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COPPE/UFRJCOPPE/UFRJ
ANÁLISE DE OSSO SUÍNO IRRADIADO UTILIZANDO ESPALHAMENTO
COERENTE DE RAIOS X E RESSONÂNCIA PARAMAGNÉTICA ELETRÔNICA
Fausto Amaro da Silva Araujo
Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa de Pós-graduação em Engenharia
Nuclear, COPPE, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre em
Engenharia Nuclear
Orientadores: Delson Braz
Edgar Francisco Oliveira de Jesus.
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2009
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ii
ANÁLISE DE OSSO SUÍNO IRRADIADO UTILIZANDO ESPALHAMENTO
COERENTE DE RAIOS X E RESSONÂNCIA PARAMAGNÉTICA ELETRÔNICA
Fausto Amaro da Silva Araujo
TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO LUIZ
COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE) DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS
NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM
ENGENHARIA NUCLEAR.
Aprovada por:
________________________________________________
Prof. Delson Braz, D.Sc.
________________________________________________
Prof. Edgar Francisco Oliveira de Jesus, D.Sc
________________________________________________
Prof. Regina Cely Rodrigues Barroso, D.S.c
________________________________________________
Dr. Marcus Alexandre Vallim de Alencar, D.S.c
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL
FEVEREIRO DE 2009
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iii
Araujo, Fausto Amaro da Silva
Análise de osso suíno irradiado utilizando
espalhamento coerente de raios X e Ressonância
Paramagnética Eletrônica / Fausto Amaro da Silva
Araujo. – Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2009.
XI, 62 p.: il.; 29,7 cm.
Orientador: Delson Braz
Edgar Francisco de Jesus
Dissertação (mestrado) UFRJ/ COPPE/ Programa
de Engenharia Nuclear, 2009.
Referencias Bibliográficas: p. 58-62.
1. RPE. 2. Espalhamento coerente de raios X. 3.
Osso suíno. I. Braz, Delson et al II. Universidade Federal
do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de Engenharia
Nuclear. III. Titulo.
iv
Aos meus pais, Angelino e Joana D’arc,
e minha irmã Viviane.
v
AGRADECIMENTOS
Ao Pai Celestial, que escrevendo certo em linhas tortas, me conduziu a chegar
onde estou agora.
A minha família, por todo apoio não apenas durante meu curso de mestrado,
mas em toda minha vida.
A minha namorada Geisiane, pelo apoio, compreensão e paciência ao me ouvir
falando sobre absorção de microondas por espécies paramagnéticas, mesmo sem ter
a mínima idéia do que seja isso.
Aos meus orientadores, Delson Braz e Edgar Francisco, pelo apoio e incentivo.
Aos colegas do LIN, especialmente o Edson e o Leonardo, que sem sua ajuda e
troca de experiências, minha jornada teria sido muito mais difícil e confusa.
Aos colegas da turma de Física Nuclear Aplicada do ano de 2007, a turma mais
unida que tive a honra de pertencer.
Às meninas da turma de Dosimetria Básica de 2008, que elaboraram o
“milagroso funil”, que melhorou muito a qualidade de minhas medidas.
Aos funcionários do LIN e do PEN, que sempre estiveram dispostos a ajudar em
tudo o que precisei.
vi
Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários
para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)
ANÁLISE DE OSSO SUÍNO IRRADIADO UTILIZANDO ESPALHAMENTO COERENTE
DE RAIOS X E RESSONÂNCIA PARAMAGNÉTICA ELETRÔNICA
Fausto Amaro da Silva Araujo
Fevereiro/2009
Orientadores: Delson Braz
Edgar Francisco Oliveira de Jesus.
Programa: Engenharia Nuclear
Ossos suínos são frequentemente utilizados como modelo biológico em vários
estudos a respeito de ossos humanos. Sendo assim, neste trabalho, amostras de
ossos suínos foram irradiados com doses de 50 a 500 Gy. As amostras foram
inicialmente analisadas utilizando-se a técnica de Ressonância Paramagnética
Eletrônica (RPE). Depois, amostras irradiadas com as mesmas doses foram analisadas
através da técnica de Difração de Raios X. Todas as medições foram realizadas
utilizando-se os equipamentos disponíveis no Laboratório de Instrumentação Nuclear
(LIN/COPPE–UFRJ). A dose absorvida pelas amostras foi determinada por RPE,
porém, as medidas só foram compatíveis com os valores esperados para doses acima
de 200 Gy. Através do teste de t-Student, verificou-se que existem diferenças
significativas entre os perfis de difração das amostras controle e das amostras
irradiadas. Os resultados desse trabalho mostraram que o processo de irradiação, com
as doses utilizadas, provoca alterações em nível molecular nos ossos, e que com o
sistema dosimétrico utilizado só é apropriado para doses relativamente elevadas.
vii
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)
SWINE BONE ANALISYS USING X-RAY COHERENT SCATERRING AND
ELECTRONIC PARAMAGNETIC RESONANCE
Fausto Amaro da Silva Araujo
February/2009
Advisors
: Delson Braz
Edgar Francisco Oliveira de Jesus.
Department: Nuclear Engineering
Swine bones are frequently used as a biological model in many studies about
human bones. So that, in this work, some swine bone samples were irradiated with
doses between 50 and 500 Gy. The samples were initially analyzed using the Electron
Paramagnetic Resonance (RPE) technique. After that, some samples irradiated with the
same doses were analyzed using the X-ray Diffraction (XRD) technique. All the
measurements were done using the materials available in the Nuclear Instrumentation
Laboratory (LIN COPPE UFRJ). The absorbed doses were determined using RPE,
but the measurements were compatible with the waited values just for the doses above
200 Gy. Through the t-Student test, we checked there are significant changes between
the diffraction profiles of the control samples and the irradiated samples. The results of
this work show the irradiation process, with the used doses, causes changes in
molecular level in bones. It was possible to conclude that the dosimeter system used is
appropriate just for relatively high doses.
viii
ÍNDICE
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO........................................................................................1
1.1 – OSSO SUÍNO COMO MODELO BIOLÓGICO...................................................1
1.2 – DOSIMETRIA RPE.............................................................................................1
1.3 – DIFRAÇÃO DE RAIOS X...................................................................................4
1.4 – OBJETIVOS E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO..............................................4
CAPÍTULO II: FUNDAMENTOS TEÓRICOS ..............................................................5
2.1 – O TECIDO ÓSSEO............................................................................................5
2.1.1 – AS CÉLULAS ÓSSEAS...................................................................................6
2.1.2 – CLASSIFICAÇÃO DO TECIDO ÓSSEO.........................................................6
2.2 – RESSONÂNCIA PARAMAGNÉTICA ELETRÔNICA.........................................8
2.2.1 – PROPRIEDADES MAGNÉTICAS DA MATÉRIA............................................8
2.2.2 – A RESSONÂNCIA PARAMAGNÉTICA ELETRÔNICA...................................9
2.2.3 – O ESPECTRO RPE.......................................................................................11
2.2.4 – ANÁLISE DE TECIDOS CALCIFICADOS UTILIZANDO RPE......................12
2.3 – DIFRAÇÃO DE RAIOS X............................................................................. ...14
2.3.1 – FENÔMENOS DE ESPALHAMENTO..........................................................16
2.3.1.1 – ESPALHAMENTO THOMSOM.................................................................17
2.3.1.2 – ESPALHAMENTO RAYLEIGH..................................................................17
2.4 – NOÇÕES DE ANÁLISE DE DADOS...............................................................18
2.4.1 – AJUSTE DE FUNÇÕES...............................................................................18
2.4.2 – ESTATÍSTICA DESCRITIVA...................................................... .................20
2.4.2.1 – MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL.....................................................21
2.4.2.2 – MEDIDAS DE DISPERÇÃO................................................................ .....22
2.4.2.3 – TESTES DE HIPÓTESES................................................................... .....23
CAPÍTULO III – MATERIAIS E MÉTODOS................................................................25
3.1 – PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS..................................................................25
3.2 – IRRADIAÇÃO DAS AMOSTRAS.....................................................................26
3.3 – ANÁLISE POR RPE.........................................................................................27
3.3.1 – A INSTRUMENTAÇÃO.................................................................................27
3.3.2 – OTIMIZAÇÃO DOS PARÂMETROS.............................................................28
3.3.3 – DOSIMETRIA DAS AMOSTRAS..................................................................30
ix
3.4 – ANÁLISE POR DIFRAÇÃO DE RAIOS X.......................................................30
3.4.1 – A INSTRUMENTAÇÃO................................................................................30
3.4.2 – PARÂMETROS DE CARACTERIZAÇÃO....................................................32
CAPÍTULO IV – RESULTADOS...............................................................................35
4.1 – ANÁLISE POR RPE........................................................................ ...............35
4.1.1 – OTIMIZAÇÃO DOS PARAMETROS DE OPERAÇÃO................................35
4.1.2 – DOSIMETRIA DAS AMOSTRAS.................................................................35
4.2 – ANÁLISE POR DIFRAÇÃO DE RAIOS X.......................................................35
4.2.1 – CARACTERIZAÇÃO DOS PERFIS DE DIFRAÇÃO....................................41
4.2.2 – ESTATÍSTICA DESCRITIVA DOS PARÂMETROS DE
CARACTERIZAÇÃO......................................................................................................42
4.2.3 – TESTES DE HIPÓTESES............................................................. ...............48
CAPÍTULO V – CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS....................................55
5.1 – RESSONÂNCIA PARAMAGNÉTICA ELETRÔNICA.......................................55
5.2 – DIFRAÇÃO DE RAIOS X.................................................................................56
5.3 – TRABALHOS FUTUROS.................................................................................56
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................58
x
ÍNDICE DE FIGURAS
Fig. II -1 – Alguns dos elementos ósseos....................................................................7
Fig. II – 2 – O spin dos elétrons inicialmente aleatórios (a) se orientam na direção de
um campo magnético externo (b)...............................................................................9
Fig. II – 3 – Absorção de energia eletromagnética por átomos livres.......................10
Fig. II – 4 – Espectro de absorção de potência, onde Br é o campo de ressonância 12
Fig. II -5 – Derivada primeira do espectro de absorção ...........................................12
Fig. II – 6 – O método da dose aditiva para reconstrução da dose de uma amostra 13
Fig. II – 7 – Perfil de difração do NaCl......................................................................14
Fig. II – 8 – Espalhamento de raios x.......................................................................15
Fig. III – 1 – Amostras de ossos suínos....................................................................25
Fig. III – 2 – Osso suíno pulverizado........................................................................26
Fig. III – 3 – Irradiador Gammacel 220 Excel...........................................................27
Fig. III – 4 – Espectrômetro RPE Bruker EMS 104....................................................28
Fig. III – 5 – Amostra no simulador de cavidade........................................................29
Fig. III – 6 – Difratômetro Shimadzu XRD 6000.........................................................31
Fig. III – 7 – Perfil de uma amostra de osso não-irradiada........................................33
Fig. IV – 1 – Potência x dupla integração..................................................................35
Fig. IV – 2 – Modulação x largura da linha................................................................36
Fig. IV – 3 – Sinal RPE de uma amostra não irradiada.............................................37
Fig. IV – 4 – Sinal ERP de uma amostra irradiada com 100 Gy...............................37
Fig. IV – 5 – Sinal ERP de uma amostra irradiada com 300 Gy...............................38
Fig. IV – 6 – Sinal ERP de uma amostra irradiada com 500 Gy...............................38
Fig. IV – 7 – Dosimetria pelo método das doses aditivas de uma amostra irradiada com
300 Gy.......................................................................................................................39
Fig. IV – 8 – Compatibilidade dos valores de dose medidos em relação aos valores
irradiados..................................................................................................................40
xi
Fig. IV – 9 – Perfil de difração de uma amostra de osso suíno..................................41
xii
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela III - 1: Parâmetros de operação do difratômetro de raios x………………..…32
Tabela IV - 1: Caracterização do perfil de difração de 0 Gy (n=22)..........................42
Tabela IV - 2: Caracterização do perfil de difração de 50 Gy (n=16)........................43
Tabela IV - 3: Caracterização do perfil de difração de 100 Gy (n=16)......................44
Tabela IV - 4: Caracterização do perfil de difração de 200 Gy (n=16)......................45
Tabela IV - 5: Caracterização do perfil de difração de 300 Gy (n=16)......................46
Tabela IV - 6: Caracterização do perfil de difração de 400 Gy (n=16)......................47
Tabela IV - 7: Caracterização do perfil de difração de 500 Gy (n=16)......................48
Tabela IV - 8: Teste t-Student para amostras de 50 Gy............................................49
Tabela IV - 9: Teste t-Student para amostras de 100 Gy..........................................50
Tabela IV - 10: Teste t-Student para amostras de 200 Gy........................................51
Tabela IV – 11: Teste t-Student para amostras de 300 Gy.......................................52
Tabela IV - 12: Teste t-Student para amostras de 400 Gy........................................53
Tabela IV - 13: Teste t-Student para amostras de 500 Gy........................................54
1
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
1.1 – Suínos como modelo biológico
Ossos suínos vêm sido utilizados, na pesquisa experimental, para aumentar o
conhecimento sobre ossos humanos, sugerindo que a densidade e metabolismo ósseo
é semelhante em ambas as espécies (Trento, 2006).
Suínos têm sido utilizados em estudos sobre implantes dentários. (Wierzchos et
AL, 2008) utilizaram suínos para avaliar a biocompatibilidade de implantes dentários de
titânio através das técnicas de Microscopia Eletrônica por Escaneamento (SEM) e
Imageamento por Elétrons Retroespalhados (BSE), de forma que foi possível avaliar o
contato entre a superfície do implante e a superfície óssea que o rodeia. (Meyer et al
2004), também utilizaram implantes de titânio em ossos suínos, e verificaram através
das técnicas SEM, Microscopia por Transmissão de Elétrons (TEM) e também através
de estudos histológicos que os implantes foram bem incorporados ao tecido ósseo.
(Sachs et al, 2008) sumarizaram vários dos avanços recentes dos
xenotransplantes entre suínos e primatas, analisando os resultados alcançados em
vários órgãos, inclusive ossos.
1.2 – Dosimetria RPE
Ressonância paramagnética eletrônica (RPE) é uma técnica de espectrometria
baseada na absorção de energia eletromagnética por elétrons desemparelhados na
presença de um forte campo magnético. Esta técnica possui a vantagem de que, ao
2
interagir com a hidroxiapatita (porção mineral de ossos e dentes), a radiação ionizante
produz radicais livres estáveis, cuja concentração possui dependência linear com a
dose absorvida (Schauer et al, 1996). Sendo assim, é possível construir uma curva de
calibração concentração x dose que permite a determinação da dose aplicada em
mostras irradiadas com doses desconhecidas (Desrosiers & Schaer, 2001).
A dosimetria RPE tem sido utilizada na medição da dose absorvida por ossos e
dentes em caso de acidentes. Schauer et al utilizou dosimetria RPE para determinar a
dose absorvida pelos dedos de um operário exposto a um feixe de um acelerador
industrial (Schauer et al, 1996). Trompier et al mediram a dose absorvida por pacientes
expostos acidentalmente a uma alta dose de radiação em radioterapia (Trompier et al,
2007).
A técnica de dosimetria RPE também pode ser utilizada em dosimetria médica.
(Schauer, Akinori, Romanyukha, 2007) utilizaram alanina como dosímetro em
radioterapia. (Ciesielski et al 2007) utilizaram a técnica de dosimetria RPE para medir a
dose absorvida por dentes de pacientes submetidos à radioterapia.
Além disso, a espectrometria RPE é amplamente utilizada na detecção e
dosimetria de alimentos irradiados. O padrão europeu de detecção de alimentos
irradiados utiliza RPE nos ossos para dosimetria de galinha, peixe e pernas de rã
irradiados, RPE na celulose no controle de morangos e páprica e no açúcar cristalino
no controle de mamão, manga, figos secos e passas irradiados. (Almeida, 2006).
1.3 – Difração de raios X
Difração de raios X é uma técnica de medida baseada no espalhamento
coerente de raios x. Ela possui a vantagem de fornecer informações sobre a estrutura
3
molecular, e às vezes até atômica, da amostra analisada (Goñi & Alonso, 2000).
Através de um detector convenientemente posicionado, é possível construir-se um
gráfico conhecido como perfil de difração ou difratograma, que constitui a “assinatura”
do material analisado (Amorim, 2007).
A técnica de difração de raios X vem sido utilizada na caracterização de
diversos materiais, tendo, desse modo, várias aplicações práticas. Podemos citar
Oliveira, (2008) e Amorim, (2007), que utilizaram espalhamento coerente de raios X no
estudo do inchamento de argilomineirais. Essa técnica pode ser utilizada também no
controle de alimentos irradiados (Almeida, 2006).
Na área médica, podemos citar (Castro, 2006), que utilizou a técnica de
tomografia por difração de raios x no estudo de tecidos biológicos, no caso mama,
útero e rim, de forma que foi possível verificar diferenças estruturais entre os tecidos
saudáveis e patológicos. Filgueiras, (2006) utilizou difração de raios x para caracterizar
o tecido sanguíneo, e Pinto, (2008) verificou a diferença entre perfis de difração entre
amostras de sangue não irradiadas e irradiadas.
Existem vários estudos envolvendo difração de raios X em ossos, com objetivos
distintos. Barroso relacionou a área sob picos de difração e a densidade mineral em
ossos (Barroso et al, 2007).
Michel et al utilizou difração de raios x para investigar o efeito do aquecimento
em ossos de cervo (Michel et al, 1998).
Almer e Stocku utilizaram a técnica de difração de raios x para estudar tensões
em ossos caninos (Almer & Stock, 2005).
Rokita quantificou o grau de alinhamento (orientação) dos minerais em ossos
trabeculares através da área sob picos de difração (Rokita et al, 2005).
4
1.4 – Objetivos e organização do trabalho
Este trabalho tem como objetivos a dosimetria e avaliação dos efeitos
moleculares pelo processo de irradiação em ossos. Ossos humanos são expostos à
radiação em várias ocasiões, seja em casos de radioterapia ou radiodiagnóstico
(Schauer, Akinori, Romanyukha, 2007), exposições acidentais (Schauer et al, 1996) ou
quando em bancos de ossos, onde ossos são conservados através de irradiação (Azar
2009).
Foram utilizados ossos suínos como modelo para estudar os efeitos em ossos
humanos, já que ossos suínos são baratos e de fácil obtenção.
A técnica de RPE foi utilizada com o objetivo de verificar sua viabilidade , na
medição da dose absorvida por ossos, no caso de exposições crônicas localizadas.
A técnica de difração de raios X foi utilizada, primeiramente, na caracterização
do osso suíno não irradiado. Em seguida, foram caracterizados ossos irradiados com
doses distintas, a fim de verificar se ocorreram modificações em seus perfis. Alterações
nos perfis de difração das amostras irradiadas significam a existência de alterações em
suas estruturas moleculares.
No capítulo II deste texto, são discutidas as bases teóricas deste trabalho, que é
a morfologia e fisiologia dos ossos humanos e de mamíferos em geral e as técnicas de
Ressonância Paramagnética Eletrônica e Difração de Raios-X. No capítulo III, são
explicados detalhadamente os materiais utilizados e técnicas empregadas neste
trabalho, com detalhes sobre a obtenção e preparação das amostras, características
dos equipamentos utilizados e as técnicas de medição. No capítulo IV, são
apresentados os resultados experimentais e no último capítulo, os resultados são
discutidos, são apresentadas as conclusões e sugestões para trabalhos futuros.
5
CAPÍTULO II
FUNDAMENTOS TEÓRICOS
Neste capítulo são explicadas as bases teóricas desse trabalho. Começamos
com uma explanação básica sobre o tecido ósseo. Em seguida, são explicados a
Ressonância Paramagnética Eletrônica e a Difração de Raios-X, que são as técnicas
de espectrometria utilizadas neste trabalho. Finalizando, uma discussão sobre os
métodos de análise de dados utilizados.
2.1 – O Tecido ósseo
O tecido ósseo é um tecido conjuntivo bem rígido, encontrado no esqueleto dos
vertebrados, onde ele é o tecido mais abundante (Nogueira, 2008). Suas funções são
dar suporte ao corpo e permitir a locomoção do indivíduo. O osso é composto por uma
parte mineral, constituído basicamente por hidroxiapatita, cuja fórmula química é
Ca
10
(PO
4
)
6
(OH)
2
, além de uma porção orgânica. (Hiller e Wess, 2006).
A principal proteína que compõe o tecido ósseo é o colágeno tipo I, composta
por três cadeias polipeptídicas helicoidais, enroladas juntas em uma estrutura
helicoidal tripla, onde as hélices são arranjadas em fibrilas. ainda outras proteínas,
como a osteocina. Existem ainda porções minerais dentro e ao redor das fibrilas. Essa
porção mineral é a responsável pela rigidez do tecido ósseo (Hiller e Wess, 2006).
6
2.1.1 – As células ósseas
As principais células encontradas no tecido ósseo o os osteoblastos,
osteoclastos e osteócitos (Nogueira, 2008).
Os osteoblastos são as células responsáveis pela formação do osso. Elas fixam
a matriz de colágeno, na qual o mineral é posteriormente depositado, e estas
provavelmente têm algum papel na sua mineralização.
Os osteoclastos são as células destruidoras do osso. São células grandes e
multinucleadas, derivadas de células precursoras presentes no sangue. Destroços das
estruturas ósseas são colocadas em pequenas vesículas que passam através do corpo
da célula e são depois despejadas. Após terminarem seu trabalho, os osteoclastos
desaparecem e presumidamente morrem.
Os osteócitos são as células do corpo ósseo, que derivam dos osteoblastos.
Elas estão aprisionadas no osso compacto e se conectam às células vizinhas através
de pequenos canais com 0,2 a 0,3 µm de diâmetro. (Currey, 2002).
2.1.2 – Classificação do tecido ósseo
Existem várias maneiras de se classificar o tecido ósseo. Uma das formas de se
fazer essa classificação é de acordo com a sua forma. Os ossos podem ser longos,
curtos, chatos, irregulares e sesamóides.
Os ossos longos são estruturas tubulares, como os úmeros nos braços e as
falanges nos dedos. Os ossos curtos são cúbicos e são encontrados apenas no
tornozelo e no punho. Os ossos chatos possuem a função de proteger certos órgãos,
como por exemplo, os ossos do crânio que protegem o cérebro. Os ossos irregulares,
tais como os ossos da face, possuem diferentes formas. Os ossos semamóides se
desenvolvem em certos tendões, com o intuito de protegê-los. (Moore e Agur, 2007).
7
Outra forma de se classificar o tecido ósseo é como tecido cortical ou compacto
e tecido trabecular ou esponjoso. Ambos possuem o mesmo tipo de células e
substâncias intercelulares, mudando entre si apenas a disposição de seus elementos e
a quantidade de espaços medulares. (Nogueira,2008)
Fig. II-1: Alguns dos elementos ósseos
No tecido ósseo trabecular, as lamínulas de tecido ósseo são irregulares em
forma e tamanho, e se arranjam de forma a deixar entre si espaços ou lacunas que se
comunicam umas com as outras, chamadas trabéculas. (Nogueira,2008). Essas
trabéculas possuem aproximadamente 0,1mm de diâmetro e 1 mm de extensão. Na
maioria dos casos, o osso trabecular é revestido por osso cortical (Currey, 2002).
No tecido ósseo compacto , as lamínulas de tecido ósseo são fortemente unidas
umas as outras, sem que haja espaços entre elas. Por esta razão, este tecido é mais
rígido e denso. Apresenta ainda um conjunto de canais que são percorridos por nervos
8
e vasos sanguíneos: canais de Wolkmann e canais de Havers. Por ser uma região
irrigada e enervada, os ossos têm sensibilidade, alto metabolismo e capacidade de
regeneração. (Nogueira 2008)
2.2 – Ressonância Paramagnética Eletrônica
2.2.1 – Propriedades magnéticas da matéria
A imantação M de um material é definida como o momento magnético por
unidade de volume. A susceptibilidade magnética por unidade de volume é definida
pela equação
B
M
0
χ
=
Onde µ
0
é a permissividade magnética do vácuo, M a imantação e B é a intensidade
do campo magnético macroscópico.
A suscetibilidade magnética determina o comportamento magnético de um
material. Materiais que possuem suscetibilidade magnética negativa são chamados de
diamagnéticos. aqueles que possuem suscetibilidade magnética positiva são
chamados paramagnéticos. Discutiremos abaixo alguns casos em que ocorre o
paramagnetismo (Kittel et al, 1995):
Átomos, moléculas e defeitos em redes que possuem número ímpar de elétrons, de
modo que, neste caso, o número de spin total não pode ser nulo, onde temos, por
exemplo, átomos livres de sódio e radicais orgânicos livres;
Átomos livres e íons que contenham uma camada eletrônica interna incompleta;
Íons que tenham a mesma estrutura eletrônica dos elementos de transição, terras
raras e actinídeos, como, por exemplo, os íons Mn
2+
e U
4+
;
9
Uns poucos elementos que possuem número par de elétrons, tais como o oxigênio
molecular;
Metais.
2.2.2 – A ressonância paramagnética eletrônica
A espectroscopia por Ressonância Paramagnética Eletrônica (RPE), também
conhecida como Ressonância de Spin Eletrônico (ESR), fundamenta-se no fenômeno
de absorção de microondas por íons ou moléculas paramagnéticas na presença de um
campo magnético estático (Santos, 2006). Quando elétrons desemparelhados são
submetidos a um campo magnético estático, as direções do spin desses elétrons, que
são inicialmente aleatórias, se orientam de forma a terem o sentido igual ou contrário
ao campo magnético. Essas duas situações são energeticamente distintas e
conhecidas como “spin up” e “spin down”. (figura II-2). (Ikeya,1993).
Fig II-2: O spin dos elétrons inicialmente aleatórios (a) se orientam na direção
de um campo magnético externo (b).
10
Elétrons livres possuem um momento angular intrínseco, o momento angular de
spin. Resulta daí a existência de um momento de dipolo magnético µs, dado por:
Sgs
be
µµ
=
Onde ge = 2,002319 é uma constante, o fator de Landé para o elétron livre, µ
b
é
o magnéton de Bohr, e S é o operador de spin, que para o elétron livre tem apenas um
autovalor, ½, e sua componente na direção z dois autoestados degenerados,
denotados por [+1/2] e [-1/2], com autovalores ms = +1/2, respectivamente.
Quando submetido a um campo magnético estático, o dipolo magnético alinha-
se em sua direção e ocorre uma quebra da degenerescência dos autoestados de spin,
conhecida como Efeito Zeeman.
Convencionando a direção z paralela ao campo magnético B
0
, as energias
possíveis do elétron sob a ação do campo serão:
2
0
Bg
E
be
µ
±
=
A figura II-3 mostra a separação dos veis de energia entre os estados up e
down:
Figura II-3 : Absorção de energia eletromagnética por elétrons livres (Santos, 2006)
A diferença entre estes níveis de energia é dada por
11
0
Bg
bes
µ
µ
=
Na situação em que uma onda eletromagnética cujo quanta de energia
ν
hE
=
,
sendo h a constante de Planck e
ν
a freqüência da onda eletromagnética coincide com
o valor de ∆E, ou seja,
νµ
hBg
be
=
0
ocorre a ressonância paramagnética eletrônica (Ikeya, 1993). Nessa condição, o spin
de alguns elétrons muda de orientação. Um dos estados de spin, up ou down, passa a
ser mais favorecido que o outro (Mamani, 2007). O valor de g para elétrons livres é 2,0,
porém, devido a correções relativísticas (Santos, 2006) e a interação spin órbita (Ikeya,
1993), há um desvio desse valor.
2.2.3 – O espectro RPE
A condição de ressonância RPE pode ser obtida variando-se o campo
magnético e mantendo-se a freqüência das microondas constante (Ikeya, 1993),
possibilitando, assim, a obtenção do espectro para a amostra analisada.
A figura II-4 mostra um espectro de absorção RPE. Na prática, o espectro é
registrado na forma da derivada primeira dP/dB, onde P é a potência de microondas
absorvida pela amostra e B é o campo magnético (Mamani,2007).
12
Figura II-4: Espectro de absorção de potência, onde Br é o campo de ressonância
((Mamani,2007 – adaptado)
Figura II-5: Derivada primeira do espectro de absorção (Mamani,2007 – adaptado)
O fator g, citado anteriormente, é um parâmetro de grande importância na
análise de um espectro RPE. Elétrons desemparelhados, em diferentes ambientes, têm
valores de g ligeiramente diferentes, e essa pequena diferença pode servir para
identificar diferentes centros magnéticos (Mamani,2007).
2.2.4 – Análise de tecidos calcificados utilizando RPE
A espectrometria RPE é amplamente utilizada na dosimetria de tecidos
calcificados, tais como esmalte dentário, dentina e ossos. O método de dosimetria
retrospectiva usando esses tecidos é baseado na medida de radicais livres induzidos
por radiações ionizantes na hidroxiapatita. Durante o processo de mineralização da
hidroxiapatita, íons de carbonato são incorporados à rede cristalina. Sob a absorção de
radiação ionizante, os íons de carbonato capturam elétrons livres da matriz cristalina e
13
formam radicais livres, nesse caso, o radical CO
2
-
, que possui o fator g de
aproximadamente 2,002. A quantidade de radicais formados depende da dose
absorvida, e esta pode ser quantificada utilizando RPE. (Desrosiers & Schauer, 2001).
A intensidade do sinal de um RPE não indica diretamente a dose absorvida por
uma determinada amostra, porém pode ser feita uma calibração intensidade x dose. O
método mais utilizado na estimativa da dose absorvida por tecidos calcificados é o
chamado Método das Doses Aditivas . Este método consiste em re-irradiar a amostra
para construir a curva de calibração específica para aquela amostra. (fig.II-5). Esse
método tipicamente requer de 4 a 5 incrementos de dose. A intensidade do sinal do
RPE pode ser definida como a amplitude de pico a pico do sinal obtido para aquela
amostra (Desrosiers e Schauer, 2001).
Figura II-6: O método da dose aditiva para reconstrução da dose de uma amostra.
(Desrosiers e Schauer, 2001 - adaptado)
Pela figura II-5, nota-se que a intensidade do sinal do RPE cresce linearmente
com a dose. A dose absorvida inicial da amostra é obtida através de uma extrapolação
inversa (Desrosiers e Schauer, 2001).
14
2.3 – Difração de raios X
Quando um feixe de raios X monocromático incide em um cristal sob diferentes
ângulos, provocando espalhamento, o feixe difratado pode ser medido por um detector
de raios X, posicionado adequadamente, produzindo um gráfico chamado perfil de
difração ou difratograma. Este gráfico relaciona a intensidade da radiação medida pelo
detector com o ângulo de espalhamento 2θ, que é o ângulo entre o feixe incidente e o
feixe espalhado. O difratograma é único para cada tipo de cristal e é muitas vezes
denominado como a assinatura do material e o perfil de difração de uma mistura é a
soma dos perfis de difração de seus constituintes. A figura II-7 mostra um
difratograma.(Amorim, 2007).
Figura II-7: Perfil de difração do NaCl
Na condição de espalhamento, os raios X quando interagem com o meio, têm seu
comprimento de onda incidente associado às dimensões do centro espalhador ou da
abertura de uma fenda por onde ele terá que passar (fig. II-8).
15
Fig.II-8: Espalhamento de raios x, (Castro, 2006)
Considerando d como a dimensão do centro espalhador ou as dimensões de uma
rede cristalina e λ o comprimento de onda da radiação incidente, podemos observar
três condições de espalhamento na figura II-6:
Para d << λ, o espalhamento é isotrópico.
Para d >> λ, o espalhamento é governado pelas leis da óptica geométrica.
Para d λ, o fenômeno de difração ocorre, gerando uma dependência angular na
radiação espalhada.
O motivo de se usar ondas eletromagnéticas na região dos raios X em cristalografia
é devido ao espaçamento entre as camadas de átomos em um cristal possuir a mesma
ordem de grandeza do comprimento de onda dessa radiação, onde o fenômeno da
difração pode ser observado.
Para obtermos padrões de difração acentuados em cristais, as ondas espalhadas
devem interagir construtivamente entre si. Esse fenômeno é conhecido como
interferência construtiva e ocorre quando as ondas espalhadas estão em fase, ou seja,
a diferença de caminho entre os planos do cristal deve ser a um múltiplo inteiro do
16
comprimento de onda. Essa condição é atendida quando um conjunto de planos desse
cristal satisfaz a equação de Bragg:
θ
λ
dsenn 2
=
onde n é um número inteiro positivo, λ o comprimento de onda da radiação
difratada e θ o ângulo de espalhamento (Castro, 2006).
2.3.1- Fenômenos de espalhamento
A radiação espalhada torna-se interessante para o nosso estudo, na medida em
que os fótons espalhados carregam informações sobre a estrutura e o tipo do tecido,
informação essa que não é considerada na radiologia e/ou tomografia tradicional
(Castro, 2006).
O fenômeno de espalhamento é a conseqüência da interação dos fótons de raios X
com os elétrons da rede cristalina do material. O espectro da radiação espalhada é
composto por uma componente da mesma energia da radiação incidente e outra com
energia menor, sendo que a diferença de energia depende do ângulo de espalhamento
(Amorim, 2007).
O espalhamento denominado incoerente, ou inelástico, ocorre quando a radiação
incide sobre o meio, interagindo com ele, mudando seu momento linear e energia.
Devido à transferência de energia e momento cedida pelo fóton ao meio espalhador,
o surgimento de um novo fóton, com energia e momento menores. Nesse
espalhamento, a radiação espalhada não tem direção definida. O espalhamento
coerente não possibilita a ocorrência de interferência entre as ondas espalhadas
O espalhamento coerente, ou elástico, ocorre quando a radiação espalhada pelo
material apresenta a mesma energia da radiação incidente, ou com variação muito
pequena em relação a ela, porém com troca no momento linear. O espalhamento
17
elástico de fótons por elétrons livres é denominado espalhamento Thomson e o
espalhamento elástico de fótons por elétrons atômicos é denominado espalhamento de
Rayleigh (Amorim, 2007).
2.3.1.1- Espalhamento Thomson
O espalhamento Thomson é uma aproximação do espalhamento Rayleigh, no qual
o fóton de raios X é espalhado por um elétron livre em repouso, fora da influência de
qualquer campo externo, e, durante o espalhamento, sujeito apenas ao campo da
radiação (Amorim, 2007).
Obter, experimentalmente, elétrons livres é muito difícil, senão impossível,
entretanto, pode-se utilizar elementos leves nos quais a fraca energia de ligação dos
orbitais mais externos é uma ótima aproximação (Castro, 2006).
O espalhamento elástico é dado, quantitativamente, em função da amplitude de
espalhamento A e de uma secção de choque elástico diferencial (dσ/dΩ).
2
|| A
d
d
=
σ
2.3.1.2 – Espalhamento Rayleigh
Quando o elétron está ligado ao núcleo, o conceito de localização do elétron deve
ser substituído por uma densidade de probabilidade de se encontrar o elétron em uma
dada posição. A radiação interagindo com essa nuvem é absorvida e depois emitida
com o mesmo comprimento de onda da radiação incidente (Castro, 2006). Isso quer
dizer que não há transferência de energia para o átomo (Pinto, 2008).
18
Considerando que cada parte da nuvem eletrônica interage com o fóton como se
fosse um elétron livre, a seção de choque Rayleigh será a seção de choque Thomson
multiplicada pelo termo de interferência:
O fator entre colchetes é chamado de Fator de Forma do átomo. As amplitudes do
espalhamento elástico de fótons por elétrons ligados também podem ser obtidas
multiplicando-se as amplitudes de Thomson pelo fator de Forma (Castro, 2006).
2.4 – Noções de análise de dados
Em qualquer experimento científico, o tratamento dos dados adquiridos é de
vital importância para a confirmação ou refutação de uma hipótese. Nesta secção,
serão discutidos alguns métodos utilizados nesse tratamento.
2.4.1 – Ajuste de funções
Em determinadas situações, argumentos experimentais e teóricos levam à
hipótese de que exista uma relação de causa e efeito entre elas, descrita por uma
relação funcional y=f(x). A determinação dessa relação é chamada ajuste de função. O
caso mais simples e imediato é aquele em que o coeficiente de correlação linear (r)
entre as medidas duas grandezas é bem próximo a unidade (Oguri et al, 2005), ou
seja, as grandezas podem ser relacionadas por uma função linear.
Seja um conjunto de N pares de medidas (xi,yi) das grandezas x e y, onde as
incertezas associadas as medidas de x são bem menores que as associadas a y, e
19
para as quais se deseja ajustar a reta y(x) = ax + b, ou seja, determinar os parâmetros
a e b.
Supondo que os erros de cada medida de y (yi) sejam idênticos, o método dos
mínimos quadrados consiste na minimização da soma dos quadrados dos resíduos, yi-
y(xi), ou seja, da função S(a,b), expressa por:
2
1
2
1
)()]([),( baxyxyybaS
i
N
i
ii
N
i
i
==
==
Impondo-se as condições de minimização, temos que:
0)(2
1
==
=
baxyx
a
S
i
N
i
ii
=
==
N
i
ii
baxy
a
S
1
0)(2
Podemos reescrever o sistema de equações como:
= = =
=+
N
i
N
i
N
i
iiii
yxbxax
1 1 1
2
)()(
= =
=+
N
i
N
i
ii
yNbax
1 1
)()(
Assim, temos a solução dos parâmetros como:
2
2
2
1
1
xx
yxxy
x
xx
y
xxy
a
=
=
e
xayb =
O erro dos parâmetros a e b são dados por:
20
N
y
x
a
ε
σ
σ
1
=
e
2
x
ab
σσ
=
Onde εy é o erro de y, dado pela seguinte equação:
=
=
N
i
ii
y
N
baxy
1
2
2
)(
ε
Onde o termo
)(
baxy
ii
da equação acima é conhecido como resíduo das
medidas de y em relação aos valores previstos pela reta de ajuste.
E, no caso de uma interpolação inversa, ou seja, no caso de queremos calcular
valores de x a partir das medidas de y, o erro é calculado pela seguinte equação:
a
y
x
ε
ε
=
Que é a estimativa do erro de uma medida de x.
2.4.2 – Estatística descritiva
A estatística descritiva é o ramo da estatística que aplica várias técnicas que
permitem sumarizar um conjunto de dados (Pinto, 2008), onde é possível descrever
sua tendência central (valor esperado) e sua dispersão.
21
2.4.2.1 – Medidas de tendência central
Matematicamente, existem várias maneiras de se estimar a tendência central de
um conjunto de dados. Vamos discutir aqui três deles: mediana, moda e média
(Sternstein, 1994).
Mediana: Considere um conjunto de valores, arranjados em ordem crescente
ou decrescente. A mediana é definida como o valor central desse conjunto. No caso de
termos dois valores centrais, a mediana é calculada somando-se esses valores e
dividindo o resultado por dois.
A mediana não é afetada pela amplitude (diferença entre o maior e o menor
valor de um conjunto de dados), de forma que a mediana é indicada como medida de
tendência central quando os valores extremos são de alguma forma “suspeitos”, ou
quando se deseja diminuir a influência deles.
Moda: É o valor mais freqüente de um conjunto de dados. Se um valor precisa
ser escolhido como base para certas decisões, frequentemente se usa a moda.
Quando dois números em um conjunto são igualmente freqüentes, e esta
freqüência é mais alta do que a dos outros, essa distribuição é chamada de bimodal.
Quando uma freqüência é mais alta que a outra, mas ainda assim ambas são
consideradamente maiores do que as outras, também se usa o termo bimodal.
Média : Enquanto que a mediana e moda são mais utilizadas em estatística
descritiva, a média, ou mais especificamente a média aritmética, é frequentemente
utilizada em inferência estatística. A média é definida matematicamente como:
22
N
x
N
i
i
x
=
=
1
_
Onde Σx é a soma de todos os elementos do conjunto e n é o número de
elementos. Ao contrário da mediana e da moda, a média é afetada pelos valores
extremos.
2.4.2.2 – Medidas de dispersão
Em estatística descritiva, além das medidas de tendência central, é importante
conhecer o quão dispersas os elementos de um conjunto de dados estão. Serão
discutidos abaixo duas dessas medidas: a variância e o desvio padrão.
Variância: Essa medida indica a dispersão em torno da média. A variância,
denotada por σ
2
, é a média dos quadrados das discrepâncias de cada medida em
relação à média:
N
xx
N
i
i
2
_
1
2
)(
=
=
σ
Desvio padrão: O desvio padrão, denotado por σ, é um parâmetro de
dispersão amplamente utilizado. Ele é definido como a raiz quadrada da variância.
(Sternstein,1994).
23
2.4.2.3 - Testes de hipóteses
O teste de uma hipótese estatística é talvez a mais importante área da teoria de
decisão. Em todos problemas, duas hipóteses complementares são consideradas: A
hipótese nula, rRPEesentada por H0, que representa que não houve mudança. A outra
hipótese, que será aceita caso H0 seja rejeitada, é denominada hipótese alternativa e é
denotada por H1. Essas hipóteses são mutuamente excludentes, ou seja, aceitar H0
significa rejeitar H1 e vice versa (Pinto, 2008).
Um procedimento de tomada de decisão pode acarretar em dois tipos de
decisão incorreta. Pode-se rejeitar a hipótese nula quando ela é verdadeira (erro tipo I)
ou pode-se falhar em rejeitar H0 quando de fato ela é falsa (erro tipo II).
Esses dois tipos de erro estão relacionados de forma que, ao reduzir a
probabilidade de ocorrência de um deles, aumenta-se automaticamente a
probabilidade da ocorrência do outro. De modo geral, controla-se apenas o erro tipo I
através do nível de significância (α) que consiste na probabilidade máxima da
ocorrência do erro tipo I.
Dentro do teste de hipóteses, é importante o conhecimento do p-valor, que é a
probabilidade de se observar resultados tão extremos quanto os obtidos se a hipótese
nula for verdadeira. As seguintes interpretações de p-valores podem ser úteis:
p ≥ 0,1 => Não existe evidência contra H0
p < 0,1 => Fraca evidência contra H0
p< 0,05 => Evidência significativa contra H0
p<0,01 => Evidência altamente significativa contra H0
p<0,001 => Evidência extremamente significativa contra H0
24
Normalmente, usa-se o p-valor de 0,05 como patamar para avaliar a hipótese
nula. Se um p-valor for inferior a 0,05, podemos rejeitar a hipótese nula. Caso
contrário, não temos evidência que nos permita rejeitar a hipótese nula (Pinto, 2008).
Teste de t-Student e Anova.
O teste de t-Student é utilizado para verificar se as médias de duas populações
são significativamente diferentes. o teste de análise de variância (ANOVA) é uma
extensão do teste de t-Student, onde é possível comparar as médias de duas ou mais
populações.
O teste ANOVA é realizado através das variâncias entre as populações e as
variâncias internas de cada população. Matematicamente, podemos descrever essa
relação através do F-valor, definido como:
F= diferença entre as populações / diferença dentro das populações
Quanto maior for o F valor, maior a evidência de que as médias das populações
são diferentes.
25
CAPÍTULO III
MATERIAIS E MÉTODOS
A confiabilidade dos resultados em qualquer trabalho experimental depende
intimamente dos materiais e dos procedimentos adotados na execução deste. Neste
capítulo, são descritos detalhadamente as características dos equipamentos utilizados
bem como a metodologia utilizada durante toda a execução do trabalho.
3.1 – Preparação das amostras
As amostras de ossos suínos foram obtidas em mercados e açougues. Foram
utilizados somente ossos corticais provenientes de pernis suínos.
Primeiramente, os ossos foram limpos utilizando-se um bisturi, de forma que
toda a carne e gordura foram retiradas dos ossos. Em seguida, os ossos, limpos,
foram deixados secando sob temperatura ambiente por quarenta e oito horas.
Após o processo de secagem, os ossos foram pulverizados e então peneirados,
utilizando sempre a mesma peneira. A figura III-1 mostra o osso inteiro e a figura III-2
mostra o osso já pulverizado.
Figura III-1: Amostras de ossos suínos
26
Figura III-2 : osso suíno pulverizado
Após pulverizadas, as amostras foram colocadas em ependorfs, para serem
então irradiadas. As amostras destinadas à análise por RPE possuíam massa igual a
100mg, e as amostras destinadas à análise por difração de raios X possuíam massa
igual a 150mg. No total, foram feitas 118 amostras para difração de raios X e 120
amostras para análise por RPE.
3.2 – Irradiação das amostras
Para irradiar as amostras, foi utilizado um irradiador Gammacel 220 Excel,
presente no Laboratório de Instrumentação Nuclear (LIN-COPPE-UFRJ). Este
irradiador trabalha com uma fonte de
60
Co.
27
Figura III-3: irradiador Gammacel 220 Excel
As amostras foram irradiadas com doses de 50, 100, 200, 300, 400, 500 Gy.
3.3 – Análise por RPE
3.3.1 – A instrumentação
O espectrômetro RPE utilizado nesse trabalho foi o EMS 104, fabricado pela
Bruker. Esse espectrômetro opera na banda X (9,5 GHz), e o mesmo se encontra no
Laboratório de Instrumentação Nuclear (LIN-COPPE-UFRJ).
28
Figura III-4: Espectrômetro RPE Bruker EMS 104
As amostras, previamente irradiadas, foram colocadas em tubos quartzo e
então analisadas.
3.3.2 – Otimização dos parâmetros
O analisador RPE utilizado possui vários parâmetros que podem ser ajustados,
porém, nesse trabalho, foram ajustados quatro deles: número de varreduras,
comprimento da amostra, potência das microondas e modulação do sinal. Os demais
parâmetros foram mantidos com seus valores de fábrica.
Número de varreduras: Esse parâmetro indica o número de vezes que o
analisador RPE varre todo o espectro. É importante que sejam feitas várias varreduras,
a fim de melhorar a relação sinal/ruído. Foram feitas 40 varreduras para cada amostra.
Com esse número de varreduras e os outros parâmetros ajustados de fábrica, o tempo
de aquisição foi de aproximadamente oito minutos.
29
Comprimento da amostra: Este parâmetro deve ser ajustado toda vez que
uma amostra for ser analisada. Para fazer esse ajuste, deve-se utilizar um simulador
de cavidade. Coloca-se o tubo de quartzo contendo a amostra e então inseri-la no
simulador, que possui um mecanismo que permite ajustar a posição vertical do tubo.
Deve-se ajustar a posição do tubo de forma que a marca central do simulador (figura
III-V) fique no centro da amostra. O valor do comprimento da amostra é o valor medido
no fundo da amostra.
Figura III-V: Amostra no simulador de cavidade
Potência das microondas: Um parâmetro essencial é a potência das
microondas, que deve ser otimizado para o experimento a ser feito. Para tal, foi
utilizada uma amostra irradiada com 500 Gy. Foi feita a análise fixando-se os outros
parâmetros e variando a potência. Verificou-se que a amplitude do sinal RPE cresce
com a potência, e através de um gráfico potência x amplitude, foi possível determinar a
melhor potência para este trabalho.
30
Modulação do sinal: O último dos parâmetros ajustados foi a modulação do
sinal que, assim como a potência, deve ser ajustada para o experimento em questão.
Foi utilizada a mesma amostra da otimização da potência, porém, neste caso, variou-
se a modulação, mantendo-se os outros parâmetros fixos. Verificou-se que a largura
do pico do sinal variava com a modulação e, através de um gráfico modulação x
largura do sinal, foi possível determinar a melhor modulação para este trabalho.
3.3.3 – Dosimetria das amostras
Para determinar a dose absorvida pelas amostras, foi utilizado o método das
doses aditivas (seção 2.2.4). Primeiramente, foram analisadas amostras não
irradiadas, cujo sinal foi utilizado para determinar o background.
Em seguida, foram analisadas as amostras irradiadas. As amostras
previamente irradiadas foram analisadas no espectrômetro RPE. Em seguida, elas
foram novamente irradiadas com dose de 100 Gy e analisadas no espectrômetro RPE
outra vez. Após essa segunda análise, as amostras foram mais uma vez irradiadas
com dose de 100 Gy. Esse procedimento foi repetido cinco para cada amostra.
3.4 – Análise por difração de raios-X
3.4.1 – A instrumentação
Para realizar as medições com difração de raios X, foi utilizado o difratômetro
Shimadzu XRD 6000, conforme mostrado na figura II-6.
31
Figura III-VI: Difratômetro Shimadzu XRD 6000. Em (a), temos o tubo de raios x, (b) o
porta amostra, (c) o detector, (d) o braço 2θ e (e) o braço θ.
Este difratômetro possui um tubo de raios X com energia de 8 keV, um anodo
de cobre, um detector cintilador e um sistema de fendas utilizado para colimar o feixe
de raios X.
Foi utilizada a geometria θ - 2θ para a realização das medidas. Os valores
utilizados estão listados na tabela III-1.
32
Tabela III-1: Parâmetros de operação do difratômetro de raios X
Parâmetro Valor
Tensão 40 kV
Corrente 30 mA
Ângulo inicial 20
o
Ângulo final 45
o
Passo angular 0,05
o
Taxa angular 2º/min
As amostras a serem analisadas foram colocadas no porta amostra, onde os
perfis de difração das amostras foram levantados em triplicata, assumindo como valor
final a média dos três perfis. Os dados foram coletados através de um computador
dedicado, utilizando o software XRD 6000.
3.4.2 – Parâmetros de caracterização
As amostras analisadas por difração de raios X possuem picos bastante
característicos, que são as suas “assinaturas”. Em todas as amostras, observou-se a
presença de quatro picos de difração. A figura III-7 mostra o perfil de difração de uma
amostra não irradiada, já descontada a radiação de background.
33
Figura III-7 : Perfil de difração uma amostra de osso não irradiada
A caracterização dos perfis foi feita a partir dos seguintes parâmetros:
1 – Posição angular dos picos
2 – Largura a meia altura (FWHM)
3 – Intensidade dos picos
4 – Área dos picos
A intensidade e a largura a meia altura dos picos estão indicadas na figura III-7.
A área dos picos é a área do gráfico abaixo de cada pico e a posição angular é o valor
do ângulo no qual a radiação espalhada é máxima. Esses parâmetros foram obtidos
utilizando-se o software Origin PRO 7.5, com auxílio da ferramenta Peak Analisys.
Conhecendo-se os valores de cada parâmetro para todas as amostras
analisadas, foi realizada a estatística descritiva para cada valor de dose, a fim de
caracterizar as amostras. Foi calculada a média, desvio padrão, variância, mediana e
moda para cada parâmetro dos perfis. Em seguida, foi realizado o teste t de Student
para duas amostras independentes, para verificar se existem diferenças significativas
34
dos valores destes parâmetros entre as amostras não irradiadas e as amostras
irradiadas com diversos valores de dose.
35
CAPÍTULO IV
RESULTADOS
Neste capítulo, são apresentados os resultados experimentais das medidas de
difração de raios x e de ressonância paramagnética eletrônica.
4.1 – Análise por RPE
4.1.1 – Otimização dos parâmetros de operação
Os parâmetros de operação de um analisador RPE, especialmente a potência
das microondas e a modulação do sinal, devem ser otimizados para o experimento a
ser realizado (3.3.2). A figura IV-1 mostra o gráfico potência x área sob o sinal RPE:
Figura IV-1: Potência x dupla integração
Neste caso, foi utilizada área sob o sinal de RPE após a dupla integração do
sinal observado, conforme recomendado por (Jiang, sem ano de publicação). Como foi
dito na seção (2.2.3), o espectro observado em um espectrômetro RPE corresponde à
36
derivada do espectro de absorção. Ao realizarmos a dupla integração, estamos
trabalhando com a área sob o espectro de absorção. Utilizamos como potência de
operação 12,5 mW, que, como podemos ver na figura IV-1, corresponde à potência
mais alta antes da saturação do sinal.
A figura IV-2 mostra o gráfico Modulação x largura da linha, onde a largura da
linha é a amplitude horizontal do sinal observado:
Figura IV-2 : Modulação x Largura da linha
O valor da modulação utilizado foi o de 4.02x10
-4
T, pois é valor mais alto de
modulação antes de um abrupto crescimento do sinal.
4.1.2 – Dosimetria das amostras
Agora, mostraremos como foi estimada a dose absorvida pelas amostras
irradiadas.
37
O primeiro passo foi analisar uma amostra não irradiada, a fim de verificar o
sinal de background. A figura IV-3 mostra o espectro RPE de uma amostra não
irradiada:
Figura IV-3: Sinal RPE de uma amostra não irradiada
Em seguida, foi levantado o espectro de uma amostra irradiada, conforme
mostrado nas figura IV-4 a IV-6:
Figura IV-4: Sinal RPE de uma amostra irradiada com 100 Gy
38
Figura IV-5: Sinal RPE de uma amostra irradiada com 300 Gy
Figura IV-6 Espectro RPE de uma amostra irradiada com 500Gy
Nota-se que, no caso de uma amostra não irradiada, há apenas um sinal,
enquanto que nas amostras irradiadas, um sinal mais externo, que corresponde ao
39
sinal de background, e um sinal interno, que é o sinal dosimétrico, devido aos radicais
de CO
-2
criados pelo processo de irradiação. É a amplitude de pico a pico deste sinal
que será levada em conta na determinação da dose absorvida pelas amostras.
Podemos notar também que, no caso das amostras de 100 Gy, o sinal de background
é maior do que o sinal dosimétrico, o que não impede a media de dose. Conforme a
dose vai aumentando, maior é o sinal dosimétrico em relação ao sinal de background,
de forma que fica mais fácil diferenciá-los. Além disso, a relação sinal/ruído diminui
com o aumento da dose.
Através de uma regressão linear, foram determinadas as doses absorvidas
pelas amostras. A figura IV-7 mostra o gráfico dose aditiva x amplitude para uma
amostra irradiadas com 300 Gy. As outras amostras, exceto aquelas irradiadas com 50
e 100 Gy, tiveram resposta semelhante.
Figura IV-7: Dosimetria pelo método das doses aditivas de uma amostra irradiada com
300 Gy
A figura IV-8 mostra um gráfico indicando as porcentagens das amostras que
foram compatíveis com os valores esperados com precisão de 1 e 2σ. As que tinham
40
uma discrepância em relação ao valor de referência maior do que foram
consideradas como não compatíveis com os valores irradiados. Não foi possível
determinar a dose para as amostras de 50Gy, pois os sinais destas eram pequenos
demais, de forma que não foi possível diferenciar o sinal dosimétrico do sinal de
background.
Figura IV-8 : compatibilidade dos valores de dose medidos em relação aos valores
irradiados
Pela figura acima, podemos notar que a partir de 300Gy, todas as doses
estimadas pelo método proposto foram compatíveis com os valores irradiados com
precisão de 1 σ. Para as amostras de 200Gy, 25% das amostras foram compatíveis em
1 σ e 75% foram compatíveis em 2 σ. Nenhuma das amostras de 100Gy foi compatível
com os valores de irradiação, e não foi possível realizar a dosimetria das amostras de
50Gy, pois o sinal ERP era muito baixo, de forma que não foi possível diferenciar o
sinal de background do sinal dosimétrico.
41
4.2 – Análise por difração de raios X
4.2.1 – Caracterização dos perfis de difração
A figura IV-9 mostra o perfil de difração típico para uma amostra de osso suíno:
Figura IV-9: perfil de difração de amostra de osso suíno
Não existem diferenças visíveis nas formas dos perfis não irradiados e
irradiados. Porém, a partir das medidas quantitativas de seus parâmetros, é possível
determinar se existem diferenças significativas entre eles, para cada valor de dose.
42
4.2.2 – Estatística descritiva dos parâmetros de caracterização
Foi realizada a estatística descritiva dos parâmetros de caracterização dos
perfis de difração para cada dose. A intensidade e área dos picos foram normalizadas
da seguinte forma: A intensidade e a área mais alta de todos os picos foi considerada
como 100 unidades arbitrárias, e os valores para as demais doses foram normalizados
a partir destes. As tabelas IV-1 a IV-7 mostram os resultados obtidos:
Tabela IV-1: Caracterização do perfil de difração de 0 Gy (n=22)
parâmetro Media
mediana
moda
variância desvio padrão
θ1
25,84 25,85 25,90
0,005 0,69
FHWM1 0,77 0,78 0,62 0,009533
0,10
Intensidade 1
18,91 19,34 13,52
9,41 3,07
Área 1 17,86 18,26 12,77
8,4 2,90
θ2
28,64 28,52 28,45
0,16 0,40
FHWM2 1,19 1,17 - 0,22 0,46
Intensidade 2
4,48 4,50 - 1,95 1,40
Área 2 4,36 4,26 - 4,37 2,09
θ3
31,98 31,97 31,95
0,003 0,06
FHWM3 1,55 1,56 1,54 0,005 0,07
Intensidade 3
56,05 54,56 - 41,34 6,43
Área 3 100 96,08 - 1,76 13,28
θ4
39,66 39,7 39,7 0,06 0,25
FHWM4 1,37 1,31 1,28 0,07 0,26
Intensidade 4
7,47 7,71 7,92 2,1 1,45
Área 4 8,85 8,53 9,62 4,15 2,04
43
Tabela IV-2: Caracterização do perfil de difração – 50Gy (n=16)
parâmetro média
mediana
moda variância
desvio padrão
θ1
25,75 25,75 25,75 0,003 0,05
FHWM1 0,75 0,75 0,87 0,02 0,14
Intensidade 1
16,32 1,66 17,71 2,58 1,61
Área 1 11,94 11,87 - 1,52 1,23
θ2
28,47 28,47 28,35 0,08 0,23
FHWM2 0,99 1,02 - 0,10 0,32
Intensidade 2
3,27 3,11 3,26 0,96 9,82
Área 2 2,83 2,60 - 1,74 1,32
θ3
31,91 31,90 31,90 0,005 0,07
FHWM3 1,56 1,56 - 0,01 0,11
Intensidade 3
48,07 49,15 - 14,01 3,74
Área 3
84,13 87,37 - 75,46 8,69
θ4
39,51 39,51 39,65 0,02 0,16
FHWM4 1,33 1,33 - 0,07 0,27
Intensidade 4
5,10 5,12 - 0,08 0,09
Área 4 6,35 6,34 - 3,78 1,94
44
Tabela IV-3 : Caracterização do perfil de difração – 100Gy (n=16)
parâmetro média
mediana
moda variância
desvio padrão
θ1
25,79 25,80 25,75 0,003 0,06
FHWM1 0,85 0,84 0,84 0,01 0,08
Intensidade 1
17,05 16,78 14,92 3,07 1,75
Área 1 13,59 13,10 - 1,53 1,23
θ2
28,52 28,50 28,20 0,11 0,33
FHWM2 1,23 1,06 - 0,14 0,38
Intensidade 2
3,48 3,47 3,49 0,97 0,98
Área 2 3,39 3,50 - 1,54 1,24
θ3
31,95 31,95 31,90 0,005 0,07
FHWM3 1,57 1,57 1,54 0,01 0,09
Intensidade 3
52,71 51,64 - 16,51 4,06
Área 3 94,30 94,31 - 87,99 9,38
θ4
39,57 39,55 39,50 0,036 0,19
FHWM4 1,36 1,35 1,10 0,05 0,23
Intensidade 4
5,72 5,59 5,59 0,47 0,68
Área 4 7,50 7,47 - 1,93 1,39
45
Tabela IV-4 : Caracterização do perfil de difração – 200Gy (n=16)
parâmetro média
mediana
moda variância
desvio padrão
θ1
25,81 25,80 25,75 0,004 0,06
FHWM1 0,81 0,81 0,76 0,004 0,06
Intensidade 1
17,98 18,18 19,11 2,23 1,49
Área 1 13,88
14,03
11,91 1,41
1,19
θ2
28,50 28,55 28,55 0,06 0,24
FHWM2 0,86 0,87 0,87 0,11 0,33
Intensidade 2
3,40
3,45
- 0,99 1,00
Área 2 2,66
3,07
- 1,30
1,14
θ3
31,92 31,95 31,95 0,01 0,09
FHWM3 1,54 1,53 1,52 0,004 0,07
Intensidade 3
52,13
51,87
44,52
13,14
3,62
Área 3 91,34
90,21
84,64
33,21
5,76
θ4
39,57 39,50 39,45 0,03 0,16
FHWM4 1,38 1,36 - 0,07 0,27
Intensidade 4
5,98
5,86 - 0,49 0,70
Área 4 8,04 7,89 10,50 3,26
1,80
46
Tabela IV-5 : Caracterização do perfil de difração – 300Gy (n=16)
parâmetro média
mediana
moda variância
desvio padrão
θ1
25,80 25,80 25,85 0,003 0,05
FHWM1 0,76 0,76 - 0,006 0,08
Intensidade 1
16,96
17,10
17,25
1,75
1,32
Área 1 12,58
12,89
12,90
1,19
1,09
θ2
28,52 28,52 28,05 0,09 0,31
FHWM2 1,18 1,24 - 0,17 0,41
Intensidade 2
3,64
3,85
- 0,69 0,83
Área 2 4,03
3,75 - 1,98
1,41
θ3
31,94 31,95 31,95 0,003 0,06
FHWM3 1,55 1,54 - 0,01 0,10
Intensidade 3
50,54
50,50
- 9,78
3,13
Área 3 88,33
89,28
- 59,4
7,71
θ4
39,46 39,40 39,40 0,04 0,21
FHWM4 1,40 1,39 - 0,03 0,17
Intensidade 4
6,06 6,09
6,06 0,47 0,69
Área 4 8,19 8,19 - 2,62
1,62
47
Tabela IV-6 : Caracterização do perfil de difração – 400Gy (n=16)
parâmetro média
mediana
moda variância
desvio padrão
θ1
25,79 25,80 25,80 0,003 0,06
FHWM1 0,80 0,82 0,77 0,01 0,09
Intensidade 1
16,01 16,32
15,85
5,17
2,27
Área 1 12,30
12,07
11,89 0,97 0,99
θ2
28,56 28,55 28,75 0,06 0,25
FHWM2 1,16 1,01 - 0,14 0,37
Intensidade 2
3,60 3,67 4,88 1,14
1,07
Área 2 3,38
3,68 - 1,39
1,18
θ3
31,93 31,95 32,00 0,003 0,06
FHWM3 1,56 1,55 1,55 0,003 0,05
Intensidade 3
48,07 49,18
- 17,75
4,21
Área 3 82,85 83,23 89,02 45,94 6,78
θ4
39,51 39,55 39,35 0,02 0,16
FHWM4 1,31 1,38 1,40 0,07 0,26
Intensidade 4
5,57 5,40
5,13
0,63 0,79
Área 4 6,69
6,96
7,95
1,97
1,40
44
48
Tabela IV-7 : Caracterização do perfil de difração – 500Gy (n=16)
parâmetro média
mediana
moda variância
desvio padrão
θ1
25,78 25,75 25,85 0,004 0,07
FHWM1 0,76 0,81 0,63 0,01 0,11
Intensidade 1
17,65
17,25
16,78 5,45
2,33
Área 1 13,33
13,45
10,68
4,77
2,18
θ2
28,44 28,40 28,40 0,03 0,17
FHWM2 1,05 0,99 0,78 0,19 0,43
θ3
31,93 31,95 32,00 0,01 0,10
FHWM 3 1,53 1,53 1,51 0,01 0,08
Intensidade 3
51,22
50,83
41,23 41,75
6,46
Área 3 89,84
93,29
75,08
136,54
11,68
θ4
39,57 39,60 39,65 0,01 0,11
FHWM4 1,24 1,37 0,93 0,05 0,22
Intensidade 4
6,37
6,24
5,38
1,38
1,17
Área 4 7,83 7,88
10,66
4,76
2,18
4.2.3 – Teste de hipóteses
Agora, serão mostrados os resultados dos testes de hipóteses realizados, com
o intuito de verificar se existem diferenças significativas entre as médias das amostras
irradiadas e não irradiadas. O teste estatístico utilizado foi o teste t de Student, onde as
médias de cada parâmetro de caracterização para cada dose foram comparadas com
os parâmetros das amostras não irradiadas.
49
O critério utilizado para avaliar se as diferenças entre as médias das amostras
são significativas foi o p-valor. Como o teste foi realizado com o nível de confiança de
95%, foi considerado que as amostras são significativamente diferentes se o p-valor for
menor do que 0,05. No caso de um p-valor maior do que este, foi considerado que as
médias das populações são iguais, sendo as eventuais diferenças devidas às
flutuações estatísticas. As tabelas IV-8 a IV-13 mostram os resultados dos testes
realizados, onde são comparadas as médias dos parâmetros das amostras não
irradiadas e das amostras irradiadas com distintos valores de dose.
Tabela IV-8: Teste t Student para amostras de 50 Gy
Parâmetro 0 Gy 50 Gy p-valor
θ1
25,84 + 0,69 25,75 + 0,05
0,0003
FHWM1 0,77 + 0,10 0,75 + 0,14 0,6074
Intensidade 1
18,91 + 3,07 16,32 + 1,61
0,0064
Área 1 17,86 + 2,90 11,94 + 1,23
0
θ2
28,64 + 0,40 28,47 + 0,28
0,1699
FHWM2 1,19 + 0,46 0,99 + 0,32 0,1644
Intensidade 2
4,48 + 1,40 3,27 + 0,98
0,0081
Área 2 4,36 + 2,09 2,83 + 1,32
0,0194
θ3
31,98 + 0,06 31,91 + 0,07
0,0047
FHWM3 1,55 + 0,07 1,56 + 0,11 0,6489
Intensidade 3
56,05+6,43 48,07 + 3,74
0,0002
Área 3 100 ,00+ 13,28
84,13 + 8,69
0,0004
θ4
39,66 + 0,25 39,51 + 0,16
0,0537
FHWM4 1,37 + 0,26 1,33 + 0,27 0,6001
Intensidade4 7,47 + 1,45 5,10 + 0,09
0,0000
Área 4 8,85 + 2,04 6,35 + 1,94
0,0009
50
Tabela IV-9: Teste t Student para amostras de 100 Gy
parâmetro 0 Gy 100 Gy p-valor
θ1
25,84 + 0,69 25,79 + 0,06
0,0200
FHWM1 0,77 + 0,10 0,85 + 0,08
0,0109
Intensidade 1
18,91 + 3,07 17,05 + 1,75
0,0359
Área 1 17,86 + 2,90 13,59 + 1,23 0
θ2
28,64 + 0,40 28,52 + 0,33 0,3281
FHWM2 1,19 + 0,46 1,23 + 0,38 0,7833
Intensidade 2
4,48 + 1,40 3,48 + 0,98
0,0189
Área 2 4,36 + 2,09 3,39 + 1,24 0,1073
θ3
31,98 + 0,06 31,95 + 0,07 0,1767
FHWM3 1,55 + 0,07 1,57 + 0,09 0,3438
Intensidade 3
56,05+6,43 52,71 + 4,06 0,0759
Área 3 100 ,00+ 13,28
94,30 + 9,38 0,1509
θ4
39,66 + 0,25 39,57 + 0,19 0,2064
FHWM4 1,37 + 0,26 1,36 + 0,23 0,9183
Intensidade 4
7,47 + 1,45 5,72 + 0,68
0,0001
Área 4 8,85+2,04 7,50 + 1,39
0,0278
51
Tabela IV-10: Teste t Student para amostras de 200 Gy
parâmetro 0 Gy 200 Gy p-valor
θ1
25,84 + 0,69 25,81 + 0,06 0,2593
FHWM1 0,77 + 0,10 0,81 + 0,06 0,2203
Intensidade 1
18,91 + 3,07 17,98 + 1,49 0,2859
Área 1 17,86 + 2,90 13,88 + 1,19 0,5093
θ2
28,64 + 0,40 28,50 + 0,24 0,2236
FHWM2 1,19 + 0,46 0,86 + 0,33
0,0245
Intensidade 2
4,48 + 1,40 3,40 + 1,00
0,0022
Área 2 4,36 + 2,09 2,66 + 1,14
0,0070
θ3
31,98 + 0,06 31,92 + 0,09
0,0261
FHWM3 1,55 + 0,07 1,54 + 0,07 0,7215
Intensidade 3
56,05+6,43 52,13 + 3,62
0,0396
Área 3 100 ,00+ 13,28
91,34 + 5,76
0,0235
θ4
39,66 + 0,25 39,57 + 0,16 0,2056
FHWM4 1,37 + 0,26 1,38 + 0,27
0,0008
Intensidade 4
7,47 + 1,45 5,98 + 0,70 0,2221
Área 4 8,85 + 2,04 8,04 + 1,80 0,9771
52
Tabela IV-11: Teste t Student para amostras de 300 Gy
parâmetro 0 Gy 300 Gy p-valor
θ1
25,84 + 0,69 25,80 + 0,05
0,0868
FHWM1 0,77 + 0,10 0,76 + 0,08 0,8842
Intensidade 1
18,91 + 3,07 16,96 + 1,32
0,0274
Área 1 17,86 + 2,90 12,58 + 1,09
0,1475
θ2
28,64 + 0,40 28,52 + 0,31
0,3658
FHWM2 1,19 + 0,46 1,18 + 0,41 0,9412
Intensidade 2
4,48 + 1,40 3,64 + 0,83
0,0493
Área 2 4,36 + 2,09 4,03 + 1,41 0,6063
θ3
31,98 + 0,06 31,94 + 0,06
0,0453
FHWM3 1,55 + 0,07 1,55 + 0,10 0,8246
Intensidade 3
56,05+6,43 50,54 + 3,13
0,0053
Área 3 100 ,00+ 13,28
88,33 + 7,71
0,0054
θ4
39,66 + 0,25 39,46 + 0,21
0,0170
FHWM4 1,37 + 0,26 1,40 + 0,17 0,7388
Intensidade 4
7,47 + 1,45 6,06 + 0,69
0,0018
Área 4 8,85 + 2,04 8,19 + 1,62 0,3137
53
Tabela IV-12: Teste t Student para amostras de 400 Gy
parâmetro 0 Gy 400 Gy p-valor
θ1
25,84 + 0,69 25,79 + 0,06
0,0455
FHWM1 0,77 + 0,10 0,80 + 0,09 0,4017
Intensidade 1
18,91 + 3,07 16,01 + 2,27
0,0037
Área 1 17,86 + 2,90 12,30 + 0,99
0,0500
θ2
28,64 + 0,40 28,56 + 0,25
0,4780
FHWM2 1,19 + 0,46 1,16 + 0,37 0,8597
Intensidade 2
4,48 + 1,40 3,60+ 1,07
0,0472
Área 2 4,36 + 2,09 3,38 + 1,18 0,1076
θ3
31,98 + 0,06 31,93 + 0,06
0,0223
FHWM3 1,55 + 0,07 1,56 + 0,05 0,5377
Intensidade 3
56,05+6,43 48,07 + 4,21
0,0002
Área 3 100 ,00+ 13,28
82,85 + 6,78
0,0001
θ4
39,66 + 0,25 39,51 + 0,16
0,0493
FHWM4 1,37 + 0,26 1,31 + 0,26 0,4484
Intensidade 4
7,47 + 1,45 5,57 + 0,79
0,0001
Área 4 8,85 + 2,04 6,69 + 1,40
0,0011
54
Tabela IV-13: Teste t Student para amostras de 500 Gy
parâmetro 0 Gy 500 Gy p-valor
θ1
25,84 + 0,69 25,78 + 0,07
0,0145
FHWM1 0,77 + 0,10 0,76 + 0,11 0,8581
Intensidade 1
18,91 + 3,07 17,65 + 2,33 0,1973
Área 1 17,86 + 2,90 13,33 + 2,18 0,8393
θ2
28,64 + 0,40 28,44 + 0,17 0,0925
FHWM2 1,19 + 0,46 1,05 + 0,43 0,3658
Intensidade 2
4,48 + 1,40 3,69 + 1,42 0,1095
Área 2 4,36 + 2,09 3,04 + 1,55 0,0500
θ3
31,98 + 0,06 31,93 + 0,10
0,0100
FHWM3 1,55 + 0,07 1,53 + 0,08 0,4452
Intensidade 3
56,05+6,43 51,22 + 6,46
0,0353
Área 3 100 ,00+ 13,28
89,84 + 11,68
0,0253
θ4
39,66 + 0,25 39,57 + 0,11 0,2008
FHWM4 1,37 + 0,26 1,24 + 0,22 0,1284
Intensidade 4
7,47 + 1,45 6,37 + 1,17
0,0226
Área 4 8,85 + 2,04 7,83 + 2,18 0,1653
Os valores em negrito correspondem aos p-valores menores do que 0,05, ou
seja, os casos em que há diferença significativa entre as médias das populações
analisadas. Os resultados dos testes realizados mostram que existem alterações em
diversos parâmetros para todas as doses analisadas.
55
CAPÍTULO V
CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS
5.1 – Ressonância paramagnética eletrônica
As amostras irradiadas foram analisadas utilizando a técnica de Ressonância
Paramagnética Eletrônica, com a qual foi medida com sucesso a dose das amostras de
200 a 500 Gy.
Foi realizada a dosimetria, pelo método das doses aditivas, para as amostras de
100 Gy, porém, os resultados foram discrepantes com o valor esperado em mais de
dois erros padrões, de forma que eles foram considerados incompatíveis com o valor
esperado. Uma causa provável para isso é que o sinal dosimétrico para estas amostras
possui amplitude menor do que o sinal de background (figura IV-4).
no caso das amostras de 50 Gy, não foi possível sequer tentar estimar a
dose, que não houve como identificar o sinal dosimétrico, de forma que não foi
possível diferenciar o sinal das amostras irradiadas com este valor de dose e o sinal
das amostras não irradiadas.
Estes resultados mostram que o sistema dosimétrico (osso suíno + analisador
RPE) utilizado é indicado para dosimetria de altas doses, como controle de
alimentos irradiados, por exemplo. Para aplicações de baixas doses, como dosimetria
médica ou até mesmo de acidentes envolvendo radiações ionizantes, o sistema
dosimétrico utilizado neste trabalho não apresentará bons resultados.
56
5.2 – Difração de raios X
A técnica de difração de raios X foi empregada na caracterização de ossos
suínos irradiados e não irradiados, através da posição, intensidade, área e largura a
meia altura de quatro picos.
Utilizando o teste de t-Student para comparar as médias das populações das
amostras de controle e irradiadas com cada valor de dose, foi possível verificar que
houve alterações significativas em seus perfis de difração, ou seja, o processo de
irradiação, para doses de 50 a 500Gy, provoca alterações na estrutura molecular do
osso cortical.
5.3 – Trabalhos futuros
Para um trabalho futuro utilizando RPE, sugere-se que seja utilizado um
sistema dosimétrico sensível a baixas doses, como em (Khan et al 2005), que utilizou
um espectrômetro JEOL JES FA-100 para estimar doses de (0,44 + 0,02) até (4,42 +
0,22) Gy em dentes caninos.
Outro trabalho envolvendo RPE que poderia ser feito é verificar a viabilidade do
uso de osso suíno como material dosimétrico. Para tal, deve-se utilizar tanto o osso
suíno quanto um material dosimétrico padrão, como a hidroxiapatita pura, por exemplo,
e comparar os resultados.
Para melhorar a caracterização dos perfis de difração de amostras de osso
suíno, sugere-se, além do aumento do número de amostras analisadas, a mudança de
alguns parâmetros de operação do difratômetro de raios x. O passo angular poderia
ser mudado de 0,05
o
para 0,01º, a fim de melhorar a resolução das medidas. O tempo
de aquisição também pode ser mudado de 2º/s para 1 ou 0,5º/s. Esse mudança
aumentaria a taxa de contagem.
57
Um estudo que pode ser realizado é a análise do efeito da irradiação de baixas
doses, que seria um trabalho semelhante a este, mas com importantes aplicações na
área médica. Por outro lado, irradiação com doses altas, de 10 a 50 kGy, é utilizada
como método de conservação em bancos de ossos (Azar, 2009), e poderia ser feito um
estudo sobre os efeitos que a irradiação com estas doses.
Outro estudo que pode ser feito é a verificação dos efeitos da radiação em
ossos humanos, e os perfis de difração desses podem ser comparados com os perfis
dos ossos suínos, a fim de verificar se ossos suínos podem realmente ser utilizados
como modelo para estudo de efeitos da radiação em ossos humanos.
Por último, poderia ser verificada a possibilidade de encontrar um fator de
calibração entre o difratômetro de raios X e o espectrômetro RPE.
58
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