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membros deste grupo, assim como suas ligações “ideológicas”. Destacamos o seguinte
trecho:
“O golpismo que representava a frente política do entreguismo, cada
vez mais audacioso, já que sua manobra ia triunfando em todos os
lances, decidiu-se à conquista do Cube Militar. Ali instalado, faria o
Ministro da Guerra o que lhe conviesse. Foi aí que surgiu a ‘Cruzada
Democrática’. Para verificar as suas origens convém explicar que a
utilização de uma cobertura militar para ações políticas, a longo ou
curto prazo, foi sempre a linha natural das forças antidemocráticas
que têm finalidade essencialmente antinacionais. A longa série de
ditadores militares nas repúblicas latino-americanas assim se explica.
No caso brasileiro, entretanto, pelas próprias peculiaridades da
formação democrática do Exército, a utilização de uma cobertura
militar jamais chegou a se apresentar como completa, e o seu tipo
mais próximo, o General Eurico G. Dutra, não teve condições para se
demonstrar um produto acabado como Trujilo ou Odria, ou Jimenez.
A articulação de uma cobertura militar para fins políticos e
econômicos mais ou menos clandestinos, ou pelo menos escondidos,
levou, no caso brasileiro a uma divisão no seio do Exército: de um
lado estaria uma cúpula, constituída em torno dos órgãos de
comando, controladora das ações e fiscalizadora da organização
militar; de outro lado, a massa de oficiais, distribuída pelas
guarnições e em tudo dependente daquela cúpula. Tal cúpula tendeu
sempre a fechar-se, para selecionar rigorosamente seus elementos,
para empolgar as vantagens e para enquistar-se e perpetuar-se nas
funções-chaves, de onde se distribuem promoções, transferências,
condecorações, viagens ao estrangeiro, cursos, etc. Dominando a
cúpula, com um mínimo numérico, ficava dominada a organização.
Desde logo, no nosso caso, a cúpula denunciou, na prolongada
permanência do General Eurico Gaspar Dutra no Ministério da
Guerra (sete anos), articulando o golpe de 1937 e fazendo da máquina
militar uma propriedade particular; na prolongada permanência do
General Fiúza de Castro no Estado-Maior do Exército (seis anos),
articulando o golpe de 24 de agosto e apresentando-se para ser
Ministro da Guerra na tarde de 10 de novembro de 1955 (por
coincidência?); na permanência de elementos especiais, como os
Generais Canrobert Pereira da Costa, Juarez Távora, Oswaldo
Cordeiro de Farias, Alcides Etchegoyen em funções outras da cúpula,
Ministério da Guerra, Escola Superior de Guerra, etc., de onde
podiam agir em segurança”
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.
A divisão existente entre os militares e a ocupação de postos de importância na
estrutura do Estado e no comando do Exército refletem os papéis ocupados pelos
membros de cada partido militar. A caracterização de uma ou outra corrente como
nacionalista ou não, implica a defesa de idéias voltadas para o desenvolvimento deste
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O Semanário, Semana de 20 a 26 de março de 1958 (Ano III – nº 101).