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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
Programa de Pós-graduação em Agricultura Tropical
DESCRIÇÃO DA PRODUÇÃO E CONSUMO DE UNIDADES DE
PRODUÇÃO (UPs) DA REGIÃO DE SANGRADOURO E SÃO SEBASTIÃO
– SANTO ANTÔNIO DE LEVERGER/MT
CARLA CELLA
CUIABÁ-MT
2008
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
Programa de Pós-graduação em Agricultura Tropical
DESCRIÇÃO DA PRODUÇÃO E CONSUMO DE UNIDADES DE
PRODUÇÃO (UPs) DA REGIÃO DE SANGRADOURO E SÃO SEBASTIÃO
– SANTO ANTÔNIO DE LEVERGER/MT
CARLA CELLA
Engenheira Agrônoma
Orientadora: Profª. Drª. MARIA CRISTINA DE F. E ALBUQUERQUE
Co-orientador: Prof. Dr. Rodrigo Aleixo Brito de Azevedo
Dissertação apresentada à Faculdade de
Agronomia e Medicina Veterinária da
Universidade Federal de Mato Grosso, para
obtenção do título de Mestre em Agricultura
Tropical.
C U I A B Á - MT
2008
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C393d
Cella, Carla.
Descrição da Produção e Consumo de Unidades de
Produção (UPs) da Região de Sangradouro e Sebastião – Santo
Antônio de Leverger/MT/ Carla Cella. Cuiabá: UFMT, 2008. 66p.
Dissertação - Mestrado em Agricultura Tropical
Orientadora: Profª. Dra. Maria Cristina de Figueiredo e
Albuquerque
1.Campesinato. 2.Agricultura Familiar. 3.Agricultores
Tradicionais I. Título
CDU 631
4
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA
TROPICAL
CERTIFICADO DE APROVAÇÃO
Título: Descrição da Produção e Consumo de Unidades de Produção (UPs)
da Região de Sangradouro e São Sebastião Santo Antônio de Leverger-
MT
Autor: Carla Cella
Orientadora: Profª Drª. Maria Cristina de Figueiredo e Albuquerque
Co-orientador: Prof. Dr. Rodrigo Aleixo Brito de Azevedo
Aprovada em 13 de novembro de 2008.
Comissão Examinadora:
_______________________________________________
Prof
a
. Drª. Maria Cristina de Figueiredo e Albuquerque
FAMEV - UFMT
______________________________________
Prof. Dr. José Carlos Leite
ICHS – UFMT
______________________________________
Prof. Dr. Fábio Nolasco
FAMEV – UFMT
5
AGRADECIMENTOS
À Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em particular ao
Programa de Pós-Graduação em Agricultura Tropical.
Ao professor Rodrigo Aleixo Brito de Azevedo, pelo carinho com que
me recebeu no grupo de pesquisa, paciência, conhecimento transmitido e
amizade.
À minha família pelas lições de vida, pelo amor, atenção e incentivo
nos momentos mais difíceis, especialmente aos meus pais Vitório e Carme.
Ao Leandro pelo companheirismo, compreensão, carinho e apoio.
À professora Maria Cristina de Figueiredo e Albuquerque, por estar
sempre disposta a colaborar.
À colega de trabalho de campo Hérica Clair, pela ajuda na coleta de
dados, amizade e incentivo.
À EMPAER-MT do município de Santo Antônio de Leverger, pela
colaboração em fornecer informações sobre a área de pesquisa.
Ao Sr. Antonimar Marinho dos Santos, diretor de pesquisa da
EMPAER-MT, por sua colaboração, compreensão e por sempre ter nos
recebido calorosamente.
A todos os camponeses (agricultores) que doaram seu tempo a esse
trabalho e que agora fazem parte da minha história.
Às professoras Roseane, Eliane e Eva, sempre prestativas.
Às funcionárias da secretaria da pós-graduação Denise e Maria, pelo
carinho e atenção.
À CAPES, pelo apoio durante o período de realização do curso.
Aos membros da banca pelas correções e colaboração na melhoria
do trabalho.
6
DESCRIÇÃO DA PRODUÇÃO E CONSUMO DE UNIDADES DE
PRODUÇÃO (UPs) DA REGIÃO DE SANGRADOURO E SÃO SEBASTIÃO
– SANTO ANTÔNIO DE LEVERGER/MT
RESUMO - Transformações políticas, econômicas e ambientais são capazes
de se refletir no convívio social e no modo de produção tanto de grandes
quanto de pequenos agricultores. Neste trabalho, foram estudados os
camponeses da região de Sangradouro/Vila São Sebastião, situada na BR
364 que liga os municípios de Cuiabá a Rondonópolis - MT. Esses
camponeses ocupam a região várias gerações e sofreram interferências
de fatores externos, em suas unidades de produção (UPs), que os levaram
aos modos de vida e produção atuais. O trabalho foi realizado por meio de
entrevistas abertas e semi-estruturadas e teve como objetivo descrever a
utilização dos recursos ofertados pela natureza, a produção de bens e
serviços oriundos da atividade agrícola e valorar economicamente esses
recursos, produtos e serviços. O fato mais marcante citado nas entrevistas e
que proporcionou as mudanças mais significativas tanto no sistema agrícola,
quanto no aspecto social, cultural e econômico, foi o fim do sistema
sesmarial e a divisão da terra em lotes, que do ponto de vista dos
camponeses são fatos que se sobrepõem. O trabalho permitiu um panorama
geral da vida camponesa na região, o que proporciona uma base para novas
e mais aprofundadas pesquisas. Esses camponeses preservam modos de
produção com baixo impacto ambiental, vivendo uma relação de
dependência e equilíbrio com recursos naturais que os rodeiam, porém não
se pode prever até quando conseguirão manter-se dessa forma, em razão
do avanço das fazendas sobre o ambiente natural circunvizinho e o desgaste
do solo, entre outros fatores. A produção de subsistência tem se tornado
cada vez menor devido ao espaço reduzido, ao ataque de pragas e à falta
de mão-de-obra. Muitos camponeses prestam serviço a fazendeiros como
forma de aumentar a renda familiar e adquirir produtos que deixaram de
produzir. Comparando os custos de cada unidade de produção, observou-se
que a transferência desses camponeses para a cidade os submeteriam a
7
viver em condições financeiras insuficientes para manterem as mesmas
condições de vida que tem no campo.
Palavras-chave: campesinato, agricultura familiar, agricultores tradicionais.
8
DESCRIPTION OF PRODUCTION AND CONSUMPTION OF
PRODUCTION UNITS (UPS) THE REGION AND SANGRADOURO AND
SÃO SEBASTIÃO – SANTO DE LEVERGER/MT
ABSTRACT - Changes political, economic and environmental are able to
reflect on social interaction and the mode of production of both large as small
farmers. In this work, we studied the region of Sangradouro peasants / Vila
São Sebastião, located on the BR 364 that connects the cities of Cuiabá to
Rondonópolis - MT. These peasants occupy the region for several
generations and have suffered interference from external factors in their
production units (UPS), which led to the ways of life and production
capabilities. The study was conducted through interviews open and semi-
structured and aimed to describe the use of the resources offered by nature,
the production of goods and services coming from agricultural activity and
economic value of these resources, products and services. The most striking
fact that in interviews and who provided the most significant changes in both
the agricultural system, as in the aspect of social, cultural and economical, it
was the end of sesmarial system and division of land into lots, which in terms
of the peasants are facts where they overlap. The work has allowed an
overview of peasant life in the region, which provides a basis for further and
more thorough searches. These farmers preserve modes of production with
low environmental impact, living a relationship of dependency and balance
with natural resources that surround them, but you can not predict when they
will keep up this way, due to the advancement of the farms on the natural
environment surrounding , The erosion of soil, among other factors. The
production of subsistence has become smaller due to reduced space, the
attack of pests and lack of labor. Many farmers already provide service to
farmers as a way to increase family income and purchasing products that no
longer produce. Comparing the cost of each unit of production, it was
observed that the transfer of peasants to the city will submit them to live in
financial insufficient to maintain the same living conditions you have in the
field.
Key words: rural, family farm, traditional farmers.
9
LISTA DE FIGURAS
Página
1 Mapa da localização da área de estudo - Santo Antônio de
Leverger-MT..........................................................................................
25
2 Área de pastagem com pés de babaçu (Orbignya spp).....................
43
3
Área de capoeira e restos de coivara, onde ocorre coleta de
lenha......................................................................................................
43
10
LISTA DE TABELAS
Página
1 Visitas realizadas a campo no período de coleta de informações da
pesquisa.................................................................................................
27
2 Identificação das UPs investigadas nas localidades Sangradouro/
Vila São Sebastião e Tanquinho, município de Santo Antônio de
Leverger – MT........................................................................................
28
3. Espécies e percentagens de UPs que realizam o cultivo
especificado na unidade de manejo – roça............................................
38
4. Percentagens de espécies verificadas na unidade de manejo
quintal....................................................................................................
39
5. Espécies e percentagens de UPs que realizam o cultivo
especificado na unidade de manejo – horta..........................................
40
6. Percentagens de UPs relacionadas com criação de animais............
41
7 Comparação do custo mensal da zona rural com a urbana da UP
S002.......................................................................................................
45
8 Comparação do custo mensal da zona rural com a urbana da UP
S013
...............................................................................................................
47
9 Comparação do custo mensal da zona rural com a urbana da UP
S015.......................................................................................................
49
10 Comparação do custo mensal da zona rural com a urbana da UP
S016.......................................................................................................
51
11 Comparação do custo mensal da zona rural com a urbana da UP
S017.......................................................................................................
52
12 Comparação do custo mensal da zona rural com a urbana da UP
S018.......................................................................................................
54
11
SUMÁRIO
Página
1 INTRODUÇÃO......................................................................................
13
2 REVISÃO DE LITERATURA................................................................
15
2.1 Conceitos Teóricos............................................................................ 15
2.2 Conhecimento Popular e a Agricultura...............................................
16
2.3 Valoração e Comunidades Tradicionais.............................................
18
3 METODOLOGIA.................................................................................. 25
3.1 Localização e Característica da Área de Estudo ..............................
25
3.2 Coleta de Dados............................................................................... 26
3.2.1 Elaboração do guia.........................................................................
29
3.2.2 Técnicas de coleta de informações................................................ 29
3.2.2.1 Entrevista aberta e semi-estruturada.......................................... 30
3.2.2.2 Entrevista estruturada..................................................................
32
3.2.2.3 Observação..................................................................................
32
3.3 Valoração Econômica dos Recursos encontrados nas Unidades
Produtivas................................................................................................
33
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................
35
4.1 Histórico e Caracterização Geral das Localidades Estudadas..........
35
4.1.1 Escolaridade................................................................................... 36
4.1.2 Acesso a terra.................................................................................
37
4.1.3 Fonte de renda e força de trabalho.................................................
37
4.1.4 Os sistemas de produção................................................................
38
4.1.4.1 Sistema de cultivo........................................................................
38
4.1.4.2 Sistema de criação.......................................................................
40
4.2 Uso dos recursos da vegetação nativa..............................................
41
4.3 Descrição das Unidades Produtivas (UPs)........................................
43
4.3.1 UP – S002.......................................................................................
44
4.3.2 UP – S013.......................................................................................
46
4.3.3 UP – S015.......................................................................................
48
4.3.4 UP – S016.......................................................................................
50
12
4.3.5 UP – S017.......................................................................................
51
4.3.6 UP – S018.......................................................................................
53
5 CONCLUSÕES................... .................................................................
56
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................
