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ARLENE DENISE BACARJI
A IGREJA E A PÓS-MODERNIDADE
Dissertação apresentada à Faculdade de Teologia, da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul,
como requisito para obtenção do grau de Mestre em
Teologia, Área de Concentração em Teologia
Sistemática.
Orientador: Dr. Prof. Urbano Zilles.
Porto Alegre
2009
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INDICE
RESUMO ......................................................................................................................... 3
ABSTRACT .................................................................................................................... 4
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 5
1 A IGREJA E A RAZÃO SECULARIZANTE ........................................................... 8
1.1 RAÍZES DA RAZÃO SECULARIZANTE .......................................................................... 8
1.1.1
HUMANISMO RENASCENTISTA E REVOLUÇÃO CIENTÍFICA .................................... 9
1.1.2
O MERCANTILISMO E A REFORMA PROTESTANTE ............................................... 10
1.2 A FORMAÇÃO DA RAZÃO SECULARIZANTE” .......................................................... 12
1.3 REFLEXOS ................................................................................................................. 17
2 A IGREJA: SÓLIDO QUE SE QUER DERRETER .............................................. 22
2.1 IGREJA: INSTITUIÇÃO DE TRADIÇÃO COLETIVA ..................................................... 23
2.2 IGREJA COMO INSTITUIÇÃO SÓLIDA. ...................................................................... 24
2.3 IGREJA COMO TRADIÇÃO ........................................................................................ 37
2.4 IGREJA, TERMO QUE CONOTA ESSENCIALMENTE O COLETIVO ............................. 40
3 A CONSCIÊNCIA E A CRISE DA IGREJA ........................................................... 45
3.1 CONSCIÊNCIAS, PLAUSIBILIDADE E COESÃO ........................................................... 45
3.2 A CONSCIÊNCIA DO HOMEM PÓS-MODERNO E A IGREJA ........................................ 54
3.3 A CONSCIÊNCIA PLURALISTA E A IGREJA ................................................................ 60
3.4 A CONSCIÊNCIA DA VERDADE E A IGREJA ............................................................... 63
3.5 A DESLEGITIMAÇÃO DA IGREJA .............................................................................. 67
4 INDICAÇÕES POSITIVAS ..................................................................................... 70
ALGUNS ASPECTOS CONCLUSIVOS ................................................................... 83
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 86
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RESUMO
Este trabalho se propõe a fazer uma demonstração genérica da influência da cultura
pós-moderna na Igreja enquanto instituição sólida, sacramental, de Tradição coletiva. Mostra
que o homem da pós-modernidade se contrapõe a três dos aspectos essenciais do que é Igreja,
pois este é: relativista, subjetivista e individualista, além de voltado para si mesmo. Tal
cultura exerce uma influência na Igreja por meio da consciência de seus membros que é
formada por aquela numa relação dialética. Sendo assim a consciência dos membros, -
subjetivista, individualista e narcísica, - causam dano à Instituição por quebrarem sua
plausibilidade perante o povo e perante os próprios membros. A falta de plausibilidade causa
perda da coesão e da legitimação. Esse é o motivo da crise da Igreja Católica Romana. A
solução está na formação, em que pode haver uma retificação da consciência e da razão, que
foi deformada pela modernidade e pós-modernidade.
Palavras-chave: Pós-modernidade. Igreja. Clero. Plausibilidade. Consciência.
Retificação.
ABSTRACT
The target of this worksheet is to make a generic demonstration of the influence of
the post-modern culture in the Church while solid institution, sacramental institution, of a
collective Tradition. It shows that the post-modernity men are against of everything that the
church is, because this is: relativist, subjectivist, individualist and come back toward itself.
This culture has an influence in the Church through of the conscience of its members that is
formed by this in a dialectic relation. Being thus the conscience of the members, - subjectivist,
individualist and narcissist, - they cause damage to the Institution by breaking its plausibility
in front of the people and in front of its proper members. The lack of plausibility causes
cohesion and legitimating loss. This is the reason of the crisis of the Roman Catholic Church.
The solution is in the formation, where it can have a rectification of the conscience and the
reason that was deformed by modernity and post-modernity.
keywords: post-modernity. Church. Clergy. plausibility. Conscience. Rectification.
