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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Kátia Evangelista Regis
Relações etnicorraciais e currículos escolares em teses e dissertações
produzidas nos programas de pós-graduação stricto sensu em
Educação – Brasil (1987-2006)
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO
SÃO PAULO
2009
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Kátia Evangelista Regis
Relações etnicorraciais e currículos escolares em teses e dissertações
produzidas nos programas de pós-graduação stricto sensu em
Educação – Brasil (1987-2006)
Tese apresentada a Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência
parcial para obtenção do título de
Doutor em Educação: Currículo, sob a
orientação da Profa. Doutora Branca
Jurema Ponce.
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO
SÃO PAULO
2009
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Banca Examinadora
______________________
______________________
______________________
______________________
______________________
A Marcelo Pagliosa Carvalho
Meu marido
Companheiro de todos os momentos e de todas as lutas
À Marinalva de Araújo Régis e a Miguel Evangelista Regis
Minha mãe e meu pai
Pelo apoio irrestrito à realização de todos os meus projetos
AGRADECIMENTOS
À Profa. Dra. Branca Jurema Ponce pelo acolhimento, a partir do segundo ano de
doutorado, por nos instigar a refletir sobre a complexidade e as contradições das
práticas educacionais e pelo seu compromisso com uma educação de boa
qualidade social.
Ao Prof. Dr. Sérgio Haddad, por sua orientação em meu primeiro ano de
doutorado, pelo estimulo à realização desta pesquisa e pelos questionamentos no
Exame de Qualificação.
Ao Prof. Dr. Alípio Casali pelas críticas e sugestões no Exame de Qualificação.
Ao Prof. Dr. Antonio Chizzotti pelas indagações e propostas no Exame de
Qualificação.
À Aline, minha irmã, que, apesar da distância, está sempre ao meu lado.
A Marcola e Maria, amigos de todas as horas.
Aos colegas do Grupo de Pesquisa coordenado pela Profa. Dra. Branca, por
compartilharmos as reflexões, desafios e inquietações durante o processo de
construção de pesquisa em Educação.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo apoio
financeiro, sem o qual não teria realizado esta tese.
“[...] São as vítimas, quando irrompem na história, que criam o novo.
Sempre foi assim.
Não pode ser de outra maneira [...].
Enrique Dussel
REGIS, Kátia Evangelista. Relações etnicorraciais e currículo em teses e
dissertações nos programas de s-graduação stricto sensu em Educação –
Brasil (1987-2006). 2009. 253 f. Tese (Doutorado). Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, São Paulo, 2009.
Resumo
Este trabalho teve por objetivo sistematizar e analisar as principais
questões discutidas em teses de doutorado e dissertações de mestrado, que
enfocaram as relações etnicorraciais e o currículo escolar, desenvolvidas em
programas de pós-graduação stricto sensu em Educação, entre os anos de 1987-
2006. Para a seleção das produções acadêmicas que se tornaram objeto de nossa
análise, utilizamos o Banco de Teses da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES). Tal levantamento levou-nos à identificação de
187 estudos, cujo objetivo central foi a discussão acerca de relações
etnicorraciais, focando a população negra. Partindo desse universo, delimitamos
nosso foco de interesse no estudo das investigações que discutiram as relações
etnicorraciais e os currículos escolares relacionados à educação básica dos
sistemas oficiais de ensino do Brasil. A discussão sobre as relações etnicorraciais
baseou-se em autores como Munanga (1996a, 2004a, 2004b); Gomes (2004,
2005, 2007); Gonçalves & Silva (2000, 2004); Cavalleiro (2005a, 2005b); Pinto
(1987, 1993) e Silva (2001). A reflexão teórica acerca do currículo sustentou-se
em autores como Sacristán (1999, 2000a, 2000b), Apple (1982), Giroux (1997) e
McLaren (2000) e ofereceu a fundamentação que orientou nosso trabalho de
seleção e análise da produção acadêmica sobre relações etnicorraciais e
currículos escolares, resultando em um conjunto de 51 investigações. No entanto,
tivemos acesso a 29 estudos, nos quais utilizamos os referenciais da análise de
conteúdo, por meio da análise categorial (BARDIN, 2008). Como resultado, as
investigações foram agrupadas em quatro categorias: o negro nos livros didáticos;
relações etnicorraciais no currículo em ação; estereótipos, preconceito racial e
discriminação racial no cotidiano escolar e o ensino da História e Cultura dos
africanos e dos negros brasileiros nos currículos escolares. Por fim, destacamos
que as discussões sobre relações etnicorraciais e os currículos escolares
oferecem importantes possibilidades de repensar a escola.
Palavras-chave: Relações etnicorraciais, Currículos escolares, População negra,
Levantamento em teses e dissertações.
REGIS, Kátia Evangelista. Ethnic-Racial Relations and Curriculum in Thesis
and Dissertations Developed in Stricto Sensu Graduate Programs in
Education Brazil (1987-2006). 2009. 253 f. Thesis (Doctorate). Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2009.
Abstract
The purpose of this study was to systematize and analyze the main
questions investigated in doctoral thesis and master’s dissertations focused on
ethnic-racial relations and school curriculum, developed in Stricto Sensu Graduate
Programs in Education over the 1987-2006 period. In order to select the academic
works which became the object of our analysis, we have used CAPES
(Coordination of High-Level Personnel Training) thesis database. By means of this
survey, we could identify 187 studies focused on the analysis of ethnic-racial
relations with respect to the black population. From this framework of reference, we
have delimited our subject of interest to the analysis of the studies which discussed
ethnic-racial relations and school curriculums related to the basic education
provided by Brazilian official educational systems. The study on ethnic-racial
relations was based on authors such as Munanga (1996a, 2004a, 2004b); Gomes
(2004, 2005, 2007); Gonçalves & Silva (2000, 2004); Cavalleiro (2005a, 2005b);
Pinto (1987, 1993) and Silva (2001). The theoretical reasoning on the curriculum
has its sources in the works of authors such as Sacristán (1999, 2000a, 2000b),
Apple (1982), Giroux (1997) and McLaren (2000) which substantiated our selection
and analysis of academic works on ethnic-racial relations and school curriculums,
resulting in a total of 51 investigations. However, we had access to 29 studies in
which we used the content analysis method by means of categorical analysis
(BARDIN, 2008). As a result, the investigations were grouped into four categories:
black people in textbooks; ethnic-racial relations in the curriculum in action;
stereotypes, racial prejudice and racial discrimination in daily school life, and the
teaching of Africans and black Brazilians history and culture in school curriculums.
Finally, we have highlighted that discussions relating to ethnic-racial relations and
school curriculums offer valuable opportunities with regard to rethinking school.
Keywords: Ethnic-racial relations, School curriculums, Black population, Survey in
thesis and dissertations
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Expressões e palavras-chave utilizadas e mero de pesquisas
encontradas ...................................................................................................................... 73
Tabela 2 – Distribuição temporal das 187 pesquisas sobre relações etnicorraciais ........... 76
Tabela 3 Distribuição das 187 pesquisas sobre relações etnicorraciais, por
Universidade ..................................................................................................................... 77
Tabela 4 Distribuição das 187 pesquisas sobre relações etnicorraciais, segundo
Unidade da Federação ...................................................................................................... 79
Tabela 5- Distribuição das 187 pesquisas sobre relações etnicorraciais, segundo
Região .............................................................................................................................. 79
Tabela 6 Distribuição das 187 pesquisas sobre relações etnicorraciais, por tipo de
categoria administrativa .................................................................................................... 80
Tabela 7 Distribuição temporal das 51 pesquisas sobre relações etnicorraciais e
currículos escolares .......................................................................................................... 81
Tabela 8 Distribuição das 51 pesquisas sobre relações etnicorraciais e currículos
escolares, por Universidade .............................................................................................. 82
Tabela 9 Distribuição das 51 pesquisas sobre relações etnicorraciais e currículos
escolares, segundo Unidade da Federação ...................................................................... 83
Tabela 10 Distribuição das 51 pesquisas sobre relações etnicorraciais e currículos
escolares, segundo Região ............................................................................................... 83
Tabela 11 Distribuição das 51 pesquisas sobre relações etnicorraciais e currículos
escolares, por tipo de categoria administrativa .................................................................. 84
Tabela 12 – Distribuição temporal das 29 pesquisas analisadas sobre relações
etnicorraciais e currículos escolares.................................................................................. 87
Tabela 13 Distribuição das 29 pesquisas analisadas sobre relações etnicorraciais
e currículos escolares, por Universidade ........................................................................... 88
Tabela 14 Distribuição das 29 pesquisas analisadas sobre relações etnicorraciais
e currículos escolares, segundo Unidade da Federação ................................................... 89
Tabela 15 Distribuição das 29 pesquisas analisadas sobre relações etnicorraciais
e currículos escolares, segundo Região ............................................................................ 89
Tabela 16 Distribuição das 29 pesquisas analisadas sobre relações etnicorraciais
e currículos escolares, por tipo de categoria administrativa ............................................... 90
LISTA DE SIGLAS
ABPN – Associação Brasileira de Pesquisadores Negros
ADI – Auxiliar de Desenvolvimento Infantil
ADUSP – Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo
ANC – Assembléia Nacional Constituinte
ANPEd - Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação
BDTD – Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações
CAPES - Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CEERT – Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdade
CENP – Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas
CEOP – Centro de Educação e Organização Popular
CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
COPENE – Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros
DRP – Diagnóstico Rápido Participativo
EJA – Educação de Jovens e Adultos
FCC – Fundação Carlos Chagas
FEDEP-SP – Fórum Estadual em Defesa da Escola Pública de São Paulo
FEUSP – Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo
FNB – Frente Negra Brasileira
FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
FUNDEF Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e
de Valorização do Magistério
GRUCON – Grupo de União e Consciência Negra
GTAAB - Grupo de Trabalho para Assuntos Afro-brasileiros
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MEC – Ministério da Educação
MNU – Movimento Negro Unificado
MOVA-SP Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos da Cidade de São
Paulo
NCN – Núcleo de Consciência Negra
NEABs – Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros
ONGs – Organizações Não-Governamentais
ONU – Organização das Nações Unidas
PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais
PEE – Plano Estadual de Educação
PL – Projeto de Lei
PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PNLD – Programa Nacional do Livro Didático
PRONAICA – Programa Nacional de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente
PT – Partido dos Trabalhadores
PUC-SP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
PVNC - Pré-Vestibulares para Negros e Carentes
SECAD – Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade
SEPPIR – Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
SINTUSP – Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de São Paulo
SME– Secretaria Municipal de Educação
TEN – Teatro Experimental do Negro
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura
USP – Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
Introdução ....................................................................................................... 16
1. Relações etnicorraciais e currículos escolares ................................... 39
1.1 Âmbitos que interferem na configuração do currículo escolar
.................... 39
1.2 Relações etnicorraciais nos currículos escolares da educação básica
........ 42
2. Teses e dissertações sobre as relações etnicorraciais nos
currículos escolares da educação básica ............................................ 72
2.1 Levantamento das teses e dissertações sobre as relações
etnicorraciais nos programas de pós-graduação stricto sensu em Educação
(1987-2006)
............................................................................................... 72
2.2 Teses e dissertações sobre as relações etnicorraciais nos programas
de pós-graduação stricto sensu em Educação
............................................... 75
2.3 Teses e dissertações sobre as relações etnicorraciais e currículos
escolares da educação básica
..................................................................... 81
2.4 Teses e dissertações analisadas sobre as relações etnicorraciais e
currículos escolares da educação básica
...................................................... 86
2.4.1 Algumas questões recorrentes na maioria das teses e
dissertações analisadas ......................................................................... 91
2.4.2 Termos e conceitos utilizados nos debates sobre as relações
etnicorraciais .......................................................................................... 93
2.4.3 Críticas aos currículos hegemônicos ............................................. 95
2.4.4 Atuação do movimento negro nas críticas e proposições
relativas aos currículos escolares ........................................................... 96
3. Estudo das 29 teses e dissertações analisadas sob o enfoque
das relações etnicorraciais presentes nos currículos escolares
da educação básica ............................................................................. 100
3.1 O negro nos livros didáticos
................................................................. 104
3.2 Relações etnicorraciais no currículo em ação
........................................ 131
3.3 Estereótipos, preconceito racial e discriminação racial no cotidiano
escolar
..................................................................................................... 142
3.4 O ensino da História e Cultura dos africanos e dos negros brasileiros
nos currículos escolares
............................................................................ 161
3.4.1 Experiências de discussão acerca das relações etnicorraciais e sobre
o ensino da História e Cultura africanas e dos negros brasileiros nos
currículos escolares
.................................................................................. 161
3.4.2 Articulação entre saberes de comunidades remanescentes de
quilombos e os currículos escolares
........................................................... 172
3.4.3 Alguns posicionamentos acerca do ensino da História e Cultura dos
africanos e dos negros brasileiros nos currículos escolares
.......................... 184
4. As relações etnicorraciais nos currículos escolares:
possibilidades de repensar a escola .................................................. 189
Referências ................................................................................................... 208
Apêndices ..................................................................................................... 218
Anexo ............................................................................................................ 252
16
INTRODUÇÃO
Essa investigação está permeada pela minha trajetória pessoal como
estudante, professora, pesquisadora e mulher negra, que vivencia e luta
cotidianamente contra o racismo
1
, o preconceito racial
2
e a discriminação racial
3
existentes no Brasil.
Comecei a atuar como professora em 1998, no Centro de Educação e
Organização Popular (CEOP), durante o período em que me graduava em História
1
No Brasil, a parcela populacional definida como negra é vitimada pelo racismo. De um lado, o
racismo é um comportamento, uma ação que resulta da aversão (por vezes, do ódio), em relação a
pessoas que têm um pertencimento racial observável, como a cor da pele e o tipo de cabelo. De
outro lado, são idéias e imagens sobre os grupos humanos que partem do pressuposto da
existência de raças superiores e inferiores (GOMES, 2005). Dessa maneira, é uma forma de
dominação baseada no pressuposto ideológico da existência de hierarquia entre raças.
O racismo brasileiro é definido como sendo “de marca”, quer dizer, relaciona-se a características
fenotípicas como, por exemplo, a cor da pele ou a textura dos cabelos. Em decorrência disso, o
racismo no Brasil atinge mais fortemente aquelas pessoas negras que mais se aproximam do
fenótipo da ancestralidade africana, e matiza as discriminações conforme a aparência vai se
aproximando do fenótipo branco. (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO, 2005). O racismo se constitui como uma maneira de justificar a dominação
de um grupo sobre outro a partir das características fenotípicas. É a partir da idéia de raças fictícias
que o racismo se perpetua.
2
O preconceito é um julgamento prévio e negativo, uma opinião preestabelecida, formada
antecipadamente, sem maiores ponderações ou conhecimentos sobre os fatos. Incide sobre os
integrantes de um grupo racial, de uma etnia, religião ou sobre pessoas que ocupam outro papel
social significativo, incluindo a relação entre grupos humanos e a percepção que as pessoas têm
de si mesmas e dos outros (GOMES, 2005).
No Brasil, persiste o que Florestan Fernandes denominou de “preconceito de ter preconceito”,
que, em nossa sociedade, as pessoas negam-se a se assumirem preconceituosas. Gomes (2005)
destaca que, comumente, as pessoas declaram que não existe preconceito racial no Brasil que
somos oriundos de uma mistura racial. Entretanto, quando têm notícia de um casamento
interracial, supõem que ele ocorreu por interesse; ao verem um homem negro dirigindo um carro
de luxo, a tendência é imaginar que se trata do motorista do patrão; piadas sobre o negro,
cotidianamente repetidas, carregam a idéia de inferioridade etnicorracial da população negra. O
preconceito, enquanto atitude, não é natural. Ele é construído socialmente.
3
A discriminação (a palavra discriminar significa diferenciar, distinguir, discernir) racial: “Pode ser
considerada como a prática do racismo e a efetivação do preconceito. Enquanto o racismo e o
preconceito encontram-se no âmbito das doutrinas e dos julgamentos, das concepções de mundo
e das crenças, a discriminação é a adoção de práticas que os efetivam” (GOMES, 2005, p. 55).
17
pela Universidade de São Paulo (USP). O CEOP é uma entidade de Educação
Popular que desenvolve, basicamente, atividades de alfabetização e pós-
alfabetização de jovens e adultos na Favela São Remo. Essa favela se localiza
num terreno ocupado do Campus Cidade Universitária da USP, no Butantã, Zona
Sudoeste da Cidade de São Paulo, onde moram, inclusive, funcionários
4
da
própria Universidade.
O CEOP surgiu em 1989, durante o processo de constituição do
Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos da Cidade de São Paulo
(MOVA-SP), na gestão de Luiza Erundina (1989-1992), como prefeita da Cidade
de o Paulo. Esse Movimento desenvolvia a alfabetização e pós-alfabetização
de jovens e adultos, por meio de parceria entre a sociedade civil organizada e a
Secretaria Municipal de Educação (SME).
As inquietações que emergiram quando atuei nessa entidade motivaram
meu ingresso no Programa de Mestrado em Educação: Currículo, em 2002, na
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Minha dissertação
sistematizou a História do CEOP, analisando como a entidade se organizou para
realizar a escolarização de jovens e adultos, discutindo as mudanças e
permanências pelas quais passou entre 1989 e 2004. Tratei também da relação
do CEOP com o Estado, com a Associação dos Moradores do Jardim São Remo,
com a Igreja Católica do local, com a Universidade de São Paulo e com o Núcleo
de Consciência Negra (NCN) na USP.
4
Utilizarei o gênero masculino para não sobrecarregar o texto. Apesar disso, gostaria que as
mulheres se sentissem incluídas nas discussões que realizarei ao longo do trabalho.
18
Em 1998, passei a integrar a coordenação docleo de Consciência
Negra, durante as Gestões “Raça e Classe” (1998-2000 e 2000-2002). O NCN é
uma entidade do movimento negro
5
que surgiu em 1987, a partir do debate entre
alunos, professores e funcionários da Universidade sobre as dificuldades da
realização de discussões sobre o racismo na USP. Inicialmente, utilizava uma sala
da sede do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de São Paulo
(SINTUSP)
6
. No próprio espaço da Universidade, ressaltava-se a presença da
população negra
7
, principalmente como funcionários, ao mesmo tempo em que se
destacava o descaso da USP
8
com essa parcela populacional. Cerca de dez
pessoas atuavam no Núcleo, em sua origem a maioria ligada ao SINTUSP e
as atividades realizadas acompanhavam a pauta de intervenção política com uma
preocupação cultural: realizar palestras, organizar exposições de arte e
seminários. (CUNHA JÚNIOR, 2002)
5
Entendo por movimento negro a atuação de entidades e associações que possuem em comum a
luta antirracista.
6
O NCN ocupou posteriormente um galpão abandonado, onde antes funcionava a Faculdade de
Veterinária.
7
De acordo com o IBGE (2000), a população brasileira, a partir da auto declaração, é composta da
seguinte maneira: branca 53,8%, parda 39,1%, preta 6,2%, indígena 0,5% e amarela 0,4%. A
população negra é composta da parcela populacional que se auto declara preta e parda nos
censos demográficos. Justifica-se a junção de pretos e pardos em uma única categoria, a de
negros, já que estudos empíricos mostraram que as diferenças entre os pretos e pardos, quanto ao
rendimento, escolaridade, acesso aos bens de uso coletivo, são bem menores que a distância que
os separa dos brancos, e é bastante desigual quando comparada com a situação do grupo racial
branco. (PAIXÃO, 2006) Desta forma, é possível agregá-los numa única categoria, a de negros.
8
Representativas desse descaso foram as atividades oficiais da USP, realizadas em 1988, no
Centenário da Abolição da Escravidão: a programação oficial desconsiderou os acadêmicos,
funcionários e estudantes negros. Entre os convidados, não havia acadêmicos negros. Cunha
Júnior (2002) destaca que isso não ocorreu devido à indisponibilidade de intelectuais negros, visto
que o NCN propôs uma lista composta de nomes de importantes acadêmicos nacionais e
internacionais.
19
Enquanto atuava no NCN, comecei a repensar as relações etnicorraciais na
sociedade brasileira e passei a refletir sobre a minha própria trajetória escolar e as
desigualdades etnicorraciais que se manifestam nas instituições educacionais,
através dos currículos a que tive acesso que omitiam e/ou desconsideravam a
História dos negros africanos e da diáspora e pelo silenciamento sobre as tensões
advindas do racismo, preconceito racial e discriminação racial no espaço escolar.
A partir daí, surgiu o interesse em compreender a exclusão racial e a resistência
dos negros a essa situação.
No segundo semestre de 1998, criamos, no Núcleo de Consciência Negra,
um curso de alfabetização e pós-alfabetização de jovens e adultos, integrando-o
aos demais projetos existentes na entidade, como o cursinho pré-vestibular para
negros e carentes (concretizado em 1996), os cursos de idiomas (ioruba e inglês),
teatro, dança afro, capoeira e oficinas de hip-hop.
Constatamos que os funcionários terceirizados da Universidade (cerca de
quatro mil, naquele momento) não tinham acesso gratuito ao curso oferecido pela
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP) aos funcionários
da USP. Destaque-se que os referidos funcionários terceirizados (de serviços de
limpeza e segurança, por exemplo) eram, em sua maioria, pessoas negras.
O curso de alfabetização e pós-alfabetização se propunha a
problematizar, em seu currículo, as relações etnicorraciais. Partimos da
compreensão de que os currículos escolares não são neutros e transmitem,
geralmente, um conhecimento particular como se fosse o conhecimento universal.
20
A seleção que constitui o currículo é o resultado de um processo que, de um modo
geral, reflete os interesses particulares dos grupos dominantes. Dessa forma, o
currículo escolar é, marcadamente, resultado da cultura ocidental dominante
(eurocêntrico, masculino, de orientação heterossexual, branco, cristão, capitalista).
Passei a participar como coordenadora do Fórum Estadual de Educação de
Jovens e Adultos, a partir de 1999, contribuindo com as reflexões sobre as
relações etnicorraciais nessa modalidade educativa. Esse Fórum, criado naquele
ano, reúne diversos atores sociais comprometidos com a Educação de Jovens e
Adultos (EJA), como movimentos populares, Organizações Não-Governamentais
(ONGs), Secretarias Municipais de Educação e universidades. São realizadas,
periodicamente, plenárias nas quais são discutidos temas ligados à Educação de
Jovens e Adultos, como políticas públicas, o currículo e a formação dos
professores para essa modalidade educativa.
O Fórum, em 2003, debateu sobre políticas públicas para essa modalidade
educativa, realizando emendas ao Projeto de Lei para o Plano Estadual de
Educação (PEE) produzido pelo Executivo (PL nº 1.066/2003) e ao Projeto de Lei
para o PEE (PL 1.074/2003) produzido pelo Fórum Estadual em Defesa da
Escola Pública de São Paulo (FEDEP-SP). Essas emendas foram realizadas a
partir de debates e discussões nas plenárias do Fórum ao longo do segundo
21
semestre de 2003, em um processo que qualificou os participantes do Fórum EJA
na reflexão sobre as políticas públicas.
9
O Fórum organizou também encontros estaduais como o IV Seminário
Estadual de Educação de Jovens e Adultos - Balanço da década a partir da
vigência da LDB
10
e do FUNDEF
11
” - realizado nos dias 5 e 6 de maio de 2006, na
Universidade de São Paulo. Nesse encontro, que reuniu cerca de 700 pessoas de
todo o Estado de São Paulo, foram problematizadas diversas questões nas 17
mesas organizadas em torno dos três eixos temáticos do evento: Políticas
Públicas, Formação de Educadores e Diversidade na EJA. Neste último, houve
uma mesa intitulada “EJA e a questão racial”, que contou com a participação de
cerca de 50 pessoas.
Minha atuação como docente em organizações populares, no movimento
negro e nas redes estadual e municipal de ensino de São Paulo, principalmente no
ensino da EJA, instigaram-me a ingressar no doutorado em 2005. Objetivava
analisar as causas do aumento do número de jovens na EJA e discutir as
consequências desse ingresso no plano político-pedagógico, analisando essa
temática com um enfoque etnicorracial. Entretanto, em conversas com o meu
primeiro orientador, Prof. Dr. Sergio Haddad, consideramos mais adequado
focalizar apenas uma problemática: a EJA ou o tema das relações etnicorraciais
na educação.
9
Sobre a EJA nas propostas para o Plano Estadual de Educação de o Paulo elaboradas em
2003 ver Carvalho (2006).
10
LDB significa Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394/1996).
11
FUNDEF é a sigla de Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Valorização do Magistério.
22
Apesar da difícil opção pela escolha do tema, optei por aprofundar, no
trabalho de pesquisa desenvolvido no doutorado, o estudo das relações
etnicorraciais no processo educativo.
Não obstante a importância do debate sobre a questão etnicorracial no
processo de escolarização, existe uma resistência em se problematizar essa
temática na escola. Muitos profissionais da educação dizem não perceber na
escola conflitos ligados ao racismo, preconceito racial e discriminação racial,
silenciando sobre essas questões.
[...] A escola e os seus agentes, os profissionais da educação em
geral, têm demonstrado omissão quanto ao dever de respeitar a
diversidade racial e reconhecer com dignidade as crianças e a
juventude negra [...]
No cotidiano escolar, considerável parcela de profissionais da
educação diz não perceber os conflitos e as discriminações raciais
entre os próprios alunos e entre professores e alunos. Por esse
mesmo caminho, muitos também não compreendem em quais
momentos ocorrem atitudes e práticas discriminatórias e
preconceituosas que impedem a realização de uma educação anti-
discriminatória [...] (CAVALLEIRO, 2005a, p. 12-13).
Além disso, é comum entre esses profissionais a percepção de que discutir
esses temas poderia “trazer o racismo para dentro da escola”, num entendimento
de que a instituição escolar é imune às tensões e conflitos etnicorraciais presentes
na sociedade brasileira.
Nos programas de pós-graduação stricto sensu em Educação ainda é
reduzida a quantidade de pesquisas sobre as relações etnicorraciais. A partir de
meados da década de 1990, entretanto, é crescente o número de dissertações de
mestrado e teses de doutorado que vêm problematizando sobre tais questões,
23
desvelando as diferentes facetas da vitimação a que está submetida a população
negra nos sistemas educacionais:
As contribuições destas pesquisas estão no fato de denunciarem
vigorosamente os prejuízos a que a população negra está sujeita
dentro das instituições educacionais em todos os níveis, nas
relações inter-pessoais, recursos e práticas pedagógicas”
(RIBEIRO, 2005, p. 209).
Nesse sentido, a sistematização e análise dos trabalhos que discutem a
desigualdade racial, focando os currículos escolares da Educação Básica, pode
contribuir para problematizá-la e apontar possibilidades de mudanças. A discussão
aprofundada das pesquisas que enfoquem as relações etnicorraciais nos
currículos escolares pode trazer, também, subsídios para o debate sobre a
alteração do currículo hegemônico, no contexto da Lei Federal . 10.639/2003.
Essa lei tornou obrigatório o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira nos
estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares.
12
Objetivo
Este trabalho tem por objetivo sistematizar e analisar as principais questões
discutidas em teses de doutorado e dissertações de mestrado, que enfocaram as
relações etnicorraciais e o currículo escolar, desenvolvidas em programas de pós-
graduação stricto sensu em Educação, entre os anos de 1987-2006. Para a
seleção das produções acadêmicas que se tornaram objeto de nossa análise,
12
A Lei nº. 11.645, de 10/03/2008, altera a Lei n
o
9.394, de 20/12/1996, modificada pela Lei n
o
10.639, de 09/01/2003, para incluir no currículo oficial a obrigatoriedade da temática História e
cultura afro-brasileira e indígena.
24
utilizamos o Banco de Teses da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (CAPES).
Metodologia
O objetivo dessa pesquisa é sistematizar e analisar as temáticas abordadas
na produção discente, sob a forma de teses de doutorado e dissertações de
mestrado, realizada nos programas de pós-graduação em Educação a respeito
das relações etnicorraciais e o currículo escolar. Entendemos que uma abordagem
qualitativa do objeto deste estudo atende a esse objetivo
13
, na medida que
responde a questões particulares e permite focalizar um nível de realidade que
não pode ser apenas quantificado. Nessa abordagem o “objeto não é um dado
inerte e neutro; está possuído de significados e relações que sujeitos concretos
criam em suas ações” (CHIZZOTTI, 1991, p. 79).
Na abordagem qualitativa, os dados não são vistos como
[...] coisas isoladas, fixos, captados em um instante de
observação. Eles [os dados] se dão em um contexto fluente de
relações: são fenômenos que não se restringem às percepções
sensíveis e aparentes, mas se manifestam em uma complexidade
de oposições, de revelações e de ocultamentos. [Assim,] é preciso
ultrapassar sua aparência imediata para descobrir sua essência
(CHIZZOTTI, 1991, p. 84).
Referenciado por essa abordagem de pesquisa, realizamos a revisão
bibliográfica sobre o tema das relações etnicorraciais na Educação. Para isso,
iniciamos realizando a leitura de trabalhos de autores, como Munanga (1996a,
13
A abordagem dessa pesquisa é qualitativa, todavia utilizaremos dados quantitativos que podem
revelar aspectos significativos sobre a produção de conhecimento a respeito das relações
etnicorraciais.
25
2004a, 2004b); Gomes (2004, 2005, 2007); Gonçalves & Silva (2000, 2004),
Cavalleiro (2005a, 2005b); Pinto (1987, 1993) e Silva (2001). Utilizamos
dicionários específicos para temas da área, como o Dicionário das Relações
Étnicas e Raciais (CASHMORE, 2000), o Dicionário da Escravidão Negra
(MOURA, 2004), o Dicionário Escolar Afro-Brasileiro (LOPES, 2006). Tivemos o
apoio de algumas obras de referência como Mulheres Negras do Brasil
(SHUMAHER; BRAZIL, 2007); o verbete sobre educação na obra 100 Anos e mais
de Bibliografia sobre o Negro no Brasil (MUNANGA, 2003, p. 385-412) e a
Bibliografia Básica sobre Educações Raciais e Educação (MIRANDA; AGUIAR; DI
PIERRO, 2004).
Para termos um panorama da produção acadêmica sobre a temática,
recorremos ao Banco de Teses da Capes, pesquisamos os Núcleos de Estudos
Afro-Brasileiros (NEABs) nas instituições de ensino superior e os grupos de
pesquisa sobre as relações etnicorraciais cadastrados no Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Pesquisamos, ainda sobre o tema, nos Anais da Associação Brasileira de
Pesquisa e Pós-Graduação em Educação (ANPEd), particularmente no Grupo de
Trabalho 21 (GT21) Educação e Afro-brasileiros. Esse GT vem analisando a
relação entre população negra e educação desde 2001. Também realizamos a
leitura dos anais do e 5º Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros (IV e V
COPENE).
26
Buscamos, de modo a complementar a revisão bibliográfica sobre a
temática, leituras em revistas acadêmicas como a Revista Brasileira de Educação,
a Revista Brasileira de Ciências Sociais e Cadernos de Pesquisa. Para discutir,
especificamente, sobre a desigualdade da população negra em relação à
população branca, buscamos indicadores socioeconômicos produzidos pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA).
Por meio do trabalho de revisão bibliográfica, fomos compondo o nosso
entendimento acerca de termos e conceitos utilizados nos debates sobre as
relações etnicorraciais, tais como raça
14
, racismo, preconceito racial,
discriminação racial, população negra, ideologia de branqueamento
15
, mito da
democracia racial
16
e ações afirmativas
17
. Essa conceituação ofereceu elementos
14
Não usamos o termo raça no sentido biológico, visto que os estudos de genética constataram
que o existem raças humanas. Sua utilização é dotada de um sentido político, em suas
dimensões históricas e sociais, inserida nas relações de poder, dominação e exclusão e a partir
das características do racismo brasileiro. Embora seja inoperante do ponto de vista biológico e
que não tenha nenhuma fundamentação natural, persiste enquanto construção ideológica e política
no imaginário coletivo.
15
A ideologia de branqueamento se nutre das ideologias e doutrinas que pretendiam mostrar a
suposta superioridade da raça branca. A ideologia do branqueamento se efetiva quando ocorre a
internalização de uma imagem negativa de si [o negro] e uma imagem positiva do outro [o branco].
O indivíduo estigmatizado tende a se rejeitar, a não ter uma auto-estima positiva e tenta aproximar-
se do indivíduo que é visto positivamente (SILVA, 2005). Mas por que branquear? Segundo
Munanga (1996, p. 190), Para escapar das injustiças resultantes da hierarquização racial que
coloca o branco no topo e o negro na posição inferior da escala social”.
16
Nos anos 1930, vivemos o momento da idealização das relações etnicorraciais na sociedade
brasileira. Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, com a idéia da convivência racial harmônica
e de que as relações entre senhores e escravizados teriam sido mais amenas no Brasil, traz
consigo o mito da democracia racial. Este mito exalta a convivência harmoniosa entre as pessoas
de todas as camadas sociais e grupos raciais, dissimulando as desigualdades e encobrindo os
conflitos. Freyre desconsidera as relações assimétricas de poder entre os senhores e os
escravizados, no contexto em que surgiram os primeiros mestiços. A mistura, entretanto, não
resulta na democracia racial, fato demonstrado pelas desigualdades raciais e sociais e o mito
dificulta o processo de conscientização dos racialmente excluídos. (MUNANGA, 1996a) Freyre
ressaltava a docilidade da escravidão tendo uma imagem idílica desse período.
27
à compreensão das principais questões que estão sendo debatidas sobre as
desigualdades etnicorraciais na sociedade brasileira e como foram construídas
historicamente. Também procuramos compreender as lutas e reivindicações do
movimento negro por escolarização. Refletimos sobre as críticas ao currículo
hegemônico, as dificuldades de acesso e as menores possibilidades de
permanência nos sistemas escolares dos negros em todos os níveis e
modalidades de ensino.
Observamos que a atuação do movimento negro em relação à
escolarização não se restringiu às denúncias. Ao longo do século passado, as
entidades negras realizaram ações efetivas para contribuir com a escolarização
dos negros através da organização de escolas/salas de aula para as crianças e
adolescentes, cursos de alfabetização de jovens e adultos. Essas lutas, em certa
medida, influenciaram a implementação de políticas públicas a partir dos anos
1980. Isso vem ocorrendo, mais recentemente, através de leis municipais e
estaduais para inclusão da História e Cultura Afro-Brasileira nos currículos
escolares
18
e da alteração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
pela Lei Federal nº 10.639/2003, da implementação de ações afirmativas, na
17
Ações afirmativas são o conjunto de políticas públicas ou privadas, de caráter compulsório,
facultativo ou voluntário, idealizadas para combater a discriminação racial, de gênero e de origem
nacional, bem como para corrigir os efeitos da discriminação praticada no passado. Objetivam a
concretização do ideal de igualdade de acesso a benefícios como a educação e o emprego.
(PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 2005, p. 143).
18
Sobre a inclusão da História dos negros e dos africanos nos currículos escolares a partir de final
dos anos 1980, por meio de leis nos ensinos fundamental e médio nas redes estaduais e
municipais de ensino ver Santos (2005).
28
modalidade de cotas raciais em universidades brasileiras, e da discussão em torno
do Estatuto da Igualdade Racial
19
.
Inicialmente, tínhamos como objetivo discutir as principais temáticas
abordadas sobre as relações etnicorraciais na educação, focando a população
negra. Assim, realizamos o levantamento sobre a produção discente realizada nos
programas de pós-graduação em Educação
20
sobre as relações etnicorraciais e
educação no Banco de Teses da CAPES, entre 1987-2006.
O Banco de Teses da CAPES disponibiliza resumos, feitos pelos próprios
autores das teses e dissertações defendidas nos diferentes programas de pós-
graduação no Brasil, a partir do ano de 1987. Entretanto, não foi simplesmente
esse fato que nos levou à identificação das pesquisas a partir desse ano. Esse
período coincide com a atuação do movimento negro em debates importantes que
ocorriam na sociedade brasileira por ocasião do processo constituinte. Nesse
momento, diversos movimentos sociais e, dentre eles, o movimento negro,
lutavam para que suas reivindicações fossem atendidas na Carta Magna. Entre as
questões debatidas estavam as relativas à educação. As organizações negras
vinham realizando diversos eventos municipais e estaduais, a partir de meados
19
O Estatuto da Igualdade Racial, de autoria do Senador Paulo Paim (PT/RS), objetiva combater a
discriminação racial e as desigualdades raciais que atingem os afro-brasileiros, incluindo a
dimensão racial nas políticas públicas promovidas pelo Estado. Para tal prevê uma série de
medidas concretas, como: a instituição de cotas para a população afro-brasileira nos concursos
públicos e no ensino superior; a previsão de programas de ação afirmativa; o estabelecimento do
direito de livre exercício dos cultos e religiões de matriz africana; a regulamentação do direito à
propriedade definitiva das terras ocupadas pelos remanescentes das comunidades de quilombos; a
criação do Fundo Nacional de Promoção da Igualdade Racial, que vincula receitas orçamentárias
da União a fim de efetivar as diretrizes de políticas públicas previstas no Estatuto.
20
Apesar da produção acadêmica na área da educação dialogar com diferentes áreas do
conhecimento como, por exemplo, Sociologia, História, Antropologia, Psicologia, restringimo-nos
aos trabalhos defendidos nos programas de pós-graduação em Educação.
29
dos anos 1980, culminando com a Convenção “O negro e a Constituinte”. Essa
Convenção deu origem a um documento síntese das reivindicações dos encontros
regionais que ocorreram em vários estados.
O final dos anos 1980 marca também as discussões sobre o Centenário da
Abolição da Escravidão no Brasil (1988). Decorridos cem anos da abolição, os
negros brasileiros continuavam sendo os mais afetados pela desigualdade social e
econômica. Nesse cenário, diversas atividades ocorreram para desvelar o mito da
democracia racial e protestar contra as Comemorações Oficiais que, de modo
geral, exaltavam a pretensa harmonia racial brasileira.
Em outras palavras, o final dos anos 1980 representa uma inflexão no
debate sobre as relações raciais, passando de uma atuação mais marcada pela
denúncia, no início da década de 80, para proposição e ações concretas dirigidas
ao propósito de alterar a condição de marginalização dos negros.
O movimento negro passou, assim, praticamente a década de 80
inteira, envolvido com as questões da democratização do ensino.
Podemos dividir a década em duas fases. Na primeira, as
organizações se mobilizaram para denunciar o racismo e a
ideologia escolar dominante. Vários foram os alvos de ataque: livro
didático, currículo, formação de professores etc. Na segunda fase,
as entidades vão substituindo aos poucos a denúncia pela ão
concreta. Esta postura adentra a década de 90 (GONÇALVES;
SILVA, 2000, p. 155).
Consequentemente, faz sentido principiar o levantamento das pesquisas no
Banco de Teses da CAPES em 1987, lembrando que a pesquisa pode fornecer
elementos para a compreensão da produção acadêmica nessa área nos últimos
vinte anos.
30
Identificamos os trabalhos a partir das seguintes expressões e palavras-
chave: ações afirmativas, afrodescendentes, crítica ao currículo hegemônico,
currículo e relações raciais, discriminação racial, diversidade racial, etnia, História
da África, inclusão da História e cultura africana e dos negros brasileiros, Lei nº.
10.639/03, movimento negro, multiculturalismo, negritude, políticas afirmativas,
políticas compensatórias, política de cotas, população negra, preconceito racial,
Pré-Vestibulares para Negros e Carentes (PVNC), quilombos, raça negra,
racismo, relações raciais, religiosidade negra, representação dos negros nos
materiais didáticos e paradidáticos. Utilizamos essa variedade de expressões e
palavras-chave para obtermos uma quantidade maior de fontes de informação. No
momento em que começaram a ocorrer muitas repetições dos trabalhos
encontrados e uma pequena incidência de novas pesquisas, consideramos
adequado encerrar o processo de levantamento das pesquisas.
Selecionamos somente as pesquisas realizadas nos programas de pós-
graduação stricto sensu em Educação e, entre elas, os trabalhos em que o
objetivo central foi a associação entre as relações etnicorraciais, focando a
população negra.
Através desse levantamento, identificamos 187 pesquisas que discutem as
relações etnicorraciais na educação. Na leitura dos resumos, percebemos que
elas versam sobre diferentes aspectos: o acesso ao ensino superior através das
ações afirmativas, na modalidade cotas; pesquisas sobre os Pré-Vestibulares para
Negros e Carentes e sua relação com o ingresso no ensino superior, relacionadas
às discussões sobre ações afirmativas; os conhecimentos, valores e normas
31
veiculados nos currículos escolares a partir do referencial euro-ocidental
hegemônico considerado como legítimo e valioso; as relações interpessoais no
cotidiano escolar, fortemente marcadas por estereótipos
21
, pelo preconceito racial
e discriminação racial; reflexão sobre o processo de escolarização dos negros e
como isso interfere em sua trajetória de vida e na construção de sua identidade
etnicorracial; as práticas educativas realizadas pelas organizações da sociedade
civil, entidades do movimento negro, núcleos culturais da população negra e
práticas religiosas em Irmandades e em religiões de matriz africana, como o
Candomblé.
Devido à grande quantidade de pesquisas e à variedade de temas
abordados, delimitamos, para o nosso estudo mais detalhado, a análise das
investigações que discutem as relações etnicorraciais e os currículos escolares.
Optamos por trabalhar com currículos escolares por compreendermos que, por
meio deles, são concretizadas as funções da escola.
Além disso, a possibilidade de verificarmos como a produção discente vem
abordando os currículos escolares e sua relação com a população negra pode
oferecer elementos para o debate sobre o ensino da História e Cultura dos
africanos e dos negros brasileiros, no momento em que em vivenciamos a
implementação da Lei Federal nº. 10.639/03.
21
Segundo Silva (2003, p. 17), “Os estereótipos, ou seja, os clichês, as imagens cristalizadas ou
idealizadas de indivíduos ou grupos de indivíduos cumprem o papel social de produzir os
preconceitos, as opiniões e conceitos baseados em dados não comprováveis da realidade do
outro, colocando esse outro sob rejeição ou suspeita [...]”.
32
Definido o foco do trabalho, realizamos a revisão bibliográfica sobre
currículo a partir de uma perspectiva crítica, utilizando autores como Sacristán
(1999, 2000a, 2000b), Apple (1982), Giroux (1997) e McLaren (2000). O nosso
entendimento de currículo fundamentou a seleção e a análise das teses e
dissertações.
Focamos a nossa análise nos trabalhos que discutem essa temática
relacionada à educação básica realizada nos sistemas oficias de ensino do Brasil.
Ao enfocarmos a educação básica nos sistemas oficiais de ensino não
desconsideramos a importância das organizações negras em sua luta pela
promoção da igualdade etnicorracial, que realizam críticas e proposições às
relações etnicorraciais vigentes, além de desenvolverem práticas que visam a
contribuir com a escolarização da população negra. Entendemos esses espaços
como fundamentais na luta antirracista e para o repensar das relações
etnicorraciais nas instituições educacionais. Ao enfocarmos os sistemas oficiais
pretendemos justamente analisar como as críticas e proposições há décadas
dirigidas a essas instituições pelo movimento negro estão refletidas no currículo
que é realizado nas escolas.
Definido o foco desta pesquisa, selecionamos inicialmente 57 trabalhos
para serem lidos integralmente. Recuperamos 35 teses e dissertações e, dentre
estes, 6 foram retirados da relação, visto que a visualização sobre o trabalho
completo apontou que não se encaixavam nos critérios estabelecidos: discutir
sobre as relações etnicorraciais e os currículos escolares da educação básica nos
sistemas oficiais de ensino, tendo como foco a população negra. Dessa forma,
33
passamos a ter uma relação de 51 trabalhos sobre relações etnicorraciais nos
currículos escolares e conseguimos recuperar 29 pesquisas que foram lidas
integralmente.
Recuperamos, inicialmente, 10 trabalhos realizados na PUC/SP e na USP.
Em seguida, buscamos os trabalhos na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e
Dissertações (BDTD), e conseguimos ter acesso a 5 trabalhos de investigação.
Após isso, procuramos as pesquisas por meio da consulta às bibliotecas
digitais das universidades em que foram depositadas e recuperamos mais 2
trabalhos.
Buscamos, ainda, por via de consulta à Internet, uma forma de contato
direto com os pesquisadores para requerer suas investigações. Conseguimos o
endereço eletrônico de alguns pesquisadores e solicitamos o envio de seus
trabalhos. Como resultado, 6 pesquisadores encaminharam gentilmente seus
trabalhos. Outros responderam ao e-mail relatando a impossibilidade do envio de
suas pesquisas por não possuírem mais o arquivo eletrônico ou mesmo
apontando a dificuldade em algumas regiões do país de remetê-los pelo correio.
O último recurso utilizado para a recuperação das pesquisas foi através do
serviço de comutação entre bibliotecas com o acesso a 12 pesquisas. Algumas
bibliotecas não atendem ao pedido de comutação, só o solicitam, como a
Universidade Federal do Rio Grande do Norte e a Universidade Federal do Piauí.
Outras não puderam atender aos pedidos por motivo de férias, greve ou
impossibilidade funcional (empréstimo não devolvido, não localizado no acervo).
34
Ao final, obtivemos 29 teses e dissertações, ou seja, cerca de 57% do total
das pesquisas que pretendíamos analisar. Apesar de não termos obtido o acesso
a todas as pesquisas selecionadas para a leitura, acreditamos que o número de
trabalhos analisados é suficiente para oferecer um panorama importante das
principais questões discutidas sobre o tema investigado.
Com as obras em mãos, iniciamos o trabalho de leitura e análise, utilizando
como subsídio os referenciais da análise de conteúdo, por meio da análise
categorial (BARDIN, 2008). As categorias foram estabelecidas a partir do objetivo
das pesquisas analisadas e/ou de seu desenvolvimento e resultados.
