51
Durante o tempo em que estive acompanhando o professor Moisés, por
várias vezes, ele foi cumprimentado por outros alunos de anos anteriores. Todas as
vezes que isso acontecia, era sempre uma abordagem respeitosa, com grande
intimidade e muito bom humor. Nas nossas conversas, sempre falávamos sobre as
dificuldades e afinidades de trabalhar com cada idade.
Eu trabalhei, nos termos de hoje, com sextas, sétimas, oitavas e nonas. Eu
trabalhei oito anos só com quinta série na nomenclatura anterior, sexta série
atual... Eu adorava! Adorava, acho que, pra mim, é a melhor série que
tem... pra trabalhar. Depois disso, vem a sexta série 'antiga', e a análise que
eu faço é a seguinte: na quinta série, os meninos trazem muita coisa
daquela educação física infantil, tão conhecendo um mundo novo, né?
Antes ele tinha só uma professora em sala, ou mais uma, agora passa a ser
um monte de professores; a referência não é só uma, a referência passa a
ser várias... É muito interessante. Então eles entram um pouco acuados,
com um pouco de medo de ver como é que são as coisas, a aceitação já
não é de um, ela tem que ser de todos os professores, ele tem que, de
alguma forma, tá se expressando, não pra um, mas pra vários professores.
Então, eu acho que é uma fase... Eles trazem um pouquinho, eles já tão
gostando da aula. A sexta série também é um pouco isso, só que eles já
sabem como é que é, mas eles ainda gostam muito e ainda têm um pouco
de receio das coisas. A sétima série, pra mim, é a série onde tudo tá livre,
onde eles já sabem onde é que eles tão, onde eles mais ou menos
dominam a coisa e aí eles acham que já podem tudo, né? Eu acho que
talvez a série mais difícil de trabalhar seja a oitava série na nomenclatura
atual. Porque a nona série já é uma coisa assim, talvez eles já até comecem
o ano um pouco assim, mas o foco já passa a ser o ensino médio e já
entram os namoricos, etc. etc. Então as brincadeiras, outras coisas já
mudam um pouco o foco, né? Eles já te escutam mais, a sua forma de
contato é outra, eu gosto de quinta, mas hoje na Escola, por exemplo, eu
trabalho com sexta, trabalho com sétima série, que é a antiga sexta e...
oitava, eu adoro também, adoro.
No ensino médio, nunca trabalhei. Nunca! Nunca! E acho que é o maior
desafio da educação física hoje é o ensino médio, sem sombra de dúvida.
Acho que, muitas vezes, até por nós, profissionais. Acho que a gente
espera uma coisa que às vezes num é. A gente precisa é estudar um
pouco mais a meninada do ensino médio, contextualizar um pouco
mais com esse mundo que a gente tem hoje, pra gente poder ter uma
idéia de como vai ser esse ensino médio.
Porque num dá pra se pensar em trabalhar ensino médio nos dias de hoje
como dez anos atrás. Tudo mudou! Hoje, se você conseguir colocar um
menino lá na quadra pra fazer qualquer atividade já é uma vitória. Mas isso
é uma outra história.
Mesmo trabalhando muito em duas empresas com trabalhos diferentes,
Moisés se dedica a um hobby que, de brincadeira, passou a ser um trabalho
profissional: