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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA ANIMAL
GENÉTICA DE POPULAÇÕES E REINTERPRETAÇÃO DA
HISTÓRIA DEMOGRÁFICA DE REMANESCENTES DE
QUILOMBOS
: UMA COMPARAÇÃO ENTRE TRÊS
POPULAÇÕES DO NORDESTE BRASILEIRO
Carlos Eduardo Guerra Amorim
Brasília, 2009
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA ANIMAL
GENÉTICA DE POPULAÇÕES E REINTERPRETAÇÃO DA
HISTÓRIA DEMOGRÁFICA DE REMANESCENTES DE
QUILOMBOS
: UMA COMPARAÇÃO ENTRE TRÊS
POPULAÇÕES DO NORDESTE BRASILEIRO
Dissertação apresentada ao Instituto
de Ciências Biológicas da
Universidade de Brasília como
requisito parcial para a obtenção do
título de Mestre em Ciências
Biológicas.
Carlos Eduardo Guerra Amorim
Orientadora: Prof
a
. Dr
a
. Silviene Fabiana de Oliveira
Brasília, 2009
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Carlos Eduardo Guerra Amorim
GENÉTICA E REINTERPRETAÇÃO DA HISTÓRIA
DEMOGRÁFICA DE REMANESCENTES DE QUILOMBOS
________________________________________________
Prof
a
. Dr
a
. Silviene Fabiana de Oliveira
Presidente da Banca Examinadora
GEM – IB – UnB
________________________________________________
Prof. Dr. Celso Teixeira Mendes Júnior
Examinador Externo
USP – Ribeirão Preto
________________________________________________
Prof
a
. Dr
a
. Maria de Fátima Menezes Almeida Santos
Examinadora Interna
GEM – IB – UnB
________________________________________________
Prof
a
. Dr
a
. Maria de Nazaré Klautau-Guimarães
Membro Suplente
UnB
Brasília,13deFevereirode2009
DEDICO este trabalho ao meu avô Félix Amorim.
AGRADECIMENTOS
São muitas as pessoas às quais eu gostaria de agradecer por terem me
ajudado ao longo desses anos na realização desta dissertação de mestrado.
Obrigado a todos aqueles que contribuíram com pequenos e grandes estímulos
e também aos que dedicaram parte de suas vidas com ensinamentos
essenciais para o meu crescimento.
Agradeço à minha mãe e ao meu pai, por me ajudarem ao longo de todo
o meu mestrado, me trazendo tranqüilidade, estímulo e segurança, por estarem
do meu lado e me apoiarem nessa escolha.
Agradeço ao restante da minha família pela atenção e estímulo.
Agradeço à minha orientadora Silviene Oliveira, por ter ajudado e
confiado em mim. Obrigado pelo seu carinho e cuidado!
Agradeço ao Rogério, por estar ao meu lado em todos os momentos de
dificuldade e de sucesso, por ter me ajudado em cada detalhe da realização
dessa dissertação, por estar ao meu lado durante a defesa e sua preparação,
por me trazer tranqüilidade nos momentos em que mais precisei e por todo o
carinho.
Agradeço à Carol, por ter me acompanhando desde meus primeiros
passos na genética e na biologia, ter colaborado em todos os momentos
difíceis, por ter me ensinado boa parte do que sei hoje e por ter despertado o
meu interesse pela evolução humana.
Gostaria de agradecer à Mila e Neide, por serem pacientes desde o
início do meu aprendizado e por terem me trazido confiança para seguir
adiante. Não poderia esquecer a Arcanjo, a Bianca, o Gabriel e a Rafaela, que
nos últimos meses de correria, me ajudaram a finalizar este trabalho. Vocês
foram muito importantes nesse momento!
Obrigado a todos os meus amigos do laboratório: Arthur, Eliza, Ana,
Eduardo, Penha, Graciana, Gustavo, Guilherme, Diana, Flávia, Cassinha,
Angélica, Gabriel Tenório e todos aqueles que colaboraram cedendo seus
dados para este estudo.
Agradeço à Clarissa por ter me guiado durante o início desse caminho e
por ter compartilhado tantas alegrias.
Obrigado a todos os meus amigos que foram importantes ao longo
desse caminho: Isolda, Marianna, Domitila, Patrícia, Thiago, Ivan, Faslala, Lula,
Mauro, Juliana(s), Débora, Silvija, Denise, Clarice, Gabriel, Édi, Alisson, Diego,
Beth, Morena, Josenilda, Deborah e André.
Muito obrigado à Emily pelos auxílios com a tradução.
Gostaria de agradecer aos professores do Instituto de Ciências
Biológicas da UnB, em especial às professoras Maria de Nazaré Klautau-
Guimarães, Elizabeth Schwartz, Rosana Tidon, Nilda Diniz e Zulmira Lacava e
ao professor César Grisólia.
Agradeço aos professores Celso Teixeira Mendes Jr. e Maria de Fátima
Menezes Almeida Santos, membros da banca examinadora por dedicarem seu
tempo para o meu aprendizado e aperfeiçoamento.
Agradeço aos professores Jeanine Felfili e Paulo Ernane, por terem
participado de momentos essenciais na minha formação.
Agradeço a Tais e Antônio Marcos por todo o suporte, responsabilidade
e presteza.
Muito obrigado ao pessoal do GEM: Eduardo, Michel e Manuel.
Agradeço às instituições de fomento CNPq e FINATEC.
Agradeço ao Dr. Marcelo R. Luizon e à Dra. Gilvânia Feijó pelo suporte
com materiais de laboratório.
À Profa. Kiyoko Sandes e ao Prof. Aguinaldo Luiz Simões pela atenção
dada na qualificação.
Agradeço a todos aqueles que contribuíram em algum momento deste
caminho.
Muito obrigado!
Articular historicamente o passado não significa conhecê-
lo “como de fato foi”. Significa apropriar-se de uma
reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um
perigo.
Walter Benjamin, 1940
Sobre o conceito de história.
RESUMO
Os remanescentes de quilombos são sociedades multiétnicas com origem
relacionada à presença do escravo africano no Brasil. A história demográfica
dessas populações tem sido estudada a partir de fontes históricas,
demográficas, etnográficas e genéticas. No presente trabalho, buscou-se
avaliar a origem e o impacto das imigrações recentes e antigas sobre a
constituição genética dos remanescentes de quilombos de Mocambo, Rio das
Rãs e Sacutiaba. Para tanto, foram analisados parâmetros demográficos (sexo,
estado matrimonial e local de nascimento) e genéticos (freqüências alélicas e
genotípicas de 16 marcadores genéticos autossômicos). Os dados genéticos
gerados para cada população foram utilizados na comparação entre as suas
proporções de nativos e imigrantes, como também na comparação dessas a
outras populações descritas na literatura. Foi encontrada participação
considerável de imigrantes em todas as comunidades, que em sua maioria
eram mulheres, sendo a contração de matrimônio uma das principais causas
para esse quadro. Com relação aos dados genéticos, não foram encontradas
diferenças significativas entre as parcelas de imigrantes e nativos. Houve
predomínio de casamentos endogâmicos, porém isso não foi suficiente para
gerar alterações substanciais na estrutura genética das populações. Os
resultados indicam a existência de fluxo gênico contínuo para essas
populações. Além disso, a contribuição parental africana foi a predominante,
sendo que Mocambo apresentou o quadro mais complexo de mistura, tendo a
menor participação dessa parental (52,2%). É possível que em algum momento
de suas histórias essas populações estivessem isoladas, porém, a barreira ao
fluxo gênico nos dias de hoje já está bastante dissolvida. O impacto da
imigração foi baixo, o que deve estar relacionado à homogeneização em
processo, ocasionada pelo fluxo gênico operante ao longo de grande parte da
história dessas populações. Além disso, os dados encontrados corroboram
outras fontes históricas, que indicam a participação predominante de africanos
e miscigenação com povos de outras origens durante a formação destas
comunidades.
Palavras-chave: migração, fluxo gênico, casamento, AIM, mistura genética.
ABSTRACT
The remanescentes de quilombos are multiethnic societies whose origins are
related to the presence of African slaves in Brazil. The demographic history of
these populations has been studied using historical, demographic, ethnographic
and genetic sources. The present work aims to evaluate the origin and the
impact of recent and ancient waves of immigration upon the genetic constitution
of the remanescentes de quilombos of Mocambo, Rio das Rãs and Sacutiaba.
For this purpose, demographic and genetic parameters were analyzed. The
demographic parameters are sex, matrimonial status and place of birth, and the
genetic parameters are allelic and genotypic frequencies of 16 autosomal
genetic markers. The genetic data generated for each population were used in
a comparison between the proportions of natives and immigrants in each
population, as well to eight Brazilian admixed populations and the parental
groups of Africans, Amerindians and Europeans. A considerable proportion of
immigrants was observed in all communities, most of which were women,
indicating that marriage is one of the primary factors shaping the current picture.
As for the genetic data, no significant differences were found between the
proportions of immigrants and natives. A predominance of endogamic
marriages was found, although it was not sufficient to substantially alter the
genetic structure of the populations. The results indicate the existence of
continuous gene flow in these populations, with the predominant genetic
contribution being the African one in all analyses. Mocambo showed the most
complex admixture estimates, with the lowest African proportion (52.2%). It is
possible that at some point in their histories, these populations were isolated.
However, the barrier to gene flow nowadays has already been quite dissolved.
The impact of immigration was low, which may be related to the
homogenization caused by the active gene flow during most of the history of
these populations. Furthermore, the data corroborate other historical sources
which indicate the prominence of Africans and admixture between Africans and
other peoples during the formation of these communities.
Key words: migration, gene flow, marriage, AIM, genetic admixture.
ABREVIATURAS
APS Persulfato de amônia
BAR Barra – Remanescente de Quilombo
CEP Comitê de Ética em Pesquisa
DF Distrito Federal
DH Déficit de Heterozigotos
DL Desequilíbrio de Ligação
DMSO Dimetilsulfóxido
DNA Ácido desoxirribonucléico
dNTP Dideoxi-nucleotídeo
EDTA Ácido etilenodiamino tetra-acético
EH Excesso de Heterozigotos
EHW Equilíbrio de Hardy-Weinberg
FGC Modelo de Fluxo Gênico Contínuo
H
2
O Água
HI Modelo de Hibridação Seguida de Isolamento
IB Instituto de Ciências Biológicas
Indel Polimorfismo de Inserção-Deleção
JEQ Cidade de Jequié – BA
MOC Mocambo – Remanescente de Quilombo
NaCl Cloreto de sódio
PCR Reação em cadeia da polimerase
RFLP Polimorfismo de comprimento de fragmento de restrição
RIO Rio das Rãs - Remanescente de Quilombo
SAC Riacho de Sacutiaba e Sacutiaba – Rem. de Quilombo
SAG Santo Antônio do Guaporé – Remanescente de Quilombo
SAL Cidade de Salvador – BA
SGO São Gonçalo – Remanescente de Quilombo
SNP Polimorfismo de Nucleotídeo Único
STI Santiago do Iguape – Remanescente de Quilombo
TBE Tampão tris-borato
TEMED N,N,N’,N’-Tetrametiletilenodiamina
UnB Universidade de Brasília
VAL Valongo – Remanescente de Quilombo
SUMÁRIO DE TABELAS
Tabela 1: Localização de remanescentes de quilombos e populações urbanas
brasileiras utilizadas nas análises comparativas do presente trabalho...........................17
Tabela 2: Média aritmética das freqüências do alelo *1 de 16 marcadores genéticos
nas populações parentais brasileiras encontradas na literatura.......................................21
Tabela 3: Diferencial de freqüência alélica (δ) dos marcadores nas populações
parentais principais para a população brasileira. ...............................................................22
Tabela 4: Classificação e localização cromossômica dos marcadores bialélicos
utilizados no presente trabalho..............................................................................................23
Tabela 5: Haplótipos DRD2/TaqI gerados pela análise da presença/ausência dos sítios
de restrição para enzima TaqI................................................................................................24
Tabela 6: Mistura de reagentes e temperaturas de pareamento dos iniciadores
padronizadas para a PCR.......................................................................................................28
Tabela 7: Seqüência dos iniciadores empregados nas reações de PCR, tamanho do
fragmento amplificado e referência bibliográfica de onde a seqüência do iniciador foi
obtida..........................................................................................................................................29
Tabela 8: Mistura de reagentes para digestão enzimática e condições das reações
utilizadas para análise dos RFLP. ........................................................................................30
Tabela 9: Distribuição das categorias de casamentos – endogâmicos, exogâmicos
(total e patrilocais) e entre imigrantes – em três remanescentes de quilombos do
nordeste brasileiro....................................................................................................................38
Tabela 10: Freqüência alélica e genotípica de 15 marcadores genéticos para a
população de Mocambo, número amostral (N), valor de p dos testes de aderência ao
Equilíbrio de Hardy-Weinberg (EHW), excesso (EH) e déficit (DH) de heterozigotos e
índice de alteração de freqüências alélicas por efeito de imigração (Δq) para cada
marcador genético....................................................................................................................40
Tabela 11: Freqüência alélica e genotípica de 15 marcadores genéticos para Rio das
Rãs, número amostral (N), valor de p calculado a partir do teste de aderência ao
Equilíbrio de Hardy-Weinberg (EHW), excesso (EH) e déficit (DH) de heterozigotos e
índice de alteração de freqüências alélicas por efeito de imigração (Δq) para cada
sistema.......................................................................................................................................41
Tabela 12: Freqüência alélica e genotípica de 15 marcadores genéticos para o
remanescente de quilombo de Sacutiaba, número amostral (N), valor de p dos testes
de aderência ao Equilíbrio de Hardy-Weinberg (EHW), excesso (EH) e déficit (DH) de
heterozigotos e índice de alteração de freqüências alélicas por efeito de imigração (Δq)
para cada sistema....................................................................................................................42
Tabela 13: Freqüência dos haplótipos do DRD2 para as populações estudadas e valor
de p para o teste de adequação das freqüências genotípicas observadas ao Equilíbrio
de Hardy-Weinberg (EHW), Déficit (DH) e Excesso de Heterozigotos (EH) e
diversidade haplotípica............................................................................................................43
Tabela 14: Heterozigose esperada e observada para 16 marcadores moleculares em
três populações remanescentes de quilombos. Médias calculadas para a população
total e parcela de nativos, com valor de p calculado com o teste T de Student com
amostras pareadas para diferença entre essa estimativa.................................................44
Tabela 15: Valores do coeficiente de endogamia (f) estimados para Mocambo, Rio das
Rãs e Sacutiaba.......................................................................................................................45
Tabela 16: Valores de Fst com intervalo de confiança (95%) para Mocambo (MOC),
Rio das Rãs (RIO) e Sacutiaba (SAC)..................................................................................45
Tabela 17: Proporções (%) de mistura genética em três remanescentes de quilombos
considerando o total da suas populações e a parcela de nativos....................................49
Tabela 18: Pares de marcadores em desequilíbrio de ligação (p<0,5) na população
total de Mocambo, Rio das Rãs e Sacutiaba.......................................................................55
Tabela 19: Pares de marcadores em desequilíbrio de ligação (p<0,5) na população de
Mocambo, Rio das Rãs e Sacutiaba, considerando exclusivamente os nativos...........56
SUMÁRIO DE FIGURAS
Figura 1: Localização de remanescentes de quilombos e populações urbanas
brasileiras utilizadas nas análises comparativas do presente trabalho (modificado de
Gontijo, 2008)............................................................................................................................16
Figura 2: Localização dos SNPs DRD2 “A”, “B” e “D” em relação ao gene do receptor
da dopamina D2 (modificado de Kidd et al., 1996).............................................................23
Figura 3: Contribuição genética individual estimada com o uso de nove marcadores
genéticos em três remanescentes de quilombos brasileiros em relação às suas
parentais....................................................................................................................................47
Figura 4: Estrutura populacional de três remanescentes de quilombos brasileiros
baseada em nove marcadores genéticos e a afiliação genética de seus indivíduos às
parentais Africana, Ameríndia e Européia............................................................................48
Figura 5: Estrutura de três populações remanescentes de quilombos brasileiros com
base em 16 marcadores genéticos.......................................................................................48
Figura 6: Matriz de distância genética entre os três remanescentes de quilombos em
análise (MOC, RIO, SAC), as parentais (AFR, AME, EUR) com relação à distribuição
alélica de 16 marcadores genéticos......................................................................................51
Figura 7: Componente principal gerado a partir da matriz de distância de Reynolds
entre as populações parentais (AFR, AME e EUR) e as seguintes populações
brasileiras: Mocambo (MOC), Rio das Rãs (RIO) e Sacutiaba (SAC).............................51
Figura 8: : Matriz de distância genética entre as populações em análise (MOC, RIO,
SAC), as parentais (AFR, AME, EUR) e outras populações brasileiras urbanas (SAL,
JEQ, DF) e remanescentes de quilombos (SGO, BAR, VAL, SAG) baseada na
distribuição alélica de cinco marcadores genéticos (AT3, APO, Sb19.3, PV92 e LPL).52
Figura 9: Componente principal gerado a partir de uma matriz de distância de
Reynolds entre as populações parentais (AFR, AME e EUR), remanescentes de
quilombos (MOC, RIO, SAC, SGO, BAR, VAL, STI E SAG) e populações urbanas
brasileiras (JEQ, SAL e DF)...................................................................................................53
Figura 10: Proporção de loci em desequilíbrio de ligação (DL) esperada a partir da
utilização dos modelos HI e FGC para loci não ligados e para loci ligados a 5cM.
Figura modificada de Pfaff et al. (2001)................................................................................70
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 1
REVISÃO DA LITERATURA ......................................................................................... 2
1. A Diáspora Africana .............................................................................................. 2
2. Os Remanescentes de Quilombos do Brasil: aspectos históricos .................. 3
3. Os Remanescentes de Quilombos do Brasil: aspectos jurídicos e
etnográficos ............................................................................................................... 5
4. Genética de Populações e Reconstrução Histórica .......................................... 7
5. Fluxo Gênico e Evolução ................................................................................... 10
6. Migrações e Casamentos no Meio Rural .......................................................... 12
OBJETIVOS ................................................................................................................. 15
MATERIAL e MÉTODOS ............................................................................................. 16
1. Descrição das Populações ................................................................................. 16
2. Coleta de Dados Demográficos ......................................................................... 19
3. Marcadores Genéticos ........................................................................................ 20
3.1. Seleção de Marcadores ................................................................................ 20
3.2. Seleção das Amostras Utilizadas para as Estimativas Genéticas ........... 24
3.3. Genotipagem Obtida de Bancos de Dados ................................................ 25
3.4. Coleta, Processamento do Material Biológico e Extração de DNA ......... 25
3.5. Análises Laboratoriais ................................................................................. 26
3.6. Considerações éticas ................................................................................... 27
4. Análises Estatísticas .......................................................................................... 31
4.1. Definição dos Haplótipos DRD2/TaqI ......................................................... 31
4.2. Estimativas de Diversidade das Populações e Impacto da Imigração .... 31
4.3. Estimativa de Heterozigose ......................................................................... 32
4.4. Estatísticas F ................................................................................................ 32
4.5 Comparações das freqüências alélicas e genotípicas das populações e
entre as parcelas de imigrantes e nativos ........................................................ 33
4.6 Construção de Gráficos para Inferência da Estrutura Populacional e
Afiliação Genética ............................................................................................... 33
4.7. Mistura Genética ........................................................................................... 34
4.8. Estimativas de Distância Genética ............................................................. 34
RESULTADOS ............................................................................................................. 37
1. Caracterização Demográfica e de Comportamentos Matrimoniais ............... 37
2. Impacto do Fluxo Gênico sobre a Distribuição Alélica e Genotípica ............ 38
3. Estimativas de Heterozigose ............................................................................. 43
4. Estatísticas F ....................................................................................................... 45
6. Estrutura da População e Afiliação Genética Individual ................................. 46
7. Mistura Genética ................................................................................................. 49
8. Análises Comparativas de Distância ............................................................... 49
9. Impacto da Imigração Recente sobre o Desequilíbrio de Ligação ................. 54
DISCUSSÃO ................................................................................................................ 57
1. Caracterização dos Movimentos Demográficos Recentes ............................. 57
2. Caracterização Genética e Impactos da Imigração Recente .......................... 59
3. Endogamia ........................................................................................................... 61
4. Fluxo Gênico e o Processo de Homogeneização ............................................ 62
5. Formação Demográfica e Mistura Genética ..................................................... 65
6. Fluxo Gênico e Desequilíbrio de Ligação ......................................................... 67
CONCLUSÃO ............................................................................................................... 71
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 73
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 74
ANEXOS ....................................................................................................................... 83
Introdução 1
INTRODUÇÃO
A presença do africano nas Américas remonta ao século XVI, quando
homens e mulheres foram comercializados como escravos para servirem de
mão-de-obra nas colônias européias. Estima-se que, desde essa época, mais
de 15 milhões de pessoas tenham sido trazidas forçadamente para o
continente americano, sendo que 40% delas tiveram o Brasil como destino
(Reis e Gomes, 1996). Esses africanos e seus descendentes se misturaram
com outras pessoas que habitavam a região: os também escravizados nativos
americanos e os colonizadores europeus. A influência desses três grupos
parentais na cultura brasileira é enorme, influenciando entre outros aspectos a
biologia, língua, práticas religiosas, alimentação e outros.
Vários esforços advindos das ciências biológicas e sociais foram
empregados com a finalidade de esclarecer a participação dos africanos e seus
descendentes na história do Brasil (Ribeiro et al., 2009; Gontijo, 2008; Pedrosa,
2006; Ribeiro, 2005; Bortolini et al., 1999; Funari, 2006; Reis e Gomes, 1996).
Apesar disso, parte dessa história ainda é desconhecida. A dificuldade de
acesso à história detalhada dos africanos e seus descendentes no Brasil se
deve em grande parte à escassez de documentos e outros dados
historiográficos sobre o estabelecimento e a vida desses no país (Funari, 2006;
Reis e Gomes, 1996).
O presente trabalho visa elucidar alguns aspectos relativos à história da
formação e às influências demográficas recentes a que três comunidades afro-
descendentes situadas às margens do Rio São Francisco, no nordeste
brasileiro, estiveram submetidas. Os dados gerados se somam a outras
evidências historiográficas existentes, como a tradição oral e a emissão de
documentos como ordens de busca, para a proposição de uma interpretação
da história demográfica de cada uma dessas comunidades.
RevisãodaLiteratura 2
REVISÃO DA LITERATURA
1. A Diáspora Africana
Mais de cinco milhões de africanos foram trazidos para o Brasil
forçadamente, para atuarem como mão-de-obra escrava, entre os anos de
1550 e 1855 (Reis e Gomes, 1996). Estes se somaram aos antigos habitantes
da região, os nativos americanos, e aos colonizadores portugueses, em um
intrincado processo de miscigenação, que é evidente na cultura e biologia da
sociedade brasileira até os dias de hoje.
Dos escravos africanos, a maioria era composta por jovens do sexo
masculino, pois esses eram os que mais rendiam aos comerciantes, sendo
capazes de produzir por cerca de sete anos, quando então eram descartados
(Fausto, 2006; Ribeiro, 2006). Durante o primeiro século de escravidão, foram
trazidos africanos de regiões situadas ao longo do litoral de Daomé, atual
Benin, e, nos séculos seguintes, principalmente de povos do Congo e de
Angola, do grupo lingüístico bantu. A distribuição destes no território brasileiro
não seguiu um padrão, sendo definida pela própria organização do tráfico,
pelas condições locais e, em menor parte, pela preferência dos senhores.
Havia, no entanto, ressalvas a não utilizarem escravos de uma mesma família
e, na medida do possível, de uma mesma tribo, diminuindo, dessa maneira, a
chance de se unirem contra o sistema (Ribeiro, 2006). O tráfico de escravos
passou a ser proibido em 1830, mas a escravidão persistiu até 1888, quando
foi promulgada, no Brasil, a Lei Áurea (Fausto, 2006), momento em que os
escravos foram libertos, não havendo, entretanto, qualquer política de
integração dessas pessoas na sociedade brasileira.
A presença africana no Brasil se deu principalmente nas regiões de
mineração, no centro do país, e nas regiões canavieiras do nordeste. Além
dessas regiões, os africanos e os seus descendentes também ocuparam outras
localidades, onde também encontraram indígenas, muitas vezes escravizados,
e os europeus, em sua maioria portugueses (Ribeiro, 2006). A presença
marcante desses três grupos parentais se somou às dinâmicas locais e
internacionais de movimentos migratórios, o que resultou no mosaico de
populações com diferentes características biológicas e culturais que é o Brasil.
RevisãodaLiteratura 3
2. Os Remanescentes de Quilombos do Brasil: aspectos históricos
Contra o sistema escravista que se instalou no Brasil colônia e,
principalmente, contra a condição de cativos em que se encontravam, os
africanos escravizados formaram comunidades em territórios afastados das
grandes cidades, em que a economia, calcada no trabalho coletivo, e a
organização social e política eram distintas dos centros urbanos. Essas
comunidades eram chamadas de mocambos, terras de preto ou quilombos
(Reis e Gomes, 1996).
Os quilombos eram sociedades multiétnicas, com a presença principal
de escravos africanos e afro-descendentes, porém com grande participação
indígena e mesmo de europeus e seus descendentes em sua história. Tal
observação é baseada em dados históricos (Reis e Gomes, 1996), como
também em evidências materiais (Funari, 1996) e genéticas (Ribeiro et al.,
2009; Gontijo, 2008; Pedrosa, 2006; Ribeiro, 2005; Bortolini et al.,1999).
A presença dos nativos americanos nos quilombos ocorreu muitas vezes
devido a movimentos insurrecionais que estes realizavam com os escravos de
origem africana, além de, em alguns casos, estar relacionado a seqüestros, em
que mulheres indígenas eram raptadas e integradas a essas comunidades
(Ribeiro, 2006; Karash, 1996; Reis e Gomes, 1996). Já o papel dos europeus
nos quilombos apresentou-se de forma distinta. Por terem ligação com os
centros urbanos, eles funcionavam como fonte de troca material, afetiva e de
informações com as cidades (Reis e Gomes, 1996). Várias evidências apontam
para essa confluência de etnias, sendo que a importância relativa da
contribuição de cada grupo não é muito conhecida e deve ser bastante variável
entre as comunidades.
Um exemplo dessas evidências são as pesquisas arqueológicas
desenvolvidas no quilombo de Palmares, em Alagoas. A partir da constatação
da existência de artefatos característicos de ameríndios no sítio arqueológico
correspondente a esse quilombo, foi sugerida a presença indígena (Funari,
1996). Com essas informações não é possível definir se a influência ameríndia
teria atuado somente sobre a cultura material ou também teria influência sobre
a constituição demográfica e genética daquele quilombo. Reis e Gomes (1996)
RevisãodaLiteratura 4
questionam a representação das diversas etnias dentro desses grupos. Esses
historiadores notaram a importância do conhecimento da influência de
diferentes grupos étnicos para redimensionar a interpretação africanocêntrica
de alguns quilombos, propondo assim uma nova interpretação do que se
conhece como sendo a história dos africanos e de seus descendentes no
Brasil.
Assim como é observada grande heterogeneidade na contribuição de
cada um desses grupos parentais, também é observada grande variedade no
que diz respeito à dinâmica populacional dos quilombos. Com relação às
características de formação dessas comunidades, não há um padrão nacional
e sim vários padrões regionais. O estado de Goiás, por exemplo, foi uma região
muito propensa à formação de quilombos que, em sua maioria, eram
constituídos por escravos mineradores. Isso se deve às características do
ambiente da região e ao fato de que as preocupações do governo eram as
guerras com os nativos americanos e o contrabando de ouro, somando-se a
isso o fato do exército do estado não ser muito forte naquele momento. Nessas
regiões de mineração, os homens tinham maiores oportunidades de fugir do
que as mulheres, pois elas realizavam o trabalho doméstico, enquanto eles
tinham a fuga facilitada pelo garimpo (Karash, 1996). Já em Sergipe, no
nordeste do Brasil, os quilombos eram constituídos por pequenos grupos de
escravos insurretos. Cerca de 10 ou 15 escravos se albergavam em regiões
distantes, de onde mantinham contato com as senzalas que os informavam
sobre as operações táticas contra o aquilombamento (Arruti, 2006).
Ao contrário do que é geralmente aceito, os quilombos não eram
obrigatoriamente isolados. Apesar de afastados de centros urbanos, os
habitantes estabeleciam trocas com as cidades próximas. Para o presente
estudo, é importante ressaltar o caráter multiétnico e as constantes trocas entre
os quilombos e os centros urbanos, observadas até mesmo no presente. Essa
idéia corrobora dados observados em pesquisas genética, que evidenciam a
miscigenação, provavelmente desde a fundação até os dias de hoje.
RevisãodaLiteratura 5
3. Os Remanescentes de Quilombos do Brasil: aspectos jurídicos e
etnográficos
Das antigas comunidades quilombolas, se originaram outras que, hoje
no Brasil, são denominadas “remanescentes de quilombos”. Esse termo abarca
uma variedade de comunidades, tendo sido criado em um contexto jurídico
para beneficiar indivíduos que, apesar de heterogêneos no que diz respeito às
suas características culturais e históricas, apresentam um traço em comum: a
luta pela conquista da terra em que vivem.
Após a Convenção Nacional “O Negro e a Constituinte”, realizado no
Distrito Federal, foi aprovado o Artigo 68 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, da Constituição Federal de 1988, em caráter de
reparação pela dívida histórica da sociedade brasileira para com os
descendentes de escravos. Esse artigo diz que “aos remanescentes das
comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida
a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos”.
A aplicação dessa lei, contudo, foi sempre cheia de equívoco. Um dos
pontos problemáticos é a definição de que populações receberiam ou não o
título de remanescente de quilombos. Além disso, após o processo de
certificação pelo Estado Brasileiro, restam longos processos de regularização
dos territórios por eles ocupados. Atualmente, 1.305 comunidades foram
reconhecidas e certificadas como “Remanescentes de Quilombos” no país,
dessas, pouco mais de 750 estão mapeadas e a maioria se concentra nos
estados da Bahia e do Maranhão (Fundação Cultural Palmares, 2009).
Mas o que são, de fato, os remanescentes de quilombos? O Decreto
4.887, artigo 2º, de 20 de Novembro de 2003, define remanescentes das
comunidades de quilombos os “grupos étnico-raciais, segundo critérios de
auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais
específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a
resistência à opressão histórica sofrida”.
Algo que se depreende dessa definição é que os atuais remanescentes
de quilombos são reminiscências dos antigos quilombos, reminiscências
RevisãodaLiteratura 6
materiais e com vínculos obrigatórios a um passado de escravidão e
resistência. Porém, em questões práticas, esse termo designa grupos
organizados politicamente em torno dos direitos à posse e à titulação das
terras. Isso, contudo, não significa que essas comunidades são a continuidade
do mundo africano ou da resistência escrava que houve no Brasil (Arruti, 2006),
traços que, de fato, não são encontrados em todos os remanescentes de
quilombos conhecidos.
O termo gera controvérsias não apenas nos meios jurídico e acadêmico.
Dentro de algumas comunidades assim classificadas, a designação
remanescente de quilombo gera estranhamento e remete ao caráter repressivo
que ele carrega. Esse é o caso de Mesquita, uma comunidade situada no
entorno do Distrito Federal. Ali a negritude, a escravidão e os aspectos ligados
a isso foram negados (Santos, 2006).
Esse fenômeno não ocorre apenas nessa comunidade, várias outras
comunidades brasileiras também passaram por questões similares. Uma vez
que o reconhecimento e a titulação por parte do Estado Brasileiro dependem
da solicitação e autodefinição da comunidade interessada, essa situação de
estranhamento relativa ao termo se torna um problema. Assim, alguns autores
propuseram a ressemantização do termo, propondo a incorporação da idéia de
“uso comum da terra”, sendo esta uma definição mais empírica do que a
anterior, que levava em conta apenas a enumeração de suas características.
Não apenas a incorporação dessa idéia, mas o conceito de etnicidade e
autodefinição foram incorporados para evitar problemas de interesse (Arruti,
2006), como, por exemplo, a negação do título por parte do Estado Brasileiro
com conseqüente não recebimento da posse das terras por parte das
comunidades quilombolas.
Em meio a uma variedade de exceções e confusões acerca do
significado de “remanescentes de quilombos”, vale ressaltar que essa categoria
foi socialmente construída a fim de se pautar ações governamentais em favor
dessas comunidades. Apesar de poderem apresentar traços em comum, como
a subsistência baseada no uso comum da terra, a origem relacionada à
presença de escravos africanos, a miscigenação entre várias etnias, uma vida
RevisãodaLiteratura 7
rural, entre outros, não há um item que esteja presente em todas as
comunidades assim classificadas.
É importante ressaltar que os estudos de genética de populações que
visam à reconstrução histórica não têm como objetivo atribuir um conceito
biológico para a definição de populações humanas. Este também é o caso para
os remanescentes de quilombos. Não há possibilidade de utilização de dados
genéticos para definição de que uma população é remanescente de quilombo,
bem como, para a definição de que um indivíduo é quilombola.
Em experiências de campo, são comuns as situações em que pesquisas
genéticas não são bem-vindas, pois muitos quilombolas e autoridades
acreditam que os dados gerados podem ser usados para negar a posse de
terras por famílias ou para a destituição do reconhecimento. Dessa forma, a
equipe de pesquisa do Laboratório de Genética/IB/UnB tem trabalhado
preferencialmente com aquelas comunidades já reconhecidas como
remanescentes de quilombos pelo Estado Brasileiro. Assim, a classificação das
comunidades alvo do presente estudo como remanescentes de quilombos, diz
respeito não a parâmetros biológicos, mas à autoclassificação, certificada e
reconhecida pelo órgão do governo federal designado para tal, a Fundação
Cultural Palmares.
4. Genética de Populações e Reconstrução Histórica
Para o acesso à história da espécie humana, especialmente a fatos
ocorridos em um passado longínquo, métodos de inferência indireta são
necessários. Uma das principais fontes para o acesso a essas informações é a
genética de populações. A partir da análise de freqüências de polimorfismos
genéticos ou do acesso a mutações com origem e data de ocorrência
conhecidas, essa ciência busca conhecer as relações históricas e os processos
demográficos que levaram as populações da atualidade a apresentarem
determinadas características. Dessa forma, a genética passa a ser mais uma
evidência a ser utilizada em estudos históricos, podendo contribuir
RevisãodaLiteratura 8
especialmente para a compreensão de fenômenos não registrados em
documentos e mesmo de fatos esquecidos.
Para esses fins, utilizam-se marcadores genéticos polimórficos, que são
regiões do genoma que apresentam variação e que o alelo mais comum esteja
presente em no máximo 99% da população (Saitou, 1995). Além disso,
empregam-se, de preferência, marcadores neutros, isto é, os que não estão
sob efeito de seleção e que, por isso, retratam com maior fidelidade
determinados processos de interesse para essa ciência.
O reconhecimento de traços comuns entre uma população e outras já
analisadas, como uma semelhança na freqüência de determinados alelos ou
mesmo o compartilhamento de mutações raras, indica, entre outros aspectos, a
participação de uma população na constituição da outra ou mesmo uma origem
comum. Inferências mais próximas à realidade demandam análise de várias
regiões. Dentre os marcadores mais utilizados, destacam-se os marcadores de
inserção-deleção e os polimorfismos de nucleotídeo único, pois são
marcadores muito estáveis e virtualmente livres de homoplasia
1
(Batzer e
Deininger, 2002; Stoneking, 2001).
São chamados indels (inserção-deleção) marcadores moleculares
caracterizados por uma inserção ou deleção de um fragmento com tamanho
variado no genoma (Weber et al., 2002). Em uma das subclasses de indel mais
importantes numericamente e amplamente utilizada na genética de populações
humanas, encontram-se as inserções Alu.
As inserções Alu são uma família de SINEs (pequenos elementos
móveis espalhados no genoma). Estas se caracterizam como elementos
repetitivos com tamanho aproximado de 300pb, capazes de se mobilizarem via
mecanismo de retrotransposição, com ponto de inserção randômico do genoma
(Batzer e Deininger, 2002; Chen, et al., 2002, Deininger e Bazter, 1993).
No genoma humano, encontram-se mais de um milhão de cópias de
elementos Alu, o que constitui cerca de 10% do total de sua massa. Dos

1
Homoplasia é um caráter, como, por exemplo, um alelo, compartilhado por duas espécies ou
indivíduosquenãoestavapresentenoancestralcomum(Ridley,2006).
RevisãodaLiteratura 9
elementos presentes em humanos, aproximadamente 0,5% não é
compartilhado com outros grupos de primatas. Desses, apenas uma pequena
parte - estimada em 1.200 elementos - se inseriram após a radiação humana a
partir da África para os outros continentes (Batzer e Deininger, 2002). São
justamente essas inserções que apresentam polimorfismos e são, por tanto,
muito empregadas em estudos de populações humanas.
Os polimorfismos de inserções Alu se caracterizam pela presença ou
ausência da inserção. O que torna esses marcadores únicos para a genética
de populações é o fato de serem livre de homoplasias, isto é, é improvável que
um evento de inserção ocorra duas vezes em um mesmo locus e, além disso,
não há um mecanismo de remoção desses elementos que não deixe indícios.
Sendo assim, indivíduos que compartilham uma mesma inserção Alu o fazem
por ancestralidade comum (Batzer e Deininger, 2002; Deininger e Bazter,
1993). Essa característica somada à facilidade de se identificar o alelo
ancestral, ou seja, a ausência da inserção, e à facilidade da análise com PCR
seguida diretamente por eletroforese em gel vertical, fazem com que os
elementos Alu sejam um dos mais importantes polimorfismos para o estudo de
populações humanas, sejam eles para fins de história recente, como a
miscigenação entre indivíduos e populaçõeos, ou para a construção de
hipóteses acerca de eventos muito antigos, como a origem do homem e a
dispersão a partir da África (Batzer e Deininger, 2002; Weber et al. 2002;
Bazter et al., 1996).
Os SNPs, ou polimorfismos de nucleotídeo único, constituem a classe
mais comum de polimorfismos existentes no genoma humano. Esse termo
designa uma mutação de ponto do tipo substituição (Brookes, 1999), sendo
que o alelo menos freqüente ocorre em pelo menos 1% dos alelos de uma
população.
As mutações que geram os SNPs têm taxa de 2x10
-8
por geração
(Kruglyak e Nickerson, 2001). Esses eventos podem gerar três novos alelos
para cada base mutada. Dessa forma, apesar de serem basicamente bialélicos,
os SNPs também podem ser tri- ou tetra-alélico. Dois indivíduos que
compartilham um mesmo alelo de SNP devem ter ancestralidade comum, pois,
RevisãodaLiteratura  10
na maioria dos casos, os SNPs refletem mutações do passado que são, no
geral, eventos únicos (Stoneking, 2001). É possível que haja uma mutação
reversa ou recorrente em um mesmo SNP, sendo assim, o alelo observado
pode ser idêntico por estado e não por descendência. A vantagem da utilização
dos SNPs, porém, reside no fato de que esses marcadores estão amplamente
distribuídos no genoma humano, sendo responsáveis por cerca de 90% das
variações existentes entre indivíduos (Collins et al., 1998; Kruglyak e
Nickerson, 2001), existindo mais de 9 milhões de SNPs polimórficos (Rocha et
al., 2006)
5. Fluxo Gênico e Evolução
A mutação é o mecanismo evolutivo básico para que exista
variabilidade, seja entre indivíduos de uma população, como também entre
populações. No entanto, a mutação não ocasiona alterações substanciais em
uma população em um curto período de tempo, principalmente quando se
considera marcadores genéticos neutros, que são os rotineiramente utilizados
em genética de populações. Nesse caso, o fluxo gênico é o mecanismo
evolutivo mais importante, pois num curto espaço de tempo, o seu impacto
pode ser consideravelmente maior do que o da deriva genética (Wang e
Whitlock, 2003).
