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bíblico de que ser santo é ser separado para o trabalho de Deus. Nossa
vida era inteiramente voltada para o interior da igreja. (...)
A nossa prática diaconal - e isso era muito intenso na nossa vida de
jovens, o serviço às comunidades carentes – era totalmente paternalista,
quer dizer, nós íamos lá para ajudá-los mas, geralmente, com a intenção
implícita de convertê-los e não com atitude solidária. Nós íamos fazer as
coisas por eles. Era totalmente assistencialista. (...)
No final dos anos 50, começa uma grande reviravolta na nossa vida e
também uma efervescência muito grande nas igrejas evangélicas no
Brasil. Eu vou mencionar aqui dois fatores, mas tem muito mais. Um
deles foi a conjuntura nacional – o Ivo já mencionou tudo o que ocorreu
naquela época e eu não vou citar isso – mas nós tivemos a influência, eu
diria, de três organizações. Eu vou colocar o nome delas no quadro, não
vou falar sobre elas, mas só para vocês se lembrarem, quando vocês
quiserem fazer qualquer pesquisa sobre o movimento ecumênico no
Brasil, vocês vão ter que ir atrás dessas três organizações: CEB – não é
Comunidade Eclesial de Base neste caso – essa sigla se refere à
Confederação Evangélica do Brasil; ela foi fundada em 1932. A CEB –
Confederação Evangélica do Brasil reunia a maioria das igrejas
evangélicas no Brasil e promovia a cooperação entre elas nas áreas de
ação social, educação cristã, trabalhos de juventude, e atividades
diaconais. Enfim, era uma organização que, realmente, promovia a
fraternidade e o trabalho conjunto entre as igrejas evangélicas. Foi a
primeira organização ecumênica organizada no Brasil.
ULAJE – União Latino-americana de Juventude Ecumênica – foi criada
em 1941 e foi a primeira organização ecumênica da América Latina, de
nível continental. E a outra, UCEB, significava União Cristã de
Estudantes do Brasil, que era a versão brasileira da FUMEC – Federação
Universal de Movimentos Estudantis Cristãos. A FUMEC foi a primeira
organização ecumênica da história do movimento ecumênico moderno.
Ela foi organizada em 1895, com o objetivo de reunir estudantes,
principalmente universitários, para dar testemunho no mundo acadêmico.
A ULAJE trabalhava, especificamente, com a juventude das igrejas e,
basicamente, com os jovens que não estavam estudando e também com os
estudantes de ensino médio. Essas três organizações tiveram uma
influência, um papel fundamental nesse despertamento das igrejas
evangélicas no Brasil e, principalmente, da juventude. Notem que, das
três, duas eram de jovens e compostas de leigos em sua maioria. (...)
Começamos a ler a Bíblia de outra maneira, não da forma fundamentalista
que a gente lia antes, e começamos a organizar acampamentos de trabalho
em várias regiões do Brasil. Reuníamos os jovens, estudantes ou não, em
épocas de férias, e íamos para regiões carentes, para prestar serviço à
comunidade. Esse serviço ia desde a construção de casas até, por exemplo,
a elaboração de programas de alfabetização de adultos. Fomos muito
inspirados por Paulo Freire e seu método e filosofia revolucionários.
Enfim, foi um engajamento total que nos abriu os olhos para o mundo e
nos levou a romper as portas das igrejas, dos templos, e compreender que
nossa missão era no mundo.
Mas a reação das lideranças das igrejas foi violenta, especialmente após o golpe
militar de 1964. Houve exclusões no rol de membros das igrejas, fechamento de organizações,
intervenções em seminários, expulsões de alunos, demissões de professores. No âmbito da