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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – PROARQ
APLICAÇÃO DA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO NO
DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS ARQUITETÔNICOS: ESTUDO DE CASO NA
EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS
Juliana D’Avila Ferreira Viana Martha
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-graduação em Arquitetura,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do
título de Mestre em Ciências em Arquitetura, Linha
de Pesquisa Planejamento e Gerenciamento do
Ambiente construído, ênfase em Gestão do
Processo de Projeto do Edifício.
Orientadora:
Prof.ª Mônica Santos Salgado, Dsc
Rio de Janeiro
março de 2009
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II
APLICAÇÃO DA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO NO
DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS ARQUITETÔNICOS: ESTUDO DE CASO NA
EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS
Juliana D’Avila Ferreira Viana Martha
Orientadora Prof.ª Mônica Santos Salgado, Dsc.
Dissertação de Mestrado, submetida ao Programa de Pós-graduação em
Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre
em Ciências em Arquitetura, Linha de Pesquisa Planejamento e Gerenciamento do
Ambiente construído, ênfase em Gestão do Processo de Projeto do Edifício.
Aprovada por:
_______________________________
Orientadora, Prof. Mônica Santos Salgado, Dsc.
_______________________________
Prof. Maria Lygia Niemeyer, Dsc
_______________________________
Prof. Carlos de Souza Almeida, Dsc
Rio de Janeiro
março de 2009
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III
M377
Martha, Juliana D’Avila Ferreira Viana,
Aplicação da análise ergonômica do trabalho no
desenvolvimento de projetos arquitetônicos: Estudo de caso
na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos./ Juliana
D’Avila Ferreira Viana Martha. Rio de Janeiro: UFRJ/FAU,
2009.
xi,122 f.: il., 30 cm.
Orientador: Mônica Santos Salgado.
Dissertação (Mestrado) UFRJ/PROARQ/Programa de
Pós-Graduação em Arquitetura, 2009.
Referências bibliográficas: p. 113-117.
1. Arquitetura Projetos. 2. Ergonomia. 3. Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos. I. Salgado, Mônica
Santos. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de
Pós-Graduação em Arquitetura. III. Título.
CDD 720
IV
AGRADECIMENTOS
Agradeço àquela que, longe ou perto, sempre me incentivou e apoiou com seu
carinho, não somente neste trabalho, mas em qualquer momento da vida.
Ao Marcio, por incentivar o início de tudo, por sua compreensão e ajuda nos
momentos difíceis, sempre acreditando e apoiando.
À professora Mônica, pela orientação e dedicação ao longo destes dois anos!
Ao Maurício, Lúcia, Ana, Winter, Walker, pelo apoio e compreensão, sem os
quais este trabalho não seria possível. Ao Folly, pela gentileza das conversas.
Ao Décio, pelo interesse, atenção e ajuda nas buscas desta pesquisa.
Ao Onishi e Edílson, pelas discussões, pelos materiais e pelo incentivo.
Ao Marcus, Marcio, Vanderlei e Montenegro pelas informações e atenção.
Aos Correios, pelo apoio nesta pesquisa, através das gerências de Engenharia,
de Cargas, do Centro de Triagem e da Saúde.
Aos amigos Carol, Camila, André, Kleber, Josinei, pelas discussões, pelos
materiais, incentivo e pela preciosa amizade. A Marisa, colega e amiga, companheira
de estudos e desafios. Aos colegas de curso, pelas discussões e pelas amizades
surgidas.
A todos os funcionários dos Correios que tenham participado desta pesquisa,
gerentes, profissionais e técnicos, supervisores, operadores, pela colaboração e pela
receptividade durante a pesquisa.
Ao pessoal do PROARQ, Rita e Guia, pelo apoio.
Aos professores das disciplinas do PROARQ e da COPPE, pela dedicação
durante as aulas e preciosos ensinamentos.
Aos professores da banca, pela atenção e contribuição indispensáveis.
A todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização
deste trabalho, e que me acompanharam nesta busca,
MUITO OBRIGADA!
V
RESUMO
APLICAÇÃO DA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO NO
DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS ARQUITETÔNICOS: ESTUDO DE CASO NA
EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS
Juliana D’Avila Ferreira Viana Martha
Orientadora: Mônica S. Salgado
Resumo da Dissertação de Mestrado, apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título
de Mestre em Ciências em Arquitetura.
RESUMO
Este trabalho discute a importância das contribuições da Análise Ergonômica do
Trabalho (AET) para a qualidade do projeto arquitetônico, destacando a necessidade de
se conhecer a atividade e o funcionamento geral dos sistemas para a garantia do
atendimento aos objetivos propostos em projeto. Considerando-se que o ambiente deve
atender de maneira satisfatória às necessidades dos usuários, destaca-se a enorme
importância em buscar instrumentos que detectem estas necessidades e evidenciem de
que forma podem ser atendidas. O estudo de caso na Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos trouxe resultados que indicaram a importância da visão da Ergonomia na
prática de projeto, permitindo observar e compreender todas as envolventes da
atividade dentro da edificação, possibilitando propostas de melhorias. Foi possível
demonstrar a importância da AET como método de detecção de problemas e a
possibilidade de sua inserção na metodologia do processo de projeto de arquitetura.
PALAVRAS-CHAVE: Projeto de arquitetura, processo de projeto, Análise Ergonômica
do Trabalho, Correios.
Rio de Janeiro
março de 2009
VI
ABSTRACT
APLICAÇÃO DA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO NO
DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS ARQUITETÔNICOS: ESTUDO DE CASO NA
EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS
Juliana D’Avila Ferreira Viana Martha
Orientadora: Mônica S. Salgado
This Theoretical paper discusses the importance of the contributions of the
Ergonomics Analysis of Work’s (E.A.W) to the quality of the architectural design,
standing out the necessity of knowing the activity and the general functioning of the
systems for the guarantee of the service to the objectives proposed in project.
Considering that the environment must answer in satisfactory way the necessities of the
users, it stand out the great importance ins searching instruments that detects these
necessities and shows up the ways it can be attended. The case study at the Brazilian
Company of Post Offices and Telegraphs brought results that indicated the importance
of the vision of the Ergonomy in the practices of project, allowing to observe and to
comprehend all the factors of the activities inside the edification, making possible
proposes of improvements. It was possible to show the importance of the EAW like a
method of problems detection and the possibility of its insertion in the methodology in
the design process.
KEY WORDS: Architectural design; design process, Ergonomics Analysis of Works,
post offices.
Rio de Janeiro.
março de 2009
VII
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - Sistema Postal Nacional – ECT
QUADRO 2 - Fatores considerados para a detecção de problemas
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Fatores considerados e respectivos respondentes
TABELA 2 – Andares e sua ocupação
TABELA 3 – Caracterização das atividades nos andares
TABELA 4 – Características da atividade
TABELA 5 – Características da atividade
TABELA 6 medições de ruído, temperatura e iluminância
TABELA 7 medições de ruído, temperatura e iluminância
TABELA 8 medições de ruído, temperatura e iluminância
TABELA 9 – medições de ruído, temperatura e iluminância
LISTA DE FOTOGRAFIAS
FOTO 1 – Edifício do Paço Imperial
FOTO 2– Edifício à Rua Primeiro de Março, no Rio de Janeiro.
FOTO 3 – Agências em Guarabira (PB)
FOTO 4 – Agências em Mossoró (RN)
FOTO 5 – Agência em Quixeramobim (CE)
FOTO 6 – Diretoria Regional em Botucatu (SP)
FOTO 7 – Diretoria Regional em Campo Grande (MS)
FOTO 8 – Diretoria Regional de São Paulo – Cartão Postal
FOTO 09 – Diretoria Regional do Rio de Janeiro
FOTO 10 – Foto aérea - Edifício Sede DR-RJ e sua inserção na malha urbana
FOTO 11 – Edifício Sede dos Correios no Rio de Janeiro
FOTO 12 – Edifício Sede dos Correios no Rio de Janeiro.
FOTO 13 – Equipamentos instalados no local
FOTO 14 – CTC Cidade Nova – ocupação anterior– início de seu funcionamento
FOTO 15 – CTC Cidade Nova – ocupação atual
FOTO 16 – Entrada de veículos: necessidade de corte em viga estrutural
FOTOS 17 e 18 – Elevador de cargas (à esquerda) e elevador de caixetas (à direita)
FOTO 19 – Maquete da configuração original do CTC, na época de sua construção.
FOTO 20 – Trabalhadores na parte de triagem manual.
VIII
FOTO 21 – Trabalhadores na manipulação da carga – segundo andar.
FOTO 22 – Lay-out configurado pela carga
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1– Interfaces do processo de desenvolvimento de produto na construção de edifícios
FIGURA 2– Fluxo geral das fases do projeto
FIGURA 3 – Abordagem interdisciplinar durante as etapas do projeto completo da edificação
FIGURA 4 – Fluxo da Análise Ergonômica do Trabalho
FIGURA 5 – Fluxo Postal Simplificado.
FIGURA 6 – Fluxo de carga nos andares que fazem parte do CTC
FIGURA 7 – Planta do pavimento térreo – torre e anexo – sem escala
FIGURA 8 – Planta subsolo 1 – CTC
FIGURA 9 – Planta do segundo pavimento – CTC
FIGURA 10 – Planta do quarto pavimento – CTC
FIGURA 11 – Planta pavimento 5 – CTC
FIGURA 12 – Planta pavimento 6 – CTC
FIGURA 13 – Fluxograma da atividade no posto de trabalho. Segundo pavimento.
FIGURA 14 – Planta segundo pavimento e localização dos postos de trabalho.
FIGURA 15 – Lay-out do posto de trabalho - localização
FIGURA 16 – Lay-out do posto de trabalho - ampliação
FIGURA 17 – Lay-out do posto de trabalho estudado: Esquema e fotos. Turno 1.
FIGURA 18 – Lay-out do posto de trabalho – localização no pavimento
FIGURAS 19-a e 19-b – Lay-out do posto de trabalho - ampliações
FIGURA 20 – Fachada da Rua Amoroso Lima. Incidência solar de manhã e à tarde
FIGURA 21 – Localização dos pontos de medição
FIGURA 22 – ábaco para determinação da temperatura efetiva.
FIGURA 23 – Proposta de fluxo geral das fases do projeto.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACF Agência de Correios Franqueada
AET Análise Ergonômica do Trabalho
AF Agência Filatélica
CC Caixa de Coleta
CDD Centro de Distribuição Domiciliária
CEE Centro de Entrega de Encomendas
IX
CLI Centro de Logística Integrada
CST Centros de Serviços Telemáticos
CTC Centro de Tratamento de Cartas
CTCE Centro de Tratamento de Cartas e Encomendas
CTCI Centro de Tratamento de Cartas Internacional
CTE Centro de Tratamento de Encomendas
CTO Centro de Transporte Operacional
DR Diretoria Regional
ECT Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
NR Norma Regulamentadora
PVP Postos de Vendas de Produtos
TECA Terminal de Cargas
UD Unidade de Distribuição
X
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO________________________________________________________
1
1 A BUSCA PELA QUALIDADE DO PROCESSO DE PROJETO DE
ARQUITETURA____________________________________________________
4
1.1 Metodologias de Gestão do Processo de Projeto: identificando pontos para
contribuição_______________________________________________________
8
1.1.1 A importância do usuário no processo___________________________ 15
1.1.2 Reflexões sobre as teorias apresentadas_________________________ 19
1.2 Contribuições da Ergonomia ao projeto de arquitetura___________________ 20
1.2.1 Análise Ergonômica do Trabalho (AET)__________________________ 24
1.2.2 A Análise Ergonômica do Trabalho e as contribuições para a qualidade
do projeto arquitetônico ___________________________________________
27
1.3 Desafios na concepção de projetos ________________________________ 29
2 EVOLUÇÃO DOS ESPAÇOS DESTINADOS AOS SERVIÇOS DE CORREIOS
NO BRASIL__________________________________________________________
34
2.1 Breve histórico dos Correios no Brasil e a evolução dos projetos
arquitetônicos em seus espaços _______________________________________
36
2.2 Estrutura e serviços ______________________________________________
46
2.2.1 Fluxo postal dos serviços de correios no Brasil_____________________
47
2.2.2 O tráfego postal nacional______________________________________ 50
2.2.3 Contextualização no Estado e na cidade do Rio de Janeiro__________ 51
3 AS ESPECIFICIDADES DA ARQUITETURA NO FUNCIONAMENTO DAS
PRINCIPAIS UNIDADES DE CORREIOS: ESTUDO DE CASO NA CIDADE DO RIO
DE JANEIRO_________________________________________________________
53
3.1 Generalidades sobre os serviços postais _____________________________ 53
3.2 Os problemas integrados__________________________________________
54
3.3 O problema focado: o Edifício Sede da ECT no Rio de Janeiro e o Centro de
XI
Tratamento de Cartas – CTC Cidade Nova_______________________________ 55
3.3.1 Edifício Sede_______________________________________________ 55
3.3.2 Centro de Tratamento de Cartas – CTC Cidade Nova - Caracterização__
57
3.4 Análise realizada________________________________________________ 61
3.4.1 Caracterização da unidade e detecção de problemas atuais __________ 61
4 A APLICAÇÃO DA AET E AS CONTRIBUIÇÕES AO FLUXO DO PROCESSO DE
PROJETO: UMA PROPOSTA ___________________________________________
71
4.1 Aplicação da Análise Ergonômica do Trabalho – AET ______________
71
a - Conhecimento e reconstrução da(s) demanda(s)_____________________ 72
b – Conhecimento do funcionamento geral da organização – Correios_______ 72
c – Caracterização da situação global e escolha das situações a analisar____ 72
d – Análise da atividade - situações escolhidas ________________________
81
e – Análise do ambiente___________________________________________ 95
4.2 Resultados, formulação de diagnósticos e recomendações _______________ 103
CONCLUSÕES E PROPOSTAS__________________________________________
107
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS_______________________________________
113
ANEXOS____________________________________________________________
118
1
INTRODUÇÃO
É possível observar, nos dias atuais, que os resultados dos projetos de arquitetura
o próprio ambiente construído muitas vezes não apresentam o desempenho final
desejado, ou seja, não atendem às exigências para a sua utilização. Isto ocorre pela
falta de conhecimento mais detalhado sobre as necessidades e sobre as atividades que
irão ocorrer na edificação, uma vez que necessidades específicas demandam soluções
específicas, as quais não podem ser ignoradas. A partir destas considerações,
evidencia-se a busca pelo aumento da qualidade do ambiente construído, a qual passa
pela busca da melhoria do processo de projeto de arquitetura, o qual irá refletir no
resultado final.
Considerando-se a Ergonomia como a ciência que promove a interação humana
com o ambiente, a atividade de trabalho e os meios físicos que a envolvem, de modo a
promover o funcionamento adequado e também de modo satisfatório ao elemento
humano, demonstra-se indispensável a discussão de sua inserção ao processo de
projeto de arquitetura, como forma de buscar a melhoria do produto final edificado.
Deste modo, a metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho AET, por abranger
métodos e técnicas de observação e compreensão do que acontece na realidade de
uma atividade desenvolvida num certo espaço, mostra-se como possibilidade de
contribuição à melhoria do processo de projeto de arquitetura.
Desta forma, o presente trabalho apresenta o estudo de caso na Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos ECT –, onde a lógica de seu funcionamento e o
incremento dos serviços prestados refletem nos projetos arquitetônicos a necessidade
de adequado desempenho do ambiente construído, dada a complexidade de seu
sistema e as variabilidades encontradas nas mais diversas edificações.
O objetivo principal deste trabalho consiste, pois, em discutir e analisar as
contribuições que a AET pode trazer ao projeto de arquitetura, sugerindo melhorias
para a edificação em estudo. De forma mais ampla pretende-se, também, discutir e
evidenciar a importância em se incorporar a visão da Ergonomia à prática de projeto,
onde a inserção da metodologia da AET poderá colaborar com as novas concepções
2
projetuais, propondo-se que seja inserida como complemento às metodologias do
processo de projeto de arquitetura.
A discussão atual sobre a busca pela melhoria do processo de projeto de
arquitetura e conseqüente melhoria do ambiente construído justificam e demonstram a
importância da pesquisa e da busca por instrumentos que possibilitem incrementos no
processo de projeto, de forma a orientar mudanças que possam refletir em ambientes já
edificados e principalmente em ambientes a serem concebidos. A inserção da
Ergonomia como possibilidade de incremento à concepção projetual reflete as
preocupações com o usuário e o alcance dos objetivos de projeto. Esta pesquisa
justifica-se, ainda, através de possibilidades de aplicação prática deste trabalho, assim
como sua continuidade, uma vez que a pesquisadora é parte integrante do corpo
técnico da Gerência de Engenharia dos Correios do Rio de Janeiro.
Sendo assim, a estrutura do trabalho possui a seguinte organização:
No Capítulo 1 é apresentada a fundamentação teórica para a discussão e a
reflexão, evidenciando a necessidade de melhoria do processo de projeto, descrevendo
metodologias que abordam as fases do projeto de arquitetura e que apontam
momentos carentes de discussão e de propostas de melhorias. Também se apresenta a
importância da inserção da Ergonomia nas abordagens dos espaços e a metodologia
da AET como importante ferramenta de análise.
O Capítulo 2 apresenta a evolução dos serviços de correios no Brasil, focando a
evolução de seus espaços, além de fornecer a visão geral de sua lógica de
funcionamento e as variáveis envolvidas.
Durante o Capítulo 3, é feita a contextualização do objeto do estudo de caso,
apresentando o funcionamento e as especificidades dos serviços de correios, bem
como a caracterização do edifício selecionado para o estudo, onde o descritos os
métodos de observação e detecção de problemas que encaminharam o
aprofundamento da análise.
3
Finalmente, o Capítulo 4 apresenta a realização da Análise Ergonômica do
Trabalho, possibilitando detectar e compreender os problemas e necessidades reais e
atuais. A análise permite a discussão de soluções e sugestões para melhorias da
edificação estudada. Através da reflexão entre a revisão teórica e a prática observada,
propõe a inserção da AET no processo de projeto arquitetônico, como forma de
contribuições para a sua melhoria.
4
1 A BUSCA PELA QUALIDADE DO PROCESSO DE PROJETO DE
ARQUITETURA
O produto final de um projeto arquitetônico é entendido como a própria edificação,
e este produto deve atender a todas as necessidades almejadas para a satisfação dos
clientes
1
. O alcance desta satisfação depende da qualidade final que o produto irá
apresentar.
O termo “qualidade” apresenta, nos dias atuais, definição ampla e tem sua
importância cada vez mais acentuada nos diversos setores. É possível encontrar, nos
dicionários, significados genéricos, como “grau de perfeição, de precisão, de
conformidade a um certo padrão” (dicionário MICHAELIS, 2002), ou ainda,
"propriedade, atributo ou condição das coisas ou das pessoas, capaz de distingui-
las das outras e de lhes determinar a natureza" (FERREIRA, 1996). Na construção
civil, Fabrício (2002) observa que a qualidade do produto final deve ser a composição e
o resultado de interações entre vários fatores. O autor destaca que a complexidade
atual dos empreendimentos exige o envolvimento de vários profissionais com
conhecimentos especializados, onde é possível observar que a qualidade do produto
final dependerá da formação técnica e da interação entre os envolvidos.
Para Picchi (2003), a qualidade que um projeto de arquitetura apresenta é muito
importante, pois se liga às características do produto – edifício – e afirma que estas irão
determinar o grau de satisfação dos clientes.
De acordo com Salgado (2007), o alcance da qualidade final dependerá da
combinação da qualidade da solução proposta, juntamente com a qualidade gráfica e a
qualidade do processo de projeto. O projeto gráfico deve ser claro o suficiente para
sua construtividade, assim como estar corretamente atualizado de possíveis
modificações, permitindo que haja um plano de manutenção posterior à entrega da obra
1
O que se designa por “cliente” de um projeto de edificação é aquele que deve ter suas necessidades
atendidas, sendo que “nem sempre será o ‘usuário’, ou seja, a pessoa (ou grupo de pessoas) que
ocuparão aquele espaço (...). Ou seja, o ‘cliente’ do arquiteto não serão apenas os trabalhadores que
atuam naquele espaço, mas, principalmente, o tipo de produto que se está produzindo e as
exigências inerentes à sua produção (máquinas equipamentos, linha de produção, etc)” (SALGADO,
2007, p. 15, grifo do autor).
5
edificada. O processo de projeto consiste no desenvolvimento do projeto de
arquitetura como um todo, engloba a seqüência de atividades, tendo seu início na fase
de planejamento e concepção, indo até a entrega e utilização do edifício, sendo que
durante seu desenvolvimento, diversas especialidades participam nos diversos
momentos, entre projetistas e usuários. Para Motta e Salgado (2003), o sucesso do
processo, em sua totalidade, depende da comunicação entre os diversos atores
envolvidos, como projetistas e usuários, entre outros, onde a não integração entre eles
poderá comprometer todo o resultado final.
Atualmente, conforme destacam Fabrício e Melhado (2001), a complexidade dos
empreendimentos, aliada ao desenvolvimento da tecnologia, faz com que os produtos
(edifícios) envolvam maior diversidade de conhecimentos, o que significa a atuação de
diferentes profissionais que possam intervir nos diferentes problemas que surgem no
decorrer do projeto, sendo que o alcance dos resultados somente será possível se
houver integração dos diferentes profissionais.
A discussão atual sobre a qualidade do processo do projeto para a construção de
edifícios também passa pela possibilidade de aplicação dos conceitos do Lean
Thinking, ou Produção Enxuta, e seu conceito refere-se a metodologias, técnicas e
ferramentas, baseado no sistema Toyota de produção, cuja origem se deu no Japão, na
indústria automobilística (PICCHI, 2003). O autor Koskela (1992) passou a denominar
essa nova abordagem como Nova Filosofia de Produção para a Construção, propondo
nova interpretação das bases tradicionais da construção, por considerar o
gerenciamento de projetos e serviços de engenharia como uma das áreas mais
negligenciadas nos empreendimentos da construção. Outros nomes podem ser dados
a esta filosofia, como JIT/TQC, Wold Class manufacturing e time based competition. Na
manufatura, a nova filosofia fornece grandes ganhos de performance, sendo pouco
conhecida na construção.
De acordo com Koskela (1992), a base da Nova Filosofia de produção é de que há
sempre dois tipos de fenômenos que ocorrem em todos os sistemas de produção:
atividades que acrescentam valor ao produto final (chamadas pelo autor de
“conversões”), e atividades que não agregam valor (espera, transporte, estoque,
6
inspeção, retrabalho). Este autor defende que, para o projeto, controle e melhoria de
qualquer sistema de produção, os dois aspectos devem ser considerados (atividades
que agregam e que não agregam valor). Além disso, deve-se procurar reduzir ou
eliminar aquelas que não agregam valor e tornar as conversões mais eficientes. A
pesquisa do citado autor revela alguns resultados e conclui que a nova filosofia deve
ser adotada na construção. Mais do que melhorar as conversões, a eliminação de
atividades que não agregam valor já proporciona dramática melhoria, conforme
observado na manufatura. Koskela (1992) ainda coloca alguns princípios que podem
aumentar a eficiência do processo de projeto:
1- Redução das atividades que não adicionam valores;
2- Aumentar os valores do produto final, considerando os pedidos dos clientes;
3- Redução da variabilidade;
4- Redução dos tempos dos ciclos;
5- Simplificação do processo, minimizando o número de passos, partes e ligações;
6- Aumentar a flexibilidade dos produtos;
7- Aumentar a transparência do processo;
8- Focar o controle no processo completo;
9- Construir a contínua melhoria dentro do processo;
10- Melhoria das conversões;
11- Avaliação de desempenho.
Os princípios acima podem ser relacionados com várias etapas do projeto, tendo
sempre como foco a busca pela melhoria do produto final do processo, ou seja, a
edificação. É importante identificar os pontos que necessitam de melhoria e incremento
dentro do processo de projeto, e determinar etapas em que possa haver a inserção das
propostas citadas, contribuindo para a aproximação dos resultados de projeto
esperados.
Desta forma, é possível destacar a necessidade de maiores reflexões acerca da
produção da construção, visto que esta área ainda carece de melhorias que irão
beneficiar o resultado final. Isto envolve desde o projeto até a execução da obra,
enfatizando que diversos profissionais envolvidos e etapas ao longo do processo,
passíveis de serem estudados e identificados em suas necessidades de melhorias. Isto
7
significa que é possível identificar maneiras e momentos de aperfeiçoamento, em que a
própria característica do processo permitique a melhoria de uma etapa beneficie a
próxima, refletindo na qualidade final do produto.
A questão da necessidade de mudanças no processo de projeto também é
colocada por Gray e Hughes (2001), principalmente no que diz respeito a um melhor
gerenciamento do mesmo. Apesar da maior complexidade dos edifícios atualmente,
maiores exigências quanto à redução de custos e ao aumento da qualidade final do
produto (edifício). O impacto no processo de projeto é que ele torna-se, muitas vezes,
mais complexo e menos gerenciável. Apesar de os autores não defenderem puramente
a necessidade de um gerente de projetos (por considerarem que gerenciar é uma tarefa
de cada um dos envolvidos), destacam sua importância, pois há perda do entendimento
dentro do processo de projeto, através da falta de informações entre pessoas e
organizações envolvidas, antes da construção iniciar. Suas idéias propõem, a partir de
uma visão geral, a aproximação específica que o beneficiará apenas o processo,
mas trará estratégias e idéias que possibilitarão o alcance de uma melhor prática, ou
seja, a melhoria do produto final.
Das observações feitas a respeito do processo de projeto, evidencia-se a
necessidade de melhorias no processo como um todo, o que refletirá na qualidade do
produto final. Constata-se a importância de uma maior investigação referente às formas
de tornar o processo mais eficiente no atendimento aos resultados esperados.
Desta forma, o item a seguir apresenta uma revisão de teorias que tratam das
possibilidades de se promover melhorias ao processo de projeto. As metodologias de
gestão do processo de projeto são propostas por alguns autores, e irão subsidiar esta
parte da pesquisa, demonstrando e justificando as necessidades de se buscar
possibilidades de contribuição, além das formas e momentos ideais para sua
ocorrência.
8
1.1- Metodologias de Gestão do Processo de Projeto: identificando pontos
para contribuição.
Muitos autores defendem que a melhoria de um processo de projeto poderá ser
alcançada através da gestão deste processo. Conforme observam Oliveira e Melhado
(2005), além das necessidades de melhoria do processo de projeto em si, deve-se dar
atenção aos outros processos envolvidos, para que seja possível o alcance do objetivo
final. Neste sentido, os autores colocam a necessidade de uma gestão do processo de
projeto que envolva não só a equipe de projeto, mas todos os colaboradores da
organização ou escritório. Os autores defendem que um dos maiores desafios para
melhoria de desempenho dos escritórios de projeto é a conscientização dos projetistas
das possibilidades que um sistema de gestão bem definido em sua estrutura e voltado
para a qualidade pode trazer. Apresentam um modelo de gestão que trata de
procedimentos administrativos indispensáveis às empresas de projeto, sempre
procurando privilegiar a simplicidade e flexibilidade dos processos a serem
desenvolvidos.
O modelo proposto apresenta a gestão para pequenos escritórios de projetos e
abrangem toda a organização e planejamento, dividindo-se em: Estrutura
organizacional, Planejamento estratégico, Planejamento e controle do projeto, Gestão
de custos, Gestão comercial; Sistema de informações; Gestão de Recursos Humanos;
Serviços agregados ao projeto e Avaliação do desempenho.
Durante o presente estudo, destacam-se o Planejamento e controle do projeto e
os Serviços agregados ao projeto, como pontos para uma reflexão mais profunda.
Para que possa haver o planejamento e controle do andamento das atividades relativas
ao desenvolvimento do projeto, Oliveira e Melhado (2005) colocam a necessidade de
entendimento das relações entre elas, sendo aconselhável a elaboração de uma
listagem destas atividades e suas relações. Esta etapa irá permitir a visualização geral
das atividades, pois se trata de gerar uma estimativa de parâmetros (escopo do projeto,
fluxo geral de atividades, detalhamento dos subprocessos, estimativa de mão-de-obra,
tempo e custos por atividades), possibilitando a utilização de instrumentos que
auxiliarão planejar a execução do projeto. os serviços agregados ao projeto
são
9
atividades que irão complementar o processo de projeto, a fim de permitir o
aperfeiçoamento do processo de produção do projeto de um modo contínuo. Isto irá
ocorrer através de entrega e apresentação do projeto, sua validação, visitas
programadas à obra, assistência técnica, ou seja, a realização de um acompanhamento
durante a obra e durante sua utilização, detectando pontos a serem discutidos, retro-
alimentando o processo.
A reflexão que se a respeito do planejamento e controle do projeto leva a
constatar que uma visualização destas etapas possibilitará a compreensão das
atividades, e conseqüentemente, a percepção das etapas que necessitam ser
repensadas para que haja melhores resultados finais no processo. Quanto às
colocações sobre os serviços agregados ao projeto, percebe-se que o término de um
projeto não é necessariamente o seu fim, onde a validação pelo cliente e ainda a
assistência técnica podem demonstrar necessidades de projeto que ainda devem ser
atendidas. As contribuições destes serviços são, dentre outras, as de melhorias para os
próximos projetos.
na busca em detectar, pois, os pontos que poderiam sofrer incrementos para a
melhoria do processo, Fabrício e Melhado (2001) destacam a problemática da limitação
de soluções e de interação entre os profissionais, tendo em vista a necessidade de
maior integração entre as fases do processo de projeto. Sugerem a utilização de
modelo de desenvolvimento de produto baseado na Engenharia Simultânea, a qual
propõe gerar de maneira sistemática, simultânea e integrada os produtos e processos a
eles ligados. A Engenharia Simultânea baseia-se em três premissas, que são:
simultaneidade de atividades de projeto (atividades em paralelo), concepção orientada
ao ciclo de vida do produto e ênfase desde o início do processo - na integração entre
todos os profissionais envolvidos. Através destas colocações, é possível deduzir que a
integração ocorrerá, principalmente, através da troca de conhecimentos entre os
diferentes atores e, ainda, através da disseminação do conhecimento e diálogo entre as
diferentes especialidades envolvidas, durante todo o desenvolvimento do projeto.
De acordo com Fabrício (2002), durante o processo de projeto de uma nova
construção, são desenvolvidos diversos projetos, formulações e planejamentos, com a
10
participação de diferentes agentes, sendo possível identificar uma série de interfaces
entre essas etapas e agentes, havendo necessidade de diferentes compatibilizações
para que se possa garantir a coerência entre as decisões e entre os projetos. A figura 1
mostra as diferentes etapas do processo e as interfaces, nomeadas em i1, i2, i3, i4, e
i5. Dentre as interfaces consideradas, destacam-se, para reflexão neste trabalho, as
interfaces i4 e i5, as quais, de acordo com Fabrício (2002), representam: i4
necessidade de acompanhamento da obra, além da elaboração do as built
2
, para que
se possa garantir a retroalimentação que irá subsidiar as novas concepções projetuais,
além de garantir a manutenibilidade do edifício construído; i5 necessidade de se
acompanhar o projeto edificado, durante sua fase de utilização e também de
manutenção, visando constatar os resultados obtidos e a satisfação do ponto de vista
dos usuários e do ponto de vista técnico. Devem ser feitas avaliações pós-ocupação
nestas investigações, possibilitando alimentar o desenvolvimento dos novos projetos,
visando seu aprimoramento.
i1: interface com o mercado (programa);
i2: interface entre os projetos do produto;
i3: interface projeto do produto – produção (projeto para produção);
i4: retroalimentação execução – projeto;
i5: interface cliente (retroalimentação de desempenho).
FIGURA 1– Interfaces do processo de desenvolvimento de produto na construção de edifícios
(FABRÍCIO, 2002)
2
“as built” é o projeto atualizado, contendo quaisquer modificações que possam ter ocorrido durante sua
execução.
11
Os resultados destas avaliações trarão ao processo de projeto informações sobre
aspectos como o desempenho, patologia, custos, vida útil da edificação, de modo a
fornecer uma visão do ciclo de vida da edificação. A estas considerações podemos
acrescentar a possibilidade de obter informações sobre a vida útil do ponto de vista de
sua utilização e das atividades ali desenvolvidas, considerando as transformações dos
sistemas e a modernização das instalações ali colocadas. Fica, portanto, evidente a
importância de se conhecer o processo, promovendo interações entre as diferentes
etapas e especialidades, além de permitir, após a entrega da obra que a detecção dos
aspectos positivos ou negativos possam realimentar as novas concepções projetuais.
Destacando ainda mais a importância do conhecimento do processo como um
todo, as empresas de consultoria paulistas Centro de Tecnologia de Edificações CTE
juntamente com o Núcleo Gestão da Inovação NGI, desenvolveram um “Programa
de Gestão da Qualidade no Desenvolvimento de projeto na Construção Civil”,
propondo, posteriormente, um “fluxo de atividades para o processo de projeto” (Figura
2). Este fluxo consiste em traduzir o desenvolvimento de um processo de projeto de
arquitetura, sendo composto de 7 (sete) fases. Antes do início das fases, o processo
necessita de um pré-requisito que irá levar a um planejamento estratégico dos objetivos
do empreendedor, subsidiando a tomada de decisão quanto ao desenvolvimento do
produto e quanto ao planejamento de metas do escritório de arquitetura. Sucintamente,
a primeira fase (Fase I), planejamento de empreendimentos, caracterizará o produto a
ser desenvolvido, considerando-se planejamento de prazos e constatando sua
viabilidade. A Fase II é a concepção do produto, onde serão estabelecidas as
condições para que o produto atenda o cliente final, sendo o objetivo principal desta
fase a caracterização total da edificação quanto a ambientes, sistemas construtivos,
serviços, equipamentos, formas e geometria. O desenvolvimento do produto acontece
na Fase III, constituindo as etapas do projeto arquitetônico (anteprojeto, projeto legal,
projeto pré-executivo, projeto executivo e projeto de produção). A Fase IV é a entrega
do projeto completo à equipe de execução da obra, responsável também pela entrega
do produto ao cliente e a prestação de assistência técnica. A Fase V é o
desenvolvimento do projeto as built”, cujo objetivo é registrar quaisquer diferenças
entre o projetado e o executado. O acompanhamento técnico e elaboração dos
12
documentos para o Manual do Usuário acontecem na Fase VI, enquanto a Fase VII
avalia a satisfação do cliente final, através de Avaliação pós-ocupação, demonstrando a
qualidade atingida no produto final em relação aos objetivos e soluções inicialmente
adotados.
FIGURA 2– Fluxo geral das fases do projeto (CTE 2001).
No entanto, de acordo com o CTE (2001), vários problemas a serem
destacados na fase de caracterização e concepção do produto, estando, dentre eles, a
análise empírica das necessidades dos clientes, baseadas em experiências passadas,
distantes da realidade em questão, não permitindo uma identificação eficaz destas
exigências, comprometendo o resultado final da funcionalidade da edificação.
Tudo isto evidencia a necessidade de se repensar e incrementar os subsídios para
esta fase do projeto, imprescindível para o alcance dos objetivos quanto à qualidade
final do ambiente construído. Estes incrementos poderão ser obtidos a partir de
elementos e análises que possam enriquecer as informações e o conhecimento a
FASE III
FASE I
Planejamento
do empreendimento
Pré-requisito: Planejamento
estratégico.
FASE II
Concepção
do produto
FASE IV
Entrega final
do projeto
anteprojeto
Projeto legal
pré
-
executivo
executivo e
detalhamento
Projeto de produção
Lançamento do
empreendimento
Desenvolvimento
do produto
Entregas parciais de projeto
Entrega das
unidades aos
proprietários
FASE VII
FASE V
Coleta de dados e desenvolvimento
do projeto “as built”
FASE VI
Acompanhamento técnico dos
projetistas durante a obra
Obra
Avaliação da
satisfação do
cliente final –
Avaliação
pós-ocupação
Fluxo geral de fases do desenvolvimento de projeto
Retroalimentação
13
respeito do ambiente a ser projetado. A análise poderá envolver o futuro usuário, além
da investigação acerca da finalidade do espaço, ou seja, a atividade que será
desenvolvida no local.
A exemplo do fluxograma proposto pelo CTE (2001) como forma de efetuar a
gestão do processo de projeto, Tzortzopoulos (1999) também considera ser necessária
a construção de um modelo de processo para possibilitar o planejamento do mesmo.
Sendo assim, propõe que cada empresa de projeto elabore o seu próprio fluxograma de
processo de projeto e afirma que desta maneira é possível detectar pontos de
intervenção para o alcance de melhorias. Desta forma, é possível intervir em suas
fases, através da aplicação de grande parte dos princípios da produção enxuta de
Koskela (1992), adotados pela autora. Estes princípios são colocados como pontos de
melhoria ao processo de projeto e, para cada um, são feitas propostas e colocadas em
prática, para que sejam atingidos os objetivos propostos. Podem ser considerados os
seguintes princípios e, resumidamente, algumas soluções adotadas durante o trabalho
de pesquisa da autora:
1- Reduzir atividades que não agregam valor ao produto: procurou-se reduzir os
tempos de espera, as aprovações de etapas e as inspeções de projetos, através da
definição dos momentos destas ocorrências, além de aumentar as informações
referentes ao desenvolvimento das etapas, diminuindo as necessidades de re-trabalho.
2- Aumentar o valor do produto, considerando os requisitos dos clientes:
alcançado através da inserção de informações de mercado como insumo de algumas
atividades do processo, e também a execução de avaliações de satisfação do cliente.
3- Reduzir a variabilidade do processo: pode ser atingida através da definição
clara das atividades a serem executadas, com o refinamento constante do modelo e
também em função da transparência do mesmo, permitindo que o processo seja
desenvolvido de forma semelhante para diversos empreendimentos, reduzindo sua
variabilidade.
4- Redução do tempo de ciclo: através da redução das atividades que não
agregam valor e pela redução da variabilidade do processo. Isto significa que deve
haver a avaliação do tempo necessário à execução das atividades definidas, e, como
14
as atividades são interligadas pela troca de informações, isto tende a favorecer a
redução do tempo de ciclo.
5- Simplificação através da redução do número de passos: um processo muito
complexo tende a ter o seu custo maior, além de maior facilidade na incidência de
problemas. Para reduzir a complexidade, foi proposto que se reduzissem o número de
passos, através da possibilidade de reagrupar atividades, possibilitando a redução do
número total de atividades, como, por exemplo a realização de apenas uma visita ao
terreno para a coleta de todas as informações.
6- Aumento da flexibilidade do produto: Pôde ser atingida, em uma das empresas,
através da possibilidade de que o cliente modifique alguns itens do projeto, mas de
forma programada.
7- Aumento da transparência do processo: Obtida através da definição clara das
atividades de cada participante do projeto, além de deixar evidente os próximos clientes
de cada etapa, permitindo a comunicação adequada de seus conteúdos para os
envolvidos.
8- Foco no controle do processo como um todo: o controle pode ser obtido com a
definição das atividades de aprovação da etapa, configurando um instrumento de
controle do processo, bem como a definição de aprovações externas, como forma de
controle ao longo do processo. O controle interno pode ser obtido através da utilização
de listas de verificação para determinadas atividades.
9- Melhoria contínua: uma das formas de obtenção da melhoria contínua é permitir
a pesquisa de satisfação do cliente, onde poderão ser identificados pontos de melhoria
nos produtos fornecidos.
11- Benchmarking: Foi possível para a autora utilizar informações provenientes
de trabalhos anteriores, identificando boas práticas identificadas no setor para a
utilização em propostas de melhorias. Mesmo assim, a autora destaca a necessidade
de se realizarem estudos mais profundos a respeito.
15
As colocações demonstram, pois, que a visualização do processo possibilita a
identificação das fases e etapas que podem necessitar de incrementos, fases que
podem ser otimizadas ou eliminadas, sempre focando a redução do re-trabalho, através
da integração entre as especialidades de projeto, o aumento da qualidade, através de
elementos de controle e identificação das atividades do processo de projeto da
edificação.
Os princípios colocados acima, juntamente com os exemplos de suas aplicações,
irão subsidiar a reflexão do presente trabalho de mestrado para possibilitar a
contribuição às melhorias do processo de projeto. Deverão ser identificados os
momentos adequados e as melhores oportunidades durante o processo para que se
agreguem elementos que possam contribuir para o aumento da qualidade final da
edificação.
1.1.1 A importância do usuário no processo
Dentre as colocações das teorias e metodologias apresentadas no item anterior,
pode-se destacar que uma grande procura pela melhoria da qualidade do processo
de projeto, buscando identificar pontos que possam ser incrementados, visando o
resultado final satisfatório à sua utilização.
É possível identificar, durante o processo de projeto, a importância que deve ser
dada ao usuário final do produto construído. Isto pode ser observado nas
considerações de Picchi (1993), o qual considera que a qualidade do projeto es
diretamente ligada às características do produto, as quais irão determinar o grau de
satisfação dos clientes. Oliveira (2007) enfatiza que, para qualquer empreendimento,
deve-se ter a perspectiva de que o produto é feito para os usuários finais, e não para
satisfazer profissionais do projeto e construção. Portanto, um produto edificado de
qualidade deve apresentar características que satisfaçam, antes de tudo, estes
usuários.
No entanto, geralmente é muito pequena a participação do usuário na elaboração
do programa do projeto, principalmente em ambientes não residenciais (PENNA, 2000).
A não participação do usuário poderá, por isso, distanciar o resultado final da qualidade
16
almejada, visto que suas reais necessidades poderão não ser conhecidas ou
compreendidas pelos projetistas, e, portanto, desconsideradas na concepção do
projeto.
Deste modo, ao considerar que o sucesso total do produto é medido
principalmente pela satisfação do usuário, torna-se importante que se considere a sua
opinião para a verificação de suas necessidades. Existem alguns métodos de avaliação
pós-ocupação (APO) desenvolvidos por pesquisadores da área de ambiente construído
que buscam avaliar o desempenho dos ambientes construídos sob o ponto de vista do
usuário. A Avaliação Pós-Ocupação APO é definida, segundo Abiko e Ornstein,
(2002), como um conjunto de métodos e técnicas de avaliação de desempenho
aplicado a qualquer tipo de ambiente construído que esteja em utilização, visando à
verificação e o estabelecimento de diagnósticos que levem em consideração fatores
técnicos e pontos de vista de especialistas, mas também as necessidades e/ou níveis
de satisfação dos usuários finais dos ambientes em questão.
Outros fatores também devem ser considerados, segundo Penna (2000), pois nem
sempre a obra segue fielmente o projeto, alterando a programação elaborada. Além
disso, ocorrem mudanças no uso da edificação ao longo de sua vida útil, além das
modificações nos equipamentos e sistemas de instalação, que tendem a se atualizar
com as novas tecnologias. Isto evidencia que o projeto já edificado e em utilização
merece atenção e acompanhamento para a atualização das necessidades e
manutenção de sua qualidade ao longo de sua vida útil.
Reforça-se, no entanto, que para garantir um resultado satisfatório, é necessário
considerar o usuário durante todo o processo de projeto. Segundo Salgado (2007), este
“cliente" não pode ser esquecido com o passar das fases de projeto, pois podem
ocorrer mudanças quanto às necessidades, devido a modernizações ou novas
exigências, que podem fazer com que haja transformação na configuração do espaço
anteriormente definido. O não atendimento às novas necessidades pode comprometer
o resultado final da edificação, que não corresponderá aos objetivos do usuário.
Na visão desta autora, o usuário está presente em todas as etapas do projeto
arquitetônico, destacando a ocorrência de uma abordagem interdisciplinar durante o
17
processo de projeto, ou seja, durante todo o processo, vários são os atores envolvidos,
dentre técnicos, especialistas, projetistas, empreendedores, onde a participação de
cada um colabora para o projeto como um todo e, dentro deste processo, o usuário
insere-se como participante indispensável. Destaca também que a concepção é
subsidiada pelas necessidades colocadas pelo usuário, as quais podem abranger tanto
um processo de trabalho como uma mensagem a ser transmitida, um sonho a ser
realizado, entre outros ideais, que deverão ser apreendidos e compreendidos para que
aconteça a realização esperada.
Oliveira (2007) destaca ainda o fato de que a visão de qualidade no projeto não
pode ser fragmentada, pois todas as etapas devem se pensadas para atender o
objetivo final, sendo que o processo de projeto completo envolve desde o início do
planejamento da edificação e vai até o seu uso. As observações colocadas permitem
perceber que as fases do processo são interdependentes e devem estar interligadas,
onde a qualidade dependerá do processo como um todo, sendo o usuário peça chave
na colaboração ao alcance do sucesso do projeto.
Este envolvimento entre as fases permitirá ao projetista a compreensão das
necessidades reais de utilização do espaço como um todo e o envolvimento do usuário
possibilitará a visualização das atividades a serem realizadas no local objeto projetual.
Segundo Salgado (2005), o usuário é quem tem condições de fornecer informações,
não sobre questões relativas ao ambiente (necessidades específicas, como as de
conforto ambiental), como também sobre o processo de trabalho a ser realizado no
novo espaço. É importante lembrar, pois, que o usuário muitas vezes pode não
expressar claramente suas necessidades reais, cabendo ao projetista a tarefa de
interpretar os anseios do usuário, procurando antecipar necessidades futuras.
As colocações a respeito do projeto arquitetônico podem ser interpretadas na
Figura 3, unidas às interpretações e considerações de Oliveira (2007) sobre o processo
de projeto. É possível notar a divisão do processo de projeto arquitetônico, onde o
usuário aparece em todas a sua extensão, demonstrando a importância de se
acompanhar suas necessidades ao longo das etapas, desde a concepção até a entrega
18
final da obra, no intuito de manter atualizadas as exigências colocadas ao longo do
desenvolvimento do produto e poder atendê-las.
FIGURA 3 Abordagem interdisciplinar durante as etapas do projeto completo da edificação (adaptação
de SALGADO, 2004)
Destaca-se, pois, a importância em se conhecer a atividade a ser realizada no
local a ser construído ou reformado, não só através da observação, mas principalmente
através da interação entre o usuário, personagem de extrema importância na
participação do processo de projeto, subsidiando o momento da concepção do espaço,
o qual será projetado com a antecipação de sua utilização.
Toda a importância dada ao usuário e às suas necessidades reflete-se, pois, na
importância que deve ser dada aos métodos de obtenção destas informações. Destaca-
se, portanto, que deve haver maior atenção dispensada ao estudo e aplicação de
metodologias que possam contribuir com o processo de projeto, mais especificamente
captando e compreendendo os desejos e necessidades do usuário e tudo aquilo que
possa estar relacionado à sua satisfação. O conhecimento e compreensão destas
necessidades poderão se refletir em soluções de projeto, atingindo o resultado
esperado.
CONCEPÇÃO
DESEN-
VOLVIMENTO
PREPARAÇÃO
P/ A
EXECUÇÃO
UTILIZAÇÃO
EXECUÇÃO
OBRA
USUÁRIO
PROCESSO DE PROJETO
DIVERSOS PROFISSIONAIS, PROJETISTAS, EMPREENDEDORES
TEMPO
ETAPAS DO PROJETO ARQUITENICO E
DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO DE PROJETO
19
1.1.2- Reflexões sobre as teorias apresentadas
As metodologias apresentadas permitem evidenciar a importância da busca pela
melhoria do processo de projeto. Através destes estudos teóricos apresentados, foi
possível identificar alguns pontos em comum nas propostas dos autores citados, os
quais irão possibilitar a reflexão e permitir a discussão para possíveis contribuições.
Dentre os pontos que podem ser destacados, por aparecerem freqüentemente nas
metodologias citadas, é possível citar:
- problemas para a concepção, que esta geralmente baseia-se em experiências
que não mais representam as necessidades atuais: isto demonstra que é necessário
um olhar atento para o conhecimento das situações reais a acontecerem no ambiente
projetado e das exigências dos usuários, com informações atualizadas;
- necessidade de aperfeiçoamento do processo através da detecção de
solicitações ainda não atendidas para as atividades e para os usuários, mesmo após a
entrega da obra: o projetista deve se voltar a analisar a obra concluída, promovendo a
retroalimentação do processo, como subsídio às novas concepções.
As metodologias apresentadas colocam, portanto, a importância de se considerar
a fase de concepção como o momento ideal para a utilização de maiores
conhecimentos das necessidades atualizadas. Por isso, essa fase deve ser enriquecida
com a investigação atenta, onde o homem – usuário do ambiente construído deve ser
um fator sempre considerado para que qualquer projeto possa ser colocado em prática,
pois ele possibilita o conhecimento das atividades que irá realizar e as exigências para
que tudo ocorra adequadamente.
Sendo assim, as formas de abordagem para que seja possível essa compreensão
do fator humano e suas relações com o ambiente de sua inserção devem ser
discutidas, aprofundadas e enriquecidas, possibilitando a obtenção de caminhos que
contribuam ao processo de projeto. Neste sentido, o sub-item a seguir propõe a
inserção da Ergonomia como importante fator de contribuição ao projeto de arquitetura,
que esta ciência consegue relacionar o homem, o meio em que está inserido, as
atividades que realiza e tudo o que está ligado a elas.
