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É clara a percepção de que está sendo explorado, mas antes de qualquer coisa vem o medo de
ser demitido, o que fazer se perder o emprego? Mesmo sabendo que as atitudes do patrão são
ilegais, que seu trabalho é amparado pela legislação, que ser demitido por questionar uma
ação que ele julgou injusta é ilegal, o medo de ser demitido sobrepõe.
Por outro lado, existe o medo de questionar o patrão, no qual, muitos trabalhadores
acostumados a morar no campo, com outros ritmos de trabalho, quando na maioria das vezes
não tem patrão, o que predomina nesse sentido é o próprio “costume”. Ou como admite
Rafael por conta da própria “criação”, pelos valores da família, etc, fazendo um paralelo das
pessoas que moram na cidade e das pessoas que moram no sítio. Para ele, as pessoas que
moram no sítio, quando vêm para a cidade, conseguem emprego numa fábrica e trazem todas
as tradições consigo. Não são acostumadas a terem atitudes perante patrões, preferem não
questionar para não ter que se incomodar. Mas, para ele, não importa se o que está em jogo é
o emprego, ele pode ser demitido, pois o que importa é que deu a sua opinião.
Mas também não se pode generalizar essa discussão como sendo de todos os
trabalhadores, deve–se levar em conta a realidade vivida pelos trabalhadores, experimentadas
e vivenciadas de forma diferente. Por exemplo, Osvaldo quando cedeu a entrevista não estava
mais na Faville, isso deve ser levado em conta, ao perceber que o trabalhador crítica a
perspectiva de alguns trabalhadores que não questionam a organização do trabalho na Faville
por medo de perder o emprego, achando que não existe oportunidades fora da Faville. Mas, há
uma diferença do trabalhador processar tal questão estando na fábrica e o trabalhador que já
conseguirá estabilizar-se fora da empresa.
Outro entrevistado, ao comentar sobre o medo que o trabalhador tem de realizar
manifestações, explica que a empresa faz pressão de várias formas:
[...] Nada contra as mulheres, mas, muitas mulheres, muitas mães na
empresa elas então as mães elas tem aquilo ali, tem umas que fazem a
comparação assim, a, mas, se eu for mandada embora daqui provavelmente
eu vou ter que trabalhar de diarista. Ou de... de doméstica né? Aí o salário
cai muito, tipo não vai seguir o padrão que ela esta ganhando hoje na Faville.
Daí elas questionam isso também. Daí eu vou chegar para elas e dizer não
você tem que... não! A gente traz pra vocês, tudo que eu sei eu posso levar,
agora obrigar vocês eu não posso. Você tem que lembra, então chega a
época, vocês também tem que por isso na cabeça, não adianta vocês vir me
cobrar que o sindicato não esta fazendo nada, mas se vocês não dão apoio.
Sem apoio... sozinho... [Por que você acha que tem esse medo? A própria
empresa talvez coloque esse medo?] Sim, no começo a empresa fez isso
né, pôs isso na cabeça dos funcionários, não seguir o sindicato. E as pessoas
acabaram entrando naquilo ali, e não deu. Agora é difícil nós mudar a cabeça
das pessoas. [Mas o que no caso a empresa faria de a pessoa estar indo
no sindicato?] Ah, demitiria na hora. Aconteceu caso, aconteceu vários