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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA
FRANCIELI HENNIG
RELAÇÃO ENTRE PRÁTICAS EDUCATIVAS PARENTAIS
E MEMÓRIAS DE CUIDADOS NA INFÂNCIA
FLORIANÓPOLIS - SC
2008
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i
FRANCIELI HENNIG
RELAÇÃO ENTRE PRÁTICAS EDUCATIVAS PARENTAIS
E MEMÓRIAS DE CUIDADOS NA INFÂNCIA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em
Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina como
parte dos requisitos para obtenção do grau de Mestre em
Psicologia, sob a orientação do Prof. Dr. Mauro Luis
Vieira.
FLORIANÓPOLIS - SC
2008
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ii
iii
Aos meus pais que sempre demonstraram seu amor
por mim e que sempre estiveram ao meu lado,
apoiando-me e incentivando-me em todos os
momentos da minha vida.
iv
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Dr. Mauro Luís Vieira, pelo apoio, incentivo e colaboração na
construção deste trabalho.
Aos meus pais por me incentivar a sempre acreditar e sonhar e pelo apoio e
compreensão nesses dois anos de mestrado.
Ao Carlos, pelo companheirismo, paciência, apoio, incentivo durante estes anos e
pela leitura cuidadosa que fez deste trabalho, que me auxiliou nas correções finais.
À equipe do NEPeDI, especialmente as amigas Viviane e Gabriela pelo apoio e
colaboração na análise dos dados.
A todos os colegas de mestrado, com os quais compartilhei angústias e alegrias
durante estes dois anos, especialmente à Camilla pela amizade, apoio e incentivo e aos
amigos João e Alex, pela amizade, disponibilidade, auxílio e colaboração.
Ao professor da graduação Carlos Roberto de Oliveira Nunes que despertou o
interesse pela pesquisa e a curiosidade sobre as questões relativas ao comportamento
humano.
A todas as pessoas que aceitaram e colaboraram com a realização deste estudo, sem
as quais este trabalho não seria possível.
A todos que de alguma forma contribuíram para a concretização deste trabalho.
Muito Obrigada.
v
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS............................................................................................. IV
SUMÁRIO................................................................................................................. V
RESUMO................................................................................................................... VIII
ABSTRACT............................................................................................................. IX
ÍNDICE DE FIGURAS........................................................................................... X
ÍNDICE DE TABELAS.......................................................................................... XII
1. INTRODUÇÃO................................................................................................... 14
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..................................................................... 18
2.1. As Modificações nas Crenças e Atitudes sobre a Educação dos Filhos........... 18
2.2. Práticas Educativas e Estilos Parentais............................................................. 20
2.3. O Modelo de Estilos Parentais de Gomide....................................................... 25
2.4. Estudos sobre Transmissão Intergeracional......................................................
30
2.5. A Importância da Lembrança........................................................................... 37
2.6. Memórias de Cuidados na Infância.................................................................. 40
3. OBJETIVOS......................................................................................................... 43
3.1. Geral.................................................................................................................. 43
3.2. Específicos......................................................................................................... 43
4. MÉTODO.............................................................................................................. 44
4.1. Caracterização....................................................................................................
44
4.2. Participantes....................................................................................................... 44
4.2.1 Grupo Mães..................................................................................................... 45
4.2.2 Grupo Pais....................................................................................................... 46
4.3. Contexto da Pesquisa......................................................................................... 48
4.4. Instrumentos de Coleta de Dados..................................................................... 48
4.4.1. Ficha de Identificação.................................................................................... 48
4.4.2. Inventário de Estilos Parentais – IEP..............................................................
49
4.4.3. Inventory for Assessing of Parental Rearing Behaviour – EMBU…………. 50
4.5. Procedimento..................................................................................................... 51
4.5.1. Coleta de Dados.............................................................................................. 52
4.6. Análise dos Dados............................................................................................. 52
5. RESULTADOS.....................................................................................................
56
vi
5.1. Contexto de Criação – Grupo Mães...................................................................
56
5.1.1. Local de Criação e Presença dos Pais Biológicos........................................ 56
5.1.2. Principal Cuidador........................................................................................ 57
5.1.3. Ambiente Familiar........................................................................................
59
5.2. Resultados do Inventário de Estilos Parentais – Grupo Mães........................... 61
5.2.1. Dimensões do IEP e Variáveis de Caracterização da Amostra.................... 71
5.2.2. Correlações entre as Dimensões do IEP....................................................... 72
5.2.3. Dimensões do IEP e Escolaridade da Respondente..................................... 73
5.2.4. Dimensões do IEP e Condições Materiais, Clima na Infância, Relação
Conjugal dos Pais e Conflitos entre os Pais da Respondente ..................................
73
5.2.5. Dimensões do IEP e Conflitos entre a Respondente e o Pai, entre a
Respondente e a Mãe, Afetividade do Pai e Afetividade da Mãe..........................
74
5.3. Resultados EMBU – Grupo Mães...................................................................... 75
5.3.1. Correlações entre as Dimensões do EMBU................................................ 76
5.3.2. Dimensões do EMBU e Condições Materiais, Clima na Infância, Relação
Conjugal dos Pais e Conflitos entre os Pais da Respondente...................................
77
5.3.3. Dimensões do EMBU e Conflitos entre a Respondente e o Pai, entre a
Respondente e a Mãe, Afetividade do Pai e Afetividade da Mãe..........................
79
5.4. Correlações entre Práticas Educativas Parentais e Memórias de Cuidado na
Infância – Grupo Mães..............................................................................................
80
5.5. Contexto de Criação – Grupo Pais..................................................................... 82
5.5.1. Local de Criação e Presença dos Pais Biológicos......................................... 82
5.5.2. Principal Cuidador......................................................................................... 82
5.5.3. Ambiente Familiar......................................................................................... 84
5.6. Resultados do Inventário de Estilos Parentais – Grupo Pais.............................. 85
5.6.1. Dimensões do IEP e Variáveis de Caracterização da Amostra................... 93
5.6.2. Correlações entre as Dimensões do IEP...................................................... 94
5.6.3. Dimensões do IEP e Escolaridade do Pai.................................................... 95
5.6.4. Dimensões do IEP e Condições Materiais, Clima, Relação Conjugal e
Conflitos entre os Pais Durante a Infância dos Participantes................................
96
5.6.5. Dimensões do IEP e Conflitos com o Pai, Conflitos com a Mãe,
Afetividade do Pai e Afetividade da Mãe..............................................................
97
5.7. Resultados EMBU – Grupo Pais....................................................................... 98
vii
5.7.1. Correlações entre as Dimensões do EMBU................................................. 99
5.8. Correlações entre Práticas Educativas Parentais e Memórias de Cuidado na
Infância – Grupo Pais...............................................................................................
100
6. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO........................................................................... 101
6.1 Práticas Educativas Parentais............................................................................ 101
6.1.1. Interrelações entre as Práticas Educativas.................................................. 106
6.2. Memórias de Cuidados na Infância............................................................... 107
6.3 Memórias de Cuidados na Infância e Práticas Educativas Parentais.............. 108
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 115
8. REFERÊNCIAS.................................................................................................. 119
9. ANEXOS................................................................................................................ 129
viii
HENNIG, Francieli. Relação entre Práticas Educativas Parentais e Memórias de Cuidados na
Infância. Dissertação de Mestrado em Psicologia, Programa de Pós-Graduação em
Psicologia. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis (SC). 2008. 136 páginas.
RESUMO
O objetivo desta pesquisa foi identificar a relação entre memória de cuidados recebidos na
infância e práticas educativas parentais. Participaram do estudo 80 indivíduos, 60 mães e 20
pais, que possuíam pelo menos um filho na faixa etária entre 12 e 18 anos, residentes na
cidade de Blumenau-SC. A coleta de dados foi realizada por meio da aplicação de um
inventário de estilos parentais e do EMBU (Egna Minnen av Barndoms Uppfotran Minhas
memórias da infância). Os resultados apontaram que existe relação entre as memórias de
cuidados na infância e práticas educativas parentais. No grupo de mães, lembranças do pai
durante a infância tiveram impacto nas práticas educativas na vida adulta. Quanto mais
lembranças de rejeição as participantes tiveram por parte do pai na infância, menos utilizam a
monitoria positiva com seus filhos e mais se observa a presença da punição inconsistente e
do abuso físico nas práticas educativas. A dimensão calor emocional do pai também
interferiu nas práticas maternas. Quanto mais calor emocional do pai foi lembrado entre as
mães, mais estas fazem uso da monitoria positiva na educação de seus filhos e menos
utilizam a punição inconsistente e o abuso físico com seus filhos. Foi constatado ainda, no
grupo de mães, correlação negativa entre lembranças de calor emocional da mãe na infância
e utilização de abuso físico com o filho. Quanto mais calor emocional da mãe foi lembrado
na infância, menos o abuso físico é utilizado enquanto prática educativa. No grupo de pais,
lembranças de super-proteção da mãe na infância apresentou correlação com disciplina
relaxada na prática educativa com o filho. Conclui-se que existem relações significativas
entre memórias de cuidados na infância e práticas educativas parentais.
Palavras-chave: estilos parentais - práticas educativas parentais - memórias de cuidados na
infância – transmissão intergeracional.
ix
HENNIG, Francieli. The relationship between memories of parental rearing in childhood and
parental educational practices. Master Thesis in Psychology Graduate Program. Universidade
Federal de Santa Catarina. Florianópolis (SC), Brazil. 2008. 136 páginas.
ABSTRACT
The aim of this research was to identify the relationship among memories of parental rearing
in childhood and parental educational practices. In total, 60 mothers and 20 fathers, with at
least one child between 12 and 18 years, were the subject of research. The collection of data
was accomplished through the application of the Parental Style Inventory by Gomide (2006)
and of EMBU (Egna Minnen av Barndoms Uppfotran – My memories of the childhood). The
results indicate that there is relationship among the cares in the childhood and parental
practices. In the mothers' group, father's memories during the childhood had impact in the
educational practices in the adult life. The more the father´s rejection memories the
participants had on the childhood, less they use the positive monitoring with your children
and more the inconsistent punishment and physical abuse is observed in the educational
practices. The father's emotional warmth also interfered in the maternal practices. The more
the father's emotional warmth was reminded among the mothers; more these make use of the
positive monitoring in your children's education and fewer use inconsistent punishment and
physical abuse with your children. It has been noted that,, in the mothers' group, there is a
negative correlation among memories of the mother's emotional warmth in the childhood and
use of physical abuse with the son. Thus, the more the mother's emotional warmth was
reminded in the childhood, less the physical abuse is used while educational practice. In the
father's group, memories of the mother's over-protection in the childhood presented
correlation with slacked discipline in practice educational with the son. In conclusion, it has
been found that there is a significant relationship among memories of cares in the childhood
and parental educative practices.
Key-words: parental style – parental rearing memories intergeracional transmission
parenting.
x
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1:
Porcentagem referente ao principal cuidador nas diferentes faixas
etárias..................................................................................................
58
Figura 2: Porcentagem referente à pessoa citada como a mais importante nos
cuidados durante a infância e juventude das participantes..................
59
Figura 3: Porcentagem referente aos resultados em monitoria positiva na
amostra de mães..................................................................................
63
Figura 4: Porcentagem referente aos resultados em comportamento moral na
amostra mães.......................................................................................
64
Figura 5: Porcentagem referente aos resultados em punição inconsistente na
amostra mães.......................................................................................
65
Figura 6: Porcentagem referente aos resultados em negligência na amostra
mães.....................................................................................................
66
Figura 7: Porcentagem referente aos resultados em disciplina relaxada na
amostra mães.......................................................................................
67
Figura 8: Porcentagem referente aos resultados em monitoria negativa na
amostra mães.......................................................................................
68
Figura 9: Porcentagem referente aos resultados em abuso físico na amostra
mãe......................................................................................................
69
Figura 10: Distribuição em porcentagem do índice de estilo parental na
amostra de mães..................................................................................
70
Figura 11: Porcentagem referente ao principal cuidador apontado pelos pais
nas diferentes faixas etárias.................................................................
83
Figura 12: Porcentagem referente à pessoa citada como a mais importante nos
cuidados durante a infância e a juventude no grupo de pais..............
83
Figura 13: Porcentagem referente aos resultados da prática comportamento
moral no grupo de pais........................................................................
86
Figura 14: Porcentagem referente aos resultados da prática monitoria positiva
no grupo de pais..................................................................................
87
Figura 15: Porcentagem referente aos resultados da prática comportamento
monitoria negativa no grupo de pais...................................................
88
xi
Figura 16: Porcentagem referente aos resultados da prática negligência no
grupo de pais.......................................................................................
89
Figura 17: Porcentagem referente aos resultados da prática disciplina relaxada
no grupo de pais.................................................................................
90
Figura 18: Porcentagem referente os resultados da prática punição
inconsistente no grupo de pais............................................................
91
Figura 19: Porcentagem referente os resultados da prática abuso físico no
grupo de pais......................................................................................
92
Figura 20: Distribuição em porcentagem do índice de estilo parental do grupo
de pais..................................................................................................
93
Figura 21: Correlações entre lembranças da infância e práticas educativas
parentais de mães e pais......................................................................
112
xii
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1:
Ocupação – grupo mães.......................................................................
45
Tabela 2: Escolaridade – grupo mães...................................................................
46
Tabela 3: Ocupação – grupo pais.........................................................................
47
Tabela 4: Escolaridade – grupo pais....................................................................
48
Tabela 5: Mediana, moda, valores mínimos e máximos sobre o contexto de
criação na infância das mães pesquisadas............................................
61
Tabela 6: Mediana, moda e escore máximo e mínimo das práticas educativas
utilizadas pelas participantes................................................................
62
Tabela 7: Postos médios de cada prática educativa. materna...............................
69
Tabela 8: Comparação entre as dimensões do IEP das mães e a variável
trabalho remunerado.............................................................................
71
Tabela 9: Correlação entre as dimensões do IEP na amostra de mães.................
72
Tabela 10: Correlações entre as dimensões do IEP e as variáveis: idade,
escolaridade e idade do filho................................................................
73
Tabela 11: Correlações entre as dimensões do IEP e as variáveis: condições
materiais, clima, relação conjugal dos pais e conflitos entre os pais
da respondente durante a infância........................................................
74
Tabela 12: Correlações entre as dimensões do IEP e as variáveis: conflitos entre
a respondente e o pai, conflitos entre a respondente e a mãe, atitude
afetuosa do pai e atitude afetuosa da mãe durante a infância...............
75
Tabela 13: Mediana, moda e escore máximo e mínimo em cada dimensão do
EMBU do grupo de mães....................................................................
76
Tabela 14: Correlações entre as dimensões do EMBU no grupo de mães.............
77
Tabela 15: Correlações entre as dimensões do EMBU e as variáveis: condições
materiais, clima, relação conjugal dos pais e conflitos entre os pais
da respondente durante a infância........................................................
78
Tabela 16: Correlações entre as dimensões do EMBU e as variáveis: conflitos
entre a respondente e o pai, conflitos entre a respondente e a mãe,
atitude afetuosa do pai e atitude afetuosa da mãe durante a infância...
80
xiii
Tabela 17: Correlações entre as dimensões do EMBU e as dimensões do IEP no
grupo de mães.......................................................................................
81
Tabela 18:
Mediana, moda, escores máximos e mínimos das praticas educativas
paternas.................................................................................................
85
Tabela 19: Comparação entre dimensões do IEP e a variável sexo do filho no
grupo de pais........................................................................................
94
Tabela 20: Correlações entre as dimensões do IEP no grupo de pais.................... 95
Tabela 21: Correlações entre as dimensões do IEP e as variáveis: condições
materiais, clima, relação conjugal dos pais e conflitos entre os pais
dos participantes durante a infância.....................................................
96
Tabela 22: Correlações entre as dimensões do IEP e as variáveis: conflitos entre
o respondente e o pai, conflitos com a mãe, afetividade do pai e
afetividade da mãe - grupo pais............................................................
97
Tabela 23: Mediana, moda e escore máximo e mínimo para cada dimensão do
EMBU no grupo de pais.......................................................................
98
Tabela 24: Postos médios de cada dimensão do EMBU do grupo pais................. 98
Tabela 25: Correlações entre as dimensões do EMBU no grupo de pais..............
99
Tabela 26: Correlações entre as dimensões do EMBU e as dimensões do IEP no
grupo de pais........................................................................................
100
14
1. INTRODUÇÃO
A interação entre pais e filhos tem despertado interesse enquanto área de pesquisa
nas últimas décadas. Neste sentido, Bussab (2000) adverte que esta atenção especial a este
tema se devido à proeminência com que aparece nas diversas culturas e em virtude do
modo pelo qual parece exercer influência marcante no desenvolvimento das pessoas.
Segundo Bussab (2000), os cuidados parentais têm sido entendidos como ponto de
partida para o desenvolvimento de sistemas sociais diferenciados. Desta forma, o trabalho de
Keller (1998), que a partir de um estudo intercultural, propõe que diferentes sistemas de
criação, refletiriam diferenças nas proporções dos tipos possíveis de cuidados, com mais
contato face a face e menos contato corporal no padrão ocidental e vice-versa no padrão não
ocidental. Para Keller, tais padrões influenciariam no sentido do desenvolvimento de uma
espécie de “personalidade cultural”, de orientação individualista ou coletivista. De acordo
com Bussab, investigações como as de Keller podem contribuir para desvendar as
especificidades do desenvolvimento humano.
Entretanto, outra forma de estudar as interações entre pais e filhos é através das
práticas educativas parentais. Darling e Steinberg (1993) ressaltam que o interesse sobre este
tema surgiu a partir da cada de 1930. Período, em que os pesquisadores estavam
interessados em encontrar respostas a questões como: "Qual a melhor forma de educar os
filhos?" e "Quais são as conseqüências que podem ser provocadas no desenvolvimento das
crianças educadas por diferentes modelos de pais?" (Darling & Steinberg, 1993). Atualmente
encontra-se um rico conjunto de pesquisas que respondem a estas questões e apontam
direções especialmente no sentido das conseqüências de diversas práticas educativas sobre o
comportamento dos filhos. Além disso, conta-se com estudos que apontam quais as práticas
parentais mais adequadas em termos de suas conseqüências sobre o comportamento dos
filhos. Grande parte dos estudos encontrados na literatura tem enfocado as estratégias
educativas parentais através da investigação das práticas educativas e/ou dos estilos
parentais.
O termo estilo parental foi revisado por Darling e Steinberg (1993), os quais
propõem que o mesmo pode ser entendido como o contexto em que os pais influenciam seus
filhos através de suas práticas, de acordo com suas crenças e valores. Para Darling e
Steinberg, as práticas parentais são comportamentos definidos por conteúdos específicos e
15
por objetivos de socialização. Assim, a utilização de diferentes práticas parentais pode ter
como objetivo o mesmo efeito no filho, dependendo das crenças e valores dos pais.
Alvarenga (2001) argumenta que as práticas parentais revelam-se como estratégias
para suprimir comportamentos considerados inadequados ou incentivar a ocorrência de
comportamentos adequados. os estilos parentais constituem-se como o conjunto de
atitudes, que criam um clima emocional em que se expressam os comportamentos dos pais.
Incluem as práticas parentais e outros aspectos da interação pais-filhos, tais como: tom de
voz, linguagem corporal, descuido, mudança de humor (Darling & Steinberg, 1993). São
expressões dos pais em direção aos seus filhos, que caracterizam a natureza da interação
entre eles (Reppold, Pacheco, Bardagi & Hutz, 2002).
Para Gomide (2003), as práticas parentais caracterizam-se como estratégias e
técnicas utilizadas pelos pais para orientar o comportamento dos filhos, sendo o estilo
parental o resultado de um conjunto de práticas educativas que podem, dependendo da
freqüência e intensidade, desenvolver tanto comportamentos pró-sociais como anti-sociais. A
autora mencionada, após oito anos de estudos, desenvolveu um inventário para avaliar o
estilo parental, ou seja, as estratégias e técnicas utilizadas pelos pais para educar seus filhos
(Sampaio & Gomide, 2007).
O estudo sobre estilos parentais é de grande relevância, pois envolve a família e
conseqüentemente toda a sociedade. Todas as pessoas receberam uma educação que de
alguma forma foi importante para a sua constituição. O estudo dos estilos parentais trata da
educação de filhos de uma forma objetiva, investigando o conjunto de comportamentos dos
pais que cria um clima emocional em que se expressam as interações pais-filhos, tendo como
base a influência dos pais em aspectos comportamentais, emocionais e intelectuais dos filhos
(Weber, Prado, Viezzer & Brandenburg, 2004). Além disso, pesquisas na área das práticas
parentais de cuidado são fundamentais por ampliar o conhecimento sobre as práticas
educativas, sendo inegável sua importância e relevância social, por proporcionar o avanço no
conhecimento teórico, que por sua vez, implicará em intervenções sociais, através da
divulgação de informações e do auxílio na implementação de políticas públicas, que poderão
beneficiar pais e filhos.
Conforme aponta Weber et al. (2004), além da influência sobre diversos aspectos
no desenvolvimento dos filhos, os estilos parentais podem estar determinando o estilo
parental que os filhos o adotar futuramente, através de uma transmissão intergeracional de
estilos parentais. Neste sentido, parece haver um consenso na literatura sobre a transmissão
do comportamento agressivo, o qual foi investigado por inúmeros estudos (Simons,
16
Whitbeck, Conger & Chyi-In, 1991; Capaldi & Patterson, 1991; Dubow, Huesmann &
Boxer, 2003).
Apesar de alguns estudos nacionais demonstrarem a concordância intergeracional
(Almeida, 1987; Oliveira et al., 2002; Dias & Lopes, 2003; Vitali, 2004), outros estudos,
como o de Benincá e Gomes (1998) mostram a existência de duas forças antagônicas, uma a
favor da descontinuidade (evidenciada pelo surgimento de novos padrões educacionais) e
outra no sentido da continuidade, no que se refere à linearidade familiar). Além disso, todas
as pesquisas citadas, exceto o estudo de Vitali (2004), envolveram participantes de diferentes
gerações, geralmente mães e as suas mães.
Oliveira
et al. (2002) encontraram uma correlação positiva entre o autoritarismo de
avós e mães, ou seja, as filhas educadas por mães autoritárias tenderam a adotar este mesmo
estilo parental com seus próprios filhos. Entretanto, será que isto ocorre de maneira geral?
Será que pais repetem a maneira como foram educados? Como ressalta Darling e Steinberg
(1993), ainda pouco se sabe sobre o porquê de os pais adotarem um estilo parental ou outro.
Além dos estudos sobre a transmissão das práticas educativas, encontra-se na
literatura pesquisas voltadas para as implicações das memórias de cuidados na infância nos
comportamentos de jovens e adultos. Estes estudos se dividem quanto ao enfoque, alguns
abordam as memórias de cuidados na infância e suas implicações no estilo de vinculação
atual (Pacheco, Costa & Figueiredo, 2003; Rodrigues et al. 2004) e outros, enfocam suas
implicações na relação mãe e filho (Belsky, Youngblade & Pensky, 1990).
Belsky et al. (1990) investigaram as lembranças de cuidados na infância de 92 mães
durante o último trimestre de gravidez e constataram que o processo de transmissão
intergeracional parece variar em função da qualidade marital, com histórias problemáticas
durante a infância, predizendo afeto maternal negativo e historias de apoio predizendo afeto
maternal positivo. Deste modo, lembranças de rejeição durante a infância refletiram
negativamente no afeto materno para com a criança, quando a qualidade conjugal foi
percebida como pouco positiva, entretanto, quando o relacionamento conjugal foi percebido
como muito positivo, as lembranças de rejeição ou falta de apoio não refletiram no afeto para
como filho.
Rodrigues et al. (2004) investigaram de que modo as memórias de cuidados na
infância contribuem para o estilo de vinculação de grávidas adolescentes. Os resultados deste
estudo corroboraram os dados da literatura, ou seja, adultos seguros descrevem suas figuras
de vinculação primárias como tendo sido carinhosas, disponíveis, atentas e capazes de
responder às necessidades sentidas, têm recordações mais positivas das figuras parentais na
17
infância e representam os progenitores como mais benevolentes e menos punitivos que os
sujeitos com vinculação insegura, os quais recordam práticas de cuidados parentais mais
inadequadas e referem-se às figuras de vinculação como menos protetoras e carinhosas, mais
intrusivas, inconsistentes, inacessíveis e mais rejeitantes.
Contudo, poucas pesquisas como de Belsky et al. (1990) exploram as implicações
das memórias de cuidados na infância nos comportamentos parentais.
Diante da importância
de conhecer as memórias de cuidados na infância de pais e mães e a relação entre estas e as
práticas educativas utilizadas na interação como seu filho, delineou-se a seguinte pergunta de
pesquisa: Qual a relação entre as práticas educativas utilizadas pelos pais e a memória
de cuidados recebidos na infância?
18
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 As Modificações nas Crenças e Atitudes sobre a Educação dos Filhos
Conforme aponta Biasoli-Alves (2002), o tema família nos remete a sua função na
sociedade. É a família que vai dimensionar as práticas educativas da prole, compor o
ambiente em que a criança vai viver, e estabelecer modos e limites das interações entre pais,
filhos, netos. Cabe a ela propiciar o desenvolvimento nos primeiros anos de vida do bebê,
condições para a formação da identidade e manter a convivência e as trocas efetivas entre
seus membros, incluindo o cuidado ao focalizar pais e filhos e à transmissão de valores
(Biasoli-Alves, 2002)
A partir de uma revisão sobre o tema, Biasoli-Aves (2002) argumenta que para a
família garantir a socialização é necessário: a) existência de uma relação afetiva entre os
adultos e criança, que promova o sentimento de segurança; b) que o controle disciplinar seja
menos punitivo e mais de forma preventiva, com explicação do que é certo e errado e seu
porquê; c) que o ambiente seja estruturado com normas consistentes, que sirvam de
referência para a criança e suas aprendizagens; e d) que seja possibilitada à criança de forma
gradual, fazer escolhas, promovendo um grau de independência de acordo com os limites de
sua idade e competência.
Entretanto, a maneira de socializar as crianças não tem sido a mesma ao longo dos
tempos. Neste sentido, Bronfenbrenner (1995) citado por Biasoli-Alves (2002) destaca
alguns fatores relacionados à modernização no modo de criar os filhos: 1) aumento da
escolarização que produz brechas entre as gerações e auxiliou também na profissionalização
da mulher e no seu afastamento das tarefas exclusivamente domésticas; 2) exigência de
mobilidade dos novos casais com seus filhos e distanciamento de sua família de origem; 3)
alterações nos papéis masculinos e femininos: entrada da mulher no mundo do trabalho e
maior participação do homem nas atividades domésticas e no cuidado das crianças; 4) perda
do prestígio da mulher como dona-de-casa e diminuição do valor social na função de criar os
filhos; 5) conhecimento médico-científico e discurso psicológico sobre relações
interpessoais; 6) diminuição do tamanho das famílias, tanto em relação ao número de adultos,
19
quanto ao número de crianças; 7) aumento de serviços destinados aos cuidados das crianças,
como a escolarização precoce.
Biasoli-Alves (2002) faz um retrospecto histórico sobre a parentalidade e aponta
que no início do século XX as crenças e atitudes sobre a criação dos filhos esteve vinculada
basicamente à religião e ao sistema em que as mães foram educadas. Os adultos tinham o
controle e a obediência das crianças por meio da punição severa, despendiam pouco agrado e
elogios e expressões como “você não fez mais do que sua obrigação” eram comuns nesta
época; os pais não davam explicações do porquê de suas ordens e proibições e a exigência
era regra quanto aos padrões sociais, são os excessos sempre reprimidos.
Nas cadas 50 e 60 a pediatria, através da moralidade higienista, influenciou as
crenças e atitudes sobre a infância. O comportamento da criança neste período ainda é
controlado, porém de forma menos punitiva, que o objetivo era proporcionar uma infância
feliz e despreocupada (Biasoli-Alves, 2002). Observa-se segundo a autora, tanto a exincia
quanto a afetividade.
Além das modificações sobre a compreensão da criança e das práticas educativas
empregadas pelos pais ao longo dos tempos é possível constatar que o modelo de pai também
mudou a partir da década de 70. Segundo Pleck e Pleck (1997), entre os fatores que
implicaram nesta mudança estavam o movimento do feminismo e a inserção da mulher no
mercado, exigindo do pai a divisão igualitária nos cuidados e auxílio na educação dos filhos.
Conforme apontam Prado, Piovanotti e Vieira (2004) até o início do século vinte a mãe era
vista como a principal responsável pela criação dos filhos e foi somente a partir da metade do
século vinte, que o modelo de pai mudou para um pai mais envolvido intensamente com seus
filhos e é este modelo, segundo os autores, que impulsiona as investigações científicas. Os
trabalhos de Rohner e Veneziano (2001) e Veneziano (2003) demonstram este novo enfoque
das pesquisas sobre cuidados parentais e advertem sobre a importância do apoio, calor,
conforto e cuidados para a qualidade do relacionamento pais e filhos e argumentam que o
amor por parte do pai é tão importante quanto o materno para o bem-estar dos filhos.
