Guerra Mundial, a autora da coleção didática salienta, em uma questão da seção
“Compreensão”, que o texto “Depois da Guerra” apresentava um tom bastante
emotivo, e que, por isso, se aproximava de uma poesia pelo seu grau de
sensibilidade e lirismo.
O texto que você vai ler agora apresenta algumas expectativas em relação
ao final da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945). Leia-o com atenção.
Depois da Guerra
Depois da Guerra vão nascer lírios nas pedras, grandes lírios cor de
sangue, belas rosas desmaiadas. Depois da Guerra vai haver fertilidade, vai
haver natalidade, vai haver felicidade, depois da Guerra, ah meu Deus,
depois da Guerra, como eu vou tirar a forra de um jejum longo de farra! [...]
Depois da Guerra não se fará mais a barba, gravata só pra museu, pés
descalços, braços nus. Depois da Guerra, acabou burocracia, não haverá
mais despachos, não se assina mais o ponto. [...] Depois da Guerra
ninguém corta mais as unhas, que elas já nascem cortadas para o resto da
existência. Depois da Guerra não se vai mais ao dentista, nunca mais motor
no nervo, nunca mais dente postiço. Vai haver cálcio, vitamina e extrato
hepático correndo nos chafarizes, pelas ruas da Cidade. [...] Depois da
Guerra vão voltar os bons tempinhos do carnaval carioca cm muito confete,
entrudo e briga. [...] Depois da Guerra não haverá mais tristeza: todo o
mundo se abraçando num geral desarmamento. Chega francês, bate nas
costas do inglês, que convida o italiano para um chope no “Alemão”. Depois
da Guerra, pirulim, depois da Guerra, as mulheres andarão perfeitamente à
vontade. Ninguém dirá a expressão “mulher perdida”, que serão todas
achadas sem mais banca, sem mais briga. Depois da Guerra vão se abrir
todas as burras, quem estiver mal de cintura, faz logo um requerimento. Os
operários irão ao “Bife de Ouro”, comerão somente o bife, que ouro não é
comestível. Gentes vestindo macacões de fecho zíper dançarão seu
jiterburgue em plena Copacabana. Bandas de música voltarão para os
coretos, o povo se divertindo no remelexo do samba. E quanto samba,
quanta doce melodia, para a alegria da massa comendo cachorro-quente!
[...] Ah, quem me dera essa Guerra logo acabe e os homens criem juízo e
aprendam a viver a vida. No meio tempo, vamos dando tempo ao tempo,
tomando nosso chopinho, trabalhando pra família. Se cada um ficar quieto
no seu canto, fazendo as coisas certinho, sem aturar desaforo; se cada um
tomar vergonha na cara, for pra guerra, for pra fila com vontade e paciência
– não é possível! esse negócio melhora, porque ou muito me engano, ou
tudo isso não passa de um grande, de um doloroso, de um atroz mal-
entendido!
Vinícius de Morais. Para uma menina com uma flor. 11ª ed. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1981.
Compreensão
1. Embora tenha sido escrito em prosa, sem ser organizado em versos e
estrofes, ‘Depois da Guerra’ apresenta ritmo e sonoridade tais que, em
diversos momentos, temos a sensação de estar lendo um poema.
Leia o texto oralmente e procure perceber como seu ritmo e sonoridade
fazem-nos se parecer com um poema.
2. O texto foi publicado em um jornal carioca, em 1944, quando estava
ocorrendo a Segunda Guerra Mundial.
a) Como você acha que as pessoas se sentiam nesse período?