57
ANEXO.....................................................................................................
63
13
1 INTRODUÇÃO
A compreensão do universo conceitual dos agricultores, construído no
âmbito de seus sistemas de conhecimento, além de suas condições
socioeconômicas e ambientais é necessária. Esses agricultores encontram-
se próximos à terra e possuem amplo conhecimento sobre a natureza.
Possuem técnicas de manejo, acumulada ao longo de gerações, baseadas
na compreensão aprofundada sobre o ambiente em que vivem (Caballero,
1986; Hildebrant, 1987; Goméz-Pompa e Kaus, 1992). Essa particularidade
permitiu a esses agricultores construírem uma agricultura própria, otimizando
apenas os recursos naturais disponíveis (Azevedo, 2003).
Os sistemas agrícolas tradicionais, voltados para a subsistência,
estão sendo desarticulados de forma acelerada, perdendo espaço para a
agroindústria e outras atividades comerciais que começam a ganhar vulto no
campo (Amorozo, 1996). Entretanto, a diversidade de plantas cultivadas
nesses sistemas agrícolas é muito importante para a segurança alimentar
global, pois não garante apenas autonomia aos agricultores, mas é também
uma das fontes de material genético para o desenvolvimento de novos
híbridos na agricultura de larga escala (Amorozo, 1996).
Para isso, a valoração econômica aparece como uma ferramenta
utilizada para atribuir valores, como forma de captar os custos e benefícios
oriundos das variações na quantidade e na qualidade de bens e serviços
(Finco, 2002). Por essa razão, diferentes grupos sociais percebem os
14
sistemas agrícolas de modo diferenciado (Descola, 1986; Alcorn, 1989;
Toledo, 1990).
Este trabalho partiu das hipóteses de que a perda da terra e a
migração para o meio urbano fazem com que os camponeses deixem de ter
acesso aos recursos ofertados pela natureza, implicando em decréscimo da
qualidade de vida, pois suas rendas não permitem a aquisição no mercado,
dos produtos e serviços necessários à reprodução como grupo familiar.
Também, o processo de urbanização impede o acesso direto dos
camponeses à base dos recursos naturais, fazendo com que a sobrevivência
dos mesmos possa ser possível somente com a compra dos itens
necessários à sobrevivência.
Assim, esta pesquisa objetivou descrever os bens, a utilização dos
recursos ofertados pela natureza, a produção de bens e serviços oriundos
da atividade agrícola e valorar economicamente esses recursos, produtos e
serviços.
15
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Conceitos Teóricos
Em relação à abordagem sistêmica, será feita uma breve descrição
dos conceitos de sistema, sistema agrário, sistema de produção e sistema
de cultivo para, finalmente, definir valoração econômica.
Sistema pode ser definido como arranjo de componentes físicos, um
conjunto ou coleção de coisas, unidas ou relacionadas de tal maneira que
formam e atuam como uma unidade, ou entendida como um todo (Hart,
1995).
O sistema agrário é um arranjo de atividades agrícolas historicamente
constituídos e sustentados; um sistema de forças de produção adaptado às
condições ambientais características e correspondendo a dadas condições
sociais. É caracterizado por operar em uma escala maior que unidade de
produção, ou seja, constituído por uma região (Mazoyer, 1985, citado por
Beroldt et al., 1998). Nesse sistema forças de produção adaptadas às
condições ambientais características e correspondendo a dadas condições
sociais que inclui a força de trabalho envolvida, cultivos, criações, entradas e
saídas dos sistemas, relações entre os atores sociais envolvidos, entre
outros (Azevedo, 2004).
O sistema de produção compreende um conjunto de produções
vegetais e animais, além de outros fatores de produção como o ambiente
local, os organismos, as espécies manejadas, os insumos naturais e sociais
16
(Dufumier, 1995, citado por Perondi e Kiyota, 1998). É caracterizado por
operar em escala espacial menor que a da unidade de produção.
O sistema de cultivo é o conjunto das atividades agrícolas manejadas
sobre parcelas tratadas de maneira homogênea. Cada sistema de cultivo
relaciona-se a uma determinada espécie ou a um conjunto de espécies. É
caracterizado por operar na escala espacial da parcela (Sebillotte, 1990) e
descrito como sistema que representa uma forma de combinação de cultivos
operada ao longo do tempo sobre um terreno (Khatounian, 2001). Sua
diversidade está relacionada com as condições ambientais de produção e
com as estratégias de manejo dos agricultores, que são diferenciadas
(Wünsch, 1995).
Por fim, o termo valoração refere-se à disposição a pagar por um
benefício ou a disposição a evitar determinado custo ambiental e a
conseqüente avaliação de suas implicações intergeracionais (Pearce, 1993).
2.2 Conhecimento Popular e Agricultura
O Brasil apresenta-se como exemplo da variedade de modelos de
produção, pois além de ter as maiores taxas de diversidade biológica do
planeta, é um dos países com vasta diversidade cultural. Existem mais de
quinhentas áreas indígenas reconhecidas pelo Estado, habitadas por cerca
de duzentas sociedades indígenas culturalmente diferenciadas e
reconhecidas pelo Estado, que desenvolveram, ao longo dos séculos,
formas de adaptações a toda variedade de ecossistemas presentes no
território nacional (Diegues e Arruda, 2001).
Caracteriza-se uma unidade de produção por seus modelos de
produção, desenvolvidos a partir das diversas formas de conhecimento.
Como o fator cultural é um determinante de um agroecossistema, é
importante considerar que o conhecimento local terá forte influência na
adoção de determinada estratégia de produção (Godoy, 2004).
Os termos conhecimento tradicional, conhecimento técnico autóctone,
conhecimento rural e etnociência (ciência popular) têm sido utilizados de
17
diversas formas para descrever o sistema de conhecimento de um grupo
étnico rural, gerado no local (Altieri, 2002).
Conhecimento tradicional pode ser definido, em relação à agricultura,
como o conhecimento acumulado pelos agricultores, derivado da interação
das habilidades e tecnologias com o ambiente (Altieri, 1991). Possuem um
grande arsenal de culturas tradicionais, as quais devem ser compreendidas
como “padrões de comportamento transmitidos socialmente, modelos
mentais usados para perceber, relatar e interpretar o mundo, símbolos e
significados socialmente compartilhados, além de seus materiais próprios do
modo de produção” (Diegues, 1983).
Segundo Azevedo (2003), os conhecimentos dos agricultores
baseiam-se em prolongada vivência empírica e são gerados de experiências
distintas, sendo que a construção desse conhecimento se dá, em primeiro
lugar, a partir das experiências acumuladas pelas sucessivas gerações
compartilhadas no âmbito da formação pessoal de cada um dos agricultores,
formação essa realizada na participação das crianças e dos jovens na
prática concreta do manejo de produção. O mesmo autor descreve que o
outro espaço de construção de conhecimento é a experiência coletiva de
cada geração de agricultores, também compartilhada no âmbito de seus
mecanismos de socialização, onde se acrescenta a experiência individual de
cada um dos agricultores, construída a partir de suas objetividade e
subjetividade.
Desta forma, os agricultores desenvolveram ou herdaram sistemas
agrícolas complexos, os quais durante séculos ajudaram a satisfazer suas
necessidades de subsistência, inclusive sob condições ambientais adversas
(solos marginais, áreas secas ou sujeitas à inundação e à baixa
disponibilidade de recursos), sem o uso de mecanização, fertilizantes ou
pesticidas químicos (Altieri, 2002).
O conhecimento pode se estabelecer através do diálogo, que pela
consciência da diferença, permitirá aos dois o re-conhecimento pela
diferença, não entre cada um deles, mas também em outras leituras de
situações e contextos sócio-culturais (Campos, 2002). O observador humano
18
deve impedir conscientemente que ele venha a projetar interpretações e
significados de sua própria cultura (Viertler, 2002), pois as pessoas do meio
rural normalmente possuem suas próprias categorias e escalas de
discriminação (ex: conhecimentos detalhados de solos, de plantas
indicadoras de fertilidade, padrões climáticos, de pragas e doenças, de
pastagens e criações, etc.) (Chambers, 1981).
Holblelink (1990) descreveu que os camponeses e os horticultores
apreciam detalhes nos seus cultivos, qualidades que outros não podem
apreciar. Às vezes tratam-se de qualidades estéticas, porém também podem
ser muito práticas. O autor tomou como exemplo o camponês africano, que
favorece em seu campo de sorgo, o crescimento de plantas de talo curvo
que permite que o camponês o pendure facilmente para secar.
De acordo com Amorozo (1996), é preciso que as comunidades
tradicionais conscientizem-se da riqueza biológica e cultural que têm em
mãos. Essa riqueza representa papel importante na descoberta e no
desenvolvimento de novas tecnologias e fontes de recursos, e assim ela
própria deverá decidir os rumos a serem tomados.
2.3 Comunidades Tradicionais e Valoração Econômica
Nas últimas décadas, muitas comunidades tradicionais vêm sofrendo
acelerado processo de desestruturação social e cultural devido à forte
influência da vida urbana, a partir da inserção de indivíduos, elementos
externos nesses grupos. A pressão das sociedades urbanas no meio rural,
segundo Diegues (2000), é um dos principais fatores que tem provocado a
crescente perda da identidade cultural desses grupos e principalmente o
acesso aos recursos naturais em alguns casos.
Segundo Mussoi (2001), a agricultura familiar vem se subordinando
ao mercado neoliberal, ocasionando perdas de identidade dessa prática
agrícola, pois características fundamentais vão se degradando num
processo de “erosão cultural” que poderá se tornar irreversível.
19
É importante ressaltar que o agricultor familiar não cria obstáculos a
inovações tecnológicas, muito menos tenta se isolar do mercado. Quem
realmente determina as ações do agricultor familiar é o balanço entre
trabalho e consumo, ou seja, as necessidades de consumo determinam a
intensidade do trabalho maior ou menor das famílias para se chegar à
situação de equilíbrio.
A valoração econômica aparece como uma ferramenta utilizada para
atribuir valores aos bens e serviços providos pelo meio ambiente, como
forma de captar os custos e benefícios oriundos das variações na
quantidade e na qualidade desses bens e serviços (Finco, 2002). Ou, pode-
se definir como o processo de atribuir valores monetários aos bens e
serviços derivados dos recursos ambientais (biodiversidade),
independentemente de existirem ou não preços de mercado relacionados a
eles (IBAMA, s/d).
O valor econômico do meio ambiente é conceituado como o
somatório de valor de uso
1
, valor de opção
2
e valor de existência
3
(Mata et
al., 2002).
De acordo com o IBAMA (s/d), os métodos de valoração econômica
podem ser agrupados em três categorias:
Os métodos baseados em preços de mercados reais empregam
a informação existente sobre os preços de mercado como um
indicador do valor monetário dos bens e serviços derivados da
diversidade biológica. As técnicas incluem os métodos de: preço de
mercado do produto; de custo real; e o de mudança produtividade.
1
O valor de uso é aquele que se refere ao uso direto e indireto do meio ambiente, isto é,
quando se configura um fluxo de bens e serviços ambientais associado a uma atividade de
produção ou de consumo. Por exemplo, uso direto, como pesca, caça e recreação, ou
indireto, como observação de pássaros ou de uma queda de água (Mata et al., 2002).
2
O valor de opção pode ser interpretado de duas formas uma associada à expectativa
que os indivíduos têm de possíveis usos, que farão no futuro, de certos bens ambientais. A
outra se refere à incerteza a respeito do meio ambiente em risco, razão por que se assinala
um valor positivo para que a preservação exista, até que se conheça com maior segurança
um valor de uso preciso (Mata et al., 2002).
3
O valor de existência está dissociado de qualquer fluxo de bens e serviços ambientais
consumidos pelo indivíduo (Mata et al., 2002).
20
Os métodos baseados em preços de mercados substitutos
diferem do anterior na medida em que a informação sobre os preços
de mercado é utilizada indiretamente como valor substituto para
calcular os benefícios dos bens e serviços derivados da diversidade
biológica. Nesses incluem-se os seguintes métodos: de custo de
oportunidade; de custo viagem; de custos de reposição; métodos
baseados em custos preventivos/defensivos e hedônicos.
Os métodos baseados em preços de mercados simulados são
empregados quando não existe informação de mercado ou ela é
insuficiente para ser usada como uma aproximação da informação
verdadeira. Nesse caso, é feita uma pesquisa de campo em
amostra(s) representativa(s) das populações humanas para levantar
dados sobre a disposição a pagar (DAP) ou disposição a receber
(DAR) pelos benefícios dos bens e serviços derivados da diversidade
biológica. O método da Valoração Contingente é o mais conhecido
desses métodos.
Outra questão a ser tratada envolve a definição de “Comunidades
Tradicionais” e “Campesinato - Camponês”. Segundo Toledo (2000), os
critérios que definem essas pessoas pertencerem a comunidades
tradicionais ou nativas são:
Ser descendente dos primeiros habitantes que detinham o
território;
Fazer “parte do ecossistema”, como caçadores, pescadores ou
artesões, adotando estratégias de uso múltiplo da natureza;
Praticar em pequena escala uma forma de trabalho intensiva
de produção rural que produza pouco excedente e que tenha baixas
necessidades de energia;
Não ser centralizado em instituições políticas, tendo o costume
de organizar suas vidas em nível de comunidade, tomando suas
decisões depois do consenso de todos;
21
Compartilhar um idioma comum, religião, valores morais,
convicções, roupa e outro identificando características como também
uma relação para um território comum;
Possuir uma visão de mundo diferente, consistindo em atitudes
não materialistas no uso para aterrissar (aterrar) e recursos naturais
baseados em um intercâmbio simbólico com o universo natural;
Ser dominado por uma cultura e sociedade dominante;
Consistir em indivíduos que subjetivamente consideram a si
próprio como tradicionais ou nativos.
Segundo Diegues (2000), as populações locais ou comunidades
tradicionais apresentam geralmente características comuns entre elas como:
Dependência e até simbiose com a natureza, os ciclos naturais e
os recursos naturais renováveis a partir dos quais constrói um modo
de vida;
Conhecimento aprofundado da natureza e de seus ciclos que se
reflete na elaboração de estratégias de uso e de manejo dos recursos
naturais. Esse conhecimento é transmitido de geração em geração
por via oral;
Noção de território ou espaço onde o grupo social se reproduz
econômica e socialmente;
Moradia e ocupação desse território por várias gerações, ainda
que alguns membros individuais possam ter-se deslocado para os
centros urbanos e voltado para a terra de seus antepassados;
Importância das atividades de subsistência, ainda que a
produção de mercadorias possa estar mais ou menos desenvolvida, o
que implica uma relação com o mercado;
Reduzida acumulação de capital;
Importância dada à unidade familiar, doméstica ou comunal e às
relações de parentesco ou compadrio para o exercício das atividades
econômicas, sociais e culturais;
22
Importância das simbologias, mitos e rituais associados à caça,
à pesca e atividades extrativistas;
A tecnologia utilizada é relativamente simples, de impacto
limitado sobre o meio ambiente. reduzida divisão técnica e social
do trabalho, sobressaindo o artesanal, cujo produtor (e sua família)
domina o processo de trabalho até o produto final;
Fraco poder político, que em geral reside com os grupos de
poder dos centros urbanos;
Auto-identificação ou identificação pelos outros de se pertencer
a uma cultura distinta das outras.
Os agricultores tradicionais são os que não aderiram totalmente à
agricultura tecnológica. Segundo Azevedo (2001), essa se baseia no uso
intensificado de recursos naturais e introdução de insumos externos nos
sistemas de produção.
Chayanov (1966) afirmou que, o campesinato é entendido como
categoria social que corresponde ao pequeno produtor familiar que utiliza
pouca tecnologia, que tem controle sobre os meios de produção e a organiza
em bases familiares e relações de parentesco. Na sociedade camponesa
não é possível separar as esferas econômica e familiar, dado que a unidade
doméstica camponesa funciona tanto como unidade de produção quanto de
consumo. O principal objetivo dessa unidade de produção é assegurar a
reprodução física e social de sua família, para isso é de vital importância
garantir a reprodução da força de trabalho atendendo às suas necessidades
de consumo. A principal fonte de trabalho é familiar, uma multiplicidade
de atividades econômicas que são divididas entre os membros da família
camponesa, de acordo com gênero e idade.
A diversidade de estratégias econômicas é apontada como
característica da economia doméstica camponesa e tem sido a razão do
sucesso de sua reprodução social em muitas sociedades (Chayanov, 1966;
Sahlins, 1997).
23
Os conhecimentos adquiridos para se utilizar os recursos, provêm da
organização social da produção, e esse processo ocorre no momento que o
espaço funcional está sendo explorado. A organização social funciona por
intermédio dos recursos da natureza e do homem (Azevedo, 2001).
A questão leva à necessidade de se compreender a relação dos
agricultores com o ambiente, o que permite conhecer os recursos que os
agricultores utilizam. Com isso, define-se sistema de conhecimento como um
corpo que evolui dinamicamente, renovando e aprimorando constantemente
o saber de determinados grupos sociais, que vivem em ambiente
compartilhado, para adaptação a condições de mudanças (Laurent, 1996).
A construção do conhecimento do agricultor compreende as decisões,
razões, estratégias de manejo, ou seja, os fundamentos utilizados por esses,
para poder aperfeiçoar seus sistemas de produção e atender seus
interesses e necessidades (Azevedo, 2001).
Conforme especificado anteriormente, com relação à agricultura,
conhecimento tradicional pode ser compreendido como o saber acumulado
ao longo de gerações por agricultores que, em interação com o ambiente
natural, vão desenvolvendo habilidades e tecnologias que se adaptam e, ao
mesmo tempo, superam as restrições impostas pelas condições ambientais.
(Altieri, 1991).
O sistema de conhecimento dos agricultores, adquirido durante sua
experiência de vida e produção, permite-os conhecer bem a região de sua
unidade de produção, atendendo as especificidades locais, baseando-se em
características que envolvem o grupo social da região, e são transmitidos
entre as gerações, através de um conhecimento empírico, que permeia o
uso do ambiente. Não é estático, vai acumulando experiências ao longo dos
anos, e pode em certos momentos retomar cnicas desenvolvidas no
passado, e ao mesmo tempo introduzir inovações tecnológicas. A
transmissão desses conhecimentos ocorre de acordo com o tipo de controle
que dispõe sobre os recursos, através do próprio trabalho, pois é um saber-
fazer, e envolve a transmissão de técnicas e valores, dessa forma os
conhecimentos vão sendo acumulados e transmitidos historicamente
24
(Toledo, 1992; Rolling e Jiggins, 1993; Rivera, 1995; Woortmann e
Woortmann, 1997; Diegues e Arruda, 2001).
Dessa forma, é possível definir que existem diferenças entre o
conhecimento dos agricultores, baseado apenas na experiência e não no
estudo, e se origina naturalmente do grupo social que o envolve, ligado ao
processo de sua geração, e o conhecimento agronômico que é produzido
através da pesquisa cientifica com estudos dos processos naturais que
rodeiam os agricultores (Toledo, 1990; Azevedo, 1999). O conhecimento
científico não acompanha as necessidades dos agricultores tradicionais, por
não tratar das questões sociais, limitando-se às técnicas da agricultura,
mantendo uma distância do empirismo dos agricultores (Azevedo, 2001).
Para entender o conhecimento dos agricultores através das
classificações, que são formas de organizarem o conhecimento, é possível
basear-se na compreensão da construção das normas práticas por eles
adotadas, na compreensão que tem do ambiente e das suas relações com
ele, sendo consolidado através do roteiro tecnológico que é utilizado para as
tomadas de decisão, que variam conforme as situações sociais e históricas
dos agricultores (Alcorn, 1989).
As relações entre os aspectos naturais e sociais estão inteiramente
ligados com os sistemas de produção (Reintjes et al., 1994). Para
compreender os chamados “agricultores tradicionais”, os sistemas de
produção inserem-se em modelos explicativos mais gerais onde as
mudanças que podem ocorrer são ligadas à produção de bens e serviços de
interesses socioeconômicos (Landy, 1998). Geralmente, as pesquisas sobre
o enfoque de sistemas de produção têm sido realizadas sem perceber o
“ambiente sociológico”, ou seja: a comunidade, a unidade de produção
familiar, as organizações sociais, as quais, junto com o agricultor e sua
família, devem ser os maiores beneficiários das tecnologias resultantes
dessas pesquisas (Tourinho, 1994).
25
3 METODOLOGIA
3.1 Localização e Características da Área de Estudo
A área de estudo está localizada numa região conhecida como
Sangradouro e São Sebastião, localizada a 65 km do município de Santo
Antônio de Leverger-MT, e interligada a Cuiabá através da BR-364 (Figura
1).
FIGURA 1. Mapa da localização da área de estudo - Santo Antônio de
Leverger-MT.
MATO GROSSO
Cuiabá
Sto. A. de Leverger
Cuiabá
Posto Fiscal
Flávio Gomes
Rondonópolis
Trevo do
Barão
Sangradouro
São Sebastião
Barão de
Melgaço
BR 364
Rondonópolis
Sto. A. de Leverger
N
26
A área total da comunidade de Sangradouro e Vila São Sebastião
corresponde a cerca de 868,98 ha, que no ano de 2004 estava distribuída
em áreas de morros, alagados etc (48,20 ha), mata (39,30 ha), cerradão
(121,87 ha), cerrado leve (124,50 ha), capoeira (69,07 ha), pastagens
(340,03 ha), açude (1,06 ha), benfeitorias (21,28 ha) e lavouras (103,12 ha)
(EMPAER, 2004).
Os solos da região são, em sua maioria, arenosos (75% da área
total), sendo o restante considerado areno-argiloso, sem a presença de
solos pedregosos. Eles têm boa drenagem, são planos ou suavemente
ondulados, porém, quando explorados sem critérios de sustentabilidade,
podem apresentar sérios problemas de erosão, o que não ocorre na região
(EMPAER, 2004).
A vegetação é do tipo cerrado com pouca ou quase nada de variação,
com matas ciliares degradadas contribuindo para o assoreamento de
córregos e rios que cortam a localidade, como por exemplo, o córrego
Bambá ou Aricá-Mirim (EMPAER, 2004).
A população de Sangradouro e São Sebastião são constituídos por
moradores “nascidos e criados” na região, alguns também originados de
outras comunidades da baixada cuiabana e de outros estados do país
(EMPAER, 2004). Sobre a história dessas comunidades, sabe-se que ainda
vivem muitas pessoas que tiram parte de sua subsistência da produção de
suas terras e que, seja pela falta de opção ou gosto pela região, continuam a
viver ali.
3.2 Coleta de Dados
Inicialmente foi realizada visita de contato a alguns moradores das
localidades (Sangradouro e Vila São Sebastião), onde as pesquisadoras
expressaram o objetivo da pesquisa, evitando falsas expectativas de
resolução de problemas das comunidades. Esse primeiro contato se deu
com uma moradora e sua família, que no decorrer da conversa, explicou que
a comunidade era antiga, que muitos eram nascidos e criados na região e
27
que alguns ainda exerciam atividade de agricultura e pecuária em seus
sítios.
Antes da realização dos trabalhos de coleta de dados, cada família foi
visitada no intuito de explicar a todos, o projeto, seus objetivos e finalidade,
informá-las que as pesquisadoras estavam iniciando os trabalhos, e, para
agendar horários que fossem mais adequados para o camponês, para a
realização das entrevistas.
As demais coletas de dados foram realizadas em vários períodos ao
longo do ano de 2007, onde a equipe permaneceu todo o tempo nas
localidades, o que facilitou a relação entre agricultores e pesquisadoras
(Tabela 1).
TABELA 1. Visitas realizadas a campo no período de coleta de informações
da pesquisa.
Visitas/Data Permanência Atividades realizadas
Março de 2007 1 dia Contato com uma moradora e sua
família, apresentação do projeto.
Abril de 2007 1 dia Conversamos com a moradora
proprietária de um bar (bolicho) sobre
a vida na região, quantidade de
escolas e também de moradores, para
percepção geral da comunidade.
Junho de 2007 1 dia Conversa informal com alguns
camponeses (moradores) da região.
Julho de 2007 5 dias Apresentação do problema e objetivos
do projeto aos moradores
selecionados. Pedido do aceite para a
realização das entrevistas.
Agosto de 2007 4 dias Coleta de dados; quantificação da
produção e consumo de cada UP.
Novembro de 2007 11 dias Coleta de dados.
Fevereiro de 2008 2 dias Coleta de dados.
28
A escolha das unidades produtivas (UPs) foi feita por amostra
intencional ou por julgamento, em que o pesquisador escolhe grupos
específicos, baseados na sua experiência ou conhecimento sobre o local a
ser estudado (Albuquerque e Lucena, 2004).
Os critérios estabelecidos para a escolha dos moradores a serem
entrevistadas foram:
Que morassem na comunidade;
Que aceitassem participar da pesquisa e tivessem disponibilidade
de tempo;
Que exercessem atividade agrícola ou pecuária na propriedade;
Que vendessem seus excedentes de produção nos finais de
semana na feira da capital, Cuiabá/MT.
Que fossem citados no relatório técnico da EMPAER (2004),
possibilitando um conhecimento prévio dos moradores que viviam na região
mais tempo. Assim, foram entrevistadas seis famílias, as quais se
enquadraram nos critérios de seleção definido.
Os nomes das UPs estudadas, dos participantes da pesquisa, e de
suas respectivas comunidades / localidades, estão listados na Tabela 2.
TABELA 2. Identificação das UPs investigadas nas localidades Sangradouro
e São Sebastião e Tanquinho, município de Santo Antônio de
Leverger – MT.
No desenvolvimento das questões, na realização das entrevistas,
foram considerados alguns aspectos como: adaptar a linguagem ao
entrevistado, manter um referencial básico (objetivo) para a entrevista e não
sugerir respostas para não direcioná-las. É extremamente cil incorrer em
UP Nome da UP Localidade Coord. S Coord.W
S002
Chácara Ranchinho Sangradouro 15° 47’ 50.5’ 55° 47’ 41.2’
SO13
Chácara N
a
S
ra
Aparecida Tanquinho 15° 47' 52.6'' 55° 45'46.0''
S015
Chácara Santa Paz Tanquinho 15° 47’ 57.9’ 55° 44’ 26.4’
S016
Sítio Três Irmãos Tanquinho 15° 47’ 12.5’’ 55° 45’ 38.0’’
S017
Chácara Santa Luzia Vila São Sebastião 15° 48’ 02.4’’ 55° 45’ 54.8’’
S018
Sítio Bom Jesus Tanquinho 15° 47’ 12.3’’ 55° 45’ 41.7’’
29
projeções e mal entendidos, que superar os hábitos cotidianos não
constitui tarefa fácil. Daí a necessidade de tentar interferir o mínimo possível,
na captação de sentidos ou significados a partir de constatações sensoriais
tidas pelo pesquisador social. Para isso as exigências de avaliações mais
criteriosas por meio de referência cruzada de várias técnicas de pesquisa de
campo (Viertler, 2002).
3.2.1 Elaboração do guia
Na análise de agroecossistemas, as maiores dificuldades são saber
como e quais informações levantar para poder explicar o sistema, pois
existem ainda limitações quanto ao conhecimento conceitual.
Diante desse fato, foi elaborado um guia com intuito de coletar
informações para subsidiar a descrição e análise do sistema. O guia é uma
lista de questões e tópicos que precisam ser descobertos, usualmente em
ordem particular (Bernard, 1988, citado por Alexiades, 1996).
Durante a entrevista o guia foi extrapolado, pois não se tratava de um
questionário. Dependendo do tema a ser abordado era aplicada a cnica
metodológica que mais fosse adequada para a coleta dos dados.
Na prática, o que ocorreu foi uma mudança entre os temas e até os
níveis de abordagens na hora de coletar os dados. O entrevistado quando
fornecia as informações, conforme abordado um tema, não era novamente
indagado com a questão, a não ser que não ficassem preenchidas as
questões que se queria levantar, sendo então indagado novamente sobre o
tema ou o nível de abordagem.
Em alguns casos, dependendo do tema a ser investigado, as técnicas
metodológicas eram usadas simultaneamente. As cnicas devem ser
analisadas e levantadas previamente para que se consiga uma precisa
coleta de dados, de acordo com o objetivo do trabalho.
3.2.2 Técnicas de coleta de informações
Após a elaboração dos guias foram levantadas as cnicas de coleta
de dados mais adequadas. Buscou-se uma metodologia geradora de dados,
30
ou seja, capaz de trazer importantes sugestões para um diálogo de campo
em que se respeitava o referencial do “outro” e, sobretudo para que se
compreendessem os conceitos na própria cosmologia e cosmogonia do
grupo pesquisado (Posey, 1986).
As entrevistas foram registradas resumidamente de forma escrita num
diário de campo e gravadas em fita cassete de forma simultânea. A
gravação ocorreu quando houve permissão dos agricultores. Depois, as
entrevistas foram transcritas exatamente como gravadas, preservando o
modo e a fala do agricultor. Apenas uma agricultora proibiu a gravação da
entrevista, sentiu-se envergonhada, constrangida.
As técnicas usadas no trabalho foram aplicadas de acordo com o
tema abordado, dentre elas estão: entrevista aberta e semi-estruturada;
entrevista estruturada e observação.
3.2.2.1 Entrevista aberta e semi-estruturada
Essa cnica de entrevista foi aplicada nas duas etapas de coleta de
dados do trabalho.
A entrevista semi-estruturada tem certo grau de estruturação e
geralmente é realizada com uso do guia, porém, ainda é livre para não
seguir um guia, embora tenha agenda específica (Alexiades, 1996).
Combinam perguntas abertas e fechadas, onde o informante tem a
possibilidade de discorrer sobre o tema proposto. O pesquisador deve seguir
um conjunto de questões previamente definidas, mas ele o faz em um
contexto muito semelhante ao de conversa informal. O entrevistador deve
ficar atento para dirigir, no momento que achar oportuno, a discussão para o
assunto que o interessa, fazendo perguntas adicionais para explicar
questões que não ficaram claras, ou ajudar a recompor o contexto da
entrevista caso o informante tenha “fugido” ao tema ou tenha dificuldades
com ele. Esse tipo de entrevista é muito utilizado quando se deseja delimitar
o volume das informações, obtendo assim maior direcionamento para o
tema, intervindo a fim de que os objetivos sejam alcançados (Boni e
Quaresma, 2005).
31
A principal vantagem da entrevista aberta e também da semi-
estruturada é que essas técnicas quase sempre produzem melhor amostra
da população de interesse. Ao contrário dos questionários enviados por
correio que têm índice de devolução muito baixo, a entrevista tem um índice
de respostas bem mais abrangente, uma vez que é mais comum a pessoa
aceitar falar sobre determinados assuntos (Selltiz et al., 1987). Outra
vantagem diz respeito à dificuldade que muitas pessoas têm de responder
por escrito, o que, nesses dois tipos de entrevista o é além de possibilitar
a correção de enganos dos informantes, que muitas vezes não poderão ser
corrigidos no caso de questionário escrito.
As técnicas de entrevista aberta e semi-estruturada também têm
como vantagem a elasticidade quanto à duração, permitindo cobertura mais
profunda sobre determinados assuntos, além da interação entre
entrevistador e entrevistado favorecer as respostas espontâneas. Essa
maior proximidade também permite ao entrevistador tocar em assuntos mais
complexos e delicados; quanto menos estruturada a entrevista, maior sea
troca afetiva entre as partes. Desse modo, esses tipos de entrevistas
colaboram muito na investigação dos aspectos afetivo e valorativo dos
informantes que determinam significados pessoais de suas atitudes e
comportamentos. As respostas espontâneas dos entrevistados e a maior
liberdade que esses têm podem fazer surgir questões inesperadas ao
entrevistador, que poderão ser de grande utilidade para a pesquisa.
Tanto na entrevista aberta como na semi-estruturada, existe a
possibilidade da utilização de recursos visuais, como cartões, fotografias,
etc, o que pode deixar o entrevistado mais à vontade e fazê-lo lembrar de
fatos, o que não seria possível num questionário (Selltiz et al., 1987).
As desvantagens da entrevista aberta e semi-estruturada dizem
respeito muito mais às limitações do próprio entrevistador, como por
exemplo: a escassez de recursos financeiros e o dispêndio de tempo. Por
parte do entrevistado insegurança em relação ao seu anonimato, e por
causa disto, muitas vezes, ocorre retenção de informações importantes.
32
Essas questões são, ainda assim, melhor apreendidas pela entrevista aberta
e semi-estruturada.
Vale lembrar que a qualidade das entrevistas depende muito do
planejamento feito pelo entrevistador. “A arte do entrevistador consiste em
criar uma situação onde as respostas do informante sejam fidedignas e
válidas” (Selltiz, 1987:644). A situação em que é realizada a entrevista
contribui muito para o seu sucesso: o entrevistador deve transmitir, acima de
tudo, confiança ao informante.
3.2.2.2 Entrevista estruturada
A entrevista estruturada mantém o foco do problema a ser resolvido
de uma forma dirigida. Esse tipo de entrevista adquire detalhes específicos a
respeito de determinado aspecto do problema antes de passar para outros
pontos (Durkin, 1994). Pode ser utilizada quando é necessária uma
informação específica a respeito de um tópico estabelecido.
