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Para a teoria queer, a identidade é construída em meio à cultura em que o
indivíduo está inserido, ou seja, ela é uma construção cultural. Destarte, como os autores
queers baseiam-se nos pós-estruturalistas Derrida e Foucault, alegando que os sujeitos mesmo
antes de nascerem sempre fazem parte de uma determinada cultura e se formam juntamente
com um processo histórico (MORRIS, 2005).
Louro (2004, p. 75) considera que os corpos carregam marcas e se pergunta onde
elas se inscrevem nos corpos, se “na pele, nos pêlos, nas formas, nos traços, nos gestos? O
que elas ‘dizem’ dos corpos? Que significam? [...] Há corpos ‘não-marcados’? Elas, as
marcas, existem, de fato? Ou são uma invenção do olhar do outro?”. Para Louro (ibid),
atualmente, é o corpo que posiciona os sujeitos dentro de seus grupos e das sociedades, isso
porque: “os sujeitos vêm sendo indiciados, classificados, ordenados, hierarquizados e
definidos pela aparência de seus corpos; a partir de padrões e referências, das normas, valores
e ideais da cultura” (LOURO, ibid). Então,
os corpos são o que são na cultura. A cor da pele ou dos cabelos; o formato
dos olhos, do nariz ou da boca; a presença da vagina ou do pênis; o tamanho
das mãos; a redondeza das ancas e dos seios são, sempre, significados
culturalmente e é assim que se tornam (ou não) marcas de raça, de gênero,
de etnia, até mesmo de classe e nacionalidade. [...] Características dos corpos
significadas como marcas pela cultura distinguem sujeitos e se constituem
como marcas de poder. Entre tantas marcas, ao longo dos séculos, a maioria
das sociedades vem estabelecendo a divisão masculino/feminino como uma
divisão primordial. Uma divisão usualmente compreendida como primeira,
originária ou essencial e, quase sempre, relacionada ao corpo. [...] os corpos
vêm sendo “lidos” ou compreendidos de formas distintas em diferentes
culturas, de que o modo como a distinção masculino/feminino vem sendo
entendida diverge e modifica histórica e culturalmente (LOURO, 2004,
p.76).
Assim como Louro (2004), Goellner (2005) compartilha de suas afirmações sobre
as marcas que os corpos carregam:
(...) o corpo é uma construção sobre a qual são conferidas diferentes marcas
em diferentes tempos, espaços, conjunturas econômicas, grupos sociais,
étnicos, etc. Não é portanto algo dado a priori nem mesmo é universal: o
corpo é provisório, mutável e mutante, suscetível a inúmeras intervenções
consoante o desenvolvimento científico e tecnológico da cada cultura bem
como suas leis, seus códigos morais, as representações que cria sobre os
corpos, os discursos que sobre ele se produz e reproduz. Um corpo não é
apenas um corpo. É também o seu entorno. Mais do que um conjunto de
músculos, ossos, vísceras, reflexos e sensações, o corpo é também a roupa e
os acessórios que o adornam, as intervenções que nele se operam, a imagem
que dele se reproduz, as máquinas que nele se acoplam, os sentidos que nele
se incorporam [...] a educação de seus gestos... (GOELLNER, 2005, p.28).