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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
MARIA CLARA DRUMMOND SOARES DE MOURA
Alterações atencionais na Distrofia
Muscular de Duchenne
São Paulo
2009
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MARIA CLARA DRUMMOND SOARES DE MOURA
Alterações atencionais na Distrofia
Muscular de Duchenne
São Paulo
2009
Dissertação apresentada ao Instituto de Psicologia
da Universidade de São Paulo para obtenção do
título de mestre em Neurociência e
Comportamento.
Área de concentração: Neurociências e
Comportamento
Orientador: Prof. Dr. Luiz Eduardo Ribeiro do
Valle
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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Catalogação na publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
Moura, Maria Clara Drummond Soares de.
Alterações atencionais na distrofia muscular de Duchenne / Maria
Clara Drummond Soares de Moura; orientador Luiz Eduardo Ribeiro
do Valle. -- São Paulo, 2009.
103 p.
Dissertação (Mestrado Programa de Pós-Graduação em
Psicologia. Área de Concentração: Neurociências e Comportamento)
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
1. Distrofia muscular 2. Atenção 3. Cognição I. Título.
RC935.M7
FOLHA DE APROVAÇÃO
Maria Clara Drummond Soares de Moura
Alterações atencionais na Distrofia Muscular de Duchenne
Dissertação apresentada ao Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo para
obtenção do título de mestre em Neurociência
e Comportamento.
Área de concentração: Neurociências e
Comportamento
Aprovado em: _____/______/______
Banca Examinadora
Prof. Dr. _________________________________________________________________
Instituição: ___________________________ Assinatura___________________________
Prof. Dr. _________________________________________________________________
Instituição: ___________________________ Assinatura___________________________
Prof. Dr. _________________________________________________________________
Instituição: ___________________________ Assinatura___________________________
DEDICATÓRIA
A todos os pacientes com Duchenne, que
espero que se beneficiem com este trabalho.
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Ribeiro, pela orientação, dedicação, paciência e entusiasmo. Pela oportunidade,
liberdade e confiança depositadas. Por ser um exemplo pra mim.
Aos meus pais, Madalena e Paulo Cezar, que hoje podem ver os frutos de todo esforço
depositados na minha formação. Pelo enorme amor e carinho. Obrigada, do fundo do meu
coração.
Ao Mau, pela infinita paciência e apoio incondicional a esse meu projeto e todos os outros.
Por me ajudar a concretizar os meus (e nossos!) sonhos. Amo você infinito.
À Dra. Bernadete, por me acolher no seu ambulatório e viabilizar esse trabalho.
À Claudirene, do Núcleo Sócio-Educacional do Jaguaré, por toda ajuda e cuidado,
facilitando imensamente a realização desta pesquisa.
À Profa. Renata, pela confiança, carinho e apoio.
À Dra. Ginalda, à Sara e à Paula, pelas as inúmeras trocas de plantão. Sem elas o mestrado
nunca teria sido possível.
À Prof.ª Yeda, Prof.ª Maria Lúcia e aos participantes do projeto piloto com idosos, na
Faculdade de Saúde Pública. Foi um enorme prazer ter feito esse trabalho. Muito obrigado
pela participação de todos.
Ao Prof. Marcelo, por seu papel determinante na escolha da minha linha de pesquisa. E
pelas contribuições essenciais durante a qualificação.
Ao Prof. Vinícius por toda ajuda desde as primeiras idéias deste projeto.
A todos os meninos que participaram deste trabalho, que toparam fazer os testes, mesmo
não sendo exatamente um “joguinho de videogame super legal”...
À Abdim e aos meus antigos pacientes, que me deram a oportunidade de amar a Distrofia
Muscular.
A todas as meninas do laboratório, pela ajuda imprescindível, pelo carinho e amizade, me
dando o enorme prazer de estar, sempre que possível, dividindo os momentos deliciosos na
nossa salinha!
À Marina, amiga querida de todas as horas, incluindo a participação em cada passo deste
projeto.
A todos da minha querida família, que mesmo à distância, sei que torcem por mim.
Enfim, a todos aqueles que de alguma forma fizeram parte desta conquista.
RESUMO
Moura, M.C.D.S. Alterações atencionais na Distrofia Muscular de Duchenne. 2009.
103 folhas. Dissertação (mestrado). Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2009.
A Distrofia Muscular de Duchenne (DMD) é uma doença de herança genética recessiva
que gera um quadro de fraqueza muscular progressiva muitas vezes associada à deficiência
mental. A atenção, considerada como o mecanismo cerebral que permite o processamento
de uma informação em detrimento de outras, poderia estar alterada na doença contribuindo
pelo menos em parte para o comprometimento cognitivo global observado. OBJETIVO:
Investigou-se o desempenho atencional de meninos portadores de DMD utilizando-se
testes psicofísicos específicos. MÉTODOS: Testou-se 30 meninos com DMD (GD) e 30
meninos saudáveis (GC), com idade entre 10 e 16 anos, em uma tarefa de tempo de reação
de escolha, que consistia em responder o mais rapidamente possível a um estímulo alvo
visual lateralizado com mão do mesmo lado. Antes do aparecimento deste estímulo,
orientava-se a atenção automática do participante por meio de um estímulo visual
periférico não-informativo espacialmente ou então sua atenção voluntária, por meio de um
estímulo visual central que informava o local de maior probabilidade de aparecimento do
estímulo alvo. RESULTADOS: Os tempos de reação (TR) foram maiores para o GD do
que para o GC tanto no teste de atenção automática (p<0,001) quanto no teste de atenção
voluntária (p<0,001). Os TR no teste de atenção voluntária foram menores do que no teste
de atenção automática no caso do GD (p<0,001) mas não no caso do GC (p=0,20). O efeito
atencional (diferença entre o TR na condição oposta/inválida e o TR na condição
mesma/válida) não diferiu entre os dois grupos no caso da atenção automática (p=0,846),
mas foi maior no GD do que no GC no caso da atenção voluntária (p<0,001). Não foram
observadas quaisquer assimetrias interlaterais. DISCUSSÃO: Os resultados sugerem que
os meninos com DMD apresentam prejuízo na capacidade de orientar a atenção no tempo e
também gerenciam de modo anômalo para a idade a atenção espacial voluntária. O grande
efeito atencional apresentado por eles é compatível com um atraso na maturação do seu
sistema atencional.
Palavras-chave: Distrofia Muscular de Duchenne, atenção, cognição
ABSTRACT
Moura, M.C.D.S. Attentional disturbance in Duchenne Muscular Dystrophy. 2009.
103 folhas. Thesis (Master). Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo,
2009.
OBJECTIVE: Considering the divergence in the literature regarding the base of the
cognitive deficits in Duchenne Muscular Dystrophy (DMD) patients, the objective of this
work was to investigate their attention performance using psychophysical tests.
METHODS: 25 boys with DMD (GD) and 25 healthy boys (GC), which were 10 to16
years old, were tested in a choice reaction time task. They were instructed to respond as
fast as possible to a lateralized visual target stimulus with the same side hand. Attention
was automatically oriented by a peripheral spatially non-informative prime stimulus or,
alternatively, voluntarily oriented by a central spatially informative cue.
RESULTS: Reaction times (RT) were higher for GD than for GC in both automatic
attention (p<0,001) and voluntary attention tests (p<0,001), as expected. RTs in voluntary
attention tests were smaller than on automatic attention tests for GD (p<0,001) but not for
GC (p=0,200). The attentional effect (difference between RT in the opposite/invalid
condition and RT in the same/valid condition) was found not to differ between the two
groups in the case of automatic attention (p=0,846); however it was greater for GD than for
GC in the case of voluntary attention (p<0,001). Interlateral asymmetries have not been
observed.
CONCLUSION: These results suggest that patients with DMD are less efficient to allocate
both automatic and voluntary attention. The lack of the expected motor preparation by the
patients when the peripheral prime stimulus was used suggests a disturbance of temporal
attention. The larger cost and benefit observed when the endogenous visual cue was used
suggests a delay in maturation of the executive functions necessary to adequately allocate
voluntary attention.
Keywords: Muscular Dystrophy, Duchenne, attention, cognition
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Evolução clínica da Distrofia Muscular de Duchenne……………………………1
Figura 2. Representação esquemática dos domínios do gene Xp21………………………...2
Figura 3. Representação esquemática do genoma do gene Xp21, proteínas codificadas e
suas localizações ……………………………………………………………………………3
Figura 4. Representação do western-blot da distrofina e suas isoformas em cérebro normal,
mdx e mdx
3cv
………………………………………………………………………………..3
Figura 5. Representação esquemática da sequência de apresentações visuais no teste de
atenção automática ………………………………………………………………………..28
Figura 6. Representação esquemática da sequência de apresentações visuais no teste de
atenção voluntária …………………………………………………………………………30
Figura 7. Média (±e.p.m) dos tempos de reação, dos grupos Controle e Duchenne, nas
condições mesma, neutra e oposta no teste de atenção automática; e condições válida,
neutra e inválida no teste de atenção voluntária …………………………………………..36
Figura 8. Média (±e.p.m) dos efeitos de benefício e custo em milissegundos da pista sobre
o alvo para os grupos Controle e Duchenne nos testes de atenção automática e de atenção
voluntária ………………………………………………………………………………….39
Figura 9. Número total de erros de inversão nas condições válida, neutra e inválida dos
grupos Controle e Duchenne no teste de atenção voluntária ……………………………...41
Figura 10. Correlação entre o efeito atencional automático e a idade para os meninos com
DMD………………………………………………...……………………………………..42
Figura 11. Correlação entre o efeito atencional voluntário e a idade para os meninos com
DMD………………………………………………...……………………………………..43
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Localização dos promotores e isoformas da distrofina no Sistema Nervoso
(Mehler, 2000)....................................................................................................................... 4
Tabela 2. Dados clínicos dos voluntários com DMD ..........................................................34
Tabela 3. Médias e.p.m) em milissegundos dos tempos de reação de cada grupo nas três
condições nos teste de atenção automática e atenção voluntária .........................................36
Tabela 4. Médias e.p.m) em milissegundos dos efeitos de benefício e de custo de cada
grupo nos testes de atenção automática e atenção voluntária. ............................................38
Tabela 5. Tabela de leitura pra perto. Teste de acuidade visual...........................................79
Tabela 6. Tempos de reação no teste de atenção automática para o Grupo controle (GC) e
Grupo Duchenne (GD)..........................................................................................................84
Tabela 6.2. Tempos de reação no teste de atenção voluntária para o Grupo controle (GC) e
Grupo Duchenne (GD)..........................................................................................................85
Tabela 6.3. Efeitos atenção automática (benefício, custo e efeito atencional total) para o
Grupo controle (GC) e Grupo Duchenne (GD) ...................................................................86
Tabela 6.4. Efeitos atenção voluntária (benefício, custo e efeito atencional total) para o
Grupo controle (GC) e Grupo Duchenne (GD). ..................................................................87
Tabela 6.5. Erros de antecipação nos testes de atenção automática e atenção voluntária para
o Grupo controle (GC) e Grupo Duchenne (GD).................................................................88
Tabela 6.6. Erros de omissão nos testes de atenção automática e atenção voluntária para o
Grupo controle (GC) e Grupo Duchenne (GD)....................................................................89
Tabela 6.7. Erros de inversão no teste de atenção automática para o Grupo controle (GC) e
Grupo Duchenne (GD)..........................................................................................................90
Tabela 6.8. Erros de inversão no teste de atenção voluntária para o Grupo controle (GC) e
Grupo Duchenne (GD)..........................................................................................................91
Tabela 6.9. Idades e efeito atencional no teste de atenção voluntária para o Grupo
Duchenne (GD).....................................................................................................................92
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
1
1.1
Bases neurais do comprometimento cognitivo na Distrofia Muscular de Duchenne.
4
1.2
Alterações cognitivas evidenciadas na Distrofia Muscular de Duchenne. 10
1.3
Atenção na Distrofia Muscular de Duchenne. 14
1.4
Avaliação quantitativa da atenção. 19
2. OBJETIVOS
23
2.1
Objetivo geral 23
2.2
Obejetivos específicos 23
3. MÉTODOS
24
3.1
Participantes 24
3.2
Materiais 26
3.3
Procedimentos 26
3.4
Análise Estatística 31
4. RESULTADOS
33
4.1
Tempos de Reação 35
4.2
Benefício e Custo 37
4.3
Acurácia 40
4.4
Correlação entre a idade e o efeito atencional nos meninos com DMD. 41
5. DISCUSSÃO
44
5.1
Atenção Automática 44
5.2
Atenção Voluntária 49
5.3
Possíveis bases neurais das alterações atencionais observadas 55
5.4
Alterações atencionais e suas implicações na vida diária dos portadores de DMD. 58
6. CONCLUSÃO
63
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
64
8. ANEXOS
78
Anexo 1 - Inventário de Edinburgh 78
Anexo 2 - Teste de acuidade visual 79
Anexo 3 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 80
Anexo 4 - Descrição do teste de atenção automática 82
Anexo 5 - Descrição do teste de atenção voluntária 83
Anexo 6 - Tabelas de Dados 84
1. INTRODUÇÃO
A Distrofia Muscular de Duchenne (DMD) é uma doença de herança genética
recessiva que apresenta a segunda maior incidência entre todas as doenças hereditárias,
apresentando um afetado para cada 3.300 nascimentos do sexo masculino (Emery, 1991).
A doença se manifesta em meninos primariamente como um prejuízo na marcha por volta
dos 3-5 anos, seguida da necessidade de uso de cadeira de rodas por volta dos 10 a 12 anos
e morte por insuficiência cardio-respiratória entre a segunda e terceira décadas de vida. A
evolução motora da doença se deve a uma fraqueza muscular progressiva, irreversível,
devido à perda da musculatura esquelética como conseqüência da deficiência de uma
proteína denominada distrofina (Anderson et al., 2002; Bach, 2004).
a b c
Figura 1: a) Alterações posturais decorrentes da progressiva perda de força muscular em meninos
com DMD, levando à perda da marcha (b) e necessidade de assistência ventilatória (c), culminando
com a morte na 2
a
ou 3
a
décadas de vida (c).
Esta proteína é o produto do gene Xp21 (ou DMD), gene extremamente longo, com
numerosos exons e extensiva região de decodificação, localizado no braço curto do
cromossomo X (Mehler, 2000). A DMD é causada por deleções neste gene em 60-70% dos
pacientes, por duplicações em 5-10% e por mutações pontuais ou pequenos rearranjos em
20-30% dos casos, sendo em média dois terços casos esporádicos e apenas 1/3 dos casos
por origem familiar, hereditária (Moizard et al, 1998; Felisari et al, 2000).
Apesar de o comprometimento muscular ser o primeiro sintoma e a principal causa
de mortalidade nos pacientes com DMD, outros órgãos também estão envolvidos na
doença, incluindo o Sistema Nervoso Central (Yaffe et al,1992).
O gene Xp21 é transcrito por três promotores que produzem a proteína distrofina
completa (Dp427). O promotor-M está ativo na musculatura esquelética e cardíaca que, na
sua ausência, caracteriza a perda muscular irreversível e progressiva. Também está ativo
dentro do Sistema Nervoso Central (SNC), sintetizando a distrofina nas células da glia e
células endoteliais fetais. Além deste, outros dois promotores (B e P) transcrevem o gene e
dirigem a síntese de proteínas dentro do SNC, sendo o promotor-B nos neurônios do
hipocampo e do córtex cerebral, e o promotor-P nas células de Purkinje cerebelares e
também corticais fetais (Blake e Kroger, 2000; Mehler, 2000; Culligan e Ohlendieck,
2002).
A distrofina completa (Dp427) pode ser dividida em quatro domínios distintos
(Figura 2), sendo que no SNC três outras proteínas menores são codificadas na porção
distal no gene (C-terminal), as isoformas Dp116, Dp140 e Dp71 (veja a tabela 1). Dentre
estas, as duas últimas m maior expressão no SNC (Figura 3 e 4) (Culligan e Ohlendieck,
2002, Florencia et al, 2004).
Figura 2: Os quatro domínios do gene Xp21, com ênfase à porção mais distal (C-terminal), local
de codificação das isoformas truncadas mais importantes expressas nos cérebro (Culligan e
Ohlendieck, 2002)
Figura 3: A) Organização no genoma do gene Xp21; as barras pretas representam os 79 exons e as
setas os vários promotores responsáveis pela codificação das proteínas descritas logo abaixo. B)
Representação das proteínas e suas localizações (Adaptado de Muntoni, Torelli e Ferlini, 2003)
Figura 4: Western-blot da distrofina e suas isoformas no cérebro. No rato normal, a distrofina
completa (Dp427) e as isoformas Dp140 e Dp71 estão presentes. No rato distrofina-deficiente mdx,
uma ausência específica da distrofina completa, enquanto a Dp140 e Dp71 não são afetas pela
mutação. Por fim, nos cérebros dos ratos mdx
3Cv
, uma severa redução dos níveis de distrofina e
todas as isoformas do C- terminal, não sendo detectadas nem a distrofina completa nem as
isoformas menores (Blake and Kröger, 2000).
Tabela 1: Localização dos promotores e isoformas da distrofina no Sistema Nervoso (Mehler, 2000).
1.1. Bases neurais do comprometimento cognitivo na Distrofia Muscular de
Duchenne.
