração dos cinco sons vocálicos utilizados nas
palavras usadas na elicitação destes sons, são apresentadas em seqüência na TABELA 29.
Mais uma vez, a média geral dos sons analisados não difere, a primeira vista, dos sons
vocálicos utilizados como estímulo em sua realização.
TABELA 29: Valores de duração médios do par [E] e [Q] do ILE, bem
como de cada som vocálico presente nas cinco palavras analisadas no
experimento ING1.
[E]
bet Beck get debt deck
méd.
172 171 167 173 181 167
med.
168 167 165 170 180 162
d.p.
34 31 35 36 41 35
[Q]
bat back cat tat tap
méd.
186 199 184 184 190 173
med.
188 197 181 187 189 169
d.p.
39 46 38 46 37 40
ANOVAs para amostras pareadas confirmam esta impressão ao resultarem em
diferenças de duração não-significativas entre as médias gerais dos sons [E] e [Q] do ILE e os
FIGURA 67: Boxplot dos sons anteriores
baixos nos experimentos ING2 (vermelho) e
POR2 (azul).
139
valores encontrados nas vogais das cinco palavras apresentadas na tabela (p. > ,05). Os resultados dos
testes estatísticos são apresentados no APÊNDICE I, seção 16.
Quanto às médias gerais de duração do som [E] do PB e as médias vocálicas das
palavras usadas em sua elicitação, apresentamos tais resultados na TABELA 30. Observamos,
como de costume, um alto nível de consistência entre a média geral e os sons vocálicos de
cada uma das palavras apresentadas na tabela abaixo.
TABELA 30: Valores de duração médios do som
[E] do PB, bem como de cada som vocálico
presente nas três palavras analisadas no
experimento POR1.
[E]
beca peta teto
méd.
139 139 131 132
med.
137 139 131 130
d.p.
35 26 29 29
A realização de uma ANOVA para medidas repetidas envolvendo os valores
apresentados acima confirma a existência de diferenças não-significativas entre as médias de
duração dos sons analisados (p.= ,092).
Tendo em vista a discussão apresentada acima, nossa décima hipótese de trabalho,
ao rezar que o som [Q] do ILE seria realizado com uma duração significativamente maior em
relação ao som [E] do ILE, bem como a décima primeira e última hipótese, ao afirmar que o
som [E] do ILE seria realizado sem diferença significativa de duração em relação ao som [E]
do PB, foram refutadas.
Pesquisas anteriores, no tocante à
duração dos sons do ILE e do PB, se restringem aos
resultados encontrados no estudo de Rauber (2006),
apresentados na TABELA 31.
Diferentemente dos resultados
encontrados neste estudo, ANOVAs utilizando os
dados de Rauber (2006), apresentados na tabela acima, indicam uma diferença o
significativa entre todos os sons analisados (p.= ,067).
TABELA 31: Valores de duração médios
dos sons [E] do PB, [E] e [Q] do ILE nos
dados de Rauber (2006).
[E] PB [E] ILE [Q] ILE
méd.
105 119 117
med.
107 114 130
d.p.
24 22 50
140
Os resultados de Rauber (2006), caso ocorressem em nosso estudo, confirmariam
nossa décima primeira hipótese de pesquisa. Acreditamos, portanto, que a disparidade entre
estes resultados requerem um estudo envolvendo um número maior de informantes com o
objetivo de analisar a duração destes sons. Uma pesquisa seguindo esta proposta ofereceria
uma maior validade à análise estatística, servindo para esclarecer melhor o problema da
duração dos sons vocálicos analisados.
Outro possível desdobramento de pesquisas envolvendo a duração de sons do ILE,
como mencionamos anteriormente, envolve o comportamento da duração das vogais
quando seguidas por consonante vozeada ou desvozeada em posição de coda. Seria
importante observar se os dois sons permanecem sem apresentar diferenças significativas de
duração dentro de contextos fonéticos não analisados em nossa pesquisa.
4.4 Sumário
Nesta seção analisamos e discutimos os dados referentes aos sons vocálicos [i],
[I], e [eI] do ILE e [i], [e], e [eI] do PB (4.2) e [E] e [Q] do ILE e [E] do PB (4.3) do ILE e do
PB produzidos por nossos informantes.
Na seção 4.2, obtivemos os seguintes resultados:
4.2.1 A análise estatística de dados relativos às produções espectrais dos sons
anteriores altos nos permite-nos afirmar que os sons [i] e [I] do ILE são significativamente
diferentes um do outro;
4.2.2 Comparações envolvendo os sons [i] do ILE e o som [i] do PB indicam, por
outro lado, diferenças não-significativas. O mesmo ocorre com os sons [I] do ILE e [e] do PB;
4.2.3 Com relação aos aspectos de duração, o som [i] tem duração
significativamente maior que o som [I] no ILE. O último som não apresentou diferença
141
significativa em relação ao som [e] do PB, ao compararmos dados relativos aos experimentos
POR2/ING2;
4.2.4 Quanto às características espectrais de realização do primeiro elemento do
som [eI] nas duas línguas, apesar de a análise estatística ter apontado algumas diferenças
significativas, o alto grau de sobreposição espectral encontrada nas duas línguas permite-nos
afirmar que os dois sons são basicamente os mesmos nos dois idiomas.
Na seção 4.3, obtivemos os seguintes resultados:
4.3.1 No tocante à análise dos resultados, os sons anteriores [E] e [Q] do ILE são
iguais devido à grande sobreposição espectral encontrada em nossos dados, apesar de, mais
uma vez, as análises estatísticas apresentarem alguns resultados indicando diferenças
significativas;
4.3.2 Os sons [E] e [Q] do ILE são significativamente mais baixos que o som [E]
do PB, criando, dessa forma, uma nova categoria vocálica para essas duas vogais do ILE;
4.3.3 Ao levarmos em conta a duração desses sons, chegamos à conclusão de que
os sons [E] e [Q] do ILE não apresentam diferenças significativas de duração, sendo ambos os
sons mais longos que o som [E] do PB.
Passamos agora às nossas considerações finais, desenvolvidas em nosso último
capítulo.
142
5 CONCLUSÃO
O presente estudo teve como objetivo principal comparar aspectos acústicos dos
sons vocálicos anteriores do PB e do ILE realizados por professores do sexo masculino na
região oeste potiguar. Nossos objetivos específicos envolviam:
a) determinar as médias de F1, F2 e de duração dos sons vocálicos [i, I, E, Q] do
ILE na fala de nossos sujeitos de pesquisa;
b) determinar as médias de F1, F2 e de duração dos sons vocálicos [i, e, E] do PB
na fala de nossos sujeitos de pesquisa;
c) determinar as médias de F1 e F2 do primeiro elemento do ditongo [eI],
presente no ILE e no PB dos nossos sujeitos de pesquisa;
d) determinar se as médias de F1, F2 e duração dos sons vocálicos semelhantes
nas duas línguas, quando comparados, diferem de maneira significativa.
Nossa base teórica baseou-se nos estudos acerca da Teoria das Vogais Cardeais
(2.2), em que fundamentamos nossa discussão principalmente fazendo uso dos textos de Jones
(1976), Abercrombie (1967), da International Phonetic Association (1999), entre outros.
Num segundo momento de nossa fundamentação teórica, fizemos uso da Teoria
Acústica de Produção da Fala (2.3) e fundamentamos nossa discussão fazendo uso dos textos
de Fant (1960), Borden e Harris (1980), Pickett (1980), Kent e Read (1992), e Marusso
(2005), entre outros.
Fizemos então um breve interlúdio (2.4), buscando explicitar as relações
existentes entre as duas Teorias mencionadas acima.
Em seqüência, realizamos uma descrição pormenorizada dos sistemas vocálicos
tônicos do Inglês, do Português brasileiro, e do Inglês língua estrangeira. Nesta fase de nossa
fundamentação teórica, fizemos uso dos estudos de Silva (1999, 2001), Marusso (2003),
Câmara Jr. (1995), Moraes, Callou e Leite (2002) e de Rauber (2006), quanto às vogais do
143
Português Brasileiro. Ao mudarmos nosso foco para os estudos relativos ao sistema vocálico
tônico do Inglês general American, fizemos uso dos estudos de Orion (1997), Kenyon e
Knott (1953), Giegerich (1992), Prator e Robinett (1972), Wells (1982), Peterson e Barney
(1952), House (1961), Hillenbrand, Getty, Clark e Wheeler (1995), e de Clopper, Pisoni e
Jong (2005). A última seção de nosso referencial teórico deu conta da descrição acústica de
vogais do Inglês como língua estrangeira/segunda língua, em que fizemos uso dos estudos
apresentados por Baker e Trofimovich (2005), Baptista (2000), e Rauber (2006).
