56
complexo edípico freudiano dando luz ao papel intersubjetivo de cada membro da
triangulação edípica. Nossa atenção agora se volta para os acontecimentos
simbólicos dentro da passagem edípica e das implicações disto para o estudo em
questão.
Convidamos Bleichmar (1997), em sua leitura de Lacan, em que, no final do
segundo capítulo de
Introdução ao estudo das perversões, o autor faz uma reflexão
sobre os três tempos edípicos:
…O Édipo freudiano está centrado ao redor da satisfação do impulso; o
lacaniano, na realidade, ao redor da satisfação do narcisismo. De acordo
com o falo que vai circulando, outorgando a valoração máxima, pode-se
entender como se vão colocando os personagens distintos perante este
falo, cuja posse autorga uma determinada satisfação narcisista. No primeiro
tempo: o menino é o falo, a mãe tem o falo: o pai não aparece
suficientemente desenvolvido na teoria, que é que se passa com ele (refiro-
me ao pai real e não ao pai simbólico). No segundo tempo: o menino deixa
de ser o falo, a mãe deixa de ter o falo; contudo, no segundo tempo, o pai é
o falo onipotente que pode privar a mãe. Somente no terceiro tempo: o pai
tem o falo, mas não é o falo. O falo encontra-se fora do pai. Ele é alguém
que o possui. Quer dizer que, no terceiro tempo, o falo é reinstaurado na
cultura, diz Lacan. Não é a mãe, nem o menino, nem o pênis do pai, nem o
próprio pai; o pai e o menino podem ter pênis, mas estes são diferentes do
falo. Notem, então, que o Édipo consiste em superar o falo como aquilo que
se é para chegar ao falo como aquilo que se tem, ou, em um sentido mais
rigoroso, consiste em separar o falo de suas representações, entre eles o
pênis em primeiro lugar. (BLEICHMAR, 1997, p. 24).
Verificamos, neste parágrafo, a ampliação lacaniana que vai além do falo-
pênis. O falo, em Lacan, é um significante da falta, que circula e que pode ser
caracterizado por qualquer outra coisa, pessoa ou objeto, que possam ser
representantes do ego ideal para o sujeito.
A díade mãe/filho ocupa um dos itens primordiais na formação da identidade,
9
pois, se no primeiro momento a criança é o falo, ou seja, aquela que completa no
imaginário a falta da mãe, ambas estão completas, não há falta. O Édipo aponta o
lugar da criança na díade enquanto bebê/falo, o falo que sustenta a mãe, que
oferece para ela sensação de plenitude, de completude. Há um desejo – pronunciado
pela posição fálica do bebê – que laça os dois (mãe e filho) para uma necessidade
de fusão, de permanência contínua. Do lado do bebê isto se representa pela sua
própria dependência e imaturidade fisiológica que não permite uma diferenciação
entre eu e não-eu. Todas as coisas são uma extensão, uma unicidade. Ele é a mãe,
9
Identidade aqui se refere ao processo pelo qual um sujeito se reconhece, inclui sua personalidade,
seus sentimentos, sensações, atitudes e escolhas.