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Nesta imagem, a criança toma banho de bica, com água proveniente de um
minadouro que brota de uma rocha, localizada logo acima. Essa água cai o dia todo, sem
interrupção, nela, toma-se banho, lava-se roupa, usa-se em casa, inclusive para beber.
Na época da cólera (que veremos abaixo) sofreu contaminação do esgoto que descia
pela encosta. Atualmente é uma água pura, que tem uma estrutura para armazená-la –
uma caixa que sofre limpeza constante.
Conta chega, mas água só através de “gatos”
ADILSON FONSÊCA Moradores da Rua da Resistência, na Gamboa de Baixo, uma transversal
da Avenida Contorno, recebem a conta de água todos os meses sem que haja hidrômetros,
medidores de consumo colocados nas casas pela Embasa. O recibo entregue à moradora
Bárbara Teixeira, 39 anos, veio com o valor referente aos 12 meses do ano passado, R$ 231
(média mensal de R$ 19). Do total cobrado, 63% são referentes à taxa de esgoto, sendo que o
trabalho de esgotamento sanitário não foi sequer concluído. Sem medidor, como as demais da
rua, a casa de Bárbara tem apenas uma torneira no banheiro, e a ligação é na base do “gato”
(ligação clandestina onde não há contagem por hidrômetro). Para todas as 300 famílias que
moram no local a situação se repete, com freqüentes embaraços vividos pelas famílias, que
guardam contas com débitos cumulativos desde o ano passado. “É um absurdo”, diz a
presidente da Associação dos Moradores, Ana Cristina Caminha que mora na Rua Hamilton
Sapucaia e recebe todos os meses uma conta de R$ 18,17. A Embasa, através da assessoria
de imprensa, nega as acusações e diz que 80% dos moradores usam “gato” para ter água
dentro de casa. Admite, entretanto, que impõe o valor da taxa mínima de consumo mensal, que
é de R$ 7,20 para cada dez mil litros de água. A empresa garante que não cobra valores acima
do consumo mínimo destinado à população de baixa renda, e que nos próximos dias deverá
começar serviço de implantação da rede regular de abastecimento no bairro. Simone Bonfim,
32 anos, é um exemplo que enfraquece a afirmação da Embasa. Em janeiro, ela foi
surpreendida com a cobrança de R$ 1.700, referente a débitos de nove meses. “Minha casa
tem apenas uma pia e um banheiro”, diz. Em dezembro do ano passado, depois de pedir
revisão da conta, ela foi notificada de que deveria pagar mais R$ 325 do consumo mensal de
dezembro. “Cansei de reclamar sem resultado. Pedi para cortar a água e passei a usar ligação
clandestina”, diz. Junto com as contas emitidas em janeiro deste ano, os moradores
receberam uma referente a débitos de 2003. Em algumas casas, o débito só foi descoberto
depois que os moradores foram a Embasa. “Eles lacraram as tubulações”, disse Ana Cristina
Caminha, da Associação de Moradores. Aproximadamente 180 das 300 famílias da Gamboa de
Baixo moram nas ruas da Resistência e Barbosa Leal, onde as ligações clandestinas existem
desde 1992. À época os moradores resolveram usar uma ligação instalado na entrada do bairro
para dela puxar água para casas. Naquele ano, quando três pessoas morreram vítimas de
cólera, o abastecimento da Gamboa era feito a partir de uma fonte natural contaminada por
esgotos e posteriormente foi interditada por órgãos sanitárias. Como isso não aconteceu, o
pequeno chafariz na entrada do bairro acabou se ramificando em inúmeros “gatos”, que se
perpetuam até hoje. O abastecimento ainda é feito a partir de torneiras instaladas na porta das
casas, próximas à rede de esgoto e sujeitas à contaminação.
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Matéria retirada da página virtual do jornal A Tarde –
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