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No capítulo sobre sua chegada a Pérsia, descreve um lugar onde os homens são
cruéis porque se matam uns aos outros, homens fortes em armas e que seguem o profeta
Mohamed, porém temem o Tártaro do Oriente, o senhor que se apropriava de bens dos
mercadores ou dos viajantes, ou ainda os aprisionam, um lugar onde se produzem panos
com fios de ouro e de seda em grande abundância e também onde se tem muito trigo
cevada, algodão azeite, aveia, pão, vinho e fruta.
Colombo, ao anotar o mesmo capítulo, acrescenta à descrição uma intenção
diferente, descrevendo o mesmo lugar como imenso, assolado por Tártaros onde se
adora o Deus do fogo, onde há animais de montaria grandes, bonitos e caros, um lugar
de homens velhos, bons de briga, bandoleiros e homicidas, onde salteadores roubam
mercadores, onde se recomenda ao viajante participar em grandes caravanas. Um lugar
onde idolatram o “miserável” Mohamed e excelentes artesãos são capazes de trabalhar
com ouro, seda e outros tecidos de modo “admirável”. Há também uma abundância de
algodão, trigo, cevada, milho, pão, grãos, vinho e fruta.
3
Muitos foram os viajantes, quase todos na categoria de aprendizes
deslumbrados; na tentativa da descoberta do caminho para as índias, Colombo chega ao
novo continente sem perceber que descobriu muito mais do que esperava.
Ianni, em A Metáfora da Viagem, relembra a trajetória realizada por Colombo,
navegante que imaginou ter alcançado o Ásia, como assim fez Marco Pólo.
4
É esta concepção do encontro que traz para o Velho Continente a carga de
significação à qual perecia, pois precisa do Novo Mundo para ser denominado o Velho
Mundo; o mapa geográfico tem de ser modificado.
3
Marco Polo. El Libro de Marco Polo – anotado por Cristobal Colón. Madrid, Alianza Editorial, 1987.
4
“O Novo Mundo nasce, desenvolve-se e transforma-se ou articula-se, desarticula-se e rearticula-se sob
os signos da modernidade”.Os enigmas da modernidade – “o modo pelo qual os enigmas se formam,
sucedem e coexistem pode ser uma perspectiva fecunda para esclarecer o modo pelo qual o novo mundo
reflete, expressa, realiza e elide formas e possibilidades da modernidade” IANNI, Octavio. Enigmas da
modernidade-mundo. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 2000. pp 13 a 31