Download PDF
ads:
I
FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ
UNIVERSIDADE DE FORTALEZA UNIFOR
VICE-REITORIA DE PESQUISA E S-GRADUAÇÃO VRPPG
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CCS
MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA
QUALIDADE DE VIDA DE CRIAAS COM ATROFIA
MUSCULAR ESPINHAL
MARIA IRACEMA CAPISTRANO BEZERRA
FORTALEZA CE
2008
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
MARIA IRACEMA CAPISTRANO BEZERRA
QUALIDADE DE VIDA DE CRIANÇAS COM ATROFIA MUSCULAR
ESPINHAL
Dissertão apresentada ao Curso de Mestrado em
Saúde Coletiva da Universidade de Fortaleza como
requisito parcial para obtenção do Título de Mestre
em Saúde Coletiva.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª María Teresa Moreno Valdés
Co-orientadora: Prof.
a
Dr.
a
Fátima Luna Pinheiro Landim
FORTALEZA CE
2008
ads:
2
3
Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas
vezes, mas não esqueço de que a minha vida é a maior
empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos
os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um
autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas
ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É
agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber
falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um não. É ter
segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta
Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um
castelo.
Fernando Pessoa
4
Para minha filha Maria Beatriz,
razão do meu viver.
5
AGRADECIMENTOS
A Deus pelo dom da vida e da sabedoria.
À minha família, em especial aos meus pais Aluísio e Aldênia, por terem sido instrumentos de
Deus para me proporcionar a vida e pelo apoio incondicional que sempre me dispõem.
À minha querida filha Maria Beatriz, que mesmo muito pequena soube compreender minhas
ausências e que com sua alegria sempre me faz feliz;
À minha querida orientadora Dra. María Teresa Moreno Valdés Maitê, exemplo de vida,
garra e determinão, que acreditou em mim, mostrou-me que tenho potencial para crescer a
cada dia e que se tornou uma amiga com a qual sempre poderei contar;
À Profa. Dra. Fátima Luna Pinheiro Landim que tão bem me recebeu nos últimos meses,
orientando-me na análise dos dados qualitativos;
Ao Prof. Dr. Marcelo Luiz Carvalho Gonçalves, por sua amizade e auxílio nas análises
quantitativas;
Aos demais professores do Mestrado em Saúde Coletiva que em muito contribuíram para
minha formão;
Aos funcionários do Mestrado em Saúde Coletiva: Cleide, Abreu, Marciliano, Tânia, Vitor e
Widson pela disponibilidade de sempre me atender prontamente;
Aos meus colegas de turma que juntos caminharam comigo nesta conquista, em especial às
minhas amigas Ana Luíza Campos, Juliana Guimarães, Marlucilena Pinheiro, Adryana
Gurgel, que foram companheiras em todos os momentos, dividindo comigo as dificuldades e
glórias durante todo o curso do Mestrado;
À Cláudia Viot, minha companheira na coleta de dados, que por sua força de vontade e
determinação tem sido exemplo de vida para mim;
6
À amiga Itana Lisane Spinato por ter sido a grande incentivadora para que eu ingressasse no
Mestrado em Saúde Coletiva;
À Egmar Longo Araújo de Melo por suas idéias e palavras de incentivo;
Ao Dr. Daniel de Paula Lima e Oliveira Lopes e à Dra. Marilene Calderaro da Silva Munguba
pela disponibilidade de participar da banca examinadora e colaborarem na construção deste
estudo;
À Associação Brasileira de Amiotrofia Espinhal (ABRAME) e ao Hospital Infantil Albert
Sabin (HIAS) por serem parceiros neste projeto;
Às famílias das crianças que tão bem nos receberam e colaboraram para a realização desta
pesquisa;
À Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Cienfico e Tecnológico (FUNCAP)
pelo apoio financeiro;
Enfim, a todos aqueles que de algum modo me apoiaram e colaboraram para a realizão
deste estudo.
7
RESUMO
A atrofia muscular espinhal (AME) é uma doença neuromuscular autossômica recessiva que
se apresenta sob quatro formas distintas de manifestação clínica: tipo I atrofia muscular
espinhal progressiva (doença de Werdnig Hoffmann); tipo II atrofia muscular espinhal na
forma intermediária; tipo III atrofia muscular espinhal juvenil (doença de Kugelberg
Welander); tipo IV atrofia muscular espinhal forma adulta. As crianças acometidas pelos
tipos I e II apresentam sérios comprometimentos motores e respiratórios; deste modo, é
possível se imaginar uma baixa qualidade de vida (QV) destas crianças. Esta pesquisa teve
por objetivo investigar a QV de crianças com AME tipo I e II na visão das mesmas e na de
seus cuidadores principais. Participaram deste estudo 12 díades cuidador principal/crianças
com AME tipo I e II cadastradas pela Associação Brasileira de Amiotrofia Espinhal
(ABRAME) e com a patologia diagnosticada através de exame de DNA. Trata-se de uma
pesquisa multimetodológica, desenvolvida no período de fevereiro a agosto de 2008 e que
teve como instrumentos de coleta de dados: um instrumento de avaliação de qualidade de vida
relacionada à saúde (QVRS) validado no Brasil para ser utilizado com crianças PedsQL
TM
4.0, uma ficha sociodemográfica e roteiros de entrevistas. Estes instrumentos tiveram como
base teórica de fundamentação os domínios e indicadores de QV na infância propostos por
Sabeh, Verdugo e Prieto (2006). A idade média das crianças foi de 5,7 anos e o cuidador
principal foi, em todos os casos, as mães das mesmas. A utilização de instrumentos que
explorassem a subjetividade dos participantes possibilitou uma maior aproximação da
realidade do que a criança e suas mães consideram como sendo uma vida boa. Os dados
qualitativos foram analisados segundo a Análise de Conteúdo de Bardin e foi realizada uma
análise descritiva dos dados quantitativos, os quais apoiaram a análise qualitativa. Os
resultados evidenciaram boa QV tanto na percepção das crianças como na de suas mães. As
falas das mães e também as das crianças demonstram que estas têm bem-estar emocional
preservado, achado este confirmado pelo resultado do PedsQL
TM
no qual obteve escore médio
de 70,6. O domínio relações interpessoais apresentou bom resultado tanto na fala das mães
quanto na das crianças, o escore médio obtido no PedsQL
TM
para este aspecto foi de 76,7. O
domínio bem-estar físico foi o que apresentou maiores contradições nas falas das mães e o
que obteve pior resultado no PedsQL
TM
(escore médio 24,7), isto é justificado pelos graves
comprometimentos motores e respiratórios que as crianças apresentam, contudo não provocou
reflexo negativo nos outros domínios. No domínio desenvolvimento pessoal e atividades foi
explorado o indicador atividades escolares; as falas das mães e das crianças referem-se a um
bom desenvolvimento neste aspecto. Os resultados do PedsQL
TM
para este aspecto foram:
para crianças de 2 a 4 anos o escore médio foi de 55,6 e para os participantes acima de 5 anos
foi de 94. O domínio bem-estar material foi verificado pela ficha sociodemográfica e pela fala
das crianças, as quais demonstraram resultado positivo para este aspecto. É importante
salientar que em todos os aspectos houve concordância entre as falas das mães e das crianças.
Os achados desta pesquisa possibilitaram conhecer as percepções de QV de crianças com uma
doença crônica que acarreta grandes perdas do ponto de vista motor e respiratório, assim
como as percepções de suas mães a este respeito. Isto poderá servir de subsídio para a
formulação de estratégias de saúde direcionadas para uma vida de qualidade para estas
crianças em consonância com o princípio da eidade do Sistema Único de Saúde (SUS), com
a Política Nacional de Saúde da Pessoa Portadora de Deficiência e a aproximação dos desejos
das crianças em realidade.
Palavras-chave: Atrofia Muscular Espinhal; Qualidade de Vida; Criança.
8
ABSTRACT
Spinal muscular atrophy (SMA) is an autosomal recessive neuromuscular disease that can
express itself as four distinct clinical manifestations: type I progressive spinal muscular
atrophy (Werdnig-Hoffmann disease); type II intermediate spinal muscular atrophy; type III
juvenile spinal muscular atrophy (Kugelberg-Welander disease); type IV adult spinal
muscular atrophy. The children affected by types I and II present with motor and respiratory
impairment, resulting in low quality of life (QOL). The aim of this study was to investigate
the QOL of children with SMA type I and II from their own perspective and from that of their
main caregivers. In total, 12 main caregiver/children pairs with SMA type I and II, registered
by the Brazilian Association of Spinal Amyotrophy (ABRAME), and with the pathology
diagnosed through DNA analysis, took part in the research. This multimethodological study,
conducted between february and august 2008, used the following data collection instruments:
a health-related quality of life (HRQol) instrument validated in Brazil for use in children,
PedsQL
TM
4.0; a sociodemographic chart and a series of interviews. These instruments
contained the domains and indicators of childhood QOL proposed by Sabeh, Verdugo and
Prieto (2006). The mean age of the children was 5.7 years and the main caregiver in each case
was the childs mother. The use of instruments that explored the subjectivity of the
participants enabled a closer approximation to what the children and their mothers believed to
be a good life. The qualitative data were analyzed according to Bardins content analysis and
a descriptive analysis of the quantitative data to support the qualitative analysis was also
performed. The results showed good QOL, from the perspective of both the children and their
mothers. The discourses of both the children and their mothers demonstrate that the emotional
well-being of the latter is preserved, a finding confirmed by the result of the PedsQL
TM
, on
which a mean score of 76.7 was obtained. Physical well-being domain showed the greatest
contradictions in the mothers discourses, obtaining the worst result on the PedsQL
TM
(mean
score of 24.7). This can be explained by the serious motor and respiratory impairments that
the children display; however, it did not have a negative impact on the other domains. In the
personal development and activities domain the school activities indicator was explored; the
discourses of the mothers and of the children indicate good development of this aspect. The
results of PedsQL
TM
for this item were: for children between 2 and 4 years of age the mean
score was 55.6 and for those over 5 years of age it was 94. The material well-being domain
was determined by the sociodemographic chart and by the childrens discourses, showing a
positive result for this aspect. It is important to point out that there was agreement in all the
domains between the discourses of the mothers and of the children. The findings of this study
revealed the QOL perceptions of children with a chronic disease that causes significant motor
and respiratory impairment, as well as the perceptions of their mothers. This may serve to
assist in developing health strategies aimed at an improved quality of life for these children in
accordance with the principle of equity proclaimed by the National Health System (SUS) in
the National Health Policy of Persons with Deficiency and with the actual desires of the
children themselves.
Keywords: Spinal Muscular Atrophy; Quality of Life; Child
9
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Descrição das crianças........................................................................................41
Tabela 2 Valores dos escores do PedsQL
TM
segundo os domínios de qualidade de vida ...44
Tabela 3 Freqüência dos escores obtidos da capacidade física...........................................45
Tabela 4 Freqüência dos escores obtidos do aspecto emocional.........................................45
Tabela 5 Freqüência dos escores obtidos do aspecto social................................................46
Tabela 6 Freqüência dos escores obtidos do aspecto escolar em crianças de 2 a 4 anos .....47
Tabela 7 Freqüência dos escores obtidos do aspecto escolar dos participantes acima de 5
anos.....................................................................................................................................47
10
LISTA DE SIGLAS
AACD Associação de Assistência à Criança Deficiente
ABRAME Associão Brasileira de Amiotrofia Espinhal
AME Atrofia Muscular Espinhal
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
AUQEI Autoquestionarie de Vie Qualité Enfant Imagé
CEGH-USP Centro de Estudos do Genoma Humano, na Universidade de São Paulo
CIF Classificão Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde
CONEP Comissão Nacional de Ética em Pesquisas
DMD Distrofia Muscular Progressiva do tipo Duchenne
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
HIAS Hospital Infantil Albert Sabin
NMI Neurônio Motor Inferior
OMS Organização Mundial de Saúde
ONG Organização Não-Governamental
PAVD Programa de Assistência Ventilatória Domiciliar
PC Paralisia Cerebral
PedsQL
TM
Pediatric Quality of Life Inventory
TM
QV Qualidade de Vida
QVRS Qualidade de Vida Relacionada à Saúde
SEDUC Secretaria da Educação Básica do Estado do Ceará
SESA Secretaria da Saúde do Estado do Ceará
SMN Survival Motor Neuron
SUS Sistema Único de Saúde
UNIFOR Universidade de Fortaleza
UPE Unidade de Pacientes Especiais
UTI Unidade de Tratamento Intensivo
VNI Ventilação Não-Invasiva
11
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................12
2 OBJETIVOS .............................................................................................................15
3 REVISÃO DE LITERATURA..................................................................................16
3.1 Atrofia Muscular Espinhal (AME)..........................................................................16
3.1.1 Diagnóstico da AME............................................................................................18
3.1.2 Suporte ventilatório na AME................................................................................20
3.1.3 As famílias das crianças com AME......................................................................22
3.2 Qualidade de Vida...................................................................................................24
3.2.1 Qualidade de vida em pessoas com deficiência.....................................................26
3.2.2 Qualidade de vida em crianças.............................................................................27
3.3 O enfoque da Promoção da Saúde...........................................................................28
4 MÉTODOS ...............................................................................................................31
5 RESULTADOS.........................................................................................................37
5.1 Dados sociodemográficos........................................................................................37
5.2 Participantes da pesquisa.........................................................................................37
5.2.1 Caracterização das crianças..................................................................................37
5.2.2 Caracterização das mães.......................................................................................41
5.3 Resultados quantitativos..........................................................................................43
5.4 Resultados qualitativos............................................................................................47
5.4.1 Domínio bem-estar emocional..............................................................................47
5.4.2 Domínio relações interpessoais.............................................................................50
5.4.3 Domínio bem-estar físico.....................................................................................52
5.4.4 Domínio desenvolvimento pessoal e atividades....................................................54
5.4.5 Domínio bem-estar material.................................................................................57
5.4.6 O que as mães desejam para a melhoria da QV de seus filhos...............................58
5.4.7 Como as crianças imaginam seu futuro.................................................................60
6 DISCUSSÃO.............................................................................................................62
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................69
8 REFERÊNCIAS ........................................................................................................71
ANEXOS......................................................................................................................78
APÊNDICES................................................................................................................91
12
1 INTRODUÇÃO
A atrofia muscular espinhal (AME) é uma patologia neuromuscular hereditária
autossômica recessiva do neurônio motor inferior, causada pela degenerão dos
motoneurônios da medula espinhal. Apresenta-se em quatro formas distintas de manifestação
clínica, dependendo da sua gravidade: tipo I atrofia muscular espinhal progressiva (doença
de Werdnig Hoffmann); tipo II atrofia muscular espinhal na forma intermediária; tipo III
atrofia muscular espinhal juvenil (doença de Kugelberg Welander); tipo IV atrofia muscular
espinhal forma adulta.
É caracterizada pela debilidade e degeneração precoce dos músculos de uma forma
geral, o que provoca atrofia e conseqüente paralisia dos mesmos. Uma das complicações mais
graves desta doença é o comprometimento respiratório que ela provoca, levando, muitas
vezes, ao precoce confinamento ao leito. As crianças acometidas pela AME tipo I muitas
vezes chegam ao óbito antes dos dois anos de idade, caso não sejam adequadamente tratadas.
Por tratar-se de uma patologia que leva a uma incapacidade precoce, a atrofia
muscular espinhal tipo I provoca um confinamento ao leito e uma dependência de aparelhos
para a sobrevivência; por outro lado, a atrofia muscular espinhal tipo II leva a perda da
marcha muito precocemente, a complicações respiratórias e ao surgimento de escoliose o que
leva a se pensar em uma baixa qualidade de vida das crianças acometidas por esta doença.
Por estas características, a AME é uma doença que pode afetar a qualidade de vida
(QV) das crianças por ela acometidas e de suas famílias.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) conceituou QV como “a percepção do
indivíduo de sua posição na vida, no contexto de sua cultura e no sistema de valores em que
vive e em relação a suas expectativas, seus padrões e suas preocupações (FLECK, 2008).
A QV na infância apresenta-se de forma subjetiva e com muitas dimensões,
incluindo habilidade funcional e interação psicossocial da criança e de sua família. A
investigação sobre a QV das crianças tem tido uma curta trajetória quando comparada com a
dos adultos. As percepções de QV pela criança são diferentes das de um adulto, sendo que a
auto-avalião da criança apresenta índices bem superiores quando comparados aos dos
adultos (SABEH, VERDUGO e PRIETO, 2006).
Medidas subjetivas de satisfão são utilizadas na avaliação da QV, sendo
indispensável a percepção do indivíduo para avaliar a sua própria QV. O que se procura é
compreender o quanto as pessoas tornam-se felizes com o que podem realizar e com sua vida
em geral, não se restringindo apenas àquilo que elas podem fazer ou não.
13
A utilização do constructo QV é de grande utilidade como princípio organizador
para melhorar a vida das pessoas com deficiência e para avaliar os resultados e a legitimidade
social das práticas reabilitadoras. No que se refere a crianças com deficiências deve-se pensar
em procurar conhecer e compreender suas percepções de QV de forma a assegurar um padrão
de vida que lhes permita desenvolvimentos físico, mental e social os mais adequados
possíveis de acordo com suas necessidades.
Neste contexto, as medidas de QV são úteis para identificar e priorizar problemas,
facilitar a comunicação entre profissionais de equipes multidisciplinares, promover a tomada
de decisão compartilhada entre médicos, pacientes e famílias, e monitorar as mudanças ou
respostas ao tratamento (PREBIANCHI, 2003), dando uma melhor assistência a crianças com
AME e suas famílias.
O princípio da eqüidade do Sistema Único de Saúde (SUS) indica que todos os
brasileiros devem ter direito à mesma assistência à saúde. Deste modo, em função das
diferenças sociais e das disparidades regionais, os recursos para a saúde deverão ser
distribuídos no sentido de favorecer aqueles que mais necessitam de atenção e cuidados
(CARVALHO, PETRIS e TURINI, 2001). Neste contexto, a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA), na Resolução da Diretoria Colegiada n
o
.11/2006, dispõe sobre o
regulamento técnico de funcionamento de serviços que prestam atenção domiciliar. Tal
dispositivo regulamenta que a internação domiciliar é o conjunto de atividades prestadas no
domicílio, caracterizadas pela atenção em tempo integral ao paciente com quadro clínico mais
complexo e com necessidade de tecnologia especializada” (BRASIL, 2006).
Considerando o precedente e em consonância com a Política Nacional de Saúde da
Pessoa Portadora de Deficiência, que tem como primeira diretriz a promoção da QV das
pessoas com deficiência, na cidade de Fortaleza-CE, Brasil, o Hospital Infantil Albert Sabin
(HIAS) e a Associação Brasileira de Amiotrofia Espinhal (ABRAME) desenvolvem uma
parceria para prestar assistência domiciliar às crianças submetidas à ventilão mecânica
através do Programa de Assistência Ventilatória Domiciliar (PAVD). Apesar do alto custo
financeiro que esta modalidade de assistência apresenta, este programa busca ir ao encontro
do princípio da eqüidade, favorecendo melhores condições de vida às crianças com AME que
necessitem de suporte ventilatório.
O meu interesse neste tema deve-se ao fato de eu ter como formão acadêmica a
Fisioterapia. Dentro da minha prática profissional sempre tive a preocupação de favorecer a
qualidade de vida dos meus pacientes procurando prestar-lhes o melhor serviço possível. Ao
ingressar no Mestrado em Saúde Coletiva da UNIFOR pude engajar-me no núcleo temático
14
Qualidade de Vida de Pessoas com Deficiência, Limitões nas Atividades e/ou Restrições
na Participão Social da linha de pesquisa Políticas e Práticas na Promoção da Saúde”. A
partir de então foi possível o contato com a presidência da ABRAME e conhecer melhor
como essas crianças têm vivido mesmo estando confinadas ao leito. Em um primeiro
momento fiz uma vasta busca por artigos científicos sobre o assunto; no entanto, foram raros
os artigos que realmente estudasse a qualidade de vida de crianças com AME levando em
consideração o constructo qualidade de vida. Diante disto, percebi que um estudo que
procurasse compreender a qualidade de vida dessas crianças seria de grande importância para
a idealização de estratégias de promoção da saúde e qualidade de vida das mesmas, no
contexto familiar e comunitário.
Portanto, realizou-se uma investigação da qualidade de vida de crianças acometidas
por esta doença, com a finalidade de conhecerem-se as percepções, a esse respeito, na visão
de seus cuidadores principais e na das próprias crianças. Os resultados deste estudo poderão
servir de base para a implementação de ações de saúde direcionadas para uma vida de
qualidade para essas crianças.
15
2 OBJETIVOS
2.1 Geral
Investigar a qualidade de vida de crianças com atrofia muscular espinhal tipo I e II.
2.2 Específicos
- Conhecer as percepções de qualidade de vida de crianças com atrofia muscular espinhal tipo I e
II através da visão de seus cuidadores principais;
- compreender as percepções de qualidade de vida de crianças com atrofia muscular espinhal
tipo I e II na visão das próprias crianças.
16
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 Atrofia Muscular Espinhal (AME)
A atrofia muscular espinhal (AME) é uma doença das lulas do corno anterior da
medula que leva à fraqueza e atrofia muscular com prejuízo de movimentos voluntários
(ARJO, RAMOS e CABELLO, 2005). É uma doença neuromuscular hereditária
autossômica recessiva, pura do neurônio motor inferior (NMI) (AFM e ASEM, S. n. t.). Tem
basicamente quatro formas distintas de manifestação clínica, dependendo da sua gravidade:
tipo I atrofia muscular espinhal progressiva (doença de Werdnig Hoffmann); tipo II atrofia
muscular espinhal na forma intermediária; tipo III atrofia muscular espinhal juvenil (doença
de Kugelberg Welander); tipo IV atrofia muscular espinhal forma adulta.
A descrição clínica desta patologia ocorreu na segunda metade do século XIX pelo
neurologista austríaco Guido Werdnig (1844-1919) e pelo alemão Johann Hoffmann (1850-
1919), e durante estes quase 150 anos tem sido considerada uma enfermidade de evolução
fatal, sem tratamento nem esperanças de cura (TIZZANO, 2007).
Sua causa é a degeneração dos motoneurônios (lulas nervosas) da medula
espinhal: os neurônios motores dos músculos danificam-se e morrem, o impulso nervoso não
é transmitido corretamente e, assim, tanto os movimentos como o tônus muscular encontram-
se afetados (ROSO et al, 2003); como a informão para o movimento não chega aos
sculos, eles se tornam inativos e atrofiam-se (AFM e ASEM, S. n. t.).
O tipo I ou atrofia muscular espinhal progressiva (doença de Werdnig Hoffmann) é a
forma mais grave, manifestando-se desde o período perinatal ou nos primeiros anos de vida.
Apresenta fraqueza e hipotonia muscular generalizada. São crianças com dificuldade para
segurar a cabeça, sugar, deglutir e, também, com dificuldade respiratória pelo envolvimento
dos músculos respiratórios. A biópsia muscular detecta a presença somente de fibras atróficas,
com preservação do mosaico, denotando ausência de motoneurônios sobreviventes. Neste tipo
de AME, os núcleos dos nervos cranianos (responsáveis por funções como visão, audição e
deglutição) são freentemente envolvidos. A sobrevida, com poucas exceções, não
ultrapassa os primeiros dois anos de vida (COBBEN et al, 2008; PROJETO GENOMA, 2007,
on line; INSTITUTO FLEURY, 2007, on line e REDE SARAH DE HOSPITAIS DE
REABILITAÇÃO, 2007, on line).
No tipo II ou atrofia muscular espinhal na forma intermediária as alterões surgem
entre seis meses e dois anos de idade. Algumas crianças conseguem permanecer sentadas se
colocadas nessa posição e, mais raramente, ficam de pé e andam com apoio; por este motivo
17
as crianças acometidas por este tipo têm um atraso no desenvolvimento motor. A biópsia
muscular revela a presença de grandes fascículos musculares atróficos, mas com presença de
fibras musculares de calibre normal, agrupadas, de mesmo tipo histoquímico, denotando a
presença de motoneurônios sobreviventes. Os agrupamentos de fibra são pequenos, talvez se
explicando por motoneurônios sobreviventes não tão sadios. É um tipo cujo curso é mais
benigno (PROJETO GENOMA, 2007, on line; INSTITUTO FLEURY, 2007, on line e REDE
SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO, 2007, on line).
O tipo III ou atrofia muscular espinhal juvenil (doença de Kugelberg Welander)
caracteriza-se pelo comprometimento motor mais tardio. Os primeiros sintomas aparecem
entre dois e 17 anos de idade. Nesta forma a progressão da doença é lenta e as alterões são
menos graves. A biopsia muscular revela a presença de grandes agrupamentos de fibras
musculares de mesmo tipo histoquímico, denotando a presença de motoneurônios
remanescentes e sadios. A presença de agrupamentos de fibras atróficas de mesmo tipo
histoquímico é explicada pela desnervação de fascículos previamente reinervados, secundária
à degeneração de motoneurônios remanescentes. O envolvimento dos membros inferiores
tende a ser mais importante do que dos membros superiores e os pacientes com freência
requerem apenas pequena ajuda (PROJETO GENOMA, 2007, on line; INSTITUTO
FLEURY, 2007, on line e REDE SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO, 2007, on
line).
