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Gustavo Taboada Soldati
Produtos florestais não-madeireiros: padrões de uso e conservação de
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan no Agreste pernambucano
Recife
2009
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Gustavo Taboada Soldati
Produtos florestais não-madeireiros: padrões de uso e conservação de
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan no Agreste pernambucano
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Botânica da Universidade
Federal Rural de Pernambuco, como parte
dos requisitos necessários à obtenção do grau
de Mestre em Botânica.
Orientador:
Prof. Dr. Ulysses Paulino de Albuquerque
Laboratório de Etnobotânica Aplicada, Área de Botânica,
Departamento de Biologia, Universidade Federal Rural de
Pernambuco.
Recife
2009
i
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FICHA CATALOGRÁFICA
CDD 581. 5
S684p Soldati, Gustavo Taboada
Produtos florestais não madeireiros padrões de uso e con –
Servação de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan no
Agreste pernambucano / Gustavo Taboada Soldati. -- 2009.
94 f. : il.
Orientador : Ulysses Paulino de Albuquerque
Dissertação (Mestrado em Botânica) - Universidade
Federal Rural de Pernambuco. Departamento de Botânica
Inclui anexo e bibliografia.
1. Etnobotânica
2. Produtos florestais não madeireiros
3. Caatinga
4. Recursos
5. Semi-árido
6. Ecologia de populações
7. Forregeamento ótimo
I. Albuquerque, Ulysses Paulino de
II. Título
ii
iii
“Se houve ou se não houve alguma coisa entre eles
dois, ninguém pode ate hoje afirmar. O certo é que
depois, muito depois, apareceu a estrela-do-mar.”
(Paulo Soledade e Marino Pinto)
iv
v
Agradecimentos
Primeiro eu gostaria de agradecer ao Programa de Pós-Graduação em Botânica da
Universidade Federal Rural de Pernambuco pela estrutura oferecida e oportunidade da realização
do Mestrado. Agradeço também aos funcionários e professores do mesmo pelos novos
ensinamentos, com especial gratidão à Prof
a
. Elcida de Lima Araújo.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela
concessão do incentivo financeiro.
Ao professor e amigo Ulysses Paulino de Albuquerque, no qual eu deposito meus mais
sinceros sentimentos de carinho, admiração e gratidão. Agradeço pelos ensinamentos, pela
proteção, pela confiança, pelas oportunidades cedidas, pelo discernimento oportuno nos
momentos difíceis e por saber escutar. Agradeço ainda pelos momentos de distração e
divertimento regados por bons vinhos.
À solícita Prof
a
. Elba Lúcia C. Amorim por ceder a estrutura do Laboratório de Produtos
Naturais (LAPRONAT) da Universidade Federal de Pernambuco. Meus agradecimentos se
estendem aos novos companheiros desse laboratório que, em um momento bastante tenebroso
(ou seria taninoso), muito contribuíram para a finalização desse trabalho: Daniela Cabral, Tadeu
Peixoto Sobrinho e Camila Castelo Branco.
Agradeço à minha “família de sangue e coração” pelo força incentivo e compreensão.
Agradeço ao meu pai, Luiz Antônio Soldati, pela confiança, pelo incentivo, pelos exemplos e
pelo carinho. Eterna gratidão. Agradeço à minha saudosa mãe, Lígia Taboada Soldati, pela
proteção, pelo esmero, pelo amor, pela paixão e por me ensinar algo que poucos profissionais
sabem: que é preciso escutar as pessoas, nossos irmãos na terra, não apenas com os ouvidos e um
gravador, mas com aquilo que pulsa dentro de nós, o coração. Agradeço à minha irmã, Márjorie
Taboada Soldati, pela cumplicidade e pela amizade.
À minha “família de estrada” pelos ensinamentos, vivências, descobertas e cores. Um
beijão no coração das minhas queridíssimas, belas e danadas irmãzinhas: Maira Moreira
Mesquita (Mamá) e Leda Maria Goreti (Ledão). Agradeço ao Tarciso Leão e Diele Lobo por me
acolherem em Recife.
À Christiane Rocha Falcão (Chris), que entrou na minha vida de forma esquisita, bem no
meio do mestrado, pelo amor e dedicação. Agradeço aos ensinamentos, exemplos de vida, à
vi
disciplina, às discussões filosóficas, antropológicas e epistemológicas... ou seria tudo a mesma
coisa?
Aos meus amigos e companheiros do Laboratório de Etnobotânica Aplicada (LEA), pelos
ensinamentos e pelas ajudas. Esses dois anos de convívio em grupo me acrescentaram
enormemente, podem acreditar. Agradecimentos especiais à Lucilene Lima de Santos (Lú),
Nelson Leal Alencar e Fábio José Vieira (Fabão) por me ajudarem bastante nos trabalhos de
campo, à Luciana Gomes de Souza pela preocupação e cuidado, e Patrícia Muniz Medeiros (Paty
Kiss) pela contribuição nas analises dos dados. Um forte abraço para Julio Marcelino e Reinaldo
Lucena, como diria um velho companheiro: “amigos novos, parceiros novos”.
À “sensacional” Shana Sampaio pelo companheirismo oportuno em uma “viagem sem
volta”.
À toda comunidade de Altinho pelo conhecimento cedido e pelo acolhimento mesmo que
efêmero.
À Recife, suas cores e aos nordestinos.
Por fim, à todos os brasileiros que contribuem para a sustentação de todo o ensino
superior no Brasil.
vii
Conteúdo
Agradecimentos ................................................................................................................................. vi
Lista de figuras ................................................................................................................................... x
Lista de tabelas ................................................................................................................................... x
Resumo ............................................................................................................................................... 1
Introdução .......................................................................................................................................... 3
Revisão de Literatura ........................................................................................................................ 5
Os Conceitos ........................................................................................................................................ 6
Importância dos Produtos Florestais Não-Madeireiros (PFNM) ......................................................... 8
Implicações ecológicas da utilização dos PFNM ............................................................................... 11
Metodologias empregadas nos estudos de extração dos PFNM ........................................................ 12
Avaliações diretas ......................................................................................................................... 13
Avaliações indiretas ...................................................................................................................... 17
Impactos ecológicos da extração dos PFNM ..................................................................................... 21
Aspectos culturais e sociais relacionados com a utilização dos PFNM ............................................. 23
O papel da Etnobotânica .................................................................................................................... 25
Considerações Finais ......................................................................................................................... 28
Referências Bibliográficas ................................................................................................................. 30
Artigo 01 - Conhecimento e uso sustentável de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan por
uma comunidade rural no semi-árido pernambucano (Nordeste do Brasil) .............................. 34
Introdução .......................................................................................................................................... 35
Materiais e Métodos ........................................................................................................................... 37
a) Área de estudo ........................................................................................................................... 37
b) Levantamento etnobotânico ...................................................................................................... 40
c) Estrutura populacional e extração de Anadenanthera colubrina ............................................... 41
d) Análise dos dados ..................................................................................................................... 42
Resultados .......................................................................................................................................... 44
a) Conhecimento de Anadenanthera colubrina ............................................................................. 44
b) Comparação entre comunidades ............................................................................................... 47
c) Estrutura populacional e extração de A. colubrina ................................................................... 50
Discussão ........................................................................................................................................... 55
a) Conhecimento de Anadenanthera colubrina ............................................................................. 55
b) Comparação entre as comunidades ........................................................................................... 56
c) Estrutura populacional e extração de A. colubrina ................................................................... 59
viii
Agradecimentos ................................................................................................................................. 63
Referências Bibliográficas ................................................................................................................. 64
Artigo 02- A Teoria do Forrageamento Ótimo explica a extração de Anadenanthera colubrina
(Vell.) Brenan? ................................................................................................................................. 68
Introdução .......................................................................................................................................... 69
Materiais e métodos ........................................................................................................................... 72
a) Área de estudo: .......................................................................................................................... 72
b) Levantamento etnobotânico ...................................................................................................... 73
c) Disponibilidade e extração de Anadenanthera colubrina .......................................................... 74
d) Concentração de taninos ........................................................................................................... 76
e) Análise dos dados ...................................................................................................................... 77
Resultados .......................................................................................................................................... 78
Discussão ........................................................................................................................................... 84
Agradecimentos ................................................................................................................................. 89
Referências Bibliográficas ................................................................................................................. 90
Conclusões Finais ............................................................................................................................. 92
ANEXO 01 ........................................................................................................................................ 94
ANEXO 02 ........................................................................................................................................ 97
ix
Lista de figuras
Revisão de literatura
Figura 1.1 - Definição de alguns conceitos-chave nos estudos de Produtos Florestais Não-
Madeireiros. ..................................................................................................................................... 6
Figura 1.2 - Importâncias da exploração de Produtos Florestais Não-Madeireiros. ........................... 9
Figura 1.3- Exemplos hipotéticos de quatro distribuições diamétricas, modificado de Hall e Bawa
(1993). ........................................................................................................................................... 14
Figura 1.4 – Modelos populacionais construídos para uma espécie dependente da densidade,
Euterpe edulis Mart. A) Crescimento populacional (linha inteira) e logaritmo da probabilidade de
recrutamento da primeira fase do ciclo de vida para a segunda fase (linha tracejada) em relação
ao tempo. O tempo 1 (t1) representa o momento que a população torna-se estável. B) Projeção da
taxa de crescimento populacional quando se admite a dependência da densidade (linha inteira) e
quando a dependência da densidade não é considerada (linha tracejada). Modificado de
Freckleton et al. (2003). ................................................................................................................ 17
Artigo 01 - Conhecimento e uso sustentável de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan por
uma comunidade rural no semi-árido pernambucano (Nordeste do Brasil)
Figura 2.15- Localização da Comunidade do Carão, Município de Altinho, PE, Brasil. Fonte:
Alencar, 2008. ............................................................................................................................... 39
Figura 2.26- Detalhes do caule de “angico” enfatizando as principais diferenças das duas
variedades reconhecidas localmente pela comunidade do Carão, Altinho, PE, Brasil. A)
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan, “angico de caroço” e B) Parapiptadenia zehntneri
(Harms) M. P. M. de Lima & H. C. de Lima, “angico liso” (com sinal de retirada de casca). ..... 48
Figura 2.37- Distribuição dos eventos de corte seletivo em uma população de Anadenanthera
colubrina (Vell.) Brenan, “angico”, na comunidade do Carão, Altinho, PE, Brasil. Classes de
diâmetros com intervalo de três centímetros: 1 (0-2,99 cm); 2 (3-5,99 cm); 3 (6-8,99 cm); 4 (9-
11,99 cm); 5 (12-14,99 cm); 6 (15-17,99 cm); 7 (18-20,99 cm); 8 (21-23,99 cm); 9 (24-26,99
cm); 10 (27-29,99 cm); 11 (30-32,99 cm); 12 (33-35,99 cm); 13 (36-38,99 cm); 14 (39-41,99
cm). Os números acima das barras correspondem ao total de indivíduos com corte seletivo. ..... 52
Figura 2.48- A) Análise populacional de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan, “angico”, na
comunidade do Carão, Altinho, PE, Brasil. A) Distribuição diamétrica em classes com intervalo
de três centímetros. 1 (0-2,99 cm); 2 (3-5,99 cm); 3 (6-8,99 cm); 4 (9-11,99 cm); 5 (12-14,99
cm); 6 (15-17,99 cm); 7 (18-20,99 cm); 8 (21-23,99 cm); 9 (24-26,99 cm); 10 (27-29,99 cm); 11
(30-32,99 cm); 12 (33-35,99 cm); ); 13 (36-38,99 cm); 14 (39-41,99 cm); 15 (42-44,99); 16 (45-
47,99); 17 (48-50-99); 18 (51-53,99). N= 1040. B) Regressão linear (“least-squares linear
regression slope”, LSLRS) entre o centro de classe diamétrica (Cli) e o logaritmo neperiano do
número de indivíduos em cada classe diamétrica mais um (Ln(Ni+1)). Cli = 46,2579 –
7,36836*ln(l+1); R2=91,4138. ...................................................................................................... 54
Figura 2.59- Estrutura vertical de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan, “angico”, na
comunidade do Carão, Altinho, PE, Brasil. 1 (0-0,99 m); 2 (1-1,99 m); 3 (2-2,99 m); 4 (3-3,99
m); 5 (4-4,99 m); 6 (5-5,99 m); 7 (6-6,99 m); 8 (7-7,99 m); 9 (8-8,99 m); 10 (9-9,99 m); 11 (10-
10,99 m). ....................................................................................................................................... 55
x
Artigo 02- A Teoria do Forrageamento Ótimo explica a extração de Anadenanthera colubrina
(Vell.) Brenan?
Figura 3.110- Croqui da comunidade do Carão, município de Altinho, PE, Brasil, evidenciando as
áreas utilizadas para estimar a disponibilidade ambiental de Anadenanthera colubrina (Vell.)
Brenan. d1 e d2 representam a subdivisão da área do “pé da serra” em dois blocos de distância
utilizados na análise do efeito da distância sobre a concentração de tanino e extração de
“angico”. ........................................................................................................................................ 75
Figura 3.211- Comportamento do teor de taninos e da espessura da casca frente às classes
diamétricas em uma população de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan na comunidade do
Carão, Altinho, Pernambuco. A) Distribuição das concentrações de taninos em relação às classes
de diâmetros 2 (6-8,99cm) à 10 (30-32,99cm) (Y= 80.7965+15.7183* X-1.29551*X2;
p=0,0001). B) Relação entre espessura da casca e as classes diamétricas 2 (6-8,99cm) à 18 (54-
56,99cm) (Y= 0.307286 + 0.0159271*X). .................................................................................... 82
xi
Lista de tabelas
Revisão de literatura:
Tabela 1.1 – Metodologia proposta para o monitoramento e manejo sobre bases sustentáveis da
extração de PFNM em diferentes realidades, modificado de Peters (1994). ................................... 15
Tabela 1.2 - Variáveis utilizadas para calcular as prioridades de conservação e suas possíveis
pontuações segundo Oliveira et al. (2007). ..................................................................................... 19
Tabela 1. 3 – Categorias de Conservação, sua descrição e sugestões de ação segundo Uniyal et al.
(2002). .............................................................................................................................................. 20
Artigo 01 - Conhecimento e uso sustentável de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan por
uma comunidade rural no semi-árido pernambucano (Nordeste do Brasil)
Tabela 2.14- Diferentes comparações, e os índices utilizados, entre o conhecimento de
Anadenanthera colubrina da comunidade do Carão, município de Altinho, PE, e outras duas
comunidades rurais: Riachão de Malhada de Pedra e Alto das Ameixas, ambas em Caruaru, PE.
Índices adaptados de Byg e Baslev (2001) e Monteiro et al. (2006). .............................................. 43
Tabela 2.25- Usos de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan citados pelos moradores da
comunidade do Carão, Altinho, PE, Brasil. NC= Número de citações. Total de informantes = 101.
......................................................................................................................................................... 45
Tabela 2.36- Compilação entre as medidas de conhecimento de Anadenanthera colubrina (Vell.)
Brenan entre três comunidade rurais do agreste pernambucano. ID= valor de diversidade do
informante; IE= valor de equitabilidade do informante; UD = valor de diversidade de uso; EU=
valor de equitabilidade de uso. Os dados sobre as comunidades de Riachão e Ameixas foram
extraídos de Monteiro et al. (2006). ................................................................................................ 49
Tabela 2.47- Comparação entre as densidades absolutas de 13 populações de Anadenanthera
colubrina (Vell.) Brenan levantadas na literatura com a população inventariada no presente
estudo. Características dos respectivos estudos fitossociológicos são apresentadas. DA=
Densidade Absoluta; x
2
= qui-quadrado; e p= nível de significância; PE= Pernambuco; SE=
Sergipe. ............................................................................................................................................ 51
Tabela 2.58- Distribuição dos sinais de extração por categoria diamétrica em uma população de
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan, “angico”, na comunidade do Carão, Altinho, PE, Brasil.
Cli=classe diamétrica. ...................................................................................................................... 53
Artigo 02- A Teoria do Forrageamento Ótimo explica a extração de Anadenanthera colubrina
(Vell.) Brenan?

Tabela 3.19- Comparação entre diferentes aspectos das três zonas reconhecidas como local de
coleta de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan na comunidade do Carão, Altinho,
Pernambuco. .................................................................................................................................... 79
Tabela 3.210- Extração de casca de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan pelas classes de
diâmetro e pelos tipo “muito acúleo” e “pouco acúleo”, em uma população do “pé da serra”,
comunidade do Carão, Altinho, Pernambuco. * Classes de diâmetro que concentram, em
proporção, os eventos de extração. .................................................................................................. 81
Tabela 3.311- Eventos de extração de “casca” de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan
distribuídos em classes de espessura da mesma, em uma população do “pé da serra”, comunidade
do Carão, Altinho, Pernambuco. s/s = sem sinal de extração; c/s = com sinais de extração. .......... 83
xii
xiii
Tabela 3.412 - Sumarização das duas abordagens construídas a partir da Teoria do Forrageamento
Ótimo e suas respectivas variáveis analisadas na compreensão dos padrões de extração de
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan na comunidade do Carão, Altinho, Pernambuco. (+) =
otimizada; (0) = sem otimização. .................................................................................................... 88
Soldati, Gustavo Taboada (MSc). Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Fevereiro, 2009.
PRODUTOS FLORESTAIS NÃO-MADEIREIROS: PADRÕES DE USO E CONSERVAÇÃO
DE Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan NO AGRESTE PERNAMBUCANO
Orientador: Prof. Dr. Ulysses Paulino de Albuquerque (UFRPE)
Resumo -Diversas populações dependem da exploração de recursos vegetais locais, entretanto
poucos estudos avaliaram as formas de extração dos recursos vegetais, bem como os impactos dessa
prática. Esse estudo avaliou o conhecimento, uso e exploração de Anadenanthera colubrina (Vell.)
Brenan, “angico”, por uma comunidade rural em Pernambuco, Brasil. O presente trabalho ainda se
apropriou da Teoria do Forrageamento Ótimo para detectar possíveis padrões na exploração de
casca e no corte seletivo. Foram registrados as indicações, formas de utilização, partes exploradas e
zonas de recursos de A. colubrina. A densidade e os eventos de extração na “serra”, nos “terrenos” e
no “pé de serra”, três zonas de recurso reconhecidas localmente, foram registradas e a estrutura
populacional em uma área de coleta foi utilizada para inferir sobre os impactos indiretos da
exploração. Foram registrados 27 usos, sendo a categoria medicinal a mais saliente. 53 informantes
(52,47%) afirmaram que conhecem A. colubrina, entretanto não necessariamente a usam
efetivamente. Nesse sentido, uso efetivo e o conhecimento não estão relacionados na comunidade,
ou seja, as citações de uso não podem ser utilizadas como medida indireta de pressão de uso. As
partes mais exploradas são a “casca” e o “caule” e as principais zonas de coleta são os “quintais” e a
“serra”. Dos 1040 indivíduos de A. colubrina registrados, 70 apresentaram sinais de extração. A
estrutura populacional se adéqua ao modelo do “J-invertido”, sugerindo que a população é estável e
que a extração realizada não compromete a sua viabilidade. Os resultados sugerem que a distância
de cada local de coleta determina o processo de extração, evidenciando que os moradores
minimizam o tempo e a energia gasta na coleta de A. colubrina. A disponibilidade ambiental de
cada local parece não influenciar a exploração. Para a extração de casca a variável otimizada é a
quantidade do recurso. A distância dos indivíduos de “angico”, o tempo de manejo e o teor de
taninos não influenciam a extração de casca.
Palavras-chave: Etnobotânica; Uso de recursos; Caatinga; Estrura populacional; Teoria do
Forrageamento Ótimo.
1
Soldati, Gustavo Taboada (MSc). Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Fevereiro, 2009.
NON TIMBER FOREST PRODUCTS: USE PATTERNS AND CONSERVATION OF
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan IN AGRESTE OF PERNAMBUCANO
Orientador: Prof. Dr. Ulysses Paulino de Albuquerque (UFRPE).
Abstract - Many local populations depend on the harvesting of plant resources; however few
studies evaluated the ways of extraction of plant resources, as well as the impacts of this practice.
This study evaluated the knowledge, use and harvesting of Anadenanthera colubrina (Vell.)
Brenan, “angico”, by a rural community in Pernambuco, Brazil. The present work also used the
optimal foraging theory to detect possible patterns on bark harvesting and selective logging. The
indications, forms of use, harvested parts and collection areas of A. colubrina were recorded.
Density and extraction events in three locally recognized resource areas were recorded and the
population structure of a collection area was used to claim about indirect harvesting impacts.
Twenty-seven uses were recorded and the most salient category was the medicinal. 53 respondents
(52,47%) said that they use A. colubrina, although knowledge and use are not correlated in the
community. The most harvested parts are the bark and stem, and the main collection areas are the
homegardens and the oldest forest. From the 1040 recorded individuals of A. colubrina, 70
presented sings of extraction. Population structure fits on the reverse-J model, what suggests that
population is stable and that the extraction does not damage its viability. Results suggest that
distance from each collection area determines the collection process, showing that dwellers
minimized time and energy spent on collection of A. colubrina. Availability in each place does not
seem to influence on harvesting. The amount of the resource is the optimized variable to the bark
extraction. The distance from the individuals, management time, and tannin concentration do not
influence bark extraction.
Key-words: Ethnobotany; Caatinga; Population structure; Optimal Forraging Theory.
2
Introdução
A partir de diferentes ferramentas metodológicas, o presente estudo tem como pretensão
básica analisar o conhecimento, uso e extração de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan, o
“angico”, Produto florestal não-madeireiro (PFNM) de especial destaque para as comunidades
locais da Caatinga.
Essa investigação etnobotânica parte da compreensão de que as populações rurais da
Caatinga, como em outras realidades do mundo, utilizam uma alta riqueza de recursos vegetais para
um também diverso leque de propósitos (Albuquerque e Andrade, 2002). Dentre o conjunto de
plantas reconhecidas como úteis, destacam-se os Produtos Florestais Não-Madeireiros (PFNM),
oriundos de formações florestais naturais ou manejadas (Vantomme, 2001). O destaque aqui
referido deve-se à características específicas, tais como: diversidade de partes das plantas
exploradas, diferentes formas de manejo associado, riqueza de produtos e bens finais, contribuição
para a subsistência local, conhecimento associado ao seu uso. Adicionalmente, aos PFNM é
atribuída uma potencial utilização sustentável, afirmação apoiada pela crença de que seu uso é
menos impactante para os indivíduos, populações vegetais e comunidades alvos da exploração
(Peters, 1994). Entretanto, essa concepção é vaga, pois poucos estudos avaliaram empiricamente os
impactos diretos ou indiretos da sua utilização. Portanto, estudos que contribuam para a
compreensão sobre o uso de PFNM com especial destaque para as implicações ecológicas da sua
exploração se fazem necessários, especialmente para a realidade da Caatinga, único bioma
exclusivamente brasileiro, marcadamente sazonal e com alta taxa de conversão das formações
naturais em áreas de cultivo e pastagem (Sampaio, 1997; Araújo et al., 2007).
Diversas são as ferramentas metodológicas desenvolvidas para o estudo dos impactos
ecológicos oriundos da utilização dos PFNM. Entretanto, dada à complexidade de estudar essas
implicações ecológicas nos diferentes níveis de organização biológica (genes, indivíduos,
populações, comunidades e ecossistemas), a maioria dos estudos com tal propósito se focam apenas
nas populações dos recursos. Segundo Hall e Bawa (1993), esses estudos, especialmente da sua
distribuição diamétrica, permitem inferir sobre diferentes atributos populacionais, pois os primeiros
impactos da extração de PFNM incidem sobre as taxas de sobrevivência, mortalidade e
recrutamento. Os mesmo autores ainda afirmam que esses estudos são uma ferramenta valiosa
quando o tempo, estrutura e dinheiro são limitados.
Adicionalmente, Dzerefos e Witkowski (2001) afirmam que é complexo avaliar os impactos
diretos e indiretos em toda a comunidade biológica ou todos os recursos reconhecidos por uma
grupo social, sendo necessário focar os esforços em espécies com características chave. As
3
características que norteiam a seleção de uma espécie alvo para os estudos de sustentabilidade das
práticas extrativistas mais utilizadas são: a importância e demanda local, raridade e tipo de vida.
Entretanto, é delicado estudar os impactos da utilização dos PFNM isolados dos valores,
conhecimentos e formas de extração daqueles que exploram os recursos, ou seja, pode ser arriscado
estudar as implicações ecológicas da extração de um recurso fora da realidade cultural na qual a
prática extrativista acontece. Avaliações sem essa aproximação podem recair em propostas
totalmente desconectadas do contexto local, sendo, portanto menos passíveis de sucesso. É
necessário avaliar as formas como as pessoas se apropriam dos recursos vegetais, os critérios de
seleção e as possíveis variáveis que influenciam o uso de plantas. Essas informações contribuem
para identificar padrões locais e definir alternativas de manejo e conservação da biodiversidade que
respeitem as especificidades locais.
Diversas teorias e ferramentas ecológicas têm sido utilizadas para melhor compreender como
os homens ocupam e se apropriam do meio ambiente que os circundam, bem como as suas formas
de atuação sobre o mesmo, permitindo detectar padrões e prever situações (Begossi, 1993). Essas
abordagens partem do pressuposto de que os seres humanos sofrem forte influência da sua herança
biológica, apesar de serem “animais culturais”, estando, portanto, passíveis de responder aos
eventos ecológicos e evolutivos (Begossi et al., 2002).
Diante do exposto, o presente trabalho tem como pretensão básica analisar o conhecimento,
uso e extração de um PFNM por uma comunidade rural do Agreste Pernambucano. Foi selecionada
para a investigação A. colubrina, “angico”, por: ser uma espécie nativa altamente conhecida e
utilizada pelas comunidades rurais do semi-árido pernambucano; apresentar diversos usos
associados; e por apresentar um papel chave em termos de manejo e conservação da Caatinga
(Albuquerque e Oliveira, 2007). Para atingir esse objetivo, essa dissertação dividiu-se em três
partes. A primeira é uma revisão geral sobre diferentes aspectos relacionados ao uso de produtos
florestais não-madeireiros (PFNM), focando a esfera social e ecológica da sua exploração. Nessa
primeira parte também é discutido o papel da etnobotânica no estudo desse conjunto de recursos. A
segunda parte é uma investigação sobre o conhecimento e usos de A. colubrina na comunidade do
Carão, município de Altinho, Pernambuco, Brasil. Nesse segundo momento ainda são discutidos os
impactos indiretos da extração do “angico” pela comunidade, tendo como ferramenta de análise a
sua estrutura populacional (distribuição diamétrica). Por fim, a última parte se apropria da Teoria do
Forrageamento Ótimo para identificar possíveis padrões na extração de A. colubrina que tenham na
sua essência uma relação de custo/benefício.
4
Revisão de Literatura
1
Este texto busca apresentar uma visão geral de diferentes enfoques relacionados à utilização
dos Produtos Florestais Não-Madeireiros (PFNM), focando a esfera ecológica e social de sua
exploração. O texto não pretende ser uma profunda revisão teórica e conceitual, visto que seria
quase impossível exaurir os debates ligados tanto à esfera ecológica, quanto social e econômica dos
processos relacionados com a utilização desse grupo de recursos especiais. Adicionalmente, já
existem disponíveis na literatura trabalhos com algumas dessas pretensões, tais como Ticktin
(2004), Shaanker et al. (2004) e Neumman e Hirsh (2000). Nós temos a intenção de analisar o
conceito de PFNM, as metodologias utilizadas nos estudos, e as implicações ecológicas nas
diferentes esferas de organização biológica (indivíduo, população e comunidade), bem como sobre
alguns aspectos sociais relacionados com a sua utilização. Ainda nos propomos discutir outras
justificativas e importâncias dos estudos relacionados com a utilização dos PFNM, que aquelas
sustentadas pelo discurso conservacionista, para depois debater como a Etnobotânica pode
contribuir para esse tipo de investigações. Finalmente, faremos o exercício de apresentar uma
definição para o termo “produtos florestais não-madeireiros” que agrupe todas as problematizações
aqui expostas. A etnobotânica surge, em nossa proposta, como uma abordagem que pode articular
várias esferas (ecológica, cultural e econômica).
Nesse sentido, um aspecto importante das inter-relações entre pessoas e plantas, contemplado
em recentes investigações etnobotânicas, diz respeito às implicações do uso dos recursos vegetais.
Como a sobre-exploração das espécies é tida como uma das maiores causas de perda da
biodiversidade cresce o número de estudos voltados para essa temática. Nesse contexto, o discurso
da conservação da biodiversidade é quase um “lugar comum”, e atenção especial tem sido dada a
um conjunto diferencial dos recursos conhecidos como produtos florestais não-madeireiros (ou não-
madeiráveis). Essa atenção se deve às características especiais desse conjunto de plantas, como a
alta rentabilidade por unidade de área, promoção do desenvolvimento local e a conservação
potencial da riqueza biológica (ver, por exemplo, Ticktin, 2004). Portanto, para alguns autores, a
utilização de PFNM é um dos “paradigmas atuais da conservação” (Ticktin, 2004), especialmente
porque a sua exploração se aproxima fortemente das propostas que se destacam na busca do
“desenvolvimento sustentável”. Todavia pretendemos, neste texto, relativizar a idéia que associa
automaticamente PFNM com conservação e sustentabilidade.
1
Texto submetido para a revista Functional Ecosystems and Communities em agosto de 2009. Entretanto, devido às
regras do Programa de Pós-Graduação em Botânica da Universidade Federal Rural de Pernambuco, ele segue as regras
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) através da NBR 6023:2002.
5
Os Conceitos
“Produtos Florestais Não-Madeireiros” (PFNM) é um termo altamente difundido
internacionalmente e usado, inicialmente, para designar um vasto leque de produtos florestais
diferenciados (Figura 1.1). Atualmente, os PFNM são definidos como os produtos vegetais
2
que
não a madeira e a lenha, oriundos de formações vegetais naturais ou manejadas. De certa forma,
pode se dizer que o conceito de PFNM foi cunhado para agrupar esse conjunto de recursos em
princípio pouco conhecidos ecologicamente e para valorizar os produtos ou serviços ambientais
oferecidos pelas formações florestais tropicais como alternativa à utilização da madeira e lenha
(Vantomme, 2001). Outros termos tamm são utilizados, contudo são menos claros, e aplicados
em situações muito variadas e ainda carregados de um juízo de valor, como: “produtos menores”,
“produtos especiais” e “produtos secundários da floresta” (Vantomme, 2001). Devido à sua alta
diversidade e
Figura 1.1 - Definição de alguns conceitos-chave nos estudos de Produtos Florestais Não-
Madeireiros.
2
A definição mais abrangente de PFNM também inclui os animais explorados em formações vegetais naturais ou
manejadas. Entretanto, como o presente texto foi construído dentro de um programa de Pós-Graduação em Botânica,
com o foco na Etnobotânica, apenas os vegetais serão considerados.
6
complexidade, para Neumman e Hirsh (2000), a definição de PFNM é “inexata e incômoda, uma
vez que é determinada não pelo o que são, mas pelo o que não são”. Walter (1998) afirma que a
definição utilizada depende da “pergunta” a ser respondida, entretanto, “independente do termo
utilizado, o seu escopo e a sua abrangência devem ser muito bem clarificados” (Vantomme 2001).
Os PFNM são caracterizados pela sua versatilidade econômica, variação de uso final, diferenças da
base de produtores e riqueza de recursos (Santos et al., 2003). São exemplos de PFNM: castanhas,
amêndoas, nozes, frutas, ervas, temperos, corantes, óleos, resinas, exsudados, fibras, cascas, plantas
aromá
s ambientais como PFNM, apesar de não serem reconhecidos por muitos estudos
(Walter, 1998).
ticas, medicinais e ornamentais.
Para Neumman e Hirsh (2000), além da idéia inerente de diversificação, os PFNM destacam-
se pelo pressuposto de que a formação florestal fonte dos recursos continuará estruturada, ainda que
mais ou menos ilesa. Portanto, existe junto ao conceito de PFNM a argumentação amplamente
difundida de que a sua utilização é mais fácil de ser manejada e menos impactante para as
comunidades vegetais (Ticktin, 2004). Contudo, Peters (1994) advoga que essa afirmação é
superficial e perigosa, não existindo relação fixa e direta entre a utilização dos PFNM e a
sustentabilidade dessa prática. Além desse conflito prático, existem alguns impasses conceituais nas
definições de PFNM. Alguns autores, por exemplo, não reconhecem as plantas exóticas como
produtos florestais não-madeireiros, entendendo que esses são elementos externos ao sistema, ou
seja, não compõem originalmente a formação florestal (Castellani, 2002). Villalobos e Ocampo
(1997) apontam como característica indissociável dos PFNM a sua coleta das populações silvestres
das formações florestais, excluindo os produtos oriundos de paisagens altamente modificadas, como
pastagens e plantações, sob a argumentação de que esses últimos já se enquadrariam nos processos
de domesticação. Dessa forma, essa idéia associa ao conceito de PFNM a noção de “wilderness
(ver Diegues, 2000), que a nosso ver é limitante, especialmente pela difícil diferenciação entre
ecossistemas ditos “naturais” e “manejados. Preferimos, em princípio, adotar a definição de
Vantomme (2001) pela sua maior capacidade de abarcar diferentes idéias sem perda de identidade:
qualquer material biológico (outros que não madeira propriamente dita para usos industriais e os
derivados da madeira serrada, como placas e painéis) que podem ser extraídas dos ecossistemas
naturais, plantações manejadas, sendo utilizadas para a subsistência, comercialização, que tenham
algum valor social, cultural ou religioso”, excluindo-se as atividades industriais. Considera-se
ainda os serviço
7
Importância dos Produtos Florestais Não-Madeireiros (PFNM)
Quase que a totalidade dos argumentos que enfatizam a importância da utilização dos PFNM
está relacionada ao discurso de desenvolvimento sustentável. Possivelmente isso seja resultado: da
estruturação de um novo paradigma (Kunh, 1995) nas ciências biológicas, da conservação da
biodiversidade; de uma nova compreensão dos efeitos das atividades humanas no ambiente; da
íntima
so. A importância de um recurso para uma comunidade, com ou sem
incen
relação entre a universidade e sociedade, e àquela e o capital privado (Wanderley, 1999;
Coelho, 2005). Nesse novo cenário de atuação das ciências biológicas, uma possível crise de perda
da biodiversidade é amplamente discutida, chegando às mais diferentes esferas (Layragues, 1998).
A argumentação principal é a de que os PFNM atendem perfeitamente a propostas que
integrem a conservação da riqueza biológica com o desenvolvimento local, especialmente nas
comunidades pobres. A premissa é de que as comunidades locais conservarão e protegerão as
florestas e seus serviços se receberem algum retorno econômico (Lawrence et al., 1995; Neumman
e Hirsh, 2000). Alguns autores acreditam que o imediatismo é uma das mais importantes razões da
devastação (Castellani, 2002) e o retorno econômico de uma exploração sustentável é a única
alternativa, ou melhor, o único incentivo capaz de despertar nas comunidades locais a necessidade
de conservação das formações florestais (Kremen et al., 1998; Ndangalasia et al., 2007). Outra
argumentação bastante presente é de que a rentabilidade das práticas de exploração dos PFNM por
unidade de área é maior, a um longo tempo, que a derrubada dessas áreas e a sua conversão em
pastagens ou áreas cultivadas (Neumman e Hirsh, 2000). Todavia, é preciso levar em consideração
que o uso de PFNM pode ser altamente insustentável, se prevalece uma coleta desordenada que não
respeite a ecologia do recur
tivos econômicos, não é uma garantia absoluta de proteção e/ou conservação de recursos
florestais. É preciso levar em consideração os sistemas de valores, conhecimentos e crenças locais
associadas a esses recursos.
A partir da alta taxa de desmatamento existente nos trópicos e da necessidade de soluções que
integrem a conservação com o desenvolvimento local, muitos conservacionistas apresentam as
Reservas Extrativistas (RESEX) (Pinedo-Vasquez et al., 1990) e os Programas de Conservação e
Desenvolvimentos Integrados (PCDI) (Kremen et al., 1998) como uma maneira de conciliar o uso e
a preservação das florestas. Contudo, Lawrence et al. (1995), avaliando a possibilidade de
instalação de Reservas Extrativistas a partir dos padrões locais de exploração dos PFNM,
concluíram que para a realidade estudada, uma comunidade rural da Indonésia, tais alternativas não
são viáveis. Esses autores encontraram que as áreas manejadas, fontes dos PFNM, permitem uma
maior quantidade de recursos coletados e, apesar de importantes para a subsistência local, os
recursos oriundos das formações primárias não são vendidos. Ou seja, o problema central é que as
florestas manejadas e as zonas de amortecimento são mais valiosas do que as florestas primárias.
8
Segundo Lawrence et al. (1995), Como o argumento da RESEX se pauta num incentivo econômico
para a preservação, não existe incentivo para a conservação das fisionomias primárias. Entretanto,
essa c
não apenas a conservação da
biodiversidade são necessários. Tais investigações podem contribuir na construção da autonomia de
onclusão não pode, em princípio, ser extrapolada para todas as realidades. Por fim, existe uma
alta pressão de conversão das florestas em zonas manejadas, evidenciando que nos trópicos a
relação entre comunidades locais e áreas protegidas é incerta (Lawrence et al., 1995).
Os estudos relacionados aos PFNM não se justificam apenas dentro de uma perspectiva
conservacionista (Figura 1.2). As plantas silvestres coletadas são fonte de recursos medicinais,
alimentícios, forrageiros, e mesmo incrementos econômicos, especialmente para as populações mais
pobres, ou seja, contribuem significativamente no sustento e autonomia de muitas populações locais
por todo o mundo (Godoy e Bawa, 1993; Santos et al., 2003). Segundo Ndangalasia et al. (2007) a
grande maioria dos produtos que sustentam as atividades diárias dessas comunidades são PFNM.
Nesse sentindo, entendendo que os PFNM apresentam diferentes papeis dentro de um grupo social,
estudos aprofundados sobre a importância dos PFNM que
comunidades locais, como exemplo autonomia alimentar e medicinal, sendo fundamentais para
delinear estratégias e políticas públicas de desenvolvimento local.
Figura 1.2 - Importâncias da exploração de Produtos Florestais Não-Madeireiros.
9
Entretanto, em algumas realidades, esse conhecimento, que garante certa autonomia ao grupo
social e contribui na construção de uma identidade cultural, está ameaçado na grande maioria dos
casos devido ao contato com a sociedade ocidental dominante (Diegues, 2002). Estomba et al.
(2006) documentam que o conhecimento tradicional dos Mapuche da Argentina, tão fortemente
enraizado nessa cultura, está ameaçado devido a complicações na transmissão às futuras gerações.
Soldati (2005), estudando uma comunidade rural da Zona da mata de Minas Gerais, Brasil,
registrou que a desestruturação de alguns valores tradicionais, no caso pressionados pela legislação
ambiental, compromete a transmissão do conhecimento para as futuras gerações. Nesse sentido, os
estudos sobre a utilização de PFNM pelas comunidades locais se justificam não apenas pelo
argum
a utilização de um PFNM), junto
com
ento de conservação da biodiversidade. Essas investigações são importantes, então, dentro de
uma perspectiva ética que reconheça o papel dos PFNM, respeitando e legitimando os meios de
subsistência dessas sociedades.
Em algumas realidades, os produtos florestais não-madeireiros exercem uma ação
fundamental em processos culturais mais específicos, como a construção de identidade,
fortalecimento da memória social, alimentação e práticas espirituais. Em tais situações, os PFNM
exercem papeis tão importantes na coesão e manutenção de certas sociedades por todo o mundo que
sua ausência modificaria fortemente as características do grupo e a sua “resiliência cultural”
(Garibaldi e Turner, 2004). Sem dúvida alguma, este é o caso da planta “jurema” (Mimosa
teuniflora (Willd.) Poir.) para alguns grupos indígenas do nordeste brasileiro. Por exemplo, os
Atikum-Umã, uma das sete etnias indígenas legalmente reconhecidas no estado de Pernambuco,
nordeste do Brasil, que têm alguns traços culturais altamente relacionados à utilização de plantas
locais, como a “jurema”. Segundo Grünewald (2004), essa planta é utilizada em rituais secretos, é
uma das características do auto-reconhecimento Atikum, ou seja, marca distintiva em relação à
sociedade dominante. A “jurema” é cantada em versos que reforçam a identidade grupal e ainda é
utilizada para explicar as diferenças fenotípicas existentes dentro do grupo, uma vez que são
reconhecidas três diferentes tipos: “jurema-preta”, “jurema-vermelha” e “jurema-branca”. Todas
essas características (que são essencialmente relacionadas com
o “toré”, uma dança sagrada, são tidos como sinais diacríticos para o estabelecimento da
etnicidade Atikum, que se tornou um instrumento político para garantir o acesso a um recurso
básico, a terra, propiciando a perpetuação desse grupo indígena.
A partir do entendimento dos diferentes papeis que os PFNM desempenham para os grupos
sociais e das práticas relacionadas à sua utilização, abrem-se inúmeras oportunidades de reflexão
sobre a nossa relação com os recursos naturais. Esse conhecimento tem o potencial de fomentar
reflexões como: quais os valores que regem a nossa relação com a natureza? Por fim, entendendo
10
que todo sistema de conhecimento é válido e não apenas o acadêmico (Albuquerque, 2005), as
investigações sobre os PFNM podem evidenciar outras formas de lidar com o mundo, inclusive com
culturas diferentes. Como salientam Estomba et al. (2006), a forma de uso dos recursos naturais está
intimamente integrada com a cultura do grupo e reflete as suas percepções e crenças. Nesse sentido,
estudar esse grupo peculiar de recursos permite elucidar processos muito específicos, como a
a melhor compreensão da construção
istórica de nossa própria sociedade, especialmente da sua relação com as plantas.
o avanço de planos de manejo, o delineamento de prioridades de
conse
nto, que a taxa de exploração seja menor que a taxa de regeneração do recurso, que
a prod
domesticação de plantas, o que contribui fortemente para um
h
Implicações ecológicas da utilização dos PFNM
Uma extração sustentável requer planejamento e monitoramento (Dzerefos e Witkowski,
2001). A carência de informações confiáveis das espécies tidas como recurso, como produtividade e
estado de conservação, complicam
rvação e a definição de taxas de exploração. Dessa forma, os estudos científicos podem
contribuir substancialmente na busca de alternativas sustentáveis (Dzerefos e Witkowski, 2001), em
especial no caso dos PFNM.
Como extração sustentável entende-se: “nos termos ecológicos, a extração é considerada
sustentável se não implica em nenhum efeito deletério a longo tempo na reprodução e regeneração
da população alvo da exploração quando comparada com uma população equivalente não
explorada. Além disso, uma exploração sustentável não deve apresentar efeitos adversos nas outras
espécies da comunidade ou na estrutura e funcionamento do ecossistema” (Hall e Bawa, 1993). É
necessário, porta
ução de resíduos de qualquer natureza, seja compatível com a capacidade de assimilação do
sistema. É necessário, portanto, a construção de metodologias que consigam avaliar de forma segura
tais processos.
Avaliações rigorosas sobre a sustentabilidade de uma prática extrativista dependem da
composição florística da comunidade (Peters, 1994), do conhecimento das características ecológicas
do recurso, como história de vida, taxa de reprodução, recrutamento, crescimento, densidade e
produção (Lawrence et al., 1995), além de características externas, como risco de utilização,
natureza e intensidade da coleta (Peters, 1994; Dzerefos e Witkowski, 2001). Gaoue e Ticktin
(2007) afirmam que outras características, como o uso múltiplo das espécies e as variações
espaciais e temporais, podem influenciar os padrões de coleta e seus impactos. Isso é importante,
especialmente em contextos onde distúrbios antrópicos ou naturais, como fogo e plantações de
árvores, estão presentes. Por exemplo, os PFNM da Caatinga (Nordeste do Brasil) são muito
valiosos, do ponto de vista cultural e econômico, para as comunidades que habitam essas regiões
11
(Araújo et al., 2007). Já se tem notado que os PFNM na região são de uso múltiplo, incorporando
um diversificado leque de opções extrativistas (madeireiras ou não) e eventos de coleta (ver Lucena
et al., 2007a,b; 2008; Albuquerque & Oliveira, 2007). Assim, como argumentam Gaoue e Ticktin
(2007), é preciso compreender ao máximo os padrões locais de coleta, e quais as variáveis que
influenciam o comportamento de extração (ou forrageio em termos ecológicos). Oliveira et al.
(2007) salientam que as plantas medicinais exploradas por uma comunidade rural no agreste de
Pernambuco são também utilizadas para outras finalidades, ou seja, apresentam usos múltiplos. O
uso m
es; 4) alta mortalidade e baixo recrutamento nas fases iniciais do ciclo
de vid
populações indígenas da Amazônia Brasileira, Albert (2000) defende
que as formas de obtenção de recursos dependem “do leque de opções sócio-políticas oferecidas
’ (nas suas vertentes regionais,
acionais e internacionais)”.
Meto
últiplo das espécies é amplamente difundido, sendo que uma abordagem limitada poderia
descaracterizar a totalidade dos impactos, visto que esses podem ser muito maiores pela
combinação dos eventos de extração (Gaoue e Ticktin, 2007).
Contudo, algumas características inerentes às comunidades vegetais, podem dificultar a
avaliação e o estabelecimento de uma extração de PFNM sustentável: 1) alta diversidade e baixa
densidade populacional; 2) irregularidade nos eventos de floração e frutificação; 3) alta dependência
dos polinizadores e dispersor
a; 5) sensibilidade populacional a mudanças e distúrbios naturais (Peters, 1994). O fato é que
poucos estudos combinam todas as informações necessárias para uma avaliação segura do uso
sustentável de tais recursos.
As metodologias de avaliação das práticas e proposição de alternativas de manejo devem se
aproximar ao máximo da realidade local, na qual a exploração se dá. É preciso que a abordagem
não desconsidere as diferentes dimensões da extração, inclusive os efeitos do mercado econômico.
A proximidade com o mercado, ou seja, ausência de gargalos em toda a cadeia produtiva, são
interpretadas como um fator que aumenta a extração dos recursos, potencializando os danos nas
populações e sistemas naturais (Clement, 2006). Uniyal et al. (2002) afirmam que a reestruturação
do mercado de plantas medicinais na Índia gerou uma pressão extra nas florestas, onde 90% das
plantas utilizadas na indústria medicinal são extraídas das populações silvestres. Situação
semelhante foi documentada por Dzerefos e Witkowski (2001) na África do Sul, em que a alta
demanda de plantas medicinais por parte do mercado local e regional desestruturou as práticas
tradicionais de exploração, as quais se baseiam num maior conhecimento da ecologia dos recursos.
Nesse sentido, analisando as
para a sua articulação com a chamada ‘sociedade envolvente
n
dologias empregadas nos estudos de extração dos PFNM
12
Avaliações diretas
Peters (1994) argumenta de que o impacto da extração depende do tipo de planta ou tecido
que é explorado e apresenta uma classificação com base nas características ecológicas dos recursos.
1) frutos e sementes; 2) exsudados (gomas, látex e resinas); e, 3) estruturas vegetativas (e.g. caules,
folhas, bulbos e casca). Todavia, isso precisa também estar associado a uma categorização do uso
dos recursos. Santos et al. (2003) compilaram diferentes sistemas de categorização dos PFNM, a
grande maioria organizada dentro de uma perspectiva utilitarista, e argumentaram que a seleção
daquele que melhor se adéqua à realidade a ser investigada é o início de uma boa coleta de dados.
Desta
ser extrapolada para toda a área, ao menos que toda a área corresponda ao
habita
o o
monit
cam-se nesses diferentes sistemas as seguintes categorias: alimentícios, medicinais,
ornamentais, químicos (resinas e óleos), forragem, combustível e estruturais (fibras e bambus).
Algumas classificações incorporam os serviços oferecidos pelas formações florestais, como
regulação climática, conservação da água, proteção do solo e recreação.
Segundo Hall e Bawa (1993) a avaliação da distribuição espacial, abundância e estrutura
populacional do recurso permite identificar os habitats preferidos para uma dada espécie e ainda
verificar as classes diamétricas que estão pouco representadas, sugerindo que esses estágios de vida
ou respondem diferentemente em cada habitat ou sofrem distintas intensidades de extração.Os
autores defendem que, caso o recurso apresente distribuição restrita, qualquer estimativa (biomassa,
densidade etc.), não pode
t específico. Nesses casos, maiores esforços amostrais garantiriam uma melhor estimativa dos
atributos populacionais. O monitoramento cumpre ser uma atividade indispensável, pois o que se
registra hoje em uma população pode ser fruto de diferentes fatores que não os ligados diretamente
aos processos extrativos.
Uma das ferramentas mais importantes e utilizadas nos estudos relacionados à extração é a
avaliação da estrutura populacional do recurso, ou seja, a distribuição dos indivíduos de uma
população em classes etárias ou fases do ciclo de vida. A exploração de qualquer tipo de PFNM
pode produzir alguma resposta mensurável na estrutura e dinâmica populacionais das espécies
coletadas. Todavia, isso vai depender fortemente das estratégias locais de uso, da parte da planta
explorada, bem como a freqüência ou intensidade dos eventos de extração. Segundo Peters (1994),
a distribuição diamétrica pode substituir alguns procedimentos demorados e custosos, com
oramento no campo por longos períodos, quando se tem o objetivo de avaliar a
sustentabilidade populacional. A distribuição em classes diamétricas provê informações como, por
exemplo, a taxa de recrutamento, ou seja, quantos indivíduos estão sendo incorporados na
população. Quanto maior foi essa taxa maior será a probabilidade da população se perpetuar.
13
A figura 1.3 apresenta quatro distribuições diamétricas idealizadas, construídas a partir de
apenas três fases: plântulas, indivíduos jovens e adultos reprodutivos. De acordo com Hall e Bawa
(1993), a distribuição 2 caracteriza uma população na qual todas as classes estão representadas e a
distribuição decresce exponencialmente, refletindo a existência de mais jovens que adultos. Essa
distribuição, também conhecida como “J-Invertido”, é comumente encontrada em populações
naturais estáveis e capazes de auto-regeneração. A distribuição 4 evidencia a ausência de adultos na
população e consequen ento ocorrer é
undo Peters (1994) a linha
4 representa populações viáveis, nas
apresentam quase o m itada.
temente poucas plântulas. Se algum evento de recrutam
possível que essa população se desenvolva e resulte na distribuição 3. Seg
quais os eventos de recrutamento são esporádicos e irregulares,
gerando picos de densidade. A distribuição 1 reflete uma população na qual os indivíduos
esmo tamanho e que por algum motivo têm a sua regeneração lim
Classes Diamétricas
Número de Indivíduos (N)
plântulas jovens adultos
1
2
3
4
ero de Indivíduos (N)Núm
plântulas jovens adultos
Classes Diamétricas
1
2
3
4
as populações apresentam padrões temporais e espaciais específicos, Hall e Bawa
(1993
ece o histórico
da reg
Figura 1.3- Exemplos hipotéticos de quatro distribuições diamétricas, modificado de Hall e Bawa
(1993).
Como
), na tentativa de reduzir as extrapolações equivocadas oriundas das avaliações populacionais,
afirmam que apenas a comparação direta entre populações exploradas e não-exploradas provê
informações robustas sobre os impactos da extração. Entretanto, nem sempre essa comparação é
possível, especialmente em paisagens altamente modificadas ou quando não se conh
ião.
Após a coleta de dados, a estrutura diamétrica da população pode ser ajustada ao modelo do
“J-Invertido” (exponencial negativo) pela equação (LnY = b
0
+ b
1
X) a fim de saber se a população é
14
viável, ou seja, se a extração é sustentável. Essa mesma regressão pode definir taxas de coleta ou
ara estudos de PFNM,
a de construção de manejo dentro de sustentável, passível de
utilização para diferentes realidade
tabela 1.1.