INTRODUÇÃO
Este trabalho aborda a problemática de um “pensar pós-moderno” que atinge a Igreja
como um todo, e principalmente, por meio do clero, que logicamente, vem da sociedade. A
esse “pensar pós-moderno” se denominará razão secularizante, ou seja, o modo de ser, de
agir, de pensar do homem pós-moderno que tem por trás uma lógica secularizada e
secularizante que forma a cultura pós-moderna, cuja formação será explicada no primeiro
capítulo. Grosso modo, refere-se ao conjunto de características da cultura pós-moderna que
modifica o modo de pensar dos membros da Igreja, ao modificar a consciência dos
indivíduos, como diz Peter Berger.
1
Esse aspecto compromete enormemente a legitimação da
Igreja, que se faz principalmente por meio do testemunho.
Este trabalho, por questões metodológicas de delimitação, não irá partir de todas as
características pós-modernas para explicar sua incidência na Igreja, mas partirá primeiramente
de três dos aspectos importantes no que diz respeito à essência desta, relacionando-os com as
características da pós-modernidade e demonstrando como essas características incidem nesses
três aspectos. Caso se optasse pela primeira, iria se estender muito o campo de pesquisa, pois
a cultura pós-moderna é algo complexo e só aí já daria uma dissertação inteira. Ainda, por
questões metodológicas, focalizará como alvo, o clero, tanto diocesano quanto religioso, pois
são esses os maiores representantes da Igreja enquanto instituição, para os demais membros
do povo de Deus.
Em um segundo lugar, será abordado, neste trabalho, o processo de legitimação e
deslegitimação de uma instituição, baseado na plausibilidade desta para os seus membros.
Nesse capítulo, utilizar-se-à como referência principal Peter Berger.
Quanto à metodologia, esse trabalho se servirá da “razão teológica” esclarecida por
Clodovis Boff,
2
enquanto “busca fundamentalmente mostrar o ‘nexo’ existente entre o mundo
da fé e o nosso mundo”. Sempre ressaltando a importância de se discernir o essencial do
1
Cf. BERGER & LUCKMANN. Modernidade, pluralismo e crise de sentido. A orientação do homem moderno.
Petrópolis: Vozes, 2004. Berger fala apenas de uma consciência subjetivista secularizada e suas repercussões nas
instituições. Adapta-se aqui essa teoria para a Igreja católica.
2
BOFF, C. Teoria do método Teológico. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 3ª Ed. 2007. p. 80
6
secundário, o que pode ser relativizado e o que é absoluto. Parte-se do princípio primeiro que
é a fé dogmática como arché da Teologia.
O que se pretende é fazer um confronto entre, por um lado, a vivência da fé referente
ao que, essencialmente, é Igreja e, portanto, permeada pela cultura pós-moderna e, por outro,
o seu ideal proposto pela própria Igreja nos documentos que tratam do assunto, partindo
sempre da Tradição e da Sagrada Escritura.
Serão utilizados como mediações sócio-analíticas os autores que trabalham as
questões da cultura pós-moderna, tendo sempre claro que desses autores utilizar-se-ão
somente as características pertinentes ao tema desse trabalho e suas constatações, já que cada
autor aduz causas, efeitos, significados e soluções diferentes entre si, e muitas vezes, mais
diferentes ainda dos objetivos que se tem em vista neste estudo. O trabalho centrar-se-á em
alguns autores em termos metodológicos, respectivamente, Peter Berger, como mediação
analítica sociológica, Clodovis Boff como método teológico e León-Dufour como referência
da teologia bíblica utilizada aqui. Alguns autores também serão usados como mediadores
complementares, como o sociólogo Zygmund Bauman, o eclesiólogo Salvador Pie-Ninot, o
teólogo Urbano Zilles, o psicanalista Joel Birman, o filósofo Henrique de Lima Vaz, entre
outros.
Em suma, o método é simples: apenas um confronto entre, de um lado, a fé da Igreja
e a vivência desta, e por outro, o impacto da cultura pós-moderna sobre esta vivência eclesial,
tendo em vista que o central/essencial precisa ser determinado.
