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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E MANEJO DE
RECURSOS NATURAIS (PPG-EMRN) - CURSO DE MESTRADO
João de Jesus Silva Melo
Desenvolvimento e Meio Ambiente na fronteira trinacional
Amazônica: Um estudo da atuação do MAP
(Madre de Diós – Acre – Pando)
RIO BRANCO – ACRE
DEZEMBRO – 2006
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2
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E MANEJO
RECURSOS NATURAIS (PPG-EMRN) - CURSO DE MESTRADO
João de Jesus Silva Melo
Desenvolvimento e meio ambiente na fronteira trinacional Amazônica:
Um estudo da atuação do MAP
(Madre de Diós – Acre – Pando)
Dissertação de Mestrado
apresentado ao Programa de Pós-
Graduação em Ecologia e Manejo de
Recursos Naturais da Universidade
Federal do Acre como requisito para
a obtenção do Grau de Mestre
.
Fonte: MAP VI
Orientador: Dr. Elder Andrade de Paula
RIO BRANCO – ACRE
DEZEMBRO – 2006
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3
MELO, J. J. S. 2006.
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UFAC.
M528d
MELO, João de Jesus Silva. Desenvolvimento e meio ambiente
na fronteira trinacional Amazônica: um estudo da atuação do
MAP. 2006. 243f. Dissertação (Mestrado em ecologia e manejo
de recursos naturais) – Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-
Graduação, Universidade Federal do Acre, Rio Branco-
A
cre,
2006.
Orientador. Prof. Dr. Elder Andrade de Paula
1. Desenvolvimento e meio ambiente, 2. MAP, 3. Regionalização
.
I. Título
CDU 504.03 (811.2)
4
Num mundo deformado onde o vencedor criou o miserável para poder existir
e servir de platéia para seu pódio, onde a austeridade criou o mendigo para
lhe dar lastro, onde as leis criadas dão apenas uma forma institucionalizada à
deformação desse modelo, verdades estabelecidas jamais poderiam ser
reais. Assim, culpas causadas apenas para alimentar o desejo de mérito de
um Ego faminto de recompensas, nunca poderiam ser verdadeiras.
(Autor desconhecido)
5
Esta Dissertação foi submetida ao Curso de Pós-graduação em Ecologia e Manejo
de Recursos Naturais (Mestrado) – Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação .como
parte dos requisitos necessários à obtenção do Grau de Mestre em Ecologia e
Manejo de Recursos Naturais, outorgado pela Universidade Federal do Acre -
UFAC, e encontra à disposição dos interessados na Biblioteca Central da referida
Universidade.
A citação de qualquer trecho desta Dissertação é permitida desde que seja
de conformidade com as normas técnicas permitida pela ética científica.
_______________________________
João de Jesus Silva Melo
Dissertação aprovada em: 19 / 12 / 2006.
_____________________________________
Prof. Dr. Elder Andrade de Paula
Orientador
_____________________________________
Prof. Dr. Cleto Batista Barbosa - Membro
_____________________________________
Prof. Dr. Adailton de Souza Galvão - Membro
_____________________________________
Prof. Dr. Lucas de Araújo Carvalho - Membro
_____________________________________
Prof. Dr. Irwin Foster Brown - Membro
6
À
JOÃO MELO CORDEIRO (in memorian,)
TEREZINHA NEUMA DE JESUS (in memorian)
e minha mãe MARIA ODETE SILVA MELO,
pela sabedoria, garra, coragem e
determinação em saber enfrentar
o mundo com todos os seus
obstáculos!
O F E R E Ç O
7
A meus filhos
Alexandre, Alessandra Torres Melo e
sobrinho Carlos Augusto.
A meu pai e companheiro
JOSÉ MELO CORDEIRO e
minha companheira de labuta
IOLENE SILVA DE MORAES,
A todos meus irmãos e sobrinhos
D E D I C O E S T E T R A B A L H O
8
AGRADECIMENTOS
A Deus, por tudo, principalmente, pela oportunidade de está sempre
próximo d'ELE.
À Universidade Federal do Acre - UFAC, em especial ao Departamento de
Filosofia e Ciências Sociais, pelos conhecimentos adquiridos durante esta jornada,
em especial ao Prof. Elder Andrade, pela amizade, paciência e orientação
transmitida durante o curso e a vida.
Ao Dr. Foster Brown pelo apoio no final do trabalho.
A todos os professores do curso, como Adailton, Armando, Cleto, Lisandro,
Lucas, Marcos, Moisés, Morato, Rosélia, Vicente e aos Wadt (Paulo e Lúcia) pelo
apoio necessário durante o curso.
Aos amigos de turma que conviveram comigo durante estes árduos anos de
batalha.
Aos colegas e secretária Vilma pelo apoio e estímulo.
A todos os amigos que diretamente ou indiretamente contribuíram para a
concretização deste trabalho, os meus agradecimentos e reconhecimento.
MUITO OBRIGADO
9
RESUMO
O objetivo desta dissertação é analisar a atuação do MAP. Na Amazônia, a temática
ambiental acabou se consagrando como eixo central de atuação das organizações
não governamentais – ONG’s, que passam a focalizar suas ações em temas
específicos, como meio ambiente, desenvolvimento entre outros. Nesse contexto,
surge a Iniciativa MAP, a fronteira trinacional formada pelo Departamento de Madre
Diós (Peru), Estado do Acre (Brasil) e Departamento de Pando (Bolívia), que passa
a se constituir em espaço privilegiado para debates e experimento de estratégias de
desenvolvimento centradas na questão ambiental, que escapam aos domínios do
Estado-Nação. Os debates no plano de integração regional, o avanço na infra-
estrutura e a exigência de uma vida melhor nas sociedades da região geram
crescentes demandas sobre os recursos naturais e seus ecossistemas. O resultado
é que o MAP se converte em um espaço de análise entre o meio ambiente e
desenvolvimento enquanto que a pobreza e a contínua degradação dos
ecossistemas são causas de grande preocupação local.
Palavras-chaves: desenvolvimento; meio ambiente; MAP; regionalização.
10
ABSTRACT
The objective of this dissertation is to analyze the performance of MAP. In the
Amazonian, the thematic environmental it ended if consecrating as central axis of
performance of the organizations non government - ONG’s, that start to focalize your
actions in specific themes, as environment, development among others. In that
context, the Initiative MAP, the tri-national boundary appears formed by the
Departments of Madre de Diós (Peru), State of Acre (Brazil) and Departments of
Pando (Bolivia), that passes constituting in privileged space for debates and
experiment of development strategies centered in the environmental subject, that
escape to the domains of the State-nation. The debates in the plan of regional
integration, the progress in the infrastructure and the demand of a better life in the
societies of the area generates crescents demands on the natural resources and
your ecosystems. The result is that MAP turns into an analysis space between the
environment and development while the poverty and the continuous degradation of
the ecosystems are causes of great local concern.
Word-keys: development; environment; MAP; regionalization.
11
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS............................................................................................... 14
RELAÇÃO DE QUADROS ..................................................................................... 15
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLO.............................................................. 16
INTRODUÇÃO........................................................................................................ 19
Revisão da Literatura............................................................................................ 22
Hipótese ................................................................................................................. 31
Objetivos................................................................................................................ 32
Geral ....................................................................................................................... 32
Específicos ............................................................................................................ 32
Metodologia ........................................................................................................... 32
PARTE I .................................................................................................................. 34
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE ........................................................... 34
Ambientalismo no Brasil ...................................................................................... 38
Movimentos socioterritoriais e a reterritorialização .......................................... 42
Processos geográficos ou TDR ........................................................................... 45
Movimentos socioterritoriais e socioespaciais.................................................. 47
Movimentos Sócio-Ambientais e a Economia Capitalista ................................. 50
A Globalização na Amazônia Brasileira .............................................................. 61
O Desenvolvimento é Sustentável?..................................................................... 72
Desenvolvimento Local X Sustentabilidade Global ........................................... 80
PARTE II ................................................................................................................. 82
FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DO MAP...................................................................... 82
Localização e Área de Influência do Eixo Peru-Brasil-Bolívia .......................... 89
Aspectos Econômicos e Infra-Estrutura Atual ................................................... 92
Potencial de desenvolvimento da Região de Influencia do MAP...................... 95
12
Agrupamento dos Projetos e Funções Estratégicas ......................................... 97
Agrupamento 1- Corredor Porto Velho aos Portos do Pacífico:....................... 97
Os Encontros MAP.............................................................................................. 111
MAP I, Indicadores de Uso da Terra e Mudanças Globais............................... 111
MAP II: Avaliação Ambiental Estratégica.......................................................... 113
MAP III: Fronteiras de separação a fronteiras de cooperação ........................ 114
MAP IV: um Novo Modelo Educacional para o Século XXI.............................. 116
MAP V: Sementes do Conhecimento................................................................. 120
MAP VI: Fortalecendo as raízes de um futuro comum..................................... 126
Os Mini-MAPs, avanços e retrocessos.............................................................. 138
Mini-MAP – Estradas........................................................................................... 141
Mini-MAP – Madeira ............................................................................................ 144
Mini-MAP Bacias Hidrográficas ......................................................................... 147
Mini-MAP – Planejamento Regional – Agenda 21............................................. 150
Mini-MAP Indígena .............................................................................................. 152
Mini-MAP Campesinos e Extrativistas .............................................................. 153
Mini-MAP Sanidade Agrária................................................................................ 153
Mini-MAP Agroflorestania................................................................................... 154
Mini-MAP Estudantes Universitários................................................................. 154
Mini-MAP Não Madeireiro ................................................................................... 157
Mini-MAP Castanha............................................................................................. 158
Mini-MAP Turismo............................................................................................... 160
Mini-MAP Aqüicultura / Pesca............................................................................ 161
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 164
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 168
Orçamento e Fontes de Financiamento ............................................................ 180
Cronograma de Atividades................................................................................. 181
Algumas Instituições e Organização participantes da Iniciativa MAP, 2006 . 182
ANEXOS ............................................................................................................... 183
Complemento ...................................................................................................... 184
Linha do tempo da Iniciativa MAP (Madre de Diós – Acre – Pando)............... 184
A Carta da Terra .................................................................................................. 199
Carta de Cobija sobre Desenvolvimento Sustentável da Região MAP (Madre De
Dios-Pe, Acre-Br, Pando-Bo) Amazônia Sul-Ocidental.................................... 209
13
Declaração de Puerto Maldonado sobre educação sem fronteiras a serviço da
integração e do desenvolvimento sustentável da Região MAP (Madre De Dios-
Peru, Acre-Brasil, Pando-Bolivia) Da Amazônia Sul-Ocidental....................... 213
Estratégias para o Século XXI para reduzir a pobreza e conservar a natureza na
Amazônia Sul-Ocidental: rumo a modelos de gestão participativos –
contribuição dos Movimentos Sociais. ............................................................. 228
Estratégias para o Século XXI para reduzir a pobreza e conservar a natureza na
Amazônia Sul-ocidental, rumo a modelos de gestão participativos:
Contribuição das Instituições Governamentais. .............................................. 231
SEMINÁRIO III: “Estratégias para o Século XXI para reduzir a pobreza e
conservar a natureza na Amazônia Sul-Ocidental: rumo a modelos de gestão
participativos - Contribuição das ONG’s”......................................................... 233
Princípios éticos para geração, disseminação e aplicação de conhecimentos
na Amazônia Sul-ocidental. Perspectiva da Iniciativa MAP (Madre de Dios/Peru,
Acre/Brasil, Pando/Bolívia e Ucayali/Peru. 2005.) ............................................ 235
14
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: O nome MAP e área de abrangência 20
Figura 2: Ponto Tripartite Brasil – Bolívia – Peru 21
Figura 3: Desenvolvimento Sustentável em Nível Local / Regional 81
Figura 4: Estrutura Organizacional do MAP e Mini-MAP’s, 2006. 86
Figura 5 : Localização e área de Influência do Eixo Peru-Brasil-Bolívia 91
Figura 6: Agrupamentos do Eixo Peru-Brasil-Bolívia 97
Figura 7: Eixo Peru-Brasil-Bolívia – Grupo 1 98
Figura 8: Eixo Peru-Brasil-Bolívia – Grupo 2 99
Figura 9: Eixo Peru-Brasil-Bolívia – Grupo 3 100
Figura 10: Distribuição da população do MAP em um raio de 750 km 110
Figura 11: Mapa das Regiões do MAP – Madre de Diós, Acre e Pando 113
Figura 12: Símbolo MAP II – Porto Maldonado, PE 114
Figura 13: Mega-investimentos planejados para Amazônia Sul-Ocidental 132
Figura 14: Campanha de vacinação conjunta na Região MAP 135
Figura 15: Evolução dos Encontros MAP 138
Figura 16: simulação das estradas vicinais no acre. 2001-2030 142
Figura 17: Representação das rotas de integração latino-americana 143
Figura 18: Aspectos dos Impactos Futuro das Estradas no MAP 144
Figura 19: Comercio de Madera en Madre de Dios, 2006 145
Figura 20: Exploração Madeira MAP. 147
Figura 21: Bacias Bi e Trinacionais da Região MAP-Baixa elevação 148
Figura 22: Representação da Bacia do Rio Acre 149
Figura 23: Equipe MAP Planejamento Regional - Agenda 21 151
Figura 24: educação sem fronteiras, saída para o século XXI 155
Figura 25: Usina de Castanha Tahuamanu-Bo 159
Figura 26: Ecoturismo na Amazônia acreana 160
Figura 27: Região do MAP – Potencial para Ecoturismo Amazônico 161
15
RELAÇÃO DE QUADROS
Quadro 1: O modelo socioambiental em oposição ao modelo predatório na região 60
Quadro 2: Demonstrativo do PIB na área de influencia do EID. 93
Quadro 3: Desenvolvimento de infra-estrutura da via do Eixo Peru-Brasil-Bolívia 93
Quadro 4: Infra-estrutura de telecomunicações do Eixo Peru-Brasil-Bolívia 94
Quadro 5: Agrupamentos identificados no Eixo Peru-Brasil-Bolívia 96
Quadro 6: Investimento Estimado para o Eixo 1. 98
Quadro 7: Eixo Peru-Brasil-Bolívia – Grupo 2: Investimentos associados 99
Quadro 8: Eixo Peru-Brasil-Bolívia – Grupo 3: Investimentos associados 101
Quadro 9: Comitê Trinacional dos Municípios de Fronteira do MAP 105
Quadro 10: Estrutura Organizacional do Comitê Trinacional de Municípios do MAP
106
16
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLO
AGAPAN
Associação Gaúcha de Proteção ao Meio Natural
AMDEPAND
O
Asociación de Municipalidades de Pando
AMOPREB
Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Chico Mendes –
região Assis Brasil
AMOREB
Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Chico Mendes –
região de Epitaciolândia e Brasiléia
AMOREX
Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Chico Mendes –
região de Xapuri
ANIA
Asociación de la Niñez y su Ambiente
ASPAN
Associação Pernambucana de Proteção da Natureza
BASA
Banco da Amazônia S. A.
BID
Banco Interamericano de Desenvolvimento
BNDES
Banco Nacional de desenvolvimento Econômico e Social
CAF
Corporação Andina de Fomento
CAPEB
Central de Associação de Pequenos Produtores de Epitaciolândia e
Brasiléia
CCFD
Comité Catholique Contre la Faim et pour le Développement
CEACON
Conselho
CEBAF
Comando Especial do Batalhão de Fronteira
CESVI
Cooperación y Desarrollo de Italia
CERBs
Comunidades Eclesiais de Base
CIJAT
Centro de Investigações Jurídicas Amazônicas
CIPA-UAP
Centro de Investigación y Preservación Amazónica de la
Universidad Amazónica de Pando
CIPOAP
Central Indígena de Pueblos Originarios de la Amazonía de Pando
CNPT
Centro Nacional das Populações Tradicionais
CNS
Conselho Nacional dos Seringueiros
COHARYIMA
Consejo Arambut Yine – Machiguenka
COIAB
Confederação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira
CONDIAC
Consórcio de Desenvolvimento Intermunicipal do Alto Acre e
Capixaba
CPDS
Comissão de Política de Desenvolvimento Sustentável
CTA
Centro de Trabalhadores da Amazônia
DDT
Dicloro-difenil-tricloretano
DEMUNAS
Defensoria Municipal de Niños y Adolescentes
DNA
Defensoria de Niños y Adolescentes
17
DRE–MDD
Direção Regional de Madre de Diós
EMBRAPA
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EIAs
Estudos de impactos ambientais
EID
Eixo Internacional de Desenvolvimento
ENEAAs
Encontros Nacionais de Entidades Ambientalistas Autônomas
FBOMS
Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento
FENAMAD
Federación Nativa del Río Madre de Dios
FETACRE
Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Acre
FSC
Forest Stewardship Council
FUNAI
Fundação Nacional do Índio
FUNTAC
Fundação de Tecnologia do Estado do Acre
GTA
Grupo de Trabalho Amazônico
IBAMA
Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis
IBGE
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDRC
International Development Research Centre
IIRSA
Instituto de Integração Regional Sul-Americano
IMAFLORA
Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola
INCRA
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
INRENA
Instituto Nacional de Recursos Naturales
IPAM
Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia
ISER
Instituto de Estudos Religiosos
LBA
Experimento de Grande Escala Biosfera Atmosfera na Amazônia
MAP
Madre de Diós (Peru), Acre (Brasil) e Pando (Bolívia)
MIMDES
Ministerio de la Mujer y Desarrollo Social – Fiscalía e Juizado de
Familia
MMA
Ministério do Meio Ambiente
OEA
Organização dos Estados Americanos
OMS
Organização Mundial de Saúde
ONG’s
Organizações Não Governamentais
OPAS
Organização Pan-americana de Saúde
OPIAC
Organização dos professores Indígenas do Acre
OTCA
Organização do Tratado de Cooperação Amazônica
PAE
Projeto de Assentamento Agro-Extrativista
18
PESACRE
Grupo de Pesquisa e Extensão do Acre
PNP
Policia Nacional del Peru
PMACI
Programa de Proteção do Meio Ambiente e das Comunidades
Indígenas
PP-G7
Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil
SCA
Secretaria de Coordenação da Amazônia
SEDUCA
Secretaria de Educação de Cobija – Pando
SEMA
Secretaria de Meio Ambiente
SEMECs
Secretarias Municipais de Educação e Cultura
SEPLANDS
Secretaria de Estado de Planejamento e Desenvolvimento
Sustentável
SIF
Superintendência Florestal – Bolívia
SNUC
Secretaria Nacional de Proteção às Unidades de Conservação
SUFRAMA
Superintendência da Zona Franca de Manaus
STR
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia e Epitaciolândia
UAP
Universidad Amazónica de Pando, em Cobija – Bolívia.
UDAIPO
Unidad de Apoyo a los Pueblos Indígenas
UFAC
Universidade Federal do Acre
UFL
Universidade da Flórida
UNICAMP
Universidade de Campinas
UNCED
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento
UNICEF
United Nations Children's Fund - Fundo das Nações Unidas para
Criança
USAAC
Universidad Nacional San Antonio Abade de Cuzco
USAID
United States Agency for International Development
USP
Universidade de São Paulo
WWF
World Wildlife Fund
ZEE
Zoneamentos Econômico-Ecológicos
19
INTRODUÇÃO
A Amazônia é conhecida como o lugar que “Gaia escolheu para depositar
sua exuberância, esplendor e riqueza”, contudo foi a último local a ser dominado e
retirado do isolamento, isso se levar à conformidade, o pensamento do homem
branco. A experiência da política de desenvolvimento aplicada na Amazônia, com
todas as conseqüências ambientais, econômicas e sociais, tem como questão
importante o papel do Estado.
Desde os anos 1970, observa-se que a Amazônia representa a última
fronteira de povoamento na América do Sul, que sofre um processo de crescimento
em suas áreas de forma muito intensa. A construção de auto-estradas inter-
regionais (e internacionais), a colonização para pequenos agricultores, o
estabelecimento de grandes fazendas pecuaristas e de agronegócio, as extrações
mineral - vegetal a e realização de projetos hidroelétricos.
Como resultado dessas tentativas, inicia-se um meio de "modernizar" a
Amazônia e integrá-la à economia regional com característica para o nível
internacional. Neste período houve aumento dos conflitos de interesse pela terra,
acompanhada da aceleração do processo de urbanização, exclusão de parte da
população tradicional e a devastação de áreas consideráveis da floresta tropical.
Esse processo descreve grande parte do que está acontecendo na
Amazônia hoje, ademais se pode observar que na última década houve um esforço
maior de governos nacionais (brasileiro, boliviano, peruano e norte americano),
seguido de organizações não-governamentais para a implementação de um “novo
modelo de desenvolvimento” que fosse “ecologicamente ajustado, socialmente
equilibrado e economicamente viável”, conforme os princípios da "sustentabilidade".
20
Nesse contexto é formado um “consórcio internacional”, ou seja, um movimento
social e ambiental transfronteiriço, que propõe a colaboração e a integração entre os
vários segmentos de sociedades locais às sociedades internacionais, para alcançar
uma equidade socioambiental na Amazônia Continental, para se sustentar para as
próximas décadas e além do século XXI. As localidades de Madre de Diós, Acre e
Pando deram origem a que hoje se convencionou chamar de MAP. Essa parte da
sociedade civil que busca articular a participação de todos os atores da região, ou
seja, sindicatos, grêmios, organizações sociais e instituições não governamentais.
Quando se fala a sigla MAP, poucos sabem do que se trata. Muitos pensam
que seja uma Ong, mas não é nada disso. Como foi dito antes, o "M" significa Madre
de Diós, Departamento peruano; o "A" representa o Acre, Estado brasileiro e o "P"
corresponde a Pando, Departamento da Bolívia. São grupos institucionais,
organizações não-governamentais, indígenas, homens do campo e curiosos que se
reúnem periodicamente para debater assuntos de interesse da região nas áreas
econômicas, sociais, políticas e culturais, com o intuito de integrar na prática os três
Estados dessa parte da Região Amazônica.
Figura 1: O nome MAP e área de abrangência
Fonte: MAP IV, 2003.
Melhor seria dizer que a Região Sudoeste da Amazônia apresenta
mudanças que estão afetando a imensa diversidade cultural, política e biológica,
21
além de sua perspectiva para o desenvolvimento sustentável regional. As
sociedades residentes nesta região, particularmente na Região peruana de Madre
de Diós, do Estado brasileiro do Acre, do Departamento boliviano de Pando
conhecidas conjuntamente como Região MAP, buscam construir um consenso social
dos conhecimentos tradicionais locais e científicos para orientar essas mudanças.
De acordo com o Jornal de Rio Branco – Acre, Brasil “A Tribuna”
(08/02/2006) esta integração é uma aspiração de grupos de moradores locais, mas
nunca se levou a sério e avante esta iniciativa, que pereceu em intermináveis
reuniões. Antes do MAP chegaram a criar uma outra iniciativa chamada BOLPEBRA
congregando representações da Bolívia, Peru e Brasil. Esta acabou por cair no
esquecimento devido sua crônica paralisia e a morosidade de políticas
governamentais.
Figura 2: Ponto Tripartite Brasil – Bolívia – Peru
Foz do rio Yaverija no rio Acre (Marco Brasileiro, na localidade de Assis Brasil), 1998.
Fonte: Exército Brasileiro, 1998.
Não é demais reafirmar que a Iniciativa MAP tem sintetizado estes
documentos em dois direitos básicos
1
: O direito de ter acesso a informações
relevantes para o desenvolvimento sustentável e o direito de participar de decisões
1 - A Declaração de Epitaciolândia e Brasiléia em 2003 e a Declaração de Porto Maldonado em 2004.
www.map-amazonia.net.
22
coletivas. Estes direitos requerem liberdade de movimento, associação, expressão e
comunicação, bem como o acesso eqüitativo a dados, informação e conhecimento
para todos os segmentos da sociedade. A definição dos princípios éticos abaixo é
uma resposta para ajudar as sociedades da Iniciativa MAP a encontrar esses
direitos que contribuam com as comunidades tradicionais no processo de tomada de
decisões, mediante a participação voluntária dos atores sociais, econômicos e
culturais.
Revisão da Literatura
Para compreender a atuação do MAP é necessário destacar os fatos
relevantes que influenciaram o inter-relacionamento dimensional e temporal durante
a década de 1990. Entre eles, pode-se destacar: o campesinato, pesquisadores,
ONG’s (movimentos ambientalistas). Para tanto, uma das primeiras preocupações
desse estudo, é analisar as condições que permitissem a tamanha diversidade de
interesse de modo a permitir que se propusesse a “pactuar” compromissos em torno
de uma agenda comum: o desenvolvimento e o meio ambiente. É nesta perspectiva
que pretendemos definir o recorte da revisão de literatura que faremos.
Como se sabe, após o colapso da economia da borracha nas primeiras
décadas do século XX, a região caiu na estagnação, sendo precariamente
sustentada por frentes extrativistas, garimpeiras e pecuaristas (VELHO 1972), até o
advento dos planos de integração geopolítica dos governos militares dos anos 1960
e 1970. A partir de então, a fronteira amazônica foi brutalmente rearticulada ao
"sistema mundial" por uma política em grande escala de ocupação demográfica, de
desenvolvimento econômico e de redistribuição espacial promovida pelo Estado,
mas financiada pelo capital internacional. Via financiamento de abertura de malha
viária, construção de hidrelétricas, criação de programas de colonização, atração de
grandes investimentos nos setores mineral, agro-pecuário e florestal
2
. Esta política
desencadeou um intenso movimento de competição territorial centrada no controle
dos recursos naturais e dos espaços produtivos, ou seja, uma "segunda conquista"
2 - Ver Aubertin e Léna, orgs. (1986), Becker (1982), CNRS-La 111 (1977), Davis (1977), Mahar
(1989), Schmink e Wood, orgs. (1984).
23
que vem, outra vez, atingir diretamente os povos regionais (MAYBURY-LEWIS
1984).
A maior parte dos autores que abordam essa questão, aponta como
instrumentos de política governamental a disponibilização de terras públicas para
projetos de colonização (oficiais e privados) e para reforma fundiária, além de
incentivos fiscais, tributários, creditícios e há a implantação de infra-estrutura como a
construção de estradas para que as empresas (madeireiras, agropecuárias e
mineradoras) se instalassem na região amazônica
3
. Mesmo em um contexto político
e ideológico como esse, de promoção de grandes empreendimentos sem qualquer
preocupação ambiental, foi sendo gradualmente introduzido à questão do meio
ambiente no interior de algumas agências da esfera governamental. Um marco
dessa mudança de status das questões ambientais no Brasil foi a criação da
Secretaria Nacional de Meio Ambiente – SEMA (1976) que introduziu a Política
Nacional do Meio Ambiente, começando por sistematizar a gestão ambiental
nacional e criou importante área de proteção, o que estava longe de significar que o
meio ambiente tivesse se tornado tema prioritário nas políticas públicas
implementadas por aquela época.
O modelo de crescimento econômico adotado na pós-segunda guerra
mundial, até a década de 1970, tanto nos paises capitalistas quanto nas colônias
produtoras de matéria–prima produtoras de matéria–prima e mão-de-obra barata
aparentava-se solidamente consolidado. Fundado sobre o tripé: abundância de
recursos naturais e energéticos, aumento da produtividade do trabalho e presença
do estado de bem-estar (ou do estado desenvolvimentista, no caso do Brasil), e
economia despontava de forma extensiva e era estimulada pelo consumo de
massas, ganhos de escala e rentabilidade das organizações empresariais.
Sobretudo, nos países chamados de terceiro mundo, em particular, a
competitividade e atratividade dos investimentos de capital externo se baseava
fortemente, na mão de obra barata, abundância de recursos naturais e no limitado
3 - Toma-se como referência para nossas finalidades, o conceito de região expresso por Milton
Santos (1997) no qual o espaço geográfico constitui "um sistema de objetos e um sistema de
ações" que: é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de
sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como um quadro
único na qual a história se dá.
24
controle ambiental, externalizando os impactos ambientais do setor produtivo
amparados pelo poder do Estado moderno, como suporte da economia.
Enquanto que, conforme Almeida (2004, p. 35), na Amazônia, na década de
1970, parecia seguir um curso histórico terrivelmente previsível: o caminho da
modernização capitalista orientado para ocupar espaços vazios sob a direção de um
bloco formado pela ditadura militar e por classes dominantes ansiosas por lucros
rápidos na fronteira. Numa economia em rápida expansão, financiada pelo capital
financeiro internacional, com uma geografia política dividida entre terras
monopolizadas pelo grande capital e terras livres ocupadas por índios e caboclos, o
cenário da acumulação primitiva parecia irreversível, qual seja, o da separação entre
comunidades e a natureza, seguida do surgimento simultâneo de uma classe de
proletários sem terra e da terra como meio de produção.
Outro fato importante é que nesta mesma década o Brasil era o país-chave
(key country) da política norte-americana para a América do Sul, posto que
supostamente encarregado de preservar a ordem e a estabilidade da Pax Americana
na região (RICUPERO, 1995).
Dando continuidade nesta década de 1970 e posterior a esta, o modelo
desenvolvimentista entra em declínio na medida em que seus postulados centrais
dão os primeiros sinais de esgotamento, acompanhados pela acelerada crise do
petróleo, que levou a um aumento significativo dos preços dos combustíveis fósseis,
sinalizando para uma escassez de uma das principais fontes energéticas do planeta.
Partia-se do principio de que o capitalismo estaria em uma grave crise. Outro fator
que contribuiu para a crise do capitalismo foi a tecnocracia, “o maior dos seus
inimigos e causador do desemprego estrutural com intenção de estabelecer no
mundo, em um futuro mais ou menos próximo, um regime autoritário e ditatorial sob
o domínio de uma elite técnica produzida pela seleção industrial. Para Braverman
4
4 - Segundo Braverman, das duas críticas centrais formuladas por Marx ao capitalismo - a teoria da
propriedade, baseada numa análise econômica e a teoria do processo de trabalho, baseada numa
análise sociológica do capitalismo – a segunda crítica havia sido pouco explorada pelo marxismo.
Como resultado, aspectos como o da “alienação”, foram negligenciados em favor de um foco
exclusivo na exploração (e crise) econômica. Coerentemente com sua crítica, ele desloca a atenção
do problema da distribuição desigual de riqueza para o problema da distribuição injusta de poder no
local de trabalho. A crítica que formula à organização do trabalho capitalista pode ser assim
resumida:
25
(1977), a divisão social do trabalho no capitalismo gera um processo de
parcelização, fragmentação e redução do trabalho que reduz a liberdade e
criatividade do operário. Tal “especialização” forçada do trabalhador em conjunto
com a hierarquização do processo de trabalho abre caminho para inserção da
maquinaria, acelerando o controle sobre a mão-de-obra e impondo ao trabalho o
ritmo das máquinas. O operário se torna um apêndice da máquina. Marcuse (1973)
salienta que este Estado tecnocrata apresenta o maior perigo: o progresso da
técnica permite às sociedades aperfeiçoarem seus métodos de comunicação em
massa, tornando mais eficazes e potentes o processo de mistificação das
consciências” (BRAVERMAN, op. cit. p.149-151).
Por fim, o próprio modo de produção capitalista já se manifesta com
primeiros traços de uma crise criada no seu próprio interior. A crise do Estado
desenvolvimentista se faz presente na Amazônia, por meio da degradação
ambiental, do esgotamento das reservas de madeira, reservas minerais, da
degradação das pastagens que jogaram a região numa profunda crise econômica
que busca a qualquer custo se estabelecerem com o apoio local alicerçados no
capital financeiro especulativo internacional. Esta “crise ambiental que põe em
cheque diretamente o modelo de desenvolvimento capitalista questiona o lugar da
espécie humana na natureza e sua responsabilidade pelo futuro da biosfera”. (LIMA,
2005, p. 41-42).
Aliado a estes questionamentos está acompanhada da idéia dos estoques
finitos de recursos naturais que inicia uma fase de desaceleração do ritmo de
crescimento da produtividade do trabalho, em parte como conseqüência da rigidez
dos sistemas de regulação, e a deterioração financeira do estado de bem-estar
social, associado a sua capacidade de promoção da equidade social.
desqualificação (mediante a destruição do trabalho artesanal); parcelamento do trabalho
em tarefas simples e repetitivas; redução dos custos do trabalho (aspecto econômico);
hegemonia do capitalista no local de trabalho e na sociedade como um todo (aspecto
político); maquinaria separa trabalho mental do manual; subordinação do trabalhador às
condições de trabalho (ritmo e jornada): conseqüência necessária do emprego da
tecnologia; e, trabalhador torna-se um apêndice para uma condição material de produção.
O avanço tecnológico não apenas subordina os trabalhadores ao capital, porém os priva de direitos.
O capitalismo destrói as unidades sociais tradicionais, onde a força dos incentivos coletivos
decrescem. O individualismo moderno gradualmente emerge como um agente econômico isolado
motivado por incentivos privados. A resultante é um “déficit” de solidariedade: os indivíduos
atomizados podem apenas ser organizados para ações coletivas através de controles externos.
26
Na década de 1970, pode-se indagar que a Amazônia Brasileira foi objeto de
um movimento de ocupação conduzido pela ditadura militar, visando tanto a
incorporar seus recursos naturais na economia capitalista nacional e internacional,
como a resolver o problema agrário do sudeste e do nordeste do país (ALMEIDA,
2004, p. 40).
Partindo desse principio de penetração do capital internacional nos países
situados na periferia e semiperiferia do capitalismo, (como é o caso de Peru, Bolívia
e Brasil) verifica-se que a deterioração se manifesta na desorganização e
decadência do sistema centralizado e estatista de promoção da modernização e
industrialização, com a aceleração do endividamento público e externo das nações
de industrialização recente.
O próprio Estado, antes com o caráter desenvolvimentista, entra em uma
profunda e intensa reformulação, definindo o seu novo papel – privatização de
setores produtivos, terceirização e administração gerencial - em grande parte como
uma necessidade de adaptação às novas condições estruturais da economia e da
sociedade.
Destaca que "a adaptação da administração do Estado, enquanto
instrumento, às tarefas complexas que impõe o extraordinário processo de mudança
social e tecnológica que estamos vivendo, é condição prévia à capacitação do setor
público para atuar estrategicamente e mesmo para a implementação de qualquer
reforma social. O Estado-nação
5
herdado da era industrial não é mais este
instrumento” (CASTELLS, 1998, p.72).
No terreno organizacional, toma lugar uma nova definição das relações de
trabalho com precarização, de vários segmentos produtivos, incentivo ao trabalho
autônomo e em tempo parcial, alteração dos processos e valorização da
qualificação; bem como a construção de novas instituições e instâncias associativas
5 - O conceito de Estado-Nação nos remete a uma idéia de poder sobre determinado espaço e seus
recursos; a manifestação do poder em escala nacional, ou seja, um conceito que indica
possibilidades analíticas que não deixam de privilegiar a idéia de dominação-apropriação de espaço.
Poderia ser usado o eufemismo – Territorialidade, suavizando assim a termologia.
27
e públicas estatais ou para-estatais, que vão ocupando espaços abertos pelo Estado
em crise e limitados na sua capacidade de investimento.
Como resultado da crise e incapacidade do Estado fazer face às novas
demandas e aos novos desafios tende a registrar-se, em todo mundo, uma
significativa expansão do chamado terceiro setor, ou seja, instituições de direito
privado para prestação de serviços públicos, em parte contratados e financiados
pelo Estado ou capital nacional e internacional. Surge uma grande quantidade de
organizações não governamentais que passam a atuar em múltiplas e diversificadas
áreas, desde a direta prestação de serviços, como instituições de ensino, unidades
de saúde, e, principalmente, assistência social a segmentos desprotegidos da
sociedade; observando que as atividades técnicas, de pesquisas e estudos, vão
ocupando um papel crescente na sociedade. De acordo com dados apresentados
por Rifkin, o chamado terceiro setor já teria, atualmente, uma presença marcante na
economia norte-americana, representando cerca de 5% do PIB e 9% do emprego
dos EUA (RIFKIN, 1995), mais do dobro do espaço ocupado pelo setor
agropecuário.
No final da década de setenta e inicio dos anos oitenta, o conceito de
sustentabilidade já teria sofrido o amadurecimento necessário de várias propostas
acadêmicas e técnicas que surgiram durante décadas com críticas ao economicismo
e defesa do respeito ao meio ambiente e às etnoculturas existentes. Entre estas
alternativas de desenvolvimento que se difundem no período, merece um destaque
especial a concepção de “ecodesenvolvimento” apresentada e fundamentada por
Ignacy Sachs na década de setenta, precursor do desenvolvimento com propostas
de sustentabilidade. Ao mesmo tempo, outras instâncias mundiais adotam propostas
semelhantes mesmo com denominações diferenciadas e ênfases relativamente
distintas, como o conceito de desenvolvimento humano do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Este conceito de Desenvolvimento
Humano, segundo o PNUD, é "um processo abrangente de expansão do exercício
do direito de escolhas individuais em diversas áreas: econômica, política, social ou
cultural e ambiental [...]”.
“[...] Algumas dessas escolhas são básicas para a vida humana. As opções
por uma vida longa e saudável, ou por adquirir conhecimento, ou por um padrão de
28
vida decente, são fundamentais para os seres humanos" (PNUD, 1998). Constitui,
portanto, o desenvolvimento que aumente as potencialidades das pessoas através
de melhores condições de educação, treinamento, saúde, habitação, meio ambiente
e alimentação, assegurando que os frutos do desenvolvimento econômico sejam
traduzidos em melhoria das condições de vida e que permita que as pessoas tomem
parte ativa, participando das decisões que influenciam suas vidas (PNUD, 1998).
Considerando o contexto atual, Leff (2001) aponta que o que se propõe hoje
em dia é: [...] A definição de formações econômico-sociais como formações sócio-
produtivas, nas quais se articulam os processos ecológicos, os valores culturais, as
mudanças técnicas, o saber tradicional e a organização produtiva, na conformação
de novas relações socioambientais e forças ecotecnológicas de produção. Estas
forças são orientadas para a maximização de uma produção sustentável de valores
de uso e valores de troca, bem como a articulação destas economias gestionárias e
de auto-subsistência com uma economia global de mercado.
Com isso se quer dizer que uma proposta de educação democrática e crítica
devem levar em conta todas essas dimensões em uma perspectiva de formação do
sujeito trabalhador e cidadão, compreendida como um processo abrangente e
unilateral que permita o enfrentamento das condições sociais e ambientais do
capitalismo tardio através de novas formas de produção, trabalho e consumo.
Com outro enfoque, mas com a mesma coerência com o contexto histórico,
começa a se esboçar, a partir da década de oitenta, uma nova visão cepalina de
desenvolvimento que, da perspectiva de países emergentes, a qual estabelece uma
articulação necessária entre a racionalidade econômica e a ética social, de modo
que a competitividade e a equidade passam a constituir o marco central de um
modelo de desenvolvimento (CEPAL, 1990).
Assim, tanto a visão ética quanto o novo paradigma de desenvolvimento
mundial se alinham na necessidade de desenvolvimento dos recursos humanos,
expresso em educação e qualidade de vida da população, fator fundamental para a
competitividade sistêmica, entendida como a capacidade de uma economia
(subespaço) concorrer globalmente em um contexto de intensa competição
econômica. Visto em uma perspectiva macroeconômica (e não estritamente
29
empresarial), a competitividade sistêmica está “[...] integrada a una red de
vinculaciones con el sistema educativo, la infraestructura tecnológica, energética y
de transportes, las relaciones entre empleados e empleadores, el aparato
institucional público y privado y el sistema financiero: es decir, está integrada a todo
un sistema socioeconómico” (CEPAL, 1990, p.14).
O avanço da sociedade civil organizada chega com grande intensidade na
Amazônia. Ela vem fazendo frente às imposições do Estado que estava em crise e a
partir daquele momento – mais precisamente, em especial no Acre, os seringueiros
procuram criar condições políticas para impedir a continuidade daquele modelo de
pecuarização extensiva que se propagavam rapidamente na Amazônia, criando uma
alternativa sócio-ambiental que atendesse aos interesses da categoria majoritária da
base social do sindicato, os seringueiros “autônomos”. Então, diz Chico Mendes
(apud. PAULA, 1991, p.203), “chegou o momento em que começamos a nos
preocupar, porque a gente tinha uma luta, uma resistência contra o desmatamento,
mas ao mesmo tempo não tinha uma proposta alternativa a apresentar, um
argumento mais forte para justificar porque queríamos defender a floresta”.
A reserva extrativista, enquanto proposta surgiu em 1985, durante o 1º
Encontro Nacional de Seringueiros. Contudo, a demarcação das mesmas, a partir de
1987 (neste momento foram aprovados apenas os Projetos de Assentamentos
Extrativistas), foi resultado do movimento organizado dos seringueiros e dos
sindicatos de trabalhadores rurais, que vinham se estabelecendo e criando força de
luta desde meados da década de 60, particularmente no Estado do Acre. É nessa
perspectiva que é gestada a proposta de Reserva Extrativista - RESEX, criadas via
Decreto-Lei na forma de unidades de conservação ambiental, com a finalidade de
garantir “a exploração auto-sustentável e conservação dos recursos renováveis, por
populações extrativistas” (vinculadas, portanto, às agências governamentais ligadas
ao meio ambiente) e que possuem um amparo legal mais sólido.
As RESEXs passaram a ser consideradas, particularmente pelos
seringueiros de Xapuri, como a “reforma agrária dos seringueiros”. Tanto no
plano político quanto na sua dimensão simbólica, os inúmeros e freqüentes
“empates” realizados nos seringais daquele município na década de oitenta
expressaram uma vontade de bloquear aquele tipo de “modernização”. Foi a
sua face ecológica, a de conservação e/ou preservação das florestas, que
abriu as fronteiras nacionais e internacionais para a divulgação da luta
30
daqueles seringueiros e conquistou os simpatizantes, principalmente entre
organizações e movimentos ambientalistas (PAULA, 1991).
De acordo ainda com Paula (2005, p.137):
O Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais (MSTR) no Acre,
ao incorporar a dimensão ambiental, teria conseguido, naquele momento,
superar em parte o anacronismo do projeto de reforma agrária defendido
pela Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura – CONTAG.
A criação do Conselho Nacional dos Seringueiros – CNS, teria ainda,
segundo o autor expressado uma estratégia destinada a ampliar o movimento de
resistência desse movimento social. A formação do CNS coincidiu com a
emergência de outros movimentos sociais no campo nos anos 80, cujas
singularidades são, segundo Grzybowsky (1987, p.17-18), caracterizados:
[...] pela diversidade de contradições e modos de viver e enfrentá-
las. As bases dos movimentos estão implantadas nas diversas formas de
inserção dos diferentes segmentos de trabalhadores rurais na estrutura
agrária [...] Na origem dos movimentos, portanto, é necessário ver a
variedade das formas assumidas pelas contradições do capital. Mas as
estruturas precisam ser fecundadas pela vontade, para gerarem
movimentos [...] a identidade em torno dos movimentos comuns, as ações
coletivas de resistência, etc. são um conjunto de condições necessárias dos
movimentos. Só assim a tensão intrínseca das relações vira movimento.
O modo como o CNS logrou a ocupação de um espaço político na
representação dos trabalhadores na região amazônica confirmam as observações
supra. Inicialmente em Xapuri e posteriormente no Sudeste do Pará e Maranhão, o
CNS apoiou-se no sindicalismo mais mobilizado. Em alguns municípios como
Brasiléia, Sena Madureira e Tarauacá, o CNS articulou-se com as oposições
sindicais e estabeleceram como meta conquistar as direções dos respectivos
sindicatos. Procurou-se trabalhar o movimento sindical em regiões onde não havia
organização sindical (como Rondônia) ou a sua presença era pouco expressiva
(Vale do Juruá, Acre) estruturando outras formas organizativas como associações
de seringueiros e comissões (municipais e regionais) do CNS, firmando-se assim a
participação da sociedade civil nos movimentos populares (PAULA, op. cit. p. 139).
Com convicção de que aquele modelo de “modernização” implicava
necessariamente no extermínio da profissão e do meio de subsistência do
seringueiro – dado que seu meio de reprodução social, a floresta, estava sendo
destruída de forma acelerada, as reservas extrativistas - RESEXs passaram a ser
percebidas como o seu contraponto fundamental. Essas reservas buscavam garantir
31
a “sobrevivência” dos seringueiros e outros habitantes da floresta, uma vez que eles
mostravam-se organizados em unidades de produção familiar e ainda utilizavam sua
força de trabalho em atividades extrativistas e na pequena produção agropecuária.
Nas reservas, os espaços produtivos não são necessariamente contínuos, pois sua
distribuição obedece à proximidade dos rios e à distribuição das espécies vegetais
na floresta. O mais importante é que isso soou como um canto do uirapuru, ao
mesmo tempo em que acordou um furor de simpatias e apoios diversos de outros
setores da sociedade civil, principalmente de organizações não- governamentais -
ONG’s e movimentos ambientalistas
6
, que protestavam contra a devastação e
incineração do verde da Amazônia. De acordo com PAULA (2005), os movimentos
ambientalistas passaram a adquirir maior influência política nos países centrais a
partir de meados dos anos 60. Movidos pela crítica aos danos ambientais
provocados pela “marcha destrutiva do progresso”, passaram a pressionar, em
escala crescente, governos, corporações transnacionais e organismos financeiros
internacionais responsáveis pelo financiamento de projetos ambientalmente
destrutivos.
Hipótese
O MAP se apresenta como um conjunto de propostas de políticas e
estratégias de desenvolvimento diferenciadas para a Amazônia Ocidental.
Diferentes, pois implicam numa reterritorialização que escapa aos modelos
anteriores circunscritos aos limites territoriais dos estados nacionais. Elas expressam
por um lado, a idéia de compatibilizar proteção ambiental com os imperativos do
mercado, por outro, a crença na eficácia das “parcerias” entre sociedade civil
organizada e governo na gestão dos bens coletivos e dos recursos naturais. No seu
conjunto, elas parecem indicar sinais de erosão da autonomia relativa do Estado-
nação, no que tange a gestão territorial.
6 - Maiores informações sobre esses movimentos, ver, entre outros, McCormick (1992); Acselrad
(1992); Vincent (1995); Aymone (1996); Sachs (2000).
32
Objetivos
Geral
Contribuir para ampliar as reflexões e análises sobre o processo
contemporâneo de integração da Amazônia no curso da globalização dos mercados,
com ênfase na relação complexa entre desenvolvimento e meio ambiente na
fronteira trinacional MAP.
Específicos
Sistematizar o conjunto de informações que possibilitem
contextualizar de forma mais substantiva a formação e evolução do
MAP;
Avaliar a atuação do MAP na gestão do meio ambiente e recursos
naturais vinculado ao processo de desenvolvimento em curso na
região.
Metodologia
A metodologia da pesquisa está orientada a um estudo de caso, que
interessa analisar a atuação do MAP no aspecto ambiental e nas diferentes formas
de desenvolvimento aplicada ao âmbito internacional. Sugere interpretar a "atuação
do MAP", como um reordenador das relações de poder na perspectiva da
transferência de algumas atribuições para a sociedade civil, particularmente, ONG’s,
sindicatos, associações e cooperativas. Optou-se por eleger a atuação do MAP
como centro da investigação, tomando-se como material o meio ambiente e o
desenvolvimento que caracterizam as conjunturas diversas, bem como as
considerações necessárias sobre o comportamento dos agentes que influenciam e
conformam esse processo, que se constituem na base material efetiva de referência
para a análise dessa mediação internacional.
A realização da pesquisa apóia-se em quatro grupamentos de fontes
essenciais. O primeiro orienta-se para um estudo da produção bibliográfica
relacionada com a temática (livros, artigos, trabalhos acadêmicos etc.;). O segundo,
localiza-se nas organizações da sociedade civil vinculadas às políticas e estratégias
33
de desenvolvimento (representações sindicais, associativas, ONG’s, etc.). O terceiro,
é formado por um conjunto de fontes complementares, como a: imprensa local e
arquivos públicos e pessoais. O quarto é composto por instituições ligadas à
pesquisa e desenvolvimento no MAP. A pesquisa foi desenvolvida em fases assim
programadas: a) revisão bibliográfica sobre meio ambiente e desenvolvimento; b)
elaboração de um roteiro para pesquisa de campo; c) realização da pesquisa de
campo; d) análise dos dados; e) elaboração de uma versão preliminar da
dissertação; f) retorno ao campo para complementação de dados e; g) redação final.
Além da introdução, este trabalho está organizado em primeira e segunda
parte, assim disposta: A primeira parte trabalha um referencial bibliográfico a
respeito da conceituação de desenvolvimento, desenvolvimento sustentável e
globalização; em seguida ver-se meio ambiente em suas variadas dimensões e finda
com o confronto entre o desenvolvimento local e a sustentabilidade global. A
segunda parte trata da formação e atuação MAP e faz um breve relato sobre os
grupamentos estratégicos de saída para o oceano Pacifico, financiados pelo Banco
Mundial e apoiados pela Iniciativa para Integração da Infra-Estrutura Regional Sul-
Americana – IIRSA. O trabalho tem um desfecho com um breve histórico a respeito
dos encontros na Região e suas principais recomendações retiradas das
assembléias e discussões nas mesas temáticas.
34
PARTE I
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
De ecologista e louco cada um tem um pouco’ – o efeito estufa,
o buraco de ozônio, a preservação da fauna e flora, o
desenvolvimento sustentável não são novidades para ninguém. Esse
conhecimento, entretanto, muitas vezes não está organizado; é mais
uma confusão entre fatos e conjecturas, ciência e mito.
(KURT KLOETZEL)
O crescimento populacional foi o responsável pela sedentarização da
espécie humana, ou seja, não podendo mais viver constantemente trocando de
ambiente com tanto facilidade como antes, passa a conviver com que o lhe foi dado
com atenção redobrada. De acordo com Kloetzel (1994) é a partir daí que se
observam as primeiras necessidades de uma consciência ecológica, visto que cuidar
do meio ambiente passou a ser um imperativo categórico, melhor dizendo, uma
questão de sobrevivência, de vida ou morte.
O meio ambiente é tudo que nos rodeia, e que diz respeito à ecologia e aos
ecologistas que se ocupam dos recursos naturais, aos danos da poluição, da
preservação da fauna e flora, com as causas e efeitos do efeito estufa e buraco de
ozônio, nos riscos advindos dos agro-químicos, pesticidas, e por fim, com a
“sustentabilidade e insustentabilidade”. Estudos mostram que o meio ambiente é
uma coisa bem viva, dinâmica, feita e refeita nos moldes de uma colcha de retalhos,
com partes velhas e novas, com recuo e avanços que se movimenta de forma
35
circular e em espiral, onde o homem é um dos agentes de transformação deste
meio. Destruir e evoluir constituem-se as faces de uma mesma moeda.
A ecologia e o meio ambiente não são sinônimos, mas de forma alguma se
encontram distanciadas entre si. A primeira, de acordo com a definição que remonta
séculos, diz Sachs, (1986, p. 28) seria a “ciência da morada, a economia doméstica
da natureza por assim dizer, onde seu objeto de estudo são as relações entre os
organismos e seu habitat. Meio ambiente por sua vez, - ou mais elegante, o
ecossistema -, vem a ser a própria morada”. Não estamos tratando somente do ser
humano, mas de todo e qualquer ser vivo sobre o planeta.
Ao tratar sobre a natureza, os gregos da antiguidade, referiam-se por Gaia,
um ser que vive, vibrante, que se preocupava com os seus filhos, procurando
sempre manter o equilíbrio das coisas. Gaia era uma divindade que teria surgido a
partir de um redemoinho de névoa na escuridão do nada (Caos) e aos poucos se
tornou mais visível e desenvolvida, formando montanhas, vales, rios e o céu que a
envolve. Entretanto, James Lovelock (1979) retoma o mito original da hipótese Gaia,
como o único superorganismo vivo, auto-regulador, dotado de uma totalidade de
plantas, de animais, como os minúsculos protozoários e bactérias ao gigantesco
elefante e rinoceronte, com capacidade de controlar o ambiente conforme as
necessidades e que o equilíbrio jamais fosse interrompido, isto é, o meio ambiente
mantém um equilíbrio entre seus componentes, ou seja, sustentava sua hipótese do
planeta Terra como um sistema ativo de controle. Como exemplo, citamos o caso da
floresta amazônica que demonstra tal interação.
Para James Lovelock, a existência de uma atmosfera não criava
coisas vivas; antes as coisas vivas, da bactéria em diante, criavam a
atmosfera da Terra, meramente por viverem. A fertilidade do solo, a
temperatura da atmosfera, a quantidade de oxigênio que respiramos estão
relacionados à complexa interação dos organismos. Apesar de haver muitas
dúvidas a respeito desta hipótese, de fato ela deveria ser interpretada como
uma tese concernemente à importância demonstrável dos organismos para
o ecossistema equilibrado do planeta, ela tornou-se um virtual talismã para
os setores do movimento ecológico político (VICENT, 1995, p. 221-222).
A existência de uma atmosfera viva ou algo vivo, reporta a hipótese Gaia
como filosofia que tinha um caráter espiritualizado ou metafísico, pois fala do planeta
como parte do cosmo e que nele habitam como seus senhores. A hipótese, além de
ser vista como demonstrando interdependência com a ecosfera, tem uma
36
interpretação antropocêntrica e instrumentalista, ou seja, remove o homem para o
ponto central e afirma uma igualdade ecológica com a totalidade dos organismos,
querendo mostrar a atitude humana em relação à natureza e demais animais.
As características singulares da Terra levaram Lovelock (1988) e Dian
Hitchcock (1995) a desenvolver a hipótese Gaia, na qual se propõe que a biosfera
atua como um sistema de controle adaptativo, mantendo a Terra em homeostase.
Ele também passou a considerar a Terra análoga aos seres vivos, freqüentemente
qualificando-a como um ser vivo. As definições de vida empregadas se encontram
nos contextos paradigmáticos da teoria da autopoiese, da biologia evolutiva
neodarwinista e da biossemiótica. O único conceito de vida que poderia ser
compatível com a idéia de que a Terra é um sistema vivo é o da vida como
autopoiese.
Sob esse contexto, muitos cientistas acreditavam na idéia de a Amazônia
ser o pulmão do mundo. A floresta Amazônica se encontra num estado de equilíbrio
dinâmico no qual tudo é aproveitado e por isso tudo se equilibra. O oxigênio liberado
de dia pela fotossíntese das folhas é consumido pelas plantas de noite e pelos
demais organismos vivos. Mas ela funciona como um grande filtro de dióxido de
carbono. No processo de fotossíntese grande quantidade de carbono é absorvido. O
carbono é o principal causador do efeito estufa que aquece a terra. A Amazônia
estoca cerca de 50 bilhões de toneladas de carbono por ano, como afirma Boff
(1999). Ela representa a maior diversidade do planeta, a possibilidade de estudos e
de conhecimentos sobre estas riquezas. Este fato ou mito caiu por ser
improcedente, quem enfatiza é Kloetzel, ao afirmar que floresta amazônica.
Conforme ênfase dada por Kloetzel (1994, p.16).
