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DANIEL FERNANDES MARTINS
MOBILIZAÇÃO NEURAL COMO RECURSO TERAPÊUTICO NA
RECUPERAÇÃO FUNCIONAL E MORFOLÓGICA DO NERVO CIÁTICO DE
RATOS APÓS LESÃO TRAUMÁTICA
Florianópolis
2009
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2
DANIEL FERNANDES MARTINS
MOBILIZAÇÃO NEURAL COMO RECURSO TERAPÊUTICO NA
RECUPERAÇÃO FUNCIONAL E MORFOLÓGICA DO NERVO CIÁTICO DE
RATOS APÓS LESÃO TRAUMÁTICA
Dissertação apresentada à Universidade
Federal de Santa Catarina como requisito
parcial para a obtenção do título de Mestre em
Neurociências.
Orientador: Prof. Dr. Adair Roberto Soares dos Santos
Co-orientador: Prof. Dr. Eduardo Cargnin Ferreira
Florianópolis
2009
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3
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a Deus pela minha vida.
Aos meus pais, e meus irmãos, pelo grande e constante incentivo e pela oportunidade que me
proporcionaram na realização deste estudo.
À minha namorada Leidiane que prestou auxílio indispensável a este trabalho,
compartilhando os momentos de alegria e tristeza.
Ao professor Dr. Adair Roberto Soares dos santos, por proporcionar momentos impagáveis de
conhecimento. Meus sinceros agradecimentos por oferecer, além de sua amizade, uma
excelente orientação, incentivo e dedicação.
Aos meus colegas, alunos da UFSC, pelo incentivo e colaboração no desenvolvimento desse
trabalho.
À todos que participaram direta ou indiretamente deste trabalho.
4
LISTA DE ABREVIATURAS
IFC/SFC
Índice Funcional do Ciático/ Sciatic Functional Index
IEC/SSI
Índice Estático do Ciático/Sciatic Static Index
MN1d
Mobilização neural a partir do 1º dia após esmagamento
MN5d
Mobilização neural a partir do 5º dia após esmagamento
MN10d
Mobilização neural a partir do 10º dia após esmagamento
PL
‘’Print Length” ou Comprimento da pegada
TS
“Total Spread” ou Abertura total dos dedos do 1º ao 5º
IT
“Intermediate Toes” ou Abertura dos dedos intermediários do 2º ao 4º
N
Normal
E
Experimental
EPE/SLR
Elevação da perna estendida/Straight Leg Raise
5
LISTA DE FIGURAS
Figura 1
Componentes estruturais dos nervos......................................................... 14
Figura 2
Estresse físico aplicado sobre o nervo...................................................... 15
Figura 3
Diagrama de um nervo paralelo em uma articulação em diferentes
posições.................................................................................................... 16
Figura 4
Estados de estresse físico contínuo........................................................... 17
Figura 5
Comparação classificações das lesões do sistema nervoso periférico ..... 18
Figura 6
Desenho esquemático dos principais eventos da degeneração e
regeneração após lesão nervosa periférica.............................................. 20
Figura 7
Marcação do local do esmagamento com fio de sutura (seta
branca)...................................................................................................... 28
Figura 8
Pinça utilizada para realizar o esmagamento............................................ 29
Figura 9
Modelo do aparato utilizado para realizar o posicionamento do membro
posterior do animal e subsequente tratamento com mobilização neural.. 30
Figura 10
Linha indicando os dias dos procedimentos experimentais...................... 31
Figura 11
Pista utilizada para obtenção das imagens da vista inferior dos animais.. 31
Figura 12
Imagens da vista inferior do animal.......................................................... 32
Figura 13
Representação esquemática dos parâmetros medidos para calcular o
índice funcional do ciático (IFC).............................................................. 33
Figura 14
Aplicação do filamento de von Frey......................................................... 35
Figura 15
Aplicação da acetona................................................................................ 36
Figura 16
Imagens da análise morfométrica das secções transversa do nervo
ciático de ratos.......................................................................................... 40
Figura 17
Efeito da mobilização neural sobre recuperação funcional motora
avaliada através do (IFC)......................................................................... 43
Figura 18
Efeito da mobilização neural sobre recuperação funcional motora
avaliada através do (IEC)......................................................................... 44
Figura 19
Efeito da mobilização neural sobre a alodinia mecânica ......................... 45
Figura 20
Efeito da mobilização neural sobre a alodinia ao frio............................... 46
Figura 21
Imagens de secções transversas da porção distal do nervo ciático de
ratos.......................................................................................................... 49
Figura 22
Efeito da mobilização neural sobre os parâmetros morfométricos da
regeneração das fibras nervosas.............................................................. 50
6
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 12
1.1 Anatomia funcional e organização estrutural do nervo................................. 12
1.2 Movimentos das articulações e estresse físico................................................. 15
1.3 Respostas fisiológicas ao estresse físico dos nervos......................................... 16
1.4 Lesões dos nervos e degeneração Walleriana.................................................. 17
1.5 Avaliações da função motora............................................................................ 20
1.6 Dor neuropática periférica................................................................................ 21
1.7 Mobilização neural............................................................................................ 23
1.7.1 Teste de elevação da perna estendida (TEPE)..................................................... 24
1.7.2 Técnicas de mobilização neural (tensionamentos neurodinâmicos)....................
25
2 OBJETIVOS...................................................................................................... 26
2.1 Objetivo Geral.................................................................................................... 26
2.2 Objetivos Específicos.........................................................................................
26
3 MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................. 27
3.1 Animais e grupos experimentais....................................................................... 27
3.2 Procedimento cirúrgico..................................................................................... 28
3.3 Tratamento com mobilização neural............................................................... 29
3.4 Avaliação da recuperação funcional sensório-motora................................... 30
3.4.1 Coleta e análise das imagens............................................................................... 31
3.4.1.1 Pista de análise da marcha................................................................................... 31
3.4.1.2 Obtenção e análise das imagens.......................................................................... 32
3.4.2 Índice Funcional do Ciático (IFC) e Índice Estático do Ciático (IEC)................ 32
3.4.3 Avaliação da função sensorial (parâmetros experimentais relacionados à dor).. 34
3.4.3.1 Alodinia mecânica (von Frey)............................................................................. 34
3.4.3.2 Alodinia ao frio (acetona).................................................................................... 35
3.4.4 Análise histológica e morfométrica..................................................................... 36
3.4.4.1 Preparação das amostras..................................................................................... 36
3.4.4.2 Técnicas histomorfológicas................................................................................ 37
3.4.4.3 Tratamento das imagens...................................................................................... 38
3.4.4.4 Morfometria......................................................................................................... 38
7
3.4.4.5 Controle de qualidade......................................................................................... 39
3.5 Análise estatística...............................................................................................
41
4 RESULTADOS.................................................................................................. 42
4.1 Efeito da mobilização neural sobre a recuperação funcional motora
através do Índice Funcional do Ciático (IFC) e Índice Estático do Ciático
(IEC)....................................................................................................................
42
4.2 Efeito da mobilização neural sobre a recuperação funcional sensória
através da avaliação da alodinia mecânica e ao frio.......................................
42
4.3 Análise histológica e morfométrica .................................................................
47
5 DISCUSSÃO...................................................................................................... 51
5.1 Recuperação funcional motora......................................................................... 51
5.2 Recuperação funcional sensorial...................................................................... 52
5.3 Análise histológica e morfométrica.................................................................. 53
5.4 Mobilização neural e degeneração Walleriana..............................................
54
6 CONCLUSÃO.................................................................................................
58
REFERÊNCIAS.............................................................................................. 59
8
RESUMO
O presente estudo examinou os efeitos do tratamento com Mobilização Neural (MN) na
recuperação funcional sensório-motora após esmagamento do nervo ciático de ratos. O
esmagamento foi realizado em ratos machos, adultos, submetidos a 15 sessões de MN
passiva; através do Teste de Elevação da Perna Estendida modificado, com os grupos
começando em 3 diferentes tempos: 1, 5 e 10 dias (MN1d, MN5d, MN10d) após a lesão por
esmagamento do nervo. Durante o período de tratamento, a recuperação sensório-motora foi
monitorada semanalmente, usando o Índice Funcional do Ciático (IFC), o Índice Estático do
Ciático (IEC) e os testes de von Frey e da acetona. No final do tratamento, foram realizadas
análises histológicas e morfométricas para avaliar a regeneração do nervo ciático. Os
resultados mostraram que o tratamento com MN precoce (MN1d) foi capaz de acelerar o
processo de regeneração do nervo ciático, além de reduzir a resposta nociceptiva (alodinia
mecânica). Com relação aos tratamentos tardios (MN5d e MN10d), estes grupos tiveram
somente redução da resposta nociceptiva produzida pela lesão do nervo e não foram
observadas mudanças na função motora. Na porção distal do nervo ciático, o grupo MN1d
apresentou um aumento da espessura da bainha de mielina, além disso, o grupo MN5d
mostrou uma maior densidade de fibras mielinizadas. Estes dados fornecem evidência de que
o tratamento com MN precoce induziu dois efeitos benéficos: aumento da recuperação
funcional e redução da alodinia mecânica, entretanto, o tratamento tardio (MN5d e MN10d)
teve efeito somente na redução da resposta nociceptiva à estimulação mecânica.
Palavras-chaves: Mobilização Neural, mobilização precoce, ratos, regeneração do nervo
ciático, recuperação funcional, dor neuropática, fisioterapia.
9
ABSTRACT
The present study examined the effects of Neural Mobilization (NM) in the functional
sensory-motor recovery after sciatic nerve crush injury in rats. The nerve crush was
performed on adult male rats, submitted to 15 sessions of passive neural mobilization
treatment through a modified straight leg raise (SLR) test, with groups starting at 3 different
times:1, 5 and 10 days (NM1d, MN5d, MN10d) after nerve crush injury. Over the treatment
period, sensory-motor recovery was monitored weekly using the Sciatic Functional Index
(SFI), Static Sciatic Index (SSI), von Frey and acetone drop tests. Histological and
morphometric nerve analyses were performed, at the end of the treatment, to assess the sciatic
nerve regeneration. The results showed that early NM treatment (NM1 day) accelerated the
processes of the sciatic nerve regeneration and reduced the nociceptive response (mechanical
allodynia). As regarding to the late treatments (NM5 and NM10 days), these groups only
showed a reduction in the nociceptive response produced by the nerve lesion but not changes
in motor function. At the distal portion of the sciatic nerve, the NM1d group showed an
increased average myelin sheath thickness, furthermore, the NM5d group showed a greater
density of myelinated fibers. These data provide evidence that early neural mobilization
treatment induced two beneficial effects: an improvement in functional recovery and
reduction of mechanical allodynia, however, the late treatment (MN5d and MN10d) only had
effect in reducting the nociceptive response (mechanical allodynia).
Key Words: Neural mobilization - early mobilization – rats - sciatic nerve regeneration –
functional recovery - neuropathic pain – physiotherapy -.
10
Trabalhos que foram desenvolvidos durante o curso de mestrado relacionados ao
modelo de esmagamento do nervo ciático que foram submetidos ou que se encontram
em preparação para publicação:
MARTINS D. F.; MAZZARDO L.; NASCIMENTO F. P.; LIMA D. A. N.; SPECKHANN
B.; FAVRETTO G.; GADOTTI V. M.; FERREIRA E. C.; SANTOS A. R. S. Neural
mobilization accelerates functional, sensory and motor recovery of sciatic nerve after
traumatic injury. (submetido).
MARTINS D. F.; MAZZARDO L.; LIMA, BRESSAN E.; D. A. N; SANTOS, A. R. S.
Neural mobilization inhibit mechanical allodynia and glial activation in the spinal cord
induced by sciatic nerve crush. 2008, em preparação para publicação.
SIMÃO, R.; MARTINS, D. F.; MAZZARDO, L.; KOHLER, M. C.; JEREMIAS, T. S.;
SILVA, M. A.; TRENTIN, A.; SANTOS, A. R. S. Effects of mesenchymal stem cells (MSC)
obtained from human placenta on neuropathic pain and regeneration of sciatic nerve after
crush injury in rats. 2008, em preparação para publicação.
MARTINS, D. F.; MAZZARDO, L.; SPECKHANN, B. A.; NASCIMENTO, F. P.; LIMA, D.
A. N.; FERREIRA, E. C.; SANTOS, A. R. S. Can the passive joint mobilization of the ankle
interfere in the regeneration processes after the sciatic nerve crush injury in rats? 2008, em
preparação para publicação.
MARTINS D. F.; MAZZARDO L.; LIMA, BRESSAN E.; D. A. N; SANTOS, A. R. S.
Articular mobilization inhibit mechanical allodynia and glial activation in the spinal cord
induced by sciatic nerve crush. 2008, em preparação para publicação.
GADOTTI V. M.; MARTINS D. F.; MAZZARDO L.; NASCIMENTO F. P.; LIMA D. A.
N.; SPECKHANN B.; FAVRETTO G.; FERREIRA E. C.; SANTOS A. R. S. Agmatine
accelerates functional, sensory and motor recovery of sciatic nerve after traumatic injury.
2008, em preparação para publicação.
LIMA, D. A. N.; MARTINS, D. F.; MAZZARDO, L.; NASCIMENTO, F. P.; SANTOS, A.
R. S. Acupoint Kunlun (B60) accelerates functional recovery and reduces mechanical and
cold allodynia after sciatic nerve crush in mice. 2008, em preparação para publicação.
GADOTTI V. M.; MARTINS D. F.; MAZZARDO L.; LIMA, BRESSAN E.; D. A. N;
SANTOS, A. R. S. Agmatine inhibit mechanical and termal allodynia and glial activation in
the spinal cord induced by sciatic nerve crush. 2008, em preparação para publicação.
11
Outros trabalhos que foram desenvolvidos durante o curso de mestrado e que foram
submetidos para publicação.
ROSA A. O.; MARTINS D. F.; GADOTTI V.M.; MAZZARDO L.; EGEA J.;
NASCIMENTO F.P.; CUADRADO A.; LÓPEZ M. G. ; SANTOS A. R. S. The
antinociceptive effect of AR-A014418, a selective GSK-3 inhibitor in mice. Journal of the
International Association for the Study of Pain. Pain, 2008 (submetido).
NASCIMENTO F. P., FIGUEREDO S. M., ALMEIDA R. C., MARTINS D. F.; OSTROSKI
R.M.,; RODRIGUES A. L. S. Santos A. R. S. Antinociception produced by systemic, spinal
and supraspinal administration of inosine in mice: Evidence for the involvement of adenosine
A1 and A2A receptor subtypes. Journal of Pharmacology and Experimental Therapeutics,
2008 (submetido).
GUGINSKI, G. ; FERREIRA, V. ; MARTINS, D. F.; MASSARO, M. ; SANTOS, A. R. S
The antinociceptive role of Melissa officinalis ethanolic extract and its possible mechanisms
of action. Pharmacology, Biochemistry and Behavior, 2008 (submetido).
WERNER, J. A. T.; OLIVEIRA, S. M. ; MARTINS, D. F. ; MAZZARDO, L. ; DIAS, J. ;
MIGUEL, O. ; LORDELLO, A. ; ROYES, L. F. ; FERREIRA, J. ; SANTOS, A. R. S..
Evidence for a role of 5-HT1A receptor on antinociceptive action from Geissospermum
vellosii. International Society for Ethnopharmacology. Journal of Ethnopharmacology,
2008 (submetido).
12
1 INTRODUÇÃO
1.1 Anatomia funcional e organização estrutural do nervo
Os seres humanos são capazes de realizar movimentos amplamente especializados
com o sistema nervoso alongado ou relaxado, estático ou em movimento. Pesquisas
envolvendo a elasticidade em dançarinos, ou esportistas e mulheres, por exemplo, tornam isto
óbvio. O sistema nervoso não somente tem que conduzir impulsos através de notáveis
amplitudes e variedades de movimentos, mas também tem que se adaptar mecanicamente
durante os movimentos (BUTLER, 2000).
A organização estrutural do sistema nervoso permite que os axônios conduzam
impulsos, facilitando a interação do indivíduo com o mundo e possibilita a sustentação de
variadas posturas do tronco, cabeça e membros (THOMAS, 1963).
Normalmente os axônios são referidos como “fibras nervosas”. O citoplasma do
axônio, conhecido como axoplasma, é contido, e flui dentro e ao redor de um complexo
citoesqueleto formado principalmente de microtúbulos e neurofilamentos. Cada axônio é
circundado por células de Schwann, as quais, no caso das fibras mielinizadas, produzem
mielina que encobrem o axônio. Dentro desta organização, um neurônio periférico
compreende um corpo celular, alguns dendritos e um axônio.
Os axônios mielinizados ou não-mielinizados são agrupados juntos em feixes ou
fascículos. Em fibras não-mielinizadas, uma célula de Schwann está associada com vários
axônios, ao passo que, nas fibras mielinizadas, a proporção é de uma célula de Schwann por
internodo axonal. A mielinização efetuada pelas células de Schwann é descontínua, sendo que
as partes de axolema expostas são conhecidas como nódulo Ranvier. A descontinuidade da
bainha de mielina permite a rápida condução de impulsos nervosos visto que o potencial de
ação salta de um nódulo para o outro (BUTLER, 2000).
Os axônios dentro do nervo são extensos prolongamentos do corpo celular de
neurônios sensoriais (gânglio da raiz dorsal), de neurônios autonômicos (gânglio autonômico)
e de neurônios motores (corno ventral da medula espinhal ou tronco encefálico). Por seus
terminais serem muito distantes do corpo celular, os axônios são isolados um do outro,
envolvidos e protegidos por três camadas de tecido conjuntivo: o endoneuro, o perineuro e o
epineuro (THOMAS, 1963).
13
O endoneuro é uma estrutura distensível, elástica, feita de uma matriz de fibrilas de
colageno, formando um tubo endoneural que circunda a membrana basal. Dentro do
endoneuro, todos os axônios estão intimamente associados às células de Schwann (Figura 1).
A mielina de cada axônio mielinizado é formada pela membrana plasmática de uma célula de
Schwann envolvida firmemente várias vezes em volta do axônio (TOPP; BOYD, 2006). As
células de Schwann de cada axônio mielinizado ou grupo de axônios não-mielinizados estão
envolvidas por uma lâmina basal de colágeno tipo IV, fibronectina, laminina e sulfato de
heparana. Entre os axônios há um tecido conjuntivo frouxo de fibrilas de colágeno do tipo I e
tipo II em orientação longitudinal, fibroblastos, mastócitos, macrófagos e fluido endoneural
(TOPP; BOYD, 2006).
O perineuro é uma bainha de tecido conjuntivo que envolve axônios, células de
Schwann e componentes do tecido endoneural formando um fascículo nervoso (Figura 1). Por
conseguinte, o perineuro é formado por mais de 15 camadas de células perineurais
intercaladas com fibras de colágeno do tipo I, fibrilas de colágeno tipo II e fibras elásticas
dispostas em orientação circunferencial, oblíqua e longitudinal (ver figura 1) (GAMBLE;
EAMES, 1964). Cada camada de células perineurais possui uma lâmina basal muito
organizada com a camada íntima contendo laminina, sulfato de heparana e fibronectina
(SCHIFF; ROSENBLUTH, 1986).
As células perineurais se sobrepõe formando assim “junções oclusivas”, sendo que as
mais internas formam uma barreira de difusão com as mesmas funções da barreira hemato-
encefálica no controle do ambiente endoneural (SHANTHAVEERAPPA; BOURNE, 1962;
RECHTHAND; RAPOPORT, 1987). À vista disso, com lamelas compostas de colágeno e
uma pequena quantidade de elastina, o perineuro é visto como a estrutura mais resistente às
forças tensionais (SUNDERLAND, 1990). Muitas das fibras colágenas correm paralelas às
fibras nervosas, embora existam feixes circulares e oblíquos os quais podem proteger o nervo
de enroscar quando tem de contornar um ângulo agudo, como faz o nervo ulnar no cotovelo
(THOMAS, 1963; SUNDERLAND; BRADLEY, 1949; RYDEVIK et al., 1990).
O epineuro é o revestimento de tecido conjuntivo mais externo que circunda, protege
os fascículos. Vários fascículos nervosos são contidos pela bainha epineural formando um
nervo, como ilustra a figura 1. As camadas epineurais contêm fibras de colágeno tipo I e tipo
III, fibras elásticas, fibroblastos, mastócitos e células adiposas. Desta maneira, em posição
frouxa, as fibras de colágeno epineural possuem uma orientação ondulada (STOLINSKI,
1995). O número de fascículos e a proporção do tecido epineural são variáveis entre os nervos
e ao longo do comprimento do mesmo nervo (SUNDERLAND, 1990). Desta forma, o
14
epineuro interfascicular está frouxamente unido ao perineuro, permitindo o deslizamento de
um fascículo independentemente do fascículo adjacente, como é visto na figura 1 (MILLESI
et al., 1995). Além disso, há abundante tecido conjuntivo epineural nos nervos que contêm
muitos fascículos facilitando assim, a dispersão de forças compressivas (SUNDERLAND,
1965).
Figura 1. Componentes estruturais dos nervos periféricos. Compartimento endoneural (En); lâmina basal (BL);
Capilares (Cap); Colágeno (Col); Perineuro (Pe); Epineuro (Ep); Arteríolas (A). Fonte: Topp; Boyd, 2006.
15
1.2 Movimentos das articulações e estresse físico
Em condições fisiológicas normais impostas pelo movimento e postura, os nervos são
expostos a vários estresses mecânicos. O movimento das articulações é o primeiro modo pelo
qual forças indutoras de movimento são aplicadas ao sistema nervoso, provocando o estresse
físico. Neste contexto, estresse físico é definido como pressão ou tensão agindo sobre certa
área de tecido (DRISCOLL et al., 2002) e pode ser aplicado ao nervo como tensão,
compressão ou cisalhamento, ou ainda como uma combinação dos três.
A tensão pode ser aplicada em paralelo ou perpendicular ao comprimento do nervo,
causando respectivo estresse longitudinal ou transverso sobre ele. Quando o movimento
articular causa alongamento do nervo, o mesmo é colocado sob estresse tênsil por
alongamento e deslizamento (MILLESI et al., 1995), como é ilustrado na figura 2.
Figura 2. Estresse físico aplicado sobre o nervo. O estresse tênsil aplicado longitudinalmente ao nervo periférico
produz um alongamento do nervo (aumento da tensão). A contração transversa que ocorre durante este
alongamento é aumentada no centro da secção do nervo. Fonte: Topp; Boyd, 2006.
Durante o movimento articular, ocorre um aumento do comprimento neural no lado
convexo das articulações e uma diminuição no lado côncavo. Os eventos neurais que seguem
o movimento articular são, portanto, influenciados pela localização do nervo em relação ao
eixo da articulação. Se o nervo estiver situado no lado convexo, ficará sujeito às forças de
alongamento, enquanto que se localizado no lado côncavo, sofrerá influência de forças de
encurtamento (SHACKLOCK, 2005).
16
Figura 3. Diagrama de um nervo paralelo em uma articulação em diferentes posições. As flechas indicam o
comprimento do nervo ao nível da articulação. Posição (a) Neutra- o nervo está frouxo. Posição (b)
Angulada- o nervo está alongado, acompanhando o movimento articular. Fonte: Shacklock, 1995.
1.3 Respostas fisiológicas ao estresse físico dos nervos
As propriedades estruturais e biomecânicas dos nervos podem ser modificadas com a
aplicação de estresse físico, através de movimentos extrínsecos e posturas. De acordo com a
teoria do estresse físico de Mueller e Maluf (2002), o nível de estresse colocado sobre um
tecido biológico produz uma resposta adaptativa do tecido. Neste sentido, níveis de estresse
menor do que o requerido para a manutenção do tecido (estresse baixo) resultam na redução
da habilidade do tecido em tolerar estresse subsequente e é consistente com a plasticidade e
resposta à demanda funcional (Figura 4). No entanto, níveis de estresse na amplitude
requerida para a manutenção do tecido (estresse normal) mantêm um estado de equilíbrio.
17
Figura 4. Estados de estresse físico contínuo. A área branca representa a zona funcional na qual o estresse físico
sobre o nervo é suficiente para manter um estado de equilíbrio e função fisiológica normal. A área cinza
representa as zonas disfuncionais resultantes de vários níveis de estresse físico colocado sobre o tecido
nervoso. Fonte: Topp; Boyd, 2006.
Todavia, níveis de estresse físico que excedem a amplitude requerida para a
manutenção (estresse alto) resultam em um aumento da tolerância do tecido, num esforço para
encontrar a demanda mecânica. Níveis de estresse físico que excedem a capacidade de alguns
componentes do tecido (estresse excessivo) resultam em lesão tecidual. Além disso, níveis de
estresse físico que são extremos resultam em morte tecidual. Contudo, é importante ressaltar
que o estresse físico pode variar em relação à magnitude, ao tempo, à direção ou ao tipo de
estresse (Figura 4).
Assim, no desuso, no super-uso ou na lesão, a zona funcional do nervo é alterada. Na
zona funcional, o estresse físico sobre o nervo é suficiente para manter o estado de equilíbrio
e a função fisiológica do nervo. Já na zona disfuncional, vários níveis de estresse físico
alteram a habilidade do nervo em tolerar estresse subsequente (Figura 4).
1.4 Lesões dos nervos e degeneração Walleriana
Estima-se que a prevalência das neuropatias periféricas seja de aproximadamente
2.400 a cada 100.000 habitantes (2,4 % da população mundial). (ENGLAND; ASBURY,
2004). Além disso, algumas neuropatias periféricas de origem traumática também afetam
outros tecidos, como esmagamento, compressão, estiramento, avulsão e secção parcial ou
total. Estas lesões resultam na parada da transmissão de impulsos nervosos e, por conseguinte,
na perda ou diminuição da sensibilidade e motricidade no território inervado (OGARD;
STOCKER, 1994; AZZE; MATTAR JR., 2000).
