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Universidade Federal da Paraíba
Centro de Tecnologia
curso de pós-graduação em engenharia urbana
- mestrado -
CONTRIBUIÇÃO PARA A NORMALIZAÇÃO DA
ALVENARIA ESTRUTURAL COM O USO DE TIJOLOS DE
TERRA CRUA PARA CONSTRUÇÕES URBANAS
por
Jameson da Silva Gonçalves
Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade Federal da
Paraíba para obtenção do grau de Mestre
João Pessoa – Paraíba setembro - 2005
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JAMESON DA SILVA GONÇALVES
CT/PPGEU/UFPB
CONTRIBUIÇÃO PARA A NORMALIZAÇÃO DA
ALVENARIA ESTRUTURAL COM O USO DE TIJOLOS DE
TERRA CRUA PARA CONSTRUÇÕES URBANAS
Área de concentração
Engenharia Urbana
Orientador
Prof. Dr. Normando Perazzo Barbosa
João Pessoa – Paraíba setembro - 2005
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Universidade Federal da Paraíba
Centro de Tecnologia
curso de pós-graduação em engenharia urbana
- mestrado -
CONTRIBUIÇÃO PARA A NORMALIZAÇÃO DA
ALVENARIA ESTRUTURAL COM O USO DE TIJOLOS DE
TERRA CRUA PARA CONSTRUÇÕES URBANAS
Dissertação submetida ao Curso de Pós-
Graduação em Engenharia Urbana da
Universidade Federal da Paraíba como parte
dos requisitos necessários para a obtenção do
título de Mestre.
Jameson da Silva Gonçalves
ORIENTADOR: Prof. PhD Normando Perazzo Barbosa
João Pessoa – Paraíba setembro - 2005
G635c Gonçalves, Jameson da Silva
Contribuição para a Normalização da
Alvenaria Estrutural com uso de Ti
j
olos de
Terra Crua para Construções Urbanas /
Jameson da Silva Gonçalves. – João Pessoa,
2005.
147p.
Orientador: Normando Perazzo Barbosa.
Dissertação (mestrado) UFPB/CT
1. Terra Crua. 2. Adobe. 3. Solo-cimento.
4. Alvenaria. 5. Engenharia Urbana.
UFPB/BC. CDU 624.012.81(043.2)
CONTRIBUIÇÃO PARA A NORMALIZAÇÃO DA
ALVENARIA ESTRUTURAL COM O USO DE TIJOLOS DE
TERRA CRUA PARA CONSTRUÇÕES URBANAS
por
Jameson da Silva Gonçalves
Apresentada ao programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana do Centro de Tecnologia
da Universidade Federal da Paraíba em 30 de setembro de 2005.
BANCA EXAMINADORA:
Prof. Dr. Normando Perazzo Barboza
Orientador – CT/UFPB
Prof. Dr. Arnaldo Cardim de Carvalho Filho
Examinador Externo – CEFET/PE
Prof. Dr. Roberto Leal Pimentel
Examinador Interno – CT/UFPB
Dedico:
A Deus.
Aos meus pais Manoel Gonçalves e Maria
Salomé da Silva Gonçalves (in memoriam).
A minha esposa Acacy e filhos .
A todos que lutam em defesa do meio ambiente.
Agradecimentos
As nossas conquistas são resultantes de muitos esforços, dedicação e colaboração de
algumas pessoas de essencial importância para a conclusão deste trabalho. Aproveitamos o ensejo
para externar a nossa profunda admiração e gratidão àqueles que direta ou indiretamente
colaboraram para a realização desta pesquisa.
Ao Prof. Dr. Normando Perazzo Barbosa pela sugestão, orientação, dedicação,
complementação, e revisão deste trabalho, além da amizade e apoio constante. A nossa sincera
gratidão, sobretudo por ter acreditado nos nossos objetivos. O seu exemplo será sempre valioso
para todos aqueles que tiverem a oportunidade de tê-lo ao seu lado como orientador.
Aos Eng. Cláudio Matias da Silva e Sergio R. H. Assis que durante todo o processo de
pesquisa foram os técnicos incansáveis em colaborar atentamente, sempre presente nos momentos
mais difíceis e a quem muito devemos esta etapa da nossa formação acadêmica.
À coordenação do Mestrado em Engenharia Urbana, na pessoa do Prof. Dr. Celso A. G.
Santos, e ao ex-coordenador Prof. Dr. Roberto Leal Pimentel, pela oportunidade, colaboração
e apoio dados durante o transcorrer do curso e em especial a Secretária do curso, a Sra. Marluce
Pereira, que sempre esteve presente com toda dedicação fazendo tudo pelo engrandecimento e
qualificação dos nossos trabalhos.
Ao LABEME (Laboratório de Materiais e Estrutura no CCT/UFPB/Campus I) na pessoa do
Prof. Dr. Normando Perazzo Barbosa pelo apoio financeiro e técnico durante o período de
realização deste trabalho, e aos técnicos Divanildo Pereira, Delby Fernandes, Ricardo, e em
especial a João da Silva Messias (Zito) pela contribuição nas tarefas práticas.
Ao CEFET-PE nas pessoas do Diretor Geral Profº Sergio Gaudêncio Portela de Melo,
da Diretora da Sede Profª Maria Aurélia Gouveia Leite, da Diretora de Ensino Sra. Edna
Guedes, da Gerente de Ensino Profª Marta Quaresma e da Gerente do GDRH Sra. Maria
do Socorro M. de Azevedo pelo apoio durante todo o processo de desenvolvimento da pesquisa.
Aos colegas professores do CEGI/CEFET-PE, em especial aos amigos Profs. Márcio e
Marco A. C. de Aquino, e aos meus amigos do mestrado, pela amizade, parceria e estímulo
através dos seus extraordinários trabalhos e orientações.
À minha esposa Acacy, aos meus filhos, em especial Jameson Júnior, e ao meu pai e
irmãos pelo companheirismo e incentivo.
À CAPES-PROCAD, FINEP-CTPETRO e CNPq pelo apoio financeiro para melhoria do
LABEME, o que permitiu a realização deste trabalho.
vii
SUMÁRIO
Lista de Tabelas.........................................................................................................................ix
Lista de Figuras...........................................................................................................................x
Resumo.....................................................................................................................................xii
Abstract....................................................................................................................................xiii
CAPÍTULO I ............................................................................................................................1
1.1 – INTRODUÇÃO.............................................................................................................1
1.1.1 – Justificativa....................................................................................................................1
1.1.2 – Objetivo geral................................................................................................................6
CAPÍTULO II...........................................................................................................................7
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.....................................................................................7
2.1 – Generalidades sobre construção com terra.................................................................7
2.1.1 – Adobes..........................................................................................................................13
2.1.2 - Tijolos prensados.........................................................................................................18
2.1.3 - Tipo de terra.................................................................................................................20
2.1.4 - Umidade de moldagem................................................................................................21
2.1.5 - Tipo de prensa..............................................................................................................23
2.1.6 - Tipo e percentagem de estabilizante..........................................................................25
2.1.7 – Cura..............................................................................................................................25
2.1.8 - Ensaios de paredes de terra crua...............................................................................26
2.2 - Normalização de construção com terra.....................................................................27
2.2.1 - Introdução....................................................................................................................27
CAPÍTULO III........................................................................................................................28
3 – MATERIAIS E MÉTODOS........................................................................................28
3.1 – Materiais.......................................................................................................................28
3.1.1 – Terra.............................................................................................................................28
3.1.2 – Cimento........................................................................................................................29
3.1.3 – Cal.................................................................................................................................29
3.1.4 - Fibras vegetais..............................................................................................................29
3.1.5 - Resíduos industriais.....................................................................................................29
3.2 – Métodos.........................................................................................................................29
3.2.1 - Fabricação dos tijolos prensados................................................................................29
3.2.2 - Fabricação dos tijolos de adobe..................................................................................30
3.2.3 - Resistência à compressão dos tijolos..........................................................................31
3.2.4 - Ensaios em paredes......................................................................................................32
CAPÍTULO IV........................................................................................................................34
4 – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS........................................34
4.1 - Caracterização das terras empregadas.........................................................................34
4.2 - Resistência à compressão dos tijolos prensados e dos prismas..................................35
4.3 - Comportamento estrutural das paredes de tijolos prensados....................................37
4.3.1 - Parede 1........................................................................................................................37
4.3.2 - Parede 2........................................................................................................................39
4.3.3 - Parede 3........................................................................................................................42
viii
4.3.4 - Parede 4........................................................................................................................44
4.3.5 - Parede 5........................................................................................................................47
4.3.6 - Parede 6........................................................................................................................49
4.3.7 - Resumo dos ensaios das paredes de blocos prensados de terra crua......................51
4.4 – Resistência à compressão dos tijolos e prismas de adobe.........................................53
4.5 – Comportamento estrutural das paredes de adobe....................................................56
4.5.1 - Parede 7........................................................................................................................56
4.5.2 - Parede 8........................................................................................................................59
4.5.3 - Parede 9........................................................................................................................63
4.5.4 - Parede 10......................................................................................................................67
4.6- Resumo do comportamento estrutural das paredes de adobe.................................69
4.7 - Parede 11......................................................................................................................70
4.7.1 Ensaio da Parede 11 com abertura.............................................................................70
4.8 – Habitação de interesse social.......................................................................................74
4.9 – Considerações gerais....................................................................................................74
CAPÍTULO V..........................................................................................................................76
5 – CONCLUSÕES...............................................................................................................76
5.1 - Considerações finais.......................................................................................................76
5.2 - Sugestões para pesquisas futuras..................................................................................79
CAPÍTULO VI........................................................................................................................80
6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................80
ANEXOS..................................................................................................................................84
ANEXO 1 - Verificação de Norma em Casa de Interesse Social........................................85
ANEXO 2 – Proposta de Norma Brasileira de Construção com Adobe............................88
ANEXO 3 – Revisão de Procedimentos de Projetos Estruturais para Edificações de
Terra.......................................................................................................................................110
ix
Lista de Tabelas
Tabela 3.1 – Propriedades das terras empregadas..............................................................28
Tabela 4.1 – Resistência à compressão dos tijolos prensados com 4% de cimento...........36
Tabela 4.2 – Resistência à compressão dos tijolos prensados com 7% de cimento...........36
Tabela 4.3 – Resumo de ensaio de tijolos prensados............................................................52
Tabela 4.4 - Cargas admissíveis teóricas, carga de ruptura experimental e relação entre
elas............................................................................................................................................53
Tabela 4.5 - Resistência à compressão dos tijolos de adobe................................................54
Tabela 4.6 - Resistência à compressão de prismas de quatro tijolos de adobe..................55
Tabela 4.7 - Comportamento das paredes de adobe............................................................69
Tabela 4.8 – Resumo de ensaio de parede 11 de tijolos de adobe.......................................74
x
Lista de Figuras
Figura 1.1 – Realidade ainda presente: pobreza aliada às más condições de habitação....3
Figura 1.2 – Adobe: técnica simples de construção...............................................................4
Figura 1.3 – Casa de alto padrão em adobes, em El Salvador..............................................5
Figura 2.1 – Cidade de Bam, construída em terra crua........................................................8
Figura 2.2 – Problemas gerados pelo uso da vegetação local como
combustível em indústrias cerâmicas no Nordeste Brasileiro..............................................8
Figura 2.3 – Carga térmica que atravessa parede de solo
cimento (esquerda) e de tijolos cerâmicos furados (direita)................................................9
Figura 2.4 – Re-incorporação de blocos prensados de terra
crua com 5 % de cimento.......................................................................................................11
Figura 2.5 - Fabricação de tijolos no Egito antigo e construções ainda existentes..........12
Figura 2.6 – Construções modernas de terra: casa de luxo em Novo México,
Estados Unidos, Igreja no sul da França..............................................................................12
Figura 2.6a – Construções modernas de terra: casa em El Salvador.................................13
Figura 2.7 - Fabricação de tijolos de adobe no antigo Egito, tradição, e no Estado do
Novo México, EUA, modernidade.........................................................................................14
Figura 2.8 – Fabricação e construção de adobes..................................................................15
Figura 2.9 – Fôrmas para a fabricação de adobes...............................................................17
Figura 2.10 – Moldagem dos blocos de adobe......................................................................18
Figura 2.11 – Prensa manual que produz três tijolos ao mesmo tempo:
pouca pressão de compactação..............................................................................................19
Figura 2.12 – Otimização da umidade do solo e da quantidade de material
a ser posta na prensa..............................................................................................................22
Figura 2.13 – Aumento de resistência com a densidade seca.............................................23
Figura 2.14 - Operação da prensa manual GEO-50............................................................24
Figura 2.15 – Aumento de resistência com a pressão de compactação..............................25
Figura 2.16 - Painéis estruturais sendo ensaiados no Politécnico di Torino e
construção onde foi usado, na Paraíba..................................................................................26
Figura 3.1 – Bloco Mattone e prensa manual utilizada.......................................................30
Figura 3.2 – Fabricação dos tijolos de adobe........................................................................31
Figura 3.3.– Ensaio de compressão nos tijolos prensados e de adobe................................31
Figura 3.4.– Ensaio de compressão dos prismas de tijolos prensados e de adobe...........32
Figura 3.5 – Parede sendo transportada para o local de ensaio e após instrumentação..33
Figura 3.6 – Parede de adobe com orifício de janela...........................................................33
Figura 4.1 – Aspecto do tijolo e do prisma durante ensaio.................................................36
Figura 4.2 – Parede 1: Desenho esquemático e parede antes do ensaio.............................37
Figura 4.3 – Parede 1: Curvas carga-deslocamento e tensão média-deformação
específica..................................................................................................................................38
Figura 4.4 – Parede 1: Durante o ensaio e nas proximidades da ruptura.........................39
Figura 4.5 – Parede 2: Desenho esquemático e parede antes do ensaio.............................40
Figura 4.6 – Parede 2: Curvas carga-deslocamento e tensão média-deformação
específica..................................................................................................................................40
xi
Figura 4.7 – Parede 2: Vista após ruptura............................................................................41
Figura 4.8 – Parede 3: Desenho esquemático e parede antes do ensaio.............................42
Figura 4.9 – Parede 3: Curvas carga-deslocamento e tensão média-deformação
específica..................................................................................................................................43
Figura 4.10 – Parede 3: Vistas após ruptura........................................................................44
Figura 4.11 – Parede 4: Desenho esquemático e parede antes do ensaio...........................45
Figura 4.12 – Parede 4: Curvas carga-deslocamento e tensão média-deformação
específica..................................................................................................................................45
Figura 4.13– Parede 4: Vistas após ruptura.........................................................................46
Figura 4.14 – Parede 5: Desenho esquemático e parede antes do ensaio...........................47
Figura 4.15 – Parede 5: Curvas carga-deslocamento e tensão média-deformação
específica..................................................................................................................................48
Figura 4.16 – Parede 5: Vistas após ruptura........................................................................49
Figura 4.17 – Parede 6: Desenho esquemático e parede antes do ensaio...........................49
Figura 4.18 – Parede 6: Curvas carga-deslocamento e tensão média-deformação
específica..................................................................................................................................50
Figura 4.19 – Parede 6: Vistas após ruptura........................................................................51
Figura 4.20 – Ensaio de tijolo de adobe................................................................................54
Figura 4.21 – Ensaio de prisma de quatro tijolos de adobe................................................55
Figura 4.22 – Parede 7: Desenho esquemático e parede antes do ensaio...........................57
Figura 4.23 – Parede 7: Curvas carga-deslocamento e tensão média-deformação
específica..................................................................................................................................58
Figura 4.24 – Parede 7: Vistas após ruptura........................................................................59
Figura 4.25 – Parede 8: Desenho esquemático e parede antes do ensaio...........................60
Figura 4.26 – Parede 8: Curvas carga-deslocamento e tensão média-deformação
específica..................................................................................................................................61
Figura 4.27 – Parede 8: Primeiras fissuras verticais sob carga de 80 kN..........................62
Figura 4.28 – Parede 8 – Aspecto a 110 kN e 130 Kn..........................................................62
Figura 4.29 – Parede 9: Desenho esquemático e parede antes do ensaio...........................63
Figura 4.30 – Parede 9: Curvas carga-deslocamento e tensão média-deformação
específica..................................................................................................................................64
Figura 4.31: - Parede 9 com 110 kN......................................................................................65
Figura 4.32: - Parede 9 – Fissura vertical no centro sob carga de 120 kN........................66
Figura 4.33: - Parede 9 após ruína completa .......................................................................66
Figura 4.34 – Parede 10: Desenho esquemático e parede antes do ensaio.........................67
Figura 4.35 – Parede 10: Curvas carga-deslocamento e tensão média-
deformação..............................................................................................................................67
Figura 4.36: - Parede 10. Parede sob carga de 80 kN e de 140 kN....................................68
Figura 4.37: - Parede 10 - Carga de 154 kN na ruptura – Notar que muitos tijolos
permanecem intactos..............................................................................................................69
Figura 4.38 – Parede 11: Desenho esquemático e parede antes do ensaio........................70
Figura 4.39 – Parede 11: Curvas carga-deslocamento e tensão média-deformação
específica: parte superior, extensômetros centrais..............................................................71
Figura 4.40 – Parede testada experimentalmente................................................................72
Figura 4.41 – Fissuras começando nas extremidades das verga e contra-verga...............73
Figura 4.42 – Fissura ligando as extremidades da verga e da contra-verga
nas vizinhanças da ruptura....................................................................................................73
xii
CONTRIBUIÇÃO PARA A NORMALIZAÇÃO DA ALVENARIA ESTRUTURAL
COM O USO DE TIJOLOS DE TERRA CRUA PARA CONSTRUÇÕES URBANAS
RESUMO
A produção de materiais industrializados, como concreto, tijolos cerâmicos, aço,
consome enormes quantidades de energia, lança poluentes na atmosfera e gera absurdas
quantidades de resíduos danosos ao meio ambiente. Apesar disto, têm sido estudados
fortemente em todas as escolas de engenharia e arquitetura no mundo todo. Com já quase sete
bilhões de pessoas, das quais quase metade tem necessidade enorme de infra-estrutura e
habitação, mas sequer tem renda para adquirir os materiais industrializados, outra solução não
tem o Planeta Terra que não seja se voltar ao passado e procurar nele sobreviver sem agredi-lo
intensamente. No campo da Engenharia, se hipoteticamente se desejar suprir as necessidades
dos paises emergentes unicamente com os materiais industrializados, considerando que um
único quilograma de cimento consome mais de 2,6 kWh, provavelmente haveria o colapso
energético no globo! Assim a busca por materiais naturais passa a ser uma opção para o
futuro. Na área da construção, entre os materiais benéficos aos seres humanos tem-se a terra
crua que os acompanha desde os primórdios da humanidade. Como é ainda pouco estudada, a
terra crua é praticamente banida como material de construção, malgrado toda sua história.
Este trabalho apresenta uma série de estudos feitos em paredes de terra crua, usando-se duas
tecnologias: a dos tijolos prensados e a dos adobes. Foram ensaiadas ao todo onze paredes,
seis das quais em blocos prensados, tipo Mattone, que é um tijolo com encaixes que utiliza
uma argamassa fluida e de pequena espessura na montagem das paredes. Os carregamentos
foram aplicados em ciclos, para se verificar o comportamento dos muros também no
descarregamento. No topo das paredes foi construída viga de concreto armado para distribuir
melhor a carga aplicada por macaco hidráulico. O comportamento das paredes foi
acompanhado através de medições feitas em extensômetros mecânicos com os quais elas
foram instrumentadas. Os resultados apontam para uma surpreendente capacidade de carga
dos painéis de parede, que, embora sempre apresentem excentricidades de carga nos ensaios,
comportam-se de maneira mais que satisfatória para uso em equipamentos comunitários e
habitações de interesse social.
Palavras chave: terra crua, adobe, solo-cimento, meio ambiente, alvenaria, engenharia
urbana.
xiii
ABSTRACT
Gonçalves, Jameson da Silva. Contribution for the normalization of the structural masonry
with the use of bricks of raw earth for urban constructions. Universidade Federal da Paraíba,
2005. Thesis (Master).
The production of industrialized materials, like concrete, ceramic bricks and steel,
consumes enormous amounts of energy, throws pollutants in the atmosphere and generates
absurd amounts of harmful residues into the environment. In spite of this, they have been
strongly studied in all the engineering and architecture schools in the whole world. With
already almost seven billion people, which almost half has an enormous need of infrastructure
and housing, but at least half hasn’t income to acquire the industrialized materials, another
solution doesn't have the Earth Planet, than to return to the past and seek in the planet how to
survive without attacking it intensely. In the Engineering field, if one hypothetically wants to
supply the needs of the emerging countries only with the industrialized materials, considering
that a single kilogram of cement consumes more than 2.6 kWh, there would probably be the
energy collapse in the globe! So, the search for natural materials becomes an option for the
future. In the area of the construction, among the beneficial materials to the human beings
there are the raw earth that accompanies them from the humanity's origins. As it is still little
studied, the raw earth is banished practically as construction material, despite all its history.
This work presents a series of studies done in layers of raw earth, constructed using two
technologies: the one of the pressed bricks and the one of the adobes. Eleven walls were
tested, six of them in blocks pressed as Mattone type, that is, a brick with fittings that uses a
flowing mortar with a small thickness in the assembly of the walls. The loads were applied in
cycles, to verify the behavior of the walls also in unloading. On the top of the walls a beam of
armed concrete was built to distribute the applied load applied by hydraulic jacks. The
behavior of the walls was accompanied through measurements done by mechanical
extensometer with which they were instrumented. The results showed a surprising capacity of
carrying load of the wall panels, that, although there were load eccentricities always present in
the tests, they behaves in a way more than satisfactory for use in community equipments and
houses of social interest.
Keywords: raw earth, adobe, soil-cement, environment, masonry, urban engineering.
1
CAPÍTULO I
1.1 – INTRODUÇÃO
1.1.1 - Justificativa
“Calcula-se que ainda hoje construções de terra crua abrigam quase um terço da
humanidade” (BARBOSA et al, 2003). Em países asiáticos, africanos e do oriente médio
existem ainda cidades construídas quase que inteiramente com esse material, sendo a cidade
de Yazd, no Iran, um exemplo vivo da versatilidade desse material.
Segundo Walker (2003), a tradição milenar da terra é agora revivida quando problemas
ambientais ameaçam o futuro da humanidade no Planeta. Tomem-se como exemplo a
fabricação de tijolos e telhas cerâmicas em todo o Nordeste brasileiro. As indústrias utilizam
como combustível a vegetação local, levando ao agravamento do problema da desertificação
da região. A simples utilização da terra crua em suas diversas formas nas construções de casas
e equipamentos urbanos contribuiria para a redução do fenômeno acima apresentado.
Para a terra crua ser aceita como material de construção nos órgãos governamentais é
necessário que se tenha conhecimentos sobre ele. Embora em algumas poucas universidades
do mundo a terra esteja sendo pesquisada, sente-se a necessidade de um maior número de
ensaios experimentais para melhor embasar as normas sobre alvenaria de tijolos de terra crua,
já existente em pouquíssimos países e a ser elaborada no Brasil.
2
O uso de materiais que envolvam menores quantidade de energia, gerem menos
residuos e poluentes, emitam menos CO
2
na atmosfera e sejam mais facilmente
reincorporados na Natureza devem ser tidos como materiais do futuro. Numa época em que o
aquecimento global do planeta já está sendo responsabilizado pela maior intensidade das
catástrofes naturais, também na área de engenharia é possível se pensar em materiais de
construção que se pode dizer serem amigáveis ao ambiente. Entre estes, destaca-se a terra.
Enquanto materiais industrializados, como concreto, tijolos cerâmicos, aço, etc, vêm
sendo estudados nas Universidades de todo o mundo desde o século XIX, um material de uso
milenar, como a terra, tem apenas uns poucos centros onde é pesquisado há não mais de 25
anos. Pode-se destacar, a Escola de Arquitetura de Grenoble e a Escola de Trabalhos Públicos
da França, a Universidade de Kassel, Alemanha, o Instituto Politécnico di Torino, Itália, a
Universidade de Bath, Inglaterra, a Universidade Católica do Peru, a Universidade Federal da
Paraíba, Brasil. Outras instituições têm se interessado pelo assunto, inclusive no Estados
Unidos e Austrália, onde laboratórios importantes de testes têm sido criados.
Com o renascimento da terra como material de construção, atestado pelos inúmeros
encontros internacionais sobre o tema e o interesse em construções de maior porte, sente-se a
necessidade de se desenvolverem métodos de cálculo baseados nas teorias com as quais são
projetados as alvenarias com tijolos cozidos ou blocos de concreto. Ocorre que as hipóteses
feitas para estes últimos não se aplicam diretamente às alvenarias de terra, pois o módulo de
elasticidade dos tijolos crus é bem inferior ao dos outros aqui citados. Na falta de resultados
experimentais, normalmente o que se faz é trabalhar com níveis de segurança mais elevados
que o necessário, levando desta forma a construções menos econômicas. Desta forma, nada
resta senão proceder à experimentação e tentar adaptar alguns parâmetros usados no projeto
3
da alvenaria estrutural comum para aquela de terra crua.
A terra pode desenvolver um papel fundamental na melhoria das condições de vida da
parcela da população praticamente sem renda que ainda existe no país. Inúmeras famílias no
interior do Nordeste (Figura 1.1) abrigam-se muito mal, por terem perdido as técnicas
construtivas antigas e não terem condições de adquirir materiais industrializados. Assim
constroem-se choupanas sem a menor tecnologia, cujas paredes servem de abrigo a insetos e
roedores.
Figura 1.1 – Realidade ainda presente: pobreza aliada às más condições de habitação.
4
Uma das maneiras mais baratas de construir com terra é fazer uso dos tijolos de adobe.
Técnica milenar, usada pelos babilônicos, egípcios, persas e introduzida no Brasil pelos
portugueses, foi abandonada pelas classes dominantes com o surgimento dos materiais
industrializados. Ficando relegada à pobreza, foi-se perdendo a tecnologia construtiva. No
entanto, ela pode renascer e contribuir para melhoramento das condições de vida tanto na
zona rural como na periferia das cidades hoje inchadas de favelas.
Exemplo pode ser visto na Figura 1.2, onde a simplicidade do material, com correta
informação, permite construção de casas de qualidade, e mesmo equipamentos comunitários
como a creche vista também naquela Figura 1.2, na qual os tijolos de adobe foram feitos pelas
mães das crianças.
Figura 1.2 – Adobe: técnica simples de construção.
5
Mas não é só no campo da habitação social que os adobes devem desempenhar seu
papel de economia de energia e redução da poluição. As vantagens ecológicas do produto
fazem-no desejado também pelas classes mais abastadas e esclarecidas. Veja-se o exemplo da
Figura 1.3, casa de luxo construída com adobes mecanizados em El Salvador.
Figura 1.3 – Casa de alto padrão em adobes, em El Salvador.
Porém, para se difundir o uso dos tijolos de terra crua, a normalização passa a ser
importante, pois é necessário que órgãos como a Caixa Econômica aceitem essa tecnologia, e
para tanto é preciso que existam normas técnicas sobe o assunto. Ensaios laboratoriais são
necessários para dar confiança no material e se poderem propor algumas regras de construção.
Alguns países estão avançando nesta área e o Brasil tem que criar suas próprias normas visto
ter ainda a enorme vantagem de se tratar de zona não sísmica, diferentemente dos andinos,
como o Peru, que já criou sua norma de construção com adobe, apesar das ameaças dos
terremotos.
6
1.1.2 – Objetivo geral
O presente trabalho propõe estudar o comportamento sob carga de vários tipos de
paredes de tijolos de terra crua, com o fim de contribuir para a base de dados experimentais
que possam ser úteis na definição de critérios normativos. Este trabalho consta de 06 capítulos
e um anexo.
No capitulo 1 tem-se a introdução.
No capítulo 2 é feita revisão bibliográfica sobre tijolos prensados e tijolos de adobe,
enfocando-se alguns pontos sobre normalização.
No capitulo 3 apresentam-se os materiais e métodos usados no trabalho.
No capítulo 4 apresentam-se e analisam-se os resultados da experimentação.
No capítulo 5 são feitas as considerações finais e apresentadas propostas para
continuação dos estudos.
No anexo, apresenta-se um exemplo de verificação de Norma em casa de interesse
social, uma proposta inicial de Norma brasileira de construção com adobes, e, finalmente,
uma revisão de procedimentos mundiais de projetos estruturais para edificações de terra.
7
CAPÍTULO II
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Neste capítulo vai se apresentar alguns tópicos tirados da literatura sobre as construções
com terra em geral, a normalização existente sobre o assunto e ensaios mecânicos em paredes
de terra feitas com tijolos de terra crua.
2.1 – Generalidades sobre construção com terra
As primeiras aglomerações humanas que deram origem às cidades começaram a surgir
quando o Homem descobriu a agricultura e sentiu necessidade de se abrigar melhor para
aguardar as colheitas. Evidentemente, os primeiros materiais de construção utilizados foram
aqueles ofertados pela natureza como pedra, palha, galhos e troncos de árvores e, sem dúvida,
a terra. Com esses materiais o Homem foi capaz de produzir belíssimas obras de engenharia,
como são testemunhos as magníficas pirâmides do Egito e tantos outros monumentos
fantásticos erguidos pelas civilizações da história antiga da humanidade, segundo Barbosa
(2005).
A terra ainda hoje abriga quase um terço da humanidade e em paises asiáticos, africanos
e do oriente médio existem ainda cidades construídas quase que inteiramente com esse
material. A Figura 1 mostra a cidade de Bam, no Iran, antes do terremoto de 2003 (Figura
2.1), representando um exemplo vivo da versatilidade desse material.
8
Figura 2.1 – Cidade de Bam, construída em terra crua.
Sua tradição milenar é agora revivida quando problemas ambientais ameaçam o futuro
do Planeta. Tome-se como exemplo a fabricação de tijolos e telhas cerâmicas em todo o
nordeste brasileiro. As indústrias utilizam como combustível a vegetação local (BARBOSA et
al, 2002), levando ao agravamento do problema da desertificação da região (Figura 2.2).
O uso da terra crua, em suas diversas tecnologias, nas construções rurais e de casas nas
pequenas cidades do interior nordestino já contribuiria para a redução do fenômeno.
Figura 2.2 – Problemas gerados pelo uso da vegetação local como combustível
em indústrias cerâmicas no Nordeste Brasileiro.
Esse material milenar, a terra, apresenta vantagens entre as quais se pode citar:
9
- disponibilidade
- propriedades térmicas superiores
- sendo poroso, controla melhor a umidade do ambiente absorvendo e liberando
umidade, mantendo ambiente saudável
- geração mínima de poluição e baixo consumo energético no seu processo de
fabricação
- fácil re-incorporação na natureza
- facilidade de gerar tecnologias apropriadas
- facilidade de uso desse material junto à população considerando que a tecnologia é
de fácil transferência.
De fato, a terra é um dos materiais mais abundantes na natureza. Termicamente tem um
desempenho superior aos tijolos cerâmicos. A Figura 2.3, obtida na Universidade Nacional de
Tucuman, Argentina (GARZON, 2002), mostra que a carga térmica que atravessa uma parede
de 20 cm rebocada em ambos os lados, num certo intervalo de tempo, é três vezes menor num
muro de tijolos crus de solo-cimento que numa de tijolos furados cozidos.
20 cm
20 cm
Figura 2.3 – Carga térmica que atravessa parede de solo cimento (esquerda)
e de tijolos cerâmicos furados (direita).
10
Do ponto de vista do controle de umidade relativa do ar nas edificações, experimentos
indicados em Minke (2000), mostram que em um ambiente com 30 m
2
de paredes e 3m de
altura, quando a umidade subitamente passa de 50% para 80%, se as paredes são de tijolos de
terra crua elas absorvem 9 litros de água em 48 h, ao passo que uma idêntica de tijolos
cerâmicos só seria capaz de absorver 0,9 litros no mesmo período. Se ocorre o contrário, a
umidade relativa diminui, as paredes de terra liberam de volta a umidade ao ambiente. Como
para se ter um ambiente saudável a umidade deve se situar entre 40 % e 70 % (MINKE, 2000)
vê-se porque as casas de terra são conhecidas como benéficas para a saúde.
Sendo um material natural, seu manuseio se faz com geração mínima de poluição. O
consumo energético envolvido é sempre muito menor que o de materiais como cimento, aço,
e tijolos cerâmicos.
Mesmo quando a terra é associada a materiais industrializados, estes entram em
pequenas proporções, assim a re-incorporação na Natureza é relativamente fácil. A Figura 2.4
mostra um exemplo de blocos de terra prensada com 5 % de cimento. Vê-se que a vida pode
se manifestar sobre eles, diferentemente de um bloco de concreto ou de um tijolo cerâmico,
por exemplo.
11
Figura 2.4 – Re-integração de blocos prensados de terra crua com 5 % de cimento.
Quanto ao consumo de energia, a fabricação de um quilo de cimento consume cerca de
2,622 kWh, segundo EARTH (2005). Assim, um bloco de concreto tem um consumo de
energia relativamente alto, comparado com um tijolo de adobe onde a energia empregada é
quase nula. Mesmo quando se usa cimento na terra ele entra em pequenas proporções
minimizando o consumo energético.
Finalmente, uma outra vantagem da terra como material de construção é a facilidade de
gerar tecnologias apropriadas. Pode-se dizer que tecnologia apropriada é aquela fácil de
transmitir e de ser absorvida pela população sem envolver equipamentos e procedimentos
sofisticados.
Na Figura 2.5 pode-se ver a fabricação de tijolos de terra crua no antigo Egito,
indicando já a facilidade com que se podia manusear a terra para com ela construir desde
casas simples a palácios e templos. Construções que desafiam aos milênios (Figura 2.5) são
prova inconteste da estabilidade desse material de construção.
12
Figura 2.5 - Fabricação de tijolos no Egito antigo e construções ainda existentes.
O apelo ecológico tem feito renascer a arquitetura de terra que nos dias de hoje está
sendo procurada não pelas pessoas desfavorecidas mas mesmo pelas camadas mais
privilegiadas da sociedade atual (Figuras 2.6 e 2.6a).
Figura 2.6 – Construções modernas de terra: casa de luxo em Novo México, Estados Unidos; Igreja no
sul da França.
13
Figura 2.6a – Construções modernas de terra: casa em El Salvador.
Existem mais de 20 tecnologias de construção com terra e suas variantes locais. Aqui
vai-se tratar dos adobes, técnica ancestral, e dos tijolos prensados, técnica mais moderna.
2.1.1 - Adobes
Os adobes são blocos ou tijolos de terra feita com ela no estado plástico, e comumente
secos ao sol. Os adobes são conhecidos desde os primórdios da humanidade e são ainda muito
empregados na África e alguns países Latino-americanos, representando a tradição, e mesmo
nos Estados Unidos onde já existe produção industrial representando a modernidade (Figura
2.7).
14
Figura 2.7 - Fabricação de tijolos de adobe no antigo Egito, tradição , e no Estado do Novo México,
EUA, modernidade.
Contrariamente aos Incas que muito construíam com terra no Peru, os índios brasileiros
não empregavam esse material nas construções. As edificações com terra no país começaram
a partir da chegada dos portugueses. Muito se empregou o tijolo cru de adobe nas construções
de casas, igrejas e prédios públicos, porém com o surgimento das olarias mecanizadas,
passou-se a desprezá-los. Assim as tecnologias de fabricação e construtivas com adobes
(Figura 2.8) foram se perdendo.
Os tijolos crus não são resistentes à água como os cozidos, dizem todos, sem lembrar
que em muitas paredes os tijolos, de qualquer tipo que sejam, jamais serão submetidos à ação
dela. Com uma proteção adequada ou com uso de estabilizantes terão a durabilidade
necessária. Aliando um material antigo como a terra com outros modernos como cimento,
emulsão asfáltica, etc, pode-se chegar a produtos que, devidamente estudados, possam
inspirar a confiança dos usuários.
15
Figura 2.8 – Fabricação e construção de adobes.
Hoje, em alguns países latino-americanos como Peru e Equador e no continente
africano, os adobes continuam sendo usados principalmente por serem o material construtivo
de menor custo. Já nos países desenvolvidos seu emprego vem crescendo por conta do apelo
ecológico dos dias atuais.
A terra adequada para a fabricação de adobes deve conter um mínimo de argila. Suas
partículas são tão pequenas que são visíveis somente ao microscópio. Cada uma delas fica
coberta com um fino filme de água, mesmo quando a argila está extremamente seca.
É essa tensão superficial da água que liga as partículas de argila e a faz plástica quando
molhada e dura quando seca. Porém, se a quantidade de argila for excessiva, quando a água
adicionada para tornar a argila plástica e moldar o tijolo, evaporar, pode haver diminuição
excessiva de dimensões do tijolo (retração), chegando mesmo a trincá-lo.
É, pois, necessária certa quantidade de areia e de silte no solo para tornar o adobe
estável. Assim, a composição do solo deve se enquadrar aproximadamente dentro dos limites:
16
Pedregulho: 0 a 10 %
Areia: 45% a 75%
Silte 10% a 45 %
Argila: 15% a 35%
O solo que poderia ser considerado ideal deveria conter 20 a 25% de argila, 15 a 20 %
de silte, 60 % de areia e 0 % de pedregulho.
Quanto ao limite de liquidez, em Minke (2000) diz-se que é desejável que esteja entre
30 e 50 %. No entanto, em Houben et al (1989) trabalhou-se com solo de LL = 23,5 % com
excelentes resultados.
Solos muito argilosos podem ser corrigidos com areia. Assim é comum, fazerem-se
misturas volumétricas, usando-se, por exemplo, duas partes de solo, uma de areia.
A quantidade de água de mistura é importante. Os adobes são moldados com umidade
relativamente elevada, em fôrmas retangulares, sem praticamente energia de prensagem. A
umidade deve ser próxima do limite de liquidez. Como já foi citado, o teor de água é
importante: se ela é pouca, há o risco de a terra formar torrões que se aglomeram de forma
independente, não se unindo bem àquela já posta no molde. Se a água for em excesso, o bloco
pode se deformar exageradamente quando da retirada da fôrma. Além disto, muita água é
sinal de grande retração do tijolo durante a secagem, podendo haver mesmo o aparecimento
de fissuras. E a resistência cai, por conta do aumento de porosidade provocado pela
17
evaporação da água em excesso
Diversas variações nas formas e dimensões das fôrmas podem ser encontradas. Há
formas para apenas um tijolo, dois, três e mesmo 5 de uma só vez. Pode-se também fazer
formas que permitam também se fazer meio bloco (Figura 2.9).