O tipo IV ou atrofia muscular espinhal forma adulta acomete adultos entre 30 a 40
anos de idade. O início dos sintomas é insidioso e a progressão é muito lenta. Alguns
pesquisadores preferem classificar esta forma tardia como uma manifestação benigna da
forma III (Kugelberg-Welander) (PROJETO GENOMA, 2007, on line e REDE SARAH DE
HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO, 2007, on line).
Alguns autores consideram a AME uma doença rara (TIZZANO, 2007), contudo na
classificação internacional de doenças raras ela não é citada. Não é possível se saber uma
epidemiologia exata desta patologia devido a uma série de fatores tais como falta de estudos,
dificuldade de diagnóstico, diagnóstico errado, entre outros. Portanto, estima-se que a
prevalência seja em torno de um caso para cada 10.000 nascimentos (AME com início na
infância) e de um caso para cada 100.000 pessoas (AME de início na idade adulta). É,
portanto, a principal desordem autossômica recessiva fatal depois da fibrose cística (1:6000)
(ARJO, RAMOS e CABELLO, 2005). Estes dados também estão disponíveis no sítio da
Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação.
18
As atrofias musculares espinhais caracterizam-se pela debilidade e a degenerão
precoce dos sculos da pélvis, dos ombros, do tronco e dos membros, o que provoca atrofia
e conseqüente paralisia destes sculos. Os principais fatores prognósticos na AME são a
insuficiência respiratória e a escoliose. Nas formas mais graves o comprometimento da
musculatura respiratória pode exigir ventilão mecânica assistida precoce, pois o diafragma
muitas vezes é paralisado. As dificuldades motoras manifestam-se pela incapacidade de
manter-se sentado, escassa gesticulação espontânea, incapacidade para aquisição da marcha,
dificuldade para manter a caba erguida, dificuldade ou incapacidade de respirar, etc.
(ARJO, RAMOS e CABELLO, 2005 e THOMPSON, FAHAL e EDWARDS, 2000). A
escoliose é a principal complicação ortopédica e ocorre devido ao comprometimento dos
sculos paravertebrais (ROSO et al, 2003).
A correção cirúrgica da escoliose tem se mostrado fundamental para melhorar a
qualidade de vida, a função respiratória e a sobrevida destas crianças. Com o objetivo de
apresentar os resultados imediatos e tardios da cirurgia de corrão da escoliose em pacientes
com AME, foi realizada análise retrospectiva dos prontuários e radiografias de 14 pacientes
com diagnóstico de AME das Clínicas de Escoliose e de Doenças Neuromusculares da
Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) de São Paulo-SP, Brasil, os quais
foram submetidos a este procedimento. Este estudo mostrou que tal cirurgia na AME tem
impacto satisfatório quanto à estética, qualidade de vida e função respiratória, com mínima
perda da correção obtida com o passar do tempo e com poucas complicações (ROSO et al,
2003).
3.1.1 Diagnóstico da AME
O diagnóstico da AME, em 95% dos casos, pode ser feito mediante a análise do
DNA a partir de uma simples amostra de sangue ou saliva, onde se pesquisa a deleção do
gene survival motor neuron (SMN) (AFM e ASEM, s.d.). Outras formas de diagnóstico são o
eletromiograma e a biópsia muscular (ARJO, RAMOS e CABELLO, 2005). Na AME as
alterações observadas são degeneração da fibra muscular em vários estágios e evidência
histoquímica de desnervão.
A AME, como dito anteriormente, é uma doença genética, gênica e hereditária. A
herança é do tipo autossômica recessiva. Isto significa que ambos os sexos são afetados
igualmente e que, para aparecer a doença, é necessário que a pessoa tenha um defeito genético
(mutação) em suas duas cópias do gene SMN (ARJO, RAMOS e CABELLO, 2005). O
19
locus gênico foi mapeado no cromossomo 5q 11.2-13.3 (SMA 5q) em 1990 (MELKI et al,
1990).
Em 1995, dois genes praticamente iguais, SMN1 e SMN2, genes da "sobrevida do
neurônio motor" foram localizados em tal cromossomo; eles produzem uma proteína de 254
aminoácidos que tem função importante na estrutura de certos neurônios que se iniciam na
medula, os neurônios motores inferiores (NMI) (LEFEBVRE et al, 1995). Quando menos do
que 50% da proteína SMN é produzida, a pessoa terá a doença. Para produzir menos do que
50% da proteína SMN é obrigatório que a pessoa tenha o defeito genético (mutação) em suas
duas cópias do gene SMN1. A intensidade das manifestações clínicas é determinada pelo
número de motoneurônios afetados.
Estima-se que a presença de sinais e sintomas, tais como atrofia e fraqueza
muscular, somente são aparentes quando há comprometimento de pelo menos 40% dos
motoneurônios. A progressão da doença relaciona-se com o processo natural degenerativo dos
neurônios motores (INSTITUTO FLEURY, 2007, on line). O diagnóstico da doença pode ser
aperfeiçoado a partir do mapeamento do gene no cromossomo 5q13 e da identificação do
gene SMN (ARJO, RAMOS e CABELLO, 2005).
Os pais de um afetado são necessariamente portadores de uma mutação no gene
SMN1, mas não desenvolvem a doença. Pessoas que tem uma única cópia mutada do gene,
não terão nunca sinais e sintomas da doença, porém, quando geram uma criança com outra
pessoa que tem uma única cópia mutada do gene, a probabilidade de terem um(a) filho(a) com
AME é de 25 por cento, em cada gestação (PROJETO GENOMA, 2007, on line).
Um estudo molecular do gene SMN1 em mais de 300 pacientes brasileiros, com
diagnóstico de AME, realizado no Centro de Estudos do Genoma Humano, na Universidade
de São Paulo (CEGH-USP) mostrou a seguinte freqüência de delões: cerca de 80% no
grupo I, 50% no grupo II e 43% no grupo III. Esta freqüência é um pouco menor do que a
encontrada por outros grupos internacionais, talvez por erros de diagnóstico, já que as AMEs
podem ser confundidas clinicamente com outras doenças neuromusculares como as distrofias
musculares (PROJETO GENOMA, 2007, on line). O estudo de Araújo, Ramos e Cabello
(2005) observou que a pesquisa de delão no gene SMN pode dirimir situações de vida
diagnóstica.
A investigação de Li, Wang e Shan (2004) realizada no Tianjin Children's Hospital
da China, com 83 casos de crianças e adolescentes portadores de AME, mostrou que se trata
de uma patologia caracterizada pela degeneração do neurônio motor inferior associado com
paralisia muscular e atrofia. O diagnóstico definitivo da AME irá contar com alterações na
20
eletromiografia e biopsia muscular e com a análise da deleção gênica. O diagnóstico genético
pode proporcionar a base do diagnóstico pré-natal tornando-se importante na prevenção da
AME.
3.1.2 Suporte Ventilatório na AME
Vários estudos já foram realizados com o objetivo de analisar o uso da ventilação
mecânica em suas diversas modalidades em pacientes com AME. O predomínio de pesquisas
envolvendo o suporte ventilatório destas crianças provavelmente deve-se ao fato de que o
comprometimento respiratório é o que mais afeta a QV em pacientes com AME.
Em uma pesquisa recente de Bach et al (2007) em New Jersey, nos EUA, foram
analisados três grupos de pacientes com AME tipo I. O grupo 1 era dos pacientes não
tratados, o grupo 2 dos traqueostomizados e o grupo 3 dos submetidos a ventilação não-
invasiva (VNI), com o objetivo de informar a sobrevivência de longo período e as
conseências na linguagem e dependência ventilatória de cada grupo. Os pacientes do grupo
1 faleceram mais cedo; não existiu significativa diferença na longevidade com ou sem a
traqueostomia. Contudo, os pacientes submetidos a VNI tiveram significativamente menos
hospitalizações por ano após 5 anos, puderam se comunicar melhor verbalmente e poucos
foram os que ficaram continuamente dependentes de VNI. Deste modo, é possível concluir
que a VNI e a traqueostomia podem prolongar a sobrevivência de pacientes com AME tipo I,
porém os traqueostomizados terminam em contínua dependência ventilatória e a linguagem
pode não se desenvolver.
O estudo retrospectivo de 22 pacientes com AME do Hospital Pediátrico de
Coimbra, realizado por Vasconcelos et al (2005), concluiu que o suporte ventilatório com
máscara de ventilação não-invasiva (VNI) pode melhorar a qualidade de vida desses
pacientes, uma vez que foi observada uma diminuição da deformidade torácica e um
decréscimo na freqüência e severidade das infecções respiratórias. Deste modo é possível
prolongar as expectativas de vida dessas crianças com AME.
Um estudo de Bach et al (2002) realizado no Departamento de Medicina Física e
Reabilitação da New Jersey Medical School, EUA, encontrou resultado semelhante. Eles
observaram que crianças com AME tipo I podem sobreviver além de 2 anos de idade quando
oferecida traqueostomia ou suporte ventilatório não-invasivo. Este é associado a menos
hospitalizações depois dos 5 anos de idade, liberdade para o uso de ventilador durante o dia e
habilidade para falar o que proporciona uma melhor qualidade de vida.
21
Hardart, Burns e Truog (2002) realizaram um estudo descritivo onde fizeram um
inquérito com médicos intensivistas, fisiatras e neurologistas a respeito do uso da ventilação
mecânica e da traqueostomia em pacientes com AME. Os achados deste estudo mostram que
os intensivistas são menos prováveis de oferecer e recomendar a traqueostomia que os
fisiatras. São também significativamente menos prováveis que os fisiatras em concordar com
exposições assistenciais e necessidade ética de ventilão mecânica não-invasiva (VNI) e
entubação quando da ocorrência de doença respiratória aguda, e de VNI e traqueostomia
quando diante de falência respiratória crônica. Contudo, diferenças paralelas foram
encontradas entre fisiatras e neurologistas a respeito de suas atitudes sobre ventilação
mecânica; não foram encontradas diferenças significativas entre intensivistas e neurologistas.
Estes autores sugerem que seus achados indicam que a marcada disparidade em
recomendações do tratamento para crianças com AME tipo I pode ser mais explicada por
variáveis diferentes do que pela progressão heterogênea da doença. A maior tendência dos
fisiatras a oferecer e recomendar a traqueostomia quando comparada com os intensivistas
sugere que as experiências passadas e/ou a prática clínica da especialidade influenciam
significativamente. Os fisiatras em geral gastam uma porcentagem maior de seu tempo
cuidando de pacientes com inabilidade crônica e talvez tenham uma melhor perspectiva na
possibilidade de ventilação mecânica a longo prazo nestes casos. Em contraste, os
intensivistas, estão mais contato com as crianças quando elas estão sofrendo no contexto de
uma doença respiratória aguda e podem não apreciar a qualidade de sua vida em relação à
saúde. Similarmente, os neurologistas que são envolvidos geralmente no diagnóstico e talvez
não tão freentemente no cuidado a longo prazo da criança com AME tipo I podem não ser
capazes de apreciar a ventilação mecânica como qualquer coisa mais do que uma ponte à
morte inevitável (HARDART, BURNS e TRUOG, 2002).
A variação em recomendações do tratamento pode também refletir diferenças em
atitudes do médico. Como as atitudes do médico foram correlacionadas não somente com a
prática clínica, mas também com o que as famílias escolhem finalmente para suas crianças, as
largas variações nas atitudes se traduzem provavelmente em largas variações no cuidado para
crianças com esta doença. Isto porque o cuidado das crianças com AME tipo I não está
exclusivamente no domínio de uma especialidade; os médicos que são envolvidos com estas
crianças devem estar cientes das polarizações que podem trazer à tomada de decisão médica.
Além disso, os médicos necessitam apreciar a influência poderosa de suas opiniões pessoais
na prática de sua tomada de decisão clínica e na das famílias (HARDART, BURNS e
TRUOG, 2002).
22
3.1.3 As falias das crianças com AME
O termo família origina-se do latim famulus, que significa um conjunto de servos e
dependentes de um chefe ou senhor. Milfont, Gouveia e Costa (2006) citam que a família é
entendida como um ponto médio entre a sociedade e o indivíduo, sendo, pois, um dos lugares
privilegiados na construção social da realidade. Segundo Narvaz e Koller (2006) os estudiosos
da família afirmam que os laços familiares permanentes são condicionados pela cultura, e não
por necessidades biológicas. A família não é, portanto, algo biológico, algo natural ou dado,
mas produto de diferentes formas históricas de organização entre os humanos. Esta concepção
é compartilhada por Poston et al (2003) quando afirmam que família inclui pessoas que
pensam neles próprias como parte desta família, relacionando-se por los sanguíneos ou
casamento, ou não. Afirmam também a importância de assegurar, em pesquisas, uma maior
aproximão entre a definição de família que os pesquisadores adotam e a definição adotada
pelas próprias famílias. Deste modo, não importa a configurão que a família assuma, pois
ela continuará a existir, e é o que pode assegurar à criança, os novos sujeitos que se
apresentam ao mundo, o direito ao amor, ao acolhimento no mundo humano e à palavra
(AMAZONAS e BRAGA, 2006).
O nascimento de uma criança traz consigo toda uma transformação nos hábitos
familiares e desde o momento da consciência de que a mulher está grávida, toda uma
alteração ambiental se faz presente. Geralmente, a chegada de um bebê que apresenta uma
deficiência torna-se um acontecimento traumático e desestruturador, que quebra o equibrio
familiar. O impacto inicial e a sua extensão e profundidade estão diretamente ligados à
dinâmica interna de cada família e de cada um de seus membros (BRITO e DESSEN, 1999).
Os pais, ao serem comunicados que tiveram um bebê com uma síndrome ou uma
etiologia que tenha como conseqüência o atraso no desenvolvimento dele ou ainda uma
doença crônico-degenerativa, reiteradamente enfrentam períodos penosos, especialmente no
que toca às interões com seu bebê, devido a fatores emocionais. A princípio, existe um
período de choque, depois de tristeza ou ansiedade, para, em seguida e gradualmente, ocorrer
uma reorganização geralmente na direção da aceitação da criança. Os outros membros da
família (avós, tios e irmãos) também são atingidos pelo nascimento de uma criança com
deficiência. Diante de uma situação familiar de doença grave ou de deficiência, cada
indivíduo e seu grupo familiar precisa de uma adaptação ou de um ajustamento, para que
possa lidar com o problema (BRITO e DESSEN, 1999; PANIAGUA, 2004).
O choque do diagnóstico de uma doença fatal, quando atinge uma família, faz
exigências urgentes uma nova ordenão deve ser instituída e vai se refletir na identidade,
23
na dinâmica e nos objetivos dessa família, talvez até mesmo de forma irreversível (BORGES,
2003). Os genitores buscam uma explicão clara sobre a doença crônica do(a) filho(a) e
sobre suas conseências, e sentem-se frustrados quando isso não é possível. Quando isso
acontece, podem se questionar quanto à sua competência genética e isso pode levar a
sentimentos de culpa, ou ainda, as informações passadas pela equipe de saúde sobre a doença
venham a contribuir para o estabelecimento de um senso realístico, frustrante e sofrido para a
família. Na verdade, a experiência de serem pais de crianças com doença crônica pode variar
enormemente, podendo ser vivida de forma bastante peculiar (CASTRO e PICCININI, 2002).
Sendo a AME uma doença progressiva (doença sintomática e que progride em
severidade) o indivíduo e sua família se defrontam com os efeitos de um membro da família
perpetuamente sintomático, cuja incapacidade aumenta de modo gradual ou progressivo.
Existe, portanto, a necessidade de adaptação e mudança de papéis dentro do contexto familiar
de forma que é necessária uma reorganização interna destes papéis e de disposição para
utilizar recursos externos de modo a favorecer a dinâmica familiar.
Segundo o modelo de fases temporais da doença crônica proposto por Rolland
(1995) podemos associar os períodos pelos quais passam as famílias de pessoas com AME.
Na fase de crise, quando a família percebe que há algo errado com um de seus membros, mas
não está clara a exata natureza e o alcance do problema, os demais membros adaptam-se a
esta nova condição e aprendem os fundamentos de como viver com a doença, alterando seus
planos de vida. Na fase crônica, período as o diagnóstico da doença e em que ocorrem as
progressões da mesma, há uma ênfase na autonomia dos membros da família e a crião de
uma estrutura de vida viável, adaptada às realidades da doença. Por fim, deparamo-nos com a
fase terminal a qual abrange o estágio pré-terminal da doença (em que a inevitabilidade da
morte se torna aparente e domina a vida familiar) e os períodos de luto e resolução da perda.
Nesta fase as famílias necessitam ajustar-se para que haja a retomada de uma vida familiar
normal depois da perda.
Assim, podemos observar que o ciclo de vida familiar adapta-se às fases da doença
crônica através do ajustamento da família como um todo e de cada um de seus membros. Vale
ressaltar que esta adaptação não ocorre uniformemente à doença crônica. A capacidade de
cada membro da família de adaptar-se e a rapidez com que o faz estão diretamente
relacionadas ao estágio desenvolvimental de cada individuo e ao seu papel na família
(ROLLAND, 1995).
Acrescida a estes fatores, a rotina das famílias cujo(a) filho(a) tenha AME muda
com as constantes visitas dos profissionais de saúde, medicações e hospitalizações e acaba
24
atingindo todas as pessoas que convivem com essas crianças (CASTRO e PICCININI, 2002).
A família deve se adaptar à nova realidade de convívio com um de seus membros enfermo,
usando várias alternativas de superação de agravos que atingem a saúde deste membro,
esgotando as competências individuais e recorrendo à rede de apoio social o que envolveria
profissionais, família, amigos, vizinhos entre outros (OLIVEIRA e BASTOS, 2000).
3.2 Qualidade de Vida
O conceito de qualidade de vida (QV) pode ser utilizado para uma série de
prositos, incluindo a evolução das necessidades das pessoas e seus níveis de satisfação, a
evolução dos resultados dos programas e serviços humanos, a direção da provisão destes
serviços e a formulação de políticas nacionais e internacionais dirigidas para a população em
geral e a outras mais específicas, como a população com deficiência (MEZ-VELA e
SABEH, 2004, on line).
Qualidade de vida é uma noção eminentemente humana, que tem sido aproximada
ao grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental e à própria
estética existencial. Pressupõe a capacidade de efetuar uma síntese cultural de todos os
elementos que determinada sociedade considera seu padrão de conforto e bem-estar. O termo
abrange muitos significados, que refletem conhecimentos, experiências e valores de
indivíduos e coletividades que a ele se reportam em variadas épocas, espos e histórias
diferentes, sendo, portanto, uma construção social com a marca da relatividade cultural
(MINAYO et al, 2000).
A questão da QV vem assumindo importância, sob vários aspectos, nos últimos
anos, particularmente no que diz respeito à sua avaliação ou mensuração, quer
individualmente quer coletivamente (LAURENTI, 2003).
As definições de QV variam entre aquelas que enfatizam o bem-estar físico, social e
emocional do paciente após o tratamento até as definições que descrevem o impacto da saúde
do individuo sobre sua capacidade de levar uma vida produtiva. A maioria dos autores aponta
a ausência de uma definição consensual de QV, pois é termo usado em contextos diferentes
por pessoas diferentes. Contudo, existe certa concordância de que o construto QV alcance
bem mais que só o estado de saúde; esta é apenas um de seus domínios (PREBIANCHI, 2003;
FLECK, 2008, PATRICK, 2008).
O grupo WHOQOL da Organização Mundial de Saúde propôs uma definição para
QV como sendo a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e
25
dos sistemas de valores nos quais vive e na relão com seus objetivos, expectativas, padrões
e interesses (FLECK et al, 1999; FLECK et al, 2000; FLECK, 2000; PREBIANCHI, 2003).
Trata-se de um conceito tanto subjetivo (experimentado pelo próprio sujeito: cada
qual tem uma noção particular dos atributos da vida) quanto objetivo, passível de observão,
ainda que impregnada pela noção particular do observador (COSTA NETO e ARJO,
2003).
Chatterji e Bickenbach (2008) defendem que o conceito de QV delimita-se à
avaliação ou à satisfação subjetivas de domínios específicos considerados os mais importantes
pelas pessoas em geral, tais como: saúde, relações pessoais, capacidade de realizar tarefas
diárias, condições de vida, a vida em geral e em particular.
A utilização do termo qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) aponta para
uma avaliação concentrada no conceito de saúde e nos desfechos da área da saúde. É também
um termo de difícil definição ou delimitão consensual (PATRICK, 2008).
As ferramentas para mensurar QVRS, geralmente, incluem duas áreas: aspectos
gerais sobre relatos de saúde e aspecto específico sobre os efeitos que determinada patologia
ou disfunção causa sobre o estilo de vida de determinada pessoa. Este segundo aspecto seria
mais sensível para identificar mudanças após o tratamento, sendo valioso na mensurão no
processo de avaliação, assim como na comparação de tratamentos (KLÜBER et al, 2002).
No domínio da saúde é possível considerar que sua melhora colabora para melhores
condições de QV ou bem-estar, o contrário também é verdadeiro: a melhora da QV também
promove melhorias da saúde. QVRS e QV não devem ser usados como sinônimos nas
avaliões de saúde (CHATTERJI e BICKENBACH, 2008).
Existem duas formas de mensurar QV, através de instrumentos genéricos e
instrumentos específicos. Como os dois fornecem informões diferentes podem ser
empregados concomitantemente. Os genéricos abordam o perfil de saúde ou não, procuram
englobar todos os aspectos importantes relacionados ou não à saúde. Os instrumentos
específicos avaliam de maneira individual e peculiar aspectos de QV relacionados a uma
doença específica e refletem o impacto desta sobre o indivíduo (DANTAS et al, 2003).
Schalock e Verdugo (2003) consideram três níveis de sistema que afetam a QV das
pessoas: o microsistema (contexto social imediato que atinge diretamente a vida da pessoa
família, domicílio, grupo de iguais, lugar de trabalho), o mesosistema (que implica
diretamente o funcionamento do microsistema vizinhança, comunidade, agência de serviços,
organizões) e o macrosistema (padrões culturais mais amplos, tendências sociopolíticas,
26
sistemas econômicos e outros fatores relacionados à sociedade afetando diretamente valores,
crenças e o significado de palavras e conceitos).
É importante destacar o crescente número de pesquisas para avaliar a QV de pessoas
com deficiência. Isto se deve ao fato de que para a maioria das doenças a medicina moderna
tem conseguido controlar seus sintomas ou ainda retardar seu curso natural. Assim, a vida tem
sido prolongada com o convívio com doenças de uma forma mais branda ou assintomática.
No caso das pessoas com deficiência isto tomou grande importância, pois se busca mensurar a
forma como estas têm vivido os anos a mais (FLECK,2008).
3.2.1 Qualidade de vida em pessoas com deficiência
O conceito de QV aplicado a pessoas com deficiência tem vindo a ser referenciado a
diversos níveis; na própria definição de deficiência, na formulão de objetivos gerais da
intervenção, na avaliação da intervenção e dos serviços dirigidos às pessoas com deficiência,
na defesa da participação, capacidade de decisão e autonomia de pessoas com deficiência. A
sua importância é defendida por este constituir um elemento sensibilizador, unificador das
bases de referência dos diversos serviços. No ponto de vista do indivíduo interessa ainda
realçar a noção que a QV é o grau de coincidência entre o real e as expectativas, ressaltando-
se a importância da experiência vivida que se reflete na satisfação dos objetivos e sonhos de
cada indivíduo (LEBRE, 2006, on line).
O conceito de QV não pode ser separado do contexto onde as pessoas com
necessidades especiais decorrentes de deficiências vivem e interatuam. É importante ter em
vista, portanto, que para uma completa compreensão do conceito é necessário assumir uma
perspectiva de sistemas a nível micro, meso e macro, assim como proposto por Schalock e
Verdugo (2003), sobre a QV e as próprias percepções a respeito.
O modelo funcionalista de QV apresentado por Fleck (2008) considera que a QV
tem relação direta com um bom funcionamento do indivíduo, ou seja, um desempenho
satisfatório da pessoa no seu papel social e nas funções que valoriza. Este modelo é
questionável, um estudo de abordagem qualitativa realizado por Albercht e Devlieger (1999)
demonstrou que indivíduos com deficiências graves e persistentes relatam uma QV boa ou
excelente mesmo quando a maioria dos observadores externos qualificaria sua existência
como indesejável. A análise das entrevistas deste estudo revelou que a QV é dependente de
um auto-equilíbrio entre corpo, mente e espírito e no estabelecimento e manutenção de
relões harmoniosas entre o contexto social que a pessoa vive e o ambiente externo. Assim,
27
as percepções de uma boa QV por estas pessoas devem estar associadas ao fato de elas
conviverem de forma satisfatória com as limitões impostas pela deficiência.
A investigação sobre QV em pessoas com deficiência abrange grupos de populão
com características bem distintas: atraso no desenvolvimento, pessoas com deficiência
intelectual, física, visual, entre muitas outras. O conceito de QV pode ser hoje de grande
utilidade como princípio organizador para melhorar a vida das pessoas com deficiência e para
avaliar os resultados e a legitimidade social das práticas reabilitadoras (CABALLO e
VERDUGO, 2003).
A medida de QV requer utilizar medidas subjetivas de satisfação, pois a percepção
pessoal dos usuários é imprescindível para conhecer a sua qualidade de vida. Não se trata
apenas do que as pessoas podem fazer ou não, e sim de quão satisfeitas estão com o que
podem fazer e com sua vida em geral (CABALLO e VERDUGO, 2003).
3.2.2 Qualidade de vida em crianças
A QV em crianças tem sido definida como um conceito subjetivo e
multidimensional, que inclui a capacidade funcional e a interação psicossocial da criança e de
sua família (BRASIL, FERRIANI e MACHADO, 2003); determina a sensação de bem-estar,
e as crianças são, e sempre foram, capazes de se expressar quanto a essa subjetividade. Para
crianças e adolescentes, bem-estar pode significar o quanto seus desejos e esperanças se
aproximam do que realmente está acontecendo, e reflete, também, sua prospecção,
influenciada por eventos cotidianos e problemas crônicos (BARREIRE et al., 2003).
O crescente interesse em estudos de QV em crianças pode ser atribuído a uma
mudança na epidemiologia das doenças da infância, de agudas para crônicas e de incurável
para curável ou controlada. Quando é possível controlar, mas não curar, uma patologia torna-
se importante determinar se o tratamento e a doença estão afetando a QV da criança (EISER e
MORSE, 2001a).
As percepções de QV infantil são bastante diferentes na visão de um adulto e da
própria criança. Os pais e a equipe médica em contato com a criança sob avalião
apresentam baixos índices em relação à auto-avalião infantil (BARREIRE et al., 2003).
As crianças e seus pais, ou outro adulto, não compartilham necessariamente com a
mesma visão a respeito do impacto da doença e, portanto, tem-se envolvido as crianças mais
diretamente nas decisões a respeito de seus próprios cuidados e tratamento. Como
conseência, qualquer avaliação da QV na infância deve levar em considerão o que as
próprias crianças acham (EISER e MORSE, 2001b).
28
O estudo da QV na infância apresenta uma série de dificuldades práticas e
metodológicas, tais como: dados escassos acerca dos domínios e indicadores para cada grupo
de idade; poucos instrumentos válidos e confiáveis que podem ser aplicados em vários grupos
e contextos; dificuldades nos processos de avalião da percepção subjetiva da própria criança
(SABEH, VERDUGO e PRIETO, 2006).
3.3 O enfoque da Promoção da Saúde
A relação intrínseca entre condições e QV e saúde aproxima os modelos da medicina
social e, atualmente, tem no conceito de promoção da saúde sua estratégia central (MINAYO
et al, 2000). O enfoque da promoção da saúde em crianças com deficiência centra-se em
estratégias como a Política Nacional de Saúde da Pessoa Portadora de Deficiência que tem
como primeira diretriz a promoção da QV das pessoas com deficiência.
Na área da saúde coletiva o conceito de promoção da saúde vem sendo delineado
através de conferências internacionais e regionais de promoção da saúde. Tal conceito é
caracterizado por seu constante aprimoramento visto que indivíduos e coletividade estão em
permanente transformação. Atualmente a promoção da saúde pode ser considerada como uma
combinação de estratégias de ações do Estado, da comunidade, de indivíduos, do sistema de
saúde e de parcerias intersetoriais (BUSS, 2003).
Conferências internacionais e regionais têm debatido e ampliado o sentido do
conceito de promoção da saúde que pode se constituir como uma estratégia chave da
discussão da QV sob ponto de vista da saúde coletiva (MINAYO et al, 2000).
Dentro das concepções disponíveis para promoção da saúde os conceitos sustentam-
se no entendimento de que saúde está atrelada a um amplo produto de fatores relacionados à
QV, isto é, alimentação, nutrição, habitação e saneamento adequados; boas condições de
trabalho e renda; oportunidades de educação de qualidade; ambientes saudáveis; estilos de
vida adequados e pertinentes cuidados de saúde. Deste modo, as atividades de promoção da
saúde estariam voltadas ao coletivo de indivíduos e ao ambiente (físico, social, político,
econômico e cultural) através de políticas públicas que favoram o desenvolvimento da
saúde e do fortalecimento da capacidade dos indivíduos e das comunidades (BUSS, 2000).
O Ministério da Saúde instituiu, em 5 de junho de 2002, a Portaria 1060/GM a qual
tem como anexo a Política Nacional de Saúde da Pessoa Portadora de Deficiência. Esta tem
por objetivo a reabilitação da pessoa com deficiência, a proteção à sua saúde e a prevenção
dos agravos que determinem o aparecimento de deficiências, mediante o desenvolvimento de
um conjunto de ões articuladas entre os diversos setores da sociedade e sua efetiva
29
participação. A referida portaria surgiu da necessidade de definição, no setor saúde, de uma
política voltada para a reabilitão da pessoa com deficiência na sua capacidade funcional e
desempenho humano, de modo a contribuir para a sua inclusão plena em todas as esferas da
vida social; e da necessidade de proteger a saúde deste seguimento populacional, bem como
prevenir agravos que determinem o aparecimento de deficiências (BRASIL, 2002).
A promoção da QV das pessoas com deficiência é a primeira diretriz citada na
Política Nacional de Saúde da Pessoa Portadora de Deficiência e tem como foco a
implementação de ões capazes de evitar situões e obstáculos à vida, com qualidade, das
pessoas com deficiência. Para tanto, os elementos essenciais são a crião de ambientes
favoráveis, o acesso à informação e aos bens e serviços sociais, bem como a promoção de
habilidades individuais que favoreçam o desenvolvimento das potencialidades destas pessoas
(BRASIL, 2002).
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi aprovada, por
unanimidade, pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 13 de
dezembro de 2006. Trata-se da primeira sobre o tema direitos humanos a ser lançada no
século 21. O Brasil a assinou no dia 30 de março de 2007, implementando um compromisso
do governo federal com os Direitos Humanos e com as pessoas com deficiência (BRASIL,
2007, on line)
O documento ratifica todos os direitos dos cidadãos com deficiência e,
especificamente, proíbe a discriminão contra pessoas com deficiência em todos os aspectos
da vida, incluindo os direitos civis, políticos e econômicos e sociais, como o direito à
educação, aos serviços de saúde e à acessibilidade, entre outros. A Convenção, em seus 50
artigos, também assegura o reconhecimento igual perante a lei, o acesso à justiça, bem como a
liberdade e segurança da pessoa, como pontos fundamentais de respeito aos direitos humanos
e a inerente dignidade da pessoa (BRASIL, 2007, on line).
Em seu artigo 25, a Convenção trata do direito à saúde das pessoas com deficiência.
Fica claro o direito dessas pessoas a usufruir do padrão o mais elevado possível de saúde pois
os Estados Parte deverão estender a pessoas com deficiência a mesma amplitude, qualidade e
padrão dos cuidados de saúde gratuitos ou acessíveis a que as outras pessoas têm acesso;
propiciar serviços de saúde específicos para a causa das deficiências, incluindo a identificação
e a intervenção precoce; assegurar serviços de saúde em locais o mais próximo possível da
residência dessas pessoas; exigir dos profissionais de saúde atendimento de qualidade;
impedir a discriminão contra as pessoas com deficiência na provisão de seguro de saúde e
30
seguro de vida e prevenir a recusa discriminatória de serviços de saúde ou de atenção à saúde
por motivo de deficiência (BRASIL, 2007, on line).
De acordo com o artigo 26 da Convenção os Estados Parte deverão organizar,
fortalecer e estender serviços e programas completos de habilitação e reabilitão,
particularmente nas áreas de saúde, emprego, educão e serviços sociais de modo a
possibilitar que as pessoas com deficiência conquistem e conservem o máximo de autonomia
e plena capacidade física, intelectual, social e profissional, bem como plena inclusão e
participação em todos os aspectos da vida. Para tanto, estes programas devem começar o mais
cedo possível, baseados em uma avaliação multidisciplinar das necessidades de cada pessoa.
Devem, também, apoiar a participão e a inclusão na comunidade, sendo tais programas
oferecidos às pessoas com deficiência o mais próximo possível de suas comunidades
(BRASIL, 2007, on line).
Os profissionais e equipes que atuam nos serviços de habilitação e reabilitação
devem ter à sua disposição uma capacitação inicial e continuada fornecidos pelos Estados
Parte. A disponibilidade, o conhecimento e o uso de dispositivos e tecnologias assistivas
devem ser promovidos para a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência através de
ões dos Estados Partes (BRASIL, 2007, on line).
31
4 MÉTODOS
Para atender os objetivos propostos, este estudo foi uma pesquisa do tipo
exploratório descritivo de natureza multimetodológica (abordagem quantitativa e qualitativa).
O multimétodo tem a perspectiva de buscar a compreensão de um problema através dos
significados, das ões e relações humanas sob a forma de representação subjetiva e objetiva.
É usado, freentemente, para desenvolver uma compreensão completa de um constructo ou
para validar as dimensões do mesmo (MINAYO, 2006; POLIT e HUNGLER, 2004).
A pesquisa foi realizada com crianças com atrofia muscular espinhal (AME) tipo I e
II, cadastradas pela Associação Brasileira de Amiotrofia Espinhal (ABRAME) e com seus
cuidadores principais. O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90) considera criança a
pessoa com até 12 anos de idade incompletos e adolescentes aqueles com idade entre 12 e 18 anos
(BRASIL, 2008, on line).
A ABRAME é uma Organização Não-Governamental (ONG), com sede na cidade
de Fortaleza-CE, que atua em todo o Brasil com o intuito de divulgar a patologia e melhorar a
qualidade de vida das pessoas com AME. A missão da ABRAME constitui-se em orientar as
pessoas com AME e seus familiares a ter acesso à internação domiciliar; a acompanhar e
participar da criação e implementação de leis que disponham sobre a melhoria da qualidade
de vida dessas pessoas.
A ABRAME desenvolve uma parceria com o Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS)
para prestar assistência domiciliar às crianças submetidas à ventilação mecânica através do
Programa de Assistência Ventilatória Domiciliar (PAVD). O HIAS é um hospital geral de
pediatria, de atenção terciária, credenciado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) subordinado
hierarquicamente à Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (SESA).
Os setores do HIAS que acolhem as crianças com AME são a Unidade de
Tratamento Intensivo (UTI) e a Unidade de Pacientes Especiais (UPE). Na primeira as
crianças permanecem enquanto não estão clinicamente estabilizadas; enquanto que na UPE
permanecem aquelas crianças que ainda necessitam de atendimento especializado ou
enquanto esperam a transferência para seu domicílio onde farão parte do PAVD.
Além da parceria desenvolvida com o HIAS, a ABRAME firmou convênio
(Convênio n.295/2006), em agosto de 2006, com a Secretaria da Educão Básica do Estado
do Ceará (SEDUC) para garantir o processo de alfabetizão das crianças, jovens e adultos
com AME, possibilitando o acompanhamento pedagógico especializado através de um
currículo flexibilizado e/ou adaptado. Este projeto é denominado A Itinerância como
32
mediadora da aprendizagem, contudo ficou conhecido com Projeto Professor Itinerante”.
Nele, professores com graduação em Pedagogia e especialização em Educação Especial,
devidamente capacitados, fazem o acompanhamento pedagógico hospitalar ou domiciliar das
crianças, jovens e adultos com AME, favorecendo-lhes a possibilidade de acesso a educão
infantil e fundamental.
O cenário da pesquisa dependeu do local onde as crianças se encontravam, algumas
entrevistas foram realizadas nos domicílios das crianças e outras na UPE do HIAS na Região
Metropolitana de Fortaleza-CE. Isto se deveu ao fato de algumas crianças estarem em
internão domiciliar e outras em internação hospitalar.
Quando se mede a QV deve-se ter como prioridade o uso de métodos disponíveis e
eficazes para capacitar as pessoas a expressar suas próprias opiniões. Apesar dos inúmeros
esforços para capacitar as pessoas a falar por si próprias sobre sua QV, as dificuldades de
comunicação impossibilitam alguns indivíduos a serem capazes de fa-la. Assim, com
freqüência, pede-se a uma pessoa próxima, que conheça muito bem o indivíduo, que responda
por ele, porém existem dúvidas se a informação proporcionada pelas pessoas próximas
substitui de forma válida e precisa os auto-informes. Quando se reúnem dados de auto-
informe e dados de pessoas próximas, normalmente utilizam-se as pessoas próximas somente
quando os investigados não são capazes de responder por si mesmos. Nas circunstâncias em
que é importante avaliar a QV de todas as pessoas, sem ter em conta sua capacidade de auto-
informar, um enfoque válido é obter dados das pessoas próximas e recorrer aos auto-informes
das que são possíveis de prestá-los (VERDUGO, SCHALOCK, 2006).
Considerando o anterior, o universo foi inicialmente composto por 16 díades
cuidador principal/crianças com AME tipo I e II cadastradas na ABRAME e que tinham a
patologia diagnosticada através do exame de DNA. Participaram do estudo o cuidador
principal (que em todos os casos foi representado pelas mães das crianças) e aquelas crianças
que tiveram condições de comunicação com linguagem inteligível. Como é comum em
pesquisas ocorreram perdas de participantes. Destas 16 díades, participaram desta pesquisa
12: houve dois óbitos de crianças; devido a problemas alheios à pesquisa uma das mães não
pode prestar a entrevista e os dados informados por uma das mães entrevistadas não foram
suficientes para render análise. No caso das crianças eram cinco as que tinham linguagem oral
inteligível e portanto teriam condições de serem entrevistadas. No entanto, uma delas se
negou a participar mesmo com o consentimento de sua mãe. Das quatro crianças entrevistadas
o discurso de uma delas não foi analisado por se tratar de uma garota de apenas quatro anos e
mesmo em situação lúdica se mostrou muito mida e com dificuldades para responder,
33
características que poderiam ser atribuídas tanto a sua personalidade quanto a particularidades
da criança entre os dois e os seis anos (HIDALGO e PALACIOS, 2004).
Os instrumentos de coleta de dados desta pesquisa tiveram como base teórica de
fundamentação os domínios e indicadores de QV na infância propostos por Sabeh, Verdugo e
Prieto (2006). Estes autores consideram que a QV na infância estrutura-se na percepção
subjetiva da criança conexa a aspectos objetivos, atribuídos a cinco domínios: bem-estar
emocional, bem-estar físico, relações interpessoais, desenvolvimento pessoal e atividades e
bem-estar material. O referido modelo teórico foi elaborado para a avaliação da QV na
infância, contudo em nossa pesquisa tivemos um informante de 14 anos. Mesmo este
informante sendo um adolescente utilizamos o seu auto-relato e o relato de sua mãe pois
consideramos serem importantes fontes de informação para uma doença crônica como a
AME. Portanto, o leitor deve estar ciente de que estamos falando em crianças, mas um
adolescente fez parte do universo desta pesquisa.
Foram estes os instrumentos utilizados: (i) um instrumento de avaliação de
qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) validado no Brasil para ser utilizado com
crianças PedsQL
TM
4.0 (KLATCHOIAN et al, 2008) (anexo A); (ii) uma ficha
sociodemográfica (apêndice A) e (iii) roteiros de entrevistas (apêndice B e C).
O PedsQL
TM
(Pediatric Quality of Life Inventory
TM
) é um instrumento genérico de
medida de QV que avalia a criança sob os diferentes aspectos do seu desenvolvimento. Para
Davis et al (2006) o PedsQL
TM
é um dos mais completos instrumentos desenvolvidos para a
avaliação da QV atualmente disponível. Compõe-se por 23 itens multidimensionais,
englobando aspectos físicos (8 itens), emocionais (5 itens), sociais (5 itens) e escolares (5
itens). É compreendido de módulos paralelos de relato da criança e relato de seus pais. Os
módulos de relato da criança incluem as idades de 5 a 7 anos, de 8 a 12 anos e de 13 a 18
anos. Os módulos de relato dos pais incluem as idades de 2 a 4 anos, de 5 a 7 anos, de 8 a 12
anos e de 13 a 18 anos. Os dulos de relato dos pais são paralelos aos módulos de relato das
crianças e são projetados para avaliar as percepções, dos pais, de QVRS da sua criança. Os
itens para cada um dos módulos são essencialmente idênticos, diferindo somente em uma
linguagem apropriada na primeira ou terceira pessoa (VARNI, BURWINKLE, SEID, 2006;
BASTIAANSEN et al, 2004; VARNI et al, 2002).
Na administração do PedsQL
TM
pergunta-se o quanto de cada problema a criança
tem tido no último mês. Nos relatos da criança, para as idades de 8 a 18 anos, e seus
respectivos pais, uma escala de resposta de 5 pontos é utilizada (0 = nunca é um problema; 1
= quase nunca é um problema; 2 = algumas vezes é um problema; 3 = freentemente é um
34
problema e 4 = quase sempre é um problema). Para crianças de 5 a 7 anos de idade, a escala
foi simplificada para três pontos (1 = nunca é um problema; 2 = às vezes é um problema; 3 =
muitas vezes é um problema), sendo cada resposta ancorada em uma escala analógica visual
com faces alegre, neutra e triste, respectivamente. O relato dos pais também inclui as idades
de 2 a 4 anos, o que não ocorre no relato para crianças com menos de 5 anos de idade, e este
inclui somente 3 itens para o aspecto escolar (VARNI, BURWINKLE, SEID, 2006;
BASTIAANSEN et al, 2004; VARNI et al, 2002).
Os itens são escore-reverso e linearmente transformados para uma escala de 0 a 100
(0 = 100, 1 = 75, 2 = 50, 3 = 25, 4 = 0). Portanto, escores elevados indicam uma melhor QV.
Os escores da escala são computados pela soma dos itens divididos pelo número de itens
respondidos (isso leva em conta dados faltantes). Se mais de 50% dos itens na escala não
forem respondidos, esta não deverá ser computada. Atribuir a média dos itens completos na
escala quando 50% ou mais dos que estão completos, é geralmente o método mais imparcial e
preciso (VARNI, BURWINKLE, SEID, 2006; BASTIAANSEN et al, 2004; VARNI et al,
2002).
As dimensões apresentadas no PedsQL
TM
estão em consonância com o teórico de
QV na infância proposto por Sabeh, Verdugo e Prieto (2006) com exceção do domínio bem-
estar material que foi abrangido, nesta pesquisa, pela ficha sociodemográfica.
Em uma fase preliminar à pesquisa ocorreram vários contatos entre a pesquisadora e
a presidência da ABRAME para que fossem discutidos aspectos relevantes do estudo. Estes
contatos prévios foram de fundamental importância, pois foi a partir deles que houve um
melhor delineamento do estudo.
Em um primeiro momento, foi realizada uma visita à família da criança em que a
pesquisadora se apresentou e em seguida eram explicados os prositos da pesquisa. Somente
em uma segunda visita é que os dados eram coletados. Todas essas visitas eram previamente
marcadas por telefone pela pesquisadora.
Na segunda visita o termo de consentimento livre e esclarecido era apresentado e
explicado às mães e solicitado que fossem assinados. Todas as entrevistas só ocorreram as a
assinatura deste termo. As estes procedimentos foi aplicada a ficha sociodemográfica e o
PedsQL
TM
com as mães. O PedsQL
TM
só foi utilizado para mães cujos filhos tinham mais de
dois anos de idade, visto que não existe um módulo para crianças abaixo desta idade.
Portanto, o PedsQL
TM
foi aplicado com nove mães visto que em nossa pesquisa quatro
crianças tinham menos de dois anos. Os módulos foram aplicados de acordo com a faixa
etária da criança.
35
Após a aplicação do PedsQL
TM
era realizada, com as mães, uma entrevista semi-
estruturada composta por questões norteadoras baseadas no modelo proposto por Duggan e
Dijkers (1999) apud Dijkers (2003). Estes autores utilizaram extensas entrevistas qualitativas
com cinco ou seis questões que requeriam que os indivíduos descrevessem largamente a vida
passada e a presente. Na presente pesquisa estas questões foram baseadas no modelo teórico
de Sabeh, Verdugo e Prieto (2006).
O passo seguinte era a aplicação de um roteiro de entrevista semi-estruturada com
aquelas crianças que tinham condições de comunicação. Este roteiro de entrevista também
seguiu o modelo proposto por Duggan e Dijkers (1999) apud Dijkers (2003).
Os dados foram coletados nos meses de fevereiro a agosto de 2008. Em todas as
etapas da pesquisa foi utilizado um gravador para que as falas fossem registradas e
posteriormente transcritas. A transcrição das fitas foi feita pela pesquisadora. Também foi
utilizado um diário de campo onde a pesquisadora anotou todas as observações que poderiam
ser úteis para a análise e discussão dos dados.
Os dados quantitativos foram organizados, analisados, codificados em uma planilha
de dados, com o auxílio do programa Excel, e apresentados em tabelas. Trata-se de uma
análise descritiva desses dados para observar os domínios de QV mais afetados na populão
estudada. Portanto, os dados quantitativos serviram de base para a análise qualitativa, pois,
como dito anteriormente, das 12 díades entrevistadas apenas nove estavam aptas a responder
o questionário pediátrico de qualidade de vida PedsQL
TM
.
Os dados qualitativos foram analisados segundo a Análise de Conteúdo de Bardin
(BARDIN, 2006). Primeiro foi feita uma pré-análise do material através de uma leitura
flutuante das entrevistas seguida da constituição do corpus e do estabelecimento das unidades
de registro e de contexto. O critério utilizado para a categorizão do conteúdo das falas
adotado nesta pesquisa foi o semântico, visto que o agrupamento foi feito em função do
significado e as categorias receberam títulos que melhor expressassem o significado daquele
grupo ou classe. De cada pergunta do roteiro de entrevistas procuramos construir categorias
para serem analisadas.
Os aspectos éticos desta pesquisa obedeceram à Resolução 196/96 da Comissão
Nacional de Ética em Pesquisas (CONEP), sendo a coleta de dados realizada após parecer
favorável do Comitê de Ética do HIAS (Parecer 028/08 anexo B), a assinatura do termo de
fiel depositário pela presidência da ABRAME (apêndice D) e a assinatura do termo de
consentimento livre e esclarecido dos participantes (apêndice E). A presente pesquisa forma
parte do projeto integrado Promoção da Saúde e Qualidade de Vida das pessoas com doença
36
neuromuscular que foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisas da Universidade de
Fortaleza (UNIFOR) e recebeu parecer favorável em setembro de 2007 (Parecer n. 236/2007
anexo B).
De acordo com a referida resolução, a pesquisa envolvendo seres humanos deve
atender às exigências éticas e científicas fundamentais, tais como: consentimento livre e
esclarecido dos indivíduos alvos; garantia do sigilo que assegure a privacidade e o anonimato
dos sujeitos quanto à coleta de dados; respeito total à dignidade do ser humano sem
mutilações ou violação do corpo; garantia de que não haverá riscos nem benefícios diretos;
respeito aos valores culturais, sociais, morais, religiosos e éticos, bem como os hábitos e
costumes quando as pesquisas envolverem comunidades prevalecer devem sempre as
probabilidades dos benefícios esperados sobre os riscos previsíveis; entre outros.
Nesta pesquisa o risco foi mínimo, ou seja, a possibilidade de danos à dimensão
física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual dos sujeitos, em qualquer fase
da pesquisa e dela decorrente foi mínima. É importante deixar claro que o dano associado ou
decorrente da pesquisa (agravo imediato ou tardio, ao indivíduo ou à coletividade, com nexo
causal comprovado, direto ou indireto, decorrente do estudo cienfico) também foi ínfimo.
A eticidade da pesquisa obedeceu aos princípios da autonomia (consentimento livre
e esclarecido dos indivíduos-alvo e a proteção a grupos vulneráveis e aos legalmente
incapazes), da beneficência (ponderação entre riscos e benefícios, tanto atuais como
potenciais, individuais ou coletivos, comprometendo-se com o máximo de benefícios e o
mínimo de danos e riscos), da não-malefincia (garantia de que danos previsíveis serão
evitados); e de justiça e eqüidade (relevância social da pesquisa com vantagens significativas
para os sujeitos da pesquisa e minimização do ônus para os sujeitos vulneráveis, o que garante
a igual considerão dos interesses envolvidos, não perdendo o sentido de sua destinão
sócio-humanitária).
Conforme as normas de ética cienfica em investigações com seres humanos, os
nomes reais foram substituídos por códigos zelando pela garantia do sigilo que assegure a
privacidade dos sujeitos quanto aos dados confidenciais envolvidos na pesquisa.
37
5 RESULTADOS
5.1 Dados sociodemográficos:
Das doze díades participantes desta pesquisa podemos observar que seis crianças
tinham AME tipo I, cinco, AME tipo II e uma, AME tipo I/II, sendo seis do sexo masculino e
seis do sexo feminino, com uma média de idade de 5,7 anos. Com relação aos estudos 6
crianças estão inseridas no Projeto Professor Itinerante (Convênio SEDUC/ABRAME),
quatro não estão em idade escolar e duas estudam em escola regular. Como dito
anteriormente, o cuidador principal destas crianças eram suas mães que em sua maioria
tinham o ensino fundamental (66,7%). A maioria das famílias (7 delas) vive com até dois
salários mínimos com uma renda mensal média de R$729,00.
5.2 Participantes da pesquisa
Para um melhor conhecimento dos participantes desta pesquisa segue-se uma
descrição de cada informante. Cada criança foi denominada pela letra C e um número para
que o sigilo e o anonimato das mesmas pudesse ser mantido. As mães foram designadas
segundo a denominação de seus filhos.
5.2.1 Caracterização das crianças
C1 Adolescente de 14 anos, sexo masculino. Tem AME tipo II a qual foi
diagnosticada aos 6 anos de idade. Está traqueostomizado e tem uma gastrotomia. Apesar da
traqueostomia ele possui uma linguagem inteligível. Mora em um apartamento, cujo acesso é
por escadas, sozinho com sua mãe. Seus pais são separados e seu irmão está morando na
cidade de Paracuru CE onde trabalha. Sua mãe deixou de trabalhar fora para ficar cuidando
dele, atualmente ela procura aumentar a renda familiar, que é basicamente a pensão dele, com
algumas vendas em casa mesmo. O apartamento no qual eles moram é simples, o quarto dele
é um quarto de adolescente com um computador e todos os aparelhos necessários para sua
sobrevivência. Diferentemente das outras crianças seu quarto não possui ar condicionado. Ele
é um garoto bastante inteligente que tem desejos de viver como qualquer outro adolescente.
Está inserido no projeto Professor Itinerante mas deseja que suas aulas sejam com um nível
mais elevado com disciplinas como Matemática e Biologia. Mostra-se bastante interessado
em estudar inglês e deseja ser arquiteto. Ele falou que desenhava muito bem, mas que com a
progressão da doença perdeu um pouco dos movimentos e por isso não pode mais desenhar. O
38
que mais o distrai e que ele gosta de fazer é ficar navegando na Internet, batendo papo
com os amigos no MSN e Orkut.
C2 Garoto de 11 anos. Tem AME tipo I/II que foi diagnosticada aos 5 meses de
vida nos EUA. Não é traqueostomizado nem gastrotomizado. Sua família é a que tem melhor
condição financeira das famílias pesquisadas. Ele mora com o pai, a mãe e o irmão em uma
casa adaptada em um condomínio. É uma casa projetada com rampas e passagens largas para
que ele tenha total liberdade de deslocamento, aliado a isso possui uma cadeira de rodas
motorizada e adaptada para ele. Portanto, tem total independência e consegue participar de
todas as atividades que deseja. Estuda em uma escola regular onde cursa o sexto ano, assim
sendo está dentro da faixa etária escolar correta. Gosta de brincar com seus amigos em uma
sala da casa que possui computador e vídeo game e também em outros ambientes da casa e do
condomínio como a piscina e as quadras. Sua mãe relata que mesmo em um jogo de futebol
ele participa sendo árbitro ou técnico.
C3 Garota de 10 anos. Tem AME tipo II diagnosticada aos 4 anos de idade.
Chegou a sentar e andar, atualmente encontra-se restrita ao leito traqueostomizada e
gastrotomizada. Apesar da traqueostomia é uma das crianças que possui linguagem oral
inteligível. Morou no hospital durante 7 meses e havia pouco tempo que estava em internação
domiciliar. Atualmente mora com o pai, a mãe, um irmão mais velho e duas irmãs (gêmeas)
mais novas. A mãe estava no terceiro mês de uma nova gravidez. Sua casa fica no andar
superior de um sobrado com acesso difícil para pessoas com deficiência. Percebe-se que
foram feitas adaptações para que a família fosse morar lá. O quarto dela é muito bem
decorado e organizado. Possui ar condicionado e todos os aparelhos para sua sobrevivência.
Ela se mostra muito satisfeita com seu quarto e brinquedos. Está inserida no projeto Professor
Itinerante e relata gostar muito quando a professora vai a sua casa. É uma garota muito
vaidosa, gosta sempre de ficar arrumada, maquiada e com os cabelos bem penteados. Tem o
sonho de ser modelo de rosto.
C4 Menina de 4 anos. Tem AME tipo II diagnosticada aos 3 anos de idade. Não é
traqueostomizada nem gastrotomizada. Fala normalmente como uma criança de 4 anos. Senta
e tem boa movimentação motora de membros superiores. Apresenta uma discreta atrofia de
membros inferiores o que a impossibilita de ficar de pé e a sua marcha. Não possui cadeiras
de rodas e como ainda é pequena sua mãe consegue levá-la nos braços para todos os locais.
Mora com sua mãe em uma casa simples no município de Maracanaú CE. É uma garota
muito esperta, fala tudo e compreende muito bem as coisas. Estuda em uma escola regular, na
39
turma do Infantil II, e, segundo sua mãe, acompanha muito bem o conteúdo escolar tendo
rendimento superior aos colegas de classe.
C5 Menina de 4 anos. Tem AME tipo I diagnosticada aos 9 meses de vida. Está
sob ventilação menica, é traqueostomizada e gastrotomizada. Está em internação domiciliar
há 2 anos. Mora em uma casa simples com o pai, a mãe e dois irmãos mais velhos (uma moça
de 14 anos e um garoto de 6 anos). Seu quarto é adaptado, muito bem equipado e organizado
com todos os equipamentos necessários para sua sobrevivência. Não tem linguagem
inteligível, balbucia algumas poucas palavras que muitas vezes são compreendidas apenas por
seus familiares. Está inserida no projeto Professor Itinerante e segundo sua mãe tem obtido
bons resultados.
C6 Menino de 3 anos. Tem AME tipo I diagnosticada aos 3 meses de vida.
Traqueostomizado e gastrotomizado, sob ventilação mecânica. Mora em uma casa simples
com o pai, a mãe e uma sobrinha da mãe e sua filha. Não tivemos acesso ao seu quarto pois
ele estava dormindo na primeira visita e a entrevista foi realizada no HIAS em virtude de ele
estar internado por uma complicação respiratória. Sua mãe relata que ele é muito satisfeito por
estar em casa e com seus brinquedos. Não está no projeto Professor Itinerante por não ter
idade escolar ainda.
C7 Menino de 4 anos. Tem AME tipo I diagnosticada aos 5 meses de vida. Mora
em uma casa simples com a mãe, a avó, uma tia e uma amiga da família. Seu quarto foi todo
adaptado para ele. É um dos quartos mais simples em virtude de a família estar há pouco
tempo nesta casa; contudo possui todos os equipamentos necessários para sua sobrevivência.
É traquostomizado e gastrotomizado, está sob ventilação mecânica. É um garoto muito
esperto, percebe muito bem as coisas ao seu redor. Gosta de passear pela casa e de
acompanhar as visitas até fora de casa. Está inserido no projeto Professor Itinerante mas a
mãe acha que tem tido pouco rendimento devido a professora faltar bastante.
C8 Menino de 1 ano. Tem AME tipo I diagnosticada entre 6 e 7 meses de vida.
Mora na UPE do HIAS. Sua mãe sempre procura estar no hospital com ele, porém precisou se
ausentar por uns dias pois teve uma nova filha. Na ausência da mãe a criança é cuidada pelo
pessoal da enfermagem do HIAS. Mesmo muito pequeno é simpático quando as pessoas se
dirigem a ele, pois muitas vezes esboça sorrisos. É traqueostomizado e gastrotomizado e
encontra-se sob ventilação mecânica. Ainda não está em idade esccolar.
C9 Garota de 10 anos. Tem AME tipo II diagnosticada aos 4 anos e 6 meses de
vida. Traqueostomizada, gastrotomizada, sob ventilação mecânica. Durante cinco anos morou
na UPE do HIAS pois sua família é do interior e as dificuldades sociais impediam seu
40
ingresso no PAVD. Durante o período de coleta de dados ela recebeu alta hospitalar e foi para
casa. Contudo, com pouco tempo precisou retornar ao hospital pois apresentou uma infecção
urinária. Seus pais são agricultores e seu ingresso no PAVD deveu-se aos esforços da diretoria
da ABRAME. Em uma casa alugada pela ABRAME foi montado um quarto com todos os
equipamentos necessários para sua sobrevivência e com decorão de acordo com seu gosto.
Ela é uma das crianças com linguagem inteligível, entretanto é muito tímida e não quis falar
conosco. Foram várias as tentativas mas infelizmente ela não aceitou conversar mesmo com o
consentimento de sua mãe. Sua mãe falou que ela é muito satisfeita com as coisas que possui
(bens materiais) e estava muito satisfeita em estar em casa. Está inserida no projeto Professor
Itinerante.
C10 Garota de 5 anos. Tem AME tipo I diagnosticada aos 3 meses de vida. Mora
com sua mãe e seu pai em um sobrado de difícil acesso para pessoas com deficiência. Seu
quarto é muito bem decorado e equipado. Ela possui todos os equipamentos necessários a sua
sobrevivência, possui também uma cadeira de rodas adaptada. É traqueostomizada e
gastrotomizada e respira com a ajuda de aparelhos. É uma menina muito inteligente, esperta,
fala algumas palavras soltas, mas não desenvolve um diálogo com uma linguagem inteligível.
Está inserida no projeto Professor Itinerante com um bom rendimento. Mostrou saber as
vogais e contar até 10. Sua mãe é muito dedicada e procura sempre estar ensinando coisas
novas a ela. Gosta muito de passear e ficou muito feliz quando seus pais fizeram a festa de seu
aniversário este ano. Segundo sua mãe ela tem o sonho de conhecer um shopping de nossa
cidade e o mar.
C11 Menino de 1 ano. Tem AME tipo I diagnosticada aos 49 dias de vida.
Traqueostomizado e gastrotomizado, sob ventilação mecânica. Mora com o pai, a mãe e uma
irmã de 10 anos. Teve o quarto especialmente projetado pra ele, foi construída uma entrada
especial com rampa idealizada por um arquiteto. Como o quarto das outras crianças é muito
bem decorado e equipado. Ele é uma linda criança muito bem cuidada. Mesmo muito pequeno
ensaiou balbuciar algumas palavras na nossa presença. Sua mãe relata que ele se mostra muito
feliz em estar em casa e com seus brinquedos. Ainda não tem idade escolar e por isso não está
no projeto Professor Itinerante.
C12 Menina de 1 ano. Tem AME tipo I diagnosticada aos 6 meses de vida. É
traqueostomizada e gastrotomizada e respira com a ajuda de aparelhos. Mora na UPE do
HIAS. Sua mãe passa muito pouco tempo no hospital e isso dificulta o aprendizado necessário
que o cuidador principal precisa ter para que ela possa ingressar no PAVD. É uma criança
muito esperta, mas que demonstra sentir a falta de sua mãe. Não tem idade escolar ainda.
41
A Tabela 1 traz um resumo das descrições das crianças com informações sobre sexo,
idade, tipo de AME e escolarização para uma melhor visualização do leitor.
Tabela 1 Descrição das crianças
CRIANÇA SEXO IDADE TIPO DE AME ESCOLARIZAÇÃO
C1 M 14 anos AME tipo II Projeto Professor Itinerante
C2 M 11 anos AME tipo I/II Escola Regular
C3 F 10 anos AME tipo II Projeto Professor Itinerante
C4 F 4 anos AME tipo II Escola Regular
C5 F 4 anos AME tipo I Projeto Professor Itinerante
C6 M 3 anos AME tipo I Ainda não está em idade escolar
C7 M 4 anos AME tipo I Projeto Professor Itinerante
C8 M 1 ano AME tipo I Ainda não está em idade escolar
C9 F 10 anos AME tipo II Projeto Professor Itinerante
C10 F 5 anos AME tipo I Projeto Professor Itinerante
C11 M 1 ano AME tipo I Ainda não está em idade escolar
C12 F 1 ano AME tipo I Ainda não está em idade escolar
5.2.2 Caracterização das mães
Mãe de C1 Mulher de 39 com ensino médio completo. Dedica-se a cuidar do filho;
para melhorar a renda familiar ela procura realizar algumas vendas em casa, mas tem
dificuldades para isso pois é difícil encontrar alguém para deixar o filho enquanto compra
produtos para revender. É uma mulher batalhadora, não espera que as pessoas venham dar as
coisas para ela e seu filho, ela vai sempre a busca do melhor para eles. Tem muitos
conhecimentos em relação à doença de seu filho e tem como amigas mães de outras crianças
com AME.
Mãe de C2 Analista de sistema e empresária, tem curso superior completo, 36
anos, com bom nível sociocultural. É uma mulher que sempre busca o melhor para seu filho e
também para as outras crianças com AME. É a que possui melhor situação financeira dos
participantes e por isso seu filho teve a oportunidade de ter o diagnóstico de AME feito nos
EUA. É bastante ativa na ABRAME, com idéias interessantes para a melhoria da QV das
crianças com AME.
42
Mãe de C3 Mulher de 33 anos, mãe de quatro filhos e durante a coleta de dados
estava no terceiro mês de gestão. Tem ensino fundamental completo e dedica-se a cuidar da
casa e dos filhos. É uma mãe muito ansiosa com o futuro de sua filha, preocupa-se muito com
a evolução da doença de sua filha. Tem um bom relacionamento com mães de outras crianças
com AME.
Mãe de C4 Mulher de 33 anos que se dedica a cuidar da filha em casa. Tem ensino
fundamental completo. É uma mulher consciente da doença de sua filha e procura sempre
fazer o melhor para ela.
Mãe de C5 Mulher de 34 anos com curso superior completo. Formou-se em
Pedagogia no interior do estado antes de a doença da filha ser diagnosticada. Ela chegou a
lecionar em sua cidade natal antes de sua família vir morar em Fortaleza. Atualmente dedica-
se a cuidar da casa e dos filhos (além de C5, tem uma filha adolescente e um garoto de 6
anos). É uma pessoa que tem facilidade para falar e excelente fluidez de idéias. Demonstra ter
conhecimentos sobre a doença da filha. Também tem como amigas mães de outras crianças
com AME.
Mãe de C6 Mulher de 35 anos, tem ensino fundamental incompleto. É costureira,
mas não exerce a profissão para cuidar do filho. Mostrou ser muito insegura com relação à
doença do filho. Refere que passa a maior parte do dia só com ele e que seu esposo sempre
liga para saber como as coisas estão em casa. Assim como muitas das mães sempre tem
contato com outras mães de crianças com AME por telefone.
Mãe de C7 Mulher de 27 anos que se dedica a cuidar do filho. Não tem contato
com o pai da criança o qual é bem mais velho que ela. Tem baixa escolaridade pois não
concluiu o ensino fundamental. Mostrou-se ser bastante interessada em conhecer melhor a
doença de seu filho mesmo não demonstrando muitos conhecimentos sobre o assunto.
Mostrou necessidade de apoio socioemocional, pois, por várias vezes durante a entrevista
falou da necessidade que tem de conversar com outras pessoas e saber que outras pessoas se
interessam em saber como ela e seu filho estão.
Mãe de C8 Mulher de 18 anos, mãe de três filhos (C8, um garoto de 4 anos e uma
menina de um mês). Tem ensino fundamental completo. Não tem ocupação definida, dedica-
se a cuidar dos filhos. Atualmente vive dividida em estar no HIAS com C8 e sua filha recém-
nascida. Apresentou-se interessada em conhecer melhor a doença de seu filho e como cuidá-lo
quando ele for para casa. Tem o desejo de levar logo o filho para casa onde poderá dedicar-se
a cuidá-lo juntamente com sua filha recém-nascida. Tem um bom relacionamento com as
mães das outras crianças que estão internadas por longos períodos no HIAS.
43
Mãe de C9 Mulher de 37 anos, do interior do estado, que não chegou a completar
o ensino fundamental. Quando sua família morava no interior era agricultora, contudo
atualmente dedica-se a cuidar da casa e dos filhos. É mãe de quatro filhos mas apenas C9 e
uma outra filha de 14 anos estão em Fortaleza com ela, os outros ficaram no interior com os
avós pela dificuldade financeira que a família tem de se manter na capital. Sua filha só
conseguiu ir para casa no PAVD pelos esforços da ABRAME.
Mãe de C10 Mulher de 32 anos que se dedica a cuidar da filha e da casa. Tem
ensino fundamental completo. Para ajudar nas despesas da casa vende cartões telefônicos e
jogos de prognóstico. Tem muitos conhecimentos com relação à doença da filha. Ela busca
dedicar-se ao máximo à criança não só nos cuidados à saúde, mas também em relação à
escola, ensinado-lhe o alfabeto e os numerais. Durante a coleta de dados ficou bastante
emocionada e sua entrevista precisou ser interrompida por várias vezes, pois ela não
conseguia falar. Tem um excelente relacionamento com mães de outras crianças com AME.
Mãe de C11 Tem ensino médio completo. Não tem uma ocupão definida,
dedica-se a cuidar da casa e dos filhos. Além de C11 tem uma filha de 10 anos. É uma pessoa
bastante tímida, mas durante a coleta de dados foi uma das que melhor cooperou. Tem um
bom conhecimento da doença de seu filho e mostra-se bastante dedicada aos cuidados para
com ele. Também tem um bom relacionamento com mães de outras crianças com AME.
Mãe de C12 Mulher de 22 anos, mãe de dois filhos. Sua filha está em internão
prolongada no HIAS. Ela demonstrou muito interesse em levar a filha para casa, mas para isso
necessita dedicar-se mais aos cuidados da filha no hospital. A criança passa a maior parte do
tempo sozinha no hospital; ela refere que precisa ficar em casa para cuidar de seu outro filho e
portanto não fica no hospital com sua filha. Mostrou-se muito ansiosa em conhecer melhor a
doença de sua filha para poder cuidar bem dela quando ela for para casa, mas, para isso,
precisa ficar mais tempo no hospital para aprender todos os procedimentos.
5.3 Resultados quantitativos
Os dados obtidos com o questionário pediátrico de qualidade de vida PedsQL
TM
mostram que o domínio bem-estar físico é o mais comprometido da população estudada.
Depois de realizada a transformação dos escores em uma escala de 0 a 100 foi observada uma
média de 24,7 para a capacidade física, 70,6 para o aspecto emocional e 76,7 para o aspecto
social. Com relação à atividade escolar foi necessário fazer a análise separadamente entre as
crianças de 2 a 4 anos e os participantes acima de 5 anos. Esta distinção foi necessária porque
para o relato dos pais nas idades de 2 a 4 anos a escala inclui somente 3 itens para o aspecto
44
escolar enquanto que nas outras faixas etárias esta escala compreende 5 itens. Deste modo,
para as crianças de 2 a 4 anos foi encontrado um escore médio de 55,6 para a atividade escolar
e um escore médio de 94 para os participantes acima de 5 anos. Estes dados são apresentados
na Tabela 2.
Tabela 2 Valores dos escores do PedsQL
TM
segundo os domínios de qualidade de vida
Participantes
Capacidade
Física
Aspecto
Emocional
Aspecto
Social
Atividade
Escolar
crianças de 2 a
4 anos
Atividade
Escolar
maiores de 5
anos
C1 21,9 75 70 --- 100
C2 25 60 65 --- 80
C3 15,6 60 70 --- 100
C4 50 85 90 83,3 ---
C5 40,6 80 100 33,3 ---
C6 15,6 90 80 --- ---
C7 6,3 75 80 50 ---
C9 18,8 25 75 --- 100
C10 28,1 85 60 --- 90
Média
24,7 70,6 76,7 55,6 94
Desvio
Padrão
13,5 20,1 12,5 25,5 8,9
Durante a administração do PedsQL
TM
pergunta-se o quanto cada item tem sido um
problema no último mês. As Tabelas 3, 4, 5, 6 e 7 apresentam a freqüência com que as
respostas foram dadas pelas nove mães entrevistadas.
No domínio bem-estar físico observou-se que para 100% das mães andar, correr,
levantar alguma coisa pesada tem sido um problema para seu filho. Isto está dentro do
esperado visto que a maioria das crianças encontra-se restrita ao leito e os que não estão
necessitam de cadeiras de rodas para se locomover. O escore médio obtido pelo domínio bem-
estar físico nesta pesquisa foi de 24,7 sendo o mais baixo de todos os escores encontrados.
Dentro da capacidade física observou-se que os itens que obtiveram melhores resultados
foram ter dor ou machucado e pouca energia quando para 77,8% das mães estes itens nunca
ou quase nunca eram um problema para seu filho (Tabela 3).
45
Tabela 3 Freqüência dos escores obtidos da capacidade física
Capacidade Física
(problemas com...)
Nunca
Quase
Nunca
Algumas
Vezes
Freente
mente
Quase Sempre
N % N % N % N % N %
Andar 0 0% 0 0% 0 0% 0 0% 9 100%
Correr 0 0% 0 0% 0 0% 0 0% 9 100%
Participar de
brincadeiras ativas,
atividades esportivas ou
exercícios
0 0% 0 0% 2 22,2% 1 11,1%
6 66,7%
Levantar alguma coisa
pesada
0 0% 0 0% 0 0% 0 0% 9 100%
Tomar banho 1 11,1% 1 11,1% 0 0% 1 11,1%
6 66,7%
Fazer tarefas do dia-a-
dia da casa como ajudar
a pegar os seus
brinquedos
0 0% 0 0% 2 22,2% 0 0% 7 77,8%
Ter dor ou machucado 3 33,4% 4 44,4% 1 11,1% 0 0% 1 11,1%
Pouca energia 6 66,7% 1 11,1% 0 0% 1 11,1%
1 11,1%
Com relação ao bem-estar emocional pode-se observar que para 55,6% das mães
sentir medo ou ficar assustado, ficar triste ou deprimido e ficar preocupado nunca tem sido
um problema para seu filho. O aspecto emocional alcançou um bom resultado com os
participantes desta pesquisa (Tabela 4).
Tabela 4 Freqüência dos escores obtidos do aspecto emocional
Aspecto Emocional
(problemas com...)
Nunca
Quase
Nunca
Algumas
Vezes
Freenteme
nte
Quase
Sempre
N % N % N % N % N %
Sentir medo ou ficar
assustado
5 55,6%
1 11,1% 2 22,2% 1 11,1% 0 0%
Ficar triste ou deprimido
5 55,6%
2 22,2% 1 11,1% 0 0% 1 11,1%
Ficar com raiva 2 22,2%
0 0% 6 66,7% 0 0% 1 11,1%
Dificuldade para dormir 3 33,4%
2 22,2% 2 22,2% 2 22,2% 0 0%
Ficar preocupado 5 55,6%
2 22,2% 0 0% 2 22,2% 0 0%
46
O aspecto social também apresentou um bom resultado para os participantes desta
pesquisa. Para 88,9% das mães para seus filhos nunca tem sido um problema conviver com
outras crianças/adolescentes e outras crianças/adolescentes o(a) provocam. No domínio
relões interpessoais, analisado no PedsQL
TM
nesta pesquisa pelo aspecto social, apenas o
item não consegue fazer coisas que outras crianças/adolescentes da mesma idade apresentou
resultado negativo. Quase sempre foi a resposta dada neste item por 55,6% das mães
questionadas. Isto é explicado pelo grave comprometimento motor próprio da AME, sendo,
portanto, difícil para pessoas com AME fazer coisas que seus pares fazem normalmente
(Tabela 5).
Tabela 5 Freqüência dos escores obtidos do aspecto social
Aspecto Social
(problemas com...)
Nunca
Quase
Nunca
Algumas
Vezes
Freqüente
mente
Quase
Sempre
N
% N % N % N % N %
Conviver com outras
crianças/adolescentes
8 88,9% 0 0% 0 0% 0 0% 1 11,1%
Outras
crianças/adolescentes
não querem ser amigos
dele (a)
9 100% 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
Outras
crianças/adolescentes
que o(a) provocam
8 88,9% 0 0% 1 11,1% 0 0% 0 0%
Não consegue fazer
coisas que outras
crianças/adolescentes da
mesma idade fazem
0 0% 0 0% 2 22,2% 2 22,2%
5 55,6%
Acompanhar a
brincadeira com outras
crianças/ adolescentes
5 55,6% 1 11,1%
0 0% 3 33,3%
0 0%
O domínio Desenvolvimento Pessoal e Atividades foi analisado, nesta pesquisa,
através da atividade escolar no PedsQL
TM
. Para crianças de 2 a 4 anos que freentavam
escola ou creche foi obtido que quase sempre era um problema fazer as mesmas atividades
escolares que sua classe para 66,7% delas (Tabela 6). Deste modo, o escore médio obtido para
este aspecto foi de 55,6 diferentemente do escore médio obtido para as outras faixas etárias
neste aspecto que foi de 94 representando o melhor resultado de PedsQL
TM
para os
participantes desta pesquisa. Para todas as mães (100%) de crianças acima de 5 anos prestar
atenção na aula, esquecer as coisas, acompanhar os trabalhos/atividades da classe nunca tem
sido um problema para seus filhos (Tabela 7).
47
Tabela 6 Freqüência dos escores obtidos do aspecto escolar em crianças de 2 a 4 anos
Atividade Escolar
(problemas com...)
Nunca
Quase
Nunca
Algumas
Vezes
Freente
mente
Quase
Sempre
N
% N % N % N % N %
Fazer as mesmas atividades
escolares que sua classe
1 33,3% 0 0% 0 0% 0 0% 2 66,7%
Faltar na escola/creche por não estar
se sentindo bem
0 0% 2 66,7%
1 33,3%
0 0% 0 0%
Faltar na escola/creche para ir ao
médico ou hospital
0 0% 2 66,7%
1 33,3%
0 0% 0 0%
Tabela 7 Freqüência dos escores obtidos do aspecto escolar dos participantes acima de 5 anos
Atividade Escolar
(problemas com...)
Nunca Quase Nunca
Algumas
Vezes
Freqüente
mente
Quase
Sempre
N % N % N % N % N %
Prestar atenção na aula
5 100% 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
Esquecer as coisas
5 100% 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
Acompanhar os
trabalhos/atividades da classe
5 100% 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
Faltar na escola por não estar se
sentindo bem
3 60% 1 20% 1 20%
0 0% 0 0%
Faltar na escola para ir ao médico
ou hospital
3 60% 1 20% 1 20%
0 0% 0 0%
5.4 Resultados qualitativos
As falas das mães e das crianças obtidas através do roteiro de entrevista subsidiam
os resultados qualitativos. Estes resultados confirmam as correlações dos resultados obtidos
pelo PedsQL
TM
.
5.4.1. Domínio Bem-estar Emocional
Seguindo o modelo teórico de Sabeh, Verdugo e Prieto (2006), a primeira questão
do roteiro de entrevista dos cuidadores principais de crianças com AME procura compreender
o domínio bem-estar emocional através do questionamento: Fale do momento de maior
alegria e também o de maior tristeza que seu filho(a) já passou. Assim, para esta primeira
questão chegamos a três categorias, sendo elas: (i) convívio familiar (para aquelas respostas
que enfatizavam momentos de alegria das crianças quando estavam em casa e no convívio
com seus familiares), (ii) convívio social (para aquelas respostas que destacavam momentos
felizes ou não no convívio com outras pessoas) e (iii) hospitalização (para aquelas respostas
que ressaltavam os momentos em que as crianças estavam em internação hospitalar).
48
Convívio familiar
Para muitas das mães das crianças com AME seus filhos tiveram aumento na QV a
partir da internão domiciliar; isto se deve ao fato de ter a possibilidade do convívio familiar
como se percebe nas falas das mães:
Foi uma felicidade muito grande, foi um sonho realizado pra gente
porque a gente achava meio assim que nunca poderia...” (Mãe de
C5)
Quando ele chegou que ele viu o quarto azul, o palhaço... aí ele
ficou olhando... aí eu percebi que ele ficou feliz.” (Mãe de C11)
Uma das mães relata que a maior alegria de sua filha foi ir para casa, pois daí ela
pode superar os traumas vividos no hospital:
Ela não tinha fé de vim pra casa, né, então pra ela assim foi uma
coisa de muita alegria mesmo, esse momento pra ela. [...] Ela ficou
muito feliz... foi aí que superou a depressão de ela ter o
traqueóstomo, ter a sonda...(Mãe de C3)
Esta resposta é confirmada pela fala da criança, ela reforça o que sua mãe falou
dizendo que sua vida melhorou muito depois que voltou para casa:
[...] ficou muito melhor!!! [...] No hospital é muito chato, porque a
gente não fica direto com a família [..] e em casa fica.” (C3)
Para uma outra mãe o convívio de seu filho com os familiares na cidade de
Paracuru-CE representa os momentos de maior alegria. A percepção dela é confirmada pela
fala de seu filho:
Eu acho que o momento que ele fica mais feliz é quando ele vai pra
Paracuru. Lá ele tem os avós, tem os primos, vai pra praia, vai pra
praça...(Mãe de C1)
[...] Eu gosto de ir pro Paracuru porque lá tem meus avós, meus
primos...(C1)
O fato de essas crianças terem a possibilidade de uma internação domiciliar favorece
a QV delas pelo convívio com familiares e amigos, desvinculando sua condição do ambiente
hospitalar.
49
Hospitalização
Uma outra categoria identificada durante a análise dos dados foi a hospitalizão.
Ela pode ser observada nas falas das mães quando questionadas qual o momento de maior
tristeza que seus filhos já passaram. A grande maioria das mães informou que este momento
seria ou teria sido durante as internões hospitalares.
...o momento de tristeza, eu acho que ele está passando agora,
assim, um momento em que ele ficou doente, que ele está
internado, é um momento de tristeza.” (Mãe de C6)
Elas referem esses momentos de tristeza ao fato de eles ficarem sozinhos,
observando as mesmas coisas acontecerem durante muito tempo.
Que ele tinha que ficar só, que tem um horário pra visita, né. Foi a
época de maior tristeza, que ele chorava muito, sentia minha falta,
né.” (Mãe de C1)
Lá na UPE ele via tudo quase a mesma coisa quase um ano, né ?
Vendo as mesmas pessoas, as mesmas coisas, o mesmo local [...] Da
última vez que ele se internou, ele ficou calado lá [...]” (Mãe de C11)
Dentro desta categoria de hospitalização encontramos falas de mães que referem os
problemas enfrentados durante o período em que seus filhos estão no hospital, tais como as
cirurgias que eles têm que passar.
E o momento de muita tristeza foi o momento que ela fez a cirurgia
do traqueóstomo. Pra ela foi uma barra muito grande... ela o
aceitava...(Mãe de C3)
Troca da gastrotomia, da traqueostomia, essas trocas de sonda, traz
muita tristeza pra ela.(Mãe de C5)
Convívio social
Por fim, da primeira questão emergiu uma terceira categoria: convívio social. Esta
categoria está representada pelas falas em que as mães enfatizam momentos de alegria e
também de tristeza relacionados ao convívio social de seus filhos.
Eu acho, eu acredito que um dos momentos de alegria foi o
aniversário dela que eu fiz agora em março. Que ela queria tanto o
aniversário da Barbie e eu fiz. Ela ficou muito feliz, chega dava pra
perceber a felicidade dela.” (Mãe de C4)
A mudança pra esse condonio foi uma coisa que trouxe assim
uma grande alegria pra ele. [...] nos finais de semana ele tem uma
vida super ativa de muita brincadeira...(Mãe de C2)
50
O filho desta senhora confirma o que sua mãe fala ao afirmar que gosta de brincar
com seus amigos:
Eu gosto de brincar com meus amigos. A gente inventa as
brincadeiras. Eu gosto de jogar de vídeo game, no computador.”
(C2)
Dentro desta categoria algumas falas mostram as dificuldades encontradas por
algumas crianças como é o caso do relato seguinte. A mãe de uma das crianças fala que sua
filha desejaria participar das atividades sociais da escola como os seus coleguinhas
participam, mesmo que fossem necessárias adaptões para que isso ocorresse como o uso de
uma cadeira de rodas:
... foi em relação à dificuldade que ela teve agora nas festas juninas
que as crianças dançaram e ela o, ficou só assistindo. Pra ela foi
triste, que ela até comentou comigo.(Mãe de C4)
Para a mãe de outra criança alguns momentos são difíceis para seu filho, pois ele
gostaria de participar de brincadeiras em uma montanha russa, em um parque temático e isso
não era permitido para pessoas com deficiência. Portanto ela se refere a esses momentos como
sendo de frustrão para seu filho:
...ele é limitado a participar de alguma brincadeira [...] tem alguns
momentos que isso pesa muito pra ele. [...] era momento de grande
frustração pra ele. [...] um momento que ele não podia viver
intensamente uma brincadeira” (Mãe de C2)
As falas das mães podem ser confirmadas pelos resultados obtidos com o PedsQL
TM
.
Os resultados deste instrumento mostram um escore médio de 70,6 para o aspecto emocional.
Foi observado que para 55,6% das mães seus filhos nunca sentem medo, ficam assustados,
preocupados, tristes ou deprimidos, demonstrando desta forma que eles possuem bom bem-
estar emocional.
5.4.2 Domínio Relações Interpessoais
A segunda pergunta do roteiro de entrevista referia-se ao domínio relações
interpessoais. Nesta pesquisa enfatizamos a relão da criança com AME e seus familiares
através do questionamento Comente sobre as relões de afeto familiar (positivas ou
51
negativas) de seu(ua) filho(a). Das respostas desta questão surgiu somente uma categoria
denominada bom relacionamento familiar.
Bom relacionamento familiar
Todas as mães relataram que seus filhos tinham um bom relacionamento com seus
familiares. As falas seguintes podem representar estes relatos:
Ela é mais apegada comigo, principalmente. [...] É tanto que ela
dorme e se eu o estiver na hora que ela acordar ela só quer sair
(da cama) se for quando eu tiver.” (Mãe de C4)
Ele é muito apegado a mim, ele gosta também da tia dele, ele
brinca, ele ri, ele sorri. Também com o pai dele, o pai dele chega
brinca com ele, bota ele no braço, ele fica muito alegre.(Mãe de
C8)
Ele gosta de todo mundo! Quando vê a avó, ele diz: vovó! Ele fica
feliz quando me , quando vê o meu esposo. Geralmente só somos
s que ele mais vê. Apesar de o pai passar mais tempo fora, mas
quando chega só em ouvir a voz dele, ele diz: cacai"!(Mãe de
C11)
Ela se dá bem com todo mundo. Todo mundo é apaixonado por ela.
Os irmãos tudo são louco por ela, eles brigam pra cuidar dela. [...] A
gente tem muito amor, muito amor mesmo que às vezes a gente não
sabe o quanto cabe.(Mãe de C5)
Estas falas mostram o quanto toda a família envolve-se com estas crianças. Não só a
mãe (que em todos os casos desta pesquisa era a cuidadora principal da criança), mas todos os
outros membros das famílias, como os pais, os irmãos e os avós mantém um bom
relacionamento com essas crianças.
Também neste domínio houve concordância entre as mães e as crianças. Estas se
mostraram muito felizes com o relacionamento que tinham com seus familiares:
A gente vive muito feliz, tem umas briguinhas bestas, mas a gente se
gosta muito. [...] a gente vive muito bem, se ama muito.” (Mãe de C1)
Com a minha mãe é bom. [...] às vezes a gente tem uma briguinha
de gato e rato, mas é bom.” (C1)
A gente tem uma relação assim bem com ela, [...] todo mundo aqui
se preocupa muito quando ela tá com uma tosse ou com uma febre
[...] Um corre prum canto, o outro corre pro outro...” (Mãe de C3)
Ah é boa. [...] Minha mãe e meu pai me ajudam, me ensinam as
coisas. [...] Com as minhas irmãs a gente brinca, brinca de boneca.
[...] Tudo é legal.” (C3)
Os resultados encontrados no PedsQL
TM
confirmam as falas das mães pois a maioria
das crianças não apresentam problemas no domínio relações interpessoais. O escore médio
52
obtido no aspecto social foi de 76,7. As respostas que as mães deram para o PedsQL
TM
foram
que para 88,9% de seus filhos nunca era um problema conviver com outras
crianças/adolescentes ou que outras crianças/adolescentes provocavam seus filhos. Somente
no quesito problemas com não conseguir fazer coisas que outras crianças/adolescentes da
mesma idade fazem é que foi encontrado um resultado negativo: 55,6% das mães
responderam que seus filhos quase sempre apresentam estes problemas. Acreditamos que este
quesito tenha apresentado resultado negativo devido ao fato de que se trata de uma doença
crônica que leva a sérios comprometimentos motores e, portanto, as crianças não possam
participar de brincadeiras e realizar atividades próprias da infância.
5.4.3 Domínio Bem-estar Físico
O terceiro ponto explorado no roteiro de entrevistas foi o bem-estar físico. A
pergunta feita foi: Discorra sobre como percebe a influência da saúde na vida de seu(ua)
filho(a), considerando as coisas boas e as não tão boas. Das respostas para esta pergunta
surgiram duas categorias: (i) meu filho é especial e (ii) meu filho é igual a qualquer outra
criança. A primeira referente às respostas em que as mães ponderavam da patologia, dos
problemas respiratórios, e dos cuidados especiais que seus filhos necessitavam; a segunda
quando as mães diziam que seus filhos não tinham doença nenhuma e/ou que seus filhos eram
saudáveis.
O inusitado nestas respostas é que muitas das mães acabavam se contradizendo,
diziam que seus filhos eram saudáveis, mas que tinham muitos problemas com gripes, por
exemplo. Os seguintes discursos das mães revelam esta contradição:
Eu posso dizer assim que ele é um menino saudável. Mas ele é muito
fácil pra pegar gripe. Ele é muito, muito fácil pra pegar gripe,
infecção. Então eu acho ele assim muito fraquinho pra doença.”
(Mãe de C8)
Ela é saudável, eu acho que ela seja uma criança sauvel, que ela
num vive doente... Uma coisa que ela tem com freqüência é gripe. Ela
gripa com freência.” (Mãe de C4)
Meu filho é especial
Nesta categoria as mães falam que seus filhos precisam de um cuidado especial
devido à patologia. Elas relatam que os problemas respiratórios e motores próprios da AME
fazem com que seus filhos sejam especiais. Desta categoria podemos demonstrar as seguintes
falas:
53
A perda de movimento é muito rápida. Ele mexia mais as
mãozinhas, mas ele não tá mexendo mais, ele respirava, tinha um
respiração espontânea, que tá perdendo.(Mãe de C11)
Se não fosse esse problema da parte respiratória, por causa da
patologia, eu acho que ele vivia bem melhor. Mas isso já faz parte da
vida dele. Se melhorasse isso aí (o problema respiratório) com as
lulas-tronco, ele vai viver bem melhor.(Mãe de C1)
Ele tem realmente a atrofia muscular espinhal que faz com que ele
às vezes acumule um pouquinho mais de secreção e uma gripezinha
boba que às vezes complica um pouquinho pela deficiência que ele
tem de expectorar com mais facilidade. Então ele quer estar e quer
viver tudo que ele almeja. Muitas vezes as condições sicas dele não
permitem. Então isso é sempre um problema assim pra gente.(Mãe
de C2)
Eu vejo que a minha filha é especial no modo dos cuidados, de
alimentar, do banho, do cuidar, da limpeza, do trocar, tem que ter
assim, o cuidado especial é aquele foco só referente a criança.(Mãe
de C5)
Meu filho é igual a qualquer outra criança
As mães nesta categoria procuram mostrar que seus filhos podem ser considerados
normais e saudáveis como as crianças sem AME. As falas que a representam são:
Ele é um menino muito saudável. É uma criança de uma imunidade
fenomenal dita até pelo pediatra mesmo. Até as gripes que ele pega,
ele se recupera muito forte. Então a sde dele o vem a agravar.
(Mãe de C2)
Ela é uma criança que é estável. Não tem intercorrência, De uma
forma geral ela se mantém, ela se mantém porque não complica.
(Mãe de C12)
Eu acho que ele é muito sauvel. Apesar da doença, mas eu acho
que ele passa a maior parte do tempo bem.” (Mãe de C11)
Uma das mães apresenta um discurso muito profundo pois considera sua filha
perfeita e avalia o preconceito para com as pessoas com deficiência a maior doença:
Eu vejo ela igual a qualquer criança. Eu não vejo ela doente, eu
vejo a minha filha perfeita. Eu acho que doente é quem acha que o
ser humano é incapaz disso. A deficiência são as pessoas que
colocam, é o preconceito, pra mim a maior doença é o preconceito
que as pessoas têm referente a outra pessoa. É porque é assim, minha
filha é uma criança muito forte ela tem essa patologia mas eu não
vejo como uma doença. Pra mim ela é perfeita. (Mãe de C5)
É importante ressaltar que algumas mães têm os dois relatos tanto que seus filhos
são especiais quanto que seus filhos são iguais a qualquer outra criança.
54
O domínio bem-estar físico é analisado no PedsQL
TM
no item capacidade física. Este
instrumento avalia os problemas com andar, correr, participar de atividades esportivas ou
exercícios, levantar alguma coisa pesada, fazer tarefa do dia-a-dia da casa. Os resultados
encontrados demonstram que estes têm sido problemas para a população estudada, pois o
escore médio obtido foi de 24,7 sendo o mais baixo de todos os escores encontrados. Todas as
mães (100%) disseram que quase sempre era um problema para seus filhos andar, correr e
levantar alguma coisa pesada. Este achado corresponde-se com o esperado, pois, como já
mencionado, a AME é uma patologia que leva a graves comprometimentos motores; as
crianças deste estudo ou estavam confinadas ao leito ou dependiam de cadeiras de rodas para
locomoção. Assim, realmente estas crianças não poderiam andar, correr ou levantar algo
pesado por conseqüência da AME. Participar de atividades esportivas ou exercícios e fazer
tarefas do dia-a-dia também obtiveram resultado negativo. Para a maioria das mães (77,8%)
estes itens quase sempre eram um problema para seus filhos. Estes resultados evidenciam os
encontrados nas falas das mães, pois corroboram quando elas discorrem que seus filhos são
especiais nos cuidados, principalmente por causa da patologia que lhes afeta.
5.4.4 Domínio Desenvolvimento Pessoal e Atividades
O quarto item do roteiro de entrevista explora o domínio desenvolvimento pessoal e
atividades com enfoque no indicador das atividades escolares com a seguinte pergunta:
Relate como percebe (ou imagina) o desenvolvimento de seu(ua) filho(a) nas atividades
escolares. Das respostas obtidas emergiram duas categorias de análise: (i) Meu filho tem/terá
um bom desenvolvimento na escola porque é inteligente/atencioso e (ii) A patologia
compromete o desenvolvimento do meu filho. A grande maioria das mães percebe ou imagina
que seu filho tem/terá um bom desenvolvimento escolar, apenas uma das mães relata que a
patologia afeta o desenvolvimento escolar de seu filho.
Meu filho tem/terá um bom desenvolvimento escolar
Esta categoria demonstra, pelas falas das mães, que as crianças investigadas nesta
pesquisa apresentam um bom desempenho no aspecto escolar. Todas as crianças em idade
escolar estão inseridas em alguma forma de escolarização e têm obtido sucesso segundo suas
mães. Desta primeira categoria podemos demonstrar as seguintes falas:
Ela gosta muito. Ela é muito atenciosa. Já lê o ABC todinho; já sabe
contar de 1 a 50 sozinha; sabe dizer as cores, quase todas, não todas
55
mas a maior parte ela sabe dizer. Ela é muito atenciosa.” (Mãe de
C10)
É bom, né? [...] Ela já fez muitas coisas. Junto com a professora dela
ela já fez muitas e muitas coisas. [...] Faz o nome dela todinho.
Consegue fazer uns desenhinhos, bolinha... [...] Reconhece tudinho,
reconhece as vogais, o alfabeto. [...] Ela já lê palavrinhas.” (Mãe de
C9)
É muito legal, né? [...] Ela lê muitas palavras, assim ela tá no jardim
1. Trabalha mais o vermelho, ela chama vermelho, o azul...
Trabalhando as cores, as vogais, o ‘A’, ela diz o A, às vezes solta
alguma letrinha... às vezes ela não diz palavras.(Mãe de C5)
Outras mães justificam o bom desenvolvimento do seu filho por os considerarem
inteligentes e interessados.
Eu acho que ele vai porque a gente nota assim que ele é um menino
muito sabido, inteligente, por mais que ele só tenha 1 ano ainda mas a
gente pela cara dele que ele é um menino inteligente, assim,
observador, é um menino simpático. Então por isso eu digo que ele vai
desenvolver muito bem.” (Mãe de C8)
Eu percebo que ela desenvolve até melhor do que os outros. Assim,
ela é muito inteligente. Muito mesmo. Ela pinta muito bem, ela já faz o
nome dela [...] ela tá no infantil I [...] Ela parece que desenvolveu mais
rápido até de que as outras crianças.” (Mãe de C4)
Acho que vai ser bom, o desenvolvimento, porque ele é muito esperto,
ele presta muita atenção nas coisas... [...] Eu acho ele muito esperto.”
(Mãe de C11)
A mãe de um adolescente considera que seu filho tem um bom desenvolvimento na
escola, mas necessita de um estudo mais aprofundado, mais próprio para seu
acompanhamento escolar e que a Internet é uma grande aliada para seu filho. Discurso esse
confirmado pela fala de seu filho:
Ele é muito inteligente e muito interessado, nessa parte ai de estudo
ele é demais, eu acho. Quando ele quer, ele corre atrás. E eu acho que
ele tem que ter um estudo mais aprofundado mesmo, ele sempre pede
isso. [...] E ele lê muito, ele entra na internet, ele pesquisa muito, ele
sabe muita coisa. Então ele tava querendo uma coisa mais pra idade
dele, eu num sei nem se é pra idade dele não, mas eu acho que é pro
acompanhamento mesmo dele. Ele é muito interessado na parte de
estudo. Então o computador, a internet que tá dando o suporte pra ele
hoje. [...] E ele vai atrás de coisa boa.(Mãe de C1)
Eu acho bom porque estou estudando, mas tem uma coisa que eu não
estou gostando que é por que lá é mais alfabetização. Eu to achando
muito fácil. [...] Queria estudar matemática, biologia, essas coisas
assim, mais avançadas.” (C1)
56
Esta fala de um adolescente de 14 anos reflete o quanto eles têm desejo de aprender.
Como a professora está fazendo revisão do ensino fundamental, o que ele realmente deseja é
seguir com um estudo mais avançado, dentro das expectativas de qualquer adolescente.
Isto mostra que com a oportunidade dada a essas crianças eles podem desenvolver
seus potenciais independente dos problemas físicos que apresentam.
A patologia compromete o desenvolvimento do meu filho
Esta categoria é representada pela fala de uma mãe que considera seu filho
inteligente, mas que os problemas motores impedem o melhor desenvolvimento no aspecto
escolar do mesmo:
É mais pelos quesitos motores mesmo, assim, que ele não consegue
fazer nada sozinho. [...] Ele é uma criança que o escreve bem, ele
consegue escrever um pouco mas é muito difícil pra ele escrever. [...]
Mas a gente tem um problema de que ele tem um limite aí de que ele
realmente nunca faz as coisas realmente sozinho. De vez em quando
as pessoas tentam testar alguma atividade dele sozinho mas... A letra
o é adequada pro nível de inteligência que ele tem, isso pra ele é
desestimulador, ele não consegue escrever com rapidez, então, assim,
ele é um orador. Ele vai ser eternamente um orador. Como orador
ele é excelente na escola.” (Mãe de C2)
É importante salientar que esta criança estuda em uma escola convencional e tem um
suporte de bens materiais e profissionais muito bom. Portanto, sua mãe acha que realmente a
patologia limita o seu desenvolvimento. Pelo discurso dela, o filho é muito inteligente, mas
nunca conseguirá ser independente na escola.
É interessante que seu filho tem o seguinte discurso:
Gosto de todas as matérias da escola, menos português e geografia.
[...] O que eu o gosto é de tarefa de casa. [...] Porque perde tempo
de brincar.” (C2)
Isto demonstra que ele sente esta dificuldade imposta pela doença crônica quando
afirma não gostar de português (disciplina que exige mais da escrita). Vale ressaltar que esta
criança tem uma vida bem ativa, pois não está confinado ao leito como os outros e dispõe de
uma cadeira de rodas motorizada o que facilita suas atividades diárias. Por isso ele refere não
gostar de fazer as tarefas de casa para não perder tempo das brincadeiras.
O domínio desenvolvimento pessoal e atividades é avaliado no PedsQL
TM
no item
atividade escolar. Este item precisou ser estudado de acordo com a faixa etária, pois o próprio
57
instrumento já faz esta divisão. Na faixa etária de 2 a 4 anos o item atividade escolar
apresenta somente 3 itens, diferente das outras faixas etárias que são 5 itens. Deste modo,
analisamos as respostas das mães das 4 crianças de 2 a 4 anos (neste caso uma criança ainda
não estava inserida no projeto Professor Itinerante e portanto não respondeu este item)
separadas das respostas das mães das crianças acima de 5 anos.
Neste último caso pode-se observar que 100% das crianças nunca tinham problemas
em prestar atenção na aula, esquecer as coisas ou acompanhar nos trabalhos da classe. E que
80% nunca ou quase nunca faltavam a escola por não estarem se sentindo bem ou para ir ao
médico ou hospital. Isto demonstra que as crianças acima de 5 anos têm um bom
desenvolvimento pessoal quando relacionado à escola (o escore médio obtido neste caso foi
de 94). Contudo, das três crianças de 2 a 4 anos que responderam ao item atividade escolar,
66,7% das mães responderam que quase sempre era um problema para eles fazer as mesmas
atividades escolares que sua classe. Com relação a faltar na escola por não estar se sentindo
bem ou para ir ao médico ou ao hospital, 66,7% das mães responderam que isso quase nunca
era um problema. O escore médio obtido para esta faixa etária foi de 55,6. Assim, as mães das
crianças de 2 a 4 anos entendem que seus filhos têm algum comprometimento no
desenvolvimento pessoal com relão à escola.
5.4.5 Domínio Bem-estar Material
O domínio bem-estar material foi verificado a partir das observações em campo pela
pesquisadora e por duas questões da ficha sociodemográfica que perguntavam: a criança
mostra-se satisfeita com os bens materiais que possui (brinquedos, roupas, presentes que
recebe)? e a criança mostra-se satisfeita com sua casa?”. Das 12 mães entrevistadas três não
responderam estes itens pois seus filhos tinham apenas um ano de idade e não era possível
fazer esta inferência. Assim, as outras nove mães responderam positivamente as duas questões
o que demonstra que as crianças têm bem-estar material mesmo naquelas famílias de menor
poder aquisitivo, mostrando que o domínio bem-estar material está preservado para estas
crianças.