20
1.2 Contribuições da Ergonomia ao projeto de arquitetura
A elaboração dos projetos de arquitetura envolve, além do programa de
necessidades, a busca pelo atendimento às exigências dos clientes, passando, ainda,
pelo atendimento a Normas, recomendações e especificações que irão, senão
direcionar totalmente, pelo menos orientar o encaminhamento das soluções adotadas,
podendo resultar, ou não, em espaços arquitetônicos satisfatórios aos usuários e que
propiciem o desenvolvimento das atividades previstas para acontecerem ali. A
preocupação com a Ergonomia nem sempre está presente, mas cada vez mais tem se
mostrado algo indispensável para que se atinjam os objetivos projetuais e a eficiência
dos espaços projetados. Considerando-se o foco da Ergonomia como sendo o trabalho
das pessoas, e o seu objeto a situação onde tal trabalho ocorre, sua finalidade é a
transformação deste sistema, onde o projeto arquitetônico poderá ser um meio de
aproximação dos resultados esperados, a partir da identificação e entendimento da
atividade de trabalho e suas necessidades, juntamente com as necessidades dos
usuários, alcançadas pelo arquiteto durante o processo de projeto.
Outro fator relevante é que os resultados dos projetos de arquitetura muitas vezes
não apresentam o desempenho final desejado pela falta de um conhecimento mais
detalhado sobre a atividade de trabalho que irá ocorrer na edificação, uma vez que
necessidades específicas demandam soluções específicas. Conforme já visto neste
capítulo, somente com o atendimento adequado aos requisitos das atividades de
trabalho, inerente às necessidades dos usuários será possível o real alcance da
qualidade do ambiente construído.
Segundo Wisner (1987), dentro da produção de um produto, os aspectos
complementares não são secundários, mas elementos importantes que se combinam
para responder de maneira satisfatória aos critérios de produção. Do mesmo modo,
pode-se destacar a importância da qualidade dos componentes dentre eles as
preocupações ergonômicas - na elaboração de um projeto arquitetônico, pois suas
relações garantirão a qualidade do produto final, ou seja, a qualidade do espaço
projetado.
21
A ergonomia, atualmente, tem tido a disseminação de sua importância em ritmo
crescente, tanto pelo aumento de suas discussões teóricas, como pelo alcance de sua
exigibilidade principalmente nos ambientes de trabalho. Pode ter como definição,
segundo Wisner (1976), o agrupamento de conhecimentos científicos relativos ao
homem e indispensáveis à concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos que
proporcionem conforto, segurança e eficácia ao serem utilizados. Baseia-se
principalmente em ciências do homem, como a antropometria, fisiologia, psicologia e
sociologia.
Segundo a definição oficial da Associação Internacional de Ergonomia IEA a
Ergonomia é uma disciplina científica que relaciona a compreensão das interações
entre elementos ou sistemas e o homem, aplicando teorias, princípios, dados e
métodos que possam ser transmitidos a projetos que otimizem o bem estar humano e o
desempenho global do sistema.
Historicamente, a Ergonomia pode ser notada na Pré-História, onde a
preocupação com utensílios facilitava a eficiência na caça e na pesca. A partir do
século XVIII, podem ser notados trabalhos no campo da toxicologia e patologia do
trabalho, abordando riscos físicos e ergonômicos como a postura inadequada.
Posteriormente, surgiram estudos sobre manuseio inadequado de cargas, riscos
químicos, biomecânica, antropometria e medicina do trabalho. Até mesmo os
acontecimentos no período da Revolução Industrial permitiram alguma evolução no
quadro da Ergonomia. Apesar das grandes dificuldades trazidas pelo período de
transformações
3
, os avanços nos processos técnicos vieram acompanhados de um
desenvolvimento das formas de divisão do trabalho e dos modos de interação entre
equipamentos e pessoas. Em 1857, surge a primeira definição de Ergonomia, que a
considera como ciência do trabalho, a qual necessita compreender a atividade humana
levando-se em consideração a dedicação, o relacionamento, o pensamento e o esforço
(VIDAL, 2002).
3
Conforme colocado por FALCON (2000), a Revolução Industrial foi um fenômeno inglês iniciado no final
do século XVIII, quando ocorreu a grande arrancada da produção capitalista, a partir da qual a
industrialização passa a ser o centro das atenções da burguesia. O rápido avanço da industrialização
trouxe um acúmulo de trabalhadores nos centros urbanos, em condições precárias e insalubres, e suas
jornadas de trabalho nas fábricas eram de 12, 14 e até 16 horas.
22
A preocupação da Ergonomia passa a envolver, pois, o trabalhador e seu
ambiente de trabalho, ou seja, o usuário e o espaço construído, considerando ainda os
relacionamentos, sentimentos e atitudes humanas perante suas atividades, passando a
ser uma metodologia onde o ser humano é considerado também em suas
especificidades, e suas atitudes e posturas passam a ser observadas para serem
compreendidas.
Os avanços prosseguiram durante a Segunda Guerra Mundial, quando o
desenvolvimento das máquinas de guerra agravou as incompatibilidades com os
aspectos mecânicos-fisiológicos humanos, o que fez surgirem grupos de estudiosos na
Inglaterra e Estados Unidos, voltados à adaptação dos equipamentos militares às
características psicofisiológicas dos soldados. Após a Guerra, os estudos continuaram e
voltaram-se para a produção civil. Também na Europa do pós-guerra, com a
necessidade de reconstrução do parque industrial, incentivam-se estudos sobre as
condições de trabalho, a fim de conceber novos postos de trabalho a partir das
situações existentes, preocupação que procurava demonstrar a importância de se
conceber projetos de postos de trabalho que fossem precedidos de um estudo da
atividade real. A partir disto, tal proposta desenvolveu-se e foi formalizada em 1966
como Análise Ergonômica do Trabalho (AET). A partir da década de 1970,
crescente integração da Ergonomia na prática industrial, enfatizada pelo movimento da
gestão da qualidade (VIDAL, 2002).
Dentre os principais objetivos da Ergonomia, destacam-se, pois, o conforto e a
eficácia. O conforto do usuário – trabalhador – visa evitar riscos de acidentes e doenças
e ainda reduzir a fadiga. A eficácia diz respeito ao alcance dos objetivos da organização
ou empresa em termos de produtividade e qualidade, dependentes do fator humano.
Também é importante notar que a Ergonomia, por si só, não igarantir totalmente a
qualidade da atividade de trabalho, ela atua em conjunto com práticas e hábitos de
trabalho e com o respeito aos limites individuais e ainda considerando fatores
psicossociológicos e sociológicos.
A ergonomia constitui uma parte importante, mas não exclusiva, da
melhoria das condições de trabalho em seu sentido restrito. Além de
considerações técnicas e ergonômicas, é preciso considerar os dados
23
sociológicos e psicossociológicos que se traduzem no conteúdo e na
organização geral da atividade de trabalho (divisão do trabalho, divisão
das tarefas, etc) (WISNER, 1987,p.12)
A Ergonomia, ainda, deve e pode estar presente no cotidiano de todas as pessoas
e sua aplicação determina a qualidade do produto final, quanto à sua adaptabilidade ao
uso humano e sua eficácia, não de sua utilidade fim, mas também em consideração
à preservação da saúde e bem estar do utilizador.
A ergonomia não se limita ao trabalho, quer o consideremos no seu
sentido restrito, de trabalho produtivo e assalariado, quer no seu sentido
mais amplo, de atividade obrigatória. A ergonomia é útil na concepção
de brinquedos, de esportes ou do vestuário (WISNER, 1987, p.13).
Atualmente no Brasil, a Ergonomia tem tido sua importância divulgada
principalmente pela obrigatoriedade de se atender a condições ideais de trabalho, de
acordo com as leis trabalhistas vigentes. A Portaria N.º 3.214 , de 08 de Junho de 1978
aprova as Normas Regulamentadoras - NR - do Capítulo V, Título II, da Consolidação
das Leis do Trabalho, relativas a Segurança e Medicina do Trabalho, sendo que dentre
as Normas Regulamentadoras está a NR 17- Ergonomia, cujos objetivos são transcritos
abaixo:
17.1. Esta Norma Regulamentadora visa a estabelecer parâmetros que
permitam a adaptação das condições de trabalho às características
psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo
de conforto, segurança e desempenho eficiente.
17.1.1. As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao
levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos
equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho, e à
própria organização do trabalho.
17.1.2. Para avaliar a adaptação das condições de trabalho às
características psicofisiológicas dos trabalhadores, cabe ao empregador
realizar a análise ergonômica do trabalho, devendo a mesma abordar,
no mínimo, as condições de trabalho, conforme estabelecido nesta
Norma Regulamentadora.
Atualmente, portanto, a Ergonomia deve fazer parte da produção de qualquer
projeto, não por motivos individualizados, apenas pela exigência da NR-17 ou somente
para a melhoria da produtividade. Sua presença é indispensável por um conjunto de
benefícios, onde a centralidade é o fator humano e seu bem-estar será o parâmetro
24
para as transformações. Tanto nas concepções, como nas reformulações, a Ergonomia
irá garantir que os resultados levem em consideração a necessidade real, através da
observação e análise das atividades que se desenvolvem ou se desenvolverão em
determinado espaço, sendo este o suporte para as intervenções.
1.2.1 Análise Ergonômica do Trabalho (AET)
A Análise Ergonômica do Trabalho (AET), mencionada na NR-17, consiste em
uma sistemática em que seus métodos e cnicas permitem entender a atividade de
trabalho das pessoas de uma organização em seu contexto real, através de um
conjunto estruturado de análises que se complementam. A solicitação da AET destina-
se a avaliar a adaptação entre o trabalhador e as condições de trabalho, que se dará
através de planos físicos, cognitivos e organizacionais.
Tendo em vista as necessidades de uma correta compreensão sobre as atividades
que acontecerão no espaço projetado, esta metodologia ipossibilitar a caracterização
sobre a maneira com que fatores técnicos, sociais, humanos e ambientais determinam
as atividades dos operadores numa situação de trabalho. Por ser um método de análise
quantitativo e qualitativo, irá permitir a descrição e interpretação do que acontece na
realidade da atividade em foco. Isto busca assegurar que as soluções empregadas
gerem resultados positivos, já que se trata de um método abrangente, que possui
características particulares de foco, ordenação e sistematicidade.
Tal análise é uma necessidade contemporânea e apresenta, segundo VIDAL
(2003), vários tipos de demandas empresariais e sociais, como demandas trabalhistas
(exigência de poderes públicos) demandas de certificação (em Qualidade ISO,
Responsabilidade Social, Medicina e Segurança do Trabalho) e demandas de
modernização, onde ocorre transferência de tecnologia.
Segundo Vieira (2007), a AET geralmente é requerida por um auditor-fiscal do
trabalho, quando este apresenta dificuldade para avaliar situações complexas,
tornando-se necessária a presença de um ergonomista. As situações que mais
comumente chamam a atenção dos auditores para a necessidade da aplicação da AET
são as atividades que requeiram grande esforço físico, posturas rígidas (somente em pé
ou somente sentado) e movimentos aparentemente repetitivos; tarefas com elevados
25
requisitos de precisão e qualidade final; elevadas taxas de acidentes ou queixas e
conflitos entre setores ou entre empregados, cujas causas poderão estar relacionadas à
falta de organização do trabalho ou de condições inadequadas do ambiente.
Já a busca pela excelência produtiva para a certificação por padrões internacionais
tem na AET a possibilidade de verificação do encaminhamento das mudanças que
levarão à conformidade com as exigências normativas. Por outro lado, as demandas
por modernização acontecem pela crescente automação e informatização dos
processos de produção, levando à necessidade de mudanças na atividade de trabalho
que realmente levem aos resultados produtivos esperados, considerando-se a nova
realidade (VIDAL 2002).
O processo da AET é desenvolvido através de fases, sendo que o início do
processo se com a solicitação de uma AET feita pela área gerencial de determinada
empresa, o que é denominado de demanda inicial. No entanto, a necessidade de se
esclarecer o verdadeiro foco do problema existente e a isto se convencionou chamar de
instrução da demanda, esclarecendo a verdadeira finalidade do estudo ergonômico
(VIDAL 2002)
Segundo Vidal (2002), a fase da instrução da demanda pode ser considerada
como antecedente à AET propriamente dita, pois seu foco é mais voltado ao contexto
do que à atividade de trabalho propriamente dita. Sendo assim, pode-se considerar a
análise ergonômica do trabalho como dividida em cinco fases (Figura 04), sendo que a
primeira consiste na escolha de situações características, que trará um primeiro
esquema explicativo sobre o que se passa na empresa a ser analisada, obtido tanto por
meio da observação como por meio de conversas. A seguir, as análises focais nas
situações características irão colaborar para a fase seguinte de estruturação de um pré-
diagnóstico. Passa-se então para um pré-diagnóstico, onde os fatos são sugeridos,
indicados e levemente esquematizados, tratando-se de uma hipótese explicativa para o
problema, que será posteriormente validada ou abandonada. A fase seguinte consiste
nas análises focadas, onde um aprofundamento da análise focal e uma
operacionalização do pré-diagnóstico. Os resultados obtidos sofrerão, junto aos setores
analisados, a verificação de sua correspondência à realidade, o que será atestado
26
pelos sujeitos observados, num processo conhecido como Validação e Restituição.
Finalmente, o caderno de encargos ergonômicos compõe a documentação de
referência que servirá de base para as transformações organizacionais, e será
composto de textos, planilhas, ilustrações e plantas.
A metodologia da AET se constitui de cinco análises interdependentes: análise da
população de trabalhadores, análise do funcionamento geral da empresa, análise da
atividade em si e análise dos mecanismos sociais, fisiológicos e psicológicos da
atividade de trabalho. Para alcançar a caracterização da atividade de trabalho, a AET
utiliza-se de métodos observacionais e interacionais, sendo que o tratamento dos dados
trará as respostas necessárias para o encaminhamento das mudanças. As análises
interacionais consistem na obtenção de informações através de entrevistas e
questionários aplicados aos usuários, como forma de identificar suas necessidades,
sendo a principal fonte para o real entendimento da atividade de trabalho.
FIGURA 4 – Fluxo da Análise Ergonômica do Trabalho (Adaptado de VIDAL, 2002)
De acordo com Guérin, et al (2002), a Análise Ergonômica do Trabalho AET
configura-se por ser um método de análise de situações reais de atividades, que
permite obter, através da observação do trabalho em situação real, o conhecimento
sobre a atividade humana realizada, suas variações e influências, ou seja, sua
Análise Focal
INSTRUÇÃO DA DEMANDA
Entrevistas
Questionários
Escolha de Situações Características
Fotos e
Croquis
CADERNO DE ENCARGOS ERGONÔMICOS
Análise Focada
Planejamento de observações
Pré-diagnóstico
Análises Sistemáticas
Confrontações
Validações
Fotos,
Vídeos e
esquemas
27
complexidade. Seu principal objetivo é possibilitar a transformação das condições de
trabalho, trazendo melhorias que respondam às exigências de qualidade e economia de
recursos, preservando as condições de saúde e conforto do homem.
Esta análise específica, aplicada a ambientes existentes, além de sua finalidade
principal de transformação da realidade presente observada, poderá colaborar como
forma de conhecimento para a elaboração de projetos futuros, através da geração de
maiores conhecimentos sobre a utilização do espaço e suas relações com o fator
humano.
1.2.2 A Análise Ergonômica do Trabalho e as contribuições para a qualidade
do projeto arquitetônico
Considerando-se mais uma vez a complexidade de eventos para a concepção dos
espaços, a problemática atual das variáveis envolvidas significa o aumento de metas a
serem atingidas, ou seja, o aumento das exigências em torno do ambiente construído.
De acordo com a International Organization for Standardization - ISO 6241 -
Avaliação de Desempenho em Edifícios, a qual dita requisitos que tratam do
atendimento a questões funcionais do edifício, o ambiente deve atender de maneira
satisfatória às necessidades dos usuários. Dentre os 14 requisitos desta norma está o
conforto antropométrico, que poderá ser alcançado e avaliado através da Análise
Ergonômica do Trabalho, uma vez que o objeto de estudo desta metodologia é a
situação onde o trabalho ocorre, observada no ambiente construído. Considerando-se
que o edifício é o produto final do projeto arquitetônico e que deve apresentar os
requisitos de qualidade quanto aos aspectos estruturais e funcionais, entre outros, a
Análise Ergonômica do Trabalho poderá contribuir com o ganho de transformações
positivas e principalmente orientar o desenvolvimento de novos projetos. As
contribuições da AET tornam-se evidentes também à medida que podem trazer
interferências no processo de projeto, influenciando positivamente sua qualidade final.
Os resultados dos projetos de arquitetura muitas vezes não apresentam o
desempenho final desejado pela falta de um conhecimento mais detalhado sobre a
atividade de trabalho que i ocorrer na edificação, uma vez que necessidades
específicas demandam soluções específicas. Somente com o atendimento adequado
28
aos requisitos das atividades de trabalho, inerente às necessidades dos usuários e
guiado pelas exigências legais, será possível o real alcance da qualidade do ambiente
construído.
De acordo com Santos e Talmasky (1995), a principal contribuição da AET para o
projeto de arquitetura é o fornecimento de um conhecimento real das atividades a
serem desenvolvidas, enriquecendo as hipóteses desde o início do projeto.
Conforme já colocado anteriormente, o processo de projeto de arquitetura carece
de incrementos e melhorias na fase de concepção. Isto poderá ser alcançado com o
auxílio de metodologias que possibilitem ao projetista conhecer melhor a realidade de
utilização do espaço, onde a AET poderá fornecer os elementos que subsidiarão este
conhecimento.
A necessidade da participação da ergonomia em projetos de instalações
industriais é uma constatação antiga, porém ainda não incide com freqüência no
planejamento dos lay-outs:
(...) no Brasil e no mundo, pouca experiência existe em matéria de
participação em situação industrial. A atuação mais freqüente foi sempre
a de realizar diagnósticos e laudos para situações existentes e em
funcionamento (DUARTE e GOLDSTEIN, 1996, p. 7).
Esta constatação demonstra que a preocupação com os ambientes e as atividades
nele desenvolvidas nem sempre estão presentes desde o início do projeto, aparecendo
apenas depois, como forma de melhorar situações existentes. Isto pode ser
considerado não apenas para projetos de produção industrial, mas estende-se ao
espaço de suas instalações e, neste sentido, a arquitetura, como transformadora do
espaço e de sua ocupação, poderá contribuir para o alcance dos objetivos de utilização
do espaço e para sua melhoria.
No caso dos layouts de locais de trabalho, mais do que um simples arranjo físico,
outros princípios devem ser levados em consideração para que haja a apropriação do
espaço construído. Num local de trabalho, a proposta consiste na distribuição espacial
de um conjunto de operadores, infra-estrutura, materiais e equipamentos, os quais
necessitam estarem integrados criteriosamente, sob o risco de gerarem conflitos. Tais
29
conflitos gerados podem estar principalmente no fato de empregar enfoque
demasiadamente técnico, em detrimento de variáveis subjetivas do trabalho, como os
fatores cognitivos, e em utilizar soluções muito pontuais, ignorando suas influências no
contexto restante (RHEINGANTZ e LIMA, s/d).
A AET é vista, portanto, como um encaminhamento mais adequado às demandas
concretas de mudanças. Uma visão mais abrangente a coloca como importante
contribuição ao processo de projeto, pois possibilita o melhor entendimento das
situações que irão ocorrer no ambiente, direcionando atitudes projetuais que resultarão
em ambientes mais adequados às atividades que nele se desenvolverão. Mais do que
observar e fazer levantamentos, permite incluir o fator humano como sujeito das ações,
compondo um panorama crítico e real das atividades a serem desenvolvidas, cuja
incorporação à análise do processo de projeto resultará na qualidade do ambiente
construído e das condições de trabalho humanas.
1.3- Desafios na concepção de projetos
Além de toda discussão já colocada, não se pode esquecer que a arquitetura,
como mentora da criação e transformação dos espaços para o melhor resultado final do
mesmo, tem também a propriedade de possibilitar a harmonia através de formas
arquitetônicas que traduzam sua finalidade e sejam atrativas aos usuários. No entanto,
o aspecto formal vai além, podendo proporcionar a sensação de conforto ao homem
que estiver presente naquele ambiente.
Bins Eli (2003) coloca que as necessidades formais e estéticas do usuário devem
ser atendidas, de modo que possa proporcionar espaços agradáveis, que proporcionem
o bem-estar, mas destaca também a importância das relações entre indivíduo, atividade
e ambiente físico, colocando que a responsabilidade do arquiteto vai além de projetar
espaços adequados e eficazes em termos de conforto e segurança para o atendimento
a necessidades funcionais. Considera, pois, que a melhor maneira para integrar
arquitetura e ergonomia é durante o exercício projetual, sendo este o momento ideal
para a inserção dos princípios de ergonomia ao projeto dos ambientes.
30
Villarouco (2002) destaca a importância da preocupação e do envolvimento da
ergonomia com questões mais amplas, colocando a possibilidade de se elaborar
projetos arquitetônicos a partir de elementos que extrapolam as questões puramente
arquitetônicas, utilizando a ergonomia do ambiente. Isto consiste em focar a adaptação
do espaço às tarefas e atividades que nele irão acontecer, envolvendo a
multidisciplinaridade da Análise Ergonômica do Trabalho, abrangendo conceitos de
conforto térmico, acústico e lumínico, buscando garantir a adequação do ambiente já no
momento de sua concepção.
A partir das considerações acima, é possível constatar que a grande discussão em
torno do aumento da qualidade dos projetos e do alcance aos objetivos de utilização da
edificação diz respeito, entre outros aspectos, à busca de elementos que contribuam
para a concepção projetual. Neste sentido, a ergonomia apresenta-se como elemento
que complementa o repertório de conhecimentos necessários sobre o ambiente a ser
construído, por sua visão abrangente e multidisciplinar e, tendo o homem como o centro
de suas preocupações, permitirá que os ambientes atendam de maneira satisfatória e
cada vez mais completa as suas reais necessidades diárias.
Apesar das inúmeras recomendações de projeto para cada tipo de edificação,
entre normas, dimensões e áreas mínimas, além de descrições do processo produtivo,
o arquiteto encontra dificuldades em solucionar de modo uniforme, dadas as
variabilidades encontradas de acordo com o tipo de unidade e o local onde está
inserida. As especificidades e a necessidade da interação com o funcionamento de
qualquer sistema é importante para que se possa repensar a fase de concepção de
projetos, de forma a possuir subsídios que remetam a uma melhoria contínua do
processo.
A fase de concepção de um projeto arquitetônico se mostra de maneira diferente
para cada arquiteto, sendo que cada um parte de pontos que considera como
determinantes no direcionamento das soluções. Segundo Darke (1979), estes pontos
podem ser um grupo de conceitos relacionados ou uma simples idéia, sendo que isto
formará um ponto de partida para o arquiteto.
31
Muitos são os caminhos que o arquiteto poderá seguir, porém, determinadas
exigências acabam por direcionar muitas das soluções escolhidas durante um projeto,
sendo que, além das normas e exigências legais, o projeto deverá atender as
necessidades do “cliente”.
De acordo com Salgado (2007), um bom projeto é aquele que irá atender às
expectativas dos “clientes”, entendidos como os intervenientes do processo de projeto.
O atendimento a essas expectativas possibilitará a elaboração do Programa de
Necessidades, logo no início do processo de projeto. O “cliente”, no entanto, não é
apenas o usuário final da edificação, ou seja, apenas os trabalhadores que atuarão
naquele espaço, podendo ser um processo de trabalho e suas exigências de
equipamentos ou de uma linha de produção, e neste caso o arquiteto deverá
compatibilizar as exigências do “cliente” com as expectativas dos usuários que irão
ocupar a edificação. Para que isso seja possível, deverá obter informações junto ao
próprio usuário, que terá condições de esclarecer não apenas sobre suas necessidades
relativas ao seu bem estar nos ambientes, mas também sobre o próprio processo de
trabalho que será realizado no espaço projetado. Essas considerações o também
colocadas por Granath (1991), que considera que o processo de projeto deveria levar
em consideração todos os participantes, onde o projetista deve estar aberto a refletir e
aprender com o próprio “cliente”.
No entanto, certa dificuldade em se apreender exatamente as expectativas do
cliente de um espaço a ser projetado, pois, muitas vezes, o próprio cliente não
consegue expressar suas necessidades ou não consegue compreender as soluções
propostas, aceitando-as, mas alcançando a percepção do espaço apenas com sua
vivência, ou seja, após o projeto executado, o que não raro deixa de atender aos seus
reais anseios.
Quando se trata de espaços de trabalho, o não atendimento à real necessidade
pode comprometer a produtividade da empresa e trazer desconforto ao usuário. A
melhor maneira de se conseguir a compreensão das necessidades é, portanto, a partir
da análise da situação real, onde a combinação entre observação e participação do
trabalhador contribuirá para que a solução projetual possa ser muito mais satisfatória.
32
Outro ponto indispensável, no entanto, é retornar ao espaço especialmente projetado
e promover a verificação de tudo o que foi implantado, visando a confirmação dos
pontos realmente eficientes e outros que necessitam de ajustes.
De acordo com Boutinet (2002), a metodologia da elaboração de projetos dispõe
de três etapas essenciais: a análise da situação, o esboço de um projeto possível e
uma estratégia. As etapas de sua elaboração desenrolam-se sobre o fundo de uma
dominante espacial. Durante a análise e diagnóstico da situação, muitas soluções de
projeto são possíveis, sendo necessário compreender os parâmetros que agem sobre o
autor:
- imposições e recursos do ambiente;
- disfunções e problemas observados;
- informações sobre o autor: sua história, desejos, aspirações.
Nas situações problemáticas de indeterminação do autor, a análise da
situação poderá recorrer à implantação de uma metodologia do
diagnóstico que permita compreender, para além das aparências, a
problemática que a situação parece apresentar (BOUTINET, 2002,
p.273).
Ainda de acordo com o autor citado, em um mesmo projeto sempre a presença
de duas atitudes: a mimese (repetição criadora modelo ideal) e a regra de medida.
Considera que a arquitetura sem mimese é efêmera, mas, por outro lado, restringir-se à
mimese trará uma arquitetura sem originalidade e logo esquecida. A mimese é o
fundamento da prática arquitetural, sendo que na própria etimologia da palavra
“arquitetura”, o substantivo “arché” entrecruza duas dimensões semânticas: começo e
comando.
A respeito das exigências da prática arquitetural considera-se que “A função
essencial da arquitetura é pensar o espaço a fim de ordená-lo, de submetê-lo a um uso
previamente projetado (...)” e ainda que “(...) o procedimento de projeto constitui um
modelo que integra, a propósito da obra a ser realizada, o máximo de conhecimentos
teóricos e práticos (...)” Boutinet (2002, pp. 157 e 162)
33
Disso se pode depreender que as concepções projetuais passam por referências
preexistentes e experiências já observadas e, de acordo com Martin et al (1995), a
análise da situação existente permitique se encontrem pontos a serem repensados
no projeto.
Portanto, a busca por referências é algo fundamentado, e propostas de
retroalimentação nos processos de projeto somente irão enriquecer a prática e
aumentar a possibilidade de atendimento aos objetivos e exigências do ambiente a ser
construído.
34
2 EVOLUÇÃO DOS ESPAÇOS DESTINADOS AOS SERVIÇOS DE
CORREIOS NO BRASIL
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos ECT tem se destacado no país
ao longo dos anos, onde sua presença em todo o território nacional, através de suas
edificações e do alcance na prestação de serviços, chama a atenção para as
transformações ligadas ao seu sistema de funcionamento, onde procedimentos,
edificações e meios de transporte refletem a necessidade de adequado
acompanhamento para o alcance de seus objetivos. A evolução deste sistema postal
demanda um acompanhamento das questões relativas aos espaços destinados a este
fim, onde a arquitetura tem sua influência evidenciada, através de programas e projetos
que refletem o seu desenvolvimento.
O panorama atual da prestação de serviços de correios, em geral, mostra-se de
forma cada vez mais abrangente, uma vez que as necessidades de mercado e os
meios de comunicação têm se modernizado e se tornado competitivos, exigindo o
incremento da diversidade e qualidade dos produtos e serviços oferecidos. A prestação
de serviços postais não se restringe à entrega de correspondências, e nos dias atuais
abrange, ainda, a entrega de encomendas de diversas modalidades e o atendimento
bancário, dentre outros serviços, evidenciando a necessidade de discussão acerca
destas transformações e seus reflexos nos ambientes destinados ao funcionamento do
sistema como um todo.
Apesar de serem as agências de correios as edificações em evidência, por se
apresentarem em grande número e por terem o acesso do público, existem outras
diversas unidades, as quais, em suas especificidades e tipos de atividades, completam
o todo, formando um grande sistema de partes interdependentes, onde o adequado
funcionamento de cada uma refletirá no satisfatório funcionamento geral do sistema
postal.
Sendo assim, a organização e arranjo de cada ambiente têm importância definitiva
no correto encaminhamento das atividades desenvolvidas, dada sua intensa
necessidade de integração. Desta forma, o projeto de arquitetura para estas edificações
35
precisa estar de acordo com as necessidades do trabalho e atividades a serem
realizados, dotando o ambiente de condições que garantam o alcance a estes objetivos,
através de subsídios que permitam a correta compreensão e encaminhamento destas
relações
Deste modo, com o objetivo de contextualizar o funcionamento da Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos e entender o papel do projeto de arquitetura no seu
adequado funcionamento, é necessário compreender o processo de atualização e
modernização pelo qual a empresa vem passando desde a sua criação, conforme será
visto a seguir.
36
2.1 - Breve histórico dos Correios no Brasil e a evolução dos projetos
arquitetônicos em seus espaços.
Os primórdios dos Correios no Brasil datam da época do seu descobrimento,
quando surgiu a necessidade de se manter comunicação entre a colônia e a metrópole.
Pelo Regimento de 25 de janeiro de 1663 originaram-se os Correios–mores do Brasil,
estabelecendo-se o Correio na Capitania do Rio de Janeiro e, posteriormente, na
Capitania da Bahia, o que tornou esta data como sendo a da fundação do Serviço
Postal no Brasil (PEREIRA, 1999). Em 1798, é estabelecida a administração dos
Correios no Rio de Janeiro, sendo que foram instituídos, sob o controle do poder
público, os Correios Marítimos entre Portugal e Brasil e os Correios Terrestres na
Colônia. A sede administrativa foi, então, instalada no Paço Real (edifício localizado na
atual Praça Quinze de Novembro – Foto 1), junto às instalações do Tribunal da Relação
e da Casa da Moeda. Também em 1798, é regulado o Serviço Postal Interno, criando a
primeira agência postal brasileira do interior na cidade de Campos (Rio de Janeiro).
Esta estatização dos Correios, no entanto, não foi acompanhada de maiores
investimentos. Somente com a chegada de D. João ao Brasil, os serviços de correios
passaram a receber maior atenção.
A presença da Corte no Rio de Janeiro trouxe significativo desenvolvimento, uma
vez que houve expansão do movimento comercial, devido à transferência de serviços
administrativos e ao crescimento populacional, já que a presença de estrangeiros passa
a ser incentivada. Toda essa movimentação traz recursos e investimentos para o país,
onde a troca de informações e correspondências promove grandes benefícios. As rotas
terrestres expandiram-se ao longo dos anos, ligando as capitanias com correio regular
entre si, e ainda criando linhas postais internas. Inicia-se uma preocupação com a
melhoria do serviço de entrega e coleta das cartas, havendo, por isso, a divisão da
cidade do Rio de Janeiro em distritos ao mesmo tempo em que foram instaladas caixas
de coleta, permitindo, a qualquer momento, que o público depositasse suas
correspondências. Também surgem, neste momento, a preocupação e a procura por
descongestionar a administração de Correios como local de atendimento para a entrega
e recebimento de cartas, através da descentralização administrativa (criação de
37
administrações de Correios em várias capitais) e da instalação de caixas de coleta de
correspondências, permitindo que a população pudesse postar as cartas em qualquer
horário, sem necessidade de ir à agência.
FOTO 1 – Edifício do Paço Imperial
FONTE: acervo Museu Postal. In: PEREIRA, 1999, página 35.
De acordo com Pereira (1999), surge, nos anos de 1870, juntamente com uma
grande tendência em se realizar construções e reconstruções arquitetônicas e
urbanísticas, a decisão de se construir um edifício destinado ao Correio Geral no Rio de
Janeiro. Sendo assim, em 1878 foi inaugurado o primeiro edifício destinado aos
Correios do Brasil, na rua Primeiro de Março, no Rio de Janeiro, destacando a
importância dada pelo país a esta Instituição (Foto 2).
38
FOTO 2 – Edifício à Rua Primeiro de Março, no Rio de Janeiro.
FONTE: acervo Museu Postal. In: PEREIRA, 1999, página 30.
Também nessa época, em meio às grandes reestruturações urbanas, como a de
Paris por Haussmann, os edifícios de correios no mundo buscam transformar suas
condições incômodas e insalubres. De acordo com Pereira (1999), a partir de 1910, a
abertura econômica provoca “febres” construtivas, fazendo os edifícios de Correios
deixarem transparecer sua “modernidade”, através de fachadas ecléticas (as fachadas
ecléticas eram difundidas internacionalmente como símbolo de progresso e
modernidade). Porém, aos poucos ia sendo percebida a importância de sua
distribuição interna e eram necessárias adaptações visando conforto, higiene e
segurança.
39
Em 1931 a ampliação da rede telegráfica , sendo que em 26 de dezembro do
mesmo ano é criado o Departamento de Correios e Telégrafos (DCT), unindo a
Diretoria Regional dos Correios à Repartição Geral dos Telégrafos (RGT). O Presidente
da República, Getúlio Vargas, assina decretos visando regular a exploração de serviços
telegráficos no território nacional, tornando-os de competência da União,
exclusivamente (BOVO, 1997).
Nesta mesma época, arquitetos brasileiros, como Lúcio Costa, lutaram por
mudanças na prática de arquitetura através do uso de novos materiais e tecnologias e
da racionalização dos procedimentos construtivos. Também a busca pela modernização
do Estado passou a atingir os serviços, tendo início a preocupação com o
estabelecimento de índices, medidas e padrões de normatização e qualidade
tecnológica e científica para os mais diversos fins (BRUAND, 1991).
Nos Correios, nem sempre as edificações que iam sendo construídas para abrigar
as novas sedes administrativas apresentavam soluções satisfatórias de conforto e
higiene, fato que passou a preocupar a Diretoria, e que era agravado nos prédios
alugados, quase sempre com área insuficiente para acompanhar a expansão dos
serviços. A arquitetura passou a ter maior destaque, e a Diretoria Geral dos Correios
passou a defender melhores condições de trabalho, com espaços amplos arejados,
claros e limpos. No entanto, os investimentos não eram compatíveis com o crescimento
do volume postal, que sofreu enorme acréscimo, e as condições de trabalho e
atendimento tornavam-se impróprias (PEREIRA, 1999).
De acordo com Pereira (1999), a fusão dos Correios e dos Telégrafos, juntamente
com a hierarquia surgida neste novo sistema, demandam a necessidade de criação de
sedes de Diretorias Regionais (DRs) nas capitais onde existissem os dois serviços.
Durante a década de 1930, inovações na lógica de funcionamento das agências, agora
com rigorosa hierarquização das regiões e municípios, categorizando as agências,
facilitou a idéia de uma padronização das unidades. As construções em série não eram
uma inovação, pois outros equipamentos como escolas e mercados já tinham sido
objetos de políticas neste sentido. Somente em 1932, foram preparados 92 projetos de
mecanização, remodelação ou construção de agências ou sedes de diretorias. Os
40
projetos eram elaborados de acordo com a classificação da agência (em função da
localização, receita e serviços oferecidos), sendo adotados projetos padronizados, em
estilo art déco, com variação do número de pavimentos, ambientes internos e pequenas
diferenças nas fachadas, repetindo-se nas diversas cidades do país (ver Fotos 3, 4 e 5).
No entanto, características específicas sobre urbanismo, clima, solo, eram ignoradas,
uma vez que os arquitetos elaboravam os projetos no Rio de Janeiro e, na maioria das
vezes, sem visitar o local, multiplicando erros de projeto. Além disso, não havia
preparação técnica suficiente dos arquitetos para um programa novo e tão específico.
Foram freqüentes as reclamações quanto ao conforto ambiental, circulação e fluxos de
pessoas e objetos postais.
FOTOS 3 e 4 Agências em Guarabira (PB) à
esquerda, e em Mossoró (RN).
FONTE: acervo Museu Postal. In: PEREIRA, 1999,
página 105.
41
FOTO 5 – Agência em Quixeramobim (CE)
FONTE: acervo Museu Postal. In: Pereira (1999, página 104).
Durante a década de 1930 e 1940, houve grande impulso à modernização e
muitos foram os edifícios novos, tanto para as agências, que acompanhavam o
crescimento das cidades, como para as sedes de Diretorias Regionais (Fotos 6 e7) em
várias capitais e cidades de médio porte. Após 1945, o DCT enfrentou inúmeros
descompassos e tentativas de reformas, adquirindo maior autonomia técnico-
administrativa. No entanto, a falta de uma reforma mais abrangente resultou em
desorganização generalizada e ineficiência dos serviços, tornando constantes as
críticas na imprensa. Os recursos humanos e materiais dos Correios não
correspondiam às necessidades dos usuários e nem acompanhavam a demanda
crescente e a modernização do país, o que evidenciou a necessidade de urgente
reestruturação. Algumas reformulações foram feitas e, embora durante os anos de 1950
e 1960, inúmeros edifícios tenham sido construídos, a tentativa de uma ampla reforma
não prosseguiu, visto que eram necessárias modificações também na técnica dos
serviços, como, por exemplo, o aperfeiçoamento da triagem pela mecanização
(PEREIRA, 1999).
42
FOTO 6 – Diretoria Regional em Botucatu (SP)
FONTE: acervo Museu Postal. In: Pereira (1999, página 109).
FOTO 7 – Diretoria Regional em Campo Grande (MS)
FONTE: acervo Museu Postal. In: Pereira, (1999, página 109).
Apenas no ano de 1967, o decreto-lei 200/67 de 25 de fevereiro implanta a
reforma administrativa, dividindo em direta e indireta a administração pública federal.
Pelo decreto-lei 509/69 de 20 de março de 1969 criou-se a Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos ECT, empresa pública pertencente à administração pública
federal indireta e detentora do monopólio com relação a telégrafos, cartões postais e
43
cartas. Vinculada ao Ministério das Comunicações, a ECT passa a buscar incremento
em sua produtividade, aumento da receita e diminuição de custos (BOVO, 1997).
Sendo assim, de acordo com Bovo (1997), durante a década de 1970 ocorreram
transformações na estrutura da empresa, principalmente a partir de consultas a técnicos
estrangeiros especializados. Entre novembro de 1971 e setembro de 1977, a ECT
recebeu quatro missões de técnicos franceses especializados nos serviços de correios,
os quais trabalharam organizando a área postal, tanto no setor de correspondências,
como encomendas e impressos.
Estas quatro missões realizaram trabalho de implantações e reorganizações, além
de deixarem instruções e projetos para concretização posterior, onde o processo de
trabalho foi profundamente alterado. As missões utilizaram-se dos princípios da
Organização Racional do Trabalho
4
, onde as empresas controlam o processo de
trabalho a seu favor, de modo mais aprofundado e aperfeiçoado. Nota-se, porém, que
nesta época os principais objetivos eram os de adaptação do trabalhador ao novo
processo de trabalho, não havendo, ainda, a preocupação da empresa, nem a
exigência por parte de órgão governamentais, com a garantia do bem estar do
trabalhador, preservando sua saúde. Foi constatado, na época, que os vários tipos de
procedimentos, materiais e mobiliário não favoreciam a obediência dos trabalhadores a
procedimentos rigorosos, por isso as padronizações propostas visavam principalmente
o aumento da produtividade (BOVO, 1997).
As instalações dos Centros de Triagem automática, em 1976, possibilitam maior
agilidade no encaminhamento de objetos nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e
Brasília. É dada a continuidade à interiorização dos serviços postais, determinando-se
que deveria haver uma agência em todas as localidades com mais de dois mil
habitantes. Novamente desenvolvem-se projetos-padrão para as agências e também
entrepostos, garagens e centros de triagem, buscando seguir normas que poderiam
4
A Organização Racional do Trabalho é uma corrente administrativa, também conhecida como
Administração Científica ou Gerência Científica. Os principais administradores componentes dessa linha
são Taylor, Fayol e Ford. Seus princípios são utilizados pelas empresas em algum momento de sua
busca pelo incremento da produtividade e eficiência, principalmente nos países capitalistas. a
separação entre a concepção e a execução, havendo autoritarismo, por parte da gerência, a qual
controla o processo de trabalho, impondo a forma de execução e o ritmo de trabalho (BOVO, 1997).
44
atender as particularidades de cada região. Ocorre mudança na política dos Correios,
onde deveria haver o crescimento da confiabilidade e regularidade na prestação de
serviços, priorizando, para isso, melhorias no sistema de transporte, trazendo um
dinamismo que não seria representado pela arquitetura. A partir de então, são
construídos novos edifícios administrativos e operacionais nas áreas de grande
densidade, que passam a ter uma padronização como forma de racionalizar as
construções, as quais deveriam ter grandes planos horizontais para abrigar áreas
operacionais e grandes planos verticais para a instalação da área administrativa, como
pode ser observado nos Edifícios Sedes das Diretorias Regionais de São Paulo e Rio
de Janeiro (Fotos 08 e 09).
FOTO 8 – Diretoria Regional de São Paulo
FONTE: arquivo da ECT/GEREN-SP
45
FOTO 9 – Diretoria Regional do Rio de Janeiro.
FONTE: Intranet RJ
5
Em 1982 é lançado o Serviço de Encomenda Expressa Nacional SEDEX, com
prazo de entrega de 24 horas entre as capitais do país, e a partir de 1989 novas
modalidades são implantadas. Em 1999 é inaugurado o Centro Operacional de
Recife/PE, com sistema de triagem automatizada de última geração, e, no mesmo ano,
é implantado o conjunto de sistemas automatizados de triagem de objetos postais, com
a inauguração do Centro de Objetos Postais no Rio de Janeiro, sendo implantado
posteriormente em São Paulo e Bauru/SP. Também a rede de transportes é
modernizada e ampliada, e terminais de carga são inaugurados nos aeroportos das
principais cidades. No ano de 2000, inicia-se o atendimento bancário, e em 2001 os
Correios atingem a totalidade de cobertura dos 5.561 municípios brasileiros. No
decorrer dos anos, a expansão dos serviços, das redes de transportes, a
modernização, a abrangência nacional no atendimento, demonstram toda a
complexidade do sistema postal brasileiro
6
.
5
Disponível em http://intranetrj/aempresa/Principais_predios/Edificio_Sede/edificiosede.cfm.
Acesso em 13/12/2008.
6
Informação disponível em: http://www.correios.com.br/institucional/conheca_correios/conheca.cfm.
Acesso em 08/01/2008.
46
Atualmente, as recomendações de projeto para os ambientes de Correios dividem-
se basicamente entre projetos de agências e projetos de áreas operacionais,
colocando-se diretrizes quanto ao dimensionamento das áreas, mobiliário a ser
utilizado, materiais de acabamento, ambientes necessários e suas relações. Através de
tudo o que pôde ser observado ao longo do tempo, juntamente com as preocupações
atuais, evidencia-se a necessidade de discussão a respeito da concepção das
edificações, com suas especificidades, aliadas às transformações e modernizações do
sistema. A presença em todas as regiões deste grande país, em toda a sua diversidade
climática, física e cultural, demonstra a grande quantidade de variáveis a serem
consideradas nos projetos de arquitetura, os quais devem, atualmente, englobar
também questões de conforto ambiental, sustentabilidade, acessibilidade e economia
de recursos, num processo de incorporação de princípios e diretrizes, onde a
Ergonomia poderá possibilitar a compreensão e aplicação de atitudes projetuais, as
quais trarão melhorias ao sistema produtivo, à arquitetura e, principalmente, ao homem.
Para possibilitar a melhor compreensão das interferências e variáveis nas diversas
unidades que fazem parte do sistema de correios, é necessário explicar o
funcionamento geral da ECT, colocando-se, a seguir, informações a respeito de sua
estrutura e serviços, o fluxo postal nacional e a contextualização para o estudo de caso
no Estado do Rio de Janeiro, possibilitando a compreensão dos encaminhamentos que
serão dados ao longo deste estudo.
2.2.– Estrutura e serviços
A ECT estrutura-se, no país, através da divisão em Diretorias Regionais (DR), as
quais estão distribuídas em diferentes partes do país, sendo encarregadas de executar,
em âmbito regional, os serviços a cargo da empresa. Atualmente, a divisão compreende
24 DRs, sendo que, praticamente, a área de atuação de cada uma é correspondente às
áreas dos Estados brasileiros, com exceções, uma vez que o Estado de São Paulo está
dividido em duas Diretorias Regionais, SPM e SPI, a Diretoria Regional GT engloba os
Estados de Goiás e Tocantins e a Diretoria Regional NO é composta pelos Estados do
Amapá, Roraima, Acre e Rondônia. Cada DR subdivide-se em gerências operacionais,
administrativas e comerciais, as quais, através das unidades de atendimento
47
(captação), tratamento e distribuição, efetuam a manipulação do fluxo postal referente
a específicas regiões dos Estados e cidades.
2.2.1 - Fluxo postal dos serviços de correios no Brasil
Os serviços de correios no Brasil apresentam uma logística de coleta e distribuição
de objetos
7
que envolvem uma rede formada por inúmeras edificações com específicas
destinações, interligadas através de diversos meios de transportes, onde a total
interação destes sistemas determina seu funcionamento geral.
As edificações apresentam-se diferenciadas dentro do fluxo postal
8
e dividem-se,
basicamente, em locais de captação, tratamento e distribuição. Os centros de captação
são representados pelas agências (AC), os centros de tratamento (ou triagem) pelos
centros de tratamento de cartas (CTC) e de encomendas (CTE), e os centros de
distribuição, tanto centros de distribuição domiciliária (CDD), como centros de entrega
de encomenda (CEE). As unidades são divididas em unidades de atendimento e
unidades operacionais, sendo as de atendimento aquelas que realizam a coleta, e as
ditas operacionais as que realizam o tratamento e distribuição da carga postal. O
Quadro 1 mostra a infra-estrutura de atendimento e operacional do país, com o número
das unidades específicas.
A captação dos objetos, ou seja, a postagem realizada pelo remetente, é feita nas
agências (AC), caixas de coleta (CC) e postos de vendas de produtos (PVP). São
expedidas, e tudo o que foi coletado é levado aos Centros de Tratamento de Cartas
(CTC) e de Encomendas (CTE). Uma particularidade é que os Grandes Clientes
(pessoa jurídica com contratos de postagem para grandes volumes) podem levar
diretamente aos centros de triagem ou de distribuição.
7
Chamaremos aqui de “objetos”, tudo o que é transportado, em toda a sua diversidade. Ao longo do texto
e nos anexos, serão introduzidos mais esclarecimentos.
8
A expressão “fluxo postal” designa o encaminhamento dado a um objeto desde sua postagem pelo
remetente, até sua entrega ao destinatário.
48
INFRA-ESTRUTURA DE ATENDIMENTO unidade
TOTAL DE AGÊNCIAS
20.128
Caixas de Coletas - CC 22.967
INFRA-ESTRUTURA OPERACIONAL
Centro de Tratamento de Cartas - CTC 16
Centro de Tratamento de Encomendas - CTE 13
Centro de Tratamento Cartas e Encomendas - CTCE 25
Centro de Tratamento Correio Internacional - CTCI 2
UNIDADES DE TRATAMENTO (1) 56
Centro de Distribuição Domiciliária - CDD 838
Centro de Entrega de Encomendas - CEE 102
Unidade de Distribuição - UD 4.458
UNIDADES DISTRIBUIDORAS (2) 5.398
Centro de Logística Integrada - CLI 9
Centro de Gestão de Logística Integrada - CGLI 1
UNIDADES DE LOGÍSTICA INTEGRADA (3) 10
Centros de Serviços Telemáticos - CST 7
Centro de Transporte Operacional - CTO 39
Terminal de Carga Aérea e de Superfície - TECA 7
OUTRAS UNIDADES (4) 53
TOTAL DE UNIDADES (1 + 2 + 3 + 4) = 5 5.517
EFETIVO TOTAL 113.514
DIRETORIAS REGIONAIS (DR)
24
QUADRO 1 - Sistema Postal Nacional - ECT
FONTE: Relatório para Avaliação Empresarial – abril/2008
Após o tratamento (ou triagem), ocorre a transferência da carga através dos
Terminais de Carga (TECA) aéreos e de superfície, na maioria das vezes. É chamada
de exportação, quando a carga é encaminhada para outras localidades do Estado, da
nação ou do mundo. Do mesmo modo, o recebimento é chamado de importação. A
figura 5 mostra o fluxo postal simplificado, evidenciando a formação do sistema
produtivo dos Correios, formado por milhares de unidades, compreendendo as redes de
Atendimento, Tratamento, Transporte e Distribuição.
49
LEGENDA:
PVP – Postos de Vendas de Produtos CDD – Centro de Distribuição Domiciliária
CTC – Centro de Tratamento de Cartas CEE – Centro de Entrega de encomendas
CTE – Centro de Tratamento de Encomendas UD – Unidade de Distribuição.
CTCE – Centro de Tratamento de Cartas e Encomendas TRANSPORTE
FIGURA 5 – Fluxo Postal Simplificado.
FONTE: a autora
Segundo o Departamento de Transportes, o encaminhamento da carga a ser
transportada se através da estrutura de transporte, a qual é dividida em três
segmentos: o primeiro segmento é o Encaminhamento Nacional de Cargas, sendo
estruturado em três modais: aéreo, rodoviário e fluvial (este último apenas na região
Amazônica). O segundo segmento é o Encaminhamento Regional de Cargas, o qual
opera entre os municípios de um mesmo Estado do país. Compõe-se de modais aéreo
e fluvial (ambos na região Amazônica, apenas), e rodoviário. O Encaminhamento
Urbano de Cargas faz parte do terceiro segmento e atua na movimentação de cargas
dentro de uma mesma região metropolitana, sendo feito exclusivamente por transporte
rodoviário.
TRATAMENTO
COLETA
COLETA
TRATAMENTO
DISTRIBUIÇÃO
Agências
C. Coleta
PVP
Internet
CTC
CTE
CTCE
CTC
CTE
CTCE
CDD
CEE
UD
ORIGEM
DESTINO
50
2.2.2 – O tráfego postal nacional
De acordo com os dados de planilhas do Departamento de Informações, Pesquisa
e Análise da ECT (DIPAN), é possível detectar um incremento no volume total de
encomendas
9
, que salta de cerca de 6 milhões de unidades no ano 2000, para quase
16 milhões em 2007. Isto se deve, em grande parte, ao surgimento de novos produtos
oferecidos a partir de 2002, destacando-se, dentre eles, as novas modalidades do
Serviço de Encomenda Expressa SEDEX, assim como as encomendas PAC, em
2003 (não expressas), atendendo novas necessidades do mercado. o volume de
mensagens
10
também apresenta crescimento, sendo esta a modalidade ainda
predominante dentre os serviços postais, correspondente a mais de 50% de
participação como segmento de negócio
11
na receita de vendas.
Apesar do incremento da utilização da Internet
12
como meio de comunicação,
verifica-se, pois, o crescimento da utilização de mensagens via correios, além de um
crescimento das necessidades de mercado geradas justamente pela utilização da rede
de computadores. Observa-se, entre os anos de 2001 e 2006, que a venda de produtos
através da Internet apresentou um crescimento do seu faturamento em 76%
13
. Este
segmento de comércio, conhecido como e-commerce, demonstra-se estar em
expansão, e, de acordo com Felipini (2008), a demanda por mais insumos provocada
pelo crescimento do e-commerce, estimula o crescimento e a especialização de setores
diversos como os serviços de entrega, embalagem, produção de papel, transportes,
9
São entendidas como “encomendas”, algumas modalidades de postagem, sendo elas: ENCOMENDA
NORMAL, REEMBOLSO POSTAL, MALOTES, SEDEX, SEDEX CONTRATO, e-SEDEX, SEDEX 10,
SEDEX HOJE, PAC (Relatório Empresarial, abril/2008).
10
São entendidas como “mensagens” as seguintes modalidades de postagens, de maneira simplificada:
cartas, cartões postais, SEED (Serviço Especial de Entrega de Documentos), serviços telemáticos
(telegramas), FAC (franquia autorizada de cartas), cartões via Internet (Relatório Empresarial, abril/2008).
11
Consideram-se, aqui, como segmentos de negócios: encomendas, mensagens, conveniência, logística
e digital, tráfego internacional, financeiro, malote, marketing.
12
De acordo com a definição colocada pelo dicionário Michaelis (2002, pág. 432) a Internet é uma rede
remota internacional de computadores, descentralizada e de acesso público, que proporciona
transferência de arquivos e dados, juntamente com funções de correio eletrônico, para milhões de
usuários ao redor do mundo”.
13
Levantamento realizado pela empresa e-Bit (www.ebitempresa.com.br) /Compilação: www.e-
commerce.org.br . Disponível em http://www.e-commerce.org.br/STATS.htm#H. Acessado em
05/07/2008.
51
dentre outros. Isto pode ser explicado, em parte, pelo aumento do número de pessoas
usuárias da Internet, que pela primeira vez no Brasil, ultrapassou os 40 milhões, no final
do primeiro trimestre do ano de 2008, de acordo com o estudo do Ibope Net Ratings
14
,
totalizando 41,565 milhões de usuários.
Disto se pode depreender o grande volume de tráfego postal e a grande
movimentação nas unidades, onde seu crescimento gera maior fluxo de objetos a
serem coletados, tratados e entregues em seus destinos. Destaca-se, pois, a constante
transformação e incremento dos serviços oferecidos, os quais acompanham a evolução
da comunicação atual. Isto demonstra a importância de se entender tais
transformações e traduzi-las em seu suporte físico, representado pelo espaço
construído.
2.2.3 Contextualização no Estado e na cidade do Rio de Janeiro
O Estado do Rio de Janeiro, com seus 92 municípios, apresenta 466 agências,
entre próprias e franqueadas e 92 CDDs, o que representa 2,3% do total nacional de
agências e 11% do total de centros de distribuição CDDs no país. O total de CDDs
na capital do Estado é de 38 unidades, o que significa 41% do total estadual.
Comparando-se com os dados obtidos no Censo 2000 do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística –IBGE destaca-se que na capital concentram-se 39,50% da
população estadual total estimada de 15,42 milhões de habitantes, concentrada em
apenas 2,7% do território do Estado.
O Estado do Rio de Janeiro possui 3 CTCs (Centros de Tratamento de Cartas) e
apenas um CTE (Centro de Tratamento de Encomendas). Cada CTC fica responsável
por receber, para tratamento, a carga coletada de determinada região da cidade e do
Estado, além de receber das diversas regiões do país, predeterminadas para cada
unidade receptora. Por suas características centralizadoras e de escoamento de carga,
14
Agência Estado: Brasil já tem 41 milhões de usuários de internet. Disponível em:
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2008/06/28/brasil_ja_tem_41_milhoes_de_usuarios_de_internet_13
99899.html. Acessado em 06/07/2008.
52
os Centros de Tratamento localizam-se em determinadas regiões da cidade e do
Estado, de modo a terem maiores facilidades quanto aos acessos e escoamento viário.
O panorama apresentado neste capítulo permitiu compreender melhor a lógica de
funcionamento do sistema postal, possibilitando a reflexão acerca de suas
necessidades e seus espaços, onde a arquitetura tem importante papel.
53
3 AS ESPECIFICIDADES DA ARQUITETURA NO FUNCIONAMENTO DAS
PRINCIPAIS UNIDADES DE CORREIOS: ESTUDO DE CASO NA CIDADE DO RIO
DE JANEIRO
Trata o presente capítulo de apresentar o estudo realizado em uma das unidades
dos Correios, na cidade do Rio de Janeiro. Primeiramente, serão colocadas algumas
características e especificidades que levaram ao encaminhamento da escolha da
específica unidade de Correios para a realização da pesquisa.
A seguir, será apresentado o estudo de caso propriamente dito, onde serão
explicitados os métodos de levantamento de dados e as análises realizadas. O estudo
será baseado principalmente na metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho, como
forma de verificação das reflexões realizadas nos capítulos anteriores, e como
referência prática para a formulação de idéias e discussões acerca das relações e
contribuições da AET no processo de projeto de arquitetura.
Através da análise para a formulação de problemas e o alcance de diagnósticos, o
trabalho de campo visa criar propostas de melhorias para os ambientes em estudo,
onde a transformação da realidade observada possa trazer benefícios e impactos para
as atividades desenvolvidas, tanto do ponto de vista da operação, como e
principalmente – do ponto de vista do bem estar humano. Através do foco em projeto de
arquitetura, busca-se colocar as interações entre homem, ambiente e atividade como
aspectos a serem incorporados ao cotidiano de projeto e às práticas da concepção,
possibilitando o alcance das melhorias.
3.1 Generalidades sobre os serviços postais
Para melhor explicar o encaminhamento da escolha realizada para o estudo em
questão, são colocadas, neste momento, as condicionantes e características estruturais
do serviço postal nacional, onde algumas considerações teóricas explicitam, de um
modo resumido, características gerais adotadas na prática pela Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos.
De acordo com Sato (1974), a unidade mínima do serviço postal é formada pela
coleta e entrega, e a correspondência é coletada uma única vez e entregue uma única
54
vez (a não ser que haja devolução). A coleta é o ponto de partida (origem), e a entrega
é o ponto de chegada (destino), sendo que a combinação entre elas é a causa direta da
triagem (tratamento) e transporte. Considerando-se que a entrega tem que ser
domiciliar e a coleta, não, a área de abrangência de uma unidade de coleta consegue
ser bem maior que a área para a entrega.
Sendo assim, e de acordo com o sistema adotado pela ECT, uma divisão em
várias agências para cada área de dimensões apropriadas, onde a triagem e transporte
são executados entre elas. Conforme o sistema em utilização, uma centralização do
transporte e da triagem, onde um maior acúmulo de correspondências otimiza a
utilização de maquinário altamente eficiente, assim como auxilia na mecanização do
transporte.
As observações destacadas a respeito de localização e integração entre as
unidades de coleta, tratamento e distribuição (entrega), mostram as necessidades de se
manter um equilíbrio entre centralização e dispersão. Evidencia-se, pois, a configuração
da malha postal em virtude de fatores que podem vir a ser posteriormente confrontados,
levando-se em consideração os aspectos de localização urbana e das relações entre as
unidades, visto que as atividades que permeiam o processo completam-se entre si para
atingir a finalidade do sistema, que é a de entregar ao seu destino cada objeto coletado.
Isto reforça a necessidade de um correto funcionamento em cada etapa realizada.
3.2 Os problemas integrados
As diferentes unidades que completam o sistema postal brasileiro dependem de
sua eficiência individual para que o todo funcione corretamente. Além das
especificidades de cada tipo de edificação, encontram-se particularidades em cada
uma, de acordo com a área em que estão inseridas e de acordo com os serviços
oferecidos.
Os centros de tratamento, conforme observado no sistema utilizado pela ECT, são
centralizadores e concentram a carga coletada em região pré-determinada, enquanto
os centros de coleta e entrega (distribuição) são dispersos, visando os serviços. A inter-
relação e equilíbrio entre eles garantem o funcionamento do sistema como um todo.
55
Se houver um crescimento do volume de objetos postados, os centros de
tratamento deveriam ser ampliados em sua capacidade centralizadora, necessitando,
para isso, a ampliação de suas instalações. Se isto estiver associado ao crescimento da
cidade, os centros de coleta e entrega deverão aumentar em número, para que tenham
o alcance e atendimento às diversas áreas.
Isto permite notar a relação direta entre arquitetura, urbanização e serviços
postais, pois estes estarão onde houver população e, do mesmo modo, havendo o
crescimento da cidade e o aumento dos centros de atendimento, a coleta tenderá a
aumentar e os centros de tratamento terão maiores concentrações de volume de
objetos, refletindo na necessidade de remodelação ou aumento dos espaços, em
conjunto com a reorganização da produção.
3.3 O problema focado: o Edifício Sede da ECT no Rio de Janeiro e o Centro
de Tratamento de Cartas – CTC Cidade Nova
Através da prévia compreensão do funcionamento dos serviços de correios,
juntamente com a identificação de seus variados tipos de unidades edificadas e a
relação entre elas, foi possível destacar a importância do estudo de caso no Centro de
Tratamento de Cartas Cidade Nova, localizado no Edifício Sede dos Correios no Rio de
Janeiro, cujas características e justificativas para a escolha são explicitadas nos
subitens seguintes.
3.3.1 Edifício Sede:
Até o final da década de 70, as áreas da Diretoria Regional do Rio de Janeiro (DR-
RJ) funcionavam em cinco imóveis localizados no centro da cidade e um no bairro de
Benfica. Com a construção do Edifício-Sede, todas as áreas da DR ficaram reunidas em
um único prédio. O projeto fez parte da tendência da empresa, na década de 70, em
modernizar a triagem dentro do planejamento da empresa, visto que esta etapa do
processamento postal deveria comportar aumentos no fluxo de produtos evitando o
congestionamento do sistema. Isto seria alcançado através da automação, visando
racionalizar e agilizar a triagem, sendo o fato mais marcante para isto a construção dos
grandes edifícios que reuniam setores administrativos e operacionais, nas áreas do
56
país onde a densidade do fluxo postal fosse elevada, localizados nas proximidade de
grandes eixos viários.
O processo se inicia com a transferência da Administração Central do Rio de
Janeiro para Brasília, com a construção de uma nova sede administrativa e operacional.
Além de abrigar as funções administrativas, os prédios integravam extensa área
industrial para a triagem mecanizada. Tanto o projeto para a sede da ECT em Brasília
como para a sede da Diretoria Regional e Centro de Triagem do Rio de Janeiro foram
desenvolvidos pela mesma equipe técnica, cujo arquiteto era Antônio Antunes Soares
Filho. A concepção dos edifícios era norteada por princípios que deveriam ser
obedecidos pela equipe de arquitetura, buscando funcionalidade e flexibilidade que
permitissem adaptações e modernizações do sistema postal. Isto era traduzido pela
independência dos elementos construtivos em relação aos sistemas que requeriam
manutenção permanente e ainda pelo emprego de espaços modulados e andares-tipo
corridos.
Seguindo estas premissas, o edifício do Rio de Janeiro foi construído em concreto
aparente, localizado à Avenida Presidente Vargas, composto de uma torre de 30
pavimentos, abrigando os serviços administrativos, e um bloco de 7 pavimentos e 2
subsolos, para as atividades industriais e de serviços, totalizando 107 mil de área
construída, num terreno de 8,5 mil m². A obra teve seu início em abril de 1974 e término
em 1979, sendo que sua inauguração ocorreu em 6 de março de 1980. De acordo com
engenheiros que acompanharam o surgimento da edificação, o conjunto foi construído
tal como foi projetado. No entanto, apenas algumas modificações em sua infra-estrutura
foram feitas posteriormente, o que será mais bem explicado no item de número 3.4.1,
que trata da caracterização da edificação.
A parte operacional e de serviços do conjunto do Edifício Sede da DR-RJ localiza-
se no bloco de 7 andares, onde o Centro de Tratamento de Cartas Cidade Nova (CTC
Cidade Nova) constitui a principal ocupação e será o objeto deste estudo, sendo que os
motivos para a focalização nesta unidade serão apresentados no item que se segue.
57
3.3.2 Centro de Tratamento de Cartas – CTC Cidade Nova – Caracterização
Este item apresentará, além da caracterização da unidade em estudo o CTC
Cidade Nova –, a justificativa e importância de sua escolha para esta pesquisa, do
ponto de vista das atividades desenvolvidas no ambiente e de seu papel no sistema
postal.
O Centro de Tratamento de Cartas Cidade Nova – CTC Cidade Nova – localiza-se
nos andares 5 e 6 do bloco de 7 andares do conjunto, sendo que os pavimentos 2, 4,
térreo e o Subsolo 1 também fazem parte de seu funcionamento, embora não
exclusivamente. Esta unidade operacional executa a triagem ou tratamento de cartas,
não havendo, portanto, a triagem de encomendas.
O CTC, por sua característica centralizadora, coloca a necessidade de integração
entre as demais unidades, uma vez que tudo o que é recolhido nos mais diversos locais
de coleta, deverá, necessariamente, passar por um centro de tratamento. Por captarem
tudo o que é postado, necessitam de facilidade de acessos no recebimento e depois no
encaminhamento da carga, tanto do ponto de vista da edificação como do ponto de
vista de sua inserção na malha urbana.
De acordo com documento da ECT acerca do Processo Produtivo
15
, a logística
do sistema produtivo da ECT fundamenta-se, de modo geral, na troca de carga entre
unidades que possuem interface direta com o cliente (atendimento e distribuição),
partindo da centralização nas unidades de tratamento, e destaca a importância de seu
correto funcionamento:
“Essa configuração, que define a unidade de tratamento como o ponto
de convergência do tráfego postal, implica a necessidade do perfeito
funcionamento dessas centralizadoras para que a Empresa possa
garantir a qualidade requerida pelo mercado na prestação dos seus
diversos serviços” (ECT, 2002, p. 06)
15
O Subprojeto Processo Produtivo é documento integrante do Sistema de Melhorias de Unidades de
Tratamento – SMEL, que consiste em projetos de otimização para as atividades de tratamento de
objetos.
58
Isto enfatiza a importância da atenção a ser dada a suas transformações e
mudanças de necessidades ao longo dos anos, tanto do ponto de vista do sistema de
produção, como dos equipamentos, trabalhadores e tipos de atividades executadas, a
fim de que se mantenham atualizadas as exigências para o cumprimento daquilo a que
a edificação se destina. Também a presença, quase sempre constante, de maquinários
de grande porte para a triagem dos objetos, determinam a importância de edificações
específicas para suas instalações.
A área de localização do prédio do CTC Cidade Nova apresenta uma série de
relações com sua utilização, as quais serão discutidas e analisadas no decorrer do
texto. Localizada no bairro Cidade Nova, no Rio de Janeiro, a área sofreu grandes
transformações desde a inauguração do Edifício. A expansão urbana transformou a
área em região central da cidade e o tráfego de veículos aumentou visivelmente, onde
as vias interligam regiões da cidade, num dos fluxos principais. A seqüência de
imagens mostra a localização do edifício no bairro e sua relação com as principais vias
(Foto 10), o edifício na época de sua construção (Foto 11), e o edifício hoje (Fotos 12).
59
FOTO 10– Foto aérea e ampliação - Edifício Sede DR-RJ
FONTE: Google maps, junho/2008
EDIFÍCIO SEDE RJ
60
No mapa apresentado, é possível notar a proximidade do edifício com importantes
vias da cidade (em amarelo). Uma de suas entradas é voltada para a Avenida
Presidente Vargas, importante ligação entre o centro propriamente dito e bairros da
zona norte da cidade. Estas principais vias proporcionam o escoamento da carga para
outras regiões da cidade, ou para fora do município. No entanto, estas vias apresentam
tráfego intenso, o que muitas vezes pode se tornar prejudicial ao escoamento da carga.
As fotos a seguir mostram a ocupação da região na época da construção
praticamente desabitada - e atualmente, podendo-se notar maior densidade.
FOTO 11 Edifício Sede dos Correios
no Rio de Janeiro.
FONTE: arquivo da ECT/GEREN-RJ.
Sem data (década de 1970)
TORRE 30 ANDARES
BLOCO 7 ANDARES
FOTO 12– Edifício Sede dos Correios no
Rio de Janeiro
FONTE: arquivo ECT/GEREN RJ.
Dezembro/2007
61
3.4 Análise realizada
O presente estudo de caso é constituído de análise baseada na AET, a qual será
aplicada no Capítulo 4, partindo-se de uma caracterização das transformações sofridas
pela unidade já no presente capítulo - tanto do ponto de vista físico como funcional -
desde sua inauguração, chegando até os dias atuais.Isto permiti a detecção dos
problemas, a partir dos quais será possível realizar reflexões que levarão à elaboração
de diagnóstico e sugestões para melhorias, além de levarem à possibilidade de se
gerar propostas de melhorias para o ambiente existente e para o fluxo do processo de
projetos futuros.
3.4.1 – Caracterização da unidade e detecção de problemas atuais
O estudo de caso no prédio do Edifício Sede da DR/RJ foi realizado de modo a
focalizar o CTC Cidade Nova, cuja caracterização e compreensão de seu
funcionamento, juntamente com a construção dos problemas são obtidas através de
estudo de campo, partindo da análise de suas transformações ao longo dos anos,
aliada a uma análise da atividade atual desenvolvida em seus ambientes, associada a
fatores organizacionais, funcionais, econômicos, ambientais e técnicos. A pesquisa de
campo compõe-se de investigações (entrevistas, conversas, pesquisas), observação
direta e registros, reflexões e confrontações, conforme descrito nos itens que se
seguem.
Inicialmente, foi realizada uma análise de compreensão e detecção das
características da transformação sofrida pela unidade ao longo dos anos, de modo que
fossem detectados problemas relacionados ao funcionamento do sistema e à
arquitetura, causando impactos na edificação, no trabalho e no trabalhador.
Isto se justifica pelo fato de que, embora o funcionamento esteja acontecendo
aparentemente de modo normal, um olhar mais aproximado ao processo produtivo e
suas relações entre operadores, equipamentos e edificação será necessário para
mostrar detalhes que apenas com o conhecimento geral do funcionamento dos
serviços, das características espaciais, físicas e ambientais poderiam ser detectados
como sendo problemas associados às transformações ocorridas ao longo dos anos.
62
A construção dos problemas, nesta fase, se através da junção entre
investigação em arquivos e documentos, da observação do local e principalmente
através de entrevistas e conversas com uma parcela do universo de possíveis
respondentes, para a obtenção de dados e compreensão das transformações ocorridas
no CTC Cidade Nova.
Fez-se necessário levantar o universo de possíveis respondentes para a pesquisa,
tendo sido adotados alguns critérios fundamentais para a seleção dos envolvidos:
- Conhecimento das atividades e do funcionamento da unidade do CTC: este
conhecimento é fundamental para relacionar dados específicos do tipo de atividade e
as características das operações realizadas no local e as condicionantes envolvidas.
- Tempo prolongado de contato e conhecimento acerca da edificação:
indispensável para se obter um cruzamento entre as operações realizadas
anteriormente, as transformações ocorridas através do tempo e as determinantes da
edificação no tipo de atividade e as dificuldades encontradas no espaço físico em sua
atual configuração,
- Conhecimentos na logística de funcionamento da unidade e da ECT em
geral: importante para o entendimento das relações entre os diversos andares e sua
inserção na Organização como um todo.
A análise procurou identificar características, transformações e influências entre
diversos fatores, sempre relacionados à edificação. Sendo assim, e de acordo com as
considerações acima colocadas, foram selecionados os profissionais responsáveis pela
operação de tratamento, os engenheiros responsáveis pela manutenção predial e de
equipamentos, e principalmente pessoas relacionadas com a operação e os fluxos de
cargas. Tal seleção procurou permitir a relação entre a edificação e os fatores
considerados: a operação interna (atividades realizadas no interior da unidade), a
ocupação (distribuição das diferentes atividades nos diversos andares), conforto
ambiental (condições ambientais dos locais de trabalho), e fluxos de cargas
(chegadas, saídas e circulação interna de carga). Os respondentes foram divididos
entre diretos e indiretos. Os diretos são aqueles que têm contato direto com o dia-a-dia
da operação, conhecendo sua realidade detalhadamente, e os indiretos o aqueles
63
que conhecem a operação, mas não têm este contato direto e diário, ou seja, têm muito
mais um conhecimento da tarefa do que da atividade. É importante esclarecer aqui que
os gerentes de turno, no caso estudado, têm ativa participação em todas as atividades,
percorrendo as etapas da operação todos os dias, por isso são colocados como
respondentes diretos. A Tabela 1 abaixo relaciona a edificação com os diversos fatores
considerados e o universo de respondentes.
RELAÇÃO COM A EDIFICAÇÃO
OPERAÇÃO
INTERNA
OCUPAÇÃO
CONFORTO
AMBIENTAL
FLUXOS DE
CARGAS
OPERADORES OPERADORES
GERENTES DE
TURNO
GERENTES DE
TURNO
OPERADORES
GERENTES DE
TURNO
RESPONDENTES
DIRETOS
SUPERVISORES
DOS ANDARES
SUPERVISORES
DOS ANDARES
SUPERVISORES
DOS ANDARES
SUPERVISORES
DOS ANDARES
GERENTE GERAL
CTC
GERENTE DE
ENGENHARIA
GERENTE DE
ENGENHARIA
GERENTE DE
ENGENHARIA
RESPONDENTES
INDIRETOS
GERENTE DE
CARGAS
SUBGERENTE DE
MANUTENÇÃO
GERÊNCIA DE
SAÚDE
GERENTE DE
CARGAS
TABELA 1 – Fatores considerados e respectivos respondentes
Além das considerações obtidas pelo conhecimento dos profissionais envolvidos,
foram necessárias observações nos diversos locais e andares, e ainda pesquisa nos
arquivos de documentos, imagens e projetos que pudessem esclarecer, complementar
e confirmar as constatações obtidas. O cruzamento das observações e informações
obtidas permitiu a detecção de problemas que relacionam os aspectos físicos e
funcionais da edificação às operações realizadas no local (Quadro 02). Esta primeira
análise permite destacar a importância de se observar e estudar a edificação escolhida,
em todas as suas particularidades. Todas as constatações serão validadas durante a
Análise Ergonômica, a qual obterá dados e informações mais precisos e específicos,
que a análise global inicial irá direcionar os pontos mais críticos do ponto de vista da
Ergonomia.
64
OCORRÊNCIA NOS
ANDARES
FATORES
CONSIDERADOS
CARACTERÍSTICA DA EDIFICAÇÃO
MÉTODO DE DETECÇÃO
FOTOS
INFLUÊNCIAS
S1 R
OCUPAÇÃO
- Lay-out: dinâmico, depende da carga
- Equipamentos de grande porte
- Pessoas
- Observação in loco em
diversos horários
- Conversas com
supervisores
13
14
15
22
- Interferência
entre instalações
existentes
x
x
x
x
CONFORTO
AMBIENTAL
- Interferência equipamentos e sistema de
iluminação
- Insolação nas fachadas de vidro;
- Proximidade máquinas/veículos e
operadores
- Conversa com operadores,
supervisores, usuários em
geral.
13
- bem estar físico
dos usuários em
geral.
x
x
x
x
x
FLUXOS DE
CARGAS
- Acesso de veículos ao prédio
- Fluxo interno: movimentação vertical de
cargas
Observação in loco:
- Observação dos horários
críticos de chegada ou saída
de carga;
- conversa com os
supervisores
16
17
18
- restrição
tamanho veículos
- Dependência de
elevadores;
(recomendação
atual é de
edificação
horizontal)
x
x
x
x
x
OPERAÇÃO
INTERNA
- Uso de paleteiras e empilhadeiras
- Manipulação de máquinas
- Trabalhos manuais
- Manipulação de cargas
- Observação in loco em
diversos horários
- Conversas com
supervisores
20
21
- Fluxos cruzados
entre pessoas e
veículos
- Ruídos;
- Esforço físico
x x x x x
QUADRO 02 – Fatores considerados para a detecção de problemas
65
Juntamente com o Quadro 2, as fotografias a seguir ajudarão a melhor ilustrar as
características da edificação, onde a detecção dos pontos para a discussão e um
estudo mais aprofundado deverão ser feitos em seguida, a fim de validar as propostas
de inserção da Ergonomia no processo de projeto.
A simples observação do local estudado permite perceber que as mudanças
ocorridas, tanto do ponto de vista da ocupação, como do ponto de vista das
transformações no sistema postal e nas relações entre o edifício e a cidade geram a
necessidade de que sejam analisados possíveis reflexos no funcionamento da unidade
em questão.
A foto 13 mostra um tipo de equipamento de grande porte instalado no local. Os
primeiros equipamentos para tratamento de correspondência instalados foram
substituídos, conforme pode ser observado nas fotos 14 e 15. A foto 16 ilustra o corte
de elemento estrutural para a entrada de veículos em seu interior. Isto ocorreu devido
ao fato de que certos veículos de grande porte (caminhões) não acessavam o interior
do edifício devido à baixa altura da viga. Sendo uma edificação verticalizada, o
transporte interno acontece com a subida e descida de carga entre os andares de
tratamento, sendo necessária a utilização de elevadores exclusivos, conforme mostram
as fotos 17 e 18, o elevador de caixetas e o elevador de cargas. No processo anterior à
presença das máquinas atuais, ao invés de caixetas eram utilizadas malas de lona, que
subiam presas a ganchos e desciam por gravidade (foto 19 maquete). As fotos 20 e
21 evidenciam a presença humana, participativa do processo, manipulando objetos,
carga e em locais próximos às máquinas. A foto 22 mostra a configuração do lay-out de
acordo com o volume de carga
66
FOTO 13 – Equipamentos instalados no local
FONTE: arquivo da pesquisadora. Julho/2008
FOTO 14 – CTC Cidade Nova –ocupação anterior
início de seu funcionamento
FONTE: arquivo da GEREN-RJ. Década de 1980
FOTO 15 – CTC Cidade Nova – ocupação atual
FONTE: arquivo da pesquisadora. Julho/2008
MESMO PAVIMENTO
DIFERENTE
OCUPAÇÃO
INTERFERÊNCIAS ENTRE
MÁQUINAS, INSTALAÇÕES
(LUMINÁRIAS) E ESPAÇO
DE TRA
BALHO HUMANO
INTERFERÊNCIAS ENTRE
MÁQUINAS, INSTALAÇÕES
(LUMINÁRIAS) E ESPAÇO
DE TRABALHO HUMANO
67
FOTO 16 – Entrada de veículos: necessidade de corte em viga estrutural
FONTE: arquivo da pesquisadora. Novembro/2007
FOTOS 17 e 18 Elevador de cargas (à esquerda) e
elevador de caixetas (à direita)
FONTE: arquivo da pesquisadora. Julho/2008.
CORTE NA ESTRUTURA
DEVIDO À ALTURA
INSUFICIENTE
ELEVADOR DE CARGA
ELEVADOR DE
CAIXETAS
68
FOTO 19 – Maquete da configuração original do CTC, na época de sua construção.
FONTE: arquivo da pesquisadora. Julho/2008.
FOTO 20 – Trabalhadores na parte de triagem manual.
FONTE: arquivo da pesquisadora. Julho/2008
DESCIDA DA CARG
A
POR GRAVIDADE
DESCIDA DA CARGA
POR MÁQUINAS
PRESENÇA HUMANA
ATÉ OS DIAS ATUAIS
69
FOTO 21 – Trabalhadores na manipulação da carga – segundo andar.
FONTE: arquivo da pesquisadora. Novembro/2008.
FOTO 22 – Lay-out configurado pela carga – segundo andar
FONTE: arquivo da pesquisadora. Julho/2008
A análise das características e transformações do sistema e da edificação permitiu
a detecção de problemas, evidenciando a importância de se estudar detalhadamente as
atividades e as variáveis envolvidas no processo, já que a edificação influencia no
70
modo de funcionamento de todo o processo de funcionamento da unidade e, ainda, na
atividade do trabalhador. A dinâmica do processo ocorre, em grande parte, dentro da
edificação e depende de seu apoio no fornecimento de condições espaciais e
ambientais que possibilitarão bem estar aos humanos e reflexos no cumprimento das
atividades necessárias ao sistema. O próximo capítulo irá aprofundar esta análise,
através da aplicação da metodologia da AET, dando continuidade ao entendimento e
possibilitando a obtenção dos resultados procurados.
71
4 A APLICAÇÃO DA AET E AS CONTRIBUIÇÕES AO FLUXO DO
PROCESSO DE PROJETO: UMA PROPOSTA
A caracterização realizada no capítulo anterior permitiu a identificação de
problemas que surgiram no funcionamento do sistema, dadas as transformações
sofridas ao longo do tempo e as relações com a edificação em estudo. A visão geral do
funcionamento, aliada às características físicas do espaço, possibilitou o
direcionamento da Análise Ergonômica do Trabalho, onde um aprofundamento através
da análise do posto de trabalho ipermitir as reflexões que relacionam a edificação, o
ambiente e a atividade em suas características atuais. A seguir serão apresentadas as
etapas que envolveram a AET realizada, os critérios para a seleção da atividade, os
métodos de análise, e os resultados obtidos. Posteriormente, serão apresentadas as
propostas de melhorias feitas a partir de toda a reflexão, tanto para o caso estudado,
como para o fluxo do processo de projeto.
4.1 – Aplicação da Análise Ergonômica do Trabalho – AET
A análise realizada teve por base a Análise Ergonômica do Trabalho, cuja
metodologia e práticas o empregadas como forma de compreensão da realidade e
como ferramenta para a detecção de problemas focando a atividade de trabalho.
Buscou-se, aqui, seguir a metodologia de intervenção desenvolvida pelos
ergonomistas, a qual possui em seu centro a análise da atividade. A Análise
Ergonômica do Trabalho inicia-se com a necessidade de se caracterizar o
funcionamento geral da organização que está no foco do estudo, a fim de compreender
e identificar os fatores que determinam seu modo de funcionamento, levando-se em
conta fatores técnicos, organizacionais, econômicos e ambientais.
Toda esta análise é feita em etapas, tentando abranger o conhecimento e
compreensão da atividade e as condicionantes envolvidas. A metodologia empregada
procurou seguir a teoria apresentada no Capítulo 1, apoiando-se nas etapas colocadas
por VIDAL, 2002. As etapas são descritas a seguir, considerando que a realização de
cada uma contribui para a evolução das etapas seguintes:
a) Conhecimento e reconstrução da(s) demanda(s)
b) Conhecimento do funcionamento geral da organização – Correios
72
c) Caracterização da situação global e escolha das situações a analisar
d) Análise da atividade - situações escolhidas
e) Análise do ambiente
a) Conhecimento e reconstrução das demandas
É importante destacar as várias demandas a que esta escolha está submetida,
para que se possa justificar a realização de uma Análise Ergonômica do Trabalho no
ambiente selecionado e para que se tenha, a partir disto, o tratamento adequado aos
problemas colocados, tendo-se sempre como base o ponto de vista ergonômico. A
demanda inicial pôde ser evidenciada no capítulo anterior, onde a caracterização do
sistema, ligada às transformações ocorridas ao longo do tempo permitiu selecionar esta
edificação e esta unidade de funcionamento, o CTC. Com o decorrer da análise, outras
demandas para a AET puderam ser identificadas, onde a etapa anterior detecção de
problemas contribuiu de maneira significativa. Os contatos com o corpo gerencial
identificaram grande interesse em se analisar as atividades da unidade, que são
enfrentados problemas diários, onde imprevistos permeiam o processo entre os
variados turnos e setores.
b) Conhecimento do funcionamento geral da organização – Correios
Este item se apresenta realizado, tanto no segundo, como no terceiro capítulos
deste trabalho, onde o entendimento e conhecimento da organização, bem como a
contextualização entre os fatores envolvidos na pesquisa justificam sua antecipação e
permeiam todo o trabalho, conduzindo os encaminhamentos dados até agora, além de
auxiliar na reconstrução da demanda e possibilitar a caracterização da unidade em
estudo.
c) Caracterização da situação global e escolha das situações a analisar
A caracterização da situação global dará um panorama das operações da unidade
e sua distribuição entre os diversos andares, permitindo a identificação do(s) posto(s)
de trabalho(s) a serem analisados. A análise da demanda, associada ao conhecimento
geral da empresa e da edificação, irá guiar a escolha das investigações e situações a
analisar.
73
c-1) Caracterização geral do funcionamento da unidade
Este item apresenta um conhecimento geral da distribuição física e as operações
realizadas no local. Apesar de o CTC não ocupar todos os 7 andares do bloco, é
interessante apresentar um panorama da ocupação nos outros andares. Em cada andar
um “entrepiso” (mezanino), geralmente ocupado por atividades administrativas. A
tabela a seguir facilita a visualização dos andares e suas ocupações:
PAVIMENTO
OCUPAÇÃO
SUBSOLO 1
GERÊNCIA DE GRANDES CLIENTES
TÉRREO
CARGA E DESCARGA
1º ENTREPISO
APOIO OPERACIONAL
2º PAVIMENTO
E
NTREPOSTO
;
TRATAMENTO FORMATO EMBARAÇOSO
16
2º ENTREPISO
TREINAMENTO
3º PAVIMENTO
UNIDADES CEE CENTRO E CEE LARANJEIRAS
3º ENTREPISO
A
DMINISTRAÇÃO DOS CEEs
4º PAVIMENTO
GERÊNCIA DE PERIÓDICOS
4º ENTREPISO
ADMINISTRATIVO
5º PAVIMENTO
TRATAMENTO FORMATO SEMI
-
EMBARAÇOSO
5º ENTREPISO
ADMINISTRAÇÃO DO CTC
6º PAVIMENTO
TRATAMENTO FORMATO NORMAL
6º ENTREPISO
ADMINISTRAÇÃO/GERÊNCIA DO CTC
7º PAVIMENTO
LANCHONETE, LOGÍSTICA INTEGRADA, ARQUIVO, HELP DESK
TABELA 2 - Andares e sua ocupação. Em cinza os andares que fazem parte do CTC.
O funcionamento do CTC Cidade Nova, em termos gerais, ocorre da seguinte
maneira: no térreo chegam as cargas postais em veículos que descarregam nos cais
alto (veículos maiores) ou baixo (veículos menores). As cargas acondicionadas em
grandes caixas sobem ao segundo andar através de elevador de cargas e os objetos
acondicionados em caixetas
17
sobem por um elevador especial para este tipo de
16
Os objetos de Formato Normal o aqueles cujas dimensões máximas não ultrapassam os limites de
240 x 162 x 6 mm. os de formato Semi-Embaraçoso são os objetos em que pelo menos uma de suas
dimensões seja superior à respectiva dimensão nos objetos FN, não devendo ultrapassar os limites
máximos de 355 x 250 x 20 mm. Os que possuem Formato Embaraçoso são aqueles em que pelo menos
uma de suas dimensões seja superior à respectiva dimensão nos objetos FS e que, pelo seu formato,
volume ou peso, são de difícil manuseio, tais como: pacotes de jornais, amarrados de cartas e objetos
volumosos ou em forma de rolos.
17
Caixetas são pequenas caixas plásticas, cujas dimensões são ideais para o acondicionamento de
objetos postais, para o transporte em elevadores especiais e para a triagem automatizada.
74
volume (elevador de caixetas). Neste segundo pavimento (também chamado de
entreposto) a abertura das grandes embalagens e uma pequena separação
(triagem) manual, encaminhando os objetos aos andares 5 ou 6, de acordo com seu
formato. Nos andares 5 e 6, estas cartas são tratadas e em seguida devolvidas ao
segundo andar, para posteriormente descerem ao térreo e serem novamente
transportadas para outras unidades de tratamento ou para os centros de distribuição
(chamados aqui de “destinos”). O pavimento 4 trata dos periódicos (revistas, catálogos),
e recebe a carga diretamente do térreo. Do mesmo modo, ao tratar esta carga, a
devolve ao térreo, para que seja levada aos seus destinos. No Subsolo 1 são recebidas
diretamente as cargas dos chamados “Grandes Clientes
18
, as quais também recebem
pré-tratamento para serem direcionadas aos andares 2, 5 ou 6.
FIGURA 6 Fluxo de carga nos andares que fazem parte do CTC. A carga recebida é direcionada para
tratamento, retornando ao térreo para ser levada ao seu destino.
O termo “tratar a carga”, utilizado neste trabalho, significa separar a carga em
destinos, uma vez que ela vem misturada nos compartimentos. O fluxograma
apresentado (Figura 06) esclarece a movimentação da carga entre os andares.
A planta do Térreo do edifício abrange o térreo da torre de 30 andares e do bloco
de 7 andares, mantendo entradas independentes, ambos com acessos tanto pela Rua
Afonso Cavalcanti como pela Avenida Presidente Vargas. Na figura 7 (térreo) podem
18
Os Grandes Clientes são os clientes que possuem contrato de postagem de grandes volumes de
correspondências.
TÉRREO
SUBSOLO 1
2º ANDAR
6º ANDAR
5º ANDAR
4º ANDAR
Carga que chega - A tratar Carga que sai – Já tratada
75
ser observados os locais de acesso, assim como a localização dos equipamentos para
o transporte vertical da carga, feito através de elevadores. As próximas figuras (8, 9, 10,
11 e 12) mostram, respectivamente, as plantas do subsolo e pavimentos 2, 4, 5 e 6,
todos relacionados ao CTC, onde aparecem os principais acessos tanto para pessoas
como veículos. É possível observar a presença de equipamentos, tanto equipamentos
de tratamento como de transporte vertical de objetos e pessoas. A caracterização geral
realizada a respeito do funcionamento da unidade, será de fundamental importância,
para, juntamente com o panorama das atividades realizado a seguir permitir a
escolha do posto de trabalho a ser analisado neste trabalho.
76
1 – Acesso aos subsolos 1 e 2
2 – Acesso veículos térreo
3 – Acesso pedestres CTC
4 – Cais baixo
5 – Elevadores p/ Container
6 – Elevador p/ caixetas
7 – Cais alto
8 – Plataformas hidráulicas
9 – Elevadores Cargueiros
10 – Escada
11 – Acesso pedestres - Torre
12 – Elevadores p/ passageiros
FIGURA 7: Planta do pavimento térreo – torre e anexo. Sem escala
FONTE: arquivo da GEREN-RJ - março/2002
1 – Acesso aos subsolos 2
2 – Escada
3 – Elevadores p/ Container
4 – Elevadores p/ passageiros
FIGURA 8: Planta subsolo 1 – CTC. Sem escala.
FONTE: arquivo da GEREN-RJ – junho/1997
77
1 – Rampa Helicoidal
2 – Elevador de contêiner
3 – Elevadores de caixeta
4 – Elevadores de carga
5 – Esteira rolante (projeção)
6 – Elevadores passageiros
FIGURA 9: Planta do segundo pavimento – CTC. Sem escala.
FONTE: arquivo da GEREN-RJ – sem data
1 – Elevadores de carga
2 – Elevadores p/ passageiros
3 – Elevadores de caixeta
4 – Elevadores de container
FIGURA 10: Planta do quarto pavimento – CTC. Sem escala.
FONTE: arquivo da GEREN-RJ – sem data
78
1 – Rampa Helicoidal
2 – Elevador de contêiner
3 – Elevadores de caixeta
4 – Elevadores de carga
5 – Esteira rolante (projeção)
6 – Elevadores passageiros
7 – Máquinas de tratamento
FIGURA 11: Planta pavimento 5 – CTC. Sem escala.
FONTE: arquivo da GEREN-RJ – junho/1997
1 – Rampa Helicoidal
2 – Elevador de contêiner
3 – Elevadores de caixeta
4 – Elevadores de carga
5 – Esteira rolante (projeção)
6 – Elevadores passageiros
7 – Máquinas de tratamento
FIGURA 12: Planta pavimento 6 – CTC. Sem escala.
FONTE: arquivo da GEREN-RJ – junho/1997
79
c-2) Escolha das situações a analisar
Este item trata da seleção das situações a analisar. A partir do levantamento feito
na unidade, abrangendo todos os andares, foi possível obter o panorama de atividades,
conforme pode ser observado na tabela 3, abaixo.
TABELA 3 – Caracterização das atividades nos andares
FONTE: a autora
Após a identificação global das atividades, juntamente com as informações obtidas
no desenvolvimento das etapas anteriores, foi possível realizar a escolha do posto de
ANÁLISE GLOBAL DAS ATIVIDADES
POSTOS DE TRABALHO
POSIÇÃO PREDOMINANTE E
SITUAÇÕES CARACTERÍSTICAS
DISTRIBUIÇÃO NOS
ANDARES
Carregamento e descarregamento de
caminhões
TÉRREO
Preparação de cargas para os CDDs
TÉRREO
Controle de carga nos elevadores TÉRREO, 2º, 5º E 6º
ANDARES
Abertura e separação de cargas 2º ANDAR
Controle de movimentação de
carga (SMIC)
2º, 5º, 6º ANDARES
Controle de carga nos
elevadores/alimentação triagem
manual
5º ANDAR
Alimentar e retirar objetos das
máquinas
Em pé, esforço físico
5º E 6º ANDARES
Triagem manual sem escaninho Em pé, esforço físico, flexão
freqüente da coluna
2º ANDAR
Supervisores Em pé, andando SUBSOLO 01, TÉRREO,
2º, 4º, 5º E 6º ANDARES
Etiquetagem, separação, entrega Em pé, sentado, caminhando 4º ANDAR
Organização de unitizadores e
caixetas vazias
TÉRREO
Refugo e revisão
Em pé
5º ANDAR
Manuseio de correspondência Sentado (predominante), em pé SUBSOLO 01
Administrativos Sentado (predominante), andando SUBSOLO 01, TÉRREO,
2º, 4º, 5º E 6º ANDARES
Triagem manual com escaninho Sentado 4º, 5º, 6º ANDAR
80
trabalho a analisar. A seleção partiu de critérios associados às características da
atividade, bem como às características de sua inserção no edifício. De acordo com
Abrantes (2004, pág. 156), várias situações que devem ser observadas para que se
realize a análise ergonômica, sendo que algumas puderam ser identificadas na unidade
em estudo, e por isso foram tomadas aqui como critérios para a escolha das situações
a serem analisadas. São elas:
Trabalhos que exigem esforço físico;
Trabalhos que exigem posturas rígidas ou fixas (só sentado ou em pé, por
exemplo);
Tanto os trabalhos que exigem esforço físico, como os que exigem posturas fixas
são encontrados na maior parte dos postos listados na tabela 3, sendo que no segundo
andar atividades que ainda acumulam grande freqüência de flexão da coluna
durante a realização dos trabalhos. No entanto, é também relevante, para este estudo,
que se acrescentem ainda critérios que levem em conta a relação do posto de trabalho
com a edificação, ou seja, com seu espaço de inserção no edifício, evidenciando a
importância da arquitetura no desenvolvimento das atividades.
Sendo assim, através de plantas de ocupação, com data de 1979 (época da
construção), foi possível identificar um posto de trabalho que tem hoje uma relação
espacial diferente em comparação com a época de inauguração do edifício. Trata-se da
triagem manual dos objetos de formato embaraçoso. Este tratamento era feito, em
grande parte, de forma automatizada, sendo que a máquina localizava-se no terceiro
andar. A triagem manual era realizada no quarto andar. De acordo com a subgerência
de manutenção de máquinas e equipamentos, a partir do ano 2000, a ocupação do
edifício sofreu modificações, e a triagem mecanizada deste tipo de objeto deixou de
existir no prédio, restando a triagem manual apenas, sendo que sua realização
acontece hoje no segundo andar, o qual era inicialmente apenas entreposto e depósito
de cargas. Estas modificações e transformações, aliadas a critérios que consideram as
variáveis biomecânicas (relacionadas à postura e esforço sico) direcionaram, pois, a
escolha do posto de trabalho. Deste modo, as situações a serem analisadas referem-se
à triagem manual de objetos de formato embaraçoso, no segundo andar da unidade.
81
d) Análise da atividade – situações escolhidas
Durante a realização da análise da atividade, a metodologia empregada teve como
eixo principal de construção a relação entre atividade e arquitetura. Para o
desenvolvimento da análise, buscou-se observar e compreender as atitudes e ações
dos trabalhadores, para que fosse possível identificar os determinantes e as
características da atividade.
A metodologia empregada, baseada na Análise Ergonômica do Trabalho, consistiu
principalmente em observações, questionários, conversas informais, registros em texto,
fotos e vídeos. As observações focalizaram a atividade das equipes de forma a
abranger todo o processo do posto analisado em sua situação real. Os registros em
texto consistiram em descrever as ações em relação ao tempo, enquanto fotos e vídeos
permitiam captar imagens de situações características ou atípicas. Ao longo do
processo, procurou-se validar e restituir cada etapa observada, junto aos funcionários
envolvidos com o funcionamento da unidade e com a operação em si, a fim de se obter
dados mais precisos e reais sobre a atividade. As situações imprevistas observadas
eram em seguida confirmadas e explicadas pelos trabalhadores.
Inicialmente, é importante observar que o trabalho deste posto é realizado em 2
turnos, chamados aqui de Turno 1 e Turno 2. O Turno 1 inicia-se às 7:00 horas da
manhã, terminando às 16:00h. O Turno 2 inicia-se às 14:00 horas e seu término ocorre
às 22horas e 37 minutos.
A fim de caracterizar e obter dados sobre os trabalhadores daquele posto, foram
aplicados questionários de caracterização da equipe (anexo I), os quais foram
respondidos pela equipe do Turno 1 e pela equipe do Turno 2. O questionário permite
colocar, além de nome, idade, cargo e turno de trabalho, opiniões sobre pontos
positivos e negativos, além de espaço para sugestões.
As respostas revelaram, no Turno 1, um grupo de 8 pessoas com idades entre 48
e 60 anos, sendo 2 pessoas do sexo feminino e seis do sexo masculino. Os tempos de
trabalho na empresa variam de 14 a 29 anos. Em relação à existência de pontos
positivos do local de trabalho, com livre resposta, apenas 2 pessoas responderam,
sendo que uma destacou a chefia e outra o companheirismo da equipe. quanto aos
82
pontos negativos, dentre as 7 que responderam (1 não opinou): 1 destacou os “maus
colegas”, 6 incluíram a “falta de material de trabalho” destas, 2 ainda acrescentaram
“más condições de trabalho”, 1 acrescentou a “falta de reconhecimento da chefia pelos
esforços” e 1 a “falta de pessoal”.
No Turno 2, foi possível identificar um grupo de 4 pessoas com idades entre 37 e
56 anos, sendo todas do sexo masculino. Os tempos de trabalho de cada um na
empresa variam de 15 a 34 anos. Em relação à existência de pontos positivos do local
de trabalho, com livre resposta, apenas 3 pessoas responderam, sendo que uma
destacou os “colegas”, outra destacou a “colaboração entre colegas” e a terceira
considerou que “a carga é bem posicionada e a iluminação é razoável”. Também
quanto aos pontos negativos, apenas 3 pessoas responderam, cujas respostas
revelaram, em geral, as más condições ambientais: todas as 3 respostas destacaram o
ruído e a poeira, sendo que 2 delas acrescentaram ainda a má iluminação e o calor.
A caracterização das equipes mostrou-se importante tanto para o conhecimento
das características pessoais dos trabalhadores, como para detectar suas opiniões e, a
partir disto, possibilitar uma maior aproximação ao diálogo aberto, criando um
entrosamento que permite obter informações sobre particularidades da atividade e as
atitudes tomadas durante o turno de trabalho.
Fez-se necessário, num primeiro momento, conhecer o trabalho prescrito, ou seja,
a tarefa
19
atribuída ao posto de trabalho. Este primeiro conhecimento permiti
comparar e perceber a distância ou a proximidade entre a atividade prescrita e a
atividade real. No posto de trabalho analisado, a tarefa consiste basicamente em se
montar uma “bateria” (composição) de caixas e containers vazios com separação por
destino da carga postal, sendo que no centro desta “bateria” é colocado o container ou
caixa com os objetos a serem separados. Os objetos são retirados da caixa central
manualmente, sendo colocados na caixa de seu destino. Quando as caixas de destino
estão completas, são fechadas e encaminhadas para a área de espera para ser
transportada.
19
É importante deixar claro que a tarefa é o trabalho prescrito, ou seja, o trabalho previsto. A Atividade irá
corresponder ao que acontece na realidade, considerando variabilidades e imprevistos.
83
Durante a análise, revelou-se que a atividade envolve, entre outras ações, pegar,
em outro setor do mesmo andar, a carga que será tratada e levá-la próxima à bateria do
posto de trabalho. A seguir, o operador irá colocar a carga com prioridade de
tratamento no centro da bateria, abrir a embalagem, ir retirando um a um os objetos e
efetuar a triagem, colocando-os nas caixas de destino. Quando a caixa do centro está
vazia, retira-se do local, coloca-se outra e assim por diante. Utilizam-se paleteiras
elétricas ou manuais, a fim de buscar a carga a ser tratada e de organizar as caixas a
serem triadas, dando preferência aos objetos mais urgentes, de acordo com a data de
postagem e ao tipo (simples ou urgente). Toda esta organização e movimentação da
carga são feitas pelos próprios trabalhadores do posto. também a necessidade de
se etiquetar caixetas e caixas; realizar o fechamento das caixetas, organizar dentro do
container, fechar as caixas de papelão ao final da operação e deixá-las próximo ao
elevador de carga, para que a carga possa descer ao térreo e ser levada aos seus
destinos, através das linhas de transporte. O fluxograma da Figura 13 auxilia na
compreensão do processo realizado.
O posto de trabalho do Turno 1 é composto de 2 destas composições (baterias) de
caixas, uma ao lado da outra, sendo 4 pessoas responsáveis por cada uma delas. O
Turno 2 é composto de 3 composições, ficando duas pessoas em uma composição e
uma pessoa em cada uma das outras composições. A Figura 14 mostra a localização
dos postos de trabalho no pavimento para os 2 Turnos, além da localização da carga,
local de movimentação das paleteiras e projeção do maquinário existente. Percebe-se a
sobreposição de uma das composições do Turno 1 com uma do Turno 2. Na verdade,
esta sobreposição de espaço físico não acontece ao mesmo tempo, já que ao final dos
trabalhos as composições são desfeitas, pois a carga separada é posicionada para
ser encaminhada ao seus destinos. As Figuras 15 e 16 mostram as composições no
Turno 1, respectivamente, a localização no andar e a configuração dos postos,
mostrando a caixa com a carga sendo separada (ao centro, onde ficam os
trabalhadores), as caixas com a carga sendo separada por destino e a carga
aguardando para ser separada, de acordo com a ordem de prioridade. As setas indicam
as principais movimentações do operador no posto, que podem ser visualizadas na
84
figura 17. As figuras 18, 19-a e 19-b mostram as mesmas observações, porém para o
Turno 2.
FIGURA 13: Fluxograma da atividade no posto de trabalho. Segundo pavimento.
2º ANDAR
carga tratada
Carga que chega - A tratar
Carga que sai – Já tratada
2º ANDAR
carga a tratar
Centro da
bateria –
carga a
tratar
Aguarda
Ao lado da
bateria
DESTINOS
Caixa
cheia?
Caixas vazias
desmontadas
Ordem de
prioridade
IMEDIATA
NÃO
IMEDIATA
Sim
Não – continua a receber carga
Montagem
Caixa
vazia?
Sim
Não
85
1 – Carga a tratar e carga já tratada – manipulação, abertura
2 – Maquinário de movimentação de carga (projeção)
3 – Vias para passagem de paleteiras
4 – Setor de tratamento objeto embaraçoso – Turno 1
5 - Setor de tratamento objeto embaraçoso – Turnos 1 e 2
6 - Setor de tratamento objeto embaraçoso – Turno 2
FIGURA 14 – Planta do segundo pavimento: ocupação e localização dos postos de trabalho. Sem escala.
86
As setas na Figura
15, ao lado, indicam
o movimento básico
de cada operador
durante a triagem
da carga. O
operador retira um
ou mais objetos da
caixa central (1), em
seguida, distribui
nas caixas
separadas por
destino (2), depois
retorna para retirar
mais objetos (3), até
que a caixa do meio
esteja vazia. A caixa vazia é retirada e outra é colocada em seu lugar (carga a triar), pelo próprio
operador.
FIGURAS 15 e 16 Lay-out do posto de trabalho estudado: localização no
pavimento e ampliação. Turno 1. Sem escala.
87
1
2
3
FIGURA 17 – Lay-out do posto de trabalho estudado: Esquema e fotos. Turno 1.
88
Do mesmo modo que para o Turno 1, a movimentação básica do operador
segue as setas indicadas na Figura 18: em 1, pega-se o objeto, em 2,
distribui aos destinos, em 3, retorna para pegar outro objeto.
FIGURAS 18, 19-a e 19-b Lay-out do posto de trabalho estudado:
localização no pavimento e ampliações. Turno 2.
89
As questões da variabilidade e imprevistos durante a atividade foram também
observados, como colar correspondência aberta, detectar e devolver carga que não era
para ser tratada naquele local, identificar erros nas etiquetas e decidir se para tratar
ou se deve ser devolvida ao setor que a etiquetou. A equipe discute e decide em
conjunto o que fazer, utilizando-se de experiências anteriores: se a gente devolve, eles vão
reclamar... é erro deles, lá, mas não vão aceitar de volta; se a gente passar pra frente também vão achar
que a gente não viu isso”. Estas situações demonstram a grande carga cognitiva para as
decisões e ainda a importância das comunicações dentro da equipe, o que era
observado durante o decorrer da atividade.
Durante a análise, foi possível detectar determinados procedimentos que os
trabalhadores necessitam realizar para que sejam sanadas as dificuldades e
variabilidades presentes no cotidiano do posto de trabalho. O procedimento que mais
se destaca é a necessidade de se buscar “material”, logo no início do período de
trabalho. A montagem da bateria de triagem (caixas e containers para a colocação da
carga tratada) é de responsabilidade dos trabalhadores, mas nem sempre a
disponibilidade destes materiais nos locais de costume, sendo que há a necessidade de
se procurar nos mais diversos setores o material necessário, atrasando a montagem e o
início da separação, a qual se aproximadamente uma hora e meia após o início do
turno de trabalho.
Outras observações destacam o cooperativismo entre o grupo, onde quem tem
mais força se antecipa em executar os procedimentos mais pesados, como, por
exemplo, os homens sempre procurarem evitar que as mulheres façam muita força,
mesmo que elas tenham a mesma função no processo. A pequena sobreposição de
horário e de lay-out entre os turnos também é regulada, pois enquanto o Turno 1 vai
fechando a carga e desmontando sua composição, o pessoal do Turno 2 vai buscando
materiais e organizando a carga a ser tratada, por isso um lay-out não atrapalha o
outro.
As questões e variabilidades observadas demonstram a importância do
entendimento do trabalho real, pois refletem diretamente no trabalho e podem impactar
em diversos aspectos para o trabalhador (saúde, bem-estar) e para a empresa
(produtividade, aspectos econômicos).
90
As Tabelas 4 e 5 ilustraram algumas das principais ações de desenvolvimento da
atividade, onde podem ser notadas a complexidade de ões e as principais
movimentações e posturas adotadas.
91
Ação Postura Força
Pega de objetos a serem
triados
O trabalho é realizado em
manuseando os objetos a
serem separados.
Adotam-
se posturas
assimétricas e flexões da
coluna
durante a pega e a
separação.
Os objetos possuem
tamanhos e pesos variados.
Geralmente
são objetos de
pequeno peso, mas grande
quantidade e variabilidade nos
volumes.
Retirada da luva (papelão). Para a
desmontagem da
caixa de papelão
, são
necessárias duas pessoas
,
adotando-
se posturas
assimétricas, em pé.
A caixa possui também base
em plástico rígido, sendo na
maioria das vezes retirada
manualmente, para agilizar o
processo.
Fechamento de caixetas.
A operação com caixetas
envolve: etiquetagem,
disposição de caixetas vazias,
fechamento ( cheias) e
deslocamento.
Flexão da coluna
As caixetas exigem certa força
para serem fechadas.
TABELA 4 – Características da atividade
92
Ação Postura Força
Carregamento de caixeta Em pé, assimétrica.
Envolve força, tanto para o
deslocamento de caixetas
vazias (pega-
se mais de uma de
uma s
ó vez), como de caixetas
cheias.
Separação dos objetos Em pé, deslocando-se
A força nem sempre é solicitada,
mas a qua
ntidade elevada de
objetos faz
o peso ser mais
relevante ao longo do dia.
Separação de objetos Em pé, deslocando-se A presença de
objetos
“amarrados” faz
com que o peso
seja mais significativo.
TABELA 5 – Características da atividade
Considerando-se que o trabalho exige posturas assimétricas, flexões da coluna e
pega de materiais muitas vezes pesados, ou mesmo a repetitividade em se pegar
objetos leves, torna-se necessário atentar para a fadiga e possíveis dores que a
atividade possa trazer. Sendo assim, torna-se importante verificar e confirmar as
influências das posturas adotadas e ações executadas sobre o corpo do trabalhador,
buscando identificar os principais agravantes da atividade e demonstrar a importância
do olhar atento à complexidade das atividades diárias.
Neste sentido, visando obter dados sobre o bem-estar físico dos trabalhadores,
foram aplicados questionários bipolares de fadiga (COUTO, 2006), em 3 momentos da
jornada de trabalho: início, meio e final. São compostos de colunas opostas de estados
de fadiga ou descanso para várias partes do corpo, onde o respondente deve registrar
o que está sentindo no momento em que está respondendo (ver anexo II).
outros métodos de avaliação ergonômica não aplicados nesta dissertação
que consistem em avaliar cada postura adotada no trabalho, como o método RULA
(Rapid Upper Limb Assessment), baseado em análise das posturas através de
observação e classificação das mesmas, considerando as forças exercidas, a
repetitividade e as cargas externas sentidas pelo organismo. Utilizando-se de códigos
para as ações, busca classificar e pontuar as posturas de cada parte do corpo,
indicando as necessidades de alterações (SERRANHEIRA e UVA, 2000). O emprego
de métodos de avaliação de posturas mostra-se muito importante na demonstração das
condições ergonômicas do trabalho, e devem ser aplicados sempre que possível. O
presente trabalho, no entanto, buscou privilegiar as verificações que envolvessem a
impressão e o sentimento dos próprios usuários do local os trabalhadores como
forma de reforçar as discussões realizadas ao longo da pesquisa, sobre a importância
que deve ser dada ao usuário do espaço construído.
Sendo assim, os questionários aplicados revelaram, no Turno 1, a maioria das
respostas totais com ausência de dores e desconfortos. Dentre as respostas de
desconforto total (nota 5), mais da metade (68%) referiam-se a dores nas costas e
membros inferiores (6 primeiros itens da tabela), evidenciando os reflexos da postura
fixa em pé, do esforço físico e da flexão da coluna. No Turno 2 houve a maioria de
94
respostas sem desconfortos e dores no início da jornada (71%), sendo que no meio e
no final da jornada esta incidência se inverte (75% e 69%, respectivamente), indo de
desconforto mediano ao máximo, com distribuição bastante uniforme entre as partes do
corpo.
Além dos desconfortos causados pela própria atividade, foi possível notar,
principalmente nos questionários do Turno 2, um grande incômodo por parte dos
trabalhadores quanto às condições ambientais. Também as conversas informais
revelaram um desconforto quanto às características do ambiente, onde a poeira, o ruído
e as temperaturas elevadas atrapalham o dia-a-dia:
Aqui tem muita poeira, olha a sua roupa, olha sua bolsa...
“É, aqui dentro é muito quente. E olha que lá fora nem está tão quente, pois choveu”.
As características ambientais serão analisadas no item a seguir, através de
recomendações das normas específicas e de medições no local, a fim de verificar as
reais condições existentes.
95
e) Análise do ambiente
A análise ergonômica do trabalho envolve, além de outros aspectos, a análise das
condições ambientais do posto de trabalho, as quais são de grande importância, pois
influenciam o indivíduo, interferindo em seu conforto e bem-estar e nas condições para
a realização das atividades. Isto traz reflexos tanto em sua saúde, trazendo danos
físicos, como em sua produção no trabalho, podendo prejudicar seu desempenho
durante a realização das ações. Conforme destacam Salgado e Porto (2002), as
empresas devem não apenas controlar procedimentos internos, mas também ter a
preocupação com a saúde dos seus trabalhadores. Destacam, ainda, que os projetos
destes espaços deverão garantir que o ambiente de trabalho possa abrigar as
diferentes atividades produtivas, mantendo o bem estar de seus usuários.
Sendo assim, evidencia-se a importância em se atentar aos fatores ambientais,
verificando o atendimento às exigências de parâmetros que garantirão bem estar aos
ocupantes do espaço. Para identificar os dados do local estudado, foram realizadas
medições das condições ambientais de temperatura, ruído e iluminância, através de
aparelhos
20
adequados, seguindo as recomendações de procedimentos colocadas
pelas normas: Norma Regulamentadora NR 17 Ergonomia, NBR 10152 - Níveis de
Ruído para Conforto Acústico e NBR 5413 (Iluminância de Interiores Especificação),
buscando a verificação do atendimento aos requisitos que compõem as condições de
conforto.
Os pontos de realização das medições encontram-se indicados na planta (Figura
21), tendo sido escolhidos nos postos de localização do trabalhador e próximo aos
locais considerados mais críticos. Desta forma, optou-se por realizar em 7 pontos
distintos, a saber: a um metro de distância da fonte sonora (maquinário); a um metro de
distância da janela adjacente ao posto de trabalho, a um metro de distância da janela
da parede oposta e nos pontos de maior permanência no posto de trabalho das duas
equipes. Em todos os pontos foram considerados: a proximidade ao tronco do
20
Aparelhos utilizados (as fotos dos aparelhos encontram-se no ANEXO III):
- Luximetro: Lutron, LX – 102 – Slow, faixa de 0 a 2000 luxes.
- Decibelímetro: Lutron modelo SL – 4001. Calibrado a 94 dB, na banda de 50 a 100Db. Curva A, Slow.
- Termômetro (medidor de stress térmico): The Wibget – IST, RSS – 214.
96
trabalhador para a conferência da temperatura, a altura de seus ouvidos para as
medições de ruído e a altura de leitura dos objetos, em pé. As medições foram
realizadas em quatro horários distintos: no início da manhã, no meio do dia, no meio da
tarde e após o anoitecer, procurando abranger os horários mais críticos para cada
variável medida e a fim de se obter dados para comparação. Com estes critérios, foi
possível obter medições nos 2 turnos, sendo que um dos horários abrange tanto o
Turno 1 quanto o Turno 2. É importante observar que as medições foram feitas durante
o verão e em um dia com o céu parcialmente encoberto e com chuvas. Isto significa que
as medições puderam obter dados críticos (desfavoráveis) tanto para as temperaturas
(verão), como para a iluminação, pois com o u encoberto a luz natural não poderia
fornecer grande contribuição, evidenciando as condições do interior da edificação.
A partir da constatação de que o local de trabalho analisado requer grande
atenção para a triagem e separação dos materiais, a análise será baseada nas
condições ambientais de trabalho colocadas pela Norma Regulamentadora NR 17,
seguindo os parâmetros colocados abaixo:
17.5.2. Nos locais de trabalho onde são executadas atividades que exijam
solicitação intelectual e atenção constantes, tais como: salas de controle,
laboratórios, escritórios, salas de desenvolvimento ou análise de projetos,
dentre outros, são recomendadas as seguintes condições de conforto:
a) níveis de ruído de acordo com o estabelecido na NBR 10152 (Níveis de
Ruído para Conforto Acústico), norma brasileira registrada no INMETRO (tabela
1);
b) índice de temperatura efetiva entre 20ºC (vinte) e 23ºC (vinte e três) graus
centígrados;
c) velocidade do ar não superior a 0,75m/s;
d) umidade relativa do ar não inferior a 40% (quarenta por cento).
Seguindo estes parâmetros, foram realizadas as medições, e em seguida feita a
comparação aos valores colocados como ideais pela Norma Regulamentadora,
permitindo verificar se os pontos analisados estão adequados ou não. Adiante, são
apresentadas as tabelas com as medições realizadas.
97
INCIDÊNCIA
SOLAR
MANHÃ
TARDE
É importante considerar também, no
momento da análise, fatores como a
incidência solar (Figura 20). Na Av.
Presidente Vargas não edificações
vizinhas e, apesar de existirem na Rua
Afonso Cavalcanti, a densidade de
edificações é insuficiente para sombrear a
fachada envidraçada, de manhã e à tarde,
conforme observado no local e esquema
ao lado.
Figura 20 – Fachada Rua Amoroso Lima.
98
1 – A um metro de distância da janela adjacente ao posto de trabalho
2 – A um metro de distância da fonte sonora (maquinário);
3 – a um metro de distância da janela da parede oposta aos postos de trabalho
4, 5, 6 e 7 – Ponto de maior permanência do trabalhador em cada posto de trabalho
Figura 21 – Localização dos pontos de medição.
99
MEDIÇÃO 1 Horário: 8:35h; temperatura externa: b. seco 26,8°C; b. úmido 25,6°C
TEMP. (ºC)
LOCAIS
MONITORADOS
DESCRIÇÃO
RUÍDO
dB (A)
Bulbo
seco
Bulbo
úmido
ILUMINÂNCIA
Lux
PONTO 1
A um metro de distância da
janela
72,5 27 24,3 381
PONTO 2
A um metro de distância da
fonte sonora (maquinário)
73,1 27,4 24,6 219
PONTO 3
A um metro de distância da
janela
73,4 28,4 25,9 395
PONTO 4 No posto de trabalho
21
72,1 27,5 25,5 182
PONTO 5 No posto de trabalho 72,1 27,9 25,5 265
PONTO 6 No posto de trabalho 72,8 27,6 25,1 219
PONTO 7 No posto de trabalho 73,1 27,50 25,2 258
Tabela 6 – medições de ruído, temperatura e iluminância. Data de realização: 27/01/2009.
MEDIÇÃO 2 Horário: 14:00h; temperatura externa: b. seco 31°C; b. úmido 25°C
TEMP. (ºC)
LOCAIS
MONITORADOS
DESCRIÇÃO
RUÍDO
dB (A)
Bulbo
seco
Bulbo
úmido
ILUMINÂNCIA
Lux
PONTO 1
A um metro de distância da
janela
74,8 28 23,8 459
PONTO 2
A um metro de distância da
fonte sonora (maquinário)
74,7 28,2 23,6 209
PONTO 3
A um metro de distância da
janela
76,6 28,4 23,9 1137
PONTO 4 No posto de trabalho 73,7 28,1 23,8 189
PONTO 5 No posto de trabalho 74,9 28,5 24,0 276
PONTO 6 No posto de trabalho 74,8 28,2 24,0 227
PONTO 7 No posto de trabalho 74,5 28,5 23,6 260
Tabela 7 – medições de ruído, temperatura e iluminância.
21
A indicação No posto de trabalho” refere-se, nas quatro tabelas apresentadas, à realização da medição no
ponto de maior permanência do trabalhador em cada posto de trabalho: verificação da iluminância - a
aproximadamente 110cm do piso (altura para leitura em pé, como ocorre nesta atividade); próximo ao ouvido do
trabalhador, para verificação de ruído e junto ao tronco do trabalhador, para a verificação das variáveis de
temperatura.
100
MEDIÇÃO 3 Horário: 16:35h; temperatura externa: b. seco 24,7°C; b. úmido 28,50°C
TEMP. (ºC)
LOCAIS
MONITORADOS
DESCRIÇÃO
RUÍDO
dB (A)
Bulbo
seco
Bulbo
úmido
ILUMINÂNCIA
Lux
PONTO 1
A um metro de distância da
janela
72,0 28,4 25,5 399
PONTO 2
A um metro de distância da
fonte sonora (maquinário)
74,8 28,4 25,5 212
PONTO 3
A um metro de distância da
janela
75 28,6 25,4 793
PONTO 4 No posto de trabalho 74,8 28,6 25,4 201
PONTO 5 No posto de trabalho 76,3 28,5 25,5 269
PONTO 6 No posto de trabalho 75,0 28,5 25,4 179
PONTO 7 No posto de trabalho 74,0 28,4 25 232
Tabela 8 – medições de ruído, temperatura e iluminância.
MEDIÇÃO 4 Horário: 19:35h; temperatura externa: b. seco 24,7°C; b. úmido 28,50°C
TEMP. (ºC)
LOCAIS
MONITORADOS
DESCRIÇÃO
RUÍDO
dB (A)
Bulbo
seco
Bulbo
úmido
ILUMINÂNCIA
Lux
PONTO 1
A um metro de distância da
janela
76,2 27,3 25,4 90
PONTO 2
A um metro de distância da
fonte sonora (maquinário)
77 27,8 25,5 232
PONTO 3
A um metro de distância da
janela
75 27,2 25,5 41
PONTO 4 No posto de trabalho 75 27,5 25,5 180
PONTO 5 No posto de trabalho 77,7 27,7 25,6 238
PONTO 6 No posto de trabalho 77,9 27,7 25,6 130
PONTO 7 No posto de trabalho 75,2 27,1 25,5 143
Tabela 9 – medições de ruído, temperatura e iluminância.
A análise realizada identificou que os pontos monitorados apresentam índices fora
do nível de conforto, de acordo com a NR 17, NBR 10152 (Níveis de Ruído para
Conforto Acústico), e NBR 5413 (Iluminância de Interiores Especificação). O nível de
ruído para efeito de conforto deve estar abaixo de 65 dB (A), mas os valores
101
encontrados variam de 72,0 dB (A) a 77,9 dB (A). De acordo com a NR 15, também
relacionada ao ruído, limites máximos de exposição a ruídos, sendo que a 85 dB (A)
pode-se ficar exposto por até 8 horas, sem prejuízo da saúde, e este é o valor
considerado na maioria das avaliações dos postos de trabalho. No entanto, o máximo
de 65 dB(A) é considerado de conforto, ou seja, é o que deverá ser considerado para
não causar incômodos ao trabalhador.
Pelo ábaco para o cálculo da temperatura efetiva, foi possível verificar que os
pontos medidos encontram-se fora da zona de conforto, considerando a velocidade do
ar interno (alguns ventiladores) estimada em 4,97 Km/hora (ou 1,38m/s)
22
. A atividade
dinâmica realizada também contribui para que as temperaturas encontradas no local se
distanciem das temperaturas de conforto, já que a atividade realizada é dinâmica,
aumentando o metabolismo corporal e conseqüentemente a necessidade de trocas de
calor com o ambiente (FROTA e SCHIFFER, 2003).
FIGURA 22 -Ábaco para determinação da temperatura efetiva.
FONTE: NR 17
22
A determinação da velocidade do vento foi estimada utilizando-se a escala de Beaufort. Disponível em:
https://www.mar.mil.br/dhn/chm/meteo/refer/escala_beaufort.htm, Acesso em 28/11/2008.
MEDIÇÕES REALIZADAS
ZONA DE CONFORTO
102
Quanto à iluminação, os pontos mostraram-se com iluminância abaixo do
recomendado de 500 luxes. Os únicos locais que atingiram e ultrapassaram este índice
foram os pontos próximos às janelas, enquanto havia luz natural no exterior, entrando
no recinto através dos vidros. Além da necessidade de garantir a iluminação mínima
adequada ao trabalho executado, é importante garantir o conforto visual aos
trabalhadores. De acordo com Salgado e Porto (2002), é necessário observar a
disposição dos indivíduos e das fontes luminosas, naturais ou artificiais, evitando-se o
ofuscamento, o que pode causar desconforto psico e fisiológico aos trabalhadores,
concentrados em seus afazeres. No caso estudado, foi possível identificar o
ofuscamento provocado por diferenças significativas entre iluminâncias no ambiente de
trabalho. A tabela apresentada mostra iluminância alta no ponto 3 próximo à janela,
contrastando com a baixa iluminação nos postos de trabalho, nos horários de maior
incidência da luz natural.
103
4.2 – Resultados, formulação de diagnósticos e recomendações
Os critérios ergonômicos, aliados à relação espacial da atividade dentro do prédio,
possibilitam uma análise que considera a relação entre a atividade, o ser humano e a
arquitetura. Desta forma, este item apresenta os resultados alcançados através da
revisão teórica realizada durante a pesquisa, aliada à metodologia apresentada.
A Análise Ergonômica do Trabalho permitiu verificar, num primeiro momento, a
diferença existente entre a tarefa (prescrito) e a atividade (real) dentro de um setor da
unidade de correios. A junção desta análise com as características do edifício
permitiram mostrar a importância em se atentar para a atividade e todas as suas
variáveis e condicionantes, considerando a própria edificação como sendo uma delas.
Dentre as análises realizadas no posto de trabalho, foi possível detectar a
influência dos fatores espaciais e ambientais, além de fatores organizacionais,
variabilidades e imprevistos, todos influenciando no desenvolvimento das atividades e
no bem estar do trabalhador. A análise de fatores ambientais demonstrou valores que
não atendem às normas vigentes, fato confirmado pelas sensações dos próprios
trabalhadores. Estes fatores interferem negativamente em suas atividades, à medida
que a fadiga pode ser acentuada por sensações ambientais desfavoráveis.
O ambiente construído apresentou grande influência no ambiente de trabalho e
grande parte disto relaciona-se ao conforto ambiental. Conforme pôde ser observado
nas respostas aos questionários, os trabalhadores do Turno 2 deixaram evidente o
desconforto do ambiente de trabalho. Embora o Turno 1 tenha revelado
descontentamentos neste sentido durante conversas ao longo da atividade, o Turno 2
apresentou isto de forma contundente, não apenas comentando, mas registrando
claramente quais eram os incômodos, conforme pôde ser visto nos questionários:
poeira, ruído, “calor”.
Confrontando estes resultados com os dados das medições, é possível identificar,
no Turno 2, as maiores temperaturas no início da atividade, além de maiores índices
de ruído. Outro agravante ao Turno 2 é a falta de contribuição da luz natural no posto
de trabalho, em grande parte do tempo. A última medição foi feita após o pôr-do-sol,
104
evidenciando a baixa iluminância fornecida pelas luminárias do local, as quais estão
localizadas junto à laje, acima do maquinário existente.
Foi possível observar, ainda, que o aumento significativo do ruído no segundo
turno deve-se ao funcionamento de um trecho da quina de transporte de carga, a
qual não fica ligada o tempo todo no Turno 1, mas tem seu funcionamento intenso
durante o Turno 2. É possível identificar, ainda, que a grande fonte de ruído é interna ao
edifício (maquinário existente), pois as medições mostram-se pouco variáveis perto ou
longe da janela e também após diminuir o movimento de veículos transitando nas ruas
adjacentes.
A edificação apresenta papel importante no que diz respeito ao suporte da
atividade, já que o funcionamento da unidade como um todo depende de características
físicas da edificação, as quais determinam fatores como transporte vertical e horizontal,
espaços para cargas e para movimentação humana, e ainda interferem nas condições
ambientais nos postos de trabalho, que grande parte do desconforto ambiental
advém de fatores relacionados às características da edificação. No Capítulo 2 foi
possível verificar as mudanças ocorridas no sistema de funcionamento da empresa e o
quanto sua atividade interfere no espaço, através da movimentação e estoque de
cargas, da circulação entre pedestres e paleteiras, das interferências entre máquinas,
instalações e o homem.
A partir destas colocações é possível identificar a proximidade entre fatores
ambientais, físicos (edificação) e da atividade, os quais influenciam-se mutuamente, e
determinam a satisfação dos trabalhadores e o funcionamento do sistema. Os grandes
espaços concebidos recebem grandes máquinas e também os trabalhadores, onde
qualquer modificação deve levar em consideração o bem estar humano, sem que o
sistema perca o seu objetivo, mas sempre privilegiando soluções favoráveis ao homem.
A observação atenta mostrará os níveis de satisfação do usuário dentro do ambiente
construído, possibilitando acompanhar e interferir sempre que necessário, promovendo
melhorias. Quanto ao projeto original do edifício, pode-se inferir que este não
considerou de maneira efetiva as questões relativas ao conforto ambiental, conforme
demonstrado na análise realizada. Inicialmente projetado para conter condicionamento
de ar, e atualmente sem contar com tal equipamento, o edifício apresenta-se fora dos
105
níveis esperados para que se proporcione conforto aos usuários. Os usuários sentem o
desconforto térmico e percebem as necessidades de melhorias no ambiente de
trabalho.
As diferenças entre tarefa e atividade mostraram as situações reais do dia-a-dia,
onde regulação
23
e o esforço da equipe permitem que as atividades sejam realizadas.
Os fatores organizacionais também afetam a atividade de modo que, apesar da
regulação das equipes, ocorrem atrasos no início da atividade e causam o desconforto
dos trabalhadores, uma vez que a produtividade deve ser mantida constante. As
inúmeras variáveis reveladas demonstram a complexidade do entendimento da
situação real que envolve o processo produtivo, e quanto mais se aproxima de um
posto de trabalho, mais detalhes podem ser notados.
A partir destas considerações e constatações, é possível se colocar um
diagnóstico e propor algumas melhorias, que irão adentrar aspectos físicos da
edificação, aspectos de projeto e aspectos organizacionais.
Algumas sugestões de mudanças podem ser colocadas aqui, como forma de
proporcionar melhorias ao ambiente construído, refletindo em maior satisfação do
usuário e interferindo de maneira positiva no desenvolvimento de sua atividade. O
ambiente poderia sofrer uma reformulação de lay-out, no sentido de aproximar os
materiais necessários às montagens das composições no início de cada turno. Propõe-
se, também, um sistema de iluminação mais eficiente, de maneira a garantir os índices
recomendados, podendo ser feito um rebaixamento da infra-estrutura de suporte da
iluminação, evitando, deste modo, qualquer interferência do maquinário existente na
iluminância do local, além da utilização de cores claras nos acabamentos do ambiente,
proporcionando mais eficiência à iluminação. Também poderão ser previstos
dispositivos para diminuição do ganho da carga térmica, como brises externos, por
exemplo, uma vez que o edifício possui fachada envidraçada com grande incidência
solar, atingindo principalmente este posto de trabalho. Um sistema eficaz de ventilação
também poderia ser implantado, melhorando a sensação térmica no local. Com relação
aos ruídos, propõe-se a aplicação de materiais que absorvem o som, próximas ao
23
De acordo com GUÉRIN, et al (2002), o trabalhador regula suas ações para obter os resultados desejados,
mesmo em condições desfavoráveis à sua saúde ou segurança.
106
maquinário, como alternativa aos protetores auriculares, devido ao nível de ruído não
ser prejudicial, mas causar desconforto. Todas estas sugestões devem ser
oportunamente estudadas e calculadas, a fim de se planejar e especificar corretamente
os procedimentos e materiais a serem utilizados.
Para os futuros projetos arquitetônicos, é importante e imprescindível a inserção
da Análise Ergonômica ao processo de projeto no momento de sua concepção, para
garantir que o projeto possa considerar os aspectos da atividade em sua realidade. Isto
poderá ser obtido tanto nos ambientes existentes, como através de análises realizadas
em ambientes semelhantes, onde a experiência e compreensão contribuirão cada vez
mais para o ato projetual.
A contar pela atividade em si, devem-se propor pausas para descanso, aliviando a
posição fixa (em pé) e, a um nível mais complexo, tentar padronizar os objetos, de
modo que não possam ser amarrados para que não ultrapassem determinado peso. As
mudanças propostas para o ambiente construído deverão contar, ainda, com o apoio
organizacional, propiciando a aquisição de maior quantidade de material, ou ainda a
designação de postos de trabalho que possam colaborar na montagem das baterias,
poupando os trabalhadores da triagem desta preocupação.
Toda esta reflexão coloca, ainda, a Análise Ergonômica como forma de
aprendizado para o projetista de arquitetura, onde o conhecimento das atividades
dentro da edificação poderá colaborar como referência para projetos futuros.
107
CONCLUSÕES E PROPOSTAS
O presente trabalho apresentou a reflexão sobre a prática da ergonomia e as
possibilidades de sua contribuição ao projeto de arquitetura, evidenciando
principalmente a importância em se atentar ao espaço construído enquanto suporte
humano para atividades diversas, as quais precisam ser vistas e compreendidas, em
suas diversidades e particularidades, sendo imprescindível o seu alcance nos projetos
de arquitetura.
Os caminhos até agora traçados pela pesquisa permitiram compreender e
evidenciar a importância da busca pela melhoria do processo de projeto como
possibilidade de alcançar, no ambiente construído, os objetivos propostos no projeto,
envolvendo as condições ideais almejadas na fase de concepção.
A revisão teórica sobre Processo de Projeto de arquitetura apresentada no
Capítulo 1 permitiu verificar o emprego de metodologias e estudos para o incremento
do processo de projeto, os quais evidenciaram alguns pontos em comum, dentre os
quais é possível destacar a ocorrência de problemas durante a fase de concepção e
também durante a fase de utilização, o que pode comprometer todo o resultado
idealizado em projeto, com conseqüências para as atividades e para os seres humanos
ali instalados.
Dentre os pontos destacados, podem ser citados: concepção baseada em
experiências já afastadas da realidade atual; necessidade de detecção de exigências
ainda não atendidas mesmo após a entrega da obra; a necessidade de
retroalimentação para o subsídio a novas concepções e a necessidade de que as
exigências dos usuários e das atividades estejam atualizadas, dadas as mudanças que
acontecem ao longo dos anos.
Ao mesmo tempo, a importância da Ergonomia pôde ser evidenciada através do
conhecimento da metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho AET a qual
mostra-se como forte ferramenta de análise, principalmente pelo modo como engloba o
usuário e as condições em que este desenvolve suas atividades, considerando-se os
planos físicos, cognitivos e organizacionais. Isto mostra sua abrangência na detecção e
análise de todas as variáveis que levarão à compreensão das necessidades e
108
atividades humanas a serem realizadas em determinado espaço, colocando a
possibilidade de inserção da AET como ferramenta de detecção das situações a serem
consideradas em projeto de arquitetura. A proposta desta metodologia é analisar a
atividade em situação real e por isso sua importância é destacada como método que
possibilitará interpretações o mais fiéis possível daquilo que deverá ser atendido, de
fato, pelo projeto de arquitetura.
A ênfase colocada à AET é justamente por ser uma análise da situação real, visto
que somente este tipo de abordagem permiti compreender e visualizar as
complexidades e variabilidades existentes, as variações nas necessidades do usuário e
dos sistemas a ele relacionados, mantendo as informações atualizadas para a
concepção dos projetos. Ao permitir a compreensão das atividades humanas e as
relações com aquilo que as rodeia, é possível também estender a aplicação da AET
como forma de verificação se os objetivos de projeto foram alcançados, no ambiente
construído e em utilização.
Por isso, é importante considerar, ainda, que a concepção de projetos não é
puramente a criação de novas edificações. Toda vez que se realiza uma reforma ou
reformulação que modifique o ambiente considerado, também uma criação, que
necessita de subsídios advindos de conhecimentos adquiridos e de análises que
forneçam informações a respeito do que será realizado naquele local. Daí depreende-
se, também, a importância em se retornar ao projeto edificado e verificar seu alcance
às exigências de utilização, possibilitando sua reformulação, conforme pôde ser
experimentado no estudo de caso apresentado.
Para este aspecto colocado a respeito da reformulação do ambiente, destacam-se
as transformações ocorridas ao longo do tempo e chamam a atenção para que haja
uma análise e compreensão da mudança nas atividades e necessidades geradas. Por
isso, é necessário que o ambiente construído seja avaliado, não apenas como forma de
confirmação de que o projeto atendeu o que era esperado, mas sim como forma de
atualizar e revalidar as necessidades surgidas. Para isto, podem ser propostas
avaliações e reavaliações periódicas, ou pelo menos sempre que houver qualquer tipo
de mudança ou modernização no sistema como um todo. Estas avaliações devem levar
em consideração, principalmente, o usuário, em conjunto com as observações
109
detalhadas de todos os acontecimentos. Isto poderá ser obtido com o auxílio da AET,
sendo que as informações obtidas poderão, ainda, alimentar e enriquecer concepções
de novos projetos, através da comparação entre situações semelhantes.
A comprovação desta necessidade pela melhoria nos processos de projeto trouxe
a reflexão acerca das possibilidades e maneiras de obtenção destes incrementos, e
como isto pode ser obtido através da aplicação da metodologia da AET. Para isto, foi
necessário detectar os momentos do processo onde possíveis contribuições poderiam
ser colocadas e a maneira como isto poderia ser realizado.
Desta forma, é possível obter um cruzamento de informações que tragam
possibilidades para a melhoria dos resultados de projeto. Através da análise dos
diferentes modelos de interferências no processo de projeto e do enfoque da
Ergonomia como indispensável na abordagem dos espaços, é possível identificar
pontos de contribuição a serem propostos pelo presente trabalho. Estes pontos
inserem-se no fluxo de desenvolvimento do projeto, como forma de completar e
enriquecer as carências detectadas ao longo do estudo. A partir destas considerações,
com base no cruzamento dos dados coletados através da pesquisa de campo, e no
estudo realizado sobre processo de projeto e análise ergonômica do trabalho, é
possível apresentar uma proposta para o fluxograma de processo de projeto
incorporando os princípios analisados.
110
FIGURA 23 – Proposta de fluxo geral das fases do projeto.
FALTA DE
REFERÊNCIAS
PLANEJAMENTO
CONCEPÇÃO
DESENVOLVIMENTO
DO PROJETO
ENTREGA DO
PROJETO
REFERÊNCIAS
CONCRETAS
PLANEJAMENTO
REFERÊNCIAS
CONCRETAS
PLANEJAMENTO
INÍCIO DO
PROCESSO
PROJETO “AS
BUILT”
SOMA DE
REFERÊNCIAS
INÍCIO DO
PROCESSO
ACOMPANHAMENTO
TÉCNICO
APO
CONCEPÇÃO
DESENVOLVIMENTO
DO PROJETO
ENTREGA DO
PROJETO
PROJETO “AS
BUILT”
ACOMPANHAMENTO
TÉCNICO
APO
CONCEPÇÃO
DESENVOLVIMENTO
DO PROJETO
ENTREGA DO
PROJETO
PROJETO “AS
BUILT”
ACOMPANHAMENTO
TÉCNICO
APO
INÍCIO DO
PROCESSO
UTILIZAÇÃO UTILIZAÇÃO
UTILIZAÇÃO
AET
AET
AET
AET
AET
AET
AET
AET
AET
AET
AET
AET
AET AET
AET
111
O fluxograma proposto coloca a importância da realização da AET em vários
momentos do fluxo do processo de projeto, principalmente como forma de
enriquecimento dos métodos de concepção do projetista, de modo que seja possível
atualizar e aprofundar seus conhecimentos a respeito do ambiente a ser projetado, em
toda a sua complexidade. Destaca-se a possibilidade de sua realização ao longo da
vida útil da edificação, ou seja, após o término do projeto, como forma de conhecer as
mudanças e transformações que possam ocorrer, mantendo atualizados os
conhecimentos sobre as necessidades humanas e da atividade.
Portanto, é imprescindível destacar a possibilidade de se permear todo o processo
com a realização da AET, de forma que haja a possibilidade de se compreender, a
qualquer tempo, problemas e dificuldades para o alcance dos objetivos relativos ao
ambiente construído e seus reflexos sobre o ser humano. Defende-se, também, que o
verdadeiro início do processo de um projeto encontra-se no final de projetos similares
anteriormente avaliados pela Análise Ergonômica, onde os resultados trarão as
informações necessárias para a alimentação das soluções, durante a fase de
concepção. O acúmulo de referências propiciará a melhoria crescente da qualidade do
projeto, aproximando-se cada vez mais da satisfação às necessidades do usuário.
Apesar dos esforços e da utilização de todas as ferramentas que estiveram ao
alcance da pesquisa, destacam-se as limitações deste estudo, as quais deram-se, em
alguns momentos, principalmente com a necessidade de um aprofundamento nas
análises de conforto ambiental, bem como nas sugestões de mudanças neste sentido,
por não terem sido o foco principal desta dissertação. Outras sugestões consistem na
continuidade da aplicação da AET em todos os postos de trabalho da empresa
estudada, como forma de detectar necessidades e problemas em cada um, abrangendo
também edificações diferentes.
Os desdobramentos deste trabalho, em médio prazo, são as possibilidades reais
das mudanças virem a acontecer no edifício, assim como o incremento para projetos
futuros, pelo motivo da pesquisadora ser parte integrante do corpo técnico da Gerência
de Engenharia dos Correios do Rio de Janeiro.
112
No plano teórico, poderia ser desenvolvida uma metodologia com base na AET, a
qual pudesse obter índices de avaliação da qualidade de um ambiente construído, de
acordo com as os critérios Ergonômicos.
113
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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VIDAL, Mário sar Rodrigues. Arquitetura de locais de trabalho: aspectos
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VIDAL, M.C.R. Guia para Análise Ergonômica do Trabalho (AET) na Empresa.Evc, Rio
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VIDAL, M.C.R. Ergonomia na Empresa: útil, prática e aplicada. Coleção Trabalho, Rio
de Janeiro, 2002.
VIDAL, M.C.R. Guia para Análise Ergonômica do Trabalho (AET) na Empresa. Evc, Rio
de Janeiro, 2003.
VIEIRA, Jair Lot (supervisão editorial). Manual de Ergonomia: manual de aplicação da
Norma Regulamentadora n°17.1 Ed.EDIPRO, Bauru-SP, 2007.
VILLAROUCO, V. Avaliação Ergonômica do projeto arquitetônico. XII ABERGO, Recife
– PE, 2002.
118
ANEXO I
PROARQ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO - CLA - UFRJ
QUESTIONÁRIO CARACTERIZAÇÃO DA EQUIPE
Este questionário faz parte do trabalho de pós-graduação intitulado: Aplicação da Análise
Ergonômica do Trabalho no desenvolvimento de projetos arquitetônicos: estudo de caso na
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Dessa forma, peço que responda às questões
abaixo com a maior sinceridade possível.
Agradeço sua participação!
Nome: Função:
Horário de Trabalho: Idade:
Há quanto tempo está na empresa?
Quais são os pontos positivos que você destacaria em relação ao local de trabalho?
Quais são os pontos negativos que você destacaria em relação ao local de trabalho?
Gostaria de acrescentar mais alguma informação?
119
ANEXO II
PROARQ
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO - CLA - UFRJ
QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO
INÍCIO DA JORNADA DE TRABALHO
Nome: Horário:
Essa pesquisa está estruturada na forma de duas afirmativas que indicam situações extremas. Entre as
duas afirmativas existe uma escala com 5 graduações. A escolha da nota 1 significa que a afirmativa da
esquerda reflete totalmente o que você essentindo nesse momento. A opção pela nota 5 significa que
a afirmativa da direita reflete o que você está sentindo nesse momento. As notas 2, 3 e 4 correspondem a
situações intermediárias. O questionário deve ser preenchido assinalando-se, com um X, a nota que seja
considerada mais próxima da realidade.
Como você está se sentindo agora?
1
2
3
4
5
Descansado Cansado
Boa concentração Dificuldade de concentração
Calmo Nervoso/estressado
Produtividade normal Produtividade comprometida
Visão descansada Cansaço visual
Ausência de dor nos músculos, pescoço e
ombros
Dor nos músculos, pescoço e
ombros
Ausência de dor nas costas Dor nas costas
Ausência de dor na região lombar Dor na região lombar
Ausência de dor nas pernas Dor nas pernas
Ausência de dor nos pés Dor nos pés
Ausência de dor de cabeça Dor de cabeça
Ausência de dor nos braços e pulsos e
mão do lado direito
Dor nos braços e pulsos e mão do
lado direito
Ausência de dor nos braços e pulsos e
mão do lado esquerdo
Dor nos braços e pulsos e mão do
lado esquerdo
Gostaria de acrescentar alguma informação?
Autor: Hudson Couto – Versão: Agosto de 2006 Colaborador: Dr. Edivaldo Sanábio Disponível em
http://www.ergoltda.com.br/checklist/index.html
120
PROARQ
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO - CLA - UFRJ
QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO
MEIO DA JORNADA DE TRABALHO
Nome: Horário:
Essa pesquisa está estruturada na forma de duas afirmativas que indicam situações extremas. Entre as
duas afirmativas existe uma escala com 5 graduações. A escolha da nota 1 significa que a afirmativa da
esquerda reflete totalmente o que você essentindo nesse momento. A opção pela nota 5 significa que
a afirmativa da direita reflete o que você está sentindo nesse momento. As notas 2, 3 e 4 correspondem a
situações intermediárias. O questionário deve ser preenchido assinalando-se, com um X, a nota que seja
considerada mais próxima da realidade.
Como você está se sentindo agora?
1
2
3
4
5
Ausência de dor nos músculos, pescoço e
ombros
Dor nos músculos, pescoço e
ombros
Ausência de dor nas costas Dor nas costas
Ausência de dor na região lombar Dor na região lombar
Ausência de dor nas pernas Dor nas pernas
Ausência de dor nos pés Dor nos pés
Descansado Cansado
Boa concentração Dificuldade de concentração
Calmo Nervoso/estressado
Produtividade normal Produtividade comprometida
Visão descansada Cansaço visual
Ausência de dor de cabeça Dor de cabeça
Ausência de dor nos braços e pulsos e
mão do lado direito
Dor nos braços e pulsos e mão do
lado direito
Ausência de dor nos braços e pulsos e
mão do lado esquerdo
Dor nos braços e pulsos e mão do
lado esquerdo
Gostaria de acrescentar alguma informação?
Autor: Hudson Couto – Versão: Agosto de 2006 Colaborador: Dr. Edivaldo Sanábio Disponível em
http://www.ergoltda.com.br/checklist/index.html
121
PROARQ
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO - CLA - UFRJ
QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO
FINAL DA JORNADA DE TRABALHO
Nome: Horário:
Essa pesquisa está estruturada na forma de duas afirmativas que indicam situações extremas. Entre as
duas afirmativas existe uma escala com 5 graduações. A escolha da nota 1 significa que a afirmativa da
esquerda reflete totalmente o que você essentindo nesse momento. A opção pela nota 5 significa que
a afirmativa da direita reflete o que você está sentindo nesse momento. As notas 2, 3 e 4 correspondem a
situações intermediárias. O questionário deve ser preenchido assinalando-se, com um X, a nota que seja
considerada mais próxima da realidade.
Como você está se sentindo agora?
1
2
3
4
5
Ausência de dor nos músculos, pescoço
e ombros
Dor nos músculos, pescoço e
ombros
Ausência de dor nas costas Dor nas costas
Ausência de dor na região lombar Dor na região lombar
Ausência de dor nas pernas Dor nas pernas
Ausência de dor nos pés Dor nos pés
Descansado Cansado
Boa concentração Dificuldade de concentração
Calmo Nervoso/estressado
Produtividade normal Produtividade comprometida
Visão descansada Cansaço visual
Ausência de dor de cabeça Dor de cabeça
Ausência de dor nos braços e pulsos e
mão do lado direito
Dor nos braços e pulsos e mão do
lado direito
Ausência de dor nos braços e pulsos e
mão do lado esquerdo
Dor nos braços e pulsos e mão do
lado esquerdo
Gostaria de acrescentar alguma informação?
Autor: Hudson Couto – Versão: Agosto de 2006 Colaborador: Dr. Edivaldo Sanábio Disponível em
http://www.ergoltda.com.br/checklist/index.html
122
ANEXO III
FOTOS DOS APARELHOS DE MEDIÇÃO UTILIZADOS
Luximetro: Lutron, LX – 102
Slow, faixa de 0 a 2000 luxes.
Decibelímetro: Lutron modelo SL –
4001. Calibrado a 94 dB, na banda
de 50 a 100Db. Curva A, Slow.
Termômetro (medidor de stress
térmico): The Wibget – IST, RSS – 214.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
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