Figura 2.9 – Fôrmas para a fabricação de adobes.
A espessura não deve ser grande, até 10 cm ou um pouco mais. Valores maiores podem
conduzir a uma homogeneização deficiente na moldagem. A largura recomendada é da ordem
de 20 cm na Europa, que tem clima severo, porém 15 cm já conduzem a uma boa parede no
Brasil. O comprimento pode ir até 40 cm. Blocos maiores “rendem” mais quando da
construção dos muros. É preferível usar o comprimento igual a duas vezes a largura. Blocos
de 20 cm x 30 cm por 8 a 10 cm de espessura são práticos.
A moldagem é inteiramente manual, como indicado na Figura 2.10.
18
Figura 2.10 – Moldagem dos blocos de adobe.
2.1.2 - Tijolos prensados
Considerações sobre blocos prensados de terra crua
Blocos prensados de terra crua são blocos obtidos pela compactação do solo em um
compartimento de uma máquina, manual ou hidráulica, que lhes dá a forma.
No Brasil a Associação Brasileira de Cimento Portland realizou muitos trabalhos com o
que se chamou solo-cimento. Foi inclusive desenvolvida uma prensa para fabricação de tijolos
de solo-cimento (Figura 2.11) com apoio do Banco Nacional de Habitação. No entanto, nesse
processo, o equipamento, moldando três tijolos ao mesmo tempo, não consegue dar uma
pressão conveniente à terra. Assim, para se obterem resistências adequadas, usam-se taxas de
cimento de 8, 10, 12 e até mesmo 15 %. Tais teores de ligante passam a pesar
significativamente nos custos do material. Além disto, os tijolos de pequenas dimensões,
consomem muita argamassa na ligação e não conseguem dar uma grande estabilidade e
rigidez aos muros.
Aqui se prefere, em vez de tijolos de solo cimento, chamar tijolos prensados de terra
crua estabilizados com cimento ou tijolos de concreto de terra, tendo-se em conta que a
19
pressão de compactação aplicada ao material nos moldes de prensas manuais eficientes chega
a cerca de 2 MPa.
Figura 2.11 – Prensa manual que produz três tijolos ao mesmo tempo:
pouca pressão de compactação.
Estudos aprofundados sobre o tema começaram na França, no início dos anos 80.
Muitas publicações sobre o tema foram originadas da Ecole Nationale de Travaux Publics de
l’Etat (ENTPE), com a qual a Universidade Federal da Paraíba mantém cooperação. Desde
fins da década de oitenta que o material terra crua tem sido estudado na Universidade Federal
da Paraíba , que também trabalha em cooperação com o Politecnico di Torino, no assunto.
Resumidamente, pode-se dizer que, com relação à qualidade dos tijolos prensados, ela
depende de:
tipo de terra
umidade de moldagem
tipo de prensa
tipo e percentagem de estabilizante
cura
20
2.1.3 Tipo de terra
Cada tecnologia de construção com terra tem o tipo de solo que lhe é mais apropriado.
A terra mais conveniente para a fabricação de adobes, por exemplo, não o é para obtenção dos
tijolos prensados.
Há certos tipos de argila, como a montmorilonita, que quando presentes no solo são
inconvenientes para construção com terra por serem altamente expansivas e necessitarem de
altas percentagens de cimento para serem estabilizadas.
O teor de cada componente granulométrico também é importante. É conveniente que o
solo apresente plasticidade e que seu limite de liquidez não seja excessivo, de preferência
menor que 40–45 %. Para os tijolos prensados, pode-se dizer que é desejável que o solo tenha:
10 a 20 % de argila
10 a 20 % de silte
50 a 70 % de areia
Numa experiência dos autores, conseguiram-se excelentes resultados com um solo local
que apresentava cerca de 11 % de argila, 18 % de silte e 70 % de areia, sendo que nesta
última a maior quantidade era de areia fina (grãos de 0,05 a 0,25 mm).
Quando o solo não se enquadra nessa faixa, pode-se fazer uma correção granulométrica.
É comum por exemplo, se o solo é muito argiloso, com limite de liquidez e índice de
plasticidade altos, misturá-lo com areia. A proporção depende do caso e pode ser um volume
21
de terra para um de areia, dois volumes de terra para um de areia, etc.
2.1.4 - Umidade de moldagem
A umidade de moldagem mais conveniente também é função do tipo de solo. Para se
obter tijolos prensados de qualidade com uma determinada terra, é necessário estabelecer qual
a percentagem ideal de água e quantidade de material a ser posta no molde da prensa, através
de um processo de otimização. Normalmente essa umidade não é exatamente aquela obtida no
ensaio de compactação (Proctor). Nele obtém-se a densidade máxima aplicando-se uma
compressão dinâmica. No entanto, na prensa, tem-se uma compactação praticamente estática,
daí uma certa diferença.
A otimização é feita com base na máxima densidade seca. Toma-se uma porção de
material e determina-se a umidade natural. Caso se conheça a umidade ótima do ensaio de
compactação estática, é com ela que se vai trabalhar (na ENTPE, França, foi desenvolvido um
equipamento que permite se realizar esse ensaio). A variável fica sendo o peso de terra a ser
posto na prensa. Faz-se, pois, variar este parâmetro, pesando-se e medindo-se as dimensões do
tijolo para obter seu volume e a conseqüente densidade seca pela equação (1).
γ
d
= P
w
/[(1 + w).V] (1)
onde: γ
d
é a densidade seca
P
w
é o peso do corpo de prova logo após moldagem, ainda úmido
w é o teor de água presente
V é o volume do tijolo
22
Caso não se conheça a umidade ótima, faz-se variar também a quantidade de água, e
obtêm-se gráficos como os indicados na Figura 2.12. O pico mais elevado de todas as curvas
indica o teor ótimo de umidade e o peso de material a ser posto na prensa. Na prática,
converte-se o peso em volume, usando-se a massa unitária do material úmido.
Figura 2.12 – Otimização da umidade do solo e da quantidade de material
a ser posta na prensa.
Para um mesmo tipo de solo, maior densidade seca implica em maior resistência, como
se pode ver na Figura 2.13.
23
Figura 2.13 – Aumento de resistência com a densidade seca.
2.1.5 - Tipo de prensa
O tipo de prensa é importante pois quanto maior a compactação imposta ao solo, o
produto final vai ser melhor. No mercado encontram-se já diversos tipos. Os autores têm
trabalhado com um equipamento que tem a vantagem de aplicar ao bloco uma dupla
compressão. Um sistema de molas engenhosamente colocado para isto torna o tijolo mais
compacto e resistente. O modo de operação da prensa está indicado na Figura 2.14.
Normalmente essas prensas manuais comprimem o solo com pressões da ordem de 2 MPa.
24
Figura 2.14 - Operação da prensa manual GEO-50.
No mercado já existem também prensas hidráulicas que aplicam pressões muito
maiores, resultando em produtos muito resistentes (Figura 2.15). O inconveniente é que se
tratam de equipamentos pesados e caros.
25
Figura 2.15 – Aumento de resistência com a pressão de compactação.
2.1.6 - Tipo e percentagem de estabilizante
Estabilizar um solo significa a ele misturar produtos que melhorem suas propriedades,
inclusive sob a ação da água. Um dos melhores e mais difundidos estabilizantes é o cimento.
Este trabalha reagindo quimicamente não só com a água, formando agentes cimentícios, mas
também com as partículas finas do solo. Teores de 4 a 6 % de cimento são capazes de
produzir tijolos prensados de excelente qualidade. A percentagem do estabilizante depende do
tipo de solo que se vai empregar e também da resistência requerida. Se houver muita argila
presente, vai ser exigido no mínimo 6 % de cimento. Se o solo é excessivamente arenoso,
podem ser requeridas taxas maiores. Se o solo é bem graduado, 4% (e até mesmo 2%) de
cimento já leva a blocos de ótima qualidade.
2.1.7 – Cura
O bloco de terra precisa ser curado para evitar a saída rápida da água da mistura. Se
26
ocorrer a evaporação, não vai haver tempo para ela reagir com todos os grãos de cimento e a
qualidade do bloco cai. Um método muito eficaz consiste em se cobrir os tijolos com uma
lona plástica tão logo eles sejam fabricados. Assim impede-se a evaporação da água. Também
se usa ficar molhando periodicamente os tijolos novos, porém a proteção com a lona plástica é
mais eficaz.
2.1.8 - Ensaios de paredes de terra crua
Alvenarias de terra têm sido relativamente pouco estudadas, se uma comparação for
feita só com muros de tijolos cerâmicos.
Segundo Barbosa (1996), na ENTPE foi desenvolvido um dispositivo para o estudo
experimental de muros de terra e feitas algumas experimentações, referências do capitulo 5.
No Politécnico di Torino, Itália (BARBOSA, 1996) também foram feitos ensaios,
entre os quais o de um módulo de muro em tijolos prensados que foi empregado em um
Centro Comunitário na cidade de Sapé, PB, (Figura 2.16).
Figura 2.16 - Painéis estruturais sendo ensaiados no Politécnico di Torino e construção onde foram
usados, na Paraíba.
27
2.2 Normalização de construção com terra
2.2.1 - Introdução
O sucesso das construções de terra durante muitos séculos tem sido baseado na
tradição. Projetos apropriados de edificação seguem regras simples estabelecidas por gerações
passadas adquiridas em cima das experiências de tentativa e erros (WALKER, 2003).
A prosperidade das construções com terra têm contribuído na história para a ausência
de regulamentos, códigos de prática e padrões nacionais. Porém, com o advento dos materiais
industrializados, o declínio de métodos tradicionais de construção com terra, e uma perda de
habilidades do ofício durante os últimos 100-150 anos, necessário se faz estabelecer regras em
códigos normativos a fim de que as modernas construções de terra apresentem os três pilares
básicos para qualquer construção: segurança, comportamento adequado e a durabilidade.
A falta de normas de projeto e de construção é uma restrição que dificulta o
desenvolvimento da nova construção de terra.
Artigo de Walker da Universidade de Bath, Inglaterra (WALKER, 2003), faz uma
revisão de algumas recomendações de projetos estruturais para paredes de terra. Estas incluem
diretrizes de projeto e códigos nacionais da Austrália, Alemanha, Nova Zelândia, Espanha,
E.U.A. e Zimbábue. A reprodução deste trabalho é apresentada no anexo.
28
CAPÍTULO III
3 - MATERIAIS E MÉTODOS.
3.1 - Materiais
Os materiais usados na presente pesquisa foram:
- terra
- cimento
- cal
- fibras vegetais
3.1.1 - Terra
Foram usados dois tipos de terra amarelada, vendidas normalmente nos depósitos de
materiais de construção da cidade de João Pessoa. A primeira foi usada nos tijolos prensados
e a segunda nos tijolos de adobe. Suas propriedades estão indicadas na Tabela 3.1.
Tabela 3.1 – Propriedades das terras empregadas.
Silte mais argila (%) LP (%) LL (%) IP (%)
Terra 1 34,9 17,7 21,8 4,1
Terra 2 28,2 17,5 27,1 9,6
29
3.1.2 - Cimento
O cimento foi usado em pequenas quantidades para estabilização da terra nos tijolos
prensados. O empregado foi o cimento composto com pozolana, CPIIZ-32, disponível no
comércio local.
3.1.3 - Cal
Foi usada cal do tipo CH I na argamassa de assentamento daqueles blocos.
3.1.4 - Fibras vegetais
Foram usadas fibras oriundas de folhas de grama tipo japonesa, devidamente secas ao
sol, nos blocos de adobe.
3.1.5 - Resíduos industriais
Os resíduos industriais utilizados foram de restos de borracha de Etileno Vinil Acetato
(EVA) e também de Isopor, na forma de pérolas.
3.2 - Métodos
3.2.1 - Fabricação dos tijolos prensados
Os tijolos prensados, tipo Mattone, de terra crua misturada com cimento (4% a 7%)
30
compactado em prensa manual, com encaixes que facilitam a construção e melhoram a
resistência e qualidade da alvenaria, de dimensões 10x14x28 (cm), foram produzidos
empregando-se prensa manual indicada na Figura 3.1. Foi feita inicialmente uma otimização
da quantidade de material a ser posto na prensa e da quantidade de água de mistura, conforme
sugerido em Barbosa (1996). Após fabricação, os tijolos eram postos em galpão coberto e
revestidos com lona plástica para o processo de cura. Depois de cerca de uma semana eram
empilhados e ainda recobertos com a lona.
Figura 3.1 – Bloco Mattone e prensa manual utilizada.
3.2.2 - Fabricação dos tijolos de adobe
Os tijolos de adobe de dimensões 10x15x30 (cm) foram fabricados em forma manual,
conforme mostra a Figura 3.2. A secagem era feita em local coberto. Foram feitos tijolos sem
estabilizante e com palha de grama japonesa para funcionar como estabilizante fibroso. Com
estes dois tipos de tijolos foram moldadas duas paredes de cada.
Também se verificou a possibilidade de os tijolos de adobe incorporarem resíduos
industriais.
31
Figura 3.2 – Fabricação dos tijolos de adobe.
3.2.3 - Resistência à compressão dos tijolos
A resistência à compressão dos tijolos foi medida conforme sugerido na NBR 8492
(1992), como se pode ver na Figura 3.3.
Figura 3.3.– Ensaio de compressão nos tijolos prensados e de adobe.
A resistência à compressão dos prismas dos tijolos foi medida conforme sugerido na
Norma Peruana E080 (2000) de construção com terra, mostrada adiante na Figura 3.4.
32
Figura 3.4.– Ensaio de compressão dos prismas de tijolos prensados e de adobe.
3.2.4 - Ensaios em paredes
Foram testadas seis paredes de tijolos prensados, e cinco de adobes, sendo a última
delas com um orifício simulando uma janela.
As paredes de tijolos prensados foram feitas com três alturas diferentes: 2,60 m; 1,80
m e 1,0 m. Em três delas foram usados blocos estabilizados com 4% de cimento e em outras
três, blocos com 7% de cimento.
Algumas paredes foram construídas diretamente no local de ensaio, outras foram feitas
sobre suporte de madeira e transferidas para o pórtico dias antes do ensaio, como se vê na
Figura 3.4, onde se vê também a parede após instrumentação com extensômetros mecânicos.
No topo de cada parede foi moldada uma viga de concreto armado para distribuir
melhor o carregamento aplicado pelo macaco sobre um perfil metálico que se apoiava sobre a
viga. Uma camada de argamassa era posta entre o perfil e a viga para um melhor contato entre
eles.
33
Figura 3.5 – Parede sendo transportada para
o local de ensaio e após instrumentação.
O carregamento foi aplicado em ciclos, conforme sugerido na NBR 8949 (1985).
A última parede de adobe testada apresentava um vão correspondendo a abertura de
uma janela, como se vê na Figura 3.6.
Figura 3.6 – Parede de adobe com abertura de janela.
34
CAPÍTULO IV
4 - APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.1 - Caracterização das terras empregadas.
Os solos empregados no presente trabalho apresentaram as características indicadas
abaixo. Pelas análises feitas, ambos se adequam à fabricação de tijolos prensados e também à
fabricação de adobes.
Solo 1:
- Limite de Liquidez: 21,8 %, NBR 6459 (1984).
- Limite de Plasticidade: 17,7 %, NBR 7180 (1984).
- Índice de Plasticidade: 4,1 %.
- Areia: 50<64,2%<=70, NBR 7217 (1987).
- Silte+Argila: 10<34,9 %<40.
- Pedregulho: 0,9%.
- Massa específica: 2,66 g/cm
3
, NBR 9776 (1987).
- Classificação A.A.S.H.T.O (American Association of State Highway and
Transportation Officials):
- Solo tipo A-2-4, com no máximo 35% de silte+argila passando na # 200, com
LL<40%, e IP<10%.
Solo 2:
- Limite de Liquidez: 27,2 %, NBR 6459.
- Limite de Plasticidade: 17,4 %, NBR 7180.
35
- Índice de Plasticidade: 9,8 %.
- Areia: 50<70,6%<=70, NBR 7217.
- Silte+Argila: 10<28,22%<40.
- pedregulho: 1,16%.
- massa específica: 2,67 g/cm
3
, NBR 9776.
- classificação A.A.S.H.T.O:
- Solo tipo A-2-4, com no máximo 35% de silte+argila passando na # 200, com
LL<40%, e IP<10%.
4.2 Resistência à compressão dos tijolos prensados e dos prismas
A resistência à compressão dos tijolos prensados de terra crua com 4 % e 7 % de
cimento usado como estabilizante e dos prismas compostos por 3 tijolos estão indicadas nas
Tabelas 1 e 2. Vê-se que a variação nos resultados é maior nos tijolos com menor taxa de
cimento. Isto pode ser explicado pelo fato de a resistência do tijolo ser devida tanto à
contribuição da argila presente quando da presença do cimento. Com apenas 4% de cimento a
contribuição desse ligante é relativamente menor que no caso de 7% de estabilização. Ora a
ação do cimento é muito mais homogênea que a da argila, assim a dispersão dos resultados
fica maior no caso da menor taxa do ligante industrializado. Já as resistências dos prismas
apresentaram um coeficiente de variação semelhante para as taxas de estabilização. Percebe-
se que a resistência dos prismas corresponde a apenas uma parcela da resistência medida do
tijolo.
36
Tabela 4.1 – Resistência à compressão dos tijolos prensados com 4% de cimento.
Resistência dos tijolos individuais Resistência dos prismas
CP a
4%
Carga
Rupt
(kN)
Resist
(MPa)
Média
(MPa)
Prisma
Carga Rupt
(kN)
Tensão
(MPa)
Média
(MPa)
01 39,54 1,99 01 34,89 0,89
02 47,44 2,42 02 34,89 0,89
03 37,14 1,87 03 36,46 0,93
04 44,99 2,30 04 47,82 1,22
05 22,84 1,17 05 43,90 1,12
06 38,21 1,95
1,95
Coef. de
variação
23 %
06 55,96 1,42
1.08
Coef.
Variação
21%
Tabela 4.2 – Resistência à compressão dos tijolos prensados com 7% de cimento.
Resistência dos tijolos individuais Resistência dos prismas
CP a
7%
Carga
Rupt
(kN)
Resist
Tensão
(MPa)
Média
(MPa)
Prisma
Carga
Rupt (kN)
Tensão
(MPa)
Média
(MPa)
01 44,82 2,65 01 64,03 1,63
02 45,63 2,70 02 74,50 1,90
03 42,74 2,53 03 62,97 1,61
04 42,24 2,48 04 60,76 1,55
05 41,37 2,45 05 59,00 1,51
06 41,18 2,44
07 29,29 1,72
08 34,94 2,05
09 38,51 2,28
10 35,99 2,12
2,34
Coef. de
variação
13 %
06
48,00
1,22
1,57
Coef. de
Variação
22%
Na Figura 4.1 pode-se ver o tijolo e o prisma já no final do ensaio de compressão.
Figura 4.1 – Aspecto do tijolo e do prisma durante ensaio.
37
4.3 Comportamento estrutural das paredes de tijolos prensados
Não é simples a realização de um ensaio de parede. A linearidade, prumo e
centralização sob o macaco dificilmente são perfeitos, ocorrendo sempre pequenas
imperfeições e excentricidades. Em geral, as paredes ficam sujeitas a uma flexo-compressão
oblíqua. Desta forma não se consegue um modo único de ruptura. Assim, prefere-se
apresentar individualmente o ensaio das paredes testadas em Laboratório e no final tecer um
comentário geral, examinando-se o conjunto.
Nos curvas que seguem, as de mesma cor correspondem a extensômetros instalados na
mesma face da parede.
4.3.1 - Parede 1.
Na Figura 4.2, pode-se ver o esquema de ensaio da primeira parede.
Figura 4.2 – Parede 1: Desenho esquemático e parede antes do ensaio.
38
A Figura 4.3, mostra as curvas carga-deslocamento e tensão-deformação obtidas nos 4
extensômetros colocados nas faces da parede. A tensão indicada corresponde ao valor médio ,
representado pela carga dividida pela área de aplicação.
Figura 4.3 – Parede 1: Curvas carga-deslocamento e tensão média-deformação específica.
Examinando-se a Figura 4.3 vê-se que ocorreram pequenas excentricidades de carga.
Um dos lados da parede foi mais comprimido que o outro, tanto ao longo da largura quanto da
espessura. Isto sempre ocorre por conta da dificuldade de se conseguir centrar perfeitamente a
parede sob o macaco hidráulico. As deformações residuais após o primeiro ciclo de carga
foram bem pequenas.
Para carga de fissuração, cerca de 53 kN/m, o valor máximo de deformação medido
foi próximo de 0,3 mm/m.
39
As primeiras fissuras ocorreram sob carga de 60 kN (53 kN/m) e o valor máximo
atingido pelo carregamento foi de 88,5 kN (78 kN/m). No caso a ruptura começou por
esmagamento no topo da parede como se pode ver na Figura 4.4. A tensão média
correspondente na ruptura foi cerca de 0,55 MPa.
Figura 4.4 – Parede 1: Durante o ensaio e nas proximidades da ruptura.
4.3.2 - Parede 2
Na Figura 4.5, pode-se ver o esquema de ensaio da segunda parede ensaiada, agora
com 1,80 m de altura.
40
Figura 4.5 – Parede 2: Desenho esquemático e parede antes do ensaio.
A Figura 4.6, mostra as curvas carga-deslocamento e tensão-deformação obtidas nos
quatro extensômetros.
Figura 4.6 – Parede 2: Curvas carga-deslocamento e tensão média-deformação específica.
41
Também na Figura 4.6 percebe-se que ocorreram pequenas excentricidades de carga
como no caso anterior. A deformação residual foi ligeiramente maior. Pelas curvas
apresentadas pode-se ver que a excentricidade principal foi ao longo da espessura da parede:
os extensômetros de uma face apresentaram maiores valores.
As primeiras fissuras ocorreram sob carga de 80 kN (70,8 kN/m) e o valor máximo
atingido pelo carregamento foi de 95 kN (84,1 kN/m).
A figura 4.7 mostra a parede quando da ruptura. O esmagamento foi quase
generalizado, começou do lado mais comprimido e terminou por esmagar completamente a
parte inferior da parede.
Na ocasião, a tensão média estava por volta de 0,6 MPa.
Figura 4.7 – Parede 2: Vista após ruptura.
42
4.3.3 - Parede 3
Na Figura 4.8, pode-se ver o esquema de ensaio da terceira parede, com apenas 1,00 m
de altura.
Figura 4.8 – Parede 3: Desenho esquemático e parede antes do ensaio.
A Figura 4.9 indica as curvas carga-deslocamento e tensão-deformação obtidas nos 4
extensômetros. Neste caso conseguiu-se aplicar três ciclos de carga. Na Figura 4.9 vê-se que
agora a carga ficou mais excêntrica em relação ao centro da parede, na direção da segunda
maior dimensão. Para cargas de até 50 kN (44,2 kN/m) o comportamento é praticamente
linear.
43
Figura 4.9 – Parede 3: Curvas carga-deslocamento e tensão média-deformação específica.
As primeiras fissuras ocorreram sob carga de 100 kN (88,5 kN/m) e o valor máximo
atingido pelo carregamento foi de 113,9 kN (100,8 kN/m). No caso a ruptura começou por
esmagamento na base direita da parede como se pode ver na Figura 4.10. Isto pode ser
explicado pela concentração maior de tensões em uma das extremidades, como atestado na
Figura 4.9.
44
Figura 4.10 – Parede 3: Vistas após ruptura.
4.3.4 - Parede 4
A parede 4 é semelhante à parede 1, a variável é o teor de cimento no bloco, agora de
7%. Na Figura 4.11, pode-se ver o esquema de ensaio e seu aspecto.
45
Figura 4.11 – Parede 4: Desenho esquemático e parede antes do ensaio.
A Figura 4.12, mostra as curvas carga-deslocamento e tensão-deformação obtidas nos
quatro extensômetros.
Figura 4.12 – Parede 4: Curvas carga-deslocamento e tensão média-deformação específica.
46
Examinando-se a Figura 4.12 vê-se que as excentricidades foram menores que nos
casos anteriores. Nota-se uma maior rigidez. O tijolo com mais cimento levou a parede a
apresentar maior resistência aos deslocamentos.
As primeiras fissuras ocorreram sob carga de 230 kN (203,5 kN/m) e o valor máximo
atingido pelo carregamento foi de 285,6 kN (252,7 kN/m). Como no caso o carregamento
estava relativamente bem centrado, formou-se uma fissura no centro da parede que foi se
propagando ao longo dela. Essa fissura é oriunda das tensões transversais (horizontais) de
tração que aparecem quando aplicadas tensões verticais, por conta do coeficiente de Poisson.
Posteriormente apareceu uma outra fissura vertical que propagou até o centro do painel. Então
ocorreu esmagamento de tijolos nessa zona central que se torna mais solicitada quando
deflexões transversais começam a aparecer em elevados níveis de carga. Na Figura 4.13 vê-se
o aqui descrito.
Figura 4.13– Parede 4: Vistas após ruptura.
47
4.3.5 - Parede 5
Na Figura 4.14, pode-se ver o esquema de ensaio da quinta parede ensaiada.
Figura 4.14 – Parede 5: Desenho esquemático e parede antes do ensaio.
A Figura 4.15 abaixo, mostra as curvas carga-deslocamento e tensão-deformação
obtidas nos quatro extensômetros. Dois deles H2 e H4, opostos entre si, apresentaram bom
comportamento, porém os outros dois H1 e H5 que também estavam opostos na lateral
esquerda da face anterior da parede, mostraram alguma irregularidade no início do teste.
48
Figura 4.15 – Parede 5: Curvas carga-deslocamento e tensão média-deformação específica.
Na Figura 4.15 vê-se que um dos lados da parede se encontra muito mais comprimido
que o outro. Para carga de 100 kN, por exemplo, enquanto em um lado tem-se um
deslocamento dos extensômetros de cerca de 0,6 mm, no outro ele já passa de 1 mm. O
comportamento linear continua valendo, agora até cerca de 100 kN (88,5 kN/m).
As primeiras fissuras ocorreram sob carga de 200 kN (177 kN/m) e o valor máximo
atingido pelo carregamento foi de 216,7 kN (191,8 kN/m). A Figura 4.16 indica o aspecto da
ruptura que começou por esmagamento na extremidade mais comprimida, como era de se
esperar.
49
Figura 4.16 – Parede 5: Vistas após ruptura.
4.3.6 - Parede 6
Na Figura 4.17, pode-se ver o esquema da sexta parede ensaiada.
Figura 4.17 – Parede 6: Desenho esquemático e parede antes do ensaio.
50
A Figura 4.18, mostra as curvas carga-deslocamento e tensão-deformação obtidas nos
quatro extensômetros. Vê-se que em um conjunto de extensômetros houve disparidade de
leituras indicando uma excentricidade de carga mais acentuada naquele local. Como se verá
na Figura 4.18, foi ali que começou o esmagamento dos tijolos.
Figura 4.18 – Parede 6: Curvas carga-deslocamento e tensão média-deformação específica.
As primeiras fissuras ocorreram sob carga de 180 kN (159,3 kN/m) e o valor máximo
atingido pelo carregamento foi de 196,4 kN (173,8 kN/m).
BARBOSA (1996), ensaiou parede semelhante e a carga chegou a 236 kN/m sem ter
apresentado nenhuma fissura. As dimensões da parede eram ligeiramente menores, o que
pode ter favorecido a resistência.
51
Figura 4.19 – Parede 6: Vistas após ruptura.
4.3.7 - Resumo dos ensaios das paredes de blocos prensados de terra crua
A Tabela 4.3 apresenta um resumo do que foi obtido na experimentação das paredes
de terra prensada. Vê-se que a capacidade de carga entre das paredes 1 a 3 foi aumentando à
medida que se diminuiu sua altura. O mesmo não foi observado com relação às paredes 5 e 6,
provavelmente por conta de excentricidades acentuadas terem sido mais importantes que a
questão da esbeltez.
52
Tabela 4.3 – Resumo de ensaio de paredes de tijolos prensados.
Parede
Teor
Cim
Altura
(m)
1ª Carga
de Fissura
(kN/m)
Resist
média
bloco
(MPa)
Carga
ruptura
(kN/m)
Tensão média
na carga de
ruptura (MPa)
Média
(MPa)
Data
Ensaio
01 2,60 53,1 78,3 0,56 18/03/04
02
1,80 70,8 84,1 0,61 02/04/04
03
4%
1,00 88,5
1,95
100,8 0,72
0,63
07/05/04
04
2,60 203,5 252,7 1,80 15/06/04
05
1,80 177,0 191,8 1,37 22/06/04
06
7%
1,00 159,3
2,34
173,8 1,24
1,47
02/07/04
Segundo a norma brasileira NBR 10837 [16] sobre cálculo de alvenaria estrutural de
blocos vazados de concreto, a resistência à compressão admissível numa parede pode ser
avaliada por :
P
adm
= 0,20 f
p
.[1-(h/(40.t))
3
]. A
Com: f
p
sendo a resistência de prismas, h a altura, t a espessura, A a área da seção
transversal, aqui considerada a área bruta.
Para se verificar se tal equação seria indicada para alvenarias de blocos prensados, foi
feita a comparação que se vê na Tabela 4.4.
53
Tabela 4.4 - Cargas admissíveis teóricas, carga de ruptura experimental
e relação entre elas.
Parede h
(cm)
h/t f
p
(MPa)
P
adm
teor
(kN/m)
P
rupt exp.
(kN/m)
P
rupt
/P
adm
1 260 18,5 27,2
78,3
2,9
2 180 12,9 29,2
84,1
2,9
3 100 7,1
1,08
30,1
100,8
3,3
4 260 18,5 39,5
252,7
6,4
5 180 12,9 42,5
191,8
4,5
6 100 7,1
1,57
43,7
173,8
4,0
Na tabela 4.4 vê-se que a carga admissível teórica foi sempre muito menor que a carga
de 1ª fissura da parede. A carga de ruptura foi sempre cerca de 3 vezes maior que a
admissível. Assim, a expressão da NBR 10837 (1989) P
adm
= 0,20 fp.[1-(h/(40.t))3]. A,
mostrou-se atender bem no caso das três primeiras paredes. No segundo grupo, paredes 4 a 6,
alguma coisa deve ter interferido nos ensaios experimentais levando os coeficientes entre as
cargas de ruptura experimental e a admissíveis teóricas a patamares maiores.
Só para dar uma idéia, considerando a menor carga admissível teórica, 27,2 kN/m,
essa parede seria capaz de receber com segurança a reação de duas lajes biapoiadas com 6
kN/m
2
, de 4 m de vão.
4.4 – Resistência à compressão dos tijolos e prismas de adobe
Para se estudar a resistência das paredes de adobe, inicialmente foram testadas as
resistências dos tijolos em si, conforme as recomendações da NBR 8492 (1992). Assim,
tijolos foram partidos ao meio e unidas as duas metades por argamassa, no caso, também de
terra, capeando-se as faces, superior e inferior. Na Figura 4.20 vê-se um tijolo após ensaio.
54
A ruptura começa, em geral pela formação de uma fissura vertical. De fato, a
compressão vertical, por conta do coeficiente de Poisson, gera tensões de tração
perpendiculares ao eixo da peça causando a fissura.
Figura 4.20 – Ensaio de tijolo de adobe.
Na Tabela pode-se ver o resultado da resistência à compressão dos tijolos testados.
Tabela 4.5 - Resistência à compressão dos tijolos de adobe.
CP Condição Resistência (MPa) Resistência média (MPa)
1 1,28
2 1,66
3
Sem fibra
1,28
1,40
4 1,30
5 1,22
6
Com fibra vegetal
1,10
1,21
A Norma Peruana E080 de construção com terra sugere que se ensaiem prismas de
tijolos com altura cerca de 4 vezes a largura, usando-se a mesma argamassa, para se ter uma
estimativa da resistência da parede.
55
Na Figura 4.20 vê-se um dos prismas testados. Semelhantemente ao caso do tijolo,
inicialmente aparecem fissuras verticais devidas à tração transversal. O esmagamento às vezes
não é uniforme, como no caso da Figura 4.21, por causa de pequenas excentricidades de carga
que sempre ocorrem.
Figura 4.21 – Ensaio de prisma de quatro tijolos de adobe.
A Tabela 4.6 apresenta os resultados dos diversos prismas de adobe ensaiados.
Tabela 4.6 - Resistência à compressão de prismas de quatro tijolos de adobe.
CP Condição Resistência (MPa) Resistência média (MPa)
1 0,62
2 1,18
3 0,86
4 0,96
5 0,87
6
Sem fibra
1,22
0,95
Coef. Variação: 23%
7 1,18
8 1,15
9 1,07
10 1,15
11 0,99
12
Com fibras vegetais
1,05
1,11
Coef. Variação: 7%
56
Vê-se que, embora a resistência do tijolo sem fibra tenha sido ligeiramente superior,
no caso dos prismas, a presença das fibras levou a um valor maior de resistência. Vê-se que
nos prismas sem fibra ocorreu uma variação maior, e há mesmo valores superiores a prismas
com fibras. De forma que se pode considerar que este tipo de fibra influi pouco na resistência
e aos prismas pode ser atribuída uma resistência em volta de 1 MPa, independentemente se há
ou não o estabilizante vegetal.
4.5 – Comportamento estrutural das paredes de adobe
Passa-se agora a apresentar os ensaios realizados com as paredes de adobe. Foram
testadas duas paredes iguais, com 2,6 m de altura, com blocos de adobe sem fibra e mais duas
também iguais, com os tijolos com as fibras incorporadas em sua massa. Finalmente foi
testada uma outra, a Parede 11, com uma abertura simulando uma janela. Esta por ser de
características diferentes, será apresentada separadamente das quatro primeiras paredes de
adobe.
4.5.1 - Parede 7
Na Figura 4.22, pode-se ver o esquema de ensaio da sétima parede ensaiada,
correspondendo à primeira de adobe.
57
Figura 4.22 – Parede 7: Desenho esquemático e parede antes do ensaio.
A Figura 4.23, mostra as curvas carga-deslocamento e tensão-deformação obtidas nos
quatro extensômetros das faces principais.
58
Figura 4.23 – Parede 7: Curvas carga-deslocamento e tensão média-deformação específica.
Examinando-se a Figura 4.2 vê-se novamente que ocorreram pequenas excentricidades
de carga. Um dos lados da parede foi mais comprimido que o outro, tanto ao longo da largura
quanto da espessura da parede.
As primeiras fissuras ocorreram sob carga de 70 kN (58,3 kN/m), os primeiros sinais
de esmagamento sob a carga de 95 kN (79,2 kN/m) e o valor máximo atingido pelo
carregamento foi de 115,4 kN (96,2 kN/m). No caso a ruptura começou por esmagamento no
topo da parede como se pode ver na Figura 4.24.
59
Figura 4.24 – Parede 7: Vistas após ruptura.
4.5.2 - Parede 8
Na Figura 4.25, pode-se ver o esquema de ensaio da oitava parede ensaiada.
60
Figura 4.25 – Parede 8: Desenho esquemático e parede antes do ensaio.
A Figura 4.26 abaixo, mostra as curvas carga-deslocamento e tensão-deformação
obtidas nos quatro extensômetros.
61
Figura 4.26 – Parede 8: Curvas carga-deslocamento e tensão média-deformação específica.
As pequenas excentricidades de carga continuaram a acontecer. Um dos lados da
parede foi mais comprimido que o outro, tanto ao longo da largura quanto da espessura da
parede.
As primeiras fissuras ocorreram sob carga de 80 kN (66,7 kN/m), os primeiros sinais
de esmagamento sob a carga de 90 kN (75,0 kN) e o valor máximo atingido pelo
carregamento foi de 160,4 kN (133,7 kN/m). No caso a ruptura começou por esmagamento no
lado esquerdo da parede como se pode ver na Figura 4.27 e 4.28.
62
Figura 4.27 – Parede 8: Primeiras fissuras verticais sob carga de 80 kN.
Figura 4.28 – Parede 8 – Aspecto a 110 kN e 130 kN.
63
4.5.3 - Parede 9
As paredes 9 e 10 foram feitas com adobes com incorporação de palha de folha grama.
Na Figura 4.29, pode-se ver o esquema de ensaio da nona parede ensaiada.
Figura 4.29 – Parede 9: Desenho esquemático e parede antes do ensaio.
A Figura 4.30, mostra as curvas carga-deslocamento e tensão-deformação obtidas nos
quatro extensômetros.
64
Figura 4.30 – Parede 9: Curvas carga-deslocamento e tensão média-deformação específica.
Examinando-se a Figura 4.30 vê-se que ocorreram pequenas excentricidades de carga.
Um dos lados da parede foi mais comprimido que o outro, tanto ao longo da largura quanto da
espessura.
As primeiras fissuras ocorreram sob carga de 120 kN (100,0 kN/m), e o valor máximo
atingido pelo carregamento foi de 142,5 kN (118,8 kN/m). No caso a ruptura começou por
esmagamento no centro da parede como se pode ver na Figura 4.31, 4.32 e 4.33.
65
Figura 4.31: - Parede 9 com 110 kN.
66
Figura 4.32: - Parede 9 – Fissura vertical no centro sob carga de 120 kN.
Figura 4.33: - Parede 9 após ruína completa.
67
4.5.4 - Parede 10
Na Figura 4.34, pode-se ver o esquema da décima parede ensaiada.
Figura 4.34 – Parede 10: Desenho esquemático e parede antes do ensaio.
A Figura 4.35, mostra as curvas carga-deslocamento e tensão-deformação obtidas nos
4 extensômetros.
Figura 4.35 – Parede 10: Curvas carga-deslocamento e tensão média-deformação específica.
68
Examinando-se a Figura 4.35 vê-se que ocorreram pequenas excentricidades de carga.
Um dos lados da parede foi mais comprimido que o outro, tanto ao longo da largura quanto da
espessura da parede.
As primeiras fissuras ocorreram sob carga de 120 kN (100,0 kN/m), e o valor máximo
atingido pelo carregamento foi de 155,4 kN (129,5 kN/m). No caso a ruptura começou por
esmagamento no centro direito da parede como se pode ver na Figura 4.36.
Figura 4.36: - Parede 10. Parede sob carga de 80 kN e de 140 kN.
69
Figura 4.37: - Parede 10 - Carga de 154 kN na ruptura – Notar que muitos tijolos permanecem
intactos.
4.6- Resumo do comportamento estrutural das paredes de adobe
Na Tabela 4.7 pode-se ver um resumo dos resultados dos ensaios nas paredes de
adobe. Nota-se que a resistência do prisma de quatro blocos aproxima-se daquela da parede,
daí porque esse ensaio é utilizado na norma peruana (NORMA TÉCNICA DE
EDIFICACIÓN E080, 2000) e na proposta de norma brasileira (BARBOSA et al, 2005).
Tabela 4.7 - Comportamento das paredes de adobe.
Parede
de
Adobe
Altura
(cm)
Largu-
ra
(cm)
Espes-
sura
(cm)
Carga
1ªfissura
(kN/m)
Carga
Ruptura
(kN/m)
Tensão
Média
(MPa)
Resist.
do
tijolo
(MPa)
Resist.
do
prisma
(MPa)
7 79,1 96,2 0,69
8
66,7 133,7 0,95
1,41
0,95
9 100,0 118,8 0,85
10
260
120
14
100,0 129,5 0,92
1,21
1,11
70
4.7 - Parede 11
4.7.1 - Ensaio da Parede 11 com abertura
Na Figura 4.38, pode-se ver o esquema de ensaio da décima primeira parede ensaiada.
Esta apresenta uma abertura simulando uma janela, com verga e contra-verga.
Figura 4.38 – Parede 11: Desenho esquemático e parede antes do ensaio.
A largura total da parede foi de 2,16 m e a altura 2,10 m. No topo da parede foi posta
uma cinta para melhor distribuição da carga. Os trechos ao lado da parede tinham 60 cm de
71
largura. O carregamento foi aplicado em três ciclos: o primeiro até 40 kN/m, o segundo até 80
kN/m e o terceiro até a ruptura.
A Figura 4.39, mostra as curvas carga-deslocamento e tensão-deformação obtidas nos
quatro extensômetros, nas faces de fachada e nas laterais.
Figura 4.39 – Parede 11: Curvas carga-deslocamento e tensão média-deformação específica: parte
superior, extensômetros centrais.
Vê-se que as deformações nas faces centrais da parede são maiores que nas laterais.
Isto é devido ao fato de no centro haver a abertura e também a distribuição de carga do
macaco, apesar de todo o sistema de enrijecimento, concentrar maiores esforços no centro.
Pode-se notar que a deformação residual no primeiro ciclo de carga é desprezível,
72
inferior a 0,2 mm/m. Após o segundo ciclo de carga ela chegou a cerca de 0,5 mm/m o que é
perfeitamente aceitável. Como se verá adiante, a carga de utilização de parede de adobe em
habitação popular é inferior a 12 kN/m, o que corresponderia no caso a uma carga de cerca 25
kN. Para essa carga vê-se na Figura 4.40. que os deslocamentos são desprezíveis. Nenhuma
interferência haveria nos marcos das janelas.
Figura 4.40 – Parede testada experimentalmente.
Até a carga de 80 kN, correspondendo à uma carga distribuída de 38 kN/m, a parede
apresentou excelente comportamento sem nenhum sinal de fissuras (Figura 4.40).
Na carga de 100 kN (47,6 kN/m) começaram a aparecer trincas começando pela
extremidade da verga superior. Também na extremidade da contra-verga surgiram pequenas
fissuras, como se pode ver na Figura 4.41.
73
Figura 4.41 – Fissuras começando nas extremidades das verga e contra-verga.
As fissuras na parte inferior da contra verga indicam que está a haver concentração de
tensões sob ela, por conta da maior rigidez do elemento de concreto.
No estado limite último pode-se ver na Figura 4.42 que as fissuras entre as
extremidades das verga e contra-verga propagaram-se formando uma única trinca. Note-se
que a contra-verga tinha comprimento menor que a verga, daí a maior fissuração sob esta
última.
Figura 4.42 – Fissura ligando as extremidades da verga e da contra-verga
nas vizinhanças da ruptura.
A parede conseguiu resistir a um carregamento máximo de 66 kN/m, o que significou
uma tensão aproximada de 0,8 MPa na seção vizinha às janelas.
74
Tabela 4.8 – Resumo de ensaio de parede 11 de tijolos de adobe.
Parede de
Adobe
Altura
(cm)
Largura
(cm)
Espessura
(cm)
Carga
1ªfissura
(kN/m)
Carga
Ruptura
(kN/m)
Tensão
Média
(MPa)
Resist.
prisma
(MPa)
11 210 216 14,5 48,1 129,4 0,50 0,95
A experimentação nas paredes de adobe mostra um comportamento melhor do que o
que se espera de um material composto unicamente por água e terra. Até níveis de carga
perfeitamente aceitáveis em construções comuns, o comportamento é muito bom. Desejando-
se acréscimo de capacidade de carga basta aumentar a espessura das paredes. Os ensaios dão
confiança no material mas para seu uso em larga escala é preciso que existam documentos
normativos. Assim, foi proposta uma norma, apresentada no anexo, para receber sugestões e
se tentar divulgar um material tão simples e tão nobre.
4.8 – Habitação de interesse social
Com base nesta norma foi feita uma verificação em uma habitação de interesse social,
com tijolo de 15 cm de espessura, sendo apresentado o resultado no artigo Comportamento
Experimental de Paredes de Adobe com Vistas à Elaboração de Norma Brasileira de
Construção de Adobes (BARBOSA et al, 2005) no anexo.
4.9 – Considerações gerais
Foram apresentados resultados da experimentação de parede de adobe com abertura de
janela.
75
Sob cargas de serviço o comportamento das paredes é mais que satisfatório, com
pequenas deformações, incapazes de interferir nos marcos de portas e janelas.
Foi mostrado que paredes de adobe de 15 cm são suficientes para suportar o peso de
uma laje de concreto armado e estrutura da cobertura.
No exemplo apresentado, a carga horizontal dos suportes extremos do telhado seria
absorvida pela cinta existente sobre as paredes e solidária com as lajes.
A experimentação mostrou que a ruptura inicia-se nas zonas de concentração de
tensões sob as vergas e contra-vergas. Para reduzir as tensões nessas regiões é necessário
aumentar a zona de contato daqueles elementos estruturais com as paredes.
O comprimento das vergas e contra-vergas pode ser otimizado através de análise
numérica.
Mais estudos experimentais são necessários para se estabelecer a confiança nos
milenares blocos de adobe por parte dos engenheiros e arquitetos que recebem uma formação
que louva apenas os materiais industrializados.
76
CAPÍTULO V
5 – CONCLUSÕES
5.1 - Considerações finais
O tema central deste trabalho tratou do comportamento experimental de paredes de terra
crua. Foram ensaiados painéis feitos com tijolos prensados de solo-cimento tipo Mattone e
com tijolos de adobe.
Os resultados mostraram que:
- os solos utilizados são apropriados tanto para a fabricação de tijolos prensados quando
para a confecção de adobes;
- é difícil conseguir-se em Laboratório, usando-se um pórtico normal, um ensaio de
compressão centrada nas paredes. Sempre ocorrem pequenas excentricidades fazendo com
que as leituras de extensômetros simétricos dificilmente coincidam exatamente, mesmo assim
os resultados são perfeitamente confiáveis;
- as paredes de tijolos prensados, que utilizam uma argamassa fluida e pouco espessa,
apresentaram resistência próxima a de prismas de três tijolos. A resistência medida nos tijolos,
partidos em duas metades e sobrepostas, é sempre maior que a dos prismas;
- a resistência total das paredes decresce com sua esbeltez, porém na segunda série
77
ensaiadas das paredes de tijolos prensados, isto não se verificou inteiramente, provavelmente
por conta de excentricidades cujos efeitos prevaleceram sobre a relação altura/espessura da
parede;
- com tijolos prensados estabilizados com 4% de cimento, conseguiu-se em parede de
2,60 m de altura tensões de fissuração da ordem de 0,38 MPa e de ruptura de 0,55 MPa.
Ambas estão muito além dos carregamentos de edificações térreas correntes. Já com os tijolos
estabilizados com 7% de cimento, aqueles valores subiram para 1,45 MPa e 1,80 MPa,
respectivamente;
- a expressão utilizada na NBR 10837 (1989) para indicar a carga admissível para
paredes de alvenaria de blocos de concreto mostrou-se adequada para o caso de paredes
testadas com tijolos prensados de terra crua;
- os tijolos tipo Mattone influenciou a paredes de maior rigidez por apresentarem
encaixes e a camada de argamassa serem de pequena espessura;
- a tecnologia de fabricação de tijolos prensados é bastante simples e assimilável
facilmente por comunidades carentes, podendo representar uma boa solução para a construção
de equipamentos comunitários e habitações dignas.
No que se refere às alvenarias e blocos de adobe podem-se dizer que:
- a presença de palha de folha de grama japonesa contribuiu pouco tanto para a
resistência quanto para a ductilidade dos blocos e das paredes;
78
- o aspecto das curvas carga-deformação das paredes de adobe tem aspecto não linear
mais intenso que as de tijolos prensados;
- as deformações residuais são relativamente pequenas após ciclos de carga
representando cargas de serviço, perfeitamente toleradas pelos elementos não estruturais;
- a capacidade de carga das paredes de adobe também é significativa. Com 2,60 m de
altura, em quatro ensaios, a menor tensão de fissuração esteve em torno de 0,47 MPa ao passo
que a menor tensão de ruptura subiu a mais de 0,68 MPa;
- vergas e contra-vergas de concreto armado devem ser usadas nas construções com
blocos de terra. A ruptura no caso de abertura de janela começa a ocorrer por compressão
excessiva sob aqueles elementos. Assim, maior penetração da verga e da contra-verga na
parede, maior a capacidade de carga, até certos limites. É preferível que os citados elementos
estruturais tenham a mesma penetração na parede. Esta deve ser função do cálculo.
- no anexo deste trabalho foi-se agregado uma proposta de primeira versão de norma
para construção de adobes (BARBOSA, NP; GONÇALVES, J S; GHAVAMI, K; 2005),
como também foi anexado exemplo de cálculo para construção lajeada (BARBOSA, NP;
BRASILEIRO, S; GHAVAMI, K, 2005), mostrando que uma parede com 15 cm de espessura
satisfaz à segurança para este tipo de edificação.
Finalmente pode-se dizer que a construção com adobes é provavelmente a mais barata
do mundo e pelos resultados experimentais, deveria ser muito mais difundida, e auxiliar na
minimização do problema da casa nos países em desenvolvimento. Com consumo de energia
79
mínimo, (comparado aos tijolos cozidos e demais materiais), também as classes mais
abastadas deveriam procurar a fazer renascer universalmente as construções de adobe, de
forma a reduzir o impacto ambiental causado pela construção industrializada.
5.2 - Sugestões para pesquisas futuras
Dando continuidade a este trabalho propõe-se que seja estudado:
- comportamento de pilares de tijolos de adobe
- influência da argamassa na capacidade de carga das paredes e pilares de adobe
- comportamento das paredes de adobe sob carga concentrada no topo
- resistência ao cisalhamento das paredes de adobe
- resistência à flexão das paredes de adobe
80
CAPÍTULO VI
6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, NP; GHAVAMI, K; MATTONE, R; Mesbah, A The potenciality of earth
construction to a sustainable development in the emerging countries. Pre print of papers
of 9 The International conference on the Study and Conservation of Earth Architecture, Terra
2003, Yazd, Iran, 28 Nov-2Dec 2003, pp 184-196.
WALKER, P. – Review of structural design procedures for earth building. Pre print of
papers of 9 the International conference on the Study and Conservation of Earth Architecture,
Terra 2003, Yazd, Iran, 28 Nov-2Dec 2003, pp 616-629.
BARBOSA, N P – Considerações sobre materiais de construção convencionais e não
convencionais. Publicação do Laboratório de Ensaios de Materiais e Estruturas do Centro de
Tecnologia da UFPB, João Pessoa, 2005.
BARBOSA, N P.; MATTONE, RConstrução com terra crua. I Seminario Ibero-
americano de Construção com Terra. Salvador, Ba, 16-18 set 2002.
GARZON, BS – De la construcción tradicional a la racionalización de componentes en
caña y tierra-cemento. I Seminario Ibero-americano de Construção com Terra. Salvador, Ba,
16-18 set 2002.
MINKE, G - Earth Construction Handbook: the Building Material Earth in Modern
81
Architecture. Wit Press, Southampton, England. 216 pp, 2000.
EARTH MATERIALS GUIDELINES: Soil Material And Energy, 2005. Disponível em:
<http://www.anangpur.com/mud_arch3.html>. Acesso em: 30 set. 2005.
FUNDAÇÃO CALOUTE GULBENKIAN – Arquitecturas de Terra. Lisboa, Portugal,
1993.
HOUBEN, H; GUILLAUD, H. - Traité de construction en terre. Edition Parenthèses, Mars.
França. 360 pp, 1989.
BARBOSA, N P, Construção com Terra Crua: do material à estrutura. Monografia de
concurso para Prof. Titular, Dept. de Tecnologia da Construção Civil, UFPB, João Pessoa,
PB, 1996.
BARBOSA, NP; BRASILEIRO, S; GHAVAMI, K – Comportamento Experimental de
paredes de adobe com vistas à elaboração de norma brasileira de construção de adobes.
Artigo, Portugal, 2005.
REGLAMENTO NACIONAL DE CONSTRUCCIONES – Norma Técnica de Edificación
E080 – Adobes. Lima, Peru, 2000.
BARBOSA N P; GONÇALVES, J S; GHAVAMI K – Proposta de uma norma brasileira
de construção com adobes. Anais do Sismo Adobe, Univ. Católica do Peru, Lima, maio de
2005.
82
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – NBR 8492 – Tijolo maciço de
solo-cimento. Determinação da resistência à compressão e da absorção de água. Método
de Ensaio. Rio de Janeiro, 1992.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – NBR 8949 – Paredes de
alvenaria estrutural. Ensaio à compressão simples. Método de Ensaio. Rio de Janeiro,
1985.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – NBR 6459 – Solo:
determinação do limite de liquidez– Verificação de Resistência à compressão. Método de
Ensaio. Rio de Janeiro, 1984.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – NBR 7180 – Solo:
determinação do limite de plasticidade. Método de ensaio. Rio de Janeiro, 1984.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – NBR 7217– Agregados –
Determinação da composição granulométrica. Método de ensaio. Rio de Janeiro, 1987.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – NBR 9776– Agregados –
Determinação da massa específica de agregados miúdos por meio do frasco Chapman.
Método de ensaio. Rio de Janeiro, 1987.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – NB 10837 – Cálculo de
alvenaria estrutural de blocos vazados de concreto. Rio de Janeiro, 1989.
83
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – NBR 6023 – Informação e
documentação – Referencias – Elaboração. Documentação. Rio de Janeiro, 2002.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – NBR 6026 – Legenda
bibliográfrica. Documentação. Rio de Janeiro, 1994.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – NBR 10520 – Informação e
documentação – Citações em documentos – Apresentação. Documentação. Citação. Rio
de Janeiro, 2002.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – NBR 14724 – Informação e
documentação – Trabalhos acadêmicos – Apresentação. Documentação. Rio de Janeiro,
2002.
84
ANEXOS
85
ANEXO 1 - Verificação de Norma em Casa de Interesse Social.
Considere-se uma casa de interesse social como a indicada na Figura 5. Adotando para
as paredes a espessura de 15 cm, pode-se calcular, de forma aproximada, as tensões máximas
que ocorrem nas paredes mais solicitadas.
10ª
11ª
12ª
13ª
14ª
15ª
16ª
17ª
18ª
19ª
20ª
21ª
22ª
23ª
24ª
25ª
26ª
27ª
28ª
29ª
30ª
31ª
32ª
33ª
34ª
35ª
36ª
37ª
38ª
39ª
40ª
41ª
42ª
43ª
44ª
CAMAD AS
Planta Baixa
Escala _______1/5
0
Camadas: 19,21,2
3
pr oj eçã
o
cumeeir
a
Quarto
Terraço
Sala
Quarto
B.W.C.
Serviço
Figura 5 - Casa de interesse social [4].
Considerando que haja uma laje do tipo pré-moldada sobre todos os ambientes
(armadas na direção horizontal), a parede mais carregada vai ser a central. Foi admitido peso
próprio de 2 kN/m
2
, sobrecarga de 0,5 kN/m
2
e adotado para coberta carga uniformemente
distribuída na laje de 1 kN/m
2
, resulta para carga total na laje de 3,5 kN/m
2
.
A parede central vai estar submetida a um carregamento originário da reação das lajes
sobre ela de 3,5 x 3,4 = 11,9 kN/m.
A solicitação de cálculo vai ser:
86
p
Sd
= 1,4 x 11,9 = 16,7 kN/m
A carga resistente de cálculo da parede obtida no ensaio foi de:
p
Rd
= 66/2,8 = 23,7 kN/m
Como p
Sd
< p
Rd
a segurança está satisfeita.
É conveniente verificar se a tensão solicitante de cálculo máxima não supera a
resistência de cálculo do tijolo de adobe.
A tensão máxima vai estar no pé da parede. Assim, na base dela, o peso próprio
representa um carregamento de 0,15 x 18 = 2,7 kN/m. A carga máxima será de 11,9+2,7 =
14,6 kN/m.
Nas regiões não muito próximas aos vazios das portas ou janelas, a tensão de cálculo,
segundo [3], é:
σ
Sd
= 1,4 x 14,6/(0,15x1 ) = 136 kN/m
2
= 0,136 MPa
Considerando a tensão resistente medida no ensaio, de 1,0 MPa, a tensão resistente de
cálculo vai ser:
σ
Rd
= 1,0/2,8 = 0,35 MPa , e como σ
Sd
< σ
Rd
, a segurança está satisfeita.
87
Na realidade trata-se de cálculos muito aproximados, pois na parede central (na
direção horizontal na planta da Figura 4) tem-se abertura de duas portas. Como no topo de
todas as paredes existe a cinta de coroamento, há uma redistribuição do carregamento que faz
diminuir a concentração de tensões nas vizinhanças dos vazios de portas e janelas.
REFERÊNCIAS
1 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – NBR 8492 – Tijolo maciço
de solo-cimento. Determinação da resistência à compressão e da absorção de água.
Método de Ensaio. Rio de Janeiro, 1992.
2 REGLAMENTO NACIONAL DE CONSTRUCCIONES – Norma Técnica de Edificación
E080 – Adobes. Lima, Peru, 2000.
3 BARBOSA N P; GONÇALVES, J S; GHAVAMI, K – Proposta de uma norma brasileira
de construção com adobes. Anais do Sismo Adobe, Univ. Católica do Peru, Lima, maio de
2005.
4 BARBOSA, NP; BRASILEIRO, S; GHAVAMI, K – Comportamento Experimental de
paredes de adobe com vistas à elaboração de norma brasileira de construção de adobes.
Artigo, Portugal, 2005.
88
ANEXO 2 – Proposta de Norma Brasileira de Construção com Adobe.
Barbosa Normando Perazzo
1
, Gonçalves Jameson da Silva
2
, Ghavami Khosrow
3
RESUMO
O Brasil conta com notável patrimônio arquitetônico em adobe. Com os tijolos crus, até
meados do século passado, muitas construções eram ainda feitas, sobretudo na Região
Nordeste do país. No entanto, a intensa propaganda dos materiais industrializados fez com
que esse excelente material de construção para as zonas áridas do interior do Nordeste
Brasileiro fosse sendo abandonado e hoje é até difícil encontrar pessoas que saibam manusear
a terra e fabricar adobes. Contudo, tendo em vista as vantagens dos blocos de terra crua
quando se fala em sustentabilidade da construção, há o interesse em se revitalizar a técnica
construtiva com esse tipo de tijolo. Essa revitalização passa pela necessidade de
normalização. Neste trabalho pretende-se apresentar uma proposta para norma brasileira de
construção com adobes, levando em conta a não necessidade de se considerarem esforços
horizontais atuantes nas paredes das edificações, visto que no Brasil desconsidera-se a
probabilidade da ocorrência de sismos. Tal norma procura basear-se na norma peruana, com
as devidas adaptações, considerando também a norma brasileira de cálculo de alvenaria
estrutural com blocos de concreto, NBR10837. Testes laboratoriais na Universidade Federal
da Paraíba em paredes de 2,4 m de altura mostraram que se tem uma margem de segurança
mais que adequada para as construções locais, quando as paredes de adobes são feitas com
cuidado. Assim é apresentado um texto básico para discussão, na tentativa de fazer renascer o
interesse pela milenar tecnologia construtiva com adobes.
_________________________
1
Prof. Titular do Centro de Tecnologia da Universidade Federal da Paraíba, Brasil nperazzo@lsr.ct.ufpb.br.
2
Aluno do Curso de Pós-graduação em Engenharia Urbana, Universidade Federal da Paraíba.
3
Prof. Titular do Departamento de Engenharia Civil da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
Brasil ghavami@rdc.puc-rio.br
89
ABSTRACT
Brazil has a big architectural patrimony in adobe construction. Using this kind of blocks, until
middle of the last century, many buildings were still done, mainly in the Northeast Region.
But, the very intensive publicity about the industrialized construction materials has as
consequence the abandon of the adobe technique and today it is very difficult to find people
who know fabricate adobe blocks. Besides, considering the vantages of the earth blocks to
sustainable construction, there is the interest to revitalize the adobe construction technique.
For this, standardization is necessary. This work intends to present the first proposal for a
Brazilian Adobe Construction Code, remembering that Brazil is considered non seismic zone.
The text proposed was based in Peru Adobe Standard, with some adaptations. Also Brazilian
standard about design of structural concrete blocks masonry, NBR10837 was considered.
Laboratory tests made at the Federal University of Paraíba, Brazil, in several 2,40 m high
walls, have shown that assurance is reached when adobe walls are well built. So, a basic text
is presented to discussion, trying to bring up the interest to the millenary adobe technology.
PROPOSTA DE NORMA BRASILEIRA DE CONSTRUÇÕES DE
ADOBE
1. OBJETIVO
Esta Norma fixa as condições exigíveis no projeto e execução de obras em alvenaria de blocos
de adobe, não só com vistas às construções de interesse social e equipamentos comunitários
como creches, escolas, templos, etc, de baixo custo, mas também construções ambientalmente
90
corretas, de maior padrão, que resistam com adequado grau de segurança às ações previstas de
atuarem durante sua vida útil.
Os projetos elaborados com alcance e base diferentes às considerações desta Norma deverão
estar apoiados em um estudo técnico.
2. REQUISITOS GERAIS
2.1 O projeto arquitetônico de construções de adobe deverá ser adaptado às exigências que
estão assinaladas na presente Norma.
2.2 As construções de adobe serão limitadas a dois pisos.
2.3 Nas construções com dois pisos, as paredes do pavimento térreo deverão ser duplas (com
dois tijolos) ou com adobe quadrado de pelo menos 30 cm de lado.
2.4 Não serão feitas construções de adobe sobre solos granulares soltos, sobre solos coesivos
moles, sobre argilas expansivas nem sobre aterros pouco compactados. Tampouco se deve
usar a tecnologia de construção com adobes em áreas propensas a inundações, avalanches,
aluviões, buracos de escavações, ou solos com instabilidade geológica.
2.5 Proteção das construções de adobe.
A umidade e a erosão produzida nas paredes são os principais causadores da deterioração das
construções de terra, sendo necessário a sua proteção através de:
91
Revestimentos resistentes de proteção à água nas paredes que com ela possam ter
contato.
Fundações e cimentados que evitem o contato da parede com o solo.
Calçadas perimétricas.
Beirais de coberta maiores.
Sistema de drenagem apropriado nas vizinhanças da construção.
2.5 As construções de adobe simples e de adobe estabilizado serão projetadas por um método
racional baseado nos métodos semi-probalísticos aos estados limites, admitindo-se que o
estado limite último é atingido com os materiais apresentando ainda comportamento elástico.
3. DEFINIÇÕES
Para efeito desta norma são adotadas as definições de 3.1 a 3.16.
3.1 Adobe (tijolo ou unidade de alvenaria)
Bloco maciço de terra sem cozimento o qual pode conter palha ou outro material que melhore
a sua estabilidade frente aos agentes externos.
3.2. Adobe Estabilizado
Adobe ao qual se incorporam outros materiais (asfalto, cimento, cal, etc.) com o propósito de
melhorar as suas condições de resistência à compressão e estabilidade ante a presença de
92
água.
3.3 Argamassa
Material de união dos tijolos, especificado no item 5.
3.4 Estabilizante
Material usado para melhorar performance dos blocos quanto à resistência e/ou quanto à ação
da água ou quanto a propriedades de ductilidade e tenacidade. São exemplos de estabilizante:
cimento portland, cal, emulsões asfálticas (melhoram resistência mecânica e desempenho à
água) e palhas cortadas, fibras vegetais e esterco bovino ( melhoram ductilidade).
3.5 Parede
Elemento laminar vertical, apoiado de modo contínuo em toda a sua base com comprimento
maior que cinco vezes a espessura.
3.6 Parede resistente
Parede que no projeto é considerada como suporte de outras cargas, além do seu peso próprio.
93
3.7 Parede não resistente
Parede que no projeto não é considerada como suporte de outras cargas, além do seu peso
próprio.
3.8 Pilar
Todo elemento estrutural em que a seção transversal retangular utilizada no cálculo do esforço
resistente possui relação de lados inferior a 5, valendo esta nos casos de seções retangulares,
em L, em T, em Z, em cruz, etc, prevalecendo, no caso das figuras compostas, as dimensões
de cada ramo distinto.
3.9 Cinta
Elemento de concreto reforçado com aço ou com varas extraídas de colmos de bambu, de pelo
menos 5 cm de altura e largura igual à da parede, apoiada continuamente sobre ela, com
função de amarração.
3.10 Verga
Elemento estrutural colocado sobre vão de aberturas não maiores que 1,20 m, a fim de
transmitir cargas verticais para paredes adjacentes.
94
3.11 Contra-verga
Elemento estrutural colocado na parte inferior das aberturas de janelas, prolongando-se na
alvenaria para evitar formação de trinca comumente inclinada no canto da abertura.
3.12 Coxim
Componente estrutural não contínuo, cuja função é distribuir cargas concentradas, possuindo
relação de comprimento para altura não maior que 3.
3.13 Altura livre de uma parede
Distância vertical livre entre a base da parede de adobe e a cinta de coroamento.
3.14 Largura efetiva de uma parede
Distância livre horizontal entre duas paredes perpendiculares que servem de
contraventamento.
3.15 Esbeltez
Relação entre a altura livre da parede e a sua espessura.
95
3.16 Contraforte ou enrijecedor
Elemento estrutural vinculado a uma parede resistente a fim de aumentar rigidez na direção
perpendicular à parede.
4. UNIDADE DE ALVENARIA, TIJOLO OU BLOCO DE ADOBE
4.1 Requisitos gerais
A granulometria do solo para fabricação dos blocos de adobe deve se aproximar das seguintes
porcentagens: argila 10-20%, silte 15-25% e areia 55-70%, não se devendo usar solos
orgânicos. Estes percentuais podem variar quando são fabricados adobes estabilizados. O
adobe deve ser maciço, sendo permitido que tenha perfurações perpendiculares a sua face de
assentamento, a face maior, apenas em linhas de descida de tubulações, e que não representem
mais que 12% da área total desta face.
Para seu emprego, o adobe deverá estar seco, livre de materiais estranhos, fissuras,
rachaduras, ou outros defeitos que possam comprometer sua resistência ou durabilidade.
4.2 Formas e dimensões
Os adobes poderão ser de formato quadrado ou retangular e, no caso de quinas com ângulos
diferentes de 90°, de formatos especiais.
96
As suas dimensões deverão ser ajustadas às seguintes proporções:
4.2.1 Para adobes retangulares o comprimento será aproximadamente o dobro da largura.
4.2.2 A relação entre o comprimento e a altura deverá ser entre aproximadamente 3 e 4 para 1.
4.2.3 Preferencialmente a altura deverá ser maior que 7 cm.
4.3 Massa específica
Para efeito de cálculo do peso próprio, pode-se adotar para a parede (conjunto blocos e
argamassa), o valor de 2000 kg/m
3
.
5. ARGAMASSA
As argamassas para as construções de adobe são classificadas em dois grupos:
a) Tipo I (baseado em terra com algum aglomerante como cimento, cal, asfalto, etc.).
b)Tipo II (baseado em terra semelhante à da fabricação dos adobes com palha ou fibras
vegetais).
97
Considera-se que as juntas das paredes constituem as áreas críticas, por conseguinte elas
deverão conter uma argamassa de boa qualidade.
5.1 Argamassa Tipo I
Argamassa de solo adicionado a aglomerante como cimento, cal ou emulsão asfáltica. A
quantidade de água a ser usada é aquela que permita uma trabalhabilidade apropriada.
As proporções dependem das características granulométricas dos agregados e das
características específicas de outros componentes que podem ser usados.
Argamassas ricas em cimento são muito rígidas, não sendo convenientes.
5.2 Argamassa Tipo II
A composição da argamassa deve suprir os mesmos limites dos tijolos de adobe e de nenhum
modo terá uma qualidade inferior a dos mesmos. Deve-se empregar a quantidade de água
necessária para uma mistura trabalhável.
6. ESFORÇOS SOLICITANTES
O cálculo dos esforços solicitantes é feito de acordo com os princípios da Teoria das
98
Estruturas, obedecendo-se às condições indicadas na presente Norma.
Na determinação dos esforços solicitantes devem ser verificados os estados provocados pelas
excentricidades inevitáveis devidas ao desaprumo durante a construção.
Ações a considerar
As ações permanentes são aquelas constituídas pelo peso próprio dos componentes da
estrutura, da coberta e de outras cargas fixas, se houverem.
As ações acidentais são aquelas provenientes da sobrecarga de utilização da estrutura. Na
coberta e nas lajes de coberta (se houver) pode-se adotar sobrecarga de 0,5 kN/m
2
. Em
construções residenciais de dois pisos pode-se adotar 1,5 kN/m
2
na laje do segundo piso. Em
outros tipos de construção, adotar o valor indicado na NBR 6120.
Estando as construções de adobes limitadas a dois pisos, desde que se disponham paredes
resistentes em dois sentidos, de modo a proporcionar estabilidade lateral dos componentes e
ao conjunto estrutural, a consideração da ação do vento na estrutura pode ser dispensada. No
cálculo da estrutura da coberta o efeito do vento deve ser levado em conta.
As solicitações de cálculo devem ser obtidas utilizando-se a combinação normal de ações da
NBR 8681, com os coeficientes de majoração das ações permanentes e acidentais γ
f
=1,4.
7. SISTEMA ESTRUTURAL
99
O sistema estrutural das construções de adobe será composto de:
a) Fundação
b) Paredes
c) Cintas horizontais
d) Vergas e coxins
e) Telhado
7.1 Fundação
7.1.1 As paredes de adobe são relativamente pesadas. Devem ser evitados recalques
diferenciais, causadores de patologias nas paredes. Assim as fundações só devem ser assentes
em solos que apresentem compacidade e capacidade de carga adequadas.
7.1.2 A fundação transmitirá a carga das paredes para o solo respeitando sua pressão
admissível e terá uma profundidade mínima de 40 cm, medida a partir da face inferior do piso
acabado, e uma largura mínima de 40 cm.
7.1.3 As fundações das paredes deverão preferencialmente ser de concreto ciclópico ou
alvenaria de pedra argamassada. Em áreas não chuvosas, de comprovada e impossibilidade de
inundação ou elevação do lençol freático, e de grande capacidade de suporte, pode ser
permitido dispensar-se a argamassa e preencher os furos entres as pedras com areia e água,
compactando firmemente, de sorte a se impedir qualquer movimentação das pedras.
100
Recomenda-se no coroamento da fundação a colocação de reforço longitudinal de aço ou de
bambu (Figura 1), acompanhando toda ela.
7.2 Paredes
7.2.1 A alvenaria deverá ser posta sobre camada de concreto de pelo menos 6 cm de altura,
que corte infiltrações de umidade e sirva de rodapé, conforme Figura 1.
7.2.2 As juntas horizontais e verticais não deverão exceder de 2 cm e serão preenchidas
completamente.
7.2.3 A espessura mínima das paredes resistentes deve ser 14 cm. Nas paredes não resistentes
pode-se tolerar até 12 cm, sendo preferível manter a mesma espessura das paredes resistentes,
inclusive por questões construtivas.
7.2.4 A esbeltez das paredes resistentes não deve exceder 20.
101
Figura 1 – Corte em parede e fundação de construção de adobe.
7.2.5 A largura efetiva das paredes sem enrijecedor deve ser no máximo de 20 vezes sua
espessura. No caso de paredes longas com enrijecedores ou ponto de contraventamento na
cinta superior, a distância entre eles deve ser no máximo igual aquele valor.
7.2.6 Em caso de serem projetadas paredes cujos encontros são diferentes de 90º, projetar-se-
ão blocos de formas especiais detalhando-se os encontros.
7.2.7 Os adobes das laterais das aberturas de portas e janelas e das quinas das paredes
externas devem, se possível, ser estabilizados.
7.2.8 As paredes deverão ser projetadas para resistir às ações previstas, de acordo com o
especificado na Seção 8 e considerada a Seção 9.
102
7.3 – Cintas
7.3.1 A cinta de concreto deve ser posta sobre todas as paredes, resistentes ou não, e deve ser
reforçada com aço ou, na falta deste, com varas extraídas de colmos de bambu. A armadura
mínima de aço deve corresponder a 0,4% da seção de concreto. No caso de serem usadas
varas de bambu, a percentagem de armação deve ser entre 3 e 4% da seção de concreto.
7.3.2 A altura mínima deve ser 6 cm e a espessura igual à da parede.
7.3.3 Nas paredes que vão receber o telhado ou laje de piso ou de coberta, a cinta deve ser
posicionada, de preferência, no seu topo. No caso da existência de laje, a cinta deve ter uma
altura mínima de 20 cm e ser solidária à laje.
7.4 – Vergas, contra-vergas e coxins
7.4.1 Normalmente a altura da verga corresponde à altura do tijolo. Em casos de
carregamentos mais elevados ou vãos maiores que 150 cm pode-se considerar a espessura de
dois tijolos mais a camada de argamassa entre eles.
7.4.2 Para o dimensionamento da armadura de reforço da verga, só é necessário tomar como
carregamento o peso da parte da parede compreendida no triângulo isósceles definido sobre
esta. A carga uniformemente distribuída de um pavimento acima do triangulo referido não é
considerada no cálculo da verga. Da carga de um pavimento que atue sobre a parede dentro
103
daquele triangulo, como carga uniformemente distribuída, só é considerada a parte
compreendida no triângulo conforme Figura 2 (comprimento a na Figura 2).
a) carga distribuída não considerada no b) carga distribuída a ser considerada
dimensionamento da verga apenas no trecho de comprimento a.
Figura 2 – Carga distribuída no dimensionamento de verga.
7.4.3 Para as cargas concentradas sobre vergas de portas ou de janelas que se apliquem no
interior ou na proximidade do triângulo de carga, é adotada uma distribuição a 60º (Figura 3).
Se a carga concentrada ficar fora do triangulo de carga, só deve ser considerada a carga
uniformemente distribuída dentro do vão da verga. À carga uniformemente distribuída há que
se acrescentar o peso da alvenaria situada dentro do triângulo de carga sobre a verga.
Figura 3 – Carga concentrada sobre verga: considerar parcela correspondente ao trecho a.
104
7.4.5 Contra-vergas, de preferência de concreto reforçado, devem se postas na parte inferior
das aberturas das janelas, com altura igual a do tijolo, penetrando pelo menos 30 cm além
delas.
7.4.6 Quando cargas concentradas não são aplicadas nas cintas mas em pontos da alvenaria,
coxins de concreto reforçado devem se postos sob elas, com comprimento tal que transmita
uma tensão no tijolo menor ou igual a 0,2 MPa.
7.5 Telhados
7.5.1 Os telhados deverão distribuir seu peso na maior quantidade possível de paredes,
evitando-se concentrações de esforços.
7.5.2 Os telhados serão projetados de tal modo que não produzam nas paredes, empuxos
laterais oriundos das cargas de gravidade.
7.5.4 No caso de se usar tesouras de coberta apoiadas em outros pontos que não as cintas, o
apoio deverá se feito sobre um coxim de concreto reforçado, calculado de sorte a transmitir
uma tensão máxima de 0,25 MPa na alvenaria.
7.5.5 Os beirais devem ser de no mínimo 50 cm, recomendando-se até 70 cm ou 80 cm nas
paredes mais expostas às direções preferenciais do vento.
105
8. RESISTÊNCIAS E TENSÕES DE PROJETO
8.1 Resistência à compressão do tijolo
A resistência à compressão da unidade de alvenaria é um índice da qualidade do tijolo e não
da alvenaria. Toma-se como base a resistência característica do adobe, f
ak
.
A resistência à compressão do tijolo de adobe será determinada ensaiando-se duas metades
dele cortado ao meio e sobrepostas, unidas com a argamassa Tipo I do item 5.1 (Figura 4).
Figura 4 - Ensaio de compressão do tijolo.
Deve-se ensaiar um mínimo de 6 tijolos, escolhidos aleatoriamente, estando definida
resistência característica à compressão, f
ak
como:
f
ak
= f
a1
+ f
a2
- f
a3
106
Sendo f
a1
, f
a2
e f
a3
o menor, o segundo menor e o terceiro menor valor da série de 6 tijolos
ensaiados.
O valor mínimo aceitável para f
ak
é 0,7 MPa.
8.2 Tensão resistente à compressão da alvenaria
8.2.1 Resistência característica
A resistência à compressão da alvenaria pode-se determinar por ensaios de paredes com 1,20
m de largura e 2,40 m de altura, conforme NBR 8949.
Ela também pode ser estimada a partir de:
a) ensaios de pilhas com materiais e tecnologia a usar em obra.
As pilhas serão compostas por número inteiro de adobes necessários para obter um coeficiente
de esbeltez (altura/espessura) da ordem de aproximadamente três, devendo-se ter cuidado
especial para manter sua verticalidade.
O número mínimo de adobes será de seis e a espessura das juntas não deverá exceder 2 cm.
107
As superfícies superior e inferior da pilha podem ser capeadas com pasta de cimento ou com
outro material de forma a torná-las planas. A disposição do ensaio é o mostrado na Figura 5,
conforme Norma Peruana E080.
Figura 5 – Ensaio de pilha de adobes.
O tempo de secagem da argamassa em pilhas será de no mínimo 14 dias e o número mínimo
de pilhas a ensaiar será de seis. Em locais ou períodos de umidade relativa do ar muito
elevados, o tempo de secagem deve ser aumentado para 28 dias.
A resistência característica à compressão da pilha será dada por:
f
pk
= f
p1
+ f
p2
– f
p3
Sendo f
p1
, f
p2
e f
p3
o menor, o segundo menor e o terceiro menor valor da série de 6 pilhas
ensaiadas.
b) alternativamente quando não forem realizados ensaios de pilhas, poder-se-á adotar:
108
f
pk
= 0,6 MPa
8.2.2 Tensão resistente de cálculo da alvenaria
A tensão resistente de cálculo à compressão da parede f
par,d
será obtida dividindo-se a
resistência característica do prisma pelo coeficiente de ponderação γ
m
= 2,8:
f
par,d =
f
pk
/2,8
9. VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA
A segurança estará satisfeita quando a tensão solicitante de cálculo σ
Sd
, obtida com a
combinação normal da ações da NBR 8681 (coeficiente de majoração das ações de 1,4) for
menor ou igual à tensão resistente de cálculo da parede, no ponto considerado:
σ
Sd
f
par,d
10. REFERÊNCIAS NORMATIVAS
1 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 6120 - Cargas para o
cálculo de estruturas de edificações – Procedimento. Rio de Janeiro, 1980.
109
2 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 8681 - Ações e
segurança nas estruturas – Procedimento. Rio de Janeiro. 2004.
3 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – NBR 8949 – Paredes de
alvenaria estrutural. Ensaio à compressão simples. Método de Ensaio. Rio de Janeiro,
1985.
4 REGLAMENTO NACIONAL DE CONSTRUCCIONES – Norma Técnica de Edificación
E080 – Adobes. Lima, Peru, 2000.
110
ANEXO 3 - Revisão de Procedimentos de Projetos Estruturais para
Edificações de Terra.
Peter Walker
Engenheiro estrutural & Conferencista Universitário.
Universidade de Bath
Endereço: Depto. de Arquitetura & Engenharia Civil, Universidade de Bath, Bath, UK
Código postal: BA2 7AY
Tel: 44 (01225) 386646
Fac-símile: 44 (01225) 386691
RESUMO
As edificações de terra têm seguido uma tradição própria e de sucesso por milhares de anos,
desenvolvendo soluções, usando uma gama de técnicas peculiares. Apesar de usar um
material de baixa compressão, de pouca resistência à água e comparativamente, de
movimento de umidade alta; mesmo assim grande número de prósperas estruturas de terras é
construído e continua sendo em edifícios multi-pavimentos com carregamento de porte
incluindo abóbadas e cúpulas. Uma moderna revitalização da construção de terra na Europa,
E.U.A. e Austrália têm constatado a necessidade do desenvolvimento de guias de construção
de terra e mais recentemente de códigos e padrões nacionais de normas técnicas. Vários destes
documentos incluem orientação de projeto estrutural específico para as paredes com o
carregamento portante. Este artigo revisa dez guias de construção de terra nacional e
111
internacional, códigos ou padrões que contêm orientação de projeto estrutural. Procedimentos
de projetos estruturais são resumidos e são comparados. Concluindo, são notadas atuais
limitações de concordância sobre as normas e são propostas recomendações para o
desenvolvimento futuro das mesmas.
ABSTRACT
Earth building has successfully followed a vernacular tradition for thousands of years,
developing craft solutions using a range of techniques. Despite using a material with low
strength, poor resistance to water and comparatively high moisture movement, a large number
of successful earthen structures have and continue to be built, including loadbearing multi-
storey buildings, vaults and domes. A modern revival of earth building in Europe, USA and
Australasia has seen the necessary development of earth building guides and more recently
codes and national standards. A number of these documents include specific structural design
guidance for loadbearing walls. This paper reviews ten national and international earth
building guides, codes or standards containing structural design guidance. Structural design
procedures are summarized and compared. In conclusion limitations in current understanding
are noted and recommendations for future development are proposed.
1. Introdução
As edificações de estruturas de terra têm sido desenvolvidas durante muitos séculos e
continuaram nos vinte primeiros séculos provendo abrigo para muitos povos. Estas tradições
fortes, contenciosas e peculiares, têm desenvolvido métodos construtivos e técnicas de
edificações que se adaptem à baixa resistência do material, a baixa durabilidade e a alta
capilaridade. Apesar destas evidentes limitações materiais há muitas estruturas térreas
112
impressionantes ao redor do mundo, inclusive os edifícios de dez pavimentos de adobe no
Iêmen, edifícios de terra batida na China, um bloco de apartamento de terra batida de seis
pavimentos na Alemanha, cinco pavimentos em casas de giz batido no REINO UNIDO,
mesquitas de bloco de tijolos de adobe e de minas na África, moderno bloco de terra
comprimido, abóbadas e cúpulas, e um prédio multi-pavimentos de estrutura de terra batida
estabilizada com cimento na Austrália.
O sucesso das construções de terra durante muitos séculos tem sido baseado na tradição dessa
arte. Projetos apropriados de edificação seguem regras simples estabelecidas por gerações
passadas adquiridas em cima das experiências de tentativa e erros. A prosperidade das
construções com terra têm contribuído na história para a ausência da confecção de
regulamentos, códigos de prática e padrões nacionais. Porém, o declínio de métodos
tradicionais de construção com terra, e uma perda de habilidades do ofício durante os últimos
100-150 anos, tem também sido o esteio para o desenvolvimento de instrumento de regulação
de construção nacional e internacional. Se a moderna construção com terra está a prosperar, já
não se pode confiar somente nas suas tradições de arte vernáculas, e sim requerer códigos de
prática e de construção padrões como parte de um referencial regulador habilitado.
A falta de padronização de projeto foi identificada como uma restrição fundamental para o
desenvolvimento da nova construção de terra no REINO UNIDO [1]. Em uma recente revisão
de novos projetos de construção de terra batida no REINO UNIDO, ficou um tanto claro o
risco associado com os novos trabalhos que são passados ao engenheiro estrutural [2]. Em
troca engenheiros estruturais buscam orientação de projetos já licenciados para minimizar o
risco deles. Este artigo revisa as atuais recomendações de projetos estruturais para paredes de
terra. Estes incluem diretrizes de projeto e códigos nacionais da Austrália, Alemanha, Nova
113
Zelândia, Espanha, E.U.A. e Zimbábue. Traça filosofias e aproximações das propriedades dos
materiais, como compressão e esforço cortante, comparadas ao bloco de barro e à construção
de terra batida. São comparados os procedimentos de documentação de projeto de diferentes
nações para conferir a resistência de carga vertical e lateral das paredes. Em conclusão
limitação de entendimentos corrente é notada e são propostas recomendações para o seu
desenvolvimento futuro.
2. Projeto estrutural - considerações gerais
As paredes estruturais de terra têm que desenvolver resistência e dureza suficientes para se
opor à ação de cargas verticais e laterais. As edificações de terra estão sujeitas às cargas
mortas verticais (peso próprio dos elementos de construção), cargas vivas de uso no prédio
(mobília, pessoas), e cargas de ventos laterais. Em muitas regiões, incluindo o sul da Ásia,
China, e Nova Zelândia, os edifícios de terra também podem estar sujeitos a carregamento por
abalos sísmicos. À medida que as edificações acrescentam altura de proteção para as paredes
de terra a partir da chuva ofertada por espalhamento e, estendendo o seu beiral de telhado que
é pequeno, potencialmente reduz-se a força de desgaste da parede causado pelo maior
conteúdo de umidade.
A tradição vernácula teve tanto êxito, em parte, porque em muitos edifícios de terra as tensões
desenvolvidas dentro de paredes sob de condições de carga normal estão dentro das
capacidades modestas do material. Por exemplo, em um edifício residencial de dois
pavimentos, com 5m de pisos de madeira suspensos, afirma-se que o máximo carregamento
vertical aceito é de aproximadamente 25-30 kN/m. Para 300 mm de espessura de paredes de
terra isto se compara a uma tensão uniforme de compressão de 0,1 N/mm2, bem dentro da
114
capacidade da maioria dos materiais das construções de terra. Tensões localizadas na região
de portes, por exemplo, e debaixo de cargas excêntricas fica claro que esse valor excede.
Semelhante à tradicional construção de tijolos, porém, tais níveis baixos de tensão dão origem
a regras geométricas de construção entre outras considerações, como conforto térmico e a
construtibilidade que são projetos administrativos de execução da construção. Regras de dedo
polegar para espessuras mínimas de parede, máxima esbeltez de parede, altura mínima acima
do nível de chão e proteção de beiral evolui a um projeto de arte refinado. Estas regras têm
sido freqüentemente incorporadas aos guias modernos de projetos.
A capacidade de carregamento de uma parede de terra é influenciada por vários fatores,
incluindo:
Propriedades dos materiais Geometria das paredes Carregamento
Força de resistência Relação de Esbeltez
(Altura/espessura)
Excentricidade
Densidade Espessura Taxa de aplicação
Conteúdo de umidade Comprimento Área e posição de carga
Trabalhabilidade Abertura Direção de carga e duração
Propriedades de Morteiro e
compatibilidade com blocos
(alvenaria de terra)
Restrição (Apoios vertical e
horizontal)
Pré-compressão
União de padrões (alvenaria de
terra)
Verticalidade (aprumo)
Rachaduras (encolhimento)
Idade
Na maioria dos casos interessa ao projeto de alvenaria de terra o último carregamento ao invés
da checagem de sua funcionalidade (inclinação, vibração). Onde cargas são compartilhadas
entre paredes de terra e outros elementos de porte de carga (por exemplo armação de
madeira), considerações de surgimento de movimento diferencial pelo encolhimento por
secagem e rastejamento são importantes preocupações para o projeto estrutural. A falta de
dados seguros sobre encolhimento e rastejamento, e a incerteza com emprego dos diferentes
materiais, podem fazer disto importantes riscos ao projeto.
115
A umidade excessiva deverá ser evitada, pois é prejudicial ao carregamento. As paredes de
terra deverão ser bem ventiladas para prevenir a percolação de umidade e deverão ser
protegidas contra chuva de vento dirigido e outras fontes de água (tubos de dreno). Onde
inundação é um risco reconhecido, as alvenarias deverão ser construídas em plano elevado.
A carga de compressão do material é tipicamente avaliada testando o tijolo individual
cilindros ou blocos (espiga de milho, terra batida) debaixo de compressão uniaxial. A carga de
compressão dos materiais é influenciada por muitos fatores, o mais importante é o solo do
qual se classificam suas propriedades constituintes pela granulometria, densidade (esforço de
compactação), ensaio de umidade, e o uso de estabilizador (cimento, cal) e reforço de fibras
(palha, linho). Os materiais de terra, a não ser que se estabilizem com ensaios de cimento, eles
são geralmente empregados com os materiais secos.
Em tijolo de bloco de terra, como adobe e bloco de terra comprimido de construção, o teste de
controle de qualidade para avaliação de carga é empreendido prontamente em unidades
individuais antes de construção. Porém, em construção monolítica, como terra batida, o teste é
requerido em corpos de prova cilíndricos ou cubos. Também tem sido usado o teste de
qualidade de paredes monolíticas acabadas com testes não-destrutivos com dispositivos de
repercussão.
3. Documentos de projetos nacionais para edificações de terra
3.1 Geral
Embora diretrizes escritas para construção de terra fossem publicadas em torno de 200 anos
116
[3], a maioria delas foi produzida nos últimos 50 anos ou menos. A maioria das publicações
prevê o consenso da seleção de materiais, enquanto que construindo o processo e os detalhes
de construção têm pouca ou nenhuma orientação específica para o projetista estrutural. Um
número pequeno de notas de orientação de desenhos estruturais, porém, foi publicado
mundialmente para edifícios de terra durante os últimos 20 anos, incluindo na Austrália
[4,5,6], Nova Zelândia [7], Espanha [8], E.U.A. [9], Alemanha [10] e Zimbábue [11]. O
fundamento para cada um destes documentos é brevemente resumido abaixo, como mais uma
informação detalhada de projeto específico onde depois se confere os dados.
O projeto estrutural confere às alvenarias de terra variações entre simples recomendações para
a força de compressão mínima do material e o simplificado geométrico para julgamento e/ou
concordância de regras (por exemplo limite de esbeltez das paredes e espessura mínima) para
mais detalhes seguem ambos cálculos de tensão admissível ou métodos de projetos de
condição baseados em aproximações usadas para o tijolo estrutural. A razão por se adotar os
códigos de projeto de tijolo de construção de terra crua provavelmente é baseada acerca da
semelhança de tecnologia com adobe e bloco de terra comprimido de construção. A função
estrutural de paredes de terra monolíticas, como espiga de milho e terra batida, também é
semelhante a paredes de tijolos.
3.2 Documentos nacionais
No total, dez documentos de referência com recomendações específicas para projeto estrutural
de blocos de terra e terra batida foram considerados, três da Austrália, Nova Zelândia, E.U.A.,
e Zimbábue, bem como, dois documentos internacionais escritos em inglês para bloco de terra
comprimido de construção [12, 13]. Mais adiante foram incluídos dois da Alemanha e
117
Espanha seguindo uma tradução parcial. O conteúdo, desenvolvimento e estados de cada um
destes documentos são brevemente resumidos abaixo. Providências partidas da Austrália,
Nova Zelândia e Novo México refletem freqüentemente em seus códigos o uso comum de
estabilização de cimento nesses países.
Em várias épocas um número de outros países produziu códigos ou documento de referência
nacional para construção com terra. De acordo com Houben & Guillaud [14] esses incluem a
França, Índia, Tanzânia, Moçambique, Marrocos, Tunísia, Quênia, Costa de Marfim, México,
Brasil, Peru, Turquia e Costa Rica.
3.2.1 Austrália
Austrália foi um os países que mais cedo desenvolveu um documento de referência nacional
de construção de terra, adobe coberto, bloco comprimido e terra batida. O Boletim 5 [4] foi a
primeira publicação em 1952, com três edições atualizadas subseqüentes em 1976, 1981 e
recentemente a quarta edição em 1987, publicada por CSIRO. O Boletim 5 fixa as "exigências
e as capacidades" de construção de terra.
Algumas providências do Boletim 5, incluindo valores estruturais para projeto de parede de
terra, é referência no Código de Edificação da Austrália.
O Manual de Construções de Terra australiano foi publicado pelas Normas Australianas em
agosto de 2002 [6]. O manual fixa os princípios e recomendação de diretrizes de projeto com
ligeiros carregamento, principalmente de edifícios de um e de dois pavimentos, construído
usando estabilizante em parede e pisos de terra. O Capítulo 4 fixa as exigências de
desempenho de paredes de terra em cumprimentos a durabilidade e a integridade estrutural e
118
provê diretrizes para o projeto efetivo de paredes de terra com ou sem reforços.
Em 2001 a Associação dos Construtores de Terra da Austrália publicou um projeto de
documento que esboçava as diretrizes de projeto da organização com propostas alternativas
para adobe e construção de terra batida [5]. As diretrizes de projeto propostas incluíam
orientação dos materiais apropriados e métodos para avaliação. O manual de projeto para terra
batida incluía fundamentos, técnica do teste de umidade, aberturas, limites de esbeltez de
parede, padieira, juntas, e detalhes indicados para conexões. Fazer vigorar o documento é
preciso pois ainda permanece como proposta de projeto.
3.2.2 Alemanha
A Alemanha Ocidental foi um dos primeiros países no mundo a preparar padrões de norma
para construção com terra. Documentos que cobrem a construção de terra, incluindo de terra
batida, foram publicados entre 1947 e 1956 [14]. Porém, estes padrões foram retirados em
1970. O moderno ‘Lehmbau Regeln’ (regulamento de construção com terra) foi publicado em
1999 [10]. Embora faltando o status de um padrão nacional DIN o Lehmbau Regeln provia
um documento de referência nacional que foi subseqüentemente referenciado nos
regulamentos de controle de edificações de alguns governos regionais. O Capítulo 4 do
regulamento esboça procedimentos de projeto para paredes estruturais de terra, inclusive os
valores de consenso das resistências de material, dimensões de parede, aberturas e construção.
3.2.3 Nova Zelândia
Na Nova Zelândia, os projetos de construção de paredes com materiais de terra solta são
119
padronizados pelos três códigos, publicados em 1998 por Standards New Zealand (Padrões da
Nova Zelândia) NZS 4297:1998 [7] que cobrem os projetos de engenharia de edificações de
terra. A norma especificamente fixa os métodos de projetos estruturais para paredes de terra
até uma altura máxima de 6,5m. A norma padrão fixa os critérios de desempenho para
durabilidade, resistência aos esforços, retração e corrente térmica e dilatação calorífica dos
elementos da terra. O guia de orientação é provido do cumprimento sobre as considerações até
o último estado limite de utilização das flexões de projeto, com ou sem carga axial, e esforço
cortante. Reforço e ancoragem devem ser providos de detalhes nas exigências para o projeto
de fundação.
A padronização das soluções para paredes, diafragmas estruturais, fundações, vigas de
cintamento e vergas, controle de juntas e aberturas e complementos estão fixados em NZS
4299:1998 [6]. A extensão é limitada para as paredes de terra com altura máxima de 3,3m ou
menos e depende do fator de zona de terremoto, com limitações adicionais em área de piso,
com carregamento vivo, e fundações construídas no plano.
3.2.4 Espanha
Em 1992, o Ministério dos Transportes e Serviços Públicos da Espanha publicou um
documento de orientação para o projeto e construção de estruturas de terras [8]. O documento
tem cinco seções principais e o foco principal está em terra batida, embora referências e
comparações com técnicas de adobe também são determinadas. A Seção dois detalha os
princípios de projeto para as paredes de terra, principalmente por compressão, tensão e
cintamento, incluindo orientação detalhada para cálculos estruturais baseada em projeto
semelhante de paredes de tijolos.
120
3.2.5 E.U.A.
O Estado do Novo México dos EUA tem o seu próprio código de edificações para adobe e
terra batida [9]. São providos limites mínimos para espessura de parede, esbeltez da parede e
comprimento entre as travas laterais. A força mínima de compressão de blocos de adobe
também é especificada. O código deve ser usado junto com todos os outros padrões de
edificações aplicáveis, como o Uniform Building Code (Código de Construção Uniforme).
3.2.6 Zimbábue
O Código Padrão de Prática para Estruturas de Terra Batidas do Zimbábue foi publicado em
2001 [11]. O padrão consiste de seis seções e mais apêndices. A quarta seção detalha o
projeto da superestrutura como o foco principal na força de compressão, absorção de água e
erosão pelo tempo das paredes de terra, inclusive detalhes para a inspeção visual. A quinta
seção se concentra na estabilidade estrutural das paredes e ainda na seção final dá orientação
no detalhe e acabamento dos elementos de terra.
3.2.7 Internacional
Em 1995 a CRATerre-EAG publicou um manual de projeto e construção para blocos de terra
comprimida [13]. Além de muito conselho prático em unir padrões e exemplos de edificações
de bloco de terra comprimido, o manual inclui breves diretrizes para projeto estrutural sob
carregamento vertical, inclusive com a provisão para a excentricidade de carga.
Padrões de normas regionais para blocos comprimidos de terra [12], provêem produção,
121
orientação de projeto e construção de alvenaria de tijolo comprimido de terra sob carga. A
orientação para o projeto estrutural é limitada em grande parte de recomendações para
espessuras mínimas de parede (140 mm) e a mínima força de compressão para o bloco seco
(pelo menos dez vezes a força de compressão nominal do tijolo seco).
4. Projeto estrutural
Há duas aproximações claras adotadas pela prática e diretrizes de códigos de projetos
estruturais. No método simplificado, adequado para a maioria das construções de baixo
pavimento e ligeiro carregamento, a suficiência estrutural é assegurada por se conhecer as
especificações para mínima resistencia de material junto com os limites geométricos, como
espessuras mínimas e máxima esbeltez [4,5,10,11,12]. Em contraste, uma aproximação mais
rigorosa é adotada pela Austrália [6], Nova Zelândia [7], Espanha [8] e CRATerre [13] nas
documentações de projeto. Como mencionado inicialmente, esta aproximação de projeto
geralmente tem sido adotada a partir do desenvolvimento do conhecimento para o barro
cozido e bloco de tijolo de concreto [16, 17, 18]. Nos projetos seguintes várias propriedades
dos materiais, exigências de suficiência estruturais, e procedimentos de projeto para terra
batida e construção de bloco de terra, são esboçados e comparados.
Alguns documentos de projeto recentes [6,7] têm adotado a filosofia de projeto do estado
limite que agora é amplamente adotada para o projeto de outros materiais estruturais.
Ultimamente, o projeto com cargas no estado limite são adotadas e as características das
propriedades dos materiais são obtidas através de fatores de redução. Em contraste, a tensão
admissível de projeto usa as propriedades características dos materiais e suas cargas de
serviço.
122
4.1 Propriedades de projeto
Valores gerais de projeto para compressão, força de flexão e esforço cortante das paredes de
terra estão disponíveis nos códigos publicados. Estes valores tendem a ser conservadores e
como tal, os projetistas podem empreender testes para estabelecer as propriedades de
materiais específicos.
4.1.1 Compressão
Forças mínimas de compressão dos materiais (blocos ou cilindros) foram especificadas
através de vários documentos e são resumidos na Tabela 1. Em largo acordo estas exigências
mínimas são usadas junto com exigências de suficiência estruturais para procedimentos de
projetos estruturais simples.
São esboçados valores de projeto para tensões de compressão em paredes de terra na Tabela
2. Tensões de funcionamento admissíveis variam entre 0,1 e 0,5 N/mm
2
que dependem de
condição de umidade. Os valores característicos têm valores bem parecidos apesar de serem
resistência dos materiais, em oposição às tensões de trabalho, para o último estado limite de
projeto. Valores de projeto são normalmente determinados para as condições secas e a
quantidade de umidade do elemento de projeto é esperado para ser significativamente maior
que as condições ambiente de ar-seco para qualquer parte de sua ocorrência, onde as forças de
compressão para bloco comprimido estabilizado e terra batida podem tipicamente ser reduzida
em torno de 50%.
4.1.2 Flexão
123
São resumidos valores de projeto para flexão, para tensões e forças de trabalho na Tabela 3.
Como os valores esperados são muito mais baixos que a tensão de compressão correspondente
àqueles valores se acentuam e refletem a variabilidade na qualidade. Para 3 m de altura de
parede de terra, a pré-compressão das tensões na base se acentua e haverá uma expectativa de
ser de pelo menos duas vezes o valor da força de flexão, valores dados na Tabela 3.
4.1.3 Cortante
Valores de tensão de esforço cortante básico para paredes de terra também são baixos (zero ou
se aproxima ao zero), Tabela 4. Porém, capacidade de esforço cortante adicional está
disponível por resistência de fricção [6], com coeficientes de projeto de fricção em paredes de
terra entre 0.2 e 0.3.
4. 1.4 Módulo elástico
São resumidos módulos elásticos para paredes de terra na Tabela 5. Estes são tipicamente 2 -
10% dos valores esperados para tijolos e 3-5% para madeira. Quando paredes de terra
compartilham uma função de carregamento portante por outros elementos, como uma
armação de madeira, a maior "redução de elasticidade" sob carga, como também a retração de
encolhimento por secagem, poderia conduzir a transferência de carga significante para o outro
elemento próprio da construção, de maior rigidez.
4.2 Suficiência estrutural
4.2.1 Espessuras mínimas de parede
124
Recomendações para espessuras mínimas de parede são determinadas na Tabela 6. Com
exceção das paredes maciça de terra comprimida a espessura é em geral aceita entre 200 e 300
mm. Praticas de construção, conceitos estruturais, e outros assuntos regem as espessuras de
parede. Geralmente resistências maiores e a pré-fabricação dos blocos de terra comprimidos
permitem paredes mais estreitas.
4.2.2 Comprimento máximo de parede
O máximo comprimento recomendado de parede entre restrições é determinado na Tabela 7.
Na ausência de checagens mais rigorosas por carregamento lateral estes devem prover a
estabilidade da parede.
4.2.3 Índice de Esbeltez de parede
Combinado com exigências de resistência do material e mínima espessura de parede,
especificações para esbeltez máxima de parede permitem projetos simples de paredes de terra
sem cálculo rigoroso. A maioria das recomendações ignora qualquer restrição provida por
pisos e telhados e calcula a esbeltez simplesmente em termos de altura de parede e espessura.
Porém, procedimentos seguintes para construção de tijolos e outras recomendações definem o
índice de esbeltez em termos de altura efetiva (ver abaixo) e espessuras efetivas (paredes
sustentadas).
4.3 Projeto para compressão combinada com flexão
O Manual de Construção de Terra australiano [6], o Padrão 4297 de Nova Zelândia [7],
125
Guillaud et al [13] e o código espanhol [8] fixaram procedimentos para conferir a capacidade
de carregamento vertical como uma função de relação de esbeltez, excentricidade de carga e
capacidade de compressão de seção básica. Os procedimentos estão baseados nos
desenvolvimentos das paredes de tijolos estruturais.
Forças Verticais e de flexão são combinadas no topo e fundos da parede considerando a força
vertical final (t) como agindo numa excentricidade (e) estática equivalente. A disposição mais
desfavorável de ações impostas deve ser considerada. A excentricidade estática equivalente
(e) a qualquer ponto na parede geralmente não deve exceder t/6 abaixo da pior condição de
carga [6,7].
4.3.1 Relação de esbeltez
A relação de esbeltez (S
r
) é determinada por: S
r
= H
eff
/ t
eff
onde altura efetiva é uma função de restrições laterais na base e topo da parede e espessuras
efetivas dependem de tamanho e espaçamento de sustentação (Guillaud et al, 1995). Os
coeficientes de altura efetiva são as seguintes:
- altura efetiva, H
eff
= 0,75 H, para uma parede lateralmente apoiada e contida de rotação no
topo e embaixo.
- altura efetiva, H
eff
= 0,85 – 0,0875H, para uma parede lateralmente apoiada no topo e fundo
contidas de rotação ao longo de pelo menos um destes.
126
- altura efetiva, H
eff
= 1,00 H para uma parede lateralmente apoiada mas de rotação livre em
ambos topo e fundo.
- altura efetiva, H
eff
= 2,00 H para uma parede lateralmente apoiada e a rotação contida
somente ao longo de sua extremidade de fundo.
A menos que a parede tenha a sua espessura efetiva na sustentação de carregamento, ela é tida
como espessura de parede real; coeficientes para carregamentos de sobrecargas geralmente
seguem essas publicações para tijolos [16] e não serão considerados aqui.
4.3.2 Capacidade de Compressão
Para que uma força de compressão seja suficiente em uma parede, a mesma tem que satisfazer
a exigência básica seguinte:
F
d
K F
0
Onde F
d
= força de compressão de projeto
F
0
= capacidade de compressão básica do corte transversal = f
c
.A
K = fator de redução de esbeltez e excentricidade, depende da relação de
esbeltez e da excentricidade de carga.
4.4 Capacidade de flexão fora do plano das paredes
127
4.4.1 Geral
Onde as paredes de terra serão projetadas para resistir forças passageiras de curto prazo de
fora de seu plano, o Manual de Construção com Terra australiano [6] recomenda que elas
deveriam flexionar somente a capacidade vertical, a menos que testes apropriados possam
demonstrar o caso contrário. Na norma NZS 4279 [7], permite-se bem a consideração de
flexão horizontal.
O projeto de uma parede de terra não reforçada para resistir às ações de flexões verticais
(flambagem) de natureza passageira de curto prazo que inclui cargas de vento de fora de plano
ou forças semelhantes, em qualquer caso [6]:
(a) satisfaça exigências de flexões combinadas e de compressão; ou
(b) satisfaça a seguinte relação sob cada combinação de simultaneidade de ação do
momento de flexão vertical de projeto (M
dv
) e de força de compressão de
projeto (F
d
) no corte transversal sob consideração:
M
dv
= M
cv
onde: M
cv
= capacidade de momento de dobra vertical de parede de terra.
O projeto do momento de flexão (frambagem) inclui ação de flexão de excentricidades de
carga vertical (M
dv
) ou momentos de flexão aplicadas nas extremidades da parede.
128
4.4.2 Capacidade de momento de flexão vertical
A capacidade de momento de flexão vertical de uma parede de terra sem reforço é
determinada por:
M
cv
= (f'
t
+ f
d
) Z
onde: f
d
= tensão de compressão de projeto no corte transversal.
4.5 Projeto de esforço cortante
O projeto de um corte transversal em uma parede de terra não reforçada para resistir o
esforços cortantes é empreendido para satisfazer a relação seguinte sob cada combinação
simultânea de ação de projeto de força cortante (V
d
) e tensão mínima de compressão de
projeto (f
d
):
V
d
V
o
+ k
v
f
d
A
v
onde:
V
o
= esforço cortante básico da seção; tomado como zero, a menos que se mostre o
contrário através de teste.
Av = área de seção corte transversal resistente ao esforço cortante
k
v
= fator de corte(0,20-0,30).
129
5. Resumo e conclusões
As estruturas de terra têm uma longa tradição da arte na qual soluções evoluíram para fazer o
melhor uso das propriedades dos materiais disponíveis. Mais recentemente, a orientação de
projeto estrutural desenvolveu-se nos últimos cinqüenta anos. Os procedimentos foram
revisados brevemente em dez documentos. Os procedimentos de projetos estruturais seguem
dois modos. O método simples, enquanto seguindo uma tradição vernácula, especifica a
resistência mínima do material e regras geométricas para os projetos de alvenaria. Uma outra
de aproximação mais rigorosa, segue procedimentos desenvolvidos para projeto de alvenaria
estrutural na qual as paredes são conferidas separadamente em suas compressões, flexões
(flambagem) e esforço cortante. Estes procedimentos seguem a tensão admissível ou as
condições limite das filosofias de projeto. Exigências de espessura mínimas de parede para
muros externos são em geral aceitos, enquanto refletindo os métodos de construção comuns.
Valores de tensões de forças atuantes de projeto de parede são geralmente bem parecidos em
uma gama de guias de diferentes projetos. A maior variação é mostrada nas máximas relações
de esbeltez das paredes esboçadas. Durante esta revisão foi identificada uma escassez geral de
dados experimentais para o comportamento dos carregamentos de paredes de terra sob o
carregamento vertical e lateral. Dados de retração e rastejo de paredes de terra geralmente
também, estavam faltando. O desenvolvimento de projeto estrutural exige mais uma adicional
pesquisa experimental e analítica para melhorar o entendimento e ajudar a desenvolver
soluções inovadoras.
130
Tabela l. Exigências de tensão de compressão mínima dos materiais.
Material Tensão de Compressão (N/mm2) Referência
Terra batida e bloco de terra comprimido 2 (livre) 4
Terra batida e tijolo de adobe 1 (a 28 dias)
Terra batida e tijolos de adobe 2 10
Terra batida 1,5 (construção geral)
2 (altura de parede 3-6 m)
11
Bloco de terra comprimido 2 (seco)
1 (úmido)
12
5
Tabela 2 Resumo de tensões de compressão de projeto para paredes de terra.
Material Tensão de compressão de projeto (f
c
) (N/mm2) Referência
Parede de terra 0,25 ou
0,2 x força de compressão do material.
Permitido dobrar sob orientação de referencia
4
(tensões admissíveis de
trabalho)
Tijolo de adobe (seco)
Bloco de de terra
comprimido e estabilizado
com Cimento (seco)
Terra batida (seco)
0,10 – 0,30
0,30 – 0,50
0,40 – 0,60
* Condições de baixa umidade reduzem a
resistência dos materiais estabilizados com
cimento a 50% (a menos que se apresente testes
em contrário), e até mesmo próximo de 100%.
6
(forças características)
Paredes de terra (grau
padrão)
0,5 7
(força característica)
Terra batida e tijolos de
adobe
0,2 (seco)
0,l (úmido)
8
(tensões admissíveis de
trabalho)
Paredes de terra 0,3-0,5 10
Tabela 3. Tensões de flexão de projeto para paredes de terra.
Material Flexural de desígnio
acentuam (f't) (N/mm2)
Referência
Paredes de terra 0 4
(tensão admissível de trabalho)
Paredes de terra 0
a menos que se apresente
testes em contrário
6
(forças características)
Paredes de terra (grau padrão)
Alvenaria ligando força de
resistência à tensão de flexão
0,02
0,1
7
(forças características)
Terra batida e tijolos de adobe 0,02 (seco)
0,01 (úmido)
8
(tensões admissíveis de trabalho)
131
Tabela 4. Projeto de esforço cortante básico para paredes de terra.
Material Tensão de projeto de esforço cortante (fv) (N/mm2) Referência
Paredes de terra 0,01 + 0,0l d
(onde é parede profundidade 4; d não maior que 0,5 m).
4
(tensão admissível de
trabalho)
Parede de terra
(grau padrão)
0,08
(vento e carga sísmica 6 com resposta elástica)
(carregamento sísmico flexível limitado) (valores
característicos)
6
(forças características)
Terra batida e
tijolos de adobe
Tensões de trabalho
0,025 (seco)
0,01 (umido)
7
(forças características)
Parede de terra 0
a menos que se apresente testes em contrário.
8
(tensões admissíveis de
trabalho)
Tabela 5. Módulo elástico para paredes de terra.
Material Modulus elástico (N/mm2) Referência
Paredes de tijolo de adobe
Paredes de terra batida
200
500
6
Parede de terra (grau padrão) 300 fc 7
Tabela 6. Exigências de espessuras mínimas de parede.
Material Espessuras de parede (mm) Referência
Paredes de terra 250 4
Terra batida e tijolo de adobe Dependendo de altura de parede:
200-300 (externo) 125-300(internal)
5
Paredes de terra 200 (externo) 125 (interno) 6
Terra batida e tijolos de adobe 240 10
Terra batida 300 11
Bloco de terra comprimido 140 (com carregamento)
90 (sem carregamento)
12
Tabela 7. Recomendações de restrição de comprimento máximo de paredes.
Material Comprimento de parede (m) Referência
Paredes de terra Comprimentos de parede dados para diferentes velocidades de
vento e espessura de parede
4
Terra batida e tijolo de
adobe
Comprimentos de parede não maior que 2,7-71m que
dependem de espessura de parede, altura e aplicação
5
Terra batida & bloco de
terra comprimida.
Tijolo de adobe
Não maior que 30 X a espessura Não maior que 20 X a
espessura (reduzido para até 40% em áreas sujeito a atividade
sísmica)
6
Terra batida 9 11
132
Tabela 8. Recomendações de esbeltez máxima de parede.
Material Esbeltez Referência
Paredes de terra Alturas de parede dadas para diferentes velocidades de vento e
espessuras de parede
4
Terra batida e tijolo
de adobe
Altura/espessura não maior que 20-23,6 (dependendo de aplicação e
espessura)
5
Paredes de terra Paredes livres: Altura/espessura adquire valor maior que 10 (tijolo
de adobe) ou 10 (terra batida ou bloco de terra comprimido-BTC),
Paredes confinadas: Altura/espessura não maior que 14 (tijolo de
adobe) ou 18 (terra batida ou BTC)
6
Paredes de terra Altura efetiva/espessura efetiva não obtida maior que 18 7
Terra batida e tijolo
de adobe
Altura efetiva/espessura efetiva não obtida maior que 12 - 18 8
Terra batida e tijolos
de adobe
Altura /espessura não obtida maior que 20 10
Terra batida Altura /espessura não ralador que 8 (livre ao longo de extremidades)
ou 12 (confinada ao longo de extremidades)
11
Bloco de terra
comprimido
Altura /espessura não obtida maior que 20 12
Bloco de terra
comprimido
Altura efetiva/espessura efetiva não obtida maior que 20 13
Tabela 9 Esbeltez e Fator de Redução de Excentricidade [6,7].
Fator de redução (K)
Relação de excentricidade máxima para espessuras (e
max
/ t)
Índice de Esbeltez
(S
r
)
0,05 0,10 0,167
6 1,00 [1,00] 0,78 0,63 [1,00]
8 0,94 [0,92] 0,73 0,60 [0,92]
10 0,88 [0,84] 0,67 0,55 [0,82]
12 0,82 [0,76] 0,62 0,51 [0,72]
14 0,76 [0,67] 0,56 0,45 [0,62]
16 0,70 [0,58] 0,51 0,40 [0,52]
18 0,64 [0,50] 0,45 0,36 [0,42]
20** 0,58 0,40 0,31
* Valor em tabela oriundos de Guillaud et al [13]. * * Manual de Construção com Terra Australiano [6].
Referências
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2 MANIATIDIS, V.; WALKER, P. A review of rammed earth construction. DTi Partners
133
in Innovation 'Developing rammed earth for UK housing' report. l 08pp. 2003.
3 COINTERAUX, F. Du nouveau Pisé ou L 'art de faire le pisé par appareil. Paris. 1806.
4 MIDDLETON, G.F. Bulletin 5. Earth wall construction. 4th Edition, CSIRO Division of
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5 EARTH BUILDING ASSOCIATION OF AUSTRALIA. Earth building book. Draft Code
05/01 . EBAA, Wangaratta, Australia. 2001.
6 STANDARDS AUSTRALIA HB 195. The Australian Earth Building Handbook.
Sydney, 1 51 pp. 2002.
7 STANDARDS NEW ZEELAND NZS 4297. Engineering design of earth buildings.
Wellington, New Zealand. 1998.
8 MINISTERIO DE OBRAS PÚBLICAS Y TRANSPORTED. Bases Para el Diseña y
Construction Con Tapial, Centro de Publicaciones, Secretaria General Tecnica, Ministerio
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9 NEW MEXICO ADOBE AND RAMMED EARTH BUILDING-CODE. Published by
Regulation & Licensing Department, Construction Industries Division, General Construction
Bureau, Santa Fe, New Mexico. 199l..
10 LEHMBAU REGELN. BEGRIFFE; BAUSTOFFE; Bauteile. Friedr. Vieweg & Sohn
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Verlagsgesellscahaft mbH, Braunschweig/Wiesbaden, Germany. 1999.
11 STANDARDS ASSOCIATION OF ZIMBABWE. Rammed Earth Structures, SAZS
2001 724. 2001.
12 CENTRE FOR THE DEVELOPMENT OF INDUSTRY. Compressed earth blocks:
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13 GUILLAUD, H.; JOFFROY, T.; ODUL, P.; CRATerre-EAG. Complessed earth blocks:
Volume II. Manual of design and construction. Vieweg publications, Germany. 1995.
14 HOUBEN, H.; GUILLAUD, H. Earth construction: a comprehensive guide. IT
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15 STANDARDS NEW ZEALAND NZS 4299. Earth buildings not requiring specific
design. Wellington, New Zealand. 1998.
16 BRITISH STANDARD 5628-l. Code of practice for use of masonry - Part 1:
Structural use of unreinforced masonry. BSI, London. 1992.
17 STANDARDS AUSTRALIA 3700-2001. Masonry structures. Standards Australia,
Sydney, Australia. 2001.
18 MINISTERIO DE OBRAS PÚBLICAS Y TRANSPORTES. Muros resistentes de
fábrica de ladrillo. NBE FL-90.
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