danças afro que é visto, também, como uma aceitação tranqüila do negro no país.
Um capítulo à parte pode ser destinado à sexualidade da negra. Percebe-se, nos
cordéis, a não-identidade, quando os poetas se referem à mulher negra, mulata e
morena.
Quando se aproximam os substantivos: negra, nêga, crioula, mulata,
escurinha, da adjetivação contida em quase todos os folhetos: nojenta, boazuda,
raça quente, malvada, suja, vê-se delineado o imaginário social da mulher negra.
Também recorrendo à categoria analítica “sexualidade”, tem-se uma estrutura
narratológica que envolve a personagem, o tempo, o espaço, além da retórica:
juntos delineam o arquétipo dessa mulher.
O levantamento terminológico de todos os folhetos permite apreender que
eles descrevem uma estrutura semântica e simbólica que se sustenta na
ambivalência do comportamento da negra: por um lado tem-se a imagem de pureza
nos adjetivos inteligente, cortês, formosura, apaixonada, encantos, amável, risonha
e bela, habilidade e candura, martirizada, santa, canonizada, escrava, santa, vítima,
alturas, fieis criatura. Do outro, tem-se a Imagem libidinosa, através da
caracterização da mulher como sensual, apetitosa, instintiva, malfazeja, dona de
corpo muito perfeito. Por último, a imagem de servidão configurada maldita escrava;
atrevida; atrevimento; amordaçar; escrava torturada, grandes torturas. Cada termo,
assim, tem uma carga semântica e um vínculo estrito com a imagem da negra. É
importante ressaltar, também, a dualidade da idéia de negra projetada no cordel.
Contudo, a verdade em relação à mulher negra não se encontra nos versos
dos trinta e seis folhetos analisados. Isto tanto do ponto de vista da narração
poética, quanto do ponto de vista da idéia preconcebida e preconceituosa dos
poetas populares a respeito dessa mulher. Seria simplificador pensar a literatura
popular como apenas reprodutora de estereótipos étnicorraciais.
Torna-se fundamental, por conseguinte, perceber que a dinâmica da literatura
popular, como afirma Bakhtin, se dá em um universo sem regras. Não se ri ou se faz
graças somente de um outro mas, ao zombar de outrem, também se zomba de si
mesmo. A carnavalização da vida e do mundo veicula a autorização para se dizer o
que se quer, para parodiar o conjunto da sociedade e das suas relações. Afinal, o
carnaval é a caricatura da própria sociedade. Um intervalo de três dias, sobretudo no
Brasil, para que ele se desmonte e se desnude. Segundo Todorov (2002), “o texto