tal exploração. A mão-de-obra branca se tornou mais cara em função das despesas com
transporte (Europa-África) e moradia. Somado a isso, o europeu não manifestava vontade de
enfrentar o clima angolano.
174
Então, tornou-se necessário colocar os negros no trabalho. A
esses, não restou outro destino: foram colonizados.
Os africanos eram recrutados em seu próprio habitat, à força, pois muitos não queriam
ser trabalhadores dos brancos. Fernando Barciela Santos observa que havia duas formas de
obrigar o negro a trabalhar, uma direta e outra indireta. A direta consistia na seleção pelo
administrador das pessoas para o trabalho, tarefa essa que foi depois destinada aos Sobas,
chefes tribais africanos que tinham poder e gerência sobre todos os acontecimentos das tribos.
Chegava o recrutador de mão-de-obra e pedia ao administrador civil certo número
de trabalhadores voluntários. Se estes se não apresentavam por seu livre arbítrio, o
administrador selecionava-os ele próprio. Nos últimos anos, para maior
comodidade, essa tarefa era deixada ao próprio chefe tribal (soba), que assim
atingia o seu último degrau de humilhação.
175
O imposto “que propositadamente não podia ser pago em espécie, sim em efetivo, era
transformável em trabalho.”
176
Era, desse modo, uma obrigatoriedade para o negro, a
chamada forma indireta entendida por Santos. O angolanos eram obrigados a pagar para
utilizar suas terras e, caso não tivessem bens suficientes para efetuá-lo, “o africano ia
trabalhar voluntariamente nas empresas coloniais para conseguir meios de pagar o tributo”
177
.
Assim, deveriam prestar serviços para o governo colonial, na minas, nas plantações ou ainda
eram recrutados para o trabalho público.
178
Caso fugissem dessa obrigação, a dívida passava
para um familiar, geralmente suas esposas.
O reforço ideológico, para a obrigatoriedade do trabalho, foi encontrado na
organização da sociedade africana, a própria tribo, já que, nessa sociedade, o trabalho agrícola
174
“Luanda e seu interior próximo inserem-se numa região semidesértica, onde a vida humana só é possível
graças às chuvas torrenciais, benéficas e desatrosas ao mesmo tempo, pela sua irregularidade, que caem entre os
meses de Novembro e Abril, durante as estações da chuvas.” Cf. VENÂNCIO, José Carlos, op. cit. nota 77, p.11
175
SANTOS, Fernando Barciela, op. cit. nota 173, p.26
176
Id- Ibidem, p.26
177
Id- Ibidem, p.27
178
Havia, em Angola, o trabalho por Contrato, que assim foi comentado por Costa Andrade, em entrevista a
Michel Laban: “iam (cipaios) a aldeias e arrebanhavam jovens e homens com saúde para levá-los para o trabalho
de contrato. As rusgas, porém, facilitavam também as fugas. Então, das rusgas evoluíram para os angariadores
que enriqueceram – recebiam por cada homem que eles convenciam, e convenciam-nos com meia dúzia de
bagatelas: um bocado de roupa, de vinho, algumas missangas para as mulheres, convenciam-nos a ir para um
contrato que, nominalmente e inicialmente, era de seis meses, mas as condições do contrato eram de tal ordem
que nunca eram seis meses, eram muito mais…O homem que chegava ao contrato recebia um sítio para dormir,
uma farda, um cobertor, por vezes sandálias, que lhe eram anotadas, apontadas como sua dívida, e, ao fim de seis
meses, ainda estava a dever o que tinha recebido para o trabalho.”cf: LABAN, Michel. Angola- entrevista com
escritores. Porto: Fundação Eng. António de Almeida, 1991. p.467-68