Essa técnica de entrevista foi aplicada nas duas etapas do trabalho. A
entrevista assumiu uma maior estruturação, não sendo elaborados itens de
respostas, apenas as perguntas eram mais fechadas, permitindo ao
entrevistado expressar livremente a sua resposta. De acordo com Lakatos
(1991), essa entrevista consiste numa conversação efetuada face-a-face, de
maneira metódica, com o objetivo de obter informações do entrevistado
sobre um determinado assunto. As vantagens deste método são: mantém o
foco em um determinado assunto, fornece informações detalhadas e
relações estruturadas entre os conceitos. As desvantagens encontradas são:
alguns conceitos não relatados na entrevista podem não ser abordados;
fornece uma compreensão fraca do conhecimento procedural, como regras
ou estratégias para solucionar problemas.
3.2.2.3 Observação
A observação foi utilizada como técnica complementar ou exclusiva
para a obtenção de dados. A observação constitui elemento fundamental
33
para a pesquisa, chega mesmo a ser considerada como método de
investigação (Richardson, 1985).
3.3 Valoração Econômica dos Recursos encontrados nas Unidades
Produtivas
Primeiramente foram identificados os recursos de uso nas UPs
(consumos de lenha, produção alimentícia, energia elétrica e água),
posteriormente foram quantificados por meio de contagem e elementos
fornecidos, feitos pelos informantes. A escala temporal trabalhada na coleta
dessas informações foi mensal.
Seguindo o princípio do método de listagem livre, os informantes
listaram, separadamente, o que é utilizado no interior da unidade de manejo,
bem como as razões de cada uma delas. Nesse processo é necessário que
o pesquisador e informante tenham a mesma concepção do significado do
termo que designa o evento (Azevedo e Coelho, 2002).
A valoração desses recursos seguiu o princípio da atribuição de
valores monetários aos mesmos. A idéia básica foi saber quanto custaria à
aquisição no mercado desses bens ou similares, ou de tecnologias
alternativas que possam substituir determinado bem (Pinedo-Vasquez et al.,
1992).
Em cada UP foi perguntado se eles usavam fogão a lenha, qual o
local onde eles pegavam essa lenha, e quanto de lenha era usado, se tinha
um lugar próprio para deixar essa lenha, e por quantos dias a quantidade de
lenha que havia na casa durava.
Após a conversa com os camponeses, pedia-se se poderia estar
medindo a lenha, e então era medida cada estaca de madeira (diâmetro e
comprimento) que era usada no fogão.
Segundo Gatto et al. (2003), é muito comum comercializar madeira
em metro estéreo; para transformar o metro estéreo em metro cúbico,
calcula-se o fator de conversão, e que geralmente está em torno de 0,6 m
3
.
34
Para transformar o volume em m
3
foi utilizada a seguinte conversão
(Gatto et al., 2003):
Volume = [(circunferência (m) x circunferência (m)]/4 x comprimento
(m) = volume em m
3
Volume em m
3
m
st
= m
3
/0,6 (fator de conversão geralmente
utilizado)
Para valorar o consumo da água, buscou-se através da rede de
saneamento do município de Cuiabá saber o custo do m
3
de água e se
diferença na tarifa de consumo de água na zona rural para a urbana. Com a
tarifa, foi estimado o custo do consumo da água na zona rural.
Para valorar a produção alimentícia, foi quantificada cada espécie
vegetal citada pelos informantes de cada UP. Esses produtos foram pesados
de forma unitária em balança eletrônica (supermercado). Quando a
quantidade citada pelo informante era muito elevada, optou-se em fazer
“amostragem”, onde foram calculados por meio de pesagem de dez pacotes
com dez unidades de cada produto, fazendo assim a média do peso desses
produtos. Para os demais produtos citados pelos informantes foram feitas
amostragens de formas variadas, de acordo com a quantidade.
A tomada de preço dos produtos quantificados foi feita no município
de Cuiabá, por meio de informações, em estabelecimentos comerciais
(supermercado). A análise dos dados foi feita de forma descritiva.
35
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Histórico e Caracterização das Localidades Estudadas
As comunidades de Sangradouro e São Sebastião abrangem o
universo de 66 famílias, mas apenas seis famílias foram estudadas, as quais
se enquadraram nos critérios de seleção. Encontram-se no município de
Santo Antônio de Leverger MT, e segundo o diagnóstico da EMPAER-MT,
ocupam uma área total de 868,98 hectares, sendo que 50% dos agricultores
possuem áreas de tamanho inferior a 10,22 hectares, fruto do
desmembramento de áreas maiores por partilha de herança ou mesmo
vendidas às famílias que vieram para a região.
A primeira localidade formada na região foi Sangradouro, cujo nome
relaciona-se à sangra dos rios (canal natural que liga dois lagos, dois rios ou
um rio e lagoa). Com a entrada de novos moradores, vindos de outras
comunidades da baixada cuiabana, formaram uma nova localidade,
conhecida como Perdição. Essa nova localidade recebeu esse nome devido
a um fato ocorrido na época. Os moradores mais antigos contam que uma
menina se perdeu na mata, quando resolveu seguir sua mãe que fora lavar
roupas na beira do rio. Essa menina nunca foi encontrada e por isso, a
comunidade recebeu o nome de Perdição.
Alguns moradores contam que eram ridicularizados por morarem na
localidade Perdição. Então, tempos depois, um Padre, juntamente com
36
alguns moradores, convenceu a comunidade a trocar o nome da localidade
para Vila São Sebastião, mas os moradores antigos, de comunidades
circunvizinhas e do centro do município de Santo Antonio de Leverger, até
hoje a chamam de Perdição.
Atualmente, na comunidade Sangradouro, foram identificadas duas
localidades: Sangradouro e Cantão
4
e, na comunidade São Sebastião,
quatro localidades: Vila São Sebastião, Tanquinho
5
, Córrego D’ema
6
e
Cabeceira
7
. Dessas, apenas a localidade Córrego D’ema ainda não foi
contemplada pelo programa do governo federal de energia elétrica (“Luz
para todos”); nas demais localidades há luz elétrica.
Em Sangradouro tem telefonia pública (“orelhão”) e muitos moradores
têm telefonia móvel (celular). Cada comunidade tem sua escola municipal,
igrejas e pequenos estabelecimentos comerciais que servem para venda de
utensílios e alimentos aos moradores da região (bolichos
)
.
Essas informações sobre a história da região foram embasadas nas
anotações de relatos orais feitos diretamente por moradores das
comunidades às pesquisadoras. Moradores esses que ainda vivem em suas
terras e que tiram parte de sua subsistência da produção.
4.1.1 Escolaridade
O índice de escolaridade entre os informantes das localidades limita-
se ao máximo a a quarta série. Dos 12 adultos entrevistados, 91,66%
freqüentaram a escola e 8,33% não freqüentou.
O nível da escolaridade de ambas as comunidades é baixo, reflexo do
difícil acesso à escola de segundo grau. Também, em uma determinada
época não havia escolas na localidade, o que justifica o porquê dos
4
Cantão é o nome dado por moradores de Sangradouro às famílias que moram na periferia
dessa localidade, próxima a uma curva mais acentuada.
5
Tanquinho é devido à presença de um tanque para o gado beber água feita no tempo em
que a terra não havia sido desmembrada entre os herdeiros.
6
Córrego D’ema recebeu esse nome devido à existência de um córrego e a presença de
emas (Rhea americana) nessa região.
7
Cabeceira, a localidade possui esse nome, porque ali é área de nascente de rios
(cabeceira d’água).
37
camponeses com idade superior a 60 anos nunca terem freqüentado a
escola.
Hoje, os alunos que desejam continuar seus estudos o “obrigados”
a freqüentar a Escola Estadual Maria Arruda Muller, que se localiza na BR
364, km 353 na Fazenda Abolição. Para que possam freqüentar a escola, os
alunos utilizam o transporte escolar nibus), pois, a escola está
aproximadamente a 30 km da localidade de Sangradouro.
4.1.2 Acesso a terra
As unidades produtivas na região caracterizam-se diferentemente
quanto às formas de acesso a terra, podendo ser encontradas as seguintes
formas: compra (aquisição por fonte monetária), herança (herdado pela
família) e herança e compra (terra herdada pela família e aumentada com a
compra de nova área). Nas localidades de Sangradouro e São Sebastião a
herança é a forma mais freqüente de acesso a terra (66,66%) e 33,33% são
adquiridas por contrato de compra.
4.1.3 Fonte de renda e força de trabalho
A fonte de renda é resultado da produção e da comercialização dos
produtos da própria unidade de produção na feira do Praieiro, em Cuiabá.
A força de trabalho é inteiramente familiar, onde homens e mulheres
dedicam-se às atividades domésticas e/ou ao manejo dos animais e cultivos.
A produção é vendida na feira, contribuindo no orçamento da família.
Apenas a camponesa da UP S016 trabalha em uma fazenda da região (meio
período) para aumentar a renda familiar.
Os filhos dos proprietários das unidades produtivas S013 e S016
auxiliam nos afazeres da unidade de produção. Eles desempenham
pequenas atividades ordenadas por seus pais, tais como: limpar a casa,
varrer o quintal, tirar leite da vaca. Essa ajuda ocorre depois que retornam
da escola.
Porém, nas demais unidades produtivas, essa força de trabalho está
escassa, pois a maioria das famílias não tem mais os filhos morando com
38
os pais. Em alguns casos, os próprios pais não estimulam os filhos a
continuarem na mesma vida que eles; vêem a agricultura como uma coisa
sacrificante, com pouco rendimento. Eles acreditam que se os filhos
estudarem terão mais oportunidades na vida e melhores condições
financeiras no futuro.
4.1.4 Os sistemas de produção
4.1.4.1 Sistema de cultivo
O sistema de cultivo é a combinação da força de trabalho e dos meios
de produção utilizados para obter uma ou mais produções vegetais
(Sebillotte, 1990). É descrito como sistema que representa uma forma de
combinação de cultivos operada ao longo do tempo sobre um terreno
(Khatounian, 2001). Sua diversidade está relacionada com as condições
ambientais de produção e com as estratégias de manejo dos agricultores,
que são diferenciadas (Wünsch, 1995).
Roça
A roça é uma unidade de manejo identificada nas unidades produtivas
e se caracteriza pelo cultivo de espécies, em sua maioria, alimentares
(Tabela 3). Ocorrem em áreas abertas no interior da vegetação nativa e são
baseadas na agricultura de corte e queima, na fertilidade natural dos solos, e
no pousio da terra, além de serem pouco mecanizadas. Essas roças são
chamadas de roça-de-toco ou roça-de-coivara.
TABELA 3. Espécies e percentagens de UPs que realizam o cultivo
especificado na unidade de manejo – roça.
ESPÉCIES
NOME CIENTÍFICO
UPs (%)
Melancia
Citrullus vulgaris Schrad
83,33
Cana-de-açúcar
Saccharum spp.
66,67
Milho
Zea mays
50,00
Mandioca
Manihot esculenta Crantz
33,33
Abóbora
Cucurbita sp
33,33
Banana
Musa sp
33,33
39
(Cont.)TABELA 3. Espécies e percentagens de UPs que realizam o cultivo
especificado na unidade de manejo – roça.
ESPÉCIES NOME CIENTÍFICO UPs (%)
Batata-doce
Ipomoea batatas (L.) Lam.
33,33
Cará
Dioscorea alata L.
16,67
Quiabo
Abelmoschus esculentus (L.) Moench
16,67
Quintal
Godoy (2004), em estudo feito na região da Morraria, acerca do que é
estrutural e conjuntural nos quintais dos agricultores, fez a seguinte
afirmação: “o quintal é uma unidade de manejo, correspondente à parte do
espaço funcional da unidade de produção utilizada pela família, onde em
geral, encontram-se o local de moradia e o cultivo de espécies agrícolas
associadas ao cultivo e manejo de árvores, arbustos e ervas de usos
múltiplos, bem como a criação de aves, suínos e outros animais domésticos
de pequeno porte (cachorros, gatos).”
Alguns dos entrevistados do local de estudo consideraram esse
espaço como um local que deve permanecer “limpo”, utilizado para receber
os amigos e as pessoas que chegam em suas casas; outros utilizaram esse
espaço para cultivar espécies frutíferas (Tabela 4), onde se destacaram os
cultivos de laranja, limão galego e manga.
TABELA 4. Percentagens de espécies verificadas na unidade de manejo
quintal.
ESPÉCIES
NOMES CIENTÍFICOS
UPs (%)
Laranja
Citrus sp
66,67
Limão galego
Citrus sp
33,33
Manga
Mangifera sp
33,33
Abacate
Persea americana Miller
16,67
Acerola
Malpighia punicifolia L.
16,67
Banana
Musa sp
16,67
Cajá-manga
Spondias sp
16,67
40
(Cont.) TABELA 4. Percentagens de espécies verificadas na unidade de
manejo – quintal.
ESPÉCIES NOMES CIENTÍFICOS UPs(%)
Coco
Cocos nucifera L.
16,67
Goiaba
Psidium guajava L.
16,67
Mamão
Carica sp
16,67
Poncã
Citrus sp
16,67
Horta
A horta é descrita como uma unidade de manejo que pode ou não
estar relacionada com o espaço geográfico do quintal. Pode ou não estar
dentro do espaço denominado como quintal (Oliveira, 2006).
Nessa unidade de manejo foram encontradas as seguintes espécies
(Tabela 5).
TABELA 5. Espécies e percentagens de UPs que realizam o cultivo
especificado na unidade de manejo – horta.
ESPÉCIES
NOMES CIENTÍFICOS
UPs (%)
Cebolinha
Allium sp
83,33
Alface
Lactuca saliva L.
66,67
Coentro
Coriandrum sp
66,67
Couve-folha
Brassica oleracea L.
66,67
Mamão
Carica sp
33,33
Pimenta
Capsicum sp
33,33
Salsa
Petroselinum sp
33,33
Açafrão
Crocus sativus L.
16,67
Acerola
Malpighia punicifolia L.
16,67
Beterraba
Beta vulgaris L.
16,67
Gengibre
Zingiber officinalis Roscoe.
16,67
Laranja
Citrus sp
16,67
Limão
Citrus sp
16,67
Quiabo
Abelmoschus esculentus
16,67
Rúcula
Eruca sativa
16,67
Tomate
Solanum lycopersicum
16,67
41
4.1.4.2 Sistema de criação
O sistema de criação é definido como sendo um conjunto de
elementos em interação dinâmica organizados pelo homem com a finalidade
de transformar, por intermédio dos animais domésticos, determinados
recursos em produtos, como leite, ovos, etc. ou para responder a
determinadas necessidades, como tração, lazer, etc. (Landais et al, 1987).
Pasto
É uma unidade de manejo relacionada com o sistema de criação,
sendo o suporte nutricional da criação bovina.
O uso da pastagem nas unidades produtivas é fundamental para
garantir a produtividade do sistema de criação, principalmente da criação de
bovinos. Esse sistema de criação foi caracterizado pela criação de bovino,
eqüino, ovino, suíno e aves (galinha d’angola, pato e peru) conforme citado
na Tabela 6, com destaque para a criação de bovinos e de aves.
TABELA 6. Percentagens de UPs relacionadas com criação de animais.
ESPÉCIES UPs (%)
Bovino 100
Aves (galinhas) 100
Suíno 83,33
Ovino 16,66
Muares 16,66
Aves (galinha d’angola) 16,66
Aves (peru) 16,66
4.2 Uso dos Recursos da Vegetação Nativa
O papel da diversidade das espécies manejadas é fundamental,
especialmente, aos pequenos agricultores que exploram, por meio do
extrativismo, espécies vegetais e animais, com o objetivo de produção de
alimentos, medicamentos e obtenção de material de construção, manufatura
42
e outros produtos. Finalmente, os serviços ambientais proporcionados pela
diversidade têm garantido a estabilidade de vários sistemas de produção
(Azevedo, 2001).
A preservação e a harmonia com a natureza fazem parte da vida de
todos os camponeses, que extraem apenas o necessário para sua
sobrevivência e, conscientes de que é dali que retiram parte do que
precisam, reconhecem a importância dos recursos existentes. Porém a
introdução de pessoas de fora e de tecnologias mais modernas, tem
agravado a situação, proporcionando algumas alterações no meio, o
para os que a praticam, mas para todos que residem no local.
No extrativismo da madeira espécies que possuem fins
específicos, como a quina (Strychnos pseudoquina), barbatimão
(Stryphonodendron polyphyllum), caninha do brejo (Costus spiralis), nó-de
cachorro (Heteropterus aphrodisiaca), etc, usadas como medicinais, e outras
que diferem na forma de uso como o babaçu (Orbignya spp), utilizado na
cobertura das varandas das casas. O angico (Anadenanthera sp), aroeira
(Myracroduon urundeuva), usadas na fabricação de cercas, curral, chiqueiro
(pocilga), alguns móveis, e antes de substituírem suas casas por tijolos,
eram utilizadas na fabricação de casas.
Os camponeses utilizam a madeira extraída da vegetação nativa da
região e de suas unidades produtivas. A dependência dos agricultores
quanto aos recursos florestais estreitou sua relação com a vegetação nativa
e isso gerou conhecimento sobre os critérios de seleção e uso da flora.
O agricultor buscou esses recursos em diferentes locais, dentro ou
fora da sua UP. As folhas de babaçu utilizadas em cobertura foram obtidas
na sua maioria em áreas de pastagem (Figura 2). A lenha foi obtida tanto
nas capoeiras (novas ou antigas) como nos restos de coivaras das roças
(Figura 3). Os restos de coivara são importantes fontes desse recurso,
devido à grande quantidade de madeira que não é totalmente queimada no
preparo da área para implantação das roças, sendo sua principal vantagem
a facilidade da coleta.
43
FIGURA 2. Área de pastagem com plantas de babaçu (Orbignya spp).
FIGURA 3. Área de capoeira e restos de coivara, onde ocorre coleta de
lenha.
Partes das plantas comestíveis silvestres, como o fruto do babaçu,
são utilizadas em menor número e o seu consumo é ocasional, não fazendo
parte do complemento da dieta alimentar das pessoas dessas localidades.
Esses frutos são consumidos quando ofertados pela natureza, porém, não
são todos os camponeses que utilizam esse recurso para alimentação.
4.3 Diagnóstico das Unidades Produtivas
44
4.3.1 UP – S002
Nome dos Proprietários: Joacir Elias Pereira e Maria Sebastiana
Pinho Pereira.
Nome da UP: Chácara Ranchinho.
Tamanho da área: 20 hectares.
Tipo de posse: Contrato de compra e venda.
Localização da UP: Localidade Sangradouro, município de Santo
Antônio de Leverger-MT, com coordenadas 15°47’50.5’’ latitude sul e
47°41’41.2’’ longitude oeste de Gr.
4.3.1.1 Histórico dos produtores
O senhor Joacir Elias Pereira nasceu em 1950, na localidade
chamada Coqueiro, município de Santo Antônio de Leverger, no estado de
Mato Grosso. A senhora Maria Sebastiana Pinho Pereira nasceu em 1957,
no município de Nossa Senhora do Livramento, na Localidade Garimpo
Jatobá. Seu Joacir trabalhou no garimpo (Garimpo Jatobá), onde conheceu
sua esposa e se casaram.
Seu Joacir chegou na localidade de Sangradouro em 1986; conta que
seus parentes queriam que ele trabalhasse com empreita, mas ele nunca
gostou de trabalhar como funcionário para outras pessoas.
Sua preocupação sempre foi em ter segurança financeira, de garantir
o alimento e a renda para quando envelhecerem. Para ele, tirar a renda do
seu próprio trabalho é mais seguro do que depender de emprego de fazenda
da região. Dedicar-se à própria terra, e retirar seu sustento da mesma o
torna o único feirante da localidade de Sangradouro. Para levar a produção
aos sábados na feira em Cuiabá, acorda muito cedo e paga o valor de R$
25,00 pela passagem do ônibus (ida e volta), e mais dois reais pelo ponto
utilizado para instalar a barraca onde vende seus produtos; esse custo é por
final de semana. Hoje, Seu Joacir não vai mais todos os finais de semana,
apenas na primeira e última semana de cada mês, onde o movimento da
feira é maior, e não precisa mais do ônibus, pois um de seus filhos busca-o
em Sangradouro e o traz para a feira, reduzindo o custo do transporte.
45
O casal teve seis filhos que moram em Cuiabá e, quando podem,
ajudam os pais. Uma das filhas do casal é engenheira agrônoma e auxilia o
pai no manejo da propriedade. Os moradores da comunidade de
Sangradouro, a maioria, são parentes do seu Joacir, sendo que sua mãe,
irmãos e primos ainda vivem na região.
A senhora Maria Sebastiana não tem parentes que moram em
Sangradouro, às vezes seu pai (Sr. Osvaldo) que mora em Cuiabá, fica em
Sangradouro por um determinado período de tempo.
Eles não participam de festas relacionadas a questões religiosas
(festa de Santo), somente festa de aniversário.
4.3.1.2 Comparação da zona rural com a urbana
A partir das informações adquiridas se fez a quantificação do
consumo da lenha, água, da produção e dos custos da unidade de
produção. Foi feita a comparação de custos em situações diferentes, ou
seja, quanto os camponeses gastam morando na sua unidade de produção
e quanto gastaria se fossem morar na cidade (Tabela 7).
TABELA 7. Comparação do custo mensal da zona rural com a urbana.
Sítio Qtde R$ Cidade Qtde R$
Lenha (m
3
) 0,89
16,36
Gás (m
3
) 26,86
Água (m
3
) 54,00
5,00
Água (m
3
) 54,00
202,20
Alimento (kg) 1234,01
102,83
Alimento (kg) 591,94
Energia elétrica (kWh) 40,00
Energia elétrica (kWh) 40,00
Moradia 0
0,00
Moradia 350,00
Ônibus 0
0,00
Ônibus 246,00
IPTU 0
0,00
IPTU 101,00
ITR 0
0,00
ITR 0,00
Total 164,19
Total 1558,00
Apesar de possuírem fogão a gás, a lenha foi o recurso madeireiro
usado na UP para as atividades de alimentação. O consumo de água na UP
foi de 54 m
3
, não sendo exclusivo para o consumo próprio familiar, mas para
aguar as plantações próximas a residência, e servir ao consumo dos animais
existentes na UP.
46
O custo médio mensal de energia elétrica foi de aproximadamente
R$ 40,00. Segundo relatos feitos pela moradora da UP, eles têm esses
gastos com a energia, pois além de possuírem televisor, geladeira, máquina
de lavar roupas, ferro elétrico, eles possuem um freezer (balcão) que serve
para guardar os produtos in natura e processados que vendem na feira aos
finais de semana.
