Download PDF
ads:
KRÍSTHEA KARYNE GONÇALVES PEREIRA
R
R
E
E
P
P
R
R
E
E
S
S
E
E
N
N
T
T
A
A
Ç
Ç
Õ
Õ
E
E
S
S
S
S
O
O
C
C
I
I
A
A
I
I
S
S
D
D
E
E
I
I
D
D
O
O
S
S
O
O
S
S
S
S
O
O
B
B
R
R
E
E
M
M
E
E
D
D
I
I
C
C
A
A
M
M
E
E
N
N
T
T
O
O
S
S
G
G
E
E
N
N
É
É
R
R
I
I
C
C
O
O
S
S
Dissertação apresentada ao Mestrado de
Enfermagem, do Centro de Ciências da Saúde,
da Universidade Federal da Paraíba inserido na
linha de pesquisa Políticas Públicas de Saúde
como requisito para obtenção do título de
Mestre em Enfermagem.
Orientadora: Profa. Dra. Antonia Oliveira Silva
Co-Orientador: Prof. Dr. Isac Almeida de Medeiros
João Pessoa - PB
2008
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
P436r Pereira, Krísthea Karyne Gonçalves
Representações Sociais de Idosos sobre Medicamentos
Genéricos. /Krísthea Karyne Gonçalves Pereira.- João
Pessoa, 2008.
82p.
Orientadora: Antonia Oliveira Silva
Co-orientador: Isac Almeida de Medeiros
Dissertação (Mestrado) – UFPB/CCS
1.Enfermagem. 2. Medicamentos Genéricos.- Idosos.
3. Medicamentos genéricos – Representações sociais.
UFPB/BC
CDU: 616
-
(043)
ads:
Krísthea Karyne Gonçalves Pereira
R
R
E
E
P
P
R
R
E
E
S
S
E
E
N
N
T
T
A
A
Ç
Ç
Õ
Õ
E
E
S
S
S
S
O
O
C
C
I
I
A
A
I
I
S
S
D
D
E
E
I
I
D
D
O
O
S
S
O
O
S
S
S
S
O
O
B
B
R
R
E
E
M
M
E
E
D
D
I
I
C
C
A
A
M
M
E
E
N
N
T
T
O
O
S
S
G
G
E
E
N
N
É
É
R
R
I
I
C
C
O
O
S
S
Aprovada em: _____/_______/_____.
Banca Examinadora
_____________________________________________
Profa. Dra. Antonia Oliveira Silva
Orientadora
______________________________________________
Profa. Dra. Clélia Albino Simpson (UFRN)
Membro
______________________________________________
Profa. Dra. Maria Júlia Guimarães Soares (UFPB)
Membro
_______________________________________________
Prof. Dr. Luiz Fernando Rangel Tura (UFRJ)
Membro
"A disponibilidade e o acesso aos medicamentos constituem parâmetros que permitem
medir a qualidade dos serviços de saúde e constituem indicadores sociais de justiça e
equidade na distribuição das riquezas de uma nação".
(Declaração sobre Políticas Farmacêuticas dos Países Andinos – Cartagena,
Colômbia, março de 1993).
Esta pesquisa foi financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior - CAPS
DEDICATÓRIA
“Não importa se a estação do ano muda...
Se o século vira, se o milênio é outro.
Se a idade aumenta...Conserva a vontade de viver,
Não se chega a parte alguma sem ela."
Fernando Pessoa
Aos meus amados avós...dedico.
AGRADECIMENTOS
A Profa. Dra. Antonia Oliveira Silva, pela sua orientação e dedicação, imprescindíveis para o
crescimento da minha vida científica e pessoal. Gostaria de agradecê-la por sempre me
estimular a escolher os caminhos certos, não os mais fáceis, os já percorridos, mas sim aqueles
que mais teriam a acrescentar, os mais desafiadores, que me faziam cruzar limites.
Ao Prof. Dr. Isac Almeida de Medeiros, pelas valiosas contribuições, por ter me
apresentado o mundo da pesquisa científica e por ter acreditado em meu potencial desde a
graduação.
Aos professores Dr. Luiz Fernando Rangel Tura, Dra. Clélia Albino Simpson e Dra.
Maria Júlia Guimarães Soares, por participarem da banca examinadora, de forma
construtiva e imprescindível para o êxito da pequisa.
Ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, por todo apoio e qualidade acadêmica
oferecidos durante o mestrado.
A CAPES, pelo apoio finaceiro durante o desenvolvomento desta pesquisa.
A Deus, por ser meu Pai, meu melhor Amigo, meu Senhor e Salvador, meu refúgio, lugar
seguro, razão do meu viver. Por sua fidelidade, misericórdia, bondade, perdão, amor
incomparável e sem limites. Por todas as vezes que Ele acreditou em mim e insistiu na minha
felicidade e realização.
Aos meus pais, Pereira e Leneide, que me ensinaram os valores dignos da vida e me
incentivaram a valorizar a importância do conhecimento.
Às minhas irmãs Kalina, Karínthea e Gabriel, pelo carinho e incentivo constantes.
Aos meus avós: Emídio, Alice, Antônio e Adalgiza, pelos exemplos que eles foram e são
em minha vida, por fazerem parte das minhas melhores lembranças.
Aos meus amigos Charles, Marília, Luan, Edílson, Niâni, Amílca, Pr. Márcio, Linda,
Vera, Rodrigo, Tathy, Manu, Júnior, pelo amor e apoio dispensados em tantos momentos
desta caminhada, fazendo-me acreditar na verdadeira amizade.
S
S
U
U
M
M
Á
Á
R
R
I
I
O
O
CAPÍTULO 1 – CONSTRUÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO ...............................................15
CAPÍTULO 2 – ABORDAGEM TEÓRICA .............................................................................20
2.1- Programa Nacional de Atenção ao Idoso..........................................................................21
2.2- Política Nacional de Medicamento ...................................................................................27
2.3- Política de Medicamentos Genéricos................................................................................30
2.4- Teoria das Representações Sociais....................................................................................33
CAPÍTULO 3 – ENFOQUE METODOLÓGICO.....................................................................41
3.1- Tipo de Estudo ..................................................................................................................42
3.2- Campo de Investigação .....................................................................................................42
3.3- Sujeitos do estudo .............................................................................................................42
3.3.1- Aspectos Éticos.....................................................................................................42
3.4- Instrumentos para Coleta dos Dados.................................................................................42
3.4.1- Questionário..........................................................................................................42
3.4.2- Teste de Associação Livre de Palavras.................................................................42
3.4.3- Entrevista Semi-estruturada ..................................................................................42
3.5- Análise e tratamento dos dados.........................................................................................43
CAPÍTULO 4 – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.........................45
4.1- Os participantes do estudo.................................................................................................46
4.2- Conteúdos, imagens e posicionamentos dos idosos mais significativos para o
medicamento genérico .............................................................................................................48
4.2.1- As Classes e suas descrições.................................................................................50
4.2.2- Conteúdos Significativos de cada classe ..............................................................53
4.3- Núcleo Central do Medicamento Genérico ......................................................................56
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................................65
REFERÊNCIAS ...........................................................................................................................70
APÊNDICES.................................................................................................................................76
L
L
I
I
S
S
T
T
A
A
D
D
E
E
F
F
I
I
G
G
U
U
R
R
A
A
S
S
Figura 1. Distribuição das Classes Temáticas..........................................................................49
Figura 2. Análise de Similitude ao termo indutor «medicamento genérico»...........................58
L
L
I
I
S
S
T
T
A
A
D
D
E
E
T
T
A
A
B
B
E
E
L
L
A
A
S
S
Tabela 1. Distribuição dos sujeitos segundo as variáveis sócio-demográficas .................46
Tabela 2. Palavras associadas significativamente à classe 1 .............................................50
Tabela 3. Palavras associadas significativamente à classe 2 .............................................51
Tabela 4. Palavras associadas significativamente à classe 3 .............................................51
Tabela 5. Palavras associadas significativamente à classe 4 .............................................52
Tabela 6. Palavras associadas significativamente à classe 5 .............................................52
Tabela 7. Palavras associadas significativamente à classe 6 .............................................53
Tabela 8. Resultados obtidos do Teste de Evocação .........................................................57
Tabela 9. Categorias resultantes das evocações obtidas do Teste de Associação de Palavras
.............................................................................................................................................57
Tabela 10. Identificação dos possíveis elementos do Núcleo Central das Representações
Sociais do Medicamento Genérico por Idosos ...................................................................58
L
L
I
I
S
S
T
T
A
A
D
D
E
E
G
G
R
R
Á
Á
F
F
I
I
C
C
O
O
S
S
Gráfico 1. Dendograma da Classificação Hierárquica Descendente.......................................49
L
L
I
I
S
S
T
T
A
A
D
D
E
E
S
S
I
I
G
G
L
L
A
A
S
S
ACT- Análise de Conteúdo Temática
ALCESTE- Análise Lexical Contextual de um Conjunto de Segmentos de Texto
ANVISA- Agência Nacional de Vigilância Sanitária
CEME- Central de Medicamentos
CPI- Comissão Parlamentar
DCB- Denominação Comum Brasileira
DCI- Denominação Comum Internacional
HAS- Hipertensão Arterial Sistêmica
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IES- Instituições de Ensino Superior
OMS- Organização Mundial de Saúde
PNM- Política Nacional de Medicamentos
PNSI- Política Nacional de Saúde do Idoso
RENAME- Relação Nacional de Medicamentos Essenciais
RS- Representações Sociais
SBGG- Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia
SUS- Sistema Único de Saúde
TRS- Teoria das Representações Sociais
UBS- Unidades Básicas de Saúde
UCE- Unidade de Contexto Elementar
UCI- Unidade de Contexto Inicial
RESUMO
PEREIRA, K. K. G. Representações Sociais dos Idosos sobre Medicamentos Genéricos.
2008. 85f. Dissertação (Mestrado). Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal da
Paraíba, João Pessoa.
Introdução: O aumento da longevidade é um novo desafio às sociedades, aos pesquisadores,
aos gestores de saúde e à própria população que envelhece de todo o mundo. Viver mais é
importante desde que se consiga agregar qualidade e significado aos anos adicionais de vida.
Diante deste contexto, a política de medicamentos genéricos surge com o intuito de reduzir os
custos de saúde pública e, ao mesmo tempo, favorecer o acesso da população em geral a
medicamentos de qualidade garantida e preço baixo. Compreendendo que o processo de
composição de representações sociais positivas sobre os medicamentos genéricos é processo
fundamental para a sua aceitação social e sucesso, principalmente no caso de medicamentos,
cujo efeito está ligado diretamente à saúde humana, utilizou-se a Teoria das Representações
Sociais como suporte teórico-metodológico, a fim de se compreender como estas
representações
orientam o comportamento dos idosos no processo de aquisição e adesão a este
novo produto. Objetivo: Esta pesquisa tem os objetivos de apreender representações sociais
acerca dos medicamentos genéricos, elaboradas por idosos usuários de unidades básicas de
saúde: de Mandacaru e das Praias e explorar as implicações das representações sociais sobre
os medicamento genéricos na adesão ao seu uso pelos idosos. Metodologia: Tratou-se de um
estudo exploratório, cuja pesquisa foi realizada no período de agosto de 2008 a outubro de
2008 com 100 idosos de ambos os sexos, abordados no momento do recebimento de
medicamentos nas farmácias das unidades básicas de saúde de Mandacaru e das Praias, na
cidade de João Pessoa, Paraíba, Brasil. Os instrumentos de coleta de dados utilizados foram:
um questionário, uma entrevista semi-estruturada e o teste de associação livre de palavras,
com o estímulo indutor medicamento genérico”. A análise dos dados do teste de associação
de palavras foi realizada com o auxílio do programa EVOC 2000 a partir de uma análise de
conteúdo categorial temática que permitiu a construção de um banco de dados. A análise dos
dados da entrevista e do questionário foi realizada utilizando-se o programa Alceste 4.8, que
apontou seis classes semânticas de análise identificando o sistema central das representações
sociais do medicamento genérico composto por: equivalência e preço, e o sistema periférico
constituído pelas categorias: salário, benefício social, qualidade, economia, acesso e
substituição. Resultados e Comentários: Para os idosos, o genérico representa um
medicamento comercializado a preço mais barato, sem marca, equivalente a outro mais caro,
mas que supre as necessidades imediatas de consumo. Além disso, a palavra «genérico»
encerra uma representação mais ampla, associando-o a produtos que tenham a característica
dos medicamentos genéricos, porém com qualidade duvidosa. Considerações Finais:
Verificou-se que aspectos relacionados com a adesão ao uso dos medicamentos genéricos
pelos idosos, influenciam indiretamente o aprimoramento da política do genérico no Brasil,
uma vez que os idosos do estudo não acreditam muito nos medicamento genéricos e os
associam a práticas políticas.
Palavras-chave: Representações sociais, Idosos, Medicamento Genérico, Enfermagem.
ABSTRACT
PEREIRA, K. K. G. Social Representations of the Elderly on Generic Drugs. 2008. 85f.
Dissertation (Masters). Center for Health Sciences, University of Paraiba, Joao Pessoa.
Introduction: The increase in longevity is a new challenge to companies, researchers, the
managers of health and the very population that ages from around the world. Living is more
important since it will add quality and meaning to the additional years of life. In this context,
the policy of generic drugs is aiming to reduce the cost of public health, while encouraging the
access of the general population to medicines of guaranteed quality and low price.
Understanding that the process of composition of positive social representations on generic
medicines is essential process for its social acceptance and success, particularly in the case of
drugs whose effect is linked directly to human health, using the theory of social
representations as support theoretical and methodological in order to understand how these
representations guide the behavior of the elderly in the procurement process and accession to
this new product. Purpose: This research has the objective of seizing social representations
about the generic medicines produced by elderly users of basic health units: the Mandacaru
and beaches and explore the implications of social representations on the generic drug in
adherence to its use by the elderly. Methodology: This was an exploratory study, whose
research was conducted from August 2008 to October 2008 with 100 elderly of both sexes,
raised at the time of receipt of drugs in pharmacies of basic health units and the Mandacaru
Beaches in the city of Joao Pessoa, Paraiba, Brazil. The instruments for collecting data used
were: a questionnaire, a semi-structured interview and test of free association of words, with
the stimulus inducing "generic drug". The analysis of data from the association of words test
was conducted with the help of the program EVOC 2000 from an analysis of thematic content
categorical that allowed the construction of a database. Data analysis of interviews and the
questionnaire was performed using the program Alceste 4.8, which showed six classes of
semantic analysis identifying the core system of social representations of the generic product
composed of equity and price, and the peripheral system consists of categories: wages, social
benefits, quality, economics, access and replacement. Results and Comments: For the
elderly, the generic drug is marketed for a price cheaper, unbranded, equivalent to other more
expensive, but to meet the immediate needs of consumption. Also, the word 'generic' is a
broader representation by linking it to products that have the characteristic of generic drugs,
but with dubious quality. Conclusions: It was found that aspects related to accession to the
use of generic medicines by the elderly, indirectly influence the improvement of the general
policy in Brazil, since the study of the elderly do not believe much in generic medicine and
associate the political practices.
Key words: Social representations, Elderly, Generic Medicine, Nursing.
15
C
C
A
A
P
P
Í
Í
T
T
U
U
L
L
O
O
1
1
C
C
O
O
N
N
S
S
T
T
R
R
U
U
Ç
Ç
Ã
Ã
O
O
D
D
O
O
O
O
B
B
J
J
E
E
T
T
O
O
D
D
E
E
E
E
S
S
T
T
U
U
D
D
O
O
16
O envelhecimento populacional é um dos maiores desafios da saúde pública
contemporânea. Este fenômeno ocorreu inicialmente em países desenvolvidos, porém, mais
recentemente é nos países em desenvolvimento que o envelhecimento da população tem
ocorrido de forma mais acentuada. Enquanto, nos primeiros, o envelhecimento ocorreu
associado às melhorias nas condições gerais de vida, nos outros, esse processo acontece de
forma rápida, sem tempo para uma reorganização social e da área de saúde adequada para
atender às novas demandas emergentes. Este aspecto pode ser observado ao se olhar as
proporções estatísticas disponíveis em 2002, demonstrando a existência de 15 milhões de
brasileiros com mais de 60 anos de idade, e as projeções para o ano de 2020, que terá 15% da
população constituída de idosos (CAMARANO, 2002).
Neste sentido, o envelhecimento deixa de ser vista na esfera privada e transforma-se
numa questão pública, com impacto significativo na sociedade, refletindo economicamente e,
na saúde pública, configurando-se em uma temática sócio-cultural e acadêmica relevante pela
sua espessura social responsável pela geração de teorias subjetivas no âmbito do senso
comum, dimensionadas por diferentes representações sociais sobre o envelhecimento. Na
formação do pensamento social, mediada no envelhecimento pelo corpo e o tempo sabe-se
que aspectos culturais, biológicos, psicológicos e sociais e o olhar sobre o velho são
influencias importantes associadas às condições financeiras do idoso, considerada como uma
situação confortável, de pobreza, ou dependente em virtude de incapacidade. Assim
importante foi o tratamento dado à terceira idade, que é muito utilizado nas referências que
tratam dos projetos sobre atividades sociais, culturais e esportivas voltadas para os idosos.
(SÁ, 2004). Sabe-se que o processo de envelhecimento é resultado de diminuições dos
coeficientes de mortalidade e das taxas de fecundidade e natalidade. A queda da mortalidade
em todas as faixas etárias, ocasionada, sobretudo pelas melhorias nas áreas de saúde, infra-
estruturas e técnicas sanitárias, levou, inicialmente, ao aumento da expectativa de vida ao
nascer e, a seguir, da expectativa de vida aos 60 anos (sobrevida). Isto foi secundado pela
queda da fecundidade e natalidade. No Brasil, entre 1990 e 2000 a queda da fecundidade foi
de 12%. Conforme dados da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
44% das mulheres em idade fértil têm menos de dois filhos. Consequentemente o aumento
da proporção de idosos, caracterizando a “transição demográfica” (SILVA, 2005).
No Brasil, o mero de idosos passou de 3 milhões em 1960, para 7 milhões em 1975
e 14 milhões em 2002 (um aumento de 500% em quarenta anos). A cada ano, mais 650 mil
idosos são incorporados à população brasileira. De acordo com Carvalho Filho e Papaléo
17
Netto (2005), em 2025 nós ocuparemos a sexta posição mundial em meros absolutos de
idosos (32 milhões), perfazendo 15% de nossa população total. O incremento atual desta
população vem sendo apontado como um problema com conseqüências individuais,
econômicas e sociais ocasionando, ao longo do tempo, alterações nas políticas de atenção ao
idoso e, conseqüentemente, nas representações sociais da velhice (PEIXOTO, 2003).
De acordo com Debert (2003), a velhice pode ser concebida, por um lado, como um
fato universal e natural, baseada fundamentalmente no ciclo biológico do ser humano
(nascimento, crescimento e morte) e, por outro, como um fato social e histórico que envolve
as várias formas de conceber e viver o envelhecimento. As representações relacionadas aos
idosos e o tratamento dado pela sociedade aos mesmos adquirem significados particulares em
contextos históricos, sociais e culturais distintos. Significados diferenciados socialmente que,
somados ao crescimento do número de idosos no mundo e, de forma mais específica no Brasil,
justifica a importância de políticas públicas voltadas para esta população, assim como estudos
que possam caracterizar suas necessidades.
Em paralelo às modificações observadas na pirâmide populacional, doenças próprias
do envelhecimento ganham maior expressão no conjunto da sociedade. Um dos resultados
dessa dinâmica é uma demanda crescente por serviços e insumos relacionados à saúde. No
Brasil, as doenças circulatórias representam a principal causa de morte tanto em homens
quanto em mulheres com idade avançada (LIMA et. al., 2007). Aliás, este é um dos desafios
atuais: escassez de recursos para uma demanda crescente. O idoso consome mais serviços de
saúde, as internações hospitalares são mais freqüentes e o tempo de ocupação do leito é maior
quando comparado a outras faixas etárias. Em geral, as doenças dos idosos são crônicas e
múltiplas, perduram por vários anos e exigem acompanhamento constante, cuidados
permanentes, medicação contínua e exames periódicos. Estas doenças podem gerar um
processo incapacitante, afetando a funcionalidade das pessoas idosas, ou seja, dificultando ou
impedindo o desempenho de suas atividades cotidianas de forma independente. E ainda que
não sejam fatais, essas condições geralmente tendem a comprometer de forma significativa a
qualidade de vida dos idosos.