Classificar elementos em categorias impõe a investigação do que
cada um deles tem em comum com outros. O que vai permitir o
seu agrupamento é a parte comum existente entre eles. É
possível, contudo, que outros critérios insistam noutros aspectos
de analogia, talvez modificando consideravelmente a repartição
anterior (BARDIN, 2008, p. 146).
Para a sistematização e análise das pesquisas, elaboramos um roteiro
inicial, a partir da leitura dos resumos, com itens que pareciam ser recorrentes nas
obras investigadas, entre os quais: a crítica aos currículos hegemônicos; o
tratamento dado à população negra nos livros didáticos; a possibilidade de
inclusão dos conteúdos relativos à História e Cultura dos negros brasileiros nos
currículos escolares; a veiculação de valores, normas, comportamentos e atitudes
preconceituosas e discriminatórias, por meio de práticas curriculares. Após a
análise de uma amostra das pesquisas, confirmamos que essas questões
realmente eram as mais recorrentes. Os itens que se seguem emergiram durante
a leitura e foram incorporados ao roteiro: debate sobre as desigualdades
35
etnicorraciais assimétricas na sociedade brasileira - com a problematização de
alguns termos e conceitos - e papel do movimento negro para alterá-las
22
.
Encerrada a leitura integral das teses e dissertações, realizamos uma
síntese do roteiro de cada uma das pesquisas para facilitar a sistematização e a
análise das principais questões discutidas nesses trabalhos. Durante o processo
de categorização, voltávamos às pesquisas para observar as nuances ou detalhes
que haviam passado desapercebidos. Após esse processo, dividimos as
pesquisas em quatro categorias a partir do principal foco de discussão do autor e
de seus resultados:
a) O negro nos livros didáticos
Esta categoria integra oito pesquisas, que discutem acerca do tratamento
da população negra nos livros didáticos. Incluímos o debate sobre esses materiais
na discussão do currículo e sua interface com as relações etnicorraciais, devido ao
entendimento de que os livros didáticos se constituem em instrumento importante
das práticas de ensino/aprendizagem e por serem um dos principais veículos de
transmissão dos conteúdos curriculares.
b) Relações etnicorraciais no currículo em ação
Esta categoria integra as três pesquisas que versam sobre as relações
etnicorraciais nas práticas curriculares desenvolvidas na realidade concreta das
22
O roteiro se encontra no Apêndice A.
36
instituições educacionais, problematizando a incompatibilidade entre o proposto e
o que realmente se efetiva.
c) Estereótipos, preconceito racial e discriminação racial no cotidiano
escolar
Agrega as sete pesquisas que discutem como a lógica eurocêntrica das
práticas curriculares que perpassam as relações interpessoais no cotidiano
escolar e como essas contribuem para a transmissão de comportamentos,
atitudes e valores preconceituosos e discriminatórios em relação à população
negra, gerando um falso sentimento de superioridade nos alunos brancos e de
inferioridade nos alunos negros.
d) O ensino da História e Cultura dos africanos e dos negros brasileiros
nos currículos escolares
Reúne onze pesquisas que problematizam as possibilidades de inclusão da
História e Cultura africana e dos negros brasileiros nos currículos escolares.
Existem outras possibilidades de análise dessas teses e dissertações, mas
focamos a nossa reflexão nas questões recorrentes levantadas pelos autores em
cada categoria, visto que podem revelar quais os avanços da discussão sobre
essa temática em um período de vinte anos e quais os desafios que são
apontados para pensarmos um currículo que contribua para uma educação
voltada para a igualdade etnicorracial.
37
No Capitulo 1, definimos o nosso entendimento de currículo em uma
perspectiva crítica. Utilizamos autores como Sacristán (1999, 2000a, 2000b),
Apple (1982) e Giroux (1997). Trabalhamos com a perspectiva do
multiculturalismo crítico e de resistência (McLaren, 2000) para debater o tema das
diferenças enquanto construções históricas e culturais, que não podem ser
entendidas senão quando inseridas no contexto da globalização excludente.
Problematizamos as relações etnicorraciais nos currículos hegemônicos da
educação básica.
O capítulo 2 discutirá sobre as 29 pesquisas analisadas no interior da
produção discente sobre as relações etnicorraciais, realizada nos programas de
pós-graduação em stricto sensu em Educação, entre 1987-2006. Iniciamos com a
apresentação dos dados referentes às 187 pesquisas que tinham como foco as
relações etnicorraciais e educação. Em seguida, trabalhamos com as 51
pesquisas selecionadas sobre as relações etnicorraciais nos currículos escolares.
Por fim, versamos sobre as 29 pesquisas analisadas, destacando os aspectos
comuns, como a utilização de alguns termos e conceitos, a crítica ao currículo
hegemônico e a atuação do movimento negro para alterá-lo.
No Capitulo 3, sistematizamos e analisamos as problemáticas abordadas
nas 29 pesquisas lidas sobre as relações etnicorraciais e currículos escolares por
intermédio das seguintes categorias: a) O negro nos livros didáticos; b)
Estereótipos, preconceito racial e discriminação racial no cotidiano escolar; c)
Relações etnicorraciais no currículo em ão e d) O ensino da História e Cultura
dos africanos e dos negros brasileiros nos currículos escolares.
38
O Capítulo 4 retoma as principais questões discutidas nas pesquisas
analisadas e como estas questões podem oferecer elementos para repensar a
lógica que estrutura as instituições educacionais.
39
1 - Relações etnicorraciais e currículos escolares
Neste capítulo, discutiremos as relações etnicorraciais nos currículos
escolares. Inicialmente, abordaremos os âmbitos que interferem na configuração
do currículo. Em seguida, problematizaremos as relações etnicorraciais nos
currículos hegemônicos da educação básica.
1.1 – Âmbitos que interferem na configuração do currículo escolar
O currículo escolar é uma prática social complexa, construída
historicamente, vinculada às relações sociais, políticas, econômicas e culturais. A
sua análise, por conseguinte, não se restringe às questões internas das
instituições educacionais, visto que as aprendizagens realizadas nesses espaços
não ocorrem no vazio.
O
contexto social, econômico, político e cultural que o currículo
representa, ou deixa de fazê-lo, deve ser o primeiro referencial em
relação a como analisar e avaliar um currículo. Esse é o primeiro
contexto prático externo para entender a realidade curricular: o
exercício de práticas políticas, econômicas e sociais que
determinam as decisões curriculares, não podendo se esquecer
que o currículo proposto para o ensino é fruto das opções tomadas
dentro dessa prática (SACRISTÁN, 2000b, p 129, grifos do autor).
Outras forças e condicionamentos do contexto externo interferem na
configuração dos currículos. As decisões administrativas sobre como realizar o
40
ensino, a elaboração de materiais didáticos, a atuação das famílias, a pressão dos
grupos acadêmicos para que sua especialização esteja contida na cultura escolar,
entre outras, são âmbitos que intervêm nos currículos que se realizam nas escolas
(SACRISTÁN, 2000b).
Os currículos elaborados para as instituições educacionais passam por
outras alterações ao se realizarem na realidade concreta da escola – os contextos
considerados internos. Os conteúdos do currículo elaborado, por exemplo, através
de prescrições são transformados nos contextos escolares concretos o contexto
de realização (SACRISTÁN, 2000b).
Compreender o currículo como construção social que preenche a
escolaridade de conteúdos e orientações leva à análise dos contextos concretos
que lhe dão forma e conteúdo, antes de adquirir concretude como experiência de
aprendizagem para os alunos. Para tornar nítida a realidade curricular é
necessário compreender os contextos que interagem com o currículo (contexto
didático, contexto psicossocial, contexto organizativo, contexto do sistema
educativo e contexto exterior). Sacristán (2000b, p. 129, grifos do autor) destaca
que “[...] para entender o currículo real é preciso esclarecer os âmbitos práticos
em que é elaborado e desenvolvido, pois, do contrário, estaríamos falando de um
objeto reificado à margem da realidade”.
O entendimento do currículo como uma práxis implica na compreensão de
que diversos tipos de ações interferem em sua configuração, adquirindo sentido
em um contexto real. Esse processo se imerso em determinadas condições
41
concretas, inseridas em um mundo de interações culturais e sociais, que são uma
construção social. Uma concepção processual de currículo entende o seu
significado e importância real como resultado dos diferentes âmbitos aos quais
está submetido. Para Sacristán, (2000b, p. 129, grifos do autor)
[...] o currículo é um âmbito de interação no qual se entrecruzam
processos, agentes e âmbitos diversos que, num verdadeiro e
complexo processo social, dão significado prático e real ao
mesmo. Somente no marco de todas essas interações podemos
chegar a captar seu valor real, daí que é imprescindível um
enfoque processual para entender a dinâmica que significado e
valores específicos a um currículo concreto [...]. Este não existe à
margem das circunstâncias contextuais que o moldam, o que se
pede é um marco conceitual apropriado que a razão de tal
realidade. O que é o currículo real na prática? O que resulta
dessas interações.
Desse modo, o currículo é um campo de atividade para diversos
agentes, com competências divididas em diferentes proporções, no qual as
decisões não acontecem linearmente concatenadas, tampouco são o resultado de
uma coerência ou expressam uma mesma racionalidade
,
como ressalta Sacristán
(2000b, p. 101-102, grifos do autor):
Os níveis nos quais se decide e configura o currículo não
guardam dependências estritas uns com os outros. São instâncias
que atuam convergentemente na definição da prática pedagógica
com poder distinto e através de mecanismos peculiares em cada
caso. Em geral, representam forças dispersas e até contraditórias
que criam um campo de ‘conflito natural’, como em qualquer outra
realidade social, abrindo, assim, perspectivas de mudança nas
próprias contradições que apresentam, opções alternativas,
situações frente às quais tomar partido, etc.
42
1.2 – Relações etnicorraciais e currículos escolares da educação básica
Como foi destacado, o currículo é uma prática social complexa e é importante
considerar os âmbitos que interferem na configuração curricular para entender
como expressam o que é considerado valioso para ser difundido pelas escolas
.
As instituições educacionais transmitem uma determinada cultura e a
cultura selecionada e veiculada nos currículos se relaciona com o contexto no qual
se situam ela própria e as instituições escolares. O currículo, de alguma maneira,
expressa o conflito de interesses e os valores dominantes que guiam a
escolarização.
A escola em geral, ou um determinado nível educativo ou tipo de
instituição, sob qualquer modelo de educação, adota uma posição
e uma orientação seletiva frente à cultura, que se concretiza,
precisamente, no currículo que transmite. O sistema educativo
serve a certos interesses concretos e eles se refletem no currículo
[...] (SACRISTÁN, 2000a, p. 17).
A educação escolar, como processo de formação e de socialização supõe a
transmissão de conhecimentos, atitudes, hábitos, valores veiculados pelos
currículos. Desta maneira, nem todos os elementos culturais são igualmente
desejáveis e percebidos como de mesmo valor. A transmissão cultural pressupõe
a ideia de uma permanência, mesmo que relativa, e a percepção do que é
considerado valioso.
A cultura, em nenhum lugar, configura-se uniforme e imutavelmente,
variando de uma sociedade a outra e de um grupo a outro em uma mesma
43
sociedade. Não se estabelece, do mesmo modo, a todas as pessoas, estando
sujeita às disputas de interpretação. Nesse sentido, a educação não transmite
jamais a cultura, entendida como um patrimônio simbólico unitário e
impreterivelmente coerente. Não pode também transmitir integralmente uma
cultura ou culturas. A escola transmite, no máximo, algo da cultura (FORQUIN,
1993). Em geral, os elementos culturais selecionados para integrarem os
currículos escolares se relacionam com os interesses dominantes em determinada
sociedade.
[...] a capacidade de um grupo tornar seu conhecimento em
“conhecimento para todos” está relacionada ao poder desse grupo
no campo de ão político e econômico mais amplo. Poder e
cultura, então, precisam ser vistos, não como entidades estáticas
sem conexão entre si, mas como atributos das relações
econômicas existentes numa sociedade. Estão dialeticamente
entrelaçados, de modo que poder e controle econômico estão
interligados com poder e controle cultural
23
(APPLE, 1982, p. 98-
99).
Dessa forma, emergem algumas questões: Que cultura selecionada é
essa? De quem é esse conhecimento considerado como válido para integrar os
currículos escolares, dentro de uma vasta gama de possibilidades?
[...] As questões que cercam o conhecimento que é realmente
transmitido nas escolas, que cercam o que se considera como
conhecimento socialmente legítimo, não são de pequena
importância para a tomada de consciência da posição cultural,
econômica e política da escola. [...] É preciso levar a sério as
questões acerca da tradição seletiva, como as seguintes: A quem
pertence esse conhecimento? Quem o selecionou? Por que é
organizado e transmitido dessa forma? E para esse grupo
determinado? O mero ato de formular essas questões não basta,
no entanto. É também necessário que se procure vincular essas
23
Apple atenta para o fato de que nem a cultura nem a consciência são mecanicamente
determinadas pela estrutura econômica. De acordo com Apple (1982, p.55), “Nem todos currículos
nem toda cultura são ”meros produtos” de simples forças econômicas”.
44
investigações e concepções diversas de poder social e econômico
e de ideologias. [...] (APPLE, 1982, p. 16-17).
A seleção que constitui o currículo escolar é o resultado de um processo
que reflete os interesses e concepções particulares dos grupos dominantes, ainda
que não de modo absoluto. O conhecimento corporificado no currículo é um
conhecimento escolhido e transmitido como se fosse universal. Dentro dessa
perspectiva, os currículos escolares não transmitem simplesmente o
conhecimento acumulado pela humanidade e têm sido predominantemente
masculino, heterossexual, branco, cristão, capitalista e eurocêntrico.
Os currículos escolares serão sempre seletivos culturalmente. Afinal, é
impossível que toda a cultura da humanidade seja inserida no tempo e espaço
previsto para a escolarização, mas os currículos podem ser menos parciais em um
processo que, trazendo à tona os conflitos e as contradições, os diferentes
referenciais culturais sejam discutidos. Não estamos querendo defender um
relativismo, mas problematizar as relações de poder que hierarquizam as
diferenças culturais.
A seleção de conteúdos para compor um currículo é inevitável,
mas não é inevitável que o seu processo de escolha seja tão
parcial e antidemocrático. Ampliar a discussão em sujeitos
envolvidos, em diversidade de culturas codificadas e não –, em
metodologias e formação dos educadores, assim como discutir /
re-discutir ampla e profundamente novos valores e objetivos para a
educação escolar, poderá lançar pedras fundamentais sobre
alicerces postos pela educação liberal
24
na direção da
24
Para a autora (2006, p. 315) “A construção de valores e o encaminhamento de ações que os
traduzem não são fruto de acaso, mas respostas concretas a determinados modelos emergentes
de vida. Neste sentido, os ideais da escola pública, universal, gratuita e obrigatória, assim como os
princípios do respeito às capacidades individuais, da igualdade de oportunidades e de direitos,
também individuais, acompanhados da negação dos privilégios hereditários, são respostas
45
construção de uma escola socialmente mais democrática.
(PONCE, 2006, p. 322)
Os conteúdos curriculares omitem e/ou distorcem a participação dos negros
na sociedade brasileira, mas a História cultural, econômica, política e social da
população negra não ocorreu à margem ou paralelamente à História cultural,
econômica, política e social da sociedade brasileira. Ela é História do Brasil.
Incorporar essa temática nos currículos escolares o pode se resumir à menção
do Dia 20 de Novembro como o Dia da Consciência Negra
25
ou a inserção de
algumas personalidades negras como Zumbi dos Palmares
26
, Luis Gama
27
ou
Luiza Mahin
28
, apesar de considerarmos um avanço essa inclusão. Implica
concretas à superação do mundo e da educação medievais e constituíram-se em pilares da
doutrina liberal, que foi elaborada, em sua origem, por pensadores ingleses e franceses no
contexto das lutas burguesas contra a aristocracia. Na esteira da nova organização capitalista
burguesa , constitui-se o direito à educação, que faz parte do ideário contemporâneo”.
25
Segundo Silveira (2003, p. 23), “A evocação do dia Vinte de Novembro como data negra foi
lançada nacionalmente em 1971 pelo Grupo Palmares, de Porto Alegre, Rio Grande do Sul”.
26
Comandante militar e chefe político do Quilombo dos Palmares. Nascido em Palmares, ainda
criança foi capturado em um dos ataques que o Quilombo sofreu. Levado ao distrito de Porto
Calvo, foi dado ao padre português Antônio Melo. Foi batizado, recebendo o nome de Francisco.
Ao completar quinze anos, fugiu para Palmares. Em 1680 assume o comando de Palmares.
Referência dos movimentos negros brasileiros, a data de sua morte, 20 de novembro (1695), foi
escolhida para ser o Dia Nacional da Consciência Negra. Em muitos municípios esse dia é
decretado feriado em comemoração à luta e resistência negra. (MOURA, 2004; MUNANGA;
GOMES, 2006)
27
Luiz Gama era filho de Luísa Mahin. Iniciou-se no estudo das leis e tornou-se rábula ou
provisionado (praticante de advocacia sem diploma). Como jornalista, passou a colaborar em
vários jornais abolicionistas, satíricos, literários e políticos como, por exemplo, O Diabo Coxo
(1864), Cabrião (1865), O Ipiranga (1867) e O Radical Paulistano (1868). Participou ativamente
das sociedades emancipadoras, na organização de sociedades secretas para fugas e ajuda
financeira a negros, além do auxílio na libertação nos tribunais de mais de 500 escravizados
foragidos. O pseudônimo Getulino foi utilizado em seu livro de versos Trovas Burlescas, publicado
em São Paulo, em 1856. Seus poemas estão vinculados à segunda geração do Romantismo.
Morreu em 1882. (MOURA, 2004; MUNANGA; GOMES, 2006)
28
Teve papel de destaque na Revolta dos Malês (1835) e na Sabinada (1837). Segundo Munanga
& Gomes (2006), o se sabe ao certo se veio da África, como escravizada, para a Bahia, ou se
nasceu em Salvador. Para Moura (2004) Luísa Mahin era africana livre. Dizia ter sido princesa
na África. Devido as suas atuações nos movimentos de escravizados, foi perseguida pelo Governo
da Província e foi para o Rio de Janeiro onde, ao que tudo indica, continuou com suas lutas. Como
46
repensar a própria lógica eurocêntrica que tem fundamentado a construção
curricular.
O eurocentrismo consiste em estabelecer como universalidade abstrata
humana, em geral, ocasiões da particularidade européia. A cultura, a civilização, a
filosofia, a subjetividade, etc., moderno-européias foram consideradas como a
cultura, a civilização, a filosofia, a subjetividade, etc. sem mais.
Grande parte dos ganhos da modernidade não foi criatividade
exclusiva do europeu, mas de uma contínua dialética de impacto e
contra-impacto, efeito e contra-efeito, da Europa - centro e sua
periferia, até no que poderíamos chamar de a própria constituição
da subjetividade moderna enquanto tal (DUSSEL, 2002, p. 69).
Dussel (2002) propõe dois paradigmas da modernidade:
a) o “paradigma eurocêntrico de modernidade”, que considera que a
Europa, partindo de uma superioridade intrínseca, se expande na Idade Moderna
sobre todas as outras culturas em decorrência de algum tipo de superioridade
(tecnológica, militar, política, econômica, religiosa, etc.) acumulada na Idade
Média.
b) O “paradigma mundial da modernidade”,
propõe que a Europa, sem ter uma superioridade própria (e se a
teve, em algum aspecto particular, não foi a causa da
modernidade), pelo descobrimento da Ameríndia em 1492 teve um
horizonte geopolítico, econômico, político e cultural que lhe deu
uma vantagem comparativa (especificamente sobre o mundo
otomano-muçulmano e chinês), a partir de onde acumulou, durante
os séculos XVI e XVII, potencial suficiente para superar, a partir do
século XVIII, agora sim, as altas culturas asiáticas. É uma miragem
relatam alguns historiadores, foi deportada para o continente africano. Foi mãe do grande tribuno e
abolicionista Luís Gama. (MOURA, 2004; MUNANGA; GOMES, 2006)
47
eurocêntrica antecipar” para a Idade Média européia a evidente
superioridade (especialmente tecnológica) européia sobre as
outras culturas periféricas conseguida no século XVIII. A Europa
certamente teve superioridade sobre a Ameríndia no século XV
(mas não sobre o mundo otomano-muçulmano, a Índia e,
sobretudo, a China) (DUSSEL, 2002, p. 635).
O paradigma eurocêntrico é o que se estabeleceu, não apenas na Europa
ou nos Estados Unidos, mas em todo o mundo intelectual. A divisão da História
em Idade Antiga (como o antecedente), Idade Média (época preparatória) e Idade
Moderna (Europa) é uma ordenação ideológica e deformada da História. Numa
perspectiva eurocêntrica e helenocêntrica, a História se inicia a partir da Grécia
clássica. Mas, de acordo com Dussel (2002, p. 26),
[...] o conhecido como Grécia clássica era, no IV milênio aC, um
mundo bárbaro, periférico, colonial e meramente ocidental com
respeito ao oriente Mediterrâneo, que, do Nilo até o Tigre,
constituía o “sistema” civilizatório nuclear dessa região de união
entre a África e Ásia.
A hegemonia do paradigma eurocêntrico se reflete nas instituições
educacionais por meio de seus currículos. A cultura dominante é percebida como
a cultura considerada como válida para a transmissão cultural, sendo
continuamente legitimada e reafirmada pelos currículos escolares. Eles veiculam
conhecimentos, valores, normas, atitudes, como se fossem neutros. Os sistemas
escolares, da maneira como estão organizados e estruturados (tempos, espaços,
disciplinas), assim como seus currículos, são produções históricas, quer dizer,
resultado de disputas e lutas para que se estabelecessem desta maneira:
É preciso não perder de vista o seu caráter de construção
histórica, com suas virtudes e vícios, para reafirmá-lo em sua
importância no processo de emancipação humana. Deixá-lo
consolidar-se de modo simplista na mentalidade do mundo atual
leva ao risco de compreendê-lo abstrata e naturalmente, como se
48
sempre houvesse existido e como se não precisasse ser re-
pensado para ser consolidado e transformado (PONCE, 2006, p.
316).
A preponderância do referencial eurocêntrico e a população branca
percebida como o padrão de normalidade nas instituições educacionais
transparece como se fosse a única forma possível de construção da realidade,
encobrindo os conflitos para que esse referencial se tornasse e permanecesse
hegemônico. Nesse sentido, uma educação para as relações etnicorraciais: ela
é baseada no pressuposto de que a população branca é o referencial valioso a ser
seguido.
[...] Pois, se os “fatos” do mundo baseiam-se mesmo em nossas
teorias deles, então o mundo que as pessoas vêem, os
significados econômicos e culturais que elas lhes atribuem, serão
definidos de modo a se autojustificarem. Atribuem-se os
significados à forma como o mundo “realmente é”, também se
legitimam os interesses econômicos e culturais que determinam
por que é dessa forma. A função ideológica é circular.
Conhecimento e poder mais uma vez se acham íntima e sutilmente
ligados através dos fundamentos de nosso senso comum, através
da hegemonia (APPLE, 1982, p. 155).
Diante disso, a análise das relações etnicorraciais nos currículos escolares
não pode desconsiderar a desigualdade política, econômica e social
29
da
população negra em relação à população branca na sociedade brasileira e que
tais desigualdades são, em certa medida, legitimadas como naturais e reafirmadas
constantemente por meio dos currículos escolares.
As discussões sobre as relações etnicorraciais assimétricas nos currículos
escolares precisam levar em consideração as relações entre sociedade e escola,
29
A esse respeito, ver Paixão (2003) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(2005).
49
que esta se estrutura a partir dos valores dominantes. Nesta perspectiva, este
debate não pode ser separado do cenário da globalização excludente, mas
entendido a partir de um contexto que vitima grande parte da população mundial.
Nesta conjuntura, as pessoas negras têm sido duplamente vitimadas. As
diferenças etnicorraciais, estratificadas pelas relações de poder, configuram-se em
desigualdades e não podem ser pensadas desconectadas das relações
sociopolíticas e econômicas mais amplas.
Vivemos em um mundo que está cada dia mais enredado em uma
lógica globalizada e, paradoxalmente, está menos aberto a pensar-
se inserido em totalidades históricas, mais afeito a pensar-se
sempre parcial e microscopicamente, mais disposto a acolher
pequenas e segmentadas mudanças e a criticar apenas os micro-
poderes, com isso omitindo-se, em muitos momentos, em relação
aos poderes globais e ao poderio do capital internacional, que
oprime a maioria da população (PONCE, 2006, p. 324, grifos do
autor).
Neste contexto, a exclusão ou opressão não é uma mera disfunção do
sistema (sistema/mundo, do qual ninguém está fora, cujo centro é constituído
pelos países do Norte - Europa Ocidental, Estados Unidos e Japão a China e a
Rússia, que mantêm uma posição especial; o restante é a periferia). A exclusão e
a opressão são geradas por esse sistema que impede a produção, reprodução e
desenvolvimento da vida humana das vítimas. Vida humana entendida não como
um conceito, uma ideia, um horizonte ontológico abstrato ou concreto, mas
compreendida em seu nível histórico-cultural, físico-biológico, ético-estético e até
mítico-espiritual, sempre num âmbito comunitário. Não é um “modo de ser”. A
vida humana é um “modo de realidade”, é a vida concreta, real de cada ser, a
partir do qual se encara a realidade (DUSSEL, 2002).
50
Esse sistema impede a produção, reprodução e desenvolvimento da vida
humana de cada sujeito ético. Produção da vida humana entendida nos níveis
vegetativo ou físico, material e contendo as funções superiores da mente como,
por exemplo, consciência, autoconsciência, funções linguísticas, valorativas, entre
outras enquanto processo inicial e continuado ao longo do tempo, pelas
instituições, na reprodução. A reprodução da vida humana nas instituições e nos
valores culturais. O desenvolvimento dessa vida humana inserida nas instituições
ou culturas reprodutivo-históricas da humanidade; em uma ética crítica, a simples
reprodução de um sistema de eticidade que impede seu desenvolvimento impõe
um processo de transformação
30
ou crítico libertador. Assim produção, reprodução
e desenvolvimento da vida humana do sujeito ético não significam apenas o
vegetativo ou animal, mas também as funções superiores da mente e o
desenvolvimento da vida e da cultura humana. (DUSSEL, 2002). Segundo o autor
(2002, p. 314-315),
O projeto utópico do sistema-mundo vigente que se globaliza
(econômico, político, erótico, etc.) se descobre (à luz de suas
próprias pretensões de liberdade, igualdade, riqueza e propriedade
para todos, e de outros mitos e símbolos...) em contradição
consigo mesmo, que a maioria de seus possíveis participantes
afetados se encontram privados de cumprir com as necessidades
que o próprio sistema proclamou como direitos.
Assim, a impossibilidade de subsumir as populações, as economias, as
culturas excluídas. Para Dussel (2002, p. 15), “O juízo dominante da opinião
pública filosófica vigente sustenta que a ‘libertação’ deveria deixar lugar para
30
Para Dussel (2002, p. 539) transformar é [...] mudar o rumo de uma intenção, o conteúdo de
uma norma: modificar uma ão ou instituição possíveis e até um sistema de eticidade completo,
em vistas dos critérios e princípios éticos enunciados; no próprio processo estratégico e tático”
51
ações funcionais, reformistas, possibilistas”. Entretanto, a miséria da maioria exige
a necessária libertação da exclusão.
É por entre as fissuras do poder dominante que a ‘força’ da
comunidade libertadora, aparentemente sempre mais fraca, deve
‘calcular’ instrumental e estrategicamente suas possibilidades de
movimento. Nem tudo está perdido. Estaria perdido se o oponente
fosse um demiurgo eterno sem contradições. Se é finito, histórico
e humano, a libertação é possível, factível, mas será preciso
esperar ou criar as condições [...] (DUSSEL, 2002, p. 562)
Na América Latina, África, Ásia e Europa Oriental e, crescentemente, nos
países centrais do capitalismo, a ordem política perde a legitimidade
31
quando a
miséria da maioria se torna intolerável, como aponta Dussel (2002, p. 65):
O problema que se descobre é o esgotamento de um sistema
civilizatório que chega a seu fim. A superação da razão cínico-
gerencial (administrativa mundial) do capitalismo (como sistema
econômico), do liberalismo (como sistema político), do
eurocentrismo (como ideologia), do machismo (na erótica), do
predomínio da raça branca (no racismo), da destruição da
natureza (na ecologia), etc., supõe a libertação de diversos tipos
de vítimas oprimidas e/ou excluídas.
Com a globalização excludente do capitalismo mundial, a maioria da
humanidade é vítima da exclusão, estando submersa na “dor”, “infelicidade”,
“pobreza”, “fome”, “analfabetismo”. Vítima é uma pessoa real, concreta; é um
vivente humano que tem exigências próprias não cumpridas na reprodução da
vida no sistema. “Vítimas são os que sofrem as imperfeições, os erros, as
31
Segundo Dussel (2002, p, 551, grifos do autor), legitimidade definida “[...] num sentido primário e
básico como a autovalidação comunitária que se outorga a uma ordem política (ou a outros
sistemas práticos), a partir da capacidade empírica da dita ordem a) de reprodução e
desenvolvimento da vida dos sujeitos (o material) e b) de participação intersubjetiva simétrica na
tomada de decisões dos afetados (o formal), sendo tudo isso possibilitado c) por mediações
instrumentais eficazes (a factibilidade), o que como resultado cria um consenso fundamental de
aceitação da indicada ordem política (ou outras)”.
52
exclusões, as dominações, as injustiças, etc. das instituições empíricas não
perfeitas, finitas, dos sistemas existentes” (DUSSEL, 2002, p. 373).
Mas, quais grupos são vítimas excluídas do sistema? Quem são aqueles
que têm a sua vida negada? Por que são vítimas e em que circunstâncias
concretas são vítimas? De acordo com Dussel (2002, p. 374), “detectar
empiricamente uma vítima é constatar negatividades’: pobreza, fome,
traumatismos, dor, patologias e muitas outras dimensões da negatividade”. No
contexto da globalização excludente são vítimas as mulheres, as raças não-
brancas, as gerações futuras que sofrerão a destruição ecológica, os velhos sem
destino na sociedade de consumo, as crianças abandonadas, os imigrantes
estrangeiros refugiados, entre outros.
Dessa maneira, criticar a vitimação da população negra nos currículos
escolares e propor novas possibilidades não é tarefa simples, visto que as
instituições educacionais são moldadas pelos interesses dominantes atribuídos à
escolarização, mas, reciprocamente, molda e distribui conhecimentos culturais
vistos como válidos para a sociedade como um todo. De acordo com Sacristán
(2000a, p. 30),
Se o conteúdo cultural é a condição lógica do ensino, é muito
importante analisar como esse projeto de cultura escolarizada se
concretiza nas condições escolares. A realidade cultural de um
país, sobretudo para os mais desfavorecidos, cuja principal
oportunidade cultural é a escolarização obrigatória, tem muito a ver
com a significação dos conteúdos e dos usos dos currículos
escolares.
53
Os conteúdos curriculares, veiculados particularmente pelos livros
didáticos
32
, tratam a História e Cultura dos africanos e dos negros brasileiros como
se essas questões o fossem válidas para integrarem os currículos escolares. A
importância que esses materiais assumem na transmissão dos conhecimentos
escolares não pode ser desprezada. Segundo Silva (2003, p. 19),
O livro didático ainda é nos dias atuais um dos materiais
pedagógicos mais utilizados pelos professores, principalmente nas
escolas públicas onde, na maioria das vezes, esse livro constitui-
se na única fonte de leitura para os alunos oriundos das classes
populares. Também para o professor dessas escolas, onde os
materiais pedagógicos são escassos e as salas repletas de alunos,
o livro didático talvez seja um material que supre as suas
dificuldades pedagógicas.
De acordo com Sacristán (2000a), a prescrição curricular tem importância
para o estabelecimento e definição das grandes opções pedagógicas, “[...] regula
o campo de ão e tem como conseqüência o plano de um esquema de
socialização profissional através da criação de mecanismos de alcance
prolongado, mas é pouco operativa para orientar a prática concreta e cotidiana
dos professores. [...]” (p. 148). Para o autor, mesmo que o professor possua
margens de autonomia na configuração do currículo que será praticado na
realidade concreta das salas de aula, vários fatores intervêm para que, na
realização do trabalho docente, o professor necessite de elaborações mais
concretas e precisas dos currículos prescritos, como os materiais didáticos:
32
A respeito da relação do mercado editorial e a produção dos livros didáticos no Brasil, bem como
sobre a articulação do sistema privado de produção editorial e o Estado são expressivos os dados
apresentados por Silva (2008, p. 108-109): “Entre 1994 e 2002, os livros didáticos [...],
corresponderam, em média, a 60% do total de vendas do mercado editorial brasileiro.
O Governo Federal/GF, via PNLD, constitui um comprador de escol da principal fatia do
mercado livreiro sendo responsável por alto percentual de compras no período (entre 22% e 51%)”.
54
a) A complexidade da prática pedagógica, que precisa lidar com diversos
conteúdos e atividades, com um currículo escolar que precisa atender
várias necessidades de ordem social e cultural;
b) Os elementos da competência profissional dos professores integram a
posse de conhecimentos e habilidades muito diversos e ao planejar sua
prática
por condicionamentos pessoais e de formação, assim como pelas
limitações dentre as quais trabalha, não pode partir em todos os
momentos da consideração de todos esse princípios e saberes
dispersos que derivam de variados âmbitos de criação cultural e
de pesquisa, elaborando ele mesmo o currículo desde zero
(SACRISTÁN, 2000a,
p. 148).
c) a formação docente habitualmente não é a mais adequada para que
possa autonomamente abordar o plano de sua própria prática. [...] Com
certeza porque tecnicamente não esteja bem estruturada e desenvolvida,
mas talvez também porque se parta do pressuposto de que tal
competência possa ser substituída por outros meios [...]” (SACRISTÁN,
2000a, p. 148);
d) as condições da realização do trabalho docente geralmente não são as
mais apropriadas para a realização de sua iniciativa profissional como, por
exemplo, o grande número de alunos a serem atendidos e a burocracia,
que são ações que se fazem presentes junto às tarefas de ensinar e
planejar a própria prática.
55
Por todas essas razões, que são circunstanciais e, portanto,
mutantes e melhoráveis, não está ao alcance das possibilidades
de todos os professores planejar sua prática curricular partindo de
orientações muito gerais. As condições atuais da realidade
impõem aos professores acudir a pré-elaborações do currículo
para seu ensino, que se podem achar na tradição profissional
acumulada e nos agentes externos que lhes ofereçam o currículo
elaborado [...] esta é a função capital que os meios didáticos
cumprem, mas, sobretudo, os guias didáticos e os livros-textos,
que são autênticos responsáveis da aproximação das prescrições
curriculares aos professores (SACRISTÁN, 2000a, p. 149, grifos
do autor).
A utilização desses recursos, como o livro didático, se configura em um dos
principais elementos definidores da prática curricular e precisa ser considerada
para a reflexão sobre os currículos que se concretizam nas instituições
educacionais da educação básica.
Nesta conjuntura, é necessário considerar os livros didáticos na reflexão
sobre como ocorrem as relações etnicorraciais nos currículos escolares. A esse
respeito, Sant’Ana (2005), partindo da análise dos dados obtidos por
pesquisadores sobre o racismo presente no ideário veiculado nos livros didáticos,
pontua questões consideradas preconceituosas, que são recorrentes nesses
materiais como, por exemplo: nos textos que discutem a formação étnica
brasileira, são destacadas a população negra e a indígena. Em muitos casos o
branco não é mencionado, pois já é pressuposto; os negros e índios são
mencionados no passado como se eles não existissem; os textos acabam por
induzir as crianças a pensarem que os brancos são mais bonitos e inteligentes
que os negros; os textos de História e Estudos Sociais se limitam a fazer
referência sobre as contribuições tradicionais dos povos africanos.
56
Os materiais didáticos e paradidáticos utilizados em sala de aula
geralmente apresentam pessoas brancas como referência positiva, revelando-se
(tais materiais) como mecanismos do processo discriminatório no cotidiano
escolar.
[...] Quase sem exceção, os negros aparecem nesses materiais
apenas para ilustrar o período escravista do Brasil-Colônia ou,
então, para ilustrar situações de subserviência ou de desprestígio
social. A utilização de recursos pedagógicos com esse caráter
remonta a um processo de socialização racista, marcadamente
branco - eurocêntrico e etnocêntrico, que historicamente enaltece
imagens de indivíduos brancos, do continente europeu e
estadunidense como referências positivas em detrimento dos
negros e do continente africano (CAVALLEIRO, 2005a, p. 13).
A recorrente associação da população negra ao período da escravidão e a
uma suposta subserviência induz à naturalização de uma falsa subalternidade do
povo negro. A respeito da constante alusão à escravidão dos negros brasileiros
nos currículos escolares, é interessante mencionar a resposta a uma das questões
realizadas na consulta sobre a igualdade etnicorracial, realizada em 15 escolas
municipais de três capitais, São Paulo, Salvador e Belo Horizonte,
33
em torno da
pergunta central: “Quais são as possibilidades e os desafios que os espaços
escolares oferecem para acolher a implementação da Lei 10.639/03?” (SOUZA;
CROSO, 2007, p. 23).
33
A consulta foi realizada entre agosto de 2005 e julho de 2006. Segundo Souza e Croso (2007, p.
26), em cada escola foram ouvidos os seguintes sujeitos: “alunos das séries finais do ensino
fundamental (4º e séries), bem como do último ano da educação infantil; professores de séries
iniciais (educação infantil e série) e professores de português, história, geografia e artes (8º
serie); funcionários de: secretaria, limpeza, portaria, alimentação e biblioteca; coordenadores
pedagógicos; diretores; pais, mães e responsáveis.”
57
Nesta consulta, perguntou-se, aos alunos da 4º e 8º séries, quais são os
conteúdos de História e Cultura africana e dos negros brasileiros aprendidos na
escola. A temática da escravidão dos africanos foi a resposta mais recorrente.
Quando perguntados sobre o que gostariam de aprender, a escravidão passa a
ser o terceiro tema mais mencionado, indicando que os conhecimentos nas
instituições educacionais ainda focalizam esse aspecto.
Apesar das fortes críticas formuladas pelo movimento negro sobre a
representação da população negra presente nos livros didáticos e das avaliações
realizadas sistematicamente pelo Ministério da Educação (MEC) nesses materiais
desde 1996
34
, visões preconceituosas sobre a população negra permanecem
sendo veiculadas. Segundo Cavalleiro (2005b, p. 100),
Essa avaliação pedagógica, embora tente contribuir para a
diminuição da presença de muitos preconceitos e estereótipos nos
livros didáticos, ainda não garantiu a mesma proporção entre
imagens/personagens de negros e brancos nos novos livros.
Mesmo com esse processo de avaliação, é possível notar que os
brancos ainda representam a grande maioria das ilustrações. [...]
Nesse caminhar, percebe-se que no cotidiano escolar as crianças
não estabelecem contato com um material didático que apresente
a diversidade racial e, principalmente, mostre essa diversidade de
modo positivo, participativo e significativo na sociedade brasileira.
Na mesma direção, Silva (2008, p. 199, grifos do autor), a partir da análise
de livros didáticos de Língua Portuguesa, considera que eles continuam
produzindo e veiculando o discurso racista.
34
O Ministério desaconselha a utilização de livros com erros conceituais, indução a erros,
incorreção e insuficiência metodológica, desatualizados, com preconceitos ou discriminações,
exercícios sem sentido, abordagens desconexas, experimentos que colocam em risco a
integridade física dos alunos, características antieducativas.
58
[...] Os livros didáticos de Língua Portuguesa apresentaram
modificações após o início do ciclo de avaliações do Programa
Nacional do Livro Didático/PNLD
35
, mas continuam produzindo e
veiculando discurso que universaliza a condição do branco,
tratando-o como representante da espécie, naturaliza a
dominação branca e estigmatiza o personagem negro, situando-o
como out-group, mantendo-o circunscrito a determinadas
temáticas e espaços sociais.
A preponderância do paradigma eurocêntrico se reflete nas imagens e
representações nos currículos escolares sobre o continente africano. De acordo
com Munanga (2006, p. 6),
A África que nós conhecemos é a do Tarzan, Simba Safári, AIDS,
fome, guerras, das tribos. Será que a África é só isso? Já viu
algum livro didático mostrar [...] que as maiores civilizações se
desenvolveram lá, que a civilização egípcia era negra? Nunca se
viu na historiografia oficial, nos livros didáticos, os impérios e
reinos africanos. A África é simplesmente tida como tribo [...].
Este aspecto também é ressaltado por Santos (2007, p. 17):
[...] a associação constante (e, quase que exclusiva) da imagem
da África à pobreza e tragédias também funciona como uma
estratégia de inculcação de subjetividades que naturalizam a
condição subalterna dos negros no Brasil, como extensão da
condição africana. Compreender as raízes históricas da situação
atual das múltiplas realidades do continente africano nos auxilia
não somente a desmistificar e desvelar esta associação, mas
também a rever leituras da história e da realidade brasileira.
A perspectiva eurocêntrica que vem alicerçando os currículos escolares
também está presente nas relações interpessoais no cotidiano escolar que difunde
normas, valores, comportamentos e atitudes preconceituosos e discriminatórios
em relação à população negra, interferindo negativamente em seu
desenvolvimento intelectual durante sua trajetória educacional. Essas ações
35
PNLD é o Programa Nacional do Livro Didático.
59
incorporam-se na aprendizagem dos educandos sendo, portanto, integrantes dos
currículos escolares.
Considerar que o ensino se reduz ao que os programas oficiais ou
os próprios professores/as dizem que querem transmitir é uma
ingenuidade. Uma coisa é o que dizem que ensinam e outra
diferente é o que os alunos/as aprendem. Em qual dos três
espelhos encontramos uma imagem mais precisa do que é a
realidade? Os três trazem algo, mas algumas imagens são mais
fictícias do que outras. O resultado que obtenhamos das duas
primeiras imagens – o que se diz que se ensina – forma o currículo
manifesto. Mas a experiência de aprendizagem do aluno/a nem se
reduz, nem se ajusta, à soma de ambas as versões. Ao lado do
currículo que se diz estar desenvolvendo, expressando ideais e
intenções, existe outro que funciona subterraneamente, que se
denomina oculto. Na experiência prática que os alunos/as têm se
misturam ou interagem ambos; é nessa experiência que
encontraremos o currículo real (SACRISTÁN, 2000b, p. 131-132).
As tensões e conflitos que emergem das relações interpessoais nas escolas
podem ser exemplificados por alguns resultados de uma pesquisa realizada com
turmas de três escolas públicas do Ciclo I do ensino fundamental do Município de
São Paulo. Segundo Cavalleiro (2005b), a pesquisa objetivou caracterizar e
analisar as principais formas de racismo, discriminação racial e pluralismo cultural
existentes nas práticas educativas e no cotidiano dessas escolas
36
. Inicialmente, é
interessante destacar a negação do racismo nas falas dos profissionais dessas
escolas, como pode ser notado a seguir:
36
O texto apresenta a análise e avaliação da observação do cotidiano escolar em relação às
relações interpessoais entre os profissionais dessas escolas; as estabelecidas entre esses e as
crianças e as relações das crianças entre si
Segundo a autora (2005b, p.71), “A análise e a avaliação aqui apresentadas resultam da
observação do cotidiano escolar no que se refere às relações interpessoais (a) entre os
profissionais que trabalham nas três escolas pesquisadas e (b) as estabelecidas entre esses e as
crianças e (c) as das crianças entre si, tendo em vista os aspectos relacionais do pertencimento
racial. Referem-se também à avaliação de dados coletados durante a observação da utilização
espacial e dos materiais didáticos e paradidáticos como fotos, cartazes, anúncios presentes na
escola. Some-se a isso, a leitura das entrevistas realizadas com os profissionais da educação das
escolas pesquisadas professores, coordenadores pedagógicos, diretores e operacionais; alunos
e alunas; e seus familiares – pai e mãe”.
60
Olha, para ser sincera, na sala de aula, eles se dão bem. Você
entra na sala de aula e que tem preto com branco, japonês,
tudo sentadinhos juntos (sic), dando risada, conversando,
brincando, rodando pião. No recreio, tudo bem. Então nessa
escola não! Pode até acontecer em outras escolas, que têm
pessoas mais da periferia. Ai o nível dos alunos que frequentam
essa escola é bom. Entendeu? Mas, outras escolas.... A gente não
sabe, não é?! De crianças que são mais próximas da favela, esse
tipo de coisa. Porque aqui não tem crianças de favela. (Suzana,
inspetora de alunos, negra, escola B) (CAVALLEIRO, 2005b, p.
72).
Entretanto, a autora aponta que, conforme a pesquisa se desenvolve,
emergem evidências de conflitos cotidianos materializados em atos de indisciplina,
provocações, ofensas verbais e agressões físicas.
Também aparecem referências aos negros, têm aparecido. Gordo,
negro, negrinho, aconteceu. Eu estando aqui aconteceu.
[Quais desses você acha que tem mais frequência?] Contra o
negro” (Vivian, coordenadora pedagógica, branca, escola C)
(CAVALLEIRO, 2005b, p. 73).
Simultaneamente se percebe o menosprezo na discussão de tais situações:
“Aparecem aquelas coisinhas corriqueiras, que acontecem em sala
de aula. É muito raro acontecer. A gente tenta contornar. Mas, às
vezes, no pátio ficam chamando de cabelo de ‘Bombril’:
Professora, me chamou de não sei o quê...”(Celina, professora,
branca, escola B) [...]
[Já houve casos de xingamento com base na cor da pele da
criança?] Sim, mas são leves, coisinhas bobas de criança. eles
passam a se entrosar. Mas é difícil, porque normalmente eles
moram perto...(Laís, professora, negra, escola A) (CAVALLEIRO,
2005b, p. 74)
Essas falas explicitam o despreparo dos profissionais da escola em lidar
com essas situações, que são dificultadas quando associadas a outras formas de
discriminação, como as de gênero e de classe social, resultando em práticas
semelhantes para tratar de situações diferentes. Segundo Cavalleiro (2005b, p.
82),
61
A maioria dos profissionais de educação não teve a oportunidade
de realizar, de maneira sistemática, leituras a respeito das
dinâmicas das relações raciais e do combate ao racismo na
sociedade brasileira. Nessa trajetória, acabam por trazer, em suas
falas e práticas, referenciais do senso comum sobre as
desigualdades entre negros e brancos na sociedade brasileira.
Segundo a autora (2005a), há fatores que favorecem a
interiorização/cristalização de ideias preconceituosas e atitudes discriminatórias
contra os(as) estudantes negros(as). Ironias, apelidos, dissimulações,
xingamentos que consolidam a perpetuação de preconceitos e discriminações
raciais latentes são constantemente uma prática de retirada da humanidade dos
negros, numa tentativa de transformá-los em animais ou coisas.
Dessa forma, o racismo, o preconceito racial e a discriminação racial no
Brasil e, particularmente, no sistema educacional, acarretam nas pessoas negras
:
[...] auto-rejeição, desenvolvimento de baixa auto-estima com
ausência de reconhecimento de capacidade pessoal; rejeição ao
seu outro igual racialmente; timidez, pouca ou nenhuma
participação em sala de aula; ausência de reconhecimento positivo
de seu pertencimento racial; dificuldades no processo de
aprendizagem; recusa em ir à escola e, conseqüentemente,
evasão escolar. Para o aluno branco, ao contrário acarretam: a
cristalização de um sentimento irreal de superioridade,
proporcionando a criação de um círculo vicioso que reforça a
discriminação racial no cotidiano escolar, bem como em outros
espaços da esfera pública (CAVALLEIRO, 2005a, p. 12).
A maneira como essas relações etnicorraciais estabelecidas na escola
interferem no processo de construção da identidade etnicorracial nos negros e
brancos é evidenciada pelas falas dos estudantes, que são permeadas de
estereótipos, preconceitos e discriminações, como segue:
Gostaria de ser branquinha do cabelo escuro, por causa da minha
pele eu suo muito. Porque também queria ser da cor da minha
62
mãe [...] [Você gostaria que seus pais fossem diferentes?]
Gostaria, que o meu pai fosse branco como minha ire com o
cabelo escuro, a minha mãe, branca com o cabelo vermelho.
(Regina, 9 anos, negra, escola B) (CAVALLEIRO, 2005b, p. 89)
Eu sou marrom claro. [Você gosta de ser assim?] Gosto, eu sou
assim não pode mudar. [E se pudesse?] Seria branco claro de
olhos pretos. [Por quê?] Porque eu gosto. (Josias, 10 anos, negro,
escola A). (CAVALLEIRO, 2005b, p. 89)
[Você tem amigos negros?] Não. (...) Porque eu não gosto. [Tem
algum motivo especial para você não gostar?] Porque é muito feio.
[Se você tivesse um vizinho negro, você brincaria na casa dele?]
Não. Não. Porque eu não gosto de negro. (Ignácio, branco, 10
anos, escola B) (CAVALLEIRO, 2005b, p. 87)
Diante das complexas relações entre os conteúdos veiculados através dos
currículos escolares e a realidade econômica, política e social, problematizar
sobre como ocorrem as relações etnicorraciais nas escolas pode subsidiar o
desvelamento do mito da democracia racial e da ideologia do branqueamento,
pois, conforme Freire (2002, p. 126),
[...] se a educação não pode tudo, alguma coisa fundamental a
educação pode. Se a educação não é a chave das transformações
sociais, não é também simplesmente reprodutora da ideologia
dominante. O que quero dizer é que a educação nem é uma força
imbatível a serviço da transformação da sociedade, porque assim
eu queira, nem tampouco é a perpetuação do ‘status quo’ porque o
dominante o decrete [...].
Nesse sentido, as escolas podem não ser apenas espaço de resignação à
hegemonia, mas de possibilidade de criar o novo, de transformação. Os currículos
escolares são espaços de disputas em torno do que é considerado legítimo a ser
ensinado e de reação daqueles a quem o currículo não serve, como, por exemplo,
à população negra. Assim, as instituições escolares, espaço de tensões,
contradições e conflitos suscitam resistências através das críticas e alternativas ao
63
currículo hegemônico. O movimento negro, por exemplo
37
, realizou críticas e
proposições aos sistema educacional e, particularmente, aos seus currículos, ao
longo do século passado o que, em certa medida, influenciou as políticas
educacionais, como a Lei Federal nº 10.639/03 que altera a LDB.
A LDB
38
, aprovada em 1996, documento básico que orienta a educação
nacional e que começou a ser discutido após a promulgação da Constituição de
1988, apenas reproduziu os princípios sobre a temática racial que estavam
expressos na Carta Magna: Art. 242. § O Ensino de História do Brasil levará
em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do
povo brasileiro”
39
.
37
Algumas ações do movimento negro serão abordadas por intermédio da análise das pesquisas
no Capitulo 2.
38
Não pretendemos aprofundar as discussões no processo de tramitação da LDB, mas mencionar
como foi tratado o tema das relações raciais.
39
Os trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte (ANC) duraram cerca de dezenove meses,
nos quais os parlamentares dividiram-se em oito comissões temáticas e vinte e quatro
subcomissões temáticas, cada uma responsável pela regulamentação de um tema diferente. A
determinação de que a temática racial seria abordada agradou o movimento negro mesmo com a
percepção do espaço limitado para a discussão da questão racial dentro da temática das minorias
na Subcomissão de Negros, Indígenas, Pessoas deficientes e Minorias. Devido à amplitude dessa
subcomissão, o debate sobre a temática racial se restringiu a dois encontros formais.
(RODRIGUES, 2005)
As propostas, permeadas pela denúncia de que o discurso da igualdade perante a lei, vigente
desde a Constituição de 1939 era insuficiente, apresentando para a Constituição de 1988 a “[...]
reivindicação de medidas compensatórias voltadas à implantação do princípio constitucional de
isonomia a pessoas ou grupos vítimas de discriminação comprovada” (RODRIGUES, 2005, p.
255), tencionavam os limites de uma igualdade formal, ao discutir a necessidade de uma igualdade
substantiva. Para a superação das consequências provocadas pela ausência de políticas de
integração voltadas para a população negra após a abolição e a reconstrução de sua identidade
negada pela política de branqueamento, o movimento propunha, por exemplo, o reconhecimento,
por parte do Estado, das comunidades negras remanescentes de quilombos, do título de
propriedade definitiva de suas terras e a criminalização do racismo, do preconceito racial e de
qualquer discriminação que atentasse contra os direitos humanos.
Em relação à educação, o anteprojeto da Subcomissão destacava o papel fundamental da escola
enquanto instituição que deve valorizar a diversidade, combater o racismo assim como todas as
formas de exclusão. A obrigatoriedade do ensino de História do negro no Brasil situa-se em um
projeto de valorização da história e cultura afro-brasileira, bem como do respeito e conhecimento
64
A “ausência” de qualquer menção ao conceito de raça ou a
qualquer outro princípio que expresse a discussão sobre as
relações raciais na educação vai dando lugar à concepção
predominante de que a educação como política pública deve
responder às necessidades do conjunto da nação, sem distinções
de raça e cor, [...]
O pensamento universalista parte do princípio político de
integração nacional, não postulando a raça como uma categoria
válida para a explicação e a compreensão das desigualdades
sociais. Nessa perspectiva, a educação opera um processo de
homogeneização em que não faz sentido pensar e elaborar
diretrizes educacionais para indivíduos ou grupos portadores de
identidade raciais ou étnicas distintas da dominante (RODRIGUES,
2005, p. 257).
As propostas em relação à reformulação do ensino de História do Brasil e
da obrigatoriedade do ensino da História das populações negras no Brasil em
todos os níveis de ensino foram negadas com a justificativa de que uma base
nacional comum prescindia da garantia da discussão sobre essa temática na
educação. A partir das propostas apresentadas, o § do Art. 26 passa a ser
redigido da seguinte forma: “O Ensino de História do Brasil levará em conta as
contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro,
especialmente das matrizes indígena, africana e européia”. (RODRIGUES, 2005)
O preceito de que o “ensino de História deve levar em conta as
contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do
povo brasileiro” tem implícito o ideal de democracia racial, o mito
das três raças de Freyre, que “juntas formaram um povo
brasileiro”. [...]
O que se pode apreender desse processo é que a temática racial,
durante a tramitação da LDB, foi abordada a partir da perspectiva
da democracia racial, de uma sociedade monocultural onde todas
da resistência dos escravizados no Brasil. A questão central girou em torno de que o currículo
escolar deveria incluir a história do negro no Brasil e na África em todos os níveis da educação
escolar, criticando a homogeneidade dos currículos. O documento final da Constituição sinalizou
para a necessidade do currículo refletir a pluralidade racial do Brasil, mas retirou as propostas da
obrigatoriedade do ensino da História e cultura da África e a proposta de reformulação dos
currículos de História do Brasil. Integralmente permaneceu na Constituição de 1988 a proposta
sobre os quilombos e sobre a criminalização do racismo. Esta só foi aprovada devido à mobilização
do movimento negro e pelas articulações d deputado federal Carlos Alberto de Oliveira.
(RODRIGUES, 2005)
65
as diferenças foram suprimidas e na qual as desigualdades têm na
luta de classes sua principal causa (RODRIGUES, 2005, p. 260-
261).
A discussão sobre as relações etnicorraciais nos currículos escolares ganha
impulso com a alteração da LDB pela Lei Nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003:
Altera a Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece
as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no
currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática
“História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências.
Art. A lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar
acrescida dos seguintes artigos:
“Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio,
oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História
e Cultura Afro-Brasileira.
§ O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo
incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos
negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação
da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro
nas áreas social, econômica e política, pertinentes à História do
Brasil.
§ Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira
serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em
especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História
Brasileira.
§ 3º (VETADO)
“Art. 79-A. (VETADO)”.
“Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro
como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’”.
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Decorrente da necessidade da regulamentação da lei após a sua
promulgação, foi instituído, em abril de 2003, um Grupo de Trabalho integrado por
representantes do Conselho Nacional de Educação, do Ministério da Educação,
da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados e da Fundação Cultural
Palmares. Desse grupo resultou a aprovação do Parecer 03/2004, sobre as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e
para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, que regulamentou a
alteração da LDB.
66
Sua aprovação [Lei 10.639/03] pode ser compreendida como um
dos desdobramentos do Programa de Ação deliberado na III
Conferência de Durban
40
, conjugada com o trabalho e a
mobilização do movimento negro, que durante cadas vem
desenvolvendo ações de resgate e valorização da história da
população negra, de sua cultura e identidade, ações que
compreendem a atuação direta nas escolas, em parceria entre
secretarias de educação e conselhos da comunidade negra, na
elaboração de material didático e no fomento do debate sobre
ação afirmativa (RODRIGUES, 2005, p. 261).
A lei não é suficiente para alterar as relações etnicorraciais, mas pode ser
um bom começo. A própria lei é resultado de disputas políticas para configuração
da realidade. Pode, também, suscitar a discussão sobre essa temática na
escolarização, orientar a formação dos educadores e a própria seleção para os
concursos públicos que vêm integrando em sua bibliografia o tema da diferença,
do multiculturalismo e da população negra, assim como possibilitar que mudanças
mais profundas sejam reivindicadas. Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e
Cultura Afro-Brasileira e Africana (2004, p.13), a promulgação da lei pode apoiar o
reconhecimento, a valorização e a afirmação de direitos da população negra na
área educacional:
O sucesso das políticas públicas de Estado, institucionais e
pedagógicas, visando a reparações, reconhecimento e valorização
da identidade, da cultura e da história dos negros brasileiros
depende necessariamente de condições físicas, materiais,
intelectuais e afetivas favoráveis para o ensino e para
aprendizagens; em outras palavras, todos os alunos negros e não
negros, bem como seus professores, precisam sentir-se
valorizados e apoiados. Depende também, de maneira decisiva, da
reeducação das relações entre negros e brancos, o que aqui
estamos designando como relações étnico-raciais. Depende,
ainda, de trabalho conjunto, de articulação entre processos
40
A Terceira Conferência Mundial contra o racismo, a discriminação racial, xenofobia e outras
formas de Intolerância ocorreu em Durban, África do Sul, em 2001.
67
educativos escolares, políticas públicas, movimentos sociais, visto
que as mudanças éticas, culturais, pedagógicas e públicas nas
relações étnico-raciais não se limitam à escola.
Nessa perspectiva, a discussão sobre como o racismo, o preconceito racial
e a discriminação racial integram os currículos escolares trazem à tona as
contradições das relações etnicorraciais na sociedade brasileira.
Problematizar a homogeneidade cultural estabelecida a partir do referencial
eurocêntrico e branco nos currículos escolares para transformá-lo significa suscitar
conflitos que, geralmente, são vistos como negativos e não como uma
característica inerente à vida social.
A regra básica de atividade que constitui o valor negativo
inconsciente associado ao conflito tende a levar ao planejamento
de experiências que se centrem na dimensão de conflito de
“infração da lei ou regra”, embora deveria ficar claro que o conflito
conduz não apenas à infração da lei, mas é, com efeito, também
criação da lei [...] (APPLE, 1982, p. 149).
Segundo Apple (1982), em grande parte das escolas, particularmente as
situadas nos centros urbanos, a perspectiva que desconsidera a mudança e o
conflito serve para legitimação da ordem social vigente, ignorando a atuação dos
homens e mulheres como criadores e detentores de valores e instituições. Para o
autor (2002, p. 152, grifos do autor),
Uma avaliação mais realista dos usos do conflito nos movimentos
pelos direitos legais e econômicos de negros, índios, mulheres,
operários e de outros grupos sem dúvida tomaria parte da
formação de uma perspectiva dessas atividades e de outras
semelhantes como modelos legítimos de ação. O fato de que as
leis tiveram de ser infringidas e de que foram posteriormente
anuladas pelas cortes de justiça geralmente não encontram
enfoque nos currículos de Estudos Sociais. No entanto, foi através
desses tipos de atividade que boa parte do progresso se fez e se
faz.
68
Os conflitos que emergem do debate para a inserção da História e Cultura
Africana e Afro-Brasileira precisam, constantemente, questionar a seletividade do
currículo considerado legítimo. A inserção dessa temática através de lei não será
percebida como válida para ser transmitida se o referencial euro-ocidental não for
questionado. Não se trata de substituir um etnocentrismo (eurocentrismo) por
outro (“afrocentrismo”), mas de repensar a lógica curricular que simplesmente
desconsidera e desqualifica as diferentes cosmovisões e referenciais culturais.
Trata-se de repensar a própria lógica do currículo e as relações de poder que
hierarquizam as diferenças culturais, desconstruindo as ideologias que as mantêm
no sentido de transformação das condições de vida da maioria da população.
O ensino da Cultura e História dos negros brasileiros e africanos não pode
se limitar a fazer acréscimos à cultura dominante, como na perspectiva do
multiculturalismo conservador que utiliza o termo diversidade para mascarar a
ideologia de assimilação que é a base dessa percepção.
[...] O multiculturalismo conservador deseja assimilar os
estudantes a uma ordem social injusta ao argumentar que todo
membro de todo grupo étnico pode colher os benefícios
econômicos das ideologias neocoloniais e de suas práticas
econômicas e sociais correspondentes. Mas, um pré-requisito para
‘juntar-se à turmaé desnudar-se, desracializar-se e despir-se de
sua própria cultura (MCLAREN, 2000, p. 115).
Uma educação para a igualdade etnicorracial tampouco pode partir da
perspectiva da igualdade abstrata que na realidade concreta se configura em
desigualdades como na concepção do multiculturalismo humanista liberal, que
considera que naturalmente as pessoas são iguais, o que possibilita que todos
69
possam competir igualmente no capitalismo. Acredita que as desigualdades são
geradas pela ausência de oportunidades sociais e educacionais que podem ser
modificadas e reformadas para se obter uma igualdade relativa. Essa perspectiva
leva constantemente a um humanismo etnocêntrico e universalista (MCLAREN,
2000).
As reflexões sobre as relações etnicorraciais nos currículos escolares não
podem desconsiderar o contexto em que as instituições escolares estão inseridas
como na percepção do multiculturalismo liberal de esquerda que possui:
[...] uma tendência a essencializar as diferenças culturais e,
portanto, ignorar a situcionalidade histórica e cultural da diferença,
a qual é compreendida como uma forma de significação retirada
de suas restrições históricas e sociais. Isto é, uma construção
histórica e social que é constitutiva do poder de representar
significados. [...] O multiculturalismo liberal de esquerda trata a
diferença como uma ‘essência’’ que existe independentemente de
história, cultura e poder (MCLAREN, 2000, p. 120).
Para que o multiculturalismo não se torne acomodação à ordem
estabelecida precisa estar relacionado a um projeto de transformação social, como
na perspectiva do multiculturalismo crítico e de resistência, que percebe a cultura
como conflitiva e não como harmoniosa, consensual, livre e isenta de tensões. As
diferenças são construções históricas, precisam ser concebidas como diferenças
políticas e não apenas textuais, linguísticas e formais, não desconsiderando as
relações de poder estruturais e globais (MCLAREN, 2000). Para o autor (p.133)
“[...] O conceito de totalidade não deve ser abandonado, mas em vez disso, visto
como uma estrutura de diferença sobredeterminada. Diferenças são sempre
diferenças em relação, elas nunca são simplesmente flutuações livres”. Os
70
sistemas de diferenças, que estruturam a sociedade através de subordinação e
dominação, devem ser reconstruídos.
[...] Precisamos fazer mais do que problematizar incansavelmente
a diferença como uma condição de retórica ou interrogar
incessantemente o status de todo conhecimento como uma
inscrição discursiva, porque [...] isto anula a base das políticas
tanto reacionárias como revolucionárias. Em vez disso, precisamos
de uma reescrita da diferença-em-relação, seguida por tentativas
de mudança dramática das condições materiais que permitem que
as relações de dominação prevaleçam sobre as relações de
igualdade e justiça social [...] (MCLAREN, 2000, p. 134, grifos do
autor).
Isso, contudo, não significa que todas as pessoas sejam oprimidas da
mesma forma dentro da estrutura de opressão totalizante, visto que isso não
ocorre sincronicamente nos sistemas de diferenças como classe, gênero, raça,
sexualidade, entre outros.
[...] Precisamos analisar e desafiar tanto as enunciações
específicas das micro-diferenças dentro da diferença quanto as
macro-estruturas da diferença-relação.[...] Precisamos refocalizar a
opressão estrutural sob as formas do patriarcado, capitalismo e
supremacia branca [...] (MCLAREN, 2000, p. 134-135, grifos do
autor).
A discussões sobre essa temática podem provocar reflexões sobre as
contradições da estrutura de dominação da globalização excludente. E para que
ocorram mudanças significativas nos currículos escolares, estes precisam estar
relacionados com os diferentes contextos (social, econômico, político e dos
sistemas educacionais) que interagem na configuração do currículo até a
efetivação da prática educativa nas atividades realizadas cotidianamente por
alunos e professores.
71
Dessa forma, a efetivação de uma educação para a igualdade racial
necessita tencionar as relações etnicorraciais e socioeconômicos e raciais na
sociedade brasileira. A esse respeito, Souza e Croso (2007) destacam três
aspectos essenciais para o reconhecimento das diferenças para a construção da
igualdade de direitos:
a) Compreender a complexidade das relações raciais no Brasil
Tal movimento exige problematizar e esmiuçar como são
construídas histórica e socialmente as concepções racistas e como
em torno dela são engendrados os esquemas interpretativos que
informam e orientam as práticas preconceituosas e
discriminatórias, muitas vezes “silenciosas”, silenciadas e
naturalizadas. Como posicionar-se estrategicamente contra o que
supostamente não existe? (SOUZA; CROSSO, 2007, p. 20).
b)
Desmistificar o mito da democracia racial, que encobre os conflitos e as
contradições, sob a ótica de uma pretensa igualdade
Ao esconder e negar as diferenças, apenas os valores de alguns
grupos são chancelados em detrimento de outros, de forma que a
polarização superior-inferior engendra uma segregação eficiente,
na medida em que é dissimulada. Como explicar que os grupos
herdam e recriam legados singulares e suas diferenças culturais
não se associam às relações de poder que se traduzem em
hierarquizações de toda sorte? Como explicar que assumir como
princípio básico as diferenças é pressuposto para discutir e
negociar entre os diferentes projetos capazes de promover
relações de igualdade perante os direitos constitucionais
conquistados? (SOUZA; CROSSO, 2007, p. 20-21).
c) Reconhecer que, na sociedade brasileira, o racismo, o preconceito e a
discriminação racial estruturam as relações sociais e hierarquizam as
diferenças, comprovadas pelos indicadores de pesquisas que demonstram
as desigualdades entre brancos e negros.
72
2 – Teses e dissertações sobre as relações etnicorraciais nos
currículos escolares da educação básica
Neste capítulo, apresentamos os dados referentes às 187 pesquisas
produzidas nos programas de pós-graduação stricto sensu em Educação, entre
1987-2006, que tinham como foco as relações etnicorraciais e educação. Em
seguida, trabalharemos com as 51 pesquisas selecionadas sobre as relações
etnicorraciais nos currículos escolares. Por fim, versaremos sobre as 29 pesquisas
analisadas, destacando aspectos que são comuns, como a utilização de alguns
termos e conceitos, a crítica ao currículo hegemônico e a atuação do movimento
negro para alterá-lo.
2.1 – Levantamento das teses e dissertações sobre as relações etnicorraciais
nos programas de pós-graduação stricto sensu em Educação (1987-2006)
O levantamento das produções acadêmicas realizadas nos programas de
pós-graduação em Educação sobre as relações etnicorraciais teve como base o
Banco de Teses da CAPES entre os anos 1987-2006.
Nesse levantamento foram consideradas as pesquisas selecionadas a partir
das seguintes expressões e palavras-chave: ações afirmativas, afrodescendentes,
73
crítica ao currículo hegemônico, currículo e relações raciais, discriminação racial,
diversidade racial, etnia, História da África, inclusão da História e cultura africana e
dos negros brasileiros, Lei 10.639/03, movimento negro, multiculturalismo,
negritude, políticas afirmativas, políticas compensatórias, política de cotas,
população negra, preconceito racial, Pré-Vestibulares para Negros e Carentes,
quilombos, raça negra, racismo, relações raciais, religiosidade negra,
representação dos negros nos materiais didáticos e paradidáticos.
Tabela 1 – Expressões e palavras-chave utilizadas e número de pesquisas encontradas
Expressões e Palavras
-
chave utilizadas
palavra-chave
Total de pesquisas
encontradas sobre as
relações raciais e
educação
Ações afirmativas 92 20
Afrodescendentes 75 27
Crítica ao currículo
hegemônico
37 1
Currículo e relações raciais 10 4
Discriminação racial 110 20
Diversidade racial 66 20
Etnia 748 26
História da África 180 8
Inclusão da História e
Cultura africana e
dos
negros brasileiros
2 2
Lei nº 10.639/2003 2 1
Movimento negro 123 21
Multiculturalismo 265 13
Negritude 85 6
Políticas afirmativas 34 2
Políticas compensatórias 28 2
Política de cotas 133 17
População negra 157 22
Preconceito racial 46 11
Pré-
Vestibulares para
Negros e Carentes
11 6
74
Quilombos 237 20
Raça negra 91 5
Racismo 334 48
Relações raciais 172 41
Religiosidade negra 55 6
Representação dos negros
nos materiais didáticos e
paradidáticos
0 0
Por meio do uso destas expressões e palavras-chave, identificamos os
trabalhos a partir do titulo, das palavras-chave mencionadas pelo autor e pelo
conteúdo do resumo. Selecionamos as teses e dissertações cujo objetivo central
foi a discussão sobre relações etnicorraciais, focando a população negra.
41
Como
diversas pesquisas aparecem em diferentes buscadores, eliminamos as
repetições e identificamos um total de 187 pesquisas que se encaixaram nos
critérios, sendo 26 teses e 161 dissertações.
42
É interessante mencionar que, durante o processo de seleção das 187
pesquisas sobre as relações etnicorraciais, percorremos brevemente o universo
das investigações que versam sobre essa temática nos diferentes programas de
pós-graduação stricto sensu. Observamos que a questão é pesquisada sob a ótica
das diferentes áreas do conhecimento como, por exemplo: Ciências Sociais,
História, Psicologia, Sociologia, Direito, Antropologia, Teologia, Saúde Pública,
Enfermagem, Literatura, Letras, Geografia, Ecologia, Engenharia, Linguística,
Química Analítica, Educação Física, Artes, Teatro, Serviço Social, entre outras.
41
As pesquisas que mencionavam e/ou debatiam as relações etnicorraciais, mas não como
objetivo central da investigação foram desconsideradas.
42
A relação das 187 pesquisas encontra-se no Apêndice B.
75
Nestas diversas áreas, o tema vem sendo investigado sob diferentes
aspectos: representação dos negros nos meios de comunicação e na publicidade;
literatura africana e dos negros brasileiros; religiões de matriz africana; identidade
negra; negritude; anemia falciforme; entidades do movimento negro; quilombos;
musicalidade negra; remanescentes de quilombos; a população negra e esportes;
imprensa negra do século XIX e XX; Projeto UNESCO; mobilização para a
Terceira Conferência Mundial das Nações Unidas contra o Racismo, a
Discriminação Racial, Xenofobia e Formas Conexas de Intolerância; subjetividade
da população negra; ações afirmativas; casamentos interraciais e Pré-Vestibulares
para Negros e Carentes.
As pesquisas se debruçam também sobre pessoas que têm relação com a
temática como Solano Trindade, Luiz Gama, Abdias do Nascimento, Cuti, Veiga
Santos, Zumbi dos Palmares, Aimé Cesaire, Correia Leite, Lélia Gonzalez,
Florestan Fernandes, entre outros.
2.2 Teses e dissertações sobre as relações etnicorraciais nos programas
de pós-graduação stricto sensu em Educação
É crescente a produção de pesquisas de teses e dissertações acerca das
relações etnicorraciais na sociedade brasileira, nos últimos vinte anos, nos
programas de pós-graduação stricto sensu em Educação. Expressivo disso é o
fato de, entre os anos 1987 e 1991, não identificarmos nenhuma tese ou
76
dissertação sobre essa temática no Banco de Teses da CAPES, produzidas na
pós-graduação em Educação. Os últimos três anos que foram analisados (2004,
2005 e 2006) concentram 53,47% das investigações sobre o tema (100 trabalhos).
Em certa medida, isso é reflexo do aumento da visibilidade da discussão sobre as
relações etnicorraciais desiguais na sociedade brasileira como, por exemplo, o
debate sobre as ações afirmativas.
Tabela 2 – Distribuição temporal das 187 pesquisas sobre relações etnicorraciais
Ano
Nº de teses e
dissertações
Ano
Nº de teses e
dissertações
1987 0 1997 7
1988 0 1998 2
1989 0 1999 5
1990 0 2000 13
1991 0 2001 16
1992 2 2002 9
1993 2 2003 19
1994 2 2004 30
1995 5 2005 30
1996 5 2006 40
Total 187
Podemos também mencionar a consolidação de pesquisas acadêmicas que
refletem sobre as relações etnicorraciais. Representativo disso é o GT Educação e
Afro-brasileiros na ANPEd, que surgiu no ano de 2001; a realização de 5
encontros do Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros (COPENE)
43
,
organizado pela Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN), e as
43
O primeiro COPENE foi realizado em 2000 na cidade de Recife com a participação de
300 pessoas; o segundo ocorreu em o Carlos (2002) com 450 participantes; o terceiro
Congresso aconteceu em 2004 em São Luís com 600 pessoas. O quarto COPENE
ocorreu em Salvador (2006), contando com a inscrição de 1.500 pessoas. O quinto
Congresso ocorreu em Goiânia (2008).
77
iniciativas que focalizam o negro e a educação como o Concurso Negro e
Educação (iniciativa da ANPEd, em parceria com a Ação Educativa e apoio da
Fundação Ford) e o Programa Políticas da Cor. Além desses espaços, temos os
NEAB’s em diversas universidades brasileiras.
No levantamento realizado, identificamos 26 teses (13,90% do total) e 161
dissertações (86,10%). Entre as universidades que produziram pesquisas sobre as
relações etnicorraciais destacam-se a Universidade de o Paulo (16 pesquisas),
a Universidade Federal do Mato Grosso (14 trabalhos), a Universidade Federal de
São Carlos (12 pesquisas) e a Universidade do Estado da Bahia (11 pesquisas).
Em relação a esta última universidade, vale destacar o fato de todos os 11
trabalhos serem de mestrado em Educação e Contemporaneidade.
Tabela 3 – Distribuição das 187 pesquisas sobre relações etnicorraciais, por Universidade
Universidades
Nº de pesquisas
Universidade de São Paulo 16
Universidade Federal do Mato Grosso 14
Universidade Federal de São Carlos 12
Universidade do Estado da Bahia 11
Universidade do Estado do Rio de Janeiro 10
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 9
Universidade Federal da Bahia 9
Universidade Federal do Rio Grande do Sul 9
Universidade Federal de Minas Gerais 7
Universidade Federal de Santa Catarina 7
Universidade Estadual de Campinas 6
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro 5
Universidade Federal do Ceará 5
Universidade Federal do Maranhão 5
Universidade Federal Fluminense 5
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 4
Universidade Federal da Paraíba 4
Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul 3
Universidade Federal de Pernambuco 3
78
Universidade Federal de Santa Maria 3
Fundação Universidade Federal do Piauí 2
Universidade de Sorocaba 2
Universidade do Vale do Rio dos Sinos 2
Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho 2
Universidade Federal de Juiz de Fora 2
Universidade Federal de Uberlândia 2
Universidade Federal do Paraná 2
Universidade Federal do Rio de Janeiro 2
Universidade Federal do Rio Grande do Norte 2
Universidade Metodista de Piracicaba 2
Universidade São Marcos 2
Fundação Universidade Federal de Sergipe 1
Pontifícia Universidade Católica do Paraná 1
Universidade Católica Dom Bosco 1
Universidade Cidade de São Paulo 1
Universidade de Brasília 1
Universidade de Passo Fundo 1
Universidade do Oeste Paulista 1
Universidade Estácio de 1
Universidade Federal de Alagoas 1
Universidade Federal de Goiás 1
Universidade Federal de Pelotas 1
Universidade Federal do Pará 1
Universidade Federal do Piauí 1
Universidade Federal Rural de Pernambuco 1
Universidade Metodista de São Paulo 1
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul 1
Universidade São Francisco 1
Universidade Tuiuti do Paraná 1
Total 187
A produção de teses e dissertações defendidas entre 1987 e 2006
abordando o tema das relações etnicorraciais e educação concentra-se nas
regiões Sudeste (89 pesquisas ou 47,59% das produções), Nordeste (45
pesquisas, ou 24,06% do total) e Sul (32 pesquisas, ou 17,11% do total) do país,
com um maior número de produções acadêmicas realizadas em o Paulo (55
pesquisas), Rio de Janeiro (23 pesquisas), Rio Grande do Sul (21 pesquisas) e
79
Bahia (20 pesquisas). No total, 20 Unidades da Federação estão representadas no
levantamento de pesquisas realizadas.
Tabela 4 Distribuição das 187 pesquisas sobre relações etnicorraciais, segundo
Unidade da Federação
Estados
nº de pesquisas
São Paulo 55
Rio de Janeiro 23
Rio Grande do Sul 21
Bahia 20
Mato Grosso 14
Minas Gerais 11
Santa Catarina 7
Ceará 5
Maranhão 5
Mato Grosso do Sul 4
Paraná 4
Pernambuco 4
Piauí 3
Rio Grande do Norte
2
Paraíba 4
Alagoas 1
Distrito Federal 1
Goiás 1
Pará 1
Sergipe 1
Total 187
Tabela 5- Distribuição das 187 pesquisas sobre relações etnicorraciais, segundo Região
Regiões
Nº de pesquisas
Sudeste 89
Nordeste 45
Sul 32
Centro-Oeste 20
Norte 1
Total 187
80
Dos 187 trabalhos defendidos em 49 instituições universitárias, 152 foram
desenvolvidas em instituições públicas (81,28% do total), sendo 106 em
universidades federais
44
(69,74% do total dos trabalhos em universidades
públicas) e 46 em universidades estaduais (30,26% do total das pesquisas em
instituições públicas). As instituições particulares produziram 35 pesquisas
(18,72% do total).
Tabela 6 – Distribuição das 187 pesquisas sobre relações etnicorraciais, por tipo de
categoria administrativa
Público
Privada
Total
152 35 187
Em relação aos orientadores das pesquisas, foram identificados 127
orientadores diferentes, sem contar as 3 pesquisas realizadas em co-orientação,
com dois orientadores em cada uma delas. É grande o número de professores que
orientaram somente um trabalho sobre a temática (100), mas alguns docentes se
destacam pela quantidade de pesquisas orientadas, como: Petronilha Beatriz
Gonçalves e Silva (11 trabalhos), Maria Lúcia Rodrigues Muller (9 trabalhos),
Manoel Francisco de Vasconcelos Motta, Maria de Lourdes Siqueira, Narcimária
Correia do Patrocínio Luz, Pablo Antonio Amadeo Gentili e Wilson Roberto de
Matos (cada um com 4 trabalhos).
45
44
Por não conhecermos, com precisão, as características da Fundação Universidade
Federal do Piauí, da Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da
Fundação Universidade Federal do Sergipe optamos por incluí-las nas instituições
públicas por estarem ligadas a universidades federais.
45
A relação dos orientadores das 187 pesquisas encontra-se no Apêndice C.
81
2.3 Teses e dissertações sobre as relações etnicorraciais e currículos
escolares da educação básica
A partir das 187 teses e dissertações sobre relações etnicorraciais
selecionadas, focalizamos, para serem lidas integralmente, as 51 pesquisas que
discutem o tema relacionando-o aos currículos escolares das instituições
educacionais da educação básica dos sistemas oficiais de ensino do Brasil.
Destas 51 pesquisas catalogadas, 47 são dissertações (92,16%) e 4 são teses
(7,84%)
46
.
Em relação à distribuição temporal destas pesquisas, observa-se que a
maior parte foi defendida a partir do ano 2000 (41 pesquisas, aproximadamente
80% do total), com destaque para os anos de 2004, 2005 e 2006, quando
aparecem 24 pesquisas (cerca de 47% do total).
Tabela 7 Distribuição temporal das 51 pesquisas sobre relações etnicorraciais e
currículos escolares
Ano
Nº de teses e dissertações
Ano
Nº de teses e dissertações
1987
0 1997
3
1988
0 1998
1
1989
0 1999
0
1990
0 2000
6
1991
0 2001
6
1992
2 2002
4
1993
0 2003
1
1994
1 2004
10
1995
2 2005
8
1996
1 2006
6
46
A relação das 51 pesquisas selecionadas sobre as relações etnicorraciais e os
currículos escolares encontra-se no Apêndice D.
82
No que tange às universidades onde foram produzidas as pesquisas
(Tabela 8), observam-se a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (no
Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo) e a Universidade Federal
de São Carlos com o maior número de estudos (4 pesquisas). As outras
instituições que se destacaram foram: Universidade de São Paulo, Universidade
do Estado da Bahia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Universidade
Federal do Mato Grosso, cada uma com 3 pesquisas. No total, 30 universidades
diferentes produziram pesquisas sobre a temática.
Tabela 8 Distribuição das 51 pesquisas sobre relações etnicorraciais e currículos
escolares, por Universidade
Universidades
Nº de pesquisas
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 4
Universidade Federal de São Carlos 4
Universidade de São Paulo 3
Universidade do Estado da Bahia 3
Universidade do Estado do Rio de Janeiro 3
Universidade Federal de Mato Grosso 3
Universidade do Vale do Rio dos Sinos 2
Universidade Federal de Minas Gerais 2
Universidade Federal de Santa Catarina 2
Universidade Federal do Ceará 2
Universidade Federal do Maranhão 2
Universidade Federal do Paraná 2
Universidade Federal do Rio Grande do Sul 2
Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul 1
Fundação Universidade Federal do Piauí 1
Universidade Católica Dom Bosco 1
Universidade de Passo Fundo 1
Universidade do Oeste Paulista 1
Universidade Estadual de Campinas 1
Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho 1
Universidade Federal da Bahia 1
Universidade Federal de Goiás 1
Universidade Federal de Pernambuco 1
Universidade Federal de Santa Maria 1
Universidade Federal de Uberlândia 1
Universidade Federal do Pará 1
83
Universidade Federal do Piauí 1
Universidade Federal do Rio Grande do Norte 1
Universidade Federal Fluminense 1
Universidade Federal Rural de Pernambuco 1
Total 51
No que diz respeito às Unidades da Federação (Tabela 9), há um destaque
para São Paulo (14 pesquisas, 27,45% do total) e Rio Grande do Sul ( 6 pesquisas
ou 11,76%). Observa-se que entre as 27 Unidades da Federação, 16 aparecem
com produções. Em relação às regiões brasileiras (Tabela 10), nota-se que a
maior parte das pesquisas foi produzida em instituições da Região Sudeste (21
pesquisas, 41,17% do total), seguida da Região Nordeste, com 13 pesquisas
(25,49%), e da Região Sul, com 10 pesquisas (19,60%). de se evidenciar o
reduzido número de pesquisas produzidas na Região Norte (apenas 1 pesquisa).
Tabela 9 – Distribuição das 51 pesquisas sobre relações etnicorraciais e currículos
escolares, segundo Unidade da Federação
Unidades da
Federação
Nº de pesquisas
Unidades da
Federação
Nº de pesquisas
São Paulo 14 Mato Grosso do Sul 2
Rio Grande do Sul 6 Paraná 2
Bahia 4 Pernambuco 2
Rio de Janeiro 4 Piauí 2
Mato Grosso 3 Santa Catarina 2
Minas Gerais 3 Goiás 1
Ceará 2 Pará 1
Maranhão 2 Rio Grande do Norte 1
Tabela 10 – Distribuição das 51 pesquisas sobre relações etnicorraciais e currículos
escolares, segundo Região
Região
Nº de pesquisas
Sudeste 21
Nordeste 13
Sul 10
Centro-Oeste 6
Norte 1
Total 51
84
No que tange à categoria administrativa (Tabela 11), uma grande
diferença na quantidade de pesquisas produzidas em universidades públicas e
privadas: respectivamente, 42 pesquisas (82,35%) contra 9 pesquisas (17,65%).
Entre as privadas, o destaque é a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
com 4 trabalhos. Dentre as universidades públicas, há um mero maior de
pesquisas realizadas em instituições federais (30 estudos, 71,43% das 41
pesquisas em universidades públicas) do que em universidades estaduais (12
trabalhos, 28,57% do total das públicas).
Tabela 11 – Distribuição das 51 pesquisas sobre relações etnicorraciais e currículos
escolares, por tipo de categoria administrativa
Pública
Privada
Total
42 9 51
No que diz respeito aos orientadores das pesquisas (Apêndice E),
Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva e Maria Julieta Costa Calazans são as que
mais se destacam, cada uma com 3 pesquisas orientadas. Vale destacar que a
primeira era também a pesquisadora com maior número de trabalhos orientados
no rol das 187 pesquisas. 5 profissionais com 2 pesquisas orientadas e 34
docentes com 1 trabalho orientado. Aparece também 1 trabalho realizado em co-
orientação.
Quando comparamos os dados contidos nas 187 pesquisas sobre relações
etnicorraciais e educação com os obtidos a partir das 51 pesquisas que tinham
85
como foco as relações etnicorraciais nos currículos escolares no Brasil,
observamos algumas semelhanças e diferenças.
No que tange às similaridades, é comum aos dois agrupamentos a
realização de maior número de pesquisas nos últimos três anos incluídos no
levantamento (53,47% para o primeiro grupo e 47,05% para o segundo grupo). É
comum também a preponderância de dissertações nos dois grupos analisados:
entre 187 trabalhos, aparece o percentual de 86,10% dissertações e 13,90%
teses, enquanto que, no rol dos 51 estudos inclusos no segundo agrupamento,
92,16% de trabalhos de mestrado e 7,84% de teses de doutoramento.
Os números referentes à categoria administrativa também são próximos.
Dentre os 187 estudos, 81,28% são oriundos de universidades públicas e apenas
18,72%, de instituições privadas. No segundo rol de trabalhos, 82,35% foram
produzidos em universidades públicas e 17,65%, em universidades privadas.
Quanto à distribuição por Regiões brasileiras, observa-se que no Sudeste,
no Nordeste, no Sul, no Centro-Oeste e no Norte estão as universidades em que,
respectivamente, se produziu o maior número de trabalhos.
Em relação às Unidades da Federação onde foram produzidas as
pesquisas, praticamente não existe diferença entre as que se destacam nos dois
agrupamentos. A única exceção é Rio de Janeiro, que é a segunda com maior
número de trabalhos no primeiro rol, enquanto no segundo agrupamento figura
como terceira em quantidade de pesquisas, ao lado da Bahia. Com pouquíssimas
exceções, as demais Unidades da Federação ocupam posicionamento equivalente
nos dois agrupamentos analisados.
86
Apesar de quase todas as universidades aparecerem nos dois agrupamentos
de pesquisas, alguns diferenciais. Por exemplo, no primeiro grupo a
Universidade de São Paulo apresentava o maior número de trabalhos (16
pesquisas), enquanto no segundo agrupamento esta Universidade aparece como
a terceira instituição em que mais produziu pesquisas, ao lado de outras três
universidades (Universidade Estadual da Bahia, Universidade Federal do Rio de
Janeiro e Universidade Federal de Mato Grosso), cada uma com 3 pesquisas. Por
outro lado, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, que era apenas a
sexta instituição com maior número de estudos no primeiro agrupamento, ao lado
da Universidade Federal da Bahia, destaca-se como a universidade com a maior
quantidade de estudos no segundo agrupamento, agora ao lado da Universidade
Federal de São Carlos (4 pesquisas cada).
2.4 – Teses e dissertações analisadas sobre as relações etnicorraciais e
currículos escolares da educação básica
Das 51 teses e dissertações catalogadas sobre as relações etnicorraciais
nos currículos escolares para serem analisadas, obtivemos 29 estudos, o que
corresponde a cerca de 57% do total. Como destacamos anteriormente, tivemos
algumas dificuldades para estabelecer contato com a totalidade das 51 pesquisas.
Alguns exemplos desses problemas podem ser mencionados: poucas pesquisas
disponíveis no meio digital, por meio do BDTD ou nas bibliotecas digitais em que
foram depositadas; dificuldades em contatarmos os pesquisadores para
87
solicitação de suas pesquisas; alguns trabalhos não se encontram nas bibliotecas
em que foram depositadas e nem todas as bibliotecas possuem o serviço de
comutação ou atenderam aos pedidos. Recuperamos 27 dissertações (93,10%) e
2 teses (6,90%), que foram lidas integralmente e analisadas.
47
Quanto à distribuição temporal (Tabela 12), as pesquisas se concentram a
partir do ano 2000 (22 trabalhos, 75,86), com destaque também para os últimos
três anos (13 pesquisas, 44,82%). O ano 2000 também se sobressai com uma
quantidade considerável de produção (5 pesquisas).
Tabela 12 Distribuição temporal das 29 pesquisas analisadas sobre relações
etnicorraciais e currículos escolares
Ano
Nº de teses e dissertações
Ano
Nº d
e teses e dissertações
1987
0 1997
1
1988
0 1998
1
1989
0 1999
0
1990
0 2000
5
1991
0 2001
2
1992
1 2002
2
1993
0 2003
0
1994
1 2004
5
1995
2 2005
6
1996
1 2006
2
No que tange às universidades em que foram desnvolvidas as pesquisas
(Tabela 13), a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (no Programa de
Pós-Graduação em Educação: Currículo) e a Universidade Federal de São Carlos
são as que apresentam o maior número de trabalhos: 4 cada. Na sequência,
aparecem a Universidade de São Paulo, com 3 trabalhos, a Universidade Federal
47
A relação das 29 pesquisas analisadas sobre as relações etnicorraciais nos currículos escolares se
encontra no Apêndice F.
88
de Santa Catarina e a Universidade Federal do Paraná, cada uma com 2
pesquisas. Todas as outras instituições universitárias apresentam apenas 1
trabalho. No total, conseguimos ter acesso a pesquisas oriundas de 19
universidades diferentes.
Tabela 13 Distribuição das 29 pesquisas analisadas sobre relações etnicorraciais e
currículos escolares, por Universidade
Universidades
Nº de pesquisas
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo 4
Universidade Federal de São Carlos 4
Universidade de São Paulo 3
Universidade Federal de Santa Catarina 2
Universidade Federal do Paraná 2
Fundação Universidade Federal do Piauí 1
Universidade do Vale do Rio dos Sinos 1
Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho 1
Universidade Federal da Bahia 1
Universidade Federal de Goiás 1
Universidade Federal de Minas Gerais 1
Universidade Federal de Pernambuco 1
Universidade Federal de Santa Maria 1
Universidade Federal de Uberlândia 1
Universidade Federal do Ceará 1
Universidade Federal do Maranhão 1
Universidade Federal do Pará 1
Universidade Federal Fluminense 1
Universidade Federal Rural de Pernambuco 1
Total 29
No que diz respeito às Unidades da Federação (Tabela 14), obtivemos o
acesso ao maior número de trabalhos realizados em São Paulo, com 12 pesquisas
(41,38%), principalmente devido à facilidade geográfica de acesso a eles.
