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Ele veio pelo simples fato, ele não gostava muito, ele não acreditava muito aqui no
Cariri, era um lugar seco, mas o sogro dele tinha vindo, morava aqui e ele veio visitar
o sogro, quando chegou aqui gostou da cidade, conversou com o padre Cícero, achou
ele muito bacana, muito bom, aí o padre Cícero convidou ele: “meu amiguinho vem
embora pr'aqui, pra esse Juazeiro”, e o meu pai chegando lá o terreno dela é vizinho o
terreno do doutor Butt (sic), ele vendeu a propriedade de porteira fechada, deu por
setecentos mil réis, porteira fechada. O senhor entende o que é porteira fechada? É o
seguinte, o senhor chega aqui aí diz: “eu quero vender essa casa de portas fechada?” aí
eu digo: “vendo”. “Por quanto dá?” “Por tanto.” “Então retira o povo, só sai as
pessoas, o resto, tudo que se tem aqui.” Então naquele tempo se vendia propriedade de
porteira fechada com gado, com animal, tudo quanto tivesse, porteira fechada
significava isto, ninguém retirava nada, o senhor chegou aqui comprou um terreno de
porteira fechada, eu só fazia lhe entregar os objetos todinho, mostrar o que era, aí me
retirava, o senhor compra numa tabolada (sic); então ele vendeu tudo de porteira
fechada por setecentos mil réis, era muito dinheiro, chegando aqui em Juazeiro foi
para a rua Santa Luzia, casa número 40, ele foi morar lá, comprou uma casinha, parece
que por quarenta mil réis, gastou os duzentos mil réis, quando o dinheiro acabou-se
ele levou uma nota de quinhentos mil réis, a nota de quinhentos mil réis era
aproximadamente isso [dobra um papel mostrando o tamanho da nota], pra o padre
Cícero trocar, chegou lá disse: “meu padrinho, eu queria que o senhor me trocasse
quinhentos mil réis que o dinheiro acabou-se”. Ele disse: “onde você achou esse
dinheiro?” Ele disse: “foi eu que vendi minha propriedade ao doutor Butt, está aqui os
recibos...” Ele dava uns documentos e ficava com outros que era pra provar o dinheiro
de aonde vinha, aí padre Cícero olhou e disse: “eu num tenho esse dinheiro mas você
vá ao coronel Farnando...”, coronel Farnando era ali vizinho onde é a casa de capitão
Adauto, hoje da mãe do capitão Adauto, onde tão destruindo, ali era a casa de coronel
Farnando; chegou lá disse: “vá onde está o coronel Farnando diga a ele que eu mandei
dizer que ele trocasse esses quinhentos mil réis seu”. Meu pai vai lá, quando chegou lá
o coronel Farnando olhou, disse: “onde você arranjou esse dinheiro?”, ele contou a
história, ele disse: “você volte, diga o padre Cícero que assine nas costas dessa nota de
garantia.” Aí o padre Cícero foi e botou “padre Cícero Romão Batista” nas costa da
nota, aí chamou Manoel Timóteo, que era o delegado, disse: “Manoel Timóteo, venha
cá!” Manoel Timóteo chegou, disse: “você vai aonde está o coronel Farnando mais
este homem e diga a ele que troque esse dinheiro que eu garanto.” Aí o coronel
Farnando entrou pra dentro, chegou lá, pegou um saco prato de moedas de duzentos
reis de prata de moeda de duzentos réis, de quatrocentos réis, de um mil réis e de dois
mil réis, encheu o saco danado, ora, quinhentos mil réis só de moedinha, aí ele disse:
“agora, como leva o dinheiro pra casa?” Aí o Manoel Timóteo disse: “vai dois
soldados com ele deixar o dinheiro em casa.” Aí lá vai os dois soldado veio ele, com o
saco de dinheiro danado na cabeça, [risos] quando chegou em casa com o saco de
dinheiro, isso dá uma história bonita, quando chega em casa, a finada minha mãe
disse: “e agora com esse dinheiro os ladrão roubam o dinheiro, o que é que se faz?”
Vai na casa de padre Cícero e diz: “meu padrinho eu queria que o senhor guardasse
meu dinheiro, meu padrinho, que lá eu tenho medo de ladrão roubar que nós não
temos onde guardar...”, que não tinha banco, não tinha nada, aí padre Cícero chamou e
disse: “traga sua mulher aqui, venha os dois.” Aí minha mãe foi mais meu pai. Padre
Cícero foi lá no reservado, chamou eles dois e disse: “olhe...”, daí vem à história da
botija, disse: “vocês chegue no pé do fogão ou num lugar determinado, cave um
buraco, cace um pote, bote o dinheiro num pote, quando acabar enterre e cubra, bote
um sinal, um e outro fica sabendo, nem um nem outro conta o segredo, se você morrer
primeiro a sua mulher sabe aonde está o dinheiro e se você morrer primeiro seu
marido sabe onde está o dinheiro, guarde o dinheiro de vocês e quando forem tirar
esse dinheiro pra se servirem dele à noite, abre, tire a quantidadezinha que precisa e o
resto tranca que só vocês dois ficam sabendo desse segredo.” Porque havia muito
roubo e era essa causa dos sertanejos, dos homens que tinham qualquer dinheiro
enterrarem debaixo do chão, é a realidade da botija, que nós chamamos uma botija de
dinheiro debaixo da terra, porque não havia banco, não tinha segureza e tinha ladrões
e assaltos demais, o homem que pegasse um dinheiro, o cara tomava na mão assim na
marra, se o camarada visse um camarada com uma nota de dez cruzeiro ou vinte