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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PRÓ-REITORIA PARA ASSUNTOS DE PESQUISA E
PÓS-GRADUAÇÃO - PROPESQ
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
MESTRADO DE MEDICINA TROPICAL
CRISTIANO AUGUSTO HECKSHER
RESPOSTA TERAPÊUTICA À DROTRECOGINA ALFA (ATIVADA)
EM PACIENTES COM SEPSE GRAVE NAS UNIDADES DE TERAPIA
INTENSIVA DA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE
Dissertação apresentada ao Centro de
Ciências da Saúde como requisito para
obtenção do grau de Mestre em Medicina
Tropical
Orientadora
Professora Heloísa Ramos Lacerda de Melo
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Hecksher, Cristiano Augusto
Resposta terapêutica à drotrecogina alfa (ativada) em
pacientes com sepse grave nas Unidades de Terapia
Intensiva da região metropolitana do Recife / Cristiano
Augusto Hecksher . – Recife: O Autor, 2007.
57 folhas : il., tab.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de
Pernambuco. CCS. Medicina Tropical, 2007.
Inclui bibliografia e anexos.
1. UTI –Tratamento na sepse grave. I. Título.
616.9400 CDU (2.ed.) UFPE
362.174 CDD (22.ed.) CCS2007-144
2
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
REITOR
Prof. Amaro Henrique Pessoa Lins
PRÓ-REITOR PARA ASSUNTOS DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
Prof. Celso Pinto de Melo
DIRETOR DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
Prof. José Tadeu Pinheiro
COORDENADORA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL
Profª. Heloísa Ramos Lacerda de Melo
VICE-COORDENADORA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA
TROPICAL
Profª. Maria Rosângela Cunha Duarte Coelho
CORPO DOCENTE
Profª. Célia Maria Machado Barbosa de Castro
Profª. Elizabeth Malagueño de Santana
Profª. Heloísa Ramos Lacerda de Melo
Profª. Maria Amélia Vieira Maciel
Profª. Maria de Fátima Millitão de Albuquerque
Profª. Maria Rosângela Cunha Duarte Coelho
Prof. Ricardo Arraes de Alencar Ximenes
Profª. Sílvia Maria de Lemos Hinrichsen
Profª. Vera Lúcia Magalhães da Silveira
4
DEDICATÓRIA
Aos meus familiares.
Aos colegas que trabalham na terapia intensiva em
nossa cidade.
5
AGRADECIMENTOS
Ao Dr. João Roberto Cabral da Silva
Ao Dr. Jurandir Luiz Brainer
Ao Dr. Marcos Antônio Cavalcanti Gallindo
Ao Dr. João Batista Lins Lampropulos
Ao Dr. Alberto José Barros Neto
Ao Dr. Odim Barbosa da Silva
A Dra. Maria Lígia de Arruda Barbosa
Ao Dr. Sérgio José Siqueira Araújo
A Dra. Mariza Andrade Lima da Fonte
Ao Dr. Antônio Espósito de Lima Filho
A Érica Falcão da Paixão
A Sandra Vieira Rebôcho Prazeres
A Rejane Donato Santiago
A Francineide Ana da Silva
6
SUMÁRIO
Introdução......................................................................................................................... pág. 07
Artigo I -
RESPOSTA TERAPÊUTICA À DROTRECOGINA ALFA (ATIVADA) EM PACIENTES COM SEPSE
GRAVE NAS UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA DA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE
........... pág. 09
Resumo ............................................................................................................................ pág. 09
Abstract ............................................................................................................................ pág. 09
Introdução ........................................................................................................................ pág. 10
Materiais e Métodos ........................................................................................................ pág. 13
Comissão de Ética .......................................................................................................... pág. 16
Resultados ....................................................................................................................... pág. 16
Tabelas ............................................................................................................................. pág. 19
Discussão ........................................................................................................................ pág. 24
Referências Bibliográficas ............................................................................................. pág. 30
Artigo II -
ESTRATÉGIAS TERAPÊUTICAS UTILIZADAS EM PACIENTES COM SEPSE GRAVE QUE FIZERAM
USO DE DROTRECOGINA ALFA (ATIVADA) NAS UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA DA REGIÃO
METROPOLITANA DO RECIFE
................................................................................................. pág. 33
Resumo ............................................................................................................................ pág. 33
Abstract ............................................................................................................................ pág. 33
Introdução ........................................................................................................................ pág. 34
Materiais e Métodos ........................................................................................................ pág. 35
Comissão de Ética .......................................................................................................... pág. 37
Resultados ....................................................................................................................... pág. 37
Tabelas ............................................................................................................................. pág. 40
Discussão ........................................................................................................................ pág. 44
Referências Bibliográficas ............................................................................................. pág. 49
Conclusões ...................................................................................................................... pág. 52
Opinião ............................................................................................................................. pág. 52
Propostas ......................................................................................................................... pág. 53
Anexo I - Aprovação da Pesquisa pelo Comitê de Ética ............................................. pág. 54
Anexo II – Instrumento de Pesquisa ............................................................................. pág. 55
7
INTRODUÇÃO
Para quem trabalha em terapia intensiva entender a sepse é um desafio constante. O
desenvolvimento em diversas áreas de pesquisa ao mesmo tempo em que permite
compreender melhor a complexa relação entre agente infeccioso e organismo humano, nos
obriga a admitir o quanto limitado é o nosso conhecimento. O estudo da sepse é caracterizado
pela dificuldade de conseguir evidências sólidas em áreas que vão da fisiopatologia até a
terapêutica. A sucessão de trabalhos ora mostrando evidências favoráveis a uma conduta no
tratamento da sepse e ora negando-as, embora faça parte da evolução do conhecimento, é um
complicador. Os pontos em comum na literatura médica são os números elevados quanto à
incidência da sepse, sua morbidade, sua mortalidade e os custos financeiros.
Em 2001 o estudo de Bernard GR, et al (PROWESS) mostrou a redução da
mortalidade em pacientes com sepse grave submetidos a tratamento com drotrecogina alfa
(ativada). Pouco depois, esta droga foi aprovada pela agência fiscalizadora americana e a
européia, para o tratamento de pacientes com sepse grave. O tempo relativamente curto entre
a publicação do trabalho e a liberação da drotrecogina alfa (ativada), para uso na prática
clínica, gerou controvérsias. Em 2005 e 2006 novos trabalhos trouxeram mais dados para a
discussão. Entre estes estudos podemos citar o ADRESS (
Abraham E; et al., 2005), o
ENHANCE
(Vincent JL; et al., 2005) e o de Barie OS, et al. de 2006. Assim observa-se um
número cada vez maior de publicações que abordam o tema “drotrecogina alfa (ativada)”. No
entanto, surgem mais questionamentos provocando uma demanda por informações.
Em 2004
Dellinger RP, et al. publicaram uma proposta de organização esquemática,
baseada em dados científicos, para o tratamento de pacientes com sepse (Campanha
Sobrevivendo a Sepse). Embora sujeito a crítica, a publicação é um marco na evolução do
conhecimento sobre a sepse e na tentativa de trazer este conhecimento para a prática.
E
studos, nos quais a Campanha Sobrevivendo a Sepse se baseia, já mostravam que algumas
medidas de custo relativamente baixo, apresentavam boa efetividade e riscos aceitáveis.
Porém a aplicação destas medidas ainda não se tornou realidade em vários serviços.
Esta dissertação de mestrado busca conhecer melhor os dados regionais sobre o uso
na prática diária da drotrecogina alfa (ativada) em pacientes com sepse grave internados em
8
unidades de terapia intensiva. Também procura obter informações sobre a utilização de
estratégias terapêuticas nestes pacientes.
A dissertação de mestrado está dividida em dois artigos. O primeiro descreve o uso da
drotrecogina alfa (ativada) nas unidades de terapia intensiva da região metropolitana do Recife-
PE, no período de janeiro de 2003 a outubro de 2006. O segundo estudo descreve medidas
terapêuticas utilizadas neste mesmo grupo de pacientes com sepse grave submetidos a
tratamento com a drotrecogina alfa (ativada), destacando-se: o controle rígido de níveis
glicêmicos com insulina em infusão contínua, o uso de corticóide para tratamento do choque
séptico, o uso de inotrópicos positivos e o aporte hídrico.
9
ARTIGO I - RESPOSTA TERAPÊUTICA À DROTRECOGINA ALFA
(ATIVADA) EM PACIENTES COM SEPSE GRAVE NAS UNIDADES DE
TERAPIA INTENSIVA DA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE
Cristiano Augusto Hecksher.*
RESUMO
Estudos epidemiológicos mostram um aumento na prevalência da sepse na última
década. Nos últimos anos houve um maior conhecimento da sua fisiopatologia. No entanto,
existe uma dificuldade em traduzir estes conhecimentos para a prática clínica, com uma
abordagem terapêutica que reduza os altos níveis de mortalidade. O estudo PROWESS,
publicado em 2001, avaliou a drotrecogina alfa (ativada) na sepse grave. Os resultados
evidenciaram uma redução no risco absoluto de morte de 6,1% (p=0.005). No entanto há
controvérsias na aprovação e utilização da drotrecogina alfa (ativada). Este trabalho objetiva
obter informações da prática clínica diária sobre o uso da droga fora das condições mais
restritas de um estudo de fase III. Foi um estudo descritivo, retrospectivo, tipo série de casos.
Foram avaliados cem pacientes que receberam drotrecogina alfa (ativada) no período de
janeiro de 2003 a outubro de 2006 na região metropolitana da cidade do Recife. Noventa e oito
por cento dos pacientes deste trabalho estavam no estágio de choque séptico e
consequentemente apresentaram elevada mortalidade (57%). Mais da metade dos pacientes
era cirúrgico (52%), o que foi responsável pelo predomínio do foco abdominal (48%). Os
pacientes que usaram drotrecogina alfa (ativada), nesta amostra, mantiveram alto índice de
mortalidade. Vinte por cento dos pacientes iniciaram a droga tardiamente com mais de 48h da
primeira falência orgânica documentada. Houve elevado número de sangramentos severos
(9%) e apenas 62% dos pacientes completaram as 96h de infusão da droga. A análise dos
resultados não permite indicar diferenças claras entre os grupos de desfecho favorável ou não,
assim como não traz dados que demonstrem a efetividade da drotrecogina alfa (ativada). No
entanto, a informação obtida permite conhecer em que pacientes nós estamos utilizando a
drotrecogina alfa (ativada) e aponta para mais questionamentos.
Descritores: sepse grave, choque séptico, drotrecogina alfa (ativada).
ABSTRACT
Epidemiologic studies show an increase in the prevalence of sepsis in the last decade. In recent
years, ours knowledge about the physiopathology of sepsis increase too. However, there is a
difficult in transform this knowledge in a therapy that reduces the high mortality. The PROWESS
study, published in 2001, evaluated the drotrecogin alfa (activated) in severe sepsis. In his
results there was a reduction in the absolute risk of death of 6, 1% (p=0,005). The new drug
was approved to use, but with controversies. This study wanted information about the clinical
practice of the use of drotrecogin alfa (activated). The study was descriptive, retrospective,
series of case. One hundred patients had been evaluated, during the period from January 2003
to October 2006 in the city of Recife (Brazil). Ninety eight percent of the patients were in septic
shock and they had a high mortality (57%). More than a half of the patients were surgical (52%),
and the abdominal focus was the most frequent (48%). The use of drotrecogin alfa (activated),
in this sample, doesn’t change the high index of mortality. Twenty percent of the patients
initiated the drug with more then 48h of the first organic failure. Nine percent of the patients had
severe bleeding and only 62% completed the 96h of drug infusion. There was no evidence of
difference between the patients who died or not. There was no evidence about the effectiveness
of the drotrecogin alfa (activated).
Keywords: severe sepsis, septic shock, drotrecogin alfa (activated).