Para esses camponeses conseguirem ao menos manter o mesmo
padrão de vida do campo na cidade, precisam ganhar cerca de 3,75 salários
por mês (o valor do salário mínimo é R$ 415,00 mensais), valor difícil de
conseguirem, devido à baixa escolaridade, por ser mão-de-obra não
qualificada para trabalho em empresas e à idade avançada. Tais
conseqüências acarretariam em uma vida desumana e de baixa qualidade,
provavelmente fariam parte da população periférica da cidade.
4.3.2 UP – S013
Nome dos Proprietários: Eduardo Manoel Almeida e Maria da Glória
Magalhães.
Nome da UP: Chácara Nossa Senhora Aparecida.
Tamanho da área: 3,5 hectares.
Tipo de posse: Herança familiar.
Localização da UP: Localidade São Sebastião (Tanquinho), município
de Santo Antônio de Leverger-MT, com coordenadas 15°45’52.6’’ latitude sul
e 55°45’46.0’’ longitude oeste de Gr.
4.3.2.1 Histórico dos produtores
Seu Eduardo Manoel de Almeida nasceu em 1958, em Nossa
Senhora do Livramento, mas foi registrado em Santo Antônio de Leverger.
Casou-se com Maria Magalhães, hoje com 42 anos de idade. Eles têm
quatro filhos, sendo que uma filha mora com eles, os outros estudam em
Cuiabá.
Faz 10 anos que eles moram na UP, terra essa herdada por sua
esposa, em Tanquinho. Ele diz que, desde a ponte pra cá, tudo era chamado
47
de Sangradouro, mas agora mudou, ele acha que faz uns três ou quatro
anos que mudou.
Senhor Eduardo diz terem uma área de uso comum de 12,5 hectares
que não possui escritura e que essa área faz divisa com os fundos da sua
chácara; ele diz ser uma ilha onde ainda se encontra pasto nativo, e eles a
denominaram de área de pantanal.
Tanto ele quanto a esposa trabalham o dia todo nos afazeres da
chácara, não disponibilizam de ajuda de outras pessoas. O excedente de
seus produtos é comercializado na feira do Praieiro (Cuiabá), aos sábados.
4.3.2.2 Comparação da zona rural com a urbana
A comparação dos custos mensais, entre zona rural e zona urbana,
mostrou o aumento do custo se os camponeses mudassem de seus lares e
fossem morar na cidade (Tabela 8).
TABELA 8. Comparação do custo mensal da zona rural com a urbana.
Sítio QTDE R$ Cidade QTDE R$
Lenha (m
3
) 0,18
3,26
Gás (m
3
) 21,86
Água (m
3
) 27
0
Água (m
3
) 27,00
58,60
Alimento (kg) 3249,81
270,82
Alimento (kg) 374,81
Energia elétrica (kWh) 45,00
Energia elétrica (kWh) 45,00
Moradia 0
0,00
Moradia 350,00
Ônibus 0
0,00
Ônibus 246,00
IPTU 0
0,00
IPTU 101,00
ITR 0
0,00
ITR 0,00
Total 319,08
Total 1197,27
Quando valorado separadamente cada recurso e/ou produto,
observou-se que apesar de possuírem fogão a gás, a lenha foi o recurso
madeireiro utilizado na unidade de produção, mesmo quando seu local de
coleta passou a ser fora da UP, em áreas vizinhas. O consumo de água
mensal foi de 27 m
3
, não sendo exclusivo para o uso familiar, pois é utilizado
para aguar as plantações e para o consumo dos animais. Os camponeses
dizem ter vantagens sobre os demais moradores da região, pois não pagam
48
pelo recurso ofertado, e que possuem um rio que faz divisa com os fundos
da propriedade, facilitando o acesso à água.
O custo médio mensal de energia elétrica seria de
aproximadamente R$ 45,00. Mas, para que fosse instalada a rede de
energia na sua propriedade ele tem que pagar uma taxa fixa de R$ 20,00
mensais adicionais à “conta de luz”, por determinado período (não
especificado).
Mas, se tivessem que deixar o local onde moram, e tivessem que ir
morar na cidade, teriam que ganhar cerca de 2,88 salários mensal para que
pudessem manter as mesmas condições de vida que têm hoje morando no
campo, algo que, por motivos de baixa escolaridade, falta de qualificação, e
idade um pouco avançada, não seria possível.
4.3.3 UP – S015
Nome dos Proprietários: Agrícola Maria da Costa (Teco) e Dionéia
Magalhães da Costa
Nome da UP: Chácara Santa Paz, mas no registro chama-se Córrego
da Ema.
Tamanho da área: 15 hectares.
Tipo de posse: Herança familiar e parte foi contrato de compra e
venda.
Localização da UP: Localidade São Sebastião (Tanquinho), município
de Santo Antônio de Leverger-MT, com coordenadas 15°47’57.9’’ latitude sul
e 55°44’26.4’’ longitude oeste de Gr.
4.3.3.1 Histórico dos produtores
O senhor Agrícola Maria da Costa nasceu em 1954, na localidade
Córrego D’ema, hoje São Sebastião. Casou-se com a senhora Dionéia
Magalhães da Costa que nasceu em 1962. Tiveram quatro filhos, mas não
moram na chácara com eles. Optaram em morar na cidade, por acreditarem
que teriam mais oportunidade de empregos e condições de estudar.
49
A UP onde vivem é herança do Seu Teco, mas ainda não está
legalmente dividida entre os demais herdeiros. A parte da herança
corresponde a 12 hectares, e posteriormente ele comprou mais três
hectares, totalizando uma área de 15 hectares.
Ambos têm seus familiares morando na região de Vila São Sebastião
(Tanquinho). Trabalham o dia todo com os afazeres da chácara. Cuidam da
roça e fazem queijos para o consumo e venda.
Ele é feirante, vende a produção de sua UP na feira do Praieiro aos
sábados na capital Cuiabá.
Essa UP é a única que ainda não foi contemplada pelo programa de
energia elétrica “Luz para Todos” do governo federal.
4.3.3.2 Comparação do custo mensal da zona rural com a urbana
Inicialmente se fez à quantificação do consumo de lenha, água e da
produção, para que pudessem ser valorados. A comparação foi realizada a
partir da valoração desses dados, e de informações coletados na UP (Tabela
9).
TABELA 9. Comparação do custo mensal da zona rural com a urbana.
Sítio Qtde R$ Cidade Qtde R$
Lenha (m
3
) 0,16
2,87
Gás (m
3
) 0,00
21,23
Água (m
3
) 26,80
0
Água (m
3
) 26,80
57,88
Alimento (kg) 0,00
377,11
Alimento (kg) 0,00
421,32
Energia elétrica (kWh) 0,00
0,00
Energia elétrica (kWh) 0,00
0,00
Moradia 0
0,00
Moradia 0
350,00
Ônibus 0
0,00
Ônibus 0
246,00
IPTU 0
0,00
IPTU 0
101,00
ITR 0
0,00
ITR 0
0,00
Total 379,99
Total 1197,43
Através de entrevistas realizadas com os camponeses, foi verificado
que ocorre o consumo de lenha. Também, o consumo de água não era
somente familiar, utilizavam para aguar as plantações e para os animais. Os
camponeses dizem que não pagam pelo recurso ofertado, mesmo assim
50
usavam apenas o necessário. A energia elétrica não pode ser estimada, pois
nessa UP não há energia elétrica.
Se esses camponeses fossem morar na cidade, teriam que receber
mensalmente cerca de 2,88 salários mínimos, para poderem manter a
mesma qualidade de vida que têm hoje morando na chácara. Sabe-se que
tal realidade talvez não fosse possível, pois cada vez mais o mercado de
trabalho exige mão-de-obra qualificada e específica, além de alta
escolaridade, entre outros aspectos, o que não corresponde à realidade
desses camponeses, dificultando ainda mais a vida na cidade.
4.3.4 UP – S016
Nome dos Proprietários: JoLuiz Barbosa (Zé Cambaio) e Brasilina
Magalhães (Buió).
Nome da UP: Sítio Três Irmãos.
Tamanho da área: 3,36 hectares.
Tipo de posse: Herança familiar.
Localização da UP: Localidade Vila São Sebastião (Tanquinho),
município de Santo Antônio de Leverger-MT, com coordenadas 15°47’12.5’’
latitude sul e 55°45’38.0’’ longitude oeste de Gr.
4.3.4.1 Histórico dos produtores
O senhor José Luiz Barbosa (pseudônimo, Cambaio) nasceu em
1966 e é amasiado com a senhora Brasilina Magalhães, que nasceu em
1974. Eles têm três filhos, duas meninas e um menino, os quais moram com
eles no sítio.
Os familiares da senhora Brasilina moram na localidade Tanquinho
(São Sebastião), sua UP é herança de seu pai. Ela trabalha como cozinheira
em uma fazenda na região por meio período e o outro período ajuda nos
afazeres do sítio.
Seu José faz serviços braçais em sítios e fazendas próximos; ele
também é o responsável em levar a produção da unidade de produção para
ser vendida na feira do Praieiro em Cuiabá.
51
4.3.4.2 Comparação do custo mensal da zona rural com a urbana
Fez-se a comparação de custos em diferentes situações, para
descrever o quanto os camponeses gastarim morando na sua unidade de
produção e quanto gastariam se fossem morar na cidade (Tabela 10).
TABELA 10. Comparação do custo mensal da zona rural com a urbana.
Sítio QTDE
R$ Cidade QTDE
R$
Lenha (m
3
) 0,34
6,27
Gás (m
3
) 0,00
22,62
Água (m
3
) 25,20
0
Água (m
3
) 25,20
52,12
Alimento (kg) 46,32
Alimento (kg) 116,92
Energia elétrica (kWh) 0,00
59,00
Energia elétrica (kWh) 0,00
59,00
Moradia 0
0,00
Moradia 0
350,00
Ônibus 0
0,00
Ônibus 0
246,00
IPTU 0
0,00
IPTU 0
101,00
ITR 0
0,00
ITR 0
0,00
Total 111,59
Total 947,66
Como mencionado nas outras unidades produtivas, o consumo de
lenha ainda era realizado, mesmo possuindo fogão a gás. Nessa UP não
mais locais para coleta, era preciso ir coletar em áreas vizinhas, pois os
camponeses não deixaram área de mata. Eles admitiram que erraram em
derrubar toda a área de mata da propriedade para implantar a prática da
pecuária, deixando pouco espaço para o cultivo de produtos alimentícios, e
se fosse hoje, teriam mais cautela na abertura e manejo da área.
O consumo mensal de água foi de 24 m
3
, sendo que usufruem desse
recurso natural a família e os animais. O custo dio mensal de energia
elétrica foi de R$ 59,00.
Quando foram comparadas as condições dos custos (gastos) entre
morar no sítio (zona rural) e cidade (zona urbana), para que conseguissem
manter a mesma condição de vida que têm hoje, teriam que ganhar cerca de
2,28 salários por mês. Porém, essa família é composta por cinco pessoas, o
que provavelmente os condenariam a uma vida em região periférica da
cidade, com poucas condições financeiras.
4.3.5 UP – S017
52
Nome dos Proprietários: Jesuíno Vaz de Oliveira e Geralda Onório de
Oliveira.
