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características do herói pós-moderno, produto da cultura de massas. Assim nos resta
perguntar, o que caracteriza o herói nos mangás? Como será que os leitores vêem
realmente este herói? As falas de jovens leitores, que acompanharam a saga de Kenshin,
Goku, Yu-yo e muitos outros, podem lançar luz sobre esta questão:
Vanessa: Eu acho que, em parte, ele é sim [o herói], porque é um herói que, por
vezes, não tem nada de herói (...) ele não é aquele estereótipo que “eu vou salvar o
mundo”, ele faz mais aquilo porque ele acha que é certo ou ele acha que é
favorável para ele.
Pesq: Kenshin é o herói? Um super-herói?
Ana: Não sei... Quem lê tem a impressão que sim porque ele luta pelo bem e não
mata mais... Mas no fundo ele também tem defeitos, já foi uma pessoa que fez muito
mal a outras pessoas e ainda pode fazer escolhas nem tão boas assim. (...) Quando
pensamos num super-herói pensamos no super-homem, no lanterna-verde, caras
que já tem poderes praticamente dados. O Kenshin não. Ele não tem a pretensão de
salvar tudo e todos... Só está do lado certo, fazendo o bem.
A fala apresentada destaca o caráter humano das personagens do mangá e como a
ocasionalidade e um conjunto de dificuldades acabam conduzindo-o para uma posição
de destaque. Os heróis nos mangás possuem características em comum com os dois
modelos que analisamos. Apesar das infinitas possibilidades de temas para se
desenvolver a narrativa, o herói apresenta-se nos mangás, quase sempre, como os
protagonistas das histórias de hoje. Trata-se do ser humano comum, com qualidades e
defeitos e que, na grande maioria das vezes, só quer seguir em paz com sua vida. Essas
características constituem-se como um primeiro passo fundamental para que haja a
identificação do leitor com a personagem. Estabelece-se aí um pacto, uma relação de
igualdade, onde leitor e o personagem seguem juntos pelas páginas da revista o
caminho daquela aventura. Afinal, tudo aquilo poderia acontecer com o próprio leitor.
Aconteceu com a personagem...
Bya: Acho que as coisas que ele faz [Kenshin] as coisas em que acredita meio que
tornam ele um herói (...) tem a honra do samurai, que ele tem de sobra. Ele não
mata nem os inimigos, pois fez um voto pra não matar mais... Acho que isso ensina
as pessoas a não tirarem conclusões sobre outras só olhando para elas.
Ramon: O Goku luta porque quer se tornar o mais forte. E no meio desse caminho,
desse objetivo, ele vai ajudando as pessoas. Ele às vezes tem que fazer escolhas e
lutar mesmo quando não quer. E isso não é fácil... Não é simplesmente lutar e
pronto. A luta tem um motivo. Tem que ter.
Pelas fala desses jovens é possível perceber que a tão discutida “violência
gratuita” parece não existir, pelo menos para eles, nos mangás. Apesar das fortes
imagens, com seqüências de ação e luta bastante intensas, esses jovens acreditam que
existe uma motivação maior que leva às batalhas e estas não podem simplesmente
acontecer por si próprias. Eles destacam um conjunto de valores que parecem estar