Diante deste contexto, cerca de 90% dos idosos consomem pelo menos um
medicamento, e 1/3 deles, cinco ou mais, simultaneamente (STUCK et al., 1994). Seu uso
irracional se traduz em consumo excessivo de produtos supérfluos, ou não indicados, e
subutilização de outros, essenciais para o controle das doenças. A média de produtos usados
por pessoa oscila entre 2 e 5 (CHRISCHILLES et al., 1990). São preditores do uso a idade
18
avançada (BARDEL, 2000), o sexo feminino, as piores condições de saúde e a depressão
(CHRISCHILLES, 1992). Entre as classes terapêuticas mais consumidas estão os produtos
cardiovasculares, os anti-reumáticos, e os analgésicos.
Além disso, as alterações gerais na vida dos indivíduos mais idosos causam efeitos
significativos sobre o modo com que os medicamentos são utilizados. Entre essas alterações,
destacam-se o aumento da incidência de múltiplas doenças com a idade avançada, problemas
nutricionais, diminuição dos recursos financeiros e em alguns pacientes menor aderência
às doses por uma variedade de razões (KATZUNG, 2003). Para o referido autor, o uso de
medicamentos pelos idosos tem gerado preocupação quanto aos gastos excessivos e aos
possíveis efeitos indesejáveis. Por conseguinte, o profissional de saúde deve estar consciente
das alterações que podem ocorrer nas respostas farmacológicas em indivíduos idosos e saber
lidar com essas mudanças. Diante desta problemática faz-se necessária a implementação de
uma política de medicamentos genéricos que objetiva, principalmente, aumentar o acesso aos
medicamentos, melhorar a qualidade desses produtos e diminuir o custo dos tratamentos
médicos. Segundo a revista The Economist, o Brasil é o nono país do mundo em consumo de
medicamentos per capita, mas 50% dos pacientes que precisam de um medicamento não
podem comprá-lo e abandonam o tratamento.
Os medicamentos genéricos representavam, em maio de 2003, 7,5% de participação
em volume de vendas e 5,9% em valor de mercado farmacêutico brasileiro. Apesar de todas as
estratégias executadas pelo governo no sentido de estimular o uso do medicamento genérico,
as estatísticas demonstram que este ainda representa 9% do mercado nacional em unidades
vendidas.
Os estudos até hoje desenvolvidos na área do medicamento genérico ressaltam
principalmente a biodisponibilidade dos fármacos, a bioequivalência com o medicamento de
referência e as dimensões de impacto que esses medicamentos têm causado no mercado
farmacêutico, deixando uma lacuna em relação às implicações psicossociais que o
medicamento genérico tem causado na população, principalmente em relação à confiabilidade
e aceitabilidade desses produtos pela sociedade. No entanto, o Brasil, desafiando interesses de
vários segmentos, tem empreendido importantes esforços para melhorar o acesso aos
medicamentos, componente crítico de uma estratégia do setor saúde, tentando, dessa forma,
promover a eqüidade na saúde da sua população. A necessidade de se permitir um maior
acesso da população aos tratamentos médicos, assim como de diminuir custos, incita a
investigação das possíveis causas que estão dificultando a concretização dessa política no país
.
19
Estudar as construções de representações sociais acerca dos medicamentos genéricos
significa articular o campo individual e o campo social onde circulam representações e
metáforas sobre tais medicamentos. A importância dos medicamentos genéricos na medicina
alopática mudou a ordem social da farmacologia, surgindo diferentes percepções importantes
na relação individuo/sociedade, visto que muitas vezes é através delas que o indivíduo atribui
significados para experiências para as quais ele ainda não atribui significados pessoais
consistentes.
Desta forma, para se conhecer melhor a influência subjetiva na apropriação do uso do
medicamento genérico pelos idosos, é que se optou pelo aporte teórico da Teoria das
Representações Sociais (MOSCOVICI, 1978) enquanto uma possibilidade de conhecimento
de teorias do senso comum na adesão destes medicamentos pela população do estudo,
possibilitando apreendê-las não apenas como um sistema de cognições, mas destacar o
contexto no qual elas são produzidas, em particular, no âmbito da farmacologia e sua interface
com a Saúde Pública. A compreensão dessa realidade comum no grupo social estudado
(idosos usuários de unidades básicas de saúde) configura-se uma maneira de se apreender a
realidade social do grupo de idosos em relação ao medicamento genérico, servindo de base
para a realização de futuras estratégias de ação que visem à melhoria da implementação da
política de medicamentos genéricos no país em relação ao grupo estudado.
Assim sendo, questiona-se: quais as representações sociais elaboradas pelos idosos
sobre os medicamentos genéricos e quais as implicações que estas representações têm na
adesão ao uso pelos idosos?
Para responder tais questionamentos este estudo teve como objetivos de:
a) Apreender representações sociais acerca dos medicamentos genéricos, elaboradas por
idosos usuários de duas unidades básicas de saúde: de Mandacaru e das Praias;
b) Explorar as implicações das representações sociais sobre os medicamento genéricos na
adesão ao seu uso pelos idosos.
20
C
C
A
A
P
P
Í
Í
T
T
U
U
L
L
O
O
2
2
A
A
B
B
O
O
R
R
D
D
A
A
G
G
E
E
M
M
T
T
E
E
Ó
Ó
R
R
I
I
C
C
A
A
21
2
2
.
.
1
1
P
P
r
r
o
o
g
g
r
r
a
a
m
m
a
a
N
N
a
a
c
c
i
i
o
o
n
n
a
a
l
l
d
d
e
e
A
A
t
t
e
e
n
n
ç
ç
ã
ã
o
o
a
a
o
o
I
I
d
d
o
o
s
s
o
o
Uma das maiores conquistas da humanidade foi a ampliação do tempo de vida, que se
fez acompanhar de uma melhora substancial dos parâmetros de saúde das populações, ainda
que estas conquistas estejam longe de se distribuir de forma eqüitativa nos diferentes países e
contextos sócio-econômicos. O que era antes o privilegio de poucos, chegar à velhice, hoje
passa a ser a norma mesmo nos países mais pobres. Esta conquista maior do século XX se
transforma, no entanto, em um grande desafio para o século XXI. O envelhecimento da
população é uma aspiração natural de qualquer sociedade, mas não basta por si só. Viver mais
é importante desde que se consiga agregar qualidade aos anos adicionais de vida. Dessa
forma, surgem desafios para a Saúde Pública, reconhecidos pela Organização Mundial da
Saúde (OMS), como fortalecer políticas de prevenção e promoção da saúde, especialmente
aquelas voltadas para os idosos, mantendo e/ou melhorando a qualidade de vida com o
envelhecimento.
O envelhecimento é um fenômeno global que exige ações e programas em nível local,
regional, nacional e internacional. Conhecer os aspectos que envolvem o processo de
envelhecimento tem se tornado de grande relevância para implementação das Políticas
Públicas para os Idosos, no que refere aos programas e ações.
Entre 1980 e 2000 a população com 60 anos ou mais cresceu 7,3 milhões, totalizando
mais de 14,5 milhões em 2000. Tal resultado deve-se a um conjunto de fatores, como a
diminuição da taxa de fecundidade, de natalidade e de mortalidade infantil. Além disso, o
aumento da qualidade de vida associado a melhorias das condições sanitárias, educacionais,
alimentícias, da assistência à saúde e avanços na medicina geriátrica contribuem para esta
situação. (PEIXOTO, 2003).
A expectativa média de vida também aumentou acentuadamente no país, de forma que
este aumento do número de anos de vida necessita de políticas racionais para lidar com as
conseqüências sociais, econômicas e de saúde do envelhecimento populacional (KALACHE
et al., 1987), uma vez que não basta apenas viver mais, hoje, o grande desafio da gerontologia
é investir em esforços que possam dar mais qualidade de vida aos idosos.
Os idosos apresentam mais problemas de saúde que a população geral. Em 1999, dos
86,5 milhões de pessoas que declararam ter consultado um médico nos últimos 12 meses,
73,2% eram maiores de 65 anos (IBGE, 2001), necessitando, portanto de uma atenção especial
e compatível com as suas condições
biopsicossociais, que tendem a se agravar
gradativamente. Para Motta e Aguiar (2007), os fenômenos clínicos apresentados durante o
22
envelhecimento são dependentes também de fatores como, situação econômica e social, assim,
o envelhecimento saudável é entendido como a interação entre saúde física e mental,
independência nas atividades de vida diária, integração social, suporte familiar e
independência econômica.
Neste sentido, os dados demográficos mostram a necessidade urgente dos gestores e
políticos brasileiros observar o panorama dessa transição, e, em conjunto com a sociedade,
num breve espaço de tempo e discutirem as políticas públicas de atenção ao idoso. Urge serem
tais políticas implementadas em todas as esferas sociais, por técnicos e profissionais que
atendem essa parcela populacional.
Em nossa sociedade, a velhice tende a ser vista como época de perdas, incapacidades e
decrepitude. Aliados a essa imagem social têm-se os dados objetivos de aposentadoria
insuficiente, oportunidades negadas, desqualificação tecnológica e exclusão social. Todos
esses fatores dificultam ou impossibilitam uma vida digna na velhice (PASCHOAL, 2000), de
forma que se torna imperativo investir na implementação de políticas públicas para propiciar
condições de vida saudável e de qualidade para a população de idosos que cresce
progressivamente.
O rápido processo de envelhecimento da população brasileira, apesar de recente, vem
sendo ressaltado na produção científica e nos fóruns de discussão sobre o assunto, não por
suas implicações sociais, mas, também, pela necessidade de estruturação de um modelo
assistencial que contemple o segmento idoso de forma integral, superando os desafios
representados por estas novas demandas sociais e de saúde (VERAS, 1998).
O processo de envelhecimento populacional tem sido discutido e acompanhado por
medidas de proteção para os idosos, como cidadãos cada vez mais presentes e ativos nas
sociedades. Até a década de 70, do culo XX, no Brasil, os idosos recebiam, principalmente,
atenção de cunho caritativo de instituições não-governamentais, tais como entidades religiosas
e filantrópicas.
O direito universal e integral à saúde no Brasil, foi conquistado pela sociedade na
Constituição de 1988 e reafirmado com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio
da lei orgânica da Saúde 8.080/90. A esse direito entende-se o acesso universal e equânime
a serviços e ações de promoção, proteção e recuperação da saúde. A regulamentação do SUS
direciona a implantação de um modelo de atenção à saúde que priorize a descentralização, a
universalidade, a equidade, a integralidade da atenção e o controle social. (OLIVEIRA, M. A;
BERMUDEZ, J. A. Z.; CASTRO, C. G. S. O., 2007).
23
Em paralelo à regulamentação do SUS, o Brasil organiza-se para responder as
crescentes demandas de sua população que envelhece. Promulgada em 1994 e regulamentada
em 1996, a Política Nacional do Idoso, assegura direitos sociais à pessoa idosa, criando
condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade e
reafirmando o direito à saúde nos diversos níveis de atendimento do SUS (Lei 8.842/94 e
Decreto 1.948/96). Essa Política foi reivindicada pela sociedade, sendo resultado de
inúmeras discussões e consultas ocorridas nos estados, nas quais participaram idosos ativos,
aposentados, professores universitários, profissionais da área de Gerontologia e Geriatria e
várias entidades representativas desse segmento, a exemplo da Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia (SBGG).
A Política Nacional do Idoso, criou normas para os direitos sociais dos idosos,
garantindo autonomia, integração e participação efetiva como instrumento de cidadania,
reafirmando a saúde como direito nos diversos níveis de atendimento do SUS (Lei n° 8.142/94
e n° 1.948) e direcionando medidas coletivas e individuais de saúde.
A Lei 8.142 rege-se por determinados princípios, tais como: assegurar ao idoso todos
os direitos de cidadania, sendo a família, a sociedade e o Estado os responsáveis por garantir
sua participação na comunidade, defender sua dignidade, bem-estar e direito à vida. O
processo de envelhecimento diz respeito à sociedade de forma geral e o idoso não deve sofrer
discriminação de nenhuma natureza, bem como deve ser o principal agente e o destinatário
das transformações indicadas por essa política. E, por fim, cabe aos poderes públicos e à
sociedade em geral a aplicação dessa lei, considerando as diferenças econômicas, sociais,
além das regionais
.
De acordo com o estabelecido, a mencionada lei determinou a articulação e integração
de setores ministeriais e uma secretaria para a elaboração de um Plano de Ação
Governamental para a Integração da Política Nacional do Idoso (PNI). Esse Plano de Ação foi
composto por nove órgãos: Ministério da Previdência e Assistência Social; Educação e
Desporto; Justiça; Cultura; Trabalho e Emprego; Saúde; Esporte e Turismo; Planejamento,
Orçamento e Gestão e Secretaria de Desenvolvimento Urbano.
A Portaria Ministerial 1.395 anuncia a Política Nacional de Saúde do Idoso, em
1999. Esta determina que os órgãos e entidades do Ministério da Saúde relacionados ao tema
promovam a elaboração ou a readequação de planos, projetos e atividades na conformidade
das diretrizes e responsabilidades nela estabelecidas (BRASIL, 1999).
24
A Política Nacional de Saúde do Idoso (PNSI) consta na íntegra do anexo da Portaria
1.395/1999 do Ministério da Saúde (MS) e dela é parte integrante. Esta política visa à
promoção do envelhecimento saudável, à prevenção de doenças, à recuperação da saúde, à
preservação/melhoria/reabilitação da capacidade funcional dos idosos com a finalidade de
assegurar-lhes sua permanência no meio e sociedade em que vivem desempenhando suas
atividades de maneira independente (BRASIL, 2003). Sua implementação compreende a
definição e/ou readequação de planos, programas, projetos e atividades do setor saúde, direta
ou indiretamente relacionados com seu objeto.
Na PNSI foram definidas diretrizes essenciais (GORDILHO, 2000), como:
- promoção do envelhecimento saudável voltado ao desenvolvimento de ações que
orientem os idosos e as pessoas que estão envelhecendo em relação à importância da melhoria
de suas habilidades funcionais, mediante a adoção precoce de hábitos saudáveis de vida, a
eliminação de comportamentos nocivos à saúde, além de orientação aos idosos e seus
familiares quanto aos riscos ambientais favoráveis a quedas;
- manutenção da capacidade funcional referente às ações com vistas à prevenção de
perdas funcionais em dois níveis específicos: 1) prevenção de agravos à saúde, que
determinam ações voltadas para a imunização dos idosos; 2) reforço de ações dirigidas para a
detecção precoce de enfermidades não-transmissíveis, com a introdução de novas medidas,
como a antecipação de danos sensoriais, utilização de protocolos para situações de risco de
quedas, alteração de humor e perdas cognitivas, prevenção de perdas dentárias e outras
afecções da cavidade bucal, prevenção de deficiências nutricionais, avaliação das capacidades
e perdas funcionais no ambiente domiciliar e prevenção do isolamento social;
- assistência às necessidades de saúde do idoso, extensiva aos âmbitos ambulatorial,
hospitalar e domiciliar. No âmbito ambulatorial a assistência será embasada na consulta
geriátrica fundamentada na coleta e no registro de informações. Para tanto, serão utilizadas
escalas de rastreamento para a depressão, perda cognitiva e avaliação da capacidade funcional,
assim como o encaminhamento correto para a equipe multiprofissional e interdisciplinar.
Dessa forma, espera-se alcançar um impacto expressivo na assistência, em particular na
redução das taxas de internação hospitalar e em clínicas de repouso, bem como a diminuição
da demanda aos serviços de emergência e aos ambulatórios de especialidades.
Na assistência hospitalar, a idade será considerada um indicador na determinação da
assistência ao idoso enfermo, e o estado funcional será o parâmetro mais fidedigno no
estabelecimento de critérios específicos de atendimento. Idosos classificados como totalmente
25
dependentes constituirão o grupo enquadrado no conceito de vulnerabilidade. Os serviços de
saúde deverão estar preparados para identificá-los e promover-lhes assistência diferenciada e
pautada na participação de diferentes profissionais da área da saúde. A tentativa de
reabilitação desses pacientes deve ser privilegiada antes e durante a hospitalização, para evitar
internações prolongadas que aumentam a carga de sofrimento do idoso, bem como oneram os
custos dos serviços de saúde.
A assistência domiciliar constituirá estratégia importante para diminuir o custo da
internação, pois é menos onerosa do que a internação hospitalar. O atendimento ao idoso
enfermo, residente em instituições, terá as mesmas características da assistência domiciliar. A
implantação do hospital-dia geriátrico deverá ser estimulada, e terá como objetivo viabilizar a
assistência técnica adequada para pacientes cuja necessidade terapêutica e de orientação para
cuidadores não justifique a permanência em hospital.
Ainda como diretrizes da PNSI mencionam-se as seguintes:
a) Reabilitação da capacidade funcional comprometida com foco especial na
reabilitação precoce, ou seja, prevenir a evolução e recuperar a perda funcional incipiente, de
forma a evitar que as limitações da capacidade funcional avancem e fazer com que estas
limitações sejam amenizadas. Para tanto, será necessário o envolvimento de uma equipe
multiprofissional;
b) Capacitação de recursos humanos especializados, os quais constituem diretrizes que
perpassarão todas as demais definidas nesta política, configurando mecanismos de articulação
intersetorial, de forma que o setor saúde possa dispor de pessoal em qualidade e quantidade
adequadas, e cujo provimento é de responsabilidade das três esferas de governo. O trabalho
articulado com o Ministério da Educação e as Instituições de Ensino Superior (IES) deverá ser
viabilizado por intermédio dos Centros Colaboradores de Geriatria e Gerontologia, tendo em
vista a capacitação de recursos humanos em saúde, de acordo com as diretrizes aqui fixadas.
Estes Centros serão, preferencialmente, localizados em IES e terão atribuições específicas,
conforme as características de cada instituição. A indicação dos centros deverá ser
estabelecida pelo MS de acordo com as necessidades identificadas no processo de implantação
desta política nacional. A capacitação tentará preparar os recursos humanos para a
operacionalização de um conjunto básico de atividades, tais como a prevenção de perdas, a
manutenção e a recuperação da capacidade funcional e o controle dos fatores que interferem
no estado de saúde da população idosa, entre outras;
26
c) Apoio do desenvolvimento de cuidados informais, que busca o desenvolvimento de
parcerias entre os profissionais da saúde e as pessoas próximas aos idosos responsáveis pelos
cuidados diretos, necessários à manutenção das atividades da vida diária e pelo seguimento
das orientações emitidas pelos profissionais. Tal parceria, apontados nos estudos e pesquisas
sobre o envelhecimento com dependência, configura a estratégia mais atual e menos onerosa
para manter e promover a melhoria da capacidade funcional dos idosos. Para o desempenho
das atividades de cuidado ao idoso dependente, as pessoas envolvidas deverão receber dos
profissionais de saúde os esclarecimentos e as orientações necessárias, inclusive em relação à
doença crônico-degenerativa com a qual está eventualmente lidando, bem como informações
sobre como acompanhar o tratamento prescrito. Neste sentido, o modelo de cuidados
domiciliares, antes restrito à esfera privada e à intimidade das famílias, não poderá ter como
única finalidade baratear custos ou transferir responsabilidades, mas, também, atender às
demandas de orientação, informação e assessoria de especialistas;
d) Apoio a estudos e pesquisa, que será de responsabilidade dos Centros
Colaboradores de Geriatria e Gerontologia, assegurando-se as áreas de conhecimento de suas
especialidades. Com apoio financeiro das agências de Ciência e Tecnologia regionais e/ou
federais, estes centros deverão organizar seu corpo de pesquisadores e atuar em uma ou mais
linha de pesquisa com o objetivo de gerar informações para subsidiar as ações de saúde
dirigidas à população de mais de 60 anos de idade. Os MS e o Ministério da Ciência e
Tecnologia serão os articuladores, com vistas a garantir a efetividade de ações programadas de
estudos e pesquisas desta PNSI.
Entende-se que a operacionalização dessa política compreende um processo
sistematizado e contínuo de seguimento e avaliação para a observação dos resultados e seu
impacto na saúde dos idosos, possibilitando o desenvolvimento de adequações necessárias.
