Na primazia, arremete. Dizei-me, ó vós, Musas,
Olímpicas, aquele que primeiro vem
- Troiano ou seu aliado – enfrentar Agamêmnon!
(HOMERO, Ilíada, XI, 217-219)
Ó Musas, que habitai a morada do Olimpo,
Dizei-me quem, primeiro entre os Aqueus, colheu
Troféus sanguinolentos, depois que o deus Terra-
-tremente transtornou a luta.
(HOMERO, Ilíada, XIV, 508-511)
Dizei-me, agora, Musas, da morada olímpica,
Como o primeiro fogo ateou-se às naus aquéias.
Héctor, vibrando a megaespada, avizinhou-se
(HOMERO, Ilíada, XVI, 112-114)
Assim como os versos de invocações iniciais, há exemplos de catálogos em que o aedo
não reclama a inspiração das Musas
. Contudo, os catálogos em que a presença das Musas é
requisitada existem em maior número e são mais extensos que aqueles em que não são invocadas,
mostrando a predileção por este tipo de conduta. Além de tudo isso, pensando na pragmática do
discurso, percebemos que estas invocações funcionavam como uma excelente “pausa” na
narrativa, possibilitando ao aedo refletir sobre os conteúdos que iria enunciar sem comprometer a
continuidade da récita.
Em uma escala mais reduzida, Apolo foi outra divindade cuja associação com o universo do
canto se tornou bastante evidente. Apesar de serem mais escassas as recorrências, ao filho de
Zeus e Leto também era creditada a força numinosa que criava nos homens a propensão para a
atividade poética. O épico Margites, que Aristóteles atribui a Homero (ARISTÓTELES, Poética,
IV, 7), tem sua real autoria bastante duvidosa a despeito do testemunho do filósofo de Estagira.
De todo modo, versos fragmentários que conhecemos pelo gramático Atilio Fortunaciano,
“Qual o primeiro, qual o último, das armas despido pelo Priâmeo Héctor, pelo brônzeo Ares?” (HOMERO, Ilíada,
V, 703-705); “E qual, entre os Troianos, primeiro, Teucro, guerreiro imáculo, feriu de morte?” (HOMERO, Ilíada,
VIII, 274-275); “Quem primeiro, quem por último tombou sob Héctor Priâmeo, glória que Zeis lhe deu?”
(HOMERO, Ilíada, IX, 299-301); “Quem mataste primeiro, quem por derradeiro, quando os deuses à morte
chamava-te, Pátroclo?” (HOMERO, Ilíada, XVI, 691-693).