O impacto do fluxo gênico na evolução de populações dependerá de
dois parâmetros: o fluxo migratório e as diferenças entre as populações
participantes do processo. Em curto prazo, o impacto do fluxo gênico pode ser
a inserção de uma novidade genética na população. Caso o fluxo se mantenha
por um longo período de tempo, tem-se como principal resultado a
homogeneização das populações participantes do processo de migração
(Futuyma, 2005).
Podem-se encontrar alguns estudos sobre a influência do fluxo gênico
na evolução de populações humanas na literatura (Mascie-Taylor e Little, 2004;
Relethford, 2004). Esses freqüentemente utilizam marcadores associados a
características fenotípicas, como, por exemplo, o tamanho do crânio. Esse tipo
RevisãodaLiteratura  11
de característica, porém, está sob seleção natural e representa apenas uma
ínfima fração do genoma da espécie humana. Por outro lado, o impacto das
migrações sobre a distribuição alélica de marcadores genéticos moleculares
neutros em populações humanas tem sido pouco avaliado, em especial em
eventos de pequena escala, apesar desse tipo de abordagem poder esclarecer
os processos evolutivos e a dinâmica da história de populações humanas.
Exemplos de estudos dentro dessa perspectiva são as pesquisas de Hamilton
et al. (2005) e Santos et al. (1996).
O fluxo gênico, ocasionado pela mobilidade espacial, tem atuado na
população brasileira ao longo de toda sua história, especialmente durante o
período colonial, quando o território recebeu grandes influxos populacionais
provenientes de diversos continentes. Nesse momento, o impacto das
imigrações sobre a composição genética da população nativa da região e da
população miscigenada recém formada deve ter sido considerável, uma vez
que as populações participantes desse processo apresentavam grandes
diferenças genéticas.
Em decorrência desse processo, houve intensa miscigenação entre os
nativos americanos e as várias etnias migrantes, em especial os colonizadores
portugueses e africanos sub-saarianos. Essa miscigenação ocorreu de maneira
não homogênea ao longo do território do país, de forma que, nos dias de hoje,
é possível identificar no território brasileiro uma grande diversidade de
populações com características biológicas e culturais distintas.
A exemplo da grande diversidade encontrada no país, podem-se citar as
1.305 comunidades atualmente certificadas pelo Estado Brasileiro como
Remanescentes de Quilombos (Fundação Cultural Palmares, 2009). O fluxo
gênico para essas comunidades aparentemente segue o modelo de continente-
ilhas. Esse modelo prediz que haja um movimento unidirecional de uma
população grande para outras menores e geograficamente isoladas (Futuyma,
2005). Esse isolamento é observado em alguns remanescentes de quilombos
ou pelo menos deve ter ocorrido em algum momento de suas histórias. Por
causa disso e também por causa das distinções observadas entre essas
RevisãodaLiteratura  12
populações e outras no território brasileiro, é possível que essas populações
sirvam como modelo para o estudo da migração em populações humanas.
6. Migrações e Casamentos no Meio Rural
Para compreender a variação genética das populações humanas é
necessária a avaliação detalhada do contexto sociocultural e da história das
populações. Além desse tipo de estudo, a análise demográfica constitui uma
importante ferramenta para o geneticista de populações, uma vez que muitas
das suas questões são comuns a esta área do conhecimento (Freire-Maia,
1974), principalmente em relação a aspectos da reprodução, casamentos e
migração.
Apesar de haver uma literatura extensa a respeito da dinâmica
demográfica de sociedade rurais e camponesas, poucos estudos abordam
especificamente a dinâmica populacional dos remanescentes de quilombos
(são exemplos estudos demográficos com remanescentes de quilombos o de
Novion, 2003 e o de Diniz, 2008),
Muitas características apontam para a semelhança entre remanescentes
de quilombos e outras comunidades camponesas não afro-descendentes,
como, por exemplo, a predominância de homens e a distribuição em classes de
idade, dificuldade de acesso à educação formal e a serviços de saúde, além de
a maioria se situar em regiões rurais (Diniz, 2008; IBGE, 2008; Novion, 2003).
Apesar dessas semelhanças, alguns pontos diferenciam os remanescentes de
quilombos das demais comunidades rurais contemporâneas, como, por
exemplo, o passado intimamente ligado à presença de escravos africanos no
Brasil e à resistência à opressão histórica sofrida. Além disso, o contexto
político em que os quilombolas estão vivendo atualmente, bastante distinto dos
demais camponeses do país, pode tornar a imigração diferenciada para os
remanescentes de quilombos, uma vez que o processo de regularização dos
territórios quilombolas, em que a posse de terras por seus habitantes está
sendo reconhecida, pode estar agindo, ao lado de outros fatores, como um
atrativo para a imigração direcionada a essas populações.
RevisãodaLiteratura  13
Além desses aspectos políticos, é possível que outros fatores também
afetem a dinâmica migratória dos quilombolas. Uma característica bastante
comum em sociedades camponesas no Brasil é a associação dos padrões de
migração à dinâmica de casamentos e construção de famílias (Woortmann,
1990). Em comunidades rurais, há dois tipos de migração, um deles
denominado “saída” e o outro “viagem”. O primeiro, mais conhecido como
êxodo rural, é decorrente de fatores econômicos como a venda de terras,
procura por locais mais produtivos e expansão de grandes propriedades com
conseqüente consumo do território ocupado pelas menores. A migração do tipo
“viagem”, diretamente ligada à dinâmica de casamentos, ocorre quando o filho,
logo antes do casamento, sai de sua comunidade a fim de acumular recursos
que possibilitarão sua vida em família. Apesar de haver alguns estudos que
abordam esse aspecto (como, por exemplo, os citados no trabalho de
Woortmann, 1990), nenhum considera populações remanescentes de
quilombos. Dessa forma, até o momento não foi possível afirmar se a principal
razão para a imigração para os remanescentes de quilombos é a atração
exercida pela posse das terras habitadas, o matrimônio ou outro fator.
Não apenas nas sociedades camponesas brasileiras, mas também em
outros locais do mundo, foi observada a associação de padrões de migração à
dinâmica matrimonial. Pesquisas etnográficas apontam para a predominância
da migração feminina em relação à masculina em sociedades agricultoras,
sendo esse fenômeno também comum em sociedades pastoralistas e de
caçadores-coletores (Wilkins e Marlowe, 2006; Marlowe, 2004; Seielstad et al.,
1998). O predomínio da imigração feminina foi atribuído principalmente à
existência de acumulação de bens, em especial nas comunidades que praticam
a agricultura. Nestas sociedades, há certa tendência para que os filhos do sexo
masculino herdem as riquezas e as terras dos pais (Wilkins e Marlowe, 2006),
dessa forma, as mulheres se locomovem para outras localidades para se
casarem, enquanto os homens se mantêm no local em que nasceram. Ao
comportamento de permanência do homem e deslocamento da mulher em
decorrência de casamentos, dá-se o nome de patrilocalidade.
A forma em que esses padrões de migração devem afetar a estrutura e
composição genética das populações humanas tem sido principalmente
RevisãodaLiteratura  14
estudada em análises em larga escala, principalmente com a utilização de
marcadores uniparentais. Muitos desses estudos têm a finalidade de revelar as
diferenças nas histórias demográficas de homens e mulheres (Langergraber et
al., 2007; Wilkins e Marlowe, 2006; Seielstad et al., 1998).
Baseados em uma maior diversidade interpopulacional para o
cromossomo Y do que para o DNAmt, esses estudos também indicam que em
alguns casos há maior taxa de migração feminina do que masculina. Já o
emprego de cromossomos autossômicos em pesquisas como essas não é
muito comum. Apesar disso, os autossomos apresentam a grande vantagem
de refletirem ambas as histórias feminina e masculina, além de, devido ao seu
maior tamanho efetivo, quatro vezes a mais que o cromossomo Y e o DNAmt,
poder refletir eventos mais antigos a respeito de evolução das populações
humanas (Wilkins e Marlowe, 2006)
.
Objetivos  15
OBJETIVOS
Com a finalidade de compreender a história demográfica de
remanescentes de quilombos brasileiros com relação à formação de suas
populações e às alterações a que elas foram submetidas ao longo do tempo, o
objetivo geral deste trabalho foi avaliar a origem e o impacto das imigrações
sobre a constituição genética de populações remanescentes de quilombos.
Para tanto foram avaliados parâmetros demográficos e genéticos em três
dessas populações – Mocambo, Rio das Rãs e Riacho de Sacutiaba e
Sacutiaba.
Os objetivos específicos foram:
- estimar a proporção de imigrantes nas populações de Mocambo, Rio
das Rãs e Riacho de Sacutiaba e Sacutiaba, bem como a relação
homem/mulher entre os imigrantes e os nativos;
- analisar os padrões de casamentos com relação ao local de
nascimento dos cônjuges;
- avaliar a distribuição gênica e genotípica e variabilidade genética
nessas populações com relação a 16 marcadores moleculares autossômicos –
APO, D1, ECA, FXIIIB, PV-92, Sb19.3, TPA-25, AT3, CRH, CYP3a4, Fy-Null,
GC, LPL, RB2300, OCA2 e DRD2/TaqI –, mais especificamente com relação a
parâmetros como: aderência das freqüências genotípicas ao Equilíbrio de
Hardy-Weinberg, déficit e ao excesso de heterozigotos, heterozigose,
desequilíbrio de ligação e estruturação populacional;
- avaliar o impacto do fluxo gênico recente causado pela imigração sobre
esses parâmetros a partir da comparação entre a constituição genética das
suas parcelas de nativos e imigrantes;
- comparar essas três populações entre si e com outras populações
brasileiras, com relação à distribuição gênica e genotípica;
- estimar a proporção da contribuição de populações parentais para a
composição genética dessas populações e analisar a dinâmica de alterações
desse parâmetro em decorrência das imigrações.
MaterialeMétodos16
MATERIAL e MÉTODOS
1. Descrição das Populações
Em 1998 uma equipe do Laboratório de Genética da Universidade de
Brasília e membros da Fundação Cultural Palmares realizaram visitas técnicas
a três remanescentes de quilombos: Mocambo, Rio das Rãs e Riacho de
Sacutiaba e Sacutiaba. Essas comunidades se situam às margens do Rio São
Francisco no nordeste brasileiro. Na Figura 1 e Tabela 1, encontram-se dados
a respeito da localização geográfica dessas populações e de outras
consideradas neste estudo para a realização de comparações.
Figura 1: Localização de remanescentes de quilombos e populações urbanas
brasileiras utilizadas nas análises comparativas do presente trabalho
(modificado de Gontijo, 2008).
MaterialeMétodos 17
Tabela 1: Localização de remanescentes de quilombos e populações urbanas brasileiras utilizadas nas análises comparativas do
presente trabalho
População Abreviação Estado
Coordenadas Geográficas
Referência Bibliográfica
dos Dados Genéticos
Latitude Longitude
Barra BAR BA 13º36’ 41º47’ Luizon, 2007
Distrito Federal DF -- 15º48’ 47º51’ Godinho, 2008
Jequié JEQ BA 13º51’ 40º05’ Luizon, 2007
Mocambo MOC SE 9º45’ 37º25’ Presente trabalho
Rio das Rãs RIO BA 13º41’ 43º20’ Presente trabalho
Sacutiaba SAC BA 11º29’ 43º47’ Presente trabalho
Salvador SAL BA 12º58’ 38º30’ Machado, 2008
Santiago do Iguape STI BA 12º 41’ 38º51’ Gontijo, 2008
Santo Antônio do Guaporé SAG RO 12º32’ 63º31’ Gontijo, 2008
São Gonçalo SGO BA 13º45’ 41º02’ Luizon, 2007
Valongo VAL SC 27º12’ 48º44’ Luizon, 2007
MaterialeMétodos 18
Mocambo
Na época em que visita para coleta de dados demográficos e material
biológico foi realizada, havia cerca de 500 indivíduos em Mocambo, localizado
no município de Porto da Folha em Sergipe. Em 1994, com respaldo no Artigo
68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, foi iniciado o processo
de identificação de Mocambo como um remanescente de quilombo (Arruti,
2006), o que, somente em 2004, levou ao reconhecimento da comunidade
como tal (Fundação Cultural Palmares, 2009). A área ocupada pela
comunidade é fronteiriça ao território indígena dos Xocó, com os quais os
quilombolas de Mocambo mantêm antigos laços de parentesco e outras
relações históricas (Arruti, 2006). A data de fundação da comunidade é incerta,
porém já em 1825 existia uma pequena população de escravos na região que
abrangia cerca de 7% da população do município de Porto da Folha (op. cit.).
Rio das Rãs
A comunidade de Rio das Rãs é um remanescente de quilombo situado
em Bom Jesus da Lapa na Bahia, em uma região outrora importante para a
rota de tráfico interno de escravos. Acredita-se que tenha sido fundada na
primeira metade do século XIX, por um pequeno número de famílias de
escravos, sendo que sua população foi estimada em 4000 indivíduos no ano de
2002, ocupando uma área de aproximadamente 38000 ha (Brasileiro e
Sampaio, 2002). Em 2004, esse povoado foi reconhecido como um
remanescente de quilombo pelo Estado Brasileiro (Fundação Cultural
Palmares, 2009).
Riacho de Sacutiaba e Sacutiaba
O remanescente de quilombo de Riacho de Sacutiaba e Sacutiaba se
localiza no município de Wanderley, a 850 km de Salvador, na região oeste do
estado da Bahia. Sua população é estimada em 200 indivíduos, distribuídos em
29 grupos domésticos, que formam uma grande família organizada em torno de
MaterialeMétodos 19
laços de consangüinidade e afinidade. A origem dos escravos fundadores da
comunidade é o norte de Minas Gerais, de onde teriam escapado pelo rio São
Francisco, subindo o rio Grande e se instalando em uma região de difícil
acesso próxima a uma serra. Acredita-se que esses primeiros habitantes
tenham chegado à região há mais de 200 anos, sendo que somente em
outubro de 1995 foi solicitada a representação junto ao Governo Federal para o
pedido de regularização de seu território (Brasileiro e Sampaio, 2002). Em 2004
a comunidade foi reconhecida como um remanescente de quilombo pela
Fundação Cultural Palmares (Fundação Cultural Palmares, 2009).
A denominação desta comunidade (Riacho de Sacutiaba e Sacutiaba)
apesar de remeter à idéia de que sejam dois povoados distintos, refere-se a
uma única população. No presente trabalho, optou-se por utilizar Sacutiaba
para designá-la.
2. Coleta de Dados Demográficos
Um total de 171 voluntários com idade superior a 18 anos foram
entrevistados em Mocambo, 278 em Rio das Rãs e 70 em Sacutiaba. Esses
indivíduos foram questionados acerca de seu sexo, idade, estado conjugal e
local de nascimento. Com o mesmo questionário, foram obtidas informações
relativas aos seus pais e avós. Todos aqueles indivíduos que disseram ter um
cônjuge foram adicionalmente questionados acerca do local de nascimento
deste. Com isso, a proporção de imigrantes na população e a proporção
homem/mulher entre os nativos e imigrantes foram estimadas por contagem
direta para a presente geração. Para a geração atual (F2) e para as
antecedentes (F1 e P) foi estimada a proporção de casais formados por dois
membros nativos, por um membro nativo e outro imigrante e por dois membros
imigrantes, denominados respectivamente de “endogâmicos”, “exogâmicos” e
“imigrantes”. Entre os casamentos categorizados como exogâmicos, foi
estimada a proporção de patrilocais, ou seja, aqueles em que a mulher é
imigrante e o homem, nativo.
MaterialeMétodos 20
A endogamia a que se referem essas análises é uma forma de
endogamia local, na qual um indivíduo se casa com um outro de sua
população/grupo/comunidade/cidade, e não à endogamia de parentela, na qual
um indivíduo se casa com um parente próximo.
3. Marcadores Genéticos
Após a descrição dos parâmetros demográficos, o que incluiu o fluxo
demográfico para Mocambo, Rio das Rãs e Sacutiaba, buscou-se avaliar o
impacto da imigração sobre a composição genética dessas populações. Para
tanto, uma amostra das populações, incluindo indivíduos nativos e imigrantes,
foi avaliada quanto à distribuição gênica e genotípica de marcadores genéticos.
Esses dados foram obtidos de duas fontes: de bancos de dados de marcadores
moleculares do Laboratório de Genética do Instituto de Ciências Biológicas da
Universidade de Brasília e de novas análises laboratoriais.
3.1. Seleção de Marcadores
Marcadores com grandes diferenciais de freqüência são os mais
indicados para estimativas individuais de afiliação genética e para a
reconstrução histórica de populações miscigenadas, como a brasileira. Isto
porque estes geram estimativas mais precisas (Shriver et al., 1997) devido à
clareza na distinção da contribuição genética de cada grupo parental.
Para análise do impacto das migrações, foram selecionados marcadores
moleculares que, com exceção de um marcador, apresentam diferencial de
freqüência alélica (δ) maior ou igual a 50% entre pelo menos duas das
populações consideradas como parentais da população brasileira: africana sub-
sahariana, sul ameríndia e européia. Na tabela 2, estão apresentadas as
médias aritméticas das freqüências do alelo *1 (alelo de maior tamanho ou
ausência do sítio de ligação para enzima de digestão), observadas nas
populações parentais para os 16 marcadores selecionados: APO, D1, ECA,
FXIIIB, PV-92, Sb19.3, TPA-25, AT3, CRH, CYP3a4, Fy-Null, GC, LPL,
MaterialeMétodos 21
RB2300, OCA2 e DRD2/TaqI. Dados e referências bibliográficas utilizados para
essas estimativas encontram-se nos ANEXOS A e B
Tabela 2: Média aritmética das freqüências do alelo *1 de 16 marcadores
genéticos nas populações parentais brasileiras encontradas na
literatura.
População Parental
Marcador Africano Ameríndio Europeu
APO
0,477 0,997 0,969
D1
0,000 0,544 0,370
ECA
0,298 0,859 0,414
FXIIIB
0,083 0,959 0,417
PV-92
0,214 0,869 0,177
Sb19.3
0,418 0,685 0,921
TPA
0,409 0,675 0,587
AT3
0,851 0,047 0,267
CRH
0,318 0,927 0,983
CYP3A4
0,198 0,958 0,959
FyNull
0,026 0,999 0,992
GC1F
0,825 0,339 0,148
GC1S
0,105 0,542 0,589
LPL
0,968 0,454 0,491
OCA2
0,124 0,488 0,764
RB2300
0,880 0,152 0,322
DRD2 *1
0,500 0,343 0,183
DRD2 *2
0,194 0,018 0,013
DRD2 *3
0,064 0,034 0,618
DRD2 *4
0,077 0,032 0,015
DRD2 *5
0,023 0,047 0,011
DRD2 *6
0,135 0,511 0,153
DRD2 *7
0,005 0,005 0,000
DRD2 *8
0,002 0,011 0,007
Na Tabela 3, estão apresentados os diferenciais de freqüência entre as
populações parentais. Para o GC, foi considerado o valor referente a dois de
seus alelos e, para o DRD2, foi considerado o diferencial de freqüência entre
seus haplótipos. Onze marcadores apresentam diferenciais acima de 50% para
as populações africana e ameríndia, nove entre África e Europa e três entre as
populações européia e ameríndia. O marcador TPA-25 não apresenta
diferencial de freqüência de pelo menos 50%, como os demais, porém é
comumente utilizado em estudos dessa natureza o que justifica seu emprego
neste estudo.
MaterialeMétodos 22
Tabela 3: Diferencial de freqüência alélica (δ) dos marcadores nas populações
parentais principais para a população brasileira. Valores calculados
a partir da tabela 2.
Marcador
África
x
Ameríndio
África
x
Europa
Europa
x
Ameríndio
APO
52% 49% 3%
D1
54% 37% 17%
ECA
56% 12% 45%
FXIIIB
88% 33% 54%
PV-92
66% 4% 69%
Sb19.3
27% 50% 24%
TPA
27% 18% 9%
AT3
80% 58% 22%
CRH
61% 67% 6%
CYP3A4
76% 76% 0%
FyNull
97% 97% 1%
GC1F
49% 68% 19%
GC1S
44% 48% 5%
LPL
51% 48% 4%
OCA2
36% 64% 28%
RB2300
73% 56% 17%
DRD2 *1
16% 32% 16%
DRD2 *2
18% 18% 1%
DRD2 *3
3% 55% 58%
DRD2 *4
5% 6% 2%
DRD2 *5
2% 1% 4%
DRD2 *6
38% 2% 36%
DRD2 *7
0% 1% 1%
DRD2 *8
1% 1% 0%
Todos os marcadores aqui analisados situam-se em cromossomos
autossômicos. Desses, um é trialélico e um é analisado como haplótipo. Os
demais são bialélicos e a classificação e a localização cromossômica destes
encontram-se na Tabela 4.
MaterialeMétodos 23
Tabela 4: Classificação e localização cromossômica dos marcadores bialélicos
utilizados no presente trabalho.
Dois marcadores empregados (DRD2/TaqI e GC) têm seus alelos
definidos por análises haplotípicas. Os haplótipos de DRD2/TaqI são definidos
por três diferentes SNPs, denominados “A”, “B” e “D”, que podem ser
individualmente identificados pela presença/ausência de um sítio de ligação à
enzima de restrição TaqI. A localização desses SNPs está definida em função
do gene do receptor de dopamina D2, localizado em 11q22-23 (Grandy et al.,
1989), de acordo com a Figura 2. Os haplótipos definidos pela análise das três
mutações estão descritos na Tabela 5.
Figura 2: Localização dos SNPs DRD2 “A”, “B” e “D” em relação ao gene do
receptor da dopamina D2 (modificado de Kidd et al., 1996). No éxon
8 do gene, está localizado seu códon de terminação.
Marcador Classificação
Localização
Cromossômica
Referência
Bibliográfica
APO
Inserção Alu 11q23.3 Batzer et al., 1994
D1
Inserção Alu 3q26.32 ALFRED, 2008
ECA
Inserção Alu 17q23 Tiret et al., 1992
FXIIIB
Inserção Alu 1q31 Webb et al., 1989
PV-92
Inserção Alu 16q23.3 Batzer et al., 1994
Sb19.3
Inserção Alu 19p12 Arcot et al., 1998
TPA-25
Inserção Alu 8p12 Yang-Feng et al., 1986
AT3
Inserção de 68pb 1q25.1 Shriver et al., 2003
CRH
SNP 8q13.1 Shriver et al., 2003
CYP3a4
SNP 7q22.1 Shriver et al., 2003
Fy-Null
SNP 1q23.2 Shriver et al., 2003
LPL
SNP 8p21.3 Shriver et al., 2003
OCA2
SNP 15q13.1 Shriver et al., 2003
RB2300
SNP 13q14 Bookstein et al., 1988
MaterialeMétodos 24
Tabela 5: Haplótipos DRD2/TaqI gerados pela análise da presença/ausência dos
sítios de restrição para enzima TaqI.
Haplótipo Sítios de Restrição
A B D
*1 + + +
*2 + + -
*3 + - +
*4 + - -
*5 - + +
*6 - + -
*7 - - +
*8 - - -
Presença (+) e ausência (-) do
sítio de ligação para enzima de
restrição TaqI.
O gene do componente grupo-específico humano, GC, está localizado
no braço longo do cromossomo 4. Existem três alelos comuns para a proteína
codificada por esse gene (D-vitamin-binding protein), causados por duas
mutações de ponto que geram mudanças nos aminoácidos nas posições 416 e
420 da proteína. Essas mutações são possíveis de serem identificadas pela
utilização de enzimas de restrição da seguinte forma: a presença de sítio de
restrição para a enzima HaeIII define o alelo 1S, enquanto que a clivagem da
enzima StyI ocorre no alelo 2. Na ausência de sítio de restrição para ambas as
enzimas, tem-se o alelo 1F (Braun et al., 1992). Essa nomenclatura dos alelos
foi definida na literatura a partir do comportamento dos produtos alélicos das
variantes protéicas em eletroforese, sendo o alelo 1S o mais lento e o 2 o mais
rápido.
3.2. Seleção das Amostras Utilizadas para as Estimativas Genéticas
Para os dois conjuntos de dados (bancos de dados de marcadores
moleculares do Laboratório de Genética do IB/UnB e novas análises
laboratoriais), foram selecionados indivíduos com grau de parentesco de no
máximo 1/16, ou seja, aqueles que não apresentassem parentesco até a
MaterialeMétodos 25
terceira geração anterior a atual. Assim, foram consideradas 77 amostras de
Mocambo, 102 de Rio das Rãs e 30 de Riacho de Sacutiaba.
3.3. Genotipagem Obtida de Bancos de Dados
A genotipagem das amostras selecionadas referente aos marcadores
AT3, CYP3a4, CRH, Fy-Null, LPL e OCA2 foi obtida do banco de dados de
marcadores genéticos do Laboratório de Genética IB/UnB. Esses marcadores
foram genotipados por Pedrosa (2006) que também descreveu os
procedimentos laboratoriais para genotipagem desses marcadores por
seqüenciamento (SNPs) ou eletroforese em gel vertical (AT3).
3.4. Coleta, Processamento do Material Biológico e Extração de DNA
Nas visitas técnicas realizadas em 1998, 5 mL de sangue periférico
foram coletados de cada doador. Para isso, utilizou-se um sistema de punção
venosa com tubos a vácuo (Vacutainer), com EDTA (ácido etilenodiamino tetra-
acético) a 5% como anticoagulante, que foram devidamente identificados e
refrigerados o mais breve possível.
O processamento do material biológico coletado foi realizado no
laboratório de Genética da Universidade de Brasília, logo após o retorno do
trabalho de campo. Esta etapa caracterizou-se por sucessivos processos de
centrifugação e lavagem com solução salina para separação do material em
três frações: plasma, fração leucocitária e hemácias. Em seguida, o fração
leucocitária foi estocado em tubos identificados em congeladores com
temperatura de 20º C negativos até o momento da extração do DNA.
Para extração de DNA foi utilizado o kit Illustra blood genomicPrep Mini
Spin Kit™ (GE), para o qual seguiram-se os procedimentos descritos no
manual de instrução do produto, traduzido no ANEXO C. Em seguida, as
amostras foram armazenadas em congeladores a 20
o
C negativos. Esse
método de extração gera amostras de DNA com concentração aproximada de
30 ng/μL.
MaterialeMétodos 26
3.5. Análises Laboratoriais
A análise laboratorial dos marcadores APO, D1, ECA, FXIIIB, PV-92,
Sb19.3, TPA-25, GC, RB2300 e DRD2/TaqI foi iniciada por uma reação de
amplificação por PCR (reação em cadeia da polimerase – Mullis, 1990), em
que uma mistura de reagentes e condições específicas para cada sistema foi
utilizada (Tabelas 6 e 7). Nas reações de amplificação, foram utilizados como
controles negativos uma mistura de reagentes sem DNA.
Os produtos de PCR referentes às sete inserções Alu foram analisados
diretamente em eletroforese vertical, com gel de poliacrilamida a 6%. Ao
produto de PCR foi adicionado tampão de corrida para ser aplicado ao gel que,
após um período de cerca de duas horas de corrida, em uma voltagem de 200
V, foi corado com solução de nitrato de prata a 10%. Os procedimentos
detalhados da eletroforese e protocolos das soluções utilizadas encontram-se
descritos no ANEXO D.
Os SNPs foram analisados pela técnica de RFLP (do inglês,
polimorfismo de comprimento de fragmento de restrição). Esta técnica consiste
na adição de uma enzima de restrição específica ao produto da PCR, com a
finalidade de identificar uma das duas mutações dos marcadores genéticos
considerados (condições das reações de restrição e mistura de reagentes
descritas na Tabela 8). A presença do sítio de restrição define o alelo *2,
enquanto a ausência de ligação com a enzima define o alelo *1. Após digestão
enzimática, os produtos da reação de restrição foram analisados em gel de
poliacrilamida vertical, conforme descrito anteriormente para os marcadores do
tipo indel, exceto para a análise dos SNPs contidos no haplótipo DRD2/TaqI,
que foram analisados em gel de poliacrilamida a 10%, com voltagem definida
para 180 V, num tempo total de três horas e meia. Vale ressaltar que, para a
análise deste haplótipo foram realizadas três PCRs diferentes, com
amplificação de três fragmentos específicos, cada um contendo apenas uma
das três mutações analisadas em três reações de digestão distintas, mas com
o uso da mesma enzima, a TaqI. Como controles positivos destas e das
demais reações de digestão foram utilizados amostras com genótipos
previamente conhecidos.
MaterialeMétodos 27
Alguns indivíduos homozigotos para presença da inserção Alu Sb19.3
podem apresentar amplificação de um fragmento adicional com o tamanho do
fragmento indicativo do alelo *2, porém com menor intensidade de coloração do
que o observado quando o alelo *2 do marcador está de fato presente. Isso
ocorre devido ao fato de que o par de iniciadores desenhado para a PCR tem
homologia de cerca de 95% de sua extensão com uma região situada no
cromossomo 4. A depender das condições específicas de cada reação, é
possível que o iniciador se pareie com essa região. Comparações entre
genotipagens por eletroforese em gel vertical e por seqüenciamento confirmam
que os indivíduos que apresentam esse padrão, são, de fato, homozigotos para
ausência da inserção (Luis et al., 2003) e, por tanto, a medida de correção foi
adotada no presente trabalho.
3.6. Considerações éticas
Os protocolos de análises empregados no presente trabalho foram
aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Saúde da
Universidade de Brasília, com número 151/07. O termo de aprovação encontra-
se no ANEXO E.
MaterialeMétodos 28
Tabela 6: Mistura de reagentes e temperaturas de pareamento dos iniciadores padronizadas para a PCR. Volume final das
reações, completados com água deionizada autoclavada até 17 µL para o GC e até12 µL para os demais.
Reagentes Unidade
Marcadores Genéticos
APO ECA D1 FXIIIB PV92 Sb19.3 TPA25 GC RB2300 DRD2A DRD2B DRD2D
Tampão
a
µL 1,25 1,25 1,25 1,25 2 1,4 1,5 1,25 1,75 1,3 1,3 1,3
MgCl
2
µL 0,25 0,5 0,5 0,15 - - - - 0,8 - - -
dNTP
b
µL 1,25 1,25 1,0 1,25 1,25 1,25 1,25 1,25 1,25 1,6 1,25 1,25
Iniciadores
c
µL 2 1 1,25 1,25 0,5 1,5 1,25 1,5 1,25 1,25 1,6 1,6
DMSO
d
µL - 0,315 0,315 - 0,315 0,325 0,315 - 1,2 0,315 - -
Taq DNA Polimerase
U 0,8 3,0 0,5 1,0 1,0 2,5 1,0 0,6 2,5 2,5 2,5 2,5
DNA
ng 20 30 10 20 20 30 20 20 20 24 30 24
Temp. de Pareamento
e
o
C 50 58 58 61 54 60 58 55 61 64 64 64
a: tampão com MgCl
2
a 2mM; b: solução de dATP, dTTP, dCTP e dGTP a 10mM para o RB2300 e D1 e 1mM para os demais; c: solução dos
iniciadores A e B a 5µM; d: Solução de Dimetilsulfóxido a 10%, exceto para RB2300, a 100%; e: Temperatura padronizada para o pareamento
dos iniciadores.
MaterialeMétodos 29
Tabela 7: Seqüência dos iniciadores empregados nas reações de PCR,
tamanho do fragmento amplificado e referência bibliográfica de
onde a seqüência do iniciador foi obtida.
Locus Iniciadores
Tamanho do
Fragmento
Amplificado
a
Referência Bibliográfica
APO
5´AAGTGCTGTAGGCCATTTAGATTAG3´
5´AGTCTTCGATGACAGAGTATACAGA3´
400pb ou
110pb
Batzer et al., 1994
D1
5´TGCTGATGCCCAGGGTTAGTAAA3´
5´TTTCTGCTATGCTCTTCCCTCTC3´
700pb ou
400pb
Batzer et al., 1995
ECA
5´CTGGAGACCACTCCCATCCTTTCT3´
5´GATGTGGCCATCACATTCGTCAGAT3´
490pb
ou190pb
Tiret et al., 1992
FXIIIB
5´TCAACTCCATGAGATITrCAGAAGT3´
5´CTGGAAAAAATGTATTCAGGTGAGT3´
700pb ou
500pb
Kass et al., 1994
PV92
5´AACTGGGAAAATTTGAAGAGAAAGT3´
5´TGAGTTCTCAACTCCTGTGTGTTAG3´
400pd ou
110pb
Batzer et al., 1994
Sb19.3
5´TCTAGGCCCAGATTTATGGTAACTG
5´AAGCACAATTGGTTATTTTCTGAC3´
450pb ou
150pb
Arcot et al., 1998
TPA25
5´GTAAGAGTTCCGTAACAGGACAGCT3´
5´CCCCACCCTAGGAGAACTTCTCTTT3´
400pd ou
110pb
Batzer e Deininger, 1991
GC
5´AGATCTGAAATGGCTATTATTTTGC3´
5´GGAAGGTGAGTTTATGGAACAGC3´
200pb Parra et al., 1998
RB2300
5´CAGGACAGCGGCCCGGAG3´
5´CTGCAGACGCTCCGCCGT3´
180pb Bookstein et al., 1990
DRD2A
5´CCGTCGACGGCTGGCCAAGTTGTCTA3´
5´CCGTCGACCCTTCCTGAGTGTCATCA3´
280pb Gelernter et al., 1998
DRD2B
5´GATGTGTAGGAATTAGCCAGG3´
5´GATACCCACTTCAGGAAGTC3´
459pb Castiglioni et al., 1995
DRD2D
5´CCCAGCAGGGAGAGGGAGTA3´
5´GACAAGTACTTGGTAAGCATG3´
419pb Kidd et al., 1996
a: os tamanhos dos fragmentos amplificados foram estimados em eletroforese em
gel vertical com utilização de um padrão de peso molecular de 100pb e auxílio da
literatura indicada quando disponível.
MaterialeMétodos 30
Tabela 8: Mistura de reagentes para digestão enzimática e condições das reações utilizadas para análise dos RFLP. O volume
final de cada reação foi igual a 12µL, completados com água deionizada autoclavada.
Reagentes Unidade GC RB2300 DRD2A DRD2B DRD2D
Tampão
a
µL 1,2 1,0 1,0 1,2 1,2 1,2
BSA
a
µL - 0,1 - 0,1 0,1 0,1
Enzima
b
-
HaeIII StyI BamHI TaqI TaqI TaqI
Produto PCR
µL 5,0 5,0 5,0 5,0 5,0 5,0
Temperatura
0
C
37 37 37 65 65 65
Tempo
h
5 5 12 12 12 12
a: O tampão e BSA utilizados foram adquiridos junto com as enzimas dos seus fabricantes. b: 3U de
HaeIII e BamHI; 4,5U de StyI e TaqI.
MaterialeMétodos 31
4. Análises Estatísticas
4.1. Definição dos Haplótipos DRD2/TaqI
Em decorrência da impossibilidade de inferência direta dos haplótipos de
DRD2/TaqI a partir da genotipagem por RFLP para todos os indivíduos, o
programa Arlequin 3.1.1 (Excoffier et al., 2005) foi utilizado para conferir a cada
cromossomo a fase gamética mais provável, tendo em vista a genotipagem
para os SNPs “A”, “B” e “D”. O algoritmo EM versão zipper foi utilizado para
esses fins, após comparação dos resultados com a outra versão do EM e com
o algoritmo ELM.
A diversidade haplotípica para cada população foi estimada com o
emprego do programa FSTAT versão 2.9.3.2 (disponível em
<http://www2.unil.ch/popgen/softwares/fstat.htm>).
4.2. Estimativas de Diversidade das Populações e Impacto da Imigração
As freqüências alélicas e genotípicas foram calculadas por contagem
direta. As alterações de freqüência alélica (Δq) causadas pelo fluxo gênico
foram estimadas para cada marcador bialélico com a seguinte fórmula:
Δq = -m(q
o
-q
m
)x10
4
,
segundo o modelo continente-ilhas, sendo que m é a proporção de imigrantes
na população, q
o
é a freqüência de um dado alelo na parcela de nativos e q
m
é
a freqüência do mesmo alelo na população total, com imigrantes e nativos
(modificado de Futuyma, 2005). Para tanto, como q, foi considerada a
freqüência do alelo *1, resultando em um valor positivo no caso do aumento na
freqüência desse alelo e em um valor negativo, no caso da diminuição de sua
freqüência e conseqüente aumento da freqüência de *2.
Adicionalmente, foi avaliada a ocorrência de inserção de novos
haplótipos de DRD2 em decorrência da imigração na geração analisada.
O programa GENEPOP 3.4 (Raymond e Rousset, 1995) foi utilizado
para checar se as freqüências genotípicas observadas se adequavam ao
MaterialeMétodos 32
esperado no Equilíbrio de Hardy-Weinberg (EHW) e para avaliar o excesso e
déficit de heterozigotos para cada marcador. Quando a freqüência observada
não se adequava ao EHW, as análises foram refeitas com a exclusão dos
imigrantes da amostragem. Para estimativa do valor de p e do erro padrão
associado aos testes realizados, utilizou-se o método da Cadeia de Markov
(Guo e Thompson, 1992), com 10.000 dememorizações e 5.000 interações.
4.3. Estimativa de Heterozigose
A heterozigose esperada e observada foi estimada com a utilização do
programa Genetic Data Analisys – GDA (Lewis e Zaykin, 1997) para cada
locus, comparadas entre si a partir do índice de fixação f (índice de
endogamia), com a utilização do mesmo programa. Foram gerados dois
valores médios para cada parâmetro nas três populações: um com a população
total e outro com os nativos exclusivamente, comparados entre si com a
utilização do teste T de Student para amostras pareadas e intervalo de
confiança de 95%. Para esse teste, realizado com o SPSS versão 15.0, cada
marcador foi considerado uma amostra e as análises com e sem imigrantes
foram consideradas os dois tratamentos distintos.
4.4. Estatísticas F
O Fst e o Fis foram calculados com a utilização do programa GDA
(Lewis e Zaykin, 1997). O Fst ou θ é a estatística da probabilidade de dois
alelos tomados ao acaso serem idênticos por descendência. Esse parâmetro
indica a diversidade interpopulacional. O Fis é um índice de endogamia,
relativo ao déficit de heterozigotos médio em todas as populações
consideradas na análise.
MaterialeMétodos 33
4.5 Comparações das freqüências alélicas e genotípicas das populações e
entre as parcelas de imigrantes e nativos
Para a comparação das freqüências gênicas e genotípicas, foi realizado
o teste de diferenciação populacional, com o programa GENEPOP 3.4
(Raymond e Rousset, 1995). Essas estimativas foram geradas para cada
marcador separadamente e em conjunto. Todas as populações foram
comparadas par a par e também em conjunto. Adicionalmente, as freqüências
gênicas e genotípicas foram comparadas entre as parcelas de nativos e
imigrantes para cada população. Para essas análises, foi utilizado o Teste
Exato de Fisher baseado na Cadeia de Markov.
4.6 Construção de Gráficos para Inferência da Estrutura Populacional e
Afiliação Genética
O programa Structure 2.2.3 (Pritchard et al., 2000 – disponível em
<http://pritch.bsd.uchicago.edu/software/structure2_2.html>) foi utilizado para
construção de gráficos para avaliação da ocorrência de estruturação
populacional assim como para análise da afiliação genética dos indivíduos
analisados. Com esse programa, é possível gerar dois tipos de gráficos. Em
um deles, em forma de triângulo, os indivíduos são agrupados de acordo com a
semelhança entre seus genótipos, sendo que a distância ilustrada reflete a
distância genética entre os indivíduos (estrutura populacional). No outro gráfico,
com forma de fita, é possível estimar a proporção da contribuição de
populações parentais a cada indivíduo analisado (afiliação genética).
Em um primeiro momento, as populações foram analisadas uma a uma,
com a utilização dos 16 marcadores genéticos disponíveis e sem a utilização
das populações parentais. Em cada gráfico gerado, foram atribuídas distintas
cores para os nativos e os imigrantes, no intuito de buscar informações sobre a
maneira em que os imigrantes afetam a estruturação populacional.
Em seguida, foram considerados dados das populações parentais em
adição aos dados utilizados para cada população. Para essa opção, o
programa requer a utilização de genótipos de indivíduos das populações
MaterialeMétodos 34
parentais consideradas e não apenas de freqüências alélicas. Por esse motivo,
um banco de dados cedido pelo Doutor Mark D. Shriver, da Universidade da
Pensilvânia foi utilizado. Esse banco inclui a genotipagem para 132 indivíduos
da Nigéria (África Subsaariana), 93 ameríndios e 89 indivíduos europeus
(Alemanha e Espanha). Nesta análise, foram considerados para as populações
de Mocambo, Rio das Rãs, Sacutiaba e as parentais apenas os dados relativos
aos marcadores APO, PV-92, Sb19.3, AT3, Fy-Null, GC, LPL, OCA2 e RB2300.
Em todas as estimativas geradas utilizou-se 10.000 interações no
período burn-in, com 10.000 interações adicionais após esse período, com a
utilização do modelo de ancestralidade de informação populacional e
selecionando os indivíduos africanos, ameríndios e europeus como
representantes das parentais
4.7. Mistura Genética
Estimativas de contribuição das parentais Africana, Ameríndia e
Européia para a constituição genética de cada população foram geradas com a
utilização do programa ADMIX3, com método da identidade gênica
(Chakraborty, 1985). Para tanto, a média aritmética das freqüências alélicas
dos 16 marcadores nas populações parentais (Tabela 2) foi utilizada. Duas
estimativas de contribuição parental foram geradas, a primeira com a utilização
de todos os indivíduos amostrados e a segunda com a utilização dos nativos
exclusivamente.
4.8. Estimativas de Distância Genética
A distância genética entre os três remanescentes de quilombos e as
populações do Distrito Federal, Salvador, Jequié, as populações parentais e
outros cinco remanescentes de quilombos adicionais (São Gonçalo, Barra,
Valongo, Santiago do Iguape e Santo Antônio do Guaporé) foram estimadas. A
Figura 1 ilustra a posição relativa de cada uma das populações consideradas
no mapa do Brasil.
MaterialeMétodos 35
O programa GENDIST do pacote PHYLIP foi utilizado para construção
de uma matriz de distância genética de Reynolds (Felsenstein, 1989). Duas
diferentes estimativas foram geradas: a primeira delas com a utilização de
todos os marcadores disponíveis para as populações de Mocambo, Rio das
Rãs e Sacutiaba e as três populações parentais (africanos, ameríndios e
europeus); e a segunda delas, incluindo as demais populações descritas na
tabela 1. Nesta última seleção, foram utilizados cinco marcadores (AT3, APO,
Sb19.3, PV92 e LPL), pois esses são os únicos encontrados em comum para
as populações consideradas.
A população do DF foi considerada como sendo representativa do
Brasil, visto que sua população, recentemente formada por fluxos de todas as
regiões do país, apresenta proporções de mistura genética muito próximas à
estimada para a população brasileira como um todo (Godinho, 2008). Já as
populações de Salvador e Jequié foram consideradas nas análises como sendo
representativas da região urbana próxima aos remanescentes de quilombos de
Mocambo, Rio das Rãs e Sacutiaba. As demais populações afroderivadas
utilizadas (Santiago do Iguape, Santo Antônio do Guaporé, São Gonçalo, Barra
e Valongo) foram consideradas para fins de comparação com as demais
populações, por terem história semelhante à dos remanescentes de quilombos
de Mocambo, Rio das Rãs e Sacutiaba.
Com as matrizes de distância geradas com o pacote Phylip, os gráficos
de distância com duas coordenadas principais foram construídos com a
utilização do programa NTSYS (Rohlf,1995).
4.9 Desequilíbrio de Ligação
O programa GENEPOP 3.4 (Raymond e Rousset, 1995) foi utilizado
para estimar o desequilíbrio de ligação (DL) entre os loci. Para tanto, o
programa utiliza o teste Weir (teste composto de desequilíbrio de ligação) em
tabelas de contingência para análise de ligação entre cada par de loci. Como
nível de significância, utilizou-se inicialmente 5% e, posteriormente, com a
correção de Bonferroni, o valor de α foi ajustado para 0,000417. A medida de
MaterialeMétodos 36
correção é indicada para evitar erros do tipo 1 – rejeição espúria da hipótese
nula –, em decorrência da realização de sucessivos testes com uma mesma
fonte de dados. Adicionalmente, os três SNPs do haplótipo DRD2/TaqI foram
testados separadamente para a ocorrência de DL.
Os indivíduos imigrantes foram excluídos dos cálculos, em um segundo
momento, a fim de se checar se a exclusão dos efeitos da imigração recente
alteraria o padrão de DL observado.
Resultados 37
RESULTADOS
1. Caracterização Demográfica e de Comportamentos Matrimoniais
Foi observada predominância de indivíduos do sexo feminino em Rio
das Rãs (51%) e Sacutiaba (58,6%). O inverso ocorreu em Mocambo, onde foi
observada maior proporção de homens (53,4%). A proporção de indivíduos
imigrantes nas populações de Mocambo, Rio das Rãs e Sacutiaba foi,
respectivamente, 16,1%, 20,2% e 30,0%. Desses, a maioria foi composta por
mulheres (60,7%, 63,5, e 66,7 dos imigrantes, respectivamente).
Com relação aos tipos de casamentos, foi observado predomínio de
casamentos endogâmicos em Mocambo e Rio das Rãs nas três gerações
analisadas (Tabela 9). Enquanto a proporção de casamentos desse tipo se
manteve constante ao longo do tempo, houve aumento de casamentos
exogâmicos e diminuição de casais imigrantes. Distintamente, em Sacutiaba as
proporções entre os três tipos de casamento foram semelhantes ao longo das
gerações avaliadas, com predomínio de casamentos entre imigrantes na
primeira geração e subseqüente decréscimo. Na presente geração dos três
remanescentes de quilombos, a proporção de casamentos patrilocais, isto é,
entre um homem nativo e uma mulher de fora da comunidade, é maior do que
a de matrilocais.
A análise dos questionários revelou que a maioria dos casamentos
exogâmicos (97%) ocorreu entre pessoas do mesmo estado em que os
remanescentes de quilombos se situam, sendo muitas vezes de regiões
vizinhas. Na comunidade de Mocambo, em especial, grande parte (20%)
desses casamentos ocorreu com indivíduos da aldeia Xocó.
Resultados 38
Tabela 9: Distribuição das categorias de casamentos – endogâmicos,
exogâmicos (total e patrilocais) e entre imigrantes – em três
remanescentes de quilombos do nordeste brasileiro.
População Geração
Proporção de Casamentos (%)
Endogâmicos Exogâmicos Imigrantes
Total Patrilocais
Mocambo
P 57,2 10,8 5,2 32,0
F1 57,4 24,3 12,4 18,3
F2 55,0 40 21,2 5,0
Rio das Rãs
P 51,9 11,5 6,2 36,6
F1 52,2 27,9 17,6 19,9
F2 49,4 41,6 26,2 9,0
Sacutiaba
P 31,6 31,6 2,2 36,8
F1 42,6 36,1 14,8 21,3
F2 43,5 34,8 30,6 21,7
2. Impacto do Fluxo Gênico sobre a Distribuição Alélica e Genotípica
Nas Tabelas 10 a 12 encontram-se descritas as freqüências gênicas e
genotípicas dos marcadores bialélicos e do sistema GC, bem como o valor de p
para o Teste Exato de aderência das freqüências genotípicas ao Equilíbrio de
Hardy-Weinberg (EHW), erro padrão associado e valor de p para os testes de
Excesso (EH) e Déficit de Heterozigotos (DH). As freqüências genotípicas dos
marcadores analisados se apresentaram dentro do esperado quando em
Equilíbrio de Hardy-Weinberg. No caso do sistema CRH em Rio das Rãs, único
marcador fora do equilíbrio, a exclusão dos indivíduos imigrantes da amostra
dessa população permitiu que a diferença entre a proporção genotípica
esperada e observada apresentasse um valor de p não significativo
(p=0,351±0,002). Déficit de heterozigotos foi observado em Mocambo para os
marcadores GC e Fy-Null e em Rio das Rãs para o CRH.
A média dos valores absolutos do índice de alteração de freqüências
alélicas (Δq) foi estimado em 23, 20 e 163 para Mocambo, Rio das Rãs e
Sacutiaba respectivamente.
Resultados 39
A distribuição haplotípica do marcador DRD2 para as três populações
(Tabela 13) indicou um desvio nas freqüências genotípicas quanto ao esperado
pelo EHW na população de Rio das Rãs. Essa foi a população que apresentou
a maior diversidade haplotípica e também a única que apresentou excesso de
heterozigotos. O haplótipo *1 foi o mais freqüente em todas as populações,
seguido do haplótipo *2. O haplótipo *4 foi observado somente em Rio das Rãs
enquanto que o haplótipo *8 foi observado apenas em Sacutiaba. Além disso,
foi observada a inserção de um novo haplótipo (*6) na população de Sacutiaba
em decorrência de imigração.
Resultados 40
Tabela 10: Freqüência alélica e genotípica de 15 marcadores genéticos para a população de Mocambo, número amostral (N), valor
de p dos testes de aderência ao Equilíbrio de Hardy-Weinberg (EHW), excesso (EH) e déficit (DH) de heterozigotos e
índice de alteração de freqüências alélicas por efeito de imigração (Δq) para cada marcador genético.
Marcador Freqüência Alélica
N
Freqüência Genotípica EHW
EH DH Δq
*1 *2 *3 11 12 22 13 23 33 P-valor Erro Padrão
APO 0,770 0,230 -- 76 0,618 0,303 0,079 -- -- -- 0,201 0,001 0,950 0,153 45
D1 0,320 0,680 -- 75 0,147 0,347 0,507 -- -- -- 0,104 0,001 0,981 0,061 -39
ECA 0,400 0,600 -- 75 0,160 0,480 0,360 -- -- -- 1,000 0,000 0,618 0,572 5
FXIIIB 0,447 0,553 -- 75 0,147 0,600 0,253 -- -- -- 0,100 0,001 0,057 0,980 5
PV-92 0,333 0,667 -- 75 0,133 0,400 0,467 -- -- -- 0,436 0,002 0,883 0,253 -26
Sb19.3 0,687 0,313 -- 75 0,480 0,413 0,107 -- -- -- 0,789 0,001 0,752 0,445 32
TPA-25 0,380 0,620 -- 75 0,187 0,387 0,427 -- -- -- 0,142 0,001 0,969 0,086 -14
AT3 0,559 0,441 -- 68 0,309 0,500 0,191 -- -- -- 1,000 0,000 0,578 0,618 -63
CRH 0,363 0,637 -- 73 0,110 0,507 0,384 -- -- -- 0,612 0,001 0,306 0,848 -10
CRP3a4 0,342 0,658 -- 73 0,110 0,466 0,425 -- -- -- 1,000 0,000 0,518 0,690 -16
FyNull 0,682 0,318 -- 74 0,514 0,338 0,149 -- -- -- 0,061 0,001 0,986 0,046 8
GC
a
0,382 0,493 0,125 72 0,181 0,347 0,264 0,056 0,111 0,042 0,137 0,002 0,979 0,022 --
LPL 0,637 0,363 -- 73 0,411 0,452 0,137 -- -- -- 0,805 0,001 0,697 0,497 -31
RB2300 0,662 0,338 -- 74 0,405 0,514 0,081 -- -- -- 0,290 0,002 0,171 0,931 24
OCA2 0,338 0,662 -- 74 0,108 0,459 0,432 -- -- -- 1,000 0,000 0,538 0,664 2
|Δq|
= 23
a: alelos 1S, 1F e 2 representados por *1, *2 e *3 respectivamente.
Resultados 41
Tabela 11: Freqüência alélica e genotípica de 15 marcadores genéticos para Rio das Rãs, número amostral (N), valor de p
calculado a partir do teste de aderência ao Equilíbrio de Hardy-Weinberg (EHW), excesso (EH) e déficit (DH) de
heterozigotos e índice de alteração de freqüências alélicas por efeito de imigração (Δq) para cada sistema.
Marcador Freqüência Alélica
N
Freqüência Genotípica EHW
EH DH Δq
*1 *2 *3 11 12 22 13 23 33 P-valor Erro Padrão
APO 0,700 0,300 -- 100 0,520 0,360 0,120 -- -- -- 0,157 0,001 0,958 0,109 59
D1 0,367 0,633 -- 94 0,096 0,543 0,362 -- -- -- 0,125 0,002 0,086 0,964 -26
ECA 0,449 0,551 -- 98 0,224 0,449 0,327 -- -- -- 0,410 0,002 0,880 0,221 4
FXIIIB 0,405 0,595 -- 100 0,120 0,570 0,310 -- -- -- 0,095 0,001 0,058 0,978 -6
PV-92 0,200 0,800 -- 100 0,040 0,320 0,640 -- -- -- 1,000 0,000 0,653 0,593 -8
Sb19.3 0,713 0,287 -- 94 0,500 0,426 0,074 -- -- -- 0,806 0,001 0,476 0,717 -46
TPA-25 0,410 0,590 -- 100 0,140 0,540 0,320 -- -- -- 0,303 0,002 0,184 0,904 4
AT3 0,658 0,342 -- 98 0,459 0,398 0,143 -- -- -- 0,264 0,002 0,922 0,164 -22
CRH 0,470 0,530 -- 99 0,273 0,394 0,333 -- -- -- 0,042 0,001 0,990 0,025 20
CRP3a4 0,576 0,424 -- 99 0,323 0,505 0,172 -- -- -- 0,837 0,001 0,464 0,689 18
FyNull 0,258 0,742 -- 99 0,051 0,414 0,535 -- -- -- 0,601 0,002 0,308 0,855 36
GC
a
0,179 0,732 0,089 95 0,042 0,253 0,547 0,021 0,116 0,021 0,291 0,002 0,939 0,073 --
LPL 0,717 0,283 -- 99 0,505 0,424 0,071 -- -- -- 0,806 0,001 0,443 0,741 8
RB2300 0,668 0,332 -- 90 0,474 0,389 0,137 -- -- -- 0,250 0,002 0,930 0,157 32
OCA2 0,263 0,737 -- 99 0,071 0,384 0,545 -- -- -- 1,000 0,000 0,664 0,540 1
|Δq|
= 20
a: alelos 1S, 1F e 2 representados por *1, *2 e *3 respectivamente.
Resultados 42
Tabela 12: Freqüência alélica e genotípica de 15 marcadores genéticos para o remanescente de quilombo de Sacutiaba, número
amostral (N), valor de p dos testes de aderência ao Equilíbrio de Hardy-Weinberg (EHW), excesso (EH) e déficit (DH) de
heterozigotos e índice de alteração de freqüências alélicas por efeito de imigração (Δq) para cada sistema.
Marcador Freqüência Alélica
N
Freqüência Genotípica EHW
EH DH Δq
*1 *2 *3 11 12 22 13 23 33 P-valor Erro Padrão
APO 0,850 0,150 -- 30 0,700 0,300 -- -- -- -- 1,000 0,000 0,494 1,000 -201
D1 0,300 0,700 -- 30 0,067 0,467 0,467 -- -- -- 0,687 0,001 0,478 0,831 -99
ECA 0,500 0,500 -- 29 0,276 0,448 0,276 -- -- -- 0,710 0,001 0,849 0,390 -333
FXIIIB 0,233 0,767 -- 30 0,100 0,267 0,633 -- -- -- 0,159 0,001 0,975 0,157 366
PV-92 0,121 0,879 -- 29 -- 0,241 0,759 -- -- -- 1,000 0,000 0,666 1,000 114
Sb19.3 0,690 0,310 -- 29 0,414 0,552 0,034 -- -- -- 0,204 0,001 0,148 0,980 69
TPA-25 0,433 0,567 -- 30 0,200 0,467 0,333 -- -- -- 1,000 0,000 0,772 0,503 132
AT3 0,438 0,562 -- 24 0,167 0,542 0,292 -- -- -- 1,000 0,000 0,513 0,789 45
CRH 0,227 0,773 -- 22 0,000 0,455 0,545 -- -- -- 0,538 0,001 0,268 1,000 -69
CRP3A4 0,440 0,560 -- 25 0,120 0,640 0,240 -- -- -- 0,231 0,001 0,160 0,968 -180
FyNull 0,280 0,720 -- 25 0,080 0,400 0,520 -- -- -- 1,000 0,000 0,748 0,628 147
GC
a
0,167 0,667 0,167 30 0,033 0,167 0,500 0,100 0,167 0,033 0,347 0,002 0,819 0,220 --
LPL 0,771 0,229 -- 24 0,583 0,375 0,042 -- -- -- 1,000 0,000 0,671 0,773 63
RB2300 0,483 0,517 29 0,172 0,621 0,207 -- -- -- 0,278 0,002 0,200 0,946 -330
OCA2 0,348 0,652 -- 23 0,174 0,348 0,478 -- -- -- 0,355 0,001 0,956 0,219 -135
|Δq|
= 163
a: alelos 1S, 1F e 2 representados por *1, *2 e *3 respectivamente.
Resultados 43
Tabela 13: Freqüência dos haplótipos do DRD2 para as populações estudadas
e valor de p para o teste de adequação das freqüências genotípicas
observadas ao Equilíbrio de Hardy-Weinberg (EHW), Déficit (DH) e
Excesso de Heterozigotos (EH) e diversidade haplotípica.
Haplótipo
População
Mocambo Rio das Rãs Sacutiaba
*1
0,339 0,283 0,393
*2
0,212 0,278 0,373
*3
0,017 0,020 --
*4
-- 0,034 --
*5
0,154 0,103 0,099
*6
0,072 0,105 0,035
*7
0,206 0,177 0,074
*8
-- -- 0,026
EHW
0,162 (0,004) 0,044 (0,002) 0,981 (0,001)
DH
0,468 (0,008) 0,964 (0,004) 0,612 (0,008)
EH
0,526 (0,007) 0,033 (0,004) 0,406 (0,008)
Div. Hapl.
0,771 0,785 0,696
3. Estimativas de Heterozigose
Na Tabela 14, constam os valores de heterozigose esperados e os
observados para cada marcador nas três populações. No geral, os valores
foram similares, sendo que os marcadores bialélicos mostraram heterozigose
observada próxima ao máximo dentro do EHW para marcadores com dois
alelos (50%) na maior parte dos casos. Já os sistemas multialélicos GC (três
alelos) e DRD2 (oito alelos) apresentaram baixa heterozigose.
As estimativas de heterozigose geradas para cada marcador com a
exclusão dos imigrantes mostraram-se similares às obtidas com a amostra total
(dados não mostrados), sendo que os valores médios obtidos em cada caso
são estatisticamente semelhantes (Tabela 14).
Resultados 44
Tabela 14: Heterozigose esperada e observada para 16 marcadores
moleculares em três populações remanescentes de quilombos.
Médias calculadas para a população total e parcela de nativos,
com valor de p calculado com o teste T de Student com
amostras pareadas para diferença entre essa estimativa.
Marcador
Mocambo Rio das Rãs Sacutiaba
He Ho He Ho He Ho
APO
0,483 0,480 0,497 0,449 0,509 0,448
D1
0,438 0,347 0,467 0,543 0,427 0,467
ECA
0,600 0,514 0,427 0,389 0,508 0,433
FXIIIB
0,447 0,400 0,322 0,320 0,216 0,241
PV-92
0,498 0,600 0,484 0,570 0,364 0,267
Sb19.3
0,474 0,387 0,486 0,540 0,499 0,467
TPA-25
0,433 0,413 0,412 0,426 0,436 0,552
AT3
0,450 0,459 0,389 0,384 0,464 0,348
CRH
0,453 0,466 0,491 0,505 0,503 0,640
CYP3a4
0,436 0,338 0,384 0,414 0,411 0,400
Fy-Null
0,450 0,514 0,446 0,389 0,508 0,621
GC
0,357 0,303 0,422 0,360 0,259 0,300
LPL
0,497 0,500 0,452 0,398 0,503 0,542
OCA2
0,466 0,452 0,408 0,424 0,361 0,375
RB2300
0,466 0,507 0,501 0,394 0,359 0,455
DRD2
0,771 0,757 0,786 0,835 0,696 0,700
TOTAL
0,483 0,465 0,461 0,459 0,439 0,453
NATIVOS
0,486 0,471 0,457 0,462 0,424 0,451
p-valor
0,840 0,807 0,828 0,855 0,737 0,961
Os valores de f (índice de endogamia) não indicaram endogamia em
qualquer das populações quando analisadas separadamente (Tabela 15).
Resultados 45
Tabela 15: Valores do coeficiente de endogamia (f) estimados para Mocambo,
Rio das Rãs e Sacutiaba.
População
f
Mocambo -0,03356
Rio das Rãs 0,004591
Sacutiaba 0,03716
4. Estatísticas F
Os valores de Fst calculados foram significativos em todas as análises
(Tabela 16), sendo que o par Rio das Rãs/Sacutiaba apresentou o menor valor
para essa estimativa.
Tabela 16: Valores de Fst com intervalo de confiança (95%) para Mocambo
(MOC), Rio das Rãs (RIO) e Sacutiaba (SAC).
Populações
Fst
Intervalo de Confiança
MOC - RIO 0,040 0,007 a 0,086
MOC - SAC 0,042 0,012 a 0,083
RIO - SAC 0,024 0,009 a 0,042
Todas 0,037 0,012 a 0,072
Com relação ao Fis, também não foi possível identificar a ocorrência
de endogamia nas três populações consideradas, sendo que o valor calculado
para essa estatística foi de 0,013, com intervalo de confiança de -0,020 a
0,045.
Resultados 46
5. Comparações entre a Distribuição Gênica e Genotípica
Todas as populações, quando comparadas par a par, mostraram-se
estatisticamente diferentes quanto à distribuição gênica e genotípica dos
marcadores genéticos quando todos os loci foram considerados em conjunto (p
<<< 0,05). Quando os marcadores foram considerados um a um, o locus DRD2
apresentou diferenças significativas entre a distribuição gênica e genotípica
para todas as comparações realizadas par a par.
Quando as populações foram consideradas em conjunto, foi observada
diferença altamente significativa (p <<< 0,05) entre as populações. Apesar
disso, as inserções Alu D1, ECA, Sb19.3 e TPA e os SNPs LPL e OCA2 não
apresentaram diferenças quanto às freqüência alélica ou genotípica (p-valor >
0,05).
A comparação das freqüências gênicas e genotípicas entre as
populações nativas dos remanescentes de quilombos e os imigrantes em cada
população apontou semelhanças em todas as comparações (p-valor > 0,27
para todos os casos).
6. Estrutura da População e Afiliação Genética Individual
As Figuras 3 e 4 indicam a estrutura de Mocambo, Rio das Rãs e
Sacutiaba e associam a ancestralidade genética de seus indivíduos (imigrantes
e nativos) às populações parentais. Os indivíduos de Mocambo e Sacutiaba
apresentaram-se bastante homogêneos quanto à proporção de contribuição
das três parentais, ao contrário dos indivíduos de Rio das Rãs, os quais
apresentaram, no geral, maior contribuição individual africana e bastante
heterogeneidade com relação às proporções das três parentais (Figura 3).
Nesta população, os indivíduos também se agruparam mais próximos aos da
parental africana, conforme indicado no gráfico correspondente na Figura 4. Já
nos gráficos correspondentes às demais populações, os indivíduos amostrados
nos remanescentes de quilombos ocuparam posição central em relação aos
indivíduos nativos de populações parentais.
Resultados 47
O aumento do número de marcadores nas análises (Figura 5) não gerou
mudanças substanciais quanto à diferença entre nativos e imigrantes. Apesar
disso, gerou maior concentração dos indivíduos, apontando maiores
semelhanças genéticas entre eles.
Figura 3: Contribuição genética individual estimada com o uso de nove
marcadores genéticos em três remanescentes de quilombos
brasileiros em relação às suas parentais.
Resultados 48
Figura 4: Estrutura populacional de três remanescentes de quilombos
brasileiros baseada em nove marcadores genéticos e a afiliação
genética de seus indivíduos às parentais Africana, Ameríndia e
Européia.
Figura 5: Estrutura de três populações remanescentes de quilombos brasileiros
com base em 16 marcadores genéticos.
Resultados 49
7. Mistura Genética
A Tabela 17 apresenta as estimativas de contribuição genética, de
acordo com o modelo trí-hibrido, nos três remanescentes de quilombos. A
contribuição africana foi predominante nas três populações analisadas.
Mocambo foi a população com maior contribuição genética ameríndia e
Sacutiaba foi a que apresenta a maior contribuição européia. Quando os
imigrantes foram excluídos da amostra o quadro geral permaneceu o mesmo,
sendo que as maiores diferenças observadas entre o grupo de nativos e
migrantes foi quanto à contribuição européia em Mocambo e Rio das Rãs. O
grupo de nativos em Mocambo apresentou menor contribuição européia do que
o grupo como um todo, sendo que o quadro foi o oposto em Rio das Rãs e
Sacutiaba. A alteração percentual nos demais grupos parentais foi menos
impactante.
Tabela 17: Proporções (%) de mistura genética em três remanescentes de
quilombos considerando o total da suas populações e a parcela de
nativos.
Mocambo Rio das Rãs Sacutiaba
Total Nativos Total Nativos Total Nativos
Africana
52,2 58,6 65,5 57,2 64,3 61,8
Ameríndia
26,6 28,2 20,7 21,2 9,3 10,5
Européia
22,2 13,5 13,8 21,6 26,4 27,7
R-square
0,978 0,989 0,998 0,991 0,999 0,999
8. Análises Comparativas de Distância
Nas Figuras 6 e 8 estão apresentadas as matrizes de distância genética
obtidas no presente trabalho, enquanto que nas Figuras 7 e 9 estão
representados os gráficos relativos aos dois primeiros componentes principais
gerados a partir das análises dessas matrizes.
Resultados 50
Com relação aos dois primeiros gráficos (Figuras 6 e 7) a menor
distância foi observadas entre Rio das Rãs e Sacutiaba. Além disso, os três
remanescentes de quilombos considerados nessa análise apresentaram
distâncias semelhantes às parentais, sendo que a parental africana é a que se
aproxima mais de Rio das Rãs, a ameríndia e européia, de Mocambo.
Nas figuras 8 e 9, as maiores distâncias foram observadas entre as
parentais, que se situaram nos extremos do gráfico de coordenadas principais.
As demais populações se posicionaram na região central do gráfico, tendo sido
possível identificar um agrupamento central que incluiu a maioria das
populações analisadas, com exceção de Barra, que apresentou grande
proximidade à parental africana e o Distrito Federal, que apresentou grande
semelhança à parental Européia.
Nos gráficos de componentes principais, pelo menos 94% da variação
encontrada pôde ser explicada com a utilização dos dois eixos representados
nas figuras.
Resultados 51
MOC RIO SAC AFR AME
RIO
0,0452
SAC
0,0557 0,0355
AFR
0,1803 0,1678 0,1850
AMER
0,2857 0,3287 0,3575 0,5561
EUR
0,2097 0,2338 0,2547 0,4737 0,2303
Figura 6: Matriz de distância genética entre os três remanescentes de
quilombos em análise (MOC, RIO, SAC), as parentais (AFR, AME,
EUR) com relação à distribuição alélica de 16 marcadores genéticos.
Dim-1
-0.27 -0.13 0.01 0.14 0.28
Dim-2
-0.11
-0.06
-0.01
0.04
0.09
MOC
RIO
SAC
AFR
AME
EUR
Figura 7: Componente principal gerado a partir da matriz de distância de
Reynolds entre as populações parentais (AFR, AME e EUR) e as
seguintes populações brasileiras: Mocambo (MOC), Rio das Rãs
(RIO) e Sacutiaba (SAC).
Resultados 52
MOC RIO SAC AFR AME EUR SAL SGO BAR VAL JEQ DF SAG
RIO
0,0184
SAC
0,0410 0,0412
AFR
0,1611 0,1152 0,2033
AME
0,2697 0,3755 0,3581 0,5379
EUR
0,1120 0,1587 0,1023 0,4131 0,3072
SAL
0,0084 0,0099 0,0199 0,1348 0,3192 0,1289
SGO
0,0532 0,0405 0,0498 0,0850 0,3918 0,2181 0,0313
BAR
0,1554 0,1219 0,2271 0,0143 0,5127 0,4132 0,1440 0,1048
VAL
0,0608 0,0972 0,1305 0,2196 0,2991 0,2303 0,0743 0,1357 0,2063
JEQ
0,0398 0,0715 0,0631 0,1570 0,2628 0,1751 0,0400 0,0317 0,1569 0,1020
DF
0,0370 0,0787 0,0460 0,2951 0,2403 0,0260 0,0509 0,1211 0,2945 0,1258 0,0816
SAG
0,0356 0,0897 0,0968 0,2097 0,1942 0,1671 0,0559 0,0859 0,1934 0,0498 0,0254 0,0731
STI
0,0569 0,0782 0,1419 0,1297 0,3162 0,2699 0,0674 0,1020 0,1083 0,0285 0,0834 0,1553 0,0542
Figura 8: : Matriz de distância genética entre as populações em análise (MOC, RIO, SAC), as parentais (AFR, AME, EUR) e outras
populações brasileiras urbanas (SAL, JEQ, DF) e remanescentes de quilombos (SGO, BAR, VAL, SAG) baseada na
distribuição alélica de cinco marcadores genéticos (AT3, APO, Sb19.3, PV92 e LPL).
Resultados 53
Dim-1
-0.23 -0.09 0.04 0.1 7 0.30
Dim-2
-0.12
-0.05
0.02
0.09
0.16
MOC
RIO
SAC
AFR
AME
EUR
SAL
SGO
BAR
VAL
JEQ
DF
SAG
STI
Figura 9: Componente principal gerado a partir de uma matriz de distância de Reynolds entre as populações parentais (AFR, AME
e EUR), remanescentes de quilombos (MOC, RIO, SAC, SGO, BAR, VAL, STI E SAG) e populações urbanas brasileiras
(JEQ, SAL e DF).
Resultados 54
9. Impacto da Imigração Recente sobre o Desequilíbrio de Ligação
Na Tabela 18, constam os pares de marcadores que apresentaram o p-
valor para a análise de desequilíbrio de ligação menor que 0,05. Essa análise
indicou desequilíbrio de ligação (DL) entre 10, 11 e 3 loci em Mocambo, Rio
das Rãs e Sacutiaba, respectivamente, quando considerado o nível de
significância igual a 5%. A exclusão de imigrantes das análises diminuiu o
número de pares em DL nas populações de Rio das Rãs e Sacutiaba. Apesar
disso, houve mudança nos pares de marcadores em DL entre uma estimativa e
outra, não havendo, no entanto, um padrão identificável (Tabela 19). Após
correção de Bonferroni, com novo nível de significância definido como 0,0004,
não foi identificado DL entre qualquer par.
Quando analisados separadamente, os SNPs DRD2-A e DRD2-B,
distantes a aproximadamente 25,5Kb, apresentaram valores significativos
(p<0,05) para todas as populações. Apesar de não ter sido indicado DL entre
algum desses SNPs e o DRD2-D, este se localiza entre os outros dois SNPs
que compõem o haplótipo DRD2/TaqI(Figura 2).
Resultados 55
Tabela 18: Pares de marcadores em desequilíbrio de ligação (p<0,5) na população total de Mocambo, Rio das Rãs e Sacutiaba.
População Mocambo Rio das Rãs Sacutiaba
Par em DL P valor Par em DL P valor Par em DL P valor
GC LPL 0,00154 FY-NULL AT3 0,0016 APO DRD2 0,01109
APO CRH 0,00162 SB19.3 RB2300 0,00202 LPL CRH 0,02764
GC APO 0,00921 LPL FY-NULL 0,01178 D1 AT3 0,03483
LPL OCA2 0,01202 OCA2 CYP3A4 0,02141
AT3 CRH 0,02342 GC CYP3A4 0,02961
LPL FY-NULL 0,02454 TPA-25 OCA2 0,02962
GC PV-92 0,02892 FXIIIB DRD2 0,03308
OCA2 DRD2 0,03384 TPA-25 CYP3A4 0,03517
SB19.3 CYP3A4 0,03605 SB19.3 FXIIIB 0,0374
GC CRH 0,0434 SB19.3 CYP3A4 0,03889
SB19.3 FY-NULL 0,04031
Pares em DL
8% 9% 2%
Resultados 56
Tabela 19: Pares de marcadores em desequilíbrio de ligação (p<0,5) na população de Mocambo, Rio das Rãs e Sacutiaba,
considerando exclusivamente os nativos.
População Mocambo Rio das Rãs Sacutiaba
Par em DL P valor Par em DL P valor Par em DL P valor
APO CRH 0,00088 APO OCA2 0,0078 APO DRD2 0,02824
GC LPL 0,00385 FY-NULL AT3 0,01432 SB19.3 RB2300 0,0529
LPL OCA2 0,01508 GC CRH 0,01476
LPL DRD2 0,01576 PV-92 TPA-25 0,0171
GC PV-92 0,01745 RB2300 DRD2 0,01833
AT3 CRH 0,0209 SB19.3 FY-NULL 0,01927
FXIIIB D1 0,03535 SB19.3 RB2300 0,02366
GC APO 0,03634 LPL FY-NULL 0,03458
FXIIIB OCA2 0,03662
SB19.3 CYP3A4 0,04138
pares em DL
8% 7% 2%
Discussão 57
DISCUSSÃO
1. Caracterização dos Movimentos Demográficos Recentes
É possível que em algum tempo no passado, os quilombos brasileiros
tenham sido geneticamente isolados. Apesar de haver trocas entre essas
comunidades e os centros urbanos, alguns fatores como a resistência contra a
escravidão e as freqüentes investidas de grupos com ordens de busca a
escravos rebelados os obrigavam a viver em regiões de difícil acesso e
afastadas dos centros onde a elite colonial vivia. Dessa forma, pelo menos por
algum período, esse isolamento deve ter ocorrido. No entanto, é possível que
ocasionalmente houvesse influxo de ex-escravos rebelados, de mulheres
ameríndias seqüestradas e outras pessoas, o que dissolve, pelo menos em
parte, essa nítida barreira entre as comunidades afroderivadas e as demais
populações brasileiras.
Nos dias de hoje, a situação é bastante diferente. A dissolução quase
total dessa barreira fica evidente quando se analisa o influxo demográfico para
essas comunidades, revelada pela grande participação de imigrantes nas
populações de Mocambo, Rio das Rãs e Sacutiaba. As características desses
imigrantes apresentaram-se bastante peculiares e, em certo grau, comuns às
três comunidades estudadas.
Um dos padrões observados para esses remanescentes de quilombos
para a atual geração, por exemplo, foi a predominância de mulheres entre os
imigrantes. A dispersão preferencial de mulheres é observada em outras
populações humanas, principalmente naquelas sociedades em que a
agricultura está presente (Wilkins e Marlowe, 2006). Nas sociedades
agricultoras, a herança masculina de posses e terras é geralmente favorecida
em à feminina, o que leva as mulheres a se deslocarem para outros lugares
para contraírem o matrimônio (op. cit.). No presente trabalho, não foi avaliado
nenhum aspecto da emigração e, portanto, não é possível afirmar que nessas
comunidades as mulheres preferencialmente saiam de suas comunidades para
outras. Houve, no entanto, a possibilidade de observar maior influxo de
mulheres para essas populações. Esse fenômeno está, pelo menos em parte,
relacionado aos padrões de casamentos analisados, uma vez que há
Discussão 58
predomínio de casamentos patrilocais na presente geração em todas as
comunidades aqui consideradas (Tabela 9).
A imigração preferencial de mulheres, indicada tanto pela maior
quantidade dessas na parcela de imigrantes, quanto pela maior ocorrência de
casamentos patrilocais, pode estar relacionada à emigração masculina
comumente observada em sociedades camponesas do Brasil (Woortmann,
1990). No meio rural, é comum que os indivíduos, principalmente homens,
saiam de suas comunidades a procura de melhores condições de vida e, mais
especificamente, de trabalho. Essas pessoas muitas vezes retornam à sua
comunidade de origem quando atingem idade mais avançada (Op. cit.).
É possível que esse fenômeno também ocorra nas comunidades
remanescentes de quilombos rurais, conforme indicam os estudos de Novion
(2003) e Diniz (2008). Nesses estudos, foram construídas pirâmides etárias
para algumas populações remanescentes de quilombos brasileiras. Nas
pirâmides etárias de duas das comunidades analisadas no presente trabalho –
Mocambo e Rio das Rãs – e adicionalmente de outras duas – Itamoari e
Kalunga – foi encontrada uma lacuna no lado referente aos indivíduos do sexo
masculino com idade entre 20 e 29 anos. Soma-se a isso a predominância de
casamentos patrilocais relatada anteriormente.
Com base nessas duas observações, é possível concluir que, ao
emigrarem, esses homens se casem com mulheres de fora da comunidade e,
num momento posterior, voltem a morar no remanescente de quilombo de que
partiram trazendo sua esposa. Assim sendo, é possível que o motivo de haver
maior influxo de mulheres para os três remanescentes de quilombos em
análise aparentemente não está ligado à agricultura e acumulação de bens
(conforme indicado para outras populações rurais do Brasil em Woortmann,
1990), mas à contração de matrimônio fora das comunidades com posterior
retorno.
Além da contração de matrimônio, devem existir outros motivos para os
indivíduos imigrarem para os remanescentes de quilombos. Esses motivos
devem ser a razão para existirem casais compostos por dois membros
imigrantes nas populações analisadas, aos quais não se pode associar
Discussão 59
diretamente o matrimônio como principal causa da migração. Apesar disso, é
muito provável que o casamento seja a razão principal para haver imigração
aos remanescentes de quilombos. Essa proposta é baseada na observação
fato de que a proporção de casais de imigrantes na presente geração de
Mocambo, Rio das Rãs e Sacutiaba é menor do que a proporção de
casamentos exogâmicos (Tabela 9).
Esse comportamento foi um dos padrões observado para as populações
aqui analisadas, porém somente para a presente geração. Ao longo das
últimas três gerações, houve diminuição na freqüência de casamentos entre
imigrantes, aumento de casamentos exogâmicos, enquanto a proporção de
casamentos endogâmicos se manteve constante (Tabela 9). Esse padrão é
bastante claro em Mocambo e Rio das Rãs, as duas maiores comunidades
analisadas. Em Sacutiaba, apesar de haver certa constância nas proporções
dos tipos de casamentos ao longo do tempo, os casamentos entre imigrantes,
predominantes na geração P, diminuíram sua freqüência na geração seguinte,
não havendo alterações substanciais entre a geração F1 e F2.
Uma vez que a dinâmica de imigração para esses remanescentes de
quilombos aponta para a grande participação de imigrantes na formação
dessas populações, é importante avaliar o impacto que as migrações recentes
causam a essas populações. A maneira em que esse fluxo gênico altera a
estrutura e composição genética dessas populações depende de dois fatores: a
intensidade da imigração e as diferenças entre a população receptora e as
populações fonte do fluxo gênico.
2. Caracterização Genética e Impactos da Imigração Recente
As freqüências alélicas observadas se encontraram de acordo com o
esperado para populações miscigenadas, isto é, intermediárias às freqüências
das parentais, com exceção de dois marcadores – CRH e PV-92 – na
população de Sacutiaba (Tabelas 10 a 13). As freqüências extremas
observadas para ambos os sistemas podem estar relacionadas ao pequeno
Discussão 60
tamanho da população de Sacutiaba, o que aumenta a possibilidade de
variações randômicas devido à deriva genética.
O emprego do algoritmo EM, em suas diferentes versões, e do ELM não
altera as freqüências haplotípicas do DRD2 consideravelmente (dados não
apresentados), de maneira que o haplótipo *1, mais comum na África Sub-
Saariana, é o mais freqüente em todos os casos (Tabela 13). Os pequenos
desvios entre uma estimativa e outra se deve à inferência diferencial da fase
gamética em cada caso.
A respeito do índice de alterações nas freqüências alélicas em
decorrência da imigração (Δq), pode-se dizer que ele foi baixo em Mocambo e
Rio das Rãs (Tabelas 10 e 11). Esse índice leva em conta dois fatores: a
proporção de imigrantes na população e a diferença entre as populações
participantes do processo de fluxo gênico. Apesar de não se terem disponíveis
dados a respeito desse índice em outras populações humanas, é possível
afirmar que esses valores foram baixos, já que há grande homogeneidade
genética entre os três remanescentes de quilombos em análise e as suas
vizinhas, as populações fonte do fluxo gênico. A despeito da grande
semelhança entre Sacutiaba e as populações próximas, a proporção de
indivíduos imigrantes neste remanescente de quilombo foi grande (30%), de
modo que o impacto da imigração sobre as freqüências alélicas é mais elevado
do que nas demais (Tabela 12).
A não aderência ao EHW observada para os marcadores DRD2 e CRH
em Rio das Rãs é conseqüência do excesso e déficit de heterozigotos,
respectivamente. Entretanto, o valor de p calculado para a aderência ao EHW
no caso do das freqüências genotípicas do DRD2 foi muito próximo a 5%
(Tabela 13), indicando ser esse apenas um leve desvio do esperado no EHW.
Com relação ao CRH, o fluxo gênico ocasionado pela imigração na presente
geração pode ter sido responsável pela discrepância observada, uma vez que
a retirada dos imigrantes das análises possibilitou a adequação das
freqüências observadas às esperadas no EHW. Dessa forma, mesmo não
tendo sido encontrados dados na literatura sobre a distribuição gênica ou
genotípica desse marcador nas populações vizinhas de Rio das Rãs, é possível
Discussão 61
que elas apresentem distribuição genotípica diferenciada para o marcador em
questão.
Com exceção do proposto para o sistema CRH, o fluxo gênico parece
não ser suficiente para desviar as freqüências genotípicas de Mocambo, Rio
das Rãs e Sacutiaba do EHW. Em populações naturais, o baixo impacto do
fluxo gênico pode estar relacionado a dois fatores: a baixa intensidade do fluxo,
que não foi observado para essas populações, e a semelhança entre as
populações participantes do processo de migração. Visto que a intensidade do
fluxo gênico é considerável na atual geração, em especial em Sacutiaba, onde
os imigrantes constituíram cerca de um terço da população, é provável que a
semelhança entre as populações fontes do fluxo gênico e os remanescentes de
quilombos seja o principal motivo para não terem sido observados grandes
desvios com relação ao EHW.
3. Endogamia
A predominância de casamentos endogâmicos (endogamia local)
aparentemente não está ocasionando alterações genéticas na estrutura destas
populações, conforme indicado pelo f e Fis (endogamia de parentela).
Sacutiaba, mesmo apresentando uma pequena população, com cerca de 200
indivíduos, muitos deles com estreitos laços de parentesco, não apresentou
valor significativo para esses índices.
A ausência de indícios de endogamia também ocorre em Santiago do
Iguape, Santo Antônio do Guaporé e Barra, outros remanescentes de
quilombos brasileiros, apesar do relatado semi-isolamento e pequeno tamanho
populacional (Gontijo, 2008; Luizon, 2007). Já os remanescentes de quilombos
de Valongo (SC) e São Gonçalo (BA) apresentaram valores de significativos
para o coeficiente de endogamia, o que indicou haver endogamia nessas
populações (Luizon, 2007). Para essas duas comunidades foi sugerido que o
isolamento geográfico seja um dos fatores que acarretaram a endogamia
(Luizon, 2007).
Discussão 62
De acordo com o estimado para os coeficientes de endogamia, os níveis
de heterozigose esperados e observados para cada loci apresentaram-se
similares (Tabela 14). Esta constatação também indicou a possibilidade de não
estar ocorrendo casamentos preferenciais ou endogamia.
Adicionalmente, foi possível sugerir que a imigração na geração em
análise não introduziu variação suficiente para alterar os níveis de heterozigose
populacional, uma vez que as estimativas para a população total e a de nativos
foram semelhantes. Esse fenômeno pode estar ligado à semelhança entre as
populações analisadas e as suas vizinhas, em concordância com o indicado
nas análises anteriores.
4. Fluxo Gênico e o Processo de Homogeneização
Além das semelhanças apontadas pelas análises de distribuição
genotípica desses marcadores, outras análises indicaram que a população
fonte do fluxo gênico e os remanescentes de quilombos estudados devam ter
uma constituição genética semelhante. A diferenciação gênica e genotípica
entre as parcelas de nativos e a de imigrantes em cada população, por
exemplo, não apontou diferenças significativas entre elas. Adicionalmente, a
parcela de imigrantes não ocasionou estruturação genética perceptível nas três
populações analisadas (Figuras 4 e 5), sendo os imigrantes geneticamente
semelhantes aos nativos.
A imigração pode causar grandes variações nas freqüências alélicas em
um curto espaço de tempo. Para que isso aconteça, no entanto, é necessário
que as populações participantes desse processo sejam bastante distintas
geneticamente, premissa não observada em nenhum dos casos analisados.
Um outro fator associado ao fluxo gênico é a homogeneização das populações,
com a conseqüente diminuição da diversidade genética interpopulacional.
É possível que, durante os primeiros anos de existência das
comunidades de Mocambo, Rio das Rãs e Sacutiaba, houvesse diferenças
marcantes entre elas e as outras populações brasileiras, visto que a
participação de etnias geneticamente distintas se deu de forma heterogênea ao
Discussão 63
longo do território do país e que a presença africana deve ter sido a mais
importante numericamente no caso dos quilombos. Soma-se a isso o
isolamento causado pelo distanciamento geográfico e por outros fatores
culturais.
Nesse período, o impacto de cada novo indivíduo integrado à
comunidade deve ter sido considerável, especialmente considerando que o
tamanho da população possivelmente era menor na sua fundação. Com o
decorrer do tempo, após sucessivos eventos de fluxo gênico, os quilombos
devem ter se tornado cada vez mais semelhantes às populações vizinhas a tal
ponto que as diferenças observadas entre as parcelas de nativos e imigrantes
nas populações de Mocambo, Rio das Rãs e Sacutiaba, considerando a
diferenciação gênica e genotípica e a homogeneidade ilustrada no gráfico de
estrutura populacional, não são significativas.
Estimativas de mistura genética também indicaram haver grande
semelhança quanto à contribuição das populações parentais entre os três
remanescentes de quilombos em análise e duas populações urbanas da Bahia
– Salvador (dados de Machado, 2008) e Jequié (dados de Luizon, 2007).
Nessas duas populações urbanas a principal contribuição é africana, sendo de
49% em Salvador e 52% em Jequié, valores inferiores aos observados nos
remanescentes de quilombos. Já a população do Distrito Federal, que é
considerada como representativa da população brasileira, devido ao grande
influxo de pessoas oriundo de todas as regiões do país, apresenta contribuição
genética predominantemente (61%) européia (Godinho, 2008).
Essas semelhanças observadas entre os remanescentes de quilombos e
as cidades da Bahia e a diferença entre essas e a população do DF também
foram indicadas pelas matrizes de distância e análise do componente principal
(Figuras 6 a 9). Enquanto a população do Distrito Federal apresentou uma
posição intermediária às parentais, com maior proximidade da européia, os
remanescentes de quilombos e as duas populações do estado da Bahia
apresentaram menores distâncias à parental africana. A semelhança entre as
populações pode ser resultado do fluxo gênico entre elas, ocorrido ao longo de
Discussão 64
toda a história, o que pode estar levando à homogeneização, incluindo tanto
populações urbanas como rurais, desde que situadas mais proximamente.
De acordo com os dados aqui apresentados, há diferenças significativas
entre essas três populações com relação à freqüência gênica e genotípica dos
marcadores aqui empregados, mesmo havendo similaridade com relação ao
perfil populacional em termos de estimativas de contribuição das parentais. A
utilização do haplótipo DRD2/TaqI individualmente foi suficiente para
diferenciar as populações. Isso se deve, principalmente, a alta variabilidade
desse marcador, que pode apresentar oito haplótipos, apesar do nível de
heterozigose aqui observado não ser tão alto (Tabela 13). O sistema GC,
apesar de possuir três alelos, não foi eficaz na diferenciação populacional, pois
apresentou heterozigose baixa em decorrência da alta freqüência do alelo 1F
nas três amostras (Tabelas 10 a 12). Por outro lado, o sistema GC é muito
informativo com relação à ancestralidade, visto que a alta freqüência do alelo
1F é sinalizador de alta contribuição africana.
Várias características apontam para uma possível semelhança entre as
populações remanescentes de quilombos brasileiras, como, por exemplo, a
ancestralidade africana comum, a história demográfica semelhante, a data de
fundação e, para alguns casos, a distância de grandes centros urbanos. Apesar
disso, é comum encontrar diferenças significativas entre as populações
remanescentes de quilombos estudadas no que diz respeito à distribuição
gênica e genotípica de marcadores genéticos (Gontijo, 2008; Luizon, 2007), o
que pode estar relacionado à ação deriva genética, mais pronunciada em
populações pequenas e também às peculiaridades respectivas à história de
formação de cada comunidade.
Mocambo, Rio das Rãs e Sacutiaba, além de apresentarem várias
semelhanças históricas e culturais, estão localizadas em uma mesma região
geográfica, sendo que os municípios de Bom Jesus da Lapa, onde se localiza o
Rio das Rãs, e Wanderley, onde se localiza Sacutiaba, estão distantes 246 km
(distância calculada com a utilização do sítio <http://maps.google.com>).
Mesmo assim, as diferenças na distribuição gênica e genotípica entre essas
populações são bastante acentuadas. Como dito anteriormente, tais diferenças
Discussão 65
são decorrentes do isolamento a que essas populações estiveram submetidas
em algum tempo no passado e também do tamanho populacional, o que pode
causar alterações randômicas nas freqüências alélicas de alguns marcadores
devido à deriva genética.
De acordo com o esperado, a distância genética observada entre as
populações e a diferenciação populacional (Fst e diferenciação gênica e
genotípica) indicam maiores semelhanças entre Rio das Rãs e Sacutiaba.
Essas semelhanças devem estar associadas à proximidade geográfica dessas
duas populações.
A variação das freqüências alélicas (Δq) indicou maior influxo de alelos
característicos de populações européias e nativas americanas na população de
Mocambo, com conseqüente diminuição de alelos de alta freqüência na África.
De maneira inversa, o influxo de alelos comuns na África para Sacutiaba e Rio
das Rãs foi mais alto do que o de alelos comuns entre indivíduos europeus e
nativos americanos.
Em concordância com o Δq, as análises de mistura apontaram para um
incremento na contribuição européia, com diminuição da contribuição africana e
ameríndia na população de Mocambo. Já em Rio das Rãs e Sacutiaba o influxo
de alelos mais comuns na África apresentou-se em concordância com o
incremento na estimativa de contribuição africana e diminuição das demais
(Tabela 17). Apesar disso, não houve distinção clara quanto à afiliação
genética dos indivíduos imigrantes dos nativos, de acordo com as figuras 3 e 4,
nas quais os indivíduos se mostraram bastante homogêneos.
5. Formação Demográfica e Mistura Genética
Para o acesso a fenômenos antigos da história de populações humanas,
métodos de inferência indireta, como a genética, são necessários. A partir do
estudo da variação genética de populações contemporâneas, é possível
compreender aspectos da formação de grupos humanos e das mudanças
subseqüentes a que estes estiveram submetidos. Um exemplo disso é o que se
pode inferir do observado nas estimativas de contribuição genética aos
Discussão 66
remanescentes de quilombos de Mocambo, Rio das Rãs e Sacutiaba baseada
na distribuição alélica de 16 marcadores genéticos (Tabela 17). A composição
genética dessas populações indica ser grande a participação africana, em
especial em Rio das Rãs e Sacutiaba, populações que apresentam mais de
65% de contribuição dessa parental. Por outro lado, a contribuição ameríndia é
mais acentuada em Mocambo, em concordância com a sua longa história de
contato com a aldeia Xocó (Arruti, 2006), proximidade geográfica e trocas
demográficas recentes entre essas duas comunidades observadas nos
questionários. É esta a população que deve ter passado por um processo mais
complexo de miscigenação, com a participação mais acentuada de outras
etnias que não as africanas.
As estimativas de mistura concordaram em grande parte com as
estimativas de afiliação genética individual (Figuras 3 e 4) e com os gráficos de
distância genética (Figuras 6 a 9). Foi possível observar que os indivíduos de
Rio das Rãs se agruparam mais proximamente à parental africana (Figura 4),
além de apresentarem maiores proporções de contribuição genética africana
(Figura 3). Das três populações remanescentes de quilombos em análise, foi
essa que, no geral, apresentou menores distâncias à parental africana. As
estimativas de distância genética para Mocambo revelaram ser essa a
população mais próxima à parental Ameríndia. Sacutiaba foi a população que,
no geral, se aproximou mais da parental européia.
A participação de populações africanas, ameríndias e européias na
formação demográfica desses três remanescentes de quilombos não se deu
com a participação equitativa de homens e mulheres, como pôde ser
observado em estudos do material genético haplóide realizados anteriormente
com essas mesmas populações (Ferreira, 2006; Ribeiro, 2005). As análises de
haplogrupos do cromossomo Y (Ribeiro, 2005) apontam para a predominância
de homens de ancestralidade européia com relação a homens de
ancestralidade africana na formação de Mocambo e Sacutiaba, uma
participação equilibrada desses dois grupos parentais em Rio das Rãs e uma
mínima contribuição ameríndia comum a todas. Já a análise do DNAmt
(Ferreira, 2006) indica haver grande predominância de haplogrupos africanos,
Discussão 67
seguidos dos ameríndios, não tendo sido detectado qualquer haplogrupo
europeu nas amostras analisadas.
Esse panorama geral indicou terem sido os homens os principais
responsáveis pela inserção de alelos característicos de europeus e as
mulheres pela inserção de alelos ameríndios nessas populações, sendo que a
participação de ambos foi importante para a presença africana. A hipótese de
presença de homens europeus entre os fundadores é plausível, uma vez que
os relatos históricos apontam para a participação desse grupo na constituição
dos quilombos. Esses eram os principais responsáveis pelas trocas de
informações e de bens entre os centros urbanos e os quilombos (Reis e
Gomes, 1996). Da mesma forma, a presença de mulheres ameríndias, em
alguns casos integradas aos quilombos em decorrência de seqüestros (Ribeiro,
2006; Karash, 1996; Reis e Gomes, 1996), pode estar relacionada à presença
dessas na fundação dos quilombos. Apesar disso, o fenômeno observado pode
ser decorrente da presença de indivíduos miscigenados, filhos de pais
europeus, principalmente lusitanos, e mães escravas africanas e ameríndias.
Esses jovens normalmente encontravam rejeição ou não reconhecimento por
parte de seus pais (Ribeiro, 2006), sendo, por esse motivo, deixados com suas
mães ou tratados como escravos.
De maneira semelhante ao observado nos remanescentes de quilombos,
na genética da população brasileira é comum encontrar maior influência
européia na contribuição masculina (Carvalho-Silva et al., 2001). Esse
desequilíbrio entre as participações das etnias fundadoras com relação ao sexo
foi ocasionado pela emigração preferencial de homens portugueses, que
chegavam à América do Sul e se reproduziam com mulheres de outras etnias.
6. Fluxo Gênico e Desequilíbrio de Ligação
O desequilíbrio de ligação (DL) pode ser entendido como sendo a
estatística da ocorrência simultânea de dois alelos pertencentes a dois loci
distintos com freqüência maior do que a esperada por acaso (Pasternak, 2007)
ou simplesmente a associação alélica (Gabriel et al., 2002). Um dos fatores
Discussão 68
que gera DL é a ligação física entre os loci, o que é possível apenas para um
dos pares de marcadores utilizados, o AT3 e o Fy-Null, separados por uma
distância de 22cM (associação também observada em Pfaff et al., 2001). Além
da ligação física, a estruturação da população é uma possível causa de ligação
entre os marcadores observados. Porém, a aderência das freqüências
genotípicas observada para quase todos os marcadores ao EHW e a ausência
de estruturação populacional indicada na Figura 5 indicam não ser esse o
principal motivo. Uma terceira possibilidade para a ocorrência de DL entre loci
não ligados é a miscigenação. Esta, provavelmente, é a maior causa dos níveis
de DL observados.
A miscigenação entre duas ou mais populações pode causar associação
entre loci que apresentam freqüências alélicas bastante diferentes entre as
populações parentais, em especial entre marcadores com alelos específicos de
população, como é o caso do Fy-Null. Os níveis de DL, no entanto, devem
decrescer ao longo do tempo, na medida em que a população miscigenada se
torna mais semelhante às populações parentais ou se torna mais homogênea
(Pfaff et al., 2001; Chakraborty e Weiss, 1988)
Dois modelos descrevem a dinâmica de miscigenação e decréscimo nas
estimativas de DL em populações humanas, para os quais modelos
matemáticos foram elaborados a fim de se prever a taxa de decréscimo da
ligação (Pfaff et al., 2001). O primeiro deles é o modelo de hibridação seguida
de isolamento ou HI, para o qual a mistura ocorre em uma única geração e é
seguida por recorrentes eventos de recombinação e deriva. O segundo modelo
é o de fluxo gênico contínuo
ou FGC, que prevê a ocorrência de miscigenação
ao longo de várias gerações a uma taxa constante. Para ambos os modelos foi
gerado um gráfico (Pfaff et al., 2001) que descreve a dinâmica do DL entre loci
fisicamente ligados e não ligados ao longo das gerações sem utilização da
correção de Bonferroni (Figura 10).
Após pouco mais de cinco gerações não é mais observado DL entre loci
fisicamente não ligados de acordo com o HI (Figura 10). A idade de Mocambo,
Rio das Rãs e Sacutiaba deve ser cerca de 200 anos (Arruti, 2006; Brasileiro e
Sampaio, 2002) e, considerando um tempo de geração de 25 anos (com base
Discussão 69
em Novion, 2003), pode-se dizer que, caso o modelo HI fosse o mais provável
para essas populações, não deveria se observar DL entre os marcadores. Os
níveis de DL observados para Mocambo, Rio das Rãs e Sacutiaba vão de 2 a
9%, com nível de significância de 5% (sem correção de Bonferroni), indicando
ser o FGC o modelo mais indicado para esses remanescentes de quilombos.
Além disso, o grande número de imigrantes observado na presente geração
desses remanescentes de quilombos contrapõe o esperado pelo modelo HI,
ficando evidente que as populações de Mocambo, Rio das Rãs e Sacutiaba
não estão isoladas, mas sob influência constante do fluxo gênico ocasionado
pela imigração de indivíduos para suas comunidades.
Nas estimativas de distância genética, a população de Rio das Rãs, no
geral, foi a que mais se diferenciou das populações urbanas (Distrito Federal,
Salvador e Jequié). É essa a população que apresentou maior número de
pares de loci em DL. Já as demais populações, apesar de terem apresentado
distância genética com relação às populações urbanas semelhantes, Mocambo
apresentou um quadro de mistura mais complexo, com participação mais
acentuada de outras parentais que não a africana (Tabela 17). É possível que
esses dois fatores estejam influenciando os altos níveis de DL encontrados em
Mocambo e Rio das Rãs.
Apesar de causar uma pequena diminuição na proporção de loci em DL
em Rio das Rãs e Sacutiaba, a retirada dos imigrantes das análises não foi
suficiente para a exclusão de todos os indivíduos com mistura recente. Tal
medida poderia ser capaz de diminuir o desequilíbrio entre loci não ligados
(Pfaff et al., 2001). A exclusão de alguns pares em DL decorrente da
desconsideração dos imigrantes recentes era esperada, porém, foi indicado
haver DL entre novos pares de loci, que não constavam na estimativa realizada
com a população total, não havendo, contudo, razão aparente para esse fato.
Discussão 70
Figura 10: Proporção de loci em desequilíbrio de ligação (DL) esperada a partir
da utilização dos modelos HI e FGC para loci não ligados e para loci
ligados a 5cM. Figura modificada de Pfaff et al. (2001).
Conclusão 71
CONCLUSÃO
Com base na análise genética e demográfica das populações
remanescentes de quilombos de Mocambo, Rio das Rãs e Sacutiaba, é
possível concluir que:
- Existe um padrão demográfico para as três populações analisadas,
com participação marcante de imigrantes oriundos de regiões próximas, sendo
esses em sua maioria mulheres;
- Os casamentos ocorrem na maioria das vezes entre indivíduos da
mesma comunidade, sendo que os casamentos exogâmicos são em sua
maioria patrilocais;
- O casamento deve ser a principal causa da imigração direcionada a
esses remanescentes de quilombos;
- Não há indícios de isolamento em qualquer das três populações em
análise;
- Não há diferenciação genética pronunciada entre as parcelas de
imigrantes e nativos dessas populações;
- O impacto do fluxo gênico sobre a composição e estrutura das
populações foi baixo, o que deve estar relacionado à homogeneização entre
essas populações e as suas vizinhas;
- Apesar da homogeneização em processo, o fluxo gênico não foi
suficientemente intenso a ponto de torná-las homogêneas entre si ou à
população do DF;
- A contribuição africana é alta, de acordo com a história conhecida.
Apesar disso, houve presença de pessoas de outras origens, sendo que os
homens foram os principais responsáveis pelo influxo de alelos característicos
de europeus e as mulheres, de ameríndios;
Conclusão 72
- Mocambo apresentou o quadro mais complexo de mistura e leve
estruturação, o que deve ter aumentado a proporção de loci em DL. Essa
complexidade pode estar relacionada ao contato há muito tempo com os Xocó.
ConsideraçõesFinais 73
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A abrangência de estudos como este permitirá a verificação da
possibilidade de atribuição dessas características aos remanescentes de
quilombos, de maneira a possibilitar uma generalização e a modelagem dos
comportamentos matrimoniais em populações afro-descendentes rurais no
Brasil. Além disso, emprego de marcadores genéticos associados à dinâmica
demográfica das populações pode oferecer novas perspectivas para o estudo
da história da espécie humana. A associação dos padrões de imigração com a
estrutura e composição genética pôde esclarecer certos aspectos da formação
e história das comunidades analisadas. É possível que o emprego de
marcadores uniparentais dentro dessa mesma perspectiva revele novos
aspectos de suas histórias demográficas.
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A
nexoA 83
ANEXO A – Freqüências alélicas dos marcadores moleculares bialélicos e do GC em cada população
considerada para o cálculo da média aritmética representativa das parentais.
Marcador Freqüência População Continente Referência
APO*1
0,441 Nigéria e República Centro-Africana
África
Parra et al., 1998
0,500 Nigéria Batzer et al., 1994
0,490 São Tomé Tomás et al, 2002
0,997 Tikúna
América
Luizon et al, 2008
1,000 Kashinawa Luizon et al, 2008
0,989 Baníwa Luizon et al, 2008
1,000 Kanamarí Luizon et al, 2008
1,000 Quéchua Batzer et al., 1994
0,927 Inglaterra, Irlanda e Alemanha
Europa
Parra et al., 1998
0,985 Espanha - Andaluzia Comas et al., 2000
0,983 Espanha - Cataluña Comas et al., 2000
0,989 França Bazter et al., 1996
0,960 Portugal Tomás et al, 2002
D1*1
0,000 Nigéria África Bazter et al., 1996
0,417 Baníwa
América
Oliveira, 1999
0,650 Kashinawa Oliveira, 1999
0,606 Kanamarí Oliveira, 1999
0,502 Tikúna Oliveira, 1999
0,306 Espanha - Andaluzia
Europa
Comas et al., 2000
0,350 Espanha - Cataluña Comas et al., 2000
A
nexoA 84
Marcador Freqüência População Continente Referência
D1*1 0,455 França Europa Batzer et al., 1994
ECA*1
0,273 Nigéria
África
ALFRED, 2008
0,273 Nigéria Batzer et al., 1994
0,349 Yorubá ALFRED, 2008
0,930 Gavião
América
ALFRED, 2008
0,773 Quéchua ALFRED, 2008
0,730 Quéchua ALFRED, 2008
0,700 Quéchua Batzer et al., 1994
0,978 Surui ALFRED, 2008
0,870 Surui ALFRED, 2008
0,806 Ticuna ALFRED, 2008
0,980 Way-Way ALFRED, 2008
0,960 Zoró ALFRED, 2008
0,469 caucasiano
Europa
Batzer et al., 1994
0,410 Espanha ALFRED, 2008
0,346 Espanha - Galícia ALFRED, 2008
0,407 Espanha - Galícia ALFRED, 2008
0,429 Espanha - Galícia ALFRED, 2008
0,477 França Bazter 1996
0,477 França Batzer et al., 1996
0,342 Itália ALFRED, 2008
0,367 Portugal ALFRED, 2008
FXIIIB*1
0,083 Nigéria África Batzer et al., 1994
0,935 Baníwa
América
Oliveira, 1999
0,879 Kashinawa Oliveira, 1999
A
nexoA 85
Marcador Freqüência População Continente Referência
FXIIIB*1
0,985 Kanamarí
América
Oliveira, 1999
0,962 Tikúna Oliveira, 1999
1,000 Gavião ALFRED, 2008
1,000 Suruí ALFRED, 2008
0,870 Wai-Wai ALFRED, 2008
1,000 Xavante ALFRED, 2008
1,000 Zoró ALFRED, 2008
0,448 Espanha - Andaluzia
Europa
Comas et al., 2000
0,500 Espanha - Cataluña Comas et al., 2000
0,375 Espanha - Galícia ALFRED, 2008
0,423 Espanha - Galícia ALFRED, 2008
0,306 Espanha - Galícia ALFRED, 2008
0,453 Espanha - Galícia ALFRED, 2008
0,411 Espanha - Galícia ALFRED, 2008
0,420 França Batzer et al., 1994
PV-92*1
0,225 Nigéria, Serra Leoa e República Centro-Africana
África
Shriver et al., 2003
0,203 Nigéria, Serra Leoa e República Centro-Africana Martinez-Marignac et al., 2004
0,792 Nativos Americanos
América
Shriver at al., 2003
0,953 Tikúna Luizon et al, 2008
0,833 Kashinawa Luizon et al, 2008
0,848 Baníwa Luizon et al, 2008
0,914 Kanamarí Luizon et al, 2008
0,875 Quéchua Batzer et al., 1994
0,171 Espanhol
Europa
Bonilla et al., 2004
0,152 Alemanha e Espanha Shriver et al., 2003
A
nexoA 86
Marcador Freqüência População Continente Referência
PV-92*1
0,141 caucasiano
Europa
Batzer 1994
0,194 Espanha - Andaluzia Comas et al., 2000
0,175 Espanha - Cataluña Comas et al., 2000
0,227 França Bazter et al., 1996
Sb19.3*1
0,425 Nigéria e República Centro-Africana
África
Parra et al., 1998
0,410 Nigéria, Serra Leoa e República Centro-Africana Parra et al., 2001
0,737 Tikúna
América
Luizon et al, 2008
0,893 Kashinawa Luizon et al, 2008
0,700 Baníwa Luizon et al, 2008
0,409 Kanamarí Luizon et al, 2008
0,689 Nativos Americanos NCBI, 2008
0,910 Irlanda, Inglaterra e Alemanha
Europa
Parra et al., 2001
0,923 Espanha NCBI, 2008
0,930 Portugal Tomás et al, 2002
TPA*1
0,409 Nigéria África Batzer et al., 1994
0,675 Quéchua América Batzer et al., 1994
0,641 caucasiano
Europa
Batzer et al., 1994
0,590 Espanha – Andaluzia Comas et al., 2000
0,608 Espanha – Catalunha Comas et al., 2000
0,568 Espanha – País Basco Comas et al., 2000
0,557 França Bazter et al., 1996
0,557 França Batzer et al., 1996
AT3*1
0,858 Nigéria, Serra Leoa e República Centro-Africana
África
Shriver et al., 2003
0,874 Nigéria e República Centro-Africana Parra et al., 1998
0,820 São Tomé Tomás et al, 2002
A
nexoA 87
Marcador Freqüência População Continente Referência
AT3*1
0,061 Nativos Americanos
América
Shriver et al., 2003
0,048 Tikúna Luizon et al, 2008
0,050 Kashinawa Luizon et al, 2008
0,033 Baníwa Luizon et al, 2008
0,045 Kanamarí Luizon et al, 2008
0,282 Inglaterra, Irlanda, Espanha e Alemanha
Europa
Shriver et al., 2003
0,279 Inglaterra, Irlanda e Alemanha Parra et al., 1998
0,240 Portugal Tomás et al, 2002
Fy-Null*1
0,001 Nigéria, Serra Leoa e República Centro-Africana
África
Bonilla et al., 2004
0,001 Nigéria, Serra Leoa e República Centro-Africana Parra et al., 2001
0,001 Nigéria, Serra Leoa e República Centro-Africana Shriver et al., 2003
0,100 São Tomé Tomás et al, 2002
1,000 Nativos Americanos
América
Shriver et al., 2003
0,996 Tikúna Luizon et al, 2008
1,000 Kashinawa Luizon et al, 2008
1,000 Baníwa Luizon et al, 2008
1,000 Kanamarí Luizon et al, 2008
0,999 Espanha
Europa
Bonilla et al., 2004
1,000 Inglaterra, Irlanda e Alemanha Parra et al., 1998
0,998 Inglaterra, Irlanda, Espanha e Alemanha Shriver et al., 2003
0,970 Portugal Tomás et al, 2002
GC*1F
0,841 Nigéria, Serra Leoa e República Centro-Africana
África
Parra et al., 2001
0,853 Nigéria, Serra Leoa e República Centro-Africana Bonilla et al., 2004
0,780 São Tomé Tomás et al, 2002
0,339 Maia, Ceyenne, Pima e Pueblo América Bonilla et al., 2004
A
nexoA 88
Marcador Freqüência População Continente Referência
GC*1F
0,156 Inglaterra, Irlanda e Alemanha
Europa
Parra et al., 1998
0,140 Portugal Tomás et al, 2002
GC*1S
0,069 Nigéria, Serra Leoa e República Centro-Africana
África
Parra et al., 2001
0,140 São Tomé Tomás et al, 2002
0,542 Maia, Ceyenne, Pima e Pueblo América Bonilla et al., 2004
0,607 Inglaterra, Irlanda e Alemanha
Europa
Parra et al., 1998
0,570 Portugal Tomás et al, 2002
LPL*1
0,973 Nigéria e República Centro-Africana
África
Parra et al., 1998
0,971 Nigéria e República Centro-Africana Bonilla et al., 2004
0,961 Nigéria NCBI, 2008
0,966 Serra Leoa NCBI, 2008
0,522 Tikúna
América
Luizon et al, 2008
0,204 Kashinawa Luizon et al, 2008
0,489 Baníwa Luizon et al, 2008
0,600 Kanamarí Luizon et al, 2008
0,486 Inglaterra, Irlanda e Alemanha
Europa
Parra et al., 1998
0,492 Espanha Bonilla et al., 2004
0,494 Espanha NCBI, 2008
OCA2*1
0,112 Nigéria, Serra Leoa e República Centro-Africana
África
Parra et al., 2001
0,115 Nigéria, Serra Leoa e República Centro-Africana Shriver et al., 2003
0,098 Nigéria e República Centro-Africana Parra et al., 1998
0,170 São Tomé Tomás et al, 2002
0,488 Nativos Americanos América Shriver et al., 2003
0,746 Inglaterra, Irlanda, Espanha e Alemanha
Europa
Shriver et al., 2003
0,769 Inglaterra, Irlanda e Alemanha Parra et al., 1998
A
nexoA 89
Marcador Freqüência População Continente Referência
OCA2*1
0,769 Inglaterra, Irlanda e Alemanha
Europa
Parra et al., 2001
0,770 Portugal Tomás et al, 2002
RB2300*1
0,920 Nigéria e República Centro-Africana
África
Parra et al., 1998
0,840 São Tomé Tomás et al, 2002
0,070 Tikúna
América
Luizon et al, 2008
0,066 Kashinawa Luizon et al, 2008
0,152 Baníwa Luizon et al, 2008
0,288 Kanamarí Luizon et al, 2008
0,333 Inglaterra, Irlanda e Alemanha
Europa
Parra et al., 1998
0,310 Portugal Tomás et al, 2002
A
nexoB 90
ANEXO B – Freqüências dos haplótipos DRD2/TaqI em cada população considerada para o cálculo da média
aritmética representativa das parentais. Fonte: sítio ALFRED – Allelic Frequencies Database.
Freqüência Haplotípica População Continente
*1 *2 *3 *4 *5 *6 *7 *8
0,544 0,225 0,066 0,065 -- 0,091 -- 0,009 0,544 Tsonga
África
0,499 0,146 -- 0,079 0,106 0,144 0,026 -- 0,499 Hausa
0,533 0,201 0,084 0,076 -- 0,106 -- -- 0,533 Ibo
0,464 0,229 0,054 0,099 0,008 0,146 -- -- 0,464 Yoruba
0,462 0,169 0,115 0,065 -- 0,189 -- -- 0,462 Chagga
0,381 0,010 -- -- 0,028 0,581 -- -- 0,381 Karitiana
América 0,313 0,011 0,027 -- 0,097 0,536 -- 0,016 0,313 Surui
0,334 0,033 0,074 0,096 0,016 0,415 0,016 0,016 0,334 Ticuna
0,183 0,013 0,617 0,015 0,011 0,153 -- 0,007 0,183 Europeus Europa
A
nexo
C
91
ANEXO C – Protocolo de Extração de DNA com utilização do kit
Illustra Blood™ da GE-Healthcare™. Tradução livre da sessão
correspondente à extração de DNA do manual do fabricante com
modificações
Lise de Células Sanguíneas
a. Adicionar 20 μl da Solução de Proteinase K (oferecida pelo
fabricante) no fundo de um microtubo com capacidade de 1,5 ml
b. Adicionar 200 μl de sangue.
c. Adicionar Solução de Lise (oferecida pelo fabricante) ao tubo.
d. Agitar a solução com auxílio de vórtex por aproximadamente 10
minutos, até que a solução mude de vermelho para marrom escuro.
e. Centrifugar por 30 segundos.
Separação da Porção de Proteínas
a. Após lise das células sanguíneas, adicionar com uma pipeta cerca de
640 μl do conteúdo do tubo ao centro de uma coluna de extração,
oferecida pelo fabricante.
b. Fechar o tubo e centrifugar por um minuto a 11000 rpm.
c. Recolher o conteúdo contido na coluna de extração para lavagem e
descartar o conteúdo do tubo coletor.
Primeira Lavagem
a. Adicionar 500 μl da Solução de Lise à coluna e centrifuar a 11000
rpm por um minuto.
b. Descartar o conteúdo do tubo coletor após centrifugação.
Segunda Lavagem
a. Adicionar Tampão de Lavagem (oferecido pelo fabricante) à coluna e
centrifugar a 11000 rpm por três minutos.
b. Descartar o conteúdo do tubo coletor após centrifugação.
Eluição
a. Transferir a coluna de extração para um microtubo limpo.
b. Adicionar ao centro da coluna 200 μl de Tampão de Eluição
(oferecido pelo fabricante) aquecido a 70ºC .
c. Incubar os tubos em temperatura ambiente por cerca de um minuto.
d. Centrifugar os tubos a 11000 rpm por um minuto.
A
nexoD 92
ANEXO D – Procedimentos para Realização da Eletroforese Vertical
Soluções Utilizadas para Montagem do Suporte Sólido e Corrida
a. Solução de Acrilamida: acrilamida a 29% e bis-acrilamida a 1%.
b. Solução de Gel: utilizada nas concentrações de 10% (marcador
DRD2) e 6% (demais sistemas). Composição da solução descrita na
tabela deste anexo.
c. Tampão de corrida com corante bromofenol (Dye Solution).
d. Tampão TBE 10x: 108,0 g de TRIS; 55,0 g de Ac. Bórico; 9,3 g de
EDTA e 1L de água destilada.
e. N,N,N’,N’, tetrametiletilenodiamina (TEMED)
f. Persulfato de potássio (APS) a 0,1%
Tabela D1 – Reagente e respectivas concentrações utilizadas na confecção do
suporte sólido da eletroforese vertical.
Reagentes Unidade
Concentração do Gel
6% 10%
Solução de acrilamida
ml 4 6
Glicerol
ml 1,4 1,4
Água
ml 12,4 9,6
TBE 10X
ml 2 2
TEMED
μL 15 15
APS
μL 300 300
Volume Final
ml 20 20
Procedimento para Montagem do Suporte Sólido
O suporte sólido foi montado em placas de vidro com espaçadores de
plástico e prendidas com grampos de aço. Cerca de 25 ml da solução de gel
foram utilizados para a construção do suporte sólido nas placas montadas, aos
quais foram adicionados 15 μl de TEMED e 300 μl de APS.
Quando o suporte sólido estava polimerizado, após cerca de 30 minutos,
A
nexoD 93
as placas foram montadas nas cubas para eletroforese vertical. À cuba de
eletroforese, foi adicionada solução de TBE 1x, prepara pela diluição de
solução estoque de TBE 10x.
Após a montagem das placas na cuba, a voltagem da eletroforese foi
programada para 50 volts durante os primeiros 10 minutos, para que então
fosse aumentada para a voltagem relatada na sessão “material e métodos” do
presente trabalho.
Soluções utilizadas para Coloração do Gel
a. Solução Fixadora: 50 ml de água destilada; 144 ml de Álcool Etílico;
6,0 ml de Ácido Acético.
b. Solução Reveladora: 22,5 g de NaOH; Completar para 1L de H2O
destilada.
c. Solução de prata a 10%
Procedimentos da Coloração
O suporte sólido foi retirado das placas de vidro e colocado em 200mL
de solução fixadora. Em seguida, foi acrescentado 1mL de nitrato de prata,
mantendo o recipiente em agitação por 10 minutos. O gel foi então lavado com
água destilada e mergulhado em 200 ml de solução reveladora previamente
aquecida com 1mL de formaldeído até que as bandas se tornassem visíveis.
A
nexo
E
94
ANEXO E – Aprovação do Comitê de Ética na Pesquisa da
Faculdade de Saúde da Universidade de Brasília de acordo com os
preceitos da Comissão Nacional de Ética na Pesquisa.
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