A idéia de que as funções cognitivas, além da função motora, também estariam
alteradas nos pacientes com DMD foi primeiramente considerada por Duchenne de
Boulogne, na segunda metade do século 19 (Duchenne, G. 1868). Mas foi somente após
mais de um século depois, a partir de 1980, que os pesquisadores buscaram detalhar mais
profundamente os déficits mentais e elucidar seu substrato anatômico.
Em geral, em encéfalos normais, a Dp427 (proteína distrofina completa) e suas
isoformas estão mais concentradas na densidade pós-sináptica (DPS) de neurônios
piramidais do neocórtex cerebral (principalmente camadas profundas das células
piramidais do córtex frontal), regiões hipocampais e, de forma mais abundante, no soma e
nos dendritos de células de Purkinje no cerebelo (Lidov et al, 2000, Lidov, Byers e Kunkel,
1993). Foi verificado, porém, que a proteína não é expressa nem em encéfalos de ratos mdx
(muscular dystrophy X-linked, modelo de rato com deficiência de distrofina) (Anderson et
al., 2002, Mehler, 2000) nem no cortex cerebral de menino com DMD (após autópsia
comparativa com cérebro controle) (Kim et al., 1995). Isto sugere que a atividade sináptica
seja claramente distinta entre os sujeitos normais, com densidade normal da proteína no
SNC, e aqueles com deficiência de distrofina.
A etiologia precisa do comprometimento mental nos meninos com DMD ainda
permanece pouco clara, mas os trabalhos têm evidenciado sua correlação com alterações
genéticas específicas (al-Qudah et al., 1990; Rapaport et al., 1991; Moizard et al., 1998 e
2000; Bardoni et al., 2000; Felisari et al., 2000). Muitos trabalhos descrevem que o atraso
no desenvolvimento neuropsicomotor e a deficiência mental estão preferencialmente
associados a alterações genéticas afetando o terço final do gene Xp21, justamente o local
de codificação para as proteínas truncadas (Rapaport et al, 1991; Hodgson et al, 1992;
Bushby et al, 1992 e 1995, Giliberto et al, 2004).
Florencia e colaboradores (2004) observaram que deleções em diferentes regiões do
gene Xp21 podem afetar a expressão de uma ou várias isoformas da distrofina, levando a
déficits multifuncionais de nível moderado a grave. A ausência das três isoformas
truncadas (Dp71, Dp140 e Dp116), resultado de deleções na porção distal do gene, pode
gerar efeitos cumulativos, levando à deficiência mental severa. Pacientes com deleções
proximais raramente apresentam um severo grau de comprometimento mental. Nestes
casos, com a deficiência apenas da distrofina completa (Dp427), mantendo a transcrição
das demais isoformas menores da distrofina, as funções cognitivas parecem estar
comprometida apenas de forma leve ou moderada (Moizard et al, 1998; Giliberto et al,
2004) ou até mesmo não serem afetadas (den Dunnen et al, 1991; Hodgson et al, 1992;
Nicholson et al, 1993).
Apesar do papel da distrofina completa (Dp427) no SNC ainda ser pouco clara,
evidências sugerem que ela aja no direcionamento (targeting) ou na estabilização dos
receptores GABAa na densidade pós-sináptica da membrana celular sendo que, na sua
ausência, diminuição no tamanho e número de agrupamentos destes receptores nas
sinapses do SNC de ratos mdx (Knuesel et al., 1999; Kueh, Head and Morley, 2008).
Conseqüências disto são os distúrbios na plasticidade sináptica evidenciados nos
ratos mdx. Foi observada uma diminuição significativa na depressão de longo prazo (LTD)
nas células de Purkinje cerebelares destes animais, gerada possivelmente por um distúrbio
na homeostase do cálcio (Anderson, Head and Morley, 2004). no hipocampo, a
deficiência de distrofina gera um aumento na potenciação de curto e de longo prazo (STP e
LTP, respectivamente), além de uma melhora na eficiência sináptica e na excitabilidade
neural dos neurônios da região CA1 hipocampal. Isto se daria provavelmente por uma
lentificação no disparo de receptores NMDA causada pelo número reduzido de receptores
GABAa (Vaillend e Billard, 2002; Vaillend, Billard and Laroche, 2004). Estas alterações
foram encontradas em animais que apresentaram também importante distúrbio na
consolidação e expressão na memória de reconhecimento de longo-prazo, sugerindo que
um aumento anormal da plasticidade sináptica e da excitabilidade neural podem ser
deletérias para as funções cognitivas, visto que alterações similares foram também
observadas em pacientes com Doença de Alzheimer (Jolas et al, 2002). Assim, sugere-se
que a ausência da Dp427 poderia interferir de modo importante na função neural e,
conseqüentemente cognitiva, também de meninos com DMD (para revisão, veja Poysky,
2007).
a função das isoformas truncadas da distrofina ainda permanece desconhecida,
porém sabe-se que a sua ausência é ainda mais relevante para a função cognitiva de
meninos com DMD. Em trabalho realizado no Brasil, 50% dos 148 pacientes com DMD
avaliados apresentaram deficiência mental, sendo que o exon 52 se mostrou
funcionalmente determinante para a manifestação deste comprometimento. Setenta por
cento dos pacientes com mutação neste exon apresentaram a deficiência, e, ao contrário,
62% de todos os pacientes com o déficit apresentaram este tipo de deleção (Rapaport et al.,
1991). Trabalhos posteriores encontraram incidência um pouco inferior da mesma
correlação genética (Nicholson et al. 1993, Bushby et al, 1995). No caso, a deleção no
exon 52 parece interromper a seqüência de codificação de uma das isoformas da distrofina
expressas no cérebro que tem espacial correlação com o comprometimento cognitivo nos
pacientes com DMD, a Dp140 (Moizard et al, 1998; Bardoni et al, 2000).
A Dp140 tem sua transdução iniciada no exon 51, sendo expressa principalmente
nos tecidos fetais e em pequena quantidade no adulto (Lidov, Selig e Kunkel, 1995;
Morris, Simmons & Nguyen 1995). Ela está distribuída pela superfície cerebral
leptomeningeal e ao longo dos vasos perfurantes, o que favorece a idéia de seu papel do
déficit cognitivo na DMD (Moizard et al, 1998). Devido à sua maior presença durante a
embriogênese, acredita-se que a ausência da Dp140 poderia ser um dos elementos
genéticos a influenciar a maturação harmoniosa do Sistema Nervoso Central (Felisari et al.
2000). Em casos de DMD em que não expressão da Dp140 o comprometimento
intelectual é maior do que nos casos em que a proteína está presente; e ainda, em pacientes
em que a inteligência é normal, a Dp140 está sempre presente (Bardoni et al, 2000; Felisari
et al. 2000).
Outra isoforma, a de maior impacto no encéfalo, é a Dp71. Ela é encontrada
também na retina, no fígado e nos rins. No SNC está presente no córtex cerebral, cerebelo,
no plexo coróide ventricular, e hipocampo (Lumeng et al, 1999, Mehler, 2000), num
aumento de concentração crescente da proteína desde a fase embrionária até a fase adulta
(Jung et al, 1993, Morris, Simmons & Nguyen, 1995). Seu papel ainda não é bem
conhecido, mas além de sua ação direta, a proteína é também responsável pela codificação
de outras proteínas, complicando ainda mais o entendimento de seu papel nas funções
cerebrais e no desenvolvimento do SNC (Austin et al, 2000). Esta isoforma da distrofina
está associada intimamente à membrana plasmática sináptica, sugerindo possível
envolvimento com a transmissão de impulsos nervosos (Moizard et al., 1998). Marquez e
colaboradores (2003) sugerem que a Dp71 tenha participação durante a fase de
diferenciação celular de lulas prototípicas em células neuronais na presença de fator de
crescimento neuronal (Marquez et al, 2003). O aumento gradual e precoce dos níveis de
Dp71 no cérebro anterior embrionário normal persistindo até a vida adulta sugere um papel
da proteína no desenvolvimento do SNC, favorecendo o comprometimento que a sua
ausência gera na inteligência de meninos com DMD. Os quadros mais graves de
deficiência mental na DMD estão descritos na ausência da Dp71. A prematura terminação
da transcrição na seqüência de codificação da Dp71 está preferencialmente relacionada a
um retardo mental severo (Moizard et al., 2000).
Além das isoformas Dp140 e Dp71, a Dp 260 tem um papel importante no
componente visual pela sua presença nas células fotorreceptoras da retina. É bem descrita
na literatura alterações neurofisiológicas na retina de meninos com DMD, avaliadas através
da eletroretinografia e potencial relacionado ao evento (Girlanda et al, 1997; Pascual
Pascual et al, 1998), porém as alterações oftalmológicas já são mais controversas. Trabalho
recente verificou que os meninos com DMD apresentam defeito na visão de cores para
verde-vermelho, e que a alteração está intimamente relacionada à ausência da Dp 260
(Costa et al, 2007); porém outras funções visuais como a acuidade visual e motilidade
ocular parecem estar preservadas (Sigesmund et al, 1994).
Outras evidências obtidas em estudos neuropatológicos parecem contribuir para a
idéia de um substrato anatômico para o comprometimento cognitivo apresentado na DMD.
Através de estimulação magnética transcraniana, Yayla et al (2008) não observaram
alterações eletrofisiológicas relacionadas à doença, enquanto Di Lazzaro (1998) obteve
resposta diminuída da excitabilidade do córtex motor, que o autor relaciona à falta de
distrofina cortical, e não à alteração do trato cortico-espinhal em si. Por meio de
tomografia computadorizada (TC) 30 casos de DMD foram avaliados e verificou-se atrofia
cerebral leve em 67% dos pacientes, dilatação ventricular leve em 60% e atrofia cortical
em 30%. A avaliação cognitiva destes pacientes demonstrou que 1/3 deles apresentou
deficiência mental, e destes, a maioria apresentava alterações na TC. Porém, mesmo
aqueles que apresentaram TC normal, também apresentaram graus variados de
comprometimento cognitivo (Yoshioka et al., 1980). Por outro lado, Dubowitz e Crome
(1969), em necropsia com 21 meninos portadores de DMD não observaram nenhuma
alteração estrutural no encéfalo.
Exames de tomografia por emissão de pósitrons (PET) foram mais conclusivos
quanto ao funcionamento do encéfalo dos pacientes com DMD, permitindo uma maior
compreensão das áreas acometidas nos pacientes. Bresolin et al. (1994) relatam presença
de hipometabolismo cerebelar bilateral em todos os pacientes com DMD examinados.
Estes pacientes apresentaram ainda variável envolvimento de áreas corticais associativas.
Já trabalho mais recente, verificou alterações mais claras na área sensório-motora, no
neocortex temporal, em estruturas temporais mediais e no cerebelo. Estas áreas o
justamente aquelas ricas em distrofina, o que fortalece a idéia de que na sua ausência a
função sináptica estaria alterada. Os autores também encontraram déficits cognitivos e
comportamentais nos pacientes não havendo, no entanto, correlação entre os dois achados
(Lee et al., 2002).
Em estudo utilizando imageamento por ressonância magnética (iRM) foi
identificado um aumento na taxa de fosfato inorgânico/ATP em pacientes com DMD, que
apresentou correlação positiva com o déficit cognitivo apresentado por eles (Tracey et al,
1995). Alterações também foram observadas com relação a compostos contendo colina.
Kato et al. (1997) relatam a presença destes compostos no córtex frontal de pacientes mais
velhos que 17 anos. Por outro lado Rae et al. (1998) encontraram elevação na taxa desses
compostos apenas no cerebelo esquerdo, não os evidenciando no lobo frontal em pacientes
com menos de 13 anos. Estes autores não encontraram associação significativa entre os
níveis de colina no cerebelo e os resultados dos testes de inteligência, questionando a
correlação direta entre as alterações bioenergéticas e o déficit cognitivo característicos da
DMD (Rae et al. 1998).
1.2. Alterações cognitivas evidenciadas na Distrofia Muscular de Duchenne.
Para examinar mais detalhadamente as alterações cognitivas na DMD, diversos
trabalhos têm usado testes neuropsicológicos para acessar tanto a inteligência como um
todo (Coeficiente de inteligência, ou QI), como também os déficits específicos em cada
função mental. Um estudo de meta-análise determinou as médias de testes simples de QI
para pacientes com DMD, considerando QI total (QIT), QI verbal (QIV) e QI de
performance (QIP, não-verbal). Considerando os 1146 meninos com DMD entre os
trabalhos relacionados (média de 12,26 ± 4,06 anos), a média do QIT foi de 80.2, do QIV
médio de 80.4, e do QIP de 85.4, sendo todos estatisticamente menores do que a média da
população normal, que é 100 para os três casos. Os dados corroboram com a idéia de que
os componentes que envolvem a linguagem são no geral mais prejudicados nos pacientes
com DMD do que aqueles que envolvem de execução (Cotton, Voudouris e Greenwood,
2001).
foi bem estabelecido na literatura que aproximadamente 30% dos indivíduos
apresentam deficiência mental (DM), determinado pelo QI abaixo de 70 (Yoshioka, 1980;
Bushby, 1992; Nicholson et al., 1993; Bardoni et al., 2000; Blake e Kröger, 2000), sendo
esta uma incidência muito maior do que a observada na população normal
(aproximadamente 2%) (Poysky, 2007). Na meta-análise citada anteriormente, do total de
1146 pacientes, 34,8% apresentaram DM. Destes, 79,3% apresentaram DM leve (QI entre
50 e 70); 19,3% apresentaram DM moderada (QI entre 35 e 50); 1,1% com DM severa (QI
entre 20 e 35); e 0,3% com retardo mental profundo (QI menor que 20) (Cotton,
Voudouris e Greenwood, 2001). Mas é importante notar que um continuum nas
habilidades intelectuais dos pacientes, com escores evidenciando desde quadros muito
comprometidos (≤ 70) até superiores aos de meninos saudáveis (escores 130), sendo que
a maioria dos pacientes se encontra dentro dos limites normais de inteligência. E dentre os
testes avaliados, os índices que mostraram maior comprometimento foram aqueles
envolvendo vocabulário, aritmética e memória (Digit Span) (Poysky, 2007).
Na mesma linha, outros trabalhos têm tentado caracterizar mais precisamente os
déficits cognitivos que estariam levando ao prejuízo da inteligência dos pacientes
demonstrado pelos testes de QI. Testes mais específicos têm sido aplicados, como os
comportamentais em ratos mdx e os neuropsicológicos em crianças. E a memória tem sido
descrita como a função cognitiva mais comprometida. Tarefas com ratos mdx
demonstraram comprometimento do aprendizado de esquiva passiva, não relacionado à
aquisição da tarefa ou à memória de procedimento, mas sim ao esquecimento rápido de
novas informações aprendidas (Muntoni et al., 1991; Vaillend et al., 1995). Em trabalho
mais recente, Vaillend e colaboradores (2004) observaram que a ausência de distrofina nos
ratos mdx compromete a memória de reconhecimento de longo prazo, mas não a de curto
prazo, e prejudica a memória espacial de longo prazo, mas não sua aquisição após
treinamento massivo no labirinto na água. Assim, os autores concluem que a perda de
distrofina altera a consolidação da memória tanto em tarefas de aprendizagem espacial
como não espacial devido, pelo menos em parte, a alterações na plasticidade sináptica
hipocampal (Vaillend, Billard and Laroche, 2004).
em pacientes, diversos trabalhos têm descrito o comprometimento cognitivo na
DMD. Apesar de algumas funções cognitivas estarem alteradas em alguns trabalhos e não
em outros, o que parece bem consistente entre todos é a presença de prejuízo em testes de
recordação imediata de informações (Digit Span). Os autores, em geral, verificaram que
haveria um déficit específico relacionado principalmente ao componente verbal da
memória operacional (Whelan, 1987; Bresolin et al, 1994, Billard et al, 1998, Hinton et al.
2000, 2001, 2007). Wicksell e colaboradores (2004) confirmam a idéia de
comprometimento maior na memória operacional, mas observaram pior desempenho dos
pacientes também nos componentes visuo-espaciais da memória de curto prazo. Os autores
observaram um prejuízo mais global na memória, incluindo a de longo prazo e também as
funções executivas (Wicksell et al., 2004).
Para verificar o impacto do comprometimento motor e dos fatores sócio ambientais
sobre os baixos resultados obtidos nos testes de QI e memória em meninos com DMD,
foram realizados alguns trabalhos comparativos com Amiotrofia Espinhal Progressiva
(AEP), outra doença que acomete a função motora de crianças progressivamente (Blake e
Kröger, 2000). Nestes estudos, o grupo com DMD mostrou maiores deficiências para
aprendizagem, apresentando os escores tanto de QI verbal como de memória
significativamente menores quando comparados com o grupo AEP (Ogasawara, 1989;
Billard et al., 1992 e 1998). Os trabalhos sugerem, então, que as alterações não são
secundárias às limitações motoras, mas sim decorrente de características específicas da
DMD.