Tendo em vista tais objetivos e referencial teórico, desenvolvemos quatro
experimentos que tinham como alvo a obtenção de um contexto fonotático/prosódico
semelhante, que propiciasse uma comparação entre as vogais do PB e do ILE de nossos
informantes.
Os experimentos relativos à obtenção de dados do PB foram denominados POR1
e POR2, os experimentos do ILE foram denominados ING1 e ING2. O primeiro experimento
envolveu a produção de vogais anteriores tônicas, entre sons plosivos, em palavras dissílabas
com acento na primeira sílaba, no PB, e monossílabos, no ILE. Essas palavras foram inseridas
na frase-veículo “Diga X alto”, no PB, e “Say X again”, no ILE, e lidas pelos sujeitos. Os
experimentos POR2 e ING2 envolveram algumas palavras dos experimentos POR1 e ING1
inseridas como nomes de ruas em um pequeno mapa. Solicitamos aos nossos informantes que
verbalizassem o caminho a ser seguido de um ponto a outro, realizando, dessa forma, as
vogais analisadas em nosso estudo.
Conhecimentos prévios acerca da comparação de vogais do PB e do ILE nos
permitiram a elaboração de onze hipóteses que englobavam questões espectrais e de duração
das vogais analisadas. Fazemos a retomada dessas hipóteses, em seqüência, visando à
apresentação de nossas conclusões.
Nossa primeira hipótese, ao afirmar que o par anterior alto do ILE [i, I] seria
realizado sem diferenças espectrais significativas entre seus componentes, foi refutada,
devido a não-existência de sobreposição espectral das duas vogais nos experimentos ING1 e
ING2.
144
Nossa segunda hipótese, ao afirmar que o som [i] do ILE seria realizado sem
diferenças espectrais significativas em relação ao som [i] do PB, foi confirmada, devido ao
alto grau de sobreposição espectral encontrada entre os sons mencionados.
Nossa terceira hipótese, ao afirmar que o som [I] do ILE seria realizado sem
diferenças espectrais significativas em relação ao som [i] do PB, foi refutada, uma vez que se
tornou patente a relação do som [I] do ILE com o som [e] do PB nas análises realizadas.
Nossa quarta hipótese, ao afirmar que o som [i] seria realizado com uma duração
significativamente maior em relação ao som [I] no ILE, foi confirmada, devido às diferenças
significativas de duração encontradas em nossos experimentos.
Nossa quinta hipótese, entretanto, ao rezar que o som [I] no ILE seria realizado
sem diferença significativa de duração em relação ao som [i] do PB, foi refutada, devido às
diferenças significativas de duração encontradas.
Nossa sexta hipótese de pesquisa, que afirma que o primeiro elemento do som [eI]
do ILE e do PB seriam realizados sem diferenças espectrais significativas, foi parcialmente
confirmada. Alguns resultados comparativos encontraram diferenças significativas no eixo da
altura e avanço dos sons analisados, todavia, o grande nível de sobreposição espectral
encontrado nos dois sons em questão nos levou à conclusão exposta acima.
Nossa sétima hipótese de trabalho, que afirma que o par anterior [E, Q] do ILE
seria realizado sem diferenças espectrais significativas, foi parcialmente confirmada. A
existência de alguns testes estatísticos indicando diferenças significativas, apesar do alto nível
de sobreposição espectral encontrado, foi mais uma vez determinante na confirmação parcial
desta hipótese.
Nossa oitava hipótese de pesquisa, ao rezar que o som [E] do ILE seria realizado
sem diferenças espectrais significativas em relação ao som [E] do PB, foi refutada, devido ao
estabelecimento de uma nova categoria vocálica para o som do ILE, mais baixa que o som do
PB.
Nossa nona hipótese, ao afirmar que o som [Q] do ILE seria realizado sem
diferenças espectrais significativas em relação ao som [E] do PB, foi também refutada, uma
145
vez que os sons [Q] e [E] do ILE constituíram uma nova categoria vocálica numa região do
espectro não utilizada pelo som [E] do PB.
Nossa décima hipótese de trabalho, ao rezar que o som [Q] do ILE seria realizado
com uma duração significativamente maior em relação ao som [E] do ILE, foi refutada, uma
vez que os testes estatísticos não mostraram diferenças significativas na duração destes dois
sons.
Por fim, em nossa décima primeira e última hipótese, ao afirmar que o som [E] no
ILE seria realizado sem diferença significativa de duração em relação ao som [E] do PB, foi
também refutada. O som [E] do PB foi realizado com uma duração significativamente menor
que o som [E] no ILE em nossos dados.
Tendo em vista os resultados encontrados, devemos apresentar algumas
implicações pedagógicas pertinentes ao nosso objeto de estudo. No tocante ao ensino de
vogais do Inglês língua estrangeira, é importante apresentar aos nossos alunos desde o
princípio do processo de ensino/aprendizagem a possibilidade de identificação espectral dos
sons [i]ILE/[i]PB e [I]ILE/[e]PB. Acreditamos que essa associação precoce de categorias
vocálicas das duas línguas poderia poupar estudantes brasileiros de ILE de associarem, por
um longo período, os sons [i, I] do ILE como semelhantes ao som [i] do PB, como descrito
em Baptista (2000) em todos os seus informantes.
Outra consideração pedagógica importante diz respeito ao par anterior [E, Q] do
ILE. Pesquisas anteriores enfatizavam a dificuldade que mesmo falantes proficientes de
ILE têm quando lidam com esses sons, e nossos resultados corroboram a necessidade de
muita atenção visando ao alongamento da região anterior baixa da área vocálica de falantes
brasileiros de ILE. É interessante notar, ainda, que mesmo as características de duração das
vogais analisadas não foram satisfatoriamente realizadas por nossos sujeitos de pesquisa, o
que não aconteceu em estudos anteriores. Acreditamos, portanto, que apenas uma intervenção
baseada em conceitos acústicos pode vir a apresentar resultados satisfatórios na separação das
vogais da região anterior-baixa do ILE de nossos sujeitos de pesquisa e, por conseguinte, de
seus alunos.
146
Este estudo teve várias limitações, especialmente por não abordar o caráter
relativo das vogais, como discutido por Ladefoged e Broadbent (1957) e Ladefoged (1989),
inerentes a estudos em que se busca a determinação de valores espectrais médios das vogais
de um conjunto de informantes.
Ladefoged mostrou-nos em estudos anteriores que a informação lingüística
carregada por uma dada vogal é dependente da relação entre a freqüência de seus formantes e
a freqüência dos formantes de outras vogais num mesmo contexto de produção. Estudos como
o nosso, portanto, apenas podem almejar a obtenção de uma fotografia parcial das vogais de
um dado grupo de informantes.
As limitações discutidas acima devem ser encaradas, portanto, como propostas de
estudos futuros. Outras propostas, mencionadas anteriormente ao final de cada seção de nosso
capítulo de análise e discussão de dados, são aqui retomadas:
Estudos longitudinais envolvendo a realização dos sons do ILE;
Pesquisas envolvendo a realização dos sons vocálicos do ILE e do PB em
conversação livre, sem restringir as combinações fonotáticas ou prosódicas a
serem analisadas;
Análise da influência da combinação fonética consonantal sobre os valores
formânticos das vogais;
A consecução de estudos de percepção vocálica, envolvendo sons artificiais
semelhantes às vogais anteriores altas do ILE e do PB;
Análise da duração vocálica dentro de palavras em posição prosódica diferente;
Análise da influência da consoante vozeada ou desvozada em posição de coda
no alongamento ou redução da duração da vogal do ILE;
Estudo da transição espectral característica entre os constituintes do som [eI]
nas duas línguas, bem como de sua duração;
Análise da resposta de treinamento fonético-fonologico do ILE após
considerável período de tempo pós-intervenção;
Realização de testes de percepção, envolvendo os sons vocálicos anteriores
[E, Q] do ILE;
Consecução de estudo longitudinal, por considerável período de tempo,
envolvendo a aquisição dos sons anteriores baixos do ILE;
147
A estas sugestões de pesquisas futuras mencionadas acima, devemos acrescentar
ainda modelos de aquisição/percepção da fonologia de uma língua estrangeira, como o Speech
Learning Model (SLM) (FLEGE, 1995) e o Perceptial Assimilation Model (PAM) (BEST,
1995).
Modelos de aquisição/percepção semelhantes ao SLM e ao PAM são de grande
valia especialmente em estudos envolvendo também a percepção de segmentos vocálicos em
pesquisas longitudinais. Ao optarmos por uma fotografia transversal de produção vocálica,
deixamos de lado esse tipo de questionamento por acreditarmos que não seríamos capazes de
retratar o processo de aquisição de nossos informantes em tão exíguo espaço de tempo quanto
o requerido para a consecução de uma dissertação de mestrado.
Restrições pertinentes ao tempo de conclusão de nossa pesquisa foram de extrema
importância ao optarmos por limitar-nos à produção dos segmentos vocálicos anteriores do
PB e do ILE e não estudarmos acusticamente o sistema vocálico das duas línguas de uma
maneira exaustiva. Optamos por entender, entretanto, as limitações apresentadas acima como
propostas de futuros desdobramentos de nosso estudo.
O presente trabalho, portanto, além de apresentar dados novos que serão de valia a
futuros estudos na área de variação vocálica tônica do PB e do ILE de falantes brasileiros,
constitui-se também um fértil terreno para o cultivo de novas pesquisas, tendo por objeto de
estudo os sons vocálicos das duas línguas estudadas.
Em resumo, as conclusões a que chegamos em nosso estudo são importantes para
evidenciar que nem todas as generalizações encontradas em outras regiões do Brasil se
aplicam ao ILE de professores de Inglês na região oeste do Rio Grande do Norte.
Acreditamos também que nosso estudo ajuda a caracterizar acusticamente as vogais do PB,
fato inédito em nossa região.
148
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APÊNDICES
155
APÊNDICE A - Ficha do informante
Data: _____/_____/_____
Nome: _____________________________________________________
Fone: ______________________________________________________
E-mail: _____________________________________________________
Idade: ________________ Local e data de nascimento: _______________
Cidade onde vive:_____________________ Há quanto tempo: ________
Profissão: ___________________________________________________
Se estudante, em que fase está: _______________________
Nome do curso: __________________
Por favor, responda às perguntas abaixo com o máximo de veracidade a fim de
contribuir com uma pesquisa acadêmica:
1. É possuidor de algum problema de audição/fala? Sim ____ Não ____
Qual? ____________________________
2. Qual o seu nível de escolaridade?
2º grau completo ________Aluno da graduação _________
Graduado ________Aluno de Pós-Graduação_________Pós-Graduado _________
3. Relacione as cidades e países para os quais você tenha viajado ou nos quais tenha morado
por mais de dois meses desde que nasceu:
Cidade e país: _____________________, Duração da estadia: __________________
Cidade e país: _____________________, Duração da estadia: __________________
Cidade e país: _____________________, Duração da estadia: __________________
Cidade e país: _____________________, Duração da estadia: __________________
Cidade e país: _____________________, Duração da estadia: __________________
4. Em caso de estada em país estrangeira, qual o objetivo principal da viagem? _________
5. Onde os seus pais nasceram? Mencione a cidade.
a) Mãe: ______________________ b) Pai: ________________________
6. Na sua casa se fala outro(s) idioma(s) além do Português? ___________
Especifique qual(is) idioma(s): __________________________________________________
7. No momento, você estuda algum idioma? (excluindo-se o Inglês)
Especifique o(s) idioma(s) e nível (iniciante, intermediário, avançado):
Idioma: ________________, Nível: _____________
Idioma: ________________, Nível: _____________
Idioma: ________________, Nível: _____________
8. Por quanto tempo estudou outro(s) idioma(s)?
Idioma: ________________, Anos: _____________
Idioma: ________________, Anos: _____________
Idioma: ________________, Anos: _____________
156
9. Onde estuda o(s) idioma(s)? (colégio, cursinho de idiomas, aulas particulares, etc.)
Idioma: ________________, Lugar: ________________________________________
Idioma: ________________, Lugar: ________________________________________
10. Quantas horas por semana você estuda o(s) idioma(s)?
Idioma: ________________, Horas por semana: _____________
Idioma: ________________, Horas por semana: _____________
11. Indique, marcando o número correspondente, seu nível de compreensão auditiva e
produção oral no(s) idioma(s) que você estuda ou estudou. (0 significa que não entende nada;
5 significa que entende absolutamente tudo)
Compreensão auditiva: 0 1 2 3 4 5
Produção oral: 0 1 2 3 4 5
12. Há quanto anos você estuda Inglês? (desconsiderar colégio) ______________
13. Como você descreveria sua motivação para o aprendizado da língua inglesa no seu
período inicial de aprendizagem/aquisição?
____instrumental ____ integrativo
14. Que idade tinha quando começou a estudar Inglês? (desconsiderar colégio) ___________
15. Que idade tinha quando começou a usar a língua inglesa? __________
16. Que idade tinha quando começou a ensinar Inglês? __________
17. Quantas horas por semana você estuda Inglês? _____________
18. Indique, marcando o número correspondente, seu nível de compreensão em língua inglesa.
(0 significa que não entende nada; 5 significa que entende absolutamente tudo)
0 1 2 3 4 5
19. Indique, marcando o número correspondente, seu nível de proficiência oral em língua
inglesa. (0 significa que não fala nada; 5 significa que fala perfeitamente, como um falante
nativo deste idioma)
0 1 2 3 4 5
20. O tipo de Inglês que você faz uso é mais próximo do falado em que país?
____ Estados Unidos ____ Inglaterra ____ Outro: qual? _________________
157
21. Você tem algum conhecido com quem fala em outro idioma fora das aulas? Especifique a
sua relação com essa pessoa (por exemplo: um amigo, uma tia, irmão, etc.):
Idioma: ________________, Pessoa: _______________
Idioma: ________________, Pessoa: _______________
Idioma: ________________, Pessoa: _______________
Idioma: ________________, Pessoa: _______________
22. Quanto tempo em horas por semana você fala em outro idioma fora de suas aulas?
Idioma: ________________, Horas: _____________
Idioma: ________________, Horas: _____________
Idioma: ________________, Horas: _____________
23. Você assiste a programas de televisão em outros idiomas? ___________
Especifique em qual(is) idiomas: ____________________________________________
24. Quantas horas por semana você assiste televisão em outros idiomas?
Idioma: ________________, Horas por semana: _____________
Idioma: ________________, Horas por semana: _____________
Idioma: ________________, Horas por semana: _____________
25. Você escuta rádio ou música em outros idiomas? ___________
Especifique em quais idiomas:__________________________
26. Quantas horas por semana você escuta rádio ou música em outros idiomas?
Idioma: ________________, Horas por semana: _____________
Idioma: ________________, Horas por semana: _____________
Idioma: ________________, Horas por semana: _____________
27. Você é fumante? ___________
158
APÊNDICE B – Palavras do Português a serem analisadas inseridas
em frases-veículo
Fica. Diga “bica” alto
Feita. Diga “deita”* alto
11
Medo. Diga “beco” alto
Bela. Diga “beca” alto
Fico. Diga “pito” alto
Seita. Diga “peita” alto
Dedo. Diga “peta”(ê) alto
Dela. Diga “peta” alto
Dida. Diga “Tita” alto
Leito. Diga “deito”* alto
Zelo. Diga “teta” alto
Feto. Diga “teto” alto
11
Itens marcados com asterisco não possuem a mesma combinação fonética das outras palavras presentes no
grupo.
159
APÊNDICE C – Palavras do Português a serem utilizadas como
distratores em frases-veículo
Fica. Diga “pica” alto
Leito. Diga “feita” alto
Beba. Diga “bebo” alto
Fera. Diga “Teka” alto
Luto. Diga “puto” alto
Lata. Diga “pata” alto
Tuta. Diga “puta” alto
Seta. Diga “beta” alto
Pote. Diga “Tota” alto
Jeito. Diga “peito” alto
Leka. Diga “meta” alto
Teco. Diga “Deco” alto
160
APÊNDICE D – Modelo do procedimento de coleta de dados usado do experimento POR2
O mapa abaixo apresenta uma pequena região de uma cidade brasileira.
Partindo da Rodoviária, siga o roteiro de visitas apresentado por seu entrevistador. Observe o modelo apresentado abaixo:
a) Da Rodoviária ao Shopping Center:
Sigo pela Rua Deito com Sono. Dobro à direita na Rua Deco Silva. O Shopping fica de frente ao Ponto de Ônibus.
b) Do Shopping Center ao Clube:
Sigo pela Rua Beca Preta. Viro à esquerda na Rua Tita Silva. Viro Novamente à esquerda na Rua Beco Largo. O Clube fica do lado direito.
161
162
APÊNDICE E – Palavras do Inglês a serem analisadas inseridas em
frases-veículo
Seat. Say “beat” again
Sit. Say “bit” again
Lake. Say “bate” again
Set. Say “bet” again
Sat. Say “bat” again
Leak. Say “beak” again
Sick. Say “Bic” again
Mate. Say “bake” again
Met. Say “Beck” again
Matt. Say “back” again
Beep. Say “keep”* again
12
Bit. Say “kit” again
Fake. Say “Kate” again
Met. Say “get”* again
Man. Say “cat” again
Seat. Say “teat” again
Did. Say “tit” again
Late. Say “date”* again
Ted. Say “debt”* again
Dad. Say “tat” again
Leap. Say “deep”* again
Lip. Say “tip” again
Late. Say “tape” again
Bet. Say “deck”* again
Lack. Say “tap” again
12
Itens marcados com asterisco não possuem a mesma combinação fonética das outras palavras presentes no
grupo.
163
APÊNDICE F Palavras do Inglês a serem utilizadas como
distratores em frases-veículo
Moon. Say “boot” again
Put. Say “look” again
Note. Say “boat” again
Fought. Say “bought” again
Nude. Say “dude” again
Put. Say “book” again
Not. Say “bock” again
Like. Say “dike” again
Nut. Say “duck” again
Luck. Say “buck” again
Seek. Say “geek” again
But. Say “cut” again
Mute. Say “cute” again
Not. Say “got” again
Back. Say “cab” again
Night. Say “tide” again
Look. Say “took” again
Mug. Say “Doug” again
Not. Say “dot” again
Sat. Say “tab” again
Teeth. Say “deed” again
Fight. Say “tide” again
Sake. Say “cape” again
Man. Say “tag” again
Sit. Say “dig” again
APÊNDICE G –
Modelo do procedimento de coleta de dados usado do experimento ING2
The map below presents you to a small region of a British city
Starting from the Information Center, follow the visitation tour
a) How do you go fro
m the Information Center to the Fish Market?
I go down Beat St. Turn right on Pit St. Then left on Tip St. The Fish Market is on my right.
b) How do you g
o from the Fish Market to the Port
I go down Tip St. Turn left on Date St. Finally I turn right on Beat St. The School is straight ahead.
Modelo do procedimento de coleta de dados usado do experimento ING2
The map below presents you to a small region of a British city
.
Starting from the Information Center, follow the visitation tour
presented by your interviewer.
Observe the models below.
m the Information Center to the Fish Market?
I go down Beat St. Turn right on Pit St. Then left on Tip St. The Fish Market is on my right.
o from the Fish Market to the Port
land School of Art?
I go down Tip St. Turn left on Date St. Finally I turn right on Beat St. The School is straight ahead.
164
Modelo do procedimento de coleta de dados usado do experimento ING2
Observe the models below.
165
166
APÊNDICE H – Resultados dos Experimentos
Resultados Experimento ING1 – Médias Gerais dos Sons Vocálicos
[i
ii
i] [I
II
I] [eI
eIeI
eI] [E
EE
E] [Q
QQ
Q]
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
M1
265 2295 3293 147 367 2060 2781 144 406 1963 2723 562 1811 2697 168 611 1838 2730 187
M2
317 2372 2982 141 354 2259 2781 131 416 1941 2650 609 1868 2628 188 615 1850 2625 180
M3
281 2502 3324 114 413 2011 2609 118 401 2075 2669 671 1759 2499 174 786 1661 2471 179
M4
305 2491 3283 194 422 2170 2657 160 422 2125 2699 659 2081 2773 163 812 1702 2606 189
M5
293 2488 2881 176 345 2246 2705 160 402 1984 2616 618 1887 2566 218 642 1814 2400 216
M6
292 2491 3336 201 440 1986 2551 135 445 1916 2604 718 1793 2604 164 705 1881 2583 211
M7
265 2447 3108 158 411 2037 2455 98 441 1995 2648 571 1931 2513 136 797 2118 2961 235
M8
300 2423 3019 101 401 2062 2637 86 399 2021 2586 642 1724 2465 151 712 1654 2420 145
M9
272 2669 3255 176 437 2143 2759 142 438 2169 2765 754 1909 2602 220 809 1859 2457 225
M10
270 2267 3233 117 405 2079 2648 118 404 2004 2573 574 1740 2339 143 731 1711 2406 159
M11
314 2281 3121 228 395 2128 2804 206 426 1969 2721 622 1830 2647 251 660 1810 2688 269
M12
279 2420 3239 99 390 2213 2883 103 435 2138 2725 585 1917 2778 116 637 1811 2705 120
A1
278 2244 2888 136 374 1949 2761 126 373 1805 2705 542 1863 2709 151 662 1774 2639 198
A2
314 2427 2942 146 411 2024 2702 141 441 1919 2680 613 1794 2601 171 643 1841 2583 164
A3
301 2038 2963 116 291 2034 2948 99 371 1879 2583 531 1692 2506 123 538 1696 2473 119
A4
326 2290 2893 149 402 2080 2509 138 451 1878 2527 606 1769 2550 195 653 1773 2508 199
P1
268 2268 3214 133 392 2106 2776 134 417 1966 2692 596 1898 2776 181 715 1937 2856 220
P2
301 2376 3203 117 369 2123 2692 110 382 1998 2618 540 1853 2553 147 540 1852 2505 139
P3
336 2476 3119 160 468 2081 2706 158 483 1977 2736 710 1824 2748 211 763 1799 2693 218
P4
273 2420 3279 130 389 2134 2614 130 406 2060 2559 650 1869 2647 168 616 1848 2569 160
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
Média
292,5 2384 3129 147 393,8 2096 2699 131,9 418 1989 2654 618,7 1841 2610 172 682,4 1811,5 2594 186,6
Mediana
292,5 2420 3162 143,5 398 2081 2704 132,5 416,5 1981 2660 611 1842 2603 168 661 1812,5 2583 188
Desvio-
Padrão
21,57 134 158,5 34,47 38,26 82,85 120,3 27,35 27,9 91,62 67,66 61,38 88,09 116,5 34,34 82,78 104,82 149,4 39,43
167
Resultados Experimento ING1 – Médias Gerais dos Sons Vocálicos de Cada Estímulo
beat bit bate bet bat
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
M1
262 2297 3330 146 365 2024 2786 157 416 1894 2661 578 1766 2676 172 615 1845 2766 199
M2
304 2402 3164 162 357 2128 2595 135 422 1784 2507 609 1865 2633 193 622 1785 2579 195
M3
275 2511 3354 139 420 1992 2667 117 403 2021 2628 718 1697 2519 169 792 1612 2460 175
M4
293 2511 3490 215 413 2264 2733 150 433 2060 2619 693 2022 2749 173 807 1770 2656 179
M5
294 2515 2929 162 339 2276 2763 164 443 1894 2595 613 1931 2605 211 643 1838 2502 217
M6
291 2461 3379 204 459 1931 2580 161 451 1795 2504 748 1792 2578 147 683 1855 2578 224
M7
279 2318 3044 134 379 2111 2416 110 429 1964 2423 567 1955 2506 139 764 2114 2673 299
M8
294 2399 3029 123 395 2065 2662 104 418 1889 2468 695 1640 2427 157 700 1610 2381 167
M9
264 2708 3269 204 439 2252 2826 157 429 2161 2727 741 1912 2578 210 792 1865 2533 229
M10
262 2312 3271 123 376 2083 2532 135 419 1885 2352 606 1662 2268 142 731 1635 2389 175
M11
309 2294 2995 219 400 2090 2663 222 419 1858 2522 607 1849 2732 225 659 1789 2736 271
M12
270 2433 3357 116 384 2170 2845 101 441 2116 2721 610 1942 2810 117 667 1839 2790 131
A1
234 2329 2947 158 337 2063 2741 115 446 1875 2603 548 1912 2703 155 681 1781 2746 206
A2
310 2406 2869 146 415 1927 2689 149 454 1841 2703 603 1727 2552 164 657 1860 2728 161
A3
300 1998 3023 128 298 2027 2964 113 372 1838 2473 538 1675 2541 122 545 1703 2544 126
A4
318 2365 2909 156 428 2026 2404 138 475 1772 2428 619 1767 2522 186 656 1828 2581 234
P1
271 2234 3232 187 377 2101 2733 136 398 1871 2551 584 1882 2753 189 702 1981 2921 249
P2
304 2398 3124 114 376 2095 2534 110 381 1828 2404 554 1842 2550 159 540 1862 2511 141
P3
330 2533 3177 197 449 2111 2643 187 495 1843 2599 697 1805 2768 228 773 1805 2705 242
P4
311 2354 3165 133 370 2135 2624 133 392 1947 2478 639 1819 2640 166 525 1841 2643 175
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
Média
288,8 2389 3153 158,3 388,8 2094 2670 139,7 426,8 1907 2548 628,4 1823 2606 171,2 677,7 1811 2621 199,8
Mediana
293,5 2399 3165 151 381,5 2093 2665 135,5 425,5 1880 2537 609,5 1831 2592 167,5 674 1833 2612 197
Desvio-
Padrão
23,59 142,7 179,9 34,41 40,36 96,53 138,9 30,2 30,11 107,8 109,7 64,7 107,4 130,7 31,42 83,61 117,2 140,3 46,21
168
beak Bic bake Beck back
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
M1
268 2147 3153 126 381 1994 2759 141 424 1891 2654 611 1800 2696 167 664 1803 2711 183
M2
339 2225 2819 140 348 2262 2873 136 420 1831 2536 630 1859 2617 184 268 1855 2672 189
M3
289 2420 3317 101 414 1974 2567 124 401 2049 2648 696 1700 2510 164 770 1623 2545 172
M4
310 2468 3463 178 447 2101 2590 159 425 2018 2590 683 2096 2803 162 775 1709 2646 179
M5
318 2410 2915 193 352 2137 2677 124 420 1873 2571 623 1907 2602 195 619 1892 2564 187
M6
286 2537 3167 170 437 1959 2522 138 443 1878 2488 780 1722 2494 146 737 1841 2576 190
M7
257 2540 3232 157 436 1848 2462 70 449 1806 2706 592 1779 2587 121 789 1974 2573 238
M8
300 2402 3080 112 401 2118 2677 92 394 1981 2508 661 1638 2490 139 703 1624 2254 159
M9
307 2621 3100 156 434 2207 2796 155 417 2145 2646 757 1928 2591 227 787 1905 2578 236
M10
271 2238 3279 128 417 2126 2709 113 434 2007 2421 591 1757 2329 122 741 1711 2483 174
M11
327 2274 3094 201 408 2049 2737 186 412 1949 2591 656 1790 2664 244 667 1789 2688 266
M12
294 2351 3246 108 387 2191 2907 106 462 2066 2753 596 1835 2771 113 647 1789 2626 118
A1
299 2191 2996 137 401 1961 2782 137 370 1760 2621 586 1838 2714 181 642 1824 2680 178
A2
318 2377 2993 153 422 1973 2691 128 438 1916 2650 634 1776 2631 163 673 1892 2711 159
A3
292 2066 3076 128 282 2089 3092 103 370 1825 2527 543 1671 2514 123 540 1655 2534 116
A4
337 2234 3005 169 453 1975 2617 173 462 1859 2564 622 1718 2531 202 689 1619 2586 225
P1
258 2208 3171 94 386 2119 2832 139 401 1919 2539 594 1817 2722 182 702 1900 2940 210
P2
318 2352 3207 126 399 2004 2528 135 377 1909 2510 544 1844 2550 137 566 1787 2534 139
P3
315 2489 3129 168 437 2152 2693 174 474 1842 2536 699 1817 2667 198 718 1794 2629 217
P4
254 2364 3026 126 393 2068 2593 125 404 1942 2551 635 1854 2626 176 624 1831 2619 163
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
Média
297,9 2346 3123 143,6 401,8 2065 2705 132,9 419,9 1923 2581 636,7 1807 2605 167,3 666,1 1791 2607 184,9
Mediana
299,5 2358 3115 138,5 404,5 2079 2692 135,5 420 1913 2568 626,5 1809 2610 165,5 681 1799 2603 181
Desvio-
Padrão
26,04 145,9 147,7 30,17 40,32 103,1 150,7 28,41 29,87 97,57 79,61 62,47 101,2 111,7 35,88 116,6 104 127,9 38,96
169
keep kit Kate get cat
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
M1
270 2377 3362 142 354 2099 2761 141 378 2223 2769 519 1891 2672 168 574 1888 2692 197
M2
309 2417 3050 117 358 2344 2892 135 389 2279 2746 592 1972 2622 188 606 1885 2584 182
M3
294 2510 3351 89 399 2124 2541 93 361 2390 2754 586 1881 2498 172 831 1890 2474 186
M4
307 2511 3217 188 422 2248 2714 156 400 2358 2805 589 2290 2882 151 809 1740 2569 189
M5
296 2485 2773 151 327 2421 2668 149 376 2214 2597 590 2003 2618 234 625 1835 2364 230
M6
299 2484 3413 215 445 2039 2553 122 447 2039 2674 684 1851 2615 184 666 2031 2639 251
M7
302 2503 3310 170 407 2195 2555 109 448 2201 2709 484 2133 2469 145 756 2227 3177 218
M8
314 2446 3065 71 382 2211 2743 85 383 2294 2718 616 1939 2544 164 683 1774 2506 134
M9
253 2659 3272 142 412 2145 2710 132 386 2387 2826 701 1987 2707 227 813 1910 2410 222
M10
286 2320 3346 91 410 2069 2667 111 390 2256 2794 559 1829 2407 152 775 1764 2470 146
M11
324 2278 3203 221 375 2229 2893 196 426 2163 2811 562 1914 2689 264 645 1893 2649 278
M12
280 2419 3200 81 378 2307 3009 111 412 2267 2677 563 2010 2811 130 623 1947 2666 101
A1
324 2201 2814 106 355 1999 2774 129 293 1912 2742 400 2060 2758 136 595 1883 2721 192
A2
308 2489 2971 116 403 2118 2635 165 406 2124 2540 592 1879 2539 176 606 1860 2349 152
A3
324 2056 2822 106 280 2037 2927 101 360 2021 2658 475 1788 2474 125 530 1785 2412 112
A4
334 2308 2905 118 347 2202 2480 139 434 2079 2458 585 1937 2493 207 616 1775 2338 183
P1
281 2301 3180 131 382 2135 2734 124 361 2228 2744 551 2006 2734 178 734 1957 2719 229
P2
288 2389 3246 117 311 2359 3058 94 345 2266 2722 506 1903 2481 148 505 1937 2337 139
P3
361 2476 3140 148 480 2068 2632 136 519 2183 2719 689 1845 2724 187 740 1793 2682 198
P4
266 2444 3346 119 381 2224 2717 149 381 2335 2604 600 1945 2577 139 598 1896 2451 154
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
Média
301 2404 3149 132 380,4 2179 2733 128,9 394,8 2211 2703 572,2 1953 2616 173,8 666,5 1884 2560 184,7
Mediana
300,5 2432 3202 118,5 381,5 2170 2716 130,5 387,5 2226 2721 585,5 1938 2617 170 635 1887 2538 187,5
Desvio-
Padrão
25,54 132,3 200,5 41,35 45,89 116,6 156,8 27,16 46,67 126,4 94,46 73,29 115 129,1 36,82 96,21 110,6 198,3 46,16
170
teat tit date debt tat
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
M1
267 2330 3371 182 360 2157 2804 154 390 1865 2759 543 1808 2705 165 574 1864 2778 194
M2
313 2445 2988 142 363 2241 2732 131 406 1838 2720 609 1804 2663 185 633 1829 2621 179
M3
280 2540 3325 127 407 2084 2679 146 402 1989 2679 661 1729 2467 203 768 1649 2502 184
M4
312 2461 3111 204 390 2197 2687 183 403 2177 2784 701 1975 2720 180 817 1747 2577 223
M5
284 2503 2803 206 356 2114 2670 214 380 1962 2671 656 1756 2506 245 635 1778 2257 227
M6
278 2516 3493 224 422 2114 2563 142 419 2004 2698 714 1805 2712 196 696 1842 2576 194
M7
255 2388 2932 146 423 2060 2419 102 415 1888 2699 591 1916 2629 129 810 2152 3276 209
M8
303 2480 3125 90 408 2050 2604 88 389 1939 2637 612 1674 2373 157 713 1680 2491 142
M9
274 2727 3349 199 472 2083 2720 155 443 2117 2827 780 1856 2618 216 786 1837 2436 227
M10
278 2198 3158 107 407 2039 2612 122 400 1910 2632 562 1750 2257 140 697 1696 2277 162
M11
327 2254 3237 247 391 2119 2837 217 410 1998 2768 637 1783 2626 268 639 1829 2665 270
M12
273 2465 3279 100 385 2262 2853 110 414 2134 2751 585 1853 2806 122 620 1785 2703 131
A1
270 2239 2812 149 410 1892 2776 123 420 1747 2754 602 1749 2639 151 676 1689 2582 181
A2
317 2445 2930 149 408 2094 2735 142 427 2861 2856 610 1815 2651 179 660 1822 2584 188
A3
285 1996 2908 114 284 2043 2953 91 382 1827 2631 558 1646 2523 124 550 1646 2446 130
A4
323 2290 2760 159 381 2121 2497 123 435 1747 2596 597 1752 2607 203 647 1870 2515 190
P1
249 2319 3255 136 408 2108 2749 135 465 1817 2778 659 1884 2795 180 718 1946 2821 222
P2
301 2411 3231 111 379 2059 2567 105 403 2012 2626 551 1837 2550 142 553 1847 2557 145
P3
325 2472 3094 145 508 2112 2831 161 460 1998 2927 734 1788 2746 240 788 1831 2773 232
P4
263 2489 3398 137 398 2190 2546 141 405 2019 2667 718 1889 2742 198 672 1843 2605 172
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
Média
288,9 2398 3128 153,7 398 2107 2692 139,3 413,4 1992 2723 634 1803 2617 181,2 682,6 1809 2602 190,1
Mediana
282 2445 3142 145,5 402,5 2110 2704 138 408 1976 2710 611 1805 2634 180 674 1829 2580 189
Desvio-
Padrão
24,33 155,1 218 43,49 44,57 80,76 134,2 35,42 23,34 236,8 86,02 67,11 79,76 139,2 41,19 80,98 114,8 216,1 37,11
171
deep tip tape deck tap
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
M1
258 2322 3248 142 376 2024 2794 130 422 1941 2772 559 1791 2737 167 630 1790 2704 161
M2
320 2373 2888 145 347 2321 2816 118 442 1973 2743 607 1839 2603 189 585 1893 2671 156
M3
267 2528 3271 115 424 1879 2589 110 493 1926 2637 696 1786 2502 164 770 1532 2375 178
M4
304 2506 3133 186 437 2043 2561 151 451 2008 2698 628 2033 2711 150 852 1546 2584 174
M5
276 2527 2986 167 356 2247 2739 138 389 1977 2646 608 1836 2501 206 691 1727 2265 220
M6
304 2455 3229 191 439 1888 2536 112 466 1864 2656 665 1797 2620 146 742 1834 2548 195
M7
235 2483 3022 186 409 1969 2423 99 463 2118 2702 620 1871 2476 148 865 2122 3107 213
M8
288 2387 2797 109 420 1866 2501 63 412 2000 2600 626 1729 2490 139 763 1583 2466 124
M9
260 2631 3283 179 429 2031 2744 112 517 2037 2798 794 1863 2516 221 866 1777 2330 210
M10
255 2265 3110 135 419 2080 2721 107 370 2046 2742 554 1700 2436 158 712 1750 2410 142
M11
281 2308 3078 252 400 2155 2890 210 463 1879 2911 650 1813 2522 256 692 1749 2702 263
M12
278 2435 3112 90 417 2138 2802 87 445 2110 2725 572 1944 2691 100 627 1697 2738 117
A1
266 2260 2872 130 370 1830 2729 126 338 1733 2806 575 1760 2728 133 718 1694 2464 233
A2
316 2417 2947 167 409 2010 2760 120 479 1852 2651 628 1775 2629 175 632 1789 2584 161
A3
307 2072 2985 105 314 1974 2803 87 372 1885 2628 543 1681 2478 122 524 1692 1430 111
A4
319 2253 2888 143 401 2076 2546 116 451 1933 2588 606 1669 2597 178 656 1773 2520 164
P1
279 2280 3232 119 408 2069 2834 134 460 1995 2851 595 1899 2877 176 720 1900 2880 191
P2
294 2328 3207 116 382 2100 2771 105 405 1975 2829 547 1839 2633 149 535 1829 2586 133
P3
348 2408 3053 143 469 1961 2731 130 470 2018 2898 730 1864 2834 204 813 1761 2666 189
P4
260 2411 3290 131 411 2052 2592 102 446 2058 2596 660 1837 2650 160 665 1832 2528 136
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
Média
285,8 2382 3082 147,6 401,9 2036 2694 117,9 437,7 1966 2724 623,2 1816 2612 167,1 702,9 1764 2528 173,6
Mediana
280 2398 3094 142,5 409 2037 2735 114 448,5 1976 2714 614 1825 2612 162 702 1767 2566 169
Desvio-
Padrão
27,95 126,6 154,4 38,25 35,79 124 130 29,52 44,93 93,36 100,5 63,84 88,07 123,8 35,9 100,4 131,6 322,3 40,99
172
Resultados Experimento ING2 - Médias Gerais dos Sons Vocálicos
[i
ii
i] [I
II
I] [eI
eIeI
eI] [E
EE
E] [Q
QQ
Q]
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
M1
293 2264 3033 148 417 2032 2808 103 432 1802 2602 603 1740 2721 153 606 1780 2574 123
M2
356 2133 2695 80 409 1881 2682 66 446 1792 2745 642 1764 2681 123 600 1799 2538 106
M3
254 2452 3219 113 420 1818 2517 69 405 1910 2754 629 1618 2498 122 583 1696 2359 106
M4
310 2377 2930 132 469 1915 2631 117 435 2007 2717 721 1748 2679 146 756 1642 2517 162
M5
341 2403 3246 96 334 2265 2884 76 406 1913 2826 559 1845 2745 138 561 1773 2300 131
M6
295 2410 3051 132 413 2046 2054 88 439 1876 2698 635 1750 2595 152 618 1826 2450 154
M7
298 2214 2801 81 391 1913 2603 54 428 1789 2648 599 1662 2544 96 728 2009 2750 116
M8
288 2221 2543 62 404 1861 2490 39 387 1929 2635 598 1645 2372 97 610 1791 2394 82
M9
314 2344 2832 110 478 2089 2729 97 447 2020 2762 710 1914 2560 185 667 1881 2352 135
M10
272 2263 3275 96 372 1967 2618 83 409 1926 2670 546 1672 2307 107 655 1736 2399 148
M11
325 2329 3061 157 456 2038 2806 137 419 1862 2770 678 1686 2543 199 713 1680 2522 158
M12
308 2213 2789 70 421 1940 2787 60 438 1963 2783 599 1726 2702 100 563 1821 2602 62
A1
328 2119 2565 95 419 1824 2887 97 458 1679 2619 611 1736 2343 124 600 1760 2413 122
A2
363 2152 2752 89 426 1876 2657 58 437 1860 2662 587 1665 2644 111 596 1818 2615 110
A3
338 1909 2498 54 351 1817 2521 54 404 1762 2595 542 1624 2422 98 525 1689 2409 68
A4
316 2325 2987 149 387 2049 2667 106 418 1829 2565 601 1665 2428 161 616 1695 2208 159
P1
303 2236 2815 89 430 2029 2624 92 436 1783 2568 630 1800 2555 121 598 1840 2492 115
P2
303 2370 3030 82 366 2182 2839 99 382 2025 2739 546 1808 2511 121 557 1859 2377 122
P3
302 2454 2851 115 412 2030 2751 99 453 1970 2889 673 1811 2608 163 691 1868 2623 170
P4
301 2300 2858 124 456 1938 2603 106 453 1890 2624 639 1717 2550 157 673 1753 2491 165
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
Média
310,4 2274 2892 103,7 411,6 1976 2658 85 426,6 1879 2694 617,4 1730 2550 133,7 625,8 1786 2469 125,7
Mediana
305,5 2282 2855 96 415 1954 2662 90 433,5 1883 2684 607 1731 2553 123,5 608 1786 2471 122,5
Desvio-
Padrão
26,39 132,6 224,3 29,6 37,61 120,9 185,4 24,88 21,95 93,9 89,16 51,06 78,21 127,3 29,91 61,85 85,84 128,2 31,58
173
Resultados Experimento POR1 - Médias Gerais dos Sons Vocálicos
[i
ii
i] [eI
eIeI
eI] [e
ee
e] [E
EE
E]
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
M1
292 2155 3078 112 402 1855 2649 364 2055 2808 134 509 1885 2746 141
M2
306 2293 2977 107 418 1848 2613 360 2095 2665 118 527 1772 2517 131
M3
283 2302 2777 85 366 1935 2562 367 2104 2540 113 513 1775 2475 123
M4
300 2349 3088 110 432 2052 2601 358 2283 2855 124 535 2078 2689 123
M5
322 2305 2818 148 373 1876 2583 340 2163 2698 165 509 1925 2482 184
M6
281 2319 2788 113 423 1866 2535 381 2060 2514 114 613 1771 2529 235
M7
294 2242 2962 93 432 1807 2554 386 1999 2487 89 595 1672 2451 107
M8
324 2409 3016 110 420 1912 2621 365 2119 2643 130 604 1771 2461 142
M9
298 2431 3094 121 425 2077 2672 404 2251 2738 141 597 1993 2572 156
M10
258 2100 3091 99 366 1910 2545 344 2037 2676 97 461 1869 2556 111
M11
330 2189 3147 171 410 1900 2628 378 2047 2639 200 554 1943 2718 208
M12
288 2274 2897 78 431 1979 2711 374 2122 2725 88 561 1847 2755 83
A1
332 2139 2835 104 462 1775 2668 375 1983 2703 130 571 1785 2444 139
A2
322 2356 2960 104 445 1879 2611 389 2149 2822 128 569 1886 2653 135
A3
287 2029 2930 79 378 1825 2535 372 1882 2565 97 504 1682 2453 96
A4
321 2105 2692 97 417 1841 2470 402 1983 2529 124 547 1721 2443 146
P1
248 2265 3103 96 375 1874 2612 347 2084 2751 104 490 1911 2678 123
P2
296 2357 3136 100 375 1956 2606 340 2059 2531 115 526 1801 2454 127
P3
275 2476 3180 106 440 1871 2797 373 2166 2750 127 586 1879 2674 139
P4
274 2305 3086 109 406 1911 2564 361 2099 2634 114 551 1831 2559 142
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
Média
296,6 2270 2983 107,1 409,8 1897 2607 369 2087 2664 122,6 546,1 1840 2565 139,6
Mediana
295 2298 2997 105 417,5 1878 2609 369,5 2090 2671 121 549 1839 2543 137
Desvio-
Padrão
23,57 118,6 142,3 21,42 28,69 75,07 71,68 18,38 92,33 109,1 25,88 41,52 102,6 111,7 35,65
174
Resultados Experimento POR1 - Médias Gerais dos Sons Vocálicos de Cada Estímulo
bica deita beco beca
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
M1
296 2133 3067 108 401 1808 2697 368 2013 2809 134 516 1833 2772 146
M2
325 2280 3079 120 401 1824 2654 361 2077 2656 128 539 1797 2549 139
M3
285 2286 2939 73 371 1928 2583 361 2099 2535 108 505 1817 2494 127
M4
292 2413 3122 110 428 2019 2635 345 2294 2928 134 524 2149 2814 134
M5
316 2239 2854 138 370 1845 2636 337 2100 2695 182 502 1932 2590 183
M6
286 2311 2746 122 431 1907 2604 381 1998 2519 116 601 1756 2535 142
M7
312 2266 3007 113 425 1823 2621 372 1989 2508 98 599 1751 2496 122
M8
326 2400 3028 116 414 1937 2706 368 2108 2621 134 622 1779 2550 136
M9
303 2510 3272 131 417 2067 2752 381 2251 2736 154 646 2029 2592 165
M10
256 2096 3104 125 374 1885 2566 342 1996 2703 115 475 1885 2643 124
M11
341 2208 3147 162 406 1891 2677 383 2068 2667 196 573 1950 2715 205
M12
314 2274 2777 78 434 1943 2754 381 2097 2674 93 539 1865 2698 91
A1
336 2122 2941 107 461 1752 2690 363 2021 2795 149 536 1780 2492 152
A2
324 2316 2977 98 436 1943 2437 392 2130 2897 152 585 1899 2746 141
A3
306 2077 2934 93 383 1830 2585 368 1925 2485 85 497 1695 2466 89
A4
317 2081 2913 90 420 1795 2444 415 1919 2614 126 554 1721 2572 149
P1
266 2290 2995 104 394 1857 2673 338 2093 2747 113 492 1949 2697 131
P2
293 2274 3100 102 370 2002 2664 346 2059 2682 121 516 1808 2423 126
P3
288 2476 3198 121 441 1856 2853 374 2178 2760 142 574 1929 2705 139
P4
291 2252 2945 111 413 1880 2615 353 2098 2660 123 572 1820 2620 149
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
Média
303,7 2265 3007 111,1 409,5 1890 2642 366,5 2076 2685 130,2 548,4 1857 2608 139,5
Mediana
304,5 2274 3001 110,5 413,5 1883 2645 368 2085 2678 127 539 1827 2591 139
Desvio-
Padrão
22,22 123,7 133,6 20,36 26,31 80,03 96,75 19,76 94,5 120,6 27,56 46,87 110,8 111 26,28
175
pito peita peta[e]
peta[E
EE
E]
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
M1
286 2129 3106 108 430 1892 2545 361 2067 2845 137 505 1941 2776 132
M2
285 2296 3030 108 431 1838 2504 354 2124 2717 116 521 1786 2502 125
M3
295 2277 2603 95 370 1973 2486 367 2130 2571 113 504 1823 2482 117
M4
328 2311 3074 111 423 2091 2536 351 2321 2857 118 515 2117 2668 122
M5
328 2334 2768 160 390 1884 2479 345 2218 2693 162 501 1967 2511 183
M6
282 2295 2686 106 428 1810 2433 376 2118 2495 120 608 1808 2538 138
M7
274 2276 2944 86 463 1832 2462 392 2029 2457 82 607 1604 2421 91
M8
326 2375 2928 105 444 1898 2500 366 2143 2657 144 585 1791 2400 146
M9
308 2379 3075 125 436 2121 2552 417 2254 2713 132 620 2021 2621 139
M10
259 2078 2965 87 360 1929 2419 348 2081 2743 92 457 1883 2561 110
M11
319 2174 3158 171 422 1883 2489 382 2038 2570 195 536 1948 2791 207
M12
272 2250 2942 84 430 2057 2657 370 2146 2750 83 590 1929 2816 74
A1
323 2167 2774 117 483 1829 2617 381 2067 2613 127 536 1820 2464 131
A2
327 2358 2922 119 454 1816 2608 379 2186 2758 122 566 1920 2565 141
A3
270 2007 2872 70 379 1846 2461 376 1864 2658 103 519 1711 2465 100
A4
330 2071 2528 99 431 1883 2378 391 2006 2452 124 552 1778 2412 150
P1
239 2244 3117 88 360 1902 2464 352 2073 2711 102 500 1938 2630 114
P2
291 2383 3153 105 376 1890 2435 335 2046 2443 111 542 1811 2477 124
P3
280 2475 3238 109 470 1857 2718 375 2167 2759 116 586 1866 2637 147
P4
259 2339 2981 120 403 1876 2420 350 2124 2670 114 554 1787 2513 136
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
Média
294,1 2261 2943 108,7 419,2 1905 2508 368,4 2110 2657 120,7 545,2 1862 2563 131,4
Mediana
288,5 2286 2955 107 429 1884 2488 368,5 2121 2682 117 539 1845 2526 131,5
Desvio-
Padrão
27,92 121,9 191,5 23,98 36,5 89,02 87 19,61 97,94 124,4 26,03 43,9 114,9 125,3 29,43
176
Tita deito teta teto
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
M1
294 2202 3061 119 375 1866 2704 363 2100 2751 131 506 1830 2689 147
M2
308 2302 2822 92 423 1881 2681 365 2083 2623 111 522 1732 2499 128
M3
271 2343 2789 87 357 1903 2616 374 2084 2515 120 530 1686 2449 126
M4
280 2321 3067 109 419 2047 2632 378 2234 2781 121 568 1969 2584 113
M5
322 2341 2831 145 359 1899 2634 338 2173 2705 150 524 1874 2345 186
M6
275 2351 2930 112 411 1881 2568 387 2042 2530 107 631 1750 2513 126
M7
295 2185 2935 79 409 1764 2580 395 1978 2496 89 580 1661 2436 107
M8
319 2454 3092 111 401 1901 2658 361 2105 2652 112 605 1743 2432 143
M9
284 2404 2935 107 424 2043 2714 414 2249 2767 138 526 1928 2503 164
M10
259 2127 3206 87 364 1915 2650 343 2033 2583 86 452 1838 2463 99
M11
331 2184 3135 181 401 1927 2718 370 2036 2679 210 553 1932 2647 212
M12
279 2298 2972 74 430 1938 2721 371 2122 2751 90 553 1747 2752 83
A1
337 2128 2790 89 441 1745 2699 383 1860 2701 114 593 1754 2374 134
A2
317 2393 2981 94 445 1877 2789 395 2130 2810 110 556 1840 2647 123
A3
285 2005 2985 76 374 1800 2560 372 1857 2552 101 497 1639 2428 98
A4
316 2164 2635 102 402 1845 2588 401 2025 2520 121 535 1663 2343 139
P1
239 2261 3198 94 370 1862 2699 352 2087 2794 98 480 1845 2707 123
P2
304 2414 3154 93 379 1977 2718 340 2073 2466 111 520 1783 2462 132
P3
259 2476 3102 88 411 1899 2819 369 2153 2730 123 598 1841 2679 133
P4
273 2323 3332 97 403 1981 2656 380 2076 2573 104 526 1885 2543 142
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
Média
292,4 2284 2998 101,8 399,9 1898 2670 372,6 2075 2649 117,4 542,8 1797 2525 132,9
Mediana
289,5 2312 2983 94 402,5 1899 2670 371,5 2084 2666 111,5 532,5 1807 2501 130
Desvio-
Padrão
26,45 123,9 171,3 24,89 27,03 78,22 69,66 20,25 99,56 112 27,11 44,34 96,01 125,2 29,65
177
Resultados Experimento POR2 - Médias Gerais dos Sons Vocálicos
[i
ii
i] [eI
eIeI
eI] [e
ee
e] [E
EE
E]
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
M1
306 2091 2804 65 348 1759 2586 378 1880 2722 103 536 1792 2684 112
M2
347 1933 2617 42 381 1817 2625 385 1888 2517 67 508 1719 2507 69
M3
310 2022 2609 43 352 1985 2589 333 2006 2471 70 480 1721 2444 60
M4
322 2095 2665 74 424 1913 2571 425 1976 2633 91 545 1898 2659 104
M5
332 2320 2786 102 387 1747 2501 370 2007 2681 101 529 1759 2451 101
M6
298 2154 2680 87 405 1845 2555 405 1938 2449 102 533 1698 2452 96
M7
281 2108 2668 53 377 1788 2471 355 1905 2482 67 491 1647 2376 58
M8
314 2084 2567 47 383 1842 2550 396 1780 2293 43 548 1681 2347 74
M9
326 2108 2617 61 422 1947 2570 418 2036 2501 81 590 1905 2524 95
M10
281 2048 2789 58 368 1870 2539 338 1933 2509 96 474 1735 2295 78
M11
351 2111 2980 119 413 1813 2635 400 2026 2591 156 601 1772 2575 164
M12
293 2312 3031 58 422 1846 2667 368 2075 2678 72 548 1808 2772 81
A1
339 1950 2397 72 421 1639 2549 412 1857 2558 73 513 1669 2360 67
A2
355 2083 2740 61 446 1911 2672 429 1983 2752 86 582 1826 2619 110
A3
296 2001 2688 61 384 1800 2460 381 1870 2486 72 509 1652 2437 71
A4
341 2190 2694 99 399 1879 2465 398 1845 2445 89 505 1703 2442 103
P1
282 2026 2842 58 402 1821 2572 377 1993 2557 74 515 1757 2422 71
P2
276 2284 3151 38 374 1981 2696 353 2010 2473 64 506 1714 2216 70
P3
279 2363 2745 69 374 1980 2709 368 2062 2642 93 558 1809 2646 105
P4
304 2235 3140 64 411 2025 2553 392 2051 2435 81 542 1819 2392 112
F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 F1 F2 F3 Dur. F1 F2 F3 Dur.
Média
311,7 2126 2761 66,55 394,7 1860 2577 384,1 1956 2544 84,05 530,7 1754 2481 90,05
Mediana
308 2102 2717 61 393 1846 2571 383 1980 2513 81 531 1746 2448 88
Desvio-
Padrão
26,14 123 191,4 21,06 25,99 95,21 73,26 27,21 82,9 114 22,76 34,78 74,38 141,7 25,25
178
APÊNDICE I – Resultados das Análises de Variância (ANOVAs)
Médias com letras iguais não diferem significativamente para o vel de
significância proposto (p. < ,05).
Seção 1
ANOVA do som [i], exp.
ING1
Som Média F1
5%
deep 285,75 a
beat 288,75 a
teat 288,85 a
[i]
292,50 a
beak 297,85 a
keep 301,00 a
ANOVA do som [i], exp.
ING1
Som Média F2
5%
beak 2345,70 b
deep 2382,45 a b
[i]
2384,25 a b
beat 2388,90 a b
teat 2398,40 a b
keep 2403,65 a
ANOVA do som [I] ,exp.
ING1
Som Média F1
5%
kit 380,40 a
bit 388,80 a
[I]
393,80 a
tit 398,00 a
bic 401,75 a
tip 401,85 a
ANOVA do som [I], exp.
ING1
Som Média F2
5%
tip 2035,65 a
bic 2065,35 a
bit 2093,55 a
[I]
2096,25 a
tit 2106,95 a
kit 2178,65 a
Seção 2
ANOVA dos sons [i] e [I] do
ILE, exp. ING1, e [i] do PB,
exp. POR1.
Som Média F1 5%
[i] ING1
292,50 b
[i] POR1
296,55 b
[I] ING1
393,80 a
ANOVA dos sons [i] e [I] do
ILE, exp. ING1, e [i] do PB,
exp. POR1.
Som Média F2
5%
[I] ING1
2096,25 b
[i] POR1
2270,00 a
[i] ING1
2384,25 a
179
Seção 3
ANOVA dos sons [i] e [I] do
ILE, exp. ING2, e [i] do PB,
exp. POR2.
Som Média F1 5%
[i] ING2
310,4 b
[i] POR2
311,6 b
[I] ING2
411,5 a
ANOVA dos sons [i] e [I] do
ILE, exp. ING2, e [i] do PB,
exp. POR2.
Som Média F2
5%
[I] ING2
1975,5 c
[i] POR2
2125,9 b
[i] ING2
2274,4 a
Seção 4
ANOVA dos sons [i] e [I] do
ILE, exp. ING1, e [i] do PB,
exp. POR1.
Som Duração 5%
[i] POR1
107,1 c
[I] ING1
137,8 b
[i] ING1
146,9 a
Seção 5
ANOVA dos sons [i] e [I] do
ILE, exp. ING2, e [i] do PB,
exp. POR2.
Som Duração 5%
[i] POR2
66,5 c
[I] ING2
85 b
[i] ING2
103,7 a
Seção 6
ANOVA do som [i], exp.
ING1
Som Duração 5%
keep 131,9 a
beak 143,5 a
[i]
146,9 a
deep 147,5 a
teat 153,7 a
beat 158 a
ANOVA do som [I] ,exp.
ING1
Som Duração 5%
tip 117,8 a
kit 128,8 a
[I]
131,8 a
Bic 132,9 a
tit 139,2 a
bit 139,7 a
180
Seção 7
ANOVA do som [i], exp.
POR1
Som Duração 5%
Tita 101,8 a
[i]
107,1 a
pito 108,6 a
bica 111,1 a
ANOVA do som [e] ,exp.
POR1
Som Duração 5%
teta 117,3 b
pêta 120,6 a b
[e] 122,6 a b
beco 130,1 a
Seção 8
ANOVA do som [eI], exp.
POR1
Som F1 5%
deito 399,9 b
deita 409,5 a b
[eI]
409,8 a b
peita 419,1 a
Seção 9
ANOVA do som [eI], exp.
ING1
Som F1 5%
Kate 394,7 a
date 413,4 a
[eI]
417,9 a
bake 419,8 a
bate 426,8 a
tape 437,7 a
ANOVA do som [eI] ,exp.
ING1
Som F2 5%
bate 1906,8 b
bake 1923,3 b
tape 1966,4 b
[eI]
1989,1 a b
date 1992,4 a b
Kate 2210,9 a
Seção 10
ANOVA do som [E], exp.
ING1
Som F1 5%
get 572,1 b
[E]
618,6 a b
deck 623,1 a b
bet 628,3 a b
debt 634 a
Beck 636,6 a
ANOVA do som [E] ,exp.
ING1
Som F2 5%
debt 1803,4 b
Beck 1807,3 b
deck 1816,3 b
bet 1823,1 b
[E]
1840,6 b
get 1953,1 a
181
ANOVA do som [Q], exp.
ING1
Som F1 5%
back 666,1 a
cat 666,5 a
bat 677,7 a
[Q]
682,4 a
tat 682,6 a
tap 702,9 a
ANOVA do som [Q] ,exp.
ING1
Som F2 5%
tap 1763,5 b
back 1790,8 a b
tat 1809,1 a b
bat 1810,9 a b
[Q]
1811,4 a b
cat 1883,5 a
Seção 11
ANOVA dos sons [E] e [Q]
do ILE, exp. ING1, e [E] do
PB, exp. POR1.
Som F1 5%
[E] POR1
546,1 c
[E] ING1
618,6 b
[Q] ING1
682,3 a
Seção 12
ANOVA dos sons [E] e [Q]
do ILE, exp. ING2, e [E] do
PB, exp. POR2.
Som F1 5%
[E] POR2
530,6 b
[E] ING2
617,4 a
[Q] ING2
625,8 a
Seção 13
ANOVA do som [E], exp.
POR1
Som F2 5%
teto 1997 b
[E]
1839,8 a b
beca 1857,2 a
peta 1862,4 a
182
Seção 14
ANOVA dos sons [E] e [Q]
do ILE, exp. ING1, e [E] do
PB, exp. POR1.
Som Duração 5%
[E] POR1
139,5 b
[E] ING1
171,9 a
[Q] ING1
186,6 a
Seção 15
ANOVA dos sons [E] e [Q]
do ILE, exp. ING2, e [E] do
PB, exp. POR2.
Som Duração 5%
[E] POR1
90 b
[Q] ING1
125,7 a
[E] ING1
133,7 a
Seção 16
ANOVA do som [E], exp.
ING1
Som Duração 5%
deck 167 a
Beck 167,3 a
bet 171,2 a
[E]
171,9 a
get 173,7 a
debt 181 a
ANOVA do som [Q] ,exp.
ING1
Som Duração
5%
tap 173,5 a
cat 184,6 a
back 184,9 a
[Q]
186,6 a
tat 190,1 a
bat 199,7 a
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