18
Neste sentido, o primeiro sistema de classificação das lesões nervosas periféricas foi
descrito por Cohen em 1941 (SUNDERLAND, 1951), como: neuropraxia, axonotmese e
neurotmese (Figura 5). Mais tarde, Seddon, após examinar 650 pacientes, popularizou o
sistema de Cohen (SEDDON, 1942; 1943). Onze anos depois, Sunderland definiu 5 graus
distintos de lesões nervosas, sendo este sistema de classificação o mais usado atualmente
(SUNDERLAND, 1951). No sistema proposto por Sunderland, baseada na classificação
original usada por Seddon, os 3º e 4º graus de lesões foram incluídos como extensões de
axonotmese e neurotmese, respectivamente (Figura 5).
Comparação das classificações das lesões do sistema nervoso periférico.
Seddon (1975)
Sunderland
Perda Funcional
Lesão Anatômica
Neurofisiologia
Neuropraxia
(não degenerativa)
Grau I
Força muscular,
gnose.
Bainha do axônio
e fibra nervosa
intacta
Mantém condução
distal, sem
fibrilação
Axoniotmese
(degenerativa)
Grau II, III
Todas modalidades
Interrupção do
axônio e
degeneração
Walleriana distal
Perda da
condução;
fibrilação
Neurotmese
(degenerativa)
Grau IV, V
Todas modalidades
Interrupção do
tronco nervoso;
degeneração
Walleriana
Perda da
condução;
fibrilação
Figura 5. Comparação classificações das lesões do sistema nervoso periférico. Fonte: Stokes, 2004.
Em relação à axonotmese, (lesão de compressão), o axônio proximal brota e as faixas
distais de células de Schwann mantêm-se em sua orientação original, logo as fibras nervosas
são arranjadas como estavam antes da lesão. Desta forma, quando os axônios se regeneram,
eles encontram as suas posições originais dentro do nervo e têm mais probabilidade de se
reconectarem de forma precisa com os seus alvos. Assim, a chance de regeneração axonal é
maior quando um nervo periférico é comprimido ou esmagado, mas não quando é rompido
(Figura 6).
Além disso, quando a compressão ou esmagamento provoca a morte dos axônios
distais ao local da lesão (processo conhecido como degeneração Walleriana, que se inicia
horas após a lesão e se completa de 6 a 8 semanas) (HAINES, 2006) os corpos neuronais, que
19
estão na medula espinhal ou nos gânglios sensoriais ou autônomos, normalmente sobrevivem.
No entanto, estes corpos celulares podem sofrer mudanças chamadas reações cromatolíticas
(o corpo celular incha, o núcleo move-se para uma posição excêntrica e o retículo
endoplasmático rugoso torna-se fragmentado) em resposta ao trauma (Figura 6B). De dias a
semanas mais tarde, o brotamento axonal começa no ponto da lesão e os novos axônios
crescem em direção distal. Neste meio tempo, na parte distal do nervo, os axônios se
degeneram, sendo removidos pelos macrófagos. Entretanto, as células de Schwann da porção
distal do nervo lesado permanecem, auxiliando os macrófagos (principal via fagocítica) na
fagocitose de fragmentos ou restos de mielina em certa extensão do axônio (Figura 6B)
(TANAKA et al., 1992).
Dentro de 2 a 3 dias após a lesão, há um importante infiltrado de macrófagos dentro do
nervo em degeneração que é atraído por citocinas, tais como: proteína quimioatrativa de
monócitos-1 (PQM-1), fator inibidor da leucemia (FIL) e interleucina (IL-1) secretadas por
células de Schwann reativas (TOFARIS et al., 2002). Além disso, as células de Schwann
diferenciadas dentro do tubo endoneural proliferam (principalmente no terceiro dia após a
lesão) (SALONEN et al., 1988), formando cordões chamados de faixas de Büngner (Figura
6C), onde as células de Schwann e os tubos da lâmina basal guiam os brotos axonais no
crescimento distal. A parte distal do nervo em regeneração, o tubo endoneural, as células de
Schwann e a lâmina basal, constituem a unidade regenerativa (HOFFMAN; LASEK, 1980).
20
Figura 6. Desenho esquemático dos principais eventos da degeneração e regeneração após lesão nervosa
periférica. (A) fibra nervosa normal; (B) transecção das fibras; (C) finos brotos emergindo do final do ramo
axonal proximal; (D) Reconexão com as células alvo e a maturação das fibras nervosas. Fonte: Navarro, et
al., 2006.
Os macrófagos, que foram ativados pelos restos de mielina, sinalizam para as
células de Schwann secretarem fatores de crescimento neural tais como NGF, uma
neurotrofina que promove o crescimento do axônio. A regeneração depende de diversos
fatores, incluindo as neurotrofinas fornecidas pelas células de Schwann reativas e pela matriz
extracelular. A taxa de crescimento dos axônios em brotamento é inicialmente muito baixa e
alcança dentro de 3-4 dias algo em torno de 2-3 mm/dia (VERDÚ; NAVARRO, 1997).
1.5 Avaliação da função motora
Em condições experimentais, a recuperação das lesões nervosas periféricas é estudada
principalmente através de técnicas de eletrofisiologia e histologia (morfometria). Não
obstante, é importante conhecer o grau de recuperação funcional que estas lesões representam.
Neste sentido, de Medinaceli e colaboradores (1982) desenvolveram um método quantitativo
confiável e reproduzível da condição funcional do nervo ciático de ratos, denominado de
21
Índice Funcional do Ciático (IFC). O método é baseado na medida de parâmetros pré-
estabelecidos nas impressões da pata posterior dos animais obtidos enquanto eles caminham.
Um dos métodos mais modernos de avaliação funcional é aquele proposto por Bervar
(2000), o qual utiliza técnicas de captura e análise digital da deambulação de animais de
laboratório. Este método é facilmente reproduzível, acurado e sensível, produzindo resultados
mais precisos, em contraste àqueles descritos por de Medinaceli.
Levando-se em consideração que os ramos tibial e fibular do nervo ciático contribuem
anatomicamente para o movimento e manutenção da distância entre o 1º e o 5º dedos
(WALKER et al., 1994a, b ; MEEK et al., 2001), a avaliação do espalhar dos dedos foi
sugerida como uma forma de avaliar a recuperação motora. Trabalhos usando esse parâmetro
introduziram um novo índice funcional, o Índice Estático do Ciático (IEC). Neste método de
avaliação, as distâncias entre os respectivos dedos são registradas durante o período de
repouso (BERVAR, 2000; BERVAR, 2002).
Embora dados funcionais e morfológicos sejam utilizados para avaliar a regeneração
nervosa após lesões induzidas por esmagamento, a correlação entre esses dois tipos de
avaliações é normalmente pobre (DELLON; MACKINNON, 1989; KANAYA et al., 1996).
Os métodos de avaliações dos nervos recentemente desenvolvidos, incluindo a
histomorfometria e marcação fluorescente retrógrada (MACKINNON et al., 1988), não
necessariamente prevêem o restabelecimento das funções motoras e sensoriais (DE
MEDINACELI et al., 1982; VAREJÃO et al., 2004b). Apesar de, essas técnicas serem úteis
para estudar o processo de regeneração do nervo, elas geralmente falham na avaliação da
recuperação funcional (SHEN; ZHU, 1995). Neste sentido, as pesquisas envolvendo lesões
dos nervos necessitam conciliar técnicas de avaliações sensório-motoras e
histomorfométricas.
1.6 Dor neuropática periférica
Lesões do sistema nervoso periférico podem resultar em substancial perda funcional e
diminuição da qualidade de vida pelo permanente prejuízo das funções sensório-motoras e
problemas secundários (dor neuropática, p.ex.), tendo como consequências sociais longos
períodos de afastamento do trabalho (JAQUET et al., 2001; ROSBERG et al., 2005).
A dor neuropática implica em patologia do sistema somatossensorial do sistema
nervoso periférico (dor neuropática periférica) ou do sistema nervoso central (dor neuropática
central). Esta nova definição de dor neuropática foi proposta por Troels S. Jensen e publicada
22
pelo comitê de diretoria do grupo de interesse especial sobre dor neuropática (NeuPSIG),
incluída em 2008 na terminologia de dor da Associação Internacional para o Estudo da Dor
(IASP) (LOESER; TREEDE, 2008).
Foram reconhecidos dois tipos de dor neuropática que acompanham a lesão nervosa:
“dor disestésica” e “dor do tronco nervoso” (ASBURY; FIELDS 1984). A dor disestésica
resulta da descarga de impulsos originados em fibras aferentes nociceptivas lesadas ou em
processo de regeneração. Além disso, foi demonstrado que estas descargas desempenham um
papel chave na dor neuropática periférica (BUTLER, 2000), sendo esta dor resultante de
estímulos gerados ectopicamente relacionados à alteração do número e função de canais
iônicos no local de desmielinização do nervo danificado por trauma ou doenças.
Em contrapartida, a dor de tronco nervoso é atribuída a uma atividade aumentada dos
nociceptores, sensibilizados química ou mecanicamente, no interior dos revestimentos de
tecido conjuntivo (ASBURY; FIELDS 1984). Sabe-se, por exemplo, que os troncos nervosos
periféricos são mecanossensíveis por possuírem no interior de seu tecido conjuntivo
aferências mecanorreceptoras (HROMADA, 1963; THOMAS et al., 1993). Estas aferências
são conhecidas como nervi nervorum e são, em sua maioria, desmielinizadas, formando um
plexo descontínuo em todo o tecido conjuntivo do nervo e possuindo, predominantemente,
terminações nervosas livres (HROMADA, 1963).
Em seus estudos eletrofisiológicos, Bove e Light (1997) demonstraram que pelo
menos parte do nervi nervorum possui função nociceptiva, pois responde a estímulos nocivos
mecânicos, químicos e térmicos. Assim, muitos dos nervi nervorum estudados por Bove e
Light são sensíveis ao excesso de alongamento longitudinal de todo o nervo por eles inervado,
alongamento local em qualquer direção e também à pressão focal. Apesar de, os nervi
nevorum, não respondem ao alongamento nas amplitudes normais de movimento (KUSLICH
et al, 1991; HALL e QUINTNER, 1996).
Após a indução de uma lesão nervosa parcial ou total, ocorre uma sequência de
eventos importantes como: (1) produção imediata de disparos de potenciais de ação
(SELTZER et al., 1991) seguidas por descargas anormais que podem continuar por um longo
período de tempo (WALL; GUTNICK, 1974; WALL; DEVOR, 1983) sobre as fibras
nervosas intactas e danificadas (ALI et al., 1999; WU et al., 2002; MA et al., 2003; OBATA
et al., 2003); (2) secreção de neuropeptídeos e mediadores pró-inflamatórios no local da lesão
e no sistema nervoso central (TRACEY; WALKER, 1995; MA; BISBY, 1998); (3) ativação
de nociceptores e sensibilização de nociceptores silenciosos através da liberação de produtos
inflamatórios (DRAY; BEVAN, 1993; SCHMIDT et al., 1995) ou da expressão de novos
23
receptores (BIRDER; PERL, 1999; revisado por NOGUCHI, 2006) ou canais iônicos (ver
revisão em WAXMAN et al., 1999; DEVOR, 2006b); (4) mudanças sobre a expressão gênica
e a expressão de vários peptídeos e receptores (revisado por DEVOR, 2006a; HOKFELT et
al., 2006); (5) brotamento anormal de fibras periféricas e centrais (WOOLF et al., 1995;
RUOCCO et al., 2000); e finalmente, (6) mudanças no campo receptivo e modalidades
sensoriais das fibras periféricas danificadas e intactas (LIU et al., 2000; PITCHER; HENRY,
2004).
1.7 Mobilização neural
Os conceitos e as técnicas de mobilização neural são de origem bastante antiga. A
primeira descrição conhecida de um teste neurodinâmico foi em papiro escrita por Imhotep em
2800 a.C., no qual uma manobra de estiramento da perna foi realizada no diagnóstico de dor na
coluna lombar em trabalhadores que participaram da construção das pirâmides do Egito
(BEASLEY, 1982; DYCK, 1984).
Técnicas de mobilização neural são métodos fisioterapêuticos (cinesioterápicos), que
promovem movimentos passivos ou ativos, focando na restauração da capacidade do sistema
nervoso em tolerar forças normais de tensão, compressão e fricção associadas com atividades
diárias e esportivas. Esta técnica fisioterápica de terapia manual envolve alongamento ou
encurtamento dos troncos nervosos, raízes, nervos, coluna e meninges espinhais através de
movimentos e posicionamentos articulares (BUTLER, 1991).
Nas últimas décadas, tem sido observado o desenvolvimento de pesquisas sobre os
conceitos básicos de métodos fisioterapêuticos, incluindo a mobilização neural (BUTLER,
1991). Além disso, esta técnica e seus mecanismos fundamentais são objeto de numerosos
estudos clínicos. Foi encontrado em pesquisa clínica na qual os pacientes foram submetidos
ao tratamento com mobilização neural, melhora na capacidade motora, dor e centralização dos
sintomas (CLELAND et al., 2006). Entretanto, resultados inconclusivos também foram
observados após o tratamento realizado em pacientes que sofreram descompressão lombar
cirúrgica (KITTERINGHAM, 1996).
Pesquisadores têm mostrado o processo biológico que ocorre no tecido neural e
envoltórios conjuntivos submetidos ao tratamento com mobilização neural. Neste sentido,
numerosos trabalhos sugerem que esta técnica fisioterápica pode exercer impacto positivo
sobre os sintomas da lesão dos nervos por aumentar a circulação intraneural, fluxo
axoplasmático, viscoelasticidade do tecido conjuntivo neural e por reduzir a sensibilidade dos
24
locais que geram impulsos nervosos anormais (BUTLER, 2000; SHACKLOCK, 2005). No
entanto, estas hipóteses biologicamente plausíveis não têm sido comprovadas.
1.7.1 Teste de elevação da perna estendida (TEPE)
Lesões mecânicas de qualquer natureza no sistema nervoso periférico levam ao
aumento da mecanossensibilidade do nervo e mudanças na dinâmica neural. Acredita-se que
estas lesões possam contribuir para o desenvolvimento de algumas síndromes dolorosas
(SHACKLOCK, 1996). Assim, testes neurodinâmicos têm sido usados para avaliar e tratar
tais lesões (ELVEY, 1986; BUTLER, 1991, 2000; SHACKLOCK, 1996).
O teste de elevação da perna estendida (TEPE) (do inglês, Straight Leg Raise) é um
teste de tensão ou irritação, sendo este um procedimento bem conhecido e rotineiramente
usado na avaliação de patologias da coluna lombar. Em 1951, Charnley afirmou em relação à
dor lombar que “... o TEPE é mais importante do que todos os outros sinais radiológicos e
clínicos juntos” (CHARNLEY, 1951). Ademais, tem sido demonstrada sua validade e
especificidade no diagnóstico de hérnia discal. O TEPE foi descrito pela primeira vez por
Forst, um aluno de Laségue, em sua tese de doutorado em 1881, mas é a Laségue que o teste é
agora amplamente atribuído (DYCK, 1984). Desde então, houve várias modificações do teste.
Lazeveric em 1884 demonstrou que a dorsiflexão do tornozelo poderia aumentar a
tensão no nervo ciático durante o TEPE (DYICK, 1984). Flexão cervical (REID, 1960) e
flexão do quadril (BREIG; TROUP, 1979) também foram adicionadas a este teste. O TEPE
permanece, com ou sem modificações, há 100 anos como ferramenta clínica na avaliação de
patologias da coluna lombar.
Em 2005, Boyd e colaboradores mostraram pela primeira vez a excursão e tensão no
nervo ciático em ratos, in vivo e eutanasiados, durante o TEPE modificado. Estes autores
incluiram a manobra de sensibilização como a dorsiflexão do tornozelo, antes e após a lesão
traumática. Neste estudo, os autores determinaram diferentes posicionamentos do membro
posterior do animal, semelhante ao posicionamento do TEPE. Os autores observaram que a
lesão traumática do nervo causou significantes mudanças nas propriedades mecânicas do
mesmo, evidenciadas pelo aumento de tensão durante a flexão de quadril e dorsiflexão de
tornozelo, na primeira semana após a lesão.
Além disso, os pesquisadores notaram que a tensão produzida pela flexão de quadril e
dorsiflexão do tornozelo em ratos vivos chegou a 15%, semelhante a valores encontrados em
25
estudos com testes neurodinâmicos para o membro superior realizados em cadáveres humanos
(WRIGHT et al., 1996; WRIGHT et al., 2001).
1.7.2 Técnicas de mobilização neural (tensionamentos neurodinâmicos)
Os tensionamentos neurodinâmicos são técnicas fisioterápicas específicas de
mobilização neural que são usadas para ativar funções fisiológicas e viscoelásticas,
relacionadas ao movimento do sistema nervoso. A tensão é aplicada aos tecidos neurais
(nervo ciático, p. ex.) por aumento da distância entre cada extremidade do trato nervoso. Uma
característica chave do tensionamento é que, além das articulações serem movimentadas, o
tecido inervado é usado para aplicar tensão ao nervo. A flexão dorsal do tornozelo e extensão
dos artelhos durante a realização do Teste de Extensão da Perna Estendida (TEPE),
combinada com o restante do teste, é um exemplo de tensionamento (SHACLOCK, 2005). Os
tensionamentos são realizados com movimentos de grande amplitude, nos quais a estrutura
neural volta a sua posição, sem carga. Isto porque o intuito é estimular a melhora da
capacidade da estrutura neural para responder às alterações de tensão. A resposta é alcançada
em dois níveis: redução da sensibilidade do tecido nervoso à tensão, e melhora do
comportamento viscoelástico.
Tratamentos com mobilização neural são sugeridos como uma alternativa para
recuperar as funções fisiológicas e mecânicas do sistema nervoso (BUTLER, 1991, 2000;
SHACKLOCK, 1995). Além disso, na clínica, a mobilização neural é usada para restaurar a
plasticidade do sistema nervoso, definida como a capacidade das fibras nervosas e suas
bainhas de tecido conjuntivo de deslizarem em relação a outras estruturas (SHACKLOCK,
1995; BUTLER, 2000). No caso de pacientes que necessitem de tratamento pós-operatório, a
mobilização neural deve ser iniciada o mais precoce possível após a cirurgia (POWELL;
MYERS, 1986; DWORNIK et al., 2007).
Embora existam vários trabalhos demonstrando os efeitos do tratamento com
mobilização neural, há muita controvérsia sobre a sua efetividade e os mesmos não
contemplam a análise da influência de diferentes tempos de início de tratamento após lesão
nervosa periférica. Neste sentido, o presente estudo tem como objetivo verificar a influencia
da mobilização neural sobre o esmagamento do nervo ciático de ratos, iniciada em diferentes
tempos.
26
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Avaliar a influência da mobilização neural do nervo ciático de ratos, iniciada em
diferentes tempos após a lesão traumática (1, 5 e 10 dias), sobre a avaliação da
recuperação funcional sensório-motora e histomorfométrica.
2.2 Objetivos Específicos
Avaliar a capacidade de recuperação funcional motora do nervo ciático de ratos
tratado com mobilização neural a partir do 1º, 5º e 10º dia após o esmagamento,
através do Índice funcional do ciático (IFC) e do Índice estático do ciático (IEC);
Avaliar a capacidade de recuperação funcional sensorial do nervo ciático de ratos
tratado com mobilização neural a partir do 1º, 5º e 10º dia após a lesão com
mobilização neural, através do Teste do filamento de von Frey (alodinia mecânica) e
do Teste da acetona (alodinia ao frio);
Avaliar a influência do tratamento com mobilização neural sobre o processo de
regeneração do nervo ciático, a partir do 1º, 5º e 10º dia após a lesão, através das
quantificações dos seguintes parâmetros histomorfométricos: densidade de fibras
mielinizadas (fibras/mm
2
); espessura média da bainha de mielina (µm), porcentagem
de área de fibras mielinizadas (%), porcentagem de área de tecido conjuntivo (%) e
porcentagem de área de fragmentos de degeneração (%)
27
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Animais e grupos experimentais
Para a realização dos experimentos, foram utilizados 40 ratos Wistar machos (250 a
300 g) obtidos do Biotério Central da UFSC, mantidos em temperatura controlada de 22±2°C,
em ciclo de 12h claro e 12h escuro (luzes acesas às 6:00 h) e com água e ração ad libitum. Os
animais foram distribuídos homogeneamente entre os grupos e mantidos no laboratório para
aclimatação por pelo menos 1 hora antes da realização dos experimentos. Todos os
experimentos foram realizados de acordo com as normas éticas para o estudo de dor em
animais de laboratório (ZIMMERMANN, 1983). O número de animais utilizados e os
estímulos empregados foram os mínimos necessários para demonstrar o efeito dos
tratamentos. Além disso, todos os procedimentos experimentais realizados foram aprovados
pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) (protocolo 00192).
Os animais foram aleatoriamente divididos em 5 grupos compostos por 8 animais:
Grupo 1 - Animais operados sem o esmagamento do nervo ciático e que não
receberam tratamento (falso-operado) usado como controle (da cirurgia);
Grupo 2 - Animais operados submetidos ao esmagamento do nervo ciático, este
grupo também não recebeu tratamento (operados), foram usados como
controle (do tratamento);
Grupo 3 - Animais operados e submetidos ao esmagamento do nervo ciático e
tratados com mobilização neural, que teve início no 1º dia após o
esmagamento (MN1d);
Grupo 4 - animais operados e submetidos ao esmagamento do nervo ciático e
tratados com mobilização neural, que teve início no 5º dia após o
esmagamento (MN5d); e
Grupo 5 - animais operados e submetidos ao esmagamento do nervo ciático e
tratados com mobilização neural, que teve início no 10º dia após o
esmagamento (MN10d).
28
3.2 Procedimento cirúrgico
Inicialmente, os animais foram induzidos a caminhar sobre a pista de marcha 1 (uma)
vez ao dia, por um período de 10 dias, para se familiarizarem aos procedimentos da coleta de
dados antes do procedimento cirúrgico.
Para a realização da cirurgia, os animais foram anestesiados com uma injeção
intraperitonial contendo cetamina (100 mg/kg) e xilazina (5 mg/kg). Após a verificação do
estado de consciência do animal (através do pinçamento da cauda e das pregas interdigitais),
efetuou-se a tricotomia da área a ser operada (coxa direita). Em seguida, fez-se uma incisão
curvilínea no hemicorpo direito do animal, iniciando acima e medialmente ao trocânter maior
do fêmur e terminando próximo à fossa poplítea, ao nível da inserção dos músculos ísquio-
tibiais. A exposição do nervo ciático foi conseguida após a divulsão dos músculos
semitendinoso e reto femoral (Figura 7).
Figura 7. Marcação do local do esmagamento com fio de sutura (seta). Fonte: Raso, 2002.
Com o auxílio de uma pinça hemostática não-serrilhada (Figura 8) (adaptada de
VAREJÃO et al., 2004a), realizou-se o esmagamento do nervo ciático direito por 30
segundos, apertando até o primeiro estágio da gramalheira da pinça, aproximadamente 10 mm
acima da trifurcação do nervo (BRIDGE et al., 1994).
29
Figura 8. Pinça utilizada para realizar o esmagamento. À esquerda, o modelo da pinça utilizada; à direita, a seta
mostra o local marcado para realizar o esmagamento padrão em todos os nervos, onde é mostrado o aspecto
não-serrilhado da pinça.
Em seguida, um fio de sutura estéril não-absorvível (8-0) foi amarrado na bainha
epineural para marcar o local do esmagamento (análise histológica) (REINECKE et al., 2003)
(Figura7). Logo após, a divulsão muscular foi reparada com 2 pontos de sutura com fio
absorvível (categute, 5-0) e realizada a assepsia no local com anti-séptico (Povidine®). Após
a cirurgia, os animais permaneceram próximos a uma lâmpada acessa como fonte de calor até
retornarem a deambular pela caixa, voltando então ao biotério do laboratório.
3.3 Tratamento com mobilização neural
O tratamento com mobilização neural passiva foi realizado com os animais
ligeiramente anestesiados com 1-2% de isofluorano, procedimento realizado individualmente.
O grupo operado e submetido ao esmagamento que não recebeu tratamento (controle) foi
anestesiado sempre que os grupos tratados recebiam o tratamento para descartar o possível
efeito anti-alodinico do anestésico sobre os resultados (SLUKA; WRIGHT, 2001).
Um aparato de madeira adaptado do descrito previamente por Boyd e colegas (2005),
foi usado para estabilizar o animal (no qual consistia de velcros na região torácica e coccígea)
e na manutenção do membro posterior direito na posição pré-estabelecida, a qual foi: 110°
flexão de quadril, 75° flexão de joelho e 10° dorsi-flexão do tornozelo (posição semelhante ao
teste EPE e que coloca 22.56±15.47% de tensão sobre o nervo ciático lesionado (BOYD et al.,
2005). Esta posição foi mantida com a ajuda de pregos de metal envolvidos com espuma. O
membro esquerdo foi mantido em flexão com o auxílio de fitas.
30
Figura 9. Modelo do aparato utilizado para realizar o posicionamento do membro posterior do animal e
subsequente tratamento com mobilização neural. Fonte: Boyd et al, 2005.
Na realização do tratamento, os animais foram posicionados individualmente com o
auxílio do aparato de madeira. O tratamento foi realizado no membro posterior direito, através
de suaves oscilações na articulação do tornozelo, onde a mesma foi mobilizada em
plantiflexão até o limite da amplitude de movimento e dorsiflexão, não excedendo a 10°. O
tempo total do tratamento constou de 9 minutos de mobilização passiva do tornozelo, sendo 3
séries de 3 mobilizações por 3 minutos, com intervalos de 30 segundos entre cada
mobilização, como descrito por Sluka e Wright (2001). Os tratamentos foram realizados uma
vez por dia, com 48 horas de repouso entre um tratamento e outro, totalizando 15 sessões de
tratamento cada grupo (Figura 10).
3.4 Avaliação da recuperação funcional sensório-motora
Todos os animais foram avaliados durante 8 semanas. Foi realizada uma avaliação pré-
operatoriamente (Pre) e após a cirurgia a cada 3-4 dias até a 3ª semana. Nas 5 semanas
restantes, as avaliações foram semanais.
31
Pre
1 3
7
Esmag
10 14 17 21 28 35 42 49 56 635
Tratamento mobilização neural iniciando em 3 diferentes tempos
Dias das Avaliações (motora e dor)
Figura 10. Linha temporal indicando os dias dos procedimentos experimentais. O tratamento teve início em 3
tempos diferentes: 1, 5 e 10 dias após o esmagamento. Mobilização neural passiva foi realizada em dias
alternados por 30 dias, totalizando 15 sessões com duração de 9 minutos cada. Esmagamento (Esmag.)
3.4.1 Coleta e análise das imagens
3.4.1.1 Pista de análise da marcha
Foi utilizada para a coleta de dados dos IFC e IEC uma pista de marcha de madeira e
vidro, com 42 x 8,5 x 9cm para as proteções laterais. O fundo da pista foi feito de vidro, sendo
que abaixo do mesmo havia um espelho em um ângulo de 45º de inclinação conforme descrito
(VAREJÃO et al., 2001b; WESTERGA; GRAMSBERGEN, 1990) (Figura 11). Uma
lâmpada de 100 W, foi posicionada com o foco direcionado para o espelho, iluminando a
imagem das pegadas do animal. No final do corredor, havia uma caixa escura para induzir o
animal a caminhar na direção da mesma.
Figura 11. Pista utilizada para obtenção das imagens da vista inferior dos animais.
32
3.4.1.2 Obtenção e análise das imagens
A captura das imagens da marcha dos animais foi obtida através de uma câmera
filmadora digital da marca Panasonic PV-GS19 Mini DV, posicionada a 1 metro de distância
da pista de marcha, a qual gravou as imagens em fita mini DV. As capturas das imagens das
pegadas dos ratos foram feitas enquanto o animal caminhava sobre a pista de marcha, através
do espelho colocado embaixo da pista num ângulo de 45
o
de inclinação. Nas capturas das
imagens do animal em repouso, o mesmo foi mantido restrito na própria pista de marcha,
possibilitando a captura das imagens dele em posição estática (Figura 12 à direita).
Figura 12. Imagens da vista inferior do animal. Durante a marcha (esquerda), e em repouso (direita).
Através do programa “movie maker” versão 2.0, as filmagens foram armazenadas
(formato jpeg, 640 x 480 pixels / polegadas, taxa de amostragem 1096 K bps) e escrutinadas
“off-line”. Esta etapa consistiu no isolamento de diversos quadros, contendo os momentos de
interesse para a análise de marcha dos ratos. Os quadros de interesse foram exportados para o
programa “Image Pro Plus” (versão 6.0, National Institute of Health) para o cálculo dos
parâmetros PL (comprimento da pegada), TS (abertura total dos dedos) e IT (abertura dos
dedos intermediários) do IFC e do TS e IT para o cálculo do IEC.
3.4.2 Índice Funcional do Ciático (IFC) e Índice Estático do Ciático (IEC)
Através das imagens obtidas por vídeo, os seguintes parâmetros foram mensurados:
(1) comprimento da pegada (PL, do inglês, print length), a qual depende da ativação do
músculo gastrocnêmio; (2) abertura total dos dedos, do 1º ao 5º (TS, do inglês, total spread of
toes); e (3) a abertura dos dedos intermediários, do 2º ao 4º (IT, do inglês, intermediate toes),
33
os quais são influenciados pelos músculos extensores e intrínsecos da pata (BAIN et al, 1989).
Estes dados foram coletados do lado normal (não-operado) (NPL, NTS e NIT) e do lado
experimental (operado) (EPL, ETS e EIT) (Figura 13). Posteriormente, os dados obtidos
foram analisados através da equação desenvolvida por De Medinaceli et al. (1982) e adaptada
por Bain et al. (1989) e Hare et al. (1992).
Figura 13. Representação esquemática dos parâmetros medidos para calcular o índice funcional do ciático
(IFC). N: normal; E: experimental (operada); TS: abertura total dos dedos (1º ao 5º); IT abertura dos dedos
intermediários (2º ao 4º); PL: comprimento da pegada. Fonte: Raso, 2002.
Fator abertura total dos dedos (TSF) =
...(1)
Fator abertura dos dedos intermediários (ITSF) =
...(2)
Fator comprimento da pegada (PLF) =
...(3)
O IFC foi calculado como descrito por Bain et al. (1989), de acordo com a seguinte equação:
IFC = -38,3
+ 109,5 + 13,3 -8,8 ...(4)
= (-38,3 x PLF) + (109,5 x TSF) + (13,3 x ITSF) -8,8 ...(5)
34
Foi demonstrado que em condições dinâmicas, o PL, a TS e a IT possuem
significância estatística, enquanto que em condições estáticas apenas a TS e a IT apresentam-
se significativos estatisticamente. Baseado nestes resultados, introduziu-se outro modelo de
avaliação denominado “Índice Estático do Ciático” (IEC), o qual é dado pela seguinte
fórmula:
IEC = [(108,44 x TSF) + (31,85 x ITSF)] -5,49 ...(6)
Para calcular o índice estático do ciático, os animais estavam sempre em repouso e
somente os parâmetros de TS e ITS foram mensurados como descrito por Bervar (2000).
Ambos IFC e IEC são negativos (o valor normal é igual a zero), significando ausência de
disfunção do nervo. Já a disfunção total é igual a menos cem (-100), significando completa
disfunção, de modo que quanto mais próximo de zero melhor a função do nervo (BAIN et al.,
1989). Cada imagem da superfície ventral do animal foi analisada por um único observador,
sendo que a média de três mensurações foram utilizadas para calcular o IFC e o IEC, como
descrito por De Medinaceli et al. (1982).
3.4.3 Avaliação da função sensorial (parâmetros experimentais relacionados à dor)
Estímulos térmicos e mecânicos foram utilizados para avaliar a função sensorial. Nesta
avaliação, os animais foram previamente habituados em caixas individuais de observação.
mínimo de 15 minutos ou até que os comportamentos de exploração do ambiente
terminassem. Na realização dos testes, os animais permaneceram livres nas caixas de
observação, sem a necessidade da manipulação pelo experimentador. As respostas à
estimulação térmica ou mecânica foram testadas no dia anterior ao procedimento cirúrgico
basal (pré-esmagamento) e repetidamente em diferentes intervalos de tempo, como mostra a
figura 10.
3.4.3.1 Alodinia mecânica (von Frey)
A frequência de resposta frente a um estímulo mecânico foi avaliada com um método
adaptado daquele descrito por Bortolanza et al. (2002). A alodinia mecânica foi avaliada
utilizando monofilamentos de von Frey (6 g). O teste consistiu na aplicação do filamento na
pata, com a duração de 5 segundos, por 10 vezes. Foi considerada resposta positiva (RP) o
35
levantamento da pata posterior operada (direita) que foi estimulada. O resultado deste teste foi
dado em porcentagem
No dia anterior à cirurgia, os animais foram submetidos ao teste de von Frey (6 g).
Para caracterização da resposta basal, foram selecionados apenas os animais que apresentaram
uma porcentagem de resposta de no máximo 20%.
Figura 14. Aplicação do filamento de von Frey.
A aplicação do filamento de von Frey foi executada utilizando-se uma plataforma
construída especialmente para este teste (PITCHER et al., 1999). A plataforma (70 x 40 cm)
consistiu de uma tela de arame com malha de 6 mm (Figura 14). Para facilitar a aplicação do
filamento na superfície ventral da pata posterior, os animais foram colocados individualmente
em uma câmara de observação feita em acrílico (9 x 7 x 11 cm) sem fundo e coberta com
tampa que estava posicionada sobre a plataforma.
O filamento foi aplicado atendendo a alguns critérios como: (1) a aplicação feita
perpendicularmente à superfície plantar (Figura 14); (2) a pressão foi suficiente para
proporcionar a curvatura do filamento, obtendo-se assim pressão total; (3) os animais foram
avaliados quando as quatro patas estavam acomodadas sobre a tela; e (4) a resposta de retirada
da pata foi considerada quando o animal removeu totalmente a pata da tela de apoio. Estas
avaliações foram realizadas nos respectivos dias mostrados na figura 10.
3.4.3.2 Alodinia ao frio (acetona)
A alodinia ao frio foi avaliada usando o teste da acetona como descrito por Choi et al.
(1994). O teste consistiu na aplicação (seringa de insulina) de 100 µL de acetona na superfície
36
ventral da pata posterior operada (direita) do animal (Figura 15). Tomou-se o cuidado para
evitar o contato da agulha com a pata. Foi analisada a resposta dentro de 20 s após a aplicação
da acetona e registrada em escores como:
(0) – nenhuma resposta;
(1) - uma levantada ou sacudida rápida da pata;
(2) - duas ou mais levantadas ou sacudidas rápidas da pata e
(3) - períodos de levantadas ou sacudidas rápidas da pata associados com lambidas na pata
posterior (FLATTERS; BENNETT, 2004).
A aplicação da acetona foi repetida três vezes, com intervalos de 5 minutos entre elas,
para cada animal. A soma dos três escores foi usada para análise dos dados (FLATTERS;
BENNETT, 2004). Estas avaliações foram realizadas nos respectivos dias mostrados na figura
10.
Figura 15. Aplicação da acetona.
3.4.4 Análise histológica e morfométrica
3.4.4.1 Preparação das amostras
Todos os processos de análise histológica e morfométrica foram realizados no
Laboratório de Marcadores Histo-Citológicos do Departamento de Biologia Celular,
Embriologia e Genética da UFSC.
37
Na 8ª semana após o esmagamento do nervo ciático, os ratos foram eutanasiados na
câmera de CO
2
. O nervo ciático foi retirado através de uma nova incisão no mesmo local da
utilizada no procedimento inicial. As amostras foram fixadas em uma solução de formalina-
zinco (cloreto de zinco 1,6%, formaldeído 4%, acetato de cálcio 20%) durante 24 h. Após a
fixação, as amostras foram colocadas em dicromato de potássio a 5% por 5 dias. Passado esse
período, as amostras foram lavadas em água corrente e deixadas na água por toda noite para
retirar todo o dicromato antes da desidratação gradual com etanol.
Em seguida, foi seccionado um segmento do nervo de 5 mm, 3 mm distalmente à
lesão. Depois de uma cuidadosa desidratação em etanol, utilizou-se a metodologia de rotina
(Cargnin-Ferreira; Sarasquete), para a inclusão em parafina 58ºC, utilizando como líquido
intermediário o xilol e levando a cabo os seguintes passos:
Desidratação e inclusão em parafina: Etanol 70% (mínimo 24 horas), Etanol 80% (45
minutos), Etanol 90% (45 minutos), Etanol absoluto 100% I (45 minutos), Etanol absoluto II
(45 minutos), Etanol-Xilol 1/1 (45 minutos), Xilol I (45minutos), Xilol II (45 minutos),
Parafina I (1 hora), Parafina II (1 hora), Parafina III (1 hora).
Uma vez o material incluído verticalmente em parafina e feitos seus blocos, os
mesmos foram cortados em um micrótomo Leica RM 2025 com espessura de 5 µm. Os cortes
foram então estirados e recolhidos em um banho termostático a 52ºC e dispostos sobre
lâminas gelatinizadas para sua fácil adesão.
3.4.4.2 Técnicas histomorfológicas
Os cortes obtidos foram desparafinizados e hidratados segundo a metodologia de
rotina e corados com a técnica de Cason (CARGNIN-FERREIRA & SARASQUETE, 2008)
e “Oil Red” (KIERNAN, 2004). As preparações histológicas foram dispostas numa solução
de Orange G (1%), Fucsina Ácida (1%), Azul de Anilina (1%) e ácido fosfotúngstico (1%)
durante 5 minutos e depois em solução hidroalcóolica “Oil Red” (1%) por 1 minuto. Passado
esse tempo, as lâminas foram então lavadas para retirada do excesso de corante, desidratadas
e montadas em meio de montagem aquoso.
O uso desta técnica em detrimento da coloração bicromática hematoxilina-eosina
radica no fato de que técnicas tricrômicas, como a usada neste trabalho, evidenciam
sobremaneira compostos protéicos e glicídicos assim como estruturas morfológicas similares
com cores distintas, aumentando os contrastes e evidenciando melhor as estruturas analisadas.
38
3.4.4.3 Tratamento das imagens
A análise histológica foi realizada em corte transversal da porção distal do nervo
direito restrita ao tecido conjuntivo e à área de bainha mielinizada. As imagens foram
adquiridas usando-se uma câmera digital de microscopia modelo TA – 0124-A, conectada a
um microscópio de luz DME (Leica). As imagens foram capturas em aumento de 1000x e
ampliada mais 200x para análise, pelo Image Pro Plus Software 6.0 (Media Cybernetics,
Bethesda, Maryland).
Posteriormente, as imagens foram analizadas em um programa de imagem (Chtool)
desenvolvido pelo Projeto Cyclops (Depto. de Informática – UFSC) para análises
histopatológicas dos projetos desenvolvidos pelo Dr. Eduardo Cargnin Ferreira e para o
Serviço de Anatomia Patológica do Hospital Universitário.
