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necessários a uma analise estatística dos eventos não será priorizada, e, sim, entraremos
nos pormenores, que caracterizam uma análise em profundidade do evento que se quer
estudado. Tratamos, portanto, de uma análise qualitativa. Ainda, nesta consideração,
observamos que o evento destacado por conta do mesmo modo de análise, nunca
pretenderá esgotar todas suas possibilidades de existência e explicação, simplesmente
porque entendemos que inevitavelmente, o pesquisador proporá o ponto de vista que
instaurará e organizará o objeto a ser definido
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, e os pontos de vistas podem partir de
diferentes campos de saber que darão luz conforme a perspectiva que se olha o objeto.
Assim, não procuramos o fundamento único do evento mas as peculiaridades que o
definem conforme essa teoria enunciativa e sua concepção de linguagem.
Confiantes neste propósito, é preciso que nos incumbamos, então, da nossa
posição na coleta dos dados que comporão o corpus, pois, levando em consideração o
caráter dialético que a enunciação configura, estamos, como pesquisadores-sujeitos,
mergulhados no contexto enunciativo de duas maneiras significativas. A primeira
maneira de participação e interferência reside no fato de que, ao fazer uma entrevista,
nos posicionamos no lugar do interlocutor que convoca a narrativa que será
desenvolvida, contudo tomamos os cuidados de que esse lugar de interlocução sirva,
antes de tudo, como facilitador para o desenvolvimento da composição enunciativa. A
segunda maneira de participação exige o gesto interpretativo que faz com que
escolhamos recortes enunciativos que, mesmo que justificados, faz com que a
enunciação se estabeleça, em um segundo momento, com características determinadas
por este gesto. Temos, assim, a confluência de considerações a fazer a partir de nosso
lugar de escuta, presente nos dados que iremos apresentar. Adiante se explanará melhor
esta participação.
Finalmente, é necessário destacar que esta proposta metodológica virá
acompanhada pelos diversos aportes, forjados a partir do diálogo com as contribuições
desenvolvidas ao longo deste estudo
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, de alguns teóricos que contribuem de maneira
especial com a proposta que aqui enfatizamos a respeito da enunciação do imigrante,
principalmente Dany-Robert Dufour (2000), que leva adiante o formato trino da
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Certamente que esta afirmação é amparada como Saussure concebe o método em lingüística e o que lhe
permitiu arbitrar sobre o objeto Língua, que sabidamente abriu o caminho para o estruturalismo e instituiu
a lingüística que chegou a ser considerada a ciência piloto das ciências humanas.
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Esta possibilidade de diálogo com outras áreas de estudos está contemplada pela teoria enunciativa,
como bem o reconhece Flores (2004) ao observar que esta teoria contempla no seu arcabouço três focos,
sendo eles: o epistemológico, o interdisciplinar e o metafísico. E eles sempre se realizam em sua
intersecção permanente, sendo que um não se empreende sem os outros. Sobre esta possibilidade é que
neste estudo também se torna possível o diálogo que propomos.