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mecanismos de sobrevivência, muito além do alfabeto. Vemos hoje que a escola já
faz uma diferença entre letramento e alfabetização. Letramento é a capacidade que
um cidadão tem de resolver sua vida diária: ler o número do ônibus, ler o nome de
um determinado remédio, desenhar o próprio nome, tudo isso para resolver-se na
vida (Marcuschi, 2002). Já a alfabetização é enfocada por Soares (2003:16) sob
vários pontos, entre eles a “aquisição e apropriação do sistema da escrita, alfabético
e ortográfico”.
O desafio, portanto, seria a mudança total, radical, dessa visão limitadora, de
início pelo próprio professor até chegar a sociedade como um todo.
Aparecida, a mãe de Felipe, posicionou-se da seguinte maneira:
Ele leva, às vezes, atividades da escola para fazer em casa. Esse ano não
sei o que aconteceu: se foi ele ou a professora. Este ano ele não está muito
bem na escola, não. No ano passado, ele estava escrevendo, já escrevia
bilhetinho. Neste ano, ele parou de escrever e quer mais é fazer rabisco,
cobrinha... Desinteressou. Não sei se é porque a matéria está ficando mais
difícil. No início eu achava que era a professora, mas ela mudou bastante,
conversei bastante com ela. Agora, no final do ano, começou de novo,
cobrinha. Não sei se é preguiça, ele sabe escrever todo o ABCD: você
escreve alguma coisa e vai ditando as letras, ele escreve tudo. Mas o
Felipe, eu não entendo não, às vezes ele sabe, daí a pouco, ele já não
sabe. Não sei se é preguiça. Ele é assim: se trouxer um DVD uma coisa
assim, ele pára tudo. Daí a pouco, ele assiste o Chaves e DVD evangélico,
ele gosta muito daquelas musicas. Se ele estiver interessado naquilo ali, ele
vai embora.
Claudia, a mãe de Marina, afirmou:
Hoje ela é diferente, levo- a para o catecismo, para a igreja, para a natação,
largo lá. Ela faz a natação tranquila. Eu não me preocupo. Tem ballet, mas
eu não fico mais assistindo, eu largo lá, a aula é dela e dos professores. Ela
apresentava muito problema de fala, melhorou. Melhorou a parte social
dela, a aceitação, agora se mistura com as pessoas, porque ela era muito
agarradinha comigo. Ela ganhou aquele espaço, conquistou a escola do
zelador ao diretor, muito bom. Ela se desenvolveu, agora mexe, coloca um
CD que quer, troca, pula a música, mexe no telefone, sabe achar o nosso
número para ligar. Adora dançar, faz parte de peças de teatro, de
apresentação, do ballet. Ela faz integralmente cada passo, cada
apresentação. Já fez o nome dela.
A educação formal é de suma importância para as crianças em idade escolar,
e isto já foi apreendido pelas mães. No relato de Claudia percebemos que a mesma
já confia no espaço (escolar e social) o qual Marina freqüenta, relatando também a
despeito do seu perceptível avanço no aspecto social e cognitivo. Nesse contexto
Brandão (1986) colabora apontando que: