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(...) as práticas de formação continuada têm se configurado predominantemente em eventos
pontuais – cursos, oficinas, seminários e palestras -, que, de modo geral, não correspondem às
necessidades pedagógicas mais imediatas dos professores e nem sempre se constituem num
programa articulado e planejado como tal. (p.41)
As críticas apontadas neste documento não se aplicam, assim, à formação inicial e continuada
como tal, mas ao modelo em que se baseiam esses processos de ensino e aprendizagem de
professores. (p.42) Algumas características deste modelo (p.42-43) E, em relação
especificamente à formação continuada
, as características mais comuns são as que seguem: -
cada nova política, projeto ou programa parte da “estaca zero”, desconsiderando a experiência e
o conhecimento já acumulados; - não são consideradas outras dimensões do exercício
profissional, como o contexto institucional onde ele ocorre, condições de trabalho, recursos
disponíveis, carreira e salário: a formação é tomada isoladamente; - é tida como apropriada
fundamentalmente para professores, e não para os demais profissionais da educação –
supervisores, diretores, assessores, técnicos do sistema educativo e formadores em geral; - não
se organiza a partir de uma avaliação diagnóstica das reais necessidades e dificuldades
pedagógicas dos professores; - destina-se a corrigir erros e a destacar debilidades da prática
pedagógica, sem estimular os aspectos positivos e ressaltar a importância dos avanços já
conquistados; - não dispõe de instrumentos eficazes de avaliação do alcance das ações
desenvolvidas; - organiza-se para professores individualmente, e não para a equipe pedagógica
da escola ou a instituição escolar como um todo;- realiza-se fora do local de trabalho, e não na
escola, lugar privilegiado de formação em serviço; - é assistemática, pontual, limitada no tempo
e não integra um sistema de formação permanente; - utiliza dispositivos de motivação “externa”
– pontuação, progressão na carreira, certificados... que, sem dúvida, são importantes, mas não
podem “estar no lugar” do compromisso, pessoal e institucional, com o desenvolvimento
profissional permanente, a melhoria do ensino, a própria aprendizagem dos alunos. (p.44)
(...) a formação inicial e continuada que hoje se desenvolve é fruto da história que a produziu.
(...) Em curto espaço de tempo há que se consolidar um novo perfil profissional muito diferente
do convencional. (...) Quando hoje se discute formação de professores, inicial e continuada,
imediatamente coloca-se a questão da formação de formadores de professores
. (p.45)
A formação continuada de professores – por vezes chamada de treinamento, reciclagem,
aperfeiçoamento profissional ou capacitação – tem uma história recente no Brasil. (...) De
qualquer modo, as práticas de formação continuada vêm se mantendo como uma medida
reconhecidamente necessária, embora hoje já seja possível verificar a enorme discrepância
entre o volume de recursos humanos e financeiros nelas investidos e os resultados obtidos em
relação ao sucesso da aprendizagem dos alunos. (...) Há um conjunto de circunstâncias e
escolhas político-administrativas, organizativas e metodológicas que, quando ocorrem, geram
dificuldades no campo da formação continuada, onde quer que ela aconteça. (...) Neste âmbito,
a falta de articulação entre as instâncias de gestão do sistema, a descontinuidade dos projetos e
programas de um governo para outro (...) a inexistência de tempo previsto na jornada de
trabalho e no calendário escolar para a formação em serviço são fatores importantes a se
considerar. (p.46)
No âmbito das escolas, a formação continuada também tem suas limitações
: ou não há tempo
previsto na jornada de trabalho que permita ações sistematizadas ou, quando há, muitas vezes o
coordenador pedagógico não tem uma formação adequada para ser formador de professores e
nem recebe assessoria para realizar esse tipo de trabalho. (...) há ainda as questões
metodológicas, que se referem às ações de formação em si. Nesse caso, os problemas
avolumam-se, especialmente quando a opção é por modalidades convencionais de formação
com elevado número de participantes, como palestras, seminários e grandes cursos
concentrados. (...) ao término de eventos com este formato, os professores consideram tudo
muito teórico e os formadores dizem que os professores vieram à procura de “receitas”. (p.47)
Agregue-se a esse conjunto de questões a falta de condições institucionais das escolas para
encaminhar e consolidar as mudanças que se fazem necessárias em decorrência dos processos
de formação continuada e se terá algumas respostas para o problema da discrepância entre o
volume de recursos investidos e melhor qualidade do ensino e da aprendizagem escolar. (p.48)
Em relação ao desenvolvimento profissional
não poderia ser diferente: o investimento na
formação inicial e continuada de professores merece ser planejado juntamente com as demais
medidas que visam melhorar a educação escolar. (p.48)
Do ponto de vista do modelo de formação profissional, o que se verifica hoje é uma tendência
no sentido de: (...) (p.49)
PARTE II – REPENSANDO A ATUAÇÃO PROFISSIONAL E A FORMAÇÃO DE
PROFESSORES
1. As dimensões da atuação profissional do professor
2. A natureza da atuação do professor
3. Formação e desenvolvimento profissional permanente
Outro tema de presença marcante no debate atual (nacional e internacional) sobre a crise e a
reconstrução da identidade de professor é o da dimensão profissional de seu trabalho
, sendo a
formação parte essencial do processo de profissionalização
. (p.61)