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Percebe-se um jogo prazeroso ao explorar os sons com lábios
e língua. Esse jogo sensorial cria uma sequência de sons uni-
formes, numa altura media sem grandes mudanças (dó cen-
tral), salvo em algum momento em que aumenta a velocidade,
a intensidade e a altura, voltando ao mesmo tipo de produção
inicial (com troca de fonemas). Integram-se à composição
sons relacionados com as funções fisiológicas (respiração, ri-
sos). Em determinado momento, inclui também a palavra.
(JURADO B2, canto 24)
É interessante observar o fato de que a criança, ao cantar uma
canção em que se vale de dois recursos (a repetição de síla-
bas e a apresentação de um pequeno texto), comportando-se
de maneira distinta em cada um deles, criando dois territórios,
que se fundem no todo da canção. Quando canta sílabas, seja
na introdução, seja na parte que se segue ao texto, ela parece
cuidar mais da questão “musical” em si mesma, atentando pa-
ra a realização de contornos melódicos mais definidos, mais
próximos do sistema harmônico-tonal. Ela começa apresen-
tando as notas da tríade maior no “lalululalá”, finalizando com
o quarto grau em lalalalu (3/1/3/4). Quando começa o texto (A
bruxa....), a criança parece se permitir vôos mais amplos, liber-
tando-se, de certo modo, de estruturas reconhecidas. Seu can-
to flui, guiado por sensações, com uma carga expressiva mais
forte, carregada, inclusive, de senso de humor (ao que pare-
ce!). O tempo flui não-métricamente, tempo vivencial, acom-
panhando as inflexões da fala, que ela exagera, acelerando ou
estancando em uma ou outra palavra (a bruuuxa, por ex).
(JURADO E1, canto 28)
Improviso, fluxo espontâneo de fonemas, com exploração da
linearidade em fragmentos melódicos, até metade da peca
praticamente sem respiração (resultado de sua curiosidade e
envolvimento interpretativos) A partir da metade, aproximada-
mente, as respirações se impõem e os silêncios estruturam
sentidos melódicos mais definidos, com reiteração de figuras
em variação (tendência descendente). Ao final restrição dos
materiais fonéticos a “Du la du”, quase como marca de esgo-
tamento no uso poético dos recursos mediante breve silencio e
bloco de encerramento, que para mostrar-se inequívoco é pon-
tuado verbalmente: “Fim !”. (JURADO C2, canto 40)
A língua inventada progride com o fraseado, modificando-se
gradualmente. (JURADO D2, canto 40)
Categoria Influências Sócioculturais Específicas
:
delineada pelos padrões
“trechos de canções conhecidas, letras que falam do cotidiano ou do imaginário