T logia propos
extração de PFNM em diferentes re
Etapa
manejo específicos nas diferentes classes diamétricas (Borges Filho e Felfili, 2003).
Peters (1994), na tentativa de construir um guia metodológico p
apresenta um forma uma perspectiva
s. Os seis passos sugeridos por Peters (1994) são apresentados na
abela 1.1 – Metodo ta para o monitoramento e manejo sobre bases sustentáveis da
alidades, modificado de Peters (1994).
Caracterização
1
Seleção de espécies
de uma extração sustentável. São importantes fatores
Baseado em caracteres essencialmente sociais e econômicos, não
sendo descartadas considerações ecológicas relacionadas à
possibilidade
ecológicos a serem observados: fenologia, processo de polinização
e dispersão, tipo de recurso oferecido, sua abundância e
distribuição diamétrica.
2
Inventário florestal
idade
3
produção do
recurso fases do ciclo de vida. A maneira mais viável de se
4
Estudo de regeneração da
e cie
tuação da densidade inicial de
plântulas e jovens nas populações exploradas. Esses dados são
cruzados com as informações da estrutura populacional a fim de
Dada a importância da distribuição diamétrica se faz necessário um
inventário florestal que permitirá acessar também a disponibil
do recurso oferecido para a exploração.
Estimativa da produção do recurso em diferentes classes de
tamanho ou
Estudos de
estimar a produção é treinar alguns coletores locais para medir,
pesar e contar a quantidade de recurso oferecida em diferentes
situações.
Baseia-se na análise periódica da flu
spé
prover um cenário mais completo. A realização desse passo em
intervalos de cinco anos é ideal para a maioria das espécies.
5
Avaliação da taxa de
exploração
São avaliações visuais das respostas oferecidas pelos indivíduos
explorados, como problemas na produção, regeneração, defesa ou
crescimento
6
Ajuste da extração à realidade
do recurso
As informações anteriores sustentam o ajuste ideal da extração.
Possibilidades são a regulação do número ou tamanho dos
indivíduos passiveis de serem explorados e o manejo ativo com
enriquecimento ou beneficiamento.
Esse modelo metodológico construído por Peters (1994) incorpora um passo fundamental nos
estudos de sustentabilidade na utilização de PFNM, a avaliação da taxa de exploração do recurso
(passo 5). Uma metodologia bastante útil para a avaliação na extração de cascas do caule de plantas
medicinais, por exemplo, é encontrada em Cunningham (1993). O autor apresenta sete categorias de
extração baseadas na porcentagem de casca removida até a altura de 2 metros. Quanto maior a
quantidade de casca retirada, maior será a pontuação recebida seguindo a seguinte lógica: 0, quando
não há dano; 1, mais de 10% de casca removida; 2, entre 10 e 25%; 3, 26 a 50%; 4, 51 a 75%; 5,
anelamento; e, 6, toda a casca retirada. Essa metodologia permite estimar, portanto, a quantidade de
casca extraída, sendo bastante útil para o teste de hipóteses relacionadas aos padrões de uso e
15
extração dos recursos naturais por diferentes grupos sociais, como: o nível de extração (medida
indireta da quantidade coletada) depende do diâmetro ao nível do solo (DNS), ou o nível de
extração é influenciado pela disponibilidade ambiental do recurso.
Uma das metodologias mais utilizadas para estimar os impactos da extração a longo tempo
são os modelos de população, especialmente os de “Matriz Populacional” (Boot e Gullison, 1995).
Os parâmetros básicos para a construção desses modelos são a abundância inicial, probabilidade de
recrutamento e as taxas de natalidade, mortalidade e fecundidade. Esses têm a vantagem de
possibilitar a modelagem da extração considerando diferentes variáveis e pautando diferentes
situações, como: dependência da densidade, práticas de extração e sistemas de manejo. Segundo
Freckleton et al. (2003) a maioria dos modelos utilizados nas abordagens relacionadas aos PFNM
assumem que: 1) os parâmetros populacionais não variam no tempo nem com a densidade; 2) o
efeito
per capita diminui a medida que a população cresce,
Gotelli, 2007). Nessa população a
ento entre a fases 1 para fase 2 do ciclo de vida (P
1-2
) foi mensurada
nos indivíduos são independentes do seu passado; e, 3) as variáveis são passíveis de
mensuração em um momento temporal discreto. Contudo, essas assunções podem fugir da realidade
das dinâmicas populacionais, oferecendo previsões equivocadas, posto que a dinâmica de uma
população pode ser influenciada por algumas variáveis que vão de encontro aos pressupostos dos
modelos ou que não são consideradas, como: dependência da densidade, competição, atrasos
temporais, variações espaciais etc. (Gotelli, 2007).
Freckleton et al. (2003) fizeram um estudo populacional de Euterpe edulis Mart. e avaliaram a
importância de se considerar nos modelos populacionais variáveis pouco computadas, como a
dependência da densidade e o tempo de mensuração dos parâmetros populacionais (Figura 1.4). A
figura 1.4a representa uma população hipotética com dinâmica dependente da densidade, ou seja,
uma população na qual a taxa de natalidade
sobretudo pela competição intra-específica (Ricklefs, 2003;
probabilidade de recrutam
quando a população estava em equilíbrio (tempo t
é estático (não dependente da densidade) pode
autor, em um modelo apropriado (figura 1.4b), que
1
). Um modelo que assuma erroneamente que P
1-2
produzir resultados equivocados. Segundo o mesmo
considere a dependência da densidade, pequenas
16
Figura 1.4 – Modelos populacionais construídos para uma espécie dependente da densidade,
Euterpe edulis Mart. A) Crescimento populacional (linha inteira) e logaritmo da probabilidade de
recrutamento da primeira fase do ciclo de vida para a segunda fase (linha tracejada) em relação ao
tempo. O tempo 1 (t
1
) representa o momento que a população torna-se estável. B) Projeção da taxa
ento populacional quando se admite a dependência da densidade (linha inteira) e quando
sidade não é considerada (linha tracejada). Modificado de Freckleton et al.
Avali
de crescim
a dependência da den
(2003).
taxas de extração (representada no gráfico pela proporção de adultos que sobrevivem à extração)
poderão ser insustentáveis. No modelo dependente (figura 1.4b, linha inteira) a população suporta
maiores taxas de exploração e só entrará em declínio (taxa de crescimento menor que 1) quando a
sobrevivência de adultos foi menor que 0,2. Apesar de Freckleton et al. (2003) avaliarem apenas
uma espécie, Euterpe edulis Mart., eles advogam que considerar a dependência da densidade é
essencial para se tomar medidas mais reais, especialmente no que tange à cotas de exploração
sustentáveis. Por fim, esses autores especulam que muitos modelos já criados não podem ser
utilizados para inferir o comportamento populacional sobre o regime de extração, posto que a sua
grande maioria reportam valores da taxa de crescimento próximos de 1,0 e por não considerarem a
dependência da densidade.
ações indiretas
Uma abordagem alternativa para acessar a extração e/ou pressão de uso sobre recursos
florestais adotada em alguns trabalhos (Lawrence et al., 1995; Kremen et al.,1998; Dzerefos e
Witkowski, 2001) são as entrevistas com os próprios coletores ou com integrantes da comunidade
que interage diretamente com os recursos. A premissa básica dessa abordagem é a existência de
uma relação direta entre a distribuição do conhecimento da espécie numa comunidade (consenso
dos informantes) e/ ou riqueza de usos que lhes são atribuídos com a sua pressão de uso e o
estabelecimento de prioridades de conservação. Essa perspectiva necessita ser fortemente
17
relativizada, pois nem sempre o que as pessoas citam é de fato explorado (Albuquerque et al., 2006;
Ramos et al., 2008a,b). Além disso, no conjunto de espécies que são exploradas localmente para a
mesm
o indicativo de pressão de uso; entretanto, essa relação não deve
ser ex
ferenciados no
a finalidade, pode existir um subconjunto de espécies preferidas que inevitavelmente podem
concentrar mais eventos de coleta (Albuquerque e Oliveira, 2007).
Prance et al. (1987), dentro de uma perspectiva quantitativa, afirmam que a proporção de
espécies úteis em uma localidade pode ser utilizada como indicativo de quais plantas devem receber
maior prioridade de conservação, sendo as espécies mais preferidas foco dessas atenções.
Entretanto, Lawrence et al. (1995) contrapõem essa metodologia, discutindo que é limitante utilizar
apenas o número de espécies potencialmente úteis em uma localidade como indicador de
prioridades de conservação, dado que a abundância e a distribuição das espécies, variáveis que
devem ser consideradas, podem variar enormemente de um local para outro. É preciso, então,
incluir medidas quantitativas da disponibilidade de cada recurso (Peters, 1994). O cruzamento da
porcentagem de espécies úteis com a sua disponibilidade e distribuição permite comparar o
potencial de extração de diferentes áreas, evidenciando ainda a importância das abordagens
quantitativas na descrição de práticas extrativistas (Lawrence et al., 1995).
A metodologia de identificação de prioridades de conservação apresentada por Prance et al.
(1987) se baseia na existência de uma relação direta entre a “importância local” de uma espécie
vegetal e a pressão de uso que essa está submetida. Outras propostas se sustentam nessa mesma
lógica diferindo apenas na forma de determinar a importância local (Kremen et al., 1998). Contudo,
algumas reflexões devem ser feitas sobre essa premissa. Primeiro, poucos estudos testaram e
evidenciaram uma relação direta entre a “importância local” de um recurso e a sua pressão de uso
(ver Albuquerque e Lucena, 2005). Oliveira et al. (2007), investigando uma comunidade rural do
agreste pernambucano, encontraram uma relação positiva entre os sinais de extração de uma planta
e o número de citação nas entrevistas que esse recurso recebeu (uma das medidas utilizadas para
calcular a “importância relativa”). Nesse caso, o quanto uma espécie é conhecida por uma
comunidade pode ser utilizado com
trapolada para outras realidades, dado as especificidades culturais e ecológicas de cada região.
Segundo, na tentativa de elucidar duas técnicas quantitativas utilizadas para determinar a
“importância relativa” de plantas, Albuquerque et al. (2006) apresentam algumas conclusões que
evidenciam que essas duas técnicas não distinguem o conhecimento de um grupo social sobre um
recurso do seu uso atual. As técnicas analisadas e que são amplamente empregadas relacionam-se
com a utilidade potencial de uma planta, ou seja, o “conhecimento local” relacionado a um recurso,
e não com a sua utilização propriamente dita, portanto não devem ser utilizadas como medidas de
pressão de uso (Albuquerque et al., 2006). Albuquerque (2006) aprofunda essa discussão da
“discrepância” entre o saber e o uso, evidenciando que existem níveis di
18
conhe
recursos altame ente apresentam uma alta importância local (como
normalmente é m desconsiderados e não receberiam uma atenção
privilegiada, mesm tinção dada a sua raridade ambiental.
Seguindo a tendência de conciliar muitas variáveis nas tomadas de decisão sobre o manejo e a
conservação da biodiversidade, como a realidade loca
cos), Oliveira et al. (2007), adaptando um
índice de Dzerefos e Witkowski (2001), propõem uma metodologia para a identificação das plantas
omponente biológico, chamado de “Escore Biológico”
B), definido pela Densidade Relativa do recurso (medida de sua disponibilidade no ambiente); e
2) um comp ente c (RU), que agrega a mpacto
potencial a cole e diversidade de usos. A fórm proposta está
abaixo apresentada, e as pontuações de cada variável estão apresentadas na tabela 1.2:
cimento de um recurso. Segundo esse autor, “existe uma diversidade de plantas conhecidas
como úteis em uma dada cultura, incluindo aquelas que não são utilizadas frequentemente”, e um
outro conjunto de plantas que saem desse campo “teórico” e passa a compor “uma dimensão
prática”, sendo de fato utilizadas.
O delineamento de um grupo de com prioridade de conservação a partir da “importância
local”, calculada apenas pelo potencial de utilização (consenso do informante) e riqueza de usos
atribuídos, pode cair num equívoco ecológico. As espécies apresentam distribuição e abundância
diferenciadas numa comunidade vegetal. Nesse sentido, alguns recursos podem ser raros por
apresentarem alta especificidade de habitat ou uma população com baixa densidade, tendo,
portanto, forte possibilidade de extinção local (Uniyal et al., 2002; Kala, 2005). Contudo, esses
nte susceptíveis não necessariam
edida). Nesse caso, seriam
o correndo alto risco de ex
l (aspectos culturais) e as peculiaridades de
cada região e espécies alvo da extração (aspectos ecológi
localmente prioritárias para a conservação (PC). O índice, proposto inicialmente para plantas
medicinais, traz em seu cálculo: 1) um c
(E
on ultural, o “Risco de Utilização” spectos como i
d ta, importância local do recurso ula
(
)
(
)
RUEBPC
×
+×= 5,05,0
, onde:
10×= DEB
;
()
(
)
UHRU
×
+
×
=
5,05,0
; e U é dado pela a seleção do maior valor
entre a im ortânc
Tabela 1.2 - Va lar as prioridades de conservação e suas possíveis
pontuações segun
Pontu ões
p ia local (L) e a diversidade de uso (V).
riáveis utilizadas para calcu
do Oliveira et al. (2007).
Critérios
(D) A. Densidade relativa na área
Baixa (1< 3,5). 7
Não registrada – muito baixa (0-1). 10
19
Média (3,5 < 7). 4
Alta ( 7). 1
B. Risco de coleta (H)
Coleta destrutiva da planta, ou sobre-exploração das raízes ou
cascas. A coleta representa a remoção do indivíduo.
10
Coleta de estruturas perenes tais como casca e raízes, e de
parte do caule para a extração de látex, sem causar a morte
do indivíduo. 7
Coleta de estruturas aéreas permanentes tais como folhas, o
que pode afetar o investimento energético das plantas,
sobrevivência e sucesso reprodutivo em longo prazo.
4
Coleta de estruturas aéreas transitórias como flores e frutos. A
regeneração da população pode ser alterada em longo prazo
por coletas do banco de sementes, mas o indivíduo não é
afetado. 1
U
C. Importância local (L)
10
Alto (listada por >20% dos colaboradores locais).
Moderadamente alto (10 20% dos colaboradores locais). 7
Moderadamente baixo (<10%
D. Diversidade de uso (
dos colaboradores locais). 4
V)
Para cada uso é somado um ponto 1-
Entretanto, o índice proposto apresenta algumas limitações, pois pode valorizar
consideravelmente o Escore Biológico (densidade das espécies) em detrimento do Risco de
Utilização. Ou seja, a lista final de prioridades de conservação pode privilegiar espécies com baixa
densidade, deixando espécies culturalmente importantes e altamente demandadas em posições de
menor destaque. Portanto, para melhor se adequar a realidade local, em algumas situações esse
odificado, reduzindo, se for o caso, o peso da densidade do recurso no cálculo das
tem uma métrica diferentes de todas as outras. Enquanto a densidade relativa na área (D),
sco de coleta (H) e importância local (L) variam entre 1 e 10, a diversidade de uso não tem um
lim e s de
conservação por ter muitos us
uaçõ pla , a saber:
1) conserv is do
cotas pré-determinadas: valores entre 60 e 84; 3) sem prioridades: valores menores que 59
(D 001 sentam sificação
dos recursos de acordo com o seu estado de conservação, ent lização de um
índ Os ecológicos e pressão de uso para
en la
Ta s de o e sug tões de ação segundo Uniyal et al.
(20
índice deve ser m
prioridades. Outra limitação dessa metodologia é que uma das variáveis utilizadas, diversidade de
uso (U),
ri
ite de pontuação. Dessa forma, espé ser se d
os atribuídos.
cies podem stacar n dadeo cálculo das priori
O cálculo das pont
alta prioridade de
es permite a classificação das
ação: valores maiores ou igua
ntas em categorias de risco
a 85; 2) coleta específica seguin
zerefos e Witkowski 2 ). Uniyal et al. (2002) apre uma outra proposta de clas
retanto não existe a uti
ice propriamente dito.
quadrar as plantas (Tabe
autores se baseiam em caracter
1.3).
es
bela 1. 3 – Categoria
02).
Conservação, sua descriçã es
20
Categoria Descrição Sugestões de ação
Distribuição Restrita e
Muito Pressionada
(DRMP)
Populações representativas nos
seus habitats específicos, mas
sofrem alta pressão de exploração
Áreas de conservação específicas
devem ser instaladas e qualquer
exploração desses locais banida
Distribuição Restrita e
Pouco Pressionada
(DRPP)
Distribuição restrita, mas pouco
demandadas pelas comunidades
locais
Esquemas de utilização com
rotação temporal e espacial devem
ser delineados pelas próprias
comunidades locais
Localização Restrita e
Baixa Pressão (LRBP)
Espécies encontradas em um ou
dois locais, mas com a sua
extração bastante limitada
Estudos mais específicos devem ser
executados para uma melhor
compreensão da sua distribuição e
estado de conservação
Distribuição Restrita em
Locais Altamente
Perturbados e
Distribuição restrita, intensamente
exploradas e localiza
perturbadas, como p
-
Pressionados (DRLAPP)
das em áreas
astagens
Distribuição Ampla e Muito Amplamente distribuída e
rada
-
Pressão (SCBP)
o
cultivadas e que sofrem baixa
-
Pressionada (DAMP) intensamente explo
Sobre Cultivo e Baixa Espécies que estão send
pressão de uso
Por fim, qualquer metodologia deve estar sujeita a um monitoramento contínuo do seu
sucesso. Kremen et al. (1998) afirmam que não existem metodologias de monitoramento
apropriadas e propõem a utilização de algumas plantas selecionadas a partir de características
biológicas e culturais como indicadores de sucesso das práticas conservacionistas adotadas. A
argumentação é de que tais plantas fornecem informações ecológicas (dado que a utilização humana
tem impactos consideráveis nas populações silvestres) e sociais (visto que esses recursos
contribuem
efeito
o a
alteração nas taxas de recrutamento, sobrevivência, crescimento e reprodução dos indivíduos. Essas
consideravelmente para renda local) quando utilizadas como indicadores em propostas
que integrem o desenvolvimento local com a conservação, como é o caso dos PCDI (Planos de
Conservação e Desenvolvimentos Integrados).
Impactos ecológicos da extração dos PFNM
Como qualquer processo nos sistemas biológicos, a extração de PFNM também provoca
s ecológicos. De acordo com Ndangalasia et al. (2007), embora a utilização das partes
extraídas se diferenciem entre os recursos, a sua exploração acarreta alguns impactos, os quais
podem ser positivos ou negativos para cada espécie. Os impactos dependem das características no
nível de abordagem (espécie, população, comunidade, ecossistema, paisagem), como resiliência,
elasticidade, taxa de reprodução, mortalidade, vitalidade, forma de vida, tipo de crescimento etc.
Adicionalmente, os impactos da exploração estão intimamente relacionados com fatores externos,
como taxa de exploração, freqüência, período de coleta.
Gaoue e Ticktin (2007) afirmam que as primeiras conseqüências diretas na exploração sã
21
alteraç
icaram
que a
ciam a estrutura das comunidades, como
por ex
elmente entre diferentes locais da paisagem, chegando a ser quase cinco
ões consequentemente afetam a estrutura e a dinâmica populacional (Ticktin, 2004). A
capacidade de reconhecer, acessar e até modelar os impactos da extração depende do entendimento
da dinâmica de funcionamento das diferentes esferas de organização da biodiversidade, dos genes
ao ecossistemas, visto que a extração potencialmente afeta todas esses níveis (Hall e Bawa, 1993).
A extração das partes vegetativas produz dois possíveis impactos no nível do indivíduo: a sua
morte ou a regeneração do órgão que foi explorado (Peters, 1994), necessitando para essa última
situação uma realocação de energia que poderia ser investida em reprodução, como no caso da
utilização de cascas do caule. Devido à realocação de energia, uma das possíveis respostas
individuais à extração da casca é a redução na taxa de crescimento ou na produção de frutos e
sementes, o que influencia a taxa de crescimento e recrutamento populacional (Hall e Bawa, 1993).
Os impactos para o indivíduo dependem da parte que é explorada, mais especificamente de sua
quantidade de nutrientes, capacidade fotossintética e potencial de regeneração (Ticktin, 2004).
Um dos recursos mais importantes, amplamente utilizados, são as estruturas perenes, como
cascas e raízes, especialmente em ambientes semi-áridos (ver Albuquerque, 2006; Estomba et al.,
2006; Oliveira et al., 2007). Purohit et al. (2001) avaliaram o impacto da extração de cascas do
caule em Taxus baccata L., uma árvore tradicionalmente utilizada como chá na Índia, e verif
profundidade na coleta e a área total extraída influenciam a taxa de sobrevivência e
crescimento da espécie. O estudo permitiu verificar que a retirada da casca por toda a circunferência
do caule (anelamento) leva à morte do indivíduo (Gaoue e Ticktin, 2007). Finalmente, Purohit et al.
(2001) apontam uma profundidade de coleta ideal, na qual os efeitos das práticas de extração são
mínimos. Em princípio, as plantas herbáceas tendem a suportar maiores taxas de extração dada a
maior taxa de reprodução e crescimento (Ticktin, 2004). Baseado na maior produtividade dos
trópicos, Ghimire et al. (2005) hipotetizaram que as plantas dessas regiões têm maiores potenciais
de extração, contudo essa hipótese ainda não foi testada. Além disso, é preciso considerar como as
espécies se regeneram nos diferentes ecossistemas tropicais. Peters (1994) afirma que a extração,
especialmente de frutos, reduz a disponibilidade de alimento, alterando a composição de toda a
fauna existente. As interações do tipo planta-planta influen
emplo, reduzindo a capacidade competitiva da espécie explorada.
A grande maioria dos estudos focam os impactos no nível de população, provavelmente pela
facilidade de se estudar apenas uma espécie e pela exisncia de teorias e ferramentas mais robustas
relacionadas ao estudo das populações, frente ao entendimento das comunidades e ecossistemas
(Hall e Bawa, 1993). Adicionalmente, o próprio conceito de sustentabilidade foca em princípio as
populações, as quais devem suportar toda a prática de extração (Ticktin, 2004). Ndangalasia et al.
(2007) documentaram que a densidade de oito espécies exploradas como PFNM na Tanzânia, leste
Africano, varia considerav
22
vezes maior em áreas não alteradas em comparação com áreas exploradas. Diferenças significantes
ram encontradas para a distribuição diamétrica e composição da comunidade, mesmo em áreas
onde
réscimos significantes na densidade de plântulas e indivíduos jovens (Gaoue e
Tickt
Aspe
kleton et al. (2003) compararam o impacto para a população do “palmito” (Euterpe edulis
Mart.
amílias
mais
estudados são consideravelmente mais densos nas fisionomias manejadas, localizadas próximas à
fo
a prática é proibida. Os autores justificam essas diferenças pela sobre-exploração, pela forma
de extração e pela distribuição restrita de alguns recursos.
No Benin, África, a intensa extração de casca e folha de Khaya senegalensis (Desr.) A. Juss.
acarreta em dec
in, 2007). Contudo, algumas variações na densidade do recurso explorado não estavam
relacionadas às práticas extrativistas, mas sim a diferentes distúrbios. Para essa realidade, o tipo de
solo, presença de parasitas, tipo de habitat e distúrbios antrópicos são significantemente mais
influentes na densidade da espécie explorada do que a própria atividade de extração. Gaoue e
Ticktin (2007) também verificaram que a intensidade da extração determina a estrutura
populacional do recurso.
ctos culturais e sociais relacionados com a utilização dos PFNM
Os impactos da extração de PFNM são altamente dependentes dos padrões locais de coleta
dos recursos (Ticktin et al., 2002). A compreensão desses padrões, das variáveis relacionadas e
como essas se comportam é importante para desenvolver planos de manejo e conservação (Gaoue e
Ticktin, 2007).
Frec
) associado a diferentes formas de extração, em cinco populações remanescentes no estado de
São Paulo, Brasil: 1) extração antes e depois do período reprodutivo; e 2) extração com uma taxa
constate de plantas (independente da densidade populacional) versus extração até um limite, sempre
constante. Eles verificaram que tanto o momento no ciclo, como fase adulta ou juvenil do ciclo de
vida como a maneira de explorar alteram a resposta populacional.
Em um estudo de caso referente à extração de casca Taxus baccata L., por comunidades
tradicionais da Índia, Purohit et al. (2001) verificaram que o número de pessoas em uma família
influencia a quantidade explorada, sendo maior nas famílias maiores. Os mesmos autores
analisaram a influência do poder aquisitivo nos padrões de coleta e constataram que as f
pobres dependem da coleta por todo o ano, o que não ocorre nas famílias tidas como ricas.
Entretanto, a forma de extração é a mesma para os diferentes tamanhos e poderes aquisitivos das
famílias.
Lawrence et al. (1995) objetivaram estudar como a densidade e abundância de diferentes
PFNM existentes em formações florestais primárias e manejadas na Indonésia influenciam os
padrões locais de coleta desses recursos. Em síntese, os autores apresentam que os três PFNM
23
comunidade, do que seus análogos existentes nas áreas primárias. Como resultado, os coletores
locais extraem muitos mais os recursos existentes nas áreas modificadas. Os autores concluem que
o tem
nte perigosa,
exigin
o padrão de
distrib
, 2002; Ghimire et al., 2005; Kala, 2005; Lucena et al.,
2007b)
po de busca e de deslocamento, a melhor qualidade e a maior disponibilidade dos recursos,
além da dificuldade de transporte das coletas oriundas das localidades mais distantes (regiões
primárias), são as variáveis que determinam a coleta preferencial dos produtos manejados.
Os Fulani, grupo indígena do Sudão que extraem tradicionalmente a casca de Khaya
senegalensis (Ders.) A. Juss., preferem coletar das árvores de tamanho médio e grande, ou seja,
existe um padrão relacionado com o tamanho do recurso (Gaoue e Ticktin, 2007). Outro padrão
local identificado está relacionado com a extração das folhas, outro recurso explorado. A maioria
dos indivíduos ou não sofrem nenhuma exploração ou são totalmente desfolhados. Segundo os
autores a escalada do tronco para a exploração das folhas é uma atividade altame
do muita experiência, sendo que os Fulani extraem o máximo de cada árvore, maximizando,
dessa forma, o montante coletado (Gaoue e Ticktin, 2007).
Estudando uma comunidade rural no agreste pernambucano, Oliveira et al. (2007) concluíram
que a extração de plantas medicinais existentes em um fragmento florestal é influenciada pela sua
abundância total (medida de disponibilidade) e pelo número de citações das espécies conhecidas,
não havendo relação, no entanto, com o número de informantes que citam uma planta e
uição da espécie. Esses resultados sugerem que para a realidade estudada: 1) a
disponibilidade do recurso influencia na coleta; 2) a pressão de uso não depende do quanto uma
espécie é conhecida, mas sim de sua riqueza de uso, ou seja, mesmo uma planta pouco conhecida
pode sofrer altas taxas de extração; 3) como a extração não depende da distribuição do recurso,
alguma outra variável influencia a coleta, como por exemplo, a qualidade do recurso.
Os exemplos acima citados corroboram com Ladio e Lozada (2004) quando afirmam que os
padrões de utilização são fortemente influenciados por características ecológicas dos recursos, como
distribuição, distância de acesso e estado de conservação. Esses estudos ainda sustentam as
previsões de alguns modelos e hipóteses ecológicas utilizadas na compreensão dos comportamentos
humanos, como é o caso da hipótese da “Aparência Ecológica” (ver Albuquerque e Lucena, 2005) e
do modelo do “Forrageamento Ótimo” (ver Begossi e Richerson, 1992; Begossi, 2005).
Alguns dos trabalhos acima citados evidenciam a exploração de recursos oriundos de
formações vegetacionais que não florestas e a importância dessa prática para as comunidades locais
(ver ainda Purohit et al., 2001; Uniyal et al.
. Dessa forma, o fenômeno de utilização de recursos não-madeireiros é comum às mais
diversas formações vegetacionais pelo mundo, sendo uma relação ampla e global entre pessoas e
ecossistemas altamente diversa. Pode-se dizer, adicionalmente, que essa relação é na realidade
interdependente, onde o sistema biológico e o cultural interagem e constroem mutuamente uma
24
“sociobiodiversidade”. Tal fenômeno foi particularmente estudado por Posey (1987), quando
evidenciou que muitos ambientes ricos na Amazônia tidos como “naturais” são fruto da intervenção
indígena. Nesse sentido, o mesmo autor afirma categoricamente que “não se pode estabelecer
demarcação explícita entre ecossistemas naturais e remanejados”. Nessa mesma vertente, Balée
(1989) defende que a grande parte dos ambientes existentes, se não em sua totalidade, foram e são
influenciados pelos humanos, seja pela ação de queimadas, chuvas ácidas, alterações na camada de
ozônio e favorecimento de chuvas ácidas.
Finalmente, muitos trabalhos evidenciaram que populações locais fazem uso de uma
considerável riqueza de plantas exóticas, sendo o papel dessa diversidade bastante importante nas
atividades de subsistência (ver Bennett e Prance, 2000). Estomba et al. (2006), estudando
comunidades tradicionais da Patagônia, Argentina, verificaram que a riqueza de espécies nativas
tilizadas como medicinais não difere da riqueza de espécies exóticas. A justificativa apresentada é
so de erosão do conhecimento local. Albuquerque (2006) encontrou
sult
rsificação, contrapondo a concepção passiva de cultura
na qu
ber valiosas colaborações da Etnobotânica. Dada à sua natureza
essen
u
a existência de um proces
re ados semelhantes para uma realidade rural da Caatinga, onde não existiram diferenças entre a
proporção da flora nativa e exótica que são conhecidas e utilizadas. Entretanto, esse autor
compreende a forte presença das plantas exóticas no conjunto de recursos não como uma evidência
de perda ou erosão do conhecimento, como em muitos trabalhos. Albuquerque (2006) hipotetiza
que esse fato é fruto de um processo de dive
al a erosão e a aculturação do conhecimento são apresentadas como explicação para o
processo. Segundo o autor, a inclusão de espécies exóticas é uma flexibilização, uma “estratégia”
cultural ativa para diversificar o conjunto de plantas utilizadas, incluindo novos elementos e
possibilitando maior leque de recursos úteis.
O papel da Etnobotânica
As questões relacionadas aos estudos sobre os PFNM estão num processo contínuo de
amadurecimento podem rece
cialmente multidisciplinar na busca de melhor compreender as diferentes esferas da relação
entre pessoas e plantas, entendemos que a Etnobotânica apresenta alto potencial para contribuir em
muitos dos aspectos debatidos nesse texto.
Atualmente, a Etnobotânica contribui substancialmente na conservação da biodiversidade e
dos saberes locais, sustentando-se na investigação de possíveis padrões de coleta, formas de manejo
mais adaptadas às especificidades locais, importância local de um recurso, sua função social.
Certamente, esses recortes investigativos permitem uma melhor compreensão dos impactos da
exploração de PFNM, das respostas ecológicas dos recursos, enfim, de diferentes aspectos da
exploração que contribuirão na preservação dos recursos naturais. Além disso, é possível construir
25
os diferentes cenários de tomadas de decisão que levam às pessoas a usarem um determinado
recurso e a forma de fazê-lo.
Entretanto, acredita-se que a etnobotânica terá maior potencial de contribuição à medida que
se aproximar mais intensamente das ciências que acumularam mais fortemente na compreensão de
nossa sociedade, como é o caso da Sociologia. Essa interação propiciará debates mais aprofundados
acerca de muitos aspectos sociais que estão relacionados à utilização dos PFNM e que hoje
carecem, sobretudo nos textos e artigos conservacionistas, de uma avaliação mais minuciosa e
teoricamente embasada. O que tentamos aqui debater está exemplificado na argumentação de que a
pobreza é o maior força motriz da sobre-exploração dos recursos naturais e de que o retorno
econô
ionados os PFNM, por exemplo, de que apenas o retorno econômico
incen
ões da rápida ascensão do
argum FNM contribuem para a conservação da biodiversidade. Layragues (1998)
estudou o discurso empresarial verde de preservação ambiental e desenvolvimento sustentável, a
principio rejeitados pelas empresas, mas hoje aceito e panfletado. Ele conclui que não existe uma
nova compreensão ambiental, “ecologicamente correta”, por parte das grandes empresas, mas sim
mico é o caminho mais viável para a preservação da biodiversidade. Não advoga-se que tais
afirmações são falhas na sua essência, mas defende-se que são rasas, sem maiores aprofundamentos.
A pobreza de comunidades não são eventos meramente locais, são na realidade fruto de toda uma
rede regional e global, mais especificamente das relações sociais de exploração que regem a
sociedade abrangente. Nesse sentido, a pobreza não tem resolução na esfera local, mas sim com a
reestruturação dos valores e relações sociais de nossa sociedade. A absorção de teorias sociais
clássicas pela Etnobotânica, como no exemplo citado (mesmo que de forma eminente), contribuirá
no diagnóstico das verdadeiras causas e as forças de perda e manutenção da biodiversidade e na
compreensão dos papeis das comunidades locais. Será ampliada, portanto, a capacidade de reavaliar
alguns paradigmas relac
tiva inerentemente a conservação da biodiversidade por comunidades carentes.
Outro ponto passível de exploração a partir dessa aproximação, são as implicações sociais da
incorporação de valores ou práticas relativas à sociedade ocidental nas comunidades locais.
Segundo Diegues (2002), culturas distintas “participam de sistemas econômicos diferentes e cada
um desses sistemas determina um modo específico de exploração dos recursos naturais e do uso do
trabalho humano (...). Não são apenas a natureza, as limitações geográfico-ambientais que
motivam um tipo específico de exploração dos recursos naturais da floresta, mas sim as formas
com que se configuram as relações sociais, suas racionalidades intencionais, seus objetivos de
produção material e social”. Dessa forma, a tentativa de incorporação de valores externos à uma
cultura local pode levar a sua desestruturação modificando as relações sociais e, conseqüentemente,
com o meio ambiente.
Finalmente, a Etnobotânica poderá questionar quais são as raz
ento de que os P
26
uma “apropriação ideológica” do discurso ambiental na busca de maior aceitação dos produtos,
s e aumento da lucratividade, independente da preocupação ambiental.
Aprop
ampliação dos mercado
riações ideológicas acontecem correntemente, como no caso da Revolução Verde (décadas de
1950 e 1960) e dos atuais transgênicos como forma de banir a fome no mundo (Pinheiro, 2001).
Nesse sentido, a utilização de PFNM como alternativa a conservação poderá ser questionada, posto
que essa proposta não contrapõe a real causa de perda da biodiversidade, o consumismo
desenfreado, mas sim alimenta a criação de novos nichos econômicos.
27
Considerações Finais
O texto tentou mostrar que os conceitos de PFNM agrupam, portanto, um conjunto muito
variado de produtos com especificidades ecológicas e sociais bastante distintas, mesmo tendo em
comum uma propriedade principal, a mesma que dá nome ao grupo: todos são recursos que não a
madeira. Sua complexidade pode ser evidenciada pela própria riqueza de ciências que focam em
suas investigações e pela sua utilização por diferentes sociedades. Acreditamos, como afirmam
Santos et al. (2003), que o conceito de PFNM será melhor determinado “quando forem
desenvolvidas práticas e políticas de desenvolvimento ajustadas para as áreas florestais, de forma
a dar para esses recursos a atenção que eles merecem”. Entretanto, entendemos que as bases
ecológicas e sociais devem ser determinantes na construção de um conceito mais adequado à
heterogeneidade desse conjunto de recursos, e não apenas a partir uma concepção utilitarista.
de órgãos explorada é vasta, da
mesma forma que os produtos oriundos da exploração e do beneficiamento. Diversidade tamm é
encontrada nas formas de manejo e práticas de exploração. Por fim, os PFNM são difíceis de
estudar, visto a sua complexidade inerente, bem como do contexto social, econômico e ecológico
em que estão inseridos. Nesse sentido, existem poucas características ecológicas e sociais que
conseguem dar uma unidade aos produtos florestais não-madeireiros. Na realidade, acredita-se que
a unidade dos PFNM encontra-se na diversidade existente, bem como na complexidade desse grupo
de recursos.
O acúmulo teórico atualmente disponível, exposto em síntese neste texto, permite uma maior
relativização do conceito de PFNM mais amplamente utilizado. Como explicitado, muitas culturas
utilizam uma vasta gama de plantas exóticas, sendo essa utilização uma possibilidade de
diversificação dos recursos utilizados. Como as culturas são dinâmicas, sendo que os homens
questionam seus próprios hábitos e os modificam incorporando novos valores e práticas (Laraia,
1993), a utilização desses recursos exóticos pode ser entendida como um “processo natural” (ver
Albuquerque, 2006). Considerando que os conceitos de PFNM mais completos reconhecem fatores
culturais, como a importância social e religiosa, acredita-se que as plantas exóticas podem sim ser
entendidas como PFNM. Na mesma perspectiva de considerar aspectos culturais no delineamento
do conceito de PFNM, acredita-se que a coleta desses recursos em fisionomias com diferentes graus
de intervenção humana seja uma exigência para considerar um recurso como PFNM. Entretanto,
como apontado anteriormente, o fenômeno de utilização de recursos naturais por comunidades
Os PFNM são oriundos de relações íntimas entre o ser humano e a natureza, refletindo na
grande maioria dos casos adaptações ao meio físico. Esses podem ainda refletir crenças e valores
locais em diferentes esferas. Apresentam respostas ecológicas bastante diferenciadas, em algumas
situações antagônicas, e dependente de muitas variáveis. A riqueza
28
locais não se restringe às formações florestais e que é difícil, pelo menos arbitrário, definir os
cossistemas em “naturais” ou “manejados”.
s extraídos de formações vegetacionais altamente biodiversas,
ncializados por visões críticas por parte dos pesquisadores, por análises pautadas
e
Diante do exposto, acreditamos que os produtos florestais não-madeireiros (PFNM) são todos
aqueles recursos nativos ou exótico
não apenas florestais, e que submetidas a diferentes intensidades de manejo, mas nunca cultivadas,
que não a madeira, utilizados para diferentes atividades produtivas, sendo essas para a auto-
subsistência ou incorporadas no mercado na forma de bens ou serviços. Os PFNM são oriundos de
uma vasta riqueza de formas de vida vegetal, são bastante diversos nas partes exploradas, bem
como na resposta ecológica nos diferentes níveis de organização biológica, sendo que a
sustentabilidade não é uma característica inerente da sua extração. Finalmente, os PFNM podem
influenciar a identidade de diferentes grupos, assim como sua fala, seus ritos, crenças e modo de
vida, apresentando, então, alto valor social, cultural e religioso.
Novos avanços no conhecimento e uso desse conjunto de recursos são esperados à medida
que as metodologias forem empregadas e as experiências de cada situação forem socializadas. Tais
avanços serão pote
numa diversidade de olhares, diversidade tão evidente nos PFNM.
29
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33
Conhecimen an por uma
comunidade rural no semi-árido p
3
Laboratório de Etnobotânica Aplicada, Departamento de Biologia, área de Botânica, Universidade
ural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, CEP: 52171-900.
Artigo 01
to e uso sustentável de Anadenanthera colubrina (Vell.) Bren
ernambucano (Nordeste do Brasil)
Gustavo Taboada Soldati
a,
e Ulysses Paulino de Albuquerque
a
a
Federal R
Recife, Pernambuco, Brasil.
3
Artigo com proposta de submissão para a revista Economic Botany. Normas desse periódico no anexo 01.
34
Conhecimento e uso sustentável de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan por uma
Gustavo Taboada Soldati
a
e Ulysses Paulino de Albuquerque
a
a
Laboratório de Etnobotânica Aplicada, Departamento de Biologia, área de Botânica, Universidade
Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, CEP: 52171-900.
Recife, Pernambuco, Brasil.
comunidade rural no semi-árido pernambucano (Nordeste do Brasil)
Res
Diversas populações locais dependem da exploração de recursos vegetais, sendo necessários
(Vell.) Brenan pela comunidade rural do Carão Pernambuco, Brasil através do registro de suas
A. colubrina
medicinal a mais saliente. 55,32% dos informantes afirmaram que usam A. colubrina. Entretanto, a
uma área de 2,7 ha, 70 apresentaram sinais de extração. A estrutura populacional tende ao modelo
Introdução
certos grupos sociais sobre as plantas de seu meio, mas as formas de utilização e as implicações do
uso propriam
al., 2007; Oliveira et al., 2007; Almeida et al., 2008; Lins Neto et al., 2008; Ramos et al., 2008).
Destacam-se, dentre o conjunto de espécies utilizadas por muitas comunidades locais, os produtos
desenvolvimento local e a conservação da biodiversidade (Ticktin, 2004; Soldati e Albuquerque,
impacto nos sistemas naturais, a qual, segundo (Peters, 1994), é “insustentável” e “perigosa”.
Muitos pesquisadores assumem que se um recurso é explorado por uma dada comunidade por um
umo:
estudos que avaliem os impactos dessa prática. Avaliou-se o uso de Anadenanthera colubrina
indicações terapêuticas, formas de utilização, partes da planta exploradas e zonas de recurso. Os
eventos de extração em uma população de foram registrados e sua estrutura
populacional analisada. A partir de 101 entrevistas foram encontrados 27 usos, sendo a categoria
comparação entre as citações de uso e o uso efetivo revelou que conhecimento e uso propriamente
dito não estão correlacionados. As partes mais exploradas são a “casca” e o “caule” e as principais
zonas de coleta são os “quintais” e a “serra”. Dos 1040 indivíduos de A. colubrina registrados em
do “J-invertido”, sugerindo que a população é estável e que a extração realizada não compromete a
sua viabilidade.
Atualmente, algumas investigações etnobotânicas têm focado não apenas o conhecimento de
ente dito desses recursos (Ladio e Lozada, 2004; Estomba et al., 2006; Florentino et
florestais não-madeireiros (PFNM), pois a sua utilização potencialmente concilia o
2008). Entretanto, existe uma idéia amplamente difundida de que a utilização dos PFNM tem pouco
35
long
recurs
ecursos naturais
xistentes na região semi-árida (Albuquerque, 2006; Araújo et al., 2007), dominada por uma
Caatinga, ainda pouco conhecida do ponto de vista biológico, apesar de ser o
exclusivamente brasileiro e de apresentar uma alta diversidade de espécies
endêmi
o tempo, a sua extração é inerentemente sustentável (Bitarilho et al., 2006). Mas, segundo o
mesmo autor, essa sustentabilidade dificilmente é comprovada cientificamente. Alguns estudos
evidenciam que a coleta de PFNM, mesmo por populações tradicionais, pode ser insustentável
(Pfab e Scholes, 2004; Kala, 2000; Kala, 2005). A sobre-exploração desses recursos naturais não
afetam apenas as diferentes esferas de organização biológica, como populações vegetais e
ecossistemas, mas a subsistência de grupos sociais que dependem da riqueza de espécies
disponíveis no ambiente (Bitarilho et al., 2006).
Dada a complexidade inerente à utilização dos PFNM por comunidades locais, Godoy e Bawa
(1993) afirmam que a sustentabilidade de uma prática exploratória só pode ser evidenciada pela
mensuração direta das variáveis relacionadas, como pressão de uso e abundância do recurso, por
exemplo. Existem diferentes metodologias para acessar os impactos da utilização de PFNM (Hall e
Bawa 1993; Peters 1994), sendo as baseadas na população do recurso as mais utilizadas. Entretanto,
partindo do pressuposto de que os primeiros sinais dos eventos de extração recaem sobre a
densidade, taxa de sobrevivência e reprodução (Ticktin, 2004), e pelas dificuldades de se realizar
um estudo de longo tempo, a ferramenta de análise mais utilizada é a estrutura populacional do
o (Tabuti, 2007). Essas avaliações baseadas na distribuição dos indivíduos em classes de
diâmetro ou estágios de vida permitem inferir sobre alguns aspectos importantes, como taxa de
recrutamento, habitats preferidos, respostas diferenciais à extração e, ainda, sobre a viabilidade
futura da população (Hall e Bawa 1993; Peters, 1994).
No nordeste brasileiro, as comunidades locais apresentam alta demanda pelos r
e
vegetação chamada de
único ecossistema
cas (Silva et al., 2004). A Caatinga sofre forte pressão extrativista, sendo um dos biomas
mais alterados do Brasil, especialmente pela conversão de áreas naturais em pastagens ou cultivos
(Silva et al., 2004; Oliveira et al., 2007; Araújo et al., 2007).
36
As populações humanas da Caatinga se caracterizam pela alta dependência e utilização de um
vasto leque de recursos (Araújo et al., 2007). Diante dessa realidade, é quase impraticável acessar e
monitorar as implicações ecológicas da utilização humana nas populações de todas as espécies
reconhecidas como úteis. Muitos trabalhos selecionam espécies-alvo a partir de características
especia
amações em geral, câncer, gripe,
inflama
A área selecionada para o estudo encontra-se no nordeste brasileiro, mais especificamente
no estado de Pernambuco que apresenta, dentro de sua abrangência, três diferentes regiões com
is, como distribuição, densidade e importância local (ver Kremen et al., 1998; Dhar et al,.
2000; Marshall e Newton, 2003; Botha et al., 2004; Pfab e Scholes 2004; Bitarilho et al., 2006;
Monteiro et al., 2006; Tabuti e Magula 2007). Dentre as plantas utilizadas pelas comunidades da
Caatinga, destaca-se a espécie escolhida para o presente estudo, Anadenanthera colubrina Vell.
(Brenan) (Mimosaceae) ou, como é conhecido popularmente, “angico”, “angico-de-caroço”,
“angico liso”. A. colubrina é planta decídua, heliófita, de ampla distribuição no Brasil (Lorenzi,
2002), com alta taxa reprodutiva (Silva e Barbosa 2000) fortemente conhecida e utilizada pelas
populações locais da Caatinga, tendo um papel de destaque em diferentes categorias de uso
(Monteiro et al., 2006), especialmente na medicina tradicional (Almeida e Albuquerque 2002), onde
é utilizada para anemia, resfriado, bronquite, constipações, infl
ções no pulmão, gastrite, expectorante, depurativo, dentre outras (Albuquerque et al., 2007).
O presente estudo tem como um dos objetivos caracterizar a distribuição do conhecimento, o
uso, partes exploradas e zonas de recurso de Anadenanthera colubrina Vell. (Brenan) em uma
comunidade rural do semi-árido brasileiro. Adicionalmente, este trabalho busca preencher uma
lacuna no conhecimento, analisando a prática extrativista e a estrutura populacional dessa espécie
em uma área tida como local de coleta (zona de recurso) para os moradores locais.
Materiais e Métodos
a) Área de estudo
características climáticas distintas: Zona da Mata, Agreste e Sertão. As duas últimas são marcadas
pelo clima semi-árido e distinguem-se pela pluviosidade média anual, de 300-1200 mm/ano no
37
Agreste e 100-300 no Sertão (ITEP, 2008). Essas regiões são notavelmente sazonais e cobertas por
uma vegetação típica, conhecida como Caatinga, formação xerófila, caducifólia e bastante
espinhenta, caracterizada por uma sazonalidade climática bastante evidente e por apresentar
composição e fisionomias distintas (Andrade-Lima, 1981; Rizzini, 1997; Araújo et al., 2007).
Especificamente, o trabalho foi conduzido no município de Altinho, região do agreste, no
qual, segundo dados oficiais, moram por volta de 20 mil pessoas igualmente distribuídas entre a
zona rural e urbana (CONDEPE/FIDEM, 2005). O município dista 160 Km da capital de estado,
Recife, e 40 Km de Caruaru, a segunda maior cidade de Pernambuco. O fluxo de pessoas que vivem
em Altinho para Caruaru é intenso, tendo como objetivo acessar empregos, estudos, compras e
serviços específicos. A temperatura média do ar é de 23,1°C e a precipitação anual é de 622 mm,
concentrada em dois meses, junho e julho (ITEPE, 2008). O comércio é a principal atividade
econômica do centro urbano de Altinho, sendo que a zona rural destaca-se pela presença de
pequenos e médios proprietários, com cultivo prioritariamente de feijão, milho, mandioca, batata-
doce e banana. A pecuária é outra atividade bastante expressiva.
A comunidade rural selecionada, conhecida como “Carão” (S 8° 35’ 225’’ e W 36° 05’
576’’) (Figura 2.1), dista 16 Km do centro urbano do município de Altinho, tendo as estradas de
acesso não pavimentadas e o transporte escasso e oneroso. Segundo os dados do posto de saúde, no
local moram 189 habitantes, dos quais 112 são maiores de 18 anos, no caso 67 mulheres e 45
homens (Araújo, 2008). Existe um núcleo populacional, mas as propriedades são na sua maioria
distantes entre si, cerca de 400 metros. A comunidade encontra-se na base de uma serra conhecida
como Serra do Letreiro, composta por diferentes fisionomias vegetais, inclusive por áreas de pasto e
cultivo. Os moradores extraem os recursos vegetais necessários à sua sobrevivência especialmente
em quatro zonas de recurso
4
, a saber: “serra”, designação local para a Serra do Letreiro; “pé da
4
A descrição das zonas de recurso apresentada nesse artigo está de certa forma simplificada tendo em vista os objetivos
do texto. Entretanto, os moradores da comunidade do Carão distinguem um número maior de zonas. Por exemplo, na
“serra” existem áreas que foram desmatadas para realização de práticas agrícolas, conhecidas como “chã da serra”.
tos” e “quintais”,
Adicionalmente, os moradores chamam de “terreno” ou “cercado” toda a área privada próxima às residências e
delimitadas por cercas. Os “terrenos” são compostos por diferentes tipos de espaços. Além dos “pas
38
Figura 2.15- Localização da Comunidade do Carão, Município de Altinho, PE, Brasil. Fonte:
Alencar, 2008.
alguns “roçados”, áreas para o cultivo de “milho”, “palma” e “feijão”, também podem compor os “terrenos”. Algumas
dessas categorias aqui apresentadas serão utilizadas no segundo artigo, dado os objetivos desse texto.
39
“serra”, sopé da serra na interface com a comunidade; “pastos”, áreas particulares destinadas à
caprinocultura e bovinocultura; “quintais”, áreas próximas às residências (Lins-Neto, 2008).
como determina o Conselho Nacional de Saúde
(Resolu
reconheceu o “angico” como recurso, dentre eles especialistas locais, visando aprofundar aspectos
b) Levantamento etnobotânico
As informações associadas ao conhecimento e uso de A. colubrina apresentadas nesse
estudo fazem parte de um grande projeto realizado na comunidade do Carão, composto por várias
investigações etnobotânicas (Alencar, 2008; Araújo, 2008; Lins Neto, 2008). O primeiro passo para
acessar tais informações foi contatar representantes legais do município de Altinho para que fossem
informados o caráter e objetivo das pesquisas. Após tal contato, foi realizada uma reunião na
comunidade, organizada pela associação dos agricultores do Carão, que teve o mesmo objetivo,
além de convidar os moradores para participarem da pesquisa. Os moradores da comunidade que
não estavam presentes nesse primeiro contato receberam o mesmo convite nas suas respectivas
residências. Todos os informantes que aceitaram participar do estudo assinaram um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
ção 196/96 CNS).
A metodologia base para acessar as informações etnobotânicas foram as entrevistas semi-
estruturadas (Albuquerque et al., 2008a), realizadas entre agosto de 2006 e julho de 2007. Foram
entrevistados 101 moradores da comunidade, 36 homens e 65 mulheres, abrangendo 90,2% da
população com idade maior que 18 anos. Desse montante, considerou-se, para o presente estudo
apenas os que citaram o “angico” como recurso, os quais foram questionados quanto ao seu uso,
formas de uso (ou preparo quando medicinal) e local de coleta (zona de recurso). Tendo em vista
que não existe uma relação direta entre o conhecimento local citado nas entrevistas e o seu uso
propriamente dito (Reyes-Garcia et al., 2005; Reyes-Garcia et al., 2006; Albuquerque et al., 2006),
questionou-se ao informante se ele usa efetivamente A. colubrina ou apenas conhece as suas
propriedades. Para um terceiro momento, foram selecionados 15 informantes do montante que
40
sobre uso e escolha das zonas de recurso a serem visitadas e sobre os critérios de seleção dos
indivíduos a serem explorados.
c
) Estrutura populacional e extração de Anadenanthera colubrina
os os indivíduos de A.
colubri
Para a análise da estrutura populacional e da extração de A. colubrina foi escolhida uma
população de “angico” que apresentava sinais evidentes de retirada de casca e corte seletivo. Essa
comunidade alvo de extração é fruto da desativação de uma antiga área de pasto, entretanto, animais
ainda pastejam no local. Está bastante próxima do núcleo populacional, a cerca de 900 metros de
distância, apresentando-se, portanto, como uma importante zona de recurso. Essa área é uma
propriedade privada com 2,7 ha, delimitada por cercas e localiza-se no sopé da Serra do Letreiro.
Certos moradores da comunidade do Carão também reconhecem outra espécie, Parapiptadenia
zehntneri (Harms) M. P. M. de Lima & H. C. de Lima, como sendo “angico”, como será abordado
nos resultados. Entretanto, dado o foco do estudo, apenas os indivíduos de A. colubrina foram
avaliados durante a amostragem vegetacional.
Para facilitar a amostragem, toda a área foi subdividida em blocos de 15 metros de largura
que percorriam todo o seu comprimento. Foi realizado um censo, portanto tod
na da área foram rastreados por uma equipe de campo, identificados com uma plaqueta e
tiveram as seguintes informações obtidas: circunferência ao nível do solo (CNS) e altura (Araújo e
Ferraz, 2008). Tais informações foram utilizadas para caracterizar a população de A. colubrina
quanto a sua distribuição em classes de diâmetro (estrutura populacional) e em classes de altura.
Para a avaliação quantitativa do extrativismo foi utilizada uma adaptação do método visual descrito
por Cunningham (1993), no qual os níveis de exploração foram pontuados em sete categorias
segundo a porcentagem de casca coletada até dois metros de altura: 0, quando não há dano; 1, mais
de 10% de casca removida; 2, entre 10 e 25%; 3, 26 a 50%; 4, 51 a 75%; 5, 76 a 100%, 6 para
anelamento; e, 7, toda a casca retirada (ver Lins - Neto et al., 2008). Amostras de diferentes
41
indivíduos de A. colubrina foram coletadas, herborizadas e depositadas no Herbário Professor
Vasconcelos Sobrinho (PEUFR) da Universidade Federal Rural de Pernambuco.
bustível
(lenha ão) e logia (confecç tefatos). Os us dos não sofreram nenhuma
egori o
e. A avaliação d m
onhecim
utilizad a s
ra anal
izado para verifica o t itações por categoria de uso
endentes do sex se
nas de recurso e part -q
ta c r
Em um segundo m do o conhecime e a
outras duas comunidades investigadas por Monteiro et al. (2006) com realidades bastante
semelh
d) Análise dos dados
Todos os usos citados para A. colubrina foram distribuídos em quatro categorias:
Construção (edificação de estruturas, como habitações), Medicinal (usos terapêuticos), Com
e carv Tecno ão de ar os reporta
tentativa de cat zaçã , ou seja, permaneceram o mais próximo da maneira como foi citado pelo
informant
diferença en
o conhecimento local foi feita e dois níveis. Primeiro, foi analisada a
tre o c
do “angico”
ento relativo ao sexo, zonas de recurso id
diferença entre conhecimento e u
entificadas localmente, partes
o. Para tanto, foi utilizado o teste de as e
Kruskall-Wallis pa
foi util
isar a variância das citações de uso
r se o total de citações e depois
entre homens e mulheres. O Teste G
otal de c
foram dep
as zo
o. Adicionalmente, foi verificado
es utilizadas empregando-se o Qui
existem diferenças nas citações para
uadrado. O mesmo teste foi utilizado
para comparar o to l de itações de conhecimento e uso prop
omento, foi analisa
iamente dito.
nto dos moradores do Carão frent
antes: Riachão de Malhada de Pedra e Alto das Ameixas, ambas em Caruraru, Agreste de
Pernambuco. Para essa segunda análise foi utilizado apenas a categoria Medicinal, posto que
Monteiro et al. (2006) inventaram apenas os usos medicinais do “angico”. As comparações entre as
comunidades foram feitas qualitativamente a partir de um conjunto de índices baseados no
“consenso do informante” e na “riqueza de usos” (Silva et al., 2008), os quais se propõem estimar: a
distribuição do conhecimento na comunidade, diversidade de usos citados, zonas de recurso, partes
da planta utilizada, sistemas corporais e usos terapêuticos mais salientes. Para esse segundo nível de
comparação, as indicações terapêuticas foram organizadas em sistemas corporais segundo a
classificação de Albuquerque et al. (2007) e as zonas de recurso de A. colubrina citadas foram
42
categorizadas em “áreas antropogênicas”, “vegetação nativa” e “feiras e mercados” (Monteiro et al.,
2006). Os índices utilizados em cada comparação estão listados e detalhados na Tabela 2.1.
Tabela 2.14- Diferentes comparações, e os índices utilizados, entre o conhecimento de
comunidades rurais: Riachão de Malhada de Pedra e Alto das Ameixas, ambas em Caruaru, PE.
Anadenanthera colubrina da comunidade do Carão, município de Altinho, PE, e outras duas
Índices adaptados de Byg e Baslev (2001) e Monteiro et al. (2006).
Índice Sigla Cálculo Descrição
Valor de
diversidade do
informante
ID
total de usos citados por um
informante dividido pelo total de usos
citados
mede o quanto o quanto o informante
conhece a espécie em relação ao
conhecimento da comunidade
Valor de
equitabilidade do
IE
valor de diversidade do informante
informante
(ID
i
) dividido pelo ID máximo
mede o grau de homogeneidade do
conhecimento dos informantes
Valor de consenso
ara a parte
CPP
total de citações que uma parte da
planta recebeu dividido pelo total de
citações de todas as partes
mede o grau de concordância dos
informantes em relação à parte
utilizada
p
utilizada
Valor de consenso
oleta
total de citações para uma
leta dividido
ra todas as
mede o grau de concordância dos
informantes em relação às zonas de
recurso
para o local de
CCS
determinado local de co
pelo total de citações pa
c
zonas de recurso
Valor da
uso
total de indicações terapêuticas do
de indicações de todas as categorias
diversidade de
UD
sistema corporal dividido pelo total
mede a importância dos sistemas
corporais (categorias de uso medicinal)
e como essa contribui para o valor total
de usos
Valor de consenso
determinado substituto dividido pelo
possíveis substitutos
para substitutos
EU
número de usos citados para
total de citações para todos os
mede o grau de concordância entre os
informantes concernentes aos possíveis
substitutos para as plantas utilizadas
A estrutura populacional da espécie foi construída a partir de classes de diâmetros com três
centímetros de intervalo. Para inferir sobre a sustentabilidade das práticas locais, a distribuição
diamétrica foi analisada visualmente tendo como referência o modelo exponencial negativo, ou “J-
invertido”, típico das populações capazes de auto-perpetuação (Hall e Bawa, 1993). Tendo em vista
dar maior suporte às inferências oriundas da análise visual da estrutura populacional, a distribuição
diamétrica sofreu um tratamento matemático, o “least-squares linear regression slope” (LSLRS)
(Condit et al., 1998; Lykke, 1998; Tabuti, 2007; Tabuti e Magula 2007). Essa metodologia permite
inferir a tendência da população analisada a partir da inclinação da reta resultante da regressão.
Inclinações negativas e acentuadas indicam uma população estável, capaz de auto perpetuação,
43
enquanto inclinações levemente negativas apontam para uma população carente em recrutamento e
declinante (Condit et al., 1998; Tabuti, 2007; Tabuti e Magula 2007). Finalmente, para analisar a
disponibilidade ambiental de A. colubrina a densidade absoluta da população analisada foi
ue crescem em contextos semelhantes (Drummond et al., 1982; Fonseca, 1991; Araújo et al.,
1995; Andrade, 2000; Figueiredo, 2000; Alcorado-Filho e uerque ., 2005).
Os eventos de extração de casca e de perfilho (corte seletivo) foram analisados
separadam s álises estatísticas foram empregando os softwares:
Bioestat (5.0) (Ayres e 07) ou Statgraph, versão 5.
Resultados
a) Conhecimento de Anadenanthera colubrina
No total, 53 (52,47%) dos 101 informantes afi que a conheciam, ma que não
necessariamente a utili penas dois informantes disseram que conhecem o angico, mas não
suas util ades. Foram 27 usos distintos (140 citações) distribuídos em cinco
categorias, nas quais de a Medicinal (18 indicações), seguida de Tecnologia (3),
Construção (2), Comb ) (Tabela 2.2). Existe diferença entre o total de
citações d s categorias de uso (X
2
=124,13; p<0.0001), recebendo destaque a categoria Medicinal,
com um total de 29 c os 66% dos informantes que citaram o
“angico” e 34,65% de os os entrevistados) reconhecer como recurso m dicinal e
lhes atribuíram 19 indicações terapêuticas (Tabela 2.2).
O uso mais citado para A. colubrina foi o de ma ara curtir couro de animais,
citado por 25 informan %). O couro curtido a partir da casca de “angico” é utilizado na
produção de diferentes artefatos, como bainhas de faca ou facão, sela de animais, chapéus, roupas
especiais para vaqueiros. As peças de couro são vendidas na própria comunidade, seja para seus
moradores ou para pessoas de outras comunidades que encomendam tais produtos. Destacam-se
comparada pelo teste do Qui-quadrado com dados secundários de outras 13 populações de “angico”
q
t al., 2003; Albuq et al
ente. Toda as an desenvolvidas
t al., 20 1.
rmaram s
zavam. A
id mencionados
stacam-se a categori
ustível (2) e Veterinário (2
a
itações. Do total de entrevistad , 35 (
tod am A. colubrina e
téria prima p
tes (17,85
44
ainda
Uso Parte utilizada NC
quanto ao número de indicações: carvão (22 menções), cerca (13), estaca para cercas (11) e
lenha (10).
Tabela 2.25- Usos de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan citados pelos moradores da
comunidade do Carão, Altinho, PE, Brasil. NC= Número de citações. Total de informantes = 101.
Categoria
Combustível
Carvão caule (tronco) 22
madeira 1
Lenha caule (tronco) 10
Construção
Cerca caule (tronco) 13
Estaca caule (tronco) 11
Linha caule (tronco) 2
Medicinal
Dores em geral casca 2
Inflamações em geral casca 2
Distúrbio menstrual casca 1
Verminose folha 1
Coceira casca 1
Abortiva folha 1
Cicatrizante casca 2
Ferimento casca 4
Pancada madeira 1
Constipação casca 2
Problemas renais casca 1
Problemas uterinos casca 1
Afecções da garganta casca 1
Bronquite casca 4
Expectorante casca 3
Gripe casca 12
flor 1
mas respiratórios em geral casca 1
Proble
Tosse casca 4
flor 2
Tuberculose casca 2
Tecnologia
Colar semente 1
Curtir couro casca 25
2
Veterinário
Inflamações em geral casca 1
caule (tronco)
Resfriado casca 1
Desconhece
Desconhece 2
Total 140
45
Quando questionados se apenas conhecem ou usam de fato o “angico”, a grande maioria dos
informantes respondeu que a utiliza efetivamente em 104 (74,28%) das 140 citações indicadas.
Entretanto, apesar de pouco mais da metade dos moradores do Carão indicarem o “angico” como
uma planta útil, existe uma diferença entre o total de citações de uso efetivo e o total de citações de
conhecimento (X
2
=5,311; p=0,0212), ou seja, para a realidade estudada, conhecimento individual e
uso efetivo não estão relacionados.
O “angico” foi reconhecido como uma planta útil por um número maior de mulheres, 31,
frente a 22 homens. Entretanto, não há diferença entre o total de citações dos homens e mulheres
segundo o teste de Kruskall-Wallis (H=0,8789; p=0,3485). Tamm não existe diferença relativa ao
gênero quando se considera primeiro o total de citações e depois o número de informantes que
citaram A. colubrina em cada categoria de uso (G=1,0032, p=0,3165 para combustível; G= 0,1955,
p=0,6584 para construção; G= 0,417, p=0,5184 para medicinal; G= 2,4484, p=0,1176 para
tecnologia; e, G=1,7857, p=0,1815 para veterinário).
tão distintas são potencialmente mais exploradas.
xistem diferentes concepções na comunidade relacionadas ao manejo e forma de se coletar
foram questionados sobre aspectos específicos da extração de
Quanto ao órgão utilizado como recurso, houve diferença entre o total de citações das partes
exploradas (X
2
=286,22; p<0,0001). Entretanto, não existiram diferenças quando comparadas apenas
as duas partes mais citadas, “casca” e “caule” (X
2
=1,13; p=0,2888). Quando se considera apenas os
usos medicinais a utilização das “cascas” pela comunidade do Carão é quase um consenso absoluto
(Valor de Consenso para a Parte Utilizada, CPP, igual a 0,842), sendo que das 38 citações, 32 lhes
são atribuídas (Tabela 2.3).
As entrevistas ainda sugerem que os moradores do Carão coletam o “angico” em quatro
diferentes locais da paisagem, “quintais”, “serra”, “pasto” e “pé de serra”. A comparação entre as
citações das zonas de recurso evidenciou diferenças (X
2
=158,44; p<0,0001), contudo, não houve
diferença quando comparado apenas os dois locais mais citados: “quintais” e a “serra”, indicando
que essas zonas de recursos estruturalmente
E
“casca”. Dos quinze informantes que
46
A. colubrina, nove (60%) afirmam que a “casca” não deve ser explorada até atingir o lenho nem de
uma forma que anele o indivíduo, caso contrário a casca não regenera ou o indivíduo morre,
respectivamente. Entretanto, outros dois informantes (14%) afirmam que independente do volume
coletado a casca sempre regenera. Desses quinze informantes, dois (14%) preferem coletar a casca
do “angico” fora da sua fase reprodutiva, na ausência de flores e frutos, e três (20%) preferem
extrair dos indivíduos com marcas de mordidas do “sagüi” (primata do gênero Callithrix). Segundo
as informações, o “angico” está mais “fraco” quando na fase reprodutiva, e as mordidas do “sagui”
são uma indicação natural dos indivíduos com maior potencial terapêutico. Quanto às práticas de
manejo, sete informantes (47%) afirmam que A. colubrina não carece de cuidados ou práticas de
beneficiamento, sendo uma espécie de cresc nto rápido mesmo depois da extração de casca ou
zona de recurso.
Parapiptadenia zehntneri
b) Comparação entre comunidades
ime
corte seletivo. As entrevistas ainda permitiram identificar que os “angicos” presentes nos “quintais”
não foram plantados, foram tolerados, ou seja, não foram eliminados durante a estruturação dessa
Finalmente, o último aspecto a ser considerado sobre o conhecimento de A. colubrina pela
comunidade do Carão é sua diferenciação local em dois tipos. Alguns informantes, dentre os quais
especialistas locais, como um morador reconhecido na comunidade pelo curtume, prática que exige
a extração de casca do “angico”, diferenciam duas variedades para A. colubrina e lhes atribuem os
seguintes nomes: “angico de caroço” e “angico liso”. Segundo os entrevistados, o primeiro tem uma
alta densidade de grandes acúleos, ocupando, não raro, toda a superfície do caule, tornando-o bem
ríspido. Já o “angico liso” ou não tem acúleo no caule ou apresenta poucos e diminutos, produz um
número menor de frutos e seu tronco cresce de forma mais retilínea. Essa última variedade é
(Harms) M. P. M. de Lima & H. C. de Lima e não a espécie alvo do
presente estudo. Essas diferenças podem influenciar nas escolhas pertinentes ao processo de
extração e estão destacadas na Figura 2.2.
47
(
B
)
(
A
)
Figura 2.26- Detalhes do caule de “angico” enfatizand p a e s duas
variedades re i d r l B A)
Anadenanther r e t a tneri
(Harms) M. P. M. c a t d a
munidade do Carão co ou a
C d prop dade edi ai . ina,
o qual apresentou maior um de uso diferentes. Em média, cada informante
citou 0,49 usos medicinais, s r ante (ID) igual a 0,073 (Tabela
os moradores. Das 19 indicaçõ is inform , sendo
o valor de equitabilidade entre os gual , confir que o cimento
sobre as propriedades medicinais de A. colubri está ente di do na co ade.
Os valores da diversidade por e tabilidade entre inform foram
bastante semelhantes ao encontrado na c de R o da Ma de Pedra e diferiram
dos valores da comunidade do Alto das A As an entre a
conhecimento das outras duas realidades comparadas estão apresentadas na Tabela 2.3.
As indicações terapêuticas estão relacionadas a nove sistemas corporais segundo a
classificação de Albuquerque et al. (2007) (Tabela 2.3), medida indireta da versatilidade médica de
o as rincip is dif rença das
conhecidas localmente pela comun
a c
dade o Ca ão, A tinho, PE, rasil.
olubrina (Vell.) Brenan, “angico
de Lima & H. C. de Lima, “angico
de ca
liso” (
oço”
om sin
B) P
l de re
arapip
irada
adeni
e casc
zehn
).
Especificamente para a comparação entre a co m tras re lidades da
aatinga, foi tomado como referência o conhecimento as rie s m cin s de A colubr
a quantidade de citações
endo o valor da diversidade po inform
2.3). A grande maioria das citações de uso medicinal atribuídas ao angico é pouco distribuída entre
es, 14 foram apresentadas apenas por um ou do antes
informantes (IE) i a 0,35 mando conhe
na não igualm stribuí munid
informante (ID) equi antes
omunidade iachã lhada
meixas. álises comunidade do Carão e o
48
Tabela 2.36- Compilação entre as medidas de conhecimento de Anadenanthera colubrina (Vell.)
informante; IE= valor de equitabilidade do informante; UD = valor de diversidade de uso; EU=
extraídos de Monteiro et al. (2006).
Brenan entre três comunidade rurais do agreste pernambucano. ID= valor de diversidade do
valor de equitabilidade de uso. Os dados sobre as comunidades de Riachão e Ameixas foram
Riachão Ameixas Carão
total de informantes 101 55 101
informantes que conhecem (%) 46 (45%) 47 (85%) 53 (52%)
média dos usos por informante 1,66 1,31 0,49
total de usos medicinais 24 21 19
média do valor da diversidade de usos por
média valor de equitabilidade po
total de citações 168 72 140
informante (ID) 0,070 0,025 0,073
r informante (IE) 0,410 0,420 0,350
Sistemas corporais
UD EU UD EU UD EU
Afecções e dores indefinidas 0,16 0,27 0,07 0,14 0,11 0,29
Pele e tecidos subcutâneos 0,08 0,16 0,22 0,40 0,05 0,14
Transtorno do sistema gênito-urinário 0,02 0,03 0,12 0,24 0,11 0,29
Transtorno do sistema respiratório 0,58 1,00 0,50 1,00 0,37 1,00
Doenças infecciosas 0,06 0,10 - - 0,05 0,14
Doenças das glândulas endócrinas, da nutrição e do
metabolismo
- - - - 0,05 0,14
Lesões, envenenamentos e outras conseqüências de
- - - - 0,16 0,43
Transtorno do sistema digestório 0,01 0,02 0,03 0,06 0,05 0,14
causas externas
Gravidez, parto e puerpério
- - - - 0,05 0,14
Sistema osteomuscular 0,01 0,01 - - - -
0,01 0,02 - - - -
Valor de
Sangue e tecidos hematopoiéticos
consenso para o local de coleta (CCS)
zonas antropogênicas 0,53 0,66 0,57
vegetação nativa 0,46 0,33 0,43
Valor de consenso para a parte utilizada (CPP)
mercados e feiras 0,01 0,00 0,00
casca 0,09 0,88 0,84
casca e acúleos 0,03 0,00 0,00
folha 0,07 0,12 0,03
flo
entrecasca 0,02 0,00 0,03
r 0,00 0,00 0,08
madeira 0,00 0,00 0,03
A. colubrina, sendo “Transtorno do Sistema Respiratório” aquela com maior riqueza de usos
medicinais: sete. Dessa forma, esse sistema corporal teve o maior valor de diversidade de uso (UD
49
= 0,37), seguida de “Lesões, envenenamentos e outras conseqüências de causas externas”, com 0,16
om maior
índice de diversidade de uso (UD) nas comu a edras e Alto das Am ,
sas buiç êuticas onsens giona icaç medicinal
o um
a respiratório. As
edicinais com entos”, com 0,004, “expectorante”, com
0
sca” rec u um e cita ravel maio s
uma p rênci lização ns medicinais. Quanto ao local de coleta,
nas citaç inais, nova para a unidade do Carão
es) ” (55 antro nica e
ente. Na s co s, as z antropogênica stacaram qu
an ara a aqui e área a també rece t
c) Estrutura populacional e extração de A. colubrina
Registrou-se ao todo 1.040 indivíduos de A. colubrina, os quais somam uma área basal de
32,99 m e uma densidade absoluta de 385,19 ind/ha. Comparando a população analisada nesse
estudo com outras populações de angico fica evidente que a densidade encontrada na comunidade
do Carão é consideravelmente maior (Tabela 2.4). Entretanto, essa comparação deve ser um pouco
relativizada, pois, como apresentado, o presente trabalho realizou um censo, enquanto as outras
investigações utilizaram metodologias amostrais.
e “Afecções e dores indefinidas” e “Transtorno do sistema gênito-urinário”, ambas com UD igual a
0,11. Da mesma forma, “Transtorno do Sistema Respiratório” foi o sistema corporal c
nidades de M lhada de P eixas
sugerindo que es atri ões terap podem ter c o re l. A ind ão
mais citada na comunidade do Carão foi “gripe”, recebend valor de consenso (CUT) igual a
0,014, seguida “tosse” (0,005) e “bronquite” (0,004), todas relacionadas ao sistem
outras citações m maiores CUT são: “ferim
0,003 e “cicatrizante”, com ,002.
A “ca ebe total d ções conside mente r na três localidades,
evidenciando refe a de uti para os fi
considerando ape as ões medic destacam-se mente com
os “quintais” (73 citaçõ e a “serra ), uma zona pogê uma vegetação nativa,
respectivam s trê munidade onas s de -se anto ao número
de citações, entret to, p realidade studada, uma nativ m beu des aque.
2
50
51
Tabela 2.47- Comparação entre as densidades absolutas de 13 populações de Anadenanthera
adas na literatura com a população inventariada no presente estudo.
Características dos respectivos estudos fitossociológicos são apresentadas. DA= Densidade
Absoluta; x
2
= qui-quadrado; e p= nível de significância; PE= Pernambuco; SE= Sergipe.
Trabalho Estado Área
Critério de
inclusão
Área (ha) DA x
2
p <
colubrina (Vell.) Brenan levant
Presente estudo PE Altinho DNS3 cm 2,7 385.19 - -
Fonseca (1991) SE Poço redondo DNS3 cm 0,15 260 24,29 0,0001
Albuquerque et al.
(2005)
PE Alagoinha DNS3 cm 0,1 140 114,46 0,0001
Drummond et al.
(1982)
PE
Santa Maria
da Boa Vista
DNS5 cm 0,43 105 54,408 0,0001
Araújo et al.
(1995)
PE Custódia DNS1,5cm 1,5 99 140,502 0,0001
Fonseca (1991) SE Poço redondo DNS3 cm 0,15 93 178,54 0,0001
Alcorado-Filho et
al. (2003)
PE Caruaru DNS3 cm 0,72 82 196,76 0,0001
Fonseca (1991) SE Canindé DNS3 cm 0,15 80 200,22 0,0001
Araújo et al.
PE Floresta
DNS1,5
1,5 40 251,38 0,0001
Andrade (2000) PE
de Deus
DNS3 cm 1,0 9 359,01 0,0001
(1995) cm
Fonseca (1991) SE Canindé DNS3 cm 0,15 40 280,25 0,0001
Fonseca (1991) SE Poço redondo DNS3 cm 0,16 33,3 221,72 0,0001
Figueiredo (2000) PE Sertânia DNS3 cm 1,5 31 301,43 0,0001
Araújo et al.
(1995)
PE Floresta
DNS1,5
cm
1,5 23 291,78 0,0001
Brejo da M.
Do total de indivíduos amostrados, 42 (4,03%) apresentaram evidências de corte seletivo
em um ou mais dos seus perfilhos, sendo que a grande maioria deles (60% dos indivíduos
explorados) encontra-se nas classes de diâmetros 3-5,99 cm e 6- 8,99 cm (Figura 2.3). A
distribuição dos eventos de extração da casca do caule na população de A. colubrina está
representada na Tabela 2.5. Dos 1040 indivíduos de angico amostrados 34 (3,26%) apresentam
algum sinal de extração. A maior freqüência de coleta (19 eventos) pertence às classes de extração
25-49,99% e 50-74,99%. Apenas um indivíduo foi explorado no primeiro nível de extração. As
evidências de coleta concentram-se nas classes de diâmetro intermediárias, sendo que a classe de
21- 23,99 cm teve o maior número de indivíduos explorados, oito ao total. Todos os indivíduos das
três maiores classes de diâmetros encontrados nessa população apresentam sinal de extração.
52
angico sofreu anelamento propriamente dito, contudo, quatro tiveram toda a sua casca até
etros de altura retirada.
Nenhum
dois m
7- D uição dos eventos de corte seletivo em uma população de Anadenanthera
(Vell.) Brenan, “angico”, na com
etros com int alo de três centímetros: 1 (0-2,99 cm); 2 (3-5,99 cm); 3 (6-8,99 cm); 4 (9-
m); 1 9 cm); 6 (15-17,99 cm); 7 (18-20,99 cm); 8 (21-23,99 cm); 9 (24-26,99 cm);
). Os
eros acima das rras correspondem ao total de indivíduos com corte seletivo.
p u d o b s d n F
-se nas menores classes de diâmetro, sendo que do total de indivíduos, 632 (60,79%)
-se nas primeiras classes, ou seja, nos estágios iniciais do ciclo de vida, entretanto,
de segue o modelo do “J-invertido”, modelo característico s populações
is estáveis. A LSLRS suporta análise visual indicando que a estrutura populacional de A.
se adéqua ao m
s em pelo menos quatro classes de diâmetro, indicando que essas devem receber atenção.
ra vertical, a população se caracteriza por ter um número maior de indivíduos
ediárias, especialmente entre 3 e 3,99 metros (Figura 2.5).
Figura 2.3
colubrina
diâm
11,99 c
10 (27-29,99 cm
núm
A estrutura diam
concentram
encontram
apenas 4 indivíduos (0,38%) encontram
a população
vegeta
colubrina
R2=91,4138) (Figura 2.4b).
indivíduo
Quanto a sua estrutu
nas classes de altura interm
istrib
erv
unidade do Carão, Altinho, PE, Brasil. Classes de
5 ( 2-14,9
); 11 (30-32,99 cm
ba
); 12 (33-35,99 cm); 13 (36-38,99 cm); 14 (39-41,99 cm
étrica da op lação e A. c lu rina e tá apresenta a a igura 2.4a. Os indivíduos
três
-se nas sete fases mais tardias do ciclo de vida. Dessa forma,
A. colubrina da
odelo expone
apresenta um
ncial negativo (Cli = 46,2579 - 7.36836*ln(l+1);
A. colubrina hiato na sua estrutura pela ausência de
53
Tabela 2.58- categoria diamétrica em uma população de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan, “angico”, na
comunidade do C . Cli=classe diamétrica.
Níveisdeextraçãodecasca
Distribuição dos sinais de extração por
arão, Altinho, PE, Brasil
Classede
diâmetro(cm)
0
(0%)
 1
(110%)
2
(1125%)
3
(2650%)
4
(5175%)
5
(7699%)
6
anelamento
7
(100%)
Total
explorados
Total
geral
1(02,99) 230 0 0 0 0 0 0 0 0 230
2(35,99) 211 0 1 0 0 0 0 0 1 212
3(68,99) 190 0 0 0 0 0 0 0 0 190
4(911,99) 124 1 0 0 1 1 0 0 3 127
5(1214,99) 102 0 0 0 1 0 0 2 3 105
6(1517,99) 57 0 0 0 3 0 0 1 4 61
7(1820,99) 32 0 0 3 1 1 0 0 5 37
8(2123,99) 31 0 1 4 1 1 0 1 8 39
9(2426,99) 12 0 0 2 0 1 0 0 3 15
10(2729,99) 11 0 0 1 0 0 0 0 1 12
11(3032,99) 5 0 2 0 1 0 0 0 3 8
12(3335,99) 1 0 1 0 0 0 0 0 1 2
13(3638,99) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
14(3941,99) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
15(4244,99) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
16(4547,99) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
17(485099) 0 0 0 1 0 0 0 0 1 1
18(5153,99) 0 0 1 0 0 0 0 0 1 1
Total 1006 1 6 11 8 4 0 4 34 1040
54
(A)
Cli
Ln(n+1)
0 102030405060
2
3
comunidade do Carão, Altinho, PE, Brasil. A) Distribuição diamétrica em classes com intervalo de
(15-17,99 cm); 7 (18-20,99 cm); 8 (21-23,99 cm); 9 (24-26,99 cm); 10 (27-29,99 cm); 11 (30-32,99
(48-50-99); 18 (51-53,99). N= 1040. B) Regressão linear (“least-squares linea
0
1
5
6
Figura 2.48- A) Análise populacional de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan, “angico”, na
três centímetros. 1 (0-2,99 cm); 2 (3-5,99 cm); 3 (6-8,99 cm); 4 (9-11,99 cm); 5 (12-14,99 cm); 6
cm); 12 (33-35,99 cm); ); 13 (36-38,99 cm); 14 (39-41,99 cm); 15 (42-44,99); 16 (45-47,99); 17
r regression slope”,
LSLRS) entre o centro de classe diamétrica (Cli) e o logaritmo neperiano do número de indivíduos
em ca
(B)
4
da classe diamétrica mais um (Ln(Ni+1)). Cli = 46,2579 – 7,36836*ln(l+1); R2=91,4138.
relação intrínseca entre uso e
onhecimento podem estar equivocadas. Reyes-Garcia et al. (2005) afirmam que os eventos de
lmente investigados a partir do conjunto de plantas de fato
utiliza
conhecidas, mas utilizadas apenas em momentos específicos de penúria e falta de alimentos
Figura 2.59- Estrutura vertical de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan, “angico”, na
comunidade do Carão, Altinho, PE, Brasil. 1 (0-0,99 m); 2 (1-1,99 m); 3 (2-2,99 m); 4 (3-3,99 m); 5
(4-4,99 m); 6 (5-5,99 m); 7 (6-6,99 m); 8 (7-7,99 m); 9 (8-8,99 m); 10 (9-9,99 m); 11 (10-10,99 m).
Discussão
a) Conhecimento de Anadenanthera colubrina
Os dados sugerem que grande número de moradores do Carão conhece e realmente utiliza o
“angico”, exercendo, portanto pressão sobre as populações de A. colubrina que crescem na região.
Segundo Reyes-Garcia et al. (2005), a diferenciação entre o conhecimento e o uso atual é necessária
nos estudos etnobotânicos, haja visto que muitos trabalhos assumem que uso e conhecimento estão
relacionados, sendo que na realidade tal relação pode ou não ocorrer. Nesse sentido, muitas
inferências existentes na literatura etnobotânica que se sustentam na
c
erosão do conhecimento são mais faci
das. Ou seja, para os autores, o uso atual em relação ao banco de espécies conhecidas é uma
ferramenta de análise valiosa para estudos de erosão e perda do conhecimento.
Entretanto, acredita-se que o desuso atual de um recurso não necessariamente se configure
como um processo erosivo, dado que outros fatores também podem levar à não utilização de uma
planta. Tem-se como exemplos os “alimentos emergenciais”, plantas alimentícias que são
55
(Minnis, 2000). Nesse caso, se uma comunidade não usa um recurso não é porque estão submetidos
a um processo de erosão, mas porque a realidade que lhes é colocada nesse momento não constrói
uma d
processos que exigem uma diferenciação entre
conhe
to, esse conhecimento está diferencialmente distribuído
entre
emanda. Nesse sentido, Albuquerque (2006) afirma que existem níveis no conhecimento, ou
seja, as plantas podem ser conhecidas e utilizadas (uso atual) e as plantas podem ser conhecidas mas
não utilizadas, não se configurando, “a priori”, como um processo erosivo. Para o autor, as plantas
que são apenas conhecidas formam o que eles chamam de “conhecimento armazenado”, um banco
de informações e saberes que são acessados apenas oportunamente.
Para o caso específico da comunidade do Carão, as citações de conhecimento nas entrevistas
não podem ser encaradas como uma ferramenta de análise indireta da pressão de uso sobre A.
colubrina ou em tentativas de compreender
cimento e uso, como eventos de erosão do conhecimento. Ramos et al. (2008) verificaram, em
uma outra comunidade rural da Caatinga, uma relação semelhante, onde toda a riqueza de espécies
reconhecidas como combustível não é necessariamente utilizada. Por outro lado, para uma realidade
bastante semelhante, Oliveira et al. (2007) constataram que as espécies medicinais arbóreas mais
citadas potencialmente sofrem maior pressão de uso. Apesar das categorias de uso avaliadas nesses
trabalhos serem diferentes, o que pode influenciar o resultado final, haja visto que cada categoria
tem especificidades no processo de utilização, esses dados sugerem que para a realidade da
Caatinga, assim como qualquer outra realidade, pode ser equivocado utilizar, sem uma verificação
mais precisa, as citações de uso como indicativo de pressão de uso.
b) Comparação entre as comunidades
A comparação realizada entre a comunidade do Carão e as duas comunidades investigadas por
Monteiro et al. (2006) reforça a idéia de que o “angico” é um recurso medicinal importante para as
populações locais da Caatinga. Entretan
os moradores dessas comunidades, existindo usos terapêuticos citados por apenas um
informante. Segundo Toledo (1992) o conhecimento é, dentre outras esferas, fruto de experiências
56
individuais. Dessa forma, esses usos restritos relacionados à A. colubrina podem ser fruto de
aprendizados individuais (idiossincrasias) que ainda não foram socializados.
Três sistemas corporais segundo a classificação de Albuquerque et al. (2007) têm indicações
medicinais atribuídas apenas na comunidade do Carão: “Doenças das glândulas endócrinas, da
nutrição e do metabolismo”, “Lesões, envenenamentos e outras conseqüências de causas externas” e
“Gravidez, parto e puerpério”. Nesse sentido, cinco usos terapêuticos, “ferimento”, “distúrbio
menstrual”, “pancada”, “cicatrizante” e “arbotiva”, são exclusivos à comunidade do Carão.
Possivelmente esses usos não compartilhados com as duas comunidades estudadas por Monteiro et
al. (2006) são erros amostrais devido à eficiência dos métodos utilizados (Monteiro et al., 2008) ou
são frutos de experiências locais e específicas.
Tanto a “casca” quanto o “caule” são, para a comunidade do Carão, as partes com o maior
poten
ados indicam que “quintais” e “serra” são as zonas prioritárias para se coletar “angico” na
comunidade. Albuquerque (2006) analisou todas as espécies medicinais existentes nas zonas
cial de utilização em todas as categorias de uso. Contudo, Monteiro et al. (2006) verificaram
que as folhas, quando disponíveis, são os órgãos com maiores concentrações de taninos, substâncias
químicas responsáveis pelas atividades do “angico”. Como explicar tal contradição? Albuquerque e
Andrade (2005) ponderaram que os padrões de uso dos recursos podem refletir adaptações
ecológicas frente a pressões ambientais e afirmam que a preferência de utilização das partes mais
perenes da planta na Caatinga, como a casca na comunidade do Carão, pode ser explicada pela
disponibilidade temporal desses recursos. Essa hipótese foi apresentada formalmente por
Albuquerque (2006) e nomeada como hipótese da “Sazonalidade Climática”. Esse autor conjectura
que a caducifolia inerente da Caatinga em resposta à falta de água pressionou o comportamento de
uso e preferência dos recursos existentes, fenômeno plausível de acontecer em outros ecossistemas
também sazonais. Nesse sentido, os recursos que são disponíveis por todo o ano são mais utilizados
e preferidos, pois permitem uma maior “segurança medicinal” e por que puderam passar por mais
eventos de experimentação e validação.
Os d
57
antrop
ursos apresentam diferentes padrões de uso e riqueza de
espécies que são conhecidas e utilizadas. Dessa forma, os diferentes locais na paisagem tidos como
stintas. Entretanto, esse padrão não ocorre na
comu
istinto das zonas de coleta se deva a
conce
ogênicas e áreas nativas, e comparou a importância dessas duas zonas de recurso para uma
comunidade também rural da Caatinga. O autor concluiu que as áreas antropogênicas não são
importantes zonas de recursos e que os moradores geralmente negligenciam as plantas medicinais
que crescem nesses locais, preferindo coletar tais recursos nas áreas de vegetação nativa, as quais
são, portanto, mais conhecidas e utilizadas localmente. Os dados das comunidades do Carão,
Malhada de Pedras e Alto das Ameixas apontam que, para o caso específico de A. colubrina, as
áreas com maior grau de antropização são aquelas que apresentaram o maior potencial de coleta.
Entretanto, essa divergência em relação aos achados de Albuquerque (2006) pode ser efeito da
ferramenta da análise, posto que, enquanto esse autor examinou toda a farmacopéia local, as
investigações nessas três comunidades foram pautadas em apenas uma espécie que pode ocorrer em
ambas as áreas, não refletindo necessariamente um padrão geral.
Alguns estudos, como os realizados por Ladio e Lozada (2003) e Estomba et al. (2006)
verificaram que diferentes zonas de rec
zona de recursos podem ser explorados de formas di
nidade do Carão, onde os indivíduos existentes tanto nos “quintais” como na área de “pé da
serra” têm suas cascas extraídas e são cortados de forma seletiva. Em contraposição à realidade
encontrada, poder-se-ia esperar que os indivíduos presentes nos “quintais” fossem utilizados para
usos menos danosos ao indivíduo, como extração de casca, garantindo que os indivíduos de A.
colubrina permanecessem próximos às residências e facilitando o acesso em momentos de urgência.
Muitos informantes citaram que cortam angicos existentes nos seus “quintais” para o uso como
carvão ou construção. Possivelmente esse padrão de uso ind
pção que os moradores têm sobre o crescimento do “angico”. A grande maioria dos
entrevistados afirma que o seu crescimento é rápido, regenerando facilmente mesmo após o corte
seletivo.
58
Albuquerque et al. (2007) testaram, sob o nome de “Redundância Utilitária”, se a utilização
de uma maior riqueza de espécies medicinais para uma mesma indicação terapêutica reduz a
pressão de uso por espécie. Eles afirmam categoricamente que os seus achados sugerem essa
relaçã
, sua densidade é extremamente baixa na “serra” (dados ainda não publicados), área que
segun
área tenha como objetivo maior a utilização como lenha ou a construção e reparação de cercas.
Ramos et al. (2008) avaliaram a utilização de lenha em uma comunidade rural e concluem que
o, caso não exista forte preferência local por determinados recursos. Apesar dos autores
testarem a hipótese ao nível específico (espécies utilizadas) e não para as zonas de recurso, acredita-
se que a utilização diferencial das zonas de recurso potencialmente reduz o impacto nas populações
locais, distribuindo a pressão de uso entre as mesmas. No caso da comunidade do Carão, é possível
que a utilização de diferentes zonas de recurso tenha uma importância fundamental nos padrões de
uso e conservação dos recursos. No caso do “angico”, apesar de ser altamente abundante na área
investigada
do alguns informantes, nunca foi desmatada. Nesse sentido, a concentração dos eventos de
extração nos “quintais” e no “pé da serra” potencialmente reduz a pressão de uso nos indivíduos de
“angico” que crescem em outros locais.
c) Estrutura populacional e extração de A. colubrina
A população de A. colubrina apresentou uma densidade 4,8 vezes maior que a média de
outras populações, disponibilizando, portanto, um grande volume de recurso para a comunidade do
Carão. Essa discrepância entre as densidades absolutas pode ser resultado de fatores específicos da
área, como histórico de uso da terra, presença de um riacho temporário e a topografia do terreno que
favorece a retenção de água (Silva e Barbosa, 2000). Segundo Botha et al. (2004) algumas espécies
reduzem a sua densidade em zonas antropogênicas, enquanto outras, especialmente as pioneiras, se
destacam em áreas perturbadas, como é o caso do “angico”.
Especificamente quanto ao corte seletivo, verifica-se que os eventos se concentram nas
classes de diâmetros intermediárias. Acredita-se, tomando como referência o baixo volume dos
indivíduos presentes nessas classes com maiores incidência de coleta, que o corte seletivo nessa
59
existe uma preferência local por galhos e caules de diâmetros intermediários. Possivelmente, essa
preferência deve-se à maior facilidade de transporte, na ignição do fogo e na acomodação interna do
fogão
o caso do “angico” (-7,36836), indicando que a população é capaz
de au
os nas classes de maior diâmetro, posto que
a área
(Ramos, comunicação oral).
Já para extração de casca, os resultados indicam que os moradores locais privilegiam coletá-
las dos indivíduos com maiores circunferências e, conseqüentemente, maiores quantidades de casca.
No Benin, Gaoue e Ticktin (2007) reconheceram que os moradores também preferem os indivíduos
de maior diâmetro. O mesmo padrão foi identificado por Purohit et al. (2001) que avaliaram a
extração de casca de uma espécie medicinal amplamente distribuída e utilizada no Himalaia, Índia.
Na área estudada, apenas um indivíduo nas três primeiras classes de diâmetros apresentou sinal de
extração.
A estrutura populacional de A. colubrina tende ao modelo do “J-invertido”, ou seja, capaz de
auto-perpetuação, sendo que essa tendência é corroborada pela análise LSLRS. Segundo Condit et
al. (1998) a tendência populacional é evidenciada pela inclinação da reta, quando essa é
negativamente acentuada, como n
to-perpetuação no sistema. Dessa forma, os dados aqui apresentados evidenciam que a
extração realizada pela comunidade não compromete a viabilidade da população estudada.
Entretanto, quatro classes diamétricas tardias carecem de representantes. Essa realidade pode ter
diferentes razões. Primeiro, pode refletir o fato de que essa população de “angicos” é relativamente
nova e ainda não conseguiu estabelecer muitos indivídu
estudada é um pasto desativado há pouco tempo e se encontra em estágio inicial da sucessão.
Esse hiato populacional ainda pode ser fruto de cortes seletivos intencionais que privilegiam os
indivíduos adultos de maior porte e, conseqüentemente, maior volume de madeira e casca.
Independentemente do evento que determinou esse hiato populacional, Botha et al. (2004)
afirmam que a carência de indivíduos maduros diminui o potencial reprodutivo da população pela
redução de sementes produzidas e resulta em perdas de diversidade genética, comprometendo a sua
60
persistência no sistema. Contudo, uma parcela significativa dos indivíduos adultos se encontravam
em estágio reprodutivo durante o trabalho de campo.
Muitas plantas são capazes de suportar altos níveis de extração devido a características
biológicas, como forma de vida e taxa de reprodução (Siebert, 2004; Ticktin, 2004). Certas
características inerentes ao “angico” devem ser aqui apontadas: produção de uma grande quantidade
de frutos e sementes, alta taxa de germinação e sobrevivência, além de uma baixa taxa de
mortalidade (Silva e Barbosa, 2000); grande capacidade de regeneração, tanto da casca como após o
corte seletivo, pois muitos indivíduos observados apresentaram rebrotas na base dos perfilhos
retirados e áreas de casca completamente regenerada, sendo essas características vantagens
ecológicas que favorecem a dinâmica populacional dessa espécie, caracterizada fortemente por
estrat
ro et al., 2006), a preferência pelas cascas possivelmente reflete uma estratégia adaptativa
as populações rurais que vivem na Caatinga, ambiente notavelmente sazonal. Essa estratégia
égias regenerativas. Nesse sentido, a realidade encontrada pelo presente estudo pode não ser
efeito isolado de uma coleta tradicional, mas de uma característica do recurso, no caso aspectos
ecológicos de A. colubrina, os quais permitem que a espécie tenha uma taxa de recuperação muito
maior que a taxa de exploração.
O grau de proximidade com o mercado é apontado como um dos aspectos determinantes da
sustentabilidade ou não das práticas extrativistas (ver Ghrimire et al., 2005; Botha et al., 2004; Pfab
e Scholes 2004). É possível afirmar que a coleta de A. colubrina apenas para o uso local e não para
a venda em mercados regionais, contribui para a realidade encontrada na comunidade do Carão:
ausência de evidências de uma extração insustentável.
Alguns estudos apontam estratégias para a conservação dos recursos naturais, como a
substituição do uso da casca pelo uso da folha (Zschocke et al., 2000; Botha et al., 2004) ou a
criação de plantações das espécies alvo e seu beneficiamento (Gaoue e Ticktin, 2007). Entretanto,
acredita-se que tais medidas não cabem à realidade do Carão. Primeiro, como apontado
anteriormente, apesar das folhas de A. colubrina apresentarem maior quantidade de taninos
(Montei
d
61
permite a utilização dos recursos desejados durante todo o ano e não apenas durante os poucos
meses
istir um retorno econômico. Contudo, essa proposta é reducionista,
porque limita todo o processo de extração e os valores que lhes estão atrelados apenas pela esfera
monetária, e etnocêntrica, porque assume que a sustentabilidade ambiental será alcançada pela
incorporação das populações locais nos valores e práticas da sociedade ocidental abrangente. É
preciso questionar, tendo em mente uma relação de alteridade entre as diferentes culturas, quais são
as implicações da incorporação de valores externos numa comunidade local.
Finalmente, a interpretação dos dados desse trabalho sugere que a manutenção das formas e
taxas de exploração que recaem sobre a população analisada de A. colubrina são sustentáveis, e
permitem a manutenção do estoque local dos recursos utilizados pela comunidade do Carão.
Entretanto, as projeções dos resultados oriundas da análise da estrutura populacional da A.
colubrina devem ser feitas com muita cautela, pois a análise foi baseada em apenas uma população
específica e sem intervalos temporais. Guedje et al. (2007) utilizaram a mesma ferramenta de
análise para verificar a sustentabilidade ambiental da extração de casca de Garcinia lucida Vesque e
concluíram que, apesar da distribuição diamétrica encontrada nas áreas estudadas se adequarem ao
modelo típico de populações estáveis, nenhuma perspectiva a longo prazo é passível de ser tecida se
os eventos de extração continuarem ocorrendo. A análise oferecida da estrutura populacional de A.
colubrina é uma avaliação estática e pontual do seu estado populacional. Essa avaliação sustenta
fortes inferências sobre o status da população de “angico”, mas, como afirmaram Guedje et al.
(2007), é preciso ter muita cautela em afirmações de longo prazo, especialmente tendo em mente
que os aspectos culturais de um grupo (conhecimento, manejo, formas de uso) mudam com o
tempo.
nos quais as folhas estão disponíveis. Segundo, a densidade populacional de A. colubrina na
área analisada é consideravelmente alta, não carecendo de plantio ou beneficiamento. Outra
estratégia apontada é o incentivo econômico, que parte da concepção de que as populações locais só
conservarão os recursos se ex
62
Agradecimentos
e agradecer à comunidade do Carão do município de Altinho, estado de
Os autores gostariam d
Pernambuco, Brasil, pelo carinho e gentileza na socialização dos seus conhecimentos; ao Sr. Nélson
de Alencar, Sr. Fábio José Vieira e Sra. Lucilene Lima dos Santos pela valiosa contribuição na
coleta de dados; ao CNPq pela concessão de bolsa de estudos para o primeiro autor e pelo suporte
financeiro ao segundo autor.
63
Referências Bibliográficas
Albuquerque, U. P. 2006. Re-examining hypotheses concerning the use e knowledge of medicinal
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Botanica Brasilica 14 (3): 25
67
Artigo 02
A Teoria do Forrageamento Ótimo explica a extração de (Vell.)
a, a
ento de Biologia, área de Botânica, Universidade
Anadenanthera colubrina
Brenan?
Gustavo Taboada Soldati e Ulysses Paulino de Albuquerque
a
Laboratório de Etnobotânica Aplicada, Departam
Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, CEP: 52171-900.
Recife, Pernambuco, Brasil.
68
5
Forrageamento Ótimo que prevê uma relação de custo benefício na obtenção de
rec
no corte seletivo de
são do comportamento humano ligado ao uso de recursos e deve ser entendido como um
m
Artigo 02
A Teoria do Forrageamento Ótimo explica a extração de Anadenanthera colubrina (Vell.)
Brenan?
Gustavo Taboada Soldati
a,
e Ulysses Paulino de Albuquerque
a
Resumo
A Teoria do
ursos foi utilizada para identificar possíveis padrões de mesma natureza na extração de casca e
Anadenanthera colubrina, “angico”, em uma área de Caatinga hipoxerófila.
Foram construídas hipóteses em duas abordagens: seleção das zonas de recursos a serem visitadas
nos eventos de extração, e exploração de casca em uma área reconhecida como zona de recurso. Os
resultados sugerem que a distância de cada local de coleta determina o processo de extração,
evidenciando que os moradores minimizam o tempo e a energia gasta na coleta de A. colubrina. A
disponibilidade de cada local parece não influenciar a exploração. Para a extração de casca a
variável otimizada é a quantidade do recurso. A distância dos indivíduos de “angico”, o tempo de
manejo e o teor de taninos não influenciam a extração de casca. As relações de custo/benefício
influenciam a extração de A. colubrina na realidade investigada e devem ser consideradas na
construção de estratégias para a conservação da biodiversidade local.
Palavras chave: Produtos Florestais Não-Madeireiros; Etnobotânica; Coleta de recursos;
Conservação; Semi-árido.
Introdução
Modelos ecológicos e evolutivos são utilizados em diferentes estudos sobre populações
humanas, sendo importantes na tentativa de melhor compreender os critérios de decisão nos
processos de utilização de recursos naturais e como os seres humanos ocupam o espaço que
habitam, permitindo detectar padrões e prever situações (Begossi 1993). Uma das ferramentas mais
utilizadas nos estudos de populações humanas, especialmente nos trabalhos de Ecologia Humana
(Begossi 1993), é a “Teoria do Forrageamento Ótimo”. Apesar de receber algumas críticas (Parker e
Smith 1990; Pierre e Ollason 1987; Sih e Christiensen 2001), esse modelo é valioso na
compreen
odelo analítico, ou seja, ferramenta útil para entendermos o que se passa entre homem e
natureza” (Begossi 1993).
5
Artigo com proposta de submissão para a revista Human Ecology. Normas do periódico no Anexo 02.
69
A “Teoria do Forrageamento Ótimo” assume que existe uma relação de custo/ benefício na
obtenção de qualquer recurso necessário à vida, sendo que a seleção natural favorece os
comportamentos de forrageio que otimizam o fitness da espécie (Pyke 1977; Setz 1989). A teoria
aponta que além dos atributos estruturais ou fisiológicos, os comportamentos também são
selecionados evolutivamente (Pierre e Ollason 1987; Begossi 1993; Begon 2006), sendo que a
seleção favorece o comportamento capaz de incrementar a taxa de retorno (ganho) da variável a ser
otimizada.
Existem diferentes modelos de otimização dentro da teoria que se distinguem quanto ao
pro
e Pianka (1966) é transposto para a
rea
cesso biológico abordado (ver MacArthur e Pianka 1966; Schoener 1971; Pullian 1974; Charnov
1976; Pyke 1984). MacArthur e Pianka (1966) construíram um modelo teórico na tentativa de
responder quais habitats (zonas de recursos) os forrageadores devem visitar nas atividades de
forrageio, tendo em vista que, como qualquer fator ambiental, os recursos variam quanto à sua
qualidade, abundância e distribuição espacial (MacArthur e Pianka 1966; Setz 1989). Segundo
MacArthur e Pianka (1966), as diferentes zonas de recursos podem ser ordenadas segundo a sua
produtividade (disponibilidade dos recursos) e devem ser visitadas apenas se o retorno final exceder
a perda. O modelo construído por esses autores prevê que o comportamento na utilização dos
diferentes habitats é dependente, dentre outras variáveis: da densidade do recurso, mobilidade do
forrageador e facilidade em acessar o habitat. A teoria ainda prevê que ambientes mais produtivos,
com maior biomassa de recursos, geralmente acumularão maior quantidade de consumidores
(Begon 2006). Dessa forma, quando o modelo de MacArthur
lidade das investigações etnobotânicas, espera-se que zonas de recursos mais produtivas, com
maior disponibilidade ambiental dos recursos vegetais, terão uma maior quantidade de eventos de
extração e serão mais reconhecidas localmente, recebendo, portanto, maior quantidade de citações
de uso.
Segundo MacArthur e Pianka (1966), os forrageadores gastam energia e tempo nos eventos de
obtenção de recursos; portanto, a distância a ser percorrida para se obter um recurso determina a
70
escolha do local a ser visitado. Espera-se que zonas de recursos mais próximas receberão uma maior
atenção na coleta de recursos vegetais e concentrem uma maior quantidade de eventos de extração.
Adicionalmente, o modelo entende que a obtenção de um recurso é subdividida em dois momentos
priamente dita e o seu manejo. Especificamente no momento de manejo, os
manuseio demandam mais tempo e energia (Begon 2006). Para o caso da
etnobotânica entende-se que, devido a algumas características específicas, como a presença de
espinhos e a dureza das madeira ou casca, os recursos com maior dificuldade de extração têm
potencialmente menor preferência de uso.
A partir do exposto, o presente estudo buscou avaliar se a utilização de recursos vegetais por
uma comunidade rural do agreste pernambucano segue as previsões de custo/benefício da Teoria do
Forrageamento Ótimo, tendo como foco o conhecimento e uso de Anadenanthera colubrina,
espécie de importância para as comunidades locais da Caatinga. As abordagens foram feitas em
dois níveis. Primeiro, foi analisada a utilização dos diferentes locais reconhecidos como zona de
recurso, tendo como hipóteses que: os eventos de extração de A. colubrina são dependentes de sua
densidade e distância dessas zonas. Ainda foi testado se as zonas com maior quantidade de citações
de uso são aquelas com maior densidade de A. colubrina. Segundo, foram analisados
especificamente os eventos de extração de casca, uma das partes da planta mais importante para a
comunidade estudada, em uma população específica de A. colubrina. Para essa segunda abordagem,
foi hipotetizado que a coleta de casca é dependente da distância a ser percorrida, da espessura da
casca, da dificuldade de coleta e, por fim, do teor de taninos.
Para a construção das hipóteses apresentadas, assumi-se que: a) um local de coleta é uma
determinada área reconhecida pelos moradores em um ambiente uniforme ou com modificações
contínuas ou bem delimitadas; b) em contraposição aos estudos realizados junto à animais não
humanos, as pessoas conhecem a distribuição dos recursos vegetais por eles reconhecidos; c) os
comportamentos de maior sucesso são consciente ou inconscientemente incorporados pelos
indivíduos e transmitidos aos seus pares (Martin 1983); d) dado os usos atribuídos à A. colubrina, o
distintos: a procura pro
recursos de difícil
71
retorno a ser otimizado na coleta da casca seria a concentração de taninos, que responde pela sua
atividade terapêutica (ver Monteiro et al. 2005).
Materiais e métodos
a) Área de estudo:
O estudo foi realizado no município de Altinho (8º 29' 32” S e 36º 03' 03” W), que se
localiza na região do Agreste pernambucano, Nordeste do Brasil, caracterizada pelo clima semi-
árido quente (BSh), segundo classificação de Köppen, com temperatura média anual em torno dos
23ºC e pluviosidade anual entre 300-1200 mm/ano (CONDEPE/FIDEM 2007). Altinho dista 160
Km da capital do estado e tem uma população aproximada de 22 mil habitantes, equilibradamente
distribuídos entre a zona urbana e o meio rural (CONDEPE/FIDEM 2007). A região é coberta por
uma formação vegetacional conhecida como Caatinga hipoxerófila, fortemente sazonal, caducifólia,
spinhenta e composta por diferentes fisionomias e composições florísticas.
A investigação foi conduzida na comunidade do Carão (S 8° 35’ 225’’ e W 36° 05’ 576’’),
composta basicamente por agricultores rurais que se organizam familiarmente para a produção de
“milho”, “feijão” e “palma” para forragem. Segundo os dados do posto de saúde, na comunidade
moram 189 pessoas, das quais 112 são maiores de 18 anos (67 mulheres e 45 homens). A
comunidade está distante 16 Km do centro urbano do município de Altinho, sendo o acesso difícil,
feito por estradas não pavimentadas (Araújo 2008).
A comunidade do Carão se localiza no pé de uma serra, conhecida como a “Serra do
Letreiro”, com altitude máxima de 900 metros, se apresentando como um grande mosaico de
diferentes estágios serais, tendo nas áreas de difícil acesso comunidades vegetais em estágios
avançados que, segundo os moradores, são matas que nunca sofreram intervenção humana. Em
outras localidades houve transformação da vegetação em áreas privadas para o cultivo,
e
72
especialmente “milho” e “feijão”, sendo essas chamadas de “chã da serra”
6
. A serra é uma
importante zona de recursos vegetais, especialmente árvores para construção ou fins medicinais.
Outras unidades que compõem a paisagem local e que são fonte de diferentes recursos são: “pé de
“serra”, ou “serrote”, que correspondem à base da serra, geralmente compostas por comunidades
vegetais pouco diversas, em estágios iniciais de sucessão, desencadeados pelo abandono de
pastagens ou cultivos; e, “terreno”, área ampla e particular que circunda a residência, geralmente
delimitada por cercas. Os “terrenos” são compostos pelos “pastos”, áreas destinadas à criação de
animais onde certas espécies arbóreas com importância local, como é o caso de Spondias tuberosa
Arruda e A. colubrina, são toleradas, “roçados” ou “plantação”, áreas destinadas ao cultivo de
“milho”, “feijão” e “palma”; e, “quintais”, áreas imediatamente próximas às residências (Lins-Neto
2008).
b) Levantamento etnobotânico
O presente estudo faz parte de um programa de investigações etnobotânicas desenvolvido
o, 2008; Lins Neto, 2008). Como passo
inicial
desde 2006 na comunidade do Carão (Alencar, 2008; Araúj
das atividades foi realizada uma reunião com representantes legais do município de Altinho
com a proposta de apresentar os objetivos das pesquisas e firmar uma possível parceria.
Posteriormente foi convocada uma segunda reunião tendo em vista apresentar os objetivos das
pesquisas, a dinâmica das atividades e convidar os moradores para participarem das investigações.
Os moradores que não participaram dessa reunião foram convocados em suas próprias residências.
Seguindo as determinações da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Ética, que rege sobre as
pesquisas com seres humanos, todos os informantes que aceitaram participar do estudo assinaram
um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
As informações sobre o conhecimento e uso de A. colubrina necessárias aos testes de
hipóteses foram coletadas a partir de entrevistas semi-estruturadas (Albuquerque et al. 2008),
6
Como dito anteriormente, as zonas de recurso apresentadas no primeiro artigo diferem do conjunto de zonas
apresentadas nesse texto. Essa diferenciação deve-se à tentativa de respeitar as especificidades nos objetivos de cada
artigo.
73
realizadas entre agosto de 2006 e julho de 2007. Foram entrevistados 36 homens e 65 mulheres com
idade maior que 18 anos, totalizando 101 informantes, o que perfaz 90,2% da população adulta. Os
informantes que afirmaram conhecer o “angico” foram questionados sobre seus usos, formas de
preparo e local de coleta. O total de citações em cada zona de recurso foi utilizado para testar se a
disponibilidade ambiental (densidade absoluta de A. colubrina) influencia o consenso dos
informantes em relação ao local de coleta. Em seguida, foram selecionados 15 moradores dentre os
informantes que reconheceram A. colubrina como recurso nas entrevistas iniciais, para participarem
de um segundo momento de entrevistas. Esse teve como objetivo aprofundar sobre o processo de
escolha e definição das zonas de recurso a serem visitadas para a extração do “angico”, bem como
as características observadas nos indivíduos de A. colubrina que direcionam a coleta de casca.
Dentre os 15 informantes que participaram desse segundo momento foram entrevistados
especialistas locais, ou seja, moradores reconhecidos por seus pares por deterem considerável
conhecimento sobre o uso de plantas, no caso o uso de A. colubrina.
ada zo
subdivididos
igualm
c) Disponibilidade e extração de Anadenanthera colubrina
A densidade absoluta foi utilizada como parâmetro de disponibilidade de A. colubrina em
c na de recurso reconhecida localmente. Dessa forma, foram selecionadas três zonas: “serra”,
“pé de serra” e “terreno” (Figura 3.1). Foram utilizadas diferentes ferramentas metodológicas de
amostragem vegetacional, sendo a escolha dependente das especificidades de cada área. Na “serra”,
em um local que, segundo os moradores, é pouco alterado foram alocados 180 pontos quadrantes
(Müller-Dombois e Ellenberg 1974) distantes entre si por 20 m. Esses pontos foram
ente em 9 transectos paralelos, os quais também respeitaram uma distância de 20 m. Essa
zona de recurso é de difícil acesso e dista aproximadamente 3 km do núcleo populacional. No “pé
de serra” foi selecionado um local onde cresce uma população de A. colubrina que apresentava
sinais claros de extração de casca e corte seletivo. Como esse local é fruto da desativação de uma
antiga pastagem, tendo, portanto, limites bastante definidos, todos os indivíduos de “angico” dessa
74
zona que tem uma área de 2,7 ha foram amostrados. Essa população do recurso dista cerca de 900 m
do centro da comunidade. Finalmente, foram selecionadas 10 propriedades para a análise dos seus
“terrenos”, os quais tiveram sua área registrada e todos os indivíduos de “angico” amostrados.
Figura 3.110- Croqui da comunidade do Carão, município de Altinho, PE, Brasil, evidenciando as
áreas utilizadas para estimar a disponibilidade ambiental de Anadenanthera colubrina (Vell.)
Brenan. d1 e d2 representam a subdivisão da área do “pé da serra” em dois blocos de distância
utilizados na análise do efeito da distância sobre a concentraç
ão de tanino e extração de “angico”.
A. colubrina registrou-se o seu CNS (circunferência ao nível do
olo) e
Para todos os indivíduos de
s a presença ou ausência de eventos de coleta de casca ou corte seletivo. A densidade absoluta
(número de indivíduos por hectare) foi calculada segundo Araújo e Ferraz (2008). Essas
informações de coleta foram utilizadas para testar se a disponibilidade ambiental do “angico” em
cada local de coleta determina o total absoluto e relativo dos eventos de exploração.
Para testar se a extração de casca é dependente da distância dos indivíduos, do teor de
tanino, da espessura da casca e da dificuldade de coleta considerou-se apenas a população
amostrada no “pé da serra” (Figura 3.1). A escolha dessa área se baseou na alta densidade de
indivíduos de “angico”, por pertencer a um das zonas de recursos reconhecidas localmente, ser uma
zona de uso comum, pela clara presença de eventos de coleta e, por fim, pelo fato de apenas um
75
indivíduo de A. colubrina ter sido amostrado na “serra” (o que impossibilita a modelagem aqui
proposta). Como afirmado anteriormente, todos os indivíduos presentes nessa área foram
registrados e tiveram seu CNS amostrados. Aqueles que apresentaram DAP maior que 6 cm tiveram
quatro amostras de casca obtidas em diferentes posições do caule à 2 m de altura para determinação
da espessura da casca, medida indireta da quantidade de recurso que cada indivíduo de “angico”
disponibiliza, e da sua concentração de tanino. As cascas tiveram sua espessura estimada logo após
a sua retirada, ainda no campo, com a ajuda de um paquímetro com 0,005mm de precisão e depois
foram secas em uma estufa de campo. Essas amostras de cascas secas foram utilizadas para análise
de concentração de taninos. Por fim, todos os indivíduos dessa área foram categorizados em dois
tipos: “pouco acúleo” (PA), quando apresentavam acúleos pequenos e poucos, e “muito acúleo”
(MA), quando os acúleos eram grandes e densamente distribuídos pelo caule. Segundo informações
locais existe uma preferência de coleta do tipo PA, pois a extração de sua casca é mais fácil e não
machuca a mão de quem a extrai. Nesse sentido essa categorização tem o objetivo de avaliar se a
dificuldade de coleta influencia nos eventos de extração. Amostras de diferentes indivíduos de A.
colubrina foram coletadas, herborizadas e depositadas no Herbário Professor Vasconcelos Sobrinho
(PEUFR), da Universidade Federal Rural de Pernambuco.
d) Concentração de taninos
e A. colubrina tem maior destaque pelos usos medicinais e para curtir couro
de anim
radas as
seguint
Assumindo qu
ais, pela presença de taninos nas cascas, avaliou-se a concentração (µg/µL) como uma das
variáveis a serem otimizadas no processo de extração de casca, ou seja, utilizando-a como uma
medida indireta da qualidade do recurso. Para determinar a concentração de taninos utilizou-se uma
adaptação do “Método de Difusão Radial” (Hagerman 1986). Para a construção do delineamento
amostral foram considerados três fatores. Primeiro, as classes diamétricas, tendo como objetivo
averiguar se existe relação entre a concentração e o diâmetro do indivíduo. Foram conside
es classes: 2 (3-5,99 cm); 3 (6-8,99 cm); 4 (9-11,99 cm); 5 (12-14,99 cm); 6 (15-17,99 cm);
7 (18-20,99 cm) 8 (21-23,99 cm); 9 (24-26,99 cm); 10 (27-29,99 cm). Segundo, a densidade de
76
acúleos no caule de cada indivíduo, ou seja os dois tipos PA e MA. Por fim, a última variável a ser
considerada no delineamento foi a distância dos indivíduos em relação ao acesso mais fácil da área.
Assim, para averiguar se a concentração de tanino variava com a distância a área foi subdividida em
dois blocos de 120 x 130 metros, o primeiro (d1) mais próximo e o segundo (d2) mais distante em
relação a esse acesso (Figura 3.1). Nesse sentido o delineamento amostral para a determinação da
concentração de taninos foi o de blocos casualizados em um fatorial 7x2x2, com três repetições.
Foram selecionados aleatoriamente 84 indivíduos para a análise de taninos. As suas cascas foram
trituradas para compor uma mistura heterogênea (0,050 g/mL) tendo o metanol 50% (v/v) como
solvent
e) Análise dos dados
valiar se existiam diferenças na extração de A. colubrina entre as diferentes zonas de
recurso
e. Três alíquotas de 8µL foram aplicadas em poços de 4,0 mm em uma placa de Petri. O
meio sólido que recebeu as alíquotas era composto de agarose P.A, albumina sérica bovina (BSA)
em uma solução tampão 50mM de ácido acético e 60 µM de ácido ascórbico ajustadas em pH 5.0.
Após a aplicação das alíquotas, as placas foram incubadas durante 120 horas para a formação de
halos em cada um dos poços, halos oriundos da reação “taninos-proteína bovina”. Os dois diâmetros
de cada halo necessários para determinar a concentração de taninos em cada amostra foram
estimados utilizando-se o programa Corel Draw X3 (Henery et al. 2008). A concentração de tanino
foi determinada a partir do quadrado da média dos dois diâmetros usando a seguinte curva padrão
calculada para a espécie: y = 0,8257x + 25,255; R² = 0,9946.
Para a
, o total absoluto e relativo dos eventos de corte seletivo e de extração de casca foram
comparados pelo Teste do Qui-quadrado (tabela de contingência). A “serra” foi excluída dessa
análise, pois apresentou apenas um indivíduo de “angico”, sem sinal de exploração. A distância
dessas zonas para a comunidade foi estimada com um GPS e essa informação foi utilizada para
discutir se o tempo e energia gastos influenciam a intensidade da extração de A. colubrina.
Para avaliar se haviam diferenças na extração de casca na área do “pé de serra” entre as
classes de diâmetros, o total de eventos em cada classe foi comparado utilizando-se o teste G. Foi
77
feito uma regressão polinomial para avaliar se existe uma relação entre as classes diamétricas e a
concentração de taninos nas cascas. Essa curva serviu para analisar se as classes de diâmetro com
maior freqüência de eventos de extração correspondem às classes diamétricas com maior
concentração de taninos. O total de indivíduos com sinais de extração de casca entre os dois tipos de
“angico”, MA e PA, foram comparadas pelo teste G. Assumindo que a concentração de taninos
poderia variar entre esses dois tipos de angico, o que, junto com a dificuldade de coleta, poderia
determ
tatísticos:
Bioestat (5.0) (Ayres et al. 2007) e Startgraph, versão 5.1.
Foram amostrados 119 indivíduos de A. s “ na pé da
serra ndo uma densidade absoluta de 4,33, 385,19 e 5,0 ind./ ha,
resp onib bienta lubrina contra,
portanto, no “pé da serra”. ex “terr 52,1%) ntaram
sinais de extração, sendo 18 (15,2%) com coleta de casca e 48 (40,33%) com corte seletivo. No “pé
da serr
inar a intensidade da extração de casca, o teste t foi utilizado para identificar possíveis
diferenças na concentração de taninos entre os dois tipos.
Os indivíduos de A. colubrina foram categorizados em seis classes de espessura de casca
com intervalo de 1 cm e os eventos de extração foram comparados pelo teste G. Como realizado
para a concentração de taninos, uma regressão foi feita para avaliar a relação entre a classe
diamétrica e a espessura da casca. A curva resultante foi utilizada para analisar se as classes
diamétricas com maior freqüência de coleta correspondem às classes com maiores espessuras de
casca. Finalmente, para identificar se a distância dos “angicos” em relação ao principal acesso da
área influencia nos eventos de coleta do “angico”, foi considerada novamente a categorização da
área em dois blocos de distância: d1 e d2. Os eventos de extração entre essas duas áreas foram
também comparados pelo Teste G. Todas as análises foram executadas pelos pacotes es
Resultados
colubrina no terrenos”, 1040 área do “
” e apenas um na “serra”, reporta
ectivamente (Tabela 3.1). A maior disp ilidade am l de A. co se en
Dos 119 “angicos” istentes nos enos”, 62 ( aprese
a” 73 (7,01%) indivíduos estavam explorados, dos quais 34 (3,26%) com sinais de retirada de
casca e 42 (4,03%) com corte seletivo. Um único indivíduo da serra não apresentava nenhuma
78
evidência de exploração. O total absoluto (X
2
= 5,813, p=0,0159) e relativo (proporção dos
indivíduos explorados em relação aos não explorados) (X
2
=293,97, p=0,0001) dos eventos de
extração de casca e corte seletivo foi maior nos “terrenos”, zona de coleta mais próxima que no “pé
da serra”. Esses dados sugerem que a distância das zonas de recurso determina a escolha dos locais
a serem visitados nos eventos de extração, recebendo destaque as zonas mais próximas. Nesse
sentido, a energia e o tempo gasto são minimizados nos eventos de coleta.
Os “terrenos” receberam 42 (60,86%) citações nas entrevistas, o “pé da serra” apenas uma
(1,44%) e a “serra” 26 (37,68%) (Tabela 3.1). Quando comparados os totais de citações dos dois
locais mais citados, “terreno” e da “serra”, não são reveladas diferenças (X
2
=0,0523, p=0,0689).
Nesse sentido, os “terrenos”, zonas mais próximas às residências, além de receberem maior pressão
de uso, se destacam quanto ao número de citações recebidas. O “pé da serra”, local de coleta com
maior disponibilidade de A. colubrina, não se destacou em relação ao número de citações que lhes
foram atribuídas. Contudo, em contraposição aos dados de extração, a “serra”, local de coleta mais
distante e com baixa abundância de A. colubrina, também se destacou nas entrevistas igualando-se
aos “terrenos” em número de citações. Diferentemente dos eventos de coleta, os dados das
entrevistas sugerem que a distância do local de coleta e a densidade do “angico”não determina o
reconhecimento, por parte dos moradores, de uma área enquanto zona de recurso.
coleta de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan na comunidade do Carão, Altinho, Pernambuco.
“terrenos” “pé da serra” “serra”
Tabela 3.19- Comparação entre diferentes aspectos das três zonas reconhecidas como local de
total de indivíduos amostrados 119 1040 1
densidade absoluta (ind./hectare) 4,33 385,19 5
total de indivíduos explorados (%) 62 (52,1) 73 (7,01) 0 (0)
extração de casca (%) 18 (15,2) 42 (4,03) 0 (0)
corte seletivo (%) 48 (40,33) 34 (3,26) 0 (0)
citações nas entrevistas (%) 42 (60,86) 1 (1,44) 26 (37,68)
As entrevistas realizadas com os especialistas ainda apontam algumas questões que são
levadas em conta no processo de seleção da zona de recurso a ser visitada. A questão inicial é que
79
nem sempre a coleta de recursos vegetais, como o “angico”, é independente de outras atividades. Os
moradores afirmaram que coletam A. colubrina de forma oportuna, quando estão executando outras
tarefas,
e de
rescimento muito rápido, mesmo após o corte seletivo. O reconhecimento local desse crescimento
ns entrevistados, quando um “angico” é cortado sua regeneração é bastante
rápida. Adicion te, exist cal q es e recurso,
pois, alguns s afi fin dicinais não podem ser
coletadas em u uito vistas”. Finalmente,
outra questão é a o ização política, de q e m s ado ci que não
coletam A. m det , es ialm
propriedade
Com terior te, (3, ) d 040 div os . c brin ostrados
no “pé da serra” apresentam evidências de extração de casca. Do total de “angicos”, 390 foram
classificad o tipo A dos ais 14 (3,58%) estavam explorados, e 650 foram
categorizad , tendo 0 ( 8%) om sinais de coleta. Não existe diferença entre a
proporção de indivíduos explorados e não explorados de cada tipo (X
2
=0,199, p=0,655), apesar das
entrevistas a quan ade e acú os no aule um ritér de eção. gundo os
informante ir cas o tipo “PA”, pois tem a quantidade m r de leos, seu
fuste é mais retilíneo, é mais fácil de carregar ra s s e a sai mais
facilmente. Segundo o informante que é reconhecido localmente pela atividade de curtir o couro de
como pajear o gado e capinar o roçado. Nesse sentido, as coletas de “angico” na serra,
região onde localizam-se muitas áreas de cultivo e pasto, realizam-se não por uma preferência local,
mas simplesmente pelo fato dos informantes passarem nessa zona de coleta grande parte do tempo
destinado às atividades diárias de subsistência. Alguns informantes afirmam conhecer a localização
exata dos indivíduos da região ou os locais onde abundam, sendo esse conhecimento importante na
escolha do local de coleta. Os moradores ainda afirmam que A. colubrina é uma espéci
c
rápido justifica, junto com a proximidade, a forte pressão de uso nos indivíduos que crescem nos
“terrenos”. Segundo algu
almen e uma crença lo ue influencia na colha das zonas d
informante
beiras de estrada ou locais m
rmam que as plantas utilizadas para s me
ito freqüentados, pois são “m
importante rgan des u uito mor res taram
colubrina e erminadas áreas pec ente nos “pés de serra”, por serem
s privadas
o afirmado an men 34 26% os 1 in ídu de A olu a am
os com sendo d “M ”, qu
os como “PA” 2 3,0 c
sugerirem que tid d le c é c io sel Se
s é melhor extra ca d um eno acú
em g nde quantidade su casca
80
animais, além de todas essas características, o tipo “PA” é mais fácil de trabalhar, pois a casca não
quebra durante a retirada e não machuca tanto durante o momento de triturá-la, etapas do processo.
Quando os totais dos eventos de exploração em cada classe diamétrica foram comparados,
três classes sobressaíram quanto ao número de angicos explorados: 8 (24-26,99cm), 9 (27-29,99
cm) e 11 (33-35,99 cm) (Tabela 3.2). Ou seja, os eventos de extração de casca concentram
es de diâmetro intermediárias. A Figura 3.2 ta como a espessura se comporta em relação
asses diamétricas, evidenciando uma relação r e positiva (p=0,001). Ou seja, quanto maior
sse de diâmetro, maior é a espessura da casca, e conseqüente maior quantidade de recurso
ela 3.210- Extração de casca de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan pelas classes de
etro e pelos tipo “muito acúleo” e “pouco acúleo”, em uma população do “pé da serra”,
comunidade do Carão, Altinho, Pernambuco. * Classes de diâmetro que concentram, em proporção,
os eventos de extração.
o acúleo" ouco acúleo
(PA)
s
-se nas
class
às cl
a cla
Tab
diâm
retra
linea
"p
Tipo
"muit
(MA)
"
todos indivíduo
Classe de
diâmetro (cm)
sem
sinal
com
sinal
total
sem
sinal
com
sinal
total
sem
sinal
com
sinal
total
1 (0-2,99) 15 0 15 216 0 216 231 0 231
2 (3-5,99) 69 0 69 142 1 143 211 1 212
3 (6-8,99) 86 0 86 103 0 103 189 0 189
4 (9-11,99) 66 2 68 58 1 59 124 3 127
5 (12-14,99) 51 1 52 51 2 53 102 3 105
6 (15-17,99) 33 2 35 24 2 26 57 4 61
7 (18-20,99) 16 1 17 16 4 20 32 5 37
8 (21-23,99)* 18 2 20 13 6 19 31 8 39
9 (24-26,99)* 8 1 9 4 2 6 12 3 15
10 (27-29,99) 10 0 10 1 1 2 11 1 12
11 (30-32,99)* 3 2 5 2 1 3 5 3 8
12 (33-35,99) 1 1 2 0 0 0 1 1 2
13 (36-38,99) 0 0 0 0 0 0 0 0 0
14 (39-41,99) 0 0 0 0 0 0 0 0 0
15 (42-44,99) 0 0 0 0 0 0 0 0 0
16 (45-47,99) 0 0 0 0 0 0 0 0 0
17 (48-50-99) 0 1 1 0 0 0 0 1 1
18 (51-53,99) 0 1 1 0 0 0 0 1 1
Total 376 14 390 630 20 650 1006 34 1040
81
disponibilizada pelos indivíduos de A. colubrina. Nesse sentido, tendo em mente que as maiores
classes de diâmetro são representadas por apenas quatro indivíduos, os dados sugerem que a
extração de casca no “pé de serra” fo ou seja, concentram-se nos
indivíduos que disponibilizam maior antidade pessura) casca.
ca o maior retorno de recurso,
qu (es de
0369121518
0.23
0.63
0.33
0.43
0.53
0.73
0.83
0246810
70
90
110
130
diamétricas em uma população de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan na comunidade do
diâmetros 2 (6-8,99cm) à 10 (30-32,99cm) (Y= 80.7965+15.7183* X-1.29551*X2; p=0,0001). B)
0.307286 + 0.0159271*X).
Adicionalmente, quando os indivíduos de “angico” da área são categorizados em relação à
espessura da casca e o total de eventos de extração nessas categorias é comparado, revela-se que a
maior categoria (espessura entre 6,00 e 6,99 mm)
Teor de taninos (µg/µL)
150
170
190
Figura 3.2 11- Comportamento do teor de taninos e da espessura da casca frente às classes
Carão, Altinho, Pernambuco. A) Distribuição das concentrações de taninos em relação às classes de
Relação entre espessura da casca e as classes diamétricas 2 (6-8,99cm) à 18 (54-56,99cm) (Y=
é mais explorada (p=0,005) (Tabela 3.3).
Portant
re com a espessura da casca, as classes de diâmetro que concentram os
eventos de coleta de casca não são aquelas com os maiores teores de taninos. A figura 3.2a retrata a
Classes de diâmetro Classes de diâmetro
Espessura da casca (mm)
(A)
(B)
o, os indivíduos com maior espessura de casca recebem maior atenção no momento de coleta
de casca, sendo esse parâmetro um critério utilizado na seleção dos indivíduos de A. colubrina a
serem extraídos.
Em média os indivíduos de “angico” avaliados no teste de taninos apresentam uma
concentração de 121,46 µg/µL (desvio padrão=21,90), com mínimo de 79,0 e máximo de 183,0.
Diferentemente do que ocor
82
Tabela
distribuídos em classes de espessura da mesma, em uma população do “pé da serra”, comunidade
3.311- Eventos de extração de “casca” de Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan
do Carão, Altinho, Pernambuco. s/s = sem sinal de extração; c/s = com sinais de extração.
Classes de espessura de casca
1 2 3 4 5 6
(1-1,9 mm) (2-2,9 mm) (0-0,9 mm) (4-4,9 mm) (5-5,9 mm) (6-6,9 mm) Total
sem exploração
0 45 141 88 31 6 311
com exploração
0 0 5 7 4 5 21
0 45 146 95 35 11 332
Total
ses diamétricas e a concentração de taninos. A curva polinomial calculada
videnc
a identificação local, consciente ou inconsciente, do
teor de
rtes”. Segundo
os info
relação entre as clas
e ia que o teor de taninos aumenta com o diâmetro até um ponto máximo para depois
decrescer, sendo que o pico de concentração se encontra nos indivíduos da classe diamétrica 6 (18 a
20,99 cm). Nesse sentido, as classes de diâmetro que apresentaram diferenças significativas quanto
ao número de indivíduos explorados não correspondem às classes com maiores teores de tanino
(pico de tanino), ou seja, as classes com maiores eventos de extração (8, 9 e 11) encontram-se na
faixa onde o teor de taninos decresce. Dessa forma, teor de taninos, composto químico responsável
pelas principais atividades de A. colubrina, não é otimizado durante a coleta de casca na área
avaliada. Entretanto, nas entrevistas os informantes apontam que preferem os indivíduos mais
“adultos”, das maiores classes diamétricas, pois “soltam mais tinta” e por serem “mais fortes”.
Essas características designam aqueles indivíduos de “angico” que, quando em infusão, deixam a
água escura. Essas designações refletem um
taninos existente na casca.
Assim como o total de indivíduos explorados nos dois tipos, MA e PA, a concentração de
tanino também não difere entre os tipos (p=0,4931). Essa informação parece ser reconhecida pelos
moradores, pois, apesar da preferência local de se coletar indivíduos de A. colubrina com poucos
acúleos, é quase consenso entre os informantes que os dois tipos são igualmente “fo
rmantes, os dois tipos apresentam as mesmas propriedades terapêuticas e podem ser
utilizados indistintamente.
83
Foi esperado que os “angicos” mais próximos ao principal acesso da área do “pé de serra”
apresentassem maior quantidade de eventos de coleta, posto que a sua coleta demanda menos tempo
e energia. Entretanto, não houve diferenças no total de indivíduos explorados entre os dois blocos
de distância (X
2
=0,436; p=0,5093). Nesse sentido, a coleta de casca está igualmente distribuída no
“pé da serra”, e portanto, não é influenciada pelo tempo e energia gastos durante as incursões para
extração do recurso.
Discussão
Poucas são as investigações que avaliaram a utilização de plantas tendo como base teórica a
teoria do forrageamento ótimo (Ladio e Lozada 2000; Ladio e Lozada 2004; Estomba et al. 2006),
especialmente no caso de plantas medicinais. O presente estudo revela que alguns aspectos da
extração de A. colubrina na comunidade do Carão são influenciados por características ambientais,
bem como por características específicas dos indivíduos. Para a realidade da comunidade do Carão,
as premissas de custo/ benefício na obtenção dos recursos prevista pela teoria do forrageamento
ótimo podem explicar algumas das especificidade
s no uso de A. colubrina encontradas. Os
morado
cebe uma pressão de uso atual.
res da comunidade do Carão reconhecem detalhadamente o ambiente que estão inseridos
nos eventos de coleta de A. colubrina, ao identificarem padrões de distribuição e densidade,
localizações específicas dos indivíduos de “angico” em diferentes áreas e aspectos do seu
crescimento e regeneração pós extração.
As informações de extração, especialmente dos “terrenos”, onde 52,1% dos indivíduos de
“angico” apresentavam sinais de extração, evidencia que A. colubrina é um recurso de fato
utilizado. Albuquerque (2006) afirma que nem todas as plantas conhecidas pelos informantes são
por eles utilizadas, ou seja, um recurso pode ser conhecido, mas sem sofrer pressão de uso. No caso
do Carão, o “angico” é uma planta conhecida que re
Os informantes coletam A. colubrina em três diferentes zonas de recurso, distintas quanto à
estrutura. Na realidade do Carão a distância do local de coleta determina a escolha da zona de
84
recursos a ser visitada. Os “terrenos”, locais mais próximos, concentram em números absolutos e
relativos os eventos de extração de A. colubrina em relação às outras zonas de recursos. Ladio e
Lozada (2000) estudaram o uso de plantas alimentícias por uma comunidade na Patagônia e
testaram diferentes hipóteses relacionadas ao uso ótimo desses recursos. Apesar do trabalho
apontado ter avaliado todo o conjunto de plantas reconhecidas como alimento, as autoras
encontraram uma realidade semelhante, onde a comunidade estudada também coleta os recursos em
três diferentes zonas: em uma formação florestal local, nas estepes e nas proximidades das
residências. As mesmas autoras perceberam que os moradores também extraem uma maior
porcentagem de recursos alimentícios nas proximidades das residências em relação às outras duas
zonas tidas como local de coleta. Os autores justificam esse padrão pelo fato dessas duas zonas
serem mais distantes, demandando um maior investimento de tempo e energia, e pela baixa
abundância de recursos. Assim como a abundância das plantas tidas como alimentícias, a
disponibilidade ambiental de A. colubrina não define a sua extração na comunidade do Carão.
Apesar do “pé da serra” apresentar uma densidade absoluta consideravelmente maior, essa zona de
recurso não concentra a extração de casca do caule.
Dessa forma, é possível afirmar que a distância da zona de recurso influencia a seleção do
local a ser visitado, ou seja, o tempo e a energia demandados nos eventos de coleta de A. colubrina
são, para a comunidade do Carão, duas variáveis a serem otimizadas durantes os eventos de
extração. Entretanto, dada às especificidades culturais da realidade do Carão, torna-se delicado
afirmar que a disponibilidade ambiental de A. colubrina não influencia a sua coleta. Futuros estudos
devem ser realizados para uma melhor compreensão dessa relação, ou seja, estudos que consigam
na medida do possível, compreender o como as características culturais inerentes aos grupos
humanos favorecem ou distorcem as relações de custo/ benefício na obtenção de recursos,
especialmente em um maior intervalo temporal.
Contudo, essa realidade deve ser relativizada, pois, como afirma Martin (1983), existem
dificuldades de se estabelecer o que é “ótimo” para seres humanos, pois além das suas
85
características biológicas, os grupos sociais também respondem à um sistema cultural. Nesse
sentido, Sih e Milton (1985) afirmam que a teoria do forrageamento ótimo não deve ser utilizada de
forma simplória para entender o comportamento humano sem um posicionamento crítico. Nesse
sentido, alguns aspectos culturais e sua organização política, como a posse privada da terra, podem
estar influenciando o processo de coleta da A. colubrina na comunidade do Carão, distanciando a os
dados amostrados das premissas básicas da Teoria do Forrageamento Ótimo. Ou seja, como uma
área, no caso o “pé da serra”, que apresenta uma densidade quase dez vezes maior que os outros
locais, tem apenas 7, 01% dos “angicos” explorados e foi reconhecida nas entrevistas como uma
zona r
res,
especia
ecurso por poucos moradores? A maioria das terras da comunidade do Carão são
propriedades privadas, como a própria área de “pé de serra” analisada. Apesar de diferentes pessoas
acessarem essa área para a extração de A. colubrina, alguns moradores preferem coletar esse
recurso em suas propriedades ou não informam que visitam essa área. Ou seja, devido à posse
privada das terras mesmo a disponibilidade ambiental dessa zona não determina a utilização desse
local de coleta, nem o seu reconhecimento local.
As informações relativas à “serra” à priori também contrastam com as premissas “ótimas”,
ou seja, mesmo sendo a zona mais distante e com menor densidade, a “serra” foi amplamente citada
como um local de coleta por muitos moradores? Primeiro pelo fato de muitos morado
lmente homens, trabalharem diariamente no alto da “serra” nas suas respectivas áreas de
cultivo. Segundo, o reconhecimento da “serra” é um resquício de explorações passadas. De
qualquer forma, as especificidade culturais da comunidade do Carão podem influenciar a extração
do “angico”, distanciando em princípio das previsões do modelo ótimo. Entretanto, isso não
significa dizer que na comunidade analisada a coleta não é “ótima”, pois como afirma Martin
(1983), os “ótimos” em populações humanas ocorrem mesmo dentro das especificidades culturais.
Para o Carão isso é explicitado, como exemplo, pela coleta preferencial nos “terrenos”.
Tendo em vista que a distância das zonas de recursos influenciam a extração, que a zona
mais demandada, os “terrenos”, tem relativamente baixa densidade, mas ainda consegue atender à
86
demanda local, os dados sugerem que a estratégia utilizada pelos moradores na exploração de A.
colubrina tenta reduzir o tempo de coleta. Em outras palavras, dentro de uma perspectiva da Teoria
do Forrageamento Ótimo, nos eventos de coleta de “angico” os moradores otimizam o retorno
reduzin
o, o teor de taninos também não varia entre os dois tipos morfológicos de A. colubrina.
teor de taninos não parece ser um critério de seleção do indivíduo de “angico” a ter sua
uos com maiores teores de tanino, composto responsável pelas
propriedades terapêuticas de A. colubrina. Entretanto, as classes de diâmetro com maiores eventos
de extração maiores teores de ta maior
exploração cor es com ma ras de casca. Nesse sentido,
os dados apo s o onibi a indivíduo de
“angico” (espe a, pois o mesmo não ocorre com a c .
A distância a e cada indivíduo e o principal acesso da área, medida indireta do
do o tempo de busca da exploração e, conseqüentemente, a energia gasta, ao invés de
otimizarem a quantidade coletada. Essa estratégia pode ser reflexo dos principais usos de A.
colubrina, como a produção de infusões medicinais. Para tal uso não é necessário uma grande
quantidade de casca, mas sim um volume relativamente pequeno, uma quantidade mínima, cerca de
200 g.
Quanto à coleta específica de casca no “pé da serra” os dados sugerem que não existe uma
coleta diferencial entre os tipos “pouco acúleo” (PA) e “muito acúleo” (MA). Os informantes
afirmaram nas entrevistas que a coleta de indivíduos do tipo MA, ou seja com acúleos grandes e
bastante densos, dificulta a extração, machuca a mão do coletor e causa injúrias quando se
transporta grande volume de casca na cabeça. Nesse sentido, como os modelos teóricos apontam
que os recursos de fácil manejo recebem maior atenção, foi esperado que a dificuldade de coleta
influenciasse nos eventos de extração. Os modelos ainda prevêem que um recurso de difícil manejo
será explorado apenas se o retorno compensar a energia e o tempo gasto. Entretanto, como
apontad
O
casca explorada. A hipótese inicial era que, por critérios conscientes ou não, os moradores
explorassem a casca dos indivíd
não corresponderam às classes com ninos. Essas classes com
respondem, no entanto, às class iores espessu
ntam que para a coleta de casca apena volume disp lizado por cad
ssura da casca) é otimizad oncentração de taninos
ser percorrida entr
87
tempo e energia demandados, também não influencia a extração. Esse resultado deve-se
possiv
compreender como uma comunidade rural em um ambiente semi-árido ocupa e utiliza seus
recursos. A utilização das ferramentas ditas “ótimas” permitiu reconhecer variáveis que são
otimizadas nos eventos de extração, sendo que as duas abordagens e as diferentes variáveis
analisadas nesse estudo estão sumarizadas na tabela 3.4. No processo de seleção das zonas de
recursos os moradores buscam reduzir o tempo de extração e a energia gasta, focando zonas
próximas. A estrutura fundiária e certos costumes locais também influenciam a seleção da zona de
recurso, entretanto a disponibilidade ambiental de A. colubrina em cada área parece não influenciar
a escolha. Especificamente para os eventos de extração de casca a quantidade da casca é uma
variável otimizada, entretanto a coleta não otimiza o teor de taninos. A distância a ser percorrida
durante a coleta, bem como o tempo de manejo parecem não influenciar as práticas de extração de
casca.
Tabela 3.412 - Sumarização das duas abordagens construídas a partir da Teoria do Forrageamento
Ótimo e suas respectivas variáveis analisadas na compreensão dos padrões de extração de
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan na comunidade do Carão, Altinho, Pernambuco. (+) =
otimizada; (0) = sem otimização.
Abordagem
elmente pela área analisada ser pequena para avaliar a influência da distância ou pela
existência de outros pontos de acesso.
A presente investigação teve como proposta básica identificar se a coleta de A. colubrina,
segue as previsões da teoria do Forrageamento Ótimo, e identificar quais seriam as variáveis que
estão sendo otimizadas. Diferentes hipóteses foram construídas a partir do modelo base para melhor
variáveis analisadas
Seleção das zonas de recurso
extração
citações de uso
disponibilidade de A. colubrina 0 0
Distância + 0
Extração de casca no "pé da serra"
extração
entrevistas
concentração de tanino 0 +
distância dos indivíduos 0 +
classe diamétrica + +
dificuldade de coleta (acúleos) 0 +
88
Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer à comunidade do Carão do município de Altinho, estado de
idade Federal de Pernambuco) por ceder a estrutura do Laboratório de
So
análise dos dados; à Patrícia Muniz pelo auxílio durante as análises dos dados; e ao CNPq pela
Pernambuco, Brasil, pelo carinho e gentileza na socialização dos seus conhecimentos; à Prof
a
. Elba
cia C. Amorim (Univers
Produtos Naturais (LAPRONAT); ao Sr. Nélson de Alencar, Sr. Fábio José Vieira, Sr. Tadeu
brinho, Sr
a
. Lucilene Lima dos Santos e Sr
a
. Daniela Cabral pela valiosa contribuição na coleta e
concessão de bolsa de estudos para o primeiro autor e pelo suporte financeiro ao segundo autor.
89
eferências Bibliográficas R
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91
Conclusões Finais
O presente trabalho teve como objetivos principais refletir sobre o conceito de Produtos
Florestais Não-Madeireiros (PFNM) e realizar um estudo de caso: a extração de Anadenanthera
colubrina (Vell.) Brenan, “angico”, em uma comunidade rural do Agreste pernambucano. A partir
dos esforços em responder as perguntas levantadas pelo presente estudo, é possível apontar algumas
considerações finais e questionamentos para futuros estudos.
Os dados aqui apresentados apontam que o “angico” é de fato uma espécie reconhecida
pelas comunidades da Caatinga e bastante versátil, com muitos usos atribuídos, tendo destaque as
propriedades terapêuticas. Na comunidade do Carão, as citações de conhecimento não representam
o uso propriamente dito, ou seja, os dados corroboram os achados de alguns recentes estudos sobre
a validade e limitação das metodologias utilizadas pela etnobotânica de que não existe uma relação
direta entre uso e conhecimento. Mesmo não existindo essa relação no Carão, a comunidade utiliza
A. colubrina para os diversos usos que os moradores lhes atribuem, exercendo, portanto, pressão
nas popu
ões que trazem junto de si uma relação
de custo enefício. Nesse sentido, a distância das zonas de recursos influencia a seleção da zona a
ser visitada, o mesmo não ocorrendo com a disponibilidade ambiental do “angico”. Além dessas
duas variáveis ambientais, os dados sugerem que algumas especificidades culturais, como a
organização fundiária e certas crenças também influenciam a seleção da zona de recurso a ser
isitada. Entretanto, a distância e a disponibilidade de A. colubrina em cada área não influenciam
o seu reconhecimento enquanto uma zona de recurso. Já para a extração de casca, em uma
opulação específica do “pé da serra”, apenas a espessura da casa parece influenciar os eventos de
xtração, o que não ocorre com a distância a ser percorrida (energia gasta), presença de acúleos
ificuldade de coleta) e o diâmetro do indivíduo (volume disponível).
O presente trabalho analisou parte da dinâmica de utilização de apenas uma espécie e
verificou que a extração é dependente de um número grande de variáveis culturais e ambientais,
tornando o cenário de utilização de PFNM bastante complexo. No caso avaliado, o “angico” é
explorado tanto em formações florestais como não florestais, sendo essa atividade dependente de
crenças locais, dinâmica de utilização do espaço e organização política da comunidade.
Tendo em mente a realidade estudada, conclui-se que o conceito de PFNM é bastante útil
em determinados contextos, como em tentativas de fortalecer, valorizar e sensibilizar para a
lações naturais. Contudo, a análise de uma população alvo de coleta evidencia que não
existem indícios para uma coleta insustentável.
A utilização de ferramentas ecológicas, no caso a Teoria do Forrageamento Ótimo,
permitiu reconhecer padrões nesses eventos de coleta, padr
/ b
v
n
p
e
(d
92
existência de recursos vegetais, que não a madeira, existentes nas formações florestais.
esse conceito pode ser muito bem empregado em ações que tenham como foco
apenas as espécies frut ão
exemplos dessas ações: a elabo o a definição do
conjunto de recursos passíveis de
de recursos vegetais,
assim
expl
er respostas às perguntas elaboradas.
jo e conservação da
biod
Adicionalmente,
os da exploração, excluind se todo o contexto cultural de sua utilização. S
ração de estratégias de utilização de florestas, com
o-
serem explorados em reservas extrativistas. Entretanto, o conceito
de PFNM pode não incluir toda a complexidade das atividades exploratórias, especialmente em
comunidades locais, sendo, portanto, carente quando é necessário considerar todo o contexto das
práticas extrativistas, como as variáveis culturais associadas e os padrões locais de uso.
O presente estudo é um exemplo positivo da utilização de ferramentas ecológicas, no caso
a Teoria do Forrageamento Ótimo, para compreender o uso de recursos por populações humanas,
identificando relações de custo/ benefício durante os eventos de extração
como, variáveis que influenciam essa atividade. Entretanto, novamente dada à complexidade
da realidade estudada, conclui-se que essa teoria explica apenas uma parte do processo de
oração, sendo necessário, portanto, uma análise criteriosa para identificar os limites nos quais
ela pode oferec
Finalmente, as especificidades reveladas pelo presente estudo permitem melhor
compreender como populações locais se apropriam dos recursos naturais locais. Os resultados aqui
apresentados podem contribuir para a concepção de estratégias de mane
iversidade que mais se aproximem da realidade local.
93
ANEXO 01:
of Style, 13th or 14th editions,
The
longer included in the abstract. THE USE OF LARGE CAP
SMA
margin should not be justified.
; enclose
in si
gule sources in studies of infra-specific variation or similar research. Plant binomials in the
text
re
(fou
Not more than 150 words, in English, at the
beginning of the article. A translation of the English abstract, in French, German, Portuguese,
Economic Botany Manuscript Requirements
The Council of Biological Editors Style Manual 5th ed. is the primary reference used in setting
the standards for the preparation of Economic Botany publications. The format and style of
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the most recent issues of Economic Botany. The Chicago Manual
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Note that there were significant changes in formatting, especially of the abstract, commencing
with volume 61, in 2007. Please examine a recent issue to see these changes. Note that author
affiliations, and publication data, are no
LL CAP TEXT FONT HAS BEEN SIGNIFICANTLY CURTAILED.
English Language: Authors not fluent in English should have their paper read by a botanical
colleague who is fluent in English. Non-English abstracts should be reviewed and corrected by a
botanical colleague who is fluent in that language.
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Use a 12 point font size for all text. Manuscripts must conform to the practices illustrated by the
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Page Numbering: Number the pages consecutively in the upper right margin.
Line Numbering: Number the lines consecutively throughout the entire manuscript.
Scientific Names: Type all plant binomials in italics, followed by the authority’s name (or
abbreviation) in roman type. Authors names for binomials should be included the first time the
binomial appears in the text, or in a table, title or abstract. Cultivar names are not italicized
ngle quotes (Zea mays ‘Silver Queen’) or use “cv.” (Zea mays cv. Silver Queen).
Reference to Herbarium Vouchers
References to plants other than the most widely recognized species must be documented by
reference to herbarium vouchers. Follow standard practice, i.e., use the collector's name(s), the
collection number, and the acronym for the herbarium of deposit following Index Herbariorum, ed.
8 (e.g., Smith 15467 TEX). Even well-known plants should be documented by herbarium vouchers
or propa
and tables should appear in italic type.
Latin words and abbreviations: Underline (or italicize) common Latin words and phrases such
as et al., in situ, etc.
Numbers: In the text, spell out one-digit numbers unless they are used with units of measu
r oranges, 4 cm) and use numerals for larger numbers, e.g., 10; 9,000; 40,000; 1,100,200. Do
not begin sentences with an abbreviation or numeral.
Footnotes: Use only “date submitted and date accepted,” and for tables.
Abstract (required only for research articles):
94
95
Rus
Reduction of
illus
hem to
the editor’s attention when the article has been accepted. The best covers show both plants AND
names of both.
ry – graphs, photographs, line drawings – must be provided in appropriate
digi raphs must be provided (preferably in TIFF file), at a minimum resolution of
300
to submit computer
generated images, like HPLC diagrams. Note that it is extremely difficult to get images with this
resolution from many standard computer software programs, like Excel. These systems are
These images are not suitable for printing. Line drawings (of plant parts, for example)
shou
high resolutions make large files;
lower re
Place these on a single page following “Literature Cited.” Captions should be
double-spaced and in numerical order.
bles
should not be included within the body of the text but arranged in numerical order at the end of the
pape
se are
very ce and funds. Such appendices will only be included in a paper if they are
essential to the scientific argument in the paper. If it is possible to read and understand the paper
with
author(s) and date (e.g., Jones 1970) if you are writing a research article. Multiple citations should
be in alphabetical order (e.g., Adams 1987; Martin 1922; Roberts 1949; Zimmerman 1813). For
publications e each author; more than three authors, use (first author et al.,
date). A work “in press” is designated (author, n.d.). Journal titles should NOT be abbreviated.
Each entry must be cited in the text - and vice versa. Check spelling and dates in literature cited
and text to be certain that they agree. Check spelling and diacritical marks of names and titles;
verify dates, volume numbers, and inclusive pagination. “In press” means accepted; in place of date
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face, in the appropriate language.
Figures or Illustrations: The number of figures should be in a reasonable proportion to the
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appendices listing hundreds of plants used by some group of people. While interesting, the
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(e.g., Adams 1987; Ma citations of the same
author, in chronological order. For publications by 1-3 authors, name each author; more than three
(first author, et al. date). Unpublished references should be used only if a reader, with
reas
sus. Economic Botany 44:369-381.
an
reprint:
l. 1989. Domestication of the Southwest Asian Neolithic crop assemblage of
tead of a date for submitted, accepted and “in press” references.
nd Elvin-Lewis 1977: 434); multiple citations should b
rtin 1922; Roberts 1949; Zimmermann 1813); multiple
authors, use
onable effort, can obtain a copy. Reference to manuscripts which have not yet been published
but which have been accepted for publication are "in press"). Use "n.d." for the date.
While all scholarship is based on work done earlier, and this must be recognized, remember the
point of using references is to facilitate the understanding of the reader. It is not necessary to cite
references for well known facts [“The United States of America, located on the North American
continent (Smith, 2004)] For lesser known facts, it is usually sufficient to cite one source, not three
or four. Authors of papers with excessive citation will be asked to trim their bibliographies.
Typical citations
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Unpublished references: Avoid use if possible, but use only if a reader, with reasonable effort,
can obtain a copy. Reference to manuscripts which have been submitted for publication should be
designated “submitted” or “accepted” but not “in press” until the volume and issue of the accepting
journal can be given; use “n.d.” ins
Revised March 2007
96
97
ANEXO 02:
Human Ecology Manuscript Requirements
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currently under consideration for publication elsewhere. A statement transferring copyright from the
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General
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A list of 45 key words is to be provided directly below the abstract. Key words should express
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98
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