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praticadas entre os dois grupos, visando à administração e redução de conflitos violentos e
dar visibilidade acadêmica às relações que se estabelecem entre o grupo de segurança e das
facções no Presídio Central de Porto Alegre.
As relações entre grupos humanos, aqui apresentadas, sob o prisma do pensamento
sistêmico complexo, partem do princípio do conceito de sistema, sendo assim, um conjunto
de indivíduos diferentes, organizados, interagindo em rede e, por Capra (2002b)
conceituado como um padrão de organização não-linear.
Essas interações se caracterizam pelo circuito recursivo, ou seja, os indivíduos
interagem entre si e com o meio, sendo, ao mesmo tempo, produto e produtores do meio, e
é esse processo que dá ao sistema a capacidade de se auto-organizar, operando a produção-
de-si e conservando sua organização e adaptação (Morin, 1996; Maturana, 2002). Nessas
concepções está a qualidade de abertura e clausura do sistema. A abertura, significando a
dependência de energia e informação externa, e a clausura, processo de auto-referência do
próprio sistema no seu processo de autoprodução. Na base desses princípios está a
permeabilidade do sistema com seu entorno, mesmo que sejam os sistemas vivos, a um só
tempo, abertos e fechados (MATURANA, 1997; MORIN, 2002a).
Segundo Morin (2002a, p. 274) o “Sistema é uma palavra-raiz para a
complexidade”, enquanto, a palavra complexidade se origina de complexus e significa “o
que está ligado, o que foi tecido junto” (MORIN, 2003b, p. 38). Aplicado ao social, é uma
rede complexa que favorece o crescimento das comunicações e o desenvolvimento dos
indivíduos pela linguagem simbólica, a cultura e o poder (MORIN, 2008). Nesse sentido,
pode-se conceber o presídio, a partir de suas relações, como um sistema social humano
complexo e resultado de uma rede de interações entre seus membros, na qual suas condutas
possibilitam que se realizem como seres humanos na busca de adaptação e preservação.
Para isso, é necessário que suas comunicações sejam coordenadas e consensuais
(MATURANA, 1998), ou seja, que essas comunicações façam sentido para os indivíduos
envolvidos e que sejam produzidas e validadas dentro de um contexto específico. Esse
processo de consenso nas comunicações é que dá vida ao sistema social. A relação e a
troca, entre dois ou mais sujeitos, em um sistema social humano, é o que vai dar a
identidade estrutural do sistema (MATURANA, 1998). Assim, essas relações, condutas,
interações, quando modificadas, são transformadoras do sistema social.