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FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
Dissertação de Mestrado
AGRESSIVIDADE NO PERÍODO DA LATÊNCIA ATRAVÉS DO TESTE
CONTOS DE FADAS
Renata de Rezende Lovera
Orientadora: Profª. Drª. Blanca Susana Guevara Werlang
Porto Alegre, janeiro de 2009
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
AGRESSIVIDADE NO PERÍODO DA LATÊNCIA ATRAVÉS DO TESTE
CONTOS DE FADAS
Dissertação de Mestrado
Renata de Rezende Lovera
Profª. Drª. Blanca Susana Guevara Werlang
Orientadora
Porto Alegre, janeiro de 2009
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
AGRESSIVIDADE NO PERÍODO DA LATÊNCIA ATRAVÉS DO TESTE
CONTOS DE FADAS
Renata de Rezende Lovera
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Psicologia da
Faculdade de Psicologia da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do
Sul, como requisito parcial para obtenção
do Grau de Mestre em Psicologia Clínica.
Profª. Drª. Blanca Susana Guevara Werlang
Orientadora
Porto Alegre, janeiro de 2009.
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
Renata de Rezende Lovera
AGRESSIVIDADE NO PERÍODO DA LATÊNCIA ATRAVÉS DO TESTE
CONTOS DE FADAS
COMISSÃO EXAMINADORA
____________________________________________________
Profª.Drª. Blanca Susana Guevara Werlang
Presidente
____________________________________________________
Profª. Drª. Mônica Medeiros Kother Macedo
PUCRS
____________________________________________________
Prof. Dra. Vera Regina Röhnelt Ramires
UNISINOS
Porto Alegre, janeiro de 2009.
5
Aos meus pais, Renato e Maria Eugênia,
pelo exemplo e por todo o investimento
emocional que é a base de minhas conquistas;
Ao meu namorado, César, pelo amor que
incentiva e pelo apoio constante.
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AGRADECIMENTOS
Ao concluir esta etapa, lembro que a realização desta dissertação teve diversos
incentivos e apoios; cada um de sua maneira foram essenciais.
Primeiramente, agradeço a minha Orientadora, Blanca Susana Guevara Werlang, por
ter me apresentado este “universo” da pesquisa científica. Pelo acolhimento, por acreditar
em meu potencial, pelas trocas em cada orientação, sempre embasadas em sua grande
experiência e pela aprendizagem que esta convivência proporcionou.
À CAPES, pelo incentivo à pesquisa, patrocinando a realização deste estudo, assim
como tantos outros.
À minha irmã Juliana, para quem sou exemplo; e aos meus avós, que vibram comigo
em cada conquista; pelo amor, que me estimula a ir além.
Ao Grupo de Intervenções em Comportamentos Violentos, pelo acolhimento, pela
convivência; agradeço por todo o suporte, sempre que necessário, e pelos momentos
especiais vividos neste período. Um agradecimento especial à bolsista Raquel Santiago,
por todo carinho e atenção, pela disponibilidade em todos os momentos e pela ajuda, desde
o início do projeto. À Katherine Flach e Samanta Antoniazzi, igualmente, meus
agradecimentos, pelo auxílio, alegria, pela permanente atenção na realização de qualquer
pedido.
À equipe do projeto de Adaptação Brasileira do Teste Contos de Fadas, agradeço
pelo auxílio nas aplicações do instrumento.
À colega e amiga Adriana Gobbi, pela convivência que tornou a realização deste
estudo mais agradável. Pelas trocas, conversas e apoio nas constantes dúvidas, descobertas
e aprendizagem do Teste Contos de Fadas.
Pelo incentivo e por estar sempre ao meu lado em cada etapa e vitória, mesmo à
distância, meu muito obrigada à grande amiga, Aline Néglia. Agradeço especialmente,
também, à colega e amiga Jucélia Cardoso, pela compreensão nos momentos em que estive
mais ausente, por toda ajuda, proporcionando-me tranqüilidade para realização deste
objetivo.
À Viviane Souto, pelo holding, pelas palavras carinhosas, por sua escuta e pelos
intensos momentos compartilhados que alicerçaram esta e outras conquistas essenciais.
Às escolas que abriram suas portas e receberam a pesquisa, agradeço à
disponibilidade e o acolhimento dos profissionais que auxiliaram a realização deste estudo.
Neste contexto, agradeço especialmente aos pais, que autorizaram a participação de seus
7
filhos, e a cada criança que participou da pesquisa, pela possibilidade do contato com seu
mundo interno, através de suas histórias e de sua imaginação, e pelo rico aprendizado que
estes momentos proporcionaram.
A todos que, diretamente ou indiretamente, serviram como base para esta conquista,
meu muito obrigada!
8
RESUMO
Como uma das ações desempenhadas pelos seres humanos, encontra-se a agressão -
comportamento que faz parte do cotidiano das pessoas, e, se bem gerenciada, auxilia o
indivíduo a se afirmar e a obter satisfação, considerando o contexto social no qual está
inserido. Entretanto, a agressão está comumente associada à violência, que é considerada
um comportamento mal-adaptativo, como caráter destrutivo das pessoas. Presente desde as
etapas iniciais do desenvolvimento, torna-se relevante compreender o fenômeno psíquico
da agressão na infância, como forma de conhecer e definir formas de intervenções
adequadas na clínica psicológica infantil com o objetivo de ações de prevenção. Para tanto,
foram elaboradas duas seções de estudo: uma teórica e uma empírica. A seção teórica
apresenta uma revisão da contribuição dos teóricos da psicanálise para compreensão da
agressividade. Discute-se a importância da agressão para os diferentes autores e também se
contextualiza como a agressividade está presente nas fases do desenvolvimento infantil, a
partir de um enfoque no período da latência. Nesta etapa do desenvolvimento, que se
caracteriza por um equilíbrio entre impulso e defesas mais elaboradas, a utilização de
mecanismos defensivos, como a sublimação, instrumentaliza a criança para superar
situações difíceis de caráter agressivo. Na seção empírica, é retratado um estudo
quantitativo, do tipo transversal, que busca identificar a presença de evidências de
conteúdos agressivos nas respostas ao Teste dos Contos de Fadas (TCF), instrumento
projetivo temático. Participaram do estudo 72 crianças dos sexos feminino e masculino,
com idades entre 6 e 11 anos, de escolas públicas e privadas da cidade de Porto Alegre. A
fim de obter dados que caracterizem os participantes, foi utilizada uma Ficha de Dados
Sociodemográficos. Para excluir casos com suspeita de comprometimento intelectual, foi
administrado o Teste Matrizes Progressivas Coloridas de Raven - Escala Especial. Todo o
material verbalizado pelas crianças ao Teste dos Contos de Fadas (TCF) foi avaliado por
três juízes (J1, J2 e J3) que realizaram avaliações com base no sistema de categorização de
respostas. Para avaliar o grau de concordância entre eles, foi utilizada a estatística Kappa.
Posteriormente, foi realizado um levantamento de freqüências dos tipos de conteúdos
agressivos identificados nas respostas e, para a comparação entre grupos e associações das
variáveis conforme escola, sexo e idade, temática/conflito da série de cartões, foi utilizado
o Teste Exato de Fisher. Os resultados mostram que o grau de concordância entre os juízes,
na sua maioria, foi satisfatório, uma vez que a concordância alcançada foi,
predominantemente, de valores moderados, substancias e quase perfeitos na maioria das
categorias da agressão. Os conteúdos agressivos com maior freqüência de respostas foram:
Medo de Agressão (f = 54), Agressão Tipo A (f=49) e Agressão como Retaliação (f=34).
Foi identificada associação significativa entre a variável Agressão Tipo A e sexo
masculino (p=0,042). Foi possível identificar as freqüências da variável agressão em seis
das sete séries de cartões (Chapeuzinho Vermelho, Lobo, Anões, Bruxa, Gigante, Cenas do
Conto Chapeuzinho Vermelho). Os resultados obtidos apontam que, mesmo o período da
latência sendo considerado um período de “espera” para as etapas posteriores, na qual a
criança está mais calma, é possível identificar a existência de motivações que levam a
criança a agir de forma agressiva.
Palavras-chave: Agressão, Latência, Teste Contos de Fadas (TCF), Técnica Projetiva.
Área conforme classificação CNPq: 7.07.00.00-1
Sub-área conforme classificação CNPq: 7.07.01.00-8 (Fundamentos e Medidas da
Psicologia)
9
ABSTRACT
AGGRESSION IN LATENY MEASURED BY FAIRY TALE TEST
Aggression is one of the actions performed by humans that can be define as a
behavior that is part of the daily lives of people, and if well managed, helps the individual
to become established and to obtain satisfaction, considering the social context in which it
is inserted. However, the aggression is commonly associated with violence, which is
considered a bad adaptive behavior as destructive character of the people. This can be
found since the early stages of development, and it is important to understand the
phenomenon of psychological aggression in childhood as a way to meet and identify ways
to appropriate intervention in child clinical psychology with the goal of the preventive
actions. In order to accomplish this goal, two study sections were developed: a theoretical
and an empirical. The section presents a review of the theoretical contribution of
psychoanalysis to the understanding of aggression. It discusses the importance of
aggression for the various authors and also contextualizes such as aggressiveness is present
in the infant stages of development, from a focus on the latency period. At this stage of
development, characterized by a balance between impulse and more elaborate defenses, the
use of defensive mechanisms such as sublimation, help the child to overcome aggressive
difficult situations. In the empirical section, is portrayed a quantitative study, a cross
section type that identify the presence of evidence of aggressive content in the responses to
the Fairy Tale Test (TCF), a projective instrument theme. The participants of the study
were 72 female and male children, aged between 6 and 11 years of public and private
schools in the city of Porto Alegre. A socio-demographic data form was used for the
sample characterization. To delete suspicious cases of intellectual impairment was given
the Raven’s Progressive Matrices - Special Scale. All material expressed by the children
to the Fairy Tale Test (FTT) was evaluated by three judges (J1, J2 and J3), which made
assessments based on the categorization system of the test. To assess the degree of
agreement between them, it was used the statistic Kappa. It was subsequently conducted a
survey of frequencies of the aggressive types identified in the responses, and for
comparison between groups and associations of the variables as school, sex and age,
thematic/conflict in the series of cards, it was used Fisher's Exact Test. The results show
that the degree of agreement among the judges were mostly satisfactory, since the
agreement was achieved predominantly values of moderate, substantial and almost perfect
in most categories of aggression. The aggressive content with greater frequency of
responses were: Fear of Aggression (f = 54), Aggression Type A (f = 49) and Aggression
as Retaliation (f = 34). It identified a significant association between the variable
Aggression Type A and males (p = 0.042). It was possible to identify the frequencies of
variable aggression in six of the seven sets of cards (Little Red Riding Hood, Wolf,
Dwarfs, Witch, Giant, Little Red Riding Hood Scenes). The results suggest that even the
period of latency is considered a period of "waiting" for the later stages, in which the child
is more calm you can identify the existence of motives that lead the child to act
aggressively.
Keywords: Aggression, Latency, Fairy Tale Test (FTT), Projective Technical.
10
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS.............................................................................................. 11
LISTA DE QUADROS.............................................................................................
13
LISTA DE SIGLAS.................................................................................................. 14
INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15
SEÇÃO I ................................................................................................................... 24
Compreensão Teórica da Agressividade na Infância ........................................... 24
Contribuição dos Teóricos da Psicanálise para compreensão da
Agressividade....................................................................................................
26
A agressividade nas Fases do Desenvolvimento ..............................................
36
Considerações Finais.........................................................................................
39
SEÇÃO II.................................................................................................................. 41
Agressividade no Período da Latência Através do Teste Contos de Fadas.........
41
Método ............................................................................................................. 44
Amostra ............................................................................................................ 44
Instrumentos ..................................................................................................... 44
Procedimentos para coleta de dados ................................................................ 53
Resultados ........................................................................................................ 54
Discussão...........................................................................................................
63
Considerações Finais.........................................................................................
69
CONSIDERAÇÕES FINAIS DA DISSERTAÇÃO.............................................. 72
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 74
ANEXOS....................................................................................................................
79
Anexo A
Carta de Aprovação da Comissão Científica da Faculdade de Psicologia
da PUCRS...................................................................................................................
80
Anexo B
Carta de Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS..............
82
Anexo C
Carta aos pais e aos responsáveis...............................................................
84
Anexo D
Ficha de dados sócio-demográficos............................................................
86
Anexo E
Termo de consentimento livre e esclarecido...............................................
89
11
LISTA DE TABELAS
TABELA 1.
Distribuição em termos de freqüência e porcentagem da série atual
freqüentada pelos participantes do estudo (n=72) ...................................20
TABELA 2.
Distribuição em termos de freqüência e porcentagem das pessoas com
quem a criança reside (n=72) ..................................................................21
TABELA 3.
Distribuição em termos de freqüência e porcentagem de renda familiar
mensal dos participantes ..........................................................................21
TABELA 4.
Distribuição em termos de freqüência e porcentagem da classe econômica
dos participantes (n=72) ..........................................................................55
TABELA 5.
Sumários dos resultados da medida de concordância entre J1-J2, J1-J3 e
J1-J2-J3, em todas as variáveis de agressão, considerando todos os
cartões (n = 72) ........................................................................................56
TABELA 6.
Freqüências de respostas da variável Agressão conforme Escola, Sexo e
Idade (n=72) ............................................................................................58
TABELA 7.
Associação entre as variáveis da agressão e sexo (n=72) .......................59
TABELA 8.
Associação entre as variáveis da agressão e idade (n=72) ......................59
TABELA 9.
Associação entre as variáveis da agressão e tipo de escola
(n=72).......................................................................................................60
TABELA 10.
Sumário de freqüências da variável Medo de Agressão nas séries de
cartões - Chapeuzinho Vermelho, Lobo, Anões, Bruxa e Gigante (n=54)
..................................................................................................................60
TABELA 11.
Sumário de freqüências da variável Agressão Tipo A nas séries de cartões
- Lobo, Anões, Bruxa, Gigante e Cenas da Chapeuzinho Vermelho
(n=49) ..................................................................................................... 61
TABELA 12.
Sumário de freqüências da variável Agressão como Retaliação nas séries
de cartões - Chapeuzinho Vermelho, Lobo, Bruxa e Gigante (n=34)
..................................................................................................................61
TABELA 13.
Sumário de freqüências da variável Agressão Oral nas séries de cartões -
Lobo e Gigante (n=29) ............................................................................61
TABELA 14.
Sumário de freqüências da variável Agressão por Inveja na série de
cartões - Bruxa (n=25) .............................................................................62
TABELA 15.
Sumário de freqüências da variável Agressão por Ciúme nas séries de
cartões - Chapeuzinho Vermelho, Lobo, Bruxa e Gigante (n=16)
..................................................................................................................62
12
TABELA 16.
Sumário de freqüências da variável Agressão como Dominância nas
séries de cartões - Bruxa e Gigante (n=12) .............................................62
TABELA 17.
Sumário de freqüências da variável Agressão Instrumental nas séries de
cartões - Lobo, Bruxa e Gigante (n= 9)....................................................63
TABELA 18.
Sumário de freqüências da variável Agressão como Defesa nas séries de
cartões - Chapeuzinho Vermelho, Lobo, Anões e Gigante (n=54)
..................................................................................................................63
13
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1.
Composição da série de cartões do Teste Contos de Fadas na ordem de
apresentação quando da administração do
instrumento.............................................................................................46
QUADRO 2.
Perguntas realizadas nas sete séries de cartões do Teste Contos de Fadas
quando da administração do instrumento ............................................. 47
QUADRO 3.
Temas e conflitos eliciados na Série de Cartões do Teste Contos de
Fadas .................................................................................................... 48
QUADRO 4.
Definição da variável agressividade conforme Coulacoglou
(1995/2000,2002a, 2002b, 2008) ..........................................................50
14
LISTA DE SIGLAS
AGRA
Agressão Tipo A
AGRCI
Agressão por Ciúme
AGRDEF
Agressão como Defesa
AGRDOM
Agressão como Dominância
AGRINV
Agressão por Inveja
AGRINS
Agressão Instrumental
AO
Agressão Oral
AGRRET
Agressão como Retaliação
MA
Medo de Agressão
PUCRS
TCF
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Teste Contos de Fadas
15
INTRODUÇÃO
Esta dissertação de mestrado, intitulada “Agressividade na Latência através do Teste
Contos de Fadas”, foi desenvolvida no Programa de Pós-Graduação da Faculdade de
Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. É uma produção
decorrente de um projeto maior de pesquisa, que tem como principal objetivo criar
subsídios para a adaptação brasileira do Teste Contos de Fadas (TCF), com o intuito de
oferecer um instrumento confiável para a identificação de aspectos da dinâmica da
personalidade infantil. O referido projeto está inserido no grupo de pesquisa “Prevenção e
Intervenção em Comportamentos Violentos”, coordenado pela professora Drª. Blanca
Susana Guevara Werlang.
Pensar sobre a vida em sociedade é perceber que os seres humanos se diferenciam
pelas suas características e seus comportamentos, resultados tanto de sua estrutura
biológica, do contato com o meio social em que estão inseridos como das experiências e
identificações, que estão presentes em suas vidas desde o nascimento. O comportamento
dos indivíduos, então, é um dos principais pontos a ser estudado quando se pensa na
convivência social da humanidade. Como uma das ações desempenhadas, encontra-se a
agressão, comportamento que acompanha a vida humana ao longo de seu
desenvolvimento.
Atualmente, a agressividade fora do controle tem marcado presença na vida em
sociedade e, mesmo considerando as inúmeras tentativas de se compreender a sua origem,
a humanidade vem sofrendo com a agressividade, que se apresenta, cada vez mais, com
muita força e intensidade destruidora, comumente associada a condutas violentas
(Werlang, Sá & Macedo, 2006). Sendo assim, torna-se relevante, como expressam Gerrig e
Zimbardo (2005), a compreensão deste fenômeno para que se possam reduzir os níveis
sociais de manifestações agressivas associadas à violência.
A agressividade é considerada um aspecto estruturante para o psiquismo do
individuo, presente nas diversas fases do seu desenvolvimento, estando estreitamente
relacionada com o desenvolvimento de uma personalidade saudável, que atua nas relações
interpessoais e funcionamento familiar (Coulacoglou, Souyouldjoglou & Atsaros, 2002).
Sendo um motor para o desenvolvimento humano, é considerada uma força de vida, tão
importante como as outras funções básicas de alimentação, de reprodução e a de
capacidade de fuga frente a situações de risco (Werlang, Sá & Macedo, 2006).
16
Por outro lado, a agressividade também está vinculada a comportamentos
inadaptados, como desordens de conduta, roubo, e comportamentos anti-sociais. A conduta
agressiva, conforme Dorsch, Häcker e Stapt (2001), pode ser dirigida a outras pessoas e
objetos e, igualmente, também pode voltar-se contra o próprio indivíduo. Tal ação pode ser
desencadeada em situações em que a própria pessoa se “pressionada por exigências da
sociedade, reprimida com vistas à adaptação social ou, ainda, quando inibida por
resistências externas (ódio de si mesmo, dano causado a si mesmo, suicídio, masoquismo)”
(p. 25).
Na sociedade contemporânea, existe, por um lado, uma grande quantidade de
estímulos que facilitam a sublimação do potencial agressivo. Assim, os seres humanos
podem desviar a agressividade ou transformá-la de negativa para positiva, através de
atividades produtivas e criativas. A agressão, então, segundo La Porta (1984), pode
fornecer energia para atividades laborais, para o empreendedorismo e condutas ambiciosas
e para o estudo de maneira geral. Hoje estes aspectos são estimulados e operacionalizados
através de um amplo contato com as informações e as tecnologias avançadas que
possibilitam o rápido acesso ao conhecimento. Sem dúvida, as pessoas precisam encontrar
meios e alternativas para evacuar a agressividade, pois esta tendência é carregada de forte
potencial dinâmico e, se não for “descarregada”, pode gerar tensões muito desagradáveis,
como explosões muito violentas por acumulações dessas tensões (Collette, 1971).
Entretanto, este mesmo indivíduo que se depara com uma gama de possibilidades que
visam ao seu crescimento, através da utilização de potencial agressivo de forma “positiva”,
precisa igualmente enfrentar um contexto destrutivo e se defender da intensa violência da
sociedade na qual está imerso. E, na base desta violência contemporânea, encontra-se a
manifestação hostil da agressividade através de atos agressivos desmesurados, em que o
homem agride o seu semelhante e, até mesmo, a si próprio, por maneiras, cada vez mais
violentas visando à destrutividade (Werlang, Sá & Macedo, 2006).
Dorsch, Häcker e Stapt (2001) entendem que a agressão pode se manifestar de várias
maneiras e com tom de intensidade diferente, desde reações primitivas (morder, bater,
pisar) a reações mais elaboradas (desvalorizar, diminuir). Nesta mesma direção, para
Coulacoglou, Souyouldjoglou e Atsaros (2008), os atos agressivos podem ser classificados
de diferentes formas: de acordo com suas conseqüências (maligno, beligno, construtivos,
destrutivos), com suas expressões (hostilidade, emotividade, irritação).
17
Segundo Coulacoglou, Souyouldjoglou e Atsaros (2008), um dos primeiros
movimentos feitos pelos seres humanos, ao se depararem com condutas agressivas é tentar
compreender o que motivou tal comportamento. Em certas ocasiões, nem sempre são
identificadas as causas evidentes da conduta violenta; entretanto, entre os motivadores
mais comuns encontrados, está a inveja, o desejo de dominação do outro, a defesa própria.
A agressividade, então, pode ser observada com certa facilidade no comportamento dos
indivíduos, através de seus atos agressivos; mas para compreender o motivo que
desencadeia tal comportamento, é necessário avaliar a dinâmica da personalidade do
indivíduo.
Neste contexto avaliativo, o psicólogo dispõe, entre outras estratégias, de testes
projetivos que se propõem “explorar” o mundo interno do sujeito. Estes instrumentos
podem, segundo Werlang, Fensterseifer e Lima (2008), ser utilizados na avaliação da
personalidade e de outros elementos (relações interpessoais, dinâmica familiar) que se
mostrem importantes para a compreensão do sujeito ou de uma situação vivenciada ou
percebida por ele. Na “leitura” de um fenômeno projetivo, afirmam as autoras, deve se
considerar a percepção externa que um indivíduo tem de determinado estímulo, que é
influenciada e determinada pelo seu mundo interno. Na administração deste tipo de
instrumentos, Werlang, Fensterseifer e Lima (2008) destacam que, nas instruções, fica
claro que cada um deve valer-se de seus recursos próprios para criar sua hipótese, o seu
sentido ou a sua história para determinada figura, ou sua resposta para a mancha de tinta.
Então, frente a um dado da realidade, estas autoras entendem que cada indivíduo constrói
um sentido a partir de sua subjetividade e de seu mundo interno. Portanto, tendo como base
o conceito de projeção, originário da teoria psicanalítica, a técnica projetiva supõe a
existência de aspectos não conscientes da personalidade; os materiais de prova e as
instruções são, desta forma, perguntas indiretas, com respostas também indiretas,
representadas pelas reações do sujeito, sobre aquele aspecto de sua estrutura psicológica do
qual não tem consciência e é incapaz, por tanto de comunicar diretamente (Rapaport,
1971).
A teoria psicanalítica, através de seus teóricos, tem contribuído para a compreensão
da agressividade e de seu dinamismo a partir das fases do desenvolvimento psicossexual
infantil. A psicanálise entende que a agressividade está presente, desde muito cedo, na
estruturação do psiquismo, possuindo diferentes formas de manifestações. A agressividade
no estágio oral pode apresentar, por exemplo, um intenso caráter canibalístico, após a
18
aparição dos dentes. O primeiro contato com o mundo exterior, feito nesse momento, está
associado a um caráter destrutivo e sádico, através da mordida (Klein, 1927; Kusnetzoff,
1982). Na fase posterior em que o prazer é extraído da zona anal e da função excretora, a
partir de uma rede de significações ligadas a fatores sociais, o aspecto sádico encontra-se
no prazer da crueldade, dominação e possessão do outro, atos que estão estreitamente
conectados às satisfações anais e que podem aparecer através de atos hostis dirigidos aos
pais. Na fase fálica, em que a criança vivencia o Complexo de Édipo, os desejos edípicos,
cheios de rivalidade existentes, podem trazer um enorme conflito devido aos intensos
sentimentos de ódio, inveja e competição hostil, todos amplificados por identificações e
desejos de amor por cada um dos pais (Tyson, 1993).
Em termos de desenvolvimento psicossexual, após a finalização do Complexo de
Édipo, inicia-se a latência que, segundo Urribarri (1999), pode ser entendida como um
período em que um esforço realizado no sentido de organização, diferenciação,
sofisticação e ampliação do aparato psíquico. Como conseqüência desses esforços, ocorre
uma reordenação dinâmica e estrutural das pulsões. uma reorganização da estrutura
defensiva egóica, e é nesse atuar conjunto de diversos mecanismos defensivos com fins
sublimatórios que se caracteriza a latência normal (López & Nunes, 2003, Urribarri, 1999).
Como resultado do equilíbrio entre impulsos e defesas mais elaboradas, a criança, no
estado de latência, torna-se mais calma, manejável e educável (Ferreira & Araújo, 2001).
Com o recalcamento do Édipo, a energia da libido fica, temporariamente, deslocada de
seus objetos sexuais (Sarnoff, 1995; Rappaport, Fiori & Davis, 1981). Como esta energia é
permanentemente gerada, não pode ser simplesmente eliminada ou reprimida, é preciso
que ela seja canalizada para outras finalidades. A este processo de canalizar uma energia
inicialmente sexual em uma energia mobilizadora chamamos de realizações socialmente
produtivas de sublimação” (Rappaport, Fiori & Davis, 1981, p. 44).
Nesta dissertação, procurou-se identificar tipos de manifestações agressivas em
crianças no período evolutivo da latência, a partir das respostas emitidas ao instrumento de
avaliação projetivo, o Teste dos Contos de Fadas. Identificando e analisando manifestações
e tipos de conteúdos agressivos, na fase da latência, será possível conhecer e definir formas
de intervenções adequadas na clínica psicológica infantil com o objetivo de ações de
prevenção. O objetivo geral, então, foi identificar a presença de evidências de conteúdos
agressivos nas respostas ao Teste dos Contos de Fadas (TCF), em crianças com idade entre
6 a 11 anos.
19
Inicialmente, para o desenvolvimento desta dissertação foi elaborado para apreciação
e avaliação da Comissão Científica da Faculdade de Psicologia (ver Anexo A) o projeto
intitulado Agressividade no Período da Latência Através do Teste Contos de Fadasque,
como mencionado, insere-se em um projeto maior Adaptação Brasileira do Teste Contos
de Fadas”, que foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS (ver Anexo B).
Obtidas estas aprovações foram realizados contatos com instituições escolares públicas e
privadas da cidade de Porto Alegre, que possuíam estudantes com idade entre 06 e 11 anos,
para operacionalizar o estudo.
A pesquisa foi explicada aos diretores das escolas, e àqueles que acolheram a
proposta foram entregues cartas para serem encaminhadas pelo estudante aos pais ou
responsáveis (ver Anexo C), conjuntamente com os Termos de Consentimento Livre e
Esclarecido (ver Anexo D) e uma Ficha de Dados Sociodemográficos (ver Anexo E).
Esta Dissertação apresenta duas seções e foi organizada de acordo com o Ato
Normativo 002/07 de 06/11/2007 do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da
PUCRS. A primeira seção é de cunho teórico, intitulada “Compreensão Teórica da
Agressividade na Infância”, e a segunda, de cunho empírico, responde ao projeto de
pesquisa, tendo como título “Agressividade no Período da Latência Através do Teste
Contos de Fadas”.
A Seção I teve como objetivo a elaboração de uma revisão da literatura a respeito do
conceito agressividade, sendo embasada por idéias de pensadores da psicanálise, à luz dos
aportes teóricos de Freud (1905/1989, 1914/1976, 1920/1976, 1930 [1929] 1974), Klein
(1927, 1974, 1975a, 1975b), Winnicott (1939, 1950, 1956), Anna Freud (1986), Bion
(1966), Bowlby (1984), Collette (1971), Fromm (1973). Dentre estes pensadores, um
grupo caracteriza a agressividade como intrínseca à constituição do sujeito, enquanto outro
a define como resultado da inadequação de fatores ambientais, culturais e/ou biológicos.
Buscou-se, igualmente, caracterizar este fenômeno nas diferentes etapas do
desenvolvimento infantil, destacando o período da latência como etapa na qual os impulsos
agressivos expressam-se de maneira mais elaborada, decorrente de características especiais
da dinâmica da personalidade infantil nesta fase.
A Seção II retrata um estudo quantitativo e transversal, operacionalizado a partir da
administração dos instrumentos Raven Escala Especial e o Teste Contos de Fadas em 72
crianças, com idade entre 06 e 11 anos. A amostra foi localizada por conveniência em
escolas públicas e privadas da cidade de Porto Alegre. A partir do critério de classificação -
20
tipo de escola, o total (72) de sujeitos compreendeu dois subconjuntos de 36 cada um,
conforme o tipo de escola. Cada um desses subconjuntos foi novamente dividido por dois
outros de 18 crianças cada um, de acordo com o critério de classificação: sexo masculino e
feminino. Por sua vez, cada um deles foi constituído novamente por mais dois outros
subconjuntos de 9 sujeitos cada um, de acordo com o critério de classificação idade,
compreendendo menor idade (6 a 8 anos) e maior idade (9 a 11 anos). Para melhor
compreensão da organização da amostra, ver Figura 1.
Figura 1: Processo de Amostragem na cidade de Porto Alegre (n= 72)
Figura 1 Processo de amostragem na cidade de Porto Alegre (n=72)
A categorização da amostra foi feita a partir da Ficha de Dados Sociodemográficos
preenchida pelos pais ou responsável pela criança. A partir dela foi possível constatar que
participaram deste estudo crianças de 14 escolas da cidade de Porto Alegre (10 escolas
públicas e 4 escolas privadas). Em relação à distribuição das séries em que os participantes
estudam, os dados podem ser observados na tabela 1.
Tabela 1. Distribuição em termos de freqüência e porcentagem
da série atual freqüentada pelos participantes do
estudo (n=72)
Série f %
Pré-escola 8 11,1
1ª. série Ensino Fundamental 10 13,9
2ª. série Ensino Fundamental 17 23,6
3ª. série Ensino Fundamental 10 13,9
4ª. série Ensino Fundamental 12 16,7
5ª. série Ensino Fundamental 15 20,8
Total 72 100
36 crianças de
escola pública
36 crianças de
escola privada
18
Sexo Feminino
18
Sexo Masculino
18
Sexo
Feminino
18
Sexo Masculino
Grupo 1:
9
(6-8 anos)
Grupo 2
:
9
(9- 11anos)
Grupo 3
:
9
(6-8 anos)
Grupo 4:
9
(9-11anos)
Grupo 5:
9
(6-8 anos)
Grupo 6:
9
(9-11 anos)
Grupo 7
:
9
(6-8 anos)
Grupo 8:
9
(9-11anos)
72 crianças
21
Dos 72 participantes, apenas 2 (2,7%) repetiram alguma série; resultado que pode
estar relacionado com a opinião dos pais ou responsáveis sobre o desempenho escolar das
crianças, já que a grande maioria das crianças apresenta um desempenho considerado
ótimo 47 (65,3%) e bom 20 (27,8%). Entretanto, os professores apresentam queixas de 10
(13,8%) dos participantes; os tipos de queixas mais freqüentes são: falta de atenção,
desorganização, conduta inadequada (palavrões e brigas) e outras não especificadas. Sobre
o núcleo familiar em que os participantes estão inseridos, os dados revelam que a maior
parte reside com pais e irmãos. Detalhes sobre as configurações familiares e a renda
familiar dos participantes podem ser mais bem visualizados nas Tabelas 2 e 3.
Tabela 2. Distribuição em termos de freqüência e porcentagem
das pessoas com quem a criança reside (n=72)
Com quem mora? f %
Mãe e pai 11 15,3
Mãe, pai e irmãos 30 41,7
Mãe, pai, irmãos e avós 6 8,3
Apenas mãe 2 2,8
Mãe e irmãos 8 11,1
Mãe, pai, irmãos e outros 4 5,5
Outros 11 15,3
Total 72 100
Tabela 3. Distribuição em termos de freqüência e porcentagem
da renda familiar mensal dos participantes (n=72)
Renda familiar f %
Até 1 salário mínimo 7 9,7
1 a 3 salários mínimos 14 19,4
3 a 5 salários mínimos 8 11,1
Acima de 5 salários mínimos 40 55,6
Sem resposta 3 4,2
Total 72 100
Com relação à presença de doença física, dos 72 participantes, 5 (6,9%), sofrem de
doença respiratória (asma ou bronquite), dermatite ou refluxo. Dentre os indivíduos que
fizeram parte da amostra, apenas 2 (2,8%) apresentam transtorno psicológico (Enurese ou
Síndrome do Pânico). Quanto à realização de tratamento especializado, os dados revelam
que 10 (13,9%) tratam doenças respiratórias, alergias ou refluxo e 10 (13,9%) dos
participantes fazem uso de medicamento, como o uso de anti-histamínico utilizado para o
tratamento de alergias. Apesar do baixo número encontrado de crianças que apresentam
22
algum transtorno psicológico, os achados apontam que 9 (12,5%) realizam tratamento
psicológico.
A partir do desempenho obtido no Teste Matrizes Progressivas Coloridas de Raven -
Escala Especial, instrumento utilizado para excluir casos com suspeita de
comprometimento intelectual (percentil menor que 50), foi possível constatar que 21
(29,2%) das crianças obtiveram percentil 95 ou superior (classificação I – Intelectualmente
Superior), 27 (37,5%) percentil 75-94 ( II – Definitivamente acima da média) e 24 (33,3%)
percentil 50-74 (III – Intelectualmente Médio).
O Teste dos Contos de Fadas (TCF) é um instrumento projetivo temático, organizado
por Coulacoglou (2008), na Grécia. Este instrumento é adequado para ser utilizado como
técnica de avaliação clínica, possibilitando identificar diversas dimensões da personalidade
infantil, com base nos conceitos psicanalíticos. A proposta é realizar um jogo em que
aparecem personagens de contos de fadas. O TCF é composto por 21 desenhos de
personagens de contos de fadas, agrupados em sete ries com três desenhos cada. Os
personagens são oriundos de vários contos de fadas, personagens popularmente conhecidos
e estão desenhados em três versões. Duas delas retratam os traços mais típicos e
conhecidos desses personagens, que são historicamente divulgados nos livros e/ou filmes
infantis, enquanto que a terceira versão é mais incomum e pretende estimular o surgimento
de respostas originais positivas ou negativas. Diferentemente de outras técnicas temáticas,
a proposta não é a de contar histórias, mas é de que se responda a algumas perguntas, pois
o conto existe, os personagens são conhecidos e fazem parte de alguma maneira da
realidade diária das crianças. Os contos de fadas, como afirma Coulacoglou (2008), partem
do imaginário das crianças, enfoca temas que contêm verdades universais e refletem
valores tradicionais como: amor, amizade, inveja, ajuda, violência, morte, entre outros.
Assim sendo, o TCF estimula os processos inconscientes de projeção, explorando
sentimentos e atitudes.
Os dados obtidos na Ficha de Dados Pessoais e Sociodemográficos foram analisados
através de técnicas de estatística descritiva (freqüências, médias, percentagens). E todo o
material verbalizado pelas crianças no TCF foi primeiramente avaliado por três juízes (J1,
J2 e J3) que fizeram avaliações independentes com base no sistema de categorização de
respostas. Para analisar a concordância entre os juízes foi utilizada a estatística Kappa.
Posteriormente, foi realizado o levantamento de freqüências e percentagens dos tipos de
conteúdos agressivos identificados nas respostas ao TCF. E, por último, para verificar a
23
associação das variáveis (tipo de conteúdos agressivos X idade, sexo, tipo de escola,
temática/conflito da série de cartões do TCF) foi utilizado o Teste Exato de Fisher.
No decorrer das etapas do desenvolvimento infantil, compreende-se que a criança
atravessa períodos de grande intensidade emocional. Muitas vezes passa por etapas que lhe
despertam diferentes sentimentos, como medo, angústia e ansiedade. Através de seus
recursos psicológicos, ela tentará buscar formas de lidar com o turbilhão de emoções,
característico de seu crescimento, que nem sempre podem e são manifestas e elaboradas.
Para Bettelheim (2001), a criança necessita que lhe sejam dadas sugestões, em forma
simbólica, sobre a forma como ela pode lidar com estas questões de seu desenvolvimento.
A partir dessa visão, o autor acredita na importância dos contos de fadas, pois as crianças
podem encontrar suas próprias soluções através da contemplação das histórias. Os conflitos
passam a ser vistos de fora, fazendo com que os problemas passem a ser mais ceis de
serem enfrentados (Corso & Corso, 2006).
A partir de uma importância histórica e cultural, o conto de fadas se faz presente,
certamente, como forma de narrativas imaginárias e fantásticas. A possibilidade da criação
de um recurso de transmissão oral de um enorme rol de significados sociais e culturais e o
estímulo ao exercício da capacidade imaginativa e simbólica do ser humano são algumas
das principais finalidades dos contos (Werlang & Macedo, 2008). Ao relacionarmos com
o embasamento psicanalítico, é possível compreender os “significados simbólicos dos
contos de fadas aos eternos dilemas e conflitos que o homem enfrenta ao longo de seu
desenvolvimento” (p. 186). Assim sendo, este tipo de narrativa vem sendo utilizada como
estratégia terapêutica com crianças, por ser acreditar que os contos podem ser ótimas
ferramentas que refletem aspectos normais e patológicos do desenvolvimento infantil.
A agressão, como exposto anteriormente, é vista em todas as fases da vida, que
colabora com a estruturação do funcionamento psíquico. Se bem administrada, pode ser
utilizada como potencial humano. Entretanto, é preocupante o gerenciamento da
agressividade, estando ela associada à violência, que vem tomando conta de índices
assustadores na sociedade atual. As seções de estudo, que compõem esta dissertação de
mestrado, possibilitam uma contribuição para a identificação de manifestações e tipos de
conteúdos agressivos na fase da latência, para que seja possível conhecer e estruturar
formas de intervenções adequadas, na clínica psicológica infantil, com o objetivo de
prevenção e redução dos níveis sociais de manifestações agressivas desmedidas.
24
SEÇÃO I
Compreensão Teórica da Agressividade na Infância
No mundo contemporâneo, têm sido constantes as manifestações de violência
praticadas por sujeitos de todas as faixas etárias e dos diversos seguimentos sociais. Estas
manifestações retratam condutas agressivas, muitas vezes, até sem motivo aparente.
Agressão e violência, apesar de serem expressões humanas comumente referidas
como sinônimos, precisam ser bem diferenciadas. Trata-se de explicitar as especificidades
de cada uma a fim de evitar equívocos na compreensão de suas manifestações. A agressão
é uma resposta ao comportamento adaptativo do ser humano, enquanto a violência é um
comportamento mal-adaptativo evidenciando aspectos destrutivos das pessoas. No caso da
violência, trata-se de uma manifestação da agressão direcionada ao alvo errado, no lugar
errado, no tempo errado e com a intensidade errada (Werlang, Sá & Macedo, 2006).
Mas o que é ser agressivo? Para Gazzaniga e Heatherton (2005), a agressão pode ser
definida como uma variedade de comportamentos diferentes, mas, basicamente, pode ser
entendida como qualquer comportamento ou ação que envolve a intenção de prejudicar ou
ferir alguém. A agressividade é a qualidade de ser agressivo, é a disposição para o
desencadeamento de comportamentos hostis, destrutivos, que visam prejudicar direta ou
indiretamente alguém, alimentada pelo acúmulo de experiências frustradoras (Ferreira,
1999; Dorsch, Häcker & Stapf, 2001). Ou ainda, como expressa Collette (1971), a
agressividade pode ser considerada um comportamento indicador de que o indivíduo quer
escapar a todo e qualquer tipo de controle, recusando-o e exercendo ações violentas,
brutais e ameaçadoras contra quem constitua possível obstáculo.
Agressão e agressividade são expressões que nos remetem a um componente
negativo do ser humano. Entretanto, Werlang, e Macedo (2006) pontuam que estes dois
aspectos fazem parte do cotidiano das pessoas e, se bem gerenciados, e em adequada
sintonia com as exigências da realidade externa, auxiliam o indivíduo a se afirmar e obter
satisfação, considerando o contexto social no qual está inserido. A agressividade, então,
pode ter uma orientação negativa e restritiva ou positiva e construtiva. A questão é
identificar quando esse comportamento deixa de ser aceitável, para se tornar um problema.
Manifestações agressivas podem ser decorrentes de inúmeras razões. Assim sendo, a
origem do comportamento agressivo é considerada multifatorial, podendo decorrer de
fatores biológicos, culturais, ambientais e, estando, também, relacionada aos impulsos
25
internos inatos, que constituem o psiquismo humano desde o seu nascimento. Por outro
lado, cabe ressaltar, conforme Coulacoglou (2008), que, embora manifestações agressivas
possam ser observadas através de certos comportamentos hostis, a ausência de
agressividade sugere passividade, podendo significar indicativo de mau ajustamento.
A infância é um período estratégico na vida de uma pessoa, e a agressividade é um
fator participante no processo de crescimento do indivíduo. A agressividade deve ser um
dos aspectos utilizados pelas crianças como forma de reagir frente ao mundo, mas não
pode se tornar a forma preferencial para resolver as dificuldades e os problemas do
cotidiano. As manifestações de agressividade podem surgir como uma reação de defesa
direta e objetiva frente a uma ameaça, mas também podem se apresentar como uma
intenção própria da pessoa conectada a uma expressão emocional.
Desde bebês, as crianças conseguem expressar reações de prazer ou desprazer.
Enquanto a linguagem verbal não está bem desenvolvida, manifestações agressivas podem
ser expressas pelas crianças por meio de recursos, como bater os pés, gritar, morder,
arranhar e puxar os cabelos de outras crianças. Assim, por meio de expressões mais
ancoradas nos recursos físicos, a criança encontra formas de expressão da agressividade.
Com o desenvolvimento da fala, as atitudes gestuais, muitas vezes, diminuem, e a
criança pode passar a utilizar expressões verbais de ofensa ou de intimidação ao outro.
Marceli (1998) considera existir uma tendência geral de que as condutas agressivas
desapareçam ao longo dos anos, mas alerta para a possibilidade de situações nas quais as
crianças possam seguir se mostrando agressivas por não conseguir controlar seus impulsos.
A expressão dessa impossibilidade resulta em comportamentos, tais como bater nos
colegas, até mesmo em adultos ou nos pais e, ainda quebrar objetos alheios ou pessoais.
Crianças agressivas podem ser facilmente identificadas na creche, na escola, nas
festas de aniversário, em reuniões familiares ou sociais. Elas apresentam comportamentos
típicos de empurrar, bater, pisar, destruir os pertences dos outros, criar situações
ameaçadoras, preparar armadilhas, desvalorizar e, até mesmo, criar grupos (gangues) para
dirigir/manipular outras crianças. A questão da agressividade infantil tem sido discutida de
diferentes formas, e com pontos-de-vista bastante variados, por vários profissionais e tem
sido motivo de constante preocupação para pais, educadores e profissionais da saúde
interessados no desenvolvimento psicológico saudável da criança.
Comportamento agressivo na infância causa preocupação e temor. O bullying, por
exemplo, é um fenômeno decorrente da agressividade humana observada no espaço
26
infantil. O bullying compreende todas as atitudes agressivas, intencionais e repetidas que
ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s),
causando sofrimento, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder. O
bullying diz respeito a uma forma de afirmação de poder interpessoal através da agressão.
Fante (2005) alerta que esse fenômeno agressivo estimula a delinqüência e outras formas
de violência explícita, resultando em cidadãos estressados, deprimidos, com baixa auto-
estima, capacidade de auto-aceitação e resistência à frustração, pouca capacidade de auto-
afirmação e auto-expressão, além de facilitar o aparecimento de sintomatologias, doenças
psicossomáticas, transtornos mentais e patologias graves.
Fica evidente, então, que não se pode negar a agressividade do homem e sua
presença desde as fases mais precoces da vida da criança. Com o objetivo de aprofundar a
compreensão desse fenômeno tão importante na elaboração da estrutura psicológica
humana, esta seção apresenta contribuições teóricas do conceito agressividade, tendo como
enfoque idéias de pensadores do referencial psicanalítico. Frente à relevância deste
componente na infância, a agressividade também é explorada psicodinamicamente durante
as fases do desenvolvimento infantil, a partir das diferentes formas de manifestações que,
durante o crescimento, tendem a atingir graus mais elaborados de expressão, ou mostram-
se de maneira menos saudáveis quando relacionadas a comportamentos agressivos e à
violência.
Contribuição dos Teóricos da Psicanálise para compreensão da Agressividade
Freud sempre considerou a agressão como uma fonte instintiva e pulsional. A teoria
inicial freudiana das pulsões se desenvolveu a partir da descoberta dos impulsos sexuais da
infância, caracterizados por um antagonismo entre a pulsão sexual e a pulsão de
autoconservação. Mais tarde, Freud (1914/1976) postulou que alguns fatos clínicos não
eram passíveis de explicação através desta dualidade, substituindo-a pela dualidade libido
de objeto versus libido do ego. O apego libidinal a um objeto e o amor por este eram
devolvidos ao ego, tornando-se o objeto amado. O conceito de narcisismo faz com que
Freud repense sua Primeira Teoria das Pulsões, uma vez que, ao tomar a si mesmo como
objeto de amor, o ego não está em oposição à libido.
O reconhecimento da existência da agressão e da destrutividade nos seres humanos
ocorreu depois da Primeira Guerra Mundial, quando Freud (1920/1976) introduziu, em sua
teoria, uma nova dicotomia pulsional: pulsão de vida X pulsão de morte. A partir da
27
repetição compulsiva de vivências desagradáveis, Freud compreendeu que o princípio do
prazer não poderia explicar a busca por estas repetidas situações, e com isso, conceituou a
existência de uma pulsão de morte. Freud (1920/1976) passou a definir esta pulsão como
"um impulso inerente à vida orgânica, que visa restaurar um estado anterior de coisas”
(p.54), e considera, ainda, que o "objetivo de toda a vida é a morte” (p.56). Ao utilizar a
metáfora de território invadido, Freud passa a descrever uma situação psíquica na qual o
aparelho psíquico se à mercê de forças pulsionais que colocam o sujeito numa situação
de repetição do desprazer (Freud, 1920/1976). O conceito de compulsão à repetição é
apresentado como uma força própria de um princípio que estaria além do princípio de
prazer ao ter como objetivo reproduzir incessantemente situações de desprazer.
A constatação da existência de forças pulsionais que visam à repetição de situações
desprazerosas coloca Freud frente àquilo que será nomeado como estando “além do
princípio do prazer”. A tendência à repetição faz parte de uma propriedade geral das
pulsões cuja conseqüência é transportar o organismo, na sua idêntica reprodução, a um
estado anterior. Assim, a origem mitológica das pulsões, a partir de 1920, ressalta
Kusnetzoff (1982), está no id, e o princípio de prazer perde sua posição hierárquica e os
problemas relativos à agressão ficam em primeiro plano. Dessa maneira, o organismo
vivente é sustentado por um conjunto pulsional, dividido entre um pólo, que induz a
crescer, somar e reproduzir, e outro, que leva a restabelecer um estado anterior.
As pulsões de morte aparecem, segundo Laplanche e Pontalis (1983), na
conceitualização freudiana, como um tipo completamente novo de pulsões, que não tinha
lugar nas classificações precedentes, sendo elas as “pulsões por excelência, na medida em
que nelas se realiza de forma eminente o caráter repetitivo da pulsão” (p.530). Laplanche
(1988) ainda lembra que a pulsão de morte está estreitamente ligada, em Freud, não à
compulsão à repetição, mas também à noção de princípio do zero ou de Nirvana, ou seja,
refere-se à ausência de excitação. Destaca, ainda, o autor, que a existência de uma pulsão
de morte no nível mais profundo do inconsciente nunca foi, para Freud, incompatível com
outras teses que ele sustentava, como a ausência de negação, de contradição e de idéia de
morte no inconsciente.
Futterman (1969), cuja base teórica em seus escritos consiste precisamente em tomar
como fundamento a noção freudiana de pulsão de morte, explica que os componentes da
pulsão agressiva mostram a mesma capacidade de fixação e regressão que os da pulsão de
vida, sendo claro, para ele, que ambas as pulsões se manifestam durante o período do
28
desenvolvimento por fixação nas zonas oral, anal e fálica, surgindo a fusão destas pulsões
na resolução do complexo de Édipo e na formação do superego. Na fusão ideal de ambas
as pulsões, os impulsos agressivos são liberados de sua qualidade destrutiva, possibilitando
a sublimação das manifestações hostis, de maneira que o indivíduo é capaz de fazer uma
contribuição produtiva e positiva no seu processo de vida.
Em seu texto Mal-Estar na Civilização, Freud (1930 [1929] 1974), ao abordar o
processo civilizatório, pontua a inata inclinação humana para a agressividade. Para ele, o
impulso agressivo é o derivado e o principal representante da pulsão de morte, e a
civilização necessita utilizar esforços, a fim de estabelecer limites para os instintos
agressivos do homem, mantendo assim suas manifestações sob controle por formações
psíquicas reativas. Neste mesmo texto, Freud ainda afirma que “no sadismo e no
masoquismo sempre vimos diante de nós manifestações do instinto destrutivo (dirigidas
para fora e para dentro) fortemente mescladas ao erotismo” (p. 142).
A teoria de Melanie Klein está embasada no conceito das relações objetais
internalizadas que constitui, na psicanálise, o primeiro desenvolvimento da teoria das
relações objetais após Freud (Kernberg, 1989; Hinshelwood, 1992). Em concordância com
sua teoria da dualidade das pulsões (1920) vida e morte -, a suposição teórica de Klein
propõe que tanto a pulsão de vida quanto a de morte, operam desde o nascimento, e, neste
sentido, salienta-se a importância da agressividade inata como uma manifestação da pulsão
de morte. Para Klein (1975a), os impulsos agressivos constituem um elemento radical e
básico na psicologia humana e, em certos aspectos, desempenham papel fundamental na
luta pela existência.
O conceito de agressão oral é abordado por Klein (1975b) como “sadismo oral”, o
qual pode ser considerado a forma mais antiga de agressão na medida em que implica o
desejo de destruição do objeto pelo bebê. Conforme a autora, o desvio da pulsão de morte
para o exterior influencia nas relações do bebê com os objetos e livre curso ao sadismo,
que “passa a atingir o seu apogeu durante e após o desmame, ativando e desenvolvendo ao
máximo as tendências sádicas que fluem de diversas fontes” (p. 179). Klein (1975b) aponta
que o desejo inicialmente de se apoderar do seio da mãe, sugando e esvaziando seu
conteúdo, que é primeiramente dirigido ao seio, passa rapidamente a se estender pelo
interior de seu corpo. Cabe ainda ressaltar que, ao tratar das fixações na fase oral, Klein
(1927) propõe uma diferenciação entre a fixação oral de sucção e a fixação oral de morder,
29
que está relacionada com tendências canibalísticas, fato que pode ser observado quando os
bebês mordem o peito da mãe.
O sadismo oral é considerado a primeira manifestação da pulsão de morte; isso
porque “os desejos canibalísticos são projetados para fora desde o nascimento sob a forma
de temores persecutórios vinculados aos primeiros objetos, e são vivenciados como o
temor de objetos devoradores, gerando fantasias de um seio mau, devorador, destrutivo”
(Kernberg, 1989, p. 31). Esse movimento é decorrente da angústia suscitada na criança por
seus impulsos destrutivos, os quais, segundo Klein (1975b), podem agir de duas maneiras.
Primeiramente, a criança torna-se temerosa de ser exterminada por seus próprios impulsos
destrutivos, e, em segundo lugar, esses temores passam a convergir sobre o objeto externo,
que passa a ser considerado uma fonte de perigo, contra o qual são dirigidos seus
sentimentos sádicos. Parece que a criança desloca para seu objeto toda a carga de medo
intolerável que lhe inspiram os perigos pulsionais, assim trocando os perigos internos pelos
externos. O ego imaturo, complementa Klein (1975b, p. 179), “procura proteger-se desses
perigos externos destruindo o objeto”.
Em termos gerais, em sua obra, Melanie Klein salientou a importância das relações
objetais internas muito antigas na determinação das vicissitudes dos instintos, dando
igualmente importância para a agressividade pré-genital, especialmente o sadismo oral.
Sendo assim, os objetos internos bons e maus podem ser considerados um reflexo direto
das vicissitudes da agressividade e da libido inatas (Kernberg, 1989). O papel da fantasia
inconsciente possui igualmente destaque no pensamento kleiniano, sendo considerada a
expressão mental dos instintos; é, constantemente, influenciada pela realidade e, também,
exerce influência sobre esta, alternando sua percepção ou interpretação (Segal, 1975). Este
inter-relacionamento entre fantasia inconsciente e realidade externa verdadeira torna-se
muito relevante quando se busca avaliar a importância comparativa do ambiente no
desenvolvimento da criança.
Ainda sobre a agressão oral, Abraham denomina como estágio oral ou canibalístico
o estágio que ocorre após o período de sucção, no segundo semestre do primeiro ano de
vida, caracterizado pelo surgimento dos dentes (Kusnetzoff, 1982). O processo de irrupção
dos dentes faz com que uma parte considerável do prazer, antes obtido no sugar, seja
substituído pelo prazer em morder. Como aponta Abraham (1965), no mesmo período do
desenvolvimento, a criança começa a ter relações ambivalentes com os objetos externos,
30
fazendo com que tanto o aspecto amistoso quanto o hostil desta atitude estejam
relacionados com o prazer.
Outro conceito desenvolvido importante da teoria kleiniana é o de inveja. Klein,
segundo Hinshelwood (1992), define inveja como sendo um ataque destrutivo às fontes da
vida, ao objeto bom, não ao mau, tendo origem inata, parte que é da dotação pulsional e
exige o mecanismo da cisão como defesa arcaica a operar no começo da vida. A inveja é a
tendência a estabelecer relações hostis com o objeto bom, não com o perseguidor mau e
temido e “aquele que satisfaz os impulsos libidinais, vem a ser atacado, como se por
engano, mas, na realidade, por ser bom” (Hinshelwood, 1992 p. 184). Os elementos da
inveja, o ataque a pessoas com vantagens e qualidades especiais, simplesmente por causa
de sua bondade, podem ser, gradualmente, modulados até chegarem ao ciúme e, por fim, a
um estado mais honesto de competição. Klein (1974) propõe uma distinção entre inveja e
ciúme. A inveja é o sentimento irado de que outra pessoa possui e desfruta de algo
desejável, sendo o impulso invejoso tirá-lo dela. Esse sentimento implica a relação do
indivíduo apenas com uma pessoa e remete à mais primitiva relação exclusiva com a
mãe. O ciúme, por outro lado, apesar de se basear na inveja, envolve uma relação com,
pelo menos, duas pessoas e diz respeito “principalmente ao amor que o indivíduo sente
como lhe sendo devido e que lhe foi tirado ou está em perigo de sê-lo, por seu rival” (p.
34).
A inveja é resultado da falta de alguma qualidade, algo que o sujeito gostaria de
possuir do outro, relacionando-se com a existência de uma comparação inferior em relação
às qualidades que considera vitais para auto-estima da pessoa em comparação ao outro
(Coulacoglou, Souyouldjoglou & Atsaros 2002). A partir de sua experiência clínica,
Kernberg (1994), considera que quanto maior a inveja, maior a percepção real da pessoa
invejada como sendo efetivamente alguém que possui qualidades altamente desejáveis ou
“boas”. Ou seja, o objeto de ódio é vivenciado como um objeto que, de algum modo,
possui a bondade e os valores que o indivíduo sente que lhe faltam e que deseja para si.
No ano de 1952, Melanie Klein, a partir de seu trabalho analítico, propõe que a
inveja (alternando-se com sentimentos de amor e gratidão) dirige-se, primeiramente, ao
sentido do seio que alimenta; e, posteriormente, a esta inveja primária acrescenta-se o
ciúme, surgindo, então, a situação edipiana triádica. Nessa etapa do desenvolvimento, a
criança odeia uma terceira pessoa porque a como alguém que a priva do amor
proporcionado pelo objeto desejado (Kernberg, 1989; Hinshelwood, 1992). Para Klein
31
(1975b), a situação típica do ciúme é naturalmente a da rivalidade no amor, representando
uma reação de ódio e agressividade a uma perda ou ameaça de perda. O ciúme vem
acompanhado de um sentimento de humilhação devido à afronta que acarreta à
autoconfiança e à sensação de segurança do indivíduo.
Melanie Klein (1927, 1975b) e seus seguidores, principalmente Bion (1966),
apontam para a relevância das relações objetais primárias como forma de estruturação, ou
não, da violência. Nas contribuições de Bion (1966) sobre esse tema, encontra-se a
proposição de que, desde o início da vida, há um vínculo emocional muito profundo entre a
mãe e seu bebê, e este necessita contar com um objeto externo no qual possa derramar suas
angústias. Nas situações em que a angústia é muito intensa, a criança deve poder
descarregá-la em sua mãe, e esta, tendo “capacidades emocionais poderá absorvê-las,
devolvendo-as de maneira menos angustiante e mais assimilável para seu filho”
(Bleichmar & Bleichmar, 1992, p. 253).
A partir dessa teoria postulada por Bion, entende La Porta (1984) que bebês com
baixo limiar de tolerância à frustração “explodem” seu ego frente a um estado de carência
e sofrimento, no qual não são devidamente atendidos em suas necessidades, uma vez que
as mães, ansiosas e carentes, mostram-se incapazes de exercer uma função de reverie. Sem
poder compreender o que se passa com o bebê, estas mães não conseguem desfazer a
violência do ataque mental, que na fantasia infantil destrói o seio. Dessa forma, a mãe que
não consegue desfazer a explosão psíquica de seu bebê frente a esta condição de não
atendimento de suas necessidades, devolve a violência, e o filho sente-se “bombardeado”
pelos estilhaços de sua própria violência, que volta acrescida pela violência da
incapacidade materna. Nessa inter-relação, o que acontece depende, como aponta Bion
(1966), da natureza da qualidade psíquica da e e do impacto desta sobre a qualidade
psíquica da criança.
Winnicott (1939), ao considerar a importância do meio ambiente, refere que a
agressão pode ser provocada pela inadequação de fatores ambientais e enfatiza a relação
entre a agressão e as características reais do ambiente e as experiências traumáticas
infantis. Para Winnicott (1939), a agressão apresenta dois significados: constitui direta ou
indiretamente uma reação à frustração podendo, também, ser compreendida como uma das
maiores fontes de energia de um indivíduo. O autor considera que a criança pequena tem
uma quota inata de agressividade, que se exprime em determinadas condutas destrutivas, e
o bebê acaba voltando esse ódio sobre si mesmo, para preservar o objeto externo
32
(Bleichmar & Bleichmar, 1992). Com isso, a partir da resposta da mãe, que proporciona ou
não os cuidados necessários nessa etapa, depende o alcance de uma adaptação adequada da
realidade. Em termos gerais, a agressão da criança não corresponde unicamente a uma
vocação destrutiva inata, pelo contrário, exprime uma esperança de ser amada e
compreendida.
Winnicott (1939), ao estudar as raízes da agressão, propõe que a tendência humana
agressiva pode ser considerada escondida, disfarçada, desviada ou atribuída a agentes
externos; portanto, sua manifestação é sempre dificilmente identificada em sua genuína
origem. Ser capaz de tolerar o que se pode encontrar na realidade interior de uma pessoa é
uma das grandes dificuldades presentes na vida do ser humano. Dessa forma, um grande
objetivo a ser alcançado pelos indivíduos consiste em construir condições psíquicas a fim
de estabelecer relações harmoniosas entre as realidades pessoais internas e as realidades
externas. Quando as forças cruéis ou destrutivas ameaçam dominar as forças do amor, o
indivíduo deve fazer alguma coisa no sentido de salvar-se e, uma das coisas que ele faz é
colocar para fora o seu íntimo, dramatizar exteriormente o mundo interior, representando
ele próprio o papel destrutivo, provocando seu controle por uma atividade externa
(Winnicott, 1939). Para o autor, “quando existe esperança, no que se refere às coisas
internas, a vida instintiva está ativa e o indivíduo pode usufruir do uso dos impulsos,
inclusive dos agressivos, converte-se em bem na vida real o que era dano na fantasia. Isso
constitui a base do brincar e do trabalho” (p.99).
Pode-se encontrar, na estrutura das relações humanas, o amor e o ódio como
principais elementos, e estes sentimentos envolvem agressividade. Winnicott (1939/1950)
acredita que todo o bem e o mal presentes no mundo das relações humanas são
encontrados no âmago do ser humano. As proposições do autor ainda vão mais longe ao
afirmar que, no bebê, já são encontrados o amor e o ódio antes mesmo da integração de sua
personalidade. O autor considera que existem certas características na natureza humana
que são encontradas em todas as crianças e nas pessoas em todas as idades. As formas de
manifestação destas características podem variar, mas existem denominadores comuns nos
problemas humanos. Em relação à agressividade neste contexto, a diferença existente nos
comportamentos agressivos entre as crianças esembasada nas distintas maneiras com
que estas lidam com o impulso agressivo. Nesse sentido, Winnicott (1939) aponta que as
aparências podem variar, “pode ser que uma criança tenda para a agressividade e outra
33
dificilmente revele qualquer sintoma de agressividade, desde o principio, embora ambas
tenham o mesmo problema” (p.103).
Ao estudar sobre a tendência anti-social, Winnicott (1956) pontua que, na base desta
conduta, uma boa experiência inicial que se perdeu, e afirma que existe uma relação
direta entre esta tendência e a privação. Seus estudos permitem afirmar que “uma criança
sofre privação quando passam a lhe faltar certas características essenciais da vida familiar”
(p. 138). A relação direta existente entre a conduta anti-social e a privação emocional é
conhecida de longa data pelos especialistas nesta área, como afirma Winnicott (1956), mas
deve-se a John Bowlby, psicanalista que estudou sobre o apego, a perda e a separação, o
fato de haver um reconhecimento generalizado sobre esta relação.
Bowlby (1984) chama a atenção para a freqüência com que a raiva surge após uma
perda, não apenas em crianças, mas também em adultos. A experiência clínica sugere,
segundo o autor, que as situações de separação e perda tendem a resultar em raiva dirigida
contra uma figura de apego, que, intensificada, torna-se disfuncional. Conforme Bowlby
(1984), as reações disfuncionais ainda tendem a ser eliciadas em crianças e adolescentes
que não apenas sofreram repetidas separações, mas que são expostos a constantes ameaças
de abandono” (p. 269). O padrão e o equilíbrio das reações dirigidas contra figura de apego
se entrelaçam e complicam devido a vários motivos, entre os quais se encontram a
tendência de reprimir raiva e a hostilidade dirigida contra uma pessoa amada; ou
redirecioná-las (deslocamento); ou de atribuir a raiva a outros e não a si mesmo (projeção).
Conforme aponta Youg-Bruehl (1992), ao tratar da agressividade humana, Anna
Freud, diferentemente de outros autores, como Melanie Klein, não concordou com o
pensamento que considerava ser a origem da psicopatologia o inevitável combate entre os
instintos humanos ou, então, a própria agressão humana. Segundo a autora, para Anna
Freud, a psicopatologia tinha sua origem nos aspectos libidinais. Em suas proposições,
Anna Freud considera que, a partir de vivências nas quais o desenvolvimento erótico ou
emocional é bloqueado por condições internas ou externas, tais como “ausência do objeto
amado, falta de correspondência emocional da parte dos adultos, ou ainda deficiência no
desenvolvimento emocional normal por motivos inatos”, os impulsos agressivos acabam
não sendo “fundidos e conseqüentemente refreados e parcialmente neutralizados”,
permanecendo livres, buscando expressão na vida sob forma de destrutividade pura (Youg-
Bruehl, 1992, p. 273).
34
Em situações de ameaça externa ou de angústias objetivas, o meio utilizado pelo ego,
conforme Anna Freud (1986), é imitar a ameaça, igualar-se ao que ameaça. Segundo a
autora, ao introjetar uma certa característica de um objeto causador de ansiedade, seria
possível ao ego assimilar a experiência de ansiedade que acabou de ser sofrida. Ao
personificar o agressor, a criança passa de pessoa ameaçada à pessoa que ameaça. A
“identificação com o agressor”, que resulta da combinação particular entre introjeção e
projeção, permite que a crítica se volte agressivamente contra os outros, e não sentida
como autocrítica menor (Freud, 1986; Youg-Bruehl, 1992). Assim, uma criança castigada
interioriza o castigo e fica com raiva de alguém ou castiga alguém. Outra forma do ser
humano reagir, ao se deparar com situações de perigo ou ameaça iminente, pode ser
através de uma emoção primária, denominada medo. Na psicanálise, o medo tem sido
ofuscado pela ansiedade, que, muitas vezes, também pode ser traduzida como medo
irracional (Coulacoglou, 2008).
Na base de um comportamento agressivo, o indivíduo geralmente é estimulado por
uma ou outra de duas grandes motivações fundamentais ligadas às pulsões, conforme o
olhar psicodinâmico de Collette (1971). A primeira motivação seria a fuga do desprazer
resultante da insatisfação das necessidades, do enfrentamento com os obstáculos que se
apresentam em seu caminho, dos sofrimentos e das dificuldades que dele podem surgir. A
segunda motivação seria a busca do prazer. Ao tratar o prazer como resultado da satisfação
de uma necessidade qualquer, o indivíduo seria, então, impelido, frente a uma necessidade,
a procurar saciá-la. Para isso, deverá conquistar, apropriando-se daquilo que lhe interessa,
eventualmente arrancá-lo dos outros, ou com eles disputá-lo e vencer para assim satisfazer
a sua vontade.
A necessidade de dominação se faz presente na conduta da criança e, é a partir deste
desejo que a criança aprende a controlar seu ambiente e conquistar sua confiança
(Coulacoglou, Souyouldjoglou & Atsaros, 2002). Em se tratando da conduta agressiva,
porém, a dominação está associada à utilização de forças e energias para tratar de tomar
conta de outra pessoa ou de um objeto, fazendo alguém prisioneiro no sentido físico ou
moral da ação, submetendo alguém a tal ponto de fazê-lo perder a liberdade. Outra maneira
consiste em tratar de impor-se aos outros, ocupando o respeito numa situação de
superioridade que coloca o outro num estado de subordinação (Collette, 1971).
Em contraste com a teoria de Freud, que privilegiava, principalmente, os aspectos
inconscientes do psiquismo, o psicanalista Erich Fromm (1973), ao estudar a influência da
35
sociedade e da cultura no indivíduo, considera que a personalidade de uma pessoa é
resultado de fatores culturais e biológicos. Conforme o autor, os seres humanos, ao se
deparar com situações em que as necessidades vitais estão ameaçadas, necessitam agir de
forma agressiva para se defender, o que pode ser uma reação a este desconforto como
forma de remoção do perigo. A finalidade da agressão como defesa, conforme Fromm
(1973), não é o prazer de destruição, mas sim a preservação da vida. As raízes da agressão
defensiva encontram-se, portanto, filogeneticamente estruturadas e se manifestam na
medida em que sua vida, saúde, liberdade ou propriedade estejam ameaçadas.
Essa idéia de agressividade encontra semelhança nas proposições de Coulacoglou
(2008), quando a autora afirma que a presença da agressividade defensiva é a base da
maior parte dos impulsos agressivos do homem. Fromm (1973), ao tratar do
comportamento agressivo, apresenta uma relação dessa conduta com a “destrutividade
vingativa” (p.366), a qual é caracterizada como sendo uma reação espontânea a um
sofrimento intenso e não justificado, infligido a uma pessoa com quem o sujeito se
identifica. Cabe ressaltar a diferenciação feita pelo autor a respeito dessa forma de
agressividade ao considerar uma questão temporal: a agressividade vingativa ocorre logo
depois que o dano tenha sido feito e é considerada uma ação mais intensa, freqüentemente
cruel e insaciável. Hartup (1974) refere que, em um contexto no qual ocorram frustrações
ou ameaças que evidenciem depreciações à auto-estima, freqüentemente, reações de ataque
hostil podem ser uma forma encontrada de expressão contra quem seja agente destas
emoções sentidas como perigosas.
Para Fromm (1973), a agressão instrumental assim como a agressão defensiva, não
têm como objetivo a destruição propriamente, a qual serve apenas como um meio para
atingir a finalidade esperada. Considerada um tipo de agressão adaptativa, a agressão
instrumental, segundo o autor, tem como finalidade obter o que é “necessário ou desejável”
(p. 280) para a autopreservação ou para a preservação de um padrão de vida habitual,
tradicional. Cabe ressaltar uma distinção entre as palavras: “necessário e “desejável”,
utilizadas pelo autor, uma vez que ambas são conceitos que podem ser relacionados a
motivações diversas nos tipos de agressão. Necessário está relacionado a uma “necessidade
fisiológica inquestionável” (Fromm, p. 281); por outro lado, desejável pode ser definido
como aquilo que é necessário, mas, freqüentemente, também é definido como “aquilo que
é desejado” (p. 281). Entretanto, as pessoas não apenas desejam aquilo que é necessário a
fim de sobreviverem; a maioria das pessoas quer mais, é voraz. E é neste contexto que
36
pode emergir a agressão, pois a voracidade é uma das causas mais usuais da agressão e
talvez seja um motivo tão forte para a agressão instrumental quanto o desejo para o que é
objetivamente necessário.
A agressividade nas Fases do Desenvolvimento
diferentes maneiras de a agressão se manifestar durante o processo de
desenvolvimento infantil, conforme as exigências de cada etapa, exercendo fundamental
importância na estruturação psíquica da criança. Do ponto de vista freudiano, a
agressividade na fase oral está associada ao surgimento, na segunda metade do primeiro
ano, de uma nova forma de satisfação sensual oral, o mastigar e o morder (Tyson, 1993). A
dor e o desconforto associados à erupção dos primeiros dentes são aliviados pela atividade
de morder da criança. À medida que a criança começa a explorar o mundo à sua volta mais
ativamente, ela usa a boca como o principal órgão de exploração. Nesse sentido, os
comportamentos agressivos podem surgir nas formas mais diferenciadas, a partir dos quais
se pode inferir uma progressiva diferenciação de impulsos libidinais e agressivos.
na fase anal, na qual influências maturacionais levam a um aumento proeminente
no erotismo anal à medida que o segundo ano de vida progride, a criança pequena pode ser
facilmente observada gostando dos prazeres associados ao funcionamento anal e uretral,
como as atividades de retenção e expulsão. A criança passa a ter uma melhor percepção de
seu corpo e uma maior habilidade em controlar os seus movimentos. Ainda, quando falham
os esforços para o controle, a raiva dirigida ao objeto seguidamente acompanha a
frustração. Conforme Tyson (1993), conter a agressão hostil junto a sentimentos amorosos
positivos pela mãe torna-se um tema crucial do desenvolvimento da fase anal.
Kusnetzoff (1982) apresenta uma distinção entre duas fases do estágio anal e propõe
a existência do erotismo e da agressividade nesta etapa. Primeiramente, há uma tendência a
destruir o objetivo exterior (expulsão) e, posteriormente, surge o desejo de conservá-lo
com a finalidade de controlá-lo (retenção). Ambas as tendências são consideradas, segundo
o autor, como fontes de prazer. Dessa forma, para Kusnetzoff (1982), a criança nesta etapa
constrói a noção de poder, “sobre o seu próprio corpo e poder afetivo sobre os objetos do
mundo exterior, na medida em que os frustra ou gratifica mediante o controle
esfincteriano” (p.45). O relacionamento de objeto nesta etapa que direciona as condutas de
provocações ativas e agressivas, as quais fazem com que os objetos exteriores, que são
37
provocados e agredidos, terminem agredindo o sujeito, faz-se presente na dinâmica
encontrada no sadismo e masoquismo.
Na fase fálica, a erotização, a concentração da libido, está localizada na região
genital. Utilizando a tragédia clássica do “Édipo Rei”, Freud (1905/1989) nomeou o
conjunto de defesas inconscientes que a criança desenvolve pela figura parental do sexo
oposto (Bassols, Dieder & Valentini, 2001): Complexo de Édipo, período no qual a criança
tem impulsos sexuais com relação ao genitor do sexo oposto e deseja eliminar aquele do
mesmo sexo, esperando, assim, punição por tais desejos. Entre os 3 e 5 anos de idade, a
criança encontra-se em uma relação triangular com os pais, percebendo, pela primeira vez,
que eles têm uma relação a dois, da qual ela não faz parte. Essa constatação gera
sentimentos de revolta, ciúme, agressividade e abandono por parte da criança.
O período de latência inicia com o declínio do complexo de Édipo e se caracteriza
por um desvio da libido do uso sexual que é então voltada para outros fins. Ocorre uma
intensificação do recalcamento, que, como efeito, gera uma amnésia que cobre os
primeiros anos de vida, proporcionando uma transformação dos investimentos de objetos
em identificações com os pais e o desenvolvimento das sublimações (Laplanche &
Pontalis, 1996).
Considerado um produto do desenvolvimento, o período da latência, segundo
Kusnetzoff (1982), estende-se desde os “cinco ou seis anos de idade até as fases puberais
do desenvolvimento” (p. 105). Freud (1905) caracteriza essa fase como sendo resultante de
uma combinação de processos biológicos, influências culturais e educacionais e uma
reorganização das estruturas defensivas do ego parcialmente influenciadas pelo
desenvolvimento do superego. É nessa etapa que ocorre a mudança da organização fálica
dos impulsos para a organização sádico-anal dos impulsos e para estruturas da fantasias.
Decorrente das organizações especiais do ego, as energias sádico-anais são canalizadas;
dessa forma, padrões de descarga de impulsos apresentam-se controlados, o que facilita o
aprendizado escolar (Sarnoff, 1995).
Neste período, as exigências instintivas não se modificam, mas o ego torna-se, aos
poucos, mais apto a lidar com elas (Ferreira & Araújo, 2001). A capacidade para sublimar
pulsões instrumentaliza a criança para superar situações difíceis de caráter sexual e/ou
agressivo, durante seu desenvolvimento posterior, relativo à inserção social, via escola, por
exemplo, quando obtém satisfações libidinais por meio de atividades sublimatórias
(Sarnoff, 1995). Nessa fase, é da simbolização que o latente se utiliza para expressar
38
impulsos sexuais e agressivos, instrumentando-se para conseguir organizar melhor o
brinquedo. Dessa forma, o processo de amadurecimento que ocorre neste período prepara
o latente para lidar com pressões ligadas a um autocontrole dos impulsos sexuais e
agressivos que precisam ser sublimados e reprimidos.
As modificações da agressão são resultados da interposição de um grupo de
mecanismos de defesas caracterizados como “mecanismos de repressão” (Sarnoff, 1995,
p.236). Entre essas defesas, encontra-se a sublimação, as atividades compulsivo-
obsessivas, o fazer e o anular, a formação de símbolos e de fantasia, as formações reativas
e as repressões. As fantasias, formações reativas e padrões de comportamento,
cuidadosamente monitorados e socialmente aceitos, tornam-se as válvulas principais de
escape para a agressão.
Assim, no processo evolutivo infantil, para dominar as tendências edípicas, a
agressividade se torna incompatível com outras necessidades, e o superego precisa mediar
as tendências conflitivas, para proteger o indivíduo da livre expressão de sua própria
agressão. Em algum momento do desenvolvimento, a criança se conta de que as idéias,
fantasias e desejos, ou seja, as expressões da pulsão agressiva são perigosas e/ou
incompatíveis com outras metas. Segundo Futterman (1969), tal compreensão permite o
surgimento da ansiedade e dos sentimentos de culpa para ajudar a dispensar da consciência
os desejos intoleráveis, desenvolvendo-se também os mecanismos de defesa que o
indivíduo usa para apartar e/ou transformar o que o ego aprendeu a reconhecer como
desejos instintivos perigosos.
Na criança, as expressões podem ocorrer através do brinquedo, das atividades
simbólicas, dos exercícios físicos violentos, por exemplo. Já o adulto experimenta maior
dificuldade de encontrar vias de liquidação, todas elas são, em geral, indiretas: esporte,
trabalho, ironia, vinganças verbais, reclamações, entre outras (Collette, 1971).
Werlang, Sá e Macedo (2006) destacam que, ao invés de ser usada somente para fins
negativos de destruição e violência, a agressividade pode ser canalizada por meio do
trabalho, da ambição, assim como ser igualmente desviada nos comportamentos projetivos,
(inimigos, ritos, mitos e crenças) ou ainda pode ser reprimida por meio de condutas de luta,
espírito de competição ou dominação. Entretanto, esse conceito também está vinculado a
condutas violentas e que assombram nossa sociedade atual. Cabe destacar também que,
embora possa ser vista tanto como um aspecto saudável do desenvolvimento como um
39
comportamento não adaptável em alguns indivíduos, a agressão, quando não expressa,
também pode causar desajuste (Coulacoglou, Souyouldjoglou & Atsaros, 2002).
Em termos gerais, percebe-se que situações de frustrações e ameaças eliciam uma
resposta, freqüentemente agressiva. Entretanto a forma de reação de cada indivíduo pode
variar muito de pessoa para pessoa, ou de uma cultura para outra. As respostas a estas
situações, então, podem ser manifestadas através de um ataque direto contra a fonte
frustradora ou ameaçadora, ou por reações autopunitivas (masoquismo, auto-agressão,
suicídio), ou ainda, através de respostas que não apresentam qualquer reação agressiva
visível do sujeito, mas um comportamento de substituição.
Nesse contexto, no qual a agressividade é considerada um motor para o
desenvolvimento humano, presente em todos os indivíduos, mas que, ao mesmo tempo,
vem sendo cada vez mais utilizada para fins destrutivos, torna-se relevante a compreensão
deste fenômeno presente no comportamento humano desde os primórdios da humanidade
para que se possam reduzir os níveis sociais de manifestações agressivas associadas à
violência. Estudar suas origens e manifestações desde a infância permite que se obtenha
um olhar mais apurado diante da complexidade de tal característica humana.
Considerações Finais
A agressão é um fenômeno que faz parte do cotidiano das pessoas, sendo suas
manifestações muitas vezes visíveis e outras vezes não; está associada a aspectos
intrínsecos da constituição da personalidade. Tais manifestações podem ser observadas no
desenvolvimento saudável de um indivíduo, quando associadas a atividades produtivas que
visam ao desenvolvimento; entretanto, esse mesmo potencial pode ter como finalidade um
comportamento mal-adaptativo; daí a relação feita com a violência e a capacidade
destrutiva das pessoas, às quais a agressão esta comumente associada. Nesse sentido, pela
inegável relevância e importância desse fenômeno psíquico, pensadores da psicanálise
procuraram compreender a origem e o dinamismo da agressão.
É possível perceber que a conceitualização feita sobre a agressão, com o passar do
tempo, recebeu diferentes definições. Alguns autores psicanalíticos enfatizam aspectos
pulsionais como origem da agressão, outros inserem questões ambientais como influentes
sobre os destinos deste componente psíquico; entretanto, de forma geral, é evidente que a
agressão sempre foi um conceito amplamente discutido e estudado, pois é considerada a
40
base da constituição psíquica dos indivíduos, presente desde as fases mais precoces do
desenvolvimento.
Desde as etapas iniciais, o componente agressivo do ser humano encontra-se em ação
e sofre, no decorrer das etapas evolutivas, um contínuo aprimoramento nas formas de
expressão. Na latência, por todas suas características peculiares, o impulso agressivo tende
a sofrer influência dos mecanismos defensivos mais elaborados que entram em ação; por
isso, a agressão é sublimada, desviada para outros fins, como aprendizagem, brincadeiras.
A importância deste período no que se refere a este componente psíquico encontra-se na
influência que, ao utilizar defesas mais adaptativas que conduzem a um funcionamento
esperado na maturidade, a agressão possa ser canalizada de forma saudável para fins
construtivos nas etapas posteriores do desenvolvimento, no caso, adolescência.
41
SEÇÃO II
Agressividade no Período da Latência através do Teste Contos de Fadas
A agressividade é encontrada em todos os homens e está presente desde as fases mais
precoces da vida da criança. Este tipo de manifestação comportamental pode estar
relacionado a aspectos constitucionais e psíquicos do sujeito e, também a aspectos do
ambiente, podendo se desenvolver de forma normal ou patológica. No mundo atual, o ser
humano é vítima e testemunha da agressividade da própria espécie, que vem sendo
empregada através de atos agressivos visando à destrutividade, tanto do outro como de si
mesmo.
Em termos gerais, a agressividade pode ser definida como um comportamento que
visa causar danos a uma pessoa ou propriedade, muitas vezes sendo eliciada como reação a
uma ameaça real ou aparente de diminuição da força do indivíduo (Vitiello & Stoff, 1997;
Dorsch, Häcker & Stapt, 2001). Entretanto, não é somente através dos atos agressivos que
a agressividade pode ser observada. Considerada uma força de vida, é também encontrada
na base de comportamentos ambiciosos, corajosos e empreendedores, que estimulam o
potencial humano, visando seu desenvolvimento (Werlang, Sá & Macedo, 2006). Nesse
sentido, torna-se necessária a intervenção sobre aquilo que, em certa proporção, poderia ser
uma manifestação saudável e socialmente aceitável da agressão, mas que se torna uma
manifestação destrutiva e danosa ao adquirir o caráter de violência (Souza, 2001).
O papel e a importância da agressividade no comportamento humano foram
acentuados pela Psicanálise, que, através de seus pensadores, conceitua este fenômeno
psíquico, suas origens e sua relação com o desenvolvimento emocional. Considerada um
fenômeno com fonte instintiva e pulsional, apresenta também aspectos biopsicossociais
relacionados. Em sua obra, Freud (1905/1989), inicialmente, considerou a agressividade
como um dos componentes da pulsão sexual. Entretanto, a partir da observação dos
fenômenos de repetição, como a compulsão à repetição, que faz com que o indivíduo se
coloque repetidamente em situações desagradáveis, Freud (1920/1976) reconheceu a
existência de uma pulsão de morte que atuaria além do princípio do prazer. Mais adiante,
em seu texto Mal-Estar na Civilização (1930[1929]1974), Freud postula a inata inclinação
humana para a agressividade, destrutividade e crueldade não erótica. Frente a esse aspecto,
segundo ele a civilização deve usar esforços supremos a fim de estabelecer limites para as
42
pulsões agressivas do homem e manter suas manifestações sob controle através de reações
psíquicas reativas.
Autores pós-freudianos, como Melanie Klein, igualmente trabalham o conceito de
agressividade partindo da definição de pulsão de morte descrita por Freud, ao considerar a
agressão, ou sua inibição, um fator decisivo do desenvolvimento e tendo a encarado como
manifestação desta pulsão (Hinshelwood, 1992). Winnicott (1939), ao compartilhar suas
idéias com Klein, entende que a agressão possui dois significados: constitui, direta ou
indiretamente, uma reação à frustração, mas, também, é uma das maiores fontes de energia
de um indivíduo. A partir da importância, apontada por Winnicott (1939), das
características reais do ambiente e das experiências traumáticas infantis, a agressão pode
ser considerada, igualmente, resultado da inadequação de fatores ambientais (Bleichmar &
Bleichmar, 1992).
Sabe-se que a agressividade está presente desde os momentos iniciais da vida da
criança, sendo considerada um aspecto estruturante de seu psiquismo. A forma de lidar
com o impulso agressivo evolui com o desenvolvimento psíquico, atingindo graus cada vez
mais elaborados de expressão. Neste contexto, a latência, que se estende desde os “cinco
ou seis anos de idade até as fases puberais do desenvolvimento” (Kusnetzoff, 1982, p.
105), é considerada o período intermediário entre a sexualidade infantil (fase fálica) e a
adulta (fase genital), conforme Rappaport, Fiori e Davis (1981). A latência pode ser
compreendida como um período em que um esforço realizado no sentido de
organização, diferenciação, sofisticação e ampliação do aparato psíquico. Como
conseqüência destes esforços, ocorre uma reordenação dinâmica e estrutural das pulsões
nesta etapa do desenvolvimento psicossexual (Urribarri, 1999).
A capacidade para sublimar os impulsos instrumentaliza a criança para superar
situações difíceis de caráter sexual e/ou agressivo durante seu desenvolvimento posterior,
relativo à inserção social, via escola; por exemplo, quando obtém satisfações libidinais por
meio de atividades sublimatórias (Sarnoff, 1995). Conforme López e Nunes (2003), é do
recurso sublimatório que a criança latente se utiliza para expressar impulsos sexuais e
agressivos, instrumentalizando-se para conseguir organizar melhor o brinquedo, ao mesmo
tempo em que acaba se liberando das tensões que poderiam interferir em sua capacitação
para a calma.
Entretanto, as vivências que necessitam ser processadas pelo psiquismo do latente
não são somente internas, a criança também é exigida por uma série de fatores externos
43
(sociedade, escola, família) que estão diretamente relacionadas ao contexto cultural no qual
está inserida. Nesse aspecto, Ferreira e Araújo (2001) salientam a relevância do timing
(espera do tempo oportuno para a atualização de um comportamento ou etapa do
desenvolvimento), ao considerar que a postura do ambiente não deve acelerar, pressionar,
forçar ou invadir o desenvolvimento da criança; isso porque é nesse período que ocorre o
desenvolvimento de valores afetivos, morais e sociais que levam à civilização
(humanização). Entretanto, quando se pensa nas crianças latentes nos dias de hoje, em que
a agressividade está tão visível, estando elas expostas às formas mais variadas de atos
agressivos, destrutividade, pode-se questionar: Como esta realidade violenta é percebida
pelo latente? Como a agressividade, neste contexto, é expressa pela criança desta faixa
etária?
No decorrer das etapas do desenvolvimento infantil, compreende-se que a criança
atravessa períodos de grande intensidade emocional, passa por etapas que lhe despertam
diferentes sentimentos como medo, angústia e ansiedade. Para Bettelheim (2001), a criança
necessita que lhe sejam dadas sugestões em forma simbólica sobre o modo como ela pode
lidar com estas questões de seu desenvolvimento. Através do referencial psicanalítico, o
autor buscou sistematizar a importância dos contos na vida psíquica das crianças,
salientando os contos de fadas, pois elas podem encontrar suas próprias soluções através da
contemplação das histórias. Os conflitos passam a ser vistos de fora, fazendo com que os
problemas passem a ser mais fáceis de serem enfrentados (Corso & Corso, 2006).
Embora várias manifestações da agressividade possam ser observadas diretamente
através de comportamentos, os motivos que justificam os atos agressivos não são sempre
óbvios. O Teste Contos de Fadas (TCF) é uma medida projetiva desenvolvida por Carina
Coulacoglou, psicanalista grega, que possibilita a compreensão dos motivos que impelem a
criança a responder agressivamente. O presente estudo (inserido num projeto maior
“Adaptação Brasileira do Teste dos Contos de Fadas”) busca identificar tipos de
manifestações agressivas em crianças, no período evolutivo da latência, a partir das
respostas emitidas ao Teste dos Contos de Fadas. O TCF, organizado para explorar
sentimentos e atitudes infantis (Werlang & Macedo, 2008), apresenta subsídios para
conhecimento do desenvolvimento da personalidade infantil, relacionamento interpessoal,
ou funcionamento familiar (Coulacoglou, Souyouldjoglou & Atsarou, 2008).
A agressão, como exposto anteriormente, é um fenômeno presente em todas as faixas
etárias e que, se bem administrada pode ser utilizada como potencial humano. Entretanto, é
44
preocupante o mau gerenciamento da agressividade, estando ela associada à violência, que,
lamentavelmente, vem tomando conta de índices assustadores na sociedade atual.
Identificando e analisando manifestações e tipos de conteúdos agressivos na fase da
latência, será possível conhecer e definir formas de intervenções adequadas na clínica
psicológica infantil, com o objetivo de ações de prevenção.
Método
Amostra
A amostra, localizada por conveniência, foi composta por 72 crianças dos sexos
feminino e masculino, com idades entre 6 e 11 anos, matriculadas em escolas públicas e
privadas da cidade de Porto Alegre. A partir do critério de classificação tipo de escola, o
total (72) de sujeitos compreendeu dois subconjuntos de 36 cada um, conforme escola
pública e privada. Cada um desses subconjuntos foi constituído novamente, por dois
outros, de 18 crianças cada um, de acordo com o critério de classificação: sexo masculino e
feminino. Por sua vez, cada um deles foi constituído novamente por mais dois outros
subconjuntos de 9 sujeitos cada um, de acordo com o critério de classificação idade,
compreendendo menor idade (6 a 8 anos) e maior idade (9 a 11 anos). Para inclusão dos
sujeitos na amostra, os critérios foram: concordância dos pais para o filho (a) participar do
estudo e ausência de comprometimento intelectual.
Instrumentos
Para caracterizar os participantes do estudo foi, utilizada uma Ficha de Dados
Pessoais e Sociodemográficos. Este instrumento possibilitou registrar informações sobre:
sexo, idade, escolaridade, composição do núcleo familiar, entre outros (ver Anexo D).
Para excluir casos com suspeita de comprometimento intelectual (percentil menor
que 50), foi administrado, de forma individual, o Teste Matrizes Progressivas Coloridas de
Raven - Escala Especial (Angelini et al, 1999). A administração foi realizada seguindo as
instruções usuais que constam no manual, prevendo-se uma duração média de 20 a 30
minutos. O Teste de Matrizes Progressivas, desenvolvido originariamente pelo psicólogo J.
C. Raven, foi criado como medida do fator "g", com base no referencial de Spearman.
Como uma tarefa a ser cumprida, pode ser descrito como um teste de completamento e, em
termos do tipo de item, é um teste de escolha entre soluções alternativas. O caderno
45
administrado é dividido em séries de matrizes ou desenhos que apresentam um problema
introdutório, cuja solução é clara, fornecendo um padrão para a tarefa, que se torna
progressivamente mais difícil. As respostas são classificadas como positivas ou negativas,
e cada resposta certa recebe um ponto; o total de pontos é o escore obtido pelo sujeito. Este
escore é transformado em percentil através do uso de uma tabela específica em associação
com a idade do sujeito; assim, poderá ser estimado o nível intelectual de cada participante
da amostra.
O Teste dos Contos de Fadas (TCF) é instrumento projetivo temático, organizado por
Coulacoglou (1995/2000, 2008), na Grécia, sob critérios científicos rigorosos. Este
instrumento foi desenvolvido a partir de uma tese de doutorado realizada na Universidade
de Exeter (EUA), entre os anos de 1989 e 1993. O TCF destina-se, principalmente, a
crianças com idades entre 6 e 12 anos. A construção do instrumento foi embasada na
associação entre os contos de fadas, os processos inconscientes e o desenvolvimento
infantil (Coulacoglou, 2008). Os estudos de fidedignidade e validade, desenvolvidos pela
autora do instrumento, são plenamente satisfatórios.
Carina Coulacoglou é uma psicanalista infantil que, de forma pioneira, utilizou os
contos de fadas na área de avaliação psicológica, mais especificamente na avaliação da
dinâmica da personalidade, através da organização de uma técnica projetiva temática
(Werlang & Macedo, 2008). O TCF é adequado para ser utilizado como técnica de
avaliação clínica, possibilitando identificar diversas dimensões da personalidade infantil.
Pode ser considerado como um instrumento temático porque contempla diversos temas,
como sentimentos de privação, rejeição, preocupação sexual, que são avaliados através das
respostas das crianças, mas também como um teste associativo em que a criança associa
uma característica a uma história particular (Coulacoglou, 2008).
O TCF é composto por 21 cartões com imagens de cenas e personagens vinculados a
contos de fadas, agrupados em sete séries com três cartões cada uma (ver Quadro 1). Os
cartões apresentam desenhos de personagens oriundos de vários contos de fadas e cenas de
duas histórias infantis. Os personagens (chapeuzinho vermelho, lobo, anão, bruxa,
gigante), que constam nos cartões, são popularmente conhecidos e vêm desenhados em três
versões; duas delas retratam os traços mais típicos e conhecidos desses personagens, que
são historicamente divulgados nos livros e/ou filmes infantis, enquanto a terceira versão é
mais rara e pretende estimular o surgimento de respostas originais positivas ou negativas.
Os cartões com cenas são das histórias de Chapeuzinho Vermelho e da Branca de Neve e
46
os sete anões. Estas histórias, reconhecidamente, refletem, temas como afeto, inveja,
agressão e violência, oralidade, sexualidade, narcisismo, relacionamento mãe e filho,
sentimentos edipianos, rejeição, morte, a ressurreição e o renascimento.
Quadro 1. Composição da série de cartões do Teste Contos de Fadas na
ordem de apresentação quando da administração do instrumento.
Serie de Personagens Numero de Cartões
Chapeuzinho Vermelho 3 cartões (I, II, III)
Lobos 3 cartões (I, II, III)
Anões 3 cartões (I, II, III)
Bruxas 3 cartões (I, II, III)
Gigantes 3 cartões (I, II, III)
Série de cenas Numero de Cartões
Chapeuzinho Vermelho 3 cartões (I, II, III)
Branca de Neve e os sete anões 3 cartões (I, II, III)
Fonte: Coulacoglou, 1995/2000, 2002a, 2002b.
Diferentemente de outras técnicas temáticas, a proposta não é a de contar histórias,
mas sim que sejam respondidas algumas perguntas, uma vez que o conto existe, os
personagens são conhecidos e fazem parte de alguma maneira da realidade diária das
crianças. Sem dúvida, como afirmam Coulacoglou e Souyouldjoglou (2005), os contos de
fadas fazem parte do imaginário das crianças, enfocando temas que contêm verdades
universais e refletem valores tradicionais como: amor, amizade, inveja, ajuda, violência,
morte, ressurreição. Assim sendo, o TCF estimula os processos inconscientes estimulando
a expressão e explorando sentimentos e atitudes da criança.
O TCF deve ser administrado individualmente, em um único encontro de,
aproximadamente, 45 minutos. Antes da administração, o examinador deve verificar a
familiaridade da criança com os contos de fadas que estão presentes no teste. Portanto, é
essencial que a criança conheça os contos, principalmente a história de Chapeuzinho
Vermelho, Branca de Neve e os Sete Anões e alguma história de gigantes, como, por
exemplo, João de Feijão ou O Pequeno Polegar. Se a criança não estiver familiarizada
com os contos acima mencionados, aconselha-se remarcar a administração do teste para
dali a uma semana, ou mais. Pode-se usar aquele espaço para ler as histórias com a criança
ou indicar a sua leitura.
47
As instruções falam de um jogo a ser jogado em colaboração com o avaliador: "Nós
vamos jogar um jogo com um dos heróis de um conto de fadas. Eu vou te fazer algumas
perguntas e gostaria de ouvir tua opinião". Os cartões são apresentados na ordem padrão,
um conjunto de cada vez, com o restante dos cartões mantidos fora do alcance da criança.
Mediante a apresentação de cada conjunto, o personagem específico de cada cartão
apresentado deve ser enfatizado: "Aqui nós temos Chapeuzinho Vermelho. O que cada
uma delas pensa/sente?" ou "Estes são três anões. O que cada um deles pensa/sente?".
Durante a aplicação do teste, um conjunto de perguntas é realizado (ver Quadro 2),
devendo-se também anotar todos os comentários da criança, referências pessoais,
mudanças na ordem dos cartões ou qualquer comportamento que possa ser útil a uma
análise posterior. As respostas devem ser registradas pelo examinador no formulário
adequado (Coulacoglou, 1995/2000, 2002a, 2002b).
Quadro 2. Perguntas realizadas nas sete séries de cartões do Teste Contos de
Fadas quando da administração do instrumento.
Serie de Personagens Perguntas
Chapeuzinho Vermelho
- O que cada uma pensa e sente?
- Qual das três é Chapeuzinho
Vermelho do conto? Por quê?
- Qual das três você comeria se fosse o
lobo? Por quê?
Lobos
- O que cada um pensa e sente?
- Qual dos três lobos é o do conto
Chapeuzinho Vermelho? Por quê?
- Qual dos três te dá mais medo? Por
quê?
Anões
- O que cada um pensa e sente?
- Qual dos três anões é o do conto da
Branca de Neve? Por quê?
- Qual dos três anões você gostaria que
se casasse com a Branca de Neve? Por
quê?
Bruxas
- O que cada uma pensa e sente?
- Qual das três bruxas é a dos contos?
Por quê?
- Qual das três te dá mais medo? Por
quê?
- Qual é a Bruxa mais malvada? Por
quê?
- O que pode fazer uma bruxa
48
malvada?
- Qual é o nome das bruxas?
Gigantes
- O que cada um pensa e sente?
- Qual dos três é o gigante dos contos?
Por quê?
- Qual dos três te dá mais medo? Por
quê?
- Qual é o gigante mais malvado? Por
quê?
- O que pode fazer um gigante
malvado?
Qual é o nome dos gigantes?
Série de cenas
Perguntas
Chapeuzinho Vermelho
- Descreva cada desenho
- Com qual desenho termina o conto?
Por quê?
- Com qual desenho você gostaria que
o conto terminasse? Por quê?
Branca de Neve e os sete anões
- Descreva cada desenho
- Com qual desenho termina o conto?
Por quê?
- Com qual desenho você gostaria que
o conto terminasse? Por quê?
Fonte: Coulacoglou, 1995/2000, 2002a, 2002b.
As respostas dadas para cada cartão devem ser analisadas, levando em conta o seu
conteúdo temático em conexão com a temática que cada personagem e cena refletem. As
crianças projetam, nas suas respostas, pensamentos, sentimentos ou conflitos. Cada série
de cartões busca eliciar temas específicos, conforme o quadro abaixo.
Quadro 3. Temas e Conflitos eliciados na Série de Cartões do Teste Contos de
Fadas.
Série de Cartões Temas e Conflitos
Chapeuzinho Vermelho
Conflito entre a autonomia e a
obediência à autoridade, auto-
imagem, sentimentos sexuais,
ansiedade de separação, formas de
lidar com o perigo.
Lobo
Conflito entre controlar ou liberar
seus próprios desejos, conflito entre a
agressão e o superego, necessidades
orais, dominância.
Medo de possíveis
perigos/insegurança. Necessidades
49
Anão afetivas, formas de lidar com o
perigo, auto-imagem.
Bruxa
Relacionamento mãe-filho,
sentimentos narcisistas, rivalidade
entre irmãos, sentimentos edipianos,
superego, agressão (mais
frequentemente agressão como
inveja/ciúme), dominância/ambições,
auto-imagem.
Gigante
Agressão (mais freqüentemente
Dominância, Tipo A), necessidades
orais, auto-imagem, sentimentos
sexuais, relacionamento pai-filho.
Cenas do Conto Chapeuzinho
Vermelho
Imagem materna, severidade do
superego, conflito entre prazer e
restrições morais, ansiedade da
separação, depressão.
Cenas da Branca de Neve
Relacionamento homem-mulher,
Relacionamento pai-criança,
ansiedade de separação, conflito entre
a autonomia e a obediência ao pai,
conflito entre envelhecer e
permanecer criança.
Fonte: Coulacoglou, 1995/2000, 2002a, 2002b, 2008.
A autora, Coulacoglou (2008), propõe a análise de 30 variáveis inseridas em 5
grupos maiores de componentes da personalidade: Desejos e Necessidades (Desejo por
coisas matérias, Desejo de Superioridade, Desejo de Ajudar, Necessidades Orais,
Necessidade de Afiliação, Necessidade de Aprovação, Necessidade de Afeto, Necessidade
de Proteção); Impulsos (Preocupação Sexual, Bizarro, Agressão Oral, Agressão Tipo A,
Agressão como Dominância, Agressão Instrumental, Agressão Tipo B Agressão como
Defesa, como Retaliação, por Inveja, Agressão por Ciúme), Relações Objetais (Relação
com a mãe e Relação com o pai), Estados Emocionais (Medo de Agressão, Ansiedade,
Depressão), Funções do Ego (Ambivalência, Auto-estima, Moralidade, Senso de
Propriedade, Senso de Privacidade, Adaptação ao Conteúdo do Conto, Repetição).
As variáveis da personalidade encontradas no TCF são classificadas conforme a
graduação de sua intensidade. Coulacoglou (2008) caracteriza uma escala de pontuação na
qual as respostas verbalizadas são classificadas de 1 a 3, (em que 1 é baixa intensidade e 3
é alta); já no caso de certas variáveis, tais como Relacionamento com a Mãe (Rel/Mãe),
Relacionamento com o Pai (Rel/Pai), a pontuação é de forma: positivas (+1) ou negativas
50
(-1), dependendo da natureza da resposta. Quando uma variável não ocorre em uma
resposta, é atribuída uma pontuação de 0. Em relação à variável Adaptação ao Conteúdo do
Conto, deve ser atribuída uma pontuação 0 quando nenhuma ação, qualquer que seja,
estiver envolvida ou implicada na resposta, ou quando a criança responder: “Eu não sei” ou
“Eu não lembro”, ou dá respostas “neutras”, sem significado.
Especificamente para a variável agressão, Coulacoglou (2008) propõe uma
classificação de acordo com o motivo que desencadeou este sentimento/impulso. A
descrição dos tipos é encontrada no Quadro 4.
Quadro 4. Definição da variável agressividade conforme Coulacoglou (1995/2000,
2002a, 2002b, 2008).
Variável Descrição
Agressão como Dominância (Agrdom)
A agressão como dominância é um tipo de
agressão por meio da qual a criança
aprende a controlar o ambiente e adquirir
autoconfiança. A dominância pode ser
descrita também, como a necessidade de
alguém influenciar, dissuadir, restringir o
comportamento de outras pessoas. Esse
comportamento decorre da tentativa de se
obter um bem ou pode ser dirigido a uma
pessoa com o propósito de intimidação ou
dominação. No TCF isso é demonstrado
pela necessidade de dominação ou auto-
afirmação através dos meios/modos
agressivos. A Agressão como Dominância
aparece nas respostas às perguntas dos
cartões da Bruxa e do Gigante.
Agressão Instrumental (Agrins)
Pode ser caracterizada como um tipo
adaptativo de agressão, que visa à
obtenção do que é necessário ou desejável
para a preservação da vida. No TCF, este
tipo de agressão é freqüentemente
expresso como um desejo de ferir ou
matar alguém para comer ou roubar
dinheiro. A Agressão Instrumental
aparece mais frequentemente nas
respostas às perguntas sobre o Gigante.
Esta forma de agressão inclui reações
provocadas por motivos internos ou
razões pessoais, alheias a estímulos
externos. A maior parte das respostas que
apresentam este tipo de agressão tem uma
51
Agressão do Tipo A (Agra) justificativa interna. A criança não
consegue ou recusa-se a justificar sua
resposta agressiva. Também, às vezes, à
justificativa por rancor, birra ou porque
ele ou ela é má, malvado(a), mimado(a),
etc.. A agressão do Tipo A aparece com
mais freqüência em resposta a questões
referentes às figuras da Bruxa e do
Gigante.
Agressão do Tipo B
Agressão como Defesa, como Retaliação,
por Inveja e por Ciúme
Esta é uma forma de agressão que ocorre
somente como uma reação a uma fonte ou
distúrbio externo (agressão reativa). A
reação é dirigida contra alguém que
supostamente pode ter causado (inveja),
causou (retaliação), ou está prestes a
causar (defesa) mal a si próprio ou a
outras pessoas. O comportamento
agressivo reativo é um ato hostil
apresentado em resposta a uma ameaça ou
provocação percebida.
Agressão Defensiva (Agrdef)
O principal objetivo da agressão defensiva
é a sobrevivência. É a necessidade de se
proteger ou de proteger os outros frente ao
perigo, quando tal proteção é agressiva
por natureza. O perigo é imediato e tem
que ser enfrentado aqui e agora. Aparece
com mais freqüência nas respostas às
questões relativas aos cartões dos Anões e
dos Gigantes.
Agressão como Retaliação (Agrret)
A Agressão como retaliação é talvez o
primeiro tipo de agressão aprendida nas
experiências infantis na forma de punição.
Os maiores evocadores deste tipo de
agressão, durante os primeiros anos da
escola, incluem ameaças e depreciação do
ego e da auto-estima. A Agressão por
retaliação aparece mais frequentemente
em respostas às questões relativas às
figuras da Bruxa e do Gigante.
Agressão por Inveja (Agrinv)
A inveja está relacionada à comparação
do indivíduo com a outra pessoa. Refere-
se ao descontentamento pessoal devido à
posse que outras pessoas têm de algo que
se gostaria ter. O comportamento
agressivo é provocado pelas posses ou
qualidades da vítima e não pelos atos. No
TCF é expressa como a necessidade de
52
causar dano a indivíduos que aparentem
ser melhores em alguns aspectos do que o
agressor. Este tipo de resposta aparece
com mais freqüência nas respostas aos
cartões referentes às figuras da Bruxa.
Agressão por Ciúme (Agrci)
O ciúme ocorre num contexto de relações,
mas especificamente quando uma pessoa
compete com outra para conservar uma
relação. Os afetos incluem medo da perda,
ansiedade e suspeita ou raiva acerca de
traição. A Agressão por Ciúme se
encontra com maior freqüência nas
lâminas das Bruxas e frequentemente
revela sentimentos do Complexo de
Édipo.
Agressão Oral (AO)
A Agressão Oral é a forma de agressão
mais arcaica e tem sua origem na fase
oral. Este tipo de agressão é referida como
“sadismo oral”, e implica o desejo de
destruir o objeto. Manifestações
características da Agressão Oral são, por
exemplo, morder, mastigar, rasgar,
ofender, amaldiçoar e ranger os dentes. A
Agressão Oral aparece frequentemente em
respostas às questões referentes às figuras
do Lobo e do Gigante.
Medo de Agressão (MA)
O Medo de Agressão reflete o medo de
um possível ataque, ameaça, perigo que se
localiza no presente (o perigo é imediato).
Aparece mais comumente em respostas
relativas às figuras do Chapeuzinho
Vermelho, do Lobo, do Anão, da Bruxa e
do Gigante.
Coulacoglou, Souyouldjoglou e Atsarou (2002) investigaram a validade do
constructo agressão a partir de estudo com crianças gregas de 7 a 12 anos, utilizando uma
amostra de 803 crianças (405 meninos e 398 meninas), através da análise fatorial das
variáveis do Teste Contos de Fadas e a comparação das pontuações do teste com a “Rutter
Behavior Scales for Parents and Teachers” e com o “Children´s Personality Questionnaire
(CQP)”. Nesse estudo, a validação da variável agressão foi examinada através do estudo
dos perfis de personalidade das crianças que obtiveram altas pontuações nos diferentes
tipos de agressividade avaliadas pelo TCF. Dessa amostra, formaram-se cinco grupos que
53
apresentaram significativa pontuação: Agressão Tipo A, Agressão como Dominância,
Agressão por Retaliação, Agressão por Inveja e Não agressivos. Os achados apontaram
maiores informações acerca da Agressividade como Dominância. Em contraste com o
grupo não agressivo, as crianças que obtiveram altas pontuações neste tipo de
agressividade são menos temerosas das agressões dos outros. Provavelmente, esse achado
significa que o desejo de dominar ou superar os outros é tão forte que supera o medo do
que os outros podem lhe fazer; neste contexto, houve uma correlação positiva entre a
Agressividade como Dominância e a variável Desejo de Superioridade. Outro achado
importante do estudo é o papel da mãe no desenvolvimento da agressividade. Uma mãe
que é percebida como excessivamente rejeitadora pode contribuir com o desenvolvimento
da passividade e temor da criança. Em termos gerais, os resultados desses estudos
confirmaram o critério de diferenciação inicial proposta dos diversos tipos de agressão a
serem observados e quantificados.
Procedimentos para a coleta e análise dos dados
Após a aprovação do projeto (ver Anexo B) deste estudo pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, foram
realizados contatos com instituições escolares públicas e privadas de Porto Alegre, que
possuíam alunos com idades entre 06 e 11 anos, a fim de obter a autorização necessária
para a testagem das crianças. Previamente à administração dos instrumentos, foi
encaminhada uma carta aos pais e/ou responsáveis dos alunos (ver Anexo C),
acompanhada da Ficha de Dados Pessoais e Sociodemográficos (ver Anexo D) e do Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (ver Anexo E), com o objetivo de explicar a
natureza e relevância do trabalho a ser desenvolvido bem como de obter (dos pais e/ou
responsáveis) autorização de participação da criança. De posse do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido e da Ficha de Dados Pessoais e Sociodemográficos, a
administração dos instrumentos foi realizada, de forma individual, em um encontro na
própria instituição, durante o período escolar, buscando assim não acarretar danos ao
andamento normal das atividades curriculares. Os dados obtidos na Ficha de Dados
Pessoais e Sociodemográficos foram analisados através de técnicas de estatística descritiva
(freqüências, médias, percentagens).
Todo o material verbalizado pelas crianças no TCF foi primeiramente avaliado por
três juízes (J1, J2 e J3), que realizaram avaliações independentes com base no sistema de
54
categorização de respostas. A partir das avaliações dos juizes (psicólogas clínicas), foi
utilizada a estatística Kappa, do programa Stata (2005), para avaliar o grau de
concordância entre eles para a variável agressão. As comparações foram assim delineadas:
J1-J2 J1-J3 J2-J3 J1-J2-J3
Para avaliar os resultados, levou-se em conta que a medida de concordância (Kappa)
pode adquirir valores escalares de 0 (zero) a 1 (um). Para medidas intermediárias, foi
utilizada a interpretação seguida por Landis e Koch (1977):
Posteriormente, foi realizado o levantamento de freqüências e percentagens dos tipos
de conteúdos agressivos identificados nas respostas ao TCF. Por último, para verificar a
associação das variáveis (tipo de conteúdos agressivos X idade, sexo, tipo de escola), foi
utilizado estatística inferencial (Teste Exato de Fisher). Foi considerado o nível de 5% para
a declaração de existência de significância estatística.
Resultados
A amostra deste estudo foi constituída por 72 crianças, com idade entre 06 e 11 anos
(M = 8,5; DP = 1,72), divididas igualmente em relação ao tipo de escola (36 freqüentam
escolas públicas e 36 escolas privadas), ao sexo (36 do sexo masculino e 36 do sexo
feminino) e à idade (36 crianças de menor idade - 6 a 8 anos - e 36 de maior idade - 9 a 11
anos-). Em relação à série freqüentada pelos participantes do estudo, verificou-se que a
maioria encontra-se entre a pré-escola e a série do Ensino Fundamental, havendo a
seguinte distribuição entre elas: 11,1% na pré-escola, 13,9% na série, 23,6% na série,
13,9% na série, 16,7% na série, 20,8% na série. Esse dado justifica-se pelo fato de
que constituía critério de inclusão para este estudo ter idade entre 06 e 11 anos, faixa etária
que normalmente corresponde a alunos de Ensino Fundamental.
Valor Interpretação
abaixo de 0,0 Mau
0,00 – 0,20 Leve
0,21 – 0,40 Regular
0,41 – 0,60 Moderado
0,61 – 0,80 Substancial
0,81 – 1,00 Quase perfeito
55
Através da Ficha de Dados Pessoais e Sociodemográficos, preenchida pelos
responsáveis das crianças que participaram do estudo, foi possível obter outros dados que
revelam que os participantes possuem desempenho escolar entre ótimo (65,3%), bom
(27,8%) e regular (6,9). A maioria também não repetiu nenhuma série (97,2%), do total de
72. Em relação ao núcleo familiar dos participantes, observou-se que a metade dos
participantes reside com os pais e com os irmãos (57%); na outra metade, há outros
membros da família, como avós, tios e outros, morando com as crianças pesquisadas.
Para definição da classe econômica dos participantes, utilizou-se o critério de
Classificação Econômica Brasil, publicado pela Associação Brasileira de Empresas de
Pesquisa (ABEP, disponível em www.abep.org/codigosguias/ABEP_CCEB.pdf). Neste
sistema de classificação, considera-se a posse de itens, como televisão em cores, rádio,
automóvel, banheiro, carro, dentre outros, e atribuem-se pontos conforme a quantidade de
itens. O grau de instrução do chefe de família é da mesma forma pontuado. A partir do
somatório desses pontos, chega-se a uma classificação da classe econômica à qual pertence
o indivíduo. Considerando assim, uma escala que apresenta como valor mínimo o zero e
máximo 46, a distribuição dos 72 participantes de Porto Alegre, no que diz respeito a este
quesito, pode ser observada na Tabela 4. No que diz respeito à renda familiar dos
participantes, 55,6% recebem acima de 5 salários mínimos, 11,1% 3 a 5, 19,4% de 1 a 3,
9,7% até 1 salário mínimo e 4,2% não informaram.
Tabela 4. Distribuição em termos de freqüência e porcentagem da
classe econômica dos participantes (n = 72).
Classe Econômica f %
A1 5 6,9
A2 18 25
B1 14 19,5
B2 12 16,7
C1 15 20,8
C2 5 6,9
D 3 4,2
Total 72 100
Quanto à presença de doenças físicas ou psicológicas, dos 72 participantes, 5 (6,9%),
sofrem de doença respiratória (asma ou bronquite), dermatite ou refluxo e 10 (13,9%) dos
participantes fazem uso de medicamento, como o uso de anti-histamínico, utilizado para o
56
tratamento de quadros alérgicos. Dentre os indivíduos que fizeram parte da amostra,
apenas 2 (2,8%) mencionam apresentar transtorno psicológico (Enurese e Síndrome do
Pânico) e 9 (12,5%) informam que realizam tratamento psicológico.
Para a verificação da concordância entre avaliadores que categorizaram e
classificaram as respostas de maneira independente, calculou-se a estatística Kappa. Os
resultados observados em cada uma das variáveis de agressão podem ser visualizados na
Tabelas a seguir.
Tabela 5. Sumário do resultado da medida de concordância entre J1-
J2, J1-J3, J2-J3 e J1-J2-J3, em todas as variáveis de
agressão, considerando todos os cartões (n=72).
Categorias Avaliadores Kappa
Agressão como
Dominância (Agrdom)
J1-J2 0,57
J1-J3 0,55
J2-J3 0,88
J1-J2-J3 0,67
Agressão Instrumental
(Agrins)
J1-J2 0,56
J1-J3 0,42
J2-J3 0,77
J1-J2-J3 0,57
Agressão do Tipo A
(Agra)
J1-J2 0,57
J1-J3 0,52
J2-J3 0,92
J1-J2-J3 0,65
Agressão como Defesa
(Agrdef)
J1-J2 0,86
J1-J3 0,86
J2-J3 1,0
J1-J2-J3 0,90
Agressão como Retaliação
(Agrret)
J1-J2 0,47
J1-J3 0,49
J2-J3 0,91
J1-J2-J3 0,60
Agressão por Inveja
(Agrinv)
J1-J2 0,08
J1-J3 0,13
J2-J3 0,89
J1-J2-J3 0,21
Agressão por Ciúme
(Agrci)
J1-J2 0,53
J1-J3 0,49
J2-J3 0,90
J1-J2-J3 0,63
Agressão Oral (AO)
J1-J2 0,61
J1-J3 0,53
J2-J3 0,91
J1-J2-J3 0,68
Medo de Agressão (MA)
J1-J2 0,70
J1-J3 0,67
J2-J3 0,93
J1-J2-J3 0,77
57
Na Tabela 6, constam as freqüências dos tipos de conteúdos agressivos, identificados
nas respostas ao TCF, conforme idade, sexo e o tipo de escola. Como se pode observar, os
conteúdos agressivos com maior freqüência de respostas foram: Medo de Agressão (MA),
Agressão Tipo A (Agra) e Agressão como Retaliação (Agrret).
58
Tabela 6. Freqüências de respostas da variável Agressão conforme Escola, Sexo e Idade (n = 72)
Grupo MA
f
Agrdom
f
Agrins
f
Agrdef
f
Agrci
f
Agrinv
f
Agrret
f
Agra
f
AO
f
Geral 54 12 9 8 16 25 34 49 29
Menor Idade
(6-8 anos)
28 5 6 5 8 11 14 24 12
Maior Idade
(9-11)
26 7 3 3 8 14 20 25 17
Escola Pública
23 8 6 6 10 13 14 23 15
Meninas 12 2 1 1 7 8 8 10 9
Meninos 11 6 5 5 3 5 6 13 6
Menor Idade 11 5 4 3 4 5 7 12 7
Maior Idade 12 3 2 3 6 8 7 11 8
Escola
Particular
31 4 3 2 6 12 20 26 14
Meninas 14 1 1 1 4 7 7 10 4
Meninos 17 3 2 1 2 5 13 16 10
Menor Idade 17 0 2 2 4 6 7 12 5
Maior Idade 14 4 1 0 2 6 13 14 9
59
Para obtenção dos resultados de associação das variáveis (tipo de conteúdos
agressivos X idade, sexo e tipo de escola), foi utilizado o Teste Exato de Fisher,
considerando o nível de 5% de significância estatística. Conforme Tabela 7, conclui-se
haver associação significativa entre Agressão Tipo A (Agra) e sexo masculino (p = 0,042).
Tabela 7. Associação entre as variáveis da agressão e sexo (n=72).
Variável Agressão Meninos
f
Meninas
f
p
Agrdom 9 3 0,111
Agrins 7 2 0,151
Agra 29 20
0,042*
Agrdef 6 2 0,260
Agrret 19 15 0,479
Agrinv 10 15 0,322
Agrci 5 11 0,155
AO 16 13 0,631
MA 28 26 0,786
* p < 0,05
Na Tabela 8 e 9, é apresentada a associação entre as variáveis da agressão e idade
(maior e menor idade) e entre agressão e tipo de escola. Em ambas as situações não foi
encontrada associação significativa.
Tabela 8. Associação entre as variáveis da agressão e idade (n=72).
Variável Agressão Menor idade
f
Maior idade
f
p
Agrdom 5 7 0,753
Agrins 6 3 0,478
Agra 24 25 1,00
Agrdef 5 3 0,710
Agrret 14 20 0,238
Agrinv 11 14 0,621
Agrci 8 8 1,00
AO 12 17 0,337
MA 28 26 0,786
p < 0,05
60
Tabela 9. Associação entre as variáveis da agressão e tipo de escola (n=72)
Variável Agressão Escola Pública
f
Escola Privada
f
p
Agrdom 8 4 0,343
Agrins 6 3 0,478
Agra 23 26 0,614
Agrdef 6 2 0,260
Agrret 14 20 0,238
Agrinv 13 12 1,00
Agrci 10 6 0,396
AO 15 14 1,00
MA 23 31 0,055
p < 0,05
Nas respostas dos sujeitos da amostra, foi possível identificar as freqüências da
variável agressão em cada uma das sete séries de cartões (Chapeuzinho Vermelho, Lobo,
Anões, Bruxa, Gigante, Cena Conto Chapeuzinho Vermelho, Cenas Conto Branca de
Neve). Na Tabela 10, é possível visualizar a variável Medo de Agressão, identificada em
54 sujeitos da amostra, nas séries - Chapeuzinho Vermelho, Lobo, Anões, Bruxa, Gigante
(f=114).
Tabela 10. Sumário de Freqüências da variável Medo de Agressão nas séries de cartões
- Chapeuzinho Vermelho, Lobo, Anões, Bruxa, Gigante (n = 54).
Série de cartões Freqüência da
intensidade
1
Freqüência da
intensidade
2
Freqüência da
intensidade
3
Total de
Respostas
Chapeuzinho Vermelho
6 2 0 8
Lobo 26 6 4 36
Anões 2 1 0 3
Bruxa 19 5 3 27
Gigante 26 9 5 40
Total 79 23 12 114
Na Tabela 11, é possível visualizar a Variável Agressão Tipo A (Agra), identificada
em 49 sujeitos da amostra, nas séries dos cartões - Lobo, Anões, Bruxa, Gigante e nas
Cenas da Chapeuzinho Vermelho (f=114).
61
Tabela 11. Sumário de Freqüências da variável Agressão Tipo A nas séries de
cartões - Lobo, Anões, Bruxa, Gigante e nas Cenas da Chapeuzinho
Vermelho (n= 49)
Série de cartões
Freqüência da
intensidade
1
Freqüência da
intensidade
2
Freqüência da
intensidade
3
Total de
Resposta
s
Lobo 2 2 9 13
Anões 1 0 0 1
Bruxa 9 25 18 52
Gigante 2 26 19 47
Cenas CV 1 0 0 1
Total 15 53 46 114
A Variável Agressão como Retaliação, conforme a Tabela 12, foi identificada em 34
sujeitos nas séries de cartões: Chapeuzinho Vermelho, Lobo, Bruxa e Gigante (f= 55). Por
outro lado, como mostra a Tabela 13, a Variável Agressão Oral, identificada em 29
sujeitos, esteve presente nas respostas das séries de cartões: Lobo, e Gigante (f= 45).
Tabela 12. Sumário de Freqüências da variável Agressão como Retaliação nas séries
de cartões - Chapeuzinho Vermelho, Lobo, Bruxa e Gigante (n = 34).
Série de cartões Freqüência da
intensidade
1
Freqüência da
intensidade
2
Freqüência da
intensidade
3
Total de
Respost
as
Chapeuzinho Vermelho
1 0 0 1
Lobo 0 2 3 5
Bruxa 8 7 6 21
Gigante 1 16 11 28
Total 10 25 20 55
Tabela 13. Sumário de Freqüências da variável Agressão Oral nas séries de cartões -
Lobo e Gigante (n = 29).
Série de
cartões
Freqüência
da
intensidade
1
Freqüência
da
intensidade
2
Freqüência
da
intensidade
3
Total de
Respostas
Lobo 19 13 2 34
Gigante 5 6 0 11
Total 24 19 2 45
62
Na Tabela 14, é possível visualizar a Variável Agressão por Inveja, identificada em
25 sujeitos, pontuada apenas na série de cartões da Bruxa (f=33). A Variável Agressão por
Ciúme (ver Tabela 15), identificada em 16 sujeitos, foi encontrada nas séries de cartões -
Chapeuzinho Vermelho, Lobo, Bruxa e Gigante (f=27).
Tabela 14. Sumário de Freqüências da variável Agressão por Inveja na série de
cartões da Bruxa (n = 25).
Série de
cartões
Freqüência
da
intensidade
1
Freqüência
da
intensidade
2
Freqüência
da
intensidade
3
Total de
Respostas
Bruxa 4 9 20 33
Total 4 9 20 33
Tabela 15. Sumário de Freqüências da variável Agressão por Ciúme nas séries de
cartões - Chapeuzinho Vermelho, Lobo, Bruxa e Gigante (n = 16).
Série de cartões Freqüência da
intensidade
1
Freqüência da
intensidade
2
Freqüência da
intensidade
3
Total de
Respost
as
Chapeuzinho Vermelho
1 0 0 1
Lobo 1 0 0 1
Bruxa 6 6 8 20
Gigante 0 1 4 5
Total 8 7 12 27
Na Tabela 16, consta a Variável Agressão como Dominância, identificada em 12
sujeitos nas séries dos cartões - Bruxa (f=13) e Gigante (f=4). A variável Agressão
Instrumental (ver Tabela 17) foi identificada nas respostas de 9 sujeitos, tendo sido
pontuada nas séries - Lobo, Bruxa e Gigante (f=14).
Tabela 16. Sumário de Freqüências da variável Agressão como Dominância nas séries
de cartões - Bruxa e Gigante (n = 12).
Série de cartões Freqüência da
intensidade
1
Freqüência da
intensidade
2
Freqüência da
intensidade
3
Total de
Respostas
Bruxa 6 3 4 13
Gigante 3 0 1 4
Total 9 3 5 17
63
Tabela 17. Sumário de Freqüências da variável Agressão Instrumental nas séries de
cartões - Lobo, Bruxa e Gigante (n = 9).
Série de
cartões
Freqüência
da
intensidade
1
Freqüência
da
intensidade
2
Freqüência
da
intensidade
3
Total de
Respostas
Lobo 0 0 1 1
Bruxa 1 0 5 6
Gigante 0 1 6 7
Total 1 1 12 14
Na Tabela 18, é possível visualizar a Variável Agressão como Defesa, identificada
em 8 sujeitos, nas séries dos cartões - Chapeuzinho Vermelho (f=3), Lobo (f=3), Anões
(f=3) e Gigante (f=4).
Tabela 18. Sumário de Freqüências da variável Agressão como Defesa nas séries de
cartões: Chapeuzinho Vermelho, Lobo, Anões e Gigante (n = 8).
Série de cartões Freqüência da
intensidade
1
Freqüência da
intensidade
2
Freqüência da
intensidade
3
Total de
Respostas
Chapeuzinho Vermelho
0 2 1 3
Lobo 0 2 1 3
Anões 0 2 1 3
Gigante 0 2 2 4
Total 0 8 5 13
Discussão
O presente estudo está inserido num projeto maior “Adaptação Brasileira do Teste
dos Contos de Fadas”, que tem como principal objetivo criar subsídios para a adaptação
brasileira do TCF. Até o momento, nesse projeto, foi possível testar 224 sujeitos da cidade
de Porto Alegre e 75 da cidade de São Paulo. A amostra final prevê a testagem de 800
sujeitos das cidades de Porto Alegre, São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. No
presente estudo, a Tabela 5 permite visualizar uma primeira análise (amostra de 72
crianças) sobre o nível de concordância entre juízes para as categorias da variável agressão
do Sistema de Categorização de Respostas ao TCF, considerando-se que a medida de
concordância pode variar entre 0 e 1, sendo 0 (zero) representante de uma concordância
ruim, ou mesmo a ausência de concordância, e 1 (um) uma concordância perfeita. A partir
dos resultados obtidos, é possível dizer que eles foram, na sua maioria, satisfatórios, uma
64
vez que a concordância alcançada foi de valores moderados (Agressão Instrumental),
substanciais (Agressão como Dominância, Agressão Tipo A, Agressão como Retaliação,
Agressão por Ciúme, Agressão Oral, Medo de Agressão) e quase perfeitos (Agressão como
Defesa) na maioria das categorias da agressão. Isso significa que os psicólogos que
atuaram como juízes concordaram bastante em suas avaliações. Contudo, cabe mencionar
que, para a categoria Agressão por Inveja, a concordância entre os juízes (J1-J2-J3) foi
regular indicando a necessidade de revisar o entendimento da definição desta categoria.
Sem dúvida, a única forma de garantir que examinadores distintos interpretem um mesmo
protocolo de maneira semelhante é certificando-se de que eles partirão do mesmo ponto, e,
para isso, bom conhecimento e compreensão do sistema de categorização das respostas são
fundamentais. Neste cenário, a investigação da fidedignidade entre avaliadores torna-se
primordial, pois ela busca definir o grau de precisão da medida em estudo, no momento em
que a preocupação dos psicólogos deve ser a de realizar julgamentos de forma segura a
respeito do sujeito que se está avaliando. Esses resultados, mesmos que parciais (só para a
categoria agressão), são bastante expressivos, considerando-se o número pequeno da
amostra.
O período da latência, equivocadamente, é caracterizado como uma etapa do
desenvolvimento infantil preparatória para a adolescência e um estágio no qual nada
ocorre, sendo considerado um estado de “espera” para o grande período de mudança
posterior (Urribarri, 1999). Acreditava-se, segundo Ferreira e Araújo (2001), que, neste
período ocorria uma mera postergação temporal, carente de sentidos em que a criança se
encontrava sob o controle repressivo dos impulsos, até a chegada da adolescência, para
que, então, ocorressem as manifestações das pulsões sexuais. Entretanto, ao aprofundar o
conhecimento da dinâmica psíquica neste período, é possível compreender que todos os
processos vivenciados, tanto internamente quanto externamente, nesta fase, são
fundamentais para a instrumentalização do latente no que se refere às exigências do seu
desenvolvimento posterior.
Na amostra em estudo, verificou-se que a maior parte das crianças encontra-se entre
a Pré-escola e a série do Ensino Fundamental, etapa que é caracterizada pelo inicio da
alfabetização e das relações sociais. O desempenho escolar dos participantes, pelas
informações colhidas, caracteriza-se como predominantemente ótimo, apresentando baixo
número de repetições escolares na amostra. Blos (1998) ressalta a importância da escola
para a criança no período da latência, para o autor, a entrada na escola estabelece uma
importante mudança no processo de socialização, pois responde a uma necessidade própria
65
e real da criança. Isso é possível, pois, nesse período, um esforço realizado no sentido
de organização, diferenciação, sofisticação e ampliação do aparato psíquico, e a criança, na
fase de latência, torna-se assim mais calma, manejável e educável (Urribarri, 1999, Ferreira
& Araújo, 2001).
É na latência então, que a capacidade para sublimar os impulsos instrumentaliza a
criança para superar situações difíceis de caráter sexual e/ou agressivo durante seu
desenvolvimento posterior, relativo à inserção social, via escola; por exemplo, quando
obtém satisfações libidinais por meio de atividades sublimatórias (Sarnoff, 1995). A
agressão, durante o desenvolvimento da criança, sofre modificações que são resultados da
interposição de um grupo de mecanismos de defesas, tais como: sublimação, as atividades
compulsivo-obsessivas, o fazer e o anular, a formação de símbolos e de fantasia, as
formações reativas e as repressões. As fantasias, formações reativas e padrões de
comportamento, cuidadosamente monitorados e socialmente aceitos, tornam-se as válvulas
principais de escape para a agressão (Sarnoff, 1995). Considerando as características do
período da latência e do fenômeno psíquico da agressão nesta etapa, os resultados deste
estudo apontam para o uso de respostas da categoria Medo de Agressão (MA) como
recurso frente a situações de ameaças com as quais os personagens do TCF se deparam; e
Agressão Tipo A (Agra) e Agressão como Retaliação (Agrret) como principais motivações
que as impelem a responder de forma agressiva (ver Tabela 6).
A variável Medo de Agressão (MA) representa o medo de possível ataque, ameaça
ou perigo real. Tal estado emocional, em termos gerais, foi identificado por um número
expressivo de sujeitos, apontando que, para 54 crianças da amostra, a agressão é
predominantemente sentida como externa, e o medo é a forma encontrada de lidar com este
impulso. O pensamento kleiniano considera que os fatores internos têm uma ação
definitória para o psiquismo e aponta que a angústia suscitada na criança por seus impulsos
destrutivos age de duas maneiras (Klein, 1975b). Em primeiro lugar, torna a criança
temerosa de ser exterminada por seus próprios impulsos destrutivos; em segundo lugar, faz
convergir todos esses temores sobre o objeto externo, considerado como uma fonte de
perigo, e contra o qual são dirigidos sentimentos sádicos. Parece que a criança desloca para
o objeto toda a carga de medo intolerável que lhe inspiram os desejos instintivos, trocando,
pois, os perigos internos pelos externos. Nesse sentido, a angústia persecutória é
experimentada pelo ego como uma ameaça de forças hostis que o atacam, mas tendo esta
angústia uma origem principalmente interna (Bleichmar & Bleichmar, 1992).
66
Quando o sujeito se depara com atos agressivos, o primeiro movimento,
normalmente, feito é tentar compreender qual o possível motivo que o originou. Entre as
causas mais freqüentes encontradas aparece a inveja - quando o agressor, em roubos e
assaltos quer se apoderar do que o outro possui e que lhe falta; a vingança - quando a
vítima tenha sido, de algum modo, ferida pelo agressor no passado; por dominação -
quando o agressor ataca indivíduos mais fracos ou animais; ou por defesa própria. Em
certas ocasiões, porém, as causas não são evidentes (Coulacoglou, Souyouldjoglou &
Atsarou, 2002; 2008). A variável Agressão Tipo A (Agra), definida como uma forma de
descarga de impulsos agressivos, de forma hostil que, conforme Coulacoglou e Kotsoni
(2008), refletem respostas sádicas, foi um dos tipos de respostas freqüentes pontuadas
pelos sujeitos (49) da amostra. Tal achado é similar ao estudo realizado na Grécia por estas
autoras, que entendem que a possível explicação para os impulsos agressivos das crianças
gregas pode estar relacionada às atitudes das famílias e às formas de disciplinas impostas.
Certamente, a história cultural e social da Grécia apresenta diferenças em relação à
brasileira; contudo, no Estado do Rio Grande do Sul, as famílias, por suas origens
européias, também, de maneira geral, têm valores de exigência e disciplina. Frente a esse
aspecto, é possível inferir que a freqüência de respostas hostis, na presente amostra,
também pode estar vinculada às normativas e regras comumente utilizadas pelas famílias.
Agressão como Retaliação é um tipo de conduta agressiva que pode ser eliciada,
segundo Hartup (1974), em um contexto no qual ocorram frustrações, ameaças ao ego ou
depreciações à auto-estima. Tais emoções, sentidas como perigosas, fazem com que,
freqüentemente, ocorram reações de ataque hostil contra quem possa ser agente de
intimidação. Coulacoglou (2008) define a agressão retaliatória como a mais comum
observada na forma de punição de condutas percebidas como erradas e a diferencia da
agressão como defesa pela seqüência temporal. Segundo a autora, a retaliação implica uma
reação a algo que ocorreu no passado, e a defesa seria uma resposta imediata ao perigo, no
aqui e agora. O potencial agressivo vingativo é considerado também de intensidade muito
maior, sendo uma ação, freqüentemente, realizada de forma mais cruel e insaciável
(Fromm, 1973). Esse tipo de resposta agressiva, na amostra em estudo, é utilizado por 34
crianças, o que nos faz pensar: o que será que pode levar o latente a agir de forma
vingativa, pensando em suas características emocionais? Para Blos (1998), a latência, em
termos do desenvolvimento, pode ser considerada uma fase incompleta. Se por um lado, o
avanço da autonomia possibilita ao ego distinguir entre a realidade e fantasia, por outro,
ainda são encontradas formas infantis de expressão e manejo dos impulsos. Sendo assim,
67
em situações em que crianças dessa faixa etária possam sentir-se ameaçadas, a reação
hostil, o ataque vingativo, de forma impulsiva, é um recurso utilizado.
A partir dos achados na presente amostra de 72 crianças, cabe ressaltar uma
diferença encontrada entre a amostra em estudo e a investigação de Coulacoglou e Kotsoni
(2008). No estudo realizado pelas autoras, a Agressão como Dominância, estimulando
sentimentos de culpa, apareceu como sendo o tipo predominante encontrado em
comparação com outras formas de agressão. Expressões de agressão como dominância,
comumente, estão relacionadas com violência e sadismo; e as autoras apontam que a
complexa natureza grega, caracterizada por uma história de desastre, guerra civil, regimes
ditatoriais, ocupações estrangeiras, possui certamente influência sobre o desenvolvimento
da personalidade dos indivíduos que vivem nesta região. Em contrapartida, na presente
amostra, a Agressão como Dominância não obteve uma freqüência expressiva nas
respostas (ver Tabela 6), o que pode indicar que, em nosso contexto, a predominância da
motivação para o comportamento agressivo está mais relacionada com a Agressão como
Retaliação e com a Agressão Tipo A, que igualmente podem estar vinculadas a
fatos/situações violentos e saídas comportamentais sádicas.
Não foi identificada associação significativa entre os tipos de conteúdos agressivos e
as idades dos participantes; igualmente, não houve associação entre os tipos de conteúdos
agressivos e o tipo de escolas. Certamente esses achados deverão ser novamente analisados
com uma amostra maior de sujeitos. Entretanto, foi possível identificar associação entre a
Agressão Tipo A (Agra) e a variável sexo masculino (ver Tabela 7). Tal achado pode ser
comparado com o estudo observacional realizado por Hartup (1974) nos EUA com seis
grupos de crianças, divididos em subgrupos de idades entre a pré-escola e as séries iniciais,
do sexo feminino e masculino. Através de observação destes subgrupos, o autor
identificou, de maneira geral, que os meninos foram mais agressivos do que as meninas,
principalmente nos incidentes de agressividade hostil. Também o estudo de Pavarino, Del
Prette e Del Prette (2005), utilizando técnica observacional sobre agressividade e empatia
na infância com crianças pré-escolares, identificou uma tendência de maior proporção de
condutas agressivas entre meninos e tendências empáticas entre as meninas.
Ainda sobre a agressividade e a diferença entre os sexos, como aponta Bee (1997),
parece provável que fatores biológicos e sociais estejam relacionados à maior prevalência
de agressividade em meninos. Apesar das diferenças culturais encontradas conforme o
contexto no qual a criança está inserida, a autora acredita que o envolvimento da criação e
da natureza são importantes influências sociais capazes de estimular níveis elevados de
68
agressão no sexo masculino. Culturalmente, neste sentido, a prevalência da Agressão Tipo
A entre meninos no presente estudo pode estar relacionada aos estímulos agressivos aos
quais eles estão constantemente sendo expostos em nossa sociedade, desde o incentivo à
escolha por brinquedos associados à violência, como armas, objetos de lutas, assim como
no contato com a televisão, tendo acesso a programas violentos.
No período da latência, as histórias, dramatizações e os heróis passam a ser
representantes dos impulsos, o que permite uma identificação passiva (Ferreira & Araújo,
2001). Nesse sentido, o Teste Contos de Fadas (TCF), a partir da associação entre contos
de fadas e processos inconscientes, possibilita o acesso à agressão em relação às suas
motivações levando em conta o conteúdo temático das séries de cartões, visto que as
crianças projetam nas suas respostas pensamentos, sentimentos ou conflitos (Coulacoglou,
Souyouldjoglou & Atsarou, 2008). Como apontam os resultados das Tabelas 10, 11 e 12,
as variáveis com maior freqüência identificadas foram: Medo de Agressão (MA), Agressão
Tipo A (Agra) e Agressão como Retaliação (Agrret) nas séries de cartões, o que confirma,
em muitos aspectos, a descrição dos conflitos eliciados em cada série proposta por
Coulacoglou (1995/2000, 2002a, 2002b, 2008).
A maior freqüência de respostas da variável Medo de Agressão (MA) é encontrada
nas séries de cartões Lobo e Gigante. Se, por um lado, tais séries trabalham com temas
relacionados à agressão, ao conflito entre a agressão e o superego, às necessidades orais e
desejo de dominação, por outro, percebe-se que a agressão é sentida, com intensa
freqüência, como externa, o que faz com que a criança sinta-se temerosa destes impulsos,
que ora podem ser projetados nos personagens e vivenciados como o temor de objetos
devoradores (Kernberg, 1989). Nesse sentido, tal achado vem ao encontro do estudo de
Coulacoglou e Kotsoni (2008), na Grécia em 2000-2003, em que um interessante achado
identificado foi a correlação entre o mecanismo de identificação projetiva e a intensa
emoção de medo. Conforme as autoras, isso significa que, ocasionalmente, o medo de
agressão sentido pelo objeto é o próprio potencial agressivo da criança projetado na figura
externa.
Coulacoglou (2008) pontua que a agressão e a violência abordadas nos contos, na
maioria dos casos, possuem uma motivação. Os motivos de privação ou retaliação
(vingança), especialmente na forma de punição, são considerados como causas justificadas
para os atos mais cruéis. Conforme os resultados apresentados na Tabela 12, é possível
visualizar que, assim como proposto por Coulacoglou, Souyouldjoglou e Atsarou (2008), a
Agressão como Retaliação (Agrret) possui considerável freqüência de respostas nas séries
69
Bruxa e Gigante. Esse fato ressalta que, nas respostas pontuadas nestas séries de cartões, a
vingança é uma das motivações à agressão para estas crianças como forma de punição. A
Agressão Tipo A também obteve uma expressiva freqüência de respostas (Tabela 11).
Apesar de serem pontuadas respostas deste tipo nas séries Lobo, Anões e Cenas da
Chapeuzinho Vermelho, a maior freqüência foi encontrada nas séries de cartões Bruxa e
Gigante, como confirma o estudo de Coulacoglou, Souyouldjoglou e Atsarou (2008). Cabe
ainda ressaltar que, mesmo sendo a agressão como inveja ou como ciúme as formas mais
freqüentes encontradas na série das bruxas, conforme apontam as autoras, a Agressão Tipo
A apresentou relevante pontuação. Isso indica que, para estes sujeitos, a agressão nesta
série de cartões é motivada também por respostas hostis, sádicas, que aparentemente não
possuem justificativas externas.
Mesmo sendo identificada por um número menor de sujeitos, a Agressão Oral (ver
Tabela 13) foi pontuada em um número freqüente de respostas, com destaque na série de
cartões do Lobo, o que corrobora a colocação de Coulacoglou (2008) ao apontar que o
conto Chapeuzinho Vermelho é considerado um exemplo desta categoria da agressão.
Conforme a autora, neste conto a violência explícita marcada pela forma canibalística, que
seria considerada a razão do lobo comer a heroína, é representada pela figura do lobo
devorando Chapeuzinho Vermelho e sua avó. Essa pode ser considerada uma forma
primitiva de possessão, controle e dominância do outro. Ao atacar e devorar, o personagem
incorpora as qualidades e atributos da vítima, impondo-se, expressando assim, uma forma
de superioridade (Coulacoglou & Kotsoni, 2008). Nesse sentido, frente às temáticas
eliciadas pela série do Lobo, tais como os conflitos entre controlar ou liberar seus próprios
impulsos, entre agressão e o superego, a freqüência da variável Agressão Oral encontrada
de respostas apareceu como motivação para a agressão, apontando que os impulsos
agressivos são expressos por estas crianças ainda de forma primitiva, sem o esperado
controle de recursos superegóicos do período da latência.
Considerações finais
Embora as várias manifestações da agressão possam ser observadas diretamente, os
motivos que impulsionam estes atos nem sempre são óbvios. O Teste Contos de Fadas,
então, parece se mostrar um instrumento útil, podendo ser considerado uma medida de
avaliação projetiva que estuda os motivos que impelem a criança a responder de forma
agressiva. Os resultados deste estudo apontam para um primeiro indício de existência de
concordância entre os juízes nas avaliações feitas dos subtipos de agressão, o que dá
70
indicativos de que o teste pode ser considerado um bom instrumento para avaliar com
precisão, o que se propõe.
A latência é um período de extrema importância no desenvolvimento infantil,
podendo ser considerada uma etapa estratégica” em termos psíquicos no que se refere às
etapas posteriores. Percebe-se que suas características peculiares de estruturação de defesas
e elaboração de conflitos, vivenciados nas etapas anteriores da infância, preparam o latente
para lidar com impulsos, como os agressivos, de forma diferenciada. A importância da
escola nesta etapa é fundamental, pois o enfoque dado à aprendizagem, às amizades, às
brincadeiras ocupa a criança e a insere no convívio social. Cabe ressaltar que, mesmo neste
novo ordenamento psíquico que emerge, em que ocorre uma sublimação dos impulsos, foi
possível perceber significativas expressões de conteúdos da agressão nesta faixa etária.
Ao se deparar com situações que eliciam conflitos agressivos, o medo foi a emoção
sentida pelas crianças de forma mais freqüente. A agressão é, então, percebida como
externa, demonstrando que o latente projeta seus sentimentos e conflitos nos personagens
e, ao mesmo tempo, teme-os. Considerada uma forma de descarga de impulsos agressivos,
a agressão, por motivos internos, igualmente obteve alta identificação entre as crianças, o
que pode estar associado com a cultura familiar na qual ela está inserida. A prevalência de
meninos que apresentaram este tipo de agressão aponta para a diferença cultural existente
entre os sexos, em que meninos são mais estimulados ao contato com a violência nas
brincadeiras, como lutas e, até mesmo, em programas de televisão, a que estão
constantemente expostos. Valores e exigências rígidas estabelecidas pelas famílias podem
embasar esta forma, muitas vezes, sádica, de motivação para respostas agressivas. A
Agressão como Retaliação, da mesma forma, também obteve significativa expressão como
forma de punição reativa em contextos frustrantes no qual a criança sinta sua auto-estima
de alguma forma ameaçada. Cabe ressaltar a importância de compreensão desta motivação
para a agressão, uma vez que ela pode atingir graus de violência extrema.
Os contos de fadas são considerados um importante canal de acesso a conflitos e
sentimentos inconscientes, sendo os heróis, muitas vezes, representantes de seus impulsos.
A partir dos conflitos e temas eliciados por cada série de cartões, como proposto
inicialmente pela autora do teste, foi possível perceber que o conteúdo agressivo esteve
presente nas principais séries de cartões que se propunham a trabalhar com este conteúdo.
A partir desta técnica projetiva, foi possível identificar que as crianças desta amostra
apresentaram respostas de caráter agressivo (motivação para agressão) predominantemente
como descarga de impulsos agressivos, como forma de vingança reativa, ou, ainda, com
71
características canibalísticas, o que caracteriza uma forma mais primitiva de ação.
Entretanto, Medo de Agressão, caracterizado como estado emocional, obteve importante
prevalência nas respostas, mostrando que esta foi uma das maneiras encontradas pelo
latente de lidar com seus impulsos mais agressivos, colocando-os externamente.
Em termos gerais, é possível compreender, frente a estes resultados, como a agressão
se apresenta nesta etapa do desenvolvimento, na qual espera-se que a criança esteja mais
preparada em termos emocionais para superar questões difíceis de caráter agressivo. Ao
deparar-se com situações que eliciam conflitos desta natureza, cada criança terá formas
diferentes de reação, e buscar compreender estas formas pode nos fornecer importantes
subsídios para compreensão da dinâmica de sua personalidade bem como de suas relações
interpessoais.
72
CONSIDERAÇÕES FINAIS DA DISSERTAÇÃO
A agressão está presente em todos os seres humanos e seus sinais podem ser
percebidos desde muito cedo, exercendo importante influência no desenvolvimento da
personalidade do indivíduo. A sociedade, desde seus primórdios, sofre constantemente
com a agressão manifestada pelos indivíduos, através de condutas destrutivas, que agem de
forma a prejudicar tanto o outro como a si mesmo. Entretanto, apesar da agressão estar
comumente associada a fins destrutivos, ela também serve como potencial para o
desenvolvimento humano, sendo considerada uma força de vida. Frente a esses diferentes
fins que a agressão pode ter, cabe compreendermos este fenômeno psíquico, para que
assim se procure prevenir o caráter destrutivo da agressão, que tanto prejudica o convívio
social através dos altos níveis de violência.
No decorrer do desenvolvimento da personalidade infantil, o impulso agressivo é
expresso de maneiras distintas e sofre, com o passar do tempo, gradativa evolução nas
formas de sua expressão. Uma maneira de identificar a agressão é através de
comportamentos destrutivos, mas, nem sempre a agressão se manifesta através da conduta,
o que não significa que ela não está presente, pois não há dúvida de que este impulso opera
no psiquismo infantil desde o nascimento. Especialmente na latência, este componente
psíquico é desviado para fins sublimatórios, característicos desta fase. Ou seja, o latente
lida com seus impulsos agressivos de forma diferenciada, canalizando-os para atividades
de socialização e aprendizagem. Esse redirecionamento é extremamente necessário e
saudável, uma vez que fortalece o indivíduo psiquicamente, ao estruturar defesas mais
maduras para as etapas posteriores do desenvolvimento, como a adolescência, que se
caracteriza por uma etapa de intensas mudanças, tanto físicas como emocionais.
Frente às modificações que sofre este impulso, conforme a exigência de cada etapa
do desenvolvimento, e considerando a latência uma etapa estratégica do ciclo vital, na qual
intervenções psicológicas podem ser consideradas também preventivas, é talvez na
infância que se possa evitar a presença futura de transtornos de conduta e personalidade,
comumente associados aos atos violentos e destrutivos. Ao intervir nestas etapas iniciais,
muitas vezes em famílias nas quais a agressão encontra-se presente, é possível promover
outro fim a descarga agressiva que não seja a perpetuação desta forma de recurso utilizado
para lidar com situações conflituosas vividas. Torna-se necessária então, a busca de
estratégias de compreensão deste fenômeno psíquico; pois, ao acessar o conteúdo
agressivo, é possível compreender a sua dinâmica presente bem como conhecer aspectos
73
da personalidade da criança e contexto familiar, estreitamente relacionado ao seu
funcionamento.
A partir dessa necessidade é que se apresenta o instrumento utilizado neste estudo. O
Teste Contos de Fadas possui um diferencial ao possibilitar o conhecimento dos motivos
que levam a criança a responder de forma agressiva. Na presente investigação, buscou-se
verificar a freqüência de conteúdos agressivos identificados nesta etapa do
desenvolvimento e neste instrumento. Frente aos achados deste estudo através do Teste dos
Contos de Fadas, foi possível perceber, na criança latente, repostas motivadas pela
agressão, mesmo encontrando-se, em princípio, mais calma (como resultado dos impulsos
que estão canalizados pelo atuar de mecanismos defensivos). Avaliar um sujeito não é uma
tarefa fácil. Mas as técnicas projetivas são ferramentas que possibilitam o acesso ao
simbolismo psíquico. Nesse sentido, é de fundamental importância reunir esforços para
colaborar na investigação das propriedades psicométricas destas técnicas, como forma de
garantir sua precisão e validade para realizar julgamentos clínicos. Assim sendo, esta
Dissertação possibilitou o estudo e a estruturação de um trabalho que permitiu resgatar
posicionamentos teóricos, dentro do referencial psicanalítico, sobre a agressão e
operacionalizar a identificação desta variável numa técnica projetiva, colaborando com um
projeto maior de adaptação para a realidade brasileira do Teste dos Contos de Fadas.
Como em todo estudo, cabe, também assinalar as limitações deste. Assim, é preciso
registrar que as limitações dos resultados estão diretamente relacionadas ao número da
amostra de 72 participantes. No projeto maior que está sendo desenvolvido, com uma
amostra à nível nacional de 800 sujeitos, será possível chegar a resultados mais
consistentes sobre a relação ou não entre o período de latência e a variável agressão (como
categoria de resposta). Da mesma forma, será possível identificar e analisar com maior
precisão a associação entre as avaliações feitas pelos juízes para obter o índice de
concordância Kappa. Por outro lado, o maior mero de sujeitos possibilitará um número
adequado de respostas para cruzar os dados das categorias da variável agressão com o
objetivo de compreender a sua possível associação com outras variáveis e com os temas
eliciados em cada série de cartões do instrumento.
Em que pese as limitações mencionadas, esta Dissertação contribui com o material
coletado para desenvolvimento e adaptação de mais um instrumento de avaliação
psicológica para a realidade brasileira. Também, com os resultados evidenciados,
possibilita iniciar uma compreensão qualitativa das respostas de conteúdo - agressão no
período da latência - através de uma técnica projetiva.
74
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Young-Bruehl, E. (1992). Anna Freud: uma bibliografia. Rio de Janeiro: Imago.
79
ANEXOS
80
Anexo A
Carta de Aprovação da Comissão Científica da Faculdade de
Psicologia da PUCRS
81
82
Anexo B
Carta de Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS
83
84
Anexo C
Carta para os Pais ou Responsáveis
85
CARTA PARA OS PAIS OU RESPONSÁVEIS
Porto Alegre, _____ de ____________ de 2007.
Senhores Pais ou Responsáveis,
Estamos realizando um trabalho de pesquisa na Faculdade de Psicologia da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul PUCRS com crianças entre 6 e
13 anos, estudantes de escolas blicas e privadas, do sexo masculino e feminino. Este
estudo está vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS, aqui
representado pelas psicólogas Dra. Blanca Susana Guevara Werlang e Dra. Mônica
Medeiros Kother Macedo.
Sabemos, devido a nossa experiência profissional, que para um instrumento de
avaliação psicológica ser utilizado com segurança esse deve apresentar características que
possibilitem confiança nos dados que produzem. Torna-se necessário então, a adaptação do
mesmo para a realidade brasileira. Assim sendo, o objetivo deste estudo é a adaptação do
Teste dos Contos de Fadas TCF, elaborado na Grécia. Este teste tem o intuito de poder
ser um instrumento confiável para a identificação de aspectos da dinâmica da
personalidade infantil. Dessa forma, torna-se importante verificar o tipo de respostas dadas
ao instrumento por crianças entre 06 e 13 anos de idade, considerando a realidade
brasileira.
Gostaríamos, então, de contar com sua valiosa colaboração, no sentido de autorizar a
participação de seu (sua) filho (a) na pesquisa. Para isso é necessário que os pais ou
responsáveis preencham uma ficha de dados sociodemográficos e assinem o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. A criança deverá responder, a dois instrumentos: o
Teste Matrizes Progressivas Coloridas de Raven - Escala Especial (para crianças de 6 a 11
anos) ou o Teste Matrizes Progressivas - Escala Geral (para os de 12 e 13 anos) para
avaliar o nível de rendimento intelectual e o Teste dos Contos de Fadas – TCF. Os
instrumentos serão aplicados dentro do próprio contexto escolar (em dois encontros de
aproximadamente 45 minutos), com a respectiva autorização institucional, não devendo
acarretar em danos ao andamento normal das atividades curriculares. Em princípio, o
maior incômodo a que seu (sua) filho (a) estará submetido será a disposição de tempo para
responder aos instrumentos, e o maior benefício será a participação em um trabalho
científico.
As informações obtidas através dos instrumentos serão de caráter confidencial; a elas
terão acesso os pesquisadores diretamente envolvidos na pesquisa, que analisarão os
dados do ponto de vista estatístico de sua representatividade para o grupo de crianças em
estudo. Com isso, pretendemos manter o caráter científico, ético e profissional da referida
pesquisa.
Desde agradecemos muito a sua colaboração e solicitamos que a Ficha de Dados
Demográficos, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em anexo, sejam enviados
completamente preenchidos, através de seu filho (a), para a escola, em um prazo de dois
dias. Esta carta, bem como uma cópia do Termo de Consentimento ficarão com você.
_____________________________ __________________________
Dra. Blanca S. Guevara Werlang Dra. Mônica M. Kother Macedo
CRP 07/02126 CRP 07/03039
86
Anexo D
Ficha de Dados Pessoais e Sociodemográficos
87
FICHA DE DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS
Instituição: _________________________________________________________
Data: __________________
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DA CRIANÇA
Nome: _______________________________________________________________
Data de Nascimento: _______/ _______/ _______ Idade: _____________
Série Atual: _____________
Repetiu alguma série?
( ) Não ( ) Sim Quantas vezes?____________________
Qual série?________________________
Como tem sido atualmente, seu desempenho na escola?
( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim
Já foi suspenso (a) ou expulso (a) da escola? Por quê?
_________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
Os professores têm queixas a seu respeito?
( ) Não ( ) Sim
Quais são as queixas?
( ) Falta de atenção ( ) Desorganização ( ) Falta de interesse
( ) Não realiza as tarefas escolares ( ) Conduta inadequada: palavrões, brigas...
( ) Outras
Desde quando?_______________________________________________________
Apresenta alguma doença Física? ( ) Não ( ) Sim
Qual?______________________________
Apresenta alguma doença Psicológica? ( ) Não ( ) Sim
Qual?______________________________________________
Faz ou fez algum tipo de tratamento?
( ) Não ( ) Sim
Médico ( ) e/ou Psicológico ( )
Quais?____________________________________________
Toma medicamentos? ( ) Não ( ) Sim
Quais medicamentos?_________________________________
88
DADOS FAMILIARES:
Com quem mora a criança?
( ) Pai Idade:_______ Ocupação:________________
Escolaridade: ______________________________________
( ) Mãe Idade:_______ Ocupação:________________
Escolaridade: ________________________________________________
( ) Madrasta/Padrasto Idade:_______ Ocupação:________________
Escolaridade: ______________________________________________________
( ) Irmãos: Quantos?____________
Idade: _____ Sexo:____ Escolaridade:____________
Idade: _____ Sexo:____ Escolaridade:____________
Idade: _____ Sexo:____ Escolaridade:____________
( ) Avô/Avó
( ) Outros: _______________________________(Especifique)
RENDA FAMILIAR:
Até 1 salário mínimo ( )
1 a 3 salários mínimos ( )
3 a 5 salários mínimos ( )
Acima de 5 salários mínimos ( )
DOS ITENS ABAIXO, ASSINALE QUAIS E QUANTOS VOCÊ POSSUI EM SUA
RESIDÊNCIA.
Itens Não tem Tem
Televisão a cores 0 1 2 3 4 ou +
Rádio 0 1 2 3 4 ou +
Banheiro 0 1 2 3 4 ou +
Automóvel 0 1 2 3 4 ou +
Empregada mensalista 0 1 2 3 4 ou +
Aspirador de pó 0 1 2 3 4 ou +
Máquina de lavar 0 1 2 3 4 ou +
Videocassete e/ou DVD 0 1 2 3 4 ou +
Geladeira 0 1 2 3 4 ou +
Freezer (aparelho independente
ou parte da geladeira duplex)
0 1 2 3 4 ou +
89
Anexo E
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aos Pais e/ou Responsáveis
90
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Estamos solicitando sua autorização para que seu (sua) filho (a) possa participar da
presente pesquisa, que está vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Este estudo tem como
principal objetivo investigar o tipo de respostas dadas ao Teste dos Contos de Fadas (TCF)
por crianças entre 06 e 13 anos de idade. Tal estudo prevê a participação de crianças,
estudantes de escolas públicas e privadas, do sexo masculino e feminino. Para tanto é
necessário que as crianças respondam a dois instrumentos: o Teste Matrizes Progressivas
Coloridas de Raven Escala Especial (para crianças de 6 a 11 anos) ou o Teste Matrizes
Progressivas - Escala Geral (para os de 12 e 13 anos) para avaliar o vel de rendimento
intelectual e o Teste dos Contos de Fadas TCF, técnica de avaliação clínica para
identificar diversas dimensões da personalidade infantil. Essa atividade será realizada na
própria instituição escolar, sem prejuízo das atividades escolares, em 2 encontros de
aproximadamente 45 minutos, sob a coordenação das psicólogas responsáveis pelo estudo
Dra. Blanca Susana Guevara Werlang e Dra. nica Medeiros Kother Macedo. Os dados
obtidos através destes instrumentos serão mantidos em sigilo e colocados anonimamente à
disposição dos pesquisadores responsáveis pelo estudo. O maior desconforto para as
crianças será o tempo que deverão dispor para responder aos instrumentos. O benefício
será a contribuição pessoal para o desenvolvimento de um estudo científico.
Eu, ______________________________________ (nome do pai, mãe ou
responsável pela criança) fui informado (a) dos objetivos especificados acima, de forma
clara e detalhada. Recebi informações específicas sobre o procedimento no qual meu
(minha) filho (a) estará envolvido (a), do desconforto previsto, tanto quanto do benefício
esperado. Todas as minhas dúvidas foram respondidas com clareza e sei que poderei
solicitar novos esclarecimentos a qualquer momento através do telefone (51) 3320-3550.
Sei que novas informações obtidas durante o estudo me serão fornecidas e que terei
liberdade de retirar meu consentimento de participação do meu (minha) filho (a) na
pesquisa em face dessas informações. Fui certificado de que as informações por meu
(minha) filho (a) fornecidas terão caráter confidencial.
Declaro que recebi cópia do presente termo de consentimento livre e esclarecido.
Nome do Responsável: _______________________________________
_______________________________________ ____________
Assinatura do Responsável Data
_____________________________ ____________________________
Dra. Blanca S. Guevara Werlang Dra. Mônica M. Kother Macedo
CRP 07/02126 CRP 07/03039
91
Dados Internacionais de
Catalogação na Publicação (CIP)
L911a Lovera, Renata de Rezende
Agressividade no período da latência através do teste
contos de fadas / Renata de Rezende Lovera. – Porto
Alegre, 2009.
90 f.
Diss. (Mestrado) – Faculdade de Psicologia, Pós-
Graduação em Psicologia Clínica, PUCRS.
Orientador: Dra. Blanca Susana Guevara Werlang.
1. Agressividade. 2. Crianças - Período de Latência.
3. Violência. 4. Psicanálise. I. Werlang, Blanca Susana
Guevara. II. Título.
CDD 155.4
Bibliotecário Responsável
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CRB 10/1204
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