Para tanto, será indispensável à definição de metodologia, critérios, parâmetros e indicadores
específicos, com vistas a se evidenciar a repercussão das medidas adotadas, inclusive, por
outros órgãos, que resultaram da ão articulada e estabelecida nesta política, bem como a
observância dos compromissos internacionais assumidos pelo país em relação à atenção aos
idosos.
A Lei n. 10.048/2000 estabeleceu prioridade ao atendimento para aqueles com idade
superior a sessenta e cinco anos em todos os órgãos públicos, bancos e concessionárias de
serviço público e, no campo processual, a Lei n. 10.173/2001 alterou o Código de Processo
Civil Brasileiro estabelecendo prioridade de tramitação nos processos judiciais de idosos.
27
Somente em 2003, foi alcançada a redução de idade para o idoso, sendo considerado
assim aquela pessoa que alcançasse idade igual ou superior a sessenta anos, com preservação
da sua saúde física e mental, através do Estatuto do Idoso, pela Lei n. 10.741, construído a
partir da intensa participação de entidades de defesa dos interesses dos idosos. Esse Estatuto
consiste em um dos principais instrumentos de direito do idoso, torna mais ampla a discussão
das necessidades da pessoa idosa, porém não mostra recursos que financiem suas propostas,
demonstrando assim uma prática insatisfatória na atenção ao idoso. Trata-se de uma conquista
para a efetivação dos direitos humanos, especialmente por tentar proteger e formar uma base
para a reivindicação de atuação de todos (família, sociedade e Estado) para o amparo e
respeito aos idosos.
Este documento discute os direitos fundamentais do idoso relacionados aos seguintes
aspectos: à vida, à liberdade, ao respeito e à dignidade, a alimentos, saúde, educação, cultura,
esporte e lazer, profissionalização do trabalho, previdência social, assistência social, habitação
e ao transporte. Além disso, discorre sobre medidas de proteção, política de atendimento ao
idoso, acesso à justiça e crimes. Conforme observado, o Estatuto não apenas acrescenta novos
dispositivos ao PNI, mas consolida os direitos assegurados na Constituição Federal,
sobretudo na proteção ao idoso em situação de risco social. É um documento onde são
estabelecidas sanções penais e administrativas para quem descumpra os direitos dos idosos,
nele estabelecidos.
Apesar de publicado, o cumprimento e o respeito ao Estatuto dependem da cobrança
organizada da sociedade civil, com especial destaque ao idoso. É preciso reivindicá-lo em
todos os espaços sociais, com participação ativa do idoso pela melhoria de sua própria
condição de vida.
Além disso, houve um importante avanço no que diz respeito à saúde da população
idosa, com a publicação do Pacto pela Vida, em 2006, por meio da Portaria n° 399/GM. Nesse
documento a saúde do idoso surge como uma das seis prioridades pactuadas entre as três
esferas de governo. Foram ainda apresentadas ões que visam a implementação de algumas
das diretrizes da Política Nacional de Atenção a Saúde do Idoso.
2
2
.
.
2
2
P
P
o
o
l
l
í
í
t
t
i
i
c
c
a
a
N
N
a
a
c
c
i
i
o
o
n
n
a
a
l
l
d
d
e
e
M
M
e
e
d
d
i
i
c
c
a
a
m
m
e
e
n
n
t
t
o
o
O envelhecimento populacional gera novas demandas, cujo atendimento requer a
constante adequação do sistema de saúde e, certamente, a transformação do modelo de
atenção prestada, de modo a conferir prioridade ao caráter preventivo das ações de promoção,
proteção e recuperação da saúde. Sob esse enfoque, a política de medicamentos é,
28
indubitavelmente, fundamental nessa transformação. Deve-se considerar, ainda, que
modificações qualitativas e quantitativas no consumo de medicamentos são influenciadas
pelos indicadores demográficos, os quais têm demonstrado clara tendência de aumento na
expectativa de vida ao nascer.
Acarretando um maior consumo e gerando um maior custo social, tem-se novamente o
processo de envelhecimento populacional interferindo, sobretudo na demanda de
medicamentos destinados ao tratamento das doenças crônico-degenerativas, além de novos
procedimentos terapêuticos com utilização de medicamentos de alto custo. Igualmente,
adquire especial relevância o aumento da demanda daqueles de uso contínuo, como é o caso
dos utilizados no tratamento das doenças cardiovasculares, reumáticas e do diabetes. Ressalta-
se o fato de ser bastante comum, os pacientes sofrerem de todas essas doenças
simultaneamente.
O processo indutor do uso irracional e desnecessário de medicamentos e o estímulo à
automedicação, presentes na sociedade brasileira, são fatores que promovem um aumento na
demanda por medicamentos, requerendo, necessariamente, a promoção do seu uso racional
mediante a reorientação destas práticas, desenvolvimento de um processo educativo, tanto
para a equipe de saúde quanto para o usuário e implementação de políticas públicas
favoráveis.
No Brasil, é responsabilidade do Estado a formulação e execução de políticas
econômicas e sociais que visem estabelecer condições que assegurem acesso universal às
ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 1990). Neste
contexto, insere-se a Política Nacional de Medicamentos (PNM), cujo propósito é garantir o
acesso da população aos medicamentos considerados essenciais, bem como a sua necessária
segurança, eficácia e qualidade (BRASIL, 1998). Trata-se de um guia para a ação, pois
estabelece prioridades e metas, assim como as estratégias para cumpri-las. Estabelece também
papéis, direitos e obrigações dos diferentes atores envolvidos, sejam, eles do setor público ou
privado.
Por essa razão, a OMS recomenda que o documento da PNM deva ser fruto de uma
construção coletiva, obtida mediante um processo sistemático de consultas, diálogo e
negociações com todas as partes interessadas. Isso inclui outros ministérios, e representantes
de profissionais da saúde, indústria farmacêutica doméstica e transnacional, instituições
acadêmicas, organizações não governamentais e órgãos de defesa dos consumidores, entre
outros. Também é importante envolver representantes dos diferentes níveis de gestão do
29
sistema de saúde, de forma que esse processo de envolvimento de todos é tão importante
quanto o próprio documento da política.
Nesta perspectiva, a PNM é necessária porque representa um registro formal de
valores, aspirações, objetivos e compromissos do governo, define metas e objetivos nacionais
para o setor farmacêutico, identifica estratégias necessárias para cumprir os objetivos,
identifica os principais agentes responsáveis pela implementação dos componentes prioritários
da política e cria um fórum de debate nacional sobre a questão. Um dos elementos-chave de
uma PNM é o conceito de medicamentos essenciais, uma vez que ao ser aplicado nos setores
público e privado, assim como nos diferentes níveis do sistema de saúde, promove a equidade
e ajuda a definir prioridades para a atenção. O essencial do conceito é que um número
limitado de medicamentos, selecionados cuidadosamente com base em evidências científicas
de eficácia e segurança e no perfil epidemiológico da população, promova a racionalidade do
uso e melhore a eficiência do sistema de aprovisionamento (BERMUDEZ, 1994).
A recomendação da OMS é que uma PNM deva contemplar os seguintes componentes
fundamentais: seleção de medicamentos essenciais, opções de financiamento, mecanismos que
promovam a capacidade aquisitiva, sistemas de abastecimento, regulamentação e garantia da
qualidade, uso racional, desenvolvimento de recursos humanos, pesquisa, avaliação e
monitoramento.
No Brasil, a PNM foi elaborada em 1998 de acordo com as diretrizes da OMS, depois
de um longo processo de discussão. O momento político era adequado a essa discussão, pois o
processo que culminou na desativação da Central de Medicamentos (CEME) em 1997, gerou
a necessidade de haver uma definição coordenada das atividades e responsabilidades nas áreas
relacionadas com os medicamentos no âmbito do Ministério da Saúde. A CEME havia sido
criada em 1971, como autarquia especial e com a função essencial de regular à produção e
distribuição de medicamentos pelos laboratórios públicos. Os processos de compra
centralizada da CEME levaram à diferentes discussões entre os setores de produção público e
privado de capital nacional. Uma série de distorções de seus objetivos nacionais, tendo seu
papel restrito a ser um grande comprador de medicamentos do setor privado, decrescendo sua
participação em atividades de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e coordenação do
sistema nacional de garantia de qualidade, acarretando sua desativação, agravada por uma
série de denúncias e irregularidades. Como suas atividades foram realocadas de maneira
fragmentada em diferentes departamentos do Ministério da Saúde, foi dado início ao processo
de discussão que levou à PNM. A partir da designação de um grupo de trabalho pelo
30
Ministério da Saúde, o processo utilizou como fundamento as diretrizes da OMS, além de
utilizar também como referências políticas de medicamentos recentemente adotadas em outros
países. Foram preparadas e discutidas diversas versões do documento que viria a ser a PNM,
inicialmente no âmbito das diversas unidades do próprio Ministério da Saúde, versões
enriquecidas com os debates e as contribuições. Uma vez obtido consenso interno, as
discussões se expandiram com oficinas de trabalho que incluíram representantes das três
esferas de governo que compõem o SUS, profissionais da saúde, da sociedade civil, de
organismos internacionais e da indústria farmacêutica (ANVISA, 2003).
Depois de ser apresentada e aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde e pela
comissão Inter-Gestores Tripartite, a PNM foi oficializada por intermédio da Portaria n.
3.916/98 do Ministério da Saúde, estabelecendo as bases para um trabalho articulado e o
desdobramento em planos operativos mais detalhados. A política se detalha em oito diretrizes
e quatro prioridades. As diretrizes são as seguintes: adoção de relação de medicamentos
essenciais; regulamentação sanitária de medicamentos; reorientação da assistência
farmacêutica; promoção do uso racional de medicamentos; desenvolvimento científico e
tecnológico; promoção da produção de medicamentos; garantia da segurança, eficácia e
qualidade dos medicamentos; desenvolvimento e capacitação de recursos humanos. As
prioridades são: revisão permanente da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais
(RENAME); assistência farmacêutica; promoção do uso racional de medicamentos;
organização das atividades de vigilância sanitária de medicamentos (DIAS, 2003).
2
2
.
.
3
3
P
P
o
o
l
l
í
í
t
t
i
i
c
c
a
a
d
d
e
e
M
M
e
e
d
d
i
i
c
c
a
a
m
m
e
e
n
n
t
t
o
o
s
s
G
G
e
e
n
n
é
é
r
r
i
i
c
c
o
o
s
s
A proposta da Política Nacional de Medicamentos encaminhada ao Conselho Nacional
de Saúde pelo Ministério da Saúde, insere diretrizes gerais para a promoção do uso de
medicamentos genéricos, por intermédio da adequação de instrumento legal específico,
englobando a adoção de denominação comum e ações direcionadas à prescrição e uso destes
produtos. Adicionalmente, a adoção de uma política de medicamentos genéricos, envolvendo
a produção, a garantia de qualidade, a comercialização, a prescrição e o uso dos mesmos, faz
parte substancial da diretriz referente à promoção do uso racional de medicamentos no país.
Essa promoção do uso racional dos medicamentos tem sido também uma das
principais diretrizes preconizadas pela OMS, com o objetivo de orientar as políticas nacionais
para a utilização correta dos produtos farmacêuticos. Para alcançar este objetivo, é
fundamental a participação ativa e consciente dos profissionais responsáveis pela prescrição e
dispensação de medicamentos (médicos, odontólogos e farmacêuticos), além da ampla
31
disseminação junto à população de informações corretas e isentas, inclusive as conceituais,
para a qual, tem importância estratégica a participação de todos os profissionais de saúde.
A política de medicamentos genéricos surge então como estratégia para a promoção do
uso racional e acesso a medicamentos. Em geral, os genéricos são mais baratos que os
medicamentos inovadores devido em grande parte ao fato de não recaírem sobre eles os custos
relativos ao desenvolvimento da nova molécula e dos estudos clínicos necessários. Outro fator
que contribui para um custo mais baixo é o menor investimento em propaganda para tornar a
marca conhecida.
Os medicamentos genéricos são medicamentosos iguais ou comparáveis ao de
referência (inovador, original ou de marca) em quantidade de princípio ativo, concentração,
forma farmacêutica, via de administração e qualidade, podendo ser com este intercambiável,
geralmente é produzido após a expiração ou renúncia da proteção patentária ou de outros
direitos de exclusividade, tem comprovada a sua eficácia, segurança e qualidade (BRASIL,
2000). O medicamento genérico é designado conforme a denominação comum brasileira
(DCB) ou, na ausência, a denominação comum internacional (DCI). O produto inovador, por
sua vez, é aquele com marca, autorizado em primeiro lugar para comercialização
(normalmente como medicamento patenteado), com base em documentação de eficácia,
segurança e qualidade, reconhecidas pela autoridade sanitária nacional. Quando um
medicamento está disponível há muitos anos, pode não ser possível identificá-lo como produto
farmacêutico inovador.
O mercado farmacêutico brasileiro possui algumas particularidades que auxiliam a
compreensão do processo de implantação de medicamentos genéricos. Ele é um dos maiores
do mundo, ocupa a oitava posição com vendas que atingiram, em 2003, 5,6 bilhões de dólares/
ano. Neste mesmo ano, o setor exportou 280 milhões de dólares e gerou aproximadamente 47
mil empregos diretos. No Brasil, o setor é constituído por 541 empresas entre produtores de
medicamentos, indústrias farmoquímicas e importadores, e apenas 29 estavam produzindo
genéricos em dezembro de 2002 (FEDERAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA
FARMACÊUTICA, 2002).
Embora expressivo, o consumo de medicamentos, no Brasil, é desequilibrado.
Segundo o Ministério da Saúde, 15% da população consomem 48% da produção de
medicamentos do país e 51% consome apenas 16% do mercado, mas somente 40% da
população podem adquirir medicamentos.
32
A Organização Mundial da Saúde (OMS), desde a implantação do Programa de Ação
de Medicamentos Essenciais em 1981 (FEFER, 1993), vem colaborando com os países na
formulação de políticas e programas para assegurar a disponibilidade de medicamentos
essenciais. Nos seus documentos mais recentes, a questão dos medicamentos genéricos vem
sendo cada vez mais enfatizada, no sentido de representar uma alternativa para assegurar a
disponibilidade de medicamentos a preços mais baixos.
No Brasil, a discussão sobre o medicamento genérico teve início em 1991, por
intermédio do Projeto de Lei 2.022 apresentado à Câmara dos Deputados pelo Deputado
Federal Eduardo Jorge (PT-SP). Após uma longa tramitação e depois de receber várias
emendas e substitutivos, esse projeto foi aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado pelo
então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, transformando-se na Lei 9.787 de
10 de fevereiro de 1999, conhecida como Lei dos Genéricos, a qual instituiu o medicamento
genérico no Brasil, pondo fim a uma polêmica que se arrastou por quase uma década. Outro
passo importante nas discussões que antecederam a implantação dos genéricos no Brasil, e
que não pode ser esquecido, foi o Decreto n. 793, cuja principal intenção foi mostrar ao
consumidor que as diferentes marcas de medicamentos encobriam produtos semelhantes e que
ele tinha opções para o mesmo produto, com preços diferentes, e que poderia escolher o
menor. A partir desse importante decreto, editado por Jamil Haddad, Ministro da Saúde na
ocasião, o Brasil caminhou definitivamente em direção à adoção de uma política de
medicamentos genéricos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) tem editado
uma série de normas (resoluções e portarias), a fim de viabilizar o registro, a produção, a
prescrição e a dispensação do medicamento genérico, norteando todo o processo de
implementação da política desses medicamentos no Brasil (ANVISA, 2003).
Em outros países onde uma política de genéricos foi implantada há mais tempo, como
nos Estados Unidos, estes representam 42% do mercado em unidades vendidas, o que
corresponde a uma economia de até 40% para os consumidores, com uma tendência de cres
cimento de 13% a cada ano. Em dez anos do estabelecimento de sua política de genéricos, o
preço médio dos medicamentos caiu cerca de 30%. Em outros países ricos, como Japão,
Alemanha, Reino Unido e Canadá, o motivo principal da adoção dessa política foi a redução
de custos (FUCK, 2001).
A política de medicamentos genéricos não objetiva uma maior racionalidade no uso
de medicamentos, como também estimula a concorrência, de modo que os consumidores terão
disponíveis produtos intercambiáveis de diferentes preços, respeitando-se a decisão de não
33
intercambialidade do profissional prescritor. É previsível que a referida competição ocasione a
redução dos preços dos medicamentos, trazendo, então, benefícios a todos os segmentos
envolvidos na cadeia de produção, controle, comercialização e, principalmente, consumo. Em
face disso, muitos países, tanto industrializados como emergentes, adotaram diferentes
medidas legais e administrativas, propostas especialmente pela área de atuação
governamental, visando o crescimento da participação dos produtos genéricos no mercado
farmacêutico.
A adoção de uma política de medicamentos genéricos deve prever ainda, a interação e
a coordenação interinstitucionais de ações relacionadas com a sua implementação e avançar
na construção de mecanismos e instrumentos que estabeleçam as bases para a aplicação do
componente de medicamentos genéricos bioequivalentes e intercambiáveis, como parte da
política nacional de medicamentos. É ponto fundamental para a construção de uma política de
medicamentos genéricos o seu embasamento em princípios éticos e na confiabilidade dos
atores nela envolvidos, compreendendo o usuário, o prescritor, o dispensador, o produtor e a
autoridade reguladora.
2
2
.
.
4
4
T
T
e
e
o
o
r
r
i
i
a
a
d
d
a
a
s
s
R
R
e
e
p
p
r
r
e
e
s
s
e
e
n
n
t
t
a
a
ç
ç
õ
õ
e
e
s
s
S
S
o
o
c
c
i
i
a
a
i
i
s
s
Apesar de outros teóricos terem trabalhado com o conceito de representações, foi
Serge Moscovici quem em 1961 cunhou a terminologia de «representações sociais» buscando
renovar e confirmar a especificidade da Psicologia Social, a partir de estudos que pudessem
explicar como se a mediação entre o individual e o social, negando, assim, explicações
essencialmente sociais em Durkheim, ou as essencialmente cognitivistas, como em Piaget.
A Teoria das Representações Sociais (MOSCOVICI, 1961) foi desenvolvida no campo
das Ciências Sociais, mais precisamente no campo de estudo da Psicologia Social. Esta área
de conhecimento caracterizou-se por fornecer micro-teorias instrumentais para a descrição e
previsão dos comportamentos sociais, tais como as teorias das atitudes sociais, de formação de
impressão, de atribuição de causalidade e responsabilidade, de comparação social, de
interação grupal, das relações intergrupais e das representações sociais (TAJFEL, 1978).
Sendo que estas duas últimas apresentam um escopo mais integrativo e envolvem fenômenos
mais complexos (NASCIMENTO-SCHULZE; CAMARGO, 2000). A referida teoria tem sido
amplamente utilizada nos estudos e pesquisas no campo da saúde, por possibilitar uma
interpretação da realidade que rege as relações, isto é, por dar conta da construção social da
realidade. Apesar de ter sido negligenciada pela comunidade científica por um longo tempo,
atualmente constitui uma referência importante por procurar suprir lacunas, ao tentar resgatar
34
a noção do social de modo não dicotomizado, possibilitando articulação da dinâmica social
com a psicológica.
Esta teoria além de apresentar uma intenção mais integrativa, tem pressupostos que
implicam em considerar o comportamento social enquanto um comportamento simbólico, ou
seja, enquanto atividade produzida pelos processos de comunicação e influência no contexto
das relações interpessoais e grupais, tendo uma função também social e relacional
(MOSCOVICI, 2003). Ainda segundo o autor, se as representações são geradas no social e
reelaboradas pelo indivíduo, não são os substratos que devem nos interessar, mas a ação, o
movimento, ou seja, as interações entre o individual e o social.
Em seu estudo epistemológico sobre o fenômeno das representações, Moscovici
(1989) nos mostra que algumas ciências como a sociologia, a antropologia, a psicologia
clínica e a social, desde cedo se preocuparam em compreender o pensamento e a conduta
"irracional" dos indivíduos e suas transformações no tempo. Entretanto, Moscovici (1989)
considera que, apesar das contribuições dos estudos realizados por essas ciências, eles
apresentam resultados fragmentados, uma vez que as pesquisas permaneceram fechadas em
um ou outro domínio específico: ora iam do caráter coletivo das representações à sua
dinâmica, ora iam dos substratos psíquicos às origens e interiorização das mesmas, sem
contudo, se preocuparem com a comunicação que permite os indivíduos convergirem, de sorte
que alguma coisa de individual passa a se tornar social e vice-versa.
