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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA TRADUÇÃO
SILVÂNIA CARVALHO
Biografia e tradução: Madame de Staël - A Study of her Life and Times
Florianópolis,
DEZEMBRO / 2008
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2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA TRADUÇÃO
SILVÂNIA CARVALHO
Biografia e tradução: Madame de Staël - A Study of her Life and Times
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em
Estudos da Tradução da Universidade Federal de Santa
Catarina, como requisito parcial para a obtenção do título
de Mestre em Estudos da Tradução.
Área de concentração: Processos de retextualização
Linha de Pesquisa: Teoria, história e crítica da tradução
Orientadora: Prof
a
. Dr
a
. Marie-Hélène C. Torres
Florianópolis,
DEZEMBRO / 2008
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SILVÂNIA CARVALHO
Biografia e tradução: Madame de Staël - A Study of her Life and Times
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em
Estudos da Tradução da Universidade Federal de Santa
Catarina, como requisito parcial para a obtenção do título
de Mestre em Estudos da Tradução.
Aprovada pela comissão examinadora em Florianópolis, 15 de dezembro de 2008
_____________________________________
Prof
a
. Dr
a
. Marie-Hélène C. Torres
ORIENTADORA
_____________________________________
Prof
a
. Dr
a
. Andréia Guerini
COORDENADORA – PGET
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________
Prof
a
. Dr
a
. Marie-Hélène C. Torres
PRESIDENTE DA BANCA
_____________________________________
Prof. Dr. Mauri Furlan
_____________________________________
Prof. Dr. Lincoln Fernandes
_____________________________________
Prof
a
. Dr
a
. Cláudia Borgesde Faveri
SUPLENTE
4
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora pela exigência, paciência e confiança;
Aos funcionários e bolsistas que estão e os que passaram pela PGET, em especial
à Susana, Marivone e Emy;
Aos meus colegas que iniciaram o curso comigo e com quem pude ter bons
momentos de conversas tradutológicas: Emy, Carolina, Adriana, Cristiane, Nana Alice,
Gustavo e Fabrício.
Aos meus filhos Gabriel, Jonas e Cecília por compreenderem que a mamãe
precisava trabalhar.
Ao meu marido Philippe pelo amor incondicional e por não acreditar quando eu
dizia que ia desistir.
5
CARVALHO, Silvânia. Biografia e tradução: Madame de Staël - A Study of her Life
and Times. Florianópolis, 2008. 156.f. Dissertação de mestrado (Pós-Graduação em
Estudos da Tradução), UFSC, 2008.
RESUMO
Esta dissertação apresenta a tradução comentada dos três primeiros capítulos da
biografia Madame de Staël. A study of her Life and Times, escrita por Abel Stevens. A
reflexão teórica de Felipe Pena, Sergio Vilas-Boas e Pierre Bourdieu sobre biografia e de
Schleiermacher e Antoine Berman sobre tradução, serviram para nortear a nossa proposta
de tradução. Elencamos as características principais da obra sob o ponto de vista literário
e identificamos as zonas de risco para o aparecimento de deformações e as soluções
encontradas, com foco na figura de linguagem understatement. Finalizando nossa análise,
apontamos os aspectos religiosos que o autor enaltece em sua biografada e sua família.
Palavras-Chave: Tradução, Biografia, Deformações, Understatement, Protestantismo.
ABSTRACT
This dissertation presents the commented translation of the first three chapters of
the biography Madame de Staël. A study of her Life and Times written by Abel Stevens.
The theoretical reflection of Felipe Pena, Sergio Boas Vilas and Pierre Bourdieu on
biography and of Schleiermacher and Antoine Berman on translation, were used to guide
our translation proposal. We pointed out the main characteristics of the biography from
the literary point of view and we identified the zones of risk for the appearance of
deformations and the considered solutions, with focus on the understatement. Finishing
our analysis, we point to the religious aspects that the author ennoble on Madame de
Staël and her family.
Key words: Translation, Biography, Deformations, Understatement, Protestantism.
6
SUMÁRIO
Introdução ................................................................................................................... 7
CAPÍTULO 1 STAËL E STEVENS: ESCRITORES E BIÓGRAFO ........................................... 10
1.1 – Os Autores ........................................................................................................ 10
1.1.1 Vida e obra de Madame de Staël .................................................................. 10
1.1.2 Vida e obra de Abel Stevens ........................................................................ 14
1.2 – O gênero biografia ........................................................................................... 15
1.2.1 A biografia de Stevens ................................................................................. 21
1.2.2 - Os modelos de Stevens .............................................................................. 27
CAPÍTULO 2 A TRADUÇÃO SEGUNDO BERMAN ............................................................ 31
2.1 A reflexão teórica de Antoine Berman ................................................................ 34
2.2 Tendências deformadoras de uma tradução ....................................................... 38
CAPÍTULO 3 TRADUÇÃO COMENTADA ......................................................................... 43
3.1 Propostas de tradução ........................................................................................ 43
3.1.1 Antes de traduzir .......................................................................................... 43
3.1.2 Traduzindo o Understatement ...................................................................... 45
3.1.3 Outros aspectos da tradução ......................................................................... 49
3.2 Traduzindo Aspectos Religiosos ......................................................................... 52
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 56
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 58
Anexos ....................................................................................................................... 62
Anexo I - Biografias de Madame de Staël publicadas após 1882 ......................... 62
Anexo II – Iconografia .......................................................................................... 64
Anexo III - Texto original em Inglês .................................................................... 73
Anexo IV – Tradução em Português ................................................................... 114
7
Introdução
It is perhaps as a moralist that Madame de Staël is still entirely
relevant today. In all her works, in her letters and journals, in
the accounts of her contemporaries, friends and enemies there
is a common thread: her advocacy of reason and tolerance in
the face of fanaticism and violence, her belief in action and
her optimism in the face of despair, as important in our day as
it was in hers.
(Madame de Staël -Maria Fairweather, Prologue, 2005, p.04)
Esta pesquisa objetiva, a partir de uma teorização da tradução, criticar em forma
de comentários a minha prática tradutória dos três primeiros capítulos de Madame de
Staël : A Study Of Her Life And Times, de Abel Stevens.
O texto foi escolhido porque cabe num projeto maior, dirigido pela D
ra
Marie
Hélène Torres, de tradução de obras literárias que tenham relação com a vida e a obra de
Madame de Staël. A biografia de Stevens foi publicada em 1881 e foi a quinta biografia
da Madame de Staël publicada depois de sua morte.
No Brasil pouco se estuda e quase nada se publica sobre a vida e a obra de
Madame de Staël. Ao que consta, existem apenas duas obras de Madame de Staël
traduzidas para o português do Brasil. Uma delas é Corina ou a Itália.
1
, a segunda é
Memórias (de Madame de Staël).
2
Fora do Brasil muito se publicou e é publicado sobre
sua vida e suas obras. Dentre as muitas biografias publicadas destaca-se precisamente a
obra de Abel Stevens, Madame De Staël : A Study Of Her Life And Times, The First
Revolution And The First Empire.
1
Série Novelas Universais, 2 vol. São Paulo: Edições Cultura, 1945. Em nenhum local destes dois volumes
consta o nome do tradutor ou tradutores, consta apenas que foi uma tradução revista por Oliveira Ribeiro
Neto
2
Traduzida por Antônio Leal da Costa em 1943 e editada pela editora Pan-Americana.
8
Como biógrafo de Madame de Staël, o pastor e historiador metodista Abel
Stevens demonstra ser um grande admirador da biografada. Assim ele declara no prefácio
de sua biografia:
Eu não consegui encontrar, em nenhuma língua, nada que fosse uma biografia adequada de
Madame de Staël que, mais do que qualquer outra mulher (sem excluir Madame Roland),
representa a sua época, e a época da história moderna da Europa.
3
A grande extensão da biografia de Stevens, o primeiro volume com 367 páginas e
o segundo com 373 páginas, justifica a limitação desta tradução comentada aos três
primeiros capítulos. Estes três primeiros capítulos constituem um corpus suficiente para
mostrar como a reflexão acerca das transformações no ato tradutório propostas por
Antoine Berman se aplicam à biografia como gênero literário
No primeiro capítulo da obra de Stevens, intitulado Introdução Ascendência”,
encontramos uma breve descrição da vila de Coppet; lugar de nascimento da Madame de
Staël; da Mansão de Necker; seu pai; da posição de Madame de Staël na literatura
francesa; da família Necker; do pai e da mãe de Madame de Staël; James Necker e
Susanna Curchod (posteriormente chamada de Madame Necker) respectivamente; do
amor de Edward Gibbon (historiador iluminista inglês; autor de A história do declínio e
queda do império romano) por Susanna. Também lemos sobre a personalidade e os
escritos de Madame Necker; sobre as personalidades famosas da época que tinham
contato com a família Necker: Moultou (pastor em Genebra e grande amigo de Rousseau),
Bonstetten (filósofo e que se tornou um amigo para toda a vida de Mme de Staël), e até
Voltaire. Stevens comenta também sobre os salons de Paris e do salon de Madame
Necker, de Madame Deffand que tinha um salon rival, Marmontel (historiador francês e
escritor, membro do movimento Enciclopedista), Madame Necker e Madame Roland
(Escritora e política francesa. Foi guilhotinada na Revolução Francesa e antes de morrer
disse uma das frases mais célebres, mundialmente conhecida: Ó Liberdade! Quantos
crimes se cometem em teu nome).
3
I have not been able to find, in any language, anything like an adequate biography of Madame de Staël,
who, more than any other woman (not excepting Madame Roland), represents her epoch, and that the epoch
of the modern history of Europe. (Stevens, 1880, p. v)
9
No segundo capítulo, intitulado “Infância e Educação”, Stevens apresenta como
se deu a educação de Madame de Staël, a teoria de Rousseau, anedotas da infância da
Mademoiselle Necker, Bonstetten, Raynal, Mademoiselle Necker no Salon, as suas
primeiras composições literárias, o relato de um por Grimm, o efeito mórbido da sua
precocidade, a renúncia de Necker do escritório, a prescrição do médico Tronchin para
sua filha, a emancipação de Madame de Staël. Também somos informados sobre a grande
ligação que a autora tinha com seu pai e sobre a relação com sua mãe.
No capítulo três, “Juventude e Primeiros Escritos”, são relatadas as primeiras
viagens de Madame de Staël, sobre uma visita a Buffon e sobre o egotismo desse amigo
da família e suas regras de estilo, ditados de Madame Necker, a viagem para a Suíça, o
Lago Leman, o sul da França, retiro nos Marolles, as primeiras composições literárias, os
dramas, as ficções e a crítica.
A dissertação está dividida em três capítulos. O primeiro capítulo apresenta a vida
e as obras de Madame de Staël e de Abel Stevens. Na última seção deste capítulo
mostramos uma teórica do gênero biografia conforme Vilas-Boas, Pena e Bourdieu,
assim como, uma análise da biografia de Stevens e das biografias que antecederam a esta
dele.
No segundo capítulo abordamos o ensaio Do Espírito das Traduções de Madame
de Staël e a reflexão teórica que Schleiermacher e Antoine Berman fazem sobre tradução
e damos enfoque nas tendências deformadoras de uma tradução, segundo este último
autor.
No capítulo três elencamos as principais dificuldades tradutórias e as propostas de
tradução de tais dificuldades. No final deste capítulo fazemos uma referência especial aos
aspectos religiosos contidos no texto de Abel Stevens e a tradução destes.
A não ser que se afirme o contrário, todas as traduções são nossas.
10
CAPÍTULO 1 STAËL E STEVENS: ESCRITORES E BIÓGRAFO
1.1 – Os Autores
1.1.1 Vida e obra de Madame de Staël
Não é nossa intenção neste capítulo fazer mais uma biografia de nossa biografada.
As existentes dão conta dos fatos mais importantes de sua vida. Nós não
acrescentaríamos nada, pois esta pesquisa é teórica no campo da biografia e da tradução,
e não no campo da pesquisa biográfica. No entanto, faz-se necessária uma visão geral da
vida, da época e da sociedade na qual Madame de Staël vivia. Vejamos alguns pontos
relevantes de sua vida, sendo que o relato aqui proposto está de acordo com as
informações dadas por Abel Stevens. Montamos essas em pequenos fragmentos, como
proposto por Felipe Pena (ver item 2) e com a consciência de que uma biografia, mesmo
esta pequena, é um pouco uma ilusão, como diria Pierre Bourdieu (ver Capítulo I, item 2).
Vida. Uma grande quantidade de pessoas se agrupava ao redor da Madame de Staël.
Dentre elas se destacava naturalmente o pai, Jacques Necker, nascido em Genebra em
1732 e figura de grande importância na vida de sua filha. Necker tinha sido educado
segundo o rígido regime Calvinista, na época ainda em voga na cidade.
4
Tinha-se
tornado banqueiro em Paris, mas havia trocado o banco pela carreira política. Sendo um
economista de muita competência, fora nomeado Diretor Geral das Finanças durante o
reinado de Louis XVI, fato nada comum para um estrangeiro, além do mais, protestante.
Em três ocasiões Necker seria chamado a chefiar a economia da monarquia francesa: em
1776, 1788 e 1789. No seu primeiro mandato apresentou uma prestação de contas que
revelava o verdadeiro déficit público. Gerou oposição até da rainha, levando à sua
renúncia. Foi chamado de volta, que seus sucessores não conseguiam solucionar os
problemas. Foi, no entanto, acusado de não ter propostas governamentais claras de
reforma política e econômica e logo demitido.
4
[…] was a native of Geneva, and was educated according to the strict regimen established there by Calvin
(Stevens, 1880, p. 5)
11
Ele foi, como veremos mais adiante, freqüentemente demitido e readmitido, gozando da simpatia
entusiástica do povo que, na ocasião da sua demissão, fechou os teatros, e carregou seu busto,
envolto em preto, pelas ruas; e, no seu retorno, puxaram sua carruagem em triunfo e deixou toda
Paris jubilante.
5
A notícia da sua demissão deu origem à primeira jornada revolucionária e à
Tomada da Bastilha (14 de Julho de 1789). Voltou ao cargo mas logo em seguida
renunciou e se aposentou. Como pode ser lido na biografia escrita por Stevens, a família
de Madame de Staël era fervorosamente Protestante. Este fato a corte Francesa via como
impedimento para o aumento de poder do pai de Madame de Staël, a menos que ele
renunciasse a sua e se convertesse ao catolicismo. Necker ficou também conhecido
pelos artigos que escreveu sobre os problemas econômicos da França.
Ele se tornou não apenas um dos mais hábeis financeiros da época, ele também cultivava a
literatura. A coletânea escrita por ele preenchem quinze volumes, e são caracterizados por uma
profunda reflexão e um estilo vigoroso embora de alguma forma peculiar.
6
Outra personagem de grande importância na vida da Madame de Stael foi
Susanna Curchod, a mãe, que nasceu em 1739, no Pays de Vaude, na Suíça, filha de um
pastor protestante.
Madame Necker de Saussure (Madame de Stael) descreve-a como dotada de firmeza de caráter,
vigor de intelecto, e uma notável capacidade para trabalhar; não apenas educada num nível
extraordinário tanto nas ciências quanto nas letras, mas especialmente como tendo este ‘espírito
metódico’ que serve para a aquisição de todas as coisas.
7
Sua educação fora cuidadosamente planejada pelo pai e retribuída com grande
sucesso.
[...] dizem que seu pai deu a ela uma educação tão completa quanto podia esperar qualquer mulher
na Europa. Ensinaram a ela de maneira sólida as línguas clássicas e modernas, e tornou-se
5
He was, as we shall hereafter see, repeatedly displaced and recalled, amidst the enthusiastic sympathies of
the people, who, on his dismissal, closed the theatres, and bore his bust, draped in black, through the
streets; and, on his return, drew his carriage in triumph and made all Paris jubilant. (Stevens, 1880, p. 10)
6
He had not only become one of the ablest financiers of the age, but had cultivated literature. The collected
works of his pen fill fifteen volumes, and are characterised by profound reflection and a vigorous though
somewhat peculiar style. (Stevens, 1880, p. 08)
7
Madame Necker de Saussure describes her as endowed with firmness of character, strength of intellect,
and a remarkable capacity for labour; as not only educated to an extraordinary degree in both science and
letters, but as especially having that ‘spirit of method’ which serves for the acquisition of all things.
(Stevens, 1880, p. 16)
12
proficiente na maioria dos estudos efetuados por homens que aspiram a uma carreira nas ciências
ou nas letras.
8
Susanna Curchod se casou com Necker em 1764, e através do alto status de seu
marido e sua capacidade intelectual cultivou a amizade de intelectuais famosos que
freqüentavam seu salon.
Logo depois de seu casamento ela abriu sua casa para a recepção dos líderes de opinião e a
sociedade na capital, orgulhosa de tornar seu marido conhecido e testado por eles. Ela se tornou o
gênio que presidia um dos mais influentes salons numa época em que o salon parisiense era ainda
um centro de poder, social, político, e literário [...]
9
Além de suas virtudes intelectuais, ela atuava intensamente em obras de caridade
e fundou um hospital que recebeu seu nome.
Foi nessa época, entre as provocações intelectuais, e perigos morais, da vida de salon de Paris, e
os presságios alarmantes da Revolução, que Madame de Staël passou a sua juventude e recebeu a
sua educação. ‘Ela foi,’ como Sainte-Beuve diz, ‘uma filha da Revolução.’ Isso fê-la heróica no
caráter, e deixou-a liberal nas suas opiniões políticas, e inalterada em suas convicções morais.
10
Susanna Curchod morreu em 1794. Ela também tinha algo de escritora. Após a
sua morte seu marido publicou, a partir dos escritos dela, cinco volumes de Mélanges.
A própria Madame de Staël nasceu em Paris em 22 de Abril de 1766 como Anne
Louise Germaine Necker. Desde pequena, Madame de Staël esteve rodeada de pessoas
influentes no meio literário da época tais como Gibbon, o autor de The decline and fall of
the Roman Empire, os filósofos e escritores Diderot e d’Alembert, o naturalista Buffon, e
outros freqüentadores do salon de sua mãe. Madame de Staël teve grandes amigos como
o Conde Louis de Narbonne, Talleyrand, seu amigo íntimo e um dos intelectos mais sutis
e controversos da época, e também Schlegel. Anne Louise Necker casou-se duas vezes, a
8
[…] it was said that her father bestowed upon her as complete an education as fell to the lot of any woman
in Europe. She was taught thoroughly the classic and modern languages, and became proficient in most of
the learning usually pursued by men destined to the career of science or letters. (Stevens, 1880, p. 12)
9
Soon after their marriage she opened her house for the reception of the leaders of opinion and society in
the capital, proud to have her husband known and tested among them. She became the presiding genius of
one of the most influential salons at a period when the Parisian salon was still a centre of power, social,
political, and literary […] (Stevens, 1880, p. 21)
10
It was in such times, amidst the intellectual provocations, and moral perils, of the salon life of Paris, and
the alarming presages of the Revolution, that Madame de Staël spent her girlhood and received her
education. ‘She was,’ as Sainte-Beuve says, ‘a daughter of the Revolution.’ It made her heroic in character,
and left her liberal in her political opinions, and unchanged in her moral convictions. (Stevens, 1880, p. 31)
13
primeira com o barão Erik Magnus Staël von Holstein, ministro da Suíça. dezessete anos
mais velho, de quem ela herdou o nome. A segunda vez casou-se secretamente com o
jovem Jean Rocca, um oficial francês que havia lutado na guerra da Espanha e que,
voltando ferido e com a saúde debilitada, fora dispensado do serviço militar. Além disso,
Madame de Staël teve rias relações amorosas extraconjugais com personalidades como
Talleyrand, Narbonne, o ministro da guerra, com quem teve um filho, embora a mais
significante e duradoura relação tivesse sido com Benjamin Constant.
A obra. Madame de Staël ficou famosa por seus romances, seus ensaios e sua
crítica literária. Neles a temática principal é a mulher, vítima de preconceitos sociais que
a impedem de afirmar a sua personalidade e seu direito à felicidade. Seus escritos deram
um potente impulso ao início do Romantismo na França e ao movimento feminista em
geral. Além de ser conhecida pela sua atividade intelectual, Madame de Staël também é
lembrada pela vida amorosa turbulenta, tendo como personagens algumas das figuras
mais fascinantes da história literária francesa.
Madame de Staël presenciou o início e o fim do grande terremoto social da
Revolução Francesa, que derrotou a velha ordem monárquica na Europa. A Revolução
Francesa sacudiu os alicerces da sociedade da época e abriu desta forma caminho para
novas idéias e uma nova organização política. Madame de Staël participou ativamente
desses acontecimentos. Viu o crescimento e a culminação de Napoleão, que a perseguiu e
a baniu da França por dez anos, por isso Stevens declara:
As viagens de seu longo exílio fizeram-na cosmopolita na literatura e na vida social da Europa, e o
estudo da sua vida deve ser um estudo da política, da literatura e sociedade de sua época.
11
No entanto, quando falamos de Madame de Staël, não podemos falar apenas dos
acontecimentos da época e de suas relações sociais, familiares e sentimentais. Seu maior
legado são suas obras. Ela é autora de Lettres sur les ouvrages et le caractère de Jean-
Jacques Rousseau (1788), De l'influence des passions sur le bonheur des individus et des
nations (1796), De la littérature considérée dans ses rapports avec les institutions
11
The travels of her long exile rendered her cosmopolitan in the literary and social life of Europe, and the
study of her life must be a study of the politics, the literature and society of her times. (p. 05)
14
sociales (1800), Delphine (1802), Corinne (1807), De l'Allemagne (1810), entre outras.
Madame de Staël morreu em 14 de julho de 1817, deixando inacabadas as obras
Considérations sur les principaux événements de la Révolution française e Dix Années
d'exil que foram publicadas postumamente (1821).
1.1.2 Vida e obra de Abel Stevens
Como Abel Stevens não foi até agora alvo de estudos nem no campo da literatura
e nem no campo da história, encontramos poucas informações sobre o autor.
12
De acordo
com o que pudemos levantar sabemos que Abel Stevens nasceu em 19 de Janeiro de 1815
em Filadélfia, e morreu em 11 de Setembro de 1897 em San José, Califórnia. Ele foi um
historiador do metodismo, sua convicção religiosa, e escreveu sobre muitos temas
diferentes. Em 1834 Stevens foi aceito como predicador metodista na Conferência de
Nova Inglaterra. Depois de estar brevemente ativo em Boston, fez uma primeira viagem à
Europa em 1837. Depois trabalhou no Texas. Em 1860 se formou em Direito e trabalhou
como redator no Zion’s Herald (jornal Metodista independente). Através deste veículo de
imprensa, o predicador participava dos debates sobre a escravatura, tema candente na
época. De 1860 até 1874 trabalhou na revista The Methodist. Em 1868, Stevens visitou a
Europa novamente. Na Igreja Metodista, Stevens gozava de grande estima, de maneira
que a Igreja lhe encomendou uma história oficial do Metodismo, na ocasião do seu
centenário de atividade.
As principais obras publicadas por Stevens foram: An Essay on Church Polity,
1859; What the next General Conference should do on the Question of Slavery, 1859; The
History of the Religious Movement of the 18th Century called Methodism, 3 Vol.,
1858/1860; The Memorials of the Introduction of Methodism into New England;
Memorials of the Progress of Methodism in the Eastern States, 1848; The Preaching
Required by the Times; Sketches and Incidents: A Budget from the Saddle-Bags of an
Itinerant; Tales from the Personage; The Great Reform; Systematic Benevolence; History
of the Methodist Episcopal Church, 4 Vol., 1864-1867; The Centenary of American
12
Algumas informações se concentraram no site www.bautz.de/bbk último acesso em 27/06/2007 e
também no obituário do The New York Times do dia 13 de setembro de 1897:
http://www.nytimes.com/ -
último acesso em 13 de novembro de 2008.
15
Methodism 1866; The Women in Methodism; The Life and Times of Nathan Bangs, 1863;
A Compendious History of American Methodism; Supplementary History of American
Methodism, 1899.
Logo após o lançamento de Madame de Staël A Study of her Life and Times, o
jornal americano The New York Times publicou uma resenha muito positiva sobre a obra
de Stevens, de onde podemos destacar o seguinte trecho:
Dr. Stevens is very full and picturesque in his descriptions of Mme de Staël’s social life, her
dramatic entertainments at Coppet, her deep relatives and associates, her relations with Mme.
Recamier, Mme. Krüdner, with Goethe, Schiller, Schlegel and other famous personages of her day.
He affords a most vivid and impressive picture of the political and literary life of a period
abounding in general interest and in instruction for all time. He has treated the whole subject with
a fervid enthusiasm chastened and balanced by industry in research, vigorous love of truth, and
accuracy an judicious candor. His pages teem with attractive information and suggestive allusions,
and are adorned with all the graces of an elegant and finished style of writing. And the publishers
have added every feature of external worth and beauty to volumes of real and charming
excellence.
13
Infelizmente não obtivemos acesso a nenhuma outra obra de Stevens, mas, como
podemos observar, Stevens dedicou toda a sua vida a escrever sobre sua religião e não
sobre personagens literários, a não ser Madame de Staël. A única ligação que
conseguimos estabelecer entre as duas personagens foi o fato de Stevens pertencer a uma
religião raiz da religião da família Necker.
Quanto ao aspecto religião Greggersen (2004) ressalta que:
Sem entrarmos no mérito das classificações mais recentes e detalhadas do protestantismo, que
incluem movimentos s-Reforma, e apesar da diversidade entre as vertentes do protestantismo,
há uma unidade doutrinal essencial.
14
E é a esta unidade doutrinal que Stevens primazia na análise da família Necker
e da época de Madame de Staël. No capítulo III, item 2, encontramos as observações que
Stevens faz sobre a vida e o comprometimento religioso da família Necker de acordo com
o protestantismo.
1.2 – O gênero biografia
13
The New York Times, 27 de fevereiro de 1881: http://www.nytimes.com - último acesso em 13 de
novembro de 2008.
14
http://www.hottopos.com/mirand15/gabriele.htm#_ftn1 – último acesso em 13 de novembro de 2008.
16
A vida de outras pessoas se apresenta de diferentes formas no nosso cotidiano. Às
vezes na forma de algumas linhas publicadas na coluna de falecimentos, às vezes em
livros, alguns volumosos, outros nem tanto. Tratam de personagens marcantes do mundo
literário, político, artístico, ou de quem tem alguma história interessante que um biógrafo
ou um editor julgue merecedor do mérito da imortalização através da biografia.
Encontramos até biografia que se transformou em história em quadrinhos, como é o caso
de Modotti Uma Mulher do culo XX de Ángel de la Calle, que mostra a vida de Tina
Modotti.
15
Outra forma muito comum de popularização de um personagem é a
representação cinematográfica, ou seja, o cinebiografia. No Brasil não são raros os casos
de grandes conhecidos do público (e de desconhecidos) que são transpostos para a grande
tela do cinema. Temos como exemplo cinebiografias de conhecidos como Getúlio Vargas,
Sérgio Buarque de Holanda, Adoniran Barbosa, Mirosmar José e Emival (Zezé di
Camargo e Luciano) e muitos de personagens menos conhecidos como “Terra para Rose”.
O escritor Bernard Malamud em As Vidas de Dubin retrata, em segundo plano, as
dificuldades enfrentadas para se escrever uma biografia e algumas reflexões sobre esse
gênero: “(...) você não pode ressuscitar vidas, mas pode recriá-las. Nas biografias os
mortos tornam-se vivos, ou parecem tornar-se.” (Malamud, 1980:21)
Há também o escritor William Beckford que, segundo o tradutor para o português,
provoca as tradicionais biografias de artistas ao escrever Memórias Biográficas de
Pintores Extraordinários, inventando biografias de personagens não existentes,
misturando fatos reais com irreais, fazendo jogos com os nomes de artistas reais dando-
lhes uma vida fictícia.
Neste trabalho não entraremos na questão ficção x realidade, pois partiremos do
princípio de que a biografia é o relato da vida do biografado segundo o biógrafo. A
biografia é primeiro um trabalho do próprio autor.
Por se tratar de uma área da qual a historiografia sempre se encarregou, a
biografia acabou sendo classificada pela Classificação Decimal Universal CDU
15
http://www.universohq.com/quadrinhos/2005/n28102005_04.cfm - último acesso em 24/10/08
17
(sistema de classificação bibliográfica) para figurar juntamente com a Geografia e a
História. que classificar o gênero “biografia” dentro de uma área específica seria a
mesma coisa que derrubar um dos pés de apoio deste gênero híbrido. Em artigo publicado
na revista eletrônica Texto Vivo Narrativas da vida real da Academia Brasileira de
Jornalismo
16
, o jornalista Sergio Vilas Boas escreve: as biografias promovem um flerte
permanente entre história, literatura, antropologia, psicologia e jornalismo”. Em
Biografia & Biógrafos ele avisa: “trata-se de uma tecedura delicada. Universos
entranham-se e às vezes até se estranham.” (Vilas Boas, 2002, p. 11)
Vilas Boas afirma que a biografia é um gênero literário de não ficção. Ele acha
possível que possa existir a biografia romântica, moderna e pós-moderna. Vilas Boas
apresenta também as quatro classificações mais comuns da biografia: biografia
jornalística, que narra a vida de pessoas famosas na área artística, esportiva ou
empresarial; biografia intelectual, que narra a vida de filósofos, sociólogos, antropólogos;
biografia literária, sobre escritores, poetas e ensaístas; biografia científica, sobre pessoas,
normalmente premiadas internacionalmente, que contribuíram para o avanço das ciências
exatas.
Devemos acrescentar à classificação de Vilas Boas mais uma categoria, a da
biografia histórica, que ela está inserida na CDU (Classificação Decimal Universal) no
campo da história, e tem como característica não apenas a vida de uma personalidade
importante de uma época, mas também ênfase aos acontecimentos da época para
relacioná-los com o biografado.
Vilas Boas acha que é muito difícil haver apenas um perfil de biografia. O autor
argumenta que é difícil sustentar que cada classificação pertence especificamente a uma
área. Isso seria “negar a transdiciplinaridade inerente à biografia [...] a biografia é uma
categoria indivisível em si, o trabalho do biógrafo é uma especialidade em si.” (Vilas
Boas, 2002, p. 16 e 17) Conseqüentemente, uma mesma biografia, seja escrita por um
jornalista, seja por um antropólogo ou um historiador, vai encontrar diferentes leitores e
cada leitor terá uma razão diferente para ler tal biografia. Podemos, desta forma, fazer
16
http://www.textovivo.com.br/svbtt04.htm - último acesso em 25/09/07
18
uso de uma única biografia para diferentes pontos de vista de análise. Assim, um leitor
com o objetivo de pesquisar a história encontra dentro de uma biografia coordenadas
espaciais e temporais de eventos. Um leitor com uma visão mais antropológica busca o
retrato de uma sociedade a partir do comportamento e da rede de relações de um
indivíduo. Um leitor com uma perspectiva jornalística busca a clareza e acessibilidade de
fatos passados.
Dentro de cada área o biógrafo toma algo emprestado,
Da ficção, assimilam técnicas narrativas; da história, as metodologias de escavação do passado - a
História Oral, por exemplo; da sociologia, as ferramentas para a pesquisa qualitativa; a
antropologia fornece auto-reflexões decorrentes de um diálogo e de uma negociação de pontos de
vista entre o biógrafo e suas fontes (...) (Vilas Boas)
17
O fato é que a biografia sempre atua com o principal objetivo de preservação da
memória de uma pessoa e, por esta via, de uma cultura.
Essa tecedura delicada faz com que cada tecedor, o biógrafo, apresente seu
trabalho de acordo com o seu ponto de vista, seja ele histórico, social ou jornalístico. E
apesar da grande responsabilidade do biógrafo de gravar a sua interpretação de uma
pessoa, o que chama a atenção de Vilas Boas é que “na imprensa, prefácios, críticas,
resenhas e notas costumam ater-se ao personagem biografado e como ele viveu”, o
biógrafo raramente aparece neste tipo de material.
A biografia da Madame de Staël a ser estudada neste trabalho pode ser encarada
mais como sendo do tipo histórico por conta dos detalhes históricos narrados e do perfil
do biógrafo, Abel Stevens. Ao mesmo tempo esta mesma biografia pode também ser
encaixada no campo da literatura, mas não no sentido que Vilas Boas apresenta no seu
livro Biografia & Biógrafos:
Mas, ao contrário do que se possa imaginar, a expressão “biografia literária” é empregada apenas
para realçar o campo: biografias de escritores, poetas e ensaístas e/ou especialistas. Nada a ver, por
exemplo, com história de vida enriquecida com técnicas precedentes da literatura ou algo assim.
(Vilas Boas, 2002, p.16)
17
http://www.textovivo.com.br/svbtt04.htm - último acesso em 25/09/07
19
Stevens, apesar de escrever a biografia de alguém do mundo das letras, lança mão,
sim, de recursos literários, como veremos mais adiante, para fazer sua narrativa. Porém,
uma das grandes discussões no campo teórico da biografia não trata de classificar esta em
uma ou outra categoria, mas sim de questionar se existe realmente a possibilidade de
fazermos um relato integral e linear da vida de uma pessoa.
Pierre Bourdieu aponta para a problemática que “entrou como contrabando no
universo científico” e que vem sendo difundida muito tempo e somente agora
questionada, o fato de que o senso comum considera a vida como acontecimentos
sucessivos e lineares, que supostamente a vida tem um começo, etapas e um fim, sendo
esse fim considerado com duas acepções: o de término e o de finalidade. Segundo essa
forma de encarar, o relato de uma vida pressupõe que “a vida constitui um todo, um
conjunto coerente e orientado.” (2005, p. 184) A esse senso comum Bourdieu chama de
“ilusão biográfica”.
Essa ilusão biográfica revela que o (auto)biógrafo é o cúmplice da ilusão. Tanto
no caso de um relato autobiográfico quanto de um relato biográfico, o autor seleciona
acontecimentos retrospectivos e prospectivos e se preocupa em dar sentido a esses
acontecimentos criando relações de causa e conseqüência. O (auto)biógrafo cria assim a
artificialidade do sentido de uma história. Obviamente os dados podem então ser
manipulados e disciplinados de acordo com o interesse do narrador, fornecendo uma
biografia autorizada ou não, ou uma autobiografia.
Felipe Pena em Teoria da Biografia Sem Fim (2004) fornece mais argumentos
para a mesma problemática levantada por Bourdieu, a de que o biógrafo trata o relato de
uma vida como “o relato coerente de uma seqüência de acontecimentos com significado e
direção”. Pena aponta que “ao organizar a estória de forma linear, o biógrafo fornece uma
razão de ser ao seu objeto e tranqüiliza o leitor” e conseqüentemente facilita a
compreensão, facilita a narração e facilita a venda.
Mas existe outra maneira de apresentar o relato de uma vida?
20
Bourdieu, ao citar Proust, nos a primeira pista de como resolver essa
constância ilusória. Levando-se em conta que o nome próprio de uma pessoa é a
representação de um mesmo ser em qualquer universo possível, percebemos que essa
constância de representação é encarada de forma normal e corriqueira.
Eis o que evoca o uso inabitual que Proust faz do nome próprio precedido do artigo definido (“o
Swann de Buckingham Palace”, “a Albertina de então”, “a Albertina encapotada dos dias de
chuva”), rodeio complexo pelo qual enunciam ao mesmo tempo a “súbita revelação de um sujeito
fracionado, múltiplo” e a permanência para além da pluralidade dos mundos da identidade
socialmente determinada pelo nome próprio. (Bourdieu, 2005, p.187)
Ao vermos a forma de dar nomes usada por Proust conseguimos nos distanciar do
ser único que até então o nome próprio definia e podemos dividir esse mesmo ser em um
ser múltiplo.
Uma vez que a biografia, como vimos, está inserida em um terreno híbrido (de
jornalistas, historiadores, antropólogos, etc) é mais do que evidente que um mesmo
biografado vai ter seu perfil delineado de forma diferente por diferentes biógrafos, pois a
existência de qualquer ser é fracionada e múltipla. É esse sujeito fracionado e múltiplo
que Pena desenvolve em sua teoria, a teoria da biografia sem fim. Nessa teoria, Pena
sugere uma metodologia moderna de biografia para quebrar com o senso comum da
ilusão biográfica, uma nova forma de biografia onde não preocupação com a estrutura
cronológica da narrativa e será dividida em fractais.
A idéia é organizar uma biografia em capítulos nominais (fractais) que reflitam as múltiplas
identidades do personagem (o judeu, o gráfico, o pai, o patrão, etc). No interior de cada capítulo, o
biógrafo relaciona pequenas estórias/fractais fora da ordem diacrônica. Sem começo, meio e fim, o
leitor pode começar o texto de qualquer página. ( Pena, 2004, p. 83)
Além disso, Pena sugere que uma biografia fractal, ao ser lançada no mercado,
deve ser lançada ao mesmo tempo num site. Neste site leitores poderão interagir
contribuindo com informações a respeito do biografado. A idéia é a de que, numa
próxima edição, o biógrafo incorpore informações relevantes publicando-as,
transformando assim o leitor em co-autor. Este processo seria contínuo. A cada edição
seriam somadas mais informações, ou seja, uma biografia sem fim.
21
Sendo de forma histórica, ou jornalística, ou antropológica, ou ilusória, ou
fractual, o fato é que, como resultado desta narrativa, o biógrafo faz uso da linguagem
para apresentar a vida do outro e ao mesmo tempo apresentar-se. Ao empregar a ngua
para relatar tantas características e acontecimentos de seu retratado, o biógrafo apresenta
uma estrutura verbal que toma a forma de um discurso narrativo em prosa para explicar o
que foi uma vida, representando-a. (Werneck, 1996, p.25).
Para que qualquer escritor se enverede para o campo da biografia, não importando
qual forma ele pretenda dar, torna-se necessária uma vasta pesquisa de fontes para montar
o mosaico da vida de uma pessoa. Quanto mais tempo se passar após a morte do
biografado, mais difícil pode se tornar essa pesquisa. As fontes mais usuais de pesquisa
vão desde documentos (oficiais e não oficiais), correspondências, fotos, diários, livros de
memórias, autobiografias até testemunhos orais. No tópico 2.2 veremos as fontes que
Abel Stevens utilizou para escrever sua obra. E como “o parente direto da biografia é a
literatura, essencialmente, como conjunto de técnicas, obra e artesanato” (Vilas Boas,
2002, p. 77) vejamos a seguir algumas características da obra de Stevens.
1.2.1 A biografia de Stevens
No dia 07 de fevereiro de 1881, a coluna de Notícias Literárias do jornal The New
York Times comunicava:
18
Assim se anunciava para o público a oitava biografia da Madame de Staël, feita
ainda durante o século que a vira morrer. É o mesmo texto e a mesma edição que aquela
anunciada pelo New York Times que foi utilizado neste trabalho: Madame de Staël: A
18
Note que o nome do autor saiu como Dr. G. Stevens. Não sabemos se Abel Stevens possuía algum outro
nome ou se foi um erro tipográfico. De qualquer forma trata-se da mesma pessoa.
22
study of her life and times. New York: Harper & Brothers, 1881. O livro foi publicado em
papel de algodão encorpado e resistente, qualidade muito acima do que hoje se usa em
tiragem industrial, mas aparentemente comum para a época. Depois de tanto tempo (mais
de 125 anos) o livro resistiu e não apresenta deteriorações ou ginas quebradiças. A
coloração das páginas também parece ter-se mantida inalterada. Segundo a análise do
bibliófilo Cleber Teixeira
19
, a impressão foi feita com tipo móvel (letra por letra) pois
podemos ver as marcas da prensa no verso das páginas. O livro foi adquirido em 2005
num sebo americano que realiza vendas pela internet. É importante observar que houve
uma edição inglesa no mesmo ano pela editora John Murray, Londres, mas infelizmente
não conseguimos adquirir esta edição. Conseguimos apenas visualizar on-line
20
algumas
páginas do volume II e constatamos que, nas páginas visualizadas, em nada difere da
edição americana. Para que pudéssemos trabalhar com o texto em forma eletrônica, os
três primeiros capítulos da obra foram digitalizados.
A obra é composta de dois volumes sendo que o primeiro volume contém 367
páginas e o segundo volume 373. O volume I está dividido em vinte e dois capítulos e o
volume II em vinte e um.
Um dos fatores que auxiliaram Stevens na composição da biografia foi a “sorte”
de encontrar pessoas que ainda tinham tido contato com a biografada. Trata-se mesmo de
“sorte”, pois a biografia foi publicada 63 anos após a morte de Madame de Staël, fazendo
com que o fosse muito fácil ainda encontrar pessoas que tivessem conhecido Madame
de Staël pessoalmente. Stevens agradece em especial a Albert Rilliet de Candolle, parente
de Madame de Rilliet-Huber (antes Mademoiselle Huber, companehira de Madame de
Staël) e Monsenhor Pictet de Sergy “o único dos amigos pessoais de Necker que
sobrevive que eu consegui achar”
21
22
19
Cleber Teixeira é, além de bibliófilo, poeta, tipógrafo, editor, dono e responsável pela editora Noa Noa
onde ele mesmo produz os livros de maneira artesanal.
20
http://books.google.com.br/books
21
“the only survivor of the personal friends of Necker whom I have been able to discover” (Stevens, 1880,
p. viii).
22
Esta referência parece muito estranha, pois Jacques Necker morreu em 1804 e seria muito difícil
encontrar um amigo seu vivo por volta de 1880.
23
Talvez por isso, pela ausência de testemunhas vivas, depois de ter escrito uma
biografia que se destacaria pela riqueza de dados e informações, Abel Stevens não se
considerou satisfeito: “Mas mesmo com toda essa abundância de “fontes” pareceu
impossível fazer uma biografia satisfatória.” Aparentemente Stevens estava habituado à
forma que as biografias tinham:
A grande quantidade de “Mémoires” do seu tempo, e as histórias da Revolução Francesa, da
literatura, e da sociedade da época¸ abundam em alusões similares; mas eles parecem igualmente
espinhosos em qualquer tentativa de reduzí-los à correlação e consistência requisitos da forma
usual de biografia.
23
Sendo assim, Stevens opta por nomear sua pesquisa biográfica como o título
indica: Um Estudo da sua Vida e da Época (A Study of her Life and Times) na aparente
tentativa de não se comprometer com a carga semântica que o título “biografia” carrega.
Ao escrever a biografia de Madame de Staël, Stevens se apresenta de dois modos,
primeiro temos um narrador que faz uso de referências históricas para “tecer” sua
narrativa e, segundo, temos o historiador que utiliza recursos literários para “bordar” sua
narrativa. Em seguida veremos algumas características literárias e históricas da narrativa
de Abel Stevens.
Constatamos que a obra de Stevens é um trabalho minucioso na área de pesquisa
histórica (percebe-se pelas notas de rodapé que trazem a maioria das referências
bibliográficas), bem estruturado e bem escrito e com uma riqueza de detalhes servindo
para dar um “sabor de verdade” à narrativa apresentada. Stevens se atém mais ao
macrocosmo, ou seja, falando de pessoas famosas da época e não apresenta nenhuma
informação sobre pessoas medíocres (serviçal, cocheiro, etc), o microcosmo.
O autor se serve do primeiro capítulo para construir hipóteses e preparar o leitor
para seu ponto de vista. Stevens via Susana Necker, mãe de Madame de Staël como uma
mulher forte e muito rígida mas, na tentativa de não se comprometer, cita outras fontes e
faz o uso de palavras como: ‘provavelmente’ e ‘talvez’ para a construção de hipóteses.
23
The superabundant "Mémoires" of her times, and the histories of the French Revolution, of the literature,
and of the society of the epoch, abound in similar allusions; but they seem equally intractable to any
attempt to reduce them to the correlation and consistence requisite for a biography of the usual form..
(Stevens, 1880, p.vi)
24
Seu principal defeito era talvez seu rigor moral (...)
24
Sua capacidade comunicativa provavelmente nunca foi superada (...)
25
(...) e Mademoiselle Curchod é agora a esposa do Monsieur Necker, o Ministro, e talvez o
legislador, da monarquia francesa.
26
Ele descobriu nela um entusiasmo para o sucesso e superioridade que deu, talvez, o primeiro
impulso para uma carreira mais alta na qual ele depois se distinguiria.
27
‘A esposa tem intelecto, mas é de uma esfera demais elevada para alguém se comunicar com ela.
Seu marido tem mais que ela; mais talvez de qualquer homem na nossa nação atualmente; mas ele
não tem nenhum pedantismo nem presunção.
28
‘Ela foi,’ afirma outra autoridade, ‘provavelmente a mulher mais extraordinária que a Europa
gerou’
29
O desenvolvimento do texto obedece a uma lógica interna, que neste caso nem
sempre é a lógica da progressão vital da biografada. Stevens começa narrando um passeio
de barco e uma visita à casa onde Madame de Staël morava, descrição da casa e arredores
no ano de 1880, ou seja, mais ou menos 60 anos após a morte da biografada. Ele depois
prossegue retratando a posição de Madame de Staël na literatura francesa e na sociedade
da época. Breves citações de escritores da época sobre as obras escritas por Madame de
Staël são mencionadas e também sobre o seu caráter. Stevens adianta alguns fatos:
As viagens de seu longo exílio fizeram-na cosmopolita na literatura e na vida social da Europa, e o
estudo da sua vida deve ser um estudo da política, da literatura e sociedade de sua época.
30
então Stevens menciona o nome completo, o tulo de nobreza, o local e a data
de nascimento da biografada. Esse recurso vem das técnicas narrativas literárias e é o
conhecido flashback. O autor dá saltos no tempo da frente para trás e de trás para frente a
24
Her greatest fault was perhaps her moral rigour (p. 17)
25
Her conversational powers have probably never been surpassed (p. 04)
26
and Mademoiselle Curchod is now the wife of Monsieur Necker, the Minister, and perhaps the legislator,
of the French monarchy. (p. 16)
27
He discovered in her an enthusiasm for success and distinction which gave, perhaps, the first impulse to
the still higher career in which he was afterwards distinguished. (p. 20)
28
Her husband has more than she; the most perhaps of any man in our nation at the present time; but he has
no pedantry nor self-sufficiency. (p. 23)
29
‘She was,’ says another authority, ‘probably the most remarkable woman that Europe has produced.’
(p.04)
30
The travels of her long exile rendered her cosmopolitan in the literary and social life of Europe, and the
study of her life must be a study of the politics, the literature and society of her times. (p. 05)
25
fim de ampliar a visão que o leitor está tendo da narrativa e aumentar a expectativa. Uma
estrutura cronológica rígida acabaria por deixar o texto meio apagado, enquanto que ao
empregar o recurso do flashback o texto ganha mais vida.
Apesar de que muitos dados possam ser suspeitos, Stevens não os coloca sob
suspeição, apenas os encaixa na narrativa.
O rigor de Madame Necker oprimia sua filha. Seu cotidiano, cada hora de sua vida era controlada,
suas diversões foram reprimidas, suas atitudes reguladas, seus estudos severamente mecânicos.
Mas sua natureza entusiástica separava-se algumas vezes espontaneamente desta escravidão, tão
alheia aos seus instintos. Ela era cheia da alegria, de abandon, de franqueza, de impulsos afetuosos,
do amor de efeitos dramáticos - para não dizer truques dramáticos.
31
O texto é permeado por citações claramente assinaladas por aspas e expressões
como “ela diz” ou “ele afirma” ou ainda “ela exclamou”. Essas citações acabam por
deixar o texto cheio de aspas mas que em nada atrapalham a fluidez do texto, pelo
contrário, ajudam o leitor a identificar as fontes de informações para a construção da
narrativa e ressaltar a voz do narrador.
Algumas vezes Stevens opta também por utilizar o recurso da paráfrase para
narrar acontecimentos:
Bonstetten, anos mais tarde seu correspondente admirador, diz que, ele andava sozinho no jardim
dos Necker, quando foi rudemente golpeado por uma vara que vinha de trás de uma árvore,
virando-se indignado pelo golpe, viu a criança, com então cinco ou seis anos, alegremente
empunhando a vara.
32
Para poder biografar Madame de Staël é imprescindível que se faça a narrativa
levando em consideração o contexto histórico da época. Stevens, neste aspecto, nos
uma grande aula dos motivos que levaram à Revolução Francesa, motivos esses que tudo
tem a ver com a vida e a obra de Madame de Staël. Ao narrar a política administrativa
31
Madame Necker's rigour oppressed her daughter. Her daily, her hourly life was under rule, her sports
were restrained, her attitudes regulated, her studies severely mechanical. But her ardent nature was ever
spontaneously breaking away from this bondage, so foreign to its instincts. She was full of gaiety, of
abandon, of frankness, of affectionate impulses, of the love of dramatic effects - not to say dramatic tricks.
(p. 34)
32
Bonstetten, in later years her admiring correspondent, says that, as he was walking alone in Necker's
garden, he was rudely struck from behind a tree with a switch turning to resent the blow, he saw the child,
than five or six years old, gleefully wielding the stick. (p. 35)
26
adotada por Jacques Necker, pai da biografada, e sobre o seu livro, Stevens nos previne
do que irá acontecer:
O seu ‘Compte Rendu au Roi’ foi a sua defesa. Nesse famoso trabalho ele prestou conta completa,
ao Rei, das desordens financeiras do país. Esta foi uma granada lançada na Corte, e a explosão que
se seguiu ressoou em todas as partes da monarquia e por toda a Europa. Nunca um relatório assim
sobre a administração das finanças havia sido feito.
33
O que muitas vezes se espera de uma biografia é a revelação de intrigas e fofocas
da vida privada (principalmente no caso das biografias não autorizadas) do biografado e
seu círculo. Ao revelar pessoas famosas sendo “gente como a gente” a biografia adquire
um caráter sensacionalista. Stevens faz pouco uso desse recurso mas podemos encontrar
alguns exemplos.
Marmontel, que foi um dos primeiros freqüentadores literários da casa, com a exceção de Thomas,
afetuosamente admirou a genialidade da filha, e compartilhou os preconceitos de Madame du
Deffand contra a mãe. A sua filosofia lasciva não pôde suportar a sua pertinácia religiosa. Nem
Marmontel considerou mais cordialmente o próprio Necker, embora ele admita repetidamente a
sua capacidade e a sua integridade moral perfeita. Durante anos ele comeu cordialmente os
jantares do grande financista, mas partiu para a publicação, quando o último estava na sua
sepultura, depreciando-lhe com alusões. ‘Necker’, ele escreve, ‘não foi meu amigo, e não fui seu.’
[...] Marmontel tinha sido muito dedicado ao mundo frívolo e libertino de Paris para poder
apreciar tal compaixão conjugal. A morale dela era incompreensível para ele.
34
Stevens aponta um “retrato” de Gibbon em nota de rodapé:
Gibbon mal tinha cinco s de altura, mas para compensar sua baixa estatura a natureza lhe deu
uma forma quase esférica; ele não poderia ter menos do que dez pés de circunferência, como M.
de Bièvre comenta. ‘Quando eu preciso me exercitar,’ diz De Bièvre, ‘Eu dou três voltas ao redor
do Sr. Gibbon’.
35
33
His ‘Compte Rendu au Roiwas his vindication. In that famous work he gave a complete account, to the
King, of the financial disorders of the country. It was a bombshell thrown into the Court, and the explosion
that followed resounded throughout the kingdom and over all Europe. No such report on the administration
of the finances had ever been made. (46)
34
Marmontel, who was the earliest literary guest of the house, excepting Thomas, fondly admired the
genius of the daughter, and shared the prejudices of Madame du Deffand against the mother. Their loose
philosophy could not brook her religious pertinacity. Nor did Marmontel regard more cordially Necker
himself, though he admits repeatedly his ability and his perfect moral integrity. For years he ate heartily the
suppers of the great financier, but left for publication, when the latter was in his grave, disparaging
allusions to him. ‘Necker,’ he writes, ‘was not my friend, and I was not his.[…] Marmontel had been too
much addicted to the frivolous and libertine world of Paris to appreciate such conjugal sympathy. Her
morale was incomprehensible to him. (p. 25)
35
Gibbon was hardly five feet in height, but in revenge of his short stature nature gave him an almost
spherical shape; he could not have been less than ten feet in girth, as M. de Bièvre. ‘When I need exercise ,’
said De Bièvre, ‘I make three times the tour of M. Gibbon.’ (p. 36)
27
Stevens inventa e introduz licenças poéticas no seu texto, recurso que
encontramos com facilidade na literatura, mas não na história, principalmente quando
partindo de fontes documentais para se fazer o relato:
No seu décimo ano ela era sumamente cativante. A sua alegria natural era extrema, embora de vez
em quando tocado por aquela melancolia poética que depois tingiu sua alma. A sua conduta,
sobretudo quando livre das restrições da presença de sua mãe, eram simples explosões da sua
sensibilidade e franqueza natural.
36
Um ponto interessante de se ressaltar aqui é que as fontes citadas por Stevens são
fontes originalmente escritas em francês e que foram traduzidas do francês para o inglês.
Em nenhum momento Stevens comenta este fato. De qualquer forma a tradução feita por
Stevens apresenta traços de preocupação com a poética do texto que traduz e mantém o
mesmo nível em seu comentário logo após a fala da personagem:
‘Seus traços fisionômicos’ diz sua esposa em um ‘Portrait’ literário, ‘não se parecem com nenhum
outro; a forma de seu rosto é singular. Uma recuada testa alta, um queixo de extensão incomum;
vívidos olhos castanhos, cheios de ternura, algumas vezes de melancolia, e arqueados por
sobrancelhas elevadas, davam a ele uma expressão muito original.’ Sua estátua em Coppet, com
algo de teatral em sua atitude, expressa graça e grandiosidade tanto da alma quanto da pessoa.
37
1.2.2 - Os modelos de Stevens
Na composição de uma biografia é natural que biógrafos se utilizem de biografias
anteriores (quando estas existem) como fonte de dados para ajudar na composição de sua
própria obra. Para compor esta biografia, Stevens lança mão de muito material. Apesar de
não haver uma bibliografia organizada ao final dos volumes, Stevens apresenta alguns de
seus recursos bibliográficos no prefácio e posteriormente ao longo de sua obra onde
por vezes aparece no corpo do texto a fonte de onde foi tirada determinada citação e por
vezes a fonte aparece em nota de rodapé. Percebemos também que a maioria dessas
fontes foram escritas originalmente em francês.
36
In her tenth year she was exceedingly attractive. Her natural gaiety was extreme, though at times touched
by that poetic melancholy which ever after tinged her soul. Her manners, especially when relieved of the
restraints of her mother’s presence, were the simple outbursts of her natural sensibilities and frankness. (p.
37)
37
‘His features,’says his wife, in a literary ‘Portrait,’ ‘resemble those of no one else; the form of his face is
extraordinary. A high retreating forehead, a chin of unusual length; vivid brown eyes, full of tenderness,
sometimes of melancholy, and arched by elevated brows, gave him an expression quite original.’ His statue
at Coppet, somewhat theatrical in its attitude, expresses grace and grandeur of both soul and person.” (p. 11)
28
Stevens observa em seu prefácio que muitas das referências biográficas são
encontradas nas próprias obras de Madame de Staël, mais particularmente Dix Années
d'Exil e Considérations sur les Principaux Événements de la Révolution Française. Essas
duas obras são usadas como fontes de pesquisa pela maioria dos biógrafos por conterem
várias alusões à própria vida da autora.
Além disso Stevens cita fontes como Revue des deux Mondes, uma revista
literária e cultural francesa que existe até hoje, Nouvelle Biographie Générale,
Biographie Universelle, e muitas cartas, algumas que haviam sido publicadas e outras
que ainda não.
Mas o que nos interessa nesse trabalho é mostrar um pouco das biografias
publicadas antes de Abel Stevens publicar a sua obra
38
.
A primeira biografia a ser publicada faz parte do livro Memórias onde os filhos de
Madame de Staël publicaram postumamente a obra Dez Anos de Exílio de Madame de
Staël. Ao decidirem pela publicação, os filhos, o Duque de Broglie e o Barão de Staël,
pediram para a prima de sua mãe, Madame Necker de Saussure, que manteve uma intensa
amizade com a Madame de Staël e a quem ela chamava de irmã, que escrevesse as
observações que reuniu no decorrer nos anos. Trata-se da Nota sobre o Caráter e a Obra
Literária da Senhora de Staël (Notice sur le caractère et les écrits de Madame de Staël),
publicada originalmente em 1820. Na introdução desta obra Madame Necker de Saussure
justifica a realização deste trabalho: Ainda não foram apresentados em conjunto os seus
traços característicos como ainda não foi possível explicar perfeitamente esse conjunto
surpreendente. (Memórias, Introdução, p. 5).
No Brasil esta obra foi traduzida por Antônio Leal da Costa e publicada na década
de 40 pela editora Panamericana com o título de Memórias - Notas sobre o caráter e a
obra literária da Senhora de Staël.
Para compor esta obra, Madame Necker de Saussure não cita nenhuma fonte
bibliográfica a não ser as próprias obras de Madame de Staël:
38
Algumas das obras deste mesmo gênero publicadas depois de 1882 podem ser encontradas no anexo 1.
29
Todavia, não é a sua história que me proponho escrever. Os acontecimentos mais salientes de sua
vida ela própria os contou, quer na obra sobre a Revolução Francesa, quer nas memórias que havia
iniciado sob o título - "Dez anos de Exílio". (Memórias, Introdução, p. 6)
Na segunda parte da obra aparecem algumas vezes no corpo do texto algumas
citações de pessoas, aparentemente apenas como reprodução da memória de Madame
Necker de Saussure ao lembrar de falas de pessoas pois em nenhum lugar podemos
encontrar a fonte destas citações.
Em 1958 J. Christopher Herold publica a biografia Mistress to an Age, ganhadora
do National Book Award de 1958. Nesta biografia Herold afirma que a primeira biografia,
Notas sobre o Caráter e a Obra Literária da Senhora de Staël, leva uma grande vantagem
sobre outras que apareceram depois porque foi feita por alguém que tinha um contato
muito íntimo com Madame de Staël. Segundo Herold a autora possuia “uncommon
sensibility and psychological insight; and she was extremely intelligent.” (Herold, 1958,
p. 477)
Em 1836 Sainte-Beuve publica uma biografia de Madame de Staël no Portraits de
Femmes, onde ele destaca que não se trata de uma biografia na definição conhecida da
palavra e sim da síntese de uma vida, de uma personalidade, em algumas dezenas de
páginas livres de anedotas (no sentido de histórias pitorescas) e que vão direto ao
essencial. Nesta biografia, Sainte-Beuve também não cita o nome das fontes de onde
retirou as citações que aparecem no corpo do texto.
Em 1832, Lydia Maria Francis Child publica o Ladies’ Family Library. Child foi
uma escritora americana que no campo da literatura não teve grande ascensão por suas
obras servirem principalmente como meio de promover uma reforma humanitária. Um
dos temas sobre o qual escreveu foi a educação feminina na época (1829). Ela acreditava
que a educação em casa poderia ser de grande ajuda para a formação intelectual das
mulheres. Foi seguindo essa convicção que Child teve a idéia de fazer o Ladies’ Family
Library, série de cinco volumes contendo várias biografias exemplificando virtudes
femininas. Child dedicou o primeiro volume dessa coleção a duas de suas heroínas: The
biographies of Madame de Staël and Madame Roland. A obra foi publicada em Boston.
A respeito do objetivo desta coleção de biografias Child revela em seu prefácio:
30
O objetivo do Ladies’ Family é fornecer uma série de volumes, que irão agradar, e ser de interesse
dos sentimentos femininos. Se este objetivo não for atingido, não será por falta de material
abundante.
39
Em 1853 Maria Norris publica Life and Times of Madame de Staël em Londres.
Infelizmente até o momento não conseguimos informações a respeito dessa escritora e
dessa obra.
Apesar de Stevens citar a existência dessas obras antes de ele compor a sua
biografia ao longo de seu texto a única fonte que ele parece usar explicitamente, pois ele
comenta de onde retirou determinada informação, foi a biografia de Madame Necker de
Saussure. Além disso, muitas cartas e revistas da época são citadas como fonte.
39
The object of the Ladies’ Family Library is to furnish a series of volumes, which will suit the taste, and
interest the feelings of women. If this object be not attained, it certainly will not be for want of abundant
materials. (Child, 1832, vii).
31
CAPÍTULO 2 A TRADUÇÃO SEGUNDO BERMAN
O que chama a atenção para uma biografia no mundo não literário é a quantidade
de informações e a forma como estas informações estão impressas formando um texto.
No capítulo I, item 2 podemos encontrar as características dos diferentes tipos de
biografias.
Ao levarmos a biografia para uma análise literária percebemos que o texto de uma
biografia apresenta duas faces. A primeira diz respeito ao valor histórico das informações
apresentadas. A segunda diz respeito à arquitetação lingüística empregada para que tais
informações sejam agrupadas de tal forma e não de outra.
Quando se parte para a tradução de uma obra do gênero ‘biografia’, deparamo-nos
com estas duas faces da maneira mais crua, pois precisamos fazer uma análise profunda
do texto enquanto obra literária, sem ao mesmo tempo esquecermos de que é uma fonte
de informações tanto para a história quanto para análise do discurso.
Mais adiante analisaremos aspectos da obra enquanto obra literária segundo a
reflexão de Berman, tal como ela é apresentada em A Tradução e a Letra ou o Albergue
do Longínquo. Alguns aspectos discursivos serão apontados por conta da grande
relevância dada pelo autor da biografia de Madame de Staël à religião, expoente de uma
religiosidade identificada no decorrer do texto de Stevens. Por hora vejamos algumas
reflexões sobre tradução segundo Berman, Madame de Staël e Schleiermacher.
No livro mencionado, Berman cita algumas frases críticas sobre tradução da mão
de Cervantes, Boileau, Montesquieu, Goethe, André Gide, Nabokov e a própria Madame
de Staël. Berman afirma que desde há muito tempo a tradução vem sendo encarada de
maneira negativa por um extenso número de autores. A frase de Madame de Staël citada
por Berman é: “uma música composta para um instrumento não é executada com sucesso
num instrumento de outro gênero” (2007. p.42). Poderíamos deduzir dessa frase que
Madame de Staël era contra a tradução. Mas o artigo Do espírito das traduções (in
TORRES e FAVERI. 2004: 140), escrito em 1816, revela que ela faz na realidade uma
32
crítica ao modo de traduzir específico dos franceses, que dão sua “própria cor a tudo que
se traduz” (Ibid. p.143) contrariando assim as opiniões da maioria dos franceses da época.
Logo no início do seu ensaio Madame de Staël afirma que “não há mais eminente
serviço” que alguém possa oferecer à literatura do que “transportar de uma língua para
outra as obras-primas do espírito humano.” (Ibid. 141)
Além das frases citadas por Berman, outras atestam a alegação da Mme de Staël.
No livro Textos Clásicos de Teoría de la Traducción de Vega
40
, encontramos uma
demonstração desta prática, trata-se do prefácio do tradutor da edição de 1760 de Pamela,
de Richardson. O tradutor francês desta obra, Antoine François Prévost, nos dá uma idéia
de como a tradução era encarada.
Não modifiquei nada que pertença às intenções do autor nem mudei muito a maneira como ele põe
essas suas intenções em palavras e, no entanto, conferi a sua obra uma nova cara ao eliminar as
excursões insossas, as descrições excessivas, as conversas desnecessárias e as reflexões fora de
lugar [...]. Eliminei costumes ingleses surpreendentes que poderiam ser chocantes para outras
nações ou adaptei-as aos costumes que reinam no resto da Europa. Pareceu-me que estes restos de
velhas e toscas maneiras britânicas que, por serem habituais, passam despercebidas aos insulares,
desonrariam um livro no qual as maneiras deveriam ser nobres e virtuosas. Para dar ao leitor uma
idéia exata de meu trabalho, permita-me dizer sem mais delongas, que os sete volumes da edição
inglesa, que na minha própria teria se convertido em catorze, foram reduzidos a quatro.
41
Essa é a forma de traduzir que Madame de Staël ataca. Nada indica que ela era
contra a tradução em si e ela enfatiza no ensaio citado justamente o papel positivo da
tradução: “se cada nação moderna fosse reduzida a seus próprios tesouros, estaria sempre
pobre” (TORRES e FAVERI. 2004. p. 141). Staël afirma que é necessário que se tenha
conhecimentos universais “é para o universal que se deve inclinar quando se quer fazer
bem aos homens” (Ibid. p. 143). Para ela uma tradução bem feita pode produzir “um
prazer familiar e íntimo” e pode “com mais eficácia que qualquer outro meio, preservar a
40
VEGA, Miguel Ángel. Textos Clásicos de Teoría de la Traducción. Cátedra, 1994.
41
No he modificado nada que pertenezca a las intenciones del autor ni he cambiado mucho la manera cómo
pone esas sus intenciones en palabras y sin embargo, he conferido a su obra una nueva cara al eliminar las
excursiones insulsas, las descripciones excesivas, las conversaciones inútiles y las reflexiones fuera de
lugar. […] He eliminado costumbres inglesas sorprendentes donde podían resultar chocantes a otras
naciones o las he adaptado a las costumbres que reinan en el resto de Europa. Me pareció que esos restos de
viejas y toscas maneras británicas que por ser habituales pasan desapercibidas a los insulares, deshonrarían
un libro en el cual las maneras deberían ser nobles y virtuosas. Para darle al lector una idea exacta de mi
trabajo, permítame decirle en definitiva que los siete volúmenes de la edición inglesa, que en la mía propia
se habría convertido en catorce, se ven reducidos a cuatro. (Prefacio a la traducción de la Pamela de
Richardson (1760) in VEGA, Miguel Ángel. Textos Clásicos de Teoría de la Traducción. Cátedra, 1994. p.
183)
33
literatura de um país das expressões banais que são os mais certos sinais de decadência”
(Ibid. p. 143).
O discurso de Madame de Staël não opera apenas no nível da literatura e da
tradução. Ao fazer uso da metáfora “a circulação de idéias é de todas as espécies de
comércio aquela em que as vantagens são mais seguras” (...) Staël revela que seu discurso
é baseado em características políticas e sociais da época que sustentavam o trabalho da
literatura. Staël aponta assim para os italianos, a quem parece endereçar o artigo, e sugere
que eles traduzam ativamente a literatura do norte como forma de libertá-los da língua, o
latim, que, segundo Madame de Stäel, os estrangula. O uso de uma língua morta é falsa e
a falta de palavras novas faz com que muitos escritores que tiveram sua glória por causa
de suas obras mantenham sua reputação, mas “suas obras já não são lidas fora do círculo
de eruditos.” (Ibid. p. 141)
Três anos antes de Madame de Staël escrever seu artigo, Schleiermacher tinha
escrito “Über die verschiedenen Methoden des Übersetzens”, Sobre os Diferentes
Métodos de Traduzir, que foi apresentado inicialmente sob a forma de palestra na
Academia Real de Ciências de Berlim, em 1813 (sua publicação só se deu em 1838).
Neste artigo Schleiermacher já aponta a negatividade da tradução em que o
tradutor tenta apresentar a obra da forma como o autor a teria escrito na língua da
tradução, anulando tudo o que é estranho e nacionalizando o estrangeiro. Para
Schleiermacher a forma de traduzir pode se apresentar de duas maneiras a partir de uma
aproximação com o autor, de um lado, ou com o leitor, do outro. Ou seja, “ou o tradutor
deixa o autor em paz e leva o leitor até ele, ou deixa o leitor em paz e leva o autor até ele”
(in Heidermann, 2001:43). No primeiro método o tradutor deve “transmitir aos leitores a
mesma imagem, a mesma impressão que ele próprio teve através do conhecimento da
língua de origem da obra, de como ela é, e tentar, pois, levá-los à posição dela, na
verdade estranha para eles” (Ibid. p. 43). Este segundo método, tanto para Schleiermacher
quanto para Madame de Staël, além de ser inalcançável, acaba sendo negativo, pois leva
à paráfrase e à imitação.
34
Schleiermacher defende o primeiro método segundo o qual uma tradução deve
levar o leitor até o autor, e o tradutor deve ter como objetivo proporcionar ao seu leitor o
efeito que ele próprio experimentou do texto na ngua do original, que é o efeito de uma
obra estrangeira. Para que este efeito apareça, a tradução precisa associar-se de forma
exata às expressões da língua original, pois assim “tanto mais estranha ela será para o
leitor” (Ibid. p. 59)
2.1 A reflexão teórica de Antoine Berman
A tradução estrangeirizante (termo empregado por Venuti (1995), e que coincide
de certa forma com aquela defendida por Schleiermacher, traz como resultado um texto
traduzido em que a cultura do estrangeiro se manifesta e não se apaga. Em A Tradução e
a Letra ou o Albergue do Longínquo (2007), Berman aponta para esse mesmo aspecto
levantado por Schleiermacher e o define como ‘tradução não-etnocêntrica’, sendo
etnocêntrico definido como o que “traz à sua própria cultura, às normas e valores”.
Berman acrescenta ainda que a tradução hipertextual “remete a qualquer texto gerado
por imitação, paródia pastiche, adaptação, plágio, ou qualquer outra espécie de
transformação formal a partir de um texto existente.” (Berman,2007, p. 28). Com base
nestas duas definições percebemos que se uma aparece, a outra necessariamente também
aparece, pois “a tradução etnocêntrica é necessariamente hipertextual, e a tradução
hipertextual, necessariamente etnocêntrica”.
Segundo Berman foram estas duas formas, a tradução etnocêntrica e a
hipertextual, as que prejudicaram a tradução e que deram origem à expressão traduttore
traditore. Apesar de sabermos que os tempos mudaram, que não estamos mais na época
em que se operavam modificações substanciais em obras estrangeiras, nem por isso elas
desapareceram. Dependendo da cultura a tradução de obras pode aparecer com mais ou
menos modificações, algumas sutis e outras nem tanto.
Sem nos adentrarmos na questão de casos específicos de hipertextualidade,
podemos apenas afirmar, seguindo a reflexão de Berman, que toda tradução comporta em
si elementos etnocêntricos e hipertextuais. Isso porque vários setores da escrita só exigem
35
uma transferência de sentido. Cada cultura deve saber se apropriar das produções de
sentido estrangeiro.
O discurso de Berman sobre hipertextualidade e etnocentrismo serve para
defender o oposto, a tradução da letra”de uma obra. A tradução da “letra” viria a ser o
compromisso ético do tradutor e da tradução. Para o autor, “o ato ético consiste em
reconhecer e em receber o Outro enquanto Outro” e não tentar dominar ou rejeitar o
Estrangeiro (Ibid. p. 68). A tradução seria assim mais do que a comunicação de uma
comunicação”, seria “a manifestação de uma manifestação”. A comunicação, ainda
segundo o autor, concerne a algo parcial, enquanto que a manifestação concerne sempre a
uma totalidade e esta manifestação seria uma novidade em seu próprio espaço de língua.
A ética da tradução tem como objetivo último a preservação dessa novidade na língua a
ser traduzida.
É neste sentido que Berman apresenta os provérbios como exemplo de literalidade
(letra) de uma manifestação literária. Segundo ele, um tradutor, ao se deparar com um
provérbio pode escolher entre três opções. A primeira opção seria encontrar um
“equivalente” na língua de chegada; a segunda opção seria traduzir palavra por palavra; e
a terceira seria traduzindo ao mesmo tempo “o seu ritmo, o seu comprimento (ou sua
concisão), suas eventuais aliterações etc.” A escolha de uma dessas opções revelaria o
comprometimento ético do tradutor. A escolha da primeira opção remonta ao estilo
francês que Madame de Staël ataca e que Berman chama de hipertextual e etnocêntrico, a
segunda opção revela uma tradução servil e a terceira revela que o tradutor teve sua
atenção voltada para o jogo de significantes. Esta última seria a tradução da letra de um
texto.
O que pode ser acrescentado nesta reflexão de Berman é que um provérbio pode
também refletir aspectos culturais de um povo. Vejamos o exemplo alemão utilizado por
Berman “o ar da manhã tem ouro na boca”, e o “equivalente” em francês “o mundo
pertence aos que se levantam cedo”. Agora imaginemos que em uma obra brasileira, em
português, apareça o provérbio “Deus ajuda quem cedo madruga” e que tradutores do
36
francês, alemão, inglês, holandês ou espanhol precisassem procurar o equivalente nas
respectivas línguas. Teríamos então:
Português Deus ajuda quem cedo madruga
Inglês The early bird catches the worm.
Espanhol El que madruga coge la oruga.
Alemão Morgenstunde hat Gold im Munde.
Francês Le monde appartient à ceux qui se lèvent tôt.
Holandês De morgenstond heeft goud in de mond.
Quem conhece minimamente algumas destas línguas pode observar que em
nenhuma delas a palavra “Deus” aparece. Se pensarmos no fato de que o povo brasileiro
(assim como o português) é composto na sua grande maioria por cristãos católicos,
percebemos que um reflexo desta religiosidade nos provérbios, onde Deus, santos, céu
e inferno aparecem com freqüência (“quando a esmola é demais o santo desconfia;
ajoelhou tem que rezar; devagar com o andor que o santo é de barro”, etc.). Quando um
tradutor opta por lançar mão de um equivalente na língua de chegada, ele apaga
definitivamente esse aspecto religioso de quem usa a língua portuguesa. Segundo Berman,
optar por equivalentes “significa recusar introduzir na língua na qual se traduz a
estranheza do provérbio original [...] significa recusar fazer da língua na qual se traduz o
“albergue do longínquo”.” (Ibid. p. 17)
Berman afirma que vários setores da escrita só exigem uma transferência de
sentido, no entanto, quando tratamos de obras literárias a tradução não deve atuar em
nível de sentido. Evidentemente, as “obras” fazem sentido. Elas são inclusive uma
formidável concentração de sentido. Mas nelas, o sentido está condensado de maneira tão
infinita que excede toda possibilidade de captação.
37
Questionar a tradução hipertextual e etnocêntrica significa procurar situar a parte
necessariamente etnocêntrica e hipertextual de toda tradução e situar a parte que ocupam
a captação do sentido e a transformação literária. Significa mostrar que essa parte é
secundária, que o essencial do traduzir está alhures, e que a definição da tradução como
transferência de significados e variação estética reencontrou algo de mais fundamental.
Se a letra e o sentido estão ligados, a tradução é uma traição e uma impossibilidade. A
intraduzibilidade de um poema pode significar duas coisas: que não se pode traduzir e
que não se deve traduzir. Quando um poema é tachado de intraduzível, é ao mesmo
tempo ressaltado seu valor e sua qualidade de “verdadeiro” poema. “Todo escrito quer,
no entanto, preservar em si uma parte de intraduzível. A intraduzibilidade é um dos
modos de auto-afirmação de um texto.” (Ibid. p. 40)
Voltamos ao dilema da traição, pois se a tradução quer unir em si a letra
(intraduzível) e o sentido (traduzível), a tradução acaba sendo uma traição, “mesmo se
essa traição é necessária à própria existência dos intercâmbios e da comunicação”. (Ibid.
p. 41)
Para que essa visão seja destruída, Berman propõe então que se faça uma análise
do texto, análise esta que, como bem ressalta Berman, pode ser interpretada com sentido
(propositalmente) duplo: no sentido cartesiano - decomposição ou separação de um todo
em seus elementos constituintes; e no sentido psicanalítico “esse sistema é realmente
inconsciente e se apresenta como um leque de tendências, de forças que desviam a
tradução de seu verdadeiro objetivo”. (Ibid. p. 45)
A análise proposta por Berman revela um sistema de deformações dos textos da
letra- presente nas traduções e a sua identificação mostra sobre quais pontos este sistema
(forças) age. Quando temos uma tradução etnocêntrica e hipertextual podemos encontrar
essas forças agindo livremente, “mas na realidade, todo tradutor está exposto a esse jogo
de forças e é ilusório pensar que poderia desfazer-se dessas forças tomando simplesmente
consciência delas”. (Ibid. p. 45)
38
A analítica de Berman só concerne às forças deformadoras realizadas na “prosa
literária”, por ser a área onde este autor tem mais experiência e por ser uma área pouco
estudada, até mesmo, negligenciada. Segundo o autor “a prosa literária se caracteriza pelo
fato de captar, condensar e mesclar todo o espaço polilingüístico de uma comunidade”
(Ibid. p. 46), diferentemente da poesia (belo estilo).
Berman parte do pressuposto de que a essência da prosa é justamente a rejeição da
“bela forma” e do “sentido” (pois a arborescência indefinida da sintaxe na grande prosa
cobre, mascara o sentido) e que é considerada inferior à poesia as deformações da
tradução são aqui melhor aceitas passando muitas vezes despercebidas.
2.2 Tendências deformadoras de uma tradução
Berman apresenta treze tendências que destroem a letra dos originais em favor do
“sentido” e da “bela forma” e assinala que talvez existam outras, e que umas convergem
ou derivam das outras. Essas tendências agem em toda tradução, seja ela em qual língua
for.
A primeira tendência deformadora é a racionalização, que faz alterações no
âmbito da estrutura sintática do original. O texto traduzido tem pontuação diferente, troca
verbos por substantivos, inverte a relação formal/informal, etc. deformando assim o
original ao inverter sua tendência de base (a concretude) e ao linearizar suas
arborescências sintáticas.
A segunda tendência é a clarificação e deriva da primeira deformação. Tem o
objetivo de tornar claro o que no original não está. A isso Berman se opõe, porque se algo
não está claro no original é porque não quer ser claro. A tradução não pode ser uma
paráfrase ou uma explicação do original e que acaba nos levando a mais uma tendência, o
alongamento.
O alongamento é na verdade uma conseqüência das duas primeiras deformações e
faz com que a tradução produza um texto maior do que o original.
39
O enobrecimento, quarta tendência, produz frases “elegantes” tendo o original
como matéria prima, transformando-o em “legível”, “brilhante” ou “encantador”
apagando, por exemplo, passagens em obras que retratam a oralidade de um povo e
impondo um estilo formal de falar.
A quinta tendência, o empobrecimento qualitativo, diz respeito à substituição de
termos, expressões, maneiras de dizer, etc. do original por termos, expressões, maneiras
de dizer que não têm a riqueza significante sonora e corporal do original.
O empobrecimento quantitativo é a sexta deformação apresentada por Berman e
diz respeito ao fato de que o tradutor não economiza no uso do léxico da obra traduzida,
por exemplo, traduzir uma mesma palavra que aparece várias vezes na obra original por
vários “equivalentes” na outra língua. Essa prática não traduz o texto na sua plenitude,
pelo contrário, empobrece-o, pois o deixa desprovido da riqueza. Mesmo que seja sempre
uma mesma palavra.
Como resultado das tendências anteriores temos a sétima tendência deformadora,
a homogeneização, que deixa na obra traduzida tudo num mesmo plano, mesmo quando
no original seja heterogêneo. Para Berman, apesar de esta tendência ser um agrupamento
das outras, ela deve ser considerada “como uma tendência em si, que mergulha
profundamente suas raízes no ser tradutor”. (Ibid. p. 55)
Todo texto tem seu ritmo, mesmo os textos em prosa, e é a partir do momento em
que há mudanças na pontuação, por exemplo, que se destrói o ritmo do texto. Isso resulta
na oitava tendência: a destruição dos ritmos.
Segundo Berman, toda obra possui por baixo de seu texto outro texto chamado de
“subjacente”, “onde certos significantes-chaves se correspondem e se encadeiam” (Ibid. p.
56). Essa rede de significantes também ritmo e significado à obra e é chamada por
Berman de destruição das redes significantes subjacentes.
A décima deformação é a destruição da sistemática, quando a destruição acontece
em nível de tipo de frases, de como as frases são construídas. Essa deformação é, na
40
verdade, uma conseqüência de outras deformações: racionalização, clarificação e
alongamento.
Segundo Berman a destruição ou a exotização das redes de linguagens
vernaculares, décima primeira deformação, é um aspecto essencial da tradução, pois
“toda grande prosa mantém relações estreitas com as línguas vernaculares” (Ibid. p. 58).
Essa destruição acontece quando há uma interseção de línguas que dificulta o trabalho do
tradutor. Se, ao traduzir, ele usar apenas uma língua, ele estará destruindo uma
característica da obra, destruindo o polilingüísmo. Uma das técnicas usadas por
tradutores é a de conservar a expressão vernácula, seja isolando a palavra entre aspas,
seja colocando-a em itálico, No entanto, essa técnica acaba por criar uma exoticidade que
não havia no texto original.
Berman afirma que “a prosa abunda em imagens, locuções, modos de dizer,
provérbios etc., que dizem respeito ao vernacular” (Ibid. p. 59) e que o uso de
equivalentes em uma tradução é um atentado contra a ‘falância’ da obra (é só lembrarmos
o exemplo dos provérbios citados anteriormente). Esse uso de equivalentes gera a décima
segunda deformação que é a destruição das locuções.
A última tendência deformadora é o apagamento das superposições de línguas:
dialetos e língua culta. Esta, não poucas vezes, é ameaçada pela tradução e muitas vezes
apagada.
Berman tenta mostrar que essas tendências, de uma forma indireta, formam o que
ele chama de letra’: a letra são todas as dimensões às quais o sistema de deformação
atinge(Ibid. p. 62). Com esse sistema, Berman mostra a forma tradicional de traduzir,
uma vez que a tradução ainda é regida por teorias que dão primazia ao sentido e que “a
tradução regida por estas forças e tendências é fundamentalmente iconoclasta” (Ibid. p.
62). Sendo assim, a tradução destrói a relação onde a letra “absorve” o sentido e impõe
uma relação inversa, “onde das ruínas da letra deslocada brota um sentido “mais puro””
(Ibid. p. 62).
41
Deixando bem claro que não uma receita do bem traduzir, não uma
metodologia, Berman sugere que só há uma forma de legitimar a ocorrência destas
deformações que é através da delimitação do objetivo do traduzir. Saindo daquele cânone
de que a “análise” é negativa, o autor propõe a analítica positiva na qual dois princípios
estão implicados: a definição do espaço de jogo da tradução e a definição do puro
objetivo da tradução.
Para haver uma metodologia de traduzir Berman afirma que é possível quando
se trata de um texto com transmissão de mensagens:
Um texto técnico (se for possível falar aqui de texto) é certamente uma mensagem visando a
transmitir de forma (relativamente) unívoca uma certa quantidade de informações; mas uma obra
não transmite nenhum tipo de informação, mesmo contendo algumas, ela abre para a experiência
de um mundo. É somente num nível de abstração muito elevado que se pode encontrar -lhes um
denominador comum, ao preço de amalgamar as mensagens com os textos. As mensagens,
certamente, dependem de uma metodologia; os textos absolutamente não. Não se trata aqui de
estabelecer uma hierarquia, mas de diferenciar definitivamente as áreas: um texto nunca é uma
mensagem, e vice-versa. Isto tampouco significa que as obras provêm de um puro artesanato
intuitivo. Suas traduções, ao contrário, exigem uma forte sistematicidade: mas sistema não é
método. Os princípios que regem a sistemática da tradução das obras dependem de um certo
objetivo, e esta tradução secomunicação se, a priori, ela se submeter a um imperativo mais
forte que toda comunicação. (Ibid. p. 64)
No caso da biografia temos um exemplo de uma forma condensada de sentido e
letra. Na tradução de uma biografia podemos fazê-lo de duas maneiras dependendo da
forma de traduzir: dando importância apenas ao sentido (narrativa dos fatos), gerando
outra obra, tendo como base os fatos narrados (pastiche). Ou podemos fazer da forma
inversa: identificando no texto as principais dificuldades e tentando solucioná-las a partir
da recusa de produzir deformações que Berman apresenta como sendo as principais
deformações encontradas numa tradução etnocêntrica. É dessa segunda forma que
escolhemos proceder.
Tendo os dois modos de traduzir expostos por Schleiermacher como apoio,
optamos pela primeira forma, de “deixar o escritor tranqüilo e fazer com que o leitor
ao seu encontro”. De alguma forma Madame de Staël também deixou claro em seu artigo
42
que essa é a forma de traduzir que ela preconiza. Além disso, temos a reflexão de Berman
e sua teoria das tendências deformadoras. Isso informará nosso projeto de tradução.
Como mencionamos anteriormente, traduzimos os três primeiros capítulos de
Madame de Staël : a study of her life and times, the first revolution and the first empire
de Abel Stevens e tentamos produzir um texto legível, mas com as particularidades e a
qualidade do texto fonte. Para exemplificar as particularidades do texto e a tradução
correspondente sugerida, ressaltaremos algumas deformações que recusamos cometer em
nossa tradução.
43
CAPÍTULO 3 TRADUÇÃO COMENTADA
3.1 Propostas de tradução
Algumas das tendências apontadas por Berman são derivadas de outras ou tendem
para um ponto comum. O autor, além disso, acrescenta que talvez existam outras mais. O
mais importante é que este sistema de destruição forma “um todo que desenha
indiretamente o que entendemos por letra: a letra são todas as dimensões às quais o
sistema de deformação atinge.” (Ibid. p. 62) Essas tendências fazem parte de um método
de análise de traduções literárias em prosa, normalmente etnocêntricas.
O autor destaca no início de seu livro A tradução e a Letra, que:
Não se trata aqui de teoria de nenhuma espécie. Mas sim de reflexão [...] Quero situar-me
inteiramente fora do quadro conceitual fornecido pela dupla da experiência e reflexão[...] (2007, p.
17)
Como dissemos, para Berman, “é somente delimitando o objetivo do traduzir
que as “receitas” anti-deformadoras podem fazer sentido” (Ibid. p. 63). Assim,
esclarecemos algumas decisões que foram tomadas ao longo da nossa tradução
3.1.1 Antes de traduzir
Todas as palavras e citações que aparecem em francês no original foram mantidas
em francês na tradução, como forma de preservar uma das características da obra: a
salon with works of art [… um salon com obras de arte…]; …that the beautiful and
spirituelle girl was often seen… […que a menina linda e spirituelle era freqüentemente
vista...]. Algumas vezes essas palavras em francês aparecem em itálico e outras vezes não.
Conservamos esse mesmo estilo em nossa tradução.
Os pronomes de tratamento, como Madame e Mademoiselle, Sir, Duc, Duchesse,
foram mantidos, diferente das “Memórias” traduzidas do francês para o português na
década de 40 (ver capítulo I, item 2.2), em que o tradutor optou por traduzir por Senhora
e Senhorita, etc.. Mantivemos estes pronomes para conservar a estrangeiridade própria da
obra de Stevens e acreditamos que, de certa forma, estes termos conduzem o leitor atual à
44
época de Stevens, que por sua vez conduz à época e ao local de Madame de Staël. Assim:
Madame de Staël was unquestionably one of the... [Madame de Staël foi sem dúvida uma
das...]; ...says Sir James Mackintosh... [...diz Sir James Mackintosh...]; ...especially by the
Duc de Choiseul […especialmente pelo Duc de Choiseul]. Nomes de lugares em francês
também decidimos não traduzir: Château de Necker [Château de Necker]. Os títulos de
obras também foram mantidos em francês: Mémoires [Mémoires]; Sur la Législation et le
Commerce des Grains [Sur la Législation et le Commerce des Grains].
Costa (1994, p. 09), afirma que o uso da pontuação de forma inadequada pode
mostrar as duas faces de uma moeda: o desrespeito às regras de pontuação pode expor a
mal-entendidos e arriscar a integridade do texto, mas ao mesmo tempo pode produzir
efeitos que servem para demonstrar a criatividade. É essa criatividade na pontuação que,
entre outras coisas, distingue, um texto literário de um não-literário. (Ibidem, p. 33)
O excesso de pontuação é uma marca que Stevens deu à sua obra. Ele faz uso de
muitas vírgulas e pontos. Para manter este aspecto mantivemos na tradução a pontuação
do original.
Buffon and Thomas were, in his estimation, authorities too absolute, with her, in literary matters
[…] (p. 26)
[Buffon e Thomas foram, na opinião dele, autoridades muito absolutas, com ela, em questões
literárias]
It was in such times, amidst the intellectual provocations, and moral perils, of the salon life of
Paris, and the alarming presages of the Revolution, that Madame de Staël spent her girlhood and
received her education. (p. 31)
[Foi nessa época, entre as provocações intelectuais, e perigos morais, da vida de salon de Paris, e
os presságios alarmantes da Revolução, que Madame de Staël passou a sua juventude e recebeu a
sua educação.]
Na obra de Stevens encontramos parágrafos relativamente longos e na tradução
mantivemos a forma de apresentação do original.
Mesmo não sendo uma teoria, nem um método, podemos usar as deformações
enumeradas por Berman como um guia de reflexão sobre a nossa tradução.
45
3.1.2 Traduzindo o Understatement
Preservar o estilo de uma obra a ser traduzida é fundamental. Segundo Cegalla
Todo escritor tem seu estilo próprio, isto é, sua expressão reveste uma forma característica, através
da qual se manifestam seus impulsos emotivos, sua sensibilidade e a feição peculiar de seu espírito.
Podemos, pois, afirmar que o estilo é o espelho onde se reflete a alma do escritor, a tela em que se
projeta a personalidade do artista. (Cegalla, 1988, p. 536)
No capítulo I, item 2.1, foram apresentadas algumas características do estilo de
Stevens, características essas que não revelaram ser de grande dificuldade para o
processo tradutório. Porém, um aspecto marcante e problemático para a tradução da obra
de Stevens será apresentado a seguir.
Berman fala da destruição das locuções: A prosa abunda em imagens, locuções,
modos de dizer, provérbios etc., que dizem respeito ao vernacular.”
(Berman, 2007, p.
59). O uso de equivalentes na tradução estaria então destruindo o estilo ou a letra do texto,
pois além das características individuais que cada autor tem, “o estilo revela também os
traços psicológicos da raça e as tendências dominantes das diversas escolas e correntes
literárias que marcaram época através dos tempos” (Cegalla, 1988, p. 536). À reflexão de
Cegalla podemos acrescentar a marca de certas culturas no seu modo de falar.
Um dos “modos de dizer” muito freqüentes em inglês é a figura de linguagem
chamada understatement. Este modo de falar tipicamente anglo-saxão faz as coisas
parecerem menores ou terem menos importância do que na realidade têm. Também é
usada para entreter ou reduzir a importância da verdade e é empregada normalmente com
uma negativa. O Dicionário Collins define o verbo understate da seguinte maneira:
1. to state (something) in restrained terms, often to obtain an ironic effect.
2. to state that (something, such as a number) is less than it is.
Segundo Rishel (2002, p. 50) esta figura de linguagem é uma marca de humor em
culturas anglo-saxônicas. O autor acrescenta ainda que o understating é mais difícil de
escrever do que o overstating [exagero]”
42
.
42
Understating is more difficult to write than overstating (p. 50)
46
Uma vez que Abel Stevens emprega em grande abundância o understatement na
sua biografia, ao traduzir muitas dificuldades foram encontradas para conseguirmos
reproduzir esta figura de linguagem. Vejamos alguns exemplos:
Her greatest fault was perhaps her moral rigour; the forbearance which she needed not
herself, she was slow to accord to feebler characters. (p. 17) (grifo nosso) [Seu principal
defeito era talvez seu rigor moral; a tolerância que ela não precisava pra ela mesma, ela
demorava em entrar em sintonia com personalidades fracas.]
She spoke not a word, but seemed to share in all the discussions by the vivid and
varying expression of her features. (p. 39) (grifo nosso) [Ela não disse uma palavra, mas
parecia compartilhar em todas as discussões pela vívida e variadas expressões de suas
feições.]
Nos casos acima, ainda foi possível manter o understatement. Nos casos a seguir,
esta empreitada foi muito mais difícil.
Nothing but her native vivacity ... (p. 42) (grifo nosso) [Apenas a sua vivacidade
natural ...]
During five years he had administered the finances with a success unapproached by his
predecessors for years. (p. 44) (grifo nosso) [Durante cinco anos ele havia administrado
as finanças com um êxito que seus predecessores durante anos nem perto chegaram.]
His position in the court was hardly tolerable; (p.45) (grifo nosso) [Sua posição na corte
era quase intolerável;]
Dentre as diversas formas de understatement destaca-se a litotes. Segundo o
Dicionário de Termos Literários de Massaud Moisés(1988. p. 315), litotes é uma “figura
de linguagem próxima da ironia, consiste em afirmar o positivo pelo negativo, ou seja,
em sugerir o grau positivo de uma idéia pela negativa do contrário”. Na linguagem
coloquial do português encontramos também exemplos de litotes, como: nada mal (do
inglês not bad), não muito, não raro, etc. O Dicionário Collins define litotes da seguinte
maneira: understatement for rhetorical effect, esp. when achieved by using negation
with a term in place of using an antonym of that term, as in “She was not a little upset”
for “She was extremely upset.””
No que diz respeito a esta figura de linguagem, algumas vezes conseguimos fazer
uso de uma litotes em português e outras vezes não. No exemplo a seguir encontramos
uma litotes:
47
Guide books are eagerly consulted, and it is seldom that groups of travellers do not leave the
boat to pay their homage at this shrine of the genius of the greatest woman in literary history. (p.
01) (grifo nosso)
Se o nosso objetivo fosse apenas nos preocuparmos com o sentido e não com a
forma poderíamos ter traduzido assim:
[Guias de viagem são ansiosamente consultados, e é comum grupos de viajantes deixarem o
barco para prestar suas homenagens a este santuário do gênio da maior mulher na história
literária.]
Como “servir-se de equivalência é atentar contra a falância da obra. As
equivalências de uma locução ou de um provérbio não os substituem” (Berman, 2007, p.
60), traduzimos desta forma:
[Guias de viagem são ansiosamente consultados, acontece poucas vezes que os viajantes não
saem do barco para prestar suas homenagens a este santuário do gênio da maior mulher na
história literária.]
A mesma figura de linguagem aparece também nos dois exemplos abaixo e neste
caso conseguimos traduzir a litotes do inglês por uma litotes em português.
Not a few of the higher classes, (p. 49) (grifo nosso) [Não poucos das mais altas classes,]
He habitually corrected her faults by a gentle raillery which was not without its charm; no
exaggeration, no inaptitude of any kind escaped his attention. (p. 54) (grifo nosso) [Ele habitualmente
corrigia os erros dela com uma doce repreensão que não deixava de ter seu encanto; nenhum exagero,
nenhuma inaptidão de qualquer espécie escapava a sua atenção.]
The interior of the mansion still retains, intact, not a few mementoes of its celebrated mistress, objects
of eager interest to innumerable pilgrims, (p. 02) (grifo nosso) [O interior da mansão ainda mantém,
intactas, o poucas lembranças de sua famosa proprietária, objetos de grande interesse para
inúmeros peregrinos,]
There is genuine pathos in some of the scenes, and not a few passages are written with an energy of
thought and feeling unsurpassed in her later writings. (p.69) (grifo nosso)[Há compaixão genuína em
algumas cenas, e não poucas passagens são escritas com uma energia de pensamento e sentimento não
superados nos seus escritos posteriores.]
Diferentemente dos casos anteriormente citados que não soam tão estranho em
português, os exemplos a seguir mostram a estranheza que aparece na frase traduzida.
Para a sua compreensão é necessária certa “ginástica mental”.
His little essay on ‘Le Bonheur des Sots’ is not unworthy of La Bruyère; it amused his generation,
and showed that, beneath his habitual gravity, there was a living source of humour. (p. 09) (grifo nosso)
[Seu pequeno ensaio sobre ‘Le Bonheur des Sots’ não é indigno de La Bruyère; divertiu sua geração, e
mostrou que, apesar de sua seriedade habitual, havia uma viva fonte de humor.]
48
Her mother was hardly less remarkable than her father, for qualities rare among her sex in that day. (p.
12) (grifo nosso) [Sua mãe era dificilmente menos notável que seu pai, porque tinha qualidades que
eram bastante raras entre as mulheres daquela época.]
Uma outra forma de litotes freqüente aparece com uma negativa (not, hardly, etc)
acompanhada do verbo fail, semanticamente negativo. Em inglês, quando o verbo fail
aparece numa forma afirmativa + um verbo no infinitivo, temos como resultado uma
sentença negativa. Assim, to fail to keep a promise significa não cumprir uma
promessa. Stevens emprega o verbo fail, porém, de forma que a sentença tenha um
resultado positivo, já que uma negativa + fail + um verbo no infinitivo tem como
resultado uma sentença afirmativa. Vejamos alguns exemplos de frases empregadas por
Stevens em sua obra:
and in the performances and criticism of the ‘domestic theatricals,’ could not fail to prompt her
faculties beyond their normal and healthful growth. (p. 42) (grifo nosso)
Na tradução desta frase conseguimos manter a litotes usando a negativa “não” +
verbo transitivo indireto “deixar de” que também tem carga semântica negativa:
[não poderiam deixar de estimular sua inteligência além do seu crescimento normal e saudável.]
A mesma fórmula foi aplicada nas duas frases seguintes:
She could not, however, fail to be surprised at her continued and wonderful intellectual growth, (p.
58) (grifo nosso) [Ela não poderia, contudo, deixar de se surpreender de seu crescimento intelectual
contínuo e maravilhoso,]
Surrounded by his ‘little court’ of admirers and co-workers, he received his guests at Montbard with
ceremonious attentions, which could not fail to prove irksome to the young girl whom he had gaily
flattered at her home in Paris, (p. 60) (grifo nosso) [Rodeado pela sua ‘pequena corte’ de admiradores
e colaboradores, ele recebeu seus hóspedes em Montbard com atenções cerimoniosas, que não
poderiam deixar de enfadar a jovem menina que ele havia lisonjeado alegremente na casa dela em
Paris,]
No próximo exemplo Stevens usa o verbo fail antecedido de hardly, sendo então
um advérbio com carga semântica negativa + fail + infinitivo:
Meanwhile the aspiring girl could hardly fail to learn important precepts, (p. 61) (grifo nosso)
Para a tradução mantivemos a mesma fórmula de Stevens:
[Entretanto a jovem ambiciosa dificilmente deixaria de aprender preceitos importantes ]
49
No exemplo a seguir Stevens empregou a mesma fórmula de uso do verbo fail
(not +fail+ infinitivo), porém o advérbio even aparece anteriormente e achamos melhor,
neste caso, não empregar a fórmula usada anteriormente, para dar mais fluidez a texto,
sem, contudo, deixar de usar a litotes:
After the death of her mother, she continued to teach for her living; but her life of toil was
consoled by the intimacy and admiration of many eminent characters, particularly by the dearest
friendship of her youth, with Moulton, a clergyman of Geneva, whom even Voltaire could not
fail to reverence, and of whom she wrote an enthusiastic eulogy or ‘Portrait.’ (p. 18) (grifo nosso)
[Após a morte de sua mãe, ela continuou a lecionar para sua sobrevivência; mas a sua vida de
labuta árdua era consolada pela amizade íntima e admiração de muitos personagens famosos,
particularmente pela amizade mais querida de sua juventude, com Moulton, um clérigo de
Genebra, quem nem sequer Voltaire poderia deixar de reverenciar, e de quem ela escreveu um
entusiasmado tributo ou ‘Portrait.]
O que tentamos aqui foi mostrar que, ao identificarmos essa figura de linguagem
recorrente no texto de Abel Stevens, conseguimos manter as locuções que Berman aponta
como passíveis de destruir o texto original no processo tradutório. Conseqüentemente
evitamos um empobrecimento qualitativo e quantitativo. O empobrecimento quantitativo
é uma das deformações elencadas por Berman (a sexta na nossa lista), e é a que acaba,
segundo o autor, deixando o texto desprovido de uma das riquezas que originalmente
continha. Se houvéssemos substituído em português o understatement de Stevens por
uma frase afirmativa estaríamos destruindo uma das características essências do texto:
sua anglo-saxonicidade ou englishness.
3.1.3 Outros aspectos da tradução
Como vimos, outra deformação apresentada por Berman é a clarificação e esta
tem o objetivo de explicar o que no original é deixado ambíguo ou pouco claro. A
tradução, segundo Berman, não pode ser uma paráfrase ou uma explicação do original,
com informações que estão implícitas sendo acrescentadas, seja no corpo do texto,seja
em notas de rodapé ou glossários.
A obra de Abel Stevens abunda em referências (por se tratar também de um
estudo sobre a época) que poderiam nos levar a clarificá-las. Porém, como resultado
teríamos um trabalho de investigação derivado do trabalho de Stevens, e não uma
tradução. No exemplo a seguir podemos ter uma idéia da forma pela que optamos:
50
From its open northern side extends a simple picture of landscape beauty, designed more by nature
than art: a combined English garden and park.] (p. 02) (grifo nosso)
Hassenpflug (2007) em artigo publicado no Portal Vitruvius
43
(especializado em
arquitetura, urbanismo, arte e cultura) comenta que o revolucionário urbanista Claude
Nicholas Ledoux foi responsável pela implantação de cidades jardins de acordo com os
ideais da Revolução Francesa, antes mesmo desta ter iniciado. Inspirado pelas idéias de
Jean-Jaques Rousseau, o jardineiro revolucionário decidiu transformar a França inteira
em um jardim inglês:
A idéia era sobre igualdade de justiça social e beleza: uma boa sociedade com uma boa
constituição que garante direitos iguais para todos, justiça, liberdade de palavra, etc. se expressam
em um paraíso como a paisagem republicana. O jardim inglês era considerado como a
representação espacial ideal da república burguesa.
44
Este projeto falhou desde o princípio, pois era grande demais para a França,
“assim como para uma sociedade de poderes sociais heterogêneos e díspares.”
45
Diferenciando-se do estilo barroco e formal francês, um jardim inglês é irregular
com caminhos tortuosos e vegetação aparentemente não domesticada, para dar uma
impressão de naturalidade. Os declives e acidentes do terreno são conservados e
permeados por arbustos, matos e elementos arquitetônicos como estátuas, bancos, etc. Os
caminhos não são assinalados, pois o objetivo de um jardim inglês é a surpresa de se
descobrir o que existe. Apresenta ainda elementos românticos como um tanque de
peixes com uma ponte ou um moinho.
Em sua narrativa Stevens descreve esse jardim inglês:
[com relva, moitas de arbustos floridos, e árvores majestosas; um riacho cristalino (fluindo do Jura
abaixo) de um lado; um tanque de peixes no centro; e caminhos de pedregulhos, com bancos de
pedras, entre as árvores.]
46
43
http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq085/arq085_00.asp
44
Ibid.
45
Ibid.
46
with sward, clumps of flowering shrubs, and stately trees; a crystal brook (flowing down from the Jura)
on one side; a fish-pond in the centre; and gravelled walks, with stone seats, winding among the trees. (p.
02)
51
Mas Stevens não comenta a sua simbologia, pois essa disposição irregular, oposta
à ordem do jardim francês, encaixa-o como um símbolo de liberdade que remete
necessariamente à Revolução Francesa.
Tal elemento empregado por Stevens, jardim inglês, não foi colocado
aleatoriamente no início de sua narrativa. Ele indica a posição política da família
Necker. Talvez o leitor daquela época até estivesse familiarizado com este termo e essa
simbologia e realmente não precisasse de maiores explicações. Porém, ao se deparar com
este elemento um leitor atual deverá pesquisá-lo para que uma série de acontecimentos
estejam devidamente compreensíveis no decorrer da narrativa de Stevens. Isso, no caso
dele se dar conta da mensagem oculta contida na referência ao jardim. O autor não
explicou essa simbologia e nós optamos por também não explicá-la. A tradução ficou
simplesmente:
[Pelo lado norte aberto se estende uma simples imagem da bela paisagem, desenhada mais pela
natureza do que pela arte: uma combinação de jardim inglês e parque.] (grifo nosso)
A decisão não deixa de ser controversa. Mantemos aqui o texto na sua riqueza
original, ou empobrecemo-lo ao não acrescentar informações das quais um
contemporâneo de Stevens disporia sem ter que pesquisar?
No caso do exemplo que apresentaremos a seguir, foi necessário fazer uma
pesquisa para que o termo carry off pudesse ser traduzido adequadamente:
years later she said that Richardson’s description of the carrying off of Clarissa made an epoch in
her young life.” (p. 43) (grifo nosso)
De acordo com os dicionários Michaelis e Collins Lexibase Pro o termo carry off
tem três acepções, sendo que a primeira é “ter sucesso em”, a segunda “ganhar/arrebatar
prêmios”, e a terceira “matar, causar a morte de”. Não sabendo do contexto, o uso de
qualquer uma das três acepções dadas pelos dicionários faria sentido sintática e
semanticamente em português. Usando as acepções pesquisadas, teríamos então
traduções como:
[anos depois ela disse que a descrição de Richardson do sucesso de Clarissa marcou época na sua
juventude.]
52
[anos depois ela disse que a descrição de Richardson do arrebatamento de prêmios de Clarissa
marcou época na sua juventude.]
[anos depois ela disse que a descrição de Richardson da morte de Clarissa marcou época na sua
juventude.]
Porém, apenas uma das três frases está correta e podemos saber que a tradução
de carry off, se soubermos que a história escrita em 1748 por Samuel Richardson
Clarissa, or, the History of a Young Lady, conta a história trágica de uma heroína cuja
família tenta forçá-la a casar com quem ela não quer para que assim a família possa entrar
para a aristocracia. A heroína morre no final da história. Neste caso a pesquisa (ou o
conhecimento geral do tradutor) é de importância fundamental para que se tenha uma
tradução com qualidade como resultado.
Ou seja, neste último caso o tradutor terá que fazer um trabalho de pesquisa
relativamente extenso para poder traduzir bem. ‘Traduzir bem’, neste caso, significa
‘clarificar’ o texto introduzindo os resultados de uma pesquisa que não está explícita.
Será que pecamos aqui contra os preceitos de Berman? Uma informação que não estava
no texto, ou estava lá de maneira turva, foi de certa forma explicitada pela tradutora.
3.2 Traduzindo Aspectos Religiosos
No capítulo I, item 1.2, mostramos um pouco da vida de Abel Stevens e a
provável conexão que o fez escrever uma obra de dois volumes sobre Madame de Staël,
totalizando cerca de 740 páginas. A hipótese que nos leva a tal vínculo diz respeito a
ambos pertencerem ao Protestantismo.
Sendo a Suíça o berço de uma das correntes mais importantes do Protestantismo,
Stevens não poderia deixar de se referir a este fato, ainda que superficialmente:
[Cruzando as montanhas Jura (o limite geográfico, embora não político da França), a primeira
paisagem da terra gloriosa estende-se e radia abaixo do seu olhar atento – O Lago Leman
brilhando ao sol solstício de verão; os declives do Jura, formando terraços com vinhedos, e
cravejado com vilas prósperas; Lausana, de um lado, com a sua antiga catedral; Genebra, no outro,
com as torres cinzentas de St. Peter, de onde haviam saído influências ainda dominantes no
pensamento de toda a Cristandade Protestante.]
47
47
Crossing the Jura mountains (the geographical, though not the political boundary of France), the first
picture of the glorious land lay extended and radiant beneath her gaze - Lake Leman flashing in the
53
Stevens também ressalta a beleza exuberante da paisagem como resultado do
esmero de Deus:
[E mesmo assim esta terra poética é o próprio templo de Deus para ela, ‘natureza luxuriante,
montanhas verdes e povoadas, seus topos tocando o céu, um grande lago se deleitando aos olhos,
cenas sobre as quais o olhar atento de alguém pode vagar com êxtase. Parece que Deus se
interessou por aqui mais do que qualquer outro lugar para as suas criações, obrigando-os a elevar
seus pensamentos a Ele sem cessar.’]
48
Este fator, inicialmente, não nos chamou muito a atenção, mas ao longo da
tradução percebemos o valor dado por Stevens aos valores éticos e morais da sociedade
da época. Greggersen (2004) analisando a obra de C. S. Lewis apresenta o conceito de
ética de acordo com este autor:
Ao invés de falar em “ética”, no sentido teórico, Lewis discute, de forma prática, o que chama de
“Lei da natureza humana”, “Lei Moral” ou “regra do comportamento humano”: o conjunto de
valores que nos faz decidir sobre o certo e o errado. O pressuposto básico da reflexão sobre “Deus
e o mundo” pretendida por Lewis é que todos sabem que devem ou não agir de determinadas
formas e evitar outras, mas desgraçadamente não conseguem seguir estes princípios sicos
plenamente.
49
É desta forma que Stevens apresenta a postura da família Necker diante da
depravação que reinava na época antes da Revolução. No trecho abaixo, Stevens conta
sobre o casal Necker e sua posição perante a corte de Louis XV. Ele apresenta também
um tipo de diálogo irônico entre ele mesmo e as pessoas da época, sem apontar
explicitamente com quem ele está falando. Mas mesmo assim conseguimos identificar
essas diferentes vozes pela sua entonação, ironia e revolta no final deste trecho da
narrativa. Aqui Stevens escreve sobre Madame Necker:
[Ela não havia freqüentado a Corte, embora recebesse algumas senhoras da Corte no seu salon; a
corrupção que ainda se estendia do Governo e do reino de Louis XV sobre os arredores reais era
razão suficiente para mantê-la afastada, embora Louis XVI houvesse solicitado sua presença, e
Necker mencionou apenas a sua fraca saúde como razão de sua ausência. Ela aparecia agora, como
ele, como uma verdadeira amiga do povo entre a imensidão de membros da corte e os saqueadores
midsummer sun; the declivities of the Jura, terraced with vineyards, and studded with thriving hamlets;
Lausanne, on the one hand, with its ancient cathedral; Geneva, on the other, with the grey towers of St.
Peter’s, whence had gone forth influences still dominant in the thought of all Protestant Christendom.
(p.62)
48
And yet this poetic land is God’s own temple to her, ‘luxuriant nature, mountains green and peopled,
their tops touching the sky, a grand lake regaling the eye, scenes upon which one’s gaze may wander with
rapture. It seems that God has interested himself here more than elsewhere for his creatures, obliging them
to lift up their thoughts to himself without ceasing.’ (p. 64)
49
http://www.hottopos.com/mirand15/gabriele.htm
54
oficiais dos recursos públicos. Eles estavam ultrajados. Que direito tinha esse estrangeiro não
intitulado, este herético Protestante, a invadir suas casas luxuosas, e reduzir seus proventos? Que
desgraça nacional que essa ‘professorinha suíça’ (assim chamavam sua esposa) poderia apoiar sua
cabeça pedante, preeminente acima da aristocracia, moças desregradas da corte, as filhas das
velhas famílias nobres da França? Mimados, parasitas enrabixados do poder, eles não sabiam que
eles recusavam a única ajuda que poderia aliviar o seu destino próximo - um destino que logo os
varreu do seu país e sacudiu todo o mundo civil e eclesiástico da Europa até as suas fundações.]
50
Apesar da animosidade entre católicos e protestantes e da época, a família Necker
tinha amigos católicos com que mantinha uma relação amistosa. É o caso do filósofo
Voltaire, de quem Stevens não deixa de comentar a opinião diferente em termos de
religião. Esta diferença não atrapalhava a amizade deste filósofo com a família, por este
primeiro ter iniciado uma campanha para tirar Jean Calas da prisão. Calas era um
mercador francês que foi acusado de professar a protestante e de matar seu filho que
havia se convertido ao catolicismo. Calas foi morto apesar das tentativas de Voltaire de
libertá-lo. Ele foi, aliás. declarado inocente postumamente. Foi este processo levou
Voltaire a escrever seu Tratado Sobre a Tolerância.
51
Stevens reconhece o
comprometimento de Voltaire como mostra no trecho a seguir:
O filósofo Bonstetten (amigo por toda a vida de Madame de Staël, e um convidado habitual na
pequena corte de Coppet) era um de seus admiradores ardentes, e, na velhice dele, relembra os
agradáveis passeios que ele fez, todos os sábados, com ela e Moulton, pela vizinhança do Castelo
de Voltaire em Ferney. O ‘Patriarca de Ferney’ não poderia deixar de admirar as habilidades
intelectuais dela, apesar das diferenças religiosas, e era seu lisonjeiro correspondente pelo resto da
vida dele. A valente luta de Voltaire pela tolerância, alongada por [19] muitos anos, nos famosos
casos de das famílias Protestantes de Calas e Sirven, e de escravos Protestantes dos barcos,
ganhavam dele o interesse, se não a afeição, geralmente dos Protestantes Suíços e Franceses,
apesar da profunda repugnância deles aos escritos anticristão dele. Moulton esteve lado a lado com
ele, seu assistente mais ativo, durante aquela prolongada discussão que movia toda a Europa; e
50
Necker proudly alluded to his wife’s good work in hospital reform. She had not frequented the Court,
though she received some of the courtly ladies at her salon; the depravity which still lingered from the
Regency and from the reign of Louis XV. about the royal precincts was a sufficient reason to keep her
away, though Louis XVI. had solicited her presence, and Necker had mentioned only her feeble health as
the reason of her absence. She appeared now, like himself, as a true friend of the people amidst the
immense crew of courtly and official depredators on the public resources. They were outraged. What right
had this untitled foreigner, this Protestant heretic, to invade their luxurious places, and abridge their
revenues? What a national disgrace that this ‘Swiss schoolmistress(for so they called his wife) should be
able to hold up her pedantic head, pre-eminent above the aristocratic, free-living ladies of the court, the
daughters of the old noble families of France? Pampered, infatuated parasites of power, they knew not that
they were refusing the only help which could mitigate their coming fate - a fate which was soon to sweep
them from the face of their country and shake to its foundations the whole civil and ecclesiastical world of
Europe. (p. 47)
51
Voltaire. Oeuvres complètes de Voltaire: avec des remarques et des notes historiques, scientifiques et
littéraires. A. Sautelet : Verdière, 1828. livro on-line in http://books.google.com.br/
55
Necker e sua esposa sabiam dos serviços beneficentes do ‘Patriarca’ durante uma amizade ao
longo suas vidas. (p. 18)
52
Stevens nos mostra ainda que a visão de mundo da família Necker é um reflexo
da visão do protestantismo, em que existe uma grande vontade de servir a Deus e ao
próximo,
Na noite antes da sua resignação ele acompanhou ela e sua mãe ao hospital de Madame Necker na
paróquia de St. Sulpice. ‘Ele tinha o hábito de ir a este asilo,’ ela escreve, ‘para tomar nova
coragem contra as cruéis dificuldades da sua situação. As Irmãs de Caridade, que estavam
encarregadas do lugar, amavam ele e Madame Necker, apesar de serem Protestantes, e davam as
boas-vindas a eles agora com flores e o canto de versos dos Salmos, a única poesia que elas
conheciam. Elas os chamavam de seus próprios benfeitores, porque eles socorriam os pobres. (p.
48)
53
Muitos outros exemplos da importância da religiosidade na vida da família
Necker, mais precisamente na vida de Madame de Stäel, foram destacados por Stevens ao
longo de sua narrativa. Todos os aspectos religiosos permaneceram inalterados em nossa
tradução assim como a linguagem elaborada para elogiá-la.
52
The philosopher Bonstetten (the life-long friend of Madame de Staël, and an habitual guest at the little
court of Coppet) was one of her ardent admirers, and, in his old age, records the pleasant excursions which
he made, on every Saturday, with her and Moulton, to Voltaire’s neighbouring Château de Ferney. The
‘Patriarch of Ferney’ could not but admire her intellectual accomplishments, notwithstanding their religious
differences, and was her flattering correspondent through the remainder of his life. Voltaire’s brave fights
for toleration, extending through many years, in the famous cases of the Protestant families of Calas and
Sirven, and of the Protestant galley slaves, commanded for him the interest, if not the affection, of the
Swiss and French Protestants generally, in spite of their profound repugnance to his anti-Christian writings.
Moulton stood side by side with him, his most effective assistant, throughout those prolonged contests
which moved all Europe; and Necker and his wife acknowledged the beneficent services of the ‘Patriarch’
through a life-long friendship. (p.18)
53
The evening before his resignation he accompanied her and her mother to the hospital of Madame
Necker in the parish of St. Sulpice. ‘He was in the habit of going to this asylum,’ she writes, ‘to take fresh
courage against the cruel difficulties of his situation. The Sisters of Charity, who had charge of the place,
loved him and Madame Necker, notwithstanding they were Protestants, and welcomed them now with
flowers and the chanting of verses from the Psalms, the only poetry they knew. They called them their own
benefactors, because they succoured the poor. (p. 48)
56
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta dissertação objetivou, em primeiro lugar, apresentar a biografia de Madame
de Staël por Abel Stevens. Em segundo lugar, propusemos uma tradução de parte desta
obra com comentários sobre o processo tradutório. No primeiro capítulo apresentamos a
vida e a obra de Madame de Staël e do seu biógrafo Abel Stevens. Ainda no primeiro
capítulo apresentamos a teoria da biografia segundo Sérgio Vilas-Boas e Felipe Pena.
Fizemos também uma análise de Madame de Staël. A study of her Life and Times, a
biografia escrita por Stevens.
A reflexão teórica de Antoine Berman e a sua proposta para a identificação das
principais tendências deformadoras que aparecem em uma tradução foram apresentadas
no capítulo dois e serviram para nortear a nossa proposta de tradução.
No capítulo três apresentamos as principais decisões tomadas antes de iniciar o
processo tradutório e as principais dificuldades encontradas na tradução.
No que se refere aos comentários feitos sobre a tradução, lembramos os principais.
Ao traduzir os três primeiros capítulos da obra tivemos sempre foco em manter o nível de
linguagem e os elementos estrangeiros ao inglês. Sendo assim, a proposta de Berman de
que não devemos deformar as “estranhezas” lexicais e sintáticas de um texto ao traduzi-lo,
foi seguida com criterioso cuidado. Sem dúvida a característica mais marcante da
narrativa de Stevens é o Understatement. Ele aparece com grande freqüência na biografia,
sendo típico, não do autor, mas da cultura inteira da qual ele se originou. O
Understatement é típico do inglês e atípico em português. Sua preservação foi, portanto,
uma aplicação certeira das teorias de Berman que nortearam este estudo. A identificação
de zonas de risco para o aparecimento de deformações e as soluções encontradas também
fazem parte da análise do processo tradutório.
Finalizando nossa análise, apontamos para um fator marcante na obra de Stevens.
Trata-se dos aspectos religiosos que o autor enaltece em sua biografada e sua família.
57
Podemos nos perguntar por que um pastor metodista se sentiu atraído por uma escritora
suíça a ponto de lhe dedicar uma biografia. Encontramos um começo de resposta na
religião comum dos dois, único elo que os reunia. Esta comunidade de idéias religiosas
pode explicar o entusiasmo do autor pela biografada. Entusiasmo este que se expressa na
linguagem não poucas vezes hiperbolicamente elogiosa, que traduzimos o melhor
possível.
58
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IV Congresso ABRALIC, SP: 1994, p. 687-689
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59
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STEVENS, Abel. Madame de Staël: A study of her life and times. New York: Harper &
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http://books.google.com.br/
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Sites Consultados:
Breve resumo da vida de Abel Stevens: www.bautz.de/bbk (último acesso em 27/06/2007)
Site da Biblioteca da Universidade de Sorbonne Nouvelle – França: http://bucensier.univ-
paris3.fr/
The Dictionary of Unitarian and Universalist Biography:
http://www.uua.org/uuhs/duub/index.html
Livros online: http://books.google.com.br/books
61
Revista eletrônica Texto Vivo da Academia Brasileira de Jornalismo – Narrativas da vida
real: http://www.textovivo.com.br/svbtt04.htm (último acesso em 25/09/07)
Metodismo: http://www.metodista.org.br/
The New York Times: http://www.nytimes.com (último acesso em 13 de novembro de
2008).
Sobre histórias em quadrinhos: http://www.universohq.com/quadrinhos/2005/n28102005_04.cfm -
último acesso em 24/10/08
Classificação Decimal Universal: http://www.bib.ualg.pt/bibliotecas/cdu.htm
Using English: http://www.usingenglish.com/
The American Heritage New Dictionary of Cultural Literacy, Third Edition. Houghton
Mifflin Company, 2005. http://dictionary.reference.com (último acesso em 08 de
novembro de 2008).
62
Anexos
Anexo I - Biografias de Madame de Staël publicadas após 1882
Biografias de Madame de Staël publicadas após 1882 segundo o catálogo de obras sobre
Madame de Staël da Université de Paris III - Sorbonne Nouvelle (
http://bucensier.univ-
paris3.fr/):
1889 - Lady Charlotte Julia von Leyden Blennerhassett - biografia em três volumes:
Madame de Staël : her friends and her influence in politics and literature.
1890 - Albert Sorel - Mme de Staël.
1911 - Johannes Wickman - Mme de Staël och Sverige; bidrag till Madame de Staëls
biografi hufvudsakligen efter hittills otryckta originalhandskrifter.
1912 - C. Lecigne - Madame de Staël.
1916 - Pierre Kohler - Mme de Staël et la Suisse, étude biographique et littéraire.
1924 e 1931 - David Glass Larg - estudo biográfico em duas partes, primeiro Madame de
Staël: la vie dans l’oeuvre (1766-1800) e Madame de Staël: la seconde vie (1800-1807).
A primeira parte é publicada em 1924 e a segunda em 1928, ambas em Paris.
1931 - Marie Louise Pailleron - Madame de Staël.
1935 - Camilo Angel Villegas - La baronesa de Staël (Colômbia).
1949 - Frédéric Charles Lonchamp - L'oeuvre imprimée de Madame Germaine de Staël:
description bibliographique raisonnée et annotée de tous les ouvrages publiés par ses
soins ou ceux de ses héritiers (1786-1821).
63
1958 - André Lang - Une vie d'orages: Germaine de Staël.
1958 - J. Christopher Herold - Mistress to an Age – A life of Madame de Staël
1960 - Béatrix d'Andlau - Madame de Staël.
1964- Wayne Andrews - Germaine : a portrait of Madame de Staël - Londres.
1968 - Helen Belle Posgate - Madame de Staël.
1977 - Natacha Molina - Madame de Staël.
1980 - Corinne Pulver - Madame de Staël: Biographie.
1985 - Renée Winegarten - Madame de Staël.
2005 - Maria Fairweather - Madame de Staël.
64
Anexo II – Iconografia
Germaine Necker com 14 anos (Sanguínea de Carmontelle)
Germaine Necker – retrato de Jean-Baptiste Isabey, 1810; Louvre, Paris
65
Madame de Stael – óleo sobre tela de François Gérard
66
Jacques Necker – Óleo sobre tela de Jean-Silfred Duplessis
Susana Curchod (Madame Necker) – Óleo sobre tela de Jean-Sifred Duplessis
67
Abel Stevens
Eric-Magnus - Barão de Staël-Holstein – Primeiro Marido de Madame de Staël.
68
Madame Necker de Saussure
Château de Coppet na época de Madame de Staël
69
Château de Coppet atualmente
Sala no Château de Coppet descrita por Stevens no início de sua narrativa.
70
Sala do Château de Coppet onde estão os retratos da família Necker
Quarto de Madame de Staël
71
Albert-Jean-Michel, conhecido como John Rocca - Segundo marido de Madame de Staël
Benjamin Constant
72
Albertine de Staël, duchesse de Broglie – filha de Madame de Staël.
Auguste de Staël – filho de Madame de Staël.
73
Anexo III - Texto original em Inglês
74
MADAME DE STAËL
A study of her Life and Times
By Abel Stevens
[1] CHAPTER I
INTRODUCTION — PARENTAGE.
Coppet - Cteau de Necker - Madame de Stl - The Necker Family - James Necker - The Mother of Madame de
Stl - Gibbon's Love - Character and Writings of Madame Necker - Moultou - Bonstetten - Voltaire - Salons of Paris
- Madame Necker's Salon - Madame du Deffand - Marmontel - Madame Necker and Madame Roland.
The tourist in Switzerland, passing on Lake Leman from Lausanne to Geneva,
sees on the north-western shore a small village, nearly all the habitations of which seem
clinging to a central stately structure: it is famous as the hamlet of Coppet, and the parent
edifice is the Château de Necker, the ‘home of Madame de Staël.’ As the steamer
approaches the pier, all eyes, of educated foreigners at least, are turned from the sublimer
scenery of the opposite shore to gaze on the memorable site. Guide books are eagerly
consulted, and it is seldom that groups of travellers do not leave the boat to pay their
homage at this shrine of the genius of the greatest woman in literary history.
[2] Colonnades of ancient oaks, horse-chestnuts, and sycamores extend from the
landing up to the mansion: The latter is spacious, but presents an aspect more of comfort
and good taste, than of magnificence. Its principal court, formed on three sides by the
building, on the fourth by a lofty grilled fence with ample gates, is adorned with flower
beds, and flowering vines climb its angles to the roof. From its open northern side
extends a simple picture of landscape beauty, designed more by nature than art: a
combined English garden and park, with sward, clumps of flowering shrubs, and stately
trees; a crystal brook (flowing down from the Jura) on one side; a fish-pond in the centre;
and gravelled walks, with stone seats, winding among the trees.
The interior of the mansion still retains, intact, not a few mementoes of its
celebrated mistress, objects of eager interest to innumerable pilgrims, - a bedroom, with
75
its antique furniture and tapestried hangings; a library with its crowded book-cases,
writing desk, and pictures; a salon with works of art. Scattered through these apartments
are busts and portraits, of herself, of her first husband, and her children; of Necker her
father, of her mother, of Rocca her youthful lover and second husband, of Augustus
William Schlegel, and other literary friends.
West of the château lies the family cemetery, entirely shut in from the sight of the
visitor by high [3] walls, and a dense copse of aged trees and entangled shrubs and vines.
In its centre stands a small chapel, within which sleeps the illustrious authoress, with her
parents, and around it rest her children and grandchildren - four generations of the family
of Necker. It is a sombre enclosure, but the nightingales delight to sing in its deep shades,
and the vine-clad Juras on the one side, the lake and snow-crowned Alps on the other,
frame about it a picture of exceeding beauty befitting the memory of its chief tenant.
Far more interesting by its social and literary memories than by its picturesque
scenery, this charming locality will be a centre of our narrative. It was an intellectual
centre of Europe in one of the most eventful periods of modern history. We shall have
occasion incessantly to return to it; we begin with it, and must end with it.
Madame de Staël was unquestionably one of the principal figures in the history of
French literature and society, if not indeed of French politics, during the era of the first
Revolution and the first Empire. Coppet, like Voltaire's neighbouring Ferney in the
preceding period, was a sort of European court, a gathering place of literary and political
notabilities; and the great captain of the day was as jealous of the pen of its châtelaine as
of the sceptre of any regal court. Her character is a study of rare interest. She combined
the heart of a woman with the intellect of a man. Her ‘Corinne’ is the ideal [4] of
womanhood endued with genius, while her ‘Allemagne’ is, says Sir James Mackintosh,
‘the most elaborate and masculine production of the faculties of woman. Mackintosh
gave her precedence of all other women who have won a name in authorship. Byron said,
‘She is a woman by herself, and has done more than all the rest of them together,
intellectually; she ought to have been a man.’ Both knew her, and judged her from
personal intercourse as well as by her writings. Alison estimated her as ‘the first of
female, and second to few male authors.’ Jeffrey expressed the same opinion of her
76
literary rank. Macaulay still more emphatically said that ‘she was certainly the greatest
woman of her times.’ Schlegel, intimately associated with her for years, pronounced her
‘a woman great and magnanimous even in the inmost recesses of her soul.’ ‘She was,’
says another authority, ‘probably the most remarkable woman that Europe has
produced.’
54
Her idolatrous filial affection, culminating in the elegiac pathos, the almost
lyrical enthusiasm, of her biographical introduction to the ‘Manuscrits’ of Necker, is as
unique in literature as the maternal passion which is immortalised in the Sévigné Letters.
Her conversational powers have probably never been surpassed, and she was the Queen
of the Parisian ‘Salon’ of her age. Her activity in the politics, [5] and in some of the most
perilous scenes, of the French Revolution: invests her character with romantic heroism,
and connects her name with the greatest epoch of modern European history. The travels
of her long exile rendered her cosmopolitan in the literary and social life of Europe, and
the study of her life must be a study of the politics, the literature and society of her times.
Anne Louise Germaine Necker, Baronne de Staël Holstein, was born at Paris on
the 22nd of April, 1766.
55
Her father, James Necker, was a native of Geneva, and was
educated according to the strict regimen established there by Calvin. His own father,
Charles Frederick Necker, was a native of Prussia, but early became a citizen of Geneva,
and distinguished himself as Professor of Law in the city ‘Academy’ or University, and
as author of several elaborate publications. Another son, Louis Necker, became Professor
of Mathematics in the same institution, was later a banker at Paris and Marseilles, but
finally returned to his native city, and devoted the remainder of his life to physical and
mathematical studies; he also [6] attained some rank as in author. A son of this brother
(James Necker) was sometime Professor of Botany in the Academy, and a city magistrate,
but is better known as the husband of the accomplished daughter of the ‘physicist’ De
Saussure (Madame Necker de Saussure), the authoress of an able work on Education,
which was ‘crowned’ by the French Academy, and one of the dearest friends and best
54
Galiffe’s Notices Généalogiques, tome ii (4 vols.). Geneva, 1829 – 1857
55
There are two records of her baptism in the city archives: in one them her parents bear the title ‘noble.’
Jahl’s Dict. Crit. et Biog. Paris, 1872. The ‘de’ (d’ Albert) belonged to the old French Huguenot family of
Madame Necker’s mother. It belonged also to the wife of Samuel Necker (advocate, of Custrin) Marguerite
Saphrasine de Labahache de Stettin - the parents of the grandfather of Madame de Staël, Charles Frederick.
Galiffe’s Notices Généalogiques, tome ii.
77
biographers of her cousin, Madame de Staël. She will also be one of the most interesting
characters of our narrative.
Charles Frederick Necker founded, then, the Genevan family with good Teutonic
blood,
56
and the best education of the times, invigorated rather than impaired by the more
than Lacedemonian rigour of the contemporary Genevan life - a rigour which survived,
with but slight relaxation, the first, if not the second quarter of the eighteenth century.
The Neckers were nearly all eminent for their intellectual culture, their moral character,
and their success in life. James, the father of Madame do Staël, gave historical distinction
to the family - a distinction immeasurably enhanced by the genius of his only child.
Though his domestic and academic training had predisposed him to literary and
philosophic studies - including theology, the dominant intellectual tendency of his native
city - his parents early destined him to [7] mercantile life, and sent him, when about
fifteen years old, to Paris, where he passed his noviciate in the banking-house of Vernet,
a member of the distinguished Genevese family of that name, with whom the Neckers
maintained intimate relations. It is said that ‘the clerk soon became master,’ by his
brilliant superiority in all the problems of the business. A fortunate altercation with the
chief of the house led to his crowning success. Vernet lived in the country, and appeared
in the bank only at certain hours. A letter arrived from Holland in his absence, proposing
a negotiation which was quite foreign to the usual transactions of the firm. The chief
clerk revealed it to Necker, who forthwith wrote out its details, and calculated its
probabilities, with elaborate fulness. Vernet, on arriving, was astonished and indignant at
the presumption of the young subordinate, who thrust under his eyes voluminous
documents sketching an immense scheme of business, as if he were master of the
establishment. High words passed between them. Necker, affirming that, as nothing had
been consummated, there could be no consequence to justify the severity of Vernet,
suddenly threw his documents into the fire and retired. Vernet saw, after brief reflection,
that the youth had mastered the whole subject with astonishing ability, and immediately
promoted him to the head clerkship. Necker acquired, in three mouths, a knowledge of
the Dutch language in order to be [8] able to deal with the capitalists of Holland, and,
when Vernet closed his successful business, he put at his command sufficient funds to
56
The family has been traced to Ireland, where it had, however, an Anglo-Saxon origin.
78
enable him to join the Thellusons, as partner, in founding the most celebrated French
banking house of the times.
He devoted twenty-years to the making of his fortune, and then gave his attention
to more general and public interests. A syndic of the old East India Company, he so
conducted its affairs as to attain an unrivalled fame for financial skill, and a large increase
of his own wealth, which was further augmented by extensive negotiations in the corn
market. The republic of Geneva was proud of the ability and integrity of her son, and
appointed him her resident minister at the Court of Versailles, where his talents were
highly appreciated, especially by the Duc de Choiseul. He had not only become one of
the ablest financiers of the age, but had cultivated literature. The collected works of his
pen fill fifteen volumes, and are characterised by profound reflection and a vigorous
though somewhat peculiar style. His first publications were ‘Mémoires’ relating to the
affairs of the Indian Company. His ‘Eloge de Colbert’ commanded much attention, and
was crowned by the French Academy. His treatise ‘Sur la Législation et le Commerce des
Grains’ produced a remarkable impression, and led, at last, to his elevation to the royal
cabinet. His ‘Compte Rendu au Roi’ threw [9] all France into agitation, and effectively
helped to bring on the Revolution. His ‘Administration des Finances’ excited a still
greater sensation. His ‘Importance des Opinions Religieuses’ was an able though cautious
attempt to check the anti-Christian tendencies of his age, and an admirable expression of
his own deeply religious character. If somewhat defective in its theology, it is
nevertheless pure and sublime in its ethics. Buffon sent, from his death-bed, his emphatic
thanks to the author. It was the last book read by the naturalist, and his letter was the last
that he ever wrote or dictated. ‘The book of Necker,’ says Sainte-Beuve, ‘had the honour
to draw from this great mind the last words in which he recognised the Supreme Being
and immortality.’
57
The fragments of his ‘Manuscrits’, published by his daughter, show
much insight and subtlety in his judgment of character, and prove, says his ablest critic,
that ‘Necker, as a moralist, was a writer very acute, very piquant, and too much
forgotten.’
58
He had evidently been a student, though he was no imitator, of
Rochefoucauld and Vauvenargues. His little essay on ‘Le Bonheur des Sots’ is not
57
Sainte-Beuve, Causeries, tome vii. (14 vols.). Paris, 1862.
58
Ibid.
79
unworthy of La Bruyère; it amused his generation, and showed that, beneath his habitual
gravity, there was a living source of humour. His ‘Cours de Morale Religieuse’ is another
proof of his profound interest in religion, [10] at a time when it seemed to be losing
entirely its hold on the mind of Europe. Necker’s best religious writings preceded those
of the author of the ‘Génie du Christianisme,’ and he ranks by the side of Chateaubriand
in the reaction in favour of Christianity which followed the disastrous scepticism of the
Revolution. Sainte-Beuve admits that his religions works are characterised by ‘a perfect
sincerity, an unction, a sensibility profound and persuasive, which pervade his style and
which often replace metaphysics by touching moral sentiment.’
59
When Necker's superior qualities, especially his financial ability and integrity, led
to his call to the government of Louis XVI., it was hoped he might rescue the sinking
State from the overwhelming financial difficulties which, at last, wrecked it in the
Revolution, and from which no power on earth could save it. His policy of retrenchment
and rigid integrity, as well as his Protestantism, arrayed against him hosts of courtly and
official enemies. He was, as we shall hereafter see, repeatedly displaced and recalled,
amidst the enthusiastic sympathies of the people, who, on his dismissal, closed the
theatres, and bore his bust, draped in black, through the streets; and, on his [11] return,
drew his carriage in triumph and made all Paris jubilant.
His characteristic excellences were not unmarred by characteristic faulty. He was
ambitious of popularity, and too self-conscious, especially of his abilities and merits. His
sentimentality, a virtue in his writings and conversation, was a fault in his politics. His
style was too complicated, too abstract, too oracular. He has been called the father of the
doctrinaire school of politics,
60
of which Royer Collard, Guizot, and the Duc de Broglie,
have been the most distinguished representatives in our century - a school which
proposed to ‘impress a new direction on France, to reform her impetuous temperament,
and to give constitutional equilibrium to her political life.’ This school bore, more or less,
the impress of both his Anglican political ideas and of his literary style.
59
For a detailed account of his writings, and also those of Madame Necker, see Sayou’s Le Dix-huitième
Siècle à l’Etranger; Histoire de la Littérature Française dans les divers Pays de l’Europe, tome ii. livre
xiv. chap. iv. Paris, 1861. This author give some more interesting facts respecting Madame Necker in
chaps. xiii. – xv. of livre xii. (vol. ii).
60
Rey’s Genève et les Rives du Leman, chap. ix.
80
In person Necker was as remarkable as in character. ‘His features,’ says his wife,
in a literary ‘Portrait,’ ‘resemble those of no one else; the form of his face is
extraordinary. A high retreating forehead, a chin of unusual length; vivid brown eyes, full
of tenderness, sometimes of melancholy, and arched by elevated brows, gave him an
expression quite original.’ His statue at Coppet, somewhat theatrical in its attitude,
expresses grace and grandeur of both soul and person.
Such was the father of Madame de Staël. His [12] style of both thought and
language, relieved of its peculiar defects, and endued with richer vigour and elegance,
reappear in her own writings. Her intellectual legitimacy is indisputable.
Her mother was hardly less remarkable than her father, for qualities rare among
her sex in that day. Susanna Curchod was the daughter of a humble Swiss pastor of
Crassier, a hamlet of the Jura mountains.
61
Hardly could a retreat be found better fitted,
by its tranquillity, its scenery, or its unsophisticated society, for the training of a
precocious child; and it was said that her father bestowed upon her as complete an
education as fell to the lot of any woman in Europe. She was taught thoroughly the
classic and modern languages, and became a proficient in most of the learning usually
pursued by men destined to the career of science or letters. Her daughter tells us that
during all her lifetime it was her delight to hear the ancient poets read in the original.
Gibbon, the historian, says that her occasional visits, in her youth, to Lausanne, where he
then resided, led to such reports of her beauty and intellect as befitted only a ‘prodigy,’
and awakened his curiosity to see her.
62
She was a favourite among the highest
neighbouring families; a local [13] writer records that the beautiful and spirituelle girl
was often seen riding a mule along the roads, from château to château, to give lessons,
and her charms and talents excited enthusiasm in the cultivated circles of Lausanne.
63
With the characteristic good sense and economical forethought of the Swiss, her
father knew that she could have no better provision for the future than a well furnished
and well disciplined mind. Gibbon says that she was accomplished in manners as well,
61
Vuillemin’s Le Canton de Vaud. Lausanne, 1862.
62
Gibbon’s Memoirs of my Life and Writings. See also the Salon de Madame Necker, d’après des
documents tirés des archives de Coppet, etc., par M. Othenin d’Haussonville, in Revue des Deux Mondes,
1880.
63
Rey’s Genève, &c. xiii.
81
and that her wit and personal attractions were the theme of universal interest. She was not
without worthy suitors; but her father chose meanwhile to secure her independence by
qualifying her for the office of teacher or governess, assured that if she should never need
to use her qualifications in this laborious service, they would not the less fit her for her
own household, however opulent it might be. In preparing her to be a teacher, he
prepared her to preside in the highest circles of Parisian life; to command the admiring
homage of the Parisian men of letters; to stand, superior in intellect, as in character,
among the courtly women of Versailles; and, above all, to give to France, in the person of
her own thoroughly educated child, the most accomplished female intellect of her age.
Gibbon’s story of his love for her, and its disappointment, is well known; but it is
worth [14] repeating, as not only characteristic of himself, but of Mademoiselle Curchod.
‘I need not blush,’ he says, ‘at recollecting the object of my choice; and though my love
was disappointed of success, I am rather proud that I was once capable of feeling such a
pure and exalted sentiment. The personal attractions of Mademoiselle Curchod were
embellished by the virtues and talents of her mind. Her fortunes were humble, but her
family was respectable. Her mother, a native of France, had preferred her religion to her
country. The profession of her father did not extinguish the moderation and philosophy of
his temper, and he lived content with a small salary and laborious duty, in the obscure lot
of minister of Crassier, in the mountains that separate the Pays de Vaud from the country
of Burgundy. In the solitude of a sequestered village he bestowed a liberal and even
learned education on his only daughter. She surpassed his hopes by her proficiency in the
sciences and languages; and in her short visits to some of her relations at Lausanne, the
wit, the beauty, and the erudition of Mademoiselle Curchod were the theme of universal
applause. The report of such a prodigy awakened my curiosity. I saw, and I loved. I found
her learned without pedantry, lively in conversation, pure in sentiment, and elegant in
manners; and the first sudden emotion was fortified by the habits and knowledge of a
more familiar acquaintance. She permitted me [15] to make her two or three visits at her
father’s house. I passed some happy days there, in the mountains of Burgundy, and her
parents honourably encouraged the connection. In a calm retirement, the gay vanity of
youth no longer fluttering in her bosom, she listened to the voice of truth and passion, and
I might presume to hope that I had made some impression on a virtuous heart. At Crassier
82
and Lausanne I indulged my dream of felicity; but on my return to England, I soon
discovered that my father would not hear of this strange alliance, and that, without his
consent, I was myself destitute and helpless. After a painful struggle I yielded to my fate;
I sighed as a lover, I obeyed as a son; my wound was insensibly healed by time, absence,
and the habits of a new life. My cure was accelerated by a faithful report of the
tranquillity and cheerfulness of the lady herself; and my love subsided in friendship and
esteem. The minister of Crassier soon afterwards died; his stipend died with him; his
daughter retired to Geneva, where, by teaching young ladies, she earned a hard
subsistence for herself and her mother; but in her lowest distress she maintained a
spotless reputation and a dignified behaviour.
64
A [16] rich banker of Paris, a citizen of
Geneva, had the good fortune to discover and possess this inestimable treasure; and in the
capital of wealth and luxury she resisted the temptations of wealth as she had sustained
the hardships of indigence. The genius of her husband has exalted him to the most
conspicuous station in Europe. In every change of prosperity and disgrace he has reclined
on the bosom of a faithful friend, and Mademoiselle Curchod is now the wife of
Monsieur Necker, the Minister, and perhaps the legislator, of the French monarchy.
65
Gibbon never married. He maintained throughout his life an intimate friendship, full of
delicacy and esteem, for Madame Necker and her husband; he frequented their home in
Paris, corresponded with them, and was proud of Madame Necker’s appreciation of his
great work.
Madame Necker de Saussure describes her as endowed with firmness of character,
strength of intellect, and a remarkable capacity for labour; as not only educated to an
extraordinary degree in both science and letters, but as especially having that ‘spirit of
method’ which serves for the acquisition of all things.
66
With brilliant faculties and
personal attractions she combined the highest moral qualities. Her religious principles
were never shaken by the scepticism and licensed [17] immorality, which prevailed
64
She had previously maintained herself and her mother by teaching schools in Lausanne and Neuchâtel; it
is doubtful that she taught in Geneva, though she was there in the family of her friend Moultou some time
before she went to Paris. See Lettres diverses recueillies en Suisse, par le Comte Golowkin. Paris, 1821.
This writer gives some forty letters from her pen.
65
Memoirs &c.
66
Notice sur le Caractère et les Ecrits de Madame de Staël, vol. i of her Œuvres complètes (17 vols.).
Paris, 1820.
83
around her Parisian home. The lessons of the humble parsonage of Crassier remained
ever vivid in her soul, sanctifying her life and consoling her death. Her essay entitled
‘Réflexions sur le Divorce’ is an example of luminous reasoning and original style. It is a
plea for the sacredness of marriage, against the loose opinions regarding it which
characterised the epoch of the Revolution. Its last chapter, on the mutual succours and
consolations of the aged in married life, is pathetically eloquent. She wrote from her own
experience, and, as she says, to lead others to desire and attain a happiness which she
herself enjoyed. Her ‘Melanges’
67
are distinguished by good sense, acute and
epigrammatic observations on almost every subject that she touches, and by a moral
elevation quite in contrast with the tendencies of opinion around her. Necker said of her,
that, ‘to render her perfectly amiable, she only needed some fault to pardon in herself.’
Her greatest fault was perhaps her moral rigour; the forbearance which she needed not
herself, she was slow to accord to feebler characters. ‘She could captivate,’ says Madame
Necker de Saussure, ‘when she wished; she freely gave praise where it was merited; her
blue eyes were soft and caressing, and her face had an expression of [18] extreme purity,
and of candour, which made, with her tall and rather rigid figure, a contrast sufficiently
fascinating.
68
Such was the woman whom Necker chose for his wife, while flushed with his
rising fortunes and fame, and when she was struggling, alone in the world, with poverty
and labour. After the death of her mother, she continued to teach for her living; but her
life of toil was consoled by the intimacy and admiration of many eminent characters,
particularly by the dearest friendship of her youth, with Moulton, a clergyman of Geneva,
whom even Voltaire could not fail to reverence, and of whom she wrote an enthusiastic
eulogy or ‘Portrait.’
69
The philosopher Bonstetten (the life-long friend of Madame de
Staël, and an habitual guest at the little court of Coppet) was one of her ardent admirers,
and, in his old age, records the pleasant excursions which he made, on every Saturday,
with her and Moulton, to Voltaire’s neighbouring Château de Ferney.
70
The ‘Patriarch of
67
Miscellaneous Papers, published by Necker after her death: 3 vols. 8vo. in 1798; and 2 vols. 8vo.
(Nouveaux Mélanges) in 1802. Geneva.
68
Notice &c.
69
It is Moultou whom she describes in her ‘Portrait of my Friend,’ Nouveaux Mélanges, vol. ii.
70
Bonstetten’s Souvenirs. Paris, 1832.
84
Ferney’ could not but admire her intellectual accomplishments, notwithstanding their
religious differences, and was her flattering correspondent through [19] the remainder of
his life. Voltaire’s brave fights for toleration, extending through many years, in the
famous cases of the Protestant families of Calas and Sirven, and of the Protestant galley
slaves, commanded for him the interest, if not the affection, of the Swiss and French
Protestants generally, in spite of their profound repugnance to his anti-Christian writings.
Moulton stood side by side with him, his most effective assistant, throughout those
prolonged contests which moved all Europe; and Necker and his wife acknowledged the
beneficent services of the ‘Patriarch’ through a life-long friendship.
71
A lady of society and wealth, Madame de Vermenoux, travelling for health, took
Mademoiselle Curchod to Paris to instruct her son in Latin. Necker had been paying his
addresses to this fashionable widow; but she had deferred her answer to his proposal of
marriage, hoping for a more aristocratic offer. While absent she wrote to him declining
his proposal; but she now returned, with the young governess, intending to accept the
wealthy baker, whose fortunes and reputation had considerably augmented during her
travels. Necker, however, was so struck with the superior qualities of Mademoiselle
Curchod, that he transferred to her his attentions and affections. They were married in
1764; he aged thirty-two, she twenty-five years. ‘Their marriage,’ says his biographer,
‘caused [20] Madame de Vermenoux acute suffering, the traces of which were never
entirely effaced from her heart, but her relations with them remained friendly.
72
‘From
her marriage to her death,’ adds this authority, ‘thirty years passed in a union the most
virtuous and the most. affectionate of which history, and, I will venture to say, fiction,
can offer an instance.’ ‘From this moment,’ remarks the Duchesse d’Abrantès, ‘she
became the guardian angel of Necker: her husband was proud of her, and he had reason
71
The pastor Gaberel shows that Moultou was worthy of admiration of Mademoiselle Curchod. Voltaire et
les Génevois, ix, Paris, 1857.
72
Memoirs, by his grandson, Baron de Staël, tome i. of Necker’s Œuvres complètes (15 vols. 8vo.), Paris,
1820-21. I prefer this authority to that of the Duchesse d’Abrantès, who (Histoire des Salon de Paris, page
58, tome i. Paris 1837) represents Madame Vermenoux as promoting the marriage, and as even assisting
the young couple with money to begin housekeeping. Necker had been two years a partner in the greatest
banking-house of Paris, soon to be the greatest in Europe. It was in the year of his marriage that he revived
the fortunes of the Company of the Indies. In a letter written by Mlle. Curchod, the day before her
marriage, to Madame de Brenles, she says of Necker, ‘His talents and prudence have procured for him
more consideration than his fortune, though he has an income of 25,000 livres.’ (Count Golowkin’s Lettres
diverses recueillies en Suisse, &c. Geneva, 1821.) Marmontel gives a very flattering account of Madame
Vermenoux (Mémoires, livre x. Œuvres Complétes, 7 vols. Paris, 1820).
85
to be.’ ‘He chose her,’ says another authority, ‘only for her virtues and her charms. He
discovered in her an enthusiasm for success and distinction which gave, perhaps, the first
impulse to the still higher career in which he was afterwards distinguished.’
73
Notwithstanding Necker’s rare financial genius, he had, as we have seen,
aspirations above the [21] pursuits of gain. These pursuits were indeed, at times, quite
irksome to him. He early gave himself to literary composition, and his youthful essays
(mostly poetic and dramatic) are said to have been marked by much vigour and spirit; but
he had the good sense not to publish them. Detesting the monotony of the banking-house,
he nevertheless devoted his chief energy to the completion of his fortune and his
reputation as a financier, hoping that thereby he might at last find, opening before him, a
career more befitting his better tastes. His accomplished wife shared his ambition, for she
could appreciate his competence for its highest aims. Soon after their marriage she
opened her house for the reception of the leaders of opinion and society in the capital,
proud to have her husband known and tested among them. She became the presiding
genius of one of the most influential salons at a period when the Parisian salon was still a
centre of power, social, political, and literary - when Madame Geoffrin’s circle shone as a.
constellation of the highest intellects of the metropolis; when the Marquise du Deffand
was reigning, imperially, in her parties on the Rue Saint-Dominique; and Mademoiselle
de Lespinasse had. just revolted from the tyranny of the blind old marquise, and had set
up her rival salon under the auspices of D'Alembert, drawing with her, by the fascination
of her versatile accomplishments and her Sapphic enthusiasm, the savants and literateurs
[22] of the city. The company of Madame Necker’s mansion soon included many of the
most noted writers of the day - Buffon, Marmontel, Saint-Lambert, Thomas, Duclos,
Diderot, La Harpe, D'Alambert, Grimm, Raynal, Delille, Morellet, Gibbon, Hume,
74
not
to name a host of marshals, dukes, marquises, and counts. Madame du Deffand herself
frequented the salon of her new rival, and has left many allusions to it in her letters to
73
Biographie Universelle.
74
Hume is not usually named, in the enumeration of her guests, by French writers, but she often alludes to
him in her correspondence. In a letter to Madame de Brenles (1765) she says: ‘As to Hume, imagine to
yourself a very gallant giant, with eyes having the insight of the philosopher; with good features, though
dull yet mild; tolerable conversational powers, but with an air of reserved thought as though not expressing
all that he thinks, an air which does not belong to a frank character; and withal a bonhomie, in society, with
astonishes and enchants, &c.’ Lettres diverses recueillies en Suisse, &c., par le Comte Golowkin. Geneva,
1821.
86
Walpole.
75
‘I supped yesterday,’ she writes, ‘at St. Ouen, with the Duchesse de
Luxembourg, the Bishop of Mirepoix, &c. Necker has much intellect. He resembles you
in some respects.’ Again: ‘He is a very upright man; has much mind, but is too
metaphysical in his writings. In society he is natural and gay, has exceeding frankness,
but says little, and is often absent minded. I sup once a week at his country mansion at St.
Ouen. His wife has intellect and merit. Her society is composed ordinarily of men of
letters, who, as you know, do [23] not like me; it is in spite of them that she has taken to
me.’
76
Again: ‘Both of them have intellect, particularly he; but he lacks one quality which
renders talent most agreeable - a certain facility, which elicits thoughts from those with
whom one converses; he does not aid in the development of one’s own ideas; and one is
more stupid with him than when alone or with others.’ Still later: ‘I supped yesterday
with the Neckers. He is truly a good man. He has capacity without presumption,
generosity without ostentation, prudence without dissimulation. It will be a good choice
for the government to employ such a man, but his religion is an insurmountable obstacle.’
Again: ‘They are upright people; the husband has high intellect and truthfulness; the wife
is rigid and frigid, but good.’ The marquise was morally incapable of appreciating a
character like that of Madame Necker, and seems to have become aware of the fact. She
writes again: ‘The wife has intellect, but is of a sphere too elevated for one to
communicate with her. Her husband has more than she; the most perhaps of any man in
our nation at the present time; but he has no pedantry nor self-sufficiency. One is
embarrassed with him; but he has frankness, good-humour, and cordiality.’ At another
time she reports as present, ‘all the ministers, secretaries of state, [24] diplomatists -
entertained with music, proverbes,
77
all the pleasures combined. My opinion is that the
government could not employ a more capable man than Necker, more firm, more clear-
headed, more disinterested.’ Still later, after his appointment to the finances, she alludes
with prophetic sagacity to his persecution, and predicts that ‘he will retire from office,
that everything will then give way; the public credit will be ruined; all will fall into chaos,
his enemies will be triumphant; they will fish in troubled waters; they will affirm that his
75
Lettres de la Marquise du Deffand à Horace Walpole, vols. iii. and iv. passim (6 vols.). Paris, 1812.
76
The aged and cynical Marquise had been a favourite of the Parisian philosophes, but Mlle. Lespinasse
had drawn them away from her.
77
Brief dramas for domestic theatricals.
87
system, his operations, were only chimerical visions. This is what I, and many others,
foresee. A greater misfortune cannot befall this country.’ We find in these voluminous
letters no allusions to the precocious child of the family, though some of them were
written after she had been admitted to the company of the salon, and had attracted the
attention of the guests. These intimations, respecting her parents, are, however, of some
value; they afford us glimpses of their characters by one of the shrewdest observers.
Madame du Deffand, nevertheless, exaggerated the defects of Madame Necker. The
higher intellectual culture and moral purity of the latter were a tacit rebuke of the
character and frivolous life of the marquise - a character and life which she herself
continually acknowledges, in these famous letters, to be without self-respect, and almost
insupportably miserable. Her impartial [25] judgments were always acute, but her
prejudices were extreme, and rendered many of her estimates of character mere
caricatures.
78
Marmontel, who was the earliest literary guest of the house, excepting Thomas,
fondly admired the genius of the daughter, and shared the prejudices of Madame du
Deffand against the mother. Their loose philosophy could not brook her religious
pertinacity. Nor did Marmontel regard more cordially Necker himself, though he admits
repeatedly his ability and his perfect moral integrity. For years he ate heartily the suppers
of the great financier, but left for publication, when the latter was in his grave,
disparaging allusions to him. ‘Necker,’ he writes, ‘was not my friend, and I was not his.’
He was compelled to esteem, but could not admire, Madame Necker, though he
acknowledges her to have been, at his first introduction to her, ‘young, sufficiently
beautiful, and of a dazzling freshness,’ possessing the charms of modesty, candour,
goodness,’ of ‘culture and an excellent natural disposition;’ ‘sentiment in her was perfect’
- certainly a rare example of accomplished womanhood. All these admissions, however,
are but conciliatory preliminaries to a series of detractions - exaggerations of undeniable
but minor defects, which deserved kindlier treatment after so many [26] years of
hospitality and, as he affirms, of affectionate partiality. She had ‘none of the agréments
of a young French woman;’ ‘she had no taste in dress,’ no ‘ease in her bearing,’ no
78
Her opinion of Turgot and not a few others, and some of her ‘Portraits’ (notably of Madame du Châtelet,
Voltaire’s divine Emilie) are examples.
88
‘attraction of manners.’ Buffon and Thomas were, in his estimation, authorities too
absolute, with her, in literary matters: ‘lacking accuracy of thought and style, one would
have supposed that she reserved correctness for the rule of her duties; there all was
precise and severely compassed.’ He even complains that ‘it was not for us guests, nor
for herself, that she gave us the entertainments of her salon but for her husband’ - for the
relief of a faithful public servant upon whom leaned a falling State! Marmontel had been
too much addicted to the frivolous and libertine world of Paris to appreciate such
conjugal sympathy. Her morale was incomprehensible to him. Though she lavished
special attentions upon him, ‘our minds and tastes,’ he admits, ‘were not in harmony. I
attempted to oppose her high conceptions; it was necessary that she should descend from
her inaccessible heights to communicate with me.’ It is not improbable that his
admiration for ‘la belle Vermenoux’ (as he calls her), whom the young wife had
superseded in the affections of Necker, had something to do with these prejudices. The
widow was a devoted friend of Marmontel, and especially of his wife. He portrays her
with rapture. She was the ‘image of Minerva, but her brilliant visage could readily
assume that air of graciousness, [27] serenity, and simple, decent gaiety, which renders
wisdom amiable. She and my wife were in perfect harmony of mind, of taste, and of
manners. With what pleasure did this woman, habitually solitary and self-collected, see
us arrive at her country house at Sèvres! With what joy did her soul surrender itself to the
tenderness and exhilarations of friendship at our little suppers in Paris!’ Though Madame
Vermenoux was a welcome guest at the table of Madame Necker, Marmontel’s partiality
for the former could hardly admit of impartiality for the latter.
The mémoires of the time abound in criticism on the Necker salon, as on the
salons of the metropolis generally, biassed by the social and political partisanship of the
day; but the most reliable authorities, while admitting the peculiarities of Madame
Necker, show her to have been preeminent in character, talents, and social tact. The
historian of the ‘Salons of Paris’ represents her as ‘an angel of virtue amidst that Court of
Versailles, the noise of which only could reach her;’ as ‘naturally spirituelle, and
perfectly instructed;’ as having ‘a sustained vivacity of mind, an unfailing sweetness.’
The salons of Paris ‘were then true schools, whose discussions were without scholastic
pedantry, and Madame Necker and Madame Roland were the two chiefs in these arenas,
89
where intellect appeared in all its forms: Madame Necker for the defence of religious
ideas, [28] Madame Roland for that of liberal opinions, which at this period had already
caused a general movement. Both gave a new impulse to the times.’ Contrary to what has
been said of the stiffness of Madame Necker, she did the honours of her salon charmingly.
It is false that she was affectedly lofty in her conversation. In short, one found oneself
more at ease with her than, later, with Madame de Staël, notwithstanding the brilliant
genius and wonderful readiness of the latter.’ ‘She had an exquisite politeness in
conversation.’
79
In a hoary tower of the château at Coppet is a room protected by an iron barred
door, in which the old archives of the family are deposited. Among a mass of other
documents are twenty-seven volumes of letters, mostly from distinguished habitués of
Madame Necker’s salon - from Buffon, Grimm, Gibbon, Marmontel, D’Alembert,
Diderot, the Abbés Morellet and Galiani, and Mesdames du Deffand, Geoffrin,
d’Houdetot, &c. Marmontel’s letters, there, belie his Memoirs. He speaks of her
conversation as ‘one of the greatest charms of my life.’ When she was travelling for
health he wrote, ‘I cannot be gay till I learn that you improve; then I shall be foolishly so.
In order to be gay I must be happy, and this I cannot be while anything remains for me to
desire for you’. Diderot, whose writings were so brilliant and so corrupt, [29] wrote to her:
‘How many things you will find in them which would never have been written, nor
imagined, if i had had the honour of knowing you earlier.’ ‘You certainly would have
inspired me with a taste for purity and delicacy which would have passed from my soul
into my works.’ He wrote of her as ‘a woman who possesses all the purity of an angelic
soul joined to refinement of taste.’ The brilliant Abbé Galiani, one of the gayest of her
guests, wrote frequent and long letters to her from Italy. ‘The Alps,’ he said, ‘separate us;
but neither time nor Alps can efface the memory of the delicious days I have passed with
you.’ In short, the most polished men of these corrupt times, while wondering at her
‘rigorous regard for decency,’ as said the Abbé Morellet, admired her character and her
talents.
80
79
Duchesse d’Abrantès’ Histoire des Salons de Paris &c. tome i. (6 vols.). Paris, 1837.
80
Revue des Deux Mondes, 1880.
90
Never, since the salon became a social institution (if we may so call it) of France,
never since the days of the Hôtel de Rambouillet, were these reunions greater centres of
power than now, when vague presentiments of the Revolution were stirring all minds.
Their influence was rapidly communicated to the entire nation. In those of Madame
Geoffrin, of Madame du Deffand, of Mademoiselle Lespinasse, of the Duchesse de
Choiseul, and particularly of the Duchesse de Luxembourg, the elegant world of the
Court found itself on a footing of equality with the men of letters who [30] then
dominated in French society. It was from the salons of Paris that, later, the speeches of
the Constituent Assembly went to the tribune; in these reunions were sketched the attacks
and replies of the great adversaries who combated in that memorable arena.
81
Madame
Necker’s continued in full power till within a few months of the opening of Madame
Roland’s: the former was a centre of what might be called the progressive-conservative
opinions of the day; the latter of the more advanced liberalism. The simultaneous
appearance of these two most admirable women of the Revolutionary epoch was one of
its many anomalies. With marked contrasts, they had many traits in common. They were
both highly educated, and, judging from their writings, of nearly equal intellect. They
were both exceptionally pure, among their class, in their domestic life; both profoundly
patriotic, both womanly in heart and manly in mind. The one was devotedly and
intelligently Christian, and died, as we shall here-after see, tranquilly amidst the dearest
sympathies of her family, and with the highest consolations of her religion; the other
rejected Christianity for the ‘philosophy’ of the age, and died with Spartan heroism on
the scaffold. Their correspondences [31] and contrarieties of character may well suggest
the necessity of a generous judgment of human nature.
It was in such times, amidst the intellectual provocations, and moral perils, of the
salon life of Paris, and the alarming presages of the Revolution, that Madame de Staël
spent her girlhood and received her education. ‘She was,’ as Sainte-Beuve says, ‘a
daughter of the Revolution.’ It made her heroic in character, and left her liberal in her
political opinions, and unchanged in her moral convictions.
81
Histoire des Salons de Paris & c., Introd. More than half the first volume of this work is devoted to the
salon of Madame Necker. Its characters are real, but its scenes are fictitious. The Introduction (more than
eighty pages) is historical, and mostly relates to the Neckers.
91
[32] CHAPTER II
CHILDHOOD AND EDUCATION
Madame Necker's System of Education - Rousseau's Theory - Anecdotes of the Childhood of Mademoiselle Necker
Bonstetten Raynal - Mademoiselle Necker in the Salon - Her first Literary Compositions –Grimms Account of
one – Morbid Effect of her Precocity – Necker’s Resignation of Office – Tronchin’s Prescription for his Daughter
Her Emancipation - Love for her Father - Her Mother - Madame de Genlis.
Madame Necker early perceived the extraordinary mental capacity of her child,
but could not so readily appreciate those susceptibilities of genius - the deep and varied
and sometimes anomalous sensibilities - which distinguished her from other children. She
set herself to work, not merely to subdue, but to extinguish them, as dangerous
indications, though they were but the overflowings of that imaginative and moral vitality
which afterwards matured into the richest qualities of her transcendent womanhood and
talents.
The mother, trained to be an instructor, had her own theory of education, and it
was the worst possible one for her peculiarly gifted daughter - who was, in fact, a
beautiful but incomprehensible marvel to her. Madame Necker’s religious nature [33] had
led her to repel Rousseau’s educational system, which was founded of an abuse of
Locke’s philosophy, then common among French thinkers; and which taught that, as our
ideas, in their primary forms, are all received through the senses, the first task of the
educator should be the training of the faculties of perception and observation, if we
would procure an intellectual and moral development, not irregular, unhealthy, and
illusory. To Madame Necker, Rousseau’s theory was materialistic: ‘she took therefore,’
says Madame Necker de Saussure (herself one of the best authorities on education), ‘the
contrary route, and wished to act immediately on the mind by the mind; she believed it
necessary to fill the young head with a great quantity of ideas, persuaded that the intellect
becomes indolent without this labour of the memory.’
82
It was the cramming system’-
not the education (educing) of the faculties; and if, as Madame Necker de [34] Saussure
82
Notice, on the character and writings of Madame de Staël (Oeuvres complètes, tome i.), a work to which
we are indebted for most of our data respecting the early life of her cousin. George Ticknor, the American
scholar, says (under date of Geneva, Sept, 19, 1817), ‘I passed a couple of hours with Madame Necker de
Saussure, a cousin of Madame de Staël, who is
considered in Geneva but little her inferior in original power
92
thinks, it did not actually injure the child, ‘relatively to the development of thought,’ she
was saved only by the uncontrollable vigour and self-assertion of her genius. The same
authority assures us that, notwithstanding the rare excellences of Madame Necker, ‘the
charms of childhood had little power over her: she had subdued and disciplined her own
nature too much to have preserved the freshness of her instincts. She could only love
what she could admire; and a tenderness founded in presentiment and imagination was
somewhat foreign to her mind. Gratitude was to her the first of ties; she had, in
consequence, cherished her father; and this exalted filial love, which appears like a
distinctive characteristic of the family, had always been active in her. God, her parents
and her husband, whom she adored also as her benefactor, had been the only objects of
her ardent affections. Nevertheless she undertook the education of her daughter with a
fervent zeal inspired by the sense of duty.’ But the ‘sense of duty,’ however noble in the
less intimate relations of life, becomes almost ignoble when, in the relations of a mother
to her child, it takes the place of maternal instinct.
Madame Necker’s rigour oppressed her daughter. Her daily, her hourly life was
under rule, her sports were restrained, her attitudes regulated, her studies severely
mechanical. But her ardent nature was ever spontaneously breaking away from [35] this
bondage, so foreign to its instincts. She was full of gaiety, of abandon, of frankness, of
affectionate impulses, of the love of dramatic effects - not to say dramatic tricks.
Marmontel says that ‘she was at times an amiable little mischief-maker.’ Bonstetten, in
later years her admiring correspondent, says that, as he was walking alone in Necker’s
garden, he was rudely struck from behind a tree with a switch turning to resent the blow,
he saw the child, than five or six years old, gleefully wielding the stick. ‘Mamma,’ she
exclaimed, ‘wishes me to learn to use my left hand, and you see I am trying to do so.’
83
‘She stood in great awe of her mother,’ writes Simond, the traveller, who knew her from
her infancy, ‘but was exceedingly familiar with and extravagantly fond of her father.
Madame Necker had no sooner left the room, one day, after dinner, than the young girl,
till then timidly decorous, suddenly seized her napkin, and threw it across the table at the
head of her father, and then, flying round to him, hung upon his neck, suffocating all his
reproofs by her kisses.’ This was nature, rude yet rudely beautiful. Bonstetten tells the
83
Simond’s Voyage en Suisse. Paris, 1822.
93
story with some variations. According to him, she fairly drew Necker into a dance around
the table, and was arrested only by sounds of the returning steps of her mother, when they
[36] resumed their seats at the board with the utmost sobriety.
84
Never has paternal or filial love been stronger, down even to the grave, than
between Necker and his daughter. The caresses of the father encouraged the child to act,
and especially to speak, with a freedom quite contrary to the severe notions of the
mother; and, says Madame Necker de Saussure, ‘the applause which the sallies of her
humor called forth inspired her continually to indulge it in new ways, and already she
responded to the pleasantries of Necker with the mingled gaiety and affection which
characterised all her later relations with him The desire to give pleasure to her parents
was an extremely active motive of her affectionate nature. For example, at the age of ten
years, observing their great admiration for Gibbon, she imagined it to be her duty to
marry him, in order that they might enjoy constantly his conversation.’ She made
seriously the proposition to her mother, in spite of the grotesque corpulence of the
historian, the ‘ugliest man of the United Kingdom.
85
Notwithstanding these childish [37]
simplicities, Madame Necker de Saussure says she ‘has seemed always young, yet never
a child. In all that has been recounted to me about her early life, I remember but one trait
which bears the character of childhood, and even this showed the dawn of intellect. She
amused herself by making paper kings and queens and setting them to act scenes of an
improvised tragedy. When this entertainment was prohibited by her scrupulous mother,
she would conceal herself in order to enjoy it. To this early amusement was attributed the
84
Charles-Victor de Bonstetten: Etude Biographique et Littéraire, par A. Steinlen. Lausanne, 1860.
85
Gibbon was hardly five feet in height, but in revenge of his short stature nature gave him an almost
spherical shape; he could not have been less than ten feet in girth, as M. de Bièvre remarked. ‘When I need
exercise ,’ said De Bièvre, ‘I make three times the tour of M. Gibbon.’ His physique was a burlesque on
humanity. While in Lausanne he became amorous of Madame de Crauzas, afterwards Madame de
Montolieu, and declared his love. His figure, kneeling before her was so ludicrously grotesque, that she
could not repress her smiles. At last she exclaimed, ‘Do, Monsieur, do rise, and say no more.’ ‘Alas!
Madame,’ he replied, I cannot.’ ‘What!’ she rejoined, ‘can you not get up?’ In fine, he was so enormous
that, even with the aid of Madame Crauzas, he could not rise; she had to call a valet de chambre to replace
him on his legs. Duchesse d’Abrantès’ Hist. des Salons de Paris, tome ii. Paris, 1837. The English
philosophes generally made awkward figures in the French society of these times. Hume’s grim
pleasantries are well known. Gibbon’s stateliness was anything but French. Franklin’s unaffected
simplicity, nevertheless, made him a favourite in the most fashionable circles, except in his occasional
taciturn moods.
94
only singular habit she ever had, that of twisting a bit of paper, or a leaf, between her
fingers’.
In her tenth year she was exceedingly attractive. Her natural gaiety was extreme,
though at times touched by that poetic melancholy which ever after tinged her soul. Her
manners, especially when relieved of the restraints of her mother’s presence, were the
simple outbursts of her natural sensibilities and frankness. She was fascinating to many of
the thinkers who frequented her mother’s [38] salon, and could foresee the luxuriant
genius and beauty with which her nature was already unfolding. The Abbé Raynal, the
‘Historian of the Indies,’ holding her little hand in both of his, would prolong her
conversation with wondering interest. Her impromptu remarks already flashed with
somewhat of the light with which her conversation in later years illuminated the best
circles of Paris, Coppet, Weimar, Berlin, Vienna, St. Petersburg and London. She was a
brunette, her countenance shone with animation, and her ‘great black eyes were dazzling
with intelligence and kindliness’.
Her parents were fortunate in procuring for her a household companion in
Mademoiselle Huber (of the distinguished Genevese family of that name), afterwards
Madame Rilliet-Huber, who now became, and ever remained, one of her dearest
friends.
86
Mademoiselle Huber has recorded her first interview with the brilliant young
girl, the ‘transports’ with which she received her as her habitual associate, and the
promises she made ‘eternally to cherish her friendship.’ ‘She spoke [39] to me with an
ardour and fluency which made her already eloquent, and greatly struck me. We did not
play as children; she immediately asked what were my lessons? If I knew any foreign
languages? If I ever went to the theatre? When I replied that I had been there three or four
times, she broke forth in exclamations of delight, and promised me that we should
frequently go there together, adding that, on our return, it would be necessary to write out
the subjects of the pieces, especially those parts which had most interested us; that this
was her habit. “And then,” she exclaimed, “we shall write every morning.” We entered
86
George Ticknor says, under date of Geneva, Sept, 10, 1817: ‘This evening I passed at Madame Rilliet’s,
to whom the Duchesse de Broglie gave me a letter. She was a particular friend of Madame de Staël’s, and
is a lady of large fortune, much talent, and elegant manners. Benjamin Constant said of her, with that kind
of wit peculiar to the French, and which he possessed beyond any Frenchman I met in Paris, Madame
Rilliet has all the virtues which she affects,” for there is a certain stateliness and pretension in her manners
that remind you of affectation’- Life &c. of Ticknor ,i.7.
95
the salon; by the side of the arm-chair of Madame Necker was a little wooden seat, where
she had to sit, obliged to hold herself erect, without support. Scarcely had she taken her
place, when three or four venerable personages approached her, speaking to her with the
kindliest interest. One of them, who wore a small round perruque detained her in a long
conversation, talking with her as to a person of twenty-five years. This was the Abbé
Raynal; the others were, Marmontel, Thomas, the Marquis of Pesay, and Baron Grimm.
We were called to the table; it was a wonder to see how she listened there. She spoke not
a word, but seemed to share in all the discussions by the vivid and varying expression of
her features. Her eyes followed the looks and movements of each speaker. You could see
that she [40] anticipated his ideas. All topics were familiar to her, even those of politics,
which were already among the chief subjects of interest in the Parisian salons. After
dinner many more guests arrived. Each, in approaching Madame Necker, had something
to say to her daughter - a compliment or a pleasantry. She always responded, not only
with ease, but with grace. Some would entertain themselves in trying to embarrass her, or
to excite the young imagination which already displayed so much brilliancy. The men
who were most distinguished by their talents were those who hovered most about her,
prompting her conversation. They inquired about the books she was reading, reported
new ones to her, and inspired her love of study by discussing with her what she knew and
what she did not know.’
The severity of Madame Necker’s domestic rule was by this time so far relaxed as
to allow more indulgence to her child’s dramatic tastes. Minor or ‘domestic theatricals’
were even admitted among the entertainments of her villa at St. Ouen, as we have seen in
the citations from Madame du Deffand. Among her daughter’s earliest literary essays
were attempts at dramatic composition. She had shown extraordinary talent in the
Portraits, Characters and Eloges, which were a sort of social literary recreation of the day.
Grimm had sent examples to his princely correspondents, in various parts of Europe, as
marvels of [41] intellectual precocity. He now wrote them an account of a drama,
produced in her twelfth year, and acted by her and her young companions in the drawing-
room at St. Ouen. ‘While Necker,’ he says, ‘covers himself with glory in the government,
and renders himself eternally dear to France, and his wife devotes herself to her
charitable hospital in the parish of St. Sulpice, their young daughter, who has evinced
96
extraordinary talents, amuses herself by writing small comedies, after the manner of the
semi-dramas of M. St. Marck. She has just completed one, in two acts, entitled “The
Inconveniences of Life in Paris,” which is superior to her models, and astonishing for her
years. Its characters are well delineated, its scenes well adjusted, and the unfolding of its
plot is natural and full of interest.’ He adds that Marmontel, who was ever enthusiastic
for the daughter, though he could never appreciate the mother, was affected even to tears
on seeing this juvenile performance at St. Ouen.
87
At fifteen years of age her faculties, if not her style, showed the maturity usual
with cultivated minds at twenty-five. In 1781, when Necker’s Compte Rendu’ first
appeared, exciting all France, [42] she, proud of his triumph in his defeat, wrote him an
anonymous letter of such remarkable ability that he recognised its authorship by its talent.
Her genius had already its stamp.
88
At this early age she had mastered some of the
profoundest works of French literature, studying, not merely reading them. She had made
ample extracts from Montesquieu’s ‘Spirit of Laws,’ and had commented on them with
her own acute reflections. Raynal, then rejoicing in the extraordinary but temporary fame
of his ‘Histoire Philosophique,’ solicited her to contribute to one of his works an essay
which she had written on the Revocation of the Edict of Nantes. Necker himself
discouraged these premature efforts; but the training to which she had been addicted by
the system of her mother, her elaborate though versatile studies, her participation in the
discussions of the salon, and in the performances and criticism of the ‘domestic
theatricals,’ could not fail to prompt her faculties beyond their normal and healthful
growth. Everything about her ministered to her intellectual life. ‘Her pleasures as well as
her duties,’ says Madame Necker de Saussure, ‘were all exercises of her mind. Her
mental faculties, naturally energetic, underwent thus a prodigious expansion.’ The
wonder is that they became not as prodigiously morbid. Nothing but her native vivacity -
the national temperament which she so abundantly shared [43] - could have saved her
from the worst effects of such mental excesses. Thoroughly French as she was, in the
87
Grimm’s Correspondance, 1778. Many allusions to the Necker family, and several letters from them, are
scattered through this curious collection - a work almost as important for the history of France in the
eighteenth century as the Mémoires of St. Simon are for the preceding age. Grimm and Diderot’s
Correspondance (15 vols.), Paris, 1829-31; and Correspondance inédite (8 vols.), Paris, 1829.
88
Philarète Chasles, Nouvelle Biographie Générale, tome xliv.
97
flexibility and elasticity of her nature, her sensibilities nevertheless began to suffer by this
unintermitted tension of her intellect, and we may trace to this period that poignant
sensitiveness to the miseries of human life, that ever-recurring strain of sadness, which
characterise nearly all her writings, and which, in spite of wealth, fame, talent, travel,
‘troops of friends,’ and a career splendidly successful in most respects, rendered her life a
continuous scene of restlessness, if not of melancholy, and led her to say on her death-
bed, that but one of the capabilities of her nature had been developed to its utmost, the
capability of suffering.
89
Her cousin remarks that her sensibilities were, at this early
period, as excessively developed as her mind, so that the praises which she heard given to
her parents would melt her to tears. ‘That which amused her,’ says her companion,
Mademoiselle Huber, ‘was that which made her weep.’ Her attachment to Mademoiselle
Huber became a sort of passion. The presence of celebrated persons would make her
heart palpitate. Her reading, which Madame Necker, more severe than vigilant, did not
always prescribe, often produced on her extraordinary impressions; years later she said
that Richardson’s description of the carrying off of [44] Clarissa made an epoch in her
young life. Her faculties, of mind as well as body, began to yield under this excessive
stimulation. Long sustained attention was ever afterwards difficult to her; and the success
with which she always seemed to master elaborate intellectual tasks was more the effect
of genius than of continuous labour. A singular sagacity bore her to a distant end,
without your seeing her on the route.’
Her father’s relations with the Court, about this time, particularly the events
which prompted her anonymous letter to him, exasperated the excitement which was
preying upon her health. Her extreme filial sympathy made his anxieties her own; and
now fell upon the family a greater affliction than any which had thus far marred its
prosperity. Though Necker was not formally ‘dismissed,’ he was forced by his enemies to
retire from office. During five years he had administered the finances with a success
unapproached by his predecessors for years. It would be irrelevant to discuss here the
principles of his policy, his disputes with the economists at a period when political
economy was yet mostly undefined as a science; his altercations with Turgot, the
ostensible representative of its principles in the government. Partisans have applauded or
89
Chateaubriand’s Mémoires d’Outre-Tombe, tome viii. (12vols). Paris, 1849.
98
disparaged him, according to their partialities for antagonistic theories; but his
administration was at a time, and amidst exigencies, which should, in our day at least,
relieve him from [45] such criticism. Necker was a practical man, and he attempted
practically to grapple with the difficulties which had overwhelmed his predecessors. His
great personal credit enabled him to command loans for the government which perhaps
no other man in the realm could have obtained; and he retrenched expenses on every
hand. More than six hundred unnecessary charges on the Treasury were cut off. The
policy of loans - in our day the policy of States generally - is inherently fallacious, and
can be safe only when based on economical retrenchments, and the prospective creation
of new resources. Necker’s scheme comprised these conditions. It was the only
conceivable policy. That it failed is attributable, not so much to his lack of talent, as to
the invincible vices of the government and of the times. Other experiments were made,
by the frequent change of the financial administration, but they were all failures, and
worse than failures. He had to be called in repeatedly to relieve them. But his stringent
reforms had raised up enemies all around him. His position in the court was hardly
tolerable; he had but a qualified title as Minister, and was not admitted to the Royal
Council, for his religion was in the way. He saw that he could not have the power
necessary for his measures, unless he were relieved on these disabilities. Full powers
were offered him if he would abjure his Protestant faith. He refused to do so. He retired
from office with the malediction of most of the nobility, but [46] with the benedictions of
the suffering people. He had effectively, though not permanently, relieved the national
finances. He had incurred the hostility of his aristocratic enemies by cutting off sinecures
and superfluous pensions, and by reducing excessive salaries. He had accepted no
compensation for his services; had given no office to his kindred or personal friends.
90
He
had advanced two millions of his own money, as a loan to the government, which was not
repaid during his life, and was recovered by his daughter only after the downfall of
Napoleon. His ‘Compte Rendu au Roi’ was his vindication. In that famous work he gave
a complete account, to the King, of the financial disorders of the country. It was a
bombshell thrown into the Court, and the explosion that followed resounded throughout
the kingdom and over all Europe. No such report on the administration of the finances
90
Louis Blanc, Hist. de la Révolution Française, ii. 66 (12 vols.). Paris, 1847.
99
had ever been made. The country had been kept ignorant of this, one of its most vital
interests. Its kings themselves had been habitually deceived regarding it. The nation had
been reeling on the verge of hopeless bankruptcy; Necker alone had thus far prevented its
precipitation into the abyss. The Revolution was inevitable, though few then perceived
either its proximity or its terrible significance. His work on the ‘Administration des
Finances,’ a sort of reproduction and justification [47] of the ‘Compte Rendu,’ deepened
and widened immeasurably the impression of the latter. Eighty thousand copies were
quickly sold, six thousand on the day of its publication, besides a simultaneous edition in
England. The people were maddened by discovering how their debauched rulers had been
for years wasting their resources. Necker showed that twenty-five millions of francs were
yearly thrown away on useless or licentious gratifications and pensions; that the
collectors received more than one fifth of all the revenue; and that nearly all the national
institutions of charity and penal reform were mismanaged - the prisons, hospitals,
asylums. In many of these, six invalids slept in the same bed, and sometimes the slightly
attacked patient found himself with a dying man on one side and a dead one on the
other.
91
Necker proudly alluded to his wife’s good work in hospital reform. She had not
frequented the Court, though she received some of the courtly ladies at her salon; the
depravity which still lingered from the Regency and from the reign of Louis XV. about
the royal precincts was a sufficient reason to keep her away, though Louis XVI. had
solicited her presence, and Necker had mentioned only her feeble health as the reason of
her absence. She appeared now, like himself, as a true friend of the people amidst the
immense crew of courtly and official depredators [48] on the public resources. They were
outraged. What right had this untitled foreigner, this Protestant heretic, to invade their
luxurious places, and abridge their revenues? What a national disgrace that this ‘Swiss
schoolmistress’ (for so they called his wife) should be able to hold up her pedantic head,
pre-eminent above the aristocratic, free-living ladies of the court, the daughters of the old
noble families of France? Pampered, infatuated parasites of power, they knew not that
they were refusing the only help which could mitigate their coming fate - a fate which
was soon to sweep them from the face of their country and shake to its foundations the
whole civil and ecclesiastical world of Europe.
91
De Tocqueville’s Coup-d’oeil sur le Règne de Louis XVI. chap. ii. Paris, n. d.
100
Necker’s daughter observed his anxious preoccupation, notwithstanding his
seeming tranquillity. The evening before his resignation he accompanied her and her
mother to the hospital of Madame Necker in the parish of St. Sulpice. ‘He was in the
habit of going to this asylum,’ she writes, ‘to take fresh courage against the cruel
difficulties of his situation. The Sisters of Charity, who had charge of the place, loved
him and Madame Necker, notwithstanding they were Protestants, and welcomed them
now with flowers and the chanting of verses from the Psalms, the only poetry they knew.
They called them their own benefactors, because they succoured the poor. My father this
day was deeply affected, more so, I remember well, than ever he [49] had appeared to be
by similar testimonies of gratitude. Without doubt he regretted the power to serve France
which he was about to lose. Alas! who at that time could have supposed that this man
would one day be accused of hardness of heart, of pride, of arrogance? Never a soul more
pure has traversed the region of storms; and his enemies, in calumniating him, committed
an impiety; for the heart of a good man is the sanctuary of God in this world.’
92
The next
day he returned from Versailles no longer Minister.
Necker retired to his country seat at St. Ouen with the sympathies and applause of
the nation. Not a few of the higher classes, able to appreciate him - the Prince of Condé,
the Dukes of Orleans and of Chartres, the Prince of Beauvais, the Duke of Luxembourg,
the Archbishop of Paris, and, above all, the literary men of the Necker salon - hastened to
visit and sustain him there.
93
Such moral support was grateful to his heart, but assuredly
not more so than the sympathy of his [50] devoted daughter, expressed in the anonymous
letter, the authorship of which he had identified by indications the most consoling that
could touch a father’s affections - its proofs of the superior intellect amid overflowing
heart of his child. Agitating as these circumstances were to her sensitive nature, she was
cheered by the demonstrations of almost universal regard for him which she witnessed at
St. Ouen. ‘All France,’ she writes, ‘seemed anxious to visit him; the great nobles, the
92
Considérations sur la Révolution Française, i. 8: Œuvres complètes, tome iii.Paris, 1861.
93
Marmontel was one of the most eager to proffer his doubtful sympathies. He hastened to St. Ouen before
the family arrived; then hastened back, and meeting them on the road, mounted their carriage, and
accompanied them to the house, not without something like relentings towards Madame Necker. ‘I had
always,’ he says, ‘for her the most sincere veneration, for I had seen in her only kindness and wisdom and
virtue; and the particular affection with which she had honoured me well merited that I should share the
sorrow which I doubted not deeply affected her.’- Mémoires &c.
101
clergy, the magistrates, the merchants, the men of letters. He received upwards of five
hundred letters of sympathy from towns and provincial corporations, expressing a respect
and affection surpassing any ever received before by any public man of France.’ There
was,’ says Grimm, for some days a continual procession of carriages on the two leagues
of road from Paris to St. Ouen. Never has a Minister borne in his retreat a purer fame.’
Meanwhile all Paris was struck by the event. ‘Consternation,’ adds Grimm, ‘was painted
on all faces. The promenades, the cafés, all public places, were crowded, but everywhere
an extraordinary silence reigned. The people gazed at one another, and pressed one
another’s hands sadly as in view of a coming public calamity.’
94
It was the murmuring
lull that precedes the tempest.
Before these exciting events the health of Mademoiselle Necker had seriously
declined, and had [51] added much to her father’s anxieties. Tronchin, of Geneva, an old
friend of the Necker family, was the medical oracle of the day; his removal to Paris, as
physician to the House of Orleans, produced a sensation in fashionable circles, among
which ennui and the ‘vapours’ prevailed as epidemics, in spite, if not in consequence, of
the frivolity and licence of the times ; and his prescription of fresh air and early walks for
the ‘great dames’ of the city had led to the adoption of a convenient walking dress which
bore his name. Fortunately he was at hand to save the child of his old friend; and his
authority was too great with Madame Necker, as with all her feminine associates, to be
countervailed by her prejudices for her favourite theory of education. He prescribed no
medicine for the young invalid; for he avoided drugs as much as possible in his practice;
and it was a maxim with him that ‘positive sins in medicine, are mortal, while negative
ones are venial.’ He saw at a glance the fatal tendency of Madame Necker’s system, in a
case of such precocious development, such superabundant power and sensibility. He
ordered its immediate and total suspension. All serious studies must be laid aside. The
child must be allowed to grow, for some time at least, spontaneously, in mind as well as
in body, in the open air, amidst the landscapes of St. Ouen. Never was prescription more
acceptable to an invalid; her native vivacity burst into [52] full liberty. The caged bird, let
loose, took to wing through the surrounding groves and meadows. Accompanied by her
young companion, Mademoiselle Huber, she exulted in her freedom, and roamed from
94
Correspondance &c., 1781.
102
morning till night. Madame Necker de Saussure (who, for many years, was more her
sister than her cousin) believed that this rural freedom and gaiety had the happiest effect,
not only on the health, but on the genius of the young girl.
95
It was a period of living,
pastoral poetry in her life, hitherto cramped by mechanical habits of study and the social
artificialities of Paris. It was precisely what such a mind needed. Her imagination, so
splendid in its later disciplined power, and one of the richest charms of her works, now
flowered healthfully amidst natural scenes. Her remarkable faculty of picturesque
description was developed. Her sensibilities, tending to morbid sentimentalism, and never
afterwards entirely exempt from a tinge of melancholy, were placed in better harmony
with her vigorous powers of reflection and reason - a harmony by which was at last
attained the chief distinction of her intellectual character, her almost anomalous union of
sentiment and thought, of enthusiasm and reflection, of the heart of woman with the head
of man. This liberty accorded to her mind,’ says her cousin, ‘enabled it to take its best
flight. The two young girls, running at large in the woods of St. Ouen, [53] clothed as
nymphs or muses, declaimed verses, composed poems, made dramas of every sort, which
they immediately represented.’ The impression of such a happy season in early life never
fades away; it lingers a ‘thing of beauty,’ an azure and radiant interval of sky, in the
darkest storms of later life.
Her cousin tells us that the heart of the grateful girl turned now, in her
emancipation, more than ever towards her father. She ‘seized the least occasion of
approaching him, and found extraordinary pleasure and advantage in his conversation. He
was surprised, more and more each day, by her remarkable intellect, and never was that
intellect more charming than when near him.’ Her quick filial sympathy perceived his
need of amusement and distraction in his trials and the literary labours he now began on
his ‘Administration of the Finances,’ and his Importance of Religious Opinions.’ She
attempted to cheer him in a thousand ways; she would risk anything to obtain from him a
smile.’ She would beguile his occasional hours of leisure, at St. Ouen, by leading him to
narrate to her his early life, especially the twenty years he spent in Paris, before his
marriage, struggling with fortune. A quarter of a century later, when he was in his grave,
she writes of the ‘profound effect’ on her young heart which this story, of labour and
95
Notice &c.
103
almost ascetic self-denial, produced; ‘the story of that period,’ she says, ‘in which I could
only imagine him as so young, so lovable, and so [54] lonely, - that time in which,
perhaps, our destinies would have united us for ever, if fate had only made us
contemporaries.’
96
Strange fancy of filial love! Her affection for him became a passion,
the strongest that ever swayed her heart; her reverence, a worship, an idolatry, which
lasted through his life, and wept at his tomb till she herself was laid there by his side.
Meanwhile Necker, gratefully admiring her mental superiority, did not endanger her by
fond flatteries; ‘his looks were more encouraging than his words.’ He habitually
corrected her faults by a gentle raillery which was not without its charm; no exaggeration,
no inaptitude of any kind escaped his attention.’ He knew the liabilities of such a
luxuriant nature, and his very parental pride led him to prune it, and make the most of it.
‘I owe,’ she frequently said late in life, ‘to the incredible penetration of my father the
frankness of my character, and the naturalness of my mind. He unmasked all affectations,
and I received from him the habit of believing that my heart was clearly seen.’ One of the
most charming qualities of her womanly character was derived from this treatment -
perfect sincerity, a childlike frankness in conversation, and in all her conduct, which, as it
left nothing disguised, allowed not only her faults, but all the riches of her heart and
faculties to be seen and, therefore, appreciated.
[55] A singular effect, more curious, however, than serious, attended this
extraordinary sympathy between the father and daughter. It led to something very like
jealousy between the child and the mother. Necker must have been a man of surpassing
fascination in domestic life; his wife and daughter seemed emulous of each other, not
only in affection, but in a species of adoration for him. It may perhaps be soberly said
that there is no record of intenser admiration and love, of woman for man, than Madame
Necker has left in her ‘Mélanges’ and letters; no record of intenser love and reverence of
a child for a father, than Madame de Staël has left in her ‘Notice’ prefixed to his
‘Manuscrits.’
97
They became rivals in an affection so superabundant that it could not
escape the infirmities of human nature. The mother seemed to fear that her child,
inheriting her own remarkable faculties and deep sensibilities, might take her place in the
96
Caractère de M. Necker et sa Vie privée: Œuvres complètes, tome ii. Paris, 1861.
97
Madame Necker’s ‘Portrait’ of him, Mélanges, vol. ii and her posthumous letters to him, given in the
Introduction to his Œuvres, p. 327; Madame de Staël’s ‘Notice,’ introductory to his Manuscrits.
104
heart of her husband; or, as Madame Necker de Saussure says, ‘allow her to be loved by
him only in her daughter.’ The latter, after the death of both her parents, could not allude
to this affectionate rivalry without commending and yet envying her mother. ‘He chose,’
she says, ‘for his wife a woman of perfect virtue, and of extremely cultivated mind. From
the [56] moment of their marriage to her death the thought of my mother dominated his
life. He was not, like other men in power, attentive to her by occasional tokens of regard;
but by continual expressions of most tender and most delicate sentiment. My mother,
whose affections were passionate, would otherwise have been unhappy. God spared her
the affliction of surviving him. Peace to her ashes - she deserved more than I to be
happy.’ Her own affection for him, like all love when it becomes passion, could never be
contented. ‘The difference of our ages,’ she said, at his death, ‘often troubled my
happiness during the time I possessed him; and now, if he could be restored to me, I
would give all my remaining years for six months;’ and she broke out with passionate
self-upbraidings, as if under remorse for not lavishing upon him more affectionate
attentions.
Meanwhile she never forgot her filial duty to her mother. She admired her rare
talents and pure character, notwithstanding the disparity of their tastes. In mature life she
remarked to Madame Necker de Saussure, The longer I live, the more I understand my
mother, and the more my heart feels the need of her.’ This good authority assures us that
‘the extreme sweetness of the character of Mademoiselle Necker was always manifest
when her mother addressed to her any reproaches. Her respect for her was always
profound and declared. Endowed from childhood [57] with a rare power of apt and vivid
repartee, she never said a word, even on the most trivial occasions, which could show her
under an unfavourable aspect.’
98
98
Still later she spurned with violent indignation the reflections of Madame de Genlis on Madame Necker.
This lady, the authoress of the day, had been a guest of the Necker salon, but never a cordial one.
(Duchesse d’Abrantès Histoire &c., tome i.) She afterwards found in Madame de Staël a literary rival
whose transcendent success she could not pardon, but pursued her with bitter and harassing criticism,
especially during her persecutions by Napoleon. Madame de Staël bore all patiently till the jealous critic
attacked the memory of her mother, when, says her cousin, ‘she showed the greatest irritation that I ever
witnessed in her.’ ‘Does she imagine,’ she exclaimed, ‘that because I do not defend myself, I will not
defend my mother? Let Madame de Genlis attack my words, and my character, as much as she pleases, but
not my dead mother, my mother who has only me in the world to take her part. She preferred my father to
me, and she had reason, without doubt; I feel the more that I have her blood in my veins, and so long as this
blood runs in them, I will not allow her to be outraged.’ She would have appealed to the public, had she not
105
[58] It was in such circumstances that the genius and character of the sensitive
young girl were developed. Her education was entirely domestic, for she was never sent
away to school; and these circumstances, so early and so stimulating, were among the
strongest impulses of her life. They impressed her nature for ever.
Madame Necker felt no little chagrin at the defeat of her plan for the education of
her daughter. In abandoning it now to the control of her husband, she abandoned nearly
all hope of the future ‘distinction’ of the child. She could not, however, fail to be
surprised at her continued and wonderful intellectual growth, and when, at last, she
appeared in the literary world, prepared to claim a distinction unrivalled among her sex,
the mother’s pride could hardly console her for the failure of her original schema I
remember,’ writes Madame Necker de Saussure, ‘that at the time when the éclat of
Madame de Staël’s fame was [59] yet new to me, I expressed to Madame Necker my
astonishment at her prodigious distinction. “It is nothing,” she responded, “absolutely
nothing, compared to what I would have made it!” This answer struck me very much,
because it referred only to the qualities of her understanding, and expressed a sincere
conviction.’
been convinced that any publication of the kind would have been obnoxious to the actual government of
France, and would only increase its persecutions of her family and friends. Madame de Genlis’ attack on
Madame Necker was made in her De l’Influence des Femmes sur la Littérature Française, Paris, 1811.
Neither Madame Necker, nor any of her friends, ever pretended that she belonged to the class of literary
women; her little essay on Divorce was the only production of her pen published during her life; Her
Mélanges were but fragments published by her husband after her death. Yet of her volume of nearly four
hundred pages, Madame de Genlis gives more than one eighth to Madame Necker, more than twice as
many as she gives to Madame de la Fayette, five times as many as to Madame de Sévigné, six times as
many as to Madame Dacier, sixteen times as many as to Madame Riccobini. She gives to her, in fine, more
space than to any other character in the volume, excepting Madame de Maintenon. The book was
apparently published by the malicious old countess for the purpose of disparaging Madame Necker, and
afflicting her successful daughter. She caricatured the latter in her novel of La Femme Philosophe. She
endeavoured , years latter, according to Sainte-Beuve, to atone for her early malice by her Athenaïs, ou le
Château de Coppet en 1807, a romance which is of no authority, either for events or characters. She long
survived Madame de Staël, and in 1825 published her Mémoires of herself, in ten volumes, in which she
again attacks her rival with senile and ridiculous jealousy. See particularly volumes iii. and iv. ‘In this
work, as in all her other publications, for twenty-five years, she followed only the impulse of her hatred.
She seized this occasion to renew her attacks against Madame de Staël. Her judgments on authors and their
works are all dictated by the disparaging spirit which always guided her pen.’ Biographie Universelle,
tome xvi
106
[60] CHAPTER III
YOUTH AND EARLY WRITINGS
First Travels - Visit to Buffon - His Egotism - His Rule for Style - Fine Sayings of Madame Necker - Journey to
Switzerland - Lake Leman - The South of France - Retirement at Marolles - Early Literary Compositions - Dramas -
Fictions - Criticism.
It was in this period of the retirement of Necker that his daughter had her earliest
experience in travel - afterwards so much the habit of her life. Her first journey was to
Plombières (the waters of which had been prescribed for the health of her mother),
99
and
it was particularly interesting to her, as it afforded a visit, at Montbard, to the old friend
of the family, the naturalist Buffon, now a sage of seventy-five years, and of European
renown not only as a ‘scientist’ but as a classic model of French literature. He had been a
favourite authority in the Necker salon on questions of literary criticism as well as of
science. His celebrated discourse, before the Academy, on ‘Style,’ had won for him this
deference. Surrounded by his ‘little court’ of admirers and co-workers, he received his
guests at Montbard with [61] ceremonious attentions, which could not fail to prove
irksome to the young girl whom he had gaily flattered at her home in Paris, and whose
late emancipation in the woods of St. Ouen had unfitted her for dignified restraints.
Instead of rambles among his flowers and birds, she found three grand velvet-covered
arm-chairs, elevated in his salon, for herself and her parents; another, less raised, for
himself; and these circled by lower seats for his associates, who were silent listeners to
his conversations and discussions with the late famous Minister and his accomplished
wife and daughter. His guests were amused at the deferential etiquette of the well-
meaning patriarch, and endured it patiently, ‘rather than afflict an old man,’ their ardent
friend, by hastening on their way; for the simplicities of decaying but affectionate age,
like those of childhood, have a charm of their own, and though we may regret them, it is
usually with a smile. Meanwhile the aspiring girl could hardly fail to learn important
precepts, for her own future use, in the conversation of the venerable author. His very
egotism made it the more comprehensible and instructive to her. In an elegant studio, a
99
Notice by Baron de Staël: Œuvres de Necker, tome i.
107
pavilion, so constructed as to exclude all surrounding sights and distractions, he
meditated his picturesque descriptions and polished his periods, following his well-
known maxim that ‘Genius is only patience.’ I trace,’ he said, a first sketch, and, in
doing this, I do what [62] a hundred writers in Europe can do. I copy it, and obtain a
result which but twenty writers can obtain. I recopy a second and it third time, and thus
achieve, at last, what Buffon alone can do.’ Madame Necker, with her notable aptitude
for epigrammatic sayings,
100
remarks on the simplicity of her old friend, that ‘Buffon
knows not the world, but he knows the Universe.’ But with all her respect for him, and in
spite of so fine a compliment, she cannot refrain from a sarcasm on his egotism. ‘He
always says “great men,” “people of good taste;” &c., using the plural: it is because he
sees himself in a mirror which has facets.’
Much more agreeable must have been their journey, in the summer of 1784, to
Switzerland, which ever afterwards seemed to Madame de Staël a sort of native country,
for, though she was born, and was to die, in France, in Switzerland were born, and there
died, not only her parents, but nearly all her kindred; there was her dearest asylum in the
darkest periods of her life; there was to be her own grave; and, notwithstanding her
thoroughly French temperament and the Teutonic element of her blood (so manifest in
her more studied works), her moral nature was distinctively Swiss.
Crossing the Jura mountains (the geographical, though not the political boundary
of France), the first picture of the glorious land lay extended and [63] radiant beneath her
gaze - Lake Leman flashing in the midsummer sun; the declivities of the Jura, terraced
with vineyards, and studded with thriving hamlets; Lausanne, on the one hand, with its
ancient cathedral; Geneva, on the other, with the grey towers of St. Peter’s, whence had
gone forth influences still dominant in the thought of all Protestant Christendom.
Defining the background of the magnificent picture, the Alps stretched their snow-
covered summits along the south, Mont Blanc lifting his head to the heavens sovereign of
them all. Far to the left quietly reposed, on the margin of the Lake, Vevey, Clarens, the
Castle of Chillon, the rocks of Meillerie, scenes of Rousseau’s most powerful romance -
an author whom the young traveller was now, not only reading, but studying, with
100
Her Mélanges are superabundantly rich in them.
108
enthusiasm, and meditating her first published book - an essay on his genius and writings
- which was soon to surprise the world by revealing the extraordinary though immature
luxuriance of her own genius. On the western margin of the lake lay Coppet, with its
humble church, its few habitations under the shelter of its spacious château, her future
Swiss home.
They now sojourned near Lausanne, in which city Necker was about to publish
his ‘Administration des Finances.’ His wife was suffering seriously from her life-long
malady,
101
but she was absorbed in cares for the comfort of her husband. Her [64]
daughter’s happiness, she writes, is independent of her maternal attentions, ‘she is carried
along by the torrent of her pleasures.’ Bonstetten visited them at Lausanne, and says, ‘I
saw there the future Madame de Staël, in all the charms of youth, of intellect, and of
coquetry.’
102
Madame Necker was now in view of the scenes of her early life. Crassier
looked down upon her. She wrote sadly to her literary friend, Thomas, that, in retracing
her old tracks here, she has passed over, in one day, an interval of twenty years. ‘I hardly
know,’ she adds, ‘whether the memories I still have are my own, or another’s. If my heart
did not still cling, in all places, to the objects of my regret and affection, I should believe
my youth a dream, and the present alone a reality. Are not, indeed, the first years of life
only passing illusions?’ And yet this poetic land is God’s own temple to her, ‘luxuriant
nature, mountains green and peopled, their tops touching the sky, a grand lake regaling
the eye, scenes upon which one’s gaze may wander with rapture. It seems that God has
interested himself here more than elsewhere for his creatures, obliging them to lift up
their thoughts to himself without ceasing.’
This tour brought Mademoiselle Necker into more intimate acquaintance with the
kindred of the family, now somewhat numerous on the shores of Lake Leman, especially
at Geneva, where the [65] talented daughter of the naturalist De Saussure married, about
this time, in her nineteenth year, James Necker, and became afterwards celebrated in
literature as Madame Necker de Saussure. The friendship of the two young women was a
lifelong consolation to both; and Madame Necker de Saussure became the best
biographer of her cousin. Her own biographer says that ‘in these youthful years the
101
Fragments of her letters, Mélanges.
102
Bonstetten’s Souvenirs.
109
conversation of these two persons, so worthy of each other, had a degree of vivacity and
interest which it is impossible to describe. It seemed then that all which the imagination
could suggest of what is beautiful and good would soon be realised by the growth of their
souls. The sad effects of the great Revolution had not yet shown how easily the noblest
designs may be defeated, how the most up-right and courageous wills may be broken. In
their confidential intimacy they discussed the grandest subjects which can occupy the
human mind. Ideas which were one day to be uttered in the “Corinne” and the
“Allemagne,” the treasures of thought and of sentiment, the inventions of the imagination,
dazzled their souls in these familiar conversations. Madame de Staël dreamed without
ceasing in the companionship of her young cousin. She was delighted with this exchange
of views, which tranquillised and directed the restless ardour of her thoughts. It was
indeed a beautiful spectacle - these two superior minds, at the entrance of life, looking
towards the future; the one already [66] peaceful and self-collected, the other ready to
take flight towards the regions where storms, and yet light and glory, prevail.’
103
After passing some time at Coppet, they prolonged their absence into winter, by
travels in other parts of' Switzerland and in the south of France; for Madame Necker was
quite willing to keep her daughter, now advancing in her brilliant youth, as long as
possible away from the moral atmosphere of Paris. She had written to Lord Stormont, the
British Ambassador at Versailles: ‘Paris appears to me more dangerous than ever, now
that my daughter is growing into womanhood, and that I find myself obliged to war
without ceasing, by individual example, against the general example - a combat of
unequal strength, and of doubtful success. I am every day astonished at the moral
perversion which withers all minds and all hearts. Vices or virtues, all are alike
indifferent, provided only conversation is animated, and ennui, our most dreaded plague,
is banished.’
They spent some time at Avignon, under a sky so pure and transparent that it
seemed ‘one ought always to pierce the azure veil, and find, beyond it, all the
consolations one needs!’ But the vices of Paris are rampant here also; ‘they have even
lost some of their polite disguises on the way.’ The opinions and corruptions of the
103
Notice sur la Vie et les Ecrits de Madame Necker de Saussure, prefixed to de second edition of her work
on Education.
110
capital had long [67] been inundating the provinces; social, and especially domestic life
were dissolving; and the whole nation has hastening on towards the abyss of its political
dissolution.
They go to Montpelier, in sight of the Mediterranean and the Pyrenees. They are
deeply interested in the fervid life of the South. They hear impassioned eloquence from
its pulpits – ‘from bishops and archbishops,’ and especially from the Bishop of Narbonne.
They receive refreshing letters from their Parisian literary friends. Madame Necker
replies to one of them, who had visited the family in Switzerland: ‘Monsieur Necker, my
daughter, and I, constantly think of you. He often says that you have rendered our sojourn
at Coppet delightful. It is in retirement that one feels the preciousness of genius and
friendship, as one hears best in the silence of the night the sound of the sea, or the song of
the nightingale.’
By tracing allusions in their letters, and by other obscure clues, we learn that they
turned towards Paris in 1785, and lived for some time in comparative solitude at Marolles,
not far from the city. Here their retreat was ‘quiet, as no movement reached it. All things
around being tranquil, the soul is also.’ It befitted the studious habits of Mademoiselle
Necker, who having, without the aid of schools, far surpassed the usual academic culture
and ranged over the fields of both ancient and modern literature, now aspired to
authorship [68] and literary distinction. Her occasional brief compositions ‘Portraits,’
‘Eloges,’ ‘Synonymes’ -had been read with avidity in private circles of her friends, and
some of them, as we have seen, had been sent by Grimm to his princely correspondents,
as promises of extraordinary genius. Her conversation and letters now showed rapidly
maturing powers. Madame Necker, still suffering in health, had devolved her
correspondence upon her daughter, whose brilliant letters brought back replies full of
admiration. The mother, answering one of these admirers, not without a tinge of jealousy
(ironical, let us trust, in this instance), wrote: ‘The first days after my arrival have been
very sad; I have left to my daughter the happiness of writing to you, but she has received
a too charming letter from you, and I do not wish that she should inherit my rights before
I am no more. One can make little presents during life, but we give all our property only
when we die.’
111
In the year after her return from her southern travels, Mademoiselle Necker
completed a drama in verse, in three acts, entitled ‘Sophia, or Secret Sentiments.’ Its
theme is love without hope; it is pervaded, says her cousin, by ‘a sweet and melancholy
sensibility;’ though it has the excess, the sentimentalism, of a juvenile production, the
whole piece is marked by presages of genius. It is characterised by great moral delicacy,
but it did not escape the rigorous criticism of Madame Necker. [69] It presents four
characters clearly delineated, four well-defined situations, and its style, though incorrect,
as its authoress remarked when, in later years, she gave it to the world, bears,
nevertheless, the stamp of that vigorous originality which was the distinguishing seal of
all her mature works. The next year (1787) her genius, now restless in its aspirations,
attempted a more ambitious flight; she composed her tragedy of ‘Jane Grey’ in the
customary five acts, a few copies of which were printed, three years later, for private
distribution. Its style, though defective, as she acknowledges in the preface, shows a
surprising improvement on that of her Sophia,’ as do also its characters, and indeed all
the essential attributes of the piece. She has strictly followed history, except in the
character of Pembroke. That of Northumberland has been admired as revealing
astonishing power, ‘if we consider the age of the writer.’ There is genuine pathos in some
of the scenes, and not a few passages are written with an energy of thought and feeling
unsurpassed in her later writings. This, it has been remarked, is the only work of Madame
de Staël in which we find ‘a picture animated with happiness;’ its early scenes admit of
such a treatment notwithstanding its tragic conclusion. It reveals also that religious
tendency which habitually characterised the heart of its writer; ‘for, as she had always,’
says her cousin, ‘need of gratitude and, in consequence, of religion, in happiness, she has
[70] given to the character of Jane Grey a deeply religious colouring.’ From her
childhood she had an ardent sympathy with her heroine. ‘In reading her history,’ she says,
‘her character has transported me. I was about her age when I attempted to paint it, and
her youth encouraged mine. I longed to be able to make others share my admiration of
that union of force and sensibility which enabled her to brave death while prizing life.’
104
She recurs to her a quarter of a century later in her ‘Reflections on Suicide,’ to show that
the prospect of a frightful death is not, to a true Christian, a sufficient reason for ending
104
Preface to Jane Grey: Œuvres complètes, ii. Paris, 1861.
112
one’s days. A second tragedy, entitled ‘Montmorency,’ quickly followed that of ‘Jane
Grey,’ but it has never been given to the public.
These juvenile works are interesting, chiefly, as indications of her growing
intellect; imperfect as they are, they are vivid with her genius. With them ended her
attempts at versification on any considerable scale, if we except her ‘Epître au Malheur,
ou Adèle et Edouard,’ relating to the atrocities of the Revolution, and published in the
year 1795. Before she was twenty years of age she composed three tales, which were
published with this poem ‘Mirza,’ ‘Adelaide and Theodore,’ and ‘Pauline’. She did not
overrate them; their situations are rather indicated than developed; she says, in her
preface, ‘their only merit is their [71] pictures of some sentiments of the heart.’ That
tragic tone which pervades all her writings is extreme in these fictitious sketches. The
chief importance of the little volume is in its introduction, which is a critical essay, of
remarkable ability, on Fictitious Literature, written at a later date, but certainly in her
early womanhood. It indicates an incredible range of reading, and equally incredible
depth of reflection on her reading. Sainte-Beuve calls it ‘a charming essay.’ It reviews
nearly all the great works of this kind which had appeared down to her day, in any
language - classifying them, first, as Fictions, Marvellous and Allegorical; secondly,
Historical; thirdly, those which have both Invention and Imitation, but are founded not so
much upon fact as upon probability. She gives pre-eminence, as works of Art, to such as
are truly natural romances, exhibiting the real action of human affections and passions,
without allegory, without mythology, without fantastic or fairy machinery, and without
an obtrusive philosophic or didactic purpose.
Her ‘Eulogy on M. de Guibert’ was written in her twenty-third year; extracts were
given in Grimm’s Correspondence, but it was not printed till after her death. It is
characterised by much of the enthusiasm and nascent genius which pervade her letters on
Rousseau. Guibert was the hero of the famous letters of Mademoiselle Lespinasse, a fact
not yet known however, to his young eulogist. [72] There was much nobleness in his
character, and he had rare talent, as his writings show; he was an habitual and brilliant
guest of the Necker salon, and was in full sympathy with Necker’s political opinions
‘one of the first,’ says Sainte-Beuve, ‘to conceive the ideas and means of public reform,
the States-General, the citizen soldiery,’ &c.; ‘but,’ adds this writer, ‘I am the more
113
pleased with him for having foreseen with certainty, and disclosed in advance, by a
“portrait” the future greatness of Corinne.’ She had, probably, a stronger reason for her
interest in him. Years later, when in England, she intimated to a friend that ‘Guibert had
been very much in love with her before her marriage.’
105
If she could not reciprocate his
affection, she could appreciate it, for a woman, especially such a woman, always feels
herself complimented by love, though it may be from a man incapable of winning her
heart, or perhaps even her esteem. It is at least a homage to her attractions, and that is a
tribute which no woman can despise. The Eulogy on Guibert is the expression of a
grateful, as well as of an admiring heart
Such were the tentative productions of her juvenile pen, before she dared to send
forth the superior, though defective, ‘Letters on the Writings and Character of Rousseau,’
which were to be the first published demonstration of her superb genius.
106
[73] We have anticipated a few dates in this connected view of her earliest works.
Meanwhile other and important events have occurred. Her father, still pursued by
persecution, has been banished from the vicinity of Paris, and she has accompanied him
in his exile. She has grown into a rich young womanhood, physical and intellectual. Her
admirable conversational powers have already been recognised in the best circles as
something wonderful. Her unfortunate marriage has taken place. The increasing
embarrassments of the national treasury have compelled the government to turn again
imploringly to Necker, and he is about to be recalled to office, replacing the family in the
dazzling excitements of Parisian life. And in the same year with his restoration she is to
take her position, and take it for ever, in the literary ranks of her country by her first
publication.
105
Wharton’s Queens of Society, p. 369. London, 1867.
106
Sainte-Beuve is evidently inclined to think that the earliest written of her printed works may have been
the small volume entitled Lettres de Nannine à Simphal, which was attributed to her by M. Beuchat, but
was disavowed by her family at the time of its publication (1818), after her death; if it is a genuine, it was
probably written about her fifteenth year. M. Bohaire, publisher at Lyons, and owner of the manuscript,
insisted that, though not in the hand-writing of Madame de Staël, the work is nevertheless hers. (Querard’s
La France Littéraire, tome ix. The Biographie Universelle inclines to the same opinion.) It differs little
from her three other novelettes, except that it is more juvenile in style. It is a small, sentimental romance,
such as an ardent, guileless young girl might readily imagine.
114
Anexo IV – Tradução em Português
115
MADAME DE STAËL
Um Estudo Sobre sua Vida e Época
Por Abel Stevens
[1] CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO - ASCENDÊNCIA
Coppet - Mansão de Necker - Madame de Stl - A falia Necker - Jacques Necker - A mãe de Madame de Staël -
O amor de Gibbon - Personalidade e escritos de Madame Necker - Moultou - Bonstetten - Voltaire – Os Salons de
Paris - O Salon de Madame Necker - Madame du Deffand - Marmontel - Madame Necker e Madame Roland.
O turista na Suíça, ao passar pelo Lago Leman de Lausana para Genebra, na
margem noroeste uma pequena vila, onde quase todas as casas parecem se ancorar numa
grandiosa estrutura central: é conhecida como a vila de Coppet, e a edificação central é o
Château de Necker, o ‘lar de Madame de Staël’. Com a aproximação do barco a vapor ao
cais, todos os olhos, pelos menos dos forasteiros mais educados, voltam-se do cenário
mais sublime da margem oposta para se fixarem neste lugar memorável. Guias de viagem
são ansiosamente consultados, e acontece poucas vezes que os viajantes não saem do
barco para prestar suas homenagens a este santuário do gênio da maior mulher na história
literária.
[2] Colunatas de carvalhos antigos, castanhas-da- índia, e sicômoros estendem-se
desde o desembarque até a mansão: Esta última é espaçosa, mas apresenta um aspecto
mais de conforto e de bom gosto, do que de suntuosidade. O pátio principal, contornado
por três lados pela construção, e no quarto por uma cerca grandiosa com grandes portões,
é decorado com canteiros de flores, e videiras em flor elevam-se pelos cantos até o
telhado. Pelo lado norte aberto se estende uma simples imagem da bela paisagem,
desenhada mais pela natureza do que pela arte: uma combinação de jardim inglês e
parque, com relva, moitas de arbustos floridos, e árvores majestosas; um riacho cristalino
(fluindo do Jura abaixo) de um lado; um tanque de peixes no centro; e caminhos de
pedregulhos, com bancos de pedras, entre as árvores.
116
O interior da mansão ainda mantém, intactas, não poucas lembranças de sua
famosa proprietária, objetos de grande interesse para inúmeros peregrinos, - um quarto,
com sua mobília antiga e tapeçarias penduradas; uma biblioteca com estantes cheias,
escrivaninha, e quadros; um salon com obras de arte. Espalhados por estes ambientes
estão bustos e retratos, dela mesma, de seu primeiro marido, e de seus filhos; de Necker
seu pai, sua mãe, de Rocca seu amor juvenil e segundo marido, de August Wilhelm
Schlegel, e outros amigos literatos.
A oeste da mansão fica o cemitério da família, completamente fechado do olhar
dos visitantes por causa dos muros altos,[3] e uma densa mata de árvores antigas e um
emaranhado de arbustos e videiras. No seu centro uma pequena capela, onde em seu
interior dorme a ilustre autora, com seus pais, e em volta descansam seus filhos e netos
quatro gerações da família de Necker. É um recanto sombrio, mas os rouxinóis se deitam
cantando em suas sombras profundas, e o Jura vestido de videiras de um lado, o lago e
Alpes coroados de neve do outro lado, formam um fundo de uma imagem de beleza
extraordinária que condiz com a memória da sua ilustre ocupante.
Muito mais interessante por suas memórias sociais e literárias do que pelo seu
cenário pitoresco, esse local fascinante será o centro da nossa narrativa. Foi um centro
intelectual da Europa em um dos mais agitados períodos da história moderna. Nós
teremos oportunidades incessantes para voltarmos a ele; nós começamos com ele e
devemos finalizar com ele.
Madame de Staël foi sem sombra de dúvidas uma das principais figuras na
história da literatura e sociedade francesa, se não de fato da política francesa, durante a
época da primeira Revolução e do primeiro Império. Coppet, assim como os arredores de
Ferney, de Voltaire, no período anterior, era um tipo de corte Européia, um local de
encontro de pessoas importantes da literatura e política; e o grande capitão da época tinha
ciúme da caneta de sua châtelaine como se fosse o cetro de qualquer corte real. Seu
caráter é um estude de grande interesse. Ela combinou combina o coração de uma mulher
com o intelecto de um homem. Seu ‘Corinne’ é o ideal [4] da mulher dotada de talento,
enquanto que ‘Allemagne’ é, diz Sir James Mackintosh, ‘a mais elaborada e masculina
produção das habilidades da mulher. Mackintosh lhe deu a precedência a todas as outras
117
mulheres que ganharam um nome com autoria literária. Byron disse, ‘ela é uma mulher
por ela mesma, e fez mais do que todo o resto juntos, intelectualmente; ela deveria ter
sido um homem.’ Ambos conheciam-na, e julgavam-na tanto pela relação pessoal como
por seus escritos. Alison considerou-a como ‘a primeira das mulheres, e a segunda dos
poucos autores homem. Jeffrey manifestou a mesma opinião sobre sua colocação
literária. Macaulay ainda mais enfaticamente diz que ‘ela foi certamente a maior mulher
de sua época.’ Schlegel, amigo íntimo dela por muitos anos, declarou que ela foi ‘uma
mulher notável e generosa até nos recantos mais íntimos da sua alma.’ ‘Ela foi,’ afirma
outra autoridade, ‘provavelmente a mulher mais extraordinária que a Europa gerou.’
107
A adoração idolátrica filial, culminando numa ternura triste, o entusiasmo quase lírico, da
sua introdução biográfica para o ‘Manuscrits’ de Necker, é tão raro em literatura quanto a
paixão maternal que é imortalizada nas cartas de Sévigné. Sua capacidade comunicativa
provavelmente nunca foi superada, e ela era a rainha do Salon’ parisiense da sua época.
Sua atividade na política, [5] e em algumas das situações mais perigosas, da Revolução
Francesa: investe sua personalidade num heroísmo romântico, e conecta seu nome com a
maior época da história moderna européia. As viagens de seu longo exílio fizeram-na
cosmopolita na literatura e na vida social da Europa, e o estudo da sua vida deve ser um
estudo da política, da literatura e sociedade de sua época.
Anne Louise Germaine Necker, Baronesa de Staël Holstein, nasceu em Paris em
22 de Abril de 1766.
108
Seu pai, Jacques Necker, era natural de Genebra, e foi educado de
acordo com o rígido regime estabelecido então por Calvin. Seu próprio pai, Charles
Frederick Necker, era natural da Prússia, mas cedo se tornou um cidadão de Genebra, e
destacou-se como Professor de Direito na ‘Academia’, ou Universidade da cidade, e
como autor de diversas publicações elaboradas. Outro filho, Louis Necker, tornou-se
Professor de Matemática na mesma instituição, mais tarde foi banqueiro em Paris e
Marselha, mas por último regressou à sua cidade natal, e dedicou o resto da sua vida a
estudos físicos e matemáticos; ele também [6] conseguiu alguma distinção como autor.
107
Notices Généalogiques de Galiffe, tomo ii (4 vols.). Genebra, 1829 – 1857
108
Existem dois registros de batismo dela nos arquivos da cidade: em um deles seus pais possuem o tulo
de ‘nobre’. Dict. Crit. et Biog. de Jahl. Paris, 1872. O ‘de’ (d’Albert) pertencia ao antigo francês Huguenot
família da mãe de Madame Necker. Pertencia também á esposa de Samuel Necker (advogado, de Custrin)
Marguerite Saphrasine de Labahache de Stettin os pais do avô de Madame de Staël, Charles Frederick.
Notices Généalogiques de Galiffe, tomo ii.
118
Um filho deste irmão (James Necker) foi durante um tempo Professor de Botânica na
Academia, e juiz da cidade, mas é mais conhecido como o marido da talentosa filha do
‘físico’ De Saussure (Madame Necker de Saussure), a autora de um habilidoso trabalho
sobre Educação, que foi ‘coroado’ pela Academia Francesa, e uma das melhores amigas e
melhores biógrafas de sua prima, Madame de Staël. Ela será também um dos personagens
mais interessantes da nossa narrativa.
Charles Frederick Necker fundou, então, a família Genebresa com bom sangue
Teutônico,
109
e a melhor educação da época, revigorado mais propriamente do que
enfraquecido pelo rigor lacedemônio da vida contemporânea Genebresa um rigor que
sobreviveu, com um suave relaxamento, no primeiro, se não no segundo quarto do século
dezoito. Os Neckers eram famosos por sua cultura intelectual, seu caráter moral, e seu
sucesso na vida. Jacques, o pai de Madame de Staël, deu distinção histórica à família
uma distinção imensuravelmente acentuada pelo gênio de sua única filha. Ainda que sua
educação doméstica e acadêmica tenham predisposto-o aos estudos literários e filosóficos
incluindo teologia, a tendência intelectual dominante em sua cidade natal seus pais
cedo o destinaram à [7] vida mercantil, e mandaram-no para Paris, quando ele tinha cerca
de quinze anos, , onde ele fez seu estágio de aprendiz na casa bancária de Vernet, um
membro da distinta família Genebresa deste nome, com quem os Neckers mantinham
relações estreitas. Diz-se que ‘o funcionário logo tornou-se patrão,’ pela sua brilhante
superioridade em todos os problemas do negócio. Uma feliz discussão com o chefe da
casa levou ao seu sucesso coroado. Vernet morava no interior, e aparecia no banco
somente às vezes. Uma carta chegou da Holanda em sua ausência, propondo um negócio
que era um pouco incomum nas transações normais da firma. O chefe dos empregados
falou sobre ela para Necker, quem imediatamente escreveu todos seus detalhes, e
calculou suas probabilidades, com abundante elaboração. Vernet, ao chegar, ficou
surpreso e indignado com a presunção do jovem subordinado, que jogou sob seus olhos
volumosos documentos esboçando um imenso esquema de negócios, como se ele fosse o
chefe do estabelecimento. Trocaram palavras enraivecidas. Necker, afirmando que, como
nada havia sido consumado, não havia nenhuma conseqüência que justificasse a
severidade de Vernet, bruscamente atirou seus documentos no fogo e se retirou. Vernet
109 A família tinha origem na Irlanda, onde tinha, entretanto, uma origem anglo-saxônica.
119
percebeu, depois de uma breve reflexão, que o jovem havia controlado todo o assunto
com uma habilidade extraordinária, e imediatamente promoveu-o a secretário chefe.
Necker adquiriu, em três meses, o conhecimento da língua Holandesa para poder [8]
negociar com os capitalistas da Holanda, e quando Vernet fechou seu próspero negócio,
colocou a comando dele fundos suficientes para permitir que ele se unisse ao Thellusons,
como sócio, fundando o banco francês mais famoso da época.
Ele dedicou vinte anos para formar sua fortuna, e então deu mais atenção a
interesses gerais e públicos. Um representante da velha Companhia do Leste da Índia, ele
assim conduziu seus negócios que conquistou uma fama inigualável para habilidade
financeira, e um grande aumento de sua própria riqueza, que foi mais adiante aumentada
por extensas negociações no mercado dos cereais. A república de Genebra estava
orgulhosa da habilidade e integridade de seu filho, e nomeou-o como seu ministro
residente na Corte de Versalhes, onde seus talentos eram muito apreciados, especialmente
pelo Duc de Choiseul. Ele se tornou não apenas um dos mais hábeis finacistas da época,
ele também cultivava a literatura. A coletânea escrita por ele preenchem quinze volumes,
e são caracterizados por uma profunda reflexão e um estilo vigoroso embora de alguma
forma peculiar. Suas primeiras publicações foram ‘Mémoires’ relativa aos negócios da
Companhia Indiana. Seu ‘Eloge de Colbert’ mereceu muita atenção, e foi coroado pela
Academia Francesa. Seu estudo ‘Sur la Législation et le Commerce des Grains’ causou
uma impressão notável, e o conduziu, finalmente, a sua ascensão ao Gabinete Real. Seu
‘Compte Rendu au Roi’ colocou [9] toda a França em alvoroço, e efetivamente ajudou a
iniciar a Revolução. Seu ‘Administration des Finances’ causou um furor ainda maior. Seu
‘Importance des Opinions Religieuses’ foi uma competente embora cautelosa tentativa de
verificar as tendências anti-Cristãs de sua época, e uma admirável expressão de seu
próprio caráter profundamente religioso. Se levemente defectivo em teologia, é, todavia
puro e sublime em sua ética. Buffon enviou, de seu leito de morte, seu agradecimento
enfático ao autor. Este foi o último livro escrito pelo naturalista, e sua carta foi a última
que ele escreveu ou ditou. ‘O livro de Necker,’ diz Sainte-Beuve, ‘teve a honra de extrair
desta grande mente as últimas palavras nas quais ele admitia o Ser Supremo e a
120
imortalidade.’
110
Os fragmentos de seu ‘Manuscrits’, publicados por sua filha, mostram
muito discernimento e sutileza em seu julgamento do caráter, e provam, diz seu crítico
mais talentoso, que ‘Necker, como um moralista, era um escritor muito crítico, muito
mordaz, e por demais esquecido.’
111
Ele tinha sido evidentemente um estudante, embora
não imitador, de Rochefoucauld e Vauvenargues. Seu pequeno ensaio sobre ‘Le Bonheur
des Sots’ não é indigno de La Bruyère; divertiu sua geração, e mostrou que, apesar de sua
seriedade habitual, havia uma viva fonte de humor. Seu ‘Cours de Morale Religieuse’ é
outra prova de seu profundo interesse em religião, [10] numa época em que parecia se
estar perdendo inteiramente o domínio sobre a mente da Europa. Os melhores escritos
religiosos de Necker precediam àqueles do autor de ‘Génie du Christianisme,’ e ele figura
ao lado de Chateaubriand na reação a favor do Cristianismo que seguiu o desastroso
ceticismo da Revolução. Sainte-Beuve admite que os trabalhos religiosos dele são
caracterizados por ‘uma sinceridade perfeita, uma unção, uma sensibilidade profunda e
persuasiva, que permeia seu estilo e que freqüentemente substitui a metafísica por um
tocante sentimento moral.’
112
Quando as qualidades superiores de Necker, especialmente habilidade e
integridade financeiras, levaram-no a ser chamado para o governo de Louis XVI, tinha-se
a esperança que ele pudesse salvar o Estado que afundava das arrebatadoras dificuldades
financeiras que, ao final, naufragou na Revolução, e do qual nenhuma força na terra
poderia salvá-lo. Sua política de redução de despesas e integridade rígida, assim como
seu Protestantismo, agrupou contra ele seus inimigos oficiais e na corte. Ele foi, como
veremos mais adiante, freqüentemente demitido e readmitido, gozando da simpatia
entusiástica do povo que, na ocasião da sua demissão, fechou os teatros, e carregou seu
busto, envolto em preto, pelas ruas; e, no seu [11] retorno, puxaram sua carruagem em
triunfo e deixou toda Paris jubilante.
Seu mérito característico não deixou de ser afetado pelo defeito. Ele tinha
ambição pela popularidade, e era muito acanhado, especialmente de suas habilidades e
110
Sainte-Beuve, Causeries, tomo vii. (14 vols.). Paris, 1862.
111
Ibid.
112
Para mais detalhes sobre seus escritos, e também aqueles de Madame Necker, ver Le Dix-huitième
Siècle à l’Etranger; Histoire de la Littérature Française dans les divers Pays de l’Europe de Sayou, tomo
ii. livro xiv. chap. iv. Paris, 1861. Este autor apresenta mais alguns fatos interessantes sobre Madame
Necker nos capítulos xiii – xv do livro xii. (vol. ii).
121
méritos. Seu sentimentalismo, uma virtude em seus escritos e conversas, tornou-se
defeito em sua política. Seu estilo era muito complicado, muito abstrato, muito profético.
Ele foi chamado de o pai da escola doctrinaire política,
113
na qual Royer Collard, Guizot,
e o Duc de Broglie, foram os mais distintos representantes no nosso século uma escola
que propunha ‘imprimir uma nova direção na França, para reformar seu temperamento
impetuoso, e dar equilíbrio constitucional para a sua vida política. Esta escola carregou,
mais ou menos, a marca tanto de suas idéias políticas anglicanas como de seu estilo
literário.
Como pessoa, Necker era tão notável como em caráter. ‘Seus traços fisionômicos’
diz sua esposa em um ‘Portrait’ literário, ‘não se parecem com nenhum outro; a forma de
seu rosto é singular. Uma testa alta recuada, um queixo de extensão incomum; olhos
castanhos vívidos, cheios de ternura, algumas vezes de melancolia, e arqueados por
sobrancelhas elevadas, davam a ele uma expressão muito original.’ Sua estátua em
Coppet, com algo de teatral em sua atitude, expressa graça e grandiosidade tanto da alma
quanto da pessoa.
Assim era o pai de Madame de Staël. Seu [12] estilo tanto de pensamento quanto
de linguagem, abrandado pelos seus defeitos peculiares, e dotados com mais vigor e
elegância, reapareceram nos próprios escritos dela. A legitimidade intelectual dela é
incontestável.
Sua mãe era dificilmente menos notável que seu pai, porque tinha qualidades que
eram bastante raras entre as mulheres daquela época. Susanna Curchod era filha de um
modesto pastor suiço de Crassier, uma aldeia nas montanhas Jura.
114
Dificilmente
poderia se achar um retiro mais adequado, por sua tranqüilidade, seu cenário, ou sua
sociedade simples, para a educação uma criança precoce; Dizem que seu pai deu a ela
uma educação tão completa quanto podia esperar qualquer mulher na Europa. Ensinaram
a ela de maneira sólida as línguas clássicas e modernas, e tornou-se proficiente na
maioria dos estudos efetuados por homens que aspiram a uma carreira nas ciências nas
letras. Sua filha nos conta que durante toda a sua vida seu prazer em escutar os poetas
113
Genève et les Rives du Leman de Rey, chap. ix.
114
Le Canton de Vaud de Vuillemin. Lausana, 1862.
122
antigos lidos no original. Gibbon, o historiador, diz que suas visitas ocasionais, em sua
juventude, a Lausana, onde ele residia, seduzido por relatos de sua beleza e intelecto que
condizia apenas a um ‘prodígio,’ e despertou sua curiosidade para vê-la.
115
Ela era uma
favorita entre as famílias mais importantes da vizinhança; um escritor local [13] relembra
que a menina linda e spirituelle era freqüentemente vista andando de mula ao longo das
estradas, de mansão em mansão para dar aula, e seus charmes e talento despertavam
entusiasmo nos refinados círculos da Lausana.
116
Com a característica sensatez e previsão econômica da Suíça, seu pai sabia que
ela não poderia ter melhor provisão para o futuro do que uma mente bem guarnecida e
bem disciplinada. Gibbon diz que ela tinha também boas maneiras, e que sua inteligência
e atrações pessoais eram temas de interesse universal. Ela não carecia de pretendentes
dignos; mas seu pai escolheu entretanto garantir a independência dela qualificando-a para
o ofício de professora ou governanta, seguro de que se ela nunca precisasse usar suas
qualificações neste serviço laborioso, elas não seriam demais na sua própria casa por
mais opulenta que pudesse ser. Ao prepará-la para ser professora, ele a preparou para
presidir nos mais altos círculos da vida Parisiense, para conquistar o admirável respeito
dos homens de letras de Paris, para permanecer, superior tanto em intelecto, quanto em
caráter, entre as mulheres da Corte de Versalhes; e acima de tudo, para dar à França, na
pessoa de sua própria filha criteriosamente educada, o intelecto feminino mais perfeito da
época dela.
A história do amor de Gibbon por ela, e sua desilusão, é bastante conhecida, mas
é digna [14] de ser repetida, não apenas como uma característica dele mesmo, mas
também de Mademoiselle Curchod. ‘Eu não preciso enrubescer,’ ele diz ao relembrar o
objeto de minha escolha, e apesar de que meu amor não tenha tido êxito, tenho mais
propriamente orgulho de que uma vez fui capaz de ter tão puro e sublime sentimento.
Os atrativos pessoais de Mademoiselle Curchod eram ornamentados pelas virtudes e
talentos de sua mente. Suas riquezas eram modestas, mas sua família era respeitável. Sua
mãe, nascida na França, preferiu sua religião a seu país. A profissão de seu pai não
115
Memórias da minha Vida e Escritos de Gibbon. Ver também o Salon de Madame Necker, d’après des
documents tirés des archives de Coppet, etc., par M. Othenin d’Haussonville, in Revue des Deux Mondes,
1880.
116
Genève de Rey, etc. xiii.
123
eliminou a moderação e filosofia de seu temperamento, e ele viveu contente com um
pequeno salário e tarefas árduas, na obscura sina de pastor do Crassier, nas montanhas
que separam o País de Vaud do país de Borgonha. Na solidão de uma vila isolada ele
concedeu uma educação liberal e erudita a sua única filha. Ela superou suas expectativas
por sua proficiência nas ciências e línguas, e em sua curta visita a alguns parentes em
Lausana, a inteligência, a beleza, e a erudição de Mademoiselle Curchod eram tema de
aplausos universais. O rumor de tal maravilha despertou minha curiosidade. Eu vi, e eu
amei. Eu achei-a instruída sem pedantismo, alegre na comunicação, pura em sentimento,
e elegante nas atitudes; e a primeira emoção repentina foi fortificada pelos hábitos e
conhecimento de entendimento familiar. Ela me permitiu [15] fazê-la duas ou três visitas
na casa de seu pai. Eu passei alguns dias felizes lá, nas montanhas da Borgonha, e seus
pais honrosamente encorajaram a ligação. Num calmo isolamento, a alegre vaidade da
juventude não mais esvoaçando em seu peito, ela ouviu a voz da verdade e da paixão, e
eu posso presumir a esperança de que eu causei alguma impressão num coração virtuoso.
Em Crassier e Lausana eu me perdi nos meus sonhos de felicidade; mas no meu retorno
para a Inglaterra, eu logo descobri que meu pai não daria ouvidos a esta estranha aliança,
e que, sem o seu consentimento, eu estaria desamparado e impotente. Depois de uma
dolorosa luta eu me rendi à minha sina, eu suspirei como um apaixonado, eu obedeci
como um filho, minha ferida foi insensivelmente curada pelo tempo, afastamento, e os
hábitos de uma vida nova. Minha cura foi acelerada por uma franca declaração da
tranqüilidade e bom humor da própria dama; e meu amor se reduziu a amizade e estima.
O pastor de Crassier logo após morreu; seu ordenado morreu com ele, sua filha se mudou
para Genebra, onde ensinando jovens damas, ela ganhou uma difícil subsistência para ela
mesma e sua mãe; mas em sua mais extrema pobreza ela manteve uma reputação
imaculada e um comportamento digno.
117
Um [16] rico banqueiro de Paris, um cidadão
de Genebra, teve a sorte de descobrir e possuir este tesouro inestimável; e na capital da
riqueza e luxúria ela resistiu às tentações da fortuna como ela suportou o sofrimento da
pobreza. O gênio de seu marido exaltou-o para a posição mais distinta na Europa. A toda
117
Ela havia anteriormente mantido sua mãe e a si mesma dando aulas em escolas em Lausana e Neuchâtel;
é duvidoso que ela tenha dado aulas em Genebra, apesar de que ela estava na família de seu amigo
Moultou um tempo antes de ir para Paris. Ver Lettres diverses recueillies en Suisse, par le Comte
Golowkin. Paris, 1821. Este autor apresenta cerca de quarenta cartas da autoria dela.
124
mudança de prosperidade e desgraça ele se reclinou ao peito de um verdadeiro amigo, e
Mademoiselle Curchod é agora a esposa do Monsieur Necker, o Ministro, e talvez o
legislador da monarquia francesa.’
118
Gibbon nunca se casou. Ele manteve durante toda a
sua vida uma amizade íntima, cheia de delicadeza e estima por Madame Necker e seu
marido; ele freqüentava a casa deles em Paris, correspondia-se com eles, e tinha orgulho
da aprovação de Madame Necker de seu grande trabalho.
Madame Necker de Saussure descreve-a como dotada de firmeza de caráter, vigor
de intelecto, e uma notável capacidade para trabalhar; não apenas educada num nível
extraordinário tanto nas ciências quanto nas letras, mas também especialmente tendo este
‘espírito metódico’ que serve para a aquisição de todas as coisas.
119
Com sentidos
brilhantes e atrações pessoais ela combinou as qualidades morais mais altas. Seus
princípios religiosos nunca foram abalados pelo cepticismo e pela imoralidade aberta, [17]
que prevaleciam em volta de seu lar parisiense. As lições do presbitério humilde de
Crassier permaneceram ainda mais vivas em sua alma, santificando sua vida e
consolando sua morte. Seu ensaio intitulado ‘Réflexions sur le Divorce’ é um exemplo de
raciocínio luminoso e estilo original. É um apelo para a sacralidade do casamento, contra
as opiniões soltas sobre este que caracterizou a época da Revolução. Seu último capítulo,
sobre auxílio mútuo e consolações do idoso na vida casada, é pateticamente eloqüente.
Ela escreveu a partir da própria experiência, e, como ela diz, levou outros a desejar e a
atingir uma felicidade que ela mesma havia desfrutado. Seu ‘Melanges’
120
é famoso pelo
bom senso, observações acertadas e epigramáticas em quase todo assunto que ela toca, e
por uma elevação moral completamente em contraste com as tendências de opinião ao
redor dela. Necker sobre ela que ‘para que ela fosse perfeitamente amável, ela só
precisava de algum defeito que ela tivesse que perdoar em si mesma’ Seu principal
defeito era talvez seu rigor moral; a tolerância que ela não precisava pra ela mesma, ela
demorava em entrar em sintonia com personalidades fracas. ‘Ela podia cativar,’ diz
Madame Necker de Saussure, ‘quando ela queria, ela francamente dava elogios onde
118
Memoirs etc.
119
Notice sur le Caractère et les Ecrits de Madame de Staël, vol. i de suas Œuvres complètes (17 vols.).
Paris, 1820.
120
Documentos variados, publicado por Necker após a morte dela: 3 vols. 8vo. em 1798; e 2 vols. 8vo.
(Nouveaux Mélanges) em 1802. Genebra.
125
havia mérito; seus olhos azuis eram meigos e carinhosos, e sua face tinha uma expressão
de [18] extrema pureza, e candura, que faziam com sua figura alta e um tanto rígida, um
contraste suficientemente fascinante.
121
Assim era a mulher que Necker escolheu como sua esposa, enquanto se orgulhava
da crescente fortuna e fama, e quando ela estava lutando, sozinha no mundo, com a
pobreza e o trabalho. Após a morte de sua mãe, ela continuou a lecionar para sua
sobrevivência; mas a sua vida de labuta árdua era consolada pela amizade íntima e
admiração de muitos personagens famosos, particularmente pela amizade mais querida de
sua juventude, com Moulton, um clérigo de Genebra, quem nem sequer Voltaire poderia
deixar de reverenciar, e de quem ela escreveu um entusiasmado tributo ou ‘Portrait.’
122
O
filósofo Bonstetten (amigo por toda a vida de Madame de Staël, e um convidado habitual
na pequena corte de Coppet) era um de seus admiradores ardentes, e, na velhice dele,
relembra os agradáveis passeios que ele fez, todos os sábados, com ela e Moulton, pela
vizinhança do Castelo de Voltaire em Ferney.
123
O ‘Patriarca de Ferney’ não poderia
deixar de admirar as habilidades intelectuais dela, apesar das diferenças religiosas, e era
seu lisonjeiro correspondente pelo resto da vida dele. A valente luta de Voltaire pela
tolerância, alongada por [19] muitos anos, nos famosos casos de das famílias Protestantes
de Calas e Sirven, e de escravos Protestantes dos barcos, ganhavam dele o interesse, se
não a afeição, geralmente dos Protestantes Suíços e Franceses, apesar da profunda
repugnância deles aos escritos anticristão dele. Moulton esteve lado a lado com ele, seu
assistente mais ativo, durante aquela prolongada discussão que movia toda a Europa; e
Necker e sua esposa sabiam dos serviços beneficentes do ‘Patriarca’ durante uma
amizade ao longo suas vidas.
124
Uma dama da sociedade e rica, Madame de Vermenoux, viajando por motivos de
saúde, levou Mademoiselle Curchod para Paris para dar aula de latim para seu filho.
Necker havia cortejado esta elegante viúva, mas ela adiou sua resposta ao seu pedido
de casamento, na esperança de uma oferta mais aristocrática. Durante sua ausência ela
121
Notice etc.
122
É Moultou quem ela descreve no ‘Retrato de meu amigo,’ Nouveaux Mélanges, vol. ii.
123
Souvenirs de Bonstetten. Paris, 1832
124
O pastor Gaberel mostra que Moultou era digno da admiração de Mademoiselle Curchod. Voltaire et les
Génevois, ix, Paris, 1857.
126
escreveu para ele recusando seu pedido; mas agora ela estava de volta, com a jovem
professora, com a intenção de aceitar o rico banqueiro, cuja fortuna e reputação haviam
aumentado consideravelmente durante as viagens dela. Necker, entretanto, estava tão
perplexo com as qualidades superiores de Mademoiselle Curchod, que ele transferiu para
ela toda a sua atenção e afeição. Eles se casaram em 1764, ele com a idade de trinta e
dois, ela vinte e cinco anos. ‘Seu casamento,’ diz seu biógrafo, ‘causou [20] em Madame
de Vermenoux um forte sentimento, as marcas nunca se apagaram no seu coração, mas
sua relação com eles permaneceu amigável.
125
‘De seu casamento até a sua morte,’
acrescenta esta autoridade, ‘trinta anos se passaram na união mais virtuosa e mais
afetuosa que a história, e, eu me atrevo a dizer, a ficção, pode oferecer um exemplo.’ ‘A
partir deste momento’ observa a Duchesse d’Abrantès, ‘ela se tornou o anjo da guarda de
Necker: seu marido tinha orgulho dela, e ele tinha razão de ter.’ ‘Ele a escolheu,’ diz
outra autoridade, ‘apenas por suas virtudes e seus encantos. Ele descobriu nela um
entusiasmo para o sucesso e superioridade que deu, talvez, o primeiro impulso para uma
carreira mais alta na qual ele depois se distinguiria.’
126
Apesar do raro gênio financeiro de Necker, ele teve, como vimos, as aspirações
acima das [21] buscas de ganho. Estas buscas eram de fato, às vezes, bastante aborrecidas
para ele. Ele cedo deu-se à composição literária, e para seus ensaios juvenis (a maioria
das vezes poético e dramático) dizem que foram marcados por muito vigor e espírito; mas
ele teve o bom senso de não os publicar. Detestando a monotonia da casa-bancária, ele
contudo dedicou suas energias ao acúmulo de sua fortuna e à sua reputação como um
financista, esperando que assim pudesse por fim achar, abrindo-se diante dele, uma
carreira que convinha mais aos seus gostos mais refinados. Sua educada esposa
compartilhava sua ambição, assim ela pôde apreciar sua competência para seus mais altos
125
Memórias, pelo seu neto, Barão de Staël, tomo i. das Œuvres complètes de Necker l (15 vols. 8vo.),
Paris, 1820-21. Eu prefiro este especialista do que a Duchesse d’Abrantès, que (Histoire des Salon de
Paris, página 58, tomo i. Paris 1837) representa Madame Vermenoux como incentivando o casamento, e
até ajudando o jovem casal com dinheiro para começar as despesas da casa. Necker estava dois anos
como sócio na maior casa bancária de Paris, e que logo seria a maior da Europa. Foi no ano do seu
casamento que ele recebeu a fortuna da Companhia da Índia. Em uma carta escrita por Mlle. Curchod, no
dia antes de seu casamento, para Madame de Brenles, ela diz de Necker, ‘Os talentos e a cautela dele
produziram para ele mais consideração do que sua fortuna, apesar de ele ter um salário de 25,000 liras.’
(Count Golowkin’s Lettres diverses recueillies en Suisse, etc. Geneva, 1821.) Marmontel apresenta uma
história muito aduladora de Madame Vermenoux (Mémoires, livre x. Œuvres Complètes, 7 vols. Paris,
1820).
126
Biographie Universelle.
127
objetivos. Logo depois de seu casamento ela abriu sua casa para a recepção dos líderes de
opinião e a sociedade na capital, orgulhosa de ter seu marido conhecido e testado por eles.
Ela se tornou o gênio que presidia de um dos mais influentes salons de uma época
quando o salon parisiense era ainda um centro de poder, social, político, e literário -
quando o círculo de Madame Geoffrin brilhou como uma constelação dos mais altos
intelectos da metrópole; quando a Marquesa du Deffand reinava, imperialmente, em suas
festas na rua Sant-Dominique; e Mademoiselle de Lespinasse tinha justamente se
revoltado da tirania da velha e cega marquesa, e tinha montado seu salon rival sob
patrocínio de D'Alembert, desenhando com ela, pela fascinação de suas realizações
versáteis e seu entusiasmo de Sapphic, os savants e littérateurs [22] da cidade. A
companhia da mansão de Madame Necker logo incluiu muitos dos escritores mais
notáveis da época - Buffon, Marmontel, Saint-Lambert, Thomas, Duclos, Diderot, La
Harpe, D'Alambert, Grimm, Raynal, Delille, Morellet, Gibbon, Hume,
127
sem nomear
inúmeros marechais, duques, marquesas, e condes. A própria Madame du Deffand
freqüentou o salon de sua nova rival, e deixou muitas alusões a ele em suas cartas a
Walpole.
128
‘Ontem jantei,’ ela escreve, ‘em St. Ouen, com a Duquesa de Luxemburgo, o
Bispo de Mirepoix, etc. Necker tem muita inteligência. Assemelha-se a você em alguns
aspectos.’ Novamente: “É um homem muito correto; tem muito intelecto, mas é
demasiadamente metafísico nos seus escritos. Na sociedade ele é natural e alegre, tem
excessiva franqueza, mas mesmo assim diz pouco, e está freqüentemente distraído. Eu
janto uma vez por semana na sua casa de campo em St. Ouen. Sua esposa tem intelecto e
mérito. As relações sociais dela é composta geralmente por homens de letras, que, como
você sabe, [23] não gostam de mim; é apesar deles que ela começou a gostar de mim.’
129
Outra vez: ‘Ambos têm intelecto, particularmente ele; mas falta nele uma qualidade que
confere o talento mais agradável - uma certa facilidade, que extrai pensamentos daqueles
127
Hume não é freqüentemente citado, na lista de seus convidados, pelos escritores franceses, mas ela
sempre faz alusões a ele nas suas correspondências. Em uma carta para Madame de Brenles (1765) ela diz:
‘Quanto a Hume, imagine você mesma um gigante muito galante, com olhos tendo o discernimento de um
filósofo, com bons traços, apesar de apagadas doces; capacidade comunicativa tolerável, mas com um ar de
pensamento reservado apesar de não expressar tudo o que ele pensa, um ar que não pertence a um caráter
franco; e ainda mais uma bondade na sociedade, que assusta e encanta, etc.’ Lettres diverses recueillies en
Suisse, etc., par le Comte Golowkin. Geneva, 1821
128
Lettres de la Marquise du Deffand à Horace Walpole, vols. iii. and iv. passim (6 vols.). Paris, 1812.
129
A velha e cínica Marquesa havia sido a preferida dos filósofos parisienses, mas Mlle. Lespinasse os tirou
dela.
128
com quem se conversa; ele não ajuda no desenvolvimento das idéias dos outros; e uma
pessoa é mais estúpida com ele do que quando está ou com outros.’ Mais tarde: ‘Eu
jantei ontem com os Neckers. É verdadeiramente um homem bom. Tem capacidade sem
presunção, generosidade sem ostentação, prudência sem dissimulação. Será uma boa
escolha para o governo empregar tal homem, mas sua religião é um obstáculo
intransponível.’ Outra vez: ‘São pessoas corretas; o marido tem grande intelecto e
autenticidade; a esposa é rígida e frígida, mas boa.’ A marquesa era moralmente incapaz
de apreciar um caráter como o de Madame Necker, e parece ter ficado ciente do fato. Ela
escreve outra vez: ‘A esposa tem intelecto, mas é de uma esfera demais elevada para
alguém se comunicar com ela. Seu marido tem mais que ela; mais talvez de qualquer
homem na nossa nação atualmente; mas ele não tem nenhum pedantismo nem presunção.
As pessoas se sentem embaraçadas com ele; mas ele tem franqueza, bom humor, e
cordialidade.’ Em outro momento ela assim declara, ‘todos os ministros, secretários de
estados, [24] diplomatas - entretidos com a música, proverbes,
130
todos os prazeres
combinados. Minha opinião é que o governo não poderia empregar um homem mais
capaz do que Necker, mais firme, mais lúcido, mais desinteressado.’ Ainda mais tarde,
depois da sua nomeação às finanças, ela alude com sagacidade profética a sua
perseguição, e prediz que ‘ele se retirará do escritório, que tudo então dará passagem; o
crédito público será arruinado; todos cairão no caos, seus inimigos triunfarão; eles
pescarão em águas agitadas; eles afirmarão que o sistema dele, as operações dele, foram
apenas visões quiméricas. Isto é o que eu, e muitos outros, prevemos. Um infortúnio
maior não pode acontecer com este país.’ Não encontramos nessas cartas volumosas
nenhuma alusão à precoce criança da família, embora alguns deles fossem escritos depois
que ela tinha sido admitida à companhia do salon, e tinha atraído a atenção dos
convidados. Essas intimações, a respeito de seus pais, são, contudo, de algum valor; eles
permitem-nos vislumbres dos seus caracteres por uma das mais astutas observadoras.
Madame du Deffand, entretanto, exagerou os defeitos de Madame Necker. A mais alta
cultura intelectual e a pureza moral da última foram uma repreensão tácita ao caráter e à
vida frívola da marquesa - um caráter e vida que ela mesma constantemente reconhece,
nessas cartas famosas, sem ter auto-respeito, e quase insuportavelmente desprezível. Seus
130
Dramas curtos para teatros domésticos
129
[25] juízos imparciais foram sempre agudos, mas os seus preconceitos foram extremos, e
tornaram muitas das suas avaliações de personalidades meras caricaturas.
131
Marmontel, que foi um dos primeiros freqüentadores literários da casa, com a
exceção de Thomas, afetuosamente admirou a genialidade da filha, e compartilhou os
preconceitos de Madame du Deffand contra a mãe. A sua filosofia lasciva não pôde
suportar a sua pertinácia religiosa. Nem Marmontel considerou mais cordialmente o
próprio Necker, embora ele admita repetidamente a sua capacidade e a sua integridade
moral perfeita. Durante anos ele comeu cordialmente os jantares do grande financista,
mas partiu para a publicação, quando o último estava na sua sepultura, depreciando-lhe
com alusões. ‘Necker’, ele escreve, ‘não foi meu amigo, e não fui seu.’ Ele foi compelido
a estimar, mas não a admirar, Madame Necker, embora ele reconheça que ela tem sido,
na sua primeira introdução para ela, ‘jovem, suficientemente bela, e de uma formosura
deslumbrante,’ possuindo os encantos da ‘modéstia, sinceridade, bondade, da cultura e
uma disposição natural excelente; ’‘o sentimento nela era perfeito’ - certamente um
exemplo raro de qualidades femininas completas. Todas essas revelações, contudo, são
preliminares conciliatórias para uma série de detrações - exageros de defeitos inegáveis
mas pequenos, que mereceriam um tratamento complacente depois de tantos [26] anos de
hospitalidade e, como ele afirma, da parcialidade afetuosa. Ela não teve ‘nenhum dos
agréments de uma jovem mulher francesa;’ ‘ela não tinha nenhum gosto para vestir-se,’
nenhuma ‘naturalidade em seu comportamento,’ nem ‘encanto nos modos.’ Buffon e
Thomas foram, na opinião dele, autoridades muito absolutas, com ela, em questões
literárias: ‘necessitando de exatidão de pensamento e estilo, alguém poderia supor que ela
reservou correção para a regra dos seus deveres; tudo era exato e severamente
circundado.’ Ele até queixa-se que ‘não foi para nós freqüentadores, nem para ela, que ela
nos deu os entretenimentos do seu salon mas para seu marido’ - para o alívio de um
empregado público fiel sobre quem se apoiou um estado em queda! Marmontel tinha sido
muito dedicado ao mundo frívolo e libertino de Paris para poder apreciar tal compaixão
conjugal. A morale dela era incompreensível para ele. Embora ela esbanjasse atenções
especiais sobre ele, ‘nossas mentes e gostos,’ ele admite, ‘não tinham harmonia. Tentei
131
A opinião dela sobre Turgot e não poucos outros, e alguns ‘Potraits’ dela (principalmente de Madame
Du Châlet, a divina Emilie de Voltaire) são exemplos.
130
opor os seus altos conceitos; era necessário que ela descesse das suas alturas inacessíveis
para comunicar-se comigo.’ Não é improvável que a sua admiração pela ‘la belle
Vermenoux’ (como ele a chama), de quem a esposa jovem tinha tomado o lugar dos
afetos de Necker, tinha algo a ver com esses preconceitos. A viúva era uma amiga
dedicada de Marmontel, e especialmente da esposa dele. Ele retrata-a com êxtase. Ela era
‘a imagem de Minerva, mas o seu rosto brilhante podia assumir prontamente o ar de
benevolência, [27] serenidade, e inocente, alegria decente, que confere uma sabedoria
amável. Ela e minha esposa estavam em harmonia perfeita da mente, do gosto, e das
maneiras. Com que prazer esta mulher, habitualmente solitária e serena, via-nos chegar à
sua casa de campo em Sèvres! Com que alegria sua própria alma se rendia à brandura e
as alegrias da amizade nos nossos pequenos jantares em Paris!’ Embora Madame
Vermenoux fosse uma hóspede bem-vinda à mesa de Madame Necker, a parcialidade de
Marmontel pela primeira poderia dificilmente admitir a imparcialidade pela última.
As mémoires da época abundam em críticas sobre o salon de Necker, assim como
sobre os salons da metrópole em geral, inclinado pelo partidarismo social e político da
época; mas as autoridades mais confiáveis, enquanto admitiam as peculiaridades de
Madame Necker, mostram que ela tinha se sobressaído em caráter, talentos, e tato social.
O historiador de ‘os Salões de Paris’ representa-a como ‘um anjo de virtude entre a Corte
de Versailles, o barulho do qual só conseguia alcançá-la;’ como ‘naturalmente spirituelle,
e perfeitamente informada;’ como tendo ‘uma segura vivacidade da mente, uma doçura
infalível.’ Os salons de Paris ‘foram então escolas verdadeiras, cujas discussões eram
sem o pedantismo escolástico, e Madame Necker e Madame Roland foram as duas chefes
nessas arenas, onde o intelecto aparecia em todas as suas formas: Madame Necker para a
defesa de idéias religiosas, [28] Madame Roland para as opiniões liberais, que neste
período tinham causado um movimento geral. Ambas deram um novo impulso aos
tempos.’ Ao contrário do que foi dito da dureza da Madame Necker, ela fez as honras do
seu salon encantadoramente. É falso que ela foi exageradamente superior na sua conversa.
Em resumo, cada um encontrava-se mais à vontade com ela do que, depois, com Madame
131
de Staël, apesar do gênio brilhante e da maravilhosa prontidão desta última.’ ‘Ela tinha
uma polidez delicada ao conversar.’
132
Em uma torre velha do castelo em Coppet fica uma sala protegida por uma porta
de ferro, na qual os velhos arquivos da família são depositados. Entre um amontoado de
outros documentos estão vinte e sete volumes de cartas, a maioria de ilustres habitués do
salon da Madame Necker - de Buffon, Grimm, Gibbon, Marmontel, D’Alembert, Diderot,
o Abbés Morellet e Galiani, e Mesdames du Deffand, Geoffrin, d’Houdetot, etc. As cartas
de Marmontel, lá, desmentem as Memórias dele. Ele fala da conversa dela como ‘um dos
maiores encantos da minha vida.’ Quando ela estava viajando por motivo de saúde ele
escreveu, ‘Não posso ficar alegre até que eu saiba que voestá melhorando; então serei
ridiculamente assim. Para ficar alegre preciso estar feliz, e isto não posso enquanto ainda
coisas que posso desejar para você.’ Diderot, cujos escritos foram tão brilhantes e tão
pervertidos, [29] escreveu-lhe: ‘quantas coisas você encontrará neles que nunca teriam
sido escritos, nem imaginados, se eu tivesse tido a honra do conhecê-la antes.’ ‘Você
certamente teria me inspirado com um gosto para a pureza e delicadeza que teria passado
da minha alma aos meus trabalhos.’ Ele escreveu dela como ‘uma mulher que possui toda
a pureza de uma alma angelical juntada ao refinamento do gosto.’ O brilhante Abbé
Galiani, um dos mais divertidos dos seus convidados, escreveu cartas freqüentes e longas
para ela da Itália. ‘Os Alpes,’ ele disse, ‘nos separam; mas nem o tempo nem os Alpes
podem apagar a memória dos dias deliciosos que passei com você.’ Em resumo, os
homens mais polidos desses tempos pervertidos, enquanto se preocupavam com a sua
‘consideração rigorosa pela decência,’ como disse o Abbé Morellet, admiravam seu
caráter e os seus talentos.
133
Nunca, desde que o salon se transformou numa instituição social (se podemos
assim chamá-lo) da França, nunca desde os dias do Hôtel de Rambouillet, foram essas
reuniões os maiores centros do poder do que agora, quando os pressentimentos vagos da
Revolução mexiam todas as mentes. A influência deles foi rapidamente comunicada à
nação inteira. Naqueles de Madame Geoffrin, de Madame du Deffand, de Mademoiselle
Lespinasse, de Duchesse de Choiseul, e em particular da Duchesse de Luxembourg, o
132
Histoire des Salons de Paris etc. da Duchesse d’Abrantès. tomo i. (6 vols.). Paris, 1837.
133
Revue des Deux Mondes, 1880.
132
mundo elegante da Corte encontrou-se um iguais condições com os escritores que [30]
então dominavam a sociedade francesa. Foi dos salons de Paris que, depois, os discursos
da Assembéia Constituinte foram à tribuna; nessas reuniões foram esboçados os ataques e
as respostas dos grandes adversários que combateram naquela arena memorável.
134
Madame Necker continuou em pleno poder até depois de alguns meses da abertura da
Madame Roland: o primeiro foi um centro do que poderia ser chamado de as opiniões
conservadoras progressivas da época; o último do liberalismo mais avançado. A
aparência simultânea dessas duas mulheres mais admiráveis da época Revolucionária foi
uma das muitas anomalias. Com contrastes marcados, elas tinham muitos traços em
comum. Elas foram ambas altamente educadas, e, julgando pelas seus escritos, de
intelecto quase igual. Elas foram ambas excepcionalmente puras, entre a sua classe, na
sua vida doméstica; ambas profundamente patrióticas, ambas femininas no coração como
varonis na mente. Uma foi dedicadamente e inteligentemente cristã, e morreu, como
veremos depois, tranqüilamente entre as compaixões mais caras da sua família, e com as
consolações mais altas da sua religião; a outra rejeitava a cristandade pela ‘filosofia’ da
época, e morreu com heroísmo Espartano no palanque. Suas correspondências [31] e os
antagonismos de caráter podem sugerir bem a necessidade de um juízo generoso da
natureza humana.
Foi nessa época, entre as provocações intelectuais, e perigos morais, da vida de
salon de Paris, e os presságios alarmantes da Revolução, que Madame de Staël passou a
sua juventude e recebeu a sua educação. ‘Ela foi,como Sainte-Beuve diz, ‘uma filha da
Revolução.’ Isso fê-la heróica no caráter, e deixou-a liberal nas suas opiniões políticas, e
inalterada suas convicções morais.
134
Histoire des Salons de Paris etc., Introd. Mais do que a metade do primeiro volume deste trabalho é
dedicado ao salon de Madame Necker. Seus personagens são reais, mas as cenas são fictícias. A introdução
(mais de oitenta páginas) é histórica, e na maior parte relacionada aos Neckers.
133
[32] CAPÍTULO II
INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
O Sistema de Educação de Madame Necker A Teoria de Rousseau Anedotas da Infância de Mademoiselle
Necker Bonstetten Raynal Mademoiselle Necker no Salon As suas primeiras Composições Literárias O
relato de um por Grimm – o Efeito Doentio de sua Precocidade a Resignão/Demiso de Necker de Escririo –
Prescrição de Tronchin para sua Filha A sua Emancipação O Amor pelo Pai - Sua Mãe - Madame de Genlis.
Madame Necker cedo percebeu a capacidade mental extraordinária de sua criança,
mas não podia apreciar tão prontamente aquelas suscetibilidades de gênio - a
sensibilidade profunda e variada e às vezes anômala - que a distinguiu de outras crianças.
Pôs-se a trabalhar, não simplesmente para reduzi-las, mas extingui-las, como indicações
perigosas, embora elas fossem somente o transbordamento daquela vitalidade imaginativa
e moral que posteriormente amadureceu nas mais ricas qualidades de sua transcendente
maturidade e talentos.
A mãe, treinada para ser professora, tinha sua própria teoria de educação, e isso
foi o pior possível para sua filha peculiarmente dotada - quem foi, de fato, uma bela mas
incompreensível maravilha para ela. A natureza religiosa de Madame Necker [33] tinha
levado-a a repelir o sistema educacional de Rousseau, que foi fundado no abuso da
filosofia de Locke, então comum entre pensadores franceses; e que ensinou que, como as
nossas idéias, nas suas formas primárias, são todas recebidas pelos sentidos, a primeira
tarefa do educador deve ser o treinamento das faculdades de percepção e observação, se
conseguíssemos um desenvolvimento intelectual e moral, não irregular, doentio, e
ilusório. Para Madame Neker, a teoria de Rousseau era materialista: ‘ela tomou, por isso,’
diz Madame Necker de Saussure (ela mesma uma das melhores autoridades na educação),
‘a via contrária, e desejada para atuar imediatamente na mente pela mente; ela acreditava
ser necessário encher a jovem cabeça com uma grande quantidade de idéias, convencida
de que o intelecto se torna indolente sem este trabalho da memória.’
135
Era o ‘sistema de
135
Notice, sobre o caráter e escritos de Madame de Staël (Œuvres complètes, tome i.), um trabalho ao qual
devemos a maioria de nossas informações a respeito da juventude de sua prima. George Ticknor, o
estudioso americano, diz (em Genebra, 19 de Setembro de 1817), ‘Eu passei algumas horas com Madame
de Necker de Saussure, uma prima de Madame de Staël, que é considerada em Genebra um pouco
inferior a ela em termos de poderes intelectuais e de quem Madame de Staël disse. “Minha prima tem todos
os talentos que eu supostamente tenho, e todas as virtudes que eu não tenho.” Ela tem cerca de cinqüenta
134
abarrotamento’- não a educação (desenvolvimento) das capacidades; e se, como Madame
Necker de [34] Saussure pensa, este não prejudicou de fato a criança, ‘com relação ao
desenvolvimento do pensamento,’ ela foi salva apenas pelo vigor incontrolável e a auto-
afirmção de sua genialidade. A mesma autoridade assegura-nos que, apesar dos grandes
méritos de Madame Necker, ‘os encantos da infância tiveram pouco poder sobre ela: ela
havia subjugado e disciplinado demais a sua própria natureza para ter preservado o
frescor dos seus instintos. Ela só poderia amar o que ela pudesse admirar; e uma brandura
fundada em pressentimento e imaginação era um tanto estranho à sua mente. A gratidão
foi para ela o primeiro dos laços; ela havia, por isso, apreciado seu pai; e este
entusiasmado amor filial, que aparece como uma característica particular da família,
sempre esteve presente nela. Deus, seus pais e seu marido, a quem ela adorou também
como seu benfeitor, tinham sido os únicos objetos de seus ardentes sentimentos. Todavia
ela se encarregou da educação de sua filha com um zelo férvido inspirado pelo senso do
dever.’ Mas ‘o senso do dever,’ embora nobre nas relações menos íntimas da vida, fica
quase ignóbil quando, nas relações de uma mãe com sua criança, ele toma o lugar do
instinto maternal.
O rigor de Madame Necker oprimia sua filha. Seu cotidiano, cada hora de sua
vida era controlada, suas diversões foram reprimidas, suas atitudes reguladas, seus
estudos severamente mecânicos. Mas sua natureza entusiástica se separava algumas vezes
espontaneamente [35] desta escravidão, tão alheia aos seus instintos. Ela era cheia de
alegria, de abandon, de franqueza, de impulsos afetuosos, de amor por efeitos dramáticos
- para não dizer truques dramáticos. Marmontel diz que ‘ela era de vez em quando uma
pequena encrenqueira amável.’ Bonstetten, anos mais tarde seu correspondente
admirador, diz que, ele andava sozinho no jardim dos Necker, quando foi rudemente
golpeado por uma vara que vinha de trás de uma árvore virando-se indignado pelo golpe,
viu a criança, com então cinco ou seis anos, alegremente empunhando a vara. Mamãe,’
ela exclamou, ‘deseja que eu aprenda a usar a minha mão esquerda, e você que estou
anos, e parece um pouco com Madame de Staël, e é interessante em conversas por causa de uma certa
dignidade e força em suas observações. Ela publicou um trabalho em três volumes, Sobre a Educação
Progressiva etc., no qual, pela sabedoria, delicadeza de discernimento, e observações precisas, é superior a
qualquer estudo sobre o assunto desta época. Life etc. de Ticknor. i.7 (2 vols.). Boston, 1876.
135
tentando fazer isso.’
136
‘Ela tinha um grande respeito pela mãe,’ escreve Simond, o
viajante, que a conhecia desde a sua infância, ‘mas era excessivamente familiarizada com
isso e extravagantemente carinhosa com seu pai. Madame Necker mal havia deixado a
sala, um dia, depois do jantar, a jovem menina, até então timidamente decorosa,
repentinamente pegou seu guardanapo, e atirou-o por sobre a mesa na cabeça de seu pai,
e logo, voou em sua direção, pendurou-se em seu pescoço, sufocando todas as suas
reprovações pelos seus beijos.’ Esta era a natureza, selvagem ainda que selvagemente
bela. Bonstetten conta a história com algumas variações. Segundo ele, ela brandamente
conduziu Necker em uma dança em volta da mesa, e foi detida pelos sons dos passos
de sua mãe voltando, quando eles [36] retomaram seus lugares à mesa com a máxima
sobriedade.
137
Nunca o amor paternal ou filial foi mais forte, até abaixo da sepultura, do que
entre Necker e sua filha. Os carinhos do pai estimularam a criança a atuar, e
especialmente a falar, com uma liberdade totalmente contrária aos preceitos severos da
mãe; e, diz Madame Necker de Saussure, ‘o aplauso que seu humor arrancava inspirava-a
a constantemente satisfazê-lo de novos modos, e ela prontamente respondia à jovialidade
de Necker com um misto de alegria e afeto que caracterizaram todas as suas relações
posteriores com ele. O desejo de proporcionar prazer aos seus pais era um motivo
extremamente ativo da sua natureza afetuosa. Por exemplo, com dez anos de idade,
observando a grande admiração deles por Gibbon, ela achou ser o seu dever de casar-se
com ele, para que eles pudessem desfrutar constantemente da sua conversação.’ Ela fez
seriamente a proposta para sua mãe, apesar da corpulência grotesca do historiador, o
‘homem mais feio do Reino Unido.’
138
Apesar dessa simplicidade infantil, [37] Madame
136
Voyage en Suisse de Simond. Paris, 1822.
137
Charles-Victor de Bonstetten: Étude Biographique et Littéraire, par A. Steinlen. Lausanne, 1860.
138
Gibbon mal tinha cinco pés de altura, mas para compensar sua baixa estatura a natureza lhe deu uma
forma quase esférica; ele não poderia ter menos do que dez pés de circunferência, como M. de Bièvre
comenta. ‘Quando eu preciso me exercitar,’ diz De Bièvre, ‘Eu dou três voltas ao redor do Sr. Gibbon.’ O
físico dele era uma paródia da natureza humana. Enquanto estava em Lausana ele se apaixonou por
Madame de Crauzas, mais tarde Madame de Montolieu, e declarou seu amor. A figura dele, ajoelhado, na
frente dela era tão comicamente grotesca, que ela não conseguiu segurar seus risos. Ao final ela exclamou,
‘Monsieur, levante-se, e não diga mais nada.’ ‘Ai! Madame’ ele respondeu, ‘não consigo.’ ‘Quê!’ ela
replicou, ‘você não consegue se levantar?’ Concluindo, ele era tão enorme que, mesmo com a ajuda de
Madame Crauzas, ele não conseguiu se levantar; ela teve que chamar um valet de chambre para colocá-lo
em pé. Hist. des Salons de Paris da Duchesse d’Abrantès, tomo ii. Paris, 1837. Os filósofos ingleses
normalmente faziam figuras deselegantes na sociedade francesa daquela época. As piadas macabras de
136
Necker de Saussure diz que ela ‘parecia sempre uma jovem, e nunca uma criança. Em
tudo o que me foi recontado sobre a sua infância, lembro-me apenas um traço que carrega
o caráter da infância, e até isto mostra a alvorada do intelecto. Ela se divertia fazendo reis
e rainhas de papel e colocava-os para atuar cenas de um drama improvisado. Quando este
entretenimento era proibido por sua mãe escrupulosa, ela se escondia para poder se
divertir com eles. A este primeiro divertimento foi atribuído o único hábito singular ela
tinha, o de torcer um pedacinho de papel, ou uma folha, entre os dedos’.
No seu décimo ano ela era excessivamente cativante. A sua alegria natural era
extrema, embora de vez em quando tocado por aquela melancolia poética que mais tarde
tingiu sua alma. A sua conduta, sobretudo quando livre das restrições da presença de sua
mãe, eram simples explosões da sua sensibilidade e franqueza natural. Ela era um
fascínio para muitos dos pensadores que freqüentavam o salão de sua mãe, [38] e podiam
prever o caráter exuberante e a beleza com a qual sua personalidade se desabrochava.
O Abbé Raynal, ‘o Historiador das Índias,’ mantendo sua pequena mão em ambas as dele,
prolongava a conversação com interesse admirado. As observações improvisadas que ela
fazia brilhavam com um tanto da mesma luz que, anos mais tarde, sua conversação
iluminaria os melhores círculos de Paris, Coppet, Weimar, Berlim, Viena, S. Petersburg e
Londres. Ela era morena, a sua fisionomia brilhava com animação, e seus ‘olhos pretos
grandes eram ofuscantes com inteligência e bondade’.
Seus pais tiveram sorte em encontrar para ela uma acompanhante como
Mademoiselle Huber (da ilustre família Genebresa desse sobrenome), posteriormente
Madame Rilliet-Huber, quem agora se transformou, e permaneceu, como sendo uma de
suas melhores amigas.
139
Mademoiselle Huber registrou a sua primeira entrevista com a
jovem brilhante menina, o ‘entusiasmo’ com o qual ela a recebeu como sua companheira
habitual, e as promessas que ela fez de ‘eternamente estimar sua amizade.’ ‘Ela falou [39]
Hume são bem conhecidas. A grandeza de Gibbon era tudo menos francesa. A simplicidade natural de
Franklin, apesar disso, fê-lo um dos preferidos nos círculos que mais estavam na moda, com exceção de
seus ocasionais humor taciturno.
139
George Ticknor diz, em Genebra, 10 de Setembro de 1817: ‘ Esta tarde passei na Madame Rilliet, a
quem a Duchesse de Broglie me deu uma carta. Ela era amiga íntima de Madame de Staël, e é uma dama de
grande fortuna, muito talento e costumes elegantes. Benjamin Constant disse sobre ela, com este tipo de
inteligência típica dos franceses e que ele possuía mais do que qualquer francês com quem me encontrei em
Paris: “Madame Rilliet tem todas as virtudes que ela afeta ter, “ porque há certa majestade e pretensão nas
maneiras dela que lembram afetação.” Life etc. de Ticknor ,i.7.
137
comigo com um ardor e fluência que a fazia eloqüente, e me deixou perplexa. Não
brincamos como crianças; ela imediatamente perguntou quais eram as minhas lições? Se
eu sabia alguma língua estrangeira? Se alguma vez fui ao teatro? Quando respondi que eu
tinha ido três ou quatro vezes, ela irrompeu em exclamações de encanto, e me prometeu
que deveríamos ir com freqüência, acrescentando que, no nosso regresso, seria necessário
escrever os assuntos das peças, especialmente aquelas partes que nos tinham mais
interessado; este era o seu hábito. “E então,” ela exclamou, “escreveremos todas as
manhãs.” Entrávamos no salon; ao lado da poltrona de Madame Necker havia um
pequeno assento de madeira, onde ela tinha que se sentar, obrigada a manter-se ereta, sem
encosto. Mal tomara seu lugar, quando três ou quatro personagens respeitáveis se
aproximaram, falando-lhe com o mais amável interesse. Um deles, que usava uma
pequena perruque redonda deteve-a em uma longa conversa, falando com ela como com
uma pessoa de vinte e cinco anos. Este era o Abbé Raynal; os outros eram, Marmontel,
Thomas, o Marquês de Pesay, e o Barão Grimm. Chamaram-nos à mesa; era uma
maravilha ver como ela escutava. Ela não disse uma palavra, mas parecia compartilhar
em todas as discussões pela vívida e variadas expressões de suas feições. Seus olhos
seguiam os olhares e movimentos de cada falante. Você podia ver que ela [40] antecipava
as idéias dele. Todos os tópicos eram familiares a ela, até aqueles sobre política, que
estiveram entre os principais assuntos de interesse nos salons Parisienses. Depois do
jantar muitos mais convidados chegaram. Cada um, ao aproximar-se de Madame Necker,
tinha algo a dizer a sua filha - um cumprimento ou um gracejo. Ela sempre respondia, não
com tranqüilidade, mas também com graça. Alguns se entretinham tentando deixá-la
embaraçada, ou excitando a jovem imaginação que expunha tanto brilho. Os homens
que eram mais famosos pelos seus talentos eram os que mais pairavam sobre ela,
incitando sua conversação. Eles perguntavam sobre os livros ela lia, informavam-lhe
novos, e inspiravam o amor dela pelo estudo discutindo com ela o que ela sabia e o que
ela não sabia.’
A rigidez do regime doméstico de Madame Necker estava mais relaxada para
permitir mais tolerância aos gostos dramáticos de sua criança. Pequenos ou ‘teatros
domésticos’ até eram admitidos entre os entretenimentos de sua casa de campo em St.
Ouen, como vimos nas citações de Madame du Deffand. Entre os primeiros ensaios
138
literários de sua filha estavam tentativas de composição dramática. Ela havia mostrado
um talento extraordinário em Retratos, Personalidades e Eloges, que eram uma espécie de
recreação literária social da época. Grimm havia enviado exemplares aos seus
correspondentes nobres, em várias partes da Europa, como a maravilha da precocidade
intelectual. [41] Ele agora lhes escreve um relato de um drama, que ela produziu aos doze
anos, e atuado por ela e suas amigas na sala de visitas em St. Ouen. ‘Enquanto Necker,’
ele diz, ‘se cobre com gloria no governo, e torna-se eternamente querido na França, e sua
esposa se dedica ao seu hospital de caridade na paróquia de St. Sulpice, a jovem filha
deles, que demonstrava talentos extraordinários, divertia-se escrevendo pequenas
comédias, depois do estilo dos semi-dramas de M. St. Marck. Ela acaba de concluir um,
em dois atos, intitulados “as Inconveniências da Vida em Paris,” que é superior aos seus
modelos, e assombrosa pela sua idade. Seus personagens são bem delineados, suas cenas
bem ajustadas, e o desdobramento da sua conspiração é natural e cheio de ação.’ Ele
acrescenta que Marmontel, que era um entusiasta pela filha, embora ele nunca tenha
apreciado a mãe, comoveu-se até às lágrimas ao ver esta performance juvenil em St.
Ouen.
140
Aos quinze anos de idade seus talentos, se não o seu estilo, mostravam a
maturidade habitual de mentes cultas de vinte e cinco. Em 1781, quando ‘Compte Rendu’
de Necker apareceu pela primeira vez, empolgando toda a França, [42] ela, orgulhosa do
seu triunfo na sua derrota, escreveu-lhe uma carta anônima com tal extraordinária
habilidade que ele reconheceu a autoria pelo seu talento. A sua genialidade tinha sua
marca.
141
Nestes primeiros anos de idade ela dominava alguns dos trabalhos mais
profundos da literatura francesa, estudando-os, não simplesmente lendo-os. Ela havia
tirado grandes trechos de ‘Espírito das Leis’ de Montesquieu, e os havia comentado com
as suas próprias reflexões críticas. Raynal, que então alegrava-se na fama extraordinária
mas temporária do seu ‘Histoire Philosophique,’ solicitou a ela que contribuísse para um
dos seus trabalhos um ensaio que ela havia escrito sobre a Revogação do Édito de Nantes
140
Correspondance de Grimm, 1778. Muitas alusões à família Necker, e diversas cartas deles, estão
espalhadas nesta curiosa coleção – um trabalho tão importante para a história da França no século dezenove
quanto o Mémoires de Saint Simon é para a época anterior. Correspondance de Grimm e Diderot (15
vols.), Paris, 1829-31; e Correspondance inédite (8 vols.), Paris, 1829.
141
Philarète Chasles, Nouvelle Biographie Générale, tomo xliv.
139
Nantes. O próprio Necker desaconselhou essas realizações prematuras; mas o
treinamento ao qual ela havia sido entregue pelo sistema de sua mãe, seus estudos
complicados embora versáteis, sua participação nas discussões do salão, e nas atuações e
crítica dos ‘teatros domésticos,’ não poderiam deixar de estimular sua inteligência além
do seu crescimento normal e saudável. Tudo sobre o seu sacerdócio à sua vida intelectual.
‘Os seus prazeres bem como os seus deveres,’ diz Madame Necker de Saussure, ‘eram
todos exercícios da sua mente. As suas faculdades mentais, naturalmente enérgicas,
sofreram assim uma expansão prodigiosa.’ O maravilhoso é que elas não se tornaram
prodigiosamente doentias. Apenas a sua vivacidade natural - o temperamento nacional
que ela tão abundantemente compartilhou [43] - poderia tê-la salvo dos piores efeitos de
tais excessos mentais. Completamente francesa como ela era, na flexibilidade e
elasticidade da sua natureza, sua sensibilidade entretanto começou a sofrer por esta
ininterrupta tensão do seu intelecto, e podemos traçar a este período que a sensibilidade
pungente às misérias da vida humana, aquela tensão sempre recorrente de tristeza, que
caracterizam quase todas as suas escritas, e que, apesar da fortuna, fama, talento, viagem,
‘tropas de amigos,’ e uma carreira esplendidamente próspera na maior parte dos assuntos,
deu à sua vida uma cena contínua de desassossego, se não de melancolia, e a levou a
dizer no seu leito de morte, que apenas uma das capacidades naturais havia se
desenvolvido ao máximo, a capacidade de sofrer.
142
Sua prima observa que a sua
sensibilidade foi, neste primeiro período, tão excessivamente desenvolvida quanto a sua
mente, tanto que os elogios que ela ouvia para os seus pais faziam-na derreter em
lágrimas. ‘Era isso o que a divertia,’ diz sua companheira, Mademoiselle Huber, ‘era isso
que a fazia chorar.’ A sua ligação com Mademoiselle Huber se transformou numa espécie
de paixão. A presença de pessoas famosas fazia seu coração palpitar. A sua leitura, que
Madame Necker, mais severa do que vigilante, nem sempre prescrevia, muitas vezes
geravam nela impressões extraordinárias; anos mais tarde ela disse que a descrição de
Richardson da morte de [44] Clarissa marcou época na sua juventude. As suas
capacidades, tanto da mente quanto do corpo, começaram a ceder sob essa estimulação
excessiva. Começou a ser difícil para ela manter a concentração durante muito tempo; e o
êxito com o qual ela sempre parecia dominar tarefas intelectuais complicadas era mais o
142
Mémoires d’Outre-Tombe de Chateaubriand, tomo viii. (12vols). Paris, 1849.
140
efeito da sua inteligência do que do trabalho contínuo. ‘Uma perspicácia singular
conduzia-a a um fim distante, sem você vê-la no caminho.’
As relações do seu pai com a Corte, nesta época, em particular os eventos que a
moveram a fazer sua carta anônima, provocavam a excitação que se alimentava da sua
saúde. A sua compaixão filial extrema das inquietudes dele dela também; e agora caía
sobre a família a maior aflição de todas que arruinou a sua prosperidade. Embora Necker
não fosse formalmente despedido’, ele foi forçado pelos seus inimigos a retirar-se do
escritório. Durante cinco anos ele havia administrado as finanças com um êxito que seus
predecessores durante anos nem perto chegaram. Seria irrelevante discutir aqui os
princípios da sua política, suas discussões com os economistas em um período em que a
economia política era ainda indefinida como ciência; as suas altercações com Turgot, o
representante ostensivo dos princípios no governo. Os partidários aplaudiam-no ou
desacreditavam-no, segundo as suas parcialidades de teorias antagônicas; mas a sua
administração foi num período, e entre exigências, que deveriam, nos nossos dias pelo
menos, aliviá-lo de [45] tal crítica. Necker era um homem prático, e ele tentou lutar
praticamente com as dificuldades que oprimiram seus predecessores. Seu grande crédito
pessoal permitiu-lhe comandar empréstimos ao governo que possivelmente nenhum outro
homem no reino poderia ter obtido; e ele reduziu despesas em cada mão. Mais de
seiscentas despesas desnecessárias no Tesouro foram cortadas. A política de empréstimos
- no nosso dia a política de estados geralmente/em geral - é inerentemente falaciosa, e
pode estar segura quando baseada em cortes econômicas, e a perspectiva de criação de
novos recursos. O esquema de Necker abrangia essas condições. Era a única política
concebível. O fracasso é atribuível, não tanto à falta do talento dele, mas mais aos vícios
invencíveis do governo e dos tempos. Outros experimentos foram feitos, pela troca
freqüente da administração financeira, mas todas fracassaram, e pior do que fracassos.
Ele teve de ser chamado repetidamente para socorrê-los. Mas suas reformas rigorosas
haviam erguido inimigos a sua volta. Sua posição na corte era quase intolerável; ele tinha
apenas um título qualificado como Ministro, e não era admitido no Conselho Real, já que
a sua religião estava no caminho. Ele viu que ele não teria o poder necessário para as suas
medidas, a menos que ele se livrasse dessas impotências. Grandes poderes foram-no
oferecidos se renunciasse a sua Protestante. Ele se recusou a fazer isso. Ele se retirou
141
do escritório com a maldição da maior parte da nobreza, mas [46] com as benções do
povo sofrido. Ele conseguiu efetivamente, embora não permanentemente, aliviar as
finanças nacionais. Ele se expôs à hostilidade dos seus inimigos aristocráticos cortando
sinecuras e pensões supérfluas, e reduzindo salários excessivos. Ele não aceitou nenhuma
compensação pelos seus serviços; não deu nenhum cargo aos seus parentes ou a
amigos.
143
Ele investiu dois milhões do seu próprio dinheiro, como um empréstimo ao
governo, que não foi pago de volta durante a sua vida, e foi recuperado por sua filha
depois da queda de Napoleão. O seu ‘Compte Rendu au Roi’ foi a sua defesa. Nesse
famoso trabalho ele prestou conta completa, ao Rei, das desordens financeiras do país.
Esta foi uma granada lançada na Corte, e a explosão que se seguiu ressoou em todas as
partes da monarquia e por toda a Europa. Nunca um relatório assim sobre a administração
das finanças havia sido feito. O país havia ficado sem saber disso, um dos seus interesses
mais vitais. Os próprios reis eram normalmente enganados em relação a isso. A nação
estava cambaleando na beira do desespero da falência; Necker sozinho havia prevenido a
precipitação no abismo. A Revolução era inevitável, embora poucos então percebessem a
sua proximidade ou o seu terrível significado. O seu trabalho em ‘Administration des
Finances,’ uma espécie de reprodução e justificativa [47] de ‘Compte Rendu,’
imensamente aprofundava e alargava a impressão do último. Oitenta mil cópias foram
rapidamente vendidas, seis mil no dia da sua publicação, além de uma edição simultânea
na Inglaterra. A população ficou enlouquecida ao descobrir como os seus soberanos
debochados haviam desperdiçado seus recursos durante anos. Necker mostrou que vinte e
cinco milhões de francos foram anualmente jogados fora em inutilidades ou gratificações
devassas e pensões; que os cobradores recebiam mais de um quinto de toda a receita; e
que quase todas as instituições nacionais de caridade e reforma penal foram mal
administradas - as prisões, hospitais, asilos. Em muitos desses, seis inválidos dormiam na
mesma cama, e às vezes o paciente ligeiramente doente encontrava-se com um homem
morrendo em um lado e um morto do outro lado.
144
Necker orgulhosamente aludiu ao
bom trabalho de sua esposa na reforma hospitalar. Ela não havia freqüentado a Corte,
embora recebesse algumas senhoras da Corte no seu salon; a corrupção que ainda se
143
Louis Blanc, Hist. de la Révolution Française, ii. 66 (12 vols.). Paris, 1847.
144
Coup-d’oeil sur le Règne de Louis XVI de De Tocqueville. cap. ii. Paris, n. d.
142
estendia do Governo e do reino de Louis XV sobre os arredores reais era razão suficiente
para mantê-la afastada, embora Louis XVI houvesse solicitado sua presença, e Necker
mencionou apenas a sua fraca saúde como razão de sua ausência. Ela aparecia agora,
como ele, como uma verdadeira amiga do povo entre a imensidão de membros da corte e
os saqueadores oficiais [48] dos recursos públicos. Eles estavam ultrajados. Que direito
tinha esse estrangeiro não intitulado, este herético Protestante, a invadir suas casas
luxuosas, e reduzir seus proventos? Que desgraça nacional que essa ‘professorinha suíça’
(assim chamavam sua esposa) poderia apoiar sua cabeça pedante, preeminente acima da
aristocracia, moças desregradas da corte, as filhas das velhas famílias nobres da França?
Mimados, parasitas enrabixados do poder, eles não sabiam que eles recusavam a única
ajuda que poderia aliviar o seu destino próximo - um destino que logo os varreu do seu
país e sacudiu todo o mundo civil e eclesiástico da Europa até as suas fundações.
A filha de Necker percebia a preocupação aflita dele, apesar da sua aparente
tranqüilidade. Na noite antes da sua resignação ele acompanhou ela e sua mãe ao hospital
de Madame Necker na paróquia de St. Sulpice. ‘Ele tinha o bito de ir a este asilo,’ ela
escreve, ‘para tomar nova coragem contra as cruéis dificuldades da sua situação. As
Irmãs de Caridade, que estavam encarregadas do lugar, amavam ele e Madame Necker,
apesar de serem Protestantes, e davam as boas-vindas a eles agora com flores e o canto de
versos dos Salmos, a única poesia que elas conheciam. Elas os chamavam de seus
próprios benfeitores, porque eles socorriam os pobres. Meu pai neste dia estava
profundamente emocionado, mais, lembro-me bem, do que qualquer outra vez ele [49]
tenha parecido estar por semelhantes demonstrações de gratidão. Sem dúvida ele
lamentou o poder para servir à França que ele ia perder. Ai! quem então poderia supor
que um dia este homem seria acusado de insensibilidade do coração, de orgulho, de
arrogância? Nunca uma alma mais pura atravessou a região de tempestades; e seus
inimigos, ao caluniá-lo, cometeram uma impiedade; para o coração de um bom homem o
santuário do Deus é neste mundo.’
145
No dia seguinte ele voltou de Versailles não sendo
mais Ministro.
145
Considérations sur la Révolution Française, i. 8: Œuvres complètes, tomo iii.Paris, 1861.
143
Necker voltou para seu país em St. Ouen com a empatia e aplauso da nação. Não
poucos das mais altas classes, capazes de apreciá-lo - o Príncipe de Condé, os Duques do
Orleans e de Chartres, o Príncipe de Beauvais, o Duque de Luxemburgo, o Arcebispo de
Paris, e, acima de tudo, os literatas do salon Necker – apressaram-se em visitá-lo e
confortá-lo.
146
Tal apoio moral foi agradável ao seu coração, mas seguramente não mais
do que [50] a compaixão de sua dedicada filha, expressa na carta anônima, autoria que
ele identificou por indicações do maior consolo que pode tocar os sentimentos de um pai
- a prova do intelecto superior entre coração inundado de sua criança. O agito como essas
circunstâncias eram para ela natureza delicada, ela foi consolada pelas demonstrações
quase universais de respeito para com ele os quais ela testemunhou em St. Ouen. ‘Toda a
França,’ ela escreve, ‘parecia ansiosa para visitá-lo; a grande nobreza, o clero, os
magistrados, os comerciantes, os homens das letras. Ele recebeu mais de quinhentas
cartas de solidariedade de cidades e corporações provinciais, exprimindo um respeito e
afeto superando qualquer um recebido antes por qualquer homem público da França.’
‘Houve,’ diz Grimm, durante alguns dias uma procissão contínua de carruagens nas duas
léguas de caminho de Paris a St. Ouen. Nunca um Ministro havia carregado consigo fama
mais pura com a sua demissão.’ Entretanto toda Paris estava abatida pelo evento.
‘Consternação,’ acrescenta Grimm, ‘estava pintada em todas as faces. Os passeios, os
cafés, todos os lugares públicos, estavam cheios, mas em todos os lugares reinou um
silêncio extraordinário. As pessoas se entre olhavam, e apertavam-se as mãos tristemente
como prevendo uma calamidade pública próxima.’
147
Era o murmúrio da calmaria que
precede a tempestade.
Antes desses eventos emocionantes a saúde de Mademoiselle Necker havia
decaído seriamente, e tinha [51] acrescentado muito às inquietudes de seu pai. Tronchin,
de Genebra, um velho amigo da família Necker, era o oráculo médico da época; a sua
mudança para Paris, como médico na Casa de Orleans, produziu um sucesso em círculos
146
Marmontel era um dos mais impacientes a oferecer sua duvidosa simpatia. Ele se apressou de chegar a
St. Ouen antes da família; ele voltou rapidamente, e ao encontrá-los na estrada, montou em sua
carruagem, e acompanhou-os até a casa, não sem algo como compaixão em relação à Madame Necker. ‘Eu
sempre tive’ ele diz, ‘a mais sincera veneração por ela, porque eu vi nela somente bondade e sabedoria e
virtude; e a afeição particular que ela me dedicou, bem merecia que eu compartilhasse da dor que eu não
duvido que a afetou.’ Mémoires etc.
147
Correspondance etc., 1781.
144
da moda, entre os quais o enfado e os ‘vapores’ prevaleceram como epidemias, a despeito,
se não em conseqüência, da frivolidade e liberdade dos tempos; e a sua prescrição de ar
fresco e caminhadas matinais para ‘as grandes damas’ da cidade tinha levado à adoção de
um vestido conveniente para caminhar que carregava o seu nome. Felizmente ele estava
perto para salvar a criança do seu velho amigo; e a sua autoridade era muito grande com a
Madame Necker, como com todas as suas companheiras, ser equilibrada pelos seus
preconceitos da sua teoria favorita da educação. Ele não prescreveu nenhum remédio para
a jovem doente; que ele evitava drogas tanto quanto possível na sua prática; e era um
axioma que com ele ‘males positivos na medicina, são mortais, enquanto os negativos são
perdoáveis.’ Ele viu de imediato a tendência fatal do sistema de Madame Necker, em um
caso de desenvolvimento tão precoce, de poder superabundante e sensibilidade. Ele
ordenou a sua interrupção imediata e total. Todos os estudos sérios deveriam ser postos
de lado. Deveria-se permitir que a criança crescesse, durante algum tempo pelo menos,
espontaneamente, tanto na mente bem como no corpo, ao ar livre, entre as paisagens dos
St. Ouen. Nunca uma prescrição mais bem-vinda para um doente; vivacidade natural dela
irrompeu em [52] completa liberdade. O pássaro preso, deixado solto, tomou asas pelos
bosques circundantes e prados. Acompanhada pela sua jovem companheira,
Mademoiselle Huber, ela se entusiasmou com sua liberdade, e passeou da manhã até a
noite. Madame Necker de Saussure (quem, por muitos anos, foi mais irmã do que prima)
acreditava que esta liberdade rural e a alegria tiveram o efeito mais feliz, não só na saúde,
mas no gênio da jovem menina.
148
Foi um período de viver, poesia pastoral na sua vida,
até aqui apertada por hábitos mecânicos do estudo e das artificialidades sociais de Paris.
Era exatamente o que tal mente precisava. A sua imaginação, mais tarde tão esplêndida
no seu poder disciplinado, e um dos encantos mais ricos dos seus trabalhos, agora
floridos saudavelmente entre cenários naturais. A sua capacidade notável de descrição
pitoresca foi desenvolvida. Sua sensibilidade, tendendo ao sentimentalismo mórbido, e
nunca posteriormente inteiramente isento de uma cor de melancolia, foram colocados em
melhor harmonia com os seus poderes vigorosos de reflexão e razão - uma harmonia pela
qual foi finalmente conseguida a distinção principal do seu caráter intelectual, a sua união
quase anômala de sentimento e pensamento, de entusiasmo e reflexão, do coração de
148
Notice etc.
145
mulher com a cabeça de homem. ‘Esta liberdade concedida à sua mente,’ diz sua prima,
‘permitiu-a tomar seu melhor vôo. As duas jovens meninas, correndo em liberdade nos
bosques de St. Ouen, [53] vestidas como ninfas ou musas, declamavam versos,
compunham poemas, faziam dramas de todos os tipos, que elas imediatamente
representavam.’ A impressão de um período tão feliz na infância nunca se desvanece; ele
estende uma ‘coisa de beleza,’ um intervalo azul e radiante do céu, nas tempestades mais
escuras da vida madura.
Sua prima nos diz que o coração da menina agradecida virava-se agora, na sua
emancipação, mais do que nunca em direção ao seu pai. Ela ‘agarrava a menor ocasião
para se aproximar dele, e achava extraordinário prazer e proveito na conversa dele. Ele se
surpreendia, mais e mais a cada dia, pelo intelecto notável dela, e nunca esse intelecto era
mais encantador do que quando perto dele.’ A sua empatia filial vivaz percebeu a
necessidade dele de divertimento e distração nas suas aflições e trabalhos literários ele
agora começava no seu ‘Administração das Finanças,’ e ‘A Importância de Opiniões
Religiosas.’ Ela tentava alegrá-lo de mil modos; ela arriscaria qualquer coisa para obter
dele um sorriso.’ Ela poderia passar o tempo dos momentos de lazer dele, em St. Ouen,
fazendo-o narrar sobre sua juventude, especialmente os vinte anos que ele passou em
Paris, antes do seu matrimônio, esforçando-se para enriquecer. Um quarto de um século
depois, quando ele estava na sua sepultura, ela escreve do efeito profundo’ no seu jovem
coração que esta história de trabalho e de quase desprendimento devoto, produziu; ‘a
história daquele período,’ ela diz, ‘no qual posso imaginá-lo como tão jovem, tão
amável, e tão [54] solitário, - tempo no qual, possivelmente, nossos destinos nos teriam
unido para sempre, se o destino só nos tivesse feito contemporâneos.’
149
Estranha
imagem de amor filial! Seu afeto para com ele se transformou numa paixão, mais forte
que nunca dominou seu coração; a sua reverência, uma adoração, uma idolatria, que
durou por toda a sua vida, e derramou lágrimas no seu túmulo aque ela mesma fosse
descansar ao seu lado. Entretanto Necker, agradecidamente admirando a superioridade
mental dela, não a pôs em perigo por bajulações carinhosas; ‘os olhares dele eram mais
alentadores do que suas palavras.’ ‘Ele habitualmente corrigia os erros dela com uma
doce repreensão que não deixava de ter seu encanto; nenhum exagero, nenhuma inaptidão
149
Caractère de M. Necker et sa Vie privée: Œuvres complètes, tome ii. Paris, 1861.
146
de qualquer espécie escapava a sua atenção.’ Ele conhecia as deficiências de uma
natureza tão luxuriante, e o seu grande orgulho paternal levou-o a podá-lo, e aproveitá-lo
ao máximo. ‘Devo,’ ela freqüentemente dizia mais tarde, ‘à incrível perspicácia de meu
pai a franqueza do meu caráter, e a naturalidade da minha mente. Ele desmascarou todas
as afeições, e recebi dele o hábito de acreditar que meu coração era claramente visto.’
Uma das qualidades mais encantadoras do seu caráter feminino era derivada deste
tratamento - sinceridade perfeita, uma franqueza inocente na conversação, e em toda a
sua conduta, que, como ele não deixava nada disfarçado, permitindo não só as suas faltas,
mas todas as riquezas do seu coração e faculdades serem vistos e, por isso, apreciados.
[55] Um efeito peculiar, mais curioso, contudo, do que sério, acompanhou esta
compaixão extraordinária entre o pai e filha. Levando a algo muito parecido com o ciúme
entre a criança e a mãe. Necker deve ter sido homem de grande fascínio na vida
doméstica; sua esposa e filha pareciam competir uma com a outra, o no afeto, mas
numa espécie de adoração por ele. Pode-se talvez sobriamente dizer que não nenhum
registro de admiração e amor mais intensos, de uma mulher por um homem, do que o
deixado por Madame Necker no seu ‘Mélanges’ e cartas; nenhum registro de amor de e
reverêcia mais intensos de um filho por um pai, do que o deixado por Madame de Staël
no seu ‘Notice’ prefixado ao ‘Manuscrits’ dele.
150
Elas se tornaram rivais em um afeto
tão superabundante que não podiam evitar a fraqueza da natureza humana. A mãe parecia
temer que sua filha, herdando as suas próprias faculdades notáveis e sensibilidade
profunda, pudesse tomar o seu lugar no coração de seu marido; ou, como Madame
Necker de Saussure diz, ‘permitia que ela fosse amada por ele em sua filha.’ Mais
tarde, após a morte dos seus pais, não pode aludir a esta rivalidade afetuosa sem louvar e
até invejar sua mãe. ‘Ele escolheu,’ ela diz, ‘para sua esposa uma mulher com virtudes
perfeitas, e com mente extremamente culta. Do [56] momento do matrimônio dele até a
morte dela o pensamento de minha mãe dominou a vida dele. Ele não era, como outros
homens com poder, atencioso com ela por símbolos ocasionais de consideração; mas por
expressões contínuas do mais sensível e mais delicado sentimento. Minha mãe, cujos
sentimentos eram ardentes, teria sido de outra maneira infeliz. Deus dispensou-a da
150
‘Portrait’ dele de Madame Necker, Mélanges, vol ii e as cartas póstumas dela para ele, apresentadas na
Introdução dele de Œuvres, p. 327; ‘Notice’ de Madame de Staël, introdutório para o Manuscrits dele.
147
aflição de sobreviver a ele. Paz às suas cinzas - ela merecia mais do que eu ser feliz.’ O
seu próprio sentimento por ele, como todo o amor quando vira paixão, nunca pode ser
contentado. ‘A diferença de nossas idades,’ ela disse, na morte dele, ‘muitas vezes
incomodava a minha felicidade durante o tempo que o possuí; e agora, se pudesse ser-me
devolvido, eu daria todo o resto dos meus anos de por seis meses; ’e ela rompeu com
auto-repreensão apaixonada, como se sob remorso por não dispensar atenções mais
afetuosas por ele.
Entretanto ela nunca esqueceu o seu respeito filial pela sua mãe. Admirou seus
raros talentos e o caráter puro, apesar da disparidade dos seus gostos. Na vida adulta ela
comentou com Madame Necker de Saussure, ‘Quanto mais eu vivo, mais entendo minha
mãe, e mais meu coração sente a necessidade dela.’ Esta boa autoridade assegura-nos que
‘a doçura extrema do caráter de Mademoiselle Necker sempre se manifestava quando sua
mãe dirigia-a qualquer repreensão. O respeito por ela foi sempre profundo e declarado.
Dotada desde a infância [57] de um raro poder de resposta arguta hábil e vívida, ela
nunca disse uma palavra, até mesmo nas ocasiões mais triviais, que poderiam mostrar-lhe
sob um aspecto desfavorável.’
151
151
Ainda mais tarde ela rejeitava com violenta indignação as reflexões de Madame de Genlis sobre
Madame Necker. Esta dama, a autora da época, havia sido freqüentadora do salon Necker, mas nunca foi
cordial. (Histoire etc. de Duchesse d’Abrantès, tomo i.) Mais tarde ela viu em madame de Staël uma rival
literária cujo grande sucesso ela não podia perdoar, mas perseguiu-a com críticas amargas e insistentes,
especialmente durante sua perseguição por Napoleão. Madame de Staël agüentou tudo pacientemente até as
críticas ciumentas atacarem a memória de sua mãe, quando, diz sua prima, ‘ela mostrou a maior irritação
que eu já havia testemunhado.’ ‘Ela pensa,’ ela exclamou, ‘que porque eu não me defendo, eu não
defenderei minha mãe? Deixe Madame de Genlis atacar minhas palavras, e meu caráter, o tanto quanto a
agrada, mas não minha mãe morta, minha mãe que tem eu no mundo para defendê-la. Ela preferia meu
pai ao invés de mim, e ela tinha razão, sem dúvida; eu sinto que quanto mais eu tenho o sangue dela em
minhas veias, e enquanto esse sangue correr por elas, eu não permitirei que ela seja ultrajada.’ Ela teria
apelado para o público, se ela não estivesse convencida que qualquer publicação deste tipo poderia ter sido
repelida pelo atual governo da França, e poderia apenas aumentar a perseguição de sua família e amigos. O
ataque de Madame de Genlis a Madame de Staël foi feito no seu De l’Influence des Femmes sur la
Littérature Française, Paris, 1811. Nem Madame Necker, ou qualquer um de seus amigos, algum dia
quiseram que ela pertencesse à classe literária feminina; seu pequeno ensaio sobre Divorce foi sua única
obra publicada enquanto estava viva. Melanges eram apenas fragmentos publicados pelo seu marido depois
da morte dela. Ainda de seu volume de quase quatrocentas páginas, Madame de Genlis dedica mais do que
um oitavo a Madame Necker, duas vezes mais do ela dedica a Madamde de La Fayette, cinco vezes mais
do que a Madame de Sévigné, seis vezes mais do que a Madame Dacier, dezesseis vezes mais do que a
Madame Riccobini. Ela dedica a ela, afinal, mais espaço do que a qualquer outra personagem deste volume,
com exceção de Madame de Maintenon. O livro foi aparentemente publicado pela velha condessa maliciosa
com o propósito de depreciar Madame Necker, e atormentar sua bem sucedida filha. Ela caricaturou a
última no seu romance La Femme Philosophe. Ela tentou anos mais tarde, de acordo com Sainte-Beuve, se
reconcialiar por sua maldade anterior com Athenaïs, ou le Château de Coppet en 1807, um romance que
148
[58] Foram em tais circunstâncias que o gênio e o caráter da jovem menina
sensível foram desenvolvidos. Sua educação foi inteiramente doméstica, uma vez que ela
nunca foi mandada à escola; e essas circunstâncias, tão cedo e tão estimulantes, estiveram
entre os impulsos mais fortes da sua vida. Eles marcaram sua natureza para sempre.
Madame Necker não sentiu nenhum pequeno desapontamento com a derrota do
seu plano da educação para sua filha. Deixando ele agora ao controle de seu marido, ela
abandonou quase toda a esperança da futura ‘distinção’ da criança. Ela não poderia,
contudo, deixar de se surpreender de seu crescimento intelectual contínuo e maravilhoso,
e quando, finalmente, ela apareceu no mundo literário, preparada para reclamar uma
distinção inigualável entre o seu sexo, o orgulho da mãe podia apenas consolá-la pelo
fracasso do seu esquema original ‘lembro-me,’ escreve Madame Necker de Saussure,
‘isto no tempo quando a éclat da Madame de Staël [59] era ainda nova para mim,
manifestei à Madame Necker o meu assombro pela sua imensa distinção “Isso não é
nada,” ela respondeu, “absolutamente nada, comparado com o que eu teria feito!Esta
resposta me chocou muito, porque se referia só às qualidades da sua inteligência, e
exprimia uma convicção sincera.’
[60] CAPÍTULO III
JUVENTUDE E PRIMEIROS ESCRITOS
Primeiras Viagens - Visita a Buffon - O Egotismo dele - A Regra/Método/sistema de/para Estilo/elegância/classe
Bons Ditados de Madame Necker - Viagem à Suíça - Lago Leman - O Sul da França Retiro/aposentadoria em
Marolles Primeiras Composões Literárias - Dramas - Ficções - Ctica.
Foi neste período da aposentadoria de Necker que sua filha teve a primeira
experiência em viagem - posteriormente o grande hábito da sua vida. Sua primeira
tem competência, tanto nos fatos quanto nos personagens. Ela viveu mais do que Madame de Staël, e em
1825 publicou as moires dela mesma, em dez volumes, no qual ela novamente ataca sua rival com um
ciúme ridículo e doentio. Ver particularmente volumes iii. e iv. Neste trabalho, como em todas as outras
publicações, por vinte e cinco anos, ela seguiu os impulsos de seu ódio. Ela agarrou esta oportunidade para
renovar seus ataques contra Madame de Staël. As opiniões dela sobre autores e seus trabalhos são todos
ditados pelo espírito depreciativo que sempre guiou sua caneta.’ Biographie Universelle, tomo xvi.
149
excursão foi à Plombières (as águas que haviam sido prescritas para a saúde de sua
mãe),
152
e foi especialmente interessante para ela, por permitir uma visita, em Montbard,
ao velho amigo da família, o naturalista Buffon, agora um sábio de setenta e cinco anos, e
do renome na Europa não como um ‘cientista’ mas como um modelo clássico da
literatura francêsa. Ele havia sido uma autoridade favorita no salon Necker em questões
tanto de crítica literária bem como de ciência. O seu discurso célebre, perante a Academia,
sobre ‘Estilo’, havia lhe rendido esta deferência. Rodeado pela sua ‘pequena corte’ de
admiradores e colaboradores, ele recebeu seus hóspedes em Montbard com [61] atenções
cerimoniosas, que não poderiam não deixar de enfadar a jovem menina que ele havia
lisonjeado alegremente na casa dela em Paris, e cuja emancipação nos bosques de St.
Ouen havia deixado-a inadequada para restrições ilustres. Ao invés de passeios entre as
flores e pássaros dele, ela encontrou três grandes poltronas cobertas por veludo, elevadas
no salon, para ela e seus pais; outra, menos elevada, para ele mesmo; e estas rodeadas por
assentos mais baixos para seus associados, que eram silenciosos ouvintes às suas
conversações e discussões com o recente Ministro famoso e sua educada esposa e filha.
Seus hóspedes se divertiram com a etiqueta deferida pelo patriarca bem-intencionado, e
aturaram-no pacientemente, ‘ao invés de afligirem um velho homem,’ o grande amigo
deles, apressando-se no seu caminho; para a simplicidade da decadência mas afetuosa
idade, como aqueles da infância, que têm um encanto próprio, e embora possamos
lamentá-los, é normalmente com um sorriso. Entretanto a jovem ambiciosa dificilmente
deixaria de aprender preceitos importantes, para o seu próprio uso futuro, na conversação
do venerável autor. O grande egotismo dele fez-se mais compreensível e instrutivo para
ela. Em um estúdio elegante, um pavilhão, assim construído para excluir todas as vistas
circundantes e distrações, ele meditou as suas descrições pitorescas e poliu seus períodos,
seguindo sua máxima mais conhecida ‘Genialidade é paciência.’ ‘Eu traço,’ ele disse,
‘um primeiro esboço, e, fazendo isso, faço o que [62] cem escritores na Europa podem
fazer. Copio-o, e obtenho um resultado que apenas vinte escritores podem obter. Re-
copio uma segunda e terceira vez, e assim consigo, finalmente, o que Buffon pode fazer
sozinho.’ Madame Necker, com a sua aptidão notável de ditados epigramáticos,
153
152
Notice pelo Barão de Staël: Œuvres de Necker, tomo i.
153
O seu Mélanges tem muitos deles.
150
comenta sobre a simplicidade do seu velho amigo, Buffon não conhece o mundo, ele
conhece o Universo.’ Mas com todo o seu respeito para com ele, e apesar de um
cumprimento tão fino, ela não pode abster-se de um sarcasmo sobre seu egotismo. ‘Ele
sempre diz “grandes homens,” “pessoas de bom gosto;” etc., utilizando o plural: é porque
ele se vê em um espelho que tem facetas.’
Muito mais agradável deve ter sido a viagem deles, no verão 1784, à Suíça, que
posteriormente sempre pareceu à Madame de Staël uma espécie de terra natal, embora ela
tenha nascido, e morrido na França, na Suíça nasceram, e morreram, não os seus
pais, mas quase todos os seus parentes; lá foi o seu refúgio preferido nos períodos mais
escuros da sua vida; estaria a sua própria sepultura; e, apesar do seu temperamento
completamente francês e o elemento Teutônico do seu sangue (assim manifesto nos seus
trabalhos mais estudados), a sua natureza moral era inconfundivelmente suíça.
Cruzando as montanhas Jura (o limite geográfico, embora não político da França),
a primeira paisagem da terra gloriosa estende-se [63] e radia abaixo do seu olhar atento
O Lago Leman brilhando ao sol solstício de verão; os declives do Jura, formando terraços
com vinhedos, e cravejado com vilas prósperas; Lausana, de um lado, com a sua antiga
catedral; Genebra, no outro, com as torres cinzentas de St. Peter, de onde haviam saído
influências ainda dominantes no pensamento de toda a Cristandade Protestante.
Descrevendo o fundo do quadro magnífico, os Alpes esticavam as suas cimeiras cobertas
de neve ao longo do sul, Mont Blanc elevando sua cabeça ao soberano dos céus de todos
eles. Longe à esquerda calmamente repousando, na margem do Lago, Vevey, Clarens, o
Castelo de Chillon, as rochas de Meillerie, cenas do romance mais poderoso de Rousseau
- um autor que a jovem viajante estava agora, não apenas lendo, mas estudando, com
entusiasmo, e projetando seu primeiro livro publicado - um ensaio sobre a genialidade e
os escritos dele - que logo surpreendeu o mundo revelando a extraordinária embora
imatura exuberância da sua própria genialidade. Na margem oeste do lago fica Coppet,
com a sua humilde igreja, seus poucos habitantes sob a proteção do seu espaçoso château,
a futura casa suíça dela.
Eles agora permaneciam perto de Lausana, na cidade em que Necker estava a
ponto de publicar ‘Administration des Finances’. Sua esposa sofria seriamente da
151
enfermidade que sempre teve,
154
mas ela estava envolta em cuidados para o conforto de
seu marido. A [64] felicidade de sua filha, ela escreve, é independente das suas atenções
maternais, ‘ela é arrastada pela torrente dos seus prazeres.’ Bonstetten os visitou em
Lausana, e diz, ‘vi a futura Madame de Staël, com todos os encantos da juventude, do
intelecto, e da faceirice.’
155
Madame Necker tinha agora a vista da paisagem da sua
juventude. Crassier olhava sobre ela. Ela escreveu tristemente ao seu amigo literata,
Thomas, que, retraçando seus velhos caminhos aqui, ela passou, em um dia, um intervalo
de vinte anos. ‘Eu mal sei,’ ela acrescenta, ‘se as memórias que ainda tenho são as
minhas próprios, ou a de outros. Se o meu coração ainda não se apegou, a todos os
lugares, aos objetos do meu desgosto e afeto, devo acreditar que a minha juventude foi
um sonho, e o presente uma realidade. Não são, de fato, os primeiros anos da vida que
não passam de ilusões?’ E mesmo assim esta terra poética é o próprio templo de Deus
para ela, ‘natureza luxuriante, montanhas verdes e povoadas, seus topos tocando o céu,
um grande lago se deleitando aos olhos, cenas sobre as quais o olhar atento de alguém
pode vagar com êxtase. Parece que Deus se interessou por aqui mais do que qualquer
outro lugar para as suas criações, obrigando-os a elevar seus pensamentos a Ele sem
cessar.’
Esta viagem trouxe à Mademoiselle Necker relações pessoais mais profundas com
os parentes da família, agora um tanto numerosa nas costas do Lago Leman,
especialmente em Genebra, onde a [65] filha talentosa do naturalista De Saussure casou,
aproximadamente nesta época, com dezenove anos, com James Necker, e ficou
posteriormente famosa na literatura como Madame Necker de Saussure. A amizade das
duas jovens mulheres foi uma alegria de ambas ao longo de suas vidas; e Madame
Necker de Saussure se transformou na melhor biógrafa de sua prima. O seu próprio
biógrafo diz que ‘nesses anos juvenis a conversação dessas duas pessoas, tão dignas uma
da outra, tinha um grau de vivacidade e interesse que é impossível descrever. Parecia
então que tudo o que a imaginação pode sugerir do que é belo e bom seriam logo
realizados pelo crescimento das suas almas. Os tristes efeitos da grande Revolução ainda
não haviam mostrado como os mais nobres projetos podem facilmente ser derrotados,
154
Fragmentos de suas cartas, Mélanges.
155
Souvenirs de Bonstetten.
152
como os desejos mais direitos e corajosos podem ser quebrados. Na sua intimidade elas
discutiam os maiores assuntos que podem ocupar a mente humana. Idéias que viriam um
dia a serem proferidas em “Corinne” e “Allemagne”, os tesouros do pensamento e do
sentimento, as invenções da imaginação, deslumbravam suas almas nessas conversas
familiares. Madame de Staël sonhava sem cessar na companhia de sua jovem prima. Ela
estava encantada com esta troca de opiniões, que tranqüilizavam e direcionavam o ardor
agitado dos seus pensamentos. Era de fato um belo espetáculo - essas duas mentes
superiores, na entrada da vida, olhando para o futuro; uma já [66] pacífica e tranqüila, a
outra pronta para voar em direção às regiões onde tempestades, apesar do brilho e glória,
predominavam.’
156
Depois de passar algum tempo em Coppet, eles prolongaram a sua ausência no
inverno, por viagens em outras partes da Suíça e no sul da França; já que Madame
Necker estava bastante disposta a manter sua filha, que agora avançava em sua brilhante
juventude, o máximo possível longe da atmosfera moral de Paris. Ela havia escrito ao
Lord Stormont, o Embaixador Britânico em Versailles: ‘Paris parece-me mais perigosa
do que nunca, agora que minha filha está se tornando uma mulher, e que me encontro
obrigada a guerrear sem cessar, pelo exemplo individual, contra o exemplo geral - um
combate de força desigual, e de êxito duvidoso. Fico assombrada todos os dias com a
perversão moral que envergonha todas as mentes e todos os corações. Vícios ou virtudes,
todos são igualmente indiferentes, a condição que a conversação seja animada, e o
ennui, a nossa peste mais respeitada, é banido.’
Eles passaram algum tempo em Avignon, sob um céu tão puro e transparente que
parecia que ‘alguém deveria sempre furar o véu azul, e achar, além dele, todas as alegrias
que ele precisa!’ Mas os vícios de Paris são excessivos aqui também; ‘eles até perderam
alguns dos seus disfarces educados no caminho.’ As opiniões e as corrupções da capital
muito tempo [67] tinham estado inundando as províncias; a vida social, e
especialmente doméstica estavam se dissolvendo; e a nação inteira apressava-se em
direção ao abismo da dissolução política.
156
Notice sur la Vie et les Ecrits de Madame Necker de Saussure, prefixado na segunda edição de seu
trabalho sobre Educação.
153
Eles vão a Montpelier, com vista do Mediterrâneo e dos Pireneus. Eles estão
profundamente interessados na férvida vida do Sul. Eles ouvem a eloqüência fervorosa
dos seus púlpitos‘de bispos e arcebispos,’ e especialmente do Bispo de Narbonne. Eles
recebem cartas reanimadoras dos seus amigos literatas Parisienses. Madame Necker
responde a um deles, que havia visitado a família na Suíça: ‘Monsieur Necker, minha
filha, e eu, constantemente pensamos em você. Ele muitas vezes diz que você fez com
que a nossa curta permanência em Coppet fosse encantadora. É num afastamento que se
sente a preciosidade da genialidade e amizade, como se ouve melhor no silêncio da noite
o som do mar, ou a canção do rouxinol.’
Traçando alusões nas suas cartas, e por outras pistas obscuras, descobrimos que
eles voltaram em direção à Paris em 1785, e viveram durante algum tempo relativa
solidão em Marolles, não longe da cidade. Aqui o seu refúgio era ‘tranqüilo, que
nenhum movimento o atingia. Todas as coisas em volta estando tranqüilas, a alma
também está.’ Isso condizia com os hábitos estudiosos de Mademoiselle Necker, quem
tinha, sem a ajuda de escolas, superado muito a cultura acadêmica habitual e percorrido
por sobre os campos tanto da literatura antiga como da moderna, agora aspirava a autoria
[68] e distinção literária. Suas breves composições eventuais – ‘Portraits’, ‘Eloges’,
‘Synonymes’ - haviam sido lidos com avidez no círculo privados de seus amigos, e
alguns deles, como vimos, haviam sido enviados por Grimm aos seus correspondentes
principescos, como promessas de uma genialidade extraordinária. A conversa dela e as
cartas agora mostraram capacidade de amadurecimento rápido. Madame Necker, que
ainda sofrendo com a saúde, havia incumbido sua filha de sua correspondência, cujas
cartas brilhantes trouxeram respostas cheias de admiração. A mãe, respondendo a um
desses admiradores, o sem um toque de ciúme (irônico, vamos acreditar, neste
exemplo), escreveu: ‘Os primeiros dias depois da minha chegada foram muito tristes;
deixei para minha filha a felicidade de escrever para você, mas ela recebeu uma carta
encantadora demais de você, e eu não gostaria que ela herdasse os meus direitos antes
que eu não esteja mais. Pode-se dar pequenos presentes durante a vida, mas damos toda a
nossa propriedade só quando morremos.’
No ano depois do seu regresso das suas viagens no sul, Mademoiselle Necker
concluiu um drama em verso, em três atos, nomeado ‘Sophia, ou Sentimentos Secretos.’
154
O tema é o amor sem esperança; é permeado, diz sua prima, por ‘uma sensibilidade doce
e melancólica;’ embora tenha o excesso, o sentimentalismo, de uma produção juvenil, a
peça inteira é marcada por presságios de genialidade. É caracterizada pela grande
delicadeza moral, mas ele não escapou à crítica rigorosa de Madame Necker. [69] Tem
quatro personagens claramente delineados, quatro situações bem definidas, e o seu estilo,
embora incorreto, como sua autora observou quando, anos mais tarde, ela o deu ao
mundo, carrega, contudo, a marca daquela originalidade vigorosa que foi o selo que a
distingue em todos os seus trabalhos maduros. No ano seguinte (1787) a sua genialidade,
agora agitada nas suas aspirações, tentou um vôo mais ambicioso; ela compôs o drama de
‘Jane Grey’ nos usuais cinco atos, algumas cópias do qual foram impressas, três anos
depois, para a distribuição privada. O seu estilo, embora incorreto, como ela reconhece
no prefácio, mostra uma melhora surpreendente do ‘Sophia’, como faz também seus
personagens, e de fato todos os atributos essenciais da peça. Ela seguiu a história
estritamente, exceto no personagem de Pembroke. O Northumberland foi admirado como
revelação assombrosa capacidade, ‘se considerarmos a idade da escritora.’ Há compaixão
genuína em algumas cenas, e não poucas passagens são escritas com uma energia de
pensamento e sentimento não superados nos seus escritos posteriores. Isto, foi observado,
é o único trabalho de Madame de Staël no qual encontramos ‘um quadro animado com
felicidade;’ as primeiras cenas admitem tal tratamento apesar da sua conclusão trágica.
Ele revela também que a tendência religiosa que habitualmente caracterizava o coração
da sua escritora; ‘como ela sempre teve,’ diz sua prima, ‘a necessidade da gratidão e, em
conseqüência, da religião, na felicidade, ela deu [70] à personagem de Jane Grey uma cor
profundamente religiosa.’ Desde sua infância ela tinha uma simpatia ardente por sua
heroína. ‘Ao ler sua história,’ ela diz, ‘a sua personalidade me encantou. Eu tinha a sua
idade quando eu tentei descrevê-la, e a juventude dela estimulou a minha. Desejei ser
capaz de fazer outros compartilharem da minha admiração daquela união de força e
sensibilidade que lhe permitiu desafiar a morte valorizando a vida.’
157
Ela recorre a ela
um quarto de um século depois em ‘Reflexões sobre o Suicídio,’ para mostrar que a
perspectiva de uma morte assustadora não é, para um cristão verdadeiro, uma razão
157
Prefácio para Jane Grey: Œuvres complètes, ii. Paris, 1861.
155
suficiente para terminar com os dias de alguém. Um segundo drama, intitulado
‘Montmorency’,’ rapidamente seguiu aquele de ‘Jane Grey,’ mas nunca foi publicado.
Esses trabalhos juvenis são interessantes, principalmente, como indicações do
crescimento do seu intelecto; imperfeito como são, eles são vívidos com a genialidade
dela. Com eles terminaram suas tentativas de versificação em qualquer escala
considerável, se nós excetuarmos o seu ‘Epître au Malheur, ou Adèle et Edouard,’ sobre
as atrocidades da Revolução, e publicado no ano 1795. Antes dos vinte anos de idade ela
compôs três contos, que foram publicados com este poema ‘Mirza’, ‘Adelaide e
Theodore,’ e ‘Pauline’. Ela não os superestimou; suas situações são mais aludidas do que
desenvolvidas; ela diz, no seu prefácio, ‘o único mérito deles são seus [71] quadros de
alguns sentimentos do coração.’ Aquele tom trágico que permeia todas os seus escritos é
extremo nesses esboços fictícios. A importância principal do pequeno volume está na sua
introdução, que é um ensaio crítico, de capacidade notável, sobre Literatura Fictícia,
escrito mais tarde, mas certamente na sua juventude. Ele indica uma variedade incrível de
leitura, e profundidade igualmente incrível da reflexão da sua leitura. Sainte-Beuve
chama-o de ‘um ensaio encantador.’ Ele revê quase todos os grandes trabalhos deste tipo
que havia até então aparecido para ela, em qualquer língua classificando-os, primeiro,
como Ficções, Maravilhosas e Alegóricas; em segundo lugar como, Históricas; em
terceiro lugar, aquelas que têm tanto Invenção como Imitação, mas são fundados não
muito sobre o fato mas sobre a probabilidade. Ela dá distiçao, tanto a obras de arte, como
a romances realmente naturais, expondo a verdadeira ação dos afetos humanos e paixões,
sem alegoria, sem mitologia, sem maquinismo fantástico ou de fadas, e sem um objetivo
filosófico ou propósito didático.
O ‘Tributo a M. de Guibert’ foi escrito aos seus vinte e três anos; trechos são
encontrados na Correspondência de Grimm, mas não foi impresso até a sua morte.
Caracteriza-se mais pelo entusiasmo e genialidade nascente que permeiam as suas cartas
sobre Rousseau. Guibert foi o herói das cartas famosas de Mademoiselle Lespinasse, um
fato não ainda conhecido contudo, pela sua jovem admiradora. [72] Havia muita nobreza
no caráter dele, e ele tinha talento raro, como seus escritos demonstram; ele era um
convidado habitual e brilhante do salon de Necker, e tinha muita afinidade com as
opiniões políticas de Necker ‘um dos primeiros,’ diz Sainte-Beuve, ‘a conceber as
156
idéias e meios da reforma pública, o General de Estados, a tropa de cidadãos,’ etc.; ‘mas,’
acrescenta este escritor, estou mais satisfeito com ele por ter previsto com convicção, e
revelado com antecedência, através de um “retrato” a futura grandeza de Corinne.’ Ela
tinha, provavelmente, uma razão mais forte de seu interesse por ele. Anos depois, na
Inglaterra, ela revelou a um amigo que ‘Guibert tinha estado muito apaixonado por ela
antes do seu matrimônio.
158
Se ela não podia retribuir o afeto dele, ela poderia apreciá-lo,
uma mulher, especialmente tal mulher, sempre se sente lisonjeada pelo amor, embora
possa ser de um homem incapaz de ganhar o seu coração, ou possivelmente nem a sua
estima. Isso é pelo menos uma homenagem às suas atrações, e é um tributo que nenhuma
mulher pode desprezar. O Tributo a Guibert é a expressão de um agradecimento, bem
como de um coração admirador.
Assim foram as tentativas de produções da sua caneta juvenil, antes que ela
ousasse enviar adiante o superior, embora incorreto, ‘Cartas sobre as Escritas e o Caráter
de Rousseau,’ que seriam a primeira manifestação publicada da sua genialidade
soberba.
159
[73] Antecipamos algumas datas nesta visão conectada dos seus primeiros
trabalhos. Entretanto outros e importantes eventos ocorreram. O seu pai, ainda procurado
pela opressão, foi banido das redondezas de Paris, e ela acompanhou-o no seu exílio. Ela
cresceu numa rica juventude, fisicamente e intelectualmente. A sua admirável capacidade
de conversa era reconhecidos nos melhores círculos como algo maravilhoso. O seu
infeliz matrimônio realizou-se. Os embaraços crescentes da tesouraria nacional
compeliram o governo a voltar novamente suplicando a Necker, e ele está a ponto de ser
chamado de volta ao escritório, recolocando a família nas excitações deslumbrantes da
vida Parisiense. E no mesmo ano com a restauração dele ela deve tomar a sua posição, e
tomá-lo para sempre, no posto literário do seu país pela sua primeira publicação.
158
Queens of Society de Wharton, p. 369. London, 1867.
159
Sainte-Beuve é evidentemente inclinado a pensar que o primeiro trabalho impresso dela deve ter sido o
pequeno volume intitulado Lettres de Nannine à Simphal, que são atribuídas a ela pelo M. Beuchat, mas foi
desmentido por sua família quando foi publicado (1818), depois da morte dela; se for autêntico, foi escrito
provavelmente por volta dos quinze anos dela. M. Bohaire, editor em Lyons, e dono do manuscrito, insistiu
que, apesar de não ser a letra de Madame de Staël, o trabalho é entretanto dela. (Querard’s La France
Littéraire, tomo ix. O Biographie Universelle inclina para a mesma opinião.) Este difere pouco de seus três
outros romances, com a exceção de que é mais juvenil no seu estilo. É um pequeno, romance sentimental,
tal como uma fervorosa, jovem moça cândida poderia facilmente imaginar.
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