* Médico Intensivista. Mestrando de Medicina Tropical – Universidade Federal de Pernambuco.
10
INTRODUÇÃO
Sepse não é uma doença, mas sim uma síndrome extremamente heterogênea
deflagrada por grande diversidade de agentes infecciosos e constituída por vários mecanismos
fisiopatológicos. Sua apresentação clínica inclui os quadros de sepse, sepse grave, choque
séptico até a falência de múltiplos órgãos, que correspondem a diferentes estágios de
gravidade da doença (Alberti C. et al., 2005). Cada um deles apresenta características próprias
e diferentes índices de mortalidade. Nem todos os pacientes com sepse evoluem para
disfunção orgânica e morte. A relação entre agente agressor e hospedeiro apresenta
características próprias em cada caso (
Texereau J, et al., 2004. Alberti C, et al., 2003. Alberti C,
et al., 2005)
A complexidade do processo é mais facilmente explicada pelo conceito do sistema de
gradação “PIRO”, onde P corresponde aos fatores predisponentes do paciente, I é a natureza
do insulto, R a intensidade da resposta e O ao número de disfunções orgânicas (
Opal SM, et
al., 2005)
.
Estudos epidemiológicos, americanos, mostram um aumento na incidência da sepse ou
uma melhora da capacidade diagnóstica na última década. O desenvolvimento na terapia
intensiva é responsável por uma diminuição da mortalidade geral da sepse, porém, devido ao
aumento da incidência o número total de pacientes mortos tem aumentado (Martin GS, et al.,
2003). Somam-se trabalhos demonstrando o grande impacto tanto em número de vidas como
em custos em diversos países. Angus CD et al, em 2001, relatam 750.000 casos de sepse ao
ano nos Estados Unidos com custo anual de 16,7 bilhões de dólares só naquele país, sendo a
primeira causa de óbito em unidades de terapia intensiva não coronariana. Claramente, nos
últimos anos houve um maior conhecimento da fisiopatologia da sepse grave, destacando-se a
melhor compreensão da participação do endotélio e dos mediadores inflamatórios (
Alves-Filho
JC, et al., 2006)
. No entanto, existe uma dificuldade em traduzir estes conhecimentos para a
prática clínica cotidiana, com uma abordagem terapêutica que reduza os altos níveis de
mortalidade mantida entre 30% e 50% na sepse grave (
Howell G, et al., 2006).
Os fundamentos teóricos para uma nova forma de tratamento da sepse já haviam sido
sugeridos em diversos trabalhos, que demonstravam a íntima relação entre inflamação e
ativação da coagulação (
Vervloet MG, et al., 1998, Esmon CT, 1999, 2003, 2005), sendo
11
ambas componentes da resposta imune inata. Surgiu daí a hipótese de que anticoagulantes
poderiam ser efetivos no tratamento da sepse, equilibrando a resposta inflamatória e
recuperando a homeostase ( Esmon CT 2001 ). A partir de então, três fatores foram estudados:
antitrombina III, o inibidor da via do fator tecidual e a proteína C (Esmon CT, et al; 1999; 2001;
L
iaw P, et al; 2004). As duas primeiras opções obtiveram resultados frustrantes em estudos de
fase III (
Eisele B, et al., 1998; Abraham E, et al., 2003). Assim, embora todos sejam
reconhecidos como anticoagulantes, apenas a proteína C apresentou dados que a habilitam
como aparente moduladora favorável da resposta inflamatória na sepse grave (Bernard GR, et
al., 2001-PROWESS).
A proteína C é uma glicoproteína produzida pelos hepatócitos na dependência da
vitamina K e liberada na forma de zimogênio inativo. Este será ativado após ligar-se com o
receptor endotelial da proteína C e posteriormente ao complexo trombomodulina + trombina
(Esmon CT, et a., 1999). Trabalhos mostram ações da proteína C ativada como antitrombótico,
pró-fibrinolítico, anti-inflamatório e diminuindo a apoptose mediada por citocinas em células
endoteliais (Esmon CT, et al; 2001 e 2005.
Joyce DE, et al., 2004).
Na prática clínica é utilizada a drotrecogina alfa (ativada). Esta corresponde à forma
recombinante da proteína C, produzida por linhagem de células de mamífero, que receberam
os genes humanos responsáveis por esta proteína (
Dhainaut JF, et al., 2004) posteriormente
ativada por processo que utiliza trombina bovina (
Fuerst W. 2004).
O estudo PROWESS, publicado em 2001, avaliou a drotrecogina alfa (ativada) na
sepse grave. Trata-se de um estudo randomizado, duplo cego, placebo controlado e
multicêntrico com avaliação de 840 pacientes no grupo placebo contra 850 no tratado. Os
resultados evidenciaram uma redução no risco absoluto de morte de 6,1% (p=0.005) e
trouxeram este medicamento para o centro das discussões sobre a terapêutica na sepse grave.
Demonstrou-se, no entanto, um maior risco de sangramento no grupo tratado 3,5% contra 2%
no grupo de pacientes não tratados (p=0.06).
Com uma base teórica e eficácia comprovada, o uso da drotrecogina alfa (ativada) foi
aprovado para a prática clínica em 2001 pela agência fiscalizadora americana, a Food and
Drug Administration (FDA) e a européia, European Agency for the Evaluation of Medicinal
Products (EMEA). Marco relevante em seu processo de aceitação foi a sua inclusão nas
12
recomendações da Campanha Sobrevivendo a Sepse de 2004 (Dellinger RP, et al., 2004).
Este projeto coordenado pelo Dr. Phillip Dellinger com o apoio de onze organizações médicas
de grande importância internacional, objetiva desenvolver normas de conduta na sepse grave e
no choque séptico para uso prático do médico à beira do leito, bem como diminuir a
mortalidade.
Informações da FDA mostraram, no entanto, haver controvérsias na aprovação da
drotrecogina alfa (ativada). Metade dos membros do comitê avaliador apontou problemas no
estudo PROWESS, sendo solicitado novos trabalhos para confirmação da decisão (
Eichacker
PQ, et al., 2006).
Em 2005 foi publicado um novo estudo multicêntrico de braço único e aberto, com 2435
pacientes, o ENHANCE (Vincent JL, et al., 2005), com mortalidade de 25,3%, no qual ficou
evidente a maior eficácia da droga quando utilizada em curto espaço de tempo a partir da
primeira falência orgânica. Assim, quando a drotrecogina alfa (ativada) foi utilizada com
intervalo menor ou igual do que 24h após a primeira falência orgânica a mortalidade foi de
22,9%, enquanto com intervalo entre 24 e 48h a mortalidade foi de 27,4%, p=0.01. Entretanto,
nos pacientes com APACHE II menor do que 25 a mortalidade foi maior ou igual ao grupo
placebo do estudo PROWESS (Bernard GR, et al., 2001). Dentro do grupo com maior
mortalidade estavam contidos os pacientes cirúrgicos com escores mais baixos de APACHE II.
Também foi observado sangramento severo em 3,6% dos pacientes.
No mesmo ano foi publicado o estudo ADRESS (
Abraham E, et al., 2005) com o
objetivo de avaliar a droga em pacientes com “baixo risco de morte”, sendo este indicado por
APACHE II menor do que 25. Este foi um estudo randomizado, duplo cego e placebo
controlado, com 1297 pacientes recebendo placebo e 1316 recebendo a drotrecogina alfa
(ativada). A mortalidade foi de 17% no placebo e de 18,5% nos tratados. Ocorreu maior
freqüência de sangramento entre os que receberam a droga (2,4%) quando comparado aos
que receberam placebo (1,2%). O estudo foi interrompido antes do seu término por futilidade.
O mesmo tendo ocorrido no estudo que avaliou a droga em pacientes pediátricos (Kylat RI, et
al., 2006).
Em 2005, em editorial na Critical Care Medicine, Dr. J. Christopher Farmer, da “Mayo
Clinic College of Medicine”, fez críticas importantes às conclusões obtidas pelo estudo
13
ENHANCE (Vincent JL, et al., 2005), destacando o questionamento quanto a validade do uso
do grupo placebo do estudo PROWESS (Bernard GR, et al., 2001) para fins de comparação e
obtenção de análise estatística.
Em outubro de 2006 os doutores Peter Eichacker, Charles Natanson e Robert Danner,
publicaram na “New England Journal of Medicine”, um artigo com fortes críticas a posição de
drotrecogina alfa (ativada) na “Campanha Sobrevivendo à Sepse”, chegando a sugerir
interesses comerciais como sua motivação.
Como fator complicador a maioria das comissões de ética não têm permitido estudo de
comparação de placebo contra a drotrecogina alfa (ativada), por considerarem esta uma
“terapia estabelecida”.
Especialistas em todo o mundo consideram necessária a realização de mais estudos
randomizados, duplo-cegos, placebo controlados e multicêntricos, visando confirmar ou não a
eficácia da droga (
Eichacker PQ, et al., 2005).
Uma forma de obter dados sobre a drotrecogina alfa (ativada) são os trabalhos que
utilizam as informações provenientes da prática clínica diária sobre o uso da droga fora das
condições mais restritas de um estudo de fase III. Esta análise amplia as informações, que
embora percam força de evidência científica pela falta de uma metodologia mais controlada e
esquematizada, tem sua importância justamente por permitir a observação da droga em
situação da prática médica cotidiana. Há também a importância de se conhecer dados
regionais, que permitam uma comparação crítica com as práticas mundiais e de outras regiões
com situação sócio-econômica, cultural e genética diversa (Fang XM, et al., 1999).
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi um estudo descritivo, retrospectivo, tipo série de casos. Baseado nas informações
obtidas pela análise dos prontuários médicos dos pacientes que receberam drotrecogina alfa
(ativada) no período de janeiro de 2003 a outubro de 2006 na região metropolitana da cidade
do Recife.
Segundo informações do fabricante, na região metropolitana da cidade do Recife foram
realizados 119 pedidos da droga neste período. Conseguimos analisar os prontuários de 110
destes pacientes. Destes, três pacientes não iniciaram a infusão da drotrecogina alfa (ativada),
14
três prontuários não apresentavam condições de se obter as informações minimamente
necessárias, dois pacientes tiveram infusão da droga suspensa por ordem do médico
assistente por discordar da indicação e dois pacientes estavam recebendo a droga pela
segunda vez no mesmo internamento, sendo então considerada apenas a primeira utilização.
Restaram 100 pacientes para a análise.
Todos os pacientes iniciaram a infusão da drotrecogina alfa (ativada) na dose de
24μg/Kg/h com intenção de completar 96h de infusão em unidades de terapia intensiva, tendo
todos recebido a indicação pela equipe da unidade e/ou do médico assistente. Sendo o início
da infusão o critério de inclusão no estudo.
Os pacientes foram oriundos de sete hospitais da região metropolitana do Recife.
Sendo 99 pacientes de seis hospitais privados terciários e um de hospital público terciário.
Foi observado o período desde a admissão na unidade de terapia intensiva, até 28 dias
após a infusão da droga ou óbito, se ocorrido antes.
Foram descritos dados demográficos: sexo e idade.
Foram coletados dados clínicos: diagnóstico de admissão, co-morbidades (diabetes
mellitus, cardiopatia, obesidade, neoplasia maligna, insuficiência renal crônica, doença
hepática crônica, doença pulmonar obstrutiva crônica, síndrome da imunodeficiência adquirida,
trombofilia), se clínico ou cirúrgico (submetido a qualquer procedimento cirúrgico no período),
foco da infecção (pulmonar, urinário, abdominal, pele e subcutâneo, corrente sanguínea), se
infecção nosocomial (iniciada com mais de 48h de internação hospitalar), presença de choque
séptico (com uso de drogas vasoativas), disfunção miocárdica aguda (documentada por
ecocardiograma ou cateter em artéria pulmonar) e distúrbio de coagulação (plaquetopenia
<100.000/µl, elevação de 2 X o basal do INR na ausência de droga que justifique, TTPA > 2
X o basal, na ausência de uso concomitante de medida que justifique a alteração). Também foi
observada a identificação do agente etiológico da sepse responsável pela indicação da
drotrecogina alfa (ativada).