Nome da UP: Chácara Santa Luzia.
Tamanho da área: 5 hectares.
Tipo de posse: contrato de compra e venda.
Localização da UP: Localidade Vila São Sebastião, município de
Santo Antônio de Leverger-MT, com coordenadas 15°48’02.4’’ latitude sul e
55°45’54.8’’ longitude oeste de Gr.
4.3.5.1 Histórico dos produtores
O senhor Jesuíno Vaz de Oliveira tem 56 anos, nasceu em
Itabacuri/MG, veio para Mato Grosso com 19 anos, e morava na região de
Jaciara; com 24 anos se casou com a senhora Geralda Onório de Oliveira de
57 anos. Tiveram dois filhos e cinco filhas e faz 12 anos que moram na
região. Depois de trabalhar em uma fazenda, Seu Jesuíno comprou a
chácara que hoje mora. Seu Jesuíno além de ser um camponês, é feirante,
comercializa os produtos excedentes da UP na feira do Praieiro aos sábados
em Cuiabá.
4.3.5.2 Comparação do custo mensal da zona rural com a urbana
A partir de dados coletados pode-se fazer a comparação dos custos
em duas situações, os custos dos camponeses morando na sua unidade de
produção e caso fossem morar na cidade (Tabela 11).
TABELA 11. Comparação do custo mensal da zona rural com a urbana.
Sítio QTDE R$ Cidade QTDE R$
Lenha (m
3
) 0,83
15,28
Gás (m
3
) 0,00
26,40
Água (m
3
) 25,00
0
Água (m
3
) 25,00
51,40
Alimento (kg) 252,78
Alimento (kg) 301,23
Energia elétrica (kWh) 0,00
110,00
Energia elétrica (kWh) 0,00
110,00
Moradia 0
0,00
Moradia 0
350,00
Ônibus 0
0,00
Ônibus 0
246,00
IPTU 0
0,00
IPTU 0
101,00
ITR 0
0,00
ITR 0
0,00
Total 378,07
Total 1186,03
53
A lenha e a água são recursos ofertados pela natureza, o que
acarreta em custo “zero” para a unidade de produção, facilitando a
permanência do camponês na unidade de produção. Se tivessem que deixar
sua casa para morar na cidade teriam que conseguir um emprego que
pagasse no mínimo 2,85 salários para manterem a mesma condição de vida.
Porém, a baixa escolaridade, idade avançada e baixa qualificação de mão-
de-obra, seriam alguns empecilhos que os camponeses enfrentariam na
zona urbana.
4.3.6 UP – S018
Nome dos Proprietários: Emiliano Magalhães e Benedita dos Santos
Magalhães.
Nome da UP: Sítio Bom Jesus.
Tamanho da área: 14,36 hectares.
Tipo de posse: herança familiar.
Localização da UP: Localidade São Sebastião (Tanquinho), município
de Santo Antônio de Leverger-MT, com coordenadas 15°47’12.3’’ latitude sul
e 55°45’41.7’’ longitude oeste de Gr.
4.3.6.1 Histórico dos produtores
O senhor Emiliano Magalhães nasceu em 1952, na localidade
Tanquinho, e se casou com Benedita dos Santos Pereira Magalhães que
tem 53 anos. Não tiveram filhos biológicos, apenas um filho adotivo, mas ela
gostaria muito de adotar outra criança, pois, moram apenas ela e o esposo
na UP.
A senhora Benedita diz que para ela, a região é tudo Sangradouro,
mas ali eles falam que é Tanquinho. O casal trabalha na plantação e criação
de animais na UP, e o excedente da produção é comercializado na feira do
Praieiro aos sábados, como feito por outros moradores da região. Nesse
caso, Dona Benedita é a única mulher da região que é a feirante.
4.3.6.2 Comparação do custo mensal da zona rural com a urbana
54
Fez-se a comparação de quanto os camponeses gastariam morando
na sua unidade de produção e quanto gastariam se fossem morar na cidade
(Tabela 12).
TABELA 12. Comparação do custo mensal da zona rural com a urbana.
Sítio QTDE R$ Cidade QTDE R$
Lenha (m
3
) 0,34 6,27
Gás (m
3
) 0,00 22,62
Água (m
3
) 26,00 0
Água (m
3
) 26,00 55,00
Alimento (kg) 270,86
Alimento (kg) 358,89
Energia elétrica (kWh) 0,00 65,00
Energia elétrica (kWh) 65,00
Moradia 0 0,00
Moradia 0 350,00
Ônibus 0 0,00
Ônibus 0 246,00
IPTU 0 0,00
IPTU 0 101,00
ITR 0 0,00
ITR 0 0,00
Total 342,14
Total 1198,51
A comparação entre as duas situações foi verificado que para os
camponeses dessa unidade de produção possam manter as mesmas
condições que têm no campo, na cidade, precisarão conseguir um emprego
onde recebam mensalmente o equivalente a 2,88 salários. Mas, isso será
difícil de ocorrer devido à baixa escolaridade, mão-de-obra não qualificada
para trabalho em empresas e, idade avançada. Tais conseqüências
acarretariam em uma vida desumana e de baixa qualidade, provavelmente
fariam parte da população periférica da cidade.
Mesmo com poucas alternativas encontradas no campo, a
permanência desses camponeses em suas unidades de produção, é de
grande valia. Pois são esses camponeses que de certa forma contribuem
com o abastecimento de alimentos às populações dos centros urbanos e ,
através da comercialização dos seus excedentes podem adquirir produtos
que não são mais cultivados em suas unidades produtivas, e adquirirem uma
renda mensal.
Se as famílias das comunidades Sangradouro e São Sebastião forem
transferidos dos seus sítios para a cidade provavelmente não conseguirão
ter a diversidade de alimentos encontrada em suas UPs, e passarão a ter
maiores dificuldades de se manterem na cidade.
55
Os custos da cidade são mais elevados do que os do campo, e para
que pudessem manter-se teriam que trabalhar, o que seria mais uma
dificuldade a enfrentar por esses camponeses, visto que o índice de
escolaridade é no máximo até a quarta série e, não apresentam formação
profissional, pois sempre lavoraram em suas terras. Essa situação os levaria
em se submeterem a subempregos e a viverem em condições inferiores a
que vivem.
56
5. CONCLUSÕES
A permanência do camponês na zona rural é de grande importância
para que sua reprodução como ser humano se mantenha viva. Que, esses
camponeses, apesar de contribuírem para o abastecimento dos centros
urbanos, ao chegarem nas cidades, não possuindo recursos materiais para
seu estabelecimento adequado, acabam improvisando residências carentes
de infra-estrutura adequada e em áreas impróprias, que na maioria das
vezes, não possuem água encanada e rede de esgoto, passando a viver em
condições muito precárias, em lugares periféricos isolados.
As unidades produtivas apresentam semelhanças como vegetação
nativa, recursos hídricos, que são muito importantes nas estratégias de
reprodução.
Outro fator que não se pode esquecer é a pressão econômica dos
grandes proprietários sobre os pequenos, a fim de comprar suas terras.
Porém, necessidade de se aprofundar o conhecimento sobre o
funcionamento e a exploração dessas UPs, para entender melhor parte da
economia dessa região. Verifica-se que mesmo estando no campo,
produzindo grande parte dos alimentos para o consumo e parte para a
venda, a transferência desses camponeses para a zona urbana, os
tornariam pessoas marginalizadas, mais uma vez excluídas no próprio meio
onde vivem.
57
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Dissertação (Mestrado em Agronomia) Escola Superior de Agricultura Luiz
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63
ANEXO
64
Guia de campo
Descrição de UP
1. Identificação
1. Nome do entrevistado:
2. Nome dos proprietários:
3. Nome da propriedade:
4. Localização da propriedade:
2. Caracterização da família
1. Membros da família;
2. Escolaridade;
3. Idade.
3. Disponibilidade de mão-de-obra familiar
1. Quem trabalha?
2. Alguém trabalha fora?
3. Quantas horas trabalha por dia?
4. Quanto ganha por dia ou mês de trabalho?
4. Caracterização da propriedade
1. Utilização da terra na propriedade – uso, tamanho
2. Tem área de mata? Para que usa a mata? Tira alguma coisa da
mata?
3. Quais são as áreas que vocês ocupam dentro da propriedade?
4. Pasto; Roça; Consórcio; Pomar; Horta, Quintal e outros.
5. Benfeitorias existentes na UP – estrutura e descrição
6. Como foi feita a casa? Quem fez a casa?
7. Cozinha de palha, Galinheiro, Chiqueiro, Horta, Farinheira e Curral
5. Sistema de produção vegetal
1. Quais as plantas cultivadas na propriedade?
65
2. Quanto é produzido?
3. Qual a área plantada?
4. Onde é o plantio dessas plantas? (horta, quintal, pátio, terreiro, etc.).
5. A produção da propriedade é somente para o consumo ou para a
venda?
6. Sistema de produção animal
1. Descrição dos animais da UP.
2. Você tem criações?
3. Aonde você cria? Nome?
4. Quantos animais você cria?
5. Por que você cria esses animais?
7. Sistema extrativista
1. Utiliza algum recurso da mata?
2. O que é usado? Para que serve?
8. Economia da propriedade
1. Quais são os produtos que vocês precisam comprar?
2. Quanto vocês pagam por cada produto?
3. Qual a quantidade de cada produto comprado?
4. Quanto tempo dura esses produtos?
5. Qual o local onde vocês compram esses produtos?
6. Quais são os produtos que vocês não precisam comprar?
7. Qual a quantidade que vocês consomem desses produtos?
8. Vocês vendem algum produto dentro ou fora da propriedade?
9. Onde vendem?
10. Quanto e qual o valor cobrado por esses produtos vendidos?
Luz
1. Vocês têm “luz” na propriedade? Quando chegou a luz aqui na
região?
66
2. Quanto pagam por mês? Todos tem luz?
3. Quais as melhorias com a chegada da luz?
Água
1. De onde vem a água que vocês consomem?
2. Vocês precisam pagar por essa água?
3. Quanto de água vocês consomem (mês)? Qual o tamanho da caixa
d’água (litros)?
4. Quanto tempo dura uma caixa d’água?
5. Tem poço na propriedade?
9. Descrição - História da comunidade
1. O que significa os nomes dados as localidades da região? (significado
das nomeações dadas às comunidades e localidades pelos camponeses)
2. Primeiros moradores que chegaram à região (Quando chegaram?; por
onde vieram?; quem foram?)
3. Comercializavam os produtos agrícolas em Cuiabá? Aonde era
comercializado esses produtos? (mercado, feira, mercearia,etc.)
4. Como os antigos transportavam a produção para Cuiabá?
5. Como foi esse período da comercialização? O que comercializavam?
6. Produção agrícola e animal (O que se plantava e /ou criava? Local?)
7. Quando surgiu a primeira escola na comunidade, em que época? E as
demias benfeitoiras? (primeiras estradas, energia elétrica, água encanada,
transporte, telefonia pública)
8. O processo de entrada dos fazendeiros, o que influenciou no dia dos
moradores da região? Houve disputas por terras?
9. Qual a maior dificuldade enfrentada pelos moradores da região?
10. Hoje, você venderia sua propriedade para ir morar na cidade? Por
quanto venderia? Por que venderia?
Livros Grátis
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