Esta satisfão também pode ser confirmada pelas falas das crianças quando elas
afirmam ser feliz com o que têm:
Eu gosto do meu quarto. [...] Porque é bonito, tem as coisas que seu
gosto, as bonecas, a Barbie, os ursos... O que eu acho bom? Tudo!”
(C3)
58
Tem muita coisa boa na minha vida. Tenho meu computador, o
vídeo game, faço desenho, faço amizade, tenho meus amigos... (C1)
5.4.6 O que as mães desejam para a melhoria da QV de seus filhos
A última questão do roteiro de entrevista era um momento em que as mães poderiam
fazer qualquer outro comentário ou acrescentar algo que elas quisessem. Foi feita a seguinte
pergunta a elas: O(a) senhor(a) deseja comentar mais alguma coisa?. Desta pergunta
derivaram três categorias: (i) A melhoria da QV de meu filho depende de suporte técnico e/ou
profissional; (ii) Meu filho teria melhor QV se tivesse mais oportunidades de lazer e (iii) A
esperança é que os cientistas descubram a cura para a patologia do meu filho.
A melhoria da QV de meu filho depende de suporte técnico e/ou profissional
Nesta categoria estão as falas das mães quando se referem à necessidade de
aparelhos/equipamentos ou de profissionais para a melhora da QV de seus filhos:
Dentro as condições da gente ele tem uma boa qualidade de vida. Se
pode melhorar? Se a gente tivesse uma condição financeira melhor
com certeza poderia.” (Mãe de C11)
O suporte dos bens materiais facilitaria a vida dessas crianças na visão de suas mães.
Alguns equipamentos são, para elas, muito importantes para que seus filhos tenham uma vida
com mais qualidade. Eis os relatos delas:
Aí s temos também alguns equipamentos que melhoram a
qualidade de vida, [...] Tem aquele aparelho de tosse....[...] E esse
aparelho de tosse faz esse processo de limpeza do pulmão, então já
vai ser uma melhora muito grande. Porque eles já vão ter menos
infecções, sem tá precisando aspirar direto.” (Mãe de C5)
Assim eu nem sei te dizer assim bem, porque é mais é coisas
materiais que a gente precisa. [...] ele precisa de uma bateria externa
pro Bipap pra poder sair, tem que adaptar a cadeira dele, [...] a
saída dele de casa, pros passeios, pras coisas dele. [...] ele adora
passear, adora paquerar. Ele tem uma vida normal, aí então isso ai
pra ele ia ser, iria completar. [...] São coisas materiais mas que na
medida do tempo a gente vai encaixando até conseguir.” (Mãe de
C1)
Ela estuda na cadeira, ela grande parte do tempo ela passa mais na
cadeira, então como não é uma cadeira adaptada ela sofre muito, ela
reclama muito que i as costas. [...] Seria bom porque a cadeira
adaptada o respirador cabe, entra o respirador [...] melhora muito
porque eu posso sair com ela. Sair de casa, até pra rua, passear na
rua, na esquina, pra ela ver o povo. Ela vai conhecer outras pessoas,
porque o mundinho dela é esse dentro de casa. Vai uma vez na vida
ali fora mas não conhece. Ai não, com a cadeira adaptada ela pode
59
sair, ela pode ir conhecer o mar, a gente pode levar ela na beira-mar,
pode levar ela até outros lugares.” (Mãe de C5)
O que as mães mais falaram necessitar foi de apoio profissional. Elas relatam que a
atuação de todos os profissionais de saúde promove uma melhor QV para seus filhos:
A dificuldade é em relação aos médicos. Aqui não tem um médico a
qualquer hora que eu possa levar para consultar. Os médicos é só
pra quando ela tiver doente, com algum problema. Não tem aquele
médico que quando precisar consultar ela por mês. Eu acho que seria
importante ter um médico assim, que quando fosse por mês eu levar
ela. [...] Um pediatra, que me orientasse até, que assim, eu sou leiga,
sobre o problema dela, eu sei algumas coisas... Eu só acompanho ela
no Sarah. Se ela tivesse uma especialista...” (Mãe de C4)
Assim, o que eu acho importante é ter um dentista para essas
crianças, porque eles têm os dentinhos deles, e precisam de um
dentista como a gente precisa. E eles o têm. E também de um
especialista do olhinho dele, que o olhinho dele tem um nistagmo e
ele ta precisando no momento de uma avaliação melhor. É isso. [...]
Um fono, fonoaudiólogo, para essas crianças também, eu acho que
precisa.” (Mãe de C6)
A gente conseguisse fonoaudiólogo pra ela, que ela ainda o tem,
que a gente percebe que a fala dela é ainda um pouco enroladinha,
para desenvolver a fala, nessa parte de fonoaudióloga. Outra parte,
se tivesse mais voluntário pra fisioterapia, também, esse seria o ideal
[...] E ainda no caso o próprio Hospital, ou a ABRAME tivesse a
possibilidade, de deslocar um auxiliar pelo menos umas duas vezes
na semana, para que houvesse um descanso, também dava um
reforço extra.” (Mãe de C10)
O apoio de um auxiliar de enfermagem tem sido relatado como necessário por
algumas mães, isto facilitaria o lidar com seu filho, pois muitas delas cuidam sozinhas da casa
e dos filhos, tendo que dividir os cuidados em saúde dos seus filhos com os afazeres
domésticos:
Por enquanto o atendimento está sendo muito bom, né. E melhor
ainda vai ficar quando a gente tiver o prazer de conseguir um
auxiliar em casa. Que até agora a gente o tem auxiliar em casa. É
só a gente.” (Mãe de C9)
Ele tá crescendo, ele precisa, eu preciso de outra pessoa pra me
ajudar, tipo uma auxiliar de enfermagem, mesmo que não fosse todo
dia. Uma vez por semana, 2 vezes por semana...” (Mãe de C7)
Meu filho teria melhor QV se tivesse mais oportunidades de lazer
Nesta categoria as mães enfocam esforços em dizer que seus filhos não têm
momentos de lazer e, portanto, poderiam ter uma melhora em suas QV se lhes fossem
proporcionados estes momentos:
60
Levar ele para passear, eu tenho vontade de tirar ele assim de casa
pra passear, mas não tenho como, nem penso em arriscar.” (Mãe de
C11)
Ela o passeia, não vai num shopping, a gente não tem condições
melhor de vida pra ela viver um pouco mais a vida, ver o mundo lá
fora. [...] Então eu acho que isso pra ela é uma qualidade de vida
maior e melhor, se ela passeasse. [...] Portanto, assim, que eu tô
correndo atrás da cadeira de roda pra ela.” (Mãe de C3)
Teria que ter a cadeira, teria que ter a bateria, o pessoal pra me
ajudar. Quer dizer, essas coisinhas mesmo, mas que com o restante
eu acho que ele é feliz com o que ele tem. Falta só o suporte.” (Mãe
de C1)
Eu acho que eles deveriam, não só ele, como as outras crianças
também, deveriam ter um carro pela associação ou pelo hospital, que
pudesse levar ele pra passear, uma vez por mês, pelo menos, levar ele
pra algum lugar, pra ele ver as coisas.” (Mãe de C7)
Ela quer muito, o sonho dela é ir pro Iguatemi, eu ainda o pude
fazer isso por ela... [...] ela vai conhecer a Beira-mar também, que eu
o pude fazer isso por ela...” (Mãe de C10)
A esperança é que os cientistas descubram a cura para a patologia do meu filho
Na última categoria desta pergunta as mães falam que gostariam que fosse
descoberta a cura para a AME, elas têm esperança que as pesquisas com as células tronco
tragam uma melhoria na QV de seus filhos:
É que os cientistas mesmos descubram a cura desse negócio. Essa
doença ela é muita chata, limita muito [...] Na verdade a ciência
evoluiu muito no quesito respiratório pra patologia deles. Isso
evoluiu muito assim, de botar o respirador, de dar a máquina de
tosse... Porque os casos de óbito são mais pelas pneumonias. Então
assim, evoluiu muito em relação a isso [...] O que eu queria mesmo
era que eles descobrissem um remedinho que eles pudessem criar um
pouquinho mais de força, sabe? Pra tirar a gente dessa batalha
mesmo de não ter a força. Porque ele vai crescendo, ele vai
precisando cada vez mais...” (Mãe de C2)
Eu vejo assim que a gente tá num ponto histórico pra todo mundo,
que é as lulas-tronco. É uma esperança de cura o só pra minha
filha mas pra todas as crianças, [...] porque é uma esperança muito
grande, as lulas-tronco. Então é um ponto principal na qualidade
de vida de nossos filhos são essas, a cura deles, a busca da cura, que
pode levar 6 meses, um mês, 10 anos mas que a gente tem sempre
uma esperança. Enquanto há vida há esperança e eu sempre tive fé!”
(Mãe de C5)
5.4.7 Como as crianças imaginam seu futuro
É importante também dizer que as crianças relataram como imaginavam como
seriam suas vidas quando se tornarem adultos:
61
Eu quero ser arquiteto, eu sei desenhar, sei fazer planta de casa no
computador, eu to pensando. Mas minha caba pode mudar, posso
querer só mexer com coisa de computação.” (C1)
Eu penso que vou crescer bem muito ainda. Eu penso que ainda vou
ser modelo, modelo de rosto. Eu tenho esse sonho.(C2)
Eu só sei que vou ser adulto. [...] Quero ser empresário, porque é
legal e ganha bem.” (C3)
Como é possível observar, estas crianças têm projetos para seu futuro, imaginam que
podem contribuir de alguma forma para a sociedade. É importante que sejam dadas condições
para que eles cresçam e desenvolvam-se tornando-se adultos conscientes de sua contribuição
para a sociedade.
62
6 DISCUSSÃO
Avaliar a qualidade de vida é uma tarefa extremamente desafiadora, principalmente
em se tratando de crianças com uma doença neuromuscular como a AME, cuja principal
característica é a fraqueza muscular de natureza progressiva.
Este estudo é, do nosso conhecimento, o primeiro a avaliar a QV de crianças com
AME tanto na perspectiva das próprias quanto na de seus pais. Mesmo avaliando a QV das
crianças pelo discurso de apenas três delas consideramos ser relevante, pois a AME nos tipos
I e II, apesar de não ser uma patologia rara, possui a característica de ser uma doença cuja
sobrevida é bastante curta, em que a evolução se dá até o final da adolescência (ARJO,
RAMOS e CABELLO, 2005; PROJETO GENOMA, 2007, on line; INSTITUTO FLEURY,
2007, on line e REDE SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO, 2007, on line) e estes
poucos sobreviventes ainda estão sob ventilão mecânica desde muito precocemente o que
dificulta a aquisição de fala oral inteligível. Isto está de acordo com o recomendado por Varni
et al (2005) quando afirmam que os pesquisadores devem contar com o relato de uma pessoa
próxima somente quando as crianças não são capazes de auto-relatar suas percepções de QV,
ou para averiguar potenciais diferenças de percepções entre as crianças e seus pais ou outro
adulto.
Os estudos sobre pessoas com AME (principalmente crianças) não avaliam o
constructo QV apesar de mostrarem em seus resultados a melhoria da QV destas crianças
após algumas intervenções terapêuticas (SOARES et al, 2006; VASCONCELOS et al, 2005;
BACH et al, 2002).
Contudo, é possível apresentar um estudo que demonstra resultados concretos de
avaliação da QV de crianças com AME. Bach et al (2003) realizaram nos EUA uma pesquisa
com o intuito de comparar a avaliação da QV de crianças com AME tipo I na visão dos
profissionais de saúde que lidam com essas crianças com a dos provedores de cuidado das
mesmas. Os provedores de cuidado de todas as 53 crianças sobreviventes com AME tipo I de
uma cnica de doenças neuromusculares receberam questionários com escala Likert de 6
questões de QV e de 10 pares adjetivos opostos. As estimativas de QV foram comparadas
com as de 67 médicos e com 30 pais de crianças não afetadas (controle). Eles concluíram que
embora exista uma extensa percepção de que crianças com AME tipo I tenham uma baixa QV
por parte dos profissionais de saúde, esta percepção não é compartilhada por seus provedores
de cuidado que consideram que as crianças têm boa QV.
Os resultados encontrados na presente pesquisa coincidem com o estudo supracitado
(BACH et al, 2003) no que diz respeito à percepção positiva das mães quanto a QV dos filhos.
63
O nosso estudo também mostrou que as próprias crianças consideram ter uma boa QV.
Devido à escassez de estudos sobre QV em crianças com AME procuramos relacionar nossos
resultados com aqueles encontrados em pesquisas com outras doenças neuromusculares e com
doenças crônicas da infância.
Ampla pesquisa foi desenvolvida com 2500 crianças de 10 grupos de doenças
crônicas e 33 categorias entre 2000 e 2006. Utilizando-se o PedsQL
TM
4.0 buscou-se
comparar a QVRS entre os grupos e categorias a partir da perspectiva dos pacientes e de seus
pais. Foram feitas também comparões com dados de crianças saudáveis. Os achados
mostram que pacientes pediátricos com doenças crônicas apresentam auto-relato de QVRS
progressivamente mais comprometida que as crianças saudáveis; isto é observado em todos os
aspectos estudados (saúde física, saúde psicossocial, estado emocional, aspecto social e
aspecto escolar). Pacientes com paralisia cerebral (PC) auto-relataram a QVRS mais
comprometida, enquanto pacientes com diabetes auto-relataram uma melhor QVRS dentre os
grupos investigados. O relato dos pais, em geral, coincidiu com o auto-relato de seus filhos
(VARNI, LIMBERS e BURWINKLE, 2007).
Estudo qualitativo, conduzido por Young et al (2007), investigou o que crianças com
deficiência pensavam ser mais importante em suas vidas, com o objetivo de verificar o quanto
as prioridades das crianças estavam representadas no Kidscreen (instrumento genérico de
avaliação da QVRS para crianças). Foram entrevistadas 28 crianças e 85 pais no norte da
Inglaterra. Foram identificadas quatro áreas de QVRS, sendo elas: relões sociais, ambiente
familiar e escolar, individualidade e atividades recreativas e recursos. Estas áreas estavam em
concordância com o instrumento de QVRS Kidscreen. Contudo, algumas áreas ditas
prioritárias pelas crianças não eram abordadas pelo Kidscreen: relões entre membros da
família que não fossem os pais, inclusão, vida familiar e vizinhança, dor e desconforto,
ambiente de acomodão das necessidades e recursos recreativos. Estes resultados são
importantes para que futuras pesquisas sobre a QVRS de crianças com deficiência sejam
desenhadas levando em consideração estas áreas prioritárias, englobando, assim, aquilo que
realmente é importante na vida de crianças com deficiência.
Recente editorial (ROSENBAUM, 2008) enfoca a importância de separar a criança
de sua condição e não fazer suposições de como a vida seria para aquela criança e sua família.
Isto significa que perguntar às próprias crianças (e quando isto não é possível, a uma pessoa
próxima) sobre suas vidas tem sido fundamental para a avaliação da QV.
Em consonância com o anterior, o presente estudo buscou avaliar a QV de crianças
com AME a partir de um roteiro de entrevistas com perguntas amplas de forma a considerar o
64
que realmente é importante para essas crianças, segundo a extensiva revisão bibliográfica
conduzida previamente a coleta de dados. Deste modo, as crianças desta pesquisa mostraram
que estar em casa com sua família e ter amigos é fundamental para ter uma vida boa. A partir
das entrevistas podemos observar que eles são felizes mesmo com as limitações motoras
impostas pela doença.
Livingston et al (2007) realizaram uma revisão de literatura de artigos publicados
entre 1995 e abril de 2006 sobre a avaliação da QV e QVRS em adolescentes com PC.
Algumas tendências observadas nos artigos analisados articulam que adolescentes com PC
eram referenciados como tendo diminuída a QV e a QVRS quando comparados com a
populão dita normal em algumas áreas de bem-estar; e que os adolescentes têm visão de
vida diferente dos adultos ou das crianças, limitando as pesquisas de fatores associados a QV
e QVRS para o grupo etário em questão. Baseados em seus achados os autores recomendam
que, sempre que possível, os adolescentes façam seu auto-relato de QV. Nesta pesquisa
tivemos o auto-relato de um único adolescente. Diferentemente dos achados da pesquisa
supracitada observamos que este adolescente tem visão de vida semelhante às outras crianças
que prestaram auto-relato. Como os outros ele é feliz ao lado de sua família, tem amigos e faz
planos para o futuro.
Em quatro hospitais da Alemanha, foi realizado um estudo prospectivo de um ano de
acompanhamento com 52 crianças e adolescentes com câncer rem-diagnosticado.
Observou-se que vários domínios da QVRS estavam marcadamente comprometidos.
Notadamente, comparando com uma amostra da comunidade, as crianças informavam uma
reduzida QV nos domínios físico, motor e emocional. A redução da QV era mais pronunciada
aos 6 meses após o diagnóstico que um ano depois quando a QVRS estava reduzida em
somente dois domínios (LANDOLT et al, 2006). Não é plausível fazer uma inferência com
relão a um maior ou menor comprometimento da QV das crianças estudadas em virtude da
exigüidade de tempo decorrido de nossa pesquisa; pois como se trata de uma pesquisa
descritiva procurou-se analisar a QV destas crianças na época em que foi realizada a coleta de
dados.
Achados como esses mostram a importância de se avaliar a QV em diferentes
momentos na vida de crianças com doenças crônicas, pois para Piccininni, Falsini e Pizzi
(2004) o impacto de uma patologia crônica na QV dos pacientes por ela acometidos pode ser
minimizado com o ajustamento das expectativas dos mesmos e conseqüente adaptão às
mudanças que vão ocorrendo no decorrer da evolução da doença. Esta é também uma
recomendão de Rosenbaum (2008) em seu editorial.
65
Por tratar-se de um estudo transversal, não é possível fazer inferência, neste estudo,
quanto aos possíveis ajustamentos que as crianças tenham passado no decorrer da evolução da
enfermidade. Contudo, ponderamos que, devido às mudanças próprias do ciclo da doença
crônica, as pessoas com AME podem ter percepções diferentes de suas vidas dependendo do
momento e do estágio de desenvolvimento da doença, necessitando de ajustes constantes em
relão às suas expectativas.
Um estudo realizado na cidade de Fortaleza em 2005 buscou avaliar a QV em 14
crianças com diagnóstico de Distrofia Muscular Progressiva de Duchenne (DMD). Tratou-se
de uma pesquisa descritiva com aspectos quantitativos e qualitativos utilizando o questionário
Autoquestionarie de Vie Qualité Enfant Imagé (AUQEI), o AUQEI qualitativo e a Técnica
Projetiva dos Três Desejos na perspectivas das crianças e de seus cuidadores principais. Os
resultados obtidos indicaram boa QV das crianças, tanto na percepção de seus cuidadores
como na delas próprias, apesar das limitações impostas pela patologia. As autoras também
observaram que houve concordância entre as crianças e seus cuidadores, especialmente em
relão aos motivos que produzem felicidade (MELO e VALDÉS, 2007).
É importante salientar que mesmo diante de grandes danos motores as pessoas com
doenças neuromusculares conseguem adaptar-se às novas condições de vida sem grandes
comprometimentos psicossociais principalmente naquelas doenças que se desenvolvem desde
muito cedo (PICCININNI, FALSINI e PIZZI, 2004).
Em nossa pesquisa observamos que as crianças apresentam o bem-estar emocional
preservado, pois as mães afirmaram que seus filhos passavam por momentos felizes no
convívio com seus familiares e com outras pessoas, sendo estes achados confirmados pelas
falas das próprias crianças e pelo bom escore médio obtido com o PedsQL
TM
. Resultado
contrário foi encontrado por Arnaud et al (2008). Em um estudo realizado em 7 países
Europeus entre 2004 e 2005, buscaram determinar se o tipo e a severidade dos
comprometimentos e as características psicossocial, social e econômica da família
influenciavam no relato dos pais sobre a QV de crianças com PC severa. Esses autores
encontraram um escore médio mais baixo no domínio social, sugerindo que, de acordo com os
pais, as crianças são relativamente mais isoladas e têm grande dificuldade de comunicação
com seus pares.
No estudo de Young et al (2007) anteriormente citado, as crianças apontam como
importante, além do relacionamento com seus pais, a relão com seus irmãos e avós. Nossos
resultados mostram que as crianças com AME têm bom relacionamento familiar. As falas das
66
mães mostram que toda a família envolve-se com o tratamento das crianças e que isso
favorece a QV das mesmas.
Assim, neste estudo, as mães participantes relataram bons resultados de seus filhos
nos domínios emocional e social do PedsQL
TM
e na entrevista, resultado diferente ao obtido
por Eiser, Eiser e Stride (2005) que avaliaram a QV de crianças com câncer em comparão
com a população normal em 87 famílias na Inglaterra, após o diagnóstico de ncer,
utilizando o PedsQL.
O bem-estar físico foi o aspecto em que foram encontradas as maiores contradições
nas falas das mães. De maneira similar, foi o que obteve piores resultados no PedsQL
TM
, o
que de certa forma já era um dado esperado visto que os participantes desta pesquisa foram
crianças com AME tipo I e II, sendo estes tipos os que provocam graves comprometimentos
motores (ALBANE, 2006, BACH et al, 2007, TIZZANO, 2007).
A maioria das mães entrevistadas aponta para um bom desenvolvimento de seus
filhos no aspecto educacional. As mães consideram seus filhos espertos, inteligentes e,
portanto, conseguem obter bons resultados nos estudos. Os dados obtidos com o PedsQL
TM
para os participantes acima de 5 anos foram os que tiveram o melhor escore. Esses achados
confirmam que crianças com AME têm plena capacidade para estudar assim como seus pares.
Portanto, consideramos de muita importância o trabalho desenvolvido pela ABRAME que em
parceria com a SEDUC realiza o projeto Professor Itinerante com um currículo flexibilizado
e/ou adaptado de educação infantil e fundamental para estas crianças e adolescentes. Este
projeto oferece às crianças com AME as mesmas oportunidades que seus pares, com iguais
atividades da vida diária e iguais oportunidades de desenvolvimento como preconizado pela
Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) e Convenção
Internacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CENTRO BRASILEIRO DE
CLASSIFICAÇÃO DAS DOENÇAS, 2008, on line; BRASIL, 2007, on line).
Vale ressaltar que ainda tem sido pouco estudado o papel da escola na QV de
crianças, principalmente quando se trata de alunos com deficiência (GÓMEZ-VELA e
VERDUGO, 2003). Essas atividades de escolarização promovem o desenvolvimento pessoal
e proporcionam aos alunos com deficiência maiores integração e inclusão educativa,
favorecendo-lhes uma melhor QV.
Somente uma das mães relatou que a patologia compromete o desenvolvimento
escolar de seu filho. Esta criança possui um bom suporte de bens materiais e profissionais e
estuda em uma escola regular. Arnaud et al (2008) relatam que pais com elevados níveis de
educação tendem a ter elevadas expectativas de seus filhos e a diferença entre essas
67
expectativas e a realidade influencia sua avaliação para negativar a QV de seus filhos.
Portanto, em concordância com estes autores esta mãe possui uma ampla diferença entre as
expectativas para seu filho e a realidade a qual se defronta, assim sendo, considera que seu
filho não tem um desenvolvimento escolar como esperado.
Por fim, o bem-estar material destas crianças é tido como bom pelas mães quando
respondem positivamente que seus filhos estão satisfeitos com os bens materiais que possuem,
mesmo aquelas crianças que moram em locais mais simples Estas respostas são confirmadas
pelas falas das crianças que demonstram felicidade com as coisas que lhes pertencem. Os
resultados obtidos por Young et al (2007) mostram que algumas crianças mostravam-se
satisfeitas com suas vidas, em especial com os bens que possuíam, mas a maior parte delas
observava as oportunidades que seus vizinhos tinham de interação social e recreação e
portanto isto influía negativamente a QV de algumas crianças.
O estudo qualitativo desenvolvido por Lamb e Peden (2008) procurou descrever a
experiência de viver com AME e identificar as estratégias utilizadas por pessoas com o
diagnóstico de AME para otimizar suas vidas. Trata-se de um estudo realizado com adultos
com AME tipo II e III. Os dados mostram que as pessoas com AME descrevem a experiência
de viver com AME como sendo desafiadora e de uma constante mudança. As estratégias
utilizadas por estas pessoas para ter uma vida melhor são: estabelecimento de uma forte rede
de relacionamento com a família, os amigos e os colegas de trabalho; ter uma vida normal
dentro da sociedade com independência e possibilidades de estudar e trabalhar, sendo um
membro produtivo dentro da sociedade; adoção de acessos criativos e inovadores no manejo
dos sintomas minimizando o dispêndio de energia; manutenção de uma visão otimista da vida.
Apesar de esta pesquisa envolver adultos, consideramos importantes seus resultados pois
demonstram que as pessoas com AME têm desejos de ter uma vida normal. Crianças e
adolescentes com AME enfrentam diferentes mudanças com relação aos adultos e têm
diferentes pontos de vista do que seja importante para suas vidas, contudo esses achados
mostram a importância da família, dos amigos e de uma vida normal para estas pessoas.
Mesmo diante de uma variedade de pesquisas (EISER, EISER e STRIDE, 2005;
LANDOLT et al, 2006; VARNI, LIMBERS e BURWINKLE, 2007; VARNI et al 2005) que
apontam como resultado uma baixa QV e/ou QVRS em crianças com doenças
neuromusculares ou outras doenças crônicas quando comparados com grupos controles (estes
representados por crianças sem patologias), observamos que as crianças investigadas nesta
pesquisa apresentam boa QV. Esta discrepância pode ser explicada pela forma como a QV foi
analisada neste estudo. Enquanto a maioria das pesquisas que apontam para resultados
68
negativos de QV e/ou QVRS utiliza instrumentos quantitativos, em nosso estudo utilizamos
um instrumento de coleta de dados que explorou a subjetividade dos entrevistados, pois, como
Piccininni, Falsini e Pizzi (2004), entendemos que para crianças com doenças crônicas, QV
pode ser representada por o quanto seus desejos aproximam-se da realidade e para
compreendê-la instrumentos qualitativos não estandarizados são mais apropriados.
A QV em uma pessoa enferma é resultante da interação do tipo da doença e sua
evolução, da personalidade do paciente, do grau de mudança que inevitavelmente se produz
em sua vida, do suporte social recebido e percebido e da etapa da vida em que se produz a
doença (SCHWARTZMANN, 2003). Portanto, as ões desenvolvidas pela ABRAME e a
dedicação das famílias em cuidar de seus filhos com AME favorecem a melhoria da QV das
crianças com AME estudadas nesta pesquisa.
A partir dos achados desta pesquisa podemos sugerir algumas considerações sobre
projões futuras de trabalho:
Para fins de generalização há a necessidade de uma amostra maior;
Para efeitos de comparação quantitativa pesquisas futuras poderão ser ampliadas
por meio de estudos longitudinais, com adolescentes e/ou comparando com grupos
de controle sem deficiência como o desenvolvido na validação do PedsQL
TM
no
Brasil;
É importante salientar também a necessidade de expansão da amostra podendo
abranger pessoas de outras regiões do país através de uma parceria ampliada com a
ABRAME.
69
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A atrofia muscular espinhal tipo I e tipo II é uma doença crônica que acarreta sérios
comprometimentos motores e respiratórios nas crianças por ela acometidas.
Na AME tipo I a criança apresenta uma fraqueza e hipotonia muscular generalizada,
não conseguindo completar as etapas do desenvolvimento motor normal o que leva ao precoce
confinamento ao leito. Somando-se a isso a criança com AME tipo I tem grande afetação dos
sculos respiratórios o que denota a necessidade de suporte ventilatório para sua
sobrevivência.
A criança acometida por AME tipo II consegue sentar e algumas vezes até a assumir
a posição ortostática e realizar a marcha com apoio. No entanto, com a progressão da doença
essas aquisições motoras são perdidas fazendo com que elas também fiquem restritas ao leito.
A necessidade de suporte ventilatório também será considerada para estas crianças, porém em
uma fase mais tardia comparando-se com as crianças com AME tipo I. Por todas essas razões,
pode-se imaginar que a QV destas crianças esteja comprometida.
Os resultados desta pesquisa descritiva procuram descrever a QV de crianças com
AME tipo I e II residentes na Região Metropolitana de Fortaleza-CE.
Através da aplicação de um instrumento de avalião de QVRS o PedsQL
TM
e de
roteiros de entrevistas buscou-se conhecer a QV de crianças com AME de acordo com sua
própria perspectiva e na de seus cuidadores principais, que em todos os casos foram as mães
das crianças.
A percepção da própria criança a respeito da sua QV é importante pois sendo a AME
tipo I e II uma doença que acarreta grandes perdas do ponto de vista motor e respiratório é
salutar escutar o que elas têm a dizer a respeito de suas vidas. Deste modo, neste estudo,
procurou-se obter o auto-relato daquelas crianças que tinham linguagem oral inteligível.
A utilização de entrevistas, enquanto instrumentos qualitativos não padronizados,
facilitou a observão da subjetividade dos participantes deste estudo, principalmente das
crianças. Fato este que favorece uma maior aproximão da realidade do que a criança e sua
mãe consideram como sendo uma vida de qualidade.
O modelo teórico que serviu de base para o desenvolvimento desta pesquisa foi o
proposto por Sabeh, Verdugo e Prieto (2006) que considera cinco os domínios de QV na
infância: bem-estar emocional, bem-estar físico, relações interpessoais, desenvolvimento
pessoal e atividades e bem-estar material.
70
Os resultados obtidos com o PedsQL
TM
serviram de base para confirmar as falas das
mães obtidas com o roteiro de entrevistas.
Os dados mostram que para as crianças com AME os domínios bem-estar
emocional, relações interpessoais, desenvolvimento pessoal e atividades e bem-estar material
estão preservados. O domínio bem-estar físico foi o que apresentou piores resultados. Na
entrevista muitas mães foram contraditórias em suas respostas e o resultado do PesdQL
TM
foi
o mais baixo de todos os domínios. Isto condiz com o esperado pelas próprias características
da doença, no entanto este resultado não provocou reflexo negativo nos outros domínios.
No momento histórico em que nosso país vive, onde a possibilidade de pesquisas
utilizando lulas tronco embrionárias está sendo discutida nas esferas de governo juntamente
com a sociedade civil, as crianças e suas famílias têm a esperança de que os cientistas
encontrem a cura para esta doença.
Algumas ões poderiam ser implementadas para uma vida de mais qualidade para
estas crianças na visão de suas mães. São elas: a possibilidade de maior acesso a alguns
equipamentos como uma máquina que facilita a tosse e expectoração e a cadeira de rodas
adaptada; o acompanhamento da criança por uma equipe de saúde mais ampla e uma maior
possibilidade de lazer para estas crianças.
Assim, as mães das crianças com AME estudadas nesta pesquisa consideram que
seus filhos têm boa QV e esta percepção também é observada pelo auto-relato das crianças.
Portanto, é possível considerar que estas crianças são felizes pois fazem projetos para seu
futuro e também imaginam que podem dar a sua contribuição para a construção da sociedade.
Espera-se que os resultados apresentados nesta pesquisa possam auxiliar na
formulação de estratégias de saúde para favorecer a qualidade de vida de crianças com atrofia
muscular espinhal, principalmente no que concerne à aproximação de seus desejos em
realidade.
71
8 REFERÊNCIAS
AFM e ASEM. Enfermidades Neuromusculares 49 fichas. Documento original de la
Asociación Francesa contra las Miopaas (AFM) cedido a Asocición Española contra las
Enfermedades Neuromusculares (ASEM). [S. n. t.].
ALBANE, B. Amyotrophies spinales. Association Française contre lês Myopathies AFM.
Paris, 2006.
ALBRECHT, G. L.; DEVLIEGER, P. J. The disability paradox: high quality of life against all
odds. Social Science and Medicine, v.48, n.8, p.977-988, 1999.
AMAZONAS, M. C. L. A., BRAGA, M. G. R. Reflexões acerca das novas formas de
parentalidade e suas possíveis vicissitudes culturais e subjetivas. Ágora, Rio de Janeiro, v.IX,
n.2, p.177-191, jul/dez, 2006.
ARJO, A. P. Q-C.; RAMOS, V. G.; CABELLO, P. H. Dificuldades diagnósticas na atrofia
muscular espinhal. Arq Neuropsiquiatr, São Paulo, v.63, n.1, p.145-149, 2005.
ARNAUD, C.; WHITE-KOMING, M.; MICHELSEN, S.I.; PARKES, J.; PARKINSON, K.;
THYEN, U.; BECKUNG, E.; DICKINSON, H.O.; FAUCONNIER, J.; MARCELLI, M.;
MCMANUS, V.; COLVER, A. Parent-Reported Quality of Life of Children with Cerebral
Palsy in Europe. Pediatrics, 121: 54-64, 2008.
BACH, J. R.; BAIRD, J. S.; PLOSKY, D.; NAVADO, J.; WEAVER, B. Spinal muscular
atrophy type 1: management and outcomes. Pediatr Pulmonol., v.34, n.1, p.16-22, jul. 2002.
________.; VEJA, J.; MAJORS, J.; FRIEDMAN, A. Spinal muscular atrophy type 1 quality
of life. Am J Phys Med Rehabil., v.82, p.137-142, 2003.
________; SALTSTEIN, K.; SINQUEE, D.; WEAVER, B.; KOMAROFF, E. Long-term
survival in Werding-Hoffmann disease. Am J Phys Med Rehabil., v.86, n.5, p.339-345/379,
may, 2007.
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. 3 ed. Lisboa: Edições 70, 2006.
BARREIRE, S. G. et al. Qualidade de vida de crianças ostomizadas na ótica das crianças e
das mães. Jornal de Pediatria, Porto Alegre, v. 79, n. 1, 2003.
BASTIAANSEN, D.; KOOT, H. M.; BONGERS, I. L.; VARNI, J. W.; VERHULST, F. C.
Measuring quality of life in children referred for psychiatric problems: Psychometric
properties of the PedsQL
TM
4.0 generic core scales. Quality of Life Research, v.13, p.489–
495, 2004.
BORGES, C. F. Dependência e morte da "mãe de família": a solidariedade familiar e
comunitária nos cuidados com a paciente de esclerose lateral amiotrófica. Psicol. estud.,
Maringá, v. 8, n. esp, 2003.
72
BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria nº 1060/GM, de 5 de junho de
2002. I Aprova, na forma do Anexo da Portaria, a Política Nacional de Saúde da Pessoa
Portadora de Deficiência. Brasília, 2002.
_________. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da
Diretoria Colegiada RDC n.11, de 26 de janeiro de 2006. Dispõe sobre o Regulamento
Técnico de Funcionamento de Serviços que prestam Atenção Domiciliar. Brasília, 2006.
_________. Ministério da Justiça. Coordenadoria Nacional para a pessoa Portadora de
Deficiência - CORDE. Convenção Internacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
Disponível em:
<http://www.mj.gov.br/mpsicorde/visualizarpublicacao.asp?codigodapublicacao=714&visuali
zar=1&codigodotemplate=1>. Acesso em: 12 jul. 2007.
_________. Presidência da República. Casa Civil. Lei n. 8069 de 13 de julho de 1990.
Estatuto da Criança e do Adolescente ECA. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm>. Acesso em: 25 nov. 2008.
BRASIL, T. B.; FERRIANI, V. P. L.; MACHADO, C. S. M. Inquérito sobre qualidade de
vida relacionada à saúde em crianças e adolescentes portadores de artrites idiopáticas juvenis.
Jornal de Pediatria, Porto Alegre, v. 79, n. 1, 2003.
BRITO, A. M. W. de; DESSEN, M. A. Crianças surdas e suas famílias: um panorama geral.
Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre, v. 12, n. 2, 1999.
BUSS, P. M. Promoção da saúde e qualidade de vida. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de
Janeiro, v. 5, n. 1, 2000.
________. Uma introdução ao conceito de promoção da saúde. In: CZERESNIA, D.;
FREITAS, C. M. (organizadores). Promoção da Saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio
de Janeiro: editora Fiocruz, 2003.
CABALLO, C.; VERDUGO, M. A. Aplicación del Quality of Life Questionnaire QOL-Q
(Schalock y Keith, 1993) en una muestra de adultos con deficiencia visual. VERDUGO, M.
A.; JORDÁN DE URRÍES, F. B. Apoyos, autodeterminación y calidad de vida. Actas de la
V Jornada Científica de Investigación sobre Discapacidad, Salamanca: Amarú Ediciones,
2003.
CARVALHO, B. G.; PETRIS, A. J.; TURINI, B. Controle social em saúde. In: ANDRADE,
S. M.; SOARES, D. A.; CORDONI JUNIOR, L. (org) Bases da saúde coletiva. Londrina:
UEL, 2001.
CASTRO, E. K.; PICCININI, C. A. Implicações da doença orgânica crônica na infância para
as relações familiares: algumas questões teóricas. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre, v. 15, n.
3, 2002.
CENTRO BRASILEIRO DE CLASSIFICAÇÃO DAS DOENÇAS: Centro Colaborador da
Organização Mundial de Saúde para a Família de Classificações Internacionais. CIF
Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. Disponível em:
<http://www.fsp.usp.br/~cbcd/cifWeb.htm>. Acesso em: 23 nov. 2008.
73
CHATTERJI, S.; BICKENBACH, J. Considerações sobre a qualidade de vida. In: FLECK,
M. P. A. et al. A avaliação da qualidade de vida: um guia para profissionais de saúde. Porto
Alegre: Artmed, 2008.
COBBEN, J.M.; LEMMINK, H.H.; SNOECK, I.; BARTH, P.A.; van der LEE, J.H.; de
VISSER, M. Survival in SMA type I: a propective analysis of 34 consecutive cases.
Neuromuscul Disord. v.18, n.17, p.541-544, jul. 2008.
COSTA NETO, S. B.; ARJO, T. C. C. F. A multidimensionalidade do conceito de
qualidade de vida em saúde. Estudos Goiânia. v.30, n.1, p.165-179, jan. 2003.
DANTAS, R. A. S. et al. Pesquisas sobre qualidade de vida: revisão da produção científica
das universidades públicas do Estado de São Paulo. Rev. Latino-am Enfermagem, Ribeirão
Preto, v.11, n.4, p.532-8, julho-agosto, 2003.
DAVIS, E. et al. Paediatric quality of life instruments: a review of the impact of the
conceptual framework on outcomes. Developmental Medicine & Child Neurology. v.48,
p.311-318, 2006.
DIJKERS, M. Individualization in quality of life measurement: instruments and approaches.
Arch Phys Med Rehabil, v.84, s.2, p.3-14, apr. 2003.
EISER, C.; MORSE, R. The measurement of quality of life in children: past and future
perspectives. Developmental and Behavioral Pediatrics, v.22, n.4, p.248-256, aug, 2001a.
________. A review of measures of quality of life for children with chronic illness. Arch Dis
Child, v. 84, p.205-211, 2001b.
________; EISER, J.R.; STRIDE, C.B. Quality of life in children newly diagnosed with
cancer and their mothers. Health and Quality of Life Outcomes, 3:29, 2005.
FLECK, M. P. A. et al. Aplicação da versão em português do instrumento de avaliação de
qualidade de vida da Organização Mundial de Saúde (WHOQOL 100). Rev Saúde Pública,
São Paulo, v.33, n.2, p.198-205, 1999.
________. O instrumento de avaliação de qualidade de vida da Organizão Mundial de
Saúde (WHOQOL 100): características e perspectivas. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de
Janeiro, v.5, n.1, p.33-38, 2000.
________ et al. Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avalião da
qualidade de vida WHOQOL bref. Rev Saúde Pública, São Paulo, v.34, n.2, p.178-183,
2000.
________. Problemas conceituais em qualidade de vida. In: FLECK, M. P. A. et al. A
avaliação da qualidade de vida: um guia para profissionais de saúde. Porto Alegre: Artmed,
2008.
MEZ-VELA, M.; VERDUGO, M.A. Evaluación de la calidade de vida de alumnos de
Educación Secundaria Obligatoria con Necesidades Educativas Especiales y sin ellas. In:
74
VERDUGO, M.A. JORDÁN DE URRÍES, F.B. Apoyos, autodeterminación y calidade de
vida. Actas de la V Jornada Científica de Investigación sobre Discapacidad, Salamanca:
Amarú Ediciones, 2003.
MEZ-VELA, M. e SABEH, E. N. Calidad de vida. Evolución del concepto y su
influencia em la investigación y la práctica. Publicaciones del INICO, Universidad de
Salamanca, 2004. Disponível em:
<http://www3.usual.es/~inico/investigacion/invesinico/calidad.htm>. Acesso em: 01 fev.
2007.
HARDART, M. K. M.; BURNS, J. P.; TRUOG, R. D. Respiratory support in spinal muscular
atrophy type I: a survey of physician practices and attitudes. Pediatrics, v.110, n.2, aug. 2002.
HIDALGO, V.; PALACIOS, J. Desenvolvimento da personalidade entre os dois e os seis
anos. In: COLL, C.; MARCHESI, A.; PALACIOS, J. (org.). Desenvolvimento psicológico e
educação: Psicologia Evolutiva. 2.ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
INSTITUTO FLEURY. Disponível em:
<http://www.institutofleury.org.br/site/calandra.nsf/0/95A3F2353CA591E603256D63007DD
F78?OpenDocument&pub=T&proj=site_instituto&gen=dg_imprimir_texto>. Acesso em 29
mar. 2007.
KLATCHOIAN, D.A.; LEN, C.A.; TERRERI, M.T.R.A.; SILVA, M.; ITAMOTO, C.;
CICONELLI, R.M.; VARNI, J.W.; HILÁRIO, M.O.E. Quality of life of children and
adolescents from São Paulo: reliability and validity of the Brazilian version of the Pediatric
Quality of Life Inventory
TM
version 4.0 Generic Core Scales. J Pediatr: Rio de Janeiro,
84(4):308-315, 2008.
KLÜBER, L. et al A influência da fisioterapia na qualidade de vida de mulheres com
incontinência urinária: revisão. R. Med. PUCRS, Porto Alegre, v. 12, n. 3, jul/set. 2002.
LAMB, C. e PEDEN, A. Understanding the experience of living with spinal muscular
atrophy: a qualitative description. J Neurosci Nurs. V.40, n.4, p.250-256, Aug., 2008.
LANDOLT, M.A.; VOLLRATH, M.; NIGGLI, F.K.; GNEHM, H.E.; SENNHAUSER, F.H.
Health-related quality of life in children with newly diagnosed cancer: a one year follow-up
study. Health and Quality of Life Outcomes, 4:63, 2006.
LAURENTI, R. A mensurão da qualidade de vida. Rev. Assoc. Méd. Brás., São Paulo,
v.49, n.4, p.361-362, 2003.
LEBRE, P. Relatos de um estudo sobre a qualidade de vida de pessoas com deficiência no
Concelho de Almada. Disponível em:
<http://www.proformar.org/revista/edição_2/qualidade_vida.pdf>. Acesso em: 27 dez. 2006.
LEFEBVRE, S.; BURGLEN, L.; REBOULLET, S.; et al. Identification and characterization
of a spinal muscular atrophy-determining gene. Cell, v.80, p.155-165, 1995.
LI, H.; WANG, H. L.; SHAN, C. M. Clinical study of 83 cases with spinal muscular atrophy
in children. Zhonghua Er Ke Za Zhi, v.42, n.10, p. 762-764, oct. 2004.
75
LIVINGSTON, M.H.; ROSENBAUM, P.L.; RUSSELL, D.J.; PALISANO, R.J. Quality of
life among adolescents with cerebral palsy: what does the literature tell us? Developmental
Medicine & Child Neurology, 49: 225-231, 2007.
MELKI, J.; ABDELHAK, S.; SHETH, P.; et al. Gene for chronic proximal spinal muscular
atrophies maps to chromosome 5q. Nature, v.344, p. 767-768, 1990.
MELO, E. L. A. de e VALDÉS, M. T. M. Evaluación de la calidade de vida de los niños con
distrofia muscular progressiva de Duchenne. Rev Neurol., v.45, n.2, p.81-87, 2007.
MILFON, T. L., GOUVEIA, V. V., COSTA, J. B. Determinantes Psicológicos da Intenção de
Constituir Família. Psicologia: Reflexão e Crítica, v.19, n.1, p.25-33, 2006.
MINAYO, M. C. S. et al Qualidade de Vida e Saúde: um debate necessário. Ciência & Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, v.5, n.1, p.7-18, 2000.
_________. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 9. ed. São Paulo:
Hucitec, 2006.
NARVAZ, M. G., KOLLER, S. H. A Concepção de Família de uma Mulher-Mãe de Vítimas
de Incesto. Psicologia: Reflexão e Crítica, v.19, n.3, n.395-406, 2006.
OLIVEIRA, M. L. S.; BASTOS, A. C. de S. Práticas de atenção à saúde no contexto familiar:
um estudo comparativo de casos. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre, v. 13, n. 1, 2000.
PANIAGUA, G. As famílias de crianças com necessidades educativas especiais. In: COLL,
C.; MARCHESI, A. e PALACIOS, J. (org.). Desenvolvimento psicológico e educação. 2.ed.
Porto Alegre: Artmed, 2004.
PATRICK, D. L. A qualidade de vida pode ser medida? Como? In: FLECK, M. P. A. et al. A
avaliação da qualidade de vida: um guia para profissionais de saúde. Porto Alegre: Artmed,
2008.
PICCININNI, M.; FALSINI, C.;PIZZI, A. Quality of life in hereditary neuromuscular
diseases. Acta Neurological Scadinavica, v.109, p.113-119, 2004.
POLIT, D. F.; HUNGLER, B. P. Fundamentos de Pesquisa em Enfermagem. 5. ed. Porto
Alegre: Artes Médicas, 2004.
POSTON, D., TURNBULL, A., PARK, J., MANNAN, H., MARQUIS, J., WANG, M.
Family Quality of Life: A Qualitative Inquiry. Mental Retardation, v.41, n.5, p.313-328,
october, 2003.
PREBIANCHI, H. B. Medidas de qualidade de vida para crianças: aspectos conceituais e
metodológicos. Psicologia: Teoria e Prática, v.5, n.1, p.57-69, 2003.
PROJETO GENOMA. Disponível em: <http://genoma.ib.usp.br/aconselhamento/condicoes-
atrofia_espinhal-progressiva.php> e <http://genoma.ib.usp.br/doen_atrofia_espinhal.php>.
Acesso em: 29 mar. 2007.
76
REDE SARAH DE HOSPITAIS DE REABILITAÇÃO. Disponível em:
<http://www.sarah.br/paginas/doencas/po/p_06_atrofia_muscu_espinhal.htm>. Acesso em: 29
mar. 2007.
ROLLAND, J.S. Doença Crônica e o Ciclo de Vida Familiar. In: CARTER, B.;
McGOLDRICK, M. (org.). As Mudanças no Ciclo Familiar Uma Estrutura para a
Terapia Familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
ROSENBAUM, P. Childrens quality of life: separing the person from the disorder. Arch Dis
Child, v. 93, n. 2, p.100-101, feb. 2008.
ROSO, V. et al . Tratamento cirúrgico da escoliose na amiotrofia espinhal progressiva. Arq.
Neuro-Psiquiatr., São Paulo, v. 61, n. 3A, 2003
SABEH, E. N.; VERDUGO, M. A.; PRIETO, G. Dimensiones e indicadores de la calidade
vida em la infancia. In: VERDUGO, M. A. Cómo mejorar la calidad de vida de las
personas com discapacidad. Salamanca: Amarú Ediciones, 2006.
SCHALOCK, R. L. e VERDUGO, M. A. Calidad de vida: manual para professionales de
la educación, salud y servicios sociales. Madrid: Alianza Editorial, 2003.
SCHWARTZMANN, L. Calidad de relacionada con la salud: aspectos conceptuales. Ciencia
y Enfermeria, n.2, p.9-21, 2003.
SOARES, J. A.; SILVA, N. L. S. da; LEITE, S. de O.; PARISI, M. T. Fisioterapia e qualidade
de vida de paciente com amiotrofia espinhal progressiva tipo I Relato de Caso. Arq Ciênc
Saúde, v.13, n.1, p.44-47, jan-mar, 2006.
THOMPSON, N.; FAHAL, I.; EDWARDS, R. H. T. Distúrbios musculares na infância. In:
STOCKES, M. C. S. P. Neurologia para fisioterapeutas. São Paulo: Editorial Premier,
2000.
TIZZANO, E. F. Atrofia Muscular Espinal: contribuciones para el conocimiento,
prevención y tratamiento de la enfermedad y para la organización de familias. Centro Español
de Documentación sobre Discapacidad. Madri, 2007.
VARNI, J. W.; SEID, M.; KNIGHT, T. S.; UZARK, K.; SZER, I. S. The PedsQL
TM
4.0
Generic Core Scales: Sensitivity, Responsiveness, and Impact on Clinical Decision-Making.
Journal of Behavioral Medicine, v.25, n.2, apr. 2002.
________; BURWINKLE, T.M.; SHERMAN, S.A.; HANNA, K.; BERRIN, S.J.;
MALCARE, V.L.; CHAMBERS, H.G. Health-related quality of life of children and
adolescents with cerebral palsy: hearing the voices of the children. Developmental Medicine
& Child Neurology, 47: 592-597, 2005.
________; BURWINKLE, T. M.; SEID, M. The PedsQL
TM
4.0 as a school population health
measure: Feasibility, reliability, and validity. Quality of Life Research, v.15, p.203-215,
2006.
77
________; LIMBERS, C.A.; BURWINKLE, T.M. Impaired health-related quality of life in
children and adolescents with chronic condicions: a comparative analysis of 10 disease
clusters and 33 disease categories/severities utilizing the PedsQL
TM
4.0 Generic Core Scales.
Health and Quality of Life Outcomes, 5:43, 2007.
VASCONCELOS, M.; FINEZA, I.; FÉLIX, M.; ESTEVÃO, M. H. Spinal muscular atrophy
noninvasive ventilatory support in pediatrics. Rev Port Pneumol., v. 11, n.5, p.4443-455,
sep-out, 2005.
VERDUGO, M. A.; SCHALOCK, R. L. Aspectos clave para medir la calidad de vida. In:
VERDUGO, M. A. Cómo mejorar la calidad de vida de las personas com discapacidad.
Amarú Ediciones: Salamanca, 2006.
YOUNG, B.; RICE, H.; DIXON-WOODS, M.; COLVER, A.F.; PARKINSON, K.N. A
qualitative study of the health-related quality of life of disable children. Developmental
Medicine & Child Neurology, 49: 660-665, 2007.
78
ANEXOS
79
ANEXO A
QUESTIONÁRIO PEDIÁTRICO
DE QUALIDADE DE VIDA
PedsQL
TM
Versão 4.0
80
ID#________________
Data:______________
P
P
e
e
d
d
s
s
Q
Q
L
L
T
T
M
M
Q
Q
u
u
e
e
s
s
t
t
i
i
o
o
n
n
á
á
r
r
i
i
o
o
P
P
e
e
d
d
i
i
á
á
t
t
r
r
i
i
c
c
o
o
d
d
e
e
Q
Q
u
u
a
a
l
l
i
i
d
d
a
a
d
d
e
e
d
d
e
e
V
V
i
i
d
d
a
a
Versão 4.0
R
R
e
e
l
l
a
a
t
t
o
o
d
d
o
o
s
s
P
P
a
a
i
i
s
s
s
s
o
o
b
b
r
r
e
e
a
a
s
s
C
C
r
r
i
i
a
a
n
n
ç
ç
a
a
s
s
(
(
2
2
a
a
4
4
a
a
n
n
o
o
s
s
)
)
Instruções
A próxima página contém uma lista de coisas que podem ser um problema
para seu (sua) filho (a). Por favor, conte-nos quanto cada uma destas
coisas têm sido um problema seu (sua) filho (a) durante o último mês,
assinalando:
0 se nunca é um problema
1 se quase nunca é um problema
2 se algumas vezes é um problema
3 se freqüentemente é um problema
4 se quase sempre é um problema
Não existem respostas certas ou erradas.
Caso você não entenda alguma pergunta, por favor, peça ajuda.
PedsQL 4.0- Parent (2-4) Not to be reproduced without permission Copyright © 1998 JW Varni. All rights reserved
01/00
81
No último mês, quanto seu filho (a) tem tido problemas com...
Capacidade Física (problemas com...)
Nunca Quase
Nunca
Algumas
Vezes
Freqüente
mente
Quase
Sempre
1.Andar 0 1 2 3 4
2.Correr 0 1 2 3 4
3.Participar de brincadeiras ativas ou exercícios 0 1 2 3 4
4.Levantar alguma coisa pesada 0 1 2 3 4
5.Tomar banho 0 1 2 3 4
6.Ajudar a pegar os seus brinquedos 0 1 2 3 4
7.Ter dor ou machucado 0 1 2 3 4
8. Pouca energia 0 1 2 3 4
Aspecto Emocional (problemas com...)
Nunca Quase
Nunca
Algumas
Vezes
Freqüente
mente
Quase
Sempre
1.Sentir medo ou ficar assustado 0 1 2 3 4
2.Ficar triste ou deprimido 0 1 2 3 4
3. Ficar com raiva 0 1 2 3 4
4.Dificuldade para dormir 0 1 2 3 4
5. Ficar preocupado
Aspecto Social (problemas com...)
Nunca Quase
Nunca
Algumas
Vezes
Freqüente
mente
Quase
Sempre
1.Brincar com outras crianças 0 1 2 3 4
2. Outras crianças não querem brincar com ele (a) 0 1 2 3 4
3. Outras crianças provocam seu filho (a) 0 1 2 3 4
4. Não consegue fazer coisas que outras crianças
da mesma idade fazem
0 1 2 3 4
5. Acompanhar a brincadeira com outras
crianças
0 1 2 3 4
* Por favor, complete esta parte se seu filho (a) vai à escola ou creche ou berçário
Atividade Escolar (problemas com...)
Nunca Quase
Nunca
Algumas
Vezes
Freqüente
mente
Quase
Sempre
1.Fazer as mesmas atividades escolares que sua
classe
0 1 2 3 4
2.Faltar na escola/creche por não estar se
sentindo bem
0 1 2 3 4
3.Faltar na escola/creche para ir ao médico ou
hospital
0 1 2 3 4
PedsQL 4.0- Parent (2-4) Not to be reproduced without permission Copyright © 1998 JW Varni. All rights reserved
01/00
82
ID#________________
Data:______________
P
P
e
e
d
d
s
s
Q
Q
L
L
T
T
M
M
Q
Q
u
u
e
e
s
s
t
t
i
i
o
o
n
n
á
á
r
r
i
i
o
o
P
P
e
e
d
d
i
i
á
á
t
t
r
r
i
i
c
c
o
o
d
d
e
e
Q
Q
u
u
a
a
l
l
i
i
d
d
a
a
d
d
e
e
d
d
e
e
V
V
i
i
d
d
a
a
Versão 4.0
R
R
e
e
l
l
a
a
t
t
o
o
d
d
o
o
s
s
P
P
a
a
i
i
s
s
s
s
o
o
b
b
r
r
e
e
a
a
s
s
C
C
r
r
i
i
a
a
n
n
ç
ç
a
a
s
s
(
(
5
5
a
a
7
7
a
a
n
n
o
o
s
s
)
)
Instruções
A próxima página contém uma lista de coisas que podem ser um problema
para seu (sua) filho (a). Por favor, conte-nos quanto cada uma destas
coisas têm sido um problema seu (sua) filho (a) durante o último mês,
assinalando:
0 se nunca é um problema
1 se quase nunca é um problema
2 se algumas vezes é um problema
3 se freqüentemente é um problema
4 se quase sempre é um problema
Não existem respostas certas ou erradas.
Caso você não entenda alguma pergunta, por favor, peça ajuda.
PedsQL 4.0 Parent (5-7) Not to be reproduced without permission Copyright © 1998 JW Varni. All rights reserved
01/00
83
No último mês, quanto seu filho(a) tem tido problemas com...
Capacidade Física (problemas com...)
Nunca Quase
Nunca
Algumas
Vezes
Freqüente
mente
Quase
Sempre
1.Andar mais de um quarteirão 0 1 2 3 4
2.Correr 0 1 2 3 4
3.Participar de atividades esportivas ou
exercícios
0 1 2 3 4
4.Levantar alguma coisa pesada 0 1 2 3 4
5.Tomar banho de banheira ou chuveiro sozinho 0 1 2 3 4
6. Fazer as tarefas do dia-a-dia da casa como
pegar os seus brinquedos
0 1 2 3 4
7.Ter dor ou machucado 0 1 2 3 4
8. Pouca energia 0 1 2 3 4
Aspecto Emocional (problemas com...)
Nunca Quase
Nunca
Algumas
Vezes
Freqüente
mente
Quase
Sempre
1.Sentir medo ou ficar assustado 0 1 2 3 4
2. Ficar triste ou deprimido 0 1 2 3 4
3. Ficar com raiva 0 1 2 3 4
4.Dificuldade para dormir 0 1 2 3 4
5. Ficar preocupado 0 1 2 3 4
Aspecto Social (problemas com...)
Nunca Quase
Nunca
Algumas
Vezes
Freqüente
mente
Quase
Sempre
1. Conviver com outras crianças 0 1 2 3 4
2. Outras crianças não querem ser amigos dele (a) 0 1 2 3 4
3. Outras crianças provocam seu filho (a) 0 1 2 3 4
4. Não consegue fazer coisas que outras crianças
da mesma idade fazem
0 1 2 3 4
5. Acompanhar a brincadeira com outras
crianças
0 1 2 3 4
Atividade Escolar (problemas com...)
Nunca Quase
Nunca
Algumas
Vezes
Freqüente
mente
Quase
Sempre
1. Prestar atenção na aula 0 1 2 3 4
2. Esquecer as coisas 0 1 2 3 4
3. Acompanhar as atividades da classe 0 1 2 3 4
4. Faltar na escola por não estar se sentindo bem 0 1 2 3 4
5. Faltar na escola para ir ao médico ou hospital 0 1 2 3 4
PedsQL 4.0 Parent (5-7) Not to be reproduced without permission Copyright © 1998 JW Varni. All rights reserved
01/00
84
ID#________________
Data:______________
P
P
e
e
d
d
s
s
Q
Q
L
L
T
T
M
M
Q
Q
u
u
e
e
s
s
t
t
i
i
o
o
n
n
á
á
r
r
i
i
o
o
P
P
e
e
d
d
i
i
á
á
t
t
r
r
i
i
c
c
o
o
d
d
e
e
Q
Q
u
u
a
a
l
l
i
i
d
d
a
a
d
d
e
e
d
d
e
e
V
V
i
i
d
d
a
a
Versão 4.0
R
R
e
e
l
l
a
a
t
t
o
o
d
d
o
o
s
s
P
P
a
a
i
i
s
s
s
s
o
o
b
b
r
r
e
e
a
a
s
s
C
C
r
r
i
i
a
a
n
n
ç
ç
a
a
s
s
(
(
8
8
a
a
1
1
2
2
a
a
n
n
o
o
s
s
)
)
Instruções
A próxima página contém uma lista de coisas que podem ser um problema
para seu (sua) filho (a). Por favor, conte-nos quanto cada uma destas
coisas têm sido um problema seu (sua) filho (a) durante o último mês,
assinalando:
0 se nunca é um problema
1 se quase nunca é um problema
2 se algumas vezes é um problema
3 se freqüentemente é um problema
4 se quase sempre é um problema
Não existem respostas certas ou erradas.
Caso você não entenda alguma pergunta, por favor, peça ajuda.
PedsQL 4.0- Parent (8-12) Not to be reproduced without permission Copyright © 1998 JW Varni. All rights reserved
01/00
85
No último mês, quanto seu filho (a) tem tido problemas com...
Capacidade Física (problemas com...)
Nunca Quase
Nunca
Algumas
Vezes
Freqüente
mente
Quase
Sempre
1.Andar mais de um quarteirão 0 1 2 3 4
2.Correr 0 1 2 3 4
3.Participar de atividades esportivas ou
exercícios
0 1 2 3 4
4.Levantar alguma coisa pesada 0 1 2 3 4
5.Tomar banho de banheira ou chuveiro sozinho 0 1 2 3 4
6.Fazer as tarefas do dia-a-dia da casa 0 1 2 3 4
7.Ter dor ou machucado 0 1 2 3 4
8. Pouca energia 0 1 2 3 4
Aspecto Emocional (problemas com...)
Nunca Quase
Nunca
Algumas
Vezes
Freqüente
mente
Quase
Sempre
1.Sentir medo ou ficar assustado 0 1 2 3 4
2. Ficar triste ou deprimido 0 1 2 3 4
3. Ficar com raiva 0 1 2 3 4
4.Dificuldade para dormir 0 1 2 3 4
5. Ficar preocupado 0 1 2 3 4
Aspecto Social (problemas com...)
Nunca Quase
Nunca
Algumas
Vezes
Freqüente
mente
Quase
Sempre
1.Conviver com outras crianças 0 1 2 3 4
2. Outras crianças não querem ser amigos dele (a) 0 1 2 3 4
3. Outras crianças provocam seu filho (a) 0 1 2 3 4
4. Não consegue fazer coisas que outras crianças
da mesma idade fazem
0 1 2 3 4
5. Acompanhar a brincadeira com outras
crianças
0 1 2 3 4
Atividade Escolar (problemas com...)
Nunca Quase
Nunca
Algumas
Vezes
Freqüente
mente
Quase
Sempre
1.Prestar atenção na aula 0 1 2 3 4
2.Esquecer as coisas 0 1 2 3 4
3.Acompanhar os trabalhos da classe 0 1 2 3 4
4.Faltar na escola por não estar se sentindo bem 0 1 2 3 4
5.Faltar na escola para ir ao médico ou hospital 0 1 2 3 4
PedsQL 4.0- Parent (8-12) Not to be reproduced without permission Copyright © 1998 JW Varni. All rights reserved
01/00
86
ID#________________
Data:______________
P
P
e
e
d
d
s
s
Q
Q
L
L
T
T
M
M
Q
Q
u
u
e
e
s
s
t
t
i
i
o
o
n
n
á
á
r
r
i
i
o
o
P
P
e
e
d
d
i
i
á
á
t
t
r
r
i
i
c
c
o
o
d
d
e
e
Q
Q
u
u
a
a
l
l
i
i
d
d
a
a
d
d
e
e
d
d
e
e
V
V
i
i
d
d
a
a
Versão 4.0
R
R
e
e
l
l
a
a
t
t
o
o
d
d
o
o
s
s
P
P
a
a
i
i
s
s
s
s
o
o
b
b
r
r
e
e
A
A
d
d
o
o
l
l
e
e
s
s
c
c
e
e
n
n
t
t
e
e
s
s
(
(
1
1
3
3
a
a
1
1
8
8
a
a
n
n
o
o
s
s
)
)
Instruções
A próxima página contém uma lista de coisas que podem ser um problema
para seu (sua) filho (a). Por favor, conte-nos quanto cada uma destas
coisas têm sido um problema seu (sua) filho (a) durante o último mês,
assinalando:
0 se nunca é um problema
1 se quase nunca é um problema
2 se algumas vezes é um problema
3 se freqüentemente é um problema
4 se quase sempre é um problema
Não existem respostas certas ou erradas.
Caso você não entenda alguma pergunta, por favor, peça ajuda.
PedsQL 4.0 Parent (13-18) Not to be reproduced without permission Copyright © 1998 JW Varni. All rights
reserved 01/00
87
No último mês, quanto seu filho (a) tem tido problemas com...
Capacidade Física (problemas com...)
Nunca Quase
Nunca
Algumas
Vezes
Freqüente
mente
Quase
Sempre
1.Andar mais de um quarteirão 0 1 2 3 4
2.Correr 0 1 2 3 4
3.Participar de atividades esportivas ou
exercícios
0 1 2 3 4
4.Levantar alguma coisa pesada 0 1 2 3 4
5.Tomar banho de banheira ou chuveiro sozinho 0 1 2 3 4
6.Fazer as tarefas do dia-a-dia da casa 0 1 2 3 4
7.Ter dor ou machucado 0 1 2 3 4
8. Pouca energia 0 1 2 3 4
Aspecto Emocional (problemas com...)
Nunca Quase
Nunca
Algumas
Vezes
Freqüente
mente
Quase
Sempre
1.Sentir medo ou ficar assustado 0 1 2 3 4
2. Ficar triste ou deprimido 0 1 2 3 4
3. Ficar com raiva 0 1 2 3 4
4.Dificuldade para dormir 0 1 2 3 4
5. Ficar preocupado 0 1 2 3 4
Aspecto Social (problemas com...)
Nunca Quase
Nunca
Algumas
Vezes
Freqüente
mente
Quase
Sempre
1.Conviver com outros adolescentes
0 1 2 3 4
2. Outros adolescentes não querem ser amigos
dele (a)
0 1 2 3 4
3. Outros adolescentes provocam seu filho (a) 0 1 2 3 4
4. Não consegue fazer coisas que outros
adolescentes da mesma idade fazem
0 1 2 3 4
5. Acompanhar outros adolescentes
0 1 2 3 4
Atividade Escolar (problemas com...)
Nunca Quase
Nunca
Algumas
Vezes
Freqüente
mente
Quase
Sempre
1
1
.
.
P
P
r
r
e
e
s
s
t
t
a
a
r
r
a
a
t
t
e
e
n
n
ç
ç
ã
ã
o
o
n
n
a
a
a
a
u
u
l
l
a
a
0 1 2 3 4
2
2
.
.
E
E
s
s
q
q
u
u
e
e
c
c
e
e
r
r
a
a
s
s
c
c
o
o
i
i
s
s
a
a
s
s
0 1 2 3 4
3.Acompanhar os trabalhos da classe 0 1 2 3 4
4.Faltar na escola por não estar se sentindo bem 0 1 2 3 4
5.Faltar na escola para ir ao médico ou hospital 0 1 2 3 4
PedsQL 4.0 Parent (13-18) Not to be reproduced without permission Copyright © 1998 JW Varni. All rights
reserved 01/00
88
ANEXO B
PARECER COMITÊ DE ÉTICA
89
90
91
APÊNDICES
92
APÊNDICE A
FICHA SOCIODEMOGRÁFICA
I) Dados dos pais:
1) Pai
1.1) Idade
( ) 15 20 anos ( ) 21 25 anos ( ) 26 30 anos
( ) 31 35 anos ( ) 36 40 anos ( ) 41 anos ou mais
1.2) Escolaridade
( ) nenhuma ( ) ensino médio completo
( ) ensino fundamental incompleto ( ) ensino superior incompleto
( ) ensino fundamental completo ( ) ensino superior completo
( ) ensino médio incompleto
1.3) Profissão / Ocupação ____________________
2) Mãe
2.1) Idade
( ) 15 20 anos ( ) 21 25 anos ( ) 26 30 anos
( ) 31 35 anos ( ) 36 40 anos ( ) 41 anos ou mais
2.2) Escolaridade
( ) nenhuma ( ) ensino médio completo
( ) ensino fundamental incompleto ( ) ensino superior incompleto
( ) ensino fundamental completo ( ) ensino superior completo
( ) ensino médio incompleto
2.3) Profissão / Ocupação ____________________
II) Dados da criança:
1) Data do nascimento __________________________
2) Sexo
( ) Masculino ( ) Feminino
3) Idade na qual a AME foi diagnosticada ____________
4) Tipo de AME
( ) Tipo I ( ) Tipo II
Se a criança estiver em idade escolar:
5) Está inserido(a) no Projeto Professor Itinerante ou outra forma de escolarização?
( ) Sim ( ) o
6) Mostra-se satisfeito com os bens materiais que possui (brinquedos, roupas, presentes que
recebe)?
( ) Sim ( ) o
93
III) Dados da Família:
1) Pais moram juntos?
( ) Sim ( ) o
Se não, há assistência da outra parte para o seu filho?
( ) Sim ( ) o
Se sim, qual? ________________________
2) Religião / Espiritualidade ___________________________
3) Número de filhos ____________
4) Número de pessoas que residem na casa _______________
5) Renda familiar _____________________
6) Mora em casa própria?
( ) Sim ( ) o
7) A criança mostra-se satisfeita com sua casa?
( ) Sim ( ) o
8) Qual ambiente da casa ela prefere ficar? _______________
Por quê? __________________________________________
9) Existem outros casos de AME na família?
( ) Sim ( ) Não
Se sim, quem? _______________________
94
APÊNDICE B
ROTEIRO DE ENTREVISTA CUIDADORES
A qualidade de vida é um termo que ainda está em construção. Os autores não chegaram
a um conceito definitivo, mas podemos considerar uma vida de qualidade aquela que
desejamos: uma vida boa. Desta forma, gostaria que o(a) senhor(a) procurasse responder as
perguntas seguintes levando em considerão a vida de seu(ua) filho(a).
1) Fale sobre o momento de maior alegria e também o de maior tristeza que seu(ua) filho(a)
passou.
2) Comente sobre as relações de afeto familiar (positivas ou negativas) de seu(ua) filho(a).
3) Discorra sobre como percebe a influência da saúde na vida de seu(ua) filho(a),
considerando as coisas boas e as não tão boas.
4) Relate como percebe (ou imagina) o desenvolvimento de seu(ua) filho(a) nas atividades
escolares.
5) O(a) senhor(a) deseja comentar mais alguma coisa?
95
APÊNDICE C
ROTEIRO DE ENTREVISTA CRIANÇAS
Estamos fazendo uma pesquisa para compreender e contribuir para melhorar a vida de
crianças com doenças neuromusculares como a AME. Gostaria que vo nos contasse sobre
sua vida, respondendo as perguntas seguintes.
1) Fale das coisas boas e das coisas não tão boas da sua vida.
2) Diga o que você acha bom e o que você não acha tão bom nas atividades escolares.
3) Comente a sua relão com sua família (pais, irmãos...).
4) Vo se preocupa com o que vai acontecer com vo? Por quê?
5) Tem mais alguma coisa que você queira comentar?
96
APÊNDICE D
TERMO DE FIEL DEPOSITÁRIO
97
TERMO DE FIEL DEPOSITÁRIO
Eu, Maria Iracema Capistrano Bezerra, pesquisadora do Mestrado em Saúde Coletiva da
Universidade de Fortaleza (UNIFOR), estou realizando uma pesquisa intitulada Qualidade
de vida de crianças com atrofia muscular espinhal”. Por esse motivo, solicito sua autorizão
para coletar os dados do cadastro da Associação Brasileira de Amiotrofia Espinhal
(ABRAME), referentes às crianças com atrofia muscular espinhal e suas famílias, no período
que compreende da criação da ABRAME até a presente data. Justifico que esse procedimento
se faz necessário para o alcance do objetivo geral da pesquisa que é investigar a qualidade de
vida de crianças com atrofia muscular espinhal tipo I e II.
Esclareço que: (i) as informações coletadas a partir do cadastro somente serão utilizadas
para os objetivos da pesquisa; (ii) as informões ficarão em sigilo e que o anonimato das
pessoas com atrofia muscular espinhal, assim como das famílias, será preservado.
Em caso de necessidade de esclarecimentos, entrar em contato comigo, pesquisadora
responsável, Maria Iracema Capistrano Bezerra, no endereço Av. Washington Soares, 1321,
Mestrado de Saúde Coletiva, Bloco S, sala 01 Edson Queiroz Fortaleza-CE ou nos telefones
34773280/ 34773424/ 99978164.
Oportunamente, agrado sua colaborão, de extrema importância para o
desenvolvimento da pesquisa e para a aplicação dos seus resultados, que subsidiarão o
planejamento e re-planejamento de estratégias de promoção de saúde e qualidade de vida de
crianças com atrofia muscular espinhal, no contexto familiar e comunitário.
Assumo perante a ABRAME, total responsabilidade pelo termo.
Local e data:_______________________
________________________________________________
Maria Iracema Capistrano Bezerra
Mestrado em Saúde Coletiva UNIFOR
Fone: 34773280/ 34773424/ 99978164
Concordo com este Termo,
_________________________________
Fátima Braga
Presidente Nacional da Associação Brasileira de Amiotrofia Espinhal (ABRAME)
Telefones (85) 3248 0329/ (85) 91432282 Email: presidenciaabrame@atrofiaespinhal.org
98
APÊNDICE E
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Projeto de Pesquisa:
Qualidade de vida de crianças com atrofia muscular espinhal
Caros Pais,
As informações abaixo são para esclarecer e pedir a sua participação voluntária e também como
representante legal de seu(ua) filho(a) neste estudo que tem por finalidade conhecer a qualidade de
vida de crianças com atrofia muscular espinhal. Para tanto, serão aplicados, com os senhores e/ou com
seu(ua) filho(a), questionários e entrevistas de avaliação da qualidade de vida das crianças no local
onde as mesmas estejam na internação e/ou em seu domicílio. Tais entrevistas serão gravadas e
posteriormente transcritas, e, durante todo o período das mesmas os senhores e/ou seu(ua) filho(a)
estarão sendo observados.
Por ser um estudo, não é possível prever os benefícios diretos, mas seus resultados poderão ser
de grande relevância para uma melhor adequação dos procedimentos a serem adotados em crianças
com atrofia muscular espinhal e para servir de base para novas pesquisas envolvendo essas crianças.
Fica explicito também que os riscos para os senhores e/ou seu(ua) filho(a) são mínimos visto que trata-
se de uma pesquisa sem intervenções terapêuticas.
As informões obtidas não serão utilizadas para divulgar a sua identidade, nem a de seu(ua)
filho(a); todas as informações prestadas tornam-se confidenciais e guardadas por força de sigilo
profissional.
Fica claro que enquanto representante legal de seu(ua) filho(a), e em seu próprio nome, pode a
qualquer momento retirar este consentimento livre e esclarecido e deixar de participar desta pesquisa
sem qualquer prejuízo no atendimento que vinha recebendo.
Não haverá despesas nem ajudas financeiras para a criança e/ou seu representante legal durante
o decorrer da pesquisa.
Fica claro o compromisso da pesquisadora em utilizar os dados obtidos somente para este
estudo.
A pesquisadora responsável, Maria Iracema Capistrano Bezerra, poderá ser encontrada no
endereço Av. Washington Soares, 1321, Mestrado de Saúde Coletiva, Bloco S, sala 01 ou nos
telefones 3477.3280/ 3477.3424/ 9997.8164 de forma a prestar quaisquer esclarecimentos a qualquer
momento durante o andamento da pesquisa.
Se houver dúvidas sobre a ética da pesquisa entre em contato com o Comitê de Ética em
Pesquisa do Hospital Infantil Albert Sabin (R. Tertuliano Sales, 544, 60410-790 Fortaleza-CE).
Maria Iracema Capistrano Bezerra
Mestrado em Saúde Coletiva UNIFOR
Fone: 3477.3280/ 3477.3424/ 9997.8164
LIVRE CONSENTIMENTO APÓS OS DEVIDOS ESCLARECIMENTOS
As ler estas informões e de ter minhas dúvidas suficientemente esclarecidas pela
pesquisadora, concordo:
( ) em participar de forma voluntária neste estudo
( ) em permitir a participão de meu(minha) filho(a) de forma voluntária neste estudo
Local, data:_____________________________________________________________
Nome:_________________________________________________________________
Endero:______________________________________________________________
Telefones para contato:___________________________________________________
RG:___________________________________________________________________
Assinatura:________________________________________________________
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo