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PRISCILLA RAMALHO LEPRE
DIRETRIZES PARA APLICAÇÃO DE DISPOSITIVOS POKA-YOKE NO
DESIGN DE MOBILIÁRIO:
Uma Estratégia para o Design Sustentável
Dissertação apresentada como requisito
parcial à obtenção do grau de Mestre
em Design, Programa de Pós-Graduação
em Design, Setor de Ciências Humanas,
Letras & Artes, Universidade Federal do
Paraná.
Orientador: Prof. Aguinaldo dos Santos,
PhD.
CURITIBA
2008
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Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
SISTEMA DE BIBLIOTECAS
COORDENAÇÃO DE PROCESSOS TÉCNICOS
Lepre, Priscilla Ramalho
Diretrizes para aplicação de dispositivos poka-yoke no design de mobiliário :
uma estratégia para o design sustentável / Priscilla Ramalho Lepre. – Curitiba,
2008.
209f. : il. color.
Inclui bibliografia
Orientador: Prof. Dr. Aguinaldo dos Santos
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências
Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós-Graduação em Design.
1. Desenho (Projetos). 2. Mobiliário - Projetos. I. Santos, Aguinaldo dos.
II. Universidade Federal do Paraná. Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes.
Programa de Pós-Graduação em Design. III. Título.
CDD 749
Andrea Carolina Grohs CRB 9/1.384
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Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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Pensamento
Era uma vez um grão de onde nasceu uma árvore
que foi abatida por um lenhador e cortada em
uma serraria.
Um marceneiro trabalhou-a e entregou-a a um
vendedor de móveis.
O móvel foi decorar um apartamento e mais
tarde deitaram-no fora.
Foi apanhado por outras pessoas que o venderam
numa feira.
O móvel estava lá no adeleiro, foi comprado
barato e, finalmente houve quem o partisse para
fazer lenha.
O móvel transformou-se em chamas, fumo e
cinzas.
Eu quero ter o direito de refletir sobre esta
história, sobre o grão que se transforma em
árvore que se torna móvel e acaba fogo, sem ser
lenhador, marceneiro, vendedor, que não vêem
senão um segmento da história.
Edgar Morin, 2000, p. 34
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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Dedicatória
para Pietro, com todo meu amor
Semente do Aman
Composição: Gonzaguinha
Ontem um menino que brincava me falou
que hoje é semente do amanhã...
Para não ter medo que este tempo vai passar...
Não se desespere não,
Nem pare de sonhar
Nunca se entregue,
Nasça sempre com as manhãs...
Deixe a luz do sol, brilhar no céu do seu olhar!
Fé na vida,
Fé no homem,
Fé no que virá!
Nós podemos tudo,
Nós podemos mais
Vamos lá fazer o que será!
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
Agradecimentos
Pai e mãe, obrigada pelo dom da vida, pelo amor e apoio incondicionais.
Pietro, filho, eu te amo, te amo te amo te amo te amo te amo te amo te amo.
Obrigada por todos os “eu te amo” que me diz (até de madrugada), que me
confortam, me aquecem como o sol, me enchem de força vital pra continuar.
A minha família agradeço pela paciência e pela ajuda.
Tia Cida, obrigada por me mostrar os caminhos do aprender.
Vô Primo, Vó Antônia e Vovó Leá, vocês são as estrelas do meu céu.
Aguinaldo, obrigada pela orientação, pelos ensinamentos, pelo apoio, pelos
empurrões nos momentos difíceis, pela amizade, pela confiança, pela incansável
luta por um mundo melhor e mais justo para se viver.
Agradecimentos especiais
A CAPES pela bolsa que me permitiu estudar.
A FINEP pelo apoio no projeto, pela oportunidade da pesquisa;
A MASISA, a COHAB-CT, MM Móveis e UNEP pelo apoio no projeto e no
estudo de caso.
À super Professora Dra. Stephânia Padovani, minha tutora para os erros
humanos, por suas orientações, conselhos e pela amizade.
À Professora Dra. Maria Lúcia Okimoto, pelas orientações em ergonomia e
usabilidade, pela amizade e carinho de longa data.
À Professora Dra. Maristela pela a orientação em design e cultura.
Ao Cláu, pelo carinho e amizade.
Ao Professor Carlo Vezzoli, pela inspiração.
A todos os professores, meus amigos e colegas do PPGDESIGN, obrigada.
Ao Núcleo de Design e Sustentabilidade da UFPR e a Equipe KITS
Professores, Mestrandos, Bolsistas, sem vocês nada seria possível.
Aos moradores do Loteamento Moradias Sambaqui e Bela Vista do
Passaúna, por abrirem suas casas, nas várias fases desta pesquisa.
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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Sumário
LISTA DE FIGURAS...................................................................................................... IX
LISTA DE QUADROS.................................................................................................XIII
RESUMO ...................................................................................................................XIV
ABSTRACT .................................................................................................................XV
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................1
1.1 Poka-Yoke – significado da palavra.................................................................1
1.2 Problema de Pesquisa.......................................................................................1
1.3 Objetivo ............................................................................................................1
1.4 Hipótese............................................................................................................2
1.5 Justificativa .......................................................................................................2
1.6 Visão Geral do Método de Pesquisa ............................................................... 4
1.7 Limitações da Pesquisa.................................................................................... 4
1.8 Estrutura da Dissertação.................................................................................. 5
2 A CONTRIBUIÇÃO DO DESIGN PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ... 6
2.1 Contexto do Capítulo...................................................................................... 6
2.2 Desenvolvimento Sustentável – Definição...................................................... 6
2.3 A Evolução do Conceito de Desenvolvimento Sustentável .............................7
2.4 A Evolução da Sustentabilidade no Design ................................................... 12
2.5 Conceitos e Princípios Associados à Dimensão Ambiental do Design
Sustentável.................................................................................................................18
2.5.1 Ciclo de Vida de um Produto/Serviço/Sistema ...........................................18
2.5.2 Estratégias para obtenção do Design Sustentável na Dimensão Ambiental
20
2.5.2.1 Visão Geral ..................................................................................... 20
2.5.2.2 Design para a Montagem e Desmontagem ...................................23
2.5.2.3 Design para a confiabilidade..........................................................25
2.6 Iniciativas internacionais de design sustentável aplicadas ao design de
móveis 26
2.7 Discussão........................................................................................................ 28
3 ERRO HUMANO E MECANISMOS POKA-YOKE ................................................ 30
3.1 Definição........................................................................................................ 30
3.2 O Processo Cognitivo e a Ocorrência do Erro Humano.................................32
3.3 Taxonomia dos Erros Humanos......................................................................34
3.4 Fatores Indutores do Erro Humano................................................................37
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3.5 O Sistema ‘Erro Humano’ .............................................................................. 40
3.6 Discussão.........................................................................................................43
3.7 O Conceito de Poka-Yoke e sua Gênese....................................................... 44
1.1.1 Definição.................................................................................................... 44
3.7.1 A Evolução da Inspeção/controle da Montagem de Produtos ................. 45
3.7.1.1 Inspeção 100% pelo Artesão.......................................................... 45
3.7.1.2 Inspeção 100% ao final da Linha de Montagem........................... 46
3.7.1.3 Inspeção por Amostragem............................................................. 48
3.7.1.4 Auto-Inspeção no Controle de Qualidade Total........................... 48
3.7.2 Tipologias de Poka-Yoke........................................................................... 50
3.7.2.1 Visão Geral ..................................................................................... 50
3.8 Discussão........................................................................................................ 56
4 MÉTODO DE PESQUISA......................................................................................57
4.1 Caracterização do Problema e Seleção do Método de Pesquisa...................57
4.2 Estratégia Geral de Desenvolvimento........................................................... 58
4.2.1 Visão Geral................................................................................................. 58
4.2.2 Revisão de Literatura................................................................................. 59
4.3 Protocolo de Coleta de Dados – Mini-Surveys ...............................................61
4.3.1 Visão Geral..................................................................................................61
4.3.2 Mini-Survey 1 – Lojas de Móveis .................................................................61
4.3.3 Mini-Survey 2 – Habitações Populares........................................................63
4.3.4 Análise........................................................................................................ 64
4.4 Protocolo de Coleta de Dados - Estudo de Caso........................................... 68
4.4.1 Critérios para Seleção do Conceito e Confecção do Protótipo ................ 68
4.4.2 Estratégia de Desenvolvimento................................................................. 69
4.4.3 Critério de Seleção dos Moradores de Habitação de Interesse Social para
Teste do Mobiliário ................................................................................................72
4.4.4 Preparação do Ambiente para os Testes....................................................72
4.4.5 Estratégia de Análise do Estudo de Caso...................................................72
4.5 Análise Geral...................................................................................................74
5 RESULTADOS E ANÁLISES..................................................................................75
5.1 Contexto .........................................................................................................75
5.2 Mini-Survey 1- Lojas de Móveis Populares......................................................75
5.2.1 Caracterização da Amostra ........................................................................75
5.2.2 Resultados - Observação Direta..................................................................77
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5.2.3 Resultados - Questionário ......................................................................... 84
5.2.4 Análise dos Dados...................................................................................... 85
5.3 Mini-Survey 2 - Habitações Populares........................................................... 87
5.3.1 Seleção da Amostra ................................................................................... 87
5.3.2 Caracterização Geral da Amostra.............................................................. 90
5.3.3 Caracterização da amostra da Mini-Survey 2 - Piloto................................91
5.3.4 Resultados da Mini-Survey Piloto...............................................................92
5.3.5 Resultados da Mini-Survey 3 – Habitações Populares................................93
5.3.5.1 Caracterização geral dos móveis ....................................................93
5.3.5.2 Materiais e Junções....................................................................... 101
5.3.5.3 Montagem/Desmontagem............................................................105
5.3.5.4 Danos............................................................................................. 107
5.3.5.5 Confiabilidade e Segurança do Mobiliário................................... 118
5.3.5.6 Poka-Yokes.....................................................................................119
5.3.6 Análise das Mini-Surveys nas Habitações Populares................................ 120
5.4 Estudo de Caso ............................................................................................. 124
5.4.1 Visão Geral................................................................................................ 124
5.4.2 Caracterização do Conceito do Produto Piloto ....................................... 125
5.4.3 Caracterização dos Avaliadores................................................................ 132
5.4.4 Ambiente de Teste – Casa 1.0................................................................... 133
5.4.5 Resultados................................................................................................. 134
5.4.5.1 Observação Direta – Visão Geral .................................................. 134
5.4.5.2 Grupo 1: Avaliadores 1 e 2..............................................................141
5.4.5.3 Grupo 2: Avaliadores 3 e 4............................................................ 142
5.4.5.4 Grupo 3: Avaliadores 5 e 6............................................................150
5.4.5.5 Grupo 4: Avaliadores 7, 8 e 9........................................................ 153
5.4.5.6 Entrevista Pós-Processo.................................................................158
5.4.6 Análise........................................................................................................161
5.5 Análise Geral – Diretrizes para a Utilização de Poka-yokes no Design de
Móveis Populares ..................................................................................................... 170
6 CONCLUSÕES.................................................................................................... 176
6.1 Considerações Gerais - Oportunidade de Utilização de Poka-yokes como
Estratégia para o Design Sustentável de Móveis Populares. .................................. 176
6.2 Considerações sobre o Método de Pesquisa................................................ 176
6.3 Sugestões para trabalhos futuros ................................................................ 177
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 179
REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS....................................................................................185
APÊNDICE 1...............................................................................................................190
APÊNDICE 2 .............................................................................................................. 192
APÊNDICE 3 ..............................................................................................................194
APÊNDICE 4 ..............................................................................................................196
APÊNDICE 5 ..............................................................................................................199
APÊNDICE 6 .............................................................................................................. 201
APÊNDICE 3 ..............................................................................................................203
APÊNDICE 8 ............................................................................................................. 206
APÊNDICE 9 ............................................................................................................. 208
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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Lista de Figuras
FIGURA 1. 2: Mobiliário Descartado em Via Pública .................................................................. 3
FIGURA 2.1: Três Dimensões do Desenvolvimento Sustentável................................................. 7
FIGURA 2.2: "Balloon" Chair or "Backstool"- William Connolly of Castletown, 1725. 12
FIGURA 2.3: Cadeira Wassily - Marcel Breuer – BAUHAUS .......................................................13
FIGURA 2.4: Wanda Chaise Long................................................................................................14
FIGURA 2.5: PSS Allegrini – Caminhão de recarga. ...................................................................15
FIGURA 2.5: Abordagem Reparadora e Ambientalmente mais Estratégicas do Design
Sustentável...................................................................................................................................16
FIGURA 2.6: Porcentagem de consolidação das pesquisa e prática dos conhecimentos em
design sustentável.......................................................................................................................17
FIGURA 2.7: Life Cycle Design.....................................................................................................19
FIGURA 2.8: Estratégia do Design do Ciclo de Vida e as Fases do Ciclo De Vida do Produto.
......................................................................................................................................................21
FIGURA 2.9: Cadeira Aeron Herman Miller. ............................................................................. 24
FIGURA 3.1: Desvio da Ação Ideal - Erro ................................................................................... 30
FIGURA 3.2: Processo Ação e Cognição..................................................................................... 33
FIGURA 3.3: Sistema Genérico de Modelo de Erros. ................................................................ 34
FIGURA 3.4: Panorama Geral das Taxonomias dos Erros Humanos........................................ 36
FIGURA 3.5: Interação sistêmica da ação, tipos de erros e fatores indutores do erro............41
FIGURA 3.6: Contexto Sistêmico do Erro Humano................................................................... 43
FIGURA 3.7: Exemplo de linha de produção como a proposta por Henry Ford..................... 47
FIGURA 3.8: Ciclo da gestão da qualidade – ZQC.. ..................................................................49
FIGURA 3.9: Métodos de Atuação dos Dispositivos Poka-Yoke.. ............................................50
FIGURA 3.10: Exemplo Método de Controle - Bed Elevator. ....................................................51
FIGURA 3.11:Exemplo de método de alerta aplicado em produto –....................................... 52
FIGURA 3.12: Exemplo de método de posicionamento............................................................ 52
FIGURA 3.13: Exemplo de Método de Contato Multiprocessadores ....................................... 53
FIGURA 3.14: Exemplo de método de contagem- Kit de cobertura Do-it-Yourself............... 53
FIGURA 3.15: Exemplo de método de comparação - Embalagens de Pipoca. ........................ 54
FIGURA 3.16: Exemplo de design restritivo - Novo Plugue Brasileiro. .................................... 54
FIGURA 3.17: Exemplo de design coercitivo - Produtos para a segurança infantil. .............. 55
FIGURA 4.1: Visão Geral das Estratégias de Pesquisa...............................................................58
FIGURA 4.2: Detalhe da Estratégia de Pesquisa - Mini-Survey 1.............................................. 62
FIGURA 4.3: Detalhe da Estratégia de Pesquisa - Mini-Survey 2 ............................................. 63
FIGURA 5.1: Estrutura básica do móvel. .....................................................................................77
FIGURA 5.2: Exemplos de configurações formais das tipologias analisadas .......................... 78
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
FIGURA 5.4: Instruções de Montagem de um Guarda-Roupas de Três Portas....................... 82
FIGURA 5.5: Panorama Geral dos Materiais Presentes na Amostra........................................ 83
FIGURA 5.6: Panorama Geral dos Sistemas de Fixação Presentes na Amostra ...................... 83
FIGURA 5.7: Panorama Geral dos Acabamentos Empregados na Amostra............................84
FIGURA 5.8: Planta baixa casa padrão CT34B (A) / Fachada da casa padrão CT34B (B). .......88
FIGURA 5.9: Fachada residência 5 (A) e fachada da residência 9 (B)......................................89
FIGURA 5.10: Colchão sobre estrado diretamente no piso de concreto. Casa 01...................94
FIGURA 5.11: Roupas penduradas e empilhadas. Casa 05........................................................94
FIGURA 5.12: Sapatos empilhados sobre televisor. Casa 01 .....................................................95
FIGURA 5.13: Cadeira utilizada como apoio para televisor. Casa 09 ......................................96
FIGURA 5.14: Prateleira improvisada em nicho sob a pia. Casa 04. ........................................ 97
FIGURA 5.15: Soluções para guardar utensílio, mantimentos e produtos de limpeza. Casa 04
..................................................................................................................................................... 97
FIGURA 5.16: Porcentagens da origem dos móveis..................................................................98
FIGURA 5.17: Estante doada. Casa 05........................................................................................99
FIGURA 5.18: Balcão remanescente do processo migratório - Casa 01 ................................. 100
FIGURA 5.19: Banqueta e banco de fabricação própria do morador. Casa 04...................... 101
FIGURA 5.20: Panorama geral dos materiais encontrados nas peças estruturais e funcionais
dos móveis da amostra .............................................................................................................102
FIGURA 5.21: Lateral de armário: emprego de sistema misto de fixação e junção. Casa 01 103
FIGURA 5.22: Suporte de varão danificado e apoiado por pregos. Casa 05 .........................104
FIGURA 5.23: Móvel do Tipo “Faça-você-mesmo”. Casa 01 ................................................... 106
FIGURA 5.24: Detalhe do Encaixe de Cama Tubular em Ferro. Casa 04............................... 106
FIGURA 5.25: Adesivos aplicados ao mobiliário. .................................................................... 108
FIGURA 5.26: Danos ao mobiliário: perfuração, riscos, manchas, descolamento. Casa 03.. 109
FIGURA 5.27: Descolamento severo da superfície de uma mesa. Casa 02. ............................ 110
FIGURA 5.28: Armário com dobradiça danificada e sem uma das portas. Casa 01............... 112
FIGURA 5.29: Desalinhamento das gavetas: danos à corrediça. Casa 01 ............................... 113
FIGURA 5.30: Peças avulsas de móveis. Casa 01....................................................................... 114
FIGURA 5.31: Guarda-roupa desestruturado pela ausência de base. Casa 01........................ 115
FIGURA 5.32: Danos ao mobiliário nas habitações populares................................................ 116
FIGURA 5.33: Ciclo de vida do móvel residencial popular. ......................................................117
FIGURA 5.34: Beliche com rupturas nos encaixes. Casa 03. .................................................... 118
FIGURA 5.35: Fatores indutores de erros humanos causadores de danos ao mobiliário nas
habitações populares ................................................................................................................ 121
FIGURA 5.36: Perspectivas da versão Zig-Zag..........................................................................125
FIGURA 5.37: Formação do módulo da versão Zig-Zag I.........................................................125
FIGURA 5.38: Encaixes da versão Zig-Zag I – poka-yoke de posicionamento .......................126
FIGURA 5.39: Versão Zig-Zag II – detalhes da formação dos módulos .................................. 127
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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FIGURA 5.40: Encaixes da versão Zig-Zag MINIFIX® - poka-yoke de posicionamento e
contato.......................................................................................................................................128
FIGURA 5.41: Encaixes da versão Zig-Zag - U metálico poka-yoke de posicionamento e
contato.......................................................................................................................................129
FIGURA 5.42: Encaixe da base: poka-yoke de posicionamento e contato ............................129
FIGURA 5.43: Inventário para o vel 1 do manual de montagem - poka-yoke em design
informacional ............................................................................................................................130
FIGURA 5.44: Instruções por cores - poka-yoke em design informacional............................ 131
FIGURA 5.45: Módulos e ferragens - poka-yokes de contagem.............................................132
FIGURA 5.46: Estrutura externa para isolar o ambiente de teste..........................................134
FIGURA 5.47: Encaixes dos primeiro bloco do processo de montagem: base .......................135
FIGURA 5.48: Encaixes dos segundo bloco do processo de montagem - laterais.................136
FIGURA 5.49: Árvore da Seqüência Idealizada para o Processo de Montagem.................... 137
FIGURA 5.50: Apresentação do protótipo para a avaliação...................................................140
FIGURA 5.51: Primeiras ações dos avaliadores do Grupo 1 ..................................................... 141
FIGURA 5.52: Posição correta apresentada no manual e posição incorreta dos módulos da
base durante a montagem pelo Grupo 1.................................................................................142
FIGURA 5.53: Marcações no protótipo e no piso para orientar avaliadores.........................143
FIGURA 5.54: Ordem correta de montagem apresentada pelo manual e ordem incorreta de
montagem da base executada pelo Grupo 2. .........................................................................144
FIGURA 5.55: Falha no poka-yoke em design informacional.................................................145
FIGURA 5.56: Problemas com o encaixe de topo da haste de MINIFIX®. .............................145
FIGURA 5.57: Compreensão do conjunto MINIFIX®. ..............................................................146
FIGURA 5.58: Violação da instrução de montagem do MINIFIX®. ........................................147
FIGURA 5.59: Violação da inserção do U metálico..................................................................147
FIGURA 5.60: Movimento de alavanca do módulo – erro latente.........................................148
FIGURA 5.61: Montagem do último nível do mobiliário-divisória. ........................................149
FIGURA 5.62: Problemas com o encaixe de topo da haste de MINIFIX®............................... 151
FIGURA 5.63: U metálico rompido durante a desmontagem.................................................152
FIGURA 5.64: Violação dos procedimentos de praparação para a montagem.....................153
FIGURA 5.65: Erro por conhecimento no encaixe do pé de apoio da base...........................154
FIGURA 5.66: Erro por conhecimento no encaixe do pé de apoio da base ..........................155
FIGURA 5.67: Instrução para introdução do minifix da base. ................................................155
FIGURA 5.68: Erro por conhecimento no encaixe do MINIFIX® da base ..............................156
FIGURA 5.69: Erro por conhecimento no encaixe dos módulos do primeiro nível...............156
FIGURA 5.70: Problema com o encaixe de topo do MINIFIX®. ..............................................157
QUADRO 5.11: Compreensão do design informacional. .........................................................159
FIGURA 5.71: Panorama das categorias de erros humanos e fatores indutores na montagem
do protótipo de mobiliário/divisória. ......................................................................................167
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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FIGURA 5.72: Tríade do contexto da atividade. ......................................................................172
FIGURA 5.73: Folha de Check-list dos requisitos contexto de uso do móvel popular........... 173
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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Lista de Quadros
QUADRO 2.1 : Linhas-Guias para o Design do Ciclo de Vida e as Fases do Ciclo de Vida do
Produto. Fonte: Adaptado de Manzini & Vezzoli, 2005.......................................................... 22
QUADRO 2.2: Linhas-Guias para a Extensão do CV do Mobiliário Fase de Uso Fonte:
Adaptado de Chaves, 2007. ....................................................................................................... 27
QUADRO 5.1: Resumo da amostra de móveis analisada em lojas........................................... 76
QUADRO 5.2: Resumo da amostra dos entrevistados nas lojas de móveis..............................77
QUADRO 5.3: Perfil do uso de materiais por tipologia ........................................................... 79
QUADRO 5.4: Perfil dos acabamentos por tipologia...............................................................80
QUADRO 5.5: Perfil dos sistemas de fixação .............................................................................81
QUADRO 5.6: Moveis mais Vendidos na Loja...........................................................................85
QUADRO 5.7: Perfil das habitações da amostra........................................................................91
QUADRO 5.8: Tipologia dos Móveis Populares do Conjunto Sambaqui ................................ 93
QUADRO 5.9: Familiaridade dos avaliadores com ferramentas e ferragens. .......................139
QUADRO 5.10: Aspectos físicos dos avaliadores......................................................................158
QUADRO 5.12: Dificuldades com as grandes e configuração do produto............................ 160
QUADRO 5.13: Diretrizes para aplicação de poka-yokes ao design de móveis populares
funções e métodos poka-yoke e sugestões para o design do sistema poka-yoke. ..............174
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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Resumo
No Brasil, 85% da população vivem com renda de até três salários mínimos
mensais (IBGE, 2007). Esta expressiva fatia da população brasileira, devido aos
fatores sócio-econômicos, apresenta grande mobilidade relativa à habitação e
constantes mudanças internas no arranjo familiar, durante ciclo de vida da família.
Os móveis ofertados pelo mercado, não contemplam as demandas de mobilidade,
flexibilidade e adaptabilidade desta classe social. A presente dissertação apresenta
os potenciais da utilização de mecanismos à ‘prova de erro humano’, conhecidos
como poka-yoke, como forma de promover à adequação do móvel a estas
demandas e também como uma estratégia para o design sustentável para a
extensão da vida útil do mobiliário popular. A pesquisa trata da criação de
diretrizes para a utilização de poka-yokes, integrados ao produto, para prevenir e
mitigar erros humanos durante o processo de montagem e desmontagem do
móvel, executado pelo usuário final. A pesquisa apresenta, também, que o
emprego de poka-yokes no design de móveis populares é uma estratégia para a
sustentabilidade ambiental e social, por contribuir para a viabilização de diretrizes
propostas para o design sustentável de mobiliário, prolongando a vida útil do
produto, evitando o descarte prematuro e melhorando o bem-estar, a
habitabilidade e por conseqüência, melhorando a qualidade de vida da população
de baixa renda.
Palavras-chaves: Design Sustentável, Mobiliário Popular, Poka-yoke
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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Abstract
In Brazil, 85% of all population lives with three minimum wages for month (IBGE,
2007). These people presents, intensive house mobility e constantly adjustments
around the family configuration, during the family’s life-cycle. The furniture, does
not attend the real demands about mobility, flexibility and adaptability of this
social class. This dissertation presents the potential of mistake-proofing devices,
named poka-yoke, like a strategy to adequate the popular furniture to attend the
popular demands and like a sustainable design strategy to extend the popular
furniture’s life-cycle. This research carries out guidelines to use poka-yoke devices
on the products to predict human errors during the assembly and disassembly
furniture process made by final users. The research presents, also, that the
integration of poka-yokes on the furniture design, represents a strategy of the
three dimensions of sustainability, because can contribute for the application of
other guideline proposals to attend the sustainable design of furniture, promoting
repairs, upgrades, adjusts, extending its life-cycle, avoiding premature and
unnecessary disposals, improving the habitability and wellbeing of low income
people.
Key-words: Poka-yoke, Sustainable Design, Popular Furniture.
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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1 Introdução
O termo Poka-Yoke não é familiar a todos os leitores, fazendo-se necessário uma
introdução que esclareça os significados das palavras que o compõem e qual seu
conceito dentro deste trabalho.
1.1 Poka-Yoke – significado da palavra
Poka-Yoke é um termo japonês composto de duas palavras: yokeru que significa
evitar e poka que significa erros inadvertidos (CALARGE; DAVANSO, 2003; GROUT,
2004).
Desta forma, Poka-Yokes são mecanismos ou procedimentos utilizados para
prevenir erros em produtos, sistemas ou processos, idealizados e desenvolvidos
primeiramente pelo engenheiro Shigeo Shingo, a fim de proteger a produção
industrial da Toyota, de erros banais que pudessem vir a se transformar em
produtos defeituosos (TSOU & CHEN, 2005).
Este trabalho propõe-se utilizar do conceito destes mecanismos e sistemas à prova
de erros, como forma de auxiliar a montagem e desmontagem de móveis do tipo
faça-você-mesmo, visando manter a integridade física do produto, evitando seu
descarte prematuro e estendendo seu ciclo de vida.
1.2 Problema de Pesquisa
Como evitar erros no processo de montagem e desmontagem de móveis para
populações de baixa renda de forma a garantir de extensão do ciclo de vida?
1.3 Objetivo
Criar diretrizes para aplicação dos mecanismos poka-yoke em projetos de
mobiliário voltados à população de baixa renda de maneira a evitar erros no
processo de montagem e desmontagem e, desta forma, contribuir para a extensão
do ciclo de vida do produto.
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1.4 Hipótese
Os mecanismos poka-yoke colaboram para a redução dos erros de montagem e
desmontagem de móveis para a população de baixa renda e, desta forma,
contribuem para a extensão do ciclo de vida dos mesmos.
1.5 Justificativa
Atualmente o Brasil apresenta 7.832 milhões de déficit de moradias, sendo que
deste total, 95% são de moradias consideradas inadequadas, com adensamento
excessivo ou falta de itens essenciais à habitabilidade do ambiente construído.
Deste déficit, 83,2% se concentra na população que recebe até três salários
mínimos mensais, denominada população de baixa renda (IBGE, 2007) e demanda
do design, soluções inovadoras que contemplem a realidade econômico-social
desta população, particularmente no que diz respeito ao design dos móveis
populares.
Devido à grande mobilidade da população nesta faixa de renda, os móveis
necessitam ser montados e desmontados constantemente de maneira a adaptar-se
a ambientes diversos. O mobiliário para esta camada da população deve ser
pensado considerando que durante o ciclo de vida da família, as configurações
familiares se alteram, bem como as situações do domicílio, ou seja, seu caráter
provisório e a inadequação do espaço da habitação, conforme sugere FOLZ (2002):
“Pensar um mobiliário que dialogue com a
pequena dimensão da moradia, com a
complexidade da formação familiar e que seja
acessível economicamente para estes
moradores é uma forma de buscar possíveis
soluções que melhorem a habitabilidade” e
promovam o bem estar.
A afirmação de Folz (2002) representa a necessidade de se repensar o design de
móveis populares no Brasil, sob a ótica social. Esta importância reside no fato dos
móveis serem normalmente bens duráveis de longa duração (GORINI, 1998).
Segundo CHAVES (2007) os maiores impactos ambientais do móvel, concentram-se
nas fases de pré-produção, produção, distribuição e descarte do seu ciclo de vida.
Estudos desenvolvidos em países como Itália, Alemanha, Grã Bretanha e Austrália
definem, com base em Análise de Ciclo de Vida – ACV, os valores destes impactos e
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fornecem estratégia de design para melhorar a performance ambiental em cada
fase do ciclo de vida do móvel.
A fase de uso do mobiliário, segundo Lewis e Gertsakis (2001), é a que produz
menores impactos por não exigir consumo de energia. A estratégia adotada para
esta fase é a do design para a durabilidade ou extensão do ciclo de vida, que visa
retardar os impactos causados pelo descarte, geralmente relacionados à emissão
do formaldeído (substância altamente cancerígena) empregado na confecção de
compostos de madeira (MDF, aglomerados).
As estratégias de design sustentável encontradas na literatura, ainda que possam
ser tomadas como universais, necessitam adequações para atender as
peculiaridades da realidade brasileira. As condições impostas pela realidade desta
população no Brasil contribuem para reduzir significativamente a durabilidade do
produto. Os móveis destas famílias passam ao longo de seu ciclo de vida por
processos de montagem e desmontagem, arranjos e adaptações, que, somados à
falta de conhecimento do processo de montagem/desmontagem e ausência de
ferramentas adequadas, danificam os móveis estruturalmente, funcionalmente e
esteticamente.
Como resultados deste contexto existem impactos sobre a segurança dos produtos
durante o uso, bem como o seu descarte de forma prematura e que no Brasil não
é regulamentada. Ainda não existem políticas nacionais consolidadas de gestão de
resíduos, reciclagem ou recuperação energética. O móvel é descartado
integralmente no meio ambiente conforme ilustra a imagem a seguir.
FIGURA 1. 1: Mobiliário Descartado em Via Pública
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
Desta forma a presente pesquisa propõe como ferramenta, para promoção da
extensão do ciclo de vida, a utilização de mecanismo de prevenção de erros,
conhecidos como poka-yoke. O objetivo de prevenir e evitar erros nos processos
de montagem e desmontagem dos móveis populares, que possam comprometer a
vida útil do produto. Neste sentido, pretende contribuir para o design de
mobiliários que contemplem as questões sociais e econômicas desta população,
utilizando-se para isto das estratégias do design para a sustentabilidade.
1.6 Visão Geral do Método de Pesquisa
O método de pesquisa utilizado neste trabalho é composto de Revisão de
Literatura e um Estudo de Caso, que objetiva gerar diretrizes para aplicação de
mecanismos poka-yokes em mobiliário popular, como forma de promover a
durabilidade do produto. Para isto, a revisão de literatura busca conhecimentos
sobre o desenvolvimento sustentável e sobre o erro humano e as estratégias
conhecidas para evitá-lo, com ênfase nos mecanismos poka-yoke.
O Estudo de Caso é composto de duas etapas. A primeira constitui-se de uma mini-
survey que possibilitou caracterizar o mobiliário correntemente ofertado para esta
população. Na segunda etapa realizou-se uma segunda mini-survey, esta realizada
no interior de um grupo de habitações de interesse social, com o propósito de
identificar a dinâmica de uso do mobiliário nestes ambientes. Finalmente,
utilizando as informações oriundas da revisão de literatura, da caracterização do
mobiliário ofertado no mercado e dos requisitos apontados do estudo nas
habitações, foi realizada a análise da inserção das soluções poka-yoke no processo
de desenvolvimento de um móvel voltado a esta população. A análise cruzada dos
resultados destas três etapas permitiu estabelecer as diretrizes propostas ao final
da dissertação.
1.7 Limitações da Pesquisa
A pesquisa tem por foco os processos realizados pelo próprio usuário, denominado
leigo. Não serão analisados poka-yokes relacionados à segurança do usuário, e sim
e tão somente aqueles que garantem a integridade do produto, muito embora a
busca pela segurança permeie as ações práticas realizadas na fase de campo. Da
mesma forma, o foco da pesquisa é tão somente a montagem e desmontagem do
móvel, durante a fase de uso do produto.
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Esta dissertação não trata das questões sócio-culturais da população brasileira. Da
mesma forma, apesar de estudo trabalhar com o conceito de design do ciclo de
vida, não será confeccionada uma Análise do Ciclo de Vida – ACV, pois, não faz
parte do escopo do estudo a determinação quantitativa dos impactos ambientais
resultados dos inputs e outputs das fases do ciclo de vida do produto. As análises
neste aspecto restringem-se ao aspecto conceitual do mobiliário e as repercussões
passíveis de inferência a partir das mini-surveys realizadas e do produto-piloto
desenvolvido.
Não faz parte do escopo da presente dissertação, a análise de custos para criação e
inserção de mecanismos poka-yokes nos produtos, bem como o repasse e impactos
destes custos ao produto final.
1.8 Estrutura da Dissertação
Esta dissertação é estruturada em seis capítulos:
Capítulo 1- Introdução que apresenta o objetivo de pesquisa, hipótese,
justificativa, visão geral do método e estrutura da dissertação.
Capítulo 2- Revisão bibliográfica sobre o Design Sustentável.
Capítulo 3- Revisão bibliográfica sobre Erro Humano e Poka-yoke.
Capítulo 4- Método de Pesquisa define e apresenta o método de Estudo de Caso,
utilizado para cumprir o objetivo de pesquisa.
Capítulo 5- Resultados e análises das pesquisas realizadas durante o estudo de
caso: mini-survey mercadológica, mini-survey em habitações de interesse social e
aplicação em produto piloto.
Capítulo 6- Conclusões da pesquisa, observações sobre o método utilizado e
sugestões para trabalhos futuros.
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2 A Contribuição do Design para o
Desenvolvimento Sustentável
2.1 Contexto do Capítulo
No capítulo anterior foram apresentadas as motivação desta pesquisa na dimensão
social, ambiental e econômica. Neste capítulo, se apresentam as definições de
design sustentável bem como suas abordagens heurísticas na dimensão ambiental
voltadas à extensão do ciclo de vida de produtos. A seguir são apresentados os
principais erros humanos e suas implicações na manutenção do ciclo de vida e,
finalmente, é apresentado o conceito de poka-yoke como solução passível de ser
integrada ao projeto de produtos de forma a reduzir/eliminar erros humanos e,
desta forma, ampliar a expectativa de vida de um dado produto.
2.2 Desenvolvimento Sustentável – Definição
Desenvolvimento é o ato ou efeito de
desenvolver; série de etapas, acontecimentos
ou ações que levam ao surgimento de algo
ou à manifestação em todos os seus aspectos
(...).
Sustentável é aquilo que se pode sustentar;
capaz de se manter constante ou estável por
um longo período. (AURÉLIO, 2001)
O desenvolvimento sustentável tem como mote principal a busca por soluções
que permitam que as gerações futuras tenham acesso aos recursos naturais em
níveis semelhantes ao que temos no presente. Nesta visão antropocêntrica, busca-
se a garantia da perpetuação das gerações humanas futuras. Segundo o WCED
(1992) o desenvolvimento sustentável deve estabelecer o direcionamento de
investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e mudanças
institucionais da sociedade (WCED, 1987, p.24, RIO, 1992).
O desenvolvimento, para ser sustentável depende do equilíbrio entre
desenvolvimento econômico, bem estar social e preservação do meio ambiente
(AGENDA 21, 2002). Estes três pilares, mantêm entre si, relações de trocas e de
inter-dependência, conforme representado na Figura 2.1 a seguir (KAREN; PARRIS;
LEISEROWITZ, 2005):
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FIGURA 2.1: Três Dimensões do
Desenvolvimento Sustentável
Fonte: Adaptado de Manzini &;
Vezzoli, 2005
As relações entre as três dimensões da sustentabilidade, representadas na Figura
2.1, têm como limitante a resilência do planeta. Resiliência é a “capacidade de
sofrer uma ação negativa sem sair de forma irreversível da sua condição de
equilíbrio” (MANZINI; VEZZOLI, 2005 p.27). Equilíbrio, por sua vez, é um estado
fundamental para o desenvolvimento sustentável. A consciência da sociedade
quanto à importância deste princípio é recente e ainda necessita de esforços para
acelerar sua disseminação e consolidação.
2.3 A Evolução do Conceito de Desenvolvimento Sustentável
Esta seção descreve uma breve linha evolutiva da construção do conceito de
desenvolvimento sustentável, apresentado na seção anterior (FIGURA 2.2).
A Primeira Revolução Industrial iniciou-se no século XVIII, compreendendo uma
série de evoluções tecnológicas do modelo produtivo e modificando
profundamente modelos econômicos e sociais. O crescimento da população
mundial, da produção e do consumo, neste período, resultou no aumento na
utilização dos recursos naturais e na degradação do ambiente. As primeiras
elaborações textuais que tangem a questão da resiliência do planeta foram feitas
nesta época.
O economista Thomas R. Malthus (1766-1834), no livro “Um Ensaio sobre a
População” (MALTHUS, 1815), pontua que a agricultura é incapaz de prover
alimento a toda a população, pois o crescimento da população mundial se dá em
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progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos cresce em progressão
aritmética (MALTHUS, 1992 p. 61-62). Também deste período, tem-se a observação
feita por MARSH (1801-1882) no livro Man and Nature. Segundo o autor, “(...) a
ação do homem sobre o mundo orgânico tende a subverter o equilíbrio original
das espécies (...)” (MARSH, 1865, p.IV).
Alguns anos depois, contemporaneamente à Primeira Guerra Mundial (1914-1918)
surgem às primeiras ações políticas (práticas) de proteção ao meio ambiente, com
a criação de áreas de proteção ambiental e sociedades ambientalistas em diversos
continentes (FOLADORI, 2001). Durante a Segunda Guerra Mundial, o
desenvolvimento e utilização de substâncias químicas e energia atômica como
armas de destruição, mostraram que o ambiente é uma das grandes vítimas das
guerras humanas e que suas conseqüências podem ser irreversíveis (LÓPEZ, 2008).
Assim, no ano de 1945, foi fundada a Organização das Nações Unidas - ONU, com
o objetivo de manter a paz e a segurança internacionais, desenvolver relações
amistosas entre as nações e conseguir a cooperação internacional para resolver os
problemas socioeconômicos, culturais e humanitários (ONU, 2008). Três anos
depois, em Donora - EUA, um inversão térmica fez com que a poluição lançada por
uma indústria de aço da cidade causasse a morte de 18 pessoas (KAZAZIAN, 2005;
SAIANI, 2001) . Neste mesmo ano de 1948 é fundada a primeira organização
mundial de proteção a natureza, sob a sigla de IUCN – International Union for
Conservation of Nature (IUCN, 2008).
No pós-guerra, estabeleceu-se uma política econômica bipolar entre os que
defendiam o capitalismo e os que defendiam o socialismo, representados
respectivamente por Estados Unidos e União Soviética. Este período, chamado de
Guerra Fria (1945-1991), proporcionou imensos avanços tecnológicos, marcados,
dentre outros, pela corrida espacial e as e desenvolvimento nas telecomunicações.
Enquantos ambos os polos econômicos produziam armas de destruição em massa,
como bombas biológicas, químicas e nucleares, o mundo assistou ao surgimento
de movimentos ambientalistas e organizações não gorvernamentais –ONGs pela
paz e pela preservação da natureza (FILHO; SAMPAIO, 2004). Em 1969 o homem
pisa na Lua e descobre a Terra. A imagem do Planeta gerou discussões sobre sua
fragilidade e da espécie humana (SAINAI, 2001; KAZAZIAN, 2005).
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Em 1972, em Estocolmo foi realizada a primeira reunião global sobre a rápida
degradação do ambiente natural, chamada UN - Conference on the Human
Environment, cujo foco principal foram questões ambientais climáticas
relacionadas com o desenvolvimento industrial, aumento do consumo, poluição e
resíduos de países desenvolvidos (DIXON; FALLON, 1989; BARRY, 200-). Neste
mesmo ano foi estabelecido o Programa da Nações Unidas para o Meio Ambiente
UNEP. Contemporaneamente, o designer Victor Papanek, lançou o livro Design
for a Real World, no qual propôs que o design assumisse uma postura mais
responsável em relação ao produto industrial, ao meio ambiente e a sociedade
(WHITELEY, 1993; KAZAZIAN, 2005; MAGOLIN; MAGOLIN, 2005).
A primeira crise do petróleo, ocorreu em 1973 e deixou a consciência da
necessidade de se diversificar as fontes energéticas mundiais. Paralelamente, estes
primeiros anos da década de 70 foram de grande produção intelectual, em direção
a sustentabilidade, podendo-se destacar (BARRY, 200-) :
· How to be a Survivor: A Plan to Save Spaceship Earth (Paul Erlich 1971);
· The Limits to Growth (Meadows et al. 1972) by the Club of Rome;
· A Blueprint for Survival (The Ecologist, 1972) promoting a movement for man
to live ‘with’ nature and calling for a stable (and sustainable) society with a
diversity of physical and social environments ;
· Only One Earth (Barbara Ward and Rene Dubos, 1972) for the UN Conference
on the Human Environment in Stockholm in that year; and Small is Beautiful
(Schumacher 1973).
Assim posto, o primeiro esboço intelectual do que seria posteriormente
denominado “desenvolvimento sustentável”, aparece na Declaração de Cocoyoc
de 1974. Mas, é somente em 1980, na World Conservation Strategy que esta idéia
alcançou nível internacional (BARRY, 200-).
Em 1986 ocorre o maior acidente nuclear da história. Uma série de erros humanos
durante um procedimento na Usina Nuclear de Chernobyl, em Prypiat – URSS,
provocou a explosão do reator, causando incalculáveis danos sociais, ambientais e
econômicos, que perduram até hoje. As consequências foram agravadas pelo
cenário da Guerra Fria, visto que durante 10 dias, a então União Soviética, negou o
acidente, só confirmado devido aos alertas feitos pela Dinamarca, um dos pontos
para onde a radiotividade arrastada pelos ventos, foi captada. O homem teve
noção a capacitade destrutiva de um erro humano (KAZAZIAN, 2005). Um ano
após o desastre, em 1987, a Comissão de Brundtland estruturou o Relatório
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Brundtland, conceitualizando desenvolvimento sustentável e suas três dimensões:
ambiental, econômica e social.
Figura 2.2: Panorama da evolução do conceito de Desenvolvimento Sustentável
1815 | Malthus - An Essai of the Population |
1914-18 | Primeira Guerra Mundial |
crião de áreas de preservão ambiental
1934-45 | Primeira Guerra Mundial |
| Criação da ONU
| Início da Guerra Fria |
1948 | Desastre de Donora
| Criação da IUCN
1969 | Homem pisa na Lua
1972 |
Estocolmo - UN - Conference on the Human Environment
1973 | Design for a Real World - Papanek
| Crise mundial do petróleo
1974 | Declaração de Cocoyoc
1986 | Desastre de Chernobyl
1987 | Declaração de Burdtland para o Desenvolvimento Sustentável
1991 | Fim da Guerra Fria
1992 | Declaração Rio92
1993 | Design for Society - Whiteley
2002 | Declaração de Johanesburgo
| Limits of the Growth - Club di Roma
Em 1991, dissolve-se União Soviética, decretando o fim da Guerra Fria e com isso,
muitas das tecnologias desenvolvidas para a “guerra” foram colocadas à
disposição da população mundial. Um grande salto nas tecnologias de informação
fez com que as “distâncias” se tornassem menores. Informações em tempo real
com o auxilio da internet foram fundamentais para a chamada “globalização”, o
ápice do capitalismo (MAGARIÑOS, 2005).
No ano seguinte, em 1992, no Rio de Janeiro (BARRY, 200-) foi realizada a
Conference on Environment and Development - UNCED, conhecida como Earth
Summit. A RIO-92 estabeleceu diretrizes e metas claras para o desenvolvimento
sustentável, com objetivos, limites e prazos concretos para ações em todos os
segmentos da sociedade (BARRY, 200-). Durante a Conferência foi redigida a
Agenda 21 que reúne o conjunto de premissas e recomendações sobre como as
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nações devem agir para alterar seu vetor de desenvolvimento em favor de
modelos sustentáveis e a iniciarem seus programas de sustentabilidade". (SILVA,
200-). Também em 1992, Nigel Whiteley lança o livro Design for Society (1993),
criticando e questionando o papel dos designers em uma sociedade de
consumismo crescente: uma resposta ao chamado feito por Papanek em 1972,
porém, duas décadas depois (LEWIS; GERTSAKIS, 2001).
Dez anos após, em 2002, foi realizada em Johanesburgo a World Summit on
Sustainable Development, também conhecida como Rio+10, cuja declaração, em
seu início, reporta a evolução da compreensão da real dimensão da complexidade
das mudanças no sistema, exigidas para se atingir a sustentabilidade. Segundo o
documento, a preocupação inicialmente era questão ambiental. Já em
Johanesburgo o foco é desenvolvimento humano e a palavra chave é “ética”.
“nós assumimos coletivamente a responsabilidade de
progredir e fortalecer a interdependência e, mutualmente
reforçar os pilares do desenvolvimento sustentável –
desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e
proteção ambiental – tanto a nível local, quanto regional e
global. (...) e criar um plano prático e visível para promover
a erradicação da probreza e garantir o desenvolvimento
humano. (...) porquê o foco do Johannesburg Summit é a
indivisibilidade da dignidade humana (...)”(WSSD, 2002)
O projeto da Decade (UNESCO, 2008) assume a definição sistêmica de
desenvolvimento sustentável pelo qual, tanto a nível planetário quanto regional,
o desenvolvimento social e produtivo deve acontecer dentro dos limites da
resiliência do ambiente, sem comprometer as gerações futuras (conservação dos
recursos) e em un quadro de igual satisfação dos mesmo (redistribuição dos
recursos) (VEZZOLI, 2007b).
A obtenção deste equilíbrio complexo é uma demanda interdisciplinar, que vai
além de medidas reparadoras do tipo end-of-pipe. Exige mudanças radicais nos
atores da sociedade e nas suas relações. Dentro deste cenário de transição, o
design tem um papel em evolução que agora traçamos no seu manifestar-se na
pesquisa e na prática do design” (VEZZOLI, 2007a).
Na seção a seguir apresenta-se o quadro evolutivo da sustentabilidade no design e
seus níveis de atuação na pesquisa e na prática.
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2.4 A Evolução da Sustentabilidade no Design
Como apontado anteriormente, o desenvolvimento sustentável exige mudanças
radicais aos atores do sistema (UNEP, 2005), para obtenção de um equilíbrio entre
os desenvolvimentos econômico e social, sem ultrapassar os limites da resiliência
ambiental. O mundo, portanto, vive atualmente um período de transição e
profundas mudanças, que se refletem também no papel e no conceito de design
(VEZZOLI, 2006, 2007b).
Na visão ortodoxa do que vem a ser o Design, o design sustentável apresenta-se
como um paradoxo aos resultados finais da atividade profissional do Designer. De
fato, o Design per se é fruto da Revolução Industrial e da economia capitalista. A
Bauhaus, primeira escola de design do mundo, foi criada em 1919 para atender as
necessidades práticas da nova produção industrial (MARGOLIN, 2005). Através da
fusão de conhecimentos da arquitetura, do artesanato e das artes, por exemplo, a
escola promoveu as adaptações necessárias, às características do produto para a
produção industrial. Os requisitos formais dos produtos artesanais (Figura 2.3)
eram diversos daqueles produzidos industrialmente (Figure 2.4).
FIGURA 2.3: "Balloon" Chair or
"Backstool"- William Connolly of
Castletown, 1725.
Fonte: www.tourismresources.ie
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FIGURA 2.4: Cadeira Wassily
Marcel Breuer – BAUHAUS
Fonte: www.modernfurniture.com
O primeiro conceito de design, presumia como resultado (...) um produto
industrial passível de produção em série (...) para a (...) satisfação de determinadas
necessidades de um indivíduo ou grupo” (LÖBACH, 2001 p.16-17). Esta ‘satisfação’,
durante um longo período foi relacionada exclusivamente ao produto, cuja a
forma deveria sempre seguir função. Quando a questão da sustentabilidade foi
apresentada à sociedade e à indústria, este conceito começou a sofrer
transformações. Na visão moderna do design sustentável o foco continua sendo na
plena satisfação do cliente. Porém, neste novo paradigma não necessariamente a
satisfação da necessidade é materializada na forma de um produto, podendo ser
alcançada, por exemplo, através de serviços ou sistemas produto+serviço.
As primeiras abordagens em direção ao hoje denominado desenvolvimento
sustentável, na metade do século passado, foram centradas na indústria, em
sistemas de despoluição conhecidos como End-of-Pipe. Estes sistemas agem, não
na produção, causa da poluição, mas nos resultados, através do tratamento dos
resíduos poluentes (ar, lixo, água, etc.) (FRONDEL; HORBACH; RENNINGS, 2004).
Em seguida os esforços de pesquisa e desenvolvimento foram direcionados à
própria produção, conhecida como Cleaner Production, ou seja, produção limpa,
que é o contínuo re-design de processos industriais para prevenir a poluição e a
geração de resíduos (UNEP, 1999). O ponto central desta abordagem, estava a
escolha de recursos de baixo impacto ambiental, o que servia tanto para materiais
quanto para fontes energéticas.
Palavras como atoxidade, reciclabilidade, biodegradabilidade, renovabilidade,
começaram a fazer parte do repertório das indústrias e dos consumidores. Alguns
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destes termos causaram confusões devido a falta de conhecimento estruturado
sobre os impactos dos materais e recursos energéticos sobre o ambiente. Um
exemplo disto pode ser visto na Figura 2.5, que mostra uma cadeira feita de
papelão ondulado, considerada mais ‘natural’ que uma cadeira de madeira
maciça, devido a um grau maior de biodegradabilidade. Note-se que o
desconhecimento dos impactos do CV causou confusões entre conceitos como a
biodegradabilidade e naturalidade dos materiais (VEZZOLI, 2007a).
FIGURA 2.5: Wanda Chaise
Long. Fonte: A4A DESIGN
Diversos erros foram cometidos utilizando somente a abordagem da Cleaner
Production pois o conhecimento, na época, era focado somente no resultado, não
havendo conhecimento disponível sobre os impactos do ciclo de vida (VEZZOLI,
2007a).
Ainda que Papanek tenha proposto o design com responsabilidade para com o
meio ambiente já nos anos 70, foi somente na segunda metade dos anos 90
(PAPANEK, 1985), segundo VEZZOLI (2007a) que o foco dos esforços foi dirigido
aos produtos industriais e, por consequência, ao design. Os produtos, conhecidos
como Cleaner Products (produtos limpos), incluiam (ou procuravam incluir)
melhoramentos, do ponto de vista ambiental, introduzidos pelo re-design
ambiental, também chamado de eco-design (FIGURA 2.4).
Com o tempo a própria inovação nos produtos sofreu uma evolução, passando do
esforço do tipo incremental - melhoramento do produto através do re-design,
para intervenções mais radicais – o design de novos produtos ambientalmente
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compatíveis (VEZZOLI, 2007a). Neste momento, com a base do conhecimento
advindo de pesquisas multidisciplinares, podia-se definir com clareza os impactos
ambientais de um produto e avaliar-los
Para VEZZOLI (2007a), só então foi contemplado a complexidade do projeto de
produtos de baixo impacto ambiental e aquilo que deve-se entender por
“requisitos ambientais dos produtos industriais”. Introduziu-se também, neste
período, o conceito do ciclo de vida dos produtos e re-contextualizou-se, em
respeito a dimensão ambiental, o conceito de função, chamando-a de unidade
funcional que é “a quantidade mensurável de uma função capaz de satisfazer a
uma necessidade”
Como um passo natural aos esforços anteriores, mais recentemente a atenção do
design foi do produto e serviço como unidades isoladas para a união dos dois, que,
na sua complexidade, é necessária para a satisfação de uma demanda. O design
passa a projetar Mix de Sistema de Produto mais Serviço – PSS (Imagem 3 e 4).
Segundo a UNEP (2002) “um Sistema de Produto mais Serviço pode ser definido
como o resultado uma estratégia inovadora mudando o foco do negócio do
design e venda de produtos somente, para a venda de sistemas de produtos
eserviços que juntos são capazes de atender completamente as necessidades
específicas de um cliente. Um exemplo deste novo conceito é apresentado no PSS
Allegrini, na Figura 2.6, a seguir:
FIGURA 2.6: PSS Allegrini – Caminhão de recarga. Fonte: UNEP, 2002
Como neste exemplo da Allegrini, que usa a abordagem do PSS, a natureza do
trabalho do design no contexto da sustentabilidade passa a ser de natureza
estratégica, não tem como objetivo a geração de um produto físico, mas sim, a
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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criação de sistemas de relações de parcerias que pode satisfazer as mesmas
demandas do cliente com menos impacto ambiental e social. Entre os quatro níveis
de interferência do design sustentável, representados na Figura 2.7, o redesign de
produtos existentes e design de produtos intrinsicamente sustentáveis são
abordagens consideradas reparadoras, pois ainda necessitam do produto físico
para a satisfação de uma necessidade.
FIGURA 2.7: Abordagem Reparadora e Ambientalmente mais Estratégicas do Design
Sustentável. Fonte: Adaptado de Manzini & Vezzoli, 2005.
PSS e o Projeto de Novos Cenários, são consideradas abordagens ambientalmente
mais estratégicas . Aqui, o design trabalha com a chamada unidade de satistação,
que é a representação subjetiva da demanda a ser atendida e das relações que
precisam existir para satisfazê-la, “transcendendo o somente objeto fisico para
abranger as relações entre as empresas e os outros agentes sócio-econômicos”
(VEZZOLI, 2005, 2007). Nos sistema mais inovadores como o PSS e os Novos
Cenários, o designer tem o papel de projetar as interações, orientando as relações
entre os atores no ciclo de vida do produto/sistema/cenário.
Neste sentido, para abranger os novos papéis do design, em 2005 o Internacional
Council of Society of Industrial Design – ICSID, propõe para ele um novo conceito:
“Design é uma atividade criativa que significa
estabelecer qualidades multifacetadas a objetos,
processos, serviços e seus sistemas em todo o ciclo de
vida” (ICSID, 2005).
Este conceito engloba as novas funções que o design assume do como agente
colaborador e promotor do desenvolvimento sustentável. Na construção de novos
cenários de vida o UNEP (2002) vem disseminando ferramentas e conceitos
voltados à produção e consumo sustentável. Segundo o UNEP (2002) “ é o uso de
bens e serviços que respondem às necessidades básicas e melhoram a qualidade de
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vida, enquanto minimiza o uso de recursos naturais, materiais tóxicos e
contaminantes em todo o ciclo-de-vida, de modo que não comprometa as
necessidades das gerações futuras”. Esta inovações “são mudanças no padrão do
bem estar, cujo crescimento, nos países desenvolvidos, ainda está intimamente
ligada ao crescimento do consumo de materiais e energia” (MANZINI, 2002;
VEZZOLI, 2007a).
As mudanças no comportamento de consumo da sociedade, são relacionada à
ética do desenvolvimento sustentável e aos caminhos da pesquisa de modelos de
igualdade social e desmaterialização das ofertas sociais de bem estar (MANZINI,
2002; VEZZOLI, 2007a, 2007b). No Brasil, o Ministério do Meio Ambiente, lançou,
este ano, o Comitê Gestor de Produção e Consumo Sustentável (CGPCS), com um
plano de ação para promover a produção e o consumo sustentável, que tem como
objetivo conscientizar o consumidor, através da educação, da sua responsabilidade
para com a sustentabilidade e como extensão mudar os padrões de produção
(MMA, 2008).
Mais recentemente vem sendo investigado metodologias e ferramentas que
possibilitem a instrumentalização do design na busca pela Igualdade e Coesão
Sócio-ética. As pesquisas, neste nível de atuação são pouco consolidadas, em
relação a outras áreas de conhecimento do design sustentável, conforme aponta a
Figura 2.8, a seguir.
FIGURA 2.8: Porcentagem de consolidação das pesquisa e prática dos conhecimentos
em design sustentável. Fonte: Vezzoli, 2007.
sistema de design
eco-eficiente
design do
ciclo de vida
materiais e energia
de baixo impacto
design para a
igualdade sócio-ética
Disseminação
(educação e prática)
0%
100%
0% 100%
Fronteiras de
novas pesquisas
consolidação
(conhecimentos adquiridos)
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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18
A Figura 2.8 mostrou que as primeiras estratégias do design sustentável, como a
escolha de materiais e fontes energéticas de baixo impacto e design para o ciclo
de vida, tem seus conhecimentos consolidados de disseminados, tanto na
educação, quanto na prática. As discussões sobre os papéis do design para a
igualdade sócio-ética, por sua vez, encontram-se na sua gênese (VEZZOLI, 2007b).
Diversos autores procuram compreender as diferentes necessidades de bem-estar
das diversas sociedades e discutir os papéis do design na promoção deste bem-
estar (MARGOLIN, 2002; PENIN, 2006; TISCHNER, VERKUIJL, 2006; VEZZOLI, 2007).
Para PAPANEK (1985), o design deve resultar da soma da responsabilidade social e
da ética e deve ser consciente do impacto de sua ação em um dado contexto. Esta
premissa esta presente no conceito de Design de Sistemas para a Igualdade e
Coesão Sócio-ética, que presume um “esforço da atividade do design em propor
sistemas de produção e consumo que sejam ao mesmo tempo economicamente
competitivos e socialmente equitativos e coesivos” (VEZZOLI, 2007b, p.141).
Para tanto, o Design para a Igualdade e Coesão Sócio-ética, utiliza-se dos critérios
propostos na Metodologia para Sistema Produtos mais Serviços (MEPSS, ) que
incluem (VEZZOLI, 2007b, p.123):
· Melhorar empregos e condições de trabalho;
· Melhorar a igualdade e justiça nas relações entre os atores do
sistema;
· Promover a resposabilidade e o consumo sustentável;
· Favorecer/ integrar os estratos marginalizados;
· Melhorar a coesão social;
· Fortalecer e valorizar os recursos locais.
Para desenvolver produtos socialmente éticos, é necessária a utilização de
estratégias e linhas-guias para o desenvolvimento de produtos intrinsicamente
sustentáveis, apresentadas na seção seguinte.
2.5 Conceitos e Princípios Associados à Dimensão Ambiental
do Design Sustentável
2.5.1 Ciclo de Vida de um Produto/Serviço/Sistema
O conceito basico a ser aplicado em qualquer nível de atuação do design para a
sustentabilidade, é o conceito de ciclo de vida de um produto (produto físico,
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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19
serviço ou sistema). Ciclo de Vida é o período que compreende desde a extração
das matérias primas virgens para fabricação de todos os componentes do produto,
até sua completa eliminação ou retorno ao meio ambiente. Este período pode ser
dividido em cinco fases principais, durante as quais produto realiza trocas (inputs e
outputs) com o meio em que está inserido: pré produção, produção, distribuição,
uso e descarte (MANZINI; VEZZOLI, 2005) conforme mostra a Figura 2.9.
FIGURA 2.9: Life Cycle Design. Fonte: Adaptado de Manzini & Vezzoli, 2005
Acima, a Figura 2.9 apresenta um panorama de todas as trocas fisico/ químicas em
um produto/sistema, visto em todas as fases do ciclo de vida. A Pré-produção é o
período em que todos os componentes, que serão utilizados na confecção de um
produto, são adquiridos, diretamente da natureza ou da reciclagem de materiais,
transportados para o local da aquisão produção e transformados em materiais ou
energia.
Produção é o período em que todos os materiais são transformados, unidos e
acabados para a formação do produto final. Em alguns casos, certas etapas da
produção, como montagem final e acabamento, são realocadas para a fase do uso.
A distribuição compreende a embalagem, distribuição e armazenamento de um
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produto. É período relativo ao deslocamento do produto ao ponto de venda, ou
destino final.
Uso ou consumo, compreende o período em que o produto exerce sua função.
Esta fase engloba a “vida útil do produto”, que, segundo Manzini e Vezzoli (2005)
é o período de tempo que, em condições normais de uso, um produto ou material
possa durar, conservando suas capacidade de serventia, seguindo a um padrão.
Quando estas capacidades são exauridas, é o momento da eliminação.
A eliminação ou Descarte é o período em que o produto, não exercendo mais sua
função pode, ser é devolvido a natureza, ser reciclado para recuperação de partes,
componentes ou materiais ou ser incinerado para recuperação energética (LEWIS;
GERTSACKS, 2001).
Para Manzini e Vezzoli (2005, p. 182), as razões que levam à eliminação de um
produto são: “a degradação de suas propriedades físicas ou a fadiga natural,
causada pelo uso intensivo, a degradação devido a causas naturais ou químicas, os
danos causados por incidentes ou uso impróprio” . Além destas outras duas razões
são citadas: obsolescência tecnológica e obsolescência estética e/ou cultural.
2.5.2 Estratégias para obtenção do Design Sustentável na
Dimensão Ambiental
2.5.2.1 Visão Geral
O design sustentável utiliza-se das estratégias que auxiliam no design de um
produto de baixo (ou controlado) impacto ambiental. As principais são a
minimização dos recursos, escolha de recursos de baixo impacto ambiental,
otimização da vida dos produtos, extensão da vida dos materiais e facilidade de
desmontagem. Conforme apresenta a Figura 2.10 a seguir, cada uma destas
estratégias é direcionada a uma ou mais fases do ciclo de vida descritas acima.
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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21
FIGURA 2.10: Estratégia do Design do Ciclo de Vida e as Fases do Ciclo De Vida do Produto.
Fonte: Adaptado de Manzini; Vezzoli, 2005
pré-produção
produção
distribuição
uso
descarte
minimização
de recursos
otimizão
da vida
dos produtos
escolha
de recursos
de baixo
impacto
exteno do
da vida
dos materiais
facilidade de desmontagem
Segundo a Figura 2.10, a minimização dos recursos, tanto materiais quanto
energéticos, juntamente com a escolha de recursos de baixo impacto ambiental e
energias de fontes renováveis e ecocompatíveis, são estratégias que podem ser
utilizadas para reduzir impactos ambientais, em todas as fases do ciclo de vida do
produto.
A otimização da vida dos produtos está relacionada às fases de distribuição, uso e
descarte, como uma estratégia que prevê a criação de produtos que perdurem.
Para a aplicação eficaz desta estratégia é necessário conhecer a classificação do
produto. Os produtos podem ser divididos entre bens de consumo e bens duráveis.
Os bens de consumo são subdivididos me duas categorias: bens que são
consumidos durante o uso, como por exemplo produtos de higiene e bem
monouso como por exemplo jornais e revistas. Os bens duráveis são subdivididos
tembém em duas categorias: bens que necessitam de poucos recursos
(materiais/energéticos) durante o uso, por exemplo, móveis; bens que necessitam
de recursos durante o uso, como por exemplo, eletroeletrônicos.
A extensão do ciclo de vida dos materiais, é uma estratégia que visa a
valorização/recuperação dos materiais que compõem um produto, aplicada
principalmente na fase de descarte. Esta estratégia é interessante pois influe
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diretamente nos impactos da pré-produção, visto que muitos materiais necessitam
uma grande quantidade de insumos e energias para serem captados da natureza.
A facilidade de desmontagem é uma estratégia que auxilia tanto na otimização da
vida do produto, quanto na extensão do ciclo de vida dos materiais. Por
consequência, seu emprego reflete diretamente na pré-produção e na produção,
promovendo a durabilidade do produto e correta recuperação de materiais e
energia.
Cada projeto de produto, demanda o emprego de uma uma ou mais estratégias,
conforme a definição de sua abordagem ambiental. Para cada estratégia, existem
linhas-guias que orientam as escolhas do designer, nos diversos momentos do
processo de design, apresentadas no Quadro 2.1. Neste quadro encontram-se em
negrito aquelas enfatizadas na fase de campo desta dissertação.
QUADRO 2.1 : Linhas-Guias para o Design do Ciclo de Vida e as Fases do Ciclo de Vida do
Produto. Fonte: Adaptado de Manzini & Vezzoli, 2005.
Fase do ciclo de vida Linhas-guias para o projeto do produto sustentável
Pré-produção
Escolher matérias primas de baixo impacto ambiental (fontes
renováveis), Evitar materiais tóxicos ou perigosos,
Escolher processos limpos de produção,
Maximizar a eficiência do uso da energia e da água,
Diminuir os resíduos.
Produção (incluindo Pré-
montagem/
montagem final)
Utilizar processos limpos de produção,
Diminuir números de componentes,
Diminuir estágios do processo,
Reduzir diversidade de materiais,
Evitar uso de produtos tóxicos e perigosos,
Eliminar acabamentos que contenham metais pesados,
Maximizar a eficiência do uso da energia e da água,
Diminuir os resíduos.
Distribuição
Escolher transporte eficiente,
Maximizar a eficiencia o transporte através da redução de
dimensões do produto, modularização, desmontagem.
Uso
Escolher tecnologias para maximizar a eficiência do uso da energia
e da água,
Diminuir os resíduos,
à Prever e facilitar melhoras tecnológicas,
à Prever e facilitar melhoras estéticas
à Prever e facilitar manutenções.
Descarte
Projetar para o fim do ciclo de vida,
Diminuir número de componentes,
Diminuir diversidade de componentes,
à Facilitar a desmontagem,
Facilitar a separação,
Projetar para um novo ciclo de vida
à Projetar para a desmontagem
à Projetar para durabilidade
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Conforme destacado no quadro anterior, o design para desmontagem e o design
para a durabilidade, são estratégias importantes para esta pesquisa. Assim a seguir
são descritas as características de ambos e as linhas que orientam sua aplicação.
2.5.2.2 Design para a Montagem e Desmontagem
O design para a montagem/desmontagem (D4A/D) é uma estratégia bem
estruturada, cuja importância baseia-se em que, ao facilitar a separação de partes
e materiais, se facilita também reparos, manutenções, atualizações e a própria
reciclagem e extensão da vida dos materiais (JOVANE; 2005; MANZINI; VEZZOLI,
2005). As abordagens heurísticas para implementar o D4A/D incluem:
§ Minimizar e facilitar as operações de montagem e desmontagem;
§ Usar sistemas de junções removíveis;
§ Se necessária a junção permanente, facilitar a extração;
§ Prever tecnologia para desmontagem destrutiva;
§ Prever o uso de materiais de fácil separação em caso de trituração;
§ Uso de insertos metálico que possam ser separados para a trituração;
Outras linhas-guias importantes, são aquelas que orientam o design para
extensão do ciclo de vida ou design para a durabilidade, propostas por Lewis e
Gertsacks (2001, p.88):
§ Identificar e eliminar pontos fracos no design, particularmente para partes
operacionais (utilizar métodos para análise de erros: FMEA, TAFEI);
§ Assegurar que o produto suporte os maus usos tanto quanto os usos para o
qual foi projetado;
§ Projetar para a segurança – erros danificam produtos, machucam pessoas e
promovem o descarte prematuro;
§ Projetar para facilitar a manutenção e o reparo, de preferência pelo
próprio proprietário;
§ Considerar que o design clássico pode encorajar os consumidores a querer
manter o produto por longos períodos.
§ Intensificar o uso através de compartilhamento do produto
o multifuncionalidade
o integração de funções
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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Estas linhas-guias tem como mote principal evitar a disposição prematura
de produtos e aplicam-se principalmente aos bens duráveis (MANZINI; VEZZOLI,
2001), que são os produtos cujos impactos menores ocorrem no período de uso.
Entre eles pode-se destacar o mobiliário, que devido a sua composição têm seu
maior impacto nas fases de pré-produção, produção, distribuição e descarte. A
fase de Uso caracteriza-se pela pequena troca enérgica com o ambiente, sendo,
portanto, interessante estender-la. Um exemplo é a Cadeira AERON, projetada
pela Herman Miller. A empresa oferece 12 anos de garantia para esta cadeira,
durante os quais a empresa repõe qualquer peça ou componente danificado,
através de projeto é centrade na na facilitação da desmontagem. As peças
projetadas para facilitar trocas e reparos e os materiais para fácil re-uso ou
reciclagem (FIGURA 2.11).
FIGURA 2.11: Cadeira Aeron Herman Miller. Fonte: HERMAN MILLER
Além da facilidade da montagem e desmontagem como estratégia do design para
a durabilidade/ extensão do ciclo de vida do produto, Manzini e Vezzoli (2005)
sugerem a importantância de se projetar para a confiabilidade, pois produtos
inseguros são facilmente descartados. Esta abordagem é detalhada a seguir.
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2.5.2.3 Design para a confiabilidade
“Avaliar a qualidade dos produtos, a segurança/confiabilidade é um dos critérios
mais significativos para o design para a durabilidade, pois o baixo impacto de um
produto é ligado também a este princípio” (MANZINI; VEZZOLI, 2005, p. 190). Os
produtos que não são seguros, mesmo que duráveis são facilmente descartáveis
pois podem apresentar riscos a segurança do usuário e provocar danos ao próprio
produto.
Produtos não seguros, cujo design é resultado de más escolhas durante seu
processo, podem induzir ao erro na fase de uso do produto, e consequentemente
a dimunição de seu ciclo de vida. O erro no design e o projeto de produtos não
confiáveis e não seguros é um “agravo em termos ambientais, econômicos e
sociais” (MANZINI; VEZZOLI, 2005, p. 190), pois eles tem que ser reparados ou
descartados.
As características ligadas à segurança do produto estão no número de
componentes, sua confiabilidade e garantia quanto a configuração do produto,
conforme sugerido por Manzini e Vezzoli (2005, p. 191) minimizar o número de
partes e componentes, simplificar os produtos e evitar junções frágeis.
As linhas-guias para um produto seguro e confiável, apresentadas por Manzini e
Vezzoli são genéricas. Porém a estratégia é descrita como um critério significativo
para a sustentabilidade, pois erros são responsáveis pelo descarte prematuro de
produtos e isto gera a necessidade da produção de novos produtos que os
substituam.
Em produtos de longa durabilidade como mobiliário, cujas fases de pré-produção,
produção e transporte são bastante inquinantes, erros durante o uso devem ser
considerados para se evitar o descarte premanturo. A sustentabilidade no
mobiliário, é tema de pesquisas em design em diversas instituições, que se
concentram, principalmente, no setor de mobiliário para escritório. A seção
seguinte apresenta os resultados relevantes destas pesquisas para o
desenvolvimentos de diretrizes sustentáveis para mobiliário residencial popular no
Brasil.
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2.6 Iniciativas internacionais de design sustentável aplicadas
ao design de móveis
Durante a pesquisa foram identificados alguns estudos específicos de design
sustentável orientados ao mobiliário. Para os propósitos da presente pesquisa a
pesquisa no setor de mobiliário que proveu informações instrumentais para a fase
de campo derivam da tese de doutorado de Chaves (2007), desenvolvida no
Instituto Politecnico de Milão. Esta tese contém linhas-guias para o design do ciclo
de vida de mobiliário para escritório. Selecionou-se deste material as linhas guias
sugeridas para a extensão do ciclo de vida do produto (CHAVES, 2007). No Quadro
2.2 a seguir são destacadas as estratégias chaves para a extensão do ciclo de vida
do móvel e em sequência são apresentadas as linhas-guias que colaboram para a
estratégia.
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QUADRO 2.2: Linhas-Guias para a Extensão do CV do Mobiliário – Fase de Uso Fonte:
Adaptado de Chaves, 2007.
Extensão do CV- Uso: Durabilidade
Projetar a durabilidade de todos os componente;
Projetar a durabilidade da vida útil de componentes que serão trocados durante o ciclo de vida do
produto, correspondente a sua duração prevista;
Selecionar materiais duráveis considerando às necessidades a vida útil do produto;
Evitar materiais permanentes para funções temporárias;
Extensão da durabilidade do produto através de troca de componentes;
Projetar encaixes com fácil retirada para evitar danos;
Projetar móveis para montagem no local de uso para evitar danos;
Usar materiais de acordo com suas funções;
Extensão do CV- Uso: Reparo
Facilitar a remoção e sustituição de peças facilmente danificáveis;
Projetar partes e componentes padronizados
Seguir a regulamentação que estabelece o mínimo de tolerância para móveis e seus componentes
(p.e. parafusos)
Fazer manuais e adicionar kits de partes para reparos e ferramentas requeridas;
Oferecer coordenadas para manutenção;
Extensão do CV- Uso: Adaptabilidade
Facilitar o “upgrade”
Facilitar a substituição de componentes facilamente danificáveis;
Projetar produtos readaptáveis ou multifuncionais para adaptação e respeito as evoluções físicas e
culturais;
Projetar móveis adaptados às necessidas estéticas dos consumidores;
Flexibilizar o uso do mobiliário;
Fazer móveis que durem;
Projetar móveis compatíveis com adaptações funcionais e estéticas;
Projetar para que as partes necessárias ao upgrade possam ser encontradas no comécio;
Projetar para a confiabilidade;
Diminuir o número de peças e componentes;
Simplicar o produto (sem comprometer a durabilidade);
Evitar o uso de pregos;
Evitar o uso de módulos pré-fixados;
Usar materiais de qualidade.
Extensão do CV- Uso: Manutenção
Promover a troca rápida de peças e componentes;
Evitar junções fixas;
Facilitar o acesso as partes e componentes para limpeza, evitando pontas que possam machucar;
Evitar o uso de estruturas que possam riscar ou danificar outras durante o transporte ou movimento;
Utilizar estruturas que possam ser facilmente removidas e desmontadas evitando a contaminação dos
materiais para possibilitar reciclagem ou re-uso;
Projetar kit de manutenção: ferramentas e instruções;
Usar dispositivos simples de montagem e desmontagem;
Informar cuidados com a limpeza e manutenção no manual de instruções.
Extensão do CV- Uso: Re-Uso
Facilitar o acesso e remoção de partes para re-uso;
Projetar partes modulares para intercâmbio;
Projetar partes padronizadas;
Melhorar a resistência de partes frágeis;
Projetar móveis modulares;
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Apesar dos princípios apontados no quadro anterior serem em grande parte
universais, ou seja, aplicáveis ao projeto de todas as categorias de mobiliário, para
atender às necessidades de um produto específico são insuficientes.
Outra pesquisa de destaque é a realizada pelo Centro de Design do Royal
Melbourne Institute of Tecnology – RMIT que gerou o ERD Guidelines – Furniture
& Building Products (ERD, 200-), consistindo de estratégias e linhas-guias para a
orientação para o design de móveis, com foco em mobiliário institucional.
Entretanto, estas linhas-guias são muito próximas às proposições genéricas
propostas pro Manzini & Vezzoli (2002).
Finalmente, outro estudo importante orientado específicamente ao mobiliário foi
realizado pelo Consorzio Casa Toscana – formado por indústrias moveleiras da
região da Toscana-Itália. Este consórcio desenvolveu, sob a coordenação de Lotti
(200-), o Manual de EcoDesign, cujo objetivo é de auxiliar o desenvolvimento de
produtos sustentáveis de base madeireira. Além dos princípios do design para o
ciclo de vida, o manual provê um inventário dos materias utilizados na confecção
de móveis.
2.7 Discussão
Projetar um móvel intrinsicamente sustentável dentro das diretrizes do design
sócio-ético, envolve a aplicação das linhas-guias apresentadas nessa seção. Tanto
as estratégias gerais do design para a sustentabilidade, quanto as estratatégias e
linha-guias desenvolvidas especificamente para o design de mobiliário podem ser
utilizadas no projeto de móveis populares, garantindo assim, produtos com baixo
impacto ambiental nas fases de pré-produção, produção e distribuição.
Entretanto, devido as características socio-econômicas e culturais da população de
baixa renda brasileira, as estratégias para o uso e para o descarte, necessitam ser
remodeladas e acrescidas. Isto acontece porque, no Brasil, o móvel não percorre,
durante a fase de uso e descarte, o caminho previsto nos estudos europeus. A
população de baixa renda, monta e desmonta os seus móveis de acordo com as
necessidades de mobilidade e re-arranjos internos na habitação, sem que para
tanto, possua conhecimento do processo e os materiais adequados para executá-
lo. Isto implica em danos ao mobiliário e à segurança do usuário e
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29
consequentemente, o fim prematuro da vida útil de um produto de longa
durabilidade.
Uma outra questão a ser considerada é a responsabilidade extendida ao produtor,
sobre o recolhimento do produto ao fim de sua vida útil, para destinação segura à
reciclagem de seus componentes na fase do descarte. No Brasil, o móvel popular
não retorna ao produtor, é, ao invés, revendido, doado e, em última instância,
simplesmente abandonado, sem preocupações com o meio ambiente.
No caso da revenda ou doação, o móvel, que em geral está danificado, o passa por
adaptações ‘caseiras’ que podem vir a comprometer seriamente à segurança do
usuário. A confiabilidade e segurança do produto, conforme Manzini e Vezzoli
(2005) são questões estratétigas para o design sustentável. Ainda que descrito
como um critério significativo para a sustentabilidade , as linhas guias para a
promoção da confiabilidade e segurança ainda são muito gerais. Não são
apresentadas, por exemplo, estratégias e linhas-guias que orientem o design para
evitar os erros, tanto no processo de design quanto no uso do produto.
Evitar erros no manuseio, que possam danificar ou inutilizar um móvel, por
exemplo, dado o contexto sócio-econômico-cultural da população de baixa renda
brasileira, pode ser uma forma de contribuir para a promoção do bem estar social.
Diferentemente das condições idealizadas nos países desenvolvidos, as diretrizes
para design para móveis populares requerem, também, linhas-guias que
reconheçam as características ambientais, sociais, culturais e cognitivas do usuário,
bem como o contexto de uso e que prevejam também, a realidade do descarte no
Brasil.
Esta pesquisa sugere utilizar mecanismos, incorporados ao produto, para evitar os
erros e violações nos constantes processos de montagem e desmontagem a que
são submetidos os móveis, que possam danificar o produto e oferecer riscos à
segurança do usuário. Para a criação destes mecanismos de prevenção, é preciso
compreender o erro humano, seus processos e sistemas. Desta forma o capítulo a
seguir apresenta uma revisão de literatura sobre o erro humano e suas implicações
no design sustentável.
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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3 Erro Humano e Mecanismos Poka-Yoke
3.1 Definição
Erro é uma incorreção (FERREIRA, 2004) que promove um desvio do resultado
esperado (conforme ilustra a FIGURA 3.1), seja ele da performance do
produto/processo/sistema em relação a um padrão, plano ou meta estabelecida. O
erro humano é uma incorreção dependente do fator humano e das interações do
homem com os sistemas, o ambiente e a sociedade (KJELLEN, 1998).
FIGURA 3.1: Desvio da Ação Ideal - Erro
desvio
ação ideal
erro
resultado
Atualmente, duas correntes divergem na definição de erro humano. Nomeadas
como “a velha visão do erro humano” e “a nova visão do erro humano” estas
correntes se contrastam por uma irreconciliável perspectiva sobre a contribuição
humana para a falha ou para o sucesso de um sistema (DEKKER, 2002).
Na visão mais ortodoxa, o sistema no qual as pessoas trabalham é basicamente
seguro, sendo que é atribuído às pessoas os principais problemas em relação à
segurança e à não confiabilidade dos sistemas. Segundo esta visão, o progresso
para a segurança pode ser feito, protegendo o sistema do ser humano através de
seleção, procedimentos, automação, treinamento e ações que estabeleçam
disciplina de trabalho mais segura (DEKKER, 2002). O paradigma mais ortodoxo do
erro humano coloca o homem como a chave de todas as falhas de um sistema e o
sistema por sua vez como algo a ser protegido da ação humana.
Na visão moderna, o erro humano é um sintoma de profundos problemas dentro
do sistema, que não é inerentemente seguro. Sistemas são contradições entre
múltiplos objetivos que as pessoas perseguem simultaneamente. O erro humano,
portanto, está sistematicamente conectado com as características das pessoas,
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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ferramentas, tarefas e ambiente operacional. O progresso na segurança vem da
compreensão da interdependência destas conexões.
A nova visão do erro humano coloca o homem como parte do integrante do
sistema, prevendo que ambos e suas interações, estão sujeitos a falhas. Esta
evolução na forma de ver o erro humano, demonstra o entendimento de que o
homem é parte de um Sistema Complexo. A Complexidade, segundo MORIN
(2005) é o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações
e acasos, que constituem nosso mundo, apresentando, como traços inquietantes
do emaranhado, o inexplicável, a desordem, a ambigüidade e a incerteza.
Nesta direção é importante fazer uma distinção entre o termo erro humano e o
termo acidente, que tantas vezes confundem-se no senso comum da linguagem do
dia a dia.
· Erro humano - termo genérico que abrange todas as ocasiões nas
quais, uma seqüência planejada de atividades físicas ou mentais, falha, não
atingindo o resultado intencionado e cuja falha não pode ser atribuída a
um fator acidental (REASON, 1990). É a ação, comportamento ou decisão
humana que não cumpre adequadamente os requerimentos estabelecidos
por um sistema, ou que tem o potencial de reduzir, efetivamente, a
segurança ou o desempenho deste (SANDERS; McCORMICK ,1993).
· Acidente - termo utilizado para definir eventos sem causas
aparentes, não esperados e não intencionais (SANDERS; McCORMICK, 1993).
O resultado do desvio é conhecido como dano ou injurio. A definição de dano que
é adotada nesta dissertação é apresentada abaixo:
· Danos são desgastes, deterioração material ou inutilização de um
bem, em decorrência de algum ato ou acidente; estrago (AURÉLIO, 2001).
Dentro da definição do Sistema Complexo, o erro humano pode ser considerado as
falhas nas ações, interações e retroações de um sistema e os acidentes, por sua vez,
os acasos imprevisíveis (MORIN, 2005). Segundo Morin (2005), o Sistema Complexo
existe como um todo: esperado e inesperado fazem parte do mesmo tecido de
acontecimentos como variáveis dependentes e interligadas.
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Neste estudo, as variáveis que formam o sistema são: ser humano, ferramentas,
tarefas e ambiente (BEKKER, 2002). Da relação ‘homem-sistema-ambiente’ pode-se
ainda dizer que erro humano são as atividades ou omissões de uma pessoa, que
causem, ou tenham a possibilidade de causar algo indesejável e ou que não
atendam os padrões esperados nas interações homem-trabalho ou homem-
ambiente. (SWAIN apud STRÄTER,1997; IIDA, 2005).
Para esta pesquisa, a definição de erro humano a ser utilizada é composta pela
fusão das definições apresentadas por Reason (1990) e por Dekker (2002). Isto
posto, define-se erro humano como:
“A falha em uma seqüência planejada de atividades
físicas ou mentais (ações), que causa o desvio do
resultado intencionado (REASON, 1990) Estas falhas nas
ações podem ter seus fatores geradores no ser humano,
no sistema ou nas relações entre eles (DEKKER, 2002)”.
A ação humana que gera o erro é resultado de seqüência de processos fisiológicos
e psicológicos que são estudados pelas ciências cognitivas. A seção a seguir
descreve este processo, conhecido como cognição humana.
3.2 O Processo Cognitivo e a Ocorrência do Erro Humano
Toda ação humana é a reação a um processo que se inicia com a recepção de uma
informação pelos órgãos dos sentidos (DHILLON, 2003). Esta informação é
decodificada e processada no cérebro humano através do processo cognitivo, a
partir do qual podem ser geradas ações conscientes ou inconscientes, intencionais
ou não. Estas ações podem permanecer internas (pensamentos, idéias, insights) ou
serem exteriorizadas em forma de um produto (que pode ser a própria ação)
(NORMAN, 2006). Esta seqüência é representada na Figura 3.2 a seguir:
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FIGURA 3.2: Processo Ação e Cognição
A Figura 3.2 descreve o processo ideal da ação humana: uma informação é
recebida pelos órgãos humanos dos sentidos, transformada em impulsos elétricos,
que são decodificados e julgados pelo cérebro, gerando decisões e ações, sem que
ocorra nenhum desvio no processo entre a recepção e o resultado. Quando,
entretanto, em algum ponto ocorre um desvio, o resultado é um erro. Desvendar
os mecanismos que dão origem a estes desvios pode auxiliar na prevenção do erro.
Na seção seguinte apresentam-se as pesquisas sobre os mecanismos do erro
humanos, os modelos de classificação, os tipos de erros humanos, seus fatores
indutores e fases de ocorrência.
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3.3 Taxonomia dos Erros Humanos
As ciências cognitivas buscam desvendar os mecanismos mentais relacionados ao
erro, considerando como principal objeto de estudo, a ação humana. REASON
(2002) apresentou o Sistema Genérico de Modelo de Erros- GEMS, apoiado nos
estudos de NORMAN (2006) e RASMUSSEM (1986), dividindo a ação humana que
gera o erro em duas vertentes: intencionais e não intencionais conforme a Figura
3.3 a seguir.
FIGURA 3.3: Sistema Genérico de Modelo de Erros. Fonte: adaptado de Reason, 2002.
ação humana
não intencional
intencional
deslizes
enganos
erros baseados em regras
erros baseados em conhecimento
violações
Estas duas vertentes da ação humana que gera o erro, representadas na figura
acima, dão origem a uma taxonomia dos erros humanos com base na
intencionalidade das ações. Esta taxonomia é composta por apenas cinco
categorias básicas de erros humanos: deslizes ou escorregões, lapsos ou enganos,
falhas, erros e violações.
Os deslizes e os lapsos são erros que decorrem de processos inconscientes ou falta
de habilidades. Provém de desvios nos processos cognitivos, neurológicos e
fisiológicos do ser humano. Fazem parte desta categoria os esquecimentos,
omissões, comissões, erros de seqüência e tempo.
Também as falhas podem ser divididas em duas categorias: baseadas nas regras e
baseadas no conhecimento. As falhas baseadas nas regras são aquelas nas quais, a
aplicação de normas e intenções corretas é feita de maneira incorreta.
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Caracterizam-se por questões de escolhas errôneas as de regras corretas para
situações corretas. (REASON, 2002). Erros baseados no conhecimento são aquelas
advindas de um planejamento inadequado, no qual as intenções eram corretas, a
aplicação das regras é feita corretamente, porém o plano de aplicação era
incorreto. (REASON, 2002)
Neste modelo, as violações, são ações que partem de processos mentais
conscientes, ou seja, mesmo cientes do erro, risco ou perigo, o ser humano opta
pela ação. Nesta categoria podem ser incluídas as sabotagens e as violações de
trânsito.
Todas as categorias citadas neste modelo podem gerar dois tipos de erros: ativos e
latentes. Erros ativos são aqueles que ocorrem no ponto de contato entre o ser
humano e algum aspecto do sistema. São visíveis, de fácil identificação e em geral
envolvem alguém na linha de frente. Em contraste os erros latentes (ou condições
latentes) são aqueles que dizem respeito a falhas não aparentes, não imediatas,
mas que contribuem para a ocorrência do erro (REASON, 2002).
A taxonomia criada por REASON (2002) categoriza os tipos de erros humanos na
dimensão da intencionalidade de suas ações, sem considerar ou especificar os
demais fatores que compõem o sistema complexo do qual o erro é um produto.
A literatura apresenta outras propostas de taxonomia de erros humanos, criadas a
partir de observações de situação e demandas específicas. HINCKLEY (1997), por
exemplo, apresenta um panorama histórico destas taxonomias conforme Figura
3.4 a seguir:
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FIGURA 3.4: Panorama Geral das Taxonomias dos Erros Humanos. Fonte: adaptado de
Hinckley, 1997
A linha do temporal apresentada na Figura 14 mostra a evolução do estudo do
erro humano. Num primeiro momento os pesquisadores se concentraram em
avaliar a confiabilidade humana e a probabilidade dos erros utilizando os método
de Avaliação da Confiabilidade Humana (HRA) e Probabilidades do Erro Humano
(HEP). Para isto usaram como parâmetro o esquema de classificação de erros
baseado em ações (outputs) humanas criado por Swain em 1963, que relaciona
dois tipos de erros: por omissão - ocorre quando um operador omite uma
operação ou por comissão - ocorre quando o operador realiza a tarefa, porém de
maneira incorreta (HINCKLEY,1997).
Em 1967, Swain e Meister propuseram o modelo de classificação de erros humanos
com base nos fatores que influenciam no desempenho humano. O método,
denominado Performance Shaping Factors (PSF) relacionou os diversos fatores
incluindo fatores psicológicos, ferramentais e ambientais que podem influenciar a
confiabilidade humana. Já em 1969, Harris e Chaney relacionaram o erro humano
ao ciclo do trabalho: erro de planejamento, design, produção, e distribuição.
Outra visão deste modelo foi apresentada posteriormente por Dhillon em 1981. No
ano de 1974, Berliner relacionou os erros humanos e comportamentos nos
processos perceptivos, processos mediativos, processos comunicativos, processos
motores (HINCKLEY,1997).
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Donald Norman em 1981 estudou os erros humanos sob a ótica da psicologia
cognitiva descrevendo-os a partir da formação da intenção, como resultado de
uma ativação falha dos esquemas mentais e estes, por sua vez, como resultados de
um falho desencadeamento de sistemas ativos. Em 1988, Norman publica o livro
Design for the Everyday Things, no qual estuda a ocorrência destas falhas durante
a interação com produtos do dia-a-dia, contribuindo para a melhoria do projeto
de produtos.
Procurando classificar erros humanos para a criação de dispositivos simples que os
pudessem prevenir, Shimbun em 1987, criou um modelo de erros com base em:
esquecimento, incompreensão, falha no reconhecimento, falta de treinamento ou
repertório, quebra de regras por ignorância das suas conseqüências,
desconhecimento de resultados esperados, falha no tempo de decisão/ reação,
ausência de padrões, acidentes e violações.
Em todos os modelos citados anteriormente, seus autores procuram classificar os
erros sob alguma ótica específica, como por exemplo, etapas da produção,
psicologia cognitiva, ergonomia, etc. e consideram como fator gerador, apenas o
ponto mais próximo ao erro, por exemplo: ausência de ferramenta, tempo de ação
e reação, ambiente físico, etc., como sua causa imediata, não fazem distinção
entre erros ativos e latentes.
Como neste trabalho assume-se que erro humano é um desvio que pode ter suas
causas (ativas e latentes) em um ou mais fatores externos ou internos, próximos ou
distantes do executor, propõe-se, tendo por base os modelos de erros humanos
acima citados, relacionar estes atores de forma a compreender, ainda que
superficialmente, as interfaces deste sistema complexo, a partir dos fatores
apresentados na seção a seguir.
3.4 Fatores Indutores do Erro Humano
O erro, segundo Reason (2002), é o produto de uma ação do processo cognitivo
humano e este processo pode sofrer a influência dos outros atores que fazem
parte do sistema, como fatores ambientais, físicos, sociais, cognitivos e
psicológicos, que atuam como filtros, promovendo desvios ou bloqueios durante o
ciclo da ação, resultando em um erro.
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Fatores ambientais
Estes fatores são as características do ambiente físico que possam comprometer o
ciclo da ação. Estão relacionados à temperatura, luminosidade, som, odores,
instabilidade do terreno (equilíbrio), espaço físico, condições do ar, pressão,
umidade (SANDERS; McCORMICK, 1993).
Fatores fisiológicos
Os fatores fisiológicos são as características fisiológicas e anatômicas do corpo
humano que possam comprometer a recepção da informação e/ou a execução da
ação. Estes fatores estão relacionados aos órgãos dos sentidos: olhos, ouvidos,
língua, pele, nariz e aos membros superiores e inferiores - braços, pernas
(SANDERS; McCORMICK, 1993; NORMAN, 2006).
A recepção da informação, início do processo cognitivo, é feita por um ou mais
órgãos dos sentidos. No caso de comprometimento do órgão requerido, a
informação não é recebida ou é captada de forma incorreta, podendo ocasionar
desvios nas demais fases do processo cognitivo. A realização de algumas espécies
de tarefas (output) requer, muitas vezes, a utilização de membros, músculos e
coordenação motora (capacidade de coordenação dos movimentos resultados da
integração entre comando cerebral e unidades motoras dos músculos e
articulações. A ausência integral ou parcial dos membros requeridos no processo
pode ocasionar a geração de erros. (SANDERS; McCORMICK, 1993).
Fatores cognitivos
Características cognitivas que possam comprometer o processo decodificação,
compreensão da informação, tomada de decisão e execução da ação. Segundo
Preece et al, (2004) o processo cognitivo humano compreende: receber
informações, pensar, recordar, aprender, tomar decisões, resolver problemas e
imaginar. A cognição, portanto, envolve um grande espectro de processos
diferentes, sendo raro que um aconteça na ausência dos outros. Aspectos
importantes da cognição para o design são a memória, atenção e percepção
(OXMAN, 1996). A memória é a recuperação de diferentes formas de consciência,
que permitem ao ser humano agir corretamente. A atenção é o processo de
seleção dos objetos sobre os quais se o ser humano se concentrar por um
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determinado período. O termo percepção se refere à forma de aquisição das
informações do ambiente através dos diferentes órgãos dos sentidos. É um
processo complexo que envolve a memória, a atenção e a linguagem. Todos estes
fatores estão relacionados aos aspectos fisiológicos, psicológicos, sociais e culturais
do ser humano (PREECE; ROGERS; SHARP, 2004, p.80-100).
Dentro dos fatores cognitivos existem também os chamados modelos mentais, que
podem ser definidos como uma “representação conceitual do sistema e/ou tarefa
formado pelo usuário, baseado em experiências prévias, assim como em
observações atuais, que fornece um poder preditivo e exploratório ao usuário no
entendimento do sistema e guia sua interação com o sistema” (SOARES, BUCICH,
2002, p.46)
Fatores psicológicos
Características psicológicas que possam comprometer o processo decodificação e
compreensão da informação, decisão e execução da ação. A importância dos
fatores psicológicos no comportamento humano é reconhecida e estudada por
psicólogos e psicologistas cognitivos. Estes fatores estão relacionados a
introversão, extroversão, psicoses, neuroses, stress, fobias, relações sociais,
depressão, ansiedade, traumas, medos, pânico (ARNSTEIN, 1997). Entre estes
fatores, o mais estudado atualmente é o stress, pois influencia no processamento
da informação e cognição. Os agentes causadores são: barulho, vibração, calor, luz
embaçada, alta aceleração e fatores psicológicos como a ansiedade, fadiga,
frustração, raiva, pressão do tempo e pressões sociais. (ARNSTEIN, 1997; REASON,
2002; NORMAN, 2006).
Fatores sociais
Dizem respeito às características sociais que possam comprometer os ciclos da
ação. Estes fatores estão relacionados a regras, leis, pressões sociais e distinções de
grupos sociais (NORMAN, 2006). Cada sociedade tem suas próprias regras e leis
que podem condicionar a ação humana perante a uma informação. Dentro de
cada sociedade os extratos e grupos sociais agem de com suas próprias regras e
leis. Os designers precisam observar as leis da sociedade à qual se direciona um
produto. As estruturas sociais, segundo Norman (2006) estão entre os maiores
geradores de erros.
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Fatores Culturais
São fatores relacionados a costumes e modos de vida, ao simbólico, credos,
tradições, senso comum, saber popular, limites, princípios, ética, valores morais,
distinções culturais, cores, odores, sons, sabores, texturas, formas, etc.. Cada
cultura tem sua própria interpretação do mundo, seus próprios símbolos e signos
que se desenvolve das relações com o ambiente que envolve a sociedade, O
mesmo produto, vendido em partes diferentes do mundo pode ser visto,
interpretado e utilizado de maneiras diferentes. É importante para o designer, em
face da presente globalização, compreender a cultura do local onde se pretende
introduzir um produto (ONO, 2004).
Fatores instrumentais
Características que possam comprometer o processo de compreensão da
informação e execução da ação. Estes fatores estão relacionados à ausência de
habilidade, capacidade, treinamento, ferramenta, hardwares, softwares. Quando
uma tarefa necessita de uma habilidade ou ferramentas específicas, a ausência
delas pode comprometer a performance e por conseqüência o resultado da
mesma.
3.5 O Sistema ‘Erro Humano’
De acordo com os dados apresentados nesta seção, o erro é o desvio de um
padrão, gerado de forma intencional ou não, que pode ser ativo ou latente no
sistema. O sistema ‘Erro’ é formado por todos interlocutores, atores e variáveis que
compõem todo o ciclo de uma ação. A Figura 3.5, a seguir descreve na coluna
esquerda a ação ideal, na qual a informação passa pelo sistema sem sofrer
nenhum desvio. O ciclo da ação inicia-se com a informação, sua recepção pelos
órgão dos sentidos, codificação em impulsos elétricos, decodificação no cérebro
pelo processo cognitivo, decisão (reação), execução da ‘tarefa’ e o resultado final
(produto) (REASON, 2002).
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FIGURA 3.5: Interação sistêmica da ação, tipos de erros e fatores indutores do erro.
Na coluna central, estão listados todos os fatores que podem contribuir ou induzir
a geração do erro, na ordem de suas influências dentro do ciclo da ação. Na
terceira coluna está representada a ação em cujo ciclo existe um ou mais pontos
de desvios. Na última coluna estão descritos os tipos de erros resultantes em cada
ciclo da ação:
A Figura 16 apresenta os ciclos da ação e os grupos de fatores que contribuem e
induzem ao erro humano, agindo como filtros ou ruídos. Na primeira fase (input),
as informações são disponibilizadas para ser sentidas e percebidas. Segundo
Sperling e Martin (2003), sensação é o ato de recepção de um estímulo pelos
órgãos sensoriais, enquanto percepção é o ato de interpretar um estimulo
registrado no cérebro, por um ou mais mecanismos sensoriais. Conforme Preece et
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al (2004) as informações possuem características que a direcionam a um ou mais
órgão sensoriais humanos: olhos (luzes, gráficos, cores, formas, texturas, etc.),
ouvidos (todos os tipos de sons), nariz (todos os tipos de odores), lingua (todos os
tipos de sabores) ou pele (vibrações, texturas, temperaturas, etc.) (SANTOS, 2003).
Para que a informação seja recebida sem perdas de conteúdo, devem existir
condições ambientais compatíveis com a natureza da informação. É necessário
também que os aparelhos receptores humanos sejam aptos a recebê-la: as
condições fisiológicas do ser humano (órgãos sensoriais) devem ser compatíveis
com a natureza da informação. No caso das condições ambientais não serem as
adequadas, ou órgão sensoriais não serem aptos, a informação pode sofrer um
desvio (erro latente).
O estímulo é transformado em impulsos elétricos (codificação) e transmitido ao
cérebro, através de mecanismos fisiológicos humanos. Após, inicia-se o processo
de percepção, decodificação dos estímulos através de processos cognitivos,
descritos anteriormente. Nesta fase, fatores fisiológicos, psicológicos, sociais e
culturais podem gerar desvios na interpretação da informação. Por exemplo,
segundo Norman (2006), o stress, as pressões sociais e fatores psicológicos são as
maiores causas de desastres aéreos.
O processo cognitivo gera a decisão, que pode ser influenciada por fatores
ambientais, fisiológicos, psicológicos, sociais e culturais, conforme mostrado na
seção anterior. A ação, conseqüência da decisão pode sofrer a influência de todos
os filtros, internos e externos e em geral é a exteriorização do erro, que pode
haver ocorrido em qualquer fase anterior do processo, permanecendo latente, a
espera de condições sistêmicas positivas para manifestar-se.
Em todas as fases anteriores à ‘decisão’, os erros assumem as características de
lapsos (não intencionais), porém, a partir do instante em que se toma uma decisão
o erro pode assumir também as características de uma violação (intencional) que é
um ato consciente (NORMAN, 2006).
O erro, portanto, é um sistema multi-direcional, do qual fazem parte o ser
humano, a tarefa/produto/sistema/serviço, o ambiente, as ferramentas, a
sociedade e a cultura, conforme esquematizado a seguir pela Figura 3.6. Cada qual
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com os seus próprios micros sistemas, que compõem o emaranhado tecido
complexo da sustentabilidade.
FIGURA 3.6: Contexto Sistêmico do Erro Humano
Nesta visão sistêmica do erro (BEKKER, 2002), na qual se baseia a Figura 3.6,
considera-se não somente as limitações de ser humano, mas todas as relações
dinâmicas que contribuem para o erro. Esta compreensão das interdependências
do sistema é fundamental como instrumento no projeto de sistemas à prova de
erros, pois auxilia na visualização e compreensão das estruturas criadas, auxiliando
na identificação dos pontos críticos aos quais podem ser aplicados mecanismos
preventivos.
3.6 Discussão
Os dados apresentados nesta seção mostram que o erro humano provoca perdas
em todas as dimensões da sustentabilidade, o que torna sua prevenção um
elemento estratégico para o design sustentável. O design de um produto pode
produzir o potencial para um erro ou pode reduzir os riscos e falhas em um
produto e produtos com falhas e inseguros tendem a ser descartados
precocemente.
Para poder prevenir os impactos do erro humano, tanto econômicos, quanto
ambientais e sociais, é necessário que o designer compreenda os sistemas no qual
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se inserem os produtos, suas inter-relações, limitações e interfaces com o ser
humano. Conhecendo os fatores que induzem ao erro, descritos nesta seção, é
possível ao designer pontuar os pontos frágeis do produto/sistema/serviço para
promover sua confiabilidade e segurança.
Para o design de mobiliário popular, a confiabilidade e segurança do produto é
um ponto fundamental, pois as limitações econômicas da população de baixa
renda não oferecem possibilidades de constantes trocas ou compras de novos
produtos. O descarte de móveis danificados e inutilizados por erros humanos nos
processos de montagem e desmontagem, por questões culturais, sociais e políticas,
ainda não é realizada de forma compatível com a preservação dos recursos
ambientais. Portanto evitar erros em processos de montagem e desmontagem de
mobiliário popular por ser sim uma estratégia sustentável. Para tanto, as condições
econômicas, sociais, os padrões culturais, os problemas cognitivos e psicológicos da
população de baixa renda devem ser consideradas como fatores relevantes nas
decisões e orientações do projeto do mobiliário popular.
Se as condições sócio-econômicas impõem a esta população a necessidade de
montar e desmontar constantemente o seu mobiliário, talvez seja necessário
projetar para tornar este procedimento seguro, garantindo assim a integridade do
produto e sua durabilidade, bem como a segurança do usuário. Existem diversas
abordagens de design que se propõem a auxiliar na prevenção e mitigação do
erro, como o design universal por exemplo. Entretanto nesta dissertação aborda-se
um sistema simples de mecanismos à prova de erros denominados poka-yoke. A
próxima seção apresenta o conceito destes mecanismos poka-yoke e suas
implicações no design de produtos.
3.7 O Conceito de Poka-Yoke e sua Gênese
1.1.1 Definição
Na língua japonesa yokeru significa “evitar” e poka significa “erros inadvertidos”
(CALARGE; DAVANSO, 2003; GROUT, 2004). Poka-yokes, portanto, são mecanismos
ou procedimentos utilizados para prevenir erros em sistemas ou processos. Na
língua inglesa estes mecanismos são denominados “mistake-proof device” ou
“fool-proof device.
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O conceito de poka-yoke foi originalmente idealizado e desenvolvido por SHINGO
(1986) junto ao Sistema Toyota de Produção a fim de proteger a produção
industrial de erros banais, que pudessem vir a se transformar em produtos
defeituosos (TSOU & CHEN, 2005).
Poka-yokes, como idealizados por Shingo são dispositivos para a inspeção de
processo e não do produto (GROUT, 1997). Desta forma, em sua gênese estes
mecanismos têm como principal objetivo não permitir que erros que surjam
durante o processo, se tornem posteriormente produtos defeituosos (TSOU; CHEN,
2005).
Atualmente, poka-yokes fazem parte de um conjunto de técnicas de gestão do
processo de manufatura, conhecidas como Lean Production e tem no Sistema
Toyota de Produção seu mais compreensivo exemplo de aplicação. Neste modelo
de produção o foco é a busca constante pela redução das perdas e o aumento do
valor agregado. Dentro deste modelo os mecanismos poka-yoke posicionam-se
como ferramentas de gestão de qualidade denominada Inspeção 100% ou Zero
Quality Control - ZQC (Controle de Qualidade Zero Defeitos) (SHINGO, 1996).
3.7.1 A Evolução da Inspeção/controle da Montagem de
Produtos
3.7.1.1 Inspeção 100% pelo Artesão
O controle da qualidade dos produtos, serviços e sistemas produtivos modificou-se
ao longo da história. Até a metade do século XIX, os produtos eram
confeccionados por artesões, que detinham o conhecimento de todo o processo de
manufatura da classe a qual pertenciam (LÖBACH, 2001).
As classes de artesões, conhecidas como guildas, remontam do século XIII e
funcionavam como uniões de artesãos, que detinham o conhecimento de certas
técnicas produtivas. Estas uniões eram organizadas por documentos sobre regras
de comportamento, compra e venda e inspeção de qualidade de produtos. As
inspeções de qualidade eram realizadas pelo Mestre, grau mais elevado de uma
guilda como uma forma de inspeção e julgamento da qualidade dos trabalhos
realizado pelos aprendizes e artífices. Eram feitas em cada unidade produzida, de
forma detalhada, com os intuitos de fiscalizar o produto e ensinar a profissão.
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(STABEL, 2004). O artífice, para se tornar um Mestre, deveria saber e poder
executar um produto de forma perfeita (STABEL, 2004).
As guildas eram espécies de monopólios, no qual os Mestres controlavam a
quantidade e horas de trabalho, padrões de qualidades e preços. A relação entre
produtor e comprador era estreita, atendendo as expectativas e desejos
individuais de ambos: peças exclusivas, qualidade impecável e preços elevados
(LÖBACH, 2001, p. 37). Os defeitos observados podiam ser prontamente
reclamados ao produtor, representando prejuízos financeiros e morais ao negócio.
Este sistema artesanal prosperou até o século XIV, quando o grau de dificuldades
impostas para a elevação de nível de aprendizes e artífices foi gradativamente
modificando as relações de trabalho dentro das guildas, passando para uma
relação chefe e empregado. As guildas, então repletas de “aprendizes e artífices”
formavam pequenas indústrias. A divisão do trabalho dentro destas organizações
já estava sendo praticada quando a evolução tecnológica contribuiu para a
mecanização e automatização de funções produtivas. A utilização de outras forças
que não somente água e vento tornaram os mecanismos mais velozes e eficazes.
Estes avanços “aumentaram significativamente a produtividade humana
(SHINGO, 1996).
3.7.1.2 Inspeção 100% ao final da Linha de Montagem
A evolução das guildas, a especialização do trabalho e os avanços tecnológicos no
século final do século XVIII deram início à Revolução Industrial. No século XIX, as
preocupações com a estética e a qualidade dos produtos industrializados
resultaram em movimentos como o Arts na Crafts (WICK, 1989). Para RUSKIN (apud
WICK, 1989) um dos precursores do design, a industrialização era um perigo tanto
para o consumidor, quanto para o produtor, na medida em que deformava o
gosto estético do consumidor com a oferta de produtos de massa e de qualidade
inferior e privava, pela produção mecânica, o produtor da possibilidade de uma
próspera auto-realização.
Enquanto uma parcela da sociedade demonstrava preocupações com a baixa
qualidade dos produtos industriais, as indústrias e seus “gerenciadores
preocupavam-se em como melhorar a produtividade. Desta forma, Frederick
Winslow Taylor (1856-1915) iniciou um estudo sobre o trabalho no chão de fábrica,
observando os trabalhadores no desempenho de suas funções. Destas observações
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surgiram as primeiras diretrizes administrativas. Dentre elas a mais importante
para este trabalho é a criação de uma supervisão funcional, que auxiliaria na
verificação da conformidade da execução e dos resultados do trabalho (SHINGO,
1996). Taylor não acreditava que trabalhadores da linha de frente pudessem ser
criativos, para ele, este era um trabalho para os gerentes e supervisores. A divisão
do trabalho proposta por Smith neste momento teve seu ápice. Trabalhadores
deveriam cuidar apenas do seu trabalho, não sabendo, muitas vezes, o que fazia o
trabalhador à sua direita ou esquerda (BOSTINGL in KANJIL, 1995, p. 458).
Outra grande contribuição para a organização da produção na era industrial foi
dado por Henry Ford (1863-1947). O sistema por ele desenvolvido em 1913 para a
confecção do Modelo T previa a produção em linha. Segundo seus princípios, os
trabalhadores permaneciam em postos fixos enquanto o chassi atravessava a
fábrica sendo acrescentado gradativamente das peças que o compunham (FIGURA
3.7).
FIGURA 3.7: Exemplo de linha de produção como a proposta por Henry Ford. Fonte:
www.graziarosavillanipress.com
A determinação era para que os empregados produzissem a maior quantidade
possível de peças. Em todo este período o controle de qualidade dos produtos era
feito pelos supervisores ao fim da linha de produção, aonde as peças defeituosas
eram retiradas e encostadas nas paredes como lixo ou retornavam a produção
para correções e retrabalhos. Porém, “a supervisão nunca foi à prova de erros
banais. Muitos produtos defeituosos passavam despercebidos pelos olhos
perspicazes dos supervisores, sendo entregues para a comercialização” (KANJIL,
1995, p. 458).
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48
48
3.7.1.3 Inspeção por Amostragem
A incorporação da gestão da qualidade na indústria aconteceu após a segunda
guerra mundial, com os estudos de Edwards Deming e a técnica conhecida como
Statistical Quality Control – SQC (Controle de Qualidade por Estatística) (HALL,
1988). Segundo SHINGO (1986, p. XIV), este método foi uma “inovação conceitual
que mexeu com as noções convencionais de inspeção por julgamento. O SQC é
composto basicamente por elementos: inspeção informativa e indução estatística.”
Nesta técnica o controle de qualidade do produto é feito por amostragem. A cada
X números de peças produzidas (lote), Y são avaliadas. Por esta amostragem os
lotes são aprovados ou não. Este tipo de inspeção não se mostrou eficiente, pois
não auxilia a reduzir ou prevenir defeitos. O uso da estatística não elimina a
possibilidade de produtos defeituosos chegarem ao mercado e o retorno deste
erro à produção não permite soluções rápidas de eliminação e controle.
3.7.1.4 Auto-Inspeção no Controle de Qualidade Total
SHINGO (1986), um dos engenheiros, propõe uma nova forma de gestão da
qualidade conhecido como Total Quality Control – TQC – Controle Total de
Qualidade. No TQC a inspeção passou a ser entendida como apresentando três
níveis (STEWART, 2001):
· Inspeção por julgamento à descobre defeitos à requer inspeção de
100% dos produtos e separação dos defeituosos à não é efetiva contra
erros;
· Inspeção informativa à reduz defeitos à dados coletados na
produção são usados para controlar os futuros processos à auto-inspeção
à inspeção do produto da operação anterior (checagem sucessiva) à baixo
custo;
· Inspeção de recursos à elimina defeitos à detecta condições
impróprias da operação anterior à sinalizam a existência de defeito à
param a produção;
Segundo o TQC cada trabalhador deve inspecionar seu próprio trabalho (auto-
inspeção) antes de fazê-lo prosseguir para próxima etapa da linha de produção.
Cada trabalhador deve também inspecionar o trabalho que chega as suas mãos,
vindo de outras fases do processo produtivo (checagens sucessivas). A ocorrência
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de qualquer anormalidade paralisa a linha de produção, evitando que o erro
prossiga e se transforme em produto defeituoso. Desta forma os “feedbacks”
(retorno de informação) são feitos em tempo real, assim como as correções no
sistema, eliminação do erro e do defeito. Para o autor esta forma de inspeção na
fonte é mais eficaz.
Shingo propõe um ciclo composto por dois circuitos: um grande que engloba toda
a produção e um pequeno circuito que representa a auto-inspeção. Este ciclo é
esquematizado na Figura 3.8 a seguir.
FIGURA 3.8: Ciclo da gestão da qualidade – ZQC. Fonte: Shingo, 1986.
Conforme a Figura 3.8, o controle de qualidade não é feito ao final do processo e
sim ao longo de sua execução. (SHINGO,1986; 1996) Como ferramentas para
auxiliar operações de auto-inspeção, Shingo (1986, 1996) idealizou mecanismo e
dispositivos denominados poka-yoke, como forma de prevenir erros banais (como
os cometidos por distração, por exemplo), facilitar sua identificação e alertar a
ocorrência. Segundo o autor a “combinação de inspeções na fonte e sistemas
poka-yoke podem realmente reduzir os defeitos a zero. Estes conjuntos de
práticas de inspeção e mecanismos poka-yoke são denominados Controle de
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Qualidade Zero Defeitos - ZQC(SHINGO, 1996, p. 344). A seguir são apresentadas
as tipologias de poka-yoke proposta por Shingo (1986)
3.7.2 Tipologias de Poka-Yoke
3.7.2.1 Visão Geral
Poka-yokes podem ser classificados em duas categorias de acordo com suas
funções principais (SHINGO, 1986):
· Sistema poka-yoke com função reguladora: faz parte da inspeção de
recursos. Este sistema não permite que o erro siga na linha de produção
através de métodos de alertas e interrupção do fluxo produtivo;
· Sistema poka-yoke com função de detecção: faz parte da inspeção
informativa auxiliando o trabalhador na verificação da condição ideal para
a execução da tarefa.
A implementação destas duas classes de poka-yoke têm abordagens conhecidas
nos sistemas de produção, conforme ilustra a Figura 3.9 a seguir. Os sistemas poka-
yoke são compostos por duas funções que agem de maneiras distintas na
produção: a primeira verifica padrões pré-estabelecidos, acusando a existência de
um erro, a segunda alertando para a ocorrência e paralisa a produção para sua
imediata correção (SHINGO, 1986).
FIGURA 3.9: Métodos de Atuação dos Dispositivos Poka-Yoke. Fonte: adaptado de Shingo,
1986.
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Estas funções poka-yoke, originalmente desenvolvidas para atender as demandas
de qualidade da indústria, são apresentadas e definidas a seguir, acompanhadas
de exemplos de sua aplicação em produtos do dia-a-dia.
Função reguladora:
· Método de controle: métodos que acionam dispositivos que
paralisam o equipamento e interrompem a operação do produto ou
processo a partir da detecção de um erro, obrigando sua imediata
eliminação. Exemplo de método de controle pode ser encontrado em
portas de elevadores, que possuem travas eletrônicas, que as impedem de
fechar caso os sensores detectem um objeto entre elas (FIGURA 3.10).
FIGURA 3.10: Exemplo Método de Controle -
Bed Elevator. Fonte: Zhejiang Aolingda
Elevator Equipment.
· Método de alerta: métodos que ativam dispositivos de sinais sonoros
ou luminosos, que chamam a atenção da pessoa para um erro, sem,
contudo, parar a linha de produção ou o uso de um determinado produto.
Exemplo deste método é a geladeira Reflex, que alerta através de uma luz
frontal que a porta não está devidamente fechada (FIGURA 3.11).
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FIGURA 3.11:Exemplo de método de alerta aplicado
em produto – Geladeira REFLEX. Fonte:
www.pontofrio.com.br
Função de detecção
· Método de posicionamento: métodos que ativam dispositivos que
liberam uso de um produto ou as operações de produção apenas quando
os elementos de um conjunto encontram-se em posição correta, evitando a
montagem em posição inadequada. Exemplos de aplicação deste método
são alguns aparelhos eletro-eletrônicos que necessitam de interface física
com periféricos (FIGURA 3.12).
FIGURA 3.12: Exemplo de método de
posicionamento. Fonte: CORNELL
· Método de contato: sensores eletrônicos ou dispositivos mecânicos
que indicam que as peças encontram-se corretamente posicionadas para a
continuação da operação de uso de um produto ou das operações de
produção. Exemplos são encontrados em muitos produtos que oferecem
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risco a segurança do usuário. É o caso dos multiprocessadores cujo
funcionamento é condicionado ao perfeito fechamento da tampa, evitando
assim contato do usuário com as lâminas.
FIGURA 3.13: Exemplo de
Método de Contato
Multiprocessadores - Fonte:
Multiprocessador Totalle MC-6
· Métodos de contagem: cada conjunto deve ter um número correto
de peças. Este método confere por meio da contagem dos elementos, a
conformidade do conjunto. Exemplos são kits de produtos cujos conjuntos
possuem número exato de peças para a execução da montagem (FIGURA
3.14)
FIGURA 3.14: Exemplo de
método de contagem
Kit de cobertura Do-it-
Yourself. Fonte: Núcleo De
Design E Sustentabilidade -
UFPR
· Métodos de comparação: utilização de mecanismos que comparam
as grandezas físicas de um produto com especificações evitando
anormalidades. Exemplo são todos os tipos de embalagem utilizam-se de
métodos de comparação, como peso, quantidade, volume (FIGURA 3.15).
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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FIGURA 3.15: Exemplo de método
de comparação - Embalagens de
Pipoca. Fonte:
www.rabisco.com.br
Os métodos acima apresentados compreendem as funções originais projetadas por
SHINGO (1986) para o controle de qualidade 100% no Sistema Toyota de Produção.
Atualmente estes conceitos servem como base para a criação de sistemas poka-
yoke em diversas outras áreas, apresentando alto grau de eficácia e eficiência na
redução de erros na medicina, psicologia, prestação de serviços, softwares,
interação humano-computador - HCI e design e até mesmo na construção civil
(SANTOS; POWEL, 1999). No design, dispositivos poka-yokes, pela natureza
intuitiva, são incorporados a produtos para evitar erros conforme apresentado nos
exemplos anteriores.
A aplicação dos mecanismos poka-yoke em produtos seguem, de maneira similar,
os mesmos graus de atuação encontrados na manufatura. Poka-Yokes podem
prevenir erros inadvertidos como lapsos e deslizes, durante a utilização de um
produto ou de um serviço, que comprometam a confiabilidade e funcionamento
de produtos ou sistemas, porém, a maioria dos poka-yokes não impede violações.
No design poka-yoke também é chamado como design restritivo (NORMAN, 2006).
A Figura 3.16 a seguir apresenta o design restritivo aplicado ao novo plug
brasileiro, que foi concebido para impedir possíveis encaixes errados que possam
que comprometam a segurança do usuário ou do produto.
FIGURA 3.16: Exemplo de design
restritivo - Novo Plugue Brasileiro.
Fonte: LABELO-PUC-RS
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Para impedir violações do sistema e ou suas conseqüências., deve-se empregar
poka-yokes que imponham barreiras físicas aos usuários, prevenindo o contato
com as fontes de perigo potencial (SOARES. BUCICH, 2000). Este tipo de poka-yoke
é também chamado de “design coercitivo” (NORMAN, 2006). Bons exemplos são
os produtos dirigidos à segurança infantil. A Figura 3.17 a seguir apresenta um
dispositivo que impede crianças de ter acessos a situações de risco.
FIGURA 3.17: Exemplo de design coercitivo -
Produtos para a segurança infantil. Fonte:
www.safebeginnings.com
Poka-yokes são incorporados aos produtos como garantia de padrões de
qualidade, proteção ao usuário e proteção ao próprio produto. Um exemplo são
os no-breaks e filtros de linhas. Os no-breaks são sistemas que na ausência de
eletricidade acionam imediatamente uma bateria garantindo o funcionamento do
sistema, protegendo o produto contra possíveis picos de energia que possam
afetá-lo. Os filtros de linha possuem fusíveis que queimam durante os picos
significativos de energia, impedindo, portanto, a passagem de corrente elétrica
para dentro dos aparelhos eletro-eletrônicos.
No dia-a-dia poka-yokes são úteis na prevenção e eliminação de erros banais nas
interfaces de produtos, sistemas e serviços, oferecendo maior grau de liberdade de
ação ao usuário, eliminando a necessidade de atenção a pequenos detalhes do
processo. Por sua simplicidade baixo custo de implementação, a incorporação de
poka-yokes em produtos pode ser uma estratégia para o design para a
confiabilidade e para a sustentabilidade.
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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3.8 Discussão
Poka-yokes são dispositivos idealizados por Shingo (1986), primeiramente para a
para a proteção da produção industrial. Entretanto, conforme os dados
apresentados nesta seção, o conceito é, atualmente, bastante utilizado para a
prevenção e mitigação de erros em produtos.
Características, como simplicidade, intuitividade e baixo custo de implementação
bem como a eficiência nos resultados, fazem com que estes dispositivos possam ser
uma alternativa plausível de ser utilizada para a prevenção e mitigação de erros
nos processos de montagem e montagem de móveis populares. Ao se pensar em
poka-yoke como ferramenta para prevenção e eliminação de erros, é necessário
compreender o complexo no sistema, procurando mapear, prever e determinar,
dentro do possível, as relações que podem ser protegidas. Desta forma, este
trabalho busca oferecer uma visão sistêmica do erro humano, utilizando-se das
inúmeras classificações de erros humanos oferecidas pela literatura.
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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4 Método de Pesquisa
4.1 Caracterização do Problema e Seleção do Método de
Pesquisa
Este dissertação traça relações entre a aplicação de mecanismos poka-yoke no
projeto de móveis e a extensão do ciclo de vida destes produtos, com o objetivo de
gerar diretrizes para a utilização destes dipositivos no Setor do Mobiliário e
auxiliar futuros estudos e projetos de mobiliário popular.
Não foram identificadas, na revisão de literatura, pesquisas produzidas no Brasil
com este enfoque. Identificaram-se pesquisas que utilizam poka-yoke no projeto
do ciclo de vida do produto, realizadas pelo MML - Manufacturing Modeling
Laboratory do Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Design da
Universidade de Stanford – Califórnia – EUA. Porém, estas pesquisas não possuíam
o mesmo escopo proposto neste trabalho, particularmente no que tange à
utilização de poka-yoke como forma de garantir a integridade do produto
durante a fase de uso do seu ciclo de vida. As pesquisas de Stanford, se
relacionavam à utilização de mecanismos poka-yoke como forma de facilitar a
desmontagem e separação dos materiais para reciclagem ou recuperação
energética, no final do ciclo de vida do produto.
Isto posto, o estudo é de natureza exploratória. Conforme Aaker et al. (2001, p.
94), “a pesquisa exploratória é usada quando se busca um entendimento sobre a
natureza geral de um problema, as possíveis hipóteses alternativas e as variáveis
relevantes que precisam ser consideradas”.
Como método de pesquisa principal utiliza-se o Estudo de Caso, pois, a questão a
ser respondida é do tipo “como”, trabalhada sobre um conjunto contemporâneo
de acontecimentos, sobre os quais não se tem controle (YIN, 2001). Para apoiar o
direcionamento das atividades no estudo de caso o estudo apóia-se em mini-
surveys realizadas em lojas de móveis e, também, no interior de habitações de
interesse social.
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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4.2 Estratégia Geral de Desenvolvimento
4.2.1 Visão Geral
O estudo foi desenvolvido em quatro fases: revisão bibliográfica, mini-survey em
lojas de móveis, mini-survey em habitações de interesse social e, finalmente,
estudo de caso. A Figura 3.1 mostra a visão geral da estratégia de desenvolvimento
da pesquisa ao longo desta quatro etapas:
FIGURA 4.1: Visão Geral das Estratégias de Pesquisa
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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Na primeira fase (revisão bibliográfica) foi abordado as estratégias do design
sustentável, erros humanos e mecanismos poka-yoke, servindo como suporte para
analisar o produto, usuário, contexto de uso e interface nas fases subsequentes,
além de prover a estrutura teórica que possibilitou a proposição das diretrizes
resultantes da dissertação. s duas fases subsequentes envolveram a realização de
mini-surveys
A primeira Mini-Survey, feita em lojas de móveis populares, teve como propósito,
conhecer as formas de montagem e desmontagem dos móveis ofertados pelo
mercado, analisar o emprego de estratégias do design sustentável nos projetos dos
móveis populares, o grau de complexidade técnica e estrutural destes produtos.
Também, veririficar a existência de fatores indutores do erro humano,
relacionados ao processo de montagem/desmontagem e observar a existência de
mecanismos à prova de erros incorporados ao produto.
A segunda Mini-Survey, realizada em um conjunto habitacional popular, tem
como propósito, coletar dados sobre os móveis populares e seu contexto de uso.
Para a condução desta segunda Mini-Survey, realizou-se uma Mini-Survey Piloto,
como forma de testar o protocolo de coleta de dados e efetuar neste, as
alterações necessárias.
As informações obtidas com a primeira e segunda Mini-Surveys, possibilitam a
geração de um panorama entre que é projetado como mobiliário para a
população de baixa renda e o uso deste mobiliário dentro das habitações
populares.
O estudo de caso foi desenvolvido com vistas a avaliar a integração dos
mecanismos poka-yoke no processo de projeto, com vistas a contribuir na redução
ou elmininação dos erros humanos.
As seções seguintes descrevem em maiores detalhes cada uma destas etapas.
4.2.2 Revisão de Literatura
A revisão de literatura é importante para conhecer do estado da arte das áreas
que compõem a pesquisa e oferecer a base teórica para desenvolvimento do
estudo de caso (YIN, 2001). Neste sentido, neste estudo, busca-se referências
teóricas em design sustentável, erros humanos e poka-yoke como especificado a
seguir:
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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§ Design sustentável: esta revisão trata do conceito e definição do
desenvolvimento sustentável, desenvolvimento da sustentabilidade no
design e procura identificar abordagens, estratégias e linhas-guias
desenvolvidas para auxiliar o designer no desenvolvimento de produtos e
sistemas sustentáveis. Em seguida, a revisão tem o foco maior, as
estratégias relativas ao desenvolvimento de mobiliário e design sócio-ético.
Devido ao Design Sustentável ser uma estratégia em contrução, as fontes
utilizadas para esta pesquisa são publicações recentes. Entre elas, relatórios,
livros, declarações e guias, gerados por orgãos internacionais como ONU,
UNEP, UNESCO, EMUDE, UN-Habitat, ISO e por centros de excelência em
pesquisa em design, como o Instituto Poltécnico di Milano, ICSID
International Council of Society in Industrial Design, Center for Design at
RMIT, Melbourne. Journals nacionais e internacionais, são importantes
fontes de materiais teóricos para este tópico, podendo-se destacar: Design
Issues, Design Studies, Journal on Sustainable Design, International
Journal of Social Economics e Design em Foco. Além de journals, utiliza-se
também, publicações em anais de congressos e conferências, nacionais e
internacionais na área, entre os quais: SCORE!-Sustainable Consumption
Research Exchange Conference, ISSD- International Symposium on
Sustainable Design, P&D-Pesquisa e Desenvolvimento em Design, Design e
Materiais- Workshop Design e Materiais.
§ Erro Humano: é o tema abordado na segunda seção do capítulo de revisão
de literatura e possui uma base teórica bastante consolidada e formada por
pesquisas em áreas multi-disciplinares, como ergonomia, psicologia,
psicologia cognitiva, engenharia da produção e medicina. O objetivo desta
revisão é definir erro humano e diferenciá-lo de acidentes. Em seguida,
descrever taxonomias, tipos e categorias de erros humanos, propostas por
ergonomistas, psicólogos e engenheiros de produção. Para compor a
estrutura desta seção, toma-se como referência: Norman (1993, 2006),
Reason (1997), Sanders e McCormick (1997), Rasmussen (1988) Hinckley
(1997), Stantos e Barber (1997). A revisão conta ainda, com artigos em
Journals como Sloan Management Journal, Journal of Knowledge
Management Practice, British Journal of Anaesthesia. Um texto importante
para esta seção éThe Re-Invention of Human Error” de Sidney Bekker, por
oferecer a visão sistêmica do erro adotada nesta dissertação.
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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§ Poka-yoke: com o objetivo de definir poka-yoke, suas taxonomias e funções
e métodos, utilizou-se como autor principal Shingo (1988). Esta revisão é
complementada com pesquisa em livros e journals de gestão da produção e
engenharia da produção como: Production and Inventory Management
Journal, Total Quality Management, Production and Operation
Management Journal, Journal of Operational Research Society, com a
finalidade de compor uma visão mais abrangente sobre as atuais aplicações
de poka-yoke e direcioná-la para o foco da pesquisa: incorporação de poka-
yokes ao design de móveis populares para promover a extensão do ciclo de
vida.
4.3 Protocolo de Coleta de Dados – Mini-Surveys
4.3.1 Visão Geral
Dentre as formas de condução de Surveys, propostas por Robson (2006), opta-se,
neste estudo, pela entrevista face-à-face, pois, a característica dos dados a serem
coletados, em ambas Mini-Surveys, prescinde da observação in loco dos produtos e
seus contextos.
Como instrumentos para a coleta de dados, utilizou-se o questionário semi-
estruturado para entrevista e roteiro para observação. Ambos foram apoiodos
pela captação de imagem (vídeo e fotografia) e som (gravação de audio), cuja
permissão para utilização, com fins acadêmicos, foi concedida, pelos entrevistas,
através do preenchimento de um documento de Autorização de Uso de Imagem e
Som (Apêndice 1). As especificidade dos protocolos de cada mini-survey, são
apontadas abaixo.
4.3.2 Mini-Survey 1 – Lojas de Móveis
A primeira Mini-Survey é realizada junto a cinco estabelecimentos comerciais de
móveis populares. Os critérios empregados para a seleção das lojas foram: público
alvo - população de baixa renda, tipologia dos produtos ofertados - móveis
populares, importância para o mercado local - capacidade para oferecer crédito
aos consumidores para compra de produtos. A oferta de crédito, segundo Data
Popular (2007), é a responsável pelo crescimento da venda de móveis populares no
Brasil. Para a seleção dos móveis, utiliza-se como critério: o potencial do produto
ser usado como divisórias entre ambientes nas habitações de interesse social.
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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A construção dos instrumentos de coleta de dados, para esta Mini-Survey,
fundamenta-se na revisão de literatura, conforme Figura 3.2, que mostra como os
conhecimentos de cada um dos três temas, revisados na teoria, foram empregados
como base para a Mini-Survey 1 auxiliando a construção do protocolo de coleta de
dados.
FIGURA 4.2: Detalhe da Estratégia de Pesquisa - Mini-Survey 1
A caracterização dos móveis em cada loja seguiu um roteiro de observação MS1
(mini-survey 1), que encontra-se no Apêndice 2, direcionado aos materiais,
fixações, processos de montagem/desmontagem, necessidade de montador
profissional, orientações gráficas aplicadas ao produto e externas a este, como
manual de montagem. Além disto foi observada à existência ou não, de
dispositivos à prova de erros (poka-yokes), que pudessem auxiliar a
montagem/desmontagem ou limpeza e segurança do produto.
Para coleta de informações não passíveis de observação direta (ex: inclusão do
custo do serviço de montagem especializada no preço final do produto), construíu-
se um questionário, orientado aos representantes das lojas (vendedores, gerentes),
para obter informações sobre a postura institucional em relação à montagem, nas
residências dos consumidores, dos móveis vendidos pela loja (Apêndice 3).
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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4.3.3 Mini-Survey 2 – Habitações Populares
A segunda Mini-Survey é realizada em um conjunto de moradias populares. O
critério de seleção deste conjunto foi a renda familiar de até três salários mínimos
mensais. Outro critério utilizado foi o tamanho da habitação, que não deve
ultrapassar 50m². Para a seleção da amostra também foi observado a variabilidade
de estruturas familiares, buscando contemplar arranjos familiares diversos e, por
conseqüência, necessidades diversas quanto ao ambiente construído.
A construção dos instrumentos de coleta de dados para esta Mini-Survey,
fundamenta-se na revisão de literatura e também nos dados advindos da primeira
Mini-Survey, conforme apresenta a Figura 4.3. Além disto, antecedendo a Mini-
Survey 2 foi realizado uma Mini-Survey Piloto, realizada sob os mesmos critérios,
em uma residência selecionada aleatoriamente, do mesmo conjunto habitacional
no qual foi conduzida a Mini-Survey. Esta conduta, sugerida por Robson (2006),
possibilita a adaptação do protocolo, em relação ao conteúdo, linguagem e tempo
à necessidades da pesquisa.
FIGURA 4.3: Detalhe da Estratégia de Pesquisa - Mini-Survey 2
Conforme apresenta a Figura 3.3, o objetivo desta Mini-Survey é analisar a fase de
uso do ciclo de vida do móvel popular, assim como os problemas ocorrem nesta
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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fase, que podem encurtar a vida útil deste produto. Isto inclui analisar os erros
humanos e violações dos processos de montagem e desmontagem ocorridos, bem
como os fatores do contexto de uso que podem induzir ao erro/violação e
conseqüente dano ao produto.
Como técnica para a coleta de dados, utilizou-se a entrevista semi-estruturada
(Apêndice 4.). Este tipo de entrevista obedece a uma estrutura que delineia a área
a ser pesquisada, porém, oferece flexibilidade ao entrevistado e ao entrevistador
de colocar questões e informações outras que as previstas. A estrutura da
entrevista a ser aplicada contém os dados gerais da família: formação, rendimento
mensal, graus de escolaridade e questões pertinentes ao mobiliário: procedência,
tempo de uso, usabilidade, possíveis montagens e desmontagens, erros,
reestruturações, danos físicos e suas causas.
Para os dados não passíveis de serem obtidos com a entrevista, utilizou-se a
técnica de observação direta, através da qual buscou-se, in loco, dados sobre o
estado físico do mobiliário, danos aparentes, aspectos técnicos, estéticos e
funcionais. Para isto desenvolveu-se um roteiro de observação MS2 (mini-survey 2)
(APÊNDICE 5) com base nos aspectos apresentados pela literatura e pelo aspectos
observados na primeira Mini-Survey.
Para corroborar as anotações e permitir a validação interna das observações
diretas, utilizou-se registro de imagens (fotografia e filmagem) e registro de
áudio, tanto junto a filmagem, quando por gravadores externos de áudio. Ambas
as técnicas, sugeridas por Preece et al (2004) permitem a recuperação de dados
visuais e de falas importantes à pesquisa e, portanto, a revisão do próprio
conteúdo da análise.
4.3.4 Análise
A análise destas mini-surveys foi conduzida de forma separada. Para a primeira
mini-survey (produtos disponíveis no mercado) o foco foi a caracterização do perfil
do mobiliário disponível no mercado e a identificação de eventuais mecanismos
poka-yoke.
Para a caracterização do mobiliário foi observada a estrutura do móvel dividida
em: lateral, teto, divisória, base e fundo. Além da estrutura, observou-se também,
as peças denominadas funcionais: portas, gavetas e prateleiras. Outros
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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componentes, como varões, molduras, frisos, denominaram-se detalhes ou
acessórios.
Através do Roteiro de Observação MS1 (APENDICE 2), foram listadas as matérias-
primas utilizadas na confecção do produto, classificando-as entre matéria-prima
de base madeireira (MDF, OSB, Aglomerado, Compensado, HardBoard, madeira
maciça) e outros materiais (vidro, plástico, metal). Estes dados foram importantes
para a pesquisa, pois a durabilidade do móvel é projetada sobre a durabilidade
dos materiais com os quais é fabricado. O material também tem influência sobre
as escolhas dos sistemas de fixação das peças, possíveis desgastes de encaixes e
demandas por manutenções.
Além dos materiais, com o roteiro de observação MS1 foram identificados os
acabamentos empregados nos móveis. Os acabamentos cumprem a função de
proteção da matéria-prima, assim como função estética/cultural, cujas
degradações e obsolescência podem levar ao descarte prematuro do produto,
conforme apontam Manzini e Vezzoli (2005). Os acabamentos aplicados nos
móveis observados foram classificados em madeira natural, lâminas de madeira,
fórmica, papel melamínico, laca, pintura, verniz e cera. Estes dados foram
importantes para a pesquisa, pois o cada qual possui propriedades
físico/químico/mecânicas, que acrescentam ou reduzem o tempo de vida útil do
produto.
Ainda utilizando o roteiro de observação MS1, foram verificados os tipos de
sistemas fixação ou união utilizada nos produtos avaliados. Procurou-se observar e
classificar os sistemas de fixação como removíveis, semi-removíveis e permanentes.
A junção removível é aquela que possibilita a separação das partes através de
entalhes na própria peça (encaixes) ou através de componentes externos,
totalmente removíveis do produto no momento da desmontagem.
As junções semi-removíveis são aquelas que permitem a separação das partes, mas
que, porém, nem sempre o componente de união pode ser extraído do produto na
desmontagem (buchas e insertos). A junção permanente é aquela que não
possibilita a separação das partes para desmontagem (prego, grampo, cola).
Estes dados foram grande relevância para esta pesquisa, pois indicaram o grau de
desmontabilidade e remotabilidade do móvel. Estes sistemas contribuem para a
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complexidade e o tempo necessário para execução dos processos de montagem e
desmontagem do móvel. Um grau elevado de complexidade relaciona-se com
probabilidade de ocorrência dos erros humanos que causam danos ao produto.
A observação direta envolveu também a busca por elementos visuais de apoio ao
processo de montagem, seja com foco no montador, seja com foco no usuário
final (orientações, alertas, instrução de montagem). Também buscou-se a
existência de poka-yokes (dispositivos à prova de erros) integrados ao mobiliário,
que auxiliassem no processo de montagem e desmontagem, evitando erros e
colaborando para integridade física do móvel.
Outro dado importante foi à oferta de profissionais de montagem pelo mercado
de móveis populares, obtido pelo questionário (APÊNDICE 3). Este dado foi
analisado frente às necessidades reais da população observadas durante a mini-
survey 2.
Para todos os itens acima citados, a intenção da pesquisa, não era traçar um perfil
peça à peça, mas sim criar um panorama geral como forma de conhecer o
emprego destes itens pelas indústrias, nos produtos direcionados à baixa renda.
Tal caracterização é utilizada nas fases seguintes da pesquisa quando da
identificação de lacunas e inconsistências do design de mobiliário voltado à
população de baixa renda.
A análise da mini-survey 2 (habitações de interesse social) procurou caracterizar o
mobiliário em seu contexto uso, apontando os fatores indutores do erro humano
mais frequentes.
Conduziu-se a mini-survey 2 em uma amostra composta por dez casas do
Loteamento Sambaqui, utilizando como instrumentos de coleta de dados,
entrevista semi-estruturada e roteiro de observação MS2, instrumentos
apresentados nos Apêndices 4 e 5.
A entrevista semi-estruturada (APÊNDICE 4) coletou dados sobre o respondente
(titular), composição familiar, renda, escolaridade e residência promovendo uma
caracterização da das famílias da amostra. Em seguida, a entrevista semi-
estruturada possibilitou coletar dados sobre o histórico do mobiliário da casa,
como origem, tempo com a família e montagens e desmontagens sofridas.
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Além disto, a entrevista, juntamente com gravação de áudio, coletou dados sobre
as atividades de montagem e desmontagem realizadas pelo respondente. Foram
importantes as aberturas oferecidas pela estrutura da entrevista, que permitiram
aos entrevistados expressarem opiniões, impressões, sentimentos, facilidades e
dificuldades na execução deste tipo de atividade. Da mesma forma foram
coletados dados objetivos e subjetivos sobre a confiabilidade e segurança dos
móveis.
A entrevista e o roteiro de observação MS2 (APÊNDICE 5) possibilitaram a
caracterização do mobiliário existente nas moradias, classificando-o por tipologia,
empregando a mesma definição para as partes dos móveis, utilizada na seção de
Resultados da Mini-Survey 1:
§ Estrutura básica:
| Guarda-roupas, armários, racks, estantes: lateral, teto, divisória, base e
fundo.
| Camas: travessa, estrado, pés e cabeceira
| Cadeiras, bancos e mesas: tampo, assento, perna e pé
§ Peças funcionais: portas, gavetas, prateleiras e encosto.
§ Detalhes ou acessórios: varões, molduras, frisos.
Com o roteiro de observação MS2, foram caracterizados os tipos de materiais e
tipos de fixação dos móveis da amostra, empregando a mesma nomenclatura
utilizada na mini-survey 1. Ambos as caracterizações foram feitas de forma
qualitativa, buscando, traçar uma visão geral dos tipos de materiais e dos tipos de
junção. Os materiais foram relacionados aos danos observados e as junções à
desmontabilidade / montabilidade, flexibilidade e adaptabilidade deste
mobiliário.
Os tipos de danos ao mobiliário foram coletados com o emprego do roteiro de
observação MS2 e captura de imagens. Para a análise, os tipos de danos foram
agrupados em três categorias, com base nas principais razões que levam a
eliminação de um produto, apresentadas no Capitulo 2, propostas por Manzini e
Vezzoli (2005, p.182).
Desta forma os danos puderam classificados como: estruturais, funcionais e de
superfície/estéticos, obedecendo aos seguintes critérios: função que a peça
danificada exerce no conjunto, grau de importância do dano para uma possível
eliminação do produto.
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68
Por danos à superfície e/ou estéticos, entenderam-se aqueles que afetam a
superfície do móvel, seu acabamento ou cobertura, como riscos, furos, manchas,
descascamentos, aplicação de adesivos e ausência de acabamentos.
Por danos funcionais, entenderam-se aqueles que afetavam peças não essenciais à
estrutura básica do móvel, ou seja, cuja ausência não resultava obrigatoriamente
na eliminação do conjunto. As peças em questão, porém, afetavam a usabilidade
do produto, reduzindo suas funções, como portas, prateleiras, gavetas, calceiro,
cabideiro, divisões internas, junções, puxadores, fechos.
Por danos estruturais, entenderam-se aqueles que afetavam partes do mobiliário
sem as quais, teoricamente, não existiriam as condições para uso nas funções
programadas. São estas peças que dão a forma ao móvel e cuja existência é
fundamental, tanto para o todo, quanto para a fixação das partes e componentes.
Nesta classe puderam-se incluir laterais, teto e base (chão do móvel).
Estes danos foram relacionados aos tipos de materiais e fixações empregados nos
móveis e comparados àqueles ofertados pelo mercado de móveis populares. Com
base nos danos verificados in loco e nos resultados das entrevistas pôde-se
elaborar também, uma análise dos erros humanos freqüentes no processo de
montagem e desmontagem dos móveis seguindo a classificação de Reason (1998).
Foram identificados erros e violações dos tipos ativos ou latentes.
Também com base na entrevista, roteiro de observação e captura de imagem e
som pode-se traçar um panorama dos fatores que induzem ou contribuem para os
erros humanos nos processos de montagem e desmontagem. Esta análise deverá
contribuir na fase subseqüente da pesquisa (estudo de caso) a priorização das
classes de poka-yoke mais pertinentes ao projeto do móvel.
4.4 Protocolo de Coleta de Dados - Estudo de Caso
4.4.1 Critérios para Seleção do Conceito e Confecção do
Protótipo
O principal critério de seleção do estudo de caso foi que o mesmo trata-se do
desenvolvimento de mobiliário para a habitação de interesse social. Para a
conceitualização deste móvel, cujo projeto deveria seguir algumas das estratégias
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do design sustentável pertinentes aos mecanismos poka-yoke, tomou-se por
critérios principais: a participação do usuário final no processo de montagem, a
multi-funcionalidade, a complexidade resultante do número de peças,
componentes e tamanho final do produto.
Uma das delimitações para a análise da interface usuário-produto nesta
dissertação é que, pela natureza dos dados a serem coletados, o produto deveria
estar na fase de protótipo e em escala 1:1, pois somente nestas condições pode-se
verificar a incidência de fatores indutores do erro humano em todos os níveis de
complexidade.
4.4.2 Estratégia de Desenvolvimento
Na estratégia geral desta pesquisa, o Estudo de Caso tem como propósito a análise
de diretrizes pertinentes à fase do projeto que trata do estudo da interação
‘produto-usuário final’, em ambiente controlado e ainda na fase de protótipo.
Tem por finalidade, apontar os erros que ocorrem no processo de montagem e
desmontagem, que podem acarretar danos ao produto, com conseqüências
negativas à sua durabilidade. A realização do Estudo de Caso demanda o projeto e
confecção de um protótipo de um móvel, no qual são inseridos poka-yokes
(produto), seleção de avaliadores (usuário) e preparação do ambiente do teste
(contexto).
O protocolo de coleta de dados para o Estudo de Caso é uma adaptação de
Métodos da Ergonomia para Identificação de Erros na interface usuário final-
produto. Como existem diversos métodos para a identificação de erros (STANTON;
BARBER, 2002), para a seleção do conjunto de métodos, utiliza-se como critério de
seleção as seguintes variáveis: características dos dados (erros, tempo, usabilidade
e design), características da análise (funcional, estrutural, cenário de uso), o tipo
da interface, do ciclo do processo de design do produto (conceito,
desenvolvimento técnico, protótipo, produto final), tempo para obtenção e para
análise dos dados (muito, algum, pouco tempo) e as características dos avaliadores
(especialistas, usuários finais) (STANTON; YOUNG, 1993).
Para a presente pesquisa as técnicas de coleta de dados foram organizadas em
dois grupos, tendo como objetivo final a identificação dos poka-yokes pertinentes
ao mobiliário em lide:
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§ Identificação dos fatores indutores do erro humano:
o Questionário de Familiaridade Tecnológica (APÊNDICE 6): constitui-
use em uma ferramenta que permite o acesso às habilidades do
usuário e sua percepção do produto. Desta maneira, auxilia o
pesquisador a compreender o comportamento do usuário frente ao
produto. Neste estudo, o questionário, apresentado no Apêndice 6,
permite coletar dados sobre o repertório de conhecimentos do
aplicador (STANTON; YOUNG, 1999), grau de instrução,
conhecimentos de ferramentas e experiência em processos de
montagem/desmontagem. Estes dados auxiliam na interpretação
dos fatores cognitivos e culturais, que podem interferir no processo
de montagem/desmontagem e contribuir para a ocorrência de erros.
o Árvore do processo/operações: utilizou-se técnica análoga à HTA –
Hierarquia da Análise da Tarefa, também denominada Descrição da
Tarefa, na qual todas as ações humanas no processo são
hierarquizadas (STANTON; YOUNG, 1999). Desta forma,
primeiramente foram descritos os fluxos dos materiais na
montagem, em um diagrama do processo de união da partes, ou
seja entrada de materiais no conjunto. A seguir foram
hierarquizadas as ações humanas para montagem.
o Entrevista pós-processo: esta técnica pode revelar aspectos como,
pensamentos, sensações, desconfortos, aspectos cognitivos, dentre
outros. É uma técnica já consolidada e documentada na literatura e
cujas formas são: entrevista estruturada, semi-estruturada e livre
(ROBSON, 2006). Nesta pesquisa é aplicada a forma semi-estruturada
de entrevista, devido à natureza qualitativa dos dados a serem
coletados. A entrevista, a ser aplicada aos avaliadores após a
conclusão dos processos de montagem e desmontagem do
protótipo, segue uma sequência que busca informações sobre os
aspectos fisiológicos, ambientais, cognitivos, psicológicos, sociais,
culturais e instrumentais que podem ter influência nos erros
ocorridos nos processos de montagem e desmontagem (APÊNDICE
7).
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71
§ Identificação dos erros humanos:
o Observação Direta: a observação direta, ou seja, com o observador
na cena da ação (ROBSON, 2006) necessita também de um roteiro
que guie o pesquisador para os pontos relevantes, assim como
procedimentos em eventuais problemas no processo a ser
observado. Constrói-se um roteiro de observação, com base nas
HTA’s e nos Diagramas dos Processos. Neste roteiro abre-se espaço
para anotações do observador sobre os momentos de pontuação de
fatores indutores do erro, que ocorrem durante o processo. Lista-se
também, os procedimentos padrões do pesquisador mediante aos
problemas no momento da observação. O roteiro de observação EC
(estudo de caso) é apresentado no Apêndice 8.
o Registro de Imagens: a captação de imagens em vídeo é uma
ferramenta eficaz em teste de usabilidade (PREECE; ROGER; SHARP,
2004), pois o registro da ação possibilita uma análise mais completa
da interação. Em um processo complexo e longo, onde fluxos de
materiais e pessoas se fundem, a filmagem é bastante eficaz para
captar aspectos não passíveis de serem observados simultaneamente
pelo pesquisador (PREECE; ROGER; SHARP, 2004). A filmagem
também possibilita a recuperação da informação posteriormente,
para análise. Para a elaboração de plano de filmagem, utilizam-se
como critérios: o ambiente (espaço físico, iluminação,
posicionamento do objeto e avaliador), o tipo dos dados a serem
coletados, interferências da presença de câmeras, tanto na
movimentação no espaço físico, quanto nas condições psicológicas e
cognitivas do avaliador. A estrutura do plano de filmagem utilizado
nesta pesquisa encontra-se no APÊNDICE 9. A fotografia, outra
forma de captação de imagens, utilizada nesta pesquisa, permite
registrar situações que fora do foco da câmera filmadora e pontuar
imagens de ações, configurações e etapas relevantes do processo,
tornando mais imediato o acesso às informações importantes para a
analise. Portanto, para o registro fotográfico, utilizou-se a forma
livre (sem tripé), com o acompanhamento a ação dos avaliadores e
evolução do processo.
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72
72
4.4.3 Critério de Seleção dos Moradores de Habitação de
Interesse Social para Teste do Mobiliário
Para a avaliação do protótipo, preconizou-se a seleção de uma amostra de pessoas
representantes do público alvo, utilizando como critério de seleção a renda
familiar mensal de até três salários mínimos. Esta condição permite a análise de
fatores sócio-culturais que podem influenciar a ocorrência de erros na montagem
e desmontagem do móvel.
A configuração da amostra seguiu os padrões propostos pela Ergonomia, para
análise da usabilidade de um produto. Segundo Cybis et al (2007); Magary (2001) e
Nielsen (1993a, p.224), o número necessário de avaliadores para teste de
usabilidade é de 6 a 10 usuários, sendo que, utilizando-se cinco avaliadores pode-
se encontrar 75% dos problemas de usabilidade de um produto. Este número
cresce para 90% ao se utilizar 15 avaliadores e se mantém estável a partir deste
ponto (NIELSEN; LAUNDER, 1993b). Nesta fase do estudo, portanto, a amostra
utilizada foi de dez avaliadores, o que segundo Nielsen e Landauer (1993b) pode
abranger 80% do número de problemas de usabilidade do produto.
4.4.4 Preparação do Ambiente para os Testes
Segundo aponta a literatura, diversos fatores indutores do erro humano, podem
estar relacionados ao contexto físico/ ambiental. Portanto, para a análise da
interface usuário final-produto, prevê-se a preparação de um ambiente que
ofereçesse condições similares às observadas em campo. Como critério para a
seleção do ambiente, toma-se por base as características das casas populares
visitadas durante a Mini-Survey 2, entre elas, a área total não superior a 50m² e a
configuração interna similar em número de peças: 2 quartos, sala com cozinha e
banheiro.
4.4.5 Estratégia de Análise do Estudo de Caso
Neste estudo de caso a análise focou na identificação dos erros ocorridos e sua
relação com os fatores indutores e contribuintes dos erros. Os dados das
entrevistas e questionário foram triangulados com os registros de imagem e
observação direta, permitindo o aumento da validade interna das conclusões
quanto aos fatores que levaram à ocorrência de erros. A análise dos erros levou
em conta a classificação proposta por Reason (2002) bem como as classes de poka-
yoke propostas por Shingo (1988).
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Para a coleta de dados sobre os erros no processo, utilizou-se roteiro de
observação EC (APÊNDICE 6), captação de imagens fotográficas e de vídeo
(APÊNDICE 9) e captação de áudio. A observação direta obedeceu a procedimentos
pré-definidos, segundo os quais, o observador não poderia interferir ou participar
nas atividades de montagem e desmontagem. Somente após a constatação de
estagnação do processo por um prazo igual ou superior a 10 minuto, seria
permitido o auxílio do observador, pontuando no roteiro o ponto de
interferência. O processo seria interrompido em caso de risco eminente ao
avaliador e/ou produto.
Os avaliadores, separados em duplas tinham como atividade principal montar ou
desmontar o protótipo. Estas atividades foram realizadas por grupos diversos, pois
conforme apontaram os dados da Mini-Survey 3, as famílias, quando ‘ganham’ ou
‘encontram’ um móvel, realizam tanto desmontagem, como montagem ser que
haja nenhum conhecimento prévio do produto.Desta forma, ao solicitar a grupos
diversos que realizassem os processos inversos, pode-se coletar dados sobre erros
ocorridos também por falta de familiaridade com o produto.
Assim, ao entrarem no ambiente do teste, cada dupla de avaliadores recebeu as
instruções sobre qual das atividades deveria desempenhar e sobre o
desenvolvimento desta atividade, sendo alertado que o observador, não
responderia a perguntas após inciado o processo.
Foi solicitado à cada equipe que verbalizasse dúvidas, sensações (desconforto,
medo, insatisfação), dificuldades, facilidades e outros, durante toda a atividade.
Estas verbalização resulta em dados qualitativos importantes para análise dos
erros ocorridos.
Terminadas a atividade que o grupo desevolveu, cada intergrante respondeu a
uma entrevista pós-processo (APENDICE 7), que teve por finalidade coletar dados
sobre as condições fisiológicas, cognitivas, psicológicas de cada avaliador e
aspectos culturais e ambientais, bem como suas impressões em relação ao produto
e ao processo em si, que possam auxiliar na interpretação do sistema dos erros
ocorridos na montagem ou desmontagem do protótipo.
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A entrevista era semi-estruturada, com respostas diretas, do tipo sim ou não e com
aberturas para a relatos de dificuldades, sensações, facilidades, satisfação,
insatisfação, dentre outros. Portanto, os dados coletados são qualitativa.
A primeira parte da entrevista buscou dados relativos à fisiologia dos avaliadores.
Para formular as perguntas foi feito um check-list relacionando a Árvore de
Processos e Operações e os aspectos físicos humanos que compõem o sistema de
erros, apresentados no Capítulo 2: visão, audição, olfato, paladar, tato, membros e
ossos. As partes subsequentes da entrevista coletaram dados sobre os aspectos
cognitivos, instrumentais, ambientais e psicológicos e foram baseadas na revisão
de literatura (capítulo 2) e nos resultados e analálises da mini-survey 2. Foram
utilizadas perguntas diretas, porém as respostas tem carácter subjetivo e foram
comparadas com os resultados da observação na seção de análise.
Esta análise contribuiu para a seleção das classes de poka-yokes mais adequadas
para serem integradas aos móveis destinados à atender às demandas da
população de baixa renda.
4.5 Análise Geral
A análise geral efetuou a triangulação entre os tipos de danos encontrados nas
habitações populares, os tipos de erros encontrados no estudo de caso e o perfil
dos móveis ofertados pelo mercado para esta população. São realizadas
inferências sobre as implicações das eventuais inconsistências da oferta do
mercado em relação às demandas da população de baixa renda quanto ao
processo de montagem e desmontagem dos móveis. Com base nesta análise é
proposto um conjunto de tópicos a serem considerados pela indústria do
mobiliário no sentido de aumentar o desempenho ambiental dos móveis através
da adoção de mecanismos poka-yoke.
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5 Resultados e Análises
5.1 Contexto
A presente dissertação foi desenvolvida inserida dentro do Projeto “Kits faça-você-
mesmo coordenados modularmente para cobertura e mobiliário-divisória de
habitações de interesse social”, aprovado na “Chamada Pública
MCT/FINEP/FNDCT/CAIXA - HABITARE - 01/2006, O objetivo principal do projeto era
o desenvolvimento de metodologias para criação e desenvolvimento de “kits”
para a habitação de interesse social, segundo os princípios da sustentabilidade. Esta
dissertação trata da Meta Física 02 daquele projeto: “Kit faça-você-mesmo
coordenado modularmente para divisórias de habitações de interesse social que
tenha a função também de mobiliário, incluindo a embalagem”.
O “kit” de mobiliário-divisória tem como objetivo principal a concepção e
desenvolvimento de um mobiliário (até a fase de protótipo funcional) coordenado
modularmente, que integre, em um mesmo produto, a função de mobiliário e
divisória entre ambientes, tendo como principal referencial de vedação acústica e
luminística, uma parede interna de alvenaria. Este móvel deveria incorporar na sua
concepção os princípios da sustentabilidade, nas dimensões econômica, ambiental e
social, bem como, os princípios da ergonomia e usabilidade do produto. Deveria,
também, ser passível de ser transportado e montado pelo usuário final, o que
demandava a oferta de embalagens, ferramentas e informações, necessárias para a
correta execução do processo.
Como forma de contribuir para a correta montagem/desmontagem do ‘kit’, a
presente dissertação pesquisa sistemas à prova de erros, conhecidos como poka-
yoke, de forma a integrá-los ao projeto do mobiliário-divisória, como dispositivos
capazes de mitigar de erros humanos neste processo. Desta forma, as pesquisas
realizadas para esta dissertação permearam o processo de design do mobiliário-
divisória, conforme apresenta a Figura 4.1:
5.2 Mini-Survey 1- Lojas de Móveis Populares
5.2.1 Caracterização da Amostra
Para o levantamento de dados sobre o mercado de móveis populares novos, na
cidade de Curitiba, conduziu-se uma Mini-Survey, que preconizou a visita à cinco
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estabelecimentos comerciais de grande porte. Localizadas na região central da
cidade, as lojas pesquisadas ofereciam crédito para compras de móveis ³,
obedecendo o critério de seleção da amostra.
Empregaram-se dois instrumentos para a coleta de dados: roteiro de observação
(APÊNDICE 2) e questionário (APÊNDICE 3). O roteiro serviu como orientação
durante a observação direta e exploratória, dos produtos expostos para a venda. A
observação direta teve por foco, três tipos de móveis: estante, balcão e guarda-
roupa, por permitirem o uso como divisória de ambientes, de forma espontânea,
pela população de baixa renda. Em cada loja observou-se um total de três balcões,
três estantes e cinco guarda-roupas.
Os produtos analisados se encontravam montados e expostos nos ambientes das
lojas. De cada produto, foram observados: materiais, acabamentos, sistemas de
fixação e união. Observou-se também, a complexidades da estrutura,
componentes e sistemas de montagem. O Quadro 5.1 abaixo resume a amostra
analisada, apresentado a tipologia, especificidades, quantidade observada em
cada subtipo, exemplo de configuração em forma de esboço, funções principais do
produto e peças constituintes.
QUADRO 5.1: Resumo da amostra de móveis analisada em lojas
Tipologia Qtd.
Ilustração Função Peças
Guarda-roupa
2 portas
4 portas
6 portas
04
10
11
guardar/organizar:
roupas
sapatos
objetos
lateral
base
teto
fundos
porta
divisórias
gavetas
prateleiras
cabideiro
calceiro
sapateira
espelho
Estante
fechada
tipo rack
08
07
guardar/organizar:
objetos
apoiar
eletroeletrônicos
lateral
base
teto
fundos
divisórias
porta
gavetas
prateleiras
Balcão
sala de jantar
15
guardar/organizar:
objetos
utensílios
lateral
base
prateleiras
divisórias
fundos
porta
gavetas
prateleiras
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77
O questionário foi aplicado aos representantes responsáveis pelas lojas, em busca
de informações qualitativas não passíveis de observação direta, como é o caso de
informações em relação à montagem do móvel após a venda. O Quadro 5.2 abaixo
relaciona a loja, o número de entrevistados e seu enquadramento funcional.
QUADRO 5.2: Resumo da amostra dos entrevistados nas lojas de móveis
Loja nº de entrevistados Enquadramento funcional
A 01 vendedor
B 01 diretor
C 01 vendedor
D 01 vendedor
E 01 vendedor
5.2.2 Resultados - Observação Direta
Para atender tanto a função de mobiliário, quanto de divisória, (em alinhamento
com os objetivos de estudo de caso), os produtos analisados nas lojas, nas três
tipologias e seus subtipos, prescindiam da existência de uma estrutura básica,
representada na Figura 5.1.
FIGURA 5.1: Estrutura básica do móvel.
Esta estrutura básica, percebida em todos os móveis da amostra, pode ser dividida
em: lateral, teto, divisória, base e fundo, peças chamadas estruturais. Além destas,
observou-se também, em todos os cinqüenta e cinco produtos observados, a
existência de outras peças e elementos que contribuíam para a funcionalidade do
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móvel. Entre estas estão: portas, gavetas e prateleiras, denominadas peças
funcionais. Aos outros componentes, como varões, molduras, frisos,
denominaram-se detalhes ou acessórios.
Observou-se que a variedade, quantidade e localização, de cada uma destas peças,
dentro da estrutura básica, possibilitavam a geração de diversas configurações
formais. Como nesta mini-survey, em 90% das lojas, não foi permitida a captação
de imagens, utilizou-se das imagens de panfletos, ofertados pelas lojas com os
destaques da semana, para criar esboços em um quadro de exemplo de
configurações formais. Na Figura 5.2 a seguir tem-se a representação de algumas
configurações possíveis resultado de combinações das peças acima citadas.
FIGURA 5.2: Exemplos de configurações formais das tipologias analisadas
Todos os móveis da amostra possuíam em comum a estrutura supracitada, com
variação de quantidade e localização de peças funcionais. Os resultados da
observação são apresentados abaixo, seguindo a tipologia analisada, apresentada
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no Quadro 5.3: guarda-roupas, estantes e balcões, incluindo a incidência dos
matérias pesquisados. Conforme mostra a Quadro 5.3, 88% da amostra de
guarda-roupas utilizava o MDF como matéria-prima. O Hardboard foi observado
em 96% do total da amostra, figurando como fundo dos guarda-roupas e das
gavetas, enquanto a madeira de pínus foi encontrada em 4% da amostra. Dos
materiais de base não madeireira, o vidro foi encontrado em 48% dos guarda-
roupas, principalmente na forma de espelhos. O plástico, bem como o metal,
estava presente em 100% da amostra, tanto como ferragens e acessórios.
Nas estantes, o quadro mostra que 80% do total observado empregava o MDF em
sua confecção. O aglomerado apareceu em 20% da amostra e o Hardboard em
100% das unidades, elemento de fundo. Dos demais materiais, o vidro estava
presente em 80% da amostra, figurando como porta e prateleira. Plástico e metal,
ambos em 100% das estantes em detalhes e ferragens. Dos quinze balcões
analisados, 73,33% apresentavam MDF em sua composição estrutural e 26,66%,
apresentavam o aglomerado. Em 100% das peças foi observada a utilização de
hardboard como fundo do móvel. O vidro estava presente em 53,33% das
amostras, enquanto o plástico e o metal em 100% dos produtos, em detalhes e
ferragens.
QUADRO 5.3: Perfil do uso de materiais por tipologia
Matéria-prima
Subtipo à
Guarda-roupas
(25 un.)
Estantes
(15 un.)
Balcões
(15 un.)
Total
(55 un.)
MDF
22 12 11 45
Aglomerado
02 03 04 09
OSB
00 00 00 00
HardBoard
24 15 15 54
Compensado
00 00 00 00
madeireira
Pinus
01 00 00 01
Vidro
12 12 08 32
Plástico
25 15 15 55
outras
Metal
25 15 15 55
Outro item observado foi o acabamento, cujo número de peças, em relação ao
tipo de acabamento observado é apresentado a seguir no Quadro 5.4. Observou-
se que 80% da amostra de guarda-roupas total, utilizavam o papel melamínico
como acabamento. Outros 16% apresentava o acabamento em Laca e outros 4%
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em verniz. Entre as estantes, encontrou-se o papel melamínico em 66,66% da
amostra, a lâmina de madeira natural em 13,33% e o verniz em 20%. Em relação
aos acabamentos aplicados aos balcões, 60% utilizava o papel melamínico, 20% a
lâmina de madeira natural e 20% o verniz.
QUADRO 5.4: Perfil dos acabamentos por tipologia
Subtipo à
Acabamento
Guarda-roupas
(25 un.)
Estantes
(15 un.)
Balcões
(15 un.)
Total
(55 un.)
Lâmina Mad
00 02 03 05
Melamina
20 10 09 39
Fórmica
00 00 00 00
Postform
00 00 00 00
Laca
04 00 00 04
Pintura
00 00 00 00
Verniz
01 03 03 07
Cera
00 00 00 00
Quanto aos sistemas de encaixe, a amostra apresentou o seguinte perfil,
apresentado no Quadro 5.5. que mostra que as junções tipo encaixe, estão
presentes em 76% da amostra, cavilhas em 48%, buchas e parafusos em 100% da
amostra, bem como as ferragens e a cola. O grampo é utilizado em 64% nesta
tipologia de produtos e o prego em 48%. Entre as estantes, em 80% dos produtos
analisados, encontraram-se encaixes, em 53,33% cavilhas e em 100%, buchas e
parafusos, bem como o uso de cola. Em 13,33% das peças foi constatada a
utilização de grampo e em 86,66% a presença de pregos. Conforme o quadro,
80% dos balcões observados apresentam fixação por encaixe e em 46,66% fixação
por cavilha. Ainda observou-se que, 53,33% utilizam cola, 33,33% utilizam
grampos e 66,66% usam pregos para a junção das partes. Em 100% da amostra
foram observados os uso de buchas, parafusos e ferragens. Quanto aos sistemas de
fixação empregados, obteve-se o seguinte quadro:
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QUADRO 5.5: Perfil dos sistemas de fixação
Subtipo à
Junção por
Guarda-roupas
(25 un.)
Estantes
(15 un.)
Balcões
(15 un.)
Total
(55 un.)
Encaixe
19 12 12 43
Cavilha
12 08 07 27
Bucha/Paraf
25 15 15 55
Ferragem
25 15 15 55
Cola
25 15 08 48
Grampo
16 02 05 23
Prego
12 13 10 35
Não foram observados poka-yokes nos guarda-roupas da amostra, nem
relacionados ao processo de montagem, nem relacionados à segurança do usuário
ou do produto. Quanto ao design informacional, não foi verificada nenhuma
orientação de limpeza, montagem ou segurança, integrada aos produtos. Da
mesma forma, não foram identificados em nenhum dos móveis analisados
elementos de design informacional que auxiliassem o processo de montagem.
Os manuais de montagem eram os únicos instrumentos adotados com este
propósito. Foram observados somente dois manuais, um dos quais é apresentado
na Figura 5.4. Esta é a instrução de montagem de um guarda-roupa em MDF de
três portas e dois gavetões. Em ambos os manuais, as peças e componentes estão
codificadas e as instruções escritas de montagem são apresentadas somente com o
apoio de desenhos.
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FIGURA 5.4: Instruções de Montagem de um Guarda-Roupas de Três Portas. Fonte:
QMOVI, 2007
Também nas estantes e nos balcões não foram observados poka-yokes, como
auxílio na prevenção de erros na montagem/desmontagem, bem como item de
segurança ao usuário ou produto. Não existiam marcas, orientações de limpeza ou
recomendações de segurança integradas aos produtos. Não foram observadas
instruções de montagem destes produtos.
Assim, concluída a coleta de dados, pôde-se traçar o panorama geral da amostra,
em relação aos materiais empregados na confecção dos móveis, conforme mostra
a Figura 5.5:
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FIGURA 5.5: Panorama Geral dos Materiais Presentes na Amostra
Segundo mostra o gráfico acima, 57,1% dos materiais empregados na confecção
dos móveis, são de origem madeireira e outros 42,9% são de outras origens. Estes
materiais são unidos entre si por sistemas removíveis, semi-removíveis e
permanentes como apresenta a Figura 5.6 a seguir.
FIGURA 5.6: Panorama Geral dos Sistemas de Fixação Presentes na Amostra
Segundo a Figura 5.6, em 87,3% dos produtos avaliados, além da utilização de
sistemas semi-removíveis (bucha+parafuso), sistemas removíveis (ferragens),
constatou-se também, o emprego de sistema permanente (cola), como forma de
fixação de algum componente. Por estes dados, pode-se concluir que grande
porcentagem dos móveis pode apresentar os três sistemas utilizados em paralelo.
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Como mostra a Figura 5.7, apresenta a proporção geral de acabamentos utilizados
na amostra.
FIGURA 5.7: Panorama Geral dos Acabamentos Empregados na Amostra
Conforme apresentou a Figura 5.7 o acabamento predominante na
amostra é o papel melamínico e conforme dados da entrevista as cores
mais vendidas são o branco e o tabaco.
5.2.3 Resultados - Questionário
O questionário (APÊNDICE 3), composto de oito perguntas, coletou dados sobre a
tipologia de móveis mais vendidas nas lojas da amostra, sobre o pólo produtor e
material com que este produto é confeccionado. Em seguida, se buscou
informações sobre os acabamentos mais procurados nas três tipologias de móveis
utilizadas na observação. Em seguida, procurou-se traçar um perfil da política das
lojas em relação à montagem dos produtos vendidos.
Entre os móveis mais vendidos nas lojas, destacaram-se os estofados de dois e três
lugares, jogos de cozinha, com armário suspensos, balcões, mesas e cadeiras e
jogos de quarto, com cama e guarda-roupa. A tabela abaixo apresenta a ordem
em que estes móveis foram citados pelos respondentes.
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QUADRO 5.6: Moveis mais Vendidos na Loja
Lojas
Posição
nas
Vendas
Loja A
Loja B
Loja C
Loja D
Loja E
estofados Cozinha estofados estofados cozinhas
quartos Estofados cozinhas quartos estofados
cozinhas Quartos quartos cozinhas quartos
Conforme o Quadro 5.6, o móvel mais vendido para 60% das lojas, é o estofado,
enquanto que para 40% das lojas são os jogos de cozinha. Em segundo lugar, em
40% das lojas vendiam-se os jogos de quarto, para outros 40%, os estofados e
para 20% os jogos de cozinha. O terceiro item mais vendido em 60% das lojas são
os jogos de quarto, enquanto que para outros 40% são os jogos de cozinha.
Em relação à montagem dos móveis complexos, como cozinhas, quartos e estantes,
a política praticada em 100% das lojas, é oferecer a montagem, efetuada no
momento da entrega (também oferecida pela loja) do produto na casa do cliente.
Este serviço é prestado por montador profissional e encontra-se incluído no preço
final do produto. Todas as lojas assumem a postura de se isentar de fixar na
parede os móveis vendidos, alegando desconhecimento da planta e locais de
encanamentos da moradia, esta responsabilidade fica ao encargo do usuário final.
Segundo os respondentes é prática da loja montar o móvel no local de uso e
deixar para o comprador a instrução de montagem e a garantia do produto.
Sobre a garantia dos produtos, as lojas fornecem garantia de um ano em
problemas em qualquer peça, relacionados a defeitos de fabricação. As lojas se
isentam da responsabilidade pelos danos causados pelo transporte e montagem
realizados pelo próprio usuário final, e não é feito nenhum abatimento no preço
do produto em caso de dispensa do serviço profissional oferecido. As principais
causas de trocas e reclamações segundo 70% dos entrevistados são problemas
relacionados às ferragens, e segundo 30% problemas relacionados ao
acabamento.
5.2.4 Análise dos Dados
Os dados apresentados anteriormente mostraram que os móveis são fabricados
com grande heterogeneidade de tipos de materiais. Tal heterogeneidade exige
soluções de design que facilitem a separação dos materiais ao final do ciclo de
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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vida, o que não foi observado. Os móveis da amostra utilizavam sistemas mistos
que incluíam junções permanentes, o que dificulta a separação das partes e
componentes, para reciclagem (tanto das partes, quanto dos materiais) e/ou
recuperação energética.
Outra consideração importante sobre os sistemas de fixação dá-se na análise de
que, durante a fase de uso do ciclo de vida do móvel, poderia ocorrer desgaste ou
ruptura de algum componente, que necessitasse de reparo ou reposição e esta
poderia ser impedida caso o sistema de fixação deste componente fosse do tipo
permanente. Além de dificultar manutenções preventivas e corretivas, este tipo
de junção inibe a adaptabilidade estrutural, funcional e estética do mobiliário
durante sua fase de uso, estratégias que poderiam garantir a durabilidade do
produto, conforme apontam Manzini e Vezzoli (2005). A redução na intensidade
do uso destas junções no design do mobiliário é premente e deve ser considerada
quando da aplicação de mecanismos poka-yoke.
Os danos ao produto, durante o processo de montagem e desmontagem poderiam
ser diminuídos com a opção por junções removíveis, como prevêem as estratégias
do design sustentável e, mesmo mitigados através da utilização de dispositivos
poka-yoke. Estes dispositivos à prova de erros não foram observados em nenhuma
das peças analisadas e poderiam ser de grande auxílio nestes processos, facilitando
a interface com os sistemas de junção, tornando o processo intuitivo e alertando
para existência de erros que pudessem prejudicar o móvel. Poka-yokes auxiliariam
não somente na desmontagem e montagem completas do produto, mas também
em reparos e manutenções, tornando-os rápidos e seguros. Poderiam ser
empregados para facilitar as adaptações, estruturais, funcionais e estéticas, bem
como auxiliar a tornar mais flexível o produto dentro das habitações.
Os acabamentos são responsáveis pela obsolescência estético/cultural de um
produto, que levam ao fim prematuro da vida útil, e, paralelamente às questões
estéticas, conforme apontado anteriormente, o acabamento é um item
importante a ser considerado durante a fase de uso do ciclo de vida do produto,
pois danos à esta superfície protetiva, podem expor o material interno às ações
das intempéries e ações químicas, provenientes da utilização de produtos de
limpeza, causando a degradação do material e diminuindo sua durabilidade,
como alertam Manzini e Vezzoli (2005, p. 182). Além disto, danos a superfície
também podem requerer manutenções e reposição de peças e foi apontada como
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87
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principal item de reclamação, trocas e manutenções por 30% dos entrevistados.
Estas reposições e trocas deveriam ser facilitadas por junções removíveis, para
evitar o descarte prematuro do todo. Soluções de acabamento que permitissem
rápida correção não foram observadas na amostra como também não foram
observadas soluções para permitir o usuário realizar pequenos reparos nos móveis,
ao longo do ciclo de vida.
Cada tipo de superfície requer cuidados específicos para sua manutenção, para
evitar danos. Estes são geralmente apresentados por indicações de design
informacional, porém, em nenhum produto foram observadas estas considerações,
o que poderia aumentar as possibilidades de danos à superfície durante o uso do
produto.
Ainda com relação ao design informacional, não foram vistos senão duas
instruções de montagem, apresentadas anteriormente, de difícil compreensão
para leigos, isto, somado ao número de partes diversas (teto, base, laterais, fundo,
prateleiras, gavetas, portas, acessórios e detalhes), bem como o uso de sistemas
mistos de junção, resulta em um produto de montagem complexa para pessoas
inexperientes. Isto explica a posição das lojas, tanto de oferecer o serviço de um
montador profissional no ato da compra do produto, como de se isentar de
responsabilidades sobre os danos causados ao móvel durante a montagem.
5.3 Mini-Survey 2 - Habitações Populares
5.3.1 Seleção da Amostra
Tanto a Mini-Survey 2 – Piloto como a Mini-Survey 3 - Habitações Populares, foram
conduzidas junto ao Loteamento Moradias Sambaqui, situado na periferia da
cidade de Curitiba. O referido loteamento foi construído através da Companhia de
Habitação Popular de Curitiba - COHAB-CT e é formado por 523 unidades
familiares, das quais 382 encontravam-se habitadas na época da pesquisa.
O loteamento possui infra-estrutura básica: esgoto sanitário (100%), drenagem
pluvial (80%), abastecimento de água (100%), de energia elétrica (100%),
iluminação pública (100%), pavimentação inexistente e transporte coletivo (COHAB,
2006). Quantos às residências, o Conjunto Sambaqui apresenta, basicamente, por
duas tipologias: aquelas construídas pela COHAB-CT e as construídas pelos próprios
moradores. As casas construídas pela COHAB-CT tem 36m² (ilustrada na Figura 5.8-
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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88
B), divididos em dois quartos, sala com cozinha integrada e banheiro, conforme
mostra a planta baixa, na Figura 5.8-A.
FIGURA 5.8: Planta baixa casa padrão CT34B (A). Fonte: COHAB-CT. Fachada da casa
padrão CT34B (B).
A tipologia construída pela COHAB-CT possui dois padrões de habitação: CT34A e
CT34B, cuja diferença é apenas o posicionamento (espelhado) dos cômodos. Muito
importante para o contexto do presente trabalho é o fato de que nenhuma das
habitações apresentou mobiliário incorporado na habitação ou provido pela
COHAB-CT anteriormente à sua ocupação.
Diferentemente da tipologia citada acima, as tipologias de residências construídas
pelos próprios moradores não possuem padrões, conforme mostra a Figura 5.9 a
seguir. A Figura 5.9-A trata-se de um sobrado em alvenaria, construído para
abrigar um comércio na parte inferior. A Figura 5.9-B trata-se de uma residência
térrea, ainda em fase de acabamento.
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89
89
FIGURA 5.9: Fachada residência 5 (A) e fachada da residência 9 (B)
Para a realização tanto da Mini-Survey piloto como da Mini-Survey 2 foi analisada
uma amostra das habitações deste conjunto habitacional. A seleção desta amostra
levou em conta o critério de renda e aleatoriedade foi realizada por intermédio da
Fundação de Assistência Social de Curitiba – FAS e COHAB-CT. Para a seleção da
amostra realizou-se uma reunião com as lideranças da comunidade. A Organização
Comunitária no Loteamento Sambaqui identifica-se por meio de três Associações de
Moradores, dois Clubes de Mães e três entidades comunitárias de luta por moradia
(COHAB-CT, 2006), todas ativas no período da pesquisa e representadas por um
morador presidente
Na supracitada reunião foram colocados os objetivos da pesquisa e os
procedimentos adotados para a coleta dos dados. Foram selecionadas famílias que
contemplassem a diversidade de arranjos familiares. Foram selecionadas dez
famílias para o estudo da Mini-Survey 3 – Habitações Populares, representando
2,5% da comunidade.
A amostra para Mini-Survey 2 – Piloto, que testou o protocolo de coleta de dados,
foi retirada desta amostra geral, Por sugestão dos agentes sociais da FAS,
selecionou-se a casa de um dos lideres comunitários para conduzir a Piloto, como
forma pode-se garantir uma maior receptividade dos demais moradores durante a
Mini-Survey 3.
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90
5.3.2 Caracterização Geral da Amostra
As famílias do Loteamento Moradias Sambaqui são classificadas como sendo da
faixa de renda nível C (ABEP, 2008), pois, 87,1% do total, recebem até três salários
mínimos mensais
1
¹. As dez famílias selecionadas para o estudo apresentaram um
rendimento familiar médio dos entrevistados é de dois ‘salários mínimos’ mensais,
com gasto médio declarado, superando o rendimento. Algumas famílias utilizam o
recurso do ‘Programa Bolsa Família’ para complementar sua renda. Dos titulares
entrevistados, 80% possuíam fonte de renda no momento da pesquisa, tanto
informal como formal.
O nível de escolaridade é baixo, dado que 17,8% são analfabetos e cerca de 63,4%
dos moradores ainda não completaram o ensino fundamental (COHAB, 2006).
Quanto à procedência das famílias entrevistadas grande parte não é originaria de
Curitiba e, antes de serem assentadas no Sambaqui ‘moravam’ em ocupações
irregulares de terrenos (invasões). Estas invasões foram realizadas em barracões de
lona comunitários. Através da entrevista aplicado às dez famílias da amostra
(APÊNDICE 4 ) concluiu-se que o tempo médio de residência destas no Loteamento
era de dois anos, no momento da entrevista.
Todos os respondentes eram os compradores titulares do imóvel. Das dez
residências visitadas, cinco haviam sido construídas através de financiamentos do
Governo e COHAB-CT e outras cinco por iniciativa e recursos dos próprios
moradores.
Dois terrenos, um com uma residência padrão COHAB-CT e outro com uma
residência construída pelo morador ainda mantinham na parte dos fundos, a
residência provisória de madeira, que serviu como moradia no período de
construção da casa em material. . O Quadro 5.7 abaixo mostra o perfil destas dez
habitações:
1
Salário Mínimo Brasileiro – Março 2007 – R$ 350,00 (DIEESE, 2007)
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91
QUADRO 5.7: Perfil das habitações da amostra
Casa/ entrevistado
Padrão nº de moradores
nº de móveis
01 COHAB 4 11
02 COHAB 5 15
03 COHAB+PROPRIO 3 19
04 COHAB 1 10
05 PRÓPRIO 2 11
06 PRÓPRIO 3 22
07 PRÓPRIO 4 15
08 PRÓPRIO 3 15
09 COHAB 4 12
10 COHAB 4 11
TOTAL 33 MORADORES 141 MÓVEIS
Conforme mostrou o Quadro 4.13 , o número médio de moradores por residência
era, no período da pesquisa de três pessoas, com mínimo de dois e máximo de 10
habitantes (caso de uma família que recebe os filhos de um dos cônjuges nos finais
de semana)
5.3.3 Caracterização da amostra da Mini-Survey 2 - Piloto
A renda familiar mensal da amostra para Mini-Survey Piloto era 67% do valor do
salário mínimo daquele período, vinda de pensão alimentícia e do programa Bolsa
Família
2
². O número total de moradores era de quatro pessoas: um adulto e três
crianças. O titular respondente não possuía emprego no ato da entrevista. O nível
de escolaridade do mesmo é o segundo grau completo enquanto o restante da
família está cursando o ensino fundamental.
A referida família é procedente de São Paulo e migrou para Curitiba com o
Movimento Nacional de Luta pela Moradia, se estabelecendo primeiramente em
barracão de lona em terreno invadido, sendo posteriormente reassentada no
Loteamento Sambaqui.
No período da pesquisa, vivia no loteamento a dois anos, dos quais, cinco meses na
residência era padrão COHAB CT34B, ainda em fase de acabamento. Antes da
2
Bolsa Família – Programa Brasileiro de Combate à Fome e à Miséria cujo valor varia entre R$
15,00 a R$ 95,00 (AGÊNCIA NACIONAL DE NOTÍCIA, 2007)
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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92
construção da casa pela COHAB a família ocupou o terreno com uma habitação de
madeira.
5.3.4 Resultados da Mini-Survey Piloto
Realizada em uma residência do Conjunto Sambaqui, a Mini-Survey Piloto teve por
objetivo principal, testar o protocolo de coleta de dados. Os resultados
apresentados na presente seção dizem respeito às alterações realizadas no
protocolo a partir das constatações e inadequações apontadas durante a piloto. Os
resultados referentes aos dados coletados nesta Mini-Survey 2 são apresentados e
agrupados aos resultados da Mini-Survey 3 – Habitações Populares.
A Mini-Survey Piloto apontou inadequações na linguagem do protocolo ao perfil
dos respondentes. A partir desta constatação, termos como ‘esporádico’
(referindo-se à renda) e ‘ampliar’ (referindo-se à moradia) foram substituídos por
‘bicos’ e ‘aumentar’ para se adequarem a linguagem coloquial da amostra.
Outro problema observado foi a dimensão e complexidade dos instrumentos do
protocolo, que exigiam um longo tempo para a aplicação. Isto demonstrou-se
incompatível com a realidade da família com crianças de pouca idade, que
precisam constantemente da atenção dos pais. Com, isso reestruturou-se o
protocolo de coleta de dados, deixando mais concisa a entrevista, diminuindo o
número de perguntas e agrupando-as, quando possível.
Durante a realização da Mini-Survey Piloto a entrevista semi-estruturada mostrou
exigir firme controle do pesquisador, pois, a abertura propiciada pela estrutura
utilizada, levou, por diversas vezes à perda de foco nas respostas e
conseqüentemente, perda de tempo. Observou-se também, a interferência da
vizinhança (que fez-se presente durante toda esta pesquisa) nas respostas no e
tempo da entrevista. Portanto, corrigiu-se a estrutura limitando as aberturas para
participação espontânea. Teve por cuidado, contanto, sem reduzir a qualidade
dados necessários à pesquisa.
Outra questão que se apresentou relevante foi o número de pesquisadores para a
coleta ser incompatível com as pequenas dimensões da moradia. A partir deste
estudo piloto e visando a aplicação do protocolo em dez habitações dividiu-se a
equipe de pesquisa em quatro duplas de pesquisadores, duas responsáveis pela
aplicação da entrevista e duas responsáveis pela observação do mobiliário e do
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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contexto. Limitou-se dois pesquisadores para a aplicação deste instrumento, sendo
um responsável pelas perguntas e outro pelo registro de imagem e voz. Outros
dois pesquisadores, responsáveis pela observação, seguiriam o roteiro pré-
estabelecido, contemporaneamente registrando as imagens do mobiliário.
O estudo piloto permitiu inferir que os trabalhos das equipes poderiam ser
realizados de forma independente, ou seja, cada equipe responsabilizou-se pela
coleta de dados em cinco moradias, previamente determinadas. Desta forma
procurou-se dar maior velocidade ao processo como um todo. Reviu-se também, a
conduta dos pesquisadores durante a entrevista, e o posicionamento dentro da
moradia.
A análise dos resultados dos dados coletados na Mini-Survey Piloto, mostrou que
estes atendiam aos propósitos da pesquisa. Assim, terminados os ajustes e
correções realizou a Mini-Survey 2, conforme descrito abaixo. O formato final do
protocolo de coleta de dados empregado na Mini-Survey 2 pode ser consultado
nos Apêndices 4 e 5.
5.3.5 Resultados da Mini-Survey 3 – Habitações Populares
5.3.5.1 Caracterização geral dos móveis
Assim, tem-se que todos os móveis encontrados nas residências da amostra
pertenciam à categoria de móveis residenciais, não sendo observado nenhum
móvel de escritório. Similarmente à Mini-Survey 1- Lojas, a Mini-Survey 3 –
Habitações populares permitiu identificar a tipologia geral do mobiliário utilizado
nas residências, suas especificidades, materiais, junções,
desmontabilidade/remontabilidade, e danos passives de observação. Pode-se
distinguir as seguintes as tipologias de mobiliário: cama, guarda-roupa, armário,
cômoda, balcão, assentos e estante, segundo as especificidades apresentadas no
Quadro 5.8, a seguir.
QUADRO 5.8: Tipologia dos Móveis Populares do Conjunto Sambaqui
Tipologia Específica
Cama Guarda-
roupas
Cômoda
Armário
Mesa
Estante Assento
Solteiro
Casal
Beliche
2 portas
6 portas
4 portas
3 gavetas
4 gavetas
5 gavetas
Roupas
Balcão
Pía
Paneleiro
Apoio
Jantar
Fechada
Rack
2 lugar
3 lugares
Cadeiras
Bancos
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94
Superior
Entre as camas observadas, 29,16% eram camas de casal, 66,18% eram camas de
solteiro e 4,66% eram beliches. Em 20% das habitações, observou-se apenas o
colchão sobre o estrado, diretamente no piso, como pode-se ver na Figura 5.10 a
seguir.
FIGURA 5.10: Colchão sobre estrado diretamente no piso de concreto. Casa 01
Para guardar suas roupas, os moradores utilizavam guarda-roupas, armários,
gaveteiros, cômodas. Entre os guarda-roupas, 56,25% tinham duas portas, 37,5%
tinham seis portas e 6,25% tinham quatro portas. Observaram-se também roupas
empilhadas ou penduradas em pregos e cadeiras, como mostra a Figura 5.11 a
seguir.
FIGURA 5.11: Roupas penduradas e empilhadas. Casa 05
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Os sapatos eram guardados dentro dos guarda-roupas e armários, em sapateiras
plásticas. Foram observados, da mesma forma que as roupas, sapatos colocados e
empilhados em diferentes locais como sob banquetas e bancos, em cima de um
televisor, conforme apresentado na Figura 5.12 a seguir.
FIGURA 5.12: Sapatos empilhados sobre televisor. Casa 01
Em 90% das residências foram observados assentos, sendo predominante o uso de
sofás como solução para sentar. Foram observados também cadeiras e bancos,
porém em menor número e em algumas situações utilizados não como assentos e
sim como apoio de vestimentas ou eletroeletrônicos, conforme mostra a Figura
5.13 a seguir. Para apoio de aparelho de som e televisão, apenas 30% das casas
possuía estante ou rack, os demais utilizavam mesas, cadeiras ou piso, como se
pode ver também na Figura 5.13.
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FIGURA 5.13: Cadeira utilizada como apoio para televisor. Casa 09
Nas residências padrão COHAB foram encontradas mesas pequenas, de cerca de
1m², enquanto nas demais residências, observaram-se mesas para 4 ou 6 lugares.
Assim como as cadeiras, as mesas também apresentavam usos não previstos,
servindo também de apoio aos eletroeletrônicos. Verificou-se, também, a
utilização de armários do tipo balcão, balcão de pia, paneleiro vertical, armários
superiores e prateleiras abertas, como solução para guardar utensílios e
mantimentos. Ainda registrou-se a utilização de outros espaços, como prateleiras
aramadas diretamente nas paredes e nichos com prateleiras improvisadas,
conforme o apresentado na Figura 5.14 a seguir.
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FIGURA 5.14: Prateleira improvisada em nicho sob a pia. Casa 04.
Observou-se a realização de funções não previstas para os vários produtos que se
integravam ao ambiente construído. Por exemplo, foi observado a utilização dos
espaços internos dos fogões para guardar mantimentos, panelas e até mesmo
produtos de limpeza, como pode-se ver na Figura 5.15 a seguir.
FIGURA 5.15: Soluções para guardar utensílio, mantimentos e produtos de limpeza. Casa
04
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Produtos de limpeza e também remédios eram guardados em locais alternativos,
como parte superior dos armários e mesmo sob colchões, segundo afirmam os
entrevistados 1, 2 e 3. Contudo, não foi possível confirmar tais afirmações durante
o período de observação direta.
Dos 141 móveis existentes nas residências da amostra, 60,15% é proveniente de
doações (móveis usados por terceiros); 20,23% são móveis de família
(remanescentes do processo migratório); 10,12% - móveis usados (encontrados
após descarte); 5.02% dos móveis é resultado de trocas por outros em lojas de
móveis usados; 4% - móveis feitos pelos próprios moradores; 0,48% - móveis
comprados em loja de móveis novos (vide ilustração deste panorama na Figura
5.16 a seguir).
FIGURA 5.16: Porcentagens da origem dos
móveis.
Os 60,15% de móveis doados têm diversas origens, conforme apontam os
entrevistados 1, 4 e 5: “(...) foram as assistentes sociais que doaram, eu estava sem
sofá, elas me deram esse (FIGURA 5.17)”; “(...) foi o patrão dele (o marido) que deu
o beliche, porque o que a gente tinha, ficou em baixo da lona e apodreceu
(...)”;“(...) a minha vizinha comprou um armário novo, a gente estava sem aqui, ela
mandou o velho dela, que tinha sido dado pela assistente (...)”, “(...) minha mãe
me deu este armário, minha irmã essa estante”.
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FIGURA 5.17: Estante doada. Casa 05
Os próprios moradores, quando eventualmente não precisavam mais de um móvel
e estes se encontravam ainda em condições de uso, doavam aos amigos próximos.
As entrevistas mostraram ser habito comum doar ou comprar móveis dos amigos
da comunidade.
Os móveis remanescentes do processo migratório somavam o total de 20,23%
(móveis de família). Eram em número menor, pois, segundo os moradores, as
constantes mudanças (inclusive de Estados) somadas à precariedade das condições
ambientais dos locais de invasão, auxiliaram a danificar o mobiliário, conforme
pode ser observado pelo comentário do Entrevistado 3: “(...) nesse tempo que a
gente ficou no barracão, estragaram todos os móveis, eu mesma perdi
praticamente tudo (...) teve gente que perdeu tudo embaixo da lona.” As referidas
invasões foram realizadas em barracões de lona onde as famílias dividiam e
delimitavam seus espaços utilizando móveis, como guarda-roupas e balcões.
Segundo a moradora da casa 1, estas soluções eram precárias: “era muito difícil,
ninguém tinha privacidade, a gente podia ouvir tudo que todo mundo falava”
Entretanto, o Entrevistado 1 apontou o móvel de família, que havia sido dado por
sua mãe, como a melhor e mais durável peça de mobiliário da casa, demonstrando
com isso, uma relação de estima pelo produto (vide FIGURA 5.18 a seguir). Este
móvel foi apontado como forte e durável, estando com a família desde antes de
sua vinda para Curitiba, passando com ela por diversos processos de mudança.
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FIGURA 5.18: Balcão remanescente do processo migratório - Casa 01
Conforme apontam os dados, 10,12% dos móveis foram recolhidos da rua, após
descarte, e muitas vezes são adaptados pelos moradores para atender suas
necessidades, conforme aponta o Entrevistado 2: “achei este balcão na rua, serrei
ele pra caber aqui”.
Além dos móveis recolhidos nas ruas, outros 4% foram feitos pelos próprios
moradores na busca de soluções para suas necessidades imediatas, como pode ser
visto na Imagem 4.16. Somente 0,48% dos móveis foram comprados novos em
uma loja de móveis populares (FIGURA 5.19).
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FIGURA 5.19: Banqueta e banco de fabricação própria do morador. Casa 04
A imagem acima mostra um banco confeccionado em tábuas de construção e uma
banqueta cuja estrutura de aço é retornada ao processo de uso com o acréscimo
de um novo assento, ambos confeccionados pelo morador. Como este banco,
diversos outros móveis presentes nas casas visitadas eram confeccionados com
matéria-prima de base madeireira.
5.3.5.2 Materiais e Junções
Com a aplicação do roteiro de observação (APÊNDICE 4) constatou-se que as
matérias-primas de base madeireira predominavam na confecção da estrutura de
75,38% móveis analisados, mantendo a mesma proporção em partes funcionais.
Dos materiais de base madeireira, os mais freqüentes eram o pínus, as chapas de
aglomerado de baixa densidade, o compensado (presente em menor quantidade)
e o MDF (Médium Density Board). Outros materiais, de base não madeireira como
aço, vidro e plástico foram observados nos 24,62% dos móveis. Desta forma,
obteve-se o seguinte panorama dos materiais da amostra total, em relação às
partes estruturais e funcionais:
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FIGURA 5.20: Panorama geral dos materiais encontrados nas peças estruturais e
funcionais dos móveis da amostra
Em relação aos dados apresentados na Figura 4.1, é preciso salientar que os
materiais de base madeireira estavam presentes na mesma proporção em partes
estruturais e funcionais. Já os demais materiais encontravam-se divididos em
porcentagem diferentes. Dos 7,69% dos móveis em plástico, 4,61% o utilizavam
em partes funcionais (assentos de cadeiras e banquetas) e 3,07% em partes
estruturais (lateral, fundo e porta de sapateira).
Os metais compunham a estrutura de 13,85% de móveis como camas tubulares,
pés de cadeiras e de banquetas. Em 0,77% compunham, também, partes
funcionais, como assento de cadeira. O vidro por sua vez foi observado somente
em partes funcionais, como portas e espelhos.
Além dos materiais supracitados, foram observados também os sistemas de junção
entre partes estruturais e funcionais. Para isto empregou-se o roteiro de
observação (APÊNDICE 4) e captação de imagens, que permitiram revisitar,
posteriormente, os dados coletados.
Portanto, como resultado desta coleta, teve-se que os sistemas de junção/união
empregados nos móveis da amostra eram mistos: permanente+semi-
removível+removível. Das junções removíveis pode-se observar o emprego de
encaixes, parafusos, cavilhas sem cola e ferragens. Das junções permanentes,
observou-se a utilização de cola, grampo e prego.
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Este sistema misto é exemplificado com a Figura 5.21 a seguir, que mostra uma
lateral de guarda-roupa observado na Casa 01. O detalhe A desta imagem
apresenta componentes de uma dobradiça que une lateral com porta (sistema
removível). No mesmo detalhe, assim como no detalhe B, observa-se também
buchas plásticas (sistema semi-removível). O detalhe C, por sua vez, apresenta um
dos três pregos observados na imagem geral (sistema permanente).
FIGURA 5.21: Lateral de armário: emprego de sistema misto de fixação e junção. Casa 01
Como mostrou a imagem anterior, no mobiliário das residências pesquisadas,
verificou-se a predominância do de sistemas mistos de junção. Verificou-se
também a utilização de permanentes como forma de solucionar diversos
problemas nos móveis relativos à ausência ou ruptura de componentes e junções
removíveis e semi-removíveis.
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Junções permanentes improvisadas eram empregadas como forma de adiar os
efeitos dos danos sobre os móveis, estendendo o período de funcionalidade do
móvel. Esta prática popular de solução de problemas relativos às uniões do
mobiliário é exemplificada na Figura 5.22 a seguir. Nela apresenta-se a parte
anterior e posterior de um suporte plástico de varão, em processo de ruptura
devido a peso excessivo, apoiado por três pregos. A intenção do morador era
evitar a queda de todas as roupas penduradas.
FIGURA 5.22: Suporte de varão danificado e apoiado por pregos. Casa 05
Estas soluções populares observadas, usadas para manter a funcionalidade do
móvel por certo período, podem ter reflexo direto na montagem / desmontagem,
na flexibilidade e adaptabilidade do mobiliário devido a utilização de junções
permanentes, substituindo aquelas semi-removíveis ou removíveis.
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Para compreender as implicações deste tipo de solução para a integridade e para o
ciclo de vida dos produtos, buscou-se primeiramente coletar dados sobre quando
e como são realizadas as montagem e desmontagens dos móveis pela população
de baixa renda. Os resultados são apresentados na próxima seção.
5.3.5.3 Montagem/Desmontagem
Corroborando os dados apresentados na seção de Resultados e Análises da Mini-
Survey 1, conduzida em lojas de móveis populares, a montagem dos móveis novos
é realizada por montador profissional e o preço deste serviço é incluso no preço
final do produto. Entretanto, os dados coletados e apresentados anteriormente,
mostraram que, uma porcentagem muito pequena (0,48%) dos móveis nas
habitações pesquisadas, havia sido comprada em lojas de móveis novos. A maioria,
(99,62%) vinha de processos de mudanças de residências e os respondentes não
eram seus primeiros donos. Isso posto, procurou-se definir se os referidos móveis
tinham sofrido desmontagens e remontagens durantes estas mudanças e, se sim,
quem as havia executado.
A segunda parte da entrevista semi-estruturada (APÊNDICE 3) e as aberturas
oferecidas pela estrutura da entrevista, que permitiram aos respondentes
expressarem opiniões, impressões, sentimentos, facilidades e dificuldades na
execução deste tipo de atividade.
A montagem é considerada um processo demorado, difícil, físico e mentalmente
cansativo para 90% dos entrevistados. Somente 10% relataram habilidade na
execução destes processos. Os mesmos 10% relataram também ‘projetar e
construir’ móveis para suprir pequenas necessidades. Dois destes móveis foram
anteriormente apresentados na Imagem 4.6.
Assim, segundo os respondentes, os móveis doados eram trazidos montados,
sempre que possível. Apenas móveis com grandes estruturas, como guarda-
roupas e estantes, sofrem desmontagem completa ou parcial. Neste caso os
entrevistados descrevem problemas para a remontagem, relacionados à ausência
ou perda de partes ou componentes e a falta de conhecimento/habilidade
Dos entrevistados, 80% apontam ter ferramentas básicas (nem sempre adequadas)
para executar os processos de montagem e desmontagem (chaves de fenda,
martelo), ou capazes de emprestá-las em caso de necessidade.
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Questionados sobre móveis do tipo faça-você-mesmo, todos responderam que
conheciam, mas apenas 20% dos entrevistados relataram ter comprado e montado
uma pequena mesinha deste tipo: “ela era de tudo de plástico, foi fácil de montar,
mas agora está na casa da minha mãe” (ENTREVISTADO 2). O outro móvel citado,
apresentado na Figura 5.23 é feito em plástico na parte externa e prateleiras em
madeira.
FIGURA 5.23: Móvel do Tipo “Faça-
você-mesmo”. Casa 01
Entre os encaixes mais simples, 40% dos entrevistados apontaram para camas
tubulares de ferro dizendo que seus encaixes (FIGURA 5.24) são fáceis de montar:
“essa é fácil, é só encaixar aqui, ó, não tem segredo (...)” (ENTREVISTADO 4). O
tipo cama tubular, apresentada acima, foi encontrada em 50% das casas visitadas.
Os entrevistados as consideram práticas e resistentes.
FIGURA 5.24: Detalhe do Encaixe de Cama Tubular em
Ferro. Casa 04
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O Entrevistado 1 relatou ‘medode executar a montagem de um guarda-roupa
que estava a 20 (vinte) dias desmontado na sala de sua casa: “eu tenho medo de
montar, (...) tentei montar só uma coisa na vida, a bicicleta do meu filho e não
consegui.”
Dos entrevistados, 60% apontaram a dificuldade de visualizar o aspecto final do
móvel após a montagem, conforme retrata a fala do Entrevistado 1: “(...) quando
o móvel vem desmontado, a gente nem sabe como é que ele é, eu nem arrisco!”.
Nenhum dos móveis doados foi entregue com manual ou instrução de montagem,
assim como nenhum dos móveis de família possuía manual de montagem ou
garantia do produto. Sobre a leitura de manuais de instrução ou instruções de uso
ou montagem, 40% dos entrevistados responderam que lêem, referindo-se
principalmente a celulares e bulas de remédios. Outros 60% responderam que não
têm ‘paciência’ para ler nada.
Em relação aos móveis comprados em loja - o único com esta procedência foi
entregue e montado no local por montador profissional. Não foram entregues ao
comprador, nesta ocasião, manual de montagem e garantia. Segundo o
Entrevistado 4, foram entregues apenas a nota fiscal e os carnês de pagamento,
pois o móvel foi comprado a prestações. A montagem estava incluída no preço
final do móvel e o montador trouxe as ferramentas necessárias para executá-la.
Entretanto o móvel foi danificado durante o transporte, sendo necessária a troca,
pela loja, de uma lateral, que havia sido riscada. Segundo o Entrevistado 4, esta
troca demorou dois meses para ser efetuada e resultou em muitas reclamações.
Danos ao mobiliário são dados importantes a esta pesquisa, visto que podem
afetar o ciclo de vida do produto e podem estar relacionados aos processos de
montagem e desmontagem a que são submetidos os produtos. Para coletar estes
dados, utilizou-se do roteiro de observação direta (APÊNDICE 4) e registro de
imagens. Os resultados são apresentados a seguir.
5.3.5.4 Danos
Constatou-se que 99,52% dos móveis da amostra apresentavam danos aparentes.
Entretanto, devido ao fato de os atuais donos, na maioria dos casos não serem os
primeiros donos dos móveis analisados e na maioria dos casos o histórico da vida
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útil não ser conhecido na sua totalidade, a definição dos pontos de contato e o
contexto que gerou o erro não puderam ser claramente estabelecidos.
Os dados foram coletados qualitativamente, pois não fazia parte do escopo da
pesquisa, saber qual o número de danos existentes no mobiliário e sim quais os
tipos e sua relevância para o ciclo de vida do produto.
Conforme apresentado no Capítulo 4, os danos puderam classificados como
estruturais, funcionais e de superfície/estéticos, obedecendo aos seguintes
critérios: função que a peça danificada exerce no conjunto, grau de importância
do dano para uma possível eliminação do produto.
Desta maneira, foram observados danos na superfície e/ou nas peças e
componentes do mobiliário. Os danos a superfície, estavam presentes em 95,52%
dos móveis da amostra e apresentavam-se em duas formas: leve ou severa. Como
danos leves foram considerados aqueles que não comprometiam a estrutura do
móvel, mas podiam comprometer a funcionalidade e a estética. Entre as forma
leves encontravam-se riscos, furos, manchas, descascados e aplicação de adesivos.
Assim, verificou-se nas casas 01, 03 e 05 a aplicação de adesivos na superfície do
móvel, observou-se também, que este tipo de dano estava relacionado ao
mobiliário pertencente aos quartos de crianças. A Figura 5.25, a seguir, apresenta
um detalhe do beliche pertencente a casa 03, apresentado na sua totalidade, na
Imagem 4.1 da seção subseqüente.
FIGURA 5.25: Adesivos aplicados ao mobiliário.
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Outros danos, que nesta pesquisa foram considerados leves foram as perfurações,
manchas e riscos sobre a superfície. A Figura 5.26 a seguir apresenta a lateral do
rack, mostrado em sua totalidade anteriormente na Figura 5.17. Em toda esta
lateral podem ser observados exemplos destes danos, entretanto, ampliou-se um
detalhe que busca esclarecer melhor ao leitor estes danos. O detalhe A da Figura
5.26 apresenta perfurações na lateral. No detalhe B têm-se riscos à superfície e no
detalhe C pode-se ver manchas causadas por retirada de camada de coloração.
Porém, não se podia precisar o agente causador desta descoloração.
Ainda na mesma Figura 5.26, o detalhe D apresenta o descolamento da superfície
do móvel. O descolamento do acabamento/ superfície, pôde ser observado na
forma leve ou severa, dependendo do grau de comprometimento às partes
estruturais do móvel. Este descolamento é considerado leve, pois apesar de expor
considerável parte da chapa de aglomerado, está em um ponto do móvel que não
afeta a estrutura.
FIGURA 5.26: Danos ao mobiliário: perfuração, riscos, manchas, descolamento. Casa 03.
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Estes danos à superfície/estéticos do tipo leve, não representavam grandes riscos à
durabilidade do produto. Porém poderiam afetar também a usabilidade, no
momento em que a superfície afetada exercesse outra função além das protetoras
e estéticas, caso de tampos de mesas e escrivaninhas.
Diferentemente do dano apresentado na imagem anterior, foram considerados
danos severos os descolamentos que expunham uma grande porção do material
interno do móvel (chapa de aglomerado, compensado, MDF), afetando a fixação
de ferragens ou mesmo a estabilidade da estrutura como um todo.
A Figura 5.27 a seguir, apresenta um caso de dano severo à superfície de uma
mesa. Vê-se que toda a extensão da parte inferior do tampo havia perdido a
superfície protetora e uma das junções, neste caso um grampo (junção
permanente), começa a se desprender da estrutura.
FIGURA 5.27: Descolamento severo da superfície de uma mesa. Casa 02.
Os danos à superfície tanto leves quanto severos, apesar de, aparentemente
terem maior impacto sobre a dimensão estética do produto, expunha a matéria-
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prima às ações do tempo e às ações químicas, que podiam promover sua
degradação, contribuindo para a eliminação precoce do produto. Contudo,
mesmo muito danificados na superfície, os móveis da amostra continuavam
atendendo suas funções.
Além dos danos à superfície, apresentados anteriormente, também observaram-se
danos a ferragens, presentes em 53% dos móveis da amostra, que poderiam ser
classificados em qualquer das três classes supracitadas, pois a função da ferragem
varia de acordo com o local onde é empregado.
As fixações fundamentais para a estrutura do móvel, ou seja, aquelas que unem e
fixam laterais à base e ao teto, podem ser classificadas como estrutural, pois sua
ausência ou dano afeta à estrutura básica do produto. Aquelas utilizadas para a
união de peças funcionais, como prateleiras, cabideiros, gavetas, etc. podem ser
classificadas também como funcionais, pois sua ausência ou danos afetam a
usabilidade do móvel. Outras, utilizadas para fixação e união de ornamentos e
acessórios podem ser classificadas como estéticas. Foram oservados danos à todos
os tipos de fixações descritos acima.
Observaram-se ferragens, que, mesmo danificadas, continuavam a execer suas
funções de união, apoio e fixação, como, por exemplo, o suporte de varão da casa
05, apresentado anteriormente na Figura 5.22. Além de suportes, entre as
ferragens danificadas existiam trapézios de fixação, dobradiças e puxadores.
Também observaram-se ferragens danificadas e ainda fixadas tanto em partes já
desmembras, como ainda nos próprios dos móveis, mesmo sem exercer qualquer
função.
A seguir, a Figura 5.28 apresenta um armário cuja dobradiça está danificada, e
contudo ainda integrada ao móvel. Pode-se ver na mesma peça, a ausência de uma
das portas, causada provavelmente pela ruptura desta dobradiça.
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FIGURA 5.28: Armário com dobradiça danificada e sem uma das portas. Casa 01
A ausência da porta é classificada como dano funcional. Este tipo de dano foi
observado em 76% da amostra e apresentava-se pela ausência de partes dos
móveis, prateleiras, ferragens e acessórios. Na Figura 5.28 pode-se ver também o
empilhamento de móveis, que não faziam parte de um mesmo conjunto. Desta
forma pode-se verificar que mesmo quando um conjunto é desfeito, suas partes
ainda funcionais, continuam a ser utilizadas. O empilhamento é uma forma de uso
não prevista do móvel que pode acarretar danos à estrutura, pois a submete a
cargas para as quais não foi projetada. Outra forma de dano é a ruptura,
desligamento ou ausência de alguma parte de sustentação de outra, como é o
caso de bases e corrediças. Pode ser resultado tanto de dano à ferragem quanto
de dano a peças ou componente ou mesmo resultado do sobrepeso. Na Figura
5.29 abaixo, vê-se uma cômoda, cujas gavetas estão desalinhas por problemas nas
corrediças.
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FIGURA 5.29: Desalinhamento das gavetas: danos à corrediça. Casa 01
Este tipo de dano por ser considerado funcional ou estrutural, dependendo da
peça que afeta. No caso da gaveta apresentada na Imagem anterior, é classificado
como funcional e pode acarretar uma seqüência de outros danos, visto que a
gaveta tanto agride a superfície da segunda gaveta quanto imprime a esta um
sobrepeso que pode levar a ruptura da corrediça.
Além do desalinhamento das gavetas, pode-se perceber na mesma imagem, a
existência de peças soltas não pertencentes àquele móvel, colocadas sobre o
gaveteiro. A Figura 5.30 a seguir mostra outro ângulo deste móvel no qual se pode
ver que, mesmo desmembrada, uma porta de guarda-roupa era utilizada como
espelho pela a família. Outras peças separadas dos móveis, como os espelhos
acima, continuam a ser utilizadas pelos moradores.
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FIGURA 5.30: Peças avulsas de móveis.
Casa 01
Como ilustra a imagem anterior, existia o aproveitamento de partes de móveis já
descartados, mas que podiam ser consideradas como unidades funcionais, como é
o caso do espelho, ainda preso à uma porta, da imagem anterior. O móvel ao qual
pertencia a referida porta não existia mais em sua totalidade e seu descarte pode
ter sido causado por um dano estrutural, ou seja, um dano que afetou partes
essenciais à existência física e total do móvel, como laterais, teto e base (assoalho
do móvel). Apesar de observada a existência de danos em diversos graus, a
‘ausência’ destas partes não foi verificada em nenhum dos móveis da amostra.
Outras peças relacionadas à estrutura do móvel, mas cuja ausência não implicavam
em descarte do produto, incluíam a base (pé de sustentação) e o fundo. Ambas as
peças podem refletir na estabilidade do mobiliário, ocasionando danos às demais
peças estruturais, porém, na pesquisa foram observados móveis com a ausência
destas duas peças, que, contudo, continuavam a ser utilizados, como mostram a
Figura 5.31 a seguir.
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FIGURA 5.31: Guarda-roupa desestruturado pela ausência de base. Casa 01
Assim posto, concluiu-se que os móveis na habitação popular eram descartados
somente em casos de danos estruturais graves que impossibilitassem
definitivamente qualquer tipo de uso. Danos à superfície/estéticos e danos
funcionais não resultavam em descarte do móvel, porém, poderiam ser fatores
contribuintes ou indutores para outros danos que poderiam levar a eliminação do
todo. Estas relações são apresentadas na Figura 5.32.
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FIGURA 5.32: Danos ao mobiliário nas habitações populares
A Figura 5.32, mostra que para esta população, que ainda não tem satisfeitas suas
necessidades básicas de habitabilidade, conforto e bem-estar os danos,
depreciações e obsolescência estéticas não levam ao descarte prematuro do
produto. Conforme os dados, os móveis para esta classe, têm sua vida útil
prolongada até o limite de suas propriedades funcionais, não sendo considerados
relevantes para o descarte, danos funcionais per se. Portanto existe uma relação
longo prazo com o mobiliário, durante a qual, segundo os dados, o produto perde
significativamente qualidades estéticas, funcionais e estruturais. Assim, pode-se
descrever o ciclo de vida do mobiliário residencial popular através da Figura 5.33 a
seguir.
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FIGURA 5.33: Ciclo de vida do móvel residencial popular.
Observando a figura anterior, vê-se a importância de adaptar o produto às
necessidades do usuário para manter sua integridade física e funcional e, é fato
que danos, de qualquer categoria, afetam em maior ou menor grau a integridade
e a funcionalidade de um móvel e podem refletir na segurança e na confiabilidade
do produto, conforme alertam Manzini e Vezzoli (2005). Como forma de
estabelecer a relação entre dano, confiabilidade, segurança e o descarte
prematuro do produto, utilizou-se duas perguntas de estrutura aberta, formuladas
juntamente com a entrevista semi-estruturada (APÊNDICE 3).Obtiveram-se
resposta de ordem qualitativa cujos resultados são apresentados a seguir.
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5.3.5.5 Confiabilidade e Segurança do Mobiliário
Quanto à confiabilidade do mobiliário de suas casas, cinco entrevistados
apontaram problemas de segurança relacionados às estruturas dos móveis. Todos
estes problemas advinham das junções das partes e componentes. Entre os móveis
apontados como inseguros, estava um beliche, sobre o qual dormiam duas
crianças. O móvel apresentava esmagamentos e ruptura dos encaixes, o que
podiam colocar em risco sua estrutura e por conseqüência a seguranças de seus
usuários. O encaixe da grade de proteção da parte superior, para ser mantido
funcional utilizava um prego como reforço, conforme pode ser visto na FIGURA
5.34, a seguir.
FIGURA 5.34: Beliche com rupturas nos encaixes. Casa 03.
Na Casa 3, encontrou-se uma cama de casal, desmontada por problemas
estruturais. A Entrevistada 3 descreveu a insegurança que sentia em relação a
cama: (...) era impossível dormir nela, a gente não podia se mexer, tinha a
impressão que ia cair tudo, aí cansei, desmontei, agora durmo num colchão no
chão, que pelo menos não cai, nem faz barulho”. O respondente pretendia
descartar o móvel.
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Nesta mesma residência, observou-se uma estante fechada, cujo fundo foi
removido para a colocação de uma televisão de 29”. Conforme aponta a
Entrevistada 3, isto fazia com que a estante ‘balançasse muito’. Questionada sobre
o porque havia retirado o fundo do móvel, a Entrevistada respondeu: “a vizinha
viajou e com medo de ladrão deixou a TV aqui em casa, aí ela é muito grande, não
cabia no espaço, se a gente deixasse pra frente era perigoso ela cair e todo mundo
ia ficar se batendo, então a gente tirou o fundo e ficou bom, o problema é que
agora tudo balança, tomara que não caia, mas é só até a dona da TV voltar”.
Na casa 01, observou-se um guarda-roupa, mostrado anteriormente na Imagem
4.45, que não possuía mais a base de apoio, substituída por tijolos. A Entrevistada
1 tinha medo que “qualquer hora ele venha viesse abaixo”.
Foram descritos acidentes graves decorrentes da forma ou desestruturação do
móvel. Segundo o Entrevistado 3, em sua ausência, a filha mais velha subiu sobre
uma mesa posicionada ao lado do fogão, onde se encontrava um caneco de água
fervendo. Sua intenção era alcançar o leite em pó, cuja lata estava em cima do
armário. A mesa, cujas junções estavam provavelmente frágeis para suportar o
esforço, pendeu sem quebrar, derrubando a criança sobre o fogão e sobre a água
fervente. Isto que provocou queimaduras de terceiro grau a barriga criança, que
necessitou ser hospitalizada. Este móvel não existe mais na casa, pois foi
descartado pelo risco que representava.
O Entrevistado 2 relatou que o filhos sempre bate a cabeça no canto dos móveis e
já precisou receber pontos nos cortes resultantes. Relatou também que a filha
esbarrou no cabo da chaleira de água fervendo e a derrubou sobre si,
necessitando ser hospitalizada. Este entrevistado fez uma colocação sobre o
tamanho dos móveis e a segurança: “não sei se é a casa que é muito pequena ou
os móveis que são muito grandes, mas a gente sempre se bate e se machuca”.
Desta tem-se que também móveis considerados inseguros são descartados pela
população de baixa renda.
5.3.5.6 Poka-Yokes
Não foram encontrados dispositivos à prova de erros integrados aos móveis que
pudessem evitar lapsos ou impedir violações relacionadas à
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montagem/desmontagem do móvel ou à manutenção de sua integridade física. As
conseqüências desta realidade serão discutidas na análise a seguir.
5.3.6 Análise das Mini-Surveys nas Habitações Populares
Os dados apontam que a população de baixa renda comete erros, tanto não
intencionais, como intencionais em suas relações com o mobiliário. Por exemplo,
analisando as manchas sobre a superfície de um rack da casa 03, apresentado na
Imagem 4.1, poderiam ser levantadas algumas hipóteses sobre os erros que
resultaram nestes danos, entretanto, de forma ilustrativa, propõem-se que as
manchas tem sido causadas por utilização de produto químico de limpeza. Não
havia nenhum tipo de informação integrada ao produto que alertasse para os
corretos procedimentos de limpeza. Portanto, a intenção era correta, o
procedimento era adequado, porém o meio era falho o que caracteriza um erro
baseado em conhecimento, portanto não intencional.
Esta ação é diferente daquela exercida pelo usuário que inseriu um prego no
encaixe rompido do beliche, como forma de estabilizá-lo. Existe aqui, a consciência
do risco de manter em uso, um produto com um encaixe rompido e fragilizado,
exercendo uma função de proteção contra a queda de uma criança. É um risco
assumido, excluindo os motivos, através de um ato consciente, e através de uma
violação.
Os erros observados eram do tipo ativo e do tipo latente. Os ativos eram aqueles
que já haviam resultado em danos ao produto. Os erros latentes eram aqueles que
estavam no produto, aguardando a condição ideal para sua manifestação.
Como exemplo de erro latente, pode-se retomar o caso do beliche: o prego
utilizado para apoiar o encaixe parcialmente rompido, poderia dar ao usuário,
neste caso uma criança, uma falsa sensação de segurança, induzindo-a a confiar na
proteção oferecida pela grade. Na presença das condições ideais o encaixe poderia
sofrer ruptura total, pondo em risco, não somente a integridade do produto, mas
também a saúde da criança.
Apesar de poder se observar os danos, obviamente, não foi possível, como
alertado anteriormente, determinar as ações e causas precisas de cada um deles,
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pois, em sua maioria, os móveis da amostra eram provenientes de doações e o
contexto de uso nas residências anteriores não podia, obviamente, ser observado.
Não se pode precisar nem mesmo há quantas famílias havia pertencido o móvel,
bem como, há quantos processos montagem, desmontagem havia sido submetido
e quais condições de transporte deste produto.
Porém foi possível através dos dados coletados com a entrevista semi-estruturada
(APÊNDICE 3) e roteiro de observação (APÊNDICE 4), criar um panorama genérico
do sistema de fatores que possam ter contribuído para o erro humano e,
conseqüentemente, para o dano. Este panorama é mostrado na Figura 5.35 a
seguir.
FIGURA 5.35: Fatores indutores de erros humanos causadores de danos ao mobiliário nas
habitações populares
Os dados permitem concluir que o mobiliário popular, durante a sua ‘vida útil’,
sofre uma grande quantidade de desmontagens e re-montagens, parte devido à
alta taxa de mobilidade da família da classe C, em relação à habitação, parte
devido à principal origem do mobiliário desta classe social, ser a doação. Como
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estes móveis, são, na sua maioria, doados, não usufruem mais do serviço de
montador profissional ofertado por Lojas de móveis novos, conforme os dados da
Mini-Survey 1, serviço este, que também não pode ser contratado diretamente
pelo usuário, devido à condição financeira desta classe, apresentadas no Capitulo
1. Portanto, conclui-se que, os processos de desmontagem/remontagem do
mobiliário, em algum momento, envolvem a participação do usuário final e, neste
sentido, observou-se, em todas as Mini-Surveys, que, nem o usuário, nem o móvel,
estão preparados para esta integração.
De um lado, têm-se, conforme os dados das entrevistas da Mini-Survey 3, o usuário
inapto para o processo, com pouca ou nenhuma familiaridade com este tipo de
atividade, inseguro cognitiva e emocionalmente, desprovido de ferramentas
adequadas e, contudo, disposto a executar a tarefa em prol da habitabilidade e do
bem-estar da família na moradia.
De outro lado, têm-se móveis que, conforme apontam os dados da Mini-Survey 1,
não foram projetados para serem desmontados e menos ainda para ser
‘constantemente desmontados e remontados’, como exige a realidade desta
população. Isto transparece ao se observar, por exemplo, a utilização de sistemas
de junção permanentes nos móveis vendidos pelas lojas.
Os móveis oferecidos pelo mercado são de grande complexidade estrutural
(número e variedades de peças, conforme dados da Mini-Survey 1) e empregam,
além do sistema permanente, outros sistemas de junção em uma única peça, o que
dificulta a compreensão do processo e do resultado final pelo usuário,
considerando que como apontam os dados muitas vezes o móvel chega
desmontado ao novo dono.
Além destes problemas, os dados relativos à própria moradia, mostraram que,
tanto usuário, quanto produtos estão sujeitos, ainda, às condições dos ambientes
da desmontagem e da montagem. As casas desta população são de pequenas
dimensões, onde vivem um grande número de pessoas e, onde os espaços são
exíguos, a luminosidade não é a ideal e nivelamento do terreno nem sempre é o
adequado para a execução de montagens e desmontagem de móveis.
Nenhum móvel provê ao usuário, facilitadores do processo de
montagem/desmontagem, como sistemas poka-yoke, por exemplo, integrados ao
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produto. Também não apresenta design informacional compatível com a
‘mobilidade’ do produto, do usuário e mesmo com sua baixa escolaridade.
Por isso, conclui-se que o produto ‘móvel popular’, no que diz respeito a
montagem e desmontagem, é incompatível às necessidades e realidades do
usuário que propõem atender. O móvel ofertado pelo mercado não é flexível
para se adaptar as mudanças que ocorrem no ambiente, ao longo do ciclo de vida
da família e, o reflexo desta incompatibilidade e inflexibilidade, pôde ser
claramente observado nas habitações populares, externado na forma de danos ao
produto. Danos estes causados, entre outros, pelas montagens e desmontagens de
produtos que não foram concebidos para serem flexíveis e adaptáveis.
Cabe ao designer compreender as reais demandas do usuário e adequar o produto
a elas. Portanto, todos os dados levam a conclusão que o emprego de poka-yokes
para facilitar a desmontagem/montagem, nestes produtos, poderia ser uma
solução viável para grande parte dos problemas apresentados acima.
Estes dispositivos, integrados ao móvel poderiam fazer destes, processos intuitivos,
simples e seguros e, desta maneira, atender as demandas dos constantes processos
migratórios pelos quais passam as famílias da classe C, que foram apontados na
pesquisa como problemáticos para a integridade do móvel.
Poka-yokes poderiam facilitar a desmontagem para transporte, no caso das
doações, tão comuns entre esta população e remontagens executadas pelos
usuários subseqüentes. Assim como, promover as adaptações ao ambiente e
flexibilização do móvel às necessidades de uso, tendo em vista os espaços tão
exíguos das moradias. A utilização de mecanismos poka-yoke poderia contribuir
em desobrigar o uso de ferramentas (muitas vezes inexistentes, inadequadas ou
improvisadas) e manuais de instrução, tendo em vista que estes não se
permanecem com os móveis ao longo do seu ciclo de vida.
Dependendo da função, poka-yokes podem contribuir para processos de
montagem e desmontagem, desonerando física e mentalmente estas pessoas cujo
nível de escolaridade é baixo e a intimidade com montagens e desmontagem de
móveis (de forma correta) é quase nula. Visto que a vida útil destes produtos nas
habitações populares é longa, poka-yokes no processo de
montagem/desmontagem poderiam contribuir também para a manutenção da
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segurança e integridade formal e funcional do móvel promovendo o bem estar
dentro das moradias da população de baixa renda.
Portanto, existem espaços para o design de soluções que considerem e contribuam
para que, durante a vida útil, o móvel permaneça íntegro física e esteticamente,
evitando desta forma, o descarte por obsolescência prematura, respeitando os
conceitos da sustentabilidade. Os dados permitem inferir que a integração do
conceito poka-yoke às estratégias do design sustentável de mobiliário pode ser
uma contribuição importante, tanto no que tange à dimensão ambiental, quanto
econômica e social do produto.
Os dados permitem concluir que poka-yoke é uma solução necessária e de grande
potencial para evitar os erros que causam os danos que afetam a integridade e
confiabilidade do produto, diminuindo sua vida útil. Desta forma pode-se concluir
também que poka-yokes podem contribuir para a extensão da vida útil do móvel
popular e promoção do bem-estar social e para a sustentabilidade.
5.4 Estudo de Caso
5.4.1 Visão Geral
Esta etapa da pesquisa teve por finalidade a coleta dados sobre a interação do
usuário final com o produto na fase de protótipo, tendo como foco,
exclusivamente, os processos de montagem e desmontagem. A realização desta
fase, prescindia da confecção do protótipo estrutural do mobiliário-divisória da
Meta Física 2 do Projeto Kits Faça-você-mesmo
NDS/UFPR/FINEP/HABITARE/MASISA, conforme apresentado anteriormente na
Figura 4.1.
Antes de propor o conjunto de poka-yokes que seriam aplicados ao protótipo
estrutural, as pesquisas desta dissertação, trabalharam paralelamente ao projeto
do ‘Mobiliário-Divisória’, desde sua concepção, contribuindo com conhecimentos e
gerando inferências como forma de testar alguns sistemas poka-yoke. Entretanto,
o escopo desta pesquisa encerra-se na fase de protótipo estrutural, ainda que o
Projeto Kits preveja o protótipo funcional.
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5.4.2 Caracterização do Conceito do Produto Piloto
A opção selecionada para desenvolvimento pelo time de pesquisa do Projeto Kits
DIY foi batizada como zig-zag, permitia o uso do móvel pelos dois ambientes que
se propunham dividir (sala/quarto) (vide ilustração na Figura 5.36):
FIGURA 5.36: Perspectivas da versão Zig-Zag
Na figura acima mostra a vista superior do ambiente sala/quarto, sendo dividido
pelo mobiliário-divisória. As laterais ilustram cada uma das duas faces do móvel. A
necessidade de isolamento acústico do móvel demandou o projeto de placas
modulares denominadas sanduíche, formadas por uma chapa de MDF, e duas
chapas de OSB, com um espaço vazado entre elas, no qual o ar deveria trabalhar
como isolante, conforme mostra a Figura 5.37.
FIGURA 5.37: Formação do módulo da versão Zig-Zag I
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Assim, definidos formato do módulo e formato final do móvel, iniciou-se o estudo
das funções poka-yoke que poderiam contribuir para evitar/mitigar erros no
processo montagem/desmontagem. Utilizando como critérios, os tipos de danos
observados nos móveis das habitações populares e as informações sobre o usuário,
propôs-se a utilização de poka-yokes com função de detecção, empregando
métodos de contato e posicionamento.
Gerou-se um primeiro protótipo, com o objetivo de conhecer materiais, avaliar
dimensões e peso do módulo, bem como testar formas de junções à prova de
erros. Foram criadas duas junções, uma que contemplava a união de dois módulos
de topo e outra que propiciasse a união em 90º. Estas junções eram do tipo
encaixe, ou seja, uniões removíveis, sem a utilização de ferragens, conforme
mostra a Figura 5.38.
FIGURA 5.38: Encaixes da versão Zig-Zag I – poka-yoke de posicionamento
O encaixe de topo exigia uma posição específica da peça de união. Nas demais
situações as peças não se uniriam. Este efeito era resultado de diferentes
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tamanhos entre as chapas que criavam a peça de união, sendo, portanto, um
poka-yoke de posicionamento. O encaixe em 90º, necessitava do contato perfeito
entre os dois módulos, para poder continuar a operação.
Em avaliações, os módulos do primeiro protótipo apresentaram-se pesados,
dificultando a montagem e os materiais empregados na confecção do módulo e
encaixes, não responderam adequadamente aos processos de usinagem. Portanto,
após testes internos, desenvolveu-se um segundo protótipo, cujo módulo era
formado por duas placas de MDF, duas chapas de papelão onda tripla, uma chapa
de OSB e um encabeçamento em pinus, conforme Figura 5.39.
FIGURA 5.39: Versão Zig-Zag II – detalhes da formação dos módulos
A novo sanduíche requereu novas junções. Optou-se, no entanto, por testar
ferragens existentes no mercado. Selecionou-se a ferragem conhecida como
MINIFIX®, cuja montagem necessita apenas do uso de uma chave de fenda e é
realizada através de encaixe+giro. MINIFIX® é uma ferragem composta de duas
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peças, uma haste e um tambor. Existem hastes de MINIFIX® com e sem roscas.
Para este protótipo, devido às características da base, optou-se por utilizar nestas
peças o MINIFIX® com rosca em uma das pontas (IMAGEM 4.1), que o fixasse em
uma bucha interna de plástico, que vem integrada ao móvel. Para todos os outros
módulos, optou-se pelo MINIFIX® com cabeça dupla.
A furação exigida para a fixação das duas peças (haste e bucha) possui dois
diâmetros diversos o que não permitia a inserção das peças de forma errada
(conforme é apresentado na Figura 5.40), considerando os princípios do poka-yoke
de posicionamento.
FIGURA 5.40: Encaixes da versão Zig-Zag – MINIFIX® - poka-yoke de posicionamento e
contato
Além do MINIFIX®, criou-se uma ferragem em forma de “U” metálico utilizado
para fixar os módulos entre si, através de furações paralelas feitas em rebaixos que
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se encaixam, também seguindo os princípios do poka-yoke de posicionamento,
conforme Figura 5.41.
FIGURA 5.41: Encaixes da versão Zig-Zag - U metálico – poka-yoke de posicionamento e
contato
Para a base foi criado um encaixe madeira x madeira feito através de um dente
nos módulos, conforme mostra a Figura 5.42 a seguir.
FIGURA 5.42: Encaixe da base: poka-yoke de posicionamento e contato
Desta forma, o protótipo estrutural que seria avaliado neste estudo de caso, pelos
usuários finais, tem dimensões totais de 240x240x55 cm, é formado por uma base
com quatro módulos da base, parede formada por trinta e dois módulos laterais,
unidos e fixados por 16 hastes de MINIFIX® com rosca em uma das pontas, 48
hastes duplas de MINIFIX®, 112 buchas de MINIFIX®, 28 U metálico de união e 32
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borrachas de vedação. A função poka-yoke empregada é a de detecção, através
dos métodos de posicionamento e de contato.
Além dos mecanismos integrados ao produto, procurou-se analisar um ‘sistema
poka-yoke’, utilizando o design informacional, através de cores. Para orientar a
montagem foi desenvolvido um manual de instruções, baseado no design
informacional da empresa IKEA®, cujos produtos são desenvolvidos sob o conceito
Do-it-yourself.
O manual inicia com a imagem do produto completo e montado. Para cada nível é
apresentado o inventário de peças, componentes e ferramentas necessárias para a
executar a montagem, conforme a Figura 5.43 a seguir.
FIGURA 5.43: Inventário para o nível 1 do manual de montagem - poka-yoke em design
informacional
Como mostrou a Figura 5.43, o manual apresenta as instruções para montagem
nível a nível, identificando-os por cores, conforme apresenta a Figura 5.44.
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FIGURA 5.44: Instruções por cores - poka-yoke em design informacional
Seguindo as orientações de cores, apresentadas acima, criou-se um parâmetro de
identificação para todas as peças do mobiliário-divisória, dos módulos às
ferragens, aplicando-se também, o método poka-yoke de contagem. As ferragens
foram separadas por tipo e quantidade necessárias para a montagem de cada
nível, depois, colocadas em pacotes fechados identificados com mesma cor do
nível correspondente. Assim o avaliador saberia a quantidade certa de peças
necessárias, ao fim do processo de montagem de cada nível poderia-se verificar a
existência de um erro.
Os módulos foram identificados utilizando o mesmo padrão de cor, formando
conjuntos com o número de itens necessários a cada etapa, na seqüência de
utilização. Juntamente foi deixado um manual de instrução dos processos
montagem e desmontagem, conforme apresentado na Figura 5.45:
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FIGURA 5.45: Módulos e ferragens - poka-yokes de contagem
Conforme apresenta a imagem acima, os módulos e ferragens foram divididos em
cinco blocos de montagens identificados por cores, empregando poka-yoke de
contagem, que permite alertar a ausência de peças no processo, ao final da
montagem de cada nível, pela sobra de peças nos pacotes.
Junto ao Kit do Protótipo de Mobiliário-Divisória, foram deixadas as ferramentas
necessárias para a realização da montagem/desmontagem: chave de fenda e
martelo. Ambas figuram no inventário do manual.
Desta maneira, no protótipo estrutural que seria avaliado pelo final estavam
incluídos: poka-yoke de posicionamento, contato e contagem, conforme
apresentado anteriormente.
5.4.3 Caracterização dos Avaliadores
Para a avaliação do protótipo, selecionou-se uma amostra, representando os
moradores de conjuntos habitacionais populares da COHAB-CT, utilizando como
critério de seleção a renda familiar mensal de até três salários mínimos. Todos os
dez avaliadores haviam mais de 18 anos de idade e sabiam ler e escrever. Da
amostra 70% tinha o ensino fundamental, destes 30% incompleto, 10% o ensino
médio e 20% o segundo grau incompleto.
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Os avaliadores selecionados provém de famílias cadastradas para o Loteamento
Residencial Bela Vista do Passaúna, ainda em construção pela COHAB-CT. Para a
seleção da amostra foi realizada uma reunião na comunidade por intermédio da
equipe da FAS - COHAB-CT, na qual foi apresentado o projeto de pesquisa para os
moradores (IMAGEM 4.53). Foi solicitado o nome dos interessados em participar
voluntariamente da pesquisa. Das dezessete pessoas interessadas, foram
selecionados nove participantes, representando cinco unidades familiares, o que
atende os critérios de número de avaliadores para a usabilidade de um produto
sugerido por Nielsen e Landauer (1993b).
5.4.4 Ambiente de Teste – Casa 1.0
Para a avaliação do protótipo necessitou-se da preparação de um ambiente de
teste, que simulasse as condições espaciais das moradias da amostra da Mini-Survey
3. Para isto utilizou-se a Casa 1.0. A Casa 1.0 é um conceito de Habitação de Interesse
Social desenvolvido conjuntamente pelo Núcleo de Design e Sustentabilidade – NDS
e Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal do Paraná - UFPR, com
o apoio do Programa Habitare da FINEP, COHAPAR em parceria com PUC-PR, UTFPR,
SINDUSCON-PR, CEIC-PR, IEP-PR, FIEP, CREA-PR e ABCP. O projeto Casa Fácil 1.0
tratou do “desenvolvimento de uma habitação de baixo custo e de boa qualidade
(atendendo aos critérios mínimos de desempenho) para a população de baixa renda
(renda < 3 salários mínimos), passível de ser comercializada em kits passíveis de
expansão” (SANTOS, 2007). Este projeto deu origem a todos os demais projetos
‘Kits’ desenvolvidos pelo Núcleo de Design e Sustentabilidade da UFPR, dentre os
quais o que contempla a presente pesquisa.
Para a realização desta avaliação, a casa passou por uma reforma, na qual foi
retirada a parede divisória entre quarto e sala, restando um vão livre onde foi
executada a montagem e desmontagem do mobiliário-divisória, identificado com
o uso de fita isolante sobre o piso. A Casa 1.0 recebeu também a preparação para
as filmagens, feitas a partir de duas janelas, uma pertencente ao ambiente do
quarto, outra da sala, ambas frontais ao espaço dedicado à
montagem/desmontagem. Buscando o menor nível interferência durante do
processo, foram construídas duas estruturas externas à casa (FIGURA 5.46), com
isolamento de luz, dentro dos quais foram colocadas duas câmeras de vídeo cada.
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FIGURA 5.46: Estrutura externa para isolar o ambiente de teste.
O interior da casa foi iluminado por lâmpadas de 60 wats. Não haviam quaisquer
objetos que não os necessários à montagem/desmontagem, para que nada
interferisse na observação ou captação e mesmo na observação da movimentação
dos avaliadores durante a montagem.
5.4.5 Resultados
5.4.5.1 Observação Direta – Visão Geral
Foi mapeada a seqüência de entrada do material e a seqüência das ações humanas
ideais, necessárias para executar a atividade de montagem do protótipo, para
assim identificar as operações ilegais ocorridas no processo.
O processo é formado por dois blocos principais, o primeiro refere-se à montagem
da base e o segundo, a montagem do primeiro ao quarto nível de módulos. A
montagem da base é feita unindo pés de apoio, módulos da base e hastes de
MINIFIX® com uma das pontas com rosca. As quantidades de cada elemento
foram citadas anteriormente, juntamente com a descrição do protótipo. A forma
de união destas peças é ilustrada pela Figura 5.47 a seguir.
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FIGURA 5.47: Encaixes dos primeiro bloco do processo de montagem: base
A montagem da base termina com a colocação das hastes do MINIFIX® com rosca,
que pode tanto ser realizado com o auxílio de uma chave de fenda, como somente
com os movimentos das mãos.
Neste momento inicia-se o segundo bloco de montagem que é formado pela
união dos módulos laterais através do MINIFIX® com ponta dupla, buchas de
MINIFIX® e U metálico. A proteção do U metálico é feita pela colocação de uma
borracha de vedação.
A seqüência e forma de inserção da haste do MINIFIX® e da bucha do MINIFIX®, já
foram apresentadas anteriormente na Figura 5.40. Também foi apresentada a
forma de inserção do U metálico na Figura 5.41, que pode ser feita com o auxílio
de um martelo, ou simplesmente utilizando a pressão das mãos. A Figura 5.48 a
seguir apresenta o sistema de encaixes que é utilizado do nível 1 ao nível 4 do
protótipo.
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FIGURA 5.48: Encaixes dos segundo bloco do processo de montagem - laterais
Os encaixes mostrados anteriormente são repetidos para unir todos os módulos,
em todos os níveis, com exceção da base. O processo se inicia em uma fase
preparatória, com a recepção e conferência das peças e leitura do manual de
montagem. O manual de montagem deve consultado antes de iniciar a atividade,
pois contêm o inventário das peças necessárias para cada etapa, as ferramentas
que devem ser utilizadas, a seqüência ideal, detalhes dos procedimentos
requeridos, além de apresentar o padrão de cores que identificam cada nível de
montagem.
A Figura 4.49 a seguir apresenta a árvore de montagem do protótipo, com foco
nas ações ideais do avaliador, através da qual se identifica a ocorrências dos erros.
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FIGURA 5.49: Árvore da Seqüência Idealizada para o Processo de Montagem
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Para a realização da avaliação do protótipo, foi trazida à UFPR a equipe de dez
avaliadores, vindos do Loteamento Bela Vista do Passúna. Como Robson (2006),
sugere esclarecer aos participantes todos os passos do procedimento antes de
iniciar a avaliação, todos os avaliadores foram reunidos na Casa 1.0, onde
primeiramente foram apresentadas as etapas da pesquisa, o espaço da atividade,
os materiais a serem utilizados e os pesquisadores envolvidos.
Foram apontadas a presença das câmeras de filmagens e fotográficas, assim como
gravadores de áudio e foi solicitado o preenchimento da Autorização de Uso de
Imagem e Som (APÊNDICE 1).
Os avaliadores foram divididos em três equipes de dois e uma equipe de três
pessoas, procurando manter a os laços familiares: marido e esposa, mãe e filha,
etc.. As equipes foram então, retiradas do ambiente para responder
primeiramente ao questionário de familiaridade tecnológica (APÊNDICE 6) que
teve por finalidade coletar dados sobre o repertório pessoal de cada avaliador e
traçar um perfil geral da amostra relativo à atividades de
montagem/desmontagem, ferramentas e ferragens, que pudessem auxiliar na
análise das dificuldades e erros ocorridos durante a avaliação do protótipo.
Para coletar dados sobre experiências anteriores com o uso ferramentas e
ferragens, utilizou-se um quadro, cujos ítens foram selecionados à partir dos dados
obtidos com a mini-survey 3 nas habitações populares. Os dados apontaram o
martelo, a chave de fenda e alicate como as ferramentas mais conhecidas, bem
como pregos e parafusos como ferragens mais utilizadas.
Como o protótipo empregava o MINIFIX®, procurou-se definir o grau de
familiaridade dos avaliadores com esta ferragem. Desta forma obteve-se o
paranorama apresentado a seguir com o Quadro 5.9.
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QUADRO 5.9: Familiaridade dos avaliadores com ferramentas e ferragens.
Conhecia Havia utilizado
Itens
Sim Não Sim Não
Martelo 100% 0% 100% 0%
Chave de fenda 100% 0% 100% 0%
Alicate 100% 0% 90% 0%
Serra 100% 0% 100% 0%
Ferramentas
Furadeira 100% 0% 50% 50%
Parafusos 100% 0% 100% 0%
Pregos 100% 0% 100% 0%
Ferragens
Minifix 0% 0% 0% 0%
Após traçar o perfil dos avaliadores em relação a ferramentas e ferragens
procurou-se coletar dados sobre familiaridade com atividades de montagem e
desmontagem. Para isto foram utilizadas perguntas que abrangeram desde jogos
até especificamente móveis. Assim posto, teve-se que 50% da amostra nunca havia
brincado com jogos de montar, montado quebra-cabeças ou eletrodomésticos
(aspirador, liquidificador, etc). Entretanto, 70% da amostra já havia montado um
móvel, dos quais, 60% haviam montado guarda-roupas, 10% armários e 10%
camas, beliches e estantes.
Quanto a manuais de instrução e instruções de montagem, 70% da amostra não
tem o hábito de lê-los e 100% disseram que desenhos facilitam a compreensão da
atividade a ser desenvolvida.Em relação à móveis do tipo faça-você-mesmo, 50%
da amostra já tinha ouvido falar. Questionados sobre como transportariam um
móvel deste tipo para casa, 40% apontaram o frete como a melhor solução, 40% o
veículo próprio e 20% responderam que não comprariam móveis em locais que
oferecessem entrega e montagem.
O objetivo da avaliação do protótipo foi coletar dados qualitativos sobre a
interação do usuário final com o protótipo estrutural de um mobiliário-divisória,
tendo como foco, as ‘ações’ de montagem e desmontagem do produto.
Como os dados da Mini-Survey 3 apontaram que estas atividades fazem parte das
demandas sociais da classe C e que os erros que ocorrem durante estes processos
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afetam a integridade fisica do móvel, procurou-se, através da observação direta
destas ações, identificar os pontos de contato no sistema, que resultam em erros.
Paralelamente, procurou-se avaliar a eficácia do sistema poka-yoke proposto
durante a pesquisa e integrado ao protótipo 2 e ao design informacional do
mesmo.
Desta forma, a avaliação do protótipo, como destacado anteriormente, foi
realizada por 9 moradores de um conjunto de habitações populares da COHAB-CT.
Os avaliadores foram separados em duplas e receberam as instruções sobre a
atividade que iriam executar: montar ou desmontar o protótipo. A cada grupo, foi
entregue em mãos o manual de montagem do protótipo. Foi pedido às equipes
que expressasem em voz alta dúvidas, sensações (desconforto, medo, insatisfação),
dificuldades, facilidades e outros, durante toda a atividade. Os avaliadores foram
alertado que o observador não responderia a perguntas após inciado o processo.
O protótipo encontrava-se desmontado, os módulos, conforme descrito
anteriormente, estavam empilhados, separados por nível e sinalizados com cores
correspondentes às cores utilizadas no manual de montagem . Sobre cada pilha de
módulos, encontravam-se saquinhos plásticos, também sinalizados com as cores do
nível correspondente, que continham a quantidade exata de ferragens e
componentes necessários para a fixação daquele nível, conforme mostra a Figura
5.50 a seguir.
FIGURA 5.50: Apresentação do protótipo para a avaliação.
Ao lado dos módulos encontravam-se as ferramentas necessárias para a atividade:
chave de fenda e martelo. A cada equipe foi entregue o manual de montagem e
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mostrado o local onde deveria ser montado o móvel, solicitando que, caso
realizassem a desmontagem do móvel, as peças fossem retornadas as posições
inciais para possibilitar a avaliação pela dupla subsequente. A partir deste
momento eram respondidas às últimas perguntas e tinha-se início o processo.
5.4.5.2 Grupo 1: Avaliadores 1 e 2
O primeiro grupo de avaliadores era composto por mãe (avaliador 1) e filha
(avaliador 2). O avaliador 1 iniciou o processo com foco nas peças, enquanto o
avaliador 2 consultou o manual de montagem, procurando se orientar por ele,
conforme pode ser observado na Figura 5.51 a seguir.
FIGURA 5.51: Primeiras ações dos avaliadores do Grupo 1
O avaliador 2 percebeu a relação entre as cores do manual cores e cores dos
módulos e sacos plásticos que continham as ferragens, verbalizando este
entendimento. Por iniciativa do avaliador 2, a montagem foi iniciada com as peças
que formavam a base. Ao voltar a atenção as peças, o manual foi deixado no chão
e iniciou-se uma série de tentativas e erros para a montagem da base, que
resultaram na inversão da posição do encaixe, impossibilitando a montagem,
conforme mostra a Figura 5.52 a seguir. Portanto, este poka-yoke de forma
mostrou-se pouco efetivo.
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FIGURA 5.52: Posição correta apresentada no manual e posição incorreta dos módulos da
base durante a montagem pelo Grupo 1.
A avaliadora 1 falou que estava nervosa e que não conseguiria montar o móvel
pois era muito difícil. Falou também que não podia demorar, pois tinha deixado o
filho de um ano em casa e precisava amamentá-lo. Em uma segunda tentativa,
houve sucesso na montagem da base do móvel, dando início à montagem do
primeiro nível do móvel. Sem consultar o manual os avaliadores procuraram se
guiar apenas pela forma das peças, ignorando a necessidade do uso das ferragens
para unir os módulos do primeiro nível à base.
Após diversas tentativas, durante as quais foi expressada insatisfação, frustração e
raiva, o avaliador 2 retomou o manual, percebendo a demanda da ferragem.
Entretanto foi utilizada a ferragem errada para realizar a junção o que
impossibilitou a montagem. Neste momento a avaliadora 1 pediu para
interromper o processo, pois se sentia incapaz de finalizar a tarefa. Ocorreu a
interferência do observador que auxiliou na montagem correta da base e ensinou
como unir o módulo do primeiro nível a base. Após a inferência, deu-se
prosseguimento ao processo, porém, este foi novamente interrompido após a
finalização da montagem do primeiro nível. A avaliadora 1 encontrava-se muito
nervosa e se negou a prosseguir.
5.4.5.3 Grupo 2: Avaliadores 3 e 4
Devido à grande dificuldade apresentada pelo primeiro grupo de avaliadores no
posicionamento dos módulos da base, foi empregado o método poka-yoke de
posicionamento. Este poka-yoke foi aplicado através da adesivagem do piso,
orientando os locais, posições e seqüências corretas dos módulos, para a
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montagem da base mobiliário. A mesma sequência foi aplicada ao produto,
conforme mostra a Figura 5.53 a seguir.
FIGURA 5.53: Marcações no protótipo e no piso para orientar avaliadores.
Esta interfência apontou para a oportunidade de prever para o kit do produto
uma forma de orientação para ser colocada sobre o piso da residência, contendo
as dimensões finais da base do produto, posições e sequências de montagem. Isto
poderia auxiliar os usuário a determinar, por exemplo, o local ideal para montar o
móvel e evitar erros nos primeiros passos da atividade.
Terminada a aplicação do poka-yoke de posicionamento, foi recebido o segundo
grupo de avaliadores, composto por um casal: marido (avaliador 3) e esposa
(avaliador 4), responsáveis pela tarefa da montagem do móvel. A atividade foi
iniciada sem a consulta ao manual de montagem. Ignorando o manual, o grupo
colocou os módulos da base sem colocar primeiramente os pés do móvel,
conforme apresenta a Figura 5.54. Ao perceber sua existência, procuraram
encaixá-los na parte superior dos módulos da base.
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FIGURA 5.54: Ordem correta de montagem apresentada pelo manual e ordem incorreta de
montagem da base executada pelo Grupo 2.
Após um período em que diversas tentativas foram mal sucedidas, o observador
foi autorizado a interferir no processo, alertando (novamente) para a existência
do manual. De posse do manual os avaliadores encaixaram corretamente os pés do
móvel finalizando a amontagem da base. Não foi percebido pelo grupo o padrão
de cores de identificação dos níveis e na busca das hastes do MINIFIX® o grupo
misturou todos os sacos, a partir do qual por tentativa e erro inciaram a
montagem do primeiro nível (vide Figura 5.55).
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FIGURA 5.55: Falha no poka-yoke em design informacional
Após fixar dois módulos, o avaliador 3 verbalizou: “é só pegar o jeito que é
moleza, mas é um quebra-cabeças – tem que quebrar um pouco a cabeça!”. Neste
momento o avaliador 4, na tentativa de encontrar o furo no módulo do primeiro
nível para encaixar o MINIFIX® fixado na base, prensou o dedo entre os módulos,
exprimindo a dor (FIGURA 5.56).
FIGURA 5.56: Problemas com o encaixe de topo da haste de MINIFIX®.
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Concluíram a montagem do primeiro nível. Para iniciar o nível 2, avaliador 4
procurava seguir o manual e avaliador 3 procurava compreender as formas do
móvel e suas relações com o MINIFIX®, conforme mostra a Figura 5.57 a seguir.
FIGURA 5.57: Compreensão do conjunto MINIFIX®.
O avaliador 3, ao não conseguir encaixar a bucha do MINIFIX® em um módulo do
nível 2, retirou o módulo e bateu neste com o cabo da chave de fenda, que
durante todo o tempo manteve no bolso da calça. Em algumas etapas da
montagem do nível 2, a bucha do MINIFIX®não foi colocada na posição correta,
prevista no manual, causando erros de montagem. Em uma tentativa de encaixar a
haste na bucha do MINIFIX®, o avaliador 3 utilizou o martelo, conforme mostra a
Figura 5.58 a seguir.
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FIGURA 5.58: Violação da instrução de montagem do MINIFIX®.
Também foi ignorada a fixação entre os módulos, feitas com o emprego do U
metálico, em todo o nível 2, conforme apresenta a Figura 5.59 a seguir. Isto
ocorreu devido a dupla estar realizando tarefas paralelas: enquanto o avaliador 3
colocava buchas e hastes do minifix, o avaliador quatro colocou as borrachas de
vedação antes de ter colocado os U metálicos, dificultando a visão que alertava
para a sua ausência.
FIGURA 5.59: Violação da inserção do U metálico.
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Este erro provocou movimentos de avalanca do módulos, que poderiam resultar
em queda da peça, sem a fixação correta, conforme mostra a Figura 5.60 a seguir.
FIGURA 5.60: Movimento de alavanca do módulo – erro latente.
Como o grupo se preparava para iniciar a montagem do nível 3 sem ‘travar’ os
módulos do nível 2 e esta era uma ação de risco, foi realizada uma nova
interferência do observador, para alertar para o perigo e solicitar o travamento
dos módulos.
Durante a montagem do nível 3, o grupo compreendeu que a bucha do minifix
“tinha jeito certo pra por” e que a haste tinha que estar na altura correta para
poder travar. Foi verbalizada pelo grupo a preocupação com os filhos que estava
sozinhos em casa. Foi verbalizada também a insatisfação do grupo em relação às
ações um do outro: “se fosse em casa a gente já tinha brigado, você já viu um
casal montar um móvel sem brigar?”
Também no terceiro módulo utilizaram as ferramentas para bater nas ferragens,
bem como não colocaram os U metálicos para travar. Entretanto o movimento de
pêndulo de um módulo, alertou o perigo para o avaliador 4 que disse: “espera
que vou colocar as travinhas”, terminando assim a montagem do nível 3.
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A altura do móvel dificultava a montagem e o avaliador 4 exclamou: “eu não
alcanço”. Houve a necessidade de subir em uma cadeira para realizar a montagem
de todo este nível. Como os avaliadores estavam trabalhando em lados opostos do
móvel, era necessário que descessem da cadeira para buscar as ferragens,
deixando os módulos destravados, com risco de queda.
Para diminuir a quantidade de descidas, o avaliador ambos os avaliadores
utilizaram bolsos e mesmo a boca para segurar o maior número de ferragens
possível, como também deixaram apoiadas as ferramentas sobre os módulos. A
altura também dificultou o encaixe das travas pois não perrmitia a visualização
dos furos, como pode ser visto na Figura 5.61 a seguir.
FIGURA 5.61: Montagem do último nível do mobiliário-divisória.
Além da altura dificultar a visualização da furação, ainda a proximidade do teto
dificultou a elevação do módulo para poder encaixar a furação no minifix fixado
no módulo 3. Além disso, também o uso das ferramentas foi dificultado pela
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proximidade do teto. Após travar todos os módulos do nível 4, a montagem
completa do móvel foi concluída pelo grupo 2.
5.4.5.4 Grupo 3: Avaliadores 5 e 6
O grupo 3 era formado também por um casal, sendo o marido o avaliador 5 e a
esposa o avaliador 6. Este grupo ficou responsável pela desmontagem do móvel e
começou sem consultar o manual de montagem. Para a desmontagem do quarto
nivel, os avaliadores iniciaram apenas movimentando os módulos, procurando
‘entender’ como estavam fixados. Tiveram a percepção de que algo os travava na
parte superior. Para verificar o avaliador 5 subiu em cadeira e tateou o local, pois a
visualização direta do encaixe não era possível pela altura em que se encontrava.
Ao ter certeza da existência da ferragem e perceber que conseguia extraí-la
utilizando somente a pressão dos dedos, o avaliador buscou uma chave de fenda
para fazer o movimento de alavanca que possibilitasse a extração. Esta ação estava
prevista no manual e foi realizada sem a consulta ao mesmo, conforme ilustra a
Figura 5.62 a seguir.
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FIGURA 5.62: Problemas com o encaixe de topo da haste de MINIFIX®.
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Tateando a parte susperior dos módulos, o avaliador 5 retirou, com auxílio de
chave de fenda, todas as travas entregando-as para o avaliador 6. Após retirar as
travas o avaliador 5 retirou os módulos do quarto módulo, revelando que nenhum
dos MINIFIX® havia sido travado pelos avaliador do grupo 2 e portanto, o que
mantinha todo o quarto nível montado era o travamento pelo U metálico.
Ao visualizar as marcações de cores nos módulos, os avaliadores as associaram às
cores dos sacos plásticos e perguntaram se “era cor com cor”. Durante a
desmontagem do nível 3, rompeu-se um dos U metálicos, como pode ser visto na
Figura 5.63 a seguir. Contudo, não o móvel não previa peças sobressalentes para a
eventualidade de quebras como esta.
FIGURA 5.63: U metálico rompido durante a desmontagem.
Em relação às demais ferragens, durante a desmontagem pode-se observar que
apenas um MINIFIX®, fixado à base, havia sido travado pelo grupo 2. As demais
etapas transcorreram velozmente e sem erros. O grupo desmontou rapidamente
todo o móvel, refazendo os conjuntos de módulos e ensacando todas as ferragens.
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5.4.5.5 Grupo 4: Avaliadores 7, 8 e 9
O grupo 4 foi formado por um casal, sendo marido o valiador 7 e esposa o
avaliador 8 e mais um ‘vizinho’ da comunidade, avaliador 9. Este arranjo ocorreu
devido a ausência de um dos avaliadores que faria parte do teste.
Esta equipe ficou responsável pela montagem e também pela desmontagem do
protótipo. Como ambas preconizavam a participação de duas pessoas, portanto
optou-se por criar uma equipe de três avaliadores, para que todos pudessem
passar pelo processo apenas uma vez, com a oportunidade de comparar a
desmontagem feita por um grupo leigo e outro que já havia passado pelo
processo da montagem.
O grupo 4 iniciou a atividade sem consultar o manual. O avaliador 9, sem ter a
percepção das relações entre as cores marcadas nos módulos e nos saquinhos
plásticos (não havia ainda consultado o manual para poder tecer qualquer relação
com este elemento), jogou todos os saquinhos de ferragens no chão procurando
entender o que eram, segundo mostra a Figura 5.64 a seguir.
FIGURA 5.64: Violação dos procedimentos de preparação para a montagem.
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A equipe se dirigiu diretamente para as peças, procurando ‘descobrir’ o que
deveria ser feito. Começaram por colocar os módulos da base sobre o piso e
perceberam a marcação feita com a fita isolante, mas não compreenderam o que
deveria ser feito com elas.
A montagem da base, sem consulta ao manual, levou a uma série de erros, como a
colocação em posições incorretas e não observância dos pés de apoio.
Após uma série de tentativas a equipe percebeu a existência dos referidos pés,
porém não soube o que fazer com eles, inciando novamente uma série de
tentativas e erros, ainda sem consultar o manual, como o apresentado na Figura
5.65 a seguir. Nesta imagem pode-se ver o avaliador procurando encaixar o pé de
apoio sobre os módulos da base.
FIGURA 5.65: Erro por conhecimento no encaixe do pé de apoio da base
Após a falência desta tentativa, ainda sem consultar o manual, os outros dois
avaliadores procuraram realizar o encaixe desta peça, levantando o módulo da
base e procurando um local adequado, conforme pode-se observar na Figura 5.66
a seguir.
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FIGURA 5.66: Erro por conhecimento no encaixe do pé de apoio da base
Dada a estagnação processo, houve a interferência do avaliador para alertar para
o uso do manual de montagem. Assim pôde ser concluída a montagem da base.
Ao iniciar a montagem do primeiro nível, teve também início, uma série de erros.
Para a fixação dos módulos deste nível na base fazia-se necessária primeiramente
a colocação de hastes de MINIFIX®com um lado roscado, conforme apontava o
manual (FIGURA 5.67)
FIGURA 5.67: Instrução para introdução do MINIFIX® da base.
Porém, novamente o manual foi ignorado tanto pelo avaliador 7, quanto pelo
avaliador 9. Enquanto o avaliador 8 procurava compreender as demandas pelo
manual, o avaliador 7 falou: “larga esse caderninho aí e vamos trabalhar!”.
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A Figura 5.68 a seguir, mostra, no detalhe 1 que o avaliador 9, que já havia
misturado todas as ferragens, procurou encaixar a haste de MINIFIX® sem rosca,
no local reservado para a haste roscada. Após perceber o erro procurou, entre as
ferragens caídas, a haste roscada (detalhe 2) e a encaixou corretamente (detalhe
3).
FIGURA 5.68: Erro por conhecimento no encaixe do MINIFIX® da base
Após o encaixe das hastes roscadas, o grupo procurou a encaixar os módulos do
nível 1, porém utilizando a furação errada. O erro só foi percebido pelo
avaliadores no momento em que tentaram colocar os U metálicos e estes não
encaixaram na furação, conforme mostra a Figura 5.69 a seguir.
FIGURA 5.69: Erro por conhecimento no encaixe dos módulos do primeiro nível
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Neste momento, a equipe teve a consciência do erro, entretanto não conseguiu
resolvê-lo, havendo a necessidade de nova inferência do observador, para
promover a conclusão da montagem do nível 1.
Ao iniciar a montagem do nível 2 foi relatada a dificuldade de encontrar o local
exato da furação para receber a haste do MINIFIX®, pois esta não podia ser
diretamente visualizada sem correr o risco de deixar cair o módulo.
Como solução os avaliadores utilizaram as mãos para tatear o local exato furo e
conduzir o encaixe. Entretanto, pelo peso do módulo, o avaliador 8 teve os
prensados pelo produto. Como forma de ajudar a removê-los, o avaliador 9 inseriu
uma chave de fenda que serviu como apoio, conforme apresenta a Figura 5.70 a
seguir.
FIGURA 5.70: Problema com o encaixe de topo do MINIFIX®.
Deste momento em diante a chave de fenda substituiu o tato como guia para a
localização da furação. Após o término da montagem do nível 2, o grupo se
mostrou cansado, sendo que o casal encontrava-se preocupado com os filhos
deixados com uma vizinha.
Desta forma a equipe solicitou a interrupção do processo. O observador cogitou a
possibilidade da realização da desmontagem do que estava pronto, que foi aceita
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pela equipe. A desmontagem ocorreu sem erros e velozmente, encerrando a
participação do grupo 4 no teste.
Após finalizada a atividade de montagem ou desmontagem do protótipo, todos
os avaliadores responderam a uma entrevista pós-processo, cujos resultados são
apresentados a seguir.
5.4.5.6 Entrevista Pós-Processo
A realização das atividades de montagem e de desmontagem do protótipo
demandavam do usuário principalmente a visão, o tato e condições físicas para
levantar peso (membros e coluna), sendo que deficiências em qualquer um destes,
poderia ter reflexos nas fases da recepção da informação ou na execução da ação,
conforme apresentado no Capítulo 2.
Assim sendo foram feitas aos respondentes quatro perguntas cujos resultados são
apresentados no Quadro 5.10 a seguir:
QUADRO 5.10: Aspectos físicos dos avaliadores.
Pergunta: Problemas
físicos
Uso de
óculos
Problemas p/
levantar peso
Gravidez /
amamentação
Avaliador
Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não
1
2
3
4
5
6
7
8
9
TOTAL 1 8 2 7 3 6 1 8
Conforme apresentou o quadro anterior, 66,7% da amostra apresentavam algum
problema físico que poderiam ser indutour ou contribuintor de erros durante o de
montagem e desmontagem do móvel.
A compreensão do manual de montagem e dos elementos visuais aplicados ao
produtos, eram fundamental para a correta realização da atividade. Portanto a
segunda parte da entrevista tratou dos aspectos cognitivos dos avaliadores relativos
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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à compreensão do design informacional aplicado ao produto e ao manual de
montagem.
Isso posto, 33,3% dos respondentes afirmaram não terem utilizado o manual, não
podendo responder às perguntas. Os dados coletados dos demais avaliadores é
apresentado no Quadro 5.11 a seguir
QUADRO 5.11: Compreensão do design informacional.
Design Informacional sim não
Compreendeu a atividade através leitura do manual 11,1% 55,6%
Necessitou da leitura do texto 44,4% -
Necessitou somente do desenho 22,2% -
Percebeu o padrão de cores entre manual e peças 100% 0%
Esta identificação foi útil para a montagem 100% 0%
Conforme os dados apresentados no quadro anterior, a única forma de
informação compreendida por 100% da amostra foram os padrões de cores. Todas
as demais informações não foram completamente compreendidas pela totalidade
dos respondentes.
Para montar e desmontar o protótipo corretamente, foi necessária a utilização de
instrumentos e ferragens. Com relação ao uso dos instrumentos (chave de fenda e
martelo) nenhum dos entrevistados relatou dificuldades de uso. Já em relação às
ferragens (minifix e U metálico) todos os entrevistados relataram ter encontrado
dificuldades de compreender como funcionava o MINIFIX®, pois jamais o haviam
visto.
Como os aspectos formais do produto também comunicam, bem como suas
grandezas físicas podem levar a erros humanos, a quarta parte da entrevista
coletou dados sobre as relações entre o avaliador e estes fatores. Entre as
grandezas avaliadas estão o peso e a altura. Entre as configurações formais estão
o número de peças e a cor do produto. Os resultados são apresentados no Quadro
5.12 a seguir.
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QUADRO 5.12: Dificuldades com as grandes e configuração do produto.
Grandezas do Produto sim não
O número de peças de peças foi motivo de dificuldade? 33,3% 66,7%
O peso dos módulos foi motivo de dificuldade? 33,3% 66,7%
A altura do móvel foi motivo de dificuldade? 33,3% 66,7%
A cor do móvel foi motivo de dificuldade? 0% 100%
Apesar de apresentarem as mesmas proporções as dificuldades representadas
pelas grandezas do produto não foram sentidas todas pelos mesmos avaliadores.
O avaliador 4 fez uma observação sobre o peso do móvel haver machucado seu
dedo, prensando-o no encaixe. Perguntados sobre dificuldades para reconhecer
que existiam conjuntos de peças referentes a cada nível do móvel, os avaliadores 1,
3 e 8 que sim. Os demais conseguiram perceber os conjuntos sem problemas. As
peças estarem separadas por tipo e quantidade exata para a fixação de cada nível,
em saquinhos, foi considerado por todos as avaliadores, como um facilitador do
processo.
Além das características do produto, as condições do ambiente podem induzir a
erros humanos. Da mesma forma que o produto tem demandas em relação ao
usuário, também tem demandas em relação ao ambiente onde ocorre a interação.
Para o presente estudo foram importantes as relações da iluminação, temperatura,
espaço físico e som. O desnivelamento do piso, teto e paredes, que poderiam
influenciar a montagem e desmontagem do móvel foram mitigados com a
reforma da Casa 1.0. Entre todos os respondentes, apenas um relatou que a
temperatura do ambiente atrapalhou sua concentração: “estava muito calor lá
dentro, eu tava suando!”. As demais condições do ambiente não foram sentidas
pelos demais respondentes.
Os dados sobre os aspectos psicológicos dos avaliadores, ligados ao andamento do
processo, figuraram na útima parte da entrevista, de forma semi-estruturada. Os
respondentes foram questionados se sentiram medo de montar e desmontar o
protótipo.
Foram relatados: insegurança, medo de quebrar, medo de deixar cair devido ao
peso e medo de não conseguir montar. Questionados se sentiam medo de montar
móveis em geral, o avaliador 9 descreveu medo de montar errado e o avaliador 2
descreveu medo de estragar algo que comprou e o marido ficar nervoso.
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Sobre experiências anteriores relativas a danificar móveis durante a montagem ou
desmontagem, o avaliador 8 contou haver “estragado um armário de cozinha
tentando montar: colocou primeiro as portas para depois fixar na parede e o
móvel caiu”. O avaliador 4 descreveu que “durante a montagem de um guarda-
roupa, ficou brava e martelo o móvel”.
Experiência de montar e desmontar o protótipo foi ruim para o avaliador 1,
principalmente pela falta de auxílio de um terceiro que ensinasse o que fazer. Para
o avaliador 2 a experiência foi considerada muito difícil, para o pouco que
montou, enquanto para o avaliador 3, a experiência foi muito boa, da mesma
forma que para o avaliador 4: “a gente aprende mais, foi legal”.
Os avaliadores 5 e 6 sentiram medo apenas no início, mas depois se sentiram a
vontade para desmontar. Da mesma forma o avaliador 7 também estava muito
nervoso antes de começar o processo, mas depois considerou-o tranquilo de
executar. O avaliador 8 considerou aexperiência muito boa e o avaliador 9
respondeu: “tendo o manual vai! Mesmo com problema!”.
5.4.6 Análise
O teste com o protótipo teve, entre seus objetivos, identificar os erros no processo
de montagem/desmontagem, os fatores indutores e contribuintes. Assim,
analisando os dados coletados através da observação direta, foi identificada a
ocorrência de todas as categorias de erros humanos: erros, lapsos, deslizes
(incosncientes) e violações (conscientes) durante todo o processo.
As categorias mais frequentes de erros observadas, foram os erros baseados em
regras e erros baseados em conhecimento. Ambos foram observados tanto na
forma ativa, quanto na forma latente. Os erros ocorridos, tiveram como principal
fator indutor e contribuinte a não utilização do manual de montagem.
O aprendizado frente ao novo produto se fez de forma exploratória e sensorial,
através de observação, comparação e manuaseio do próprio produto, sem
recorrer a intermediário (design informacional) que pudessem encurtar o caminho
do processo cognitivo. As instruções de montagem, foram repetidamente
ignoradas pelos avaliadores, mesmo sendo estes, alertados para sua utilização,
antes do início da atividade e durante a atividade, em interferências do
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observador. Assim, o teste mostrou ser ineficiente, fornecer instruções de
montagem externas ao produto, para a população de baixa renda.
Esta observação corrobora os resultados tanto da entrevista pós-processo, como da
mini-survey 2, que mostrou que a população da classe C não tem por hábito ler
manuais e se vale das experiências anteriores para lidar com produtos
desconhecidos.
Os deslizes, lapsos e erros, observados durante o teste foram decorrentes, dentre
outros, da falta de familiaridade dos avaliadores com as formas do produto e das
ferragens empregadas. Apesar de 70% dos avaliadores terem experiências
anteriores com atividades de montagem de mobiliário, esta foi a primeira vez que
todos os participantes montaram um móvel do tipo modular. A imagem mental
que desta população, relativa a móveis que podem assumir a função de divisória
de ambientes, em suas residências (como guarda-roupas e estantes), é a imagem
tradicional, na qual se tem uma estrutura básica, formada por laterais, base e teto
e peças funcionais como prateleiras e portas, conforme apontaram os dados das
mini-surveys 1 e 2.
As referências mentais dos avaliadores, não encontraram pontos em comum com o
protótipo, cuja estrutura, diferentemente do que habitualmente se espera de um
móvel, se encontrava dividida, não por peças com funções definidas, mas em
módulos de tamanhos iguais, que poderiam originar qualquer das peças do móvel.
O formato dos módulos não comunicavam ou indicavam, como seria a forma final
do produto e em qual local seriam utilizados.
Esta configuração modular do protótipo hipotetizava facilitar o trabalho do
usuário, suprimindo a etapa cognitiva de deduzir qual a função da peça e o local
exato da sua montagem, exigido nos móveis tradicionais. Porém, a falta de
familiaridade, também por fatores culturais, (o mercado poucas opções de móveis
do tipo modular) gerou barreiras que dificultaram o processo cognitivo.
Algumas informações, fornecidas de forma direta pelos móveis tradicionais, não
são fornecidade de forma direta nos móveis do tipo modular. Entre elas estão suas
dimensões finais, geralmente obtidas pelo tamalho da lateral e da base e funções
das peças. Estas informações poderiam ser buscadas pelo processo cognitivo do
usuário, como guia para o processo de montagem e não serem encontradas
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objetivamente, exigindo do usuário outros caminhos cognitivos para a
compreensão do todo.
Durante o estudo, um avaliador, ao perceber que a imagem mental que ele tinha
de um móvel convencional, não correspondia àquela do produto em teste, buscou
estabelecer outras conexões que permitissem agir frente aquela nova situação,
explorando tátil e visualmente as características físicas do produto. O avaliador,
por fim, comparou o produto a um quebra-cabeças, verbalizando o momento da
compreensão, tanto no que tange a forma de apresentação do produto (aos
pedacinhos) quanto no que tange a dificuldade de entendimento da montagem.
Ele agiu com o produto como agiria montando um quebra-cabeças, ou seja
testando possibilidade e observando as formas para identificar quais se
encaixavam. O referido usuário, em nenhum momento consultou o manual,
buscou somente nas formas as orientações para executar a montagem.
Isto permite concluir que para esta população, as formas do produto são a melhor
maneira de conduzir o usuário durante o processo de montagem. Permite concluir
também serem válidos os poka-yokes de posicionamento e de contato, que
incluem a forma como instrumento para evitar e mitigar erros humanos.
A modularidade do móvel também pode ter induzido aos avaliadores a concluir
que não necessitavam de consulta ao manual, visto que as peças eram todas
‘iguais’. Os avaliadores podem ter superestimado que, ao compreender uma delas,
houvesse automaticamente o entendimento do todo. Isso poderia explicar a
concentração direta, por parte de todos os avaliadores, sobre as peças em si,
ignorando as instruções de montagem.
O mobiliário estudado, também preconizava, pela dimensão dos módulos, uma
quantidade maior de processos de montagem. Comparativamente, utilizando a
estrutura convencional observada nas lojas, um móvel do tipo guarda-roupa com
dimensões similares ao protótipo, poderia ser construído utilizando duas lateriais,
quatro peças de fundo, teto, base e duas divisórias, no total de dez peças. A
mesma estrutura, para ser construída com os módulos do protótipo, necessitava da
montagem de quarenta módulos.
Mesmo tendo quantidade maior de montagem, o protótipo poderia ser mais fácil
e rápido de montar que um móvel convencional, se os poka-yokes empregados no
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sistema de fixação fosse eficiente e não permitisse erros. Entretanto o sistema de
fixação empregado, mostrou-se inadequado para este público alvo. Novamente, a
não familiaridade com o produto contribuiu para a ocorrência dos erros. Nenhum
dos avaliadores conhecia a ferragem MINIFIX®, conforme apontou o questionário
de familiaridade tecnológica, o que tornava aquela, uma experiência de
reconhecimento, na qual os avaliadores, utilizando-se do seu repertório pessoal,
procuraram compreender esta nova ferragem e sua forma de fixação. Contudo,
como o repertório pessoal dos avaliadores se baseava em experiência com pregos
e parafuso, pôde-se observar a reprodução, com o MINIFIX®, das ações para
fixação destas ferragens que lhes eram familiares. A Figura 5.58, mostrou o
avaliador martelando a haste do MINIFIX® para inseri-la em uma furação que
estava mais justa, como seria natural fazer para fixar um prego. Esta violação,
entretanto poderia resultar em problemas à ferragem e conseqüentemente ao
perfeito travamento do módulo.
Além destes, foram observados erros em relação aos locais de inserção do
MINIFIX®. Estes erros foram induzidos (além da violação da leitura do manual)
pelo formato e proximidade de furos que serviam para outro tipo de ferragem.
Houve tentativas de inserção de hastes de MINIFIX® na furação do U metálico,
cujo diâmetro era apenas um pouco menor que o das hastes. Entretanto, as
furações para as buchas de MINIFIX®, por sua vez, não foram pontos de ocorrência
de erros, pois seu formato era único e inequívoco.
A maior dificuldade para com o MINIFIX® se mostrou no estabelecimento de
relações, por parte dos avaliadores, entre a haste e a bucha, como um ‘conjunto
de fixação’. Para travamento do MINIFIX® (união haste e bucha), fazia-se
imprescindível a leitura do manual, pois a bucha deveria ser introduzida e girada
na posição correta e as formas da ferragem não induziam a esta ação. Novamente
a não observância do manual de montagem contribuiu para erro em relações as
ferragens.
O travamento ocorria interno aos módulos, exigindo procedimentos de
conferência por parte dos usuários. Como o manual não foi lido, observou-se, no
momento de uma desmontagem que, somente um conjunto estava devidamente
travado. O erro (baseado em conhecimento) de não travar o conjunto, resultou em
erros latente que na presença das condições ideais entrariam em atividade. Por
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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exemplo, se o móvel fosse submetido a uma tração em algum ponto crítico,
poderia provocar a queda de módulos não travados.
As tentativas de inserção das hastes do MINIFIX® nos pontos de furação para o U
metálico, onde não existia furação correspondente para a colocação da bucha,
mostrou que os avaliadores não estabeleceram relação de conjunto entre haste e
bucha de MINIFIX®.
A ferragem U teve maior compreensão que o MINIFIX®, pois tratava-se de uma
única peça, que comunicava por seu formato, a função de travamento. A furação
dupla e distância entre os furos, também permitiu estabelecer relações entre a
peça e o local de inserção. Contudo, o U foi, em grande parte da atividade de
montagem, ‘esquecido’ pelos montadores. Observou-se uma atenção maior
dirigida ao MINIFIX®, teoricamente mais complexo. Devido à seqüência da
atividade, poder ser invertida entre a colocação dos MINIFIX®, do U metálico e das
borrachas de vedação, ao colocar as borrachas por primeiro, ocultava-se a visão do
local de inserção do U, fazendo com que a atividade prosseguisse sem sua
aplicação. Em algumas situações, a ausência do U foi percebida pelo movimento
do módulo, que quando pertencia ao primeiro ou segundo nível, não foi quase
notado. Porém, quando fazia parte do terceiro ou quarto níveis do móvel, o
movimento do módulo era percebido pelo avaliador pois representava perigo de
queda eminente do módulo.
Neste caso, alertados para a ausência do U metálico, os avaliadores retornavam
àquela parte da tarefa a fim de completá-la. Durante a colocação das borrachas de
vedação não ocorreram erros.
Além da violação da leitura obrigatória do manual e das questões cognitivas,
relativas à não familiaridade com formato das peças, configuração modular do
protótipo e ferragens empregadas na fixação dos módulos, outros fatores
induziram a erros durante as atividades. Entre eles podem-se destacar os fatores
sociais e culturais, relativos ao gênero e a unidade familiar. Ao se manter em um
mesmo grupo, marido e esposa, pais e filhos, pode-se observar a influência destas
relações sócio-culturais no momento da atividade de montagem. Destacam-se dois
exemplos de interferência destas relações, o primeiro relativo ao grupo 1 e o
segundo ao grupo 2.
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Durante a atividade de montagem do grupo 1, formado por mãe e filha, a mãe
procurou fazer prevalecer suas opiniões sobre as da filha. A mãe foi diretamente
explorar as peças, enquanto a filha se dedicou a estudar o manual. Porém a mãe
não deixou que esta atividade de leitura do manual se desenvolvesse até o
completo entendimento das demandas. A mãe iniciou o processo exploratório de
montagem, levando a filha à mesma ação, o que resultou em seqüências de erros
que requereram a interferência do observador. A mãe procurou controlar a
situação durante toda a atividade, ordenando ações errôneas à filha, exercendo
assim, sua autoridade materna.
No grupo 2, formado por marido e mulher, observou-se uma situação semelhante.
Ambos iniciaram o processo explorando as peças, entretanto, a esposa procurou
por diversas vezes informações de montagem no manual. Porém, nas diversas
vezes em a esposa, procurou comandar o processo, explicando as ações corretas ao
companheiro, este a ignorou veementemente, preferindo agir de forma
exploratória, ordenando a ela, ações errôneas e provocando pequenas discussões.
Esta atitude do marido resultou em diversos comentários da esposa sobre a
relação marido e mulher que deixavam transparecer as questões culturais sobre a
poder masculino na família de baixa renda.
Outro fator que contribuiu para ocorrência de erros foi o fator psicológico. Pode-
se observar sua ação sobre as atividades de montagem de diversos avaliadores. O
avaliador 1, por exemplo, estava muito preocupado em terminar logo a atividade,
para retornar a casa, pois devia amamentar um filho de um ano. Esta ansiedade
do avaliador, o fez saltar diversas etapas do processo, não permitiu uma total
concentração na atividade e nem mesmo a correta avaliação das demandas do
produto e das suas decisões de ação. Este avaliador solicitou para interromper o
processo, pois não conseguia se concentrar e por conseqüência compreender a
atividade.
Esta pressão psicológica, relativa aos filhos que haviam ficado em casa, foi
verbalizada por mais dois grupos de montadores. O medo do erro e da dificuldade
do processo em si, também foi observado durante as atividades assim como a
autopunição quando da ocorrência de um erro. A cobrança entre companheiros
de equipe se mostrou um fator relevante de interferência sobre a atitude do
outro, levando a ocorrência de erros.
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Os fatores ambientais não foram significativos para a ocorrência de erros, bem
como os ferramentais, pois todos conheciam e já haviam utilizado as ferramentas
necessárias para a montagem do protótipo.
Apesar de 70% da amostra ter relatado problemas físicos que pudessem contribuir
para erros, não foi observado nenhum erro relativo aos aspectos físicos dos
avaliadores. Erros que ocorreram por demandas físicas, tinham seu principal fator
indutor ligado ao produto e não ao usuário. Assim, com a análise dos dados
coletados, pode-se traçar o contexto dos erros humanos no processo de montagem
e demontagem de mobiliário, assim como os fatores indutores e contribuintes
para a ocorrência de erros.
FIGURA 5.71: Panorama das categorias de erros humanos e fatores indutores na
montagem do protótipo de mobiliário/divisória.
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Observando o panorama apresentado na Figura 5.71, pode-se concluir que fatores
indutores e contribuintes mais relevantes durante as atividades de montagem e
desmontagem do protótipo, foram os fatores cognitivos, sociais, culturais e
psicológicos. Estes fatores contribuíram para que ocorressem violações, erros,
lapsos e deslizes durante todo o processo. Os poka-yokes que foram integrados ao
protótipo não foram suficientes para evitar estes erros.
O poka-yoke de contagem, que pretendia orientar e alertar aos avaliadores sobre
o emprego da quantidade correta de peças na montagem de cada nível, se
mostrou ineficaz no momento em que o poka-yoke informacional, que integrava
as peças e componentes através de códigos cromáticos, não foi observado pelos
avaliadores. Neste sentido conclui-se que, para a eficiência do poka-yoke de
contagem, os usuários deveriam ter acesso a apenas um conjunto de peças e
ferragens por vez, diferentemente do que lhes foi oferecido durante o teste, no
qual todos os conjuntos se apresentavam diante do avaliador, estimulando o
manuseio exploratório de mais de um conjunto, contemporaneamente. Esta
reação dos avaliadores é natural no momento em que as formas do produto em
teste lhes eram desconhecida. Para assegurar o manuseio de apenas um conjunto
de peças e componentes por vez, sugere-se soluções no design da embalagem do
produto, onde as informações sejam claras e o acesso aos componentes de outros
níveis seja impedido até o termino da montagem do nível precedente. As cores,
apesar de não terem sido observadas na completude de suas funções, têm um
grande potencial de comunicar tarefas, porém deve estar associada a restrição dos
erros pela forma. As cores ainda apresentam-se como uma poderosa ferramenta
na orientação do processo de montagem. Porém, faz-se necessário analisar a
forma de sua aplicação, para garantir a total compreensão da informação.
Os poka-yokes de contato e posicionamento, aplicados nas formas das furações,
também não impediu a ocorrência de erros durante a montagem, pois estes não
foram projetados corretamente. Isto se deveu às semelhanças entre as formas
utilizadas, entre as dimensões e também devido a proximidade entre elas. Porém,
as ações dos avaliadores durante as atividades, demonstraram que estes buscavam
constantemente o entendimento das formas e as conexões entre elas, em
tentativas de encaixes. Isto permite concluir que os poka-yokes de contato e
posicionamento podem ser muito eficientes no auxílio do processo de montagem,
se utilizarem formas diferentes, diâmetros diferentes e de preferência com
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diferenças significativas entre eles, que permitam aos usuários perceberem de
forma rápida quais os conjuntos e locais de inserção de cada peça. Outra
alternativa é utilizar apenas uma forma de encaixe, o que portanto não daria
opções ao usuário. Nas duas alternativas, a forma deve falar por si e se comunicar
com o montador, podendo-se fazer paralelos com jogos infantis e desta maneira,
tornae o processo lúdico, natural e intuitivo.
Muitos os erros observados estavam relacionados a fatores cognitivos, devido ao
desconhecimento e despreparo dos usuários. O número de peças e de ações para
cumprir uma única etapa da atividade se mostrou excessivo, o que induziu a erros
do tipo lapsos e deslizes, como esquecer uma peça ou alterar a ordem de
colocação. Para evitar este tipo de erro, sugere-se simplificar as atividades, reduzir
o número de peças e passos para finalizar uma tarefa, agrupando-as se possível.
Conclui-se que ao se projetar um encaixe, este deve concentrar as atividades de
encaixe e travamento preferencialmente em três movimentos do usuário. Deve-se
projetar de forma que o usuário inicie e termine a tarefa, sem interrupções para
transportar outras peças ou ferramentas. Assim, reduzindo o número de processos
e operações, reduz-se proporcionalmente uma série de pontos de contato que
podem gerar erros.
Quanto aos poka-yokes integrados ao design informacional, que também estão
sujeitos aos fatores cognitivos, sugere-se que o manual de instrução não se
apresente em forma de caderno, mas sim em forma de uma folha de instruções,
que apresente todas as seqüências de montagem claramente, em um único lado. É
interessante integrá-la à montagem, como citado anteriormente na sugestão de
adesivos. Os desenhos foram apontados como facilitadores do processo cognitivo,
porém é necessária a utilização de uma linguagem visual simples e com clareza de
informações, apresentadas na forma de imperativa do verbo.
Isso posto, após a análise dos erros observados, conclui-se que, para reduzir as
inferências dos fatores cognitivos, os poka-yokes de contagem, posicionamento e
contato são de grande potencial para a mitigação de erros, por tornarem a
montagem/desmontagem, atividades intuitivas e diminuindo o nível de
concentração necessário para realizá-las, facilitando o processo cognitivo. Ao
diminuir o nível de concentração requerido através de dispositivos de montagem
de uso intuitivo, diminui-se também a influência de fatores psicológicos, sociais e
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culturais que atuam simultaneamente no processo cognitivo, na decisão e na
execução de uma ação, diminuindo a possibilidade da ocorrência de erros.
5.5 Análise Geral – Diretrizes para a Utilização de Poka-yokes
no Design de Móveis Populares
Analisando os dados das mini-surveys e do estudo de caso, conclui-se que os danos
observados no mobiliário no seu contexto de uso, têm relações estreitas com o
design dos produtos ofertados pelo mercado à população de baixa renda. O
mercado oferece produtos complexos, enquanto o usuário da classe C requer
produtos simples, de fácil compreensão e manuseio. O mercado oferece sistemas
de fixação mistos, que empregam junções permanentes, enquanto o usuário
necessita de produtos desmontáveis, adaptáveis e flexíveis. O mercado não oferece
instruções ou treinamentos para o usuário final executar as montagem e
desmontagem necessárias durante o ciclo de vida do móvel e da família, e também
não emprega, através do design, dispositivos ou sistemas que facilitem estes
processos. Assim, existe uma incoerência entre o produto ofertado pelo mercado e
as necessidades do usuário e o resultado destas incoerências, são os danos ao
produto, a redução de sua vida útil, seu descarte prematuro, bem como a redução
da qualidade de vida das famílias de baixa renda.
Existe um espaço para a atuação do design na adaptação do móvel popular às
demandas desta população. Facilitar a montagem/desmontagem é uma estratégia
que responde a grande parte das demandas da classe C em relação ao produto
mobiliário. Para facilitar a montagem/desmontagem do móvel, devem-se conhecer
os fatores que fazem parte do seu contexto de uso. Os dados da pesquisa
apontaram que os fatores mais relevantes que atuam como indutores e
contribuintes para os erros humanos nos processos de montagem e desmontagem
de móveis pelos usuários de baixa renda são:
§ Fatores Cognitivos
§ Fatores Ambientais
§ Fatores Culturais
§ Fatores Instrumentais
§ Fatores Sociais
Desta maneira, para prevenir e mitigar erros humanos nos processos de
montagem/desmontagem de móveis deve-se reduzir o nível de interferência
destes fatores sobre o processo da ação humana. Dentre as diversas soluções
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existentes, para reduzir a influência destes fatores, esta dissertação oferece, como
resultado da pesquisa, diretrizes para a utilização de dispositivos, mecanismos e
sistemas poka-yoke.
As funções poka-yoke mais adequadas para evitar erros humanos, durante o
processo de montagem e desmontagem dos móveis populares, são as funções
reguladoras, que devem ser utilizadas em conjunto com os mecanismos de
detecção.
A função reguladora alerta o usuário, para a existência de um erro e interrompe o
processo de montagem para a imediata correção do mesmo. Esta função evita as
seqüência de erros inadvertidos e erros latentes no produto.
Os mecanismos de detecção possibilitam a ‘auto-verificação’ durante a execução
da atividade de montagem/desmontagem pelo usuário e auxiliam a correção de
lapsos, deslizes, erros baseados em regras e em conhecimento.
Entre os métodos poka-yoke, que compõem as funções de supracitadas, os mais
efetivos para reduzir os erros na montagem/desmontagem do móvel popular pelo
usuário final são:
§ Método de Alerta
§ Método de Controle
§ Poka-yoke de Contagem
§ Poka-Yoke de Posicionamento
§ Poka-Yoke de Contato
Para a aplicação destes métodos poka-yoke, no design do produto, é necessário
mapear o sistema no qual o móvel estará inserido, para determinar os pontos de
contato críticos, sujeitos à ocorrência de erros humano.
Para mapear o sistema, criou-se um Check-list, com base nos resultados da
pesquisa, que fornece ao designer uma visão geral do contexto de uso do móvel.
O contexto pode ser resumido na tríade: usuário, ambiente e produto.
§ O ponto do usuário contém as características fisiológicas, cognitivas e
psicológicas do ser humano que deve interagir com o produto.
§ O ponto do ambiente contém as condições físicas, espaciais, sociais,
culturais e instrumentais, ou seja, o que é externo ao usuário e ao produto.
§ O ponto do produto contém a forma, função e demandas de interação com
o usuário e com o ambiente.
Na intersecção entre estes três pontos, se desenvolve a atividade de
montagem/desmontagem. Esta relação é ilustrada na Figura 5.72 a seguir.
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FIGURA 5.72: Tríade do contexto da atividade.
Para o Check-list, criou-se uma folha de respostas, apresentada na Figura 5.73,
apresentada na página a seguir. Ao lado esquerdo da folha, encontram-se as
perguntas-guias, que orientam a coleta de dados sobre o sistema em duas etapas:
a primeira mapeia os aspectos do usuário e do ambiente - Etapa1, a segunda,
descrimina as demandas do produto para o usuário e para o ambiente – Etapa 2.
Para as respostas, foram destinados espaços retangulares a cada componente do
sistema: usuário, ambiente e produto. Listados os requisitos do contexto real de
uso, pode-se fazer a triangulação dos dados do contexto com as demandas do
produto e verificar os pontos de divergência entre eles, utilizando os espaços
pautados.
Desta maneira, surge o primeiro ponto de atuação do design à prova de erros:
apontar ações de melhoria no design do produto para a adaptação aos requisitos
do ambiente, sócio-econômicos, culturais e principalmente aos requisitos do
usuário.
Através do emprego do check-list, o designer pode identificar os pontos críticos do
sistema do contexto de uso do móvel, que podem gerar erros na atividade de
montagem e desmontagem, que se desenvolve na congruência dos fatores
analisados. A estes pontos críticos, devem ser integrados dispositivos poka-yoke,
utilizando-se das funções e métodos propostos anteriormente. Para a
configuração formal dos dispositivos poka-yoke, não são propostas regras, pois
estes devem se adaptar ao conceito do produto e suas próprias configurações
formais (materiais, formas e funções), bem como ao seu público alvo.
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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FIGURA 5.73: Folha de Check-list dos requisitos contexto de uso do móvel popular
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Entretanto, a partir da análise dos dados desta dissertação, propõem-se
orientações para o design de poka-yokes para mobiliário popular, conforme
apresentado no Quadro 5.13 a seguir.
QUADRO 5.13: Diretrizes para aplicação de poka-yokes ao design de móveis populares –
funções e métodos poka-yoke e sugestões para o design do sistema poka-yoke.
Taxonomia das funções e métodos poka-yoke para o design de móveis populares
§ Poka-yoke de alerta:
o Utilizar códigos (cores, números, letras, símbolos integrados ao produto e
aos componentes) para identificar conjuntos de montagem/desmontar
o Utilizar códigos (cores, números, letras, símbolos integrados ao produto e
aos componentes) para definir seqüências padrão de
montagem/desmontagem
§ Poka-yoke de controle:
o Impedir o acesso à peça de montagem subseqüente antes do término da
tarefa precedente.
o Condicionar uma tarefa ao cumprimento efetivo da tarefa precedente.
§ Poka-yoke de contagem:
o Oferecer o número exato de peças para a execução total de uma tarefa.
o Criar kits de montagem que contenham todas as peças para a fixação de
um conjunto. Não separar peças de precisem ser utilizadas em conjunto
com outras (por exemplo: deixar hastes e buchas de MINIFIX® em um único
saquinho).
o Evitar peças que se desprendam do produto, evitando perdas.
o Oferecer kits de peças sobressalentes, contendo todo o conjunto
necessário.
§ Poka-yoke de posicionamento:
o Criar junções que não permitam a estabilidade do conjunto manuseado,
sem que haja total travamento das partes, evitando erros latentes.
o Utilizar sons, como clicks, por exemplo, para indicar o final do processo.
§ Poka-yoke de contato:
o criar diferenças claras entre tipos de encaixes diferentes.
o Privilegiar encaixes lúdicos à ferragens. Impedir, através das formas,
montagem em posições incorretas.
o Criar, para as peças do mesmo grupo de encaixes, formas complementares,
como macho e fêmea, por exemplo.
o Tornar inequívoca a montagem através de formas lúdicas.
§ Poka-yoke em design informacional:
o Oferecer múltiplos pontos de consulta às informações.
o Integrar as informações diretamente às áreas a serem manuseadas,
imprimindo-as sobre a superfície do produto.
o Integrar o design informacional à embalagem de cada conjunto, contendo
a localização do emprego do conjunto e as instruções de
montagem/desmontagem.
o Integrar as instruções essenciais à superfície do produto, evitando perdas
de informações essências à integridade do produto, em caso de doações
para terceiros.
o Apresentar as informações de forma seqüencial e lógica, oferecendo todas
as informações relativas a um grupo em uma única consulta do usuário.
o Tornar redundante as informações sempre que possível.
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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Empregando os poka-yokes citados no quadro anterior, o design pode, mais
efetivamente, reduzir a interferência dos fatores indutores e contribuintes para o
erro humano, que atuam no sistema, durante as atividades de montagem e
desmontagem do móvel.
A pesquisa concluiu que processo cognitivo do usuário de baixa renda, no
momento da montagem/desmontagem de um móvel, tem caráter muito mais
exploratório, ligado ao manuseio efetivo do produto. Desta forma é importante
explorar os sentidos humanos, a visão, o tato e se possível a audição como guias
no processo em questão. A influência dos fatores cognitivos pode ser reduzida
através da utilização de formas lúdicas, que remetam a imagens mentais de jogos
e brincadeiras infantis. As formas do móvel e dos encaixes devem falar por si só,
induzindo o usuário às ações corretas.
O design também pode atuar, através do emprego dos poka-yokes, sobre os
fatores sócio-econômicos e sobre o bem-estar da população de baixa renda, pois
evitam os erros nos processos de montagens/desmontagem, freqüentes pela
mobilidade familiar e condições sócio-econômicas da classe C.
Além disto, poka-yokes facilitam e tornam seguras as atividades de manutenções e
adaptação, além de tornar mais flexível o mobiliário para se ajustar ao ciclo de
vida da família. A facilidade na montagem/desmontagem também age sobre os
fatores psicológicos, diminuindo o medo de errar ou danificar o móvel, evitando
também violações na busca de solucionar problemas com os móveis.
Poka-yokes contribuem para adequações estéticas dos produtos, evitando sua
obsolescência. Também contribui para as adequações funcionais, que se
modificam e variam com o tempo e com a cultura.
Portanto, o emprego de poka-yokes no design de móveis populares é uma
estratégia para a sustentabilidade ambiental e social, por contribuir para a
aplicação e sucesso de diretrizes propostas para o design sustentável de mobiliário,
prolongando a vida útil do produto, evitando o descarte prematuro e melhorando
o bem-estar, a habitabilidade e por conseqüência, melhorando a qualidade de
vida da população de baixa renda.
Diretrizes para Aplicação de Dispositivos Poka-Yoke no Design de Mobiliário: Uma Estratégia para o Design Sustentável
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6 Conclusões
6.1 Considerações Gerais - Oportunidade de Utilização de
Poka-yokes como Estratégia para o Design Sustentável
de Móveis Populares.
Durante o desenvolvimento desta pesquisa pôde-se verificar a incoerência
existente entre o produto ofertado pelo mercado de móveis populares e as
necessidades da população de baixa renda, relativas a este tipo de produto.
Durante a pesquisa, verificou-se também, que a classe C, através dos sistemas de
crédito ofertados pelas lojas de móveis, é um consumidor potencial, ávido por
soluções em mobiliário, que atendam as suas necessidades de mobilidade,
flexibilidade e adaptabilidade, que contemplem as mudanças que ocorrem
durante o ciclo de vida da família.
Com isto, as diretrizes criadas nesta dissertação contribuem para adequar os
produtos, através do design, às necessidades desta população, apontando formas
de melhorias na interface de montagem e desmontagem dos móveis populares,
com soluções simples e eficientes, que são os poka-yokes. Com a utilização de
poka-yokes integrados ao sistema de montagem do móvel, este trabalho mostrou
que, pode-se facilitar o desmembramento de partes, assegurando a integridade
física do produto, evitando assim o seu descarte prematuro e todos os inputs
gerados por este descarte. A pesquisa conclui que poka-yokes atendem
contemporaneamente aos requisitos da indústria, com relação ao baixo custo de
implementação das soluções, e do usuário, com relações às suas necessidades.
Portanto, a utilização de poka-yoke é uma estratégia para o design sustentável de
móveis, sendo uma contribuição para a sustentabilidade e para as melhorias as
condições de vida da população de baixa renda.
6.2 Considerações sobre o Método de Pesquisa
O método de pesquisa se mostrou adequado para atender ao escopo desta
dissertação e para a obtenção dos dados que permitiram a crição das diretrizes
apresentadas no Capítulo 5.
A revisão de literatura proveu as informações necessárias para a conduções das das
mini-surveys e do estudo de caso. Também através da revisão de literatura pode-se
verificar que existe espaço para a gerações de conhecimentos que relacionem o
design de produtos/serviços com erros humanos e suas implicações na
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sustentabilidade. Observou-se que a literatura aponta o design, como um dos
fatores responsáveis pelos erros humanos, porém, a utlização de poka-yoke, como
solução do design para evitar estes erros, não foi observada, o que reforçou a
validade desta pesquisa.
Através da condução das mini-surveys, orientadas pela revisão de literatura, foi
possível ter uma visão do estado da arte, tanto no que tange ao mercado de
móveis populares, quanto ao que tange ao contexto real de uso dos móveis
populares, identificando as inconsistências e incoerências entre ambos, e, as
também, possibilidades de melhorias para o design do produto e adequações para
a indústria moveleira. Estes dados serviram para alimentar e orientar as pesquisas
com o protótipo estrutural na fase de estudo de caso.
Através do estudo de caso foi possível observar in loco, a atividade de montagem
e desmontagem do protótipo, por usuário finais, em situação controlada, porém
que replicava a situação observada nas habitações populares e com isso mapear os
problemas existentes nestas atividades, categorias dos erros que ocorrem e fatores
que contribuem e induzem a estes erros, que possibilitaram a criação das
diretrizes.
O método de pesquisa foi eficiente, ao permitir uma ampla visão do problema
estudado, fornecendo condições para proposições concretas de soluções. Porém,
por se tratar de um estudo integrado a um projeto real, a aplicação do método foi
constrita ao cronograma do projeto, dependo do cumprimento efetivo de suas
fases, para a realização das coletas de dados. A pesquisa também foi dependente
de ação de terceiros, para a viabilização de algumas etapas, o que afetou o
cumprimento do cronograma desta pesquisa.
Sugere-se, portanto, para pesquisas com o mesmo escopo, reduzir a dependência
de agentes externos à pesquisa como forma de viabilizar o cumprimento do
cronograma.
6.3 Sugestões para trabalhos futuros
As pesquisas apontaram uma carência na literatura sobre design sustentável, que
relacione o design do produto/serviços sustentáveis, aos erros humanos e ofereça
ao designer orientações para identificá-los durante a fase de conceito,
desenvolvimento e protótipo, assim como um leque de opções para evitá-los e
mitigá-los. Sugere-se, portanto, como seqüências do presente trabalho sejam
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realizadas pesquisas sobre outras formas de prevenir e mitigar erros, durante o
processo de design, para evitar erros latentes no produto que culminem com
perdas para as três dimensões do desenvolvimento sustentável. Sugere-se, com
base nestas novas pesquisas, criar ferramentas, plataforma ou sistema de consulta
às categorias de erros humanos e fatores contribuintes e indutores, acessível aos
designers, que seja paralela e complementar às ferramentas para o
desenvolvimento de produtos sustentáveis. Desta forma pode-se contribuir de
forma efetiva para o desenvolvimento sustentável.
Sugere-se também ampliar os estudos em relação à usabilidade dos produtos do
tipo ‘faça-você-mesmo’ durante o período de uso dos mesmos pelas famílias,
podem-se assim contribuir com seus aspectos ergonômicos.
Outra sugestão de desdobramento da pesquisa é relativa às análises de custo para
criação e aplicação de dispositivos poka-yoke em produtos destinados à população
de baixa renda, verificando a viabilidade financeira em relação às suas
necessidades e validade frente ao ciclo de vida da família e do produto.
Desta forma pode-se contribuir não apenas para alavancar os aspectos ambientais,
mas também os aspectos sócio-eticos do desenvolvimento sustentável.
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APÊNDICE 1
Autorização de Uso de Imagem e Som
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Autorização de Uso de Imagem e Som
Autorizo voluntariamente a Universidade Federal do Paraná, através do Núcleo de
Design e Sustentabilidade, situado na Rua General Carneiro, 460, Edifício Dom
Pedro I, 7 andar, sala 717, Centro, Curitiba, Paraná, a utilizar a minha voz, imagem
e informações por mim fornecidas à UFPR, em materiais impressos e mídias digitais
de cunho científico sem limitação de tempo ou do número de utilizações /
exibições, no Brasil ou no exterior, por meio de qualquer meio de transporte de
sinal ou suporte material existente, conforme expresso na Lei 9.610/98 (Lei de
Direitos Autorais), não cabendo a mim direito e/ou remuneração, a qualquer
tempo e título.
Local da produção:____________________________________________________
_______________________ de ____________________ de ________.
Assinatura: ____________________________________________
Nome: ____________________________________________
Endereço: ____________________________________________
CPF: ____________________________________________
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APÊNDICE 2
Roteiro de Observação
Mini-Survey em Lojas de Móveis Populares
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Roteiro de Observação Mini-Survey em Lojas de Móveis Populares
Loja_______________ Cod._____ Data__________________
Entrevistador_____________
Móvel
Descrição_______________________________________________________________
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APÊNDICE 3
Questionário
Mini-Survey em Lojas de Móveis Populares
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Questionário Mini-Survey em Lojas de Móveis Populares
Loja_______________ Cod._____ Data__________________
Entrevistador_____________
Cargo do
Respondente_________________________________________________________
Perguntas:
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APÊNDICE 4
Entrevista Semi-Estruturada
Mini-Survey em Habitações de Interesse Social
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Entrevista Semi-Estruturada
Entrevistador:__________________________________________________
Local:______________________________Data: _______________________
GERAL
O Sr. (Sra) pode me dizer seu nome completo?
Quantos anos o Sr. (Sra) tem?
Endereço completo:
Quanto tempo está morando nesta casa?
COMPOSIÇÃO FAMILIAR
Quantas pessoas moram com o senhor (a)?
Quem são estas pessoas?Verificar parentesco.
RENDA
O Sr./Sra trabalha ( ) sim ( ) não
Se sim:
função:
( ) fixo ( )esporádico
Faixa de renda familiar
( ) 1SM ( ) 2SM ( ) 3SM ( ) 4SM ( ) 5 ou < SM
8. Alguém trabalha em casa/ usa a casa como local de trabalho?
( ) sim ( ) não
Se sim: O que faz?
Qual local da casa trabalha?
GASTOS
Quais são os gastos mensais da família
Água:
Luz:
Telefone:
Comida:
Outros:
Quantos dos que moram na casa sabem ler?
Quantos sabem escrever?
O Sr (a) pode dizer o tempo de estudo de cada um?
MORADIA
Comprou a casa pela Cohab?
( ) sim ( ) não
O tamanho da casa é adequado à família?
Nesta ou em outra casa, o senhor já usou móveis para dividir uma peça da casa?
( ) sim ( ) não
Se sim: o que dividiu?
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O que usou pra dividir?
MOBILIÁRIO
Os móveis da sua casa foram:
( ) comprados ( ) doados ( )emprestados ( ) achados
Se comprados:
( ) de terceiros ( ) lojas de móveis usados ( ) lojas de móveis novos
àComo foram pagos?
àComo foram entregues?
Se comprados em uma loja à Quem montou?
( ) montador da loja ( ) usuário
à Se foi o próprio usuário:
àManual
Tinha manual de montagem? ( ) sim ( ) não
Precisou do manual de montagem? ( ) sim ( ) não
Usou? ( ) sim ( ) não
àFerramentas
Tinha as ferramentas pra desmontar e montar? ( ) sim ( ) não
àTempo
Demorou muito tempo?
Teve dificuldades? ( ) sim ( ) não
Se sim: quais?
àErros
Estragou alguma coisa? ( ) sim ( ) não
Se sim: o quê?
à Se foi montador profissional:
A montagem era grátis? ( ) sim ( ) não
Perguntaram se o Sr (a) preferia montar sozinho? ( ) sim ( ) não
Foram montados corretamente? ( ) sim ( ) não
Foram presos à parede? ( ) sim ( ) não
Deixaram manual de montagem? ( ) sim ( ) não
Quanto tempo tem esses móveis?
( ) pouco ( ) médio ( ) muito
Os móveis que estão aqui vieram da outra casa? ( ) sim ( ) não
Se sim:
Quem desmontou pra viagem?
Quem montou novamente?
Precisou do manual de montagem? ( ) sim ( ) não
Usou? ( ) sim ( ) não
Fácil ou difícil de entender? ( ) sim ( ) não
Tinha as ferramentas? ( ) sim ( ) não
Demorou muito tempo?
Teve dificuldades? ( ) sim ( ) não
Se sim: quais
Quebrou alguma peça na mudança?( ) sim ( ) não
Você tem algum problema com o mobiliário? ( ) sim ( ) não
Se sim: poderia descrever?
Você conhece móveis do tipo que você compra, traz e você mesmo monta? ( ) sim
( ) não
Você tem algum?
( ) sim ( ) não
Os móveis que você possui têm um tamanho bom pra sua casa?
( ) sim ( ) não
Dá pra guardar tudo o que tem neles?
( ) sim ( ) não
Se precisa você ajeita (ajusta) os móveis?
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199
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APÊNDICE 5
Roteiro de Observação
Mini-Survey Habitações de Interesse Social
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200
200
Entrevista Semi-Estruturada
Entrevistador:__________________________________________________
Local:______________________________Data: _______________________
Roteiro de Observação
Móvel nº ______ Local__________________________________________
Foto nº________________________________________________________
Tipo do móvel: _________________________________________________
Origem à ( ) loja ( ) usados ( ) doação ( ) achado
Tempo de uso à ( ) pouco ( ) médio ( ) muito
Já foi desmontado à( )sim ( ) não
Está danificado à ( ) sim ( ) não
Tipo do dano à ( ) estrutural ( ) funcional ( ) estético
Tipo de encaixes:
ferragens
parafuso
grampo
bucha
encaixe
cavilha
cola
adesivo
sim
não
sim
não
sim
não
sim
não
sim
não
sim
não
sim
não
sim
não
sim
não
poka-yoke
sim
não
Observações
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________
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20
1
201
APÊNDICE 6
Questionário de Familiaridade Tecnológica
Estudo de Caso
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202
202
Questionário de Familiaridade Tecnológica
Grupo nº______ Entrevistador_____________________ Data__________
Nome |________________________________________________________________
Perguntas:
1 Você sabe ler? ( ) sim ( ) não
1.1 | Se sim à Até que série você estudou? (aguardar resposta espontânea)
( ) 1 a 4 série ( ) 5 a 8 série ( ) Segundo Grau ( )Técnico ( ) Superior
2 Você conhece estes objetos?
Sugestão da forma de conduzir a pergunta:
à Eu vou te mostrar algumas coisas e você me diz se conhece tudo bem?
(mostrar o objeto listado abaixo ao entrevistado)
Ferramentas Conhece:
sim ou não
Já usou?
Martelo
Chave de fenda
Alicate
Parafusos
MINIFIX®
3 Já montou alguma coisa? ( ) sim ( ) não
| Se sim à
Era de encaixar, pregar ou parafusar? à Esperar a pessoa responder espontaneamente:
Você já brincou com:
3.1 Jogos de montar? ( ) sim ( ) não
| Se sim à qual?
3.2 Quebra-cabeça? ( ) sim ( ) não
| Se sim à qual?
Você já montou :
3.3 Eletrodomésticos (tipo liquidificador, aspirador, computador)? ( ) sim ( ) não
| Se sim à qual?
3.4 Móveis ( ) sim ( ) não
| Se sim à qual?
4 Já pregou coisas? ( ) sim ( ) não
| Se sim à o que?
Descreva como foi
5 Já utilizou furadeira? ( ) sim ( ) não
| Se sim à para quê?
Descreva como foi
6 Já construiu alguma coisa? ( ) sim ( ) não
| Se sim à o quê?
Descreva como foi
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203
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APÊNDICE 3
Entrevista Pós-Processo
Estudo de Caso
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204
204
Entrevista Pós-processo
Grupo nº______ Entrevistador_____________________ Data__________
Nome |________________________________________________________________
Perguntas:
ASPECTOS FÍSICOS
1.1 Você tem algum problema físico?
( ) Sim ( ) não
1.2 Você precisa usar óculos?
( ) Sim ( ) não
à se sim: quanto tempo faz que você foi ao oftalmologista?
Você tem problemas de coluna, alguma doença que te impossibilita de levantar peso ou fazer
força?
( ) Sim ( ) não
àse for mulher- está grávida ou amamentando? ( ) Sim ( ) não
ASPECTOS COGNITIVOS/ INFORMACIONAIS
Manual de Instrução –
2 Foi fácil entender o que tinha você que fazer quando você leu o manual de instrução?
( ) Sim ( ) não
à se sim:
( ) sem dificuldade ( ) com dificuldade
à se com dificuldades:
2.1 Teve dificuldades em
( ) compreender os desenhos
( ) compreender o que estava sendo pedido para fazer
2.2 Você precisou ler as instruções ou apenas os desenhos foram su
ficientes para entender o que
precisava fazer?
( ) precisou da leitura ( ) utilizou só o desenho
2.3 As cores te ajudaram a identificar a etapa que estava montando e as peças que precisava
utilizar?
( ) Sim ( ) não
ASPECTOS INSTRUMENTAIS
3Tinha algum instrumento ou ferragem utilizada na montagem que você não conhecia?
( ) Sim ( ) não
à se sim: qual?
3.1 Teve dificuldades de utilizar os instrumentos para montagem (chave de fenda, martelo?
( ) Sim ( ) não
àse sim, descreva:
3.2 Teve dificuldades de reconhecer os conjuntos de peças de cada etapa da montagem?
( ) Sim ( ) não
3.3 As peças estarem separadas em saquinhos com cores te ajudaram a identificar o que precisava
utilizar?
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205
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( ) Sim ( ) não
3.4 O número de peças foi motivo de dificuldade pra você montar?
( ) Sim ( ) não
3.5 O peso da peças foi motivo de dificuldade pra você montar?
( ) Sim ( ) não
3.6 A altura do móvel foi motivo de dificuldade pra você montar?
( ) Sim ( ) não
ASPECTOS AMBIENTAIS
4. Você achou o lugar pra montar o móvel muito apertado? Isso dificultou?
( ) Sim ( ) não
4.1 A pouca luminosidade interferiu na montagem ou na desmontagem?
( ) Sim ( ) não
4.2 A temperatura interferiu na montagem ou na desmontagem?
( ) Sim ( ) não
4.3 A cor do móvel interferiu na montagem ou na desmontagem?
( ) Sim ( ) não
4.3 Barulhos atrapalharam sua concentração na montagem ou na desmontagem?
( ) Sim ( ) não
ASPECTOS PSICOLÓGICOS
5.Você sentiu algum medo antes ou durante a montagem/desmontagem?
( ) Sim ( ) não
à se sim: o que te causou medo?
5.1 Você tem medo ou receio de montar móveis?
( ) Sim ( ) não
à se sim: qual é o medo/receio?
5.2 Você já estragou algum móvel alguma vez?
( ) Sim ( ) não
à se sim: descreva?
ASPECTOS CULTURAIS
6.1 Você prefere montar seu próprio móvel ou pagar para alguém montar para você?
( ) montar ( ) pagar
6.2 Descreva como foi para você esta experiência de montar e desmontar este móvel,
6.3 Se você pudesse melhorar, o que faria?
Observações:________________________________________________________________________
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APÊNDICE 8
Roteiro de Observação
Estudo de Caso
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Roteiro de Observação
Grupo nº______ Entrevistador_____________________ Data__________
Para cada questão abaixo, descrever as ações do avaliador, impressões, observações:
1) Utilização do manual de instrução
2) Compreensão do manual de instrução
3) Percepção das cores como padrão para cada nível
4) Primeira ação
5) Iniciou a montagem por:
6) Demonstrou insegurança:
7) Montagem da base
8) Colocou os pés de madeira
9) Encaixou os módulos
10) Rosqueou os pinos
11) Montagem do nível 1
12) Encaixou os módulos
13) Atarraxou as buchas
14) Colocou os pinos de união
15) Colocou os pinos do minifix
16) Colocou as buchas e atarraxou
17) Colocou os módulos do nível 2
18) Atarraxou as buchas do minifix
19) Colocou os pinos de união
20) Colocou os pinos do minifix
21) Colocou as buchas e atarraxou
22) Colocou os módulos do nível 3
23) Atarraxou as buchas do minifix
24) Colocou os pinos de união
25) Colocou os pinos do minifix
26) Colocou as buchas e atarraxou
27) Colocou os módulos do nível 4
28) Atarraxou as buchas do minifix
29) Colocou os pinos de união
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208
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APÊNDICE 9
Plano de Registro de Imagem
Estudo de Caso
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Plano de Registro de Imagem – Estudo de Caso
Construir duas estruturas com bloqueio de luz externa
Posicionar câmeras nas duas extremidades (janelas) externas (ver esquema)
§ Câmera 1: focar na ação do avaliador
§ Câmera 2: aberta para o ambiente do processo (utilizar tripé)
§ Câmera 3: focar na ação do avaliador
§ Câmera 4: aberta para o ambiente do processo (utilizar tripé)
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