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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
DORA NEUZA LEAL DINIZ
Aracaju:
A Construção da Imagem da Cidade
Dissertação apresentada à FAU - Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo para obtenção
do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.
Área de Concentração: História e Fundamentos da Arquitetura
e do Urbanismo.
Orientador: Prof. Dr. José Eduardo de Assis Lefèvre.
São Paulo
2009
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DEDICATÓRIA
Aos meus pais, estrelas de minha vida,
que sempre me mostraram o caminho
mais iluminado a seguir...
E a Dudu, meu pequeno raio de sol,
que me ilumina e, com o seu olhar, me
faz lutar para lhe mostrar o caminho...
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AGRADECIMENTOS
Grandes colaborações foram fundamentais nesse caminho e mesmo até pequenos atos ou
palavras..., por isso agradeço profundamente a todos. De uma difícil realidade tornaram a
pesquisa em um prazer na busca desse novo olhar sobre Aracaju.
Ao Prof. Dr. José Eduardo de Assis Lefèvre, pela orientação do trabalho e por toda a
atenção e compreensão nos diversos períodos ao longo do mestrado;
A todos os professores, em especial à Prof.ª Élide (in memoriam), e funcionários da FAU/
USP, por serem solícitos e prestativos para a realização do Mestrado;
Ao Prof. Dr. José Alexandre Felizola Diniz e Prof. ª Dra. Diana Maria de Faro Leal Diniz,
meus pais, que, em todos os momentos e de todas as formas, colaboraram para a
concretização desse objeto de pesquisa;
À Prof. ª Dra. Vera Lúcia Alves França e Sra. Ana Medina, por toda a presteza no
empréstimo de bibliografia e das suas coleções particulares dos cartões-postais;
À Pesquise, Sr. Luiz Antônio Barreto, e ao Sr. Murillo Melins por cederem todas as
imagens de Aracaju dos seus arquivos;
Ao Memorial de Sergipe - Universidade Tiradentes, por tornar a pesquisa iconográfica
em todo o acervo da Prof. ª Rosa Faria um estímulo constante;
Ao Iate Clube de Aracaju, por conceder a pesquisa iconográfica no arquivo do clube;
A todos da SMTT, FAPESE e tantos outros colaboradores, que gentilmente destinaram
um pouco de tempo para responderem aos questionários sobre a cidade;
Aos colegas de trabalho da Prefeitura Municipal de Aracaju, em especial aos da SMTT/
Diretoria de Planejamento e Sistema, que, no dia-a-dia, em ambiente de união e troca de
conhecimentos, me incentivaram para a concretização desse trabalho;
A Jason Filho, por sua busca e puro prazer na captura de imagens “inéditas” de Aracaju;
A Cleber Palacio, pela elaboração cuidadosa da capa ilustrativa desta Dissertação;
Às minhas amigas e amigos do coração, distantes ou não, sempre companhias positivas na
minha busca pela felicidade;
A meu filho e minha família pelas horas de alegria e distração proporcionadas, que me
davam forças a continuar este projeto.
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RESUMO
Aracaju - A Construção da Imagem da Cidade discute, em termos de percepção urbana, como a
imagem de uma cidade se forma ao longo do tempo, no sentido de ser total ou parcialmente
incontrolável ou a conseqüência de um direcionamento intencional dos seus formadores de
opinião e agentes públicos, privados ou técnicos, que selecionam apenas os pontos positivos da
cidade. Essa idéia é elaborada, no estudo, a partir da clara associação entre os cartões-postais da
cidade, comercializados no passado e hoje em dia, e a Aracaju percebida atualmente por seus
habitantes, verificada nos questionários aplicados, cada qual com o seu olhar específico, mas com
resultados muito homogêneos em relação às características fundamentais da cidade. Numa
perspectiva histórica, tenta-se retomar a Aracaju vista ao longo do tempo, por décadas, através
principalmente da coletânea dos diversos cartões-postais existentes desde a primeira década do
século XX e outras fontes como história escrita, poesias, relatos etc. Os marcos urbanos mais
destacados são também evidenciados, quer aqueles resultantes da construção física da cidade,
quer os estabelecidos na relação entre a urbe e seu meio ambiente. Assim, faz-se uma tentativa de
mostrar como Aracaju foi moldada e se apresenta hoje com a imagem de uma bela capital, cidade
tranqüila, admirada por todos, que a têm como o melhor local para se viver, um exemplo de
organização... enfim, como a capital com melhor qualidade de vida do país! De certa forma, isso
evidencia a falta de uma visão mais crítica da população em relação às questões urbanas e ao
modo de viver, fato esperado ao se tratar com imagem, nitidamente falsa e expressão da forte
manipulação da mídia na sociedade contemporânea.
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ABSTRACT
Aracaju The Construction of the City Image discusses, in the context of urban perception, how
the image of the city was formed through time, in the sense of being total or in part randomly
built or instead formed as a consequence of a driven intent to select mainly positive views of the
city, by opinion makers and public agents, private or technical. This idea is developed here
starting from the clear association between postcards printed in the past and today and the
Aracaju city currently perceived by its inhabitants, evaluated by questionnaires applied. Each one
reveals an individual perception of the city, but all provide very homogeneous results in respect
to its main characteristics. In an historical perspective, it was tried to recover the temporal trends
in viewing the city for decades, by the collection of postcards available since early 20
th
-century
and other sources, like written history, poetry, personal memories, and so on. The highlighted
urban marks were also described, both resulting from physical construction of the city, as well as
from those established between the city and its environment. Thus, this analysis provides an
attempt to show how Aracaju was forged and presents itself as a beautiful State capital, calm and
beloved by all, with a high standard in terms of life quality, an example of city organization...In
short, the State capital with highest life quality in Brazil! In a certain way, at the same time this
supports the lack of a more critical view of the city by its own population, in respect to urban
questions and its way of life, an expected issue when dealing with perceived image, clearly false
and expressing the strong Midia manipulation in the modern society.
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LISTA DE FIGURAS
INTRODUÇÃO
Figura I.01 – Cartão fotográfico “Estátuas da Cidade”. Álbum fotográfico, final da década de 30
(1937). Acervo Ana Medina.
Figura I.02 - Cartão tipográfico de Boas Festas – Feliz Ano Novo do final da década de 30 (1939)
com vistas gerais de Aracaju (Casa Amador). Acervo Alexandre Diniz.
Figura I.03 - Cartão tipográfico de Boas Festas – Feliz Ano Novo do final da década de 40 (1949-
1950) com vistas gerais de Aracaju (Walmir Fotos). Acervo Pesquise.
Figura I.04 - Cartão tipográfico de Boas Festas do final da década de 50 (1957 - 1958) com obras
do Governo Leandro Maciel (Casa Amador). Acervo Rosa Faria.
Figura I.05 – Cartão tipográfico do Ed. Walter Franco (Serviços Públicos) do final da década de
50. Acervo Pesquise.
Figura I.06 – Cartão tipográfico da Ponte Presidente Juscelino, Rio Poxim, final da década de 50,
no Governo de Leandro Maciel (Casa Amador). Acervo Rosa Faria.
Figura I.07 - Cartão tipográfico colorido da Estação Rodoviária, Governo Luiz Garcia, início da
década de 60. Acervo Alexandre Diniz.
Figura I.08 - Cartão tipográfico com vista parcial de Aracaju, do centro em direção ao sul, no ano
2000 (Coleção nacional “Brasil 500 anos”). Acervo Vera França.
Figura I.09 – Cartão-postal tipográfico com vistas de Aracaju em 2000 (Coleção nacional
“Brasil 500 anos”). Acervo Vera França.
Figura I.10 – Cartão-postal tipográfico com vista noturna da Avenida Ivo do Prado na década de
90 (P.A.S.). Acervo da autora.
Figura I.11 – Cartão-postal tipográfico com a imagem do Papagaio, símbolo da cidade (Cluposil
Artes Gráficas). 2001 em diante. Acervo da autora.
Figura I.12 – Vista parcial do Mercado de Artesanato Antônio Franco (Cluposil Artes Gráficas).
2001 em diante. Acervo da autora.
Figura I.13 Cartão-postal fotográfico com Vista Parcial da Ponte do Imperador para a Avenida
Ivo do Prado (Gorette Nascimento). 2001 em diante. Acervo da autora.
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1º CAPÍTULO - FIXAÇÃO DA IMAGEM URBANA
Figura 1.1 – Cartão-postal do Jardim da Luz, São Paulo, por volta de 1900, com fotografia de
Guilherme Gaensly. Fonte: GERODETTI, João E. e CORNEJO, Carlos. São Paulo,
2004, p.73.
Figura 1.2 – Cartão-postal alegórico do Rio de Janeiro de Marc Ferrez, datado de 1899. Fonte:
GERODETTI, João E. e CORNEJO, Carlos. São Paulo, 2004, p.14.
Figura 1.3 - Postal da Doca da Alfândega e Cais dos Mineiros, editado por volta de 1905, com
fotografia de Marc Ferrez. Fonte: GERODETTI, João E. e CORNEJO, Carlos. São
Paulo, 2004, p.18.
Figura 1.4 – Cartão-postal da Avenida Rio Branco vista a partir da Rua São José de 1911. Fonte:
GERODETTI, João E. e CORNEJO, Carlos. São Paulo, 2004, p.27.
2º CAPÍTULO - TRANSFORMAÇÕES URBANAS DE ARACAJU:
IMAGENS EM MUDANÇA
Figura 2.1 - Portos marítimos e fluviais da Província de Sergipe em 1855. Fonte: PORTO, 1991,
p.18.
Figura 2.2 - Planta de Aracaju em fevereiro de 1857. Fonte: PORTO, 1991, p. 41.
Figura 2.3 – Aracaju, em 1865, reconstituída a partir de documentos da época por Fernando Porto
e superposta, pela autora, à planta atual da cidade. Fonte: PORTO, 1991, p. 45.
Figura 2.4 – Fotografia da Igreja Matriz por volta do final do século XIX. Acervo Murillo
Melins.
Figura 2.5 – Fotografia da Ponte do Imperador. Final do século XIX, cerca de 1890. Fonte:
MEDINA, p. 30.
Figura 2.6 - Fotografia da Rua da Aurora na altura da Praça Fausto Cardoso por volta do início do
século XX. Acervo Rosa Faria.
Figura 2.7 – Fotografia aérea das Praças “Monumentais”. Década de 20, julho de 1923. Foto
feita pela esquadrilha do primeiro “Raid Aéreo” Rio/ Aracaju. Acervo Pesquise.
Figura 2.8 - Fotografia aérea Vista Parcial do “Quadrado de Pirro”. Década de 20, julho de 1923.
Feita pela esquadrilha do primeiro “Raid Aéreo” Rio/ Aracaju. Acervo Pesquise.
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Figura 2.9 – Cartão-postal tipográfico da Praça Fausto Cardoso (Livraria Regina). Década de 20.
Acervo Rosa Faria.
Figura 2.10 - Panorama da Cidade, mostrando a partir da Catedral os Palácios, o Jardim Olímpio
Campos e o rio Sergipe (Livraria Regina). Década de 20. Acervo Rosa Faria.
Figura 2.11 – Cartão-postal tipográfico da Praça da Catedral (“Centenário da Independência” –
Tipografia Vênus, Rio – Foto Fabian). Década de 20. Acervo Pesquise.
Figura 2.12 – Cartão-postal tipográfico de Vista Rua Santa Luzia, sentido sul (Livraria Regina).
Década de 20. Acervo Rosa Faria.
Figura 2.13 – Cartão-postal tipográfico da Avenida Ivo do Prado (Livraria Regina). Década de 20
Acervo Rosa Faria.
Figura 2.14 – Cartão-postal tipográfico da Avenida Ivo do Prado, sentido sul (Livraria Regina).
Década de 20. Acervo Rosa Faria.
Figura 2.15 – Fotografia aérea da Praia do Bairro Chica Chaves. Década de 20, julho de 1923.
Feita pela esquadrilha do primeiro “Raid Aéreo” Rio/ Aracaju. Acervo Pesquise.
Figura 2.16 – Postal tipográfico da Fábrica de Tecidos Sergipe Industrial. Primeira década do
século XX, 1900 - 1910. (“União Postal Universal/ Brazil/ Edição da Livraria
Brazileira/ Aracaju/ Fabricado em Allemanha”). Acervo Rosa Faria.
Figura 2.17 – Postal tipográfico do Chalet da Fábrica de Tecidos. Primeira década do século XX,
1900 - 1910. (“União Postal Universal/ Brazil/ Edição da Livraria Brazileira/
Aracaju/ Fabricado em Allemanha”). Acervo Rosa Faria.
Figura 2.18 – Postal fotográfico da Av. João Ribeiro com vista para a Igreja de Santo Antônio.
Década de 30. Acervo Rosa Faria.
Figura 2.19 – Fotografia do bonde da linha Santo Antônio. S/ data. Acervo Rosa Faria.
Figura 2.20 – Cartão tipográfico da Rua Pacatuba, sentido sul (Livraria Regina). Década de 20.
Acervo Rosa Faria.
Figura 2.21 – Cartão-postal tipográfico de Trecho da Rua Itabaiana (Livraria Regina). Década de
20. Acervo Rosa Faria.
Figura 2.22 – Fotografia parcial da Zona Sul de Aracaju. Década de 20, julho de 1923. Foto
feita pela esquadrilha do primeiro “Raid Aéreo” Rio/ Aracaju. Acervo Pesquise.
Figura 2.23 – Cartão-postal fotográfico do prédio do Seminário Sagrado Coração de Jesus. Por
volta do final da década de 20. Acervo Rosa Faria.
Figura 2.24 - Fotografia de Aracaju com Vista da Ponta do “Inflamável” para o Centro da
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cidade. Década de 20. Acervo Rosa Faria.
Figura 2.25 – Postal fotográfico de Vista da Praça Camerino para o sul. Álbum fotográfico, final
da década de 30 (1937). Acervo Ana Medina.
Figura 2.26 – Postal da Praça Camerino. Década de 40. Acervo Murillo Melins.
Figura 2.27 – Postal fotográfico da Av. Barão de Maruim. Álbum fotográfico, final da década de
30 (1937). Acervo Ana Medina.
Figura 2.28 – Cartão fotográfico do Seminário. S/ data, cerca dos anos 40. Acervo Rosa Faria.
Figura 2.29 – Postal do Colégio Patrocínio São José. Década de 40. Acervo Murillo Melins.
Figura 2.30 - Postal da Igreja São José. Década de 40. Acervo Murillo Melins.
Figura 2.31 - Postal da Praça Getúlio Vargas. Década de 40. Acervo Pesquise.
Figura 2.32 - Postal do Abrigo de Bonde - “Tabuleiro” da Praça Getúlio Vargas. Década de 40.
Acervo Murillo Melins.
Figura 2.33 –
Postal da Ponte da Atalaia ou do Crocodilo. Década de 40. Acervo Pesquise.
Figura 2.34 – Postal de Detalhe da Ponte da Atalaia. Década de 40. Acervo Murillo Melins.
Figura 2.35 – Postal fotográfico da Praça Fausto Cardoso. Álbum fotográfico, final da década de
30 (1937). Acervo Ana Medina.
Figura 2.36 – Postal fotográfico da Praça Automobilística na Fausto Cardoso (Photo Studio).
Anos 30. Acervo Pesquise.
Figura 2.37 - Postal fotográfico da Rua João Pessoa (Photo Studio). Década de 30. Acervo Ana
Medina.
Figura 2.38 – Postal fotográfico da Praça Pereira Lobo (Photo Casa Amador). Década de 30.
Acervo Alexandre Diniz.
Figura 2.39 - Postal fotográfico da Rua João Pessoa no trecho da Praça Pereira Lobo - Mercado.
S/ data, por volta da década de 30. Acervo Rosa Faria.
Figura 2.40 – Mapa da Cidade de Aracaju com o Crescimento Espacial Aproximado até os anos
de 1911 e 1949. Mapa base – Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de
Aracaju, SEPLAN – Secretaria Municipal de Planejamento, setembro/ 2001.
Figura 2.41 – Postal da Rua João Pessoa – Ed. Mayara (Casa Amador). Década de 50. Acervo
Pesquise.
Figura 2.42 – Postal do Palácio do Governo (Ótica Santana). Década de 50. Acervo Pesquise.
Figura 2.43 – Postal do Recanto do Parque Teófilo Dantas (Casa Amador ). Década de 50.
Acervo Ana Medina.
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Figura 2.44 – Cartão-postal da Avenida Rio Branco, sentido norte. Década de 50. Acervo Rosa
Faria.
Figura 2.45 – Cartão-postal da Rua Itabaianinha, sentido sul. Década de 50. Acervo Murillo
Melins.
Figura 2.46 – Cartão-postal da Avenida João Ribeiro - Colina do Santo Antônio (Ótica Santana).
Década de 50. Acervo Pesquise.
Figura 2.47 – Postal fotográfico da Praça Siqueira de Menezes. S/ data., por volta da década de
50. Acervo Rosa Faria.
Figura 2.48 – Postal de Vista Panorâmica da zona sul para o Centro de Aracaju. Década de 50.
Acervo Murillo Melins.
Figura 2.49 – Postal de Vista Parcial da Zona Sul. Década de 50. Acervo Murillo Melins.
Figura 2.50 – Postal da Avenida Getúlio Vargas. Década de 50. Acervo Murillo Melins.
Figura 2.51 – Postal fotográfico Iate Clube de Aracaju. Década de 50. Acervo Alexandre Diniz.
Figura 2.52 – Fotografia do Iate Clube de Aracaju. Década de 50. Acervo Iate Clube de Aracaju.
Figura 2.53 – Postal da Associação Atlética de Sergipe (Ótica Santana). Década de 50. Acervo
Murillo Melins.
Figura 2.54 – Postal do Colégio Estadual (Ótica Santana). Década de 50. Acervo Murillo Melins.
Figura 2.55 – Postal da Rua João Pessoa - Ed. Mayara (Casa Amador). Década de 50. Acervo
Murillo Melins.
Figura 2.56 – Postal da Praça Fausto Cardoso e Ed. dos Serviços Públicos. Década de 50. Acervo
Pesquise.
Figura 2.57 – Postal fotográfico Vista Aérea do Centro (Ótica Santana). Década de 50. Acervo
Alexandre Diniz.
Figura 2.58 – Postal de Vista Aérea Parcial do Centro – Praça Fausto Cardoso. Década de 50.
Acervo Murillo Melins.
Figura 2.59 – Postal fotográfico Vista Aérea Parcial do Centro. Década de 60. Acervo Alexandre
Diniz.
Figura 2.60 – Postal fotográfico da Estação Rodoviária (Ótica S. Luzia). Década de 60. Acervo
Rosa Faria.
Figura 2.61 – Postal de Vista Parcial da Praça Fausto Cardoso para o sul. Década de 50. Acervo
Murillo Melins.
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Figura 2.62 – Postal fotográfico de Vista Parcial de Aracaju, sentido sul (Ótica S. Luzia). Década
de 60. Acervo Rosa Faria.
Figura 2.63 – Fotografia com vista parcial da Avenida Beira Mar para o sul, curva do Iate Clube,
provavelmente dos anos 50. Acervo Pesquise.
Figura 2.64 – Postal de Vista Aérea do Iate Clube de Aracaju (Colon Vist). Década de 60. Acervo
Pesquise.
Figura 2.65 – Postal fotográfico da Ponte de Atalaia. Década de 50. Acervo Rosa Faria.
Figura 2.66 – Postal fotográfico Zona de Veraneio da Atalaia (Colon Vist). Década de 60. Acervo
Rosa Faria.
Figura 2.67 – Postal da Praia da Atalaia (Ótica Santana). Década de 50. Acervo Murillo Melins.
Figura 2.68 – Postal tipográfico do Farol da Atalaia. Primeira década do século XX, 1900 - 1910.
(“União Postal Universal/ Brazil/ Edição da Livraria Brazileira/ Aracaju/
Fabricado em Allemanha”). Acervo Rosa Faria.
Figura 2.69 – Postal fotográfico do Farol da Atalaia. Década de 60. Acervo Rosa Faria.
Figura 2.70 –
Mapa da Cidade de Aracaju com o Crescimento Espacial Aproximado da cidade até
o ano de 1960. Mapa base – Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Aracaju,
SEPLAN – Secretaria Municipal de Planejamento, setembro/ 2001.
Figura 2.71 - Postal fotográfico do Edifício Estado de Sergipe (Ótica S. Luzia). Década de 70.
Acervo Alexandre Diniz.
Figura 2.72 - Postal tipográfico da Estação Rodoviária. Década de 70. Acervo Pesquise.
Figura 2.73 – Postal do Estádio Lourival Baptista. Década de 60. Acervo Murillo Melins.
Figura 2.74 – Fotografia aérea do Estádio Lourival Batista, no final dos anos 60. Acervo
Memorial de Sergipe (Centro de Memória Lourival Baptista).
Figura 2.75 – Postal tipográfico Vista Aérea Geral de Aracaju (Mercator). Década de 70. Acervo
Vera França.
Figura 2.76 – Postal tipográfico de Vista Aérea Geral – parcial do Centro de Aracaju (Paraná
Cart). Década de 70. Acervo Alexandre Diniz.
Figura 2.77 - Postal tipográfico de Vista do Rio Sergipe para o Centro (Postal Cultural). Década
de 70. Acervo Alexandre Diniz.
Figura 2.78 – Postal tipográfico da Avenida Rotary – Praia de Atalaia. Década de 70. Acervo
Pesquise.
Figura 2.79 – Postal tipográfico da Praia de Atalaia (Paraná Cart). Década de 70. Acervo
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Alexandre Diniz.
Figura 2.80 – Cartão-postal tipográfico Parque da Cidade (Ambrosiana). Década de 80. Acervo
Alexandre Diniz.
Figura 2.81 – Postal tipográfico do Calçadão da João Pessoa (Mercator). Década de 80. Acervo
Pesquise.
Figura 2.82 – Postal tipográfico Estádio Batistão (Cluposil). Década de 80. Acervo Vera França.
Figura 2.83 - Postal tipográfico da Ponte da Coroa do Meio (Cluposil). Década de 80. Acervo
Vera França.
Figura 2.84 – Postal tipográfico de Vista Aérea Parcial do Centro de Aracaju. Década de 90.
Acervo Alexandre Diniz.
Figura 2.85 - Postal tipográfico de Vista Aérea do Parque Teófilo Dantas. Década de 90. Acervo
Vera França.
Figura 2.86 - Postal tipográfico do Mercado Central – Vista Parcial (Cluposil). Década de 90.
Acervo Vera França.
Figura 2.87 – Postal tipográfico do Novo Mercado (P.A.S.). Década de 90. Acervo Alexandre
Diniz.
Figura 2.88 – Postal tipográfico do Calçadão da Praça Fausto Cardoso (P.A.S.). Década de 90.
Acervo Vera França.
Figura 2.89 – Cartão-postal tipográfico do Calçadão da Rua Laranjeiras (Cluposil). Década de 90.
Acervo Vera França.
Figura 2.90 – Postal tipográfico de Vista Aérea Parcial de Aracaju (Cluposil Artes Gráficas).
Década de 90. Acervo Alexandre Diniz.
Figura 2.91 - Postal tipográfico com Vista Parcial – Batistão (P.A.S.). Década de 90. Acervo
Alexandre Diniz.
Figura 2.92 – Postal tipográfico da Av. Hermes Fontes, direção sul (P.A.S.). Década de 90.
Acervo Vera França.
Figura 2.93 – Postal tipográfico do Viaduto da Av. Hermes Fontes (P.A.S.). Década de 90.
Acervo Vera França.
Figura 2.94 - Postal tipográfico da Avenida Beira Mar – Calçadão (P.A.S.). Década de 90. Acervo
Alexandre Diniz.
Figura 2.95 – Postal tipográfico da Avenida Beira Mar – Mirante (P.A.S.). Década de 90. Acervo
Alexandre Diniz.
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Figura 2.96 – Postal tipográfico do Shopping Riomar – Ponte (P.A.S.). Década de 90. Acervo
Alexandre Diniz.
Figura 2.97 – Postal tipográfico Shopping Riomar (P.A.S.). Década de 90. Acervo Vera França.
Figura 2.98 - Postal tipográfico Shopping Jardins (P.A.S.). Década de 90. Acervo Vera França.
Figura 2.99 – Postal tipográfico da Orla da Atalaia. Década de 90. Acervo Vera França.
Figura 2.100 – Postal tipográfico Atalaia – Vista Geral (P.A.S.). Década de 90. Acervo Pesquise.
Figura 2.101 – Postal tipográfico da Praia da Atalaia (P.A.S.). Década de 90. Acervo Vera
França.
Figura 2.102 – Postal tipográfico da Atalaia – Bares e Arco (P.A.S.). Década de 90. Acervo Vera
França.
Figura 2.103 – Postal tipográfico de Vista Parcial da Orla - Praça de Eventos e Centro Cultural.
(Cluposil Artes Gráficas). 2001 em diante. Acervo da autora.
Figura 2.104 - Postal tipográfico do Oceanário – Orla (Cluposil Artes Gráficas). 2001 em diante.
Acervo da autora.
Figura 2.105 - Postal tipográfico da Praia de Aruana (Cluposil). Década de 90. Acervo Vera
França.
Figura 2.106 - Postal tipográfico das Praias do Mosqueiro (Brasil Turístico). Década de 90.
Acervo Vera França.
Figura 2.107 – Foto da Praia em direção à Aruana e às praias da Sarney. Foto: Jason Filho, 2009.
Figura 2.108 – Fotografia de Casas de Veraneio no final do Mosqueiro. Foto: Jason Filho, 2009.
Figura 2.109 – Postal tipográfico da Ponte Aracaju – Barra dos Coqueiros (Cluposil Artes
Gráficas). 2001 em diante. Acervo da autora.
Figura 2.110 – Postal tipográfico da “Orlinha” para a Ponte Aracaju – Barra dos Coqueiros
(Cluposil Artes Gráficas).. 2001 em diante. Acervo da autora.
Figura 2.111 – Fotografia da autora da Praia do Hotel Starfish Ilha de Santa Luzia. Barra dos
Coqueiros. Outubro/ 2008.
Figura 2.112 – Fotografia da autora da Praia da Costa. Barra dos Coqueiros. Outubro/ 2008.
Figura 2.113 – Mapa da Cidade de Aracaju e Áreas de Crescimento Recentes. Mapa base – Plano
Diretor de Desenvolvimento Urbano de Aracaju, SEPLAN – Secretaria Municipal
de Planejamento, setembro/ 2001.
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3º CAPÍTULO – MARCOS URBANOS: IMAGENS FIXADAS
Figura 3.1 – Fotografia de grupo na Praia Formosa, por volta da década de 30. Acervo Pesquise.
Figura 3.2 - Fotografia com Vista de Aracaju no início do XX a partir do Rio Sergipe. Acervo
Ana Medina.
Figura 3.3 – Fotografia de Aracaju vista do rio Sergipe – 1937. Acervo Ana Medina.
Figura 3.4 – Fotografia de navio ancorado no porto de Aracaju, por volta do início do século XX.
Acervo Ana Medina.
Figura 3.5 – Fotografia de navio costeiro ancorado no porto de Aracaju, 1937, com os materiais
para o serviço de luz e força da cidade. Acervo Ana Medina.
Figura 3.6 – Fotografia de barcos à vela tipo Snipes no rio Sergipe, por volta do final dos anos
50. Acervo Iate Clube de Aracaju.
Figura 3.7 – Fotografia de barcos à vela tipo Lasers no rio Sergipe, por volta do início dos anos
80. Acervo Iate Clube de Aracaju.
Figura 3.8 – Postal fotográfico do Iate Clube de Aracaju (Óptica S. Luzia). Década de 60. Acervo
Rosa Faria.
Figura 3.9 – Postal tipográfico do Iate Clube de Aracaju visto do Rio Sergipe (P.A.S.). Década de
90. Acervo Vera França.
Figura 3.10 – Postal da Ponte do Imperador - Procissão de Bom Jesus (Casa Amador). Década de
40. Acervo Pesquise.
Figura 3.11 – Postal fotográfico Vista geral da Procissão de Bom Jesus dos Navegantes (Optica
S. Luzia). Década de 60. Acervo Rosa Faria.
Figura 3.12 – Fotografia da cerimônia de inauguração da Estátua de Fausto Cardoso, início do
século XX. Acervo Rosa Faria.
Figura 3.13 – Fotografia de Vista Parcial do Centro de Aracaju a partir do rio Sergipe. Início dos
anos 20. Fonte: Álbum de Sergipe.
Figura 3.14 – Postal tipográfico da Rua da Aurora vista do Rio Sergipe. Primeira década do
século XX, 1900 - 1910. (“União Postal Universal/ Brazil/ Edição da Livraria
Brazileira/ Aracaju/ Fabricado em Allemanha”). Acervo Rosa Faria.
Figura 3.15 – Postal da Avenida Ivo do Prado a partir do rio Sergipe para a direção sul. Década
de 50. Acervo Pesquise.
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Figura 3.16 – Postal da Avenida Ivo do Prado para o Centro da cidade a partir do Ed. Atalaia.
Década de 60. Acervo Pesquise.
Figura 3.17 – Postal da Avenida Ivo do Prado para o Centro da cidade. Década de 70. Acervo
Pesquise.
Figura 3.18 – Postal tipográfico da Avenida Ivo do Prado para o Centro da cidade a partir do Ed.
Atalaia (Mercator). Década de 70. Acervo Alexandre Diniz.
Figura 3.19 – Postal tipográfico com Vista Aérea do Centro da cidade (Paraná Cart). Década de
70. Acervo Alexandre Diniz.
Figura 3.20 – Postal tipográfico da Avenida Ivo do Prado vista do Rio Sergipe (P.A.S.). Década
de 90. Acervo Vera França.
Figura 3.21 – Postal tipográfico da Avenida Ivo do Prado e do rio Sergipe no sentido Centro
– sul (Cluposil Artes Gráficas). 2001 em diante. Acervo da autora.
Figura 3.22 – Postal fotográfico da Praia de Atalaia. Década de 50. Acervo Alexandre Diniz.
Figura 3.23 – Postal com banhistas na Praia de Atalaia. Década de 50. Acervo Ana Medina.
Figura 3.24 – Postal da Praia de Atalaia (Ótica Santana). Década de 50. Acervo Murillo Melins.
Figura 3.25 – Postal fotográfico de Vista Parcial da Praia de Atalaia (Óptica S. Luzia). Década de
60. Acervo Alexandre Diniz.
Figura 3.26 – Postal com Vista Parcial da Praia de Atalaia. Década de 70. Acervo Pesquise.
Figura 3.27 – Postal tipográfico com Vista da Orla da Praia da Atalaia (P.A.S.). Década de 90.
Acervo Vera França.
Figura 3.28 – Postal tipográfico com Vista do Lago Artificial da Orla da Atalaia. (Cluposil Artes
Gráficas). 2001 em diante. Acervo da autora.
Figura 3.29 – Postal tipográfico do Centro Cultural da Orla da Atalaia. 2001 em diante. Acervo
da autora.
Figura 3.30 – Postal fotográfico do Oceanário da Orla da Atalaia (Gorette Nascimento). 2001 em
diante. Acervo da autora.
Figura 3.31 – Postal fotográfico do Monumento a Inácio Barbosa (Gorette Nascimento). 2001 em
diante. Acervo da autora.
Figura 3.32 – Postal fotográfico de uma Lagoa da Orla da Atalaia (Gorette Nascimento). 2001 em
diante. Acervo da autora.
Figura 3.33 – Postal fotográfico de uma Lagoa e Ciclista na Orla (Gorette Nascimento). 2001 em
diante. Acervo da autora.
16
Figura 3.34 – Postal tipográfico com Vista Parcial Noturna da Orla (Cluposil Artes Gráficas).
2001 em diante. Acervo da autora.
Figura 3.35 - Postal tipográfico do Parque - Mundo Maravilhoso da Criança na Orla (Cluposil
Artes Gráficas). 2001 em diante. Acervo da autora.
Figura 3.36 - Postal tipográfico de Fonte Luminosa da Orla (Cluposil Artes Gráficas). 2001 em
diante. Acervo da autora.
Figura 3.37 – Postal tipográfico dos Arcos da Orla da Atalaia (Cluposil Artes Gráficas). 2001 em
diante. Acervo da autora.
Figura 3.38 – Cartão-postal tipográfico da Praça Fausto Cardoso (“Union Postale Universelle/
République des Etats–Unie du Brésil/ Carte Postale”). Década de 10. Acervo
Rosa Faria.
Figura 3.39 – Postal tipográfico da Inauguração do Jardim Olympio Campos. Primeira década do
século XX, 1900 - 1910. Acervo Rosa Faria.
Figura 3.40 – Cartão-postal tipográfico do Palácio do Governo (“Union Postale Universelle/
République des Etats–Unie du Brésil/ Carte Postale”). Década de 10. Acervo
Alexandre Diniz.
Figura 3.41 - Postal tipográfico da Praça da Matriz. Primeira década do século XX, 1900 – 1910.
Acervo Rosa Faria.
Figura 3.42 - Postal tipográfico de Trecho da Praça Fausto Cardoso – Delegacia Fiscal (“Union
Postale Universelle/ République des Etats–Unie du Brésil/ Carte Postale”).
Década de 10. Acervo Rosa Faria.
Figura 3.43 – Cartão-postal tipográfico de Trecho da Praça Benjamin Constant (“Union Postale
Universelle/ République des Etats–Unie du Brésil/ Cart Postale”). Década de 10.
Acervo Rosa Faria.
Figura 3.44 – Postal tipográfico do Tribunal da Relação na Praça Benjamin Constant (“Union
Postale Universelle/ République des Etats–Unie du Brésil/ Cart Postale”).
Década de 10. Acervo Rosa Faria.
Figura 3.45 - Postal tipográfico da Rua de Itabaiana (“Union Postale Universelle/ République des
Etats–Unie du Brésil/ Carte Postale”). Década de 10. Acervo Rosa Faria.
Figura 3.46 – Cartão-postal tipográfico do Palácio do Governo (“Centenário da Independência”-
Tipografia Vênus, Rio – Foto Fabian). Década de 20. Acervo Pesquise.
Figura 3.47 – Cartão-postal do Palácio do Governo. Década de 20. Acervo Alexandre Diniz.
17
Figura 3.48 – Postal tipográfico da Assembléia Legislativa (“Centenário da Independência”-
Tipografia Vênus, Rio – Foto Fabian). Década de 20. Acervo Rosa Faria.
Figura 3.49 – Cartão-postal tipográfico Praça Fausto Cardoso (Livraria Regina). Década de 20.
Acervo Rosa Faria.
Figura 3.50 – Postal tipográfico de Trecho da Praça Fausto Cardoso - Assembléia Estadual e
Palácio do Governo (Livraria Regina). Década de 20. Acervo Rosa Faria.
Figura 3.51 - Postal fotográfico de Trecho da Praça Fausto Cardoso (Casa Amador). Década de
30. Acervo Rosa Faria.
Figura 3.52 - Postal do Palácio do Governo na Praça Fausto Cardoso (Ótica Santana). Década de
50. Acervo Pesquise.
Figura 3.53 – Postal fotográfico com Vista Parcial da Praça Fausto Cardoso em direção ao sul da
cidade (Casa Amador). Década de 40. Acervo Alexandre Diniz.
Figura 3.54 – Postal fotográfico Trecho da Praça Fausto Cardoso (Casa Amador). Década de 40.
Acervo Rosa Faria.
Figura 3.55 – Postal fotográfico Trecho do Parque Theóphilo Dantas Álbum fotográfico, final da
década de 30 (1937). Acervo Ana Medina.
Figura 3.56 – Postal do Relógio Jardim Olympio Campos. Década de 30. Acervo Murilo Melins.
Figura 3.57 - Postal tipográfico da Praça Fausto Cardoso (Paraná Cart). Década de 60. Acervo
Alexandre Diniz.
Figura 3.58 – Postal tipográfico da Praça Fausto Cardoso. Década de 70. Acervo Pesquise.
Figura 3.59 – Postal tipográfico Palácio, Assembléia e Palácio da Justiça. Década de 70. Acervo
Pesquise.
Figura 3.60 - Postal tipográfico da Catedral Metropolitana. Década de 90. Acervo Alexandre
Diniz.
Figura 3.61 - Postal fotográfico da Praça Almirante Tamandaré (Gorette Nascimento). 2001 em
diante. Acervo da autora.
Figura 3.62 - Postal fotográfico do Palácio do Governo (Gorette Nascimento). 2001 em diante.
Acervo da autora.
Figura 3.63 – Postal fotográfico da Praça Fausto Cardoso (Gorette Nascimento). 2001 em diante.
Acervo da autora.
Figura 3.64 – Cartão-postal da Praça Camerino. Década de 30. Acervo Murillo Melins.
18
Figura 3.65 – Cartão-postal do Ginásio Patrocínio de São José (Casa Amador). Década de 40.
Acervo Murillo Melins.
Figura 3.66 – Cartão-postal tipográfico da Igreja São José (P.A.S.). Década de 90. Acervo Vera
França.
Figura 3.67 – Postal da Rua Duque de Caxias vista da Praça Getúlio Vargas (Casa Amador).
Década de 40. Acervo Murillo Melins.
Figura 3.68 – Postal da Praça Getúlio Vargas (Casa Amador). Década de 40. Acervo Murillo
Melins.
Figura 3.69 – Postal fotográfico da Ponte do Imperador (Foto Amador). Final da década de 30
(1938). Acervo Alexandre Diniz.
Figura 3.70 – Cartão-postal fotográfico da Praça Fausto Cardoso (Casa Amador). Década de 30.
Acervo Ana Medina.
Figura 3.71 – Postal da Ponte do Imperador (Otica S. Luzia). Década de 60. Acervo Ana Medina.
Figura 3.72 – Cartão-postal da Ponte do Imperador. Década de 70. Acervo Pesquise.
Figura 3.73 – Postais da Ponte: Postal tipográfico (“Union Postale Universelle/ République des
Etats–Unie du Brésil/ Cart Postale”). Década de 10. Acervo Rosa Faria.
Postal tipográfico (“Centenário da Independência”– Tipografia Vênus, Rio – Foto
Fabian). Década de 20. Acervo Alexandre Diniz.
Postal (Casa Amador). Década de 30. Acervo Murillo Melins.
Postal fotográfico (Gorete Nascimento). 2001 em diante. Acervo da autora.
Figura 3.74 – Postal tipográfico da Rua da Aurora (“União Postal Universal/ Brazil/ Edição
da Livraria Brazileira/ Aracaju/ Fabricado em Allemanha”). Primeira década
do século XX, 1900 – 1910. Acervo Rosa Faria.
Figura 3.75 – Postal tipográfico da Rua de São Cristóvão (“União Postal Universal/ Brazil/
Edição da Livraria Brazileira/ Aracaju/ Fabricado em Allemanha”). Primeira
década do século XX, 1900 – 1910. Acervo Rosa Faria.
Figura 3.76 – Postal tipográfico Escola Normal Ruy Barbosa (Livraria Regina). Década de 20.
Acervo Rosa Faria.
Figura 3.77 – Postal tipográfico da Delegacia Fiscal (Livraria Regina). Década de 20. Acervo
Pesquise.
Figura 3.78 – Cartão-postal Rua João Pessoa (Amador). Década de 30. Acervo Murillo Melins.
Figura 3.79 – Postal da Rua João Pessoa – Bondes. Década de 30. Acervo Pesquise
19
Figura 3.80 – Postal fotográfico da Avenida Rio Branco (Photo Studio). Década de 30. Acervo
Pesquise.
Figura 3.81 – Postal tipográfico de Trecho da Rua da Aurora. Primeira década do século XX,
1900 – 1910. Acervo Pesquise.
Figura 3.82 – Postal fotográfico da Avenida Rio Branco. Década de 20. Acervo Rosa Faria.
Figura 3.83 – Postal fotográfico da Rua Itabaiana. Década de 30. Acervo Pesquise.
Figura 3.84 – Postal fotográfico da Rua de Estância (Photo Studio). Década de 30. Acervo
Ana Medina.
Figura 3.85 – À esquerda, postal Igreja de São Salvador ainda com torre em construção. Década
de 20. Acervo Pesquise. À direita, cartão-postal da Igreja com reforma já concluída
(Livraria Regina). Década de 20. Acervo Rosa Faria.
Figura 3.86 – Postal fotográfico da Catedral Metropolitana de Aracaju. Década de 40. Acervo
Rosa Faria.
Figura 3.87 – Postal do Palácio Serigy (Foto Amador). Década de 30. Acervo Murillo Melins.
Figura 3.88 – Postal fotográfico Catedral Metropolitana (Casa Amador). Década de 30. Acervo
Rosa Faria.
Figura 3.89 – Postal fotográfico de Vista Panorâmica de Aracaju. Década de 40. Acervo Rosa
Faria.
Figura 3.90 – Postal da Avenida Barão de Maruim. Década de 40. Acervo Murillo Melins.
Figura 3.91 – Postal da Rua João Pessoa. Década de 50. Acervo Murillo Melins.
Figura 3.92 – Postal tipográfico Praça Fausto Cardoso – Vista parcial sul de Aracaju (Paraná
Cart). Década de 60. Acervo Alexandre Diniz.
Figura 3.93 – Desenho com perspectiva do Ed. Mayara, 1948. Acervo Sra. Risolina Hora.
Figura 3.94 – Fotografia do Ed. Mayara. Início da década de 50. Acervo da Sra. Risolina Hora.
Figura 3.95 – Postal do Ed. dos Serviços Públicos. Década de 50. Acervo Alexandre Diniz.
Figura 3.96 – Cartão-postal fotográfico do Ed. dos Serviços Públicos. Década de 50. Acervo
Alexandre Diniz.
Figura 3.97 – Postal tipográfico do Ed. dos Serviços Públicos. Década de 60. Acervo Pesquise.
Figura 3.98 – Fotografia do lançamento da obra do Ed. Atalaia. Década de 50. Acervo Sr. João
Machado Rollemberg.
Figura 3.99 – Fotografia do Ed. Atalaia. Década de 50. Acervo Sr. João Machado Rollemberg.
20
Figura 3.100 – Postal fotográfico do Edifício Atalaia, na Avenida Ivo do Prado. Década de 60.
Acervo Ana Medina.
Figura 3.101 – Postal do Hotel Palace de Aracaju (Ótica S. Luzia). Década de 60. Acervo Murillo
Melins.
Figura 3.102 – Postal fotográfico do Hotel Palace de Aracaju. Década de 60. Acervo Alexandre
Diniz.
Figura 3.103 – Postal do Ed. Estado de Sergipe. Final da década de 60. Acervo Pesquise.
Figura 3.104 – Postal de Vista Aérea Parcial de Aracaju. Década de 70. Acervo Pesquise.
Figura 3.105 – Postal tipográfico da Av. João Ribeiro na direção do Centro (P.A.S.). Década de
90. Acervo Vera França.
Figura 3.106 – Postal tipográfico de Vista Aérea do Centro na direção sul (P.A.S.). Década de 90.
Acervo Alexandre Diniz.
Figura 3.107 – Postal tipográfico de Vista do rio Sergipe para o Centro (P.A.S.). Década de 90.
Acervo Alexandre Diniz.
Figura 3.108 – Postal tipográfico de Vista Aérea do Centro para o sul (Cluposil Artes Gráficas).
2001 em diante. Acervo da autora.
Figura 3.109 – Cartão-postal tipográfico de Vista Aérea Parcial do Bairro São José (Cluposil).
Década de 90. Acervo Alexandre Diniz.
Figura 3.110 – Postal tipográfico de Vista da “Norcolândia” no bairro Treze de Julho (P.A.S.).
Década de 90. Acervo Vera França.
Figura 3.111 – Postal tipográfico do Calçadão da Treze de Julho (P.A.S.). Década de 90. Acervo
Alexandre Diniz.
Figura 3.112 – Postal tipográfico de Trecho da Av. Beira Mar (P.A.S.). Década de 90. Acervo
Alexandre Diniz.
Figura 3.113 – Postal tipográfico de Vista Aérea Parcial do Bairro São José (Cluposil Artes
Gráficas). 2001 em diante. Acervo da autora.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Figura C 01 - Postal tipográfico da Rua 24 Horas (Cluposil). Década de 90. Acervo Vera França.
Figura C 02 - Fotografia parcial do Centro a partir do Ed. Estado de Sergipe no sentido sul. Maio/
21
2006. Foto da autora.
Figura C 03 – Fotografia de outdoor publicitário “Aracaju – Capital Nordestina da Qualidade de
Vida”, Av. Beira Mar, bairro Treze de Julho. Maio/ 2006. Foto da autora.
Figura C 04 – Fotografia de outdoor publicitário “Aracaju – Capital com Melhor Qualidade de
Vida do País”, Av. Beira Mar, bairro Treze de Julho. Janeiro/ 2009. Foto da autora.
Figura C 05 – Fotografia de banner publicitário da Prefeitura Municipal colocado no “Pré-Caju”.
Janeiro/ 2009. Foto da autora.
Figura C 06 – Fotografia da Praça do Mercado,“O São João da Qualidade de Vida”. Junho/
2008. Foto Jason Filho.
Figura C 07 - Fotografia sem autoria identificada da feira em Aracaju no início do século XX.
Fonte: Porto, Fernando, 2003, p. 83.
Figura C 08 – Fotografia panorâmica parcial de Aracaju a partir do Ed. Estado de Sergipe na
direção sul/ oeste. Maio/ 2006. Foto da autora.
Figura C 09 - Fotografia parcial do Centro e do bairro Santo Antônio a partir do Ed. Estado de
Sergipe, sentido norte. Maio/ 2006. Foto da autora.
Figura C 10 - Fotografia parcial do Centro da cidade a partir do Ed. Estado de Sergipe no sentido
oeste. Maio/ 2006. Foto da autora.
Figura C 11 - Fotografia parcial da Av. Beira Mar em direção ao bairro Coroa do Meio e à Orla
de Atalaia. Janeiro/ 2009. Foto Jason Filho.
Figura C 12 – Fotografia parcial do bairro Coroa do Meio. Janeiro/ 2009. Foto Jason Filho.
Figura C 13 – Fotografia panorâmica parcial de Aracaju a partir da rótula da Av. Hermes Fontes/
Bairro Jardins na direção oeste. Janeiro/ 2009. Foto Jason Filho.
Figura C 14 – Fotografia do Conjunto Orlando Dantas para o centro da cidade a partir da rótula
do Augusto Franco. Janeiro/ 2009. Foto Jason Filho.
Figura C 15 – Fotografia parcial do Orlando Dantas, a partir da rótula do Augusto Franco, na
direção oeste. Janeiro/ 2009. Foto Jason Filho.
Figura C 16 – Fotografia de vista panorâmica parcial do Orlando Dantas na direção sul/ oeste.
Janeiro/ 2009. Foto Jason Filho.
Figura C 17 – Fotografias aproximadas da ocupação do Orlando Dantas, na direção sul/ oeste,
tendo ao longe o bairro Santa Maria. Janeiro/ 2009. Foto Jason Filho.
Figura C 18 – Fotografia de vista parcial do bairro Augusto Franco na direção sul. Janeiro/ 2009.
Foto Jason Filho.
22
Figura C 19 – Fotografia de vista parcial do bairro Augusto Franco na direção sul/ oeste. Janeiro/
2009. Foto Jason Filho.
Figura C 20 – Fotografia da Ponte Aracaju - Barra dos Coqueiros a partir da Ponte do Imperador
na época da construção. Maio/ 2006. Foto da autora.
Figura C 21 – Fotografia da Ponte Aracaju - Barra dos Coqueiros a partir da Orlinha do Bairro
Industrial. Maio/ 2006. Foto da autora.
Figura C 22 – Postal tipográfico da Ponte Aracaju - Barra dos Coqueiros em conjunto com outras
duas imagens noturnas da Orla da Atalaia (Cluposil Artes Gráficas). 2008. Acervo
da autora.
23
SUMÁRIO
PÁG.
INTRODUÇÃO
...........................................................................................................................
24
A ESTRUTURA E O OBJETIVO DO ESTUDO....................................................................................................... 25
MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................................................................................... 29
1º CAPÍTULO - A FIXAÇÃO DA IMAGEM URBANA........................................................
46
1.1 – IMAGEM: CONCEPÇÃO E ANÁLISE............................................................................................................ 47
1.2 – IMAGEM URBANA: FOTOGRAFIA E CARTÃO-POSTAL.......................................................................... 56
1.3 - MEMÓRIA URBANA E IMAGENS VISUAIS – A CRÍTICA AO DOCUMENTO FOTOGRÁFICO........... 63
2º CAPÍTULO – TRANSFORMAÇÕES URBANAS DE ARACAJU:
IMAGENS EM MUDANÇA................
69
2.1 – A FUNDAÇÃO DA CIDADE E SEU TRAÇADO.............................................................................................70
2.2 – A FORMAÇÃO DE ARACAJU..........................................................................................................................76
2.3 – A “CONSTRUÇÃO” DA CAPITAL...................................................................................................................83
2.4 – CONSOLIDAÇÃO E ADENSAMENTO DA MALHA URBANA..................................................................106
2.5 – A FORMAÇÃO DO ESPAÇO METROPOLITANO........................................................................................126
2.6 – A METROPOLITAÇÃO E TURISTIFICAÇÃO DO ESPAÇO URBANO......................................................139
3º CAPÍTULO – MARCOS URBANOS: IMAGENS FIXADAS...........................................
159
3.1 – O RIO E O MAR: IMAGENS RECORRENTES...............................................................................................164
3.2 – AS PRAÇAS: O CONJUNTO MONUMENTAL DA CIDADE.......................................................................186
3.3 - RUAS E EDIFICAÇÕES: MARCOS URBANOS.............................................................................................209
3.4 - A VERTICALIZAÇÃO COMO IMAGEM........................................................................................................232
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................................
238
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................
260
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................
263
ANEXOS ......................................................................................................................................
266
24
INTRODUÇÃO
25
A ESTRUTURA E O OBJETIVO DO ESTUDO
Nas últimas décadas, aumentou o interesse em se compreender as cidades através de visões mais
abrangentes, múltiplas, levando em consideração as sociabilidades e relações que se estabelecem
no espaço construído. A urbanização, na contemporaneidade, já é vista como um conjunto
complexo e expressivo, constituída por novas dinâmicas a partir do desenvolvimento capitalista,
não sendo sempre estruturada com base em modelos ideais e pré-concebidos.
1
Toda cidade tem
uma história significativa, que deixa marcas profundas em seu espaço e que ecoam no contexto
presente.
As cidades podem ser entendidas, hoje, como cenários em constante mudança, objetos
construídos pelo homem sobre a natureza, onde as edificações assentadas em determinados sítios
formam diferentes identidades. Como essas dinâmicas urbanas se desenrolam lentamente, as
cidades apresentam estruturas definidas, sempre marcadas pela presença dos elementos físicos,
naturais e construídos, constituindo realidades específicas. Os elementos naturais ganham formas
especiais de referenciação da imagem que deles tem o homem, e marcam profundamente a
imagem urbana, identificando a paisagem local. os construídos são objetos concretos que
encerram valores e formas de pensamento de uma dada sociedade, apresentando-se como
memórias de diferentes tempos. Mesmo observando-se certas homogeneidades nas cidades e
metrópoles atuais, verifica-se uma força inerente ao lugar, traduzida em imagens significativas e
de diversas especificidades. Apesar da globalização, a urbanização varia de intensidade e de
1
Com os utopistas do século XIX ou pré-urbanistas, surgem algumas imagens de cidades ideais. No século XX, a
essência desses modelos é mantida, com o urbanismo tendendo a três modelos: o progressista, com a idéia de
modernidade nas estruturas técnicas e estéticas das cidades; o culturalista, com um princípio do todo sobre os
indivíduos, contrário às necessidades do desenvolvimento econômico; o naturalista, com a utopia de reintegrar a
cidade ao campo. E ahoje, revelam-se ramificações desses modelos, seguindo estruturações fundamentais, apesar
de, à primeira vista, serem bastante diferenciados (CHOAY, 1979).
26
forma de um lugar para o outro, guardando diferentes identidades locais. Essa abordagem tem
sido tema de discussão para estudiosos de diversos ramos do conhecimento: Geografia,
Sociologia, Antropologia, Arquitetura.
Nesta Dissertação, escolheu-se estudar a cidade de Aracaju por um prisma ainda pouco
explorado, ou seja, a partir de sua imagem perceptiva, devendo-se entender aqui percepção como
um processo mental de interação de cada indivíduo com o ambiente, estabelecido tanto através
dos mecanismos perceptivos propriamente ditos, aqueles captados pelos cinco sentidos, como dos
cognitivos, advindos da inteligência. E é a imagem vivida e construída por cada indivíduo,
somada a uma infinitude de pontos de vista dos outros e sobrepostas ao espaço da cidade, que a
identifica nessa totalidade como um lugar único e distinto.
2
A partir dessa relação do homem e o
meio, a urbe, enquanto constituída por objetos concretos da paisagem e situada histórica e
espacialmente, desenvolve-se constantemente. Daí a imagem revelada vincular-se diretamente à
identidade humana, dependendo tanto da orientação corpórea de cada um, da organização de
mapas mentais e do senso de direção e locomoção, como também da orientação subjetiva (criação
de mitos e símbolos). Com essa visão, afasta-se muito de um estudo da “cidade genérica”, mas se
enriquece bastante a compreensão de uma cidade em particular e perceptível por meio das suas
marcas e dos sinais decorrentes dessa relação cotidiana.
Esse novo modo de olhar a cidade baseou-se nos estudos de alguns autores, como Lynch (1960),
um dos precursores nessa área, que promoveu avanços fundamentais no desenho urbano com
2
Com base em Milton Santos (1982, p.8), espaço deve ser entendido como a “...ação dos homens agindo sobre o
próprio espaço, através dos objetos, naturais e artificiais.Estes objetos da paisagem são característicos de um
determinado tempo da sociedade e de condições socioeconômicas, poticas e culturais. Portanto, essa paisagem
social não é fixa e passa por processos de mudança para se adaptar às novas necessidades da sociedade.
27
uma valorização de aspectos subjetivos da percepção e da imagem da cidade. Trabalha com o
conceito de legibilidade ou imaginabilidade, ou seja, “a característica, num objeto físico, que lhe
confere uma alta probabilidade de evocar uma imagem forte em qualquer observador dado... ou,
talvez, de visibilidade num sentido mais profundo, em que os objetos não são apenas passíveis de
serem vistos, mas também tida e intensamente presentes aos sentidos” (LYNCH, 1999, p.11),
evidenciando que uma cidade legível e clara tem bairros, marcos ou vias facilmente
reconhecíveis, agrupados em um modelo geral.
3
Detém-se, assim, nos componentes físicos da
imagem, identidade e estrutura, considerando o seu terceiro componente, o significado, um item
fundamental no conjunto da imagem ambiental, mas que, como pode ser muito variado a cada
indivíduo, deve ser desenvolvido sem orientação direta. Lynch aponta prioritariamente o impulso
visual como fundamental para a percepção ambiental, apesar de aceitar a participação
polissensorial, que recorta e fragmenta a cidade em imagens seletivas, unidades mínimas de
leitura.
Outro estudioso, Amos Rapoport, também seguiu a mesma linha de pensamento, apontando para
uma construção racional da imagem, em que o reconhecimento de seus pontos significativos,
apresentados nos esquemas ou mapas mentais. Portanto, a idéia geral é que as pessoas são muito
importantes para a percepção ambiental, mesmo que cada uma apenas tenha uma visão parcial,
fragmentada, pois é o conjunto de tais imagens que forma a cidade. O estimulante para o
conhecimento urbano passa a ser a constatação da ocorrência de imagens semelhantes entre
3
- Para Lynch a cidade tem que ser olhada, por mais comum que possa ser o cenário, pois "a cada instante, mais
do que o olho pode ver, mais do que o ouvido pode perceber, um cenário ou uma paisagem esperando para serem
explorados... " (LYNCH, 1999, p.1). Esse autor identifica cinco elementos principais na estruturação urbana vias,
limites, bairros, nós e marcos – todos eles inter-relacionados.
28
pessoas de um mesmo grupo de idade, sexo, cultura, profissão,... o que possibilita a elaboração de
um projeto mais compatível com os interesses e desejos de uma determinada comunidade.
Na década de setenta, essa nova alternativa epistemológica, comportamental e de grande apelo
fenomenológico, vai definir na Geografia, por exemplo, um movimento denominado
“humanístico”.
4
Essa linha de pesquisa tem raízes em meados do século XX, sendo uma das
contribuições mais interessantes do período a do geógrafo Yi-Fu Tuan que, de modo semelhante
a Lynch e Rapoport, também estuda aspectos fundamentais da imagem, como a legibilidade, a
visibilidade e a funcionalidade, que, indo mais além, chega a apresentar novos conceitos para
se compreender as relações do homem com o seu meio ambiente, a topofilia.
Em suma, compreende-se a cidade como um fenômeno contínuo, não apenas um local reduzido a
relações de causa e efeito, no qual não se revela uma verdade, mas apenas uma realidade, pois
muitos olhares possíveis sobre esse mesmo objeto. No processo perceptivo, o caráter
experimental é dinâmico, recriando continuamente a imagem vista, além de também construir
uma estrutura definida. A percepção pode, assim, ser revelada de maneira objetiva e subjetiva ao
mesmo tempo. Ressalta-se que, pela Fenomenologia
5
, ver, perceber, é simplesmente relacionar o
corpo do indivíduo com o corpo dos objetos. Então, se pode apreender verdadeiramente a
cidade presente por uma vivência verdadeira do ser no espaço urbano, à qual se alia a memória.
Nossa idéia da imagem urbana passada sempre é incompleta, porque não se está com o corpo,
4
A Geografia Humanística surge a partir de um amplo contato e observação da realidade e, além disso, como
crítica às duas correntes mais abstratas e teóricas dessa ciência: a dos neopositivistas e a dos neomarxistas. Nessa
nova concepção, a intenção de priorizar o conhecimento das percepções, representações, atitudes e valores do
homem (AMORIM FILHO, p.140).
5
– No início do século XX, a Fenomenologia surge de uma crise das ciências que excluíam o sujeito e suas ações nas
análises diversas, a fim de se privilegiar esse mesmo sujeito no conhecimento, ampliando o conceito de fenômeno a
toda a cultura (PALLAMIN,1996).
29
experimentando-a plenamente. Há uma necessidade pragmática na percepção, pois o próprio
Merleau-Ponty a descrevia: “síntese de todas as percepções possíveis; essa síntese é realizada
pelo poder que possuo de me deslocar” (PALLAMIN, 1996, p. 47).
Neste estudo não a intenção maior de se teorizar sobre o processo perceptivo e a formação de
imagens. No primeiro capítulo, é apenas esboçada uma discussão geral de conceitos básicos para
uma melhor compreensão do tema. A partir de diversas fontes de análise, como a própria história
escrita, cartões-postais, poemas, entrevistas,... tenta-se decifrar a imagem percebida de Aracaju
no passado e no presente. Foi essencial para essa compreensão a montagem da estruturação da
cidade ao longo do tempo, ou melhor, como em parte essa Aracaju foi vista e sentida por sua
sociedade e sua imagem foi sendo construída. Essa imagem fragmentada, sem a possibilidade da
presença, é apenas montada e sugerida no segundo capítulo. No terceiro capítulo, detalham-se os
marcos urbanos selecionados ao longo dos anos e fixados no imaginário coletivo: o rio e o mar, o
conjunto das três praças monumentais, ruas e edificações e a verticalização. Já a Aracaju de hoje,
ou melhor, a imagem construída de Aracaju é discutida criticamente nas considerações finais,
porque a cidade visível deixa lacunas, pontos invisíveis, imprescindíveis para sua melhor
compreensão. A idéia é a de que uma possível história da imagem urbana de Aracaju seja
esboçada e figurada nessas páginas, não se buscando a Aracaju definitiva, de qualquer tempo que
seja, mas, uma outra cidade que também, por acaso, chama-se Aracaju.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho de pesquisa desenvolveu-se a partir do projeto apresentado à seleção do Mestrado e,
no seu decorrer, os procedimentos de investigação foram sendo ajustados ao objetivo central da
30
análise, e o próprio material básico originalmente pensado trabalho de campo com aplicações
de questionários foi acrescido de uma nova e importante fonte: os cartões-postais. Assim, longe
de um posicionamento formal, rígido e previamente estabelecido, foi adotada uma postura
flexível e dialética, na qual o pesquisador conversava com o objeto de estudo para reorientar o
rumo da pesquisa através da observação dos feedbacks. Esse procedimento, todavia, não
significou o abandono, quer dos objetivos previamente traçados, quer do trabalho de campo, mas
apenas certa reorientação e maior enriquecimento das fontes.
O TRABALHO DE CAMPO
No projeto original foi pensada a aplicação de 80 questionários entre a população residente na
área mais verticalizada (Treze de Julho, Grageru, Salgado Filho e Jardins) e em três zonas
próximas: 1 - Centro e São José, com ocupação horizontal predominante e renda média e alta; 2 -
Siqueira Campos e Bairro América, totalmente horizontalizados e com população de renda baixa;
3 - Coroa do Meio e Atalaia, com população de renda baixa, média e alta, residências
unifamiliares horizontais e verticalização de baixa renda ou renda média baixa. Seriam
abordados, assim, diversos segmentos da população, estratificada por sexo, idade, nível de renda,
tipo de deslocamento e residência. Essa estratificação espaço-social baseou-se no trabalho
previamente realizado sobre a verticalização de Aracaju (CORREIA, 2003).
O projeto previa, também, a realização de uma pesquisa piloto com aplicação de 10% do total dos
questionários, que serviria para testar o instrumento de coleta e a mencionada estratificação.
Nessa etapa acabaram sendo aplicados 51 questionários, realizados conforme modelo elaborado
(Anexo I), e feitos também com a população de outros bairros, de renda baixa e média e
31
predominantemente com ocupação horizontal.
6
A tabulação dos resultados acabou por provocar
certo redirecionamento da pesquisa, produzido, principalmente, pelo fato de se perceber que,
apesar da estratificação, os resultados da análise das informações foram homogêneos, indicando a
existência de um conjunto bastante forte e evidente das imagens urbanas, muito claras e bem
definidas. As entrevistas com os antigos moradores da cidade mostraram também que, apesar das
falhas de memória, as imagens evocadas se repetiam intensamente, independentemente dos
estratos dos entrevistados. E foi importante observar uma indiscutível coincidência entre essas e
as contidas em cartões-postais. Como bem explicou Goethe:
“Olhar apenas para uma coisa não nos diz nada. Cada olhar leva a uma inspeção, cada inspeção a
uma reflexão, cada reflexão a uma síntese, e então podemos dizer que, com cada olhar atento,
estamos teorizando”.
LISSOVSKY, p. 40
Daí a adoção dessa nova fonte de elementos, além da definição de um novo questionário (Anexo
II), mais direcionado à percepção da cidade pelos seus moradores, com abandono da
estratificação espaço-social para sua aplicação. Esse segundo instrumento acabou sendo aplicado
a 49 entrevistados, totalizando-se, assim, 100 entrevistas. Para se tentar apreender percepções as
mais variadas da cidade, no decorrer dos anos, outros materiais foram coletados e analisados,
como estudos urbanos anteriores, crônicas, memórias, poesias e fotografias.
6
– Amostra piloto realizada
ZONAS/
RENDAS ÁREA VERTICALIZADA
CENTRO E SÃO
JOSÉ
SIQUEIRA E
AMÉRICA
ATALAIA E
COROA DO MEIO
OUTRAS
ÁREAS * TOTAL
H/M RENDA
ALTA E MÉDIA
9 7 3 3 15 37
H/M RENDA
BAIXA 1 3 2 2 6 14
TOTAIS POR
ZONAS 10 10 5 5 21 51
* Foram entrevistadas pessoas de diversos bairros da cidade, mas que, em geral, trabalham ou mantêm relações com as zonas de
amostra da pesquisa.
32
OS CARTÕES-POSTAIS
Esse material foi coletado nos acervos particulares de vários pesquisadores, além daqueles
levantados em instituições, como a Pesquise e o Memorial de Sergipe da Universidade
Tiradentes. É importante destacar que o magnífico acervo do Memorial de Sergipe, resulta da
coleta e guarda desse material pela artista plástica, falecida, Prof.ª Rosa Faria, que transportava
as diversas imagens de Aracaju para suas pinturas em pratos de porcelana. Resultam, portanto, de
uma seleção do que essa artista considerava interessante na paisagem da cidade. O acervo da
Pesquise, mesmo ainda em organização, também foi essencial na coleta de algumas outras
imagens, inexistentes nos outros acervos. Foram integralmente levantados os acervos particulares
de Ana Medina, José Alexandre Felizola Diniz, Murillo Melins, Vera França, e assim, no
conjunto, possivelmente a amostra coletada se aproximou bastante do universo disponível,
mostrando-se bem significativa e representativa das imagens urbanas do passado e do presente.
Para fins de análise da evolução urbana e construção da imagem, os cartões-postais foram
arrolados por décadas, e essa classificação foi elaborada com base em anotações existentes nos
postais, em elementos representados (edificações, equipamentos urbanos, e até tamanho das
árvores) e também na sua inclusão em determinadas coleções, onde havia um postal de mais fácil
enquadramento. O trabalho árduo, mas compensador, garantiu uma significativa classificação da
grande maioria deles, podendo-se prever problemas apenas em alguns dos anos limítrofes, entre
uma década e outra. Nesta dissertação são apresentados apenas alguns dos postais, aqueles que
ilustram melhor as idéias expostas, pois seria demasiado apresentar os 510 cartões-postais
coletados. Após essa classificação, que iniciou o processo de crítica das imagens, foi elaborada
uma matriz de contagem, dispondo nas células o número dos cartões-postais, tendo na abscissa os
33
mencionados períodos e na ordenada diversas categorias de análise, como edifícios públicos,
colégios, residências, clubes, pontes, rios, praças, orla,... Uma simplificação dessa matriz,
exposta no segundo capítulo, foi o ponto de partida para o estudo da construção da imagem da
dinâmica urbana.
Para o melhor entendimento deste trabalho, vale explanar algumas características das imagens e
dos postais da cidade apresentados em cada década. De maneira geral, entre 1900 e 1910, os
cartões-postais tentam estabelecer uma imagem de Aracaju como centro consolidado, quer como
centro administrativo, quer como centro comercial. fotografias dos numerosos edifícios
públicos, de igrejas, do Hospital Santa Izabel, da fábrica Sergipe Industrial etc. Mas, como não
havia muito a mostrar, os 36 postais encontrados desse período, às vezes repetem as mesmas
imagens e evidenciam uma cidade bastante pequena. Os cartões-postais tipográficos dessa década
são os mais antigos da cidade e, basicamente, fazem parte de duas “coleções”, ambas colorizadas.
A primeira coleção, com 19 postais ao todo, é da “União Postal Universal/ Brazil/ Edição da
Livraria Brazileira/ Aracaju/ Fabricado em Allemanha”. a segunda coleção, com 14 postais,
não tem o autor e/ ou editor identificados no verso e, no lado da imagem, a referência Aracaju-
Sergipe em vermelho.
Na década de dez, a imagem da cidade que é transmitida permanece praticamente a mesma do
período anterior, observando-se que o número de cartões-postais das praças e dos edifícios é
idêntico e esses continuam sendo os mais numerosos.
Todos esses cartões-postais tipográficos
formam apenas uma coleção, que no verso contêm: “Union Postale Universelle/ République des
Etats-Unie du Brésil/ Carte-Postale”.
34
Na década seguinte a imagem da cidade não muda, embora o número de postais passe,
subitamente, de 46 para 102, denotando, talvez, a maior procura à época por esse produto e a
integração do Estado de Sergipe ao país. Continuam a predominar largamente os postais com
prédios, ruas e praças. Todavia, três especificidades que merecem destaque: a primeira diz
respeito ao grande número de postais de edifícios públicos, sobretudo os do Centenário da
Independência de Sergipe; a segunda é o surgimento das imagens panorâmicas, obtidas a partir
das torres da Igreja de São Salvador e da Catedral e, possivelmente, do morro do Bonfim; a
terceira especificidade, e talvez mais importante, seja o aparecimento das primeiras imagens do
crescimento espacial de Aracaju, através da exposição de algumas ruas e praças da zona sul. A
primeira coleção, 20 postais da Livraria Regina, evidencia a cidade de outros ângulos ainda
inéditos. Produzida nos anos trinta, tem fotos de tempos diferentes, mas que, por comparação
com imagens das décadas subseqüentes, todas foram enquadradas na década de 20. 17 postais
do Centenário da Independência, reforçando a capital como centro administrativo através das
tradicionais imagens de palácios, escolas e igrejas, além de fotos de quartéis do exército e da
polícia. Esses têm fotos de Fabian, Rio de Janeiro, com edição do italiano Guilherme Rogato,
sendo impressos na Tipografia Vênus, à Rua Larga, 18.
Na década de trinta foram cadastrados 102 cartões, 91,2 % com ruas, praças e edificações,
merecendo destaque: primeiro, os numerosos postais de edifícios públicos construídos no
governo Graccho Cardoso na década anterior; em segundo lugar, aqueles com imagens de
edifícios não governamentais; terceiro, os postais múltiplos, um de esculturas e outro com as
imagens mais importantes do Estado. O último ponto destacável é a existência de muitos postais
do Parque Teóphilo Dantas.
35
Figura I.01 – Cartão com estátuas da cidade do final da década de 30.
36
Dentre as coleções, é importante a do Álbum Fotográfico de 1937, originalmente acervo do Dr.
Fernando Porto, que permite a leitura de uma cidade bem mais urbanizada, exemplo do novo
tempo. A outra coleção do Photo Studio, com 32 cartões fotográficos, proporciona um tour na
cidade, mostrando “todos” os seus pontos principais. Os outros, principalmente os da Casa
Amador, são também essenciais na compreensão da época, pois trazem as construções mais
modernas, já no estilo Art Déco, inclusive contidas no primeiro cartão de Boas Festas encontrado.
Figura I.02 – Cartão de Boas Festas – Feliz Ano Novo do final da década de 30.
Na década de 40 ainda predominam os postais de edificações, de praças e de ruas e, em geral, as
imagens são as mesmas. São 15 postais ao todo, da Casa Amador ou sem autoria identificada. Há
vários postais do Congresso Eucarístico Nacional, ocorrido em 1946 na cidade, mostrando
imagens de cunho mais religioso, como a Catedral e outras igrejas. Encontra-se, também, um
outro cartão de Boas Festas, iniciativa particular do fotógrafo Walmir.
37
Figura I.03 - Cartão do final da década de 40. Vistas gerais de Aracaju, evidenciando o rio Sergipe e os pontos
históricos, Praça Fausto Cardoso, e edifícios “art - déco”, como o Palácio Serigy e a Biblioteca Pública.
Entre os anos 1950 e 1960, persiste a mesma característica estrutural anterior, com as imagens de
ruas, praças e edifícios perfazendo 63,4 % do total. Mas essa é a década do centenário da cidade,
marcada por profundas mudanças na paisagem, quer por obras do Governo Leandro Maciel, quer
pelos primeiros “arranha-céus”. Não muitas coleções, pois diversos cartões não têm
identificação completa. Merece destaque a da Ótica Santana, 22 postais, e a da Casa Amador,
apenas com 4, mas essenciais para a leitura dessa década. Esses focam o Centro, antigos marcos,
e são de grande valor na medida em que dois deles mostram, na rua João Pessoa, o Ed. Mayara,
contrapondo as antigas casas comerciais com essa inovadora tipologia arquitetônica. Retornando-
se à questão da administração estadual, note-se um postal de Boas Festas do próprio Governador.
38
Figura I.04 - Obras do Governo de Leandro Maciel no final da década de 50.
Figura I.05 - Ed. Walter Franco (Serviços Públicos) no final da década de 60.
39
Figura I.06 - Ponte Presidente Juscelino sobre o rio Poxim na Rodovia Aracaju – Atalaia.
Os cartões-postais dos anos sessenta, 44 postais, vão mostrar que a mudança estrutural da
imagem urbana iniciada nas duas décadas anteriores se constituiu num processo contínuo e
irreversível. Surgem os primeiros postais obtidos a partir de fotografias coloridas e o centro
histórico e suas edificações memoriais são novamente destacadas, agora a cores. As imagens de
ruas e praças atingem os menores percentuais, considerando-se todas as cadas anteriores
(11,4%). Os edifícios são enfocados em apenas 29,5 % dos postais e estão incluídas novas
edificações do período, como a Estação Rodoviária, o aeroporto Santa Maria, o Hotel Palace, o
Estádio Lourival Baptista e o Edifício do Estado de Sergipe, mantendo a inevitável associação
entre a imagem de uma capital e a força do Estado. Comercializam cartões-postais a Ótica Santa
Luzia, 25 exemplares, e a Colon Vist.
40
Figura I.07 – Moderna Estação Rodoviária da década de 60.
Os postais dos anos 70, 33 ao todo, reafirmam as observações do período anterior, contando com
os dois últimos exemplares em preto e branco. Todos eles transparecem a imagem de um centro
dinâmico, capital de um Estado que cresce rapidamente e assume posição de destaque no
Nordeste. Portanto, dominam as fotos de edifícios e de vistas panorâmicas, sobretudo reas
(21,2 % do total) ou tomadas dos prédios mais altos (15,2 % do total). As fotos das ruas são
apenas 9,1 % do conjunto e mostram, apenas, o novo “calçadão” da João Pessoa. Não se
estabeleceu nenhuma coleção, porque foram encontradas apenas reproduções de diversos postais.
Alguns são da Óptica Sta Luzia e outros da Mercator de São Paulo, Paraná-Cart ou Postal
Cultural, ambas de Curitiba, e distribuídos por lojas como a Livraria Nascimento, o Hotel Serigy
e a Casa do Colegial.
41
O pequeno número de postais encontrados dos anos 80, apenas 10, torna frágil a compreensão do
período. Mas ainda persiste a tendência de fixação de uma imagem de modernidade, com 4
postais do calçadão da João Pessoa (40,0 %), 2 dos novos parques (Parque da Cidade e dos
Cajueiros) e do “Batistão”, esses últimos reforçando a idéia de outros espaços de lazer, além da
praia. Uma foto panorâmica focaliza o centro e os vários edifícios em direção ao sul.
Nos noventa, a cidade assume uma feição de metrópole e, assim, outras imagens marcantes
surgem, talvez de forma até mais fortes do que a da tradicional Praça Fausto Cardoso: a das orlas
da Treze de Julho e, sobretudo, a da Atalaia. Mostra-se também a grande expansão urbana e a
apropriação de novos espaços, como as praias do Mosqueiro, e a abertura da cidade para uma
nova atividade econômica mais explícita, o turismo.
Figura I.08 – Vista parcial de Aracaju, do centro em direção ao sul, ano 2000, destacando a verticalização.
42
Figura I.09 – Vistas gerais de Aracaju no ano 2000. Evidencia marcos urbanos como uma feira de artesanato, a praia
e os arcos da Orla, o centro histórico com coreto e, de forma explícita, parte de um avião, sendo um
convite a Aracaju para aproveitar as belezas e encantos da cidade.
Entre 1991 e 2000, dos 61 postais encontrados, 18,0 % visualizam a nova orla da Atalaia e 8,2 %
o Calçadão da Treze de Julho. Continuam a aparecer postais da verticalização dos mais variados
ângulos, insistindo na fixação da imagem da cidade grande e moderna. Nesse período, surgem os
primeiros postais com vistas noturnas e, ainda, coleções com marcas evidentes de sua produção/
distribuição, como da P.A.S. (Foto e Distribuição Exclusiva A. Santana), com 27 postais, que
domina o mercado nessa década.
43
Figura I.10 – Vista noturna da Avenida Ivo do Prado na década de 90.
As características evidenciadas anteriormente tornam-se mais fortes a partir de 2000 até o
presente ano; dos 67 postais, 55,2 %, ou seja, mais da metade dos postais, são da orla. Observa-se
a última revitalização e ampliação concluídas em 2006, insistindo-se nas imagens dos arcos e dos
recentes elementos criados: as lagoas e as fontes luminosas, as esculturas de personagens de
destaque, o centro cultural, o oceanário e o parque infantil. Pela primeira vez, aparece um postal
da orla do Bairro Industrial, evidenciando a geração de outra área de lazer. As imagens do
papagaio e do artesanato e ainda alguns postais do centro histórico são mantidos, inclusive
procurando outros ângulos ainda inéditos. Também os com vistas panorâmicas que mostram
as áreas de expansão ao sul do Centro, todas focalizando o rio, as orlas e a verticalização. São três
coleções nesse período: uma de 40 postais, da Cluposil de Campina Grande, uma com apenas 6
postais da orla, fotos de Diógenes DI e uma outra com 19 cartões-postais fotográficos, com
imagens esteticamente mais bem tratadas de Gorette Nascimento.
44
Figura I.11 – Cartão-postal tipográfico com a imagem do Papagaio, símbolo da cidade. Essa escultura, situada na Av.
Beira Mar, na curva do Iate Clube de Aracaju ainda é composta por um tóten com a seguinte
mensagem:Ser Feliz Aracaju”.
45
Figura I.12 – Vista parcial do antigo mercado reformado para abrigar o artesanato local.
Figura I.13 – Vista Parcial da Ponte do Imperador para a Avenida Ivo do Prado no sentido sul.
46
1º CAPÍTULO
A FIXAÇÃO DA IMAGEM URBANA
“O olhar percorre as ruas como se fossem páginas escritas: a cidade diz
tudo o que você deve pensar, faz você repetir o discurso, e, enquanto você
acredita estar visitando Tâmara, não faz nada além de registrar os nomes
com os quais ela define a si própria e todas as suas partes.
Como é realmente a cidade sob esse carregado invólucro de mbolos, o
que contém e o que esconde, ao se sair de Tamara é imposvel saber. Do
lado de fora, a terra estende-se vazia até o horizonte, abre-se o céu onde
correm as nuvens. Nas formas que o acaso e o vento dão às nuvens, o
homem se propõe a reconhecer figuras: veleiro, mão, elefante...”
CALVINO, pp.17/ 18
47
1.1 – IMAGEM: CONCEPÇÃO E ANÁLISE
O presente trabalho não tem como objetivo explícito a investigação do conceito de imagem e suas
implicações teóricas em todas as diferentes concepções e abordagens de um objeto. Sua intenção
é a busca dessa imagem num objeto específico – Aracaju, verificando-a, experimentando-a,
aceitando-a e contestando-a na pluralidade de definições diversas. Todavia, faz-se necessária aqui
uma breve discussão sobre imagem e seu papel nos estudos de percepção urbana.
O termo imagem tem sido bastante usado por pensadores das mais diferentes concepções
filosóficas vinculadas a visões idealistas, inclusive pelo seu íntimo relacionamento com a intuição
e a imaginação, entendida como a faculdade, quer de formar imagens independentemente da
presença do objeto, quer de combinar imagens em quadros ou sucessões que imitam fatos da
natureza, embora sem existência real (LALANDE, pp. 519/ 520). Platão já dizia:
“chamo de imagem
em primeiro lugar as sombras, depois os reflexos que vemos nas águas ou na
supercie de corpos opacos, polidos e brilhantes e todas as representações do gênero.”
Apud. JOLY, p. 14
Para esse filósofo, a imagem é essencialmente ambígua: havendo uma contradição entre imagem
e o objeto, o número de imagens possíveis é infinito e somente através de sua multiplicidade
pode-se chegar à unidade de forma, ou a uma hipótese (GOLDSHMIDT, pp. 38/ 44).
Aristóteles colocava que as imagens seriam como as coisas sensíveis, que não teriam matéria,
sendo produto da imaginação e se constituindo em sensações e percepções. Da Antiguidade, o
termo vai passar pela grande discussão medieval entre os iconófilos e iconoclastas, estimulando
São Tomás de Aquino a tentar esclarecer a relação entre a natureza divina e a natureza humana,
48
sendo retomado na Filosofia Moderna por Bacon e Hobbes e Kant (ABAGRANO, p. 537). Para
esse autor,
“a imagem ocupa a área indefinida entre conceito e intuição. Como forma de mediação entre as
faculdades heterogêneas e do entendimento e da intuição, possui um status nitidamente equívoco.”
Apud. CAYGILL, p. 186
Continuando a reflexão ao longo do tempo, ao tratar da recordação de um evento como sua
internalização, colocando-o no sujeito e sendo recuperado da memória, Hegel coloca que a
recordação
“é a internalização de uma intuição sensória como uma imagem; a imagem é abstraída da posição
espaço-temporal concreta da intuição e a ela se confere um lugar na inteligência (a qual tem seu
próprio espaço e tempo subjetivo). Mas a imagem é fugaz e sai da consciência. A imaginação é
necessária, portanto, para reviver ou reproduzir a imagem”.
Apud. INWOOD, p. 221
A discussão continuou entre os membros da escola neohegeliana de Frankfurt, preocupados com
a questão da estética, chegando a Benjamin com suas reflexões sobre o cinema, os impactos
produzidos pela imagem (MERQUIOR, p. 120) além de seus estudos sobre a imagem fotográfica,
como sucessão de “agoras” ou do instantâneo que contrai o passado e o futuro (LISSOVSKY, p.
32).
Para Sartre e outros existencialistas, imagem é um ato e não uma coisa, é a consciência de
qualquer coisa, ou certa maneira de o objeto se apresentar à consciência. (FOULQUIÉ, p. 342).
na moderna concepção semiótica de Pierce, ao classificar os signos, a categoria imagem reúne
os ícones que mantêm uma relação de analogia entre o significado e o referente (JOLY, p. 37), ou
49
seja, é algo que se assemelha a outra coisa (Ibid., p. 39). Nessa concepção, a imagem entra nas
categorias das representações e das analogias. Diz Joly (p. 48):
“Se ela (a imagem) parece é porque ela não é a própria coisa: sua função é, portanto, evocar,
querer dizer outra coisa que não ela própria, utilizando o processo da semelhança. Se a imagem é
percebida com representação, isto quer dizer que a imagem é percebida como signo”.
Exatamente por se configurar como uma forma de representação, a categoria imagem”,
entendida como continuação direta da sensação, um símbolo, vai ser também preocupação de
psicólogos preocupados com a formação de símbolos na criança, a exemplo de Piaget (p. 13).
Para Bergson, partindo-se de uma visão axiomática do desconhecimento do mundo e, portanto,
numa visão de inexistência do conhecimento prévio, o sujeito acha-se
“em presença de imagens no
sentido mais vago em que se possa tomar essa palavra, imagens percebidas quando abro meus sentidos, não
percebidas quando os fecho” (apud. ABBAGNANO, p. 537).
E esse autor, ao criar o princípio da apreensão da intuição pela imagem, reconhece que essa tem a
vantagem de nos manter no concreto, afirmando:
“nenhuma imagem substituirá a intuição de duração, mas muitas imagens diversas, tomadas de
empréstimo a ordens de coisas diferentes, poderão, pela convergência de sua ação, dirigir a
consciência para o ponto preciso onde há certa intuição a apreender.”
Apud. SOARES, p. 281
De certa forma, retorna-se assim ao princípio platônico da multiplicidade das imagens como
condição para apreensão da forma e, ao mesmo tempo, reafirma-se a idéia de imagem como
percepção. E se a percepção começa com a apreensão das imagens pelos sentidos,
inevitavelmente chega-se a uma concepção mais moderna (LALANDE, p. 518), à idéia de que as
50
imagens são todas as representações visuais, auditivas, táteis, olfativas e musculares, assim como
os desejos, as idéias inventadas, sendo, portanto, uma sensação representada (SOARES, p. 281).
Após todas essas considerações chega-se à conclusão de que o termo imagem é vago,
extremamente abrangente, sendo surpreendente a sua contínua utilização nos mais variados
campos do conhecimento e, na contemporaneidade, na mídia. Como coloca Blackburn (p. 196):
“A natureza obscura das imagens levou alguns filósofos a considerá-las um acessório inútil dos
processos cognitivos de representação subjacentes, não fazendo parte, portanto, desse mecanismo”.
Mas essa hostilidade às imagens dificulta sua avaliação nos processos criativos da arte o que
talvez explique o seu uso constante.
De fato, segundo Lalande (p. 517), imagem pode ser entendida, em suma, como:
reprodução concreta do percebido pela visão;
repetição mental (geralmente enfraquecida) de uma sensação, ou mais exatamente, de
uma percepção precedentemente experimentada;
representação concreta construída pela atividade do espírito, combinações novas pelas
suas formas ou elementos, resultantes da imaginação criadora;
qualquer apresentação ou representação sensível.
Esse conjunto de significados corresponderia basicamente ao que Hobbes chamou de imagem
genérica, que compreenderia as imagens atuais dos sentidos, as imagens da memória imaginativa
e as imagens da imaginação propriamente dita (LALANDE, p. 518).
51
É, nesse momento, importante passar dessa complexa referência conceitual para um terreno mais
prático, e chegar ao básico da imagem e sua aplicação no estudo das cidades. Deve-se entender
que o homem é um animal dotado de visão e que, desde o início dos tempos, registrava imagens
do mundo apreendidas com o seu olhar, às vezes transcritas nas pinturas ou gravuras primitivas
em pedras, dando origem a todo um acervo de registros gráficos, para muitos arqueólogos
caracterizando uma verdadeira “arte rupestre”. Foram, também, as primeiras maneiras de
comunicação humana, pois essas imagens podiam estar relacionadas com a magia, com a
religião, e, talvez, com a transmissão de informações sobre localização, sobre o posicionamento
dos astros para permitir a identificação das estações do ano etc. E as imagens em gravuras,
pinturas e outras formas de representação permaneceram únicas por muito tempo.
Posteriormente, com a invenção da litografia, que tornou possível a reprodução de imagens em
série, iniciou-se um processo de consumo da imagem, consolidado com a fotografia e sua
circulação maciça pelo mundo através dos cartões-postais ou outros suportes. No início do século
passado, todos os continentes foram descobertos através de um simples olhar, sem deslocamentos
do homem, pois o mundo tornou-se “portátil e ilustrado” (KOSSOY, 2003, p. 27). Ocorreu, de
fato, uma grande mudança, uma revolução em termos de apreensão visual, pois em instantes, ao
se folhear um álbum de fotos, poderia se capturar todo o mundo. E o desenvolvimento
tecnológico acabou por reforçar a idéia da apreensão da imagem e do seu significado,
desenvolvendo, inclusive, um “marketing” visual profundamente associado à expansão e
consolidação do sistema capitalista. A conseqüência é que, algumas décadas, afirma-se que
nos encontramos em uma “civilização da imagem”, formada por imagens diversas, tanto as
visuais mais simples como as mais complexas, virtuais, que nos inserem em um mundo ilusório.
Hoje os limites do que é imagem e realidade são muito tênues, porque “a imagem pode ser tudo e
52
seu contrário visual e imaterial, fabricada e “natural”, real e virtual, móvel e imóvel, sagrada e
profana, antiga e contemporânea, vinculada à vida e a morte, analógica, comparativa,
onvencional, expressiva, comunicativa, construtora e destrutiva, benéfica e ameaçadora (JOLY,
p. 27).
Vive-se, assim, num mundo dominado pelo “poder assassino das imagens, assassinas do real,
assassinas do seu próprio modelo”, nas palavras de Baudrillard (p.12). Um mundo do
espetáculo”, essa relação social entre pessoas mediada por imagens, segundo Debord, bem
expressa nas palavras de Feuerbach (apud. DEBORD, p. 13):
“E sem dúvida o nosso tempo... prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à
realidade, a aparência ao ser... Ele considera que a ilusão é sagrada, e a verdade é profana. E
mais: a seus olhos o sagrado aumenta à medida que a verdade decresce e a ilusão cresce, a tal
ponto que, para ele, o “cúmulo da ilusão” fica sendo o “cúmulo do sagrado”.
Numa sociedade marcada pela imagem, que facilmente atinge o nível de simulação, nada mais
natural que as ciências sociais passassem a considerá-la, e a sua desconstrução, como
fundamentais para a compreensão dos territórios e da organização social. Daí a penetração do
conceito de imagem nos estudos urbanos, coincidindo com uma maior influência de concepções
humanistas e fenomenológicas e certa falência dos paradigmas positivistas (FELDMAN-
BIANCO, p. 11). Nesses novos estudos, parte-se do princípio de que cada indivíduo tem uma
imagem da cidade, visual e mental, que, somando-se à de outros indivíduos, forma uma imagem
urbana “total”. Esse conjunto é formado tanto por imagens visuais como por outras afetivas. As
primeiras são sempre representativas dos elementos físicos, naturais ou construídos, como rios,
praias, ruas, praças, edificações, monumentos, quer sendo capturada pelo homem a todo o
instante, vivendo o seu dia a dia, quer “fixadas” nas fotografias, nos cartões-postais, nos
53
outdoors, nos vídeos publicitários etc. Diz-se ser visual porque o olhar individual a percorre,
sempre estabelecendo uma relação do corpo com o ambiente, com esse lugar, congelando
determinado aspecto urbano em sua memória ou em sua câmara, transformando-o em uma
imagem significativa. Mas, deve-se atentar que, por mais representativas que sejam essas
imagens urbanas, elas não representam, por sua própria definição, por suas limitações e por seus
comprometimentos, a totalidade da imagem urbana. O resultado é sempre uma “determinada”
imagem estática e relativa, que apreende parte do objeto, e ainda assim de forma limitada, não
chegando a uma totalidade das cidades. De fato, o olhar humano é seletivo, observando e
apreendendo o que interessa ao observador e o que se enquadra nos seus esquemas perceptivos. A
percepção urbana é essencialmente individual, e a descrição de uma cidade feita por um leigo é
diversa daquela feita por um geógrafo treinado na observação da paisagem. Por essa razão é que
nesse mundo obcecado pela imagem e marcado pelos intensos e crescentes fluxos de viajantes, os
guias turísticos dizem o que se deve ver, ensinam como observar e o que conhecer nas cidades.
Assim, nessas concepções fenomenológicas, se chegaria a uma melhor compreensão da
totalidade urbana mediante a consideração do componente humano, do sentimento dos habitantes
da cidade, daqueles que vivem os lugares onde nasceram e morrerão, sempre criando ligações
afetivas. E é esse espaço multifacetado, rico de relações, de expressiva estrutura, que permite a
construção de uma verdadeira sociedade urbana.
7
É bem verdade que precisamos de um ambiente que não seja simplesmente bem organizado, mas
também poético e simbólico. Ele deve falar dos indivíduos e de sua complexa sociedade, de suas
aspirações e suas tradições históricas, do cenário natural, dos complexos movimentos e funções
do mundo urbano. Mas a clareza da estrutura e a expressividade da identidade o os primeiros
passos para o desenvolvimento de símbolos fortes. Ao aparecer como lugar admirável e bem
interligado, a cidade poderia oferecer uma base para o agrupamento e a organização de tais
7
Utilizamos a expressão “imagens afetivas” na concepção empregada por SOARES (p. 283), que incluem tanto os
estados sensíveis como os resíduos da percepção”.
54
significados e associações. Em si mesmo, esse sentido de lugar realça todas as atividades
humanas que ai se desenvolvem e estimula o depósito de um traço de memória.”
LYNCH, 1999, p. 134
Destaca-se, assim, a importância das imagens afetivas para a compreensão da cidade, da
percepção desse espaço vivido e materializado por expressões corriqueiras, quer do senso
comum, quer do senso estético-emocional, por opiniões sobre aspectos sentimentais da cidade,
trovas, poesias e músicas, imagens ou qualquer outra forma de expressão, caracterizando uma
determinada percepção do ambiente urbano. Por isso é que, para Tuan, essa percepção é tanto a
resposta dos sentidos aos estímulos externos como a atividade proposital de registro ou
esquecimento dos mesmos, atribuindo-se imenso valor à imaginação. O que se percebe tem valor
e comanda as atitudes, que são certas posturas frente ao mundo, e essas atitudes têm maior
estabilidade do que as simples percepções, pois são formadas por uma sucessão dessas, isto é, de
diversas experiências. Assim, as atitudes implicam experiências e interesses de valor (TUAN,
1980, p. 4). Para esse autor, sem negar a existência concreta do mundo, o que interessa é a
percepção desse mundo numa redução fenomenológica, que compreende tanto a noesis, como ato
de perceber, quanto o objeto percebido, o noema. Assim, nessa concepção interessam as
diferentes percepções da cidade, as atitudes de sua população, fragmentada em classes sociais, de
renda e de cultura, e como essas visões valoram o espaço da cidade. É como se, voltando ao
pensamento platônico, somente a partir de diversas imagens/ percepções fosse possível obter-se
uma “hipótese” da cidade, uma visão de quase totalidade. Mas, lembremo-nos, será uma hipótese
sempre no terreno das imagens, fraca, frágil.
Por tais considerações, entende-se porque a percepção do ambiente urbano também é estudada
através do processo de interpretação dos signos, ou melhor, pela semiótica.
Um signo representa
algo para alguém, ou como na descrição de Peirce, é algo que está no lugar de outra coisa.
55
Portanto, supõe um objeto representado, que não tem necessariamente a intenção de ser
compreendido, e um receptor que o interpreta. Apenas interessa como se processa a interpretação
do signo e o seu significado.
O espaço social analisado pela semiótica, ao contrário da lógica presente nas concepções
científicas mais objetivas e materialistas, não segue uma explicação determinada, e suas
transformações são interpretadas a partir de marcas, que formam uma história não verbal repleta
de imagens, valores, usos, hábitos, uma “interpretação sempre falível que se processa num
continuum capaz de desestabilizar explicações e indiciar uma ação que não se deixa ordenar.”
(FERRARA, 1993, p. 234). Como a depender do emissor e, também, do receptor do objeto são
selecionados certos ângulos ou faces desse processo de linguagem urbana, essa representação
também é entendida como parcial.
Todavia, deve-se considerar que na semiótica observa-se, também, que há tantas interferências no
canal de transmissão que o signo pode enfatizar, às vezes, uma imagem não similar à realidade,
mas uma imagem construída por uma ideologia dominante, deformadora da realidade. Percebe-se
que, na atualidade, a imagem urbana nos envolve a todo o tempo e, portanto, é imprescindível
decifrá-la, compreendê-la para, enfim, de modo mais consciente, distinguir a cidade “realda
manipulada, fabricada para ser vista. Como tão claramente formulou Ferrara (1993, p. 252):
“A imagem da cidade não é, portanto, espontânea, mas, ao contrário, coercitiva e autoritária. Essa
imagem codificada opera como uma norma, lei ou símbolo de como a cidade deve ser vista, atua
como signo suporte da noção urbana que quer transmitir; na realidade, trata-se, não só da imagem
da cidade, mas de uma imagem cultural que utiliza a primeira como suporte.”
Surge nesse ponto uma questão crítica na análise da imagem do espaço urbano, questão que
muito interessa, que estabelece que essa imagem, tornando-se habitual, promove uma
56
homogeneidade na percepção do objeto e, por conseqüência, uma ilegibilidade de certos aspectos
imprescindíveis para estudos de intervenções e melhorias na cidade.
É importante destacar esse fato porque as cidades, sobretudo nos últimos tempos, passam por
acelerado crescimento com produção quase homogênea de objetos arquitetônicos, que promovem
ainda mais essa perda de identidade, reforçando uma política da imagem. tida
descontinuidade espaço-temporal: marcos urbanos antigos desaparecem ou são “esquecidos;
novos ícones surgem; os centros comerciais mais tradicionais cedem lugar a “shopping centers” e
as antigas praças e coretos são substituídas pelas “praças de alimentação” dos novos templos do
consumo, absolutamente iguais em qualquer parte. que cada cidade não é tão simples assim...
é complexa e heterogênea. A cidade como local de vida do dia a dia permanece, necessitando de
aprofundamentos em suas peculiaridades e em seu passado, que persiste sempre como
sobrevivente mudo nas linhas de sua forma presente.
1.2 – IMAGEM URBANA: FOTOGRAFIA E CARTÃO-POSTAL
Uma fonte iconográfica básica para o estudo das cidades é a fotografia em qualquer tipo de
suporte, como nos cartões-postais, sendo daí bastante significativa para o estudo da construção da
imagem urbana no tempo. O homem sempre tentou copiar a natureza, como que para fixá-la
eternamente no mundo, usando, primeiro, apenas as mãos e, depois, as máquinas de desenhar,
como o pantógrafo, a câmara obscura e a clara, desenvolvidas para facilitar esse trabalho. Com o
avanço na observação de fenômenos físico-químicos, decorrentes da ação da luz e de
determinadas substâncias sobre corpos, feita desde a Antiguidade, a realidade da fotografia era
57
somente uma questão de aprimoramento de técnicas. São considerados como inventores da
fotografia diversos nomes, como Niépce, Daguerre, Talbot, Bayard, mas o que importa é que
cada qual deu, em certo momento, uma contribuição essencial para o avanço da fotografia.
8
Com essa nova técnica permitiu-se mais facilmente o registro de pessoas, de seus costumes, das
cidades em vários ângulos,... e daí a razão de todo o entusiasmo da sociedade com essa revolução
na captura da imagem, na época da revolução industrial e social. Considera-se que a fotografia
moderna nasceu em 1880, com uma industrialização na fabricação das máquinas e o
aparecimento dos suportes maleáveis transparentes, como os filmes ou as películas. George
Eastman criou a Kodak nº. 1, em 1888 que, enfim, tornou essa técnica mais acessível à sociedade.
Nessa mesma época houve o aperfeiçoamento da similigravura, impressão da fotografia por meio
de uma trama de pontos em relevo, que permitia, junto com a tipografia, a grande difusão das
imagens. Aparentemente, a realidade estava fixada ao nosso alcance para sempre, como
documento indiscutível de fatos da história.
Inicialmente, o retrato foi o maior divulgador da nova invenção, pois o retrato pintado era
inacessível para muitos, e através dessa, mesmo ainda de alto custo, era possível a classe social
mais abastada se evidenciar, tornando-se parte de uma história. Muitos artistas e pintores
aderiram às inovações, ornamentando com riqueza as fotografias. Surgiam estúdios de retratistas
célebres em Paris e em países como a Inglaterra, a Suíça e a Alemanha. Em 1853, Disdéri registra
a patente do mecanismo do retrato cartão de visita, que permitia obter pequenas imagens ao
mesmo tempo. Essa técnica espalha-se pelo mundo, tanto nos estúdios mais luxuosos como nas
8
As máquinas tinham o intuito de facilitar o trabalho do desenho manual numa época em que se buscava
representar fielmente o real. A câmara obscura, por exemplo, através de um sistema óptico, permitia a visão, ao
mesmo tempo, do objeto e da superfície sobre a qual se desenhava, dando a impressão de que a imagem já estava no
papel e bastava copiá-la. Detalhes das técnicas da cópia da natureza podem ser obtidos em AMAR, pp.13/ 42.
58
feiras, sendo totalmente integrada à sociedade. As pessoas posavam em cenários burgueses e
distribuíam aos conhecidos essa pequena lembrança. Essas imagens eram colecionadas em
álbuns, às vezes muito suntuosos, sendo precursoras da mania pelos postais ilustrados (AMAR,
pp. 43/ 49).
O cartão-postal é uma criação atribuída, oficialmente, a Emmanuel Hermann, professor de
economia política da Academia Militar de Viena, que sugeriu em 1869 às autoridades postais um
sistema de interligação global mais simples e econômico. Em de outubro de 1869, foi
comercializado o primeiro cartão-postal, o "Korrespondenz karte”. Em 1870, são criados os
cartões ilustrados pelo processo da litogravura. Com a introdução da fotografia nos postais, quer
seja em papel próprio ou através da produção litográfica, esse suporte tornou-se um espaço de
registro iconográfico muito popular. A partir do final da década de 90 do século retrasado, a
imagem fotográfica ocupava toda a superfície e o seu reverso continha espaço para as
mensagens e o endereço (MIRANDA, pp. 12/ 14).
Daí que a idéia de se colecionar cartões-postais popularizou-se, como uma forma de lembrança
de lugares ou de outras imagens. Esse fato está associado, em parte, à primeira difusão da idéia
de viagens turísticas ocorrida entre as sociedades européias do final do século XIX. Além disso,
permitia a lembrança dos sentimentos das pessoas através dos registros escritos, com palavras de
carinho, saudações,... A mania” cresceu ainda mais quando esses se tornaram mercadorias, com
vários países liberando a sua produção a particulares. O termo "época de ouro", usado para
identificar este período, traz o mesmo sentido que foi dado a essa época, a Belle Époque. Vivia-se
um momento de otimismo do progresso, originado pela revolução científico-tecnológica, e
representado por inventos como a fotografia, o cinematógrafo, a telefonia, o automóvel etc.
59
No Brasil, o cartão-postal foi instituído em 1880, fato que explica a circulação no país, até essa
data, apenas de postais europeus. Os primeiros cartões-postais emitidos (os inteiro–postais)
9
eram
de monopólio do Governo e tinham as armas imperiais estampadas no ângulo direito superior.
Somente em 1899, uma lei autoriza a edição de postais por particulares e com ilustrações em uma
das faces. Pioneiros como os fotógrafos Guilherme Gaensly e R. Lindmann, Marc Ferrez, , além
de outros tantos anônimos, começaram a produzir cartões-postais no país, difundindo pelo mundo
elementos topográficos nacionais de destaque, obras públicas e tipos raciais e sociais. Em 1904,
foi fundada na capital federal a Sociedade Cartophila “Emmanuel Hermann” para reunir os
colecionadores.
Figura 1.1 – Cartão-postal com pitoresca paisagem do Jardim da Luz, São Paulo, por volta de 1900, com fotografia
de Guilherme Gaensly. Ao centro, o chalet-restaurante Ponto Chic, conhecido como Choperia do Jardim.
9
Entende-se por inteiro postal um cartão em que o selo dos correios é impresso diretamente sobre sua superfície
em vez de ser fixado depois (MIRANDA, p. 13).
60
Figura 1.2 – Cartão alegórico do Rio de Janeiro de Marc Ferrez, datado de 1899. Com legendas em francês, destaca:
Igreja de Nossa Senhora da Glória, o Grande Hotel Metrópole de Laranjeiras, o Jardim Botânico, a Ilha
Fiscal e panorama do Catete e do Flamengo. No canto inferior direito, há um espaço para a mensagem.
Figura 1.3 – Postal da Doca da Alfândega e Cais dos Mineiros, com foto de Marc Ferrez, editado por volta de 1905.
61
Figura 1.4 – Postal da Av. Rio Branco vista a partir da Rua São José, 1911. Evidencia as reformas urbanas do Rio de
Janeiro, mostrando o grande movimento de pessoas no local e o novo meio de transporte, os automóveis.
As cidades brasileiras no início do século XX, em sintonia com o restante do mundo, passavam
por transformações físicas, culturais e sociais, que precisavam ser expostas. Mostrava-se, assim, o
movimento dessas cidades, agora “modernas” e higiênicas, com as novas edificações, prédios
públicos e privados, os jardins, as praças, as ruas e as avenidas, espaços de vivência das classes
mais elitizadas. Aracaju, por exemplo, depois que contratou o engenheiro Saturnino de Brito, em
1923, para elaborar seu projeto de saneamento procurou, logo depois, mostrar em suas imagens a
salubridade da cidade.
10
A idéia de produção desses postais se enquadrava na política republicana
de intervenção do Estado nas cidades brasileiras.
10
- O projeto e relatório de Saturnino de Brito para Aracaju é parte integrante de suas "Obras Completas" de 1944.
Esse projeto não foi realizado como o planejado, durante o governo de Graccho Cardoso, porém foi seguido por
anos, mesmo depois de sua morte em 1927. Continuamente foi sendo revisto e atualizado por seu escritório, criando
uma imagem urbana moderna para Aracaju.
62
Portanto, os cartões-postais de paisagens ou de vistas urbanas são, claramente, fontes de grande
valor na pesquisa de fixação de imagem urbana, porque a idéia central desses sempre foi mostrar,
em geral, as cidades de um modo poético e especial, com um olhar fixo nos seus locais mais
expressivos. Os postais captam os pontos mais “belos”, naturais ou construídos, modernos e
marcantes das cidades, a fim de sempre permanecerem na memória dos que os apreciam. As
mudanças nas ruas, nas praças, a dinâmica das formas e estilos arquitetônicos, são evidenciados
nos exemplares de diferentes épocas, permitindo uma reconstrução parcial da história urbana. São
partes de lembranças fixadas na memória com significados do coletivo, mas que têm, sem dúvida,
também uma leitura única para cada indivíduo. Deve-se lembrar que, na época de ouro
principalmente, os postais eram um meio de comunicação eficaz, detentores de mensagens entre
aqueles que se encontravam distantes. Como bem disse Carlos Drummond de Andrade:
“Passada muito a moda delirante de trocar postais, os exemplares antigos que bóiam à tona do
mar do esquecimento deixam-me comovido. Aqui estão os testemunhos de uma época social, de um
estado de espírito coletivo, de um imaginário feliz, quando a aviação começava a unir os homens,
para depois exterminá-los a granel; quando um Cartão-postal era símbolo de entendimento entre
desconhecidos; quando a gente não esperava que houvessem mais guerras gerais, e ver Isadora
Duncan dançar, ou saber que ela dançava em alguma parte do mundo, valia por uma felicidade.
GERODETTI, João E. e CORNEJO Carlos, p.13
Mas é evidente que não se pode ficar limitado apenas aos cartões-postais nos estudos de
percepção urbana, sob pena de definição de uma imagem desprovida de significado, muito
seletiva, discriminatória e pouco representativa da maior parte do conjunto urbano, quer espacial,
quer populacionalmente falando.
63
1.3 - MEMÓRIA URBANA E IMAGENS VISUAIS –
A CRÍTICA AO DOCUMENTO FOTOGRÁFICO
O tema do resgate da memória urbana revela-se como de grande interesse e importância na
atualidade, como aliás todos os estudos históricos, nessa busca incessante de identidade
promovida pelas sociedades modernas, sufocadas e homogeneizadas pelo acelerado processo de
globalização. No início do século XX, fica perfeitamente clara a importância que a memória
coletiva desempenha nas sociedades. Para Le Goff (p. 469),
“exorbitando a história como ciência e como culto público, ao mesmo tempo a montante, enquanto
reservatório (móvel) da hisria, rico em arquivos e em documentos/ monumentos, e aval, eco
sonoro (e vivo) do trabalho histórico, a memória coletiva faz parte das grandes questões das
sociedades desenvolvidas e das sociedades em vias de desenvolvimento, das classes dominantes e
das classes dominadas, lutando, todas, pelo poder ou pela vida, pela sobrevivência e pela
promoção. ... A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual
ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje,
na febre e na angústia.”
O valor das fotografias e dos cartões-postais como documentos iconográficos de pesquisa para o
estudo da evolução urbana, da memória das cidades, foi quase desconsiderado por um longo
período. Com o passar do tempo, respeitando-se seus limites, percebeu-se que esses são fontes
importantes para análises da cidade, ainda mais porque a revelam em ângulos muitas vezes
esquecidos. Como permitem a reconstrução e a releitura dessa história de partes da cidade,
auxiliam as pesquisas de dinâmica urbana e trazem à tona, de modo claro, a discussão da
preservação do patrimônio material. Todavia, é preciso não esquecer que se trabalha com os
postais e as fotografias que sobreviveram e não com o conjunto do que existiu no passado. De
fato, eles são uma “escolha efetuada quer pelas forças que operaram no desenvolvimento
64
temporal do mundo e da humanidade, quer pelos que se dedicam à ciência do passado e do tempo
que passa, os historiadores” (LE GOFF, p. 525). Abandona-se, assim, qualquer pretensão de
neutralidade que pudesse ser atribuída a esses documentos tidos como imagens da realidade, que
passam a ser sujeitos à crítica. De fato,
“Não existe um documento objetivo, inócuo, primário. A ilusão positivista (que, bem entendido, era
produzida por uma sociedade cujos dominantes tinham interesse em que assim fosse), a qual via no
documento uma prova de boa-fé, desde que fosse autêntico, pode muito bem detectar-se ao nível dos
dados mediante os quais a atual revolução documental tende a substituir os documentos... O
documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é um produto da sociedade que o
fabricou segundo as relações de forças que detinham o poder. a análise do documento
enquanto monumento permite à memória coletiva recuperá-lo e ao historiador usá-lo
cientificamente, isto é, com pleno conhecimento de causa”.
LE GOFF, pp. 535/ 536
É o que Foucault (apud. LE GOFF, p. 536) coloca também ao afirmar que os problemas da
História se resumem em questionar o documento, ao dizer:
“O documento não é o feliz instrumento de uma história que seja, em si própria e com pleno direito,
memória: a história é uma certa maneira de uma sociedade dar estatuto e elaboração a uma massa
documental de que se não separa”.
E aqui se entende o objeto/ fotografia como semelhante a qualquer outro documento, numa
definição ampla de “documentocomo a expressa por Samaran (apud. LE GOFF, p. 531), pois a
iconografia deve ser estudada a partir do lugar que representa, inserida dentro de toda uma
sociedade. Assim, percepção, atitude, valores e visões de mundo são fundamentais na
compreensão de uma cidade, constituintes da relação fundamental entre o sujeito e o objeto. Não
se pode esquecer que as imagens apenas constituem uma parte do conjunto e que as cidades, por
maior que seja a homogeneização atual, ainda são visualmente diferentes. Pode ser que o
significado dos objetos retratados seja o mesmo: uma praia é uma praia; um rio é um rio; mas, a
65
identidade permanece como única; como parte de um mosaico de lugares que não se repetem em
outra parte do mundo. O nomotético e o idiográfico convivem no mesmo espaço, separando
significado de paisagem.
A crítica ao documento se reveste, portanto, de extrema importância, mesmo que não se chegue
ao limite de se afirmar que todo documento é mentira (LE GOFF, p. 538). E a crítica às
fotografias e cartões-postais pressupõe o seu enquadramento histórico e uma preocupação em
distinguir certos elementos subjacentes à imagem que, no caso das cidades, estão mais
relacionadas à riqueza, ao poder (sobretudo a força do Estado e à manutenção de certas
hegemonias políticas), ao progresso, à modernização dos lugares “belos”. Assim, a fotografia não
pode ser pensada apenas como uma técnica objetiva que apreende perfeitamente o mundo
sensível... De fato, a imagem fotográfica produz uma síntese peculiar entre o evento representado
e as interpretações construídas sobre ele, estando essa correspondência sujeita a convenções de
representação culturalmente construídas (BITTENCOURT, p. 199). E deve ser notado que a
complexidade inerente à imagem é tão grande que pode levar a interpretações divergentes ou até
contraditórias de uma mesma fotografia (PORTO ALEGRE, p. 77). Em suma, como bem coloca
Leite (pp. 40/ 41):
“Longe de ser um objeto neutro, a fotografia acolhe significados muito diferentes, que interferem
na codificação e nas possíveis decodificações da mensagem transmitida... para a análise da
linguagem fotográfica, de sua significação social, é preciso municiar as faculdades de observação,
a imaginação e uma capacidade de discernimento capazes de estabelecer ligações entre
conhecimentos transmitidos pela imagem e uma cultura geral e específica mais extensa.”
Insiste-se, assim, que a fotografia não pode ser compreendida como um instantâneo verdadeiro de
uma parte da cidade, um reflexo da realidade, porque sua produção em geral não é aleatória,
dependendo diretamente de seus elementos constitutivos: o assunto, o fotógrafo e a tecnologia.
66
Uma imagem de um espaço qualquer, percebida por um contratante ou fotógrafo, é escolhida
para ser congelada no tempo em determinado ângulo. Aparentemente tiradas sem propósito,
livremente, para se captar apenas imagens belas, agradáveis ao olhar, as fotografias e postais da
cidade se transformam em material crítico e rico de análises se profundamente aberto para
revisões. E é evidente que no momento presente, esse pequeno fragmento de papel só pode sofrer
possíveis conjecturas, baseadas ainda mais em outras fontes, porque essa imagem pertence ao
passado. Kossoy (2003, p. 44) explica esse limite:
“Se é possível recuperar a vida passada, primeira realidade, e se temos, através da fotografia, uma
nova prova de sua existência, há na imagem uma nova realidade, passada, limitada, transposta”.
Inicia-se, portanto, uma outra realidade, a do documento: a segunda realidade, autônoma por
excelência. Inicia-se um novo processo: o da vida do documento.
Portanto, é indiscutível que para haver uma interpretação da imagem é necessário apreender o
que não está visível, como uma referência ao conjunto universo, comparando outras imagens
iconográficas similares e informações escritas como, bibliografia histórica, arquivos oficiais e
particulares, periódicos da época e até entrevistas... para a reconstrução do espaço-tempo
inseridos no conteúdo destas imagens e a sua contextualização, dando à documentação seu
caráter multiforme de que fala Lucien Febvre (apud. LE GOFF, p. 107).
O cartão-postal, como suporte de uma determinada fotografia, tem que, além de também seguir
todas essas considerações, ser visto como um objeto do mercado, pois precisa ser atraente para os
que o vêem como imagem representativa de uma determinada parte da cidade. Trata-se de uma
relação de cunho ainda mais subjetivo e emocional, pois o resultado final desse processo o
cartão-postal ainda tem uma relação subjetiva com os consumidores. Daí haver vários postais
de cada lugar, mudando-se o enfoque e os ângulos de visão, para se apreender os mais diversos
olhares e satisfazer a todos. E se compreende que as imagens do passado são também obras do
67
presente, nessa idéia de o passado é uma construção e constante reinterpretação (LE GOFF, p.
25) ou, como diz Heidegger, que a História é a projeção que o homem faz do presente no passado
(apud. LE GOFF, p. 29).
Mas, nesse difícil e complexo processo de “ler” as imagens dos cartões-postais, de se deixar de
ser um analfabeto nas imagens no sentido colocado por Benjamin (LISSOVSKY, p. 33), é
preciso cautela e moderação para não se cair na tirania da ‘intenção do autor”, pois ninguém tem
idéia do que o autor quis dizer, e ele mesmo pode não dominar todo o significado da imagem por
ele produzida (JOLY, p. 44). Como muito bem coloca essa autora (p. 45):
“para analisar uma mensagem, em primeiro lugar devemos nos colocar, deliberadamente do lado
em que estamos, ou seja, do lado da recepção, o que, é claro, não nos livra da necessidade de
estudar o hisrico dessa mensagem (tanto do seu surgimento quanto da sua recepção), mas ainda é
preciso evitar proibir-se de compreender, devido a critérios de avaliação mais ou menos
perigosos”.
É fundamental perceber, ainda, que nessas diversas imagens de postais se mantêm ainda
perceptíveis somente certas realidades urbanas. Assim, essa “cidade dos postais” não deve deixar
de ser analisada também por outros ângulos, pois existem muitas outras cidades dentro dessas
imagens cristalizadas, nas quais os conflitos urbanos existem cada vez mais presentes. Todos
vêem e participam da “cidade de cartão-postal”, mas apenas os favorecidos nela vivem; os outros
vivem principalmente na outra cidade, a cidade “invisível”, sem um único olhar. É preciso dar
conta desse outro componente do real, pois os esquecimentos e silêncios da história são
reveladores dos mecanismos de manipulação da memória coletiva e, tornar-se “senhores da
memória e do esquecimento” é uma das grandes preocupações de classes e de grupos que
dominam as sociedades históricas, no dizer de Le Goff (p. 422). Assim, as fotografias dos
68
cartões-postais devem ser compreendidas, sem dúvida alguma, como imagens ideológicas, pois
esse signo é simbólico, ou seja, uma representação, fragmento estético obtido por um produtor. O
documento tem que ser visto como um produto fabricado pela sociedade, conforme os interesses
das forças dominantes, como uma certa visão de “progresso técnico” evidenciado nos meios de
transporte fotografados. Em nosso estudo de caso, por exemplo, as imagens mudam dos burros e
dos saveiros para os bondes de burros e os veleiros, dos bondes elétricos e vapores para os
automóveis e aviões.
11
E isso seria nitidamente uma tentativa de mostrar o “progresso” de
Aracaju, o sucesso das políticas do Estado e dos grupos hegemônicos, capazes de criar uma
cidade, povoá-la, embelezá-la e “modernizá-la”.
11
– “Progresso Técnico” talvez na concepção de Gordon Childe, ao buscar certa “ordem” no processo histórico e ver
o progresso técnico como uma de suas expressões como produto social (LE GOFF, p. 43).
69
2º CAPÍTULO
TRANSFORMAÇÕES URBANAS DE ARACAJU: IMAGENS EM MUDANÇA
“Evitem dizer que algumas vezes cidades diferentes sucedem-se o
mesmo solo e com o mesmo nome, nascem e morrem sem se conhecer,
incomunicáveis entre si. Às vezes, os nomes dos habitantes permanecem
iguais, e o sotaque das vozes, e amesmo os traços dos rostos; mas os
deuses que vivem com os nomes e nos solos foram embora sem avisar e
em seus lugares acomodaram-se deuses estranhos. É inútil querer saber
se estes o melhores do que os antigos, dado que não existe nenhuma
relação entre eles, da mesma forma que os velhos cartões-postais não
representam a Maurília do passado mas uma outra cidade que por
acaso também se chamava Maurília.”
CALVINO, p. 30/ 31
70
As transformações no tempo ocorridas em Aracaju, desde sua fundação em 1855 até os dias
atuais, têm sido estudadas por diversos autores, que elaboraram ou utilizaram periodizações
construídas com diferentes objetivos. Todas elas têm como ponto de partida a elaborada por
Diniz em 1963, avançando para fases mais recentes, quer com base em indicadores econômico-
urbanísticos, quer utilizando características de intervenção governamental (LOUREIRO, 1983),
ou atuação de agentes de mudança urbana (CAMPOS, 2008), que podem ser vistas no Anexo III.
Para a presente Dissertação, voltada para a construção da imagem urbana, tentamos elaborar uma
periodização diversa das demais, não só porque o elemento característico das fases e, portanto, da
sua delimitação, são fundamentalmente imagens da cidade, associadas a determinados marcos
urbanos, como também porque a separação entre as fases é menos uma data e muito mais curtos
períodos de penumbra, nos quais a imagem passada se funde com a imagem em formação. Os
marcos urbanos se interpenetram, muitas vezes como permanências de uma época que se foi,
elementos residuais que às vezes mudam de significação. Assim, foram definidas cinco fases nas
transformações urbanas de Aracaju.
2.1 A FUNDAÇÃO DA CIDADE E SEU TRAÇADO
Em meados do século XIX, com o país já independente e dirigido pela política econômica
mercantil capitalista do Segundo Reinado, não era mais necessário o modelo de cidade-forte, e
sim um outro modelo de cidade, a cidade-porto, para favorecer os contatos de importação e
exportação da sua hinterlândia, porque o ideal, ainda mais, era que esse centro econômico fosse
também a capital da Província, o mais importante centro administrativo e político, e estendesse o
seu domínio para as zonas produtivas. É nesse novo contexto, portanto, que surge Aracaju, já que
71
São Cristóvão, a antiga capital da Província de Sergipe d’El Rey, estava no fundo do vale do
Vaza-Barris, à margem esquerda do Paramopama e, ainda, localizada no topo de um morro com
encostas íngremes, sendo, tipicamente, uma cidade forte colonial. Portanto, os seus produtos e de
outros centros de poder, também distantes do litoral, como Estância, Laranjeiras e Maruim, eram
transportados em etapas, com barcos pequenos e próprios para rios rasos levando-os até próximo
ao litoral e, daí, embarcados em navios de grande calado, processo que não permitia eficaz
controle das exportações.
A idéia da formação de Aracaju em uma planície litorânea, arenosa, possibilitava facilidades de
expansão desse comércio e seu controle em todos os sentidos, tanto para o exterior como para o
interior da Província, sendo o porto instalado na margem direita do estuário largo e profundo do
rio Sergipe. Este facilmente poderia ser mais equipado e favorecer um melhor controle
alfandegário. Um outro motivo para essa localização era o fato de que a região mais próxima, a
Cotinguiba, com o seu solo massapê, exportava cerca de 25.000 caixas de açúcar ao ano,
dominando o mercado, enquanto que a do Vaza-Barris, onde estava São Cristóvão, exportava
2.000 caixas. O movimento das barras da Província expressava bem essa diferenciação
econômica: entre 1850 e 1855, entraram apenas 87 navios pela difícil e perigosa barra do Vaza-
Barris, fato indicado pelo próprio nome do rio, pela barra do Real, visando atender a Estância e
ao sul da Província, entraram 206 navios enquanto pela barra do Cotinguiba, 716 navios.
(FORTES, p. 20). Assim, não havia dúvidas sobre as vantagens na mudança da capital para o
litoral dessa área mais próspera e as praias do Aracaju, inclusive ainda pela possibilidade de
influência em outras zonas da Província, que o canal do Pomonga interligava os estuários do
Sergipe e do Japaratuba. Dessa forma, a idéia de alguns políticos em transferir a capital para
Laranjeiras era incoerente, pois essa cidade, embora sendo o centro econômico mais destacado,
72
carecia de um porto com acesso direto ao oceano. Não se poderia pensar, também, na instalação
da capital no Porto das Redes, na Barra dos Coqueiros, local de difícil acesso terrestre e muito
quente.
A cidade de Aracaju foi estabelecida como capital da Província em 17 de março de 1855, através
da Resolução nº. 413. Uma área praticamente desabitada daria lugar a uma cidade planejada,
totalmente a ser construída, tendo apenas uns pequenos povoados próximos. Atendia-se, então, a
prévios planos político-econômicos que visavam uma maior prosperidade e controle da região.
Dentre estes povoados, o mais próximo a esse local era o de Santo Antônio do Aracaju, que
formalmente foi elevado à categoria de cidade pela citada Resolução e denominado de Aracaju.
Porém, Aracaju de fato não se desenvolveu a partir desse povoado, mas à beira das águas de
maior profundidade, bem próxima ao porto a ser construído, conforme a necessidade
emergencial do momento. O idealizador de toda esta mudança “revolucionária” para a época foi
Inácio Joaquim Barbosa, um jovem administrador de 33 anos e Presidente da Província desde
novembro de 1853 que, aliando-se ao Barão de Maruim e aos políticos conservadores do partido
majoritário derrotava, assim, os ideais e as pressões de alguns políticos e senhores de engenho.
Barbosa tinha consciência da crise do produto no mercado internacional e que, ainda, com a
proibição do tráfico negreiro, a ausência de máquinas na agricultura e o crescimento da cultura
do café no sul e sudeste do país tinha-se de lutar por uma modernização geral na produção para
manter uma posição no mercado.
12
12
- O principal produto de exportação da época era o açúcar mascavo produzido nos engenhos bangüês, que
utilizavam o gado como força motriz. A criação de gado sempre foi a atividade predominante em Sergipe, que
abastecia os engenhos da Bahia e de Pernambuco. No século XIX, com a valorização do açúcar e do algodão, a
pecuária entra em decadência e se desloca para o interior.
73
Com o tempo, todos os políticos, na época unidos pela Política Central de Conciliação 1853-
1858, que estabeleceu um acordo entre partidos, perceberam as vantagens, os lucros que viriam
de tal mudança e aprovaram a iniciativa de Barbosa. Diz-se aqui mudança “revolucionária”,
porque, como já explicitado:
“a praia do Aracaju em 1855 era uma estreita faixa de terra muito baixa e alagável entre dunas,
mangues e pântanos. Sua vegetação era de cajueiros, aroeiras, cambuís, cambucás, gobirabas e
alguns coqueiros. A praia do Aracaju era a água. Da água parada e da água dos riachos, do mangue e
do rio ninguém escapava.” FORTES, p. 23
N
Figura 2.1 - Portos marítimos e fluviais de Sergipe em 1855.
Barra do Cotinguiba
Barra do Vaza-Barris
Barra do Real
74
Inicialmente, devido ao plano de mudança da capital, houve a transferência gradual para Aracaju,
a partir de novembro de 1854, da Alfândega, da Mesa de Rendas Provinciais e, também, criou-se
o Correio e uma sub-delegacia. Após a Resolução de março de 1855, não se permitindo mais
improvisações nas construções da nova capital, incumbiu-se o capitão de engenheiros, Sebastião
José Basílio Pirro, da tarefa de traçar e dirigir o mais urgente possível o “plano” da capital, que
seria construída pelo engenheiro Pereira da Silva. O plano de Pirro se constituía em um tabuleiro
de xadrez, com algumas ruas retas e perpendiculares a uma retificação da curva do rio, e mais
outras paralelas a essa última, com quarteirões quadrados e iguais, com 55 braças ou 100 m de
lado, e separados por ruas de largura igual a 60 palmos ou 12 m.
13
A cidade limitava-se a 32
quadras, um quadrado de aproximadamente 540 braças ou 982, 80 m de lado. A única alteração
realizada no citado plano, provavelmente idealizada por Inácio Barbosa, foi o traçado curvo da
primeira rua junto ao rio, acompanhando o traçado fluvial. Fugia-se, assim, do ideal da
regularidade extrema, modelo que agredia de certo modo o meio natural, pois não se adaptava à
topografia original. Os diversos mangues e dunas existentes na área dificultavam, é claro, a
implantação do “xadrez” e ainda mais porque nesse tempo não havia equipamentos topográficos
de precisão para facilitar todo esse processo. O alinhamento das ruas era marcado por cordas e
estacas, que facilmente se deslocavam, fato que daí explica, em parte, o formato não exatamente
ortogonal de algumas quadras mais incertas do Centro da cidade.
Dentro do plano de Pirro, e principalmente após as posturas estabelecidas pela Câmara em
setembro de 1856, as casas e outras pequenas construções tinham que ser sempre alinhadas e
obedecer a estas regras, da mesma maneira que outras cidades brasileiras do século XVIII
13
-
Considerou-se 1 braça = 1,82 m e 1 palmo = 0,20 m.
75
(PORTO, 1991, p. 55). As posturas municipais tinham a intenção de uma padronização apenas
formal, para garantir nas cidades brasileiras o aspecto lusitano. Ditavam, por exemplo: dimensões
e mero de aberturas, altura dos pavimentos, cuidados com fachadas e passeios,... (REIS
FILHO, 1997, p. 24). Quando Aracaju se encontrava no início da construção, o Ministério do
Império enviou um “plano” a ser obedecido, aprovado por uma comissão de engenheiros, que
sugeria esquinas curvas, diminuía em cinco braças o tamanho das quadras e aumentava em dez
palmos a largura das ruas. Como sua implantação exigiria a demolição de várias construções, não
foi aceito (FORTES, p. 26).
Ressalta-se que o plano de Aracaju, limitando-se apenas ao traçado das ruas e a algumas posturas,
jamais pode ser considerado um “plano” de urbanismo, como se entende hoje, porque até mesmo
na Europa do século XIX, onde o grande crescimento das cidades causado pela Revolução
Industrial e seus problemas eram discutidos por pensadores diversos, ainda não havia
propriamente um urbanismo, sendo esses estudiosos considerados apenas seus precursores
(CHOAY, pp. 3/ 7).
Acredita-se que, em face de todas as dificuldades para a implantação da cidade, criou-se o mito
de que o Plano de Pirro era padrão de modernidade absoluta, sem qualquer ligação com o
passado.
14
Essa imagem, então, irá permanecer associada à cidade por muito tempo, pelo menos
14
- O traçado ortogonal não tem nada de original, existindo desde a Antiguidade, e reforçado na expansão européia
pelos continentes.O modelo de tabuleiro expandiu-se tanto para atender a um pensamento baseado na geometria e na
simetria como pelas vantagens na execução. Os espanhóis o difundiram na América, codificado por Filipe II na lei de
1573. Após a aplicação deste nas cidades coloniais da América Central e do Sul, franceses e ingleses o utilizaram na
América do Norte, tornando-o o modelo ideal para as cidades. Dque Aracaju, como também outras tantas cidades
do Brasil, herdarão esse traçado, tão diferentes daqueles implantados de forma mais espontânea pelos portugueses.
76
até meados dos sessenta, quando uma maior interligação do espaço nacional começou a mostrar
aos seus habitantes que o traçado de xadrez era muito mais comum do que eles pensavam.
2.2 A FORMAÇÃO DE ARACAJU
Aracaju foi, então, transformando-se aos poucos, lentamente, sendo aterrados diversos locais, o
que permitiu em parte a redução das moléstias, tornando-a um lugar razoavelmente habitável
cerca de dez anos após sua fundação. As condições do meio propiciaram várias doenças como o
cólera-morbus que, no primeiro ano, levou à morte muitos dos seus habitantes, inclusive o seu
idealizador e fundador, fato que não permitiu de início o cumprimento perfeito do Plano, bastante
restringido em sua área de abrangência. O problema maior era que a capital situava-se de fato
numa ilha circundada por córregos e terrenos alagadiços, pois:
“... as primeiras casas e ruas de Aracaju situaram-se entre a Praça Fausto Cardoso e o atual
Vaticano. Era esta zona limitada pelos charcos do Caborge (rio que corria entre os quarteirões
limitados pelas ruas Santo Amaro e Itabaianinha e que deu lugar a depressão desta rua), a foz do
Riacho Olaria e a depressão inundável da Praça do Palácio.”
FORTES, p. 29
Em 1857 iniciou-se uma maior expansão da cidade: abriu-se a estrada que ligava Aracaju à antiga
capital que, até hoje, recebe o nome de rua São Cristóvão; delimitou-se a rua da Aurora em
função do porto, a rua de São Salvador, por causa da igreja de São Salvador, a rua do Barão e
traçou-se o contorno da atual praça Fausto Cardoso. Como dentro do quadrado de Pirro as
posturas municipais eram rígidas, um outro tipo de ocupação, contrário a imposições, foi
realizado pela população mais carente, como única alternativa viável para construir seus casebres
77
mais a noroeste. Observou-se, nesse momento, um primeiro traçado natural, longe dos olhares da
cidade, mas que só desapareceu realmente em 1920. Já havia a situação da especulação pela terra:
“Esta fuga foi o primeiro fenômeno geográfico de diferenciação social que se operou no Aracaju. As
terras fronteiras ao rio, tidas como as melhores, ficaram na posse dos que tinham recursos suficientes
para pagar o alto preço a que chegaram os terrenos da capital, especulação que as condições
topográficas, limitando a área edificável, influenciaram mais que a confiança no futuro da cidade.”
PORTO, 1991, p. 43
Por volta de 1860, a cidade possuía mais ou menos 600 metros ao longo do rio e 100 metros para
o interior. Aos poucos, surgiu uma nova fase de crescimento, com a estrada para a Jabotiana, hoje
rua Itabaiana, a intensificação da ocupação para o oeste, mediante a construção da igreja matriz, e
o maior desenvolvimento próximo à estrada de ligação a São Cristóvão e das habitações
improvisadas. Houve uma expansão da cidade para oeste, que chegou a ocupar cerca de 300
metros de distância do rio.
N
Figura 2.2 – Planta de Aracaju em fevereiro de 1857.
Local da futura Praça
Fausto Cardoso
Igreja Matriz
Alagadiços
Estrada para o
Santo Antônio
78
Figura 2.3 – Planta de Aracaju em 1865 superposta à planta atual.
N
Praça da
Matriz
Praça do
Palácio
Praça da
Cadeia
Ponte do Imperador
Rio Sergipe
79
Figura 2.4 – Fotografia da Igreja Matriz por volta do final do século XIX.
Nesse período, as edificações em geral eram muito simples, de taipa, palha e adobe, materiais
naturais da região. Havia, mesmo nesse tipo de construção, um custo elevado pela necessidade da
execução de aterro e, em outros tipos de construção um pouco mais elaborados, custos bem
maiores pela inexistência de materiais mais resistentes e profissionais qualificados. As
construções, em geral, eram bastante estreitas, devido aos aforamentos de terrenos de marinha
concedidos a alguns poucos que, para obtenção de maiores lucros, os loteavam em mínimas
partes, com larguras entre 4 e 25 braças. Dessa maneira, percebe-se que, com exceção dos prédios
administrativos, apenas os mais abastados poderiam construir de uma maneira mais duradoura e
dentro do plano, como o Barão de Maruim, um dos primeiros a erguer uma casa de alvenaria na
rua da Conceição, hoje João Pessoa. O padrão erguido, já bastante utilizado no restante da
Província, era o da casa colonial, estreita, com uma porta e duas janelas de frente para a rua,
ainda construída sobre este limite e as laterais. As plantas eram bem semelhantes: uma sala de
visitas e de jantar na frente, a cozinha e convivência nos fundos, que aproveitavam toda a
iluminação e ventilação naturais. Interligavam-se estas áreas por um corredor longo, onde havia
as alcovas, bem escuras. O sanitário sempre estava fora do corpo da casa. Como capital pobre de
recursos, em Aracaju não havia, é claro, uma arquitetura local correspondente àquela
executada nos centros mais ricos, como Rio de Janeiro e São Paulo, em estilo neoclássico.
As imagens da rua da Aurora no final do século XIX, margeando o rio, retratam bem a
precariedade do novo assentamento, com ruas sem pavimentação ou qualquer urbanização,
mesmo na atual Praça Fausto Cardoso. A Ponte do Imperador é ainda um simples pontilhão de
madeira.
80
Figura 2.5 - Ponte do Imperador e Rua da Aurora por volta de 1890. É interessante observar, à direita, a primeira
construção do Hotel Brasil, depois Sul Americano, no local onde hoje se situa a Assembléia Legislativa.
Figura 2.6 - Rua da Aurora e Aracaju vista do rio Sergipe no início do século XX. Ao longo da rua observa-se a linha
contínua de casas simples e térreas, só se percebendo um sobrado mais ao longe. Aparecem canoas no
primeiro plano e, aparentemente, um vapor atracado no trapiche Lima.
A imagem da cidade nessa época deve ser entendida, então, como reflexo de todas as dificuldades
físicas e falta de recursos da Província. A Capitania de Sergipe tinha obtido sua emancipação
política da Bahia em 1820 e, depois de tantos anos de dominação, ainda lutava para se firmar,
apesar das crises do Império. As condições extremamente precárias do ambiente e do incipiente
assentamento urbano ficam patentes nas trovas populares que circulavam à época, muitas delas
criadas pelos habitantes de São Cristóvão:
“Quem for para Aracaju
Leve terço pra rezar
Que Aracaju é uma terra
Onde as almas vão penar”
81
“As águas de São Cristóvão
Só parecem de cristal
As águas de Aracaju
Só parecem rosargal
Como coloca Silva (1992, p. 79):
“para os habitantes de o Cristóvão, orgulhosos dos seus conventos coloniais, das suas igrejas
seculares, dos seus sobrados patriarcais, do imponente Palácio Presidencial que eles julgavam
um dos melhores do Império (e aqui volta a questão das imagens distorcidas em decorrência do
isolamento da Província) a cidade que surgia, timidamente numa “praia inóspita”, nem sequer
merecia as honras de povoação.”
“Aracaju não é cidade
Nem também povoação
Tem casinhas de palha
Forradinhas de melão”
Exageros e preconceitos à parte, que as posturas da nova capital proibiam a construção de
casas de palha, relegadas à periferia do Plano de Pirro, fica clara a imagem negativa lançada
sobre a nova capital. E essa imagem não deixa de ser percebida por diversos elementos
evidenciados, como já visto, nas primeiras fotografias existentes da cidade que, apesar de a
retratarem mais para o final do século, mostram uma situação de extrema precariedade.
Informações estatísticas do século XIX também confirmam as difíceis condições de higiene e
saúde enfrentadas na capital, onde as “febres do Aracaju” eram constantes e a mortalidade
infantil chegava a quase 50% dos óbitos (SANTANA, 2001, pp. 99/ 105).
Em 1872, a população era de cerca de 9.500 habitantes e, em 1889, a cidade possuía
aproximadamente 15.000 habitantes. Por volta desta época, foram introduzidas nos engenhos as
primeiras máquinas de moer açúcar a vapor e, percebendo-se a complexidade e necessidade de
melhorias no produto, criaram-se as usinas para o fabrico do açúcar, e os engenhos centrais se
82
estruturaram melhor para o cultivo da cana. O algodão teve então a sua fase áurea no mercado,
em conseqüência da Guerra de Secessão dos Estados Unidos, o que acarretou anos depois, em
1883, a inauguração da primeira fábrica de tecidos da cidade, a Cruz e Cia ou Fábrica Sergipe
Industrial. Com a Lei Áurea de 1888, que gerou a crise da produção do açúcar e, depois, com a
fase de políticas instáveis do novo país republicano, Aracaju tendeu a crescer rapidamente,
ocupando os espaços vazios de sua área, reforçando a densidade das zonas periféricas ao Plano,
inclusive com o incremento da população de ex-escravos, e expandindo-se para o norte e para sul,
sempre ao longo do rio. Para o norte esse crescimento se deu muito vinculado ao rio Sergipe e
aos ventos que eram mais fortes e constantes. Do pequeno centro para essa direção
desenvolveu-se a Maçaranduba, depois Chica Chaves, Tecido, atualmente, denominado Bairro
Industrial. No final do século XIX, essa área era marcada pela presença de fábricas de tecidos,
que possuíam atracadouros para os saveiros que traziam algodão dos entrepostos interioranos. Era
ocupada por uma população mais pobre, mas é interessante observar que, aos poucos, também
se localizou uma linha de casas e palacetes margeando o rio, alguns deles existentes até hoje.
Para o sul, a cidade se expandiu mais lentamente e, somente nos finais do século XIX, alcançou a
Fundição (indústria montada por ingleses para suprir necessidades da indústria açucareira),
localizada na confluência das atuais avenidas Barão de Maruim e Ivo do Prado, o chamado Bairro
Boa Vista. existiam saboarias e uma serraria, definindo o seu caráter periférico ao então
centro. O acesso era difícil, em decorrência de áreas alagáveis ao seu redor e, conforme Porto,
a partir da implantação dos bondes a burros a área passou a ser utilizada como ponto de banho e
veraneio. Ainda mais para o sul do estuário, a saliência conhecida como Ponta do Tramandaí
(atual local do Iate Clube) era utilizada desde os primórdios da cidade como ponto de apoio à
navegação, facilitando a praticagem do porto em face das grandes dificuldades apresentadas pela
83
barra, quer na entrada, quer na saída de navios, tema tratado em vários trabalhos específicos.
Posteriormente, ainda no século XIX, o local foi possivelmente utilizado como depósito de
carvão, talvez para abastecimento dos primeiros vapores que chegavam à cidade.
2.3 A “CONSTRUÇÃO” DA CAPITAL
Concluído o século XIX, Aracaju estava implantada e pronta para iniciar o processo de sua
consolidação como capital. A cidade tornou-se o centro industrial e comercial mais importante de
Sergipe, apoiada pelo transporte fluvial e pelo ferroviário, que se estendia a partir da cidade para
o norte e sul, reformulando os eixos de tráfego. Daí que, por volta de 1910, os antigos centros de
poder perderam, finalmente, seus lugares de destaque, pois até então o transporte fluvial do
campo para a capital ainda era essencial para o escoamento da produção. Esse maior crescimento
urbano se deu em parte por decorrência das novas medidas políticas adotadas pela República
Velha e, também, pela eclosão da Primeira Guerra Mundial. O Nordeste era o fornecedor de
matéria–prima para as indústrias do sul, inclusive as têxteis, e o algodão, nesse período, mais uma
vez se tornou o segundo produto agrícola mais exportado pelo Estado. Assim, até cerca de 1945,
Aracaju vai passar por uma fase que pode ser denominada de “construção da capital”, de
consolidação da cidade-capital republicana, centro hegemônico do Estado.
Nessa fase, a cidade vai apresentar grande expansão horizontal, extravasando realmente o
“Quadrado de Pirro” delimitado na sua fundação.
84
Figura 2.7 – Fotografia Aérea com Vista das Praças “Monumentais” em julho de 1923. No canto inferior direito, vê-
se parte da Ponte do Imperador e o Rio Sergipe.
Figura 2.8 - Fotografia Aérea com Vista Parcial do “Quadrado de Pirro” em julho de 1923.
Rua Itabaiana
Rua Pacatuba
Av. Ivo do Prado
Rua Santa
Luzia
Rua Japaratuba
Rua Itabaiana
Rua o Cristóvão
85
Figura 2.9 – Cartão-postal da Praça Fausto Cardoso na década de 20, com vista do seu centro para a Catedral.
Figura 2.10 - Panorama da Cidade na década de 20, mostrando a partir da Catedral os Palácios, o Jardim Olímpio
Campos e, ao fundo, o rio Sergipe.
86
Figura 2.11 – Praça da Catedral na década de 20. Destaque para as palmeiras imperiais.
Figura 2.12 – Vista panorâmica da Catedral para a Rua Santa Luzia, sentido sul, nos anos 20. Essa rua era o limite da
ocupação da cidade na direção oeste, ou seja, contrária à Av. Ivo do Prado, margeada pelo rio Sergipe.
87
Figura 2.13 – Vista do rio Sergipe para a Avenida Ivo do Prado na década de 20. No lado direito, observa-se a Ponte
do Imperador e a Praça Fausto Cardoso.
Figura 2.14 – Avenida Ivo do Prado vista da Praça Fausto Cardoso em direção ao sul nos anos 20.
88
Para o norte, acompanhando o estuário, o bairro Chica Chaves continuou crescendo graças ao
aumento da produção das bricas de tecidos. O Santo Antônio também vai ter sua ocupação
bastante incrementada após 1910, com a implantação do sistema de bondes a burros, e mais ainda
a partir de 1926, quando os bondes elétricos facilitaram a ligação entre essa área mais remota e o
Centro. Essas zonas vão atrair também uma parte da população de renda mais elevada. O
povoamento se intensificou com a urbanização da antiga Estrada Nova e a criação da Avenida
João Ribeiro na década de 30.
Figura 2.15 – Fotografia com Vista Aérea Parcial do Bairro Chica Chaves em 1922.
Diz o poeta Jacintho de Figueiredo nos versos da Feirinha do Tecido” (p. 51):
A Feirinha em “Chica Chaves”,
A Feirinha do Tecido:
Carne não tinha, nem aves...
Mas beiju, menduim cozido.
Livre de impostos, entraves,
- Um comércio divertido...
Sem anúncio, sem alarde,
Dia de sábado, à tarde,
Tinha lugar e função:
Logo à saída da ponte,
E, da Fábrica, adiante,
Bem defronte do portão.
89
Figura 2.16 - Fábrica Sergipe Industrial no início do século XX.
Figura 2.17 - Chalé da Fábrica Sergipe Industrial no início do século XX.
90
Figura 2.18 – Avenida João Ribeiro e Igreja do Santo Antônio na década de 30. A linha de bonde elétrico ligava
o Centro de Aracaju ao limite da colina.
Figura 2.19 – Fotografia do bonde elétrico da linha Santo Antônio.
91
Para o sul, a ocupação ao longo do estuário se consolidou até a “Fundição”. De fato, a partir do
início do século XX, o fluxo mais forte de urbanização passou a se dirigir para essa área em
busca de amenidades. A uma classe média e alta predominantemente, acompanhando a curva do
estuário e pouco adentrando para o oeste, chegando no máximo na altura das ruas Itabaiana e
Santa Luzia, só que com uma ocupação mais rarefeita. Nessa parte também as ruas foram
implantadas dando continuidade ao plano de Pirro, e certos pontos, já bem urbanizados, se
constituíram em áreas privilegiadas de moradia, como rua Pacatuba, a rua Itabaiana, a atual Praça
Tobias Barreto e a Praça Camerino.
“...Terrenos vagos... casas isoladas...
A rotina, diurna, do Ateneu.