Outro fator muito questionado quando se trata do déficit cognitivo nesses pacientes
é a possibilidade de haver uma progressão do comprometimento ou alguma correlação com
a idade, que o componente motor tem a característica progressiva. Apesar de muitos
autores apontarem o comprometimento como sendo estático, estudo recente evidenciou
uma diminuição dos déficits após os 14 anos, concluindo que a função intelectual nos
pacientes com DMD muda sim com a idade, mas não para pior. Isto não ocorre
globalmente (QI total), mas sim nas funções verbais e de linguagem (QI verbal) (Cotton et
al., 2005). No caso, crianças mais novas apresentam maiores dificuldades nos componentes
de compreensão e expressão de linguagem, enquanto meninos mais velhos apresentam
maiores dificuldades nos componentes de execução decorrentes dos déficits motores
progressivos e das complicações médicas da idade. Outros autores também evidenciaram
esta melhora tardia (Sollee et al., 1985, Bresolin et al., 1994), sugerindo inclusive que a
melhora do QI em cadeirantes poderia ser explicado por mecanismos comportamentais
adaptativos, como a maior maturidade para entender e lidar com a realidade da doença. Por
outro lado, Yoshioka e colaboradores (1990) apesar de não evidenciarem correlação do QI
com a idade ou severidade da doença, observaram alterações mais severas na TC nos
meninos mais velhos.
Cotton e colaboradores (1998) discutem um fator interessante que poderia estar
relacionado aos pacientes que é a possibilidade de haver uma assimetria funcional dos
déficits. Os autores descrevem que haveria um comprometimento específico de memória
para faces, e o para palavras, nos pacientes com DMD, relacionando a resultados
encontrados em indivíduos com lesões corticais em hemisfério direito. Estes dados podem
ser sustentados por uma assimetria cortical também evidenciada por hipometabolismo em
áreas específicas do hemisfério direito, como o córtex temporal lateral, giro pós-central e
hipocampo (Lee et al., 2002). Billard e colaboradores (1998) consideraram ainda que os
déficits dos pacientes com DMD de processamento verbal e na habilidade de leitura seriam
comparáveis a quadros encontrados na dislexia disfonética, o subtipo mais comum de
dislexia, que tem sido relacionada à disfunção do cerebelo direito (Anderson et al., 2002)
ou mesmo a uma assimetria inter-hemisférica desregulada (Wijers et al., 2005).
O cerebelo tem sido foco principal da relação entre a ausência de distrofina e os
achados neuropsicológicos. Em estudo de revisão recente, Cyrulnick e Hinton (2007)
defendem que os déficits cognitivos específicos dos pacientes com DMD estão
intimamente relacionados a comprometimento funcional do cerebelo. Apesar de diversas
áreas do SNC estarem envolvidas na memória operacional verbal, as autoras acreditam que
circuitos cerebro-cerebelares proveriam uma suposta explicação para os déficits. Ravizza
et al. (2006) fortalecem esta idéia ao descreverem que lesões cerebelares geram déficits
específicos na memória operacional verbal. O cerebelo contribuiria de maneira importante
para aspectos de codificação fonológica, mais do que articulatórios.
1.3. Atenção na Distrofia Muscular de Duchenne
A atenção é um processo cognitivo cuja definição é extremamente difícil e
controversa, apresentando confusões e ambigüidades inerentes tanto ao termo como à sua
função e atuação (Nahas e Xavier, 2004). Gazzaniga, Ivry e Mangun (2006) definem a
atenção como um mecanismo cerebral cognitivo que permite o processamento de uma
aferência, um pensamento ou uma ação, enquanto ignora outros irrelevantes ou
distraidores. Ou ainda, de maneira mais simples, Arrington e colaboradores (2000)
descrevem que a atenção tem o papel de selecionar uma informação a ser dada prioridade
durante a percepção. Mas talvez a definição e função de atenção propostas por James
(1890/1950) sejam, ainda hoje, aquelas mais aceitas e utilizadas no meio científico: “É a
possessão da mente, de forma clara e nítida, de um objeto ou pensamento dentre várias
possibilidades simultâneas. Sua essência está na focalização, na concentração da
consciência. Implica no afastamento de algumas coisas para que se possa lidar de maneira
efetiva com outras…” (p. 403-4).
O controle da atenção se por meio de fatores cognitivos como conhecimento,
expectativa e objetivos comuns (controle descendente, designado usualmente como “de
cima para baixo”) e fatores que refletem a estimulação sensorial (controle ascendente,
designado usualmente “de baixo para cima”). Outros fatores que afetam a atenção, como o
novo e o inesperado, refletem a interação entre influências cognitivas e sensoriais. Desta
forma, a interação dinâmica desses fatores controla onde, como e para quê se presta
atenção no ambiente visual (Corbetta e Shulman, 2002).
Nahas e Xavier (2004) definiram os dois tipos de processos envolvidos na captação
da atenção: os processos automáticos e os voluntários. Os processos automáticos podem
ser desencadeados prontamente, de forma quase inevitável, por eventos inesperados do
ambiente, mesmo quando a atenção está previamente alocada a uma outra fonte de
estimulação. Admite-se que estes processos sejam velozes, e não requeiram um “controle
ativo” por parte do indivíduo, podendo, por esta razão, ocorrer simultaneamente a outros
processamentos com pouca interferência. Assim, estímulos inéditos, surpreendentes ou
incongruentes atraem a atenção para si, não havendo esforço voluntário para o
direcionamento atencional e sim uma captura gerada pelo estímulo, de onde a
denominação atenção automática para o fenômeno. Gazzaniga, Ivry e Mangun (2006)
caracterizam a atenção automática como sendo reflexa, de origem exógena.
Por outro lado, os processos voluntários da atenção dependem de controle
intencional e são normalmente usados para tarefas mais complexas e pouco familiares, que
requerem por este motivo, mais empenho para sua execução. Neste caso, o envolvimento
da intenção leva a haver interferência no caso de desempenho concomitante de uma tarefa
secundária. O direcionamento intencional de recursos de processamento para determinada
fonte de informação, devido à sua relevância momentânea justifica a denominação de
atenção voluntária (Nahas e Xavier, 2004) ou “atenção endógena” (Gazzaniga, Ivry e
Mangun, 2006) para o fenômeno.
Normalmente a atenção se acompanha de movimentos dos olhos, da cabeça ou do
corpo todo, caracterizando o que é chamado de comportamento exploratório. Esta forma de
orientação da atenção é dita manifesta ou explícita. A orientação da atenção, sem
movimentação dos olhos é denominada encoberta, e, embora bem menos comum, ocorre
também naturalmente (Nahas e Xavier, 2004). Há autores que acreditam que há uma
íntima relação entre os movimentos oculares e a atenção seletiva, denominada de “teoria
pré-motora da atenção”. De acordo com esta teoria, “os mecanismos responsáveis pela
atenção espacial e os mecanismos involvidos na programação das sacadas oculares são
basicamente os mesmos” (Sheliga, Riggio, Rizzolatti, 1994, 1995). Por outro lado,
seguimos a linha que acredita que a atenção por definição é um processo encoberto por
natureza, e os ajustes motores que usualmente a acompanham são apenas fenômenos
complementares, que não apresentam mecanismos em comum com a atenção em si
(Gazzaniga, Ivry e Mangun, 2006).
Apesar do comprometimento da memória operacional verbal ter sido descrito como
a função mental de maior impacto sobre o déficit intelectual global e os distúrbios de
leitura e aprendizagem apresentados pelos pacientes com DMD, alguns trabalhos têm
sugerido que o teste em que os pacientes vão pior (Digit span) envolve componentes
mentais diversos, não memória operacional, como também atenção e linguagem (Sollee
et al, 1985; Poysky, 2007). Alguns autores acreditam inclusive que seria um pior
desempenho atencional que seria mais determinante para os ficits encontrados, mas nem
todos avaliaram diretamente a atenção (Sollee et al., 1985; Billard et al., 1992, Rae et al.,
1998, Cotton et al., 1998, Cyrulnik et al, 2008).
Testes neuropsicológicos específicos de avaliação da atenção foram utilizados em
trabalhos com pacientes com DMD e evidenciaram um déficit atencional importante.
Cotton e colaboradores (1998), utilizando o Symbol Digit Modality Test (SDMT),
encontraram comprometimento da atenção nos pacientes com DMD quando comparados a
meninos de idade e inteligência pareada. O teste consiste em uma tarefa de substituição de
símbolos por números de uma a nove, seguindo uma seqüência chave apresentada. Esta
tarefa deve ser realizada o mais rápidamente possível durante 90 segundos, de forma oral
ou escrita (Lezak, 1995). Os autores sugerem que os pacientes (com média de idade de
15,7 anos) teriam um comprometimento na habilidade de processar informações
rapidamente e de sustentar a atenção (Cotton et al, 1998). Mais recentemente, por meio do
sub-teste de atenção visual (tarefas de busca visual) do NEPSY: A Developmental
Neuropsychological Assessment (Korkman, Kemp, Kirk, 2001), foi observado significativo
comprometimento atencional tanto em crianças bem jovens (três a 6 anos de idade)
(Cyrulnik et al, 2008) como em pacientes com DMD um pouco mais velhos (média de 8,3
anos de idade) (Marini et al., 2007). Por outro lado, outros trabalhos, apesar de não terem
avaliado a atenção de forma específica, sugerem haver a preservação da função atencional
dos pacientes, visto que conseguem manter a “concentração”, com adequada capacidade de
sustentarem a atenção (Billard et al, 1998; Hinton et al, 2000).
Dados interessantes também foram recentemente publicados sobre uma alta
incidência de Transtorno de Déficit Atenção/ Hiperatividade (TDAH) nos meninos com
DMD, mesmo que em estudos preliminares (Steele et al, 2008) ou por meio de entrevista
qualitativa com os pais dos meninos (Hilton et al, 2006; Hendriksen & Vles, 2008).
Desta forma, o comprometimento da atenção em pacientes com DMD ainda é uma
possibilidade pouco investigada e que deve ser considerada. Os testes neuropsicológicos
são pouco precisos em relação a minimizar os efeitos da memória operacional,
componentes motores ou de linguagem. Esta questão deveria ser examinada
sistematicamente considerando que um déficit atencional poderia ser um importante fator
determinante do comprometimento cognitivo global, assim como sua relação intrínseca
com a memória operacional, bem estabelecida como deficiente nos meninos com DMD.
Helene e Xavier (2003) defendem uma associação conceitual entre estas duas funções
cognitivas, atenção e memória, pois enquanto a atenção é necessária para a seleção de
informações do ambiente que serão armazenadas na memória, a atenção se baseia em
memórias pregressas que geram as características para esta seleção. Para um indivíduo
aprender é necessário que identifique e associe os estímulos ambientais e arquive as
informações relevantes. Por outro lado, a eficiência desta identificação e associação
dependeria da atenção além, obviamente, da motivação e memórias formadas previamente
(D’Mello e Steckler, 1996).
Recente revisão descreve os mecanismos atencionais como sendo responsáveis pela
seleção de informações que ganham acesso à memória operacional. A memória
operacional seria um dos componentes fundamentais para a atenção, visto que após a
seleção, a representação dos objetos da atenção passa a ser a própria memória. Em um
ciclo constante, a atenção é essencial também para a evocação de informação armazenada
na memória para sua utilização (Knudsen, 2007). Alguns trabalhos também têm tentado
demonstrar o papel da atenção exatamente na ativação cortical seqüencial de informações
da memória operacional. Para os autores, a evocação de mais de uma informação da
memória operacional é possível pela ação da atenção que alterna entre as informações,
sendo que a escolha desta forma determina a eficiência do resgate da informação (Li et al.,
2004 e 2006).
LaBar e colaboradores (1999) descrevem diversas áreas encefálicas ativas tanto em
tarefas prioritariamente de memória operacional como em tarefas atencionais, e acreditam
que esta intersecção funcional seja devida à necessidade da alocação atencional em ambas
as tarefas, indicando que esta função estaria inevitavelmente ativa em qualquer atividade
de memória operacional verbal. Assim, além dos campos visuais frontais, cerebelo e do
tálamo, diversas áreas fronto-parietais, incluindo os sulcos intraparietal, pré-central ventral
e a área motora suplementar intersectam as duas funções cognitivas. o córtex pré-motor
bilateral, o lóbulo parietal inferior direito, o giro frontal inferior esquerdo e o córtex
cerebelar direito estariam ativados durante o uso preferencial da memória operacional
verbal, enquanto a junção occípito-temporal bilateral e o córtex extraestriado quando a
atenção estivesse sendo priorizada (LaBar et al, 1999).
Temos então que muito pouco foi estudado da atenção na DMD para que se possa
concluir que as alterações cognitivas sejam decorrentes exclusivamente de um
comprometimento da memória. Toda essa correlação entre estas duas funções mentais
favorece a idéia de que a atenção possa definitivamente estar também comprometida na
doença. E a atenção interferiria tanto nos componentes verbais como nos componentes de
execução dos testes de inteligência, permeando assim todas as funções cognitivas avaliadas
nos testes neuropsicológicos.
1.4. Avaliação quantitativa da atenção
É possível estudar a expressão comportamental dos processos atencionais
automáticos e voluntários. Para tanto se considera que: pistas “exógenas” capturam a
atenção de maneira ascendente (de baixo para cima), caracterizando a atenção automática,
enquanto pistas “endógenas” que requerem o direcionamento do foco atencional de
maneira descendente (de cima para baixo) caracterizariam a atenção voluntária (Coull,
1998). Estas são as premissas em que se baseiam as tarefas de orientação espacial da
atenção desenvolvidas por Posner (1980).
A tarefa descrita por Posner (1980) se tornou padrão de ouro para testar orientação
espacial da atenção, sendo conhecida como tarefa de orientação encoberta de Posner.
Nela, os sujeitos são posicionados em frente à tela de um monitor de vídeo com um ponto
de fixação central e dois quadrados periféricos. Sua tarefa é responder o mais rapidamente
possível a um alvo visual que aparece brevemente em um dos dois quadrados periféricos,
enquanto mantêm fixos os olhos no ponto central da tela. Pouco antes do aparecimento do
alvo, é apresentado outro estímulo visual, periférica ou centralmente. O estímulo periférico
pode ser um clareamento rápido de um dos dois quadrados (um estímulo precedente
“exógeno”, que direciona a atenção dos indivíduos para um local de forma automática). O
estímulo precedente central pode ser uma cabeça de seta que aponta para um dos dois lados
da tela (um estímulo precedente endógeno”, que requer do indivíduo que direcione seu
foco atencional de maneira voluntária para o lado indicado pela cabeça de seta). Havendo
ainda uma condição neutra em ambos os testes (na qual a atenção é capturada ou
voluntariamente direcionada para ambos os lados da tela), é possível calcular o benefício
(redução do tempo de reação) de ter sido alocada a atenção pro local de aparecimento do
alvo, ou o custo de ter sido retirada a atenção do local de aparecimento do alvo. Como é de
se esperar, os indivíduos respondem de maneira mais rápida ao alvo que aparece no local
atendido, e mais lentamente ao alvo que aparece no local desatendido. E a diferença entre o
tempo de resposta a um estímulo nestas duas condições (local desatendido e local
atendido), é a medida da eficiência da detecção, determinada pela alocação da atenção para
o local esperado (Posner, 1980). A esta diferença damos o nome de efeito atencional.
Desde que descrito por Posner em 1980, estas tarefas ou tarefas similares têm sido
usadas em diversas situações, inclusive para avaliar a atenção de crianças com patologias
envolvendo o SNC. Nestas se incluem a Desordem de Desenvolvimento de Coordenação
(DDC) (Wilson et al., 1997; Mandich et al., 2003), o Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade (TDAH) (Huang-Pollock e Nigg, 2003) e a Espinha Bífida
(Dennis et al., 2005).
Nos testes neuropsicológicos realizados em meninos com DMD, distúrbios
específicos de atenção podem passar despercebidos. Os testes de Posner provavelmente
detectariam tais distúrbios. No presente estudo utilizamos os testes de Posner para avaliar o
desempenho atencional de meninos com Distrofia Muscular de Duchenne por meio das
formas de mobilização de atenção automática e voluntária. Testamos voluntários com uma
tarefa de tempo de reação de escolha de local (respostas com a mão direita caso o estímulo
alvo apareça à direita e respostas com a mão esquerda no caso do estímulo alvo aparecer à
esquerda) com orientação encoberta da atenção. Avaliamos tanto os tempos de reação (TR)
brutos como o benefício e custo da orientação da atenção. Para calcularmos o benefício e o
custo incluímos na tarefa um estímulo precedente periférico bilateral e um estímulo central
indicando ambos os lados (condição bilateral e neutra, respectivamente). Para reduzirmos a
influência da memória operacional nos testes, mantivemos o estímulo precedente na tela
até o aparecimento do alvo (LaBar et al, 1999).
Baseado no fato de que a ausência de distrofina na densidade pós-sináptica interfere
na eficiência das sinapses (Kim et al., 1995), acreditamos que os mecanismos neurais da
atenção podem estar comprometidos nos pacientes com DMD. Como a atenção possibilita
a melhora no processamento da informação (Posner, 1980), temos que uma alteração
atencional poderia ser interpretada como o comprometimento no processamento,
resultando na diminuição na velocidade de resposta a esta informação (ou um aumento nos
TR). Temos, porém, que alguns fatores característicos da DMD, como os déficits motores
e as alterações na retina, também poderiam levar a esta lentificação da resposta, o que
prejudicaria a interpretação dos dados relativos à atenção em si. Assim, optamos por
priorizar a análise do efeito atencional, tanto pelo benefício como pelo custo da atenção,
por serem medidas quantitativas da atenção que excluem os componentes de resposta.