No final do XX, o conhecimento divulgado por especialistas na área infantil:
pediatras, professores e psicólogos exercem influência sobre as crenças e atitudes sobre
educação de filhos e a orientação é permitir, não tolher, não frustrar e não desestimular a
criança (Biasoli-Alves, 2002). Neste período, de acordo com a autora, pais são criticados se
cultivam alguma autoridade sobre os filhos, os quais, consequentemente se mostram cada vez
mais impulsivos e explosivos, gerando frustrações nos pais e os levando a adotar outras
estratégias para conter os filhos, como punição física e verbal.
20
Para Biasoli-Alves (2002) as transformações observadas no decorrer das últimas
décadas no modo de conceber a relação pais e filhos parecem ser fruto do conhecimento
técnico científico, que acaba gerando insegurança nos pais quanto à forma de pensar a
educação das gerações mais novas. Neste sentido, Ribeiro (2003) destaca que nos dias atuais
os pais estão imersos numa grande quantidade de informação que provém de profissionais,
dos meios de comunicação e mesmo dos elementos da rede social de apoio, quer sejam
amigos ou membros da família.
Além disso, os fatores que caracterizam a sociedade atual como o aumento da
competitividade no sentido do individualismo, o agravamento de fenômenos como o
desemprego, a violência, as doenças sexualmente transmissíveis trouxeram implicações para
a forma como atualmente as crianças são educadas Ribeiro (2003). Esse autor ressalta, ainda,
que esses aspectos implicam também em alterações na estrutura familiar, designadamente o
acréscimo de situações de divórcio e de famílias monoparentais e reconstruídas, assim como
a falta de apoio intergeracional, que tem repercussão na educação dos mais jovens. Essas
modificações sociais e familiares refletem no modo como são vivenciadas a maternidade e a
paternidade nos nossos dias.
2.2. Práticas Educativas e Estilos Parentais
As relações entre pais e filhos, e de modo mais específico as práticas educativas
parentais, m sido alvo de pesquisas e livros, e até mesmo de programas vinculados pela
mídia, revelando-se como campo de pesquisa de interesse público. De acordo com Alvarenga
e Piccinini (2001) muitas pesquisas enfocam as possíveis implicações das práticas educativas
no desenvolvimento infantil, onde os problemas de comportamento têm sido enfatizados
como uma das variáveis relacionadas às práticas educativas parentais.
Os pais enquanto agentes de socialização procuram direcionar o comportamento
dos filhos a fim de seguir certos princípios morais e adquirir comportamentos que conduzam
à independência, autonomia e responsabilidade, bem como, esforçam-se para diminuir
comportamentos considerados inadequados ou desfavoráveis socialmente. Deste modo, as
práticas educativas parentais caracterizam-se como as diversas estratégias e técnicas
utilizadas pelos pais para orientar o comportamento dos filhos. o conjunto de práticas
utilizadas pelos pais é denominado estilo parental (Gomide, 2003).
21
O estilo parental pode ser definido como uma constelação de atitudes direcionadas à
criança, que criam um clima emocional, no qual os comportamentos dos pais são expressos.
Estes incluem comportamentos com objetivos direcionados que os pais manifestam através
das práticas parentais e comportamentos com objetivos não direcionados, como gestos,
mudanças de entonação da voz ou expressões emocionais espontâneas (Darling &
Steinberg,1993). Segundo Darling e Steinberg (1993), esta definição de estilo parental
embasou diversos estudos sobre socialização conduzidos durante a terceira e quarta década
do século XX, interessados especialmente na influência do comportamento dos pais no
desenvolvimento da criança. Neste contexto, de acordo com as autoras, tinham-se de um lado
os behavioristas, interessados em desvendar como o reforçamento parental conduzia ao
desenvolvimento da criança e de outro, a teoria freudiana que defendia que os determinantes
básicos do desenvolvimento estavam inevitavelmente em conflito com os desejos parentais e
requisições sociais.
O conceito de estilo parental foi inicialmente utilizado por Baldwin em 1949, que
estudou as conseqüências em termos de risco e proteção de dois estilos parentais: o estilo
democrático-recíproco, caracterizado pela tentativa amistosa de envolver a criança no
processo decisório familiar, e o estilo autoritário - impositivo e hostil aos interesses e
vontades da criança (Darling & Steinberg, 1993). Baumrind, em 1971, retomou a linha de
pesquisa de Baldwin, através da análise de diversos dados observacionais e atitudes auto-
relatadas dos pais, acrescentou mais um estilo parental: o permissivo, o qual compreende
tanto a falta de controle, quanto de expectativas de uma conduta madura da criança (Oliveira
et al., 2002).
Conforme Darling e Steinberg (1993), Baumrind focalizou em suas pesquisas a
influência da variação normal da autoridade parental no desenvolvimento precoce da criança.
Articulou e ampliou o conceito de controle parental, antes definido como severidade, uso da
punição física, discussão. Em contraste, Baumrind defendeu que a disposição parental para
socializar suas crianças é conceitualmente distinta da severidade parental e usou o conceito
de controle para referir-se às tentativas dos pais de integrar a criança à família e à sociedade,
pela exigência da conformidade (Darling & Steinberg, 1993).
Segundo Costa, Teixeira e Gomes (2000) o trabalho de Baumrind de 1966, integrou
tanto aspectos comportamentais quanto afetivos envolvidos na criação dos filhos,
impulsionando o estudo dos estilos parentais. Baumrind enfatizou a autoridade que os pais
exercem sobre os filhos, como decorrente das crenças e valores parentais, e não considerou a
22
autoridade parental como uma dimensão contínua; e propôs tipos parentais que foram
chamados inicialmente de autoritativo, autoritário e permissivo (Costa et al., 2000)
De acordo com Gomide (2006) os pais autoritativos são aqueles com uma atitude
calorosa e compreensiva e promovem autonomia psicológica, sendo firmes no
estabelecimento das diretrizes comportamentais, ao contrário dos autoritários, os quais se
caracterizam pela exigência e baixos níveis de afetos positivos e autonomia psicológica.
Baumrind, segundo Bem e Wagner (2006), caracterizou o estilo permissivo, como aquele em
que os pais demonstram afeto, são comunicativos e receptivos com seus filhos, demonstram
ainda, pouco controle parental, utilizando pouco castigo e mostram-se tolerantes aos
impulsos da criança, deixando-a regular suas atividades.
Lamborn, Mounts, Steinberg e Dornbusch (1991) realizaram uma pesquisa com
4100 adolescentes entre 14 e 18 anos de idade, que foram classificados entre 1 de 4 grupos
(autoritativo, autoritário, indulgente ou negligente). Estes adolescentes foram avaliados em
termos do desenvolvimento psicossocial, desempenho escolar, comportamentos de
internalização e problemas de comportamento. Os resultados deste estudo indicaram que
adolescentes que perceberam seus pais como autoritativos mostraram mais aspectos positivos
de desenvolvimento (índice alto de competência psicológica e baixo índice de disfunção
comportamental e psicológica), enquanto o inverso foi constado entre os adolescentes que
perceberam seus pais como negligentes. Adolescentes que caracterizaram seus pais como
autoritários foram razoavelmente bem nas medidas de obediência e conformismo, mas
tiveram autoconceito mais baixo que os demais. Filhos de pais indulgentes apresentaram um
alto senso de autoconfiança, mas relataram com freqüência abuso de substâncias e baixo
desempenho escolar. Parte destes adolescentes (2300 indivíduos) respondeu os mesmos
questionários um ano depois, numa pesquisa de Steinberg, Lamborn, Darling, Mounts e
Dornbusch (1994), através da qual foi constatado que as diferenças de ajustamento do
adolescente conforme o estilo parental de seus pais mantiveram-se ou ainda aumentaram
após um ano da pesquisa inicial.
No Brasil, diversas pesquisas têm explorado a área de práticas e estilos parentais: as
crenças parentais sobre cuidado com os filhos (Lordelo, Fonseca & Araújo, 2000; Ribas Jr.,
Seidl de Moura & Bornstein, 2003); a relação entre estilos parentais ou práticas educativas e
comportamentos dos filhos (Alvarenga & Piccinini, 2001; Weber, Viezzer & Brandenburg,
2003; Oliveira et al., 2002; Bolsoni-Silva & Maturano, 2002; Weber, Biscaia, Paivei &
Galvão, 2002; Salvo, Silvares & Toni, 2005; Motta, Falcone, Clark & Manhães, 2006,
Salvador, 2007); as habilidades sociais parentais e relações entre pais e filhos (Sicuro &
23
Lohr, 2006; Cia, Pereira, Del Prette & Del Prette, 2006); a percepção dos filhos e/ou dos
próprios pais sobre os estilos parentais (Costa et al., 2000; Carvalho & Gomide, 2005;
Weber, Prado, et al., 2004); as estratégias educativas conforme o nível socioeconômico da
família (Bem & Wagner, 2006); o abuso físico nas práticas educativas (Cecconello, Antoni &
Koller, 2003; Weber, Viezzer & Brandenburg, 2004); as práticas educativas e doenças
crônicas dos filhos (Picanço, 2006; Piccinini, Castro, Alvarenga, Vargas & Oliveira, 2003); a
relação entre as relações conjugais e parentais (Oliveira et al., 2002; Braz, Dessen & Silva,
2005) e a transmissão intergeracional (Benincá & Gomes, 1998; Oliveira et al., 2002; Dias &
Lopes, 2003; Vitali, 2004, Weber, Selig, Bernardi & Salvador, 2006).
Pode-se constatar que os estudos nacionais na área das práticas educativas parentais
enfocam suas interrelações com outras temáticas como, crenças, metas de socialização,
habilidades sociais parentais, bem como, as conseqüências dos estilos parentais e práticas
utilizadas pelos pais sobre os filhos, tema que têm sido foco de inúmeras pesquisas sobre as
quais serão discorridas ao longo do texto. Contudo, entre os estudos nacionais citados, apenas
os últimos investigaram transmissão intergeracional dos estilos parentais (Benincá & Gomes,
1998; Oliveira et al., 2002; Dias & Lopes, 2003; Vitali, 2004, Weber et al., 2006).
De acordo com Gomide (2004) as práticas educativas negativas (monitoria
negativa, disciplina relaxada, punição inconsistente, abuso físico e negligência) estão
correlacionadas ao desenvolvimento do comportamento anti-social. Oliveira et al.(2002)
observaram que filhos de mães autoritárias em geral, apresentam comportamentos de
externalização, ou seja, agressão verbal ou física, destruição de objetos, mentira, assim como
comportamentos de internalização que incluem: retração social, depressão, ansiedade. Filhos
de pais autoritários também foram descritos como tendo tendência para um desempenho
escolar moderado, sem problemas de comportamento; porém com pouca habilidade social,
baixa auto-estima e alto índice de depressão (Lamborn, 1991; Cohen & Rice, 1997; Darling,
1999).
A negligência também está correlacionada à deficits comportamentais. Estudos
indicam que filhos de pais negligentes possuem baixo rendimento escolar, sintomas
depressivos e baixa auto-estima (Radziszewska, Richardson, Dent & Flay, 1996; Darling,
1999). Além disso, Weber, Biscaia et al. (2002) observaram que estas crianças possuem
maior índice de estresse.
Entretanto, estilos parentais adequados, como é o caso do autoritativo estão
associados a aspectos positivos: competência social, assertividade, comportamento
independente de crianças (Baumrind, 1966); melhor desempenho no estudo (Steinberg,
24
Darling & Fletcher, 1995; Cohen & Rice, 1997), uso de estratégias adaptativas (Aunola,
Stattin & Nurmi, 2000), maior grau de otimismo (Weber et al., 2003). Em adolescentes o
estilo autoritativo está relacionado a melhores níveis de adaptação psicológica, competência
social, auto-estima, desempenho acadêmico, autoconfiança e menores níveis de problemas de
comportamento, ansiedade e depressão (Baumrind, 1966; Lamborn et al., 1991; Steinberg et
al., 1994). São vistos também, como socialmente e instrumentalmente mais competentes do
que os filhos de pais não autoritativos (Darling, 1999).
Como aponta Weber, Prado et al. (2004), o estilo parental autoritativo mostra-se
bastante adequado para uma educação saudável dos filhos. Adotar este estilo, segundo as
autoras, implica em pais que se envolvam na educação, respondendo às necessidades que a
criança tem de atenção, incentivo, auxílio, diálogo e diversão, bem como supervisionar e
monitorar os comportamentos do filho, exigindo obediência de regras e limites e o
cumprimento de deveres. Pais devem ser responsivos, mas também exigentes, respeitar os
direitos dos filhos, mas fazê-los respeitar seus papéis. uma posição de controle de um
lado e uma posição de compreensão e bi-direcionalidade de outro, que oferece à criança
maior autonomia e auto-afirmação (Weber, Prado, et al., 2004).
Weber, Prado, et al. (2004) investigaram os estilos parentais entre famílias de 239
crianças de 9 a 12 anos e seus respectivos pais. Os resultados mostraram que a maioria dos
pais e das mães foi classificada como negligente (45,4%). O estilo autoritativo foi
representado por (32,8%), o autoritário por 10,1% e o indulgente por 11.8% da amostra. As
autoras consideraram elevado o percentual do estilo negligente, pois englobou quase metade
da amostra. Apesar dos pais terem se percebido como mais responsivos e exigentes do que
seus filhos perceberam, a correlação entre as respostas dadas pelas crianças e por seus pais
foi significativa e positiva. Além disso, a percepção das crianças, de suas mães, foi
correlacionada com a percepção delas de seus pais.
No estudo de Weber, Prado et al. (2004) foi verificada também uma diferença
significativa entre meninos e meninas quanto à exigência, sendo que os pais (pai e mãe) são
um pouco mais exigentes com as filhas do que com os filhos. As autoras apontam que as
diferenças encontradas podem ter uma explicação cultural, pois, normalmente, se imagina
que as meninas precisam de mais cuidados por serem mais frágeis, e que por sua vez, os
meninos são fortes, têm mais autonomia e acabam sendo mais negligenciados por seus pais.
O fato de a diferença encontrada ter sido na dimensão de exigência mostra que os pais
controlam mais a filha do que o filho, confirmando a possível influência cultural. Sobre o
comportamento de pais e mães, os resultados obtidos mostraram uma concordância entre as
25
respostas, o que, de acordo com as autoras, pode resultar em desvantagem para algumas
crianças, especialmente no caso dos estilos negligente, autoritário ou permissivo, ou seja,
uma criança que possui ambos os pais com o mesmo estilo não terá possibilidades de
compensação para a criança, uma vez que pai e mãe seguem um mesmo padrão de
comportamento (Weber, Prado, et al., 2004).
Gomide (2006) encontrou diferenças entre as práticas educativas de pais e mães e
gênero do filho. As mães apresentaram maiores índices de monitoria positiva e
comportamento moral com as filhas, porém maiores índices de abuso físico e disciplina
relaxada com os filhos. entre os pais, Gomide verificou que estes apresentaram maiores
índices de comportamento moral com as filhas e maiores escores em abuso físico com os
filhos. Resultados que refletem diferenças entre as práticas empregadas pelos em relação ao
gênero do filho. Entretanto Zach e Keller (2002) observaram 58 pais e mães em interações
com seus bebês e verificaram que maior tempo era despendido para o filho do mesmo sexo.
Assim, mães passaram mais tempo com suas filhas e pais passaram mais tempo em interação
com seus filhos.
Como visto anteriormente muitos estudos a partir da década de 60 utilizam o
modelo de Diana Baumrind para investigar os estilos parentais. Entretanto, dispomos
também de um modelo nacional de estilos parentais, o qual foi desenvolvido pela
pesquisadora Paula Gomide e tem sido ponto de partida para diversas pesquisas nacionais na
área das práticas educativas (Gomide, 2001; 2003; Pinheiro, 2003; Gomide, Salvo, Pinheiro
& Sabbag, 2005; Gomide, Millan et al., 2005; Carvalho & Gomide, 2005; Salvo, Silvares &
Toni, 2005; Gomide, 2006; Sampaio & Gomide, 2006; Prust & Gomide, 2007; Coelho &
Murta, 2007).
2.3. O Modelo de Estilos Parentais de Gomide
Dentre os pesquisadores brasileiros Paula Gomide (2006) é uma autora de destaque
na área das práticas educativas parentais por desenvolver um modelo de estilos parentais,
bem como um inventário para avaliá-los. Neste modelo estilos parentais os estilos parentais
são divididos em: Estilo Parental Positivo e Estilo Parental Negativo. O estilo parental é
resultante de sete práticas educativas, as quais são divididas da seguinte forma:
A) Práticas educativas positivas:
Monitoria Positiva - refere-se ao uso adequado da atenção e a distribuição
de privilégios, estabelecimento adequado de regras, distribuição segura e
26
contínua de afeto, acompanhamento e supervisão das atividades escolares e
de lazer (Gomide, 2006).
Comportamento Moral - envolve a promoção de condições favoráveis ao
desenvolvimento da empatia, senso de justiça, responsabilidade, trabalho,
generosidade e conhecimento do certo e do errado em relação ao uso de
drogas e álcool, drogas e sexo seguro sempre seguido pelo exemplo dos
pais (Gomide, 2006).
B) Práticas educativas negativas:
Negligência - Está relacionada à falta de atenção e responsabilidades por
parte dos pais às necessidades dos filhos, omissão de auxílio ou
simplesmente quando os pais interagem sem afeto, sem amor (Sampaio &
Gomide, 2007)
Abuso Físico e Psicológico - disciplina através de práticas corporais
negativas, ameaças e chantagens de abandono e humilhação (Gomide,
2006).
Disciplina Relaxada refere-se ao não cumprimento das regras
estabelecidas (Sampaio & Gomide, 2007).
Punição Inconsistente verificada quando pais punem ou reforçam os
comportamentos de seus filhos, orientando-se pelo humor e não pelo ato
praticado, agindo de forma não contingente ao comportamento da criança
(Sampaio & Gomide, 2007).
Monitoria Negativa também denominada de supervisão estressante
(Sampaio & Gomide, 2007), caracteriza-se pelo excesso fiscalizações sobre
a vida dos filhos e instruções independente de seu cumprimento, o que gera
um ambiente de convivência hostil (Gomide, 2006).
Pinheiro (2003) considera a possibilidade de que toda família utilize tanto de ações
educacionais positivas quanto negativas. Porém o que determinará se o estilo parental é de
risco ou não risco ao desenvolvimento de comportamentos anti-sociais é a freqüência com
que as diferentes práticas são utilizadas pelos pais na interação com seus filhos.
As pesquisas que deram origem ao Inventário de Estilos Parentais tiveram início em
1998, quando as questões referentes às práticas estavam sendo objetos de avaliação (Sampaio
& Gomide, 2007). Segundo as autoras, era interesse, neste momento, avaliar tanto o
pertencimento das questões à categoria (práticas educativas) quanto à adequação da
27
linguagem utilizada. Para isso, foram aplicados questionários sobre as práticas educativas
utilizadas pelos pais na educação dos filhos, observando-se também, os comportamentos anti
e pró-sociais das crianças em sala de aula. Os resultados iniciais indicaram a necessidade de
reformulação do questionário quanto ao número de alternativas referentes à monitoria
positiva (31) e monitoria negativa (72), indicando também que provavelmente as questões do
questionário relativas a estilos parentais inadequados refletiram condutas anti-sociais nas
escolas (Sampaio & Gomide, 2007).
Conforme afirmam Sampaio e Gomide (2007), a última versão do instrumento foi
testada durante 2002 e 2003 com uma amostra de adolescentes de diferentes segmentos, o
que permitia comparar: diferença de gênero, grupos de risco (infratores, vítimas de abuso
sexual) e não risco (estudantes), além de classes sociais (adolescentes de
escolas públicas e
particulares).
Gomide (2006) aponta cinco pesquisas importantes realizadas com o Inventário de
Estilos Parentais (IEP) a fim de encontrar a validade interna e externa do instrumento, as
quais são descritas a seguir:
1) O estudo de 2003 de Carvalho, que comparou as respostas de pais e filhos ao
IEP, identificando que não houve diferenças estatisticamente significativas em relação ao
índice de estilo parental tanto para a mãe quanto para o pai, ou seja, o índice de estilo
parental reflete o conjunto das sete práticas educativas, de modo que existe confluência de
percepção entre os membros da família (Gomide, 2006). Estes dados permitem que os
pesquisadores confiem na fidedignidade dos dados coletados por intermédio dos filhos, os
quais estarão refletindo também a percepção dos pais (Gomide, 2006, Sampaio & Gomide,
2007).
2) A pesquisa de Pinheiro (2003), identificou as práticas parentais em famílias de
risco e não-risco através de entrevistas de profundidade com duas mães, dois pais e quatro
filhos adolescentes. As famílias foram classificadas como de risco ou não em função do
índice de estilo parental do IEP do filho em relação aos pais: não-risco quando o índice foi
igual ou maior que 7 e risco quando o índice de estilo parental foi menor ou igual a -8. Os
resultados deste estudo revelaram: a) prevalência de práticas educativas negativas nas
famílias de risco (excessivo uso de todas as práticas educativas negativas, incluindo
negligência e o abuso físico e raras utilizações das práticas positivas) e b) uso disciplinar
adequado nas famílias de não-risco (uso apropriado da monitoria positiva e comportamento
moral na educação dos filhos e raras utilizações de monitoria negativa, punição inconsistente
28
e disciplina relaxada). O que segundo Gomide (2006), vai em direção à validade do construto
deste modelo de Estilo Parental, em que questões do IEP refletem a dinâmica familiar.
3) Gomide (2006) faz menção do estudo de Weber (2004), que investigou sessenta
famílias, trinta de risco e trinta de não-risco, conforme índice de estilo parental dos
adolescentes. Um questionário foi aplicado em todos os participantes, o qual abrangia os
seguintes temas: culpa, vergonha, empatia, honestidade, justiça e generosidade, opiniões
positivas sobre o trabalho e ausência de práticas anti-sociais. Além disso, vinte famílias, dez
de cada grupo, participaram de um debate estimulado por uma história infantil “Cachinhos de
ouro”, onde se buscou verificar a presença ou ausência das variáveis selecionadas. Os testes
estatísticos mostraram que os escores dos adolescentes correlacionaram-se positivamente
como os de seus pais e as médias dos escores dos questionários de comportamento moral das
famílias de risco são estatisticamente diferentes das famílias de não-risco. Através da análise
do discurso extraído do debate sobre a história infantil constatou-se diferenças qualitativas
entre os dois grupos, em que o grupo de não-risco apresentou mais comportamentos
socialmente adaptativos, empatia, generosidade, culpa, vergonha, honestidade e justiça, com
apenas uma citação de comportamento agressivo. No grupo de risco não apareceram
sentimentos de culpa, apenas uma família citou vergonha, empatia e reparação do dano e
sessenta por cento da amostra advertiu que resolveria o problema com agressividade
(Gomide, 2006).
4) Gomide, Salvo et al. (2005) correlacionaram os índices do IEP de 8 famílias: 4
de risco e 4 de não-risco com outros três instrumentos: 1) Inventário Habilidades Sociais
(IHS) - Dell Prette e Dell Prette; 2)Inventário de Estresse de Lipp e 3) Inventário Beck de
depressão, buscando a validação externa do IEP. Em síntese os resultados encontrados
indicaram correlação significativa e negativa entre IEP e o Inventário de Depressão e entre o
Inventário de Estresse e uma correlação significativa e positiva entre o IEP e o IHS-fator 2
(auto-afirmação na expressão de sentimentos positivos), ou seja, quanto mais negativo o
índice do IEP, maiores índices de depressão e estresse foram encontrados nos membros das
famílias pesquisados e, por outro lado, quanto maior o índice do IEP, maior o índice do fator
2 do IHS e vice-versa (Gomide, Salvo et al., 2005). Os resultados deste estudo corroboram os
dados da literatura, que apontam que famílias de risco têm praticas negativas, altos níveis de
estresse e depressão e baixos escores em habilidades sociais (Gomide, Salvo et al., 2005). De
acordo com Sampaio e Gomide (2007), estes resultados apontam ainda, para a validade
externa do instrumento.
29
5) O quinto estudo citado por Gomide (2006) é a pesquisa de Berri (2004), que
realizou um programa de intervenção com mães de adolescentes infratores baseados nas
práticas educativas do IEP. Participaram do programa 5 mães, que encontram-se com a
pesquisadora em oito sessões de uma hora e meia, nas quais foram abordadas as práticas
educativas do abuso físico e da monitoria positiva, pois o excesso de punição física e a
dificuldade em demonstrar afeto aos filhos tinham sido as principais dificuldades apontadas
inicialmente pelas mães. Para avaliar o programa foi realizado um follow up após um mês do
término do programa, no qual duas mães relataram que tanto elas quanto seus filhos haviam
melhorado seu relacionamento e estavam utilizando novas formas de tratar as dificuldades
vividas por eles. A terceira mãe, que durante o programa dizia que seu filho era ótimo e que
não tinha os problemas mencionados pelas demais, passou a adotar uma atitude mais realista,
mostrando raiva e descontentamento que a situação causava. A quarta mãe, muito agressiva
durante o programa continuou com o padrão agressivo de relacionamento familiar e a quinta
mãe que se esquivou de realizar a maioria das tarefas propostas durante o programa
aparentemente não mudou seu padrão disciplinar.
Sampaio e Gomide (2007) argumentam que a validação do Inventário de Estilos
Parentais foi resultado de duas pesquisas: 1) Gomide e Sampaio e 2) Gomide e Maggi, ambas
realizadas por meio do PIBIC/CNPQ durante o ano de 2004. Na primeira o IEP foi aplicado
em 633 alunos de colégios estaduais e particulares (amostra de não-risco) e na segunda, o
mesmo estudo foi desenvolvido, porém em uma amostra de risco, constituída por 136
adolescentes de uma instituição para jovens infratores e abrigos para adolescentes vitimas de
abuso. Segundo Sampaio e Gomide (2007), através da análise dos resultados destas duas
pesquisas, foram constatadas diferenças estatisticamente significativas entre os grupos, onde
as médias das práticas positivas da amostra de risco foram menores, quando comparadas as
de não-risco em ambos os pais (pais e mães). Além disso, a partir dos dados provenientes
dos testes estatísticos, foram elaboradas as tabelas normativas, que permitem identificar se o
respondente está em um nível de risco e qual a gravidade dele (Sampaio & Gomide, 2007).
Estas tabelas correspondem às páginas 58 e 59 do manual de aplicação (Gomide, 2006)
Como mencionado, diversos estudos nacionais tiveram como base o modelo de
Gomide, entre eles está o de Salvo et al. (2005), que realizaram um estudo com 30 crianças
entre 11 e 13 anos utilizando o IEP e Child Behavior Check List, a fim de verificar se as
vaiáveis do IEP estavam relacionadas a problemas de comportamento nas crianças e
encontraram os seguintes resultados: a monitoria positiva materna como preditora de
sociabilidade nos filhos, sendo sua ausência preditora de comportamento agressivo; o
30
comportamento moral materno apareceu como prática preditora de atividades e competência
social e a monitoria negativa materna foi preditora de problemas com a atenção e da escala
de internalização. A falta de monitoria positiva e a presença da monitoria negativa materna
foram preditoras da subescala externalização e a monitoria negativa materna aliada à
disciplina relaxada materna foram preditoras da subescala de ansiedade/depressão.
O estudo de Salvo et al. (2005) que vai de acordo com o que é apontado por
Gomide (2003, 2004), que a presença das práticas positivas estão associadas a
comportamentos pró-sociais na criança, bem como aos estudos de sobre os efeitos positivos
do estilo autoritativo (Baumrind, 1966; Lamborn et al, 1991; Steinberb et al; 1994 & Darling,
1999) e as conseqüências negativas do estilo autoritário (Cohen & Rice, 1997; Oliveira et al,
2002).
2.4. Estudos sobre Transmissão Intergeracional
Muitas pesquisas até o início da década de 80 buscaram caracterizar os estilos
parentais, sem preocupar-se com o estudo sistemático de possíveis dimensões subjacentes aos
estilos parentais (Darling & Steinberg, 1993). Desta forma, a questão da intergeracionalidade
dos estilos parentais é uma questão a ser mais estudada.
Jenning e Niemi (1968) citados por Benincá e Gomes (1998) advertem que o
conceito de geração passou a ser utilizado de forma especial no final da década de 60 para
explicar o papel diferenciado de cada extrato de idade como força ativa no processo de
mudança social. Neste período, as diferenças entre gerações tornaram-se objeto de estudo dos
pesquisadores interessados nos movimentos estudantis.
Nos dias atuais constata-se, por um lado, pesquisas a favor da continuidade
intergeracional e de outro, pesquisas que defendem a descontinuidade entre as gerações, o
que demonstra não haver um consenso sobre o tema. Benincá e Gomes (1998) sugerem que
no Brasil, as pesquisas centram-se sobre a questão da descontinuidade entre gerações, que
refletem o processo acelerado de mudança social, principalmente nas camadas médias.
Dentre os estudos brasileiros que enfocaram a questão da concordância
intergeracional na maternidade, destaca-se o de Almeida (1987), que comparou mães que
encontravam-se na primeira gravidez, com idades entre 25 e 30 anos (mães dos anos 80), e
suas respectivas mães (mães dos anos 50). A autora verificou que a mãe dos anos 50 ao se
31
tornar avó, tendia a exercer um poder autoritário sobre a filha, buscando impor seus padrões
relativos à maternidade, mas ao ver-se impossibilitada de fazê-lo, devido à confrontação por
parte da filha, a mãe dos anos 50 se transformava por reação e se identificava com a causa da
filha. Assim, foi observada a desvalorização da experiência e uma avaliação negativa dos
seus modelos de maternidade, quando comparados com as representações destas mesmas
experiências vividas pela filha. Assim, observou-se no estudo mencionado uma forte
predisposição no grupo de mães dos anos 80 de se distanciarem da ameaça de reprodução do
modelo de maternidade de suas mães.
Benincá e Gomes (1998) examinaram um conjunto de descrições e entendimentos
de mudanças em idéias e comportamentos familiares através de três gerações e identificaram
três importantes modificações: 1) as transformações nas regras de coesão e socialização
familiar, 2) a ampliação do espaço da mulher na vida familiar e profissional, com a
redefinição da função paterna, e 3) as alterações nos valores educacionais. As relações
intergeracionais mostraram-se organizadas segundo os autores, por duas forças antagônicas:
a descontinuidade, no sentido da promoção de padrões alternativos e da modernidade social;
e a da continuidade, no sentido de promoção da linearidade familiar. De acordo com os
autores, a atual geração de pais vive uma fase de transição: ao mesmo tempo em que tem
consciência do que o devem fazer, ainda não encontram um padrão adequado de
comportamento para passar aos filhos. O que exige a atenção dos pesquisadores, tanto no
sentido de ampliar e pormenorizar o entendimento destas questões através de um programa
sistemático e continuado de pesquisa sobre relações familiares em diversas regiões
brasileiras, quanto propor modos de orientação e auxílio para mães e pais (Benincá &
Gomes, 1998).
Oliveira et al. (2002) encontraram uma correlação positiva entre as medidas de
autoritarismo da avó materna e da mãe. Quanto mais a mãe percebeu sua experiência de
criação pregressa como autoritária, mais ela relatou um estilo parental igualmente autoritário
para com a criança, sendo que essa transmissão intergeracional foi mediada pelo
relacionamento conjugal conflituoso da mãe. Assim, a experiência relacional com uma mãe
autoritária, na infância, é repetida no estilo parental da geração seguinte através do aumento
da atitude conjugal conflituosa. Entretanto, semelhantes relações intergeracionais não foram
encontradas para o estilo parental democrático-recíproco. Para os autores, uma hipótese
destes resultados seria a dificuldade de caracterizar este estilo.
Dias e Lopes (2003) investigaram as representações de maternidade de jovens mães
e das suas mães, focalizando três dimensões: a) representação de si mesma como mãe, b)
32
representação de sua própria mãe (ou filha) como mãe e c) representação de como uma boa
mãe deveria ser. Nos resultados foram encontrados alguns padrões de semelhança entre as
características utilizadas pelas filhas e mães para descreverem-se a si próprias como mães, as
suas mães/filhas e a boa mãe. No entanto, o conflito esperado em relação à maternidade não
ocorreu. Não se evidenciou nenhum tipo de contestação de modelos de maternidade no grupo
de mães jovens. Nenhuma delas manifestou desejo consciente de ser diferente de suas mães.
Ao descreverem sua mãe/filha como mãe, tanto as mães como as jovens mães procuraram
ressaltar o lado bom de sua relação, não se referindo aos problemas ou discordâncias entre
elas. Tal fato pode estar ligado, segundo os autores, a certa idealização da relação mãe-filha.
Atualmente, encontra-se na literatura um conjunto de conhecimentos empiricamente
embasados sobre a transmissão entre gerações do comportamento agressivo. Pais que
receberam educação severa e/ou foram vítimas de maus tratos na infância apresentam maior
risco para repetir esta experiência com seus próprios filhos (Capaldi & Patterson, 1991;
Simons et al., 1991; Muller, Hunter & Stollak, 1995; Dubow et al., 2003; Hops, Davis, Leve
& Sheeber,2003). Outros estudos enfocam a transmissão de atitudes parentais de rejeição
(Lundberg, Perris, Schlette & Adolfsson, 2000; Whitbeck et al., 1992). Entretanto, como
aponta Oliveira et al (2002) embora o estilo autoritário englobe algumas dessas práticas e
atitudes, ainda não evidência da intergeracionalidade do autoritarismo, enquanto estilo
parental e pouco se sabe sobre práticas ligadas à proteção (Oliveira, 1998; Rutter, 1998).
Simons et al. (1991) testaram a transmissão da disciplina severa através de um
modelo baseado na teoria da aprendizagem social. As análises mostraram que avós que se
engajaram em práticas agressivas produziram, nos dias atuais, pais que geralmente
utilizavam práticas similares, sendo que este efeito foi mais forte nas mães quando
comparadas aos pais. Para Cecconello et al. (2003) estes resultados confirmam a existência
do ciclo de violência, em que pessoas tratadas com severidade na infância crescem utilizando
prática similar com seus próprios filhos.
Este ciclo de violência é explicado pela teoria da
aprendizagem social.
De acordo com Bandura (1979), precursor da escola da aprendizagem social, os
fenômenos de aprendizagem resultantes da experiência direta podem ocorrer através da
observação de outras pessoas e suas conseqüências, o que é denominado modelação. Assim,
a severidade dos pais em uma geração pode influenciar diretamente a parentalidade da
próxima geração, através do efeito de modelação simples, ou pode ser transmitida
indiretamente, através do estilo de relacionamento interpessoal ou das crenças parentais
(Cecconello et al., 2003). Deste modo, pais, professores e outros agentes de socialização que
33
utilizam punição podem inadvetidamente, estar criando modelos de agressão e violência no
trato com as pessoas. Assim, aquele que recebe punição pode aprender que agressão é um
meio “eficiente” de lidar com os outros. Eficiente porque geralmente a pessoa que usa da
punição é reforçada pelas conseqüências da mesma no ambiente, conseguindo de forma
imediata supressão do comportamento do outro pelo uso do poder e da coerção.
Simons et al. (1991) sugerem algumas explicações para a transmissão
intergeracional: 1) pais que foram expostos a altos níveis de disciplina severa na infância
podem desenvolver uma filosofia que favorece a severidade e a disciplina física, que justifica
sua maneira de criar ou educar a criança; 2) esta forma pode resultar na aprendizagem de
uma série de práticas disciplinares agressivas, que passarão a ser utilizadas no futuro; 3) a
personalidade hostil e agressiva também contribui, uma vez que os pais tendem a utilizar
comportamentos agressivos para com as pessoas em geral, incluindo os próprios filhos.
Entretanto, Simons et al. (1991) salientam que estas hipóteses, não são mutuamente
excludentes.
Entretanto, alguns estudos como o de Cecconello (2003) demonstram o rompimento
da transmissão intergeracional. O autor mencionado constata que em determinadas situações
houve o rompimento do ciclo de violência em famílias cujos pais foram submetidos na
infância a altos níveis de maus tratos e abuso. Os fatores que contribuíram para esta
interrupção foram: a manutenção de um relacionamento amoroso estável; a participação em
psicoterapia e grupos de auto-ajuda e a rede de apoio social estabelecida com pessoas
significativas e com recursos disponíveis como centro de saúde, trabalho e igreja. De acordo
com Cecconello (2003) estes fatores propiciaram o estabelecimento da harmonia no ambiente
familiar, com relações entre pais e filhos permeadas por afeto e equilíbrio de poder.
Hops et al. (2003) realizaram uma pesquisa longitudinal que incluiu três gerações.
Participaram do estudo 39 jovens adultos (G2) e seus filhos (G3), estes jovens adultos
haviam participado anos antes com seus pais (G1) de um estudo sobre ajustamento
psicossocial de adolescentes, sendo acompanhados por 6 anos. Na primeira parte do estudo o
grupo pais (G1) e filhos (G2) responderam questionários sobre ajustamento familiar, G1
respondeu o inventário Child Behavior Checklist (CBCL) em relação aos seus filhos G2 (que
ainda eram adolescentes) e todos os membros da família foram também filmados em tarefas
de resolução de problemas. Anos depois, quando estes adolescentes eram jovens pais eles
responderam o mesmo CBCL sobre seus filhos (G3), sendo novamente filmados, agora em
interações com mesmos. Propositalmente, foram selecionados neste estudo os jovens adultos
(G2), cujos resultados na primeira aplicação do CBCL eram de agressividade.
34
A análise dos resultados deste estudo demonstrou a relação intergeracional entre
agressividade parental (G1) e a agressividade parental (G2), também foi constatado relação
entre agressividade parental (G1) e funcionamento agressivo nos adolescentes (G2), o qual
teve correlação com subseqüente agressividade nas crianças do G3. Os autores apontam as
limitações do estudo, como o caso do tamanho da amostra e recomendam a outros
pesquisadores explorar em que extensão a agressividade no G1 vai predizer a agressividade
no G2. Por fim, concluem que os resultados encontrados na pesquisa demonstram a
perpetuação do ciclo de agressão através das gerações.
Weber, Viezzer, et al. (2004) realizaram uma pesquisa com crianças e adolescentes
com o intuito de identificar as práticas disciplinares utilizadas por seus pais ou familiares e a
opinião das crianças e dos adolescentes sobre o uso de punições corporais e de castigos (não
corporais). Os resultados indicaram que apesar de as crianças apresentarem reações negativas
diante da punição corporal, há uma tendência de elas seguirem o modelo de educação
oferecido por seus pais ou responsáveis. Das crianças que já apanharam 63,4% consideraram
a palmada importante para um melhor comportamento e 51,2% pretendem bater em seus
filhos futuramente. Entre as que nunca apanharam, 78,3% não consideraram a palmada
importante e 77,8% não pretendem bater em seus filhos. Segundo as autoras, a passagem do
modelo de uma geração para outra é uma das razões para que a punição corporal venha se
mantendo ao longo da história como prática educativa, que forma um círculo vicioso difícil
de ser questionado e rompido.
Vitali (2004) analisou os estilos parentais por meio de duas escalas que avaliam as
dimensões de exigência e responsividade de pais e avós de adolescentes provientes de
camadas populares (renda inferior a três salários mínimos). As escalas de responsividade e
exigência de Lamborn e colaboradores de 1991, foram aplicadas em 42 adolescentes e seus
pais e mães, assim os escores dos adolescentes se referiam ao estilo de seus pais e os escores
das escalas aplicadas com os pais identificavam os estilos dos avós. Entre os resultados, o
autor encontrou maior exigência tanto entre as avós quanto entre as mães. O escore dos
homens (pais e avôs) foi menor em exigência, entretanto, pais e avôs não apresentaram
diferenças, ou seja, mães replicaram o comportamento das avós e pais replicaram
comportamento de seus pais (Vitali, 2004).
Com relação à responsividade Vitali (2004), encontrou maiores escores também
entre mães e avós, porém não houve diferenças quanto ao sexo na transmissão
intergeracional, ou seja, a responsividade das avós não se diferenciou da responsividade das
mães e dos pais. Já no caso dos avôs a responsividade, não houve diferenças entre os
35
resultados dos pais; porém, entre as mães, a responsividade foi maior na segunda geração. O
autor verificou a transmissão de estilos em 30 casos: 17 foram do estilo negligente, 12 do
autoritativo, 1 do indulgente, com uma prevalência dos casos de transmissão do estilo das
mães (17 casos) em relação ao dos pais (13 casos). Assim, foi observado mais transmissão
dos estilos entre as mães e as suas mães, sendo que os pais foram a maioria do grupo não
transmissão, a hipótese para este resultado segundo Vitali é que a função da mãe seja mais
sólida e mais próxima do que a função do pai na educação dos filhos.
Pinheiro (2003) realizou um estudo de profundidade em 4 famílias, duas
considerados como não risco, ou seja, predominância de práticas educativas positivas,
conforme IEP (famílias 1 e 2), e duas famílias de risco, nas quais predominavam as práticas
educativas negativas conforme modelo de Gomide (famílias 3 e 4), sendo um dos aspectos
analisados a transmissão intergeracional, onde os pais das duas famílias respondiam ao IEP
tanto sobre seus filhos, quando sobre seus pais. Através desta análise intergeracional, a autora
observou que
a mãe 3 e ambos os pais da família 4 reproduziram as práticas negativas
recebidas na infância. Porém, também verificou que a mãe 1 e que ambos os pais da família
2 superaram as práticas negativa. Comparada a mãe que superou as práticas intergeracionais
negativas às mães 3 e 4 (que mantiveram ou mesmo aumentaram os índices de práticas
negativas), constatou-se que estas indicaram altos índices de negligência para suas mães,
muito superiores ao da mãe 1. O mesmo foi observado ao se comparar a mãe 2, que também
superou a transmissão intergeracional negativa, com as mães 3 e 4. Pinheiro sugere que esta
prática educativa pode ser um indicativo para a manutenção negativa intergeracional nas
mulheres.
Ao analisar os pais, Pinheiro (2003) observou superação das práticas negativas no
pai 2 e ao compará-lo aos pais 3 e 4 que não superaram a herança intergeracional negativa,
constatou-se novamente a presença da negligência nos pais, entretanto, ausente ou baixa nas
mães e a baixíssima monitoria positiva e negativa paterna. Porém, a comparação dos
resultados dos inventários de estilos parentais indicou que a monitoria negativa da mãe do pai
2 era muito baixa, contudo, nas mães dos pais 3 e 4 a pontuação desta prática foi muito
elevada. Neste sentido a autora sugere a influência de algumas práticas educativas no gênero
da prole, sendo que as mulheres pareceram ser mais suscetíveis à negligência materna e os
homens à monitoria negativa de suas mães.
A segunda análise em relação à transmissão intergeracional feita por Pinheiro
(2003) foi baseada nos discursos, através dos quais a autora constatou a importância da
empatia e do abuso psicológico/emocional como elementos de análise. Neste sentido, a
36
autora levanta a hipótese de que a falta de empatia percebida em ambos os pais e o uso de
abuso emocional constituíram uma parceria com riscos para adoção de práticas educativas
negativas e consequentemente, sua continuidade entre as gerações, sendo o contrário também
verdadeiro, ou seja, a presença da empatia ou a ausência de abuso emocional em pelo menos
um dos pais poderia ser o diferencial para o filho romper a transmissão intergeracional
negativa (Pinheiro, 2003).
Weber et al. (2006) realizaram um estudo investigando as três gerações
(avó/mãe/neta) em 7 famílias de classe média, foram analisadas 12 escalas: relacionamento
afetivo, regras, envolvimento, reforçamento, comunicação positiva dos pais, dos filhos,
comunicação negativa, punição inadequada, modelo, sentimento dos filhos, clima conjugal
positivo e negativo. Os resultados demonstraram que não houve diferenças entre as gerações
nestas escalas, com exceção na comparação entre a primeira e terceira geração nas seguintes
escalas: relacionamento afetivo em relação à mãe, envolvimento em relação às mães e
comunicação positiva dos filhos em a relação à mãe. As pesquisadoras também constataram
neste estudo que a maioria relatou maior envolvimento com as mães comparadas aos pais.
Apesar de este estudo ter encontrado transmissão intergeracional em 91,7% das variáveis
analisadas, na família 6, a mãe (segunda geração) mencionou rejeição por parte dos pais na
infância, mas conseguiu modificar este padrão demonstrando afeto para sua filha.
Hops et al. (2003) argumentam que o escopo de pesquisas que examinam a questão
da transmissão intergeracional da parentagem ainda é pequeno e um grupo substancial de
pesquisas enfocam a continuidade geracional das práticas abusivas. Entretanto os autores
alertam sobre questões metodológicas das mesmas e a dificuldade de investigar como se
esta transmissão intergeracional das práticas abusivas.
A explicação de Seligman e Csikszentmihalyi, (2000) para o fenômeno de
continuidade comportamental de uma geração para a outra em relação às práticas autoritárias,
é a possibilidade do mundo social promover mais a continuidade de risco do que de proteção,
e melhores previsões de critérios socialmente indesejáveis do que desejáveis.
Rutter (1998) argumenta que ainda não se sabe até que ponto a continuidade e a
descontinuidade intergeracionais são fenômenos objetivos ou restritos à experiência
subjetiva. Isso pode depender do construto em questão e da variação dos conceitos ao longo
das gerações envolvidas. Além do mais, poucas o as pesquisas brasileiras que investigaram
o fenômeno da transmissão intergeracional dos estilos parentais, sendo que Vitali (2004)
adverte a necessidade de outros estudos para a compreensão do processo de transmissão
37
intergeracional dos estilos e práticas educativas e para que novos resultados sejam divulgados
e possam orientar o trabalho dos profissionais.
Como o presente estudo teve como objetivo investigar a hipótese de transmissão
intergeracional dos estilos parentais tendo em vista a lembrança que os pais possuem sobre as
práticas que foram submetidos durante a infância, segue uma reflexão acerca da importância
da lembrança.
2.5. A Importância da Lembrança
A partir da década de 70, observou-se um aumento no interesse de se estudar a
memória numa perspectiva que a considera um objeto social coletivo, devido à retomada do
conjunto de estudos desenvolvidos entre 1920 e 1940 por Maurice Halbwachs, o que
proporcionou nesses últimos 35 anos a proposição de novos problemas teóricos para as áreas
da história, da sociologia, da antropologia e da psicologia social, entre outras (Nascimento &
Menandro, 2005). Como analisa Brandão (1998), Halbwachs enfoca a questão da lembrança
na relação eu-e-meu-mundo (social). Desta maneira, a atividade criadora da memória
submete-se aos princípios da socialização de quem recorda e da sociabilidade do que se
recorda.
Como argumentam Nascimento e Menandro (2005) não é possível pensar o
surgimento e a continuidade de culturas humanas sem tomar como condição indispensável a
possibilidade dos indivíduos armazenarem e comunicarem informações.
Jedlowski (2001) afirma que memória na linguagem científica e cotidiana refere-se
a um vasto conjunto de fenômenos não completamente homogêneos. Em um sentido mais
amplo, memória pode ser considerada como a capacidade de um sistema responder a eventos
acumulando a informação resultante e modificando sua estrutura de modo que a resposta a
eventos subseqüentes é afetada por aquisições prévias. Em um sentido mais estreito, memória
significa a faculdade humana de, preservando certos traços de experiências passadas, dar
acesso a esses – ao menos em parte – através de lembranças.
Nascimento e Menandro (2005) citam as contribuições do inglês Barlett sobre a
questão da memória, que podem ser assim resumidas: 1) os hábitos sociais e as interpretações
pessoais exercem importante influência no processo de memorização e recapitulação da
informação, função essa que se prolonga no tempo atuando na reestruturação do sentido da
38
informação, o que altera continuamente a configuração com que as informações são
memorizadas; 2) dados obtidos a partir de diferentes grupos étnicos mostram que a cultura
desempenha papel fundamental na maior ou menor probabilidade de fixação de conteúdos; 3)
a memorização não é independente de processos emocionais e as lembranças são narradas,
muitas vezes, associadas a uma carga emocional que as acompanha, e em cuja origem
também está implicada a cultura.
Numa tentativa de discernir os vários tipos de memória, Connerton (1999) propõe a
seguinte divisão: a) Memórias Pessoais: diz respeito àqueles atos de recordação que tomam
como objeto a história de vida de cada um. Falamos delas como memórias pessoais porque se
localizam num passado pessoal e a ele se referem; b) Memórias cognitivas: abrangem as
utilizações do verbo “recordar” em que se pode dizer que recordamos o significado de
palavras, das linhas de um poema, das piadas, de histórias, do traçado de uma cidade, de
equações matemáticas, de princípios da gica, ou de fatos sobre o futuro. Para existência
desta memória o nosso conhecimento pressupõe, de algum modo, a ocorrência anterior de um
estado pessoal cognitivo ou sensorial; c) Memória-hábito: consiste pura e simplesmente na
nossa capacidade de reproduzir uma determinada ação. Recordar como se lê, escreve ou anda
de bicicleta é, em cada um dos casos, uma questão de sermos capazes de fazer estas coisas,
de forma mais ou menos eficiente, quando tal necessidade surge.
Assim, nos deteremos mais especificamente no primeiro tipo de memórias: aquelas
a que chamamos memórias pessoais, sendo interesse deste estudo as memórias referentes aos
cuidados e práticas parentais na infância. Neste sentido, Halbwachs (1990) afirma que quanto
mais distantes os fatos recordados, maior a probabilidade de que nos venham à lembrança em
conjunto, sobressaindo-se claramente nesse conjunto, as similitudes dos eventos, mais do que
a sua diferenciação. Halbwachs coloca também, as lembranças de um grupo dividem-se em
dois planos, no primeiro, as lembranças dos acontecimentos e das experiências que condizem
a um número maior de pessoas e que resultam quer de sua própria vida, quer de suas relações
com os grupos mais próximos. No segundo plano, encontram-se as lembranças que
ocorreram com pouca freqüência em um único membro do grupo.
Bosi (1979) apud Brandão (1998) adverte que a memória possui uma função
decisiva no processo psicológico total, pois permite a relação do corpo presente com o
passado e, ao mesmo tempo, interfere no processo "atual" das representações. Através da
memória, o passado não só vem à tona, misturando-se com as percepções imediatas, como
também empurra estas últimas, ocupando o espaço todo da consciência. A memória aparece
39
como força subjetiva, sendo ao mesmo tempo, profunda e ativa, latente e penetrante, oculta e
invasora.
Nascimento e Menandro (2005, p.10) colocam a seguinte questão: “Se a própria
dinâmica da Memória possibilita que negociemos continuamente no passado nosso presente e
nossas expectativas quanto a um futuro deles decorrente, mantendo nessa negociação uma
coerência que nos é tão cara, por que se tem insistido tanto numa “cristalização” do passado
na forma de autobiografias?” Nascimento e Menandro (2005) argumentam que uma hipótese
é a atenção dada no passado, ao discurso historiográfico, que valorizou sobremaneira as
memórias privadas. O interesse pela produção de relatos autobiográficos proporcionou ao
investigador social a possibilidade de acesso a novas fontes para investigação da memória.
Deste modo, e também de acordo com uma progressiva valorização do sentimento da
infância a partir dos séculos XVI e XVII na Europa, a avaliação de que a própria vida
merecia ser contada produziu uma quantidade razoável de relatos sobre os tempos de menino
(Nascimento & Menandro, 2005).
Sobre as lembranças da infância, Nascimento e Menandro (2005) ressaltam a
presença do elemento saudoso em diversas falas sobre estas memórias, o que aponta que os
sujeitos, ainda que de forma diferente, avaliam e tomam partidos na disputa entre o seu
passado, mesmo que duro, e o presente, mesmo que incerto. Foi este o intuito do presente
estudo, buscar o que os pais lembravam sobre como foram cuidados na infância, bem como
suas próprias práticas parentais com seus filhos, identificando a relação entre estas duas
temáticas.
2.6. Memórias de Cuidados na Infância
Como evidenciado em capítulos anteriores existem muitos dados na literatura sobre
as conseqüências das práticas educativas sobre o desenvolvimento infantil, bem como a
transmissão intergeracional do comportamento agressivo. Entretanto, faz-se necessário o
levantamento de estudos a respeitos das implicações na vida adulta dos cuidados recebidos
na infância. Estudos que são discutidos neste capítulo.
Belsky et al. (1990) investigaram 92 mães e suas memórias da infância, constatando
que lembranças de rejeição e falta de apoio na infância refletiram negativamente no afeto
para com a criança, quando a qualidade da relação conjugal também era percebida como
pouco positiva. Entretanto, quando a qualidade conjugal era percebida como positiva, as
40
lembranças de rejeição ou falta de apoio não refletiam no afeto materno atual. No estudo de
Belsky et al, a qualidade da relação conjugal revelou-se como um fator de proteção.
O estudo de Oliveira et al. (2002) também evidenciou a questões do relacionamento
conjugal. Neste estudo, quanto mais as mães perceberam sua experiência de criação
pregressa como autoritária, mais relataram um estilo parental igualmente autoritário para com
a criança, sendo a transmissão intergeracional mediada pela atitude conjugal conflituosa da
mãe. Assim, a experiência relacional com uma mãe autoritária, na infância, se repetiu no
estilo parental da geração seguinte através de um aumento da atitude conjugal conflituosa.
Zavaschi et al. (2002) realizaram uma revisão da literatura dos últimos dez anos
sobre os estressores presentes na infância associados à depressão na vida adulta. A maioria
dos estudos consultados encontraram uma associação significativa entre trauma por perdas na
infância e depressão na vida adulta, com variação na intensidade das associações observadas.
A associação de trauma por perda na infância com depressão na vida adulta vem sendo
estudada atualmente em diferentes dimensões teóricas. As abordagens neurobiológica e
genética têm buscado alterações funcionais e estruturais do cérebro, decorrentes de
experiências adversas precoces, a fim de identificarem padrões neurobiológicos que
fornecem substrato para a maior vulnerabilidade e regulação dos afetos, contudo a maioria
destes estudos são com animais (Zavaschi et al., 2002).
Na mesma linha de estudo, Carvalho e Coelho (2005) realizaram uma pesquisa com
9 mulheres entre 40 e 60 anos de baixa renda e com diagnóstico de depressão. Através da
análise das histórias de vida os autores contataram que perdas (caracterizadas por morte ou
abandono dos pais, ausência de cuidados na infância e dificuldades econômicas, entre outros
fatores) tiveram implicações na saúde física e mental das participantes.
Whitbeck et al. (1992) estudaram três gerações em uma amostra de 451 famílias. Na
primeira visita a cada família, todos os membros completaram um questionário a respeito de
características individuais, processo familiar, circunstâncias econômicas da família. Na
segunda visita (duas semanas depois) os membros da família foram filmados em varias
tarefas de interação, mas antes foi solicitado para cada membro responder um pequeno
questionário sobre áreas de desentendimento entre os familiares. Na primeira tarefa
estruturada os 4 membros sentaram em volta da mesa e ganharam alguns cartões para ler e
discutir (pais, performance escolar, casa e importância de eventos familiares). Depois de
passados 35 minutos o entrevistador retornou e descreveu a segunda tarefa, sendo as
próximas 3 tarefas completadas de forma similar: A segunda tarefa era de 15 minutos e
também envolveu os 4 membros, os 3 tópicos foram selecionados a partir do questionário
41
aplicado no inicio da sessão e foi solicitado aos membros discutir e tentar resolver o que eles
identificaram como mais problemático. A terceira tarefa envolvia somente os irmãos (15
minutos), onde foram entregue cartões (como eles se sentiam com o tratamento dos seus pais,
na sua relação com amigos, seus objetivos e inspirações). A quarta tarefa (30 minutos)
envolveu apenas o casal, que teve que discutir sua relação, áreas de concordância e
discordância, educação dos filhos, finanças e planos para o futuro.
Os resultados encontrados por Whitbeck et al. (1992) fornecem evidências da
continuidade entre rejeição parental e efeitos depressivos nas descendências das duas
gerações e da transmissão direta e indireta (através do afeto deprimido). Os resultados foram
mais consistentes para as mulheres, do que para os homens, nos quais lembranças das mães
G1 afetaram o comportamento parental, mas não refletiu em efeitos depressivos. Por outro
lado, nos homens, lembranças de cuidados parentais pelos pais G1 tiveram efeitos similares
àqueles do G2 mulheres. Em todos os casos, o comportamento de rejeição dos pais G2 teve
efeitos semelhantes nos adolescentes deprimidos. Whitbeck et al. (1992) concluem que a
história de rejeição pelos pais aumenta a probabilidade de efeitos depressivos nos adultos,
que por sua vez, aumenta a probabilidade de comportamentos parentais de rejeição.
Estudos sobre estilo de vinculação (Pacheco et al., 2003; Rodrigues et al., 2004)
baseiam-se na teoria de Bowlby (1990), que propõem que as experiências significativas são
internalizadas na forma de modelos de relacionamento, os quais uma vez formados são
resistentes a mudanças.
Assim, geralmente as pessoas na sua vida adulta estabelecerão
padrões similares de relacionamento que tiveram com as pessoas significativas na infância,
geralmente mãe e pai.
Rodrigues et al. (2004) investigaram de que modo as memórias de cuidados na
infância contribuem para o estilo de vinculação de grávidas adolescentes. Os resultados deste
estudo corroboraram os dados da literatura, ou seja, adultos seguros descrevem suas figuras
de vinculação primárias como tendo sido carinhosas, disponíveis, atentas e capazes de
responder às necessidades sentidas, têm recordações mais positivas das figuras parentais na
infância e representam os progenitores como mais benevolentes e menos punitivos que os
sujeitos com vinculação insegura. Estes últimos recordam práticas de cuidados parentais mais
inadequadas, referindo que as figuras de vinculação foram menos protetoras e carinhosas,
mais intrusivas, mais inconsistentes, mais inacessíveis e mais rejeitantes.
Maia e Willians (2005) fizeram uma revisão dos fatores de risco e proteção ao
desenvolvimento infantil e citaram Barnet (1997) que argumentou que 30% das crianças
maltratadas produzirão abuso ou negligência em suas crianças no futuro, e 70% de pais que
42
maltratam seus filhos foram maltratados quando crianças. Este autor, também afirma que
grande parte dos pais possui características que podem prejudicar seus filhos, mas muitos não
permitem que tais características interfiram no cuidado destinado a eles. Contudo, Barnet cita
que pais que maltratam são menos positivos e dão menos suporte na educação de seus filhos.