E desde o escurecer às madrugadas,
As querelas do sapo: - “é meu!... quem deu?...”
Embora, totalmente, arborizada,
Tendo ao centro um jardim, ampla calçada,
Vivo contraste do que fora atrás...
A praça Camerino, ensimesmada,
Guarda consigo um quê de água parada...
- Presença que ficou daquela paz!
FIGUEIREDO, p. 111
Entretanto, o deslocamento intra-urbano ainda era bastante difícil pela ausência de transportes
coletivos e somente a expansão do sistema de transporte urbano, como já explicado, irá propiciar,
a partir de meados dos vinte, o crescimento ainda mais para o sul, para além da Fundição, com a
criação do Bairro Inácio Barbosa e a primeira definição de uma área específica de veraneio, a
Praia Formosa. Para isso foi preciso que os bondes elétricos chegassem até a atual Praça Getúlio
Vargas, viabilizando um maior contato entre as zonas mais antigas da cidade e uma nova área, ao
sul da ponta do “Inflamável”.
15
15
- Na ponta de terra que avança para o estuário, onde hoje se localiza o Iate Clube, foi instalado, ainda na segunda
metade do século XIX, um depósito de carvão para o abastecimento de navios; era o “carvão”. Na virada do século,
se instalou um depósito de inflamáveis, que se destacou bastante a partir dos anos 20, com a ampliação dos
veículos automotores e do consumo de combustíveis, vendidos em latas e tambores. (PORTO, 2003, pp. 131/ 132).
92
Figura 2.20 – Vista da Rua Pacatuba, nos anos 20, a partir da Praça Fausto Cardoso em direção ao sul, ou melhor,
à Praça Camerino.
Figura 2.21 – Vista de Trecho da Rua Itabaiana, anos 20, com destaque para o Grupo Escolar General Siqueira, hoje
Quartel da Polícia Militar.
93
Figura 2.22 – Fotografia parcial da zona sul de Aracaju em julho de 1923. Realizada pela esquadrilha do primeiro
“Raid Aéreo” Rio/ Aracaju. Em destaque, no centro, o prédio do Seminário, visto abaixo.
Figura 2.23 – Cartão-postal fotográfico do Seminário Sagrado Coração de Jesus, cerca da década de 20.
Futura
Praça Camerino
Praia Formosa
Futura
Av. Barão de Maruim
Escola dos Aprendizes
Marinheiros
Ponta do “Inflamável
Futura Praça Tobias
Barreto
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Pouco a pouco a zona sul se consolidou, mais prédios foram sendo construídos, as praças,
urbanizadas. A Praia Formosa se constituiu na primeira área especificamente definida como
balneário e zona de veraneio, assim continuando até os anos quarenta. Em reminiscências dessa
época, Melins coloca que essa...
“Era a praia mais freqüentada pelos aracajuanos. Em sua orla, a maioria das casas era construções
simples, habitadas por pescadores. Em outras de melhor qualidade, residiam gente de classe média...
As outras residências cobertas de palhas ou telhas, quase todas com pequenos alpendres ou varandas,
ficavam fechadas por longos meses, até a época do verão. Quando no fim do ano os colégios davam
férias a seus alunos ou encerravam-se as festas de Natal, muitas famílias de classe média alugavam
casas para veranear. Naquela temporada, as Ruas da Frente, Raimundo Fonseca e Júlio Santana
eram muito movimentadas. Além dos veranistas e moradores, centenas de pessoas da cidade iam para
lá tomar banho de mar ou se bronzearem nas areias alvas.
Às tardes, nas varandas de suas casas, deitados em redes, os veranistas descansavam
despreocupados e tranqüilos; crianças brincavam em esteiras. Os rapazes e as moças sentavam no
quebra-mar, conversando animadamente ou jogando a linha de fundo, tentando fisgar algum bagre.
No fim da tarde, pescadores com suas lambudas descarregavam seus pescados, que eram vendidos
ali mesmo aos veranistas. Os que sobravam, eram levados aos mercados ou restaurantes.
Outras crianças brincavam de manja ou jogavam bola nas ruas empoeiradas.
Raramente passava um automóvel. O ônibus Paciência que fazia a linha Centro/ Praia Formosa,
quando não estava quebrado, aparecia por lá, somente quatro ou cinco vezes no dia.”. (Murillo
MELINS, p. 257/ 258)
“Aos sábados e domingos, a Praia ficava repleta de banhistas que tomavam sol, em frente à orla ou
mergulhavam no canal ou nos vaus. Durante muitos anos, a Praia Formosa foi a mais querida e
romântica de Aracaju”.
MELINS, p. 260
Figura 2.24 – Fotografia de Aracaju vista da ponta do “Inflamável” em direção ao Centro nos anos 20.
95
Figura 2.25 – Vista da Praça Camerino para o sul na década de 30, recém urbanizada.
Figura 2.26 - Praça Camerino na década de 40, tendo no seu entorno moradias de uma classe mais abastada.
96
Figura 2.27 – Trecho da Avenida Barão de Maruim nos anos 30.
Figura 2.28 – Cartão fotográfico, por volta dos anos 40, tendo o Seminário à direita e, no lado oposto, o Asilo.
97
Figura 2.29 – Colégio Patrocínio de São José na década de 40. Construído na Praça Tobias Barreto, tem a sua
fachada principal voltada para o leste.
Figura 2.30 - Igreja São José na década de 40. Foi erguida também na Praça Tobias Barreto, em meio ao manguezal,
sendo, por muitos anos, o limite sul da cidade. A sua fachada principal é voltada para o norte.
98
Figura 2.31 - Praça Getúlio Vargas na década de 40. À esquerda, vê-se o Palacete da família Rollemberg construído
em 1917 no estilo eclético.
Figura 2.32 – “Tabuleiro” da Praça Getúlio Vargas na década de 40. Abrigo para a parada dos bondes que ligavam a
zona sul ao Centro da cidade.
99
No início dos trinta, outra área de veraneio começou também a ser estabelecida ainda muito longe
da malha urbana, dispondo de praias antes praticamente inacessíveis aos aracajuanos: a Atalaia.
Ela era conhecida antes, mas, para se chegar lá e passar alguns dias em precárias habitações de
palha, era uma aventura. Por caminho de terra chegava-se ao “carro quebrado” e ao Poxim,
atravessando-o em canoas, e daí seguia-se por outra estrada até a praia. Como coloca Melins,
“No início dos anos 30, as viagens para Atalaia eram feitas em carroças, charretes ou nos velhos
Fords, até as margens do Rio Poxim, atravessava-se de canoa, e o resto do percurso era feito a pé ou
em carros movidos à tração animal. Alguns ricos, não querendo privar-se do conforto dos seus
“Fobicas”, quando chegavam à beira do rio, juntavam duas canoas, colocavam pranchas,
embarcavam o veículo e faziam a travessia. Daí em diante, por uma estrada “Real”, completavam o
resto da viagem.”
MELINS, p. 268
Somente em 1936/ 37, na administração Godofredo Diniz, o melhoramento do traçado e o total
empiçarramento da estrada, além da construção de uma ponte de concreto sobre o Poxim pelo
Governo do Estado, tornaram efetiva a ocupação da nova praia, embora ainda acessível apenas
para os poucos possuidores de automóveis da época. Pouco a pouco, tornou-se local privilegiado
para a população de renda média e alta, chegando a contar com um cassino, que nunca funcionou,
mas que se tornou o local de brincadeiras da criançada e de bingos e festas para o seleto grupo de
veranistas. também se localizou o Palácio de Veraneio do Governador do Estado. Dizia-se, à
época, que veranear na Atalaia, com seu ar puro e os banhos de mar, tanto no oceano próximo
como no braço de mar que lhe ficava em frente, garantia saúde para o ano inteiro. Devia-se ficar
com o sal na pele após o banho matutino, pois se acreditava nessa prática como boa para a saúde.
100
Figura 2.33 – Ponte da Atalaia sobre o rio Poxim na década de 40. Foi construída em concreto e com acentuada
elevação para permitir a passagem de canoas à vela.
Figura 2.34 – Postal com detalhe da Ponte da Atalaia também na década de 40.
101
Na direção oeste, somente também a partir dos trinta, a cidade vai se expandir para além da
“Baixa Fria”, zona alagadiça após o cordão de dunas, formando, então, o bairro Siqueira Campos
e, depois, os bairros 18 do Forte, América e Cidade Nova. Foi a época do apogeu do transporte
ferroviário, que deslocou, em parte, o eixo de crescimento da cidade. Deve-se compreender que
nessa época, com o setor primário atravessando uma grande crise, com a queda de preço do
açúcar no mercado e, além disso, com o algodão sofrendo a concorrência de produção de Minas
Gerais, São Paulo e Paraná, ocorreu uma redefinição econômica da cidade, que se firmou, então,
como maior centro comercial e de serviços do Estado. Cresceu espontaneamente, quase sem
apoio do governo, e praticamente através de investimentos particulares. Desenvolveram-se os
citados bairros, sendo povoados pela população mais pobre da capital, com condições urbanas
bastante precárias. Em 1934, 40 % das habitações da cidade eram classificadas como “casebres
de dunas” e, certamente, para essa elevada percentagem muito contribuíam as edificações mais a
oeste.
É importante observar que, nessa longa fase, o Centro mais antigo tinha uma outra configuração
urbana, bem mais estruturada. As ruas comerciais e as praças monumentais davam à urbe um
porte de capital, pois estavam reformadas desde a ocasião do Centenário da Independência. De
fato, nos anos 20, houve a intensificação de serviços de arborização e embelezamento geral das
praças, construções e reformas de prédios públicos, como também de ruas e avenidas, margeadas
por prédios comerciais assobradados no estilo eclético, tudo com a intenção primordial de
modernização da cidade. Dentre essas, pode-se citar as reformas do Palácio do Governo e da
Assembléia Legislativa, realizadas por uma equipe de artistas italianos, e a criação do parque
Theophilo Dantas, grande obra de urbanização. As residências da cidade nas zonas central e sul
também se transformavam, adotando o ecletismo, às vezes apenas caracterizado por reformas nas
102
fachadas com acréscimo de detalhes, ou até com grandes alterações formais, casas de porão alto,
palacetes e criação dos jardins laterais.
O período abrangeu grandes progressos técnicos na cidade: em 1908, água encanada; em 1910,
bondes de tração animal; em 1913, lâmpadas elétricas; em 1914, serviço de esgotos; em 1916,
rede telefônica e em 1926, bondes elétricos. O crescimento demográfico foi notório, com a
população duplicando em pouco mais de 20 anos: em 1924, estima-se que a cidade contava com
42.469 habitantes, que chegaram a 59.031, em 1940.
Figura 2.35 – Postal da Praça Fausto Cardoso, muito bem ajardinada, emoldurada pelo rio Sergipe nos anos 30.
À direita, são vistos os trilhos da linha de bonde e um deles circulando pela área.
103
Figura 2.36 – “Praça Automobistica” na década de 30. Construções mais imponentes margeavam a Praça do
Palácio. Ao fundo, vêem-se as cúpulas da Escola Normal.
Figura 2.37 - Rua João Pessoa na década de 30, principal rua de comércio. Era ladeada por edifícios comerciais, a
maioria com dois pavimentos, e continha posteamento central e trilhos para duas linhas de bonde.
104
Figura 2.38 – Praça Pereira Lobo na década de 30. À esquerda, relógio do Mercado e, à direita, torre da capela do
Ginásio N. Sra. de Lourdes, colégio feminino da ordem das sacramentinas.
Figura 2.39 - Rua João Pessoa na década de 30, no trecho da Praça do Mercado ou Pereira Lobo.
105
Figura 2.40 – Crescimento Espacial Aproximado de Aracaju.
Fonte básica: DINIZ, 1963.
106
2.4 CONSOLIDAÇÃO E ADENSAMENTO DA MALHA URBANA
No período entre o final da Grande Guerra e o final dos sessenta, Aracaju passou por uma fase
de consolidação como capital estadual, com maior ocupação dos vazios intra-urbanos e uma
pequena expansão da malha, sobretudo para oeste. A economia do Estado, relativamente
estagnada no período, não favoreceu o crescimento da capital. Todavia, durante essa longa fase
houve oscilações econômicas e até ações político-governamentais que quebraram a monotonia
dessa situação quando vista a longo prazo, inclusive com a manutenção dos marcos urbanos
tradicionais e acréscimo dos novos marcos verticalizados. Somente com a descoberta do petróleo
em Carmópolis, por volta de meados dos sessenta, criaram-se as condições econômicas
indispensáveis para uma acelerada retomada do crescimento urbano no período seguinte. A
imagem que fica para esses aproximados vinte e cinco anos é, portanto, a de uma cidade pequena,
pacata, provinciana, sem grande dinamismo, para não dizer, estagnada. Uma cidade que não
chegou a alcançar 200.000 habitantes e onde “todos” de determinadas classes sociais se
conheciam; as festas populares reuniam grande parte da população; as retretas e o “footingna
Praça Fausto Cardoso e na rua João Pessoa congregavam toda a elite; saborear os sorvetes da
Yara nas noites de domingo era obrigatório para a juventude.
Na década de 40, a definição de um novo meio de transporte dominante, o rodoviário, favoreceu
um lento, mas constante crescimento da cidade para oeste, acompanhando a implantação do novo
sistema de circulação que integrava a capital à sua hinterlândia. Durante a Segunda Guerra
Mundial, a situação econômica melhorou um pouco, com o aumento da produção de tecidos das
fábricas sergipanas a serem enviados para a Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. A cidade cresceu
107
e surgiram melhores construções, como prédios comerciais de mais de dois pavimentos,
financiados pela Caixa Econômica Federal e Carteiras Imobiliárias das Autarquias.
A partir de 1950, finalmente, a zona oeste se consolidou bastante; diversos bairros foram criados
com a abertura da Br-101 e o progresso no setor automobilístico. O porto era cada vez menos
utilizado, com a barra de pouca profundidade e a espera necessária das marés para entrada dos
navios de grande tonelagem. A rodovia de fato assim se estabeleceu como sistema de transporte
dominante. Com o fácil deslocamento, passou a ser crescente a migração dos habitantes do
interior para a capital em busca de melhores condições de vida e de trabalho. Aos poucos, a
lavoura também cedeu espaço à pecuária, que ocupava grandes áreas, o que favorecia a expulsão
de um maior número de trabalhadores do campo, que vinham a formar cada vez mais periferias
sem investimentos públicos. Por outro lado, a capital muito se beneficiava com os recursos
vindos dos pecuaristas que, em geral, aplicavam os seus lucros em diversos setores econômicos.
Em 1955, a inauguração da Companhia Hidro-Elétrica do São Francisco foi muito importante
para a cidade, possibilitando uma expansão da rede elétrica, melhorando o serviço até então feito
por geradores. Ao norte, o Bairro Industrial permanecia estagnado e como sede das indústrias
têxteis também decadentes. Em outra área, às margens da BR, estavam as habitações mais
precárias e as indústrias de papel e o Frigorífico Aracaju. Também existiam algumas favelas: Ilha
das Cobras, que foi destruída e a população foi para o conjunto Agamenon Magalhães; Brasília,
também na zona norte, e Japãozinho, na zona sul. Nessa década, a Prefeitura, tentando planificar
a cidade, aprovou projetos de loteamentos em várias áreas, nem sempre ocupados ou vendidos, às
vezes, por estarem em terrenos de marinha (RIBEIRO, p. 48). A porcentagem dos lotes populares
era de 88 % e quase todos localizavam-se ao norte e a oeste, evidenciando ainda mais a relação
entre estratificação do espaço e classe social. O Centro ainda era o bairro mais representativo,
108
abrangendo as funções econômica e político-administrativa. O comércio expandira-se, ocupando
a Avenida Rio Branco, as ruas João Pessoa, Laranjeiras, Itabaianinha e São Cristóvão, além de
toda a área dos mercados e adjacências, que mantendo a aparência modesta, de uma pequena
cidade, apesar de ser a década em que são edificadas as primeiras construções verticais na cidade.
Figura 2.41 - Rua João Pessoa na década de 50. À esquerda, Ed. Mayara:
o primeiro edifício de Aracaju.
109
Figura 2.42 – Vista do Palácio do governo na década de 50. A Praça Fausto Cardoso mantém-se como centro político
e administrativo.
Figura 2.43 – Recanto do Parque Teófilo Dantas na década de 50. À direita, encontra-se o Aquário Municipal,
vendo-se ao longe as torres da Catedral e, à esquerda, o prédio da Prefeitura Municipal de Aracaju.
110
Figura 2.44 – Vista da Avenida Rio Branco (antiga Rua da Aurora) a partir da Praça Fausto Cardoso para a direção
norte, do antigo porto. Nos anos 50, os postos de combustíveis já são mais presentes na cidade.
Figura 2.45 – Rua Itabaianinha no sentido sul. À esquerda, vê-se parte do antigo quartel do 28º BC, local onde no
final dos anos 60 se erguerá o Ed. Estado de Sergipe.
111
Figura 2.46 – Vista da Colina do Santo Antônio para a Avenida João Ribeiro e o Centro nos anos 50.
Figura 2.47 – Praça Siqueira de Menezes, atrás da Igreja do Santo Antônio, nos anos 50.
112
No sul, o São José se consolidava com a venda de terrenos e a Praia Treze de Julho, com um
grande loteamento, ultrapassava o Tramandaí. Nas áreas mais nobres dessa zona havia
residências confortáveis, ecléticas, art déco ou neocoloniais, seguindo as tendências da época. Os
bangalôs proliferavam entre a classe média, com pequenas varandas laterais, seguindo os mais
diversos estilos. Também aí se encontravam os mais elegantes clubes sociais da cidade, com suas
memoráveis festas e eventos esportivos: a Associação Atlética e o Iate Clube. Aproveitando a
maior disponibilidade de grandes terrenos, também na área se localizou o novo Colégio Estadual
de Sergipe que, com seu grande auditório, deu a Aracaju seu único teatro por muitos anos.
Figura 2.48 – Vista Panorâmica da zona sul para o Centro de Aracaju. Observa-se essa área já muito mais ocupada.
Ao longe, no meio do Cartão-postal, aparecem as torres da Catedral.
113
Figura 2.49 – Vista parcial da cidade para o sul na década de 50. Ao fundo, margeando o estuário do Rio Sergipe,
observam-se as instalações do Iate Clube de Aracaju e parte da Praia Treze de Julho.
Figura 2.50 – Avenida Getúlio Vargas na década de 50, em frente à Praça Inácio Barbosa. Essa é a mesma que
aparece na imagem acima, de formato triangular. O Palacete dos Rollemberg está à direita.
114
Figura 2.51 – Iate Clube de Aracaju na década de 50. À beira do rio Sergipe, era um local freqüentado pela
população da mais alta renda da cidade.
Figura 2.52 – Fotografia da varanda do Iate Clube, em frente ao rio Sergipe, na década de 50.
115
Figura 2.53 - Associação Atlética de Sergipe na década de 50. Era um dos principais clubes da cidade e foi fundado,
também na zona sul, mais próximo à Praça Camerino, antes do Iate Clube de Aracaju.
Figura 2.54 – Colégio Estadual na década de 50. O bairro São José ainda tinha grandes espaços vazios e uma
malha urbana pouco densa, principalmente no sentido oeste. Ao longe, no centro, vê-se a torre
da Igreja São José.
116
É interessante observar que, a partir dos meados dos cinqüenta, coincidindo com as
comemorações do centenário da cidade, Aracaju começou a mudar sua imagem, com grandes
intervenções urbanas estatais. Com o desmonte da duna do Bonfim e a criação da esplanada onde
se localizou a primeira estação rodoviária, símbolo da modernidade do novo meio de transporte, e
a implantação dos primeiros edifícios novos marcos foram então criados.
Foram construídos no Centro alguns edifícios, como o Mayara, de seis andares, e o Ed. dos
Serviços Públicos, hoje Ed. Walter Franco. Na Avenida Ivo do Prado, ergueu-se o primeiro
edifício exclusivamente residencial, o Atalaia, com 10 andares, obra justificada à época pelo
elevado preço do terreno da zona sul, mais elitizada e com as ricas residências implantadas em
grandes terrenos à margem do rio e em suas proximidades. Mas, de fato, essa pode ser muito
mais explicada pela intenção de se construir na cidade uma inovação. Logo depois, foi feito no
Centro o Hotel Palace, símbolo vertical isolado, com treze pavimentos. O número de edifícios em
Aracaju, é claro, não poderia ser elevado até essa data, pois havia grande disponibilidade de áreas
para a construção e ainda os investimentos necessários para essas obras eram muito altos. De
modo geral, nesse período percebe-se que a cidade foi apenas, lentamente, preenchendo alguns
vazios, os bolsões, que sempre se configuravam pela forma de ocupação em tentáculos, e essa
verticalização foi um ensaio do que ocorreria depois. O crescimento era irreal, pois o país
enfrentava séria crise e Aracaju, com uma urbanização terciária, sem muitas indústrias, era uma
cidade pobre, “uma grande cabeça sustentada por um corpo frágil” (DINIZ, p. 49).
117
Figura 2.55 - Rua João Pessoa com destaque para o Ed. Mayara na década de 50. À direita, a Igreja de São Salvador.
Os bondeshaviam desaparecido e o Centro apresentava um visual mais moderno.
Figura 2.56 – Praça Fausto Cardoso e Ed. dos Serviços Públicos nos anos 50. Edificações modernas vão reforçar a
imagem da praça no imaginário da população.
118
Figura 2.57 – Vista Aérea do Centro na década de 50. A imagem centraliza o eixo das três Praças “Monumentais”
a partir da Ponte do Imperador.
Figura 2.58 – Vista Aérea Parcial do Centro – Praça Fausto Cardoso na década de 50. Destaca-se o quadrante dos
Palácios e do Ed. dos Serviços Públicos.
119
Figura 2.59 – Vista aérea do Centro de Aracaju nos anos 60 e, em destaque, o Hotel Palace. Note-se o casario ainda
baixo na parte norte do Centro e certa decadência apresentada pela Avenida Rio Branco, já sem o
porto em funcionamento. A imponência do Hotel Palace na paisagem é indiscutível. Atrás desse, ao
longe, tem-se a esplanada criada para abrigar a Estação Rodoviária.
Figura 2.60 – Primeira Estação Rodoviária na década de 60. Ao longe, fundo do Hotel Palace.
120
Figura 2.61 – Vista parcial da Praça Fausto Cardoso em direção ao sul no final da década de 50. Ao longe, vê-se,
ainda em construção, o Edifício Atalaia, marcando a paisagem urbana nessa direção.
Figura 2.62 – Vista parcial de Aracaju em direção ao sul na década de 60, provavelmente obtida do Hotel Palace.
Ainda mais ao longe, tem-se o Edifício Atalaia.
121
Para o extremo sul da cidade, a Atalaia se mantinha como zona de veraneio, reforçada pela
construção da nova estrada a partir do Iate Clube de Aracaju e pela edificação da nova ponte, de
estrutura bem mais arrojada, o que permitiu o maior fluxo de veículos. Com o desenvolvimento
da indústria automobilística nacional nos sessenta, essa área de lazer e veraneio, antes de uso
apenas da elite, torna-se mais acessível ao restante da população urbana.
Atalaia, de então, era de palha;
E o seu melhor transporte era a canoa.
Entre as dunas e o mar, frouxa toalha
De fina areia se estendia à toa...
Hoje, que a mão do homem ali entalha,
Rasgando a areia humildemente boa;
Separando-a do mar pela muralha...
Toda aquela paisagem se esboroa!...
E do contraste em plena Natureza,
Entre o primado eterno da beleza
E os caprichos da humana criação...
Somente o velho mar, calmo ou em procela,
Ainda nos fala da beleza dela,
Da Atalaia de palha e “pé-no-chão”!...
FIGUEIREDO, p. 33
Figura 2.63 – Fotografia com vista parcial da Av. Beira Mar para o sul, bem na curva do Iate Clube, provavelmente
dos anos 50. Com essa nova via, torna-se bem mais fácil a ligação da cidade e a Ponte do Poxim.
122
Figura 2.64 – Iate Clube de Aracaju na década de 60. Na parte superior da imagem, já se vê a implantação da nova
via que, cortando a Praia Formosa, ligava Aracaju à Atalaia.
Figura 2.65 – Nova Ponte da Atalaia na década de 50. Os baixos vãos da ponte indicam já a inexistência de um
transporte por canoas à vela no rio Poxim.
123
Figura 2.66 – Zona de veraneio da Atalaia no início dos 60, vendo-se à direita, o Palácio de Veraneio e à esquerda, a
pracinha com o antigo “cassino”.
Figura 2.67 - Praia da Atalaia na década de 50. Já é intenso o movimento na área.
Figuras 2.68 e 2.69 - Imagens do antigo farol da Atalaia, que marcava um ponto intermediário na antiga entrada do estuário do Sergipe. A primeira do início do
século XX e a segunda da década de 60. Foi trazido da Inglaterra em finais do século XIX e, por engano, montado aqui quando se destinava a
Recife. Desativado após a construção do novo farol à beira do oceano na Coroa do Meio, entrou em processo de deterioração e está agora em
processo de restauração.
Figura 2.70 – Crescimento Espacial Aproximado de Aracaju.
Fonte básica: DINIZ, 1963.
126
2.5 A FORMAÇÃO DO ESPAÇO METROPOLITANO
Após 1964, com os militares no governo do país, foi promovida forte ação política nacional de
desenvolvimento através dos PND’s, preparando o espaço brasileiro para a ação mais efetiva do
capital. Com essa intervenção na gerência das cidades, desenvolveram-se medidas
modernizadoras, embora conservadoras, e Aracaju acentuou sua urbanização (FRANÇA, p. 35).
Foi crescente a especulação da terra para fins imobiliários, com a criação do Sistema Financeiro
de Habitação e do BNH – Banco Nacional de Habitação. Este último trazia o propósito de
garantir casa à população mais carente e promover aumento na oferta de empregos e, por trás
disso, o ideal do controle da inflação, estimulando a economia do país. Leis e medidas surgiram
para possibilitar todo este plano como a Lei do Condomínio e Incorporações Imobiliárias, nº.
4591, de 16 de dezembro de 1964 e a Lei de Estímulos à Construção Civil, . 4864, de 29 de
novembro de 1965 (LOUREIRO, p. 72).
Para a dinâmica urbana, aliou-se a todo este plano o fator local da descoberta de petróleo em
Carmópolis, a 47 km de Aracaju, em 1963. Na segunda metade da década, os investimentos da
Petrobras e a chegada das primeiras empresas prestadoras de serviços, inclusive multinacionais,
começaram a impactar a economia, com reflexo mais intenso na capital, estimulando o
crescimento quantitativo e qualitativo do comércio e, é claro, com o aumento da população, a
necessidade de novos projetos habitacionais. A repercussão é mesmo quase imediata: a COHAB,
em 1966, deu início à construção do Conjunto Castelo Branco I, com 380 habitações. Em termos
de melhorias de vias urbanas, as avenidas Rotary e Oceânica e a rua Santa Catarina foram
asfaltadas e foi construída a atual Av. Tancredo Neves, ligando a Atalaia à BR-235 (interligação
127
da cidade com a BR-101). Com aumento de produção, em 1967 a Petrobras constrói, na Atalaia
Velha, o Tecarmo Terminal Marítimo de Carmópolis, para receber e exportar todo o óleo
produzido em Sergipe. Foi fundamental para a construção civil a abertura, neste mesmo ano, da
fábrica de cimento, no bairro América. Todo esse desenvolvimento é evidenciado até pela
literatura de cordel:
“...Petróleo tem de primeira
Em Carmópolis encontrado
Um dos melhores do mundo
Pelos técnicos comprovado
Melhor ainda será
Quando por nós refinado.
Temos calcário pra cimento
Fábrica já em andamento
Breve nosso salgema
Outros enrequissimentos
Graças aos grandes feitos
Aos homens de empreendimento.”
SANTOS, 2005, p. 3
No tempo do “milagre brasileiro”, houve também a urgência de o Estado criar um ícone da
modernização e, assim, construiu o Edifício Estado de Sergipe, com 28 andares, altíssimo para os
padrões nordestinos, sendo um destaque no “skyline” da cidade. Com esta verticalização,
valorizou-se o solo no centro e proximidades e acelerou-se o seu uso mais intensivo. Uma outra
obra de destaque, com a ocupação de área de mangue na zona sul, foi o Estádio Lourival
Baptista, com capacidade para 40 % da população da cidade do período.
128
Figura 2.71 - Edifício Estado de Sergipe praticamente concluído no final da década de 60. O Hotel Palace,
logo atrás, passa a um segundo plano em face do elevado gabarito desse edifício.
Figura 2.72 – Postal da Estação Rodoviária, anos 70, também se enquadrando o Edifício Estado de Sergipe e o
fundo do Hotel Palace.
129
Figura 2.73 – Vista do Estádio Lourival Batista no final da década de 60, mostrando, ao fundo, o Ed. Atalaia, o
exemplo da verticalização isolada ao longo do estuário à época.
Figura 2.74 – Fotografia aérea do Estádio Lourival Batista, no final dos anos 60. Na parte superior, visualiza-se
parte da Praia Formosa e a ocupação rarefeita da 13 de Julho.
130
Em 1968, teve início à prospecção e exploração de petróleo também na plataforma continental
em frente à cidade, o que acaba por provocar, em 1970, a transferência, de Maceió para Aracaju,
da sede administrativa da Região de Produção do Nordeste da Petrobras. Foi uma fase de intenso
crescimento, em que foram executadas diversas obras, inclusive as dos Conjuntos Lourival
Baptista e Luzia, para abrigar funcionários da Petrobras (1970). Na zona sul, foi construído o
primeiro Distrito Industrial da Cidade, o DIA. Nesse processo, deve-se ressaltar que o incentivo
para a instalação de pequenas e médias indústrias no DIA, acompanhando a política de
industrialização do Nordeste (iniciada em 1960 pela SUDENE e incentivada em 1970 pelo
Estado) promoveu a construção de conjuntos habitacionais e urbanização das áreas próximas,
conseqüentemente valorizando alguns vazios urbanos. Surgiram construtoras locais de grande
porte (NORCON, Construtora Alves,...) e as de outros Estados também passaram a investir em
Aracaju. Nesse período, ocorreram altos índices de crescimento em decorrência do crescente
número de construções. Todavia, observaram-se também flutuações anuais dessa tendência, em
face das constantes alterações na política do Sistema Financeiro de Habitação. Em 1974, por
exemplo, os baixos índices de construção podem ser explicados por uma crise dos materiais de
construção no país, que ocorreu no final de 1973 (RIBEIRO, p. 56).
A partir de 1975, entretanto, o setor recuperou-se lentamente e foram incrementados os
empreendimentos imobiliários, com intensificação da ocupação da zona central com sua
verticalização, dos vazios urbanos, da zona oeste. A política de financiamento imobiliário vai agir
no sentido de promover um rápido e intenso processo de verticalização que vai atingir,
notadamente, a orla ribeirinha e a zona sul da cidade, sobretudo a partir da regularização dos
“terrenos de marinha”, que passaram para o controle municipal em 1976.
131
____ Área média IBGE x n
°
de construções
realizadas
_._._Área média das construções localizadas x n
de construções realizadas
_ _ _ Média das duas áreas anteriores
Aracaju: Gráfico da evolução da área de construção licenciada de 1972-1981.
Fonte: RIBEIRO, 1989.
Figura 2.75 – Vista aérea de Aracaju a partir da Treze de Julho em direção ao Centro na década de 70. Observa-se o
início da expansão da verticalização do Centro para o Bairro São José.
132
Figura 2.76 - Vista aérea parcial do Centro nos anos 70. Começa a ser verticalizado, notando-se a seqüência dos
edifícios do Hotel Palace, do Ed. Estado de Sergipe e do INSS, ao fundo e mais à direita.
Figura 2.77 - Vista do Rio Sergipe para o Centro no final dos anos 70. No extremo esquerdo da imagem, vê-se o Ed.
Oviedo Teixeira, torre apenas comercial e de serviços, uma iniciativa da Construtora Norcon na área.
133
A realidade era a necessidade de acomodar uma população que, em 20 anos (de 1960 a 1980),
cresceu mais que duas vezes e meia do seu total.
16
Assim, na década de 80 a COHAB construiu
10.983 unidades habitacionais e o INOCOOP (Instituto Nacional de Cooperativas Habitacionais),
3.880, sempre promovendo a especulação da terra, além de estimular a imigração. O Centro, com
terrenos muito caros, começou a expulsar em grande parte seus moradores em direção a bairros
próximos da zona sul como São José, Treze de Julho, Salgado Filho,... estabelecendo-se quase
exclusivamente como centro comercial, financeiro e de serviços, promovendo o crescimento do
número de construções verticais nesses bairros. o comércio é ainda inicial, apenas existindo
alguns estabelecimentos nas vias principais.
Entre meados dos sessenta e cerca de 1990, Aracaju vai passar por uma fase que se pode
identificar como de formação do espaço metropolitano. O município da capital, com sua área
relativamente exígua, não comportava mais as edificações da cidade e, assim, novos bairros
surgem nos municípios vizinhos, mas que, sem dúvida, são parte da aglomeração que surge.
não é mais somente o município de Aracaju que abriga todas estas pessoas, mas a sua recente
região metropolitana, formada, também, pelos municípios de São Cristóvão, Nossa Senhora do
Socorro e Barra dos Coqueiros. Esses três municípios limítrofes têm dinâmicas diferentes de
ocupação. O de São Cristóvão, por exemplo, sofreu loteamentos diversos, sendo alguns de
chácaras a serem vendidas para o lazer da classe média. Outro tipo é o de pequenos lotes para
conjuntos populares, como o conjunto Rosa Elze, loteado em 1960 e que teve grande
16
População total e variação da população 1940-1980
ANOS POPULAÇÃO VARIAÇÃO ABSOLUTA CRESCIMENTO INTERCENSITÁRIO (%)
1940 59.031
1950 78.364 19.333 32,7
1960 114.162 35.798 45,6
1970 183.670 69.508 60,8
1980 293.285 109.615 59,7
FONTE INEP Anuário Estatístico de Sergipe - 1980
134
desenvolvimento a partir da instalação próxima do Campus da Universidade Federal de Sergipe,
em 1980. O município de Nossa Senhora do Socorro, na década de 70, foi parcelado ao longo da
BR-101 e, depois, na década de 80 passou a ser alvo de intensas políticas do Estado, que criaram
grandes glebas para novos conjuntos populares e para a instalação de um Distrito Industrial. A
Barra dos Coqueiros foi o último a ser incorporado, sendo até os anos 80 residência de
pescadores e cocoicultores. A partir daí, surgiram alguns loteamentos para as classes mais
privilegiadas na ponta sul da ilha, a Atalaia Nova. Entretanto, a periferia da Grande Aracaju é
uma zona em sua maior parte dirigida para a classe mais desfavorecida, que não poderia habitar
em áreas de maior valor imobiliário. Aracaju exporta a pobreza para seu entorno, constituindo-se
em aglomeração com padrões de vida relativamente mais altos.
Por último, resta citar que a Atalaia Velha, ao sul, vai se definir como área de residência fixa para
populações de renda média e alta, em sua maior parte, e, atualmente, em condomínios fechados,
isolados e mais seguros. Suas praias passam a ser ocupadas por banhistas de renda mais baixa,
principalmente nos finais de semana. Acabaram-se os tempos de veraneio na Atalaia, iniciados
ainda nos anos trinta, e essa função vai passar para as praias ainda mais ao sul, ao longo da
rodovia José Sarney, em direção ao Mosqueiro. Assim, espraia-se a malha urbana em direção sul,
chegando ao seu limite máximo, o estuário do Vaza-Barris.
135
Figura 2.78 – Vista aérea da Avenida Rotary – Praia de Atalaia na década de 70. À direita, vê-se o primeiro
grande hotel da área, o Beira Mar, com três pavimentos.
Figura 2.79 – Banhistas na Atalaia, na década de 70, circulando pelo seu calçadão e por sua faixa de areia.
À esquerda, observa-se uma série de bares e restaurantes.
