72
que a maioria das explicações etimológicas ligam-se a esse aspecto. De acordo com o autor, a
palavra pode ter derivado do latim coquere, que significa cozinhar, ou do provençal cocanha
ou coucagno, derivado de coca, coque, significando casca de ovo ou de certas frutas. Também
pode ter sido originada do provençal coco, que quer dizer brioche, pão doce. Também no
médio alemão a palavra encontra referência alimentar: kokenje, derivando de coek, ou seja,
bolo. No antigo irlandês, cucainn significa cozinha, provisão, tendo passado com esse sentido
para o inglês, posteriormente para o francês e para os demais idiomas europeus.
A hipótese mais provável é a de que o francês cocaingne tenha surgido em
meados do século XII a partir de uma origem latina, com ou sem intermediação
provençal. Dele derivam o inglês cokaygne ou cockaigne (fins do século XIII ou
princípios do seguinte), o italiano cuccagna (século XV) e o espanhol cucaña.
123
Conforme definição de Ana Boff de Godoy, publicada no Dicionário de figuras e
mitos literários das américas: DFMLA, organizado por Zilá Bernd, Cocanha é um termo que
pode ser associado, ao mesmo tempo, a mito, ideologia e utopia, sendo o último significado o
mais utilizado pelos estudiosos.
Isso porque a atenção do ideário da Cocanha foca-se, sim, em um passado
indefinido para tentar não exatamente explicar, mas aliviar o presente. Assim
Cocanha é mito. Partindo das experiências idealizadas (mas tidas por concretas)
de um grupo, a crença na Cocanha projeta um futuro promissor. Logo, Cocanha é
ideologia. Levando em consideração a realidade de um momento presente, os
partícipes de um determinado grupo buscam a construção do seu futuro como um
reflexo de um passado que imaginam ter existido. Então, Cocanha é utopia.
124
Franco Júnior, no livro citado, descreve o país da Cocanha, aonde o indivíduo só
chega depois de passar por várias provações, mas que, uma vez lá, vive sob a lógica do quanto
menos faz, mais recebe. Conforme o autor, Cocanha representa a terra da abundância, da
ociosidade, da liberdade, da juventude; enfim, dos prazeres absolutos. Esse lugar simbólico,
que serve como resposta a todos os problemas, existe apenas no imaginário, não tem uma
posição geográfica definida, é apenas uma utopia. “E de fato, apesar de algumas versões
falarem vagamente em ‘Ocidente’, aquela terra não tem uma localização precisa, sendo nesse
sentido literalmente uma utopia, um ‘lugar nenhum’.”
125
No Sul do Brasil, ainda conforme o
autor, “por influência da imigração italiana de fins do século passado, o tema da Cocanha é
123
FRANCO JÚNIOR, Hilário. Cocanha: a história de um país imaginário. São Paulo: Companhia das Letras,
1998, p. 59.
124
GODOY, Ana Boff de. Cocanha. In: BERND, Zilá (Org.). Dicionário de Figuras e Mitos Literários das
Américas: DFMLA. Porto Alegre: Tomo Editorial/Editora da Universidade, 2007, p. 123.
125
FRANCO JÚNIOR, 1998, p. 19.