89
Tabela 14 Distribuição das 29 pesquisas analisadas sobre relações etnicorraciais e
currículos escolares, segundo Unidade da Federação
Unidades da
Federação
Nº de pesquisas
Unidades da
Federação
Nº de pesquisas
São Paulo 12 Ceará 1
Minas Gerais 2 Goiás 1
Rio Grande do Sul 2 Maranhão 1
Paraná 2 Pará 1
Pernambuco 2 Piauí 1
Santa Catarina 2 Rio de Janeiro 1
Bahia 1 Total 29
Em relação à distribuição nas Regiões brasileiras (Tabela 15), a região
Sudeste aparece com o maior número de pesquisas (15 estudos, um pouco mais
de 50% do total). Em seguida, constam as regiões Nordeste e Sul, cada uma com
6 pesquisas (cada uma com um pouco mais de 20%). Um aspecto negativo foi o
fato de recuperarmos apenas um trabalho da Região Centro-Oeste, que aparecia
com 6 pesquisas dentre as 51 selecionadas para a análise.
Tabela 15 Distribuição das 29 pesquisas analisadas sobre relações etnicorraciais e
currículos escolares, segundo Regiões brasileiras
Região
Nº de pesquisas
Sudeste 15
Nordeste 6
Sul 6
Centro-Oeste 1
Norte 1
Total 29
No que diz respeito à categoria administrativa (Tabela 16), as
universidades públicas aparecem com o maior número de trabalhos (24
pesquisas, quase 83%) contra apenas 5 pesquisas das universidades privadas
(cerca de 17%). Ao se destacar o fato de que, entre os trabalhos realizados nas
90
universidades privadas, 4 pesquisas são da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, universidade com o maior número de trabalhos no total, ao lado da
Universidade Federal de São Carlos. Nas universidades públicas, a
preponderância de trabalhos de universidades federais (20 pesquisas de um total
de 24 realizadas em instituições públicas, ou mais de 83% destas).
Tabela 16 – Distribuição das 29 pesquisas analisadas sobre relações etnicorraciais e
currículos escolares, por tipo de categoria administrativa
Público
Privada
Total
24 5 29
Quanto aos orientadores das pesquisas (Apêndice G), novamente a Profa.
Dra. Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva aparece com o maior número de
trabalhos orientados (3 pesquisas). Fúlvia Maria Rosemberg e Mere Abramowicz
são responsáveis, cada uma, por 2 pesquisas. Há 25 orientadores diferentes
responsáveis pelas pesquisas, sendo que 22 destes orientaram 1 trabalho.
Comparando os dados das 29 pesquisas analisadas com os outros dois
agrupamentos descritos observa-se uma semelhança em relação à distribuição
temporal, com um crescimento no número de pesquisas a partir de 2000 e, mais
especificamente, entre os anos 2004 e 2006.
Quanto ao percentual de universidades blicas e privadas, evidencia-se
uma similaridade entre os três agrupamentos: em ambas as categorias, o
percentual de produção gira em torno de mais de 80% nas públicas e de menos
de 20% nas universidades privadas.
91
No que diz respeito às regiões onde foram produzidas as pesquisas,
observam-se pelo menos duas modificações no último agrupamento, a saber: 1) a
Região Centro-Oeste, que nos dois outros grupos de dados aparecia em quarto
lugar, chegando a contar com 20 pesquisas no primeiro rol, colaborou com apenas
1 trabalho dentre os analisados, apesar de haver 6 pesquisas dentre as 51 sobre a
temática; 2) a Região Sul aparece em terceiro lugar em número de pesquisas nos
dois primeiros conjuntos, todavia foi a segunda região a colaborar com trabalhos
dentre os analisados, ao lado da Região Nordeste.
Esses dados revelam que as 29 teses e dissertações recuperadas seguem
algumas tendências observadas nas pesquisas sobre as relações etnicorraciais e
sobre a mesma questão nos currículos escolares, como: aumento do número de
pesquisas, particularmente a partir de 2000, com destaque para os últimos três
anos no período investigado (1987-2006); produção maior em universidades
públicas, particularmente nas federais e realizadas em instituições da Região
Sudeste, com destaque para o Estado de São Paulo.
2.4.1 Algumas questões recorrentes na maioria das teses e dissertações
analisadas
A partir da sistematização e análise das 29 pesquisas sobre as relações
etnicorraciais nos currículos escolares, percebemos que algumas questões são
92
recorrentes na maioria das investigações e que são frequentes para o
embasamento do trabalho.
48
Elaboramos um formato para identificar as 29 teses e dissertações que
foram analisadas. O formato inclui o sobrenome do autor; seguido do nível de pós-
graduação TD para identificar as teses de doutorado e DM para dissertações de
mestrado e o ano de conclusão da pesquisa. A depender do local do texto, as
menções às pesquisas poderão aparecer de duas formas, como no exemplo a
seguir:
Dissertações: Barbosa (DM,1998) ou (BARBOSA, DM,1998);
Teses: Barbosa (TD, 2005) ou (BARBOSA, TD, 2005)
Um primeiro aspecto que podemos mencionar se refere à predominância da
abordagem qualitativa utilizada nas pesquisas, com a utilização de diferentes
metodologias: estudo de caso, pesquisa participante, análise de conteúdo. Os
instrumentos de coleta de dados são pertinentes à abordagem qualitativa como
entrevistas, observação participante, diário de campo, questionários, análise
documental. Os trabalhos enfocam, em sua maioria, situações recentes e apenas
dois possuem caráter histórico.
Em algumas investigações analisadas, os pesquisadores não explicitam o
referencial teórico utilizado. Há um grande número de autores utilizados para
fundamentar as pesquisas sobre as relações etnicorraciais e currículos escolares,
48
Os diferentes objetivos dessas pesquisas foram agrupados em 4 categorias e serão
trabalhados no Capítulo 3
93
mas podemos mencionar os mais citados, como: Kabengele Munanga, Nilma Lino
Gomes, Regina Pahim Pinto, Fúlvia Rosemberg, Ana Célia Silva, Petronilha
Beatriz Gonçalves e Silva, Stuart Hall, Jacques D’Adesky, Eliane Cavalleiro, J.
Gimeno Sacristán, Michael Apple, Jurgo Santomé e Peter McLaren.
2.4.2 - Termos e conceitos utilizados nos debates sobre as relações
etnicorraciais
A problematização das relações etnicorraciais na sociedade brasileira
perpassa a maioria das pesquisas analisadas e um olhar sobre as criticas ao
modo como ocorrem oferece subsídios para o entendimento da exclusão racial e
como ela se constitui em um dos elementos fundantes da vida cotidiana.
Esse debate ocorre, geralmente, embasado pela abordagem de alguns
termos e conceitos que auxiliam a compreensão sobre como se deu (e se dá) a
construção histórica da desigualdade entre negros e brancos e sobre como se deu
(e se dá) sua associação às estruturas sociais, políticas e econômicas vigentes.
Os termos e conceitos mais utilizados são preconceito racial e
discriminação racial. A discussão sobre mito da democracia racial e ideologia de
branqueamento também ocorre na maioria das pesquisas. Os termos racismo,
raça e etnia são conceituados em parte dos trabalhos, mas, comumente, os
autores não explicitam seu entendimento sobre quem integra a população negra e
94
o conceito de raça. Como esses conceitos geram dúvidas e equívocos, seria
oportuna essa conceituação na construção das pesquisas.
Esses termos e conceitos não aparecem simultaneamente nas pesquisas e
são utilizados de diferentes maneiras pelos autores. Algumas vezes são utilizados
como referencial teórico da investigação, em outras constituem uma das bases de
sua fundamentação; em outros trabalhos, ainda, vão sendo conceituados
conforme aparecem nas análises.
Intrinsecamente relacionados à utilização constante de alguns termos e
conceitos, a maioria das investigações versa sobre a exclusão racial à luz de
indicadores de renda, escolaridade e trabalho, produzidos, por exemplo, pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Pesquisa Nacional por
Amostra Domiciliar (PNAD), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
Tais indicadores frequentemente apontam a extensão das disparidades entre o
segmento racial negro em relação ao branco.
É recorrente a utilização de dados estatísticos que comprovam a
desigualdade racial, que vivemos em uma sociedade na qual o mito da
democracia racial se perpetua no imaginário social e procura enaltecer as relações
etnicorraciais harmônicas entre negros e brancos.
As reflexões sobre as relações etnicorraciais são importantes para
percebermos as particularidades e a complexidade das relações etnicorraciais no
Brasil e para situarmo-nos na tarefa de reflexão sobre como os currículos
escolares produzem e reproduzem a exclusão da população negra.
95
2.4.3 - Criticas aos currículos hegemônicos
Outra questão que unifica essas pesquisas é a critica ao currículo
hegemônico realizada pela grande maioria dos estudiosos, apontando para a
necessidade de sua alteração em busca de uma educação para a igualdade
etnicorracial. Assim, diversas críticas são dirigidas aos currículos escolares: as
práticas curriculares, geralmente, representam a cultura eurocêntrica e de diversas
maneiras silenciam, menosprezam, discriminam e não contemplam os alunos
negros (GOMES, DM, 2000); as instituições educacionais, por sua vez, continuam
veiculando no currículo oficial o predomínio da cultura européia, branca e cristã
(GONÇALVES, DM, 2004); os conhecimentos selecionados pelo currículo escolar
e as práticas por ele implementadas precisam ser questionados, identificando o
racismo e a discriminação que transmitem e contribuem para manter
(HALMENSCHLAGER, DM, 2000).
96
2.4.4 – Atuação do movimento negro nas críticas e proposições relativas aos
currículos escolares
A maioria das pesquisas dirige críticas às relações etnicorraciais vigentes
e, particularmente, aos currículos hegemônicos dos sistemas educacionais. Os
autores das pesquisas analisadas apontam que essa situação de exclusão não foi
aceita passivamente, destacando a ação do movimento negro. Diversos aspectos
são mencionados sobre sua atuação contra as desigualdades etnicorraciais:
Educação como uma das preocupações centrais do Movimento Negro
(GOMES, DM, 2000);
Atuação do movimento negro como fundamental na determinação de ações
de resistência da população negra e, atualmente, com uma atuação
propositiva, que está provocando mudanças na área educacional
(RIBEIRO, DM, 1995);
Críticas à maneira racista de atuação das instituições educacionais
brasileiras, aos conteúdos eurocêntricos dos conteúdos e ao tratamento
diferenciado dado às crianças negras (CRUZ, DM, 2000);
Experiências propositivas das instituições negras como, por exemplo, a
pedagogia interétnica
49
(DURANS, DM, 2002);
Lei Federal nº 10.639/2003 como fruto das reivindicações históricas da
sociedade e, particularmente, do movimento negro (SILVA, DM, 2005);
49
Sobre a pedagogia interétnica, ver Lima (2004).
97
Reivindicações, recomendações e trabalhos concretos desenvolvidos junto
às escolas, alunos, professores e pais como, por exemplo,
[...] São projetos de extensão pedagógica como o do Ilê Aiyê,
cursos de formação para professores do Ensino
Fundamental com o apoio de órgãos oficiais, como as
Secretarias Municipais, seminários, pesquisas e mesas
redondas, publicações de cadernos de educação, a exemplo
dos “Cadernos de Educação do Ilê Aiyê”, do “Centro de
Cultura Negra do Maranhão” e do “CEDENPA” do Pará, do
“Núcleo de Estudos Negros” de Santa Catarina, entre outros;
jornais, vídeos, calendários pluriculturais, como os dos
“Agentes de Pastoral de Negros”, entre outros. [...] (SILVA,
TD, 2001, p. 123).
Para o resgate dessa atuação, geralmente são apontadas algumas
entidades e organizações. As mais citadas são, a Frente Negra Brasileira
50
, o
Teatro Experimental do Negro
51
e o Movimento Negro Unificado
52
.
50
Na década de 1930 origina-se a entidade Frente Negra Brasileira (FNB) com uma forte
preocupação com a educação dos negros, na qual a ação educacional para a população
negra foi bem desenvolvida. A Frente Negra, fundada em 1931, em São Paulo, pela
pequena classe média negra espalhou-se por diversos núcleos nos estados do Rio de
Janeiro, Bahia, Pernambuco, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Percebia que o caminho
para a integração da população negra brasileira ocorreria essencialmente através da
assimilação, propondo uma “revolução dentro da ordem” não sendo incompatível com as
relações raciais vigentes nesse período. Pretendia imitar os novos imigrantes,
particularmente os italianos, e a rápida ascensão social destes era percebida como a
necessidade de incorporação dos valores e comportamentos europeus para a diminuição
dos preconceitos com a população negra no Brasil (D’ADESKY, 2001).
51
Nos anos 1940, a discriminação racial se refletia também no teatro brasileiro no qual o
negro não entrava nem para assistir ao espetáculo e muito menos para atuar no palco. O
Teatro Experimental do Negro (TEN) surgia para protestar contra essa discriminação,
assim como para formar atores e dramaturgos negros resgatando uma tradição cultural da
herança africana na sua expressão brasileira (NASCIMENTO; NASCIMENTO, 2000).
52
O movimento negro contemporâneo, que emerge nos anos 1970, visa desmascarar a
ideologia do branqueamento e desmistificar o mito da democracia racial. A unificação das
entidades que lutavam contra o racismo ocorreu em 18 de junho de 1978 através da
criação do Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial (o nome foi
simplificado para MNU) durante a realização de Ato Público reunindo mais de três mil
98
Outra ação do movimento negro que é mencionada com menor incidência
é a atuação da imprensa negra.
53
Assim, as pesquisas apontam que a defesa ao direito à escolarização
integrou as lutas e reivindicações das entidades negras. Essas lutas pelo direito à
escolarização implicaram na crítica às dificuldades de acesso e menores
possibilidades de permanência nos sistemas escolares em todos os níveis e
modalidades de ensino, ao currículo preponderantemente euro-ocidental e a
desigualdade entre negros e brancos nas relações interpessoais nas instituições
educacionais.
pessoas nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo. Os fatos que determinaram a
sua convocação foram os seguintes: a morte do trabalhador negro Robson Silveira da
Luz, no mês de maio, decorrente das torturas executadas por policiais em uma delegacia
de Guaianases, a expulsão de quatro atletas negros do time juvenil do clube Regata Tietê
e o assassinato do operário negro Nilton Lourenço por um policial no bairro da Lapa. A
carta convocatória para o Ato concluía dizendo “Não podemos mais aceitar as condições
em que vive o homem negro, sendo discriminado da vida social do País, vivendo no
desemprego, subemprego e nas favelas; Não podemos mais consentir que o negro sofra
perseguições constantes da polícia sem dar uma resposta” (MOURA, 1983 p, 72).
53
Os jornais da imprensa negra (1915-1963) foram um importante meio através do qual
as lideranças negras começaram um trabalho de conscientização e mobilização, de
valorização da sua identidade e de luta para a sua inserção de fato na sociedade. Ferrara
(1981), analisando a imprensa negra paulista entre 1915-1963, considera que esses
jornais, de diferentes formas, lutam principalmente contra os preconceitos, pela
conscientização do negro de sua posição na sociedade brasileira e valorizam a educação
e a instrução.
Os editores da imprensa negra assim como militantes dessa época percebiam que pela
escolarização ocorreria a consolidação da libertação que ocorreu através da Lei Áurea de
1888. Nesses jornais encontram-se artigos incentivando o estudo, destacando a
necessidade de instrumentar-se para o trabalho, divulgação de escolas ligadas a
organizações negras, enfatizando as mantidas pelos educadores negros, valorizando a
educação e a cultura percebidas como fundamental para a integração do negro na
sociedade brasileira. Incentivou também a educação e cultura ao noticiar eventos culturais
e educacionais, publicando poesia, contos e artigos nos quais os editores e colaboradores
discutem essa temática.
99
Como foi destacada pelo conjunto das pesquisas analisadas, a atuação do
movimento negro em relação à escolarização não se restringiu às denúncias. As
entidades negras realizaram ações efetivas para contribuir com a escolarização
dos negros através da organização de escolas/salas de aula para as crianças e
adolescentes, cursos de alfabetização de jovens e adultos. Essas ações, além da
preocupação com a escolarização, foram e ainda são espaços importantes para o
questionamento do referencial hegemônico, contribuindo para a desconstrução do
mito da democracia racial e da ideologia de branqueamento.
Essas reivindicações, lutas e ações, em certa medida, suscitam o debate
público sobre a situação de marginalização da população negra, problematizando
o mito da democracia racial e cobrando, do Estado, ações efetivas através de
políticas públicas para mudança da situação da população negra. Essas lutas
influenciam a implementação de políticas públicas a partir dos anos 1980 como,
por exemplo, através de leis municipais e estaduais para inclusão da História e
Cultura Afro-Brasileira nos currículos escolares e da alteração da LDB pela Lei
Federal 10.639/2003, além da discussão e implementação de ações afirmativas,
na modalidade cotas raciais, em universidades brasileiras e os debates em torno
do Estatuto da Igualdade Racial.
100
3 Estudo das 29 teses e dissertações analisadas sob o enfoque
das relações etnicorraciais presentes nos currículos escolares da
educação básica
Neste capítulo, analisaremos as 29 pesquisas que problematizam as
relações etnicorraciais nos currículos escolares das instituições educacionais da
educação básica em que essa situação é criticável, o que exige uma
problematização contundente das causas da vitimação dos negros por meio dos
currículos escolares, que, de acordo com Dussel, é criticável o que não permite
viver. É a partir das consequências ou dos efeitos não intencionais negativos que
são produzidos pela norma, ato, instituições ou sistema de eticidade vigentes que
tem origem o momento crítico. O critério de criticidade ou crítico de toda norma,
ato, instituições ou sistema de eticidade parte da existência real de vítimas, sejam
quais forem (DUSSEL, 2002).
A primeira condição de possibilidade da crítica é o re-
conhecimento da igualdade do outro sujeito, da tima, mas a
partir de uma dimensão específica: como vivente. Este “conhecer”
um ser humano a partir da vida, este “re”-conhecê-lo a partir de
sua vulnerabilidade traumática” (DUSSEL, 2002, p. 375).
A responsabilidade
54
entra em jogo como “crítica” e “transformação” das
causas que originam a vítima, como crítica ao sistema que causa a negatividade
54
A ética da libertação é uma ética da responsabilidade radical, que tem princípios materiais e
formais, não se reduzindo à boa vontade, a mera boa intenção. (DUSSEL, 2002)
101
da vítima. A vítima ao se descobrir como encoberta, ignorada, na negatividade da
exploração, da exclusão, começa a tomar consciência do “si mesmo” positivo.
No processo de tomada de consciência dos mecanismos da exclusão
assimétrica, os excluídos se dirigem para o sistema para discutir o porquê formal
que motiva a sua exclusão. Aquele que age ético-criticamente deve participar
enquanto vítima ou atuando como “intelectual orgânico” de uma comunidade de
comunicação de vítimas que, sendo excluídas, se re-conhecem como sujeitos
éticos.
A validade crítica é alcançada quando, ao ser constituída uma comunidade
de vítimas excluídas, elas atuem simetricamente nos acordos sobre o que lhes diz
respeito. A constituição dessa comunidade de comunicação das vítimas resulta da
conscientização da exclusão do sistema dominante; sistema este que não é
“verdadeiro”, nem “válido”, nem “eficaz” para a vida ou para a dignidade das
vítimas. Esse concurso crítico se desenvolve: a) negativamente ao compreender
e explicitar as causas de sua alienação e b) positivamente com a antecipação de
possibilidades futuras (utopias e projetos possíveis). Essa validade crítica dos
acordos se estabelece em três níveis: o da crítica material (a vítima não pode
viver), o da crítica formal (a vítima não pode participar discursivamente de alguma
forma naquilo que lhe diz respeito), e o da crítica instrumental ou de factibilidade
(o validado hegemonicamente não é eficaz para a vida da vítima) (DUSSEL,
2002).
102
Partindo dessa intersubjetividade crítica, a comunidade deve se debruçar
sobre a interpretação, compreensão ou explicação das causas materiais, formais
ou instrumentais da negatividade das vítimas para o desenvolvimento crítico de
alternativas materiais formais ou instrumentais da positividade da utopia e dos
projetos possíveis.
O principio ético crítico, em seu aspecto negativo, primeiro (como
juízo constatativo da não-reprodução da vida), e positivo, depois
(como o assumir responsavelmente o outro como vítima, para que
deixe de sê-lo, ou como exigência do desenvolvimento da vida), e
no qual deve fundar-se o juízo do sistema, poderia ser enunciado
aproximadamente como segue: Os que agem ético-criticamente
re-conheceram a vítima como ser humano autônomo, como o
Outro como outro que a norma, ato, instituição, sistema de
eticidade, etc., ao qual se negou a possibilidade de viver (em sua
totalidade ou em algum de seus momentos); de cujo re-
conhecimento simultaneamente se descobre uma co-
responsabilidade pelo outro como vítima, que obriga a tomá-la a
cargo diante do sistema, e, em primeiro lugar, criticar o sistema
(ou aspecto do sistema) que causa essa vitimação. O sujeito
último de um tal princípio é, por sua vez, a própria comunidade
das vítimas (DUSSEL, 2002, p. 380, grifos do autor).
Nesse sentido, é necessária a crítica para a transformação da
escolarização que causa a negatividade da população negra.
É necessário transformar, desconstruindo-as, as causas da
vitimação. A existência das vítimas mostra a necessidade de fazer
novas (transformadas) normas, atos, microestruturas, instituições,
sistemas de eticidade por meio dos quais seja “possível” o
desenvolvimento da vida humana (na reprodução da vida das
vítimas) e da discursividade humana (na participação simétrica
das vítimas) (DUSSEL, 2002, p. 563).
A sistematização e a análise das pesquisas que discutem sobre as relações
etnicorraciais e os currículos escolares podem oferecer contribuições para
problematizações acerca da negatividade dessa parcela populacional na
educação e as propostas e alternativas da positividade dos projetos possíveis.
103
A impossibilidade de que o sistema dominador não tenha
contradições (seria perfeito, eterno) deve encorajar o pesquisador
a encontrar tais fissuras por onde deverá penetrar com
factibilidade objetiva a práxis da libertação. A luta pela vida tem
futuro diante de sistemas de morte que se contradizem
inevitavelmente. Isto deve ser demonstrado concreta e
cientificamente. [...] (DUSSEL, 2002, p. 563).
Aquele que pretende transformar uma ordem dada, ao conhecer as causas
da negatividade das vítimas, deve programar e propor utopias e alternativas
possíveis. É debatendo, enfrentando objeções, criticando, que a argumentação é
aprofundada, aperfeiçoada, inovada ou refutada. Mas “[...] estrategicamente, não é
necessário explicar teórica e cientificamente as “causas” da negatividade da
vítima, mas também explicar a “impossibilidade” in the long run do sistema
dominador no tempo” (DUSSEL, 2002, p. 562).
As questões que emergiram da análise dessas pesquisas podem
contribuir para a transformação da situação de vitimação da população negra
pelos currículos escolares, através da crítica que se desenvolve:
a) negativamente ao compreender e explicitar as causas de sua
alienação: das críticas ao currículo hegemônico veiculadas, particularmente, por
meio dos livros didáticos; às atitudes e comportamentos, preconceituosos e
discriminatórios; ao currículo efetivado no cotidiano escolar; à maneira como
ocorrem as discussões sobre as relações etnicorraciais; à maneira que ocorreu a
inclusão da História e cultura dos africanos e dos negros brasileiros e
104
b) positivamente - com a antecipação de possibilidade futuras (utopias e
projetos possíveis) que se efetivam pela proposição de ações para alterações do
currículo vigente.
A partir dessa perspectiva, iremos abordar as 29 pesquisas sobre relações
etnicorraciais e currículos escolares da educação básica, integralmente lidas e
analisadas. Essas investigações foram organizadas em 4 categorias, em que
analisaremos as questões recorrentes. As categorias são as seguintes:
a) O negro nos livros didáticos;
b) Relações etnicorraciais no currículo em ação;
c) Estereótipos, preconceito racial e discriminação racial no cotidiano escolar;
d) O ensino da História e Cultura dos africanos e dos negros brasileiros nos
currículos escolares.
Para apresentarmos os resultados da análise de cada categoria,
procederemos internamente em cada uma delas da seguinte maneira: relação das
pesquisas analisadas em cada categoria, um breve resumo de cada pesquisa e a
análise das questões mais frequente em cada categoria.
3.1 – O negro nos livros didáticos
105
Essa categoria integra sete pesquisas que discutem sobre o negro nos
livros didáticos. Incluímos o debate sobre esses materiais na problematização das
relações etnicorraciais e currículos escolares, pois eles se constituem em um dos
principais veículos dos currículos. Essa perspectiva é apontada pelos autores
abordados nesta categoria: Oliveira (DM, 2000, p. 67) “[...] considera que as
representações dos negros nos livros didáticos são significativas se lembrarmos a
importância desse veículo na cultura escolar brasileira [...]”; Cruz (DM, 2000, p. 56)
pontua que “[...] o livro didático [...] não deve ser concebido como neutro, nem tão
pouco como estático, alheio aos conflitos, mas sim, como um recurso que vai
refletir, como as demais expressões do cotidiano escolar, interesses de grupos
[...]”; Carvalho (DM, 2006) aponta que esses materiais podem ser um dos
instrumentos que transmitem o preconceito e a discriminação, silenciosa ou
explicitamente.
Na análise das sete pesquisas desta categoria, destacamos as questões
recorrentes sobre o negro nos livros didáticos, observando as mudanças e
permanências apontadas pelos autores acerca dessa abordagem. As pesquisas
que integram essa categoria são as seguintes:
BRANCO, Raynette Castello. O negro no livro didático de História do Brasil para o
ensino fundamental II, da Rede Pública Estadual de Ensino, no Recife. Mestrado
(Educação), Universidade Federal de Pernambuco, 2005.
CARVALHO, Andréa Aparecida de Moraes Cândido de. As imagens dos negros
em livros didáticos de História. Mestrado (Educação), Universidade Federal de
Santa Catarina, 2006.
CRUZ, Mariléia dos Santos. A história da disciplina estudos sociais a partir das
representações sociais sobre o negro no livro didático (período 1981-2000).
Mestrado (Educação), Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho, 2000.
106
DIAS, Tercio Gonçalves. Negritude um estudo hermenêutico. Mestrado
(Educação), Universidade Federal do Paraná, 1995.
OLIVEIRA, Marco Antonio de. O negro no ensino de História: temas e
representações (1978-1998). Mestrado (Educação), Universidade de São Paulo,
2000.
SILVA, Ana Célia da. As transformações da representação social do negro no livro
didático e seus determinantes. Doutorado (Educação), Universidade Federal da
Bahia, 2001.
SILVA, Auxiliadora Maria Martins da. Etnia negra nos livros didáticos do ensino
fundamental: transposição didática e suas implicações para o ensino de ciências.
Mestrado (Ensino das Ciências), Universidade Federal Rural de Pernambuco,
2005.
Dentre esses trabalhos, cinco deles se referem à abordagem relativa ao
negro relacionado ao ensino da História do Brasil. Oliveira (DM, 2000) objetiva
analisar as representações da população negra no ensino de História de a
séries entre 1978-1998, discutindo as permanências e mudanças, associadas às
possíveis contribuições de movimentos reivindicatórios. Para tanto, analisa
propostas curriculares, livros didáticos e práticas de ensino relacionadas à defesa
da população negra. Na análise dos livros didáticos aponta os temas recorrentes:
trabalho escravo e resistência, formação do povo brasileiro, eurocentrismo e
cultura dos povos africanos.
O autor também utilizou relatórios de estágio da USP (curso de Prática de
Ensino de História) e, no período por ele investigado, contabilizou 575 relatórios,
sendo que 22 tratavam mais diretamente de temáticas relacionadas com a História
da população negra.
107
Junto a isso, realizou questionários com professores de História que
atuavam no Município de São Paulo e que participavam do Programa de
Educação Continuada da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo entre
1997 e 1998. Foram respondidos 111 questionários, através dos quais o autor
procurou averiguar como são tratadas as questões relacionadas à História da
população negra. Entrevistou também cinco professores envolvidos com a
militância negra e com o ensino de História.
Considera que, no período analisado, o ensino de História mudou em vários
aspectos associados às reivindicações e propostas feitas pela militância negra. A
primeira se relaciona às propostas curriculares de História. As discussões sobre o
ensino de História permitiram discussões que englobam questões relacionadas à
seleção de conteúdos, à abordagem teórico-metodológica, às relações com a
produção historiográfica e ao conhecimento histórico escolar.
Sobre essas propostas, as mais citadas no questionário e pelos
professores entrevistados são a da CENP
55
e o PCN de História
do MEC. Os professores, de maneira geral, apesar de considerá-
las inovadoras e possibilitarem enfoques diferenciados sobre a
população negra, apresentam críticas quanto à capacitação do
corpo docente para incorporar e implementar as propostas em
sua prática de sala de aula. Nesse sentido, as falas dos
professores indicam a permanência de abordagens tradicionais
(OLIVEIRA, DM, 2000, p. 167).
O autor considera que transformações positivas nos currículos e livros
didáticos em direção à incorporação da Cultura e História da população negra, à
valorização dos movimentos reivindicatórios e ao aumento da preocupação em
retratar a população negra atualmente. Apesar disso, aponta que, na produção
55
CENP significa Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas.
108
mais recente a partir de meados dos anos 1980 prevalece a perspectiva de
denúncia à escravidão e à condição da população negra na sociedade
contemporânea, com certo destaque para sua vitimação. Representativo disso é a
quase ausência de negros retratados de forma diferenciada.
[...] O negro prevalece sendo representado unicamente por uma
lógica que o coloca sempre na mesma condição de seus
antepassados escravizados e dificilmente pelas situações
diversas que aparece na sociedade contemporânea [...]
(OLIVEIRA, DM, 2000, p. 170).
Por meio da análise dos relatórios e dos questionários, (OLIVEIRA, DM,
2000) ressalta que, nas práticas de ensino-aprendizagem, mudanças positivas,
mesmo que realizadas com dificuldades.
Carvalho (DM, 2006), mediante análise do conteúdo, busca compreender
as mudanças e permanências das imagens dos negros presentes nos livros
didáticos de História, adotados para e séries do ensino fundamental, no
período entre 1996 e 2004, na Escola Básica Almirante Carvalhal, Florianópolis,
Santa Catarina. O estudo se deu sob o contexto da publicação da Lei Municipal
4.446/94 – que instituía a inclusão dos conteúdos sobre a África e os Afro-
brasileiros nos currículos da disciplina de História da rede municipal de ensino de
Florianópolis e da publicação, em 1996, da Proposta Curricular, que indica a
inserção no currículo de temáticas sobre a África e os Afro-brasileiros no Brasil e
em Santa Catarina.
A autora analisou dois livros didáticos de Nelson Piletti e Claudino Piletti,
História e Vida, 5ª série (1996) e História e Vida Integrada, série (2002),
109
enfocando os temas: a família e as mulheres no Brasil Colonial; resistência;
escravidão e castigos; questão étnica; origem dos escravos negros e Cultura e
Religião.
[...] de acordo com resultados das análises dos livros didáticos de
História utilizados como fonte dessa pesquisa, as imagens dos
negros não tiveram (re)significações como previam as legislações
do início da década de 90; isto é, no período de 1996 a 2001
praticamente não houve mudanças nos conteúdos e nos temas
dos livros didáticos no que diz respeito à História, às Culturas, ao
Cotidiano e à Religião dos negros africanos e de seus
descendentes na África e no Brasil. Constata-se uma
continuidade e uma repetição dos temas, textos e conteúdos nos
dois livros didáticos de História analisados neste estudo.
Além disso, os referidos livros didáticos trazem deficiências em
suas abordagens em relação aos temas; isto é, em ambos os
livros, o negro sempre aparece exposto em situações de
submissão e de passividade frente à escravidão (CARVALHO,
DM, 2006, p. 124).
Cruz (DM, 2000, p. 36) procura compreender “as mudanças de
representações sociais sobre negros em livros didáticos de série e identificar a
relação que essas representações possam ter com os interesses do movimento
negro”. Realizou entrevistas semi-estruturadas com uma pesquisadora
interessada nas relações raciais presentes na sociedade brasileira, uma militante
do movimento negro e uma técnica em educação, que atua em um cargo de
direção no Ministério da Educação. Em seguida, buscou analisar se as
representações desses entrevistados sobre seu grupo de pertença se manifestam
nos conteúdos veiculados nos livros didáticos. Examinou 8 livros didáticos de
Estudos Sociais da série por ser esse o nível que aborda os conteúdos da
História do Brasil – no período de 1981-2000.
110
A análise das ilustrações e dos textos escritos que fazem referência ao
negro foi dividida em três grupos: formação do povo brasileiro e cultura negra;
escravidão e resistência. A autora conclui que a disciplina Estudos Sociais não
permaneceu inalterada ao longo de sua trajetória histórica e as dinâmicas
ocorreram em relação a dois aspectos: a nomenclatura da disciplina e o conteúdo
das representações sobre os negros veiculados nos documentos escritos sobre
currículos que foram analisados. A representação do negro de forma mais positiva
passa a ser notada a partir da década de 80.
Dias (DM, 1994), através da fenomenologia hermenêutica, objetiva verificar
como o negro se vê e é visto no livro didático quanto à busca da compreensão de
sua negritude. Segundo o autor (DM, 1994, p. 77),
Quando dizemos que é imperativo buscar na negatividade
elementos de análise da realidade, estamos falando de uma
experiência que tivemos junto aos alunos de 7ª série do grau
com a disciplina de história: distribuímos para os alunos três livros
de história para que acompanhassem as aulas durante todo o ano
e pudessem pesquisar cada fato estudado, em três fontes
diferentes; com isto eles puderam perceber que o mesmo fato
pode ser narrado diferentemente e que outros fatos não constam
de todos os livros, e assim por diante [...].
O autor também procurou ouvir o negro nas reuniões do Grupo de União e
Consciência Negra (GRUCON) no Paraná e realizou entrevista com a
coordenadora da entidade. Considera que o “[...] livro didático, mesmo aquele que
busca fugir ao preconceito racial, não consegue dar significado à existência do
negro, uma vez que a História narrada do negro é um fato externo que deve ser
apreendido como tal” [...] (DIAS, DM, 1995, p. 117-118).
111
Branco (DM, 2005) objetiva discutir como o negro é tratado nos livros
didáticos de História do Brasil, utilizados em escolas da Rede Estadual de Ensino
da Cidade de Recife, no ensino fundamental II. Os critérios para a escolha dos
livros foram os seguintes: acesso através do site do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE), no link do PNLD e junto à Unidade da
Merenda Escolar e do Livro Didático, seção da Secretaria de Educação de
Pernambuco. Separou os títulos mais utilizados, e considerou os dez mais usados.
Dentre esses, a autora selecionou três coleções.
Os títulos escolhidos foram avaliados pela Comissão de Avaliação do
Programa Nacional do Livro Didático, em relação à abordagem dos conteúdos, à
metodologia de ensino adotada e à proposição de atividades, assim como os
conceitos atribuídos: “[...] ‘recomendado com distinção’, para a coleção de Piletti &
Piletti (2002) e ‘recomendado com ressalvas’, para a de Schmidt (2003) e a de
Furtado & Villa (2001)” (BRANCO, DM, 2005, p. 53).
Realizou análise de conteúdo por meio de categorias, utilizando as
seguintes: o trabalho escravo indígena, o trabalho escravo negro; o racismo, a
discriminação; a violência física, violência simbólica/a resistência; o abolicionismo
e a exclusão social. Essas categorias foram utilizadas porque são as que se
destacam na abordagem sobre o negro na História do Brasil pelos livros didáticos.
A autora conclui da seguinte forma:
Pudemos constatar um avanço na apresentação de fatos
históricos relacionados aos negros, nos períodos Colonial e
Imperial, através da análise que fizemos nos livros didáticos de
História do Brasil para o Ensino Fundamental II, dos autores
112
Furtado & Villa, Piletti & Piletti e Schmidt. A grande exclusão neles
encontrada é o silêncio sobre os negros a partir do culo XX [...]
(BRANCO, DM, 2005, p. 160).
Além das pesquisas que discutem a abordagem do negro na História do
Brasil, um trabalho discute a mesma questão nos livros didáticos de Língua
Portuguesa e um outro, nos livros didáticos de Ciências.
Silva (TD, 2001) investiga a existência de transformações na representação
social do negro nos textos e ilustrações do livro didático de Língua Portuguesa do
1º e 2º ciclos do ensino fundamental, editados entre 1994 e 1998. Discute também
os fatores que determinaram essas transformações. Através de análise de
conteúdo, selecionou os 15 livros mais utilizados pelos professores da Escola
Estadual Cel. Paulino Carlos, o Carlos/SP. A partir da análise, selecionou os 5
livros que apresentaram maior frequência de transformações nos textos e
ilustrações em relação à representação do negro. Em seguida, entrevistou os
autores dos textos e das ilustrações para apreender os fatores determinantes das
transformações. Entre os fatores, destacaram-se a convivência entre as diversas
raças/etnias, os valores culturais, a identidade etnicorracial e a discriminação.
Para a autora, nos livros didáticos examinados, a
[...] baixa freqüência da representação dos personagens negros
corrobora a existência nesses livros da presença do negro como
minoria.
Por outro lado, os personagens negros foram representados
humanizados, ou seja, com família, nome próprio, sem estigmas,
estereótipos e descritos sem preconceitos, com direitos de
cidadania, papéis e funções diversificadas na sociedade, embora
sem distinções étnico-raciais. [...]
113
É enquanto cidadão abstrato que o negro está presente na
representação, em currículos, materiais pedagógicos,
especificamente no livro didático, que inviabiliza o cidadão
concreto, com suas diferenças e contradições (SILVA, TD, 2001,
p. 157-158).
Silva (DM, 2005, p. 32) tem por objetivo analisar o conceito de etnia negra
nos livros didáticos de ciências dos 1º anos do ciclo do ensino fundamental e o
processo de transposição didática desse conceito, na escola pública municipal”. A
pesquisa foi realizada na Região Política-Administrativa 2, que, segundo dados da
Prefeitura de Recife/PE, possui o maior contingente de negros da cidade. A escola
selecionada foi a que abriga o maior número de alunos cursando o ano do
ciclo do ensino fundamental. Realizou estudo de caso naturalístico, com
observação do cotidiano da instituição, análise dos livros didáticos, aplicação dos
questionários e entrevista com as professoras através da técnica do círculo
hermenêutico-dialético. Analisou 3 livros didáticos entre os mais utilizados pelos
professores todos recomendados pelo Ministério da Educação (MEC), através
do PNLD. A autora (DM, 2005, p. 131) conclui que
[...] a transposição didática do conceito de etnia negra, na escola
estudada, está buscando compreender o corpo humano, em sua
visão biológica, de forma fragmentada, colocando a etnia branca
numa posição hierarquizada, silenciando acerca dos conflitos
étnicos vividos pelos adolescentes e jovens cotidianamente nas
interações marcadas pelo preconceito e pela discriminação,
confirmando nossa hipótese inicial.
As 5 dissertações desta categoria que discutem sobre o negro na História
do Brasil apontam que nos livros didáticos que examinaram as questões mais
frequentes se referem ao negro como escravizado além de examinar, em alguma
medida, a resistência contra esta situação.
114
Na discussão sobre a escravidão nos livros didáticos, algumas questões
são ressaltadas: fatores determinantes da escravidão dos africanos; castigos aos
escravizados; iconografia sobre o negro; fim da escravidão e substituição do
trabalho dos escravizados pelo trabalho livre.
Os fatores determinantes da escravidão dos africanos são debatidos por
três autores. Branco (DM, 2005) aponta que, nos livros examinados, sempre
explicação ou argumentos para a introdução da escravidão na América e sobre a
mudança da escravização de índios para africanos. As coleções discutem que o
sistema de produção colonial se baseou na escravidão indígena, depois
substituída pelos escravizados africanos. Para a autora, há duas questões básicas
que as coleções estudadas apontam para ilustrar a introdução dos africanos
escravizados: os interesses mercantis lusos advindos do tráfico negreiro e a
inadaptabilidade do índio ao trabalho na grande lavoura. A respeito deste item,
salienta que a escravidão persistiu em inúmeras regiões da América até o começo
do século XIX e que nos livros didáticos observa-se a omissão de referências
quanto aos fatos relacionados à resistência indígena à escravidão.
Cruz (DM, 2000) aponta três argumentos utilizados nos livros didáticos para
a justificativa da utilização da escravidão africana, denominados pela autora como:
a) “ingênuo”, argumento apoiado na ideia de que a escravidão aconteceu
naturalmente, como uma opção dos portugueses, sem justificativas;
b) ”estereotipado”, argumento apoiado na ideia de que havia uma predisposição
do negro para realizar o trabalho em regime de escravidão;
115
c) “real”, argumento apoiado na ideia de que a escravidão dos negros ocorreu por
ser a mais lucrativa opção para a coroa portuguesa.
Carvalho (DM, 2006) também destaca que a justificativa para a escravidão
dos africanos girava em torno do lucro obtido pela
economia com os gastos resultantes do não pagamento de
salários e da contenção de despesas (alimentação e roupa) para
esses trabalhadores, isto é, o baixíssimo investimento dos
portugueses nesse tipo de mão-de-obra cuja resposta lhes
resultou grandes lucros (CARVALHO, DM, 2006, p. 91).
O papel da Igreja Católica no estabelecimento da escravidão no Brasil é
apontado por Branco (DM, 2005), que considera essa questão um avanço nos
livros didáticos analisados, que esse fato não era abordado em décadas
passadas. No exemplo a seguir, podemos observar como um dos livros se refere a
essa questão:
[...] No Brasil, os escravos eram obrigados a freqüentar missas e
ouvir sermões que diziam coisas assim: ‘Na África, vocês
veneravam o demônio e agora estão sofrendo o castigo de Deus.
A escravidão é o preço do pecado. Se todos forem obedientes,
aceitarem sua condição sem reclamar, estarão salvos e, depois
da morte, irão para o Céu’. Percebeu? No fundo, a Igreja ajudava
a convencer os escravos negros de que eles mereciam ser
escravos [...] (Schmidt, série, 2003, p. 205, apud BRANCO,
DM, 2005, p. 115).
Os castigos e a violência impingidos aos escravizados são abordados em
duas pesquisas. Carvalho (DM, 2006) aponta que nos livros didáticos que
analisou, após a descrição do cotidiano nos canaviais e nos engenhos de cana-
de-açúcar, são demonstrados os principais tipos de castigos aplicados aos
escravizados “indisciplinados”: tronco, bacalhau, vira-mundo, gargalheira.
116
Segundo a autora, não há como excluir essas informações, pois elas efetivamente
aconteceram, mas ressalta que essas o podem ser as informações mais
importantes no estudo do papel dessa parcela populacional ao longo da História
do Brasil:
Saber das suas dores nos faz ter a memória do sentido e
significado de liberdade para eles, mas, revivê-las repetidamente
não ajuda a elevar a auto-estima dos alunos e alunas negros que
se deparam com imagens e relatos de humilhação e sofrimento
de seus iguais, a exemplo dos textos e ilustrações massificantes
contidos nos livros didáticos de História, como destes em análise.
[...] Enfim, é preciso transcender a imagem do tronco e do castigo!
(CARVALHO, DM, 2006, p. 97).
Branco (DM, 2005) aponta a violência física e simbólica que constam nos
livros didáticos que analisou, fatos que antes não eram mencionados nesses
materiais. Mas, suas conclusões sobre este aspecto diferem da autora citada no
parágrafo anterior.
Hoje, o aluno-leitor, através desse tipo de narrativa histórica,
poderá formar novos conceitos sobre a escravidão e a vida
dos escravos, passando a ver o negro de outra maneira,
sensibilizando-se com o problema da discriminação e do
preconceito racial, tornando-se parte ativa num discurso
contra a desigualdade e injustiça sociais (BRANCO, DM,
2005, p. 117-118).
A recorrente alusão ao período da escravidão nos textos dos livros
didáticos também está presente em sua iconografia. Para Oliveira (DM, 2001, p.
104), a iconografia permanece como alvo de diversas críticas, visto que “as
reproduções iconográficas permanecessem como meras ilustrações ou meros
instrumentos estéticos”.
117
Uma imagem que simboliza a representação do negro nesses materiais se
refere ao seu cativeiro, com a utilização constante de imagens de Debret e
Rugendas, produzidas no séc. XIX. De acordo com Oliveira (DM, 2001, p. 109),
[...] Rugendas contribui em grande medida para o reforço da visão
idílica que tomaram emprestado autores de manuais de história.
Esse ideário tinha como fundamento a índole permissiva e,
sobretudo, os valores religiosos católicos dos senhores de
escravos.
Com uma perspectiva que minimizava o sofrimento dos escravizados,
Rugendas e Debret são os artistas preferidos dos produtores de livros didáticos
que, muitas vezes, não mencionam adequadamente informações sobre o autor,
sua obra e “menos ainda seu ‘lugar’ de produção” (OLIVEIRA, DM, 2001, p. 110)
Se muitas vezes a intenção primeira de Debret e Rugendas era
uma representação amena da situação do cativo, os livros
didáticos, sem atentar para os traços que os dois artistas
impuseram às suas obras, usam em geral dessa produção
artística com sentido diverso. Muitas vezes procurando
demonstrar a resistência da população negra ao cativeiro através
de suas manifestações culturais, os livros didáticos tomam
emprestadas aquelas mesmas imagens cujo objetivo por vezes é
deixar transparecer um ar de boçalidade e infantilidade do negro e
sua suposta incapacidade de inquirir sobre a dominação a que
está submetido (OLIVEIRA, DM, 2001, p. 113).
