44
“Pela vertente freudiana, ou analítica, é a verdade que domina. Nós
abordamos o sujeito pela via do inconsciente, ou seja, pela via da
suposição de um saber, de um querer dizer naquilo que se diz, querer
significar no sintoma, no dizer, no tratamento com a linguagem. A ênfase
fica, então, colocada na articulação entre significantes e no efeito de
sentido que essa articulação pode produzir.
(...) [O que muda com o conceito de lalangue
é que
107
] o valor é colocado
em lalangue, alíngua – a língua enquanto puro campo de ressonâncias
108
,
onde o significante aparece o mais separado possível do sentido e da
relação a um outro significante e o mais propício ao gozo”.
109
Desta citação destaco o que a autora nomeia de ressonância para fazer
articulação com o que Lacan formula o equívoco em alíngua:
“Não é absolutamente ao acaso que na alíngua, qualquer que seja ela, na
qual alguém recebeu a primeira marca, uma palavra é equívoca.
Certamente, não é por acaso, que em francês a palavra ne [não] se
pronuncia de maneira equívoca com a palavra noeud [nó]. Não é por acaso
que a palavra pas [não] que em francês, redobra a negação contrariamente
a muitas línguas, designe também un pas [um passo]. Se me interesso
tanto pelo pas isto não é por acaso. Isto não quer dizer que alíngua
constitua de algum modo um patrimônio. É totalmente certo que, é de
maneira pela qual a linguagem foi falada e também entendida por alguém
na sua particularidade, que algo logo resultará em sonhos, em toda espécie
de vacilações, em toda espécie de maneiras de dizer”.
110
Ainda com Lacan, sobre o equívoco em lalangue:
107
Os parênteses nós incluímos.
108
Grifos nossos.
109
COELHO, T. - Sinthoma: corpo e laço social. Transcrição do seminário ministrado por Tania
Coelho dos Santos no PPGTP/IP/UFRJ e na Seção Rio da Escola Brasileira de Psicanálise, no
primeiro semestre de 2005. Rio de Janeiro: SEPHORA/UFRJ, 2006. p. 273.
110
LACAN, J.- (1975). Conferencia en Ginebra sobre el Sintoma. in Intervenciones y textos, n. 2,
Buenos Aireas, Manantial, 1988. Tradução de Rogina Dias Coelho dos Santos e Viviane Antunes. in
Escola de Psicanálise Letra Freudiana, Rio de Janeiro, 1991. p. 11-12.
Citemos a versão em espanhol: “Para nada es un azar que en lalengua, cualquiera sea ella, en la que
alguien recibió una primera impronta, uma palabra es equívoca. Ciertamente, no por azar en francês la
palabra ne [no] se pronuncia de manera equívoca con la palabra noeud [nudo]. Para nada es un azar
que la palabra pas [no] en francês, contrariamente a muchas otras lenguas, redoble la negación y
designe también un paso. Si me intereso tanto en el pas esto no se debe a ningún azar. Esto no quiere
decir que lalengua constituya en modo alguno um patrimonio. Es totalmente cierto que algo volverá a
surgir luego em los sueños, en toda suerte de tropiezos, en toda suerte de maneras de decir, en función
de la manera en que lalengua fue hablada y también escuchada por tal o cual en su particuridad” (p.
125-126).