Em termos teológicos a perspectiva joanina e paulina se fará presente, enquanto nela
o “mundo” se opõe ao projeto de Deus e, apesar de poder ser salvo por Cristo, o cristão deve
estar sempre alerta à mundanização de seu ser cristão. Na raiz da mundanização da Igreja,
especialmente do clero e, da vida religiosa, (dos comportamentos dos consagrados), que faz
com que a Igreja se deslegitime pela falta de testemunho, vê-se presente o que se chamará de
“razão secularizante”. Pode-se apoiar aqui nos primeiros parágrafos do Dicionário Crítico de
Teologia
3
, sobre o termo secularização:
3
LACOSTE, Jean-Ives. Dicionário Critico de Teologia. São Paulo: Ed. Paulinas, Ed. Loyola. 2004. Verbete:
Secularização. P. 1629.
7
“O termo ‘secularização’ (s.) é derivado do latim saeculum, palavra utilizada na
Vulgata para traduzir o grego aion (cf. Rm 12,2; 1Cor 1, 20 etc), o ‘século’ ou
mundo que a teologia Paulina identifica ao domínio do pecado. O termo designa
inicialmente o processo de laicização de um religioso que abandona sua ordem e
retorna para o século.
O primeiro capítulo tratará da formação da razão secularizante: suas origens, o
processo de sua constituição e seus reflexos.
O segundo capítulo tratará da realidade sólida da Igreja como presença no mundo,
cujo sentido é coletivo (comunitário) e não individualista, donde a crise da sua aceitação e
legitimação no mundo atual, por ser este individualista subjetivo e narcísico.
No terceiro capítulo será tratado o tema da consciência e sua relação com a
legitimação da Igreja enquanto instituição sociológica e o que a deslegitima.
E por último, serão apontadas algumas alternativas para a problemática estudada
neste trabalho.
Em alguns momentos serão mencionados aspectos da produção teológica atual
enquanto esta também é atingida pela cultura pós-moderna. Porém, isso será objeto de estudo
e aprofundamento num próximo trabalho, sendo mencionados aqui apenas a título de
ilustração.
ALGUNS ASPECTOS CONCLUSIVOS
O pecado original está presente de forma profunda nesta época da história que se
denomina pós-moderna. Se hoje não se tem mais o nazismo, as ideologias absolutistas, os
totalitarismos, se tem o genocídio lento, sutil, suave, imperceptível, que começa na
consciência do homem pós-moderno:
O espetáculo que nos oferece a modernidade ao mesmo tempo triunfante e em
profunda crise, se a considerarmos desde o ponto de vista desse dever ético
fundamental que é, para o homem, a instauração do sentido na sua vida – o dever de
realizar a verdade da sua existência -, é o desencadear-se aparentemente
incontrolável do não-sentido da violência e da morte: violência brutal das armas e
dos meios de destruição de massa, violência sutil da propaganda e da manipulação
de informação, violência cega do terrorismo, violência silenciosa e universal das
injustiças nas relações políticas, sociais e econômicas entre indivíduos, grupos e
nações: e ao termo desses e de outros caminhos da violência, o esgar insensato da
‘morte moderna’
188
.
A consciência como santuário de Deus, foi atingida pela cultura do niilismo, onde não
se sabe mais o certo e o errado, vale tudo, podem tudo, nada mais limita o indivíduo e seus
caprichos instintivos ou não, nada mais tem sentido.
Ao destruir as instituições - e aqui não se trata somente da Igreja - mas instituições em
geral, como família, casamento, entre outras, está a destruir a possibilidade de sobrevivência
da sociedade. É o fim do social como diz Boudrillard.
189
O individualismo, o subjetivismo e o narcisismo levam cada vez mais o ser humano
ao desequilíbrio e a instauração da loucura. Da mesma forma que não se ouviu falar tanto em
alteridade, não se deixou tanto de enxergar o “outro” ou a sociedade para satisfazer-se a si
mesmo.
A sociedade está profundamente em risco nos dias atuais, uma vez que nem as
crianças mais têm sido socializadas de forma a manter a plausibilidade da estrutura social que
manteria a estrutura mental.