As ilustrações nos livros didáticos também são destacadas por Cruz (DM,
2000), salientando que há ilustrações sobre a escravidão em quase todos os
livros: do total dos 58 textos que faziam referência ao negro, encontrou 111
ilustrações, sendo que 70 delas ilustravam o período da escravidão: 47 delas
representando o desempenho de trabalho e 12 demonstravam o negro sendo
castigado.
118
O branco em nenhum momento é apresentado como o
responsável pela escravidão. Em geral aparecem próximos aos
negros nas gravuras em que os negros estão expostos no
mercado, ou sentados à mesa sendo servidos. Algumas imagens
chegam a explorar fatos que foram exceção no contexto
escravista, fazendo-os parecer a regra: brancos aparecem
benevolentes, alimentando crianças negras [...] e o negro aparece
surrando outro negro. De fato sabe-se que algumas vezes alguns
negros eram obrigados a punir os outros sobre pena de serem
também torturados. Contudo, esse tipo de ilustração sem a devida
explicação e pela carência da associação desse papel ao branco
passa a idéia de que os negros eram seus próprios algozes ou
que as senhoras brancas eram bondosas com as crianças negras
(CRUZ, DM 2000, p. 190).
A autora ressalta que, nos livros, o estímulo à gratidão pelo trabalho
realizado durante a escravidão destacando esse fato, como se justificando a
necessidade de que o Brasil tem de explorar o negro como escravizado, não
destacando, explicitamente, a exploração pelos portugueses:
Sendo assim, os negros não aparecem como escravizados, mas
como:
trabalhadores
‘Os escravos negros trabalharam nos engenhos de cana-de-
açúcar, depois na mineração e mais tarde nas lavouras de café.’
(1982, p. 182)
‘Os negros escravos foram trabalhar também com a criação de
animais’ (1996, p. 180);
empregados
‘...empregavam os negros para encontrar minérios...’ (1996,
p. 180) (CRUZ, DM, 2000, p. 172-173).
Cruz (DM, 2000) aponta que é constante nos livros didáticos analisados a
associação dos negros à imagem de trabalhadores, geralmente associados ao
regime de escravidão: o negro é considerado um homem forte que suporta muito
trabalho, descrito realizando diversas funções, principalmente nas fazendas.
119
Entretanto, na discussão sobre a substituição do trabalho do escravizado
pelo imigrante europeu, o potencial de trabalho do negro desaparece, sendo
apontado como pouco produtivo e inabilitado para o trabalho.
Branco (DM, 2005) afirma que nos livros analisados é constante a
apresentação do negro como trabalhador que realizou diversas tarefas durante a
escravidão.
Cruz (DM, 2000) destaca que comumente a justificativa para a substituição
da mão-de-obra escrava pela livre, baseia-se na suposta superioridade do branco
e na inferioridade do negro, com a argumentação de que o negro não tinha
experiência para esse tipo de trabalho e o branco seria mais adequado.
[...] Essa justificativa esconde a realidade que está por trás desse
fato histórico a qual consiste na determinação de embranquecer o
Brasil. O embranquecimento do país era considerado urgente, uma
vez que com a libertação da escravatura haveria um grande
contingente de homens livres negros comparado ao continente
africano. [...] (CRUZ, DM, 2000, p. 176).
Sobre esse ideário do embranquecimento Guimarães (2005, p. 53) destaca
que
A idéia de “embranquecimento” foi elaborada por um orgulho
nacional ferido, assaltado por dúvidas e desconfianças a respeito
de seu gênio industrial, econômico e civilizatório. Foi, antes de
tudo, uma maneira de racionalizar os sentimentos de inferioridade
racial e cultural instilados pelo racismo científico e pelo
determinismo geográfico do século XIX.
No final do século XIX e início do século XX os estudos sobre a
nacionalidade estavam relacionados à construção da identidade nacional e em
torno do espaço da população negra e mestiça na sociedade. Nesse contexto, as
reflexões sobre nacionalidade e povo estão fortemente influenciadas pelas teorias
120
racialistas de fins do século XIX, pondo em destaque as relações raciais
(MUNANGA, 1996a).
A tese defendida por João Batista Lacerda (na época diretor do Museu
Nacional) no Primeiro Congresso Internacional das Raças, realizado em 1911,
representa essa ideia de branqueamento. Lacerda defendia a tese, intitulada Sur
les Métis, de que o Brasil, em um século, seria branco ideia essa que naquele
momento foi percebida como negativa, pois se pensava que um século seria muito
tempo para os brasileiros “embranquecerem”. Essa tese foi apresentada junto à
pintura
56
- “A Marca de Cam” - feita por um artista do Museu das Belas Artes, que
sintetizava a ideia de branqueamento através de uma alegoria da cena bíblica do
nascimento de Jesus. Na imagem à esquerda, uma senhora negra, numa atitude
de louvor a um milagre, olha para os céus agradecendo por algo que aconteceu.
Do lado direito da obra, a representação do português: chinelão, cabelo escuro e
encaracolado e um olhar um pouco maroto. No centro uma mestiça, com a pele
mais clara que a da mãe. No centro da cena, levando os olhares a se aterem nele,
uma criança totalmente branca, de olhos bem claros, cabelos finos e pele alva,
numa alegoria ao nascimento de Jesus, “o Salvador” (SCHWARCZ, 1996a).
Oliveira (DM, 2000) também destaca que, apesar de nos livros analisados
haver a ação da população negra para conquistar a emancipação no período da
escravidão, bem como as consequências negativas da escravidão para os negros,
a percepção do despreparo destes para o trabalho livre permanece forte. “[...] A
substituição do trabalho escravo para o trabalho livre constitui o tema em que se
56
A reprodução dessa pintura encontra-se no Anexo A.
121
encontram as abordagens mais contraditórias, considerando a amostragem
indicada.” (OLIVEIRA, DM, 2000, p. 74). Como exemplo, cita a justificativa para a
substituição da mão-de-obra escravizada presente no livro de História do Brasil de
Elian Alabi Lucci, autor bastante utilizado até meados dos anos 80, a saber:
‘(...) a expansão da cultura cafeeira, além de exigir maior
quantidade de braços para a lavoura, exigia, também, por parte
dos trabalhadores, maiores conhecimentos sobre a agricultura.
Isto, no entanto, faltava aos escravos negros, que devido à sua
pouca cultura, conheciam apenas técnicas bastante rudimentares.
(Lucci, 1985 – p. 39) (OLIVEIRA, DM, 2000, p. 74).
Em uma outra perspectiva, Oliveira (2000) destaca trecho de um outro livro,
que reflete sobre o contexto desse período:
‘Além de conseguir trabalhadores para suas lavouras, eles [os
fazendeiros] achavam que a entrada de imigrantes brancos traria
‘sangue novo’ para o país e serviria para ‘branquear’ a população
brasileira. Apesar da convivência com o negro durante séculos, ou
talvez justamente por isso, havia profundos preconceitos contra os
negros, considerados como seres inferiores.’ (Carmo, Sônia Irene
Silva do e Couto, Eliane. História do Brasil. 1ª ed. São Paulo,
Atual, 1989, Vol. 2, p. 50) (OLIVEIRA, DM, 2000, p. 79).
Contrariando a perspectiva que ressalta a inabilidade dos negros para o
trabalho livre é interessante destacar as considerações de Fernandes: no período
após a abolição predominavam na cidade de São Paulo ocupações que exigiam
habilidades manuais, facilmente adquiridas no trabalho.” (Fernandes, 1965, apud
OLIVEIRA, DM, 2000, p. 76)
Sobre as justificativas para o fim da escravidão, Cruz (DM, 2000) destaca
que, em alguns livros, o fim da escravidão é descrito como resultado progressivo
da promulgação das leis em benefício do negro, do efeito do desencadeamento de
1
22
campanhas em favor da escravidão, da ação heroica de “ilustres brasileiros” ou,
ainda, meramente como fruto da Lei Áurea.
Em outra direção, há livros apontando que havia um contexto político que
não permitia o pleno vigor da escravidão: fugas dos negros para os quilombos,
compra de carta de alforria pelos próprios, a existência de sociedades de
irmandades que lutavam contra o regime estabelecido, pressões abolicionistas e
externas, capitaneadas pelos ingleses que percebiam a escravidão como um
empecilho para o consumo de suas mercadorias. Para a autora, houve uma
mudança positiva na discussão sobre o fim da escravidão, colocando o negro
como um dos sujeitos desse processo. Para Oliveira (DM, 2000, p. 78),
É significativo constatar que os livros didáticos correspondentes
aos dez primeiros anos de abrangência da pesquisa guardam uma
maior proximidade com linhas historiográficas mais tradicionais,
onde a figura do negro estava invariavelmente e exclusivamente
relacionada a de escravo. Dentro desse viés historiográfico, o
negro não se colocava enquanto sujeito histórico, dependendo
invariavelmente das ações de outros agentes. Nesta perspectiva, o
processo que levou ao fim da escravidão no Brasil era traçado a
partir de um encadeamento de leis e ações promovidas pelos
abolicionistas. A figura maternal da Princesa Isabel mantinha-se
como um dos pilares da narrativa.
Em outros casos esse encadeamento era articulado a questões
políticas, como o caso dos movimentos republicanos, de forma a
deixar explícito o alinhamento das propostas abolicionistas e
republicanas.
A resistência negra à escravidão é demonstrada nos livros didáticos
relacionados à História do Brasil, particularmente a partir dos anos 1980. Cruz
(DM, 2000) demonstra que os livros mais recentes apontam esta resistência a
partir de 1989. O exemplo mostrado nos livros que tratam do assunto é o de
Palmares, localizado no atual estado de Alagoas.
123
Além da organização dos quilombos como forma de resistência
negra, cinco livros [...] citam outras formas de resistência, tais
como: luta constante pela liberdade, fugas, revoltas, pequenos
furtos, envenenamentos, suicídios, ironia, assassinatos, e
mantendo costumes de origem (CRUZ, DM, 2000, p. 178).
A autora ressalta a descrição minuciosa em todos os textos da destruição
de Palmares, morte de Zumbi e de outras batalhas de resistência negra,
evidenciando a derrota. Isso possibilita associar a imagem dos brancos à ideia de
vencedores e associar a imagem dos negros à de fracassados, como nos trechos,
a seguir, retirado de livros que analisou:
‘O quilombo foi destruído pelo Bandeirante Domingos Jorge
Velho. Zumbi fugiu e depois foi morto em emboscada’
‘... Zumbi foi ferido, sobreviveu ao fim de macaco e continuou na
guerrilha, com um pequeno grupo, a ser traído por um
companheiro. No dia 20 de novembro de 1695 foi emboscado e
morto. Sua cabeça foi espetada em praça pública, no Recife’
(CRUZ, DM, 2000, p. 181).
Também pontua que essa descrição minuciosa ocorre em outras batalhas
de resistência negra, sendo também comum a omissão dos objetivos e das
reivindicações dessas lutas:
(Revolta dos Malês)
‘Houve mais de 40 mortos em combate e dezenas de negros foram
presos e condenados a penas que chegavam a 600 açoites. Cinco
líderes foram fuzilados’ (CRUZ, DM, 2000, p. 182).
Branco (DM, 2005) também destaca as diferentes formas de resistência à
escravidão nos livros didáticos que analisou:
[...] a primeira reação ao cativeiro foi o crime. Desde o assassinato
do senhor até a fuga, os negros escravizados tentaram escapar às
leis dos brancos, que os igualavam às bestas.
Outra forma de reagir a esse tratamento foram a indolência
(‘preguiça’) e a displicência (descuido) no trabalho, que as
punições do feitor ou os castigos do proprietário procuravam
124
corrigir. Também era comum as escravas grávidas provocarem o
aborto, a fim de evitar que seus filhos tivessem a mesma sorte.”
(BRANCO, 2005, p. 122).
As três coleções analisadas mostram os quilombos como uma das
maneiras mais pujantes de resistência e se referem a Palmares como o expoente
da luta pela liberdade.
Oliveira (DM, 2001) destaca que a abordagem sobre a resistência da
população negra à dominação ganha força nos anos 1980. Outro aspecto comum
presente nos livros analisados é a relação entre a resistência negra e indígena à
marginalização em que vivem na sociedade contemporânea.
[...] Em geral os livros didáticos oscilam entre dois extremos, entre
textos mais conservadores que praticamente não mencionam as
reações da população negra contra [ a ] dominação (produção
predominantemente do final dos anos setenta) e no outro oposto,
livros cuja posição é marcada pela resistência dos escravos em
seu conjunto, sem apresentar as contradições inerentes aos
diferentes grupos em questão (OLIVEIRA: 2000, p. 83).
Carvalho também destaca que, nos livros analisados, a resistência dos
africanos e seus descendentes está centrada nos quilombos, particularmente o de
Palmares. Salienta que além de os livros não abordarem outras formas de
resistência, os textos possibilitam interpretações distorcidas, equivocadas. Por
exemplo, a percepção de que os africanos foram passivos à escravidão.
‘Quando os portugueses iniciaram o cultivo da cana-de-açúcar,
tentaram escravizar o índio, mas estes se revoltaram contra a
escravidão e, como conheciam bem o país, fugiam para o interior.
Os portugueses, então, partiram para a utilização do trabalho do
escravo africano.’ (PILETTI & PILETTI (1996), da 5ª série, Capítulo
7 – O Brasil negro, página 76 apud CARVALHO, DM, 2006, p. 90).
125
A partir da análise das pesquisas dessa categoria, destacamos como os
autores enfocam as mudanças e permanências na abordagem sobre o negro nos
livros didáticos. Segundo Cruz (DM, 2000, p. 195),
Concretamente essa dinâmica ficou evidenciada pela permanência
de uma abordagem localizada sobre o negro no tema que trata da
formação do povo brasileiro e pela emergência dos temas de
História da África e a resistência à escravidão por meio da
formação de quilombos.
Branco destaca algumas mudanças na apresentação dos fatos históricos
sobre os negros nos períodos Colonial e Imperial como, por exemplo, a posição da
Igreja Católica em relação à escravidão e a “ânsia dos escravos pela liberdade,
em lutas e rebeliões” (BRANCO, DM, 2005, p. 138).
Considera que esses avanços não se encontram a partir do período
republicano: o negro saiu das páginas dos livros didáticos e reaparece, apenas
esporadicamente, como em a Revolta da Chibata; participando de uma Copa do
Mundo ou quando se trata de lutas raciais fora do Brasil. Em Piletti & Piletti (8ª
série, 2003), nas 240 páginas que versam sobre a História do Brasil, encontrou
apenas cinco referências aos negros brasileiros; Mario Schmidt (8ª série, 2001),
em 329 páginas, reservou apenas duas citações sobre essa população com
conotação histórica; em Furtado & Villa (6ª série, 2001), com 167 páginas, há duas
menções: uma histórica e outra esportiva (BRANCO, DM, 2005).
Além disso, afirma que as lutas antirracistas e antidiscriminatórias
empreendidas pela população negra não estão presentes nos livros didáticos de
História do Brasil, a partir da República e que associações e movimentos negros
126
importantes não são citados nos livros, como a FNB, mas salienta que
referência aos negros norte-americanos e suas lutas contra o racismo e sobre o
Apartheid. Essa ausência das lutas antirracistas no Brasil pode remeter a uma
percepção de que no Brasil não existe discriminação racial e que todos são iguais:
Assim é o racismo brasileiro: sem cara. Travestido em roupas
ilustradas, universalistas, tratando-se a si mesmo como anti-
racismo, e negando, como anti-nacional, a presença integral do
afro-brasileiro ou do índio-brasileiro. Para este racismo, o racista é
aquele que separa, não o que nega a humanidade de outrem;
desse modo, racismo, para ele, é o racismo do vizinho (o racismo
americano). (GUIMARÃES, 2005 p. 60).
A visão sobre o negro, com alusão apenas ao passado, também é apontada
por Dias (DM, 1994, p. 80-81), em:
Toda a vez que se refere ao negro, o livro didático, o identifica no
passado, como uma realidade que nada tem em comum com a
atualidade: Os negros foram escravizados, os negros lutaram, os
negros ajudaram na construção, a negra era,... O negro é então
identificado com o passado, não existe mais, está morto e
enterrado.
Oliveira também destaca a ausência de imagens da população negra na
sociedade atual, restringindo-se a algumas imagens dos movimentos negros,
geralmente demonstrando as ações do Movimento Negro e a sua marginalização
social. Recorrentemente a sua imagem está associada à de tima do sistema
dominante.
[...] Uma variante a esse traço geral é retratada a partir do legado
cultural das tradições de origem africana anteriores ao cativeiro, ou
pelas criações e manifestações de resistência e sobrevivência.
[...] No último caso as ilustrações retratam aspectos da cultura
ancestral da população negra como manifestações religiosas,
danças, instrumentos musicais, comidas. Temos aqui imagens que
se repetem nos livros, ligando a população negra, em muitos
casos, a formas estereotipadas. o recorrentes, por exemplo, as
127
imagens de baianas com ‘trajes típicos representando a
religiosidade ou a variedade da culinária de origem afro-brasileira,
grupos de capoeiras, desfiles carnavalescos, que têm como meta
a diversidade da cultura dos afro-descendentes, representando um
exotismo multicultural canonizado (OLIVEIRA, DM, 2000, p. 106-
107).
Oliveira (DM, 2000) ressalta que há mudança e permanência no período
que compreende sua análise (1978-98), como a valorização dos movimentos
reivindicatórios e a preocupação de retratar a situação da população na sociedade
atual. O autor afirma que representa um avanço nos livros didáticos de História a
abordagem do negro na sociedade contemporânea. Porém destaca que
predomina a homogeneização da representação do negro: de escravizado à
marginalizado na sociedade atual, com pouco destaque para a multiplicidade de
sua condição.
Segundo Silva (TD, 2001, p. 158), a população negra está representada no
livro didático, numa perspectiva universalista do cidadão abstrato, que torna
invisível o cidadão concreto em suas diferenças e contradições:
A diversidade de experiências da vida cotidiana dos personagens
negros, bem como as diferentes manifestações culturais que
permeiam o seu dia-a-dia, não estão contempladas na
representação, que equaliza o individuo, os grupos sociais,
étnicos, culturais e raciais ao cotidiano, experiências e cultura do
grupo dominante na sociedade.
Além da homogeneização da condição do negro e da perspectiva
universalista do cidadão abstrato o destaque de Silva (DM, 2005, p. 128), ao
analisar os livros didáticos de Ciências, como segue:
[...] sub-representação do corpo humano negro em comparação a
uma super exposição de corpos humanos brancos. Apesar de os
corpos humanos negros estarem sendo apresentados aparentando
128
pertencer ao nível sócio-econômico médio, os lugares sociais
ocupados eram os de esportistas e artistas, em sua maioria,
ficando as funções de maior prestígio social, como medicina,
reservadas ao corpo humano branco, o que revela a veiculação do
preconceito de que pessoas pertencentes à etnia negra são menos
inteligentes, por isso não ocupam na sociedade, funções de
prestígio social e que exigem estudo e raciocínio lógico.
Nos livros dos dez primeiros anos analisados por Oliveira, é significativo
observar a aproximação de abordagens historiográficas mais tradicionais, nas
quais o negro estava unicamente relacionado à condição de escravo, numa
perspectiva em que o negro não se colocava como sujeito histórico, estando
subordinado às ações de outros.
Os livros didáticos do período correspondente aos anos de 1978 a
1988 uma forte tendência para atribuir essa formação a uma
determinada ‘mistura racial’ aliada a idéia de contribuições
advindas de cada uma das três raças consideradas primordiais na
nossa formação: o indígena autóctone, o negro africano e o branco
europeu. O problema dessa tríade era a sua hierarquização que
acaba por construir uma verdadeira pirâmide, onde a partir do
‘grau de civilização’ ou importância de cada um dos grupos
considerados, iam sendo fornecidos determinados atributos de
caráter e características culturais que eram apresentadas de forma
genérica (OLIVEIRA, DM, 2000, p. 97).
Nos livros didáticos, permanece a perspectiva do multiculturalismo
conservador, na qual o negro participou com pequenas contribuições na
sociedade brasileira.
As culturas de indígenas e negros são ainda entendidas e
apresentadas como fragmentos inseridos na cultura dominante da
população branca. Como se verifica na maioria dos livros
analisados, as culturas africanas ficam restritas a exemplos
culinários, rítmicos, religiosos (OLIVEIRA, DM, 2001, p. 103-104).
A percepção sobre as contribuições e similares como “influências”
começam a mudar na produção mais recente, mais fortemente a partir de meados
129
dos anos 80. Porém as elites brancas continuam sendo os agentes principais.
(OLIVEIRA, DM, 2000)
Branco destaca que na historiografia oficial, bem como nos livros didáticos
de História do Brasil, a população negra não é percebida como construtora e
participante da sociedade brasileira. Carvalho (DM, 2006) também aponta a
ausência da discussão sobre o continente africano nos livros que analisou, o que
dificulta a visibilidade da história e das origens étnicas dos africanos trazidos ao
Brasil. Bittencourt (2008, p. 199, grifos do autor) afirma que
[...] Entre nós, tem prevalecido a idéia de que esses grupos
populacionais [indígenas, escravizados e seus descendentes,
trabalhadores] não possuem História e, nessa perspectiva, se
torna difícil compreender, ainda hoje, que a História deles faz
parte da História do Brasil. É possível aceitar, apenas, que eles
tiveram influências, ou então deram algumas contribuições para a
vida cultural, como hábitos alimentares, para a musica, ou em
eventos esportivos, principalmente o futebol, um dos esportes de
identificação da nacionalidade
.
As pesquisas desta categoria demonstram que ocorreram algumas
mudanças na abordagem sobre o negro nos livros didáticos, particularmente, a
partir de meados dos anos 1980, decorrentes, em certa medida, da atuação do
movimento negro. Desde os anos 1950, são dirigidas críticas aos livros didáticos a
respeito da omissão da História e cultura dos africanos e negros brasileiros; ao
seu conteúdo preconceituoso e racista; ao negro representado como minoria; a
ausência da família negra e à forma de retratar o negro de modo estereotipado em
130
seus traços físicos ou animalizado, numa tentativa de retirada de sua
humanidade.
57
Um das mudanças se refere à menção da resistência negra contra a
escravidão, principalmente, através dos quilombos, com o destaque para o
Quilombo de Palmares. Outra questão diz respeito à representação dos negros
com família e sem estigmas e estereótipos.
Entretanto, as alterações nos livros didáticos são insuficientes para
proporcionar uma educação antirracista e que contemple as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de
Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Os livros didáticos continuam, de um
modo geral, representando o negro como minoria na sociedade brasileira, imerso
na perspectiva do universalismo abstrato a partir dos valores eurocêntricos e com
a homogeneização de sua situação na sociedade atual. Alem disso, é constante a
abordagem sobre o negro como escravizado; no passado e a partir de uma
perspectiva em que a participação dos negros na construção da sociedade
brasileira se resume a pequenas contribuições.
Os livros didáticos se constituem em um dos principais veículos dos
currículos escolares e são necessárias alterações substanciais para que possa
contemplar os diferentes saberes e conhecimentos. Segundo Sacristán (2000a, p.
160),
“A melhora dos meios que traduzem e elaboram o currículo é uma via de
57
A esse respeito ver o capítulo Livro Didático: análises e propostas (p. 86-105) In: Fundação Carlos Chagas
(1987).
131
eficácia reconhecida para elevar a qualidade do ensino, daí a necessidade de
considerá-la numa política de renovação curricular [...]”.
Para que essas mudanças ocorram, é necessária a participação de
especialistas sobre as relações etnicorraciais nas políticas de avaliação do livro
didático. Além disso, deve-se possibilitar a incorporação dos materiais didáticos e
paradidáticos que vêm sendo produzidos pelo movimento negro e outros sujeitos
sociais que estão contribuindo para repensar as relações etnicorraciais nas
instituições educacionais.
Outra questão, destacada pelos autores das investigações desta categoria,
diz respeito à necessidade de uma formação inicial e continuada dos educadores
que os possibilite refletir sobre as desigualdades entre negros e brancos na
sociedade brasileira; problematizar a perspectiva eurocêntrica que vem
embasando os currículos escolares; desconstruir estereótipos e práticas
preconceituosas e discriminatórias em relação à população negra na sociedade
brasileira e, particularmente, nas praticas curriculares; adquirir novos
conhecimentos sobre a História e Cultura dos africanos e dos negros brasileiros
em um processo formativo que ofereça subsídios para que os educadores possam
selecionar materiais didáticos que contribuam para a igualdade etnicorracial.
3.2 - Relações etnicorraciais no currículo em ação
132
Esta categoria integra as três pesquisas que versam sobre as relações
etnicorraciais que se efetivam nas práticas curriculares e a incompatibilidade entre
o proposto e o que se realiza na realidade concreta das instituições educacionais.
De acordo com Sacristán, o currículo é um campo privilegiado para analisar as
contradições entre as intenções e a prática educativa. Para conhecer o currículo é
fundamental compreender além das declarações, dos documentos, da retórica.
Nas propostas escritas de currículo se expressam mais os anseios do que as
realidades. Sem considerar as interações entre esses aspectos, não se pode
compreender o que os alunos aprendem e o que acontece realmente com eles.
(SACRISTÁN, 2000a, 2000b).
[...] O currículo na ação é a última expressão de seu valor, pois
enfim, é na prática que todo projeto, toda idéia, toda intenção, se
faz realidade de uma forma ou de outra; se manifesta, adquire
significação e valor, independentemente de declarações e
propósitos de partida. Às vezes, também à margem das
intenções, a prática reflete pressupostos e valores muito diversos.
O currículo, ao se expressar através de uma práxis, adquire
significado definitivo para os alunos e para os professores nas
atividades que uns e outros realizam e será na realidade aquilo
que essa depuração permita que seja. (SACRISTÁN, 2000a, p.
201)
As três dissertações desta categoria são as seguintes:
CONCEIÇÃO, Maria Telvira da. O negro no Ensino de História: uma análise das
suas implicações e desafios no contexto do ensino médio. Mestrado (Educação),
Universidade Federal do Ceará, 2001.
DURANS, Claudicea Alves. O negro e a dinâmica das relações sociorraciais na
trajetória da sociedade brasileira: reflexos no processo educacional. Mestrado
(Educação), Universidade Federal do Maranhão, 2002.
GOMES, Ana Beatriz Sousa. A prática pedagógica curricular e o aluno negro: um
estudo de caso numa escola pública do ensino fundamental em Teresina-PI.
Mestrado (Educação), Fundação Universidade Federal do Piauí, 2000.
133
Gomes (2000) busca analisar a prática pedagógica de três professoras da
série de uma escola pública, em Teresina,Piauí, em relação aos alunos negros
pertencentes a uma sala do período da manhã. Deve-se destacar que a referida
turma era a que mantinha a maior quantidade de alunos desse segmento racial -
dos 34 alunos da sala, 18 foram considerados como negros.
Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com todas a professoras da
série do turno da manhã, com os dezoito alunos negros e com cinco alunos
não-negros, com a supervisora, a diretora, o diretor adjunto e a professora da sala
de vídeo. A autora (p. 104) organiza os dados coletados a partir de dois
referenciais: “(1) a interação entre professores e alunos negros nas atividades
didáticas desenvolvidas na sala de aula;(2) a opinião dos alunos negros em
relação à prática pedagógica dos professores.” Afirma Gomes (DM, 2000, p. 146),
De acordo com a análise dos dados, verificamos que as atividades
didáticas na sala de aula, observadas no que se refere ao trabalho
relacionado aos aspectos abordados sobre a raça negra, deixam
muito a desejar, em relação aos conteúdos de ensino e
metodologia das aulas. As professoras atuam como reprodutoras
da ideologia existente nos livros didáticos. Somente uma
professora, das três que foram sujeitos dessa pesquisa,
comentava temas relacionados à raça negra. No entanto, era, na
maioria das vezes, uma abordagem voltada para o passado
histórico da escravidão dos negros, associando o negro ao
escravo e assim ao fraco, ao oprimido, ao dominado, prejudicando
a formação da identidade e identificação racial dos alunos.
Em sua dissertação, Durans (DM, 2002) teve como objetivo central a
análise da dinâmica sociorracial no ambiente escolar em duas escolas da rede
estadual de ensino do Maranhão. A Unidade Integrada do Estado do Pará, uma
134
das escolas eleitas como lócus da pesquisa, localiza-se no bairro da Liberdade, no
qual as manifestações culturais são ricas e variadas.
[...] a cultura popular, mais especificamente a negra, se manifesta
através dos terreiros de umbanda, candomblé, tambor de crioula,
festejos de santos, capoeira, festividades sazonais (juninas,
carnavalescas), etc. Ressalta-se também que as entidades do
movimento negro, como o Centro de Cultura Negra e o Quilombo
urbano, têm atuado junto a essa comunidade e nessa escola,
promovendo debates temáticos sobre a discriminação racial, a
construção da auto-estima dos negros, e outros temas além de
desenvolverem outros tipos de atividades culturais (DURANS, DM,
2002, p. 20-21).
Um dos critérios de eleição das escolas foi o número considerável de
negros que compõem a população do bairro segundo dados oferecidos pelas
entidades ligadas à população negra, o bairro da Liberdade é o que concentra a
maior densidade populacional desse segmento racial em São Luis. Foi
considerada, ainda, como critério de escolha, a experiência particular da autora na
escola como discente do ensino fundamental e como estagiária do curso de
formação de professores (Magistério). A outra escola, Unidade Integrada Benedito
Leito, localizada no centro da cidade, foi selecionada devido à localização
geográfica e ao título que detém como escola padrão.
As entrevistas foram realizadas com 10% dos alunos que se candidataram
voluntariamente, com 30% dos professores (divididos por áreas de conhecimento),
diretores e secretários das escolas, abordando questões em torno dos seguintes
temas: “significado e importância da composição racial da sala de aula,
concepção, análise e caracterização da questão étnico-racial na sociedade
brasileira, análise dos referenciais que subsidiam os professores no tratamento
135
dessa temática, percepção sobre as relações sócio-raciais na sala de aula e o
tratamento dado a esta questão na escola” (DURANS, DM, 2002, p. 23). Segundo
a autora, a perspectiva dominante, que propaga a harmonia cultural e racial dos
diversos grupos humanos e a retórica do “Brasil mestiço”, está presente na
percepção dos professores e alunos sobre as relações etnicorraciais .
Conceição (DM, 2001, p. 3) objetiva “identificar e analisar as implicações e
os desafios das abordagens sobre o negro na história escolar, particularizando o
ensino médio como recorte de sua análise”. Realiza a pesquisa em três escolas de
Fortaleza, uma da rede pública e duas da rede particular e busca apreender a
percepção de 6 professores de História e 151 alunos sobre a questão supracitada,
por meio de questionários, entrevistas individuais e acompanhamento de reuniões
de professores. A autora conclui sobre a necessidade de mudanças no ensino de
História através de uma revisão profunda no que diz respeito à História do negro.
A apreensão das incongruências entre o proferido e o realizado nas práticas
curriculares em relação à população negra pode ser percebida, inicialmente, pelas
falas dos sujeitos envolvidos, particularmente os alunos e professores, a respeito
da importância da História e Cultura dos africanos e dos negros brasileiros.
Conceição (DM, 2001, p. 45) esclarece:
Sobre a importância ou não de se trabalhar com a História do
negro, 80,7% disseram que sim e 17,2% disseram mais ou menos.
Perguntados sobre os assuntos que gostariam de discutir sobre o
negro, a temática da escravidão e seus correlatos se repete: (...)
Apesar de 79,4% dos alunos terem reconhecido [...] que os
assuntos relacionados ao negro “não são explorados o suficiente”,
ainda assim, quando são convidados a propor novas questões,
136
não conseguem, pelas respostas apresentadas, ir além do que o
ensino desta disciplina intencionalmente discute na escola.
Durans (DM, 2002) também destaca que os professores consideram
importante inserir tal temática na prática pedagógica e que devem discuti-la nas
aulas. Em relação aos alunos, 80% apontaram a importância da temática para
aprenderem a valorizar e respeitar os colegas de diferentes origens e 20%
consideram que a escola deve se constituir em espaço de debate sobre o racismo
no Brasil e de elevação de autoestima da população negra.
Apesar de os docentes e discentes destacarem a importância da discussão
acerca das relações etnicorraciais na História e Cultura africana e dos negros
brasileiros, essa questão não está efetivamente presente nas práticas curriculares,
sendo abordada de maneira esporádica.
Durans (DM, 2000) destaca que 50% dos docentes por ela entrevistados
disseram que tratam desse assunto quando formam grupos de trabalho com a
integração de diferentes etnias; 20% tratam da questão quando ocorrem
polêmicas relativas ao preconceito e/ou discriminação no cotidiano escolar e
quando alguma situação específica é divulgada pela mídia. 10% apontaram que
discutem essa temática quando oportunidade, pois não sabem encaixá-la” em
suas disciplinas e o podem comprometer o programa que têm que cumprir.
Ressalta que apenas 20% dos professores incluem essa temática em disciplinas
como História, Religião ou Ética. Em relação aos alunos, 70% dos entrevistados
apontaram que a escola discute a temática na organização dos grupos de
trabalho; nas aulas de História e Ética, em algumas datas, como o 13 de maio e o
137
20 de novembro ou quando ocorrem manifestações de preconceito e
discriminação na sala de aula.
Gomes (DM, 2002, p. 112) destaca o depoimento de uma das professoras
envolvidas em sua pesquisa que declara trabalhar a temática quando é preciso.
Às vezes, quando tem alguma divergência eles dizem assim: ‘Ah,
esse neguinho’ ou ‘este moleque’, quando a pessoa é assim mais
escura um pouco... Geralmente, eu chamo a atenção, dizendo o
seguinte: cada um tem um nome, não interessa a cor, não
interessa como é que seja. Na sala de aula tem aquele negócio de
apelido, eu acho que eles têm esse preconceito, talvez eles não
entendam o que seja o preconceito em si, mas eles têm devido a
isso... o negro foi escravo, foi isso, foi aquilo, apesar da gente
explicar a utilidade para que serve o negro, a importância dele e
tudo, mas eles não aceitam, eles não aceitam de jeito nenhum,
então eu acho que esse racismo já vem dessa própria época da
escravidão dos negros. (DM, 2000, p. 112)
Outra questão significativa sobre as relações etnicorraciais nos currículos
escolares se refere ao fato de o currículo eurocêntrico não ser questionado, como
se, naturalmente, fosse a indicação do que é valioso a ser ensinado e não
resultado de uma construção histórica. Esse aspecto precisa ser levado em
consideração para a análise das práticas que se desenvolvem na sala de aula.
Nesse sentido, é interessante destacar a percepção sobre a participação do negro
na construção do país, a partir da fala de um dos professores participantes da
pesquisa de Conceição (DM, 2001, p. 62-63):
[...] O que a gente deve ao negro? Mas deve muito mais na
sociedade atual ao branco. Ao negro devemos alguma coisa, ao
índio nós devemos, mas a nossa sociedade é toda estruturada no
elemento branco. Porque do negro você pode tirar, você pode tirar
todas as comidas, você pode tirar toda a macumba. Mas você não
pode tirar de uma hora pra outra a língua, a estrutura política, a
religião. Não é? Então não dá pra supervalorizar.
138
O papel dos educadores na definição dos currículos escolares realmente
efetivados nas salas de aulas, na percepção dos conhecimentos vistos como
valiosos para serem transmitidos e na desconsideração de outros conhecimentos
tem importância para a compreensão do currículo que se realiza nas escolas.
Os professores realizam sua prática em um local de trabalho, integrante
de uma instituição que possui normas de funcionamento orientadas, às vezes,
pela administração, pela política curricular, pela direção da escola, por exemplo.
Sua prática está condicionada. Mas, a mediação do professor nos currículos
escolares não é simplesmente a de mutilar ou acrescentar. Ela é complexa.
O professor é mediador entre o aluno e a cultura através do nível
cultural que em princípio ele tem, pela significação que atribui ao
currículo em geral e ao conhecimento que transmite em particular
e pelas atitudes que tem para com o conhecimento ou para com
uma parcela especializada do mesmo. Daí seu papel decisivo,
que a filtragem do currículo pelos professores não é mero
problema de distorções cognitivas ou interpretações pedagógicas
diversas, mas também de distorções nesses significados que, de
um ponto de vista social, não são equivalentes nem neutros. Se a
distribuição do conhecimento na sociedade e no sistema educativo
está relacionada com as pautas de controle e a distribuição do
poder na sociedade, a mediação do professor nessa relação tem
conseqüências importantes. Seu papel não é só analisável desde
a ótica da correção pedagógica ou segundo o grau de respeito à
essência do conhecimento, mas também pelas distorções que
introduz (SACRISTÁN, 2000a, 177-178).
Para tornar nítida a realidade curricular é necessário também observar
efetivamente o que os alunos aprendem. A esse respeito, podemos perceber pela
análise das dissertações desta categoria que, geralmente, os conhecimentos que
os alunos possuem sobre a História e Cultura dos africanos e dos negros
brasileiros limitam-se ao período da escravidão. Isso é apontado por Conceição
(DM, 2001), quando destaca que 82,11% dos alunos que participaram de sua
139
pesquisa responderam que já haviam estudado alguma temática sobre o negro e
os assuntos mais mencionados foram: ano: 67,1% escravidão; ano: 75%
escravidão; 3º ano: 75% escravidão. Também foram mencionados outros
assuntos relativos ao mesmo período (abolição, tráfico), como se a importância da
História do negro a ele estivesse reduzida.
Gomes (DM, 2002) também ressalta que alguns alunos envolvidos em sua
pesquisa disseram que a questão do racismo ou da discriminação racial não era
tratada nos livros didáticos da série, mas que eles se atinham apenas a
aspectos relacionados à escravidão.
O livro de história fala que os escravos trabalhavam na lavoura de
cana-de-açúcar, que eram a mão-de-obra. Cl, 11 anos (GOMES:
2000, p. 114).
O livro fala coisas sobre os escravos. Lei, 14 anos (GOMES:
2000, p. 112).
Nas praticas curriculares, é constante a alusão à condição desfavorável dos
negros escravizados e à perspectiva de menor valor atribuída ao negro brasileiro
em relação ao branco na construção da sociedade brasileira. Segundo as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Etnicorraciais e
para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (2004, p. 14) “[...]
ainda persiste em nosso país um imaginário étnico-racial que privilegia a brancura
e valoriza principalmente as raízes européias da sua cultura, ignorando ou pouco
valorizando as outras, que são a indígena, a africana e a asiática”.
Essa visão recorrente acerca da população negra acaba interferindo
negativamente na identificação etnicorracial dos alunos negros. Essa dificuldade é
140
apontada por duas pesquisas desta categoria. Conceição (DM, 2001, p. 28)
assinala que:
É bastante clara a dificuldade que os cento e cinqüenta e um
alunos manifestaram ao se identificar etnicamente, uma vez que
apenas 5,2% (8), se disseram negros. Em contrapartida, 45% (68)
se declararam brancos e 36,4% (55) se definiram morenos, uma
categoria de classificação que não foi sugerida entre as opções
do questionário e por fim, 13,4% (20) se declararam como
amarelos. [...] A dificuldade dos alunos não está restrito apenas à
percepção individual destes sujeitos, visto que é uma recorrência
do processo de negação da identidade étnica desse grupo [...]
(CONCEIÇÃO, DM, 2001, p. 28).
Durans (DM, 2002, p. 96) também se refere a essa questão:
[...] na classificação racial e étnica das escolas pesquisadas,
observou-se a utilização de termos como “moreno”, “moreno
claro”, “mulato” e “pardo”, demonstrando o “simbolismo de cor”,
reificado por grande maioria dos entrevistados. Nota-se que a
intencionalidade da maioria dos entrevistados é identificar-se com
categorias intermediárias, revelando um ideal de identidade étnica
e, ao mesmo tempo, a influência da ideologia assimilacionista do
branqueamento na população brasileira.
A projeção de uma autoimagem inferior ou depreciativa de si próprio leva
muitos negros a tentarem se aproximar do padrão considerado ideal e valorizado
socialmente, negando a sua origem racial inscrita na cor da pele e na textura dos
cabelos. Simbólicas desse processo tenso de classificação são as várias
gradações da cor da pele pelas quais a população se identifica e se classifica.
Exemplar disso foi a utilização, pelos brasileiros, de 136 cores na definição sua
cor, identificadas pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)
realizado pelo IBGE em 1976:
Acastanhada, agalegada, alva, alva-escura, alvarenta, alva-rosada, alvinha, amarelada,
amarela-queimada, amarelosa, amorenada, avermelhada, azul, azul-marinho, baiano,
141
bem-branca, bem-clara, bem-morena, branca, branca-avermelhada, branca-melada,
branca-morena, branca-palída, branca-sardenta, branca-suja, branquiça, branquinha,
bronze, bronzeada, bugrezinha-escura, burro-quando-foge, cabocla, cabo-verde, café,
café-com-leite, canela, canelada, cardão, castanha, castanha-clara, cobre-rosada, cor-de-
café, cor-de-canela, cor-de-cuia, cor-de-leite, cor-de-ouro, cor-de-rosa, cor-firme, crioula,
encerada, enxofrada, esbraquecimento, escurinha, fogoiô, galega, galegada, jambo,
laranja, lilás, loira, loira-clara, loura, lourinha, malais, marinheira, marrom, meio-amarela,
meio-branca, meio-morena, meio-preta, melada, mestiça, miscigenação, mista, morena-
bem-chegada, morena bronzeada, morena-canelada, morena-castanha, morena-clara,
morena-cor-de-canela, morenada, morena-escura, morena-fechada, morenão, morena-
prata, morena-roxa, morena-ruiva, morena-trigueira, moreninha, mulata, mulatinha, negra,
negrota, pálida, Paraíba, parda, parda-clara, polaca, pouco-clara, pouco-morena, preta,
pretinha, puxa-para-branca, quase-negra, queimada, queimada-de-praia, queimada-de-
sol, regular, retinta, rosa, rosada, rosa-queimada, roxa, ruiva, ruço, sapecada, sarará,
saraúba, tostada, trigo, trigueira, turva, verde, vermelha, além de outros que não
declararam a cor.
Através de mecanismos simbólicos de fuga, os brasileiros, apontando para
o embranquecimento, tentam se aproximar do padrão valorizado socialmente, que
é o branco (MUNANGA, 1996a).
As pesquisas desta categoria revelam a dissociação entre as intenções e a
prática curricular realizada acerca da discussão sobre as relações etnicorraciais
na sociedade brasileira e que não uma ação planejada visando à discussão da
História e Cultura africana e dos negros brasileiros. Conforme Sacristán (2000b, p.
133),
[...] o significado real do currículo não é o plano ordenado,
seqüenciado, nem que se definam as intenções, os objetivos
concretos, os tópicos, as habilidades, valores, etc., que dizemos
que os alunos/as aprenderão, mas a prática real que determina a
experiência de aprendizagem dos mesmos.
142
Apesar da importância atribuída à discussão de assuntos referentes à
população negra, na prática curricular essas questões são tratadas
esporadicamente, como se não fizessem parte da História do Brasil. Além disso,
esse tema é visto como difícil de ser discutido e, quando ocorrem, os debates
sobre as diferenças etnicorraciais são dissociados do contexto social, econômico e
político. Contudo, essas diferenças estão inseridas nas relações de poder que
produzem exclusões e desigualdades. O pertencimento racial é um dos elementos
estruturantes das relações sociais que, cotidianamente, inferioriza os sujeitos
devido à cor de sua pele e à textura de cabelo e, simultaneamente, desqualifica os
conhecimentos, saberes, valores de seus antepassados africanos.
Outros pontos, levantados pelos autores das pesquisas, referem-se à
necessidade de alterações nos currículos escolares com a revisão de seus
conteúdos e abordagens sobre o negro na sociedade brasileira, com acesso a
outros materiais didáticos e paradidáticos que contemplem, de fato, as diferenças
etnicorraciais.
3.3 Estereótipos, preconceito racial e discriminação racial no cotidiano
escolar
Esta categoria agrega oito pesquisas que discutem como a lógica
eurocêntrica das práticas curriculares perpassa as relações interpessoais no
143
cotidiano escolar e como essas contribuem para a interiorização de
comportamentos, atitudes e valores preconceituosos e de práticas discriminatórias
em relação à população negra, gerando um falso sentimento de superioridade nos
alunos brancos e de inferioridade nos alunos negros.
A problematização dessas situações, esmiuçando as diferentes formas em
que se revelam nas escolas, pode contribuir para mudanças das relações
desiguais que são produzidas e reproduzidas cotidianamente. É comum o
professor apontar que o percebe os conflitos etnicorraciais no interior das
instituições educacionais. No entanto, essas práticas preconceituosas estão
presentes e se relacionam ao modo como as relações etnicorraciais ocorrem no
cotidiano da sociedade brasileira e que necessitam de um questionamento para
mudá-las.
Esta análise do que se depreende de forma oculta da experiência
nas escolas é, por sua vez, parcial se não observarmos que seu
significado vai além dessa experiência. As normas de
comportamento escolar não foram geradas como algo autônomo,
ainda que a escola elabore seus próprios ritos, mas têm relação
com os valores sociais e com formas de entender o papel dos
indivíduos nos processos sociais. O currículo oculto das práticas
escolares tem uma dimensão sócio-política inegável que se
relaciona com as funções de socialização que a escola tem dentro
da sociedade [...] (SACRISTÁN, 2000b, p. 132).
As pesquisas inclusas nesta categoria são as seguintes:
CAVALLEIRO. Eliane dos Santos. Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo,
preconceito e discriminação na educação infantil. Mestrado (Educação),
Universidade de São Paulo, 1998.
GUIMARÃES. Mary Francisca. Preconceito racial em questão: a leitura dos
alunos. Mestrado (Educação), Universidade Federal de Minas Gerais, 1996.