Em seu estudo sobre a psicanálise, Moscovici (1961) parte do princípio de que o
conhecimento é produto e processo de construção do homem e, como tal, se transforma
através do tempo. Além disso, da mesma forma que existem resistências para a aceitação de
novos conhecimentos nos círculos fechados de especialistas, também existem resistências para
a sua aceitação em domínio público mais amplo. A diferença é que, enquanto no contexto de
sua produção, a resistência ao "novo" se em função de pressupostos teóricos e
metodológicos (e também em função deles a mesma é superada), em territórios públicos, essa
resistência se em função de critérios culturais, diferenciando-se, portanto, de um grupo a
outro. Isso faz com que o conhecimento assuma formas e significados multifacetados,
dependendo do modo pelo qual ocorre o processo de difusão, propaganda e propagação entre
os diferentes segmentos culturais que compõem a sociedade. Esse conhecimento (re)criado,
em função de sistemas próprios de valor, Moscovici denominou de representações sociais.
Segundo Moscovici (1998; 2003), são as representações sociais:
um conjunto de conceitos, proposições e explicações originados na vida
cotidiana no curso de comunicações interpessoais. Elas são o equivalente, em
35
nossa sociedade, aos mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais;
podem também ser vistas como a versão contemporânea do senso comum.
De acordo com Moscovici (2003), as pessoas analisam, comentam, formulam
“filosofias” espontâneas, não oficiais, que tem um impacto decisivo em suas relações sociais,
em suas escolhas, na maneira como eles educam seus filhos, como planejam seu futuro, entre
outros. Os acontecimentos, as ciências e as ideologias apenas lhes fornecem o “alimento para
o pensamento” e acrescenta que o pensamento social deve mais à convenção e à memória do
que à razão, deve mais às estruturas tradicionais do que às estruturas intelectuais ou
perceptuais correntes. Moscovici ainda salienta cinco características essenciais à formação das
representações sociais: toda representação é sempre a representação de um objeto; a mesma
possui um caráter de imagem e a propriedade de poder intercambiar o sensível e a idéia, a
percepção e o conceito; possui um caráter simbólico e significante; possui um caráter
construtivo e um caráter autônomo e criativo.
Estudiosa do fenômeno das representações e uma das principais colaboradoras e
difusoras das idéias de Moscovici, Jodelet (1989) considera que a representação social diz
respeito à maneira como nós, sujeitos sociais, apreendemos os acontecimentos da vida
cotidiana, as informações do nosso contexto, os acontecimentos, as pessoas, ou seja, diz
respeito aos conhecimentos que acumulamos a partir de nossa experiência, das informações,
saberes e modelos de pensamento que recebemos e transmitimos pela tradição, pela educação
e pela comunicação social. Para Jodelet (1984) o conceito de representações sociais designa
uma forma específica de conhecimento do senso comum”, em outras palavras, designa uma
forma de pensamento social.
Em outras palavras, a representação social refere-se à maneira do indivíduo pensar e
interpretar o cotidiano, ou seja, constitui-se em um conjunto de imagens, dotado de um
sistema de referência que permite ao indivíduo interpretar sua vida e a ela dar sentido. A
mesma seria, sobretudo, uma forma de conhecimento, modelando o objeto com diversos
suportes lingüísticos, de comportamentos e materiais, mas também, um saber prático
intrinsecamente relacionado à experiência social, possuindo um alto grau de intervenção
social.
A sua organização ocorre a partir das interrelações entre as pessoas e grupos, com
objetivo prático para o convívio social e desta forma se identificam com as experiências,
história e cultura de cada grupo social. Isso é exposto nas obras de vários estudiosos da teoria
como se vê, por exemplo, em Jodelet (2001) quando faz referência ao fato de partilhar uma
36
mesma condição social que é acompanhada de uma relação com o mundo, valores, modelos
de vida, imposições ou desejos específicos, produzem efeitos sobre o modo de conceber a
cultura. Nóbrega (2003) diz que o pensamento social é constituído de uma pluralidade de
modos de reflexão que um indivíduo utiliza em função dos seus objetivos e do domínio que
ele possui sobre o meio ambiente onde se encontra inserido.
Para (1998), o termo «representações sociais», designa tanto um conjunto de
fenômenos quanto o conceito que os engloba e a teoria construída para explicá-los
identificando um vasto campo de estudos psicossociológicos; representação é um produto
social, a tradução de alguma coisa por alguém. É uma interpretação, uma construção da
realidade por um grupo, inserido em um processo sócio-histórico-cultural, portanto sofre
constantes transformações, adaptando-se às mudanças do seu grupo gerador.
Segundo Wagner (1995), a representação social apresenta-se como um conceito
multifacetado, concebido tanto como um processo social, envolvendo comunicação e discurso,
construindo e elaborando significados e objetos sociais, como também, sendo
operacionalizadas enquanto atributos individuais, como estruturas individuais do
conhecimento, símbolos e afetos distribuídos entre as pessoas em grupos ou sociedades. Além
disso, o mesmo autor (2000) acrescenta que a Teoria das Representações Sociais (TRS) é um
tipo de conhecimento constituído por um conjunto de crenças, imagens, metáforas e símbolos
compartilhados coletivamente por um grupo, uma comunidade, sociedade ou cultura.
Para estudar como os idosos representam o medicamento genérico, é importante
abordar as funções das representações sociais, por estas serem capazes de apontarem um
entendimento frente à problemática acerca da adesão dos medicamentos pelos idosos.
Inicialmente, Moscovici (1978) afirma que as representações sociais caracterizadas
como fenômenos psicossociais, têm duas funções: a primeira função é a de contribuir com os
processos de formação de condutas e a segunda, de orientação das comunicações sociais;
porém Abric (2003) acrescentou mais duas funções às representações sociais: a função
identitária e a justificadora, como:
a) Função do saber: permite compreender e explicar a realidade em que os sujeitos sociais
adquirem conhecimentos e os integram de modo assimilável para eles em ocorrência;
b) Função de orientação: guia os comportamentos e práticas por ser prescritiva de
comportamentos ou de práticas obrigatórias, definindo o que é lícito, tolerável ou inaceitável
em um contexto social;
37
c) Função identitária: define a identidade e permite a proteção da especificidade dos grupos
em que se situam os sujeitos sociais e os grupos dentro do campo social e pessoal satisfatório,
compatível com as normas e valores historicamente determinados;
d) Função justificadora: permite a justificativa das tomadas de posição e dos comportamentos,
permitindo aos sujeitos explicar e justificar suas condutas em uma situação ou face de seus
pares.
Vala (2002) refere-se à representação social como resultado de representações
partilhadas coletivamente resultantes de interações e fenômenos de comunicação no interior
de um grupo social, refletindo a situação desse grupo, seus projetos, problemas e estratégias e
suas relações com outros grupos cuja função é oferecer programas para a comunicação e aos
objetos que são interrogáveis para um grupo. Segundo o mesmo autor (1993), a formação das
representações sociais acontece mediante dois processos: objetivação e ancoragem.
O processo de objetivação ocorre a partir de três etapas: a primeira diz respeito à
descontextualização da informação através de critérios normativos e culturais; a na segunda
ocorre à formação de um núcleo figurativo, compondo uma estrutura que reproduz de maneira
figurativa uma estrutura conceitual; e a última etapa, a naturalização, ou seja, a transformação
destas imagens em elementos da realidade (MOSCOVICI, 1978). Este processo permite
compreender como, no senso comum, as palavras e os conceitos são transformados em coisas,
em realidades exteriores aos indivíduos, isto é, como um conceito é objetivado, compreende a
materialização do objeto, fenômeno e se torna expressão de uma realidade vista como natural.
Quanto ao processo de ancoragem, Moscovici (2003) ressalta que ancorar é classificar
e dar nome a algo estranho; é comparado a um paradigma de uma categoria pensada como
apropriada de forma a permitir que o estranho seja interpretado e estabelecer uma relação
positiva ou negativa com ele. Afirma ainda que este processo constitui a inserção orgânica do
que é estranho no pensamento constituído, ou seja, ancora o desconhecido em
representações existentes. Consiste na maneira pela quais as informações novas são
integradas e transformadas em um conjunto de conhecimentos socialmente estabelecidos e em
redes de significações socialmente disponíveis, para interpretar o real e, em seguida, são
reincorporadas na qualidade de categorias servindo de guia à compreensão e ação (JODELET,
1989). Para a mesma autora, a ancoragem fixa a representação e o seu objeto numa relação
que os permite se adequarem aos valores sociais, dando-lhes coerência. Enquanto Moscovici
(1978) a concebe como um processo de domesticação da novidade sob a pressão dos valores
do grupo, transformando o objeto representado em um saber capaz de influenciar. A mesma é
38
feita na realidade social vivida, não sendo, portanto, concebida como processo cognitivo intra-
individual.
Também se torna relevante pontuar as dimensões das representações sociais
apresentadas por Moscovici (1978) como: informação ou conhecimento, imagens ou campo
de representação social e atitude ou posicionamento dos sujeitos frente ao objeto de
representação. O autor descreve estas dimensões da seguinte forma: a informação é uma
organização dos conhecimentos que um grupo possui a respeito de um objeto; o campo de
representação diz respeito ao conteúdo concreto e a um aspecto relevante do objeto de
representação; atitude relaciona-se à orientação global que o sujeito tem em relação ao objeto
de representação social.
As representações sociais enquanto fenômeno viabiliza o conhecimento das condutas
ou comportamentos dos idosos frente ao medicamento genérico. Portanto, estas
representações como um saber prático do senso comum deve permitir que os idosos adquiram
conhecimentos e os integrem em um quadro assimilável e compreensível para eles próprios,
em coerência com seu funcionamento cognitivo e os valores aos quais eles aderem. Desta
forma, as representações facilitam a comunicação social e define o quadro de referência
comum que permite as trocas sociais, a transmissão e a difusão deste saber “ingênuo”
(MOREIRA, 2000), sobre os medicamentos genéricos pelos idosos.
Nesta perspectiva psicossociológica Spink (1996) destaca a importância da
comunicação social na formação das representações sociais, em que se refere aos indivíduos
como pensadores ativos, no estudo os idosos, em resposta aos acontecimentos cotidianos de
interação social, que eles produzem e comunicam suas próprias representações e soluções
específicas às questões que esses sujeitos colocam a si mesmas. Esta comunicação e
mobilização das representações sociais acontecem em todas as ocasiões e lugares onde as
pessoas se encontram informalmente (bares, ônibus, filas de banco, trabalho, escola, salas de
espera, enfim, onde se desenvolve a vida cotidiana).
Ainda em relação à comunicação frente à construção das formas de conhecimentos
sobre os medicamentos genéricos, é importante ressaltar os tipos de representações sociais
apresentadas por Moscovici (1988b). Para este, a comunicação se faz por meio de propagação,
propaganda ou difusão, onde se reflete tanto na formação quanto na ativação de
representações sociais, em que a propagação transmite informações que legitimam a pertença
a um grupo e alimentam representações sociais hegemônicas, que ortodoxas e fortalecem a
39
norma social, são equivalentes do conceito de representação coletiva de Durkheim (1898).
(VALA, 2004)
Na comunicação o tipo difusão as informações são transmitidas de forma imparcial, e a
normatividade transmitida é evasiva. Na comunicação do tipo propaganda, as representações
alimentadas e ativadas são as do tipo polêmicas, são geradas do conflito intergrupal,
importantes nos estudos sobre grupos. As representações importantes para os estudos sobre
diferentes fenômenos em saúde são as representações sociais emancipadas que refletem a
cooperação entre grupos são resultantes das trocas de diferentes significados para um mesmo
objeto. Compreendem modalidades de conheciemnto sobre um objeto, com autonomia
relativamente aos grupos sociais que estão na sua origem, (VALA, 2004), por exemplo, a
representação do medicamento genérico.
Estas representações orientam o comportamento e a compreensão do cotidiano, do
mundo em que se vive mostrando as representações sociais que os idosos constroem sobre os
medicamentos e sua importância nos seus comportamentos frente a estes. Elas funcionam
como organizadoras das atitudes e práticas dos grupos (em particular, dos idosos) que as
originam e organizam as expectativas dos sujeitos sobre o objeto de forma a atendê-las.
A abordagem estrutural das representações sociais, também chamada de teoria
complementar foi utilizada neste estudo para possibilitar um diagnóstico social sobre os
medicamentos genéricos para os idosos ao se basear na premissa de que a organização de uma
representação social apresenta uma característica específica, a de ser organizada em torno
de um núcleo central, constituindo-se em um ou mais elementos que dão significado à
representação. (ABRIC, 2000).
O núcleo central é o componente mais estável e duradouro de uma representação e, em
torno deste núcleo dispõem-se elementos periféricos que refletem características contextuais,
transitórias ou cotidianas, sendo, portanto, mais flexíveis (ABRIC, 2000).
A Teoria do Núcleo Central (TNC) propõe que uma representação social está
hierarquizada em torno de um núcleo central, constituído de um ou mais elementos que dão
significado à representação social. O núcleo central, em torno do qual se organizam os
elementos periféricos da representação, tem uma função geradora e organizadora, ou seja, ele
é o elemento pelo qual se cria, ou se transforma a significação dos outros elementos
constitutivos da representação. É a partir do núcleo central que esses elementos tomam um
sentido, um valor. Com relação à sua função organizadora, é o núcleo central que determina a
40
natureza dos laços que unem entre si os elementos da representação. Nesse sentido, ele é o
elemento unificador e estabilizador da representação. (ABRIC, 2000)
Os elementos periféricos carregam a função de concretizar a representação, ou seja,
formular em termos concretos, compreensíveis e transmissíveis, isto é, a função de
anconragem das representações com a realidade imediata. Permite uma evolução,
modificação, adaptação em diferentes contextos e funcionam como os elementos mutáveis da
representação. São os periféricos que permitem as transformações das representações de
maneira gradativa antes de atingir a estrutura da representação. São estes dois sistemas:
central e periférico, que constituem as representações sociais e estes são passíveis de
transformação.
Segundo Silva et al. (2005), a utilização da TRS pelos profissionais da saúde justifica-
se pela necessidade de um rompimento com o paradigma biomédico predominante, de um
modo diferente de leitura sobre os grupos humanos, o qual tem se preocupado apenas com a
dimensão biológica. Nesse contexto, a utilização da TRS no campo da saúde seria uma forma
moderna de pensar saúde dentro de um espaço que focalize as mudanças sociais que ocorrem
em virtude das relações inter e intragrupais, estruturadas dialeticamente.
41
C
C
A
A
P
P
Í
Í
T
T
U
U
L
L
O
O
3
3
E
E
N
N
F
F
O
O
Q
Q
U
U
E
E
M
M
E
E
T
T
O
O
D
D
O
O
L
L
Ó
Ó
G
G
I
I
C
C
O
O
42
3.1 Tipo de Estudo
Este estudo é do tipo exploratório em uma abordagem qualitativa, em que se prioriza
as falas dos sujeitos, para salientar dimensões simbólicas acerca dos medicamentos genéricos,
utilizando-se o aporte teórico das representações sociais de Moscovici (1978) e Abric (2000).
3.2 Campo de investigação
A pesquisa foi realizada em duas Unidades Básicas de Saúde: Mandacaru e Tambaú
respectivamente, na cidade de João Pessoa- PB.
Unidade Básica de Saúde (UBS) é a estrutura física básica de atendimento aos usuários
do SUS, onde a comunidade deve conseguir resolver a maioria dos problemas, com qualidade.
Todos os níveis de atenção são igualmente importantes, porém a atenção primária deve ser
prioritária, porque possibilita uma melhor organização e funcionamento também dos serviços
de média e alta complexidade. Estando bem estruturada, ela reduzirá as filas nos prontos-
socorros e hospitais, o consumo abusivo de medicamentos e o uso indiscriminado de
equipamentos de alta tecnologia. Isso porque os problemas de saúde mais comuns passam a
ser resolvidos nas unidades básicas de saúde, deixando os ambulatórios de especialidades e
hospitais cumprirem seus verdadeiros papéis, o que resulta em maior satisfação dos usuários e
utilização mais racional dos recursos existentes.
Cada UBS é responsável pela saúde de todos os habitantes de uma determinada região
da cidade, chamada de área de abrangência. Todo planejamento das ações de saúde da unidade
é voltada para esta comunidade, entendendo as situações sócio-econômicas e priorizando
grupos de risco.
As unidades básicas de saúde (Mandacaru e das Praias) onde foi realizada a pesquisa
disponibilizam atendimentos básicos e gratuitos em Pediatria, Ginecologia, Clínica Geral,
Enfermagem, Psicologia, Nutrição e Odontologia, de forma que os principais serviços
oferecidos pelas mesmas são consultas médicas, inalações, injeções, curativos, vacinas, coleta
de exames laboratoriais, tratamento odontológico, encaminhamentos para especialidades e
fornecimento de medicação básica.
3.3 Sujeitos do Estudo
Para realização do presente estudo, contou-se com a colaboração de cem idosos, com
idade entre 60 e 85 anos, que aceitaram participar do estudo, atendidos nas Unidades Básicas
de Saúde, abordados no momento de recebimento dos medicamentos nas farmácias, no
período de agosto a outubro de 2008.
43
3.3.1 Aspectos Éticos
A participação dos idosos (n=100) foi voluntária e atendeu a Resolução 196/1996
Ministério da Saúde/ Conselho Nacional de Saúde/ Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
(Brasil, 1996) e as Diretrizes e Normas que regem pesquisa envolvendo seres humanos
(Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, Brasil, 2000). Por ocasião das entrevistas
os voluntários preencheram e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido
(Protocolo nº. 0194) (Apêndice A).
3.4 Instrumentos para Coleta de Dados
Utilizou a técnica multi-método para este estudo a partir dos seguintes instrumentos:
3.4.1 Questionário: com as variáveis, como: sexo, idade, religião, grau de escolaridade,
procedência, situação de moradia, com quem mora, prática, trabalho, utilização de
medicamento. (Apêndice B)
3.4.2 Teste da Associação Livre de Palavras, utilizando como estímulo indutor a
expressão: «medicamento genérico», lembra... (Apêndice C - Parte 1).
3.4.3 Entrevista semi-estruturada, contendo as seguintes questões (Apêndice C- Parte 2):
Fale sobre os medicamentos genéricos;
O que significa o medicamento genérico para o sr(a)?
O que significa este medicamento para seus amigos?
Fale a sua experiência com o uso do medicamento;
Você recebe algum medicamento do governo?
3.5- Análise e Tratamento dos Dados
As informações obtidas das entrevistas compreendidas por um corpus de 100
entrevistas foram submetidas ao software Alceste 4.8 (Análise Lexical por Contexto [S/C] de
um Conjunto de Segmentos de Textos). (REINERT, 1998)
Constitui um instrumento auxiliar de análise de dados, quando estes se apresentam sob
forma de grande quantidade de material textual proveniente de entrevistas, questionário ou de
documentos escritos. O mesmo faz análise acerca da classificação hierárquica descendente,
além de permitir análise lexicográfica do material textual, oferece contextos (classes lexicais)
que são caracterizados pelo seu vocabulário e pelos segmentos de textos que compartilham
este vocabulário. O programa toma como base um único arquivo (txt) ou unidades de contexto
iniciais (UCI), que serão definidas pelo pesquisador e pela natureza da pesquisa, para este
estudo correspondendo cem entrevistas. O processo de análise segue as seguintes etapas:
44
identificação das palavras e de suas formas reduzidas (raízes) e constituição de um dicionário;
Segmentação do material discursivo em Unidades de Contexto Elementares (UCE’s);
Delimitação de classes semânticas, seguida de sua descrição através da quantificação das
formas reduzidas e função das UCE’s, bem como das ligações estabelecidas entre elas;
Análise da associação e correlação das variáveis informadas às classes obtidas; Análise das
ligações estabelecidas entre as palavras típicas em função das classes (dendograma).
(CAMARGO, 2005).
Este procedimento possibilitou a delimitação de 06 classes ou categorias lexicais
semanticais em função da ocorrência e co-ocorrência das palavras contidas no vocabulário e
da sua contextualização dentro dos segmentos de textos articulados, nos quais foram
identificados os conteúdos de representações, de acordo com cada classe. Desta forma, estas
classes ou categorias foram apreendidas a partir da análise lexical, de dois grupos de idosos,
organizados pelas unidades de contexto elementar (UCE’s).
Os dados obtidos a partir Associação Livre de Palavras foram submetidos a Técnica da
Análise de Conteúdo Categorial Temática (BARDIN, 2004), seguindo as seguintes etapas: 1)
Pré-Análise: leitura flutuante; escolha dos documentos: constituição do corpus; preparação do
material; escolha do tipo de análise: ACT (Análise de Conteúdo Temática); seleção das
Unidades de Contexto: Parágrafos; Seleção das Unidades de Registros: Temas; Recortes;
Processo Categorial a posteriori: sub-categorias e categorias; decodificação e Texting da
técnica selecionada; 2) Exploração do Material: administração da técnica sobre o corpus
(número de entrevistas a serem analisadas), e 3) Tratamento dos Resultados e Interpretações:
dimensão estatística; síntese e seleção dos resultados (validação); inferências e interpretação.
Para Bardin (2004) a análise de conteúdo compreende um conjunto de técnicas que
requer procedimentos metodológicos utilizados especificamente, para cada técnica. A análise
de conteúdo tem o objetivo de compreender o sentido das comunicações e suas significações
explícitas e/ou ocultas. Seu procedimento visa, ainda, a obter a sistematização e descrição do
conteúdo das mensagens que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições
de produção/recepção (variáveis inferidas), interpretados quantitativamente por meio da
análise das freqüências e percentuais.
A análise do Teste de Associação Livre de Palavras foi subsidiada no referencial
teórico Nucleo Central (ABRIC, 1994), utilizando-se o programa EVOC (2002), desenvolvido
por Vérgès (1992), em que se considerou as respostas das evocações classificadas em
45
categorias a partir dos conteúdos advindos do estímulo indutor medicamento genérico,
categorizadas e preparadas um banco de dados a partir das evocações solicitadas.
Os critérios para análise das evocações considerou as com maior freqüência e que
ocupam os primeiros lugares, uma vez que supostamente teriam uma maior importância no
esquema cognitivo do sujeito, ou seja, se configurariam como hipóteses de núcleos centrais da
representação social. (ABRIC, 1994).
Considerou-se que as palavras que se situam no quadrante superior esquerdo são,
muito provavelmente, elementos do núcleo central da representação sobre o medicamento
genérico; aqueles situados nos quadrantes superiores direito e inferior esquerdo são elementos
intermediários, ou primeira e segunda periferia; e aquelas localizadas no quadrante inferior
direito são elementos mais claramente periféricos (SÁ, 1996, 1998).
De acordo com Rapaport et al. (1965), o teste de associação livre de palavras foi
desenvolvido por Jung, adaptado ao campo das representações sociais por Di Giacomo (1981)
e objetiva identificar as dimensões latentes dessas representações.
Os resultados após processamento e análise de todos os dados foram interpretados a
partir do referencial teórico das representações sociais e apresentados em figuras, quadros e
temas.
46
CAPÍTULO 4
A
A
P
P
R
R
E
E
S
S
E
E
N
N
T
T
A
A
Ç
Ç
Ã
Ã
O
O
E
E
D
D
I
I
S
S
C
C
U
U
S
S
S
S
Ã
Ã
O
O
D
D
O
O
S
S
R
R
E
E
S
S
U
U
L
L
T
T
A
A
D
D
O
O
S
S
47
4
4
.
.
1
1
O
O
s
s
p
p
a
a
r
r
t
t
i
i
c
c
i
i
p
p
a
a
n
n
t
t
e
e
s
s
d
d
o
o
e
e
s
s
t
t
u
u
d
d
o
o
Os dados constituídos pelas variáveis sócio-demográficas dizem respeito às questões
fechadas contempladas no questionário, responsáveis pelo perfil dos sujeitos, apresentado na
tabela 1, a seguir.
Tabela 1: Distribuição dos sujeitos segundo as variáveis cio-demográficas: João Pessoa, Paraíba, Brasil:
2008.
Variável Nível
UBS Mandacaru UBS das Praias
Sexo
Masculino 32 40
Feminino 68 60
Faixa-etária
60 a 65 anos 46 30
66 a 70 anos 16 34
71 a 75 anos 20 24
76 a 80 anos 08 06
81 a 85 anos 10 06
Religião
Católica 70 60
Protestante 16 24
Outra 14 16
Procedência
Urbana 46 74
Rural 54 26
Nível escolar
Sem escolaridade 30 18
Ensino fundamental incompleto 60 12
Ensino fundamental completo 00 10
Ensino médio incompleto 02 00
Ensino médio completo 08 28
Superior 00 24
Superior incompleto 00 08
Tipo de moradia
Casa Própria 68 70
Alugada 20 24
Residente em casa de parentes 10 20
Outro 02 04
Pessoa(s) com quem mora
Sozinho 10 12
Com Cônjuge 50 12
Cônjuge e parentes próximos 40 44
Parentes próximos 00 32
Utilização de Medicamento
Sim 74 88
Não 26 12
Tipos de Medicamentos
Anti-hipertensivo 68 60
Antidepressivo 18 26
Antidiabético 18 12
Outras 62 44
Uso simultâneo
78 87
Ocupação
Sim 42 40
Não 26 42
Aposentado 30 18
Tipo de Ocupação
Professor 00 06
Psicólogo 00 02
Funcionário público 02 00
Serviços Gerais 26 06
Comerciante 14 14
Costureira 06 06
Taxista 00 02
Artesão 00 04
Renda familiar
1 SM 66 32
1-2 SM 20 16
3-4 SM 12 50
Sem renda 02 02
48
Na Unidade Básica de Saúde de Mandacaru, a maioria dos participantes foi do sexo
feminino (68%), na faixa etária entre 60 e 65 anos (46%), que proferem ser católica (70%),
procedente da zona rural (54%), possuem ensino fundamental incompleto (60%), moram em
casa própria (68%) com o cônjuge (50%). Quanto à utilização de medicamento, 74% afirmam
tomar anti-hipertensivo (68%), trabalham (42%) e possui renda familiar inferior ou igual a um
salário mínimo (66%).
Em relação à Unidade Básica das Praias, a maioria dos idosos foi do sexo feminino
(60%), na faixa etária compreendida entre 66 a 70 anos (34%), que proferem ser católica
(60%), de procedência urbana (74%), com ensino médio completo (28%). Habitam em casa
própria (70%), com cônjuge e/ou parentes próximos (44%), utilizam medicamentos (88%),
principalmente anti-hipertensivos (60%), não trabalham (42%) e possuem renda familiar entre
3 e 4 salários mínimos (50%).
A doença e os medicamentos estão presentes no cotidiano das pessoas idosas. As
alternativas para gerenciar essa situação são muito particulares. A utilização criteriosa e
cautelosa dos medicamentos, sua correta utilização, dose, tipo e intervalos e a orientação
adequada das pessoas idosas e familiares, são alguns dos elementos essenciais na manutenção
da qualidade de vida do idoso. Os dados obtidos nas duas unidades básicas de saúde
demonstraram uma elevada percentagem de idosos que fazem uso de medicamentos, assim
como a existência de polifarmácia, que é um termo usado para descrever a situação em que
vários medicamentos o prescritos simultaneamente, sendo uma prática clínica comum nas
pessoas idosas.
A ocorrência da polifarmácia pode ser explicada pelo número de doenças crônicas que
acometem os idosos, elevada incidência de sintomas e a realização do consulta e tratamento
com especialistas diferentes. Da mesma forma que a polifarmácia, a administração de
medicamentos associados possibilita a ocorrência de reações adversas e, muitas vezes,
decorrentes das interações entre esses agentes. A interação medicamentosa é um fator que
afeta o resultado terapêutico, e que muitas vezes pode ser prevenida com reajuste de dose,
intervalo de 1-2h entre as administrações dos medicamentos e a monitorização cuidadosa da
pessoa idosa.
Observa-se que os medicamentos mais utilizados pelos idosos são os que atuam no
sistema cardiovascular (anti-hipertensivos, diuréticos, digitálicos e anticoagulantes) que
representam, aproximadamente, 45% das prescrições, os de ação no trato gastrointestinal
consumidores de analgésicos pertencentes à classe dos antiinflamatórios não-esteroidais. Esse
49
fato, associado ao declínio da função renal, pode desencadear distúrbios nesse órgão e
prejudicar a excreção de outros medicamentos. Os dados coletados através do questionário
aplicado nas unidades mostraram que a classe terapêutica mais utilizada entre os idosos é os
anti-hipertensivos, seguidos dos antidepressivos e antidiabéticos.
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é um importante problema de saúde pública
no Brasil e no mundo, sendo ainda um dos mais importantes fatores de risco para o
desenvolvimento de doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e renal crônica. É
responsável por pelo menos 40% das mortes por acidente vascular cerebral e por 25% das
mortes por doença arterial coronariana. Em combinação com os diabetes, representa 62,1% do
diagnóstico primário de pessoas submetidas à diálise. Ela é definida como pressão arterial
sistólica maior ou igual a 140 mmHg e uma pressão arterial diastólica maior ou igual a 90
mmHg, em indivíduos que não estão fazendo uso de medicação anti-hipertensiva. Deve-se
considerar no diagnóstico da HAS, além dos níveis tensionais, o risco cardiovascular global,
estimado pela presença dos fatores de risco, a presença de lesões nos órgãos-alvo e as
comorbidades associadas.
Entre as pessoas idosas, a hipertensão é uma doença altamente prevalente, acometendo
cerca de 50% a 70% das pessoas nessa faixa etária. É um fator determinante de morbidade e
mortalidade, mas, quando adequadamente controlada, reduz significativamente as limitações
funcionais e a incapacidade dos idosos. A hipertensão não deve ser considerada uma
conseqüência normal do envelhecimento.
4.2 Conteúdos, imagens e posicionamentos dos idosos mais significativos para o
medicamento genérico: resultados obtidos do Alceste.
Os dados submetidos ao software Alceste foi constituído por um corpus
correspondente a cem textos ou Unidades de Contexto Inicial (UCI’s), em que da análise
hierárquica realizada foi retida 502 aproveitadas pela análise do Alceste equivalendo a 80.28
%.
A análise do material foi baseada na inferência do pesquisador, a partir da elaboração
de segmentos cognitivos construídos pelos idosos em função das classes delimitadas, através
do programa informático.
Neste sentido, foram identificadas seis classes de segmentos (UCEs) de texto ou
categorias temáticas, diferentes entre si, que estão ilustradas na figura a seguir:
50
Gráfico 01. Dendograma da Classificação Hierárquica Descendente
----|----|----|----|----|----|----|----|----|----|
Cl. 1 ( 122uce) |-----------------+
15 |-------+
Cl. 5 ( 34uce) |-----------------+ |
18 |---------------------+
Cl. 2 ( 66uce) |-------------------------+ |
19 |+
Cl. 3 ( 42uce) |----------------+ |
16 |----+ |
Cl. 6 ( 105uce) |----------------+ | |
17 |-------------------------+
Cl. 4 ( 34uce) |---------------------+
Conforme demonstra o gráfico 1 acima, apresentado sob a forma de dendograma, no
primeiro momento o corpus foi dividido em dois subgrupos que se opõem, de um lado dei
origem as classes 1, 5 e 2, e do outro lado desmenbrando-se nas classes 3,6 e 4, com suas
respectivas distribuições e percentuais, conforme apresentação a seguir.
Figura 01. Distribuição das Classes Temáticas- Análise Alceste
Segundo Camargo (2005), as classes podem indicar representações sociais ou campos
de imagens sobre determinado objeto, ou somente aspectos de uma representação. O autor
afirma ainda que o que vai definir se elas indicam Representações Sociais ou apenas uma
Representação Social são os seus conteúdos e a relação deles com fatores ligados ao plano
geral de cada pesquisa.
O perfil característico de cada classe, tal como propõe o Alceste é feito pelo
vocabulário característico e pelas variáveis que contribuíram para a produção das UCE’s de
cada classe, selecionadas a partir do valor do quiquadrado (x
2
) e da frequência, apresentados
nos resultados que decorreram da estrutura temática das representações sociais sobre o
medicamento genérico, evidenciando-se a dinâmica dos textos das UCE’s mais característica
de cada classe e sua contextualização, a seguir.
51
4.2.1 As Classes e suas descrições
A classe um detém 122 UCE’s, o que corresponde a 30.27 % das UCE’s retidas e nela
foram selecionadas 102 palavras, exemplificadas nas palavras com maior freqüência ou qui-
quadrado
2
, conforme tabela 2, a seguir.
Tabela 2. Palavras associadas significativamente à classe 1.
Palavras Freqüência
χ
χχ
χ
2
Barato
Bom
Captopril
Caro
Condições
Efeito
Esposo
Farmácia
Gosto
Ótimo
Outro
Pessoa
Própria
Remédio
Sei
Vitamina
56
72
40
08
08
38
24
12
14
12
36
24
74
36
48
12
79,00
65,54
26,55
12,01
18,80
43,52
43,82
02,26
12,27
15,79
11,56
21,49
79,79
11,56
31,42
15,79
Em função do número de UCE’s que compõem esta classe, ela é a que caracteriza, em
maior proporção do conteúdo do corpus analisado. Esta operação nos forneceu uma descrição
em nível das palavras, das noções contempladas pela significação sobre o medicamento
genérico para os idosos.
Os participantes do estudo consideram o medicamento genérico um produto barato e
com bom efeito. Além disso, a maioria faz uso de anti-hipetensivos, como captopril, o qual faz
parte do programa de hipertensão e diabetes (HIPERDIA) do Ministério da Saúde e é
distribuído nas unidades básicas de saúde.
O preço é fator importante no ciclo da comercialização, de forma que o idoso o
como fator decisivo para o acesso aos referidos medicamentos. Além disso, o preço vem, ao
longo da história, atuando como um dos principais fatores da escolha do comprador,
alternando esse grau de importância de acordo com as características intrínsecas do produto,
mercado e ambiente macroeconômico onde está inserido (BORGES, 1997).
Os idosos sentiram a redução do preço do medicamentos genérico, devido à
concorrência elevada após a sua entrada no mercado e consequente redução do monopólio das
grandes multinacionais. Dessa forma, uma parcela da população deixa de depender dos
medicamentos distribuídos pelo governo, o que automaticamente reduz os encargos sobre o
52
poder público, ficando o governo mais ágil para atender melhor as pessoas que continuam à
margem do processo privado de aquisição de medicamentos e que necessitam dazer uso de
muitos fármacos (MENDA, 2002).
A classe dois detém 66 UCE’s, o que corresponde a 16,38 % das UCE’s
retidas, com 146 palavras selecionadas com maior freqüência ou qui-quadrado
2
, e
apresentadas na tabela abaixo.
Tabela 3. Palavras associadas significativamente à classe 2.
Palavras Freqüência
χ
χχ
χ
2
Acesso
Ajuda
Artrite
Confiar
Criado
Desconto
De_marca
Difícil
Dinheiro
Duvida
Enalapril
Estresse
Governo
José_Serra
Medo
Novo
Parecido
Política
Propaganda
04
10
04
06
04
06
14
06
22
04
08
04
10
08
08
08
08
10
10
20,63
25,88
20,63
31,10
20,63
31,10
61,54
31,10
63,33
20,63
41,68
20,63
17,37
41,68
22,84
41,68
41,68
40,49
40,49
Esta Classe é composta por UCE’s que relacionam o genérico com a política e com o
governo, uma vez que a implantação dessa política de medicamentos é obra do governo.
Dessa forma, observam-se várias assertivas em relação ao processo eleitoral, ao ex-Ministro
da Saúde José Serra, responsável pela implantação da política de genéricos, a qual foi usada
amplamente como bandeira na sua campanha eleitoral, através de propagandas. Além disso,
alguns idosos relataram sentir dúvida e estresse, associando estes medicamentos à corrupção
no meio político.
O medicamento genérico é visto como um medicamento parecido com o de marca,
causando medo por ainda ser novo. Além disso, a política de genéricos foi sentida pelo idoso
como algo que ajudou e beneficiou o pobre, tendo a sua aquisição determinada pelo valor do
dinheiro que o medicamento apresenta.
Jodelet (2001) afirma que as representações sociais têm um papel decisivo para a
construção de realidades consensuais, por possuírem função sócio-cognitiva, que integra
53
acontecimentos ou coisas pouco conhecidas e orientam as comunicações e nossa conduta em
relação a essas novidades, de tal forma que os meios de comunicação além de participarem da
construção, participam também da disseminação das representações sociais.
Até os dias atuais o mercado de genéricos ainda representa percentuais muito baixos,
representando apenas cerca de 11,9% do mercado farmacêutico nacional (TOKARSKI, 2006).
Para a associação Pró-Genéricos essa estagnação se deve possivelmente ao fato do governo ter
deixado de investir em campanhas de esclarecimento sobre os genéricos para a população
(CECOTOTI, 2004).
A classe três detém 42 UCE’s, o que corresponde a 10,42 % das UCE’s retidas, com
100 palavras selecionadas com maior freqüência ou qui-quadrado
2
e apresentadas no quadro
abaixo.
Tabela 4. Palavras associadas significativamente à classe 3.
Palavras Freqüência
χ
χχ
χ
2
Certo
Compre
Deu
Estomago
Fiquei
Gostei
Nunca
Osteoporose
Presta
Recebe
Toma
Tosse
06
06
14
04
06
08
12
08
04
06
12
04
36,46
13,09
106,03
13,70
52,35
53,18
18,23
23,36
20,64
36,46
48,53
34,73
A classe três contempla conteúdos em que os idosos fazem alusão ao uso do
medicamento genérico com conteúdos positivos afirmando que tomam e gostam, sendo
positiva a resposta terapêutica, além de expressarem que é um medicamento certo. Apontam a
indicação de algumas patologias associadas ao uso deste medicamento, tais como osteoporose
e doenças do estômago.
A osteoporose é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a
“Epidemia Silenciosa do Século”, e atualmente um problema de saúde pública no mundo
inteiro devido ao aumento na expectativa de vida das populações. É uma doença de grande
impacto devido à sua alta prevalência e grande morbimortalidade. Afeta indivíduos de maior
idade, de ambos os sexos, principalmente, mulheres na pós-menopausa, que também
apresentam mais fraturas.
54
A classe quatro detém 34 UCE’s, o que corresponde a 8,44 % das UCE’s retidas, com
44 palavras selecionadas com maior freqüência ou qui-quadrado
2
e apresentadas no quadro
abaixo.
Tabela 5. Palavras associadas significativamente à classe 4.
Palavras Freqüência
χ
χχ
χ
2
As_vezes
No_posto
Omeprazol
Quase
Sempre
Sim
04
06
06
04
10
24
26,73
35,29
35,29
26,73
17,36
115,66
Nesta classe verifica-se que duas noções se destacam nesta classe: às vezes e no posto,
indicando à freqüência com que os idosos recebem estes medicamentos e o local que são
atendidos, como a unidade de saúde.
Os medicamentos mais comumente utilizados pelos idosos são os que atuam no
sistema cardiovascular (anti-hipertensivos, diuréticos, digitálicos e anticoagulantes) que
representam, aproximadamente, 45% das prescrições, os de ação no trato gastrointestinal
(antiácidos, laxativos) e os ansiolíticos. Cabe ressaltar, que os idosos são grandes
consumidores de analgésicos pertencentes à classe dos antinflamatórios não-esteroidais e que
esse fato associado ao declínio da função renal, pode desencadear distúrbios nesse órgão e
prejudicar a excreção de outros medicamentos (COELHO, F.J.M.; MARCOPITO, L.F;
CASTELO, A. 2004).
A classe cinco detém 34 UCE’s, o que corresponde a 8,44 % das UCE’s retidas, com
108 palavras selecionadas com maior freqüência ou qui-quadrado
2
e apresentadas na tabela
abaixo.
Tabela 6. Palavras associadas significativamente à classe 5.
Palavras Freqüência
χ
χχ
χ
2
Ativo
Conheco
Desacreditado
Desconfianca
Deve
Doenca
Feito
Gastar
Laboratorio
Principio
Propranolol
Propria
Ser
Sozinho
Ter
06
04
04
06
08
06
04
04
04
06
04
18
06
06
10
66.10
18.25
43.85
66.10
88.58
10.69
43.85
18.25
13.22
66.10
26.73
9.53
46.81
35.29
111.29
55
Na classe cinco, conforme a tabela 6, a concepção mais compartilhada entre os idosos
sobre o medicamento genérico, encontra-se organizada principalmente em uma visão
polarizada isto é, considera ativo e conheço, mas pelo fato de ser desacreditado o mesmo
provoca desconfiança. Nas entrevistas os idosos defendiam que só confiavam em
medicamentos genéricos produzidos por laboratórios de renome.
No caso dos medicamentos, surge a dúvida quando se compara o produto de referência
(em geral mais caro) com o produto genérico (em geral mais barato) e se diz que esses
produtos têm a mesma qualidade. A explicação técnica para esse fato é que no preço dos
medicamentos de referência está embutido o gasto com pesquisa e propaganda, enquanto que,
sendo o genérico apenas uma cópia do produto de referência, a indústria que o produz não tem
que investir em pesquisas nem em propaganda, tornando-o, dessa forma, um produto mais
barato. No entanto, as despesas referentes à qualidade são mantidas e isso faz do genérico um
medicamento mais barato e de qualidade. O desconhecimento desses detalhes tem gerado a
maioria das dúvidas sobre a qualidade do medicamento genérico no grupo estudado.
Também foi citado o medicamento propranolol, um anti-hipertensivo bastante
utilizado pelos idosos pertencentes à área de abrangência das unidades básicas de saúde. A
hipertensão arterial vem se transformando progressivamente num dos mais graves problemas
de saúde pública, atingindo adultos, em especial os mais idosos, sendo definida pela
Organização Mundial de Saúde como a elevação crônica da pressão arterial sistólica e/ou
pressão arterial diastólica. Sua prevalência tende a ser maior no sexo masculino. Os números
são muito variáveis para o país, variando de 5,0% a 32,7% em diferentes regiões do país
(LESSA, 1993).
A classe seis detém 105 UCE’s, o que corresponde a 26,05 % das UCE’s retidas, com
83 palavras selecionadas com maior freqüência ou qui-quadrado
2
e apresentadas no quadro
abaixo.
Tabela 7. Palavras associadas significativamente à classe 6.
Palavras Freqüência
χ
χχ
χ
2
Acham
Alguns
Amigos
Comprei
Compro
Dizendo
Genérico
Melhor
Não
Recebo
Usam
14
06
06
12
24
04
48
12
80
28
12
17.06
10.15
10.15
20.72
23.52
11.47
25.90
4.41
18.19
29.47
35.10
56
Esta classe organiza-se em torno dos elementos mais significativos em que os idosos
acham que alguns amigos consideram os medicamentos genéricos melhor, pois usam embora
afirmem ao mesmo tempo que não recebo.
As dimensões das representações sociais contemplando as imagens que os idosos
associam ao medicamento genérico, sobre os conhecimentos dos medicamentos e o
posicionamento dos idosos frente ao medicamento genérico.
O discurso grupal que elabora representações sociais como conhecimento do senso
comum, precisa ser público (WAGNER, 2000), e os idosos ao mesmo tempo em que são
produtores de conhecimento, também são receptáculos deste conhecimento e se apossam do
discurso social e da experiência individual para se colocarem frente ao objeto de
representação.
4.2.2 Conteúdos Significativos de cada Classe
Estas dimensões são exemplificadas nas UCE´s contempladas nas classes apresentadas
a seguir.
Classe 1. Efeitos Psicossociológicos e Físicos.
40 24 diuretico, #pressao, #captopril, caseiro, alho batido para tontura, #casa #propria, #um
#filho, #bom, mais #barato. E #bom #porque e mais #barato, #uma beleza #mesmo, #faz
#mesmo #efeito e mais #barato que o #outro. 200 23 #pressao, propranolol, hidroclorotiazida
generico, #casa #propria, #esposo, #uma #filha #um #neto #um #filho, e #de_graca, #barato,
me dou bem. E imitacao #outro #remedio. E #bom #porque #faz o #mesmo #efeito ainda #sai
mais #em #conta. acham #bom #porque e mais #barato e ate #de_graca. 59 22 #remedio para
#ossos, #para_pressao, hidroclorotiazida, #casa #propria, #marido, #um #filho, #uma #neta,
#em #conta, #mesmo #efeito uso dele tambem #acho #bom, #gosto. 11 17 para_diabetes,
#pressao e #acho que para_coracao, #captopril, #casa #propria, com conjuge, mais #barato.
#sei nao. #acho que nao #faz #efeito #do #original. 106 16 #captopril, #vitaminas, #casa
#propria, com_esposo, uso, #gosto, em_conta, #mesmo que #outro. #acho que e #uma #coisa
boa para #pessoas, #porque tem #mesmo #efeito que #outro #sai mais em_conta.
Nesta classe os idosos tratam dos efeitos psicossociológicos e físicos dos
medicamentos genéricos nas suas concepções, mescladas com aspectos econômicos e o seu
uso, envolvendo familiares. Ao mesmo tempo os idosos se posicionam favoravelmente frente
ao medicamento genérico, embora se verifiquem representações negativas acerca dos
genéricos. Além disso, os idosos relatam suas interações no grupo e repassam experiências de
outras pessoas sobre o uso, tipo de remédio e as doenças.
57
Classe 2. Indicações, Consumo e Implicações Psicossocial e Econômicas do Uso.
395 33 #para_dormir, #estresse, casa #alugada #com filhos, netos #genros, #propaganda, #dor,
gratis, #novo, #respeito. #eles #sao uma #alternativa #para #os #pobres. 172 28 pressao,
dor_nos_ossos, insulina, casa propria #com esposo, #felicidade, alivio, #economia,
#qualidade, #preco_bom. #sao #medicamentos iguais #aos #de_marca que #foram primeiros
#serem produzidos, #porem #sao #mais_baratos, #governo #paga uma #parte. 431 26
ansiedade, #estresse, #para_dormir, casa #alugada #com filhos, netos #genros, #cura, #dor,
#solucao, #ajuda. #sao #ajudas #para as pessoas. #solucao #para quem #tem #pouco #dinheiro
#precisa #tomar muitos #medicamentos. #ajuda que #cura. #tomo sempre #para_dormir
compro generico quando #tem. 164 24 #tuberculose, casa #alugada #com filhos, #pobre,
#ajuda, #tuberculose, #duvida, bom. #sao #medicamentos #bons porque ajudam #os #pobres,
queria que #tivesse #para #tuberculose. 160 23 #enalapril, #hidroclorotiazida, analgesicos
em_geral, casa propria #com filha, #beneficio, #desconto, pressao alta, substitui #de_marca,
#novidade. #sao #mais_baratos porque acabou patente #dos #de_marca. #medicamento #novo
#no mercado que substitui #de_marca, #beneficio #para #populacao brasileira. 149 21 pressao,
casa #alugada, filhos, #genros, netos, #dinheiro, fim de mes, #preco_bom, #economia, #dificil
de #encontrar. #eles #foram inventados pelo #governo, #jose_serra, e #com #preco_bom. 420
19 #enalapril, #furosemida, para_osteoporose, casa propria, #com neta, #medo, morte, #risco,
#experiencias, doenca. #eles #estao #passando #por #experiencias, nao #sao confiaveis #ainda.
Esta classe salienta representações sociais em que os idosos falam sobre indicações do
medicamento genérico, consumo utilizado e as implicações deste consumo, além de aspectos
econômicos associados aos medicamentos.
Classe 3. Acessibilidade ao Medicamento.
222 46 para #mim #ja #tomei #fiquei boa, #gostei, #fiquei boa foi mais_barato. acho que e o
mesmo jeito que #digo gente #compra mais #em_conta, #salario e pequeno, fizeram para
#ficar melhor no_bolso #da gente. 52 45 #minha irma #toma #dele, que #ela e #doente acho
que #ela #acha bom. #nunca #tomei, mas #minha irma #ja tomou. recebo posto, vitamina, tudo
recebo de la. 2 37 #ja #tomei, #serviu, #deu #certo. sim, captopril. 85 34 uso #varios para
pressao, metildopa, #estomago, #osteoporose, casa #da ex_patroa, governo, bom, #povo,
#salario, remedio. para quem #se_da e bom, mas dificilmente o medico #passa para #mim,
mas acho que #presta. 63 32 nao acho que tem validade, tem dosagem mais #fraca do_que tem
escrito. nao sei, porque cada um tem que responder por_si, nao compro #esse remedio que
gente #recebe pelo sus nao #presta, #da alergia #tosse, #tomei de #osteoporose quando #fui
fazer exame, #deu maior eu #tomando o remedio todo dia. 54 31 pessoa #toma para #saude.
#tomam para #ficar #bem. #nunca #tomei. recebo o de pressao. 82 31 #nunca #tomei, mas
#meu #menino #toma um para #estomago. recebo de pressao. 309 29 E para_coluna,
para_estomago, serve para muita coisa. #minha #nora trabalha patroa dela #toma #ela falou
que se sentiu #bem. #ja #tomei #achei bom. recebo no posto #antibiotico, pomada para
#osteoporose.
Nesta classe os idosos relatam experiências sobre a acessibilidade ao medicamento nos
serviços de saúde. De acordo com Coelho (2007), a garantia do acesso aos medicamentos é
apoiada num tripé constituído pela indústria farmacêutica no contexto da produção; pela rede
de dispensação privada constituída pelo comércio farmacêutico, e pela assistência pública. A
implantação da política de medicamentos genéricos trouxe para a rede de dispensação privada
uma parcela de consumidores que utilizava a assistência pública, acarretando uma economia
58
para os cofres públicos, seja no que se refere ao deslocamento desses usuários, seja nas
compras realizadas pelo setor público, uma vez que os genéricos são mais baratos.
Com isso, os idosos têm acesso garantido aos medicamentos, que agora podem
adquirir, demonstrando que esse novo contexto foi percebido por eles ao evocarem as palavras
recebo, tomei.
Classe 4. Dificuldades para o Uso.
120 96 #insulina, metformina, #omeprazol, casa propria esposa, #posto, #medico, saude, povo.
sao os remedios #do_povo, que sao entregues #aqui #no_posto. medicamento mais_barato
para #ajudar, #mais_fraco que os outros. sao bons, os #medicos #passam para #ajudar
#o_povo. #sempre recebo #aqui #no_posto tomo confiando ja que os #medicos #passam. 419
66 #sim, #sempre que #preciso. 412 57 tenho dificuldades de tomar, #as_vezes nao_tomo
#sempre pioro, minha pressao #sobe. #sim, #aqui na_unidade. 374 46 #outra #forma de se
#conseguir comprar ou receber #aqui #no_posto remedio. tomo quando nao tem outro #jeito,
quando recebo #aqui. 121 44 #sim, a #insulina. 177 44 #sim, #sempre. 197 44 #sim,
#omeprazol. 359 44 #sim, #no_posto. 211 43 se o #medico #passar eu #posso comprar, mas os
#similares que querem #passar por generico nao_aceito. nao, pois controlado #quase nao tem
generico, nao sei nem se #existe, ja usei #omeprazol e fez_efeito, #melhorei. 151 15 #sim,
para pressao, generico #as_vezes.
As diferentes dificuldades vivenciadas pelos participantes do estudo são
referenciadas nas falas apreendidas em que é importante e necessário o
compartilhamento de informações entre os elementos do grupo, pois a experiência do
outro pode contribuir para cada um refletir e tomar decisões sobre questões de sua
própria vida, seja de forma individual ou coletiva.
Classe 5. Concepções Psicológicas, Econômicas e Farmacológicas
114 76 #ranitidina, #aas, captopril, casa alugada, #sozinho, sem_valor, #morte, #piora. eles
nao valem #nossa #confianca. eles #trazem #piora para #nossas #doencas, alguem #esta
ganhando com #isso para a gente ir para hospitais #depois #gastar mais. E #praticamente
#nome do medicamento que se #deve manter o #principio #ativo, #mesma_composicao
#quimica independente do #laboratorio. 238 47 hidroclorotiazida, captopril, casa propria,
#esposa, mesmo #principio #ativo, melhor_preco, beneficio, #eficaz, boa_aceitacao. O que sei
e que segundo as #farmacias tem o mesmo #principio_ativo, #funciona tem #boa #aceitacao,
porque tem um preco_melhor, #mais_acessivel. 198 41 homeopatia, casa alugada, #sozinha,
qualidade, prontidao, fabricacao, textura, diferenca entre #laboratorio apenas no_preco. #pelos
#meios de comunicacao #vejo que favorece as pessoas com #menos #poder aquisitivo a
#comprar com preco mais favoravel. acho que eles evoluiram deram #boa #oportunidade,
devendo #ter mesmo componente quimico que o original. 231 41 captopril, casa propria,
#esposa, dois filhos, barato, #desconfianca, para #doenca #leve. #vejo na televisao, #antes se
falava mais, as pessoas estavam bem otimistas confiantes, agora nao #vejo mais divulgacao,
nao incentivam mais, #parece que #esta #meio #desacreditado. 89 36 E #benefico #feito para
classe #menos favorecida. #ruim que nao #deve #ser #deve #ser #benefico, maligno e que nao
#deve #ser. nunca tomei. 195 34 #ouvi #falar que nao #vale nada, nao #vale a_pena #gastar
com ele, pois nao tem fundamento. #estou #desacreditado, medo_de #comprar, de #gastar
dinheiro nao ficar bom da #doenca #deveria #ter um orgao fiscalizador.
59
Os idosos têm diferentes olhares sobre os medicamentos genéricos, que envolvem
questões psicológicas, econômicas e farmacológicas, relacionadas à aceitação. Identifica-se
nestes conteúdos um baixo nível de informação sobre o medicamento genérico.
Neste sentido, para Moscovici (1978, p. 67) a informação dimensão ou conceito
relaciona-se com a organização dos conhecimentos que um grupo possui a respeito de um
objeto social. Entretanto, para o referido autor, apesar da ênfase dada à informação, esta
sozinha não fornece uma panorâmica do conteúdo e do sentido de uma representação social.
também a atitude e o campo de representação ou imagem, as quais constituem as
dimensões das representações sociais. Portanto, as pessoas pensam, organizam seus
conhecimentos e assumem uma determinada posição em relação a um objeto social, assim
como também, procuram elaborar uma imagem a fim de se aproximar do objeto, de torná-lo
mais tangível.
Tais considerações justificam os conteúdos mais significativos sobre os medicamentos
genéricos e seus efeitos farmacológicos que são influenciados pela difusão, propaganda e
propagação envolvidos no processo comunicacional responsável pela construção de
representações sociais, presentes na classe a seguir.
Classe 6. Efeitos Farmacológicos e Comunicacionais
480 26 tomo faz tempo, #agora que fico meio #assim com #todo #mundo #dizendo que
#nao_presta. acho que os #doutores #devem #ir na televisao falar ou desmentir que #todo
#mundo #fala por ai que nao_funciona, #mas #uso, #meus #amigos #nao confiam #muito
#nao. 230 20 #uso baixa diabetes, #quando #doutora #ve que #nao ta baixando deixo de #usar.
#nao, #compro o #generico. 208 17 #como falei, ja #usei #uso #ate #hoje e #so mando
comprar dele para economizar valorizar, porque se as pessoas #nao #usam, #vai acabar e
prejudicando #muitos. 214 17 eu me #dou bem com o que #uso, #foi #muito bom, pois baixou
#colesterol, #so #tenho experiencia com esse. #nao, seria bem #melhor que houvesse
#generico para #todos pois que #compro custa sessenta_reais e o outro quarenta, #mas o
#generico e #oito_reais, bem #melhor. 236 17 #so isso, mais_barato, e_igual. eles #tambem
#usam #gostam. #agora #nao estou #precisando de #nenhum, #mas #quando preciso #so corro
#atras desses. 465 17 eu me #dou bem com o que #uso, #foi #muito bom, pois baixou
#colesterol, #so #tenho experiencia com esse. #nao, seria bem #melhor que houvesse
#generico para #todos pois que #compro custa sessenta_reais e o outro quarenta, #mas o
#generico e #oito_reais, bem #melhor. 487 17 #so isso, mais_barato, e_igual. eles #tambem
#usam #gostam. #agora #nao estou #precisando de #nenhum, #mas #quando preciso #so corro
#atras desses.
Os idosos fazem inferência aos meios de comunicão, como a televisão, e a influência
dos profissionais médicos durante a prescrição e dos amigos frente a utilização dos
medicamentos genéricos.
Jodelet (2001) afirma que as representações sociais têm um papel decisivo para a
construção de realidades consensuais, por possuírem função sócio-cognitiva, que integra
60
acontecimentos ou coisas pouco conhecidas e orientam as comunicações e nossa conduta em
relação a essas novidades, de tal forma que os meios de comunicação além de participarem da
construção, participam também da disseminação das representações sociais.
4
4
.
.
3
3
Núcleo Central do Medicamento Genérico: Resultados obtidos do EVOC.
Dos idosos abordados, 17 (17%) deixaram de responder ao teste por desconhecerem o
medicamento genérico, resultando em 83 testes realizados, os quais se efetivaram em 298
evocações.
A análise lexicográfica demonstrou que, das 298 evocações, 45 eram constituídas por
palavras diferentes, como está expresso no Quadro 1, abaixo.
Tabela 8. Resultados obtidos do Teste de Evocação
Número de sujeitos 83
Número de palavras diferentes evocadas 45
Número total de evocações
298
Média de evocações por sujeito 3,6
Média das ordens médias de evocação (OME) 2,5
Média das freqüências de evocação (F
m
) 21,3
Os cálculos de todas as freqüências e as médias de cada evocação foram efetuadas
através do programa EVOC 2002, enquanto a categorização das evocações foi realizada pela
análise de conteúdo (Bardin, 2004), o que resultou no estabelecimento de 12 categorias. Para a
referida autora a categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de
um conjunto. As categorias reúnem um grupo de elementos com caracteres comuns, sob um
título genérico.
A partir desta categorização pode-se apreender a realidade social em forma de práticas
discursivas enquanto produto, uma vez que a representação não se limita a ser uma mera
reprodução do real, pois todo um processo interpretativo e constitutivo, de modelização,
simbolização e expressão dos diversos objetos sociais associados às representações sociais,
em que intervem o processo de cognição dos indivíduos a par de fatores como o sistema de
valores, fatores afetivos, imagens e motivações internas
Além disso, através do EVOC 2002 foram efetuadas a distribuição, a freqüência e a
ordem média das evocações, como está demonstrado na Tabela 1. Também foram
determinadas a média das ordens médias das evocações (OME) das categorias em 2,5 e a
freqüência média das evocações (FM) das categorias em 21,3.
61
Tabela 9. Categorias resultantes das evocações obtidas do teste de associação de palavras, de 83 idosos.
CATEGORIAS
FREQÜÊNCIA
(F)
ORDEM MÉDIA DE
EVOCAÇÃO (OME)
1
Eqivalência
85 2,424
2
Preço
35 2,371
3
Salário
15 2,867
4
Benefício Social
13 2,769
5
Qualidade
12 2,750
6
Economia
8 2,500
7
Acesso
6 3,000
8
Substituição
6 3,000
9
Televisão
11 2,273
10
Achofrac
9 2,333
11
Direito
7 2,143
12
Dor
6 1,667
Total
213 30,097
O gráfico de similitude da representação revela que a categoria equivalência organiza
os outros termos da representação, apresentado na figura 2 a seguir.
Figura 2. Análise de Similitude ao termo indutor «medicamento genérico». João Pessoa. 2008.
A Tabela 2 tem como base um gráfico de dispersão, no qual o eixo das abscissas (x)
corresponde aos valores referentes à OME e o eixo das ordenadas (y), aos valores da
freqüência. Desse modo, cada categoria de evocações corresponde a um ponto no gráfico, o
que sugere uma correlação positiva entre as variáveis, segundo o modelo proposto por Vieira
(1980) e por Beaufils (1996). Ao se deslocar o eixo para o ponto que representa o valor de
62
suas médias, estabelecem-se os quatro quadrantes que estão representados no esquema
figurativo.
Tabela 10. Identificação dos possíveis elementos do núcleo central das representações sociais do
medicamento genérico por idosos.
OME < 2,5 e F 21
OME > 2,5 e F 21
Equivalência (2,424)
85
Preço (2,371)
35
OME < 2,5 e F < 21
OME < 2,5 e F < 21
Televisão (2,273)
11
Salário (2,867)
15
Achofrac (2,333)
9
Benefício Social (2,769)
13
Direito (2,143)
7
Qualidade (2,750)
12
Dor (1,667)
6
Economia (2,500)
8
Acesso (3,000)
6
Substituição (3,000)
6
As evocações que figuram no quadrante superior esquerdo são as que mais
provavelmente fazem parte do núcleo central; as que estão no quadrante inferior direito
pertencem ao sistema periférico, enquanto as demais são consideradas intermediárias e, no
estudo em questão, não se situam bem definidamente.
O núcleo central tem uma função geradora e organizadora, ou seja, ele é o elemento
pelo qual se cria, ou se transforma, a significação dos outros elementos constitutivos da
representação. É por ele que esses elementos tomam um sentido, um valor (ABRIC, 1994).
As evocações detectadas como prováveis componentes do núcleo central (equivalência
e preço) refletem a preocupação do consumidor com o fato de esse medicamento ser
equivalente ao produto de referência e, portanto, ter as mesmas características terapêuticas e
com o preço, fator determinante do acesso ao medicamento por alguns segmentos da
população.
Núcleo central: equivalência e preço
•Equivalência
Na categoria equivalência, destacaram-se as seguintes evocações: mesmo efeito,
mesma coisa, tem a mesma substância, mesmo princípio ativo, igual ao de marca e
equivalente ao original, correspondendo a 28,5 % das palavras lembradas. Esta foi
considerada uma categoria bastante forte, tendo englobado um total de apenas 44 palavras
diferentes, em 85 ocorrências.
A referência ao fato de que o medicamento genérico deve ser intercambiável com o
medicamento de referência, estabelecida no artigo terceiro da Lei 9.787/99, implica que, para
63
tal, esses dois tipos de medicamento têm que ser equivalentes, podendo ser substituídos um
pelo outro.
A idéia da equivalência foi muito bem compreendida e captada pelos dois grupos de
idosos, de tal forma que ela entra como componente do núcleo central das representações
sociais desse tipo de medicamento. O saber coletivo evidencia o sentido da noção da
equivalência farmacêutica expressa em evocações como: mesmo efeito, demonstrando que, se
os medicamentos são iguais, eles têm o mesmo efeito; ou mesma coisa, igual ao de marca ou
ainda substitui o de marca, dando conta da consciência do grupo acerca da noção de
equivalência farmacêutica e intercambialidade.
•Preço
Na categoria preço, as evocações mais freqüentes foram: barato, mais barato, preço,
melhor preço, preço bom, menor preço, mais em conta e economia, correspondendo a 11,7%
das palavras lembradas. Esta também foi considerada uma categoria bastante forte, tendo
englobado um total de apenas10 palavras diferentes, em 35 ocorrências.
O preço vem, ao longo da história, atuando como um dos principais fatores da escolha
do comprador, alternando esse grau de importância de acordo com as características
intrínsecas do produto, mercado e ambiente macroeconômico onde está inserido (BORGES,
1997).
Na teoria econômica, o preço seria o ponto de equilíbrio da transação, na qual um
ofertante estaria disposto a efetivar a troca de uma mercadoria que possui por uma
contrapartida do demandante (STLIGER, 1968), ao passo que, na teoria do marketing, o preço
seria um comunicador da qualidade do produto (SHAPIRO, 1973).
Do que se depreende da experiência internacional, a entrada dos medicamentos
genéricos no mercado eleva o grau de concorrência, reduzindo o poder de monopólio das
grandes multinacionais, provocando uma redução nos preços dos medicamentos. Dessa forma,
uma parcela da população deixará de depender dos medicamentos distribuídos gratuitamente
pelo governo, o que automaticamente reduzirá os encargos sobre o poder público, ficando este
mais ágil para atender melhor as pessoas que continuam à margem do processo privado de
aquisição de medicamentos (MENDA, 2002).
Em pesquisa de opinião pública nacional realizada pela ANVISA no final de 2001,
com 2.200 consumidores em 236 municípios, observou-se que 70% dos entrevistados
definiram o medicamento genérico como sendo um "medicamento mais em conta", "de preço
reduzido" e "mais barato" (BARROS, 2004). Essas definições coincidem com as evocações
64
captadas na categoria preço, em que os consumidores evocaram palavras que traduzem os
mesmos significados.
Por achar que se trata de uma barreira ao acesso aos medicamentos, o preço destes
sempre foi uma preocupação constante dos diferentes governos brasileiros, muito embora a
própria Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Medicamentos (2000) reconheça que o
acesso está muito mais relacionado à renda da população do que propriamente ao preço. No
entanto, não se pode descartar que o preço é um dos importantes fatores que dificultam tal
acesso, daí a constante preocupação com seu controle e monitoramento.
O perfil do consumidor brasileiro é constituído por três classes: a primeira representa
15% da população, tem renda acima de dez salários mínimos e consome 48% do mercado
total de medicamentos; a segunda é formada por 34% da população, tem renda em torno de
quatro a dez salários mínimos e consome 36% do mercado; a terceira é constituída por 51% da
população com renda de zero a quatro salários nimos e consome apenas 16% do mercado
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1998).
Para a classe de renda elevada, o preço tem pouca influência no consumo, pois essa
população sempre usará os medicamentos que forem receitados, com preferência pelos de
última geração tecnológica.
Os consumidores inseridos na classe intermediária de renda, principalmente aqueles
que constituem os patamares inferiores dessa classe, certamente são os mais beneficiados com
a política de medicamentos genéricos e para eles o preço é um dos fatores que decide o acesso
aos medicamentos. Para esse segmento da população, as políticas que permitem uma redução
de preços podem ter um efeito imediato no consumo de medicamentos.
A população de baixa renda revela um padrão de consumo no qual o que define o
acesso ao medicamento não é o preço e sim a renda, pois mesmo com uma queda significativa
dos preços, a renda é tão baixa que torna seu consumo praticamente impossível.
Esse fato demonstra que, por razões sócio-econômicas, o acesso aos medicamentos
não ocorre de forma igual na população, ficando comprometido para milhões de brasileiros
que têm baixa renda. O aumento constante dos preços dos medicamentos no mercado é um
dos fatores que acabam levando a população ao serviço público em busca da obtenção deste
produto (BERMUDEZ et al, 1999).
Embora não atinja todas as classes definidas no perfil do consumidor brasileiro, o
preço é indiscutivelmente um fator importante no ciclo da comercialização. Assim sendo, é
amplamente compreensível que ele se constitua no cerne da representação social do
65
medicamento genérico, uma vez que o consumidor o como fator decisivo para o acesso aos
medicamentos.
Sistema periférico: salário, benefício social, qualidade, economia, acesso, substiuição
Em torno do núcleo central, organizam-se os elementos periféricos da representação
que, provendo a interface entre a realidade concreta e o sistema central, atualiza e
contextualiza as determinações normativas do núcleo central
8
. É nele, portanto, que devem se
concentrar as estratégias que visem a interferir no núcleo das representações sociais de um
determinado grupo.
As representações sociais desempenham um papel importante para a instituição de
realidades consensuais, apresentando uma função sócio-cognitiva que integra os
acontecimentos ou coisas pouco conhecidas e orientam as comunicações e nossa conduta em
relação a essas novidades (JODELET, 2001).
Os componentes do sistema periférico (salário, benefício social, qualidade, economia,
acesso, substiuição), detectados e categorizados no presente estudo refletem a
contextualização imediata do genérico. Podem ser usados para, indiretamente, interferir no
núcleo central, veiculando a mensagem de que os genéricos estão relacionados às condições
salariais do grupo em estudo, à uma política cujo impacto se refletiu em benefícios à
população, devido à qualidade, economia e acesso a esses medicamentos os quais podem ser
substituídos pelos de referência.
A política de genéricos foi sentida pelo consumidor como algo que ajudou e beneficiou
o povo, sendo estas as duas evocações mais freqüentes na categoria benefício social.
A qualidade pode ser entendida como uma superioridade ou excelência de um produto
em relação a outro (ZEITHAML, 1988). Em decorrência disto, a percepção da qualidade pode
ser definida como o julgamento que o consumidor faz acerca da superioridade ou excelência
de um produto (LEWIN, 1936).
Além disso, a qualidade pode ser vista como a diferença entre o que foi prometido e o
que foi entregue ao consumidor. De maneira mais simples, diz-se que um produto tem
qualidade quando ele está de acordo com as especificidades de um determinado padrão pré-
estabelecido (BECARO, 2002).
As indústrias utilizam-se de várias ferramentas com o objetivo de assegurar que o nível
de qualidade esperado para um determinado produto seja atingido. Organizações
governamentais ou não governamentais estabelecem normas e padrões mínimos a serem
seguidos, os quais indicam que as empresas que os possuem estão comprometidas em seguir
66
procedimentos e processos que garantam a produção de produtos e serviços de qualidade.
Dentre esses padrões, figuram a série ISO 9000, o Padrão Industrial Japonês Z8101 e as séries
Q de Padrões de Qualidade (BECARO, 2002).
Com relação aos medicamentos, as exigências estabelecidas para que se atinjam os
requisitos de qualidade são bastante rígidas. No Brasil, além de fazer respeitar os padrões
internacionais, o Ministério da Saúde e, mais especificamente, a ANVISA são responsáveis
por uma série de normas legais que estabelecem os requisitos mínimos para que a indústria
farmacêutica possa produzir medicamentos de qualidade, bem como por outras normas que
estabelecem padrões de qualidade para cada tipo de medicamento. Em adição, a ANVISA é
também responsável pela fiscalização da observância a essas normas por parte da indústria.
A Resolução RDC n. 210/ANVISA estabeleceu as diretrizes que regulamentam as
Boas Práticas para a Fabricação de Medicamentos, as quais objetivam garantir a qualidade
dos medicamentos fabricados, envolvendo critérios como as instalações das indústrias,
controle das matérias-primas e materiais de embalagens, equipamentos, processos de
produção e controle de qualidade, entre outros.
Para o consumidor, o preço e a qualidade são elementos fundamentais na construção
de uma noção de valor, que será, por sua vez, o seu orientador na escolha do mercado. A
percepção dos consumidores quanto aos critérios de avaliação da qualidade podem mudar ao
longo do tempo devido a fatores como aumento de informações, aumento de competição em
uma categoria de produto e mudança de expectativas. No entanto, isso não invalida a relação
entre o preço e a qualidade, em face da importância que ela representa dentro do processo de
percepção do valor de um bem e sua influência no processo de decisão de compra (BORGES,
1997).
A qualidade requer custo adicional, o qual é composto, em sua maior parte, pelos
custos de prevenção e de avaliação. Os custos de prevenção englobam as despesas decorrentes
de medidas ou processos que visam a evitar falhas, como, por exemplo, treinamento de
pessoal e de fornecedores, controle estatístico de processo, entre outros. Os custos de
avaliação envolvem as atividades que asseguram que o produto atenda as necessidades dos
consumidores internos e externos, como custo de inspeção de materiais comprados, custo de
manutenção de equipamentos e instrumentos, custo com testes e análises laboratoriais, entre
outros (BECARO, 2002).
Embora a maioria das pessoas desconheça os critérios técnicos que são levados em
conta para que se obtenham produtos de qualidade, o sentido da relação preço/qualidade
67
parece estar arraigado na cultura popular e pode ser vislumbrado através de provérbios que
expressam claramente esse sentido como nos seguintes casos: "quanto mais caro, melhor o
vinho" ou "o que é bom custa caro" ou "o que é barato sai caro". Esses provérbios
demonstram que o saber popular relaciona a qualidade ao preço do produto e desconfia da
qualidade de produtos que, comparativamente a outros, são mais baratos.
No caso dos medicamentos, surge a dúvida quando se compara o produto de referência
(em geral mais caro) com o produto genérico (em geral mais barato) e se diz que esses
produtos têm a mesma qualidade. A explicação técnica para esse fato é que no preço dos
medicamentos de referência estão embutidos os gastos com pesquisa e propaganda, ao passo
que, como o genérico é apenas uma cópia do produto de referência, a indústria que o produz
não tem que investir em pesquisas nem em propaganda, tornando-o, dessa forma, um produto
mais barato. Contudo, as despesas referentes à qualidade são mantidas e isso faz do genérico
um medicamento mais barato e de qualidade. O desconhecimento desses detalhes tem gerado
a maioria das dúvidas sobre a qualidade do medicamento genérico no grupo estudado.
O fato de a evocação "qualidade duvidosa" ter representado 11,45% das palavras dessa
categoria é preocupante e remete à necessidade de se estabelecerem estratégias a fim de
esclarecer a população acerca da qualidade do produto genérico e reverter esse quadro de
dúvidas, que estimula a descrença nesse tipo de medicamento, pondo em cheque uma
política de repercussões sociais tão necessária e abrangente.
De acordo com Coelho (2004), a garantia do acesso aos medicamentos é apoiada num
tripé constituído pela indústria farmacêutica no contexto da produção; pela rede de
dispensação privada constituída pelo comércio farmacêutico, e pela assistência pública. A
implantação da política de medicamentos genéricos trouxe para a rede de dispensação privada
uma parcela de consumidores que utilizava a assistência pública, acarretando uma economia
para os cofres públicos, seja no que se refere ao deslocamento desses usuários, seja nas
compras realizadas pelo setor público, uma vez que os genéricos são mais baratos.
Com isso, esses consumidores têm acesso garantido aos medicamentos, que agora
podem adquirir, demonstrando que esse novo contexto foi percebido por eles ao evocarem a
palavra acessível. Outros consumidores, nessa categoria, evocaram as expressões fácil de
encontrar e difícil de encontrar, demonstrando a disponibilidade desse tipo de medicamento na
rede de distribuição privada.
68
CONSIDERAÇÕES FINAIS
69
Este estudo procurou apreender representações sociais acerca dos medicamentos
genéricos, elaboradas por idosos usuários de unidades básicas de saúde: de Mandacaru e das
Praias e explorar as implicações das representações sociais sobre os medicamento genéricos
na adesão ao seu uso pelos idosos.
Espera-se que este estudo contribua no campo da saúde, em particular, na Enfermagem
pelo seu caráter interdisciplinar em que o mesmo não se limita apenas a ela, mas a todas as
áreas do conhecimento, seja pela globalização ou pela necessidade de se conhecer dimensões
subjetivas de saúde e doença no olhar dos usuários da saúde, contextualizados socialmente.
Vale salientar a importância sobre o senso comum enquanto processo de interpretação
do conhecimento que se encontra interligado nas formas da comunicação social, a partir de
uma sociedade dinâmica. Ele possibilita aos idosos interferirem nas vivências e práticas
sociais que contribuem para a construção de elementos sócio-cognitivos elaborada por estes
sujeitos, que apontam uma representação social.
O conhecimento das representações sociais do medicamento genérico para os idosos
pode se constituir em uma importante ferramenta na implementação de estratégias à
compreensão da adesão a estes medicamentos, mediante intervenções a partir do diagnóstico
psicossocial viabilizado pelos elementos que compõem o sistema periférico dessas
representações, visto que, segundo Abric (1994), o sistema central é essencialmente
normativo, ao passo que o sistema periférico é funcional. Essa compreensão é importante
quando o que se busca é descobrir caminhos possíveis para desencadear modificações das
representações sociais de um grupo, por se entender que estas se constituem em um obstáculo
para o desenvolvimento de práticas sociais alternativas às vigentes.
Desta forma, as representações sociais identificadas dos idosos sobre os medicamentos
genéricos, pertencentes às unidades básicas de saúde: mandacaru e das praias, da cidade de
João Pessoa, identificadas no presente trabalho, apontam para um núcleo central alicerçado na
equivalência farmacêutica e preço, enquanto o sistema periférico envolve as categorias
salário, benefício social, qualidade, economia, acesso, substiuição. Para os idosos, o
medicamento genérico é representado como um produto de preço menor, de qualidade, que
substitui o de marca, que faz o mesmo efeito do original e que lhe permite o acesso aos
tratamentos. A qualidade na visão dos usuários é referida como instrumento de cura, se o
medicamento cura é porque ele tem qualidade.
No entanto, a palavra «genérico» passou a representar muito mais do que um tipo de
medicamento, associado a um sentido mais amplo, absorvendo e englobando quaisquer
70
produtos que tenham a característica dos medicamentos genéricos, ou seja, a de produtos mais
baratos, equivalentes ao original, sem marca e que suprem uma necessidade emergencial.
Entretanto, esses produtos (cópias falsificadas de produtos de marca) geralmente têm
qualidade duvidosa. O fato de a palavra genérico ter se constituído numa representação desses
produtos, pode levar os usuários de medicamentos a suspeitarem da qualidade do
medicamento genérico, questionando uma política bastante importante do ponto de vista
social.
Os conteúdos apreendidos da análise do Alceste, dimensionadas nas classes e/ou
categorias: efeitos psicossociológicos e físicos dos medicamentos genéricos; as indicações e
consumo; acessibilidade ao medicamento; uso do medicamento; aspectos farmacológicos
associados ao medicamento genérico e aspectos farmacológicos associados ao medicamento
genérico.
Com o aprofundamento da problemática que envolve o olhar do idoso no que concerne
ao uso de medicamento genérico, na perspectiva do aporte teórico metodológico das
representações sociais, salientar representações sociais do medicamento pelo idoso na busca
de suas implicações na sua adesão. Na perspectiva epistemológica das representações sociais,
o sujeito foi considerado um ser criativo que, a todo o momento, para se comunicar no mundo,
elabora e re-elabora o pensamento para dar significado ao seu cotidiano. A história de vida e a
experiência acumulada do idoso são campos férteis e propícios à construção de representações
construídas e compartilhadas no grupo de pertença. Na construção de representações sociais se
considera dois sistemas de pensamento social - o científico (universo reificado) e o saber do
senso comum (universo consensual). Logo, entender o que as pessoas pensam sobre os objetos
que lhe são dados a pensar é a condição primeira para entender as suas práticas. Até porque o
saber do senso comum é um conhecimento prático (JODELET, 2001). Esse conhecimento se
estrutura no cognitivo (perspectiva sociológica) e no afeto (perspectiva psicológica), daí a
importância de se conhecer o sujeito que produz o conhecimento, em particular, o que pesam
os idosos sobre o medicamento genérico e o que justifica a sua adesão ou não.
Portanto, a teoria das Representações Sociais aplica-se na análise de fenômenos sociais
que permeiam, por exemplo, o medicamento genérico para o idoso, por dar conta de
fenômenos coletivos e, mais precisamente, das regras que regem o pensamento social.
A velhice é um fenômeno com caráter histórico-cultural, marcado pela atividade
humana. É uma categoria social que depende da ideologia da sociedade da qual se fala. O
envelhecimento é próprio de cada ser e, assim, é intrínseco. O aumento do tempo de vida do
71
homem não deixa de ser um ganho, mas ao mesmo tempo em que é ganho também se traduz
em perdas e ameaças.
A complexidade da gerência da saúde brasileira, no que diz respeito à velhice, aponta
para a dificuldade de respostas com o modelo biomédico e a necessidade de uma nova forma
de conceber o envelhecimento, nos impulsiona a olhar o fenômeno da velhice e do cuidado
que lhe é inerente, com as “lentes” da psicologia social, através das Representações Sociais.
Neste novo paradigma de reflexão, de construção do imaginário social na saúde e
especificamente na enfermagem gerontológica, as RS emergem como «mini teorias» a partir
de reflexões sobre as questões que se colocam nesta área, considerando o sujeito situado no
processo histórico e também as forças criativas da subjetividade. Enquanto fenômeno
fisiológico, a senescência é considerada um processo de envelhecimento sadio, havendo certa
adaptação e compensação pelo corpo. a senilidade não é exclusividade da idade avançada,
podendo ocorrer prematuramente. Sob o aspecto social, a velhice impulsiona para reflexão
que não mais se mantém no âmbito individual, mas, sobretudo coletivo. Concordo com
Oliveira (1999, p.66), quando este autor sustenta que na medida em que o indivíduo
envelhece, existe uma modificação significativa nos papéis sociais que desempenham.
A Teoria das Representações Sociais é uma modalidade de conhecimento situado na
fronteira da psicologia e da sociologia, uma verdadeira Psicossociologia, originada na França,
a partir do final da década de 50 com a publicação, em 1961, da pesquisa de Moscovici “La
Psychanalyse: son image et son public”. Nesta obra clássica, Moscovici buscou compreender
como o senso comum se apropriava de conceitos da psicanálise para se comunicar no
cotidiano. Senso comum aqui entendido como construções sociais, sujeita às determinações
sócio-históricas de épocas específicas. É um conhecimento legítimo e motor das
transformações sociais. Pensamento do homem comum.