Contrariamente aos procedimentos em análises de imagens histológicas, onde se
convertem as imagens policromáticas em uma escala de cinza e se analisam quantitativamente
áreas de interesse, o programa atualmente desenvolvido analisa as imagens policromáticas
diretamente, o que leva a uma maior precisão nas quantificações planimétricas das alterações
histopatológicas porque integram distintos matizes de cor derivados das técnicas de coloração
utilizadas.
3.4.4.4 Morfometria
Para a análise morfométrica foram selecionados os melhores cortes, pela microscopia
de pequeno aumento, descartando os cortes de má qualidade os quais poderiam prejudicar o
processo de medida dos parâmetros. Os critérios de seleção dos cortes foram a integridade da
morfologia do nervo, particularmente do perineuro, qualidade da coloração, ausência de
artefatos de técnicas (rachaduras, dobras).
Depois de corados, os cortes foram observados e fotografados com microscopia de luz
e uma série de 5 parâmetros foram quantificados: (1) densidade de fibras mielinizadas
(fibras/mm
2
) (Figura 16B) e (2) espessura da bainha de mielina (µm) foi realizada com um
aumento de 1000x. Para este último parâmetro, foi escolhida uma área representativa, onde
foram contados 10 axônios íntegros. (3) área de fibras mielinizadas (%) (Figura 16C); (4) área
de tecido conjuntivo (%) (Figura 16D) neste parâmetro os fragmentos de degeneração foram
subtraídos da imagem analisada, e (5) fragmentos de degeneração (%) (Figura 16G).
39
3.4.4.5 Controle de qualidade
Todo o estudo histológico, desde a biópsia até a análise das imagens obtidas a partir
das preparações histológicas foram realizadas unicamente pelo aluno Daniel Fernandes
Martins sob os auspícios do Dr. Eduardo Cargnin-Ferreira do Laboratório de Marcadores
Histo-Citológicos do Depto. de Biologia Celular, Embriologia e Genética (CCB-UFSC) com
a finalidade de se evitar discordância entre examinadores (Índice de Kappa 70).
40
Figura 16. Imagens da análise morfométrica das secções transversais do nervo ciático de ratos 8 semanas após o
esmagamento. (A) porção distal do nervo esmagado após 8 semanas do esmagamento no aumento de 1000x;
(B) contagem dos axônios; (C) quantificação da área de fibras mielinizadas; (D) quantificação da área de
tecido conjuntivo; (E) porção distal do nervo após 8 semanas do esmagamento no aumento de 100x, animal
falso-operado (observar que não apresentam fragmentos de degeneração no meio do tecido); (F) porção distal
do nervo esmagado após 8 semanas do esmagamento no aumento de 100x, animal operado (observar pontos
brancos referentes a fragmentos de degeneração no meio do tecido); (G) Imagem do cortes sem a
quantificação; (H) quantificação dos fragmentos de degeneração. As secções foram coradas com Cason e “oil
red”. Barra da escala: 10µm.
41
3.5 Análise estatística
Os resultados são apresentados como a média ± erro padrão das médias (EPM). Para
análise dos dados da recuperação sensório motora (IFC, IEC, alodinia mecânica e ao frio), foi
empregada Análise de Variância de duas vias (ANOVA), seguida do teste de Bonferroni para
múltiplas comparações. As análises estatísticas entre os grupos experimentais dos parâmetros
morfométricos foram realizadas por meio de análise de variância (ANOVA), seguida pelo
teste de Newman Keuls. Em todas as análises, valores de p < 0,05 foram considerados
estatisticamente significantes.
42
4 RESULTADOS
4.1 Efeito da mobilização neural sobre a recuperação funcional motora através do
Índice Funcional do Ciático (IFC) e Índice Estático do Ciático (IEC)
Na figura 17, observou-se que no grupo falso-operado a média do IFC permaneceu
estável, próximo de -10%, que é considerado um valor normal (ausência de déficit motor) até
a 8ª semana. No entanto, no grupo operado, observou-se que a média do IFC mudou de -7,38
± 1,33% no basal para -95,78 ± 0,82% (p < 0.001; Fig. 17) no primeiro dia após o
esmagamento, apresentando uma diferença de 88,4%. O IFC do grupo operado controle (-
21,67 ± 4,31%) alcançou um valor correspondente à função normal do nervo somente no 28º
dia após o esmagamento, igualando-se ao valor do IFC do grupo falso-operado (-11,86 ±
2,30%, Fig.17).
No grupo operado (com o nervo ciático esmagado) houve perda da função do membro
posterior analisado por 3 semanas (p < 0.01; Fig. 17) seguidas ao esmagamento, confirmando
a indução da lesão pelo modelo adotado. Além disso, o grupo MN1d apresentou diferença
estatisticamente significativa nas avaliações dos dias 7, 10, 14 e 17 (-72,86 ± 7,31% p <
0.001; -69,51 ± 8,80%, p < 0.001; -15,61 ± 4,34% p < 0.001 e -6,34 ± 1,71%, p < 0.01, nos
respectivos valores do IFC) em relação aos valores do IFC do grupo operado (-91,63 ± 2,31%,
-86,14 ± 4,59%, -52,90 ± 3,91% e -27,87 ± 3,96%, Fig. 17, respectivamente) estes resultados
indicaram que a recuperação da função motora do grupo MN1d foi acelerada a partir do 7º dia
em relação ao grupo operado.
No entanto, os valores do IFC dos grupos operado, MN5d e MN10d foram
semelhantes durante todo o período experimental, alcançando os valores do IFC do grupo
falso-operado na 4ª semana após o esmagamento (Figura 17).
43
Figura 17. Efeito da mobilização neural sobre recuperação funcional motora avaliada através do (IFC). O
gráfico mostra a avaliação antes e após o esmagamento do nervo - Pré (basal) e a cada 3-4 dias até a 3ª
semana e posteriormente uma vez por semana até a 8ª semana após o procedimento cirúrgico. MN1d =
tratamento com mobilização neural iniciado no 1º dia após o esmagamento; MN5d = tratamento com
mobilização neural iniciado no 5º dia após o esmagamento e MN10d = tratamento com mobilização neural
iniciado no 10º dia após o esmagamento. Os grupos falso-operado e operado foram comparados com os
grupos tratados: MN1d, MN5d e MN10d. Os dados são expressos como a média ± erro padrão da média
(EPM), N = 8 animais. (*) representa a comparação entre os grupos tratados em relação ao grupo operado;
(#) denota a comparação entre os grupos falso-operado e operado. **p < 0.01, ***p < 0.001, ##p < 0.01,
###p < 0.001.
Na figura 18, o grupo falso-operado apresentou o valor médio do IEC próximo de -
10%, com mínima variação ao longo do período experimental. Este valor do IEC, igualmente
ao IFC, é considerado um valor de atividade motora normal. Porém, no grupo operado a
média do IEC apresentou consideráveis mudanças de -6,57 ± 2,32% (p < 0.001; Fig. 18) no
basal para -95,71 ± 1,06% no primeiro dia após o esmagamento apresentando uma diferença
de 89,13%. Este valor do IEC no primeiro dia após o esmagamento representa total perda da
função motora no membro em que o nervo ciático foi esmagado. O grupo operado
permaneceu com déficit até a 3º semana (-19,33 ± 4,10%, p < 0.01) e sua total função motora
retornou a valores próximos aos do grupo falso-operado (-7,18 ± 1,37%, Fig. 18) apenas no
28º dia pós-esmagamento (15,15 ± 3,17%). Estes resultados reforçam os dados encontrados
no IFC, indicando a perda da função do membro posterior analisado dos animais do grupo
operado por 3 semanas seguidas ao esmagamento.
Além disso, o grupo MN1d nas avaliações do IEC nos dias 7 e 17 (-78,24 ± 11,28%, -
7,18 ± 1,37%, p < 0.05, Fig. 18, respectivamente) apresentou significante aumento em relação
44
aos valores do grupo controle (-98,20 ± 0,81% e -26,40 ± 8,90%, respectivamente) exibindo
recuperação motora precoce.
Nos grupos MN5d e MN10d, observou-se comportamento semelhante ao grupo
operado durante todo o período experimental, alcançando os valores do IEC do grupo falso-
operado na 4ª semana após o esmagamento (Figura 18).
Figura 18. Efeito da mobilização neural sobre a recuperação funcional motora avaliada através do (IEC). O
gráfico mostra a avaliação antes e após o esmagamento do nervo - Pré (basal) e a cada 3-4 dias até a 3ª
semana e posteriormente uma vez por semana até a 8ª semanas após o procedimento cirúrgico. MN1d =
tratamento com mobilização neural iniciado no 1º dia após o esmagamento; MN5d = tratamento com
mobilização neural iniciado no 5º dia após o esmagamento e MN10d = tratamento com mobilização neural
iniciado no 10º dia após o esmagamento. Os grupos falso-operado e operado (N = 8) foram comparados com
os grupos tratados: MN1d, MN5d e MN10d. Os dados são expressos como a média ± erro padrão da média
(EPM), N = 8 animais. (*) representa a comparação entre os grupos tratados em relação ao grupo operado;
(#) denota a comparação entre os grupos falso-operado e operado. *p < 0.05, ##p < 0.01, ###p < 0.001.
4.2 Efeito da mobilização neural sobre a recuperação funcional sensória através da
avaliação da alodinia mecânica e ao frio
Na avaliação basal e 3 dias após o esmagamento observou-se mudança significativa no
limiar sensorial mecânico dos animais, os quais apresentavam uma frequência média de
retirada de 5,71 ± 2,02%, (Fig.19) e passaram a apresentar 40,00 ± 6,90%, (p < 0.001,
Fig.19). Esta diminuição no limiar sensorial frente à estimulação mecânica se manteve ao
longo de 17 dias (p < 0.001) e somente voltou ao normal na 3ª semana após o esmagamento.
Estes resultados mostraram que o modelo adotado no presente estudo induziu dor neuropática
periférica (alodinia mecânica). Além disso, não foi observada mudança significativa nos
45
valores da frequência média de retirada da pata dos animais do grupo falso-operado durante o
período experimental, indicando que a neuropatia foi induzida pelo esmagamento e não pelo
procedimento operatório (incisões e suturas fasciais e musculares).
O tratamento MN1d foi capaz de evitar o desenvolvimento da alodinia mecânica no
respectivo grupo. Sendo assim, os valores da frequência média de retirada da pata nos dias 3
(11,25 ± 5,80%), 7 (15 ± 7,07%), 10 (8,75 ± 3,98), 14 (6,25 ± 3,23%) e 17 (7,5 ± 2,5) foram
menores que os valores observados no grupo controle (40,00 ± 6,90%; 35,71 ± 6,11%, 62,86
± 9,93%; 40,00 ± 12,25% e 50 ± 6,83%) (p < 0.001, nos respectivos dias) (Figura 19).
Além disso, depois de instalada a alodinia mecânica, o tratamento MN5d foi capaz de
inibir a alodinia avaliada nos dias 10, 14 e 17 (inibindo 44,19%; 35,71% e 34,29%, p <
0.001, respectivamente) (Figura 19) em relação o grupo operado. No tratamento realizado
mais tardiamente (MN10d), também foi observado comportamento anti-alodinico em relação
ao grupo controle. A partir do início deste tratamento, as inibições foram de 47,15%; 34,28%
e 44,28%, p < 0.001 nas avaliações dos dias 10, 14 e 17, respectivamente (Figura 19).
Figura19. Efeito da mobilização neural sobre a alodinia mecânica. O gráfico mostra a avaliação antes e após o
esmagamento do nervo - Pré (basal) e a cada 3-4 dias até a 3ª semana e posteriormente uma vez por semana
até a 8ª semana após o procedimento cirúrgico. MN1d = tratamento com mobilização neural iniciado no 1º
dia após o esmagamento; MN5d = tratamento com mobilização neural iniciado no 5º dia após o
esmagamento e MN10d = tratamento com mobilização neural iniciado no 10º dia após o esmagamento. Os
grupos falso-operado e operado foram comparados com os grupos tratados: MN1d, MN5d e MN10d. Os
dados são expressos como porcentagem (média ± EPM) dos ensaios, N = 8 animais. (*) representa a
comparação entre os grupos tratados em relação ao grupo operado; (#) denota a comparação entre os grupos
falso-operado e operado. ***p < 0.001, ###p < 0.001.
46
No teste de alodinia ao frio, observou-se que o estímulo realizado pela acetona
inicialmente exibiu mínimo desconforto nos animais, evidenciado pela média da soma dos
escores do grupo operado (0,28 ± 0,18) (Figura 20). No entanto, quando os animais foram
submetidos ao esmagamento do nervo ciático, os mesmos passaram a apresentar no 1º dia
após o esmagamento o valor de 7,0 ± 0,43 (p < 0.001, Fig. 20). Estes dados mostraram que o
esmagamento do nervo foi capaz de induzir alodinia ao frio, visto que o estímulo térmico que
inicialmente era inócuo passou a ser nocivo frente à mudança no limiar sensorial dos animais.