144
OLIVEIRA, Eliana. Relações Raciais nas creches diretas do município de São
Paulo. Mestrado (Educação: Currículo), Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, Mestrado (Educação), 1994.
OLIVEIRA, Fabiana de. Um estudo sobre a creche: o que as práticas pedagógicas
produzem e revelam sobre a questão racial. Mestrado (Educação), Universidade
Federal de São Carlos, 2004.
OLIVEIRA, Rachel de. Relações Raciais na escola uma experiência de
intervenção. Mestrado (Educação: Currículo), Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, 1992.
RIBEIRO, Neli Goes. Por entre tramas e meios: relações raciais na escola.
Mestrado (Educação), Universidade Federal de Santa Catarina, 1995.
SILVA, Vera Lúcia Neri da. Os estereótipos racistas nas falas e gestos de
educadoras infantis. Mestrado (Educação), Universidade Federal Fluminense,
2002.
SIMÃO. Aparecida Italiano. Preconceito e discriminação sentidos e observados
por alunos de série e suas propostas para melhorar o convívio na escola.
Mestrado (Educação), Universidade Federal de São Carlos, 2005.
Dentre os oito trabalhos, quatro focalizam essa temática na educação
infantil. Oliveira (DM, 1994) orientou a sua pesquisa por três questões
norteadoras: 1) qual a composição racial das crianças que frequentam as creches
diretas do município de São Paulo? [por meio da heteroclassificação, através da
apresentação de fotos]; 2) tem havido uma preocupação da instância
administrativa municipal responsável pelas creches em lidar com as questões das
relações raciais? 3) como técnicos e funcionários da rede de creches diretas
percebem as relações raciais no âmbito das creches? Foram selecionadas 17
creches, por meio de sorteio em cada uma das 17 supervisões [(Supervisão
Regional de Bem-Estar Social (SURBES)], de um total de 317 creches diretas no
município, que atendem crianças de 0 a 6 anos e 11 meses.
145
Através de análise de documentos e entrevistas com profissionais das
creches e técnicos da administração central, a autora conclui que há um elevado
número de crianças classificadas como pretas e pardas, porcentagem superior às
apontadas por outros indicadores demográficos e socioeducacionais para a
Cidade e o Estado de São Paulo. Destaca que não há nenhuma alusão às
relações raciais nas propostas que orientam a ação programática nos textos
produzidos pelas diversas administrações desde que foi implantada na cidade
uma rede de creches municipais e salienta o
[...] relato de práticas discriminatórias e preconceituosas, de tipo
inter-pessoal, no cotidiano das creches, exclusivamente nas
relações entre adultos e entre adultos e crianças não havendo
relatos de discriminações/preconceitos entre crianças, diferente
do que se tem observado entre crianças maiores (OLIVEIRA, DM,
p. 81)
Cavalleiro (DM, 1998, p. 55) objetiva [...] analisar o processo de
socialização e o conhecimento das diferenças étnicas no espaço pré-escolar e no
grupo familiar”, em uma escola de educação infantil pública municipal de médio
porte. A unidade escolar está localizada na região central de São Paulo, que
atende uma população de baixa renda. Realizou a investigação em uma sala de
aula de cada fase (1, 2 e 3), com alunos de respectivamente 4, 5 e 6 anos de
idade, em salas compostas por 35 alunos, com pelo menos um terço de alunos
negros. Desenvolve uma pesquisa de campo através da observação sistemática
do cotidiano escolar para apreender as relações professor/aluno, aluno/professor
e aluno/aluno. Realizou, ainda, entrevistas com os professores, as crianças e os
seus familiares. Aponta que há uma distribuição desigual do contato físico entre as
professoras e seus alunos negros e alunos brancos, além de diferentes maneiras
146
de avaliar suas atividades escolares. Ressalta também o silêncio da escola e das
famílias diante de casos de racismo, preconceito e discriminação étnicos.
Oliveira (DM, 2004, p.1) analisa “[...] as práticas educativas ocorridas na
creche com o objetivo de verificar as maneiras pelas quais essas práticas
produziam e revelavam a questão racial na faixa etária entre 0 e 3 anos de idade”.
Realiza estudo de caso com observação, realização de diário de campo e
entrevistas com as profissionais de uma creche da rede municipal de ensino de
São Carlos. Conclui que
Na relação entre as pajens e as crianças ocorria algo que
denominamos de paparicação”, da qual as negras estavam na
maior parte do tempo fora dessa prática, a partir de um processo
de exclusão que não está sendo entendido como um ato de
segregação, mas se referindo ao recebimento de um carinho
diferenciado, com uma menor “paparicação”. Isso também ocorria
com algumas crianças brancas que também não estavam entre os
“preferidos” (OLIVEIRA, DM, 2004, p. 88).
Silva (DM, 2002) analisou as falas das educadoras sobre as crianças,
conforme eram consideradas pelas educadoras como crianças “fáceis” e “difíceis”,
relacionando o conteúdo verbal á identificação do seu pertencimento racial. Com a
metodologia de análise de conteúdo, entrevistas e com vídeo gravado em uma
atividade de dramatização entre as educadoras e as crianças, a pesquisa contou
com a participação de 6 educadoras responsáveis por crianças de cinco anos e
meio de seis creches públicas de Niterói/RJ. Aponta que
[...] Em nossas análises, percebemos que as crianças apontadas
pelas educadoras como difíceis são, em maioria, meninos negros,
e as crianças apontadas pelas educadoras como fáceis são, em
maioria, meninas brancas. A estas meninas são atribuídos
adjetivos positivos e aos meninos negros, os adjetivos que lhes
são atribuídos são negativos e depreciativos, com justificativas que
147
remetam a ‘carências’ e ‘ausências’ individuais ou de seus
familiares.”(SILVA, DM, 2002, p. 90)”.
As demais pesquisas dessa categoria discutem o tema em escolas do
ensino fundamental e médio. Guimarães (DM, 1996) discutiu a percepção dos
alunos em relação à sua cor/etnia; como percebem a posição dos grupos não
brancos no meio social e como se posicionam em relação ao preconceito e
discriminação e, por fim, como reagem à leitura de textos didáticos e paradidáticos
que abordam os estereótipos étnicos. A autora realizou estudo de caso a partir de
um trabalho como professora de Língua Portuguesa, na série do curso noturno
do Colégio Marista D. Silvério, em uma sala composta de 37 alunos, sendo 31
mulheres e 8 homens, entre 14 e 27 anos. Segundo Guimarães (DM, 1996, p. 21),
esse curso atende aos “jovens das camadas desfavorecidas, trabalhadores e/ou
moradores em favelas nas adjacências do colégio”. Considera que as ideologias
da “democracia racial” e do “ideal de branqueamento” parecem ser assimiladas
pelos alunos, determinando sua autoclassificação; que a existência do preconceito
e da discriminação não é ignorada pelos alunos, mas que muitas vezes ocorre o
silenciamento sobre essas questões. Em relação à leitura do texto, aponta
A diversidade de julgamentos, demonstrando diferentes níveis de
receptividade à obra, que se distribuíram conforme os grupos cor-
etnia, possibilita a consideração de hipótese sobre a relação entre
a auto-identificação sócio-racial dos sujeitos-leitores a
multiplicidade de sentidos atribuídos ao texto (GUIMARÃES, DM,
1996, p. 127).
A pesquisa de Oliveira (DM, 1992, p.1) tem por objetivo “[...] descrever e
avaliar uma experiência desenvolvida por um grupo de educadores(as) negros(as)
na rede pública de ensino do Estado de São Paulo, na década de 80 [...]”.
148
Descreve a atuação da Comissão de Educação do Conselho de Participação e
Desenvolvimento da Comunidade Negra e o Grupo de Trabalho para Assuntos
Afro-brasileiros da Secretaria da Educação (GTAAB). Em 1986, o GTAAB
introduziu, na rede estadual de ensino, o dia 13 de maio como Dia de Debate e
Denúncia Contra o Racismo e o Projeto “Salve 13 de Maio?”. O Projeto partiu da
[...] constatação de que no Brasil existe discriminação racial,
desejávamos que a escola avaliasse a abolição da escravidão,
levando em conta a situação do negro na sociedade
contemporânea. Mas, para que as escolas pudessem dar um
novo enfoque às atividades do dia da abolição, transferimos para
o projeto a proposta do movimento negro de questionar as
comemorações do dia 13 de maio. Dentro desta perspectiva, a
Comissão propôs à Secretaria que o dia 13 de maio Dia da
Libertação dos Escravos fosse considerado e incluído no
calendário escolar como um dia de Debate e Denúncia Contra o
Racismo (OLIVEIRA, DM, 1992, p. 48).
A autora analisa as respostas de uma amostra dos relatórios de diretores,
professores e alunos das escolas de e graus
58
que participaram do Projeto
em torno da seguinte questão:
“De acordo com o censo de 1980, em São Paulo, as crianças
brancas das classes menos favorecidas têm em média 5 anos de
escolaridade, enquanto as crianças negras, pertencentes às
mesmas classes, ficam na escola menos de 3 anos. Na sua
opinião, qual é o motivo?” (OLIVEIRA, DM, 1992, p. 59).
Segundo a autora, dentre outros trabalhos desenvolvidos pela Comissão, o
Projeto foi, efetivamente, a primeira intervenção do movimento negro no programa
oficial da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e, por meio dele,
iniciou-se, nas escolas da rede estadual, a discussão sobre relações raciais e as
implicações para a educação das crianças negras. A autora concluiu que
58
Denominação do Ensino Fundamental e Ensino Médio, utilizada antes da promulgação
da Lei nº 9394/1996.
149
[...] O baixo vel de escolaridade da criança negra foi justificado
com as mesmas argumentações: 1) indícios de uma ‘teoria
biológica’ para explicar diferenças entre negros e brancos, em
especial nas crianças. Palavras como ‘hereditário’, ‘inato’, ‘atávico’,
acompanharam, algumas vezes, a descrição da inferioridade
atribuída à criança negra. 2) Principalmente através da fala criança
branca, seja quando assume a 1ª. Pessoa ou quando é descrita
pelos adultos, captamos pontos focais de rejeição da criança
negra: aspecto físico, higiene, sensação de nojo. 3) Os atributos
que caracterizam a criança negra vão compondo um retrato
desolador: segregada, afastada, ignorada, ficando uma impressão
forte de criança triste, conforme afirmação dos próprios alunos.
(OLIVEIRA, DM, 1992, p. 124)
Ribeiro (DM, 1995, p. 87) objetiva “[...] estudar a criança negra em seu
ambiente escolar, em suas relações com as outras crianças, com seus
professores e com seu pertencimento racial”, em uma escola do ensino
fundamental de Florianópolis, Santa Catarina. A autora considera
[...] que essas crianças, no limite de seus discursos, conseguiram
expressar muito bem as manifestações de racismo que vivenciam
em seu cotidiano. A percepção dos preconceitos e discriminações
a que estão sujeitas reforçam seus mecanismos de defesa frente à
agressão racial. [...] (RIBEIRO, DM, 1995, p. 105).
Simão (DM, 2005, p. 3) discutiu “como os alunos de série sentem e
observam o preconceito e a discriminação e quais o suas propostas para
melhorar o convívio na escola”. Fez sua pesquisa ao longo de 2001 e 2002 como
docente efetiva da disciplina Geografia, em salas de séries de uma escola
estadual da periferia de o Carlos, São Paulo. Realizou estudo qualitativo com
base na fenomenologia, através de redações e desenhos contendo a história dos
alunos ou de outras pessoas, com os seguintes temas: Escrever uma história que
você conhece sobre preconceito e discriminação; o que você sente quando é
discriminado? Como você se sente discriminando alguém? Preconceito e
discriminação na sala de aula atrapalha ou não? O que a escola deve fazer para
150
não haver preconceito e discriminação entre os alunos? Desenhar uma situação
de preconceito e/ou discriminação. Como resultado de sua análise, aponta a
existência de relacionamentos preconceituosos e discriminatórios entre as
crianças e entre elas e os adultos, além de afirmar que essas questões são
ignoradas pela escola.
Uma questão recorrente nas dissertações inclusas nesta categoria é a
descrição das práticas cotidianas das instituições educacionais e como elas são
reveladoras de uma formação que hierarquiza os alunos pelo seu pertencimento
racial. Apontam estereótipos, atitudes e comportamentos preconceituosos e
discriminatórios reforçados no dia a dia, que são incorporados na aprendizagem
dos estudantes e necessitam de uma intervenção pedagógica. Uma expressão
dos estereótipos em relação à população negra pode ser percebida por intermédio
da fala a seguir:
[...] porque o preconceito de raça, se você pensar bem,
geralmente é em matéria de cheiro. Uma pessoa que é negra, a
pele, a melanina faz com que o cheiro fique mais forte. Hoje em
dia, esse preconceito de cheiro já melhorou muito com os
produtos modernos das nossas indústrias os desodorantes, as
minâncoras da vida (pomadas). Estes tipos de anti-transpirantes
fazem com que não exista o cheiro. Não havendo o cheiro, não
existe o porquê de o branco não conversar com o preto e vice-
versa. Tem gente que melhorou e muito. Por que, o que é o
preconceito? Preconceito é por causa da sujeira. O cheiro ruim
gera sujeira. É exatamente por causa do cheiro. É o cheiro que
fez com que aparecesse esse preconceito. (CAVALLEIRO, DM,
1998, p. 91-92)
Esse depoimento suscita a questão relativa a como a professora seus
alunos negros e permite avaliar se o tratamento destinado a todos os estudantes é
151
igualitário. Outro aspecto destacado é a valorização e preferência por crianças
brancas:
Num outro dia no parque, uma das pajens que fica com os bebês
menores de um ano (Rute), se dirigiu a mim fazendo o seguinte
comentário: olha que linda!”. A pajem estava se referindo a G.
(loira /2 anos), outras duas estagiárias também brancas ouviram o
comentário e afirmaram o que havia sido dito: ”ai que linda”, “ela é
linda mesmo”. Durante todo o tempo em que estive na creche
nunca ouvi ninguém dizer que uma das crianças negras era linda
(OLIVEIRA, DM, 2004, p. 84, grifos do autor).
Outra pesquisa também aponta essa preferência: “Tem um loirinho (...) de
olhos claros, uma gracinha. Muito loirinho e você percebe tratamento diferenciado
por parte das ADIs
59
. Luísa, supervisora, branca” (OLIVEIRA, 1994, p. 74).
Através das pesquisas percebemos a predileção pelos alunos brancos.
Apreendemos também a condição de desfavorecimento imposta aos alunos
negros, que pode ser evidenciada pela recusa do contato físico:
Ganhar ou não colo da pajem: uma situação que ocorreu várias
vezes: algumas crianças chegavam chorando e não ganhavam
colo, no entanto, com determinadas crianças era diferente: M.
(loira/ 2anos) chegou chorando, então Nice (pajem/ branca) a
pegou no colo até que ela parasse de chorar, depois chegou P.
(negro/ 2anos) também chorando, mas Nice fez o seguinte:
sentou em uma cadeira e o colocou entre as pernas. Esta
situação ocorreu da mesma forma que com outra pajem, B.
(negro) chegou chorando, Marli encostou-o em sua perna e disse
para ele não chorar, depois chegou L. (loira) também chorando,
mas o procedimento foi outro, a pajem a pegou no colo até que
ela parasse de chorar (OLIVEIRA, DM, 2004, p. 83).
A desvalorização dos negros ocorre, por exemplo, pela textura dos cabelos
que não se enquadra no padrão valorizado socialmente. Cavalleiro (DM, 1998, p.
117) relata a fala de uma educadora em sala de aula e que foi ouvida pelas
59
ADI significa Auxiliar de Desenvolvimento Infantil.
152
crianças: “Você precisa falar para a sua mãe prender o seu cabelo. Olha que
coisa armada”.
Em relação aos tipos de cabelos considerados desejáveis e indesejáveis,
Gomes (2006), durante a realização de sua pesquisa de doutoramento
desenvolvida em 4 salões étnicos
60
de Belo Horizonte, Minas Gerais, coletou 51
termos diferentes utilizados para classificar a textura dos cabelos:
Liso, semiliso, bom, quase bom, macio, fino, anelado, volumoso,
amassado, aneladinho, enrolado, enroladinho, cacheado,
cacheadinho, ondulado, encaracolado, rebelde, retorcido,
enroscado, enroscadinho, pimenta-do-reino, pimentinha, sarará,
vassoura, juba, juba de leão, sasá seco, ressecado, pixaim,
pixaim-esquindô, ninho de guacho, teia-de-aranha, ingrequexé,
tião-medonho, picumã, tuim, tuim-tuim, bucha, encarapinhado,
carapinha, sem balanço, bom-bril, duro, ruim, pouco crespo, meio
crespo, semicrespo, supercrespo, crespinho, crespo, entre outros
(GOMES, 2006, p. 240-241).
Os diversos termos utilizados para classificar o cabelo, associando o atributo
”liso” ao “bom”, “quase bom”, “macio” e o crespo” ao “duro”, “ruim”, “bom-bril”,
demonstram que, nas relações raciais assimétricas na sociedade brasileira, os
negros e os brancos são vistos de maneira diferente. Os extremos “lisos/ crespos”
60
Segundo Gomes (2006, p. 25), “No universo dos salões de beleza, os espaços onde se realizou
esta pesquisa são chamados de salões étnicos. Essa classificação é usada para destacar a
especificidade racial da clientela prioritariamente atendida por esses estabelecimentos, a saber,
negros e mestiços. Ela também é atribuída graças ao pertencimento étnico-racial do proprietário ou
proprietária, à especificidade do serviço oferecido, ao trato do cabelo crespo e à existência de um
projeto de valorização da beleza negra. Assim, o termo étnico, ao se referir aos salões, às
cabeleireiras, aos cabeleireiros e à sua clientela, é usado pelos sujeitos envolvidos nesta pesquisa
e por uma grande parte do mercado de cosméticos no Brasil e nos EUA como sinônimo de negro.
É também uma substituição e, em alguns momentos, uma forma eufemística de se referir ao ‘salão
afro’, termo adotado por esses espaços durante as décadas de 70 e 80. Essa classificação é mais
do que uma terminologia. Diz respeito às evoluções e às mudanças ocorridas no campo das
relações raciais. [...]
Mais do que a escolha pelo termo que agrada mais ou que atrai mais clientes, a terminologia
adotada refere-se à trajetória histórica e política da questão racial no Brasil, aos conflitos vividos
pelos negros e negras na construção da identidade e às contradições presentes em um país
miscigenado que vive sobre a égide de um racismo ambíguo”.
153
representam os dois tipos de cabelo considerados como desejáveis e indesejáveis
na hierarquia social e estética. As mediações podem representar a tentativa de
aproximação daquilo que é socialmente considerado como “bom” e o
distanciamento do que é visto como “ruim”, reforçando as polaridades construídas
pelo racismo e encobertas pelo mito da democracia racial (GOMES, 2006).
As muitas mediações usadas para nomear o cabelo na tentativa
de fugir a essa polarização podem ser vistas como algo mais do
que a criatividade do brasileiro e da brasileira para brincar e jogar
com a presença da mistura racial inscrita no seu corpo. Elas
revelam o ideal de branqueamento, a ambigüidade do mestiço e a
crença na democracia racial, oscilando entre uma origem étnica
da qual se deseja aproximar e uma outra que se deseja negar
(GOMES, 2006, p. 241).
Essa valorização constante dos brancos e a hierarquização dos estudantes
devido à cor de sua pele e à textura de seus cabelos contribuem para gerar nos
estudantes negros a autorrejeição e o desejo de embranquecer. A esse respeito,
Guimarães (DM, 1996, p. 43-44) afirma que
Os comentários que acompanham as caracterizações físicas
deixam-me entrever o quanto a auto-imagem dos alunos se
relaciona a certos estereótipos raciais que definem que os
indivíduos negros não possuem beleza, enquanto os brancos e os
mestiços (estes, por terem alguns traços que os aproximam do
grupo racial branco e por serem frutos da “mistura”) se
consideram, sem constrangimentos, pessoas belas.
Nenhuma aluna e aluno que se tenham classificado no grupo
“Mulher Negra” afirmou sua beleza, como o fazem Mulheres
Mestiças e Brancas e Homens Mestiços, conquanto seja possível
verificar que esse grupo também se representa entre os que
afirmaram ser “simpático (a)”; é possível inferir que os alunos(as)
negros(as) possuem uma auto-imagem marcada negativamente
[...].
Cavalleiro (DM, 1998, p.121) registra a fala de uma aluna que não queria
mais ser “preta”: “É, eu disse para ela (a professora) que eu não queria ser preta,
154
eu queria ser como a Angélica. Ela é bonita”. Esse exemplo pode ser um indício
de como a escola lida com essas situações que, comumente, são
desconsideradas pelas educadoras e/ou percebidas como insignificantes: “Agora a
professora só me chama de ‘Angélica’
61
” (CAVALLEIRO, DM, 1998, p. 125).
Além disso, esse exemplo remete ao padrão de beleza cotidianamente
veiculado através dos meios de comunicação de massa. Essa representação tem
uma importância fundamental na perpetuação do racismo, preconceito racial e
discriminação racial, tendo em vista as várias funções que esses meios assumem
(divulgar as notícias, distrair a população, educar e veicular a publicidade) e pela
forte influência que exercem no imaginário coletivo, tendo um papel, que não pode
ser negligenciado, na produção da identidade.
Geralmente a população negra é associada a situações negativas, como a do
escravo, traficante, ladrão, do cidadão pobre e/ou em situação de extrema
pobreza, morador de favelas e moradias insalubres e a profissões com menor
prestígio social, como empregadas domésticas, motoristas, seguranças. O
problemático dessas situações, além da associação pejorativa e do lugar
subalterno que essa população ocupa, reforçando o racismo, é que não são
discutidas as causas que levam a população negra a ser a mais excluída. Ocorre,
assim, a responsabilização do indivíduo negro, ocultando a dimensão histórico-
social do racismo.
61
Angélica é uma das apresentadoras mais conhecidas da televisão brasileira. Trabalhou durante
muitos anos em programas infantis.
155
Diante das relações etnicorraciais desiguais entre negros e brancos,
Oliveira (DM, 1992, p. 142) indica que os alunos são mais enfáticos em relação ao
racismo que os professores
Comparando os argumentos usados pelos diferentes autores dos
relatórios, uma forte diferença de tom entre as produções dos
adultos (professores e diretores) e dos alunos. Enquanto os
primeiros parecem cautelosos na explicitação da discriminação,
os alunos tendem a ir diretamente ao ponto, relatando inúmeras
situações em que a discriminação contra a criança negra é
praticada tanto pelos professores quanto por eles próprios.
Simão (DM, 2005) também destaca a percepção dos alunos sobre os atos
de preconceito e discriminação: ao solicitar que os alunos desenhassem uma
situação de preconceito e discriminação a mais mencionada é aquela que é
dirigida aos negros. Um exemplo da relação entre os alunos remete à ideologia de
branqueamento: “Um menino falou (nome) você quer ficar branca passa pomada.
E eu falei não você tem que me aceitar assim”.(Simão, DM, 2005, p. 83)
O preconceito a respeito da religiosidade de matriz africana também é
destacado pela pesquisa de Simão (DM, 2005, p. 90): Outro dia eu estava
entrando à escola, o (nome) me chamou de macumbeira, na frente das minhas
colegas e minhas amigas começaram a dar risada”.
As pesquisas revelam que os estudantes negros são discriminados por
seus traços físicos e pela sua descendência africana. D’Adesky (2001) considera
que o negro é vítima de uma dupla negação
62
: de um lado, pela desvalorização
62
Para o autor (p. 34-35), “[...] podemos propor uma definição de negro como sendo todo indivíduo
de origem ou ascendência africana suscetível de ser discriminado por não corresponder, total ou
parcialmente, aos cânones estéticos ocidentais, e cuja projeção de uma imagem inferior ou
depreciada representa uma negação de reconhecimento igualitário, bem como a denegação de
156
racial, o negro é negado em sua aparência por não se enquadrar, total ou
parcialmente, no padrão estético dominante. De outro lado, essa negação ocorre
através da desvalorização da história do negro e na negação da igualdade entre
as culturas africana e ocidental, sendo negado ao negro seu modo de vida, o valor
de sua cultura de origem e a sua história.
[...] é preciso levar em consideração que o racismo que projeta
uma imagem inferior ou depreciativa do indivíduo confere uma
importância maior à política de reconhecimento igualitário na
medida em que a identidade pessoal ou coletiva constitui-se,
parcialmente, em interação com os outros. Portanto, é preciso
dissecar o racismo, não somente por ser carregado de tensões,
mas também porque carrega um todo sentido que subentende,
coletivamente, uma negação da identidade igualitária. As
conseqüências de tal negação relegam os indivíduos racialmente
inferiorizados a um status de cidadãos de segunda classe, apesar
da igualdade de direitos e de atribuições formalmente
reconhecidos pelo Estado (D’ADESKY, 2001, p. 32).
Outra fala simbólica é a da culpabilização do negro pelas situações que
vivencia cotidianamente, como pode ser observado na fala a seguir “a própria ADI
negra tem uma coisa de valorizar mais o branco” (SIMÃO, DM, 2005, p. 74).
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações
Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana
(2004, p. 16), um dos equívocos que terão que ser enfrentados para a criação de
práticas pedagógicas antirracistas e antidiscriminatórias é:
[...] a afirmação de que os negros se discriminam entre si e que
são racistas também. Esta constatação tem de ser analisada no
quadro da ideologia do branqueamento que divulga a idéia e o
valor de uma identidade de grupo e de uma herança histórica que geram a exclusão e a opressão
[...] De pronto, deve-se reconhecer que essa definição se refere, antes de tudo, a populações de
ascendência ou origem africana subjugadas a um cânone estético helênico ao qual não se
adaptam. o somente esse cânone estético é o reflexo de uma cultura hegemônica, mas sua
imposição é altamente discriminatória, de vez que estabelece fronteira entre o que é bonito e o que
é feio, o que é desejável e o que não é, e o que é valorizado ou não”.
157
sentimento de que as pessoas brancas seriam mais humanas,
teriam inteligência superior e, por isso, teriam o direito de
comandar e de dizer o que é bom para todos. Cabe lembrar que,
no pós-abolição, foram formuladas políticas que visavam ao
branqueamento da população pela eliminação simbólica e material
da presença dos negros. Nesse sentido, é possível que pessoas
negras sejam influenciadas pela ideologia do branqueamento e,
assim, tendam a reproduzir o preconceito do qual são vítimas. O
racismo imprime marcas negativas na subjetividade dos negros e
também na dos que os discriminam.
Esses comportamentos, ações, atitudes e o tratamento desigual nas
instituições educacionais, destinados aos negros, por vezes, acabam por inibir a
resistência desses estudantes a tais situações, por se sentirem enfraquecidos e
não saberem a quem recorrer. Conforme Guimarães (DM, 1996, p. 123-124, grifos
do autor):
De fato, os alunos(as), independente do grupo cor e etnia em que
se identificaram, demonstram conhecimento da realidade do
preconceito e discriminação nas diversas relações interpessoais e
entre os indivíduos e instituições, tendo sido denunciada mais
frequentemente a sua manifestação nas relações de trabalho,
contudo, o que se verifica é que não se colocam além da
constatação dos fatos e críticas pessoais por tais comportamentos,
demonstrando, muitas vezes, sentirem-se ‘impotentes’ para
reagirem a tais situações que sofrem direta ou indiretamente.
Nesse caso, foi comum acusarem a existência do preconceito e da
discriminação, sem, contudo, referirem-se a atitudes que se lhe
opusessem, afirmando que ‘preferem ignorar’.
Diante dessas situações, Simão (DM, 2005) destaca que os alunos negros,
constantemente, encontram-se diante do processo, difícil e doloroso, de serem
discriminados por sua descendência africana e, a todo o momento, necessitarem
provar a sua humanidade.
“O mesmo não acontece com brancas: embora se sintam
discriminadas ou, a mais feia da espécie, jamais precisam provar
que são humanas, pois essa condição está arraigada em seu
ser porque a sociedade as considera dessa forma.” (SIMÃO, DM,
2005, p. 142).
158
Ribeiro (DM, 1995, p. 89) destaca a fala de uma aluna ouvida em sua
pesquisa que pode expressar o seu sofrimento diante do racismo: “[...] não sei
porque fazem isso de racismo com as crianças que não sabem se defender”.
Diante dessas situações permeadas por estereótipos, preconceitos e
discriminações nas instituições educacionais, demonstradas nas teses e
dissertações destacadas, os autores dos trabalhos ressaltam que, geralmente,
ocorre o silenciamento sobre essas situações. Essas são encobertas pelo discurso
da igualdade abstrata, mas se configuram em desigualdades entre brancos e
negros.
O silenciamento sobre o preconceito e a discriminação raciais nas escolas
pode influenciar o processo de sociabilidade das crianças, mostrando diferentes
lugares para os negros e brancos, além de apontar para o fato de que o
pertencimento racial resulta em tratamento diferenciado na escola. O silêncio
sobre essas situações é o mesmo que perpassa os conflitos étnicos na sociedade.
(CAVALLEIRO, DM, 1998).
Oliveira (DM, 1992, p. 125) discute a estratégia de silenciamento diante do
racismo, a partir da análise do relatório das crianças negras envolvidas em sua
pesquisa. “Porém, esta atitude não se restringe apenas à criança negra. Causa
espanto que, frente à tamanha violência racial descrita pela própria escola, todos
silenciem”. Simão (DM, 2005) também destaca os relacionamentos
preconceituosos e discriminatórios que a escola persiste em ignorar.
159
Outro ponto destacado diz respeito ao fato de que os sujeitos envolvidos
apresentam como justificativa para o silêncio a prerrogativa de que todos são
iguais. Entretanto, as conclusões das pesquisas apontam o contrário:
Apesar das práticas ostensivas de diferenciação, principalmente,
de caráter racial e estético, as pajens diziam trabalhar como se
não houvesse diferença, “todos são iguais”, ou seja, havia um
apagamento/ apaziguamento das diferenças a partir do discurso
da igualdade ainda presente como um resíduo da “democracia
racial” e também do entendimento de que a diferença significa
desigualdade (OLIVEIRA, DM, 2004, p. 98).
Esse silenciamento, em certa medida, legitima a perpetuação dessas
práticas e destaca a dificuldade dos professores em lidarem com o conflito e com
as diferenças, em uma escola pautada pela homogeneização. Guimarães (DM,
1996) destaca que a perspectiva de que somos todos iguais e não devemos
discutir sobre isso, institui o silêncio como resposta. Contudo, (p. 124-125) alerta
que “[...] é preciso que o conflito seja reconhecido. Comumente, quando os
professores se dispõem a discutir o racismo; o fazem referindo-se unicamente ao
que ocorreu em nosso passado escravocrata ou ao que ocorre em outros países”.
Mas o racismo não é apenas uma herança do passado escravista, ele é
recriado cotidianamente e, apesar das diferentes formas que assume, causa
grande vitimação nas diferentes sociedades.
As pesquisas abordadas nesta categoria demonstram como as relações
interpessoais nas escolas são realizadas através de práticas estereotipadas,
preconceituosas e discriminatórias em relação aos negros. Apesar disso,
comumente ocorre o silenciamento e/ou a desconsideração dessas situações.
160
Tais práticas interferem negativamente no desenvolvimento intelectual dos alunos
negros e na construção da sua identidade etnicorracial e a inculcação da ideia de
uma pretensa superioridade dos brancos e inferioridade dos negros ocorre desde
a educação infantil e se prolonga ao longo de toda trajetória educacional.
O currículo oculto das práticas escolares tem uma dimensão
sócio-política inegável que se relaciona com as funções de
socialização que a escola tem dentro da sociedade. [...] Portanto,
a socialização do cidadão/ã nas escolas não se reduz à
reprodução que se produz pela transmissão da cultura
explicitamente declarada nos currículos aos conhecimentos e às
disciplinas (SACRISTÁN, 2000b, p. 132).
A perspectiva da igualdade abstrata que contribui para a perpetuação do
mito da democracia racial associa-se à concepção habitual de que a escola é um
local imune e isento das contradições raciais.
Para que o tratamento dos alunos negros e brancos seja de fato igualitário,
há a proposição da importância do reconhecimento das práticas preconceituosas e
discriminatórias e o reconhecimento de que elas necessitam de uma intervenção
pedagógica adequada. Ademais, o destaque da necessidade de alteração dos
conteúdos curriculares e de um processo formativo que seja permanente e
possibilite desconstruir imaginários, posturas, gestos e atitudes para a re-
educação das relações etnicorraciais na direção de uma prática curricular
antirracista.
161
3.4 O ensino da História e Cultura dos africanos e dos negros brasileiros
nos currículos escolares
Esta categoria agrega onze pesquisas que abordam a questão do ensino da
História e Cultura dos africanos e dos negros brasileiros nos currículos escolares.
Dividimo-la em três subcategorias:
a) Experiências de discussão acerca das relações etnicorraciais e sobre o
ensino da História e Cultura africanas e dos negros brasileiros nos
currículos escolares;
b) Articulação entre saberes de comunidades remanescentes de quilombos e
os currículos escolares;
c) Alguns posicionamentos acerca do ensino da História e Cultura dos
africanos e dos negros brasileiros nos currículos escolares
3.4.1 - Experiências de discussão acerca das relações etnicorraciais e sobre
o ensino da História e Cultura africanas e dos negros brasileiros nos
currículos escolares
Essa subcategoria reúne as quatro pesquisas que refletem sobre as
experiências de discussão sobre as relações etnicorraciais e de inclusão da
162
História e Cultura africana e dos negros brasileiros em escolas públicas,
descrevendo como elas ocorreram e apontando os resultados dessas ações. As
investigações são as seguintes:
ALGARVE, Valéria Aparecida. Cultura negra na sala de aula: pode um cantinho de
africanidades elevar a auto-estima de crianças negras e melhorar o
relacionamento entre crianças negras e brancas? Mestrado (Educação),
Universidade Federal de São Carlos, 2004.
GONÇALVES. Luciane Ribeiro Dias. A questão do negro e políticas públicas de
educação multicultural: avanços e limitações no âmbito escolar. Mestrado
(educação), Universidade Federal de Uberlândia, 2004.
HALMENSCHLAGER, Vera Lúcia da Silva. Etnia, Raça e Desigualdade
Educacional: uma abordagem etnomatemática no ensino médio noturno. Mestrado
(Educação), Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2000.
SILVA, Cirena Calixto da. Caesalpinia Echinata: um projeto pedagógico com
temática étnico-racial desenvolvido numa escola pública. Mestrado (Educação),
Universidade de São Paulo, 2005.
Gonçalves (DM, 2004, p. 6) discute “[...] as Políticas Públicas Educacionais
formuladas na década de 90, procurando apreender os potenciais de inclusão da
cultura negra e sua materialização no cotidiano escolar”. Realiza sua pesquisa a
partir da análise documental, mapeando as políticas públicas educacionais da
década de 90 que buscam inserir nos currículos a cultura afro-brasileira -
Constituição Federal, a LDB e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s).
Aborda, principalmente, o tema pluralidade cultural, a Lei 10.639/03 e o reflexo
dos impactos dessas políticas públicas no contexto escolar. A investigação se deu
na Escola Municipal Palmares (nome fictício), na cidade de Ituiutaba, Minas
163
Gerais
63
, trabalhando com as quatro salas de série do ensino fundamental, que
foram selecionadas por desenvolverem atividades ligadas à cultura afro-brasileira,
como a capoeira e a dança afro. A escola situa-se em bairro periférico da zona
urbana onde residem imigrantes nordestinos e um grande número de negros. Com
uma abordagem qualitativa, realizou análise documental, observação do cotidiano
e entrevistas semi-estruturadas. Mediante a análise documental que inclui a
consulta ao Plano de Desenvolvimento da Escola, estrutura curricular, diários,
calendários, planos de aulas, entre outros procurou indicações que pudessem
oferecer elementos para o respeito à diversidade e observar indícios ou a omissão
de práticas multiculturais. Conclui que:
As atividades multiculturais realizadas têm uma perspectiva
pontual e excêntrica ligada ao multiculturalismo liberal, que
reconhece a necessidade dessas culturas viverem
harmonicamente e não contribuem para práticas que provoquem
rupturas estruturais nas narrativas que garantem as práticas
discriminatórias ou de superioridade de uma cultura sobre a outra.
Essa ‘concessão’ se baseia no Mito da Democracia Racial
(GONÇALVES, DM, 2004, p. 112).
Destaca as dificuldades, provavelmente decorrentes da formação dos
educadores, relativas à abordagem de questões ligadas ao preconceito e à
discriminação, perceptíveis no descompasso que se observa entre a avaliação da
professora sobre a adequação de uma atividade como instrumento de valorização
da população negra e o real valor da mesma, que transmite preconceitos
cristalizados no imaginário social. A título de exemplo desse descompasso,
63
Segundo a autora (p. 9), a escola fez parte de um dos subprogramas do Programa Nacional de
Atenção Integral à Criança e o Adolescente (PRONAICA) (Lei 8.642/93), que foi “um programa do
Ministério da Educação e do Desporto criado para coordenar o desenvolvimento de ões de
atenção integral à criança e ao adolescente”.
164
podemos citar a realização de uma coreografia com a música “O teu cabelo não
nega” para representar a cultura negra.
Trabalhando em uma escola da Rede Municipal de São Paulo, localizada
na Zona Leste, Silva (DM, 2005) tem o propósito de observar:
1 Em que medida as ações que caracterizam o Projeto Pau-
brasil
64
são ressonância da histórica reflexão sobre educação e
relações étnico-raciais ou lhe oferecem novas pistas;
2 Quais os caminhos de sobrevivência de um projeto
pedagógico com determinada especificidade em contexto de
escola pública, estatal e, portanto, com currículo universal;
3 – Como os objetivos do projeto são vivenciados e exteriorizados
pelas/os educadoras/es mais diretamente empenhadas/os no seu
desenvolvimento (SILVA, DM, 2005, p. 12).
Realizou estudo de caso, utilizando elementos de pesquisa etnográfica. O
trabalho de campo foi registrado em um caderno e em fitas K-7 para gravadores,
além da coleta de material nos registros acadêmicos e pedagógicos do projeto,
como Projeto Político Pedagógico, Projeto Especial de Ação, registro do horário
coletivo de professores, registros de avaliação de projeto, tabulação de fichas de
inscrição do projeto.
Desenvolveu a maior parte do trabalho de campo aos sábados entre 10h00
e 13h00, no momento que acontecem os ensaios e atividades do projeto. Realizou
também entrevistas não-estruturadas ou informais com professores e oficineiros.
64
Silva (DM, 2005) destaca que o Projeto foi premiado com o lugar na modalidade ensino
fundamental II em 2004 no Prêmio Educar para a Igualdade Racial promovido pelo Centro de
Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdade (CEERT).
165
De acordo com a autora, o Projeto teve início em 2000 e reunia
semanalmente 200 crianças e adolescentes – alunos, ex-alunos, membros da
comunidade e adjacências em cinco oficinas: capoeira, percussão, dança afro,
danças regionais e coro/canto. O Projeto conta com a atuação de 5 professores,
da diretora da escola, de três oficineiras (dança afro, dança regional e coro) e três
oficineiros (dois na percussão e um na capoeira).
Além das oficinas, essa equipe realiza momentos de estudos;
fazem apresentações artísticas na própria escola e em outras, em
sindicatos, creches, postos de saúde, empresas, escolas
particulares, etc. Organiza, no mês de novembro, a Semana da
Consciência Negra, época em que incentivam e propõem
atividades ao corpo docente da escola; confeccionam, em oficinas
de artesanato, próprio figurino e objetos decorativos, os quais são
renovados a cada ano e desenhados por uma das professoras
coordenadoras e pela oficineira de dança afro. Realizam atividades
festivas do Boi-bumbá, atividades de formação com leitura de
textos e apresentação de vídeos; visitas a espaços que promovem
a memória e a manifestação da cultura afro brasileira como
museus, exposições fotográficas, centros culturais; elaboram e
propõem atividades ao conjunto do corpo docente da Unidade de
Ensino, especialmente para atividades previstas durante as
Semanas Culturais realizadas nos meses de novembro e
promovem reuniões com familiares, reuniões avaliativas e de
planejamento (SILVA, DM, 2005, p. 11-12).
O Projeto, que integra o Plano Político-Pedagógico da escola, começou
com a oficina de capoeira, e depois foram integradas outras oficinas: dança afro,
percussão, canto, danças regionais. Por vários motivos, em algumas delas, houve
rotatividade de oficineiros e as oficinas de percussão e dança afro foram
assumidas por integrantes do Grupo Cultural Lukata. Conclui que
[...] o Projeto Pau-brasil caminha à margem do currículo escolar.
Ser incorporado ao Projeto Político Pedagógico da Unidade de
Ensino não é condição suficiente para que efetivamente faça parte
do trabalho cotidiano da escola ou mesmo garantia de sua
manutenção ao longo do tempo. A autonomia que o projeto
adquiriu certamente lhe garantiria sobrevivência em qualquer outro
166
espaço com recursos financeiros para geri-lo. Por outro lado, as
rejeições internas ao Projeto não inibem as convicções
educacionais de suas idealizadoras (SILVA, DM, 2005, p. 85).
Halmenschlager (DM, 2000, p. 22) tem por objetivo discutir o seguinte
problema:
Quais as repercussões de um processo pedagógico na área da
Educação Matemática que possibilita a discussão das
desigualdades e desprivilegiamento de grupos humanos, a partir
dos marcadores sociais de raça ou etnia e a interseção destes
com a dinâmica de classe social?
Sua pesquisa foi realizada no segundo semestre de 1998, com 2 turmas do
ano do ensino médio noturno da Escola de e Graus José Gomes de
Vasconcelos Jardim, no Bairro de Estância Velha, em Canoas, Rio Grande do Sul,
através de técnicas etnográficas como diário de campo, observação direta e
participante e entrevistas individuais. Ao iniciar a pesquisa, ambas as turmas eram
constituídas de 41 alunos, em sua maioria na faixa etária de 17 a 24 anos, sendo
20 eram sexo masculino e os demais do sexo feminino. Somente quatro, entre os
alunos, eram afro-descendentes. Ao longo de suas aulas, com o consentimento de
todos os seus alunos, a autora deixava o gravador ligado e circulava entre os
educandos, atendendo-os e buscando apreender suas ações individuais e
coletivas. Halmenschlager (DM, 2000, p. 100) procurou construir uma prática junto
aos alunos que:
[...] colocasse em discussão a própria centralidade e
universalidade da Matemática escolar. Ao ser relativizada a forma
como é concebido este conhecimento, os alunos passaram a
perceber a natureza socialmente construída daqueles saberes e as
implicações em suas vidas. O vínculo entre Educação Matemática
e a condição dos afro-descendentes relacionou aspectos sócio-
culturais e saberes matemáticos neles desenvolvidos. Desta
forma, a Matemática estaria contribuindo na análise de instâncias
167
que produzem as exclusões e desigualdades sociais. Nesse
sentido, foram criados espaços para que os alunos pudessem
examinar e indagar sobre condicionantes culturais, históricos e
econômicos a que se devem os atuais arranjos sociais.
Destaca que, na maioria das instituições escolares, a Matemática é
percebida como um conhecimento pronto e acabado, veiculado por um conjunto
de técnicas mecânicas e de maneira acrítica. Contrariando esta perspectiva,
um movimento dentro da Educação Matemática, segundo o qual os
conhecimentos matemáticos não são neutros e podem ser utilizados para ofuscar
ou esclarecer as realidades sociais: Dentre outros enfoques, “[...] situa-se a
Etnomatemática, que se apresenta como uma perspectiva para o currículo porque
é uma abordagem que se baseia nas conexões entre a cultura dos alunos e das
alunas e o conhecimento escolar” (HALMENSCHLAGER, DM, 2000, p. 13-14).
A autora conclui que:
[...] Os recursos estatísticos que se fizeram presentes durante o
desenvolvimento das atividades não foram tratados de forma
neutra. Ao contrário, foram relativizados e também
problematizados. A prática pedagógica propiciou aos estudantes
modificarem as concepções usualmente aceitas sobre a
matemática. Esta passou a ser vivida não mais como um conjunto
de conhecimentos exatos, prontos, cujo domínio dos códigos é
restrita a poucos e, freqüentemente, associado a capacidades
intelectuais privilegiadas. A educação matemática passou a ser
examinada como um campo educacional que tem implicações
sociais e cujos resultados também podem ser discutidos
(Halmenschlager, DM, 2000, p. 147-148).
Algarve (DM, 2004) abordou o contexto de uma intervenção nas
atividades curriculares e no cotidiano de uma sala de aula da série do ensino
fundamental, em colaboração direta com a educadora, na EMEB Professor Afonso
Fioca Vitali, no bairro Cidade Aracy, periferia de São Carlos, São Paulo. Esta
168
escola foi selecionada para a realização da investigação por possuir um grande
número de alunos afro-descendentes. A intervenção de que trata o estudo teve
inícío quando uma professora se dispôs a trabalhar com a pesquisadora e realizar
com as crianças o Cantinho de Africanidades, desenvolvendo, nas práticas
curriculares cotidianas, atividades que propiciassem o conhecimento sobre a
Cultura, História dos negros africanos, brasileiros e da Diáspora.
65
Realizou
entrevistas com a professora da classe em diferentes momentos, com a diretora
no início do ano, conversou com a professora e com os alunos ao longo do
processo, observou as relações etnicorraciais e pedagógicas entre os alunos e
entre eles e a professora, por 3 a 4 vezes por semana. Utilizou diário de campo e
coletou materiais (todas as produções feitas pelos alunos a partir do Cantinho de
Africanidades).