Desta forma, predissemos que os efeitos atencionais tanto automáticos como voluntários
estariam diminuídos no grupo DMD.
Com relação aos TR, estes seriam considerados apenas quando analisados em
condições comparativas dentro do mesmo grupo, para minimizar as diferenças entre os
grupos determinadas pelos outros fatores que não a própria atenção.
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo geral
O presente estudo teve como objetivo investigar o desempenho atencional de
meninos portadores de DMD.
2.2. Objetivos específicos
1. Contrastar o desempenho de meninos com DMD com o de meninos saudáveis nos
testes de atenção automática e atenção voluntária.
2. Verificar a evolução com a idade no desempenho atencional dos meninos com
DMD.
3. Verificar se existem assimetrias inter-laterais relacionadas aos tipos de atenção nos
meninos com DMD.
3. MÉTODOS
3.1. Participantes
Foram estudados 30 indivíduos com DMD atendidos no ambulatório de Distrofia
Muscular do Serviço de Neurologia Infantil do Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (HC FMUSP). Seu diagnóstico baseou-se em
quadro clínico caracterizado por perda progressiva de força muscular, elevados níveis de
creatina-fosfo-quinase (CPK), histologia muscular compatível com DMD e/ou mutações
no gene DMD. Todos eram do sexo masculino, tinham entre 10 e 16 anos de idade,
estavam em bom estado geral de saúde, não apresentavam antecedentes adicionais
relacionados ao SNC, depressão e/ou em uso de medicamentos antidepressivos. Eram
alfabetizados, matriculados e freqüentavam salas normais do ensino fundamental ou do
ensino médio. Todos os canhotos de acordo com o resultado obtido com o Questionário de
Edinburgh (Oldfield, 1971) foram excluídos (anexo 1).
O grupo controle foi composto de 30 meninos, recrutados em um Núcleo Sócio-
Educativo do Jaguaré, da Prefeitura da Cidade de São Paulo. Suas idades eram semelhantes
às dos meninos com DMD. Todos gozavam de boa saúde e não apresentavam antecedentes
de doenças neurológicas, mentais ou uso de antidepressivos. Todos eram alfabetizados,
matriculados e freqüentavam salas normais do ensino fundamental ou do ensino médio.
Todos os canhotos segundo o Questionário de Edinburgh (índice de lateralidade inferior a -
0,3) foram excluídos.
Todos os participantes (DMD e controle) realizaram um teste de acuidade visual
(anexo 2). Apenas aqueles que apresentavam visão normal ou corrigida tiveram seus
resultados considerados.
O grau de comprometimento motor nos meninos com DMD foi considerado pouco
relevante para a realização dos testes, não sendo realizado nenhum teste específico para sua
mensuração. Da mesma forma, o possível déficit de processamento visual acarretado pela
ausência de distrofina nos fotoreceptores da retina também não serão considerados
relevantes para o trabalho. Isto porque, mesmo que a deficiência de distrofina gere
lentificação na execução da resposta motora e/ou uma lentificação no processamento
perceptual visual dos estímulos, em ambos os casos a resposta comportamental associada
seria a elevação dos TR. Assim, partimos da premissa que todos os meninos têm algum
grau de fraqueza muscular e de alteração visual, e, apesar dos estímulos serem muito
supra-limiares e as respostas exigidas dependerem de movimentos extremamente simples,
optamos por considerar o TR apenas quando comparado dentro do próprio grupo, ou em
outras análises que desconsideram o componente de resposta, como será explicado
posteriormente.
A escolha da faixa etária baseou-se em idade pertencente àquela determinada pelo
WISCIII, a Escala de Inteligência Wechsler para crianças, adaptado e padronizado para o
Brasil (Figueiredo, 2001).
Este projeto de pesquisa foi submetido à Comissão de Ética em Pesquisa com Seres
Humanos do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e também à Comissão
de Ética do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Todos os
responsáveis legais pelos participantes aceitaram que eles participassem do projeto
assinando um termo de consentimento livre e esclarecido (anexo 3) após a devida
explicação oral e escrita do mesmo.
3.2. Materiais
Os voluntários foram testados individualmente, sob baixo nível de iluminação
ambiente, em uma sala no Hospital das Clínicas (grupo Duchenne - GD) e outra no Núcleo
Sócio-Educativo do Jaguaré (grupo controle - GC). Eles permaneceram sentados, em frente
a uma mesa onde se encontrava um monitor de vídeo de 15 polegadas distante 57 cm de
seus olhos. Neste monitor eram apresentados estímulos visuais. Os voluntários respondiam
a alguns destes estímulos pressionando com seus polegares uma ou outra tecla de um
mouse, conectado à entrada de jogo de computador, que seguravam sobre suas pernas com
ambas as mãos.
Os estímulos eram gerados e as respostas gravadas por um microcomputador IBM-
PC/AT 486, controlado por programas elaborados com o aplicativo MEL2 Micro
Experimental Laboratory (Psychology Software Tools). A precisão das medidas do tempo
de reação (TR) era da ordem de um milésimo de segundo.
3.3. Procedimentos
Todos os voluntários com DMD e controles realizaram uma sessão de teste
constituída de duas etapas, uma de avaliação da atenção automática e outra de avaliação da
atenção voluntária. A ordem destas duas etapas foi balanceada entre os voluntários de cada
grupo. A sessão de teste durava no total 50 min.; ela incluía 10 min. para explicação, 05
min. de treinamento e 10 minutos de execução do primeiro teste, seguido de mesmo tempo
para explicação, treinamento e execução do segundo teste.
O teste de atenção automática era constituído por dois blocos de 48 tentativas (96
tentativas no total) com um intervalo de aproximadamente 2 minutos entre eles. Antes de
ser iniciado o teste, os voluntários recebiam as instruções apropriadas, oralmente e por
escrito (anexo 4). A seguir eles realizaram como treino aproximadamente 15 tentativas;
eventuais problemas de compreensão da tarefa eram corrigidos. Então o teste propriamente
tinha início.
Cada tentativa iniciava-se com o aparecimento de uma pequena cruz central (ponto
de fixação PF; com luminância de 28 cd/m
2
), e dois quadrados periféricos demarcadores
de posição (1,50º de largura por 1,50º de altura e 0,04º de borda, de mesma luminância)
cujo centro estava disposto 6,8º à esquerda e à direita do PF. A cor do fundo da tela era
cinza escuro (com luminância de 3 cd/m
2
). Após algum tempo que podia variar
aleatoriamente entre 1750 e 2250 ms, ocorria o clareamento da borda de um dos quadrados
(luminância 40 cd/m
2
), que chamaremos de estímulo precedente. Este estímulo ocorria em
1/3 das tentativas no quadrado da esquerda, em 1/3 das tentativas no quadrado da direita e
em 1/3 das tentativas em ambos os quadrados (condição bilateral). O estímulo precedente
durava 100 ms e era seguido imediatamente pelo estímulo alvo, que era uma linha vertical
(luminância de 45 cd/m
2
, 0,8º de comprimento e 0,04º de largura) no interior de um dos
quadrados. O alvo permanecia por 100 ms na tela; ele ocorria em 50% das tentativas do
lado direito e em 50% das tentativas do lado esquerdo, sendo que em 1/3 das tentativas
aparecia na mesma posição do estímulo precedente, em 1/3 das tentativas aparecia na
posição oposta ao estímulo precedente e em 1/3 das tentativas, correspondente à condição
bilateral, aparecia do lado esquerdo ou direito igualmente. Assim, considerando os dois
blocos, tínhamos 16 tentativas para cada uma das condições: mesma posição do estímulo
precedente e do alvo à direita, mesma condição à esquerda, condição oposta entre o
estímulo precedente e o alvo à direita e à esquerda, e condição bilateral com alvo à direita
ou à esquerda, totalizando 96 tentativas. Essas condições ocorriam aleatoriamente.
Os participantes eram orientados a manter o olhar fixo no centro da tela e a
responder ao alvo o mais rápidamente possível, porém procurando não errar, pressionando
a tecla da direita do mouse com o polegar direito caso o alvo aparecesse deste lado da tela;
e pressionar com o polegar esquerdo a tecla da esquerda do mouse caso o alvo aparecesse
deste lado da tela (veja a figura 5).
Ao final de cada tentativa era apresentada uma mensagem de acordo com o
desempenho do participante. Respostas com latência menor que 150 ms ou emitidas antes
da apresentação do alvo eram consideradas antecipações e a mensagem “ESPERE O
ALVO” aparecia no centro da tela. As respostas dadas com uma latência maior que 2000
ms eram considerada omissões e a mensagem “MAIS RÁPIDO” aparecia no centro da tela.
Respostas dadas com a mão trocada eram definidas como erros de inversão e a mensagem
“RESPONDA COM A MÃO DO LADO DO ALVO” aparecia no centro da tela. As
respostas eram consideradas corretas quando eram dadas no intervalo de tempo apropriado
e com a mão correspondente ao lado de aparecimento do alvo. Estas respostas eram
reforçadas pelo aparecimento no centro da tela do TR em milisegundos. As mensagens
duravam 1000 ms. Após o término da mensagem aparecia novamente o PF para iniciar a
próxima tentativa.
Figura 5: Diagrama representativo da seqüência de apresentações visuais no teste de atenção
automática. Após intervalo de 1750 ms ou 2250 ms, o estímulo precedente (clareamento da borda
dos quadrados periféricos) permanecia por 100 ms e, ao desaparecimento, o alvo era apresentado
em um dos dois quadrados, ao qual o participante deveria responder com a mão do lado do alvo, o
mais rapidamente possível, porém tentando não cometer erros.
O teste de atenção voluntária era constituído por dois blocos de 60 tentativas (120
tentativas no total) com intervalo de 5 minutos entre os blocos. Antes de ser iniciado o
teste, os participantes recebiam instruções apropriadas por escrito (anexo 5), e oralmente,
visto que isto facilitava a compreensão e agilizava o início da sessão. A seguir, os
participantes realizavam aproximadamente 20 tentativas, não registradas, para que o
experimentador pudesse avaliar a compreensão da tarefa e para minimizar a influência da
aprendizagem da tarefa no TR. Após este treino é que era iniciado o teste propriamente.
Cada tentativa iniciava-se com o aparecimento do PF (com luminância de 28 cd/m
2
)
e dois quadrados demarcadores de posição (1,50º de largura por 1,50º de altura e 0,04º de
borda, com mesma luminância) cujo centro estava disposto 6,8º à esquerda e à direita do
PF. A cor do fundo da tela era cinza escuro (com luminância de 3 cd/m
2
). Após algum
tempo que poderia variar aleatoriamente entre 1750 e 2250 ms, aparecia uma pequena
“cabeça” de seta no centro da tela (largura 0,2
o
e altura o,4
o
, com luminância de 40 cd/m
2
),
que chamamos de pista. Este estímulo em 1/3 das tentativas apontava para o quadrado da
esquerda, em 1/3 das tentativas apontava para o quadrado da direita e em 1/3 das tentativas
apontava para ambos os quadrados simultaneamente (condição neutra). A pista permanecia
na tela até a resposta ser executada. O alvo aparecia 1000 ms após o surgimento da pista e
durava 100 ms. O alvo era uma linha vertical (0,8º de comprimento e 0,04º de largura,
luminância de 45 cd/m
2
) no interior de um dos quadrados e ocorria em 50% das tentativas
do lado direito e em 50% das tentativas do lado esquerdo. Em 60% das tentativas o alvo
aparecia no local indicado pela pista (condição válida), em 20% das tentativas aparecia na
posição oposta à indicada pela pista (condição inválida) e em 20% das tentativas,
correspondente à condição neutra, do lado esquerdo ou direito igualmente. Assim,
considerando os dois blocos, eram 36 tentativas para a condição válida à direita, 36
tentativas para a condição válida à esquerda, e 12 tentativas nas demais condições
(condição inválida à direita, condição inválida à esquerda, condição neutra com alvo à
direita e situação neutra com alvo à esquerda) totalizando 120 tentativas. Essas condições
ocorriam aleatoriamente.
Os participantes eram instruídos a manter o olhar fixo no centro da tela e a orientar
sua atenção na direção apontada pela cabeça de seta sem mexer os olhos. Deveriam então
responder o mais rapidamente possível, porém tentando não errar, pressionando a tecla da
direita do mouse com o polegar direito caso o alvo aparecesse deste lado da tela; e
deveriam pressionar a tecla da esquerda do mouse com o polegar esquerdo caso o alvo
aparecesse deste lado da tela (veja a figura 6).
Ao final de cada tentativa era apresentada uma mensagem relacionada com o
desempenho, como descrito para a atenção automática.
Figura 6: Diagrama representativo da seqüência de apresentações visuais no teste de atenção
voluntária. Após intervalo de 1750 ms ou 2250 ms, a pista (“cabeça” de seta central) permanecia
por 1000 ms até o aparecimento do alvo em um dos dois quadrados, ao qual o participante deveria
responder com a mão do lado do alvo, o mais rapidamente possível, porém tentando não cometer
erros.
A verificação dos movimentos oculares durante o teste de atenção voluntária era
feita com observação direta do avaliador que se posicionava lateralmente ao monitor de
vídeo. Após o treino, quando eram feitas correções orais, o voluntário realizava a tarefa
sob observação constante do orientador. Caso houvesse movimentação ocular, era chamada
a atenção para correção. Três ou mais correções durante o teste a criança era
posteriormente eliminada por não colaboração. Devido à dificuldade de utilizar métodos
mais sofisticados de escaneamento dos movimentos oculares em ambiente clínico, outros
trabalhos com crianças também relatam avaliação direta do avaliador (Dennis et al., 2005).
Em trabalhos com adultos jovens, o uso de escaneamento do movimento ocular em tarefas
de atenção voluntária similares à nossa não evidenciou movimentos em mais do que 2%
das tentativas, sem haver necessidade de exclusão de participantes por este motivo (Riggio
e Kirsner, 1997; Rosen et al., 1999; Kincade et al., 2005).
A inclusão da pista neutra se deveu à necessidade de conhecimento mais detalhado
dos efeitos comportamentais das pistas automática e voluntária. Este tipo de pista permite a
análise do benefício e do custo da alocação da atenção, e pode revelar diferenças
específicas nos padrões de desempenho entre pacientes e sujeitos saudáveis (Pollux e
Robertson, 2001).
3.4. Análise Estatística
Para cada voluntário foi calculada a média das medianas dos tempos de reação (TR)
nos dois blocos para cada condição. Também, para cada voluntário, foram calculados os
números totais de omissões, respostas antecipadas e invertidas nos dois blocos para cada
condição.
Os dados de TR foram submetidos a uma análise de variância para medidas
repetidas, tendo como fatores o grupo (GC e GD), o tipo de atenção (automática e
voluntária) e o tipo de estímulo precedente (mesmo/válido, oposto/inválido,
bilateral/neutro). Quando apropriado, os dados foram analisados com o teste post-hoc de
Newman-Keuss. Foi adotado nível de significância de 0,05.
Os dados de acurácia foram analisados com o teste de Kolmogorov-Smirnov.
Basicamente, foram comparados os números de erros de cada tipo entre os grupos GC e
GD em cada condição. O nível de significância foi ajustado para o número de comparações
realizadas (dividindo-se 0,05 pelo número de comparações).
4. RESULTADOS
Dos 30 meninos do GC, cinco foram excluídos. Um deles apresentava acuidade
visual reduzida, dois não colaboraram com o teste e dois eram canhotos. Dos 30 meninos
do grupo experimental, também cinco foram excluídos. Um deles apresentava acuidade
visual reduzida, três não colaboraram com o teste e um teve seu diagnóstico corrigido para
Distrofia Muscular de Becker.
Não houve exclusão de voluntários por movimentação ocular excessiva no teste de
atenção voluntária (três ou mais movimentações). A não colaboração se deu basicamente
por falta de motivação ou cansaço, com os meninos interrompendo a execução do teste.
Os dois grupos não diferiram em relação à idade (média ± dp: 12,04 ± 2,01 anos
para o GC e 12,04 ± 2,17 anos para o GD; t-value <0,001, p >0,05).
Em ambos os grupos havia 24 voluntários destros (índice de lateralidade maior que
+0,3) e 1 voluntário ambidestro (índice de lateralidade entre -0,3 e +0,3), totalizando 25
meninos por grupo.
Os dados clínicos dos voluntários com DMD podem ser visualizados na Tabela 2.
Tabela 2. Dados clínicos dos voluntários com DMD que participaram dos experimentos
(Idade: média ± dp)
DUCHENNE
LOCOMOÇÃO
IDADE
DOMINÂNCIA
MANUAL
TEMPO APROXIMADO
DE COTICOTERAPIA
1 deambulante 11 Direita 2 anos
2 deambulante 12 Direita 4 anos
3 cadeirante 11 Direita 3 anos
4 deambulante 16 Direita 8 anos
5 deambulante 11 Direita 5 anos
6 cadeirante 10 Direita 6 anos
7 cadeirante 11 Ambidestro 5 anos
8 deambulante 10 Direita 2 anos
9 cadeirante 15 Direita 5 anos
10 cadeirante 16 Direita 1 ano
11 deambulante 11 Direita 3 anos
12 deambulante 11 Direita 2 anos
13 cadeirante 14 Direita 5 anos
14 deambulante 11 Direita 2 anos
15 deambulante 10 Direita 5 anos
16 cadeirante 15 Direita 7 anos
17 cadeirante 16 Direita 4 anos
18 cadeirante 11 Direita 6 meses
19 deambulante 12 Direita 6 anos
20 cadeirante 15 Direita 4 meses
21 cadeirante 10 Direita 1 ano
22 deambulante 10 Direita 4 anos
23 deambulante 10 Direita 6 meses
24* cadeirante 11 Direita 4 meses
25* cadeirante 11 Direita 4 meses
TOTAL 12 deambulantes
12,04 ±
13 cadeirantes 2,17 anos
* Estes voluntários eram irmãos gêmeos. Os demais participantes não apresentavam irmãos
com DMD.
4.1. Tempos de Reação
A análise de variância dos TR evidenciou efeito principal para os três fatores
considerados, a saber, grupo (F
1,48
=8,995; p=0,004), tipo de atenção (F
1,48
=13,406;
p<0,001) e tipo de estímulo precedente (F
2,96
=151,108; p<0,001). Os TR foram maiores
para o GD do que para o GC e menores para a atenção voluntária do que para a atenção
automática.
Houve um efeito do estímulo precedente para ambos os grupos no teste de atenção
automática, porém apenas para o GD no teste de atenção voluntária. Assim, no teste de
atenção automática, o TR na condição mesma foi menor do que o TR na condição oposta
tanto para o grupo GC como para o GD (312 ms ± 12 ms e 369 ms ± 10 ms; p<0,001 para
o GC; 371 ms ± 18 ms e 431 ms ± 15 ms, p<0,001 para o grupo GD, nas condições mesma
e oposta, respectivamente). No teste de atenção voluntária, também houve diferença entre
os TR nas condições válida e inválida para o GD (325 ms ± 13 ms e 406 ms ± 18 ms,
p<0,001, nas condições válida e inválida, respectivamente). Porém o mesmo efeito não foi
verificado no grupo GC (316 ms ± 9 ms e 334 ms ± 9 ms, p=0,14 nas condições válida e
inválida, respectivamente).
Houve tendência de interação entre os fatores grupo e tipo de atenção (F
1,48
=3,410;
p=0,071). A análise posterior referente a esta interação evidenciou que os TR foram
maiores para o GD do que para o GC tanto no caso da atenção automática (p<0,001)
quanto no caso da atenção voluntária (p<0,001). Enquanto os TR da atenção voluntária não
diferiram dos TR da atenção automática para o GC (p=0,20), os TR da atenção voluntária
foram menores do que os TR da atenção automática para o GD (p<0,001).
Houve interação entre os fatores grupo, tipo de atenção e tipo de estímulo
precedente (F
2,96
=7,456; p<0,001). A análise posterior referente a esta interação mostrou
que, no caso da atenção automática, os TR foram maiores para o GD do que para o GC nas
condições mesma (p<0,001), bilateral (p<0,001) e oposta (p<0,001). No caso da atenção
voluntária, os TR não diferiram entre os dois grupos na condição válida (p=0,249), mas
foram maiores para o GD do que para o GC nas condições neutra (p<0,001) e inválida
(p<0,001). A tabela 3 e a figura 7 sumarizam e ilustram esses resultados.
Tabela 3. Médias (± e.p.m) em milissegundos dos tempos de reação de cada grupo nas três
condições nos dois testes.
Grupos
Atenção Automática Atenção Voluntária
Mesma Oposta Bilateral Válida Inválida Neutra
Controle
312 (±12) 369 (±10)
328 (±9) 316 (±9) 334 (±9) 327 (±9)
Duchenne
371 (±18) 431 (±15)
389 (±15) 325 (±13) 406 (±18)
362 (±14)
0
250
300
350
400
450
500
*
*
*
Controle Duchenne
Válida
Neutra
Inválida
Mesma
Bilateral
Oposta
Controle Duchenne
Tempo de Reão (ms)
Atenção automática Atenção voluntária
Figura 7. Média (±e.p.m) dos tempos de reação, dos grupos Controle e Duchenne, nas condições
mesma, neutra e oposta no teste de atenção automática (barras à esquerda); e condições válida,
neutra e inválida no teste de atenção voluntária (barras à direita). * p<0,001.
Foi feita uma análise de variância adicional dos TR considerando-se como quarto
fator a mão utilizada para responder ao estímulo alvo. Nesta análise, diferentemente das
anteriores, considerou-se a média dos TR em cada condição e não a mediana em virtude do
número relativamente pequeno e desigual de TR para cada condição (veja Miller, 1988).
Nenhuma diferença significativa foi encontrada envolvendo o fator mão. Os demais
resultados desta análise replicaram os resultados obtidos com as análises utilizando
medianas dos TR.
4.2. Benefício e Custo
O benefício e o custo da orientação da atenção automática e da atenção voluntária
foram calculados respectivamente subtraindo-se o TR na condição mesma/válida do TR na
condição bilateral/neutra e o TR na condição bilateral/neutra do TR na condição oposta/
inválida. Os dados assim obtidos foram submetidos a uma análise de variância para
medidas repetidas, tendo como fatores o grupo (GC e GD), o tipo de atenção (automática e
voluntária) e o tipo de efeito (custo/benefício).
Esta análise revelou um efeito principal para os fatores grupo (F
1,48
= 21,786;
p<0,001) e tipo de efeito (F
1,48
= 7,186; p=0,010), mas não para o fator tipo da atenção
(p=0,322). O GD apresentou um efeito atencional (benefício mais custo) maior do que o
GC. O custo foi maior do que o benefício.
Houve interação entre os fatores grupo e tipo de atenção (F
1,48
=10,818; p=0,002) e
entre os fatores tipo de atenção e tipo de efeito (F
1,48
=4,401; p=0,041).
A análise posterior referente à primeira interação acima evidenciou que o efeito
atencional não diferiu entre os dois grupos no caso da atenção automática (p=0,846), mas
foi maior no GD do que no GC no caso da atenção voluntária (p<0,001). O efeito
atencional foi menor para a atenção voluntária do que para a atenção automática no caso
do GC (p=0,004), mas não diferiu entre estes dois tipos de atenção, no caso do GD
(p=0,112).
A análise posterior referente à segunda interação revelou que na atenção
automática, o benefício foi menor do que o custo para ambos os grupos (p=0,014),
enquanto na atenção voluntária não houve diferença entre benefício e custo da pista
(p=0,842). O custo foi menor na atenção voluntária do que na atenção automática
(p=0,042), mas o benefício não diferiu entre os dois tipos de atenção (p=0,382).
A tabela 4 e a figura 8 sumarizam e ilustram esses resultados.
Tabela 4. Médias e.p.m) em milissegundos dos efeitos de benefício e de custo dos
grupos Controle e Duchenne nos testes de atenção automática e atenção voluntária.
Grupos
Automática Voluntária
Benefício Custo Benefício Custo
Controle
16 (± 5) 41 (± 4) 11 (± 7) 7 (± 4)
Duchenne
18 (±6) 42 (±6) 37 (±5) 44 (±12)
0
20
40
60
80
*
*
Controle Duchenne
Benefício
Custo
Controle Duchenne
Benefício e Custo (ms)
Atenção Automática Atenção Volunria
Figura 8. Média (±e.p.m) dos efeitos de benefício e custo em milissegundos da pista sobre o alvo
para os grupos Controle e Duchenne nos testes de atenção automática (barras à esquerda) e de
atenção voluntária (barras à direita). * p < 0,01.
Foi feita uma análise de variância adicional do benefício e custo considerando-se
como quarto fator a mão utilizada para responder ao estímulo alvo. Nesta análise,
novamente, considerou-se a média dos TR em cada condição e não a mediana em virtude
do número relativamente pequeno e desigual de TR para cada condição (veja Miller,
1988). Nenhuma diferença significativa foi encontrada envolvendo o fator mão. Os demais
resultados desta análise replicaram os resultados obtidos com as análises utilizando
medianas dos TR.
4.3. Acurácia
Não foram observadas diferenças entre o número de erros de antecipação dos
grupos GC e GD no teste de atenção automática (3,0 ± 0,69 e 2,96 ± 0,79 erros, p>0,10,
respectivamente) e no teste de atenção voluntária (4,08 ± 0,56 e 5,28 ± 0,92 erros, p>0,10,
respectivamente). O mesmo aconteceu para os erros de omissão no teste de atenção
automática (0,12 ±0,07, 0,16 ±0,07 e 0,28 ± 0,09 para o GC e 0,08 ± 0,06, 0,16 ± 0,07 e
0,56 ± 0,21, para o grupo GD, respectivamente nas condições mesma, oposta e bilateral,
p>0,10) e no teste de atenção voluntária (0,72 ± 0,27, 0,16 ± 0,07 e 0,12 ± 0,07, para o
grupo GC e 0,76 ± 0,28, 0,44 ± 0,17 e 0,16 ± 0,07, para o grupo GD, respectivamente nas
condições válida, inválida e neutra, p>0,10).
Houve, no entanto, diferença entre o número de erros de inversão na condição
inválida no teste de atenção voluntária entre os grupos GC e GD (respectivamente 0,36 ±
0,15 e 1,72 ± 0,34, p<0,001). Nas demais condições não houve diferença significativa entre
os dois grupos, tanto no teste de atenção automática (0,72 ± 0,26, 2,68 ± 0,38 e 1,28 ± 0,31
para o grupo CG e 0,68 ± 0,22, 2,84 ± 0,39 e 0,96 ± 0,19 para o GD, respectivamente nas
condições mesma, oposta e bilateral) como no teste de atenção voluntária (0,84 ± 0,21 e
0,60 ± 0,15 para o grupo GC e 1,24 ± 0,31 e 0,32 ± 0,14 para o grupo GD, respectivamente
nas condições válida e neutra). A figura 9 ilustra esses resultados.
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
*
Válida
Neutra
Inválida
Controle Duchenne
Média de Erros
Erros de Inversão
Figura 9. Número total de erros de inversão nas condições válida, neutra e inválida dos grupos
Controle e Duchenne no teste de atenção voluntária; * p < 0,001.
4.4. Correlação entre a idade e o efeito atencional nos meninos com DMD.
Foi ainda realizada uma análise de correlação entre o efeito atencional (diferença
entre os TR nas condições oposta/inválida e mesma/válida) tanto automático como
voluntário e a idade dos meninos com DMD, de forma a verificar a evolução do
comportamento atencional em relação à idade. Para isso foi utilizado o teste de correlação
de Pearson, sendo adotado nível de significância de p<0,05.
Não foi observada uma correlação significativa entre o efeito atencional no teste de
atenção automática e a idade dos pacientes, com índice de correlação r= 0,27, p>0,05
(veja figura 10).
10 11 12 13 14 15 16
-60
-30
0
30
60
90
120
150
180
210
Efeito Atencional Automático (ms)
Idade (anos)
Voluntários
Ajuste Linear
Figura 10. Correlação entre o efeito atencional automático e a idade para os meninos com DMD.
p>0,05.
o efeito atencional no teste de atenção voluntária apresentou uma correlação
negativa com a idade dos pacientes, evidenciando uma diminuição do efeito atencional
com o aumento da idade (índice de correlação r= -0,40, p<0,05). Apesar do “p”
significativo, este apenas determina que uma correlação entre os fatores que, no caso,
foi negativa. Em análises de correlação, porém, o “r” é mais importante ppois é ele que
determina a força da correlação, e -0,40 representa uma correlação apenas moderada.
Assim, podemos interpretar este dado como uma tendência dos meninos mais velhos com
DMD apresentarem um efeito atencional menor, aproximando-se dos dados apresentados
pelo GC, e sugerindo uma melhora dos distúrbios atencionais com a idade. A figura 11
ilustra esses dados.
10 11 12 13 14 15 16
-30
0
30
60
90
120
150
180
210
240
Efeito atencional volunrio (ms)
Idade (anos)
Voluntários
Ajuste linear
Figura 11. Correlação entre o efeito atencional voluntário e a idade para os meninos com DMD.
p< 0,05.
5. DISCUSSÃO
Pudemos observar em nossos resultados que o tempo de reação (TR) do grupo de
meninos com DMD (GD) foi constantemente maior que o grupo controle (GC) tanto no
teste de atenção automática como no teste de atenção voluntária, porém o efeito atencional
(benefício mais custo) diferiu do GC no teste de atenção voluntária. Além disso, o GD
apresentou TR menores no teste de atenção voluntária em relação ao teste de atenção
automática; o que não aconteceu com o GC.
Assim, não foram encontrados efeitos atencionais menores no GD nos testes como
havíamos previsto em nossa hipótese inicial. Porém, nossos dados sugerem que os
pacientes com Distrofia Muscular de Duchenne apresentam alteração no controle da
alocação dos recursos atencionais, mais evidenciada no teste de atenção voluntária.
5.1. Atenção automática
No teste de atenção automática, o aumento dos TR com preservação do efeito
atencional dos meninos com Duchenne em relação ao GC parece ser decorrente da falta de
preparação motora adequada para a resposta ao alvo em um intervalo curto, de 100 ms.
Poderíamos pensar inicialmente que a lentificação decorreria apenas do retardo na
execução do ato motor de pressionar as teclas, visto que na DMD o órgão efetor está
comprovadamente comprometido. Ou ainda, conforme sugerimos na introdução, os TR
poderiam ser mais altos devido a um prejuízo na percepção visual, que pouco se sabe
sobre as alterações na acuidade visual que a falta de distrofina provoca.
Contudo, ao analisarmos os TR na atenção voluntária, quando é possível uma
melhor preparação motora (visto que um intervalo longo, de 1000 ms) temos os TR
iguais na condição válida nos dois grupos. Assim, parece haver um prejuízo na preparação
motora para a resposta nos meninos com DMD, sendo necessário um tempo maior para
que eles consigam reagir de forma mais similar à dos sujeitos saudáveis. Visto que o efeito
atencional na atenção automática foi idêntico para os dois grupos (benefício e custo
iguais), a atenção espacial automática não estaria alterada nos meninos com DMD, mas os
dados sugerem que poderia haver um distúrbio no que chamamos de atenção temporal.
A atenção temporal pode ser entendida como o preparo para perceber estímulos
e/ou executar respostas em um momento particular. As expectativas sobre quando um
evento deve ocorrer, analogamente às expectativas de onde o evento deve ocorrer, pode ser
utilizado para otimizar as respostas comportamentais (Coull & Nobre, 1998). As autoras
encontraram uma rede comum em regiões frontoparietais tanto para a atenção espacial
como temporal, porém, com lateralizações opostas (Coull e Nobre, 1998). Coull e col.
(2000), registrando o potencial relacionado ao evento (PRE), mostraram ainda que em
tarefas de baixa demanda perceptual, como em testes de detecção, a atenção temporal
influencia basicamente os processos motores e não os processos perceptuais. Assim,
haveria uma íntima relação entre a atenção temporal e o processamento motor para a
resposta, com a atenção temporal facilitando a preparação motora (Coull et al., 2000).
Em nosso trabalho os testes utilizados foram de baixa demanda perceptual
(detecção, com discriminação apenas de local, mas não de forma), e também em ambos os
testes utilizamos apenas um intervalo entre os estímulos, sendo de 100 ms no teste de
atenção automática e de 1000 ms no teste de atenção voluntária. Isto sugere que haja um
forte componente de atenção temporal, ou seja, que haja um forte peso das pistas temporais
para a programação das respostas ao alvo, que a previsibilidade é máxima por haver
apenas um intervalo em cada teste.
Assim, no teste de atenção automática, o curto intervalo foi insuficiente para o
grupo GD obter uma preparação motora adequada, gerando uma lentificação nas respostas
nas três condições quando comparadas às respostas do GC. no teste de atenção
voluntária, no qual há intervalo longo entre os estímulos, apesar dos TR ainda mais altos, o
GD conseguiu atingir um desempenho ótimo na condição válida, na qual os TR são iguais
para os dois grupos. A facilitação dada pela informação temporal no teste de atenção
voluntária para meninos com DMD fica mais evidente quando observamos a diminuição
estatisticamente significante do TR do GD na condição bilateral no teste de atenção
automática (389 ms) para a condição neutra no teste de atenção voluntária (362 ms).
para o GC, quando comparamos as mesmas situações, observamos que os TR se
mantiveram iguais nas condições neutras dos dois testes (328 ms no teste de atenção
automática e 327 ms no teste de atenção voluntária). Hackley e Valle-Inclán (2003)
relatam que alterações no TR causadas por uma pista neutra (informação apenas temporal,
visto que não informação espacial) se devem principalmente por um efeito não-
específico no sistema motor, atuando em estágios precoces de seleção de resposta. Esses
dados são ainda fortalecidos por trabalho recente, que evidenciou, por meio do potencial
relacionado ao evento, que a atenção temporal influencia muito claramente os processos
decisionais em tarefas de TR, e tem pouca atuação nos estágios mais precoces, de
percepção do estímulo (Hackley et al, 2007).
Isto esugere que os meninos com Duchenne apresentam um comprometimento no
uso da pista temporal como facilitadora da preparação motora. Enquanto o GC consegue
utilizar a pista temporal preditiva de 100 ms, o grupo GD consegue obter a facilitação para
a resposta mais rápida ao alvo apenas quando a duração da pista é maior, no caso, 1000 ms.