Esta mudança no limiar foi observada até o final do experimento, na 8ª semana. Porém,
apenas o grupo MN1d foi capaz de inibir a alodinia ao frio (inibição de 51,32%), mas
somente no 3º dia (4,25 ± 0,72, p < 0.001, Fig. 20).
Figura 20. Efeito da mobilização neural sobre a alodinia ao frio. O gráfico mostra a avaliação antes e após o
esmagamento do nervo - Pré (basal) e a cada 3-4 dias até a 3ª semana e posteriormente uma vez por semana
até a 8ª semana após o procedimento cirúrgico. MN1d = tratamento com mobilização neural iniciado no 1º
dia após o esmagamento; MN5d = tratamento com mobilização neural iniciado no 5º dia após o
esmagamento e MN10d = tratamento com mobilização neural iniciado no 10º dia após o esmagamento. Os
grupos falso-operado e operado foram comparados com os grupos tratados: MN1d, MN5d e MN10d. Os
dados são expressos como média da soma de cada animal (média ± EPM) dos ensaios, N = 8 animais. (*)
representa a comparação entre os grupos tratados em relação ao grupo operado; (#) denota a comparação
entre os grupos falso-operados e operados.***p < 0.001, ###p < 0.001.
47
4.3 Análise histológica e morfométrica
A análise morfométrica das imagens dos cortes transversais da porção distal do nervo
ciático (Figura 21 e 22) demonstrarou que na 8ª semana após o esmagamento, o grupo falso-
operado teve média de 28.686 ± 1.844 fibras/mm2 (Figs. 21 e 22A), No entanto, o grupo
operado (controle) apresentou média de 14.629 ± 3.302 fibras/mm
2
(p < 0.01, Figs. 21B e
22A) na densidade de fibras mielinizadas, sendo os dois grupos estatisticamente diferentes.
Além disso, os grupos MN1d e MN10d que foram submetidos ao esmagamento também
apresentaram uma menor densidade de fibras mielinizadas (17.886 ± 1.177 e 19.357 ± 3.820
fibras/mm
2
respectivamente) (Figuras 21C e 22A; 21E e 22A) em comparação ao grupo falso-
operado (p < 0.01). Entretanto, foi observado que o grupo MN5d apresentou maior densidade
de fibras mielinizadas do que os grupos operado, MN1d e MN10d (24.429 ± 1.284
fibras/mm
2
; p < 0.05) (Figs. 21D e 22A).
A espessura média da bainha de mielina encontrada no grupo operado foi 0,80 ± 0,04
μm (p < 0.001, Figs. 21B e 22B) que diferiu estatisticamente da média do grupo falso-
operado (1,75 ± 0,04 μm, Figs. 21A e 22B). Entretanto, no grupo MN1d observou-se uma
maior espessura da bainha de mielina (1,05 ± 0,05 μm, p < 0.05) (Figs. 21C e 22B) do que no
grupo operado. Os grupos MN5d (0,93 ± 0,05 μm) (Figs. 21D e 22B) e MN10d (0,90 ± 0,03
μm) (Figs. 21E e 22B) não apresentaram diferenças significativas em relação ao grupo
operado.
A área de fibras mielinizadas foi estatisticamente diferente entre a porcentagem do
grupo operado (16,25 ± 4,13%, p < 0.001) (Figs. 21B e 22C) e a porcentagem do grupo falso-
operado (46,0 ± 5,41%, Figs. 21A e 22C). Os grupos MN1d (18,92 ± 1,49%, Figs. 21C e
22C), MN5d (26,02 ± 3,15% Figs. 21D e 22C) e MN10d (25,0 ± 4,07%) (Figs. 21E e 22C)
não apresentaram diferenças significativas em relação ao grupo operado.
O grupo operado apresentou maior porcentagem de área de tecido conjuntivo (67,20 ±
5,06%, p < 0.05, Figs. 21B e 22D) do que o grupo falso-operado (46,0 ± 1,68%, Figs. 21A e
22D). Os grupos MN1d (62,89 ± 2,87%), MN5d (61,63 ± 4,37%) e MN10d (61,51 ± 5,36%,
Figuras 21C-21E e 22D, respectivamente) não apresentaram diferenças significativas em
relação ao grupo operado.
O grupo operado apresentou maior porcentagem de fragmentos de degeneração (11.1
± 1.1%, p < 0.01; Figs. 21B e 22E) do que o grupo falso-operado, o qual não apresentou
fragmentos de degeneração (0%, Figs. 21A e 22E). Tamm não foram observadas diferenças
48
significativas entre os grupos operado, MN1d (10,37 ± 2,38%), MN5d (6,81 ± 1,68%) e
MN10d (9,6 ± 2,53%, (Figuras 21C-21E e 22E, respectivamente).
49
Figura 21. Imagens de secções transversas da porção distal do nervo ciático de ratos 8 semanas após o
esmagamento. (A) nervos normais do grupo falso-operado. Observar as fibras mielinizadas grandes e
pequenas e o escasso espaço de tecido conjuntivo endoneural entre as fibras mielinizadas. (B) grupo operado
mostrando a predominância de fibras mielinizadas de pequeno diâmetro. Notar também o aumento do tecido
conjuntivo endoneural (Tc) entre as fibras do nervo e a presença de fragmentos de degeneração (Fd). (C)
grupo MN1d mostrando o nervo regenerado. As fibras mielinizadas são similares ao grupo falso-operado,
diferindo dos outros grupos experimentais. Notar a presença de fibras pequenas e grandes com grande
espessura da bainha de mielina (Fm). Ademais, o aumento do tecido conjuntivo endoneural entre as fibras
mielinizadas e a presença de fragmentos de degeneração parece menor que o grupo operado. (D) Nervo do
grupo MN5d mostrando a predominância de fibras de pequeno diâmetro e pouco mielinizadas. Notar o
aumento de tecido conjuntivo endoneural entre as fibras do nervo e a presença de fragmentos de
degeneração. (E) O grupo MN10d mostrou predominância de fibras de pequeno diâmetro e pouco
mielinizadas. Observar o aumento de tecido conjuntivo endoneural entre as fibras do nervo e a presença de
fragmentos de degeneração nesta porção. (Fm) indica fibras mielinizadas, (Tc) tecido conjuntivo endoneural,
(Fd), fragmentos de degeneração. As secções foram coradas com Cason e “Oil Red”, Barra da escala: 10µm.
50
Figura 22. Efeito da mobilização neural sobre os parâmetros morfométricos da regeneração das fibras nervosas
8 semanas após o esmagamento. Os gráficos mostram: (A) densidade das fibras de mielina (Fibras
mielinizadas/mm
2
); (B) média da espessura da bainha de mielina (µm); (C) porcentagem da área de fibras
mielinizadas (%); (D) porcentagem da área de tecido conjuntivo (%) e (E) fragmentos de degeneração (%).
Os dados são expressos como Média ± EPM, N = 5 animais. (#) quando comparado com o grupo falso-
operado, (#) para p < 0.05, (##) para p < 0.01 e (###) para p < 0.001. (*) quando comparado com o grupo
operado (*) para p < 0.05. F-OP = falso-operado; OPE = operado sem tratamento; MN1d = tratamento com
mobilização neural iniciado no 1º dia após o esmagamento; MN5d = tratamento com mobilização neural
iniciado no 5º dia após o esmagamento e MN10d = tratamento com mobilização neural iniciado no 10º dia
após o esmagamento.
51
5 DISCUSSÃO
O presente estudo demonstrou que a mobilização neural do nervo ciático, através do
teste modificado de elevação da perna estendida (EPE), pode influenciar o processo de
regeneração do nervo ciático após lesão traumática. Os dados mais relevantes deste estudo
foram: (1) o processo de regeneração do nervo ciático dos animais em que o tratamento
iniciou no primeiro dia após a lesão foi acelerado, como observado pelo IFC e IEC. Além
disso, a análise morfométrica evidenciou um aumento da espessura da bainha de mielina,
observado no grupo MN1d e maior densidade de fibras mielinizadas, no grupo MN5d; (2)
houve redução significativa na dor neuropática (alodinia mecânica) após o início do
tratamento em todos os grupos tratados.
Os resultados apresentados aqui mostram pela primeira vez a mobilização neural
precoce do nervo ciático sendo realizada no membro posterior de ratos. Ademais, este foi o
primeiro trabalho que avaliou os efeitos da mobilização neural sobre a recuperação funcional
sensório-motora do nervo ciático de ratos submetidos à lesão traumática.
5.1 Lesão nervosa e avaliação da recuperação funcional motora
Roedores, particularmente ratos e camundongos, têm se tornado o modelo animal mais
frequentemente utilizado para o estudo da regeneração de nervos pelo fácil manejo e pela
distribuição de seus troncos nervosos, os quais são semelhantes aos humanos (MACKINNON
et al., 1985; RODRIGUEZ et al., 2004). Ainda que lesões do nervo ciático em si sejam raras
em humanos, este modelo experimental fornece uma avaliação muito realística das lesões
envolvendo nervos plurifasciculados, com axônios de diferentes tamanhos e tipos,
competindo para alcançar e reinervar o alvo distal (MACKINNON et al., 1985).
Lesão por esmagamento do nervo ciático também é um modelo de regeneração
experimental bem estabelecido em estudos que investigam o impacto de vários tratamentos
farmacológicos (AL MOUTAERY et al., 1998; GUDEMEZ et al., 2002). Além disso, este
modelo tem sido utilizado em várias abordagens fisioterapêuticas que visam estimular a
regeneração nervosa e aumentar a reinervação do órgão alvo (JAWEED et al., 1974;
MATSUURA et al., 2001; RASO et al., 2005).
Uma lesão do tipo axonotmese, ou lesão de segundo grau de Sunderland, é
caracterizada por colapso dos axônios e degeneração Walleriana distal. Não obstante,
preservação da continuidade da bainha endoneural. Neste sentido, após este tipo de lesão,
52
pode ser esperada regeneração espontânea ao longo do coto distal com bom retorno funcional
(SEDDON, 1943, SUNDERLAND, 1990). Como o padrão de reinervação é semelhante ao
original, o estudo desta lesão nervosa fornece um bom modelo para estabelecer a
fisiopatologia da recuperação funcional do nervo.
Desde sua introdução por de Medinaceli et al. (1982), o IFC tem se tornado o suporte
principal do arsenal para avaliar a recuperação funcional global após lesão do nervo ciático
(VAREJÃO et al., 2001a,b). Após o esmagamento realizado por 30 segundos com o auxílio
de uma pinça hemostática não-serrilhada (BRIDGE et al., 1994; VAREJÃO et al., 2004a),
observa-se um déficit funcional completo em todos os animais. Subsequentemente, o IFC
aumentou e o valor normal foi alcançado na 4ª semana. Nossos resultados referentes ao
decurso temporal do IFC estão de acordo com os encontrados por vários autores, cujos
estudos também demonstraram que o padrão normal da marcha é alcançado somente na 3ª ou
4ª semana (BRIDGE et al., 1994; HARE et al., 1992; WALKER et al., 1994a).
Em contraste aos nossos resultados, outros autores relataram que uma total
recuperação é alcançada somente na 7ª semana ou após o primeiro mês seguido ao
esmagamento do nervo ciático (VAREJÃO et al., 2004a, GUDEMEZ et al., 2002; OLIVEIRA
et al., 2001). Este resultado controverso da recuperação motora pode estar relacionado à
resposta patofisiológica dos nervos frente às diferentes cargas de esmagamento aplicadas nos
distintos estudos (LUNDBORG; DAHLIN, 1992; REMPEL et al., 1999).
A análise na pista de marcha é uma técnica amplamente aceita para avaliação
funcional após reparo do nervo ciático em ratos, mas exige intenso trabalho. Em 2000, Bervar
descreveu uma análise estática rápida, desenvolvendo um índice denominado Índice Estático
do Ciático (IEC). O seu estudo mostrou que há boa correlação com o tradicional Índice
Funcional do Ciático (IFC). Em nosso estudo, o valor do IEC após a lesão por esmagamento
demonstrou um déficit completo em todos os animais, sendo esta mudança significativa até a
4ª semana, semelhante aos dados encontrados com o IFC.
5.2 Recuperação funcional sensorial
Nossos resultados referentes à alodinia mecânica estão de acordo com os resultados
encontrados na literatura (CORONEL et al., 2008; NAIK et al., 2008). As lesões dos nervos
causadas por trauma podem resultar em incapacidade. Os complexos distúrbios
neuroquímicos e metabólicos envolvidos na patofisiologia das lesões dos nervos podem levar
53
ao desenvolvimento de dores crônicas, mais notavelmente a dor neuropática. Os marcadores
da dor neuropática são dor espontânea e/ou sensibilidade aumentada à dor (por exemplo, uma
resposta exagerada a um estímulo doloroso e/ou resposta dolorosa a um estimulo inócuo
mecânico ou térmico, hiperalgesia e alodinia, respectivamente). Os mecanismos que levam a
alodinia/hiperalgesia neuropática ainda são pobremente compreendidos.
O modelo de lesão por esmagamento do nervo ciático tem sido amplamente usado nas
duas últimas décadas, principalmente para avaliar o retorno da função motora. Sem embargo,
só recentemente tem sido dado ênfase na avaliação da dor neuropática que se desenvolve com
a lesão por esmagamento (CORONEL et al., 2008; NAIK et al., 2008; DECOSTERD et al.,
2002; BESTER et al., 2000). A dor neuropática é uma queixa frequentemente observada pelos
profissionais da saúde que estão em contato direto com pacientes acidentados (traumatizados).
Além disso, os sintomas da neuropatia não respondem bem ao tratamento convencional com
opióides (BENEDETTI et al., 1998; DELLEMIJN, 1999; CROSBY et al., 2000).
Neste sentido, é importante ressaltar que todos os grupos de tratamento apresentaram
diferenças significativas em relação ao grupo controle. Como observado, a mobilização neural
quando iniciada precocemente, foi capaz de inibir o desenvolvimento da alodinia mecânica,
mostrando grande efeito em todas as avaliações realizadas. A fora isto, os grupos tratados
tardiamente também foram eficientes na redução da alodinia mecânica. Entretanto, os
tratamentos com mobilização neural não foram eficazes na redução da alodinia ao frio,
sugerindo assim que o mecanismo de ação anti-alodinico da mobilização neural é diferente
para os dois estímulos utilizados.
5.3 Análise histológica e morfométrica
Do ponto de vista morfológico, a principal crítica que pode ser feita sobre o modelo de
esmagamento do nervo está relacionada à possibilidade de que nem todas as fibras são
estruturalmente danificadas pela lesão de esmagamento. Algumas fibras nervosas podem
sofrer somente um prejuízo funcional temporário (lesão de grau 1 de Sunderland) e a
recuperação funcional seguida pode não ser uma verdadeira regeneração de axônios
lesionados. Apesar disto, os parâmetros morfométricos quantitativos do presente estudo
sugerem que este problema não ocorreu, pois, após oito semanas do esmagamento, os dois
grupos controles diferiram significativamente entre si (falso-operado e operado com o nervo
ciático esmagado). Mostrou-se assim, a efetividade de esmagamento realizado pela pinça
adotada.
54
No que diz respeito aos parâmetros morfométricos quantitativos, observações
realizadas oito semanas após o esmagamento do nervo ciático mostraram que nossos
resultados estão de acordo com os dados da literatura (ILHA et al., 2008; VAREJÃO et al.,
2004a) com exceção do parâmetro referente à densidade de fibras mielinizadas.
Em contraste à diminuição da densidade de fibras mielinizadas
encontrada no presente
estudo, Ilha et al. (2008) e Varejão et al. (2004b) observaram aumento da mesma. No entanto,
trabalhos sugerem que este parâmetro não deve ser comparado entre estudos, porque a área de
secção transversa do nervo analisada pode ser modificada por fatores indesejáveis e artefatos
de técnicas. Assim, do mesmo modo que o edema aumenta o diâmetro do nervo e,
consequentemente sua área de secção transversa, a preparação do segmento do nervo para as
análises histológicas e morfométricas pode introduzir alterações (diminuição do diâmetro e
sua área de secção transversa por retração), podendo falsear os resultados (BEHSE, 1990).
Por este motivo, devem ser evitadas comparações entre resultados obtidos em
diferentes trabalhos. Entretanto, num trabalho onde a mesma metodologia for empregada para
todos os grupos, as alterações exógenas introduzidas serão muito provavelmente as mesmas,
tornando as comparações apropriadas entre os tratamentos.
5.4 Mobilização neural e degeneração Walleriana
Em relação aos resultados obtidos nos grupos tratados com mobilização neural,
somente observou-se melhora em poucos parâmetros morfométricos. O aumento significativo
na espessura da bainha de mielina do grupo MN1d em relação ao grupo operado, talvez possa
explicar em parte os bons resultados apresentados pelo IFC deste grupo, o que sugere boa
recuperação funcional.
Tem sido sugerido que a precisão do recrescimento é mais importante do que o vigor
(THOMAS, 1970), e ainda, que a bainha de mielina juntamente com o diâmetro do axônio
(parâmetro não avaliado em nosso estudo), são indicativos da qualidade do recrescimento,
indicando o grau de maturação das novas fibras (DE MEDINACELI, 1995). Diante do
exposto, sugere-se que o tratamento realizado no grupo MN1d pôde favorecer o
recrescimento, fazendo com que os brotamentos alcançassem com maior precisão seus alvos
originais e tornando a condução de impulsos nervosos mais rápida pelo aumento da espessura
da bainha de mielina. No entanto, para confirmação destas sugestões novas pesquisas são
necessárias.
55
De fato, tem sido observado que durante tratamentos clínicos de alongamento da perna
os nervos não são funcionalmente danificados por alongamentos graduais na taxa de 1
mm/dia. Estas mudanças no comprimento dos nervos têm sido estudadas através de técnicas
histológicas e eletrofisiológicas (ABE et al., 1996; IKEDA et al., 2000).
Tem sido mostrado o efeito do alongamento do nervo ciático de ratos sobre o aumento
na produção de mielina nas fibras nervosas periféricas. Hara e colaboradores (2003)
observaram um aumento na síntese do RNAm de uma das principais glicoproteínas da
mielina, a proteína 0 (P0). No entanto, investigações mais detalhadas são necessárias para
constatar se o aumento da espessura da bainha de mielina observado no presente estudo está
relacionado a um aumento da síntese do RNAm de P0.
Cabe ressaltar ainda que a técnica de mobilização neural utilizada no presente estudo
não é alongamento. Esta manobra neurodinâmica é, e foi realizada de modo oscilatório
(BUTLER, 2000; SHACKLOCK, 2005). Alguns autores sugerem que estas manobras não
devem ser realizadas em pacientes com evidência clínica de prejuízo na condução de impulsos
nervosos (por não existir estudos experimentais específicos) (BUTLER, 2000;
SHACKLOCK, 2005).
Em contrapartida, pesquisadores investigaram os efeitos durante 20 dias de
alongamento gradual direto através de técnicas morfológicas. O diâmetro axonal e
comprimento internodal foram consistentes com axônios em regeneração na parte distal.
Assim, o estímulo com alongamento mecânico gradual do nervo ciático após transecção (uma
lesão mais severa que o modelo adotado no presente estudo) induziu maior crescimento de
axônios em regeneração (SAIJILAFU et al., 2008). Estes resultados supracitados corroboram
com os achados no presente estudo, mostrando que terapias que induzem algum tipo de tensão
mecânica sobre o nervo ciático, após lesão traumática, podem produzir efeito benéfico sobre o
processo de regeneração do nervo.
Lesões traumáticas dos nervos causam significantes mudanças nas suas propriedades
mecânicas. Um estudo com ratos vivos mostrou que após sete dias da lesão do nervo ciático, a
tensão gerada no nervo apresenta aumento significativo com os componentes do teste EPE
(flexão de quadril e dorsiflexão do tornozelo) e após 21 dias a tensão gerada com os mesmos
movimentos assemelha-se aos valores encontrados em animais falso-operados (BOYD et al.,
2005). As propriedades mecânicas mensuradas após a lesão podem refletir as alterações na
produção e maturação do colágeno endoneural, como tem sido observado nas primeiras
semanas após lesão por esmagamento do nervo ciático de ratos (ROYTTA et al., 1988).
56
Levando em consideração os dados obtidos no presente estudo, principalmente o
grupo que recebeu tratamento precoce, sugere-se que neste momento da reorganização do
colágeno endoneural o tratamento com mobilização neural é efetivo sendo um momento
crucial na recuperação funcional. Contudo, a influência do tratamento sobre o colágeno
endoneural não foi avaliada no estudo, sendo apenas uma especulação.
Além disso, é neste momento que ocorrem os eventos celulares importantes no
processo inicial da degeneração Walleriana. Tais eventos celulares envolvidos na regeneração
do nervo são dependentes de um bom suprimento sangüíneo na região lesionada. No entanto,
com a reação fibrótica desencadeada, que é indicada pela quantidade de tecido conjuntivo
encontrada no local da lesão (dados morfométricos do presente estudo), o processo de
reabilitação pode ser prejudicado.
Quando a mobilização neural é realizada, sugere-se que com a tensão exercida sobre o
nervo, o colágeno possa reorganizar-se no local da lesão, igualmente como ocorre no
músculo, no qual as disposições (circunferênciais e longitudinais) das fibrilas de colágeno do
endomísio estão relacionadas à elasticidade muscular. Além disso, a imobilidade leva a
diminuição da elasticidade (BORG; CAULFIELD, 1980) e o tratamento pode assim também
favorecer a angiogênese no local do esmagamento, restaurando a função sensório-motora do
nervo. No entanto, a porcentagem da área de tecido conjuntivo do grupo MN1d no final do
experimento não apresentou diferença significativa em relação ao grupo operado, talvez por
essa medida não seja sensível à detecção da elasticidade endoneural. Estes eventos sugeridos
acima só podem ser confirmados com futuras investigações.
Cleland e colaboradores (2006) descreveram algumas considerações fisiológicas para
explicar os presentes achados. A mobilização neural pode ser efetiva na redução da dor
neuropática por dispersar o edema intraneural, restaurando o gradiente de pressão, diminuindo
a hipóxia e reduzindo os sintomas associados (COWELL; PHILLIPS, 2002).
Além disso, o tratamento com mobilização neural pode resultar em melhora por reduzir os
impulsos antidrômicos gerados pelas fibras do tipo C, no local da lesão, que resultam na
liberação de neuropeptídios e inflamação subsequente no tecido inervado (SHACKLOCK,
1995).
É possível que a mobilização neural possa resultar na redução de cicatrizes teciduais,
as quais aderem no tecido nervoso e em seus tecidos conjuntivos associados (TURL;
GEORGE, 1998). Contudo, mais investigações são necessárias para detalhar qual ou quais
destes efeitos estariam contribuindo para os mecanismos responsáveis pelos resultados
encontrados no presente estudo.
57
É importante destacar que os nossos resultados são semelhantes aos achados em
pesquisas envolvendo seres humanos a quais pacientes tratados com mobilização neural
apresentaram melhora na capacidade motora, dor e centralização dos sintomas em relação a
pacientes que não foram tratados (CLELAND et al., 2006).
Kitteringham (1996) examinou o possível efeito benéfico de exercícios auto-assistidos
com extensão da perna estendida (EPE) em pacientes que sofreram descompressão lombar
cirúrgica. Os exercícios com a EPE foram realizados por meio de um sistema posicionado a
beira do leito. Os resultados, no entanto, foram inconclusivos pelas muitas variáveis
encontradas no estudo.
Assim, os dados apresentados neste trabalho demonstraram que o grupo MN1d
(tratamento precoce) exibiu melhora em todos os parâmetros funcionais avaliados e também
em alguns parâmetros morfométricos quantitativos. Entretanto, os grupos que se iniciou o
tratamento no 5º e 10º dia pós-esmagamento (tratamento tardio) não apresentaram melhora
nos parâmetros funcionais relativos à função motora, mas melhoraram em relação à alodinia
mecânica. Juntos, estes resultados demonstram que a mobilização neural tem efeito positivo
na regeneração de nervos (ciáticos) periféricos lesionados. Ademais, a intervenção precoce do
tratamento com a mobilização neural poderia ajudar na reabilitação de pacientes
traumatizados e/ou que sofrem de dor neuropática periférica.
58
6 CONCLUSÃO
O presente trabalho mostra que a mobilização neural do nervo ciático iniciada precoce
(a partir do 1º dia) e tardiamente (a partir do 5º e 10º dia), nas condições pré-estabelecidas
neste estudo, foi capaz de influenciar positivamente o processo de recuperação
morfofuncional do nervo ciático de ratos submetidos ao esmagamento, nos seguintes
aspectos:
A capacidade de recuperação funcional motora do nervo ciático dos ratos submetidos à
mobilização neural realizada precocemente foi acelerada, como evidenciado pelo IFC e
IEC. No entanto, nos grupos tratados tardiamente, não foram encontradas mudanças
significativas.
A capacidade de recuperação funcional sensorial do nervo ciático de ratos, a qual foi
mensurada pela avaliação da alodinia, tanto no grupo de animais que receberam
mobilização neural precocemente, quanto nos grupos animais tratados tardiamente, foi
observada redução significativa na alodinia mecânica, mas não na alodinia ao frio.
Os tratamentos com mobilização neural a partir do 1º e 5ºdia influenciaram o processo
de regeneração do nervo ciático, refletidos nos aumentos significativos da espessura da
bainha de mielina e na densidade de fibras mielinizadas, observados nos respectivos
grupos de tratamento. Porém, o tratamento realizado a partir do 10º dia não influenciou
os parâmetros morfométricos avaliados. Nas demais mensurações nenhuma mudança foi
observada.
Juntas, as conclusões apresentadas aqui mostram que a mobilização neural foi uma
abordagem terapêutica efetiva no tratamento da lesão nervosa periférica do tipo axonotmese
induzida em ratos e, além disso, quando realizada precocemente apresenta resultados mais
expressivos na recuperação funcional do que quando realizada tardiamente.
59
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