O Cantinho de Africanidades foi montado numa prateleira ampla,
localizada no fundo da sala (que era o único espaço disponível) e
contou com CDs de cantores e compositores negros; livros de
histórias infantis que retrataram o negro de forma positiva; fotos,
postais, figuras, cartazes que mostraram as cidades africanas,
população negra e suas manifestações culturais; esculturas
provenientes de diferentes países africanos ou da diáspora; roupas
e adereços de inspiração africana; bonecas negras e ou africanas,
assim como brinquedos; instrumentos musicais; revistas com fotos
de negros; receitas de comidas típicas de origem africana ou afro-
brasileira, enfim, diferentes objetos que retrataram a história e
cultura do povo negro, seja no Brasil, em África ou na Diáspora
(ALGARVE, DM, 2004, p. 53).
65
A autora destaca que esta experiência foi premiada com o terceiro melhor trabalho realizado
no ensino fundamental de a séries no II Prêmio Educar para a Igualdade Racial pelo
CEERT.
169
Algarve (DM, 2004) demonstra que um dos resultados das atividades
realizadas no decorrer do ano a partir do Cantinho das Africanidades foi a
mudança no sentimento de pertencimento racial:
[...] No inicio do ano letivo, através de uma auto-descrição, das 35
crianças, 18 se descreveram como morenas, 10 como brancas, 2
como pretas 1 como um pouco preta e 4 não identificaram sua cor.
[...]
No final do ano letivo, em conversas realizadas com pequenos
grupos, perguntei quem era negro, 12 crianças levantaram a mão,
perguntei quem era branco, 18 crianças levantaram as mãos.
Nesse dia faltaram 5 crianças, das quais 4 eu considero e elas
mesmas vinham se classificando como negras, e uma branca
(ALGARVE, DM, 2004, p. 82-83).
Destaca também que algumas atitudes preconceituosas e discriminatórias
foram alteradas no decorrer do ano. As crianças negras eram discriminadas pela
cor da pele e textura do cabelo, sendo xingadas e associadas a animais, bem
como observa as discriminações relacionadas às religiões de matriz africana. As
crianças brancas nunca eram discriminadas pelo seu pertencimento racial, mas
por características que destoavam do padrão dominante, como, por exemplo, por
serem muito magras ou gordas. Durante a realização de seu trabalho e
principalmente no final do ano, não mais eram percebidas atitudes negativas em
relação às crianças negras. Porém, ainda permaneceram situações em que ser
gordo ou magro era motivo de gozação, apesar de essas terem diminuído.
Os resultados desse processo podem ser exemplificados através da fala
de uma das crianças: “achei um ótimo projeto, com ele cada um de nós se
identificou como é, com o projeto acabou alguns comentários chatos, com ele eu
170
me identifiquei como negra, como ao mesmo tempo me diverti e aprendi mais
sobre a África (V.N.S.)” (ALGARVE, DM, 2004, p. 114).
As teses e dissertações sobre esse tema destacam que a discussão
acerca das relações etnicorraciais e da inclusão da História e Cultura dos
africanos e da diáspora, geralmente, ocorrem de forma isolada. Gonçalves (DM,
2004) salienta que são realizadas em datas comemorativas de maneira superficial.
Silva (DM, 2005) aponta que as envolvidas no Projeto Pau-Brasil se empenham
em buscar parcerias no interior das escolas, ainda que sugerindo pontualmente
atividades para o mês do folclore
66
(agosto) ou da consciência negra (novembro).
Halmenschlager (DM, 2000) destaca que uma das limitações para o
melhor desenvolvimento do processo por ela implementado diz respeito a ter sido
uma prática isolada, sem a participação dos outros professores; na pesquisa de
Algarve (DM, 2004, p. 144) podemos inferir que a experiência do Cantinho de
Africanidades foi também uma experiência isolada pela leitura do seguinte trecho:
A sala de Africanidades, que montamos no meio do ano de 2003,
representou um importante espaço para que os pais vissem os
resultados desse trabalho, como também a comunidade, e as
demais pessoas da escola, direção, funcionários, professores e
alunos.
Outra questão destacada por duas pesquisas se refere ao fato dessas
experiências ocorrerem à margem do currículo oficial: Gonçalves (DM, 2004)
66
A autora (p. 87) ressalta que as atividades “[...] se propõe ao rompimento com a visão folclorista,
na medida em que busca se integrar às atividades do mês de agosto, propondo e desenvolvendo
atividades que anunciam a resistência da cultura popular em nosso país (bumba-meu-boi,
maculelê, maracatu etc), em contraposição às atividades que tendem a negar as expressões
culturais dos grupos étnicos vitimados pelo processo de colonização”.
171
destaca a marginalidade das práticas multiculturais no cotidiano da escola que
analisou; Silva (DM, 2005) diz que o Projeto Pau-Brasil ocorre à margem do
currículo e integrá-lo no Projeto Político Pedagógico da escola não garante que
faça parte do cotidiano escolar e nem a sua continuidade. Ressalta que apesar de
o Projeto Pau-Brasil não integrar o currículo escolar, não se reduz a uma atividade
localizada em um mês do ano.
A naturalização do currículo hegemônico é ressaltada como um obstáculo
para alterações das práticas curriculares. Gonçalves (DM, 2004) destaca que por
meio dos depoimentos que obteve evidenciam-se o distanciamento entre as
práticas realizadas pelo currículo oficial e as demais atividades realizadas pela
escola, particularmente as multiculturais relacionadas às matrizes africanas e que
essa atitude decorre de uma formação fundada no eurocentrismo, que privilegia a
cultura europeia percebida como inquestionável. Halmenschlager (DM, 2000, p.
149) também aponta essa questão:
[...] A estrutura escolar e as concepções dos modos considerados
como ‘corretos’ para ensinar e aprender Matemática fazem com
que professores e professoras se encontrem, constantemente,
envoltos pela necessidade de dar conta dos programas validados
nos planos escolares e materializados nos livros didáticos.
Diante das práticas curriculares hegemônicas, o apontamento da ação
contra-hegemônica do Movimento Negro. Gonçalves (DM, 2004) destaca que tais
reivindicações são importantes para as mudanças no contexto educacional
brasileiro e que trazem à tona a necessidade de um aparato jurídico-normativo
para contemplar a diversidade. O papel das ações da população negra na
viabilização de atos de inclusão da História e Cultura dos africanos e dos negros
172
africanos é apontada por Silva ao considerar que a viabilização do Projeto Pau-
Brasil por ela investigado é fruto das parcerias externas, particularmente com o
Grupo Cultural Lukata.
As pesquisas desta sub-categoria destacam que o ensino da História e
Cultura africana e dos negros brasileiros ocorre de maneira pontual, por meio de
práticas isoladas e à margem do currículo hegemônico. Para alterar essas
situações a ressalva do questionamento da naturalização do currículo
hegemônico. Esta naturalização se constitui em um obstáculo a outras
possibilidades de saberes e conhecimentos dos diferentes grupos etnicorraciais.
o destaque também da necessidade de apoio institucional para que o ensino
da História e cultura dos africanos e da diáspora se efetive e possa contribuir para
as mudanças nas desigualdades etnicorraciais nos currículos escolares.
3.4.2 - Articulação entre os saberes das comunidades remanescentes de
quilombos e os currículos escolares
Essa subcategoria agrega quatro pesquisas que versam sobre as possíveis
articulações entre os saberes das comunidades remanescentes de quilombos e
sua relação com as práticas curriculares das escolas públicas desses locais. Os
trabalhos são os seguintes:
173
LEÃO, Jacinto Pedro Pinto. Etnomatemática quilombola: as relações dos saberes
da matemática dialógica com as práticas socioculturais dos remanescentes de
quilombo do Mola-Itapocu/PA. Mestrado (Educação em Ciências e Matemáticas),
Universidade Federal do Pará, 2005.
PINTO. Heldina Pereira. Os saberes das práticas religiosas da comunidade rural
negra de Barra do Parateca: uma articulação com a cultura escolar. Mestrado
(Educação: Currículo), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2000.
_____. O global e o local na construção de práticas curriculares. Doutorado
(Educação: Currículo), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2005.
REAL, Rosolindo Neto de Souza Vila. Cultura e currículo: um estudo da escola
Kalunga. Mestrado (Educação), Universidade Federal de Goiás, 1997.
Pinto (DM, 2000, p. 17) objetiva
investigar a possível articulação entre os conhecimentos e valores
provenientes das práticas religiosas da comunidade negra rural de
Barra do Parateca (que contribuem para o reforçamento e auto-
afirmação do grupo) e a cultura escolar.
Barra do Parateca pertence ao município de Carinhanha, na região
sudoeste da Bahia, na microrregião do médio São Francisco. A autora realizou
estudo de caso de abordagem etnográfica utilizando como técnicas de coletas de
dados a análise documental, a observação, entrevistas, depoimentos e outras
técnicas, como fotografia e gravação. A pesquisa foi feita na Escola Estadual
Francisco Pinto. Realizou entrevistas não estruturadas com a diretora, com 2
professoras dentre as 3 que lecionam nessa escola, ouviu a merendeira, os alunos
e o Secretário Municipal de Educação, em cuja gestão foram realizados dois
cursos de formação continuada para diretores e professores do ensino
fundamental, nas zonas rural e urbana. Entrevistou também pessoas que
possuem papel de destaque na comunidade como comerciantes, deres
174
religiosos, líder político e presidente da associação. Em sua pesquisa, considera
que a comunidade não são todos os indivíduos que moram na localidade, mas um
coletivo de pessoas que participam de determinadas atividades de forma solidária,
revelando um sentimento de pertença comum, unidas pelo sagrado, pelo religioso
ou que possuem nculos de sangue com uma origem e um destino comuns.
(PINTO, DM, 2000, p. 42) A questão das comunidades negras rurais vem sendo
muito debatida, particularmente a partir do artigo 68 da Constituição de 1988, que
reconhece a titulação das terras para as comunidades remanescentes de
quilombos. Menciona que alguns antropólogos tentam a reconceitualização dos
conceitos de comunidade e quilombo. Comunidade negra rural equivaleria à terra
de preto, mucambo, quilombo contemporâneo e outros. Nesse trabalho, a autora
não entende Barra do Parateca como um quilombo contemporâneo, até porque
isso está sendo analisado pela Fundação Cultural Palmares, “embora já se tenha
construído um prédio escolar no povoado, com recursos do Ministério da
Educação, atendendo aos objetivos do projeto Comunidade Remanescentes de
Quilombo” (PINTO, DM, 2000, p. 42-43).
Dentre as práticas religiosas de Barra do Parateca, sobressaem os cultos
afrobrasileiros, como a Jurema
67
, no Terreiro de São João Batista e o candomblé,
no Terreiro de Santa Bárbara. A autora identificou os saberes das práticas
religiosas dessa comunidade negra rural: saberes dos pontos do culto da jurema -
memória coletiva; respeito à natureza, relação com a morte; ressignificação da
67
“Os estudos realizados sobre o culto da jurema no Brasil situam-no entre os cultos afro-
brasileiros e atribuem-lhe um caráter sincrético ao catolicismo e ao candomblé”. (José Jorge de
Carvalho, 1996, apud Pinto, DM, 2000, p. 109). Segundo a autora, nesta comunidade essas
práticas possuem contornos singulares, com predominância do espiritismo.
175
religião, estar junto no mundo e os saberes de outros eventos religiosas como a
Folia de Santos Reis e os Festejos de São João Batista. Para a autora (DM, 2000,
p. 155) “A escola pesquisada, apesar de uma professora buscar desenvolver uma
prática pedagógica que respeita o saber do aluno, não existe articulação entre os
saberes das praticas religiosas da comunidade e os saberes escolares”.
Pinto (TD, 2005, p. 1) realizou sua tese de doutorado na mesma localidade
e teve por questão de pesquisa discutir “como se interpenetram o global e o local
na construção de práticas curriculares, respeitando as diferenças étnico-culturais”.
Realizou pesquisa participante com observação participante na escola de ensino
fundamental de a séries da Escola Patrício Vieira de Lima. Incluiu também a
análise documental, entrevistas semi-estruturadas, depoimentos e dados do
diagnóstico rápido participativo (DRP)
68
. Durante o processo de sua pesquisa, a
autora, junto aos professores da escola, trabalhou para a construção do projeto
pedagógico da unidade escolar, por meio de construção de categorias fundadas
na perspectiva de saber local em suas interpenetrações com a sociedade mais
ampla. Dessa maneira destaca que “A tese e o projeto se constituem em partes
que se complementam [...]” (p. 121).
De acordo com Pinto (TD, 2005, p. 32), a predominância de cursos de
educação contínua de professores, que se detêm mais no treinamento do que na
68
Segundo a autora (p. 29), o DRP consiste num “[...] conjunto de técnicas para
levantamento de informações que possibilitam o conhecimento da realidade da
comunidade a partir do ponto de vista de seus moradores. O diagnóstico é aberto à
participação, e o conhecimento é produzido coletivamente”
176
formação, não envolvendo os professores no compromisso de buscar uma
reeducação em seu local de trabalho.
Os cursos oferecidos em Carinhanha, mesmo que abordando
temáticas de interesse dos professores de Barra do Parateca, não
apresentando vinculação com nenhuma política curricular local,
revelando-se desconectados e soltos. [...]
Diante de tal constatação desencadeamos o processo de pesquisa
que culminou com a elaboração do projeto pedagógico da escola e
várias práticas curriculares.
As atividades foram distribuídas em momentos específicos, criando-se
grupos de formação, seminário e oficinas pedagógicas para a concretização de
um projeto de mudança na escola. A construção das categorias - 1 - o trabalho
dos professores num contexto culturalmente diferente; 2 - comunidade negra rural,
3 - educação ambiental numa comunidade negra rural e 4 - identidade e diferença
cultural e das práticas curriculares deu-se com os professores nos três espaços
de formação: Pinto (TD, 2005) ressalta que atualmente comunidade negra rural é
uma das designações para ‘comunidades remanescentes de quilombos’:
As denominações quilombos, mocambos, terra de preto,
comunidades remanescentes de quilombos, comunidades negras
rurais, remanescentes de comunidades de quilombos são
expressões que designam grupos sociais descendentes de
escravos africanos trazidos para o Brasil durante o período
colonial, que resistiram ou manifestamente se rebelaram contra o
regime escravista, formando territórios independentes onde a
liberdade e o trabalho comum passaram a constituir símbolos de
liberdade, autonomia, resistência e diferenciação do regime de
trabalho escravista (DOCUMENTO SOBRE COMUNIDADES
REMANESCENTES DE QUILOMBOS, p. 2 apud PINTO, TD,
2005, p. 114).
Para a autora, o recorte do saber local e da cultura escolar se relaciona a
História da população que a escola atende e aos seus processos de
177
territorialização e que currículo que respeite o saber local e seja significativo para
os alunos de Barra do Parateca. Conclui que:
[...] acreditamos que o projeto pedagógico, como o currículo em
ação, está enraizado no local, mas é também regional e mundial.
Ele identifica os saberes e as necessidades da comunidade na
qual a escola está inserida, mas tem uma intencionalidade política
e pedagógica. Nesses termos, ele é um instrumento que busca
efetivar os princípios da educação escolar.
Por perseguir essas finalidades, o projeto pedagógico reúne não
metas e objetivos voltados para os interesses da comunidade,
mas vincula-se ao projeto de vida dos professores, que estes
são os responsáveis pela materialização do currículo/projeto
pedagógico no momento em que, juntamente com os alunos,
vivenciam experiências, construindo, reconstruindo e significando
localmente conhecimento e saberes. (PINTO, TD, 2005, p. 214)
Para situar os objetivos de sua pesquisas, Real (DM, 1996, p. 4) destaca
que:
Diante da necessidade que o povo Kalunga sente de preservar o
passado e ao mesmo instante almejar um futuro melhor,
estimulado pelo processo civilizatório, onde se presencia o avanço
acelerado da tecnologia, a simultaneidade da comunicação,
dissolvendo espaço e tempo, é interessante indagar: como a
educação escolar daquela comunidade se prepara para atender
aos modos de produção emergentes da sociedade ‘global’ que se
postula neste final de século, e, ao mesmo tempo, não deixar
evaporar a sua identidade?
Através de abordagem etnográfica, os dados obtidos foram registrados nos
protocolos de observações, assim como as observações participantes da escola e
da comunidade, entrevistas formais gravadas em fitas cassetes com professores,
entrevistas informais registradas no diário de campo, ou seja, “os artigos e a
documentação estão representados pelos recursos pedagógicos e institucionais”
(REAL, DM, 1996, p. 7).
178
O autor considera que a definição de Quilombo de M. E. Andrade é
adequada para o seu entendimento da Comunidade Kalunga em Goiás:
“quilombos são os sítios historicamente ocupados por negros que tenham
resíduos arqueológicos de sua presença, inclusive as áreas ocupadas ainda hoje
por seus descendentes com conteúdos etnográficos e culturais” (ANDRADE,
1990, apud, REAL, DM, 1996, p. 13). Segundo o autor (DM, 1997, p. 182),
[...] pouco se valoriza a cultura macro daquela comunidade no
currículo da escola, haja vista a constante imposição dos
conteúdos dos livros didáticos, sem nenhum confronto ou relação
com sistemas culturais que regem o modo de vida dos Kalunga [...]
.
A investigação de Leão (DM, 2005, p. 15) procurou
[...] identificar os significados, atribuídos pelos molenses, às suas
práticas socioculturais, conectadas aos saberes matemáticos da
cultura local, como, também, estabelecer algumas relações entre a
matemática escolar e a matemática praticada pelos
remanescentes de quilombo do Mola-Itapocu/PA, sem dispensar
os significados e os sentidos das memórias de suas vivências
cotidianas naquele contexto particular.
Realizou um estudo de caso etnográfico, com observação intensiva,
entrevistas semi-estruturadas com aprofundamento e pesquisa documental, na
única escola do local, a Escola de Ensino Fundamental Guiomar Adalberto
Santos, com uma única sala de aula multisseriada do jardim I à rie. Destaca
que:
As relações da matemática escolar com a matemática dialógica
molense, mesmo sendo raras, no contexto da sala de aula, a
professora, vigiada pelo sistema educacional, entende a relevância
dessas relações, muito embora, predominem os conteúdos
matemáticos dos livros didáticos. [...]
As (re)articulações da matemática dialógica molense com a
matemática escolar, ainda, é prejudicada pelo ritual pedagógico,
179
que prioriza a linguagem científica. O sistema municipal considera
os conhecimentos escolares e os conhecimentos científicos como
muito mais importantes do que os saberes das práticas
socioculturais e dos saberes matemáticos. (LEÃO, 2005, p. 118).
Um primeiro aspecto que se destaca nas pesquisas analisadas nesta
subcategoria é o descaso do poder público que geralmente com as
comunidades remanescentes de quilombos, bem como com suas escolas. Leão
(DM, 2005, p. 14) salienta que dez anos antes do período que realizou a pesquisa
havia 127 pessoas residindo no Mola, e no momento de realização havia 57
moradores. “(...) Isso vem acontecendo devido ao descaso do poder público
municipal de Cametá, o qual, historicamente, submete os remanescentes de
quilombo do Mola-Itapocu, [...] às condições aviltantes de sobrevivência”.
Pinto (TD, 2005, p. 82-83) destaca que, nas comunidades negras rurais,
muitas dificuldades para o acesso à educação, chegando a ser desconcertante o
cotidiano das escolas e dos trabalhadores em educação que atuam nessas
regiões. Os prédios das escolas rurais se caracterizam
[...] por construções malfeitas, com materiais de péssima
qualidade, geralmente são formados por uma pequena sala de
aula escura tendo blocos vazados no lugar da janela, aqui
chamado de comogol – um cubículo para servir de cozinha e
depósito, outro cubículo para quarto de professor e um minúsculo
sanitário de fossa séptica, onde não cabe uma pessoa em pé.
Tal arquitetura expressa também a visão das políticas públicas
locais para a educação rural, ou melhor, o descaso. Assim, por
meio da arquitetura, se expressa o discurso sobre a educação e o
currículo [...] (p. 82-83).
O descaso com as escolas desses locais também é revelado por Real (DM,
1996, p. 67-68):
180
Apesar da bela paisagem da serra do Riachão, que fica ao fundo
do prédio escolar, aquele casarão de palhas envelhecidas
contrasta bruscamente com o que a natureza proporciona naquele
local.
Ao chegar em frente a fachada principal do prédio escolar, a
sensação de solidão e abandono toma conta de quem dali se
aproxima.
De imediato, a cerca de arame farpado parece querer distanciar a
escola do resto da comunidade. Após transpor a cerca, um
buraco no chão, cheio de entulhos e que também serve de
reservatório de água suja quando da época de chuva. À direita
encontra-se uma cisterna que não produz água e que apesar de
tapada não dispõe de cadeado, colocando em risco a vida das
crianças. [...]
As paredes do prédio são de pau-a-pique ou “enchumento” (como
é chamado na comunidade) rebocadas por saibro. O piso de chão
batido, as janelas e portas de buas de madeira e o teto coberto
de palhas de coco. De ta velha a cobertura que quando chove não
se encontra lugar sob ele que não se molha e/ou alaga. Diante da
situação precária do prédio, não se assegura a proteção desejada.
Essas pequenas, mas contundentes, descrições dos espaços escolares
podem constituir-se em um dos indicadores da precariedade da escolarização
oferecida aos remanescentes de quilombos.
Outra temática que é abordada por essas pesquisas diz respeito ao
silenciamento que geralmente ocorre sobre os saberes locais. Pinto (DM, 2000)
salienta o silêncio diante dos saberes, da História e Cultura de Barra do Parateca
e dos significados da cosmovisão religiosa da comunidade, elementos que não
são abordados. Leão (DM, 2005, p. 117) ressalta que “(...) A linguagem dos
conhecimentos científicos, raras vezes, não silencia a linguagem dos saberes
etnocientificos [...]”. Real (DM, 1997) aponta que, também na escola Kalunga, não
são trabalhadas a origem ou a História do povo negro ou da cultura da
comunidade. Esporadicamente, são abordados assuntos como a abolição da
escravidão.
181
A recorrente abordagem sobre a escravidão também é apontada por Pinto
(DM, 2000, p. 156). Ressalva que uma das professoras da escola investigada
parece buscar a articulação dos saberes, mas, ao fazê-lo, expressa uma
concepção limitada: ao discutir o tema da negritude não o relaciona com os negros
do local em que a escola está situada:
[...] Percebe-se uma visão da contribuição do negro apenas como
escravo, o que entra em choque com a luta histórica dos
quilombos para libertação efetiva do povo negro. Essa orientação
não permite que o aluno saia da trama da visão hegemônica, ao
contrário, contribui para a reafirmação da ideologia de
branqueamento.
As tensões advindas das relações etnicorraciais também são destacadas
no espaço escolar e são percebidas pela auto-rejeição dos alunos, que podem
estar indicadas na seguinte menção “[...] Calungueirada preta e feia e quando
outro aluno de cinco anos ao perceber gravuras de crianças louras e negras numa
folha de revista, aponta, com o dedo, as louras como bonitas e as negras como
feias [...]” (PINTO, DM, 2000, p. 170).
Pinto (DM, 2000, p. 26, grifos do autor) lembra que, durante o estudo
exploratório em uma das escolas de Barra do Parateca, uma criança chamou a
outra de tição:
[...] Um dos pais tirou sua filha da escola, alegando que as
professoras não tinham autoridade para controlar as brigas, disse,
ainda, que sua filha era ruda mesmo, mas não era tição porque
pelo menos tinha o cabelo corrido [cabelo grande, porém afro]. A
outra é que era uma tifute de cabelo de bombril.
69
.
69
Segunda autora, “Tição significa um pedaço de lenha queimado, carbonizado, de cor escora,
preta, significando também menino negro. [...] Rude, no sentido de burra. [...] Tifute significa
alguma coisa muito preta. o demônio, ou sujo e escuro como demônio (fute). A expressão tifute é
muito usada na região com tal significado.”
182
A autora ressalta a importância de discussão sobre a diversidade étnica e
cultural, salientando que esse episódio de desentendimento entre duas alunas
negras explicita essa necessidade. No momento em que o pai de uma das alunas
retira sua filha da escola, justificando que a professora não teve autoridade para
interferir na situação, fica sinalizado que, para esse pai, o papel do professor não
é o silêncio e a omissão, mas o enfrentamento do conflito. “[...] Apesar de sua
visão de branqueamento e reação protetora, [...] percebeu que deveria haver uma
intervenção da professora. O pai um recado à escola, alertando-a para que
assuma o seu papel de promoção de uma educação multicultural”(PINTO, DM,
2000, p. 156).
Esse processo de articulação entre os currículos e os saberes dessas
comunidades é permeado por contradições e conflitos, revelando o tensionamento
diante do currículo dominante. Essa afirmação é corroborada por Real (DM, 1996,
p.166, grifos do autor), a respeito da comunidade negra Kalunga e a educação
escolar:
[...] É interessante observar que quando se fala de uma educação
escolar para um tipo especifico de cultura, o processo é bem
complexo e conflitante. Nesta, a micro e a macro cultura estão
intrinsecamente interligadas. Um exemplo claro dessa conexão é
que as festas tradicionais da comunidade e a lavoura definem e
regem o calendário escolar, ou seja, durante os dias de “Romaria”
para reverência aos santos homenageados e/ou à plantação e
colheita da lavoura, as crianças não freqüentam a escola, mesmo
quando a professora impõe obrigação como aconteceu no dia
de novembro: dia de “Todos os santos”.
Leão (DM, 2005, p. 17) aponta que foram possíveis algumas articulações entre
a matemática dialógica do local e a matemática escolar, no momento em que a
183
professora e os alunos problematizaram e (re)significaram a linguagem dos
conteúdos da matemática formal, a partir do ensino e da aprendizagem dos seus
saberes matemáticos”. No entanto, essas articulações são bastante reduzidas.
Fica demonstrada a constante utilização do livro didático, como destaca
Real (DM, 1996), sem o estabelecimento de nenhuma relação com o modo de
vida dos Kalunga. Ressalte-se Pinto (DM, 2000), quando alerta que os livros
didáticos são o principal referencial para o planejamento do ensino.
Para a mudança dessas situações, Pinto (TD, 2005) destaca que o desafio
se constitui em realizar intervenção na escola de uma comunidade negra rural,
considerando o currículo e a formação dos educadores como um mecanismo de
mudança. Leão (DM, 2005) ressalta que as (re) articulações entre a matemática
escolar e a matemática dialógica molense só serão possíveis se fundamentadas
na formação contínua dos professores e que o processo de ensino-aprendizagem
deve relacionar as práticas socioculturais, a matemática dialógica.
As investigações desta sub-categoria revelam o silêncio dos currículos
escolares sobre os saberes locais das comunidades remanescentes de quilombos.
Apesar disso, a articulação entre saberes locais e os currículos escolares é
complexa e permeadas de ações e práticas que as tencionam. Salientam,
também, que o ensino da História e cultura dos africanos e dos negros brasileiros,
muitas vezes, limita-se ao tratamento do negro como escravizados e o
destaque dos conflitos etnicorraciais que emergem no cotidiano escolar, que não
são discutidos ou problematizados.
184
Apontam a necessidade do respeito aos saberes locais e de suas trajetórias
históricas, com a valorização da identidade etnicorracial no currículo escolar, que
articule os saberes locais e globais.
3.4.3 Alguns posicionamentos acerca da inclusão da História e Cultura
dos africanos e dos negros brasileiros nos currículos escolares
As três pesquisas inclusas nesta subcategoria realizam problematizações e
proposições sobre o ensino da História e Cultura dos africanos e dos negros
brasileiros nos currículos escolares. As pesquisas são as seguintes:
CÂMARA, Engels. Capoeira Angola: uma contribuição à prática de professores e
professoras para o reconhecimento e valorização da comunidade afro-
descendente. Mestrado (Educação), Universidade Federal de São Carlos, 2004.
MESSIAS, Marta Íris Camargo. A importância da inclusão da cultura afro-brasileira
nos currículos de educação física escolar a partir do conteúdo capoeira. Mestrado
(Educação), Universidade Federal de Santa Maria, 2004.
ROCHA, Luiz Carlos Paixão. Políticas afirmativas e educação: a Lei 10639/03 no
contexto das políticas educacionais no Brasil contemporâneo. Mestrado
(Educação e Trabalho), Universidade Federal do Paraná, 2006.
Messias (DM, 2004, p. 4) objetiva “(...) analisar pedagogicamente a capoeira
para estruturação deste conteúdo nos currículos de Educação Física Escolar
inserindo a cultura afro-brasileira nas Escolas” (p. 4), por meio de uma abordagem
bibliográfica propositiva.
Ressalta que não se trata de simplesmente inserir a capoeira na escola e
afirmar que estão sendo trabalhados conteúdos da cultura afro-brasileira, mas
analisar pedagogicamente os elementos que a capoeira permite discutir e, indo
185
além, refletir sobre como cada área do conhecimento pode, interdisciplinarmente,
abordar a capoeira. Messias (DM, 2004, p. 95) aponta que “A partir da
interpretação da capoeira como conteúdo da disciplina Educação Física na escola,
entendemos ser possível incluir no currículo escolar temas específicos da história,
da cultura, dos conhecimentos, das manifestações artísticas e religiosas do
segmento afro-brasileiro”.
Câmara (DM, 2004, p. 44) objetiva
compreender o processo educativo que se desenvolve na
Capoeira Angola. [...] Para tanto, busquei Mestre de Angola que
acolheu-me em seu grupo, permitindo que, enquanto jogasse
Capoeira, observasse o que se passava nas trocas entre ele e
seus Aprendizes. Enquanto pesquisador, fui um de seus discípulos
buscando compreender o processo educativo que ali se
desenrolou.
O autor participou, em 2002, de 28 encontros do grupo, teve cerca de dez
conversas com o Mestre, registrou as observações e gravou conversas. Colheu
depoimentos do Mestre e de Aprendiz do grupo frequentado e do Aprendiz
proveniente de outro grupo. A questão para o Mestre foi “o que é isto para o
senhor, o ensinar Capoeira Angola?” e, para o Aprendiz, “o que é isto, para você,
o aprender Capoeira Angola?” (CÂMARA, DM, 2004)
Para a análise dos dados utilizou a descrição a partir de uma postura
fenomenológica: Segundo Câmara (DM, 2004, p. 48) “A partir do estudo
aprofundado dos registros e dos depoimentos destaquei alguns temas que
possibilitaram a análise dos dados. Surgiram, então, nove dimensões [...]”. As
dimensões utilizadas pelo autor foram: a roda; gestos que se comunicam; o
aprendizado enquanto pessoa; a valorização do mais experiente; o método de
ensino e aprendizagem; a valorização da cultura e da tradição da comunidade
186
negra; o aprendizado musical; a malícia do angoleiro; o jogo de mandinga. Para o
autor (DM, 2004, p.95), “Valorizar o conhecimento das comunidades afro-
descendentes é elemento chave para combater ao preconceito e a discriminação
étnico-racial, na medida que se constroem imagens positivas deste grupo”.
Rocha (DM, 2006, p. 3) objetiva “[...] analisar as contradições e
possibilidades da Lei 10.639/03, no espectro do campo de intervenção da
superação do atual modo de organização social [...]”.
Utiliza diversas fontes, como textos clássicos e mais recentes, sobre a
temática, notícias de jornais, artigos de revistas, textos e artigos disponíveis na
internet (ainda não publicados). Usou também documentos oficiais e do
movimento negro. Realizou entrevista com liderança e militantes do movimento
social negro.
De acordo com o autor, a Lei 10.639/03 situa-se no contexto da discussão
sobre a implantação das políticas de ações afirmativas para os negros. Apesar de
serem reivindicadas pelo movimento social negro, estão inseridas em um contexto
no qual os organismos internacionais - Banco Mundial, Organização das Nações
Unidas (ONU), Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (UNESCO) - difundem a instituições de políticas sociais focalizadas para
os mais pobres. Conclui que:
[...] O fato de as políticas afirmativas reivindicadas pelo
movimento social negro avançarem, ganharem terreno no
momento em que são incorporadas pelo discurso dos organismos
financeiros internacionais, na perspectiva da manutenção do
sistema capitalista, foi um dos dilemas e a contradição que
187
apresentamos durante o trabalho. A outra contradição
apresentada diz respeito ao caráter das políticas específicas e
compensatórias em contraposição às políticas de cunho
universalistas.
Em nosso entendimento, além de possível, é necessário aliarmos
a luta pela igualdade racial à luta de classes. Em que pesem as
contradições e dilemas, a luta específica pode reforçar a luta
geral. Para tanto, a dinâmica da desigualdade racial deve ser
entendida na sua relação com a dinâmica da desigualdade social.
Não podemos tomar as contradições como empecilho para o
desenvolvimento da luta política contra as desigualdades raciais e
sociais, visto que a história tem um movimento dialético [...]
(ROCHA, DM, 2006, p. 111).
Os autores desta subcategoria apontam que a inserção da História e
Cultura dos africanos e dos negros brasileiros nos currículos escolares pode
contribuir para o questionamento das desigualdades raciais e romper com o
eurocentrismo. Segundo Rocha (DM, 2006, p. 113), [...] os conteúdos relacionados
à cultura e à história da África e dos negros brasileiros poderão atuar no sentido
de expor as lacunas e as idéias que fundamentaram a ideologia de dominação
racial. [...]
o destaque para, além da inserção dos conteúdos relacionados à
população negra e aos africanos, a necessidade de releitura do currículo escolar e
da proposição de novas possibilidades de aprender e ensinar.
Duas investigações destacam as possibilidades da Capoeira contribuir com
conhecimentos dos negros e de valorização da cultura de matriz africana. Câmara
(DM, 2005, p. 96) aponta que:
A utilização da Capoeira Angola, nas aulas de Educação Física
resgata conteúdos da cultura negra. Mas é preciso ir além do
jogo, se faz necessário buscar subsídios metodológicos na visão
de mundo afro-descendente, para, ao “ministrar” aulas, a proposta
de reconhecimento da comunidade negra seja consistente
(CÂMARA, DM, 2005, p. 96).
188
[...] Ao tratar de princípios da sabedoria africana de maneira
positiva, seus alunos, negros ou não, tem a possibilidade de
constituir, ao longo da vida, relações de valorização e
reconhecimento com outros grupos étnico-raciais (CÂMARA, DM,
2005, p. 107).
Messias (DM, 2004, p. 94) também ressalta as possibilidades da capoeira:
A capoeira no contexto escolar pode também se constituir num
instrumento de luta permanente dos alunos contra uma sociedade
de classes, excludente e discriminatória, quando abordada à
opressão sofrida pelo povo negro.
Sobre as possibilidades e desafios de políticas públicas, Messias (2004)
afirma que podem se constituir em uma mudança de prioridades e de inclusão dos
afro-brasileiros. Aponta que essas políticas precisam dialogar com a realidade.
Rocha, por sua vez, destaca desafios e perspectivas da Lei Federal nº 10.639.
[...] fica evidente que duas perspectivas se apresentam, concreta
e dialeticamente, na análise das possibilidades da nossa
legislação. Ela reforçará determinadas teorias pós-modernas e
ficará restrita ao discurso da diversidade cultural, ou se constituirá
num instrumento para questionar pilares da ordem vigente, ao
tirar o véu do mito de dominação racial? Apontará para qual
horizonte? Para a manutenção ou para a superação do atual
modo de produção? Esses movimentos, mesmo não tão
perceptíveis, estão em disputa (ROCHA, DM, 2006, p. 112).
As pesquisas inclusas nesta subcategoria salientam que a inclusão da
História, cultura, conhecimentos, valores dos negros pode contribuir para a
problematização das desigualdades etnicorraciais e sociais,como também para o
rompimento da perspectiva eurocêntrica que as fundamentam. Além disso, o
destaque de que as políticas públicas, como a Lei Federal 10.639/03, são
espaços de disputa e têm a possibilidade de oferecer elementos para a inclusão
dos negros brasileiros.
189
4. As relações etnicorraciais nos currículos escolares:
possibilidades de repensar a escola
Ao longo desta pesquisa procuramos sistematizar e analisar as principais
questões discutidas acerca das relações etnicorraciais e currículos escolares em
teses e dissertações realizadas em programas de pós-graduação em Educação,
entre 1987 e 2006.
Uma primeira questão a respeito desta produção se refere ao aumento do
número de teses e dissertações produzidas sobre essa temática, que pode ser
observada a partir do ano 2000 (22 trabalhos, 75,86%), com destaque para os
últimos três anos (13 pesquisas, 44,82%).
Os trabalhos, em sua maioria, são estudos de casos específicos ou são
sistematizações de práticas/experiências realizadas em uma ou algumas salas de
aula, uma ou algumas instituições educacionais. Uma parte das investigações
reflete sobre o tema relacionando-o às escolas do ensino fundamental. Há,
também, alguns trabalhos que focalizam a educação infantil e o ensino médio.
Não identificamos nenhum trabalho que problematizasse especificamente sobre
as relações etnicorraciais e currículos escolares na Educação de Jovens e
Adultos.
As instituições educacionais analisadas, em sua grande maioria, fazem
parte dos sistemas públicos de ensino das redes municipais e estaduais. São
190
poucos os trabalhos que discutem essa temática em instituições particulares. As
escolas estudadas estão localizadas em diferentes unidades da federação (São
Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Pernambuco, Piauí, Maranhão, Minas
Gerais, Bahia, Pará e Goiás), com predomínio de pesquisas realizadas sobre a
realidade educacional no Estado de São Paulo.
Dentre as pesquisas analisadas, poucos trabalhos de caráter histórico.
Destacamos a importância da realização desses estudos para que possam
colaborar para preencher a lacuna sobre a trajetória educacional do negro.
Em relação aos sujeitos que foram entrevistados, participaram e/ou tiveram
suas práticas analisadas pelos pesquisadores responsáveis pelas 29 teses e
dissertações estudadas, a preponderância em relação a professores e alunos,
com menor incidência de participação da equipe gestora e dos pais e/ou
responsáveis pelos estudantes das escolas investigadas. Algumas pesquisas
incluem a participação de militantes negros e/ou pessoas ligadas ao movimento
negro. É notável a ausência de foco nos demais trabalhadores da educação das
unidades educacionais que são, também, participantes dos processos
educacionais realizados nas escolas.
A discussão que perpassa a maioria das pesquisas analisadas se refere às
críticas às relações etnicorraciais vigentes e ao lugar destinado ao negro na
sociedade brasileira. O debate sobre essas relações ocorre, geralmente,
embasado na abordagem de alguns termos e conceitos que oferecem subsídios
para a compreensão sobre como a desigualdade entre negros e brancos foi
construída historicamente e como é recriada no cotidiano. Os termos e conceitos
191
mais utilizados são: preconceito racial e discriminação racial. A discussão sobre o
mito da democracia racial e ideologia de branqueamento também ocorre na
maioria das pesquisas.
Outra questão recorrente se refere à critica aos currículos hegemônicos
presente na grande maioria das pesquisas. Os autores ressaltam que a situação
de vitimação dos negros na sociedade brasileira e, particularmente, nas
instituições educacionais, por meio de seus currículos, não foi aceita
passivamente, destacando a resistência do movimento negro para alterá-la.
A reflexão sobre as políticas públicas educacionais permeia as
investigações analisadas e revela as alterações pelas quais vêm passando para a
inclusão da História e Cultura dos africanos e dos negros brasileiros nos currículos
escolares. As pesquisas datadas do início dos anos 90 fazem alusão à
necessidade de políticas públicas efetivas para a alteração da realidade curricular.
A partir do final da década de 90, os pesquisadores discutem as mudanças,
particularmente, na legislação nacional e suas implicações nos currículos
realizados nas salas de aula. o destaque para a discussão sobre os
Parâmetros Curriculares Nacionais, principalmente para o tema transversal
Pluralidade Cultural.
A análise sobre o tema transversal Pluralidade Cultural, a partir das
pesquisas, aponta que, em certa medida, a inserção dessa temática foi fruto das
reivindicações do movimento negro. Contudo, destaque-se que a discussão sobre
diversidade cultural na sociedade brasileira não pode se limitar a um tema
192
transversal, sem efetivas mudanças nas práticas curriculares dominantes e a
devida formação dos educadores.
A Lei 10.639/03 e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira
e Africana são mencionadas em parte das pesquisas realizadas a partir de 2003.
No entanto, poucas pesquisas realizam análise sobre sua efetivação. Neste
sentido, acreditamos que as pesquisas produzidas a partir de 2007 terão mais
condições efetivas de verificar como está ocorrendo o ensino da História e Cultura
dos africanos e dos negros brasileiros, o que pode ser percebido pelos
trabalhos em andamento, apresentados no IV e V COPENE.
O processo de implementação da Lei Federal 10.639/03 suscita
questões a respeito de como estão ocorrendo as alterações nos currículos
escolares nas salas de aula e em alguns contextos que interferem em sua
configuração. Alguns exemplos podem ser apontados: definição das orientações
e ações nas redes oficiais de ensino para que a efetivação do ensino da História e
cultura dos africanos e dos negros brasileiros, se a formação inicial dos
educadores realizada nas Universidades está incorporando essa temática em
seus currículos; como está ocorrendo a formação continuada dos professores e
quem está realizando este processo formativo; se há incorporação de novos
materiais didáticos e paradidáticos, visto que é crescente a produção de materiais
sobre a temática e a atuação do movimento negro e de outros sujeitos sociais na
efetivação do ensino de História e Cultura dos africanos e dos negros brasileiros
nas instituições de ensino.
193
O estudo das 29 pesquisas, por intermédio da análise categorial,
possibilitou observar as relações etnicorraciais e os currículos escolares em
diferentes aspectos: por meio da abordagem sobre o negro nos livros didáticos;
através das relações interpessoais no cotidiano escolar e como essas contribuem
para a interiorização de estereótipos e de comportamentos, atitudes e valores
preconceituosos e de práticas discriminatórias em relação à população negra;
como as relações etnicorraciais se efetivam nas práticas curriculares e a
incompatibilidade entre o proposto e o que se realiza e, por fim, pela
problematização das relações etnicorraciais no ensino da História e Cultura
africana e dos negros brasileiros nos currículos escolares.
Algumas questões o recorrentes em relação aos objetivos das pesquisas
sobre as relações etnicorraciais e os currículos escolares, entre as quais,
destacam-se as investigações sobre práticas preconceituosas e discriminatórias
em relação aos estudantes negros e a análise do negro nos livros didáticos.
Outras temáticas parecem estar crescendo na produção discente realizada sobre
esse assunto: reflexões sobre o ensino da História e Cultura dos africanos e dos
negros brasileiros; as práticas curriculares realizadas em comunidades
remanescentes de quilombos e as problematizações e proposições relativas a
conhecimentos e saberes da população negra e dos africanos que podem integrar
os currículos escolares.
As pesquisas demonstram como a discussão sobre a inclusão da História e
Cultura dos africanos e dos negros brasileiros é complexa e contraditória, não
ocorre sem conflitos e tensões e quão relacionada está aos processos sociais,
194
políticos, econômicos e culturais. Diante dessa complexidade, as alterações no
currículo que se efetivam concretamente nas escolas são mais lentas do que as
mudanças no currículo prescrito, que implicam mudança em posturas, gestos,
atitudes e percepções arraigadas no imaginário social sobre o negro.
Um dos destaques das pesquisas analisadas diz respeito ao currículo que
se efetiva nas práticas curriculares desenvolvidas na realidade concreta das
instituições educacionais, problematizando a incompatibilidade entre o proposto e
o que realmente ocorre. Além disso, o ensino da História e cultura dos africanos e
da diáspora é realizado, geralmente, por meio de ações pontuais e isoladas.
Outra crítica realizada pelas pesquisas se refere à transmissão de práticas
preconceituosas e discriminatórias no cotidiano escolar e como essas interferem
negativamente no desenvolvimento intelectual dos alunos negros e na construção
de sua identidade etnicorracial. Desvelar tais práticas é importante para
visualizarmos o modo como as relações etnicorraciais se concretizam nas escolas.
Segundo Sacristán (2000b, p. 132),
A distinção entre a faceta oculta condições da experiência
educativa e a manifesta pretensões declaradas e aceitas
permite também entender melhor os processos de mudança ou o
imobilismo das instituições e das práticas escolares: ainda que
mudem as pretensões, as idéias ou os currículos explícitos, o
currículo real mudou pouco para os alunos/as porque as
condições da escolarização que o traduzem se modificam muito
mais lentamente. tratando de entender o currículo manifesto
ou oficial dentro das condições escolares, e estas e aquele dentro
do contexto político, social e econômico exterior à escola,
entende-se a escolarização e os educadores podem desenvolver
esquemas de pensamento mais apropriados para compreender o
ensino e elaborar com mais realismo propostas de modificação da
mesma.
195
Simultaneamente a essa problematização contundente quanto às causas
da vitimação da população negra nos currículos escolares, há a proposição de
caminhos que podem alterá-las, já que “[...] A mudança do mundo implica a
dialetização entre a denúncia da situação desumanizante e o anúncio da sua
superação. [...] Mudar é difícil, mas é possível [...]” (FREIRE, 2002, p. 88).
Uma proposição comum às pesquisas se refere à formação inicial e
continuada dos educadores que possibilite: a problematização das
particularidades das relações etnicorraciais no Brasil e como as desigualdades
entre negros e brancos foram construídas historicamente; a desconstrução de
estereótipos e de práticas preconceituosas e discriminatórias em relação à
população negra, e a compreensão sobre como perpassam as relações cotidianas
das escolas e que precisam ser alteradas; a discussão sobre a seletividade dos
currículos e perspectiva eurocêntrica que os vem embasando e, por fim,
possibilite adquirir novos conhecimentos sobre a História e Cultura dos africanos e
dos negros brasileiros, com a desconstrução de imaginários, gestos, posturas e
atitudes discriminatórias.
o destaque, também, para a necessidade de acesso a materiais
didáticos e paradidáticos que contribuam para a reeducação das relações
etnicorraciais nos currículos escolares da educação básica em direção a uma
prática curricular antirracista.