136
É importante ainda salientar que o crescimento de Aracaju vai refletir o desenvolvimento de um
parque industrial em sua área metropolitana mais remota, em direção à Cotinguiba, com a
instalação das subsidiárias da Petrobras, a Nitrofértil em Laranjeiras (amônia e uréia) e a mina de
potássio em Rosário do Catete (hoje pertencente à Companhia Vale do Rio Doce). nas áreas
mais próximas, novas fábricas de cimento instalam-se, como em Laranjeiras, e constrói-se o
porto “offshore” (1995) na Barra dos Coqueiros, para atender a essas novas necessidades de
exportação. É a época do modelo da indústria estatal de base, do qual o Estado de Sergipe muito
se beneficiou, sendo hoje o maior exportador de cimento do país e o único produtor de potássio
no hemisfério sul.
Em suma, entre 1980-1991, Aracaju apresentou uma taxa de crescimento demográfico de 39,7%
no seu município e de 70,7% na sua área metropolitana, explicada pelo enorme crescimento dos
municípios limítrofes, atingindo no total 523.532 habitantes, sendo 402.341 em Aracaju. Com
base em estudo do IBGE (1987), se constitui nessa época como um centro sub-metropolitano,
integrando a região dependente de Salvador, que, enfim, é uma cidade intensamente
verticalizada, com grande diversidade de usos e de condições socioeconômicas, de feição
metropolitana. O Centro reflete esse dinamismo nos novos calçadões e a cidade no primeiro
shopping, inaugurado em maio de 1989 na Coroa do Meio, o Riomar, que desloca o melhor
comércio do Centro. Em fins dos oitenta, a população atinge a meta longamente buscada, de
viver numa cidade “moderna” e dinâmica, integrada à vida econômica do país, não sendo mais a
capital provinciana de outrora. Acelera-se continuamente a implantação de elementos como:
edifícios cada vez mais altos, novas avenidas, pontes etc. Com a cidade sendo sempre renovada,
chega-se ao “turbilhão da modernidade” de que fala Le Goff (p. 204), apesar de toda a
ambigüidade da expressão, já que o conceito de moderno é cada vez mais discutível.
137
Figura 2.80 - Parque da Cidade e, ao longe, Centro na década de 80. Percebe-se a expressiva verticalização
dos bairros São José e Treze de Julho.
Figura 2.81 – Calçadão da Rua João Pessoa conforme implantado na década de 80.
138
Figura 2.82 – Vista do Estádio Batistão para o Bairro São José na década de 80, esse já com vários edifícios
residenciais. O Centro fica praticamente escondido, apenas destacando-se, bem ao longe, o Ed.
Estado de Sergipe, por sua grande altura.
Figura 2.83 - Ponte da Coroa do Meio, anos 80, que permitiu uma interligação mais fácil da cidade com a Atalaia
e, inclusive, a construção do Shopping Riomar na sua cabeceira sul, à direita.
139
2.6 A METROPOLIZAÇÃO E TURISTIFICAÇÃO DO ESPAÇO URBANO
A partir dos anos noventa, Aracaju entra numa nova fase de dinâmica urbana. Embora continuem
fortes e crescentes os processos de metropolização e de verticalização observados na fase
anterior, eles agora passam a se revestir de uma outra imagem: a turistificação”. Os espaços
periféricos, antes quase exclusivamente voltados à residência de população de baixa renda, agora
passam a ser integrados também por zonas de veraneio e de serviços mais sofisticados, como na
Barra dos Coqueiros. O espaço intra-urbano também comporta uma maior elitização, com
formação e adensamento de novas áreas, como a Coroa do Meio, o Grageru, o Luzia, o Garcia e o
Jardins, sem falar na expansão da Avenida Beira Mar, que passa a ser cada vez mais ocupada por
grandes edifícios residenciais de alto padrão. O Bairro Treze de Julho, então, se expande bastante
no imaginário urbano e sobrepõe-se ao antigo Grageru, constituindo-se em zona residencial e
comercial de alto nível, com galerias repletas das mais sofisticadas “grifes”. Nesse reforço das
áreas intra-urbanas, nota-se certa revitalização do centro “histórico”, com reforma dos calçadões
e a tentativa governamental, não realizada, de implantação de um shopping center. O comércio
localizado, mais voltado à população de renda mais baixa, com algumas lojas também
encontradas nos shoppings da cidade, mantém-se forte, sendo, inclusive, ainda freqüentado por
pessoas de renda mais elevada, fato demonstrado na pesquisa de campo. Nesse processo inclui-se
a recuperação e reforma dos antigos mercados centrais, agora destinados mais explicitamente ao
atendimento ao turista, sendo um deles ocupado apenas por lojas com produtos artesanais e
“souvenirs”.
140
Figura 2.84 - Vista aérea parcial do Centro de Aracaju nos anos 90. No Rio Sergipe, circula um ferry-boat, que
fazia, antes da Ponte Construtor João Alves, a travessia dos veículos de Aracaju para a Barra dos
Coqueiros e vice-versa.
Figura 2.85 - Parque Teófilo Dantas na década de 90. A Catedral é protegida por uma densa área verde.
141
Figura 2.86 - Vista parcial do novo Mercado Central na década de 90, observando-se, em primeiro plano e à
direita, o mercado antigo ainda em reforma.
Figura 2.87 – Novo Mercado da cidade na década de 90.
142
Figura 2.88 – Calçadão da Praça Fausto Cardoso, anos 90, em frente aos prédios do Palácio e Assembléia.
Figura 2.89 - Calçadão da Rua Laranjeiras na década de 90, após uma reforma urbanística que teve a finalidade
de revitalização da área.
143
Figura 2.90 – Vista aérea da cidade no sentido do Centro para o Rio Sergipe na década de 90. No meio da
imagem, Parque Teófilo Dantas.
Figura 2.91 - Vista parcial – Batistão e, ao fundo, a “Norcolândia” no bairro Treze de Julho, déc
ada de 90.
144
Figura 2.92 – Vista do viaduto para a Av. Hermes Fontes, direção sul, na década de 90. Uma outra avenida
estava com trânsito livre para a expansão da cidade.
Figura 2.93 – Viaduto construído, no final dos anos 80, sobre a Av. Hermes Fontes no cruzamento com a Av.
Francisco Porto. A intenção foi de se obter melhorias na circulação viária de toda a zona sul e, por
conseqüência, a especulação imobiliária nas proximidades e o adensamento da malha urbana.
145
Figura 2.94 - Avenida Beira Mar – Calçadão da Treze de Julho na década de 90.
Figura 2.95 – Mirante da Treze de Julho na década de 90. Nesse, da parte mais alta, tem-se também a vista da
avenida, com seus altos prédios, e de praticamente todo o calçadão.
146
.
Figura 2.96 – Vista do Shopping Riomar e Ponte Godofredo Diniz na década de 90. Ao fundo já se observa o
bairro Coroa do Meio com sua baixa verticalização.
Figura 2.97 – Fachada principal do Shopping Riomar na década de 90.
147
Mas o maior reforço na ocupação dos espaços intra-urbanos se dá com a inauguração, em
dezembro de 1997, do Shopping Jardins, construído pela Norcon, visando a valorização de área
nobre ainda vazia. Cria-se, então, um novo bairro e sub-centro na cidade, com verticalizacão
bastante acentuada nesses poucos anos. É uma fase em que não é mais uma zona residencial que
atrai o comércio, mas uma na qual um centro comercial dinâmico gera uma urbanização
acelerada. A zona sul, mais uma vez, exemplifica a clara segregação sócio-espacial da urbe,
existente desde os seus primeiros tempos, criando na sua área urbana um espaço para as classes
mais elevadas, enquanto a pobreza continua de forma “invisível” nos espaços metropolitanos
periféricos e nas zonas urbanas mais a norte e a oeste.
Figura 2.98 – Fachada do Shopping Jardins, correspondente à Avenida Sílvio Teixeira, na década de 90.
Em destaque, o supermercado G. Barbosa, loja âncora.
148
No processo de “turistificação” de Aracaju, não resta a menor dúvida de que o ponto de partida
foi a construção e ampliação seqüenciada da orla de Atalaia, a partir do segundo Governo João
Alves Filho. Mas, embora litorânea, essa é uma orla de costas para a praia demonstrando, através
do seu projeto de urbanização, que os serviços localizados e voltados aos turistas ou à
população local, como hotéis, bares, restaurantes, quadras de esportes e outros pontos, são mais
importantes do que o mar, que lhe fica relativamente afastado. Mas a imagem da cidade e de todo
o litoral, aos feriados e finais de semana, é a do congestionamento de pessoas e veículos ao longo
das praias, muitas vezes centrado nas dezenas de bares e restaurantes localizados, criando-se
“points” para determinados grupos sociais, como o de surfistas. Acompanhando a linha de praia
da Atalaia à foz do Vaza-Barris, “criam-se” novas praias com bares e restaurantes mais
equipados, acentuando-se o processo de segregação econômica. Essa nova área passa a ser cada
vez mais tomada por banhistas de renda alta, que marcam presença em bares e restaurantes bem
estruturados, e ocupada também por condomínios e residências de elevado padrão, desde o
Aruana até o final do Mosqueiro.
A velha Atalaia, principalmente nos finais de semana, continua mesmo ainda sendo usada pela
população de renda mais baixa. Continua o deslocamento espacial para o sul, verificado em
outros tempos, e agora não é mais somente a Atalaia a área de interesse para a moradia da elite,
mas toda uma área de expansão, ainda em parte isolada da cidade, na tentativa de se manter a
segregação dos espaços. É a metropolização dos espaços marinhos, que deixam de estar
explicitamente ligados à malha urbana densa e se expandem para zonas menos ocupadas, ou até
rurais, utilizadas em tempo parcial por veranistas.
149
Figura 2.99 – Vista aérea parcial da Orla da Atalaia na década de 90, vendo-se à esquerda as quadras de esporte
e, à direita, os novos hotéis.
Figura 2.100 - Vista geral da Orla nos anos 90, com seus bares e restaurantes ao longo de toda a sua extensão.
150
Figura 2.101 – Vista da Orla na década de 90, destacando os Arcos no acesso principal à Atalaia pela Av. Rotary.
Figura 2.102 – Vista de um dos modelos adotados para os bares da Orla da Atalaia na década de 90.
151
Figura 2.103 – Vista da Orla no novo trecho da Praça de Eventos e Centro Cultural nos dias atuais.
Figura 2.104 - Vista parcial da Orla da Atalaia, mostrando a área dos lagos e o Oceanário.
152
Figura 2.105 - Praia de Aruana, repleta de bares ainda bem rústicos, na década de 90.
Figura 2.106 - Praias do Mosqueiro, ao longo da Sarney nos anos 90.
153
Figura 2.107 – Fotografia da praia de Atalaia em direção à Aruana e às praias da Sarney. Abaixo, à direita,
condomínio fechado horizontal, com casas de dois pavimentos, da construtora Norcon.
Figura 2.108 – Casas de veraneio, à beira do Vaza-Barris, no final do Mosqueiro.
154
Em fins de 2006, o Governo Estadual inaugura uma nova ponte, Ponte Construtor João Alves,
ligando Aracaju à Barra dos Coqueiros, facilitando o acesso à praia da Atalaia Nova, às praias
oceânicas desse município e, também, ao novo porto “offshore”, abrindo uma nova fronteira de
especulação e aproveitamento das praias setentrionais do Estado até a foz do São Francisco.
Recentemente, o PRODETUR direcionou maciços investimentos para o reforço do equipamento
turístico da cidade, com construção de hotéis e da nova orla da Atalaia.
Figura 2.109 – Ponte Aracaju – Barra dos Coqueiros, obra deste século, um marco contemporâneo.
155
Figura 2.110 – Vista da “Orlinha” para a nova Ponte, com figurantes de grupo folclórico.
É conveniente salientar que, nos últimos anos, o turismo nacional e estrangeiro tem sido bastante
incrementado no Nordeste. Complexos hoteleiros, “resorts”, parques temáticos e eventos formam
um “trade” suficientemente forte para atrair, cada vez mais, um número expressivo e crescente de
turistas. A qualidade das praias, um sol quase permanente, a maior proximidade da Europa e
preços relativamente baixos, quando comparados aos praticados por lá, são fatores que explicam
essa atratividade. Mas a intensidade desse fenômeno não é a mesma em toda a região, pois certos
pontos, inclusive Aracaju e o litoral de Sergipe, ficaram à margem do processo por bastante
tempo e recentemente começaram a recuperar o atraso. Certos fatores podem ajudar a explicar
essa situação. Em primeiro lugar, está a qualidade das praias sergipanas, que embora sejam
largas, planas e de areias brancas e finas, apresentam geralmente uma água barrenta e escura,
156
carregada de sedimentos despejados pelo São Francisco e trazidos para o sul pela corrente do
Brasil. Em segundo lugar, pode ser apontada a questão da posição geográfica de Aracaju, que se
situa entre zonas e centros urbanos de muito maior atratividade e que, mais tempo, disputam
os visitantes nos poucos dias de pacotes turísticos, que são geralmente de uma semana. Como não
havia turistas, a infra-estrutura turística não se desenvolveu, gerando um círculo vicioso
explicativo do atraso da cidade nessa área. Mas a situação começou a mudar, e o Estado foi o
grande indutor dessas mudanças, como mencionado. Embora não se possa esquecer certas
condições ambientais mais favoráveis para o desenvolvimento do turismo, não são elas que
“turistificam” os lugares.
Numa cidade essencialmente terciária e quaternária, as funções turísticas e praianas se associam,
reforçadas pela recente inauguração de um “resort” na Barra dos Coqueiros, o primeiro vinculado
a uma grande cadeia de hotéis, bem como pela expansão de condomínios residenciais e de
veraneio ao longo da Sarney. Graças à nova ponte, que revigorou a “Praia da Costa” na Barra dos
Coqueiros, freqüentada, em grande parte, por banhistas de renda mais baixa, a especulação
imobiliária encarrega-se de ocupar os terrenos e “vender” a nova imagem. Fala-se, já, na
implantação de um condomínio de veraneio exclusivamente para europeus e, assim, Aracaju e
sua periferia começam a integrar o modelo de turismo nordestino: turismo de sol e mar, turismo
de espaço fechados, turismo de praias segregadas.
“Ao tratar do mito sobre vocação para lugares tusticos e a determinação destes mesmos lugares,
Knafou (1994 apud. BENEVIDES, 1998, p. 53) assegura que a turistificação dos lugares: (...) ao
contrário de uma vocação natural é decorrência da instalação de infraestrutura neles e de novas
produções de imagens sobre os mesmos, a partir de um olhar inicial para eles lançado, pré-
existentes fisicamente, conferidor de outras representações e visualizações.”
Apud. SILVA, 2006, p.130
157
Figura 2.111 – Praia do Hotel Starfish Ilha de Santa Luzia, praticamente vazia, evidenciando a preferência da
burguesia por locais de lazer fechados, de uso exclusivo.
Figura 2.112 – Praia da Costa, na Barra dos Coqueiros, com intenso movimento nos finais de semana.
158
CONVENÇÕES
CURSOS D'ÁGUA
MANGUES
PARQUES ECOLÓGICOS
ÁREA METROPOLITANA ÁREA DE EXPANSÃO
Figura 2.113 – Mapa da Malha Urbana de Aracaju no ano 2001 - Fluxos de Crescimento Recentes.
N. SRA. DO SOCORRO
BARRA DOS
COQUEIROS
SÃO CRISTÓVÃO
ATALAIA
PIRAMBU
ARUANA
MOSQUEIRO
159
3º CAPÍTULO
MARCOS URBANOS: IMAGENS FIXADAS
“... em certas horas, em certas ruas, surge a suspeita de que ali algo
de inconfundível, de raro, talvez ade magnífico; sente-se o desejo de
descobrir o que é, mas tudo o que se disse sobre Aglaura a agora
aprisiona as palavras e obriga a rir em vez de falar.
Por isso, os habitantes sempre imaginam habitar numa Aglaura e não se
dão conta da Aglaura que cresce sobre o solo. E mesmo para mim, que
gostaria de conservar as duas cidades distintas na mente, não resta
alternativa senão falar de uma delas, porque a lembrança da outra, na
ausência de palavras para fixá-la, perdeu-se.”
CALVINO, p. 65/ 66
160
Nos diferentes períodos da história urbana da capital sergipana, certos setores da cidade, edifícios
e espaços públicos foram repetidamente registrados em fotografias e cartões-postais, verdadeiros
marcos que, muitas vezes, contribuíram, sem dúvida, para a fixação de determinadas imagens da
cidade. Assumindo-se que a imagem “total” da cidade correlaciona-se fortemente com os temas
apresentados em cartões-postais e sua freqüência, fato percebido na atualidade e esperado para
épocas passadas, pode-se chegar a uma idéia de como Aracaju foi vista pelos seus habitantes no
decorrer do tempo.
Observando-se o Quadro 3.1 a seguir, uma simplificação da matriz de análise, observa-se a
grande predominância dos postais de edifícios, ruas e praças, que perfazem mais de 88% do total,
em todas as décadas até 1940. estão as primeiras ruas de comércio, os palácios e as principais
praças, sobretudo a Praça Fausto Cardoso e o seu prolongamento até a Catedral. Mas não
aparecem as ruas “comuns”, os becos e a grande área marginal ao “Plano” da cidade,
evidenciando o fato da “invisibilidade” de certos espaços urbanos desde a origem de
Aracaju, que são percebidos através de alguns poucos relatos escritos, memórias de pessoas
que viveram também essa outra cidade, que não poderia ser fixada ...
Em 1956, no governo de Leandro Maciel, correu a notícia de que o Morro do Bonfim, situado
no centro de Aracaju,..., seria demolido. Donos de pequenos comércios, cabarés,
proprietárias de pensões de “mulheres da vida livre” e famílias humildes que ali residiam,
esboçaram algumas pálidas reações, através e um abaixo assinado, e uma comissão de
moradores,...foi até o Palácio do Governo para tentar sensibilizar as autoridades a não
fazerem a tal demolição. Com o passar dos dias, agentes do governo visitaram as casas do
Morro, com promessas de indenização pela desapropriação, prometendo, para aqueles
pobres moradores, que eles seriam instalados em novas casas, em bairros não longe do
centro da cidade. Em uma certa manhã, o Bonfim acordou com o barulho das quinas do
Departamento de Obras. Havia começado o desmanche....Os adultos, sem mais forças para
protestar, e sem esperança de continuar morando ali, saíam em busca de caminhões e
carroças, para levarem seus pertences para algum lugar, antes que os tratores destruíssem
161
seus modestos bens.Alguns moradores mais resistentes, permaneceram em suas humildes
casas,..acompanhando o desmonte que, dia a dia avançava, destruindo as primeiras
habitações. Maquinistas e operários que trabalhavam na demolição, muitas vezes
constrangidos, mas por força do seu trabalho, iriam modificar a topografia de Aracaju... A
Zona da boemia acabou, com o desmanche do Morro. Os boêmios, as prostitutas e os
moradores o mais verão aquelas noites alegres sempre iluminadas pelo luar de prata que
se derramava sobre suas alvas areias... Foi assim que o progresso da cidade sufocou as
noites alegres, o canto dos seresteiros, os risos, os lamentos e os choro das prostitutas e os
prazeres dos boêmios que freqüentavam o Bonfim.”
MELINS, p. 303/ 308
A partir de 1940, a freqüência dos temas retratados sofre uma forte alteração, apesar de as ruas,
praças e edifícios ainda predominarem até 1970, quando serão nitidamente superados pelo novo
tema ligado às praias e ao lado turístico da cidade. Nos anos 50, os postais já mostram a
incipiente verticalização de Aracaju, inclusive através de tomadas aéreas, ponto diferencial que
muito facilita a sua classificação no tempo. A cidade deixa de ser um extenso plano horizontal e
surgem pequenos pontos mais altos. Daí em diante, mostra-se com evidência o crescimento
urbano em direção à zona sul pois, além do centro, há uma crescente exposição nessa direção, da
praia e do mar. Cada vez mais, as vistas gerais e aéreas são fundamentais na apreensão dessa
cidade que se inova, com novas tipologias arquitetônicas, verticalizada; e a cor é o ponto comum
na impressão de tais vistas com as novas técnicas. Na década de setenta, com o petróleo e o novo
crescimento econômico, a cidade muda completamente... deixa de ser uma “pequenacapital, em
que se andava tranqüilamente por todo o seu perímetro mais urbanizado, e é percebida como um
centro sub-metropolitano, pois tem, entre 1980-1991, uma taxa de crescimento de 39,7 % no seu
município e de 70,7 % na sua área metropolitana. Assume uma feição de metrópole na
configuração do espaço urbano, com grande diversidade de usos e de condições
socioeconômicas. E as imagens coletadas acompanham bem essas mudanças.
162
A análise da imagem de Aracaju nas diversas décadas do século XX e XXI também mostra que,
embora existam variações nas diferentes décadas, marcos mais significativos da cidade que se
perpetuam ao longo do tempo, persistindo em várias décadas. O primeiro deles é a Praça Fausto
Cardoso, com o Palácio do Governo mais ou menos destacado e, em décadas mais recentes, o Ed.
dos Serviços Públicos, hoje Ed. Walter Franco, e o Ed. São Carlos. Essas imagens coloridas ou
em preto e branco, obtidas de diversos ângulos, inclusive aéreos, vão perfazer 22,4 % dos postais
entre 1930 e 1969. A partir desse período, a percepção da cidade começa a mudar, pois esses
postais são apenas 7 % dos encontrados entre 1990 e 2008.
Observando-se ainda o citado quadro, define-se uma outra imagem da cidade na década de
quarenta, quando o rio, o mar, as pontes e a orla de Atalaia passam a ter mais destaque. A partir
de 1990, a imagem da orla da Atalaia predomina, querendo mostrar Aracaju como cidade
aprazível, turística. De fato, fotos da orla representam 38,3 % dos postais desse período, notando-
se, ainda, que a partir de 2001, as imagens da orla são 55,25 % do total de postais.
Uma terceira imagem parece se fixar a partir da década de setenta, que seria representada por
uma idéia geral de “verticalização”; já que são os edifícios mais altos que se destacam, são
imagens de áreas verticalizadas, são postais de vistas panorâmicas da zona sul (exatamente o
“coreda verticalização), que em conjunto intencionam transmitir uma idéia de modernidade.
163
Quadro 3.1 – Matriz de Análise dos Postais (simplificada)
DÉCADAS 1900-1910
1911-1920
1921-1930
1931-1940
1941-1950
1951-1960
1961-1970
1971-1980
1981-1990
1991-2000
2001-2008
N° DE POSTAIS 36 17 45 102 32 63 44 33 10 61 67
GRANDES CATEGORIAS DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL
EDIFÍCIOS 38,9 29,4 51,1 40,2 25 34,8 29,5 21,2 ___ 11,5 14,9
RUAS 36,1 23,5 11,1 29,4 15,6 14,3 11,4 9,1 50 4,9 ___
PRAÇAS 22,2 35,3 26,7 21,6 18,8 14,3 11,4 9,1 ___ ___ 4,5
SUB-TOTAL 1 97,2 88,2 88,9 91,2 59,4 63,4 52,3 39,4 50 16,4 19,4
ESCULTURAS ___ 5,9 ___ 2 3,1 3,2 2,3 ___ ___ 1,6 3
PONTES, RIO 2,8
5,9
6,7
E ORLAS, PRAIAS 2,9 18,8 14,3 11,4 12,1 10 34,4 59,7
LAZER, PARQUES, SHOPPINGS ___ ___ ___ ___ ___ 3,2 13,6 6,1 30 13,1 ___
VISTAS PANORÂMICAS ___ ___ 4,4 2,9 15,6 11,1 15,8 42,4 10 26,2 6
SUB-TOTAL 2 2,8 11,8 11,1 7,8 37,5 31,8 43,1 60,6 50 75,3 68,7
OUTROS ___ ___ ___ 1 3,1 4,8 4,6 ___ ___ 8,3 11,9
TOTAL 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
164
3.1 O RIO E O MAR: IMAGENS RECORRENTES
Não resta dúvida de que uma das imagens mais fortes da cidade está ligada ao mar que é,
inclusive, um dos elementos que explicam sua origem. No início, o largo estuário que lhe
permitiu ser cidade-porto, que sustentava uma grande população de pescadores e catadores de
mariscos e que, pouco a pouco, se transformou em um local de banho e até de veraneio. Depois, o
mar e suas praias que, sobretudo a partir dos anos trinta, vão se constituir na nova atração da
cidade. Para os primeiros habitantes da capital, certamente o estuário com mais de 1.000 m de
largura em média, apresentava-se como marco natural. Isso permitia destacar Aracaju dos demais
centros da Província, situados à margem de pequenos rios, e talvez esse fato explique o
tratamento dado ao rio Sergipe, às vezes bucólico. Vários postais e inúmeras fotografias dão esse
enfoque ao mencionado componente da paisagem. O rio era retratado, também, como local de
atividades econômicas ou de lazer, evidenciando-se o porto, banhos de “mar”, veraneio na Praia
Formosa, competições de remo e vela no Iate Clube.
17
Figura 3.1 – Fotografia de grupo na Praia Formosa, possivelmente na década de 30, utilizando canoa de pesca
como complemento da paisagem.
17
- Todo o complexo relacionamento entre a população de Aracaju e o mar pode ser visto no trabalho inédito da
autora: “Aracaju – A Cidade, a Água e o Mar” – 2008.
165
Figura 3.2 – Fotografia da pequena Aracaju no início do XX e do majestoso estuário. Ao fundo, vê-se as
palmeiras imperiais e as torres da Igreja Matriz e, também, a Assembléia e o Palácio.
Figura 3.3 - Aracaju vista do rio Sergipe – 1937. Nessa fotografia observa-se o eixo do conjunto da Praça
Monumental, tendo em frente a Ponte do Imperador.
166
Figura 3.4 – Fotografia de navio ancorado no porto de Aracaju, possivelmente no início do século XX,
circundado por saveiros para efetivação do transbordo.
Figura 3.5 – Foto de pequeno navio costeiro ancorado em 1937, com o material para o serviço de luz e força da
cidade.
167
Figura 3.6 – Fotografia de Snipes em competição no rio Sergipe, por volta do final dos anos 50.
Figura 3.7 – Flotilha de Lasers do Iate Clube de Aracaju no início dos anos 80.
168
Figura 3.8 – Iate Clube de Aracaju à beira do estuário do rio Sergipe nos anos 60, recém inaugurado.
Figura 3.9 – Postal da Fachada do Iate Clube, já com a reforma de ampliação, na década de 90.
169
O rio era sempre revivido por ocasião da Procissão de Bom Jesus dos Navegantes, realizada na
cidade desde 1857 e que, embora sofrendo um certo esvaziamento, e sem contar hoje com o
aspecto de “desfile de modas”, onde as senhorinhas do Aracaju passado sempre vestiam modelos
confeccionados especialmente para a ocasião, persiste até os dias atuais. Postais de décadas
diversas a retratam, permitindo analisar as embarcações que a acompanhavam através dos anos,
com predomínio inicial dos saveiros sergipanos até por volta da década de 60. Essa manifestação
religiosa é bem retratada por Fernando Porto, que coloca:
“O maior espetáculo encenado na Rua da Frente era, sem dúvida, a procissão de Bom Jesus dos
Navegantes, que, sobre uma embarcação percorria o estuário do Rio Sergipe, no primeiro dia do ano.
Interessante notar que toda cidade beira-rio apresenta uma procissão deste tipo, voltada para
navegantes ou pescadores. Será, unicamente, por estes profissionais ou ato de remota memória
orgânica celebrando o nascer da vida no seio das águas? Ou por isso ou aquilo, o fato é que era um
belíssimo ato de devoção. Foi realizada pela primeira vez em de janeiro de 1857 e repetida até os
dias de hoje. Ouvimos contar que, em certo ano, as autoridades mostraram-se desfavoráveis à
procissão e ela não se realizou. Resultado: a barra entupiu-se, fechou, navios não podiam entrar e o
remédio foi realiza-la no mês de março. A barra voltou ao normal... Lenda ou verdade?
Nos tempos em que era grande o número de embarcações, de todo porte, que freqüentavam o nosso
estuário, a visão era empolgante, principalmente quando a procissão voltava dos lados da Atalaia.
Ocorria, então, quase total concentração das embarcações atrás do barco santo, as grandes velas dos
saveiros e as pequenas das menores canoas enfunadas pelos ventos de leste, refletindo num branco
brilhante os raios de sol cadente e as centenas de foguetes que subiam ao ar cobriam o cortejo com o
pálio formado pela fumaça das suas explosões; era imponente, impressionante, emocionante mesmo
Ao longo da avenida praiana espalhava-se a assistência ao espetáculo marítimo. Era a procissão
mais concorrida; vinha gente de todos os pontos da cidade e de todos os seus estratos sociais, num
congraçamento que encontrava símile nas festas de Natal na Praça da Matriz. Obediente à crença
de que no dia de Ano Novo deve-se vestir, pelo menos, uma peça nova de roupa, o aracajuano vestia-
se de novo da cabeça aos pés. No mês de dezembro alfaiates e costureiras não chegavam para as
encomendas. Os trajes seriam mostrados na procissão do Bom Jesus, oportunidade certa para sua
exibição, pois, pela falta de clubes sociais, eram raras e incertas as reuniões para servir de palco
para tais desfiles. A Rua da Frente transformava-se numa imensa passarela de modas.”
PORTO, 2003, pp. 95/ 96
170
Figura 3.10 - Procissão de Bom Jesus na década de 40.
Figura 3.11 – Vista geral da Procissão de Bom Jesus dos Navegantes na década de 60 vendo-se o grande
predomínio de saveiros.
171
Não se pode deixar de compreender também que o rio Sergipe aparece, às vezes, não como
elemento focal principal, mas como moldura de acontecimentos ou da paisagem urbana, como se
observa na foto da inauguração da estátua de Fausto Cardoso ou na foto panorâmica da cidade
nos anos vinte. Essa função paisagística do estuário como contraponto persiste até hoje, pois não
resta dúvida de que um elemento natural pode favorecer a imagem de uma cidade.
Figura 3.12 - A beira-rio de Aracaju como espaço de lazer e de comemoração. Fotografia da cerimônia
de inauguração da Estátua de Fausto Cardoso o início do século XX.
172
Figura 3.13 - Aracaju no início dos anos 20 vendo-se, ao centro, a feira na Rua da Aurora, atual Avenida Rio Branco, à altura da Rua Laranjeiras, e os
numerosos saveiros utilizados para transporte. Na extremidade esquerda vê-se a Praça do Palácio e, à direita, a área próxima ao mercado.
173
Figura 3.14 - Rua da Aurora, hoje Av. Rio Branco, no início do século XX. Vendo-se, em primeiro plano à direita,
a deteriorada Ponte do Imperador.
Figura 3.15 – Vista da Av. Ivo do Prado a partir da Praça Fausto Cardoso para o sul na década de 50.
174
Figura 3.16 – Imagem recorrente do Centro de Aracaju a partir do Ed. Atalaia na década de 60.
Figura 3.17 – Imagem do Centro da cidade a partir de outro edifício mais ao sul na década de 70. Em primeiro
plano, observa-se o casarão dos Rollemberg e em segundo, o Ed. Atalaia.
175
Figura 3.18 – Outra imagem do Centro a partir do Ed. Atalaia na década de 70.
Figura 3.19 – Vista área do Centro nos anos 70. Em primeiro plano, à direita, a Praça Fausto Cardoso.
176
Figura 3.20 - Avenida Ivo do Prado vista do Rio Sergipe na década de 90. À direita, o Centro da cidade.
Figura 3.21 - Avenida Ivo do Prado e o rio Sergipe no sentido Centro – sul. Em destaque, a Ponte do Imperador,
em contraposição com o novo prédio da Assembléia Legislativa.
177
Como dito, as praias, sobretudo a Atalaia, vão participar dessa imagem marítima da cidade a
partir dos trinta, quer como local de banho e de veraneio, quer como local privilegiado de lazer e
atração turística, estendendo-se até a foz do Vaza-Barris ao longo da rodovia José Sarney.
Figura 3.22 – Banhistas na Praia de Atalaia na década de 50, em frente ao então balneário.
Figura 3.23 – Movimento da Praia de Atalaia também na década de 50, vendo-se ao longe a torre de salva-vidas.
178
Figura 3.24 - Banhistas na Praia da Atalaia na década de 50. Já é intenso o movimento na área.
Figura 3.25 – Movimento da Praia da Atalaia na década de 60.
179
Figura 3.26 – Vista do Hotel Beira Mar em direção à orla da praia de Atalaia nos anos 70. Observar o coqueiral
intacto mais ao sul, onde hoje são as praias da Sarney.
Figura 3.27 – Praia da Atalaia nos anos 90. No centro do postal, os Arcos da Orla são vistos e, logo atrás, o antigo
prédio do Hotel Beira Mar.
180
No contexto da praia da Atalaia insere-se a orla, espaço de lazer construído ao longo da costa, e
repleto de bares, restaurantes, oceanário, centro de cultura e artes, parques, lagos e outros
serviços de apoio, que vai se constituir na mais completa área de turismo da cidade e que forma,
atualmente, a imagem mais marcante de Aracaju. É fundamental ainda esclarecer que, nesse caso,
o marco mais destacado no imaginário da população são os “Arcos” da orla, fato talvez explicado
por seu simples desenho e por sua insistente reprodução em inúmeros meios de comunicação.
As praias oceânicas são tão fortes na imagem urbana, que o rio Sergipe, embora continue
aparecendo como moldura dos retratos da cidade, não é mais um marco para a sua população.
Como a poluição dele afastou os banhistas e todo o esporte náutico, é quase como se tivesse se
tornado um elemento invisível. Ao tentarmos obter um mapa mental de Aracaju registrado por
seus habitantes (esperando, erroneamente, que o traçado ortogonal da área mais central estivesse
sempre presente no inconsciente) precisávamos, muitas vezes, lembrar a presença do rio como
limite leste da cidade. Os esforços públicos de revitalização do centro e do estuário também não
parecem ter sido muito bem sucedidos. A “orlinha” do Bairro Industrial, por exemplo, embora
apareça em alguns postais que, de fato, dão maior destaque à nova ponte, não chega, nem
remotamente, a apresentar a importância que teve no passado. De fato, observa-se pela aplicação
dos questionários que a percepção do rio Sergipe como moldura da cidade está presente em
87,8% dos entrevistados, e essa é a função sobrevivente desse marco passado da cidade. Aliás,
note-se que, com certa dificuldade, 47,4 % dos mais jovens (até 30 anos) atribuem ao rio alguma
função econômica, como pesca, meio de transporte e até lazer (embora muitos desse grupo
percebam corretamente a questão da poluição e a ausência de banhos de rio na atualidade); mas
isso só ocorre com 30 % da população mais velha, que lembra do estuário quando ele realmente
tinha função econômica significativa.
181
Figura 3.28 – Vista atual de um dos “lagos” artificiais da Orla da Atalaia. Grandes estacionamentos dão o apoio
necessário à utilização dos serviços aí localizados.
Figura 3.29 – Postal do Centro Cultural, 2001 em diante.
182
Figura 3.30 – Oceanário implantado e administrado pelo Projeto Tamar na Orla da Atalaia.
Figura 3.31 – Diversos conjuntos de esculturas representam figuras da nacionalidade e da sergipanidade.
Na imagem o monumento a Inácio Barbosa, fundador de Aracaju.
183
Figura 3.32 – Detalhe de uma das lagoas da Orla.
Figura 3.33 – O entorno das lagoas da Orla permite a prática de esportes, como o ciclismo.
184
Figura 3.34 - Vista noturna geral da Orla. À esquerda, vê-se a cobertura do Centro Cultural.
Figura 3.35 – O Mundo Maravilhoso da Criança, espaço infantil público na Orla.
185
Figura 3.36 – Fonte luminosa de uma das lagoas da Orla.
Figura 3.37 - Arcos da Atalaia, à noite, com iluminação de destaque.