188
LIMA VAZ, Henrique, C. Escritos da filosofia III. Filosofia e Cultura. São Paulo: Loyola. 2002. p. 174
189
Cf. BOUDRILLARD, J. À sombra das maiorias silenciosas, e o fim do social. São Paulo: Brasiliense, 1986.
84
Nesse sentido, entra o papel da Igreja, não somente enquanto sacramento de salvação,
mas como instituição sociologicamente importante para a esperança da humanidade.
Se ao se desconstruirem os dogmas, as verdades da fé, a Igreja, pensam os pós-
modernos que vão libertar o homem de alguma dominação ou opressão, estão mesmo em um
impulso de morte, destruindo a esperança do povo pobre, humilde e desorientado, por falta de
tino sociológico. Essa tentativa de “desconstrução” da bíblia, da Igreja, dos dogmas, da
Tradição, possivelmente, é o instinto de morte, como mostra o psicanalista Joel Birman ao se
referir à filosofia da desconstrução.
190
A liberdade tão almejada na modernidade está profundamente marcada pela
consciência deformada e suas conseqüências. A olho nu pode-se dizer que liberdade não
existe nos países com ou sem problemas econômicos graves, pois se não se é escravo do
desemprego e da pobreza se é escravo da violência, da droga, dos antidepressivos,
psicotrópicos, depressão e mal-estar, como no caso das classes médias e altas. Liberdade só
superficial.
Assim, como o problema está na consciência do homem pós-moderno, a solução
também está na própria consciência. Primeiro, o membro participante do clero precisa de
consciência crítica e não de “empolgação” com os tempos pós-modernos e suas filosofias.
Depois, essa consciência precisa ser retificada pela formação. Esta formação, por sua vez,
precisa atinar para o problema e ter noção de que a Igreja, enquanto Instituição sociológica e
mistérica, é uma esperança para os humildes do povo de Deus:
E se a exigência do absoluto transcendente estiver inscrita na própria essência e no
dinamismo mais profundo da razão? E se foi a implacável dialética dessa exigência,
desdobrando-se no terreno da teoria da representação, a levar a humanidade
moderna ocidental à dramática experiência do niilismo, reverso dialético perfeito da
experiência do Absoluto real, e a conviver com essas formas do não-sentido
absoluto da violência e da morte, presentes como símbolos de uma civilização em
crise, em todas as encruzilhadas do nosso tempo?
191
Na verdade, há a necessidade de uma maior conscientização do que significa a
religião, as instituições sociais para o povo, para as sociedades e, ao mesmo tempo, há a
190
Cf. BIRMAN, Joel. Arquivos do mal-estar e da resistência. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006
191
LIMA VAZ, Henrique, C. Escritos da filosofia III. Filosofia e Cultura. São Paulo: Loyola. 2002.p. 175.
85
necessidade de se compreender que, se as instituições são adoentadas, as sociedades sem elas
ficam mais adoentadas ainda, como se vê.
O clero precisa ter mais conhecimento sociológico sério, para saber do que vive uma
sociedade, como vive, e como elas também podem se autodestruir. Parte do clero, como boa
parte do homem pós-moderno, é sem crítica, e extremamente adolescente quando imagina que
pode ir contra toda e qualquer autoridade só pelo fato de ser autoridade e isso não irá ter
conseqüências. Esse é o homem pós-moderno. Um eterno adolescente lutando contra a
autoridade para se dizer livre e com identidade própria, autônomo, ignorante e inconseqüente
com relação à vida social e à coletiva.
A Igreja tem um papel fundamental para essa sociedade. Por um lado, como
mistério, que pode oferecer ao ser humano, a esperança da salvação, da eternidade, da vinda
do Reino, que até pode ser aqui e agora, como querem os pós-modernos. A Igreja é o grande
Meio pelo qual Cristo vem libertar os seres humanos e se torna presente entre eles. E por
outro lado, como instituição sociológica, detentora do maior acervo de conhecimento da
humanidade, que pode oferecer a esta o encontro com a paz. Mas, para isso, se faz necessário,
um clero consciente do que se passa com a sociedade e com essa época da história, capaz de
ter fé verdadeira e de acreditar na Instituição a qual ele pertence.
Como disse Paulo VI, aqui, se pergunta, por qual fresta está entrando a fumaça de
satanás no Templo de Deus?
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