São mais negativos, hostis e punitivos do que pais que não maltratam. Tendem a reagir de
forma mais negativa do que outros pais a reações da criança como por exemplo, o choro.
Pesquisas como as citadas neste capítulo são importantes por demonstrar a
repercussão das memórias de cuidados na infância na vida adulta. Entretanto, pouco se sabe
sobre as conseqüências daquelas nas práticas parentais de cuidados atuais, objetivo principal
deste estudo.
43
3. OBJETIVOS
3.1. Objetivo geral:
Identificar e avaliar as relações entre memórias de cuidados na infância e práticas
educativas parentais.
3.2. Objetivos específicos:
Identificar as práticas educativas parentais utilizadas por pais e mães;
Caracterizar as lembranças de pais e mães dos cuidados parentais recebidos na infância;
Relacionar as práticas educativas de pais e mães às lembranças cuidados recebidos na
infância.
44
4. MÉTODO
4.1 Caracterização
A pesquisa realizada configura-se como um estudo correlacional, pois procura
estabelecer a relação entre as variáveis pesquisadas, ou seja, a lembranças de cuidados
recebidos na infância e as práticas educativas atuais, quantificando esses padrões de relação.
4.2 Participantes
No total 80, indivíduos participaram do presente estudo, 60 do sexo feminino e 20
do sexo masculino, que possuíam pelo menos um filho na faixa etária de 12 e 18 anos,
residentes em uma cidade do estado de Santa Catarina, situada na região do vale do rio Itajaí.
Os dados foram organizados em dois grupos: grupo 1, mães e grupo 2, pais.
Os critérios para a inclusão foram: 1) possuir pelo menos um filho entre 12 e 18 anos;
2) que as mães e os pais residissem com seus filhos. Esta faixa etária dos filhos foi escolhida
devido a algumas questões do Inventário de Estilos Parentais exigirem certa autonomia dos
filhos, como por exemplo a questão 1) Quando meu filho sai, ele conta espontaneamente
onde vai.
Como o alvo deste estudo foram pais e mães de filhos adolescentes e devido a
dificuldade de encontrá-los em um único local, o procedimento de acessibilidade dos
participantes foi semelhante a uma técnica bastante utilizada em outros países e denominada
snowball (bola de neve). A técnica snowball consiste em procurar participantes por
indicações de pessoas conhecidas, deste modo as pessoas indicadas indicam outras pessoas e
assim sucessivamente até que a amostra esteja completa. A importância da técnica se
devido às indicações, pois tendo indicações de conhecidos o participante poderá confiar no
pesquisador e responder mais fielmente às questões.
4.2.1 Grupo Mães:
A idade das mães variou entre 29 a 55 anos e a média de idade foi de 40 anos e
nove meses e a maioria (46 mães) possuíam trabalho remunerado. Destas três não
responderam sua ocupação. Entre as demais, as profissões variavam entre funções sem
45
exigência de nível técnico (auxiliar de serviços gerais, revisora), de nível técnico
(cabeleireira, auxiliar de enfermagem) e nível superior (dentista, médica, administradora).
Tabela 1: Ocupação – grupo mães
Ocupação Freqüência
Administradora
1
Setor administrativo
1
Assistente comercial
1
Atendente de farmácia
1
Auxiliar cozinha
1
Auxiliar de enfermagem
1
Auxiliar de limpeza
1
Auxiliar de produto
1
Auxiliar de secretária
1
Auxiliar educativa
1
Auxiliar financeiro
1
Auxiliar serviços gerais
1
Balconista
1
Cabeleireira
1
Comerciante
2
Comercio próprio
1
Corretora de imóveis
1
Costureira
3
Dentista
3
Depiladora
1
Desenvolvimento de produto
1
Empregada doméstica
1
Funcionária Pública Municipal
1
Gerente
1
Marketing
1
Médica
1
Passadeira
1
Produtora de eventos
1
Professora
2
Professora de alemão
1
Promotora de vendas
1
Psicóloga
1
Revisora
2
Secretária
1
Serviços Gerais
1
Técnica de Higiene Dental
1
Total
43
Com relação à escolaridade foi atribuído 1 - Ensino Fundamental incompleto; 2-
Ensino Fundamental Completo; 3-Ensino Médio Incompleto; 4-Ensino Médio Completo; 5-
Ensino Superior Incompleto; 6-Ensino Superior Completo; 7-Pós-graduação Especialização.
46
Assim, a moda de escolaridade das mulheres foi ensino médio completo, escolaridade de 14
participantes da amostra. As freqüências com reação a escolaridade deste grupo podem ser
observadas na tabela 2:
Tabela 2: Escolaridade – grupo mães
Escolaridade Freqüência
Ensino médio completo 14
Pós-graduação especialização
10
Ensino fundamental incompleto 9
Ensino superior completo 9
Ensino médio incompleto 7
Ensino superior incompleto 7
Ensino fundamental completo
4
Total 60
Quanto ao estado civil, 41 participantes eram casadas ou possuíam uma união
estável, 13 eram separadas, 5 disseram ser solteiras e 1 era viúva. Em relação ao número de
filhos, 31 das mulheres que participaram da pesquisa possuía dois filhos, 19 possuía um
filho, 5 tinham três filhos, 4 possuíam quatro filhos e apenas 1 participante tinha cinco filhos.
4.2.2 Grupo Pais:
O grupo formado pelos pais foi de um tamanho inferior ao que era esperado no
planejamento inicial da pesquisa (n=20), devido à dificuldade de acesso e disponibilidade dos
pais em participarem da pesquisa. Entretanto, esta amostra foi incluída nas análises com o
propósito de verificar seus resultados, tendo em vista que muitas pesquisas na área de
transmissão intergeracional têm explorado esta questão através da investigação de mães
(Almeida, 1987, Benincá & Gomes, 1998; Dias & Lopes, 1998; Serbin et al., 1998, Oliveira
et al., 2002). Deste modo, apesar do número inferior de participantes, comparados ao grupo
mães, incluir estes pais foi uma decisão em relação a este estudo, pelas informações
pertinentes a estes participantes, promovendo um ponto de partida para futuras pesquisas.
De modo geral este grupo assemelhou-se à caracterização do grupo anterior em
relação à idade e ocupação. A idade dos participantes variou entre 32 e 55 anos, sendo 42
anos e oito meses a dia de idade. Entre os participantes, apenas um não respondeu sua
47
ocupação, sendo que entre os demais, como no caso das mulheres, as ocupações variavam
entre os diversos níveis de qualificações. A relação completa das ocupações do grupo de pais
pode ser observada na tabela 3.
Tabela 3: Ocupação – grupo pais
Ocupação Freqüência
Auxiliar de Manutenção 1
Auxiliar Expedição 1
Cabeleireiro 1
Ceramista 1
Comercio próprio 1
Consultor 1
Dentista 3
Educador Físico 1
Mecânico 1
Motorista 1
Oficial de Justiça 1
Projetista 2
Representante comercial 1
Funcionário Público 1
Técnico Têxtil 1
Total 19
Sobre o estado civil dos participantes, quase a totalidade do grupo (19 participantes)
eram casados e apenas um mencionou ser solteiro. Uma explicação para este resultado era
que entre os fatores de inclusão estava a necessidade de o filho residir com o respondente.
Em relação à escolaridade, a moda deste grupo diferiu do grupo composto pelas
mães, situando-se em ensino superior completo, faixa de escolaridade de 8 participantes da
amostra. A distribuição das freqüências dos diferentes níveis de escolaridade pode ser
visualizada na tabela 4.
48
Tabela 4: Escolaridade – grupo pais
Escolaridade Freqüência
Ensino fundamental incompleto
4
Ensino médio incompleto 3
Ensino médio completo 2
Ensino superior incompleto
2
Ensino superior completo 8
Pós-graduação:mestrado 1
Total 20
4.3 Contexto da Pesquisa
O presente estudo foi realizado na cidade de Blumenau, localizada na bacia do
Itajaí-Açu, no nordeste do Estado de Santa Catarina a 130 quilômetros da capital do estado
de Santa Catarina. A área de Blumenau é de 505,8 quilômetros quadrados: 192 de área
urbana e 313,8 quilômetros de área rural, dividindo-se administrativamente em 30 bairros.
O Instituto de Pesquisas Sociais (IPS) da Fundação Universidade de Blumenau,
com base nos dados brutos do IBGE de 2000, estimou a população em 2006 de 301 mil 333
habitantes, destes 147,537 homens e 153,796 mulheres. Em 2000 os dados do IBGE de
acordo com o IPS, para população com a faixa etária entre 35 e 54 anos era de 70 mil 257
habitantes e o número de crianças e adolescentes com faixa etária entre 13 e 18 anos é de 22
mil 850 habitantes.
4.4 Instrumentos de Coleta de Dados
4.4.1 Ficha de Identificação:
Para caracterização da amostra foi utilizada a ficha de identificação, que foi
disponibilizada aos participantes juntamente com os dois inventários que serão mencionados
a seguir. Esta ficha abrangia aspectos sociodemográficos referentes à idade, nível de
escolaridade, profissão, estado civil, número de filhos, idade e sexo dos filhos, presença de
filhos adotivos ou enteados e se os filhos residiam na mesma casa dos participantes. Fator
que se constituía como um dos requisitos da pesquisa.
49
Questões sobre a infância dos respondentes também foram abordadas neste
instrumento, sendo que as mesmas foram elaboradas no Projeto Milênio, subprojeto
Investimento e Cuidados Parentais: Aspectos Biológicos, Ecológicos e Culturais
1
e foram
incluídas por abordar aspectos sobre a infância dos participantes. Cada participante
respondeu sobre o contexto em que foi criado: local, se presenciou morte ou separação dos
pais biológicos, por quem foi criado e quem considerava como sendo o principal cuidador.
Ainda, em outras cinco questões, os respondentes avaliavam o ambiente familiar em que
foram criados, os recursos materiais disponíveis à família, o relacionamento conjugal dos
pais, os conflitos familiares e a atitude do pai e da mãe separadamente, para com o
respondente. Estas questões foram respondidas através de uma escala de 1 à 5, na qual cada
participante assinalava uma nota para cada questão. Por exemplo, na questão que avaliava os
recursos materiais da família na época em que era criança, 1 seria vivia muito bem e 5 passei
muita dificuldades, passando por 2, 3 e 4.
4.4.2 Inventário de Estilos Parentais – IEP:
Para avaliar as práticas educativas utilizadas pelos participantes foi utilizado o
Inventário de Estilos Parentais (Anexo 3) elaborado por Gomide (2006). Este inventário é
composto por 42 questões que abordam as sete práticas educativas, sendo seis questões para
cada prática educativa distribuída ao longo do inventário. Cada uma das sete práticas pode ter
um total máximo de 12 pontos e mínimo de zero.
Cada questão consiste em uma frase, na qual o respondente deve indicar a
freqüência com que age em cada situação: sempre (se considerar que agiu daquela forma
entre 8 a 10 vezes em 10 episódios); às vezes (se considerar que agiu daquela forma entre 3 a
7 vezes em 10 episódios); e 0 (se considerar que agiu daquela forma entre 0 a 2 vezes em 10
episódios).
Para o somatório das práticas educativas é somado a pontuação das questões
correspondentes a cada prática utilizando a seguinte critério: sempre=2, às vezes=1 e
nunca=0. E o índice de estilo parental é obtido somando os escores das práticas positivas
(monitoria positiva e comportamento moral) e subtraindo-se o somatório das práticas
1
Este projeto foi aprovado pelo CNPq através do Edital Instituto do Milênio (2006). O Projeto do Milênio tem
como coordenadora geral a professora Maria Emília Yamamoto (UFRN), sendo a professora Maria Lucia Seidl
de Moura (UERJ) coordenadora e a professora Eulina da Rocha Lordelo (UFBA) vice coordenadora do
subprojeto.
50
negativas (punição inconsistente, negligencia, disciplina relaxada, monitoria negativa e abuso
físico), conforme crivo de avaliação do IEP. Este cálculo tem como resultado um valor
numérico, que é indicativo de maior ou menor risco educacional para o filho, conforme
interpretação dos resultados.
O IEP possui três versões: 1) a criança ou o adolescente responde sobre o pai, 2) a
criança ou o adolescente responde sobre a mãe e 3) o pai ou a mãe respondem sobre sua
forma de educar os filhos. Foi esta versão auto-aplicada a utilizada neste estudo, sendo que,
no caso do respondente ter mais de um filho na faixa etária solicitada, deveria fazer uma
anotação em relação a qual filho (idade e sexo) estava respondendo o inventário.
Por tratar-se de um instrumento brasileiro, o inventário de estilos parentais de
Gomide (2006) traz vantagens às pesquisas realizadas em nossa realidade e é a partir deste
modelo que as práticas educativas no estudo proposto serão avaliadas. Entretanto, nenhuma
pesquisa, utilizando o IEP anteriormente, investigou a questão da transmissão
intergeracional. Neste sentido, o presente estudo pode enriquecer o arcabouço de pesquisas
deste modelo teórico, pois se propõem estudar as práticas educativas parentais por meio da
aplicação do IEP (2ª. geração) e os cuidados recebidos na infância (1ª. geração).
4.4.3 Inventory for Assessing of Parental Rearing Behaviour - EMBU
2
:
A fim de avaliar os participantes sobre as percepções dos comportamentos de
cuidados de seus pais, utilizou-se o Inventory for Assessing of Parental Rearing Behaviour
(EMBU), instrumento elaborado por Perris, Jacobson, Lindstorm, Von Knorring e Perris,
(1980). A versão validada para a população portuguesa é de Canavarro (1996), cujo estudo
revelou bons índices de confiabilidade e validade do instrumento e valores de consistência
interna adequados.
A versão original do instrumento continha 81 questões, o que segundo Arrindell et
al. (1999), trazia desvantagens práticas por caracterizar-se como um teste longo, o que levou
à construção de uma versão reduzida que pode ser utilizada com adultos quando o tempo de
aplicação é limitado. Deste modo, foi utilizada nesta pesquisa a forma reduzida (23 itens) do
EMBU (Anexo 4), validada inicialmente por Arrindell et al. (1999) em uma amostra
constituída por 2442 estudantes de quatro paises: Itália, Hungria, Guatemala e Grécia. Estudo
2
Acrônimo de Egna Minnem Beträffande Uppfostran (Minhas Memórias de Criação).
51
posteriormente, estendido por Arrindell et al. (2001) a 791 estudantes do leste da Alemanha e
Suécia. Resultados que demonstraram a validade e confiabilidade do instrumento
recomendado como equivalente funcional do EMBU original de 81 itens.
O instrumento é composto por 23 questões que avaliam a freqüência com que
sucederam determinadas práticas educativas durante a infância e adolescência do indivíduo,
em relação ao pai e à mãe separadamente, numa escala tipo Likert de 4 pontos: “Não,
nunca”, “Sim, ocasionalmente”, “Sim, freqüentemente” e “Sim, a maior parte do tempo”.
As 23 questões agrupam-se criando 3 dimensões que medem rejeição, calor
emocional e super-proteção, com respectivamente 7, 6, e 9 itens.
A dimensão rejeição refere-
se ao conjunto de comportamentos dos pais tendentes a modificar a vontade e o
comportamento do filho, que são sentidos pelo mesmo como uma rejeição de si como
indivíduo. Um exemplo disto é “Os meus pais eram severos ou zangavam-se comigo sem me
explicarem porquê.” No calor emocional o comportamento dos pais perante o filho faz com
que este se sinta confortável na sua presença, confirmando a idéia aprovação por parte dos
seus genitores. Por exemplo: “Os meus pais elogiavam-me”. A super-proteção é
caracterizada pelo comportamento parental de proteção excessiva de experiências indutoras
de stress e adversidades, elevado grau de intrusão e tentativa de conhecer todas as atividades
dos filhos, além de imposição rígida de regras e exigência de obediência. Por exemplo:
“Quando eu chegava em casa tinha que contar tudo o que tinha feito”
O inventário foi escolhido por seu reconhecimento e utilização em diversas
pesquisas em diferentes países (Perris, Jacobsson, Lindström, Knorring & Perris, 1980; Ross,
Campbell & Clayer, 1982; Huang, Someya, Takahashi, Reist & Tang, 1996; Arrindell et al.,
1999; Arrindell et al., 2001; Aluja, Del Barrio & Garcia, 2006a; Aluja, Del Barrio & Garcia,
2006b).
4.5 Procedimento:
O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisas com Seres
Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina, seguindo as resoluções 196/96 e
251/97, sendo aprovado no dia 26 de março de 2007, sob o número de registro 030/07
(Anexo 1).
Todos os participantes receberam orientações sobre todos os aspectos relacionados
ao formato da pesquisa, sigilo dos dados, responsabilidade dos pesquisadores e profissionais
52
envolvidos, possibilidade de deixarem de participar da pesquisa a qualquer momento e o
direito a recusar a participação na mesma. A inclusão na pesquisa foi condicionada à
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 2), garantindo os
cuidados éticos necessários para a elaboração da pesquisa.
4.5.1 Coleta dos dados:
Cada participante contatado recebeu o termo de consentimento livre e esclarecido, a
ficha de identificação, o IEP e o EMBU, que eram respondidos em casa ou no trabalho e
posteriormente devolvidos a pesquisadora.
4.6 Análise dos Dados
Todos os dados foram analisados por meio do Statistical Package of Social
Sciences (SPSS versão 11.0). Foi realizada uma análise descritiva dos dados para
caracterização da amostra e as práticas parentais e memórias de cuidados na infância em
termos de freqüência (F). Apesar do mero de participantes em cada grupo ser inferior a
100, foi utilizada a porcentagem (P) nos gráficos com a finalidade de facilitar a visualização
dos resultados.
O mesmo procedimento foi realizado com relação às questões relativas à infância
dos participantes. Nestas, três tiveram suas pontuações invertidas, com a finalidade de
facilitar a compreensão dos resultados. As questões foram: 1) como você avalia as condições
materiais de sua família na época em que você era criança, a escala de resposta era de 1
(vivia muito bem) a 5 (passei muita dificuldade); 2) como voavalia o ambiente (clima) de
sua família na época em que você era criança, onde as opções de resposta eram 1 - muito
tranqüilo a 5 - muito tumultuado e 3) como você avalia o relacionamento conjugal de seus
pais durante sua infância, na qual as respostas também eram de 1 a 5, 1 indicando muito feliz
e 5 muito infeliz. Nestas questões apenas foi invertida a pontuação, assim, quanto maior a
pontuação, melhores condições materiais, melhor o clima e o relacionamento conjugal dos
pais.
Foram ainda utilizadas as medidas de tendência central: moda e mediana na
descrição dos resultados referentes ao contexto de criação, às práticas educativas parentais e
53
às memórias de cuidados na infância. A primeira foi escolhida por seu cálculo resultar da
ordenação de todos os valores com a tomada do valor que está no meio. Neste sentido,
Dancey e Reidy (2006) apontam que a mediana é mais adequada quando são constados
valores extremos. Entretanto, a moda foi utilizada também, por caracterizar-se pelo valor
que aparece com maior freqüência. Optou-se pela apresentação das duas medidas pelas suas
características diferenciadas. No entanto, Dancey e Reidy (2006) afirmam que algumas vezes
não se tem uma medida de tendência central apropriada e deve-se admitir que a amostra não
apresenta um valor típico.
Para análise dos dados optou pelo uso de estatística não paramétrica, devido à
variabilidade dos dados, onde a análise de algumas dimensões mostrou dados muito
dispersos. Apesar dos testes paramétricos serem preferidos pelos psicólogos, em alguns
estudos não se pode utilizá-los devido aos dados não satisfazerem as condições necessárias
para o seu uso, como no caso de dados assimétricos ou amostras pequenas ou desiguais
(Dancey & Reidy, 2006).
A apuração das sete dimensões do IEP foi realizada conforme instruções de Gomide
(2006): cada resposta “nunca” recebeu pontuação 0, “às vezes”, pontuação 1 e “sempre”,
pontuação 2. Após este procedimento foi realizado o somatório de cada dimensão conforme
se segue:
A. Monitoria positiva: questões 1, 8, 15, 22, 29, 36
B. Comportamento moral: questões 2, 9, 16, 23, 30, 37.
C. Punição Inconsistente: questões 3, 10, 17, 24, 31, 38.
D. Negligência: questões 4, 11, 18, 25, 32, 39.
E. Disciplina relaxada: questões 5, 12, 19, 26, 33, 40.
F. Monitoria negativa: questões 6, 13, 20, 27, 34, 41.
G. Abuso físico: questões 7, 14, 21, 28, 35, 42.
Como pode ser observado, o número de questões em cada dimensão é homogêneo
(seis questões cada dimensão), o que corresponde a uma pontuação máxima de 12 pontos por
dimensão. Todos os participantes eram avaliados quanto a sua pontuação em todas as
dimensões.
Tanto no IEP, quanto no EMBU, nos casos em que os participantes deixaram de
responder uma questão, foi feito o seguinte procedimento: tomou-se nota de todos os
resultados das demais questões correspondentes a mesma dimensão da questão omitida e
optou-se pela moda da dimensão para aquele participante.
54
O ANOVA de Friedman, conforme Dancey e Reidy (2006, p.548) “um equivalente
não-paramétrico do ANOVA de medidas repetidas e uma generalização do teste Wilcoxon
aplicado a mais de dois grupos”, foi utilizado a fim de avaliar se as diferenças entre os
escores em cada dimensão do IEP eram significativas.
Foi calculado o Índice de Estilo Parental, conforme Gomide (2006), através do
somatório das práticas positivas (A + B) e das práticas negativas (C + D + E + F + G) e, em
seguida, subtração das práticas negativas das positivas. Conforme fórmula: iep
3
= (A + B) -
(C + D + E + F + G). Assim, como ressalta Gomide (2006), o índice de estilo parental
negativo indica práticas parentais negativas, que neutralizam ou se sobrepõem às práticas
positivas. Da mesma forma, o índice de estilo parental positivo indica uma forte presença de
práticas positivas (Gomide, 2006).
Os índices de estilo parental foram convertidos em percentuais por meio de uma
tabela do manual de aplicação, apuração e interpretação (Gomide, 2006, pp. 58 e 59). Da
mesma forma foi feito com cada prática educativa separadamente, que também tinham
através da sua pontuação um percentual indicativo. Estes percentuais são base para a seguinte
interpretação:
a) Percentuais de 80 a 99: Estilo parental ótimo, com presença marcante das
práticas parentais positivas e ausência das práticas negativas.
b) Percentuais de 55 a 75: Estilo parental regular, acima da dia, porém indica-se
o aprimoramento das práticas parentais.
c) Percentuais de 30 a 50: Estilo parental regular, mas abaixo da média. Aconselha-
se participação em grupos de treinamento de pais.
d) Percentuais de 1 a 25: Estilo parental de risco, aconselhando-se a participação em
programas de intervenção terapêutica, em grupo, de casal ou individualmente, desenvolvidos
para pais com dificuldades em práticas educativas, nas quais sejam enfocadas as
conseqüências do uso de práticas negativas em detrimento das positivas.
Nas comparações entre os resultados dos dois principais instrumentos (IEP e
EMBU) com os demais dados sociodemográficos da amostra foi utilizado o teste Mann-
Whitney. Segundo Dancey e Reidy (2006), uma alternativa para o teste T, com a vantagem de
ser mais simples, pois não envolve o cálculo de médias, desvios padrões e erros padrões,
exigindo, como no Wilcoxon, que os escores das duas condições estejam ordenados.
3
Índice de estilo parental
55
A análise das dimensões do EMBU obedeceu-se aos fatores apontados por Arrindell
et al. (1999):
a) Rejeição: itens 1, 4, 7, 13, 15, 16, 21.
b) Calor Emocional: itens 2, 6, 12, 14, 19, 23.
c) Super-proteção: itens 3, 5, 8, 10, 11, 17, 18, 20, 22.
Cada resposta “Não, nunca”=1, “Sim, ocasionalmente”=2, “Sim,
freqüentemente”=3 e “Sim, a maior parte do tempo”=4, exceto na questão 17, na qual o
escore era inverso: “Não, nunca”=4, “Sim, ocasionalmente”=3, “Sim, freqüentemente”=2 e
“Sim, a maior parte do tempo”=1. Como o número de questões diferia entre as dimensões,
para o cálculo dos escores, foi somada a pontuação de cada dimensão, dividida pelo número
de questões. Procedimento que tornou os escores homogêneos e passíveis de comparações.
Com o objetivo de verificar as correlações entre dimensões do IEP e dados dos
respondentes (coletados a partir da ficha de identificação) foi aplicado teste
ρ de Spearman,
que segundo Dancey e Reidy (2006) é similar ao r de Pearson e utilizado quando os dados
não satisfazem as condições dos testes paramétricos. Também foram verificadas, através
deste teste, as correlações entre dimensões do EMBU e os dados da ficha de identificação.
O teste ρ de Spearman foi ainda utilizado a fim de comparar as respostas do IEP e
do EMBU, verificando a correlação entre as práticas educativas atuais e as lembranças de
cuidados recebidos na infância.
56
5. RESULTADOS
Serão apresentados inicialmente os dados gerais relativos ao grupo mulheres,
composto pelas 60 participantes deste estudo, bem como todos os resultados obtidos através
das analises.
5.1 Contexto de Criação - Grupo Mães
Os dados referentes ao contexto de criação foram obtidos a fim de caracterizar a
infância das participantes. Neste sentido, as questões abrangeram: o contexto em que as
participantes foram criadas; os principais acontecimentos relacionados aos progenitores; as
pessoas que as criaram nas diferentes faixas etárias; a opinião das participantes sobre o
principal cuidador durante a infância; as condições materiais e recursos disponíveis; o
relacionamento conjugal dos pais; a intensidade de conflitos entre os pais; a qualidade da
relação entre a participante e a mãe em termos de conflitos; a qualidade da relação entre a
participante e o pai em termos de conflitos; afetividade por parte da mãe e afetividade por
parte do pai. Estes dados foram necessários para a contextualização da infância e
compreensão dos resultados obtidos a partir do EMBU, especialmente em relação aos
cuidadores e o relacionamento entre estes e a participantes.
5.1.1 Local de Criação e Presença dos Pais Biológicos
Primeiramente as participantes foram questionadas sobre o contexto principal em
que foram criadas e encontrou-se que a maioria foi criada na zona urbana, representado por
42 participantes criadas na zona urbana e 18 participantes, na zona rural.
Os acontecimentos relacionados aos progenitores durante a infância das
participantes enfocaram a separação ou divórcio entre os pais e a perda dos pais biológicos.
Neste sentido, pode-se dizer que a maioria teve a presença de ambos os pais biológicos
durante sua infância e adolescência, apenas 7 respondentes presenciaram a separação dos
pais durante este período Com relação a perda dos pais, 12 participantes a relataram: até os
57
11 anos de idade duas participantes relataram morte da mãe biológica e duas, do pai
biológico; acima dos 11 anos, uma participante relatou morte de ambos os pais, duas a morte
da mãe biológica e cinco perderam o pai biológico.
5.1.2 Principal Cuidador
As participantes foram questionadas sobre o principal cuidador de acordo com as
faixas etárias: a) até os 6 anos de idade; b) dos 7 aos 11 anos de idade; e c) a partir dos 11
anos de idade e os resultados se mostraram do seguinte modo (n=59): até os 6 anos, grande
parte da amostra (54 es) relatou que os pais biológicos foram os principais cuidadores,
duas participantes mencionaram que foram os pais juntamente com os avós, outras duas
relataram que foram os avós e uma disse que foi a mãe biológica:
Entre os 7 e 11 anos, os pais biológicos também foram citados como os principais
cuidadores, sendo mencionados por 52 participantes, em seguida teve-se a mãe biológica, a
qual foi referida por 4 participantes, 1 respondente mencionou os avós, o mesmo ocorreu
com mãe biológica e madrasta, e pais biológicos e avó.
Mais pessoas foram mencionadas como principal cuidador no período em que as
respondentes tinham acima de 11 anos de idade. Ainda assim, os pais biológicos foram
novamente os mais referidos, o sendo por 44 participantes. A segunda pessoa mais
mencionada foi a mãe biológica (9 respondentes). Também tivemos menções de avós; pai
biológico; mãe e padrasto; pai e madrasta; pais biológicos e avós; e outras pessoas, cada qual
sendo apontado por uma pessoa. Todos os resultados sobre principal cuidador conforme as
diferentes faixas etárias podem ser visualizados na figura 1:
58
91,5
88,1
74,6
3,4
1,7 1,7
3,4
1,7 1,71,7
6,8
15,3
1,7
6,8
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Até os 6 anos 7 aos 11 anos Acima dos 11 anos
Faixa Etária
Porcentagem
Pais Biológicos
Avós
Pais e Avós
Mãe Biológica
Outras Pessoas
Figura 1: Porcentagem referente ao principal cuidador nas diferentes faixas etárias.
Contudo, através da observação dos gráficos é possível constatar que nas diferentes
faixas etárias os pais biológicos foram mencionados como os principais cuidadores para a
maioria das participantes. Além disso, pais biológicos e avós, mãe biológica e avós foram
também mencionados em todas as faixas etárias investigadas, no entanto, observa-se que com
o passar da idade mais pessoas e combinações de cuidadores são referidos pelas
participantes, possivelmente devido ao divórcio dos pais e falecimento de um dos
progenitores ou ambos, mencionados anteriormente.
