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O Movimento Armorial pretende realizar uma Arte brasileira erudita a partir das raízes
populares da nossa Cultura. Por isso, algumas pessoas estranham, às vezes, que
tenhamos adotado o nome de “armorial” para denominá-lo. Acontece que, sendo
“armorial” o conjunto de insígnias, brasões, estandartes e bandeiras de um Povo, no
Brasil a Heráldica é uma Arte muito mais popular do que qualquer outra coisa. Assim, o
nome que adotamos significava, muito bem, que nós desejávamos ligar-nos a essas
heráldicas raízes da Cultura popular brasileira (SUASSUNA, apud NOGUEIRA, 2002:
113).
O Quinteto Armorial, vertente do movimento do qual Antonio Nóbrega participou, teve
sua primeira formação em 1969 e a segunda em 1971, constituída por: Antonio José Madureira,
na viola sertaneja; Edílson Eulálio, no violão; Antonio Nóbrega, no violino; Jarbas Maciel, na
viola de arco; José Tavares de Amorim, na flauta e Fernando Torres Barbosa, no marimbau
12
. O
grupo permaneceu ativo até o início da década de 80
13
. No entanto, Antonio Nóbrega, mesmo em
sua carreira solo, manteve em suas composições as influências do estilo armorial. É possível
afirmar que alguns dos ideais do movimento ainda parecem ser determinantes em todas as frentes
de seu trabalho, como a fusão entre elementos estéticos da cultura popular e erudita, característica
marcante em sua música, dança e composição corporal.
Se no espetáculo eu tenho dez elementos de comunicação com o público, desses dez,
cinco tem um respaldo, digamos mais erudito, são as referências eruditas. As outras
cinco, por outro lado seriam as referências mais populares. Tenho sempre essa ligação
de elementos que vem de códigos de diferentes culturas
14
.
Essa tentativa de união entre elementos eruditos e populares com a finalidade de alicerçar
uma arte “genuinamente” brasileira me parece, entretanto, um pouco deslocadas na
contemporaneidade. Já no início dos anos 70, a oposição declarada de Ariano Suassuna e do
Movimento Armorial ao Tropicalismo soava datada, e pior, alinhada mesmo que
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“Berimbau de latas”, que consiste num arame, pregado a uma tábua e esticado por cima de duas latas, que
servem ao mesmo tempo, de cavalete para o arame e de caixa de ressonância (SUASSUNA, apud NOGUEIRA,
2002:125).
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O Quinteto Armorial inspirou a formação do Quarteto Romançal por um dos seus integrantes, Antônio Madureira.
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Antonio Nóbrega em entrevista ao programa “Roda Viva”, da emissora TV Cultura, dezembro de 1996.