(...) também se alimenta de si própria, das folhas que tombam,
das flores e dos frutos maduros que apodrecendo, são novamente
transformados em alimentos para as raízes, uma tarefa que ocorre por
causa dos microrganismos, dos vermes e dos insetos. Isso como uma
pequena camada de húmus – não mais de dez centímetros - se mostra
capaz de sustentar tamanha riqueza. Se estudássemos a cadeia alimentar
dos animais veremos que ela, às vezes, é bem complexa, numa alternância
de agressor e agredido. Cada ser vivo tem a sua presa preferida,
começando com a mais humilde alga do oceano, progredindo em seguida
para o peixinho, o peixão, a gaivota ou o leão-marinho. Mesmo este último,
situado no topo da cadeia, não é eterno: seus dejetos fertilizam os oceanos,
seus restos mortais, por fim, vêm juntar-se ao grande caldeirão do qual Gaia
tira suas criaturas.
37
A natureza, muitas vezes não se mostra tão prodigiosa com respeito a sua
casa, daí surgem os problemas, como as catástrofes ambientais com inúmeras
vítimas e prejuízos dimensões múltiplas, sejam ambientais, econômicas e sociais.
Ás vezes Gaia mostra-se também um tanto desleixada, deixando
um dos quartos sem arrumar-la vem à enxurrada, o rio transborda seu leito,
o barranco despenca, levando consigo sua porção de floresta, árvores,
húmus e tudo - a morada ficou alterada! Mas isso é apenas um detalhe:
considerado em seu conjunto em seu conjunto, o equilíbrio se mantém
intacto, pois, logo mais adiante, as águas depositam o sedimento, novas
barranco se ergue nova mata se inicia. Quando ameaça um desequilíbrio,
trata-se de uma coisa fugaz: uma banal flutuação, um passageiro desvio da
normalidade. Como se sabe, há anos de muito pernilongo, de muita mosca
e até ocasiões em que nuvens de gafanhotos acabam com toda uma safra.
(KLOETZEL, op. cit. p.17-18).
Diante disso, Cavalcanti (1994), afirma que nem a natureza, nem as
sociedades são estáveis e sim frutos de perturbações provenientes de agentes
naturais e culturais. A sucessão não leva a um padrão único, previsível, ou
duradouro. Contrariamente, as comunidades se transformam continuamente, os
indivíduos fazem alianças temporárias e a sucessão caminha para diferentes
direções. Os desequilíbrios naturais são passageiros e de duração curta, contudo
seus efeitos e marcas permanecem por gerações e que somente no longo prazo é
possível de contornar restabelecimento do equilíbrio.
Decorrido o transtorno, frequentemente causado por alterações
meteorológicas, o equilíbrio logo se restabelece. No longo prazo, o equilíbrio
é uma ilusão: existe, por exemplo, uma clara evidência de que na última era
glacial, de 20 mil a 12 mil anos atrás, a Amazônia não consistia em florestas
úmidas, mas em caatinga ou campos abertos, aqui e ali interrompidos por
ilhotas de vegetação mais rica. Concluí-se, é claro, que também o meio
ambiente só é eterno enquanto dura. No curto prazo, o equilíbrio da
natureza é admirável. Vez por outra, a cadeia alimentar é perturbada,
escasseiam-se algumas algas, cai o número de peixes até as gaivotas vem
a sofrer. Trata-se de uma mera flutuação, logo volta ao normal (KLOETZEL,
op. cit. p.19).
Desta forma é que funciona o equilíbrio e desequilíbrio da natureza na
Amazônia, com seus altos e baixos, entretanto o movimento é de constante
revolução no meio ambiente, desprezando seu horror à estagnação. Entretanto, com
a chegada do homem, as mudanças ambientais se aceleraram, uma vez que, ele
inventou a poluição, a transformação dos relevos terrestres, ampliou a degradação
ambiental e a extinção das espécies. Com a chegada do homem “moderno” na
Amazônia, segundo Kloetzel (1994), tem uma pergunta que não deixa calar: - O
equilíbrio ainda poderá ser instituído? Acredita ele que seja pouco provável, pois o
38
homem cortando a mata, para plantar pasto extensivo, explorando a madeira
irracionalmente, introduzindo a monocultura em grande escala e retirando a
cobertura vegetal, vai alterar a cadeia alimentar. O solo que antes era sustentado
pela floresta empobrecerá com pouco húmus que sobra, a chuva torrencial se
encarregará de seu trabalho dando ‘xeque-mate’ no equilíbrio. Assim sendo, as
reservas serão reduzidas não conseguindo sustentar a riqueza da fauna e da flora
que necessitam de espaço.
Ambientalismo no Brasil
No inicio dos anos de 1970, surge um documento intitulado o Manifesto
Ecológico Brasileiro: o Fim do Futuro que tinha como tônica a ideologia dos
movimentos ecológicos europeus e norte-americanos, mas que fazia severas críticas
da “religião” do progresso, utilizando linguagem típica da teoria dos ecossistemas:
A quase totalidade do que convencionamos chamar de progresso
não é outra coisa que tem incremento na rapina dos recursos naturais
enquanto progresso da vida. Através das intermináveis eras da evolução
significara aumento constante do capital ecosférico, com o aprimoramento
progressivo da homeostase. O progresso do homem moderno não é, senão
uma orgia de consumo acelerado de consumo de capital, com o aumento
paralelo na vulnerabilidade do sistema
. (...) A religião da Sociedade de
Consumo, a religião do progresso, (...) promove
formas de
comportamento que levam a situações desequilibradas, cada vez mais
insustentáveis...(...) Estas concepções desenvolvimentistas são muito
recentes, surgiram após a guerra de 1939-45, mas decorrem do dogma
fundamental que postula a necessidade do ‘crescimento’ ilimitado.
Produção, consumo e população não podem parar de crescer. (...) Por isso,
o descontrole decorrente de nossas atitudes atuais só terá solução na
mudança de atitudes, no reexame de nossos valores, na redefinição de
progresso e desenvolvimento. (...) Fundamentalmente, a solução dos
problemas ambientais está na educação (LUTZEMBERGER, 1977).
Os escritos do Manifesto Ecológico Brasileiro criticam também a sociedade
do desperdício, do consumismo e propõe uma nova ética baseada nas
características do mundo natural. Fazendo junção na relação homem/natureza,
sociedades tradicionais, índios e camponeses, se contrapondo ao modelo de
colonização predatória. Cita o exemplo do índio que viveu centenas de anos em
convívio harmônico com a natureza, atingindo o equilíbrio estável em seu ambiente.
O ambientalismo do Manifesto Ecológico Brasileiro teve a função importante
nas lutas ecológicas dos anos 1970 a 80, denunciando a degradação ambiental, as
instalações das usinas nucleares e o militarismo e, ainda caracterizado como sua
39
auto-identificação apolítica que permeou de 1974 a 1981. Depois veio um período de
transição explicita de politização progressiva de expansão quantitativa e qualitativa
(de 1982 - 1985). Por fim uma opção eco-política, a partir de 1986, com a
participação ativa na vida parlamentar. O ambientalismo brasileiro tem assumido
uma crescente influência na formulação e implementação de políticas públicas e na
promoção de estratégias para um novo estilo de desenvolvimento, como mostra
Jacobi (1995, p. 3-5):
A partir da segunda metade da década de 80, no entanto, a
temática ambiental assume um papel bem mais relevante no discurso dos
diversos atores que compõem a sociedade brasileira. O ambientalismo se
expande, e penetra em outras áreas e dinâmicas organizacionais
estimulando o engajamento de grupos socioambientais, científicos,
movimentos sociais e empresariais, nos quais o discurso do
desenvolvimento sustentado assume papel de preponderância. A maior
consistência das idéias das organizações ambientais e a maior visibilidade
de suas ações contribuem diretamente para que outros atores se
incorporem mais efetivamente no debate ambiental: grupos científicos e
parte do empresariado. A presença da comunidade científica se multiplica e
diversos centros de pesquisa interdisciplinares e instituições acadêmicas
interdisciplinares de pós-graduação em meio ambiente desempenham papel
relevante em programas e parcerias com agências governamentais, ONG’s,
e empresas privadas visando a conservação e uso sustentável da
biodiversidade.
Salienta Harry Born (2003), o movimento ambientalista brasileiro tem
cumprido muitas funções importantes. A primeira é a revelação das “questões
ambientais”, estando muito presente a denúncia pública e divulgação de
informações sobre problemas de degradação ambiental, juntamente com a cobrança
de ações dos poderes públicos em relação aos fatos tornados de conhecimento
geral. A segunda função é a “educação e formação”, que passaram a conscientizar
ou educar a opinião publica e a mídia em torno de graves problemas ambientais. A
terceira é “advocacia de direitos e políticas públicas para o meio ambiente e
sustentabilidade” que muitas vezes apresentavam algumas falhas na formulação e
implementação de políticas, de direitos de instrumentos para prevenir novos casos e
reverter os existentes. As organizações internacionais que denunciam os ataques
contra o meio ambiente como o Greenpeace, Aspan, Agapan, Oikos e Ceacon. A
quarta função está ligada ao “desenvolvimento de pesquisas, geração e
disseminação de conhecimento sobre a situação e gestão da qualidade e
integridade ambiental” que trabalham nos monitoramento e fiscalização que
advogam práticas e políticas diferenciadas para questões ambientais.
40
Na luta contra a degradação ambiental, o movimento ambientalista no Brasil
contribuiu para a institucionalização de mecanismos de controle social, a exemplo
das audiências publicas previas as decisões sobre empreendimentos de grande
impacto sócio-ambiental, e a obrigatoriedade de elaboração de estudos de impactos
ambientais (EIAs). E analisando a perspectiva de Born (2003), a quinta compreende
o “acesso a informações, a publicação de pedidos de licenciamento ambiental”,
sobretudo na criação de instâncias colegiadas com a participação de representantes
da sociedade civil organizada. Os ENEAA’s – Encontros Nacionais de Entidades
Ambientalistas Autônomas foram importantes, entre 1986 e 1994, para articular as
funções e dar novas diretrizes ao movimento ambientalista. O sexto papel,
“implementação de projetos” para efeitos demonstrativos e indutores de novas
praticas, como exemplo podemos citar a conservação da mata atlântica com vista à
comercialização e ao manejo de plantas medicinais, apoio à introdução de sistemas
agroflorestais e cultivo de banana orgânica. A sétima função: assessoria,
disseminação e multiplicação de idéias e praticas de atuação, aonde as ONG’s vêm
sendo chamadas para atuarem como parcerias de prefeituras.
A conferencia Rio – 92 incluindo em seus documentos a questão da
participação na agenda 21, promoveu um chamado da sociedade à participar na
defesa e monitoramento de políticas publicas adequadas ao papel de articulação,
veiculação e disseminação de idéias e experiências por conjunto organizado da
sociedade civil. Este documento contém compromissos para mudança do padrão de
desenvolvimento, processos de planejamento estratégico e participativo que analisa
a situação atual do país, estado, município e região, elaborando propostas voltadas
para o futuro, de forma sustentável (BORN, 2003).
Outro evento importante para o movimento ambientalista foi o Fórum
Brasileiro de ONG’s e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento (FBOMS) criado em 1990 visando facilitar a participação da
sociedade civil em todo o processo da Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), e na Rio-92. Neste processo, por sua
estrutura e forma democrática e participativa de trabalhar, produzir documentos e
posições, o Fórum se consolidou, se firmando como ator nacional e internacional,
assumindo um papel de interlocução com outros atores importantes. Em todos os
41
eventos relacionados à UNCED, o Fórum esteve presente. Mesmo sem
personalidade jurídica própria, esse evento foi um reconhecimento ao papel de
articulação, veiculação, disseminação de idéias e experiências por conjunto
organizado da sociedade civil. O FBOMS fez-se apresentar com delegações em
reuniões de negociações de acordos internacionais em meio ambiente. Preparou-se,
em 1991, um documento sobre a visão das ONG’s, movimentos sociais brasileiros,
meio ambiente e desenvolvimento, utilizando como plataforma de ações, obras na
qual se apresentava uma analise da situação do país no contexto global, bem como
diversas recomendações e linhas de ações no referencial da construção das
sociedades sustentáveis.
A CPDSA21 foi criada em 1997, vinculada à Câmara de Recursos Naturais
da Presidência da República, e presidida pelo Ministério do Meio Ambiente, ela é
constituída de representantes de diversos ministérios e da sociedade civil, incluindo
empresas, cientistas e ONG’s. O Vitae Civilis, em nome do Fórum Brasileiro de
ONG’s e Movimentos Sociais, se envolveu desde a criação da CPDS, participando
ativamente de todo o processo de discussão, elaboração e lançamento da Agenda
21 Brasileira, em junho de 2002. Novos documentos da CPDSA 21 brasileira foram
incorporados ao movimento ambientalista no Brasil. Merece destaque a atuação
desse movimento ambientalista nos comitês de bacias hidrográficas, cuja função
primordial tem sido revelar problemas, sensibilizar a sociedade, fazer a defesa e
monitoramento de políticas públicas adequadas. Oitava função – O da formação de
quadros. É preciso que se saiba que para trabalhar em ONG, muitas vezes a
formação técnica e universitária por se só não é suficiente, as organizações do
terceiro setor como as do movimento ambientalista, guia-se por interesses difusos e
resultados de longa permanência e perenicidade, além dos pressupostos da
sustentabilidade. Isso requer a atuação de profissionais lastreados na harmonização
de questões técnicas com aspectos de gestão públicas, equidade e justiça social.
O movimento ambientalista brasileiro também está interligado com a vida
das populações tradicionais
7
que sofreram impacto com a implantação da
propriedade estatal, na forma de áreas naturais protegidas em seus territórios.
7 - São consideradas Populações Tradicionais aquelas comunidades que, tradicionalmente e
culturalmente, têm sua subsistência baseada no extrativismo de bens naturais renováveis
(UICN, 1995).
42
Nesses territórios foram identificados três tipos de movimentos ambientalistas
autônomos em áreas protegidas, a saber: a) Movimentos Locais Espontâneos, são
experiências locais de resistência e organização de produtores extrativistas na
defesa de seu território, trata-se de movimentos que buscam acesso aos recursos
naturais, que depois vieram a ser reconhecidos pelo Ibama com formas toleráveis de
ação. b) Movimentos Locais Tutelados pelo Estado retrata a situação das
populações tradicionais que vivem em áreas naturais protegidas, é o caso do Parque
Nacional da Serra do Divisor no Estado do Acre onde existe ocupação de
populações tradicionais que residem há várias gerações na área transformadas em
porque e que mantêm vínculos históricos importantes com ela, dependem para
sobrevivência do uso dos recursos naturais renováveis, dos quais tem grande
conhecimento de um lado, e; as que invadiram o parque na época ou depois de sua
criação e que são frutos da estrutura agrária injusta no Brasil, de outro. c)
Movimentos Locais com Alianças Incipientes com Agências Não-Governamentais –
ANGs, são os administrados pela sociedade civil, apoiados por várias organizações
não-governamentais ambientalistas internacionais, entre as quais a WWF - World
Wildlife Fund (DIEGUES, 2001. p.138-144).
Movimentos socioterritoriais e a reterritorialização
Atualmente, muitas áreas do conhecimento adotaram o território como
conceito essencial em suas análises. Todavia, o conceito de território é utilizado
como uma dimensão das relações sociais, enquanto na verdade, “o território é
multidimensional, constituindo-se em uma totalidade, precisando para uma eficaz
análise conceitual é necessário definir o espaço como composicionalidade, ou seja,
compreende e só pode ser compreendido em todas as dimensões que o compõem
(FERNANDES, 2004).
As idéias apresentadas ainda estão em processo de formação, é a
contribuição contida na parte concernente aos movimentos socioterritoriais e a
reterritorialização. Hoje, frente aos intensos processos de inclusão e exclusão social
provocados pelas políticas neoliberais, urge pensar os espaços e os territórios como
forma de compreender melhor as conflitualidades, revelando os novos espaços e
territórios antes não pensados.
43
O espaço social é a materialização da existência humana. Esta definição
extremamente ampla de espaço foi elaborada por Lefebvre, (1991, p. 102). O
espaço assim compreendido é uma dimensão da realidade, onde se necessita
estudá-lo para contribuir com sua compreensão e transformação.
A identidade do espaço, sua plenitude, como demonstra Santos (1996, p.
50) na elaboração de uma definição plena de espaço. Santos compreende que o
“espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório,
de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas
como o quadro único no qual a história se dá”. Essa definição explicita o espaço
geográfico onde se realizam todos os tipos de relações. Essas relações são
formadoras dos sistemas de ações e de objetos, que de acordo com Milton Santos
são contraditórios e solidários. As relações sociais são predominantemente
produtoras de espaços fragmentados, divididos, unos, singulares, dicotomizados,
fracionados, portanto, também conflitivos. A produção de fragmentos ou frações de
espaços é resultado de intencionalidades das relações sociais, que determinam as
leituras e ações propositivas que projetam a totalidade como parte, o seja, o espaço
em sua qualidade completiva é apresentado somente como uma fração ou um
fragmento.
É importante reforçar que o espaço como fragmento ou fração é uma
representação, construída a partir de uma determinação interagida pela
receptividade, constituída por uma relação social. Essa representação exige uma
intencionalidade, ou seja, uma forma de compreensão unidimensional do espaço,
reduzindo suas qualidades. Desse modo, apresentam o espaço político somente
como político, o espaço econômico somente como econômico e o espaço cultural
somente como cultural. A intencionalidade é um modo de compreensão que um
grupo, uma nação, uma classe social ou até mesmo uma pessoa utiliza para poder
se realizar, ou seja, se materializar no espaço, como bem definiu Lefebvre. A
intencionalidade é uma visão de mundo, ampla, todavia una, é sempre uma forma,
um modo de ser, de existir. Constitui-se em uma identidade. Por esta condição,
precisa delimitar para poder se diferenciar e ser identificada. E assim, constrói uma
leitura parcial de espaço que é apresentada como totalidade. Afinal, todos os povos
se sentem o centro do universo.
44
Os territórios são formados no espaço geográfico a partir de diferentes
relações sociais. O território é uma fração do espaço geográfico e ou de outros
espaços materiais ou imateriais. Entretanto é importante lembrar que o território é
um espaço geográfico, assim como a região e o lugar, e possui as qualidades
composicionais e completivas dos espaços. A partir desse princípio, é essencial
enfatizar que o território imaterial é também um espaço político, abstrato. Sua
configuração como território refere-se às dimensões de poder e controle social que
lhes são inerentes. Desde essa compreensão, o território mesmo sendo uma fração
do espaço também é multidimensional. Essas qualidades dos espaços evidenciam
nas partes as mesmas características da totalidade.
O território foi definido por Raffestin (1993, p. 63) como sistemas de ações e
sistemas de objetos. Essa similitude das definições de Claude Raffestin e Milton
Santos significa também que espaço geográfico e território, ainda que diferentes,
são o mesmo. Pode-se afirmar com certeza que todo território é um espaço (nem
sempre geográfico, pode ser social, político, cultural, cibernético etc.). Por outro
lado, é evidente que nem sempre e nem todo espaço é um território. Os territórios se
movimentam e se fixam sobre o espaço geográfico. O espaço geográfico de uma
nação é o seu território. E no interior deste espaço há diferentes territórios,
constituindo o que Haesbaert (2004) denominou de multiterritorialidades. São as
relações sociais que transformam o espaço em território e vice e versa, sendo o
espaço um a priori e o território um a posteriori. “O espaço é perene e o território é
intermitente. Da mesma forma que o espaço e o território são fundamentais para a
realização das relações sociais, estas produzem continuamente espaços e territórios
de formas contraditórias, solidárias e conflitivas. Esses vínculos são indissociáveis”
(FERNANDES, 2004). O território como espaço geográfico contém os elementos da
natureza e os espaços produzidos pelas relações sociais. É, portanto, uma
totalidade restringida pela intencionalidade que o criou. A sua existência assim como
a sua destruição serão determinadas pelas relações sociais que dão movimento ao
espaço. Assim, o território é espaço de liberdade e dominação, de expropriação e
resistência. Um bom exemplo dessas características está em Oliveira, 1991, nos
conceitos de territorialização do capital e monopólio do território pelo capital.
De acordo com Fernandes (2004) as relações sociais, por sua diversidade,
45
criam vários tipos de territórios, que são contínuos em áreas extensas e ou são
descontínuos em pontos e redes, formados por diferentes escalas e dimensões. Os
territórios são países, estados, regiões, municípios, departamentos, bairros, fábricas,
vilas, propriedades, moradias, salas, corpo, mente, pensamento, conhecimento.
Os territórios são, portanto, concretos e imateriais. O espaço geográfico de
uma nação forma um território concreto, assim como um paradigma forma um
território imaterial. O conhecimento é um importante tipo de território, daí a
essencialidade do método. Para a construção de leituras da realidade é fundamental
criar métodos de análise, que são espaços mentais (imateriais) onde os
pensamentos são elaborados. Para um uso não servil dos territórios dos paradigmas
é necessário utilizar-se da propriedade do método.
A mobilidade dos territórios imateriais sobre o espaço geográfico por meio
da intencionalidade determina a construção de territórios concretos. Estes possuem
o sentido de trunfo que Raffestin (1993) defende para o conceito de território. Sem a
produção de espaços e de territórios, o conhecimento, como relação social, pode ser
subordinado por outros conhecimentos, relações sociais, espaços e territórios.
Processos geográficos ou TDR
Os processos geográficos são também processos sociais. As relações
sociais a partir de suas intencionalidades produzem espaços, lugares, territórios,
regiões e paisagens. Ao produzirem seus espaços e neles se realizarem, as
relações sociais também são produzidas pelos espaços. Essa indissociabilidade
promove os movimentos dos espaços sociais e dos territórios nos espaços
geográficos. Nesses movimentos as propriedades dos espaços e dos territórios são
manifestadas em ações, relações e expressões, materiais e imateriais, afirmado por
Fernandes (2004).
Os movimentos das propriedades dos espaços e territórios são: expansão,
fluxo, refluxo, multidimensionamento, criação e destruição. A expansão e ou a
criação de territórios são ações concretas representadas pela territorialização. O
refluxo e a destruição são ações concretas representadas pela desterritorialização.
Esse movimento explicita a conflitualidade e as contradições das relações
46
socioespaciais e socioterritoriais. Por causa dessas características, acontece ao
mesmo tempo a expansão e a destruição; a criação e o refluxo. Esse é o movimento
do processo geográfico conhecido como TDR, ou territorialização –
desterritorialização – reterritorialização.
Como exemplos de TDR podem ser dados com o movimento das empresas
capitalistas que se instalam e mudam de cidades e países de acordo com as
conjunturas políticas e econômicas; ou os movimentos do agronegócio e da
agricultura camponesa modificando paisagens, mudando a estrutura fundiária e as
relações. Também quando um paradigma entra em crise ou é abandonado e tempos
depois é retomado.
Os processos geográficos são, igualmente, movimentos das propriedades
espaciais e das relações sociais. São quatro os processos geográficos primários:
espacialização, espacialidade, territorialização e territorialidade. São três os
processos geográficos procedentes: desterritorialização, reterritorialização,
desterritorialidade, reterritorialidade (FERNANDES, 2004). E vai além, enquanto a
territorialização é resultado da expansão do território, contínuo ou interrupto, a
territorialidade é a manifestação dos movimentos das relações sociais mantenedoras
dos territórios que produzem e reproduzem ações próprias ou apropriadas. Existem
dois tipos de territorialidade, a local e a deslocada, que podem acontecer
simultaneamente.
A territorialidade local pode ser simples ou múltipla, depende dos usos que
as relações mantenedoras fazem do território. Um exemplo de territorialidade local
simples é um hospital, cujo espaço é utilizado unicamente para seu fim próprio.
Exemplos de territorialidade local múltipla são os usos dos territórios em diferentes
momentos. O uso múltiplo de um mesmo território explicita a sua territorialidade.
Uma rua pode ser utilizada com o tráfego de veículos, para o lazer nos finais de
semana e com a feira livre acontecendo um dia por semana. A desterritorialidade
acontece com o impedimento da realização de uma dessas ações. Da mesma forma
fora que a reterritorialidade acontece com o retorno da mesma. Outro exemplo é o
prédio de um sindicato onde acontecem reuniões para tratar dos interesses políticos
e econômicos dos trabalhadores, mas também é ocupado com aulas de
alfabetização de jovens e adultos e também para a prática de esportes.
47
A espacialização é movimento concreto das ações e sua reprodução no
espaço geográfico e no território. A espacialização como movimento é circunstancial,
é o presente. Ao contrário da territorialização, a espacialização não é expansão, são
fluxos e refluxos da multidimensionalidade dos espaços. Portanto não existe a
“desespacialização” (SANTOS, 1988). Uma vez realizada em movimento, a
espacialização torna-se fato acontecido, impossível de ser destruído. Desse modo
espacialidade e espacialização podem acontecer concomitantemente. Todavia,
territorialização e desterritorialização não acontecem com ao mesmo tempo e no
mesmo lugar, mas pode acontecer ao simultaneamente em lugares diferentes.
Movimentos socioterritoriais e socioespaciais
Observando os estudos de Fernandes (2004), este afirma que do mesmo
modo que alguns movimentos transformam espaços em territórios, também se
territorializam e são desterritorializados e se reterritorializam e carregam consigo
suas territorialidades, suas identidades territoriais constituindo uma
pluriterritorialidade. A transformação do espaço em território acontece por meio da
conflitualidade, definida pelo estado permanente de conflitos no enfretamento entre
as forças políticas que procuram criar, conquistar e controlar seus territórios
8
. A
criação ou conquista de um território pode acontecer com a desterritorialização e
com a reterritorialização. Os territórios se movimentam também pela conflitualidade.
O território é espaço de vida e morte, de liberdade e de resistência. Por essa razão,
carrega em si sua identidade, que expressa sua territorialidade.
As relações, as ações e as formas de organização acontecem no espaço.
Elas se realizam no espaço geográfico e em todas as suas dimensões: social,
político, econômico, ambiental, cultural etc. Portanto, a partir do momento que nos
propomos a realizar uma análise geográfica dos movimentos, além da preocupação
com as formas, ações e relações, é fundamental compreender os espaços e
territórios produzidos ou construídos pelos movimentos.
Os movimentos socioterritoriais para atingirem seus objetivos constroem
espaços políticos, espacializam-se e promovem espacialidades. A construção de um
tipo de território significa, quase sempre, a destruição de um outro tipo de território,
8 - Estudos amplos das conflitualidades na luta pela terra são realizados por Gonçalves, 2004 e 2005.
48
de modo que a maior parte dos movimentos socioterritoriais forma-se a partir dos
processos de reterritorialização e desterritorialização.
De acordo com Raffestin, 1993, partimos da premissa que para alguns
movimentos o território é seu trunfo e, portanto, a razão da sua existência. Para
todos os movimentos o espaço é essencial. É evidente que não existem movimentos
sociais sem espaço. Todos os movimentos produzem algum tipo de espaço, mas
nem todos os movimentos têm o território como trunfo. Existem movimentos
socioespaciais e movimentos socioterritoriais em toda parte, nos paises, nas
fronteiras, no campo, na cidade e na floresta.
O espaço, o território, o lugar, as relações sociais, as escalas das ações nos
ajudam a compreender os tipos de movimentos socioespacial ou socioterritorial e
seus processos geográficos (isolados, reterritorializados ou espacializados). Esses
movimentos são tanto instituições não formais, políticas no sentido lato, por sua
materialidade, ação, estabelecimento e dinâmica, quanto são igualmente instituições
formais como os sindicatos, as empresas, os estados, as igrejas e as organizações
não governamentais (ONG’s). Nesse sentido, é preciso diferenciar entre os
movimentos socioespaciais e os movimentos socioterritoriais, com o enfatiza
Fernandes (2004).
Os movimentos socioterritoriais têm o território não só como trunfo, mas este
é essencial para sua existência. Os movimentos camponeses, os indígenas, as
empresas, os sindicatos, os estados e as regiões podem se constituir em
movimentos socioterritoriais e socioespaciais. Porque criam relações sociais para
tratarem diretamente de seus interesses e assim produzem seus próprios espaços e
seus territórios. As organizações não governamentais se constituem apenas como
movimentos socioespaciais. Estas são agências de mediação, uma vez que as
ONG’s são sempre representações da reivindicação, de espaços e ou de territórios.
Não são sujeitos reivindicando um território. Não existem a partir de um território.
São sujeitos reivindicando espaços, são entidades de apoio ou contrárias aos
movimentos socioterritoriais e socioespaciais, são agências intermediárias, que
produzem espaços políticos e se espacializam.
As organizações não governamentais trabalham com representações de
49
interesses, defendendo desde os interesses de uma multinacional aos interesses de
um movimento indígena. Portanto, só podem se constituir como movimentos
socioespaciais, uma vez que não possuem um território definido. O fato de
defenderem uma ou outra intencionalidade não lhes dá o status de movimentos
socioterritoriais, pois como afirmamos na primeira parte deste artigo, os territórios
imateriais são também espaços políticos, abstratos. Sua configuração como território
refere-se às dimensões de poder e controle social que lhes são inerentes. Todavia,
as imaterialidades representadas pelas intencionalidades defendidas não se
materializam como território próprio, mas como território dos movimentos
socioterritoriais que elas defendem. Assim sendo, o conceito de território vincula-se
ao conceito de espaço geográfico, seus elementos naturais e relações sociais.
Elemento fundamental do território e do espaço geográfico é a materialização da
existência humana.
Os espaços produzidos pelos movimentos socioterritoriais são diversos e
são constituídos de acordo com as suas ações. Esses movimentos fazem-se nos
espaços de socialização política e espaços de socialização propositiva, onde geram
as práticas políticas de seu desenvolvimento. A construção de espaços políticos,
sociais, culturais e outros acontecem em diferentes lugares e territórios. A
construção desses espaços e seus dimensionamentos são essenciais para as ações
dos sujeitos que procuram transformar a realidade. Não existe transformação da
realidade sem a criação de espaços.
Os movimentos socioespaciais também possuem diferentes escalas. Podem
atuar da escala mundial à escala local. São predominantemente agências de
mediação. Um exemplo de movimento socioespacial global do é o Greenpeace. Um
exemplo de movimentos socioespacial em escala local são as organizações de
bairro em luta contra a carestia ou pela implantação de serviços sociais, como
energia elétrica, asfalto, escolas etc.
Os movimentos socioespaciais e os socioterritoriais enfrentam contra –
espaços (MOREIRA, 2002), que foram estudados por Feliciano (2003) com
exemplos das medidas políticas do Estado constituídas como barreiras espaciais
para impedir a espacialização e territorialização dos movimentos camponeses. O
conflito é fato presente nas ações dos movimentos socioterritoriais e são promotores
50
de desenvolvimento e refluxo das políticas das instituições. A exclusão, a
negociação e a ressocialização são condições que se realizam e se superam por
meio das ações dos movimentos na construção de espaços e conquista de
territórios.
Compreender esses processos é importante para a superação de pré-
conceitos contra os sujeitos que lutam por suas existências na conquista de seus
territórios. Muitas vezes são denominados baderneiros porque mexeram, entraram,
penetraram em espaços – territórios de onde foram excluídos e que, por causa da
desigualdade econômica e do controle social, não poderiam entrar, permanecer em
seus territórios.
Também é possível mapear os movimentos das forças políticas sobre o
espaço geográfico, transformando as paisagens, criando e destruindo territórios. A
leitura geográfica é estratégica e fundamental para o desenvolvimento das
intencionalidades que nascem e fazem nascer relações socioespaciais e
socioterritoriais.
Igualmente, nos ajuda a compreender como a Geografia pode utilizar uma
leitura autônoma, para compreender melhor a realidade dos movimentos e contribuir
com outras áreas do conhecimento. Os conceitos de movimento socioespacial e
socioterritorial são tentativas de desfragmentação do espaço e do território. Pode-se
fazer uma leitura mais ampla a partir do conceito de movimento socioterritorial, mas
esta sempre será uma leitura parcial, porque a totalidade da realidade é um
processo coletivo que só pode ser compreendida no movimento de todos.
Movimentos Sócio-Ambientais e a Economia Capitalista
O movimento ambientalista não é algo definido de forma monolítica. Nota-se
que há enormes diferenças entre as visões do mundo e o comportamento das
pessoas. Apesar do começo dos anos 1970, ter sido um marco na história dos
movimentos ambientais, as respostas esperadas foram pobres para estimular
movimentos ecológicos de vanguarda nas mudanças políticas e administrativas que
fossem qualitativas e quantitativas em vários paises. Muitas políticas eram feitas por
intelectuais que ficavam presos às academias ou políticas de gabinete com
responsabilidade reduzida para os órgãos governamentais. As políticas ambientais
51
bonitas na aparência, mas com pouca praticidade, como relata McCormick (2000):
Para tornar as coisas piores, poucos foram os governos que
criaram organismos ambientais com poderes adequados. Em alguns casos
reestruturaram as responsabilidades delegadas de departamentos já
existentes; em outros criaram departamentos inteiramente novos, ou então,
novos órgãos regulamentadores com poderes horizontalmente abrangentes,
mas as soluções raramente se mostraram suficientes para lidar com os
problemas. Havia três razões principais para isso. Primeira: o meio
ambiente revelou-se quase impossível de ser compartimentalizado. Um
problema comum a quase todas as tentativas de criar uma nova máquina
governamental foi o de definir os contornos das responsabilidades e
propiciar a autoridade legislativa necessária. (MCCORMICK, 2000. p.129).
Isso quer dizer que o meio ambiente invade quase todas as outras áreas
importantes da política publica. Em teoria um departamento de meio ambiente teria
que estar armado com um aparato impressionante de autoridade legislativa, que
interviesse na agricultura, indústria, comércio, transporte, energia, suprimento de
água e outras áreas do planejamento de recursos. Na prática, os novos organismos
ambientais raramente dispunham do apoio de uma legislação adequada à amplitude
de suas responsabilidades.
A segunda, a criação de novos departamentos frequentemente
causou conflitos com os departamentos existentes, os quais não desejavam
abrir mão de seus poderes ou responsabilidades, resultando, com muita
freqüência, em novos organismos cujas obrigações se combinavam mal,
eram inadequadas ou incompletas, ou então tinham muita responsabilidades,
mas pouco poder. Nos Estados Unidos 27 órgãos diferentes tinham
responsabilidades relativas a diferentes componentes da política ambiental.
Na Grã-Bretanha, o inapropriadamente chamado Departamento do Meio
Ambiente (DOE - Department of the Environment) tinha provavelmente
menos influência sobre a política ambiental do que o Departamento da
Agricultura. (MCCORMICK, op.cit. p.129).
Mostra que para organizar as ações ligadas ao meio ambiente não é
importante criar novos organismos, mas dotar os departamentos existentes de
mecanismos apropriados e força suficiente para desempenhar suas funções. Muitos
órgãos inapropriados, sem as devidas segregações de funções somente serve para
atrapalhar a execução das políticas ambientais, deixando a situação mais
conflituosa.
Novos organismos resultam no investimento de recursos tecnológicos
incipientes e humanos com poucas experiências, que se propõe a trabalhar em favor
de um escalão superior dotado do poder político e propósitos individuais, como
aponta o próximo ponto.
52
A terceira: Muitos dentre os organismos criados eram afligidos
pela falta de recursos humanos, financeiros e técnicos; tendendo a ser
membros subalternos do governo, seus dirigentes tinham frequentemente
que atuar em níveis médios, sem acesso aos quadros que tomavam as
decisões no primeiro escalão; e a monitoração e fiscalização da legislação
variavam desde o controle estrito até nenhum controle. A Organização para
a Cooperação Econômica e Desenvolvimento - OECD (Organization for
Economic Cooperation and Development:) concluiu em 1985 que mesmo
entre seus estados membros muitos países não foram capazes de dedicar
recursos a programas ambientais necessários. Seis elementos em particular
determinaram à natureza da resposta da maior parte dos sistemas políticos
à questão ambiental nos anos 70 e 80: (1) o nível do ativismo político
público, particularmente através dos grupos de interesse: (2) o nível de
confiança na capacidade administrativa (muito maior na Grã-Bretanha, por
exemplo, do que nos Estados Unidos); (3) o papel da lei e a divisão de
poderes entre os governos central e local (maior centralização na Grã-
Bretanha do que nos Estados Unidos); (4) o grau de consulta e de acesso
públicos ao processo de tomada de decisões (prática aberta de lobby nos
Estados Unidos, consulta privada na Grã-Bretanha); (5) o grau de acesso
público à informação (maior nos Estados Unidos do que na Grã-Bretanha);
e (6) a natureza dos arranjos institucionais existentes. (idem, ibidem. p.130).
Isso mostra que os novos órgãos ambientais criados nos paises
desenvolvidos estavam preocupados em priorizar mais suas políticas de crescimento
econômico, ajustar seus sistemas políticos e avançar na sua economia. Diziam os
paises desenvolvidos que o papel de preservação dos ecossistemas tinha que partir
dos paises menos desenvolvidos, que combinariam seus organismos ligados às
responsabilidades de recursos naturais, turismo ecológico, vida selvagem,
população e uso do solo. Para os paises desenvolvidos sobravam os serviços de
financiamento de alguns programas, consultoria, controle da poluição em geral, ou
seja, montar uma agenda de previsão e provisão. Na maioria dos casos, o que se
delegava eram políticas voltadas para os problemas locais ou nacionais,
esquecendo o problema global. Faziam sempre a política do “se a comida está
pouca, meu pirão será servido primeiro”.
Somente mais tarde se identificou que um dos temas-chave do movimento
ecológico é a insistência de que o problema econômico não é o maior, nem o mais
grave, não é nem capitalismo e nem a economia centralizada, mas sim, o
industrialismo acelerado, na busca de laborar mais produtos de consumo que é o
responsável pela degradação generalizada dos recursos ambientais como comenta
Porritt:
Com o industrialismo, quero dizer adesão à crença de que as
necessidades humanas só podem ser satisfeitas através da expansão
permanente do processo de produção consumo - independentemente dos
53
danos causados ao planeta, aos direitos das gerações futuras. [...]. Os
valores do industrialismo, muitas vezes não expressos, são fundados na
noção de que o ganho material é o que mais importa para as pessoas. A
batalha contra o industrialismo é, portanto, contra uma “superideologia”, que
inclui todas as outras grandes ideologias. Para Porritt, entre outros, a luta
contra essa superideologia do industrialismo ocorre tanto na esfera dos
valores quanto na das questões técnicas relativas à economia (Porritt, 1984
apud VICENT, 2000, p. 229).
As teorias do industrialismo e da economia clássica, para muitos ecologistas,
estão comprometidas com uma impressão falsa e limitadas dos seres humanos, o
homem econômico racional, em que o dinheiro, a maximização da satisfação dos
interesses e o lucro são as medidas de todas as coisas. Os custos e benefícios da
teoria econômica clássica parecem não ter considerado, até recentemente, as
vantagens da água limpa e apta ao consumo, de uma atmosfera estável e saudável
e, de um clima previsível. A estes não se conferem nenhum valor econômico.
Os seguidores ou defensores da economia ecológica, em confronto com os
economistas neoclássicos sintetizam a idéia de defesa da natureza dentro deste
paradigma conceitual: parece que não ocorreu aos economistas que, se estas
atividades interferirem demasiada e radicalmente nas obras da natureza, ela poderá
deixar de ser capaz de prover as vantagens que agora consideramos garantidas e
das quais depende nossa sobrevivência. Os autores descrevem isso como uma
“visão vesga e estrábica do mundo”. Inversamente, a “nova economia, como
frequentemente é referida na literatura ecológica, funda-se em uma percepção
diferente da realidade em si; inclui a mudança de perspectiva como tão fundamental
quanto à revolução coperniana na astronomia”. (VICENT, 2000, p.230).
A idéia semelhante está formulada nos textos econômicos de J. S. Mill, do
século XIX. A questão básica, para Herman Daly (2005): “objetos criados pelo
homem que atulham o meio ambiente. Teorias econômicas que funcionavam bem
em um mundo vazio já não se adequam a um planeta lotado.” Com isto mostra que
as economias industriais sofrerão transformações nas próximas décadas. Ele
propõe, em uma linha neomalthusiana, que as populações devem ser estabilizadas.
A riqueza será distribuída de modo mais uniforme. Ademais, a quantidade dos
recursos produzidos deve ser estabilizada para minimizar a exaustão das reservas.
Teoricamente, toda matéria-prima seria reciclada para atrasar o esgotamento dos
recursos finitos. Como Daly (2005) declara, em um argumento hoje identificável e
54
que ele associa à lei da entropia: “(...) em um mundo finito, nada que seja físico dura
para sempre”. O crescimento ainda teria um lugar nessa economia, mas estaria
vinculado ao conhecimento e a uma tecnologia menos nociva. As economias que
simplesmente maximizam a produção e não se empenham em conservar a energia
esgotam o estoque finito de energia do nosso planeta e geram a poluição. Isso, por
sua vez, requer mais energia para enfrentar o desperdício. Tais economias
perdulárias medem o PNB por uma produção crescente, que contém uma lógica
suicida para os proponentes da Economia Equilibrada.
Daly (2005) propõe uma economia baseada em utilização reduzida das
reservas, população estável, conservação de energia, utilização de recursos naturais
renováveis como a energia solar, isolamento, maior utilização de transportes
públicos e bicicletas. Daly (2005) não apenas acredita que isso é necessário em
bases econômicas e cientificas, mas também que há uma forte conjuntura moral em
favor dessas mudanças. Alega que precisamos desenvolver a idéia de vigilância e
ter mais humildade em relação a nosso planeta e seus recursos.
Uma conclusão imediata é que o movimento ecológico e sua ideologia ainda
estão em processo de formação. Nesse sentido, esta fundamentação teórica
representa o instantâneo de um fenômeno em movimento. A ecologia, contudo, volta
nossa atenção para as responsabilidades globais e mostra nossa inter-relação com
a ecosfera. No entanto, é importante apontar várias disjunções internas, prejudiciais,
dessa ideologia. Tem-se tido pouca consciência do abismo que separa a filosofia da
prática política do ecologísmo. Além do mais, a ideologia ecológica tem sofrido,
desde que começou a ficar em evidência na política, há quatro décadas, a tensão
existente entre duas correntes de pensamento. Os anos 70 e 80 assistiram à
intensificação repentina dos interesses ambientais e ao inicio da desilusão com o
socialismo em vários lugares. O movimento verde/ecológico forneceu um refúgio
ideal para socialistas e anarquistas desiludidos. Foi nesta etapa, contudo, que se
iniciaram as tentativas de popularizar e sistematizar as idéias do movimento.
Diante disso tudo se observa que são destacadas duas grandes correntes
dentro do pensamento ambientalista: os reformistas e os transformistas ou utopistas.
55
Reformistas ou realistas
9
apostam em prática, reformas e políticas que lidam, por
exemplo, com a promoção da reciclagem do lixo, substitutos descartáveis etc.,
iniciativas necessárias, mais que basicamente mantém e até aprofundam a dinâmica
do sistema vigente, criando certos paradoxos emblemáticos, como o aumento dos
índices de reciclagem, e paralelamente, a crescente circulação de embalagens
descartáveis no mercado. Além dessa identidade, são muito preocupados com a
extensão do movimento verde e com a formulação de um programa econômico de
transição viável capaz de ecologizar gradativamente a sociedade desenvolvimentista
e interessados em uma aproximação com setores social-democratas, socialistas e
liberais que se mostram sensíveis ao programa ecologista. O argumento de setores
do ambientalismo insiste de que é necessário um novo setor em que se produza
tecnologia que evite problemas ambientais, inclusive com produção tecnológica que
limpe o meio ambiente.
A outra corrente ambientalista composta do pensamento transformista ou
utópico
10
busca o estabelecimento de sociedades sustentáveis, pois suas iniciativas
estão voltadas para mudanças nos vigentes padrões de consumo e produção, e
também, são baseadas em questões de ética e justiça social. Obviamente, isso
requer muito tempo e mudanças culturais em toda sociedade.
O fundamento do capitalismo é o processo de acumulação de capital que
não está relacionado à troca mercantil, mas à troca capitalista de dinheiro por
trabalho produtor de mercadorias. É dessa troca que nasce o excedente em valor
(mais valia) que é apropriado para benefício do próprio processo de acumulação de
capital, excedente esse que tem sua existência na forma de valor e não na forma de
bens, excedente que surge do processo de produção e não é apropriado por
indivíduos enquanto tal, mas pelo próprio capital materializado na forma de grandes
grupos econômicos (MARX I, 1980, p.187). É dessa relação que surge a
9 - Reformistas ou radicais: É o tipo de capitalismo reformista que incorpora o planejamento
ambiental e freqüentemente olvida a perspectiva da cidadania uma vez que os cidadãos não
obtêm um lugar de destaque.
10 - O trabalho mais avançado nesta direção é o do economista David Pearce com os seus
colaboradores (Pearce et al 1989). O livro de Daly & Cobb (1989) também aponta para este
objetivo (ver, p.eg. Dixon & Fallon 1989, Constanza et al 1990). Estes autores costumam atribuir
ao utopistas ou transformistas, a denominação de fundamentalistas quando estes enfatizam a
pureza do movimento, tendem a adotar uma visão maniqueísta e a bloquear o dialogo com a
sociedade, configurando um potencial messiânico – autoritário.
56
desigualdade, do poder de comando sobre o trabalho alheio, origem da riqueza. Isso
significa dizer que quem é responsável e tem o poder sobre a riqueza, não é o
indivíduo isolado, mas o capital produtor dessa riqueza. O indivíduo isolado pode,
quando muito, tornar-se representante desse capital, se for aceito e contratado para
tal.
Dentro deste processo de acumulação e de implicação sobre o meio
ambiente, Leff faz a seguinte argumentação:
É preciso diagnosticar os efeitos do processo de acumulação e as
condições atuais de reprodução e expansão do capital, os impactos
ambientais das práticas atuais de produção e consumo e os processos
históricos nos quais se articulam a produção para o mercado com a
produção para o autoconsumo das economias locais e as formações sociais
dos países ‘em desenvolvimento’ para a valorização e exploração de seus
recursos. Estes processos históricos transformaram as práticas produtivas e
degradaram a produtividade de seus ecossistemas, afetando as
capacidades produtivas da população, sua dependência tecnológica e
cultural, suas formas de sujeição ideológica e suas motivações para a
inovação produtiva (LEFF, 2001a, p. 60-61).
Como a racionalidade econômica está associada a padrões tecnológicos
que tendem a uniformizar os cultivos e a reduzir a biodiversidade, exercendo uma
crescente pressão sobre o meio ambiente, é imprescindível construir novos
princípios de produtividade sustentável, integrando ao conceito de produção os
processos ecológicos e culturais que lhe servem de suporte.
A questão ambiental requer, portanto, novos conhecimentos para a sua
compreensão e resolução, sendo que a consideração dos processos ecológicos
dentro da dinâmica do capital impulsiona a construção de um novo objeto da
economia e da produção baseado nos princípios de sustentabilidade ecológica e de
equidade social. Obrigatoriamente o conceito de força produtiva precisa ser
repensado para incorporar o potencial produtivo dos ecossistemas.
Como é sabido, a partir da década de 1960, a região amazônica continental
passou a constituir-se em uma "nova fronteira" a ser incorporada ao processo de
acumulação capitalista. A fase inicial desse movimento expansionista é
caracterizada pela tentativa de "integrar" àquele território as nações através de um
conjunto de políticas coordenadas e centralizadas pelo "Estado desenvolvimentista”.
57
Tais políticas, no caso do Brasil, (dotação de infra-estrutura, incentivos
fiscais, créditos subsidiados etc.) destinavam-se a promover a "modernização"
econômica em sintonia com o novo ciclo de industrialização inaugurado no país logo
após o golpe militar de 1964. Em um curto espaço de tempo, apareceram os
primeiros sinais da destruição da natureza e agravamento das condições sociais de
vida da população local, resultantes da exploração predatória praticada por
empreendimentos privados, associados e individuais.
Em consonância com os estudos de Paula (1991), nos anos 80, esse
"modelo" enfrenta forte oposição dos movimentos sociais e organizações
ambientalistas nacionais e internacionais, que passam a reivindicar entre outros, a
criação de áreas de conservação e ou preservação ambiental - regulamentadas na
forma de propriedade estatal - ressaltando a dimensão pública da proteção do
patrimônio natural amazônico. A segunda fase, cujos contornos aparecem de forma
mais nítida na década de 1990, é marcada pelo abandono da idéia de "integração
nacional" bem como, a do Estado como indutor do desenvolvimento.
Em suma, trata-se de um período na Amazônia marcado, segundo Becker
(2002) pela construção de um modelo socioambiental que reconhece a importância
da preservação ambiental para as sociedades humanas, prega o uso racional dos
recursos naturais como forma de melhorar a qualidade de vida dos habitantes
regionais. Este modelo procura trabalhar em harmonia com melhores condições de
vida e constrói–se em oposição direta aos modelos predatórios e desumanos que
antes dominava o cenário nas políticas na Amazônia. Ele busca integrar o homem e
o meio ambiente de forma mais justa, ou seja, almeja a “ecologização” do homem
que se materializava a cada momento. Um modelo sócio-ambiental é muito difícil de
medir-se, mas tem sido bastante positivo, pois nos fazem lembrar de estilos de
agricultura menos agressivos ao meio ambiente, que promovem a inclusão social e
proporcionam melhores condições econômicas aos agricultores. Como afirma
Caporal (2000a), são comuns as interpretações que vinculam a Agroecologia com
“uma vida mais saudável”; “uma produção agrícola dentro de uma lógica em que a
Natureza mostra o caminho”; “uma agricultura socialmente justa”; “o ato de trabalhar
dentro do meio ambiente, preservando-o”; “o equilíbrio entre nutrientes, solo, planta,
água e animais”; “o continuar tirando alimentos da terra sem esgotar os recursos
58
naturais”; “um novo equilíbrio nas relações homem e natureza”. E prossegue
Caporal (2001) “uma agricultura sem destruição do meio ambiente”; “uma agricultura
que não exclui ninguém”; entre outras. Assim, o uso do termo Agroecologia nos tem
trazido a idéia e a expectativa de uma nova agricultura capaz de fazer bem ao
homem e ao meio ambiente.
Vale ressaltar que na Amazônia, a desigualdade social e degradação
ambiental sempre andaram juntas, conformando uma questão socioambiental e que
as agressões ao meio ambiente afetam as pessoas que dele dependem para viver e
trabalhar. Isto ocorre pelo fato dos interesses serem regidos pelo lado econômico,
onde se podem visualizar renda familiar baixa, elevado percentual de analfabetos,
sobretudo, na zona rural, moradias de baixo padrão construtivo e condições
sanitárias precárias. Esse quadro, que se tem agravado nas últimas décadas,
resulta, entre outros fatores, do descompasso entre a dinâmica demográfica e a da
economia de subsistência, a par de uma oferta insuficiente de bens e serviços
básicos às comunidades urbanas e rurais.
O socioambientalismo contribui para reduzir essas desigualdades?
Mészáros (2001) afirma que o desenvolvimento sustentável somente será alcançado
com uma efetiva cultura da igualdade substantiva ou material (justiça social),
remetendo o debate para as causas estruturais da degradação socioambiental, ou
seja, o modo de produção capitalista.
Muito embora não se tenha um indicador exato para inferir valores
numéricos entre a questão socioambiental e a degradação ambiental Procura-se
mostrar que a despeito da importância da reintrodução do elemento social, como
condições básicas de existência no conceito de desenvolvimento, descolando-o,
com propriedade, do conceito de crescimento econômico. A argumentação de
Amartya Sen modifica muito pouco a visão liberal que tem norteado as políticas de
desenvolvimento defendidas pelos órgãos multilaterais: “O desenvolvimento consiste
na eliminação de privações de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades
das pessoas de exercer ponderadamente sua condição de agente” (SEN, 2000, p.
10). “Com oportunidades sociais adequadas, os indivíduos podem efetivamente
moldar seu próprio destino e ajudar uns aos outros” (SEN, 2000, p. 26). Para o
autor, o homem busca outras coisas em sua vida além da maximização de sua
59
satisfação a partir de uma cesta de bens; busca outros valores que não
exclusivamente a utilidade, ligado apenas ao aspecto egoísta da natureza humana
(SEN, 2001, p. 108-109). O homem também busca a realização de coisas para as
quais dá valor (como a independência política de seu país, a eliminação da fome)
bem como a realização de coisas produzidas por seus próprios esforços (como ser
parte ativa da produção) (SEM, 2001, p.105).
Becker (2002) com sua visão mais voltada para Amazônia, afirma que a
fronteira sócio-ambiental, reproduzindo o modelo de desenvolvimento endógeno,
voltado para uma visão interna da região e para os habitantes locais, introduziu uma
nova e fundamental potencialidade para a Amazônia. Sua importância transcende as
populações envolvidas – os experimentos em curso são formas locais de solução de
um problema global, qual seja a proteção da biodiversidade. Tal problema
compareceu nos circuitos de comunicação das organizações internacionais que
atuaram no campo ambiental durante esta época. Isto pode ser explicado pelo fato
de que tais denominações refletiam conotações supostamente menos radicais em
termos ideológicos e mais coerentes relativamente a uma diretriz de experimentação
politicamente cautelosa com a idéia da nova ordem econômica internacional.
No contexto desse cenário, o modelo socioambiental, apesar de mostrar-se
em oposição ao modelo predatório, tem um aspecto nefasto dentro da dinâmica
regional direcionada à integração com a economia nacional, forjando-se crescimento
econômico com concentração de renda e desequilíbrio ambiental, ao passo que se
vincula cada vez mais ao capital financeiro internacional que patrocina suas ações
na Amazônia continental.
De acordo com Becker (2002), este modelo sócio-ambiental seria capaz de
utilizar os recursos naturais sem destruí-los e de internalizar os benefícios para as
populações locais, ou seja, um novo modo de produzir baseado na ciência e
tecnologia, envolvendo: a) redes de pesquisa, ampliando o número de projetos
conjuntos na UNAMAZ; b) projetos conjuntos para conhecimento e uso da
biodiversidade (cadeias produtivas) e da água; c) redes técnicas não impactantes:
telecomunicações e informação (papel importante do SIPAM), energia e navegação
fluvial e aérea; d) planejamento do uso integrado das cidades gêmeas de fronteira,
onde convergem os fluxos transfronteiriços, que constituem embriões de integração.
60
Diante de tudo isso, permanece a pergunta: é possível existir um modelo de
uso capaz de gerar riqueza e emprego e/ou trabalho sem destruir a floresta e
preservar biodiversidade ou a sociodiversidade na Amazônia? Uma possível
resposta somente pode ser obtida no médio ou longo prazo, com o avanço da
tecnologia, da ciência e valorização da biodiversidade local.
Quadro 1: O modelo socioambiental em oposição ao modelo predatório na região
Fases do
Desenvolvimento
Demografia Economia
Formas de
Participação
Papel do
Estado
Recursos
Naturais
Modelo
Colonial
Genocídio,
importação de
populações
exógenas.
Exploração das
drogas do sertão
Escravidão e
trabalho
forçado
Conquista
militar e
afirmação da
dominação
territorial
Exploração
irrestrita do
ecossistema
regional,
introdução de
cultivos e
espécies
exógenas.
Aviamento
Aporte
demográfico
extra-regional
importante
Hegemonia da
borracha no
extrativismo,
atividades
privadas,
escambo.
Imobilização da
mão-de-obra,
exclusão do
mercado e da
participação
política.
Fraca
intervenção
do Estado
Exploração
extensiva e
irrestrita do
ecossistema
regional
Desenvolvimentismo
Aporte
demográfico
extra-regional
importante
Investimentos
estatais em infra-
estrutura e
subvenção para
grandes
empreendimentos
do setor privado,
introdução do
assalariamento.
Inclusão
autoritária em
determinados
projetos,
exclusão das
populações
regionais.
Estado
autoritário
Destruição do
capital natural
e substituição
dos
ecossistemas
por cultivos
exógenos
Socioambiental
Recomposições
demográficas
intra-regionais,
diferenciação
dos espaços.
Diversificação das
fontes de
investimentos e
descentralização
dos projetos e
políticas.
Modelo
participativo
(associativismo,
etc.)
Estado/terceir
o
setor, (redes,
articulação,
participação
do setor
privado).
Valorização da
biodiversidade,
e tentativa de
criação de
agrossistemas
sustentáveis.
Fonte: BECKER, 2002.
A representação do Quadro 1 demonstra que Estado nacional passou por
diversas fases, a partir de uma perspectiva histórica alinhavada pelas repercussões
das reformas do Estado no que tange as políticas e estratégias voltadas para a
exploração mercantil dos recursos naturais com a destruição do capital natural e
substituição dos ecossistemas por cultivos exógenos de caráter agroexportador.
Importa destacar, por um lado, que desigualdade social e degradação
ambiental apresentadas nos modelos anteriores sempre andaram juntas na
Amazônia, confrontando com o modelo socioambiental. Por outro, que as agressões
ao meio ambiente (custos ambientais) afetam as pessoas que dele dependem para
61
viver e trabalhar, de modo desigual ou segundo sua vinculação ao modo de
produção hegemônico (como residir próximo às indústrias poluidoras, lixões,
margens dos cursos d’água e áreas com elevada declividade), determinando que
grupos em piores condições socioeconômicas fiquem mais expostos do que outros a
riscos ambientais (NOVICKI e MACCARIELLO, 2002).
Nessa classificação, as categorias socioambientais são distinguidas em
termos da pressão de uso e do impacto que exercem sobre o ambiente,
relacionados ao modo como ocupam, exploram e concebem sua relação com a
natureza. O comportamento que uma dada categoria socioambiental tem em relação
ao ambiente é influenciado por características de sua formação social, tais como a
orientação de sua produção econômica, o grau de envolvimento com o mercado e a
posse de uma cultura ecológica.
A Globalização na Amazônia Brasileira
A história no Brasil, durante a maior parte dos anos do século XX viveu a
égide da forte intervenção estatal na vida da população e na economia.
Antigamente, o Estado brasileiro, era dono de inúmeras empresas e exercia os
monopólios da exploração de petróleo, geração e distribuição de energia elétrica,
serviços de telefonia e mais alguns. Há Amazônia nos dias atuais está envolta na
teia mundial denominada globalização. Segundo Castells (2001-b), o fenômeno, que
invade fronteiras, modifica costumes, expande as novas técnicas científicas e
tecnológicas, constroem e destroem mercados, com a sua dinâmica, dificulta o
controle estatal sobre ela. Novas formas de atividades são levadas a cabo, como a
tecnologia da informação e de transações comerciais feitas entre países em questão
de segundos, obrigando as instituições estatais a repensar suas estratégias.
Paula (2004) relata que as críticas ao "Estado intervencionista" e a crescente
valoração do mercado como dinamizador do desenvolvimento, legitimam uma
escalada de reprivatização do patrimônio natural na Amazônia, que são expressos
nitidamente na concessão legal de terras públicas a grandes empresas privadas
para fins de exploração comercial de madeiras em larga escala. Resume o trabalho,
concordando com Janine Brodie (1996) que o aprofundamento dos estudos sobre a
"reconfiguração da linha divisória entre público e privado" marcaram a edificação do
62
Estado moderno é essencial para a compreensão do papel reservado ao aparato
estatal no período recente.
Essa onda globalizante provoca transformações com suas implicações
econômicas, políticas e sociais, resultando na dissolução de fronteiras, numa dança
que define as forças dominantes, ora num, ora noutro território. Gera, com isso, o
enfraquecimento do Estado-nação, que não mais monopoliza essas forças, as quais
invadem territórios rasgando fronteiras e que são representadas por corporações
empresariais, conglomerados, organizações e agências transnacionais. São os
fluxos de capitais, pessoas, dinheiro e outros que passam a definir o lugar de
importância no momento, pelos seus mais variados aspectos e que foi denominado
por Castells (2001-b) como "espaços fluxos". De acordo com ele:
O controle do Estado sobre o tempo e o espaço vem sendo
sobrepujado pelos fluxos globais de capital, produtos, serviços, tecnologia,
comunicação e informação. A apreensão do tempo histórico pelo Estado
mediante a apropriação da tradição e a (re)construção da identidade
nacional passou a enfrentar o desafio imposto pelas identidades múltiplas
definidas por sujeitos autônomos. A tentativa de o Estado reafirmar seu
poder na arena global pelo desenvolvimento de instituições supranacionais
acaba comprometendo mais sua soberania (CASTELLS, 2001-b, p.287).
O sistema capitalista que se disseminou pelo mundo, trazendo na bagagem
a idéia da individualização do lucro e do pensamento neoliberal, exige a abertura
das fronteiras de todos os países do globo, conduzindo com isso várias formas de
dominação das potências desenvolvidas sobre países situados na periferia e semi-
periferia do capitalismo. Verifica-se, de outro lado, que, com a abertura dos
mercados e a dominação do capital e do lucro pelos países desenvolvidos cresce a
situação de pobreza dos países periféricos, com imensos efeitos negativos para sua
população. A versatilidade de empresas multinacionais financiadas pelo capital
financeiro volátil propiciam a desestabilização do emprego, criam subemprego,
contribuindo para o aparecimento uma camada de miseráveis, sem as condições
mínimas de sobrevivência.
A economia encontra-se globalizada e não é possível controlar as dinâmicas
que extrapolam seus limites territoriais, fazendo com que o estado tenha seu poder
de decisão reduzido. Ao mesmo tempo em que esse Estado perde sua identidade,
as instituições multilaterais se tornam muito mais fortalecidas, produzindo, e
tomando decisões. Essas organizações, econômicas, políticas, culturais ou sociais
63
exercem diversas funções com exclusiva tomada de decisões, liberando valores ou
retendo-os, na medida do "comportamento" dos países beneficiados. Interessante
frisar, que esse procedimento é uma forma de dominação, pois tais organizações,
comandadas, geralmente, por países desenvolvidos, passam a ditar normas que, na
maioria das vezes, não só influenciam na economia, mas também e, principalmente,
na política dos Estados beneficiados.
Verifica-se que a globalização, principalmente no sentido econômico, não se
daria de forma tão rápida, envolvente e dominante, não fosse a existência do campo
fértil – para ela – do sistema capitalista de governo.
Yanni (1998, p.132) relata que
com ele revoluciona-se a forma de vida e de trabalho. O homem adere ao sistema,
individualiza-se cada vez mais e é impelido ao consumo desenfreado – enquanto
possui a mercadoria de troca que é o dinheiro, aderindo às campanhas da grande
mídia que impulsiona o consumismo através de seus poderosos veículos. O
comércio se expande na busca de matérias–primas, de outras fontes de lucro, ao
mesmo tempo em que instituem colonialismos, imperialismos, sistemas econômicos,
normalmente centralizados em capitais de nações dominantes.
O processo de dominação dos países industrializados sobre os mais pobres
não deixa, no entanto, de produzir determinados efeitos sobre as comunidades das
nações dominadas, como transformações sociais e políticas. Nesse contexto,
principalmente, após a falência de algumas potências comunistas, o capitalismo
atinge uma escala global e um caráter mais nítido, disseminando-se pelas
sociedades mundiais.
Paula (2005) acredita que esta formulação de Gramsci acerca do “Estado
ampliado” nos oferece um campo extremamente promissor para analisar a relação
Estado/desenvolvimento. Através dela, é possível pensar o Estado como expressão
de processos econômicos e sociais conflitivos, pactuados politicamente num espaço
conformado por diversos mediadores que atuam sob contextos condicionados. No
caso brasileiro, a análise desses condicionamentos deve levar em conta o processo
64
marcado por um tipo de “transição pelo alto”, de “revolução passiva”
11,
que
caracterizou a sua modernização capitalista.
No caso da Amazônia Brasileira percebem-se modificações consideráveis na
sociedade civil. No campo, o processo de organização social até meados dos anos
1970 era bastante incipiente, pouco expressivo neste contexto, mas já existiam as
primeiras iniciativas de defesa da Amazônia e luta contra sua devastação. Foi a
partir de anos de 1980 que surgiram na Amazônia as primeiras ONG’s -
organizações não-governamentais e o movimento ambientalista. Segundo Paula
(2005) [...] algumas organizações expressam bem o olhar tradicional de colonizador,
de “mercadores da natureza” que circulam pela Amazônia no período recente.
As ONG’s são organizações da sociedade civil, como a base da qual partem
as solicitações às quais o sistema político está chamado a responder; como o
campo das várias formas de mobilização, de associação e de organização das
forças sociais que impelem à conquista do poder político (BOBBIO,1996). ‘Sem fins
lucrativos’, geralmente são entidades de pequeno porte, embora algumas tenham
poder e capacidade diferenciadas. Suas características são também pouco
conhecidas, e elas se encontram, inclusive, as "quase empresas" (ex: institutos de
pesquisa e consultorias) e mesmo empresas travestidas de entidades sem fins
lucrativos, ou seja "entidades" que desenvolvem atividades produtivas, comerciais
ou de serviços, mas que se escondem da carga tributária elegendo constituir-se (ou
transformar-se) em ESFL’s - Entidades Sem Fins Lucrativos (PONTES e BAVA -
1996 e SANT'ANNA/1996).
Para Peliano (1991), a variação da terminologia parece ser introduzida para
demarcar enormes diferenças entre as organizações, principalmente quanto aos
objetivos, população-alvo, orientação política e ideológica, e origem de seus
membros. A partir de 1990 são denominadas pelos organismos internacionais como
"instrumentos de desenvolvimento" Se o elo entre desenvolvimento e sociedade civil,
por mais estranho que tenha parecido nos anos 70, é relevante para a discussão
dos anos 90, isto se deve ao fato de que, muito do que aconteceu nos últimos 20
11 - O conceito de Revolução Passiva apontada por Paula, (2005) refere-se àquelas em que a
transição para o capitalismo se processa sem ruptura entre atraso e moderno, cabendo ao
Estado a direção política do processo de acumulação capitalista. [...] tendência a concentração
mais acentuada de poder na esfera da sociedade política, menos na sociedade civil.
65
anos não poderia ter sido previsto, com base nas teorias econômicas e políticas
existentes na época. Particularmente, a teoria da dependência não poderia ter
previsto, por exemplo, a transição para a democracia, em grande parte da América
Latina, muito menos que a criação de um universo autônomo da sociedade civil seria
a "parceria" para grande parte dessa transição. Vários países serviriam para ilustrar
a relação entre a transição para a democracia e o papel da sociedade civil, mas para
o propósito presente, o Brasil é talvez o caso mais relevante. (WOLFE,1991), neste
caso, surge a sigla ONG que é acompanhada de outros qualitativos: ONG de
desenvolvimento, de cooperação para o desenvolvimento, a serviço do movimento
popular, filantrópica e comunitária. Em 1992, passam a existir com maior autonomia
e dentro de uma nova relação entre Estado e Sociedade Civil, buscando nela, a
formação de novas fontes de legitimidade e, portanto, novas áreas de consenso.
No Estado autoritário, a tradição destas ONG’s, principalmente aquelas de
perfil político, era de resistência. No processo de redemocratização do Estado
brasileiro a Constituição de 1988, estabelece novos princípios de organização do
Estado e das políticas sociais a partir do paradigma de Direitos. Fortalece as
tendências à descentralização do poder, da distribuição de bens e serviços e maior
participação popular na gestão local.
A interconexão dos cenários políticos nacional e internacional, e das faces
internas/externas da soberania tem sua manifestação mais clara nestas ONG’s -
organizações não-governamentais, que, na Amazônia estão presentes em todas as
outras formas de restrições e pressões. Vias de regra, elas atuam em conjunto com
outros atores, particularmente as organizações cientificas, religiosas e grupos
econômicos, que podem ou não se fazer presentes.
Estas ONG’s constituem a forma não oficial de acesso à informação,
atuando em projetos elaborados a partir “da base”, ou seja, atuam diretamente junto
à população, constituindo forte influência política, e não divulgam esta informação
sobre seus parceiros e sobre os recursos que recebem. À semelhança da
comunidade científica estrangeira, alcançaram autonomia excessiva na região
Amazônica. (BECKER, 2004 p. 193).
66
É difícil identificar o número correto de ONG’s que atuam na Amazônia, suas
origens e suas funções. A partir de estudos pioneiros de Fernandes e Carneiro
(1991) e Landim (1993), é possível, assinalar para o universo de entidades, algumas
características básicas reveladoras de seu papel no início da década de 1990.
As ONG’s na sua independência em relação ao Estado tem o
papel de mediadoras, elas são pequenas organizações micro-articuladoras
que circulam em espaços fortemente condicionados pela força de
organizações maiores, sem fins lucrativos, mas que não se confundem com
instituições filantrópicas. Ser pequeno é um valor em termos de eficiência,
agilidade e autenticidade afirmado a vantagem comparativa das micro-
organizações frente às grandes estruturas. A maioria identifica como suas
principais funções as de assessoria, seguida de pesquisa e
formação/educação. Neste universo variado, o grupo que mais se aproxima
de um conjunto estruturado é o serviços de Assessoria e Apoio ao
Movimento Popular – AMP (BECKER, 2004 p.194).
Ainda de acordo com Becker (2004) existe organização em redes
transnacionais e sua existência está condicionada à cooperação internacional na
medida em que são independentes do Estado, estão na contramão do mercado e
não são instituições filantrópicas. São parcerias voltadas para dilemas globais,
tratando-se de uma rede de redes, de abrangência planetária. As articulações
dominantes, estabelecidas segundo a importância dos financiamentos recebidos
para 102 ONG’s, são: Alemanha (57), Holanda (53), EUA (42), Inglaterra (31),
Canadá (28), França (27), Suíça (20); entre 15 a 10, figuram Irlanda, Itália e Bélgica,
e abaixo de 10 a Suécia, Áustria, Espanha, Dinamarca, Portugal, Finlândia e
Luxemburgo. (p.195).
O predomínio de agências protestantes é inconteste. Têm grande
importância orçamentária para quase a metade das ONG’s - 45% da
amostra de 102 ONG’s – enquanto as agências católicas têm importância
apenas para 25% da amostra. Ao que tudo indica, trata-se de um novo ator
versátil, capaz de agilizar - imprimir velocidade - à transformação,
contornando a rigidez da máquina do Estado, com quem pode ou não
realizar parceria. (BECKER, 2004 p.196).
A existência das ONG’s continua condicionada à cooperação internacional
assim como persiste sua dupla face – apoio – à proteção ao meio ambiente e às
populações excluídas e, por outro lado, independência do Estado e acesso à
informação sobre a natureza amazônica e o saber local.
A proliferação de ONG’s na Amazônia foi possível, em grande parte, porque
encontra um terreno fértil para sua atuação, decorrente dos conflitos de terra e de
67
território nas décadas de 1970 e 1980 que geraram fortes movimentos sociais das
populações locais, e decorrentes também da ausência do Estado em face das
dificuldades de controle de tão extensa região. Resultam elas da combinação de
processos e atores atuantes em várias escalas geográficas, a saber: A resistência
de populações tradicionais à expropriação de seus territórios e identidades. A
expressão maior dessa resistência é Chico Mendes, líder do “empate” dos
seringueiros, mas não menos importantes foram as reivindicações de índios,
ribeirinhos e de ex-colonos que se endogeneizaram na região.
Para sua sobrevivência, os grupos sociais utilizam redes transnacionais, que
viabilizam parcerias externas com ONG’s, igrejas, partidos políticos e governos. Em
conjunto, destacam-se duas novas entidades na organização da sociedade civil: o
Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) que agrega mais de 300 associações, e a
Confederação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira ( COIAB) com 44
associações. Ao contrário da política das décadas anteriores, a política ambiental
visa o desenvolvimento sustentável, fundamentando-se numa ação descentralizada
e participativa para proteção da natureza, uso sustentável dos recursos naturais e
melhoria da qualidade de vida das populações locais. Certamente, há também
interesses de controle da informação sobre o saber local e o próprio território pelos
parceiros nacionais e internacionais. (BECKER, 2004. p. 197).
Em nível territorial, as ações ambientalistas orientam-se para um modelo
endógeno. Se a origem dessa tendência reside nos movimentos sociais, foi o PPG-7
que se transformou no grande indutor dos projetos endógenos, através de uma
estratégia descentralizada que envolve as principais reivindicações sociais.
Iniciativas inovadoras de populações tradicionais tiveram como objetivo garantir a
sobrevivência mediante a manutenção do acesso a terra e a floresta, e a Igreja
Católica contribuiu decisivamente para esse propósito, seguida do apoio dos
sindicatos.
A proteção da biodiversidade tornou-se um segundo objetivo, explícito, à
medida que recebeu apoio variado de ONG’s, organizações religiosas e agências
governamentais, internacionais. Nesse processo, transformaram-se em “sentinelas
da floresta”, mas também geraram novas estratégias de posse e gestão da terra,
novas formas de uso e proteção da biodiversidade, e mesmo novos conceitos. A
68
prática social precedendo, mesmo, a investigação científica. Hoje, tais iniciativas
tendem também a se consolidar. Informações obtidas em pesquisa direta, no campo,
permitem exemplificar a ação das ONG’s junto às populações locais, valendo
registrar que, via de regra, sua presença se dá em conjunto com outros atores
internacionais. No caso dos seringueiros, o movimento social se consolidou com o
Conselho Nacional dos Seringueiros.
Com a formação de novos mediadores (ONG’s, CNS, associações,
cooperativas, etc.) o movimento sindical que tinha o STR’s como espinha dorsal na
sua estratégia de luta e negociações, chegou aos anos 90 em situação de franca
decadência. As mediações que antes eram feitas exclusivamente pelo sindicato
passam a ser fragmentadas (senão em grande medida descaracterizada) enquanto
organização construtora de uma visão de mundo, da classe rural, visto que algumas
dessas novas organizações mediadoras estabeleceram uma relação de
dependência frente às esferas governamentais e instituições públicas
representativas. Com o surgimento de associações, cooperativas, as ONG’s que
trouxeram consigo a temática ambiental, e principalmente com a criação do CNS em
1985. O CNS modificou substancialmente a mediação das demandas fruto das lutas
sociais no agro, de tal forma que o espaço antes ocupado pelo sindicato passa a
ceder o lugar para as citadas instituições (PAULA, 1998).
A Resex Chico Mendes (AC) contou a partir da década de 1990 com novos
aliados e, em 1994, tinha os seguintes convênios: Fundação McArthur, Health
Unlimited, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), International
Development Research Centre (IDRC), Osman, Miserior, Fundação Konrad
Adenauer, WWF, Embaixadas da Suíça e da Áustria, além de colaborações de
organizações nacionais como o Bndes, a USP e a Unicamp, e a Fundação Gaia
(MURRIETA E RUEDA, 1995). A maioria dessas organizações internacionais
contribuía com capital financeiro patrocinando pesquisa sobre produtos amazônicos
no lócus.
Foi nos projetos comunitários alternativos da produção familiar, hoje
denominado de modelo socioambiental, que se pode verificar a atuação complexa
das ONG’s com outros atores, ou seja, das redes de parcerias (BECKER, 2002). O
69
predomínio das relações locais e globais no contato da floresta com áreas
povoadas. Uma situação se inclui nesse modelo: o vale do Rio Acre.
O Estado do Acre é um dos que apresenta maior concentração de projetos
na Amazônia. Sua localização estratégica como baluarte de defesa da floresta, no
contato com a frente mais avançada da expansão colonizadora influiu na resistência
dos seringueiros e ex-colonos à sua expropriação, e atraiu os interesses
ambientalistas legítimos, ainda mais considerando que se trata de uma fronteira
política com outros países amazônicos. Dois elementos se destacam no vale do Rio
Acre: o primeiro formado por uma cadeia hierarquizada e complexa das redes de
relações, identificando-se os produtores organizados em associações, os parceiros
externos e as organizações intermediárias entre estes e os produtores; enquanto
que o segundo era a força da organização local, expressa na multiplicidade de
associações e, sobretudo, na presença daquelas organizações intermediárias,
legado da luta dos seringueiros, do trabalho de base da Igreja Católica, e hoje, do
forte apoio do governo estadual.
As organizações intermediárias são importantes mediadoras das redes de
parcerias, para elas convergindo grande parte do apoio financeiro e técnico que é
repassado para as associações de produtores. São de natureza não governamental,
como o Centro de Trabalhadores da Amazônia (CTA), e o Grupo de Pesquisa e
Extensão do Acre (PESACRE), ou ainda associativa, no caso da Central de
Associações de Pequenos Produtores de Epitaciolândia e Brasiléia (CAPEB). A
força sindical e representativa tem peso importante. Sua maior expressão é o
Conselho Nacional de Seringueiros (CNS), com forte influência no Conselho
Nacional das Populações Tradicionais (CNPT), integrante do Ibama, e na Resex
Xapuri (lócus de Chico Mendes), importante núcleo extrativista. Os Sindicatos dos
Trabalhadores Rurais de várias cidades apóiam outras associações. Vale registrar
que algumas associações alcançaram dinamismo suficiente para atrair diretamente
alguns parceiros, sem mediação, inclusive empresários industriais.
O PESACRE tem cinco financiadores internacionais: USAID, Universidade
da Flórida através do Programa de Proteção do Meio Ambiente e das Comunidades
Indígenas (PMACI), Unicef, PPG-7 (nacional/internacional) e o Comité Catholique
Contre la Faim et pour le Développement (CCFD). As relações em nível nacional se
70
efetuam com o Incra, Ibama e Embrapa, dado o caráter ambiental dos projetos, e em
nível regional com o BASA (Banco da Amazônia S/A.). Ressaltam-se as importantes
relações com instituições estaduais locais, envolvendo o governo do Acre, a
Universidade Federal do Acre, a ONG SOS Amazônia, e o próprio CTA, além da
Igreja Católica e a Agroindústria Brial. O CTA, sediado em Rio Branco, através do
Projeto de Assentamento Agro-Extrativista (PAE) em Porto Dias realiza a mediação
com uma associação de seringueiros no Baixo Acre. Cinco de seus parceiros são
internacionais: Forest Stewardship Council (FSC), através do Imaflora; PPG7; BID;
WWF e a organização religiosa holandesa Novibe. (BECKER, 2004 p. 200).
É possível visualizar, portanto, o predomínio de redes de relações locais e
globais no Vale do Rio Acre contornando as escalas regionais e, sobretudo, a
nacional. Deve-se reforçar, contudo, que entre as forças locais o governo estadual é
fundamental, mas seu grau de autonomia nesta relação ficam sob suspeitas.
Na realidade este tecido é contraditório, porque insere interesses desiguais,
ideologias, projetos, etc. Assim, Fortes, (1996) enfatiza que a cooperação é
"autônoma" e conflituosa e está sendo construída entre sociedade civil e sociedade
política. O Estado social baseia-se na redefinição das relações clássicas entre
sociedade civil e política, na politização das relações civis, por meio de intervenção
do Estado na economia e nas corporações, na política econômica, e um processo de
"civilização" das relações políticas. Baseia-se também na legalização da classe
operária e de suas organizações que, além de serem legitimadas, podem participar
de pactos e relações que transcendem a democracia parlamentar. Por outro lado, se
assume como investidor econômico, regulador da economia e dos conflitos, mas
também, benfeitor que procura conciliar crescimento com legitimidade da ordem
social.
É nessa cooperação "autônoma" que as ONG’s deverão ter um papel
propositivo e alternativo, em contraponto a parceria baseada na ajuda caritativa
(filantrópica), histórica na relação de algumas ONG’s com o Estado. Nesse contexto,
o papel das ONG’s é construir conhecimento e competência histórica para garantir
direitos aos Setores Populares, não substituindo os Governos e nem sanando as
conseqüências sociais do desenvolvimento capitalista, e tão pouco domesticando as
chamadas forças livres do mercado. As ONG’s são simplesmente atores sociais da
71
sociedade civil, entre outros, que trabalham pela construção de sociedades
democráticas, ou simplesmente sofrem com sua ausência (SOUZA, 1991).
De acordo com Wolfe (1994), a participação da sociedade civil é tão
importante no Estado como no mercado, e sua intervenção deve ser no plano da
mobilização, organização e participação para o enfrentamento de questões não
econômicas, como por exemplo: direitos humanos, meio ambiente, família,
solidariedade, mobilização, conhecimentos, etc. para garantir sua autonomia,
identidade e democratização.
As ONG’s, portanto, não podem ser concebidas ou analisadas através de
abordagens totalizantes, ao contrário, enfatizam a diversidade, não apontam um
modelo, mas apontam um processo. Elas, em determinados momento, podem
contribuir para a descentralização do poder da sociedade política administrativa que
preconiza um maior envolvimento de governos estaduais, municipais e dessas
diversas organizações representativas da sociedade civil na formulação e
implementação de políticas setoriais (PAULA, 2005. p. 151). Ao mesmo tempo em
que cresce a desigualdade social das populações, o Estado-nação vai ficando cada
vez mais debilitado, perdendo suas mais nobres funções, começando com a
dominação econômica através das "ajudas" das instituições financeiras e de países
ricos interessados na manutenção desse status quo, as quais, normalmente,
desembocam na vala seguinte que é a dominação política, na região temos USAID,
BIRD, Banco Mundial, WWF, KFW e outras dezenas. A "ajuda", através de
empréstimo, doação e parcerias vêm sempre interligadas as várias imposições
econômicas e políticas, sob pena de indeferimento, causando, portanto, a
debilitação do Estado-nação. Na discussão sobre o futuro do Estado-nação, na
região MAP, há erros que devem ser evitados. Para Löwy [s/d], ”é de considerar o
Estado-Nação como instituições em declínio, desaparecimento ou perda de qualquer
poder político e/ou econômico como resultado do processo de globalização e outro é
acreditar que a defesa de nação e da soberania nacional é a única ou a principal
linha de defesa contras os estragos do mercado globalizado”. Contrariamente ao
que se afirma, o Estado-Nação continuam a jogar um papel decisivo no campo
político e econômico, pois são os Estados dos países capitalistas dominantes,
através de seus representantes, que determinam as políticas neoliberais do G-7,
72
CAF e do Banco Mundial. São estes mesmos Estados, que utilizando seus
instrumentos militares impõe sua ordem em escala mundial. No caso dos países do
MAP, os Estados-Nações não deixam de jogar um papel importante, pois, funcionam
como correias de transmissão para o sistema de dominação imperial, se submetem
sem hesitação aos imperativos do capital financeiro e aos ditados pelo Banco
Mundial.
O Desenvolvimento é Sustentável?
Se um Estado é governado pelos princípios da razão, a pobreza e
a miséria são motivos de vergonha; se um Estado não é governado por
esses princípios, a riqueza e as honras é que são motivos de vergonha
(CONFÚCIO, apud HENRY D. THOREAU).
A palavra desenvolvimento será aqui utilizada para indicar o processo de
promoção da melhoria qualitativa das condições de vida da população de uma
região ou de um local específico. Muitas vezes essa palavra está associada à idéia
de transformação das estruturas produtivas para torná-las mais eficientes e, dessa
forma, mais apropriadas à geração de riqueza, daí a forte vinculação do termo
desenvolvimento com progresso técnico, crescimento econômico, industrialização e
modernização e outras expressões correlatas. Mais ainda, em muitos casos essas
expressões têm sido utilizadas de modo intercambiável, como se fossem sinônimas.
Isso se deve em grande parte às experiências de desenvolvimento vividas em
diversos países. No Brasil, por exemplo, o crescimento econômico e a incorporação
do progresso técnico tornaram-se a própria razão de ser dos planos governamentais
praticados até então em detrimento de outras questões, tais como, a erradicação da
pobreza e dos desequilíbrios regionais. Diante disso, é fato conhecido que muitos
planos de desenvolvimentos implementados em vários países conseguiram
modernizar suas estruturas produtivas, mas isso nem sempre levou a uma melhoria
do padrão de vida da maioria da população. Outra vez, o Brasil talvez seja um dos
exemplos mais eloqüentes de que crescimento econômico, industrialização e
modernização podem conviver por longo tempo com profundas desigualdades
sociais e regionais.
Outra idéia típica presente nesses planos de desenvolvimento, assinalada por
Barbieri (2004), foi a ausência de uma preocupação com o meio ambiente enquanto
tal, reduzindo-o à fonte de recursos necessários aos processos produtivos. Os
planos de desenvolvimento implementados no passado recente nos países da
73
periferia do capitalismo revelam uma visão instrumental do meio ambiente,
considerando-o apenas no que convinha aos objetivos econômicos. À visão
instrumental da natureza, prossegue Barbieri (2004), acrescenta-se a crença no
poder do mercado como regulador das ações dos agentes econômicos e o otimismo
na capacidade de solucionar os problemas resultantes da exploração dos recursos
através da ampliação permanente dos conhecimentos científicos e tecnológicos.
Esse otimismo baseia-se na crença de que qualquer problema de escassez no
presente ou no futuro próximo será solucionado mais adiante, de modo que sempre
haverá a possibilidade de substituição de insumos e processos produtivos. À medida
que o mercado visualiza a possibilidade de esgotamento de certo recurso natural, o
seu preço de mercado aumentaria e isso estimularia as atividades de pesquisa e
desenvolvimento científico e tecnológico para melhor aproveitar esse recurso
escasso, bem como para encontrar alternativas para substituí-lo. Para os que
adotam tal postura em relação ao meio ambiente, denominada de cornucopiana em
alusão à figura mitológica que simboliza a fortuna e a abundância eternas, os
problemas do desenvolvimento se reduzem ao crescimento da produção nacional.
Quanto às desigualdades sociais e regionais, estas acabariam sendo eliminadas
pelos efeitos do crescimento continuado, mediante o transbordamento dos
benefícios concentrados no topo da pirâmide social para os demais segmentos da
sociedade (trickle down effect). Daí a famigerada proposta de crescer primeiro para
distribuir depois.
De acordo com Barbieri (2004), a idéia de desenvolvimento acaba
naturalizando-se como anseio da maioria dos povos e hoje já está inscrito como um
dos direitos humanos inalienáveis. A Assembléia Geral da ONU, através da
Resolução 41/128 de 04/12/86, declara que o direito ao desenvolvimento é um
direito inalienável do homem em virtude do qual toda pessoa e todos os povos têm o
direito de participar e contribuir para o desenvolvimento econômico, social, cultural e
político de modo que todos os direitos e liberdades fundamentais do homem possam
ser realizadas plenamente, e de beneficiar-se desse desenvolvimento (Art. 1
o
).
Como se vê, o desenvolvimento é colocado como uma condição prévia para que os
direitos e liberdades humanas fundamentais possam ser realizados. Assim,
promover o desenvolvimento figura como um dever dos governantes e direito do
governado.
74
Ao tomar conhecimento da Carta da Terra para Educação (1997), se
observa que desenvolvimento sustentável tem vários significados, não sendo uma
coisa, a rigor definitiva. Como mostra o que a “educação é um elemento
indispensável para que ele seja atingido, mas insuficiente sem medidas de política
econômica. A economia pode mudar se houver mobilização social contra o atual
modelo capitalista insustentável. E isto está explícito na própria carta: “a economia
global de mercado, como existe atualmente, não protege o meio ambiente e não
beneficia metade da população mundial” (p. 56). Como pode existir um
desenvolvimento sustentável numa economia regida pelo lucro, pela acumulação
ilimitada, pela exploração do trabalho?
Prosseguindo, A Carta da Terra para Educação (1997, p. 20-27) relata que
esse modelo supõe que todas as sociedades devam ser guiadas por um único meio
de ascender ao bem estar e à felicidade, entendidos como acúmulo de bens
materiais. Neste caso, precisa-se também, criticar o termo “sustentabilidade” e
atribuir-lhe um novo significado. Na verdade, a sustentabilidade não pode ser
associada somente ao desenvolvimento. Ela implica em um equilíbrio do ser
humano consigo mesmo, com outro, com o planeta, e até com o universo. A
sustentabilidade que se defende refere-se ao significado: do que somos, de onde
viemos e para onde vamos. Dessa forma, uma cultura da sustentabilidade e da paz
é uma cultura que parte do princípio de que a Terra é constituída por uma única
comunidade e diversa de seres humanos, portanto somos cidadãos de um mesmo
país. As críticas ao conceito de desenvolvimento sustentável e à própria idéia de
sustentabilidade vêm do fato de que o ambientalismo trata separadamente as
questões sociais e as questões ambientais. O movimento conservacionista surgiu
como uma tentativa elitista dos países ricos no sentido de reservar grandes áreas
naturais preservadas para o seu lazer e contemplação. A Amazônia é um exemplo
clássico. Não era uma preocupação com a sustentabilidade do planeta, mas com a
continuidade dos seus privilégios, em contraste com as necessidades da maioria da
população.
Portanto a educação para ser eficaz e com desenvolvimento igualitário
(CARTA DA TERRA, p.29), deve ser uma educação eminentemente política. E isso
também está no documento (idem, p. 39): “[...] ao contrário, busca conhecer as
75
tendências e as implicações da mudança”. E conclui: “necessita-se uma educação
transformadora: uma educação que contribua a tornar realidade às mudanças
fundamentais exigidas pelos desafios da sustentabilidade” (idem, p. 43). E mais
(idem, p. 45): “aprender no âmbito do programa educação para o desenvolvimento
sustentável não pode, entretanto, limitar-se meramente a esfera pessoal – aprender
deve levar a uma participação ativa na busca e aplicação de novos padrões de
organização social e mudança”.
O que parece problemático nos documentos da Carta é a relação entre a
educação para o desenvolvimento sustentável e a educação ambiental. Ainda se
afirma que “a educação para o desenvolvimento sustentável não deve ser
equiparada à educação ambiental. Educação ambiental é – segundo o documento –
uma disciplina bem estabelecida que enfatize a relação dos homens com o ambiente
natural, as formas de conservá-lo, preservá-lo e de administrar seus recursos
adequadamente. Portanto, desenvolvimento sustentável engloba a educação
ambiental, colocando-a no contexto mais amplo dos fatores socioculturais e
questões sociopolíticas de igualdade, pobreza, democracia e qualidade de vida”
(idem. ibidem p. 43).
De fato, existem diversas conceituações para o desenvolvimento
sustentável, as mais aceitas e difundidas, não são aquelas que se referem ao não
esgotamento dos recursos naturais, e sim, as de suma necessidade para as
gerações imediatas e as que hão servir para as gerações futuras. Diante disso,
mostra-se que o conceito de sustentabilidade está interligado com a idéia de
homem-natureza que busca a conservação do meio ambiente. A visão de
sustentabilidade está associada aos termos ecologia e ambientalismo. Essa relação
é um fato, ela existe mesmo, mas a sustentabilidade não está ligada somente à
preservação de recursos naturais limitados e não renováveis, ela mostra que os
recursos gastos de forma irresponsável, sem previsão de esgotamento, poderão e
de certo farão falta para os de hoje e os que hão de vir posteriormente. Augusto de
Franco, fala que:
Sustentabilidade diz respeito também e principalmente, a um
padrão de organização de um sistema que mantém ao longo do tempo em
virtude de ter adquirido certas características que lhe confere capacidades
autocriativas. Em geral se confunde com durabilidade de ente ou processo.
Diz-se que um ente ou processo econômico, social, político, cultural,
76
institucional, ambiental ou físico-territorial é sustentável quando se mantém
prolongadamente no tempo, ou seja, quando este ente ou processo é
durável. Mas, a durabilidade é uma conseqüência da sustentabilidade. Se
um sistema é durável, então, ele é sustentável porque é capaz de auto-
organizar, de se reproduzir, enfim, de autocriar as condições para a sua
continuidade (FRANCO, 2000, p. 27).
Observa-se que tudo até agora dito, são formulações teóricas que tratam
visões da sociodiversidade humana, seja a economia, a sociologia, filosofia, a
pedagogia, antropologia e outras áreas do conhecimento, mas que estão
intimamente ligados e tem a ver com ecologia e meio ambiente. Ser sustentável,
também tem a ver com a biologia, química e física e sua interação com as demais
áreas do conhecimento, onde “uma dinâmica que começa agora a se revelar com a
ascensão do pensamento sistêmico, de rede autocatalítica, autocriativa ou
autopoiética”. (Maturana e Varela, 1972 apud FRANCO 2000, p. 28).
Operar nos ecossistemas, que não são sistemas moleculares, mas que
apresentam um padrão de organização ‘circular’ ou em rede fechada no qual a
função de cada componente consiste em participar da produção ou da
transformação dos outros componentes da rede. Dessa maneira, a rede,
continuamente, cria a si mesma. Ela é produzida por seus componentes e, por sua
vez, produz esses componentes” (Capra, 1996 apud FRANCO 2000, p. 29). Assim,
sendo, o que chamamos de sustentabilidade, é o resultado de um padrão de
organização, observado e seus ecossistemas e depois em sistemas moleculares
vivos, como células, mas que também podem ser encontrado, mutatis mutandis, em
outros sistemas complexos. Fritjof Capra defende:
[...] observando os ecossistemas, descobrimos que eles
apresentam características que lhes conferem sustentabilidade, tais como
interdependência, reciclagem, parceria, flexibilidade e diversidade, as quais
também comparecem, de algum modo, em sistemas moleculares vivos.
Talvez o que chamamos de sustentabilidade seja uma espécie de resultante
da incidência simultânea de características como estas, quer dizer, o
resultado da sua combinação (Capra, 1996 apud FRANCO, 2000, p. 29).
Diante disto, mostra-se que existe uma inter-relação ou elo de convergência
entre as comunidades ecológicas e comunidades humanas, quando ligados ao
pensamento sistêmico, ou seja, os sistemas exibem princípios regulares de
organização, de correspondência por meio de sistemas de redes, assim também é a
sustentabilidade.
77
Um ponto problemático desse conceito refere-se ao entendimento da palavra
sustentável. O conceito de sustentabilidade ligado à preservação do meio ambiente
é uma idéia recente, visto que nos países desenvolvidos o ambientalismo só tomou
corpo a partir da década de 1950. Isto deve ao fato de que a partir desta época
ficaram evidentes os danos que o crescimento econômico e a industrialização
causavam ao meio ambiente, fazendo prever as dificuldades de se manter o
desenvolvimento de uma nação com o esgotamento de seus recursos naturais
(CARVALHO, 1994).
Na teoria econômica clássica a idéia de sustentabilidade se relaciona com a
expansão de um setor moderno, representado pela indústria e os serviços, que
englobasse os setores mais tradicionais, como a agricultura. Assim, de acordo com
Rostow (1963), "os surtos esporádicos de crescimentos seriam substituídos por uma
capacidade de acumulação endogeneizada através da consolidação de uma
indústria pesada, capaz de garantir internamente sua reprodução ampliada
"(EGLER, 1993). Este sistema seria garantido por uma crescente participação das
poupanças voluntárias na renda nacional (LEWIS, 1963). Com a expansão dos
movimentos ambientalistas tratou-se de definir desenvolvimento sustentável como a
interação de crescimento econômico e conservação da natureza (CARVALHO,
1994).
Partindo da noção básica de desenvolvimento, qual seja, "A combinação da
expansão econômica persistente (crescimento) com a ampla difusão dos benefícios
deste crescimento entre a população", Gomes (1995) formula uma definição
moderna e atual que combina desenvolvimento e sustentabilidade ecológica. Assim,
desenvolvimento sustentável pressupõe a expansão econômica permanente, com
melhorias nos indicadores sociais e a preservação ambiental.
As principais dimensões da sustentabilidade apontadas por Sachs (1993),
são:
[...] sustentabilidade social, sustentabilidade econômica, ecológica,
espacial e sustentabilidade cultural. A primeira dimensão refere-se à
equidade social, ao pacto entre as atuais gerações; a sustentabilidade
econômica refere-se não só à necessidade de manter fluxos regulares de
investimentos, uma preocupação dominante nos planos de desenvolvimento
tradicionais, mas também à gestão eficiente dos recursos produtivos. Além
disso, é necessário que os benefícios do crescimento econômico fiquem na
78
região ou local para fortalecer as fontes endógenas de poupança e
investimento. A sustentabilidade ecológica, como o próprio nome indica,
refere-se às ações para evitar danos ao ambiente causados pelos
processos de desenvolvimento, tais como, substituindo o consumo de
combustíveis fósseis por outros renováveis, reduzindo as emissões de
poluentes, preservando a biodiversidade etc. A sustentabilidade espacial
concerne à busca de uma configuração rural-urbana equilibrada e uma
melhor solução para os assentamentos humanos. A sustentabilidade
cultural refere-se ao respeito que deve ser dado às diferentes culturas e às
suas contribuições para a construção de modelos de desenvolvimento
apropriados às especificidades de cada ecossistema, cada cultura e cada
local (SACHS, 1993, p. 27).
Quanto às sociedades sustentáveis, pode-se dizer que elas abrangem a
integridade dos recursos e processos ambientais naturais, com base em sistemas
políticos plurais (princípios da democracia). Quero dizer que diversidade biológica,
cultural, étnica, racial e religiosa são pressupostos da sustentabilidade.
Em vista da necessidade de produção rápida em grande escala de
alimentos, criou-se há muitas décadas um sistema de produção agrícola baseado na
aplicação de agroquímicos, chamado de agricultura tradicional. Todavia, após a
Conferência para o Desenvolvimento e o Meio Ambiente, a ECO-92, no Rio de
Janeiro, chegou-se à conclusão de que os padrões de produção e atividades
humanas em geral, notadamente a agrícola, teriam que ser modificadas. Dessa
forma, foram criadas e desenvolvidas novas diretrizes às atividades humanas,
compiladas na Agenda 21, com o objetivo de alcançarmos um desenvolvimento
duradouro e com menor impacto possível, que se chamou de desenvolvimento
sustentável e que vem norteando todos os campos de atuação. E para que uma
sociedade seja sustentável, é necessário haver a integração do desenvolvimento
com a conservação e preservação ambiental.
A política econômica pode ser um eficaz instrumento para a sustentação dos
ecossistemas e dos recursos naturais, no entanto existem falhas no modo de
atuação. Na falta de incentivos econômicos adequados, as políticas e as legislações
que visam à proteção do meio ambiente e a conservação de recursos serão
desconsideradas. Os sistemas convencionais costumam lidar com o meio ambiente
e suas funções como sendo ilimitados ou gratuitos, desta forma, incentivam a
exaustão dos recursos e a degradação dos ecossistemas. Todas as economias
dependem do meio ambiente como fonte de serviços de sustentação da vida e de
matérias-primas.
79
Apesar da adoção do conceito de desenvolvimento sustentável em
atividades de planejamento, inclusive do turismo ecológico, ele não é entendido de
maneira consensual. Destacamos as idéias de S. C. Herculano, que afirma que o
desenvolvimento sustentável tem dois significados:
[...] é uma expressão que vem sendo usada como epígrafe da boa
sociedade; senha e resumo da boa sociedade humana. Neste sentido, a
expressão ganha foros de um substituto pragmático, seja da utopia
socialista tornada ausente, seja da proposta de introdução de valores éticos
na racionalidade capitalista meramente instrumental. [...] Na sua segunda
acepção, desenvolvimento sustentável é [...] um conjunto de mecanismos
de ajustamento que resgata a funcionalidade da sociedade capitalista [...].
Neste segundo sentido, é [...] um desenvolvimento suportável,
medianamente bom, medianamente ruim, que dá para levar, que não
resgata o ser humano da sua alienação diante de um sistema de produção
formidável (HERCULANO, 1992, p. 30).
Já Ribeiro (1996), ponderam que o desenvolvimento sustentável poderia vir
a ser uma referência, desde que servisse para construir novas formas de relação
entre os seres humanos e desses com o ambiente. Apontam que o grande paradoxo
do desenvolvimento sustentável é manter a sustentabilidade, uma noção das
ciências da natureza, com o permanente avanço na produção exigida pelo
desenvolvimento, cuja matriz está na sociedade sugere distinguir:
[...] o conceito de Desenvolvimento Sustentável de sua função alienante e
justificadora de desigualdades de outra que se ampara em premissas para a
reprodução da vida bastante distintas. Desenvolvimento Sustentável poderia
ser então, o resultado de uma mudança no modo da espécie humana se
relacionar com o ambiente, no qual a ética não seria apenas entendida
numa lógica instrumental, como desponta no pensamento eco-capitalista,
mas sim, embasada em preceitos que ponderassem as temporalidades
alteras à própria espécie humana, e, porque não, também as internas à
nossa própria espécie (RIBEIRO et al., 1996. p.99).
Tendo como princípio conciliar crescimento econômico e conservação
ambiental, o conceito de desenvolvimento sustentável, por sua vacuidade, passou a
servir a interesses diversos. De nova ética do comportamento humano, passando
pela proposição de uma revolução ambiental até ser considerado um mecanismo de
ajuste da sociedade capitalista (capitalismo software), o desenvolvimento
sustentável tornou-se um discurso poderoso, promovido por organizações
internacionais, empresários e políticos, repercutindo na sociedade civil e na ordem
ambiental internacional.
80
Na verdade, o respeito pelos ecossistemas é uma conquista do processo
civilizatório, pois o homem desde os tempos das cavernas, quando vivam em
bandos, ele encarou a natureza como algo a ser desafiada e vencida ou domada,
subjugada para sua própria felicidade e para tal precisava aumentar seu “exército
populacional”. O próprio livro sagrado dos cristãos, ou seja, a Bíblia coloca o homem
como dominador e senhor da natureza e demais animais que habitam o planeta,
como se pode comprovar:
E Deus abençoou a Noé e seus filhos e disse-lhes: Crescei e
multiplicai e enchei a terra. Temam e tremam em vossa presença todos os
animais da terra, todas as aves do céu e tudo que tem vida e movimento na
Terra. Em vossas mãos pus todos os peixes do mar. Sustentai-vos de tudo
que tem vida, e movimento: Eu vos dei todas estas coisas... (GÊNESIS IX,
1-3).
Desenvolvimento Local X Sustentabilidade Global
Para Bossel (1996) e para o ICLEI - International Council for Local
Environmental Initiatives (1996), em nível regional ou local vão existir sempre três
diferentes processos de desenvolvimento, a saber, desenvolvimento econômico,
comunitário e ecológico, cada qual com seus diferentes imperativos conforme
ilustrados na Figura 3 (p. 59). Com freqüência esses imperativos apresentam
contradições entre si. Exemplos, a externalização dos custos para maximizar o lucro
privado, um imperativo econômico, pode ir contra o imperativo ecológico de valorizar
e conservar os recursos naturais; a expansão dos mercados globais e a integração
das economias nacionais através de programas de ajustes estruturais e de acordos
de livre comércio podem debilitar o imperativo comunitário de auto-suficiência local e
de satisfação das necessidades humanas básicas.
Assim, para o ICLEI, desenvolvimento sustentável é um processo para
conduzir estes três tipos de desenvolvimento com equilíbrio. Como mostra a Figura
3, o desenvolvimento sustentável é representado pela interseção desses três
processos de desenvolvimento e não se confunde com o conservacionismo, com o
desenvolvimento econômico comunitário e com a deep ecology ou o utopismo, cada
um representando uma interseção com apenas dois desses processos.
Como se vê abaixo, esse processo persegue objetivos múltiplos e
conflitantes envolvendo diversas questões. Já se está em curso uma cruzada em
81
prol do desenvolvimento sustentável, pois cada vez mais as pessoas se dão conta
de que embora vivam no local e não no global e que somente o fortalecimento
daquele poderá garantir que “as promessas da globalização” se cumpram. As
propostas de desenvolvimento sustentável não colocam em oposição o local e ao
global, no sentido de um ou outro, mas sim em confronto onde não se anulam o
outro, pois são entidades distintas e que se excluem mutuamente, embora façam
parte de uma realidade na qual se pretende atuar.
Figura 3: Desenvolvimento Sustentável em Nível Local / Regional
Fonte: BOSSEL & ICLEI, 1.996.
82
PARTE II
FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DO MAP
Desde os anos 1970, observa-se que a Amazônia representa a última
fronteira de povoamento na América do Sul, que sofre um processo de crescimento
em suas áreas de forma muito intensa. A construção de auto-estradas inter-
regionais (e internacionais), a colonização para pequenos agricultores, o
estabelecimento de grandes fazendas pecuaristas e de agronegócio, as extrações
mineral - vegetal e a realização de megaprojetos hidroelétricos representam
tentativas de modernizar a Amazônia. Infelizmente essa “modernização” traz consigo
a presença de impactos graves sobre a natureza, uma vez que irão atravessar
regiões até então intactas, além de contribuir para a expulsão de milhares de
trabalhadores rurais, proliferando favelas, tornando insuportáveis as condições de
vida, causando reações muito fortes para a população local, visto que são
considerados como social e ambientalmente destrutivos.
A partir daí, se inicia a "modernização" da Amazônia de integrá-la (ou
entregá-la) à economia regional com característica para o nível internacional. Neste
período que se iniciou na década de 1970, houve aumento dos conflitos de interesse
pela terra, uma aceleração do processo de urbanização, a marginalização da
população tradicional e a devastação de áreas consideráveis da floresta tropical.
Bem que esse processo ainda descreve grande parte do que está acontecendo na
Amazônia hoje, ademais se pode observar que na última década houve um esforço
maior de governos nacionais (brasileiro, boliviano, peruano e norte americano),
seguido de organizações não-governamentais para a implementação de um “novo
modelo de desenvolvimento” que fosse “ecologicamente ajustado, socialmente
83
equilibrado e economicamente viável”, conforme os princípios da "sustentabilidade".
É nesse contexto que é formado um “consórcio internacional” para atuar nas
localidades de Madre de Diós, Acre e Pando dando, assim origem a que hoje se
convencionou chamar de MAP.
Segundo Chávez Céspedes (2005), a incorporação e a análise de elementos
como postulados próprios de conservação, desenvolvimento com processos severos
de desflorestamento e destruição do meio ambiente na Amazônia permitem advertir
como os intercâmbios organizacionais e estruturais no MAP tem haver com a
maturação e o desenvolvimento de preocupações, interesses e capacidades entre a
cidadania e as instituições que constituem e acompanham o núcleo dinâmico da
iniciativa MAP. Indagando na história de estudos sobre a Amazônia, se pode
encontrar um antecedente direto do MAP nas investigações científicas ecológicas
brasileiras. Em 1998, no Brasil, mediante acordos internacionais de cooperação
científica — o Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia –
LBA. A principio as finalidades dessa iniciativa foi estudar as interações entre a
Amazônia e as condições atmosféricas e climáticas em escala regional e global,
através de investigações sobre bacias hidrográficas e fluxos de gases provenientes
das queimadas. O experimento mantém esse mesmo espírito:
El Experimento de Gran Escala de Ia Biosfera-Atmósfera en Ia
Amazonía es una iniciativa de investigación internacional liderada por Brasil.
El LBA tiene el propósito de generar nuevos conocimientos que permitan
entender el funcionamiento climatológico, ecológico, biogeoquímico e
hidrológico de Ia Amazonía, el impacto de los cambios en el uso del suelo
en ese funcionamiento y Ias interacciones entre Ia Amazonía y el sistema
biogeofisico global de Ia tierra
12
(CHÁVEZ CÉSPEDE, op. cit. p. 46).
E neste sentido, a partir do LBA se foi gerando uma pratica e um
pensamento “Panamazônico”, entendido com uma compreensão integral da
Amazônia continental desde os nove paises que compartilham da biodiversidade
deste ecossistema tropical: Brasil, Peru, Bolívia, Colômbia, Venezuela, Guiana,
Suriname, Guiana Francesa e Equador. Todos esses esforços visam consolidar uma
comunidade científica formada "na" e "para" a região. Essa comunidade, composta
12 - www.lba.inpa.gov.br/lba
84
por recursos humanos altamente treinados, representa o mais importante diferencial
para alcançar, ao mesmo tempo, desenvolvimento social e a preservação da região.
O MAP nasceu de discussões e entendimentos entre as inter-regiões
fronteiriças dos paises Peru (Madre de Diós), Brasil (Acre) e Bolívia (Pando), e,
portanto, assim definido “[...] es un movimiento solidario a gran escala de
ciudadanos libres e independientes; es un movimiento de ciudadanos de tres países.
El MAP es geográficamente el corazón de la Amazonía Sur-Occidental, donde se
concentra la mayor diversidad biológica del planeta, además de una extraordinaria
diversidad cultural y humana.” (http://www.map-amazonia.net – 24/06/2005).
De acordo com Chávez Céspedes (2005, p. 50-51), existe ainda algo mais.
A gestão do processo MAP está vinculada com a atividade científica do LBA na área
de Rio Branco, epicentro histórico e geográfico que tem estendido essa área de
influência de acordo com a coordenação que exigia a investigação proposta pelo
LBA nas seis linha de ações trabalhadas no Acre: 1- os efeitos presentes e futuros
dos incêndios sobre as reservas florestais e seu metabolismo, hidrologia e valor
econômico do carbono na Amazônia; 2- a dinâmica do carbono na vegetação ao
longo de corte transversal amazônico do Leste; 3- o fluxo do carbono e o novo
crescimento da Amazônia; 4- a detecção remota mediante radar da biomassa
amazônica; 5- os ciclos biogeoquímicos em terras degradadas e; 6- as trocas na
cobertura e uso do solo e dinâmica do carbono em uma fronteira em expansão na
Amazônia ocidental.
Outro ponto que se explora desde o principio de formação da Iniciativa MAP,
além dos estudos relativos fatores climáticos, é a necessidade de fomentar, o
desenvolvimento de estudos multidisciplinares e interinstitucionais que permitam a
consideração de aspectos biofísicos, sociais e econômicos nas investigações,
enfatizando a capacitação de forma integral e conjugada do conhecimento
tradicional com os estudos científicos para uma mesclagem e reconhecimento da
importância dos atores regionais. Portanto, os objetivos do consórcio propõem o
exercício de dois direitos humanos básicos, enfatizados na Declaração Universal de
Direitos do Homem e no Princípio 10 da Declaração do Rio de Janeiro: o direito de
ter acesso às informações relevantes para o desenvolvimento sustentável e o direito
de participar em decisões coletivas. Os direitos de saber e o direito de participar
85
formam os pilares do processo democrático e seu exercício é essencial para se
almejar a equidade social e para poder levar a um desenvolvimento sustentável
(SCHREIBER, 2004, p. 10).