Assim, enquanto o processamento perceptual da pista espacial automática está preservado
nos meninos com DMD, evidenciado pelo efeito similar com o GC do benefício e do custo
da pista periférica, o processamento da pista temporal se mostra alterado. Isto gera uma
lentificação na reposta pelo comprometimento da preparação motora à resposta ao alvo,
levando ao aumento dos TR no teste de atenção automática.
Perchet & Garcia-Larrea (2005) descrevem haver uma lentificação das respostas em
crianças saudáveis quando comparadas com adultos que, pelos exames de PRE, está
relacionada ao período entre a pista e o alvo, associado aos processos antecipatórios/
preparatórios à resposta. Os autores excluem que a lentificação seja devida à atenção
espacial ou à identificação dos estímulos. Assim, isso seria o resultado da falha no
desenvolvimento de estratégias antecipatórias às respostas a serem executadas. Estes dados
vão de encontro com os nossos, pois parece que os meninos com DMD apresentam esse
mesmo padrão de alterado no desenvolvimento destas estratégias antecipatórias, sendo que,
ao compará-los com sujeitos da mesma faixa etária, sugere que seria decorrente de um
atraso na aquisição deste controle. Como em nosso trabalho foram realizados dois testes
com características temporais distintas, pudemos observar que a presença de mais
condições informativas de tempo permite um melhor desempenho preparatório, algo que
no trabalho de Perchet & Garcia-Larrea (2005) não era possível observar. Assim, nossos
dados sugerem que os meninos com DMD apresentam um comprometimento na
capacidade de se prepararem adequadamente para responder a estímulos, como crianças
mais novas, porém principalmente quando a pista temporal é curta, com melhora
significativa deste padrão ao obterem mais condições temporais para responderem.
Além da possibilidade de haver um prejuízo na atenção temporal, outra
possibilidade é a de que haja um atraso na maturação do sistema atencional, que uma
diminuição nos TR em tarefas atencionais é diretamente proporcional ao aumento da idade
na infância e na adolescência. Assim, crianças mais novas têm TR maiores que crianças
mais velhas e que adolescentes, com a maturação cortical (em especial do córtex cingulado
direito) levando a uma maior eficiência para realizar uma tarefa de atenção (Casey et al,
1997). Temos, então, que os TR aumentados nos meninos com DMD podem expressar um
prejuízo na atenção temporal ou um atraso em todo o sistema atencional. O
comprometimento motor da doença, porém, dificulta a certeza em relação a este ponto.
Testes futuros que excluam componentes motores pra resposta poderão elucidar mais
precisamente estes achados.
Poderíamos, por fim, pensar ainda que a lentificação maior observada neste teste
em relação ao teste de atenção voluntária deva-se ao comprometimento perceptual gerado
pela alteração sensorial causada pela falta de distrofina nos fotorreceptores da retina
(Schimtz and Drenckhahn, 1997), que poderia interferir na velocidade de processamento
dos estímulos. No caso, o estímulo precedente muito rápido no teste de atenção automática
(100 ms) poderia não ser processado adequadamente como o é no caso do teste de atenção
voluntária, na presença de maior tempo de permanência do E1 na tela (1000 ms). Porém,
caso isso fosse verdade, o que observaríamos seria uma alteração (ou até a ausência) de
efeito do estímulo precedente sobre o estímulo alvo (efeito atencional) no teste de atenção
automática, o que não foi o caso. O efeito atencional automático foi bastante robusto e
muito similar ao apresentado pelo GC. Ou seja, o estímulo precedente foi processado
facilitando adequadamente o processamento do alvo. E caso 100 ms fosse um tempo curto
para permitir a percepção visual na ausência de distrofina, os alvos de ambos os testes
também não seriam percebidos, que eles m a mesma duração, o que levaria a um
número de erros extremamente alto, principalmente de omissão, o que também não
ocorreu. Assim, mesmo a sugestão inicial de que a falta de distrofina na retina poderia
interferir na velocidade de processamento do alvo elevando os TR, poderia ser refutada.
Isto porque além do estímulo precedente ter sido processado (evidenciado pelo efeito
atencional automático robusto), na condição válida do teste de atenção voluntária, o TR do
GD foi extremamente baixo, igual ao do GC. Estes dados reforçam a idéia do papel das
alterações atencionais sobre os TR aumentados dos meninos com DMD.
Além disso, dados recentes parecem sugerir que o tempo de resposta motora a
estímulos supralimiares, como é o nosso caso, não difere entre meninos com DMD e
saudáveis. Em uma tarefa de detecção com TR simples, os TR foram similares entre os
grupos (Zachi, 2008). Isto sugere que realmente haja alguma alteração de processamento
envolvendo as demandas atencionais na DMD, e que isto é que estaria levando aos TR
significativamente mais altos.
5.2. Atenção voluntária
Com relação ao teste de atenção voluntária, enquanto o GC apresentou um efeito
atencional muito pequeno, o GD apresentou um efeito atencional enorme, evidenciado pelo
custo e benefício extremamente altos e significativamente maiores que o GC. Nós
acreditamos que o motivo desta grande diferença de efeitos entre os grupos segue um
padrão de maturação atrasado do sistema atencional. Perche e Garcia-Larrea (2005)
evidenciaram numa tarefa de atenção voluntária um efeito muito maior em um grupo de
crianças de faixa etária menor do que a envolvida neste trabalho (6 a 9 anos) quando
comparado a um grupo adulto jovem. Suportados também pelos exames de PRE, os
autores sugerem que as crianças confiam mais na informação espacial dada pela pista para
realizar a preparação de uma resposta. Isto significaria que as crianças apresentariam uma
menor capacidade de manter uma alocação atencional em todo o campo visual; algo que
um adulto realiza de forma eficiente, mesmo com um dos hemicampos tendo uma carga
atencional determinada pelo estímulo. Alguns trabalhos, inclusive, revelaram haver uma
mudança no padrão de reorientação e realocação da atenção entre 10-12 anos, quando já se
assume um padrão similar ao dos adultos. Os autores relatam que mudanças no
desenvolvimento sugerem maturação do sistema sensorial e/ou do processamento
atencional, sendo que a alocação da atenção muda não quantitativa, mas
qualitativamente (Wetzel et al., 2006, Wetzel e Schröger, 2007).
Podemos transportar esta idéia para os nossos grupos de voluntários com média de
idade na adolescência (12 anos). O GC se comportaria como o esperado, de maneira
similar à dos adultos, confiando menos na informação espacial da pista, enquanto os
meninos com DMD ainda estariam atrasados no desenvolvimento das capacidades
atencionais, demonstrando um comportamento similar ao de crianças menores do que nove
anos (Perche e Garcia-Larrea, 2005).
foi também observado em trabalhos anteriores um característico atraso no
desenvolvimento de funções cognitivas (Billard et al, 1998, Cyrulnik et al, 2008) e no
comportamento social (Hinton et al, 2006) dos meninos com DMD. A imaturidade do
sistema atencional então seguiria este mesmo padrão. Sollee e colaboradores (1985)
relatam um comprometimento atencional mais evidente em crianças mais jovens (com
média de idade de 7 anos e 8 meses), quando comparadas com meninos com média de 13
anos e 3 meses. Os autores sugerem duas possibilidades para esta mudança no padrão das
habilidades atencionais. Para eles, isso poderia decorrer de um fator sócio-ambiental, no
qual crianças mais velhas, cadeirantes, teriam mais condições de explorar e atender ao
ambiente que não haveria mais necessidade de grande gasto de energia para controle do
equilíbrio durante a marcha; ou ainda, a outra possibilidade seria justamente o processo de
maturação dos sistemas fronto-parietais de controle da atenção (Sollee et al, 1985). Nós
verificamos uma correlação inversamente proporcional entre idade dos meninos com DMD
e o efeito atencional voluntário, evidenciando que uma diminuição do efeito atencional
com a maior maturidade dos pacientes. Isso favorece ainda mais a idéia de um atraso na
maturação do sistema atencional, sendo que com a idade, os meninos com DMD vão
adquirindo um maior controle atencional, mais similar àquele apresentado por adultos
jovens, e já evidente em crianças saudáveis com média de 12 anos de idade.
A imaturidade do sistema atencional voluntário pode ainda ser suportada pelo papel
da distrofina e de suas isoformas truncadas no processo de maturação do SNC. Trabalhos
que avaliaram a expressão da distrofina completa durante a embriogênese relatam que o
aumento dramático da proteína presente em astrócitos e neurônios antes da décima quinta
semana de gestação, a sua ausência em células gliais, e sua associação com a densidade
pós-sináptica neuronal suportam a idéia de que a distrofina esteja envolvida com o
processo de sinaptogênese e/ou de maturação das sinapses neuronais (Kim et al., 1992;
Sogos et al, 2002), mais especificamente na maturação ou estabilização das sinapses
GABAérgicas durante a embriogênese (Sekiguchi, 2005). Visto que os meninos que
participaram do nosso estudo não apresentam comprometimento intelectual severo, uma
alteração apenas a nível sináptico poderia favorecer a idéia de que a ausência de distrofina
no desenvolvimento do SNC levaria ao atraso na aquisição do controle atencional.
Temos assim que o GD quando apenas orienta a atenção de maneira automática,
sem a necessidade de um julgamento referente à probabilidade de ocorrência, apresenta um
controle da atenção espacial adequado, similar ao do GC. Já quando há o envolvimento das
funções executivas para a alocação da atenção, os meninos com DMD demonstraram
comprometimento no gerenciamento dos recursos atencionais, interferindo na eficiência da
alocação voluntária da atenção.
Resultados muito similares aos nossos foram também encontrados por Wilson e
colaboradores (1997) ao avaliarem crianças com Desordem do Desenvolvimento de
Coordenação (DDC) comparadas a crianças saudáveis. Crianças com DDC apresentaram
TR nas condições mesma e oposta maiores que o GC, mas com efeito atencional similar;
na tarefa de atenção voluntária com pista simbólica central encontraram TR na condição
válida igual entre os grupos, porém com TR na condição inválida maior no grupo DDC, o
que gerou um efeito atencional muito maior neste grupo. Não foram utilizadas pistas
neutras nos testes, o que levou à argumentação de que o aumento do TR apenas na
condição inválida seria decorrente de um comprometimento exclusivamente no processo
inibitório, de desengajamento, da atenção endógena, enquanto a orientação exógena da
atenção se encontrava preservada. Esta análise pode estar apenas parcialmente correta, pois
como foi visto em nosso trabalho, com a introdução da pista neutra, todo o processo
atencional poderia estar comprometido. Em nosso trabalho, os dados demonstraram que o
efeito atencional está aumentado tanto por um custo, como também por um benefício
maior, evidenciando que não é o processo inibitório que se encontra alterado, mas
também uma exacerbação dos processos facilitatórios, gerando assim uma confiança
excessiva na pista simbólica por um processo de imaturidade do controle do sistema
atencional voluntário.
Posteriormente foi verificado em tarefa diferente de atenção visual que esse
processo de desengajamento lentificado em crianças com DDC é similar ao apresentado
por crianças muito mais novas com desenvolvimento típico. No caso, o grupo com DDC
cuja idade era de sete anos apresentava um padrão de performance na atenção visual
similar ao de crianças de 3 e 4 anos de idade (Wilmut, Brown & Wann, 2007). Isto sugere
que um atraso na maturação do sistema atencional geraria padrões alterados de alocação
voluntária da atenção, expressa pelo aumento do efeito atencional, evidenciado em
crianças com DDC e agora, em crianças com DMD.
Podemos observar então que, na atenção voluntária, os meninos com DMD
apresentam um comprometimento da atenção visuoespacial, enquanto a atenção temporal
parece estar intacta devido ao maior tempo de processamento da pista e conseqüente
preparação motora.
Com relação à acurácia, não encontramos trabalhos com crianças que fizeram
análise de erros de inversão, visto que o teste era em geral de TR de escolha simples, com a
resposta dada com apenas uma das mãos, independentemente do local de aparecimento do
alvo. Mas diversos trabalhos com crianças diagnosticadas com TDAH descrevem um
número maior de erros de antecipação quando comparadas com crianças saudáveis, assim
como alguns trabalhos também encontraram um maior número de erros de omissão (para
revisão, veja Huang-Pollock & Nigg, 2003). Wetzel e Schröger (2007) descrevem que
crianças saudáveis mais jovens (6-8 anos) apresentam mais erros nos testes do que crianças
mais velhas (10 a 12 anos) e adolescentes (não especificado tipo de erro). Estes dados
parecem favorecer a idéia de imaturidade do sistema atencional nos meninos com DMD,
que, como as crianças mais novas, também apresentaram mais erros, sendo que no nosso
caso, foram erros de inversão.
Observamos ainda que apesar do GC ter apresentado TRs na condição válida
menores que na condição inválida, essa diferença não foi significativa. Geralmente este
teste gera um efeito atencional robusto, mesmo em adultos, e acreditamos que isto pode ser
devido à baixa taxa de validade da pista no teste utilizado. Resolvemos utilizar uma taxa
menor do que a descrita na literatura para que pudéssemos ter um número significativo de
tentativas nas três condições, mesmo na presença de um número alto de erros (ambos os
grupos apresentaram muitos voluntários com mais de 10% de erros). Optamos por manter
um número baixo de tentativas no teste (120 tentativas no total) para evitar que o teste
ficasse extremamente longo e cansativo, evitando a falta de motivação e a fadiga muscular
nos meninos com DMD. Porém, para possuirmos um número adequado de tentativas
corretas nas três condições, formulamos o teste com 60% de tentativas válidas, 20% de
tentativas neutras e 20% de tentativas inválidas. Excluindo-se as tentativas neutras, ainda
mantivemos 75% das tentativas válidas e apenas 25% das tentativas inválidas, o que segue
a validade da pista nos trabalhos sem presença da condição neutra. Contudo, esta relação
talvez não tenha sido suficiente para o GC confiar e seguir totalmente a orientação da
atenção à pista central; o GD, mesmo com esta menor validade, adotou uma estratégia
de seguir fortemente a orientação da pista, ao ponto de obter um benefício quase quatro
vezes maior, porém ao custo de um prejuízo também enorme (mais de seis vezes maior que
o GC). Outros autores também fizeram uso de proporcionalidade menor quando na
presença de pistas neutras ao avaliarem pacientes (Pollux e Robertson, 2001).
Outra possibilidade que poderia ser pensada para a ausência de efeito atencional
voluntário significativo do GC, inversa a esta apresentada anteriormente, seria uma
dificuldade de adolescentes e pré-adolescentes saudáveis em controlarem a atenção
voluntária, deixando-a menos eficiente. Esta idéia parece menos aceitável visto que alguns
trabalhos demonstraram que crianças saudáveis com idade entre 6 e 9 anos apresentam
um efeito atencional significativo (Perchet e García-Larrea, 2000, 2005).
Assim, comparando os dois grupos, podemos observar que os pacientes com DMD
apresentam uma função atencional alterada. Na presença de estímulos exógenos, um
comprometimento da preparação motora dada pela alteração do processamento temporal da
pista, enquanto a orientação espacial da atenção se encontra preservada. Já na presença de
estímulos endógenos, a atenção temporal está adequada, visto que mais tempo para
preparação à resposta ao alvo. Por outro lado a orientação espacial voluntária se mostra
alterada, evidenciada pelo custo e benefício maiores no GD do que no GC, sugestivos de
uma imaturidade do sistema atencional.
5.3. Possíveis bases neurais das alterações atencionais observadas
Para entendermos melhor os processos envolvidos na alteração atencional dos
meninos com DMD, podemos tentar correlacionar as alterações evidenciadas no SNC
nesta patologia com os circuitos envolvidos no processo atencional de indivíduos
saudáveis. As áreas descritas como ativas durante a orientação espacial da atenção são
principalmente o córtex parietal posterior, ao redor do sulco intraparietal, o campo ocular
frontal, lateral e medialmente ao rtex pré-motor, o giro cingulado, o tálamo e o colículo
superior (Corbetta et al., 1993; Rosen et al., 1999; Kanwisher e Wojciulik, 2000; Corbetta
e Shulman, 2002; Kincade et al., 2005). Além destas, o cerebelo tem sido descrito como
tendo forte relação com as funções cognitivas além da função motora, com uma especial
atuação sobre a função atencional (Daum et al., 1993; Allen et al., 1997; Townsend et al.,
1999; Gottwald et al., 2003; Schoch et al., 2004).