196
Desse modo, as discussões realizadas pelas teses e dissertações oferecem
subsídios para repensar as relações etnicorraciais nos currículos escolares. A
problematização sobre essas relações, em uma perspectiva crítica, pode
possibilitar o questionamento da própria lógica em que está estruturada a escola.
Destarte a inserção dessa temática nos currículos escolares terá mais
possibilidades de concretização se for tencionada a maneira como as instituições
escolares e seus currículos organizaram-se historicamente.
A partir dessa perspectiva, as discussões sobre as desigualdades
etnicorraciais não interferem apenas no debate sobre as relações etnicorraciais,
mas nas relações de poder, dominação e exclusão, visto que essas disparidades
se constituem em uma das formas pelas quais se expressa a dominação das
maiorias no contexto da globalização excludente.
Discorrer sobre o racismo, preconceito racial e discriminação racial nas
instituições educacionais não pode se restringir a dizer que as práticas educativas
são discriminatórias, como se estivéssemos culpando os educadores pela
vitimação que causam nesse segmento racial. Refletir sobre as relações
etnicorraciais nos currículos escolares traz à tona as desigualdades etnicoraciais
na sociedade brasileira, visto que a desigualdade entre negros e brancos é um
elemento que baliza as relações cotidianas, fato recorrentemente comprovado por
pesquisas sobre os indicadores sociais e econômicos das disparidades entre o
segmento racial negro em relação ao branco. Significa pensar que essa
desigualdade etnicorracial na sociedade brasileira é transformada em currículo
oficial nas instituições educacionais.
197
A prática educativa é um processo contraditório que não ocorre sem
resistência de educadores comprometidos com a superação da exclusão, mas a
rigidez da escola e a certeza da maioria dos trabalhadores em educação deixam
transparecer que o currículo existente é a única forma possível de construção
curricular. Isso dificulta o processo de alterações curriculares.
[...] Aceitar outras possibilidades de conhecimento, outros produtos
e outras formas de conhecer não sefácil à concepção rígida de
conhecimento que legitima os currículos. Nem será fácil as formas
pétreas, gradeadas em que foram “curricularizados”, organizados e
transmitidos. A pretensão nada fácil de um diálogo multirracial,
intercultural no campo do conhecimento escolar tem de ser tentada
junto com a consciência de estar levando aos currículos a
insegurança sobre si mesmos e sobre a tradição cultural em que
legitimam sua segurança. Mostrar que são racializados, na sua
origem (ARROYO, 2007, p. 125).
As críticas e proposições ao currículo vigente realizadas pelas teses e
dissertações oferecem elementos para discutir algumas das lógicas em que,
geralmente, a escola é estruturada: a) seletiva; b) hierárquica; c) fundada nos
pressupostos do universalismo e da igualdade abstrata e d) individualista.
a) Repensar as relações etnicorraciais nas práticas educativas provoca o
questionamento sobre a seletividade dos currículos escolares ao abordar de quem
são os conhecimentos, os valores, normas, estruturados nos currículos. Pensar na
exclusão da História e Cultura dos africanos e da diáspora significa refletir sobre o
porquê de seus saberes, valores, conhecimentos não serem vistos como formas
legítimas de estar no mundo e porque não são considerados como importantes
para serem transmitidas a todos os educandos.
198
A teoria curricular crítica vem muito tempo problematizando a
seletividade no processo de escolarização e suas relações com a produção e
reprodução das desigualdades. Mas, a discussão sobre a inserção da História e
Cultura africana e da diáspora nos currículos oficiais pode influenciar a formação
inicial e continuada dos professores sobre a não-neutralidade e seletividade das
instituições educacionais. Isso porque é inerente à problematização do racismo,
preconceito racial e discriminação racial o questionamento do currículo
hegemônico e de quão seletivo ele é. Conforme Sacristán (2000a, p. 183) “[...]
chama a atenção a escassa importância concedida, na formação inicial, à análise
dos currículos como seleções e elaborações de conhecimento ou à análise dos
materiais didáticos que os professores consomem [...]”. Não estamos defendendo
um relativismo, mas a possibilidade de que outros referenciais sejam de fato
integrados aos currículos escolares. E, como o currículo se sempre seletivo,
visto que não é possível transmitir, através da escolarização, toda a produção
cultural da humanidade, a própria inserção da História e Cultura africana e da
diáspora será espaço de disputas, inclusive quanto às concepções sobre os
elementos culturais desse referencial que serão considerados válidos para serem
ensinados.
Nos debates sobre a vitimação da população negra nos currículos
escolares e sobre a importância de sua alteração para a igualdade das relações
etnicorraciais no espaço escolar, surgem, recorrentemente, críticas relativas ao
risco de essa temática racializar a escola. Mas os currículos escolares não são
199
fundamentalmente racializados, na medida em que integram apenas o referencial
eurocêntrico e hierarquizam os estudantes por seu pertencimento racial?
Não pretendemos, no entanto, substituir um etnocentrismo por outro, ou
seja, o eurocentrismo pelo afrocentrismo, mas questionarmos algumas lógicas em
que a escola está estruturada e enfatizarmos que uma educação democrática e de
boa qualidade social precisa assegurar o direito a todos os alunos a outros
referenciais. Conforme Freire, “[...] a prática preconceituosa de raça, de classe, de
gênero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a
democratização [...]” (FREIRE, 2002, p. 40).
Não basta garantir o acesso e a permanência da população negra nas
instituições educacionais. Prescrever educação e não problematizar os
conhecimentos transmitidos pelo currículo hegemônico que contribui para
reproduzir as relações existentes seria mantê-las e não superá-las. A escola e o
currículo não garantem apenas a reprodução social, não obstante, estão
implicados de várias formas nesse processo. Um currículo mais democrático será
construído em torno daqueles interesses dos grupos em desvantagem.
b) Intrinsecamente ligada ao item anterior, a discussão sobre as desigualdades
etnicorraciais nas escolas interroga a hierarquia presente nos currículos escolares.
É patente que os currículos serão sempre seletivos. Mas o repensar das relações
etnicorraciais aponta que essa seletividade, inerente ao processo de
escolarização, não ocorre simplesmente porque seja impossível integrar toda a
200
produção cultural da humanidade nos currículos. A questão que emerge desse
debate é que essa seletividade está fortemente pautada na hierarquia entre os
diferentes referenciais e entre os sujeitos brancos e negros. Implica em trazer à
tona que essa obviedade de o currículo ser inerentemente seletivo escamoteia o
fato de que os conhecimentos de um grupo etnicorracial são valorizados em
detrimento de outros, transformando-se em naturalização dos privilégios.
Decorrente dessa visão que hierarquiza os saberes, conhecimentos, História,
memória e identidade dos diferentes segmentos etnicorraciais, temos que a
população negra é percebida como tendo menos direito ao conhecimento e menos
capacidade de produzi-lo.
Apesar do conceito de raça ser inoperante do ponto de vista biológico, no
imaginário social ocorre a associação da pele negra e dos cabelos crespos à
menor inteligência, competência, beleza, entre outros atributos que não são vistos
como pertencentes à população negra. De um lado, a não inclusão da História e
Cultura dos negros, por ser vista como inexistente ou inferior, leva os currículos a
se omitirem sobre a produção de conhecimento de metade da população
brasileira; de outro lado, as visões sobre essa população expressas nas
desigualdades de tratamento perpetuam a ideia de que seus conhecimentos não
são dignos de integrarem os currículos.
A discussão sobre essa hierarquização pode trazer à tona as relações entre
escola e sociedade, fortemente marcadas pelas desigualdades etnicorraciais e a
nitidez da percepção de que a escola não é um espaço neutro e imune às
contradições sociais.
201
A escola não é um meio isolado dos conflitos sociais externos a
ela, ainda que uma espécie de pudor leve muitos à recomendação
de não tratar em seu seio os problemas conflitantes da sociedade.
Ao querer esquecê-los, os reproduz acriticamente na maioria das
vezes (SACRISTÁN, 2000b, p. 132).
c) Universalismo e igualdade abstrata
A obrigatoriedade da inclusão da História e Cultura dos africanos e da diáspora
põe em foco o discurso da igualdade abstrata, ancorado na percepção da
neutralidade dos currículos.
A escola brasileira ao ser indagada pelo Movimento Negro pela
implementação de uma educação anti-racista vive uma situação
de tensão entre configurar-se, de fato, como um direito social para
todos e, ao mesmo tempo, respeitar e reconhecer as diferenças
(GOMES, 2007, p. 102).
Apesar da tão proclamada miscigenação harmônica na sociedade brasileira,
de sermos o resultado de uma diversidade cultural e etnicorracial, um único
referencial é valorizado e visto positivamente. Uma igualdade que se orienta por
um único referencial. Uma igualdade que, além de silenciar as diferenças,
transforma-as em desigualdades em uma escola homogeneizadora e difusora dos
valores da sociedade ocidental.
Não se trata de estabelecer uma falsa dicotomia entre igualdade e diferença,
mas tampouco reduzir ao discurso da igualdade abstrata que apregoa que todos
somos iguais e que, na prática educativa, resulta em tratamento desigual entre
negros e brancos. Em outras palavras, “uns são mais iguais do que os outros”.
A estratégia será questionar essas lógicas e essas concepções de
igualdade e de universalismo que tanto se aproximam das
202
concepções de democracia racial. Não aceitá-las acriticamente.
Não limitar-nos a propor estratégias de integração nessa
tendenciosa igualdade e universalismo. Os persistentes dados que
mostram a seletividade do sistema escolar são convincentes para
negar a inocência dessas concepções. Entretanto, esses dados
têm sido usados para reafirmar os ideais universalistas e de
igualdade, condenando os excluídos e segregados como
responsáveis individuais de seus percursos. Atribuindo as
desigualdades nos resultados a uma suposta falta de motivação,
de esforço ou de inteligência. Os percursos e trajetórias
acidentadas das crianças, adolescentes vítimas da segregação
sócio-étnico-racial têm sido um argumento para ocultar o racismo
que ainda se faz presente no sistema escolar. radica a
perversidade racista das concepções de igualdade e universalismo
que são construídas ignorando a alteridade. Em vez de rever as
lógicas que se pretendem igualitárias condena os desiguais. São
eles, os pobres, os negros e os não preparados e capacitados
para concorrer na lógica escolar da igualdade (GOMES, 2007, p.
116-117).
Não se trata de apenas discutir as diferenças abstratamente apregoando
que são um elemento integrante da vida. Trata-se de problematizar que essas
diferenças geram desigualdades. O que está em jogo não é a diferença entre os
negros e os brancos, mas como socialmente foram construídas representações
sobre os diferentes segmentos etnicorraciais, baseadas em ideias de
superioridade e inferioridade geradoras da subalternização dos negros.
Em uma sociedade multicultural não podemos privar os educandos de
outros referenciais. Isso é um direito. Mas a inserção da História e Cultura dos
africanos e da diáspora o ocorre sem críticas daqueles que consideram que a
única forma possível e legítima de construção curricular é a existente. Há o
questionamento, por exemplo, sobre o porquê dos alunos brancos precisarem
saber sobre a História e Cultura africana e dos negros brasileiros. A resposta a
essa questão se origina justamente a partir da problematização da seletividade
203
dos currículos escolares. Por que os alunos negros precisam saber somente do
referencial euro-ocidental?
A constatação recorrente do discurso da igualdade nos leva a
pensar de que maneira construímos o nosso discurso sobre essa
temática. O que a consulta suscita é a compreensão de que
localizar a igualdade como ponto de partida de fato dificulta ou até
mesmo impede o reconhecimento da diferença. Por outro lado,
pautar a diferença como ponto de partida sem hierarquizar e
inferiorizar ou desvalorizar é reconhecer a singularidade dos seres
humanos, a pluralidade como imprescindível para que possa se
efetivar a condição de igualdade nas relações – igualdade de
direitos -, o ponto de chegada de processos socialmente
conquistados (SOUZA; CROSO, 2007, p. 49).
Pensar em uma educação de boa qualidade social significa problematizar,
dentre outras questões, as desigualdades etnicorraciais reproduzidas e produzidas
pelo processo educativo para superá-la e garantir o acesso de todos os
educandos a diferentes referenciais culturais.
d) Individualismo
A discussão sobre as relações etnicorraciais pode questionar uma das
lógicas sob a qual a escola, bem como seus currículos estão estruturados: os
sujeitos individuais. As lutas e proposições da população negra pela valorização
de sua História, cultura, memória são pautadas a partir dos direitos coletivos, ou
seja, o segmento negro é coletivamente vitimado, independente da classe social,
gênero ou orientação sexual. Isso, contudo, não implica em desconsiderarmos que
as formas pelas quais os negros lidam com sua identidade e reagem ao racismo,
preconceito racial e discriminação racial possam ser diferentes. Mas, pertencer ao
204
segmento racial negro gera exclusão e a força da luta antirracista está na
mobilização coletiva e não individual para, coletivamente, os negros se
constituírem enquanto sujeitos de direitos.
A pedagogia multirracial inclui em seu nome o reconhecimento de
que existem coletivos (não indivíduos), etnias, raças em possíveis
diálogos. Os movimentos sociais são movimentos de coletivos que
se julgam desrespeitados em seus direitos como coletivos e lutam
por uma consciência de direitos como coletivos. Defendem
políticas focadas para coletivos. Os movimentos sociais têm criado
a consciência de que existem direitos coletivos que exigem
políticas públicas específicas para a garantia dessa dimensão
coletiva dos direitos. Nossa tradição política atua na lógica dos
direitos individuais, daí a reação à construção de políticas para
coletivos. Qualquer tipo de ação afirmativa, por exemplo, cria
tensão política, porque sai da lógica dos direitos individuais
(ARROYO, 2007, p. 122).
Questionar as desigualdades, como a etnicorracial, pode colaborar para o
questionamento de outras desigualdades, denunciando que isso não é natural. A
forma como está estruturada a escola em relação à questão etnicorracial não será
efetiva se, simplesmente, incluir e/ou fazer pequenos acréscimos ao modelo
excludente, como na perspectiva do multiculturalismo conservador. Afinal a escola
está organizada a partir da seletividade, hierarquias, individualismo e sob a égide
da pretensa igualdade abstrata. Poderá não ser uma inclusão excludente se
questionar as desigualdades geradas pelo próprio sistema e propor novas
possibilidades da construção desta realidade. A esse respeito são instigantes as
questões levantadas por Santana (2000, p. 216) sobre o currículo escolar
É possível o currículo escolar ser imaginado como um espaço de
confluência de saberes, epistemologias, que são postas em
movimento formativo, em que os corpos aprendentes possam
produzir-se diferente e prazerosamente, na busca de novos
caminhos emancipatórios? Ou ele necessariamente é um espaço
do mono, do uno, da repetição, mesmo que incorporando, na
205
forma de adereço, novos discursos, metodologias, todavia
mantendo-se inalterada a sua lógica?
A escola não é o único espaço e/ou responsável para alterar as
desigualdades etnicorraciais vigentes, mas ela pode contribuir, enquanto espaço
formativo legitimado socialmente, para mudá-las, para trazer questionamento às
relações etnicorraciais na sociedade mais ampla. Segundo Freire (2000, p. 67),
“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a
sociedade muda [...]”. As escolas enquanto locais de formação dos sujeitos podem
contribuir para mudar comportamentos, imaginários, valores, formas de pensar,
condutas. As entidades e organizações do movimento negro sempre reivindicaram
escolarização e realizaram propostas para que efetivamente a população negra
tenha o seu direito à educação de boa qualidade social assegurado.
Nesse processo tenso e conflituoso, que emerge das discussões sobre as
relações raciais nas práticas curriculares, existe a pressão para que o Estado,
através de políticas públicas educacionais, impulsione a alteração das relações
etnicorraciais vigentes e para que a população negra integre os espaços de poder
nos quais essas políticas são formuladas.
Como aponta Sacristán:
A relação de determinação sociedade-cultura-currículo-prática
explica que a atualidade do currículo se veja estimulada nos
momentos de mudanças nos sistemas educativos, como reflexo da
pressão que a instituição escolar sofre desde diversas frentes [...]
(SACRISTÁN, 2000a, p. 20).
Essas questões, em certa medida, influenciam a alteração das políticas
públicas como a Lei Federal 10.639/03. Isso não quer dizer que a mera
206
alteração da lei implique necessariamente na alteração das práticas, mas a própria
lei é resultado das contradições da realidade e também será com conflitos, lutas e
tensões que ela poderá alterar a prática educativa. Apesar desses desafios, a
legislação apresenta a possibilidade de induzir a discussão sobre as práticas
vigentes:
A escola brasileira, pública e particular, está desafiada a realizar
uma revisão de posturas, valores, conhecimentos, currículos na
perspectiva da diversidade étnico-racial. Nos dias atuais, a
superação da situação de subalternização dos saberes produzidos
pela comunidade negra, a presença dos estereótipos raciais nos
manuais didáticos, a estigmatização do negro, os apelidos
pejorativos e a versão pedagógica do mito da democracia racial
(igualdade que apaga as diferenças) precisam e devem ser
superados no ambiente escolar não somente devido ao fato de
serem parte do compromisso social e pedagógico da escola no
combate ao racismo e à discriminação racial, mas, tamm, pela
força da lei (GOMES, 2007, p. 104).
Sobre a importância do Estado como indutor das políticas públicas para
alteração das relações etnicorraciais expressas nos currículos escolares, é
interessante mencionar alguns achados da consulta sobre a igualdade
etnicorracial realizada em torno da pergunta central: Quais são as possibilidades e
os desafios que os espaços escolares oferecem para acolher a implementação da
Lei nº 10.639/03? (SOUZA; CROSO, 2007). Segundo as autoras,
Nas escolas pesquisadas por esta consulta há um
reconhecimento da Lei 10.639/2003 bastante disseminado
entre a equipe pedagógica (professores, diretores e
coordenadores pedagógicos), uma vez que 70% dizem conhecer
a lei e 22%, já ter ouvido falar sobre ela. Isso significa que,
independentemente da existência ou não de críticas no que se
refere à inclusão da temática da história e da cultura afro-
brasileira e africana no currículo oficial, a obrigatoriedade que,
como foi citado, altera a LDB impulsionou o debate sobre a sua
existência. (p. 34)
207
Esses dados podem ser um indicador que a existência da lei impulsiona o
debate sobre essa temática e que a efetivação de uma educação para a igualdade
etnicorracial não pode se restringir à sensibilização dos danos causados pelo
racismo, preconceito racial e discriminação aos trabalhadores da educação ou a
práticas isoladas realizadas por educadores ou coletivos de educadores.
É dever do Estado, através de políticas de Estado garantir o
direito à cultura, identidade, diversidade dos coletivos étnico-
raciais. È Dever do Estado eliminar toda forma de racismos
instituídos. Insistir numa espécie de conversão dos educadores,
limpando de sua mente todo tipo de resquício de racismo sem
elevar esses processos ao nível de políticas de Estado pode
revelar uma visão do racismo apenas personalizado nos agentes
escolares, nos produtores de material ou nas editoras, perdendo
de vista os perversos processos estruturais que o produzem e
reproduzem, nas estruturas de poder, nas políticas, nas estruturas
da sociedade, no sistema normativo e legal (ARROYO, 2007, p.
115).
As políticas públicas são fundamentais para induzir mudanças concretas
nas relações etnicorraciais nas instituições educacionais para que, por meio de
seus currículos, efetivem uma educação para a igualdade etnicorracial.
208
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ANDICES
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etnicorraciais e currículos escolares p. 219
ANDICE B Relação das 187 teses e dissertações sobre relações
etnicorraciais p. 220
ANDICE C Orientadores das 187 teses e dissertações sobre relações
etnicorraciais p. 237
ANDICE D Relação das 51 teses e dissertações selecionadas sobre relações
etnicorraciais e currículos escolares p. 241
ANDICE E Orientadores das 51 teses e dissertações selecionadas sobre
relações etnicorraciais e currículos escolares p. 246
ANDICE F Relação das 29 teses e dissertações analisadas sobre relações
etnicorraciais e currículos escolares p. 248
ANDICE G Orientadores das 29 teses e dissertações analisadas sobre
relações etnicorraciais e currículos escolares p. 251
219
ANDICE A- Roteiro para a análise das teses e dissertações sobre relações
etnicorraciais e currículos escolares
- Tipo de material: dissertação ou tese;
- Autor da pesquisa, universidade, ano, orientador; região;
- Objetivos/colocação do problema;
- Nível e modalidade de ensino investigado;
- Dependência administrativa (rede estadual, federal ou municipal);
- Instituição pública ou privada;
- Referencial teórico e metodologia da pesquisa;
- Termos e conceitos utilizados;
- Relações etnicorraciais na sociedade brasileira;
- Atuação do Movimento negro;
- Críticas ao currículo hegemônico;
- Preconceito racial e discriminação racial no cotidiano escolar;
- O negro nos livros didáticos;
- Inclusão da História e cultura africana e dos negros brasileiros;
- Conclusões.
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ANDICE B – Relação das 187 pesquisas sobre relações etnicorraciais
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ANDICE C– Orientadores das 187 teses e dissertações sobre as relações
etnicorraciais
Nomes
Nº de
dissertações e
teses
Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva 11
Maria Lúcia Rodrigues Muller 9
Manoel Francisco De Vasconcelos Motta 4
Maria de Lourdes Siqueira 4
Narcimária Correia Do Patrocinio Luz 4
Pablo Antonio Amadeo Gentili 4
Fulvia Maria Rosemberg 3
Maria Julieta Costa Calazans 3
Carmem Lúcia Bezerra Machado 2
Eliane Dayse Pontes Furtado 2
Francis Musa Boakari 3
Gelsa Knijnik 2
Helenir Suano 2
Mere Abramowicz 2
Nara Maria Guazzelli Bernardes 3
Nilda Guimarães Alves 2
Roberto Alves Monteiro 2
Romualdo Luiz Portela De Oliveira 2
Roseli Fischmann 2
Vera Maria Ferrão Candau 3
Wilson Roberto De Matos 4
Adir Casaro Nascimento 1
Afrânio Mendes Catani 2
Alípio Marcio Dias Casali 1
Ana Canen 2
Ana Célia da Silva 1
Ana Maria Rabelo Gomez 1
Anete Abramowicz 1
Angela Terezinha De Souza Therrien 1
Antonio Carlos do Nascimento Osório 1
Antônio Carlos Ferreira Pinheiro 1
Antonio Dias Nascimento 1
Antonio Paulino de Sousa 1
Apolônio Abadio Do Carmo 1
Arilda Inês Miranda Ribeiro 1
238
Arnon Albert Mascarenhas de Andrade 1
Balduíno Antônio Andreola 1
Bruno Pucci 1
Carlos Alsinet Mora 1
Celi Neuza Zulke Taffarel 1
Celia Frazão Soares Linhares 1
Célia Maria Haas 1
Circe Maria Fernandes Bittencourt 1
Cristiana Tramonte Vieira de Souza 2
Dagmar Elisabeth Estermann Meyer 1
Décio Azevedo Marques de Saes 1
Edivaldo Machado Boaventura 1
Edson Cesar Ferreira Claro 1
Eliane Marta Santos Teix Lopes 1
Elias Boaventura 1
Elisabete Monteiro de Aguiar Pereira 1
Flávio Henrique Albert Brayner 1
Henrique Antunes Cunha Júnior 1
Hermengarda Alves Ludke 1
Hugo Otto Beyer 1
Ida Mara Freire 1
Ilma Vieira Do Nasicmento 2
Iolanda de Oliveira 1
Iracy Silva Picanco 1
Iraquitan de Oliveira Caminha 1
Jaci Maria Ferraz de Menezes 1
JaCques Velloso 1
Jaime Wanderley Gasparoto 1
Jerusa Vieira Gomes 1
Joaquim Gonçalves Barbosa 1
Jorge Chaves Cordeiro 1
Jorge Luis Cammarano Gonzáles 1
José Alberto Pedra 1
José Batista Neto 1
José Francisco Soares 1
José Gaston Hilgert 1
José Jorge Siqueira 1
José Leon Crochik 1
José Luiz Domingues 1
Juan José Mouriño Mosquera 1
239
Leny Magalhães Mrech 1
Liana Maria Salvia Trindade 1
Lilian Anna Wachowicz 1
Lincoln Etchebéhére Júnior 1
Lúcia Velloso Maurício 1
Lucíola Licínio De Castro Paixão Santos 1
Luis Alberto Oliveira Gonçalves 1
Luiz Augusto Passos 1
Magda Becker Soares 1
Malvina Do Amaral Dorneles 1
Marcos Antônio dos Santos Reigota 1
Maria da Conceição Brenha Raposo 1
Maria de Fátima Dias Sabino 1
Maria de Lourdes Bandeira 1
Maria de Lourdes Peixoto Brandão 1
Maria do Rosário Silveiro Porto 1
Maria Eliete Santiago 1
Maria Helena Santana Cruz 1
Maria Inês G. F. Marcondes de Sousa 1
Maria Lúcia Spedo Hilsdorf 1
Maria Manuela Alves Garcia 1
Maria Marly de Oliveira 1
Maria Oly Pey 1
Maria Vieira silva 1
Marília Pinto de Carvalho 1
Marlene Ribeiro 2
Mitsuko Aparecida Makino Antunes 1
Moysés Kuhlmann Júnior 1
Nely De Mendonça Moulin 1
Neusa Maria Mendes de Gusmão 2
Nilton Bueno Fischer 1
Olga Celestina Durand 1
Olga Rodrigues De Moraes Von Simson 1
Orly Zucatto Mantovani De Assis 1
Paulo Afonso Zarth 1
Paulo Ramos Coelho Filho 1
Renato Borges Guerra 1
Roberto Sidnei Alves Macedo 1
Roseli Cecília Rocha De Carvalho 1
Sergio da Costa Borba 1
240
Sidney Reinaldo da Silva 1
Silvio Ancisar Sanchez Gamboa 1
Sonia Kramer 1
Yara Dulce Bandeira Ataíde 1
Taís Moura Tavares 1
Ubiratan D’Ambrósio 1
Valeska Maria Fortes De Oliveira 1
Vera Maria Ramos de Vasconcellos 1
Victor Vincent Valla 1
Vitalino Cesca 1
Zeila De Brito Fabri Demartini 1
Trabalhos com co-orientação
Ana Lúcia Eduardo Farah Valente e Elcia Esnarriaga de Arruda
1
Ana Lúcia Eduardo Farah Valente e Neusa Maria Mendes de
Gusmão
1
Célia Regina Vendramini e Vânia Beatriz Monteiro da Silva 1
241
ANDICE D Relação das 51 teses e dissertações selecionadas sobre relações
etnicorraciais e currículos escolares
ALEXANDRE, Ivone Jesus. Relações raciais: o explícito e o implícito nas
interações entre alunos em uma escola pública. Mestrado (Educação),
Universidade Federal do Mato Grosso, 2006.
ALGARVE, Valéria Aparecida. Cultura negra na sala de aula: pode um cantinho de
africanidades elevar a auto-estima de crianças negras e melhorar o
relacionamento entre crianças negras e brancas? Mestrado (Educação),
Universidade Federal de São Carlos, 2004.
BRANCO, Raynette Castello. O negro no livro didático de História do Brasil para o
ensino fundamental II, da Rede Pública Estadual de Ensino, no Recife. Mestrado
(Educação), Universidade Federal de Pernambuco, 2005.
CAMARA, Engels. Capoeira angola: uma contribuição à prática do professor no
reconhecimento e valorização da comunidade afro-descendente. Mestrado
(Educação), Universidade Federal de São Carlos, 2004.
CARVALHO, Andréa Aparecida de Moraes Cândido de. As imagens dos negros
em livros didáticos de História. Mestrado (Educação), Universidade Federal de
Santa Catarina, 2006.
CAVALLEIRO. Eliane dos Santos. Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo,
preconceito e discriminação na educação infantil. Mestrado (Educação),
Universidade de São Paulo, 1998.
CONCEIÇÃO, Maria Telvira da. O negro no Ensino de História: uma análise das
suas implicações e desafios no contexto do ensino médio. Mestrado (Educação),
Universidade Federal do Ceará, 2001.
COSTA, Cândida Soares da. O negro no livro didático de ngua Portuguesa:
imagens e percepções de alunos e professores. Mestrado (Educação),
Universidade Federal de Mato Grosso, 2004.
CRESTANI, Luciana Maria. A representação do negro em livros didáticos de
Língua Portuguesa. Mestrado (Educação). Universidade de Passo Fundo, 2002.
CRUZ, Mariléia dos Santos. A história da disciplina estudos sociais a partir das
representações sociais sobre o negro no livro didático (período 1981-2000).
Mestrado (Educação), Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho, 2000.
DIAS, Lucimar Rosa. Diversidade étnico-racial e educação infantil. Três escolas,
uma questão, muitas respostas. Mestrado (Educação), Fundação Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul, 1997.
242
DIAS, Tercio Gonçalves. Negritude um estudo hermenêutico. Mestrado
(Educação), Universidade Federal do Paraná, 1995.
DUARTE, André Damasceno Brown. Histórias em quadrinhos sobre culturas afro-
descendentes na educação. Mestrado (Educação), Universidade do Estado do Rio
de Janeiro, 2006.
DUARTE, Maria Betânia Pereira Gomes. Negro e educação: um estudo na escola
pública de grau. Mestrado (Educação) Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, 1997.
DUARTE, Rosana Silva. A menina negra e a sua integração social na escola
pública: o caso de uma escola de Teresina. Mestrado (Educação), Universidade
Federal do Piauí, 2000.
DURANS, Claudicea Alves. O negro e a dinâmica das relações sócio-raciais na
trajetória da sociedade brasileira: reflexos no processo educacional. Mestrado
(Educação), Universidade Federal do Maranhão, 2002.
GOMES, Ana Beatriz Sousa. A prática pedagógica curricular e o aluno negro: um
estudo de caso numa escola pública do ensino fundamental em Tererina-PI.
Mestrado (Educação), Fundação Universidade Federal do Piauí, 2000.
GONÇALVES. Luciane Ribeiro Dias. A questão do negro e políticas públicas de
educação multicultural: avanços e limitações no âmbito escolar. Mestrado
(Educação), Universidade Federal de Uberlândia, 2004.
GUIMARÃES. Mary Francisca. Preconceito racial em questão: a leitura dos
alunos. Mestrado (Educação), Universidade Federal de Minas Gerais, 1996.
HALMENSCHLAGER, Vera Lúcia da silva. Etnia, Raça e Desigualdade
Educacional: uma abordagem etnomatemática no ensino médio noturno. Mestrado
(Educação), Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2000.
JESUS. Ilma Fátima de. Educação, gênero e etnia: um estudo sobre a realidade
educacional feminina na comunidade remanescente de Quilombo de São
Cristóvão. Mestrado (Educação), Universidade Federal do Maranhão, 2001.
LEÃO, Jacinto Pedro Pinto. Etnomatemática quilombola: as relações dos saberes
da matemática dialógica com as práticas socioculturais dos remanescentes de
quilombo do Mola-Itapocu/PA. Mestrado (Educação em Ciências e Matemáticas),
Universidade Federal do Pará, 2005.
LIMA, Maria Batista. Mussuca, Laranjeiras, Lugar de Preto mais preto: cultura e
educação nos territórios de predominância afrodescendentes sergipanos.
Mestrado (Educação), Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2001.
243
MACEDO, Marluce de Lima, Tradição oral Afro-brasileira e escola: (Des)encontros
na encruzilhada uma reflexão a partir do município de Santa Bárbara-BA.
Mestrado (Educação e Contemporaneidade), Universidade do Estado da Bahia,
2004.
MARQUES, Eugênia Portela de Siqueira. A pluralidade cultural e a proposta
pedagógica na escola- um estudo comparativo entre as propostas pedagógicas
de uma escola de periferia e uma escola de remanescentes de quilombos.
Mestrado (Educação), Universidade Católica Dom Bosco, 2004.
MATOS, Maria Aparecida de. Educação Literária e a formação da consciência
negra entre alunos da escola fundamental. Doutorado (Educação), Universidade
Federal do Ceará, 2004.
MELLO, Rosália Marisa de. É a cor da pele que faz a pessoa ser discriminada:
narrativas sobre o negro e a discriminação racial produzida em uma experiência
pedagógica de educação matemática. Mestrado (Educação), Universidade do Vale
do Rio dos Sinos, 2006.
MESSIAS, Marta Íris Camargo. A importância da inclusão da cultura afro-brasileira
nos currículos de educação física escolar a partir do conteúdo capoeira. Mestrado
(Educação), Universidade Federal de Santa Maria, 2004.
NASCIMENTO, Valmir Alves do. Dinâmica da Violência: Discriminação étnico-
cultural em uma escola pública de ensino fundamental em Feira de Santana.
Mestrado (Educação e contemporaneidade), Universidade do Estado da Bahia,
2006.
OLIVEIRA, Eliana. Relações Raciais nas creches diretas do município de São
Paulo. Mestrado (Educação: Currículo), Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, Mestrado (Educação), 1994.
OLIVEIRA, Fabiana de. Um estudo sobre a creche: o que as práticas pedagógicas
produzem e revelam sobre a questão racial. Mestrado (Educação), Universidade
Federal de São Carlos, 2004.
OLIVEIRA, Marco Antonio de. O negro no ensino de História: temas e
representações (1978-1998). Mestrado (Educação), Universidade de São Paulo,
2000.
OLIVEIRA, Rachel de. Relações Raciais na escola uma experiência de
intervenção. Mestrado (Educação: Currículo), Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, 1992.
244
OLIVEIRA, Vanessa Regina Eleutério Miranda. Currículo e questão racial nas
práticas escolares. Mestrado (Educação), Universidade Federal de Minas Gerais,
2002.
PINTO. Heldina Pereira. Os saberes das práticas religiosas da comunidade rural
negra de Barra do Parateca: uma articulação com a cultura escolar. Mestrado
(Educação: Currículo), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2000.
_______ O global e o local na construção de práticas curriculares. Doutorado
(Educação: Currículo), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2005.
REAL, Rosolindo Neto de Souza Vila. Cultura e currículo: um estudo da escola
Kalunga. Mestrado (Educação) Universidade Federal de Goiás, 1997.
RIBEIRO, Neli Goes. Por entre tramas e meios: relações raciais na escola.
Mestrado (Educação), Universidade Federal de Santa Catarina, 1995.
ROCHA, Luiz Carlos Paixão da. Políticas afirmativas e educação: a Lei 10.639/03
no contexto das políticas educacionais no Brasil contemporâneo. Mestrado
(Educação), Universidade Federal do Paraná, 2006.
ROSA, Luiz Vergílio B. da. Exclusão étnica: uma face do fracasso escolar a
inclusão de adolescentes negros na perspectiva de aproximação de pressupostos
teóricos da inclusão. Mestrado (Educação), Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, 2001.
SANTOS, Ângela Maria dos. Vozes e silêncio do cotidiano escolar: análise das
relações raciais entre alunos negros e não-negros em duas escolas blicas no
município de Cáceres. Mestrado (Educação), Universidade Federal do Mato
Grosso, 2005.
SILVA, Ana Célia da. As transformações da representação social do negro no livro
didático e seus determinantes. Doutorado (Educação), Universidade Federal da
Bahia, 2001.
SILVA, Auxiliadora Maria Martins da. Etnia negra nos livros didáticos do ensino
fundamental: transposição didática e suas implicações para o ensino de ciências.
Mestrado (Ensino das Ciências), Universidade Federal Rural de Pernambuco,
2005.
SILVA, Cirena Calixto da. Caesalpinia Echinata: um projeto pedagógico com
temática étnico-racial desenvolvido numa escola pública. Mestrado (Educação),
Universidade de São Paulo, 2005.
245
SILVA, Jacira Reis da. Resistência Negra e educação: limites e possibilidades no
contexto de uma experiência escolar. Mestrado (Educação), Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, 1992.
SILVA, Rosangela Souza da. Racismo e discriminação racial no cotidiano escolar:
dizeres e fazeres de uma escola pública de nível médio em Feira de Santana.
Mestrado (Educação e Contemporaneidade), Universidade do Estado da Bahia,
2005.
SILVA, Vera Lúcia Neri da. Os estereótipos racistas nas falas e gestos de
educadoras infantis. Mestrado (Educação), Universidade Federal Fluminense,
2002.
SIMÃO. Aparecida Italiano. Preconceito e discriminação sentidos e observados
por alunos de série e suas propostas para melhorar o convívio na escola.
Mestrado (Educação), Universidade Federal de São Carlos, 2005.
SOUZA. Maria Elena Viana. Cultura, realidade e preconceito racial no cotidiano
escolar. Doutorado (Educação), Universidade Estadual de Campinas, 2003.
VERTUAN. Maria José dos Santos. Preconceito racial e educação: o cotidiano
numa escola pública do norte do Paraná. Mestrado (Educação), Universidade do
Oeste Paulista, 2004.
WECK, João Tadeu. A produção educativa do deo: questões étnico-culturais de
uma comunidade rural negra. Mestrado (Educação), Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, 2001.
246
ANDICE E - Orientadores das 51 teses e dissertações selecionadas sobre
relações etnicorraciais e currículos escolares
Nome
Nº de teses e
orientações
Maria Julieta Costa Calazans 3
Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva 3
Francis Musa Boakari 2
Fulvia Maria Rosemberg 2
Gelsa Knynik 2
Maria Lúcia Rodrigues Muller 2
Mere Abramowicz 2
Adir Casaro Nascimento 1
Ana Célia da Silva 1
Anete Abramowicz 1
Arnon Alberto Mascarenhas de Andrade 1
Balduíno Antônio Andreola 1
Celi Neusa Zulke Taffarel 1
Circe Maria Fernandes Bittencourt 1
Eliane Dayse Pontes Furtado 1
Henrique Cunha Júnior 1
Hugo Otto Beyer 1
Jaime Wanderley Gasparoto 1
Jerusa Vieira Gomes 1
José Alberto Pedra 1
José Batista Neto 1
José Gaston Hilgert 1
José Jorge Siqueira 1
José Luiz Domingues 1
Lucíola Licínio de Castro Paixão Santos 1
Magda Becker Soares 1
Maria da Conceição Brenha Raposo 1
Maria de Fátima Sabino Dias 1
Maria de Lourdes Siqueira 1
Maria Marly de Oliveira 1
Maria Oly Pey 1
Maria Vieira da Silva 1
Marília Pinto de Carvalho 1
Narcimária Correia do Patrocínio Luz 1
Nilda Guimarães Alves 1
Renato Borges Guerra 1
247
Silvio Ancisar Sanchez Gamboa 1
Taís Moura Tavares 1
Vera Maria Ramos de Vasconcellos 1
Wilson Roberto de Matos 1
Zeila de Brito Fabri Demartini 1
Trabalhos com co-orientação
Ana Lúcia Educarod Farah Valente e Neusa Maria
Mendes Gusmão
1
248
ANDICE F Relação das 29 pesquisas analisadas sobre relações
etnicorraciais e currículos escolares
ALGARVE, Valéria Aparecida. Cultura negra na sala de aula: pode um cantinho de
africanidades elevar a auto-estima de crianças negras e melhorar o
relacionamento entre crianças negras e brancas? Mestrado (Educação),
Universidade Federal de São Carlos, 2004.
BRANCO, Raynette Castello. O negro no livro didático de História do Brasil para o
ensino fundamental II, da Rede Pública Estadual de Ensino, no Recife. Mestrado
(Educação), Universidade Federal de Pernambuco, 2005.
CAMARA, Engels. Capoeira angola: uma contribuição à prática do professor no
reconhecimento e valorização da comunidade afro-descendente. Mestrado
(Educação), Universidade Federal de São Carlos, 2004.
CARVALHO, Andréa Aparecida de Moraes Cândido de. As imagens dos negros
em livros didáticos de História. Mestrado (Educação), Universidade Federal de
Santa Catarina, 2006.
CAVALLEIRO. Eliane dos Santos. Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo,
preconceito e discriminação na educação infantil. Mestrado (Educação),
Universidade de São Paulo, 1998.
CONCEIÇÃO, Maria Telvira da. O negro no Ensino de História: uma análise das
suas implicações e desafios no contexto do ensino médio. Mestrado (Educação),
Universidade Federal do Ceará, 2001.
CRUZ, Mariléia dos Santos. A história da disciplina estudos sociais a partir das
representações sociais sobre o negro no livro didático (período 1981-2000).
Mestrado (Educação), Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho, 2000.
DIAS, Tercio Gonçalves. Negritude um estudo hermenêutico. Mestrado
(Educação), Universidade Federal do Paraná, 1995.
DURANS, Claudicea Alves. O negro e a dinâmica das relações sócio-raciais na
trajetória da sociedade brasileira: reflexos no processo educacional. Mestrado
(Educação), Universidade Federal do Maranhão, 2002.
GOMES, Ana Beatriz Sousa. A prática pedagógica curricular e o aluno negro: um
estudo de caso numa escola pública do ensino fundamental em Tererina-PI.
Mestrado (Educação), Fundação Universidade Federal do Piauí, 2000.
GONÇALVES. Luciane Ribeiro Dias. A questão do negro e políticas públicas de
educação multicultural: avanços e limitações no âmbito escolar. Mestrado
(Educação), Universidade Federal de Uberlândia, 2004.
249
GUIMARÃES. Mary Francisca. Preconceito racial em questão: a leitura dos
alunos. Mestrado (Educação), Universidade Federal de Minas Gerais, 1996.
HALMENSCHLAGER, Vera Lúcia da silva. Etnia, Raça e Desigualdade
Educacional: uma abordagem etnomatemática no ensino médio noturno. Mestrado
(Educação), Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2000.
LEÃO, Jacinto Pedro Pinto. Etnomatemática quilombola: as relações dos saberes
da matemática dialógica com as práticas socioculturais dos remanescentes de
quilombo do Mola-Itapocu/PA. Mestrado (Educação em Ciências e Matemáticas),
Universidade Federal do Pará, 2005.
MESSIAS, Marta Íris Camargo. A importância da inclusão da cultura afro-brasileira
nos currículos de educação física escolar a partir do conteúdo capoeira. Mestrado
(Educação), Universidade Federal de Santa Maria, 2004.
OLIVEIRA, Eliana. Relações Raciais nas creches diretas do município de São
Paulo. Mestrado (Educação: Currículo), Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, Mestrado (Educação), 1994.
OLIVEIRA, Fabiana de. Um estudo sobre a creche: o que as práticas pedagógicas
produzem e revelam sobre a questão racial. Mestrado (Educação), Universidade
Federal de São Carlos, 2004.
OLIVEIRA, Marco Antonio de. O negro no ensino de História: temas e
representações (1978-1998). Mestrado (Educação), Universidade de São Paulo,
2000.
OLIVEIRA, Rachel de. Relações Raciais na escola uma experiência de
intervenção. Mestrado (Educação: Currículo), Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, 1992.
PINTO. Heldina Pereira. Os saberes das práticas religiosas da comunidade rural
negra de Barra do Parateca: uma articulação com a cultura escolar. Mestrado
(Educação: Currículo), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2000.
_______ O global e o local na construção de práticas curriculares. Doutorado
(Educação: Currículo), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2005.
REAL, Rosolindo Neto de Souza Vila. Cultura e currículo: um estudo da escola
Kalunga. Mestrado (Educação) Universidade Federal de Goiás, 1997.
RIBEIRO, Neli Goes. Por entre tramas e meios: relações raciais na escola.
Mestrado (Educação), Universidade Federal de Santa Catarina, 1995.
2
50
ROCHA, Luiz Carlos Paixão da. Políticas afirmativas e educação: a Lei 10.639/03
no contexto das políticas educacionais no Brasil contemporâneo. Mestrado
(Educação), Universidade Federal do Paraná, 2006.
SILVA, Ana Célia da. As transformações da representação social do negro no livro
didático e seus determinantes. Doutorado (Educação), Universidade Federal da
Bahia, 2001.
SILVA, Auxiliadora Maria Martins da. Etnia negra nos livros didáticos do ensino
fundamental: transposição didática e suas implicações para o ensino de ciências.
Mestrado (Ensino das Ciências), Universidade Federal Rural de Pernambuco,
2005.
SILVA, Cirena Calixto da. Caesalpinia Echinata: um projeto pedagógico com
temática étnico-racial desenvolvido numa escola pública. Mestrado (Educação),
Universidade de São Paulo, 2005.
SILVA, Vera Lúcia Neri da. Os estereótipos racistas nas falas e gestos de
educadoras infantis. Mestrado (Educação), Universidade Federal Fluminense,
2002.
SIMÃO. Aparecida Italiano. Preconceito e discriminação sentidos e observados
por alunos de série e suas propostas para melhorar o convívio na escola.
Mestrado (Educação), Universidade Federal de São Carlos, 2005.
251
Apêndice G Orientadores das 29 teses e dissertações analisadas sobre
relações etnicorraciais e currículos escolares
Nome
Nº de teses e di
ssertações
Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva 3
Fulvia Maria Rosemberg 2
Mere Abramowicz 2
Anete Abramowicz 1
Celi Neusa Zulke Taffarel 1
Circe Maria Fernandes Bittencourt 1
Francis Musa Boakari 1
Gelsa Knynik 1
Henrique Cunha Júnior 1
Jaime Wanderley Gasparoto 1
Jerusa Vieira Gomes 1
José Alberto Pedra 1
José Batista Neto 1
José Luiz Domingues 1
Magda Becker Soares 1
Maria da Conceição Brenha Raposo 1
Maria de Fátima Sabino Dias 1
Maria de Lourdes Siqueira 1
Maria Marly de Oliveira 1
Maria Oly Pey 1
Maria Vieira da Silva 1
Marília Pinto de Carvalho 1
Renato Borges Guerra 1
Taís Moura Tavares 1
Vera Maria Ramos de Vasconcellos 1
252
ANEXO A – Pintura A marca de Cam p. 253
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