A Teoria das Representações Sociais, conforme proposta por Serge Moscovici, permite
acessar as dimensões do conhecimento e do afeto que participam da construção da
representação, dando-lhe o caráter psicossocial. A vertente processual de análise do fenômeno
elucida como o sujeito, no caso os idosos, constrói a representação do medicamento genérico.
A abordagem psicosociológica traz em si um forte elo conceitual entre os campos da
psicologia social e da sociologia. Isto implica em entender a relação essencial que se
estabelece entre o indivíduo e a sociedade.
Jodelet (2004) assinala que o contexto social no quais as pessoas e os grupos está
inserido, a comunicação que se estabelecem entre eles, os quadros de apreensão fornecidos
72
pela bagagem cultural destes, além dos códigos, valores e ideologias ligadas às posições ou
participações sociais específicas desses indivíduos, representa as diversas maneiras pelas qual
o social intervém neste processo. Assim, o processo de construção da realidade
representacional é social.
Considera-se que as representações sociais do idoso sobre o medicamento genérico
devem subsidiar os profissionais de saúde na compreensão da adesão terapeutica ou não dos
idosos frente a este medicamento e no fortalecimento da consolidação da política do
medicamento genérico.
Neste sentido, Silva et al. (2003), a utilização da TRS pelos profissionais da saúde
justifica-se pela necessidade de um rompimento com o paradigma biomédico predominante,
de um modo diferente de leitura sobre os grupos humanos, o qual tem se preocupado apenas
com a dimensão biológica. Nesse contexto, a utilização da TRS no campo da saúde seria uma
forma moderna de pensar saúde dentro de um espaço que focalize as mudanças sociais que
ocorrem em virtude das relações inter e intragrupais, estruturadas dialeticamente.
Este estudo procurou pontuar reflexões e considerações que se traduzem em
significados até então pouco explorados nesta área de estudo em que se pretende delinear a
complexidade da adesão medicamentosa em especial, sobre os medicamentos genéricos
envolvendo aspectos subjetivos no olhar de idosos.
A investigação possibilitou um olhar interfaceado pela intersubjetividade com por
questões que envolvem o medicamento genérico e o seu uso a partir do que pensam os idosos,
refletindo aspectos que vão além do biológico e que, nesta etapa da vida pode ser tão relevante
quanto o uso racional e dialógico na terapêutica medicamentosa.
Mediante a relevância do tema estudado neste trabalho, dos seus respectivos resultados
e com base na necessidade de ações que visem o maior acesso da população às informações
relacionadas aos medicamentos genéricos, propomos a elaboração de uma material educativo,
constando questões favoráveis à adesão da política do medicamento genérico pelos idosos na
cidade de João Pessoa-PB.
73
R
R
E
E
F
F
E
E
R
R
Ê
Ê
N
N
C
C
I
I
A
A
S
S
74
ABRIC, J. C. Pratiques sociales et représentations. Paris: Presses Universitaires de France;
1994.
__________, Méthodes d’etude des représentations sociales. Ramonville Saint-Agne: Érès,
2003.
__________, A abordagem estrutural das representações sociais. In: MOREIRA, Antônia
S.P.; OLIVEIRA, Denize Cristina de. Estudos Interdisciplinares de Representações Sociais.
Goiânia: Editora AB, 2000.
Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC no 134, de maio de 2003. Dispõe
sobre a adequação dos medicamentos já registrados. Diário Oficial da União, Brasília (DF), 2
jun. 2003. Seção 1.
BARDEL, A.; WALLANDER, M.; SVÄRDSUDD, K., Reported current use of prescription
drugs and some of its determinants among 35 to 65-year-old women in mid-Sweden: a
population-based study. Journal of Clinical Epidemiology, 53: 637-643. 2000.
BARROS, J.A.C. Políticas farmacêuticas: a serviço dos interesses da saúde? Brasília:
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura; 2004.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2004.
BERMUDEZ, J. Medicamentos genéricos: Uma alternativa para o mercado brasileiro.
Cadernos de Saúde Pública, 1994. 10:268-278.
BRASIL. Portaria n. 3.916. Aprova a Política Nacional de Medicamentos. Diário Oficial da
União 1998; 10 nov.
________, Lei n. 8.080. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e
recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes.
Diário Oficial da União 1990; 20 set.
________, Lei n. 9.787. Altera a Lei n. 6.360, de 23 de setembro de 1976, que dispõe sobre a
vigilância sanitária, estabelece o medicamento genérico, dispõe sobre a utilização de nomes
genéricos em produtos farmacêuticos e outras providências. Diário Oficial da União 2000;
11 fev.
________, Portaria n. 3.916. Aprova a Política Nacional de Medicamentos. Diário Oficial
da União 1998; 10 nov.
BEAUFILS, B. Statistiques aplliquées à la psychologie: statistiques descriptives. Paris:
Bréal; 1996.
BECARO, I.J. Custo da qualidade X custo da não-qualidade. Fármacos & Medicamentos
2002; 3:20-3.
75
BERMUDEZ, J.A.Z.; BONFIM, J.R.A. Medicamentos e reforma do setor saúde. São
Paulo: Editora Hucitec/Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos; 1999.
BORGES, J.A.A. A relação entre preço e qualidade no contexto da evolução do pensamento
em marketing. Revista Eletrônica de Administração 1997; 3. http://read.adm.ufrgs.br/
(acessado em 21/Out/ 2008).
Câmara dos Deputados. Relatório da CPI-Medicamentos. Brasília: Coordenação de
Publicações; 2000. Coelho CC. Acesso, qualidade e humanização na assistência farmacêutica
com controle social. http://conselho.saude.gov.br/conferência/docs/texto_reflexao.doc
(acessado em 05/Jul/2008).
CAMARANO, A. A. Muito além dos 60: os novos idosos brasileiros. Rio de Janeiro: IPEA,
2002.
CAMARGO, B. V. ALCESTE: um programa informático de análise quantitativa de dados
textuais. In: MOREIRA. A.S.P. et al. Perspecivas Teórico-Metodológicas em
Representações Sociais. Ed. Universitária- UFPB. João Pessoa-PB, 2005.
CARVALHO FILHO, E. T.; PAPALÉO NETTO, M. Geriatria: fundamentos, clínica e
terapêutica. 2 ed. São Paulo: Atheneu, 2005.
CECOTOSTI, K. Venda de genéricos é preocupante. Disponível em:
<http://www.amb.org.br/template.php3?content_id=268911&logged=Y&type=N>. Acesso
em: 24 out. 2008.
CHRISCHILLES, E. A., FOLEY, D. J., WALLACE, R. B., LEMCKE, J. H., SEMLA, T. P.,
HANLON, J. T., GLYNN, R. J., OSTFELD, A. M., GURALNIK, J. M., Use of medications
by persons 65 and over: data from the established populations for epidemiologic studies of the
elderly. J. Gerontology medical sciences, 47: M137-M144. 1992.
CHRISCHILLES, E. A., LEMKE, J. H., WALLACE, R. B., DRUBE, G. A.,. Prevalence and
characteristics of multiple analgesic drug use in an elderly study group. Journal of the
American Geriatrics Society, 38:979-984. 1990.
COELHO, F.J.M.; MARCOPITO, L.F.; CASTELO, A. Perfil de utilização de medicamentos
por idosos em área urbana do nordeste do Brasil. Rev Saúde Pública 2004;38(4):557-64.
Coelho CC. Acesso, qualidade e humanização na assistência farmacêutica com controle
social. http://conselho.saude.gov.br/conferência/docs/texto_reflexao.doc (acessado em
05/Jul/2008).
DEBERT, G. G. A antropologia e o estudo dos grupos e das categorias de idade. In:
BARROS, M. M. L. (org). Velhice ou Terceira Idade. 3 ed. Rio de Janeiro: FGV, 2003.
DIAS, C.R.C. Medicamentos genéricos no Brasil de 1999 a 2002: análise da legislação,
aspectos conjunturais e políticos [dissertação de Mestrado]. São Paulo (SP): Universidade de
São Paulo; 2003.
76
DI GIACOMO, J.P. Aspects méthodologiques de l'analyse des représentations sociales.
Cahiers de Psychologie Cognitive 1981; 1:397-422.
DURKHEIM, E. Représentations individuelles et représentations collectives. In Sociologie et
philosophie. Paris: P.U.F., 1898/1974. (pp.13-50)
FEDERAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA. Indicadores da
Indústria. http://www.sindusfarma. org.br/index.htm (acessado em 25/Março/2008).
FEFER, E.,. El programa regional de medicamentos esenciales de la Organización
Panamericana de la Salud y Organización Mundial de la Salud. Boletin Informativo de
Medicamentos, Bolívia, 8: 2-3. (Número Especial). 1993.
FUCK FD. Os genéricos conquistam o mundo. Especial Genéricos 2001; 8:8-11.
GORDILHO, A. et al. Desafios a serem enfrentados no terceiro milênio pelo setor saúde
na atenção integral ao idoso. Rio de Janeiro (RJ): UNATI; 2000.
GRIZE, J.B.; VERGÈS, P.; SILEM, A.; editors. Salariés face aux nouvelles technologies.
Paris: Centre National de la Recherche Scientifique; 1987.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo
Demográfico 2000. Rio de Janeiro, 2000.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo
Demográfico 2001. Rio de Janeiro, 2001.
JODELET, D. As Representações Sociais: um domínio em expansão. In: JODELET, D.
(Org.). As Representações Sociais. Rio de Janeiro: UERJ, 2001. p.17-44.
KALACHE, A.; VERAS, R.P.; RAMOS, L.R. O envelhecimento da população mundial: um
desafio novo. Rev Saúde Públ. 21: 200-210, 1987.
KATZUNG, B. G. Farmacologia Básica e Clínica. 8
a
ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2003. pag 899.
LEI n. 9.787. Altera a Lei n. 6.360, de 23 de setembro de 1976, que dispõe sobre a vigilância
sanitária, estabelece o medicamento genérico, dispõe sobre a utilização de nomes genéricos
em produtos farmacêuticos e dá outras providências. Diário Oficial União 1999; 11 fev.
LEWIN, K. Principles of topological psychology. New York: McGraw-Hill; 1936.
LESSA, I., 1993. Estudos brasileiros sobre a epidemiologia da hipertensão arterial: análise
crítica dos estudos de prevalência. Informe Epidemiológico do SUS, 3:59-75.
LIMA-COSTA, M. F.; BARRETO, S. M; GIATTI, L. Condições de saúde, capacidade
funcional, uso de serviços de saúde e gastos com medicamentos da população idosa brasileira:
um estudo descritivo baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Cad. Saúde
Pública. Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, 2007.
77
LISBOA, M.; FIÚZA, E., VIEGAS, M.; FERRAZ, L. Política governamental e regulação
do mercado de medicamentos. http://www.fazenda.gov.br/seae.doc trabalho/doctrab08.pdf
(acessado em Jun/2008).
MENDA, M.E. Manual médico: medicamentos genéricos. São Paulo: Lemos Editorial; 2002.
Ministério da Saúde. Portaria n. 3.916/GM de 30 de outubro de 1998. Política Nacional de
Medicamentos. Brasília: Diário Oficial da União 1998; 10 nov.
MOREIRA, A. S. P. O conhecimento cotidiano sobre a epilepsia e aids. In: GARCIA. T.G ;
SILVA. A.T.M.C. Saúde & Realidade.. João Pessoa, Editora Universitária - UFPB, 2003.
V.2. p.13 - 41.
MOSCOVICI, S. La psicologie, son image et son publique. Paris: PUF, 1961.
_______________, A Representação Social da Psicanálise. Zahar, Rio de Janeiro, 1978.
_______________, Des représentations collectives aux Représentations Sociales. In D.
Jodelet (org.), Les Représentations Sociales. Paris, Press Universitary de France, 1989.
_______________, O fenômeno das representações sociais. In: MOSCOVICI, S.
Representações Sociais. Petrópolis – Rio de Janeiro: Vozes, 2003. p. 29-109.
MOTTA, L. B.; AGUIAR, A. C. Novas competências profissionais em saúde e o
envelhecimento populacional brasileiro: integralidade, interdisciplinaridade e
intersetorialidade. Ciências & Saúde Coletiva. v. 12, n. 2, p. 363-372, 2007.
NÓBREGA, S. M. Sobre a Teoria das Representações Sociais. In: MOREIRA, A. S. P.;
JESUINO, J. C. (Org.). Representações Sociais: Teoria e Prática. João Pessoa:
Ed.Universitária /UFPB, 2003. p. 51-79.
OLIVEIRA, M. A.; BERMUDEZ, J. A. Z.; CASTRO, C. G. S. O. Assistência Farmacêutica
e Acesso a Medicamentos. Editora Fiocruz. Rio de Janeiro, 2007.
PASCHAL, S. M. P. Qualidade de vida do idoso: elaboração de um instrumento que
privilegia sua opinião. São Paulo. Dissertação (Mestrado) Faculdade de Medicina,
Universidade de São Paulo, 2000. 255p.
PEIXOTO, C. Entre o estigma e a compaixão e os termos classificatórios: velho, velhote,
idoso, terceira idade. In.: BARROS, M. M. L. (org). Velhice ou Terceira Idade. 3 ed. Rio de
Janeiro: FGV, 2003.
RAPAPORT, D.; Shafer, R,; Gill, M. Testes de diagnóstico psicológico. Buenos Aires:
Paidós; 1965.
REINERT, M. Alceste- Analyse de Donnees Textuelles. Paris, Société IMAGE. 1998.
Versão 4.8.
Resolução RDC n. 210/ANVISA. Diário Oficial da União 2003; 14 ago.
78
SÁ, C. P. A. Construção do objeto de pesquisa em representações sociais. Rio de Janeiro:
UERJ, 1998.
SELMA, P.C.S. Idoso: Representação Social da Velhice e as implicações no cuidado de si
(Tese de doutorado). Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola de Enfermagem Anna
Nery. Rio de Janeiro, 2004, 240p.
SILVA, A.O.et al; Utilização da teoria das representações sociais no campo da saúde UFPB
João Pessoa: tendências e perspectivas. In: Coutinho M.P.L, et al. (org.s). Representações
sociais: abordagem interdisciplinar. João Pessoa: Editora Universitária; 2003. p. 120-9.
SHAPIRO, B.P. Price reliance: existence and sources. J Mark Res 1973; 10:286-94.
SPINK, M. J. Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano: Aproximações
teóricas e metodológicas. São Paulo: Ed.Cortez, 1996.
STIGLER, G.S. A teoria do preço. São Paulo: Atlas; 1968.
STUCK, A E., BEERS, M.H., STEINER, A, ARONOW, H., RUBENSTEIN, L.Z., BECK,
J.C., 1994. Inappropriate medication use in community-residing older persons. Archives of
Internal Medicine, 154: 2195:2200.
TAJFEL, H. Differentiation between social groups. New York: Academic Press, 1978. In:
VALA, J.; MONTEIRO, M. B. Psicologia Social. 5 ed. Lisboa: Fundação Calauste
Gulbenkian, 2002.
TOKARSKI, M. Pró Genéricos. Venda de genéricos cresce 23,4%. Disponível em:
<http://www.anvisa.gov.br/hotsite/genericos/noticias/2006/240106.htm>. Acesso em: 15 set.
2008.
VALA, Jorge. Representações sociais e psicologia social do conhecimento quotidiano. In:
______; MONTEIRO, Maria Benedicta (Coords.). Psicologia Social. 6.ed. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 2004. XIV, 457-502.
VERAS, R. P. Aspectos demográficos. In: Caldas CP (org.). A saúde do idoso: a arte de
cuidar. Rio de Janeiro; UERJ/UnATI; 1998.p.49-50.
VERGES, P. L'évocation de l'agent: une méthode pour definition du noyau central d'une
représentation. Bulletin de Psychologie 1992; (405):203-9.
VIEIRA, S. Introdução à bioestatística. Rio de Janeiro: Campus; 1980.
WAGNER, W. Descrição, explicação e método na pesquisa das representações sociais. In:
GUARESCHI, P.; JOVCHELOVITCH, S. (Orgs.). Textos em representações sociais.
Petrópolis: Vozes, 1995.
_________, Sócio-gênese e características das Representações Sociais. In: Antonia, Silva
Paredes Moreira; Denize, Cristina de Oliveira. Estudos Interdisciplinares de
Representações Sociais. 2ª. ed, Goiânia, AB 2000.
79
ZEITHAML, V.A. Consumer perceptions of price, quality and value: a means-end model
and synthesis of evidence. J Mark Res 1988; 52:2-22.
80
APÊNDICES
81
APÊNDICE A
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO
Esta pesquisa intitula-se “Representações Sociais dos Idosos sobre Medicamentos Genéricos”
e será
desenvolvida por Krísthea Karyne Gonçalves Pereira, aluna do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem,
nível de mestrado, na área da saúde pública da Universidade Federal da Paraíba, sob a orientação da Profa. Dra.
Antonia Oliveira Silva.
Os objetivos da pesquisao são: apreender representações sociais acerca dos medicamentos genéricos
elaboradas por idosos usuários de unidades sicas de saúde e explorar as implicações das representações sociais
sobre o medicamento genérico na adesão ou não ao uso dos mesmos em grupos diferentes. A finalidade deste
trabalho é contribuir para desenvolver estratégias de atendimento para idosos no âmbito medicamentoso.
A sua participação na pesquisa é voluntária e, portanto, o(a) senhor(a) não é obrigado(a) a fornecer as
informações e/ou colaborar com as atividades solicitadas pelo pesquisador(a). Caso decida não participar do
estudo, ou resolver a qualquer momento desistir do mesmo, não sofrerá nenhum dano, nem haverá modificação
na assistência que vem recebendo na Instituição (quando for o caso).
Informamos que esta pesquisa não acarretará desconforto ou riscos aos participantes.
Solicito sua permissão para que a entrevista seja gravada, como também sua autorização para apresentar
os resultados deste estudo em eventos da área de saúde e publicar em revista científica. Por ocasião da publicação
dos resultados, seu nome será mantido em sigilo.
A pesquisadora estará a sua disposição para qualquer esclarecimento que considere necessário em
qualquer etapa da pesquisa.
Diante do exposto, declaro que fui devidamente esclarecido(a) e dou o meu consentimento para
participar da pesquisa e para publicação dos resultados. Estou ciente que receberei uma cópia desse documento.
Este documento será guardado em poder da responsável pela pesquisa e, em nenhuma circunstância, ele
será dado a conhecer a outra (s) pessoa (s).
______________________________________
Assinatura do Participante da Pesquisa
ou Responsável Legal
______________________________________
Assinatura do(a) Pesquisador(a)Responsável
________________________________________
Assinatura do(a) Pesquisador(a)Participante
João Pessoa, ________ de ______________ de 2008.
Contatos da Pesquisadora: Av. Caramuru, 276, Mandacaru, CEP: 58027-430
João Pessoa- PB
Telefone: (83) 8801-6956
E-mail: kristhea@hotmail.com
82
APÊNDICE B
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
ROTEIRO DA ENTREVISTA
Estamos realizando uma pesquisa sobre <medicamento genérico> para idosos e gostaríamos
de contar com sua participação respondendo este questionário. Salientamos que os dados
respondidos neste instrumento serão confidenciais.
Obrigada.
Parte 2:
Sexo: .............Idade: .............Religião: ...............Procedência: ......................
Grau de escolaridade: ....................................
Realiza alguma atividade: Sim (... ) Não (....) Especifique: ........................
Trabalha: Sim ( ...) Não ( ...).Especifique tipo de trabalho: .........................
Renda familiar (em salário mínimo): ...........................
Faz uso de algum medicamento: Sim (....) Não ( ) Especifique o medicamento:
(se respondeu sim, cite os medicamentos)
Tipo de Moradia : ....................................
Com quem mora: ...................................
Parte 2:
Medicamento genérico lembra:
(Diga até 5 palavras que vêm a sua cabeça e marque a mais importante com um X)
_________________________
_________________________
_________________________
_________________________
_________________________
Parte 3
1) Fale sobre os medicamentos genéricos.
2) O que significa o medicamento genérica para o sr(a)?
3) O que significa este medicamento para seus amigos?
4) Fale a sua experiência com o uso do medicamento.
5) Você recebe algum medicamento do governo? Quais?
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo