Habitação Popular e Preservação do Patrimônio na Reabilitação
O caso do edifício na rua Senador Pompeu 34
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programas semelhantes ao Novas Alternativas, baseados na experiência do Rio de Janeiro.
Segundo Nazih, o programa conseguiu uma projeção maior no Rio de Janeiro devido ao
grande aporte financeiro do poder público envolvido no processo, que muitas dessas
outras cidades não dispõem. Nazih não conhece nenhuma experiência de reabilitação
urbana em todo o mundo sem que houvesse um grande aporte financeiro do poder
público. Na opinão dele, este não é um programa que se auto gerencia. Não é possível
desapropriar, contratar projeto, fazer obra e no final vender uma unidade por R$ 40.000,00
e achar que este valor cobrirá todas as despesas. O custo de uma habitação dessa no
centro da cidade vale em torno de R$ 60.000,00 a R$ 70.000,00.
Os casarões recuperados pelo programa eram voltados, originalmente, para o aluguel
social que era a idéia que havia sido implementada. Quando mudou o governo, a idéia do
aluguel social não vingou mais. Isso foi muito discutido com relação à revitalização do
bairro de São Cristóvão, onde há uma cooperação entre a prefeitura do Rio de Janeiro e a
prefeitura de Paris. Uma das grandes críticas que a prefeitura de Paris faz à política
habitacional implementada no Brasil é que nós não temos a figura do aluguel social. Na
França, por exemplo, não se produz uma unidade de R$ 70.000,00 e vende por R$
40.000,00. O morador vai pagar o aluguel social. Quando os primeiros casarões foram
recuperados, a idéia era mais ou menos essa. Com a mudança de gestão, as Ong’s que
faziam esse acompanhamento e ajudavam na administração dos imóveis não tiveram o seu
contrato renovado e isso acabou indo para as mãos do Nazih. O governo atual privilegia a
venda da unidade para o morador. Segundo Nazih, todo o brasileiro sonha ter a casa
própria. Esse sonho praticamente não existe fora do Brasil. Citou a época do governo
Sarney onde a inflação girava em torno de 80% ao mês e quando nenhum morador queria
ter o seu aluguel reajustado todo mês nessa porcentagem. Esse fato gerou um trauma na
população que começou a buscar com maior freqüência a casa própria e rejeitar o aluguel
social. A casa própria era sinônimo de segurança. O aluguel social na Europa não é feito
pelo poder público e sim por empresas privadas, as quais constroem e recebem um
subsídio da prefeitura. No Brasil, dos R$ 70.000,00 apenas R$ 40.000,00 é repassado para o
morador, que paga o imóvel através do PAR. Segundo Nazih, uma solução para este
problema seria o aluguel social. Nesse caso, é necessário mudar a mentalidade das
pessoas, a cultura. A filosofia da casa própria onera muito o poder público. Por exemplo, a
prefeitura paga ao proprietário pela desapropriação de um casarão no centro em torno de
R$ 70.000,00. O terreno é vendido para a C.E.F. à base de R$ 2,00 o metro quadrado. Então
a prefeitura desapropria o imóvel por R$ 70.000,00 e vende para a CEF por R$ 500,00. O
Programa contrata (terceiriza) ou faz o projeto de arquitetura e o dá de graça para a CEF.
Para a construção, a C.E.F. entra com, no máximo, R$ 40.000,00 por unidade e o custo da
obra sai por, aproximadamente, R$ 50.000,00 por unidade. A prefeitura tem que entrar
com R$ 10.000,00 por unidade, complementando o custo da obra. Nesse processo, a
prefeitura entra com o imóvel, resolvendo as pendências fundiárias e pagando a
desapropriação, vende o terreno para a CEF por um valor irrisório, elabora e aprova o
projeto, acompanha e complementa financeiramente a obra. A CEF compra o terreno,
transformando-se na proprietéria, cobre parte dos custos da obra, repassa as unidades
habitacionais para os futuros compradores através de financiamento (PAR, Crédio
Associativo, etc.) e gerencia o imóvel durante o período do financiamento, que gira em
torno de 15 anos. Isso mostra que o aporte financeiro precisa ser muito grande. Não
adianta não querer vender o imóvel e fazer o aluguel social que não dará certo, pois as
pessoas querem a casa própria.