Foram coletados dados de gravidade: dosagem de lactato em mmol/L no início e
término da droga, APACHE II (Knaus WA, et al., 1985) e SOFA (Vincent JL, et al. 1998;
Arts
DG; et al., 2005)
no início da infusão, tendo por base as 24h que a precederam.
15
Foram coletados dados da terapêutica: tempo decorrido entre a documentação da
primeira falência orgânica (pelo SOFA) e início da droga, uso de insulina contínua quando de
descontrole glicêmico (quando mais de dois hemogluco testes maiores do que 150mg% nas
24h) com o objetivo de manter os níveis de glicemia entre 80 e 150 mg%, uso de hidrocortisona
endovenoso (100 mg de 8/8h ou 50 mg de 6/6h) para tratamento do choque, diferença entre
ganhos e perdas de fluidos nas primeiras 24h de choque séptico, se a drotrecogina alfa
(ativada) foi interrompida temporariamente e se completou as 96h de infusão.
Foram também coletadas informações sobre sangramento severo, definido como
hemorragia intracraniana, necessidade de três ou mais concentrados de hemácias ao dia por
dois dias consecutivos, ou sangramento que acarrete risco de morte definido como tal pelo
médico assistente ou equipe da UTI. O período observado foi desde o início da infusão da
drotrecogina alfa (ativada) até 24h após sua suspensão definitiva.
Por último foram observados os dados sobre o desfecho: óbito ou vivo.
No cálculo do APACHE II e do SOFA para variáveis não medidas no dia específico foi
considerado o valor das 24h anteriores e todos os dados laboratoriais e clínicos não
informados foram registrados como normais. Para avaliação do estado neurológico pela escala
de Glasgow nos pacientes sedados foi definido o estado anterior à sedação.
As definições de infecção foram baseadas nos critérios do NNISS (National Nosocomial
Infection Surveillance System) e no diagnóstico dos médicos assistentes. A definição de sepse
grave foi à presença de sepse associada à disfunção orgânica, hipoperfusão ou hipotensão,
sendo sinais de hipoperfusão, mas não se limitando apenas a eles, a acidose láctica, a oligúria
e as alterações agudas do estado mental. A definição de choque séptico foi à presença de
sepse induzindo hipotensão não responsiva a ressuscitação hídrica adequada com sinais de
hipoperfusão ou o uso de drogas vasopressoras (
Levy MM, et al., 2003
SCCM/ESICM/ACCP/ATS/SIS International Sepsis Definitions Conference.
).
Tomando por base o desfecho, óbito ou vivo aos 28 dias, os pacientes foram divididos
em dois grupos, com o objetivo de identificar potenciais fatores prognósticos. As variáveis
contínuas tiveram suas médias avaliadas para sua relação com o desfecho pelo teste t de
student. A identificação de possíveis fatores de risco para o desfecho foi realizada através de
três etapas. Na primeira, foi avaliada a possível associação entre cada fator isolado e o
16
desfecho, antes as variáveis contínuas foram categorizadas. Na segunda etapa foi escolhido o
modelo inicial de regressão logística, composto por todos os fatores que, na primeira etapa,
apresentaram um nível de significância observado (valor p) menor que 0,20, conforme
recomendação de Hosmer e Lemeshow. Na terceira etapa, utilizouse o método “stepwise”,
para identificar o modelo final de regressão, ou seja, identificar os fatores de risco que
apresentaram associação conjunta e individual com o desfecho. Na análise dos dados foi
utilizado o “software” Stata 9.2 SE.
COMISSÃO DE ÉTICA
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Médica do Hospital
Agamenon Magalhães da Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco e registrado na
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da
Saúde sob o número FR 93597.
RESULTADOS
Cinqüenta e três por cento dos pacientes eram do sexo feminino e 56% tinham idade
menor do que 65 anos (Tabela 1).
Foco abdominal foi o mais freqüente com 48%, seguido do respiratório com 28%,
urinário com 11% e pele e subcutâneo com 9%. Trinta e três por cento das infecções foram de
origem nosocomial (Tabela 1).
Cinqüenta e dois por cento dos pacientes eram cirúrgicos (Tabela 1).
Entre as co-morbidades destacam-se pela maior prevalência as cardiopatias (27%),
diabetes mellitus (24%) e obesidade (13%). Merecendo ainda consideração: neoplasia maligna
(9%), neoplasia maligna “não controlada” (6%), passado de transplante hepático (1%) e
insuficiência renal crônica (6%), em tratamento dialítico (4%) (Tabela 1).
Um paciente tinha diagnóstico de traumatismo crânio encefálico.
Um paciente tinha quadro demencial avançado e 92 anos, tendo o caso provocado
discussão e dúvidas na equipe assistente quanto à agressividade do tratamento.
Choque séptico com uso de drogas vasoativas ocorreu em 98% dos pacientes e
insuficiência respiratória com uso de ventilação mecânica em 97%. Foi observada disfunção
17
miocárdica aguda pela sepse em 30% dos pacientes, tendo todos feito uso de dobutamina
como droga inotrópica positiva. Distúrbio de coagulação ocorreu em 56% dos pacientes
(Tabela 2).
Dentre os critérios de gravidade observou-se: APACHE II com média de 25,6 ± 4,7;
com 29% dos pacientes apresentado escore menor do que 25; a média do SOFA foi de 9,2 ±
2,5 tendo 99% dos pacientes apresentado duas ou mais falências quando do início da infusão;
lactato inicial (dados apenas de 71% dos pacientes) de 4,13 ± 1,94 mmol/L e ao final da
infusão (dados apenas de 61% dos pacientes) de 3,5 ± 3,94 mmol/L (Tabela 2).
Em 38 pacientes foi identificado o agente causador da sepse responsável pela
indicação da drotrecogina alfa (ativada). Estes agentes foram: bactérias gram negativas (20),
bactérias gram positivas (14), e fungos (4).
Noventa e sete pacientes apresentaram descontrole glicêmico, destes apenas 62
(63,9%) tiveram controle rígido da glicemia com uso de insulina endovenosa (Tabela 2).
Dos 98 pacientes com choque séptico em uso de drogas vasoativas apenas 60 (61%)
utilizaram hidrocortisona nas doses de 200 ou 300 mg ao dia, dividida em quatro ou três doses
ao dia (Tabela 2).
A diferença entre ganhos e perdas de fluidos nas primeiras 24h de choque séptico foi
positiva em 4320 ± 2035 ml. Tendo variado de + 600 ml até + 9400 ml em 24h (Tabela 2).
A interrupção temporária da droga ocorreu em 32% dos casos (Tabela 2).
O tempo decorrido entre a primeira falência e o início da droga foi menor ou igual a 24h
em 45% dos casos, maior do que 24h e menor ou igual a 48h em 35% e maior do que 48h em
20% (Tabela 2). Dos pacientes que iniciaram com mais do que 48h onze eram cirúrgicos (21%
dos pacientes cirúrgicos) e nove eram clínicos (19% dos pacientes clínicos).
Apenas 62% dos pacientes completaram as 96h preconizadas de infusão total da droga
(Tabela 2), sendo que dos 38 pacientes que não completaram, a grande maioria (34 pacientes)
foi por terem falecido durante a infusão e apenas quatro pacientes tiveram a suspensão da
droga relacionada a outras causas (dois por distúrbio de coagulação e dois por sangramento).
Houve sangramento classificado como severo em nove pacientes (9%). Cinco destes
pacientes eram cirúrgicos. Tendo havido dois óbitos relacionados a sangramento, ambos no
grupo cirúrgico (Tabela 3).
18
Desfecho para óbito ocorreu em 57% dos pacientes. Se forem retirados os 20
pacientes que iniciaram a drotercogian alfa (ativada) com mais de 48h da primeira falência
orgânica a freqüência de morte fica em 52,5%. Dos 57 óbitos, 55 foram diretamente
relacionados com a sepse, apenas dois morreram em decorrência de sangramento.
A análise das variáveis contínuas pelo teste t de student, mostrou diferença significativa
nos valores de lactato inicial e final, APACHE II inicial, e tempo em horas entre a primeira
falência orgânica e o início da droga. Em todas estas variáveis o grupo com desfecho letal
apresentou médias mais elevadas (Tabela 4).
A análise estatística das variáveis isoladas com relação ao risco de morte mostrou
diferença significativa em: níveis maiores do que 2,5 mmol/L de lactato inicial e final, o quarto
quartil do APACHE II, segundo, terceiro e quarto quartiles do SOFA, o maior número de
falências orgânicas, o não uso de corticóide para tratamento do choque séptico e a presença
de distúrbio de coagulação (Tabelas 5 e 6).
Na análise multivariada foi observado que o lactato final (ao final da infusão da
drotrecogina alfa ativada) maior do que 2,5 mmol/L está relacionado ao desfecho desfavorável
com OR ajustado de 11,5 (IC 95% de 2,6 a 51,6) e p=0,001. Também foi observado maior risco
de morte nos pacientes clínicos com OR ajustado de 4,8 (IC 95% de 1,1 a 21,3) e p=0,04.
Todas as outras variáveis não apresentaram diferença significativa estatisticamente.
19
TABELAS
Tabela1. Características epidemiológicas e clínicas dos pacientes.
N= 100
média ± desvio padrão N(%)
Sexo:
feminino 53 (53)
masculino 47 (47)
Idade em anos 60 ± 18,2
Idade < 65 anos 56 (56)
Idade 65 anos 44 (44)
Tipo de paciente:
clínico 48 (48)
cirúrgico 52 (52)
Foco primário da infecção:
respiratório 28 (28)
urinário 11 (11)
abdominal 48 (48)
pele e subcutâneo 09 (9)
corrente sanguínea 02 (2)
outros 02 (2)
Infecção nosocomial 33 (33)
Co-morbidades e situações clínicas especiais:
cardiopatia 27 (27)
diabetes mellitus 24 (24)
obesidade 13 (13)
neoplasia maligna 09 (9)
insuficiência renal crônica 06 (6)
hepatopatia crônica 05 (5)
SIDA* 01 (1)
Doença pulmonar obstrutiva crônica 04 (4)
Fator V-Leiden 01 (1)
gestante 01 (1)
*SIDA = síndrome da imunodeficiência adquirida.
20
Tabela 2. Critérios de gravidade e intervenções terapêuticas.
N=100
média ± desvio padrão N (%)
APACHE II início 25,63 ± 4,68
APACHE II início:
<25 29 (29)
25 71 (71)
APACHE II início quartiles :
0 a 16 04 (4)
17 a 21 14 (14)
22 a 26 29 (29)
27 53 (53)
SOFA início 9,2 ± 2,53
SOFA início quartiles:
0 a 7 21 (21)
8 a 9 36 (36)
10 a 12 37 (37)
>12 06 (6)
Número de disfunções orgânicas
no início da infusão:
1 01 (1)
2 15 (15)
3 21 (21)
4 34 (34)
5 21 (21)
6 08 (8)
Lactato inicial média em mmol/L 4,13 ± 1,94
Lactato ao final média em mmol/L 3,5 ± 3,94
Distúrbio de coagulação 56 (56)
Ventilação mecânica 97 (97)
Uso de vasopressores 98 (98)
Disfunção miocárdica 30 (30)
Uso de corticóide 60 (61)
Uso de insulina endovenosa 62 (63.9)
Interrupção temporária da droga 32 (32)
*Δ T da primeira disfunção para início da droga:
<24h 45(45)
24 a 48h 35 (35)
>48h 20 (20)
**Δ hídrico nas 24h de choque +4320 ± 2035 ml
*Δ T = tempo em horas
** Δ hídrico = diferença entre ganhos e perdas de fluidos
21
Tabela 3. Episódios de sangramento severo em 100 pacientes em uso de drotrecogina alfa (ativada)
N(%) óbito vivos p
N(%) N(%)
Sangramento severo 09 (9) 07 (7) 02 (2) 0,293
Sangramento severo em pacientes
cirúrgicos 05 (5) 03 (3) 02 (2)
Sangramento severo em pacientes
clínicos 04 (4) 04 (4) 00 (0)
Sítio do sangramento severo:
intra-abdominal 02 (2) 01 (1) 01 (1)
intra-torácico 02 (2) 02 (2) 00 (0)
genito-urinário 01 (1) 01 (1) 00 (0)
pele e subcutâneo 02 (2) 01 (1) 01 (1)
intracraniano 01 (1) 01 (1) 00 (0)
indeterminado 01 (1) 01 (1) 00 (0)
Tabela 4. Critérios de gravidade e intervenções terapêuticas em pacientes mortos comparados a pacientes vivos
óbito vivo
média ± desvio padrão média ± desvio padrão p
APACHE II início 26,88 ± 4,32 23,98 ± 4,6 0,002
SOFA início 10,07 ± 2,53 8,05 ± 2,05 0,224
Lactato inicial em mmol/L: 4,76 ± 1,99 3,4 ± 1,6 0,003
Lactato ao final em mmol/L: 5,75 ± 4,94 2,39 ± 1,6 < 0,001
*Δ hídrico nas 24h de choque 4169 ± 1884 ml 4530 ± 2263 ml 0,410
**Δ T 48.17 ± 47,36 37,05 ± 41,17 < 0,001
* Δ hídrico = diferença entre ganhos e perdas de fluidos
**Δ T = tempo em horas da primeira disfunção orgânica para o início da droga.
22
Tabela 5. Características epidemiológicas e clínicas de pacientes mortos comparados a pacientes vivos
óbito vivos
N (%) N(%) p
Total 57 (57) 43(43)
Sexo:
feminino 24 (51,1) 23 (48,9) 0,259
masculino 33 (62,3) 20 (37,7)
Idade em anos:
média ± desvio padrão 61.72 ± 17.34 57.77 ± 19.23
< 65 anos 32 (57,1) 24 (42,9) 0,974
65 anos 25 (56,8) 19 (43,2)
Tipo de paciente:
clínico 31 (64,6) 17 (35,4) 0,141
cirúrgico 26 (50) 26 (50)
Foco primário da infecção: 0,084
abdominal 29 (60,4) 19 (39,6)
respiratório 17 (60,7) 11 (39,3)
urinário 02 (18,2) 09 (81,8)
pele e subcutâneo 06 (66,7) 03 (33,3)
corrente sanguínea e outros 03 (75) 01 (25)
Co-morbidades e situações clínicas especiais:
cardiopatia 14 (51,9) 13 (48,1) 0,527
diabetes mellitus 16 (66,7) 08 (33,3) 0,251
obesidade 07 (53,8) 06 (46,2) 0,805
neoplasia maligna 05 (55,6) 04 (44,4) 0,927
insuficiência renal crônica 04 (66,7) 02 (33,3) 0,697
hepatopatia crônica 01 (20) 04 (80) 0,162
SIDA* 01 (100) 00 (0)
DPOC** 03 (75) 01 (25) 0,631
fator V-Leiden 00 (0) 01 (100)
gestante 00 (0) 01 (100)
* SIDA = síndrome da imunodeficiência adquirida
* DPOC = doença pulmonar obstrutiva crônica
23
Tabela 6. Critérios de gravidade e intervenções terapêuticas em pacientes mortos comparados a pacientes vivos
óbito vivo p
N(%) N(%)
APACHE II início 0,260
< 25 14 (48,3) 15 (51,7)
25 43 ( 60,6) 28 (39,4)
APACHE II início quartiles <0,001
De 0 a 21 * 09 (50) 09 (50)
22 a 26 09 (31) 20 (69)
27 39 (73,6) 14 (26,4)
SOFA início quartiles <0,001
0 a 7** 05 (23,8) 16 (76,2)
8 a 9 20 (55,6) 16 (44,4)
10 a >12 32 (76,2) 14 (26,4)
Número de disfunções orgânicas
no início da infusão 0,048
2 09 (50) 09 (50)
>2 e 4 32 (58,2) 23 (41,8)
>4 e 6 20 (69) 09 (31)
Lactato inicial em mmol/L: 0,023
2,5 mmol/L 4 (26,7) 11 (73,3)
> 2,5 mmol/L 34 (60,7) 22 (39,3)
Lactato ao final em mmol/L: <0,001
2,5 mmol/L 05 (18,5) 22 (81,5)
> 2,5 mmol/L 24 (70,6) 10 (29,4)
Distúrbio de coagulação 37 (66,1) 19 (33,9) 0,039
Ventilação mecânica 57 (58,8) 40 (41,2)
Uso de vasopressores 56 (57,1) 42 (42,9) 1
Disfunção miocárdica 20 (66,7) 10 (33,3) 0,201
Uso de corticóide 29 (48,3) 31 (51,7) 0,032
Uso de insulina endovenosa 32 (51,6) 30 (48,4) 0,284
Interrupção temporária da droga 17 (53,1) 15 (46,9) 0,591
Δ T em horas da primeira disfunção p/ início da droga: 0,146
<24h 22 (48,9) 23 (51,1)
24 a 48h 20 (57,1) 15 (42,9)
>48h 15 (75) 05 (25)
Completou 96h de infusão 23 39
* foram somados o primeiro e segundo quartiles para possibilitar a análise estatística
** foram somados o terceiro e quarto quartiles para possibilitar a análise estatística
24
DISCUSSÃO
Noventa e oito por cento dos pacientes deste trabalho estavam no estágio de choque
séptico e consequentemente apresentaram elevada mortalidade (57%). Mais da metade dos
pacientes era cirúrgico (52%), o que foi responsável pelo predomínio do foco abdominal (48%).
Só foram resgatados dados sobre o agente etiológico da sepse em 38 pacientes. Quando
comparadas as médias de tempo entre a primeira falência orgânica e o início da droga
observa-se um maior tempo no subgrupo que faleceu, com diferença significativa. Os critérios
de gravidade: lactato ao início e ao final da infusão da drotrecogina alfa (ativada) e APACHE II
tiveram médias significativamente mais elevadas no subgrupo com desfecho para óbito quando
comparados aos que sobreviveram.
Os pacientes que usaram drotrecogina alfa (ativada), nesta amostra, mantiveram alto
índice de mortalidade. Vinte por cento dos pacientes iniciaram a droga tardiamente com mais
de 48h da primeira falência orgânica documentada. Houve elevado número de sangramentos
severos (9%) e apenas 62% dos pacientes completaram as 96h de infusão da droga.
O desenho de estudo escolhido possui intrinsecamente vieses de seleção e de
confundimento, por envolver pequenos grupos extremamente selecionados. Devido ao caráter
retrospectivo apresenta pouco valor para estudo de prognóstico e relação de causa e efeito. A
falta do grupo controle para comparação, dificulta conclusões. Entretanto podem-se realizar
comparações quanto às características de subgrupos (p.ex. desfecho favorável ou não).
Outro complicador é a obtenção da informação depender exclusivamente da análise
em retrospecto de prontuários. Desta forma, fica na dependência das impressões e dados
registrados por terceiros em momentos passados sem o compromisso de seguirem protocolos
prévios e unificados, acarretando risco de perda e vieses de interpretação.
A ausência de resultados estatisticamente significantes pode decorrer do número
reduzido de casos avaliados.
No presente estudo os valores médios do APACHE II e SOFA foram muito próximos
aos observados nos estudos PROWESS (Bernard GR, et al., 2001) e ENHANCE (Vincent JL;
et al., 2005). No entanto, quando se avalia a porcentagem de pacientes em uso de drogas
vasoativas observa-se grande diferença com 61% no estudo PROWESS e 74% no estudo
ENHANCE contra 98% no nosso estudo. A diferença é ainda maior quando comparada ao
25
estudo ADRESS (Abraham E; et al., 2005), que avaliou pacientes de menor gravidade pelo
APACHE ll, com apenas 47,9% dos pacientes utilizando drogas vasoativas. O mesmo ocorre
quando se compara a freqüência de pacientes utilizando ventilação mecânica: 73% no estudo
PROWESS, 82% no estudo ENHANCE e 56,3% no estudo ADRESS contra 97% no nosso
estudo. Os números acima apontam para uma tendência de maior gravidade em nossos
pacientes, caracterizada pelo pior prognóstico dos casos de choque séptico (
Gullo A, et al.,
2006)
.
Nosso estudo identificou um alto índice de mortalidade (57%), muito semelhante ao
obtido por Koury JC; et al. em 2006 no Recife-PE, que demonstraram 64% de mortalidade no
choque séptico e
Silva E; et al. em 2004 nas regiões sul e sudeste do Brasil, que evidenciaram
mortalidade de 52,2% nos pacientes sépticos com choque. Do mesmo modo Sales Jr JÁ; et al.
em 2006 avaliando casos de sepse em todo o Brasil identificaram mortalidade global de 65,3%
nos pacientes acometidos por choque séptico. Estudos americanos relatam mortalidade de
60% no choque séptico (Alberti C et al., 2003) e dados europeus descrevem mortalidade de
54,1%, para este mesmo tipo de paciente (
Vincent JL, et al., 2006). Estas comparações
permitem afirmar que estamos próximos a média nacional e mundial de mortalidade no choque
séptico, porém ao mesmo tempo podem apontar para a não efetividade da drotrecogina alfa
(ativada).
A falta de dados nacionais publicados sobre o uso da drotrecogina alfa (ativada) obriga
a utilizar como base para comparações os grandes trabalhos internacionais.
Avaliando os critérios de exclusão dos estudos PROWESS (Bernard GR, et al., 2001) e
ENHANCE (Vincent JL; et al., 2005) observa-se as seguintes diferenças: o nosso trabalho teve
um por cento de paciente submetido a transplante de fígado, seis por cento com neoplasia
maligna “não controlada”, um por cento de pacientes com sérias reservas a tratamento
agressivo, um por cento gestante, quatro por cento com insuficiência renal crônica em
tratamento dialítico e um por cento com alto risco de sangramento (traumatismo crânio
encefálico). Totalizando 14% de pacientes que estariam excluídos destes grandes estudos.
Estas diferenças, embora sem significado estatístico, podem estar relacionadas aos resultados
que apontam para ausência de ação favorável da drotrecogina alfa (ativada) em nosso
trabalho. Dhainaut JF et al em 2003 e Macias W L. et al em 2004 relataram e destacaram,
26
respectivamente, as alterações feitas no protocolo original do estudo PROWESS (Bernard GR,
et al., 2001) visando diminuir a mortalidade por causas “não relacionadas à sepse nos 28 dias
de observação”. Trabalhos têm demonstrado a importância das co-morbidades como fatores
determinantes para uma evolução desfavorável da sepse e desfecho dos pacientes para óbito
(
Esper AM, et al., 2006. Pittet D, et al., 2006). Assim os 14% de pacientes portadores de
doenças ou estados clínicos excluídos dos grandes trabalhos podem ter comprometido o
desfecho e favorecido o óbito, entretanto refletem a população com maior propensão a
desenvolver sepse grave. A diferença entre as populações das amostras dos grandes trabalhos
e da prática diária já foi apontada por alguns autores (Warren H. S, et al., 2002).