E prossegue Schreiber (2004), o espírito de MAP reflete um movimento
social transfronteiriço que percebe que só através da colaboração e da integração
de vários segmentos de sociedades locais, regionais, nacionais e internacionais é
possível alcançar as aspirações para um desenvolvimento da Amazônia Sul-
Ocidental, que possa se sustentar para as próximas décadas e além do ano 2100. A
região do MAP abrange 220 000 km, onde habitam 500.000 pessoas. A articulação
MAP , que teve início a partir de seminários da UFAC – Universidade Federal do
Acre, contou durante os primeiros anos somente com o suporte das universidades
da região. Aos poucos aderiram governos municipais e nos dois últimos anos a
articulação foi ¨descoberta¨ pela cooperação internacional. As últimas informações
falam de investimentos da ordem de U$ 1.5 milhões, em benefício de três municípios
(Assis Brasil, Iñapari, Bolpebra), feito por um “pool” de organizações internacionais e
do Governo Holandês, sem isto ter sido objeto de discussão anterior, por exemplo,
com os movimentos sociais ou com os representantes políticos da região. [...] Há
pelo menos três grandes intervenções de apoio ao desenvolvimento econômico que
foram programadas para a região do MAP nos próximos cinco anos: A pavimentação
da Estrada Interoceânica, a construção de uma hidroelétrica e investimentos para a
agricultura mecanizada (op. cit, p. 11).
O MAP procura se apresentar não, diretamente como um consórcio, mas
como um “movimento social e ambiental transfronteiriço”. Nesse sentido, propõe a
colaboração e a integração entre os vários segmentos de sociedades locais a
sociedades internacionais, como meio para alcançar as aspirações para uma
equidade socioambiental na Amazônia Continental, que se sustente para as
próximas décadas e além do século XXI. Em suma, [...] “a articulação MAP, teve
início a partir de seminários na UFAC – Universidade Federal do Acre, onde contou
durante os primeiros anos, somente com o suporte das universidades da região.
(http://www.map-amazonia.net. página inicial.apresentação – 24/03/2005).
86
Mesa
Desenvolviment
o
Econômico
Mini-MAPs
ligados ao
Desenvolviment
o Econômico
Comitê
Científico
Mini-MAPs
ligados à
Conservação
Ambiental
Mesa
Conservação
Ambiental
Políticas
Públicas
Mini-MAPs
ligados à
Equidade
Social
Mesa
Equidade
Social
M
A
P
Peru
Brasil
Bolívia
Peru
Brasil
Bolívia
Peru
Brasil
Bolívia
Figura 4: Estrutura Organizacional do MAP e Mini-MAP’s, 2006.
Na verdade existe uma tensão entre um discurso baseado em uma
pretensão de “movimento social”; existe ainda, uma demanda real e a prática de
validar o processo não institucionalizado, mas que se reproduz ao contrastar os
princípios ou filosofia MAP, claramente identificadas desde seu início com
postulados ambientalistas e ecologistas e uma demanda social de desenvolvimento
econômico cuja máxima expressão são megaprojetos regionais, compostos de
gigantescas inversões públicas na região que acarretarão em severos impactos ao
meio ambiente, as dinâmicas sociais, culturais, geopolíticas do sudoeste amazônico.
Diante desses investimentos e o pool de organizações, o MAP tem atuado
nas áreas temáticas da preservação e conservação ambiental, desenvolvimento
econômico, políticas públicas e eqüidade social. Dentro dessas áreas, há, pelo
menos, três grandes mediações de apoio ao desenvolvimento econômico que foram
87
programadas para a região
13
do MAP nos próximos anos: a pavimentação da
estrada interoceânica, a construção de uma hidroelétrica e investimentos para a
agricultura mecanizada. Enfim, é como se a Amazônia tomasse a dianteira na
regionalização das estratégias de desenvolvimento dos três países e tentasse
recuperar o desenvolvimento como categoria capaz de integrar os desiguais em
torno de um futuro comum. Isto demonstra que pode haver mais continuidade do
que ruptura de paradigmas no processo em curso.
De tudo que já foi visto em que se baseia a iniciativa MAP? Chávez
Céspedes (op. cit, p. 59), explica que a iniciativa MAP se baseia na: 1- Declaração
universal dos Direitos Humanos; 2- Declaração da Rio (Eco-92) e na Agenda 21; 3-
no direito de saber sobre aspectos relevantes do desenvolvimento regional e; 4- no
direito de participar nas decisões coletivas. No entanto, além do que já se expôs, no
MAP há um compromisso estrito com as temáticas ambientais e ecológicas que se
vinculam com os conceitos de desenvolvimento sustentável.
Busca-se saber que tipo de apoio estas iniciativas privadas e públicas
necessitam em nível local, nacional e internacional para que possam se configurar
como núcleos de mudança de paradigmas para os padrões de desenvolvimento dito
“sustentado”, onde aspectos sociais, culturais, ambientais, políticos, éticos, étnicos e
econômicos têm pesos iguais. Serão novos modelos construídos em realidades
concretas, nas comunidades locais, mas, é necessário o apoio de um sistema
político nacional e internacional que reconheça estes direitos. É importante salientar
que além de reconhecer tais direitos deve fazer valê-los.
Não há um único caminho para iniciar um processo de desenvolvimento
sustentável local, este processo deverá perseguir objetivos múltiplos e conflitantes
envolvendo questões políticas, econômicas, sociais, culturais, ambientais, espaciais
e territoriais.
13 - De acordo com o conceito de região, VAINER (1995, p.2) diz que as regiões devem ser
entendidas enquanto, “resultado de um complexo processo histórico de construção social em
que intervêm, sincrônica e diacronicamente, relações econômicas, políticas e simbólicas. Daí
decorre a necessidade de recusar ‘ab initio’ a sugestão imanentista que, intencionalmente ou
não, está contida na expressão "interesse regional". Nem a região tem interesse em si, nem é
geradora, em si e por si, de interesses”.
88
Dessa forma, parte deste território
14
, uma vez transmutado pelo processo
em curso, tende a se tornar um corredor para a exportação de produtos do
agronegócio.
Diante dessa interação, se compartilha preocupações como a construção de
um sistema integrado que garanta o bem estar social, o direito à gestão participativa,
a questão de gênero, o fortalecimento de estruturas locais e regionais, o respeito à
diversidade cultural e aos povos tradicionais, o reconhecimento do saber local, o
acesso aos recursos necessários para viver: terra, água, energia, natureza, que são
pilares ambientais e ligados a elas, buscam-se o fortalecimento de relações
econômicas, como produções locais e regionais para garantir a segurança alimentar
e as necessidades principais para viver bem, que refletem o desenvolvimento. Toda
essa complexidade de opiniões, conflitos de interesses e busca de alternativas
“plausíveis” é o que se pode chamar de “Consórcio Trinacional MAP, para outros
convencionou o termo de Iniciativa MAP”.
O estudo da atuação do MAP justifica-se tanto pela relevância, que
traduzem os conceitos fundamentais de meio ambiente e desenvolvimento,
propostos por vários autores, que vêm sendo disseminadas nas últimas três
décadas. E também pelo pressuposto de que o termo meio ambiente designa não
tanto um “objeto” específico (“natureza”, “espaços”, “paisagens”), mas uma relação
de interdependência (VIEIRA & VIOLA, 1992). Ele pode ser assim construído a partir
14 - Sobre o conceito de Território, tratamos o espaço geográfico a partir de uma concepção que
privilegia o político ou a dominação-apropriação. Historicamente, o território na geografia foi
pensado, definido e delimitado a partir de relações de poder. No passado da Geografia, Ratzel
(1899), ao tratar do território, vincula-o ao solo, enquanto espaço ocupado por uma determinada
sociedade. A concepção clássica de território vincula-se ao domínio de uma determinada área,
imprimindo uma perspectiva de análise centrada na identidade nacional. Afirmava Ratzel (1899),
"no que se refere ao Estado, a Geografia Política está desde há muito tempo habituada a
considerar junto ao tamanho da população, o tamanho do território". Continuando, "a
organização de uma sociedade depende estritamente da natureza de seu solo, de sua situação,
o conhecimento da natureza física do país, suas vantagens e desvantagens pertence a história
política" (Ratzel, 1899). Observa-se que, historicamente, a concepção de território associa-se a
idéia de natureza e sociedade configuradas por um limite de extensão do poder.
Contemporaneamente, fala-se em complexidades territoriais, entendendo território como campo
de forças, ou "teias ou redes de relações sociais". Segundo Souza (1995), não há hoje
possibilidade de conceber "uma superposição tão absoluta entre espaço concreto com seus
atributos materiais e o território como campo de forças". Para este autor, "territórios são no fundo
relações sociais projetadas no espaço". Por conseqüência, estes espaços concretos podem
formar-se ou dissolver-se de modo muito rápido, podendo ter existência regular, porém periódica,
podendo o substrato material permanecer o mesmo.
89
da adoção de diferentes perspectivas teóricas, refletindo a opção por problemáticas
específicas no âmbito das mais variadas áreas de especialização científica.
Nosso intuito é mostrar que o consórcio MAP (Madre de Diós, Acre e Pando)
se apresenta como um conjunto de propostas políticas e estratégias de
desenvolvimento diferenciadas na Amazônia sul-ocidental, a exemplo da
administração e preservação das águas da bacia do rio Acre, gerenciamento dos
recursos naturais faunistícos e florísticos pelas populações locais, continuidade do
convívio harmônico com o meio ambiente, fortalecimento da integração regional
endógena nos aspectos econômicos, sociais, ambientais e políticos, além de
geração de modelos de desenvolvimento solidário para prevenir a degradação
ambiental e outras. Tanto pela nova forma de reterritorialização que compatibiliza
proteção ambiental com os imperativos do mercado, onde crescimento ocorreu de
forma desigual e o desequilíbrio inter-regional é muito evidente, como numa crença
na eficácia das “parcerias” entre sociedade civil organizada e governos na gestão
dos bens coletivos e dos recursos naturais. Os contrastes sociais intensos são
apresentados como fruto das estruturas socioeconômicas perversas características
dos países envolvidos. Ademais, a pobreza local na Amazônia continental é
obscurecida por um discurso que nega o alcance da desigualdade social. Entretanto
para o prof. Guilhermo Rioja – diretor de Investigações Cientifica e Tecnológicas da
Universidad Amazónica de Pando – UAP e membro do Comitê Cientifico do MAP,
destaca esta contribuição individual: “[...] el MAP es una iniciativa que surge e se vá
conformando a partir de aporte de personalidades; son personas quienes hacen el
MAP, personas que arrastran a sus instituciones. Así que, en principio se trata de
una iniciativa de tipo personal, es un voluntariado” (apud. CHÁVEZ CÉSPEDES,
2005, p. 62-63). É um voluntariado que se expressava no intercambio de
informação, pelo caráter acadêmico e ambientalista da proposta.
Localização e Área de Influência do Eixo Peru-Brasil-Bolívia
A vontade de integração da Amazônia ao Brasil e ao resto do Continente sul-
americano não é uma coisa tão nova como muitos imaginam. Isto vem anterior aos
anos de 1990, quando se vislumbrava uma nova rota comercial para o oceano
Pacífico na busca de expandir as fronteiras comerciais objetivando intercambiar
produtos locais por outros que aqui inexistiam.
90
Esta idéia de regionalização, encabeçada pela Iniciativa de Integração
Regional Sul-Americana – IIRSA que coordena toda a integração continental na
parte da região amazônica sul-ocidental veio a chamar-se de Eixo Peru-Brasil-
Bolívia, que compreende uma área de atuação superior a área pretendida pelo MAP,
como mostra a figura 5. É um eixo transversal que abrange sete departamentos da
macro-região sul do Peru (Tacna, Moquegua, Arequipa, Apurimac, Cuzco, Puno e
Madre de Diós), dois departamentos amazônicos da Bolívia (Pando e Beni) e quatro
Estados do noroeste do Brasil (Acre, Rondônia, Amazonas e Mato Grosso), abrindo
uma nova rota de integração internacional para melhor aproveitamento de seus
recursos naturais locais, como também para a integração econômica e social da
América Latina. Contudo, o diferencial centrou-se na proposta de fazer isso
respeitando os diversos modos de vida e a cultura das diferentes populações que
vivem ao longo do eixo da estrada transoceânica e do eixo fluvial do Rio Madeira
garantindo que essa população não fique marginalizada nesse processo que deveria
ser sustentável dos pontos de vista econômico, social e ambiental, além de
socialmente justo. Esta integração é coordenada pelo Instituto de Integração
Regional Sul Americano (IIRSA) que tem como braço financeiro a Corporação
Andina de Fomento (CAF) que libera recursos financeiros para complementar os
custos do asfaltamento da Estrada do Pacífico. Que terá tanto pontos positivos
quantos negativos, com maior ênfase para o lado positivo que se refere ao
escoamento de mais eficiente da produção, dá maior acesso aos serviços de saúde
á capital, maior acesso às informações, melhor nível de comunicação e inter-relação
com outras cidades, redução dos preços dos produtos industriais, agrícolas e
manufaturados (planejamento.gov.br/iirsa, 2003). No lado crítico se observa que o
asfaltamento “impulsionou a atividade madeireira na região, e os pequenos
produtores são os principais fornecedores, foi detectado a ampliação do número de
serrarias na área urbana e estas indústrias de processamento (serrarias) que limitam
duma certa forma a criação local de emprego e contribuem para ampliação de
estradas vicinais clandestinas, onde a maior parte das vicinais necessárias para o
transporte da madeira foram construídas por madeireiros, de vez e quando com
ajuda dos colonos e fazendeiros” (BARROS, 2002 & LENTINI, 2003).
No MAP as estradas são encaradas com o seguinte lema: “Vamos hacer que
la carretera sea el motor de la esperanza y no el tren de la destrucción” (CHÁVEZ
91
CESPEDES, 2005, p. 95); melhor refazendo – que a estrada seja o motor da
esperança e não o trem da destruição. No entanto não é, somente, o fator estradas
que causam “insônia” no seio do MAP, existem outros percalços que também,
trazem no seu arcabouço a problemática dos impactos ambientais, a exemplo da
construção dos megaprojetos de hidrelétricas e das mudanças climáticas que se
processam com intensidade na região.
Na realidade, de acordo com o “Informativo do LBA. CPTEC.INPE.BR -
Folha Amazônica”, nos últimos anos, os governos regionais vêm desenvolvendo
planos para a "integração sul-americana" e a ligação da região aos centros
econômicos por meio de uma rede de rodovias e hidrovias. A resposta ambiental
imediata a esses processos é a transformação da cobertura florestal, causada por
desmatamentos associados às queimadas e outras atividades. Como parte dos
projetos de integração, os governos brasileiro e peruano iniciaram um projeto de 800
milhões de dólares para a pavimentação da rodovia Inter-Oceânica que ligará o Acre
ao Pacífico.
Figura 5 : Localização e área de Influência do Eixo Peru-Brasil-Bolívia
Fonte: planejamento.gov.br/planejamento_investimento/iirsa. 2003
O círculo corresponde à área do MAP, o restante em escuro equivale a área do Eixo.
Os estudos realizados pelo Ministério do Planejamento do Brasil –
Secretaria Especial de Assuntos Estratégico (1996) e com apoio direto do IIRSA:
92
Iniciativa para Integração da Infra-estrutura Regional Sul-americana, o eixo Peru-
Brasil-Bolívia tem uma superfície estimada de 3,5 milhões de km
2
. Quanto aos seus
aspectos demográficos, fornecidos pela IIRSA existe uma população próxima a 30
milhões de habitantes, apresentando uma densidade populacional média de 5,84
hab/km
2
; com uma concentração de 66% de sua população na área urbana;
registrou uma taxa anual de crescimento populacional de 2,46% durante os últimos
10 anos. Os principias indicadores médios por país se resumem no quadro seguinte:
Os principais centros urbanos dos três países deste eixo de integração
detalham-se a seguir:
No Peru: Cidades e centros de produção: Arequipa (1.101.709 hab.), Cuzco
(1.208.869 hab.), Puno-Juliaca (294.000 hab.), Tacna (253.000 hab.), Moquegua
(58.900 hab.) e Puerto Maldonado (38.600 hab.). As localidades de fronteira: Iñapari
(1.850 hab.), Ibéria (6.660 hab.), San Lorenzo. No Brasil: Cidades e centros de
produção: Rio Branco (305.731 hab.), Porto Velho (373.917 hab.), Manaus
(1.644.690 hab.) e Cuiabá (533.800 hab.). As localidades de fronteira: Assis Brasil
(5.063 hab.), Epitaciolândia (15.615 hab), Brasiléia (17.721 hab.), Guajará-Mirim
(41.467 hab.). Na Bolívia: Cidades e centros de produção: Cobija (23.800 hab.),
Trinidad (65.128 hab.), Riberalta (49.454 hab.). As fronteiriças: Bolpebra (562 hab.),
Porvenir (1230 hab.), Extrema (250 hab.), Guayaramerín (43.100 hab.).
(http://pt.wikipedia.org/wiki, acesso em 29.11.2006). O coração dessa região está
estruturado por um sistema de pequenas e médias populações na tríplice fronteira
de Bolívia, Brasil e Peru.
Aspectos Econômicos e Infra-Estrutura Atual
O Eixo Peru-Brasil-Bolívia tem um Produto Interno Bruto - PIB estimado em
cerca de US$ 30.825 milhões, explicado pelos três países de acordo com o quadro
abaixo, demonstrando o grau de pobreza e deficiência, baixa industrialização e com
produção incipiente de produtos primários que o eixo tem para apresentar melhor
nível de crescimento do PIB:
93
Quadro 2: Demonstrativo do PIB na área de influencia do EID.
Produto Interno Bruto Ingresso Per Capita
Área de
Influência
País
Milhões de US$ % Milhões de US$ (%) **
Peru* 9.522 30,89 2.076 82,54
Bolívia* 376 1,22 907 36,06
Brasil* 20.927 67,89 2.885 114,71
TOTAL 30.825 100,00 2.515 100,00
Fonte: planejamento.gov.br/planejamento_investimento/iirsa, 2003
* No Peru abrange sete departamentos, a parte da Bolívia, dois e o Brasil, com quatro Estados.
** Porcentagem relacionado com o valor ponto médio per capita do AdeI” (US$ 2.515).
Para tanto, Brasil é responsável por 68% do valor da produção do Eixo,
seguido em importância por Peru e Bolívia, que só contribui com um pouco mais de
1% ante a baixa população verificada em Beni e Pando.
A infra-estrutura viável apresenta um relativo desenvolvimento dentro dos
países, assim como está ilustrado a seguir:
Quadro 3: Desenvolvimento de infra-estrutura da via do Eixo Peru-Brasil-Bolívia
Indicadores Rede Viária
(km)
Parque
km/km
2
km/1000 hab. Veh. /km
Área de
Influência
Em País
Asfalto Total (Veh.) Asfalto Total Asfalto Total Asfalto Total
Peru 3.155,35 28.322,2 184.621 10,03 83,22 0,75 6,18 71,55 8,62
Bolívia 188,6 1.928,55 6.542 0,68 6,96 0,46 5,06 45,87 4,49
Brasil 9.739,35 117.436, 701.858 3,40 40,98 1,35 16,19 95,30 7,90
Fonte: planejamento.gov.br/planejamento/investimento/iirsa, 2003
Portanto, se observa que pouco mais que 14% das rodovias estão
asfaltadas, proporção explicada especialmente pelos departamentos situados em
território Brasileiro. O Eixo conta com três portos marítimos que requerem otimização
de sua infra-estrutura: Porto de Matarani, Porto de Ilo e Porto de San Juan de
Marcota. Conta com dois portos fluviais principais: Porto Velho e Porto Maldonado
(de baixa significatividade relativa). O trecho fluvial mais relevante é o Porto Velho-
Itacoatiara, sobre o Rio Madeira, com mais de 1000 km. Sua profundidade regular
de chuvas em temporada é de 8,2 metros e na temporada seca (entre setembro e
outubro) é de 2,8 metros.
94
Em relação à infra-estrutura ferroviária, o “Ferro-carril do Sul” do Peru é a
única conexão atual em funcionamento. Desenvolve-se em forma paralela e
compete pela carga com os caminhões que circulam pela atual rodovia asfaltada,
entre as cidades de Cuzco, Puno, Juliaca, Arequipa e o porto marítimo de Matarani.
Por outro lado, os Estados brasileiros do Acre, Rondônia, Amazonas e Mato Grosso,
assim como, os departamentos bolivianos de Pando e Beni, não contam com
instalações nem infra-estrutura ferroviária. Porém, estima-se que aproximadamente
no ano de 2005 estaria chegando desde o leste uma linha férrea até a cidade de
Cuiabá (capital do Estado de Mato Grosso) a cargo da Ferronorte, só que não
chegou, pois recursos financeiros que seriam destinadas para construção de pontes
férreas não foram liberados pelo Projeto Avança Brasil do Governo Federal. A
referida linha férrea permitirá comunicar-se com os portos marítimos do Atlântico,
utilizando a rede ferroviária existente que permitiria ofertar o transporte de soja, com
menores fretes que os tradicionais realizados pelos caminhões.
A Energia:
A região possui uma má distribuição de energia elétrica. Na zona do Eixo
pode-se dizer que seis dos treze âmbitos geográficos que dispõe a área de
influência do Eixo estão integrados à rede elétrica nacional (os peruanos); enquanto
que os outros sete, têm que recorrer a centrais térmicas isoladas para abastecer-se.
Em matéria de infra-estrutura de telecomunicações, os três países do Eixo vêm
efetuando importantes avanços na telefonia fixa, celular e tecnologia da informação,
mas existem importantes limitantes na qualidade da cobertura, veja o quadro:
Quadro 4: Infra-estrutura de telecomunicações do Eixo Peru-Brasil-Bolívia
Indicadores de Acesso 2001 Peru Brasil Bolívia
Linhas/1000 hab. 7,75 21,78 . 6,22Telefonia
fixa
TCA* 95-01 8,60 17,00 11,00
Linhas/1000 hab. 5,92 16,73 8,99Telefonia
Celular
TCA* 95-01 66,1 67,8 105,10
Tecnologias de
Comunicação
Linhas por 100 hab. 13,67 38,51 15,21
Internet Por 10.000 hab. 1.150 466,00 146
Tecnologias da
Informação
Computadores PC’s por 100 hab. 4,79 6,29 2,05
Fonte: planejamento.gov.br/planejamento_investimento//iirsa, 2003
* International Telecommunication Union (ITU). TCA 95-01: Taxa de crescimento anual conquistada
no período 1995-2001.
95
Potencial de desenvolvimento da Região de Influencia do MAP
O Eixo está baseado nas possibilidades que brindam o acesso ao enclave
Amazônico do Sul, que é um dos pontos de apoio da Cultura Amazônica, vinculado
ao enclave Amazônico de Manaus (Porto de Itacoatiara) através do trecho fluvial
mais relevante, que é o Rio Madeira, com uma longitude aproximadamente de 1.000
km. A região conta com uma ampla gama de recursos naturais em diferentes pisos
ecológicos, que podem constituir a base de um comércio fronteiriço que melhore
consideravelmente as condições de vida dos habitantes. Existem também
significativas jazidas de gás natural (Projeto Camisea) e capacidade excedente de
energia elétrica que podem gerar valiosos intercâmbios com outras regiões vizinhas.
Além de possuir áreas muito ricas em biodiversidade, incluindo vários parques
nacionais de grande valor e atrativo turístico, com diversas comunidades indígenas,
algumas das quais ainda se conservam muito isoladas. Trata-se de um território
propício para a investigação científica em temas de biodiversidade, riqueza
ambiental, desenvolvimento e cultura indígena. A proximidade com Cuzco (Peru),
antiga capital do Império Inca, assim como com o Altiplano Boliviano, apresenta
oportunidades para sua vinculação com centros de turismo regionais, universidades
e redes de comercialização de produtos artesanais e naturais.
As conexões entre Peru, Brasil e Bolívia são principalmente rodovias e rios
com capacidade precária para o transporte. As rodovias de acesso do Peru, que
passam pelo altiplano andino na região de Cuzco e Apurimac e descendem pelas
frágeis e biodiversas vertentes orientais da cordilheira, em direção aos planos
amazônicos por grandes extensões de bosques úmidos.
O transporte aéreo em direção a região é sumamente limitado,
especialmente desde Peru e Bolívia (Rio Branco e Porto Velho têm um serviço
periódico em um circuito com Manaus, São Paulo e Brasília). Os serviços de
telecomunicações têm muito baixo nível de cobertura e altos custos, contribuindo ao
isolamento da região.
A região de influência Peru-Brasil–Bolívia ou Eixo de Integração e
Desenvolvimento (EID) está dividida em três rotas, onde a integração proposta pode
ser traduzida por incorporação, pelos mercados mundiais, das áreas de maior
96
potencial da região para produção de commodities, que é o que o chamado mundo
desenvolvido quer da Amazônia, como a frente mais visível de seus interesses, e o
encontra na disposição do atual governo em satisfazê-lo. Apesar disso, a sociedade
civil organizada têm questionado os fundamentos da estratégia de integração
regional materializada na Iniciativa de Integração Regional Sul Americana - IIRSA, e
proposto critérios de formulação mais condizentes com as exigências de um
desenvolvimento regional social e ambientalmente equilibrado. Acima de tudo, que a
IIRSA e outras iniciativas dos governos da região ratificam a lógica histórica de
utilizar a América do Sul - e a Amazônia, em particular - como plataforma de
exportação de produtos agrícolas e florestais, com devastação ambiental,
desrespeito contra os povos tradicionais, aumento da concentração da renda e
queda dos níveis de vida para a maior parte das sociedades destes países e da
Amazônia (MENEZES, 2006).
São três os grupamentos identificados que envolvem a integração regional,
dois rodoviários e um fluvial. Entretanto, somente um dos eixos rodoviários faz
travessia pelo Acre, os demais perpassam o estado de Rondônia. “O que pouco se
divulga é que esses caminhos voltados para o oceano Pacífico diminuiria a
importância do Canal do Panamá
15
, afetando diretamente a interesses dos Estados
Unidos que controla a travessia de grande parte do comércio do Pacífico ao
Atlântico e vice-versa, o que foi fundamental para a construção da hegemonia dos
Estados Unidos em nível mundial e, especificamente, para o seu domínio sobre a
América Latina e projeção na Bacia do Pacífico em direção à Ásia (através da
grande base que é o Hawai)“ (AMAYO ZEVALLOS, 1993).
Quadro 5: Agrupamentos identificados no Eixo Peru-Brasil-Bolívia
Agrupamentos Países envolvidos
Grupo 1: Corredor Porto Velho-Rio Branco-Assis Brasil-Puerto
Maldonado-Cuzco / Juliaca - Portos do Pacífico
Brasil – Peru
Grupo 2: Corredor Rio Branco-Cobija-Riberalta-Yucumo-La Paz Brasil – Bolívia
Grupo 3: Corredor Fluvial Madeira-Madre de Diós-Beni Bolívia – Brasil – Peru
Fonte: planejamento.gov.br/planejamento_investimento/iirsa, 2003.
15 - A informação de Arróspide Mejía permite-nos tirar esta conclusão (v. Arróspide Mejía, p. 12-14,
40, 46-67, 102-103; Ferrocarril interoceánico, EC, 1 dez. 1991). A tudo isso temos a acrescentar o
fato conhecido de que a passagem pelo Canal é lenta e está ficando precária para o crescente
número de gigantescos navios cargueiros.
97
A localização geográfica e a área de influência de cada um deles está
ilustrado no quadro seguinte do mapa:
Figura 6: Agrupamentos do Eixo Peru-Brasil-Bolívia
Fonte: planejamento.gov.br/planejamento_investimento/iirsa, 2003.
Agrupamento dos Projetos e Funções Estratégicas
Agrupamento 1- Corredor Porto Velho aos Portos do Pacífico:
Apesar de não estar diretamente ligado ou atingir algum ponto estratégico
com relação ao Estado do Acre, este grupamento possui como função estratégica a
abertura de “novas possibilidades para o desenvolvimento sócio-econômico da
macro-região sul do Peru e os Estados do Acre e Rondônia do Brasil através de sua
vinculação conjunta, e facilitar o acesso de ditos estados brasileiros, assim como da
serra e amazona peruanas em direção aos mercados internacionais, em especial da
Bacia do Pacífico, impulsionando assim o processo de integração regional”
(PLANEJAMENTO.GOV.BR/PLANEJAMENTO, 2003).
98
Como mostra a figura abaixo:
Figura 7: Eixo Peru-Brasil-Bolívia – Grupo 1
Fonte: planejamento.gov.br/planejamento_investimento/iirsa, 2003.
Para esta região que já contemplada com a construção da ponte binacional
– Peru/Brasil - e asfaltamento da rodovia transoceânica apresentam-se, no momento
um volume baixo de investimentos e carente na composição de sua infra-estrutura.
pós estes investimentos na infra-estrutura viária a tendência será de melhoramento
na integração trinacional.
Quadro 6: Investimento Estimado para o Eixo 1.
Eixo Peru-Brasil-Bolívia: Grupo 1
Investimento Estimado
(US$)
Pavimentação Iñapari-Puerto Maldonado-Inambari,
Inambari-Juliaca / Inambari-Cuzco
Passo de Fronteira e construção da CEBAF (Peru-Brasil)
Ponte sobre o Rio Acre
Aeroporto Porto Maldonado
TOTAL
681.600.000
5.000.000
10.000.000
6.000.000
702.600.000
Fonte: planejamento.gov.br/planejamento_investimento/iirsa, 2003.
99
Agrupamento 2: Corredor Rio Branco-Cobija-Riberalta-Yucumo-La Paz
Sua função estratégica é proporcionar uma alternativa de integração
bioceânica através de Brasiléia / Cobija até La Paz por Riberalta e Yucumo. A partir
destas últimas cidades, se articularia até os Portos do Pacífico, conectando em seu
trajeto vastas porções pouco desenvolvidas do território noroeste brasileiro com o
noroeste boliviano. A localização geográfica específica dos projetos do agrupamento
se apresenta no seguinte mapa e circulada:
Figura 8: Eixo Peru-Brasil-Bolívia – Grupo 2
Fonte: planejamento.gov.br/planejamento_investimento/iirsa, 2003.
Quadro 7: Eixo Peru-Brasil-Bolívia – Grupo 2: Investimentos associados
Eixo Peru-Brasil-Bolívia: Grupo 2
Investimento
Estimado (US$)
Rodovia Guayaramerín-Riberalta-Yucumo-La Paz
/ Ponte Binacional Guayamerín-Guajará Mirín
Rodovia Cobija-El Chorro-Riberalta
Rodovia Yucumo-Trinidad
Rodovia Cobija-Extrema
Passo de Fronteira Bolívia-Peru (Extrema)
Passo de Fronteira Brasiléia-Cobija
TOTAL
250.000.000
80.000.000
50.000.000
25.000.000
2.000.000
2.000.000
409.000.000
Fonte: Ministério do Planejamento (Brasil), 2003.
100
Agrupamento 3: Corredor Fluvial Madeira-Madre de Diós-Beni
A Função estratégica é consolidar uma via de integração internacional fluvial
afetando principalmente a logística de transporte e o desenvolvimento sócio-
econômico das regiões de Madre de Diós no Peru, Rondônia no Brasil e Pando e
Beni na Bolívia. As localizações do agrupamento e investimentos estão na figura.
Figura 9: Eixo Peru-Brasil-Bolívia – Grupo 3
Fonte: planejamento.gov.br/planejamento_investimento/iirsa, 2003
Dentre os eixos de integração apontados pela Iniciativa para Integração da
Infra-estrutura Regional Sul-americana – IIRSA, este grupamento internacional é que
apresenta maior potencial para o desenvolvimento do transporte fluvial e hidrelétrico
na região. É a área onde haverá os maiores investimentos de capital financeiro
internacional.
101
Quadro 8: Eixo Peru-Brasil-Bolívia – Grupo 3: Investimentos associados
Eixo Peru-Brasil-Bolívia: Grupo 3
Investimento
Estimado (US$)
Navegação do Rio Madeira entre Porto Velho e Guayaramerín
Hidroelétrica Cachuela-Esperanza (Río Madre de Dios)
Hidrovia Ichilo-Mamoré
Navegação do Rio Beni (s/inf.)
Hidrovía Madre de Dios e Puerto Fluvial
Complexo Hidroelétrico do Rio Madeira incluindo comportas para navegação
Hidrelétrica Binacional Bolívia-Brasil
Linhas de transmissão entre as duas Centrais Hidroelétricas do Rio Madeira
e o sistema central
TOTAL
50.000.000
1.200.000.000
20.000.000
6.000.000
6.200.000.000
2.000.000.000
1.000.000.000
10.476.000.000
Fonte: planejamento.gov.br/planejamento_investimento/iirsa, 2003.
De acordo com o Ministério do Planejamento Brasileiro (2003), os governos
dos três países concordaram incluir no Eixo Peru-Brasil-Bolívia dezoito projetos, com
investimento estimado de US$ 11.587,60 milhões de dólares, sendo nas áreas de
transporte e energia. Mostrando a seriedade de desenvolver a Amazônia. São
grandes investimentos, envolvendo vultosas soma de recursos financeiros
internacionais que vão endividar ainda mais estes paises, pois nada vem de graça
principalmente para o hemisfério sul.
O MAP, uma denominação complexa
O território MAP pode ser entendido como uma conjuntura perpassada por
transformações econômicas, políticas, sociais, institucionais e culturais preocupado
com a intensificação das crises socioambiental e do mundo do trabalho. Suas
origens relacionam-se, por um lado, à “desterritorialização da política
16
, em que a
soberania do Estado é colocada em xeque pelos padrões de internacionalização do
processo decisório e de mundialização das atividades políticas (FIORI, 1997)
17
ou,
16 Este processo tem como principais instâncias o direito internacional e as organizações
internacionais (governos, organizações intergovernamentais, grupos de pressão transnacional e
ONG’s), de âmbito internacional (ONU, FMI, Banco Mundial, G-7) ou regional (Comunidade
Econômica Européia, Nafta, Mercosul etc.) GÓMEZ, J. M. Globalização da política: mitos, realidades
e dilemas. In: GENTILI, P. (Org.). Globalização excludente: desigualdade, exclusão e democracia na
nova ordem mundial. 2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. p. 128-179.
17 Conforme FIORI, J. L. (1977) op. cit. esta crise tem levado ao desaparecimento da militância
partidária, aumento da abstenção eleitoral, desaparecimento das diferenças entre os programas
partidários, substituição dos partidos pelos sistemas de mídia, esvaziamento das funções
102
por outro, ao movimento crescente de desterritorialização de organizações não
governamentais, empresas e conglomerados industriais em direção àqueles países
com oferta de condições operacionais favoráveis, ou seja, melhores preços da força
de trabalho, economia de transportes e recursos de infra-estrutura, além de uma
baixa preocupação em relação ao cumprimento das legislações trabalhista e
ambiental. O aprofundamento do processo de globalização econômica traz novas
demandas e exigências às organizações que utilizam, como estratégias de busca de
competitividade, o emprego maciço de novas tecnologias e de novas formas de
organização da produção e do trabalho (IANNI, 1996). As novas tecnologias,
basicamente a microeletrônica, as biotecnologias e os novos materiais têm, como
característica comum, sua aplicação universal, tanto no desenvolvimento de
produtos, quanto na organização da produção. O uso das biotecnologias e dos
novos materiais redefine a relação da produção, seja industrial ou agrícola e dos
seres humanos com a natureza (Hein Apud SOBRAL, 1997), com implicações para
o meio ambiente no local de trabalho, comunidades/sociedade, regional e em escala
planetária. Com base neste contexto, o MAP vem se preparando para atuar como
gestor na região e não como mero expectador de suas ações.
Toda vez que se falar em MAP (Madre de Diós – Acre – Pando), é preciso
considerar, sempre, a tríade – Território, Territorialidade e Territorialização. Um
mesmo espaço apropriado e constituído por uma determinada sociedade (ou
sociedades) contém, sempre, territorialidades distintas (PORTO GONÇALVES,
2001[b]).
Afirma Porto Gonçalves (2001[b]), que Antonio Gramsci, em seu seminal
artigo A Questão Meridional, desenvolveu o conceito de “bloco histórico” tendo um
claro sentido geográfico ou, se preferir, regional, e melhor seria chamá-lo “blocos
regionais (historicamente construídos) de poder”, para compreender a formação do
Estado Italiano a partir da aliança entre o Bloco Histórico (de poder) do Norte e o
Bloco Histórico (de poder) do Sul, numa circunstância histórica particular da história
geográfica italiana. O Estado, observe-se, não é um ente superestrutural que
prescinde de um território. A dimensão territorial salta à vista nos dias que correm,
parlamentares, descrédito das instituições representativas de todo tipo, aumento dos casos de
corrupção (executivo, legislativo, judiciário). Segundo ALTVATER, E. (1999) op. cit. no curso da
globalização, o espaço da política e o lugar da democracia são comprimidos com profundas
conseqüências para a governabilidade do espaço ambiental.
103
exatamente quando se vê que o Estado (territorial) entra em processo de redefinição
com o realinhamento dos diferentes grupos/classes/estamentos que se fizerem por
meio dessa territorialidade que é o Estado Nacional. Aníbal Quijano (2000[a]) tem
chamado a atenção para o fato de que hoje estamos diante de Estados que
desnacionalizam e se desdemocratizam, sobretudo na América Latina, ao serem
capturados por setores/grupos/classes que se fazem por meio de uma outra
territorialidade que não o Estado-Nação nesta quadra histórica onde se constitui um
novo padrão de poder mundial. Para tanto, o MAP vai além destas considerações.
Mundialização ou Globalização? A terminologia sofre de certa dose de
incerteza como geralmente acontece nas novas áreas do saber. Mundialização, com
efeito, não é globalização. É uma etapa que a precedeu e até a prenunciou de certo
modo, sem ter contido a totalidade de suas virtualidades ou esgotado o conjunto de
suas possibilidades e seus desdobramentos. O fenômeno de mundialização era de
natureza essencialmente espacial, relativo à concepção coperniana e finita do
planeta, à descoberta de novas regiões do mundo e sua conquista pelos europeus.
Enquanto o processo de globalização se inscreve na ordem info-temporal e tecno-
organizacional, na medida em que a particularidade da época contemporânea reside
na rearticulação das relações sociais e de produção. (ELHAJJI, 2000).
Na Amazônia sul-ocidental, ocorre na verdade uma nova forma de
regionalização que vai sobrepor às fronteiras nacionais de três paises e que procura
tomar a dianteira em seu ordenamento territorial, reformulação e reapropriação de
territórios existenciais e espaços públicos ou comunitários, ou melhor, a elaboração
de novas instâncias de produção da subjetividade e de enunciação das
singularidades. O MAP é um território se movimenta pela conflitualidade, é um
espaço de vida, de liberdade e de resistência. Por essa razão, carrega em si sua
identidade, que expressa também a sua territorialidade.
O MAP é o desejo da sociedade civil, pode se caracterizar como um novo
modelo de regionalização ímpar na Amazônia introduzindo aspectos do debate
sobre desenvolvimento e meio ambiente enfatizando a questão ambiental como
possível eixo de análise, mostrando que a eliminação da exclusão socioambiental
deve ser perseguida simultaneamente com a redução das desigualdades
econômicas e sociais no auspício de um desenvolvimento equilibrado. A
104
regionalização amazônica reside no reconhecimento da soberania dos três países
envolvidos e o único pacto que reúne países do Pacífico e do Atlântico deste
subcontinente e por fim, um conceito oposto à internacionalização. O que ocorre no
momento no MAP é que todo um processo de regionalização, porém, “no aspecto
sócio-cultural, que se caracteriza pela defesa dos recursos ambientais e culturais e,
também, pela busca de sobreviver ao processo de globalização, que, relativamente
aos países dominados economicamente, os aniquila, ou os deixa à mercê dos
industrializados. O processo de globalização (igualização) e em contrapartida o
processo de regionalização (diferenciação). O primeiro visto sob o aspecto
econômico, o segundo no aspecto sócio-cultural” (COSTA, 2004, p. 9).
Vem ainda, a primeira idéia de Iniciativa MAP que se baseia no exercício de
dois direitos humanos básicos enfatizados na Declaração Universal de Direitos
Humanos e no Princípio 10 da Declaração do Rio de Janeiro: o direito de ter acesso
às informações relevantes sobre desenvolvimento sustentável e o direito de
participar em decisões coletivas. Os direitos de saber e de participar formam os
pilares do processo democrático e o seu exercício é essencial para a construção de
um desenvolvimento sustentável da região MAP. Em dezembro de 2000, houve uma
reunião com a participação de 25 pessoas, que debateram sobre “Uso da Terra na
Região Acreana.” (FÓRUM MAP I, 2000).
Se pose insistir na idéia do MAP ser um fórum sócio-ambiental formado pelo
Peru (Madre de Diós), Brasil (Acre) e Bolívia (Pando), ele surgiu em 1999. A princípio,
a Universidade Federal do Acre sentiu a necessidade de integrar as Universidades
Amazônicas, no sentido de realizar pesquisas sobre a região, mas à medida que os
encontros aconteciam, os pesquisadores puderam perceber a importância de se
discutir juntamente com as organizações governamentais e não governamentais
estratégias para gestão dos recursos naturais na fronteira trinacional do Alto Acre –
região do MAP.
Em seis anos, os fóruns anuais cresceram significativamente, de 25 em
2000, para 1.200 participantes em 2005 e com mais 700 em 2006. A premissa
básica dessa iniciativa é que a colaboração e respeito entre bolivianos, brasileiros e
peruanos são essenciais para a efetivação do desenvolvimento sustentado na
Região MAP. Quando de fala em MAP, devemos imaginar a formação de comitês
105
que trabalham localmente, mas com o intuito de desenvolver o regional. Esses
comitês são representados por pessoas, grupos organizados, associações,
sindicatos, organizações diversas, etc., e tem presença nos três paises que formam
o MAP. Esse aumento crescente de entidades públicas e privadas nos encontros do
MAP se dá pelo fato de haver segurança e qualidade nas informações, bem como o
nível de conhecimento que se produz e se difunde dentro da iniciativa. Existe
também certo nível de equilíbrio e variedade na distribuição das temáticas das
conferências, traduzindo-se em atração e dinamismo para os membros
participantes.
Quadro 9: Comitê Trinacional dos Municípios de Fronteira do MAP
BRASIL BOLÍVIA PERU
CONDIAC AMDEPANDO AMFROMAD
Assis Brasil Bolpebra Iñapari
Brasiléia Bella Flor Ibéria
Epitaciolândia Cobija São Lourenço
Xapuri Filadélfia Las Piedras
Capixaba Porvenir Puerto Maldonado
Fonte: Comitê de organização MAP V, 2004
Estes municípios saíram na frente nas propostas de organização e
efetivação da Região MAP levantando as demandas municipais sobre meio
ambiente (manejo das bacias hidrográficas do Acre-Brasil e Madre de Diós-Peru,
maximização dos recursos naturais e solução para o problema de resíduos sólidos e
elaboração da Agenda 21 local); alternativas econômicas (intercâmbio de
experiências em alternativas de agropecuária, manejo florestal, etc., discutir a área
comercial); saúde: formalizaram via Presidência das Republicas desses países
acordos binacionais em saúde (combate a endemias; saúde animal) Brasil-Bolivía e
na educação, acordos trinacionais em Educação (Projeto escola sem fronteiras,
cidadania sem fronteiras e Universidade da floresta - Escuela sien frontera,
ciudadania sien fronteras y Universidad del bosque) - Brasil, Bolívia e Peru. Esse
projeto tende a minimizar os disparates trinacionais na área da educação, inclusive
com integração entre as secretarias de educação dos paises envolvidos, e
promovendo uma reforma curricular para a educação regional básica, fomentando a
produção e execução de iniciativas tais como a Proposta educacional para o século
106
XXI, aprovada em Assis Brasil. Incluiu ainda a proposta de criação da “Universidade
da floresta” no seringal de Icuriã, donde se unam os conhecimentos dos povos
indígenas, caucheiros, castanheiros, colonos e científicos para gerenciar os recursos
da floresta em um campus aberto para todos os interessados.
Estes comitês para efetivar duas propostas sobre meio ambiente (manejo da
bacia hidrográfica do Rio Acre e maximização dos recursos naturais) se estruturaram
nos Estados de origem e desenvolveram um organograma para monitorar o
funcionamento das atividades. No Acre o comitê de municípios se denominou
Consórcio de Desenvolvimento Intermunicipal do Alto Acre e Capixaba-Ac -
CONDIAC. Este consórcio abrange uma área de 55 mil habitantes com políticas
públicas integradas. As últimas agendas locais estão sendo aprovadas nas câmaras
municipais e depois distribuídas para a população. E agora estão embasando os
planos diretores participativos e serão revistos periodicamente porque as
circunstâncias mudam com estradas. “Mas algumas políticas precisam ser resolvidas
no nível trinacional, como é o caso da recuperação da bacia do rio Acre", comenta
José Menezes Cruz (Paraguassu), extensionista rural e coordenador da Secretaria
de Meio Ambiente de Epitaciolândia-Ac e responsáveis pelo comitê de municípios no
lado brasileiro.
Quadro 10: Estrutura Organizacional do Comitê Trinacional de Municípios do MAP
Fonte: Barbosa, 2004.
Em março de 2005, os membros da Iniciativa MAP criaram o Comitê
Científico independente, órgão fomentador de uma participação mais ativa dos
cientistas da Região MAP, em especial, no Peru e na Bolívia, com projetos de
Plenária/Comitê
Trinacional
Consorcio
CONDIAC (BR)
Representação
Consulares
Grupo de Trabalho
Temático Trinacional
Consorcio
AMFROMAD (PE)
Consorcio
AMDEPANDO (BOL)
CT CT
CT
GT
Trinacional
107
relevância global como o Experimento de Grande Escala na Atmosfera-Biosfera da
Amazônia – LBA, para documentar e monitorar o problema, para informar à opinião
pública e para fazer recomendações específicas sobre alternativas viáveis para a
região. Este comitê trinacional é coordenado por I. F. Brown, que tem se dedicado
ao estudo da região, é pesquisador da Universidade de Woods Hole – WHCR, que
há 14 anos trabalha na região, segundo convênio estabelecido entre as instituições
do Acre e Norte-americana. “A história de colaboração entre as universidades e as
comunidades gerou confiabilidade e estimulou a integração e valorização dos
saberes científico e popular para a solução de problemas regionais. A universidade
como instituição sem ligação ou tendências políticas e reconhecidas como atuante
na região foi também um ponto relevante no processo de colaboração. De acordo
com Brown, a credibilidade da ciência influenciou a receptividade deste trabalho pela
sociedade, sendo solicitado por lideranças locais para maior difusão deste trabalho
na zona rural através dos sindicatos regionais” (BROWN, 2003, p. 670).
Os organizadores do Comitê Científico da Iniciativa MAP reconhecem seu
papel como facilitador, propondo para as sociedades regionais, as metas e os
princípios éticos. As metas refletem escolhas e prioridades e, portanto, têm
componentes éticos. Os princípios éticos intentam definir os direitos e as
responsabilidades daqueles que trabalham com conhecimento, particularmente com
a geração destes. No propósito do comitê científico, o conhecimento é definido como
a organização ou contextualização da informação que pode ser usada para produzir
novos significados e gerar novos dados. “O conhecimento diferencia-se da
informação enquanto se entende conhecimento como um processo dinâmico de
interpretação, de reelaboração das informações a que são conferidos sentidos e
significados operados pelos sujeitos no processo da comunicação” (CATAPAN,
2006).
Enfatizam os colaboradores desse comitê que o estabelecimento de metas e
princípios éticos em uma região de três países, multi-étnica e multi-cultural pode
parecer problemático, mas tem se tornado essencial. A globalização econômica, os
investimentos financeiros massivos em transporte e energia desenvolvidos na região
e o crescimento das redes de comunicação, simbolizadas pela Internet, têm
aumentado a importância do fluxo de informação e conhecimento para todos os
108
componentes da sociedade. Desenvolver este fluxo e construir capacidades locais
para uso da informação e conhecimento tem sido o principal foco das atividades da
Iniciativa MAP.
A distinção entre metas e princípios éticos está na relação da escala de
atividades. As metas representam prioridades para a sociedade regional e requer a
aplicação de conhecimentos. A comunidade de pesquisadores na região necessita
definir suas responsabilidades e seu papel para ajudar a sociedade a alcançar essas
metas. Os princípios éticos referem-se primariamente aos direitos e
responsabilidades individuais dos pesquisadores e grupos de pesquisadores na
geração e disseminação do conhecimento.
O comitê trinacional dos municípios aplica as definições operacionais para
essas três atividades relacionadas ao conhecimento. De acordo com a Declaração de
Porto Maldonado, descrita no V MAP, na seção de equidade social foram realizadas
cinco reuniões trinacionais para promover a consolidação e a integração dos
municípios fronteiriços da Região MAP, com a participação do Consórcio de
Desenvolvimento Intermunicipal do Alto Acre e Capixaba – CONDIAC – Acre,
Asociación de Municipalidades de Pando – AMDEPANDO – Bolívia e Alcaldes da
zona de fronteira de Madre de Diós. Foi débil a participação dos alcaldes fronteiriços
de Madre de Diós para a consolidação do Comitê Trinacional dos Municípios de
Fronteira da Região MAP. Nestas reuniões ficou definido que os geradores
conhecimento são considerados pesquisadores, independente da sua formação via
educação formal. Aqueles que disseminam conhecimento incluem professores,
bibliotecários e comunicadores. Aqueles que aplicam, podem ser cientistas,
engenheiros ou o público em geral. O Comitê reconhece que uma pessoa pode atuar
em todos os papéis em diferentes momentos.
Muitos dos princípios éticos abaixo focalizam a geração e a aplicação de
conhecimentos científicos, ou seja, conhecimentos adquiridos sistematicamente e
que são verificáveis. Outras formas de conhecimento, tais como o conhecimento
tradicional, o empírico e o cultural têm importantes papéis para a Iniciativa MAP. O
desafio contínuo da Iniciativa MAP é desenvolver sinergias entre estas várias formas
do saber.
109
Na fronteira o cientista tem um papel catalisador na integração social e pelo
histórico de transferência de informações aos municípios através das ações do MAP
como iniciativa de colaboração entre Bolívia e Brasil e Peru. O MAP, ao que parece,
nasceu com um espírito pragmático, uma vez que o Plano de Desenvolvimento
Regional esteja em gestação e a integração econômica já é uma realidade através
do intercâmbio entre os produtores da região. Esse é o caso dos madeireiros que
podem trocar experiências, fazer negócios e contar com assessoramento técnico
oficial.
A fronteira agrícola do sudoeste da Amazônia, ao se expandir em direção à
Bolívia e penetrar na faixa boliviana, criou uma nova realidade transfronteiriça,
gerando uma dinâmica de fluxos entre as comunidades localizadas em cada um dos
lados. Assis Brasil geminou-se a Bolpebra na Bolívia e a Iñapari no Peru; e Brasiléia
no Brasil e a Cobija, na Bolívia, onde brasileiros, moradores dos Municípios de
Brasiléia e Epitaciolândia, vão trabalhar e vice-versa.
A atividade de extrativismo que pode ser definido como um modo de obter
recursos (alimentos e matérias-primas, por exemplo) por meios ou sob
circunstâncias que dispensam as atividades agrícolas e os custos do cultivo prévio.
Nesse sentido, o lema geral do extrativismo bem poderia ser "colhendo sem plantar";
em contraste, por exemplo, com o famoso mote da agricultura tradicional, "colhe-se
o que se planta", feita por brasileiros em áreas bolivianas, gerando um fluxo
permanente de pessoas e de negócios entre os dois países.
Pelo fato de Cobija, na Bolívia constituir uma zona de livre comércio, a
população brasileira se desloca a fim de adquirir produtos importados e, com isso, o
comércio do lado brasileiro de produtos eletro-eletrônico e domestico acaba sendo
prejudicado pela concorrência cambial.
Na verdade, por sua localização no extremo ocidente do território nacional, o
Acre está mais isolado da Amazônia brasileira do que do Peru e da Bolívia. Num raio
de 750 km, com exceção de Porto Velho, capital do Estado de Rondônia, há uma
população rarefeita em direção a Manaus a partir do Acre, enquanto a população
vizinha de Madre de Diós (Peru) e Pando (Bolívia) são mais expressivas. As regiões
de Madre de Diós, Acre e Pando, formam, assim, o coração da Amazônia Sul-
110
Ocidental, cujas iniciais formam a sigla MAP (BROWN et. al, 2002), território que é
afetado profundamente pela pobreza, enfermidades e analfabetismo.
Figura 10: Distribuição da população do MAP em um raio de 750 km
Fonte: MAP III, 2002.
Cerca de 30 milhões de pessoas vivem neste raio de 750 km do Acre. O
desenvolvimento desta região vai depender da interação destas pessoas, como se
pode observar na figura acima. Nesse espaço, avanços nos planos de integração
regional geram crescentes demandas sobre os recursos naturais e provocam
degradação dos ecossistemas (BROWN et al, 2002).
Para amenizar esta situação, busca-se a integração de iniciativas
inovadoras, visando o desenvolvimento e a proteção ambiental. Uma reunião se
realizou em Rio Branco, com o objetivo de criar um grupo de estudo sobre o MAP
em 2000 (MAP I); e a segunda em Puerto Maldonado, em 2001 (MAP II). No ano de
2002, o MAP III se realizou em Cobija, quando se buscaram novos caminhos
baseados nos princípios do desenvolvimento sustentável contidos nos grandes
fóruns sobre a questão, bem como no Tratado de Cooperação Amazônica e na
Declaração dos Direitos Humanos (MAP, 2002). O MAP III congregou 160
participantes dos três países, com 53 representantes de instituições estaduais,
universitárias, ONG’s e organizações internacionais. A Carta de Cobija, dirigida aos
governos e às sociedades, apresenta 20 recomendações. A par do intercâmbio de
informações, do envolvimento de técnicos, da capacitação pessoal e de projetos
111
conjuntos, por meio de acordos de longo prazo que promovam a integração
trinacional, essa carta propõe a criação de instituições regulares, como o plano
trinacional de manejo integral da Bacia do Rio Acre, o Instituto Tri nacional de Direito
Amazônico, a Universidade de Floresta e um centro tri nacional para celebrar as
manifestações étnicas da região na confluência de Assis Brasil, Bolpebra e Iñapari.
É, portanto, na fronteira acreana que parecem mais avançadas as iniciativas locais
para a integração continental.
Os Encontros MAP
Após a reunião de Rio Branco, grupos dos três paises decidiram que haveria
necessidade de amadurecer ainda mais a idéia da regionalização e discutir os
assuntos de uma pauta única de interesses comum. Para tanto, os Encontros ou
Fóruns do MAP tornaram-se quase que anuais e as demandas cresciam em
qualidade e quantidade a cada realização. Hoje já se contam com seis eventos
distintos, em cada momento sediado em local diferenciado, com suas inovações
criativas.
MAP I, Indicadores de Uso da Terra e Mudanças Globais
No ano de 2000, realizou-se o MAP I, que foi uma reunião que dava
continuidade às primeiras discussões de 1999, em Rio Branco. Ele serviu para
fomentar a colaboração entre profissionais universitários na região de fronteira da
Bolívia, Brasil e Peru, local onde as sociedades são marcadas pela riqueza cultural e
pela pobreza econômica.
A premissa básica dessa iniciativa é que a colaboração e respeito entre
bolivianos, brasileiros e peruanos sejam essenciais para a efetivação do
desenvolvimento multi-étnica e multi-cultural que parece problemático, mas tem se
tornado essencial na Região do MAP.
No evento de 1.999 ficou registrado um documento chamado Declaração de
Rio Branco sobre Mudanças Globais, feito no Encontro de Universidades para
desenvolver um programa de mudanças globais relacionadas ao uso da terra na
Amazônia Sul-Ocidental que contou com a participação de 16 instituições
acadêmicas e de pesquisa da Bolívia, Brasil e Peru e 33 participantes. Este evento
112
ocorreu em Rio Branco, Acre, 25 de junho de 1999. Como consenso deste Encontro
resultou nas seguintes recomendações: Incorporar, no âmbito acadêmico, o tema
Mudanças Globais nas disciplinas afins. Promover o desenvolvimento de estudos
multidisciplinares e interinstitucionais assegurando a incorporação dos aspectos
biofísicos e sócio-econômicos, enfatizando a pesquisa, a capacitação e a
disseminação de forma integrada. Considerar os conhecimentos tradicionais nos
estudos científicos, de forma a reconhecer a contribuição dos diversos atores
regionais, respeitando seus direitos intelectuais. Fortalecer as relações acadêmicas
e institucionais entre os Países Amazônicos, levando em consideração os aspectos
biofísicos e sócio-culturais de cada país e estimular a disseminação dos avanços
científicos, de importância à temática Mudanças Globais, a todos os segmentos da
sociedade, nos níveis político, acadêmico e das comunidades locais.
Como resposta destas recomendações, houve um seminário em Assis Brasil
com a participação do governo e sociedade local onde foi sugerido um documento,
assinado pelo Alcaide de Iñapari e pelo prefeito de Assis Brasil chamado “Carta de
Assis Brasil: Construindo o Desenvolvimento Sustentável na Fronteira Trinacional”.
Um comitê bifronteiriço representado por peruanos e brasileiros já tinha sido
constituído por um convênio entre os dois países. Este seminário propôs a expansão
deste comitê de modo a incluir representantes bolivianos, para abordar assuntos
comuns. O seminário evidenciou a falta de apoio técnico para os governos locais, no
trato com os assuntos relacionados com a melhoria de transporte.
Deste seminário surgiu a Carta de Assis Brasil, com o tema: Construindo o
Desenvolvimento Sustentável na Fronteira Trinacional, datada de 19 de maio de
2001. A recomendação geral feita por organizações governamentais e não
governamentais e assinadas pelo Prefeito de Assis Brasil, Manoel Batista de Araújo
e o Alcaide de Iñapari, Celso Solis Santiago Lucero. A carta trazia as seguintes
recomendações: Fortalecer o comitê de fronteira, através de apoio técnico e
informação e capacitação; expandir o comitê de fronteira na Região de Madre de
Diós/Peru, Acre/Brasil e Pando/Bolívia – MAP para planejamento estratégico de
Integração. Com a finalidade de compatibilizar o Zoneamento Econômico e
Ecológico; compatibilizar as leis; estudos de Impactos Ambientais; colaboração de
113
educação, saúde e pesquisa; integração econômica; otimizar o manejo dos recursos
naturais regionais; avaliar migrações regionais.
Figura 11: Mapa das Regiões do MAP – Madre de Diós, Acre e Pando
Fonte: MAP, 2002.
MAP II: Avaliação Ambiental Estratégica
As decisões de políticas públicas tomadas no ano de 2000 e nos próximos
anos estão sendo cruciais para o bem estar da região MAP e da Amazônia Sul-
Ocidental, uma vez que todo trabalho deve ser feito com dedicação e apreço. Estas
decisões exigem a participação efetiva dos todos os atores sociais envolvidos na
ação, especialmente os governos nacionais, departamentais, estadual e locais. Um
símbolo do carinho que devemos compartilhar com a região é inspirado no desenho
usado para o workshop em Puerto Maldonado, afirma Foster Brown (2001), durante
o MAP II.
114
Figura 12: Símbolo MAP II – Porto Maldonado, PE
O MAP II foi realizado na
cidade de Porto Maldonado (Peru)
em abril de 2001, com o tema
“Evolução Ambiental Estratégica”.
Fizeram-se presente 70 participantes
no evento. Houve debate em torno de
estudos dos impactos sobre as
estradas, e participação efetiva das
ONG’s.
MAP III: Fronteiras de separação a fronteiras de cooperação
Realizado o MAP III, na cidade boliviana de Cobija, de 09 a 12 de setembro
de 2002. Durante o MAP III buscaram-se novos caminhos baseados nos princípios
do desenvolvimento sustentável contidos na Declaração do Rio de Janeiro sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento – ECO-92, na Agenda 21, no Plano de
Implementação da Declaração de Johannesburg – RIO+10, no Tratado de
Cooperação Amazônica - OTCA, na Declaração Universal dos Direitos Humanos,
nos Convênios da Biodiversidade e de Mudanças Climáticas e na Declaração de Rio
Branco sobre Mudanças Globais. Já no MAP III cerca de 160 pessoas participaram
das discussões em torno da temática “Fronteira de separação a fronteiras de
cooperação”.
O MAP III congregou participantes dos três países, com 53 representantes
de instituições estaduais, universitárias, ONG’s e organizações internacionais:
OPIAC – Organização dos professores Indígenas do Acre, FENAMAD - Federación
Nativa del Rio Madre de Diós, COHARYIMA; Consejo Arambut Yine – MachiguenKa;
CIPOAP - Central Indígena de Pueblos Originarios de la Amazonía de Pando,
CESVI - Cooperación y Desarrollo de Itália; UFAC – Universidades; FUNAI –
Fundação Nacional do Índio; TREES; SNV; CIPA-UAP - Centro de Investigación y
Preservación Amazónica de la Universidad Amazónica de Pando; UDAIPO - Unidad
de Apoyo a los Pueblos Indígenas; Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia
115
e Epitaciolândia; AMOPREB – Associação dos Moradores da Reserva Extrativista
Chico Mendes – região de Assis Brasil; AMOREX – Associação dos Moradores da
Reserva Extrativista Chico Mendes – região de Xapuri; AMOREB – Associação dos
Moradores da Reserva Extrativista Chico Mendes – região de Brasiléia; Federação
dos Campesinos Peruanos; Federação dos Campesinos Bolivianos; Grupo Indígena
da Bolívia; Grupo Indígena do Peru, entre outras. (BOLETÍN ELECTRÓNICO TReeS
PERÚ, 2003)
A Carta de Cobija, dirigida aos governos e às sociedades, apresenta 20
recomendações. Essa carta propõe a criação de instituições regulares, como o plano
trinacional de manejo integral da Bacia do Rio Acre, o Instituto Tri-nacional de Direito
Amazônico, a Universidade de Floresta e um centro trinacional para celebrar as
manifestações étnicas da região. No Acre que é que parece mais avançadas as
iniciativas à integração continental, sempre a frente das preocupações ambientais e
sugere a formação de novos Mini-MAPs em todos os encontros realizados. Esse
documento final sintetiza todos os anseios da III Reunião do MAP, apresentamos
uma síntese de seu teor: Relata sobre o desenvolvimento sustentável na região
MAP, ou seja, Amazônia Sul-Ocidental. Os planos de integração regional, os
avanços na infra-estrutura e as exigências de uma vida melhor nas sociedades da
região geram crescentes demandas sobre os recursos naturais e seus
ecossistemas. A integração de iniciativas inovadoras relativas ao meio ambiente e
ao desenvolvimento poderá elevar o nível de vida das sociedades regionais com
melhor gestão dos ecossistemas.
O terceiro Fórum MAP, em seu documento principal – Carta de Cobija, fez
algumas recomendações que podem ser vistos na íntegra no Anexo 02. Alguns
pontos principais são apresentados: acelerar o processo de integração trinacional
das instituições governamentais e não governamentais; convênio de livre trânsito de
pessoas, bens e serviços na Região MAP; promover implementação coordenada de
corredores econômicos e ecológicos para capitalizar oportunidades e facilitar sua
governabilidade; promover a educação ambiental da população e a capacitação de
talentos locais; fortalecimento da capacidade de gestão dos recursos naturais e o
meio ambiente, com gerenciamento no uso da terra. Trocar informações sobre
tecnologias produtivas e de melhoramento da qualidade de vida, amigável com a
116
natureza, e promover a integração e difusão, via Internet, da volumosa base de
dados existentes sobre a diversidade biológica, uso da terra, gestão dos recursos
naturais e o meio ambiente, e a sociodemografia da Região MAP. Criar um Instituto
Trinacional de Direito Amazônico, que leve a cabo estudos comparativos da
legislação sobre recursos naturais e meio ambiente dos países que formam a
Iniciativa MAP, com vista à sua coordenação, em especial em relação à legislação
indígena, e que promova a infra-estrutura e a capacitação dos técnicos para a
aplicação das leis.
Dentre as recomendações contidas, está à priorização do plano de manejo
da bacia do Rio Acre e outras bacias hidrográficas, cursos e corpos d’ água da
Região MAP. Fortalecimento ou criação de políticas de Estado com participação dos
atores sociais na tomada de decisões para a gestão de seu território e recursos
naturais, e apóiem o desenvolvimento da educação e a saúde. Respeito aos Direitos
Humanos; ampliar o conhecimento na conservação da biodiversidade.
Aperfeiçoamento dos trabalhos de zoneamento econômico-ecológico com o efetivo
apoio da classe política e da sociedade local. Garantia da presença de autoridades
que resguardem a ordem e os recursos naturais, na Região MAP. Na educação
propõe a criação da “Universidade da Floresta”; promoção de uma reforma curricular
para a educação regional básica; construir um centro cultural trinacional, onde se
celebrem manifestações étnicas da região. Desenvolvimento de programas de
capacitação gerencial e realizar estudos das potencialidades das cidades turísticas,
Desenvolvimento de tecnologias para o manejo de recursos florestais madeireiros e
não madeireiros, realizar análises das cadeias produtivas e propor políticas
conjuntas de comércio.
MAP IV: um Novo Modelo Educacional para o Século XXI
O IV Encontro Tri-nacional da Região MAP foi realizado nas cidades gêmeas
de Brasiléia e Epitaciolândia, Acre, Brasil, de 15 a 18 de agosto de 2003. estiveram
presente mais de 600 participantes de nove países, representados por 164
instituições e organizações (sendo 92 do Brasil, 47 do Peru e 25 da Bolívia), assim
subdivididas: 76 instituições estatais, 14 universidades, 74 ONG’s e organizações
internacionais. Destaque para estas instituições internacionais e nacionais:
DIRPRODUCE, SENASA, UNSAAC, UNAMAD, FUNAI, IBAMA, AMAPAN, INADE,
117
IIAP, UFAC, UAP, HERENCIA, PRONATURALEZA. O CONDIAC, AMDEPANDO,
MUNICIPIOS FRONTERIZOS DEL PERU, Universidade da Flórida, LBA e WWF
como fontes financiadoras deste evento.
Foram proferidas 45 palestras e 19 propostas de atividades trinacionais
conjuntas nos seguintes campos: Conservação Ambiental (6), Desenvolvimento
Econômico (4) e Equidade Social (9). O Encontro organizou-se, novamente, em
quatro sessões, onde foram discutidos os seguintes temas: conservação ambiental,
equidade social, desenvolvimento econômico e políticas públicas no âmbito da
região MAP. Em cada uma das sessões foram apresentadas revisões do estado
atual das áreas temáticas, propostas de trabalho de cooperação trinacional, e ao
final, a proposição de recomendações pela plenária.
Os integrantes do IV MAP tomaram como marco de referência as
recomendações da Carta de Cobija 2002 (MAP III), reportando seus avanços e
retrocessos no processo de construção do desenvolvimento sustentável da região
MAP. Os relatores do Encontro MAP IV no documento final aprovaram várias
recomendações a ser seguidas e com acompanhamento. Compilamos as
recomendações mais importantes elencadas pelo grupo coordenador do evento:
Anteriormente ao evento principal, em um período relativamente curto (entre
Janeiro e Agosto de 2003), foram realizados seis eventos temáticos de intercâmbio
de experiências e tomada de decisões conjuntas.
Recomendações da Plenária
O IV Encontro Trinacional da Região MAP, realizado nas cidades irmãs de
Brasiléia e Epitaciolândia, Acre, Brasil, de 15 a 18 de agosto de 2003, chega ao final
com a realização do relatório de conclusão do evento com base nas apresentações
apontadas pelas mesas compostas pelos movimentos econômicos, ambientais,
políticos e sociais indicando os caminhos a ser seguidos.
Tomando como marco de referência as recomendações da Carta de Cobija
2002, reportamos nossos avanços e retrocessos no processo de construção do
desenvolvimento sustentável da região MAP, a CARTA DE BRASILÉIA E
EPITACIOLANDIA é o novo marco que traz em seu bojo recomendações tiradas da
plenária. Em cada uma das sessões foram apresentadas revisões do estado atual
das áreas temáticas, propostas de trabalho de cooperação trinacional, e ao final, a
118
proposição de recomendações pela plenária. As principais foram: considerar as
recomendações do MAP IV como agenda dos governos locais; formar grupos de
estudo com os representantes dos meios de comunicação e das escolas
profissionalizantes para aumentar a contribuição dos conhecimentos e contar com
mais propostas e maior representatividade; construir um modelo de desenvolvimento
com o envolvimento participativo das comunidades e com a definição de políticas
públicas integradas para a região MAP.
Uma recomendação inovadora que foge à geopolítica foi romper a
concepção de fronteira nacional para a integração e busca de saídas comuns e
coletivas para melhoria da qualidade de vida na região tri-nacional; fortalecendo o
vínculo com as universidades de cada região através dos grupos e organizações; via
formação de grupos de discussão em educação bilíngüe com a participação de
profissionais experientes dos três países. E buscar suporte legal para as decisões e
facilitar o trânsito no âmbito territorial do MAP, buscando uma zona franca de
desenvolvimento sem prejudicar a soberania de cada país. Um aporte para
segurança infantil é promover encontro da defensoria de crianças e adolescentes no
nível da Região MAP para trocar informações e analisar a problemática, pleitear
projetos conjuntos para defender os direitos das crianças e dos adolescentes,
sobretudo para protegê-los.
Para geração de renda e emprego para a sociedade deve-se buscar através
da reciclagem de lixo, novo tema a ser abordado nos encontros do MAP; também
procura a implementação de bolsas de estudo junto às instituições universitárias;
incentivar a participação dos campesinos e indígenas nas atividades da região MAP,
como atores sociais do processo de desenvolvimento regional; e incluir propostas de
convênio na área de saúde animal entre os países da região MAP.
Estas recomendações novas foram provenientes de Mini-MAP’s discutidos
ao nível local e depois apresentados à plenária. São elas: Incluir a segurança
pública, bombeiros, militares, profissionais de saúde e de educação primária para o
desenvolvimento de propostas trinacionais; propor a criação de uma Câmara de
Comércio, Indústria, Turismo e Integração para obtenção de uma base permanente
de organização dos encontros do MAP e, em conjunto com a iniciativa privada,
concretizar as ações propostas; aprofundar as pesquisas sobre cadeias produtivas
119
de floresta na região MAP e gerar uma linha base de monitoramento, com
planejamento de seguimento bi-anual, incorporando o impacto sobre a
biodiversidade em áreas de aproveitamento e sobre as condições socioeconômicas
da população; conformar um sistema de informação de monitoramento integrado,
com base em um sistema de informação georreferenciado, sobre o aproveitamento
de recursos naturais, preços, dentre outros, para a atividade produtiva sustentável
da floresta; promover a transferência e o desenvolvimento de tecnologias e
pesquisas sobre o aproveitamento, transformação e comercialização da madeira da
região MAP em benefício dos empresários, campesinos, indígenas, instituições
governamentais e não governamentais e; desenvolver e implementar políticas e
normas inovadoras de gestão para a produção sustentável e fortalecimento de
instituições governamentais e não governamentais orientadas para viabilizar a
sustentabilidade dos recursos da floresta na região MAP.
No MAP IV, 2003, se estabeleceu um grupo tri-nacional e um calendário
para a criação de um centro de informação ambiental compartilhado. Em geral, o
intercâmbio de informações trinacional tem sido incrementado em todos os temas
aqui apresentados. Todas estas decisões estão prescritas no documento final do IV
MAP, denominado de a Carta de Brasiléia e Epitaciolândia.
Equidade Social
“Todos os homens são capturados numa teia de mutualidade da
qual não se pode escapar, ligados numa única vestimenta do destino. Tudo
que afeta alguém diretamente afeta a todos indiretamente. Eu nunca posso
ser o que eu deveria ser, até que você seja o que deveria ser. E você nunca
pode ser o que deveria ser, até que eu seja o que eu deveria ser”. (MARTIN
LUTHER KING)
Esta é quarta mesa temática do MAP IV, que após a condensação dos
temas debatido no evento, chegou as seguintes decisões: ampliar os espaços de
participação das organizações de base (trabalhadores rurais, “campesinos” e
indígenas) que permitam debater as propostas que serão apresentadas, no nível
local, regional, nacional e internacional, agora cada organização de base terá seu
próprio mini-MAP. E ainda estabeleceu de maneira consensual com as organizações
de base propostas de políticas de interculturalidade, entendendo que a conservação
da diversidade biológica só se concretizará com o respeito à diversidade cultural da
região MAP.
120
Apoiar de forma conjunta as decisões culturais assumidas pelos os povos
indígenas em isolamento voluntário. Optou-se por criar espaços de informação e
consulta das organizações de base em todos os temas referentes ao
desenvolvimento sustentável da região;
A mesa temática Equidade Social, ano de 2003, se compõe dos Mini-MAPs:
Gênero, educação, universidade e pesquisa, estudantes, indígenas, campesinos e
trabalhadores rurais do extrativismo, saúde, defensoria dos direitos da crianças e
adolescentes, cultura, arte, história e esporte e comunicação social.
Avaliação de Desempenho dos Resultados obtidos desde o MAP IV
Tomando como marco de referência as recomendações da “Carta de
Brasiléia e Epitaciolândia”, de 2003 (MAP IV), as comissões resolveram avaliar o
desempenho das decisões tomadas no IV MAP, analisando os avanços e
retrocessos que por ventura surgiram e chegaram as seguintes conclusões a
respeito das mesas temáticas e do processo de construção do desenvolvimento
sustentável na Região MAP.
MAP V: Sementes do Conhecimento
O V Encontro da Região MAP, realizado na cidade de Puerto Maldonado, na
região de Madre de Diós - Peru, de 16 a 19 de setembro de 2004, reuniu cidadãos,
organizações acadêmicas, instituições públicas e não governamentais, organismos
de cooperação internacional, governos locais, estaduais/regionais e organizações de
base comprometidos com o desenvolvimento sustentável e a conservação do meio
ambiente na região. No entanto, em 14 de setembro, antecipando-se ao MAP V, os
ministros de Relações Exteriores da Região Amazônica, em sua Declaração de
Manaus, enfatizaram a convicção de que a cooperação e a integração entre as
sociedades amazônicas levarão à conformação gradual de uma Comunidade Sul-
americana de Nações.
O Encontro MAP V congregou mais de 1200 participantes inscritos que
representavam cerca de 227 organizações, sendo 152 do Peru, 51 do Brasil, 17 da
Bolívia e 7 de outros países. Destas organizações presente 85 pertencem a
121
instituições públicas, 13 são de universidades, 62 são ONG’s locais, as demais são
nacionais e internacionais.
Listou-se algumas organizações/instituições internacionais e trinacionais
participantes do V MAP, que trabalharam nas mesas tanto com aporte técnico,
estrutural cientifico e financeiro em Porto Maldonado: Universidad de Manitoba
(Canadá), NESH (Canadá), Universidad de la Florida (USA), ACRA (Itália), FLO
(Equador), EMBRAPA (Brasil), UFAC - Universidade Federal do Acre (Brasil); CPI –
Comissão Pró Índio Acre; FUNAI – Fundação Nacional do Índio (Brasil), SEPROF
(Brasil), CAEX (Brasil), Ecoamazon (Brasil), CAIC (Bolívia), SNV (Bolívia), Herencia
(Bolívia), COINACAPA (Bolívia), ABAN (Bolívia), CIPA Centro de Investigación y
Preservación Amazónica de la Universidad Amazónica de Pando (Bolívia),
Federacion Fabriles (Bolívia), COMPAEB (Brasil). As demais instituições abaixo
estão exclusivamente presentes no Peru: UNSAAC, Conservacion Internacional,
CESVI, Candela Peru, INRENA, Fondebosque, IIAP, Credismad, Ronap, ACCA,
Ascar, Digesa, Mesa Concertación contra la Pobreza, Empia, Comunidad Nativa
Jorge Chávez, Abicam, Aspec, Indamad, Universidad de la Union, Ecobosque,
Asociación Alegría, Gobierno Regional MDD, Rainforest, WWF, Asca, Comunidad
Baltimore, Atinchik, Radio Madre de Diós, FADEMAD, FONCODES, SENASA, SNV-
Servicio Nacional de Voluntarios; Otorongo, UNAMAD, Pronaturaleza, Comunidad
Boca, Pariamanu; PROMPEX e TReeS - Peru . E organizações indígenas: UNI –
União das Nações Indígenas do Acre e Sul do Amazonas; OPIAC – Organização
dos professores Indígenas do Acre; AMAAIAC – Associação do Movimento dos
Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre; CIPOAP. Central Indígena de Pueblos
Originarios de la Amazonía de Pando; FENAMAD. Federación Nativa del Río Madre
de Dios y Afluentes; e, COHARYIMA. Consejo Arambut Yine – Machiguenka
(organismo afiliado a FENAMAD); UDAIPO. Unidad de Apoyo a los Pueblos
Indígenas.
Desenvolvimento Econômico
No MAP V, se pode verificar que houve avanços e retrocessos na
implementação das recomendações anteriores. Foram realizados encontros sobre
produtos florestais não-madeireiros para possibilitar o intercâmbio de metodologias e
conhecimentos sobre manejo de recursos florestais madeireiros e não-madeireiros.
122
E avançou-se na institucionalização da feira itinerante internacional bianual da
castanha; nos processos de certificação da castanha e na busca de bons preços.
Está em processo de reconhecimento o MAP como espaço de integração
trifronteiriça para a cooperação dos esforços de alcançar o desenvolvimento
sustentável dos povos da Amazônia; avança-se em pesquisas sobre cadeias
produtivas da madeira na Região MAP, incorporando o impacto ambiental nas áreas
de aproveitamento e as condições socioeconômicas da população. Avança-se
aceleradamente na transferência de tecnologia e na pesquisa sobre o
aproveitamento, transformação e comercialização da madeira na Região MAP, em
benefício dos empresários madeireiros, agricultores, instituições governamentais e
não governamentais, onde foram iniciadas ações para incentivar o desenvolvimento
de empresas madeireiras, com estudos, pesquisas e uma relação sustentável na
Região MAP. Estão sendo iniciadas ações para combater o corte ilegal de madeira
na Região MAP, faltando a elaboração de programas de sensibilização, difusão das
leis e regulamentos florestais dos três países e instalar quatro postos de controle
nas fronteiras da região. Conseguiu-se o envolvimento do meio empresarial, do
governo, do meio acadêmico e das ONG’s para a análise das regras de manejo
florestal das diferentes regiões. Foram iniciadas ações para reverter a desordem
existente na exportação florestal, através da aplicação de normas de manejo
florestal, faltando realizar ações que conduzam a uma transparência fiscal e social.
Realizou-se em Rio Branco um seminário para a implementação de um programa
tri-nacional de seringa.
Realizou-se um diagnóstico da atividade turística da Região MAP, faltando
publicá-lo em volumes e idiomas diferentes (Brasil, Bolívia e Peru), contendo todas
as informações e procedimentos de entrada e saída de turistas em cada país.
Realizou-se em cada grupo temático os esforços para contribuir com a geração de
informações úteis para o desenvolvimento da região. Iniciou-se um diagnóstico de
impacto do eixo de integração econômica ao Pacífico, onde se contemplam os
seguintes aspectos: emprego, renda, condições de manutenção e seguridade viária,
infra-estrutura de serviços de atenção básica em saúde e saneamento, prevenção
de doenças infecto-parasitárias, relacionada a mudanças de usos da terra e
cobertura vegetal.
123
Não se avançou na aplicação do modelo peruano, onde o madeireiro é
contratado pelo órgão fiscalizador para assessorar as empresas que operam dentro
das regras de manejo florestal. Bem como, não se avançou na regulação da
prospecção dos produtos florestais não-madeireiros através da introdução de
normas técnicas adequadas nas legislações florestais.
Equidade Social
Realizou-se o Mini-MAP Indígena em Cobija em julho de 2004, instaurando-
se espaços de participação para as comunidades (Fórum Permanente Trinacional
Indígena). Concretizaram-se atividades de sensibilização e divulgação da condição
e das necessidades de vida dos povos indígenas isolados que habitam as
Cabeceiras do Alto Rio Acre. Em Iñapari, realizou-se o 1º. Encontro sobre
defensorias de crianças e adolescentes da Região MAP (MAP Infância), em
novembro de 2003, com a participação de mais de 200 pessoas. Na saúde e
educação, concretizou-se o diagnóstico situacional de saúde (Brasil – Bolívia) por
município, com a determinação das prioridades em saúde; e, efetivou-se o
diagnóstico qualitativo de educação na Região MAP, mediante cinco reuniões de
trabalho entre as autoridades de educação (Secretarias Municipais de Educação de
Assis Brasil, Brasiléia, Epitaciolândia-Brasil – SEMEC’s; Direção Regional de Madre
de Diós- DRE – MDD; Secretaria de Educação de Cobija - Pando - SEDUCA);
educadores e sociedade civil da zona de fronteira; Realizou-se intercâmbio de
experiências entre educadores da Asociación de la Niñez y su Ambiente - ANIA,
Universidade Federal do Acre - UFAC e SEMECs - Brasil, em Puerto Maldonado, na
Comunidade Boca Amigo, com a participação de 22 educadores do Brasil e do Peru.
Na “Colocação Cumaru” – Reserva Extrativista Chico Mendes, em Assis Brasil
iniciaram-se as ações para a implementação de um Bosque de los Niños,
realizando-se encontros de coordenação com os membros da associação, os quais
entregaram às crianças 40 hectares de terra para o desenvolvimento do projeto. Em
Puerto Maldonado, a Universidad Nacional San Antonio Abade de Cuzco - USAAC
cedeu 50 hectares para a implementação do Centro de Capacitação de Boni.
Realizaram-se três reuniões para propagar os avanços do projeto Educação para o
Século XXI em Epitaciolândia, Brasiléia, Assis Brasil, Cobija, Bolpebra, Iñapari,
Ibéria e Puerto Maldonado. Foram publicados dois artigos em congressos científicos
124
sobre a experiência educativa realizada. Apresentou-se a proposta para a
configuração da Rede Educativa da Região MAP no Encontro MAP. E ainda,
consolidou-se a rede estudantil da Região MAP, com a realização de dois encontros
de intercâmbio de experiências e resgate histórico da região entre as crianças,
docente e país de família, participando mais de 50 pessoas.
Realizou-se um seminário sobre Direito Ambiental e Direito de Integração no
contexto MAP, na Universidade Federal do Acre, de 14 a 16 de maio de 2004, com a
participação de 52 alunos, professores e funcionários públicos do Brasil e Peru. No
mês de agosto de 2004 realizou-se em Rio Branco um encontro de intercâmbio de
aprendizagem entre alunos universitários e docentes da Região MAP,
desenvolvendo-se o tema “Gerenciamento da atividade florestal”; iniciaram-se as
articulações governamentais para o estabelecimento da Universidade da Floresta,
com uma proposta curricular básica. Definiram-se temas prioritários de pesquisa na
Região MAP, por mesas temáticas. A questão de gênero foi muito debatida, onde
realizaram-se três investigações em torno do tema gênero: - estudo comparativo de
investigação em gênero; - estudo de medidas alternativas de provas de evidências
de crimes sexuais; - estudo para a busca da redução da demanda de drogas na
Região MAP. Foram realizadas duas oficinas de sensibilização com grupos de
mulheres organizadas em torno da equidade de gênero, em Puerto Maldonado e em
Rio Branco, entre os meses de abril e julho de 2004. Uma oficina de gestão de
conflitos para coordenadores dos Mini-MAP’s dos três países, foi realizada na
Universidade Federal do Acre, em julho de 2004, com o apoio da Universidade da
Flórida. Foram realizadas três reuniões de coordenação entre autoridades de
governo, instituições, universidades e comunidades para a implementação da
Agenda 21 local e trinacional. Ponto negativo foi que não se deu continuidade ao
estudo comparativo curricular entre as universidades da Região MAP.
Conservação Ambiental
Foram realizadas cinco reuniões sobre Gerenciamento da Bacia do Alto Rio
Acre que envolveram os consórcios de municipalidades do Brasil, Bolívia e Peru,
com a participação de representantes de agências nacionais dos três países, para
subsidiar a criação de um comitê tri-nacional de gestão desta bacia. Um workshop
sobre fogo na Região MAP foi realizado em julho de 2004, com a participação
125
brasileira e peruana. Em agosto de 2004 começou uma série de publicações em
jornais locais de Rio Branco sobre dados de focos de calor na região e estes dados
foram divulgados para os pesquisadores. Em duas reuniões (Cobija e Assis Brasil)
do MAP – Pesquisa e Universidades participaram mais de 15 pessoas de quatro
universidades regionais e organizações de que foi publicada na página web do MAP.
Políticas Públicas
Foram realizadas cinco reuniões trinacionais para promover a consolidação
e a integração dos municípios fronteiriços da Região MAP, com a participação do
Consórcio de Desenvolvimento Intermunicipal do Alto Acre e Capixaba – CONDIAC
– Acre, Asociación de Municipalidades de Pando – AMDEPANDO – Bolívia e
Alcaldes da zona de fronteira de Madre de Diós. Foi fraca a participação dos
prefeitos fronteiriços de Madre de Diós para a consolidação do Comitê Trinacional
dos Municípios de Fronteira da Região MAP. É a única área do MAP que não possui
sua organização de municípios. Considerou-se o acesso e o direito à informação e
participação das comunidades tradicionais no processo de tomada de decisões,
mediante a participação voluntária dos atores sociais. Avançou-se no processo de
informação em geral, mediante a implementação da página web do MAP.
Implementou-se o Convênio Marco de Cooperação Interinstitucional Trinacional para
a gestão integrada da Bacia Hidrográfica do Alto Rio Acre. E ainda, está em
processo de implementação a rede de observações hidrometeorológicas da Região
MAP, com a participação das autoridades oficiais do Estado do Acre, em gestão com
o Departamento de Pando e da Região de Madre de Diós. Instalou-se o grupo
técnico “Impacto da estrada sobre a Bacia do Alto Rio Acre” (Carretera - Rio ou
Hidrovias). Foram realizadas oficinas participativas nas prefeituras e municipalidades
para avaliação de impactos ambientais e sociais do asfaltamento da Estrada Rio
Branco – Assis Brasil e o estudo definitivo da Estrada Iñapari-Inambari, a cargo do
Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia – IPAM e atores sociais.
Recomendações do MAP V
As reuniões dos MAP’s, até então, realizadas, a equipe de coordenação e
síntese deixa algumas tarefas que deveriam ser analisadas e desenvolvidas para ser
126
discutidas e avaliadas pelo comitê central. As recomendações propostas pelo V
MAP foram:
Mesa de Desenvolvimento Econômico
Construir uma visão compartilhada de desenvolvimento para a Região MAP,
envolvendo todos os atores políticos, sociais e econômicos, entendendo que este é
um processo de longo prazo. Recomendar às autoridades governamentais destes
países priorizarem a finalização da infra-estrutura econômica e produtiva na Região,
principalmente no que se refere à hidroenergia e ao asfaltamento do eixo de
integração bi-oceânico. Incluir nos programas de ação do MAP o impulso ao
desenvolvimento tecnológico e o fortalecimento da assistência técnica aos
produtores rurais, incluindo o melhoramento de suas moradias. Promover ações que
permitam melhorar a oferta de capital humano qualificado nos diversos níveis
educativos, vinculando-as às atividades produtivas da Região MAP. Fazer gestão
junto a Corporação Andina de Fomento - CAF para obtenção de apoio e assistência
técnica para elaboração de planos de negócios em oportunidades produtivas nas
agroindústrias, indústria madeireira, aqüicultura, turismo e bioindústrias em geral.
Montou-se um Plano de Ação que se propunha a analisar as principais atividades
produtivas que avançaram na Região MAP: turismo, madeiras, castanha, aqüicultura
e produtos não madeireiros, estabelecendo-se as seguintes metas para os anos
2005 – 2006.
MAP VI: Fortalecendo as raízes de um futuro comum
O VI Foro da Região MAP, realizado na cidade de Cobija – Departamento de
Pando, República da Bolívia de 20 a 22 de julho de 2006 nas dependências do
Clube Natura Verde e Universidade Amazônica de Pando. Esse Foro contou com a
presença de mais de 600 participantes inscritos, representando a 167 instituições
das quais as 7 eram organizações internacionais; 60 de Peru, 46 do Brasil e 47 da
Bolívia. Destas, 49 pertenciam as instituições governamentais, 29 eram
organizações não governamentais e 65 eram outras instituições, como movimentos
sociais, universidades, federações, associações sindicais rurais e representantes de
povos indígenas. Destaque para estas organizações no VI MAP: GTA, SENASA,
INRENA, RAMH/GTA, PZ-UFAC, UFRA-PA, WHRC/UFAC, HERENCIA, SOS
127
AMAZÔNIA, UAP, UFAC, ACCA E OTCA, Ministério de Ciência e Tecnologia,
Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Educação, Universidade Federal de
Viçosa, EMBRAPA, INPA, Museu Paraense Emílio Göeldi, New York Botanical
Garden, Institut de Recherche pour le Développement, Woods Hole Research
Center - WHRC, Conselho Nacional dos Seringueiros, Centro de Medicina da
Floresta, Comissão Pro-Índio – Acre, Organização dos Professores Indígenas do
Acre, ICRAF, AMAPAN, ANIA, AMDEPANDO, Cabanhã V, FEDECAMD, FJMP,
IIAP, IPAM/UFAC, MTC, UFAC/PZ, Pro Naturaleza, INADE-PEMD, SEPI, Secretaria
Saúde - AC, SEMATUR, SENASA, UNAMAD, UNSAAC. Os doadores como:
FUNDAÇÃO FORD, FUNDAÇÃO MOORE, BID, WWF, GTZ, IIRSA, etc., deveriam
abrir espaços e mecanismos para a participação das ONG’s nacionais em suas
convocatórias e estabelecer mecanismos de comunicação sobre a efetividade da
implementação de seus recursos.
O Encontro se organizou diferentes do que das outras vezes, ou seja,
somente em três mesas temáticas: Conservação Ambiental, Equidade Social e
Desenvolvimento Econômico, a mesa de Políticas Públicas se fez presente de forma
transversal. Em cada uma delas se analisou o estado de avanço, propostas de
trabalho de cooperação trinacional e, ao final, um conjunto de recomendações
produzidas nas reuniões da plenária. Foram apresentadas 49 conferências: 14
Conservação Ambiental, 17 em Desenvolvimento Econômico, 13 Equidade Social e
5 na reunião inaugural.
Destaque para a presença da grande variedade de Mini-MAP’s
apresentados nos trabalhos das mesas, alguns desses Mini-MAP’s estão em plena
ascensão, outros um pouco adormecidos: Agenda 21, Áreas Protegidas, Bacia
Trinacional do Alto Rio Acre, Biodiversidade, Campesino, Castanha, Cupuaçu,
Educação, Estradas (Carretera), Estudantes, Gênero, Herbários, Universidades e
Pesquisa, Ordenamento territorial, Indígena, Madeira, Pecuária, Pesca, Sanidade
Agrária, Saúde, Turismo, Comunicadores Sociais (Jornalismo) e Defesa Civil e
Queimadas.
No cerimonial de abertura, a Secretaria Geral da Organización del Tratado
de Cooperación Amazónica (OTCA), Dra. Rosalía Arteaga, ressaltou a Iniciativa
MAP como um exemplo de integração transfronteiriça para a busca de soluções aos
128
desafios do desenvolvimento sustentável; e neste mesmo sentido se manifestou o
Prefeito de Pando, Sr. Leopoldo Fernández, que se comprometeu com o apoio
decisivo de sua administração a Iniciativa MAP. A mensagem do representante
peruano, Sr. Fortunato Quesada, Cônsul do Peru em Rio Branco, centrou seu
discurso orientado ao tema da qualidade da educação como relevante para um MAP
mais efetivo, por sua importância na governabilidade e transparência. As ações de
facilidade do transporte e intercâmbio monetário ajudaram a dar maior dinamismo à
integração trinacional. O Secretário de Meio Ambiente do Estado de Acre, Sr. Carlos
Edegard de Deus, enfatizou que o Governo do Acre considera que a Iniciativa MAP
tem um papel crescente na integração regional e está apoiando as atividades deste
foro e dos Mini-MAPs específicos. O foco das discussões na abertura foi a dimensão
ética da investigação e a intervenção governamental plasmada no conceito de
governabilidade, desenvolvido por Jorge Vela e Guillermo Rioja, membros do Comité
Científico da Iniciativa MAP.
Este avanço conceitual definiu a rendição transparente de contas como uno
dos mecanismos que demanda a sociedade civil da região, ante às mudanças
importantes que se aproximam. Por isso, a Iniciativa MAP promove a participação
efetiva das sociedades regionais na governabilidade, entendida como o processo
social, econômico e político que assumem as sociedades ante a sua autogestão,
como por exemplo, a gestão compartilhada da bacia do Rio Acre e outros programas
em construção como o Plano Integrado de Defesa Civil da Região MAP e as
reformas curriculares de ensino básico na Região MAP. Desta maneira, a Iniciativa
MAP representa uma experiência de integração da unidade de nações sul-
americanas. A sexta reunião da Iniciativa MAP chegou a parabenizar a realização do
Foro de Difusão que, sobre este processo, se realizou na cidade de Lima em 23 de
junho do presente ano, foi considerado de suma importância e utilidade que este
referido Foro, pois foi o primeiro a realizar-se fora da região MAP, e que pode ser
levado ao conhecimento nas outras capitais dos países que integram esta iniciativa,
com está referenciada na Carta de Brasiléia e Epitaciolândia, no MAP IV, em 2003.
No intuito de criar espaços que assegurem a participação ativa destes atores
sociais, o comitê de organização do MAP, no segundo semestre de 2005, promoveu
três seminários denominados: Estratégias para o Século XXI para reduzir a pobreza
129
e conservar a natureza na Amazônia Sul-Ocidental: rumo a modelos de gestão
participativos – Seminário I: contribuição dos movimentos sociais, Seminário II:
contribuição das instituições governamentais e Seminário III: contribuição das
ONG’s.
Houve os resultados dos seminários I (22.09.05) e II (27-28.09.05)
contribuíram como base para a discussão no seminário III. Recomendações
pertinentes do Comitê Científico da Iniciativa MAP, incluindo a Declaração de
Princípios serviram também como insumos. O foco do seminário III foi a relação
entre as ONG’s internacionais e as ONG’s nacionais, que provocam polarização
como manifestam Marc Dourojeanni e Mac Chapin nos artigos escritos para o
evento.
As recomendações das três mesas de trabalho, as apresentações
institucionais (disponíveis no sítio do MAP: www.map-amazonia.net) e a discussão
em sala, se resumem nas seguintes idéias chaves: consulta prévia aos atores
envolvidos para definir a pertinência da proposta; reconhecimento das capacidades
operativas e administrativas das instituições da região MAP que fazem parte dos
Mini-MAP’s; elaboração da proposta de forma participativa; Fortalecer a associação
e a gestão conjunta de projetos de instituições dos três países (Mini-MAP’s).
A Iniciativa MAP, de caráter voluntário, é um ente coordenador das mesas
temáticas e dos Mini-MAP’s e gera espaços de interação trinacional; Comunicação e
transparência na transferência e uso de fundos de parte das ONG’s internacionais e
locais; Claridade nos papéis das ONG’s internacionais como intermediárias técnicas
e financeiras, e das ONG’s nacionais como técnicas e executoras de projetos;Os
projetos financiados através dos Mini-MAP’s poderão apoiar com um pequeno fundo
as atividades de coordenação da Iniciativa MAP. Aprofundar o controle social ao
acionar as ONG’s nacionais; Instaurar uma cultura de atuação ética e transparente e
de respeito recíproco pela cultura institucional entre as ONG’s internacionais e local-
nacionais; As ONG’s internacionais e nacionais devem incluir nos seus processos de
avaliação, a avaliação por parte dos beneficiados diretos de suas ações; As ONG’s
internacionais devem distribuir os custos indiretos de maneira mais eqüitativa e
justa, com a finalidade de assegurar a sustentabilidade das ONG’s nacionais, no
marco de delineamentos concertados.
130
As descobertas científicas contribuem necessariamente para o progresso da
sociedade, as aplicações tecnológicas podem e deveriam ser dirigidas para o bem
comum, mas podem também, ou antes, ser dirigidas para a exploração do homem
pelo homem, para o agravamento das diferenças sociais e mesmo para fazer a
guerra, que é uma maneira de impor a exploração pela violência extrema.
Desenvolvimento tem sido confundido com crescimento, confusão intencional que
tem o intuito de iludir a dramática realidade do capitalismo que, para satisfazer o
interesse da classe dominante e sobreviver como sistema, impõe um “crescimento”
econômico que agrava a exploração das classes trabalhadoras e exploram os
recursos naturais para além da sustentabilidade. Tal “(des)envolvimento é
(in)suportável”.
Políticas Públicas
A mesa temática de políticas públicas ao final do evento que sua finalidade
maior consistia em alcançar alguns objetivos e metas relacionadas a seguir:
promover a integração dos municípios fronteiriços através do estabelecimento de
políticas conjuntas de desenvolvimento urbano, de gestão de recursos hídricos, de
implantação de currículos integrados no sistema de ensino básico e universitário, de
comércio e de saúde; garantir o direito de informação e participação das
comunidades tradicionais nos processos de tomada de decisões governamentais;
utilizar o zoneamento ecológico e econômico e a fiscalização tri-nacional para
promover o uso sustentável dos recursos naturais; criar comitês binacionais e
trinacionais de gestão das bacias hidrográficas da região MAP e solicitar apoio da
Organização dos Estados Americanos - OEA e Organização do Tratado de
Cooperação Amazônica - OTCA para viabilização dos mesmos.
Estabelecer uma rede comum de observações hidrometeorológicas na
região MAP para subsidiar a gestão regional de recursos hídricos; criar um programa
trinacional de produção florestal sustentável; formar um grupo técnico do MAP para
formulação de uma proposta de cooperação técnica tri-nacional com as instituições
de financiamento para o desenvolvimento da região MAP; participar da avaliação
dos impactos sociais e ambientais dos novos empreendimentos propostos pelas
instituições de fomento na região MAP, como o complexo de usinas hidrelétricas do
Rio Madeira, asfaltamento das estradas Iñapari-Puente Inambari e Guayaramerín-
131
Yucumo e, se aprovadas, fiscalizar a implementação de ações mitigadoras dos
impactos sociais e ambientais adversos; estimular o maior envolvimento das
organizações de base nos processos de integração do MAP; além de promover a
conscientização da classe estudantil e a difusão dos conhecimentos sobre direitos
humanos, direito da integração e cidadania participativa, estabelecendo disciplinas
correlatas no ensino superior da Região MAP.
Dentre as quatro mesas apresentadas esta é de suma importância por
representar transversalidade e respeito às demais. Trata-se de uma área
transcendental pela sua representatividade em contato com todas as atividades
geradas no seio do MAP e seus aspectos ligados a política exterior e as relações
internacionais na zona fronteiriça que busca reduzir lentamente as barreiras de
centralização burocrática do poder executivo, judiciário, legislativo e relações
exteriores. Sobre esta linha, diz Chávez Céspedes (2005, p. 101), na mesa políticas
públicas há o Comitê Trinacional dos municípios de fronteira de Madre de Diós, Acre
e Pando que se define como um fórum de debates de interesses comuns para
apoiar e fortalecer ações conjuntas ao desenvolvimento sustentável da Região MAP.
Conservação Ambiental
Existe uma enorme necessidade de fortalecer as capacidades locais para a
investigação, o conhecimento e a conservação da biodiversidade regional, a gestão
de problemas ambientais (crescimento urbano) e o uso sustentável dos recursos
naturais. As políticas educativas nacionais e regionais não conhecem
adequadamente a diversidade natural e cultural da região. Por outro lado, as macro-
políticas de conservação da biodiversidade e de desenvolvimento sustentável não
reconhecem a necessidade de construir capacidades locais para a gestão da
conservação e desenvolvimento. Propomos aos governos a reestruturação dos
programas educativos nos centros de formação técnica, com conteúdos coerentes
com as necessidades e oportunidades da região.
132
Figura 13: Mega-investimentos planejados para Amazônia Sul-Ocidental
Beni
Cobija
Rondônia
Pando
Lago Titicaca
Acre
Estrada
Iñapari- Puente
Inambari
US$179 milhões
UHE
St. Antonio
3.600 MW
UHE Jirau
3.900 MW
UHE
Binacional
3.000 MW
US$6 bilhões
Estrada
Guayaramerin-
Yucumo
US$195 milhões
Puerto
Maldonado
4.000 km de
Rios navegaveis
Rio Branco
Como maximizar os benefícios e minimizar os
prejuizos destes mega-investimentos?
Fontes: NASA e M. Steininger, CI, IIRSA, BNDES.
Na mesa de Conservação ambiental foi recomendado pelos organizadores
do evento, no documento final, investir esforços para melhorar a qualidade da
educação ambiental recebida pelos cidadãos em geral. Neste contexto, a
capacidade instalada na região (universidades, institutos de pesquisa, estações
ecológicas, museus), a criatividade dos próprios estudantes e o conhecimento
tradicional da população local devem ser reconhecidos, potencializados e
articulados; os estudantes universitários da região MAP devem ser estimulados a
aprender em campo e a contribuir ativamente para o conhecimento da
biodiversidade de sua região, aproveitando a oferta natural privilegiada e a riqueza
do conhecimento tradicional devida à diversidade étnica da região MAP; os
estudantes não devem ser alienados da realidade local, mas formados em contato
direto com a natureza e as populações locais, aprendendo a atuar com respeito à
diversidade natural e cultural.
As atuais políticas de fomento agropecuário promovem a monocultura de
espécies forrageiras, a agricultura de corte e queima e a pecuária extensiva, cujo
impacto evidencia que estas tecnologias destroem a produtividade da terra e
condenam os pequenos agricultores à pobreza; existem evidências de superioridade
ecológica, social e econômica dos sistemas de produção agroflorestal e agropastoril,
baseados em plantas nativas. Propomos aos governos, mudanças de suas políticas
133
agrárias a favor de uma agricultura sustentável. As populações locais devem
considerar um conjunto crescentemente ativo e decisivo na pesquisa da
biodiversidade, meio ambiente e recursos naturais; não como simples provedores de
informação, nem como assistentes passivos, mas como co-investigadores e
eventualmente autônomos. Em particular, os elaboradores das mesas temáticas
recomendam que sejam convidados os campesinos e indígenas e os possuidores do
conhecimento tradicional, ativamente (não subordinadamente) na formação de
profissionais. Somente desta forma ocorrerá uma verdadeira aproximação do mundo
indígena e campesino, seus conhecimentos e necessidades. Devemos também
lembrar de que muitos estudantes da região são de famílias campesinas e
indígenas. Recomendam fazer esforços para padronizar a informação ambiental
regional, por exemplo, a classificação de ecossistemas da região MAP, bem como,
acreditam em um grande esforço para publicar e divulgar os resultados da
investigação e informação ecológica e ambiental da região.
A incorporação, das relações ecológicas estratégicas dentro da região MAP,
como é o caso dos rios que banham a região e nascem nos Andes, assim como os
regimes climáticos como bases para o planejamento trinacional do desenvolvimento
foram recomendadas ao debate. No planejamento do uso da paisagem e na
declaração de áreas naturais protegidas, a Carta de Brasiléia e Epitaciolândia
recomenda fortalecer a participação das populações locais, particularmente as
indígenas, buscando harmonizar o respeito a seus territórios e suas tradições, com a
proteção da natureza; recomendou-se, em todos os aspectos da gestão de recursos
naturais, com incrementação dos esforços para obter uma participação horizontal,
ativa e informada da cidadania regional; devem-se continuar fortalecendo a
coordenação transfronteiriça e o intercâmbio de informações entre instituições
governamentais administradoras dos recursos naturais, para uma melhor
supervisão, vigilância e controle de transgênicos.
Desenvolvimento Econômico
O eixo temático Desenvolvimento Econômico, a partir de 2002, quando da
realização do Fórum MAP III congrega os Mini-MAP’s: não madeireiro, castanha,
madeira, turismo regional, sanidade animal, sanidade vegetal, cupuaçu, aqüicultura
e manejo florestal e agroflorestania, embora haja outros.
134
Realização de um Encontro maior sobre o tema dos não-madeireiros
possibilitaria o intercâmbio de metodologias e conhecimentos, tais como desafios de
legislação e normas técnicas, aspectos mercadológicos para a região.
Equidade Social
A criação de mecanismos legais para a proteção dos povos indígenas na
Região MAP e a inclusão da interculturalidade na educação formal, respeitando suas
tradições, costumes e territorialidade. Nesta mesa de debate recomenda-se a
elaboração de uma proposta de educação bilíngüe intercultural para a Região MAP,
de acordo com os movimentos migratórios, partindo das organizações dos povos
indígenas. Que seja estabelecido de um convênio marco entre as instituições de
educação da Região MAP, para viabilizar os trabalhos empreendidos e contar com
um respaldo legal. Deve-se trabalhar o fortalecimento da equipe de educadores do
Mini-MAP Educação, facilitando a participação ativa dos atores envolvidos.
Reafirmou-se a proposta educativa de reconhecer como meta própria que 1% do
território que compõe o MAP seja manejado de maneira sustentável, com a
participação das crianças (população menor de 18 anos de idade, que representa
40% do total da população), de acordo com suas capacidades e com o apoio da
sociedade, através da inserção desta temática no ensino básico. Dinamizar a
proposta de redes educativas na Região MAP, com o apoio das universidades,
governos locais e sociedade civil. Buscar vínculos entre as universidades da Região
MAP e as instituições educativas para desenvolver um plano de capacitação
docente na região, com ênfase na interculturalidade. Incentivar e fortalecer as
políticas de integração para as universidades da Região MAP, iniciando estudos
para a implementação de currículos articulados na região. Oficializar as ações de
investigação das universidades da Região MAP, com divulgação dos resultados.
Estabelecer convênios como marco ao fortalecimento de pesquisas universitárias e
intercâmbio, mediante bolsas e estágios e ainda instituir um banco de dados sobre a
situação social e econômica das mulheres para definir políticas específicas e
eficientes que garantam equidade. Recomendações da educação do V MAP.
Com relação a Gênero e Segurança as colaboradoras e coordenadoras
são: Peru: Milagros Jimenez, Brasil: Joci Aguiar e Bolívia: Rosário Vaca, teve como
recomendações, estabelecer redes de trabalho entre a Policia Nacional del Peru –
135
PNP; Ministério de la Mujer y Desarrollo Social – MIMDES; Fiscalía; Juizado de
Família; Defensoria Municipal de Niños y Adolescentes – DEMUNAS; Defensoria de
Niños y Adolescentes – DNA; Saúde e Educação (Peru); a Polícia Feminina;
Secretaria de Cidadania e Assistência Social/Gerência de Equidade e Gênero;
Secretaria da Mulher; Conselheiros de Estado; Juizes especializados em Direitos
Humanos (Brasil), e seus similares na Bolívia, para baixar o índice de violência
contra a mulher, a criança e o adolescente na Região MAP.
Figura 14: Campanha de vacinação conjunta na Região MAP
A área da Saúde
lançou como pontos a ser
sanadas: realizar um
intercâmbio trifronteiriço de
informação epidemiológica,
sobre casos e mortes
referentes aos problemas de
saúde priorizados, incluindo a
informação sobre casos
suspeitos e confirmados das
enfermidades imunopreveníveis. Realizar reuniões trinacionais semestrais para
análise de informação epidemiológica na Região MAP. Coordenar com os
Ministérios de Saúde e as representações da Organização Pan-americana de Saúde
– OPAS/Organização Mundial de Saúde - OMS, em cada um dos três países, a
aprovação final e o início a partir de novembro de 2004, do Projeto Trinacional de
Cooperação Técnica para o Fortalecimento da Vigilância Epidemiológica da
Leishmaniose na Região Sul-ocidental da Amazônia. Desenvolver ações de
cooperação técnica tri-nacional para a prevenção e atenção dos problemas de
saúde priorizados (HIV/AIDS, tuberculose, doenças transmitidas por vetores e
doenças imunopreveníveis). Desenvolver Sistemas de Informação Geográfica
trinacionais integrados, incluindo dados climáticos de satélite com dados
epidemiológicos locais, entomológicos e socioambientais, que permitam o
estabelecimento de um Sistema de Alerta Precoce sobre a ocorrência de doenças
transmitidas por vetores.
Fonte: Mini-MAP Saúde
,
2004
136
Conservação Ambiental
Fortalecer a cooperação entre os pesquisadores, coleções, herbários,
centros acadêmicos e de pesquisa, para compartilhar informações eficazmente.
Além de empreender estudos sobre as dinâmicas da biodiversidade, e como esta é
afetada pelas mudanças de uso da terra.
Reconhecer as mudanças econômicas e culturais que afetam o uso e a
valorização dos recursos naturais; bem como identificar a permanente diversidade
cultural da região, que conduz a uma grande variabilidade de percepções,
conhecimentos e relações com a biodiversidade; deve-se ainda pesquisar com maior
profundidade as interações entre bacias hidrográficas e os corredores econômicos,
espaços onde a luta contra a pobreza e a contaminação ambiental se sobrepõe.
Procurar fortalecimento na relação entre áreas protegidas e ordenamento territorial,
a fim de promover governabilidade ambiental e social; portanto, devem-se promover
a planificação da paisagem e o ordenamento territorial como veículo de
desenvolvimento sustentável e participação cidadã.
Os processos regionais de degradação ambiental trazem mudanças de
atitudes na vida das populações locais. Isto leva a: organizar para influir
positivamente nos planos de desenvolvimento e de governo; aprender
cooperativamente e articular o aprendido, confidenciar o conhecimento e; divulgar o
que já se sabe, repassando estes conhecimentos aos que dele necessitam, ou seja,
ensinando.
Em uma região deprimida econômica e socialmente que enfrenta severos
riscos de produtividade e saúde ambiental, destacamos o papel social da atividade
campesina, com introdução de sistemas agroflorestais, reconhecida na Declaração
de Orlando (EUA), este ano, no Primeiro Congresso Mundial Agroflorestal. A
atividade agro-florestal contribui para: a sustentabilidade ambiental e econômica; a
saúde e o bem estar familiar; a equidade de gênero; a seguridade alimentar e; a
reprodução social. Para obter uma conservação ambiental que exerça uma efetiva
oposição aos modelos dominantes de destruição do meio ambiente e do bem estar
humano, precisa desenvolver políticas públicas inovadoras.
137
Políticas Públicas
Estabelecer políticas conjuntas de aproveitamento dos recursos naturais
com valor agregado e para que isso se efetive é necessário convidar as instituições
públicas e privadas envolvidas no desenvolvimento fronteiriço, a fim de que
contribuam com recursos para o fortalecimento das iniciativas MAP; estabelecendo
consórcios e convênios entre instituições para o desenvolvimento sustentável da
Região MAP. Discutir a formação de corredores ecológicos e econômicos na Região
MAP. Harmonizar políticas nacionais para o desenvolvimento do turismo na Região
MAP e coordenando o cumprimento das normas legais a favor dos povos indígenas.
Estreitar os laços entre o processo MAP e as diferentes políticas de governo dos três
países. Realizar a integração dos Zoneamentos Econômico-Ecológicos - ZEEs nos
três países, através da cooperação interinstitucional e uma gestão conjunta para
garantir as ações efetivas para o MAP. Superar a inadequação das leis para acelerar
os processos de cooperação e integração no campo econômico, social e cultural,
liberdade de trânsito e de trabalho das pessoas na Região MAP. Promover maior
participação dos governos locais de cada país nas atividades que dizem respeito ao
MAP, iniciando uma articulação trinacional para mitigar os impactos das queimadas
nos três países. Coordenar mecanismos diplomáticos entre as autoridades dos três
países e instituições envolvidas.
Elaborar um projeto educativo integrado para a Região MAP que contemple
todas as camadas social e a cidadania esteja acima dos interesses particulares.
Esse projeto deve mostrar que o MAP é mais que um movimento social composto
por indivíduos de esfera social, cultural, política, religiosa e econômica diferentes,
mas com força suficiente para buscar a resolução de problemas comuns, como
educação, saúde, estradas, meio ambiente e desenvolvimento.
138
Figura 15: Evolução dos Encontros MAP
0
200
400
600
800
1000
1200
MAP I MAP II MAP III MAP IV MAP V MAP VI
2000 2001 2002 2003 2004 2006
Fonte: MAP VI, 2006
O gráfico mostra uma sensível queda no número de participantes nas
reuniões do MAP VI, se comparado com o V MAP, mas mostra uma maturidade por
não perder a qualidade das discussões e no aprofundamento de suas decisões que
reconhecem o firme propósito da integração participativa dos povos fronteiriço que
podem ser visto no documento final, denominado Carta de Cobija - Pando.
Os Mini-MAPs, avanços e retrocessos
A primeira reunião plenária do MAP, no ano 2000, teve apenas 25
participantes. A última, neste ano, teve mais de 600 participantes, representando
não só a sociedade civil, as organizações não governamentais e a academia,
autoridades públicas locais, em especial dos municípios. Embora também
estivessem presentes funcionários regionais e locais de ministérios e outras
agências públicas nacionais ou regionais. De acordo com Dourojeanni (2005), a
Iniciativa MAP tem uma gestão muito horizontal, essencialmente democrática e tem
gerado mais de 20 iniciativas especializadas trinacionais, que são conhecidas como
“mini-maps”. Apesar de sua designação diminutiva e estrambótica, algumas dessas
iniciativas já ostentam resultados notáveis e perspectivas muito importantes, como
no caso dos que trabalham com pesquisa científica e manejo de bacias, madeira,
estradas, educação e saúde, dentre outros; não obstante outros Mini-MAP’s ainda
não conseguiram despertar o ímpeto de sua importância e continuam em seu estado
de latência. O MAP já dispõe de um conselho científico e recebe, direta ou
139
indiretamente, através de seus integrantes, o apoio de diversas entidades como a
Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). Os Presidentes de
Bolívia, Brasil e Peru, reunidos neste ano em Puerto Maldonado (Peru) para a
cerimônia de início das obras da estrada Interoceânica, reconheceram e aplaudiram
a Iniciativa MAP. Não se acredita, no MAP, que o aplauso tenha sido muito sincero.
E prossegue Dourojeanni (2005), o MAP, apenas por existir e pelo que já
fez, é uma grande coisa. É uma pena que não tivesse começado antes que decisões
fundamentais, como a da construção da estrada Interoceânica, fossem tomadas sem
consulta. Assim mesmo, o MAP terá oportunidade de fazer muito para estimular um
desenvolvimento verdadeiramente sustentável, garantindo os direitos das
populações locais, aprimorando sua economia e qualidade de vida, preservando o
entorno natural e, em especial, a diversidade biológica ímpar da região. Para isso,
se propõe a manter uma linha clara de atuação, baseada na colaboração aberta, a
transparência que ele mesmo reclama dos governos e a análise científica honesta
dos problemas sobre os quais vai opinar. Pretende evitar cair na tentação do juízo
fácil ou demagógico e da segregação dos que não pensam igual. A razão deverá
guiar todos seus atos para poder obter o respeito geral que lhe dará a força para
cumprir sua difícil missão.
Na verdade, o MAP tem muito trabalho. Não só deverá monitorar as obras
das novas estradas cuja construção já se iniciou, mas, em especial, deverá velar
para que seu uso seja feito conforme requisitos sociais e ambientais mínimos. De
acordo com Dourojeanni (2005), por exemplo: a avaliação de impacto ambiental das
novas estradas, feita e aprovada às pressas, apenas contempla os impactos
ambientais diretos, que são os de menor importância. Nada diz sobre as
conseqüências do uso da estrada, que implica em especulação fundiária,
desmatamentos ilegais, invasões de terras indígenas e de áreas protegidas,
exploração ilegal de madeira e mais incêndios na floresta. Tampouco trata do tema
da prostituição infantil que já aumentou muito, inclusive antes da chegada do asfalto.
Nem se fala dos novos problemas de cultivos ilegais, tráfico de estupefacientes e
armas, trabalho escravo nas novas fazendas, etc. O MAP deve, já que os governos
nacionais não o fazem, ficar atento a tudo isso e a muito mais. Alertar sobre os
riscos e os desvios e, claro, fazer propostas equilibradas para harmonizar o
140
desenvolvimento econômico pretendido com objetivos sociais e ambientais
desejáveis e possíveis.
O fórum anual MAP é composto por quatro mesas temáticas e cada uma
delas com suas respectivas iniciativas, a saber:
Mesa de Desenvolvimento Econômico
1 - Mini-MAP Estrada
2 - Mini-MAP Turismo, Cultura, Arte, História e esporte
3 - Mini-MAP Sanidade Agrária
4 - Mini-MAP Micronegócios
5 - Mini-MAP Cupuaçu
6 - Câmara de Integração Empresarial
7 - Agroflorestania
8 - Castanha
9 - Mini-MAP Pesquisa Pecuária
10 - Mini-MAP Ordenamento Territorial
11 - Mini-MAP Madeira, etc.
Mesa de Equidade Social
12 - Mini-MAP Educação e Direitos Humanos
13 - Mini-MAP Saúde
14 - Mini-MAP Indígena
15 - Mini-MAP Comunicadores Social
16 - Mini-MAP Campesinos e Extrativistas, etc.
Mesa de Conservação Ambiental
17 - Mini-MAP Bacia
18 - Mini-MAP Biodiversidade, etc.
Mesa de Políticas Públicas - é a responsável pela transversalidade no âmbito das
demais mesas de trabalho, funciona como elo de interconexão entre demais.
Alguns Mini-MAP’s crescem rapidamente, outros ficam latentes, outros dão a
impressão que somente foram criados para satisfazer um determinado objetivo, e
uma vez alcançado esse objetivo, torna-se inativo, estéril ou com pouca atividade
significativa dentro da iniciativa MAP.
141
Mini-MAP – Estradas
Este Mini-MAP faz parte da mesa temática de desenvolvimento econômico.
Desde a sua criação o Mini-MAP Estradas tinha como objetivo promover a
integração solidária e voluntária para resolver problemas comuns na Região MAP
gerados pela infra-estrutura viária, e potenciar as oportunidades para o
desenvolvimento sustentável. A visão maior era a estrada como oportunidade de
integração. Nos início, Fórum MAP (2000) I e Fórum MAP (2001), segundo,
conversa pessoal com o pesquisador Foster Brown, ainda não existiam a
nomenclatura Mini-MAP’s, entretanto, temáticas importantes, como impacto das
estradas sobre a região , eram trabalhadas em workshops. A partir de 2002, quando
das reuniões preparativas cresceram significativamente, superando a 150 pessoas.
A partir de então, resolveram distribuir o público por afinidade com as temáticas.
O Mini-MAP Estradas, surgiu com este nome, em 2003, NA opinião do
pesquisador Foster Brown, as estradas são uma realidade e que o desafio que se
deve tomar é maximizar os benefícios e minimizar os impactos adversos. Para este
fim, o MAP estradas esta trabalhando para propor um plano emergencial que
poderia ajudar nestes processos.
Este é um trabalho que merece destaque na Iniciativa MAP pela atuação em
prol do meio ambiente e desenvolvimento. É um trabalho de coragem e força de
vontade uma vez que é um voluntariado constante.
O planeta agradece...
142
Figura 16: simulação das estradas vicinais no acre. 2001-2030
Fonte: Soares Filho, 2003. com adaptações.
Os coordenadores atuais (2006) deste mini-MAP Estradas são: Peru: Freddy
Vasquez; Brasil: Elsa Mendoza; Bolívia: Oscar Sória.
Entretanto outro envolvido com o MAP enfatizou que “as estradas, estarão
facilitando o acesso e transporte, mas são sempre um fator de desflorestamento na
Amazônia, além de atrair atividades como agricultura, pecuária e extração de
madeiras”, observou à IPS, Michael Schmidlehner, presidente da organização não
governamental (ONG) Amazonlink, com sede em Rio Branco, Acre. Isto é visível nas
imagens de satélite, que mostram a concentração de áreas sem arvores ao longo
das estradas já pavimentadas no Acre. ”Faz falta um plano para evitar os impactos
destrutivos”, concluiu.
A construção das estradas apesar de ser fator positivo, também traz consigo
vários aspectos de caráter negativos, a saber: o êxodo rural, prostituição,
desmatamento, incentivo a pecuarização, escassez de recursos hídricos,
especulação fundiária, venda de lotes e por fim, aumento do consumo de drogas e a
violência generalizada.
143
Figura 17: Representação das rotas de integração latino-americana
Fonte: MAP III, 2002.
Um grande crítico da implantação das estradas sem prévio consulta a
população local é Ráez-Luna (2006, p. 3) ao esclarecer que: “Ya se vocean,
demagógicamente, promesas de “ampliar la frontera agrícola” en la Interoceánica,
eufemismo referido al proceso socialmente empobrecedor de tumbar y quemar
bosques madereros y castañeros, liberando enormes cantidades de carbono a la
atmósfera, para extender monocultivos y vacas flacas. Esta ampliación, de hecho, ya
está ocurriendo y se viene acelerando. Un estudio publicado este año (2006),
realizado por el Centro de Datos para la Conservación del Perú, con la colaboración
de INRENA, la Sociedad de Zoología de Francfort y la FENAMAD concluye que en
las selvas de Madre de Dios, Cuzco y Puno, la tasa anual de deforestación se ha
duplicado entre 2000-2005 en comparación al periodo 1990-2000. Este es el efecto
de las expectativas creadas por la Interoceánica. Cerca de 10,000 ha de bosque se
han perdido al Sur de Puerto Maldonado en los últimos cinco años. Las dos
actividades que mayor pérdida de cobertura boscosa han ocasionado en la región
son la actividad agropecuaria y la minería de oro. Al interior de las áreas protegidas
también se incrementó la deforestación: El área deforestada en la Reserva Nacional
Tambopata y en el Parque Nacional Bahuaja-Sonene (PNBS) aumentó en 62%. En
la Zona de Amortiguamiento de estas áreas, la deforestación pasó de 32,000 a más
de 40,000 hectáreas. Un área crítica de deforestación en la región es Huaypetue, el
peor enclave minero de la Amazonía peruana, donde la deforestación tuvo un
144
incremento de 14,500 ha. Esta minería altamente depredatoria viene avanzando
hacia nuevos territorios en comunidades nativas y en cabeceras de las cuencas del
Tambopata y del río Colorado, en la Reserva Tambopata, en el Parque Bahuaja-
Sonene y en la Reserva Comunal Amarakaeri. E como proposta Ráez-Luna (2006,
op.cit. p. 5), relata que “a principal recomendação do grupo de trabalho da sociedade
civil peruana para a Estrada Interoceânica é a elaboração, financiamento e
execução de um programa de desenvolvimento regional e ordenamento territorial
regional, atrelado a um ordenamento territorial enérgico e profundo para o Sul da
região, que ataque as raízes dos problemas”.
Figura 18: Aspectos dos Impactos Futuro das Estradas no MAP
Fonte: Stephen Perz, UF, 2004
As estradas clandestinas criadas por madeireiros além de prejuízos sociais,
existem os ambientais que são bem maiores, como a alteração da bacia hidrográfica
na região.
Uma questão central nas discussões sobre desenvolvimento sustentável na
Amazônia trata-se dos impactos do asfaltamento sobre os sistemas socio-
ecologicos. No âmbito acadêmico e da política, um debate existe sobre as
mudanças trazidas por asfaltamento e a capacidade da governança de evitar-los
(NEPSTAD, et al. 2001, 2002; LAURANCE, 2001, SOARES-FILHO et al, 2004).
Mini-MAP – Madeira
O mini-MAP Madeira está incluso na mesa temática de desenvolvimento
econômico a partir de 2002, é tem realizado uma série de eventos específicos para
discutir a problemática do uso dos recursos madeireiro, enfatizando a
145
sustentabilidade na Iniciativa MAP, sobretudo por encontrar-se em pleno
desenvolvimento, mediante os processos de ordenamento florestal que se
implementavam no MAP, com a finalidade de potencializar os impactos positivos,
reduzir os negativos, em benefício do desenvolvimento e a conservação do meio
ambiente.
A visão futura desta iniciativa é ter uma Região Amazônica MAP com
produção florestal, integral e sustentável, partindo de seu potencial madeireiro, não
madeireiro e de serviços ambientais em benefício eqüitativo da população MAP.
Eventos relevantes: Workshop: “Diagnóstico da atividade madeireira na
região MAP: Perspectivas para el futuro” Assis Brasil, 2002); oficina trinacional:
Atividade Madeireira na Região MAP- promovendo a integração regional” (Madre de
Diós, Abril 2003). Intercambio de experiências de Madeireiros na região MAP (Sena
Madureira, julho 2003) e reuniões com a coordenação entre IBAMA, INRENA y SIF.
Figura 19: Comercio de Madera en Madre de Dios, 2006
Fonte: Fondebosque, 2006
O Mini-MAP Madeira começou em 2002, em Madre de Diós
(FONDEBOSQUE, 2006) com 10 pessoas, e em 2006 são mais de 100 entre
empresários e Instituições de controle, ONG’s, governos locais, regionais,
universidades e a própria sociedade civil. Eis algumas instituições que fazem parte
deste MAP e participaram do MAP VI, em Cobija – Bolívia, em julho de 2006: PERU:
ProNaturaleza, ACCA, WWFPerú, Fondebosque, INRENA, UNAMAD, UNSAAC,
146
Cesvi, Consórcio Maderacre – Maderyja, Forestal Rio Piedras, Agroindustrial
Victoria, CP-CFV. BRASIL: IBAMA, IPAM, UFAC, A.F.G. Oliveira, Ouro Branco
Madeiras, FUNTAC, PROMATEC, PROMANEJO, SEF, WWF, CB-CFV. BOLIVIA:
SIF, FJMP, IMAPA, CIMAGRO, SAGUSA.
Um grande desafio para as pessoas envolvidas no Mini-MAP madeira é
buscar identificar o controle das atividades ilegais nesta região, com maior ênfase
para o lado peruano, local em que as atividades clandestinas (ilegais) atuam com
maior intensidade.
Os Coordenadores atuais deste MAP (2006) são: Peru: Summer Trejos;
Brasil: Elsa Mendoza; Bolívia: Ronald Calderon.
Lograr intercâmbios de experiências em transformação secundária e
comercialização de madeira na região MAP, criando capacidades em certificação,
mercados e plantações florestais competitivas no sector madeireiro da região, este o
objetivo do Mini-Map Madeira de Madre de Diós (FONDEBOSQUE, 2006).
A composição deste já foi citada anteriormente. Contudo, foi muito debatido
neste evento, onde referendou-se na Carta de Brasiléia (MAP IV) que o mini-MAP
Madeira ampliar-se-ia na busca de maior profundidade nas pesquisas sobre cadeia
produtiva da madeira na região MAP e geração de uma linha base de
monitoramento com um planejamento do seguimento bi-anual, incorporando o
impacto sobre a biodiversidade em áreas de aproveitamento e as condições
socioeconômicas da população; bem como promover a transferência, o
desenvolvimento de tecnologias e a pesquisa sobre o aproveitamento,
transformação e comercialização da madeira MAP, em benefício dos empresários
madeireiros, agricultores, indígenas, instituições governamentais e não
governamentais.
Procurar o envolvimento das empresas madeireiras em estudos e pesquisas
e uma relação saudável entre os fiscalizadores e os centros de pesquisa dos três
países; fortalecer a iniciativa tri-nacional para combater o corte ilegal da madeira nos
países da Região MAP, além de elaborar programas de conscientização, difusão
das leis e regulamentos florestais dos três países e instalar quatro postos de
controle nas fronteiras na região; envolver o meio empresarial, o governo, o meio
acadêmico e as ONG’s na análise das regras de manejo, adaptando-as às diferentes
147
regiões e; reverter o caos instalado no segmento produtivo de madeira, através da
aplicação do manejo florestal e transparência fiscal/contábil e social, foram pontos
marcantes na discussão da mesa de desenvolvimento econômico sobre madeira.
Utilizar o modelo peruano em que o órgão fiscalizador contrata um
madeireiro para assessorá-lo, durante todo o tempo nas ações de planejamento,
mudança ou de adaptações na região MAP, no que tange às empresas que operam
dentro das regras de manejo florestal madeireiro.
De acordo com Conservatório: “Técnicas de Manejo Florestal” (2004), a
região MAP representa aproximadamente 180.000 km
2
de área oficial com potencial
madeireiro de alta qualidade (36% da área MAP). Em madeira representa 230
milhões de metros cúbicos, a razão 13 m
3
/ha a um valor de US$ 45/m
3
, teremos um
total de US$ 10,5 bilhões de recursos Madeireiros potenciais nesta área. Tem como
recomendação do MAP V: Realizar o intercâmbio de experiências nacionais em
indústrias florestais; desenhar e implementar o manejo de sistema de informação
(para temas de manejo e aproveitamento, transformação e comercialização, baixo
conceito de cadeia produtiva); realizar cursos e oficinas trinacionais para manejo
florestal e gestão organizacional.
Figura 20: Exploração Madeira MAP.
Fonte: MAP V Madeira, 2004.
Mini-MAP Bacias Hidrográficas
A abordagem da bacia hidrográfica como unidade integradora de
gerenciamento e gestão despertou o interesse dos governos locais para uma maior
148
articulação política dos municípios fronteiriços para resolução dos problemas de
forma conjunta. Para isto o Comitê Bifronteiriço - Assis Brasil-Iñapari, encaminhou
uma carta consulta à Organização do Tratado de Cooperação Amazônica-OTCA
solicitando orientação para a formação de um Comitê Trinacional da Bacia do Alto
Rio Acre. [...]. A partir do diagnóstico participativo, as lideranças municipais
perceberam a importância que o consórcio teria para a gestão integrada da bacia, no
qual decidiram incluir uma Comissão de Integração Regional e Internacional formada
por representantes do Brasil, Bolívia e Peru (MALDONADO, 2005).
Este mini-MAP tem por objetivo, promover um programa de gestão integrada
e participativa na Bacia do Alto Rio Acre, com a participação do Comitê Trinacional
de Fronteiras da Região MAP e suas respectivas câmaras técnicas, como modelo de
gestão de bacias transfronteiriças. Pela importância será posta em pauta outra vez
no MAP III. A Coordenadora geral deste Mini-MAP Bacias Hidrográficas no Brasil é
Mónica Maldonado De Los Rios, da universidade Federal do Acre.
Figura 21: Bacias Bi e Trinacionais da Região MAP-Baixa elevação
Fonte: Mini-MAP Bacias Hidrográfica da Região de Influência, 2002.
A Bacia Trinacional do alto Rio Acre da Bolívia, Brasil e Peru, é uma das
poucas bacias no Brasil compartilhada por mais dois países. Elas pertencem as
seguintes unidades geopolíticas: os municípios bolivianos de Bolpebra e Cobija, os
municípios de Assis Brasil, Brasiléia e Epitaciolândia e Xapuri e distrito peruano de
Inãpari, totalizando uma área de mais de 20.000 km
2
e uma população de mais de
149
60.000 habitantes. A área específica da bacia é aproximadamente de 7.668 km
2
, a
situação da terra nesta área se caracteriza pela presença de: projetos de
colonização (população de baixa renda), projetos de assentamento (para
regularização e ocupação de áreas devolutas, visando o assentamento de famílias
de origem rural voltados basicamente à agricultura e pecuária), projetos de
assentamento agroextrativistas (para viabilizar a exploração de recursos naturais
pelos seringueiros), concessões madeireiras, propriedades particulares destinadas a
agropecuária, reservas extrativistas, estação ecológica, terras indígenas e centros
urbano (TONI, 2005), além disto, está área se encontra dentro da área de influência
de um dos novos eixos de integração regional, a “Estrada do Pacífico “, que ligará o
Brasil aos portos do Pacífico (BROWN, et al.2001).
Iniciou-se um diagnóstico participativo da realidade sócio-ambiental dos
municípios da Bacia do Alto Rio Acre, despertando o interesse dos governos locais
para uma maior articulação política dos municípios fronteiriços para resolução de
problemas de forma conjunta, abordando a bacia hidrográfica como unidade
integradora de gerenciamento. Este interesse refletiu-se na formação do Consórcio
para o Desenvolvimento dos Municípios do Alto Acre e Capixaba que incluiu na sua
estrutura uma comissão de integração regional para tratar dos assuntos da bacia,
integrando os países vizinhos. Também realizou-se uma avaliação ecológica rápida
das condições ambientais do Alto Rio Acre e tributários, bem como a elaboração de
uma proposta para iniciar um trabalho conjunto envolvendo instituições
governamentais e não governamentais da região tri-nacional. O trabalho
desenvolvido pelo Mini-MAP Bacia é de crucial importância para a longevidade da
vida do Rio Acre e seus afluentes.
Figura 22: Representação da Bacia do Rio Acre
Fonte: MAP IV, 2003.
150
A equipe de discussão considerou ter retrocedido sensivelmente com relação
à de trânsito de pessoas, bens e serviços na fronteira trinacional: em Cobija,
brasileiros e peruanos hoje devem pagar uma cota para entrar e outra para sair da
Bolívia. Verificou que primeiro deviam potencializar esforços para conseguir que os
governos trinacionais melhorem sua atitude com relação ao intercâmbio fronteiriço;
verificou que estão sendo avaliados os impactos econômico, social e ambiental da
Estrada Interoceânica, com a participação dos municípios, das prefeituras e de
numerosos atores sociais, identificando problemas e propondo soluções para a
mitigação de impactos da estrada. Entretanto, as ameaças de desmatamentos
descontrolados são cada vez mais iminentes, onde o desenvolvimento desenfreado
causa danos irreparáveis ao meio ambiente. Isso sem contar as inúmeras estradas
de madeireiros (estradas não oficiais) que serão criadas perpendicular e paralelas a
esta grande rodovia; além da facilidade ampliar a zona de narcotráfico na região.
Juntamente com os Mini-MAP Estradas, Madeira, Educação e Saúde são as
iniciativas que mais têm avançados nas discussões dentro dos fóruns anuais.
Mini-MAP – Planejamento Regional – Agenda 21
Conhecido com os nomes de mini-MAP: Agenda 21, Planificação Regional e
Ordenamento Territorial. Tem a missão de organizar os resultados existentes do
ordenamento territorial na Região MAP. Propor um ordenamento territorial integrado
para as sociedades regionais. O Mini-Map Planejamento regional seguia estes
princípios: vontade e decisão política; planejamento participativo; agilidade e
simplicidade nas ações; envolvimento dos atores e agentes de vários níveis que
atuam no município; valorização diversidade sócio/cultural e sustentabilidade do uso
dos recursos naturais. Seu propósito era discutir a construção de uma Agenda 21
para o MAP. Esta iniciativa é de grande valia uma vez que ordenamento territorial e
o planejamento regional vêm a funcionar como veículo de desenvolvimento
sustentável e participação cidadã.
Os coordenadores deste evento, até a presente data (dezembro de 2006)
são: Peru: Armando Iram Muñante del Castillo; Brasil: José Menezes Cruz
(Paraguassu); Bolívia: César J. Aguilar Jordan.
151
Figura 23: Equipe MAP Planejamento Regional - Agenda 21
Fonte: Mini-MAP Planejamento Regional, 2002
Agenda 21 ou planejamento regional é um processo de planejamento
participativo que analisa a situação atual de um país, estado, município e/ou região,
e planeja o futuro de forma sustentável. Esse processo de planejamento deve
envolver todos os atores sociais na discussão dos principais problemas e na
formação de parcerias e compromissos para a sua solução a curto, médio e longo
prazo. A análise e o encaminhamento das propostas para o futuro devem ser feitos
dentro de uma abordagem integrada e sistêmica das dimensões econômica, social,
ambiental e político-institucional. O esforço de planejar o futuro, com base nos
princípios de Agenda 21, gera produtos concretos, exeqüíveis e mensuráveis,
derivados de compromissos pactuados entre todos os atores. A sustentabilidade dos
resultados fica, portanto, assegurada. Instituições participantes: Angélica _ UF;
Cesar Chia – IIAP; Cesar Michi e Hector Cardicell - Federacion de Castanha; Oscar
Paredes – UNSAAC, Maher Vallejo – UAP; Elsa Mendoza – IPAM; Foster Brown –
UFAC; Fabry Savedra – SENAMHI; Fatima Garcia – INRENA; Armando Munate –
SENASA.
Para que se efetivar o ordenamento territorial com planejamento regional é
necessário promover parcerias, formar grupos de trabalhos envolvendo as
governamentais, não-governamentais e sociedade organizada, com isso não se
realizou, esta iniciativa não se fez presente no MAP VI e, atualmente este Mini-MAP
está inativo temporariamente.
152
Mini-MAP Indígena
Organizações indígenas dos três países que integram essa região têm
marcado presença no MAP desde 2003, procurando intensificar relações de
cooperação mútuas, somando esforços de concatenação de agendas e de
intercâmbio com organizações dos campesinos e extrativistas da região e, ainda,
promovendo fóruns específicos de articulação e representação política, como
provado pela realização do Mini-MAP Indígena, na cidade de Cobija em julho de
2004.
Este Fórum Permanente Trinacional Indígena, em Cobija, serviu para firmar-
se em um espaço de participação para estas comunidades. Neste fórum
concretizaram-se atividades de sensibilização e divulgação da condição e das
necessidades de vida dos povos indígenas isolados que habitam as Cabeceiras do
Alto Rio Acre, na fronteira trinacional envolvendo os três paises.
A missão do mini-MAP indígena compreende por ser um espaço inter-
regional que permita melhorar o nível organizativo das instituições e populações
indígenas, com ênfase no desenvolvimento integral. Visão: Povos e instituições
indígenas fortalecidas organizativamente e socialmente. Os contatos e
coordenadores até 2006 são: Peru: German Chinipa Manga, Brasil: Miralda , Bolívia:
Jaime Chávez.
Esta é uma iniciativa que apresenta avanços significativos e uma evolução
constante cada encontro. “Os direitos indígenas estão sendo conseguido graças a
mobilizações pacíficas bem organizadas” (RIOJA, 2005).
A integridade dos territórios indígenas e das unidades de conservação
existentes ao longo da fronteira Brasil-Peru também depende hoje de ações
binacionais. No âmbito dos acordos para consolidar a “integração regional”, os
governos brasileiro e peruano, acreano e dos departamentos vizinhos, devem
implementar medidas para pôr fim às ações ilegais de madeireiros, garimpeiros e
narcotraficantes na região fronteiriça. Devem ainda estabelecer planos para evitar e
mitigar os impactos socioculturais e ambientais que advirão da construção de
rodovias (a Transoceânica e a planejada Pucallpa-Cruzeiro do Sul), bem como da
exploração de petróleo e gás natural, que em breve terá início nas proximidades da
153
fronteira internacional, por meio de contratos de concessão assinados pela estatal
Perupetro S.A. com empresas estrangeiras. Dentre estes, cabe destacar o contrato
firmado, em dezembro de 2005, com a Petrobrás Energia Peru S.A., para a
exploração do Lote 110 por um período de 40 anos. Situado nas bacias dos rios
Ucayali e Alto Juruá, em uma extensão de pouco mais de 1,4 milhão de ha, esse
lote, adjacente ao Parque Nacional Alto Purus e sobreposto à Reserva Territorial
Murunahua, tem seu limite leste próximo, no Acre, às cabeceiras dos rios Envira,
Tarauacá, Jordão e Breu, onde estão situadas terras indígenas habitadas por
Kaxinawá, Ashaninka e “isolados”. (AQUINO, 2006).
Mini-MAP Campesinos e Extrativistas
Criado com esta nova roupagem e conjuntamente com Mini-MAP Indígena,
esta iniciativa não tem tido os mesmos avanços das discussões de seu tema. Há
dificuldades que demandam mais estudos para se poder explicar, contudo sempre
que houver um evento que envolva indígena, agricultores, extrativista, ribeirinhos, os
campesinos estarão presentes. A missão deste mini-MAP é: fortalecimento da
agricultura familiar sustentável através da integração do processo MAP, tendo as
estradas como veículo de sustentabilidade da produção e fixação do homem no
campo. As diretrizes éticas seguidas nesta iniciativa são os respeitos às diferenças.
Para contatos em 2006, os coordenadores trinacionais são: Peru: Juan
Muñoz Mamani; Brasil: Maria Araújo de Aquino; Bolívia: Guillermo Rioja Ballivián.
Mini-MAP Sanidade Agrária
Este evento faz parte da mesa temática Conservação Ambiental e seu
objetivo é consolidar o Comitê Trinacional de Sanidade Agrária na Região MAP.
Existe uma preocupação em elaborar convênio para o fortalecimento da vigilância
fito e zoo-sanitária na região MAP. Os contatos e coordenadores de 2006 são: no
Peru é Armando Iram Muñante del Castillo e no Brasil, Henrique Jorge Freitas.
A criação deste mini-MAP se justifica pela deficiência da vigilância sanitária
animal e vegetal na fronteira. Existe uma preocupação maior com trânsito de
animais e vegetais que trafegam por rio, estradas, ramais e vicinais de madeireiros e
cuidados especiais com surtos de febre aftosa na área de fronteira.
154
Mini-MAP Agroflorestania
Destaque para o grande interesses em torno da Agroflorestania. Não se
pode avançar em planos e ações mais concretas se não tiver melhor planificação e
compromisso. Com mostra que a Agricultura Tradicional ou migratória não oferece
perspectivas favoráveis em produtividade, rentabilidade e segurança alimentar.
Trabalha com Sistemas Agroflorestais e técnicas educacionais e boas
práticas de sanidade agrícola. Em 2006, seus coordenadores são: Peru: Ronald
Covera Gomringer , Brasil: Silton G. de Melo e Bolívia: Daniel Rojas.
O IBAMA, INRENA e SIF têm realizado coordenações e ações conjuntas
para a administração dos recursos naturais renováveis na fronteira trinacional com
base em cronograma conjunto. Avaliada foram os avanços no intercâmbio trinacional
de informações sobre tecnologias produtivas e de melhoramento da qualidade de
vida, especialmente em Etnobotânica e Agroflorestania.
Mini-MAP Estudantes Universitários
Trabalha o despertar para a pesquisa científica nos estudantes, seus
contatos e coordenadores somente no Brasil: Ronaldo Araújo da Silva, que faz parte
do Mini-MAP Educação. Entre as metas estava criar a “Universidade da Floresta”
onde se unam os conhecimentos dos povos indígenas, caucheiros, seringueiros,
colonos e pesquisadores para gerenciar os recursos da floresta em campo aberto a
todos os interessados e promover uma reforma curricular para a educação regional
básica, fomentando a produção e execução de iniciativas, como a proposta
educacional para o século 21, em Assis Brasil.
Promover a integração dos municípios fronteiriços através do
estabelecimento de políticas conjuntas de desenvolvimento urbano, de gestão de
recursos hídricos, de implantação de currículos integrados no sistema de ensino
básico e universitário, de comércio e de saúde (Carta de Epitaciolândia e Brasiléia,
2003 – Recomendações MAP IV). No mês de agosto de 2004 realizou-se em Rio
Branco um encontro de intercâmbio de aprendizagem entre alunos universitários e
docentes da Região MAP, desenvolvendo-se o tema “Gerenciamento da atividade
florestal”. Esta iniciativa não é Mini-MAP tão atuante.
155
Mini-MAP Educação
O MAP Educação incluiu nos programas educacionais os três níveis de
educação – fundamental, médio e superior -, tendo como eixo transversal à
educação bilíngüe, a interculturalidade, a conservação do meio ambiente e a
equidade de gênero. Promovendo, a partir daí, um processo democrático,
participativo e emancipatório do ensino de acordo com as necessidades do
educando e com a realidade local. E por fim, buscar a integração curricular no nível
de educação infantil (Rede Estudantil MAP).
Figura 24: educação sem fronteiras, saída para o século XXI
Fonte: MAP Educação, 2005.
A educação deve se dá em todos os níveis, porém os cuidados especiais
terão que ser com as crianças e jovens. Iniciou o projeto “Construção de um novo
modelo educacional para o século XXI”, na região tri-nacional Brasil-Bolívia-Peru,
utilizando como referência o manejo dos recursos naturais, as mudanças globais, os
direitos humanos e intercâmbio cultural no município de Assis Brasil, com a
participação de professores peruanos e bolivianos. Encaminhamos para análise uma
nova proposta para revitalizar o currículo escolar do Município de Assis Brasil em
articulação com os demais municípios da região trinacional, ou seja, reduzir as
fronteiras com um novo tipo de ensinamentos voltado para o meio ambiente com
perspectiva de desenvolvimento e preservação no futuro. Este projeto iniciado
chama-se Floresta das Crianças ou Bosque de los niños representado por um
espaço doado pela comunidade às crianças de modo legal, com objetivo de que eles
administrem e neste processo adquiram conhecimentos, habilidades e valores em
156
torno ao aproveitamento sustentável dos recursos naturais. Uma das primeiras
experiências se realizou na Reserva Manuripi. A convivência das crianças com a
natureza é a melhor maneira para que desenvolvam atitudes de responsabilidade
social e ambiental, além de ganhar uma sociedade sã e justa.
No interior da Universidade Amazônica de Pando criou-se o Centro de
Investigações Jurídicas Amazônicas (CIJAT), como um avanço para a construção de
um Instituto Trinacional de Direito Amazônico. Em uma primeira etapa estabeleceu-
se um banco de dados com as legislações e outras normas referentes aos povos
indígenas dos três países da região MAP. Com esta informação realizou-se um
primeiro avanço comparativo jurídico do Peru e Bolívia. Discutido o processo de
regionalização iniciado pelo Peru, considerado de grande relevância, o qual promete
um avanço histórico com maior participação das populações locais na tomada de
decisões sobre recursos naturais, educação e saúde. O reconhecimento e
valorização à participação dos governos da região no IV Encontro MAP.
A partir daí os outros também tiveram destaque. Como os trabalhos de
zoneamento ecológico e econômico de Madre de Diós e Pando não têm recebido
apoio político e são atualmente letras mortas. Isto constitui um retrocesso nos
processos de planejamento do desenvolvimento sustentável da região MAP. A
promoção de espaços de articulação e discussão trinacional (Mini-MAP’s) sobre o
aproveitamento dos recursos florestais (produtos madeireiros, borracha, castanha,
produtos não-madeireiros e turismo), identificando ações para melhorar nossa
competitividade, a comercialização e as políticas relacionadas, por fim; o
envolvimento de cientistas bolivianos e peruanos que tem avançado com o início do
projeto LBA (Experimento de Grande Escala Biosfera Atmosfera na Amazônia) na
fase II que envolve pesquisa na região trifronteiriça Brasil-Bolívia-Peru sobre os
efeitos das atividades madeireiras, queimadas e desmatamento no uso da terra, com
o envolvimento das instituições de ponto como UFAC, EMBRAPA, NASA, INPE,
UMaryland, UCSB e UNH.
O MAP IV, Brasiléia-Epitaciolândia em 2003, dirigido aos governos e
sociedades locais, regionais e nacionais, às organizações acadêmicas, de
investigação, não governamentais, à cooperação internacional e ao público com as
recomendações, ordenadas por sessão e plenária. Tais recomendações foram
157
retiradas do relatório final do MAP IV – a Carta de Brasiléia e Epitaciolândia, as
partes essenciais ligada ao desenvolvimento e meio ambientes foram transcritas
para este documento.
Mini-MAP Não Madeireiro
Fazendo parte do Grupo Temático Desenvolvimento Econômico a
coordenadora do Brasil foi Andréia Alechandre (UFAC). Atualmente está inativo,
dando lugar a outros eventos de características semelhantes. Nesta mesa temática
os participantes buscam promover nos três países a regulação da exploração dos
produtos não-madeireiros através da legislação madeireira com normas técnicas
propícias aos diferentes tipos de produtos, superando desta forma obstáculos à
comercialização.
Alfredo Homma (1993) critica o extrativismo, “é uma volta ao passado”. O
extrativismo se auto-destrói com o mercado. Pela predação (mogno), pela
domesticação (cacau/seringueira) ou pela substituição sintética (pau-rosa), é uma
economia moribunda. Os recursos como serviços ambientais, biodiversidade são um
“pote de ouro no fim do arco-íris”.
Para comercializar qualquer produto da floresta numa determinada área é
preciso saber: se tem? Quanto? e onde está? Os principais problemas dos produtos
Florestais Não-Madeireiros: padronização, perecibilidade e adulteração; regularidade
de fornecimento; organização das comunidades e vícios; intermediários, preços,
distâncias; higiene, qualidade do produto; volume ofertado, volume necessário;
legislação de manejo e custos.
A Carta de Brasiléia e Epitaciolândia, documento final do Fórum de 2003 –
MAP IV salientou que para o extrativismo da borracha, o ponto de destaque foi
viabilizar recursos para a realização de um seminário que discuta a implementação
do Programa Trinacional da Borracha até dezembro de 2003, o que já efetivou
concretamente o SEMINÁRIO sobre a borracha em Assis Brasil com participação do
Peru e Brasil nas discussões.
Os principais Benefícios do Manejo desses produtos: redução do
desmatamento, conservação dos recursos ambientais, atividade de baixo impacto,
diversificação da produção, incremento de renda e serviços ambientais. Logo pode
158
dizer que o uso destes recursos florestais e as políticas públicas são, na verdade,
uma estratégia para garantir a manutenção da cobertura florestal, remunerando “em
parte” quem mora na floresta e gerando pseudo-emprego nas cidades. Para que
num futuro próximo esta cobertura florestal possa gerar recursos vindos dos serviços
ambientais, do carbono, das patentes, da biodiversidade, ICMS ecológico e da água
é preciso muita conscientização e educação na sociedade. As instituições que se
fazem presente no apoio aos produtos florestais não madeireiros: CNPT/IBAMA,
Associação de Moradores e Produtores da Resex Chico Mendes de Xapuri -
AMOPREX e de Brasiléia – AMOPREB, Secretaria Municipal de Agricultura e Meio
Ambiente de Brasiléia, Cooperativa de Produtores do Vale do Acre – COOPVACRE,
Central de Cooperativas do Acre - COOPERACRE. O MAP Produtos Não-
madeireiros tem o apoio financeiro e técnico da SOS Amazônia, EMBRAPA -
CPAF/Acre, Secretaria de Extrativismo e Agricultura Familiar-SEPROF, Fundação
Ford, WWF do Brasil, Embaixada da Holanda e Ministério do Meio Ambiente/MMA.
Ainda sob a coordenação de Andréa Alechandre (Brasil), o trabalho com
não-madeireiro tem crescido muito contribuindo para melhoria da renda de famílias
rurais. Mas é preciso aumentar o conhecimento do potencial não-madeireiro. E
apoiar a promoção e a capacitação em manejo e aproveitamento econômico dos
produtos florestais não-madeireiros da Região MAP.
Mini-MAP Castanha
Faz parte do Grupo Temático desenvolvimento econômico, tem como
coordenadores, em 2006: Peru: Luz Marina Velarde, Brasil: Lúcia Wadt e na Bolívia:
Sissy Bello.
A atividade extrativista castanheira representa uma importante fonte de
ingressos econômicos para as populações tradicionais, além de ser uma base da
integração cultural e ecológica. Por ela, o MAP é um cenário de trabalho que permite
bases da integração do desenvolvimento regional. Este evento preocupa-se em
estandarizar planos de manejo florestal castanheiro, elaborando um diagnóstico de
necessidades de capacitação às organizações de produtores. É importante fazer
uma análise comparativa de diferentes opções de certificação.
A atividade castanheira representa uma importante fonte de ingressos
econômicos para as populações, além de ser uma base da integração cultural e
159
ecológica. Por ela, o MAP é um cenário de trabalho que permite bases da integração
do desenvolvimento regional sustentável. Temos acompanhado reuniões específicas
para a temática Castanha (mini-MAP - castanha) que somente é permitido socializar
informações, intercâmbios de experiências, mas sem planificação articulada a nível
regional; sem dá seqüência sistemática de ações coletivas concretas.
Neste evento se optou por institucionalizar a feira itinerante (bi-anual)
internacional da castanha do Brasil; certificar a castanha e buscar negócios com
bons preços, buscar o reconhecimento do MAP como instância de formulação de
diretrizes para as políticas trinacionais, visando o diálogo entre os três paises e
direcionadas ao desenvolvimento sustentável e à conservação do meio ambiente.
Figura 25: Usina de Castanha Tahuamanu-Bo
A economia atual permanece
baseada no extrativismo vegetal
de produtos como madeiras,
castanha e látex. A castanha,
produto gerador de muitos postos
de trabalho na região, contudo se
ajudou ou não a reduzir a pobreza
da população local é um fato a ser
melhor estudado, mas, a Bolívia
exportar anualmente quase 40
milhões de dólares deste fruto.
As recomendações tiradas do MAP V – Castanha, visando equacionar
problemas futuros foram: - Padronizar os planos de manejo florestal castanheiro;
diagnosticar as necessidades de capacitação para as organizações de produtores;
fazer análise comparativa das diferentes opções de certificação; e, promover o
intercâmbio de experiência em processamento industrial da castanha.
É uma iniciativa que tenta estimular as perdas sofridas com o fechamento
das usinas de castanhas do lado brasileiro. Apresenta ainda um potencial pela
geração de postos de trabalhos no campo e na cidade.
160
Mini-MAP Turismo
A partir de 2004, o CONDIAC começou a colocar nas pautas de reuniões a
preocupação com o turismo na região MAP. Em seguida criou o MAP Turismo que
objetiva a promoção do turismo integrado com eficiência e eficácia em conjunto com
a população e em parceria com as instituições no campo social, econômico, cultural
e ambiental de modo sustentável, pensando e agindo na Região MAP, evitando o
trafico de drogas.
Figura 26: Ecoturismo na Amazônia acreana
Fonte: MAP V – Turismo, 2004.
Elaborar um plano estratégico turístico integrado da Região MAP que
difunda a oferta turística existente na região, via os meios massivos de comunicação
e a abertura de uma página web dedicada a esse programa. Ponto fraco é a falta
política para desenvolver o ecoturismo. Portanto, devem-se criar políticas para
fomentar o ecoturismo gerado pela própria comunidade.
Essa iniciativa contendo todas as informações e procedimentos de entrada e
saída do turista em cada país, além de informações sobre procedimentos para o
comércio fronteiriço e saúde pública. Unir esforços para contribuir com a geração de
informações úteis para o desenvolvimento da região, partindo de pesquisas que
contribuam com a solução de problemas levantados pela sociedade local com vistas
ao desenvolvimento e conservação da região.
161
Figura 27: Região do MAP – Potencial para Ecoturismo Amazônico
Fonte: MAP IV, 2003.
Os contatos (Coordenadores) para detalhes sobre o evento em 2006: Peru:
Carlo Aguilar Pérez, Brasil: Gislene Salvatierra da Silva, Bolívia: Abdon Ramiro
Chavéz Céspedes.
A transversalidade é um ponto fundamental em qualquer debate ou
discussão. No MAP IV, esteve presente na mesa de desenvolvimento econômico
que trabalha as questões produtivas, economia e manutenção da vida, mas que está
ligada a outras áreas do conhecimento. Em assuntos diversos, se optou por traçar
rumos que venham a mapear, monitorar e avaliar ao longo do tempo e das estradas
abertas e/ou asfaltadas os seguintes aspectos: oferta de trabalho/emprego/renda;
condições de habitação e de segurança; infra-estrutura de serviços de atenção
básica em saúde e de saneamento (água potável, esgoto, lixo); ressurgência de
doenças infecto-parasitárias (ligadas à mudança no uso da terra e da cobertura
vegetal) e aparecimento de doenças crônicas-degenerativas (ligadas à poluição
atmosférica, da água e do solo) e seus impactos, como morte e afastamento do
trabalho, na economia.
Mini-MAP Aqüicultura / Pesca
É um MAP novo que diz respeito à pescaria na região trinacional, mas ainda
não foram discutidos todos os seus propósitos, o mais difundido é implementar a
aqüicultura na Região MAP. Entretanto o diagnóstico do estado da aqüicultura no
162
Acre está finalizado e bem difundido. Nos demais departamento de Pando e Madre
de Diós faz-se necessário um estudo mais aprofundado. Esta é iniciativa muito nova
esta começando a despontar, mas que já apresenta alguns problemas. Como é o
caso da pesca em reservatórios amazônicos que “pode sofrer um problema adicional
por uma infestação maciça de peixes com parasitas. Poucos anos depois do
represamento do rio Curuá-Una, os peixes (por exemplo Cichla ocellaris) capturados
no reservatório mostraram uma taxa tão alta de infestação com nematódeos que a
população local quase parou de pescar e comer peixe (FERREIRA, et. al.). Não se
sabe ainda até que ponto isso foi um problema local e temporário de Curuá-Una”
(WOLFGANG. 1987). Da mesma forma que houve esta infestação de nematóides
nesta localidade, o represamento do Rio Madeira não o isenta de uma catástrofe
biológica ou pelo menos deixa o suspense no ar para o risco de um problema de
ordem ambiental. Portanto faz-se necessário um estudo com maior profundidade
sobre este alerta.
Mini-MAP Câmara de Comércio
Missão: Desenvolver no setor privado dos três paises uma filosofia de
gestão empresarial sustentável e com conservação do meio ambiente e
rentabilidade social. A principal recomendação para 2005 e 2006, a ser seguida foi
articular-se para constituição da Câmara de Comércio, Indústria, Turismo e a
integração da Região MAP. Apesar da região MAP ter um setor terciário
relativamente desenvolvido para a localidade, esta iniciativa encontra-se entre as
que não conseguiram mostrar para o que veio, ou seja, comportam-se como
gigantes adormecidos.
Coordenadores de 2006: Peru: Mateo Salinas, Brasil: Ruth Seixas Nunes,
Bolívia: Fred Inti Bocangel.
A Iniciativa MAP se fortalece em instituições da região que começa a unir
esforços por meio de trocas de informação e elaboração de projetos bi e trinacionais,
em pequenos foros chamados "mini-maps" (RIOJA BALLIVIÁN, 2005). A pesar dos
mini-maps serem formados a partir de 2003, muitas iniciativas já vinham sendo
paulatinamente trabalhadas em oficinas na busca do equilíbrio do tripé: equidade
social, desenvolvimento econômico e conservação ambiental. Estes eventos
163
menores vão muito além destes discutidos. Existem Mini-MAP’s como Saúde,
Direitos Humanos, Defesa Civil e Queima, Gênero, Comunicadores Sociais dentre
outros que merecem nosso respeito pelo desempenho com fazem suas reuniões,
não obstante, atuam indiretamente ao nosso objeto de estudo, são de grande
interesse uma vez que envolvem-se na transversalidade da conservação ambiental
(recursos naturais e meio ambiente), equidade social e desenvolvimento econômico.
164
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho procurou investigar a atuação MAP com o intuito de analisar a
compatibilidade entre meio ambiente e desenvolvimento na Amazônia Sul-Ocidental.
O estudo mostrou uma diferença significativa desta nova forma de ver o meio
ambiente com a incorporação de aspectos econômicos - capazes de gerar um know-
how técnico, com “bases confiáveis” e consistentes; e humanizado que assegure a
efetiva participação dos cidadãos no processo decisório.
Pode-se dizer que o processo de atuação do MAP concentrou-se em
pequenas localidades das regionais do Baixo e Alto Acre, parte do Departamento de
Pando e Madre de Diós, localidades estas que configuram-se como sendo uma das
regiões mais pobres dos três países e por isso mesmo mais suscetíveis as regras de
financiamentos impostas por diversos organismos internacionais atuantes na região.
No MAP existe a forte idéia em compatibilizar meio ambiente com
crescimento econômico que faz parte do plano dos coordenadores do Instituto de
Integração Regional Sul Americano (IIRSA) que vem trabalhando em um programa
de integração dos países da América do Sul, que tem como braço financeiro o
Corporação Andino de Fomento (CAF). Esse plano de desenvolvimento vem sendo
apoiado também pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco
Mundial (BIRD) que enviaram representantes ao MAP, na busca de que se faça um
ajuste na agenda externa a uma demanda interna.
O estudo, por si só, é insuficiente para mostrar os primeiros contra-senso da
incompatibilidade entre conservação ambiental e crescimento econômico que podem
ser visto nos estragos causados com o asfaltamento da estrada Interoceânica, entre
165
o Brasil e o Peru, estimulando a aceleração do desmatamento, invasão de terras
indígenas, perda de biodiversidade e novos conflitos pela terra.
Para compreender a atuação do MAP foi necessário destacar os aspectos
dimensionais e temporais ocorridos no final da década de 1990, quando se deu o
inter-relacionamento dos atores sociais que hoje o compõe, formados por
campesinato, indígenas, pesquisadores, ONG’s (movimentos ambientalistas),
sociedade civil e governos. Para tanto, uma das primeiras preocupações foi com o
tamanha diversidade de interesse se propusesse a “pactuar” uma agenda comum: o
desenvolvimento e o meio ambiente.
Diante do exposto, pôde considerar que O MAP é um território que se
movimenta pela conflitualidade, é um espaço de vida, de liberdade e de resistência.
Por essa razão, carrega em si sua identidade, que expressa também a sua
territorialidade. É o desejo da sociedade civil, pode se caracterizar como um novo
modelo de regionalização ímpar na Amazônia introduzindo aspectos do debate
sobre desenvolvimento e meio ambiente enfatizando a questão ambiental como
possível eixo de análise, mostrando que a eliminação da exclusão socioambiental
deve ser perseguida simultaneamente com a redução das desigualdades
econômicas e sociais no auspício de um desenvolvimento equilibrado. A esse
processo de regionalização amazônica postula-se o reconhecimento da soberania
trinacional, sendo o pacto que reúne países do Pacífico e do Atlântico deste
subcontinente e por fim, opondo-se à internacionalização da Amazônia. O MAP é um
processo de regionalização, porém, no aspecto sócio-ambiental, econômico-
cultural, que se caracteriza pela defesa dos recursos ambientais, culturais e do
etnoconhecimento, e ainda busca sobreviver ao processo de globalização, que,
relativamente aos países dominados economicamente, os aniquila, ou os deixa à
mercê dos industrializados.
A Iniciativa MAP é um modelo de cooperação a ser adotado para a
Amazônia, acreditando que só a gestão compartilhada de diversos interesses
poderá preservar os recursos naturais, uma vez que é um instrumento que não
representa apenas uma entidade, mas pode está levantando discussões sobre a
solução de questões tão comum a todo envolvidos na trinacionalidade.
166
Esse forte mecanismo do estado do Acre junto com os departamentos de
Madre de Diós e Pando, o MAP é um projeto que envolve vários segmentos da
sociedade civil organizada para o desenvolvimento integrado e sustentável da
Amazônia Sul-Ocidental, configurando em um espaço excelente para intervir no
desenho do desenvolvimento sustentável pretendido para região.
Outro aspecto é essa diferente territorialidade construída pelos migrantes na
diversidade espacial do MAP, são culturas que se justapõem e podem resultar numa
conformação que foge aos padrões da fronteira nacional. Quando se analisa esse
processo, percebe-se as transformações em curso no Estado-nação,
particularmente no que tange a falsa idéia de erosão da soberania frente ao
processo regionalização, diferente do cenário descrito por David Held (apud.
KUNTZ, 2003. p. 52), afirma que a erosão da soberania não resulta, no entanto,
apenas de mudanças tecnológicas, econômicas, estratégicas e organizacionais que
afetam objetivamente a chamada sociedade internacional. Essas mudanças têm
sido acompanhadas de uma reavaliação da soberania como valor. Esse valor nunca
foi aceito de forma incondicional, mas foi raramente contestado com eficácia a partir
da segunda metade do século XVII.
É uma pesquisa inicial, provavelmente, o primeiro trabalho sobre o tema e
precisa de maior aprofundamento nas investigações por ser um tema amplo,
complexo e contemporâneo de integração da Amazônia Continental. Sabe-se que o
MAP tem pouco mais que seis anos de existência, tendo tudo para ser um trabalho
diferente e inovador na fronteira trinacional. As investigações não podem parar.
Procuramos mostrar o MAP em seu dualismo e suas multifacetas que pode até
produzir o desenvolvimento sustentável nos moldes propostos, mas também
corroborar para a legitimação da exploração predatória em curso na região.
Desenvolvimento e meio ambiente na fronteira trinacional Amazônica: um
estudo da atuação MAP (Madre de Diós, Acre e Pando) é uma nova forma de ver o
processo de integração sul-americano do qual faz parte o Peru, Brasil e a Bolívia,
onde grupos de pessoas estão preocupados e questionando qual será o seu futuro e
seu papel nesta integração que envolve os megaprojetos de infra-estrutura que
indicam mudanças irreversíveis para a região sul ocidental da Amazônia. O papel de
atuação da iniciativa MAP é avaliar que contribuição essa população pode dar ao
167
desenvolvimento regional, uma vez que não querem e nem desejam ser meros
expectadores de seus destinos.
Tendo em vista a relevância do MAP como fórum de discussão e de articulação
regional, torna-se cada vez mais relevante a participação dos governos trinacionais
nessa iniciativa, e principalmente com seu apoio financeiro e logístico à sua
continuidade e legitimação. É importante destacar que isto não ocorreu nos três
primeiros anos de funcionamento do MAP, deixando, à primeira vista, a impressão
de que os governos trinacionais sentiam-se incomodados e potencialmente
ameaçado, pelas avaliações e posicionamentos, criteriosos e cientificamente
fundamentados, produzidos em diferentes fóruns sobre os desdobramentos
ambientais, territoriais, sociais e sanitários que a pavimentação da rodovia
transoceânica começava a trazer para aquela região.
No momento atual do processo de construção de um discurso conforme aos
objetivos estabelecidos pela Iniciativa MAP, se pode muito bem estabelecer que os
conhecimentos socioeconômicos e culturais conseguidos são conhecimentos
“situacionais”, orientados a reiniciar novos ciclos de ação – reação - sistematização,
diferenciados por seu nível de apreensão e construção da realidade, dos
conhecimentos científicos que buscam melhor dar explicações gerais sobre os
fenômenos. Ainda que o processo dialógico construtivo iniciado com a irrupção dos
atores campesino/indígenas é grande a experiência destes primeiros anos de
confrontações discursivas mostram que o marco teórico referencial e a dinâmica
estabelecida é adequada para avançar em direção ao desenvolvimento sustentável
buscado explicitamente pela iniciativa MAP.
168
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180
Orçamento e Fontes de Financiamento
Use a tabela para detalhar o orçamento proposto para a duração do curso.
A B C D
Itens de Despesa
Total dos custos
para o período
da bolsa
Total dos custos
cobertos com
financiamento
pessoal ou familiar
Total dos custos
cobertos com
outras fontes de
financiamento
T
otal solicitado à
entidade
financiadora
Matrículas e taxas escolares
-
Matrícula
-
Taxas da faculdade, escola ou
centro de treinamento
-
Ajuda de custo
9.545,60
961,60 - 8.591,04
Alimentação e moradia 7.920,00 792,00 - 7.128,00
Transporte durante a estadia
na faculdade
1.625,60 162,56 1.463,04
Outros
Livros e material de consumo 19.091,20 1916,16 17.182,08
Livros 660,00 66,00 600,00
Material de consumo 19.751,20 302,75 2.769,75
Despesas de viagens - - - -
Transporte aéreo
-
Transporte para a faculdade
-
Taxa referente ao visto
-
Taxa de saída
-
Despesas com pesquisa de
campo
2.300,00 300,00 - 2.000,00
Anexe planilha detalhada em
folha adicional
2.950,00 295,00 2.665,00
Outras despesas -
Anexe planilha detalhada em
folha adicional
Total da Coluna A, ou seja,
Total Geral dos Custos
Educacionais
15.578,10
Total da Coluna D, ou seja,
Total Geral Solicitado
14.615,79
OBS.: Coluna D = Coluna A – (Coluna B + Coluna C)
* Somente para efeito de cálculo, uma vez que não foi conseguido nenhum financiamento.
181
PROJETO DE PESQUISA ANO 2005 e 2006
PROGRAMA DE POS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E MANEJO DE RECURSOS NATURAIS
Cronograma de Atividades
Legenda:
Concluído, sujeito a Em Andamento A Concluir
ATIVIDADES OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV
Preparação do plano de pesquisa
Revisão bibliográfica e
identificação da área de trabalho
in loco.
Análise do material existente nos
arquivos governamentais e das
ONG’s parceiras
Levantamento de dados em
outras fontes
Segunda fase da pesquisa: Trabalho de Campo
Realização de entrevistas com os
pesquisadores, seringueiros,
índios e jornalistas,
organizadores e outros.
Apuração dos resultados e
tabulação, com cruzamento e
sistematização dos dados
Análise e interpretação dos
resultados obtidos em campo
T
erceira fase – Elaboração da Dissertação
Redação da Dissertação
Entrega do material para
discussão e posterior correção
Revisão
Apresentação
Revisão final
182
Algumas Instituições e Organização participantes da Iniciativa MAP, 2006
Nome Sigla Município Pais
Amazonas Pando AMAPAN Cobija Bolívia
ANIA ANIA n/d Peru
Asociación de la Municipalidad de
Pando
AMDEPANDO Pando Bolívia
Cabanhã V Cabanhã V n/d Peru
Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária
EMBRAPA Rio Branco Brasil
FEDECAMD FEDECAMD Puerto Maldonado Peru
FJMP FJMP n/d Bolívia
Grupo de Trabalho Amazônico GTA Brasília Brasil
Instituto de Invest de la Amazonía
Peruana
IIAP Puerto Maldonado Peru
Interdisciplinaria para el Desarrollo
Sostenible
Herencia Pando Bolívia
IPAM/UFAC IPAM/UFAC Rio Branco Brasil
MTC MTC n/d Peru
Parque Zoobotânico - UFAC UFAC/PZ Rio Branco Brasil
Pro Naturaleza Pro Naturaleza n/d Peru
Proyecto Esp. Madre Dios – Inst.
Nac. de Desarrollo
INADE-PEMD
Iberia-Tahuamanu-Madre
de Dios
Peru
Sec. Extraordinária dos Povos
Indígenas do Estado do Acre
SEPI Rio Branco Brasil
Secretaria Saúde-AC
Secretaria
Saúde-AC
n/d Brasil
SEMATUR SEMATUR n/d Brasil
Serviço Nacional de Sanidad Agrária SENASA n/d Peru
SOS AMAZÔNIA
SOS
AMAZÔNIA
Rio Branco e Cruzeiro do
Sul
Brasil
UAP UAP n/d Bolívia
Universidad Nac Amazónica de
Madre de Dios
UNAMAD Madre de Diós Peru
183
ANEXOS
Complemento ...................................................................................................... 184
Linha do tempo da Iniciativa MAP (Madre de Diós – Acre – Pando)............... 184
A Carta da Terra .................................................................................................. 199
Carta de Cobija sobre Desenvolvimento Sustentável da Região MAP (Madre De
Dios-Pe, Acre-Br, Pando-Bo) Amazônia Sul-Ocidental.................................... 209
Declaração de Puerto Maldonado sobre educação sem fronteiras a serviço da
integração e do desenvolvimento sustentável da Região MAP (Madre De Dios-
Peru, Acre-Brasil, Pando-Bolivia) Da Amazônia Sul-Ocidental....................... 213
Estratégias para o Século XXI para reduzir a pobreza e conservar a natureza na
Amazônia Sul-Ocidental: rumo a modelos de gestão participativos –
contribuição dos Movimentos Sociais. ............................................................. 228
Estratégias para o Século XXI para reduzir a pobreza e conservar a natureza na
Amazônia Sul-ocidental, rumo a modelos de gestão participativos:
Contribuição das Instituições Governamentais. .............................................. 231
SEMINÁRIO III: “Estratégias para o Século XXI para reduzir a pobreza e
conservar a natureza na Amazônia Sul-Ocidental: rumo a modelos de gestão
participativos - Contribuição das ONG’s”......................................................... 231
Princípios éticos para geração, disseminação e aplicação de conhecimentos
na Amazônia Sul-ocidental. Perspectiva da Iniciativa MAP (Madre de Dios/Peru,
Acre/Brasil, Pando/Bolívia e Ucayali/Peru. 2005.) ............................................ 235
233
184
Complemento
Linha do tempo da Iniciativa MAP (Madre de Diós – Acre – Pando)
1998 – O Brasil, faz acordos internacionais de cooperação científica com o
Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmósfera na Amazônia – LBA. A
principio a finalidade dessa iniciativa foi estudar as interações entre a Amazônia e as
condições atmosféricas e climáticas em escala regional e global, através de
investigações sobre bacias hidrográficas e fluxos de gases provenientes das
queimadas. O experimento mantém esse mesmo espírito até hoje.
1999
– A partir deste ano vem-se desenvolvendo na região de Madre de Dios-Peru,
Acre-Brasil e Pando - Bolívia (MAP) uma iniciativa de instituições e pessoas do
ambiente acadêmico-universitário, organizações sociais, Organizações não
Governamentais (ONG’S) e de instâncias municipais e governamentais, que tem por
objetivo alentar processos e acordo de intenção, participação democrática na
tomada de decisões e coordenação de planos, programas e projetos de integração
orientados para o desenvolvimento sustentável da tríplice fronteira, no coração da
Amazônia Sul Ocidental.
25 de junho, foi registrado um documento chamado Declaração de Rio
Branco sobre Mudanças Globais, feito no Encontro de Universidades para
desenvolver um programa de mudanças globais relacionadas ao uso da terra na
Amazônia Sul-Ocidental que contou com a participação de 16 instituições
acadêmicas e de pesquisa da Bolívia, Brasil e Peru. Este evento ocorreu em Rio
Branco, Acre, com 33 participantes, basicamente do mundo acadêmico-universitário
regional dos três países, o primeiro esforço começou com uma reunião preparatória
em Rio Branco-Acre (Brasil).
2000
Dezembro. Realização do MAP I em Rio Branco, com 25 participantes,
onde foi criado o nome de Região MAP, um conceito que implica integração
trinacional. Ele serviu para fomentar a colaboração entre profissionais universitários
185
na região de fronteira da Bolívia, Brasil e Peru, local onde as sociedades são
marcadas pela riqueza cultural e pela pobreza econômica.
2001
Em abril. Realizou-se em Porto Maldonado (Peru), o MAP II, com o tema
“Evolução Ambiental Estratégica”. Fizeram-se presente 70 participantes no evento.
Houve debate em torno de estudos dos impactos sobre as estradas, e participação
efetiva das ONG’s.
19 de maio. Realizou-se o Seminário que originou a Carta de Assis Brasil,
com o tema: Construindo o Desenvolvimento Sustentável na Fronteira Trinacional,
datada de 2001. A carta trazia as seguintes recomendações: Fortalecer o comitê de
fronteira, através de apoio técnico e informação e capacitação; expandir o comitê de
fronteira na Região de Madre de Diós/Peru, Acre/Brasil e Pando/Bolívia – MAP para
planejamento estratégico de Integração. Com a finalidade de compatibilizar o
Zoneamento Econômico e Ecológico; compatibilizar as leis; estudos de Impactos
Ambientais; colaboração de educação, saúde e pesquisa; integração econômica;
otimizar o manejo dos recursos naturais regionais; avaliar migrações regionais.
2002
09 a 12 de setembro. MAP III em Cobija (Bolívia) no ano 2002. A partir do
MAP III, em Cobija, formaram-se quatro mesas temáticas de trabalho: conservação
ambiental, desenvolvimento econômico, equidade social e políticas públicas. Esta
última é uma mesa transversal às outras três. As reuniões anuais do MAP,
conhecidas como Fórum MAP, organizam-se em torno destas quatro mesas
temáticas. O objetivo destas reuniões são apresentar os resultados dos Mini-MAPs,
que são reuniões e processos de discussão e ação sobre temáticas específicas que
funcionam entre os eventos anuais. Alguns dos Mini-MAPs são: Bacias, Educação,
Turismo, Estrada, Saúde, Biodiversidade, Castanha, Agrofloresta, pequenos
empreendimentos. O MAP III congregou 160 participantes dos três países, com 53
representantes de instituições estaduais, universitárias, ONG’s e organizações
internacionais. A Carta de Cobija, dirigida aos governos e às sociedades, apresenta
20 recomendações. A par do intercâmbio de informações, do envolvimento de
186
técnicos, da capacitação pessoal e de projetos conjuntos, por meio de acordos de
longo prazo que promovam a integração trinacional, essa carta propõe a criação de
instituições regulares, como o plano trinacional de manejo integral da Bacia do Rio
Acre, o Instituto Tri nacional de Direito Amazônico, a Universidade de Floresta e um
centro tri nacional para celebrar as manifestações étnicas da região na confluência
de Assis Brasil, Bolpebra e Iñapari. É, portanto, na fronteira acreana que parecem
mais avançadas as iniciativas locais para a integração continental.
2003
– Em um período relativamente curto, entre Janeiro e Agosto, realizou-se 6
eventos temáticos de intercâmbio de experiências e tomada de decisões conjuntas:
MAP-Indígena, MAP-Campesino, MAP-Sanidade Agrária, MAP-Agroflorestania,
MAP-Madeira e MAP-Estudantes Universitários.
- Em Abril, cidade de Madre de Diós, realização da oficina trinacional:
Atividade Madeireira na Região MAP: Promovendo a Integração regional.
- Julho, no município de Sena Madureira, realizado o Intercambio de
experiências de Madeireiros na região MAP e reuniões com a coordenação entre
IBAMA, INRENA e SIF.
- 28, 29 e 30 de junho, 1º encontro de trabalhadores rurais da região MAP,
comunidade Pimenteira, Xapurí, Estado do Acre, Brasil.
- De 15 a 18 de agosto, estiveram presente mais de 600 participantes de
nove países, representados por 164 instituições e organizações (sendo 92 do Brasil,
47 do Peru e 25 da Bolívia), assim subdivididas: 76 instituições estatais, 14
universidades, 74 ONG’s e organizações internacionais. Destaque para estas
instituições internacionais e nacionais. Foram proferidas 45 palestras e 19 propostas
de atividades trinacionais conjuntas nos seguintes campos: Conservação Ambiental
(6), Desenvolvimento Econômico (4) e Equidade Social (9).
- Novembro, em Iñampari, realizou-se o 1º. Encontro sobre defensorias de
crianças e adolescentes da Região MAP (MAP Infância), em, com a participação de
mais de 200 pessoas.
187
- Dezembro. Realização do Programa Trinacional da Borracha. O
SEMINÁRIO sobre a borracha em Assis Brasil com participação do Peru e Brasil nas
discussões.
2004
Entre os meses de abril e julho houve duas oficinas de sensibilização com
grupos de mulheres organizadas em torno da equidade de gênero, em Porto
Maldonado e em Rio Branco.
- Em 08 de agosto, mini-map Educação; no Salão Trinacional Assis Brasil.
- Em 12 de agosto, reunião mini-map Bacia e pesca, no Centro de múltiplos
usos em Assis Brasil/Ac.
- 13 de agosto, em Ibéria, na Alcaldia, houve a realização do Mini-MAP
Agenda 21.
- Em agosto, realizou-se em Rio Branco um encontro de intercâmbio de
aprendizagem entre alunos universitários e docentes da Região MAP,
desenvolvendo-se o tema “Gerenciamento da atividade florestal”.
- Em 26, 27 e 28 de agosto, no Centro de Múltiplos usos - Assis Brasil/Brasil,
realização da Oficina do Projeto de Educação Trinacional: Bases para reforma
curricular.
- 27 de agosto, no Centro de Múltiplos usos - Assis Brasil/Brasil, houve a
realização da Oficina do Projeto de Educação Trinacional: Bases para reforma
curricular.
- 10 de setembro, AMDEPANDO, em Cobija/Bolívia, houve Encontro para
Análise do Convênio Marco proposto pelas instituições parceiras (INADE, UFAC,
IIAP, AMDEPANDO, dentre outras) para a gestão integrada da Bacia Trinacional do
Rio Acre.
188
- De 16 a 19 de setembro, realização do MAP V em Perto Maldonado
(Peru), que chegou a ter como participantes 1200 pessoas de 227 instituições, 85
delas públicas, 13 de universidades e 62 ONG’S.
- 03 de Outubro, houve a Alerta, Madre de Diós/Peru, reunião Ronap:
asamblea de recolectores organicos de la nuez amazonica.
- 26 e 27 de outubro. Reunião de Transição/ Fortalecimento do CONDIAC em
Epitaciolândia/Brasil. Discussão: Nivelamento de informações sobre os avanços do
Consórcio de Desenvolvimento Intermunicipal do Alto Acre e Capixaba - CONDIAC
para os prefeitos e vereadores. Fortalecimento do CONDIAC, dar continuidade aos
avanços do CONDIAC e iniciar a elaboração do Regimento interno do mesmo.
- 03 e 04 de novembro. III Reunión del Comité Bi-nacional de frontera Cobija -
Brasiléia – Epitaciolândia, no Salón Rojo Alcaldía de Cobija/Bolívia.
- 23 e 24 de novembro, em Epitaciolândia/Brasil. Encontro de Fortalecimento
do CONDIAC e com Elaboração do Planejamento das atividades do CONDIAC para
o ano 2005.
- 09 e 10 de dezembro, Universidad Amazonica de Pando - UAP -
Reitoria/Cobija-Bolivia, Cerimônia de Assinatura do Convênio Marco
Interinstitucional Trinacional entre a UFAC, universidades e instituições de pesquisa
do Peru e Bolívia.
2005
– 21 de janeiro - CONDIAC/Brasil, Assinatura do Convênio de Educação -
Projeto Floresta das Crianças, referente ao Programa de Inserção de pesquisa em
Conservação e Manejo de Recursos Naturais no Ensino Básico - Projeto Floresta
das Crianças.
- 21 e 22 de janeiro, no Campus da UAP/Cobija-Bolivia, realização da
reunião Pré MAP VI.
189
- 29 de janeiro, no Auditório da IIAP Porto Maldonado/Peru. Apresentação
oficial do sistema de informação florestal da Amazônia Peruana – SIFORESTAL.
Com grande êxito se chegou a cabo a apresentação do Sistema de Información
Forestal de la Amazonía Peruana - SIFORESTAL, sistema que nasce com o
propósito de controle e combate ao desmatamento de áreas clandestinas por
madeireiros peruanos.
- 29 de janeiro, FSM, Porto Alegre, Turno 2 / Sala J102 [Eixo 5]/Brasil Taller:
Nuevas identidades más allá de las fronteras. Forum Social Mundial - FSM Taller:
Nuevas identidades más allá de las fronteras Nuevas identidades más allá de las
fronteras: Integración y articulaciones.
- 04 de fevereiro - Cabaña Tropical, Puerto Maldonado/Peru. SEMINARIO
TALLER. Se invita al publico en general a participar en el SEMINARIO TALLER.
- 13 de março, em Epitaciolândia/Brasil. Projeto Floresta das Crianças reúne
as comunidades na zona rural de Epitaciolândia.
- 14 de março, Epitaciolândia/Brasil. Reunião para definição e / ou
confirmação dos Coordenadores de Mesa e coordenadores de Mini-MAPs - Brasil
para MAP. VI.- reuniões previas do Mini-Map VI.
- 15 e 16 de março - Epitaciolândia/Brasil. Houve o Treinamento: uso de
imagens de satélites. Introdução ao uso de imagens de satélites para planejamento
regional e manejo de recursos naturais; Publico alvo: sindicato e associações; e
público em geral no segundo dia.
- 20 de março, em Brasiléia/Brasil. Projeto Floresta das Crianças reunião de
moradores da Colocação Alegria do Seringueiro na Resex Chico Mendes, em
Brasiléia.
- 21 de março na UAP - Cobija/Bolívia. Reunião Mini-MAP Bacia. Reunião
de trabalho Mini-MAP Bacia para discussão da proposta a ser encaminhada pelo
INADE. Seguida de reunião de organização para o MAP VI.
190
- 31 de março na Casa Rosada em Rio Branco/Brasil). Encontro MAP com o
Governador do Estado do Acre - Jorge Viana que convoca os representantes do
componente brasileiro MAP.
- 09 de abril na RESEX - Chico Mendes/Xapuri-Brasil, realização da
capacitação dos Professores do FLOC - Floresta das Crianças para mapeamento da
área de floresta do projeto.
- 30 de abril - Nova Califórnia - Rondônia/Brasil: Treinamento de uso de
imagens de satélite CBERS e programa SPRING 4.1 para alunos do projeto RECA
em Nova Califórnia-RO. Será realizado um treinamento de uso de imagens de
satélite CBERS e programa Spring 4.1, com aulas teóricas pela manhã e práticas
pela tarde para os alunos das escolas locais.
- 04 de maio em Rio Branco-Acre/Brasil. Curso de cálculo de área e
Geoprocessamento. Curso de cálculo de área usando bússola, passos calibrados e
GPS. Com palestra sobre geoprocessamento. Público alvo: pelotão ambiental de 38
pessoas.
- 06 de maio, na Pousada Paz e Bem - Assis Brasil./Brasil. Reunião do
Comitê de Organização MAP VI.
- 03 de junho, em Brasiléia/Brasil. Reunião do Mini-MAP Saúde.
Desdobramento da reunião de Iñapari, entre Brasil e Peru. A partir desta ocasião
todas as reuniões devem contar com a presença de representantes dos 3 países.
- 17 de junho - Colégio Kayrala José Kayrala - Município de Brasiléia/Brasil.
Apresentação do Projeto Floresta das Crianças para estudante e interessados.
Apresentação do Projeto Floresta das Crianças para estudantes em geral,
professores, diretores, representantes das escolas locais e interessados.
- 18 de junho - Epitaciolândia/Brasil. Mapeamento da área de floresta da
escola do Floc no Chora Menino. Instruções de mapeamento com bússola, passos
calibrados e GPS, para mapeamento da área de floresta da Escola do Projeto
Floresta das Crianças na comunidade do Chora menino.
191
- 20 de junho, no Município de Brasiléia./Brasil. Realizou-se a Capacitação
de professores rurais para o Projeto Floresta das Crianças, realizado pela
Professora Vera Reis (coordenadora do Projeto).
- 24 de junho em Cobija, UAP- Universidad Amazonica de Pando/Bolívia,
realização da reunião de Organização do MAP VI
- 08 de julho, en Cobija/Pando/Bolivia. Realización de la reunión para la
discusión de la organización e estructuración del MAP VI.
- 08 a 11 de julho em Ibéria – MDD/Peru. Curso de Análise de Situação de
Saúde na região MAP. Curso para profissionais de nível superior que atuam na
vigilância epidemiológica dos municípios da região MAP ou no nível
estadual/departamental.
- 12 de agosto na UAP Universidad Amazonica de Pando, Cobija/Bolívia,
reunião de Organização do MAP VI.
- 03 de setembro em Cobija-Pando/Bolívia, debate sobre o MiniMAP
Cuenca/Bacia para diagnosticar a situação do Rio Acre e avançar em planos de
gestão da bacia deste Rio.
- 09 de setembro na UAP Universidad Amazonica de Pando, Cobija/Bolívia,
realização da Oficina de trabalho do Mini-MAP Educação.
- 10 de setembro en la sala audiovisual Campus UAP/Bolivia. 1ª Reunión
preparatoria del Encuentro General de Comunicadores sociales que tendrá lugar en
Cobija en el inicio del ano próximo.
- 30 de setembro no Hotel Las Palmas, Cobija/Bolívia. SEMINÁRIO III:
“Estratégias para o Século XXI para reduzir a pobreza e conservar a natureza na
Amazônia Sul-Ocidental: rumo a modelos de gestão participativa - Contribuição das
ONG’s. O evento tem por objetivo conhecer experiências, promover discussões e
obter recomendações que resultem no aprimoramento dos modelos de gestão de
projetos.
192
- 14 de outubro em Cobija, Pando/Bolívia. Reunião para preparação do
MAP VI. Universidad Amazonica de Pando, Cobija, Pando.
- 14 de novembro, no Restaurante Flores em Epitaciolândia-Ac/Brasil.
Seminário dos movimentos sociais da Região MAP. Objetivo: Tirar propostas deste
encontro para encaminhamento às políticas públicas da região MAP para
concretização das ações.
- 15 de novembro em Cobija/Bolívia. MiniMAP Áreas Protegidas. Participem
todos que desejam contribuir para a consolidação do MiniMAP Áreas Protegidas.
- 15 e 16 de novembro em Epitaciolândia – Acre/Brasil. Seminário dos
movimentos sociais da Região MAP. Evoluindo estratégias para reduzir a pobreza e
conservar a natureza na Amazônia Sul-ocidental.
- Nos dias 18 e 19 de novembro, em Porto Maldonado/Peru. Reunião do
Comitê Científico MAP. Comitê Científico do MAP se reuniu em Porto Maldonado
para discutir programas conjuntos de pesquisa e meios para a região MAP.
- 01 de dezembro em Cobija/Bolívia. Reunião do Mini-MAP Educação.
2006
- 03 de fevereiro em Cobija, Campus de la UAP/Bolívia. MiniMAP queimadas.
- 04 de fevereiro - Centro Trinacional Assis Brasil/Brasil. Reunión
preparatória de MAP VI.
- No dia 9 de fevereiro, em Rio Branco/Brasil. Encontro 8 universidades
peruanas amazônicas e UFAC. Relatório do encontro na Universidade Federal do
Acre, Rio Branco.
- 13 de fevereiro - SETEM/Parque Zoobotanico, UFAC, Rio Branco,
AC/Brasil. Encontro MAP - Estimativas de Áreas Afetadas pelas Queimadas 2005.
Como resultado da reunião do dia 3 de fevereiro em Cobija, Bolívia, do Mini-MAP
Defesa Civil e Queimadas está marcado um encontro de técnicos e outros
interessados.
193
- 16 de fevereiro - Brasília/Brasil. 15/2 Apresentação dos recursos hídricos
transfronteiriços do rio Acre e o trabalho da Iniciativa MAP- Madre Diós-PE, Acre-BR,
Pando-BO. Prof.ª Vera Lúcia Reis, Universidade Federal do Acre. Palestra sobre a
gestão trinacional do Rio Acre.
- 20 de fevereiro - Brasiléia/Brasil. Capacitação de professores rurais em
Educação Ambiental. No período de 20 a 22 de fevereiro p.f. estará acontecendo em
Brasiléia à capacitação de professores rurais da rede Municipal de Ensino em
Educação Ambiental.
- 08 de março - Auditorium del Gobierno Regional/Peru. Reunión de
Organización del MAP VI en Puerto Maldonado.
-10 de março, en la sede de la Comunidad Andina (CAN), Sala Bolívar, sita
en Paseo de la República 3895, esquina Aramburú, San Isidro/Peru). Reunión de
fortalecimiento de la Iniciativa MAP en Lima el día 10 de marzo del 2006 de 9:00 am.
a 12:40 pm. para exponer ante potenciales fuentes donantes.
- 07 de abril - Salón Rojo de la Honorable Alcaldía Municipal de
Cobija/Bolivia). Taller / Debate sobre el estado de las quemas en la Región MAP
con énfasis en el Departamento de Pando durante el año 2005. Evento organizado
por la Liga de Defensa del Medio Ambiente (LIDEMA), la Iniciativa MAP y Herencia.
- 03 de maio - Centro Arquidiocesano de Pastoral – CAPE (BR 364 km 12,
sentido Cuiabá, local de alojamento coletivo e reuniões. Porto Velho/Brasil.
Atividade de mobilização frente aos planos do Complexo rio Madeira, capacitação
popular sobre licenciamento ambiental (convênio MMA/FBOMS) e encontro do GT
Energia.
- 05 de maio - Centro Arquidiocesano de Pastoral – CAPE (BR 364 km 12,
sentido Cuiabá, local de alojamento coletivo e reuniões) Porto Velho/Brasil. Atividade
de mobilização frente aos planos do Complexo rio Madeira, capacitação popular
sobre licenciamento ambiental (convênio MMA/FBOMS) e encontro do GT Energia.
CAPACITAÇÃO POPULAR SOBRE LICENCIAMENTO AMBIENTAL.
194
- 06 de maio - Centro Arquidiocesano de Pastoral – CAPE (BR 364 km 12,
sentido Cuiabá, local de alojamento coletivo e reuniões) Porto Velho/Brasil. Atividade
de mobilização frente aos planos do Complexo rio Madeira, capacitação popular
sobre licenciamento ambiental (convênio MMA/FBOMS) e encontro do GT Energia.
ENCONTRO DO GT ENERGIA DO FBOMS e ENCONTRO DO GT INTEGRAÇÃO
REDE BRASIL/REBRIP/FBOMS.
- 09, 10 e 11 de maio - Epitaciolândia/Brasil. Oficina na região MAP:
Aspectos Legais e Ações Estratégicas para a Gestão da Bacia Trinacional do Alto
Rio Acre. A Universidade Federal de Acre em parceria com a iniciativa MAP e a
Câmara Técnica de Gestão dos Recursos Hídricos Transfronteiriços – CTGRHT.
- 15 de maio - Núcleo UFAC, Brasiléia, Acre/Brasil. Semillas de
Conocimiento para el Futuro: Entrega de resultados de investigaciones para
comunidades en la Región MAP. El encuentro tiene como objetivos presentar,
informar socializar, dialogar y discutir los resultados de las investigaciones realizadas
en la Región MAP.
- 16 de maio - Escola Juana Riveiro, Epitaciolândia, Acre/Brasil. Semillas de
Conocimiento para el Futuro: Entrega de resultados de investigaciones para
comunidades en la Región MAP. El encuentro tiene como objetivos presentar,
informar socializar, dialogar y discutir los resultados de las investigaciones realizadas
en la Región MAP.
- 17 de maio - Auditorio de la CAS Participación del Centro Tecnico de
Iberia, Madre de Dios/Peru. Semillas de Conocimiento para el Futuro: Entrega de
resultados de investigaciones para comunidades en la Región MAP. El encuentro
tiene como objetivos presentar, informar socializar, dialogar y discutir los resultados
de las investigaciones realizadas en la Región MAP.
- 18 de maio - Auditorio de las CAS Comunidad de tres municipios - Iberia,
Madre de Dios/Peru. Semillas de Conocimiento para el Futuro: Entrega de
resultados de investigaciones para comunidades en la Región MAP. El encuentro
tiene como objetivos presentar, informar socializar, dialogar y discutir los resultados
de las investigaciones realizadas en la Región MAP.
195
- 19 de maio - Auditorio de la Universidad Nacional Amazonica de Madre de
Dios (UNAMAD), Puerto Maldonado, Madre de Dios/Peru. Semillas de Conocimiento
para el Futuro: Entrega de resultados de investigaciones para comunidades en la
Región MAP. El encuentro tiene como objetivos presentar, informar socializar,
dialogar y discutir los resultados de las investigaciones realizadas en la Región MAP.
- 20 de maio - Auditorio del Gobierno Regional, Puerto Maldonado, Madre
de Dios/Peru. Semillas de Conocimiento para el Futuro: Entrega de resultados de
investigaciones para comunidades en la Región MAP. El encuentro tiene como
objetivos presentar, informar socializar, dialogar y discutir los resultados de las
investigaciones realizadas en la Región MAP.
- 23 maio, no Restaurante Taruma, El Sena, Pando/Bolivia. Semillas de
Conocimiento para el Futuro: Entrega de resultados de investigaciones para
comunidades en la Región MAP. El encuentro tiene como objetivos presentar,
informar socializar, dialogar y discutir los resultados de las investigaciones realizadas
en la Región MAP.
- 25 de maio - Municipalidad de Porvenir, Pando/Bolivia. Semillas de
Conocimiento para el Futuro: Entrega de resultados de investigaciones para
comunidades en la Región MAP. El encuentro tiene como objetivos presentar,
informar socializar, dialogar y discutir los resultados de las investigaciones realizadas
en la Región MAP.
- 26 de maio - Salón Rojo de la Alcaldía Municipal de Cobija/Bolivia.
Lanzamiento MAP VI que tendrá lugar en Cobija del 20 al 22 de julio de 2006.
- 26 de maio - Auditorio de la Universidad Amazonica de Pando (UAP),
Cobija, Pando/Bolivia. Semillas de Conocimiento para el Futuro: Entrega de
resultados de investigaciones para comunidades en la Región MAP. El encuentro
tiene como objetivos presentar, informar socializar, dialogar y discutir los resultados
de las investigaciones realizadas en la Región MAP.
- 22, 23 e 24 de maio - Iberia/Peru. Encuentro de trabajadores/as rurales de
la región MAP. Mini MAP “ENCUENTRO DE TRABAJADORES(AS) RURALES
IBERIA – 2006.
196
- 05 de julho - página del MAP y email/Bolivia. Divulgación de paneles que
han sido elegidos para ser presentados durante el MAP VI. Divulgación en internet
de los resúmenes aprobados.
- 10 de julho - [email protected]/Bolivia. Fecha límite para la
presentación de paneles para el MAP VI. Fecha limite ampliada para la presentación
de los resúmenes de los paneles propuestos para ser presentados durante el Forum
del MAP VI.
- 18 de julho - Secretaria de Meio Ambiente e Turismo de Epitaciolândia –
SEMAT/Brasil. Reunião Preparatória do Mini-MAP Turismo para MAP VI. Caros
Amigos Considerando a proximidade do MAP VI necessitamos nos reunir em caráter
de urgência para os últimos preparativos a serem apresentadas no Fórum MAP.
- 18 de julho - Núcleo UFAC, Brasiléia, Acre/Brasil. Mini-MAP Defensa Civil
y Quemas. Reunião do Mini-MAP Defensa Civil y Quemas
- 19 de julho - Rádio Aldeias FM, em Brasiléia/Brasil. Reunião do Mini-MAP
Comunicadores Sociais. Nesta semana, dias 19 de Julho (quarta-feira) e 20 de Julho
(quinta-feira), integrantes e interessados no Mini-MAP Comunicadores Sociais.
- 20, 21 e 22 de julho - Cobija, Pando/Bolívia. Abertura do Fórum MAP VI -
primeiro dia. A abertura do Fórum MAP VI acontecerá no dia 20 de Julho, a partir
das 19 horas no Centro de Convenções Natura Verde que está localizado na Av. 27
de Mayo. Fórum MAP VI - o segundo dia do evento acontecerá no Campus
Universitário da UAP. Para maiores detalhes clique no ícone Programação do MAP
VI. Fórum MAP VI - terceiro dia: TODOS ARCHIVOS: EXPOSICION DE
RESUMENES DE MESAS TEMATICAS. O terceiro e último dia do Fórum MAP VI
acontecerá no dia 22 de Julho, no Centro de Convenções Natura Verde, a partir das
08h30min.
- 29 de agosto - Brasiléia/Brasil. Troca de Experiências em Educação do
Campo dos Povos da Floresta. Seminário no Território do Alto Acre para troca de
experiências em Educação no Campo dos Povos da Floresta.
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- 30 de agosto - Iñapari-PE/Peru. Instalación del Bosque de los Niños en la
ciudad de Iñapari, BONI – Iñapari.
- 31 de agosto - Assis Brasil/Brasil. Workshop Higiene e Saúde - Projeto
Floresta das Crianças – FLOC.
- 14 e 15 de setembro - Puerto Maldonado / Madre de Dios/Peru. Seminario
“Potencialidades de Exportación de la Macro región Sur Hacia Acre-Brasil, Pando-
Bolivia” a realizarse el 14 y 15 de septiembre del 2006.
- 26 de outubro - DCN, UFAC, Rio Branco, Acre/Brasil. Palestra:
Desmatamento e Emissoões de Carbono no Estado do Acre - Dr. Cleber Salimon.
No Departamento de Ciências Naturais, Universidade Federal do Acre, Rio Branco-
Ac.
- 26 de outubro - Puerto Maldonado/Peru. CURSO NACIONAL: ”LOS
ZOOCRIADEROS, UNA ALTERNATIVA DE ECONEGOCIO” ITA y el IIAP unen
esfuerzos para realizar el presente curso, que tiene carácter trinacional, contando
con el apoyo de diversas organizaciones públicas y privadas.
- 27 de outubro - Cobija/Bolivia. Reunión Defensa Civil. Capt. Alex Segovia.
- 10 de novembro - Rio Branco, UFAC, Parque Zoobotânico -
SETEM/Brasil. Capacitación de los representantes del Mini-MAP Comunicadores
Sociales. Durante los días 10 y 11 de Noviembre habrá una capacitación sobre la
página Web del MAP, para los representantes del Mini-MAP Comunicadores
Sociales.
- 13 de novembro - Epitaciolândia, Acre, Escuela Joana Ribeiro Amed,
Auditorium/Bolívia. Seminario Taller de Ordenamiento Territorial en la región MAP.
Entre los días 13 e 17 de Noviembre, estará ocurriendo el Seminario Taller de
Ordenamiento Territorial en la región MAP.
- 25 de novembro - Câmara Municipal de Epitaciolândia. /Brasil. Mini-MAP
Derechos Humanos. Conformación del Mini MAP Derechos Humanos.
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- 28 de novembro - CONDIAC/Brasil. Capacitación en herramientas de la
página Web del MAP. Coordinadores y colaboradores del Mini-MAP Ordenamiento
Territorial (OT).
- 16 de dezembro - Paz y Bens - Assis Brasil - Acre/Brasil. Taller
“demandas, aportes de su sector para insertar en el Plan de Gestión de la Cuenca
del Río Acre en la Región MAP” ACRE. Venga a participar en el Taller “demandas,
aportes de su sector para insertar en el Plan de Gestión de la Cuenca del Río Acre
en la Región MAP”.
- Em 18 de dezembro - Câmara de Vereadores - Epitaciolândia/Brasil.
Primeira reunião do Grupo de Trabalho da Bacia do Rio Acre-Brasil. No dia 18.12.06
será realizada a primeira reunião do GT na Câmara dos Vereadores em
Epitaciolândia.
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ANEXOS - MAP
Anexo 1.
A Carta da Terra
PREÂMBULO
Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em
que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada
vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes
perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no
meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família
humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar
forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela
natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da
paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra,
declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande
comunidade da vida, e com as futuras gerações.
Terra, nosso lar
A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar,
está viva com uma comunidade de vida única. As forças da natureza fazem da
existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condições
essenciais para a evolução da vida. A capacidade de recuperação da comunidade
da vida e o bem-estar da humanidade dependem da preservação de uma biosfera
saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma rica variedade de plantas e
animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global com seus
recursos finitos é uma preocupação comum de todas as pessoas. A proteção da
vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado.
A Situação Global
Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação
ambiental, redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies.
Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão
200
sendo divididos equitativamente e o fosso entre ricos e pobres está aumentando. A
injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm aumentado e são
causa de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da população humana
tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da segurança global
estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis.
Desafios para o Futuro
A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos
outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias
mudanças fundamentais dos nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos
entender que, quando as necessidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento
humano será primariamente voltado a ser mais, não a ter mais. Temos o
conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir nossos
impactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está
criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano.
Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão
interligados, e juntos podemos forjar soluções includentes.
Responsabilidade Universal
Para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido de
responsabilidade universal, identificando-nos com toda a comunidade terrestre bem
como com nossa comunidade local.
Somos, ao mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e de um mundo no
qual a dimensão local e global estão ligadas. Cada um compartilha da
responsabilidade pelo presente e pelo futuro, pelo bem-estar da família humada e de
todo o mundo dos seres vivos. O espírito de solidariedade humana e de parentesco
com toda a vida é fortalecido quando vivemos com reverência o mistério da
existência, com gratidão pelo dom da vida, e com humildade considerando em
relação ao lugar que ocupa o ser humano na natureza.
Necessitamos com urgência de uma visão compartilhada de valores básicos
para proporcionar um fundamento ético à comunidade mundial emergente. Portanto,
juntos na esperança, afirmamos os seguintes princípios, todos interdependentes,
201
visando um modo de vida sustentável como critério comum, através dos quais a
conduta de todos os indivíduos, organizações, empresas, governos, e instituições
transnacionais será guiada e avaliada.
PRINCÍPIOS
I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DA VIDA
1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.
a. Reconhecer que todos os seres são interligados e cada forma de vida tem valor,
independentemente de sua utilidade para os seres humanos.
b. Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial
intelectual, artístico, ético e espiritual da humanidade.
2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.
a. Aceitar que, com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais vem
o dever de impedir o dano causado ao meio ambiente e de proteger os direitos das
pessoas.
b. Assumir que o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder implica
responsabilidade na promoção do bem comum.
3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis
e pacíficas.
a. Assegurar que as comunidades em todos níveis garantam os direitos humanos e
as liberdades fundamentais e proporcionem a cada um a oportunidade de realizar
seu pleno potencial.
b. Promover a justiça econômica e social, propiciando a todos a consecução de uma
subsistência significativa e segura, que seja ecologicamente responsável.
4. Garantir as dádivas e a beleza da Terra para as atuais e as futuras gerações.
202
a. Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração é condicionada pelas
necessidades das gerações futuras.
b. Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que apóiem, a
longo prazo, a prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da Terra.
Para poder cumprir estes quatro amplos compromissos, é necessário:
II. INTEGRIDADE ECOLÓGICA
5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial
preocupação pela diversidade biológica e pelos processos naturais que sustentam a
vida.
a. Adotar planos e regulamentações de desenvolvimento sustentável em todos os
níveis que façam com que a conservação ambiental e a reabilitação sejam parte
integral de todas as iniciativas de desenvolvimento.
b. Estabelecer e proteger as reservas com uma natureza viável e da biosfera,
incluindo terras selvagens e áreas marinhas, para proteger os sistemas de sustento
à vida da Terra, manter a biodiversidade e preservar nossa herança natural.
c. Promover a recuperação de espécies e ecossistemas ameaçadas.
d. Controlar e erradicar organismos não-nativos ou modificados geneticamente que
causem dano às espécies nativas, ao meio ambiente, e prevenir a introdução desses
organismos daninhos.
e. Manejar o uso de recursos renováveis como água, solo, produtos florestais e vida
marinha de formas que não excedam as taxas de regeneração e que protejam a
sanidade dos ecossistemas.
f. Manejar a extração e o uso de recursos não-renováveis, como minerais e
combustíveis fósseis de forma que diminuam a exaustão e não causem dano
ambiental grave.
203
6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e,
quando o conhecimento for limitado, assumir uma postura de precaução.
a. Orientar ações para evitar a possibilidade de sérios ou irreversíveis danos
ambientais mesmo quando a informação científica for incompleta ou não conclusiva.
b. Impor o ônus da prova àqueles que afirmarem que a atividade proposta não
causará dano significativo e fazer com que os grupos sejam responsabilizados pelo
dano ambiental.
c. Garantir que a decisão a ser tomada se oriente pelas conseqüências humanas
globais, cumulativas, de longo prazo, indiretas e de longo alcance.
d. Impedir a poluição de qualquer parte do meio ambiente e não permitir o aumento
de substâncias radioativas, tóxicas ou outras substâncias perigosas.
e. Evitar que atividades militares causem dano ao meio ambiente.
7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as
capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário.
a. Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e
consumo e garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas
ecológicos.
b. Atuar com restrição e eficiência no uso de energia e recorrer cada vez mais aos
recursos energéticos renováveis, como a energia solar e do vento.
c. Promover o desenvolvimento, a adoção e a transferência eqüitativa de tecnologias
ambientais saudáveis.
d. Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no preço de
venda e habilitar os consumidores a identificar produtos que satisfaçam as mais
altas normas sociais e ambientais.
e. Garantir acesso universal a assistência de saúde que fomente a saúde
reprodutiva e a reprodução responsável.
204
f. Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e subsistência material
num mundo finito.
8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover a troca aberta e a
ampla aplicação do conhecimento adquirido.
a. Apoiar a cooperação científica e técnica internacional relacionada à
sustentabilidade, com especial atenção às necessidades das nações em
desenvolvimento.
b. Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoria espiritual
em todas as culturas que contribuam para a proteção ambiental e o bem-estar
humano.
c. Garantir que informações de vital importância para a saúde humana e para a
proteção ambiental, incluindo informação genética, estejam disponíveis ao domínio
público.
III. JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA
9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social e ambiental.
a .Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à segurança alimentar, aos solos
não-contaminados, ao abrigo e saneamento seguro, distribuindo os recursos
nacionais e internacionais requeridos.
b. Prover cada ser humano de educação e recursos para assegurar uma
subsistência sustentável, e proporcionar seguro social e segurança coletiva a todos
aqueles que não são capazes de manter-se por conta própria.
c. Reconhecer os ignorados, proteger os vulneráveis, servir àqueles que sofrem, e
permitir-lhes desenvolver suas capacidades e alcançar suas aspirações.
10. Garantir que as atividades e instituições econômicas em todos os níveis
promovam o desenvolvimento humano de forma eqüitativa e sustentável.
a. Promover a distribuição eqüitativa da riqueza dentro das e entre as nações.
205
b. Incrementar os recursos intelectuais, financeiros, técnicos e sociais das nações
em desenvolvimento e isentá-las de dívidas internacionais onerosas.
c. Garantir que todas as transações comerciais apóiem o uso de recursos
sustentáveis, a proteção ambiental e normas trabalhistas progressistas.
d. Exigir que corporações multinacionais e organizações financeiras internacionais
atuem com transparência em benefício do bem comum e responsabilizá-las pelas
conseqüências de suas atividades.
11. Afirmar a igualdade e a eqüidade de gênero como pré-requisitos para o
desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação,
assistência de saúde e às oportunidades econômicas.
a. Assegurar os direitos humanos das mulheres e das meninas e acabar com toda
violência contra elas.
b. Promover a participação ativa das mulheres em todos os aspectos da vida
econômica, política, civil, social e cultural como parceiras plenas e paritárias,
tomadoras de decisão, líderes e beneficiárias.
c. Fortalecer as famílias e garantir a segurança e a educação amorosa de todos os
membros da família.
12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente
natural e social, capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem-
estar espiritual, concedendo especial atenção aos direitos dos povos indígenas e
minorias.
a. Eliminar a discriminação em todas suas formas, como as baseadas em raça, cor,
gênero, orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou social.
b. Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade, conhecimentos, terras
e recursos, assim como às suas práticas relacionadas a formas sustentáveis de vida.
c. Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os a cumprir seu
papel essencial na criação de sociedades sustentáveis.
206
d. Proteger e restaurar lugares notáveis pelo significado cultural e espiritual.
IV. DEMOCRACIA, NÃO VIOLÊNCIA E PAZ
13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e proporcionar-lhes
transparência e prestação de contas no exercício do governo, participação inclusiva
na tomada de decisões, e acesso à justiça.
a. Defender o direito de todas as pessoas no sentido de receber informação clara e
oportuna sobre assuntos ambientais e todos os planos de desenvolvimento e
atividades que poderiam afetá-las ou nos quais tenham interesse.
b. Apoiar sociedades civis locais, regionais e globais e promover a participação
significativa de todos os indivíduos e organizações na tomada de decisões.
c. Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de assembléia pacífica,
de associação e de oposição.
d. Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos administrativos e judiciais
independentes, incluindo retificação e compensação por danos ambientais e pela
ameaça de tais danos.
e. Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas.
f. Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus próprios
ambientes, e atribuir responsabilidades ambientais aos níveis governamentais onde
possam ser cumpridas mais efetivamente.
14. Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os
conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida
sustentável.
a. Oferecer a todos, especialmente a crianças e jovens, oportunidades educativas
que lhes permitam contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável.
b. Promover a contribuição das artes e humanidades, assim como das ciências, na
educação para sustentabilidade.
207
c. Intensificar o papel dos meios de comunicação de massa no sentido de aumentar
a sensibilização para os desafios ecológicos e sociais.
d. Reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma subsistência
sustentável.
15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.
a. Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas e protegê-los
de sofrimentos.
b. Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que causem
sofrimento extremo, prolongado ou evitável.
c. Evitar ou eliminar ao máximo possível a captura ou destruição de espécies não
visadas.
16. Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz.
a. Estimular e apoiar o entendimento mútuo, a solidariedade e a cooperação entre
todas as pessoas, dentro das e entre as nações.
b. Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos violentos e usar a
colaboração na resolução de problemas para manejar e resolver conflitos ambientais
e outras disputas.
c. Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até chegar ao nível de uma
postura não-provocativa da defesa e converter os recursos militares em propósitos
pacíficos, incluindo restauração ecológica.
d. Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e armas de destruição em massa.
e. Assegurar que o uso do espaço orbital e cósmico mantenha a proteção ambiental
e a paz.
f. Reconhecer que a paz é a plenitude criada por relações corretas consigo mesmo,
com outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com a totalidade
maior da qual somos parte.
208
O caminho adiante
Como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a buscar um
novo começo. Tal renovação é a promessa dos princípios da Carta da Terra. Para
cumprir esta promessa, temos que nos comprometer a adotar e promover os valores
e objetivos da Carta.
Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de
interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e
aplicar com imaginação a visão de um modo de vida sustentável aos níveis local,
nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa, e
diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar esta
visão. Devemos aprofundar e expandir o diálogo global gerado pela Carta da Terra,
porque temos muito que aprender a partir da busca iminente e conjunta por verdade
e sabedoria.
A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode
significar escolhas difíceis. Porém, necessitamos encontrar caminhos para
harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem
comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo, família,
organização e comunidade têm um papel vital a desempenhar. As artes, as ciências,
as religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação, as empresas, as
organizações não-governamentais e os governos são todos chamados a oferecer
uma liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade civil e empresas é
essencial para uma governabilidade efetiva.
Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo
devem renovar seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas
obrigações respeitando os acordos internacionais existentes e apoiar a
implementação dos princípios da Carta da Terra com um instrumento internacional
legalmente unificador quanto ao ambiente e ao desenvolvimento.
Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência
face à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação
da luta pela justiça e pela paz, e a alegre celebração da vida.
209
Anexo 2.
Carta de Cobija sobre Desenvolvimento Sustentável da Região MAP (Madre De
Dios-Pe, Acre-Br, Pando-Bo) Amazônia Sul-Ocidental
O Coração da Amazônia Sul-Ocidental, formado pelo estado peruano de
Madre de Dios, o estado brasileiro do Acre e pelo estado boliviano de Pando, aqui
denominado Região MAP, encontra-se em um momento decisivo de sua história. Os
planos de integração regional, os avanços na infra-estrutura e as exigências de uma
vida melhor nas sociedades da região geram crescentes demandas sobre os
recursos naturais e seus ecossistemas. O resultado é que este território se
converteu em um cenário regional de mudanças globais onde a pobreza, a fome, as
enfermidades, o analfabetismo e a contínua degradação dos ecossistemas são
causas de grande preocupação na região. Uma alternativa para amenizar está difícil
situação e a integração de iniciativas inovadoras relativas ao meio ambiente e ao
desenvolvimento. Com esta integração se poderá elevar o nível de vida das
sociedades regionais, conseguir uma melhor gestão dos ecossistemas e natureza
lograr um futuro mais seguro e próspero. Esta integração exigirá a solidariedade e a
colaboração efetiva dentro e entre as nações.
A Terceira Oficina Trinacional da Região MAP, realizada em Cobija, Pando,
Bolívia, de 09 a 12 de setembro de 2002, reuniu organizações acadêmicas, não
governamentais e de cooperação, governos locais e estaduais da Região MAP,
comprometidos com o desenvolvimento sustentável e a conservação da natureza na
região. Esta reunião continua o processo iniciado em reuniões realizadas em Rio
Branco, em 2000 (MAP I) e de Puerto Maldonado, em 2001 (MAP II). Durante o MAP
III, buscou-se novos caminhos baseados nos princípios do desenvolvimento
sustentável contidos na Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, na Agenda 21, no Plano de Implementação da Declaração de
Johannesburgo, no Tratado de Cooperação Amazônica, na Declaração Universal
dos Direitos Humanos, nos convênios da Biodiversidade e de Mudanças Climáticas
e na Declaração de Rio Branco sobre mudanças globais.
210
Resultados
O MAP III congregou 160 participantes dos três países, estando
representadas 53 instituições (sendo 14 do Brasil, 16 do Peru e 13 da Bolívia), assim
subdivididas: 24 instituições estatais, 08 universidades, 11 ONG’s e 10 organizações
internacionais. Foramapresentados 54 palestras e 21 propostas de atividades
trinacionais conjuntas nos seguintes campos: Conservação Ambiental (06
propostas), Desenvolvimento Econômico (08 propostas), Equidade Social (05
propostas) e Políticas Públicas (01 proposta); e uma proposta transversal.
A oficina organizou-se em quatro sessões, aonde foram discutidos os
seguintes temas: conservação ambiental, equidade social, desenvolvimento
econômico e políticas públicas no âmbito da região MAP. Em cada uma das sessões
foram apresentadas revisões do estado atual das áreas temáticas, propostas de
trabalho com elaboração trinacional e ao final propuseram-se recomendações.
Recomendações da Terceira Oficina Trinacional da Região MAP
Os participantes de MAP III, Cobija 2002, dirigem-se aos governos e
sociedades locais, regionais e nacionais, à organizações acadêmicas, de
investigação e não governamentais e à cooperação internacional com as seguintes
recomendações:
1. Acelerar o processo de integração trinacional das instituições governamentais e
não governamentais, através de acordos de longo prazo que promovam a
capacitação recíproca de pessoal e o desenvolvimento de projetos conjuntos;
2. Estabelecer convênios de livre trânsito de pessoas, bens e serviços no âmbito da
Região MAP;
3. Promover implementação coordenada de corredores econômicos e ecológicos
para capitalizar oportunidades, evitar os impactos negativos dos planos de
desenvolvimento econômico no âmbito da Região MAP e facilitar sua
governabilidade.
211
4. Promover a educação ambiental da população e a capacitação de talentos locais,
integrando ações educativas entre as escolas da região, buscando multiplicar
experiências e integrar o aluno aos acontecimentos atuais da Região MAP,
resgatando experiências como a do Convênio Andrés Bello.
5. Fortalecer a capacidade de gestão das instituições que administram os recursos
naturais e o meio ambiente da Região MAP, com ênfase para o gerenciamento do
uso da terra.
6. Trocar informações sobre tecnologias produtivas e de melhoramento da qualidade
de vida, amigável com a natureza, e promover a integração e difusão, via Internet,
da volumosa base de dados existentes sobre a diversidade biológica, uso da terra,
gestão dos recursos naturais e o meio ambiente, e a sociodemografia da Região
MAP.
7. Criar um Instituto Trinacional de Direito Amazônico, que leve a cabo estudos
comparativos da legislação sobre recursos naturais e meio ambiente dos países que
formam a Região MAP, com vista à sua coordenação, em especial em relação a
legislação indígena, e que promova a infra-estrutura e a capacitação dos técnicos
para a aplicação das leis.
8. Priorizar o plano trinacional de manejo integral da bacia do Rio Acre, como ponto
de partida para a proteção das outras bacias hidrográficas, cursos e corpos d’água
da Região MAP.
9. Fortalecer, ou estabelecer, políticas de Estado que permitam uma maior
participação dos atores sociais na tomada de decisões para a gestão de seu
território e recursos naturais, e apóiem o desenvolvimento da educação e a saúde.
10. Promover o respeito aos Direitos Humanos dos povos indígenas, assim como
seus direitos reconhecidos no Convênio 169 da OIT. Em particular, insta-se aos
governos do Peru, Brasil e Bolívia as que fortaleçam a defesa dos povos indígenas
da Região MAP em isolamento voluntário.
212
11. Intensificar os estudos para ampliar o conhecimento do estado de conservação
da biodiversidade, dos vazios de informação e das ameaças à biodiversidade na
Região MAP, conforme as recomendações da Declaração de Johannesburgo.
12. Aperfeiçoar os trabalhos de zoneamento econômico-ecológico da Região MAP,
com o efetivo apoio da classe política e da sociedade local, considerando planos de
contingência e mitigação, ante aos iminentes impactos negativos dos avanços da
rodovia transoceânica.
13. Garantir a presença efetiva de autoridades que resguardem a ordem e os
recursos naturais, na Região fronteiriça MAP.
14. Criar a “Universidade da Floresta” onde se reúnam os conhecimentos dos povos
indígenas, seringueiros, castanheiros, colonos e cientistas, para gerenciar os
recursos florestais, em um campus aberto para todos os interessados.
15. Promover uma reforma curricular para a educação regional básica, fomentando a
produção e execução de iniciativas, tais como a Proposta Educacional para o Século
21: Assis Brasil.
16. Criar, na confluência Assis Brasil, Bolpebra e Iñapari, um centro cultural
trinacional, onde se celebrem manifestações étnicas da região.
17. Desenvolver programas de capacitação gerencial e realizar estudos das
potencialidades das cidades turísticas, buscando potencializar sua infra-estrutura
básica na fronteira trinacional.
18. Desenvolver tecnologias estandardizadas para o manejo de recursos florestais
madeireiros e não madeireiros, realizar análises das cadeias produtivas e propor
políticas conjuntas de comércio.
19. Organizar a produção de castanha na Região MAP, identificando-a com um selo
de origem MAP.
20. Fomentar uma participação mais ativa dos cientistas da Região MAP, em
especial os da Bolívia e Peru, em projetos de relevância global como o Experimento
a Grande Escala na Atmosfera-Biosfera da Amazônia (LBA).
213
Anexo 3. FÓRUM TRINACIONAL: A EDUCAÇÃO SEM FRONTEIRAS A SERVIÇO DA
INTEGRAÇÃO E DO DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO MAP
(MADRE DE DIOS-PE, ACRE-BR, PANDO-BO)
Declaração de Puerto Maldonado sobre educação sem fronteiras a serviço da
integração e do desenvolvimento sustentável da Região MAP (Madre De Dios-
Peru, Acre-Brasil, Pando-Bolivia) Da Amazônia Sul-Ocidental
O coração da Amazônia Sul-ocidental, formado pela região peruana de Madre
de Dios, o estado brasileiro do Acre e o departamento boliviano de Pando, aqui
denominado Região MAP, encontra-se em um momento decisivo de sua história. Os
planos de integração regional, os avanços em infra-estrutura e as exigências de uma
vida melhor por parte das sociedades da região geram crescentes demandas sobre
os recursos naturais e os ecossistemas. O resultado é que este território tem se
convertido em um cenário regional de mudanças globais, onde a pobreza, a fome,
as enfermidades, o analfabetismo e a contínua degradação dos ecossistemas são
causas de grandes preocupações regionais. Uma alternativa para mitigar esta difícil
situação é a integração de iniciativas inovadoras relacionadas ao meio ambiente e
ao desenvolvimento. Com esta integração esperamos elevar o nível de vida das
sociedades regionais e obter uma melhor gestão dos ecossistemas, para um futuro
mais seguro e próspero. Esta integração exigirá a solidariedade e a colaboração
efetiva entre nossas nações.
O V Encontro da Região MAP, realizado na cidade de Puerto Maldonado, na
Região de Madre de Dios, Peru, de 16 a 19 de setembro de 2004, reuniu cidadãos,
organizações acadêmicas, instituições públicas e não governamentais, organismos
de cooperação internacional, governos locais, estaduais/regionais e organizações de
base comprometidos com o desenvolvimento sustentável e a conservação da
natureza na região.
Esta reunião dá continuidade ao processo iniciado na reunião de Rio Branco
em 2000 (MAP I), em Puerto Maldonado em 2001 (MAP II), em Cobija em 2002
(MAP III) e em Brasiléia – Epitaciolândia em 2003 (MAP IV). Recentemente o
processo MAP foi reconhecido pelos presidentes da Bolívia, do Brasil e do Peru na
Declaração Presidencial do Rio Acre, como um importante esforço regional para
concretizar uma zona de integração fronteiriça.
214
O processo integrador das reuniões MAP está baseado nos princípios de
desenvolvimento sustentável contidos na Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, na Agenda 21, no Plano de Implementação da
Declaração de Johannesburgo, no Tratado de Cooperação Amazônico, na
Declaração Universal dos Direitos Humanos, nos Convênios da Biodiversidade e de
Mudanças Climáticas e na Declaração de Rio Branco sobre Mudanças Globais.
No dia 14 de setembro, antecipando-se ao MAP V, os ministros de Relações
Exteriores da Região Amazônica, em sua Declaração de Manaus, enfatizaram a
convicção de que a cooperação e a integração entre as sociedades amazônicas
levarão à conformação gradual de uma Comunidade Sul-americana de Nações.
A iniciativa MAP baseia-se no exercício dos direitos humanos básicos
enfatizados na Declaração dos Direitos Humanos e no Princípio 10 da Declaração
do Rio de Janeiro. O direito a ter acesso a informações relevantes sobre
desenvolvimento sustentável, o direito de participar em decisões coletivas e os
direitos de saber e participar formam os pilares do processo democrático e seu
exercício é essencial para a construção de um desenvolvimento sustentável na
Região MAP.
Os encontros na Região MAP são resultado de iniciativas de indivíduos e
instituições que querem desenvolver colaborações binacionais e trinacionais em
busca de soluções para os problemas regionais. O espírito do MAP reflete um
movimento social fronteiriço que percebe que somente através da cooperação e da
integração de vários segmentos das sociedades locais, regionais, nacionais e global,
será possível alcançar o desenvolvimento da Amazônia Sul-ocidental, capaz de
sustentar-se nas próximas décadas e além do ano 2100.
O encontro MAP V congregou mais de 1200 participantes inscritos,
representando cerca de 227 instituições, sendo 152 do Peru, 51 do Brasil, 17 da
Bolívia e 7 de outros países, dos quais 85 pertencem a instituições públicas, 13 a
universidades, 62 a ONG’s e organizações internacionais. O encontro organizou-se
em quatro mesas temáticas: conservação ambiental, equidade social,
desenvolvimento econômico e políticas públicas. Em cada uma delas analizou-se o
estado de avanço, propostas de trabalho de cooperação trinacional, e, ao final um
215
conjunto de recomendações produzidas na reunião plenária. Foram apresentadas 99
conferências, sendo 21 em conservação ambiental, 26 em desenvolvimento
econômico, 26 em equidade social, 24 em políticas públicas e 12 na abertura e nas
palestras magistrais.
Resultados obtidos desde o MAP IV
Tomando como marco de referência as recomendações da “Carta de Brasiléia
e Epitaciolândia”, de 2003 (MAP IV), encontram-se a seguir os avanços do processo
de construção do desenvolvimento sustentável na Região MAP.
1. Desenvolvimento econômico
1.1. Foram realizados encontros sobre produtos florestais não-madeireiros para
possibilitar o intercâmbio de metodologias e conhecimentos sobre manejo de
recursos florestais madeireiros e não-madereiros (Recomendação do MAP IV # 3.1).
1.2. Não se avançou na regulação da prospecção dos produtos florestais não-
madeireiros através da introdução de normas técnicas adequadas nas legislações
florestais (Recomendação do MAP IV # 3.2).
1.3. Avançou-se na institucionalização da feira itinerante internacional bianual
da castanha (Recomendação do MAP IV # 3.3).
1.4. Avançou-se nos processos de certificação da castanha e na busca de bons
preços (Recomendação do MAP IV # 3.4).
1.5. Está em processo de reconhecimento o MAP como espaço de integração
trifronteiriça para a cooperação dos esforços de alcançar o desenvolvimento
sustentável de nossos povos (Recomendação do MAP IV # 3,5).
1.6. Avança-se em pesquisas sobre cadeias produtivas da madeira na Região
MAP, incorporando o impacto ambiental nas áreas de aproveitamento e as
condições socioeconômicas da população (Recomendação do MAP IV # 3.6).
1.7. Avança-se aceleradamente na transferência de tecnologia e na pesquisa
sobre o aproveitamento, transformação e comercialização da madeira na Região
216
MAP, em benefício dos empresários madeireiros, agricultores, instituições
governamentais e não governamentais (Recomendação do MAP IV # 3.7)
1.8. Foram iniciadas ações para incentivar o desenvolvimento de empresas
madeireiras, com estudos, pesquisas e uma relação sustentável na Região MAP
(Recomendação do MAP IV # 3.8).
1.9. Estão sendo iniciadas ações para combater o corte ilegal de madeira na
Região MAP, faltando a elaboração de programas de sensibilização, difusão das leis
e regulamentos florestais dos três países e instalar 4 postos de controle nas
fronteiras da região (Recomendação do MAP IV # 3.9).
1.10. Conseguiu-se o envolvimento do meio empresarial, do governo, do meio
acadêmico e das ONG’s para a análise das regras de manejo florestal das diferentes
regiões (Recomendação do MAP IV # 3.10).
1.11. Foram iniciadas ações para reverter a desordem existente na exportação
florestal, através da aplicação de normas de manejo florestal, faltando realizar ações
que conduzam a uma transparência fiscal e social (Recomendação de MAP IV #
3.11).
1.12. Realizou-se em Rio Branco um seminário para a implementação de um
programa trinacional de seringa (Recomendação do MAP IV # 3.12).
1.13. Realizou-se um diagnóstico da atividade turística da Região MAP,
faltando publicá-lo em 3 volumes (Brasil, Bolívia e Peru), contendo todas as
informações e procedimentos de entrada e saída de turistas em cada país
(Recomendação do MAP IV # 3.13).
1.14. Realizou-se em cada grupo temático os esforços para contribuir com a
geração de informações úteis para o desenvolvimento da região (Recomendação do
MAP IV # 3.14).
1.15. Não se avançou na aplicação do modelo peruano, onde o madeireiro é
contratado pelo órgão fiscalizador para assessorar as empresas que operam dentro
das regras de manejo florestal (Recomendação do MAP IV # 3.15).
217
1.16. Iniciou-se o diagnóstico de impacto do eixo de integração econômica ao
Pacífico, onde se contemplam os seguintes aspectos: emprego, renda, condições de
manutenção e seguridade viária, infra-estrutura de serviços de atenção básica em
saúde e saneamento (água potável, dejetos, deságüe), prevenção de doenças
infecto-parasitárias (relacionada a mudanças de usos da terra e cobertura vegetal)
(Recomendação do MAP IV # 3.16).
2. Equidade social
2.1. Realizou-se o Mini MAP Indígena em Cobija em julho de 2004,
instaurando-se espaços de participação para as comunidades (Fórum Permanente
Trinacional Indígena) (Recomendações do MAP IV # 4.1, 5.11).
2.2. Concretizaram-se atividades de sensibilização e divulgação da condição e
das necessidades de vida dos povos indígenas isolados que habitam as Cabeceiras
do Alto Rio Acre (Recomendação do MAP IV # 4.4).
2.3. Realizou-se em Iñapari o 1º. Encontro sobre defensorias de crianças e
adolescentes da Região MAP (MAP Infância), em novembro de 2003, com a
participação de mais de 200 pessoas (Recomendação do MAP IV # 5.8).
2.4. Concretizou-se o diagnóstico situacional de saúde (Brasil – Bolívia) por
município, com a determinação das prioridades em saúde.
2.5. Efetou-se o diagnóstico qualitativo de educação na Região MAP, mediante
cinco reuniões de trabalho entre as autoridades de educação (Secretarias
Municipais de Educação de Assis Brasil, Brasiléia, Epitaciolândia-Brasil – SEMECs;
Direção Regional de Madre de Dios- DRE – MDD; Secretaria de Educação de Cobija
- Pando - SEDUCA); educadores e sociedade civil da zona de fronteira
(Recomendações do MAP IV # 4.5 e 4.6).
2.6. Realizou-se intercâmbio de experiências entre educadores da Asociación
de la Niñez y su Ambiente - ANIA, Universidade Federal do Acre - UFAC e SEMECs
- Brasil, em Puerto Maldonado, na Comunidade Boca Amigo, com a participação de
22 educadores do Brasil e do Peru.
218
2.7. Na “Colocação Cumaru” – Reserva Extrativista Chico Mendes, em Assis
Brasil iniciaram-se as ações para a implementação de um Bosque de los Niños,
realizando-se encontros de coordenação com os membros da associação, os quais
entregaram às crianças 40 hectares de terra para o desenvolvimento do projeto. Em
Puerto Maldonado, a Universidad Nacional San Antonio Abade de Cusco - USAAC
cedeu 50 hectares para a implementação do Centro de Capacitação de Boni.
2.8. Realizaram-se três reuniões para propagar os avanços do projeto
Educação para o Século XXI em Epitaciolândia, Brasiléia, Assis Brasil, Cobija,
Bolpebra, Iñapari, Iberia e Puerto Maldonado. Foram publicados dois artigos em
congressos científicos sobre a experiência educativa realizada.
2.9. Apresentou-se a proposta para a configuração da Rede Educativa da
Região MAP no Encontro MAP V (Recomendação do MAP V # 4.7).
2.10. Consolidou-se a rede estudantil da Região MAP, com a realização de dois
encontros de intercâmbio de experiências e resgate histórico da região entre as
crianças, docentes e pais de família, participando mais de 50 pessoas
(Recomendação do MAP IV # 4.7).
2.11. Realizou-se um seminário sobre Direito Ambiental e Direito de Integração
no contexto MAP, na Universidade Federal do Acre, de 14 a 16 de maio de 2004,
com a participação de 52 alunos, professores e funcionários públicos do Brasil e
Peru.
2.12. No mês de agosto de 2004 realizou-se em Rio Branco um encontro de
intercâmbio de aprendizagem entre alunos universitários e docentes da Região
MAP, desenvolvendo-se o tema “Gerenciamento da atividade florestal”.
2.13. Iniciaram-se as articulações governamentais para o estabelecimento da
Universidade da Floresta, com uma proposta curricular básica.
2.14. Definiram-se temas prioritários de pesquisa na Região MAP, por mesas
temáticas.
219
2.15. Não se deu continuidade ao estudo comparativo curricular entre as
universidades da Região MAP.
2.16. Realizaram-se três investigações em torno do tema gênero: - estudo
comparativo de investigação em gênero.
- estudo de medidas alternativas de provas de evidências de crimes sexuais.
- estudo para a busca da redução da demanda de drogas na Região MAP.
2.17. Foram realizadas duas oficinas de sensibilização com grupos de mulheres
organizadas em torno da equidade de gênero, em Puerto Maldonado e em Rio
Branco, entre os meses de abril e julho de 2004.
2.18. Realizou-se uma oficina de gestão de conflitos para coordenadores dos
Mini MAP’s dos três países, na Universidade Federal do Acre, em julho de 2004,
com o apoio da Universidade da Flórida.
2.19. Foram realizadas três reuniões de coordenação entre autoridades de
governo, instituições, universidades e comunidades para a implementação da
Agenda 21 local e trinacional.
3. Conservação ambiental
3.1. Foram realizadas cinco reuniões sobre Gerenciamento da Bacia do Alto
Rio Acre que envolveram os consórcios de municipalidades do Brasil, Bolívia e Peru,
com a participação de representantes de agências nacionais dos três países, para
subsidiar a criação de um comitê trinacional de gestão desta bacia (Recomendações
do MAP IV # 2.1, 2.4, 2.6, 2.8, 2.9).
3.2. Um workshop sobre fogo na Região MAP foi realizado em julho de 2004,
com a participação brasileira e peruana. Em agosto de 2004 começou uma série de
publicações em jornais locais de Rio Branco sobre dados de focos de calor na região
e estes dados foram divulgados para os pesquisadores (Recomendações do MAP IV
# 2.2, 2.8, 2.9).
220
3.3.Em duas reuniões (Cobija e Assis Brasil) do MAP – Pesquisa e
Universidades, participaram mais de 15 pessoas de quatro universidades regionais e
organizações de pesquisa para delinear uma lista de prioridades de pesquisa em
conservação ambiental que foi publicada na página web do MAP (Recomendações
do MAP IV # 2.1, 2.2, 2.5).
4. Políticas públicas
4.1. Foram realizadas cinco reuniões trinacionais para promover a consolidação
e a integração dos municípios fronteiriços da Região MAP, com a participação do
Consórcio de Desenvolvimento Intermunicipal do Alto Acre e Capixaba – CONDIAC
– Acre, Asociación de Municipalidades de Pando – AMDEPANDO – Bolivia e
Alcaldes da zona de fronteira de Madre de Dios. Foi débil a participação dos
alcaldes fronteiriços de Madre de Dios para a consolidação do Comitê Trinacional
dos Municípios de Fronteira da Região MAP.
4.2. Considerou-se o acesso e o direito à informação e participação das
comunidades tradicionais no processo de tomada de decisões, mediante a
participação voluntária dos atores sociais.
4.3. Avançou-se no processo de informação em geral, mediante a
implementação da página web do MAP.
4.4. Implementou-se o Convênio Marco de Cooperação Interinstitucional
Trinacional para a gestão integrada da Bacia Hidrográfica do Alto Rio Acre.
4.5. Está em processo de implementação a rede de observações
hidrometeorológicas da Região MAP, com a participação das autoridades oficiais do
Estado do Acre, em gestão com o Departamento de Pando e da Região de Madre
de Dios.
4.6. Instalou-se o grupo técnico “Impacto da estrada sobre a Bacia do Alto Rio
Acre” (Carretera-Rio).
4.7. Foram realizadas oficinas participativas nas prefeituras e municipalidades
para avaliação de impactos ambientais e sociais do asfaltamento da Estrada Rio
221
Branco – Assis Brasil e o estudo definitivo da Estrada Iñapari-Inambari, a cargo do
Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia – IPAM e atores sociais.
4.8. Está em fase de consolidação o Comitê Trinacional MAP (Políticas
Públicas, Sociedade Civil e Comitê Trinacional de Comunicação).
4.9. Obteve-se maior dinâmica participativa da população estudantil, com a
promoção do intercâmbio de experiências dos centros de educação superior na
Região MAP.
Recomendações do MAP V
1 - Mesa de Desenvolvimento Econômico
1.1. Construir uma visão compartilhada de desenvolvimento para a Região
MAP, envolvendo todos os atores políticos, sociais e econômicos, entendendo que
este é um processo de longo prazo.
1.2. Recomendar às autoridades governamentais dos três países priorizar a
finalização da infra-estrutura econômica e produtiva na Região MAP, principalmente
no que se refere à hidroenergia e ao asfaltamento do eixo de integração bi-oceânica.
1.3. Incluir nos programas de ação do MAP o impulso ao desenvolvimento
tecnológico e o fortalecimento da assistência técnica aos produtores rurais, incluindo
o melhoramento de suas moradias.
1.4. Promover ações que permitam melhorar a oferta de capital humano
qualificado nos diversos níveis educativos, vinculando-as às atividades produtivas da
Região MAP.
1.5. Fazer gestão junto a Comissão Andina de Fomento - CAF para obtenção
de apoio e assistência técnica para elaboração de planos de negócios em
oportunidades produtivas nas agroindústrias, indústria madeireira, aquicultura,
turismo e bioindústrias em geral.
222
1.6. Plano de ação 2004 – 2005: analisar as principais atividades produtivas
que avançaram na Região MAP: turismo, madeiras, castanha, aquicultura e produtos
não madeireiros, estabelecendo-se as seguintes metas para os anos 2005 – 2006:
1.6.1. Turismo
- Elaborar um plano estratégico turístico integrado da Região MAP.
- Difundir a oferta turística existente na Região MAP, através dos meios massivos de
comunicação e a abertura de uma página web dedicada a esse programa.
1.6.2. Aquicultura
- Implementar a aquicultura na Região MAP.
1.6.3. Produção madeireira
- Realizar o intercâmbio de experiências nacionais em indústrias florestais.
- Desenhar e implementar o manejo de sistema de informação (para temas de
manejo e aproveitamento, transformação e comercialização, baixo conceito de
cadeia produtiva).
- Realizar cursos e oficinas trinacionais para manejo florestal e gestão
organizacional.
1.6.4. Produtos não-madeireiros
- Aumentar o conhecimento do potencial não-madeireiro na Região MAP.
- Apoiar a promoção e a capacitação em manejo e aproveitamento econômico dos
produtos florestais não-madeireiros da Região MAP.
1.6.5. Castanha
- Padronizar os planos de manejo florestal castanheiro.
- Diagnosticar as necessidades de capacitação para as organizações de produtores.
223
- Fazer análise comparativa das diferentes opções de certificação.
- Promover o intercâmbio de experiência em processamento industrial da castanha.
1.6.6. Sanidade Agrária
- Elaborar convênio para o fortalecimento da vigilância fito e zoo-sanitária no MAP.
1.6.7. Câmara de comércio
- Constituir a Câmara de Comércio, Indústria, Turismo e a integração da Região MAP.
2 - Equidade Social
2.1. Criação de mecanismos legais para a proteção dos povos indígenas na
Região MAP e a inclusão da interculturalidade na educação formal.
2.2. Recomenda-se a elaboração de uma proposta de educação bilingüe
intercultural para a Região MAP, de acordo com os movimentos migratórios, partindo
das organizações dos povos indígenas.
2.3. Recomenda-se o estabelecimento de um convênio marco entre as
instituições de educação da Região MAP, para viabilizar os trabalhos empreendidos
e contar com um respaldo legal.
2.4. Fortalecimento da equipe de educadores do Mini MAP Educação,
facilitando a participação ativa dos atores envolvidos.
2.5. Reconhecer como meta própria que 1% de seu território seja manejado de
maneira sustentável, com a participação das crianças (população menor de 18 anos
de idade, que representa 40% do total da população), de acordo com suas
capacidades e com o apoio da sociedade, através da inserção desta temática no
ensino básico.
2.6. Dinamizar a proposta de redes educativas na Região MAP, com o apoio
das universidades, governos locais e sociedade civil.
224
2.7. Estabelecer vínculos entre as universidades da Região MAP e as
instituições educativas para desenvolver um plano de capacitação docente na
região, com ênfase na interculturalidade.
2.8. Fortalecer as políticas de integração para as universidades da Região MAP
e iniciar os estudos para a implementação de currículos articulados na região.
2.9. Oficializar as ações de investigação das universidades da Região MAP.
2.10. Estabelecer convênios marco para o fortalecimento de pesquisas
universitárias e intercâmbio, mediante bolsas e estágios.
2.11. Instituir um banco de dados sobre a situação social e econômica das
mulheres para definir políticas específicas e eficientes que garantam equidade.
2.12. Estabelecer redes de trabalho entre a Policia Nacional del Peru – PNP;
Ministério de la Mujer y Desarrollo Social – MIMDES; Fiscalía; Juizado de Família;
Defensoria Municipal de Niños y Adolescentes – DEMUNAS; Defensoria de Niños y
Adolescentes – DNA; Saúde e Educação (Peru); a Polícia Feminina; Secretaria de
Ciadadania e Assistência Social/Gerência de Equidade e Gênero; Secretaria da
Mulher; Conselheiros de Estado; Juizes especializados em Direitos Humanos
(Brasil), e seus similares na Bolívia, para baixar o índice de violência contra a
mulher, a criança e o adolescente na Região MAP.
2.13. Realizar um intercâmbio trifronteiriço de informação epidemiológica, sobre
casos e mortes referentes aos problemas de saúde priorizados, incluindo a
informação sobre casos suspeitos e confirmados das enfermidades
imunopreveníveis.
2.14. Realizar reuniões trinacionais semestrais para análise de informação
epidemiológica na Região MAP.
2.15. Coordenar com os Ministérios de Saúde e as representações da
Organização Panamericana de Saúde – OPAS/Organização Mundial de Saúde -
OMS, em cada um dos três países, a aprovação final e o início a partir de novembro
225
de 2004, do Projeto Trinacional de Cooperação Técnica para o Fortalecimento da
Vigilância Epidemiológica da Leishmaniose na Região Sul-ocidental da Amazônia.
2.16. Desenvolver ações de cooperação técnica trinacional para a prevenção e
atenção dos problemas de saúde priorizados (HIV/AIDS, tuberculose, doenças
transmitidas por vetores e doenças imunopreveníveis).
2.17. Desenvolver Sistemas de Informação Geográfica trinacionais integrados,
incluindo dados climáticos de satélite com dados epidemiológicos locais,
entomológicos e socioambientais, que permitam o estabelecimento de um Sistema
de Alerta Precoce sobre a ocorrência de doenças transmitidas por vetores.
3 - Conservação Ambiental
3.1. Fortalecer a cooperação entre os pesquisadores, coleções, herbários,
centros acadêmicos e de pesquisa, para compartilhar informações eficazmente.
3.2. Empreender estudos sobre as dinâmicas da biodiversidade, e como esta é
afetada pelas mudanças de uso da terra.
3.3. Reconhecer as mudanças econômicas e culturais que afetam o uso e a
valorização dos recursos naturais.
3.4. Reconhecer a permanente diversidade cultural da região, que conduz a
uma grande variabilidade de percepções, conhecimentos e relações com a
biodiversidade.
3.5. Pesquisar com maior profundidade as interações entre bacias hidrográficas
e os corredores econômicos, espaços onde a luta contra a pobreza e a
contaminação ambiental se sobrepõe.
3.6. Fortalecer a relação entre áreas protegidas e ordenamento territorial, a fim
de promover governabilidade ambiental e social.
3.7. Os processos regionais de degradação ambiental estão mudando nossas
vidas agora. Isto nos leva a: - divulgar o que já sabemos, ensinando; - aprender
226
cooperativamente e articular o aprendido; - nos organizar para influir positivamente
nos planos de desenvolvimento e de governo.
3.8. Promover a planificação da paisagem e o ordenamento territorial como
veículo de desenvolvimento sustentável e participação cidadã.
3.9. Em uma região deprimida economicamente que enfrenta severos riscos de
produtividade e saúde ambiental, destacamos o papel social da atividade
agroflorestal, reconhecida na Declaração de Orlando (EUA), este ano, no Primeiro
Congresso Mundial Agroflorestal. A atividade agro-florestal contribui para:
- a seguridade alimentar; - a equidade de gênero; - a saúde e o bem estar familiar; -
a sustentabilidade ambiental e econômica.
3.10. Para obter uma conservação ambiental que exerça uma efetiva oposição
aos modelos dominantes de destruição do meio ambiente e do bem estar humano,
precisamos desenvolver políticas públicas inovadoras. Os processos de
descentralização em nossos países oferecem a oportunidade de desenvolver
marcos normativos regionais e locais mais informados e efetivos do que os marcos
nacionais, isto é, mais vinculados a nossa realidade cotidiana.
4 - Políticas Públicas
4.1. Superar a inadequação das leis para acelerar os processos de cooperação
e integração no campo econômico, social e cultural, liberdade de trânsito e de
trabalho das pessoas na Região MAP.
4.2. Promover maior participação dos governos locais de cada país nas
atividades que dizem respeito ao MAP.
4.3. Iniciar uma articulação trinacional para mitigar os impactos das queimadas
nos três países.
4.4. Estreitar os laços entre o processo MAP e as diferentes políticas de
governo dos três países.
227
4.5. Realizar a integração dos Zoneamentos Econômico-Ecológicos – ZEE’s
nos três países, através da cooperação interinstitucional e uma gestão conjunta para
garantir as ações efetivas para o MAP.
4.6. Coordenar mecanismos diplomáticos entre as autoridades dos três países
e instituições envolvidas.
4.7. Discutir a formação de corredores ecológicos e econômicos na Região
MAP.
4.8. Elaborar um projeto educativo integrado para a Região MAP.
4.9. Estabelecer políticas conjuntas de aproveitamento dos recursos naturais
com valor agregado.
4.10. È necessário convidar as instituições públicas e privadas envolvidas no
desenvolvimento fronteiriço, a fim de que contribuam com recursos para o
fortalecimento das iniciativas MAP.
4.11. Estabelecer consórcios e convênios entre instituições para o
desenvolvimento sustentável da Região MAP.
4.12. Harmonizar políticas nacionais para o desenvolvimento do turismo na
Região.
4.13. Coordenar o cumprimento das normas legais a favor dos povos indígenas
da Região.
Puerto Maldonado - Madre de Dios – Perú, 16 a 19 de setembro de 2004.
228
Anexo 4. Reunião de Organização do Seminário – Movimentos Sociais
Estratégias para o Século XXI para reduzir a pobreza e conservar a natureza na
Amazônia Sul-Ocidental: rumo a modelos de gestão participativos –
contribuição dos Movimentos Sociais.
Local: Assis Brasil - Centro Paz e Bem
Data: 22.09.05
Contribuição de representantes do Brasil e do Peru
A mobilização social, via Iniciativa MAP, busca a inclusão de todos os atores,
públicos e privados. Propomos a criação do Conselho de Desenvolvimento Territorial
Trinacional, como parte do Comitê Trinacional da Região MAP. Este Conselho
fortalecerá o desenvolvimento de gestão participativa de projetos, que permitam
promover o planejamento regional, com inclusão e investimentos sociais,
sustentados na confiança, credibilidade e solidariedade.
A implementação de estratégias concertadas e aplicadas pelos governos
locais e regionais, através de políticas setoriais, deverá também ter a identificação e
o reconhecimento dos atores locais como parceiros do processo de desenvolvimento
sócio-ambiental.
O intercâmbio de experiências entre os movimentos sociais, os governos e as
instituições não governamentais e de cooperação internacional permitirá a
retroalimentação da rede social para o fortalecimento de suas capacidades e
sustentação do planejamento regional, através dos compromissos assumidos para
reduzir a pobreza e conservar a natureza na Amazônia Sul-ocidental, permitindo
governança.
Dentre as dificuldades de integrar desenvolvimento e conservação regionais,
destacam-se:
1. Ausência de políticas públicas que garantam:
- educação de qualidade; - financiamento e crédito rural;
- atenção médica integral;
229
- capacitação técnica para trabalhar os recursos naturais; - planejamento
rural;
- infra-estrutura para produção e formação; - trabalhar a questão de gênero,
etnia e raça de forma mais efetiva; - o fortalecimento organizacional de base; - a
socialização e divulgação dos conhecimentos gerados a partir de trabalhos com as
comunidades regionais.
2. Falta de participação da população nas decisões políticas, devido a
inexistência de mecanismos concretos de participação e controle social para uma
verdadeira democratização do poder.
3. Falta de integração e colaboração efetiva com instituições não
governamentais, devido aos seguintes fatores:
- movimentos sociais funcionando como mão de obra barata para as
grandes instituições não governamentais e de cooperação internacional;
- inexistência de respeito, atenção e reconhecimento às iniciativas locais;
- não retorno dos resultados de pesquisas e projetos para as sociedades;
- o não fortalecimento das capacidades locais.
Neste sentido apresentamos as seguintes sugestões:
1. Criação do Conselho de Desenvolvimento Territorial Trinacional da Região
MAP, vinculado ao Comitê Trinacional, para evitar ingerências;
2. Construir a Agenda de Desenvolvimento da Região MAP;
3. Fortalecer as capacidades locais para a gestão participativa, envolvendo
governos locais, regionais, instituições privadas e representantes dos movimentos
sociais, dotando-lhes ferramentas de gestão participativa;
4. Contribuir para inclusão social de segmentos menos favorecidos das
sociedades regionais, através da integração de propostas horizontais participativas;
5. Facilitar a participação popular nas decisões governamentais referentes a
ações sócio-ambientais para o desenvolvimento sustentável regional;
230
6. Deixar de tratar a pobreza como bandeira política eletiva, evitando a
descontinuidade dos projetos de desenvolvimento e conservação;
7. Repudiar ações arbitrárias de ONG’s na implantação de suas agendas
conservacionistas, sem consulta ao referido Conselho.
Participantes:
1. Maria Araújo de Aquino - GTA - 68-9999.2682 - [email protected]
2. Armando Muñante - SENASA - 082-57.1741 - [email protected]
3. Miroslava Frias - PEMD-INADE-082-81.6940 - [email protected]
4. Carlos Purizaca Ruiz - INRENA - 082-57.2408 - [email protected]
5. Abad Florez Apaza - SENASA - 082-57.1741 - [email protected]
6. Joci Aguiar - RAMH/GTA - 68-3224.8607 - [email protected]
7. Amine C. Santana - RAMH/GTA - 68-3224.8607 - [email protected]
8. Vera Lucia Reis - PZ-UFAC - 68-9971.4777 - [email protected]
9. Fabricio Nascimento Ferreira - UFRA-PA - 91-9119.2498 -
10. Irving Foster Brown - WHRC/UFAC - 68-9984.0336 - [email protected]
231
Anexo 5. SEMINÁRIO II - Contribuição das Instituições Governamentais.
Estratégias para o Século XXI para reduzir a pobreza e conservar a natureza na
Amazônia Sul-ocidental, rumo a modelos de gestão participativos:
Contribuição das Instituições Governamentais.
Lugar: Epitaciolândia; Restaurante Flores
Data: 28.09.05
Contribuição de representantes das Instituições Governamentais do Brasil, Bolívia e
Peru.
Sugestões
1. Consolidar e fortalecer o funcionamento do Comitê Trinacional da Região MAP;
2. Verificar a possibilidade Criar um Conselho de Desenvolvimento territorial da
Região MAP articulado com o Comitê;
3. Buscar apoio para contratar um consultor para elaborar cenários possíveis para
funcionamento do Comitê e do Conselho de Desenvolvimento Territorial (Hugo
Cabiesses incluir em sua agenda na consultoria que faz para CESVI);
4. Buscar apoio para realização das assembléias do Comitê Trinacional (SERE);
5. Construir um Plano para a elaboração da Agenda de Desenvolvimento da Região
MAP, colaboração de Hugo Cabiesses com os Consórcios, INADE, IIAP e os
Movimentos Sociais;
6. Criar o Conselho no menor tempo possível para subsidiar o governo na tomada
de decisões emergenciais do ponto de vista social e ambiental;
7. Recomendar que os governos regionais tomem medidas emergenciais para o
combate ao fogo incluindo os 3 paises, através da Iniciativa MAP
8. A partir do Plano de Mitigação de impactos da Estrada Interoceânica buscar
recurso para o combate a prostituição, ao trafico de drogas e corte ilegal de madeira;
9. Criar uma Defensoria para a Região MAP no âmbito da Interoceânica;
232
10. Buscar apoio para fazer uma verdadeira Agenda 21 dos municípios peruanos e
bolivianos (apoio de Hugo Cabiesses);
11. Buscar uma posição da sociedade civil sobre a militarização da região
amazônica, a propósito do trafico de drogas e da prostituição, em função da
Interoceânica;
12. Restabelecer o controle técnico do uso de praticas nocivas ao meio ambiente,
como o fogo nos três paises;
13. Prever com antecedência as alterações ambientais e períodos de seca, por parte
dos órgãos de pesquisa, a fim de que se possa fazer uma campanha mais efetiva e
um processo de Educação Ambiental mais efetivo, para os campesinos, evitando e
proibindo as queimadas;
14. Estabelecer uma política local e regional de manejo dos recursos hídricos.
233
Anexo 6. Contribuição das ONG’s
SEMINÁRIO III: “Estratégias para o Século XXI para reduzir a pobreza e
conservar a natureza na Amazônia Sul-Ocidental: rumo a modelos de gestão
participativos - Contribuição das ONG’s”
(Promoção: HERENCIA, SOS AMAZÔNIA, UAP, UFAC, ACCA
E OTCA)
30/09 e 01/10/2005, Cobija, Bolívia.
A Iniciativa MAP tem como metas desenvolver estratégias para reduzir a
pobreza e conservar a natureza na Amazônia Sul-ocidental através de planejamento
de curto, médio e longo prazo, integrando os movimentos sociais, governos e
ONG’s, conforme sua cultura de trabalho em conjunto.
Dado os impactos da globalização, mudanças ambientais globais e a
aceleração de grandes obras de infra-estrutura que estão acontecendo na Região
MAP (Madre de Dios-Peru, Acre-Brasil e Pando-Bolívia), vários grupos têm interesse
em trabalhar com a Iniciativa MAP. Os desafios para reduzir a pobreza e conservar a
natureza exigem uma reavaliação das ações e dos modelos de gestão participativos
de projetos e interação de los atores sociais na região, devido suas dificuldades de
trabalhar em conjunto.
No intuito de criar espaços que assegurem a participação ativa destes atores
sociais, o Comitê de Organização do MAP VI promoveu três seminários
denominados“Estratégias para o Século XXI para reduzir a pobreza e conservar a
natureza na Amazônia Sul-Ocidental: rumo a modelos de gestão participativos –
Seminário I: contribuição dos movimentos sociais, Seminário II: contribuição das
instituições governamentais e Seminário III: contribuição das ONG’s”.
O foco do seminário III foi a relação entre as ONG’s internacionais e as ONG’s
nacionais, que provocam polarização como manifestam Marc Dourojeanni e Mac
Chapin nos artigos escritos para este evento (Anexos 1 e 2)
Os resultados dos seminários I (22.09.05) e II (27-28.09.05) contribuíram como
base para a discussão no seminário II e se encontram no anexo 3. Recomendações
pertinentes do Comitê Científico da Iniciativa MAP, incluindo a Declaração de
Princípios serviram também como insumos (Anexo 5).
234
As recomendações das três mesas de trabalho (Anexo 6), as apresentações
institucionais (disponíveis na página web do MAP: www,map-amazonia.net) e a
discussão em sala, se resumem nas seguintes idéias chaves:
1. Consulta prévia aos atores envolvidos para definir a pertinência da proposta;
2. Elaboração da proposta de forma participativa;
3. Fortalecer a associação e a gestão conjunta de projetos de instituições dos três
países (mini-maps);
4. Reconhecimento das capacidades operativas e administrativas das instituições
da região MAP que fazem parte dos mini-maps;
5. A Iniciativa MAP, de caráter voluntário, é um ente coordenador das mesas
temáticas e dos Mini-MAPs e gera espaços de interação tri-nacional;
6. Os projetos financiados através dos mini-maps poderão apoiar com um pequeno
fundo as atividades de coordenação da Iniciativa MAP;
7. Comunicação e transparência na transferência e uso de fundos de parte das
ONG’s internacionais e locais;
8. Claridade nos roles das ONG’s internacionais como intermediárias técnicas e
financeiras, e das ONG’s nacionais como técnicas e executoras de projetos;
9. Os doadores (Ex: Fundação Ford, Fundação Moore, BID, etc) deveriam abrir
espaços e mecanismos para a participação das ONG’s nacionais em suas
convocatórias e estabelecer mecanismos de comunicação sobre a efetividade da
implementação de seus recursos;
10. As ONG’s internacionais e nacionais devem incluir nos seus processos de
avaliação, a avaliação por parte dos beneficiados diretos de suas ações;
11. As ONG’s internacionais devem distribuir os custos indiretos de maneira mais
eqüitativa e justa, com a finalidade de assegurar a sustentabilidade das ONG’s
nacionais, no marco de delineamentos concertados;
12. Aprofundar o controle social ao acionar as ONG’s nacionais;
13. Instaurar uma cultura de atuação ética e transparente e de respeito recíproco
pela cultura institucional entre as ONG’s internacionais e locais-nacionais.
235
Anexo 7. Comitê Científico da Região MAP
Princípios éticos para geração, disseminação e aplicação de conhecimentos
na Amazônia Sul-ocidental. Perspectiva da Iniciativa MAP (Madre de Dios/Peru,
Acre/Brasil, Pando/Bolívia e Ucayali/Peru. 2005.)
Introdução
A Região Sudoeste da Amazônia está prestes a apresentar mudanças que
vão afetar a imensa diversidade cultural e biológica e a sua perspectiva para o
desenvolvimento sustentável regional. As sociedades desta região, particularmente
da Região peruana de Madre de Diós, do Estado brasileiro do Acre, do
Departamento boliviano de Pando e da Região peruana de Ucayali, conhecidas
coletivamente como Região MAP, necessitam construir um consenso social dos
conhecimentos tradicionais e científicos para orientar essas mudanças.
Neste sentido o objetivo deste documento é estabelecer os princípios éticos e
metas para a geração, disseminação e aplicação de conhecimentos que facilitem
consenso. Conhecimento é poder, como dizia Francis Bacon; como e por que esse
poder é gerado, disseminado e aplicado tem dimensões éticas.
A Iniciativa MAP começou em 2000 para fomentar a colaboração entre
profissionais e líderes comunitários na região de fronteira da Bolívia, Brasil e Peru,
local onde as sociedades são marcadas pela riqueza cultural e pela pobreza
econômica. Em cinco anos, os fóruns anuais cresceram de 25 para 1.200
participantes. A premissa básica dessa iniciativa é que a colaboração e respeito
entre bolivianos, brasileiros e peruanos são essenciais para a efetivação do
desenvolvimento sustentável na Região MAP. Em março de 2005, os membros da
Iniciativa MAP criaram o Comitê Científico para orientar o uso da pesquisa para
colaboração na região.
O Comitê Científico da Região MAP reconhece seu papel como facilitador,
propondo para as sociedades regionais, as metas e os princípios éticos abaixo para
discussão e debate. As metas refletem escolhas e prioridades e, portanto, têm
componentes éticos. Os princípios éticos intentam definir os direitos e as
responsabilidades daqueles que trabalham com conhecimento, particularmente com
a geração destes.
236
Para o propósito deste documento, o conhecimento é definido como a
organização ou a contextualização da informação que pode ser usada para produzir
novos significados e gerar novos dados. O conhecimento difere da informação, pois
este é emergente e construído como um processo social coletivo.
O estabelecimento de metas e princípios éticos em uma região de três países,
multi-étnica e multi-cultural pode parecer problemático, mas tem se tornado
essencial. A globalização econômica, os investimentos financeiros massivos em
transporte e energia desenvolvidos na região e o crescimento das redes de
comunicação, simbolizadas pela Internet, têm aumentado a importância do fluxo de
informação e conhecimento para todos os componentes da sociedade. Desenvolver
este fluxo e construir capacidades locais para uso da informação e conhecimento
tem sido o principal foco das atividades da Iniciativa MAP.
A distinção entre metas e princípios éticos está na relação da escala de
atividades. As metas representam prioridades para a sociedade regional e requer a
aplicação de conhecimentos. A comunidade de pesquisadores na região necessita
definir suas responsabilidades e seu papel para ajudar a sociedade a alcançar
essas metas. Os princípios éticos referem-se primariamente aos direitos e
responsabilidades individuais dos pesquisadores e grupos de pesquisadores na
geração e disseminação do conhecimento.
O Comitê aplica as definições operacionais para essas três atividades
relacionadas ao conhecimento. Aqueles que geram conhecimento são considerados
pesquisadores, independente da sua formação via educação formal. Aqueles que
disseminam conhecimento incluem professores, bibliotecários e comunicadores.
Aqueles que aplicam, podem ser cientistas, engenheiros ou o público em geral. O
Comitê reconhece que uma pessoa pode atuar em todos os papéis em diferentes
momentos.
Muitos dos princípios éticos abaixo focalizam a geração e a aplicação de
conhecimentos científicos, ou seja, conhecimentos adquiridos sistematicamente e
que são verificáveis. Outras formas de conhecimento, tais como o conhecimento
tradicional, o empírico e o cultural têm importantes papéis para a Região MAP. O
237
desafio contínuo da Iniciativa MAP é desenvolver sinergias entre estas várias formas
do saber.
Metas para a aplicação de conhecimento na Região MAP
O Comitê Científico reconhece que a aplicação de conhecimento requer um
marco de referência ético. Este conceito é parte integrante da Declaração do Rio
sobre Ambiente e Desenvolvimento, da Carta da Terra
18
e da Declaração de
Ciências e do Uso de Conhecimentos Científicos e sua Agenda para a Ação da
Conferência Mundial de Ciência, organizada pela UNESCO e pelo Conselho
Internacional de Ciências (ICSU)
19
.
As metas listadas nos documentos acima são enormes e estão além da
capacidade de qualquer segmento da sociedade realizar sozinho. Essas metas
dependem da aplicação de conhecimentos gerados na região. A comunidade de
pesquisadores que atuam na Região MAP tem a responsabilidade conjunta de
ajudar a sociedade a alcançar essas metas.
Metas mensuráveis são essenciais para avaliar o sucesso ou o fracasso
destas ações. O Comitê Científico considera que várias das metas da Declaração
das Nações Unidas para o Milênio (DNUM) e do Plano de Implementação de
Johannesburg (PIJ) são críticas para a Região MAP. Os governos nacionais da
Bolívia, Brasil e Peru comprometeram-se com as metas da DNUM e PIJ e
representantes das sociedades civil e científica dos três países assinaram a Carta
da Terra e a Declaração Mundial sobre Ciência.
A síntese abaixo focaliza as metas prioritárias para a aplicação do
conhecimento na Região MAP. Por outro lado, elas vão servir, nos próximos anos,
como parâmetros para medir o sucesso ou o fracasso coletivo das pesquisas na
região.
18
http://www.earthcharter.org/ 1jun05
19
http://www.unesco.org/science/wcs/eng/declaration_e.htm. 1jun05
238
Meta 1: Erradicar a pobreza como imperativo ético, social e ambiental
(Princípio 9 da Carta da Terra). Alcançar até 2015:
1. Reduzir pela metade o número de pessoas que ganham menos de um dólar por
dia (DNUM & PIJ).
2. Reduzir pela metade aqueles que passam fome (DNUM & PIJ).
3. Reduzir a propagação do HIV/AIDS, da malária e de outras doenças (DNUM).
Meta 2: Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra,
com especial preocupação pela diversidade biológica e pelos processos
naturais que sustentam a vida. (Princípio 5 da Carta da Terra).
1. Reduzir significativamente a taxa de perda da biodiversidade (PIJ) até 2010 e manter
a função e os serviços ambientais dos ecossistemas regionais.
2. Prevenir danos como sendo o melhor método de proteção ambiental e quando o
conhecimento for limitado, assumir uma postura de precaução (Princípios 6 da Carta
da Terra e 15 da Declaração do Rio).
3. Adotar, em todos os níveis, planos e regulamentações de desenvolvimento
sustentável que permitam incluir a conservação ambiental e a recuperação como
parte integrante de todas as iniciativas de desenvolvimento. (Princípio 5
a
da Carta da
Terra).
4. Respeitar, preservar e manter o conhecimento, inovações e práticas indígenas e
de comunidades locais com estilos de vida tradicional relevantes para a conservação
e uso sustentável da diversidade biológica, bem como promover sua ampla
aplicação com aprovação e envolvimento dos detentores de cada conhecimento,
inovações e práticas, encorajando a divisão eqüitativa dos benefícios resultantes da
utilização dos mesmos (Artigo 8j da Convenção da Biodiversidade).
Meta 3: Avançar estudos de sustentabilidade ecológica e promover o
intercâmbio aberto e ampla aplicação dos conhecimentos adquiridos (Princípio
8 da Carta da Terra).
239
1. Buscar a universalidade da educação primária em que os resultados das
pesquisas e aplicações sejam incorporados como parte dos currículos (modificado
da DNUM & PIJ).
2. Assegurar que os benefícios das novas tecnologias, especialmente a informação
e a comunicação tecnológicas sejam disponíveis para todos. (DNUM).
3. Incentivar que novos currículos, metodologias de ensino e recursos que levem em
conta o gênero e a diversidade cultural sejam desenvolvidos pelos sistemas de
ensino da Região MAP, em resposta às mudanças educacionais necessárias às
sociedades. Pesquisas em ciências e educação tecnológica necessitam ser
avançadas nos níveis nacional e internacional, através do estabelecimento de uma
rede de centros por toda a Região MAP. (Modificado do Capítulo 43 da Agenda para
Ação).
Meta 4: Defender, sem discriminação, o direito de todos a um ambiente natural
e social capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde física e o bem-estar
espiritual, com especial atenção para os direitos dos povos indígenas e
minorias (Princípio 12 da Carta da Terra).
1. Tratar os conhecimentos científicos e tradicionais de forma conjunta em projetos
interdisciplinares relacionados aos elos entre cultura, ambiente e desenvolvimento
em todas as áreas, como na conservação da diversidade biológica, no manejo dos
recursos naturais, no entendimento dos riscos naturais e na mitigação de seus
impactos (Modificado do Artigo 32 da Agenda para Ação).
2.Triplicar o número de cientistas graduados nas universidades regionais.
Meta 5: Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e
proporcionar-lhes transparência e responsabilidade na governança, com
participação inclusiva na tomada de decisão-ação e acesso à justiça (
Princípios 13 da Carta da Terra e 10 da Declaração do Rio).
1. Estabelecer até 2015 a Academia de Ciências da Região MAP para prover fontes
autônomas de conhecimentos relevantes para o desenvolvimento sustentável
regional.
240
Como a Região MAP têm uma população de três nacionalidades e vários grupos
étnicos e sócio-econômicos, a aplicação de conhecimento, através do intercâmbio
cultural e a resolução de conflitos são metas regionais importantes.
Princípios éticos para geração e disseminação de conhecimento
Estes princípios devem agregar quatro objetivos freqüentemente conflitantes:
a) ter amplo alcance;
b) ser claro em situações específicas;
c) servir como guia para decisões de indivíduos e grupos na geração,
disseminação e aplicação de conhecimento; e
d) transferir a esses indivíduos e grupos a responsabilidade por suas
decisões.
A Regra do Ouro – fazer para os outros, aquilo que faria para você mesmo -
serve como ponto de partida para consideração dos princípios éticos. Isto
proporciona um conceito chave, a empatia, que é essencial em uma região com uma
mistura diversa de nacionalidades, culturas e grupos sócio-econômicos. Como a
regra usa uma norma pessoal como referência, torna-se difícil uniformizar uma
referência sócio-cultural na Região MAP.
Além da Regra do Ouro outros conceitos amplos são comuns em muitos
princípios éticos, como a honestidade, cepticismo, justiça, coleguismo e franqueza.
Mais recentemente, qualidade profissional, transparência e responsabilidade social
têm sido adicionadas nesta lista
20
. Não existe dúvida sobre a sua importância, mas a
dificuldade com esses conceitos amplos é a sua aplicação em casos específicos.
Os princípios éticos têm direitos e responsabilidades associados a eles. Os
documentos que formam o Programa Internacional de Direitos Humanos
21
servem
de base para a discussão dos direitos associados com a geração, a disseminação e
20
Evers, K. 2001. Standards for Ethics and Responsibility in Science: An analysis and evaluation of their content,
background and function. The International Council for Science. The Standing Committee on Responsibility and Ethics in
Science (SCRES).
21
The Universal Declaration of Human Rights, the International Covenant on Civil and Political Rights, and the International
Covenant on Economic, Social and Cultural Rights http://www.unhchr.ch/spanish/html/intlinst_sp.htm
. 31mai05
241
a aplicação de conhecimento. Em adição, a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente
e Desenvolvimento
22
tem focalizado a responsabilidade do Estado de promover o
livre fluxo de informação e participação dos cidadãos nas questões de ambiente e
desenvolvimento. Embora esses documentos tenham sido criticados por ter refletido
perspectivas ocidentais, eles servem como ponto de partida essencial para a
cooperação internacional, permitindo fazer a integração dos três países soberanos
do MAP, signatários desses documentos.
A Iniciativa MAP tem sintetizado estes documentos em dois direitos básicos
23
:
O direito de ter acesso a informações relevantes para o desenvolvimento sustentável
e o direito de participar de decisões coletivas. Estes direitos requerem liberdade de
movimento, associação, expressão e comunicação, bem como o acesso eqüitativo a
dados, informação e conhecimento para todos os segmentos da sociedade. A
definição dos princípios éticos abaixo é uma resposta para ajudar as sociedades na
Região MAP a encontrar esses direitos.
Os princípios seguintes foram fortemente influenciados pelo guia de
pesquisas sociais
24
da UNESCO e pela declaração do Instituto Interamericano de
Pesquisa de Mudanças Globais – IAI para conflitos de interesse e conduta
25
.
1. A responsabilidade por todos os procedimentos e questões éticas relacionadas
com a pesquisa é dos pesquisadores.
2. O pesquisador deve considerar os efeitos de seu trabalho, incluindo as
conseqüências ou uso inapropriado, para indivíduos e grupos, dentre os quais para
aqueles que trabalham no campo e para os seus colegas, e mais amplamente para
a sociedade.
3. O investigador principal deve ter seus princípios éticos próprios e torná-los claros
para todos os envolvidos na pesquisa, permitindo assim a colaboração informada
22
http://www.un.org/documents/ga/conf151/aconf15126-1annex1.htm. 31mai05
23
The Statement of Epitaciolandia and Brasileia in 2003 and the Declaration of Puerto Maldonado in 2004. www.map-
amazonia.net.
24
De Guchteneire, Paul. 2004. Code of conduct social science research UNESCO. http://portal.unesco.org/shs/en/ev.php-
URL_ID=6497&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.htm
25
IAI Conference of the Parties (CoP). IAI Conflicts of Interest and Standards of Ethical Conduct. VII meeting, July 27-28,
2000.
http://www.iai.int/files/communications/publications/institutional/CoIEnglish04-01.pdf. 01Jun05.
242
com outros pesquisadores. Os dados devem ser distribuídos eqüitativamente entre
os pesquisadores ao final de cada pesquisa realizada.
4. O consentimento livremente dado e informado para pesquisa deve ser obtido das
pessoas e comunidades envolvidas. Participantes potenciais devem ser informados,
de uma maneira clara e em uma linguagem que eles possam entender o contexto, a
proposta, a natureza, os métodos, os procedimentos e os patrocinadores da
pesquisa.
5. As equipes de pesquisa devem identificar-se e contatar-se durante e depois das
atividades. Se a pesquisa incluir o exame de recursos biológicos para aspectos que
possam ser de valor para desenvolvimento comercial (bioprospecção), ela deve ser
feita com transparência, envolvendo a todos. Para este tipo de pesquisa,
procedimentos especiais devem ser implementados, aplicando os princípios
previstos na Convenção da Diversidade Biológica. Neste caso, o pesquisador deverá
estar ciente de que sua responsabilidade aumenta em relação à comunidade e
participantes locais.
6. Deve ser oferecido acesso aos resultados da pesquisa aos participantes e a
sociedade regional, apresentados de forma clara e com linguagem que eles possam
entender.
7. Os pesquisadores devem fornecer informações adequadas em todas as
publicações e bancos de dados de forma que seus métodos e resultados possam
ser apropriadamente acessados e avaliados. Os limites de confiabilidade e
aplicabilidade devem ser claros.
8. Os pesquisadores são responsáveis pelo reconhecimento correto dos trabalhos
não publicados, bem como das publicações de outros pesquisadores.
9. O pesquisador deve evitar ou minimizar os conflitos de interesses atuais e
aparentes para manutenção da sua integridade, efetividade e confiança pública.
Transparência nos objetivos, nas ações e finanças é essencial.
10. Como o fluxo livre de informação é crítico para a tomada de decisões da
sociedade, os pesquisadores devem tornar seus dados primários disponíveis após
243
um ano de realização de sua pesquisa ou explicar porque os dados não estão sendo
disponibilizados para domínio público.
11. Para ser considerado parte da Iniciativa MAP, pesquisa e disseminação devem
envolver efetiva colaboração de indivíduos e/ou instituições de pelo menos dois
países entre Bolívia, Brasil e Peru.
Cobija-Pando (BO), 01/06/2005.
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