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Ela detalha a relação que teve com as suas duas mães-de-santo:
Foi muito boa, todas as duas mães-de-santo, a minha relação com elas foi
sempre muito boa. A Mãe Maria Marinheiro, ela era uma pessoa simples,
não sabia ler e nem escrever, pobre, mas uma pessoa muito boa, muito
caridosa. Assim, ela praticava a Umbanda por amor. E, como ela fez comigo,
ela fez com muitos. Ela teve muitos filhos-de-santo, muitos, porque ela era
uma pessoa muito boa. Quando eu fui pra casa dela, ela era uma pessoa
nova, ela tinha, eu acho que ela tinha mais ou menos a mesma idade que eu
quando eu fui, quando eu botei terreiro. Ela era nova, nem casada ela num
era, depois que ela casou, quando a gente tava lá. E a Mãe Júlia, a diferença
é que eu num fui muito próxima da Mãe Júlia como eu da Maria Marinheiro.
Da Maria Marinheiro fui mais próxima, o nosso relacionamento era bem
mais próximo, d’eu ir pra casa dela e ficava, por exemplo, quando eu fui ter
meu primeiro filho, ela veio para minha casa, ficou cinco dias na minha casa,
aí quando ela foi embora, eu fui com ela passar o resguardo todinho lá, eu
num queria ficar em casa. Qualquer problema que tinha, eu ia pra casa dela e
passava de semana. E com a Mãe Júlia não teve isso. Ela num tinha essa
amizade muito aconchegante comigo não, ela teve com a Stela e com outros
mais que morava na casa dela. Eu não, eu só ia naqueles dias de trabalho, de
festa, aquela coisa toda. Mas ela era uma pessoa muito sábia, a Mãe Júlia, e
também era analfabeta. Acho que, por ser do Ogum, era batalhadora. (MÃE
CONSTÂNCIA, julho de 2008).
Mãe Constância considera a maternidade espiritual uma oportunidade de fazer o bem,
é carregada de ambigüidades, de dificuldades, mas ela sente prazer quando consegue resolver
positivamente um problema, uma demanda de quem lhe procura.
Na realidade, eu me sinto uma pessoa que procura fazer o melhor. Digo
assim, eu sou uma mãe-de-santo, dizer assim, sabida, como se diz, sabida.
Não, não me sinto assim. Não, não, eu me sinto uma pessoa que tou sempre
procurando melhorar, sempre querendo o melhor, me sinto bem quando eu
consigo fazer alguma coisa de bom por alguém. Inda nessa semana eu tava
conversando com um pai-de-santo amigo meu, ele tava falando a respeito
das pessoas que têm aquela parte negativa de dizer assim: eu acabei com a
vida dele, fiz e aconteci. Meu Deus, como é que uma pessoa tem prazer de se
gloriar que acabou com a vida de uma pessoa? Não entendo, não consigo
entender isso, porque eu me sinto bem em saber assim, aquela pessoa veio
pra minha casa com um problema e eu consegui ajudar a resolver aquele
problema dele. Aquela pessoa tava desempregado, veio falar com meu
caboclo, caboclo fez aquilo e aquilo outro, e hoje tá empregado, trabalhando,
tá bem. Eu fico satisfeita com isso. Então, eu sou uma pessoa assim, eu
gosto, me sinto bem em fazer o bem. (MÃE CONSTÂNCIA, julho de 2008)
Hoje ela não tem mais terreiro, como há trinta anos o Centro Espírita de Umbanda
União e Caridade no bairro Montese em Fortaleza. Atualmente, ela congrega na Umbanda de
modo diferente, após mudar-se de Fortaleza para Caucaia, município da Área Metropolitana