186
3.2 AS PRAÇAS: O CONJUNTO MONUMENTAL DA CIDADE
No “Plano” da nova capital ficaram demarcadas três praças que, a partir do rio demandariam o
interior: na primeira, (hoje Fausto Cardoso), ficariam o Palácio do Governo e a Assembléia
Legislativa; a segunda (Almirante Tamandaré) contaria com o “Atheneu Sergipense” e, na
terceira, ficaria a Igreja Matriz, tornando-se Catedral quando Aracaju tornou-se sede de bispado.
Aos poucos, de forma não intencional (PORTO, 1991, p. 32), outros edifícios públicos
instalaram-se nessas praças, como a Escola Normal, o Tribunal de Relação, a Intendência
Municipal, a Delegacia Fiscal, o Tribunal de Justiça e a Prefeitura Municipal. Daí se formou um
conjunto monumental, uma verdadeira praça maior, insistentemente retratada ao longo das
primeiras décadas do século XX. De fato, os postais de 1900 a 1920 vão mostrar partes desse
conjunto ao longo do tempo, com seus principais palácios em estilo neoclássico.
As reformas do Palácio do Governo e da Assembléia Legislativa na década de 20, que passaram a
ostentar um estilo eclético, seguidas pela reforma da Catedral e a criação do Parque Teóphilo
Dantas fixaram no imaginário coletivo essas praças, sobretudo a primeira, bem mais
urbanizada. O interessante estudo de Barbosa (p. 70) apresenta explicações para o predomínio de
suas imagens nesse período. A primeira seria de natureza histórica, por se tratar de um dos
núcleos iniciais da povoação, rodeada de valorosos edifícios e tornando-se privilegiado conjunto
paisagístico. A Catedral e os monumentos dão uma segunda explicação, e a faceta política,
materializada nos Palácios e associada aos numerosos cartões-postais oficiais contribui também
para o entendimento da questão.
187
Figura 3.38 – Praça Fausto Cardoso na década de 10. Destaque para a Estátua de Fausto Cardoso (assassinado em
1906) no seu centro, entre as palmeiras imperiais.
Figura 3.39 – Cartão comemorativo da inauguração do Jardim Olympio Campos.
188
Figura 3.40 - Palácio do Governo, na década de 10, ainda em estilo neoclássico.
Figura 3.41 - Praça da Matriz nos primeiros anos do século passado. Observar o seu aspecto precário, sem qualquer
urbanização. As torres da igreja são ainda na forma de bulbos.
189
Figura 3.42 - Trecho da Praça Fausto Cardoso com visão do prédio da Delegacia Fiscal na década de 10. Em
primeiro plano, canoas de pesca, um dos meios de vida de parte da população na época.
Figura 3.43 – Trecho da Praça Benjamin Constant, vendo-se o prédio da Escola Normal.
190
Figura 3.44 – Prédio do Tribunal da Relação na Praça Benjamin Constant na década de 10. Vê-se um poste de
iluminação à época e um bonde a burros mais à esquerda
.
Figura 3.45 - Rua de Itabaiana no sentido sul na década de 10. À esquerda, aparece o prédio do Atheneu Sergipense
ainda antes da reforma e com apenas um pavimento.
191
Entretanto, também é possível entender essa preferência visual, nesse primeiro tempo, como a
marca visível da hegemonia político-administrativa e econômica de Aracaju em todo o Estado,
pois por muito tempo essas funções estiveram repartidas entre alguns centros urbanos, já que São
Cristóvão, a antiga capital, nunca teve expressão econômica. É interessante, inclusive, notar-se a
insistência com que a Praça do Palácio é retratada ao lado da Praça Automobilística (ponto de
carros de aluguel), significando um serviço de “cidade grande”. Também, como dito, já se
observa o Palácio do Governo e o da Assembléia Legislativa reformados, com fachadas
monumentais, ecléticas, com ornamentos.
“Na nova fisionomia do prédio do Palácio é notável o caráter monumental, marcado
principalmente pelo exagero decorativo da platibanda, onde todo o contorno é rico em guirlanda e
ornamento. Os frontões, três em cada fachada, são decorados com estátuas erguendo coroas de
louro e guirlandas emolduradas por arco pleno, recebendo o principal as inscrições na base: PAX-
PALÁCIO DO GOVERNO LEX.
BARBOSA, p. 55
Figura 3.46 – Palácio do Governo após a reforma produzida pelos “italianos”, por ocasião do Centenário da
Independência.
192
Figura 3.47 – O novo Palácio era motivo de orgulho para os aracajuanos. No dizer de um missivista, “Inaugurado
no dia 24 de outubro. É um dos mais bellos do norte do paiz.”
Figura 3.48 – Prédio da Assembléia Legislativa após a reforma por ocasião do Centenário da Independência.
193
Figura 3.49 - Praça Fausto Cardoso, na década de 20, já se observando as reformas do Palácio do Governo e da
própria praça com os novos coretos metálicos.
Figura 3.50 - Trecho da Praça Fausto Cardoso nos anos 20, encontrando-se, à esquerda, a Assembléia Legislativa
e, mais adiante, o Palácio do Governo.
194
Figura 3.51 - Trecho da Praça Fausto Cardoso, na década de 30, visualizado a partir do prédio da Assembléia. À
direita, destaque para o relógio e o bonde elétrico. Ao longe, a Biblioteca Pública no estilo art déco e os
novos coretos já em alvenaria.
Figura 3.52 – “Praça Automobistica” na Praça Fausto Cardoso nos anos 50.
195
Figura 3.53 – Vista da Praça Fausto Cardoso em direção ao sul na década de 40.
Figura 3.54 – Praça Fausto Cardoso por volta de meados dos anos 40. Em evidência o conjunto das praças:
primeiro plano, Praça Fausto Cardoso com os novos coretos; entre os prédio administrativos o
Jardim Olympio Campos e, ao longe, a Catedral, já reformada.
196
Figura 3.55 – Trecho do Parque Theóphilo Dantas na década de 30, mostrando o Aquário e, à esquerda, a Prefeitura
Municipal.
“...O aquário localizado ali próximo ao edifício da Prefeitura (corresponde hoje a Galeria
Álvares Santos). (...) O turista no visitar, apreciava ao vivo recôntidos em clausuras de vidro
cheias de água, lindos e raros espécimes de peixes da fauna fluvial sergipana. A entrada do
pavilhão onde se acha o mesmo instalado, o visitante, de antemão encontrava o que admirar
reclusa em vitrines apropriadas uma interessante coleção de peixes empalhados dispostos cada
um em posição de quando a deslisar sobre o curso das águas;”
Corinto Mendonça in BARBOSA, p.62
197
Demonstrando o quanto a importância dessas praças estava registrada no imaginário da
população, o governo Estadual instalou entre os dois palácios em 1927, por reivindicação da
população, um relógio para indicar como Aracaju seguia o modelo do capitalismo industrial,
tendo um ritmo a ser cumprido e os hábitos de seus moradores regulados no tempo “oficial” de
24 horas.
Figura 3.56 – Postal do Relógio no Jardim Olympio Campos nos anos 30.
“A praça Fausto Cardoso, do belo relógio público de quatro faces, instalado em cima de uma
coluna francesa trabalhada em ferro gusa. Era esse relógio que marcava “nove horas”, horário
limite para as moças deixarem a Praça nos dias de retreta, e que também era consultado para o
início e término das festividades.”
MELINS, p. 47
198
Na década de cinqüenta (1957), a Praça Fausto Cardoso vai sofrer uma notável intervenção em
seu entorno, com a construção do Ed. Walter Franco, o “Palácio das Secretarias”, que a partir daí
vai dominar a paisagem, dando à cidade uma feição mais moderna. A comercialização dos
primeiros postais de Aracaju com vistas aéreas, privilegiando o centro, vão reforçar esse ângulo,
às vezes estendendo-se pelas três praças monumentais.
Na atualidade, embora outros pontos da cidade sejam muito mais expressivos para caracterizar a
percepção coletiva, as praças centrais ainda são centro de atenções, mesmo quando o foco é
propositalmente escolhido para reforçar outros elementos da paisagem em mudança ou capturar
ângulos ou detalhes ainda despercebidos.
Figura 3.57 - Praça Fausto Cardoso em direção à Rua João Pessoa no final da década de 60. Destaque para o Ed.
dos Serviços Públicos, já moderno, em contraste com os edifícios da Assembléia Legislativa e do
Palácio do Governo.
199
Figura 3.58 – Lado norte da Praça Fausto Cardoso, vendo-se a antiga Biblioteca Pública e, ao fundo, o Ed.
Estado de Sergipe nos anos 70.
Figura 3.59 – Postal da década de 70 tendo, à direita, o Palácio e a Assembléia Legislativa e, ao fundo, a nova
torre do Palácio da Justiça.
200
Figura 3.60 - Postal da Catedral Metropolitana na década de 90.
Figura 3.61 - Postal da Praça Almirante Tamandaré na atualidade, vendo-se ao fundo a Catedral.
201
Figura 3.62 - Postal, 2001 em diante, com vista da fachada posterior do Palácio, que aguarda sua transformação
em Pinacoteca do Estado.
Figura 3.63 – Postal com detalhe da Praça Fausto Cardoso, 2001 em diante.
202
O grande número de imagens das três praças monumentais faz esquecer as demais da cidade.
Aliás, somente outras poucas são retratadas destacadamente em cartões-postais: a Praça
Camerino, apenas fotografada nas primeiras décadas do século XX muito mais para mostrar os
palacetes aí existentes, a Praça Tobias Barreto
18
, com foco para a Igreja São José (postais de 40 e,
depois, somente dos 90) e para o Colégio Patrocínio de São José, padroeiro do bairro do seu
entorno. Também nessa época a área ainda era inóspita, porque segundo Melins“...no lado oeste,
na lateral da Igreja, corria um braço de rio, que alagava os manguezais e apicuns. Quando a
maré estava cheia, canoas e barcaças descarregavam mercadorias que abasteciam a feira livre
ali existente.” (p. 253). poucos postais da Praça do Mercado, que mais evidenciam o próprio
equipamento, e da Praça do Santo Antônio. A Praça Getúlio Vargas, também na zona sul da
cidade, aparece apenas na década de quarenta, mais para mostrar o inovador serviço de bondes
instalado na capital e o abrigo aí construído.
Figura 3.64 - Praça Camerino na década de 30. À esquerda, vê-se residência em estilo eclético, hoje restaurada para
abrigar a sede do IPHAN.
18
- Denominação atual do logradouro, antes denominada Pinheiro Machado.
203
Figura 3.65 – Colégio Patrocínio de São José nos anos 50. Em primeiro plano, vê-se a Estátua de Tobias Barreto.
Figura 3.66 – Postal da Igreja São José na década de 90. A Praça Tobias Barreto com a Igreja ainda se constituem
em ponto central do bairro.
204
Figura 3.67 – Vista da Praça Getúlio Vargas para a Rua Duque de Caxias nos anos 40, de onde chega um
bonde elétrico.
.
Figura 3.68 – Praça Getúlio Vargas nos anos 40, com destaque para o busto do ex-presidente.
205
Onde estão as outras praças de Aracaju? Os postais e as fotografias públicas praticamente as
ignoram até hoje, mesmo quando nelas se encontram marcos urbanos de destaque, ou têm grande
significado para a população do seu entorno, como a Praça Dom José Tomaz, no populoso bairro
do Siqueira Campos. Aliás, a maioria da população entrevistada e residente nesse bairro cita esse
local como ponto central do mesmo.
Um marco urbano de destaque situado na Praça Fausto Cardoso é a Ponte do Imperador, cuja
imagem tem autonomia em relação ao restante da praça.
19
O seu posicionamento adentrando o rio
Sergipe, lhe dá um aspecto paisagístico de excepcional fotogenia, permitindo-lhe servir de
contato entre a cidade e o mar. E talvez a conformação dessa Ponte, local do desembarque de
Dom Pedro II e sua comitiva em 1860, que passou por numerosas intervenções, alterando-se seu
estilo e material de construção até chegar à forma art déco da atualidade, seja a causa da sua
permanência no imaginário da população. Como bem coloca Medina em seu profundo estudo
sobre esse sítio,
“A leitura da Ponte em seus diversos aspectos me leva a concluir o seu valor como monumento da
cidade... Mas o valor (da Ponte) não é e não pode ser apenas funcional ou de monumento ela
deve ser lida à luz da simbologia de que esimpregnada com todos os ritos de passagem de que
foi palco. A Ponte do Imperador concretiza o aspecto vital da paisagem urbana do centro de
Aracaju. Além de monumento, ela é um ícone que... foi por muito tempo a musa dos escritores e
poetas. É o cartão-postal mais fotografado da cidade, gravado pela câmera sensível dos
fotógrafos, que congelaram as emoções, selecionando os fragmentos do passado como um filtro
cultural.
MEDINA, pp. 19/ 21
19
- A Ponte do Imperador é, de fato, originalmente um atracadouro, mantendo essa função até poucos anos atrás,
quando pequenos navios adentravam o estuário e nela atracavam, a exemplo de corvetas e caça-minas da Marinha do
Brasil, abertos à visitação popular. A denominação de Ponte” é uma expressão local, e outras estruturas desse tipo,
adentrando o estuário em frente a trapiches também eram chamadas de ponte”, a exemplo da “Ponte do Lima”, no
centro da cidade.
206
Figura 3.69 - Ponte do Imperador no final da década de 30.
Figura 3.70 – Vista da Praça Fausto Cardoso, nos anos 30, a partir da Ponte do Imperador.
207
Figura 3.71 – Ponte do Imperador a partir da Praça Fausto Cardoso nos anos 60.
Figura 3.72 – Ponte do Imperador vista do mesmo ângulo na década de 70.
208
PONTE DO IMPERADOR
Mário Cabral
Quando a cidade era pequena,
provinciana,
de ruas desertas e tristes,
a Ponte do Imperador já era o marco
e a referência de Aracaju.
A cidade mudou, cresceu,
ganhou altura, beleza e superfície.
Agora possui vaidosos pruridos
de futura metrópole.
Mas a ponte é a mesma ponte,
firme e forte,
na doce presença do seu eterno carisma.
Lá está, rio a dentro,
palco de constantes emoções,
ora vividas pelo velho poeta,
ora vividas pelos sonhos maiores
da moça apaixonada, ponte do povo.
À tarde, ao marulho das águas,
sempre alguém estará debruçado,
à amurada,
o olhar perdido mas o coração presente
às coisas da sua terra.
A Ponte do Imperador ficará no tempo
com sua feição emblemática,
representativa do nosso passado
histórico e sentimental.
Nessa bela estrutura, de ferro e de cimento,
parece vibrar o sentido mágico
das recordações perdidas.
É só ir lá.
Ficar em silêncio.
E tentar escutá-las...
in MEDINA, p. 99
Figura 3.73 – Ponte do Imperador nas décadas de 10, 20, 30, respectivamente, e nos dias atuais.
209
3.3 RUAS E EDIFICAÇÕES: MARCOS URBANOS
Algumas ruas e edificações têm sido foco de vários postais desde o início de Aracaju que, ao
longo do tempo, mudam, às vezes ao sabor das transformações da cidade e do maior destaque de
outros logradouros e edifícios mais modernos, outras vezes em face de mudanças no interesse dos
fotógrafos e nos objetivos da imagem.
As primeiras fotos de ruas apresentam sempre logradouros do Centro da cidade (praticamente o
que existia da pequena urbe), como as ruas Laranjeiras, Japaratuba (atual João Pessoa), São
Cristóvão e a Aurora (atual Rio Branco). Os postais da primeira-década mostram o casario baixo,
modesto, com fachadas em platibanda em estilo neoclássico. Mostram, também, pessoas e
animais, como que a indicar uma cidade viva e dinâmica, que começava a contrastar com os
pequenos centros interioranos. Nessa paisagem uniforme começavam a despontar alguns edifícios
públicos, a exemplos de palácios situados nas praças centrais, do Tribunal da Relação e do
Atheneu Sergipense, depois reformado para abrigar a Biblioteca Pública.
Sempre houve uma preocupação em captar, mesmo ao longe, alguns elementos característicos da
“modernidade” urbana, como postes telefônicos, bonde a burros, bondes elétricos em imagens de
1930 a 1940 ou, depois, automóveis. A evidência da retilinidade das ruas de Aracaju parece
tentar explicitar o seu diferencial de projeto e os méritos do Plano de Pirro, a partir de certos
ângulos de tomada das fotos.
210
Figura 3.74 – Rua da Aurora já comercial na primeira década do século passado.
Figura 3.75 – Rua de São Cristóvão, na primeira década do século passado, também evidenciando o fluxo
de pessoas e animais.
211
Figura 3.76 – Prédio da Escola Normal Ruy Barbosa na década de 20.
Figura 3.77 – Fachada do prédio da Delegacia Fiscal na década de 20.
212
Figura 3.78 –Rua João Pessoa da Rua São Cristóvão para o sul nos anos 30.
Figura 3.79 – Postal na Rua João Pessoa na década de 30. Note-se que na principal rua comercial da cidade os
bondes elétricos trafegavam nos dois sentidos. À esquerda, hotel Marozzi, o principal da cidade.
213
Figura 3.80 – Av. Rio Branco na década de 30, destacando o posteamento telefônico e alguns automóveis. Até a
construção da Estação Rodoviária, nesse local estacionavam todos os ônibus intermunicipais.
Saliente-se, também, que sempre procuraram mostrar as edificações mais destacadas e presentes
nesses logradouros. As primeiras fotografias da rua da Aurora, obtidas no início do século XX,
mostram o seu dinamismo, com residências, casas de comércio, trapiches, a feira, e edifícios
públicos, onde despontavam sobrados, construídos ainda no século XIX. Aos poucos, as
construções com mais de um piso passaram a dominar as ruas mais comerciais, e a melhoria das
condições econômicas permitiu a edificação dos palacetes residenciais da nova burguesia urbana,
bem evidenciados.
214
Figura 3.81 – Sobrados da Rua da Aurora no início do século XX.
Figura 3.82 – Avenida Rio Branco, área do antigo porto, na década de 20.
215
Figura 3.83 – Rua Itabaiana na década de 30, com grandes residências. À direita, observa-se o posteamento dos
bondes elétricos.
Figura 3.84 – Rua de Estância na década de 30. Observar o posteamento telefônico e, à esquerda, casarões
residenciais de população de alta renda.
216
Aos poucos, os estilos arquitetônicos utilizados foram mudando, acompanhando as tendências do
restante do país
20
. O neoclássico cedeu lugar ao eclético no início do século XX, havendo em
conjunto uma fase de expressão neogótica. De fato, esse estilo pouco difundido no sul do país
encontrou receptividade em Aracaju. Fachadas de casas são reformadas para abrigar janelas
ogivais e erguem-se torres de igrejas em agulha, como as das igrejas Santo Antônio e São
Salvador, por volta de 1922. Diz Fernando Porto (2003, p. 35), comentando essa construção:
“Reforma bem avançada indo muito além das simples ogivas do passado, foi ela um sucesso; à
noite, muitas pessoas faziam “sereno no passeio fronteiro para apreciar os coloridos vitrais
iluminados, uma novidade em Sergipe. Essa reforma desencadeou uma onda neogótica sobre o
Estado, onde pularam, aqui e ali, igrejas e capelas no mesmo estilo, soterrando no desprezo o velho
barroco.”
Figura 3.85 - Igreja de São Salvador na década de 20. Observar a torre ainda em construção.
20
- Fernando Porto, em seu livro “Alguns Nomes Antigos do Aracaju”, descreve muito bem a trajetória estilística
dos prédios antigos da cidade, passando do neoclássico para o neogótico, o eclético, o “art nouveau” e o “art déco
(PORTO, 2003, pp. 22/ 55).
217
A última expressão do neogótico em Aracaju foi a construção das novas torres da Catedral, na
década de 40, completando a sua reforma.
Figura 3.86 – Postal da Catedral Metropolitana de Aracaju, tendo, em primeiro
plano, a estátua do Monsenhor Olímpio Campos.
218
Nos anos 30, a arquitetura produzida em Aracaju passou por notável transformação por influência
de construtores estrangeiros: a primeira, com um grupo de italianos com seu estilo eclético e
influências do art-nouveau, responsável pelas reformas dos palácios centrais e do interior da
Catedral; a segunda, com o engenheiro alemão Hermann Otto Von Altenesch (PORTO, 2003, pp.
19/ 56), que vai difundir a construção dos “bungalow” residenciais e o estilo art-déco. Pequenas
residências na rua Duque de Caxias, com suas exíguas varandas frontais, vão ser modelo para a
solução do “morar bem” em Aracaju por muito tempo. Altenesh também vai executar reformas
que geraram marcos urbanos destacados, como a da antiga Cadeia Pública, depois Palácio Serigy,
e a da Ponte do Imperador, que tem sua plataforma alargada e recebe uma nova marquise plana
em concreto, mantida até os dias atuais. As formas bem características do art-déco vão ser
utilizadas não no Palácio Serigy, mas também na nova sede dos Correios e Telégrafos e,
sobretudo, na sede do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, conservado até hoje.
Figura 3.87 - Palácio Serigy, na década de 30, obra de Von Altenesch,
construtor alemão radicado em Aracaju.
219
Figura 3.88 - Interior da Catedral Metropolitana
após a reforma dos anos 30.
Figura 3.89 - Vista Panorâmica da cidade na direção oeste, vendo-se as torres da Igreja Matriz ainda em construção.
Na direita ao fundo, vê-se a parte superior do prédio do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
220
As ruas principais continuaram sendo focalizadas em postais, embora em número decrescente,
quase sempre intencionando mostrar, ou a amplidão das avenidas e seus meios de transporte, ou
em décadas mais recentes, intervenções inovadoras como os calçadões da zona central ou a
verticalização. O que se observa é que as grandes edificações, sempre vistas como marcos
urbanos, vão continuar a sê-lo, que terão agora maior altura. É o processo de verticalização
que se desenvolve, gerando um outro olhar da cidade.
Figura 3.90 - Avenida Barão de Maruim nos anos 30. Com calçadas largas, a ampla avenida representava um novo
modelo de via para a cidade, abrigando a linha de bondes elétricos sem transtorno e com o
posteamento na parte central.
221
Figura 3.91 - Rua João Pessoa na década de 50 com destaque para o Ed. Mayara. À esquerda, lateral da Igreja
São Salvador.
Figura 3.92 - Vista parcial sul de Aracaju a partir da Praça Fausto Cardoso na década de 60. Esse ângulo da cidade
novamente surge em postal, agora colorido, mostrando, ao longe, o Ed. Atalaia já concluído. Os
bondes, retirados de circulação, foram substituídos por veículos tipo lotação.
222
Nas fases iniciais do processo de verticalização, edifícios, por seu ineditismo, marcaram a
paisagem urbana em seu tempo: os edifícios Mayara, Walter Franco e Atalaia, o Hotel Palace de
Aracaju e o Ed. Estado de Sergipe, verdadeiros ícones da cidade, que estão presentes em
numerosos cartões-postais, quer explicitamente em primeiro plano, quer emoldurando ruas ou
vistas mais gerais. O edifício Mayara foi inaugurado no início dos anos cinqüenta, no cruzamento
das duas mais importantes vias comerciais do Centro: a rua João Pessoa e a rua Laranjeiras. Esse
empreendimento de iniciativa particular foi erguido pelo comerciante João Hora, um homem de
visão arrojada para a época pois, para todos, Aracaju não comportaria um “arranha-céu”. Assim,
essa edificação pioneira, com seis andares e elevador, de projeto modernista, foi considerado, por
vários anos, o cartão-postal da cidade. A repercussão causada pela construção do Mayara mostra,
mais uma vez, como a população tinha pouco acesso às inovações alcançadas em relação às
construções verticais no restante do país e no mundo.
Figura 3.93 – Desenho, datado de 1948, com perspectiva do Ed. Mayara a ser construído.
223
“Mandando para voceis uma foto do “Mayara”, o faço sabendo o quanto exultam
com a minha vitória! Representa ele o prêmio de uma vida de luta e de trabalho
patrimônio moral e material que lego aos meus filhos!”
Figura 3.94 – Foto do Ed. Mayara após término da obra. Acervo da Sra. Risolina Hora,
esposa do Sr. João Hora.
224
O “Ed. dos Serviços Públicos”, hoje Ed. Walter Franco, foi construído pelo Estado em 1957,
sendo mais uma edificação modernista, por isso mesmo tornando-se logo um novo ponto focal
das lentes dos fotógrafos. Com suas linhas puras, contrastava com os prédios mais antigos ao
redor, principalmente com o do Palácio do Governo. Sua fachada, marcada por uma série de
colunas, gerava uma outra e diferente percepção do espaço construído. A utilização dos brises
verticais na fachada, o revestimento em pastilhas, o uso de tijolos de vidro no térreo e o painel de
azulejos do artista plástico Jenner Augusto ainda mais o tornavam o maior representante da
cidade de uma outra tipologia arquitetônica.
Figura 3.95 – Postal do Ed. dos Serviços Públicos na década de 50. À direita, observa-se o Ed. São Carlos,
construído na mesma época.
225
Figura 3.96 – Postal do Ed. dos Serviços Públicos também na década de 50. À esquerda, observa-se o Cinema
Palace, o melhor da cidade.
Figura 3.97 – Postal do Ed. dos Serviços Públicos visto da Praça Fausto Cardoso na década de 60.
226
Logo em seguida, no final dos anos 50, inaugurou-se o primeiro edifício mais alto de Aracaju,
térreo com pilotis e mais 10 pavimentos-tipo de uso apenas residencial, o Ed. Atalaia. Obra do
empreendedor e engenheiro civil João Machado Rollemberg, com projeto de Rafael Grimaldi,
seu colega da Politécnica da Bahia, integrava Aracaju mais rapidamente ao novo tempo, pois
continha em sua estrutura até os pilares em V, usados por Niemeyer tanto no Projeto do Hospital
Sul América 1952, Rio de Janeiro, como em Brasília, ainda em construção. O edifício flutuava
sobre o solo, abrindo-se para a larga avenida e para o rio Sergipe, uma localização privilegiada
que lhe permitiu marcar fortemente a paisagem, sendo daí sempre visualizado nas imagens
urbanas, mesmo que ao longe. Sua construção foi uma luta, como afirmou o próprio construtor
porque, como não se acreditava na viabilidade de se erguer edifício tão alto na cidade, devido ao
seu tipo de solo, os apartamentos não foram vendidos logo, e esse, em geral, não sabia como
pagaria a folha dos empregados no final de cada semana.
Figura 3.98 – Fotografia do lançamento da obra do Ed. Atalaia com a presença de pessoas ilustres,
inclusive o Governador do Estado, Leandro Maciel, de terno branco ao centro.
227
Figura 3.99 – Fotografia do Edifício Atalaia após a
conclusão das obras, no final dos anos 50.
Figura 3.100 – Vista da Avenida Ivo do Prado com destaque para o Edifício Atalaia nos anos 60.
228
O Hotel Palace de Aracaju, localizado no Centro abriu, na época, uma nova perspectiva de
progresso, sendo considerada a maior obra pública do Governo de Luiz Garcia. Com projeto
também do Eng. Rafael Grimaldi, sendo agora o Sr. João Machado Rollemberg Secretário de
Estado, a conclusão da obra foi prevista para março de 1963; entretanto, pela redução do projeto
inicial, sendo apenas mantida a lâmina vertical frontal, foi antecipadamente inaugurado em junho
de 1962. Na lâmina inferior, com três pavimentos, havia o acesso ao hotel e mais 26 lojas,
ocupando todo o terreno. Esse imenso volume, com fachadas revestidas em pastilhas, azul e
branco, e detalhes na cor cerâmica, predominava no skyline com suas linhas horizontais,
complementadas com grandes painéis de vidro, janelas em fita, apenas interrompidas pelos
pilares à vista. A grande marquise nos acessos, os pilotis do terraço, a fachada do fundo com
circulações em combogós, todos os elementos a enquadravam em uma edificação moderna.
Obviamente, tornou-se um símbolo, um representante do desenvolvimento do Estado e local
indiscutível de numerosos eventos sociais da urbe.
O esvaziamento do Centro e o desenvolvimento de uma nova zona hoteleira na orla da Atalaia
acabaram por forçar o fechamento do hotel nos anos 90, entrando seu prédio em intenso processo
de deterioração, encontrando-se atualmente praticamente em estado de ruína, tendo sido cogitada,
inclusive, sua implosão. Tornou-se, apesar das suas dimensões, uma das lacunas do nosso tempo,
pois, sem exposição na mídia, a questão não é discutida e o edifício se reveste de uma
invisibilidade característica para a maioria dos cidadãos.
229
“...No ano passado se falavam
Quando no atrazo aprofundava
Não construía edifícios
Porque o solo não comportava
Que faltava era progresso
E tudo incapacitava
Progresso foi chegando
Grandes prédios construindo
Desde do Palace ao Atalaia
Muitos outros vem seguindo
Pouco a pouco nossa terra
Do atraso vai saindo...”
SANTOS, 2005, p. 4
Figura 3.101 - Vista do Hotel Palace nos anos 60.
Figura 3.102 – Postal dos anos 60 com fachada principal do Hotel Palace de Aracaju.
230
Outro símbolo de modernidade, o Ed. Estado de Sergipe foi erguido durante a gestão do
governador Lourival Baptista, após 1964. Até hoje é o maior prédio de Aracaju, com 28
pavimentos, porque alguns anos depois a legislação municipal estabeleceu um menor gabarito
para a cidade. O projeto foi do escritório Alvarez e Pontual Arquitetos, de Salvador, sendo a obra
executada pela Construtora Norberto Odebrecht. A lâmina inferior, ocupando praticamente todo o
terreno, com o pavimento em balanço em relação aos inferiores, foi feito para ser a sede do
Banco do Estado de Sergipe e, a partir daí, o volume mais estreito foi solucionado para abrigar
algumas salas e um sanitário por pavimento, a fim de servirem a diversos órgãos do Estado. Esse
imenso edifício foi, por muito tempo, um referencial a mais em Aracaju, capital de um Estado
que crescia com os investimentos da Petrobras. Como bem disse o próprio Governador em seu
discurso proferido na solenidade da nova sede do Banco:
“Seja-me permitido lembrar, mais uma vez, que um Edifício
deste porte ficará, para o futuro, como o símbolo visível dos
ideais e do crescimento de Sergipe de nossos dias. “Para a
frente, para o alto eis o que este prédio nos sugere, e é
exatamente o que desejam todos os sergipanos.”
Figura 3.103 – Ed. Estado de Sergipe no final dos anos 60.
231
Figura 3.104 – Vista aérea de Aracaju nos anos 70, tendo no centro o Ed. Estado de Sergipe. Em primeiro plano e à
direita, o novo edifício do INSS e, ao seu lado, a Estação Rodoviária, ocupando a esplanada criada
com o desmanche do morro do Bonfim.
.
Figura 3.105 – Postal da Av. João Ribeiro, década de 90, vendo-se o Ed. Estado de Sergipe no centro da cidade.
232
No conjunto de centenas de ruas e de milhares de edificações de Aracaju, apenas algumas
mereceram destaque. A seletividade das imagens encontradas nos cartões-postais fez esquecer as
ruas mais comuns, mesmo aquelas de intenso comércio, as residências simples, a grande
dominância das casas de parede-meia, originadas na fundação da cidade e que persistem ainda
hoje, em decorrência dos estreitos e profundos lotes urbanos das áreas mais antigas da cidade e
também das mais novas, ocupados por uma população de renda mais baixa. Essa outra Aracaju
perdeu-se, de certo modo, no tempo, pois não foi fotografada ou fixada em qualquer suporte
iconográfico para permanecer nas lembranças das pessoas. Essa é resgatada em alguns
documentos escritos, como explicitado, daqueles que em um determinado momento com um
olhar mais atento e misterioso captaram o invisível.
3.4 A VERTICALIZAÇÃO COMO IMAGEM
O processo de verticalização, iniciado nos anos 50, foi de forma pontual, aos poucos, alterando
definitivamente a paisagem urbana, anteriormente formada por um plano extenso e horizontal
de construções. Demonstrava, sem dúvida, o maior valor dos terrenos na área mais antiga e densa
da cidade, o que justificava, por sua vez, a construção de edifícios mais altos.
Pode-se estabelecer, então, desde esse primeiro momento, a verticalização de Aracaju como um
processo de “ancoragens”, de maneira semelhante ao de outras cidades, que lança uma construção
mais ao longe e, depois, ocupa a área mais valorizada entre a ocupação vertical anterior e este
novo ponto. Com os anos, a paisagem se tornou cada vez mais dinâmica, com alternâncias entre
um plano horizontal ainda mais extenso e picos verticais. A zona sul verticalizou-se rapidamente,
233
fato bastante estimulado pelos financiamentos do BNH, e também os edifícios avançaram para
oeste ao longo das grandes avenidas.
A partir dos anos 2000, percebe-se que a imagem da cidade não é formada por apenas
determinados volumes verticais, mas por uma extensa verticalização, que se espalha na malha
praticamente plana. As ruas e bairros da cidade são destacadas pelos conjuntos de edifícios nelas
situadas. Todos os olhares convergem para essas manchas e todo o restante parece esmaecer.
Figura 3.106 - Vista aérea do Centro em direção à zona sul nos anos 90. Em
primeiro plano, os edifícios Estado de Sergipe e Hotel Palace.
234
Figura 3.107 – Vista do rio Sergipe para o Centro de Aracaju nos anos 90.
Figura 3.108 - Vista parcial do Centro para a zona sul na década atual.
235
Figura 3.109 - Vista aérea parcial do Bairro São José, vendo-se, ao fundo, a Coroa do Meio. Observar o adensamento
vertical, no alto e à direita, gerado pela “Norcolândia”.
Figura 3.110 - Postal com vista da “Norcolândia” no bairro Treze de Julho.
236
Figura 3.111 – Verticalização da Treze de Julho também nos anos 90.
Figura 3.112 – Av. Beira Mar já bem mais verticalizada nos anos 90.
237
Figura 3.113 - Vista aérea parcial do Bairro São José para a Coroa do Meio nos dias atuais. Mostra-se o contraste
entre a cidade construída e a natureza.
Entre os entrevistados 71,7 % consideraram que a verticalização é um progresso para a cidade,
embora 19,5 % tenham visto esse progresso com certas preocupações, quer ambientais, como a
devastação dos manguezais, quer de outros tipos, como as dificuldades no trânsito e a
“desorganização” produzida por diferentes gabaritos. Somente 28,3 % não associam
verticalização ao progresso em face dos problemas ambientais por ela gerados (como a circulação
de ar), da especulação imobiliária e das carências de infra-estrutura na cidade. Esses resultados
mostram bem como a verticalização, associada a progresso, desenvolvimento, beleza, está no
imaginário da população aracajuana, como um marco da cidade. Mas essa é apenas uma faceta da
cidade elitizada, que domina a imagem de toda a urbe, excluindo suas áreas mais horizontais.
238
CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Mas o que se sabe com certeza é que, quando se pede a um habitante
de Zenóbia que descreva uma vida feliz, ele sempre imagina uma
cidade como Zenóbia, com as suas palafitas e escadas suspensas, talvez
uma Zenóbia totalmente diferente, desfraldando estandartes e nastros,
mas sempre construída a partir de uma combinação de elementos do
modelo inicial.
Disto isto, é inútil determinar se Zenóbia deva ser classificada entre as
cidades felizes ou infelizes. Não faz sentido dividir as cidades nessas
duas categorias, mas em outras duas: aquelas que continuam ao longo
dos anos e das mutações a dar forma aos desejos e aquelas em que os
desejos conseguem cancelar a cidade ou são por esta cancelados.”
CALVINO, pp. 36/ 37
239
Pode-se afirmar que Aracaju, desde as últimas décadas do século XIX até as mais recentes, foi
construindo lentamente a sua imagem de cidade “ideal”, que atualmente de maneira mais
evidente e persistente, e até explícita, enquadrando-se no que se pode estabelecer como uma
cidade da “civilização da imagem”. É cada vez mais constante a descrição de Aracaju, por grande
parte da sua população, como “Capital da Qualidade de Vida”. Mesmo sem se saber, exatamente,
em que esse slogan se baseia, a frase se repete na mídia e é fixada na mente dos cidadãos. Assim,
Aracaju é como a Zenóbia de Calvino, que continua sempre a dar forma aos desejos de seus
habitantes.
Na realidade, Aracaju em 2005 foi a “Capital do Norte e Nordeste com Melhor Qualidade de
Vida”, título obtido através de pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas. O estudo,
denominado Índice de Condições de Vida (ICV), utilizou dados da Pesquisa de Orçamento
Familiar (POF 2002/ 2003) do IBGE, realizada em uma amostra de 48.470 domicílios, contendo
informações sobre a satisfação das pessoas em relação a doze questões, como: a oferta de
serviços públicos, alimentação, moradia, renda e problemas com a violência. A capital sergipana
alcançou o índice de 8,62% acima da média nacional, abaixo somente daqueles alcançados por
cidades do Sul e Sudeste do país.
21
Recentemente, a capital sergipana alcançou outro título como a “Capital com Melhor Qualidade
de Vida do Brasil”, a partir de dados do Ministério da Saúde e levantamento do programa Globo
Repórter. A escolha foi baseada em certos indicadores, como menor número de fumantes e de
pessoas com excesso de peso, maior consumo de hortaliças e prática de exercícios físicos,...
Segundo a Prefeitura Municipal, os resultados alcançados foram conseqüência, principalmente,
21
- Informações encontradas no endereço http://www.vermelho.org.br/diario/2005/
240
de um trabalho contínuo e programado, iniciado sete anos na administração de Marcelo Déda.
Como disse Edvaldo Nogueira, Prefeito reeleito: “A preocupação da administração de fazer o
crescimento vinculado à qualidade de vida desde o primeiro momento foi fundamental nesse
processo. Perseguimos isso, não foi uma coisa aleatória”. Daí fizeram-se investimentos em
saúde e melhorias nos espaços de esportes e lazer da cidade, como o Parque da Sementeira, o
Calçadão da Treze de Julho e diversas praças. A implantação e manutenção de programas como a
Farmácia Viva (produção de remédios fitoterápicos), a Academia da Cidade, A Vida Vale Mais
(campanha da velocidade máxima de 60 km), também foram essenciais para o alcance desse
patamar.
À semelhança do que tem ocorrido em Curitiba, fica claro que a constante geração de inovações
na cidade é parte de uma política de melhoria de qualidade de vida. Não é sem razão que a capital
paranaense é aqui citada sempre como um modelo, pois o legendário Prefeito dessa cidade, o
arquiteto Jaime Lerner, elaborou vários projetos para Aracaju, alguns dos quais acabaram por
não funcionar, como a Rua 24 Horas
22
, ou apresentar problemas, como o traçado viário do bairro
Coroa do Meio, que acaba de ser redefinido pela Prefeitura Municipal. Mas isso é secundário
diante da magnitude do modelo seguido e da força de um “marketingque insiste na fixação de
uma imagem extremamente positiva da cidade. E as inovações continuam, geralmente muito bem
aceitas pela população. O aracajuano não é arraigado ao passado, preso a tradições e imagens de
um tempo que se foi, talvez pelo fato de que a própria cidade foi uma inovação”, entendendo
inovação como algo que é percebido como novo, pois ela não tem monumentos muito antigos,
marcos intocáveis de uma herança colonial a ser preservada, como São Cristóvão.
22
-
Aliás, como apontado no citado estudo sobre Curitiba, “o mito Jaime Lerner genialidade- panacéia para as
grandes cidades”, desmancha-se no ar ao analisarmos os precários resultados e, em muitos casos, até mesmo o
completo fracasso de seus planos urbanísticos em outras cidades e metrópoles brasileiras” (GARCIA, p. 90).
241
Figura C 01 - Postal da Rua 24 Horas nos anos 90. Funcionava como interligação entre o Centro de Turismo, antiga
Escola Normal, e o calçadão da rua Laranjeiras.
Figura C 02 - Fotografia parcial do Centro, vendo-se, em primeiro plano, o local em que funcionou a Rua 24 Horas.
242
Ao se inquirir os amostrados com mais de cinqüenta anos sobre os lugares mais importantes de
Aracaju no passado, se foram substituídos ou se mantiveram ou se tem saudades deles, obteve-se
quase como resposta unânime que os lugares importantes de Aracaju do passado foram
substituídos por outros, mais relacionados com um novo tempo. Deve-se entender, na realidade,
como disse um dos entrevistados, que alguns se mantiveram, como o Centro e as praias, por
exemplo, apenas com mudanças no modo de uso desses espaços. Quanto à questão da saudade,
70 % disseram sentir saudades da Aracaju do passado, mas não queriam voltar no tempo:
“Cinemas, Praça Fausto Cardoso e suas retretas”... o antigo comércio da João Pessoa... os
antigos clubes: Associação, Atlética e Iate. Tenho saudades, sem saudosismo". Isso é
interessante, porque mostra que os urbanistas se preocupam demais com as questões da
preservação dos edifícios e monumentos históricos, em se manter o passado, às vezes até de
modo intocável, mas com uma visão simplista a população acha importante, é claro, alguns dos
marcos históricos, mas acompanha e vive a cidade no decorrer do tempo. Como diz Lynch:
“Nosotros conservamos las señales actuales del pasado o controlamos el presente para
satisfacer nuestras imágenes del futuro. Nuestras imágenes del pasado y del futuro son imágenes
presentes, continuamente recreadas.” (Lynch, 1975, p. 75). Assim, é preciso que a conservação
de uma cidade seja feita com coerência, apenas atualizando os usos dos edifícios do passado mais
simbólicos, para mantê-los vivos.
“Nuestro entorno terrenal es un marco muy especial y quizás único para el desarrollo de la vida.
Es preciso conservarlo, aunque es imposible preservarlo. Cambiará a pesar de nosotros, con
nuestra omisión o nuestra comisión. Hasta el punto en que ese cambio sea inevitable, deberíamos
al menos asegurarnos de que fuese un proceso humano y que no desembocase en nuestra propia
destrucción. Por otro lado, hay muchos cambios necesarios que no son inevitables en absoluto.
Nuestra tarea real no es impedir que el mundo cambie sino hacer que cambie en una dirección que
favorezca el crecimiento y fortalezca la vida.
LYNCH, 1975, p. 279/ 280
O clima de otimismo, nunca visto em Aracaju em outros tempos, também fica claro ao se realizar
as entrevistas com amostra da população. Os resultados dos questionários realizados no último
mês de 2008, tabulados e mostrados aqui apenas de forma percentual, não se tentando inferência
estatística em face do tipo e tamanho da amostra, confirmam o enunciado. De fato, Aracaju é
243
muito bem apreciada pelos seus habitantes. Todos os entrevistados a consideram uma cidade
bonita e agradável para se morar, emoldurada pelo belo recurso paisagístico que é o estuário do
Sergipe, embora também tenham a nítida percepção das diferenças intra-urbanas, pois 96,7 %
consideram que viver nas zonas centrais é bem melhor.
Essa avaliação é tão positiva que apenas um pouco mais da metade dos entrevistados (55,1 %) a
consideram violenta, mesmo quando reconhecem a existência de banditismo e problemas com
drogas na cidade. É possível que essa percepção positiva esteja altamente correlacionada com a
imagem da “melhor qualidade de vida do país”, aceita por 77,6 % dos pesquisados. Alguns
elementos desse grupo, entretanto, acham que a cidade não merece esse status porque outras
cidades, como Curitiba, apresentam condições bem melhores de vida (e aqui o “modelo Curitiba”
é citado pelo cidadão comum).
Para 95,9 % dos moradores entrevistados, as praias são muito importantes para a vida da cidade
(mesmo observando-se que 20,7 % deles não as freqüentam regularmente) e a orla da Atalaia faz
parte da imagem urbana, considerada por 89,8% deles como o ponto mais importante de Aracaju.
É interessante observar que a Praça Fausto Cardoso, conhecida por 100 % dos entrevistados com
31 anos ou mais e por 89,5 % dos mais jovens, é ainda vista como ponto importante por 46,9 %
dos citadinos. Essa mesma diferenciação etária é observada com referência a um dos seus marcos
mais destacados, a Ponte do Imperador, conhecida por 93,3 % dos aracajuanos com 31 anos ou
mais e por apenas 73,7 % dos mais jovens.
Assim, talvez por ter uma configuração geográfica bem característica, margeada pelo rio Sergipe
e, em parte, pelo oceano, e ter traçado geométrico regular, simples, e ser uma capital
244
relativamente pequena com pontos bem marcados no tempo, Aracaju seja uma cidade com uma
imagem extremamente positiva, o que permite confirmar significados e sentimentos da população
e essa estar sempre aberta à criação de novas histórias, estimulando a realização de novas
melhorias. Como explica Lynch:
É bem verdade que precisamos de um ambiente que não seja simplesmente bem organizado, mas
também poético e simbólico. Ele deve falar dos indivíduos e de sua complexa sociedade, de suas
aspirações e suas tradições históricas, do cenário natural, dos complexos movimentos e funções
do mundo urbano. Mas a clareza da estrutura e a expressividade da identidade o os primeiros
passos para o desenvolvimento de símbolos fortes. Ao aparecer como lugar admirável e bem
interligado, a cidade poderia oferecer uma base para o agrupamento e a organização de tais
significados e associações. Em si mesmo, esse sentido de lugar realça todas as atividades
humanas que ai se desenvolvem e estimula o depósito de um traço de memória.”
LYNCH, 1999, p. 134
Em termos políticos, toda essa imagem da cidade provoca um feedback na administração pública
que, através do Prefeito Municipal, declara:
“O crescimento da auto-estima e esse sentimento positivo em relação à cidade são fruto do que a
Prefeitura de Aracaju tem feito nos últimos sete anos. Melhoramos significativamente a prestação
dos serviços, as pessoas perceberam uma administração sem escândalos, o dinheiro público está
sendo bem aplicado. Provamos que, quando se tem determinação e compromisso, é possível
realizar uma administração que melhore a vida da cidade. É claro que tem problemas, mas as
pessoas estão felizes com a cidade que têm. E obviamente a sociedade reconhece o esforço do
administrador. A população é importante nesse processo, uma simbiose entre a Prefeitura e a
sociedade, que estão fazendo bem a sua parte. Por isso, percebemos esse clima de otimismo e o
reconhecimento do nosso trabalho”.
http://www.aracaju.se.gov.br/gabinete_do_prefeito/pp.2/3
Aracaju chegou ao ponto de fixação de uma imagem de cidade moderna, progressista, bem
equipada, capaz de atender às necessidades de sua população e, principalmente, do turismo.
Como, dentre as capitais do Nordeste, é a que não tem uma praia paradisíaca, e suas águas são
geralmente turvas, focalizam-se outros atrativos como: tranqüilidade, passeios interessantes bem
próximos, como o cânion de Xingó, a praia de Mangue Seco, as cidades históricas de São
Cristóvão e Laranjeiras, cozinha típica exótica e, atualmente, festas regionais como a de São
João e o Pré-Caju.
245
A mensagem de Aracaju como cidade de Melhor
Qualidade de Vidaestá explicitamente colocada em grande
outdoor da Prefeitura Municipal, na Treze de Julho, desde o
recebimento do título. A mais recente ainda reafirma a
imagem de felicidade ao se viver na cidade.
Figura C 03 – Fotografia de painel publicitário, maio/2006.
Figura C 04 – Fotografia do novo painel publicitário, Treze de Julho, janeiro/2009.
246
Figura C 05 – Na grande prévia carnavalesca, o Pré-Caju, a mesma mensagem, foto à direita, esteve fixada em
todos os postes do “Corredor da Folia”, Avenida Beira Mar, foto à esquerda, e em outras avenidas
de acesso a esse, junto a outras propagandas.
Figura C 06 – Nos festejos juninos a Prefeitura também fez “O São João da Qualidade de Vida”, na Praça do
Mercado, para toda a população. Não há como não ser receptor de um “marketing” tão intenso.
247
Mas essa imagem extremamente positiva é falha, pois “esquece” a maior parte da cidade, a maior
parte da sua população. Ela é, no máximo, uma visão “maquiada” ou produzida de certos setores
mais bonitos e ricos da urbe, a “cidade visível” nos cartões-postais, nas fotografias, nos vídeos.
Como bem coloca Garcia (p. 93):
“Na difusão das imagens do lugar, associada às nteses da vida coletiva na metpole, são
veiculados estilos de vida e, sobretudo, hábitos de apropriação do espaço e de consumo de bens e
serviços urbanos que pertencem, claramente, a segmentos da classe média. A veiculação destes
hábitos constitui-se em estímulo que amplia o poder de penetração das imagens sintéticas no
imaginário popular. O conteúdo simbólico das imagens da cidade reelabora e reproduz, em todos
os níveis da vida social, as relações de dominação existentes baseando-se no fato de que reproduz
um imaginário subjacente.”
Resta a cidade invisível, numa partição que remete à idéia dos dois circuitos da economia e ao
“espaço dividido”, na concepção de Milton Santos: o espaço dos pobres e o espaço dos ricos. E
nessa cidade “não vista” estão diversos bairros residenciais e de classe média e baixa, conjuntos
habitacionais metropolitanos, favelas e favelas urbanizadas, setores comerciais e de serviços
dinâmicos, verdadeiros subcentros bem estruturados, além de distritos industriais. É um cadinho
de atividades e funções as mais diversas que integram a cidade; não como oposição à cidade
visível, mas como sua outra metade, com ela interagindo e trocando serviços, bens e informações.
E a problemática da imagem construída reside exatamente aí, porque não há uma consciência
dessa outra Aracaju e de que faltam investimentos e criação de infra-estruturas básicas nesses
locais para se atingir realmente o patamar de qualidade de vida, como verificado em países do
primeiro mundo. Ferrara explica bem essa questão:
“Nesse sentido, nos pses do Terceiro Mundo, cuja pobreza parece ser tanto cultural quanto
econômica, a representação urbana é invisível e sua percepção, inoperável, porque o urbano se
esconde no uso de uma cidade que é consumida tal como é apresentada; boa ou má, de visual
agradável ou desagradável, a imagem da cidade está planejada para perdurar sobre a
percepção urbana e impedir a ação.”
FERRARA, 1993, p. 261
248
Por isso mesmo é que, nessas considerações finais, abre-se um pequeno espaço para olhar,
mesmo que por um instante, a Aracaju invisível de épocas passadas como a da cidade atual.
Sempre houve a outra, escondida ou filtrada, em um primeiro momento pelo fotógrafo e, depois,
sucessivamente por seus contratantes, a fim de se ter apenas documentos iconográficos positivos
da cidade. Esse outro lado, como ressaltado, às vezes está nas palavras e apenas nelas: as
imagens perderam-se no tempo. que, hoje, mais possibilidades de se fixar o que não deve
ser visto e utilizar os recursos de nossa civilização da imagem para fixá-las e ir além.
“...Banca-de-peixe, o cais, largo das feiras;
E, bem ao fundo, o morro do Bonfim.
Barracas feitas de pindoba e esteiras;
Gente de feira num vaivém se fim...
Pelos domingos e segundas-feiras;
Aracaju, - eu conheci assim!
De vida simples, quase sem vaidade...
Aquela Aracaju, - hoje saudade!...
De coloridos próprios, regionais.
Brancas dunas ao longo do poente;
E entre as dunas e o rio, bem de frente,
A cidade ao sopé dos areais!”
FIGUEIREDO, p.27
Figura C 07 - Fotografia sem autoria identificada da feira em Aracaju no início do século XX.
249
Figura C 08 – Fotografia panorâmica parcial de Aracaju, maio de 2006, a partir do Ed. Estado de Sergipe na direção sul/ oeste. À esquerda, a densa vegetação é o
Parque Teófilo Dantas e, ao fundo, a verticalização expressiva dos bairros São José, Treze de Julho, Grageru, Garcia e, mais além, do Jardins. À
direita, parte da cidade “invisível”, como os bairros Cirurgia e Pereira Lobo, uma área de extensa horizontalidade.
250
Figura C 09 - Aracaju “invisível” na direção norte, onde apenas a Igreja do Santo Antônio é fixada nos postais.
Figura C 10 - Fotografia parcial na direção oeste, também tirada do alto do Ed. Estado de Sergipe. À direita, a velha
estação rodoviária, hoje servindo de terminal de ônibus metropolitanos. Em seu entorno, há uma
dinâmica zona comercial. Mais adiante, os bairros Getúlio Vargas e Siqueira Campos.
251
Figura C 11 - Fotografia da Av. Beira Mar, após o cruzamento com o rio Poxim, em direção à Orla de Atalaia. O
mangue fechado esconde, até dos moradores da área, a ocupação de baixa renda ao longo desse.
Figura C 12 – Essa ocupação irregular, antes com casebres sobre palafitas, foi regularizada pela Prefeitura no ano de
2006. Mesmo com as melhorias, percebem-se, com um olhar atento, os contrastes da urbe.
252
Figura C 13 – Fotografia panorâmica parcial, tirada na altura do bairro Jardins, que mostra o limite oeste da Aracaju verticalizada, seguida por numerosos bairros da
cidade “invisível”.
253
Figura C 14 – Fotografia do Conjunto Orlando Dantas a partir da rótula do Augusto Franco para o centro da cidade,
vendo-se a Av. Heráclito Rollemberg, ladeada por condomínios verticais de baixa renda. Bem ao
longe, a Aracaju visível, mais verticalizada.
Figura C 15 – Vista do Orlando Dantas, também a partir da rótula do Augusto Franco, em sentido oeste. Há um
forte comércio no local que dinamiza essa parte periférica da zona sul.
254
Figura C 16 – Vista panorâmica parcial do Orlando Dantas na direção sul/ oeste. Bem distante, vê-se o Santa Maria.
Figura C 17 – Fotografias aproximadas da área acima, onde se observa melhor a continuidade da ocupação do Orlando Dantas. O Santa Maria, ainda ao longe,
não é mais associado à lixeira, pois a favela local foi urbanizada, em parte, e o bairro recebe hoje uma maior atenção do poder público.
255
Figura C 18 – Vista parcial do Augusto Franco para o sul, também com condomínios verticais de baixa renda.
Figura C 19 – Fotografia do Conjunto Augusto Franco, grande área “invisível” da cidade.
256
É interessante observar que a vida nesse “espaço dos pobres” ainda se organiza de forma
diferente. Os moradores ainda desfrutam de uma vida em comunidade, como apontado por 81,8%
deles, embora alguns afirmem que ela é bem reduzida hoje em dia, e alguns que já não
desfrutam dessa interação com vizinhos lembram-se da mesma no passado. Essas relações sociais
antigas e sobreviventes de uma época mais tranqüila são alicerçadas na conversa entre os
vizinhos desenvolvida nas calçadas, na ajuda mútua e numa amizade mais forte. Em alguns casos,
chega a se desenvolver uma vida mais comunitária, ligada às diferentes Igrejas e seus
movimentos bem como a Centros Sociais de bairro.
Embora a população de Aracaju se reconheça como parte da grande imagem construída da
cidade
23
, daí a satisfação plena dos entrevistados independentemente do seu nível social, isso não
impede de haver certa percepção das diferenças intra-urbanas. E essa desigualdade percebida
acaba por produzir fortes fluxos de mudança residencial na cidade e por estimular aspirações de
mudanças. Analisando o desejo de troca de bairro residencial por parte dos entrevistados,
observa-se que 78 % deles aspiravam a uma mudança, e os fluxos desejados seriam em direção a
bairros da Aracaju visível, quer dentro dessa grande área (26 %), quer da Aracaju “invisível” ou
metropolitana para a Aracaju visível (35%). É interessante observar que os desejos de mudança
dentre os moradores da Aracaju visível se dariam em direção à Treze de Julho, ao Jardins e às
praias de Atalaia e do Aruana em 80,8% dos casos. E esse mesmo padrão se repete com os
hipotéticos fluxos provenientes da Aracaju periférica e metropolitana em 65,7 % dos casos.
Padronizando-se percentualmente o número de questionários pelas citadas áreas, observa-se que a
maior aspiração de mudança (100 %) se entre os moradores das áreas metropolitanas,
23
-
Exatamente na direção apontada por Barthes (1989), em que a omissão das diferenças sociais na apropriação da
cidade atinge o auge do seu êxito (apud. GARCIA, p. 93).
257
exatamente as que apresentam, de modo geral, piores condições de vida. Aliás, não se observou
nenhuma aspiração de mudança em direção a essas áreas, mesmo por parte de moradores de
zonas de Aracaju com condições precárias, como o Santa Maria ou o Bugio. Em segundo lugar,
estão os residentes na Aracaju “invisível” que predominantemente gostariam de mudar para
bairros mais visíveis, numa nítida procura por ascensão social (81,3 %). Por outro lado, quase
30% dos moradores da Aracaju visível não desejam trocar de bairro de moradia. É curioso
observar-se que 45,8 % dos residentes em Aracaju invisível” ou não desejam mudar de bairro
(18,7 %), ou optariam por uma mudança para outro bairro na própria Aracaju invisível”. E aí, o
Siqueira Campos e o Augusto Franco apresentam-se como principais pontos de atração, como se
a progressão social desejada já ocorresse com uma simples mudança para esses bairros.
Essa é a Aracaju percebida hoje pelos seus habitantes. Mas a imagem urbana é fugaz, é efêmera,
mudando constantemente em face de novas percepções e de novos marcos. E, no desenrolar desse
trabalho, procurou-se mostrar toda a transitoriedade das imagens ao longo do tempo, que se torna
acelerado a cada dia. Marcos urbanos envelhecem rapidamente e são logo substituídos. E Aracaju
exemplo disso: o Ed. Estado de Sergipe, apresentado explicitamente como o símbolo da
modernidade na década de 70, já não aparece em imagens mais recentes nem é citado pela
população. A nova ponte Aracaju - Barra dos Coqueiros, que não era observada pela população
em maio de 2006, pois estava ainda em obras, começa a despontar como elemento expressivo
para os entrevistados em fins de 2008 e certamente continuará a ser destaque de Aracaju nos
próximos anos. Esse fato pode ser comprovado através das fotografias hipotéticas que seriam
tiradas pela população: dentre os 51 entrevistados na primeira etapa, somente dois a
fotografariam; dentre os 49 pesquisados na segunda etapa, seriam feitas 12 fotos, mostrando o
quanto a conclusão da obra e seu uso contínuo mudaram a percepção dessa construção.
258
Figura C 20 – Fotografia da nova ponte Aracaju - Barra dos Coqueiros na época da construção, maio de 2006. À
frente, vê-se a balsa que fazia o transporte dos veículos.
Figura C 21 – Foto tirada em maio de 2006 a partir da Orlinha do Bairro Industrial para o novo marco.
259
Figura C 22 – Postal da nova ponte em conjunto com outras duas imagens noturnas da Orla, reafirmando a
importância dessas duas obras do Governo do Estado para a formação da imagem de Aracaju.
Inaugurada em setembro de 2006, no governo de João Alves Filho, esse novo marco está
atualmente fixado em diversos cartões-postais, comercializados na cidade desde meados de 2008,
inclusive em conjunto com a Orla da Atalaia e, consequentemente, no imaginário da população.
Evidencia-se, assim, como há um tempo de maturação para a formação das imagens.
E assim a vida da cidade continua, palco de complexa teia social em que se manifestam
frustrações e realizações, fracassos e sucessos. E nesse mundo em que “a vida é ficção e feita de
contradição” (Blake, 1757/ 1827) prevalecem as imagens da cidade feliz, porque “a espécie
humana não suporta demasiada realidade” (T. S. Eliot, 1888/ 1965).
260
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266
ANEXO I
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROCESSO DE CONHECIMENTO DE ARACAJU: PERCEPÇÃO E IMAGEM
Projeto de pesquisa de Dora Diniz
ENTREVISTA 01 Data - ___/___/____
1. Identificação do ENTREVISTADO
Nome - ___________________________________________________________________
Sexo M F Naturalidade - _________________________________________
Faixa etária - ___________________ Tempo de residência na cidade - ________________
Endereço ________________________________________________________________
Casa Apartamento Tempo na moradia - ____________________________
Residência anterior - _________________________________________________________
Motivo da mudança - ________________________________________________________
Local de trabalho _________________________________________________________
Escolaridade - ____________________ Profissão - ________________________________
Meio de transporte mais utilizado - ______________________________________________
Faixa de renda familiar - ______________________________________________________
2. Quais os lugares que você conhece em Aracaju? (bairros, praças, ruas etc). Quais são, em sua
opinião, os lugares mais importantes da cidade?
_____________________________________________________________________________________
___________________________________________________________
3. Para os entrevistados mais velhos: quais os lugares mais importantes de Aracaju no passado?
Foram substituídos ou se mantiveram? Tem saudades deles?
__________________________________________________________________________
______________________________________________________________________
4. Diga, o mais rápido possível, o que lhe vem à mente quando digo as palavras:
Aracaju ___________________________________________________________________
Centro da cidade ___________________________________________________________
Bairro São José ____________________________________________________________
Atalaia ____________________________________________________________________
Bairro Jardins ______________________________________________________________
Siqueira Campos ___________________________________________________________
Bairro América _____________________________________________________________
Bairro Industrial _____________________________________________________________
5. Se você tivesse de dar uma idéia de Aracaju a um amigo distante, o que você fotografaria? E o
que você fotografaria do centro da cidade e, ainda, do lugar (bairro, rua) onde você mora?
_____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________
6. O que você acha do centro da cidade? Você o freqüenta?
_____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________
7. Você gosta do seu bairro e rua onde mora? De que mais gosta? De que menos gosta? Gosta do
espaço (casa ou apartamento) em que vive ou preferia mudar?
_____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________
267
8. Complete as frases abaixo dizendo a primeira coisa que vem na sua mente:
O ponto central do seu bairro é ___________________________________________
O maior problema desse bairro é _________________________________________
Nesse bairro deveria ter ________________________________________________
As pessoas que vivem nesse bairro são ____________________________________
9. Quais os pontos ou locais que melhor indicam os limites do bairro onde mora?
(Mínimo de três pontos)
__________________________________________________________________________
______________________________________________________________________
10. Se pudesse optar, em que local de Aracaju você gostaria de morar? Por quê?
_____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________
11. Quais os seus lugares de compras e de lazer preferidos em Aracaju? Por quê?
_____________________________________________________________________________________
12. Indique as direções completas e explícitas do trajeto que você normalmente faz
quando vai para o trabalho ou para compras (a depender do entrevistado). Imagine-se realmente fazendo-o
e descreva a seqüência de coisas que você vê, ouve ou das quais sente o cheiro ao longo do caminho,
inclusive os sinais de trânsito que se tornaram importantes para você e as indicações das quais um
estranho precisaria para tomar as suas mesmas decisões.
_____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________
13. Você sente alguma emoção específica no tocante a diferentes partes do seu trajeto? Quanto tempo
você gasta para fazê-lo? Existem partes dele em que você se sente inseguro quanto ao lugar onde
está?
_____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________
14. Gostaríamos que fizesse um mapa esquemático de Aracaju. Desenhe-o exatamente como se
estivesse fazendo uma rápida descrição da cidade para um estranho, incluindo todas as
características principais. Não esperamos que você apresente um desenho perfeito, mas apenas um
esboço de mapa. (O entrevistador deve tomar nota sobre a seqüência em que o mapa é
desenhado.)
_____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________
15. Em sua opinião, Aracaju é uma cidade onde é fácil encontrar os caminhos e identificar as partes?
Por quê?
_____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________
16. As mudanças recentes, como a verticalização de alguns bairros, o surgimento dos shoppings, estão
trazendo benefícios ou dificuldades para viver na cidade?
_____________________________________________________________________________________
17. Aracaju realmente é uma cidade bonita, agradável para se morar? Por quê?
_____________________________________________________________________________________
18. Se você não morasse em Aracaju, em que cidade gostaria de morar? Por quê?
_____________________________________________________________________________________
268
ANEXO II
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROCESSO DE CONHECIMENTO DE ARACAJU: PERCEPÇÃO E IMAGEM
Projeto de pesquisa de Dora Diniz
ENTREVISTA 02 DATA - ___/____/_____
1. IDENTIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO
Sexo M F Naturalidade - ___________________________________
Faixa etária - ________________Tempo de residência na cidade - ______________
Bairro de residência - __________________________________________________
Casa Apartamento Tempo na moradia - ________________________
Local de trabalho ____________________________________________________
Escolaridade - ____________________ Profissão - __________________________
Meio de transporte mais utilizado - ________________________________________
Faixa de renda familiar - ________________________________________________
2. Quais os lugares que você conhece em Aracaju? (bairros, praças, ruas etc). Quais são, em sua
opinião, os lugares mais importantes da cidade?
_____________________________________________________________________________________
__________________________________________________________
3. Para os entrevistados mais velhos: quais os lugares mais importantes de Aracaju no passado?
Foram substituídos ou se mantiveram? Tem saudades deles?
_____________________________________________________________________________________
__________________________________________________________
4. Diga, o mais rápido possível, o que lhe vem à mente quando digo as palavras:
Aracaju _____________________________________________________________
Centro da cidade ______________________________________________________
Atalaia ______________________________________________________________
Bairro Jardins ________________________________________________________
Coroa do Meio _______________________________________________________
Siqueira Campos ______________________________________________________
Bairro América _______________________________________________________
Roza Elze ___________________________________________________________
Marcos Freire ________________________________________________________
Fernando Collor ______________________________________________________
Santa Maria _________________________________________________________
Barra dos Coqueiros __________________________________________________
Bairro Industrial _______________________________________________________
Treze de Julho _______________________________________________________
5. Se você tivesse de dar uma idéia de Aracaju a um amigo distante, o que você fotografaria? E o
que você fotografaria do centro da cidade e, ainda, do lugar (bairro, rua) onde você mora?
_______________________________________________________________________________
____________________________________________________
269
6. Se pudesse optar, em que local de Aracaju você gostaria de morar? Por quê?
_______________________________________________________________________________
7. Quais os seus lugares de compras e de lazer preferidos em Aracaju? Por quê?
_______________________________________________________________________________
8. O que está havendo em Aracaju com a verticalização que ocorre em alguns bairros?
_______________________________________________________________________________
9. No seu bairro há ainda uma vida em comunidade? Como? Em que situações concretas?
_______________________________________________________________________________
10. Marque com um X as frases verdadeiras:
o
Aracaju não é uma cidade bonita, agradável para se morar.
o
O rio Sergipe é um belo elemento na paisagem urbana.
o
A Praça Fausto Cardoso é o ponto mais importante de Aracaju.
o
As praias são muito importantes para a vida da cidade.
o
É melhor morar em Aracaju do que nos municípios vizinhos (Socorro,
Roza Elze, Barra dos Coqueiros,...)
o
muita droga e banditismo circulando em Aracaju.
o
A Orla da Atalaia é o ponto principal da cidade.
o
Aracaju não é uma cidade violenta.
o
Aracaju, de fato, é a capital com melhor qualidade de vida do país.
o
Eu conheço, realmente, a Ponte do Imperador.
o
Já circulei pelas praças centrais, observando seus edifícios, monumentos,
coretos,...
o
Vou frequentemente à praia.
o
O rio Sergipe não tem mais nenhuma função para a cidade.
270
FASES IMAGEM DOMINANTE
AUTORES/
DATAS
DINIZ, 1963 LOUREIRO, 1983/
RIBEIRO, 1989
CAMPOS, 2008 DINIZ, 2008
1855
1900
1930
1940
1950
1964
1986
1990
2008
1970
CRESCIMENTO MARGINAL 1ª FASE 1ª FASE
ESPAÇO PROVINCIANO/
POBREZA
PERÍODO INICIAL DE
FORMAÇÃO DE BAIRROS
2ª FASE 2ª FASE
CONSTRUÇÃO DA CAPITAL
CRESCIMENTO TENTACULAR
PARA OESTE
DISPERSÃO RECENTE
3ª FASE 3ª FASE
4ª FASE
5ª FASE
4ª FASE
CONSOLIDAÇÃO E
ADENSAMENTO DA
MALHA URBANA
FORMAÇÃO DO ESPAÇO
METROPOLITANO
CIDADE-CAPITAL REPUBLICANA/
CENTRO HEGEMÔNICO
CAPITAL RECENTE MAIS JÁ
CONSOLIDADA
MARCOS URBANOS TRADICIONAIS
CIDADE MODERNA, DINÂMICA
E INTEGRADA AO PAÍS
CIDADE GRANDE X “PEQUENA”,
BOA QUALIDADE DE VIDA E
TRANQUILA
CIDADE TURÍSTICA DO LITORAL
FORMAÇÃO DE ARACAJU
METROPOLITAÇÃO E
TURISTIFICAÇÃO DO
ESPAÇO
FASES IMAGEM DOMINANTE
AUTORES/
DATAS
DINIZ, 1963 LOUREIRO, 1983/
RIBEIRO, 1989
CAMPOS, 2008 DINIZ, 2008
1855
1900
1930
1940
1950
1964
1986
1990
2008
1970
CRESCIMENTO MARGINAL 1ª FASE 1ª FASE
ESPAÇO PROVINCIANO/
POBREZA
PERÍODO INICIAL DE
FORMAÇÃO DE BAIRROS
2ª FASE 2ª FASE
CONSTRUÇÃO DA CAPITAL
CRESCIMENTO TENTACULAR
PARA OESTE
DISPERSÃO RECENTE
3ª FASE 3ª FASE
4ª FASE
5ª FASE
4ª FASE
CONSOLIDAÇÃO E
ADENSAMENTO DA
MALHA URBANA
FORMAÇÃO DO ESPAÇO
METROPOLITANO
CIDADE-CAPITAL REPUBLICANA/
CENTRO HEGEMÔNICO
CAPITAL RECENTE MAIS JÁ
CONSOLIDADA
MARCOS URBANOS TRADICIONAIS
CIDADE MODERNA, DINÂMICA
E INTEGRADA AO PAÍS
CIDADE GRANDE X “PEQUENA”,
BOA QUALIDADE DE VIDA E
TRANQUILA
CIDADE TURÍSTICA DO LITORAL
FORMAÇÃO DE ARACAJU
METROPOLITAÇÃO E
TURISTIFICAÇÃO DO
ESPAÇO
FASES IMAGEM DOMINANTE
AUTORES/
DATAS
DINIZ, 1963 LOUREIRO, 1983/
RIBEIRO, 1989
CAMPOS, 2008 DINIZ, 2008
1855
1900
1930
1940
1950
1964
1986
1990
2008
1970
AUTORES/
DATAS
DINIZ, 1963 LOUREIRO, 1983/
RIBEIRO, 1989
CAMPOS, 2008 DINIZ, 2008
1855
1900
1930
1940
1950
1964
1986
1990
2008
1970
CRESCIMENTO MARGINAL 1ª FASE 1ª FASE
ESPAÇO PROVINCIANO/
POBREZA
PERÍODO INICIAL DE
FORMAÇÃO DE BAIRROS
2ª FASE 2ª FASE
CONSTRUÇÃO DA CAPITAL
CRESCIMENTO TENTACULAR
PARA OESTE
DISPERSÃO RECENTE
3ª FASE 3ª FASE
4ª FASE
5ª FASE
4ª FASE
CONSOLIDAÇÃO E
ADENSAMENTO DA
MALHA URBANA
FORMAÇÃO DO ESPAÇO
METROPOLITANO
CIDADE-CAPITAL REPUBLICANA/
CENTRO HEGEMÔNICO
CAPITAL RECENTE MAIS JÁ
CONSOLIDADA
MARCOS URBANOS TRADICIONAIS
CIDADE MODERNA, DINÂMICA
E INTEGRADA AO PAÍS
CIDADE GRANDE X “PEQUENA”,
BOA QUALIDADE DE VIDA E
TRANQUILA
CIDADE TURÍSTICA DO LITORAL
FORMAÇÃO DE ARACAJU
METROPOLITAÇÃO E
TURISTIFICAÇÃO DO
ESPAÇO
ANEXO III
PERIODIZAÇÕES DA ESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO URBANO
Livros Grátis
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