Com a finalidade de sintetizar a questão do principal cuidador, as participantes
foram questionadas, sobre quem foi a pessoa mais importante que cuidou delas durante
infância e juventude e 34 responderam que a mãe biológica foi a pessoa mais importante, 17
responderam que foram os pais biológicos, 3 disseram que foi a avó, 2 que foi o pai
biológico, e madrasta; mãe e madrinha; mãe e avó; e pais e avó tiveram uma menção cada,
conforme figura 2.
59
56,7
28,3
5
3,3
1,7 1,7 1,7 1,7
0
10
20
30
40
50
60
Mãe
Biológica
Pais
Biológicos
Avó Pai
Biológico
Madrasta Mãe e
Madrinha
Mãe e Avó Pais e Avó
Cuidadores
Porcentagem
Figura 2: Porcentagem referente à pessoa citada como a mais importante nos cuidados
durante a infância e juventude das participantes.
Contudo, apesar dos pais biológicos serem os mais citados como principal cuidador
nas diferentes faixas etárias, quando foi colocada a questão: “Quem foi a pessoa mais
importante que cuidou de você durante a infância e a adolescência?”, mais da metade da
amostra mencionou a mãe biológica como a pessoa mais importante.
5.1.3 Ambiente Familiar
As questões sobre o contexto familiar durante a infância avaliaram: condições
materiais, relacionamento conjugal dos pais, relacionamento entre os pais e as respondentes
e afetividade por parte dos pais e foram respondidas a partir de uma escala de 1 a 5, que
indicavam sempre dois extremos (exemplo em relação ao clima familiar as opções de
resposta ficaram entre muito tranqüilo e muito tumultuado).
Sobre as condições materiais disponíveis à família durante a infância, 29
participantes avaliaram que viviam bem (15) ou muito bem (14), 20 respondentes avaliaram
as condições materiais como médio e 11 passaram dificuldades, das quais, 7 passaram
muita dificuldade e 4 passaram dificuldade.
60
Com relação ao ambiente (clima emocional) familiar durante a infância, mais da
metade da amostra avaliou o ambiente como tranqüilo: 14 como muito tranqüilo e 21 como
tranqüilo, 8 avaliaram o ambiente com médio, 11 participantes disseram que o ambiente era
tumultuado e 6 avaliaram-no como muito tumultuado.
Os resultados sobre o relacionamento conjugal entre os pais foram mais dispersos,
15 participantes relataram que o relacionamento entre os pais era feliz, 14 indicou muito
feliz, também 14 o avaliaram como médio, 12 respondentes avaliaram como infeliz e 5
avaliaram o relacionamento conjugal dos pais como muito infeliz. Com relação aos conflitos
(brigas e discussões) conjugais presenciados durante a infância, 17 apontaram o
relacionamento como nada conflituoso, 14 como pouco conflituoso, 12 como médio, 9 como
conflituoso e 8 como extremamente conflituoso.
Cada respondente avaliou também, seu relacionamento, em termos de conflitos
(brigas e discussões) e em termos de afeto, com cada progenitor. Sobre os conflitos com o
pai ou cuidador masculino obteve-se: 30 avaliaram como nada conflituoso, 14 como pouco
conflituoso, 10 atribuíram médio, 3 como extremamente conflituoso e 2 como conflituoso.
Apenas uma pessoa não respondeu esta questão. Em termos de afeto percebido por parte do
pai durante a infância os resultados ficaram da seguinte forma: 17 apontaram a relação como
extremamente afetuosa, 16 como afetuosa, 11 como pouco afetuosa, 9 como mediana e 7
como nada afetuosa.
Na avaliação da relação da respondente com sua mãe ou cuidadora feminina em
termos de conflitos, 31 participantes relataram que a relação era nada conflituosa, 14
apontaram como pouco conflituosa, 8 avaliaram-na no nível médio e 6 como conflituosa. A
opção extremamente conflituosa não foi mencionada por nenhuma respondente nesta
questão. Sobre o afeto dispensado na época da infância por parte da mãe os resultados
ficaram do seguinte modo: 27 avaliaram como extremamente afetuosa, 15 como afetuosa, 9
avaliaram a atitude como mediana, 7 como pouco afetuosa e 2 participantes pontuaram a
relação com sua mãe como nada afetuosa.
O resumo de todos os resultados referentes ao contexto de criação durante a
infância pode ser visualizado na tabela 5.
61
Tabela 5: Mediana, moda, valores mínimos e máximos sobre o contexto criação na infância
das mães pesquisadas.
Condições
materiais
Clima
familiar
Relação
conjugal
dos pais
Conflitos
entre os
pais
Conflitos
com o pai
Conflitos
com a mãe
Afeto
do pai
Afeto da
mãe
Mediana
3 4 3 2 1 1 4 4
Moda
3 4 4 1 1 1 5 5
Mínimo
1 1 1 1 1 1 1 1
Máximo
5 5 5 5 5 4 5 5
Como pode ser visto na tabela 5, as duas mediadas de tendência central mediana e
moda foram iguais ou variaram muito pouco entre as questões do contexto de criação.
Comparando os resultados de todas as participantes, observa-se que de modo geral, as
condições materiais durante a infância eram médias, o clima familiar durante a infância foi
tranqüilo, a relação conjugal entre os pais foi avaliada como feliz e nada conflituosa. Sobre a
relação entre participantes e os progenitores: a relação tanto com pai, quanto com a mãe foi
nada conflituosa e ambos os pais foram extremamente afetuosos durante a infância das
respondentes.
5.2 Resultados do Inventário de Estilos Parentais – Grupo Mães
No preenchimento do IEP, cada participante deveria apontar sobre qual filho
responderia o IEP: a idade e o sexo dos mesmos. O resultado ficou do seguinte modo: a
média de idade foi 15 anos e 2 meses e 37 eram do sexo feminino e 21 do sexo masculino,
entretanto, 2 participantes não responderam esta questão.
Os escores das práticas educativas utilizadas pelas mães são apresentados na tabela
6. Vale lembrar que a pontuação máxima em cada prática educativa era 12 pontos e que a
apresentação destes resultados tem apenas a finalidade de demonstrar os escores brutos, que
farão mais sentido quando analisados a partir de sua interpretação, o que será apresentado na
seqüência.
62
Tabela 6: Mediana, moda e escore máximo e mínimo das práticas educativas utilizadas pelas
participantes.
Práticas
Educativas
Monitoria
Positiva
Comportamento
Moral
Punição
Inconsistente
Negligência Disciplina
Relaxada
Monitoria
Negativa
Abuso
Físico
Mediana 11 11 3 3 3 6 1
Moda 12 12 4 2 4 7 0
Mínimo 5 4 0 0 0 2 0
Máximo 12 12 9 8 8 11 5
A partir da tabela 6 é possível verificar por meio dos escores de todas as práticas
educativas que as participantes fizeram uma pontuação maior nas práticas: monitoria positiva
e comportamento moral. Entre as práticas negativas, a maior pontuação foi na prática
monitoria negativa e a menor pontuação foi em relação a utilização do abuso físico.
Na seqüência são apresentadas inicialmente as práticas positivas: monitoria positiva
e comportamento moral, seguidas pelas práticas consideradas negativas: punição
inconsistente, negligência, disciplina relaxada, monitoria negativa e abuso físico. São
apresentados os dados referentes a cada prática: moda e mediana do grupo, freqüência dos
escores, e interpretação dos mesmos conforme instruções de Gomide (2006, p. 57 e 58).
Na prática educativa: Monitoria Positiva a mediana e a moda de escore foi 11 e 12
respectivamente, sendo que 27 respondentes obtiveram a pontuação máxima de 12 pontos, o
que corresponde ao estilo parental ótimo, 11 mães fizeram 11 pontos (regular, acima da
média). Escores entre 10 e 9 se enquadram em regular, abaixo da média, onde ficaram 16
mães: 14 fizeram 10 pontos e 2 participantes fizeram 9 pontos. O escore abaixo de 8 é
considerado de risco nesta prática e 6 participantes se enquadraram nesta faixa, 3 fizeram 8
pontos, 1 fez 7 pontos, da mesma forma 1 fez 6 e 5 pontos. A figura 3 mostra como ficou esta
distribuição em termos de porcentagem:
63
45
18,3
26,7
10
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Estilo Ótimo Regular, Acima da
Média
Regular, Abaixo da
Média
Estilo de Risco
Classificão dos Escores
Porcentagem
Figura 3: Porcentagem referente aos resultados em monitoria positiva na amostra de mães
Na segunda prática educativa positiva: Comportamento Moral a mediana foi 11 e a
moda 12. Nesta prática 45 respondentes totalizaram 10 pontos ou mais, o que corresponde a
escore regular, acima da média: 23 somaram 12 pontos (estilo parental ótimo), 16 fizeram 11
pontos e 6 somaram 10 pontos (regular, acima da média). 15 mães tiveram uma pontuação
abaixo de 9 (regular, abaixo da média): 9 participantes fizeram 9 pontos e 3 somaram 8
pontos. O escore de risco é considerado abaixo de 7 pontos, onde se encontraram 3 mães: 1
respondente fez 7 pontos, 1 mãe 6 e outra, 4 pontos.
64
38,3
36,7
20
5
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Estilo Ótimo Regular, Acima da
Média
Regular, Abaixo da
Média
Estilo de Risco
Classificação dos Escores
Porcentagem
Figura 4: Porcentagem referente aos resultados em comportamento moral na amostra de
mães
Em relação às práticas negativas, atenta-se que quanto menor a pontuação, melhor,
que se referem a práticas que estão associadas ao comportamento anti-social. De modo
geral, os resultados nestas práticas foram mais baixos. Entretanto, é necessário considerar a
interpretação do resultado que é descrita ao longo do texto. Com relação à utilização da
Punição Inconsistente a mediana foi 3 e a moda 4 e a pontuação máxima nesta prática 9
(escore de risco) Entre as respondentes 15 se enquadraram no escore referente ao estilo
parental ótimo: 8 fizeram 1 ponto e 7 tiveram um somatório que resultou em zero. 17 mães
ficaram estilo regular acima da média: 11 fizeram 2 pontos e 6 somaram 3 pontos.
Pontuações entre 4 e 5 são consideradas regular, abaixo da média e 21 participantes se
enquadraram neste perfil: 9 mães fizeram 5 pontos e 12 fizeram 4. Todavia, escores acima de
5 são considerados de risco, o que foi revelado por 7 participantes: 2 participantes fizeram 6
pontos; 3 mães tiveram 7 pontos; 1 fez 8 e, da mesma forma, 1 fez 9 pontos nesta prática
educativa. Estes resultados são mostrados na figura 5:
65
25
28,3
35
11,7
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Estilo Ótimo Regular, Acima da
Média
Regular, Abaixo da
Média
Estilo de Risco
Classificão dos Escores
Porcentagem
Figura 5: Porcentagem referente aos resultados em punição inconsistente na amostra de
mães.
Com relação à prática Negligência a mediana de escore foi 3 e a moda foi 2 e os
escores variaram entre zero e 7 pontos. Assim, 4 mães pontuaram zero (estilo parental ótimo)
e também 4 fizeram 1 ponto (regular, acima da média). Entretanto, a maior parte do grupo
ficou abaixo da média (n=26), ou então no estilo parental de risco (n=26): 16 respondentes
somaram 2 pontos e 10 fizeram 3 pontos (regular, abaixo da média) e 26 se enquadraram no
grupo de risco: 7 somaram 4 pontos; 8 mães fizeram 5 pontos; 5 participantes fizeram 6
pontos; 3 fizeram 7 e também 3 fizeram 8 pontos. A distribuição dos resultados em relação à
utilização da negligência ficou da seguinte forma:
66
6,7 6,7
43,3 43,3
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Estilo Ótimo Regular, Acima da
Média
Regular, Abaixo da
Média
Estilo de Risco
Classificão dos Escores
Porcentagem
Figura 6: Porcentagem referente aos resultados em negligência na amostra de mães
A pontuação na prática Disciplina Relaxada variou de zero a 8, sendo 3 a mediana e
4 a moda de escores nesta prática educativa. Em relação à utilização desta prática 17
participantes se enquadraram no estilo parental ótimo (zero e 1 ponto): 10 fizeram 1 ponto e
7 participantes obtiveram zero. 8 mães pontuaram 2 pontos, o que equivale a regular, acima
da média. 22 mães ficaram abaixo da média: 14 somaram 4 pontos e 8 fizeram 3 pontos nesta
prática educativa; e 13 participantes localizaram-se na faixa de risco sendo 6 (5 pontos); 4
(6 pontos); 2 (7 pontos) e 1 que totalizou 8 pontos nesta categoria.
67
28,3
13,3
36,7
21,7
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Estilo Ótimo Regular, Acima da
Média
Regular, Abaixo da
Média
Estilo de Risco
Classificão dos Escores
Porcentagem
Figura 7: Porcentagem referente aos resultados em disciplina relaxada na amostra de mães.
Entre as práticas negativas, a Monitoria Negativa foi a que obteve o maior escore
(11 pontos). Assim, mais participantes obtiveram escores abaixo da média e na área de risco
para o filho. A mediana nesta prática foi 6 e a moda 7. Foi observada uma dispersão maior
entre os resultados: 8 ficaram no estilo parental ótimo (entre 1 e 3 pontos): 2 obtiveram 2
pontos e 6 tiveram 3 pontos. Entre 4 e 5 é considerado regular, acima da média e 16 mães
ficaram nesta faixa: 9 somaram com 4 pontos e 7 com 5 pontos. 19 participantes ficaram
abaixo da média: 8 participantes com 6 pontos e 11 mães fizeram 7 pontos. Na área de risco
parental ficaram 17 mães: 5 (8 pontos), 5 (9 pontos), 5 (10 pontos) e 2 (11 pontos). Através
da figura 8 é possível observar como ficou esta distribuição:
68
13,3
26,7
31,7
28,3
0
5
10
15
20
25
30
35
Estilo Ótimo Regular, Acima da
Média
Regular, Abaixo da
Média
Estilo de Risco
Classificão dos Escores
Porcentagem
Figura 8: Porcentagem referente aos resultados em monitoria negativa na amostra de mães.
A prática Abuso Físico foi a que obteve a menor pontuação entre as práticas
educativas. A mediana para este prática foi 1 e a moda foi 0, havendo variações entre 0 e 5
pontos. Entretanto, na tabela de apuração (Gomide, 2006, p.58) desta prática educativa,
pontuação zero condiz à estilo parental ótimo e acima da média (aqui, todas pontuação iguais
a zero foram consideradas estilo ótimo), 1 ponto se enquadra em estilo regular abaixo da
média e acima de 2 pontos, estilo parental de risco, sendo assim, 23 respondentes pontuaram
zero, indicativo de estilo parental ótimo; 15 somaram 1 (regular, abaixo da média). Contudo,
22 mães ficaram na faixa de risco (acima de 2 pontos): 11 obtiveram 2 pontos; 8 fizeram 3
pontos; 2 somaram 5 pontos e 1 mãe fez 4 pontos.
69
38,3
25
36,7
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Estilo Ótimo Regular, Abaixo da Média Estilo de Risco
Classificão dos Escores
Porcentagem
Figura 9: Porcentagem referente aos resultados em abuso físico na amostra de mães.
O ANOVA de Friedman mostrou que as diferenças entre escores em cada dimensão
do IEP eram significativas (χ²=273,54; gl=6; p<0.01). Conforme este teste a prática
Monitoria Positiva obteve maior escore, seguida por Comportamento Moral, Monitoria
Negativa, Negligência, Punição Inconsistente, Disciplina Relaxada e Abuso Físico, que teve
o menor escore. Os postos médios de cada prática educativa a partir do ANOVA de Friedman
podem ser visualizados na tabela 7:
Tabela 7: Postos médios de cada prática educativa materna
Práticas Educativas Mean Rank
(Posto Médio)
Monitoria Positiva 6,43
Comportamento Moral 6,28
Monitoria Negativa 4,75
Negligência 3,19
Punição Inconsistente 2,89
Disciplina Relaxada 2,82
Abuso Físico 1,64
70
O índice de estilo parental foi calculado conforme instruções de Gomide (2006) e os
resultados foram os seguintes: a mediana e a moda corresponderam ao intervalo de
percentuais entre 55-75. Este intervalo, segundo Gomide (2006), indica um estilo parental
regular, mas acima da média. Assim, 13 ficaram no intervalo 80-99 (estilo parental ótimo), 5
ficaram entre o estilo parental ótimo e o regular acima da média, 14 mães ficaram no
intervalo 55-75 (estilo regular, acima da média). 11 mães corresponderam ao intervalo 30-50
(estilo parental regular, mas abaixo da média), 5 ficaram entre o estilo regular abaixo da
média e o de risco, e 12 no intervalo 1-25 (estilo parental de risco). A distribuição dos
resultados pode ser visualizada na figura 10:
21,7
8,3
23,3
18,3
8,3
20
0
5
10
15
20
25
Estilo Ótimo Entre Ótimo e
Acima da
Média
Regular,
Acima da
Média
Regular,
Abaixo da
Média
Entre
Regular,
Abaixo da
Média e
Risco
Estilo de
Risco
Classificação dos Escores
Porcentagem
Figura 10: Distribuição em porcentagem do índice estilo de parental na amostra de mães.
Contudo, a interpretação do índice de estilo parental no grupo mães ficou dividida
entre as diversas classificações. Assim, 53,3% da amostra foi caracterizada entre estilo
parental ótimo e regular, acima da média; 46,6% se enquadraram entre regular, abaixo da
média e estilo parental de risco. Além da dispersão entre os resultados, chama-se a atenção
para a freqüência do estilo parental de risco, o qual está relacionado ao desenvolvimento de
comportamento anti-social.
71
5.2.1 Dimensões do IEP e Variáveis de Caracterização da Amostra
As dimensões do IEP foram comparadas às variáveis dicotômicas de caracterização
da amostra, utilizando-se o teste Mann-Whitney. Todas as variáveis passíveis de comparação
neste teste foram analisadas; entretanto, a única diferença encontrada foi em relação à
variável trabalho remunerado. Deste modo, mães com trabalho remunerado obtiveram
maiores escores em negligência (U=174,5; p <0,01). Os resultados do teste são apresentados
na tabela 8.
Tabela 8: Comparação entre as dimensões do IEP das mães e a variável trabalho
remunerado.
Dimensões IEP Trabalho
Remunerado
N Mean Rank
(posto médio)
Sum of Ranks
(Somatório dos ranks)
Monitoria Positiva Sim
Não
46
14
29,04
35,29
1336,00
494,00
Comportamento
Moral
Sim
Não
46
14
31,01
28,82
1426,50
403,50
Punição
Inconsistente
Sim
Não
46
14
30,62
30,11
1408,50
421,50
Negligência* Sim
Não
46
14
33,71
19,96
1550,50
279,50
Disciplina Relaxada Sim
Não
46
14
30,63
30,07
1409,00
421,00
Monitoria Negativa Sim
Não
46
14
31,20
28,21
1435,00
395,00
Abuso Físico Sim
Não
46
14
31,00
28,86
1426,00
404,00
* Dimensão que variou conforme presença ou ausência de trabalho remunerado.
Para as variáveis ordinais foram realizados testes de correlação (ρ de Spearman)
com as dimensões do IEP. Resultados que são apresentados na seqüência:
72
5.2.2 Correlações entre as Dimensões do IEP
Na análise das correlações entre as dimensões do IEP encontrou-se correlação
positiva entre as práticas chamadas positivas, ou seja, quanto mais monitoria positiva, mais
comportamento moral (
ρ=0,519; p<0,01). O mesmo aconteceu entre algumas práticas
negativas, entre as quais a punição inconsistente que se correlacionou com as demais
práticas, apenas com exceção o abuso físico. Assim, quanto mais punição inconsistente, mais
negligência (ρ=0,386; p<0,01); quanto mais punição inconsistente, mais disciplina relaxada
(ρ=0,298; p<0,05); e quanto mais punição inconsistente, mais monitoria negativa (ρ=0,265;
p<0,05). Negligência e disciplina relaxada também demonstram uma correlação positiva
(ρ=0,399; p<0,01), o mesmo aconteceu entre disciplina relaxada e monitoria negativa e entre
monitoria negativa e abuso físico (ρ=0,321; p<0,05 e ρ=0,359; p<0,01 respectivamente).
Foi observada também, correlação negativa entre práticas positivas e negativas:
quanto mais monitoria positiva, menos negligência (ρ=-0,360; p<0,01) e menos disciplina
relaxada (ρ=-0,346; p<0,01); quanto mais comportamento moral, menos punição
inconsistente (ρ=-0,361; p<0,01) e menos disciplina relaxada (ρ=-0,319; p<0,05):
Tabela 9: Correlações entre as dimensões do IEP na amostra de mães
1. 2. 3. 4. 5. 6.
1. Monitoria
Positiva
2. Comportamento
Moral
0,519**
3. Punição
Inconsistente
-0,251
-0,361**
4. Negligência
-0,360**
-0,139
0,386**
5. Disciplina
Relaxada
-0,346**
-0,319*
0,298*
0,399**
6. Monitoria
Negativa
-0,060
-0,048
0,265*
0,145
0,321*
7. Abuso Físico
-0,016 0,027 0,226 0,126 0,019
0,359**
* p<0,05 ** p<0,01
73
5.2.3 Dimensões IEP e Escolaridade da Respondente
Foram correlacionadas a idade da respondente, a escolaridade e a idade do filho,
sobre o qual a participante respondeu o IEP, com as dimensões deste instrumento. Entretanto
apenas o quesito escolaridade teve diferenças estatisticamente significantes. Neste sentido, o
teste
ρ de Spearman revelou que a escolaridade está associada ao uso de práticas positivas:
quanto maior a escolaridade da mãe, maior a pontuação em monitoria positiva (ρ=0,254;
p<0,05) e maior o escore em comportamento moral (ρ=0,323; p<0,05).
Além disso, a escolaridade parece ser um fator de proteção em relação à utilização
da prática monitoria negativa, pois quanto maior a escolaridade da mãe, menor o escore em
monitoria negativa (ρ=-0,273; p<0,05).
Tabela 10: Correlações entre as dimensões do IEP e as variáveis: idade, escolaridade e idade
do filho.
Variáveis Monitoria
Positiva
Comportamento
Moral
Punição
Inconsistente
Negligência Disciplina
Relaxada
Monitoria
Negativa
Abuso
Físico
Idade da
respondente
-0,001
-0,048
-0,047
0,156
0,152
0,001
-0,249
Escolaridade
0,254*
0,323*
-0,142
-0,196
-0,199
-0,273*
-0,059
Idade do Filho
-0,107
-0,126
0,002
-0,080
0,168
0,013
-0,242
* p<0,05
** p<0,01
5.2.4 Dimensões IEP e Condições Materiais, Clima na Infância, Relação Conjugal dos
Pais e Conflitos entre os Pais da Respondente
Foram correlacionados os resultados do IEP com o contexto de criação na infância:
condições materiais, clima emocional, relação conjugal dos pais e conflitos entre os pais das
respondentes, lembrando que nas três primeiras questões pontuações mais próximas a 5
indicam melhores condições materiais, clima emocional e relacionamento conjugal. na
questão conflitos entre os pais, ocorre o inverso, quanto mais próxima de 5 for a pontuação,
mais conflitos foram percebidos na relação conjugal dos pais.
Através da correlação entre as dimensões do IEP e o contexto de criação obteve-se
diferenças em relação às condições materiais disponíveis e o clima emocional. Tanto as
74
condições materiais quanto o clima emocional durante a infância apareceram relacionadas à
utilização da monitoria positiva. Assim, constatou-se correlação positiva entre condições
materiais e monitoria positiva (
ρ=0,395; p<0,01) e entre clima emocional e monitoria
positiva, onde quanto mais tranqüilo foi avaliado o ambiente familiar na infância, também
mais as participantes relataram fazer uso da monitoria positiva na interação com seus filhos
(ρ=0,267; p<0,05).
Tabela 11: Correlações entre as dimensões do IEP e as variáveis: condições materiais, clima,
relação conjugal dos pais e conflitos entre os pais da respondente durante a infância.
Variáveis
Monitoria
Positiva
Comportamento
Moral
Punição
Inconsistente
Negligência Disciplina
Relaxada
Monitoria
Negativa
Abuso
Físico
Condições
materiais
0,395**
0,254
-0,020
-0,066
-0,127
-0,041
-0,116
Ambiente
(clima)
0,267*
0,201
-0,194
-0,048
-0,030
-0,070
-0,179
Relação
conjugal
dos pais
0,192
0,198
-0,210
-0,137
-0,066
0,079
-0,139
Conflitos
entre os
pais
0,157
0,122
-0,096
-0,050
0,044
0,127
-0,068
* p<0,05
** p<0,01
5.2.5 Dimensões IEP e Conflitos entre a Respondente e o Pai, Conflitos entre a
Respondente e a Mãe, Afetividade do Pai e Afetividade da Mãe
Foram correlacionados também, os dados dos conflitos entre a respondente e o pai,
conflitos entre a respondente e a mãe, atitude afetuosa do pai e atitude afetuosa da mãe com
as práticas educativas atuais (dimensões do IEP). Novamente atenta-se quanto a escala, que
era de 0 a 5, onde maior escore indicava mais conflitos e menor escore, menos conflitos, o
contrário das demais questões que possuíam conotações positivas, por exemplo, quanto
maior escore, mais afetuosa a relação entre a participante e a mãe.
Os resultados obtidos foram os seguintes: quanto menos conflituosa as participantes
perceberam sua relação com o pai, maior a pontuação na prática monitoria positiva (ρ=-
0,312; p<0,05); quanto mais lembranças de conflitos na relação com o pai durante a infância,
mais as respondentes utilizam-se do abuso físico com seus filhos (
ρ=0,303; p<0,05). Em
75
relação às lembranças de conflitos com a mãe, quanto menos conflituosa foi esta relação,
maior a pontuação na prática monitoria negativa (
ρ=-0,347; p<0,01).
Com relação à percepção de afeto na relação com os pais da família de origem,
através dos resultados constatou-se: a) correlação positiva entre lembranças de afeto por parte
do pai e utilização da monitoria positiva, ou seja, quanto mais lembranças de afeto por parte
do pai as participantes relataram durante sua infância, maiores escores tiveram em monitoria
positiva (ρ=0,301; p<0,05); b) correlação negativa entre afeto por parte do pai e a prática
educativa abuso físico, na qual, quanto menos afetuosa foi a atitude do pai durante a criação,
mais abuso físico é utilizado enquanto prática com os filhos (ρ=-0,263; p<0,05). Todos os
resultados podem ser visualizados a seguir:
Tabela 12: Correlações entre as dimensões do IEP e as variáveis: conflitos entre a
respondente e o pai, conflitos entre a respondente e a mãe, atitude afetuosa do pai e atitude
afetuosa da mãe durante a infância.
Variáveis Monitoria
Positiva
Comportamento
Moral
Punição
Inconsistente
Negligência Disciplina
Relaxada
Monitoria
Negativa
Abuso
Físico
Conflitos
com o pai
-0,312*
-0,205
0,061
-0,020
-0,051
-0,006
0,303*
Conflitos
com a mãe
0,036
0,066
-0,036
-0,013
-0,041
-0,347**
0,121
Afetividade
do pai
0,301*
0,236
-0,189
-0,168
-0,234
-0,106
-0,263*
Afetividade
da mãe
-0,114
0,064
-0,059
-0,039
-0,161
0,237
-0,177
* p<0,05
** p<0,01
5.3 Resultados EMBU – Grupo Mães
A análise das lembranças sobre a infância, obtidas através do EMBU (n=59),
revelaram os seguintes resultados, conforme tabela 13:
76
Tabela 13: Mediana, moda e escore máximo e mínimo para cada dimensão do EMBU do
grupo de mães:
Dimensões
EMBU
Rejeição Pai Calor
Emocional
Pai
Super-
proteção Pai
Rejeição
Mãe
Calor
Emocional
Mãe
Super-
proteção Mãe
Mediana 1,43 2,50 2,11 1,43 2,83 2,11
Moda 1,00(a) 1,83 1,44 1,00 3,33 1,89(a)
Mínimo 1,00 1,00 1,00 1,00 1,33 1,33
Máximo 3,71 4,00 3,33 3,71 4,00 3,67
(a) Múltiplas modas existentes. É mostrada a menor
Tanto em relação às lembranças sobre o pai, quanto às lembranças sobre a mãe a
maior pontuação foi para calor emocional (variação entre 1 e 4 pontos para pai e entre 1,33 e
4 pontos para mãe) com mediana 2,50 e moda 1,83 e 2,83 e 3,33 respectivamente. Além
disso, o ANOVA de Friedman mostrou diferenças estatisticamente significantes entre os
escores (χ²=78,292; gl=5; p<0.01). Assim, Calor Emocional da Mãe obteve o maior escore,
seguido por Super-proteção da Mãe, Calor Emocional do Pai, Super-proteção do Pai,
Rejeição da Mãe, sendo Rejeição do Pai a dimensão de menor escore.
5.3.1 Correlações entre as Dimensões do EMBU
A partir da correlação entre as dimensões do EMBU (n=59) observa-se uma
congruência entre os comportamentos do pai e da mãe, ou seja, lembranças de rejeição do pai
estão relacionadas às lembranças de rejeição da mãe (ρ=0,688; p<0,01), as de calor
emocional do pai às de calor emocional da mãe (ρ=0,754; p<0,01) e as de super-proteção do
pai às de super-proteção da mãe (ρ=0,841; p<0,01).
Foi encontrada uma correlação inversamente proporcional entre lembranças de
rejeição e lembranças de calor emocional tanto em relação ao pai, quanto à mãe. Assim,
quanto mais lembranças rejeição do pai, menos lembranças de calor emocional do pai (ρ=-
0,651; p<0,01) e da mãe (ρ=-0,472; p<0,01). Do mesmo modo, ocorreu em relação às
lembranças de rejeição da mãe, onde mais lembranças de rejeição por parte da mãe,
implicaram em menos calor emocional da mãe (ρ=-0,660; p<0,01) e do pai (ρ=-0,461;
p<0,01).
Uma correlação positiva foi encontrada entre lembranças de rejeição do pai e da
mãe e super-proteção de ambos os cuidadores: Quanto mais rejeição do pai, mais memórias
de super-proteção do pai (
ρ=0,440; p<0,01) e da mãe (ρ=0,340; p<0,01); e quanto mais
77
lembranças de rejeição da mãe, mais lembranças de super-proteção do pai (
ρ=0,326; p<0,05).
e da mãe (ρ=0,513; p<0,01). Todos os resultados podem ser visualizados na tabela 14.
Tabela 14: Correlações entre as dimensões do EMBU no grupo de mães:
Variáveis 1. 2. 3. 4. 5.
1. Rejeição Pai
2. Calor
Emocional Pai
-0,651**
3. Super-
proteção Pai
0,440**
0,006
4.Rejeição Mãe
0,688**
-0,461**
0,326*
5. Calor
Emocional Mãe
-0,472**
0,754**
-0,046
-0,660**
6. Super-
proteção Mãe
0,340**
0,007
0,841**
0,513**
-0,146
* p<0,05
** p<0,01
Além das correlações entre as dimensões do EMBU, foram constatadas outras
correlações entre as dimensões do EMBU e as demais questões que investigavam o contexto
de criação das participantes. Estas correlações apontam a relação entre as duas medidas, o
que denota coerência entre as mesmas e provavelmente, fidedignidade das respostas.
Resultados que são apresentados na seqüência:
5.3.2 Dimensões do EMBU e Condições Materiais na Infância, Clima na Infância,
Relação Conjugal dos Pais e Conflitos entre os Pais da Respondente
Com a utilização do teste ρ de Spearman foram correlacionadas questões do
contexto de criação das participantes com os resultados das dimensões do EMBU. Em
relação às condições materiais disponíveis durante a infância obtivemos correlação positiva
entre estas e as dimensões calor emocional do pai e calor emocional da mãe. Deste modo,
quanto melhores as condições materiais durante a infância, mais lembranças de calor
emocional do pai (ρ = 0,357, p<0,01) e de calor emocional da mãe (ρ = 0,429, p<0,01).
78
Quanto ao clima emocional durante a infância, quanto melhor o clima, ou seja,
quanto mais tranqüilo, menos as participantes tinham lembranças de rejeição por parte do pai
(
ρ = -0,461, p<0,01). Além disso, o clima durante a infância se correlacionou às lembranças
de calor emocional tanto do pai quanto da mãe. Assim, quanto mais tranqüilo foi o clima de
criação, mais as respondentes tinham lembranças de calor emocional do pai (ρ = 0,561,
p<0,01) e de calor emocional da mãe (ρ = 0,257, p<0,05).
A avaliação da relação conjugal dos pais durante a infância se correlacionou com as
dimensões do EMBU, com exceção apenas da super-proteção do pai e super-proteção da
mãe, as quais não se correlacionaram com nenhuma questão do contexto de criação. Assim,
obteve-se: quanto mais feliz a relação conjugal dos pais foi percebida durante a infância,
menos lembranças de rejeição por parte do pai (ρ=-0,339, p<0,01) e por parte da mãe (ρ=-
0,286, p<0,05), bem como, mais lembranças de calor emocional do pai (ρ=0,537, p<0,01) e
da mãe (ρ=0,302, p<0,05) foram pontuadas pelas participantes.
em termos de conflitos conjugais entre os pais, as correlações ficaram apenas
entre as dimensões paternas do EMBU. Deste modo, quanto mais conflitos na relação dos
pais, menos lembranças de calor emocional por parte do pai (ρ=-0,501, p<0,01) e mais
memórias de rejeição paterna (ρ=0,370, p<0,01) foram percebidas.
Tabela 15: Correlações entre as dimensões do EMBU e as variáveis: condições
materiais, clima, relação conjugal dos pais e conflitos entre os pais da
respondente durante a infância.
Variáveis Rejeição
Pai
Calor
Emocional
Pai
Super-
proteção
Pai
Rejeição
Mãe
Calor
Emocional
Mãe
Super-
proteção
Mãe
Condições
materiais
-0,243
0,357**
0,063
-0,227
0,429**
0,006
Ambiente
(clima)
-0,461**
0,561**
-0,203
-0,220
0,257*
-0,139
Relação
conjugal
dos pais
-0,339**
0,537**
-0,091
-0,286*
0,302*
-0,184
Conflitos
entre os
pais
0,370**
-0,501**
0,115
0,245
-0,235
0,143
* p<0,05
** p<0,01
79
5.3.3 Dimensões do EMBU e Conflitos entre a Respondente e o Pai, Conflitos entre a
Respondente e a Mãe, Afetividade do Pai e Afetividade da Mãe
Na análise entre conflitos entre a respondente e o pai, conflitos entre e a
respondente e a mãe, afetividade do pai, afetividade da mãe com as dimensões do EMBU, a
única dimensão que não teve correlação com as questões acima foi super-proteção do pai.
A questão sobre conflitos com o pai correlacionou-se com as dimensões paternas de
rejeição e calor emocional, nas quais mais conflitos entre a respondente e o pai implicaram
em mais lembranças de rejeição por parte pai (
ρ=0,480, p< 0,01) e menos lembranças de
calor emocional por parte do pai (ρ=-0,519, p< 0,01).
A lembrança de conflitos entre a respondente e a mãe teve correlação todas as
demais dimensões, exceto super-proteção do pai. Quanto mais conflitos com a mãe durante a
infância, mais lembranças de rejeição por parte do pai (ρ=0,362, p < 0,01) e por parte da mãe
(ρ=0,616, p< 0,01). Mais lembranças de conflitos com a mãe também implicaram em mais
lembranças de super-proteção da mãe (ρ=0,315, p< 0,05). Ao contrário do calor emocional,
com a qual a correlação foi negativa: quanto mais conflitos entre a respondente e a mãe,
menos lembrança de calor emocional por parte da mãe (ρ=-0,422, p <0,01) e por parte do pai
(ρ=-0,304, p < 0,05) foi percebido durante a infância.
A afetividade do pai na infância da respondente teve correlação negativa com
lembranças de rejeição do pai e positiva com calor emocional do pai e da mãe. Desta
maneira, quanto mais afetuosa foi a atitude do pai na infância, menos as participantes tiveram
lembranças de rejeição do pai (ρ=-0,510, p< 0,01) e mais tiveram lembranças de calor
emocional do pai (ρ=0,723, p< 0,01) e da mãe (ρ=0,359, p< 0,01).
No que diz respeito à lembrança de afetividade da mãe para com a participante teve
correlação positiva com lembrança de calor emocional tanto do pai quanto da mãe: quanto
mais afetuosa a e foi lembrada, mais memórias de calor emocional da mãe (ρ=0,678,
p<0,01) e do pai (ρ=0,530, p<0,01) as participantes tiveram. As dimensões rejeição paterna e
materna tiveram correlações negativas com o afeto por parte da mãe: quanto mais afetuosa
foi a atitude da mãe na infância das respondentes, menos elas tiveram lembranças de rejeição
por parte da mãe (ρ=-0,578, p<0,01) e por parte do pai (ρ=-0,396, p<0,01).
80
Tabela 16: Correlações entre as dimensões do EMBU e as variáveis: conflitos entre a
respondente e o pai, conflitos entre a respondente e a mãe, atitude afetuosa do pai e
atitude afetuosa da mãe durante a infância.
Variáveis Rejeição
Pai
Calor
Emocional
Pai
Super-
proteção
Pai
Rejeição
Mãe
Calor
Emocional
Mãe
Super-
proteção
Mãe
Conflitos com
o pai
0,480**
-0,519**
0,057
0,101
-0,132
-0,035
Conflitos com
a mãe
0,362**
-0,304*
0,192
0,616**
-0,422**
0,315*
Afetividade
do pai
-0,510**
0,723**
0,167
-0,103
0,359**
0,253
Afetividade
da mãe
-0,396**
0,530**
0,053
-0,578**
0,678**
0,003
* p<0,05
** p<0,01
5.4 Correlações entre Práticas Educativas Parentais e Memórias de Cuidados na
Infância – Grupo Mães
Com a finalidade de respaldar o objetivo e interesse principal deste estudo, ou seja,
verificar a relação entre as memórias de cuidados recebidos na infância e as práticas
educativas parentais, foram correlacionados os resultados dos instrumentos IEP e EMBU,
mais especificamente as dimensões resultantes do aferimento de ambos.
A análise destes resultados apontou a relevância das memórias referentes às
atitudes paternas no comportamento parental atual das participantes com seus filhos. Assim,
memórias de rejeição paterna apresentaram correlação com monitoria positiva, punição
inconsistente e a prática do abuso físico. Observou-se que quanto mais lembranças de
rejeição as participantes tiveram por parte do pai na infância, menos utilizam a monitoria
positiva com seus filhos (ρ=-0,269, p< 0,05) e mais observa-se a presença da punição
inconsistente (ρ=0,267, p< 0,05) e do abuso físico nas práticas educativas (ρ=0,309, p<
0,05).
Contudo, parece que o calor emocional do pai na infância é um fator de proteção
para os filhos destas mães, pois quanto mais calor emocional do pai foi lembrado na criação
das participantes, mais estas fazem uso da monitoria positiva na educação de seus filhos
(
ρ=0,266, p<0,05). Além disso, mais calor emocional do pai na infância, também está
81
relacionado a menos a punição inconsistente (
ρ=-0,314, p< 0,05) e menos abuso físico com
seus filhos (ρ=-0,381, p< 0,05).
Em relação às lembranças de cuidado por parte da mãe, a única correlação
encontrada nesta amostra de mulheres foi a dimensão calor emocional da mãe, a qual teve,
como no caso do calor emocional do pai, uma relação inversa com a prática do abuso físico.
Assim, quanto mais calor emocional da mãe é lembrado na infância, e a menos o abuso
físico é utilizado enquanto prática educativa (ρ=-0,337, p< 0,05).
Tabela 17: Correlações entre as dimensões do EMBU e as dimensões do IEP no
grupo de mães.
Variáveis Rejeição
Pai
Calor
Emocional
Pai
Super-
proteção
Pai
Rejeição
Mãe
Calor
Emocional
Mãe
Super-
proteção
Mãe
Monitoria
Positiva
-0,269*
0,266*
-0,002
-0,020
0,019
0,056
Comportamento
Moral
-0,166
0,247
0,125
-0,023
0,141
0,155
Punição
Inconsistente
0,267*
-0,314*
0,099
0,137
-0,189
0,073
Negligência
0,198
-0,182
-0,116
0,146
-0,107
-0,030
Disciplina
Relaxada
0,136
-0,063
-0,118
0,010
-0,061
-0,131
Monitoria
Negativa
0,160
-0,071
0,254
-0,166
0,020
0,077
Abuso Físico
0,309*
-0,381**
0,092
0,147
-0,337**
0,102
* p<0,05
** p<0,01
Na seqüência serão apresentados os resultados obtidos através da amostra de pais,
que apesar do pequeno número de participantes (n=20), quando comparado ao grupo de
mães, revela-se com dados peculiares que valem ser apresentados e discutidos.
82
5.5 Contexto de Criação - Grupo Pais
5.5.1 Local de Criação e Presença dos Pais Biológicos
Os dados referentes às condições de criação da amostra de pais revelou que 12
foram criados na zona urbana e 8 na zona rural. Sobre a conformação familiar, verificamos
que, quase a totalidade dos participantes, ou seja, 17 pais, não presenciaram situação de
separação ou divórcio dos pais e nem mesmo morte de um dos cuidadores, pois apenas 3
respondentes o relataram quando tinham mais de 11 anos de idade (1 participante perdeu a
mãe, 1 o pai e 1 ambos).
5.5.2 Principal Cuidador
Os participantes mencionaram que foram criados principalmente pelos pais
biológicos. Ao analisar esta questão conforme as diferentes faixas etárias têm-se os seguintes
resultados: até os 6 anos de idade, 17 pais responderam que seus pais biológicos foram os
principais cuidadores, 1 participante relatou que foram os pais e a avó, 1 mencionou a mãe
biológica e igualmente 1 pai fez menção dos avós.
Entre os 7 e 11 anos, 18 participantes relataram que foram criados pelos pais
biológicos, 1 relatou que o foi pela mãe biológica e da mesma forma 1 mencionou os avós.
Acima dos 11 anos, 18 pais relataram que os pais biológicos foram os principais cuidadores e
1 participante mencionou a avó e 1 pai não respondeu esta questão.
Através da figura 11 pode-se constatar que os pais biológicos foram as pessoas mais
presentes no contexto de criação dos participantes nas diferentes faixas etárias. Dado que
também apareceu quando questionados os respondentes foram questionados sobre a pessoa
mais importante que cuidou deles durante a infância e adolescência. Neste sentido, 8
disseram que os pais biológicos foram as pessoas mais importantes, 7 que a mãe foi a pessoa
mais importante, 2 mencionaram o pai biológico, 1 disse que foram os pais e os avós, 1
mencionou os avós e 1 relatou que a avó foi a pessoa mais importante na sua criação (Figura
12).
83
Figura 11: Porcentagem referente ao principal cuidador apontado pelos pais nas diferentes
faixas etárias
40
35
10
5 5 5
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Pais Biogicos e Biológica Pai Biológico Avós Pais e Avós Avó
Cuidadores
Porcentagem
Figura 12: Porcentagem referente à pessoa citada como a mais importante nos cuidados
durante a infância e juventude no grupo de pais.
85
90 90
5 5 55 55
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Até os 6 anos 7 aos 11 anos Acima dos 11 anos
Faixa Etária
Porcentagem
Pais Biológicos
Avós
Mãe Biológica
Pais e Avó
Outras Pessoas
84
5.5.3 Ambiente Familiar
Os participantes tiveram que avaliar o ambiente familiar, tanto em relação às
condições materiais, quanto ao clima entre os membros da família durante a infância e
adolescência. Na primeira, 8 participantes relataram que as condições materiais eram
medianas, 6 citaram que viviam bem, 5 que viviam muito bem e apenas 1 relatou que passou
necessidade. Quanto ao clima emocional da família tivemos: 9 respondentes que avaliaram-
no como tranqüilo, 7 como muito tranqüilo, 3 como médio e 1 pai avaliou o clima familiar
como tumultuado.
Os integrantes deste grupo também responderam duas questões sobre o
relacionamento conjugal dos seus pais na época em que eram crianças e 9 relacionou-o como
muito feliz, 8 como feliz, 1 avaliou como sendo médio e 2 relataram que o relação conjugal
dos seus pais era infeliz. Do mesmo modo, em relação aos conflitos entre os pais: 9 que
referiram que não era nada conflituoso, 6 que era pouco conflituoso, 4 médio e apenas 1
participante avaliou como conflituoso este relacionamento.
Os participantes da pesquisa também foram questionados quanto ao comportamento
do pai e da mãe separadamente em termos de conflitos e afeto. Quanto aos conflitos entre o
respondente e seu pai, 9 disseram que não era nada conflituoso, 7 pouco conflituoso, 2
médio e também 2 como conflituoso. Em relação à mãe, os resultados foram ainda melhores:
13 avaliaram a relação com a mãe como nada conflituosa, 5 como pouco conflituosa, 1 como
conflituosa e também 1, como extremamente conflituosa.
Sobre a atitude do pai e da mãe com relação ao afeto, os resultados em relação ao
pai foram: 9 citaram que o pai era afetuoso, 6 que era extremamente afetuoso, 4 avaliaram
que a atitude do pai em termos de afeto era mediana e 1 admitiu que o seu pai era pouco
afetuoso. Sobre a atitude da mãe 10 participantes avaliaram que a mãe era extremamente
afetuosa, 8 que ela era afetuosa, 1 a avaliação ficou no nível médio e 1 também citou que a
mãe era pouco afetuosa.
85
5.6 Resultados Inventário de Estilos Parentais - Grupo Pais
Cada participante teve que apontar o filho sobre o qual responderia o Inventário de
Estilos Parentais. Assim, a média de idade foi 15 anos e 4 meses, sendo 10 do sexo
masculino e 9 do feminino. Apenas um respondente não mencionou a idade e sexo do filho
sobre o qual respondeu este inventário.
O resultado geral da aplicação deste inventário pode ser visualizado na tabela 18,
na
qual se pode constatar que as práticas positivas: monitoria positiva e comportamento moral
atingiram a pontuação máxima (12 pontos), sendo também 12, a moda na dimensão
comportamento moral. O escore máximo em monitoria negativa também foi alto (10 pontos)
sabendo-se que está é uma prática negativa, apesar da mediana e moda se constituírem em
valores menores. A pontuação mais baixa entre as categorias foi na dimensão abuso físico,
sendo a pontuação máxima 5 e a mediana e moda zero, o que indica baixa utilização desta
prática entre os pais.
Tabela 18: Mediana, moda e escore máximo e mínimo das práticas educativas paternas.
Práticas
Educativas
Monitoria
Positiva
Comportamento
Moral
Punição
Inconsistente
Negligência Disciplina
Relaxada
Monitoria
Negativa
Abuso
Físico
Mediana 11 10,5 2 4 2 6,5 0
Moda 11 12 1 4 0 4* 0
Mínimo 5 7 0 1 0 3 0
Máximo 12 12 5 9 6 10 5
* Múltiplas modas. É mostrada a menor.
Utilizou-se s o ANOVA de Friedman para avaliar se as diferenças entre os escores
em cada dimensão do IEP eram significativas. Conforme o teste (χ²=99,21; gl=6; p<0.01), o
comportamento moral obteve maior escore, seguido pela monitoria positiva, monitoria
negativa, negligência, disciplina relaxada, punição inconsistente e por final, o abuso físico,
com o menor escore.
Na prática Comportamento Moral 7 pais fizeram a pontuação máxima de 12 pontos,
3 fizeram 11 pontos (ambas correspondem ao estilo parental ótimo). 8 participantes ficaram
no estilo parental regular, acima da média: 6 (com 10 pontos) e 2 com (9 pontos), e 2 pais
fizeram 7 pontos (regular, abaixo da dia). Nenhum pai se enquadrou na área de risco para
o filho. Como é possível perceber, esta dimensão foi a que apresentou maiores pontuações e
também teve uma dispersão que variou entre os maiores resultados: 7 a 12 pontos.
86
55
15 15 15
0
10
20
30
40
50
60
Estilo Ótimo Regular, Acima da
Média
Regular, Abaixo da
Média
Estilo de Risco
Classificão dos Escores
Porcentagem
Figura 13: Porcentagem referente aos resultados da prática comportamento moral no
grupo de pais.
Na Monitoria Positiva, a segunda mais alta pontuação de acordo com o ANOVA de
Friedman. Entre os resultados: 4 pais fizeram 12 pontos e 7 somaram 11 pontos (estilo
parental ótimo). 3 participantes pontuaram 10 (faixa regular, acima da média), também 3
fizeram 9 pontos (regular, abaixo da média) e 1 fez 7 pontos (também regular, abaixo da
média. As pontuações 6 e 5 pontos foram obtidas cada qual, igualmente por 1 participante,
sendo as pontuações abaixo de 7 representativas do estilo parental de risco, 2 pais ficaram
dentro desta categoria.
87
55
15
20
10
0
10
20
30
40
50
60
Estilo Ótimo Regular, Acima da
Média
Regular, Abaixo da
Média
Estilo de Risco
Classificão dos Escores
Porcentagem
Figura 14: Porcentagem referente aos resultados da prática monitoria positiva no grupo
de pais.
Nas práticas negativas os resultados ficaram da seguinte forma: A dimensão
Monitoria Negativa, a mais alta entre as práticas negativas, teve pontuações que variaram
entre 3 (regular, acima da média) e 10 pontos (estilo de risco). Resultados estes que ficaram
bastante dispersos: 5 pais ficaram no estilo regular, acima da média: 1 (3 pontos) e 4 (4
pontos), 5 ficaram no estilo regular, abaixo da média: 3 respondentes obtiveram 5 pontos e 2
pais fizeram 6. O grupo de risco somou 10 participantes: 2 (7 pontos), 4 (8 pontos), 2 (9
pontos) e 2 (10 pontos). Na figura 15 pode-se observar esta distribuição dos resultados,
verificando-se que a maior parte da amostra deste grupo se enquadrou na área de risco e
nenhum pai teve pontuação condizente ao estilo parental ótimo:
88
25 25
50
0
10
20
30
40
50
60
Regular, Acima da dia Regular, Abaixo da Média Estilo de Risco
Classificão dos Escores
Porcentagem
Figura 15: Porcentagem referente aos resultados da prática monitoria negativa no grupo de
pais.
Com relação à utilização da Negligência os escores tiveram uma variação de zero a
9 pontos. Os resultados ficaram da seguinte maneira: 2 respondentes fizeram 1 ponto (estilo
ótimo), 4 que fizeram 2 pontos (regular, acima da média), 9 ficaram na categoria regular,
abaixo da média: 2 (3 pontos) e 7 (4 pontos). Dentro do estilo parental de risco para esta
prática educativa teve-se 5 pais: 1 pai (5 pontos), 1 (6 pontos), 1 (8 pontos) e 2 (9 pontos).
Resultados que são visualizados na figura 16:
89
10
20
45
25
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Estilo Parental Ótimo Regular, Acima da
Média
Regular, Abaixo da
Média
Estilo de Risco
Classificão dos Escores
Porcentagem
Figura 16: Porcentagem referente aos resultados da prática negligência no grupo de pais.
Na Disciplina Relaxada a mediana foi 2 e a moda foi zero, sendo 6 a pontuação
máxima. 9 pais ficaram no estilo parental ótimo dentre: 5 pais pontuaram zero e 4 fizeram 1
ponto. 3 respondentes se enquadraram no estilo regular, acima da média, obtendo 2 pontos.
No estilo regular, abaixo da média para esta prática ficaram 5 participantes: 3 com 3 pontos e
2 com 4 pontos. Apenas 3 pais se situaram na área de risco parental, 2 com 6 pontos e 1 que
obteve 5 pontos.
90
45
15
25
15
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Estilo Parental Ótimo Regular, Acima da
Média
Regular, Abaixo da
Média
Estilo de Risco
Classificão dos Escores
Porcentagem
Figura 17: Porcentagem referente aos resultados da prática disciplina relaxada no grupo de
pais.
Com relação à prática Punição Inconsistente a variação de escores foi entre zero e 5
pontos, sendo a mediana e moda respectivamente 2 e 1. Nesta prática educativa, 9 pais
ficaram no estilo parental ótimo: 2 que tiveram o somatório igual a zero e 7 que fizeram
apenas 1 ponto. 6 respondentes se situaram no estilo regular, acima da média: 2 pais (2
pontos) e 4 fizeram 3 pontos. A categoria regular, abaixo da média, teve 4 participantes, que
fizeram 4 pontos. A pontuação máxima neste grupo foi 5, resultado obtido por 1 participante,
que se enquadrou no estilo parental de risco referente a esta prática educativa.
91
45
30
20
5
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Estilo Parental Ótimo Regular, Acima da
Média
Regular, Abaixo da
Média
Estilo de Risco
Classificão dos Escores
Porcentagem
Figura 18: Porcentagem referente aos resultados da prática punição inconsistente no grupo
de pais.
A dimensão Abuso Físico foi a de menor escore entre todas as práticas, sendo a
modo e a mediana zero. Os seus resultados ficaram da seguinte forma: a maioria dos pais
(15) fez uma pontuação igual a zero (estilo parental ótimo). 1 pai fez um ponto e ficou na
faixa regular, abaixo da média. Os 4 demais participantes com mais de 2 pontos, se
enquadram dentro da área de risco: 1 pai (2 pontos), 1 com 4 pontos e 2 participantes que
obtiveram 5 pontos. Deste modo, estes resultados tiveram a seguinte conformação:
92
75
5
20
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Estilo Parental Ótimo Regular, Abaixo dadia Estilo de Risco
Classificão dos Escores
Porcentagem
Figura 19: Porcentagem referente aos resultados da prática abuso físico no grupo de
pais.
Foi calculado também o Índice de Estilo Parental da amostra, bem como, foi
realizada a conversão destes em percentuais conforme Gomide (2006). Deste modo,
observou-se que 7 pais obtiveram um percentual entre 80 a 99, o que indica um estilo
parental ótimo, com presença marcante das práticas positivas em detrimento das negativas, 5
pais ficaram com percentuais entre 55 e 75, indicativo de estilo parental regular,mas acima da
média. Igualmente, 5 participantes tiveram percentuais entre 30 e 50, correspondente a estilo
regular abaixo da média. No qual Gomide (2006) alerta para a importância da participação
em grupos para treinamento de pais. E por fim, o percentual de risco (1-25) foi caracterizado
por 3 participantes, que segundo Gomide (2006) necessitam de programas de intervenção
terapêutica destinados a pais com dificuldades nas práticas educativas.
93
35
25 25
15
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Estilo Parental Ótimo Regular, Acima da
Média
Regular, Abaixo da
Média
Estilo de Risco
Classificão dos Escores
Porcentagem
Figura 20: Distribuição em porcentagem do índice de estilo parental do grupo de pais.
Constata-se a partir dos resultados acima relatados, que os pais investigados neste
estudo, em todas as práticas educativas, com exceção da monitoria negativa e negligência,
tiveram suas práticas com mais freqüência dentro de estilo parental ótimo. As diferenças nos
resultados da monitoria negativa e negligência refletiram no índice de estilo parental, que
embora com freqüência estivesse no estilo parental ótimo, ficou disperso entre as quatro
classificações.
5.6.1 Dimensões do IEP e Variáveis de Caracterização da Amostra
Através do teste Mann-Whitney foram comparadas as dimensões do IEP às
variáveis dicotômicas de caracterização da amostra. Todas as variáveis passíveis de
comparação neste teste foram analisadas, entretanto encontramos uma diferença significativa
com relação ao sexo do filho (U=15,5; p<0,05). Assim, pais utilizam mais punição
inconsistente com seus filhos do sexo masculino. Lembra-se que a punição inconsistente ou
não contingente condiz à utilização da punição não em relação ao comportamento do filho,
mas a partir do estado emocional do pai ou da mãe. Gomide (2003) exemplifica esta prática
utilizando a seguinte situação: um pai que ao chegar em casa com raiva, bate em seu filho,
94
independente do que este esteja fazendo e adverte que através deste comportamento a criança
aprende a discriminar o humor do pai e não o ato praticado.
Tabela 19: Comparação entre dimensões do IEP e a variável sexo do filho no grupo de
pais:
Dimensões IEP Sexo do Filho N Mean Rank
(posto médio)
Sum of Ranks
(Somatório dos ranks)
Monitoria Positiva
Masculino
Feminino
10
09
10,85
9,06
108,50
81,50
Comportamento
Moral
Masculino
Feminino
10
09
10,15
9,83
101,50
88,50
Punição
Inconsistente*
Masculino
Feminino
10
09
12,95
6,72
129,50
60,50
Negligência
Masculino
Feminino
10
09
11,55
8,61
112,50
77,50
Disciplina Relaxada
Masculino
Feminino
10
09
11,55
8,28
115,50
74,50
Monitoria Negativa
Masculino
Feminino
10
09
12,10
7,67
121,00
69,00
Abuso Físico
Masculino
Feminino
10
09
11,00
8,89
110,00
80,00
Dimensão que variou conforme sexo do filho.
Na seqüência são apresentados os resultados obtidos através do teste de correlação
(ρ de Spearman) entre as dimensões do IEP e as variáveis ordinais no grupo pais:
5.6.2 Correlações entre as Dimensões do IEP
As correlações entre as dimensões do IEP foram um pouco diferentes dos resultados
da amostra de mães: as correlações que foram semelhantes entre os dois grupos foram:
correlação positiva entre monitoria positiva e comportamento moral (ρ=0,660, p< 0,01);
entre disciplina relaxada e punição inconsistente (ρ=0,452, p< 0,05); entre disciplina relaxada
e negligência (
ρ=0,489, p< 0,05); e entre monitoria negativa e abuso físico (ρ=0,485, p<
0,05).
95
Entretanto, constatou-se também neste grupo a correlação positiva entre monitoria
positiva e monitoria negativa, ou seja, quanto maior o escore em monitoria positiva, maior
também em monitoria negativa (
ρ=0,533, p< 0,05).
Tabela 20: Correlações entre as dimensões do IEP no grupo de pais:
Variáveis 1. 2. 3. 4. 5. 6.
1. Monitoria
Positiva
2.Comportamento
Moral
0,660**
3. Punição
Inconsistente
-0,21
-0,056
4. Negligência
-0,416
0,030
0,291
5. Disciplina
Relaxada
-0,330
-0,147
0,452*
0,489*
6. Monitoria
Negativa
0,533*
0,328
0,441
-0,161
0,047
7. Abuso Físico
-0,019
0,234
0,256
0,320
0,180
0,485*
* p<0,05
** p<0,01
5.6.3 Dimensões IEP e Escolaridade do Pai
Foram correlacionadas as idades dos participantes, a idades dos filhos e
escolaridade com as práticas educativas aferidas pelo IEP. Como no grupo de mães, a
correlação com escolaridade também foi observada, entretanto, diferente daquele grupo,
entre os pais encontrou-se uma correlação com abuso físico, onde maior escolaridade implica
em menor utilização do abuso físico na educação dos filhos (ρ=-0,518, p< 0,05).
96
5.6.4 Dimensões IEP e Condições Materiais, Clima, Relação Conjugal e Conflitos entre
os Pais Durante a Infância dos Participantes
A partir das correlações entre os resultados do IEP com o contexto de criação na
infância: condições materiais, clima emocional, relação conjugal dos pais e conflitos entre os
pais dos respondentes obteve-se: quanto melhores condições materiais disponíveis na
infância, mais os pais utilizam a monitoria positiva (
ρ=0,574; p<0,01) e o comportamento
moral (ρ=0,622; p<0,01) na prática educativa com seus filhos.
As demais correlações não deram resultados estatisticamente significantes, como
pode ser visto na tabela 22:
Tabela 21: Correlações entre as dimensões do IEP e as variáveis: condições materiais, clima,
relação conjugal dos pais e conflitos entre os pais dos participantes durante a infância.
Variáveis Monitoria
Positiva
Comportamento
Moral
Punição
Inconsistente
Negligência Disciplina
Relaxada
Monitoria
Negativa
Abuso
Físico
Condições
materiais
0,574**
0,622**
-0,145
-0,060
-0,232
0,203
0,431
Ambiente
(clima)
0,351
0,042
0,133
-0,085
0,212
-0,029
-0,085
Relação
conjugal
dos pais
0,077
0,197
-0,040
0,00
-0,054
-0,183
0,069
Conflitos
entre os
pais
-0,246
-0,225
0,147
0,099
0,141
-0,035
-0,082
* p<0,05
** p<0,01
97
5.6.5 Dimensões IEP e Conflitos com o Pai, Conflitos com a Mãe, Afetividade do Pai e
Afetividade da Mãe
Foram correlacionadas as questões do contexto de criação: conflitos com o pai,
conflitos com a mãe, afetividade do pai e afetividade da mãe com as práticas educativas do
IEP. Nestas questões da infância, as pontuações eram de 1 a 5 e quanto mais alto o valor mais
conflitos e mais afeto estavam presentes.
Assim, obtiveram-se os seguintes resultados: quanto mais os participantes tiveram
lembranças de conflitos com seus pais durante a infância, mais eles utilizam a monitoria
negativa como prática educativa atual (ρ=0,468; p<0,05). Por outro lado, nenhuma relação
foi encontrada entre as dimensões do IEP e as memórias de conflitos com a mãe.
A lembrança de afeto por parte do pai nos homens implicou na maior utilização de
práticas educativas positivas com seus filhos. Quanto mais afetuosa foi a relação com seu pai,
mais o filho utiliza a monitoria positiva (ρ=0,549; p<0,05) e o comportamento moral
(ρ=0,629; p<0,01) na sua interação parental quando adulto.
Um dado controverso foi encontrado em relação a lembrança da afetividade da mãe,
que se correlacionou com as práticas negligência (ρ=0,709; p<0,01) e abuso físico (ρ=0,548;
p<0,05).
Tabela 22: Correlações entre as dimensões do IEP e as variáveis: conflitos entre o
respondente e o pai, conflitos com a mãe, afetividade do pai e afetividade da mãe - grupo
pais.
Variáveis Monitoria
Positiva
Comportamento
Moral
Punição
Inconsistente
Negligência Disciplina
Relaxada
Monitoria
Negativa
Abuso
Físico
Conflitos
com o pai
-0,024
-0,228
0,184
0,122
0,030
0,468*
0,055
Conflitos
com a mãe
-0,172
-0,394
-0,327
0,074
-0,179
0,221
0,063
Afetividade
do pai
0,549*
0,629**
-0,322
-0,251
-0,040
0,054
0,025
Afetividade
da mãe
-0,033
0,387
0,093
0,709**
0,359
-0,031
0,548*
* p<0,05
** p<0,01
98
5.7 Resultados EMBU – Grupo Pais
A síntese dos resultados obtidos através da aplicação do EMBU no grupo pais pode
ser observada na tabela 24, na qual são apresentadas as medidas de tendência central mediana
e moda, bem como a pontuação mínima e máxima em cada dimensão:
Tabela 23: Mediana, moda e escore máximo e mínimo para cada dimensão do EMBU no
grupo de pais
Dimensões
EMBU
Rejeição Pai Calor
Emocional
Pai
Super-
proteção Pai
Rejeição
Mãe
Calor
Emocional
Mãe
Super-
proteção Mãe
Mediana 1,28 2,92 2 1,28 3,33 2,11
Moda 1,14(a) 2,83 2,11 1,14 2,67(a) 2,22
Mínimo 1 1,64 1,22 1 2 1,44
Máximo 2 3,67 2,78 2,57 4 3,11
(a) Múltiplas modas existentes. É mostrada a menor
Pode-se constatar que as dimensões calor emocional da mãe e calor emocional do
pai foram as que obtiveram maior pontuação, tanto quando se verifica a mediana e moda,
quanto no valor máximo obtido em cada uma destas dimensões. Nas dimensões rejeição do
pai e calor emocional da mãe são verificadas múltiplas modas, o que neste caso, indica que
esta não é a medida mais adequada.
Contudo, a fim de a existência de diferenças estatisticamente significantes entre os
escores de cada dimensão foi utilizado o ANOVA de Friedman, que confirmou as diferenças
entre os escores (χ²=80,45; gl=5; p<0.01). Deste modo, Calor Emocional da Mãe obteve o
maior escore, seguido por Calor Emocional do Pai, Super-proteção da Mãe, Super-proteção
do Pai, Rejeição da Mãe, e por fim, Rejeição do Pai, dimensão de menor escore. Na tabela 25
é possível verificar o posto médio de cada dimensão, obtido com o ANOVA de Friedman:
Tabela 24: Postos médios de cada dimensão do EMBU do grupo pais:
Práticas Educativas Mean Rank
(Posto Médio)
Calor Emocional da Mãe 5,68
Calor Emocional do Pai 5,11
Super-proteção da Mãe 3,74
Super-proteção do Pai 3,13
Rejeição da Mãe 1,89
Rejeição do Pai 1,45
99
Foram realizados também, testes de correlações entre as medidas do EMBU e
demais variáveis ordinais, entretanto não foram encontrados resultados significantes. As
correlações entre as próprias dimensões do EMBU são apresentadas a seguir:
5.7.1 Correlações entre as Dimensões do EMBU
Com o auxílio do teste de correlação
ρ de Spearman pode-se constatar a relação
entre as memórias de calor emocional do pai e da mãe, bem como, das dimensões super-
proteção pai e mãe. Desta maneira, quanto mais lembranças de calor emocional por parte do
pai, mais lembranças de calor emocional por parte da mãe (ρ=0,562; p<0,01). Da mesma
forma, quanto mais lembranças de super-proteção por parte do pai, mais lembranças de
super-proteção por parte da mãe (ρ=0,711; p<0,01).
A dimensão super-proteção por parte do pai também se correlacionou com calor
emocional do pai, onde mais memórias de super-proteção do pai implicaram também em
maior calor emocional por parte do pai (ρ=0,512; p<0,05). Resultados que não são
contraditórios, pois a dimensão calor emocional está relacionada com demonstração afeto e
carinho por parte dos pais, enquanto super-proteção, de acordo com as questões do
inventário, está ligada à preocupação e controle excessivo em relação aos filhos.
Tabela 25: Correlações entre as dimensões do EMBU no grupo de pais:
Variáveis 1. 2. 3. 4. 5.
1. Rejeição Pai
2. Calor
Emocional Pai
-0,034
3. Super-proteção
Pai
0,112
0,512*
4. Rejeição Mãe
0,223
0,093
0,132
5. Calor
Emocional Mãe
0,251
0,562**
0,420
0,053
6. Super-proteção
Mãe
-0,273
0,348
0,711**
0,387
0,361
* p<0,05
** p<0,01
100
Foram realizados testes de correlações entre o instrumento EMBU e as demais
questões que também investigaram o contexto de criação. Entretanto, não foram encontrados
resultados significativos do ponto de vista estatístico. Os resultados da correlação entre as
práticas educativas (IEP) e as memórias da infância (EMBU) são apresentados a seguir:
5.8 Correlações entre Práticas Educativas Parentais e Memórias de Cuidado na
Infância – Grupo Pais
Na correlação entre as práticas educativas do IEP e as dimensões do EMBU os
resultados deste grupo foram diferentes dos encontrados no grupo mães. Constatou-se neste,
a correlação positiva entre super-proteção por parte da mãe e utilização da disciplina relaxada
com o filho (a),ou seja, quanto mais lembranças de super-proteção da mãe na infância, mais a
disciplina relaxada é utilizada enquanto prática com seus filhos. A síntese dos resultados é
apresentada na tabela 27:
Tabela 26: Correlações entre as dimensões do EMBU e as dimensões do IEP no grupo
de pais.
Variáveis Rejeição
Pai
Calor
Emocional
Pai
Super-
proteção
Pai
Rejeição
Mãe
Calor
Emocional
Mãe
Super-
proteção
Mãe
Monitoria
Positiva
0,319
0,399
0,002
0,166
0,117
-0,162
Comportamento
Moral
0,364
0,310
0,264
-0,021
0,080
0,150
Punição
Inconsistente
-0,034
0,102
0,190
0,363
0,142
0,369
Negligência
-0,049
-0,296
-0,143
-0,233
0,038
0,121
Disciplina
Relaxada
-0,220
-0,207
0,342
-0,050
0,109
0,469*
Monitoria
Negativa
0,262
0,108
0,163
0,237
0,230
0,012
Abuso Físico
0,205
-0,101
0,178
0,242
0,228
0,366
* p<0,05
** p<0,01
101
6. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
muito se reconhece o papel dos progenitores no desenvolvimento infantil e
diversos teóricos da psicologia advertem sobre a importância dos mesmos, entre os quais,
estão Bolwby, Winnicott entre outros. Contudo, os resultados encontrados no presente estudo
denotam o quão importante é a relação entre pais e filhos e o quanto ela pode implicar no
comportamento parental futuro. Muitos resultados foram encontrados neste sentido e pode-se
afirmar que existem relações entre práticas educativas parentais e memórias de cuidados na
infância.
As memórias de cuidado na infância na amostra estudada apresentaram correlações
com práticas educativas atuais, as quais serão discutidas em maior profundidade neste
capítulo. Contudo, sabe-se das limitações deste estudo, especialmente no que diz respeito aos
resultados encontrados a partir da amostra de pais, a qual foi constituída por número inferior
ao esperado no planejamento inicial da pesquisa. Entretanto, optou-se aqui por discorrer os
resultados dos dois grupos ao longo do texto, por facilitar a discussão dos resultados com a
literatura da área.
Devido à diversidade de resultados encontrados a discussão será dividida em
tópicos e inicialmente serão discutidos os resultados referentes às práticas educativas
parentais, seguidas pelas memórias de cuidados na infância e finalmente a relação entre
memórias de cuidados na infância e práticas educativas parentais.
6.1 Práticas Educativas Parentais
Através da identificação das práticas educativas utilizadas por mães e pais pôde-se
constar tanto no grupo de mães, quanto no de pais, índices altos nas práticas educativas
positivas, denominadas monitoria positiva e comportamento moral. Práticas educativas
positivas estão relacionadas de acordo com a literatura a conseqüências positivas nos filhos
(Weber et al., 2003; Motta et al., 2006). Salvo et al. (2005) argumentam que através da
monitoria positiva, caracterizada pelo real interesse e acompanhamento dos filhos, os pais
demonstram afeto, são disponíveis e demonstram manifestações físicas de carinho e mantêm
102
contatos sociais com a criança, o que faz o filho sentir-se amado e protegido. Motta et al.
(2006) encontraram relação entre práticas educativas positivas e comportamento de empatia
nas crianças e Weber et al. (2003) investigaram a relação entre estilos parentais e otimismo
na criança e encontraram correlação entre o estilo autoritativo e maiores escores de otimismo
e a menores de passividade nos filhos.
Além disso, o comportamento moral, de acordo com Gomide (2003), não se refere
apenas a comportamentos ligados à justiça e à moral, mas também ao comportamento
empático, coerência dos pais, possibilidades de acertos e erros por parte da criança, com a
adequada reflexão sobre seus atos. Daí sua importância no desenvolvimento de valores sobre
o certo e errado, o respeito às regras e às outras pessoas.
O único fator divergente nos resultados entre pais e mães com relação aos escores
das práticas positivas está na ordem em que as mesmas apareceram: mães apresentaram
maior pontuação em monitoria positiva e pais tiveram o comportamento moral como prática
com maior pontuação. Contudo, a moda da prática educativa comportamento moral foi em
ambos os grupos igual a 12 pontos (Tabelas 6 e 19) e a moda em monitoria positiva foi
diferente nos grupo (no grupo de mães foi 12 e no de pais a moda foi 11), o que
provavelmente interferiu na ordem em que apareceram as práticas positivas nos dois grupos.
A terceira prática educativa com maior pontuação entre pais e mães foi a monitoria
negativa (Tabelas 6 e 19). Contudo, mães tiveram principalmente, pontuações indicativas de
estilo regular abaixo da média e de estilo de risco e no grupo pais a maioria ficou no estilo de
risco. Resultados semelhantes foram encontrados por Carvalho e Gomide (2005), que entre
outros resultados, constataram em uma amostra de 41 famílias de jovens em conflito com a
lei, índices de monitoria negativa situados na faixa de risco.
A monitoria negativa é também denominada por Gomide (2004) por supervisão
estressante e é caracterizada pela exagerada vigilância ou fiscalização dos pais em relação
aos filhos responsável por uma interação hostil e irritadiça no convívio familiar. Este
comportamento dos pais, conforme comenta Gomide, por sua vez reflete no comportamento
dos filhos, que podem desenvolver repertórios de fuga e esquiva a supervisão e reclamação
dos pais.
Com relação à utilização das práticas negativas de modo geral, os resultados das
mães e alguns resultados dos pais apontam para a necessidade de programas de orientação na
educação dos filhos. No grupo de mães os resultados das práticas disciplina relaxada,
negligência, monitoria negativa e punição inconsistente, com maior freqüência foram
representativos de estilo regular abaixo da média (Figuras 7, 8, 9 e 10). No estudo de
103
Caravalho e Gomide (2005) a média das famílias em negligência e disciplina relaxada
também ficaram no estilo regular abaixo da media. Contudo, o referido estudo investigou
famílias de risco em uma amostra de adolescentes em conflito com a lei.
Gomide (2004) adverte que quando os pais relaxam no cumprimento das regras
estão ensinando aos filhos o desrespeito às regras e à autoridade, desenvolvendo nas crianças
insegurança sobre o que é certo e errado, sobre valores morais e éticos e sobre o respeito às
pessoas. Efeitos negativos também são percebidos quando os pais agem de acordo com seu
humor, como ocorre na punição inconsistente. Segundo Gomide, criança aprende a
discriminar o humor dos pais e não o que é certo e o que é errado no seu comportamento, o
que pode gerar frustrações na criança que não sabe como agir para agradar os pais, bem
como, perda da autoridade parental, que a criança percebe a instabilidade e passam a
rejeitar as orientações dos pais.
Além disso, no grupo mães, monitoria negativa e negligência, estiveram com mais
freqüência na faixa de estilo regular abaixo da média, o qual foi seguido pelo estilo de risco,
segundo mais alto neste grupo (Figuras 8 e 10). Os resultados das práticas negligência e
abuso físico chamaram a atenção, a primeira porque quase totalidade da amostra (52) ficou
ou abaixo da média ou então no estilo de risco, a segunda por um terço da amostra se
enquadrar no estilo de risco em relação à utilização do abuso físico. Este resultado é
corroborado pelo estudo de Weber, Viezzer, et al. (2004), que encontram em uma amostra de
472 crianças e adolescentes entre 8 e 16 anos, que 88, 1% tinham recebido punições
corporais, entre estes 86,1% tinham apanhado da mãe e 58,6% o tinham do pai.
Os resultados referentes às práticas negativas no grupo mães também se evidenciou
no índice de estilo parental deste grupo. Assim, das 60 participantes, 12 localizaram-se no
estilo parental de risco (Figura 12). Gomide (2003) alerta sobre os resultados encontrados nas
pesquisas de validação do IEP, que se correlacionaram no mesmo sentido do índice de estilo
parental. Segundo a autora, famílias com índice de estilo parental de risco obtiveram
também, maiores índices em depressão, ansiedade, estresse, agressividade e comportamentos
anti-sociais na escola e menores níveis de habilidades sociais. Além disso, o índice parental
de risco é um indicador de que as crianças ou adolescentes têm alta probabilidade de
desenvolver comportamento anti-social (Gomide, 2003).
Os resultados do grupo pais nas práticas negativas foram diferentes dos das mães,
pois em punição inconsistente, disciplina relaxada e abuso físico com maior freqüência os
resultados se enquadraram em estilo parental ótimo (Figuras 21, 22 e 23). Esta diferença
entre pais e mães é apontada por Gomide (2006), que encontrou índices maternos mais
104
elevados em: monitoria positiva, comportamento moral, monitoria negativa, punição
inconsistente e disciplina relaxada, quando comparados aos índices paternos. Os pais, por sua
vez no estudo de Gomide (2006) tiveram índices superiores em abuso físico e negligência.
Entretanto, no presente estudo os resultados referentes à negligência e monitoria
negativa no grupo de pais ficaram, como no grupo mães, abaixo de média e risco parental
(Figuras 19 e 20). Níveis altos de negligência também foram encontrados em um estudo
realizado por Weber, Prado, et al. (2004), que em uma amostra de 239 crianças, 45,4% dos
pais e mães foram classificados como negligentes. Contudo o índice de estilo parental, que é
o resultante final de todas as práticas educativas, no grupo de pais foi maior, quando
comparado ao grupo de mães, tendo a seguinte ordem quanto à freqüência: 1) estilo parental
ótimo; 2) estilo regular, acima da média; 3) estilo regular, abaixo da média e 4) estilo de risco
(Figura 24).
O termo negligência pode ser entendido como falta de cuidado, indolência e, se
reportado para a interação pais e filhos, como passividade, falta de compromisso e cuidado
para com os filhos.
Gomide (2004) argumenta que pais negligentes, agem como expectadores
na vida dos filhos e não de forma ativa e participativa, caracterizando ausência dos pais, falta
de atenção, descaso, omissão e até mesmo falta de amor.
Reppold e Hutz (2003) investigaram os níveis de depressão, responsividade e
exigência parental em uma amostra de 456 adolescentes e constataram que níveis de
responsividade e exigência maternos e paternos foram as variáveis que mais se
correlacionaram com os escores de depressão. Além disso, na investigação entre os diferentes
estilos parentais, observou-se que o estilo negligente foi o segundo maior entre os
participantes e entre o qual se constatou a maior média na escala de depressão.
Na amostra de mães, a escolaridade se correlacionou com maior pontuação em
monitoria positiva e comportamento moral e menor em monitoria negativa. no grupo de
pais observamos uma correlação negativa com abuso físico: quanto maior o vel de
escolaridade, menos os pais utilizam abuso físico com seus filhos. Este resultado corrobora o
estudo de Prust e Gomide (2007), que constataram que as famílias de não-risco possuíam
nível de escolaridade maior quando comparadas a famílias de risco. Além, disso a
escolaridade foi demonstrada como fator importante em estudos sobre crenças parentais
(Seidl de Moura et al, 2004; Ribas Jr et al., 2003), os quais a identificaram como variável
relevante e favorável ao desenvolvimento infantil, no sentido que maior escolaridade estava
relacionada a mais conhecimentos sobre o desenvolvimento e necessidades da criança.
105
Um dado merece destaque é relação encontrada entre negligência e trabalho
remunerado no grupo mães (Tabela 8). Uma hipótese explicativa deste resultado seria a
ausência física exigida pelo trabalho remunerado, caracterizada mais especificamente nos
itens 4 (Meu trabalho atrapalha na atenção que dou a meu filho) e 11 (Meu filho sente
dificuldades em contar seus problemas para mim, pois vivo ocupada) do IEP. Contudo, estes
itens por si não justificam a pontuação maior, pois muitas respondentes pontuaram zero
nestes itens, apesar de possuírem trabalho remunerado. Parece que o trabalho interfere na
relação mãe-filho em uma amplitude maior, pois tendo menos tempo com seus filhos, as
mães não conseguem dar-lhes atenção, bem como, conversar com eles sobre seus problemas
e conhecê-los mais, no sentido de saber dizer do que gostam. Estes dados são corroborados
pelo estudo de Carvalho e Gomide (2005), que constataram altos índices de negligência e
verificaram que através do discurso dos pais durante a coleta de dados que, em virtude do
trabalho, passavam muito tempo fora de casa e não podiam dar muita atenção aos filhos.
Entretanto, Sicuro e Löhr (2006) realizaram uma pesquisa com 30 crianças, cujas
mães na sua maioria não trabalhavam fora de casa. Entre as 30 mães, apenas 6 possuíam
trabalho remunerado, mas o faziam quando seu filho/filha estava na escola. A média de
percentil do IEP neste estudo foi -6 para os meninos e -3 para as meninas, o que representa
estilo parental de risco e maior utilização de práticas negativas em detrimento às positivas.
Sicuro e Löhr (2006) argumentam que a presença materna contínua não assegura práticas
educativas pró-sociais.
No grupo de pais foi encontrada relação entre punição inconsistente e gênero do
filho (Tabela 20). Pais demonstram ser mais inconsistentes com os filhos do sexo masculino.
No estudo de Weber, Prado, et al. (2004) foi constatado que pais (pais e mães) são tão
responsivos com os filhos, quanto com as filhas, embora, sejam um pouco mais exigentes
com as filhas do que com os filhos. Entretanto na pesquisa citada, mães e pais foram mais
exigentes com as filhas e aqui apenas encontramos diferenças na amostra de pais. Contudo,
Gomide (2006) também encontrou resultados diferentes dos aqui encontrados. Na pesquisa
de Gomide, os pais apresentaram maiores índices de comportamento moral com as filhas e
maiores índices de abuso físico com os filhos.
O resultado encontrado difere também, do estudo de Salvador (2007) que
investigou as práticas educativas a partir de inventários aplicados em 348 adolescentes,
verificou os pais utilizavam mais punição física com os meninos, não demonstrando maior
tolerância e concessão aos filhos do mesmo sexo. Todavia, esta questão não parece
totalmente elucidada, pois Keller e Zach (2002) constataram que pais passam mais tempo
106
com seus filhos e mães com suas filhas, demonstrando existir uma preferência entre os pais
por filhos do mesmo sexo.
6.1.1. Interrelacões entre as Práticas Educativas
Foram constatadas correlações entre as práticas educativas, especialmente no grupo
mães (Tabela 9). Constatou-se que as práticas educativas positivas atuaram no sentido de
minimizar algumas práticas negativas, o que é defendido pelo modelo de Gomide (2006).
maiores escores em punição inconsistente implicaram em maiores pontuações em monitoria
negativa, negligência e disciplina relaxada. Esta por sua vez se correlacionou também com
escore alto em monitoria negativa e baixos nas práticas positivas. Assim, disciplina relaxada
teve tanto correlação negativa com monitoria positiva e comportamento moral, como
apresentou correlações inversas às apresentadas nas práticas positivas. abuso físico teve
correlação apenas com monitoria negativa.
No grupo de pais, estas correlações entre as práticas educativas tiveram uma
conformação diferente, algumas de forma similar ao grupo das mães, entretanto menos
correlações foram encontradas entre as dimensões do IEP (Tabela 21). No caso dos pais,
monitoria positiva teve correlação positiva com comportamento moral e com monitoria
negativa. Punição inconsistente apresentou correlação positiva com disciplina relaxada.
Negligência e disciplina relaxada e, abuso físico e monitoria negativa também tiveram
correlação positiva.
Entretanto, algumas correlações entre as dimensões do IEP foram encontradas nos
dois grupos (pais e mães). Assim, tanto no grupo de mães, quanto no grupo de pais,
verificaram-se correlações positivas entre: monitoria positiva e comportamento moral,
monitoria negativa e abuso físico, disciplina relaxada e negligência e, entre disciplina
relaxada e punição inconsistente
Contudo, através dos resultados referentes às práticas educativas de pais e mães,
constatam-se diferenças entre os grupos tanto na utilização das práticas educativas e nas
variáveis correlacionadas a elas, como na interligação entre as diferentes práticas. Assim,
sugere-se que pais e mães agem de modo diferente na educação de seus filhos. O que é
apoiado por alguns estudos (Keller & Zach, 2002; Weber, Prado et al, 2004; Gomide, Millan,
et al., 2005; Gomide, 2006). Porém, alerta-se novamente para as limitações do presente
107
estudo quanto ao número de pais estudados e ao fato do tamanho das amostras de pais e mães
não terem sido pareadas.
6.2. Memórias de Cuidados na Infância
Tanto mães como pais demonstraram mais lembranças de calor emocional da mãe,
sendo rejeição do pai o fator de menor escore em ambos os grupos. No grupo de mães,
lembranças de calor emocional da mãe foi seguido por super-proteção da mãe, calor
emocional do pai, super-proteção do pai, rejeição da mãe e rejeição do pai (Tabela 14). No
grupo dos pais calor emocional da mãe (maior escore), foi seguido por calor emocional do
pai, o que revela predominância de lembranças positivas entre os pais, na seqüência apareceu
super-proteção da mãe, super-proteção do pai, rejeição da mãe e rejeição do pai (Tabela 25).
Calor emocional, no estudo de Arrindell et al. (1999), correlacionou-se
negativamente em homens e mulheres com traços de neuroticismo e positivamente com
extroversão, feminilidade e masculidade e altos níveis de auto-estima. Por outro lado,
rejeição teve correlação positiva com traço de neuroticismo, correlação negativa na amostra
de mulheres com auto-estima. Entre os homens esta predição foi confirmada tanto em
rejeição do pai e quanto rejeição da mãe, apenas na amostra da Grécia, a correlação foi
negativa entre auto-estima e rejeição da mãe, mas não do pai.
Os resultados de ambos os grupos sobre lembranças de calor emocional são
positivos quando se analisa os estudos sobre a qualidade do vínculo. Neste sentido, Pacheco
et al. (2003) argumentam que é a partir do estilo de vinculação que cada pessoa constrói e
dinamiza suas relações com os outros, sendo assim, a relação que a mãe tem com seu filho
dependerá de como ela mesma representa a sua relação com seus pais.
Os menores escores em relação às lembranças de cuidados durante a infância foram
as categorias de rejeição pela mãe e pelo pai em ambos os grupos, o que também é positivo
no sentido de que estudos como o de Belsky et al. (1990) encontraram que lembranças de
rejeição durante a infância associadas a pouca satisfação conjugal, refletiu negativamente na
emocionalidade materna para com o filho.
As correlações observadas no grupo mães entre as variáveis do contexto de criação
e os resultados do EMBU indicaram a consistência das respostas, tendo em vista que ambos
108
os instrumentos avaliavam questões do passado, mais especificamente da infância dos
participantes. No grupo de mães tanto calor emocional da mãe quanto do pai se
correlacionaram positivamente com condições materiais na infância. Se o clima durante a
infância foi percebido como tranqüilo, as participantes também tinham menos lembranças de
rejeição do pai e mais calor emocional de ambos os progenitores (Tabela 16).
No grupo de mães, o relacionamento conjugal dos pais também foi um bom
indicador tanto de maiores níveis de calor emocional do pai e da mãe, quanto de menores
índices de rejeição do pai e da mãe. Por outro lado, conflitos entre os pais se associaram
positivamente com lembrança de rejeição do pai e negativamente com calor emocional do pai
(Tabela 16). A qualidade do relacionamento conjugal já tinha sido apontada por outros
autores como Braz et al.(2005), que entre os resultados encontraram que um bom
relacionamento conjugal favorece o compartilhamento de tarefas domésticas e práticas
educativas entre maridos e esposas e favorece o desenvolvimento de sentimentos de
segurança nos filhos.
A presença de conflitos com o pai se correlacionou positivamente com lembranças
de rejeição do pai e negativamente com calor emocional do pai. conflitos com a mãe na
infância correlacionou-se com diversas dimensões do EMBU (positivamente com rejeição do
pai, rejeição da mãe e super-proteção da mãe e negativamente com calor emocional do pai e
da mãe), demonstrando a influência exercida por este fator. Afetividade por parte do pai teve
correlação positiva com calor emocional do pai e da mãe e correlação negativa com rejeição
do pai. Afetividade da mãe por sua vez, teve correlação positiva com calor emocional do pai
e da mãe, e negativa com rejeição do pai e da mãe (Tabela 17).
No caso da amostra de pais, não foram constadas correlações com as medidas do
contexto de criação. Assim, levanta-se duas hipóteses: 1) o tamanho da amostra interferiu
neste resultado e 2) as lembranças de cuidados afetam de modo diferentes homens e
mulheres, o que será discutido mais a seguir.
6.3. Memórias de Cuidados na Infância e Práticas Educativas Parentais
A principal pergunta deste estudo a respeito da relação entre as lembranças dos
cuidados na infância e as práticas educativas atuais foi respondida. A partir dos resultados
109
encontrados pode-se afirmar que existe relação entre as memórias de cuidados na infância e
as práticas educativas parentais atuais e isto foi observado tanto na relação entre estas e os
dados do contexto de criação, quanto com memórias de cuidados na infância, obtidas a partir
do EMBU.
As variáveis do contexto em que as mães foram criadas interferiram de três formas
diferentes nas práticas educativas utilizadas com seus filhos: quanto à utilização da monitoria
positiva, do abuso físico e da monitoria negativa (Tabela 11 e 12). Boas condições materiais
na infância, bom clima emocional familiar, boa relação com o pai e atitude afetuosa do pai
durante a infância refletiram na utilização da monitoria positiva pelas mães. Por outro lado,
pouco afeto do pai e conflitos com o pai refletiu em maior abuso físico.
As correlações encontradas denotam a importância da figura do pai, mais
especificamente de demonstrações de afeto por parte do pai para com suas filhas e a relação
com a utilização de práticas positivas com a terceira geração. Porém, como aponta Pinheiro
(2003) muito, estudos psicológicos designam a importância das mães no desenvolvimento
dos filhos e no funcionamento da família. Além disso, ainda atualmente se encontra muito
mais estudos realizados com as mães, comparados aos realizados com pais sobre
desenvolvimento infantil e interação pais e filhos.
Entretanto, um dado que não pode ser explicado através da literatura é a relação entre
bom relacionamento com a mãe durante a infância e o emprego da monitoria negativa na
vida adulta. Biasoli-Alves (2002) coloca as transformações durante a história a respeito
crenças e práticas educativas promoveram insegurança nos pais a respeito de como educar
seus filhos, o que pode ser uma hipótese para o resultado encontrado, contudo esta é uma
variável que deve ser mais estudada.
Pode-se constatar que o contexto de criação afetou de modo diferente mães e pais,
entre os quais foram observadas outras interrelações com as práticas educativas parentais.
Deste modo, os resultados do grupo de pais, neste sentido, apresentaram quatro
conformações diferentes sobre o modo como o contexto de criação interferiu nas práticas
educativas paternas (Tabelas 22 e 23). Boas condições materiais e atitude afetuosa do pai,
tanto no grupo de mães, quanto no de pais, refletiu em monitoria positiva com o filho. Entre
os pais, estes dois aspectos, juntamente com bom relacionamento com a mãe, refletiram
também na utilização do comportamento moral. Aspectos do contexto de criação dos pais
que se mostram protetores para os filhos, que se relacionaram à utilização de práticas
educativas positivas, relacionadas na literatura a conseqüências positivas nos filhos (Weber et
al., 2003; Salvo et al., 2005; Motta et al., 2006).
110
Na amostra de pais ainda tivemos conflitos com o pai durante a infância,
correlacionado à utilização da monitoria negativa na vida adulta. Caberia aqui uma pesquisa
qualitativa, com a finalidade de verificar as causas dos conflitos com o pai durante a infância
e se possuem alguma semelhança com a monitoria negativa, que como apontada por Gomide
(2004) também pode resultar em conflitos entre pais e filhos. Também foi encontrado neste
grupo, lembranças de atitude afetuosa da mãe na infância relacionada a abuso físico e
negligência paterna na vida adulta. No entanto, Pinheiro (2003) em uma análise de
profundidade com quatro famílias, observou um dado controverso: 1 pai empregava
estratégias negativas com seu filho, apesar de ter sido exposto a práticas positivas durante a
infância.
Através da observação dos resultados dos grupos de pais e de mães sobre a relação
entre lembranças do contexto de criação e práticas educativas atuais se constatada a ênfase de
lembranças do relacionamento com pai e sua relação com as práticas educativas parentais
atuais. Veneziano (2003) ao estudar a importância da afeição e amor paterno em diferentes
culturas ocidentais, verificou sua influência positiva no desenvolvimento infantil. Entre os
resultados, o autor constatou a menor ocorrência de comportamentos agressivos por parte da
criança quando o pai mantinha uma atitude afetuosa e calorosa com o filho.
Além disso, Prado et al. (2004) apontam que a qualidade do relacionamento entre
pai e filho pode interferir no desenvolvimento infantil e na transformação da criança em um
adulto hábil para enfrentar as adversidades da vida adulta. Neste sentido, os resultados do
presente estudo, vão um pouco mais longe, podendo-se afirmar a partir deles que a qualidade
do relacionamento pais/filhos pode influenciar além da vida adulta, as habilidades parentais
futuras e as práticas educativas a serem utilizadas na interação pais e filhos.
As memórias da infância foram medidas por dois instrumentos diferentes. Com
relação às lembranças de cuidados recebidos na infância, obtidos a partir da aplicação do
EMBU e sua relação com as práticas educativas (Tabela 18 e 27). No grupo de mães as
dimensões do EMBU demonstraram correlação com as práticas negativas: abuso físico e
punição inconsistente e também monitoria positiva. Constatou-se correlação positiva entre
calor emocional do pai e monitoria positiva e correlação negativa entre rejeição do pai e
monitoria positiva, ou seja, quanto mais lembranças de calor emocional e menos lembranças
de rejeição do pai, mais as mães utilizaram a monitoria positiva com seu filho.
Verificou-se também correlação positiva entre rejeição e abuso físico e, negativa
entre calor emocional do pai e da mãe e abuso físico. Assim, quanto mais lembranças de
rejeição do pai e menos lembranças de calor emocional do pai e da mãe, maior abuso físico
111
com o filho. Já punição inconsistente apresentou correlação negativa com calor emocional do
pai e positiva com rejeição do pai, ou seja, quanto mais rejeição do pai e menos calor
emocional do pai na infância, mas punição inconsistente da mãe para como filho.
No grupo de pais foi constatada apenas a correlação positiva entre lembrança de
super-proteção da mãe na infância e prática atual de disciplina relaxada com seu filho.
Resultado que vai de acordo a estudos que apontam a descontinuidade geracional como o de
Benincá e Gomes (1998). Estes autores argumentam a existência de duas forças: por um lado
a continuidade, no sentido de promoção da linearidade da família e por outro, a
descontinuidade através da busca de padrões alternativos. Como super-proteção e disciplina
relaxada implicam em conceitos antagônicos, parece que na amostra de pais pesquisados, as
memórias de infância (EMBU) implicaram na descontinuidade geracional. Contudo, este
resultado fica em desacordo com grande parte da literatura (Oliveira et al, 2002; Dias &
Lopes, 2003; Vitali, 2004; Weber et al, 2006) que apontam a transmissão intergeracional dos
estilos parentais. No entanto, entre os estudos mencionados, apenas Vitali (2004) estudou
mães e pais e encontrou resultados a favor da continuidade intergeracional.
Contudo, as memórias da infância neste estudo foram avaliadas por dois
instrumentos diferentes: por meio de questões referentes ao contexto de criação (ficha de
identificação) e de forma mais específica, nas memórias de cuidados na infância (EMBU),
considerando que ambos os instrumentos avaliaram o passado dos participantes, optou-se
pela organização de todos os resultados que denotam a correlação entre lembranças de
infância e práticas educativas atuais (Figura 21) a fim de facilitar a visualização global dos
resultados e aprimorar a discussão teórica.
112
Mães
Pais
- Boas Condições Materiais
- Bom Clima Emocional Familiar
- Bom Relacionamento com o Pai
- Atitude Afetuosa do Pai
- Calor Emocional do Pai (EMBU)
- Pouca Rejeição do Pai (EMBU)
Monitoria Positiva
- Boas Condições Materiais
- Atitude Afetuosa do Pai
Monitoria Positiva
- Pouco Afeto do Pai
- Conflitos com o Pai
- Rejeição do Pai (EMBU)
- Pouco Calor Emocional do Pai (EMBU)
- Pouco Calor Emocional da Mãe (EMBU)
Abuso Físico
- Atitude Afetuosa da Mãe
Abuso Físico
Negligência
- Bom Relacionamento com a Mãe
Monitoria Negativa
- Conflitos com o Pai
Monitoria Negativa
- Rejeição do Pai (EMBU)
- Pouco Calor Emocional do Pai (EMBU)
Punição Inconsistente
- Boas Condições Materiais
- Atitude Afetuosa do Pai
Comportamento Moral
- Super-proteção da Mãe (EMBU)
Disciplina Relaxada
Figura 21
: Correlação entre as lembranças da infância e as práticas educativas parentais de mães e
pais.
113
De modo geral, no grupo de mães, lembranças do pai durante a infância tiveram
impacto nas práticas educativas na vida adulta. Lembranças de calor emocional por parte do
pai e rejeição do pai mostraram correlação com monitoria positiva, punição inconsistente e
abuso físico.
Lembranças de calor emocional por parte do pai mostraram-se como um fator de
proteção para o filho, já que esteve associada a maiores níveis de monitoria positiva e
menores escores em punição inconsistente e abuso físico. Calor emocional por parte da mãe
também se correlacionou com menor utilização de abuso físico. A importância das
lembranças de cuidados paternos também foi evidenciada em relação à dimensão rejeição por
parte do pai: quanto menos lembranças de rejeição paterna, mais as mães utilizam a
monitoria positiva e menos fazem uso da punição inconsistente e do abuso físico nas suas
interações parentais. Estes resultados trazem um dado novo e muito importante, pois é
consenso na literatura a transmissão de práticas abusivas ou punitivas (Capaldi & Paterson,
1991; Simons et al, 1991; Dubow et al., 2003; Hops et al, 2003) e o presente estudo
demonstra fatores de proteção associados a intergeracionalidade.
Além disso, os resultados referentes às lembranças de rejeição e utilização de
práticas negativas (punição inconsistente e abuso físico) estão de acordo com o estudo de
Belsky et al. (1990) que constataram que lembranças de falta de apoio e rejeição na infância
refletiram de forma negativa na emocionalidade materna para com a criança. No entanto,
estes autores encontram que esta associação era neutralizada quando o relacionamento
conjugal era percebido como positivo, porém no presente estudo não foi avaliada esta
categoria.
Alguns estudos da literatura buscaram o efeito da transmissão intergeracional
investigando as práticas educativas em relação ao gênero, geralmente avós e mães (Almeida,
1987; Oliveira et al, 2002; Dias & Lopes. 2003) ou então, avós, mães e netas (Weber et al.,
2006). Entretanto, entre os demais estudos, que levaram em conta tanto mães quanto pais,
alguns encontram maior similaridade de práticas educativas entre o mesmo gênero, mães e
avós e pais e avôs (Vitali, 2004); e no presente estudo constatou-se a importância das
lembranças do pai e sua relação com as práticas educativas maternas. Outro fato que merece
ênfase aqui é que apesar das mães terem assinalado a mãe biológica como a pessoa mais
importante nos cuidados durante a infância e juventude (Figura 4), foram as lembranças do
pai que mais implicaram no comportamento parental atual.
Esta importância das memórias de cuidado por parte do pai corrobora a assertiva de
Rohner e Veneziano (2001) de que a “qualidade do relacionamento entre pais e filhos” está
114
relacionada ao calor, apoio, conforto, cuidados e criação. Assim, o afeto paterno estaria tão
implicado no bem-estar e saúde dos filhos como o materno, assim como uma variedade de
problemas psicológicos e comportamentais.
No grupo de pais os resultados do EMBU tiveram uma conformação diferente em
todas as correlações, inclusive com as práticas educativas atuais. Mais resultados foram
obtidos sobre a relação entre memórias e praticas educativas atuais a partir da ficha de
identificação, comparadas as obtidas por meio do EMBU, o que demonstra que aquele
instrumento foi mais sensível para captar os resultados entre os pais. No entanto, sugerem-se
novas pesquisas com um número maior de participantes a fim de verificar se esta asserção é
verdadeira.
Entre os resultados de lembranças do contexto de criação do grupo pais, foi
constatado correlações entre memórias de infância maternas e paternas com as práticas
educativas atuais. Quando incluída a estes resultados a correlação obtida através da aplicação
do EMBU a influência das memórias de cuidados paternas nas práticas parentais forma um
pouco maiores quando comparadas às memórias maternas. Vale lembrar, que os pais
apontaram ambos os progenitores como pessoas mais importantes durante a infância e
juventude (Figura 16).
Entre os pais, os resultados do EMBU não demonstraram impacto sobre as práticas
educativas, exceto com relação à lembrança de super-proteção da mãe que teve correlação
positiva com disciplina relaxada. Neste caso, a hipótese explicativa novamente está no
sentido da descontinuidade intergeracional, já que passando por excesso de proteção na
infância, caracterizada por preocupação exagerada das mães para com os filhos, estes se
tornando pais poderiam buscar ser diferente daquelas relaxando a disciplina com os seus
descendentes. Entretanto, pesquisas qualitativas que aprofundem esta problemática são
sugeridas, pois este resultado também pode ser fruto da insegurança apontada por Biasoli-
Alves (2002) de pais e mães sobre a educação de seus filhos.
De modo geral ficou evidente em ambos os grupos a relação entre memórias de
afeto na infância e sua repercussão nas práticas educativas, sua presença relacionada a
práticas positivas (monitoria positiva e comportamento moral) e sua ausência a utilização de
práticas negativas (punição inconsistente, abuso físico). Resultados que evidenciam a
importância do afeto parental e suas conseqüências em longo prazo.
115
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O papel da mulher e do homem na sociedade, de modo geral, e na educação dos
filhos tem mudado ao longo dos anos. Contudo, o foco dos estudos ainda tem sido sobre a
mãe e pouco ainda se tem estudado sobre o pai. Assim, apesar do número reduzido de pais no
presente estudo, o que impõe limites às generalizações dos resultados, optou-se por incluí-los
na análise.
As práticas educativas de pais e mães foram influenciadas de alguma forma pelas
memórias de cuidado na infância, a maioria das correlações ocorreu no mesmo sentido das
lembranças de cuidados recebidos na infância, no entanto, algumas se deram no sentido
oposto dos cuidados recebidos, o que levanta a hipótese da existência de outros fatores
influenciando as práticas educativas e que não puderam ser obtidos por meio dos
instrumentos utilizados no presente estudo.
Apesar do menor número de pais e da impossibilidade de comparar os dois grupos
por meio de recursos estatísticos, pôde-se constatar que duas correlações apareceram em
ambos os grupos: boas condições materiais e atitude afetuosa do pai na infância implicaram
na utilização da monitoria positiva tanto na amostra de pais, quanto na de mães. Entretanto,
de modo geral, a relação entre memórias de infância e práticas educativas atuais foram
diferentes entre pais e mães.
No grupo de mães, diversas relações entre lembranças e práticas educativas foram
observadas, tanto por meio das questões de infância presentes na ficha de identificação,
quanto através da aplicação do EMBU, que se revelou um excelente instrumento para avaliar
os cuidados recebidos na infância, o que confirma a sua utilização em diversos paises (Perris
et al., 1980; Ross et al.,1982; Huang et al., 1996; Arrindell et al., 1999; Arrindell et al., 2001;
Aluja et al., 2006a; Aluja et al., 2006b).
Entre as mães, ficou evidente a importância das memórias relacionadas à
demonstração de afeto e calor emocional paterno na sua relação com as práticas educativas
atuais. Memórias que parecem ser fator de proteção para a terceira geração já que sua
presença esteve relacionada à utilização de prática positiva (monitoria positiva) e sua
ausência, a presença de práticas negativas (abuso físico e punição inconsistente). Neste
sentido, a afirmativa de Prado et al. (2004) é verdadeira, realmente a qualidade da relação
entre pai e filho interfere não apenas no desenvolvimento infantil, mas também na
116
transformação da criança em um adulto hábil para enfrentar as adversidades da vida adulta.
Além disso, a qualidade dessa relação interfere ainda nos comportamentos parentais futuros
com a terceira geração, o que foi observado especialmente entre as mães de estudo.
Ficou evidente neste estudo, considerando o grupo mães, que memórias da infância
referentes aos cuidados paternos tiveram uma repercussão maior nas práticas educativas
quando comparadas as memórias de cuidados recebidos da mãe. Assim, como apontam
Dubow et al. (2003) futuros estudos devem considerar se a continuidade entre gerações é
mais forte para o mesmo sexo ou de forma combinada (ambos os pais).
Na amostra de pais também foram encontradas relações entre memórias da infância
e práticas educativas atuais, no entanto com conformações diferentes do grupo mães. Grande
parte das correlações constatadas se deram a partir da ficha de identificação e IEP, sendo
apenas uma correlação contatada entre dimensões do EMBU e do IEP. A partir deste
resultado levantam-se duas hipóteses: 1) o tamanho da amostra interferiu neste resultado; 2)
as dimensões do EMBU não foram sensíveis para captar as correlações e 3) existem
diferenças entre pais e mães, tanto em relação às práticas educativas, quanto no modo como
as memórias de cuidados de interferem nos comportamentos atuais. Alguns estudos
demonstram que a terceira hipótese pode ser verdadeira: Vitali (2004) encontrou maiores
níveis de exigência e responsividade entre mães e as avós. os pais tiveram níveis de
exigência e responsividade menores e de modo similiar ao de seus pais. Dubow et al. (2003)
também apontam que os 4 estudos analisados transmissão da agressidade, incluindo dois com
grandes amostras (521 e 296 participantes) apontaram evidências de mais continuidade nas
mulheres do que nos homens. No entanto, sugerem-se novas pesquisas que visem testar estas
hipóteses e para isso considerem tanto uma amostra maior de pais e amostras pareadas entre
homens e mulheres, quanto utilizem de diferentes instrumentos e métodos para avaliar
memórias de cuidados recebidos na infância.
A questão da continuidade e descontinuidade não está fechada e embora não tenha
sido propósito desde estudo avaliá-las e sim verificar a influência exercida pelas memórias de
cuidados na infância nas práticas atuais, observou-se a tanto entre pais, quanto mães, que
apesar demonstrarem lembranças positivas na infância, utilizam práticas educativas negativas
e desfavoráveis na interação com seus filhos (Gomide, 2004; 2006). Assim, na amostra de
mães, bom relacionamento com sua mãe correlacionou-se a utilização da monitoria negativa
com o filho, já na amostra de pais, lembranças de afetividade da mãe correlacionou-se à
abuso físico e negligência e memória de super-proteção da mãe à disciplina relaxada.
Resultados difíceis de serem explicados pela literatura, no entanto, semelhantes ao de
117
Pinheiro (2003), que encontrou entre os demais resultados, um pai que utilizava estratégias
educacionais negativas, mesmo tendo tido pais positivos. Além disso, como afirma Dubow et
al. (2003) futuras pesquisas devem incluir entre suas medidas potenciais moderadores e
mediadores que possam explicar a continuidade e descontinuidade intergeracional.
Deve-se considerar, também, que o presente estudo utilizou-se do método
retrospectivo para a análise intergeracional, criticado por alguns autores como Chen e Kaplan
(2001). Esses autores argumentam que a memória pode sofrer falhas ou enganos ao longo
dos anos. Entretanto, o método retrospectivo tem sido utilizado em diversos estudos
(Pinheiro, 2003; Pacheco et al., 2003; Rodrigues et al., 2004; Vitali, 2004; Weber et al.,
2006), além de todos os mencionados anteriormente com a utilização do EMBU,
instrumento que tem este propósito. Além disso, o método retrospectivo mostra-se menos
oneroso e mais acessível comparado ao todo longitudinal. Foi objetivo do presente estudo
verificar a relação entre as memórias de cuidados na infância e as práticas educativas atuais,
importando aqui as lembranças que os participantes tinham a respeito da sua infância e não
se estas eram verdadeiras ou não, pois se partiu do pressuposto que estas poderiam interferir
nos comportamentos atuais. Sobre isso, Whitbeck
et al (1992) afirmam que os estudos
retrospectivos das lembranças de adultos sobre sua relação com seus pais na infância podem
provavelmente ser distorcidos e difíceis de serem interpretados. Whitbeck também alerta que
há evidências de que relatos retrospectivos das experiências na família de origem são estáveis
ao longo de curtos períodos do tempo e independentes de outros fatores como, por exemplo,
sintomas depressivos atuais.
Por fim, o presente estudo trouxe contribuições ao cenário das práticas educativas
parentais no sentido dos antecedentes relacionados aos comportamentos atuais de pais e
mães. Pôde-se constatar que as práticas educativas parentais são influenciadas pela memória
de cuidados recebidos na infância, a qual se revela como um fator, porém não o único
envolvido na complexidade do tema. Assim, outros fatores devem influenciar o
comportamento parentais de pais e mães entre eles, escolaridade (também observada neste
estudo), acesso a informações cientificas sobre as práticas educativas, presença de outras
pessoas significativas durante a infância, relacionamento conjugal atual, entre outros, que
devem ser considerados em futuras pesquisas. Entre os resultados encontrados ficou clara a
importância dos cuidados na infância e sua inter-relação com as práticas educativas entre as
gerações posteriores, resultado que abre espaço para intervenções direcionadas a prevenção.
Os resultados aqui encontrados são esperançosos neste sentido, pois demonstraram fatores
relacionados à utilização de práticas positivas no futuro. Supõe-se que programas para pais
118
que ressaltem a importância do afeto, calor emocional e práticas positivas (monitoria positiva
e comportamento moral) tragam tanto conseqüências imediatas: melhores níveis de empatia,
autoestima e desempenho escolar, quanto conseqüências em longo prazo, possibilitando a
estas crianças tornarem-se melhores pais e mães.
Contudo e diante dos resultados e limitações deste estudo sugerem-se futuras
pesquisas com amostras equiparadas de pais mães, a fim de verificar se as diferenças aqui
encontradas se mantêm e que estudos de caráter qualitativo sejam empregados, considerando
as limitações do uso de questionários.
119
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129
ANEXOS
130
Anexo 1
131
Anexo 2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Meu nome é Francieli Hennig, sou orientada pelo Prof. Dr. Mauro Luis Vieira e estou
desenvolvendo minha dissertação de mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina -
UFSC. Convido você a participar da pesquisa, que terá por objetivo compreender as práticas
educativas parentais.
Sua participação, completamente voluntária, acontecerá por meio do preenchimento dos
questionários e da realização de uma entrevista se necessário. As informações fornecidas são
confidenciais. Isto não traz riscos e desconfortos para os participantes e esperamos que traga
como benefícios um maior entendimento sobre as práticas educativas, o que possibilitará
avanço de conhecimento sobre o fenômeno e intervenções mais eficazes em áreas
profissionais relacionadas.
Além disso, os participantes interessados poderão ter acesso a uma explicação dos resultados
obtidos ao fim da pesquisa, preenchendo seu e-mail para contato no questionário.
Após ler este Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e aceitar participar do estudo,
solicito a assinatura do mesmo em duas vias, sendo que uma delas permanecerá em seu
poder. Se você tiver alguma dúvida em relação ao estudo ou decidir posteriormente não fazer
parte do mesmo, pode entrar em contato diretamente com o pesquisador pelo telefone
(47)9952-1730 ou com o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Desenvolvimento Infantil
(NEPEDI) da UFSC (48) 3331-8606.
Francieli Hennig - Pesquisadora principal
Mauro Luis Vieira - Pesquisador responsável
Eu,.............................. fui esclarecido sobre a pesquisa Memórias de Cuidado na Infância e
Praticas educativas Parentais e concordo que meus dados sejam utilizados na realização da
mesma. Declaro ainda, que estou ciente de seu objetivo e métodos, e de meus direitos de
anonimato e de desistência.
Blumenau, ____/____/____
Assinatura: _________________________________ RG: __________________
132
Anexo 3
Inventário de estilos parentais (IEP)
Práticas educativas maternas e paternas
Auto-aplicação
Paula Inez Cunha Gomide
O objetivo deste instrumento é estudar a maneira utilizada pelos pais na educação de seus
filhos. Não existem respostas certas ou erradas. Responda cada questão com sinceridade e
tranqüilidade. Suas informações serão sigilosas. Escolha, entre as alternativas a seguir,
aquelas que mais refletem a forma como você educa seu/sua filho(a).
Responda a tabela a seguir fazendo um X no quadrinho que melhor indicar a freqüência com
que você age nas situações relacionadas; mesmo que a situação descrita nunca tenha
ocorrido, responda considerando o seu possível comportamento naquelas circunstâncias.
Utilize a legenda de acordo com o seguinte critério:
NUNCA: se, considerando 10 episódios, você agiu daquela forma entre 0 a 2 vezes.
ÀS VEZES: se, considerando 10 episódios, você agiu daquela forma entre 3 a 7 vezes.
SEMPRE: se, considerando 10 episódios, você agiu daquela forma entre 8 a 10 vezes.
Entre 10 episódios
8 a 10
Sempre
3 a 7
Às vezes
0 a 2
Nunca
1. Quando meu filho(a) sai, ele(a) conta
espontaneamente onde vai.
2. Ensino meu filho(a) a devolver os objetos ou
dinheiro que não pertencem a ele(a)
3. Quando meu filho(a) faz algo errado, a
punição que aplico é mais severa dependendo
do meu humor.
3. Meu trabalho atrapalha na atenção que dou a
meu filho(a).
5. Ameaço que vou bater ou castigar e depois
não faço nada.
6. Critico qualquer coisa que meu filho(a) faça,
como o quarto estar desarrumado ou estar com
os cabelos despenteados.
7. Bato com cinta ou outros objetos nele(a).
8. Pergunto como foi seu dia na escola e ouço
atentamente.
9. Se meu filho(a) colar na prova, explico que é
melhor tirar nota baixa do que enganar a
professora ou a si mesmo(a).
10. Quando estou alegre, não me importo com
as coisas erradas que meu filho(a) faça.
11. Meu filho(a) sente dificuldade em contar
seus problemas para mim, pois vivo ocupado.
12. Quando castigo meu filho(a) e ele pede
para sair do castigo , após um pouco de
insistência, permito que saia do castigo.
133
13. Quando meu filho(a) sai, telefono
procurando por ele(a) muitas vezes.
14. Meu filho(a) tem muito medo de apanhar
de mim.
15. Quando meu filho(a) está triste ou
aborrecido(a), interesso-me em ajuda-lo a
resolver o problema.
16. Se meu filho(a) estragar alguma coisa de
alguém, ensino a contar o que fez e pedir
desculpas.
17. Castigo-o(a) quando estou nervoso(a);
assim que passa a raiva, peço desculpas.
18. Meu filho(a) fica sozinho em casa a maior
parte do tempo.
19. Durante uma briga, meu filho(a) xinga ou
grita comigo e, então, eu o(a) deixo em paz.
20. Controlo com quem meu filho(a) fala ou
sai.
21. Meu filho(a) fica machucado fisicamente
quando bato nele(a).
22. Mesmo quando estou ocupado (a) ou
mesmo viajando, telefono para saber como meu
filho(a) está.
23. Aconselho meu filho(a) a ler livros, revistas
ou ver programas de TV que mostrem os
efeitos negativos do uso de drogas.
24. Quando estou nervoso(a), acabo
descontando em meu filho(a).
25. Percebo que meu filho(a) sente que não dou
atenção a ele(a).
26. Quando mando meu filho(a) estudar,
arrumar o quarto ou voltar para casa, e ele não
obedece, eu “deixo pra lá.”
27. Especialmente nas horas das refeições, fico
dando as “broncas.”
28. Meu filho(a) sente ódio de mim quando
bato nele(a).
29. Após uma festa, quero saber se meu
filho(a) se divertiu.
30. Converso com meu filho(a) sobre o que é
certo e errado no comportamento dos
personagens dos filmes e dos programas de
TV.
31. Sou mal-humorado(a) com meu filho(a).
32. Não seu dizer do que meu filho(a) gosta.
33. Aviso que não vou dar um presente para
meu filho(a) caso não estude, mas na hora “H”,
fico com pena e dou o presente.
34. Se meu filho(a) vai a uma festa, somente
quero saber se bebeu, se fumou ou se estava
com aquele grupo de maus elementos.
35. Sou agressivo(a) com meu filho(a).
36. Estabeleço regras (o que pode e o que não
pode ser feito) e explico as razões sem brigar.
134
37. Converso sobre o futuro trabalho ou
profissão de meu filho, mostrando os pontos
positivos ou negativos de sua escolha.
38. Quando estou mal-humorado(a), não deixo
meu filho(a) sair com os amigos.
39. Ignoro os problemas de meu filho(a).
40. Quando meu filho fica muito nervoso(a)
numa discussão ou briga, ele(a) percebe que
isto me amedronta.
41. Se meu filho(a) estiver aborrecido(a), fico
insistindo para ele me contar o que aconteceu,
mesmo que ele(a) não queira contar.
42. Sou violento(a) com meu filho(a).
135
Anexo 4
136
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