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No que se refere aos estudos de linguagens, o pesquisador tem assumido a responsabilidade
de ultrapassar a observação de redes de relações internas, que se estabelecem entre
conjuntos de elementos lingüísticos, e se voltado para o estudo das chamadas práticas
sociodiscursivas
1
. Nessas, a noção de contexto
2
não se restringe ao delineamento de
espaços ou circunstâncias de ordem material, mas diz respeito às características
organizacionais, ao controle das interações discursivas, e aos aspectos interdiscursivos,
ideológicos e socioculturais, que apontam para as finalidades e estratégias comuns aos
processos sociocognitvos de produção para interação. Nessa perspectiva, os sujeitos são
percebidos não só como falantes, locutores ou interlocutores, mas como atores ou agentes
3
que são influenciados e, ao mesmo tempo, capazes de exercer influência, através da
evocação e articulação, de acordo com a situação em que estiverem inseridos, de papéis
sociodiscursivos distintos.
Com trabalhos que atendem a essa perspectiva, a Análise do Discurso Crítica (ADC) e a
Semiótica Social têm, de forma bem-sucedida, composto diálogos e interfaces com outras
áreas de conhecimento e se aproximado de campos consolidados como a Sociologia, a
Antropologia e as Ciências Políticas
4
. Nesta pesquisa, por exemplo, recorremos aos estudos
antropológicos para a observação de gênero, identidades sociais, da representação dita
étnica ou racial, em reportagens selecionadas da revista Plástica e beleza da editora United
Magazines, periódico inserido há 10 anos no mercado brasileiro e especializado em estética
corporal feminina.
O que propomos é, a partir do estudo da sentença, perceber como o suporte midiático em
questão traduz representações assumidas como raciais ou étnicas, e se tais representações
sugerem hierarquização de identidades em discurso de temática estético-corporal, destinado
às mulheres, o qual levanta e associa beleza física em questões relacionadas à raça e à auto-
1
Noção básica da ADC, inserida na TDS de Fairclough (1992, p.90), que visa delimitar o discurso, além do
plano lingüístico, como “prática que contribui para a constituição das diferentes dimensões de estrutura
social”.
2
Noção que, segundo Fairclough (2001, p.37) corresponde situações, instituições, circunstâncias societais e
culturas que envolvem os falantes no ato da produção do discurso.
3
Fairclough (2003a, p. 223) e outros analistas do discurso observam o sujeito como ator ou agente social –
que influenciam e são influenciados. Estes traduzem maneiras de ser, representações e identidades individuais
ou coletivas.
4
No Brasil, ressaltamos os núcleos de estudo da ADC dos professores Débora Figueiredo e Caldas-Coulthard
da UNISUL; Izabel Magalhães da UNB; Luiz Moita Lopes da UFRJ; Sônia Pimenta da UFMG e Viviane
Heberle da UFSC; os quais investigam o discurso e questões relacionadas ao gênero, à violência, à raça e etc.