Especificamente com relação às formas de orientação espacial da atenção avaliadas
neste trabalho, Kincade et al. (2005) descrevem que existiriam algumas diferenças entre as
áreas ativas durante a alocação voluntária e a alocação involuntária da atenção. A
orientação voluntária da atenção produz uma maior ativação preparatória em áreas como
o campo ocular frontal (COF, na junção dos sulcos frontal superior e pré-central) e o sulco
intraparietal, regiões estas centrais para o controle do que eles denominam de rede fronto-
parietal dorsal. a junção têmporo-parietal, pertencente à chamada rede fronto-parietal
ventral, juntamente com áreas occipitais e mesmo o COF da rede fronto-parietal dorsal,
parecem estar mais ativas durante a orientação exógena da atenção espacial. Kim e
colaboradores (1999) descrevem que diversas áreas são ativadas nos dois tipos de tarefa,
porém a magnitude da ativação é maior na tarefa de orientação voluntária da atenção.
a atenção temporal envolve muitas áreas similares à atenção espacial, mas duas
áreas estão mais ativas na atenção temporal: o sulco intraparietal esquerdo e o cerebelo
esquerdo. O córtex pré-motor ventral esquerdo, na região genérica da área de Broca,
também está ativo durante tarefa de atenção temporal (Coull e Nobre, 1998)
Poderíamos pensar, então, numa relação possível entre algumas destas áreas,
responsáveis pela geração de sinais atencionais, e os achados anatômicos e funcionais
relacionados à concentração de distrofina no SNC saudável, e sua ausência em ratos mdx
(Kamakura et al., 1994, Lidov et al., 1993) e em meninos com DMD (Uchino et al., 1996;
para resumo, veja Anderson et al., 2002). Lidov et al. (1990) descrevem que a distrofina é
abundante especialmente nos córtices cerebral e cerebelar, localizada na densidade da
membrana pós-sináptica. Estudos com PET descrevem áreas específicas com
hipometabolismo em meninos com DMD. Bresolin e colaboradores (1994) encontraram
padrão variado de redução metábolica entre os pacientes estudados (estudos de casos
isolados), com o cortex cerebelar bilateral e áreas de todas as regiões do córtex cerebral
apresentando algum acometimento. Já trabalho mais controlado descreve que as áreas
funcionalmente alteradas na DMD seriam as estruturas médio-temporais, córtex temporal-
lateral direito, córtex sensoriomotor e cerebelo bilateral (Lee et al, 2002). Ambos os
trabalhos sugerem que o cerebelo e as áreas corticais temporais poderiam estar
relacionados ao comprometimento cognitivo, intelectual e comportamental evidenciados
pelos pacientes. As alterações cerebelares, inclusive, parecem ter papel ainda mais
relevante sobre os déficits cognitivos na DMD, seja pela sua própria função, ou pelas
relações que estabelece com outras regiões corticais, principalmente frontais (Cyrulnik &
Hinton, 2008).
Com estes dados anátomo-funcionais, podemos fazer uma analogia com as
alterações evidenciadas nos pacientes com DMD. Apesar de pouco se saber sobre as áreas
possivelmente comprometidas na doença, algumas regiões como os córtices frontal,
temporal e o cerebelo que estão hipofuncionantes na DMD são importantes na rede neural
ligada à atenção tanto espacial como temporal. No caso, estas áreas poderiam apresentar
um atraso no processo de maturação devido à falta de distrofina levando ao
comprometimento da sua atuação no controle atencional (Felisari et al., 2000).
Como as alterações não foram observadas no teste de atenção automática, o atraso
na maturação do SNC parece estar mais relacionado com as áreas responsáveis pelo
controle voluntário da atenção. Diversos trabalhos sugerem que o córtex pré-frontal é
determinante pro controle endógeno da atenção (Rosen et al, 1999; Corbetta & Shulman,
2002; Kincade et al, 2005), cuja maturação se completa por volta dos 18 anos (Gómez-
Pèrez et al, 2003; Kanemura et al, 2003; Tsujimoto, 2008) e, segundo Lidov et al. (2000), o
cortex frontal é justamente uma área rica em distrofina nos cérebros saudáveis. Esse parece
ser mais um dado sugestivo do papel que a deficiência de distrofina teria sobre o
desenvolvimento cerebral e sua relação com o déficit cognitivo na DMD.
Coull e Nobre (1998) descrevem haver uma assimetria entre as formas de
orientação da atenção. Enquanto a orientação temporal ativa áreas preferencialmente do
hemisfério esquerdo, a atenção espacial apresenta uma lateralização com ativação
preferencial do hemisfério direito. A atenção espacial teria maior foco no hemisfério
direito, sendo que o hemisfério esquerdo direcionaria atenção predominantemente para o
hemicampo direito, enquanto o hemisfério direito é ativado na orientação da atenção para
os dois lados do espaço (Kim et al., 1999). Apesar de ter sido verificado que crianças com
DMD apresentam uma ausência de assimetria/especialização hemisférica no repouso,
durante a realização de tarefas elas evidenciaram uma ativação cortical assimétrica como
esperada (Chiron et al, 1999). Nós também não encontramos diferenças na assimetria
atencional nos meninos com DMD, nem durante o teste de atenção automática nem no
teste de atenção voluntária, o que poderia sugerir que as alterações encontradas são mais
globais, comprometendo a funcionalidade de ambos os hemisférios igualmente, e
mantendo as assimetrias fisiológicas da atenção (Mesulam, 1999; Castro-Barros et al,
2008).
5.4. Alterações atencionais e suas implicações na vida diária dos portadores de
DMD.
Problemas atencionais têm sido clinicamente descritos dentro do diagnóstico de
Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH). Na DMD, apenas recentemente
esta desordem psiquiátrica começou a ser investigada. Hendriksen & Vles (2008)
descreveram que, dentre os 351 meninos investigados através de questionário com os pais,
11,7% apresentam diagnóstico médico de TDAH. Steele e colaboradores (2008)
avaliaram diretamente a saúde mental de 10 meninos com DMD, sendo que metade deles
foi então diagnosticado como possuindo TDAH. A incidência encontrada, ainda que em
dados preliminares, é ainda mais alarmante. Como o trabalho de Hendriksen & Vles (2008)
foi feito por meio de questionário, a avaliação indireta permite que haja dados
subestimados, além de haver critérios diagnósticos variados, como colocado pelos próprios
autores. De qualquer modo, ambos os trabalhos apontam uma incidência muito maior do
que a descrita para crianças em idade escolar (Schneider & Eisenberg, 2006).
A TDAH é o distúrbio de maior impacto emocional, cognitivo e comportamental
tratado na infância (Spencer, Biederman & Mick, 2007), além de afetar também os
componentes social e motor da criança (Poeta & Rosa-Neto, 2007), possuindo um custo
social significativamente alto e associado a um prejuízo importante na qualidade de vida
das crianças (Hakkaart-van Roijen et al., 2007). Esta doença já foi amplamente estudada
através dos testes de Posner de atenção encoberta visuoespacial (para revisão, veja Huang-
Pollock & Nigg, 2003) e, apesar da associação entre a DMD e a TDAH ainda ser pouco
investigada, nossos dados contribuem para a idéia de haver um comprometimento
significativo da atenção visuoespacial nos pacientes com DMD, cujo impacto social deve
ser considerado.
O impacto funcional do comprometimento cognitivo na DMD também tem sido
explorado. Hendriksen & Vles (2006) observaram sério comprometimento do
processamento seqüencial de informações entre os pacientes de 8 a 12 anos, sendo que
40% deles apresentou déficit de leitura, com um coeficiente de 70% (índice muito baixo,
indicativo de sérios problemas de leitura), sugerindo um alto risco de distúrbios de leitura
nesta população. Marini e colabradores (2007) encontraram correlação positiva entre o
comprometimento em alguns componentes de produção narrativa e déficits de atenção
visuoespacial e de memória operacional. Os autores sugerem que a quantidade e a
qualidade das descrições narrativas poderiam estar prejudicadas pelo comprometimento da
acurácia na inspeção visual (Marini et al, 2007). Billard e col. (1998) não avaliaram
diretamente a atenção, mas sugerem que o déficit no processamento fonológico observado
por eles poderia ser decorrente de uma alteração atencional. Os autores encontraram
comprometimento significativo nos componentes de leitura nos pacientes com DMD,
sugerindo quadro similar à dislexia disfonética (Billard et al., 1998).
Assim, mesmo em pacientes cuja inteligência estaria normal, uma dificuldade de
leitura e comprometimento no aprendizado declarativo poderia estar presente em grande
parte dos meninos com DMD (Hinton et al, 2004). E os déficits de atenção parecem ser
determinantes para esse quadro. Isso foi observado na Distrofia Muscular de Becker
(DMB), doença que acomete o mesmo gene da DMD, porém com quadro clínico em geral
mais brando. Foi observado que, apesar do QI estar preservado na comparação com
sujeitos normais, os meninos com DMB apresentaram uma alta freqüência de dificuldades
de aprendizagem e uma significativa incidência de problemas atencionais (36% dos
sujeitos apresentou índice para diagnóstico de TDAH) (Young et al, 2008), o que sugere
que mesmo entre aqueles com inteligência normal a atenção pode estar comprometida e
interferir no desempenho escolar.
Torna-se então muito importante a avaliação neuropsicológica e do comportamento
dos meninos com DMD, pois déficits de atenção podem permear mesmo aqueles com
inteligência normal, e interferir no desempenho escolar e no desenvolvimento das
habilidades de linguagem, da leitura e da escrita.
Uma das comorbidades mais freqüentes associadas à TDAH são as alterações na
coordenação motora que pioram ainda mais a aprendizagem escolar e as atividades
cotidianas destes pacientes. Foi observado que 55,2% dos pacientes com TDAH
apresentam Distúrbio do desenvolvimento da coordenação (DDC), sendo que
principalmente os domínios de organização temporal, organização espacial e equilíbrio dos
pacientes com TDAH estão piores do que os de crianças saudáveis. Inclusive a intervenção
fisioterapêutica sobre essas crianças melhorou significativamente a performance motora.
Acredita-se que seria o comprometimento na capacidade de manter a atenção que
prejudicaria o controle da força e do movimento (Poeta & Rosa-Neto, 2007, Watemberg et
al, 2007). Assim, soma-se ainda um possível comprometimento central do controle do
movimento, fator este muito agravante para o quadro de distrofia muscular, que possui
déficits motores de base. Os dados encontrados por Poeta & Rosa-Neto (2007) vão ainda
de encontro com os dados encontrados por nós, pois justamente os domínios de
organização temporal e espacial estariam comprometidos e prejudicando o controle do
movimento naqueles meninos com déficit primariamente de atenção dentro do grupo da
TDAH.
Diversos trabalhos vêm mostrando o papel fundamental da atenção tanto sobre a
aprendizagem de habilidades motoras (McNevin, Wulf & Carlson, 2000; Wulf, McNevin,
Shea, 2001) como nas correções necessárias durante a execução de movimentos
(Boulinguez & Nougier, 1999). Woollacott & Shumway-Cook (2002) relatam uma série de
experimentos que evidenciam a interferência da atenção nas atividades ditas automáticas, e
sobre o controle da postura em e da marcha. A capacidade limitada de recursos neurais
para processamento de informações compromete o desempenho de uma ou de duas
atividades realizadas simultaneamente. As autoras demonstraram que, no caso dos idosos,
os déficits no equilíbrio postural apresentados por eles seriam decorrentes não só da
deterioração dos sistemas motores e sensoriais, mas também de déficits de alocação
atencional. No caso, ao executarem uma tarefa de alta demanda cognitiva associada à
necessidade de manter o equilíbrio em ou a marcha, a tarefa mais prejudicada é a
motora, o que leva às típicas quedas apresentadas nessa faixa etária (Woollacott &
Shumway-Cook, 2002). Dados recentes evidenciaram o atraso nas aquisições de marcos
motores nos meninos com Duchenne, incluindo a capacidade de engatinhar e andar, sendo
que o atraso na marcha está relacionado ao comprometimento em demandas visuoespaciais
(Cyrulnik et al., 2007). Não foram avaliados especificamente componentes atencionais,
mas o atraso no desenvolvimento da atenção observado por nós poderia justificar, pelo
menos em parte, o atraso no desenvolvimento de habilidades motoras descrito pelos
autores. Além disso, o comprometimento acadêmico apresentado pelos meninos com DMD
(Hinton et al., 2004) poderia ainda ser justificado pela dificuldade que teriam em alocar
atenção em duas tarefas simultâneas, como atender ao professor e anotar as informações, já
que, conforme observamos, eles depositam muita atenção para um local e têm um sério
prejuízo ao alternarem o foco atencional para outro local. Assim, torna-se então essencial
que outros trabalhos sejam realizados para verificar o impacto que esta imaturidade do
sistema atencional dos meninos com DMD observada por nós teria tanto sobre
componentes posturais e na marcha, como na leitura e desempenho escolar. E podemos
pensar que não só o tratamento dos componentes motores deve ser considerado, mas
também o cuidado aos aspectos atencionais poderiam atuar favorecendo a qualidade de
vida desses pacientes.
6. CONCLUSÃO
Os resultados deste trabalho nos permitem concluir que os meninos com DMD
apresentam um prejuízo no controle do sistema atencional tanto temporal como espacial,
respectivamente evidenciados por um déficit de preparação motora relacionada a pistas
exógenas e pelo maior custo e benefício à pista endógena.
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Woollacott M, Shumway-Cook A. Attention and the control of posture and gait: a
review of an emerging area of research. Gait Posture. 2002; 16(1):1-14.
Wulf G, McNevin N, Shea CH. The automaticity of complex motor skill learning as a
function of attentional focus. Q J Exp Psychol A. 2001; 54(4):1143-54.
Yaffe D, Makover A, Lederfein D, Rapaport D, Bar S, Barnea E, Nudel U. Multiple
products of the Duchenne muscular dystrophy gene. Symp Soc Exp Biol. 1992; 46:179-
88.
Yayla V, Oge AE, Deymeer F, Gurvit H, Akca-Kalem S, Parman Y, Oflazer P. Cortical
excitability in Duchenne muscular dystrophy. Clin Neurophysiol. 2008; 119(2):459-65.
Young HK, Barton BA, Waisbren S, Portales Dale L, Ryan MM, Webster RI, North
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Yoshioka M, Okuno T, Honda Y, Nakano Y. Central nervous system involvement in
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Zachi EC. Avaliação Neuropsciológica de pacientes com Distrofia Muscular de
Duchenne. Tese apresentada para exame de qualificação pelo Programa de
Neurociência e Comportamento, Instituto de Psicologia, USP. 2008.
8. ANEXOS
Anexo 1 - Questionário de Edinburg
NOME___________________________________________IDADE____________
Você já teve alguma tendência a ser canhoto?_______________________
Existe algum canhoto na sua família?_______________________________
Indicar a preferência manual nas seguintes atividades, assinalando + na coluna
apropriada, quando a preferência for tão forte de modo a você não ser capaz de usar a outra
mão assinale + +. Se não existir preferência, assinale + nas duas colunas.
DIREITA ESQUERDA
1) Escrever
2) Desenhar
3) Jogar uma pedra
4) Usar uma tesoura
5) Usar um pente
6) Usar uma escova de dentes
7) Usar uma faca (sem o uso do garfo)
8) Usar uma colher
9) Usar um martelo
10) Usar uma chave de fendas
11) Usar uma raquete de tênis
12) Usar uma faca (com garfo)
13) Usar uma vassoura (mão superior)
14) Usar um ancinho (mão superior)
15) Acender um fósforo
16) Abrir um vidro com tampa(mão que segura a tampa)
17) Distribuir cartas
18) Enfiar a linha na agulha(mão que segura o que se move)
19) Com que pé você prefere chutar?
Total_________________________
QUOCIENTE DE LATERALIDADE
______________________________________
ACUIDADE VISUAL
/
OD
____________
OE
____________
BIN
_____________
DOMINÂNCIA VISUAL
/
APONTANDO
____________
Anexo 2 – Teste de acuidade visual
Anexo 3 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
HOSPITAL DAS CLÍNICAS
DA
FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
__________________________________________________________________________________________
______
I - DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO DA PESQUISA OU RESPONSÁVEL LEGAL
1. NOME DO PACIENTE .:............................................................................. ...........................................................
DOCUMENTO DE IDENTIDADE Nº : ........................................ SEXO : .M  F 
DATA NASCIMENTO: ......../......../......
ENDEREÇO ................................................................................. Nº ........................... APTO: ..................
BAIRRO: ........................................................................ CIDADE .............................................................
CEP:......................................... TELEFONE: DDD (............) ......................................................................
2.RESPONSÁVEL LEGAL ..............................................................................................................................
NATUREZA (grau de parentesco, tutor, curador etc.) ..................................................................................
DOCUMENTO DE IDENTIDADE :....................................SEXO: M  F 
DATA NASCIMENTO.: ....../......./......
ENDEREÇO: ............................................................................................. ................... APTO:
.............................
BAIRRO: ................................................................................ CIDADE:
.....................................................................
CEP: .............................................. TELEFONE: DDD
(............)..................................................................................
__________________________________________________________________________________________
______
II - DADOS SOBRE A PESQUISA CIENTÍFICA
1. TÍTULO DO PROTOCOLO DE PESQUISA: Estudo do desempenho sensório-motor frente a estímulos
visuais em Distrofia Muscular de Duchenne.
PESQUISADOR: Maria Clara Drummond Soares de Moura
CARGO/FUNÇÃO: Fisioterapeuta INSCRIÇÃO CONSELHO REGIONAL Nº: 52371-F
UNIDADE DO HCFMUSP: Departamento de Neurologia Infantil
3. AVALIAÇÃO DO RISCO DA PESQUISA:
SEM RISCO  RISCO MÍNIMO X RISCO MÉDIO
RISCO BAIXO RISCO MAIOR
(probabilidade de que o indivíduo sofra algum dano como consequência imediata ou tardia do estudo)
4.DURAÇÃO DA PESQUISA : 2 sessões de aproximadamente 1 hora com intervalo máximo de 7 dias entre elas
III - REGISTRO DAS EXPLICAÇÕES DO PESQUISADOR AO PACIENTE OU SEU
REPRESENTANTE LEGAL SOBRE A PESQUISA CONSIGNANDO:
1. justificativa e os objetivos da pesquisa: Como alguns pacientes com Distrofia Muscular de Duchenne,
apresentam distúrbios sensório-motores e desempenho prejudicado na escola, o objetivo deste trabalho é
empregar diferentes testes, a serem realizadas em computador, e comparar o seu desempenho com crianças
sem a doença com idade e sexo semelhantes.
2. procedimentos que serão utilizados e propósitos, incluindo a identificação dos procedimentos que
são experimentais: Em uma sala escura, isolada de estímulos do ambiente, os pacientes deverão
responder, apertando as teclas de um “mouse”, quando aparecerem na tela do computador quatro tipos
diferentes de estímulos visuais. Os quatro testes são simples, não envolvem qualquer risco ou perigo para o
participante e serão aplicados em dois dias, sendo dois testes a cada dia, com intervalo máximo de uma
semana entre eles. Cada sessão de testes terá duração de aproximadamente 45 minutos a uma hora, e
haverá intervalos para descanso entre os testes.
3. desconfortos e riscos esperados: Os pacientes poderão apresentar leve cansaço físico durante os
testes, podendo ser aumentado o tempo de descanso entre eles. Os testes em si não apresentarão risco
algum.
4. benefícios que poderão ser obtidos: O conhecimento do tipo de déficit avaliado poderá auxiliar no
relacionamento com os fisioterapeutas que explicam os tipos de exercícios usados na reabilitação e auxiliar
os professores das escolas, assim como psicopedagogos, quando houver, a fim de melhorar o desempenho
dos pacientes e o rendimento nas atividades escolares ou outras atividades intelectuias.
5. procedimentos alternativos que possam ser vantajosos para o indivíduo: Após a conclusão do
estudo, as escolas serão contactadas para maiores esclarecimentos sobre os resultados, que ajudem a
aplicar métodos de ensino adequados aos distúrbios avaliados de cada paciente. Quando o paciente mostrar
nível normal, isso orientará os professores a terem as mesmas exigências, expectativas e formas de estímulo
que têm com os alunos normais, embora, obviamente, levando em conta a limitação motora do paciente.
__________________________________________________________________________________________
IV - ESCLARECIMENTOS DADOS PELO PESQUISADOR SOBRE GARANTIAS DO SUJEITO DA PESQUISA
CONSIGNANDO:
1. acesso, a qualquer tempo, às informações sobre procedimentos, riscos e benefícios relacionados à pesquisa,
inclusive para dirimir eventuais dúvidas.
Sim. O paciente ou seus familiares poderão contactar a Fisioterapeuta Maria Clara sempre que tiverem dúvidas
ou precisarem de maiores esclarecimentos sobre os testes ou o trabalho em si.
2. liberdade de retirar seu consentimento a qualquer momento e de deixar de participar do estudo, sem que isto
traga prejuízo à continuidade da assistência.
Sim. Se o paciente ou seus familiares quiserem interromper a participação no trabalho, poderão fazê-lo
livremente e continuarão normalmente o seguimento médico.
3. salvaguarda da confidencialidade, sigilo e privacidade.
Os dados obtidos somente serão divulgados ao médico e à equipe de reabilitação que lida com o paciente, bem
como aos professores da escola se os pais autorizarem.
4. disponibilidade de assistência no HCFMUSP, por eventuais danos à saúde, decorrentes da pesquisa.
Não há nenhum risco e o o atendimento médico no HC estará disponível da forma costumeira.
5. viabilidade de indenização por eventuais danos à saúde decorrentes da pesquisa.
Não há riscos ou danos.
____________________________________________________________________________________
V. INFORMAÇÕES DE NOMES, ENDEREÇOS E TELEFONES DOS RESPONSÁVEIS PELO
ACOMPANHAMENTO DA PESQUISA, PARA CONTATO EM CASO DE INTERCORRÊNCIAS CLÍNICAS E
REAÇÕES ADVERSAS.
Pesquisadora: Maria Clara Drummond Soares de Moura
Endereço: Instituto de Ciência Biomédicas/USP
Av. Prof. Lineu Prestes 1524, Sala 238. Cidade Universitária – São Paulo
Fone: 3091-7364/ 99507711
______________________________________________________________________________________
VI - CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIDO
Declaro que, após convenientemente esclarecido pelo pesquisador e ter entendido o que me foi explicado,
consinto em participar do presente Protocolo de Pesquisa
São Paulo, de de 2006.
__________________________________________ _________________________________
assinatura do sujeito da pesquisa ou responsável legal assinatura do pesquisador
(carimbo ou nome Legível)
Anexo 4 - Descrição do Teste de Atenção Automática
1. Você será testado em uma sala com iluminação reduzida de modo a reduzir
interferências do ambiente.
2. Você vai realizar o teste sentado a frente de uma mesa sobre a qual apoiará seus braços.
3. Sua tarefa será manter sempre o olhar numa pequena cruz no centro da tela de um
monitor de vídeo e pressionar, o mais rápido possível, uma tecla do mesmo lado em
que aparecer uma linha vertical.
4. Ao fim de cada tentativa, uma mensagem aparecerá no centro da tela indicando se você
acertou ou errou a tentativa.
APERTE A TECLA
DA ESQUERDA
APERTE A TECLA
DA DIREITA
Anexo 5 - Descrição do Teste de Atenção Voluntária
1. Você será testado em uma sala com iluminação reduzida de modo a reduzir
interferências do ambiente.
2. Você vai realizar o teste sentadoa frente de uma mesa sobre a qual apoiará os braços.
3. Sua tarefa será manter sempre o olhar numa pequena cruz no centro da tela de um
monitor de vídeo.
4. A seguir aparecerá no centro da tela uma seta voltada para a direita ou para a esquerda
e você deverá direcionar sua atenção para o lado indicado na seta, sem mover os
olhos do centro da tela. Poderá ainda aparecer duas setas ao mesmo tempo, quando
você deverá manter sua atenção difusa.
5. A seguir, vodeverá pressionar, o mais rápido possível, uma tecla do mesmo lado
em que aparecer uma linha vertical.
9. Ao fim de cada tentativa, uma mensagem aparecerá no centro da tela indicando se você
acertou ou errou a tentativa.
APERTE A TECLA DA
ESQUERDA
APERTE
A TECLA DA
DIREITA
Anexo 6 – Tabelas de dados
Tabela 6.1. Tempos de reação no teste de atenção automática para o Grupo controle (GC) e
Grupo Duchenne (GD).
Tempo de Reação
Controle (GC) Duchenne (GD)
Atenção
Automática Mesma
Oposta
Bilateral
Mesma
Oposta
Bilateral
1 299 363 327 383 487 433
2 271 346 334 348 430 333
3 291 404 339 383 472 408
4 260 312 277 275 324 293
5 370 392 353 574 623 557
6 376 402 351 586 591 548
7 273 336 290 275 338 309
8 245 312 296 509 463 509
9 231 322 268 308 401 349
10 257 333 289 247 325 266
11 377 420 361 440 452 402
12 265 334 292 369 424 381
13 392 425 354 361 434 387
14 336 374 331 425 439 438
15 363 457 396 309 409 352
16 276 342 318 333 381 357
17 452 473 431 252 332 292
18 282 338 301 467 530 439
19 245 339 293 271 360 319
20 239 279 258 309 386 324
21 332 373 313 354 437 390
22 403 433 417 344 408 393
23 313 387 320 447 452 470
24 367 409 397 340 442 410
25 288 331 307 365 434 370
Média 312 369 328 371 431 389
E.p.m. 12 10 9 18 15 15
Tabela 6.2. Tempos de reação no teste de atenção voluntária para o Grupo controle (GC) e
Grupo Duchenne (GD).
Tempo de Reação Controle (GC) Duchenne (GD)
Atenção
Voluntária Válida
Inválida
Neutra
Válida
Inválida
Neutra
1 301 304 312 300 405 355
2 290 351 350 259 476 279
3 344 373 329 301 432 361
4 262 281 277 251 276 270
5 363 344 312 383 445 426
6 356 401 388 436 574 521
7 302 309 323 294 356 359
8 264 268 263 490 562 486
9 295 252 284 301 339 359
10 401 393 376 240 300 265
11 362 410 404 405 499 473
12 288 323 311 301 438 373
13 295 368 360 356 438 378
14 337 354 370 342 572 363
15 350 320 324 298 332 304
16 273 313 297 335 352 336
17 378 417 425 233 233 246
18 308 310 310 371 400 377
19 309 296 279 291 403 325
20 253 272 246 311 326 345
21 319 356 394 404 441 465
22 320 353 320 289 309 314
23 315 348 332 336 477 394
24 382 363 320 346 386 376
25 241 287 273 261 385 312
Média 316 334 327 325 406 362
E.p.m. 9 9 9 13 18 14
Tabela 6.3. Efeitos atenção automática (benefício, custo e efeito atencional total) para o
Grupo controle (GC) e Grupo Duchenne (GD).
Efeito da Atenção
Automática
Controle (GC) Duchenne (GD)
Benefício Custo
Efeito
Benefício Custo
Efeito
1 28 36 64 50 54 104
2 63 12 75 -15 97 82
3 49 65 114 26 64 89
4 17 35 52 18 31 49
5 -17 39 22 -17 66 49
6 -25 52 26 -39 43 4
7 18 46 63 34 29 63
8 52 16 68 0 -46 -46
9 38 54 92 41 52 93
10 32 44 76 20 59 78
11 -16 59 43 -37 50 13
12 27 42 69 12 43 55
13 -38 71 33 26 47 73
14 -5 43 38 13 1 14
15 33 61 94 43 57 100
16 42 25 67 24 24 48
17 -21 42 22 39 41 80
18 19 38 57 -28 91 63
19 48 46 94 49 41 89
20 20 21 41 15 62 76
21 -20 61 41 36 47 83
22 14 16 30 49 15 64
23 7 67 74 23 -18 5
24 30 12 42 70 32 102
25 18 24 42 5 64 69
Média 16 41 57 18 42 60
E.p.m. 5 4 5 6 6 7
Tabela 6.4. Efeitos atenção voluntária (benefício, custo e efeito atencional total) para o
Grupo controle (GC) e Grupo Duchenne (GD).
Efeito da Atenção
Voluntária
Controle (GC) Duchenne (GD)
Benefício Custo
Efeito Benefício Custo
Efeito
1 11 -8 3 55 50 105
2 61 1 61 21 197 217
3 -15 43 29 60 71 132
4 15 4 19 19 6 25
5 -51 32 -19 44 19 62
6 32 13 45 85 53 138
7 21 -14 7 66 -3 62
8 -1 5 4 -4 76 72
9 -11 -32 -43 58 -20 38
10 -26 17 -9 25 35 59
11 42 6 48 68 27 95
12 24 12 35 72 64 137
13 66 8 73 21 61 82
14 34 -17 17 21 208 229
15 -26 -5 -30 6 28 34
16 24 16 40 0 17 17
17 47 -8 39 13 -13 0
18 2 0 2 6 23 29
19 -30 17 -14 34 78 112
20 -7 26 19 34 -19 15
21 75 -37 38 61 -24 37
22 0 33 33 25 -5 20
23 17 17 33 58 83 141
24 -62 43 -19 31 10 41
25 32 14 46 52 73 125
Média 11 7 18 37 44 81
E.p.m. 7 4 6 5 12 12
Tabela 6.5. Erros de antecipação nos testes de atenção automática e atenção voluntária para
o Grupo controle (GC) e Grupo Duchenne (GD).
Erros de Atenção Automática Atenção Voluntária
antecipação Controle (GC)
Duchenne
(GD)
Controle
(GC)
Duchenne
(GD)
1 1 2 3 2
2 8 7 5 15
3 3 1 0 16
4 2 1 2 1
5 3 0 3 2
6 1 0 8 5
7 0 7 0 2
8 15 10 2 11
9 9 2 8 6
10 4 16 0 4
11 2 1 7 9
12 5 0 8 2
13 1 0 6 3
14 1 0 2 7
15 0 0 4 1
16 4 2 3 2
17 3 3 5 5
18 1 1 2 2
19 0 8 3 7
20 5 1 4 1
21 1 5 3 6
22 2 0 9 2
23 3 4 4 15
24 1 3 9 3
25 0 0 2 3
Total
75 74 102 132
Média
3 2,96 4,08 5,28
E.p.m.
0,69 0,79 0,56 0,92
Tabela 6.6. Erros de omissão nos testes de atenção automática e atenção voluntária para o
Grupo controle (GC) e Grupo Duchenne (GD).
Erros de Atenção Automática Atenção Voluntária
omissão
Controle
(GC) Duchenne (GD)
Controle (GC) Duchenne (GD)
1 0 1 0 0
2 1 2 0 1
3 0 0 2 2
4 1 0 0 0
5 1 1 1 0
6 1 4 2 2
7 0 0 0 1
8 0 0 1 3
9 0 2 0 0
10 1 0 1 0
11 0 1 4 10
12 0 0 0 1
13 1 1 0 1
14 2 0 1 2
15 0 0 1 0
16 0 3 0 1
17 1 1 0 0
18 1 0 2 4
19 2 6 0 0
20 0 0 0 0
21 1 0 1 1
22 0 2 0 0
23 1 1 4 3
24 0 0 0 0
25 0 0 0 2
Total
14 25 20 34
Média
0,56 1 0,8 1,36
E.p.m.
0,13 0,3 0,24 0,43
Tabela 6.7. Erros de inversão no teste de atenção automática para o Grupo controle (GC) e
Grupo Duchenne (GD).
Erros de inversão Controle (GC) Duchenne (GD)
Atenção
Automática Mesma
Oposta
Bilateral
Total
Mesma Oposta
Bilateral
Total
1
1 2 1
4
2 2 1
5
2
1 4 1
6
1 2 1
4
3
1 5 0
6
1 4 1
6
4
0 3 0
3
0 0 0
0
5
5 6 1
12
0 1 0
1
6
0 1 0
1
0 1 1
2
7
0 3 1
4
0 6 1
7
8
0 4 3
7
0 3 1
4
9
0 2 2
4
0 2 0
2
10
0 4 0
4
0 9 2
11
11
0 2 1
3
3 2 4
9
12
0 3 1
4
2 2 1
5
13
0 2 3
5
0 0 0
0
14
3 6 7
16
2 3 2
7
15
0 0 2
2
3 5 2
10
16
0 2 2
4
0 2 0
2
17
2 0 0
2
0 4 1
5
18
0 2 2
4
0 3 0
3
19
0 5 0
5
0 3 1
4
20
0 0 0
0
0 3 0
3
21
1 5 3
9
3 1 1
5
22
1 0 0
1
0 2 1
3
23
3 4 1
8
0 3 2
5
24
0 0 0
0
0 3 0
3
25
0 2 1
3
0 5 1
6
Total
18 67 32
117
17 71 24
112
Média
0,72 2,68 1,28
4,68
0,68 2,84 0,96
4,48
E.p.m.
0,26 0,38 0,31
0,73
0,22 0,39 0,19
0,57
Tabela 6.8. Erros de inversão no teste de atenção voluntária para o Grupo controle (GC) e
Grupo Duchenne (GD).
Erros de inversão
Controle (GC) Duchenne (GD)
atenção voluntária
zVálida
Inválida Neutra Total
Válida Inválida Neutra Total
1
0 0 1
1
2 1 0
3
2
2 1 1
4
1 3 1
5
3
0 0 0
0
0 1 0
1
4
0 0 0
0
0 3 0
3
5
0 0 0
0
3 1 0
4
6
0 0 2
2
1 1 0
2
7
0 0 0
0
1 2 0
3
8
0 0 0
0
1 0 0
1
9
3 0 1
4
0 7 0
7
10
0 0 0
0
2 2 1
5
11
0 1 0
1
3 3 3
9
12
1 1 0
2
3 1 0
4
13
0 0 1
1
0 1 0
1
14
2 2 0
4
4 6 1
11
15
3 0 1
4
0 0 0
0
16
1 0 1
2
1 1 0
2
17
1 0 2
3
0 1 0
1
18
1 1 0
2
1 2 0
3
19
0 0 0
0
0 2 0
2
20
0 0 1
1
0 1 0
1
21
2 0 0
2
6 0 0
6
22
1 0 2
3
0 1 0
1
23
2 0 0
2
1 1 1
3
24
2 3 2
7
0 0 0
0
25
0 0 0
0
1 2 1
4
Total
21 9 15
45
31 43 8
82
Média
0,84 0,36 0,6
1,8
1,24 1,72 0,32
3,28
E.p.m.
0,21 0,15 0,15
0,36
0,31 0,34 0,14
0,55
Tabela 6.9. Idades e efeito atencional no teste de atenção voluntária para o Grupo
Duchenne (GD).
Efeito Atencional
DMD Idade Automático
Voluntário
1
11 104 105
2
12 82 217
3
11 89 132
4
16 49 25
5
11 49 62
6
10 4 138
7
11 63 62
8
10 -46 72
9
15 93 38
10
16 78 59
11
11 13 95
12
11 55 137
13
14 73 82
14
11 14 229
15
10 100 34
16
15 48 17
17
16 80 0
18
11 63 29
19
12 89 112
20
15 76 15
21
10 83 37
22
10 64 20
23
10 5 141
24
11 102 41
25
11 69 125
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