Os dados deste trabalho mostram elevada proporção de pacientes cirúrgicos (52%),
contra menor proporção observada no estudo PROWESS (31%) (Bernard GR, et al., 2001) e
no estudo ENHANCE (41%) (Vincent JL; et al., 2005). Os dados também divergem de estudos
epidemiológicos sobre sepse no Brasil e no mundo. Sales Jr JÁ, et al. em 2006 relataram que
32,8% dos pacientes com sepse eram cirúrgicos no Brasil, Angus CD, et al. em 2001 nos
Estados Unidos observaram que 28,6% dos pacientes com sepse eram cirúrgicos e Vincent JL,
et al. em 2006 descreveram que 43% dos pacientes com sepse na Europa eram cirúrgicos. No
entanto, a maior proporção de pacientes cirúrgicos não parece ter tido influência na elevada
mortalidade observada neste estudo. Foi observada a tendência do desfecho favorável ser
mais freqüente nos pacientes cirúrgicos que receberam a droga quando comparados aos
clínicos. Tal achado está de acordo com uma revisão recente da literatura que demonstra boa
eficácia da droga em pacientes cirúrgicos graves (Barie PS; et al., 2006. Payen D, et al., 2006).
Por fim, o fato de o paciente possuir quadro cirúrgico não se relacionou com retardo do
tratamento (21% dos pacientes cirúrgicos contra 19% dos pacientes clínicos), o que poderia
ocorrer pelo receio de sangramento relacionado ao uso da drotrecogina alfa (ativada) neste tipo
de paciente (Barie PS, et al., 2006).
Quando analisado o foco infeccioso primário neste estudo, onde predominou o foco
abdominal com 48%, observa-se outra diferença com relação a dados nacionais e
internacionais. Angus CD, et al., em 2001 nos Estados Unidos relataram a maior prevalência
de foco respiratório acometendo 42% dos pacientes com sepse, já Vincent JL; et al em 2006 na
Europa descreveram foco respiratório como primário entre 64% e 80% na dependência de a
27
infecção ter sido adquirida fora ou dentro de uma unidade de terapia intensiva,
respectivamente. Estas diferenças são relevantes uma vez que dados gerais apontam para
maior mortalidade na sepse com foco primário respiratório (Angus CD, et al., 2001). O que nos
faz questionar, quais seriam os índices de mortalidade deste trabalho se tivesse havido
predomínio de infecções respiratórias como foco primário?
O baixo número de dados sobre o agente etiológico dos quadros de sepse grave neste
estudo pode ter decorrido do não registro dos resultados de culturas de forma rotineira nos
prontuários, uma vez que os dados obtidos foram conseguidos com dificuldade junto aos
laboratórios de microbiologia de cada serviço. Estes baixos números comprometem a
relevância de sua discussão.
Os critérios de inclusão do estudo PROWESS (Bernard GR, et al., 2001) determinavam
um tempo máximo de 24h da primeira falência orgânica para inclusão no estudo e no máximo
mais 24h para início da drotrecogina alfa (ativada), totalizando período nunca maior do que
48h. No estudo ENHANCE (Vincent JL; et al., 2005), além de não haver pacientes que
iniciaram o tratamento após 48h da primeira falência orgânica, ao se comparar a efetividade da
droga quando iniciada antes ou após 24h desta falência, foi observado redução significativa da
mortalidade com o início precoce da drotrecogina alfa (ativada). Assim, o fabricante recomenda
o seu inicio com no máximo 48h de intervalo da primeira falência orgânica. No entanto neste
trabalho vinte por cento dos pacientes iniciaram infusão da droga com mais de 48h do início da
primeira falência orgânica, este dado mostra o uso da droga fora das indicações preconizadas,
o que leva ao questionamento quanto ao conhecimento ou dificuldades na operacionalidade de
das equipes médicas para o uso desta droga. O início do uso da drotrecogina alfa (ativada)
com mais de 48h da primeira falência orgânica, parece apontar no nosso trabalho para maior
mortalidade (OR 3,14), porém a análise estatística foi sem significância (IC 0,97 a 10,9 com
p=0,146), talvez devido ao número reduzido da amostra. Quando comparadas as médias de
tempo entre a primeira falência orgânica e o início da droga observa-se um maior tempo no
subgrupo que faleceu, com diferença significativa (apenas no teste t), corroborando com o que
foi dito anteriormente. Deve ser observado que o processo de agravamento da sepse é uma
evolução de disfunções orgânicas em diversos níveis (Alberti C, et al 2003 e 2005, Russell JA,
2006, Howell e Thisherman 2006) e uma vez ultrapassado determinado ponto, não se
28
consegue mais a mesma eficácia na modulação pretendida com uma droga. Esta conclusão é
válida mesmo para medicações de inquestionável eficácia, como o uso de antibióticos corretos
(
Kumar A; et al., 2006). No entanto, mesmo se forem retirados os 20 pacientes que iniciaram a
drotercogian alfa (ativada) com mais de 48h da primeira falência orgânica o índice de
mortalidade no nosso trabalho fica em 52,5%, ainda elevado e próximo ao índice de
mortalidade descrito por
Silva E; et al. em 2004 para pacientes com choque séptico.
A observação de que os critérios de gravidade: lactato ao início e ao final da infusão da
drotrecogina alfa (ativada) e APACHE II tiveram médias significativamente mais elevadas no
subgrupo com desfecho para óbito quando comparados aos que sobreviveram, concorda com
dados de inúmeros trabalhos que apontam estas variáveis como relacionadas à gravidade a ao
risco de morte (Chittock DR, et al., 2004;
Abraham E; et al., 2005; Shapiro NI, et al., 2005).
A ocorrência de sangramento severo em nove por cento dos pacientes deste trabalho é
elevada quando comparada a sua freqüência nos estudos PROWESS (3,5%) (Bernard GR, et
al., 2001), ENHANCE (3,6%) (Vincent JL; et al., 2005) e ADRESS (2,4%) (
Abraham E; et al.,
2005),
tendo sido utilizado critérios semelhantes para classificação do sangramento. A causa
desta diferença não parece ser o número proporcionalmente maior de pacientes cirúrgicos
(9,6% dos pacientes cirúrgicos sangraram contra 8,3% dos pacientes clínicos)
reconhecidamente mais propensos a sangramentos (Barie PS; et al., 2006). Talvez os
diferentes critérios de exclusão permitiram um número proporcionalmente maior de pacientes
neste trabalho com co-morbidades que facilitam a ocorrência de sangramento. No entanto a
análise estatística, com o número pequeno desta amostra, não permite relacionar qualquer
fator de risco com sangramento severo.
Apenas 62% dos pacientes neste trabalho completaram as 96h de infusão
preconizadas para a drotrecogina alfa (ativada), sendo semelhante aos dados de
Spriet I, et al.,
que em 2006 publicaram que 65,2% de pacientes completaram o tempo preconizado de
infusão da droga em um hospital terciário na Bélgica. Chama à atenção a escassez de
informações publicadas sobre a proporção de pacientes que alcançam este período de tempo
de infusão da droga e dados comparativos sobre sua relação com o desfecho desfavorável.
A análise dos resultados deste trabalho não permite indicar diferenças claras entre os
grupos de desfecho favorável ou não, assim como não permite uma avaliação definitiva quanto
29
a efetividade da drotrecogina alfa (ativada). No entanto a informação obtida permite conhecer
em que pacientes está sendo utilizada a drotrecogina alfa (ativada). Com isto este trabalho não
responde, mas aponta para algumas questões:
- qual a efetividade da drotrecogina alfa (ativada) nas condições cotidianas de uma UTI,
sem as restrições dos critérios de exclusão e inclusão observados nos grandes trabalhos?
- quais os critérios de exclusão e inclusão utilizados na prática diária dos diversos
serviços?
- qual o ponto de equilíbrio entre as normas orientadas pelos “consensos” e as
demandas de “beira de leito”?
- as equipes de terapia intensiva estão preparadas para utilizar a drotrecogina alfa
(ativada)?
- a falta de evidencias claras do beneficio da droga, aponta para a necessidade de
novos trabalhos multicêntricos, randomizados, duplo-cegos, placebo controlados?
30
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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pathway inhibitor) in severe sepsis: a randomized controlled trial.
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33
ARTIGO II - ESTRATÉGIAS TERAPÊUTICAS UTILIZADAS EM PACIENTES
COM SEPSE GRAVE QUE FIZERAM USO DE DROTRECOGINA ALFA
(ATIVADA) NAS UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA DA REGIÃO
METROPOLITANA DO RECIFE
Cristiano Augusto Hecksher*
RESUMO
A utilização de novas tecnologias nas unidades de terapia intensiva aponta
para uma melhoria da morbimortalidade pela sepse nas últimas décadas. Existem estratégias
que dependem apenas da organização da equipe de cuidados intensivos para sua
implementação. Este trabalho objetiva descrever a aplicação prática de condutas terapêuticas
atualmente preconizadas pela maioria dos autores que estudam a sepse (controle rígido da
glicemia, uso de corticóide no choque séptico, uso de inotrópicos positivos na disfunção
miocárdica da sepse e reposição hídrica vigorosa) num grupo de pacientes com sepse grave
submetidos ao uso de drotrecogina alfa (ativada). Foi um estudo descritivo, retrospectivo, tipo
série de casos. Foram avaliados cem pacientes com sepse grave no período de janeiro de
2003 a outubro de 2006 na região metropolitana da cidade do Recife. Noventa e sete pacientes
apresentaram descontrole da glicemia, destes apenas 62 (63,9%) tiveram controle rígido da
glicemia com uso de insulina endovenosa. Dos 98 pacientes com choque séptico em uso de
drogas vasoativas apenas 60 (61%) utilizaram hidrocortisona. Dos trinta pacientes que tiveram
disfunção miocárdica aguda atribuída à sepse, todos fizeram uso de dobutamina como droga
inotrópica positiva. O delta hídrico nas primeiras 24h de choque séptico foi positivo em 4320 ±
2035 ml. Dos 57 óbitos, 55 foram diretamente relacionados com a sepse. A análise dos dados
traz o questionamento sobre o quanto os pacientes estão se beneficiando de estratégias
terapêuticas relativamente novas que apontam para benefícios com baixo custo e risco.
Descritores: sepse grave, corticoide, glicemia, choque séptico, disfunção miocárdica.
ABSTRACT
The use of new technologies in critical care units is related with an improvement in the
morbimortality of sepsis. There are strategies that only depend of the organization in critical
care units for their implementation. This study objective was describe the practical application of
therapeutical behaviors currently proposed by the majority of the authors who study sepsis. We
studied the glicemic control, use of hydrocortisone in septic shock, use of inotropic therapy in
the myocardial dysfunction of sepsis and fluid therapy in a group of patients with severe sepsis
submitted to the use of drotrecogina alpha (activated). The study was a descriptive,
retrospective, series of cases. One hundred patients had been evaluated, during the period
from January 2003 to October 2006 in the city of Recife (Brazil). Ninety seven patients had
uncontrolled glycemic levels, of these only 62 (63.9%) had rigid control with use of continue
infusion of insulin. Of the 98 patients with septic shock in use of vasopressors only 60 (61%) of
them had used hydrocortisone. Of the thirty patients with myocardial dysfunction of sepsis, all
had made use of dobutamina as positive inotropic drug. The fluid balance in first 24h of septic
shock was positive in 4320 ± 2035 ml. Of the 57 deaths, 55 directly had been related with
sepsis. The analysis of our data brings the question on how much the patients have had the
benefit of relatively new therapeutical strategies.
Keywords: severe sepsis, hydrocortisone, glicemic, septic shock, myocardial dysfunction.
* Médico Intensivista. Mestrando de Medicina Tropical – Universidade Federal de Pernambuco.
34
INTRODUÇÃO
O melhor conhecimento da fisiopatologia da sepse permitiu o desenvolvimento
de novas estratégias para os tratamentos desta síndrome. A utilização de novas tecnologias
nas unidades de terapia intensiva é responsável por uma diminuição no número relativo de
mortes pela sepse nas últimas décadas, porém devido ao aumento de sua incidência o número
absoluto de mortes por esta síndrome tem aumentado a cada ano (Martin GS, et al., 2003).
O tratamento de uma síndrome complexa como a sepse, com características próprias
em cada paciente, é um desafio. Sua apresentação clínica inclui os quadros de sepse, sepse
grave, choque séptico até a falência de múltiplos órgãos, que correspondem a diferentes
estágios de gravidade da doença (Alberti C. et al., 2005). Há dificuldade de conseguir
evidências sólidas que comprovem o benefício ou não de drogas e condutas. Esta dificuldade é
uma das responsáveis pelo período longo de tempo entre a pesquisa e a prática clínica. Não
basta um trabalho com evidências favoráveis a determinado tratamento, é necessário
comprovar estes primeiros achados e posteriormente levar as novas tecnologias para a “beira
do leito”. A sucessão de trabalhos ora mostrando evidências favoráveis e ora negando-as,
embora faça parte da evolução do conhecimento, é um complicador. Assim estabelecer
condutas terapêuticas padronizadas exige grande esforço e tempo. Um exemplo deste esforço
é a campanha Sobrevivendo a Sepse (Dellinger RP, et al., 2004). Esta campanha embora
apresente alguns de seus pontos sujeitos a crítica (Eichacker P, et al., 2006) é um marco pela
tentativa de organizar o conhecimento e orientar condutas no tratamento da sepse.
Porém antes mesmo das estratégias propostas pela campanha, os estudos nos quais
ela se baseia já mostravam que algumas medidas de baixo custo, que dependem apenas da
organização da equipe de cuidados intensivos para sua implementação, apresentavam
efetividade comparável ou mesmo superior às medidas de custo elevado.
Um primeiro exemplo são os trabalhos de Van den Bergh G, et al. que desde 2001 vêm
relatando que o controle rígido dos níveis de glicemia (entre 80 e 110 mg%) com utilização de
insulina contínua poderia diminuir a mortalidade de pacientes internados em unidades de
cuidados intensivos. Sendo este resultado extrapolado para pacientes com sepse.
Outra área de estudo é o papel da insuficiência adrenal absoluta ou relativa em
pacientes com choque séptico dependente de drogas vasoativas (Rothwell PM, et al., 1991;
35
Chrousos GP, 1995; Moran JL, et al., 1995; Soni A, et al., 1995). Vários trabalhos têm
comparando hidrocortisona com placebo em pacientes com choque séptico (Bollaert PE, et al
1998; Annane D, et al., 2004; Annane D, et al., 2006). O uso da hidrocortisona pode estar
relacionado à melhora das condições hemodinâmicas no choque séptico. Porém a efetividade
na melhora da sobrevida é controversa. Vários são os esquemas propostos para reposição de
corticoide, bem como é controverso qual subgrupo de pacientes teriam benefício com seu uso.
A ressuscitação hídrica, principalmente nas primeiras seis horas do quadro de sepse
grave, tem impacto na redução da mortalidade como demonstrado por Rivers, et al., em 2001.
Com a diminuição do tônus vascular e aumento da permeabilidade capilar, muitos pacientes
continuam a necessitar de suporte agressivo de reposição hídrica nas primeiras 24h de
instalação da sepse (Dellinger, et al., 2004).
A disfunção miocárdica na sepse já estuda por Parrillo JE et al. desde 1985 tem sido
comum (Maeder M, et al., 2006). O uso de drogas inotrópicas para tratamento desta disfunção
é preconizado, baseado em trabalhos que mostram melhora da sobrevida com medidas que
aumentem a oferta de oxigênio aos tecidos, se esta oferta estivar abaixo do normal (Hayes M
A, et al., 1994; Gattinoni L, et al., 1995).
Nosso trabalho objetiva descrever a aplicação prática de condutas terapêuticas
atualmente preconizadas pela maioria dos autores que estudam a sepse, que são: controle da
glicemia, uso de corticóide no choque séptico, uso de inotrópicos positivos na disfunção
miocárdica da sepse e reposição hídrica vigorosa num grupo de pacientes com sepse grave
submetidos ao uso de drotrecogina alfa (ativada).
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi um estudo descritivo, retrospectivo, tipo série de casos. Baseado nas informações
obtidas pela análise dos prontuários médicos dos pacientes que receberam drotrecogina alfa
(ativada) no período de janeiro de 2003 a outubro de 2006 na região metropolitana da cidade
do Recife. Tendo sido analisados 100 pacientes.
Os pacientes foram oriundos de sete hospitais da região metropolitana do Recife.
Sendo 99 pacientes de seis hospitais privados terciários e um de hospital público terciário.
36
Foi observado o período desde a admissão na unidade de terapia intensiva, até 28 dias
após a infusão da drotrecogina alfa (ativada) ou óbito, se ocorrido antes.
Os dados demográficos coletados foram: sexo e idade.
Os dados clínicos observados foram: diagnóstico de admissão, co-morbidades
(diabetes mellitus, cardiopatia, obesidade, neoplasia maligna, insuficiência renal crônica,
doença hepática crônica, doença pulmonar obstrutiva crônica, síndrome da imunodeficiência
adquirida, trombofilia), se clínico ou cirúrgico (submetido a qualquer procedimento cirúrgico no
período), foco da infecção (pulmonar, urinário, abdominal, pele e subcutâneo, corrente
sanguínea), se infecção nosocomial (iniciada com mais de 48h de internação hospitalar),
presença de choque séptico (com uso de drogas vasoativas), disfunção miocárdica aguda
(documentada por ecocardiograma ou cateter em artéria pulmonar) e distúrbio de coagulação
(plaquetopenia <100.000/µl, elevação de 2 X o basal do INR na ausência de droga que
justifique, TTPA > 2 X o basal, na ausência de uso concomitante de medida que justifique a
alteração). Agente etiológico da sepse responsável pela indicação da drotrecogina alfa
(ativada).
Foram coletados os seguintes dados de gravidade: dosagem de lactato em mmol/L no
início e término da drotrecogina alfa (ativada), APACHE II (Knaus WA, et al., 1985) e SOFA
(Vincent JL, et al., 1998; Arts DG; et al., 2005) no início da infusão, tendo por base as 24h que
a precederam.
Os dados da terapêutica coletados foram: uso de insulina contínua quando de
descontrole glicêmico (quando mais de dois hemogluco testes maiores do que 150mg% nas
24h) com o objetivo de manter os níveis de glicemia entre 80 e 150 mg%, uso de hidrocortisona
endovenoso (100 mg de 8/8h ou 50 mg de 6/6h) para tratamento do choque, a diferença entre
ganhos e perdas hídricas (delta hídrico) nas primeiras 24h de choque séptico.
Por fim foram descritos os dados sobre o desfecho: óbito ou vivo.
No cálculo do APACHE II e do SOFA para variáveis não medidas no dia específico foi
considerado o valor das 24h anteriores e todos os dados laboratoriais e clínicos não
informados foram registrados como normais. Para avaliação do estado neurológico pela escala
de Glasgow nos pacientes sedados foi definido o estado anterior à sedação.
37
As definições de infecção foram baseadas nos critérios do NNISS (National Nosocomial
Infection Surveillance System) e no diagnóstico dos médicos assistentes. A definição de sepse
grave foi a presença de sepse associada à disfunção orgânica, hipoperfusão ou hipotensão,
sendo sinais de hipoperfusão, mas não se limitando apenas a eles, a acidose láctica, a oligúria
e as alterações agudas do estado mental. A definição de choque séptico foi à presença de
sepse induzindo hipotensão não responsiva a ressuscitação hídrica adequada com sinais de
hipoperfusão ou o uso de drogas vasopressoras (Levy MM, et al.,
2003
SCCM/ESICM/ACCP/ATS/SIS International Sepsis Definitions Conference.
).
Tomando por base o desfecho, óbito ou vivo aos 28 dias, os pacientes foram divididos
em dois grupos, com o objetivo de identificar potenciais fatores prognósticos. As variáveis
contínuas tiveram suas médias avaliadas para sua relação com o desfecho pelo teste t de
student. A identificação de possíveis fatores de risco para o desfecho foi realizada através de
três etapas. Na primeira, foi avaliada a possível associação entre cada fator isolado e o
desfecho, antes as variáveis contínuas foram categorizadas. Na segunda etapa foi escolhido o
modelo inicial de regressão logística, composto por todos os fatores que, na primeira etapa,
apresentaram um nível de significância observado (valor p) menor que 0,20, conforme
recomendação de Hosmer e Lemeshow. Na terceira etapa, utilizouse o método “stepwise”,
para identificar o modelo final de regressão, ou seja, identificar os fatores de risco que
apresentaram associação conjunta e individual com o desfecho. Na análise dos dados foi
utilzado o “software” Stata 9.2 SE.
COMISSÃO DE ÉTICA
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Médica do Hospital
Agamenon Magalhães da Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco e registrado na
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da
Saúde sob o número FR 93597.
RESULTADOS
Cinqüenta e três por cento dos pacientes eram do sexo feminino e 56% tinham idade
menor do que 65 anos (Tabela 1).
38
Foco abdominal foi o mais freqüente com 48%, seguido do respiratório com 28%,
urinário com 11% e pele e subcutâneo com 9%. Trinta e três por cento das infecções foram de
origem nosocomial (Tabela 1).
Cinqüenta e dois por cento dos pacientes eram cirúrgicos (Tabela 1).
Entre as co-morbidades destacam-se pela maior prevalência as cardiopatias (27%), a
diabetes mellitus (24%) e a obesidade (13%). Merecendo ainda consideração: neoplasia
maligna (9%) e insuficiência renal crônica (6%), em tratamento dialítico (4%) (Tabela1).
Choque séptico com uso de drogas vasoativas ocorreu em 98% dos pacientes e
insuficiência respiratória com uso de ventilação mecânica em 97%. Foi observada disfunção
miocárdica aguda pela sepse em 30% dos pacientes e distúrbio de coagulação em 56%
(Tabela 2).
Dentre os critérios de gravidade observou-se: APACHE II com média de 25,6 ± 4,7;
com 29% dos pacientes apresentado escore menor do que 25; a média do SOFA inicial foi de
9,2 ± 2,5 tendo 99% dos pacientes apresentado duas ou mais falências quando do início da
infusão; lactato inicial (dados apenas de 71% dos pacientes) de 4,13 ± 1,94 mmol/L e ao final
da infusão (dados apenas de 61% dos pacientes) de 3,5 ± 3,94 mmol/L (Tabela 2).
Em 38 pacientes foi identificado o agente causador da sepse responsável pela
indicação da drotrecogina alfa (ativada). Estes agentes foram: bactérias gram negativas (20),
bactérias gram positivas (14), e fungos (4).
Dos trinta pacientes que tiveram disfunção miocárdica aguda atribuída à sepse, todos
fizeram uso de dobutamina como droga inotrópica positiva.
A análise das variáveis contínuas pelo teste t de student, mostrou diferença significativa
nos valores de lactato inicial e final, APACHE II inicial. Em todas estas variáveis o grupo com
desfecho letal apresentou médias mais elevadas (Tabela 3).
Noventa e sete pacientes apresentaram descontrole glicêmico, destes apenas 62
(63,9%) tiveram controle rígido da glicemia com uso de insulina endovenosa. Neste grupo 32
(51,6%) faleceram. Dos 35 pacientes que tinham indicação, mas não foram submetidos ao
controle rígido da glicemia, 22 (62,9%) faleceram. Assim na avaliação da possível associação
entre cada fator isolado e o desfecho para óbito, o controle rígido da glicemia não teve impacto
significativo no desfecho com p=0,284 (Tabela 5).
39
Dos 98 pacientes com choque séptico em uso de drogas vasoativas apenas 60 (61%)
utilizaram hidrocortisona nas doses de 200 ou 300 mg ao dia dividido em quatro ou três doses.
Destes, 29 (48,3%) morreram. Dos 38 pacientes com indicação, mas que não receberam a
hidrocortisona 28 (73,7%) morreram. Na avaliação da possível associação entre cada fator
isolado e o desfecho para óbito o não uso de corticóide foi significativamente associado ao
óbito com p=0,032 (Tabela 5).
A diferença entre ganhos e perdas de fluidos (delta hídrico) nas primeiras 24h de
choque séptico foi positiva em 4320 ± 2035 ml. Tendo variado de + 600 ml até + 9400 ml em
24h (Tabela 3). Não houve diferença estatística entre as médias de delta hídrico dos grupos
com desfecho para óbito ou não.
Desfecho para óbito ocorreu em 57% dos pacientes. Dos 57 óbitos, 55 foram
diretamente relacionados com a sepse.
Além do não uso de corticoíde para tratamento do choque séptico, a analise estatística
das variáveis isoladas com relação ao risco de morte mostrou diferença significativa, apenas
nas seguintes variáveis: níveis maiores do que 2,5 mmol/L de lactato inicial e final, o maior
número de falências orgânicas e a presença de distúrbio de coagulação (Tabela 4 e 5).
Na análise multivariada foi observado que o lactato final (ao final da infusão da
drotrecogina alfa ativada) maior do que 2,5 mmol/L está relacionado ao desfecho desfavorável
com OR ajustado de 11,5 (IC 95% de 2,6 a 51,6) e p=0,001. Também foi observado maior risco
de morte nos pacientes clínicos com OR ajustado de 4,8 (IC 95% de 1,1 a 21,3) e p=0,04.
Todas as outras variáveis não apresentaram diferença significativa estatisticamente na análise
multivariada, inclusive a não utilização do corticóide no choque séptico.
40
TABELAS
Tabela1. Características epidemiológicas e clínicas dos pacientes.
N= 100
média ± desvio padrão N(%)
Sexo:
feminino 53 (53)
masculino 47 (47)
Idade em anos 60 ± 18,2
Idade < 65 anos 56 (56)
Idade 65 anos 44 (44)
Tipo de paciente:
clínico 48 (48)
cirúrgico 52 (52)
Foco primário da infecção:
respiratório 28 (28)
urinário 11 (11)
abdominal 48 (48)
pele e subcutâneo 09 (9)
corrente sanguínea 02 (2)
outros 02 (2)
Infecção nosocomial 33 (33)
Co-morbidades e situações clínicas especiais:
cardiopatia 27 (27)
diabetes mellitus 24 (24)
obesidade 13 (13)
neoplasia maligna 09 (9)
insuficiência renal crônica 06 (6)
hepatopatia crônica 05 (5)
SIDA* 01 (1)
Doença pulmonar obstrutiva crônica 04 (4)
Fator V-Leiden 01 (1)
gestante 01 (1)
*SIDA= síndrome da imunodeficiência adquirida
41
Tabela 2. Critérios de gravidade e intervenções terapêuticas.
N=100
média ± desvio padrão N (%)
APACHE II início 25,63 ± 4,68
APACHE II início:
<25 29 (29)
25 71 (71)
APACHE II início quartis :
0 a 16 04 (4)
17 a 21 14 (14)
22 a 26 29 (29)
27 53 (53)
SOFA início 9,2 ± 2,53
SOFA início quartis:
0 a 7 21 (21)
8 a 9 36 (36)
10 a 12 37 (37)
>12 06 (6)
Número de disfunções orgânicas
no início da infusão:
1 01 (1)
2 15 (15)
3 21 (21)
4 34 (34)
5 21 (21)
6 08 (8)
Lactato inicial média em mmol/L 4,13 ± 1,94
Lactato ao final média em mmol/L 3,5 ± 3,94
Distúrbio de coagulação 56 (56)
Ventilação mecânica 97 (97)
Uso de vasopressores 98 (98)
Disfunção miocárdica 30 (30)
Uso de corticóide 60 (61)
Uso de insulina endovenosa 62 (63.9)
Δ* hídrico nas 24h de choque +4320 ± 2035 ml
* Δ hídrico = diferença entre ganhos e perdas de fluidos
Tabela 3. Critérios de gravidade e intervenções terapêuticas em pacientes mortos comparados a pacientes vivos
óbito vivo
média ± desvio padrão média ± desvio padrão p
APACHE II início 26,88 ± 4,32 23,98 ± 4,6 0,002
SOFA início 10,07 ± 2,53 8,05 ± 2,05 0,224
Lactato inicial em mmol/L: 4,76 ± 1,99 3,4 ± 1,6 0,003
Lactato ao final em mmol/L: 5,75 ± 4,94 2,39 ± 1,6 < 0,001
*Δ hídrico nas 24h de choque +4169 ± 1884 ml +4530 ± 2263 ml 0,410
* Δ hídrico = diferença entre ganhos e perdas de fluidos
42
Tabela 4. Características epidemiológicas e clínicas de pacientes mortos comparados a pacientes vivos
óbito vivos
N (%) N(%) p
Total 57 (57) 43(43)
Sexo:
feminino 24 (51,1) 23 (48,9) 0,259
masculino 33 (62,3) 20 (37,7)
Idade em anos:
média ± desvio padrão 61.72 ± 17.34 57.77 ± 19.23
< 65 anos 32 (57,1) 24 (42,9) 0,974
65 anos 25 (56,8) 19 (43,2)
Tipo de paciente:
clínico 31 (64,6) 17 (35,4) 0,141
cirúrgico 26 (50) 26 (50)
Foco primário da infecção: 0,084
abdominal 29 (60,4) 19 (39,6)
respiratório 17 (60,7) 11 (39,3)
urinário 02 (18,2) 09 (81,8)
pele e subcutâneo 06 (66,7) 03 (33,3)
corrente sanguínea e outros 03 (75) 01 (25)
Co-morbidades e situações clínicas especiais:
cardiopatia 14 (51,9) 13 (48,1) 0,527
diabetes mellitus 16 (66,7) 08 (33,3) 0,251
obesidade 07 (53,8) 06 (46,2) 0,805
neoplasia maligna 05 (55,6) 04 (44,4) 0,927
insuficiência renal crônica 04 (66,7) 02 (33,3) 0,697
hepatopatia crônica 01 (20) 04 (80) 0,162
SIDA* 01 (100) 00 (0)
DPOC** 03 (75) 01 (25) 0,631
fator V-Leiden 00 (0) 01 (100)
gestante 00 (0) 01 (100)
* SIDA = síndrome da imunodeficiência adquirida
* DPOC = doença pulmonar obstrutiva crônica
43
Tabela 5. Critérios de gravidade e intervenções terapêuticas em pacientes mortos comparados a pacientes vivos.
óbito vivo p
N(%) N(%)
APACHE II início 0,260
< 25 14 (48,3) 15 (51,7)
25 43 ( 60,6) 28 (39,4)
Número de disfunções orgânicas
no início da infusão 0,048
2 09 (50) 09 (50)
>2 e 4 32 (58,2) 23 (41,8)
>4 e 6 20 (69) 09 (31)
Lactato inicial em mmol/L: 0,023
2,5 mmol/L 4 (26,7) 11 (73,3)
> 2,5 mmol/L 34 (60,7) 22 (39,3)
Lactato ao final em mmol/L: <0,001
2,5 mmol/L 05 (18,5) 22 (81,5)
> 2,5 mmol/L 24 (70,6) 10 (29,4)
Distúrbio de coagulação: 0,039
sim 37 (66,1) 19 (33,9)
não 20 (45,5) 24 (54,5)
Ventilação mecânica: _
sim 57 (58,8) 40 (41,2)
não 0 (0) 03(100)
Uso de vasopressores: 1
sim 56 (57,1) 42 (42,9)
não 01 (50) 01 (50)
Disfunção miocárdica: 0,201
sim 20 (66,7) 10 (33,3)
não 37 (52,9) 33 (47,1)
Uso de corticóide: 0,032
sim 29 (48,3) 31 (51,7)
não 28 (73,7) 10 (26,3)
Uso de insulina endovenosa: 0,284
sim 32 (51,6) 30 (48,4)
não 22 (62,9) 13 (37,1)
44
DISCUSSÃO
Inicialmente se destaca a gravidade dos pacientes estudados neste trabalho, sendo a
quase totalidade de pacientes com choque séptico.
Noventa e sete pacientes apresentaram descontrole glicêmico, apenas 63,9% destes
tiveram controle rígido da glicemia com uso de insulina endovenosa. Dos 98 pacientes com
indicação para uso de corticóide no choque séptico apenas 60 (61%) o utilizaram. Trinta
pacientes tiveram disfunção miocárdica aguda atribuída à sepse e todos fizeram uso de
dobutamina como droga inotrópica positiva. O delta hídrico nas primeiras 24h de choque
séptico foi positivo em 4320 ± 2035 ml.
O desenho de estudo escolhido possui intrinsecamente vieses de seleção e de
confundimento, por envolver pequenos grupos extremamente selecionados. Devido ao caráter
retrospectivo apresenta pouco valor para estudo de prognóstico e relação de causa e efeito. A
falta do grupo controle para comparação, dificulta conclusões. Entretanto podem-se realizar
comparações quanto às características de subgrupos (p.ex. desfecho favorável ou não).
Outro complicador é a obtenção da informação depender exclusivamente da análise
em retrospecto de prontuários. Desta forma, fica na dependência das impressões e dados
registrados por terceiros em momentos passados sem o compromisso de seguirem protocolos
prévios e unificados, acarretando risco de perda e vieses de interpretação.
A ausência de resultados estatisticamente significantes pode decorrer do número
reduzido de casos avaliados.
Na sepse observa-se resistência à insulina e hiperglicemia, sendo ambas relacionadas
a eventos adversos. A insulina além de controlar a hiperglicemia também tem efeito anti-
inflamatório (Dandona P, et al., 2005), anti-apoptótico e anti-coagulante (Langouche L, et al.,
2006). No outro extremo a hiperglicemia é pró-coagulante, pró-apoptótica, aumenta os riscos
de infecção prejudicando a ação de neutrófilos, além de dificultar a cicatrização (Ling PR, et.,
2005). Em 2001 Van den Berghe et al publicaram um estudo controlado, randomizado sobre o
controle rígido da glicemia (80 a 110 mg%) em unidade de terapia intensiva para pacientes
cirúrgicos e observaram redução significativa de morbidade, representada por menos episódios
de sepse, polimioneuropatia do paciente crítico e falências orgânicas. Também observou
diminuição da mortalidade (4,6 contra 8% nos controles) no subgrupo de pacientes com tempo
45
de internação na unidade de cuidados intensivos maior do que cinco dias. Uma análise
posterior utilizando regressão logística multivariada mostrou maior importância em controlar a
glicemia do que na oferta de insulina (Van den Berghe G, et al., 2003). Algumas limitações do
primeiro estudo são: a inclusão de grande número de pacientes no pós-operatório de cirurgias
cardíacas, a baixa gravidade dos pacientes e a maioria estar recebendo nutrição parenteral em
concomitância ao uso da insulina endovenosa. Mesmo assim o uso intensivo de insulina
ganhou popularidade pelo baixo custo, relativa segurança e resultados satisfatórios. O estudo
de Finney SJ, et al de 2003 também mostrou resultados favoráveis com o uso de insulina para
controle rígido da glicemia. Um segundo estudo de Van den Berghe G, et al em 2006 só
mostrou diminuição da mortalidade em pacientes que permaneceram três ou mais dias na
unidade de cuidados intensivos, com diminuição também da morbidade, esta em todos os
pacientes. A campanha Sobrevivendo a Sepse (Dellinger RP; et al., 2004) preconiza o uso de
insulina contínua para manter os níveis de glicemia menores do que 150 mg%, com
monitorização freqüente a fim de evitar hipoglicemia. No entanto dois estudos que avaliavam o
mesmo tema o VISEP e o GLUCONTROL foram suspensos precocemente por futilidade
(Beishuizen A. 2006). No nosso estudo apenas 62 (63,9%), dos 97 pacientes com descontrole
glicêmico tiveram controle rígido da glicemia com uso de insulina endovenosa. Na análise
estatística a possível associação deste fator isolado e o desfecho para óbito não teve impacto
significativo com p=0,284. A gravidade dos nossos pacientes aponta para uma permanência
maior do que três ou cinco dias de internamento em unidade de cuidados intensivos, estando
assim no grupo com maior benefício com uso de esquema para controle rígido da glicemia. A
falta de resultado significante estatisticamente pode estar relacionado ao número reduzido de
casos avaliados e/ou a não operacionalização completa do protocolo (uso de doses baixas de
insulina levando a maior tempo para o controle glicêmico). Outro ponto que merece discussão
e que apenas 63,9% dos pacientes com indicação estavam sob esquema terapêutico, o que
pode sugerir uma necessidade de maior atenção por parte das equipes de cuidados intensivos
em adotar uma estratégia de baixo custo e baixo risco, que a despeito de críticas, é efetiva na
redução da morbidade e pode ser efetiva na redução da mortalidade do paciente com sepse.
O trabalho de Bollaert PE et al de 1998 mostrou que doses baixas de hidrocortisona em
pacientes com choque séptico em uso de drogas vasoativas provocavam melhora significativa
46
na hemodinâmica com efeito benéfico também na sobrevida. Posteriormente Annane D, et al
em 2002 em trabalho controlado multicêntrico e randomizado mostraram novamente melhora
significativa na hemodinâmica com redução da mortalidade em pacientes com choque séptico
e insuficiência adrenal relativa (elevação 9μg/dl no cortisol após 30 a 60 minutos da
administração de 250 μg de ACTH - hormônio adrenocorticotrófico). A partir do conceito de
que a insuficiência adrenal relativa esta presente em elevada porcentagem de pacientes com
choque séptico (Chrousos GP, 1995. Prigent H, et al 2004), o uso de corticóide voltou a ser
apontado como possivelmente benéfico nestes pacientes. Assim a campanha Sobrevivendo a
Sepse recomenda o uso de 200 a 300mg de hidrocortisona ao dia, dividido em quatro ou três
doses, em pacientes com choque séptico. A necessidade de teste de estímulo com ACTH para
avaliar a resposta das adrenais é sugerida, mas não enfatizada. Trabalho de Kortgen A, et al
de 2006 descreve o uso de hidrocortisona sem o teste de estímulo com o ACTH. Dos nossos
98 pacientes com choque séptico em uso de drogas vasoativas apenas 60 (61%) utilizaram
hidrocortisona nas doses preconizadas. Nos que utilizaram o corticóide a mortalidade foi de
48,3%, nos que não utilizaram a mortalidade foi de 70%. Na avaliação da possível associação
de cada fator isolado e o desfecho para óbito o não uso de corticóide foi significativamente
associado ao óbito com p=0,032, porém na análise multivariada não se observou mais
diferença significativa. Este resultado muito provavelmente se deve ao número reduzido de
pacientes em nossa amostra. Outro dado importante a o uso relativamente baixo (61%) de
utilização da hidrocortisona no choque séptico em nossa amostra, o que pode ser devido às
dúvidas ainda existentes quanto a sua efetividade e riscos. Inicialmente o conceito de
insuficiência adrenal é controverso. Estudo recente (Hamrahian AH, et al., 2004) mostra que o
cortisol livre (fisiologicamente ativo) em pacientes com hipoalbuminemia (p.ex. sépticos)
responde com níveis normais ou elevados ao teste de estimulação com ACTH, enquanto que o
cortisol total, utilizado como parâmetro nos estudos anteriores, apresenta níveis subnormais.
Este achado aponta para a necessidade de novos trabalhos que avaliem o cortisol livre e não o
cortisol total em pacientes sépticos. O segundo ponto de questionamento é que apenas dois
trabalhos (Briegel J, et al., 1999 e Annane D, et al., 2004), com número pequeno de casos,
mostraram benefício do uso de corticóide reduzindo a demanda por vasopressores e apenas
um trabalho (Annane D, et al., 2002) com poder adequado apontou para benefício do
47
tratamento com corticóide apenas em pacientes que não responderam ao estímulo com ACTH
((elevação 9μg/dl no cortisol após 30 a 60 minutos da administração de 250 μg de ACTH).
Alteração da função miocárdica na sepse é comum. A prevalência varia conforme os
critérios adotados para diagnóstico. Cerca de 40 a 50% dos pacientes com sepse grave têm
alguma forma de disfunção aguda do ventrículo esquerdo (Krumar A, et al., 2000; Krumar A, et
al. 2001). Esta alteração é mediada por fatores presentes na circulação e ainda não bem
definidos. Alguns possíveis mediadores são: fator de necrose tumoral alfa e interleucina 1-β
(Parillo JE, et al., 1985 e Kumar A, et al., 1996). Inicialmente Parker MM, et al. em 1984,
descreveram a queda da fração de ejeção do ventrículo esquerdo e a tentativa de compensar
esta alteração pela dilatação deste ventrículo em pacientes com choque séptico, com melhor
prognóstico para os que apresentaram dilatação. Este melhor prognóstico foi questionado
pelos achados de Poelaert J, et al em 1997, porém o número reduzido de pacientes e diferença
de metodologia torna a comparação difícil. Há consenso de que a disfunção miocárdica esta
relacionada a pior sobrevida dos pacientes com sepse grave ou choque séptico, incluindo a
elevação de troponina como fator de mal prognóstico (Maeder M, et al 2006), sendo
preconizado o uso de droga inotrópico positivo para melhorar o desempenho ventricular
(Dellinger et al., 2004). A droga mais utilizada para tratamento da disfunção miocárdica pela
sepse é a dobutamina, sendo seu uso preconizado pela campanha Sobrevivendo a Sepse
(Dellinger et al., 2004). Há poucos trabalhos, com pequena casuística, que estudaram o uso de
levosimedan para tratamento da disfunção miocárdica na sepse, a maioria relata boa resposta
(Faivre V, et al., 2005 e Morelli A, et al 2006). Neste trabalho 30% dos pacientes (todos com
choque séptico) apresentaram disfunção miocárdica documentada por ecocardiograma ou
cateteres em artéria pulmonar, destes todos fizeram uso de dobutamina. Pode-se questionar a
porcentagem relativamente pequena quando observado a gravidade do grupo e o alto índice de
mortalidade, esta pode ser decorrente do baixo número de cateteres de artéria pulmonar
utilizado bem como a não realização de rotina do ecocardiograma para pacientes com choque
séptico.
O trabalho de Rivers E, et al. em 2001 demonstrou a importância da reposição hídrica
para pacientes com sepse grave, baseada em objetivos (pressão venosa central de 8 a 12
mmHg, pressão arterial média de 65 mmHg, débito urinário a 0,5 ml/kg/h e saturação
48
venosa central 70%) mostrou também a relevância da reposição precoce (primeiras 6h). O
nosso trabalho só avaliou o delta hídrico total das primeiras 24h de choque séptico, o que
dificulta a comparação com a estratégia de reposição hídrica agressiva e precoce preconizada
por Rivers E, et al. em 2001 e pela campanha Sobrevivendo a Sepse de 2004 (Dellinger et al.,
2004). Também não diferenciou a utilização de substâncias cristalóides ou colóides o que
prejudica as comparações internas. O que pode ser observado é a grande variação com
ganhos hídricos nas 24h que oscilaram de 600 a 9400ml. Esta amplitude de valores tanto pode
estar relacionada a heterogeneidade dos pacientes da amostra, como também a uma falta de
padronização na condução de reposição hídrica.
A revisão da literatura necessária a discussão e análise deste trabalho demonstra a
necessidade de continuar avançado nas pesquisas. Porém a análise dos dados obtidos traz
também o questionamento sobre o quanto os pacientes estão se beneficiando de estratégias
terapêuticas relativamente novas que apontam para benefícios com baixo custo e risco. Outros
autores já descreveram a não aplicação das estratégias terapêuticas da campanha
Sobrevivendo a Sepse (De Miguel-Yanes JM, et al. 2006). Quais seriam os motivos deste
atraso entre os resultados das pesquisas publicadas e a prática a “beira do leito”? Seria a
heterogenicidade de nossos pacientes? Seria a dúvida quanto à efetividade destas
estratégias? Ou seria a dificuldade de operacionalizar estas estratégias? No momento não se
pode responder a estas perguntas, mas elas devem gerar desconforto, pois as equipes de
terapia intensiva podem estar perdendo tempo e os seus pacientes podem estar perdendo uma
chance de melhora.
49
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52
CONCLUSÃO
O primeiro trabalho (Resposta Terapêutica à Drotrecogina Alfa (Ativada) em Pacientes
com Sepse Grave nas Unidades de Terapia Intensiva da Região Metropolitana do Recife)
mostrou o perfil dos pacientes que fizeram uso de drotrecogina alfa (ativada) na região
metropolitana da cidade do Recife. A análise dos resultados não permitiu indicar diferenças
entre os grupos com desfecho favorável ou não, assim como não permitiu uma avaliação
definitiva quanto à efetividade da drotrecogina alfa (ativada). Entretanto este trabalho ao
mostrar a manutenção de elevadas taxas de mortalidade, esperadas para o tipo de pacientes
da amostra, aponta para uma não efetividade da droga.
O segundo trabalho (Estratégias Terapêuticas Utilizadas em Pacientes com Sepse
Grave que Fizeram Uso de Drotrecogina Alfa (Ativada) nas Unidades de Terapia Intensiva da
Região Metropolitana do Recife) descreveu a aplicação ou não de algumas estratégias
terapêuticas preconizadas por diversos autores para tratamento de pacientes com sepse grave.
O trabalho mostrou que uma grande parcela dos pacientes com sepse grave analisados não
fez uso destas estratégias. Ficando o questionamento de qual o motivo desta situação.
OPINIÃO
A análise destes dois trabalhos nos permite conhecer parte da realidade da terapia
intensiva na cidade do Recife e extrapolar para regiões próximas e com condições sociais e
econômicas semelhantes. Pode ser questionado o pequeno número da amostra, porém pela
gravidade apresentada pelos pacientes aqui descritos, podemos afirmar que eles compõem um
grupo especial. Esta particularidade advém de serem, estes pacientes, os que mais
provavelmente receberam os maiores aportes de atenção da equipe de cuidados intensivos,
recursos tecnológicos e financeiros. Embora o desenho destes estudos não se preste para
afirmações definitivas, seus resultados apontam para a necessidade de uma melhor utilização
de estratégias terapêuticas já bastante discutidas. Em parte este problema pode ser
conseqüência da falta de resultados que possam ser chamados definitivos em terapia
intensiva, porém é improvável que algum dia se tenha unanimidade na aprovação de todas as
condutas utilizadas em uma unidade de cuidados intensivos. Sempre haverá dúvida e se
dependerá bom senso a “beira do leito”. São estas dúvidas as responsáveis pela evolução do
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conhecimento. Por outro lado, deve-se questionar o quão preparados os serviços estão para
operacionalizar estas estratégias seja na questão de recursos humanos, seja na logística.
PROPOSTAS
Obviamente o lugar comum da demanda por mais trabalhos aqui se repete.
Há indiscutivelmente poucos trabalhos em terapia intensiva na região Nordeste do
Brasil. Esta realidade dificulta a crítica e prejudicando a evolução. É necessário fomentar as
pesquisas que permitam conhecer a realidade e superar a dependência de importar todos os
dados utilizados para uma análise.
Há necessidade de incentivar a valorização da terapia intensiva, a qual pelo volume de
conhecimento específico que possui carece de profissionais com dedicação e formação
especializada.
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ANEXO I - APROVAÇÃO NO COMITE DE ÉTICA
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ANEXO II - INSTRUMENTO DE PESQUISA
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