tipo de pólis em que se localizavam e, se nos permitem a audácia, em concórdia
com os valores gregos que destrinchamos ao longo de nosso trabalho.
Assim, quando Plutarco escreve que por determinação de Licurgo
81
as
jovens deveriam se exercitar na corrida, na luta, no lançamento de dardos e
discos, visto que “a semente do homem, fortemente enraizada em corpos
robustos, produzisse os mais belos germes, e que também as mulheres fossem
suficientemente fortes para suportar a gravidez e lutar com êxito contra as dores
do parto” (PLUTARCO. Licurgo, 14), existe a preocupação com a reprodução
mais básica da pólis: a de seus membros
82
.
Por trás de todo o ritual, considerado libertador da esposa esparciata
espartana pela historiografia, existe a preocupação com a sobrevivência da pólis.
Neste caso, a ação das atenienses poderia ser considerada da mesma maneira.
Outro exemplo de atuação no espaço público – neste caso fazemos
referência à tebanas ou à sicilianas
83
- encontramos nas palavras de Píndaro:
“Eu quero no momento elevar minhas orações a mãe, venerável deusa que as
jovens cantam com freqüência próximo de minha porta, junto com Pan, à noite”
(PÍNDARO. Píticas III, 77-79).
Podemos alegar que se tratava de um ritual religioso
84
(diga-se de
passagem, também imprescindível para a manutenção da pólis). Todavia, será
81
O que já demonstra ser algo considerado como algo maior por ser, de certa forma, imposta
pelo legislador, algo que deve ser respeitado em prol daquilo que é mais importante: a pólis.
82
A obra de Xenofonte completa nossa percepção quando diz: “Eu observei a algum tempo que
Esparta foi muito poderosa e célebre em toda Hélade, como é evidente, ainda que fosse uma das
póleis com menos habitantes, e me surpreendi de como isso podia ocorrer” (XENOFONTE, A
Constituição dos Lacedemônios. I, 1). Esse filósofo viveu por tempo considerável em Esparta.
83
Segundo nota da tradução espanhola, essa passagem de Píndaro causa problemas entre os
pesquisadores, não se sabe ao certo a que mães se refere (Deméter ou Cebéle), nem a que local
diz respeito, se se trata de um culto tebano ou um rito siciliano. Biógrafos antigos interpretaram
ao pé da letra a referência a casa de Píndaro.
84
Segundo Andrade: “... na expressão religiosa e imaginária de uma experiência do espaço e do
tempo da cidade ateniense, a mulher atua como operador de sentido, o feminino confere
viabilidade a pátria. Mas a mulher mesma atua em palavras, gestos, danças, esperadas ou não,
na configuração da identidade em seus extremos – guerra e paz, exterior e interior, urbano e
agrário, liberdade e escravidão, velho e novo, semelhança e diferença” (ANDRADE, 1998,
p.397).