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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA URBANA - PPGEU
FABIANA PADILHA CARNEIRO
DIAGNÓSTICO E AÇÕES DA ATUAL SITUAÇÃO DOS
RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO NA CIDADE
DO RECIFE.
João Pessoa - PB
Março – 2005
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FABIANA PADILHA CARNEIRO
DIAGNÓSTICO E AÇÕES DA ATUAL SITUAÇÃO DOS
RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO NA CIDADE
DO RECIFE.
Área de Concentração:
Gerenciamento e Planejamento do Uso de Água e
Resíduos
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Urbana -PPGEU da
Universidade Federal da Paraíba, como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do título de
MESTRE EM ENGENHARIA URBANA.
Orientador: Prof. Dr. Aluísio Braz de Melo
Co-Orientador: Prof. Dr. Béda Barkokébas Jr.
João Pessoa – Paraíba
Março de 2005
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FABIANA PADILHA CARNEIRO
DIAGNÓSTICO E AÇÕES DA ATUAL SITUAÇÃO DOS RESÍDUOS DE
CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO NA CIDADE DO RECIFE.
Apresentada ao programa de Pós-Graduação em
Engenharia urbana do Centro de Tecnologia da
Universidade Federal da Paraíba, em 18 de março
de 2005.
BANCA EXAMINADORA:
__________________________________________
Prof. Dr. Aluísio Braz de Melo
Orientador
PPGEU/UFPB
__________________________________________
Prof. Dr. Béda Barkokébas Jr.
Co-Orientador
POLI/UPE
__________________________________________
Profa. Dra. Claudia Coutinho Nóbrega
Examinadora Interna
PPGEU/UFPB
__________________________________________
Prof. Dr. Emerson de Andrade Marques Ferreira
Examinador Externo
UFBA
iv
AGRADECIMENTOS
Para a conclusão deste trabalho foram indispensáveis a colaboração e o incentivo de diversas
pessoas e entidades, seja de forma direta ou indireta. Dessa forma, muitos são os
agradecimentos que precisam ser feitos, dentre os quais estão:
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq, pelo suporte
financeiro.
Ao meu orientador Prof. Dr. Aluísio Braz de Melo, pela paciência e competência com a qual
conduziu minha orientação, sempre com muita presteza e sabedoria.
Ao co-orientador e amigo, Prof. Dr. Béda Barkokébas Junior, inicialmente por me introduzir
ao mundo acadêmico, ainda na iniciação científica, por ter sempre acreditado no meu
potencial e por todos os ensinamentos dados. Agradeço também por ter aceitado me
acompanhar, como co-orientador, no meu mestrado, atividade que desenvolveu sempre com
muita competência.
Ao Prof. Dr. Alexandre Duarte Gusmão, por todos os ensinamentos e conselhos dados e pelo
reconhecimento do meu trabalho desde o início.
Aos professores do Mestrado em Engenharia Urbana por todos os ensinamentos e amizade ao
longo do curso. Em especial ao Prof. Eduardo Viana, pela ajuda no tratamento das
informações geográficas.
À Escola Politécnica de Pernambuco da Universidade de Pernambuco (POLI/UPE),
responsável não somente por minha formação superior, mas também pela construção de
minha base acadêmica. Agradeço também por todo apoio dado para a realização de toda
pesquisa de campo necessária à conclusão deste estudo.
Ao Núcleo de Pesquisas em Segurança e Higiene do Trabalho - NSHT da POLI, não somente
pela disponibilidade para uso de toda sua estrutura, mas também pelo calor humano com que
cada um de seus integrantes, atuais ou antigos, sempre me acolheram, em especial aqueles
v
com quem tive maior convivência: Juliana, Giuliana, Wilker, Felipe, Eliane, Paula, Pedro,
Claudinha e Renata.
Ao SEBRAE/PE e ao SINDUSCON/PE, pelo apoio financeiro e técnico concedido através do
PROJETO ENTULHO LIMPO/PE.
À empresa Via Limpa, na pessoa de Luís Valença, por nos receber sempre com muita boa
vontade e por apresentar-se sempre disposto a colaborar com o desenvolvimento deste estudo.
Ao Laboratório de Ensaios de Materiais e Estruturas LABEME da Universidade Federal da
Paraíba, pela disponibilidade na realização dos ensaios.
Ao Laboratório de Tecnologias Habitacionais - LTH do Instituto Tecnológico do Estado de
Pernambuco – ITEP, na pessoa do professor Carlos Wellington, pela disponibilidade do
espaço e dos equipamentos para realização de ensaios e atividades de laboratório e pelas
diversas discussões a cerca dos resultados encontrados.
À amiga de todas as horas Paula Christyan de Medeiros Souza, principalmente por sua
amizade, presença e disposição para realização das atividades deste trabalho, pois sem ela a
conclusão do mesmo seria muito mais difícil.
Aos amigos do mestrado pela amizade, companheirismo, ajuda, conversas, trabalhos em
grupo e momentos em que a saudade de casa quase nos faziam fraquejar. Em especial à
Viviani Guerra, que além de companheira de estudos se tornou uma verdadeira amiga.
Aos meus pais, Ednalda Padilha Carneiro e Geraldo Souto Carneiro, pelos incansáveis
esforços empregados na minha educação, pelo exemplo de integridade que sempre me foi
dado e pelos inestimáveis conselhos que me conduziram sempre a decisões coerentes e
corretas. Aos meus irmãos, Júnior e André, pelo incentivo, amizade e também por
representarem para mim um exemplo a ser seguido.
Aos meus familiares que estiveram sempre presentes me incentivando, em especial aos meus
tios Anna Maria e Antônio Vilanova, por acreditarem sempre em mim. Aos meus avós,
vi
Américo, Amália e Nevinha e a minha tia Júlia, pelos poucos, mas saudosos, momentos que
passamos juntos.
Ao meu namorado George, por todo apoio, amizade, compreensão, incentivo e amor durante o
mestrado.
A todos os meus amigos, que somente com sua amizade contribuíram de forma imensurável
para a realização deste sonho.
vii
DIAGNÓSTICO E AÇÕES DA ATUAL SITUAÇÃO DOS RESÍDUOS DE
CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO NA CIDADE DO RECIFE.
Fabiana Padilha Carneiro
RESUMO
Na maioria dos centros urbanos brasileiros, os resíduos de atividades construtivas
representam um grave problema, o que vem se agravando cada vez mais com o crescente
adensamento das cidades e a falta de espaço para a destinação final desses resíduos. O
presente estudo visou fazer uma análise preliminar da situação ambiental dos Resíduos de
Construção e Demolição - RCD na Cidade do Recife. A metodologia do trabalho consistiu na
revisão da literatura e legislação, caracterização dos resíduos, mapeamento dos pontos de
deposição legais e ilegais, identificação de impactos ambientais gerados pelos RCD,
estimativa da geração de RCD na região, identificação de ações de adequação à Resolução
CONAMA 307 por parte dos agentes envolvidos e a realização de um estudo visando
comprovar a viabilidade técnica de uma alternativa de utilização do RCD reciclado
(fabricação de blocos de concreto de vedação com agregados reciclados). Após a
caracterização dos RCD, verificou-se que apesar do alto potencial de reciclagem apresentado,
cerca de 91% de sua composição é potencialmente reciclável, na maioria dos casos seu
destino são áreas públicas contribuindo para o agravamento de diversos problemas do meio
urbano, tendo sido mapeados nesse estudo 174 pontos de deposição, dos quais somente um
estava apto a receber este tipo de resíduo. Porém, mesmo apresentando uma situação bastante
preocupante, foram identificadas na região algumas ões de adequação à Resolução
CONAMA Nº 307, com destaque para a elaboração do Programa de Gerenciamento de
Resíduos da Construção Civil, na forma da Lei 17.072, e a implantação da prática da
coleta seletiva por parte de algumas construtoras. A estimativa de RCD depositado
clandestinamente na região levou a um valor de 353.606 toneladas no ano de 2004, o que
isoladamente representa um volume suficiente para a implantação de unidades de
beneficiamento desses resíduos. Os resultados obtidos para os blocos de concreto de vedação
comprovaram a potencialidade do uso dos agregados reciclados na produção de artefatos de
concreto sem função estrutural, uma vez que nos testes de resistência à compressão tanto os
blocos produzidos com 30% de substituição do agregado natural pelo agregado reciclado de
RCD, quanto aqueles com 60% de substituição, apresentaram f
c
superior ao estabelecido por
norma (2,5 Mpa), o mesmo acontecendo para os resultados de absorção de água por imersão,
cujo valor limite máximo é de 10%. Dessa forma, o presente trabalho espera contribuir para a
definição de um modelo de gestão dos RCD adequado às características regionais da Cidade
do Recife, assim como para o aumento da credibilidade processos de reciclagem e redução
dos impactos ambientais gerados pela disposição inadequada de tais resíduos.
Palavras-chave: resíduos de construção e demolição, Resolução CONAMA 307,
reciclagem.
viii
DIAGNOSIS AND ACTION OF THE CURRENT SITUATION OF THE
CONSTRUCTION RESIDUES AND DEMOLITION IN THE CITY Of RECIFE.
ABSTRACT
The residues of constructive activities represent a serious problem in the majority of the
Brazilian urban centers. This problem comes increasing because the growth of the cities and
the scarcity of places for the final deposition of these residues.This study had as objective to
make a preliminary analysis of the eviroment situation of the Construction and Demolition
Residues - RCD in the City of Recife. The methodology used in this study consisted in the
revision of literature and legislation, characterization of the residues, mapping of the legal and
illegal points of deposition, identification of enviromental impacts caused by the RCD,
estimate of the generation of RCD in the region, identification of action for adaption to
Resolution CONAMA 307 for the involved agents and studies with focus in the evidence
of the viability technique for use of the recycled residues (manufacture of blocks of concrete
with recycled aggregate). After the characterization of the RCD, was verified that despite the
high potential of presented recycling, about 91%, in the majority of the cases its destination
are public areas contributing for the aggravation the problems for city. In Mapping carried
through in the city they had been found 174 points of deposition of residues, but only one is
apt to receive this type of residue. Although to verify a very preoccupying situation, some
actions of adequacy had been identified in the region to Resolution CONAMA 307, the
best exemple is the Program of Management of Residues of the Civil Construction, in the
form of the Law 17,072, and the implantation of the selective collection practises in some
construction companies.The estimate of RCD deposited in illegal places in the region was of
353.606 tons in 2004, that it represents a significant volume to justify the implantation of
recycling centers. The results gotten for the concrete blocks had proven the potentiality of the
use of recycled aggregates in the production of devices of concrete without structural
function, therefore in the compressive tests strength in the blocks produced with 30% and
60% of substitution of the natural aggregate for the recycled aggregate of RCD had gotten the
resistence factor bigger that the established for norm (2,5 Mpa), the same happening for the
results of water absorption for immersion test, whose boundary-value is of 10%. This work
hopes to contribute for the definition a model of management of the RCD to adapt to the
regional characteristics of the City of Recife, and increase of the credibility processes of
recycling and reduction of the enviroment impacts produced by the inadequate disposal .
Key-Words: residues of construction and demolition, Resolution CONAMA 307,
recycling.
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Estrutura de gestão dos resíduos, conforme a Resolução CONAMA Nº 307 (OH, et al., 2003). ........ 32
Figura 2 – Fluxograma do planejamento das atividades da pesquisa. ................................................................... 53
Figura 3 – Diferenciação dos Pontos de Deposição de RCD de acordo com a Natureza. ..................................... 57
Figura 4 – Tabela de Atributos com Detalhes dos Pontos de Deposição Considerados Críticos. ......................... 58
Figura 5 – Amostras de RCD. ............................................................................................................................... 59
Figura 6 – Separação Visual e Posterior Pesagem dos Materiais que Compões a Amostra.................................. 60
Figura 7 – Agregados Miúdo e Graúdo Utilizados................................................................................................ 64
Figura 8 – Triturador de Mandíbulas Utilizado no Beneficiamento do RCD........................................................ 65
Figura 9 – Separação Manual dos Materiais que Compõe o RCD Beneficiado. ................................................... 66
Figura 10 – Composição da Amostra de RCD a ser Beneficiada................................................................ 66
Figura 11 – Procedimentos experimentais para determinação do teor ideal de água. ........................................... 70
Figura 12 – Balança utilizada na pesagem dos materiais. ..................................................................................... 72
Figura 13 – Betoneira Utilizada para Mistura dos Materiais................................................................................. 72
Figura 14 – Vibro-prensa utilizada na fabricação dos blocos de concreto de vedação.......................................... 73
Figura 15 – Processo de cura dos blocos (câmara úmida e submerso).................................................................. 74
Figura 16 – Capeamento e ruptura dos blocos....................................................................................................... 75
Figura 17 – Composição de Custos das Empresas Coletoras. ............................................................................... 79
Figura 19 – Aterro Controlado da Muribeca, Vista Geral e Local de Deposição dos RCD. ................................. 85
Figura 20 – Lixão de Aguazinha (Olinda-PE)....................................................................................................... 86
Figura 21 – Mapa Hídrico e Localização dos Pontos de Deposição na Cidade do Recife. ................................... 86
Figura 22 – Aterramento por RCD de uma Lagoa em Cajueiro Seco. .................................................................. 87
Figura 23 – Aterramento de Mangue na Zona Sul do Recife, no Bairro de Boa Viagem. .................................... 88
Figura 24 – Degradação do Açude de Apipucos pelos RCD................................................................................ 88
Figura 25 – Deposições Clandestinas nas Margens do Rio Capibaribe................................................................. 89
Figura 26 – Localização dos Pontos de Deposição de RCD na Cidade do Recife. ............................................... 91
Figura 27 – Participação dos Diversos Materiais na Composição das Amostras de RCD – Fase de Fundação.... 92
Figura 28 – Participação dos Diversos Materiais na Composição das Amostras de RCD – Fase de Estrutura..... 93
Figura 29 – Participação dos Diversos Materiais na Composição das Amostras de RCD – Fase de Alvenaria.... 93
Figura 30 – Participação dos Diversos Materiais na Composição das Amostras de RCD – Fase de Acabamento.
....................................................................................................................................................................... 94
Figura 31 – Participação dos Diversos Materiais na Composição das Amostras de RCD da Cidade do Recife. .. 95
Figura 32 – Curvas Granulométricas de Acordo com a Fase de Produção em que as Amostras Foram Coletadas.
....................................................................................................................................................................... 98
Figura 33 – Curva Granulométrica Geral do RCD Gerado na Cidade do Recife.................................................. 99
Figura 34 – Coleta Seletiva Realizada sem Nenhum Planejamento.................................................................... 103
Figura 35 – Baias Utilizadas para Armazenamento dos RCD............................................................................. 104
Figura 36 – Amostra de RCD Bruto, Beneficiamento e Amostra Final de Agregado Reciclado........................ 108
Figura 37 – Valores de Absorção de Água para Blocos de Concreto Produzidos com Agregado Reciclado de
RCD............................................................................................................................................................. 109
Figura 38 – Resistência à Compressão Simples para Blocos de Concreto de Vedação, Moldados com Tempo de
Vibração de 1 Minuto.................................................................................................................................. 110
Figura 39 - Resistência à Compressão Simples para Blocos de Concreto de Vedação, Moldados com Tempo de
Vibração de 30 Segundos. ........................................................................................................................... 111
Figura 40 – Resistência à Compressão Simples para Blocos de Concreto de Vedação, aos 7 Dias. ................... 112
Figura 41 – Resistência à Compressão Simples para Blocos de Concreto de Vedação, aos 28 Dias.................. 112
x
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Perdas de materiais em processos construtivos convencionais, conforme pesquisa nacional em 12
estados e pesquisas anteriores........................................................................................................................ 19
Tabela 2 – Participação dos RCD nos RSU em diversas localidades (em %). ...................................................... 22
Tabela 3 – Composição, em porcentagens, do RCD de diversas cidades brasileiras. ........................................... 24
Tabela 4 – RCD – Participação (%) dos resíduos de atividades de construção e demolição nos RCD................. 25
Tabela 5 – Requisitos gerais para agregado reciclado destinado a pavimentação................................................. 46
Tabela 6 – Requisitos específicos para agregado reciclado destinado a pavimentação......................................... 46
Tabela 7 – Requisitos para agregado reciclado destinado ao preparo de concreto sem função estrutural............. 47
Tabela 8 – Ensaios de caracterização dos materiais realizados. ............................................................................ 67
Tabela 9 – Determinação da melhor proporção entre areia e cascalho, através do ensaio de massa unitária no
estado compactado seco. ............................................................................................................................... 68
Tabela 10 – Definições das dosagens adotadas no estudo..................................................................................... 69
Tabela 11 – Determinação do teor de água ideal na mistura para os blocos com agregados reciclados de RCD
(Tempo de vibração de 1 minuto).................................................................................................................. 70
Tabela 12 - Determinação do teor de água ideal na mistura para os blocos com agregados reciclados de RCD
(Tempo de vibração de 30 segundos). ........................................................................................................... 71
Tabela 13 – Índices de Perdas Não Incorporadas ao Produto por Fase de Produção (2 Canteiros de Obras). ...... 81
Tabela 14 – Índices Médios Geração de RCD....................................................................................................... 81
Tabela 15 – Características das hipóteses adotadas............................................................................................... 82
Tabela 16 – Estimativa de Geração de RCD Segunda a Hipótese 1...................................................................... 82
Tabela 17 – Estimativa da Geração de RCD Segundo a Hipótese 2...................................................................... 83
Tabela 18 – Produção Diária de RCD. .................................................................................................................. 83
Tabela 19 – Composição do RCD em %............................................................................................................... 95
Tabela 20 – Composição Granulométrica das Amostras de RCD – Fase de Fundação......................................... 96
Tabela 21 – Composição Granulométrica das Amostras de RCD – Fase de Estrutura. ........................................ 96
Tabela 22 – Composição Granulométrica das Amostras de RCD – Fase de Alvenaria. ....................................... 97
Tabela 23 – Composição Granulométrica das Amostras de RCD – Fase de Acabamento.................................... 97
Tabela 24 – Massas Unitárias no Estado Solto por Fase de Produção. ................................................................. 99
Tabela 25 – Resultado do Ensaio de Massa Unitária no Estado Solto para o RCD da RMR.............................. 100
Tabela 26 – Características físicas do cimento.................................................................................................... 105
Tabela 27 – Composição química do cimento..................................................................................................... 105
Tabela 28 – Composição Granulométrica do Agregado Miúdo Natural (Areia)................................................. 106
Tabela 29 – Composição Granulométrica do Agregado Graúdo Natural (Cascalho).......................................... 106
Tabela 30 – Massa Específica e Massa Unitária dos Agregados Naturais. ......................................................... 107
Tabela 31 – Teor de Materiais Pulverulentos e Teor de Argila em Torrões de Areia. ........................................ 107
Tabela 32 – Composição Granulométrica do Agregado Reciclado de RCD....................................................... 108
Tabela 33 – Massa Específica e Massa Unitária do Agregado Reciclado de RCD. ............................................ 108
xi
SUMÁRIO
Resumo..................................................................................................................................................................vii
Abstract ................................................................................................................................................................viii
Lista de Figuras ......................................................................................................................................................ix
Lista de Tabelas....................................................................................................................................................... x
Capítulo I - Introdução .......................................................................................................................................... 13
I.1. Justificativa ................................................................................................................................................. 14
I.2. Objetivos ..................................................................................................................................................... 16
Capítulo II - Fundamentação Teórica.................................................................................................................... 17
II.1. Perdas e Desperdício de Materiais na Construção Civil ............................................................................ 17
II.2. Resíduos de Construção e Demolição........................................................................................................ 20
II.3. Composição dos RCD – Brasil e Mundo................................................................................................... 23
II.4. Legislação Vigente .................................................................................................................................... 25
II.4.1. Nacional.............................................................................................................................................. 25
II.4.2. Estadual............................................................................................................................................... 27
II.4.3. Municipal............................................................................................................................................ 28
II.4.4. Normas Técnicas................................................................................................................................. 30
II.5. Gestão dos RCD no Brasil ......................................................................................................................... 31
II.5.1. Experiência Nacional no Gerenciamento dos RCD ............................................................................ 34
II.5.3.1. São Paulo ..................................................................................................................................... 34
II.5.3.2. Belo Horizonte............................................................................................................................. 35
II.5.3.3. Salvador ....................................................................................................................................... 37
II.5.3.4. Recife........................................................................................................................................... 38
II.6. Impactos Ambientais Gerados pelos RCD................................................................................................. 39
II.7. Reciclagem de RCD................................................................................................................................... 41
II.7.1. Vantagens Potenciais da Reciclagem de RCD.................................................................................... 41
II.7.2. Barreiras Encontradas para a Reciclagem de RCD............................................................................. 42
II.7.3. Possibilidades de Aproveitamento do RCD........................................................................................ 43
II.7.3.1. Aterramento ................................................................................................................................. 44
II.7.3.2. Base e Sub-base de Pavimentação ............................................................................................... 45
II.7.3.3. Na Produção de Componentes de Concreto................................................................................. 47
II.7.4. A Reciclagem de RCD no Mundo ...................................................................................................... 48
II.7.5. A Reciclagem de RCD no Brasil ........................................................................................................ 50
Capítulo III - Metodologia..................................................................................................................................... 52
III.1. Estimativa da Geração de RCD ................................................................................................................ 53
III.1.1. Estimativa da Geração de RCD a partir de Entrevista Realizada com as Empresas Coletoras.......... 54
III.1.2. Estimativa de Geração de RCD a Partir da Área Total Licenciada para Construção X Índice de
Perdas de Materiais........................................................................................................................................ 55
III.1.3. Estimativa de Geração de RCD a Partir dos Dados de Recebimento de RCD do Aterro da Muribeca
....................................................................................................................................................................... 56
III.2. Mapeamento dos Pontos de Deposição de RCD ...................................................................................... 56
III.3. Caracterização do RCD ............................................................................................................................ 58
III.4. Identificação das Ações de Adequação à Resolução CONAMA Nº 307 ................................................. 60
III.4.1. Setor Público – Administração pública municipal (EMLURB) ........................................................ 61
III.4.2. Setor Privado – Empresas Construtoras e Coletoras de RCD............................................................ 61
III.4.3. Entidades e Instituições: Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de Pernambuco –
SINDUSCON/PE e Universidades (UPE e UFPE) ....................................................................................... 61
III.4.3.1. Reciclagem de RCD para uso como agregados na fabricação de blocos de concreto para
alvenaria sem função estrutural – Estudo experimental. ........................................................................... 62
Materiais Utilizados............................................................................................................................... 63
Cimento Portland....................................................................................................................................... 63
Agregados Naturais ................................................................................................................................... 63
Agregado Reciclado de RCD .................................................................................................................... 64
Estudo de Dosagem para Produzir Blocos de Concreto ........................................................................ 66
Capítulo IV – Resultados e Discussões ................................................................................................................. 77
IV.1. Situação Atual dos RCD na Cidade do Recife ......................................................................................... 77
IV.1.1. Estimativa do Volume de RCD Gerado na Cidade do Recife ........................................................... 77
IV.1.1.2. Empresas Coletoras ................................................................................................................... 77
IV.1.1.3. Área Total Licenciada para Construção x Índice de Perdas de Materiais................................... 80
xii
IV.1.1.4. Aterro da Muribeca .................................................................................................................... 83
IV.1.2. Mapeamento dos Pontos de Deposição de RCD ............................................................................... 85
IV.1.3. Caracterização do RCD..................................................................................................................... 92
IV.1.4. Ações de Adequação à Resolução CONAMA Nº 307 .................................................................... 100
IV.1.4.1. Setor Público – Administração pública municipal (EMLURB) ............................................... 100
IV.1.4.2. Setor Privado – Empresas Construtoras e Coletoras de RCD................................................... 101
IV.1.4.3. Uso de Agregados Reciclados de RCD na Fabricação de Blocos de Concreto para Alvenaria
sem Função Estrutural (Estudo Experimental) ........................................................................................ 104
Caracterização dos Materiais............................................................................................................... 104
Caracterização quanto à Absorção de Água dos Blocos de Concreto de Vedação.............................. 109
Caracterização quanto à Resistência à Compressão Simples (f
c
) dos Blocos de Concreto de Vedação
............................................................................................................................................................. 110
Capítulo V - Conclusões...................................................................................................................................... 114
Sugestões para Trabalhos Futuros ................................................................................................................... 119
Referências Bibliográficas................................................................................................................................... 120
Apêndices............................................................................................................................................................ 125
Anexos................................................................................................................................................................. 128
CAPÍTULO I INTRODUÇÃO
13
CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO
O fenômeno de urbanização das cidades e o conseqüente adensamento das mesmas levaram a
uma mudança no sentido da palavra progresso, quando se passou a perceber que o mesmo só
acontece em sua plenitude quando também são consideradas as questões ambientais. Em
1987, o surgimento do conceito de desenvolvimento sustentável no Relatório de Brundtland,
como um modelo de desenvolvimento que visa não apenas o momento atual, mas também
garante condições às próximas gerações de se desenvolverem, fez com que grande parte de
sociedade se tornasse cada vez mais exigente em relação ao meio ambiente.
Todas as atividades atualmente desenvolvidas pela sociedade, em especial no meio urbano,
são potencialmente geradoras de impactos ambientais negativos, que vão desde o consumo
descontrolado de recursos naturais até situações alarmantes de poluição, chegando a causar
acidentes de proporções catastróficas.
Nesse contexto, tem-se a problemática dos resíduos sólidos, que vêm tomando proporções
alarmantes nos últimos anos, principalmente no que se refere aqueles gerados nos grandes
centros urbanos, onde os mesmos além de serem produzidos em grandes quantidades, muitas
vezes, são depositados em locais inadequados em virtude da escassez de grandes espaços,
dentro da área urbana, destinados a disposição final desses resíduos (BARKOKÉBAS Jr. et
al., 2002).
A preocupação com os Resíduos Sólidos Urbanos RSU no Brasil, começou a ser percebida
somente nas últimas décadas, quando os problemas causados pelo mal gerenciamento dos
resíduos passou a influenciar negativamente na qualidade de vida da população.
Assim como a maior parte das atividades industriais, a indústria da construção civil também é
responsável por diversos impactos ambientais negativos. Por estar predominantemente
inserida dentro dos limites urbanos, seus resíduos o considerados parte dos RSU. Porém,
CAPÍTULO I INTRODUÇÃO
14
segundo PINTO (1999), para os resíduos de construção e demolição agravantes: o
profundo desconhecimento dos volumes gerados, dos impactos que eles causam, dos custos
sociais envolvidos e, inclusive, das possibilidades de seu reaproveitamento fazem com que os
gestores dos resíduos se apercebam da gravidade da situação unicamente nos momentos em
que, acuados, vêem a ineficácia de suas ações corretivas.
Um importante avanço na gestão dos resíduos provenientes de atividades construtivas, são as
diretrizes e procedimentos estabelecidos pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente -
CONAMA, em sua Resolução Nº 307, de julho de 2002, cujos princípios são baseados em um
modelo de gestão diferenciada, ou seja, uma gestão sustentável, contrária ao modelo aentão
adotado pela maior parte das cidades brasileiras (gestão corretiva).
I.1. Justificativa
A indústria da construção civil é uma das grandes fontes de geração de resíduos sólidos no
meio urbano, uma vez que seus resíduos são muito volumosos e em algumas cidades
brasileiras representam mais da metade do total da produção de RSU. Por esse motivo a
construção civil muitas vezes é vista pela sociedade apenas por seus impactos negativos, o
levando em consideração os inúmeros benefícios por ela proporcionados.
Nesse contexto é indispensável que sejam adotados modelos de gestão apropriados e que
sejam desenvolvidas técnicas e procedimentos que permitam o progresso desse setor
indispensável ao desenvolvimento urbano, e que eliminem ou minimizem ao máximo seus
impactos.
No que se refere aos procedimentos e técnicas a serem adotadas pode-se destacar a
racionalização dos processos de produção, que se encontra em estágio mais avançado, a
prática da coleta seletiva e a reciclagem dos RCD, uma vez que de acordo com a Resolução
CAPÍTULO I INTRODUÇÃO
15
CONAMA 307, deve-se priorizar a não geração dos resíduos, sua reutilização, reciclagem
e, somente nos casos em que nenhum dos procedimentos anteriores possam ser adotados, a
destinação final em aterros para inertes.
Porém, para a adoção de qualquer modelo de gestão é indispensável que se conheça as
particularidades do tema a ser tratado, uma vez que a simples importação de modelos
aplicados com sucesso em outras cidades podem não obter êxito em outras localidades, tendo
em vista as características regionais e os processos construtivos adotados. Para os Resíduos de
Construção e Demolição RCD, a necessidade desde uma análise da situação ambiental
dos RCD na área a ser implantado o modelo quanto o conhecimento das características de
geração dos resíduos gerados na região.
A escolha da Cidade do Recife como área de estudo foi realizada com base em diversos
fatores, dentre os quais pode-se citar o fato da mesma ser o centro de uma metrópole,
apresentando assim um elevado índice de novas construções e um acelerado processo de
verticalização e por apresentar um contínuo crescimento de sua população e atividades,
aumentando assim a necessidade por novas habitações.
Na Cidade do Recife, a situação é bastante preocupante, visto que, até o ano de 2004, só
existia na região uma área para deposição de todos os tipos de resíduos gerados na cidade
(Aterro da Muribeca), além da presença de inúmeras deposições irregulares e da falta de
fiscalização no que se refere ao cumprimento das leis vigentes. Vale ainda salientar que um
estudo preliminar nessa área foi desenvolvido pela mestranda durante sua iniciação científica,
através de um grupo de pesquisas em meio ambiente existente na Escola Politécnica de
Pernambuco UPE, do qual faz parte. Um outro fato importante a ressaltar é o apoio que o
presente estudo recebe do SEBRAE, através de um projeto em andamento cuja temática é a
questão dos RCD.
CAPÍTULO I INTRODUÇÃO
16
I.2. Objetivos
O presente trabalho tem por objetivo principal a realização de uma análise da atual situação
ambiental da cidade do Recife, no que diz respeito aos resíduos provenientes de atividades de
construção, reforma e demolição, visando fornecer subsídios que venham a contribuir para o
desenvolvimento de soluções adequadas para a gestão desses resíduos por parte dos diversos
agentes envolvidos no processo.
Para a viabilização do objetivo principal desse estudo, o mesmo foi desmembrado nos
seguintes objetivos específicos:
Mapear os locais de deposição dos RCD no Recife (Regularizados e ilegais) e levantar
os impactos causados no entorno dessas deposições;
Realizar uma entrevista estruturada junto às empresas coletoras dos RCD atuantes na
região;
Quantificar o volume de RCD depositado regularmente e realizar uma estimativa do
volume de RCD depositado clandestinamente pelas empresas coletoras licenciadas
pelo poder público na região;
Caracterizar os RCD provenientes da área de estudo e beneficiar uma amostra desse
resíduo sob a forma de agregado para concreto;
Identificar as Ações de Adequação à Resolução CONAMA Nº 307;
Analisar o desempenho dos blocos de concreto, utilizando diferentes proporções de
agregado reciclado, quanto à resistência à compressão e absorção de água;
Fornecer subsídios à tomada de decisões adequadas para um eficaz modelo de gestão
dos RCD na Cidade do Recife.
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
17
CAPÍTULO II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
II.1. Perdas e Desperdício de Materiais na Construção Civil
Atualmente a indústria da construção civil vem sofrendo forte pressão para adequação de seus
processos construtivos de forma a garantir um uso mais racional de seus materiais nos
canteiros de obras. Tal pressão se deve principalmente ao fato do setor vir sendo apontado
muitas vezes como um grande vilão no que se refere às questões de consumo de recursos
naturais e de desperdício e perdas dos materiais por ela utilizados.
Apesar dos altos índices de desperdício não serem uma exclusividade da indústria da
construção, estes são destaque porque o consumo desnecessário de material resulta numa alta
produção de resíduos, causa transtornos dos mais diversos nas cidades, reduz a
disponibilidade futura de materiais e energia e provoca uma demanda desnecessária no
sistema de transporte, além da alta participação dos materiais na composição do Custo
Unitário Básico – CUB.
Reduzir os índices de perdas de materiais é extremamente desejável levando-se em
consideração os aspectos econômicos e ambientais. Sob o ponto de vista econômico tal
redução pode ser determinante para a sobrevivência das empresas diante de um mercado cada
vez mais competitivo. Sob o ponto de vista ambiental, a redução das perdas de materiais traz
como benefício a redução do consumo de recursos naturais, além da redução do entulho, cujas
áreas para sua deposição estão se exaurindo, principalmente nos grandes centros urbanos
(PALIARI et al. 2002).
O conceito de perdas está diretamente relacionado com o consumo excessivo de um recurso
quando comparado com um consumo padrão (de referência). No caso específico dos materiais
de construção, é possível diferenciar as perdas ocorridas em dois tipos: a primeira é a perda
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
18
incorporada, ou seja, o material que fica incorporado em excesso na edificação (como, por
exemplo, na forma de sobreespessuras de revestimento); a segunda é aquela que sai do
canteiro sob a forma de entulho.
Segundo PINTO (1999, p. 16) a questão das perdas em processos construtivos vem sendo
tratada de forma suficiente no Brasil, em processos de pesquisa cada vez mais abrangentes,
sendo aceitável a afirmação de que para a construção empresarial a intensidade de perda se
situe entre 20 e 30% da massa total de materiais, dependendo do patamar tecnológico do
executor.
De acordo com uma pesquisa intitulada “Alternativas para a Redução do Desperdício de
Materiais nos Canteiros de Obra”, desenvolvida durante três anos pelo ITQC – Instituto
Brasileiro de Tecnologia e Qualidade na Construção Civil, em 12 estados brasileiros, existe
uma variabilidade muito grande quando se trata dos índices de desperdício entre as
construtoras, podendo, por exemplo, no caso do concreto, existir índices de desperdício que
variam de 2 a 28%. Tal fato se deve principalmente à variabilidade no nível de tecnologia
empregada nos canteiros de obras de cidades brasileiras, que vão desde processos quase
artesanais até tecnologias construtivas que se assemelham a linhas de montagem.
Existe ainda, no Brasil, uma forte carência no que diz respeito a disponibilidade de dados de
desperdício referentes a outras tipologias de construção, uma vez que a grande maioria das
pesquisas desenvolvidas nessa área são voltadas para as construções de edifícios.
Na Tabela 1 são apresentados índices de perdas de materiais obtidos por algumas pesquisas
realizadas, para construção empresarial, para alguns materiais comuns às atividades
construtivas, onde é possível observar a significativa variabilidade dos valores encontrados
para alguns materiais.
É possível ainda concluir com base nos índices apresentados na Tabela 1, que a composição
dos resíduos gerados varia consideravelmente nas diversas localidades, o que pode ser
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
19
explicado em parte pela utilização de diferentes técnicas construtivas, uma vez que nesse setor
coexistem processos produtivos dos mais tradicionais aos mais modernos. Apesar da
variabilidade apresentada na composição dos resíduos, verifica-se que para todas as
localidades, a maior parte dos resíduos gerados é formada por parcelas potencialmente
recicláveis.
Tabela 1 – Perdas de materiais em processos construtivos convencionais, conforme pesquisa nacional em 12
estados e pesquisas anteriores
Materiais Pinto (1) Soibelman (2) FINEP/ITQC (3)
Concreto usinado 1,5% 13% 9%
Aço 26% 19% 11%
Blocos e tijolos 13% 52% 13%
Cimento 33% 83% 56%
Cal 102% - 36%
Areia 39% 44% 44%
FONTE: PINTO (1999).
1 Valores de um obra (PINTO, 1989)
2 Média de 5 obras (SOIBELMAN, 1993)
3 Mediana de diversos canteiros (SOUZA et al., 1998)
Em virtude de tal variabilidade, é necessário que os construtores foquem suas atenções na
determinação de seus índices próprios, podendo dessa forma canalizar suas ões de
melhorias para as atividades onde foram detectados os maiores índices. Apesar da
importância dessas ações locais, acredita-se que também é possível, através de um
pensamento em nível estratégico, o desenvolvimento de soluções partilhadas por todo setor,
minimizando assim o problema e suas implicações sociais.
Uma vez percebida a importância da melhoria na qualidade do produto gerado e com a busca
cada vez mais intensa, por parte das construtoras, por programas de certificação de qualidade,
tal realidade vem dando sinais de mudanças, uma vez que com a padronização dos
procedimentos utilizados, tem-se conseguido uma redução significativa do desperdício
incorporado e da quantidade de resíduos gerada, reduzindo assim o custo final da obra.
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
20
II.2. Resíduos de Construção e Demolição
Somente nas últimas décadas a questão da geração de Resíduos Sólidos Urbanos RSU vêm
sendo vista como parte importante do saneamento dos ambientes urbanos, uma vez que tem
influência direta na qualidade de vida da população. Entre os resíduos gerados no ambiente
urbano, estão os chamados Resíduos de Construção e Demolição – RCD, que de acordo com a
Resolução 307 do CONAMA o os provenientes de construções, reformas, reparos e
demolições de obras de construção, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos,
tais como tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas,
tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros,
plásticos, tubulações, fiação elétrica etc.
De acordo com sua origem, os RCD podem ser classificados em:
Material de escavação, podendo ser ainda classificados em contaminados e o-
contaminados;
Restos de materiais oriundos de construção de estradas;
Restos de materiais provenientes de obras de construção de edifícios, os quais incluem
todos os materiais relativos às atividades de construção, renovação ou demolição de
edifícios (KARTAM et al., 2004).
Quanto ao seu potencial de reciclagem, os RCD são classificados, segundo a Resolução
307 do CONAMA, em quatro classes distintas:
(Classe A) são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis, tais como:
a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de
infra-estrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;
b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações componentes
cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, etc.), argamassa e concreto;
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
21
c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto
(blocos, tubos etc), produzidas nos canteiros de obras.
(Classe B) são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como plásticos,
papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros.
(Classe C) são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou
aplicações economicamente viáveis, que permitam a sua reciclagem/recuperação, a
exemplo dos produtos oriundos de gesso.
(Classe D) são os resíduos perigosos, oriundos do processo da construção, tais como
tintas, solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados, oriundos de demolições,
reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros.
Na composição dos RCD predomina a fração mineral, porém é importante ressaltar que o
entulho apresenta características bastante peculiares. Existe uma grande diversidade de
matérias-primas, técnicas e metodologias, empregadas na construção civil, que afetam, de
modo significativo, as características dos resíduos gerados, principalmente quanto à
composição e à quantidade. Portanto, o vel de desenvolvimento da construção local reflete-
se nas características dos materiais constituintes do entulho, ou seja, a caracterização desse
resíduo está condicionada a parâmetros da região de origem (CARNEIRO et al., 2000).
De acordo com a norma da ABNT NBR 10004 (2004) “Resíduos Sólidos Classificação”,
os RCD podem ser classificados como inertes (Classe II-b), uma vez que quando submetidos
a testes de solubilização os mesmos não apresentam nenhum de seus constituintes
solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade da água. No entanto,
existem algumas exceções, como é o caso do gesso, que é considerado um resíduo não inerte
(Classe II-a), e os resíduos de tintas, solventes e óleos, considerados resíduos perigosos
(Classe I). Tal classificação é de grande importância para que os resíduos possam receber o
tratamento e destinos adequados, sem resultar em riscos ambientais.
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
22
A questão da classificação dos RCD como inertes, segundo alguns estudos, não deve ser uma
verdade tão absoluta. Os resíduos de construção e demolição consistem em materiais pesados
e de grande volume, que quando depositados indiscriminadamente são verdadeiros focos para
depósitos de outros tipos de resíduo, que podem gerar contaminações devido à lixiviação ou
solubilização de certas substâncias nocivas. Ou ainda, os próprios resíduos de construção e
demolição podem conter materiais de pintura ou substâncias de tratamento de superfícies,
entre outras, que podem percolar pelo solo, contaminando-o (OLIVEIRA, 2003, p.10).
Os resíduos oriundos de atividades construtivas são normalmente gerados em grandes
volumes, representando assim uma parcela significativa dos RSU. Na Tabela 2 são
apresentados dados da participação dos RCD na composição dos RSU em diversas
localidades. Observa-se que no caso do Brasil, tal percentual varia de 41% (Salvador/ BA) a
70% (Ribeirão Preto/ SP), ficando a participação média em torno de 59%, não diferindo muito
dos valores encontrados para outros países, como o caso da Alemanha, cuja participação é de
60%.
Tabela 2 – Participação dos RCD nos RSU em diversas localidades (em %).
Localidades Participação dos RCD na Massa Total
de RSU
Santo André/ SP 54
São José do Rio Preto/ SP 58
São José dos Campos/ SP 67
Ribeirão Preto/ SP 70
Jundiaí/ SP 62
Vitória da Conquista/ BA 61
Belo Horizonte/ MG 54
Campinas/ SP 64
Salvador/ BA 41
Europa Ocidental ~ 66
Suíça ~ 45
Alemanha > 60
Região Bruxelas – Bélgica > 66
EUA 39
Vermont State (EUA) 48
Fonte: PINTO, T. P., 1999.
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
23
II.3. Composição dos RCD – Brasil e Mundo
A composição dos RCD está estritamente ligada às diversas características de sua fonte
geradora e do momento de coleta da amostra. Dessa forma, uma gama muito grande de
aspectos que interferem na quantidade, composição e características desse resíduo. Entre esses
aspectos, destacam-se:
o nível de desenvolvimento da indústria da construção local:
- qualidade e treinamento da mão-de-obra disponível;
- técnicas de construção e demolição empregadas;
- adoção de programas de qualidade e de redução de perdas;
- adoção de processos de reciclagem e reutilização no canteiro;
os tipos de materiais predominantes e/ou disponíveis na região;
o desenvolvimento de obras especiais na região (metrô, esgotamento sanitário,
restauração de centros históricos, entre outros);
o desenvolvimento econômico da região;
a demanda por novas construções.
Essa variabilidade na sua composição faz com que os RCD tenham características diferentes
para cada país, estado, cidade e, em alguns casos específicos, até para bairros de uma mesma
cidade, o que justifica seu caráter extremamente heterogêneo. De acordo com ZORDAN
(2000), é importante ressaltar que o resíduo de construção e demolição talvez seja o mais
heterogêneo de todos os resíduos industriais e, ainda, que a sua composição química está
relacionada com a composição dos materiais que o compõe.
Na construção de edifícios por exemplo, nos países desenvolvidos, geram-se altos percentuais
de papel e plástico, provenientes das embalagens dos materiais. No mesmo tipo de obra, nos
países em desenvolvimento, gera-se grande quantidade de resíduos de concreto, argamassa,
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
24
blocos, entre outros, devido às altas perdas do processo (EDUFBA, 2001).
Muitas pesquisas têm estudado a composição dos RCD em diferentes cidades brasileiras e
também em outros países, comprovando através destas sua alta variabilidade. A Tabela 3
apresenta os resultados encontrados por diversas pesquisas para algumas cidades brasileiras.
Em todas as cidades pesquisadas verificou-se que os materiais cimentícios (concreto e
argamassa) foram os que apresentaram maior participação na composição dos RCD, chegando
a representar na cidade de São Carlos/SP, por exemplo, aproximadamente 70% do RCD
gerado na região.
Tabela 3 – Composição, em porcentagens, do RCD de diversas cidades brasileiras.
Origem Material
São Paulo
SP
1
Ribeirão
Preto/SP
2
Salvador
BA
3
Florianópolis
SC
4
Concreto e
Argamassa
33 59 53 37
Solo e Areia 32 - 22 15
Cerâmica 30 23 14 12
Rochas - 18 5 -
Outros 5 - 6 36
1 Brito Filho, 1999 citado por John, 2000.
2 Zordan, 1997.
3 PROJETO ENTULHO BOM, 2001.
4 Xavier et. al., 2002.
Os dados disponíveis a cerca da composição média dos RCD em outros países, demonstra que
a realidade encontrada varia bastante. No caso de Toronto, por exemplo, segundo SWANA
(1993) citado por PINTO (1999), cerca de 35% dos resíduos de construção e/ou demolição
gerados são de madeira, o que pode ser explicado pela tradição construtiva da região. na
Bélgica, resíduos de concreto e alvenaria juntos o responsáveis por aproximadamente 83%
do total de RCD gerado, sendo a madeira responsável apenas por 2%.
No que se refere a participação das diferentes origens, pode-se afirmar que tais índices o
extremamente variáveis, uma vez que esses tem relação direta com a intensidade de
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
25
construção e de demolição da região.
Em países desenvolvidos, onde as atividades de renovação de edificações, infra-estrutura e
espaços urbanos são mais intensas, os resíduos provenientes de demolições são muito mais
freqüentes. A Tabela 4, citada por ÂNGULO (2000), apresenta dados da participação das
atividades de construção e de demolição na geração de resíduos para diversos países.
Tabela 4 – RCD – Participação (%) dos resíduos de atividades de construção e demolição nos RCD.
País RCD
(ton/ano)
% de Resíduo de
construção no
RCD
% de Resíduos
de demolição no
RCD
Ano
Alemanha
1
32,6 milhões
31 69 1994
Estados Unidos
2
31,5 milhões
33 66 1994/1997
Brasil
3
70 milhões* 30-50 50-70 1999
Japão
1
99 milhões 52 48 1993
Europa Ocidental
4
215 milhões 19 81 Previsão 2000
FONTE: ÂNGULO (2000).
1 LAURITZEN (1994);
2 PENG et al. (1997);
3 PINTO (1999), ZORDAN (1997), JOHN (2000);
4 PERA (1996): HENDRICKS (1993) apud QUEBAUD, BUYLE-BODIN (1999);
NOTA: Dados trabalhados pelo autor.
(*) Para esta estimativa foi considerada uma população de 150 milhões de habitantes, com uma geração anual de
0,5 ton/hab. Ano, média obtida de algumas cidades brasileiras em PINTO (1999). Ressalta-se que não se trata de
uma média representativa.
II.4. Legislação Vigente
Neste capítulo, além de tratar da legislação vigente, no âmbito municipal, estadual e nacional,
relativa ao tema estudado, serão também analisadas as normas técnicas existentes e
relacionadas com os RCD.
II.4.1. Nacional
Durante muito tempo as leis ambientais brasileiras se preocuparam quase que exclusivamente
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
26
com questões como a preservação de espécies em extinção, desmatamentos, entre outras. O
primeiro instrumento legal a ser considerado para uma análise na área de resíduos sólidos é a
Constituição Federal de 1988, que em seu artigo 30 estabelece como competência do
município “organizar e prestar diretamente ou sob regime de concessão ou permissão os
serviços públicos de interesse local”.
Existe também a Lei 9.605 de 1998, Lei de Crimes Ambientais-LCA, que faz menção à área
de resíduos sólidos, entretanto o dispositivo está mais associado ao resíduo industrial, já que
em seu art. 54 ele trata como atividade lesiva ao meio ambiente, e portanto passiva de multas
e sanções penais, a poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam
resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a
destruição significativa da flora.
No caso dos Resíduos Sólidos Urbanos RSU, existe atualmente uma maior abundância de
dispositivos legais, uma vez que foi criado através da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, o
Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA, que além de outras competências, é
responsável por estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção
da qualidade do meio ambiente através de suas resoluções.
No que se refere aos resíduos provenientes de atividades da indústria da construção civil,
somente a partir de janeiro de 2003, quando entrou em vigor a Resolução 307 do
CONAMA, é que se passou a ter um dispositivo legal capaz de tratar questões específicas dos
RCD. Tal Resolução estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos
resíduos de construção, definindo e ressaltando a responsabilidade do gerador sobre os seus
resíduos.
Dentre os muitos aspectos tratados pela Resolução 307 do CONAMA, pode-se destacar
alguns pontos:
a classificação dos resíduos da construção de acordo com o seu potencial para
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
27
reutilização e reciclagem (Art. 3º);
a proibição da disposição dos resíduos da construção em aterros de resíduos
domiciliares (Art. 4º);
a obrigatoriedade da elaboração, como instrumento de gestão dos resíduos de
construção, do Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil
(Art. 5º), o qual deverá incorporar:
- Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, a ser
elaborado, implementado e coordenado pelos municípios e pelo Distrito
Federal, e deverá estabelecer diretrizes técnicas e procedimentos para o
exercício das responsabilidades dos pequenos geradores (Art. 7º);
- projetos de gerenciamento dos resíduos da construção civil, que deverão ser
elaborados e implementados pelos grandes geradores e terão como objetivo
estabelecer os procedimentos necessários para manejo e destinação
ambientalmente adequados dos resíduos (Art. 8º).
II.4.2. Estadual
De uma maneira geral as leis estaduais vigentes no Brasil, tratam de forma global a questão
dos resíduos sólidos, estabelecendo critérios e proibições para seu acondicionamento,
transporte e disposição final.
Dessa forma, pode-se destacar na esfera estadual, a Resolução SMA 41, de 17 de outubro
de 2002, que dispõe sobre procedimentos para o licenciamento ambiental de aterros de
resíduos inertes e da construção civil no Estado de São Paulo. De acordo com tal Resolução,
fica sujeito ao licenciamento ambiental no âmbito estadual (SMA - Secretaria do Estado de
Meio Ambiente) a construção de aterros para inertes cuja capacidade total seja superior a
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
28
100.000 m
3
e que recebam um volume diário superior a 150 m
3
, devendo portanto os demais
casos serem licenciados pela CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento
Ambiental.
II.4.3. Municipal
Além das leis e decretos municipais que tratam dos resíduos sólidos urbanos de uma forma
geral e aquelas que tangem ao transporte e disposição desses resíduos, algumas cidades
brasileiras possuem legislação própria para a questão dos RCD.
Na Cidade do Recife o Decreto 18.082/98, que regulamenta a Lei 16.377/98, trata do
transporte e disposição de resíduos de construção civil e outros resíduos não abrangidos pela
coleta regular. Dentre os muitos pontos abordados por essa lei, pode-se destacar a proibição
da utilização de áreas de particulares para o destino final dos resíduos oriundos da construção
civil sem a prévia autorização da Empresa Municipal de Limpeza Urbana – EMLURB,
mesmo antes da mesma ser determinada pela Resolução CONAMA nº 307.
A partir de 2002, com a Resolução CONAMA 307 alguns municípios elaboraram leis e
decretos voltados diretamente para os resíduos da construção civil.
A exemplo disso têm-se o Decreto 42.217 do município de São Paulo, de 24 de julho de 2002,
que regulamenta o uso de áreas destinadas ao transbordo e triagem de resíduos de construção
civil e resíduos volumosos. Através deste Decreto, são criados:
Pontos de Entrega voluntária, destinados ao recebimento de pequenos volumes (até
1m
3
) de resíduos da construção civil e de resíduos volumosos;
Áreas de Transbordo e Triagem de Resíduos da Construção Civil ATT’s,
implantadas e operadas por particulares interessados, cuja licença para funcionamento
é expedida pelo Departamento de Aprovação das Edificações - APROV, da Secretaria
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
29
da Habitação e Desenvolvimento Urbano – SEHAB.
Na Cidade do Recife, foi elaborada a Lei 17.072, de 04 de janeiro de 2005, que estabelece
as diretrizes e critérios para o Programa de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil.
Pode-se ressaltar dentre os seus artigos:
a definição do grande gerador como aquele que gera um volume de RCD superior a
1,0 m
3
/dia, ficando os demais enquadrados como pequenos geradores;
a proibição da disposição de resíduos da construção civil, em qualquer volume, e
resíduos provenientes de podação e jardinagem, em volume superior a 100 litros/dia,
para a coleta domiciliar regular (tal artigo altera o volume estabelecido pela Lei
16.377/98, que era de 300 litros/dia);
a obrigatoriedade da classificação, separação e identificação dos resíduos gerados em
atividades de construção no local de origem, em obediência ao que determinam as
resoluções do CONAMA;
a obrigatoriedade de obtenção da licença de operação (para início de suas atividades) e
para tanto submeter à aprovação do órgão gestor da limpeza urbana deste Município o
respectivo Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil, para cada uma
das unidades instaladas (canteiros de obras), tendo como objetivo estabelecer os
procedimentos necessários para o manejo e destinação ambientalmente adequados dos
resíduos gerados na atividade;
o Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil comporá o acervo de
documentos apresentados na solicitação de Alvará junto a Secretaria de Planejamento;
A criação de instalações para recebimento dos resíduos (PRR - Posto de Recebimento
de Resíduo), para atender aos pequenos geradores, com facilidade de acesso e boas
condições de tráfego, abarcando todas as Regiões Político-Administrativas.
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
30
II.4.4. Normas Técnicas
Com o despertar da sociedade para a importância da questão dos resíduos provenientes de
atividades de construção e a conseqüente percepção da ineficácia dos modelos de gestão
normalmente adotados pelos municípios, houve a necessidade de adoção de novas práticas nas
cidades brasileiras.
No sentido de padronizar e normatizar essas ações foi criada uma série de normas técnicas
voltadas para o tema dos RCD, sendo elas:
NBR 15.112/04 – Resíduos da construção civil e resíduos volumosos Áreas de
transbordo e triagem – Diretrizes para projeto, implantação e operação;
NBR 15.113/04 Resíduos sólidos da construção civil e resíduos inertes. Aterros.
Diretrizes para projeto, implantação e operação;
NBR 15.114/04 Resíduos sólidos da construção civil. Áreas de Reciclagem.
Diretrizes para projeto, implantação e operação;
NBR 15.115/04 Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil.
Execução de camadas de pavimentação. Procedimentos;
NBR 15.116/04 – Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil –
Utilização em pavimentação e preparo de concreto sem função estrutural – Requisitos.
Vale salientar ainda que encontra-se em fase de elaboração uma norma técnica cujo objetivo é
estabelecer os requisitos básicos para utilização de agregados reciclados de RCD em
concretos com função estrutural.
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
31
II.5. Gestão dos RCD no Brasil
O termo gestão pode ser definido como o uso prudente de um meio para alcançar um fim
(KARTAM et al., 2004). No caso dos resíduos provenientes de atividades relacionadas à
indústria da construção civil, nem sempre o termo “gestão” vem sendo empregado de forma
correta, já que além de, na maioria das vezes, os meios utilizados não serem prudentes, os fins
quase nunca são alcançados em sua plenitude.
O modelo de gestão comumente adotado pela maioria das cidades brasileiras para os RCD é o
corretivo, que se caracteriza por englobar atividades o preventivas, repetitivas e custosas,
que não surtem resultados adequados, e são, por isso, profundamente ineficientes. Dessa
forma, pode-se caracterizar a Gestão Corretiva como uma prática sem sustentabilidade
(EDUFBA, 2001).
Este modelo de gestão acarreta efeitos “perversos” uma vez que a prática contínua de
aterramento, nos ambientes urbanos, com volumes tão significativos, elimina,
progressivamente, as áreas naturais (várzeas, vales, mangues e outras regiões de baixada), que
servem como escoadouro dos elevados volumes de água concentrados nas superfícies urbanas
impermeabilizadas (EDUFBA, 2001).
Porém, tal realidade vem dando sinais de mudanças, uma vez que, segundo PINTO (1999), a
intensidade de geração de resíduos e a extensão dos impactos por ele causados nas áreas
urbanas apontam claramente para a necessidade de ruptura com a ineficácia da Gestão
Corretiva. A gestão dos espaços urbanos em municípios de médio e grande porte não mais
comporta intervenções continuamente emergenciais e coadjuvantes das reações de geradores e
coletores à ausência de soluções.
Enquanto a Gestão Corretiva constitui, em ampla maioria dos municípios, um sistema de
coleta “às avessas” com os geradores e coletores de pequeno porte, muitas vezes definindo os
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
32
locais onde é mais racional a disposição dos RCD, a chamada Gestão Diferenciada reconhece
essas características e a partir delas define uma logística e estratégias para atração eficiente
desses resíduos (PINTO, 1999).
De acordo com a Resolução CONAMA 307, a estrutura de gestão de resíduos da
construção civil deve seguir o esquema apresentado na Figura 1.
Figura 1 – Estrutura de gestão dos resíduos, conforme a Resolução CONAMA Nº 307 (OH, et al., 2003).
Pode-se observar ainda na Figura 1 que dentro da estrutura proposta, estão presentes práticas
como a da reciclagem e reutilização dos RCD, assim como o atendimento a exigências
normativas específicas para tais resíduos. Tais ações o típicas de uma Gestão Diferenciada,
cujos princípios básicos, segundo PINTO (1999), são:
PREFEITURAS
Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos
Pequenos Geradores Grandes Geradores
Resíduos da Construção Civil
Aterros de
Resíduos
da
Construção
Civil
Área de Destinação
Temporária dos
RCD
Reciclagem ou
Reutilização
Dos RCD
Exigências
Específicas
Normativas
Programa Municipal de
Gerenciamento de Resíduos
Projetos de Gerenciamento de
Resíduos
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
33
Captação máxima dos resíduos gerados, através da constituição de redes de áreas de
atração, diferenciadas para pequenos e grandes geradores/coletores;
Reciclagem dos resíduos captados, em áreas perenes especialmente definidas para a
tarefa;
Alteração de procedimentos e culturas, no tocante à intensidade de geração, à
correção da coleta e disposição e às possibilidades de utilização dos resíduos
reciclados.
Ainda segundo PINTO (1999), os objetivos gerais da Gestão Diferenciada dos resíduos de
construção e demolição são:
Redução dos custos municipais com a limpeza urbana, com a destinação dos resíduos
e com a correção dos impactos ocorrentes na Gestão Corretiva;
Disposição facilitada de pequenos volumes de RCD gerados;
Descarte racional dos grandes volumes gerados;
Preservação do sistema de aterros como condição para a sustentação do
desenvolvimento;
Melhoria da limpeza urbana;
Incentivo à presença e consolidação de novos agentes de limpeza urbana;
Preservação ambiental com a redução dos impactos por deposição, redução do
volume aterrado e redução das resultantes da exploração de jazidas naturais de
agregados para a construção civil;
Preservação da paisagem e da qualidade de vida nos ambientes urbanos;
Incentivos às parcerias para captação, reciclagem e reutilização de RCD;
Incentivo à redução da geração de resíduo nas atividades construtivas.
Assim, é possível verificar que a correta gestão dos RCD traz consigo inúmeras melhorias
para todos os agentes envolvidos no processo e para a sociedade de forma geral. Porém a
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
34
simples importação de modelos e planos de gestão aplicados em outros países ou cidades
pode gerar problemas que levem ao seu fracasso. É indispensável então, que sejam realizadas
todas as adaptações necessárias, levando-se em consideração as características regionais.
GALIVAN & BERNOLD, citado por OLIVEIRA (2003, p. ), descreveu quatro passos para a
definição de uma gestão ótima para os RCD, cuja aplicabilidade permanece atualmente. São
eles:
Avaliar a composição e estimar o volume de resíduos de RCD gerados;
Determinar o potencial de reciclagem (volume, mercado, custos e retorno econômico);
Avaliar as opções de disposição disponíveis (reciclagem, aterro e incineração);
Levar em consideração o lado econômico e a proteção ambiental.
II.5.1. Experiência Nacional no Gerenciamento dos RCD
No Brasil, como relatado anteriormente, a maior parte das cidades tem seus modelos de
gestão baseados em ações de caráter meramente corretivo. Porém, algumas cidades
apresentam sistemas de gerenciamento dos RCD mais elaborados, alguns destes iniciados
mesmo antes de 2002, quando entrou em vigor a Resolução CONAMA 307. Dentre essas
cidades estão: São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e Recife, cujas experiências serão
descritas nos tópicos a seguir.
II.5.3.1. São Paulo
A situação encontrada para os resíduos da construção civil em São Paulo vem preocupando
bastante o o poder público, cujos gastos no sentido de minimizar os impactos negativos
gerados tem aumentado cada vez mais, mas também a sociedade em geral, que constitui a
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
35
principal vítima dos impactos gerados por esses resíduos.
A nova política de gestão dos resíduos da construção civil da Prefeitura de São Paulo é
implementada pelo Plano Municipal de Gestão Sustentável de Entulho. O plano, que já atende
as novas diretrizes estabelecidas pela Resolução CONAMA 307 para os municípios
brasileiros, está aumentando a oferta de áreas para deposição regular dos resíduos da
construção e demolição de pequenos a grandes geradores, além de facilitar e incentivar a
reciclagem desses materiais.
Um dos principais problemas encontrados, como ocorre em grande parte das cidades
brasileiras, é a prática de descarte final dos RCD em áreas inadequadas para esse fim,
acarretando dessa forma além de prejuízos a paisagem urbana, diversos impactos negativos,
sejam eles diretos ou indiretos.
Para solucionar definitivamente o problema do entulho despejado em vias públicas, o plano
gestor estimula a iniciativa privada a implantar e operar Áreas de Transbordo e Triagem de
Entulho, as chamadas ATT`s regulamentadas pelo Decreto 42.217/02, e prevê a instalação de
EcoPontos (pontos de entrega voluntária de RCD) em áreas públicas de cada um dos 96
distritos municipais.
Uma outra ação adotada pela Prefeitura foi o aumento considerável nas atividades de
fiscalização para coibir a deposição irregular desses resíduos em espaços públicos.
II.5.3.2. Belo Horizonte
Mesmo não tendo sido o primeiro município brasileiro a aderir à reciclagem de RCD, que foi
São Paulo, Belo Horizonte é uma referência fundamental na gestão desses resíduos, assim
como na gestão de outras parcelas dos Resíduos Sólidos Urbanos – RSU, por ter desenvolvido
desde 1993 um plano pioneiro de gestão diferenciada (denominado à época de Programa de
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
36
Correção Ambiental e Reciclagem dos Resíduos de Construção). Esse plano programou ações
específicas para captação, reciclagem, informação ambiental e recuperação de áreas
degradadas. Ele fez parte de um conjunto maior de ações que constituiu o Modelo de Gestão
de Resíduos Sólidos de Belo Horizonte desenvolvido pela equipe técnica da Superintendência
de Limpeza Urbana e premiado em 1996 pela Fundação Ford e Fundação Getúlio Vargas
como melhor experiência de gestão municipal brasileira (PINTO, 1999).
O modelo de gestão dos RCD aplicado em Belo Horizonte é baseado nos princípios da Gestão
Diferenciada, com ênfase na facilitação da disposição e diferenciação dos resíduos. Para isso
existe na cidade uma rede de captação para os RCD, constando de 4 áreas para entrega
voluntária, denominadas Unidades de Recebimento.
A diferenciação de resíduos em Belo Horizonte tem propiciado a valorização de todos os
resíduos comercializáveis (papel, plástico, metais e outros) e dos RCD, que são deslocados
para as Estações de Reciclagem (PINTO, 1999). A cidade conta atualmente com duas
Estações de Reciclagem, situadas de forma descentralizadas, nos bairros de Estoril e
Pampulha.
O principal uso dado aos materiais reciclados nas estações de Belo Horizonte é em
pavimentação e manutenção de vias urbanas, e em serviços como preparação de vias internas
e células no aterro municipal, em substituição ao solo nobre anteriormente importado. Os usos
são feitos principalmente por empreiteiras contratadas pelo município, que estão sendo
induzidas a usar crescentemente o material (PINTO, 1999).
Dessa forma, é possível afirmar que a Gestão Diferenciada dos RCD em Belo Horizonte está
definitivamente consolidada, e seu desafio é hoje o mais o de consolidar-se, mas sim o de
expandir-se estendendo o alcance das unidades de recebimento para que ocorra a facilitação
da disposição em todas as regiões, o de ampliar a intensidade da reciclagem acompanhando
a elevação da geração, e finalmente, o de promover o necessário envolvimento de outros
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
37
agentes nas operações de reciclagem para que a própria atividade construtiva possa absorver
os resíduos por ela gerados (PINTO, 1999).
II.5.3.3. Salvador
Desde 1981, com a criação de pontos de descarga de entulho descentralizados, a Cidade de
Salvador vem ensaiando a adoção de medidas minimizadoras para os problemas causados
pelos RCD na cidade, porém essas iniciativas aconteciam sempre de forma pontual.
A partir de 1996, quando foram mapeados na região um total de 420 pontos de disposição
clandestina, iniciou-se na cidade ações de melhoria na limpeza urbana, com o objetivo de
corrigir os problemas gerados, de trazer melhorias para o ambiente urbano, de beneficiar os
pequenos geradores de entulho e de reduzir os custos com a coleta, o transporte e a destinação
final, prolongando, também, a vida útil do aterro. Dessa forma, foi criado, por Decreto do
Prefeito, um Grupo de Trabalho interinstitucional, com a finalidade de viabilizar a operação
do Projeto de Gestão Diferenciada de Entulho na Cidade de Salvador (EDUFBA, 2001).
As principais estratégias utilizadas na implantação do Projeto de Gestão Diferenciada de
Entulho na Cidade de Salvador foram:
Instalação de postos de descarga de entulho;
Fiscalização e monitorização;
Educação ambiental;
Remediação de áreas degradadas.
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
38
II.5.3.4. Recife
Na Cidade do Recife, as ações no sentido de melhor gerir os resíduos gerados em atividades
construtivas foram iniciadas somente a partir de 2002, quando entrou em vigor a Resolução
CONAMA 307. Foi então criada uma agenda de reuniões mensais pelo SINDUSCON/PE,
onde são discutidos os diversos temas relacionados a questão dos RCC e às exigências
estabelecidas pela Resolução 307 do CONAMA. Dessa iniciativa resultou a elaboração do
PROJETO ENTULHO LIMPO/PE, que foi aprovado pelo SEBRAE-PE e iniciado em agosto
de 2003 (CARNEIRO et al., 2004).
O PROJETO ENTULHO LIMPO/PE foi desenvolvido por um grupo formado por
pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco – POLI/UPE e da
Universidade Federal de Pernambuco UFPE, do qual a autora da dissertação faz parte, e
teve por objetivo principal realizar um diagnóstico da situação dos RCD na Cidade do Recife,
disseminar princípios e técnicas de produção mais limpa para as empresas construtoras e
promover a educação ambiental nos canteiros de obras. Com a conclusão do projeto, seus
resultados forneceram subsídios que estão sendo utilizados na tomada de decisões por parte
do poder público.
No que diz respeito às ões da administração pública pode-se destacar, além da elaboração
do Programa de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil sob a forma da Lei
Municipal 17.072, a criação de pontos para coleta de pequenos volumes de RCD (até 1 m
3
)
e a realização de estudos para definir a área onde será instalado o aterro cuja função será
receber exclusivamente resíduos inertes.
Em relação às empresas geradoras dos RCD, ou seja, as empresas construtoras, pode-se
afirmar que algumas delas estão trabalhando no sentido de se adequarem aos requisitos
impostos pela Resolução CONAMA 307, mesmo que as ões ainda estejam sendo
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
39
executadas de forma bastante tímida.
II.6. Impactos Ambientais Gerados pelos RCD
A cadeia produtiva da construção civil (o dito construbusiness) é responsável por uma parcela
superior a 14,5% do PIB brasileiro (FINEP, 1999). Este tamanho reflete o papel gigantesco
que o setor tem em proporcionar um ambiente construído adequado para toda a população e
suas complexas atividades econômicas. É fácil observar que praticamente nenhuma atividade
humana prescinde de um ambiente construído adequado, com maior ou menor sofisticação:
todos os edifícios e suas conexões viárias, hidráulicas e elétricas são, em maior ou menor
grau, um produto da construção civil. A construção civil está presente em todas as regiões do
planeta ocupadas pelo homem, na cidade ou no campo e amesmo entre povos da floresta
(JOHN, 2000).
De maneira geral o impacto ambiental da construção civil é proporcional a sua tarefa social
(JOHN, 2000). Para efeito desse trabalho iremos tratar em especial dos impactos ambientais
gerados pelos resíduos provenientes de atividades relativas ao setor da construção civil. Estes,
na maioria dos centros urbanos brasileiros, representam um grave problema, o que vem se
agravando cada vez mais com o crescente adensamento das cidades e a falta de espaço para a
destinação final desses resíduos (CARNEIRO et al., 2004).
Em virtude de sua geração em grande escala e de ser um resíduo bastante volumoso, os RCD
são responsáveis por diversos impactos ambientais negativos que se estendem além do meio
urbano. Tais impactos podem ser verificados desde o momento de sua geração, quando em
virtude do desperdício, um acréscimo na quantidade de materiais utilizada e
conseqüentemente de recursos naturais retirados da natureza, até o momento de sua
disposição final, que na maior parte das vezes os RCD não são dispostos de maneira
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
40
adequada, resultando no surgimento e agravamento de problemas urbanos.
Com relação ao consumo de recursos naturais, segundo JOHN (2000) a cadeia produtiva da
construção civil é o maior consumidor de recursos naturais de qualquer economia, uma vez
que produz os bens de maiores dimensões físicas do planeta. Segundo SJOSTROM (1996),
citado por JOHN (2000, p.15), a construção civil consome entre 14% e 50% dos recursos
naturais extraídos no planeta.
No que diz respeito às deposições irregulares pode-se afirmar que estas são hoje um dos
principais problemas gerados pelos RCD, visto que as mesmas têm como característica típica
um conjunto de efeitos deteriorantes do ambiente local: comprometimento da paisagem, do
tráfego de pedestres e de veículos e da drenagem urbana, atração de resíduos não-inertes,
multiplicação de vetores de doenças e outros efeitos (EDUFBA, 2001).
Um outro problema urbano que vem sendo agravado pela disposição dos RCD são as
enchentes ocorridas em municípios de médio e grande porte que, com poucas exceções, se
devem à ocupação urbana das zonas de espraiamento de importantes cursos d’água, sendo
muito freqüente o pré-aterramento dessas áreas, com a deposição de RCD e muito freqüente o
reconhecimento da concentração de deposições irregulares ao longo de cursos d’água
(PINTO, 1999).
Em grande parte, a proliferação das deposições irregulares se deve ao acelerado processo de
adensamento urbano dos últimos anos, que fez com que a disponibilidade de áreas para
deposição dos resíduos mais próximas dos centros urbanos se esgotasse rapidamente e se
criasse a necessidade de recurso a áreas cada vez mais periféricas. Dessa forma, o
distanciamento e o esgotamento crescentes dos bota-foras é fator complicador para as ações
corretas de coleta e disposição dos RCD, pois o componente custo de coleta é determinante,
mesmo em cidades onde os percursos sejam extremamente menores que em regiões
metropolitanas (EDUFBA, 2001).
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
41
Segundo PINTO (1999) outros impactos significativos decorrentes da elevada geração de
RCD, de sua deposição irregular e da atração que as deposições de RCD passam a exercer
sobre outros tipos de resíduos sólidos. São atraídos resíduos classificáveis como volumosos,
para os quais também não são oferecidas soluções aos geradores, resíduos vegetais e outros
resíduos não-inertes que aceleram a deterioração das condições ambientais locais.
Embora seja possível e prioritário reduzir a quantidade de resíduos durante a produção e até o
pós-consumo, eles sempre serão gerados. O desenvolvimento sustentável requer uma redução
no consumo de matérias-primas não renováveis. O fechamento do ciclo produtivo, gerando
novos produtos a partir da reciclagem de resíduos, é uma alternativa insubstituível. Assim, o
desenvolvimento de tecnologias para a reciclagem de resíduos ambientalmente eficientes e
seguras, que resultem em produtos com desempenho técnico adequado e que sejam
economicamente competitivas nos diferentes mercados é um desafio técnico importante,
inclusive do ponto de vista metodológico (ROCHA et al., 2003).
II.7. Reciclagem de RCD
Segundo PINTO (1999) a elevada geração de resíduos, determinada pelo acelerado
“desenvolvimento” da economia nos dois últimos séculos, coloca como inevitável a adesão às
políticas de valorização dos resíduos e sua reciclagem, nos países desenvolvidos e em amplas
regiões dos países em desenvolvimento.
II.7.1. Vantagens Potenciais da Reciclagem de RCD
Do ponto de vista ambiental, a reciclagem dos RCD deve ser vista como uma prática bastante
benéfica. Seus benefícios vão desde a minimização do consumo de recursos naturais pela
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
42
indústria da construção civil, e conseqüente prolongamento da vida útil das reservas naturais e
redução dos impactos negativos dessa atividade sobre o meio ambiente, até a redução da
quantidade de deposições irregulares de RCD e do volume desses resíduos dispostos em
aterros.
No que se refere às vantagens econômicas, pode-se destacar a redução nas despesas por parte
das administrações públicas com a remediação das áreas de deposição clandestina e o possível
barateamento no preço dos produtos reciclados.
Na escala social, além dos benefícios trazidos pela aplicação de materiais reciclados como
forma de redução nos custos de construção de habitações populares, pode-se afirmar que a
reciclagem também permite a geração de empregos e aumenta a competitividade da economia
(EPA, 1998, citado por JOHN, 2000, p.30).
Uma outra vantagem potencial da reciclagem de RCD é o fato de que a incorporação de
resíduos permite muitas vezes a produção de materiais com melhores características técnicas
(EDUFBA, 2001).
II.7.2. Barreiras Encontradas para a Reciclagem de RCD
Apesar de apresentar inúmeras vantagens, a reciclagem de RCD também apresenta alguns
riscos, devendo os mesmos ser analisados para cada situação específica.
Um dos graves riscos quando se produzem novos materiais a partir de resíduos, é a
contaminação ambiental interna e externa das construções que usam esses resíduos, seja pela
contaminação da água, radiação ou pela volatilização de frações orgânicas (VAN DER
ZWAN, 1991, citado por JOHN, 2000, p.28).
Um outro problema encontrado para a adoção massiva da prática da reciclagem de RCD é a
necessidade de superação dos limitadores legais e da definição de uma política de valorização
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
43
dos resíduos e de incentivos fiscais para a criação desse novo mercado, seja através do poder
de compra do estado ou pela obrigatoriedade da utilização de percentuais mínimos de
materiais reciclados em determinados produtos.
Em uma situação de mercado livre, a escolha entre materiais reciclados e naturais depende do
preço e da qualidade. Por exemplo, o uso de concreto reciclado será preferido quando o preço
para os seus produtos for consideravelmente mais baixo comparado com aquele que utiliza os
materiais naturais, contanto que os materiais reciclados cumpram as especificações
determinadas (KARTAM et al., 2004).
A dificuldade de introdução de novas tecnologias na construção civil também representa uma
grave limitação. De acordo com JOHN (2000) várias razões têm sido apontadas, como:
Baixo impacto da inovação tecnológica no custo do empreendimento imobiliário,
especialmente devido ao preço da terra, uma razão econômica;
Dois fatores técnicos: a existência de normas prescritivas, que especificam a adoção
de uma determinada solução específica e o de um desempenho (PRIES;
URIJTHOFF, 1989; HESEGUER, 1989, JOHN, 1995);
O histórico brasileiro de novas tecnologias que resultaram em desempenhos
insatisfatórios (JOHN, 1995).
Por fim, tem-se a questão cultural de que produtos reciclados possuem qualidade inferior
aqueles convencionais, concepção esta assumida por grande parte da sociedade e a por
técnicos da área. Tal visão somente pode ser transformada através de ações que visem a
conscientização da sociedade, conseguida através de atividades de educação ambiental.
II.7.3. Possibilidades de Aproveitamento do RCD
Atualmente são muitas as possibilidades para o reaproveitamento dos RCD, sejam elas através
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
44
da reutilização ou da reciclagem. Segundo as definições contidas na Resolução CONAMA
307, reutilização é o processo de reaplicação de um resíduo, sem transformação do mesmo,
enquanto a reciclagem é o processo de reaproveitamento de um resíduo, após ter sido
submetido à transformação.
Cabe salientar que, para as soluções visando ao reaproveitamento dos resíduos, existem
tecnologias e procedimentos diversos, mais ou menos sofisticados, mão-de-obra ou capital
intensivos, processos importados e desenvolvidos no país. Sua escolha, entretanto, deve ser
feita tendo em vista se atingir o aproveitamento ambientalmente adequado, ao menor custo
possível, respeitando-se as características socioeconômicas e culturais de cada município
(ROCHA et al., 2003).
Nos tópicos a seguir serão detalhadas algumas das mais utilizadas alternativas para o
reaproveitamento dos RCD.
II.7.3.1. Aterramento
Sem dúvida essa é a alternativa mais utilizada para o reaproveitamento dos RCD, sendo os
mesmos aplicados sem nenhuma espécie de beneficiamento (reutilização).
O grande inconveniente da realização de aterros com os RCD é o fato de que, na maior parte
das vezes, o mesmo é realizado sem nenhum controle e de forma inadequada, deixando de
atuar como uma prática ambientalmente adequada para se tornar a grande responsável por
impactos ambientais como, por exemplo, o aterramento de mangues, lagoas e margens de rios
para a construção de habitações ilegais.
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
45
II.7.3.2. Base e Sub-base de Pavimentação
A investigação sobre o uso dos RCD em obras de pavimentação foi iniciada por cnicos da
Prefeitura Municipal de São Paulo/ SP, no ano de 1989, tendo sido ancorada em metodologias
que consideram as características específicas dos solos tropicais típicos (BODI et al. 1995).
Os resultados das verificações realizadas indicaram a possibilidade de obter-se idêntica
capacidade de suporte com uso de quantidade muito menor de agregados, caso utilizado o
RCD reciclado (PINTO, 1999).
O aproveitamento do agregado reciclado na pavimentação apresenta diversas vantagens:
Utilização de quantidade significativa de material reciclado, tanto na fração miúda,
quanto na graúda;
Simplicidade dos processos de execução do pavimento e de produção do agregado
reciclado (separação e britagem primária), contribuindo para a redução dos custos e a
difusão dessa forma de reciclagem;
Possibilidade de utilização dos diversos materiais componentes do entulho (concretos,
argamassas, materiais cerâmicos, areia, pedras, etc.);
Utilização de parte do material em granulometrias graúdas reduzindo o consumo de
energia necessária para a reciclagem do RCD.
Porém, os dados nacionais demonstram que o setor de pavimentação sozinho seria incapaz de
consumir integralmente o RCD reciclado como base de pavimentação, até porque parte do
agregado natural é utilizada no concreto asfáltico e não todo na base do pavimento
(ÂNGULO et al. 2002).
Um outro ponto importante a se considerar é o fato de que o mercado de pavimentação é
controlado quase que exclusivamente pelo setor público, o que acaba por limitar o uso dos
agregados reciclados nessas atividades, sendo portanto necessária a busca por outros
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
46
mercados, permitindo assim uma maior abrangência para a aplicação dos agregados
reciclados de RCD e também uma maior diversificação de clientes.
Atualmente, no Brasil, as especificações e requisitos básicos para o uso dos agregados de
RCD reciclados como bases de pavimentos encontram-se na norma da ABNT NBR 15116:
2004 Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil utilização em
pavimentos e preparo de concreto sem função estrutural – Requisitos.
Nas tabelas 5 e 6 são apresentados os requisitos gerais e específicos respectivamente, para
emprego do agregado reciclado em pavimentação.Vale salientar que agregados classe A são
aqueles provenientes de materiais da classe A.
Tabela 5 – Requisitos gerais para agregado reciclado destinado a pavimentação.
Agregado reciclado classe A Propriedades
Graúdo Miúdo
Composição Granulométrica Não uniforme e bem graduado com
coeficientes de uniformidade C
U
> 10
Dimensão máxima característica < 63
Índice de forma < 3 -
Teor de material passante na peneira de 0.42 mm Entre 10% e 40%
Materiais não minerais de
mesmas características
1
2
Materiais não minerais de
características distintas
1
3
Contaminantes –
teores máximos em
relação à massa do
agregado reciclado
(%)
Sulfatos 2
FONTE: ABNT NBR 15116:2004.
NOTA: Para efeitos desta Norma, são exemplos de materiais não minerais: madeira, plástico, betume, materiais
carbonizados, vidros e vidrados cerâmicos.
Tabela 6 – Requisitos específicos para agregado reciclado destinado a pavimentação
Aplicação ISC
(CBR)
%
Expansibilidade
%
Energia de
compactação
Material para execução de reforço de
subleito
> 12 < 1,0 Normal
Material para execução de revestimento
primário e sub-base
> 20 < 1,0 Intermediária
Material para execução de base de
pavimento
1
> 60 < 0,5 Intermediária
ou modificada
FONTE: ABNT NBR 15116: 2004.
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
47
II.7.3.3. Na Produção de Componentes de Concreto
Existem atualmente muitos estudos sendo desenvolvidos com o objetivo de se analisar a
viabilidade técnica do uso de agregados reciclados de RCD na fabricação de componentes de
concreto, sejam eles com ou sem função estrutural.
Porém, de acordo com ÂNGULO et al (2002), a atual tecnologia empregada nas centrais de
reciclagem de RCD brasileiras não permite que grande parte dos agregados de RCD
reciclados seja empregada em concretos conforme especificações internacionais. Os
principais impedimentos para o uso destes agregados são os teores de argamassa, de
contaminantes, de materiais pulverulentos e valores de absorção de água e de massa
específica.
No sentido de estabelecer requisitos mínimos para o uso dos agregados de RCD na fabricação
de componentes de concreto, a Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT elaborou
a NBR 15116: 2004 Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil
utilização em pavimentos e preparo de concreto sem função estrutural Requisitos, e
encontra-se em fase de elaboração uma segunda norma técnica contendo as especificações
para o uso destes agregados na fabricação de concretos com função estrutural.
Na Tabela 7 são apresentados os requisitos mínimos para o emprego de agregados reciclados
classe A (proveniente de material classe A) em concretos sem função estrutural.
Tabela 7 – Requisitos para agregado reciclado destinado ao preparo de concreto sem função estrutural.
(continua)
Agregado reciclado classe A
ARC
2
ARM
3
Propriedades
Graúdo
Miúdo
Graúdo
Miúdo
Teor de fragmentos à base de cimento e rochas (%) > 90 - < 90 -
Absorção de água (%) < 7 < 12 < 12 < 17
Cloretos 1
Sulfatos 1
Materiais não minerais
1
2
Contaminantes – teores
máximos em relação à
massa do agregado
reciclado (%) Torrões de argila 2
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
48
(conclusão)
Agregado reciclado classe A
ARC
2
ARM
3
Propriedades
Graúdo
Miúdo
Graúdo
Miúdo
Contaminantes – teores
máximos em relação à
massa do agregado
reciclado (%)
Teor total máximo de
contaminantes
3
Teor de material passante na malha 75 µm (%) < 10 < 15 < 10 < 20
FONTE: ABNT NBR 15116: 2004.
(1) Para efeitos desta Norma, são exemplos de materiais não minerais: madeira, plástico, betume, materiais
carbonizados, vidros e vidrados cerâmicos.
(2) Agregado de resíduo de concreto: É o agregado obtido do beneficiamento de resíduo pertecente à classe A,
composto na sua fração graúda, de no mínimo 90% em massa de fragmentos à base de cimento Portland e
rochas.
(3) Agregado de resíduo misto: É o agregado obtido do beneficiamento de resíduo pertecente à classe A,
composto na sua fração graúda, com menos de 90% em massa de fragmentos à base de cimento Portland e
rochas.
Para que as especificações apresentadas na Tabela 7 sejam atendidas e o uso dos agregados de
RCD reciclados em concretos seja viável, são necessárias mudanças em procedimentos e em
equipamentos nas instalações de reciclagem, além do modelo de gestão adotado para os RCD,
dentro e fora do canteiro de obras. Segundo MESTERS; KURKOWSKI (1997) citado por
ÂNGULO et al. (2002, p. 5), aplicações em concretos em larga escala serão conseguidas
através de demolição seletiva (aquela realizada de forma a garantir o potencial de uso do
resíduo gerado) bem controlada e através de técnicas de processamento mineral que permita
processar resíduos mais heterogêneos.
II.7.4. A Reciclagem de RCD no Mundo
De acordo com a literatura disponível, a reciclagem dos RCD é uma prática tão antiga quanto
a construção, sendo praticada há milênios pelas civilizações antigas.
No período mais recente, na Alemanha, em torno de 1860, notícias do uso de blocos de
concreto britados como agregado para novos produtos de concreto. Os primeiros estudos
sistemáticos sobre as características dos agregados reciclados têm início neste mesmo país,
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
49
em 1928. No entanto, o uso significativo de RCD reciclado veio acontecer após a Segunda
Guerra Mundial, em resposta à necessidade de satisfazer a enorme demanda por materiais de
construção e à necessidade de remover os escombros das cidades européias (SCHULZ;
HENDRICKS, 1992, citado por PINTO, 1999, p.87).
A então República Federal da Alemanha herdou da guerra um volume entre 400 e 600
milhões de metros cúbicos de escombros, dos quais foram reciclados cerca de 11,5 milhões de
metros cúbicos, que possibilitaram a produção de 175.000 unidades habitacionais até o ano de
1955 (SCHULZ; HENDRICKS, 1992, citado por PINTO, 1999, p.87).
Nos dias atuais a reciclagem de RCD encontra-se implantada e consolidada na Europa
Ocidental, Japão e nos EUA.
Segundo PINTO (1999) em praticamente todos os países-membros da comunidade européia
existem instalações de reciclagem de RCD, normas e políticas para esse tipo de resíduo. Tal
avanço pode ser percebido através de exemplos como o da Holanda e da Dinamarca, que no
início da década de 1990 já reciclavam 60% dos RCD gerados, abastecendo 10% do mercado
de agregados com estes produtos (NORDBERG NEWS, sd, citado por PINTO, 1999, p.88).
No Japão, em virtude do crescimento na geração de RCD na década de 1980 (passou de 30,4
para 83,6 milhões de toneladas anuais), foram alcançados avanços significativos no que diz
respeito à reciclagem de RCD. Em 1991, em Tóquio já existiam 12 instalações de reciclagem,
operando com equipamentos de origem alemã, exclusivamente para a reciclagem de concreto
(HONG KONG, 1993, citado por PINTO, 1999, p. 88).
Nos EUA, em 1996, foi estimada a existência de 1.800 instalações de reciclagem em operação
no país, 1.000 delas processando asfalto, 500 processando madeira e 300 operando com
resíduos misturados (YOST, 1998, citado por PINTO, 1999, p.89). Neste país, segundo a
Environmental Protection Agency (EPA), em 1996, aproximadamente 136 milhões de
toneladas de RCD foram geradas, das quais novas construções foram responsáveis por apenas
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
50
8% desse total (48% demolição e 44% reformas). Por esse motivo, neste país, o
aperfeiçoamento da técnica da desconstrução é o importante como forma de garantir
condições de reuso e reciclagem para uma maior quantidade de RCD.
II.7.5. A Reciclagem de RCD no Brasil
No Brasil, a prática da reciclagem de RCD ainda é bastante recente quando comparada com
países como a Alemanha, Japão ou EUA. No entanto, nos últimos anos essa atividade vem se
intensificando como forma de minimizar ou até solucionar o problema da destinação dos
RCD.
Os primeiros estudos sistemáticos foram realizados a partir de 1983 (PINTO, 1986),
ocorrendo na seqüência os estudos de SILVEIRA (1993), ZORDAN (1997), LEVY (1997),
LATTERZA (1998) e LIMA (1999), além de uma série de outros estudos pontuais em várias
instituições de pesquisa do País (PINTO, 1999).
A primeira unidade de reciclagem de RCD instalada no Brasil foi na cidade de São Paulo, em
1991. A partir daí muitos municípios brasileiros prosseguiram com a instalação de unidades
de reciclagem o que, segundo PINTO (1999), aconteceu em alguns deles como resultado de
planos de gestão dos RCD e, em outros, como mera aquisição de equipamentos
descoordenada de um planejamento de ões, o que inevitavelmente comprometem os
resultados a serem alcançados, eliminando em alguns casos qualquer impacto positivo da
presença das instalações de reciclagem.
Ainda de acordo com PINTO (1999), o sucesso obtido por algumas instalações brasileiras,
pelo volume de material que vem processando e pelo impacto ambiental que eliminam, é o
fato de terem sido originadas de processos iniciados com quantificações precisas,
reconhecimento de fluxos e atores inseridos, ou seja, um diagnóstico bem elaborado.
CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
51
Uma característica comum de quase todas as instalações de reciclagem em operação hoje no
Brasil é o fato das mesmas serem controladas pelo poder público ou autarquias locais, tendo
em vista que a maior parte dos agregados produzidos nessas instalações é empregada em
obras de pavimentação, cujo principal cliente são as administrações públicas locais.
No entanto, recentemente a oportunidade de negócio na operação de centrais de reciclagem de
RCD, intensificadas pela Resolução CONAMA 307, começa a chamar atenção do setor
privado. É verdade que são muitas as dificuldades existentes que precisam ser vencidas para o
sucesso da reciclagem de RCD pelo setor privado, porém avanços como a normalização do
uso de agregados reciclados de RCD em concretos, mesmo que sem função estrutural,
representa um fator impulsionador no desenvolvimento de mercados alternativos para esses
produtos.
CAPÍTULO III METODOLOGIA
52
CAPÍTULO III - METODOLOGIA
As etapas de desenvolvimento deste trabalho acompanha a seqüência apresentada no
fluxograma da Figura 2. Pode-se então dividir o presente estudo em duas fases: a primeira
refere-se a identificação da situação encontrada na região em análise, a Cidade do Recife,
antes da entrada em vigor das exigências contidas na Resolução CONAMA 307, enquanto
que na etapa posterior foram detectadas as ações que estão sendo desenvolvidas com o
objetivo de adequação a já referida lei, com o desenvolvimento de um estudo experimental
cujo objetivo foi a verificação do potencial de utilização do RCD reciclado, tendo sido
escolhido para tanto a fabricação de blocos de concreto (sem função estrutural).
Na etapa inicial, com a finalidade de realizar um diagnóstico da situação dos resíduos de
construção na Cidade do Recife, do ponto de vista ambiental e legal, foram realizadas
estimativas da quantidade de RCD gerados, um mapeamento dos locais de deposição dos
RCD (legais e ilegais) e a determinação das características básicas dos RCD (composição,
granulometria e massa unitária).
na fase de identificação das ações de adequação à Resolução CONAMA 307, além do
contato direto com os atores envolvidos (através de entrevistas) foi realizado também um
estudo experimental de utilização do RCD reciclado sob a forma de agregado para concreto
na fabricação de blocos para utilização em alvenarias sem função estrutural. Vale salientar
que, no presente estudo, não existiu a pretensão de se realizar um comparativo entre a
qualidade apresentada por blocos de concreto fabricados com e sem agregado reciclado de
RCD, mas apenas a de verificar a viabilidade cnica da aplicação do RCD reciclado na
produção de blocos de concreto, no que diz respeito ao atendimento às especificações
contidas nas normas técnicas existentes.
CAPÍTULO III METODOLOGIA
53
Figura 2 – Fluxograma do planejamento das atividades da pesquisa.
III.1. Estimativa da Geração de RCD
Segundo PINTO (1999) a construção de indicadores sobre a produção de RCD pode ser
realizada a partir de três bases de informação: das estimativas de área construída serviços
Levantamento da Situação Atual dos RCD na Cidade do Recife
Estimativa
da Geração
Mapeamento
dos Pontos de
Caracterização
dos RCD
Identificação
das Ações
* Dados do
Aterro da
Muribeca;
* Entrevistas -
empresas
coletoras;
* Estimativa -
área construída.
* Composição
Visual;
* Massa específica;
* Composição
granulométrica.
SETOR
PÚBLICO
* Regulares;
* Irregulares.
DIAGNÓSTICO
AÇÕES
SETOR
PRIVADO
- Programa Municipal de
Gerenciamento de
Resíduos da Construção
Civil;
- Pontos de entrega
voluntária de RCD – peq.
volumes;
- Área para disposição
Final de Resíduos inertes.
- Programa de
redução de
perdas;
- Coleta seletiva.
ENTIDADES E
INSTITUIÇÕES
- Reciclagem de
RCD – Estudo
experimental;
- Reuniões
Mensais.
CAPÍTULO III METODOLOGIA
54
executados e perdas efetivadas; da movimentação de cargas por coletores; do monitoramento
de descargas nas áreas utilizadas como destino dos RCD.
Para efeito deste estudo foram consideradas informações obtidas através de:
Entrevista com as empresas coletoras de RCD licenciadas pela Prefeitura da Cidade do
Recife;
Estimativa de área construída (área licenciada pela prefeitura) e perdas detectadas em
canteiros de obras;
Registro de RCD disposto no Aterro da Muribeca (única área autorizada para o
recebimento dos RCD da Cidade do Recife);
De posse dessas informações foi realizado um cruzamento dos dados obtidos através das três
fontes citadas, o que possibilitou a determinação de um valor aproximado para a geração de
RCD na Cidade do Recife.
III.1.1. Estimativa da Geração de RCD a partir de Entrevista Realizada com as Empresas
Coletoras
Para coleta de dados nesta etapa da pesquisa, optou-se por um tipo de observação direta
intensiva, a entrevista padronizada ou estruturada (Apêndice 1), que segundo MARCONE e
LAKATOS (2002) é aquela em que o entrevistador segue um roteiro previamente
estabelecido; as perguntas feitas ao indivíduo são predeterminadas. Ela se realiza de acordo
com um formulário elaborado e é efetuada de preferência com pessoas selecionadas de acordo
com um plano.
Definida a técnica de pesquisa a ser adotada, passou-se a preparação da entrevista com foco
nas informações e dados necessários ao desenvolvimento deste estudo.
CAPÍTULO III METODOLOGIA
55
Ao longo das entrevistas, foi necessária a realização de algumas pequenas alterações e
adaptações, de forma a garantir a eficácia da técnica adotada e a veracidade das informações e
dados obtidos.
De acordo com MARCONE e LAKATOS (2002) o universo de uma pesquisa é o conjunto de
seres animados ou inanimados que apresentam pelo menos uma característica em comum.
Para realização das entrevistas o universo considerado foi o das empresas coletoras
licenciadas pela Prefeitura da Cidade do Recife, através da Empresa Municipal de
Manutenção e Limpeza Urbana – EMLURB, para a realização de serviços de coleta de RCD.
Todas as 19 empresas licenciadas foram contatadas, porém verificou-se que, no período de
aplicação do questionário, apenas 14 dessas empresas estavam atuando no segmento de coleta
de RCD. A entrevista estruturada foi aplicada a 9 empresas, que representam cerca de 62% do
total, uma vez que o restante dos coletores recusou-se a respondê-lo.
III.1.2. Estimativa de Geração de RCD a Partir da Área Total Licenciada para Construção X
Índice de Perdas de Materiais
Para realização de tal estimativa foram coletados dados junto a Prefeitura da Cidade do Recife
a respeito do total de área licenciada para construção na Cidade do Recife. Vale salientar que
do valor total de área encontrado foram excluídas aquelas referentes a reformas e ampliações,
uma vez que nesse item foram estimadas apenas as gerações de resíduos por novas
construções.
Com o objetivo de estabelecer um índice de geração de RCD por metro quadrado de
construção, foi realizada uma pesquisa de campo em 3 canteiros de obras, que segundo
MARCONE e LAKATOS (2002) consiste na observação de fatos e fenômenos tal como
CAPÍTULO III METODOLOGIA
56
ocorrem espontaneamente, na coleta de dados a eles referentes e no registro de variáveis que
se presume relevantes, para analisá-los.
Através do cruzamento dessas duas informações (área licenciada para novas construções e
índice de geração de RCD por metro quadrado) foi possível realizar a estimativa de RCD
gerado por novas construções na Cidade do Recife.
III.1.3. Estimativa de Geração de RCD a Partir dos Dados de Recebimento de RCD do Aterro
da Muribeca
A coleta dos dados para realização dessa estimativa foi feita através de uma pesquisa de
campo junto à Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana EMLURB e á administração do
Aterro da Muribeca, cuja técnica de pesquisa adotada foi a entrevista despadronizada ou não
estruturada, como forma de explorar mais amplamente a questão dos RCD no Aterro da
Muribeca.
III.2. Mapeamento dos Pontos de Deposição de RCD
Foi realizada nessa fase uma pesquisa de campo para identificação dos diversos pontos de
deposição de RCD, localizados dentro dos limites da área de estudo adotada, sendo eles legais
ou ilegais.
Após a identificação de cada ponto, tomava-se suas respectivas coordenadas geográficas,
fazendo-se uso para tanto de um aparelho de GPS, da marca Gramin, com aproximação de 15
metros.
Na segunda etapa os pontos encontrados foram plotados em um mapa georeferenciado da
região em estudo, fazendo-se uso para isso do AUTOCAD 2000, sendo em seguida o mesmo
CAPÍTULO III METODOLOGIA
57
importado, no formato.dxf, para o SPRING 4.0, programa escolhido para o tratamento das
informações geográficas obtidas. No programa foi criado um banco de dados chamado Cidade
do Recife cujo modelo de dados adotado foi o cadastral, uma vez que o dado a ser trabalhado
pode ser considerado como objeto e serão atribuídos ao mesmo atributos descritivos. Foi
criado um projeto denominado Bairros, onde foi estabelecido o limite geográfico da área de
estudo (Retângulo Envolvente) e escolhida a projeção cartográfica UTM/SAD69. Foram
criadas então duas categorias distintas, Limites e Pontos, às quais os Planos de Informação
(PI) criados posteriormente estariam associados. Cada PI gerado continha um conjunto de
pontos da mesma natureza, por exemplo, Pontos Críticos. Por meio da ferramenta visual, os
Pis puderam ser diferenciados um dos outros (Ver Figura 3). Em seguida foi criada uma
Tabela de Atributos da qual faz parte os pontos mais importantes, e associado a cada um deles
consta mais detalhes a respeito da localização, além das fotos do local.(Figura 4)
Figura 3 – Diferenciação dos Pontos de Deposição de RCD de acordo com a Natureza.
CAPÍTULO III METODOLOGIA
58
Figura 4 – Tabela de Atributos com Detalhes dos Pontos de Deposição Considerados Críticos.
Ainda nessa fase, fez-se uso de um outro tipo de observação direta intensiva, a observação,
que é uma técnica de coleta de dados para conseguir informações e utiliza os sentidos na
obtenção de determinados aspectos da realidade. Neste caso foi realizado um registro
fotográfico da cada ponto de deposição encontrado, com o objetivo de realizar uma posterior
análise visual dos possíveis impactos ambientais causados.
III.3. Caracterização do RCD
Em virtude do universo dessa etapa da pesquisa ser todo RCD gerado na Cidade do Recife
impossibilitando, portanto a caracterização do todo, foi necessário a definição de uma
amostra. Amostra é uma porção ou parcela, convenientemente selecionada do universo; é um
subconjunto do universo (MARCONE e LAKATOS, 2002).
CAPÍTULO III METODOLOGIA
59
Segundo as informações obtidas através da entrevista realizada com os coletores de RCD,
verificou-se que 57% dos resíduos coletados por essas empresas são provenientes de obras do
tipo multipiso. Dessa forma a amostra inicial foi delimitada aos RCD gerados em obras de
construção do tipo multipiso e de caráter residencial. A partir daí foi adotado um sistema de
amostragem aleatório simples, ou seja, a escolha de determinado “indivíduo” é realizada ao
acaso (de forma aleatória).
Para efeito desta caracterização foram consideradas quatro fases distintas de produção de uma
obra: fundação, estrutura, alvenaria e acabamento. A partir daí, foram coletadas quatro
amostras de aproximadamente 13 kg (Figura 5) para cada fase de produção considerada,
totalizando 16 amostras coletadas em canteiros de obras distintos.
Figura 5 – Amostras de RCD.
De posse das amostras foi realizada, no Laboratório de Materiais de Construção da Escola
Politécnica de Pernambuco, a caracterização visual das mesmas, de acordo com o tipo de
material existente em sua composição (concreto, argamassa, tijolos cerâmicos, gesso, areia,
entre outros), através da separação visual e posterior determinação da massa dos mesmos,
conforme pode ser observado na Figura 6.
CAPÍTULO III METODOLOGIA
60
Figura 6 – Separação Visual e Posterior Pesagem dos Materiais que Compões a Amostra.
Uma caracterização física também foi realizada para todas as amostras coletadas, sendo
executados para tanto os ensaios de determinação da composição granulométrica (NBR 7217)
e massa unitária no estado solto (NBR 7251).
III.4. Identificação das Ações de Adequação à Resolução CONAMA Nº 307
Visando identificar as diversas ações que estão sendo desenvolvidas na Cidade do Recife no
sentido de adequação ao que estabelece a Resolução CONAMA 307, foram consultados
todos os atores envolvidos com a questão dos RCD, ou seja:
Administração pública municipal (EMLURB);
Empresas coletoras de RCD;
Empresas construtoras;
Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de Pernambuco
SINDUSCON/PE;
Universidades.
CAPÍTULO III METODOLOGIA
61
III.4.1. Setor Público – Administração pública municipal (EMLURB)
Foi utilizada a técnica da entrevista o estruturada para a coleta de informações junto à
administração pública municipal.
III.4.2. Setor Privado – Empresas Construtoras e Coletoras de RCD
Tanto no caso das empresas construtoras, geradoras dos RCD, como no das empresas
coletoras dos resíduos foi utilizada a técnica da entrevista não estruturada para a identificação
das ações desenvolvidas.
Depois de identificadas as ões, através da técnica da observação direta intensiva foi
realizado o registro fotográfico dessas ações para posterior análise.
III.4.3. Entidades e Instituições: Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de
Pernambuco – SINDUSCON/PE e Universidades (UPE e UFPE)
Através da participação em reuniões mensais promovidas pelo SINDUSCON/PE para tratar
da questão dos resíduos provenientes de atividades construtivas, foi possível a realização de
um convênio entre o SINDUSCON/PE, SEBRAE/PE, Escola Politécnica da Universidade de
Pernambuco, Universidade Federal de Pernambuco e Universidade Federal da Paraíba, para o
desenvolvimento do chamado PROJETO ENTULHO LIMPO/PE.
Dessa forma, esta dissertação representa parte integrante do PROJETO ENTULHO
LIMPO/PE, que além de outros objetivos, buscou comprovar a viabilidade técnica do uso de
agregados reciclados de RCD na fabricação de blocos de concreto para alvenaria sem função
estrutural, cujo procedimento experimental utilizado está descrito no tópico a seguir.
CAPÍTULO III METODOLOGIA
62
III.4.3.1. Reciclagem de RCD para uso como agregados na fabricação de blocos de concreto
para alvenaria sem função estrutural – Estudo experimental.
Essa fase do estudo é caracterizada como pesquisa de laboratório, uma vez que ela descreve e
analisa o que se ou ocorrerá em situações controladas, exigindo instrumental específico,
preciso e ambientes adequados.
Esta pesquisa pode ser dividida em duas etapas experimentais. A primeira etapa refere-se a
coleta, beneficiamento do RCD sob a forma do agregado reciclado e caracterização de todos
os materiais utilizados. A segunda está relacionada à moldagem dos blocos e aos ensaios
físico-mecânicos, incluindo nessa etapa o estudo de dosagem realizado para o concreto
produzido com agregado reciclado.
Os materiais, procedimentos de ensaios e os parâmetros de produção e de mistura foram
definidos, na fase de desenvolvimento experimental, com base em alguns estudos
desenvolvidos por outros pesquisadores e em ensaios realizados durante o estudo.
A relação aglomerante:agregados o foi considerada neste estudo uma variável, tendo sido
definida baseada no estudo desenvolvido por OLIVEIRA (2003), que obteve resultados
satisfatórios utilizando um traço de 1:8 (aglomerante:agregados) para o concreto usado na
fabricação de blocos de alvenaria sem função estrutural.
A composição granulométrica também foi considerada uma constante, uma vez que a
granulometria do agregado reciclado de RCD foi definida de forma que a mesma se
aproximasse o máximo possível daquela encontrada para os agregados naturais
comercializados na região.
Inicialmente a parte experimental dessa pesquisa foi realizada no Laboratório de Ensaios de
Materiais e Estruturas LABEME da Universidade Federal da Paraíba UFPB, tendo sua
CAPÍTULO III METODOLOGIA
63
continuidade sido realizada no Laboratório de Tecnologia da Habitação LTH e Laboratório
de Construção Civil - LCC do Instituto Tecnológico do Estado de Pernambuco – ITEP.
Materiais Utilizados
Cimento Portland
O tipo de cimento utilizado neste estudo foi o CPII -Z -32 RS , uma vez que este além de
apresentar características compatíveis para a produção de pré-moldados, foi o cimento com
maior disponibilidade e mais comercializado na região no período de desenvolvimento da
pesquisa.
Agregados Naturais
A areia utilizada foi escolhida por apresentar granulometria média e teor de material fino
adequado à fabricação de pré-moldados. Para isso buscou-se alcançar um percentual o
inferior a 50% de material retido nas peneiras de abertura (#) 0,15 mm e 0,30 mm (soma). Na
Figura 7 são mostrados os agregados miúdo e graúdo (cascalho granítico) utilizado neste
estudo.
CAPÍTULO III METODOLOGIA
64
Figura 7 – Agregados Miúdo e Graúdo Utilizados.
Água
Foi utilizada nesta pesquisa água potável fornecida pela concessionária local, a Companhia
Pernambucana de Saneamento – COMPESA.
Agregado Reciclado de RCD
Em virtude da alta variabilidade na composição dos RCD conforme sua fonte geradora
(construção, demolição, reformas ou ampliações), para efeitos deste estudo, o resíduo
beneficiado sob a forma de agregado foi coletado somente em canteiros de obras de novas
construções.
A coleta desse resíduo foi realizada de forma aleatória em canteiros de obras localizados na
Cidade do Recife, com construções do tipo multipiso e de caráter residencial, padrão “A”,
todas com estrutura executada em concreto armado e vedação dos vãos com tijolos cerâmicos.
O resíduo passou então por um processo de separação manual, de forma que a amostra final a
ser reciclada apresentasse em sua composição somente resíduos cerâmicos (concreto,
CAPÍTULO III METODOLOGIA
65
argamassa, tijolos cerâmicos, etc.). Após separadas as amostras foram armazenadas em tonéis
fechados, de forma a protegê-las de qualquer espécie de contaminação.
O equipamento utilizado para triturar a amostra de RCD a ser utilizada na pesquisa foi um
triturador de mandíbulas "FURLAN" da linha JC (Jaw Crushers), com abertura de boca de
800 x 550 mm, conforme pode ser visto na Figura 8. Em virtude da boca de alimentação do
triturador utilizado possuir pequenas dimensões, foi necessária a prévia redução do tamanho
das partículas de RCD, realizada manualmente.
Figura 8 – Triturador de Mandíbulas Utilizado no Beneficiamento do RCD.
Em seguida o equipamento foi ajustado, de modo a produzir um agregado dentro da faixa de
granulometria desejada (próxima a da mistura areia-cascalho). Assim, todo material foi
beneficiado e armazenado dentro de tonéis, para impedir a contaminação dos mesmos.
Foi realizada a caracterização da amostra a ser reciclada, com o objetivo de conhecer à
proporção que cada tipo de material representa na composição final do resíduo em estudo.
Para escolha da amostra de ensaio foi utilizado o processo de quarteamento prescrito na
norma da ABNT NBR 9941/87 “Redução de Amostra de Campo de Agregados para
Ensaio de Laboratório”. A separação dos diversos materiais constituintes da amostra final foi
CAPÍTULO III METODOLOGIA
66
realizada manualmente, conforme Figura 9, seguida da pesagem da parcela de cada tipo de
material.
Na Figura 10 é apresentada, em termos percentuais, a participação de cada material na
composição da amostra.
Figura 9 – Separação Manual dos Materiais que Compõe o RCD Beneficiado.
Composição em Massa do RCD a ser
Beneficiado
7%
41%
31%
3%
18%
Tijolo Cerâmico Concreto Argamassa Brita Areia
Figura 10 – Composição da Amostra de RCD a ser Beneficiada
Estudo de Dosagem para Produzir Blocos de Concreto
No processo de produção dos blocos de concreto para alvenaria sem função estrutural com
CAPÍTULO III METODOLOGIA
67
agregados reciclados, cujas dimensões são 9 X 19 X 39 cm, foi realizado um rigoroso controle
na mistura dos materiais, com os agregados secos e o traço em massa, objetivando a
minimização da variabilidade e da dispersão dos resultados obtidos.
Para o estudo de dosagem foram considerados desde os ensaios de caracterização dos
materiais utilizados, até as atividades finais, como a produção e a cura dos blocos. Na Tabela
8 estão relacionados os ensaios de caracterização realizados com os materiais.
Tabela 8 – Ensaios de caracterização dos materiais realizados.
Material Ensaio Norma Técnica
Granulometria NBR 7217
Massa Unitária NBR 7810
Massa Específica NBR 9776
Teor de Materiais Pulverulentos NBR 7219
Agregado Miúdo
Torrões de Argila NBR 7218
Granulometria NBR 7217
Massa Unitária NBR 7810
Agregado Graúdo
Massa Específica NBR 9937
Tempo de Pega: início e fim NBR 11581
Massa Específica Real NBR NM 23/98
Resistência à Compressão NBR 7215
Composição Química NBR 05742
Finura: resíduo na peneira 0,075mm NBR 11579
Cimento Portland
Superfície específica Blaine NBR NM 76/98
Vale salientar ainda que o agregado reciclado de RCD foi utilizado sem a retirada da parte
miúda, uma vez que este procedimento além de reduzir os custos de beneficiamento também
evita problemas na dosagem do concreto, uma vez que a separação da parte miúda da graúda
resulta em um agregado graúdo sem nenhuma parcela de finos. No entanto, foi estabelecido
que o D
máx
do agregado reciclado de RCD deveria ser igual ao D
máx
do agregado graúdo
natural (cascalho).
Os percentuais de substituição dos agregados naturais pelo agregado reciclado de RCD
adotados foram os de 30% (série B30) e 60% (série B60), uma vez que segundo OLIVEIRA
(2003) estes apresentaram os melhores desempenhos. Ressalta-se, no entanto, que a proporção
CAPÍTULO III METODOLOGIA
68
entre os agregados miúdo e graúdo naturais (50%), determinada pelo ensaio de determinação
da massa unitária do estado compactado seco, foi preservada.
Determinação do Menor Volume de Vazios Entre os Agregados Naturais
Este ensaio objetiva a determinação da melhor composição entre os agregados miúdos e
graúdos, através da massa unitária no estado seco (NBR 7810), adotando-se para tanto várias
misturas como pode ser observado na Tabela 9.
Tabela 9 – Determinação da melhor proporção entre areia e cascalho, através do ensaio de massa unitária no
estado compactado seco.
Areia (%) Cascalho (%) Massa Unitária (g/cm
3
)
30 70 2,21
40 60 2,235
50 50 2,25
60 40 2,22
70 30 2,185
Dessa forma verificou-se que a mistura mais compacta, ou seja, a que apresenta menor índice
de vazios, para a composição entre agregado miúdo e graúdo naturais foi obtida quanto
utilizada a proporção de 50% de areia e 50% de cascalho.
Definição da relação agregado: cimento
A relação agregado: cimento no presente estudo foi definida a partir de um estudo realizado
por OLIVEIRA (2003), no qual com o traço de 1 (uma) medida de cimento para cada 8 (oito)
medidas de agregados (1:8) foram atendidas as condições de resistência à compressão simples
fc>2,5 Mpa (NBR 7173/82) e o menor consumo de cimento, que nesse caso foi de 276 kg/m
3
.
Ainda com base no estudo desenvolvido por OLIVEIRA (2003) definiu-se percentuais de
substituição dos agregados naturais por agregados reciclados de RCD de 30% e 60%, uma vez
CAPÍTULO III METODOLOGIA
69
que os blocos fabricados com esses percentuais apresentaram melhores resultados.
Na Tabela 10 é apresentada a composição do traço, em massa, utilizado para a preparação do
concreto neste estudo. Vale ressaltar que a proporção entre agregados miúdo (a) e graúdo (c)
naturais foi mantida em todos os traços, independente do percentual de agregado reciclado
(ar) incorporado a mistura.
Tabela 10 – Definições das dosagens adotadas no estudo.
1: m
1: 8
1: a: c
Traço
1: a: c: ar
30% 1: 2,8a: 2,8c: 2,4ar
60% 1: 1,6a: 1,6c: 4,8ar
Determinação do teor ótimo de água na mistura
Para determinação do teor ótimo de água na mistura, adotou-se neste estudo, como ponto de
partida, os valores encontrados por OLIVEIRA (2003). Porém verificou-se que estes valores
eram bastante elevados quando aplicados à mistura produzida com os materiais do corrente
estudo, o que pode ser explicado pelo fato da composição do resíduo beneficiado naquela
pesquisa apresentar uma predominância de restos de cerâmica vermelha (49%), enquanto que
a participação deste tipo de material no RCD beneficiado nesta pesquisa ter sido
significativamente inferior (7%).
A partir daí o procedimento utilizado como primeiro parâmetro para definir o teor ideal de
água na mistura foi o seguinte: todos os materiais secos (cimento, areia e cascalho naturais e
agregado reciclado de RCD) eram colocados na betoneira, e a partir daí a água era adicionada
aos poucos, até que foi possível formar com as os um bolo” que se manteve com a forma
inalterada, conforme pode ser observado na Figura 11.
CAPÍTULO III METODOLOGIA
70
Figura 11 – Procedimentos experimentais para determinação do teor ideal de água.
Após a preparação da mistura, foram moldados blocos, adotando-se inicialmente um tempo de
vibração de 1 minuto, e em seguida realizando a desmoldagem. Após a realização deste
procedimento, os blocos eram analisados quanto a existência de minúsculos veios de água nas
laterais dos blocos (segundo parâmetro utilizado na definição do teor de água da mistura). Na
Tabela 11 são apresentados os resultados encontrados para cada relação a/c testada, quando
adotado o tempo de vibração de 1 minuto.
Tabela 11 – Determinação do teor de água ideal na mistura para os blocos com agregados reciclados de RCD
(Tempo de vibração de 1 minuto).
Relação a/c
%
Substituição
“Bolo” Moldagem/
Desmoldagem
Resistência à Compressão
(Mpa) – 7 Dias
0,47 30 OK NÃO -
0,50 30 OK OK 0,58
0,53 30 OK OK 1,36
0,56 30 OK OK 1,52
0,57 60 OK NÃO -
0,60 60 OK OK 1,52
0,63 60 OK OK 1,68
0,66 60 OK OK 1,98
0,69 60 OK NÃO -
0,72 60 OK NÃO -
Numa segunda etapa adotou-se um tempo de vibração de 30 segundos, como forma de reduzir
a energia total consumida. A Tabela 12 apresenta os resultados encontrados.
CAPÍTULO III METODOLOGIA
71
Tabela 12 - Determinação do teor de água ideal na mistura para os blocos com agregados reciclados de RCD
(Tempo de vibração de 30 segundos).
Relação a/c
%
Substituição
“Bolo” Moldagem/
Desmoldagem
Resistência à Compressão
(Mpa) – 7 Dias
0,50 30 OK NÃO -
0,53 30 OK OK 0,99
0,56 30 OK OK 1,29
0,59 30 OK OK 1,16
0,52 60 NÃO NÃO -
0,56 60 OK NÃO -
0,60 60 OK OK 1,52
0,63 60 OK OK 1,97
0,66 60 OK OK 2,20
0,69 60 OK OK 2,31
0,72 60 OK NÃO -
Definição das idades de controle de ensaio
No presente estudo foram adotadas as idades de 7 e 28 dias para realização tanto dos ensaios
de resistência à compressão quanto dos de absorção por imersão.
Procedimento para moldagem dos blocos
Equipamentos
Neste estudo, por ter-se optado por trabalhar com os materiais secos em massa, inicialmente
todos os materiais foram pesados, fazendo-se uso de uma balança, conforme pode ser
observado na Figura 12.
CAPÍTULO III METODOLOGIA
72
Figura 12 – Balança utilizada na pesagem dos materiais.
Para a mistura dos materiais foi utilizada uma betoneira de 120 litros de eixo inclinado,
conforme pode ser visto na Figura 13.
Figura 13 – Betoneira Utilizada para Mistura dos Materiais.
A quina utilizada na fabricação dos blocos de concreto de vedação, foi do tipo manual de
movimento semi-automático produzidas pela Atlântica Máquinas Ltda (Figura 14). Ressalta-
se que este tipo de equipamento não possui conjugação da vibração com a prensagem dos
blocos.
CAPÍTULO III METODOLOGIA
73
Figura 14 – Vibro-prensa utilizada na fabricação dos blocos de concreto de vedação.
Preparo da mistura
A colocação dos materiais na betoneira obedeceram a seguinte ordem:
1. todo cascalho e parte da água, ligando-se a misturadora por alguns segundos;
2. todo o cimento, misturando-o com o cascalho;
3. Todo o agregado reciclado de RCD;
4. toda a areia e o restante da água.
Após a colocação de todos os materiais na betoneira, a mesma permaneceu ligada até que a
mistura apresentasse um aspecto homogêneo.
Processo de cura adotado
Imediatamente após a desmoldagem dos blocos os mesmos foram levados para uma câmara
úmida (temperatura média de 23º e umidade relativa superior a 95%), onde permaneceu por
24 horas. Após esse período os blocos eram retirados das tábuas em que foram moldados e
CAPÍTULO III METODOLOGIA
74
colocados submersos em tanques até que completassem 7 dias submersos desde a data da
moldagem (Figura 15). Em seguida os mesmos permaneciam em ambiente de laboratório até
as idades de controle adotadas (idades de ensaio).
É de extrema importância que durante a cura dos blocos em câmara úmida, os mesmos
estejam protegidos contra respingos de água.
Figura 15 – Processo de cura dos blocos (câmara úmida e submerso).
Absorção
O ensaio de absorção dos blocos produzidos foi realizado de acordo com a norma da ABNT
NBR 12118/1991 para cada série (B30 e B60) e idade (7 e 28 dias) estudada. Os resultados
foram obtidos a partir de meio-blocos (blocos serrados ao meio), salientando que a massa dos
mesmos representavam mais que 10% da massa do bloco original.
De acordo com a norma da ABNT - NBR 7173/82 Blocos Vazados de concreto simples
para alvenaria sem função estrutural, os blocos de concreto sem função estrutural devem
apresentar resultados de absorção de água sempre inferiores a 10%.
CAPÍTULO III METODOLOGIA
75
Resistência à compressão simples
Os ensaios de resistência à compressão foi realizado nas idades de controle pré-estabelecidas
(7 e 28 dias), seguindo as recomendações contidas na norma da ABNT NBR 7184/91
“Blocos Vazados de Concreto Simples para Alvenaria”. Determinação da Resistência à
Compressão. Para cada idade e série estudada foram ensaiados 5 blocos para o tempo de
vibração de 1 minuto e 7 blocos para o tempo de vibração de 30 segundos, que foram
capeados com uma pasta de cimento e água, sobre placas de vidro em uma bancada nivelada,
de modo que os mesmo ficassem com as superfícies planas antes que fossem submetidos aos
ensaios de resistência à compressão (Figura 16).
De acordo com a norma da ABNT NBR 7173/82 Bloco vazado de concreto simples para
alvenaria sem função estrutural, o valor de resistência à compressão mínimo a ser obtido por
um bloco de concreto deve ser de 2,5 MPa.
Figura 16 – Capeamento e ruptura dos blocos.
Para a depuração dos resultados de resistência á compressão axial (fc) foi aplicado o critério
de “Chauvenet”. A aplicação desse critério significa que, em uma série de medidas, a
probabilidade de ocorrência de um desvio de valor “x” é menor que 1/2n, conforme a fórmula
CAPÍTULO III METODOLOGIA
76
seguinte (OLIVEIRA, 2003).
Onde:
Px – probabilidade de o desvio ser “x”
n – Nº de medidas
Segundo esse critério, o resultado que apresentou desvio superior ao estabelecido, foi
rejeitado, calculando-se então uma nova média. Dessa forma a maior parte dos resultados
apresentados a seguir relativos aos blocos produzidos com tempo de vibração de 1 minuto
foram obtidos através da média de 4 blocos, enquanto que aqueles fabricados com tempo de
vibração de 30 segundos foram obtidos a partir de 5 blocos.
Px < ½ n
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
77
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
IV.1. Situação Atual dos RCD na Cidade do Recife
IV.1.1. Estimativa do Volume de RCD Gerado na Cidade do Recife
Conforme foi descrito anteriormente na metodologia, a estimativa da geração de RCD na
Cidade do Recife foi realizada com base nos dados e informações obtidos a partir de uma
entrevista estruturada realizada com as empresas coletoras, do cruzamento de informações
entre o total de área licenciada para construção e o percentual médio de perdas verificado nos
canteiros de obras, e dos registros de disposição de RCD no Aterro da Muribeca.
IV.1.1.2. Empresas Coletoras
De acordo com as informações obtidas através da entrevista junto às principais empresas
coletoras de RCD licenciadas pela Prefeitura do Recife e atuantes na região, no ano de 2004,
foi possível realizar uma estimativa do volume de resíduos coletado proveniente de atividades
de construção.
Com relação à quantidade média de viagens realizadas diariamente para coleta de RCD, foi
verificado que o número médio de viagens realizadas pelas empresas coletoras de RCD em
atividade foi de 12 viagens/dia que, se considerado um volume de 5 m
3
por caçamba, totaliza
60 m
3
de entulho transportados diariamente por cada empresa.
Como existem 14 empresas atuantes o volume diário médio de RCD coletado é de 840 m
3
,
que multiplicado pela massa unitária de 1,36 t/ m
3
, encontrada em laboratório, resulta em um
total de 1142,40 t/dia.
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
78
Considerando-se que o mês possui 26 dias úteis encontra-se uma quantidade mensal de
29.702,40 toneladas, que multiplicado pelos 12 meses do ano totaliza 356.428,80 t/ano.
Foram realizados também questionamentos a respeito da coleta dos RCD pelas empresas
licenciadas, como forma de realizar um diagnóstico mais detalhado da situação.
De acordo com os resultados obtidos, pôde-se verificar que os bairros de maior atuação das
empresas coletoras, e conseqüentemente de maior geração de RCD, foram: Boa Viagem,
Graças, Espinheiro e Boa Vista. Pode-se explicar o elevado volume de resíduos gerados nos
três primeiros bairros pelo grande número de obras de edificações nos mesmos e, no caso
particular da Boa Vista, tal fato se deve provavelmente à inexistência de áreas onde os
resíduos possam ser abandonados, forte fiscalização e alto índice de demolições e reformas,
por se tratar de um bairro mais antigo e predominantemente comercial.
As empresas coletoras foram questionadas ainda quanto à participação de alguns itens nos
custos do serviço de coleta (Figura 17). Ressalta-se que no item deslocamentos estão inclusos
os custos com combustível e manutenção dos veículos, e é responsável por cerca de 53 % dos
custos totais, seguido de 22% referente aos gastos com mão-de-obra e 21% com a
administração (aluguel, água, luz, etc.). Segundo as empresas, o principal responsável pela
grande participação desse item nos custos totais é a distância do Aterro da Muribeca dos
principais pontos de coleta, gerando um aumento bastante significativo nos gastos com
combustível.
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
79
53%
22%
21%
4%
Deslocamento Mão-de-Obra
Administração Taxa de Descarte
Figura 17 – Composição de Custos das Empresas Coletoras.
Com relação à participação das diversas categorias de fontes geradoras dos resíduos no total
coletado, verificou-se que a maior parte dos resíduos é gerada pelas construções de prédios
multipisos, responsável por cerca de 57% do total coletado, seguida pelas reformas e
ampliações térreas (17%) e pelas construções de residências térreas, com 10% (Figura 18).
17%
10%
3%
7%
6%
57%
Reformas e Ampliações Térreas Const. Residências Térreas
Const. Prédios Multipiso Limpeza de Terrenos
Coleta Ind. e Serviços Demolições
Figura 18 – Participação das Diversas Categorias no Total de Resíduos Gerados.
Quando questionadas quanto à possível implantação de uma unidade de beneficiamento para
os RCD, todas as empresas são favoráveis à medida. A grande maioria das empresas ressaltou
também a importância da existência de pontos de coleta descentralizados, que atendessem ao
menos a pequenos volumes de resíduos coletados.
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
80
IV.1.1.3. Área Total Licenciada para Construção x Índice de Perdas de Materiais
A partir dos dados contidos no Boletim Construir Recife (4º Trimestre de 2004), fruto de uma
parceria entre o SINDUSCON/PE e a Prefeitura da Cidade do Recife, verificou-se que, em
2003, foi licenciada para construção na Cidade do Recife uma área de 873.730,00 m
2
, sendo
733.802,19 m
2
referentes a empreendimentos residenciais, ou seja, aproximadamente 84% do
total. Já em 2004, o volume total de área licenciada para novas construções foi de 913.241,57
m
2
, dos quais cerca de 89% (812.342,37 m
2
) são relativas a empreendimentos de caráter
residencial.
Com a finalidade de se obter um índice médio de geração de RCD por m
2
construído, foram
analisados dados referentes ao volume de RCD gerados em 3 canteiros de obras que
realizavam controle da quantidade de caçambas estacionárias removidas dos canteiros ao
longo da construção dos seus respectivos edifícios, todos do tipo multipisos e para uso
residencial.
A partir dos dados de volume de RCD removidos dos canteiros, foi possível chegar a valores
médios de perdas não incorporada ao produto, ou seja, àquela que sai sob a forma de resíduos.
O controle do volume de resíduos gerado por fase de produção, considerada aqui somente três
(fundação, estrutura e acabamento), só foi possível em dois dos canteiros de obras, permitindo
assim a determinação de índices de geração para cada fase.
Na Tabela 12 são apresentados os dados referentes aos 2 canteiros de obras estudados, nos
quais a separação por fase de produção foi possível, e seus respectivos índices dios de
perdas. Com base nesses resultados, é possível afirmar que a fase de produção da edificação
responsável pelos maiores índices de geração de RCD é a de acabamento, seguida pela de
execução da estrutura e por fim a de fundação.
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
81
Tabela 13 – Índices de Perdas Não Incorporadas ao Produto por Fase de Produção (2 Canteiros de Obras).
Volume de RCD Gerado (m
3
)
OBRA 1 OBRA 2
Área Construída (m
2
) 22752.99 19981.40
Fundação 15 45
I.P.*
FUND
(m
3
/ 100 m
2
)
0.066 0.225
Estrutura 743 328
I.P.
EST
(m
3
/ 100 m
2
) 3.266 1.642
Acabamento 1340 1013
I.P.
ACAB
(m
3
/ 100 m
2
) 5.889 5.070
NOTA: I.P. = Índice de Perdas (não incorporadas ao produto).
Na Tabela 13 são apresentados os dados de produção geral de RCD, assim como os índices
médios de perdas para cada obra analisada e um índice médio de perdas de materiais não
incorporados ao produto por m
2
de área construída. Dessa forma, de acordo com o índice
médio de geração de RCD encontrado, é possível afirmar que para cada 100 m
2
de área
construída na Cidade do Recife, são gerados aproximadamente 8,15 m
3
de RCD.
Tabela 14 – Índices Médios Geração de RCD.
Canteiros de Obras
Volume de RCD
Gerado (m
3
)
Área Construída (m
2
)
I.P.
MÉDIO
(m
3
/ 100
m
2
)
OBRA 1 2098 22752,99 9,221
OBRA 2 1386 19981,40 6,936
OBRA 3 605 7299,87 8,288
MÉDIA 8,148
Para efeito dessa estimativa foram admitidas duas hipóteses para a massa estimada das
edificações: (i) a primeira levando-se em consideração o somatório das cargas de todos os
pilares de uma das obras visitadas, dividindo-se este valor pela área total construída e por fim
subtraindo deste a parcela de carga referente a sobrecarga (150 kg/m
2
), que esta ainda não
existe na etapa de construção, obtendo-se assim um índice de 1060,29 kg/m
2
; (ii) a segunda
hipótese foi a adoção de um valor médio estimado por engenheiros calculistas atuantes na
região de estudo, para edificações aporticadas de concreto, de aproximadamente 850 kg/m
2
(Não sendo considerada a parcela de carga da sobrecarga). Na Tabela 15 é apresentado quadro
resumo das características adotadas em cada uma das hipóteses.
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
82
Tabela 15 – Características das hipóteses adotadas.
Hipótese 1 Hipótese 2
Carregamento estrutural (kg/m
2
) 1060,29 850,00
Índice Médio de Perdas de Materiais na Forma de RCD (%) 8,15 8,15
Vale salientar que para efeito desse estudo, foi tomada a situação mais desfavorável de
geração de RCD, pois além de ser considerado que 100% da área licenciada é realemente
construída, foi assumido também o pressuposto que o percentual de projetos aprovados que
não são levados à concretização no mesmo ano, ficando assim para o ano seguinte, o
apresenta grandes variações de um ano para outro. Dessa forma, o volume de área licenciada
em 2003 que foi construída em 2004 é aproximadamente a mesma que foi licenciada em
2004 e só será construída em 2005, havendo assim uma espécie de compensação.
Nas Tabelas 16 e 17 são apresentadas estimativas para a geração de RCD segundo as duas
hipóteses consideradas, para os anos de 2003 e 2004. Para o ano de 2003 foi obtido o valor
médio de geração de RCD para novas construções de 75.499,01 toneladas (hip. 1) e 60.532,01
toneladas (hip. 2), enquanto que em 2004 houve um aumento de aproximadamente 25% na
geração, em virtude do acréscimo no total de área licenciada para construção.
Tabela 16 – Estimativa de Geração de RCD Segunda a Hipótese 1.
2003 2004
Massa Estimada para a Edificação (kg/m
2
) 1060,29 1060,29
Índice Médio de Perdas de Materiais na Forma de RCD
(%)
8,15 8,15
Taxa de Geração de RCD (kg/m
2
)
1
86,41 86,41
Área Licenciada para Empreendimentos Residenciais (m
2
) 733.802,19 812.342,37
Volume de RCD Gerado pela Construção de
Empreendimentos Residenciais (kg)
2
63.407.847,24
70.194.504,19
Área Licenciada -Empreendimentos Não Residenciais (m
2
)
139.927,81 100.899,20
Volume de RCD Gerado pela Construção de
Empreendimentos Não Residenciais (kg)
2
12.091.962,06
87.718.699,80
Área Total Licenciada (m
2
) 873.730,00 913.241,57
Volume de RCD Gerado pela Construção de Novos
Empreendimentos (t)
75.499,01 78.913,20
(1) Encontrado pelo cruzamento dos valores da primeira e segunda linhas.
(2) Encontrado pelo cruzamento entre a área licenciada e a taxa de geração de RCD.
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
83
Tabela 17 – Estimativa da Geração de RCD Segundo a Hipótese 2.
2003 2004
Massa Estimada para a Edificação (kg/m
2
) 850 850
Índice Médio de Perdas de Materiais na Forma de RCD (%) 8,15 8,15
Taxa de Geração de RCD (kg/m
2
)
1
69,28 69,28
Área Licenciada para Empreendimentos Residenciais (m
2
) 733.802,19 812.342,37
Volume de RCD Gerado pela Construção de
Empreendimentos Residenciais (kg)
2
50.837.815,0
0
56.279.079,0
0
Área Licenciada -Empreendimentos Não Residenciais (m
2
) 139.927,81 100.899,20
Volume de RCD Gerado pela Construção de
Empreendimentos Não Residenciais (kg)
2
9.694.142,50
6.990.296,50
Área Total Licenciada (m
2
) 873.730,00 913.241,57
Volume de RCD Gerado pela Construção de Novos
Empreendimentos (t)
60.532,01 63.269,38
(1) Encontrado pelo cruzamento dos valores da primeira e segunda linhas.
(2) Encontrado pelo cruzamento entre a área licenciada e a taxa de geração de RCD.
Na Tabela 18 tem-se a provável geração de RCD diária nos anos de 2003 e 2004, para as duas
hipóteses analisadas.
Tabela 18 – Produção Diária de RCD.
Hipótese 1 Hipótese 2
Volume Total de RCD Gerado pela Construção de Novos
Empreendimentos (t) – 2003
75.499,01 60.532,01
Provável Geração Diária
1
(t/dia) – 2003 241,98 195,48
Volume Total de RCD Gerado pela Construção de Novos
Empreendimentos (t) – 2004
78.913.204,00
63.269.375,00
Provável Geração Diária
1
(t/dia) – 2004 252,93 202,79
(1) Foram considerados 26 dias/mês.
IV.1.1.4. Aterro da Muribeca
Até o ano de 2004, na Cidade do Recife, o único destino adequado e legalizado existente para
os resíduos provenientes de atividades de construção era o Aterro Controlado da Muribeca,
localizado na Cidade de Jaboatão dos Guararapes e administrado por uma gestão
compartilhada entre as prefeituras das duas cidades.
De acordo com os dados fornecidos pela EMLURB, no ano de 2004, foram depositados no
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
84
Aterro da Muribeca pelas empresas licenciadas para coleta de RCD 2.822 toneladas/ano
desse resíduo.
Ainda segundo dados fornecidos pela EMLURB, a participação dos RCD no total de resíduos
depositados no Aterro da Muribeca é de apenas 10,7%, enquanto que os resíduos domiciliares
respondem por cerca de 76% do total.
IV.1.1.5. Cruzamento dos Dados
De acordo com as estimativas realizadas acima, em 2004, verificou-se que as empresas
coletoras de RCD licenciadas pelo poder público são responsáveis pela coleta de cerca de
356.428 toneladas desse resíduo, na Cidade do Recife. Já no caso da estimativa feita com base
no total de área licenciada para construção e índice médio de geração de RCD, os valores
encontrados para a geração de resíduo, para as duas hipóteses consideradas, foram de
aproximadamente 78.913 e 63.269 toneladas, respectivamente.
Considerando-se que todas as empresas construtoras (grandes geradores) contratam empresas
licenciadas para realização dos serviços de coleta dos resíduos gerados nos canteiros de obras,
pode-se afirmar que a participação desta parcela no total de resíduos coletados por essas
empresas é de cerca de 22% quando considerada a hipótese 1 e 18% para a hipótese 2.
A parcela de RCD depositada no Aterro da Muribeca é ínfima, representando menos de 1%
do total coletado pelas empresas coletoras. Essa realidade aponta para quão grave encontra-se
a problemática das deposições irregulares de RCD na Cidade do Recife, uma vez que no ano
de 2004 o Aterro da Muribeca era o único local autorizado para o recebimento desses
resíduos.
Dessa forma, estima-se que cerca de 353.606 toneladas de RCD foram depositados
clandestinamente na Cidade do Recife, no ano de 2004, sendo este tipo de deposição
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
85
responsável por diversos impactos ambientais negativos e com influência direta na qualidade
de vida da população. Vale ainda ressaltar que apesar da grande participação dos coletores
informais na geração de RCD e na proliferação de pontos de deposição clandestinos, esta
estimativa refere-se apenas à parcela de RCD coletada por empresas licenciadas, uma vez que
a estimativa dos RCD coletados informalmente tornou-se inviável, tendo em vista a
inexistência de qualquer órgão ou sindicato dessa classe,
IV.1.2. Mapeamento dos Pontos de Deposição de RCD
Nessa etapa do estudo, realizada durante o ano de 2004, foram identificados 174 pontos de
deposição de RCD, dos quais somente o Aterro Controlado da Muribeca (Figura 19) possuía
autorização para o recebimento dos RCD gerados na Cidade do Recife.
Figura 19 – Aterro Controlado da Muribeca, Vista Geral e Local de Deposição dos RCD.
Existe ainda o Lixão de Aguazinha (Figura 20), localizado na Cidade de Olinda, que apesar de
não estar autorizado a receber resíduos provenientes do Recife, por não possuir nenhum
sistema de controle, está recebendo RCD com essa procedência.
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
86
Figura 20 – Lixão de Aguazinha (Olinda-PE).
Grande parte das deposições clandestina de RCD encontradas na região estavam localizadas
próximas a cursos d’água e em áreas de preservação ambiental (mangues, lagoas, etc.),
conforme pode ser observado na Figura 21.
Figura 21 – Mapa Hídrico e Localização dos Pontos de Deposição na Cidade do Recife.
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
87
Na Figura 22 pode ser observado o completo aterramento por resíduos de atividades
construtivas de uma lagoa localizada na zona norte do Recife, no bairro de Cajueiro Seco,
eliminando assim um importante elemento natural da drenagem urbana. Segundo relatos de
moradores locais, em períodos mais chuvosos torna-se impraticável o tráfego de veículos no
bairro, dificultando bastante a vida da população.
Figura 22 – Aterramento por RCD de uma Lagoa em Cajueiro Seco.
É bastante comum na cidade a prática de aterramento de mangues, ecossistema comum da
região, que apresentam fundamental importância para a Cidade. Na Figura 23 pode ser visto
uma área de mangue localizado na zona sul da cidade, no bairro de Boa Viagem, que está
sendo totalmente extinta, em virtude do aterramento com RCD para a construção de unidades
habitacionais ilegais para a população de baixa renda.
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
88
Figura 23 – Aterramento de Mangue na Zona Sul do Recife, no Bairro de Boa Viagem.
Áreas inicialmente destinadas ao lazer da população, acabam muitas vezes tendo seu uso
inviabilizado em virtude do acúmulo de resíduos no local, entre estes os RCD, como acontece
com o Açude de Apipucos (Figura 24), localizado na zona norte do Recife, no bairro de
Apipucos. O local antes utilizado pela população como uma opção de lazer para realização de
atividades como pesca, caminhada, entre outras, hoje encontra-se subutilizado em virtude dos
problemas gerados pelos RCD (redução da profundidade do açude, poluição, proliferação de
espécies indesejadas que podem atuar como vetores de doenças, entre outros).
Figura 24 – Degradação do Açude de Apipucos pelos RCD.
Margens de rios são locais onde facilmente são encontradas deposições clandestinas de RCD,
como acontece no Rio Capibaribe, de inegável importância para a região, cujas margens
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
89
abrigam diversos pontos de deposição não somente dos RCD, mas também de outros tipos de
resíduos, conforme pode ser observado na Figura 25.
Figura 25 – Deposições Clandestinas nas Margens do Rio Capibaribe.
Na Figura 26 é apresentado o mapa da Cidade do Recife, com a localização dos pontos de
deposição de RCD identificados por este estudo, onde os pontos em vermelho são aqueles
chamados críticos, seja pelo grande volume de RCD encontrado no local ou por sua
localização (em margens de rios, etc.) e impactos ambientais gerados. O Aterro da Muribeca
pose ser visto na cor verde, o lixão de Aguazinha rosa e os demais pontos em azul.
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
90
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
91
Figura 26 – Localização dos Pontos de Deposição de RCD na Cidade do Recife.
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
92
IV.1.3. Caracterização do RCD
De acordo com o que foi exposto na metodologia, as amostras de RCD coletadas nos
canteiros de obras foram caracterizadas por fase de produção considerada. A participação de
cada tipo de material na amostra foi medida em peso.
Na Figura 27 é apresentada a composição das amostras coletadas em canteiros de obras que
estavam executando sua fundação. Pode-se observar que o material predominante nessas
amostras foi o solo (72%), que constitui um resíduo característico de atividades de escavação,
bastante comum à essa fase de produção de um edifício, seguido da brita (18%) e da
argamassa (8%).
FUNDAÇÃO
8%
18%
72%
1%
1%
Argamassa
Brita
Solo
Tijolo
Cerâmica
Outros (Granilite,Gesso,Amianto)
Figura 27 – Participação dos Diversos Materiais na Composição das Amostras de RCD – Fase de Fundação.
nas amostras referentes a fase de execução da estrutura dos edifícios (Figura 28), o material
com maior representatividade foi o concreto (aproximadamente 53%), uma vez que nas obras
em que as amostras foram coletadas (e na grande maioria dos prédios multipiso da região) o
método construtivo adotado foi o pórtico de concreto armado. A participação dos tijolos
cerâmicos na composição final do RCD gerado nessa fase foi de cerca de 16%, uma vez que
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
93
na maioria das vezes a execução das alvenarias de vedação é iniciada antes mesmo da
conclusão da estrutura da obra.
ESTRUTURA
1%
16%
53%
13%
6%
9%
1%
1%
Argamassa Madeira Metal Solo
Tijolo Areia Brita Concreto
Figura 28 – Participação dos Diversos Materiais na Composição das Amostras de RCD – Fase de Estrutura.
Para as amostras de resíduos provenientes de obras que estavam realizando serviços de
alvenaria, pode-se observar na Figura 29 que juntos os materiais, areia, tijolos cerâmicos e
argamassa, são responsáveis por aproximadamente 79% do resíduo dessa fase.
ALVENARIA
10%
30%
39%
11%
2%
5%
3%
Areia Argamassa Brita Concreto
Tijolo Pedregulho Outros
Figura 29 – Participação dos Diversos Materiais na Composição das Amostras de RCD – Fase de Alvenaria.
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
94
Por fim, é apresentada na Figura 30 a composição dia das amostras provenientes de obras
em fase de acabamento. A argamassa representa cerca de 52% do total dos resíduos gerados
nessa fase, uma vez que é um material muito utilizado em serviços de acabamento. Nas
amostras dessa fase aparece também, em quantidade considerável (cerca de 21%), resíduos de
gesso, considerados pela Resolução CONAMA 307 como classe C, devendo portanto esses
resíduos ser armazenados e transportados segregado dos demais.
ACABAMENTO
6%
52%
12%
8%
21%
1%
Areia Argamassa Tijolo Cerâmica Gesso Outros
Figura 30 – Participação dos Diversos Materiais na Composição das Amostras de RCD – Fase de Acabamento.
Na Figura 31 é apresentada a composição média dos resíduos de atividades construtivas da
Cidade do Recife, obtido através da soma das dos resultados obtidos nas caracterizações
realizadas por fase de produção. Pode-se observar que 91% do total caracterizado é composto
de argamassa, solo, cerâmica vermelha, concreto, brita, areia e pedregulho, ou seja, materiais
potencialmente recicláveis sob a forma de agregados para concreto. Um outro dado
importante que é possível perceber é a baixa quantidade de madeira, metal e papel presentes
nos resíduos da construção, e isso se deve em grande parte a coleta desses resíduos por
pequenos catadores que, posteriormente, comercializam os mesmos.
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
95
CARACTERIZAÇÃO GERAL-RCD DA
RMR
24%
14%
23%
17%
3%
1%
2%
4%
2%
6%
4%
Areia Argamassa Brita Cerâmica
Concreto Gesso Madeira Metal
Pedregulho Solo Tijolo Outros
Figura 31 – Participação dos Diversos Materiais na Composição das Amostras de RCD da Cidade do Recife.
Na Tabela 19 o apresentados os resultados de composição dos RCD gerados em duas
cidades do nordeste brasileiro, Recife e Salvador, podendo-se verificar que os resultados
encontrados para ambas o bastante próximos, com uma variação mais alta somente para a
participação dos tijolos cerâmicos, que no caso de Recife representa 17% e em Salvador
responde por apenas 9%.
Tabela 19 – Composição do RCD em %.
Participação dos Materiais na Composição do RCD (%) Materiais
Recife/PE
1
Salvador/BA
2
Concreto e argamassa 44 53
Tijolos 17 9
Solo e areia 23 22
Cerâmica 2 5
Rochas 3 5
Outros 11 6
FONTE: (1) Projeto Entulho Limpo/PE (2004).
(2) Projeto Entulho Bom/BA (2001).
Foi realizada também a caracterização física dos resíduos de construção e demolição gerados
na Cidade do Recife, sendo realizados para tanto, ensaios de determinação da composição
granulométrica (NBR 7217) e massa unitária no estado solto (NBR 7251), para cada amostra.
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
96
O ensaio para obter a granulometria das amostras foi executado utilizando-se apenas as
peneiras da série normal. Para as amostras de cada fase de produção foi realizado o ensaio e
obtida a sua respectiva curva granulométrica.
Na Tabela 20 é apresentada a composição granulométrica das amostras coletadas em obras em
fase de fundação, cuja dimensão xima característica encontrada foi de 76mm e o módulo
de finura de 5,76.
Tabela 20 – Composição Granulométrica das Amostras de RCD – Fase de Fundação.
Material Retido #
(mm)
% Amostra Total % Acumulada
% que passa da
amostra total
76 2,62 2,62 97,38
38,1 9,73 12,35 87,65
19,1 22,44 34,79 65,21
9,52 9,03 43,82 56,18
4,76 9,24 53,06 46,94
2,38 9,65 62,72 37,28
1,19 12,50 75,21 24,79
0,6 18,13 93,34 6,66
0,3 5,42 98,76 1,24
0,15 1,14 99,9 0,1
Resto 0,09 100 0
para a amostra referente às obras que estavam executando sua estrutura, verificou-se que
sua dimensão máxima característica é superior a maior abertura de peneira utilizada, ou seja,
maior que 76mm (Tabela 21) e módulo de finura de 7,18.
Tabela 21 – Composição Granulométrica das Amostras de RCD – Fase de Estrutura.
Material Retido #
(mm)
% Amostra Total % Acumulada
% que passa da
amostra total
76 15,59 15,59 84,41
38,1 33,38 48,97 51,03
19,1 16,32 65,29 34,71
9,52 6,58 71,87 28,13
4,76 3,09 74,96 25,04
2,38 2,09 77,05 22,95
1,19 1,96 79,01 20,99
0,6 8,71 87,73 12,27
0,3 10,14 97,86 2,14
0,15 1,99 99,85 0,15
Resto 0,15 100 0
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
97
Os resíduos coletados durante a execução da alvenaria apresentaram dimensão máxima
característica de 76 mm (Tabela 22) e módulo de finura de 6,49.
Tabela 22 – Composição Granulométrica das Amostras de RCD – Fase de Alvenaria.
Material Retido #
(mm)
% Amostra Total % Acumulada
% que passa da
amostra total
76 3,81 3,81 96,19
38,1 11,80 15,57 84,43
19,1 25,82 41,38 58,62
9,52 21,05 62,43 37,57
4,76 8,55 70,97 29,03
2,38 6,36 77,33 22,67
1,19 6,40 83,73 16,27
0,6 11,80 95,53 4,47
0,3 2,79 98,31 1,69
0,15 1,60 99,92 0,08
Resto 0,08 100 0
No que se refere as amostras colhidas em canteiros cuja edificação encontrava-se em fase de
acabamento, pode-se afirmar que a amostra apresentou dimensão máxima característica
superior a 76 mm (Ver Tabela 23) e módulo de finura de 7,37.
Tabela 23 – Composição Granulométrica das Amostras de RCD – Fase de Acabamento.
Material Retido #
(mm)
Peso (kg)
% Amostra Total
% Ret.
Acumulado
% que passa da
Amostra Total
76 2,81 14,65 14,65 85,35
38,1 4,795 25,00 39,64 60,36
19,1 4,845 25,26 64,89 35,11
9,52 2,085 10,87 75,76 24,24
4,76 0,91 4,74 80,50 19,50
2,38 0,585 3,05 83,55 16,45
1,19 0,56 2,92 86,47 13,53
0,6 1,555 8,11 94,58 5,42
0,3 0,465 2,42 97,00 3,00
0,15 0,505 2,63 99,64 0,36
Passou 0,07 0,36 100 0
Na Figura 32 estão representadas as curvas granulométricas das amostras referentes a cada
fase de produção considerada para efeito deste estudo. Como pode-se observar na parte
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
98
superior da figura está a classificação, de acordo com a ABNT, em pedregulho, areia (fina,
média ou grossa), silte e argila. Assim, foi possível verificar que a amostra que apresentou
maior granulometria foi a coletada na fase de acabamento (aproximadamente 80% de
pedregulho), seguida pela de estrutura (cerca de 74% de pedregulho). Em seu estado natural,
esses resíduos poderiam ser usados em aplicações como base e sub-base de pavimentação. Se
beneficiadas, poder-se-ia obter agregados para o concreto com diferentes granulometrias e
para diferentes opções de uso.
o resíduo que apresentou melhor distribuição granulométrica foi o colhido em edificações
que ainda estavam em fase de fundação, com cerca de 50% de pedregulho, 15% de areia
grossa, 27% de areia média e 8% de areia fina.
0.0010 0.0100 0.1000 1.0000 10.0000 100.0000
DIÂMETRO (mm)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
PERCENTAGEM QUE PASSA
ARGILA
SILTE
AREIA
GROSSA
FINA
MÉDIA
PEDREGULHO
MATERIAL
FUNDAÇÃO
ESTRUTURA
ALVENARIA
ACABAMENTO
Figura 32 – Curvas Granulométricas de Acordo com a Fase de Produção em que as Amostras Foram Coletadas.
A Figura 33 mostra a curva granulométrica geral para o resíduo gerado por atividades
construtivas na área de estudo. Pode-se observar que existe uma predominância de partículas
graúdas (68% de pedregulho, 7% de areia grossa, 21% de areia média e 4% de areia fina), o
que é justificável pelas composições granulométricas encontradas para as amostras de cada
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
99
fase de produção.
0.0010 0.0100 0.1000 1.0000 10.0000 100.0000
DIÂMETRO (mm)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
PERCENTAGEM QUE PASSA
ARGILA
SILTE
AREIA
GROSSA
FINA
MÉDIA
PEDREGULHO
MATERIAL
AMOSTRA GERAL
Figura 33 – Curva Granulométrica Geral do RCD Gerado na Cidade do Recife.
Foram determinadas as massas unitárias no estado solto para cada tipo de amostra coletada
(fundação, estrutura, alvenaria e acabamento), em seguida as amostras foram misturadas e
divididas em três novas amostras. Foi realizada então a determinação da massa unitária das
três, de acordo com os procedimentos estabelecidos pela NBR 7251. A massa unitária no
estado solto dos RCD gerados na Cidade do Recife foi a média dos resultados obtidos para as
três amostras. Na Tabela 24 estão os resultados de massa unitária encontrados para as
amostras colhidas em cada uma das fases consideradas.
Tabela 24 – Massas Unitárias no Estado Solto por Fase de Produção.
Amostra Massa Unitária no Estado
Solto - Natural (kg/m
3
)
Umidade
(%)
Massa Unitária no Estado
Solto –Seco (t/m
3
)
Fundação 1,467168 4,18 1,408301
Estrutura 1,048956 0,96 1,038982
Alvenaria 1,216926 3,30 1,178050
Acabamento 1,055812 2,26 1,032477
Na Tabela 25 são apresentados os resultados de massa unitária no estado solto para cada uma
das amostras obtidas (após mistura de todas as amostras coletadas nos canteiros), cujo valor
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
100
médio encontrado foi de aproximadamente 1,36 t/m
3
. Porém a umidade encontrada para a
amostra geral foi de 3,48%, o que resulta em uma massa unitária no estado solto seca de
1,318447 t/m
3
.
Tabela 25 – Resultado do Ensaio de Massa Unitária no Estado Solto para o RCD da RMR.
Amostra Massa Unitária no
Estado Solto (t/m
3
)
1 1,381468
2 1,326621
3 1,384896
Média 1,364329
IV.1.4. Ações de Adequação à Resolução CONAMA Nº 307
IV.1.4.1. Setor Público – Administração pública municipal (EMLURB)
No sentido de se adequar às determinações feitas pela Resolução CONAMA 307, o poder
público municipal, através da EMLURB, vem desenvolvendo algumas ações no que se refere
aos RCD.
Nesse campo, pode-se destacar a Lei 17.072, de 04 de janeiro de 2005, que estabelece as
diretrizes e critérios para o Programa de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil,
comentada no item de legislação vigente desta dissertação.
Uma outra ação foi a criação de pontos descentralizados para a entrega de pequenos volumes
de RCD e outros resíduos, onde os mesmos deveriam ser entregues segregados. No entanto, o
que pode ser observado hoje nesses locais é a recepção de qualquer tipo de resíduos, cujo
armazenamento provisório no local está sendo realizado de forma inadequada, com os
resíduos todos misturados.
De acordo com a Resolução CONAMA 307, existe ainda a necessidade de criação de uma
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
101
área para o recebimento exclusivo de resíduos inertes, dentre os quais estão os resíduos
provenientes de atividades construtivas. Nesse sentido, foi realizada uma pesquisa a cerca de
possíveis áreas para implantação do chamado aterro de inertes”, cuja conclusão por parte da
EMLURB foi de que em virtude da escassez de áreas dentro do perímetro urbano, a melhor
alternativa para o destino dos RCD foi a criação de uma área separada dentro do próprio
Aterro da Muribeca, uma vez que além da estrutura existente este conta com uma grande
área ainda sem uso.
IV.1.4.2. Setor Privado – Empresas Construtoras e Coletoras de RCD
No que diz respeito às empresas coletoras do RCD pode-se afirmar que ações de adequação às
novas diretrizes estabelecidas tanto pela Resolução CONAMA 307 quanto pela a Lei
Municipal nº 17.072, estão sendo adotadas apenas por uma minoria e sempre de forma
isolada. Essas ações se restringem a submissão de projetos para utilização provisória de
algumas áreas para recebimento de RCD a ser usado na terraplanagem de terrenos e, em um
caso isolado, a adequação da frota de veículos para realização de uma coleta seletiva de
resíduos nos canteiros de obras, através da aquisição de veículos adequados para a realização
deste tipo de serviço.
De acordo com o relato de um dos empresários do ramo da coleta de RCD, após o
esgotamento da área atualmente utilizada para destino dos resíduos (atividades de
terraplanagem), existe a intenção de instalação de uma unidade de beneficiamento do RCD,
porém, ainda segundo o empresário, tal empreendimento será viabilizado caso haja uma
maior aceitação, por parte das empresas construtoras, no pagamento de taxas mais onerosas
para o serviço de coleta dos RCD, que deverá sofrer um acréscimo em torno de 15%, em
virtude do aumento nos custos do serviço de coleta, no sentido de viabilizar a destinação
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
102
adequada dos RCD.
Na outra ponta do processo, que é a geradora do resíduo, as empresas construtoras, agora
responsáveis pelos resíduos que gera inclusive nos casos em que o serviço de coleta é
terceirizado, algumas são as ações de adequações identificadas. Por exemplo, a introdução da
prática da coleta seletiva nos canteiros de obras é sem dúvida um avanço obtido graças à
necessidade de adequação das empresas construtoras às leis. Muitas são as empresas na
Cidade do Recife que estão aderindo à separação na origem dos resíduos gerados, dentre as
quais existem àquelas em que o momento ainda é de adaptação, podendo ser identificados
alguns pontos que precisam ser melhorados, como também àquelas em que o processo está
mais aperfeiçoado, inclusive com aceitação massiva por parte dos funcionários.
No primeiro grupo, o das empresas em processo de adaptação, é comum encontrar-se a
separação dos resíduos sendo realizada de forma aleatória e até inadequada, sem nenhuma
estratégia que facilite o armazenamento e a coleta dos mesmos (Figura 34a). Nessas empresas,
comumente ainda não existe um esquema de captação dos resíduos eficiente, acontecendo
muitas vezes dos resíduos não despertarem o interesse de agentes receptores para os mesmos,
como acontece, por exemplo, com o papel armazenado sem proteção contra intempéries, o
que reduz seu potencial para a reciclagem (Figura 34b). Nessas empresas, os resíduos de
gesso, considerado como classe C pela Resolução CONAMA 307, são comumente
armazenados junto aos resíduos enquadrados pela mesma resolução como classe A, prática
considerada inadequada, uma vez que o gesso em contato com os demais resíduos pode
contaminá-los, inviabilizando assim a reutilização e reciclagem futura dos mesmos.
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
103
(a) (b)
Figura 34 – Coleta Seletiva Realizada sem Nenhum Planejamento.
no grupo das empresas cujo procedimento utilizado para a separação dos resíduos foi
estabelecido de acordo com um planejamento, obedecendo a princípios básicos como o da
lógica no armazenamento e o de valorização dos mesmos, a coleta seletiva tem apresentado
resultados bastante satisfatórios. Nessas empresas os resíduos seguem um fluxo básico que
começa com o armazenamento dos resíduos nos andares, sendo transportado para o térreo,
através de um meio de transporte vertical (dutos ou guincho), onde os mesmos são
armazenados em baias e ou caçambas estacionárias, finalizando com o transporte dos mesmos
pela empresa coletora contratada. Vale salientar que, nessas empresas, os resíduos de gesso
são separados nos andares e encaminhados ao armazenamento final (no canteiro de obras),
que é realizado em caçambas estacionárias exclusivas, ou seja, separado dos demais resíduos.
Na Figura 35 pode ser observado dois modelos de baias utilizadas para o armazenamento dos
resíduos no canteiros de obras, uma em madeira e outra construída em alvenaria, com
identificação por cores para os diversos tipos de resíduos.
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
104
Figura 35 – Baias Utilizadas para Armazenamento dos RCD.
Foi realizada também pelo setor privado, através de reuniões mensais realizadas no Sindicato
da Indústria da Construção Civil SINDUSCON/PE, uma discussão a cerca da questão dos
RCD, com o envolvimento da maior parte dos agentes envolvidos no processo, resultando em
uma parceria entre o setor privado (SINDUSCON/PE) e universidades, com o financiamento
do SEBRAE/PE, para o desenvolvimento do PROJETO ENTULHO LIMPO/PE, do qual esta
dissertação é parte integrante, que além de outros objetivos, buscou comprovar a viabilidade
técnica do uso de agregados reciclados de RCD na fabricação de blocos de concreto para
alvenaria sem função estrutural, cujos resultados serão apresentados a seguir.
Uma outra ação que merece destaque é a discussão entre universidades, construtoras,
administração pública e produtores de gesso, promovida pelo SINDUSCON/PE, a cerca de
possibilidades para a destinação dos resíduos de gesso, uma vez que ainda não foi definido, na
Cidade do Recife, qual o destino adequado para esses resíduos.
IV.1.4.3. Uso de Agregados Reciclados de RCD na Fabricação de Blocos de Concreto para
Alvenaria sem Função Estrutural (Estudo Experimental)
Caracterização dos Materiais
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
105
Cimento Portland
Conforme exposto na metodologia o cimento utilizado foi o CPII Z-32 RS, da marca POTY,
cujas características físicas e químicas são apresentadas a seguir nas Tabelas 26 e 27.
Tabela 26 – Características físicas do cimento.
Ensaios Físicos Norma ABNT Especificações
Resultados
Finura Malha nº 200 (%) NBR 11579/91
12,0
1,7
Área Esp.(Blaine) (cm²/g) NBR NM 76/98
2600
3891
Início de Pega (h:min) NBR 11581/91
1:00
2:41
Fim de Pega (h:min) NBR 11581/91
10:00
3:45
Expansibilidade à quente NBR 11582/91
5,0
0,28
Resistência 1dia (MPa) NBR 7215/96 nd -
Resistência 3dias (MPa) NBR 7215/96
10
25,5
Resistência 7dias (MPa) NBR 7215/96
20
30.3
Resistência 28dias (MPa) NBR 7215/96
32
-
FONTE: Cimento POTY S/A – Unidade Caaporã.
Tabela 27 – Composição química do cimento.
Ensaios Químicos Norma ABNT Especificações
Resultados
Perda ao Fogo (%) NBR 5743/89
6,5
5,04
Dióxido de Silício – SiO
2
(%) NBR 9203/85 - -
Óxido de Alumínio – Al
2
O
3
(%) NBR 9203/85 - -
Óxido de Ferro – Fe
2
O
3
(%) NBR 9203/85 - -
Óxido de Cálcio – CaO (%) NBR 9203/85 - -
Óxido de Magnésio – MgO (%) NBR 9203/85
6,5
2,55
Anidrido Sulfúrico – SO
3
(%) NBR 5745/89
4,0
3.25
Anidrido Carbônico – CO
2
(%) NBR 11583/90
5,0
-
Óxido de Cálcio Livre - CaO Livre NBR 7227/90 - 1,45
Resíduo Insolúvel (%) NBR 5744/89
16,0
9.25
FONTE: Cimento POTY S/A – Unidade Caaporã
Agregados Naturais
Nas Tabelas 28 e 29 são apresentados os resultados encontrados para o ensaio de composição
granulométrica (NBR 7215/87) dos agregados naturais, miúdo e graúdo respectivamente.
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
106
Tabela 28 – Composição Granulométrica do Agregado Miúdo Natural (Areia).
Material Retido #
(mm) % Amostra Total % Acumulada
% que passa da
amostra total
9,5 0 0 100
4,8 1 1 99
2,4 4.5 5.5 94.5
1,2 7.5 13 87
0,6 22.5 35.5 64.5
0,3
36
71.5 28.5
0,15
22
93.5 6.5
Resto 6.5 100 0
O diâmetro ximo característico (D
máx
) da amostra de areia ensaiada foi de 2,4 mm e seu
módulo de finura 2,2. A soma das percentagens retidas nas peneiras (#) 0,15mm e 0,30mm é
58%, atendendo assim ao critério que estabelece que este seja em torno de 50%, garantindo
assim um melhor acabamento na superfície dos blocos.
Tabela 29 – Composição Granulométrica do Agregado Graúdo Natural (Cascalho).
Material Retido #
(mm)
% Amostra Total % Acumulada
% que passa da
amostra total
9,5 0,84 0,84 99,16
4,8 66,67 67,51 32,49
2,4 19,86 87,37 12,63
1,2 4,04 91,41 8,59
0,6 2,52 93,93 14,66
0,3 2,02 95,95 4,05
0,15 2,69 98,64 5,41
Resto 1,36 100 0
No caso do agregado graúdo (cascalho), o diâmetro máximo característico encontrado é de
extrema importância para o estudo, uma vez que como a espessura das paredes do bloco de
vedação é de aproximadamente 20 mm, o D
máx
deve ser de 9,5 mm (no máximo igual a
metade da espessura das paredes dos blocos), granulometria esta encontrada após realização
do ensaio. O valor encontrado para o módulo de finura foi 5,36.
Os resultados obtidos para massa específica (NBR 9776/87 e NBR 9937/87) e para massa
unitária (NBR7251/82), obtidos para os agregados (areia e cascalho) são apresentados a seguir
na Tabela 30.
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
107
Tabela 30 – Massa Específica e Massa Unitária dos Agregados Naturais.
Agregado Natural Massa Específica (g/cm
3
) Massa Unitária (g/cm
3
)
Areia 2,62 1,66
Cascalho 2,71 1,63
Na Tabela 31 são apresentados os resultados para o teor de materiais pulverulentos e teor de
argila em torrões de areia (NBR 7219/87).
Tabela 31 – Teor de Materiais Pulverulentos e Teor de Argila em Torrões de Areia.
Areia
Limite máximo Resultado
Teor de Materiais Pulverulentos (%) 5,0 1,88
Teor de Argila em Torrões (%) 1,5 0,94
Agregado Reciclado
Em virtude de sua composição, que apresenta em cerca de 93% de fragmentos de materiais à
base de cimento Portland e rochas, conforme apresentado na Figura 2 (metodologia), o
agregado reciclado utilizado neste estudo, segundo a norma da ABNT NBR 15116/04, é
classificado como um Agregado de Resíduo de Concreto (ARC). Dessa forma, o mesmo deve
atender aos requisitos estabelecidos por essa norma (Ver Tabela 7).
Na Tabela 32 são apresentados os resultados do ensaio de composição granulométrica,
realizado de acordo com a norma da ABNT NBR 7217/87. O D
máx
obtido após
beneficiamento do RCD foi de 9,5 mm, correspondendo assim a menos da metade da
espessura das paredes dos blocos. O teor de material passante na peneira (#) 0,075 mm foi de
1,2% da amostra total, atendendo assim ao requisito da norma da ABNT NBR 15116/04, que
determina como limite máximo 10% para agregados graúdos e 15% para miúdos. O módulo
de finura para esse agregado foi de 4,84.
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
108
Tabela 32 – Composição Granulométrica do Agregado Reciclado de RCD.
Material Retido #
(mm) % Amostra Total % Acumulada
% que passa da
amostra total
9,5 0 0 100
4,8 49,19 49,19 50,81
2,4 20,47 69,66 30,34
1,2 13,38 83,05 16,95
0,6 7,18 90,24 9,76
0,3 4,33 94,56 5,44
0,15 2,82 97,38 2,62
0,075
1,2
98,58 1,42
Resto 2,62 100 0
No que diz respeito ao teor de material pulverulento, os resultados do ensaio realizado de
acordo com as especificações da referida norma técnica, no agregado reciclado de RCD foi
encontrado um teor de 6%, valor um pouco acima do limite máximo determinado (5%), o que
pode ser minimizado com a realização de uma lavagem do agregado antes do uso,
procedimento que não foi adotado neste estudo.
Na Tabela 33 são apresentados os resultados de massa específica e massa unitária do
agregado proveniente da reciclagem do RCD.
Tabela 33 – Massa Específica e Massa Unitária do Agregado Reciclado de RCD.
Agregado Reciclado de RCD Massa Específica
(g/cm
3
)
Massa Unitária
(g/cm
3
)
Parte Graúda 2,02 1,07
Parte Miúda 2,34 1,27
A Figura 36 mostra o material em seu estado natural (antes do beneficiamento), em seguida o
processo de trituração do RCD e por fim, o agregado reciclado.
Figura 36 – Amostra de RCD Bruto, Beneficiamento e Amostra Final de Agregado Reciclado.
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
109
Caracterização quanto à Absorção de Água dos Blocos de Concreto de Vedação
Os ensaios de absorção de água por imersão somente foi realizado para os blocos de vedação
moldados com tempo de vibração de 30 segundos.
No gráfico da Figura 37 são apresentados os resultados do ensaio de absorção em água
(Apêndice 2) por imersão realizado com os blocos de concreto para alvenaria sem função
estrutural produzidos com agregado reciclado de RCD. Pode-se verificar que os resultados
encontrados pelo ensaio realizado aos 7 dias se aproximaram bastante daqueles determinados
como limite por norma (10%). Aos 28 dias, tanto os blocos moldados com substituição de
30% quanto de 60% apresentaram valores de absorção satisfatórios, não ultrapassando o
limite estabelecido pela norma da ABNT NBR 7173/82.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
Absorção de Água (%)
7 Dias 28 Dias
Idade de Ensaio
Bloco de Vedação - Tempo de Vibração = 30
Segundos - Dosagem: 1:8 (Em Massa)
Bloco de Vedação com
30% de Substituição
(a/c=0,59)
Bloco de Vedação com
60% de Substituição
(a/c= 0,69)
Figura 37 – Valores de Absorção de Água para Blocos de Concreto Produzidos com Agregado Reciclado de
RCD.
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
110
Caracterização quanto à Resistência à Compressão Simples (f
c
) dos Blocos de Concreto de
Vedação
Nas Figuras 38 e 39 são apresentados os resultados obtidos para resistência à compressão
simples dos blocos de concreto de vedação com percentuais de substituição do agregado
natural pelo agregado reciclado de 30% e 60%, nas idades de 7 e 28 dias (Apêndice 2).
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
Resistência à Compressão
(MPa)
7 dias 28 dias
Idade de Ruptura (dias)
Bloco de Vedação - Tempo de Vibração = 1
minuto - Dosagem: 1: 8 (Em Massa)
Bloco de Vedação
com 30% de
Substituição (a/c=
0,56)
Bloco de Vedação
com 60% de
Substituição (a/c=
0,66)
Figura 38 – Resistência à Compressão Simples para Blocos de Concreto de Vedação, Moldados com Tempo de
Vibração de 1 Minuto.
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
111
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
Resistência à
Compressão (MPa)
7 dias 28 dias
Idade de Ruptura (dias)
Bloco de Vedação - Tempo de Vibração = 30
Segundos - Dosagem: 1: 8 (Em Massa)
Bloco de Vedação com
30% de Substituição
(a/c= 0,56)
Bloco de Vedação com
60% de Substituição
(a/c= 0,69)
Figura 39 - Resistência à Compressão Simples para Blocos de Concreto de Vedação, Moldados com Tempo de
Vibração de 30 Segundos.
Pode-se observar que tanto os blocos produzidos com tempo de vibração de 1 minuto quanto
com 30 segundos atingiram o valor de resistência à compressão simples, superando inclusive
requerido pela norma da ABNT NBR 7173/82, que é de 2,5 MPa.
É possível verificar também que em todos os casos existe uma tendência de crescimento da
resistência à compressão ao longo do tempo (colunas ascendentes), confirmando assim a
importância do processo de cura adotado, como forma de garantir a correta hidratação das
partículas de cimento.
Conforme pode ser observado nas Figuras 40 e 41, pode-se afirmar que o tempo de vibração a
que os blocos foram submetidos tem relação direta com o grau de compactação dos mesmos.
Assim, quando esse tempo foi reduzido a metade, para os blocos com 30% de substituição do
agregado natural pelo reciclado, os resultados de resistência à compressão não apresentaram
grandes diferenças, apresentando-se ligeiramente superiores para um tempo de vibração de 1
minuto. os blocos onde a substituição foi de 60%, houve um acréscimo considerável na
resistência à compressão tanto aos 7 dias quanto aos 28 dias, fazendo com que, aos 7 dias, os
blocos moldados com 60% de substituição atingisse uma resistência à compressão superior ao
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
112
valor mínimo estabelecido por norma (2,5 Mpa).
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
Resistência à Compressão
(MPa)
1 minuto 30 segundos
Tempo de Vibração
Bloco de Vedação - Idade de Ensaio: 7 Dias -
Dosagem: 1:8 (Em Massa)
Bloco de Vedação
com 30% de
Substituição (a/c=
0,59)
Bloco de Vedação
com 60% de
Substituição (a/c=
0,69)
Figura 40 – Resistência à Compressão Simples para Blocos de Concreto de Vedação, aos 7 Dias.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
Resistência à Compressão
1 minuto 30 segundos
Tempo de Vibração
Blocos de Vedação - Idade de Ensaio: 28 Dias -
Dosagem: 1: 8 (Em Massa)
Bloco de Vedação
com 30% de
Substituição (a/c=
0,59)
Bloco de Vedação
com 60% de
Substituição (a/c=
0,69)
Figura 41 – Resistência à Compressão Simples para Blocos de Concreto de Vedação, aos 28 Dias.
A ocorrência do acréscimo na resistência à compressão apenas nos blocos moldados com 60%
de substituição pode ser explicado, em parte, pelo fato de que ao reduzir o tempo de vibração
a metade, somente no caso dos blocos produzidos com 60% de agregados reciclados foi
CAPÍTULO IV RESULTADOS E DISCUSSÕES
113
possível a incorporação de mais água a mistura (aumentando o fator água/cimento). Por se
tratar de uma mistura seca onde, neste estudo, o fator limitador da relação água/cimento foi a
viabilidade de desmoldagem dos blocos, o aumento na quantidade de água na mistura levou a
um melhor adensamento, o que resultou em um aumento na resistência à compressão.
CAPÍTULO V CONCLUSÕES
114
CAPÍTULO V - CONCLUSÕES
Com base na análise da atual situação dos resíduos da construção civil na Cidade do Recife
realizada neste estudo, é possível afirmar que a região vem apresentando fortes indícios da
insustentabilidade do modelo de gestão dos RCD adotado até o presente momento.
Através dos resultados obtidos por meio da entrevista realizada junto aos empresários do ramo
de coleta de RCD, verificou-se que o bairro onde os serviços de coleta de resíduos
provenientes de atividades construtivas foram mais solicitados foi Boa Viagem, fato que pode
ser explicado pela alta participação desse bairro no total de área licenciada para construção na
cidade, tendo sido responsável, em 2004, por cerca de 42% do total.
Um outro dado importante obtido através das entrevistas foi a composição dos custos
operacionais das empresas, onde o item deslocamento, que inclui os gastos com combustível e
manutenção dos veículos, foi relatado como responsável por aproximadamente 53% dos
custos gerais. Tal fato é apontado como principal motivo para a deposição dos RCD em locais
impróprios, uma vez que o Aterro da Muribeca, única área licenciada para o recebimento dos
RCD até o ano de 2004, localiza-se no município de Jaboatão dos Guararapes, distante dos
principais pólos de geração de RCD.
Quanto à participação das diversas fontes geradoras de RCD, pode-se afirmar que 57% dos
serviços de coleta de RCD realizados pelas empresas coletoras cadastradas pela prefeitura, é
proveniente de construções de prédios multipiso, ou seja, grandes geradores.
Com base nos dados obtidos foi possível a realização da estimativa de RCD depositado
clandestinamente na Cidade do Recife, considerando-se apenas a parcela referente as
empresas coletoras licenciadas, não sendo considerados os coletores informais. O valor
encontrado foi de aproximadamente 353.606 toneladas, sendo este tipo de deposição
CAPÍTULO V CONCLUSÕES
115
responsável por diversos impactos ambientais negativos e com influência direta na qualidade
de vida da população.
Foi então realizado um mapeamento e verificado na Cidade do Recife, a proliferação de
pontos de deposição dispostos em áreas públicas, tendo sido identificados 174 pontos de
deposição, dos quais apenas um, o Aterro da Muribeca, possuía condições de receber esse tipo
de resíduo. A maior parte desses pontos localizam-se em áreas de interesse ambiental,
próximos a cursos d’água, resultando assim em diversos impactos ambientais negativos, que
vão desde a poluição de rios até inundações provocadas pelo assoreamento, parcial ou
completo, de importantes elementos da drenagem urbana (rios, lagoas, açudes, bueiros, etc.).
Essa realidade vem dando sinais de mudança, uma vez que com a obrigatoriedade,
estabelecida pela Resolução CONAMA 307, da comprovação do destino final conferido
aos RCD, as empresas coletoras terão maior dificuldade para depositar esses resíduos
ilegalmente, já que dessa forma não poderão comprovar o destino dos mesmos.
De acordo com a determinação da composição dos RCD gerados na rego, observou-se que
esta depende não somente do método construtivo empregado, mas também da fase de
produção da obra e das atividades em desenvolvimento no canteiro. De forma geral, é
possível afirmar que cerca de 91% do total de amostras de RCD caracterizadas é formada por
materiais potencialmente recicláveis sob a forma de agregado para concreto, o que representa
um aspecto bastante positivo para a gestão desses resíduos, uma vez que facilita a viabilização
de processos de reciclagem. Um outro ponto positivo apresentado pelo resíduo da região é o
fato do mesmo se apresentar em sua maioria com granulometria elevada, principalmente na
fase de acabamento da estrutura, podendo assim ser reutilizados e/ou reciclados para diversos
fins.
No que se refere à adequação à Resolução 307 do CONAMA, podem ser detectadas
algumas ões, seja por parte da administração pública municipal, pelas empresas coletoras
CAPÍTULO V CONCLUSÕES
116
dos RCD, pelas empresas construtoras, como também por parte das universidades e
sindicatos.
Por parte da administração pública, pode-se destacar a elaboração do Programa de
Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil na forma da Lei 17.072, de 04 de janeiro
de 2005 e a criação de pontos de entrega voluntária de pequenos volumes de RCD, embora
estes estejam, atualmente, funcionando de forma inadequada, com os resíduos sendo
depositados sem separação. Quanto à definição de uma nova área para deposição de resíduos
inertes, em cumprimento à proibição feita através da Resolução 307 do CONAMA de
depositar RCD em aterros para resíduos domiciliares, a prefeitura resolveu criar uma área
separada dentro do próprio Aterro da Muribeca para disposição final desses resíduos.
Com relação às empresas licenciadas pela prefeitura para realização dos serviços de coleta de
RCD, verificou-se apenas algumas ações isoladas por parte dos coletores que, atualmente, se
restringem à criação de áreas para disposição dos RCD, nas quais estes serão usados na
terraplanagem do terreno e também na compra de alguns equipamentos próprios para a prática
da coleta seletiva. Existe, porém a intenção por parte de uma pequena minoria de viabilizar no
futuro a implantação de uma Unidade de Beneficiamento de RCD, desde que tal iniciativa
seja apoiada não só pelo poder público, como também pelas empresas construtoras.
Com relação a ponta geradora do resíduo, isto é, as empresas construtoras, ressalta-se a
introdução da prática da coleta seletiva no cotidiano dos canteiros de obras, ainda que esta
esteja sendo desenvolvida em diferentes graus de implantação. Algumas empresas ainda estão
se adaptando a nova prática, em alguns casos de forma até deficiente, porém também não são
raros canteiros de obras com um fluxo de coleta de resíduos pré-definido e eficaz e com um
sistema de separação dos resíduos planejado de forma a se obter a máxima valorização do
resíduo.
CAPÍTULO V CONCLUSÕES
117
Contudo, pode-se assegurar que a separação dos resíduos, através da coleta seletiva, sem que
esses sejam reutilizados e/ou reciclados posteriormente, tem sua eficiência comprometida.
Nesse sentido, buscou-se analisar a viabilidade técnica da utilização dos agregados reciclados
de RCD na fabricação de blocos de concreto para alvenaria sem função estrutural.
Para os blocos produzidos com 30% de substituição de agregado natural pelo agregado
reciclado de RCD e tempo de vibração de 1 minuto, os valores de resistência à compressão
encontrados foram 2,04 MPa e 3,09 Mpa, aos 7 e 28 dias respectivamente. Quando o tempo
de vibração desses blocos foi reduzida a metade, os valores de resistência à compressão não
apresentaram grandes variações em relação aos primeiros, apresentando 2,00 MPa aos 7 dias e
2,75 MPa aos 28 dias. Observa-se que o valor mínimo estabelecido pela norma da ABNT
NBR 7173/82, que é de 2,50 MPa, foi atingido, nos dois casos, quando o tempo de cura foi de
28 dias.
Um fator que contribui bastante para o aumento da resistência à compressão simples dos
blocos de vedação, é a presença significativa dos resíduos a base de cimento (cerca de 72%)
na composição do RCD que deu origem ao agregado reciclado utilizado nesse estudo, uma
vez que nestes resíduos é provável a existência de cimento não hidratado.
Para a série de blocos moldados com percentual de substituição de 60% e tempo de vibração
de 1 minuto, foram encontrados valores de resistência à compressão de 2,16 MPa aos 7 dias e
3,34 MPa aos 28 dias, enquanto que, quando o tempo de vibração foi de 30 segundos, esses
valores sofreram acréscimo considerável, atingindo 3,72 MPa e 4,96 MPa, aos 7 e 28 dias
respectivamente. Nesse caso o tempo de vibração teve influência direta na resistência à
compressão dos blocos, fazendo com que os mesmos atingissem valores superiores ao
determinado como mínimo por norma já aos 7 dias.
A ocorrência do acréscimo na resistência à compressão apenas nos blocos moldados com 60%
de substituição pode ser explicado, em parte, pelo fato de que ao reduzir o tempo de vibração
CAPÍTULO V CONCLUSÕES
118
a metade, somente no caso dos blocos produzidos com 60% de agregados reciclados foi
possível a incorporação de mais água a mistura (aumentando o fator água/cimento). Por se
tratar de uma mistura seca onde, neste estudo, o fator limitador da relação água/cimento foi a
viabilidade de desmoldagem dos blocos, o aumento na quantidade de água na mistura levou a
um melhor adensamento, o que resultou em um aumento na resistência à compressão.
Com relação ao ensaio de absorção de água por imersão, realizado para os blocos cujo tempo
de vibração foi de 30 segundos, pode-se afirmar que os mesmos apresentaram resultados
satisfatórios, principalmente aos 28 dias, quando tanto os blocos com 30% de substituição
quanto aqueles com 60% apresentaram índices de absorção de água de 9,55% e 9,59%
respectivamente, ambos abaixo do valor limite estabelecido pela norma da ABNT NBR
7173/82, que é de 10%.
Considerando os resultados obtidos, pode-se concluir que os blocos produzidos com um
percentual de substituição de 60% e submetidos a um tempo de vibração de 30 segundos,
destacaram-se em relação aos demais, o que se deve não somente ao provável efeito
pozolânico em virtude da presença de materiais cerâmicos no RCD, mas também à
incorporação de água na mistura quando reduzido o tempo de vibração, fazendo com que a
relação água/cimento se aproximasse ainda mais da ideal.
Dessa forma, fica comprovada a viabilidade técnica da utilização dos agregados provenientes
da reciclagem de RCD na fabricação de blocos de concreto para alvenaria sem função
estrutural, desde que atendidas as exigências estabelecidas pelas normas técnicas.
Por fim, cabe destacar também a importância do PROJETO ENTULHO LIMPO/PE,
desenvolvido pelas universidades e SINDUSCON/PE, que através do financiamento do
SEBRAE/PE viabilizou o desenvolvimento deste estudo, que resultou não somente na
definição de parâmetros de indiscutível contribuição para a definição de um modelo de gestão
adequado para os RCD gerados na Cidade do Recife, como também na comprovão da
CAPÍTULO V CONCLUSÕES
119
viabilidade técnica da utilização de agregados provenientes da reciclagem de RCD na
produção de artefatos de concreto sem função estrutural.
Sugestões para Trabalhos Futuros
Avaliar os Planos de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil elaborados na
Cidade do Recife;
Determinar o índice de geração de resíduos para as principais atividades desenvolvidas
dentro do canteiro de obras;
Realizar estudos da viabilidade cnica da utilização de diferentes composições de
RCD para a fabricação de agregados reciclados para o concreto;
Realizar estudos da viabilidade técnica da utilização de outros % de substituição de
agregados naturais por reciclados na fabricação de blocos de concreto para alvenaria
de vedação;
Realizar estudos de viabilidade técnica da utilização de agregados reciclados de RCD
em outros artefatos de concreto sem função estrutural;
Realizar estudos de viabilidade técnica da utilização de agregados reciclados de RCD
em concretos com função estrutural;
Realizar estudos de viabilidade técnico-econômica da implantação de uma Unidade de
Beneficiamento de RCD.
1
20
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PINTO, T. P. Metodologia para a Gestão Diferenciada de Resíduos Sólidos da
Construção Urbana. 1999. 189p. Tese (Doutorado) – Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo (PCC). São Paulo, 1999.
RECIFE. Decreto 18.082, 13 de novembro de 1998. Disponível em:
<http://www.recife.pe.gov.br>. Acesso em: 15 fev. 2004.
RECIFE. Lei 17.072, de 04 de janeiro de 2005. Estabelece as diretrizes e critérios para o
Programa de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil. Disponível em:
http://www.recife.pe.gov.br/diariooficial>. Acesso em: 15 jan. 2005.
ROCHA, Janaíde Cavalcante; JOHN, Vanderley M. Utilização de Resíduos na Construção
Habitacional. Porto Alegre: ANTAC, 2003. – (Coleção Habitare, v.4).
SÃO PAULO (Município). Decreto nº 42.217, de 24 de julho de 2002. CD-ROM.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Estado de Meio Ambiente. Resolução 41, de 17 de
outubro de 2002. Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br>. Acesso em: 15 de ago.
2004.
124
ZORDAN, Sérgio Eduardo. Fichas Técnicas - Entulho da industria da construção civil. São
Paulo, maio 2000. Disponível em: <http://www.reciclagem.pcc.usp/artigos1.htm>. Acesso
em: 24 nov. 2004.
ZORDAN, Sérgio Eduardo. A utilização do entulho como agregado na confecção do
concreto. 1997. 140f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Engenharia Civil (UNICAMP).
Campinas, 1997.
125
DIAGNÓSTICO E AÇÕES DA ATUAL SITUAÇÃO DOS
RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO NA CIDADE DO
RECIFE.
APÊNDICES
126
Apêndice 1 Entrevista Estruturada Aplicada às Empresas Coletoras de RCD
Licenciadas pelo Poder Público.
ENTREVISTA ESTRUTURADA - EMPRESAS COLETORAS DE ENTULHO
1. POSSUI LICENÇA NA PREFEITURA?
SIM NÃO
2. DISPÕE DE QUANTOS VEÍCULOS PARA COLETA, E DE QUE TIPO SÃO?
____________________________________________________________________________
3. QUAIS OS BAIRROS DE MAIOR ATUAÇÃO?
____________________________________________________________________________
4. QUAL O %, DO TOTAL DE CUSTOS, GASTO COM OS SEGUINTES ITENS:
DESLOCAMENTOS _________
MÃO-DE-OBRA _________
ADMINISTRAÇÃO ________
TAXA DE DESCARTE EM BOTA-FORAS ______
5. QUANTAS VIAGENS, EM MÉDIA, SÃO FEITAS POR DIA?
___________________________________________________________________________
6. ONDE É DEPOSITADO O RESÍDUO COLETADO?
__________________________________________________________________________________
7. EM MÉDIA QUAL A PARTICIPAÇÃO DOS RCD NO TOTAL DE RESÍDUOS COLETADOS?
____________________________________________________________________________
8. QUAL A PARTICIPAÇÃO DOS SEGUINTES ITENS NO TOTAL DE RCD COLETADOS:
REFORMAS E AMPLIAÇÕES TÉRREAS __________
CONSTRUÇÃO DE RESIDÊNCIAS TÉRREAS ________
CONSTRUÇÃO DE PRÉDIOS MULTIPISO _________
LIMPEZA DE TERRENOS________
COLETA EM INDÚSTRIAS E SERVIÇOS _______
DEMOLIÇÕES _______
9. POSSUI ALGUM REGISTRO DA QUANTIDADE DE RESÍDUOS COLETADOS NOS ANOS
ANTERIORES? _______________________________________________________________
10. COMO E QUANTO É COBRADO PARA O RECOLHIMENTO DO ENTULHO?
__________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________
11. TEM CONHECIMENTO DE LOCAIS DE DEPOSIÇÃO IRREGULAR DE RESÍDUOS?
ONDE?
______________________________________________________________________
12. QUAL SUA OPINIÃO A RESPEITO DA IMPLANTAÇÃO DE USINAS DE RECICLAGEM?
TEM ALGUMA SUGESTÃO?
127
Apêndice 2 Resultados de Absorção de Água e Resistência à Compressão Simples dos
Blocos de Concreto Sem Função Estrutural, Fabricados com Agregado Reciclado de
RCD.
Resultados Médios de Absorção de Água (Figura 37).
Absorção de Água (%)
7 Dias 28 Dias
Bloco de Vedação com 30% de
Substituição (a/c=0,59) 10,24 9,55
Bloco de Vedação com 60% de
Substituição (a/c= 0,69) 10,42 9,59
Resultados Médios de Resistência à Compressão Simples com Tempo de Vibração de 1
Minuto (Figura 38).
Resistência à Compressão (MPa)
7 dias 28 dias
Bloco de Vedação com 30% de
Substituição (a/c= 0,56) 2,0425 3,09
Bloco de Vedação com 60% de
Substituição (a/c= 0,66) 2,16 3,3425
Resultados Médios de Resistência à Compressão Simples com Tempo de Vibração de 1
Minuto (Figura 39).
Resistência à Compressão (MPa)
7 dias 28 dias
Bloco de Vedação com 30% de
Substituição (a/c= 0,59) 1,992 2,752
Bloco de Vedação com 60% de
Substituição (a/c= 0,69) 3,716 4,958
128
DIAGNÓSTICO E AÇÕES DA ATUAL SITUAÇÃO DOS
RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO NA CIDADE DO
RECIFE.
ANEXOS
129
LEI Nº 17.072/2005
Ementa: Estabelece as diretrizes e critérios para o Programa de Gerenciamento de Resíduos
da Construção Civil.
O POVO DA CIDADE DO RECIFE, POR SEUS REPRESENTANTES, DECRETOU, E
EU, EM SEU NOME, SANCIONO A SEGUINTE LEI:
Art. 1º - Esta Lei cria o Programa de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil.
Parágrafo único. Para efeito desta lei considera-se:
I - resíduos da construção civil: os resíduos provenientes das atividades de construções,
reformas, reparos, demolições, escavações, terraplenagem e atividades correlatas;
II - gerador: pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas responsáveis por atividades que
gerem os resíduos de que trata esta lei;
III - pequeno gerador: o gerador responsável pela atividade de construção, demolição,
reforma, escavação e correlatas que gerem volumes de resíduos de até 1,0m3/dia;
IV - grande gerador: o gerador responsável pela atividade de construção, demolição, reforma,
escavação e correlatas que gerem volumes de resíduos superiores a 1,0m3/dia, em cada uma
das fases do empreendimento.
Art. - Fica proibida a disposição de resíduos da construção civil, em qualquer volume, e
resíduos provenientes de podação e jardinagem, em volume superior a 100 litros/dia, para a
coleta domiciliar regular.
Art 3º- A execução dos serviços de coleta, transporte, tratamento e destino final dos resíduos
oriundos da construção civil somente poderá ser realizado por firmas especializadas, mediante
prévio cadastramento no órgão municipal responsável pela Limpeza Urbana, sendo isento de
cadastramento o transportador dos resíduos em volume inferior a 1,0m3.
Parágrafo único. Qualquer veículo não credenciado flagrado executando este transporte será
apreendido e removido para o deposito da Prefeitura do Recife e liberados somente após o
pagamento das despesas de remoção e multas devidas, ficando nestes casos o gerador dos
resíduos como co-responsável pelas multas aplicadas.
Art - Os resíduos gerados na atividade de construção civil deverão ser classificados para
efeito desta lei, em obediência ao que determinam as resoluções do CONAMA - Conselho
Nacional de Meio Ambiente.
Art - Constitui infração o depósito de resíduos da construção civil e resíduos provenientes
de podação e jardinagem em qualquer quantidade em vias, passeios, canteiros, jardins, áreas e
logradouros públicos e corpos d'água.
Parágrafo único. Os veículos que transportarem os resíduos da construção civil e de podação
que os depositarem em vias, passeios, canteiros, jardins, áreas e logradouros públicos e corpos
d'água serão multados, apreendidos e removidos para o deposito da Prefeitura do Recife e
liberados somente após o pagamento das despesas de remoção e multas devidas.
130
Art 6º - O grande gerador deverá proceder a separação e identificação dos resíduos no local de
origem, obedecendo à classificação preconizada pela legislação vigente sobre a matéria e
originária dos órgãos federais, estaduais e municipais.
Art. - Toda atividade geradora de resíduos em quantidade superior a 1,0 (um) m3 /dia em
funcionamento, bem como aqueles que pretendam se instalar no território do Município do
Recife, devem obter licença de operação e para tanto submeter à aprovação do órgão gestor da
limpeza urbana deste Município o respectivo Projeto de Gerenciamento de Resíduos da
Construção Civil, para cada uma das unidades instaladas, tendo como objetivo estabelecer os
procedimentos necessários para o manejo e destinação ambientalmente adequados dos
resíduos gerados na atividade.
Parágrafo único. O Projeto deve ser apresentado ao órgão municipal responsável pela
Limpeza Urbana para devida apreciação e, sendo aprovado, comporá o acervo de documentos
apresentados na solicitação de Alvará junto a DIRCON/Secretaria de Planejamento.
Art - O Município do Recife, por seu órgão ou ente responsável pelos serviços de limpeza
urbana, deverá manter instalações para recebimento dos resíduos (PRR - Posto de
Recebimento de Resíduo), para atender aos pequenos geradores, com facilidade de acesso e
boas condições de tráfego, abarcando todas as Regiões Político-Administrativas.
§ 1º Poderá o Município do Recife cobrar pelo tratamento e/ou destinação final destes
resíduos.
§ o será acatado o recebimento de resíduos da construção civil que contenham resíduos
sólidos orgânicos.
Art - A destinação dos resíduos da construção civil deverá obedecer o estabelecido em
resoluções do Conama.
Parágrafo único. Os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como de
construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infra-
estrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem, de construção, demolição, reformas
e reparos de edificações - componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de
revestimento etc.), argamassa e concreto e de processo de fabricação e/ou demolição de
peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de
obras, que apresentarem impurezas, deverão ser encaminhados às áreas de destinação final.
Art 10 - O Município do Recife disponibilizará a relação das empresas cadastradas a
executarem as atividades pertinentes a esta lei às entidades do setor e ao público em geral,
bem como os endereços das localidades de destino dos resíduos da construção civil.
Art 11 - Os Aterros de Resíduos da Construção Civil e as Áreas de Destinação de Resíduos
deverão apresentar acessibilidade e boas condições de tráfego, bem como dispor de infra-
estrutura física para atendimento, tratamento e/ou armazenamento dos resíduos recebidos.
§1º O Município do Recife poderá cobrar pelo serviço prestado.
§2º A empresa privada para administrar e operar estas unidades deve ser devidamente
cadastrada junto ao órgão municipal responsável pela limpeza urbana.
131
Art 12 - São penalidades por descumprimento do estabelecido nesta Lei:
I - notificação de advertência por escrito, remetida por (AR), nas hipóteses de postura
inadequada, ou de dúvida em relação à aplicação de multa;
II - multa de R$100,00 a R$1.000,00, pelo não cumprimento da classificação e separação dos
resíduos;
III - multa de R$300,00 a R$ 5.000,00, pela não apresentação do Projeto de Gerenciamento
dos Resíduos da Construção Civil;
IV - multa de R$100,00 a 5.000,00, por disposição de resíduos em logradouros públicos
municipais, por disposição de resíduos em áreas de interesse ambiental (margens de rios,
lagoas, manguezais e outros) e por disposição de resíduos em terrenos particulares sem prévia
autorização da EMLURB;
V - suspensão da licença de operação por 90(noventa) dias, por reincidência na não
apresentação do Projeto de Gerenciamento dos Resíduos da Construção Civil;
VI - a cassação definitiva da licença de operação, por nova ocorrência, quando aplicada a
suspensão, da não apresentação do Projeto de Gerenciamento dos Resíduos da Construção
Civil.
Art 13 - Os grandes geradores deverão, ao final da obra, apresentar Relatório comprovando o
cumprimento do estipulado no Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil,
sendo expedida certidão, pelo órgão responsável pela limpeza urbana, que comporá o acervo
de documentos para solicitação de Alvará e certidão junto a DIRCON/Secretaria de
Planejamento e Secretaria de Finanças do Município.
Art 14 - A fiscalização desta Lei cabe à Secretaria de Serviços Públicos, através da EMLURB
- Empresa de Manutenção de Limpeza Urbana e à Secretaria de Planejamento do Município,
através da Dircon - Diretoria Geral de Coordenação e Controle Urbano e Ambiental.
Art.15 - Fica revogado o art. 2º da Lei nº 16.377, de 15 de janeiro de 1998.
Art. 16 - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação.
Recife, 03 de janeiro de 2005.
João Paulo Lima e Silva
Prefeito
Projeto de Lei de Autoria do Chefe do Poder Executivo.
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