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reivindicações e suas relações com a elite civil. Para tanto, analisaremos a recepção aos ex-
combatentes e a conjuntura política nacional no período.
Na análise dos editoriais e artigos publicados pelo jornal A Reforma – órgão
democrático, ao longo do ano de 1870, destacando o desembarque dos ex-combatentes da
Guerra do Paraguai na Corte do Rio de Janeiro, discutirei, utilizando os conceitos da
semiologia, sobretudo as reflexões contidas nos textos de Michel Foucalt
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, Eliseo Verón
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,
Patrick Charaudeau
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e Orlando de Barros
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, a tentativa de aproveitamento do
descontentamento militar pelos políticos liberais para retornarem ao poder, assim como os
desdobramentos dessa ação.
O discurso crítico, nitidamente político, presente implicitamente e explicitamente
nos artigos, embora tenha como alvo o gabinete Conservador, tinha com destinatários os
próprios militares e o imperador D. Pedro II. No campo do efeito dos sentido
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, o discurso
busca: 1) derrubar o gabinete conservador; 2) incentivar a manifestação dos militares; 3)
pressionar o imperador para que realize mudanças no quadro político.
A maioria dos artigos era assinada sob pseudônimos, que faziam referências à classe
militar: “O Voluntário da Pátria”, “Um Militar”, “O Oficial do Exército”, “O Exército” etc.
O conteúdo dos artigos, no entanto, não trazia nenhuma referência a propostas do Exército,
tais como reforma militar, aumento de soldo, promoções, leis de alistamento, modernização
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FOUCALT, Michel. A Ordem do Discurso. Aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2
de dezembro de 1970. Edições Loyola, São Paulo, 1996.
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VERON, Eliseo. “Quand lire c`est faire: l´enonciation dans le discours de la presse ecrite”. In
Semiotique II, IREP, Paris, 1983.
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CHARAUDEAU, Patrick. (sous la direction de). La presse, produit, production, réception. Didier
Érudition, Collection Langages, discours et sociétés. Paris, 1988.
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BARROS, Orlando de. A propósito de um texto, a propósito de um texto, a propósito de outro texto.
Mestrado da UERJ, 2003 e 2005.
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Segundo Eliseo Veron, uma mensagem não produz jamais, de maneira automática, um só efeito. O
discurso produz diversos efeitos, chamado pelo autor de campos de efeitos de sentidos. Eliseo Veron. Op. Cit.
p. 74